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CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS DA

POLICIA MILITAR DE MINAS GERAIS

11º BPM (12ªRPM)

SD 2ª CL BATISTA, SD 2ª CL CAMPOS, SD 2ª CL ELIAS,


SD 2ª CL GUSTAVO, SD 2ª CL NASCIMENTO

VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

MANHUAÇU

2024
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................................3

2. A VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS....................................................3

3. A ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR E AS PRERROGATIVAS DIPLOMÁTICAS........................4

4. IMUNIDADES E PRERROGATIVAS NO CONTEXTO DIPLOMÁTICO E


PARLAMENTAR...........................................................................................................................5

5. INTERSEÇÃO ENTRE PRERROGATIVAS E PROCESSO PENAL - CASO


FLORDELIS...................................................................................................................................7

6. CONCLUSÃO...........................................................................................................................8

7. REFERÊNCIAS..........................................................................................................................9

MANHUAÇU
2024
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa examinar de maneira aprofundada as complexidades


inerentes à validade da lei penal em relação às pessoas, delineando as nuances que
permeiam as esferas de imunidades, prerrogativas e privilégios. Pautado no
fundamento constitucional da igualdade formal perante a lei, consagrado no artigo 5º
da Constituição Federal de 1988, esta pesquisa tem por objetivo compreender como
exceções jurídicas são fundamentais para o funcionamento adequado do Estado
Democrático de Direito.
Ao longo deste estudo, será analisada a aplicação da lei penal em diversos
contextos, desde as relações diplomáticas até a atuação policial militar. A
compreensão da distinção entre prerrogativas e privilégios, bem como a apreciação
das imunidades em suas formas absoluta e relativa, serão elementos essenciais para
desvendar as particularidades desses institutos jurídicos. Além disso, a investigação
contemplará caso prático, destacando-se a análise do processo envolvendo a
Deputada Flordelis, a fim de ilustrar como essas questões se desdobram no cenário
jurídico brasileiro.
Mais do que um mero exercício teórico, este trabalho almeja oferecer uma
compreensão completa e profunda das prerrogativas e imunidades no sistema jurídico
brasileiro.

2. A VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

O alicerce do Direito Penal, representado pela igualdade formal perante a lei


conforme estabelecido no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, assegura que
todos os indivíduos, sem distinção, estejam sujeitos à mesma norma. Contudo, a
aplicação da lei penal em relação às pessoas constitui um tema complexo, que vai
além da simplicidade da igualdade, demandando uma análise contextualizada e
sensível às diversas nuances presentes na sociedade.
Embora a igualdade seja um pilar fundamental, reconhecem-se exceções à
aplicação da lei penal em determinadas circunstâncias. Imunidades e prerrogativas,
por exemplo, têm o propósito de resguardar o exercício de funções públicas
essenciais ao bom funcionamento do Estado Democrático de Direito. As imunidades
parlamentares garantem a liberdade de atuação dos representantes do povo,
enquanto as imunidades diplomáticas preservam o adequado relacionamento entre
as nações.
A imputabilidade penal, elemento importante para a aplicação da lei, restringe
sua validade àqueles que possuem a capacidade de compreender o caráter ilícito do
ato e de agir conforme esse entendimento. Menores de idade e pessoas com doença
mental são considerados inimputáveis, não podendo ser responsabilizados por
crimes.
O princípio da individualização da pena, demanda que a punição seja
personalizada, levando em consideração as circunstâncias do crime e as
características pessoais do autor. Assim, a aplicação da lei penal não pode ser
automática e genérica, mas deve ponderar as peculiaridades de cada situação
concreta.
A retroatividade da lei penal, por sua vez, estabelece que a norma posterior
mais favorável ao réu deve ser aplicada, mesmo nos casos em que o crime tenha
ocorrido sob a vigência de uma lei mais rigorosa. Essa regra visa assegurar a justiça
e evitar a imposição de penas desproporcionais.

3. A ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR E AS PRERROGATIVAS DIPLOMÁTICAS

No âmbito jurídico, a compreensão profunda dos aspectos normativos,


doutrinários e jurisprudenciais ligados à validade da lei penal em relação às pessoas
é uma exigência fundamental para os profissionais que atuam no sistema jurídico.
Essa compreensão não se restringe apenas às disposições legais que regem a
validade da legislação penal, mas abrange igualmente os fundamentos doutrinários
que embasam essas normas, além das interpretações e decisões judiciais que
moldam a aplicação prática desses preceitos.
Destaca-se a importância de se analisar a distinção entre prerrogativas e
privilégios. As prerrogativas se referem a direitos específicos e necessários
concedidos a certas pessoas em função de seus cargos ou funções, visando garantir
o desempenho adequado de suas responsabilidades. E a definição de privilégios, são
como benefícios indevidos, muitas vezes baseados em critérios pessoais, sociais ou
econômicos, resultando em tratamento preferencial injustificado (Capez, 2019; Nucci,
2020).
A identificação das pessoas detentoras de imunidades é essencial na análise
da aplicação da lei penal. Essas imunidades são conferidas a certos indivíduos em
razão de suas funções, cargos ou status, visando proteger o exercício adequado
dessas atividades. Diplomatas, autoridades públicas e parlamentares são exemplos
de grupos que podem usufruir de imunidades específicas, resguardando-os de
processos judiciais ou interferências em suas atividades oficiais (Greco, 2020).
Greco (2020) também destaca a diferenciação entre imunidade absoluta e
relativa. A imunidade absoluta concede uma proteção total e incondicional, isentando
determinadas pessoas de responsabilidade legal ou penal por ações no exercício de
suas funções. Em contrapartida, a imunidade relativa oferece uma proteção parcial ou
condicional, sujeita a determinadas condições ou restrições, permitindo a
responsabilização em circunstâncias específicas.
A demonstração da atuação policial em razão das imunidades e prerrogativas
envolve a aplicação desses princípios legais para assegurar a eficácia das atividades
policiais, garantindo, ao mesmo tempo, o respeito pelos direitos fundamentais dos
cidadãos. Essa compreensão é essencial para lidar com situações complexas e
garantir a legalidade e equidade nas abordagens e intervenções policiais.

4. IMUNIDADES E PRERROGATIVAS NO CONTEXTO DIPLOMÁTICO E


PARLAMENTAR

No contexto das relações diplomáticas, a diplomacia é importante para a


prevenção de conflitos e a promoção da paz global. Os diplomatas, servidores
públicos no exterior, possuem privilégios, como a imunidade integral, essencial para
manter relações amistosas e garantir a eficácia na atuação diplomática (Mazzuoli,
2019). Na esfera policial militar, ao lidar com imunidades e prerrogativas diplomáticas,
o foco é garantir a autonomia necessária para as funções diplomáticas, exigindo o
entendimento e respeito às normas legais nas intervenções policiais (Turra; Obregon,
2018).
Os diplomatas têm privilégios como isenção de tributos e imunidades,
abrangendo inviolabilidade e jurisdição penal. As imunidades parlamentares,
essenciais para o livre exercício do mandato, são funcionais e não isentam
responsabilização por ações fora dos limites legais (Moraes, 2013). Essas
prerrogativas visam permitir o livre desempenho do Poder Legislativo, enquanto
membros do Judiciário, Ministério Público e advogados também desfrutam de
prerrogativas específicas. Diante desse cenário, a atuação da Polícia Militar deve
observar rigorosamente as normas legais para garantir equidade nas intervenções,
especialmente em situações envolvendo autoridades com prerrogativas e privilégios
(Rocha, 2004).
A imunidade parlamentar material, definida pelo art. 53 da Constituição Federal
de 1988, confere inviolabilidade civil e penal aos Deputados e Senadores por suas
opiniões, palavras e votos, assegurando liberdade na expressão no exercício do
mandato. Contudo, essa imunidade não exime os parlamentares de responsabilidade
por ações além dos limites legais, como destaca Alexandrino (2017). Manifestações
não relacionadas ao mandato sujeitam os parlamentares às normas do Direito comum.
A imunidade formal, também estabelecida pela Constituição, impede a prisão
de membros do Congresso Nacional desde a expedição do diploma, exceto em
flagrante de crime inafiançável. O processo de prisão requer votação na respectiva
Casa Legislativa, sendo necessário o voto da maioria de seus membros. Em geral,
congressistas não podem ser presos após a diplomação, exceto em flagrante de crime
inafiançável, sujeito à votação da maioria absoluta da Casa Legislativa, indicando a
formação de culpa do parlamentar.
No que tange aos crimes anteriores à diplomação, a imunidade formal não se
aplica ao processo, permitindo o parlamentar ser julgado normalmente pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) durante o mandato. Para crimes após a diplomação, o STF
pode processar o parlamentar sem autorização, mas a Casa Legislativa
correspondente pode suspender a ação penal mediante votação da maioria absoluta,
também suspendendo a prescrição durante o mandato. A instauração do processo
pelo STF sem autorização pode ser suspensa pela Casa Legislativa antes da decisão
final da Corte, sendo necessário que partidos com representação na Casa iniciem o
processo de sustação no STF, com aprovação da maioria absoluta de seus membros.
A suspensão da prescrição, se aceita, recomeça após o término do mandato do
parlamentar.
Prerrogativas representam disposições legais especiais essenciais, orientadas
pelo interesse social e público, exigindo convivência harmônica e respeito mútuo. Em
contrapartida, "privilégio", originado do latim "privilegiumii", refere-se a benefícios
especiais concedidos a grupos restritos, uma "lei excepcional designada a um
pequeno número de pessoas". Diversas autoridades, incluindo o Presidente da
República, desfrutam de prerrogativas, como o foro privilegiado, conferindo-lhes
posição distinta no julgamento em comparação com outras pessoas.
No contexto militar, as Forças Armadas têm prerrogativas que envolvem o uso
de títulos, uniformes e distinções militares, com a prisão de militares possível apenas
em flagrante delito, retendo-os pelo tempo necessário para a lavratura do flagrante
(BRASIL, 1980). Portanto, é essencial que agentes de segurança pública,
especialmente Policiais Militares, ajam estritamente conforme as normas legais ao
lidar com indivíduos detentores de prerrogativas, conduzindo as situações com
tratamento adequado, pautado pela ética e legalidade profissional.

5. INTERSEÇÃO ENTRE PRERROGATIVAS E PROCESSO PENAL - CASO


FLORDELIS

Um exemplo recente que ilustra a interseção entre prerrogativas e processo


penal ocorreu em Niterói, Rio de Janeiro, no dia 16 de junho de 2019. O assassinato
do Pastor Anderson do Carmo, marido da Deputada Federal Flordelis dos Santos,
resultou em uma investigação da Polícia Civil, que indiciou a deputada como a
mandante do homicídio qualificado, envolvendo seus filhos como executores do crime.
Esse caso evidencia a complexidade e a sensibilidade das questões relacionadas às
prerrogativas e privilégios no contexto penal.
O desenrolar do caso envolvendo a Deputada Flordelis ilustra a complexidade
das prerrogativas parlamentares no sistema legal brasileiro. Inicialmente, os autos do
inquérito foram encaminhados ao Supremo Tribunal Federal (STF) em razão do foro
privilegiado conferido a parlamentares, conforme estabelecido pela Constituição
Federal no art. 53. No entanto, o Relator do Inquérito 4.789, Min. Roberto Barroso,
declarou a incompetência do STF para julgar o caso, uma vez que o crime em questão
não estava relacionado ao exercício do cargo e não se tratava de uma função
parlamentar.
O foro privilegiado, de acordo com o art. 53 da Constituição Federal, protege
os Deputados e Senadores, conferindo-lhes inviolabilidade civil e penal por suas
opiniões, palavras e votos. Além disso, estabelece que, desde a expedição do
diploma, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos são remetidos à Casa
respectiva, que, pelo voto da maioria de seus membros, decide sobre a prisão.
É relevante destacar que as prerrogativas parlamentares visam proteger as
funções exercidas pelos parlamentares, não a pessoa em si. Enquanto a Deputada
Flordelis detinha o cargo, estava amparada por essas prerrogativas para garantir que
suas funções não fossem prejudicadas. Contudo, essas prerrogativas cessam com o
término do mandato ou cargo.
No caso específico de Flordelis, a repercussão negativa do crime que resultou
na acusação de homicídio qualificado comprometeu o decoro parlamentar, levando à
cassação de seu mandato em 11 de agosto de 2021. A cassação demonstra a
importância da preservação da integridade das instituições legislativas e a
responsabilidade que recai sobre os parlamentares no exercício de suas funções.

6. CONCLUSÃO

Ao concluir esta análise sobre a validade da lei penal em relação às pessoas,


evidencia-se a complexidade que permeia as esferas jurídicas, doutrinárias e práticas
do cotidiano policial. O Direito Penal, fundamentado na igualdade formal da
Constituição Federal de 1988, busca garantir que todos os indivíduos estejam sujeitos
às mesmas normas, embora a aplicação da lei revele nuances que exigem uma
abordagem sensível. As imunidades e prerrogativas surgem como exceções
necessárias para preservar o Estado Democrático de Direito, conferindo garantias
específicas a autoridades, destacando-se a importância de compreender que tais
prerrogativas visam proteger a função desempenhada durante o período de
investidura no cargo.
A individualização da pena, a imputabilidade penal e a retroatividade da lei
penal destacam a necessidade de uma abordagem personalizada e justa no sistema
jurídico, ponderando as circunstâncias do crime e as características pessoais do autor
em busca da equidade na aplicação da lei. No contexto policial militar, a compreensão
das imunidades e prerrogativas é essencial para garantir a eficácia das atividades
policiais, mantendo o respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos. O caso
emblemático de Flordelis ilustra a interseção entre o sistema legal e a realidade
prática, destacando a responsabilidade dos parlamentares no exercício de suas
funções, mesmo quando protegidos por imunidades, e a necessidade de ajustar a
interpretação das normas à complexidade das situações concretas. Em síntese, a
validade da lei penal em relação às pessoas exige uma abordagem equilibrada,
sensível e contextualizada, alinhada aos princípios fundamentais da justiça e
igualdade perante a lei.

7. REFERÊNCIAS

ALEXANDRINO, V. P. M. Direito constitucional descomplicado. 16. ed. Rio de


Janeiro: Forense, 2017.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso
em: 18 fev. 2024.

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Militares. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6880compilada.htm. Acesso em: 18 fev.
2024.

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CAPEZ, F. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

GRECO, R. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 23. ed. Rio de


Janeiro: Impetus, 2020.

MAZZUOLI, V. O. Curso de direito internacional público. 12. ed. Revista atualizada


e ampliada. – Rio de Janeiro: Forense, 2019. Disponível em:
https://www.academia.edu/41363361/Curso_de_Direito_Internacional_P%C3%BAbli
co_Valerio_de_Oliveira_Mazzuoli. Acesso em: 18 fev. 2024.

MORAES, A. Direito constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

NUCCI, G. S. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 17. ed. Rio de


Janeiro: Forense, 2020.

ROCHA, C. V. R. Ato de prisão de pessoas que possuem prerrogativas em razão da


função: problemas e condutas operacionais adequadas ao policial militar. O Alferes,
Belo Horizonte, v. 19, n. 55, p. 49-72, 2004. Disponível em:
https://revista.policiamilitar.mg.gov.br/index.php/alferes/article/view/116/105. Acesso
em: 18 fev. 2024.

TURRA, G. S.; OBREGON, M. F. Q. Imunidade diplomática e a aplicação da lei


penal local. Revista Jurídica: Derecho y Cambio Social, n. 54, 2008. Disponível
em:
https://www.derechoycambiosocial.com/revista054/IMUNIDADE_DIPLOMATICA.pdf.
Acesso em: 18 fev. 2024.

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