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Altera a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, que dispõe sobre improbidade administrativa
1. INTRODUÇÃO
Sobre o que trata a Lei nº 14.230/2021?
A Lei nº 14.230/2021 promoveu a maior reforma da Lei de Improbidade Administrativa (LIA) desde
que esse diploma foi editado. Até a ementa da lei recebeu nova redação.
Sancionada sem vetos e com vigência imediata, desde a publicação em 26 de outubro de 2021, a
Lei nº 14.230/21 suprimiu a modalidade culposa de improbidade administrativa, modificou as
regras sobre prescrição e alterou muitos aspectos processuais.
Segundo dados do CNJ, nos últimos dez anos houve no País mais de 18,7 mil condenações por
improbidade administrativa transitadas em julgado nos tribunais pátrios. Por isso o estudo dessa
lei é muito importante para os operadores do direito e com certeza será cobrada nas próximas
provas de concurso.
Veja abaixo um resumo sobre as principais alterações trazidas pela Lei nº 14.230/2021.
Vale lembrar que o tratamento da improbidade administrativa tem caráter cível, ou seja, não se
trata de norma penal. Cuida-se de atos de agentes públicos que violam o erário, resultam em
enriquecimento ilícito ou atentam contra os princípios da administração pública e que recebem
sanções de natureza estritamente civil.
Ainda assim, surgiram debates sobre a aplicação do mesmo tratamento da lei penal às alterações
promovidas pela Lei nº 14.230/2021. Ou seja, a irretroatividade da lei gravosa e a excepcional
retroatividade da lei penal mais benéfica, conforme art. 5º, XL, da CF, aplicam-se aos casos de
improbidade administrativa?
A Lei nº 14.230/2021, por ser mais favorável ao sancionado, tem aplicação retroativa?
Uma primeira corrente defende que sim. Entende que a Lei de Improbidade Administrativa se
encontra inserida no chamado direito sancionador e que, portanto, comporta tratamento
assemelhado ao Direito Penal. O direito sancionador é um gênero que abrange as formas que o
cidadão pode sofrer uma punição por parte do Estado, incluindo a seara criminal. Preocupa-se
com a aplicação do devido processo legal (material e formal) de forma mais cautelosa que num
procedimento não sancionador.
Uma segunda corrente, por outro lado, defende que o art. 37, § 4º, da CF/88 traz clara distinção
entre as sanções penais e aquelas aplicáveis aos atos de improbidade administrativa. Esse
dispositivo prevê que as sanções por improbidade administrativa serão aplicáveis “sem prejuízo
da ação penal cabível”. Por isso, não há como ampliar o aspecto de proteção conferido à lei penal
às sanções cíveis.
2. EMENTA
A ementa original da Lei nº 8.429/92 não possui a redação mais adequada. Isso porque dava a
entender que essa a Lei de Improbidade tratava apenas sobre enriquecimento ilícito.
Ocorre que a Lei nº 8.429/92 é bem mais ampla. Por essa razão, a Lei nº 14.230/2021 corrige
essa falha e define, de maneira mais adequada, a ementa da Lei.
Além disso, a nova ementa da LIA deixa claro o seu fundamento constitucional, já que
regulamenta as sanções por atos de improbidade administrativa por expressa determinação do
constituinte originário. Veja como era e como ficou:
LEI Nº 8.429/92
O caput do art. 1º da LIA foi alterado para deixar expresso o bem jurídico tutelado pelo sistema de
responsabilização dos atos de improbidade administrativa:
A segunda corrente, na qual a probidade é um gênero, sendo a moralidade uma de suas espécies,
é o melhor entendimento. A improbidade irá englobar não apenas os atos desonestos ou imorais,
mas também os atos ilegais.
Trata-se de um ato praticado por agente público, ou por particular em conjunto com agente
público, e que gera enriquecimento ilícito, causa prejuízo ao erário ou atenta contra os princípios
da Administração Pública.
Um ponto de destaque é o fato de que o legislador deixa expressamente consignado que só existe
ato de improbidade em caso de conduta dolosa:
Art. 1º (...)
• Antes da Lei nº 14.230/2021: os atos de improbidade administrativa previstos nos arts. 9º, 10-A
e 11 exigiam dolo. Havia, contudo, uma hipótese de improbidade que poderia ser praticada com
culpa: o art. 10.
• Depois da Lei nº 14.230/2021: todos os atos de improbidade administrativa exigem dolo. Não
existe mais a possibilidade de ser praticado ato administrativo com culpa.
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não configura ato de improbidade.
De acordo com o projeto de lei, o intuito do legislador foi de conferir nova definição do ato de
improbidade administrativa, de modo a restringi-lo ao agente público desonesto, não o inábil. O
equívoco, o erro ou a omissão decorrente de uma negligência, uma imprudência ou uma imperícia
não pode ser compreendido como ato de improbidade.
Reforça essa nova exigência da LIA a revogação do art. 5º, que previa a modalidade culposa:
Art. 5º Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do
agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano. (REVOGADO)
Vale ressaltar que o afastamento da modalidade culposa de improbidade não significa que o ato
praticado pelo agente sem dolo, mas com culpa, seja considerado lícito e fique sem
responsabilização. O servidor que agir com negligência, imperícia ou imprudência pode ser punido
até mesmo com demissão, nos termos dos arts. 117, XV, e 132, XIII, da Lei nº 8.112/90:
(...)
E qual é a definição de “dolo” para fins de improbidade administrativa? Basta o dolo “genérico”
ou se exige dolo “específico”?
Antes da Lei nº 14.230/2021, a jurisprudência do STJ afirmava que o dolo genérico era suficiente
para a configuração da conduta ímproba:
STJ. 2ª Turma. REsp 1383649/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2013.
Ressalte-se que não se exige dolo específico (elemento subjetivo específico) para sua
tipificação.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 307583/RN, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/06/2013.
Contudo, esse entendimento foi, aparentemente, superado pelo novo § 2º do art. 1º, da LIA, que
diz:
Art. 1º (...)
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos
arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº
14.230/2021)
Assim, aparentemente, com a mudança operada pela Lei nº 14.230/2021, exige-se dolo +
elemento subjetivo especial (“dolo específico”) para configurar a conduta ímproba.
Art. 1º (...)
Art. 11 (...)
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pelo
Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na
aplicação deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do agente público o fim de
obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei
nº 14.230/2021)
Divergência interpretativa
Uma das principais novidades da Lei nº 14.230/2021 foi o novo § 8º do art. 1º que afirma que não
há que se falar em improbidade se a conduta do agente público foi baseada em jurisprudência,
ainda que posteriormente não tenha sido a que prevaleceu:
Art. 1º (...)
A divergência faz parte do cotidiano do intérprete do direito. Muitas vezes, as ações por
improbidade administrativa são propostas em razão de intepretações diferentes a sobre a lei: o
gestor público segue parte da jurisprudência segundo a qual uma prática é permitida, ao passo
que o Ministério Público entende se tratar de ilegalidade, seguindo jurisprudência oposta. Nesses
casos, cabe ao Poder Judiciário se pronunciar sobre a ocorrência de mera divergência
interpretativa ou de intencional violação à lei, configurando-se, esta sim, improbidade
administrativa.
Aqui, o legislador buscou deixar claro que os atos praticados diante da dúvida razoável sobre o
que é (i)lícito não configuram improbidade administrativa.
A ação de improbidade administrativa possui natureza cível. Em outras palavras, é uma ação civil
e não uma ação penal. Assim, o ato de improbidade administrativa não é crime.
A despeito disso, suas sanções são graves e, portanto, a Lei nº 14.230/2021 acrescentou o § 4º
ao art. 1º da LIA afirmando que a ele devem ser aplicados os princípios do direito administrativo
sancionador, que muito se assemelham aos princípios do direito penal:
Art. 1º (...)
“As sanções da Lei de Ação Popular, da Lei de Ação Civil Pública e da Lei de Improbidade
Administrativa não têm caráter penal, mas formam o arcabouço do direito administrativo
sancionador, de cunho eminentemente punitivo, fato que autoriza trazermos à baila a lógica
do Direito Penal, ainda que com granus salis. É razoável pensar, pois, que pelo menos os
princípios relacionados a direitos fundamentais que informem o Direito Penal devam,
igualmente, informar a aplicação de outras leis de cunho sancionatório.
(...)
De acordo com essa linha de argumentação, um princípio norteador do Direito Penal que,
em minha opinião, deve ter plena aplicação no campo do Direito Administrativo
sancionador é o princípio da culpabilidade (...)” (STJ REsp 765212/AC)
Vale ressaltar que a presente análise é sob o ponto de vista do direito MATERIAL, ou seja, será
examinado o sujeito ativo do ATO de improbidade, isto é, quem praticou o ato no mundo real. Não
se está tratando aqui de sujeito ativo ou passivo sob o ponto de vista processual, isto é, quem
seria autor ou réu na ação de improbidade.
Assim, quando você ouvir falar em sujeito ativo ou passivo da improbidade, está se falando do
ATO e não do processo judicial. Não se deve, portanto, confundir sujeito ativo/passivo do ato de
improbidade com o legitimado ativo/passivo da ação de improbidade. O sujeito ativo do ato de
improbidade será legitimado passivo (réu) da ação de improbidade; o sujeito passivo do ato, em
regra, poderá ser legitimado ativo (autor) da ação de improbidade.
Sujeito passivo é a pessoa jurídica, de direito público ou privado, que sofre os efeitos deletérios do
ato de improbidade administrativa. É como se fosse a “vítima” do ato de improbidade.
A lista das pessoas que podem ser sujeito passivo do ato de improbidade está prevista no art. 1º,
§§ 5º a 7º da Lei nº 8.429/92, que foram acrescentados pela Lei nº 14.230/2021 e que podem ser
assim resumidos:
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio
de entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes
públicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo.
LEI Nº 8.429/92
Art. 2º Reputa-se agente público, para Art. 2º Para os efeitos desta Lei,
os efeitos desta lei, todo aquele que consideram-se agente público o
exerce, ainda que transitoriamente ou agente político, o servidor público e
sem remuneração, por eleição, todo aquele que exerce, ainda que
nomeação, designação, contratação transitoriamente ou sem
ou qualquer outra forma de remuneração, por eleição, nomeação,
investidura ou vínculo, mandato, designação, contratação ou qualquer
cargo, emprego ou função nas outra forma de investidura ou vínculo,
entidades mencionadas no artigo mandato, cargo, emprego ou função
anterior. nas entidades referidas no art. 1º
desta Lei.
O conceito de agente público para fins de improbidade administrativa é o mais amplo possível e
abrange:
- Agente político,
- servidor público e
- por eleição,
- nomeação,
- designação,
- contratação ou
A Lei nº 14.230/2021 inovou ao expressamente prever que agentes políticos podem responder por
improbidade administrativa. Trata-se de incorporação à LIA de entendimento do STF que pacificou
a divergência que havia sobre essa possibilidade:
STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgado em 10/5/2018 (Info 901).
Apesar de não significar inovação substancial, o novo parágrafo único do art. 2º deixa claro que o
particular, pessoa física ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, contrato
de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de cooperação ou ajuste administrativo
equivalente também responde por improbidade administrativa.
Terceiro é a pessoa física ou jurídica que, mesmo não sendo agente público, induziu ou concorreu
dolosamente para a prática do ato de improbidade.
Desse modo, o papel do terceiro no ato de improbidade pode ser o de:
A Lei adotou um critério residual ao definir terceiro por exclusão: será todo aquele que não se
amoldar ao conceito amplo de agente público do art. 2º.
Se a pessoa (física ou jurídica) não induzir nem concorrer para o ato de improbidade, mas, no
final das contas, for beneficiada com esse ato, ela será considerada “terceiro” e responderá
pelas sanções da Lei nº 8.429/92?
Pessoa que não induziu nem concorreu, mas foi beneficiada pelo ato de
improbidade,
SIM. As pessoas jurídicas que participem ou se beneficiem dos atos de improbidade sujeitam-se à
Lei nº 8.429/92.
b) As sanções da Lei nº 8.429/92 não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade
administrativa seja também sancionado como ato lesivo à administração pública de que trata a
Lei nº 12.846/2013 (§ 2º do art. 3º da Lei nº 8.429/92, incluído pela Lei nº 14.230/2021).
É possível imaginar que exista ato de improbidade com a atuação apenas do “terceiro” (sem a
participação de um agente público)? É possível que, em uma ação de improbidade
administrativa, o terceiro figure sozinho como réu?
NÃO. Para que o terceiro seja responsabilizado pelas sanções da Lei nº 8.429/92, é indispensável
que seja identificado algum agente público como autor da prática do ato de improbidade. Logo,
não é possível que seja proposta ação de improbidade somente contra o terceiro, sem que figure
também um agente público no polo passivo da demanda.
Como vimos mais acima, os particulares estão sujeitos aos ditames da Lei nº 8.429/92 (LIA), não
sendo, portanto, o conceito de sujeito ativo do ato de improbidade restrito aos agentes públicos.
Entretanto, analisando-se o art. 3º da LIA, observa-se que o particular será incurso nas sanções
decorrentes do ato ímprobo somente quando:
a) induzir, ou seja, incutir no agente público o estado mental tendente à prática do ilícito;
Diante disso, o STJ reputa inviável o manejo da ação civil de improbidade exclusivamente e
apenas contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da
demanda.
a) Sócios, cotistas, diretores e colaboradores da pessoa Jurídica somente respondem por ato de
improbidade se ficar comprovada participação na realização do ato e que houve algum tipo de
benefício direto (art. 3º, § 1º, da LIA);
b) aquela pessoa jurídica ou pessoa física que responder por ato lesivo à administração pública de
acordo com a Lei de Responsabilização da Pessoa Jurídica (Lei Anticorrupção - Lei nº
12.846/2013);
c) aquele que praticar atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação de recursos públicos dos partidos políticos (art. 23-
C: responderá nos termos da Lei dos Partidos Políticos - Lei nº 9.096/95).
Exemplificando: se uma pessoa jurídica for responsabilizada por fraude à licitação conforme o art.
5º da Lei nº 12.846/2013, não poderá ser também ser sancionada de acordo com a LIA, sob pena
de bis in idem.
(...) (...)
Quanto à indisponibilidade de bens, a Lei nº 14.230/2021 deixou claro que qualquer autoridade
poderá representar ao MP para adoção de providências e não apenas a “autoridade administrativa
responsável pelo inquérito”, como previa a LIA.
Vale ressaltar que, assim como na redação original, qualquer pessoa pode representar à
autoridade administrativa com atribuições para apurar a prática de ato de improbidade.
A redação original do art. 7º da LIA previa a medida cautelar de indisponibilidade de bens, que
passou a ser prevista no art. 16, comentado adiante. Logo, importante deixar isso claro: a
indisponibilidade continua existindo, mas agora apenas no art. 16 da LIA.
Por fim, o art. 14, § 3º, simplificou a menção à instauração de PAD para apuração da conduta do
servidor público.
7. RESPONSABILIDADE SUCESSÓRIA
LEI Nº 8.429/92
A literalidade da redação originária da LIA dizia que apenas os sucessores respondiam pelas
sanções patrimoniais decorrentes de atos ímprobos, nos limites da herança. Logo, a redação
anterior não era muito clara e poderia, em tese, gerar dúvidas sobre a extensão dessa
responsabilização.
A Lei nº 14.230/2021 resolve a questão e afirma que o sucessor e o herdeiro daquele que causar
dano ao erário ou se enriquecer ilicitamente está sujeito apenas à obrigação de repará-lo até o
limite do valor da herança ou do patrimônio transferido. Ou seja, foi explicitado que as demais
sanções advindas das condenações por improbidade administrativa são personalíssimas, não se
transmitindo em razão do princípio da pessoalidade das sanções.
Foi incluído o art. 8º-A para ampliar a responsabilidade sucessória das pessoas jurídicas. Haverá
responsabilidade também na hipótese de “alteração contratual, de transformação, de
incorporação, de fusão ou de cisão societária”. Nestes casos, “a responsabilidade da sucessora
será restrita à obrigação de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio
transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas na lei decorrentes de atos e de
fatos ocorridos antes da data da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de
evidente intuito de fraude, devidamente comprovados”.
8. REDEFINIÇÃO DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Os atos de improbidade administrativa estavam previstos em quatro dispositivos: arts. 9º, 10, 10-
A e 11 da LIA.
Depois da Lei nº 14.230/2021, os atos de improbidade foram agrupados apenas em três artigos:
9º, 10 e 11.
O ato de improbidade anteriormente previsto no art. 10-A foi transportado para o novo inciso XXII
do art. 10. Com isso, foi revogada a previsão destas condutas em artigo independente.
Mudanças no art. 9º
LEI Nº 8.429/92
VII - adquirir, para si ou para outrem, VII - adquirir, para si ou para outrem,
no exercício de mandato, cargo, no exercício de mandato, de cargo, de
emprego ou função pública, bens de emprego ou de função pública, e em
qualquer natureza cujo valor seja razão deles, bens de qualquer
desproporcional à evolução do natureza, decorrentes dos atos
patrimônio ou à renda do agente descritos no caput deste artigo, cujo
público; valor seja desproporcional à evolução
do patrimônio ou à renda do agente
público, assegurada a demonstração
pelo agente da licitude da origem
dessa evolução;
• Dolo.
As demais alterações promovidas pela Lei nº 14.230/2021 foram pontuais, apenas para deixar o
aspecto de incidência da lei mais abrangente nos casos previstos nos incisos IV e IV do art. 9º.
Mudanças no art. 10
LEI Nº 8.429/92
Art. 10. Constitui ato de improbidade Art. 10. Constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão, erário qualquer ação ou omissão
dolosa ou culposa, que enseje perda dolosa, que enseje, efetiva e
patrimonial, desvio, apropriação, comprovadamente, perda patrimonial,
malbaratamento ou dilapidação dos desvio, apropriação, malbaratamento
bens ou haveres das entidades ou dilapidação dos bens ou haveres
referidas no art. 1º desta lei, e das entidades referidas no art. 1º
notadamente: desta Lei, e notadamente:
(...) (...)
Segundo entende o STJ, para a condenação por ato de improbidade administrativa no art. 10, é
indispensável a demonstração de que ocorreu efetivo dano ao erário.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 18.317/MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em
05/06/2014.
Assim, para a configuração dos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da Lei nº
8.429/92 exige-se a presença do efetivo dano ao erário.
Além disso, a nova lei proíbe o sancionamento de atos culposos, como evidenciam os incisos X e
XIX desse art.10. Agora, nenhuma conduta culposa configura ato de improbidade, afastando-se o
entendimento do STJ que admitia a culpa como hipótese de responsabilização nos casos do art.
10, como já comentamos acima.
Mudanças no art. 11
LEI Nº 8.429/92
Art. 11. Constitui ato de improbidade Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública princípios da administração pública a
qualquer ação ou omissão que viole ação ou omissão dolosa que viole os
os deveres de honestidade, deveres de honestidade, de
imparcialidade, legalidade, e lealdade imparcialidade e de legalidade,
às instituições, e notadamente: caracterizada por uma das seguintes
condutas:
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º
deste artigo a quaisquer atos de
improbidade administrativa
tipificados nesta Lei e em leis
especiais e a quaisquer outros tipos
especiais de improbidade
administrativa instituídos por lei.
§ 3º O enquadramento de conduta
funcional na categoria de que trata
este artigo pressupõe a
demonstração objetiva da prática de
ilegalidade no exercício da função
pública, com a indicação das normas
constitucionais, legais ou infralegais
violadas.
O rol de condutas do art. 11 passou a ser taxativo, permanecendo as condutas previstas nos arts.
9º e 10 elencadas em rol exemplificativo.
Requisitos
Para a configuração dos atos de improbidade tipificados no art. 11 da Lei nº 8.429/92, exige-se
que a conduta seja praticada por agente público (ou a ele equiparado), atuando no exercício de
seu munus público, havendo, ainda, a necessidade do preenchimento dos seguintes requisitos:
a) conduta ilícita;
c) elemento volitivo, consubstanciado no dolo de cometer a ilicitude com o fim de obter proveito
ou benefício indevido;
e) lesividade relevante.
Como já era consolidado na jurisprudência do STJ, os atos ímprobos lesivos a princípios exigem
conduta dolosa, excluída a culpa. A Lei nº 14.230/2021 deixa expresso esse entendimento ao
dispor que “constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de
imparcialidade e de legalidade (...)” (art. 11, caput)
Com base nessa convenção da ONU, o novo § 1º do art. 11 prevê que “somente haverá
improbidade administrativa, na aplicação deste artigo, quando for comprovado na conduta
funcional do agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra
pessoa ou entidade”.
Dessa forma, o especial fim de agir (obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra
pessoa ou entidade) passa a ser expressamente exigido em “quaisquer atos de improbidade
administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais e a quaisquer outros tipos especiais de
improbidade administrativa instituídos por lei” (art. 11, § 2º).
Sobre o novo requisito da lesividade relevante, vale destacar que, para o legislador, “existem atos
administrativos que são meramente irregulares, jamais atos de improbidade administrativa, e
entre aqueles ilícitos caracterizáveis como atos de improbidade existem os que não implicam
relevante dano ao erário, embora sejam atos que ofendam a moralidade e às vezes ao patrimônio
administrativo. Possuem baixo poder ofensivo – ou baixa relevância, ou baixa significância –, mas
são ontologicamente atos de improbidade”.
Conforme explicitou o projeto que deu origem à Lei nº 14.230/2021, a ideia de relevante lesividade
tem por objetivo afastar atos meramente irregulares da incidência das sanções por improbidade.
Por outro lado, mesmo sem que haja dano ao erário ou enriquecimento ilícito, é possível
configurar ato de improbidade administrativa, conforme restou explicitado no novo §4º do art. 11
da LIA.
Reforça esse entendimento a previsão de que aos atos de menor ofensividade aplica-se apenas a
pena de multa, conforme art. 12, § 5º, da LIA:
Art. 12 (...)
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tutelados por esta Lei, a sanção
limitar-se-á à aplicação de multa, sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores
obtidos, quando for o caso,
Além disso, o enquadramento na violação de sigilo funcional passou exigir “beneficiamento por
informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da sociedade e do Estado” (inciso III).
Dessa forma, o mero vazamento de informações não configura a conduta ímproba: é necessário
comprovar que, ao vazar informações privilegiadas, o agente gerou benefício a alguém ou colocou
em risco a segurança do Estado.
A conduta consubstanciada na negativa de publicidade aos atos oficiais ganhou uma exceção:
quando se der “em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado
ou de outras hipóteses instituídas em lei” não haverá improbidade administrativa (inciso IV).
Frustrar a licitude de concurso público passou a ter um sentido mais restrito: a nova redação do
inciso V do art. 11 passa a exigir ofensa à imparcialidade e ao caráter concorrencial de concurso
público para configurar conduta ímproba.
O ato de deixar de prestar contas quando o agente é obrigado a fazê-lo passou a exigir que se
comprove que o agente tinha condições para prestar as contas, mas não o fez com vistas a
ocultar irregularidades (art. 11, VI). Vale lembrar que o STJ já entendia que o simples atraso nas
contas não era considerado ato de improbidade:
Nepotismo
Embora se trate de novidade na legislação, o nepotismo já era vedado em qualquer dos Poderes
da República por força dos princípios constitucionais da impessoalidade, eficiência, igualdade e
moralidade, independentemente de previsão expressa em diploma legislativo, em razão dos
fundamentos constitucionais. Conforme entende o STF, o nepotismo não exige a edição de uma
lei formal proibindo a sua prática, uma vez que tal vedação decorre diretamente dos princípios
contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF Rcl 6.702/PR-MC-Ag).
A Lei nº 14.230/2021 inseriu uma ressalva: não se configurará improbidade a mera nomeação ou
indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária a aferição de
dolo com finalidade ilícita por parte do agente (§ 5º do art. 11). Trata-se de um reforço à exigência
de dolo e do especial fim de agir para configuração dos atos de improbidade administrativa. No
entanto, é importante observar que essa exigência não encontra respaldo na Súmula Vinculante
nº 13 do STF. Segundo o verbete, a violação à Constituição Federal se dá pelo mero ato da
nomeação, sem apresentar qualquer outro requisito para configurá-la.
Vale lembrar as demais exceções ao nepotismo trazidas pela jurisprudência, mas que não foram
previstas no texto da LIA:
A contratação, por agente político, de parentes para cargos em comissão ocorrida antes da
Súmula Vinculante nº 13 do STF configura ato de improbidade administrativa?
NÃO SIM
A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal, por se tratar de cargo
público de natureza política, por si só, não caracteriza ato de improbidade administrativa.
STF. 2ª Turma. Rcl 22339 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 4/9/2018 (Info 914).
Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como,
por exemplo, Secretário Municipal.
Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido a
permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de
que tal prática não configura nepotismo.
Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político caso
fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de
qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
Além do nepotismo, a promoção pessoal de agente público também passou a ser expressamente
prevista no inciso XII do art. 11 da LIA. Trata-se de conduta que também já era punida antes da
alteração legislativa, mediante o enquadramento no caput do art. 11. A promoção pessoal paga
com dinheiro público viola o princípio da imparcialidade da Administração Pública, previsto no
caput do art. 11, e por isso as sanções eram aplicadas.
Segundo o art. 12, o indivíduo condenado por ato de improbidade administrativa estará sujeito às
seguintes cominações:
f) multa civil;
g) ressarcimento integral do dano (obs: tecnicamente, não é uma sanção, mas apenas uma
consequência do ato).
A Lei nº 14.230/2021 deixa claro que o ressarcimento integral do dano é uma consequência do
ato de improbidade, mas não tem natureza jurídica de sanção.
Além disso, a Lei nº 14.230/2021 restringe o ressarcimento apenas aos casos em que o dano
patrimonial for efetivo:
LEI Nº 8.429/92
(...)
Nos casos do art. 9º: a perda da função pública continua sendo uma hipótese de sanção. No
entanto, a Lei nº 14.230/2021 traz uma enorme novidade:*
Em regra, a perda da função pública atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e natureza
que o agente público ou político detinha com o poder público na época do cometimento da
infração.
Exceção: o magistrado, em caráter excepcional, poderá estender essa sanção (essa perda da
função) aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a gravidade da infração.
Nos casos do art. 10: a perda da função pública continua sendo uma hipótese de sanção. No
entanto, a Lei nº 14.230/2021 traz uma enorme novidade: no caso do art. 10, a perda da função
pública sempre atinge somente o vínculo de mesma qualidade e natureza que o agente público
ou político detinha com o poder público na época do cometimento da infração.
No caso do art. 11: a perda da função pública deixa de ser uma sanção. Logo, mesmo que o réu
seja condenado por ato de improbidade listado no art. 11, não cabe mais a perda da função
pública.
O agente perde a função pública que estiver ocupando no momento do trânsito em julgado,
ainda que seja diferente daquela que ocupava no momento da prática do ato de improbidade.
A sanção de perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que exibiu
inidoneidade (ou inabilitação) moral e desvio ético para o exercício da função pública,
abrangendo qualquer atividade que o agente esteja exercendo no momento do trânsito em
julgado da condenação.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão, julgado em
09/09/2020.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020.
Em regra, não.
Em regra, a perda da função pública atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e natureza
que o agente público ou político detinha com o poder público na época do cometimento da
infração.
Exceção: nas hipóteses do art. 9º, o magistrado, em caráter excepcional, poderá estender essa
sanção (essa perda da função) aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a
gravidade da infração.
Desse modo, a Lei nº 14.230/2021 teve por objetivo superar o entendimento do STJ sobre o
tema.
• Antes: de 8 a 10 anos;
• Agora: até 14 anos.
• Antes: de 5 a 8 anos.
• Antes: de 3 a 5 anos.
Multa civil
• Antes: multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente.
• Depois: multa civil de até 24 vezes o valor da remuneração percebida pelo agente.
Obs: a multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz considerar que, em virtude da situação
econômica do réu, o valor calculado é ineficaz para reprovação e prevenção do ato de
improbidade.
A pessoa condenada por ato de improbidade administrativa fica impedida de contratar apenas
com o ente público que foi lesado pelo ato ou essa proibição é ampla e abrange a administração
pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, Estados, DF e Municípios?
Em regra, o condenado ficará proibido de contratar apenas com o ente público lesado.
Excepcionalmente, o juiz poderá ampliar essa proibição para os demais entes.
É essa a interpretação que faço do novo § 4º do art. 12, inserido pela Lei nº 14.230/2021:
Vejamos como ficou o novo panorama das sanções aplicáveis aos atos de improbidade
administrativa:
Perda da função
Pode ser aplicada Pode ser aplicada NÃO se aplica
pública
Suspensão dos
Até 14 anos Até 12 anos NÃO se aplica
direitos políticos
Proibição de
contratar com o Pelo prazo não
Pelo prazo não Pelo prazo não
poder público ou superior a 12
superior a 14 anos superior a 4 anos
de receber anos
benefícios
Obs: a sanção de perda da função pública atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e
natureza que o agente público ou político detinha com o poder público na época do cometimento
da infração, podendo o magistrado, na hipótese de condenação pelo art. 9º, em caráter
excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a
gravidade da infração.
Obs2: a multa civil pode ser aumentada até o dobro, se o juiz considerar que, em virtude da
situação econômica do réu, o valor calculado é ineficaz para reprovação e prevenção do ato de
improbidade.
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.
É possível que haja reparação do dano determinada na ação de improbidade mesmo que já
tenha sido fixado o ressarcimento em outra instância?
O Prefeito recorreu contra a decisão argumentando que foi vítima de bis in idem. Isso porque ele
foi condenado duas vezes a ressarcir o dano: uma pelo TCU e outra pelo Poder Judiciário.
Dessa forma, a defesa pediu que fosse excluída a determinação “a” (ressarcimento integral do
dano).
NÃO. As instâncias judicial e administrativa não se confundem, razão pela qual o fato de o TCU já
ter punido o administrador com o ressarcimento ao erário não proíbe que seja proposta ação de
improbidade administrativa relacionada com o mesmo fato e que o administrador seja novamente
condenado pelo Poder Judiciário a ressarcir ao erário.
Mas o administrador pagará duas vezes o ressarcimento? Neste caso, haverá um enriquecimento
sem causa do Poder Público, que receberá duas vezes o ressarcimento...
NÃO. O STJ afirmou que no momento do segundo pagamento, deverá ser feito o abatimento do
valor que foi pago na primeira execução que foi movida.
O que não se permite é a constrição patrimonial além do efetivo prejuízo apurado. Assim, é
possível a formação de dois títulos executivos, devendo ser observada a devida dedução do valor
da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.
Em suma:
Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e
sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o
ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do
valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título
remanescente.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do
TRF 1ª Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).
A Lei nº 14.230/2021, de certa forma, encampa esse entendimento ao inserir o novo § 6º ao art.
12, da LIA, com a seguinte redação:
Art. 12 (...)
§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a que se refere esta Lei deverá
deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por
objeto os mesmos fatos.
No mesmo sentido é o novo § 5º do art. 21 da LIA, também inserido pela Lei nº 14.230/2021:
Art. 21 (...)
Sanção aplicada contra a pessoa jurídica não pode levá-la ao encerramento de suas atividades
A Lei nº 14.230/2021 inseriu um novo parágrafo ao art. 12:
Art. 12 (...)
É possível aplicar o princípio da insignificância para “absolver” um réu que tenha praticado ato
de improbidade administrativa de pouca gravidade?
NÃO. A jurisprudência do STJ não admite a aplicação do princípio da insignificância para os atos
de improbidade administrativa.
Contudo, a Lei nº 14.230/2021 acrescentou um parágrafo afirmando que, nestes casos, é possível
aplicar apenas a multa como única sanção. Além da multa, o sujeito terá que ressarcir o erário e
devolver os valores eventualmente obtidos. Confira o novo parágrafo:
Art. 12 (...)
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tutelados por esta Lei, a sanção
limitar-se-á à aplicação de multa, sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores
obtidos, quando for o caso, nos termos do caput deste artigo.
A sanção de proibição de contratação com o poder público deverá constar do Cadastro Nacional
de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846/2013, observadas as
limitações territoriais contidas em decisão judicial (art. 12, § 8º, da LIA)
Com a Lei nº 14.230/2021, passou a configurar bis in idem a aplicação de sanções por
improbidade administrativa e as aplicadas a pessoas jurídicas com base na Lei nº 12.846/2013
(Anticorrupção). Conforme dito no art. 3º, § 2º, as sanções da LIA não se aplicarão à pessoa
jurídica, caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à
administração pública de que trata a Anticorrupção. Trata-se de novidade na legislação cível, já
que a aplicação do princípio da vedação ao bis in idem é comum apenas na esfera penal. Além
disso, há mitigação da independência das instâncias, conforme prevê o art. 21, §4º, da LIA:
Art. 21 (...)
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fatos, confirmada por decisão
colegiada, impede o trâmite da ação da qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os
fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal).
LEI Nº 8.429/92
Art. 20. A perda da função pública e a O caput do art. 20 foi mantido intacto.
suspensão dos direitos políticos só se No entanto, veja o § 9º inserido no art.
efetivam com o trânsito em julgado 12:
da sentença condenatória.
Art. 12 (...)
No regime anterior, era possível a execução provisória da sentença condenatória da maior parte
das sanções, como a proibição de contratar, por exemplo. No entanto, não era possível executar
antes do trânsito em julgado (provisoriamente, portanto) as sanções de perda da função pública e
de suspensão dos direitos políticos.
Agora, nenhuma sanção poderá ser executada provisoriamente, conforme o novo § 9º do art. 12
da LIA. Trata-se de novidade muito importante.
A Lei nº 14.230/2021 incorporou ao texto da LIA a praxe já existente de exigir, como declaração de
bens, a declaração de imposto de renda apresentada anualmente à Receita Federal.
LEI Nº 8.429/92
§ 1º A declaração compreenderá
§ 1º (Revogado).
imóveis, móveis, semoventes,
dinheiro, títulos, ações, e qualquer
outra espécie de bens e valores
patrimoniais, localizado no País ou no
exterior, e, quando for o caso,
abrangerá os bens e valores
patrimoniais do cônjuge ou
companheiro, dos filhos e de outras
pessoas que vivam sob a
dependência econômica do
declarante, excluídos apenas os
objetos e utensílios de uso doméstico.
Vale ressaltar que essa indisponibilidade não tem caráter sancionador, sendo uma medida
cautelar.
Assim, a indisponibilidade não é uma pena acessória. Seu escopo é perpetuar a existência de
bens que asseguram o integral ressarcimento do dano, com inegável caráter preventivo (RESp
139.187-DF, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, julgado em 24/02/2000).
Por essa razão, você não encontrará dispositivos disciplinando especificamente o sequestro.
Logo, não havia mais razão a LIA fazer menção a sequestro, sendo a indisponibilidade de bens
uma medida cautelar deferida com base no art. 16 da LIA e no art. 301 do CPC/2015.
Essa é a primeira “mudança” feita no caput e no § 1º do art. 16:
LEI Nº 8.429/92
Art. 16 (...)
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, no que for cabível, o regime da
tutela provisória de urgência da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil).
O Ministério Público.
Art. 16 (...)
§ 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo poderá ser
formulado independentemente da representação de que trata o art. 7º desta Lei.
Relembre agora o que diz o art. 7º da LIA, com redação dada pela Lei nº 14.230/2021:
Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade que conhecer dos fatos
representará ao Ministério Público competente, para as providências necessárias.
SIM. O STJ, mesmo antes da Lei nº 14.230/2021, já entendia que, considerando a sua natureza
acautelatória, a medida de indisponibilidade de bens em ação de improbidade administrativa pode
ser deferida sem oitiva do réu. Nesse sentido:
A Lei nº 14.230/2021 incluiu o § 3º ao art. 16 afirmando que é possível esse deferimento liminar,
mas desde que fique demonstrado que não é possível, no caso concreto, ouvir previamente o réu.
Essa urgência não pode ser presumida:
Art. 16 (...)
§ 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o
contraditório prévio puder comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras
circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a urgência ser presumida.
Pressupostos
A indisponibilidade era decretada para assegurar o ressarcimento dos valores ao Erário e também
para custear o pagamento da multa civil:
Art. 16 (...)
A indisponibilidade pode ser determinada sobre bens com valor superior ao mencionado na
petição inicial da ação de improbidade (ex.: a petição inicial narra um prejuízo ao erário de R$
100 mil, mas o MP pede a indisponibilidade de R$ 500 mil do requerido)?
REsp 1176440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/9/2013.
A Lei nº 14.230/2021 incluiu um novo parágrafo prevendo uma ordem de prioridade na decretação
da indisponibilidade. O bloqueio de contas bancárias passa a ser a última opção:
Art. 16 (...)
§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens
imóveis, bens móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades
simples e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio
de contas bancárias, de forma a garantir a subsistência do acusado e a manutenção da
atividade empresária ao longo do processo.
Art. 16 (...)
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários
mínimos depositados em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em
conta-corrente.
A indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único, da LIA podeia recair sobre bens de família
(STJ. 2ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1351825/BA, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
22/09/2015).
Art. 16 (...)
Art. 16 (...)
§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens do réu a que se refere o caput
deste artigo, observará os efeitos práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de
acarretar prejuízo à prestação de serviços públicos.
SIM. Mas desde que demonstrada a sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apurados ou se
tiver havido desconsideração da personalidade jurídica:
Art. 16 (...)
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva
concorrência para os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da
instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser processado na
forma da lei processual.
Recurso
Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à indisponibilidade de bens caberá agravo de
instrumento (§ 9º do art. 16).
§ 2º O afastamento previsto no § 1º
deste artigo será de até 90 (noventa)
dias, prorrogáveis uma única vez por
igual prazo, mediante decisão
motivada.
A Lei nº 14.230/2021 afirmou que essa medida cautelar de afastamento do cargo só pode ser
decretada pela autoridade judicial (reserva de jurisdição), tendo retirado a possibilidade de ser
determinada pela autoridade administrativa. O STJ já havia limitado esse afastamento ao prazo de
180 dias (STJ. Corte Especial. AgRg na SLS 1498/RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em
15/3/2012).
Apesar da inovação legislativa, o art. 147 da Lei nº 8.112/90 continua prevendo a possibilidade de
afastamento pela autoridade administrativa na esfera federal:
Art. 147. Como medida cautelar e a fim de que o servidor não venha a influir na apuração da
irregularidade, a autoridade instauradora do processo disciplinar poderá determinar o seu
afastamento do exercício do cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da
remuneração.
RESUMO COMPARATIVO
4. Réplica do MP
Competência
A ação de improbidade deverá ser proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da
pessoa jurídica prejudicada (§ 4º-A do art. 17).
Tutelas provisórias
O Ministério Público poderá requerer as tutelas provisórias adequadas e necessárias, nos termos
dos arts. 294 a 310 do CPC (§ 6º-A do art. 17).
Juiz não pode modificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor
No pedido condenatório, era comum o MP enquadrar a conduta ímproba nos arts. 9º ou 10 e fazer
pedido subsidiário de aplicação do art. 11, que contém dispositivos mais abrangentes. O juiz, por
sua vez, não ficava restrito à “tipificação” realizada na inicial, podendo enquadrar a conduta do
agente ímprobo nos arts. 9º, 10 ou 11 (como se fosse uma emendatio libelli, do processo penal).
Agora, essa prática não é mais permitida, não podendo o juiz alterar a capitulação inicial:
Art. 17 (...)
§ 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá decisão na qual indicará com
precisão a tipificação do ato de improbidade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado
modificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor.
§ 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá necessariamente ser indicado
apenas um tipo dentre aqueles previstos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei.
(...)
§ 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de improbidade administrativa
que:
Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica interessada será intimada para, caso queira,
intervir no processo (§ 14 do art. 17);
§ 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação civil pública caberá agravo de
instrumento.
Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre os fatos de que trata a ação, e a sua
recusa ou o seu silêncio não implicarão confissão (§ 18 do art. 17).
Art. 17 (...)
(...)
Não é possível a distribuição diversa do ônus da prova em desfavor do réu
Ônus da prova é a regra que atribui a uma das partes o ônus de suportar a falta de prova de um
determinado fato.
As regras gerais de distribuição do ônus da prova estão previstas no art. 373 do CPC:
O sistema processual brasileiro adotou, como regra, a teoria da distribuição estática do ônus da
prova, segundo a qual cabe ao autor provar o fato constitutivo do direito e ao réu cabe provar o
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
Na distribuição estática do ônus da prova a lei atribui a uma determinada parte, de modo
apriorístico, quais são os fatos específicos que deverão ser por ela provados, dando-lhe ciência
prévia sobre como se desenvolverá a atividade instrutória, e o fato de que o ônus da prova, nessa
perspectiva – estática – é uma regra de julgamento, motivo pelo qual não deve o juiz com ela se
preocupar no curso da atividade probatória, mas somente ao final, e somente se porventura da
instrução resultar algum fato relevante não esclarecido.
O cotidiano forense demonstrou, ao longo dos anos, que as regras de distribuição estática do
ônus da prova previamente estabelecidas em lei não eram suficientes ou adequadas para
solucionar todas as situações fáticas. Diante disso, chegou-se à conclusão de que seria
necessária a criação de algumas regras de distribuição do ônus da prova diferentes daquelas pré-
determinadas pela lei.
O CPC denomina isso de “distribuição diversa do ônus da prova”. Na prática, é mais comum
falarmos em inversão do ônus da prova.
A inversão do ônus da prova consiste, portanto, em modificar, em determinados casos
excepcionais, as regras gerais do ônus da prova, que são previstas nos incisos do art. 373 do CPC.
Os §§ 1º e 2º do art. 373 do CPC preveem hipóteses nas quais o juiz, diante das peculiaridades do
caso concreto, poderá alterar a regra geral prevista nos incisos do art. 373 do CPC:
O juiz poderá atribuir o ônus da prova de modo diferente da regra geral prevista no caput do art.
373 em três situações:
1) nos casos previstos em lei. Ex: art. 6º, VIII, do CDC.
2) quando for impossível ou extremamente difícil cumprir o encargo previsto no caput do art. 373.
Trata-se da inversão do ônus da prova para evitar que a parte tenha que produzir uma prova
unilateralmente diabólica.
Em outras palavras, quando a regra geral do caput do art. 373 exigir que a parte faça uma prova
diabólica, o juiz deverá inverter o ônus.
Obs: a decisão de inversão não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela
parte seja impossível ou excessivamente difícil. Em outras palavras, a inversão não pode gerar
para a parte que recebeu esse ônus a tarefa de produzir uma prova diabólica. Não se pode
simplesmente transferir a prova diabólica de uma parte para a outra. Não se admite a inversão do
ônus em caso de prova duplamente diabólica (§ 2º do art. 373 do CPC).
O inciso II do § 19 do art. 17 da LIA, incluído pela Lei nº 14.230/2021, proíbe que o juiz imponha
contra o réu a aplicação dos §§ 1º e 2º do art. 373 do CPC:
Art. 17 (...)
II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e 2º do art. 373 da Lei nº 13.105,
de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil);
(...)
b) ne bis in idem processual: assegura-se ao réu o direito de não ser processado duas vezes pelo
mesmo fato. Assim, impede a formação, a continuação ou a sobrevivência da relação jurídica
processual que esteja em duplicidade.
Art. 17 (...)
(...)
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade administrativa pelo mesmo fato (...)
(...)
Art. 17 (...)
(...)
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade administrativa pelo mesmo fato,
competindo ao Conselho Nacional do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre
membros de Ministérios Públicos distintos;
(...)
Esse dispositivo, aparentemente simples, esconde uma série de desdobramentos que precisam
ser explicados.
Conflito de competência
Quando dois órgãos jurisdicionais divergem sobre quem deverá julgar uma causa, dizemos que
existe, neste caso, um conflito de competência.
Ocorreu um desastre ambiental nos Municípios de Rio Preto (MG) e Valença (RJ), bem na divisa
entre os dois Estados.
O Promotor de Justiça de Rio Preto (MG) ajuizou ação civil pública para apurar dano ambiental. A
Inicial foi recebida pelo juízo de Rio Preto (TJ/MG). Ocorre que o Ministério Público fluminense
também propôs uma ação civil pública relacionada com os mesmos fatos, tendo o juízo de
Valença (TJ/RJ) também aceitado a demanda.
Desse modo, perceba que há um conflito positivo de competência tendo em vista que tanto o juízo
de Rio Preto como o juízo de Valença consideram-se competentes para a causa.
Este conflito deverá ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, "d", da
CF/88:
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o",
bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais
diversos;
Conflito de atribuições
No exemplo acima, os membros do Ministério Público discordaram entre si. No entanto, essa
discordância não ficou limitada a eles e foi também encampada pelos juízes. Logo, em última
análise, tivemos um conflito de competência, ou seja, um conflito negativo entre dois órgãos
jurisdicionais.
Neste caso, indaga-se: se dois membros do Ministério Público divergem sobre quem deverá atuar
em uma investigação, como isso é chamado? Teremos aqui também um conflito de
competência?
Obs: mais uma vez, chamo atenção para o fato de que só existe conflito de atribuições se a
divergência ficar restrita aos membros do Ministério Público. Se os juízes encamparem as teses
dos membros do MP, aí eles estarão discordando entre si e teremos, no caso, um conflito de
competência.
Caso haja um conflito de atribuições entre membros do Ministério Público, quem irá decidir qual
dos dois órgãos irá atuar?
Esse é o entendimento do STF: Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de
Moraes, julgado em 16/06/2020.
Desse modo, podemos afirmar que o art. 17, § 19, III, da LIA, com redação dada pela Lei nº
14.230/2021, está de acordo com o entendimento do STF:
Art. 17 (...)
(...)
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade administrativa pelo mesmo fato,
competindo ao Conselho Nacional do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre
membros de Ministérios Públicos distintos;
(...)
O ponto que chamo atenção, contudo, e para o fato de que o art. 17, § 19, III, da LIA somente se
aplica para conflitos de atribuições. Em caso de conflitos de competência, a competência para
dirimir será:
• do Tribunal ao qual estiverem vinculados os juízos (ex: dois juízos vinculados ao TJ/BA
consideram-se competentes para julgar ação de improbidade relacionada com os mesmos fatos;
esse conflito será dirimido não pelo CNMP, mas sim pelo TJ/BA);
• do STJ, em caso de juízos vinculados a tribunais diferentes. Ex: em uma obra pública
interestadual envolvendo os Estados do Amazonas e do Pará, surgiram notícias da prática de atos
de improbidade administrativa. Tanto o MP/AM como o MP/PA ajuizaram ações de improbidade.
O juízo vinculado ao TJ/AM recebeu a Inicial, assim como o juízo vinculado ao TJ/PA. Neste caso,
teremos um conflito de competência, que não será dirimido pelo CNMP, mas sim pelo STJ.
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença:
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a
remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
- Se a sentença proferida pelo juiz de 1ª instância: a) for contra a Fazenda Pública; ou b) julgar
procedentes os embargos do devedor na execução fiscal (o que também é uma sentença contra a
Fazenda Pública);
- Essa sentença deverá ser, obrigatoriamente, reexaminada pelo Tribunal de 2º grau (Tribunal de
Justiça ou Tribunal Regional Federal);
- E, enquanto não for realizado o reexame necessário, não haverá trânsito em julgado.
Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é tecnicamente
incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de ofício” ou “recurso
obrigatório”.
Exceções ao reexame necessário
O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que, mesmo a sentença se enquadrando nos
incisos do art. 496, não haverá a obrigatoriedade do reexame necessário:
Art. 496 (...)
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e
fundações de direito público.
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
A Lei nº 4.717/65 prevê que se o juiz concluir pela carência ou pela improcedência da ação
popular, essa sentença estará sujeita ao reexame necessário. Veja:
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao
duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que
julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.
Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame necessário.
Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do CPC. Pelo CPC, se a
Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame necessário ocorre se o cidadão
perde.
Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo grau de jurisdição
invertido, ou seja, um duplo grau que ocorre em favor do cidadão (e não necessariamente da
Fazenda Pública).
É possível aplicar esse art. 19 da Lei nº 4.717/65 para as ações de improbidade administrativa?
O STJ entendia que devia se realizar o reexame necessário nas ações de improbidade
administrativa julgadas improcedentes ou extintas em razão da carência da ação:
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).
O art. 17, § 19, IV; e o art. 17-C, § 3º, da LIA, inseridos pela Lei nº 14.230/2021, vedam o reexame
obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito das ações de
improbidade administrativa:
Art. 17 (...)
(...)
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de
mérito.
Art. 17 (...)
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta Lei.
Art. 17 (...)
§ 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a legalidade prévia dos atos
administrativos praticados pelo administrador público ficará obrigada a defendê-lo
judicialmente, caso este venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a
decisão transite em julgado.
Art. 17 (...)
§ 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumento, inclusive da decisão que
rejeitar questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação.
Aplica-se à ação de improbidade administrativa o previsto no art. 19, § 1º, da Lei da Ação
Popular, segundo o qual das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento.
A decisão interlocutória proferida no bojo de uma ação de improbidade administrativa pode ser
impugnada por agravo de instrumento, com base no art. 19, §1º, da Lei nº 4.717/65, ainda que a
hipótese não esteja prevista no rol do art. 1.015 do CPC.
STJ. 2ª Turma. REsp 1925492-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/05/2021 (Info
695).
A Lei nº 13.964/2019 alterou esse dispositivo para admitir a celebração de acordo de não
persecução cível:
Se houver a possibilidade desse acordo, o juiz, a requerimento das partes, poderá interromper o
prazo para a contestação:
Art. 17 (...)
Em que consiste
O acordo de não persecução cível é um negócio jurídico firmado entre o Ministério Público e o
suposto autor do ato de improbidade administrativa
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que oriunda de agentes
privados.
STJ. 1ª Turma. Acordo no AREsp 1314581/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
23/02/2021 (Info 686).
Requisitos
2) aprovação, no prazo de até 60 dias, pelo órgão do Ministério Público competente para apreciar
as promoções de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da ação;
3) homologação judicial, independentemente de o acordo ocorrer antes ou depois do ajuizamento
da ação de improbidade administrativa.
Obs: a pessoa jurídica interessada não detém legitimidade para celebrar o acordo de não
persecução cível. Ainda assim, é necessária sua prévia oitiva.
2) reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que oriunda de agentes
privados.
Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, deverá ser realizada a oitiva do Tribunal
de Contas competente, que se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo de
90 dias (§ 3º do art. 17-B).
Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere esta Lei deverá, além de observar
o disposto no art. 489 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil):
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre que decidir com base em valores
jurídicos abstratos;
Dispositivo que segue a mesma linha do art. 20 da LINDB, inserido pela Lei nº 13.655/2018:
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Dispositivo que segue a mesma linha do art. 22 da LINDB, inserido pela Lei nº 13.655/2018:
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
g) os antecedentes do agente;
V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das sanções relativas ao mesmo fato já
aplicadas ao agente;
VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro, quando for o caso, a sua atuação
específica, não admitida a sua responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver
concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais indevidas;
VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios objetivos que justifiquem a imposição
da sanção.
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não configura ato de improbidade.
A distinção entre conduta ilegal e conduta ímproba imputada a agente público ou privado é muito
antiga. A ilegalidade e a improbidade não são situações ou conceitos intercambiáveis, cada uma
delas tendo o seu significado.
A improbidade é uma ilegalidade qualificada pelo intuito malsão (nocivo) do agente, atuando com
desonestidade, malícia, dolo. Assim, nem todas as vezes que o agente praticar um ato ilegal, ele
terá cometido um ato ímprobo. Para que o ato ilegal seja considerado ímprobo, exige-se um plus,
que é o intuito de atuar com desonestidade, malícia ou dolo.
A confusão entre os dois conceitos existia porque o art. 11 da Lei nº 8.429/92 prevê como ato de
improbidade qualquer conduta que ofenda os princípios da Administração Pública, entre os quais
se inscreve o da legalidade (art. 37 da CF). Mas isso não significa que toda ilegalidade é ímproba.
A conduta do agente não pode ser considerada ímproba analisando-se a questão apenas do
ponto de vista objetivo, o que iria gerar a responsabilidade objetiva. Quando não se faz distinção
conceitual entre ilegalidade e improbidade, corre-se o risco de adotar-se a responsabilidade
objetiva. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. REsp 1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 24/4/2014 (Info 540).
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta Lei.
Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote essas providências no prazo de 6 meses, contado
do trânsito em julgado da sentença de procedência da ação, caberá ao Ministério Público
proceder à respectiva liquidação do dano e ao cumprimento da sentença referente ao
ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem prejuízo de eventual
responsabilização pela omissão verificada.
Parcelamento
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior sanção aplicada, aumentada de 1/3
(um terço), ou a soma das penas, o que for mais benéfico ao réu;
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.
Se um direito é violado, o titular deste direito passa a ter a pretensão de buscar judicialmente a
reparação do dano (de forma específica ou pelo equivalente em dinheiro).
Essa pretensão, contudo, deve ser exercida dentro de um prazo previsto na lei. Esgotado esse
prazo, extingue-se a pretensão. A extinção dessa pretensão pelo decurso do prazo é chamada de
prescrição. Isso está previsto no art. 189 do Código Civil, valendo como regra geral:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição,
nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
A prescrição tem como fundamentos a pacificação social e a segurança jurídica. Se não existisse
prazo para o titular do direito exercer a sua pretensão, todas as relações jurídicas seriam sempre
marcadas pela incerteza e instabilidade, considerando que um fato ocorrido há anos ou mesmo
décadas poderia ser questionado.
A prescrição está presente nos diversos ramos do Direito, inclusive no Direito Administrativo.
Os atos de improbidade administrativa, assim como ocorre com as infrações penais, também estão
sujeitos a prazos prescricionais.
Logo, caso os legitimados ativos demorem muito tempo para ajuizar a ação de improbidade
administrativa contra o responsável pelo ato ímprobo, haverá a prescrição e a consequente perda da
pretensão punitiva.
• Depois da Lei nº 14.230/2021: 8 anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de
infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência.
Assim, o texto anterior do art. 23 estipulava três hipóteses de prazo de prescrição antes de a ação
ser proposta.
A nova redação do art. 23, caput, unifica em 8 anos contados a partir da ocorrência do fato ou, no
caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência, o prazo de prescrição para
a ação de improbidade.
A fixação da data do fato como termo inicial torna a contagem do prazo prescricional mais
segura. Isso porque, no regime anterior, esse início variava de acordo com a qualidade do sujeito
ativo do ato. E, na prática, reuniam-se numa mesma ação ou investigação sujeitos ativos de
diferentes naturezas. Sem contar que a redação anterior não previa expressamente regras de
prescrição para o terceiro (particular) que participava do ato de improbidade administrativa em
conjunto com o agente público.
Prescrição intercorrente
Prescrição intercorrente é aquela que ocorre durante o processo judicial em virtude da demora em
se prolatar uma decisão pondo fim à causa.
Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão:
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1872310/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/10/2021.
Esta Corte Superior possui jurisprudência consolidada no sentido de que não há falar em
prescrição intercorrente nas ações de improbidade administrativa, pois a Lei 8.429/92 somente
prevê a existência de prazo prescricional para o ajuizamento da ação.
STJ. 2ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1860617/MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 23/11/2020.
Art. 23 (...)
Assim, a suspensão do prazo prescricional não poderá ser superior a 180 dias.
Art. 23 (...)
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal
que confirma sentença condenatória ou que reforma sentença de improcedência;
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal que confirma acórdão
condenatório ou que reforma acórdão de improcedência.
Se você reparar, o legislador utilizou, para as ações de improbidade, a mesma lógica aplicada para
as hipóteses de interrupção da prescrição na ação penal previstas no art. 117 do Código Penal.
Chamo atenção, contudo, para uma diferença importante. No inciso I do art. 117 do CP, a
prescrição penal se interrompe pelo recebimento da denúncia ou queixa. No inciso I do § 4º do
art. 23 da LIA, a prescrição se interrompe pelo mero ajuizamento. Não é necessário que haja o
recebimento da Inicial.
Com a interrupção, o prazo não se reinicia por inteiro, mas sim pela metade
No Direito Penal e, como regra geral em todos os demais ramos do Direito, em caso de
interrupção, o prazo é zerado e recomeça a ser contado por inteiro a partir daquela data.
Art. 23 (...)
Art. 23 (...)
Trata-se de regra semelhante a que existe para a prescrição no Direito Penal e que se encontra
prevista no § 1º do art. 117 do CP.
O § 6º do art. 23 da LIA da extensão subjetiva dos efeitos das causas interruptivas da prescrição.
O § 7º, por sua vez, dispõe sobre a extensão objetiva dos efeitos das causas interruptivas.
Ocorre que se o inquérito ou processo demorar mais que 180 dias para ser concluído, o prazo
prescricional volta a correr.
Assim, a suspensão do prazo prescricional não poderá ser superior a 180 dias.
O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será concluído no prazo de 365 dias
corridos. É possível uma única prorrogação por igual período. Isso significa que, no total, um
inquérito civil para apuração do ato de improbidade não pode ser superior a 730 dias.
• ato fundamentado do membro do Ministério Público que está conduzindo o inquérito civil;
• concordância do órgão do Ministério Público competente para a revisão dos inquéritos civil,
previsto na lei orgânica.
Art. 23 (...)
§ 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será concluído no prazo de 365
(trezentos e sessenta e cinco) dias corridos, prorrogável uma única vez por igual período,
mediante ato fundamentado submetido à revisão da instância competente do órgão ministerial,
conforme dispuser a respectiva lei orgânica.
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo
comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
Para o STJ, esse art. 18 da LACP pode ser aplicado também para as ações de improbidade
administrativa?
SIM.
Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não haverá adiantamento de custas, de
preparo, de emolumentos, de honorários periciais e de quaisquer outras despesas.
§ 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais despesas processuais serão pagas
ao final.