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RESUMO: O presente trabalho visa realizar uma análise doutrinária acerca das ações de
improbidade administrativa, principalmente no que tange lesão aos princípios da
Administração Pública. Para tanto, foi analisada a Ação Civil de Improbidade Administrativa
nº 0169565-11.2013.8.26.0000, da Comarca de São Paulo.
Nesse diapasão, o objetivo deste trabalho é analisar um caso concreto sob a luz da
legislação vigente e da doutrina disponível. O caso em tela trata-se da Ação Civil de
Improbidade Administrativa nº 0169565-11.2013.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em
move o Procurador Geral de Justiça do estado contra Percy José Cleve Kuster, Promotor de
Justiça de Ubatuba-SP, aposentado e Eduardo de Souza Cesar, ex-prefeito do município.
Dos autos se extrai, que entre os anos de 2008 e 2010, Percy José teria
beneficiado, direta ou indiretamente, o então prefeito através de atos praticados durante seu
mandato e em razão de seu cargo, ferindo, assim, o artigo 11, caput, da Lei n° 8.429/1992 e os
princípios da administração pública da “legalidade, moralidade, imparcialidade, honestidade,
impessoalidade e da lealdade às instituições”.
O Promotor teria utilizado do poder que o cargo lhe confere, para perseguir
opositores políticos de Eduardo Cesar e em alguns momentos para beneficiar o prefeito de
forma direta, atuando, inclusive, extraprocessualmente junto com Eduardo.
Já para o ex-prefeito foi solicitado retirada dos direitos políticos por período entre
três a cinco anos; pagamento de multa até cem vezes sobre a remuneração de Percy e
proibição de contratar com o Poder Público, nos mesmos moldes do estabelecido para o
Promotor.
Vale mencionar, nos termos do artigo 12, caput, que as penalidades aplicadas se
enquadram, apesar das sanções penais, civil e administrativas, ou seja, o indivíduo poderá ser
responsabilizado ao mesmo tempo nestas três esferas, caso o ato ilegal analisado se enquadre
em uma destas legislações especiais. Isso também se aplica para prefeitos, nos moldes do
Decreto Lei 201, de 1967.
Neste mesmo sentido o artigo 34, da Constituição Federal de 1988, estabelece que
todos os entes das Federação devem observar e obedecer, dentre outros, os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, tratando em seu §4° das
sanções que devem ser aplicadas nos casos de improbidade administrativa, quais sejam a
supressão dos direitos políticos e a perda da função pública e o ressarcimento do erário e a
indisponibilidade dos bens.
Atentados contra a moralidade dos atos públicos pode ser verificada, além do
artigo 34, no dispositivo 5° da Constituição Federal, no qual admite a qualquer cidadão propor
ação popular contra atos lesivos praticados pelo Estado.
Neste condão, vale mencionar ainda o que determina o artigo 14, §9° da Carta
Magna, atribuída pela Emenda Constitucional n° 4 de 1994, no qual esclarece que Lei
Complementar deverá elencar outras situações de inelegibilidade para proteger a probidade
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administrativa e a moralidade do mandato de candidatos, evitando, desta forma, interferência
do poder econômico ou abuso do exercício da função e do cargo que venha a ocupar.
Nos casos de prefeitos, como é Eduardo Cesar no estudo de caso, tem-se ainda,
pelo Decreto Lei já mencionado, possibilidade de instituição de pena de detenção ou reclusão
(artigo 1°, §1°) e perda do cargo e inabilitação por 5 anos (artigo 1°, §2°).
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sobre determinadas matérias é exclusiva da União. Tanto é assim, que a lei de improbidade
administrativa possui âmbito de efetividade nacional. Por outro lado, quando se tratar de
matéria administrativa, os demais entes federativos possuem competência para regulamentar,
é o que se apura nos artigos 13 e 14, §3°, por exemplo. (ROSSI, 2020).
Por fim, vale trazer à baila os prazos prescricionais para as ações de improbidade
administrativas, elencados no artigo 23 da Lei 8.429/1992, que são de cinco anos, contados a
partir da fim do mandato, do cargo em comissão ou da função de confiança e em se tratando
de faltas disciplinares, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego, deve-se observar
os prazos previstos em lei específica. Di Pietro (2019), lembra ainda que pelo artigo 37, §5°,
da Constituição Federal, quando se tratar de ressarcimento de danos as ações são
imprescritíveis, ainda que os prazos determinados no artigo 23 já tenham se materializado.
Por todo exposto, pode-se concluir que para que haja ação de improbidade
administrativa são necessários que se observem quatro requisitos, ou seja, é preciso a presença
dos sujeitos ativos e passivos; deve-se se configurar o dano causado, com base nos artigos 9,
10, 10-A ou 11, podendo cada um ocorrer de maneira isolada, como se observou no estudo de
caso, do artigo 11, ou ainda concomitantemente e, por último, deve existir a presença de dolo
ou culpa por parte dos envolvidos.
Além disso, é preciso estar atento para não se aplicar uma punição
desproporcional à conduta ilícita cometida pelo agente público, daí ser inequivocamente
importante a verificação do princípio da proporcionalidade e da razoabilidade no momento da
determinação da pena.
Bibliografia
______. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes
públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou
função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências.
Brasília, 1992. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm. Acesso em: 9
jul. 2020.
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______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.
htm>. Acesso em: 11 mai. 2020.
DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 32. ed. rev. atual. e ampl. Rio de janeiro:
Forense, 2019.
MEDAUAR, O. Direito administrativo moderno. 21. ed. rev. atual. e ampl. Belo Horizonte:
Fórum, 2018.
ROSSI, L. Manual de direito administrativo. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.