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APOSTILA DE PROCESSUAL PENAL MILITAR - CEFS

O Estado é o verdadeiro titular dos jus puniendi. O ato de punir se materializa através do Poder
Legislativo, na medida em que se inicia a elaboração das leis penais militares e,
consequentemente, as sanções por elas cominadas. Ocorre que o ato de punir poderá levar o
militar a ser submetido à privação de sua liberdade. Por certo, a própria Constituição da
República, alicerçada no Estado Democrático de Direito, determinou que a aplicação do Direito
Penal Militar, por si só, obedeça ao devido processo legal.

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO PENAL MILITAR

Devido Processo Legal

A Constituição da República de 1988, em seu Art. 5°, Inciso LIV, estabeleceu que, para a
existência de privação da liberdade ou de um bem, tais comprometimentos deveriam ocorrer
mediante ao Devido Processo Legal. Desta forma, o presente Princípio é um limitador do Poder
Estatal, abarcando outras garantias fundamentais, tais como: ampla defesa, contraditório,
imparcialidade do juiz, razoável duração do processo, presunção de inocência, etc, OU SEJA É o
princípio que assegura a todos o direito a um processo com todas as etapas previstas em lei e
todas as garantias constitucionais

Contraditório

Em consonância ao Art. 5°, Inciso LV, da CRFB/88, “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes”, OU SEJA significa que todo acusado terá o direito de
resposta contra a acusação que lhe foi feita, utilizando, para tanto, todos os meios de defesa
admitidos em direito

Ampla Defesa

O Princípio da Ampla Defesa também se encontra no Art. 5°, Inciso LIV, da CRFB/88. No
entanto, eles não se confundem, uma vez que o contraditório se manifesta em ambas as
partes; já a ampla defesa, somente ao réu ou acusado. Exprime a garantia de que ninguém
pode sofrer os efeitos de uma sentença sem ter tido a possibilidade de ser parte do processo
do qual esta provém, ou seja, sem ter tido a possibilidade de uma efetiva participação na
formação da decisão judicial (direito de defesa). O princípio é derivado da frase latina Audi
alteram partem (ou audiatur et altera pars), que significa "ouvir o outro lado", ou "deixar o
outro lado ser ouvido bem".

Verifica-se que a ampla defesa é a condição do réu ou acusado de levar à baila todas as provas
legais a esclarecer os fatos, omitir-se ou se prevalecer do silêncio

Duplo Grau de Jurisdição

O Princípio do Duplo Grau de Jurisdição não está expresso na Constituição da República de


1988, mas sim de maneira implícita no Art. 5°, Inciso LV, CRFB/88, que com os meios e
recursos (grifo) a ela inerentes, faz com que o réu ou o acusado tenha o direito de recorrer à
instância hierarquicamente superior, para fins de reexame da decisão judicial.
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Presunção de Inocência ou Não Culpabilidade

Com a Constituição da República de 1988, a Presunção de Inocência ganhou status


constitucional, uma vez que no Art. 5°, Inciso LVII, CRFB/88 diz: “Ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

Esse direito faz com que o acusado ou o réu seja culpado após o devido processo legal, onde
ele tenha utilizado todos os meios de prova para a sua defesa e ainda desconstruir a tese
acusatória.

Publicidade

O acesso a todos os atos praticados no curso do processo eleva a credibilidade, a transparência


e a fiscalização dos atos dos juízes e das partes. Esse princípio obriga a Administração Pública a
dar publicidade de seus atos administrativos para possibilitar o controle de terceiros

Dignidade da Pessoa Humana

Além de ser um dos princípios fundamentais da República (art. 1°, inciso III, CRFB/88) e ainda
dos direitos e garantias fundamentais (art.5°, CRFB/88), a sua aplicação no Direito Processual
Penal Militar está relacionada ao status libertatis do militar, optando assim em medidas menos
nocivas ao militar.

Sistema do Processo Penal Militar

O Processo Penal Militar adotou o Sistema Acusatório, caracterizado pela presença de um


Juiz, o Ministério Público e a Defesa, de modo que as partes (MP e Defesa) sejam responsáveis
pela a produção de provas e cabendo ao magistrado a imparcialidade e a garantia da liberdade
e dos direito fundamentais. Por fim, existem ainda outros Sistemas que são o Inquisitorial e o
Misto.

Aplicação da Lei Processual Penal Militar

Fontes do Código de Processo Penal Militar

As fontes do Código de Processo Penal Militar são a Constituição da República e a Lei


Processual Penal Comum. Nota-se, ainda, que o CPPM, no art. 1°, § 1°, consolidou que as
Convenções e os Tratados, no qual o Brasil foi signatário, prevaleceram em detrimento ao
CPPM. Como por exemplo, podemos citar o Pacto São José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil,
em 1992, através do Decreto n° 687, que no n° 2, do art. 8, estabelece a igualdade entre as
partes na fase do processo (paridade das armas).

Suprimento dos casos Omissos do Código de Processo Penal Militar

A omissão do CPPM é dirimida pela interpretação do art. 3°, uma vez que traz o rol de
condicionantes para sanar a lacuna existente. Sendo elas: a legislação processual penal comum
(Código de Processo Penal), jurisprudência, usos e costumes militares, princípios gerais do
direito e analogia. No que tange a Legislação Processual Penal Comum, cabe aqui relatar que,
sua utilização não poderá trazer prejuízo ao processo penal militar, como por exemplo, a
aplicação da Lei 9099/95, no qual seus institutos não são aplicáveis na Justiça Militar, por força
da vedação da Lei 9839/99.
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Suprimento dos casos omissos

Art. 3º Os casos omissos neste Código serão supridos:

a) pela legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem
prejuízo da índole do processo penal militar;

b) pela jurisprudência;

c) pelos usos e costumes militares;

d) pelos princípios gerais de Direito;

e) pela analogia.

Territorialidade e extraterritorialidade

O art. 4° CPPM, adotou o princípio da territorialidade, onde todo e qualquer processo penal
militar que teve origem no território nacional deve ser equacionado a luz do Código de
Processo Penal Militar, salvo convenções, tratados e regras de direito internacional, como, por
exemplo, a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, aprovada pelo Decreto
Legislativo n° 103/64, e promulgada pelo Decreto n° 56.435/65.

Ao contrário do princípio da territorialidade, cuja regra é a aplicação da lei brasileira àqueles


que praticarem infrações penais dentro do território nacional, incluídos aqui os casos
considerados fictamente como sua extensão, o princípio da
extraterritorialidade preocupa-se com a aplicação da lei brasileira às infrações penais
cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros.

Aplicação à Justiça Militar Estadual

Pela interpretação do art. 6°, o Código de Processo Penal Militar se aplica nas Justiças Militares
Estaduais, nota-se que a própria Constituição da República, de 1988, já estabeleceu em seu
art. 125, § 3°, essa possibilidade, na medida em que os Estados poderão criar o Tribunal de
Justiça Militar Estadual. No caso em comendo, o Estado do Rio de Janeiro não possui o
Tribunal de Justiça Militar, mas uma Vara Especializada, denominada Auditoria de Justiça
Militar/AJMERJ.

A Justiça Militar na Constituição Federal de 1988

A construção acerca do foro militar é de vital importância para o entendimento da


Competência das Justiças Militares, visto que no art. 82 do CPPM, o foro militar é especial,
salvo os crimes dolosos contra a vida praticados contra civil (Lei 9299/96). Estabelecendo
assim, as pessoas que estarão sujeitas a jurisdição militar, sendo elas: militares em situação de
atividade, militares da reserva convocados ao serviço ativo, reservistas e os Oficiais e Praças
das Policiais Militares e Corpos de Bombeiros

Justiça Militar da União

A Justiça Militar da União pertence ao Poder Judiciário (art. 92 CRFB/88), estabelecendo que os
Órgãos da Justiça Militar serão compostos pelo Superior Tribunal Militar/STM e os Tribunais e
Juízes Militares (art. 122 CRFB/88).
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Para tanto, possui competência para processar e julgar os crimes militares definidos em lei,
tendo como agentes os Militares das Forças Armadas e Civis (art. 124 CRFB/88), salvos os
crime dolosos contra a vida praticados contra civil (lei 9299/96), de competência do Tribunal
do Júri.

Primeira Instância da Justiça Militar da União

Os Órgãos de Primeira Instância são as 12 (doze) Circunscrições Judiciárias Militares,


espalhadas no território nacional, onde cada Circunscrição possui pelo menos 01(uma)
Auditoria.

As auditorias são divididas em Órgãos Julgadores (Conselhos de Justiça):

Conselho Permanente de Justiça: Constituído pelo Juiz Auditor (Juiz de Direito), por um
Oficial Superior, que será o Presidente, e 03(três) Oficiais de posto até capitão-tenente ou
capitão, esses Juízes Militares. A composição do presente Conselho funcionará durante
03(três) meses consecutivos, ou podendo ser prorrogado. Tem competência para processar e
julgar Praças e Civis.

Conselho Especial de Justiça: Constituído pelo Juiz Auditor (Juiz de Direito) e 04(quatro)
Juízes Militares, sob a presidência, dentre estes, de um Oficial General ou Oficial Superior, de
posto mais elevado que o dos demais juízes. Os Juízes Militares serão de posto superior ao do
acusado, ou do mesmo posto e de maior antiguidade. A composição do Conselho Especial é
constituída para cada processo, e dissolvido após conclusão dos seus trabalhos. Tem
competência para processar e julgar os Oficiais das Forças Armadas, exceto Oficiais Generais,
que cuja competência é originaria do STM.

Observação: Em caso de concurso de agentes envolvendo oficiais e praças, a competência para


processar e julgar o feito será do Conselho Especial de Justiça.

Segunda Instância da Justiça Militar da União

O Superior Tribunal Militar (STM) é o Órgão de Segunda Instância da Justiça Militar da União,
com sede no Distrito Federal e jurisdição em todo território nacional. A composição do STM é
assim disposta: 03 (três) Oficiais Generais da Marinha, 04 (quatro) Oficiais Generais do
Exército, 03 (três) Oficiais Generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado, e
ainda 03 (três) advogados, 1 (um) Juiz Auditor e 01(um) Membro do Ministério Publico Militar,
perfazendo 15(quinze) Ministros.

Justiça Militar dos Estados e Distrito Federal e Auditoria de Justiça Militar do Estado do Rio
de Janeiro/AJMERJ

A Justiça Militar dos Estados e Distrito Federal pertence ao Poder Judiciário (art. 125 CRFB/88),
estabelecendo, a critério do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar Estadual, construída, em
primeiro grau, pelos Juízes de Direito e pelos Conselhos de Justiça, e de segundo grau, os
Tribunais Militares ou pelos Tribunais de Justiça, em que o efetivo militar seja superior a vinte
mil integrantes.

O Estado do Rio de Janeiro não possui um Tribunal de Justiça Militar, no entanto os crimes
militares serão julgados e processados por uma Vara Especializada, denominada Auditoria de
Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro/AJMERJ juntamente com os Conselhos de Justiça.
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A AJMERJ e os Conselhos de Justiça possuem competência para processar e julgar os crimes


militares praticados pelos Militares Estaduais, salvo os crimes dolosos contra a vida praticados
contra civil (lei 9299/96), de competência do Tribunal do Júri.

Competência singular do Juiz de Direito do Juízo Militar em processar e julgar os crimes


militares contra civis e as ações contra atos disciplinares

No que se refere às ações judiciais contra atos disciplinares militares, mesmo por força do art.
125, § 4° e 5°, da CRFB/88, com redação da EC, n° 45/04, que determina a competência da
Justiça Militar, na pessoa do Juiz de Direito do Juízo Militar. No Estado do Rio de Janeiro esta
realidade é bem diferente, visto a Súmula n° 131, do TJRJ combinado com o art. 97, § 9°, do
Código de Organização e Divisão Judiciária do Estado do Rio de Janeiro (CODJERJ), que
transferiu esta atribuição para as Varas de Fazenda Pública. Nesse diapasão, o art. 125, § 5°
CRFB/88, estabeleceu a competência singular do Juiz de Direito do Juízo Militar em processar e
julgar os crimes militares cometido contra civis, enquanto que os demais crimes militares
cabem os Conselhos de Justiça

Primeira Instância da Justiça Militar Estadual/AJMERJ

O Órgão de Primeira Instância que julga e processa os crimes militares praticados por
integrantes da PMERJ e do CBMERJ é a Auditoria de Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro
(AJMERJ) através dos Conselhos de Justiça.

Nesse compasso, a AJMERJ é constituída pelos Conselhos Permanentes e Especiais de Justiça.


Seus funcionamentos são regulados Lei 8457/92. Veja:

Conselho Permanente de Justiça: Constituído pelo Juiz de Direito do Juízo Militar (Presidente
do Conselho), por 01(um) Oficial Superior e 03(três) Oficiais de posto até capitão, esses Juízes
Militares. A composição do presente Conselho funcionará durante 03(três) meses
consecutivos, ou podendo ser prorrogado. Tem competência para processar e julgar Praças.

Conselho Especial de Justiça: Constituído pelo Juiz de Direito do Juízo Militar (Presidente do
Conselho) e 04(quatro) oficiais. Os Juízes Militares serão de posto superior ao do acusado, ou
do mesmo posto e de maior antiguidade. A composição do Conselho Especial é constituída
para cada processo, e dissolvido após conclusão dos seus trabalhos. Tem competência para
processar e julgar os Oficiais.

Segunda Instância da Justiça Militar Estadual/AJMERJ O Órgão de Segunda Instância da


Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro/AJMERJ é o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, conforme preceitua o Art. 125, § 3°, da CRFB/88, combinado com o art. 153, CODJERJ.
Cabendo a este decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças.

POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR: EXERCÍCIO E COMPETÊNCIA

Inicialmente, o Poder de Polícia do Estado encontra-se dividido em duas funções: Polícia


Administrativa e Polícia Judiciária. A primeira possui a função preventiva já a segunda a
apuração dos fatos que já ocorreram.

Em função de suas atribuições , a policia das corporações militares federais são administrativas
e judiciárias. A primeira previne e reprime o crime militar, no âmbito das respectivas
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corporações, e excepcionalmente fora dela.(...). A Policia Judiciária tem como atribuição


apurar as infrações penais militares, a fim de oferecer elementos destinados a propositura da
ação penal(...).

Em suma, os Comandantes, Chefes e Diretores de Organizações Policiais Militares (OPM),


serão a APJM no âmbito da PMERJ, tendo como simetria o artigo em comento.

Delegação do exercício de Policia Judiciária Militar

Os parágrafos do art. 7°, do CPPM, enumeram as possibilidades de delegação, por tempo


limitado, das atividades de Polícia Judiciária Militar aos Oficiais da ativa, no entanto, tais
circunstâncias deverão obedecer os seguintes requisitos:

A) Em se tratando de delegação para instauração de inquérito policial militar, deverá aquela


recair em oficial de posto superior ao do indiciado, seja este oficial da ativa, da reserva,
remunerada ou não, ou reformado.

B) Não sendo possível a designação de oficial de posto superior ao do indiciado, poderá ser
feita a de oficial do mesmo posto, desde que mais antigo.

C) Se o indiciado é oficial da reserva ou reformado, não prevalece, para a delegação, a


antiguidade de posto.

D) Se o posto e a antiguidade de oficial da ativa excluírem, de modo absoluto, a existência de


outro oficial da ativa nas condições do § 3º, caberá ao ministro competente a designação de
oficial da reserva de posto mais elevado para a instauração do inquérito policial militar; e, se
este estiver iniciado, avocá-lo, para tomar essa providência.

Em decorrência do art. 8°, do CPPM, passamos agora a analisar as competências da Policia


Judiciária Militar, a saber:

a) Apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos à jurisdição
militar, e sua autoria: Inicialmente, deverá ficar demonstrado a existência de indícios de uma
infração penal militar, e que consequentemente, tais delitos militares deverão estar
consignados no Código Penal Militar (Dec. Lei 1.001/69). No que se refere à Lei Especial, não,
mas de coaduna com os dispositivos constitucionais, na medida em que o art.30 da Lei
7.170/83 (Lei de Segurança Nacional) não recepcionado pela CRFB/88.

b) Prestar informações do Poder Judiciário e ao Ministério Público: São informações e


diligências requisitadas pelo Juiz ou pelo Ministério Público, na fase inquisitorial ou na fase
processual. A fim de exemplificar, podemos citar: oitiva de testemunhas, juntada de
documentos, reprodução simulada e entre outras.

c) Cumprir mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar: Essa competência poderá ser
estendida, também, para as Autoridades Judiciárias da Justiça Comum.

d) Representar pela decretação da prisão preventiva e pelo reconhecimento de insanidade


mental do indiciado:

Inicialmente, há a necessidade de esclarecer o instituto da Prisão Preventiva no CPPM. Como


se percebe, o art. 254 CPPM retrata a competência e os requisitos desta medida cautelar,
nesse compasso tal medida poderá ser decretada pelo Juiz de Direito do Juízo Militar ou pelo
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Conselho de Justiça (Especial ou Permanente), e ainda a requerimento do Ministério Público


ou mediante representação do Encarregado do IPM. Para tanto, a Prisão Preventiva poderá ser
decretada em qualquer fase, tanto no IPM ou no Processo Criminal. No que concerne aos
requisitos: prova do fato delituoso (prova/certeza da existência do crime militar) e indícios
suficientes de autoria (não se exige aqui a certeza, mas sim a probabilidade de autoria).

Agora vejamos os fundamentos da Prisão Preventiva (art. 255 CPPM): garantia da ordem
pública (risco do agente solto praticar reiteradamente crimes militares), conveniência da
instrução criminal(quando o agente solto poderá prejudicar a colheita de elementos de
informação ou provas), periculosidade do indiciado ou acusado (atos que poderiam ameaças a
coletividade e a paz social), segurança da aplicação da lei penal militar (perigo iminente de
fuga do agente) e exigências da manutenção das normas ou princípios de hierarquia e
disciplina militares (na medida em que atos desafiadores e desrespeitosos são perpetrados
pelo agente em desfavor de seus superiores hierárquicos). Finalmente, no que tange a
insanidade mental do indiciado (art. 156 § 2° c/c art. 160, parágrafo único, ambos, CPPM),
poderá ser ordenada pelo Juiz de Direito do Juízo Militar (ofício), a requerimento do MP,
defensor, curador, cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do indiciado e ainda pelo
encarregado do IPM.

e) Cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob a sua guarda e
responsabilidade, bem como as demais prescrições deste Código: No caso em comendo,
podemos fazer uma referência à Unidade Prisional da PMERJ-UP/PMERJ, onde seu Diretor
ficará sujeito aos ditames da Justiça Militar (AJMERJ), bem como as referências da Lei de
Execução Penal (Lei 7210/84).

f) Solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à elucidação das
infrações penais, que esteja a seu cargo: O encarregado buscará em órgãos externos
elementos de informação(documentos, certidões, filmagens) para elucidar a infração penal
militar.

g) Requisitar da Policia Civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e exames necessários:
A PMERJ possui o Centro de Criminalística, que muito embora seja referência nacional em
perícia criminal, infelizmente alguns exames não são realizados por esta Unidade, como é o
caso dos exames de corpo e delito e necropsia. Nesse sentido, será requisitado aos órgãos da
Policia Civil o devido exame pericial, e que na inobservância desta requisição poderá o perito
responder administrativamente e criminalmente.

h) Atender pedidos de apresentação de militares à autoridade civil: Nesse dispositivo, a


Autoridade de Policia Judiciária Militar deverá apresentar os Policiais Militares, a seu comando,
às autoridades civis, sob pena de responsabilidade administrativa e criminal.

O INQUÉRITO POLICIAL MILITAR (IPM)

Uma das competências da Policia Judiciária Militar é a apuração das infrações penais militares
(art. 8°, alínea “a” CPPM), que se materializa através de um procedimento administrativo
chamado Inquérito Policial Militar

Nesse sentido, a doutrina afirma que o Inquérito Policial Militar é um mecanismo de se evitar
abusos por parte do Estado, evitando assim que um cidadão responda a um processo criminal,
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sem que antes se apure as informações que lhe são imputadas, resguardando os direitos e
garantias fundamentais do cidadão.

Conceito

O Inquérito Policial Militar é um procedimento administrativo de característica inquisitorial,


cujo encarregado exerce as funções de Autoridade de Polícia Judiciária Militar, no qual
desenvolve diligências objetivando a coleta de elementos de informação, indicando o autor (se
possível) e possibilitando o oferecimento da peça acusatória por parte do Ministério Público.

Natureza Jurídica

Por se tratar de um procedimento administrativo, o Inquérito Policial Militar não contempla a


ampla defesa e o contraditório, consagrados no art. 5°, inciso LVI, do CRFB/88, pelo simples
motivo de não ser um Processo Judicial ou Administrativo. Por derradeiro, o IPM é considerado
pela doutrina e pela jurisprudência uma mera peça informativa (elementos de informação), e
que eventuais irregularidades no curso deste procedimento não tem o condão de contaminar
o processo penal militar, mas sim a retirada dessa prova dos autos do processo.

Finalidade

A finalidade do Inquérito Policial Militar encontra-se disciplinada no art. 9° CPPM, que em


síntese atribui ao IPM à apuração sumária de fato, que configure crime militar e sua autoria.
Possui caráter de instrução provisória, cuja finalidade é ministra elementos necessários para à
propositura da ação penal.

Características do Inquérito Policial Militar

a) Procedimento Escrito: De acordo com o art. 21 CPPM, todas as peças serão, por ordem
cronológicas, reunidas num só processado e datilografado, com folhas numeradas e rubricadas
pelo escrivão.

b) Procedimento Inquisitorial: O entendimento da doutrina e jurisprudência é que o Inquérito


Policial Militar possui caráter inquisitorial, não abarcando os princípios do contraditório e da
ampla defesa. Essa natureza inquisitorial, está ligada a não comunicação dos atos
investigatórios ao indiciado, fazendo com que, esse procedimento seja eficiente e eficaz, no
que concerne à identificação do autor do crime militar.

Convém destacar, que embora o IPM seja inquisitorial, tal característica não afasta a
possibilidade do indiciado propor a formulação de quesitos nas pericias e exames, conforme
preceitua o art. 316 CPPM.

c) Procedimento Sigiloso:

O sigilo do IPM está consagrado no art. 16 CPPM, momento em que o encarregado pode
permitir o acesso dos autos do IPM ao advogado do indiciado. Esta “faculdade” do
encarregado, não encontra respaldo legal na nova ordem jurídica, na medida em que a Lei
8.906/94 (Estatuto da OAB) no seu art. 7°, inciso XIV, atribui o direito ao advogado de ter
acesso os autos do flagrante e dos inquéritos, combinado com a Súmula Vinculante n° 14.
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SÚMULA VINCULATE N° 14

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência
de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

No que tange as demais pessoas, se faz necessário o sigilo, pelo simples motivo de que o IPM
visa investigar as infrações penais militares, buscando assim os elementos de informação para
a identificação da a autoria e a materialidade. Por certo a divulgação da investigação poderá
interferir na efetividade das ações de polícia judiciária militar.

d) Procedimento Dispensável: Sendo o Ministério Público o titular da ação penal, poderá ele,
dispor do IPM quando obtiver informações mínimas para o oferecimento da denúncia. Essas
informações constam nos seguintes artigos do CPPM, a saber:

art. 27 CPPM: Quando o Auto de Prisão em Flagrante for suficiente para a elucidação do fato e
sua autoria;

art. 28 CPPM: No momento em que o fato e autoria já estiverem esclarecidos por documentos
ou outras provas matérias, nos crimes contra a honra (escritos ou publicados e seu autor
identificado) e nos crimes do art. 341 (desacato) e art. 349 (desobediência de decisão judicial),
ambos do Código Penal Militar.

e) Procedimento Oficial: Incumbe a Autoridade de Policia Judiciária Militar (Marinha, Exercito,


Aeronáutica, Policia Militar e Corpo de Bombeiros Militares) a presidência do IPM.

f) Procedimento Oficioso: A Autoridade de Policia Judiciária Militar que tomar conhecimento


de uma noticia crime, ela é obrigada a agir de oficio, independente de provocação da vitima ou
de qualquer outra parte.

g) Procedimento indisponível: Uma vez instaurado o IPM, a Autoridade de Policia Judiciária


Militar não poderá arquivar esse procedimento, visto que compete ao titular da ação penal
propor ao Juiz de Direito o arquivamento do feito.

Formas de instauração do IPM

A instauração do IPM é mediante Portaria, lavrada pela Autoridade de Policia Judiciária


Militar, conforme preceitua o art. 10, do CPPM.

Instauração de Ofício – art. 10, alínea (a), do CPPM: É quando a Autoridade de Policia
Judiciária Militar conhece diretamente os fatos que noticiam a infração penal militar.

Instauração por determinação ou delegação -art. 10, alínea (b), do CPPM: A Autoridade de
Policia Judiciária Militar Superior irá determinar ou delegar para outra Autoridade, de condição
inferior(subordinada) a instauração de IPM.

Instauração por requisição do Ministério Público-art. 10, alínea (c), do CPPM: O Ministério
Público irá requisitar diretamente a Autoridade de Policia Judiciária Militar a instauração do
IPM. Cabe ainda consignar, que a própria Constituição da República de 1988 atribui essa
competência ao Parquet, conforme art. 129, VIII CRFB/88.
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Instauração por decisão do Superior Tribunal Militar -art. 10, alínea (d), do CPPM: Aplicando
a simetria aos Estados, no caso em comendo o Estado do Rio de Janeiro, onde o Órgão de
Segunda Instância da AJMERJ é o Tribunal de Justiça, este, poderá decidir em remeter os autos
ao Ministério Público para fins de instauração do Inquérito Policial Militar.

Instauração por requerimento do ofendido, do seu representante legal ou por uma pessoa
que tenha conhecimento de uma infração penal militar- art. 10, alínea (e), do CPPM: Aos fatos
que constituem indícios de infração penal militar, que são narrados pelo ofendido, seu
representante legal ou qualquer cidadão, deve a Autoridade de Policia Judiciária Militar apurar
os fatos através do IPM.

Instauração através de Sindicância -art. 10, alínea (f) do CPPM: Este meio investigatório pode
ser interpretado de forma extensiva, na medida em que outros meios como, por exemplo, a
averiguação, irá ensejar em elementos indiciários para a instauração do IPM.

Notitia criminis é o conhecimento, espontâneo ou provocado, por parte da autoridade


policial, acerca de um fato delituoso. Subdivide-se em:

a) Espontânea: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por
meios de suas atividades rotineiras (...).

b) Provocada: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento da infração penal


através de um expediente escrito (...).

c) Coercitiva: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso


através da apresentação do individuo preso em flagrante.

O Supremo Tribunal Federal proíbe a instauração de Inquérito Policial baseando


exclusivamente em denúncia anônima, devendo o Órgão Policial apurar as informações
através procedimentos preliminares, no julgamento do HC n° 99.490/SP, Relator Ministro
Joaquim Barbosa, 23/11/10.

Superior ou igualdade de posto do infrator - art. 10, § 1°, do CPPM: Quando o infrator for
superior ou de igual posto da Autoridade de Polícia Judiciária Militar, em cujo local tenha
ocorrido à infração penal militar, deverá este, comunicar o fato ao seu superior para fins de
delegação.

Providências antes do IPM - art. 10, § 2° CPPM c/ art. 12, do CPPM: A Autoridade de Policia
Judiciária Militar ou qualquer outro militar que tenha conhecimento de uma infração penal
militar, adotará as seguintes providências, a saber:

dirigir-se ao local, providenciando para que se não alterem o estado e a situação das coisas,
enquanto necessário;

apreender os instrumentos e todos os objetos que tenham relação com o fato;

efetuar a prisão do infrator, observado o disposto no art. 244 CPPM;

colher todas as provas que sirvam para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias.
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Infração de natureza não militar -art. 10, § 3°, do CPPM: Se a infração penal não constituir
natureza militar, deverá ser comunicado os fatos a Autoridade de Policia Judiciária e se for o
caso apresentar o infrator.

Indícios contra |Oficial de posto superior ou mais antigo no curso do IPM - art. 10, § 3°, do
CPPM: Se no curso do IPM, o encarregado verificar a existência de indícios de infração penal
militar, em desfavor de oficial de posto superior ou mais antigo ao seu, deverá delegar suas
atribuições a outro oficial de posto superior ou mais antigo do que o indiciado.

ESPECIFICIDADES DE UM IPM E SEUS ENVOLVIDOS

Encarregado do IPM – art. 15, do CPPM

O encarregado do IPM será, sempre que possível (grifo nosso), oficial de posto não inferior ao
de capitão. No entanto a referida locução grifada, não impede que um oficial subalterno
(segundo ou primeiro tenente) exerça as atividades de policia judiciária militar, por tratar-se
de uma clausula discricionária da Autoridade de Policia Judiciária Militar.

Suspeição do encarregado do IPM – art 142, do CPPM Não se admite a suspeição do


encarregado por parte do indiciado ou pelo seu advogado, cabendo tão somente ao
encarregado do IPM declarar-se suspeito quando ocorrer motivos que impliquem em sua
imparcialidade na condução das investigações.

Atribuições do encarregado do IPM – art. 13, do CPPM

Além das medidas do art. 12, do CPPM (item 10.7), o encarregado deverá também adotas as
seguintes atribuições, a saber:

ouvir o ofendido;

ouvir o indiciado;

ouvir testemunhas;

proceder a reconhecimento de pessoas e coisas, e acareações;

determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outros
exames e perícias;

determinar a avaliação e identificação da coisa subtraída, desviada, destruída ou danificada,


ou da qual houve indébita apropriação;

proceder a buscas e apreensões e

tomar as medidas necessárias destinadas à proteção de testemunhas, peritos ou do


ofendido, quando coactos ou ameaçados de coação que lhes tolha a liberdade de depor, ou a
independência para a realização de perícias ou exames.

Escrivão – art. 11, do CPPM

A designação do escrivão será de competência do encarregado do IPM, caso não tenha sido
feita pela autoridade que delegou o feito. Nos casos em que o indiciado seja oficial, recairá sob
segundo ou primeiro tenente, e nos demais casos o escrivão será sargento ou subtenente.
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Compromisso legal– art. 11, parágrafo único, do CPPM

O escrivão deverá prestar o compromisso de manter o sigilo do IPM e de cumprir as


determinações do CPPM.

Atribuições do escrivão – art. 21, do CPPM

datilografar (digitar) as peças do IPM;

numerar e rubricar as folhas;

alocar as peças em ordem cronológica;

lavrar juntada de documentos e

lavrar o recebimento, certidão e conclusão.

Incomunicabilidade do indiciado – art. 17, do CPPM

De acordo com a doutrina e jurisprudência, o artigo em análise não foi recepcionado, na


medida em que a própria Constituição assegura que toda a prisão deverá ser comunicada
imediatamente ao juiz competente (Art. 5°, Inciso LXII, da CRFB/88) e o preso terá o direito à
assistência familiar bem como de constituir um advogado (Art. 5°, Inciso LXIII CRFB/88). Se no
Estado de Defesa (Art. 136, § 3°, Inciso IV, da CRFB/88), onde se verifica diversas restrições no
que tange aos direitos fundamentais, a Constituição vedou a incomunicabilidade do preso,
conclui-se então, que esse instituto no Estado Democrático de Direito não deve prosperar,
visto que se prevalece às garantias e os direitos fundamentais do individuo.

Detenção do indiciado – art 18, do CPPM Poderá o encarregado, independente de flagrante


delito, deter o indiciado por até 30 (trinta) dias, devendo comunicar a presente prisão ao Juiz
de Direito. Havendo a necessidade, devidamente fundamentada e a pedido do encarregado,
poderá o Comandante de Área prorrogar o feito por mais 20 (vinte) dias.

Prazo para terminação do IPM – art. 20, do CPPM

indiciado preso: 20 (vinte) dias, contado a partir do dia em que se executar a ordem de
prisão.

indiciado solto: 40 (quarenta) dias, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito,
podendo ser prorrogado por mais 20 (vinte) dias pela autoridade militar superior. A presente
prorrogação visa complementar a investigação no que concerne aos exames, pericias e
diligência não concluída. O pedido de prorrogação deve ser feito em tempo oportuno.

O IPM pode ser devolvido pelo Ministério Público e pelo Juiz de Direito, para fins de requisição
de diligências e preenchimento de formalidades, conforme art. 26 CPPM, e o prazo será fixado
por essas autoridades.

Dedução em favor dos prazos- art. 20, § 3°, do CPPM

São deduzidos dos prazos, quando ocorre no curso do IPM, quando o indiciado é superior ou
mais antigo do que o encarregado.

Relatório– art. 22, do CPPM


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O IPM será encerrado por um relatório minucioso, confeccionado pelo encarregado, que irá
concluir se há transgressão da disciplina ou indícios de crime, que neste último, representar
pela conveniência da prisão preventiva.

Solução – art. 22, § 1°, do CPPM

No caso de delegação, o encarregado enviará o IPM à autoridade delegante para fins de


homologação ou não, aplicando, quando necessário, penalidade disciplinar ou determinando
novas diligências.

Remessa – art. 23, do CPPM

Por força do Sistema Acusatório adotado pela CRFB/88, o referido artigo não foi recepcionado
pela nova ordem constitucional, visto que o Ministério Público (art. 129, inciso I CFRB/88) é
considerado o verdadeiro destinatário do IPM.

Arquivamento

A autoridade de policia judiciária militar não poderá mandar arquivar o IPM (art. 24 CPPM),
todavia o feito poderá ser proposto pelo Ministério Público e endereçado ao Juiz de Direito
que poderá concordar ou não.

Instauração de novo IPM – art. 25, do CPPM

O IPM arquivado poderá ensejar em investigações, se novas provas aparecerem em relação ao


fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado e os casos de extinção da
punibilidade.

SÚMULA 524 STF

Arquivado o inquérito policial, por despacho do Juiz, a requerimento do promotor de justiça,


não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas

INDICIOS

Definição

Art 382 CPPM. Indício é a circunstância ou fato conhecido e provado, de que se induz a
existência de outra circunstância ou fato, de que não se tem prova.

Requisitos

Art. 383 CPPM. Para que o indício constitua prova, é necessário:

a) que a circunstância ou fato indicante tenha relação de causalidade, próxima ou remota,


com a circunstância ou o fato indicado;

b) que a circunstância ou fato coincida com a prova resultante de outro ou outros indícios, ou
com as provas diretas colhidas no processo.
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PROCESSUAL
PENAL MILITAR -
CEFS

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