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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 3
2. FONTE CONSTITUCIONAL ................................................................................................................................ 3
3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA............................................................................................................................ 5
4. NATUREZA JURÍDICA........................................................................................................................................ 6
5. NATUREZA DAS SANÇÕES ................................................................................................................................ 8
6. ABRANGÊNCIA DA LEI .................................................................................................................................... 14
6.1. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................................................. 14
6.2. SUJEITO PASSIVO ......................................................................................................................................... 22
7. DECLARAÇÃO DE BENS .................................................................................................................................. 25
8. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E PROCESSO JUDICIAL ......................................................................... 25
8.1. AÇÃO DE IMPROBIDADE .............................................................................................................................. 28
9. PRESCRIÇÃO ................................................................................................................................................... 35
10. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E RESPECTIVAS SANÇÕES ...................................................... 37
10.1. ATOS DE IMPROBIDADE QUE IMPORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO ................................. 38
10.2. ATOS DE IMPROBIDADE QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO ............................................. 39
10.3. ATOS QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................... 41
11. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO ............................................................................................ 50
12. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA ............................................................................................................................ 50
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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
1. INTRODUÇÃO
Estamos falando do termo técnico de corrupção administrativa, que se promove com o desvirtuamento
da função pública. Há uma afronta à ordem jurídica.
Ela se revela:
a) vantagens patrimoniais indevidas
b) exercício nocivo da função pública, tráfico de influências, favorecimento de uma minoria em
detrimento da grande maioria.
Probidade e Moralidade
PROBIDADE está relacionada à honestidade, correção de conduta, boa administração, com o PRINCÍPIO DA
MORALIDADE. Elas se equivalem, sendo a moralidade o princípio e improbidade lesão ao próprio princípio - José
Afonso da Silva.
2. FONTE CONSTITUCIONAL
A improbidade na Constituição está no art. 14, §9º, CF (improbidade no período eleitoral – caráter
preventivo); art. 15, inciso V, CF (suspensão dos direitos políticos em caso de improbidade); art. 85, V, CF
(improbidade na qualidade de crime de responsabilidade do Presidente da República); art. 37, §4º, CF (medidas
e sanções de improbidade – Lei nº 8.429/92). A Constituição definiu sanções, a natureza jurídica, mas deixou à
lei ordinária a regulação do assunto.
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e, nos termos da lei, mediante:
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
V - Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º
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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível (da função atualmente ocupada, mesmo que não seja a função na qual foi
praticado o ato de improbidade).
Entende-se que o art. 37, §4º da CRF é norma de eficácia limitada, estando hoje regulamentada pela Lei
8429/99.
A Lei 8.429/1992 trata sobre as sanções aplicáveis ao agente público, servidor ou não, em razão de atos
de improbidade praticados contra a Administração Pública. Geralmente, associa-se o conceito de improbidade
ao de moralidade. No entanto, para os fins de aplicação da lei, o conceito de improbidade é mais amplo, pois
abrange não só atos imorais praticados com ofensa aos princípios da Administração Pública, como os atos ilegais
em sentido estrito, ou seja, praticados com ofensa às regras positivadas no ordenamento jurídico. Além disso,
ato de improbidade pode referir-se não apenas a um ato administrativo, no sentido jurídico do termo, mas
também a uma conduta ou mesmo a uma omissão.
#DEOLHONAJURIS: A Lei nº 8.429/92 pode ser aplicada a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor? NÃO. É
pacífico o entendimento do STJ no sentido de que a Lei nº 8.429/92 não pode ser aplicada retroativamente para
alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988. STJ.
REsp 1129121/GO, Rel. p/ Acórdão Min. Castro Meira, julgado em 03/05/2012.
#OUSESABER: O STJ consolidou entendimento no sentido de que a Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº
8.429/92) NÃO pode ser aplicada retroativamente a fatos anteriores à sua entrada em vigor, ainda que
ocorridos após a edição da CF/88. Confira:
ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO RETROATIVA A FATOS POSTERIORES À
EDIÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei de Improbidade Administrativa NÃO
pode ser aplicada retroativamente para alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a
edição da Constituição Federal de 1988. 2. A observância da garantia constitucional da irretroatividade da lei
mais gravosa, esteio da segurança jurídica e das garantias do cidadão, não impede a reparação do dano ao
erário, tendo em vista que, de há muito, o princípio da responsabilidade subjetiva se acha incrustado em nosso
sistema jurídico. (...) (STJ, REsp 1129121/GO, rel. Min. ELIANA CALMON, 2ª Turma, julgado em 03/05/2012).
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição
Federal e, especialmente, contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais
das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e
julgamento.
3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
A competência para legislar sobre o assunto é da União, apesar da Constituição não afirmar isso
expressamente. Contudo, analisando a necessidade de regulamentar as medidas sancionatórias (direitos
políticos, indisponibilidade de bens, ressarcimento do erário e perda de função, que são de competência da
União), concluímos pela União (art. 22, I, CF). Por isso, foi editada a Lei nº 8.429/92.
OBS. nas questões que envolvem direito eleitoral, civil ou político penal a competência é privativa da União,
sendo a lei considerada federal, tendo os estados competência suplementar. Já quanto aos dispositivos que
envolvem direito administrativo – declaração de bens do servidor, apuração dos fatos na via administrativa,
afastamento cautelar do agente – a competência é concorrente, sendo a lei considerada federal, podendo os
estados legislarem de outra forma.
4. NATUREZA JURÍDICA
A improbidade não é ilícito penal, tem natureza jurídica de ilícito civil, dependendo de ação civil (ADI
2797). Não exclui os crimes porventura praticados, devendo o ilícito penal ser processado mediante ação penal.
A mesma conduta também pode considerar uma infração administrativa (funcional), sendo processado por PAD
(Lei nº 8.112/90).
Ilícito penal: NÃO se trata de um ilícito penal, porque as suas sanções são totalmente distintas das
criminais. A própria CF demonstra que não se trata de crime: § 4º -sem prejuízo da ação penal cabível.
Ilícito administrativo: As sanções também têm natureza totalmente diferente. Quem irá definir o ilícito
administrativo é servidor. Outra distinção reside no fato de que a infração funcional é punida na via
administrativa, por meio de processo administrativo. Já as sanções por improbidade administrativa estão
sujeitas à reserva de jurisdição, segundo o STF: “Ato de improbidade: a aplicação das penalidades previstas na
Lei n. 8.429/92 não incumbe à Administração, eis que privativa do Poder Judiciário. Verificada a prática de atos
de improbidade no âmbito administrativo, caberia representação ao Ministério Público para ajuizamento da
competente ação, não a aplicação da pena de demissão” (STF, RMS 24699, Relator(a): Min. EROS GRAU,
Primeira Turma, julgado em 30/11/2004).
Ilícito cível: São atos que equivalem a ILÍCITOS CÍVEIS, entendidos como de natureza extrapenal.
Ilícito de ato de improbidade: Há quem afirme que diante do caput do artigo 12, há uma natureza
autônoma de ilícito de ato de improbidade do qual decorre uma RESPONSABILIDADE POLÍTICO-
ADMINISTRATIVA. Que será apurada por meio de um processo civil, não tem natureza criminal.
Uma mesma conduta pode dar origem a três ações diferentes (ação civil, ação penal e processo
disciplinar) e também decisões diferentes em cada um dos processos. Em regra, uma decisão não influência a
outra. Chamamos esse fenômeno de independência de instâncias.
#DEOLHONAJURIS - A condenação pela Justiça Eleitoral ao pagamento de multa por infringência às disposições
contidas na Lei n. 9.504/1997 (Lei das Eleições) não impede a imposição de nenhuma das sanções previstas na
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Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), inclusive da multa civil, pelo ato de improbidade
decorrente da mesma conduta. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 606.352-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 15/12/2015 (Info 576).
Excepcionalmente, haverá comunicação das instâncias. Se no processo penal o agente for absolvido por
inexistência de fato, por negativa de autoria, ele também será absolvido no processo civil e administrativo
(absolvição geral), comunicando-se as instâncias (art. 935, CC; art. 126, Lei nº 8.112/90 e art. 66, CPP).
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a
existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo
criminal.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não
tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue
a existência do fato ou sua autoria.
A absolvição penal por insuficiência de provas não se comunica, não atingindo o processo civil nem
disciplinar. Se a lei penal exigir o elemento subjetivo doloso e o agente praticou o ato por culpa, será absolvido,
mas essa decisão também não vai gerar nenhuma consequência para as demais instâncias.
Caso no processo penal seja reconhecida uma excludente penal (exemplos: estado de necessidade,
legítima defesa, exercício regular de direito etc.), o agente pode ser absolvido penalmente, mas não originará
absolvição geral. Contudo, a excludente faz coisa julgada no processo civil. É possível ser condenado civilmente,
mas não será preciso discutir novamente a excludente.
O ato de improbidade é ilícito civil, mas também atinge a seara política (perda da função e suspensão
dos direitos políticos). Questiona-se se é possível processar o agente por improbidade na ação de natureza civil
(sanção política) e por crime de responsabilidade (sanção política)? Haveria bis in idem? NÃO! A improbidade é
julgada pelo Poder Judiciário, enquanto que o crime de responsabilidade é julgado pela Casa Parlamentar.
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5. NATUREZA DAS SANÇÕES
A punição para atos de improbidade administrativa está prevista na própria Constituição Federal, em
seu art. 37, §4º:
§4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.
Assim, a Lei de Improbidade institui as sanções previstas na Constituição (quais sejam, suspensão dos
direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário) e positivou,
adicionalmente, outras consequências.
#ATENÇÃO: nem todas as medidas estabelecidas pela Lei 8.429/1992 são penalidades. Por exemplo, a
indisponibilidade de bens, como veremos, é uma medida de natureza cautelar cuja finalidade não é punir
alguém, e sim evitar que a pessoa se desfaça de seus bens a fim de frustrar uma eventual execução judicial.
Embora o ato de improbidade seja considerado um ilícito de ordem civil (e não de ordem penal), as sanções
previstas na Lei 8.429/92 para penalizar a sua prática são de natureza administrativa, civil e política.
Para que seja decretada a indisponibilidade dos bens da pessoa suspeita de ter praticado ato de
improbidade não se exige a demonstração de fumus boni iuris e periculum in mora
Basta que se prove o fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido (implícito). Assim, é
desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam dilapidando seu
patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em
fundados indícios da prática de atos de improbidade. A medida cautelar de indisponibilidade de bens, prevista
na LIA, consiste em uma tutela de evidência, de forma que basta a comprovação da verossimilhança das
alegações, pois pela própria natureza do bem protegido, o legislador dispensou o requisito do perigo da
demora. STJ. 1ª Seção. REsp 1366721/BA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Og
Fernandes, julgado em 26/02/2014 (recurso repetitivo).
Pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja se desfazendo de seus
bens. É desnecessária a prova de que os réus estejam dilapidando efetivamente seus patrimônios ou de que eles
estariam na iminência de fazê-lo (prova de periculum in mora concreto). O requisito do periculum in mora está
implícito no referido art. 7º, parágrafo único, da Lei nº 8.429/1992, que visa assegurar “o integral
ressarcimento” de eventual prejuízo ao erário, o que, inclusive, atende à determinação contida no art. 37, § 4º,
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da CF/88. STJ. 1ª Seção. REsp 1.366.721-BA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Og
Fernandes, julgado em 26/2/2014 (recurso repetitivo) (Info 547).
Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da suposta prática do
ato de improbidade
A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes quanto depois da prática do ato de
improbidade. A jurisprudência do STJ abona a possibilidade de que a indisponibilidade, na ação de improbidade
administrativa, recaia sobre bens adquiridos antes do fato descrito na inicial. A medida se dá como garantia de
futura execução em caso de constatação do ato ímprobo. STJ. 1ª Turma. REsp 1301695/RS, Rel. Min. Olindo
Menezes (Des. Conv. TRF 1ª Região), julgado em 06/10/201
Segundo decidiu o STJ, as verbas absolutamente impenhoráveis não podem ser objeto da medida de
indisponibilidade na ação de improbidade administrativa. Isso porque, sendo elas impenhoráveis, não poderão
assegurar uma futura execução (STJ. 1ª Turma. REsp 1164037/RS, Rel. p/ Ac. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 20/02/2014). Vale ressaltar que esse entendimento acima exposto (REsp 1164037/RS) é
contraditório com julgados do STJ que afirmam que é possível que a indisponibilidade recaia sobre bem de
família, por exemplo, que, como se sabe, é impenhorável (STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1483040/SC, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, julgado em 01/09/2015).
Verbas trabalhistas não podem ser objeto de medida de indisponibilidade em ação de improbidade
A indisponibilidade pode recair sobre verbas salariais investidas em aplicação financeira? NÃO. A 1ª
Turma do STJ decidiu que os valores investidos em aplicações financeiras cuja origem remonte a verbas
trabalhistas não podem ser objeto de medida de indisponibilidade em sede de ação de improbidade
administrativa. Desse modo, é possível a indisponibilidade do rendimento da aplicação, mas o estoque de
capital investido, de natureza salarial, é impenhorável. STJ. 1ª Turma. REsp 1.164.037-RS, Rel. Min. Sérgio
Kukina, Rel. para acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/2/2014 (Info 539).
É necessário que o Ministério Público (ou outro autor da ação de improbidade), ao formular o pedido de
indisponibilidade, faça a indicação individualizada dos bens do réu? NÃO. A jurisprudência do STJ está
consolidada no sentido de que é desnecessária a individualização dos bens sobre os quais se pretende fazer
recair a indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único da Lei nº 8.429/92 (AgRg no REsp 1307137/BA, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 25/09/2012). A individualização somente é necessária
para a concessão do “sequestro de bens”, previsto no art. 16 da Lei nº 8.429/92.
#COMOFOICOBRADO:
(2017/Cespe/MPRR) Após a captura em flagrante de um homem, policiais o detiveram na delegacia, onde o
torturaram na tentativa de obter dele a confissão da prática de determinado crime. O MP ajuizou ação de
improbidade administrativa contra esses policiais. Nessa situação hipotética, conforme o entendimento do STJ,
a conduta dos policiais1
a) não configurou ato de improbidade administrativa, que se caracteriza como ato imoral com feição de
corrupção de natureza econômica, conduta inexistente no tipo penal de tortura.
b) configurou ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.
c) configurou ato de improbidade administrativa, pois a tortura é expressamente prevista no rol de condutas
ímprobas na Lei de Improbidade Administrativa.
d) não configurou ato de improbidade administrativa, que pressupõe lesão direta à própria administração, e não
a terceiros.
#ATENÇÃO: A Lei de Improbidade não institui sanções penais. O ato de improbidade, em si, não constitui crime.
Contudo, pode corresponder também, mas não necessariamente, a um crime definido em lei. Nesse caso, além
das penalidades previstas na Lei 8.429/92, o agente também responderá na esfera penal, estando sujeito às
penas nela cominadas. Ademais, um ato de improbidade pode corresponder, igualmente, a uma infração
disciplinar administrativa, hipótese na qual os respectivos processos (o de improbidade, o disciplinar e o penal,
se for o caso), correrão independentemente uns dos outros.
1 Alternativa “B”
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#DEOLHONAJURIS: A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública. STJ. 1ª Seção. REsp
1177910-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/8/2015 (Info 577).
#DEOLHONAJURIS: Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e
sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao
erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que
primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente. STJ, julgado em 17/5/2016
(Info 584).
• Da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de ressarcimento ao erário;
• Da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal de Contas.
Por outro lado, o enquadramento na Lei de Improbidade Administrativa exige dolo ou culpa, ou seja,
deve-se avaliar o elemento subjetivo da conduta do agente. Assim, por exemplo, o descumprimento de uma lei
não pode ser classificado como ato de improbidade sem antes ser avaliada a intenção do transgressor e
concluir-se pela presença de comportamento doloso ou culposo.
Dolo
Dolo ou Culpa
Violação dos
Enriquecimento princípios da
Ilícito (art. 9º) Administração
Pública (art. 11)
Prejuízo ao erário
(art. 10)
#DICA: Para não confundir mais, internalize a regra geral: HAVER DOLO. O dolo só é dispensado (quando eu
dispenso o dolo é porque aceito punir diante de mera culpa) quando há dano ao erário (não confundir com
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enriquecimento ilícito). Por isso decore: DDD!! DANO DISPENSA DOLO. DANO DISPENSA DOLO. REPITA: DANO
DISPENSA DOLO. AGORA DIGA EM VOZ ALTA: DANO DISPENSA DOLO. Viu? DDD!
#OLHAOGANCHO: o sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente
também está sujeito às cominações de natureza patrimonial da Lei de Improbidade (ex: ressarcimento ao
erário), até o limite do valor da herança (art. 8º).
6. ABRANGÊNCIA DA LEI
A Lei de Improbidade Administrativa alcança a Administração direta e indireta de qualquer dos Poderes,
em todos os entes da Federação (União, Estados, Municípios), ou seja, trata-se de uma lei de caráter nacional.
Como visto, a Lei estabelece sanções para os agentes públicos que praticarem atos de improbidade
administrativa. Tais agentes são considerados os sujeitos ativos dos atos de improbidade administrativa. Para os
efeitos da Lei, considera-se agente público todo aquele que exerce mandato, cargo, emprego ou função na
Administração Pública, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por qualquer forma de investidura,
inclusive eleição.
O conceito é bastante amplo, podendo-se dizer que qualquer sujeito que exerça uma função estatal
deve ser considerado agente público para os fins da Lei de Improbidade, compreendendo não apenas os
servidores estatais (titulares de cargos públicos efetivos ou em comissão e empregados públicos), mas ainda os
agentes políticos e mesmo particulares em colaboração com o Estado.
#DEOLHONAJURIS: É possível imaginar que exista ato de improbidade com a atuação apenas do “terceiro” (sem
a participação de um agente público)? É possível que, em uma ação de improbidade administrativa, o terceiro
figure sozinho como réu? NÃO. Para que o terceiro seja responsabilizado pelas sanções da Lei nº 8.429/92, é
indispensável que seja identificado algum agente público como autor da prática do ato de improbidade. Assim,
não é possível a propositura de ação de improbidade exclusivamente contra o particular, sem a concomitante
presença de agente público no polo passivo da demanda. STJ, julgado em 25/2/2014 (Info 535).
Portanto, para os fins da Lei de Improbidade, “agente público” é gênero no qual se encontram as
seguintes espécies:
o Agentes políticos: são os titulares de cargos estruturais à organização política do país; o vínculo
que entretêm com o Estado é de natureza política, isto é, não profissional; submetem-se ao
regime estatutário definido primordialmente pela própria Constituição. São exemplos: Chefes
do Executivo, Ministros e Secretários, Senadores, Deputados e Vereadores.
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*#DEOLHONAJURIS #STF: Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos
a duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de
improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de responsabilidade.
O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais
comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa. STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori
Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/5/2018 (Info 891).
o Particulares em colaboração com o Poder Público: são todos os que firmam com o Estado um
vínculo jurídico, pouco importa se por breve tempo ou em situação de estabilidade. São
exemplos os requisitados a exercerem alguma atividade pública, tal como os mesários e os
convocados ao serviço militar, além de notários, tabeliães e registradores.
#DEOLHONAJURIS: Os notários e registradores podem ser considerados agentes públicos para fins de
improbidade administrativa? SIM. STJ. 1ª Turma. REsp 1186787/MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
24/04/2014.
#APROFUNDANDO: A Lei vai além, e aplica-se, no que couber, ao terceiro que, mesmo não sendo agente
público, induza ou concorra para a prática de ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma,
direta ou indireta. Ademais, o terceiro não precisa necessariamente obter vantagem pessoal para estar sujeito à
Lei: basta que induza ou concorra para a prática de ato de improbidade. Importante ressaltar que o terceiro
apenas se submete à Lei de Improbidade se algum agente público também estiver envolvido no ato, vale dizer, a
pessoa sem vínculo com o Poder Público jamais pode praticar um ato de improbidade isoladamente. É claro
que, se o terceiro prejudicar o patrimônio público isoladamente, estará sujeito às sanções civis e penais cabíveis,
mas não poderá ser penalizado com base na Lei de Improbidade Administrativa.
#DEOLHONAJURIS: O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não,
está sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.352.035-RS, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info 568).
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SUJEITOS ATIVOS
DOS ATOS DE IMPROBIDADE
Obs1. O agente pode se valer do corpo jurídico do órgão para se defender ou contratar advogado as suas
custas? STJ:
• Praticou ato como representante do órgão – sim
• Em benefício próprio – não.
Obs2. Parecerista responde por ato de improbidade (Atenção #PROCURADORIAS)? Ato enunciativo. Em regra,
não. Somente quando houver dolo, culpa intensa, erro grave e inescusável.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
• Terceiros que induzam ou concorram para a prática do ato, ou dele se beneficie, sob qualquer forma.
SUJEITO ATIVO IMPRÓPRIO. Basta que ocorra uma dessas: concorrer, induzir ou se beneficiar.
Importante observar que esse terceiro não pode praticar o ato de improbidade isoladamente. O ato
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deve ser praticado por um agente público mediante induzimento, concorrência ou beneficiamento do
terceiro.
Obs.: tendo se referido apenas a essas três condutas, a instigação não acarreta a responsabilidade do
terceiro.
Obs.: terceiro só responde dolosamente
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
indireta.
#SELIGA¹: Terceiros que induzam ou concorram para a prática do ato, ou dele se beneficie, sob
qualquer forma: É considerado um SUJEITO ATIVO IMPRÓPRIO. Basta que ocorra uma dessas: concorrer, induzir
ou se beneficiar. Importante observar que esse terceiro não pode praticar o ato de improbidade isoladamente.
O ato deve ser praticado por um agente público mediante induzimento, concorrência ou beneficiamento do
terceiro.
Obs1: Tendo se referido apenas a essas três condutas, a instigação não acarreta a responsabilidade do terceiro.
#SELIGA²: A pessoa jurídica pode ser responsabilizada por ato de improbidade administrativa com base
no art. 3º, ou seja, sendo terceiro beneficiado. Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de ato de improbidade? A
lei fala no agente público (que exerce uma função pública) ou aquele que se beneficiou com a prática do ato. Se
a pessoa jurídica se beneficia com a prática do ato de improbidade, responderá por ato de improbidade.
Pessoa jurídica de direito privado, ainda que não integrante da Administração Pública, pode figurar como ré em
ação de improbidade administrativa, ainda que desacompanhada de seus sócios. CORRETO. Tem apoio não
apenas no art. 3º recém referido, mas também em recente precedente do STJ. Com efeito, uma empresa
particular também pode ter concorrido para a prática do ato de improbidade, ou então dele se beneficiado,
atraindo a incidência do art. 3º da Lei 8.429/92. Por outro lado, não se nega a existência jurídica de tal ente, que
não se confunde com a pessoa (física) dos seus sócios; daí não haver, na lei, qualquer exigência de que os sócios
também sejam demandados na ação de improbidade (STJ, Primeira Turma, REsp 970393, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, DJe de 29/06/2012).
#SELIGA³: O herdeiro pode ser chamado a responder por ato de improbidade? Sim, na sanção
patrimonial até o limite da herança.
18
Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente está
sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da herança
#DEOLHONAJURIS: Médico de hospital conveniado com o SUS que cobra do paciente por uma cirurgia que já foi
paga pelo plano de saúde não pratica improbidade administrativa. STJ. 1ª Turma. REsp 1.414.669-SP, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/2/2014 (Info 537).
A dúvida consiste em saber se o regime próprio de responsabilidade a que se submetem alguns agentes
políticos (Presidente da República; Ministros de Estado; Procurador-Geral da República; Ministros do STF;
Governadores; Secretários de Estado), regido Lei 1.079/1950 (Lei dos Crimes de Responsabilidade), teria o
condão de afastar a Lei de Improbidade. Afinal, são regimes de responsabilidade bastante parecidos, o que
poderia resultar num bis in idem.
*#ATENÇÃO #DIZERODIREITO2: O entendimento atual é o de que, em regra, os agentes políticos podem sim
responder por ato de improbidade administrativa. Vigora aquilo que a jurisprudência chamou de “duplo
regime sancionatório”, ou seja, o fato de o agente estar sujeito a: • crime de responsabilidade e • improbidade
administrativa.
Há, contudo, uma exceção. Para o STJ, somente o Presidente da República não está submetido à Lei de
Improbidade Administrativa, porque foi o único caso em que o constituinte originário previu expressamente que
o ato de improbidade por ele praticado consubstanciaria crime de responsabilidade (Art. 85, V, CF).
Para os demais agentes políticos, não há qualquer norma imunizante nesse sentido, de forma que estão
sujeitos às duas esferas de responsabilização: por improbidade administrativa e por crime de responsabilidade.
Veja-se:
2
https://www.dizerodireito.com.br/2018/05/nao-existe-foro-por-prerrogativa-de.html
19
#SELIGANAJURIS #STJ: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA. AÇÃO DE IMPROBIDADE CONTRA GOVERNADOR DE
ESTADO. DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO DOS AGENTES POLÍTICOS: LEGITIMIDADE. FORO POR PRERROGATIVA
DE FUNÇÃO: RECONHECIMENTO. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO STJ. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA
RECLAMAÇÃO. 1. Excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo Presidente da República (art. 85,
V), cujo julgamento se dá em regime especial pelo Senado Federal (art. 86), não há norma constitucional alguma
que imunize os agentes políticos, sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer das sanções por ato de
improbidade previstas no art. 37, § 4.º. Seria incompatível com a Constituição eventual preceito normativo
infraconstitucional que impusesse imunidade dessa natureza.” (STJ, Rcl 2790/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO
ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/12/2009, DJe 04/03/2010)
É aquele que representa o Estado, está no comando e direção de cada um dos Poderes. A maioria da
doutrina inclui os magistrados, membros do Ministério Público e conselheiros de contas. O agente político
responde por improbidade?
#SELIGA4: Funcionário de fato. É aquele que pratica o ato, mesmo com a nomeação ilegal ou
inconstitucional; enquanto exerce a função pública, irá responder por improbidade administrativa. Alguns
doutrinadores colocam uma exigência: exercício de função com a anuência do poder público. Há para os
doutrinadores a distinção entre:
• AGENTE DE FATO NECESSÁRIO: aquele que participa em situação excepcional. EXEMPLOS: caso
de guerra e de calamidade pública.
Nos dois casos acima, a administração anuiu e sendo assim responderão por atos de improbidade.
#SELIGA5: Estagiário
#DIVERGÊNCIA
TRF 5 diverge sobre a possibilidade de se considerar estagiário como agente público. Veja-se:
“O estagiário tem legitimidade para figurar no polo passivo de ação de improbidade, por se equiparar a
agente público para efeito de aplicação das penalidades nela prescritas. O termo "agente público, servidor ou
não" a que se refere o art. 1º da Lei nº 8.429/92 é abrangente o suficiente para não se permitir se exclua os
estagiários do seu alcance.” (TRF5, PROCESSO: 00058815920124050000, AG125057/CE, RELATOR:
DESEMBARGADOR FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO (CONVOCADO), Quarta Turma, JULGAMENTO:
25/09/2012, PUBLICAÇÃO: DJE 27/09/2012 - Página 614)
20
“Não é possível enquadrar o estagiário de empresa pública federal como agente público, para fins de
caracterização de ato de improbidade administrativa e de imposição das penalidades previstas na Lei nº
8.429/92. (...) O estagiário não exerce mandato, não ocupa cargo, não mantém relação de emprego e não
desempenha função pública” (TRF5, PROCESSO: 200381000165642, AC503515/CE, RELATOR: DESEMBARGADOR
FEDERAL ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (CONVOCADO), Terceira Turma, JULGAMENTO: 02/08/2012,
PUBLICAÇÃO: DJE 09/08/2012 - Página 336)
#ENTENDIMENTOJURISPRUDENCIAL #STJ:
O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está sujeito a
responsabilização por ato de improbidade administrativa. Isso porque o conceito de agente público para fins de
improbidade abrange não apenas os servidores públicos, mas todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na Administração Pública.
Além disso, é possível aplicar a lei de improbidade mesmo para quem não é agente público, mas induza
ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta ou indireta. É
o caso do chamado "terceiro", definido pelo art. 3º da Lei nº 8.429/92.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info 568) .
Outro tema polêmico é o foro competente para processar e julgar ações de improbidade envolvendo
agentes políticos que possuem foro privilegiado nas ações penais comuns e nos crimes de responsabilidade (ex:
21
Presidente da República, Vice-Presidente, Ministros de Estado, membros do Congresso Nacional, Procurador-
Geral da República, membros de Tribunais Superiores, do TCU, chefes de missão diplomática permanente).
Enfim, o foro privilegiado também seria ou não aplicável às ações de improbidade que, normalmente, são
instauradas perante o juízo de primeiro grau?
Na ADI 2797 e ADI 2860 o STF reconheceu que não há foro privilegiado, devendo o julgamento por ato
de improbidade ocorrer na primeira instância.
a) Rcl. 2138 STF: decidiu que quando o agente político responde por crime de responsabilidade, não
responderá por ato de improbidade. Porém, a composição do STF quando da conclusão da decisão tinha
sido alterada. Essa posição foi superada.
b) A nova composição do STF decidiu que o agente político responde por improbidade (mesmo que esteja
respondendo por crime de responsabilidade), na primeira instância. O Presidente da República está
excluído da ação de improbidade, em razão do art. 85, V, CF.
Os ministros do STF ressalvaram que quanto a eles o ato de improbidade será julgado pelo próprio STF e
não pela primeira instância. Por essa razão, o STJ proferiu algumas decisões posicionando-se favoravelmente ao
foro por prerrogativa de função. Contudo, essa posição é minoritária.
Decisões recentes do STF e do STJ apontam que a Lei de Improbidade Administrativa se aplica aos agentes
políticos, salvo o Presidente da República3, e que a respectiva ação deve ser processada e julgada perante o
juízo de primeiro grau. Pode- se dizer, portanto, que essa posição vem prevalecendo, embora ainda não esteja
consolidada, mas é a mais segura a ser adotada em prova de primeira fase.
Os agentes públicos e os terceiros sujeitam-se às sanções previstas na lei pela prática de atos de
improbidade contra o patrimônio dos órgãos e entidades indicados no art. 1º, abrangendo “a administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público”. Dessa forma, estará sujeito à Lei
8.429/92 o agente público que praticar ato de improbidade, por exemplo, contra o patrimônio de uma
autarquia municipal, de um Tribunal do Judiciário Estadual ou de uma empresa pública federal.
Ademais, serão punidos na forma da lei os atos de improbidade praticados contra entidade privada da
qual o erário participe com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual. Se a participação de dinheiro
No julgado em que foi excepcionada a situação do Presidente da República, o STJ enunciou, em sua Jurisprudência em Tese,
embora sem haver menção no corpo do julgado, que esse entendimento também se aplicaria aos Ministros do Supremo.
Os ministros do STF, no entanto, reiteradas vezes, já afirmaram que os seus membros devem responder por atos de
improbidade perante a sua própria casa.
22
público no patrimônio ou receita da empresa privada for menor que 50% ou, ainda, se a empresa receber
subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público, a Lei de Improbidade também é
aplicável. No entanto, nesses casos, a sanção patrimonial limita-se à repercussão do ilícito sobre a contribuição
dos cofres públicos. Os órgãos e entidades que podem ser vítimas dos atos de improbidade são os sujeitos
passivos desses atos.
O ato de improbidade está intimamente ligado ao cenário público. O sujeito passivo está elencado no
art. 1º da Lei nº 8.429/92. Quem sofre os efeitos dos atos de improbidade, contra quem se pratica o ato
ímprobo. Não se restringe às entidades da administração pública direita e indireta.
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita
anual, serão punidos na forma desta lei. Sujeitos passivos principais
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o
patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem
como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por
cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do
ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. Sujeitos passivos secundários.
Ex. servidor de pessoa do parágrafo primeiro desviou 500.000, dos quais 100.000 vinham dos cofres
públicos. A ação de improbidade vai versar apenas sobre os 100.000. No caput seria a totalidade.
Observações:
- Conselho de classe? SIM.
- Sindicato? SIM – ele recebe contribuição sindical (valores públicos). Funcionário levou o computador
para casa. O sindicato é pessoa jurídica de direito privado e recebe contribuição sindical (PARAFISCALIDADE:
transferência da capacidade tributária), para se manter. Contribuição é tributo. A contribuição é um benefício
fiscal, então o sindicado está submetido à lei de improbidade administrativa.
- Partido Político? SIM. Lembre-se do fundo partidário – tem dinheiro público.
- ONGs? OSCIPS. Serviços Sociais Autônomos, Organizações Sociais? SIM. Na sua maioria
(principalmente o terceiro setor, os entes de cooperação) tem relações com o Estado.
OSCIP pode sofrer ato de improbidade? Como recebe dinheiro público em decorrência de termo de
parceria, está submetida à lei de improbidade – caput ou parágrafo único.
SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO também está submetido à lei de improbidade. – caput.
Concessionárias/permissionárias? Não, são remuneradas por tarifas.
24
#FALAMARCINHO #DIZERODIREITO: Para o STJ é injustificável que a tortura praticada por servidor público, um
dos atos mais gravosos à dignidade da pessoa humana e aos direitos humanos, seja punido apenas no âmbito
disciplinar, civil e penal, afastando-se a aplicação da Lei da Improbidade Administrativa. Eventual punição
administrativa do servidor não impede a aplicação das penas da Lei de Improbidade Administrativa, porque os
objetivos de ambas as esferas são diversos e as penalidades previstas na Lei nº 8.429/92, mais amplas.
Empresa incorporada
ao patrimônio público
• Regra: compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar ação civil pública de improbidade
administrativa na qual se apure irregularidades na prestação de contas, por ex-prefeito, relacionadas a verbas
federais transferidas mediante convênio e incorporadas ao patrimônio municipal. • Exceção: será de
competência da Justiça Federal se a União, autarquia federal, fundação federal ou empresa pública federal
manifestar expressamente interesse de intervir na causa porque, neste caso, a situação se amoldará no art. 109,
I, da CF/88. STJ. 1ª Seção. CC 131.323-TO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/3/2015 (Info
559).
De quem será a competência para julgar ação de improbidade em caso de desvio de verbas transferidas
pela União ao Município por meio de convênio? • Se, pelas regras do convênio, a verba transferida deve ser
incorporada ao patrimônio municipal, a competência para a ação será da Justiça Estadual (Súmula 209-STJ). • Ao
contrário, se o convênio prevê que a verba transferida não é incorporada ao patrimônio municipal, ficando
sujeita à prestação de contas perante o órgão federal, a competência para a ação será da Justiça Federal
(Súmula 208-STJ). STJ. 2ª Turma. REsp 1.391.212-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/9/2014 (Info
546)
7. DECLARAÇÃO DE BENS
Segundo a Lei de Improbidade, para que o agente público tome posse ou entre em exercício, deve
obrigatoriamente entregar declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio privado,
compreendendo, inclusive, os valores patrimoniais do cônjuge, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob sua
dependência econômica. Tal declaração poderá ser substituída por cópia da declaração anual de bens
apresentada à Receita Federal. A declaração de bens permanecerá arquivada no serviço de pessoal competente,
devendo ser atualizada anualmente. O agente público que se recusar a prestar a declaração, dentro do prazo
determinado, ou que a prestar falsa, será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem
prejuízo de outras sanções cabíveis.
A Lei 8.429/92 permite que qualquer pessoa represente à autoridade administrativa competente para
que seja instaurado procedimento destinado a apurar prática de ato de improbidade. Caso a autoridade
administrativa competente rejeite a representação, não há impedimento para que a pessoa represente
diretamente ao Ministério Público.
26
Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata apuração dos fatos
mediante procedimento administrativo, dando conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas.
Havendo fundados indícios de que o ato de improbidade tenha causado lesão ao patrimônio público ou
ensejado enriquecimento ilícito, comissão responsável pelo procedimento administrativo representará ao
Ministério Público ou à procuradoria do órgão ou entidade em que esteja tramitando o processo administrativo
para que requeira ao juízo competente a decretação cautelar do sequestro dos bens do agente ou terceiro que
tenha enriquecido ilicitamente ou causado danos ao patrimônio público.
Além do sequestro dos bens, o pedido cautelar poderá incluir a investigação, o exame e o bloqueio de
bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos
tratados internacionais. A indisponibilidade deve recair sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do
dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
Após a conclusão do procedimento administrativo, deverá ser proposta a ação judicial de improbidade
administrativa. Essa ação seguirá o rito ordinário, podendo ser proposta pelo Ministério Público ou diretamente
pela pessoa jurídica interessada (isto é, a pessoa jurídica contra a qual o ato de improbidade tenha sido
praticado, o sujeito passivo dos atos de improbidade), por intermédio de sua procuradoria.
Caso tenha sido efetivada medida cautelar, o prazo para ajuizamento da ação principal é de 30 dias,
contados da efetivação da medida cautelar. No âmbito da ação de improbidade administrativa é vedada a
transação, acordo ou conciliação. E, quando for o caso, a Fazenda Pública promoverá as ações civis necessárias
à complementação do ressarcimento do patrimônio público. Se não intervir no processo como parte, o
Ministério Público deve atuar, obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.
Na fixação das penas previstas na Lei, o juiz deve levar em conta a extensão do dano causado, assim
como o proveito patrimonial obtido pelo agente. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos
só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.
4 CERTO. A MP 703/2015 que revogava o artigo 17§1º, que veda a transação no âmbito das ações de
improbidade administrativa perdeu vigência em maio de 2016, logo tal dispositivo voltou a viger (Art. 17 - § 1º É
vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput.)
27
No entanto, a autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do
agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se
fizer necessária à instrução processual. Tal afastamento, diferentemente da perda da função pública e da
suspensão dos direitos políticos, tem natureza de medida cautelar (não é uma sanção), a ser adotada quando a
permanência do agente no cargo puder comprometer a eficácia das apurações.
#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO:
Petição inicial
A petição inicial na ação por ato de improbidade administrativa, além dos requisitos do art. 282 do
CPC/1973 (art. 319 do CPC/2015), deve ser instruída com documentos ou justificação que contenham indícios
suficientes da existência do ato de improbidade. Assim, diz que a ação de improbidade administrativa, além das
condições genéricas da ação, exige ainda a presença da justa causa. STJ. 1ª Turma. REsp 952.351-RJ, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/10/2012.
De acordo com a orientação jurisprudencial do STJ, existindo meros indícios de cometimento de atos
enquadrados como improbidade administrativa, a petição inicial da ação de improbidade deve ser recebida pelo
juiz, pois, na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e 9º da Lei nº 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro
societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do interesse público (AgRg no REsp 1.317.127-ES). Assim, após
o oferecimento de defesa prévia, somente é possível a pronta rejeição da pretensão deduzida na ação de
improbidade administrativa se houver prova hábil a evidenciar, de plano: • a inexistência de ato de
improbidade; • a improcedência da ação; ou • a inadequação da via eleita. STJ, julgado em 4/9/2014 (Info 547).
Recurso cabível contra a decisão do juiz que rejeita a inicial contra apenas alguns réus
A) Natureza jurídica
Sua natureza jurídica é de ação civil pública, mas há divergência. A doutrina MAJORITÁRIA defende que
se trata de ação civil pública com algumas regras próprias. Pode ser precedida de inquérito civil.
*É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato ímprobo
atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar na Corregedoria do Tribunal
acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da Corregedoria pelo órgão ministerial
investigante. A mera solicitação para que o juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil
instaurado pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o disposto no art. 33,
IV, da LC nº 35/79 (LOMAN). STJ. 1ª Turma. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para
acórdão Min. Sérgio Kukina, julgado em 7/3/2017 (Info 609).
* A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa está
sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira
parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. STJ. 1ª Seção. EREsp 1220667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
24/5/2017 (Info 607).
B) Legitimidade
Tem legitimidade para propor a ação o Ministério Público, a pessoa jurídica lesada. O Ministério Público
tem participação obrigatória, seja como autor da ação ou como custos legis.
Qualquer pessoa pode representar um ato de improbidade. Dessa representação poderá iniciar:
processo administrativo, processo civil e processo penal.
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que seja instaurada
investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade.
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a qualificação do representante,
as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento.
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§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho fundamentado, se esta não contiver as
formalidades estabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério Público,
nos termos do art. 22 desta lei.
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata apuração dos fatos que, em
se tratando de servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11
de dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos
disciplinares.
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas
da existência de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade.
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar
representante para acompanhar o procedimento administrativo.
Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Público ou à
procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou
terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de
Processo Civil (#ATENÇÃO: sem correspondência com o NCPC).
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e
aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput.
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações necessárias à complementação do
ressarcimento do patrimônio público.
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto
no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965.
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei,
sob pena de nulidade.
§ 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que
possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
§ 6o A ação será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da existência do
ato de improbidade ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas
provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo
Civil (#ATENÇÃO: correspondência ao art. 79/81, NCPC).
30
§ 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para
oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de
quinze dias.
§ 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se
convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita.
§ 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar contestação.
§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de instrumento.
§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o
processo sem julgamento do mérito.
§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos regidos por esta Lei o disposto no art.
221, caput e § 1o, do Código de Processo Penal.
Observação (Art. 17, §7º): Prevalece o entendimento de que a falta de notificação prévia acarreta nulidade
relativa. TRF5: “Na fase do contraditório preambular previsto no artigo 17, parágrafo 7º, da Lei 8.429/92, é a
manifestação por escrito dirigida ao recebimento ou rejeição da petição inicial, após o que segue a ação de
improbidade o rito ordinário, com a citação da parte requerida para oferecer contestação. Sabe-se que a
ausência da referida proposta enseja, de regra, a nulidade relativa, mas não a nulidade absoluta.” (TRF5,
PROCESSO: 200181000197737, AC502748/CE, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SÉRGIO MURILO
WANDERLEY QUEIROGA (CONVOCADO), Segunda Turma, JULGAMENTO: 06/11/2012, PUBLICAÇÃO: DJE
14/11/2012 - Página 359)
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos
ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica
prejudicada pelo ilícito.
C) Competência: não há foro privilegiado. Essa é a posição prevalente do STF (ADI 2797 e 2860), com a
declaração da inconstitucionalidade da Lei nº 10.628/02. A ação vai tramitar na primeira instância.
Há muita polêmica. Em 2002, a Lei 10628 (Lei FHC) alterou o artigo 84, § 2O. CPP, estabelecendo a
prerrogativa de foro para as ações de improbidade administrativa. Ocorre que o citado dispositivo foi julgado
inconstitucional pelo STF (ADIs 2797 e 2860), sob a tese de que não poderia lei ordinária ampliar o rol de
competências taxativamente delimitadas pela CF/88. Sedimentada, pois, a inexistência do foro privilegiado nas
ações de improbidade administrativa, o STF surpreendeu, reconhecendo sua competência originária para o
julgamento de ação de improbidade ajuizada contra o Min. Gilmar Mendes (competência implícita
31
complementar). Prevaleceu o entendimento de que juiz de primeiro grau não poderia conhecer de ação hábil a
acarretar a perda da função pública de Ministro do STF, sob pena de se desvirtuar a própria estrutura do
Judiciário (Pet 3211/DF). A partir daí o STJ passou a sustentar que o STF tinha modificado seu entendimento
anterior, reconhecendo a existência de foro por prerrogativa de função também nos casos de ação de
improbidade.
Todavia, a evolução jurisprudencial demonstrou que o caso do Min. Gilmar Mendes foi isolado, tendo o
STF, em diversas oportunidades posteriores, rechaçado o foro privilegiado nas ações de improbidade. Tal
circunstância fez o STJ mudar novamente de entendimento, voltando a asseverar que não há prerrogativa de
foro em ação de improbidade. Enfim, atualmente, pode-se afirmar que não há prerrogativa de foro em ação de
improbidade administrativa.
#DEOLHONAJURIS: Inexiste foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade administrativa. 2.
Matéria já pacificada na jurisprudência da Suprema Corte. (AG. REG. NO RE N. 590.136-MT, RELATOR: MIN. DIAS
TOFFOLI, DJ 20 a 24 de maio de 2013) INFO 707.
PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. A ação de improbidade
administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente
político que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade. Agravo regimental
desprovido. (AgRg na Rcl 12.514/MT, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/09/2013,
DJe 26/09/2013)
Por expressa vedação legal, as ações de improbidade administrativa não podem ser ajuizadas nos
Juizados Especiais Federais (Art. 3º, §1º, I, Lei 10.259/2001).
Lei fala em sequestro, mas tem que ser arresto, porque não sabem quantos bens serão necessários.
Mesmo que o termo não seja adequado, devem ser os bens ligados diretamente à conduta.
#OBS.: Só cabe, no caso de empresas, em relação ao sócio com função de direção À ÉPOCA DO ATO LESIVO.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
- Tendo sido instaurado procedimento administrativo para apurar a improbidade, conforme permite o
art. 14 da LIA, a indisponibilidade dos bens pode ser decretada antes mesmo de encerrado esse procedimento
administrativo? SIM. É nesse sentido a jurisprudência do STJ.
- Essa indisponibilidade dos bens pode ser decretada sem ouvir o réu? SIM. É admissível a concessão
de liminar inaudita altera pars para a decretação de indisponibilidade e sequestro de bens, visando a assegurar
o resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário. Desse modo, o STJ entende que,
ante sua natureza acautelatória, a medida de indisponibilidade de bens em ação de improbidade administrativa
pode ser deferida nos autos da ação principal sem audiência da parte adversa e, portanto, antes da notificação
para defesa prévia (art. 17, § 7º da LIA).
- Para que seja decretada a indisponibilidade dos bens da pessoa suspeita de ter praticado ato de
improbidade, exige-se a demonstração de fumus boni iuris e periculum in mora? NÃO. Basta que se prove o
fumus boni iuris, sendo o periculum in mora presumido (implícito). Assim, é desnecessária a prova do periculum
in mora concreto, ou seja, de que os réus estejam dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo,
exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de
improbidade. A medida cautelar de indisponibilidade de bens, prevista na LIA, consiste em uma tutela de
evidência, de forma que basta a comprovação da verossimilhança das alegações, pois, pela própria natureza do
bem protegido, o legislador dispensou o requisito do perigo da demora.
- Então, pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja se
desfazendo de seus bens? SIM. A indisponibilidade dos bens visa, justamente, a evitar que ocorra a dilapidação
patrimonial. Não é razoável aguardar atos concretos direcionados à sua diminuição ou dissipação. Exigir a
comprovação de que tal fato esteja ocorrendo ou prestes a ocorrer tornaria difícil a efetivação da medida
cautelar e, muitas vezes, inócua (Min. Herman Benjamin). Vale ressaltar, no entanto, que a decretação da
indisponibilidade de bens, apesar da excepcionalidade legal expressa da desnecessidade da demonstração do
risco de dilapidação do patrimônio, não é uma medida de adoção automática, devendo ser adequadamente
fundamentada pelo magistrado, sob pena de nulidade (art. 93, IX, da Constituição Federal), sobretudo por se
tratar de constrição patrimonial (REsp 1319515/ES).
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- Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da suposta prática
do ato de improbidade? SIM. A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes como depois
da prática do ato de improbidade.
- A indisponibilidade pode recair sobre bem de família? SIM. Segundo o STJ, o caráter de bem de
família de imóvel não tem a força de obstar a determinação de sua indisponibilidade nos autos de ação civil
pública, pois tal medida não implica em expropriação do bem (REsp 1204794/SP, Rel. Min. Eliana Calmon,
Segunda Turma, julgado em 16/05/2013).
- A indisponibilidade pode ser determinada em bens com valor superior ao mencionado na petição
inicial da ação de improbidade (ex: a petição inicial narra um prejuízo ao erário de 100 mil reais, mas o MP
pede a indisponibilidade de 500 mil reais do requerido)? SIM. É possível que se determine a indisponibilidade
de bens em valor superior ao indicado na inicial da ação, visando a garantir o integral ressarcimento de eventual
prejuízo ao erário, levando-se em consideração, até mesmo, o valor de possível multa civil como sanção
autônoma. Isso porque a indisponibilidade acautelatória prevista na Lei de Improbidade Administrativa tem
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como finalidade a reparação integral dos danos que porventura tenham sido causados ao erário (REsp
1.176.440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/9/2013).
- É necessário que o Ministério Público (ou outro autor da ação de improbidade), ao formular o pedido
de indisponibilidade, faça a indicação individualizada dos bens do réu? NÃO. A jurisprudência do STJ está
consolidada no sentido de que é desnecessária a individualização dos bens sobre os quais se pretende fazer
recair a indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92 (AgRg no REsp 1307137/BA,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 25/09/2012). A individualização somente é
necessária para a concessão do “sequestro de bens”, previsto no art. 16 da Lei n. 8.429/92.
- A indisponibilidade de bens constitui uma sanção? NÃO. A indisponibilidade de bens não constitui
propriamente uma sanção, mas medida de garantia destinada a assegurar o ressarcimento ao erário (DPE/MA –
CESPE – 2011).
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado
da sentença condenatória.
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do
agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se
fizer necessária à instrução processual.
#DEOLHONAJURIS: A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade
administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por aplicação
analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. Assim, quando a sentença da ação popular for
procedente, não haverá reexame necessário. Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa
necessária do CPC. Pelo CPC, se a Fazenda “perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame necessário
ocorre se o cidadão perde. Em virtude disso, podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo grau de
jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau que ocorre em favor do cidadão (e não necessariamente da Fazenda
Pública). STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).
9. PRESCRIÇÃO
As ações destinadas à aplicação das sanções previstas na Lei de Improbidade prescrevem em cinco anos
após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança. Nos casos de
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exercício de cargo efetivo ou emprego, aplica-se o prazo prescricional previsto em lei específica para faltas
disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público. Caso o agente público exerça, cumulativamente,
cargo efetivo e cargo comissionado, há de prevalecer o primeiro (cargo efetivo), para fins de contagem
prescricional.
• Ações de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil: estão sujeitas à prescrição (são
prescritíveis) (RE 669069/MG).
#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO
Interrupção do prazo
Nas ações civis por ato de improbidade administrativa, o prazo prescricional é interrompido com o mero
ajuizamento da ação de improbidade dentro do prazo de 5 anos contado a partir do término do exercício de
mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança, ainda que a citação do réu seja efetivada após esse
prazo. Assim, se a ação de improbidade foi ajuizada dentro do prazo prescricional, eventual demora na citação
do réu não prejudica a pretensão condenatória da parte autora. STJ. 2ª Turma. REsp 1.391.212-PE, Rel. Min.
Humberto Martins, julgado em 2/9/2014 (Info 546)
Qual é o prazo prescricional das ações com relação aos particulares (chamados pela lei de
“terceiros”)?
A Lei nº 8.429/92 não tratou sobre o tema. A doutrina majoritária defende que o prazo deverá ser o
mesmo previsto para o agente público que praticou, em conjunto, o ato de improbidade administrativa. É a
posição de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves. Essa parece ser também a posição do STJ: Em relação ao
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terceiro que não detém a qualidade de agente público, incide também a norma do art. 23 da Lei nº 8.429/1992
para efeito de aferição do termo inicial do prazo prescricional. STJ. 2ª Turma. REsp 1156519/RO, Rel. Min. Castro
Meira, julgado em 18/06/2013.
Ex.: se, depois de ajuizada a ação, a sentença demorar mais que 5 anos para ser prolatada, poderemos
considerar que houve prescrição? NÃO. O art. 23 da Lei nº 8.429/92 regula o prazo prescricional para a
propositura da ação de improbidade administrativa. Logo, não haverá prescrição se a ação foi ajuizada no prazo,
tendo demorado, contudo, mais que 5 anos do ajuizamento para ser julgada. STJ. 2ª Turma. REsp 1.289.993/RO,
Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 19/09/2013.
O ato de improbidade não precisa ser um ato administrativo, pode ser simplesmente uma conduta. Na
LIA, o ato de improbidade é dividido em quatro categorias: atos que importam enriquecimento ilícito, causam
prejuízo ao erário, atentam contra os princípios da Administração Pública e decorrentes de concessão ou
aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário.
A lista de atos de improbidade apresentada nos incisos de cada dispositivo não é taxativa, mas
meramente exemplificativa. O mesmo ato pode, inclusive, ser enquadrado em mais de uma das hipóteses
apresentadas. Nesse caso, aplicam-se as sanções previstas para a infração mais grave. Observem que as sanções
utilizadas para punir atos que importam enriquecimento ilícito são mais rígidas que as aplicáveis aos atos que
causam prejuízo ao erário, as quais, por sua vez, são mais rígidas que as aplicáveis aos atos que atentam contra
os princípios da Administração Pública. Assim, a Lei estabelece uma hierarquia entre os atos de improbidade,
punindo com mais rigor aqueles que considera mais graves.
#OBS.: O Estatuto da Cidade - Lei 10.257/01 – criou uma quarta categoria. Atos e omissões relativos à ordem
urbanística. O único sujeito ativo é o Prefeito. Exige-se o dolo. Dispensa enriquecimento ou dano – se houver
aplica a Lei 8.429. Conduta comissiva ou omissiva.
(DPU2015/CESPE) 1. O rol de condutas tipificadas como atos de improbidade administrativa constante na Lei de
Improbidade (Lei n.º 8.429/1992) é taxativo.5
5
ERRADO.
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empenho), que não causa enriquecimento ilícito ou prejuízo ao erário. Nesses casos, alguns
doutrinadores afirmam que basta a culpa, já que o administrador somente pode fazer o que a lei
autoriza. Para o MP essa é a melhor teoria, ou seja, CULPA ou DOLO.
Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de
vantagem patrimonial indevida, direta ou indireta, em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego
ou atividade pública. Enquadra-se nessa categoria, o agente público que, notadamente (incisos do art. 9º):
• Receber, para si ou para outrem, gratificações financeiras ou presentes de pessoa que tenha interesse
em sua atividade;
• Perceber vantagem econômica para facilitar a aquisição ou alienação de bens pela Administração
Pública fora das condições de mercado;
• Utilizar em proveito próprio, como em obra ou serviço particular, material pertencente a entidade
pública ou o trabalho de servidores públicos;
• Receber vantagem econômica para tolerar a prática de qualquer atividade ilícita, como jogos de azar e
narcotráfico;
• Adquirir, para si ou para outrem, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à
evolução do seu patrimônio ou à sua renda;
• Exercer atividade de consultoria para pessoa física ou jurídica que possua interesse suscetível de ser
atingido por suas atribuições como agente público;
• Receber vantagem econômica para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja
obrigado.
Repare que, nessas situações, o ato de improbidade se caracteriza pelo recebimento de vantagens
pessoais por parte do agente público, que aumenta seu patrimônio particular à custa do patrimônio público ou
das prerrogativas do seu cargo.
O agente público responsável pelo ato de improbidade que importe enriquecimento ilícito está sujeito
às seguintes cominações (art. 12, I):
• Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de dez anos.
As penalidades podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato.
#DEOLHONAJURIS: Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de improbidade
administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se, contudo, a
possibilidade de aplicação da pena de ressarcimento ao erário. STJ, julgado em 8/3/2016 (Info 580).
Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
ou haveres de órgão ou entidade pública. Enquadra-se nessa categoria o agente público que, notadamente
(incisos do art. 10):
• Permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens ou dinheiro público sem
observar as devidas formalidades legais;
• Doar bens ou dinheiro público a pessoa física ou jurídica ou a ente despersonalizado, ainda que de fins
educativos ou assistenciais, bem como conceder benefício administrativo ou fiscal, sem a observância das
devidas formalidades legais;
• Permitir ou facilitar a aquisição ou alienação de bens pela Administração Pública fora das condições de
mercado;
• Realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia
insuficiente ou inidônea;
• Frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente;
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• Agir de forma negligente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à
conservação do patrimônio público;
• Liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma
para a sua aplicação irregular;
• Permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, material pertencente a entidade pública, bem
como o trabalho de servidores públicos.
Nesses casos, o agente público não necessariamente aufere vantagens econômicas pessoais, mas causa
prejuízo ao erário.
#ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA
Nova espécie de ato de improbidade administrativa. A LC 157/2016 alterou a Lei nº 8.429/92 e criou uma quarta
espécie de ato de improbidade administrativa. Veja o novo artigo que foi inserido na Lei de Improbidade:
Seção II-A: Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou Aplicação Indevida de
Benefício Financeiro ou Tributário
Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou
manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela LC 157/2016)
#OLHAOGANCHO: Existe controvérsia doutrinária sobre o conceito de lesão ao erário previsto no art. 10, caput.
Uma corrente da doutrina afasta a interpretação literal da norma que se refere a “lesão ao erário que enseje
perda patrimonial” para reclamar uma interpretação sistemática, no sentido de que o dispositivo alcança
qualquer lesão causada ao patrimônio público, englobando não apenas o Tesouro Nacional e os bens públicos,
mas também o patrimônio ambiental, histórico, artístico, estético, turístico, etc. Outra corrente restringe o
alcance de patrimônio público para situá-lo apenas no plano do conceito de erário, considerando a dimensão
econômico-financeira dos entes públicos protegidos. O STJ possui jurisprudência consolidada que se alinha à
segunda corrente, com o entendimento de que “o ato de improbidade administrativa previsto no art. 10 da Lei
nº 8.429/92 exige a comprovação do dano ao erário”.
O agente responsável pelo ato de improbidade que cause prejuízo ao erário está sujeito às seguintes
cominações (art. 12, II):
• Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância;
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• Perda da função pública;
• Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de cinco anos.
#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO
Para a condenação por ato de improbidade administrativa no art. 10, é indispensável a demonstração
de que ocorreu efetivo dano ao erário. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 18.317/MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgado em 05/06/2014.
Apesar da lei mencionar expressamente apenas os citados princípios, constitui ato de improbidade a
violação a qualquer princípio da Administração Pública, como eficiência, motivação, publicidade, interesse
público, razoabilidade etc.
Enquadra-se nessa categoria o agente público que, notadamente (incisos do art. 11):
• Praticar ato visando fim proibido em lei ou diverso daquele previsto na regra de competência;
• Revelar informação sigilosa de que tem ciência em razão das suas atribuições;
• Revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial,
teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
#COMOFOICOBRADO
(CESPE/2017/ PGM-Fortaleza) A respeito de bens públicos e responsabilidade civil do Estado, julgue o próximo
item. Se, após um inquérito civil público, o MP ajuizar ação de improbidade contra agente público por ofensa ao
princípio constitucional da publicidade, o agente público responderá objetivamente pelos atos praticados,
conforme o entendimento do STJ.7
6 A Lei nº 13.425/2017 entra em vigor após decorridos 180 de sua publicação oficial (31/03/2017).
7
ERRADO.
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(CESPE/2017/TJPR) De acordo com o entendimento jurisprudencial e a Lei n.º 8.429/1992, assinale a opção
correta a respeito da improbidade administrativa.
a) Conforme o STJ, a tipificação do ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública exige a demonstração de dolo específico.
b) A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que os agentes políticos municipais não se submetem aos
ditames da Lei de Improbidade Administrativa, porquanto já estão sujeitos à responsabilização política e
criminal prevista no decreto-lei que trata dos crimes de responsabilidade de prefeitos e vereadores.
c) Segundo o STF, compete ao primeiro grau de jurisdição o julgamento das ações de improbidade
administrativa contra agentes políticos, ocupantes de cargos públicos ou detentores de mandato eletivo,
independentemente de eles estarem, ou não, em atividade.
d) Para o STJ, nos atos de improbidade administrativa que causem lesão ao erário, a responsabilidade entre os
agentes ímprobos é subsidiária.8
#DEOLHONAJURIS:
O assédio moral, mais do que provocações no local de trabalho — sarcasmo, crítica, zombaria e trote —,
é campanha de terror psicológico pela rejeição. A prática de assédio moral enquadra-se na conduta prevista no
art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92, em razão do evidente abuso de poder, desvio de finalidade e malferimento à
impessoalidade, ao agir deliberadamente em prejuízo de alguém. STJ, julgado em 03/09/2013.
8
Assertiva “C”
9 Assertiva “E”
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Professor que assedia sexualmente aluno
Configura ato de improbidade administrativa a conduta de professor da rede pública de ensino que,
aproveitando-se dessa condição, assedie sexualmente seus alunos. Isso porque essa conduta atenta contra os
princípios da administração pública, subsumindo-se ao disposto no art. 11 da Lei nº 8.429/1992. STJ, julgado em
21/5/2013 (Info 523).
Se o relatório da sindicância administrativa instaurada contra servidor público federal concluir que a
infração funcional em tese praticada está capitulada como ilícito penal, a autoridade competente deverá
encaminhar cópia dos autos ao Ministério Público, independentemente da imediata instauração do processo
disciplinar (art. 154, parágrafo único, da Lei nº 8.112/90). A autoridade que deixa de fazer esse
encaminhamento incorre na prática de ato de improbidade administrativa prevista no art. 11, II, da Lei nº
8.429/92 (“retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício”). STJ, julgado em 08/04/2014.
Publicidade governamental que não tenha fins educacionais, informativos e de orientação social
Configura ato de improbidade administrativa a propaganda ou campanha publicitária que tem por
objetivo promover favorecimento pessoal, de terceiro, de partido ou de ideologia, com utilização indevida da
máquina pública. STJ, julgado em 27/05/2014.
Prefeito que intercede junto ao Delegado para que este libere preso para comparecer em um enterro:
inexistência de improbidade
Não configura ato de improbidade a conduta do agente político de intervir na liberação de preso para
comparecimento em enterro de sua avó, uma vez que não está presente o dolo, ou seja, a manifesta vontade,
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omissiva ou comissiva, de violar princípio constitucional regulador da Administração Pública. STJ, julgado em
26/11/2013.
A ausência de prestação de contas, quando ocorre de forma dolosa, acarreta violação ao Princípio da
Publicidade. Vale ressaltar, no entanto, que o simples atraso na entrega das contas, sem que exista dolo na
espécie, não configura ato de improbidade. Para a configuração do ato de improbidade previsto no art. 11, inc.
VI, da Lei nº 8.429/92, não basta o mero atraso na prestação de contas, sendo necessário demonstrar a má-fé
ou o dolo genérico. STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.382.436-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
20/8/2013 (Info 529)
O agente responsável pelo ato de improbidade que atente contra os princípios da Administração Pública
pode sofrer as seguintes cominações (art. 12, III):
• Pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente;
• Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de três anos.
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#COMOFOICOBRADO
1. O ato de improbidade administrativa acarretará, entre outras sanções, a perda da função pública e dos
direitos políticos, bem como a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário10.
2. A aplicação das sanções previstas na lei de improbidade administrativa independe de eventual aprovação ou
rejeição das respectivas contas pelo órgão de controle interno ou externo ou da efetiva ocorrência de dano ao
patrimônio público11.
6. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível12.
#DEOLHONAJURIS #AJUDAMARCINHO
Para a configuração dos atos de improbidade tipificados no art. 11 da Lei nº 8.429/92, exige-se que a
conduta seja praticada por agente público (ou a ele equiparado), atuando no exercício de seu munus público,
havendo, ainda, a necessidade do preenchimento dos seguintes requisitos: a) conduta ilícita; b) improbidade do
ato, configurada pela tipicidade do comportamento, ajustado em algum dos incisos do 11 da LIA; c) elemento
volitivo, consubstanciado no DOLO de cometer a ilicitude e causar prejuízo ao Erário; d) ofensa aos princípios da
Administração Pública. STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1306817/AC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado
em 06/05/2014.
10 ERRADO
11 CERTO
12 CERTO
47
Para a configuração dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da
administração pública (art. 11 da Lei 8.429/1992), é DISPENSÁVEL a comprovação de efetivo prejuízo aos cofres
públicos. STJ, julgado em 4/9/2014 (Info 547).
No caso de condenação pela prática de ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública, as penalidades de suspensão dos direitos políticos e de proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios não podem ser fixadas
abaixo de 3 anos, considerando que este é o mínimo previsto no art. 12, III, da Lei nº 8.429/92. Não existe
autorização na lei para estipular sanções abaixo desse patamar. STJ, julgado em 7/4/2016 (Info 581).
A condenação pela Justiça Eleitoral ao pagamento de multa por infringência às disposições contidas na
Lei n. 9.504/1997 (Lei das Eleições) não impede a imposição de nenhuma das sanções previstas na Lei nº
8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa), inclusive da multa civil, pelo ato de improbidade decorrente da
mesma conduta. STJ, julgado em 15/12/2015 (Info 576).
*#NOVIDADELEGISLATIVA #AJUDAMARCINHO: Foi publicada hoje (12/04) mais uma novidade legislativa.
Trata-se da Lei nº 13.650/2018, que acrescenta um inciso ao art. 11 da Lei nº 8.429/92, prevendo nova hipótese
de ato de improbidade que atenta contra os princípios da administração pública.
Antes de verificarmos a redação do novo inciso, importante fazermos algumas considerações preliminares.
SUS
O art. 196 da CF/88 prevê que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Para efetivar esse direito,
foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o art. 4º da Lei nº 8.080/90, o SUS consiste no “conjunto de
ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da
Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público”. A iniciativa privada poderá
participar do SUS, em caráter complementar (art. 4º, § 2º).
Princípios do SUS
O SUS é baseado nos seguintes princípios:
a) universalidade: o sistema garante prestação dos serviços de saúde a toda e qualquer pessoa;
b) equidade: os serviços de saúde são prestados em todos os níveis que sejam necessários, de acordo com a
complexidade que o caso venha a exigir, de forma isonômica, nas situações similares;
c) integralidade: deve ser reconhecido que cada indivíduo é considerado como um todo indivisível e integrante
de uma comunidade, o que exige do Poder Público que as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde
formem também um todo indivisível, atendendo os casos e observando os diversos graus de complexidade de
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forma integral pelas unidades prestadoras de serviços de saúde. Obs: existem inúmeros outros princípios do SUS
listados no art. 7º da Lei nº 8.080/90.
Os hospitais particulares e demais instituições privadas de saúde também podem prestar serviços do SUS?
SIM, mas apenas em caráter complementar. Neste caso. Isso está previsto no art. 199, § 1º da CF/88:
Art. 199 (...)
§ 1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo
diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas
e as sem fins lucrativos.
Por que existe essa participação complementar das instituições privadas no SUS?
Porque o Estado brasileiro não possui condições de cumprir a determinação da universalidade da saúde, ou seja,
não têm estrutura de hospitais, clínicas, laboratórios etc. para atender toda a população.
Desse modo, o legislador constituinte, já sabendo disso, permitiu que o Estado fizesse parcerias com instituições
privadas de saúde para atender os casos em que a rede pública não conseguisse. Nesses casos, o Poder Público
transfere recursos (“paga”) para que os hospitais particulares atendam gratuitamente pacientes do SUS.
DIPLOMA DISPOSITIVOS
Lei 8.429/1992 Integralmente
FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros.
Anotações Pessoais.