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APLICAÇÃO DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS NOS

PROCEDIMENTOS DE POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR ESTADUAL

Eduardo José Duarte1

SUMÁRIO: Introdução; 1. Procedimentos da polícia judiciária militar; 1.1 Inquérito


Policial Militar; 1.2 Sindicância; 1.3 Processo Administrativo Disciplinar – PAD; 2.
Garantias constitucionais nos procedimentos de polícia judiciária militar; 2.1 Princípio
da Inocência; 2.2 Princípio da Legalidade; 2.3 Princípio da Proporcionalidade; 2.4
Princípio do Contraditório e Ampla Defesa; 3. Aplicação da Convenção Americana de
Direitos Humanos (CADH); 4. Considerações finais; 5. Referências das fontes citadas.

RESUMO: Este artigo procura estabelecer fundamentos de Garantias Constitucionais


em procedimentos de Polícia Judiciária Militar Estadual utilizando meios interpretativos
da norma vigente durante aplicação de procedimentos de maior uso no meio castrense
como forma investigativa ou correcional. Para tanto, se faz uma abordagem destes
meios procedimentais sob auspícios de princípios e do garantismo constitucional, sem
prejuízo dos fundamentos que norteiam o Direito Militar, ou seja, a Hierarquia e a
Disciplina. Ao adequar os atos de Polícia Judiciária Militar com a segurança dos direitos
e garantias de que o cidadão militar possui como parte integrante de um Estado
Democrático de Direito é fator primordial para alcançar a máxima da essência
fundamental do ser humano.
ABSTRACT: This article seeks to establish fundamentals of Constitutional Guarantees
in procedures of the State Military Judicial Police using interpretive methods of the
current rule during the application of procedures of greater use in the military
environment as an investigative or correctional form. To this end, he approaches these
means of procedures under the auspices of principles and guarantees the constitution,
without prejudice to the fundamentals that guide Military Law, that is, a Hierarchy and a
Discipline. By adapting the acts of the Military Judiciary Police with security of the
rights and guarantees that the military citizen has as an integral part of the Democratic
Rule of Law, it is a fundamental factor to achieve the maxim of the fundamental essence
of the human being.
1
3º Sargento da Polícia Militar de Santa Catarina, Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de
Brusque – UNIFEBE. Pós-graduado em Direito Penal Militar e Processo Penal Militar pela Faculdade
Unyleya. E-mail: eduardoj.duarte@hotmail.com.
PALAVRAS-CHAVE: garantias constitucionais; direito militar; polícia judiciária
militar;
KEYWORDS: constitutional guarantees; military law; military judicial police;

INTRODUÇÃO
A legislação castrense possui fundamento jurídico constitucional que atribui a
polícia militar dos estados a responsabilidade de preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e patrimônio. Também nossa carta magna em seu artigo 125 §
4º delega a justiça militar estadual processar a julgar os militares dos estados.
Este artigo terá como objetivo estabelecer fundamentos constitucionais dos atos
da polícia judiciária militar estadual. Para tanto, é necessária uma aplicação de meios
interpretativos, com desígnio de garantir de forma satisfatória o exercício exegético
literal, para que, dentro das questões práticas e teóricas da legislação castrense
fundamentar-se-á aos auspícios da Constituição Federal. Dessa forma, uma abordagem
interpretativa de conceitos e princípios constitucionais, por onde, ao final, se apresentará
a vinculação de garantias constitucionais com os procedimentos de polícia judiciária
militar estadual dentro de uma realidade atual, no que se referre a conceitos
constitucionais.
A problematização do tema proposto fica evidenciado com a seguinte pergunta:
São aplicadas as garantias constitucionais nos procedimentos de polícia Judiciária
Militar Estadual em Santa Catarina?
Neste estudo será formulado o seguinte objetivo “Analisar a atual legislação
constitucional, conceitos e princípios aplicados nos procedimentos de Polícia Judiciária
Militar Estadual”.
Como objetivo específico deste estudo: Apresentar Garantias Constitucionais e
Tratados Internacionais aplicáveis nos procedimentos de Polícia Judiciária Militar
Estadual.
Desta maneira, torna-se fundamental este estudo, para auxiliar, fundamentar e
compreender o garantismo constitucional, adotados nas atividades dos setores jurídicos
dos Batalhões de Polícia Militar em Santa Catarina.
Ao final deste trabalho, será possível entender e relacionar as principais
Garantias Constitucionais aplicadas nos procedimentos de Polícia Militar Judiciária
Estadual.
1. PROCEDIMENTOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR
A Polícia Judiciária Militar está diretamente relacionada a Justiça Militar 2, que
por sua vez encontra guarida nos artigos da atual Constituição Federal, mais
especificamente nos arts. 122 a 1243 e §§, o art. 125 § 3º, 4º, e 5º.
E para exercer a atividade investigatória a Polícia Judiciária Militar possui
fundamentação legal no Código de Processo Penal Militar em seu artigo 8º4:
Art. 8º Compete à Polícia judiciária militar:
a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei
especial, estão sujeitos à jurisdição militar, e sua autoria;
b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros
do Ministério Público as informações necessárias à instrução e
julgamento dos processos, bem como realizar as diligências
que por êles lhe forem requisitadas;
c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça
Militar;
d) representar a autoridades judiciárias militares acêrca da
prisão preventiva e da insanidade mental do indiciado;

2
Justiça Militar é considerada uma Justiça Especial. Marques (2000) conceitua Justiça Especial como “As
jurisdições especiais, embora não se identifiquem com as justiças de exceção, constituem sempre uma
derrogação às atribuições da justiça comum, e, por isso, não devem ser em grande número,
principalmente em relação à aplicação do direito penal. No direito brasileiro, felizmente, a justiça comum
permanece com poder de julgar bem amplo e extenso, justamente porque as jurisdições especiais são em
pequeno número e compreendem atribuições que na realidade devem ser separadas das que pertencem à
jurisdição comum”.
3
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais
generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da
Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros
maiores de trinta e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar.
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual,
constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau,
pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar
seja superior a vinte mil integrantes.
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação das praças.
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares
cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

4
BRASIL. Decreto-lei nº 1.002, de 21 out.1969. Institui o Código de Processo Penal Militar. Diário
Oficial da União, Brasília, 21 out.1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del1002.htm. Acesso em: 16 de abril de 2020.
e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos
presos sob sua guarda e responsabilidade, bem como as demais
prescrições dêste Código, nesse sentido;
f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que
julgar úteis à elucidação das infrações penais, que esteja a seu
cargo;
g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as
pesquisas e exames necessários ao complemento e subsídio de
inquérito policial militar;
h) atender, com observância dos regulamentos militares, a
pedido de apresentação de militar ou funcionário de repartição
militar à autoridade civil competente, desde que legal e
fundamentado o pedido.

A instituição Castrense, tem-se seus princípios basilares a hierarquia e


disciplina. tendo-se como autoridade máxima de um órgão policial militar o servidor
que detém o posto de maior graduação hierarquia, em linguagem coloquial o de maior
antiguidade, no caso em estudo podemos citar o Comandante geral da Polícia Militar de
Santa Catarina como sendo o mais antigo. Em nível de região o Coronel Comandante da
regional, nos Batalhões os Tenentes-coronéis comandantes de Batalhão, e assim
sucessivamente. A esse militar é que se encarrega o exercício da polícia judiciária
militar, de maneira restrita ao seu posto de comando, seja de uma corporação como um
todo, um órgão de direção ou comando regional, seja do comando de uma Unidade ou
de uma fração de comando.
Eduardo Augusto Alves Vera Cruz Pinto (2009, p. 57) em um estudo, inserido
na obra “Tratado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana”, contextualiza disciplina e
hierarquia:
A disciplina e hierarquia são princípios organizativos
estruturados em valores bem sedimentados de honra, coragem,
honestidade, coesão, companheirismo e cumplicidade entre
aqueles que, em cumprimento da missão, aceitam
voluntariamente sacrificar a própria vida em defesa da
comunidade formalizada em torno do conceito de Pátria.
O Estatuto5 da Polícia Militar de Santa Catarina em seu artigo 14 também
conceitua tais institutos
Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional da
Polícia Militar. A Autoridade e a responsabilidade crescem
com o grau hierárquico.
§ 1º A hierarquia policial-militar é a ordenação da autoridade
em níveis diferentes dentro da estrutura da Polícia Militar. A
ordenação se faz por postos ou graduações; e dentro de um
mesmo posto ou graduação; se faz pela antigüidade. O respeito
à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à
seqüência de autoridade.

5
LEI Nº 6.218, DE 10 DE FEVEREIRO DE 1983 - Estatuto dos Policiais-Militares do Estado de Santa
Catarina
§ 2º Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral
das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam
o organismo policial-militar e coordenam seu funcionamento
regular e harmônico traduzindo-se pelo perfeito cumprimento
do dever por parte de todos e de cada um dos componentes
desse organismo.
§ 3º A disciplina e o respeito á hierarquia devem ser mantidos
em todas as circunstâncias, entre policiais-militares da ativa, da
reserva e reformados.

O exercício da função de Polícia Judiciária Militar deve-se ao comandante de


organização militar, no momento que tomar conhecimento da prática de um ilícito, seja
ilícito penal ou somente uma infração administrativa. Nestes casos, o exercício ocorre
através da instauração de um Inquérito Policial Militar - IPM, Sindicância,
Procedimento Administrativo Disciplinar – PAD, entre outro.
Para este estudo limitaremos a discorrer os mais utilizados pela Polícia Judiciária
Militar de Santa Catarina: Inquérito Policial Militar, Sindicância e Processo
Administrativo Disciplinar.

1.1 Inquérito Policial Militar


O Inquérito Policial Militar tem por objetivo preliminar, a captação de provas
com a desígnio de apurar a prática de uma infração penal militar, no caso, situação de
crime militar, e sua respectiva autoria.
De acordo com Nucci (2013) Inquérito Policial Militar “é a apuração sumária de
fato, que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de
instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à
propositura da ação penal”.
Alexandre José de Barros Saraiva (1999) conceitua o IPM como sendo o
“conjunto de diligências efetuadas pela polícia judiciária militar, destinado a reunir os
elementos de convicção referentes à autoria e à materialidade de um crime militar, a fim
de que o Ministério Público Militar possa exercer a ação penal”.
É um procedimento administrativo elaborado pela Polícia Judiciária Militar
sempre que haver indícios de cometimento de crime militar. Com objetivo principal de
colaborar, por intermédio de obtenção de provas e outros meios investigatórios, a
formação da convicção do representante do douto Parquet Militar.
De maneira concisa o Código de Processo Penal Militar, em seu artigo 9º
apresenta que o IPM6 é a apuração sumária de algum fato que, em conformidade com a
atual legislação, possa configurar como crime militar, bem como de sua autoria.
Portanto, o IPM possui caráter de instrução provisória, cuja finalidade é a de colher os
elementos probatórios necessários à propositura da ação penal na Justiça Militar.
O Código de Processo Penal Militar traz em seu capítulo único a fundamentação
legal do IPM. Que tem seu início por meio de portaria.
CPPM - Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria:
a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de
jurisdição ou comando haja ocorrido a infração penal, atendida
a hierarquia do infrator;
b) por determinação ou delegação da autoridade militar
superior, que, em caso de urgência, poderá ser feita por via
telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, posteriormente,
por ofício;
c) em virtude de requisição do Ministério Público;
d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos têrmos do art.
25;
e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a
represente, ou em virtude de representação devidamente
autorizada de quem tenha conhecimento de infração penal, cuja
repressão caiba à Justiça Militar
f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar,
resulte indício da existência de infração penal militar.

Para abertura do IPM deve ser observado a hierarquia, pois deve existir a
superioridade do posto ou graduação do infrator pela autoridade encarregada 7. A
formação do referido procedimento, deve ser observada com atenção no artigo 13 do
CPPM:
Art. 13. O encarregado do inquérito deverá, para a formação
deste:
Atribuição do seu encarregado
a) tomar as medidas previstas no art. 12, se ainda não o tiverem
sido;
b) ouvir o ofendido;
c) ouvir o indiciado;
d) ouvir testemunhas;
e) proceder a reconhecimento de pessoas e coisas, e
acareações;
f) determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo
de delito e a quaisquer outros exames e perícias;
6
Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos têrmos legais, configure crime
militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar
elementos necessários à propositura da ação penal.
Parágrafo único. São, porém, efetivamente instrutórios da ação penal os exames, perícias e avaliações
realizados regularmente no curso do inquérito, por peritos idôneos e com obediência às formalidades
previstas neste Código.
7
Art. 10 §1º CPPM - Tendo o infrator posto superior ou igual ao do comandante, diretor ou chefe de
órgão ou serviço, em cujo âmbito de jurisdição militar haja ocorrido a infração penal, será feita a
comunicação do fato à autoridade superior competente, para que esta torne efetiva a delegação, nos
termos do § 2° do art. 7º.
g) determinar a avaliação e identificação da coisa subtraída,
desviada, destruída ou danificada, ou da qual houve indébita
apropriação;
h) proceder a buscas e apreensões, nos termos dos arts. 172 a
184 e 185 a 189;
i) tomar as medidas necessárias destinadas à proteção de
testemunhas, peritos ou do ofendido, quando coactos ou
ameaçados de coação que lhes tolha a liberdade de depor, ou a
independência para a realização de perícias ou exames.
O prazo do inquérito penal militar deve ter seu término dentro do período de 20
dias, caso o indiciado esteja preso, devendo iniciar sua contagem no dia que ocorreu a
prisão. Caso o indiciado esteja solto o prazo é de 40 dias a partir da data em que o
procedimento for instaurado, conforme art. 20 do CPPM.
Nos casos em que o réu esteja preso e decorrido o prazo estabelecido por lei e
não ser encaminhado os autos ao Parquet, restará configurado o crime de
constrangimento ilegal8, cuja solução deverá ser dada pelo remédio constitucional
Habeas Corpus. Caso o indiciado estar em liberdade, o prazo de 40 (quarenta) dias
poderá ser prorrogado por 20 (vinte) dias, conforme o § 1º, do art. 20, do CPPM.
O Inquérito Policial Militar é finalizado com um minucioso Relatório da
Autoridade Encarregada, seguido de uma Conclusão da autoridade Delegante, onde se
proferirá sobre o cometimento ou não de infração penal.
Devem acompanhar os autos do Inquérito Policial Militar todos os instrumentos
utilizados na prática da infração penal e outros meios de provas utilizado no decurso dos
autos, que serão entregues mediante protocolo do sistema E-proc do Tribunal de Justiça
Estadual direcionado para na vara da Justiça Militar.
Mister de dizer, que o Inquérito Policial Militar não poderá, ser arquivado pela
Autoridade da Polícia Judiciária Militar, mesmo concluindo pela inexistência de crime
militar.

1.2 Sindicância
Sindicância é um procedimento administrativo que tem por finalidade a
apuração de fato onde servidor militar pode ter inferido em crime militar ou
transgressão disciplinar.
Seguindo as lições de Hely Lopes Meirelles que nos ensina que “sindicância
administrativa é o meio sumário de apuração ou elucidação de irregularidades no

8
Art. 146 do CP - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer
o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
serviço para subsequente instauração de processo e punição ao infrator. Pode ser
iniciada com ou sem sindicado, bastando que haja indicação da falta a apurar9”.
Ainda sobre o assunto a mesma autora afirma que este procedimento
administrativo dispensa defesa do sindicado e a publicidade no seu procedimento, em
razão de tratar de simples expediente de apuração ou verificação de irregularidade, e
não de base para punição equiparável ao inquérito policial em relação à ação penal
(MEIRELLES, 2016).
Para melhor compreender o referido procedimento e sua conceituação, nos
baseamos na ORDEM DE SERVIÇO Nº 26/76 do Comando da PMSC que possui como
assunto a elaboração de Sindicância, que define que “Sindicância é a apuração sumária
de fato irregular, sem prévia configuração de crime, militar ou comum, sobre cuja
natureza e circunstâncias necessite a autoridade de esclarecimentos, a fim de orientar e
fundamentar sua decisão”.
Segundo o conceito de José Cretella Júnior10:
Sindicância Administrativa ou, abreviadamente, sindicância é o
meio sumário de que se utiliza a Administração do Brasil para,
sigilosamente ou publicamente, com indiciados ou não,
proceder à apuração de ocorrências anômalas no Serviço
Público, as quais, confirmadas, fornecerão elementos concretos
para a abertura do processo administrativo contra o funcionário
Público responsável; não confirmadas as irregularidades, o
processo sumário é arquivado.
Para a apuração de fatos por uma Sindicância e a consequente nomeação de
autoridade Sindicante, deve ser iniciada através de Portaria. Este procedimento também
se ancora na portaria nº 009/PMSC/200111 que visa regulamentar o Processo
Administrativo Disciplinar na Polícia Militar de Santa Catarina, em seus artigos 8º e 9º
que assim seguem:
Art. 8° A autoridade competente para aplicar sanção
disciplinar, nos termos do Regulamento Disciplinar da Polícia
Militar, não havendo elementos suficientes para instauração de
processo administrativo disciplinar, por falta de indícios da
autoria ou não estar demonstrado o fato, poderá determinar,
preliminarmente, a instauração de sindicância, designando
autoridade sindicante.
Art. 9° Da sindicância poderá resultar:
I - arquivamento dos autos;
II - adoção de medidas administrativas, de caráter não
disciplinar, devidamente fundamentadas;
III - instauração de processo administrativo disciplinar (PAD).

9
Meirelles. Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição São Paulo: Malheiros, 2016.
10
JÚNIOR. J. Cretella. Prática do processo Administrativo. 5ª edição São Paulo; editora Revista dos
Tribunais, 2006, p. 64.
11
Portaria nº 009/PMSC/2001 - Aprova o Regulamento de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na
Polícia Militar de Santa Catarina e dá outras providências.
§ 1º Se no relatório a autoridade sindicante entender cabível
penalidade disciplinar, encaminhará os autos à autoridade
delegante, opinando pela abertura de processo administrativo
disciplinar, ou se ela própria for autoridade delegante
determinará tal procedimento, em obediência ao princípio do
inciso LIV, do art. 5°, da Constituição Federal.
(CF: “Art. 5º...LIV - ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal;”)
§ 2º No caso do parágrafo anterior, cópia da sindicância será
anexada à portaria, ofício, ou outro documento de delegação de
competência.
§ 3º Sendo a própria autoridade delegante a processante, cópia
da sindicância irá integrar o libelo acusatório administrativo.

A Solução da Sindicância ocorre pela autoridade que designou o Sindicante. Que


pode concordar ou não com a conclusão do Sindicante e publicar em Boletim interno.
Em Santa Catarina, há uma orientação de que todas as sindicâncias e Inquéritos
Policiais Militares devem ser encaminhadas a Vara Militar, indiferente se há indícios de
crime ou não. E cabe ao juiz da vara especializada o arquivamento dos referidos
procedimentos investigatórios. Caso seja constatado situação de infração Disciplinar,
servirá de fundamento para instauração de um Processo Administrativo Disciplinar.

1.3 Processo Administrativo Disciplinar - PAD


É um procedimento que visa a apuração de possíveis transgressões disciplinares
por Policiais Militares e somente ocorrerá quando houver prova de fato de que, em tese,
componha plausível infração disciplinar e indícios de autoria.
Conforme o artigo 11 da PORTARIA N° 009/PMSC/2001 que regula o Processo
Administrativo Disciplinar na Polícia Militar de Santa Catarina, explica o que é o
referido procedimento, bem como o parágrafo único do mesmo artigo fundamenta seu
propósito:
Art. 11. O processo administrativo disciplinar é a apuração
sumária de fato, que, nos termos legais, configure transgressão
disciplinar e de sua autoria, tendo caráter instrutório, cuja
finalidade é fornecer elementos necessários à decisão final pela
autoridade competente pelo julgamento do processo.
Parágrafo único. O processo administrativo disciplinar destina-
se a apurar a responsabilidade de policial-militar por
transgressão praticada no exercício de suas atribuições, ou que
tenha relação com as atribuições do cargo ou função em que se
encontre investido.
Na Polícia Militar de Santa Catarina o Processo Administrativo Disciplinar
possui previsibilidade de ocorrer em Rito Sumário ou Sumaríssimo. O Artigo 10 da
PORTARIA N° 009/PMSC/2001 proporciona a diferença dos ritos:
Art. 10. O processo administrativo disciplinar na Polícia
Militar de Santa Catarina poderá ter rito sumário e/ou
sumaríssimo.
§ 1º O rito sumário será instaurado para apuração de possíveis
infrações disciplinares que, em tese, são consideradas de
natureza grave, ou sanções que possam ensejar o licenciamento
a bem da disciplina, seguindo orientação constante no roteiro
previsto no anexo I.
§ 2º O rito sumaríssimo será instaurado para apuração de
possíveis infrações disciplinares que, em tese, são consideradas
de natureza leve ou média, seguindo orientação constante no
roteiro previsto no anexo II. (grifo nosso).
Após conclusão do referido procedimento, é de direito do Policial acusado, caso
seja constatado infração disciplinar e caso não concorde com a punição imposta interpor
recursos. A previsibilidade de tal recurso está sob bojo do artigo 54 do Regulamento
Disciplinar da Polícia militar de Santa Catarina de 1980:
Art. 54 - Interpor recursos disciplinares é o direito concedido a
policial-militar que se julgue, ou julgue subordinado seu,
prejudicado, ofendido ou injustiçado por superior hierárquico,
na esfera disciplinar.
Parágrafo único - São recursos disciplinares:
1) o pedido de reconsideração de ato;
2) a queixa;
3) a representação.
Destarte, que o mesmo instituto (RDPMSC) também apresenta as punições
disciplinares cabíveis aos policiais militares em caso de ato de indisciplina:
Art. 22 - As punições disciplinares a que estão sujeitos os
policiais-militares, segundo a classificação resultante do
julgamento da transgressão, são as seguintes, em ordem de
gravidade crescente:
1) advertência;
2) repreensão;
3) detenção;
4) prisão e prisão em separado;
A atual sociedade não permite aceitar a impunidade, quando o Policial Militar
inicia sua carreira e finaliza o período inicial com seu juramento, possui consciência de
que os pilares da disciplina e hierarquia devem se manter sólidas. O respeito à sociedade
Catarinense e à atual legislação, fortalece a premissa de que o efetivo da Polícia Militar
de Santa Catarina está se profissionalizando na área da Segurança Pública e
acompanhando adequações legais que nossa sociedade exige.
Ao traçar estratégias de ação e criar Procedimento Operacionais Padrão, nossa
instituição Policial Militar catarinense, molda uma ideia retilínea e em consonância com
a legislação vigente, ao unificar ações Policiais de maneira de quem a adotar não sofrerá
qualquer punição administrativa.
O policial infrator deve ser julgado de maneira imparcial e se comprovada a
acusação, o policial deve ser punido. Para tanto, esse procedimento não deve ser
pautado de abusos e intolerâncias, por essa razão encontramos algumas garantias
constitucionais que devem ser observados durante o andamento dos procedimentos de
polícia militar judiciária.

2. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS NOS PROCEDIMENTOS DE POLÍCIA


JUDICIÁRIA MILITAR
Os direitos fundamentais positivados em nossa ordem constitucional, não são um
fenômeno isolado dentro da história brasileira. Trata-se de um sistema de valorização do
Ser Humano integrante da coletividade de uma nação contra atos Estatais. Como nos
ensina Celso Ribeiro de Bastos Direitos humanos, direitos fundamentais ou liberdades
públicas são “prerrogativas que tem o indivíduo em face do Estado”.12
As garantias constitucionais constituem tema indispensável para compreender a
atual situação doutrinária, compatibilizando a filosofia constitucional e relacionando aos
procedimentos de Polícia Militar Judiciário Estadual. É comum verificar as bases destes
procedimentos, editados em regulamentos criados em regime de exceção, refletindo
valores predominantes na época.
Por outro lado, temos um contexto histórico-político diverso daquele. Com uma
Constituição Federal humanista, que tem por juízo inicial resguardar os direitos
fundamentais individuais e sociais, com concepção social-liberal a qual encontra-se
enfatizada a proteção contra os excessos do Estado. Atualmente a Constituição Cidadã
não tolera um Estado autoritário e garante uma ideia de direito garantista. Portanto,
estabelece limites para atuação estatal, em virtude de que a supremacia do interesse
público sobre o particular não pode atingir direitos individuais fundamentais. Ou seja,
os atos adotados durante os procedimentos de polícia militar judiciária não devem afetar
os direitos individuais do policial investigado.
Para tanto, se faz necessário observar assegurar a tutela dos direitos
fundamentais, prestando obediência à modelo constitucional garantista que possuímos.
Por essa razão reitera-se a importância das garantias constitucionais nos processos de
polícia judiciária militar estadual, para assegurar que as condutas se ajustem à justiça,
que por sua vez, não seja reprovada pela norma positiva.
Dentro dos procedimentos mais relevantes da Polícia Militar Judiciária Estadual,
destacamos alguns princípios constitucionais que norteiam a filosofia garantista, que
reconhece e protege os direitos do cidadão sem recorrer a violência subversiva, e
12
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed., São Paulo: Saraiva, 1998. p. 165
representam a qualidade do instrumento a serviço da eficácia plena de um sistema de
garantias humanas.

2.1 Princípio da Inocência


O Princípio da Inocência possui guarida no artigo 5º, LVII da Constituição
Federal, que dispõe que, “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória”. Esse princípio ainda é uma novidade nos processos de
Polícia Judiciária Militar e deve ser aplicado pela autoridade militar quando o conjunto
probatório antepare a prolação de um decreto condenatório seguro. Neste caso, não deve
ser aplicado o princípio indubio pro administração, mas sim o princípio in dubio pro
reo, que possui fundamento na Convenção Americana de Direito Humanos.
Segundo os ensinamentos de Alexandre de Moraes (2007):
“(…) o princípio da presunção de inocência é um dos
princípios basilares do Estado de Direito. E como garantia
processual penal, visa à tutela da liberdade pessoal, salientando
a necessidade de o Estado comprovar a culpabilidade do
indivíduo, que é de forma constitucional presumido inocente,
sob pena de retrocedermos ao estado de total arbítrio estatal”.
O princípio da inocência também se aplica ao Processo Administrativo
Disciplinar Militar, por mais que se afirme que a administração pública possui poderes
especiais e que na dúvida o princípio a ser aplicado é o in dubio pro administração. A
punição caso fique configurada a falta disciplinar deve ser aplicada de forma justa,
proporcional e fundamentada, não se permitindo juízos de valor, especulação ou meros
indícios de materialidade ou autoria. As provas devem ser concretas e seguras, caso
contrário não se alcançará a Justiça, mas sim a injustiça da crueldade, que é
incompatível com a nossa democracia.

2.2 Princípio da Legalidade


Somente observando o devido processo legal e as garantias constitucionais é que
conseguimos atingir o significado real do Estado Democrático de Direito que vivemos,
para tanto a justiça configura como elemento essencial de uma instituição alcançar tais
objetivos, dessa forma, não exclui os procedimentos de Polícia Judiciária Militar.
O princípio da Legalidade é direcionado aos cidadãos sujeitos à Lei. Sobre o
tema Cunha (2009) nos ensina:
Como decorrência da indisponibilidade do interesse público, a
atividade administrativa só pode ser exercida em conformidade
absoluta com a lei. O princípio da Legalidade é uma exigência
que decorre do Estado de Direito, ou seja, da submissão do
Estado ao império da ordem jurídica. Nas relações públicas,
contudo, o princípio da legalidade envolve a ideia de que a
Administração Pública só pode atuar quando autorizada ou
permitida pela lei. A norma deve autorizar o agir e o não agir
dos sujeitos da Administração Pública, pois ela é integralmente
subserviente à lei.
O princípio da legalidade observado nos procedimentos de Polícia Judiciária
Militar é uma questão que tem sido motivo de controvérsia no direito administrativo
militar, mesmo com a Constituição Federal de 1988. As acusações referentes à
transgressão disciplinar, não podem ser genéricas como por muitas vezes se pretende
nos termos acusatórios. O princípio da legalidade é específico e impede a existência de
uma acusação que não esteja previamente estabelecida antes do fato delituoso em tese,
portanto, o corpo de acusação nos procedimentos contra militar da ativa deve ser
específico.

2.3 Princípio da Proporcionalidade


Não está expresso na constituição federal, porém é considerado um dos
princípios basilares do direito. Está relacionado ao devido processo legal, conforme
decisão do Supremo Tribunal Federal na Adin nº 1922:
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Impugnação à
nova redação dada ao § 2º do artigo 33 do Decreto Federal
70.235, de 06.03.72, pelo artigo 32 da Medida Provisória 1699-
41, de 27.10.98, e o "caput" do artigo 33 da referida Medida
Provisória. Aditamentos com relação às Medidas Provisórias
posteriores. - Em exame compatível com a liminar requerida,
não têm relevância suficiente para a concessão dela as alegadas
violações aos artigos 62 e 5º, XXXIV, XXXV, LIV e LV, e 62
da Constituição Federal quanto à redação dada ao artigo 33 do
Decreto Federal 70.235/72 - recebido como lei pela atual Carta
Magna - pelo artigo 32 da Medida Provisória 1699-41, de 27 de
outubro de 1998, atualmente reeditada pela Medida Provisória
1863-53, de 24 de setembro de 1999. - No tocante ao "caput"
do já referido artigo 33 da mesma Medida Provisória e
reedições sucessivas, basta, para considerar relevante a
fundamentação jurídica do pedido, a alegação de ofensa ao
princípio constitucional do devido processo legal em sentido
material (art. 5º, LIV, da Constituição) por violação da
razoabilidade e da proporcionalidade em que se traduz esse
princípio constitucional. Ocorrência, também, do "periculum in
mora". Suspensão de eficácia que, por via de conseqüência, se
estende aos parágrafos do dispositivo impugnado. Em
julgamento conjunto de ambas as ADINs, delas,
preliminarmente, se conhece em toda a sua extensão, e se
defere, em parte, o pedido de liminar, para suspender a
eficácia, "ex nunc" e até julgamento final do artigo 33 e seus
parágrafos da Medida Provisória nº 1863-53, de 24 de
setembro de 1999.
O Princípio da Proporcionalidade, sob auspícios do Direito Penal Militar possui
um grande efeito, tendo em vista que a aplicação de uma penalidade ao policial militar é
um processo proporcional. A autoridade Delegante ou Julgadora precisa analisar de
forma proporcional, qual pena ser imposta ao militar autor de conduta infratora. Ao
definir a “pena-base”, seja em crimes ou infração administrativa está em consonância
com legislação vigente e garantias constitucionais. Por outro lado, a sua não observância
é um caminho direito para discricionariedade e arbitrariedade, decaindo a ação do ato de
julgar em abuso, cabendo os superiores ou o Judiciário corrigir a ação desproporcional.
Portanto, deve prevalecer o princípio da proporcionalidade nas penas aplicadas para
policiais militares infratores, no sentido de evitar-se resultados desproporcionais e
injustos.

2.4 Princípio do Contraditório e Ampla Defesa


A Constituição Federal ao assegurar o contraditório e a ampla defesa no artigo
5º, LV - “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerente”,
proporciona ao acusado em processo judicial ou administrativo o direito a contraditar,
de tomar conhecimento, de conhecer as acusações que lhe são atribuídas e de possuir
todos os meios de defesa admitidos em direito.
Este princípio traduz- se na estruturação da audiência em termos de um debate
ou discussão entre a acusação e a defesa. Cada uma das partes, dentro do procedimento,
é chamada a arguir suas razões de fato e de direito, oferecer suas provas, controlar as
provas contra si oferecidas e a discorrer sobre o resultado. (SILVA,1993)
A ampla defesa segundo Greco13, consideram-se meios inerentes à ampla defesa:
a. ter conhecimento claro da imputação;
b. poder apresentar alegações contra a acusação;
c. poder acompanhar a prova produzida e fazer contraprova;
d. ter defesa técnica por advogado, cuja função, aliás, é
essencial à Administração da Justiça; e
e. poder recorrer da decisão desfavorável”.
Neste sentido, Alexandre de Moraes14 afirma: “Por ampla defesa, entende-se o
asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o
processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de calar-se, se
entender necessário”.
Importante frisar que ao militar indiciado em procedimento administrativo
disciplinar lhe é oportunizado de apresentar sua versão dos fatos bem como apresentar
provas, solicitar oitivas, defesa preliminar e alegações finais. Para que o encarregado em
13
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 15.
14
MORAES; Alexandre de. Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2007;
seu relatório possa auxiliar a autoridade julgadora em ter um juízo de certeza quanto aos
fatos apresentados, de maneira a ficar o mais próximo possível da verdade real que
ensejou a abertura do referido procedimento investigatório.

3. APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


(CADH)
Segundo o art. 5.ºcaput da nossa Carta Constitutiva, que trata dos direitos e
garantias fundamentais do cidadão, todos são iguais perante a lei sem distinção de
qualquer natureza. Extrai-se, portanto, que nossa legislação aplica-se ao cidadão civil
ou militar no exercício de suas funções, que por sua vez é sujeito de direitos e
obrigações sendo regido por estatuto próprio, o qual deve ser submetido à Constituição
Federal sob pena de decair em inconstitucionalidade.
Em Santa Catarina, os militares estaduais são regidos por regulamento
disciplinar editado por meio de decreto 15, que foi recepcionado pela Constituição
Federal, mas que não pode ser alterado por esse mesmo instrumento. Possíveis
alterações no regulamento disciplinar somente pode ocorrer por meio de lei, conforme
art. 5.º, inciso LXI, da Constituição Federal “ninguém será preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo
“nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei
(grifo nosso).
O atual Estado Democrático deve estar presente em todos os setores da
sociedade inclusive no meio militar e dessa maneira as garantias constitucionais
aplicam-se integralmente aos servidores militares. Nos processos administrativos
militares, as garantias constitucionais têm sofrido limitações, sob fundamento da
sustentação da hierarquia e da disciplina. Não se fala em eliminar da administração seu
direito de punir o militar que decaiu em indisciplina ou que viola os princípios de
hierarquia e disciplina. Mas assegurar ao militar a ampla defesa e o contraditório e
demais princípio que o cidadão possui como garantia.
Nosso País assinou a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH),
conhecida também como Pacto de São José da Costa Rica.
No artigo 5º em seu § 2º da Constituição Federal de 1988, fala que, “Os direitos
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e

15
DECRETO N.º 12.112, de 16 de setembro de 1980, Regulamento Disciplinar da Polícia Militar de
Santa Catarina (RDPMSC).
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte”.
O CADH aplica-se a todos os brasileiros e aos estrangeiros residentes no país e
não possui nenhuma vedação ao fato dos brasileiros serem civis ou militares. Assim,
cabe a autoridade julgadora dos procedimentos de Polícia Justiça Militar reconhecer o
princípio da inocência quando, na ausência de provas seguras que possam demonstrar a
culpabilidade do acusado, a materialidade ou autoria. Esse princípio encontra-se
consagrado na Constituição Federal e na Convenção Americana de Direitos Humanos.
As normas e regulamentos militares devem estar submetidos à Constituição
Federal, que está no topo da hierarquia das leis. O Policial Militar transgressor deve ser
punido de acordo com a lei, sendo-lhe assegurado todas as garantias previstas na
Constituição Federal. E o julgamento da autoridade delegante deve ser pautada pelo
respeito ao princípio da imparcialidade, com a efetiva aplicação da justiça e
devidamente motivada. Caso contrário poderá ser revista pelo Poder Judiciário, em
atendimento ao art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal.
Além das garantias constitucionais, os policiais militares encontram-se
protegidos pelos instrumentos internacionais assinados pelo Brasil, como a Convenção
Americana de Direitos Humanos e a Declaração de Direitos Humanos da Organização
das Nações Unidas – ONU.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em consideração os aspectos abordados durante o desenvolvimento
deste estudo, se percebe a necessidade de uma adequação dos conceitos garantistas da
nossa Constituição Federal com os atos da Polícia Judiciária Militar Estadual. O Direito
Militar é peculiar e possui em suas raízes propostas lastreadas na disciplina e na
hierarquia, que constituem a essência desse Direito. Todavia, Judiciária Militar Estadual
submete seus atos aos princípios gerais do Direito. Pode e deve ser submetida ao
controle do Poder Judicial, do qual a ninguém é dado furtar-se do Estado Democrático
de Direito.
De maneira bastante singela são aplicadas as garantias constitucionais nos
procedimentos de Polícia Judiciária Militar Estadual em Santa Catarina, ainda que em
passos pequenos. Temos muito que evoluir na área em estudo, todavia, como
observamos quando relacionado alguns procedimentos de Polícia Judiciária Militar com
as Garantias Constitucionais e Tratados Internacionais, evidencia certa proteção
normativa ao militar investigado ou indiciado, sob pena de ser o ato revisto pelo Poder
Judiciário.
O Militar envolvido nestes procedimentos, possuem direitos e garantias
inerentes a qualquer Ser Humano deste Estado Democrático. Direito regido por
convenções internacionais que nosso País faz parte, como o Pacto de São José da Costa
Rica. Assim, evoluímos com a recepção dos atos de Polícia Judiciária Militar na
Constituição Federal de 1988, com entendimento de que os atos devem possui
fundamentos e observância de princípios e garantias constitucionais e atualizar os
Regulamentos Disciplinares deixando mais próximo a realidade normativa que vivemos,
sem quebra da Hierarquia e Disciplina.

5. REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS


BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 19. ed., São Paulo:
Saraiva, 1998.
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1998.
JÚNIOR, Dirley da Cunha. Curso de direito administrativo. 7. ed. Salvador; editora
Juspodium, 2009.
JÚNIOR. J. Cretella. Prática do Processo Administrativo. 5ª edição São Paulo;
editora Revista dos Tribunais, 2006.
MARQUES, José Frederico. Rev. e atual. por NALINI, José Renato e DIP, Ricardo. Da
competência em matéria penal. 1ª ed. Atual.. Campinas: Milennium, 2000.
MEIRELLES. Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição São Paulo:
Malheiros, 2016.
MIRANDA, Jorge; SILVA, Marco Antonio Marques da (Coord.). Tratado Luso-
Brasileiro da Dignidade Humana. São Paulo: Quartier Latin, 2009.
MORAES; Alexandre de. Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
NUCCI, G. D. Código de Processo Penal Militar Comentado. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais Ltda, 2013.
SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Inquérito policial e auto de prisão em
flagrante nos crimes militares. São Paulo: Atlas, 1999.
SILVA, Germano Marques da. Curso de Processo Penal, V. II , Ed. Verbo, 1993.

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