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Introdução

O Brasil tem uma longa história de desafios relacionados à corrupção no setor público,
e embora ainda se perceba resquícios do patrimonialismo herdado dos tempos do império, os
últimos anos foram marcados por ações que tentam alterar este cenário. A promulgação da
Nova Lei de Improbidade Administrativa (Lei 14.230/2021) é uma das manifestações mais
recentes desse esforço contínuo. Esse contexto é marcado por eventos emblemáticos, como a
Operação Lava Jato, que colocou em evidência a necessidade de aprimorar as ferramentas
legais para responsabilizar agentes públicos e terceiros envolvidos em atos de corrupção.

A Operação Lava Jato, deflagrada em 2014, desvendou um vasto esquema de


corrupção envolvendo empresas estatais, empreiteiras e políticos de alto escalão. Ela teve um
impacto profundo na política e na sociedade brasileira, desencadeando uma série de
investigações e processos que levaram à condenação de figuras influentes. No entanto, a
operação também gerou debates sobre o devido processo legal, a seletividade de suas ações e
as limitações das leis existentes, particularmente a Lei de Improbidade Administrativa de
1992.

A nova legislação surge como uma resposta a esses desafios. Ela visa modernizar e
aprimorar o arcabouço legal relacionado à improbidade administrativa, tornando as regras
mais claras, precisas e adaptadas aos desafios do combate à corrupção no século XXI. Isso é
crucial em um momento em que a sociedade exige maior transparência e responsabilização
das autoridades públicas.

Entre as mudanças mais significativas trazidas pela Lei 14.230/2021, destaca-se a


definição de critérios mais claros para caracterizar atos de improbidade administrativa,
estabelecendo uma divisão entre condutas mais graves e menos graves. Isso reduz a
ambiguidade e a incerteza que cercavam a aplicação da lei anterior e contribui para uma maior
justiça na punição dos envolvidos em corrupção.

A nova lei também introduz a possibilidade de celebração de acordos de leniência com


empresas envolvidas em atos de corrupção, incentivando a colaboração das corporações na
recuperação de recursos desviados e na investigação de práticas ilícitas. Isso reflete a
compreensão de que o combate à corrupção não pode ser eficaz sem a cooperação do setor
privado.

A improbidade administrativa é um tema de grande relevância no contexto do Direito


e da administração pública, sendo objeto de constante discussão e debate. Trata-se de um
fenômeno que abala os alicerces da gestão pública, comprometendo a lisura, a moralidade e a
eficiência dos atos dos agentes públicos e tem impactos profundos na sociedade, prejudicando
o erário e minando a confiança dos cidadãos nas instituições estatais.
Neste ensaio, exploraremos a natureza, as implicações e as estratégias de combate à
improbidade administrativa sob a luz da lei 14.230/2021, a Nova Lei de Improbidade
Administrativa, destacando a importância da prevenção e punição da corrupção para o
fortalecimento da democracia e o aprimoramento da administração pública.

Conceito, legitimidade e competência da improbidade administrativa


Como conceito jurídico a improbidade administrativa refere-se a atos desonestos,
ilegais e antiéticos praticados por agentes públicos 1 e também particulares, por meio de
descaso, desonestidade ou outro comportamento inadequando, e que importem lesão ao
erário, enriquecimento ilícito e/ou ofensa aos princípios da administração pública
(BARBOZA, 2010).

Como já abordado anteriormente, o texto constitucional se limitou a apontar apenas


aspectos principais sobre os atos de improbidade administrativa, sem trazer sua definição ou
sujeitos ativos e passivos. Nesta toada, a Lei nº 8.429, de 1992, tem a função de regulamentar
o referido texto constitucional, de forma que dispõem sobre a legitimidade no âmbito da
improbidade administrativa, a qual se divide em sujeitos ativos e passivos.

Sujeitos passivos e ativos


Os sujeitos passivos são aquelas pessoas diretamente atingidas por tais atos, cujo rol se
encontra previsto no artigo 1º, do referido dispositivo legal. Destaca-se que, “os atos de
improbidade administrativa vitimam a sociedade brasileira, globalmente considerada.
Entretanto, um particular pessoa física, ou uma empresa privada que nenhuma relação
específica tenha com o Poder Público, não pode ser diretamente alvo de um ato de
improbidade administrativa” (Alexandrino; Paulo, 2020, p. 1116).
No que tange aos sujeitos passivos, o artigo 1º, da Lei nº 8.429, de 1992, dispõem que:
Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa
tutelará a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções, como
forma de assegurar a integridade do patrimônio público e social, nos termos desta
Lei.
[...]

1 A lei antiga de improbidade administrativa (lei 8.429/1992) define como agente público qualquer pessoa que
exerça, mesmo que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação
ou outras formas de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em qualquer dos três
poderes, na administração direta ou indireta da União, Estados, Municípios e Distrito Federal. (Brasil, 1992)
§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização do Estado e no
exercício de suas funções e a integridade do patrimônio público e social dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no
âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o
patrimônio de entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal
ou creditício, de entes públicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo.
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, estão sujeitos às
sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade
privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu
patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (grifos nossos).

Desta foram, conclui-se que, podem figurar como sujeitos passivos: (a) a
administração direta e indireta, de todos os entes federativos; (b) as entidades privadas que
receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos; (c) entidade
privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra para seu patrimônio
ou receita anual.
Os sujeitos ativos dizem respeito às pessoas que podem praticar atos de improbidade
administrativa, figurarem no polo passivo da ação de improbidade administrativa e serem
responsabilizadas por tais condutas, sofrendo as sanções previstas na legislação. O primeiro
sujeito ativo trazido pela Lei nº 8.429, de 1992, são os agentes públicos, em aspecto amplo,
incluindo os agentes políticos, conforme o artigo 2º:
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o agente político, o
servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
referidas no art. 1º desta Lei. (grifo nosso).

Cabe destacar que, via de regra, as sanções previstas na Lei nº 8.429, são aplicáveis
aos agentes públicos, porém podem igualmente incidir sobre pessoas que não são agentes
públicos, quando estes induzirem ou concorreram dolosamente para a prática do ato. Observa-
se que o particular, de forma isolada, não pode ser considerado sujeito ativo, visto que sua
conduta está atrelada ao agente público, seja induzindo ou concorrendo.
Neste sentido, temos:
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo
não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a prática do ato de
improbidade.

O §1º, do artigo 3º, do referido dispositivo legal, também traz que os sócios, os
cotistas, diretores e os colaboradores de pessoa jurídica de direito privada podem responder
por ato de improbidade administrativa, desde que comprovada à participação e benefícios
diretos, ocasião em que responderão nos limites da sua participação.
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa jurídica de
direito privado não respondem pelo ato de improbidade que venha a ser imputado à
pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente, houver participação e benefícios
diretos, caso em que responderão nos limites da sua participação. (grifo nosso).

No que tange ao sujeito ativo, conclui-se que os atos de improbidade administrativa


podem ser praticados por: (a) agentes públicos em sentido amplo, incluindo agentes políticos;
(b) particulares que induzirem ou concorrem para a prática do ato; (c) sócios, cotistas,
diretores e colaboradores de pessoa jurídica de direito privado, desde que comprovada à
participação e benefícios diretos.

Atos de improbidade administrativa


A Lei 8.429, de 1992, trouxe em seu texto as condutas que configuram atos de
improbidade administrativa, ou seja, que violam a probidade na organização do Estado e
lesam a integridade do patrimônio público e social. Tais condutas são classificadas em três
categorias ou modalidades, organizadas de acordo com a natureza do prejuízo/lesão, quais
sejam, que importam em enriquecimento ilícito, que causam prejuízo ao erário e que atentam
contra os princípios da administração pública.

Atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito

Os atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito estão


previstos no artigo 9º, que em seu caput define que são as condutas capazes de auferir
qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício do cargo, mandato,
função, emprego ou atividades públicas.

Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando em enriquecimento


ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, de mandato, de função, de
emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
(Grifo nosso).

O rol apresentado no referido artigo é exemplificativo, podendo englobar outras


condutas que não expressamente previstas em seus incisos, cuja configuração não depende do
efetivo prejuízo ao erário, mas exigindo que haja dolo. Dentre as condutas exemplificativas,
temos:
Quadro 1.
Atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento
ilícito
Inciso IV Utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de propriedade
ou à disposição de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei, bem
como o trabalho de servidores, de empregados ou de terceiros contratados por
essas entidades;
Inciso V Receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para
fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico que envolva obras públicas
ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou
característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades
referidas no art. 1º desta Lei;
Inciso VII Adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, de cargo, de
emprego ou de função pública, e em razão deles, bens de qualquer natureza,
decorrentes dos atos descritos no caput deste artigo, cujo valor seja
desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público,
assegurada a demonstração pelo agente da licitude da origem dessa evolução;

Atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário

São considerados atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário,


conforme o artigo 10, caput, da lei nº 14.230/2021, as ações ou omissões dolosas, que
ensejem na perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
do Poder Público. Diferentemente da categoria anterior, nesta se exige o dano efetivo e
comprovado ao erário, mesmo que não enseje no enriquecimento ilícito do sujeito ativo.

Assim como na modalidade anterior, o rol do artigo 10º é exemplificativo de condutas,


não havendo impedimento para que outras ações possam ser encaixadas nesta modalidade de
improbidade.

Quadro 2.
Atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário
Inciso I Facilitar ou concorrer para que bens público sejam incorporados por entes
privados;
Inciso VIII Frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para
celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los
indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva;
Inciso X Agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, bem como no que diz
respeito à conservação do patrimônio público;
Inciso XIX Agir para a configuração de ilícito na celebração, na fiscalização e na análise
das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública
com entidades privadas;
Inciso XXII Conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao
que dispõem a lei complementar que trata de isenção tributária.

Ademais, no §2º do artigo 10 o legislador deixa claro que mesmo nas ações em que há
perda patrimonial decorrente da atividade econômica não haverá improbidade administrativa
se não houver uma conduta dolosa.

Atos de improbidade administrativa que atentem contra os princípios da administração


pública

Conforme o artigo 11, da lei nº 14.230/2021, os atos de improbidade administrativa


que atentem contra os princípios da administração pública são aqueles que violam os deveres
de honestidade, de imparcialidade e de legalidade do Poder Público. Em decorrência da
natureza das condutas, que ferem os princípios da Administração Pública, o rol trazido pelo
referido artigo é taxativo, ou seja, não comporta outras condutas diversas daquelas definidas
em seu texto.
Pontue-se que, configuração dos atos de improbidades nesta categoria não depende de
dano ao erário ou enriquecimento ilícito do sujeito ativo, mas tão somente a conduta dolosa e
a violação de princípios. Observa-se ainda que o legislador optou por revogar os dispositivos
que continham condutas genéricas ou culposas, como “retardar ou deixar de praticar ato de
ofício (…)”.

Quadro 3.

Atos de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração


pública (Art. 11 da lei 14.230/2021
Inciso III Revelar segredo que tem conhecimento em razão das atribuições obtendo
benefício por informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da
sociedade e do Estado;
Inciso IV Negar publicidade aos atos oficiais (exceto nas hipóteses legais ou quando
necessário à segurança da sociedade e do Estado);
Inciso V Frustrar caráter de concorrência de concurso público, chamamento ou
procedimento licitatório, para obter benefício próprio, direto ou indireto, ou de
terceiros;
Inciso VI Deixar de prestar contas obrigatórias para ocultar irregularidades (exceto se
não contar com condições de fazê-lo)
Inciso XI Nepotismo2
Inciso XII Utilizar recursos do erário em publicidade que enalteça agente público e
personalize atos, programas, obras, serviços ou campanhas dos órgãos
públicos.

Quanto à competência para processar e julgar as ações de improbidade administrativa,


cabe ao juízo de primeiro grau, não sendo possível a aplicação do foro por prerrogativa de
função. A justiça federam terá competência nos casos de ações propostas pelo Ministério
Público Federal e naquelas em que ocuparem o polo ativo ou passivo as pessoas indicadas no
art. 109, inc. I, da CF3. Nos casos restantes a competência pertence à justiça estadual.
Salienta-se que, à exceção do presidente da república, no caso dos agentes políticos, a
responsabilização civil por crimes de improbidade não impede que respondam também
politico-administrativamente por crimes de responsabilidade, não havendo impedimento para
a concorrência de ambas as esferas de responsabilização. Ainda, o foro privilegiado não
poderá ser instituído nos casos de prática de atos de improbidade na esfera civil.
A diferenciação nas três categorias de atos trazida pela nova legislação é crucial, pois permite
a aplicação de penalidades proporcionais à gravidade de cada caso. As penas previstas
incluem multas, suspensão dos direitos políticos, proibição de contratar com o poder público e
perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio.

A Lei 14.230/2021 também inova ao estabelecer critérios mais claros para a dosimetria
das penalidades, proporcionando maior segurança jurídica na aplicação das sanções. A multa,
por exemplo, passa a ter valores proporcionais ao dano causado, variando de 1% a 5% do
valor do contrato ou do prejuízo causado. Essa abordagem visa assegurar que as penalidades
sejam não apenas efetivas, mas também justas e equitativas.

Outro aspecto relevante é a introdução de medidas de reparação do dano causado, que


podem incluir o ressarcimento integral do prejuízo, a perda dos bens ou valores acrescidos
ilicitamente ao patrimônio e a reparação integral do dano moral coletivo. Essa ênfase na

2 XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas.
3 Art. 109. Aos juízes federais compete pro- cessar e julgar: I – as causas em que a União, entidade autárquica
ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto
as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho (BRASIL,
1988).
reparação busca não apenas punir o infrator, mas também restituir à sociedade o que foi
indevidamente desviado.

Além disso, a nova lei estabelece critérios específicos para a responsabilização de


pessoas jurídicas, trazendo maior clareza sobre as penalidades aplicáveis a essas entidades.
Adicionalmente, a possibilidade de celebração de acordos de leniência com empresas
envolvidas em atos de improbidade representa uma inovação importante, incentivando a
colaboração e a contribuição das corporações para a investigação e a recuperação de recursos
desviados.

Do Procedimento Administrativo e Judicial


O procedimento administrativo está previsto nos arts. 14 a 16 da LIA.
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente
para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de
improbidade.
Representar é comunicar ao órgão competente, pois quem ingressa com a ação é o MP
ou a pessoa jurídica que sofreu o ato de improbidade. A representação será escrita ou reduzida
a termo e assinada, contendo a qualificação do representante, as informações sobre o fato e
sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento (§1.º, do art. 14).
Caso a representação não contenha as formalidades previstas no caput do art. 14, a
autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho fundamentado. Porém, A
rejeição não impede a representação ao Ministério Público.
O procedimento judicial está regulado nos arts. 17 a 18-A da LIA:
Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta Lei será proposta pelo
Ministério Público e seguirá o procedimento comum previsto na Lei nº 13.105, de 16
de março de 2015 (Código de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei.
De acordo com o art. 17 da LIA, a Ação de Improbidade Administrativa será proposta
pelo MP e seguirá o procedimento comum, e deverá ser proposta perante o foro do local onde
ocorrer o dano ou de domicílio da pessoa jurídica prejudicada (§ 4.º-A).
Segundo o STF, na ADI 7042 e 7043:
“Os entes públicos que sofreram prejuízos em razão de atos de improbidade também
estão autorizados, de forma concorrente com o Ministério Público (MP), a propor
ação e a celebrar acordos de não persecução civil em relação a esses atos.”

Os requisitos da petição inicial estão previstos nos incisos I e II do art. 17, § 6.º da
LIA. A petição inicial será rejeitada nas hipóteses do art. 330 do CPC; pela ausência dos
requisitos do art. 17, §6.º, incs. I e II, LIA; e quando manifestamente inexiste o ato de
improbidade atribuído.
Estando a inicial apta, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para
que contestem no prazo comum de 30 dias (§7.º). Da decisão que rejeita questões preliminares
suscitadas pelo réu na contestação, caberá Agravo de Instrumento (§9.º-A). Após a
contestação, o juiz poderá julgar o processo no estado em que se encontra ou desmembrar o
litisconsórcio ou seguir com a instrução (§10-B).
Segundo o § 19 do art. 17 não se aplica à ação de improbidade a: presunção de
veracidade em caso de revelia; imposição de ônus da prova ao réu; o ajuizamento de mais de
uma ação de improbidade pelo mesmo fato; e o reexame obrigatório da sentença de
improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.
Após a instrução, o juiz proferirá a sentença (art. 17-C). A decisão será nula quando
condenar o requerido por tipo diverso do definido na petição inicial ou condenar sem que
tenham sido produzidas as provas que foram requeridas tempestivamente (art. 17, §10-F).
As medidas cautelares na ação de improbidade administrativa visam buscar o
patrimônio para eventual ressarcimento ao erário ou proteger as investigações.
A LIA prevê três espécies de medidas cautelares:
1) Indisponibilidade de bens (art. 16, LIA): Visa garantir a integral recomposição ao
erário ou do acréscimo patrimonial ilícito. Não podendo ser decretada para
pagamento de multa;
2) Tutelas provisórias do Código de Processo Civil (art. 17, §6.º-A, LIA). A tutela
provisória é uma decisão judicial consentida em condição não-definitiva. Isso
significa que é concedida antes que seja tomada antes que o juiz profira uma
sentença e o processo chegue ao final (arts. 294 a 310 da Lei nº 13.105/2015 -
CPC);
3) Afastamento temporário do cargo, emprego ou função (art. 20, §§1.º e 2.º LIA).

Uma das novidades trazidas pela lei nº 14.230/2021 é a introdução, no art. 17-B, do
instrumento que possibilita acordo de não persecução civil, promovido entre o MP e o autor
do ato ímprobo (acompanhado de seu advogado), após a oitiva e anuência do ente público
lesado. Ele possui natureza de negócio jurídico que tem por finalidade a adequação da
conduta às exigências legais e constitucionais, com eficácia de título executivo extrajudicial a
partir da celebração do acordo. O acordo de não persecução civil será firmado objetivando, (i)
o integral ressarcimento do dano e (ii) a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem
indevida obtida. Entretanto, acordo só será possível se:
a) Antes do ajuizamento da ação judicial cabível, for aprovado, no prazo de até 60
dias, pelo órgão do Ministério Público competente para apreciar as promoções de
arquivamento de inquéritos civis;
b) For judicialmente homologado, independentemente se firmado antes ou depois de
ação judicial já em trâmite.
O acordo poderá ser celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no
curso da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença condenatória (art. 17-
B, §4º LIA). Também poderá ocorrer ainda em fase recursal.
A celebração do acordo com o MP não afasta, necessariamente, a eventual
responsabilidade administrativa ou penal, nem importa no reconhecimento de
responsabilidade para outros fins que não os estabelecidos no compromisso, assim como sem
prejuízo do ressarcimento ao erário e da aplicação de uma ou algumas das sanções previstas
em lei, de acordo com a conduta praticada.
O acordo considerará a personalidade do agente, a natureza, as circunstâncias, a
gravidade e a repercussão social do ato de improbidade, bem como as vantagens, para o
interesse público, da rápida solução do caso (art. 17-B, §2º LIA).
No intuito de apurar o valor a ser ressarcido, será realizada a oitiva do Tribunal de
Contas competente, que se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo de
noventa dias (art. 17-B, §3º).
Em caso de descumprimento do acordo, o investigado ou o demandado ficará
impedido de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do conhecimento
pelo Ministério Público do efetivo descumprimento.” (art. 17-B, §7º).
O inadimplemento da obrigação acordada faz com que se volte à situação anterior. Nos
termos do art. 17-B, I, da LIA a validade do acordo depende do integral ressarcimento do
dano e não de mera promessa de ressarcimento.

Da Prescrição
A ação de improbidade visando a aplicação das sanções do art. 12 está sujeita à
prescrição. Todavia, a ação de ressarcimento ao erário por ato doloso não prescreve.
O art. 23 da LIA prevê que o prazo para aplicação das sanções prescreve em 8 anos,
contados a partir da ocorrência do fato ou do dia em que cessou a permanência, nos casos de
infrações permanentes.
Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta lei prescreve em 8 anos,
contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia
em que cessou a permanência.
Ainda segundo a Súmula 634 do STJ, ao particular aplica-se o mesmo regime
prescricional previsto na Lei de Improbidade Administrativa para o agente público.
(Jurisprudência em Teses, STJ. Ed. 186: Tese 4).
A instauração do processo administrativo ou judicial para apuração dos ilícitos
suspende o prazo prescricional, por no máximo 180 dias corridos, recomeçando a correr após
a sua conclusão ou, caso não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão (§1.º, art.
23).
As hipóteses de interrupção da prescrição estão elencadas no §4.º do art. 23, sendo:
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se (lei n°
14230/21):
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
II - pela publicação da sentença condenatória;
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal
Regional Federal que confirma sentença condenatória ou que reforma sentença de
improcedência;
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de Justiça que
confirma acórdão condenatório ou que reforma acórdão de improcedência;
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal que
confirma acórdão condenatório ou que reforma acórdão de improcedência.

Interrompida a prescrição, o prazo começa a correr, do dia da interrupção, pela metade


do prazo de 8 anos (§5.º, art. 23).
Havendo atos de improbidade conexos e que sejam objetos do mesmo processo, a
suspensão e a interrupção relativas a qualquer deles estende-se aos demais (§7.º, art. 23).
O juiz ou o Tribunal, depois de ouvido o MP, deverá, de ofício ou a requerimento da
parte, reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-la de
imediato caso, entre os marcos interruptivos, transcorra o prazo de 4 anos (§8.º, art. 23). Ou
seja, está expressamente admitida a hipótese de ocorrência de prescrição intercorrente no
âmbito das ações que apuram atos de improbidade administrativa.

Considerações Finais
Em síntese, a análise abrangente da Nova Lei de Improbidade Administrativa (Lei
14.230/2021) revela um panorama reformulado e mais eficaz no combate à corrupção e na
responsabilização de agentes públicos e terceiros envolvidos em atos de improbidade. O
conceito de improbidade administrativa foi aprimorado, delineando de forma mais clara as
condutas prejudiciais à Administração Pública. Os sujeitos ativos e passivos foram
delimitados com maior precisão, contribuindo para uma aplicação mais justa da lei. A
legislação também inova ao classificar os atos de improbidade em categorias distintas,
proporcionando critérios mais objetivos para a dosimetria das penalidades. As sanções, por
sua vez, foram revistas e diversificadas, estabelecendo um sistema proporcional e flexível de
punições. No tocante aos procedimentos, a lei introduz medidas que visam simplificar e
acelerar os processos administrativos e judiciais, assegurando, ao mesmo tempo, o devido
processo legal. A possibilidade de celebração de acordos de leniência com empresas
representa uma estratégia inovadora, incentivando a colaboração e a recuperação de recursos
desviados. Contudo, para que essas transformações se traduzam em avanços reais, é
imperativo um esforço conjunto da sociedade, do poder público e do sistema judiciário,
visando a implementação efetiva e a fiscalização rigorosa da nova legislação.

Referências
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 28.
Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.

BARBOZA, Márcia Noll. Op. Cit. Osório, Fábio Medina. Teoria da Improbidade
Administrativa. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

BRASIL. Lei Federal Nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis em
virtude da prática de atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 da
Constituição Federal; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm. Acesso em: 6 de novembro de 2023.

BRASIL. Lei nº 14.230, de 25 de outubro de 2021. Altera a Lei nº 8.429, de 2 de junho de


1992, que dispõe sobre improbidade administrativa. Brasília, DF: Presidência da República,
[2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14230.htm. Acesso em: 08 nov. 2023.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF: Presidente da República, [2016].
CAPEZ, Fernando. Nova lei de improbidade administrativa: limites constitucionais. São
Paulo: Saraiva, 2009.

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