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2) Conflito de Competência 18
1. Aspectos constitucionais
O estudo da competência está relacionado à análise dos limites da jurisdição de cada órgão prolator. A
jurisdição é competência do Estado, que a distribui com limites a diversos órgãos. Por essa razão, para
iniciarmos o nosso estudo é necessário compreender o que a Constituição determina sobre o assunto.
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
Na Justiça Militar, a lei mencionada é o Código Penal Militar. É possível, portanto, que a Justiça Militar da
União julgue civis, e nesse sentido já surge a primeira diferença em relação à Justiça Militar dos estados, que
somente goza de competência para julgar policiais militares e bombeiros militares, nos termos do art. 125
da Constituição.
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.
[...]
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
Perceba que não há diferença na natureza dos crimes militares no âmbito da União e dos Estados. Os mesmos
crimes podem, dependendo do caso, ser julgados pela Justiça Militar da União ou dos Estados.
O que deve ser compreendido aqui é que a Justiça Militar da União pode julgar militares e civis que
pratiquem crimes militares, enquanto a Justiça Militar Estadual, por restrições da própria Constituição
Federal, apenas pode julgar policiais e bombeiros militares.
Uma segunda distinção importante diz respeito à competência em razão da matéria. Vimos que a Justiça
Militar da União apenas tem competência para julgar crimes militares, enquanto a Justiça Militar dos
Estados pode também julgar ações civis contra atos disciplinares militares.
A Justiça Militar da União tem competência para julgar civis que cometam crime militar,
mas a Justiça Militar dos estados apenas julga policiais militares e bombeiros militares.
A Justiça Militar da União julga apenas crimes militares, mas a Justiça Militar dos Estados julga também
ações civis contra atos disciplinares militares.
2. Do Foro Militar
O foro militar é especial e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos,
em tempo de paz, nos crimes militares definidos em lei, as seguintes pessoas:
O foro militar em tempo de guerra poderá, por lei especial, abranger outros casos além desses, desde que
tenham previsão legal anterior, respeitando o princípio da legalidade e da vedação do julgamento por
tribunal de exceção, ou seja, a previsão tem que ser anterior ao fato.
Uma regra importante é a estabelecida pelo §2° do art. 82: “Nos crimes dolosos contra a vida, praticados
contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum”. A Justiça
Militar não tem competência para julgar crimes dolosos contra a vida cometidos contra civis, mesmo
quando o acusado for militar.
Aqui cabe uma ressalva importante, o Código Penal Militar passou por mudanças importantes no art. 9º, que
trata sobre a definição de Crimes Militares. O parágrafo primeiro do citado artigo estabelece uma regra geral,
que é coerente com o disposto no CPPM:
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra
civil, serão da competência do Tribunal do Júri.
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das
Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no
contexto: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo
Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição
subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma
dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº
13.491, de 2017)
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e (Incluída
pela Lei nº 13.491, de 2017)
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
Percebam que essas exceções não abarcam os militares estaduais, apenas os das Forças Armadas.
3. Da Competência em Geral
Lembre-se de que, com relação ao lugar do crime, o legislador penal militar adota a teoria mista (art. 6° do
CPM).
LUGAR DO CRIME
- Para os crimes omissivos aplica-se a teoria da atividade, devendo o lugar do crime ser
considerado aquele em que deveria ser realizada a ação omitida.
Perceba, portanto, que o critério do lugar da infração não resolve o problema da competência, pois o
legislador adota, pelo menos para os crimes comissivos, a teoria da ubiquidade, sendo considerado lugar do
crime tanto aquele em que se desenvolveu a atividade, quanto aquele em que ocorreu o resultado.
Vejamos, portanto, o que o CPPM determina sobre o assunto:
DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Art. 85. A competência do foro militar será determinada:
I – de modo geral:
a) pelo lugar da infração;
b) pela residência ou domicílio do acusado;
c) pela prevenção;
II – de modo especial, pela sede do lugar de serviço.
Parece que o legislador teve a intenção de mencionar residência e domicílio como sinônimos. Os civilistas,
entretanto, diferenciam os dois, sendo o domicílio definido como o local de residência com ânimo definitivo.
O Código Civil determina, ainda, em seu art. 76, que o militar tem domicílio necessário: o local onde serve,
e, no caso do militar da Marinha ou Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente
subordinado.
O critério da prevenção é aplicado quando há mais de uma Auditoria Militar com competência para julgar a
ação penal. Nesse caso, o órgão que primeiro conhecer da ação será o responsável por julgá-la.
De modo especial, a competência é determinada pela sede do lugar de serviço. Este critério especial parece
estar relacionado ao domicílio necessário do militar determinado pelo Código Civil, não é mesmo? Mais
adiante em nossa aula veremos algumas situações em que essa regra é aplicada.
NA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA
Art. 86. Dentro de cada Circunscrição Judiciária Militar, a competência será determinada:
a) pela especialização das Auditorias;
b) pela distribuição;
c) por disposição especial deste Código.
Hoje a competência dentro das circunscrições é determinada pela Lei de Organização Judiciária Militar da
União (Lei n° 8.457/1992).
Não existem mais auditorias especializadas. Antigamente, nos locais onde havia mais de uma auditoria,
havia auditorias especializadas nos crimes praticados por militares de cada uma das Forças Armadas. Hoje
todas as auditorias têm competência mista. A alínea A, portanto, não é mais aplicável.
Nas cidades em que há mais de uma Auditoria Militar, haverá distribuição, que deve ser feita de forma
paritária.
MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Art. 87. Não prevalecem os critérios de competência indicados nos artigos anteriores, em caso de:
a) conexão ou continência;
b) prerrogativa de posto ou função;
c) desaforamento.
A conexão está relacionada à ligação entre dois processos, e pode ocorrer em diversas situações, enquanto
a continência exige situações um pouco mais específicas.
A modificação em razão da prerrogativa de posto ou função ocorre, por exemplo, quando oficial-general
comete crime militar. Neste caso, a competência originária é do STM.
LUGAR DA INFRAÇÃO
Art. 88. A competência será, de regra, determinada pelo lugar da infração; e, no caso de tentativa,
pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
Estamos diante do critério “ratione loci”. Recomendo que você lembre da regra no caso da tentativa, em
que a regra será a determinação da competência em função do lugar em que for praticado o último ato de
execução.
A BORDO DE NAVIO
Art. 89. Os crimes cometidos a bordo de navio ou embarcação sob comando militar ou militarmente
ocupado em porto nacional, nos lagos e rios fronteiriços ou em águas territoriais brasileiras, serão, nos
dois primeiros casos, processados na Auditoria da Circunscrição Judiciária correspondente a cada um
daqueles lugares; e, no último caso, na 1ª Auditoria da Marinha, com sede na Capital do Estado da
Guanabara.
Se o crime é praticado a bordo de embarcação sob comando militar ou militarmente ocupada em porto
nacional ou em lagos e rios fronteiriços, a Auditoria Militar competente será a do local em que o navio está.
No caso navio que está em águas territoriais brasileiras (mar territorial), o dispositivo determina que a
competência deve ser atribuída à 1ª Auditoria da Marinha, com sede no estado da Guanabara. O dispositivo,
portanto, trata de uma Auditoria Militar que não existe mais, e que era localizada em um estado que também
não existe mais.
Neste caso o STM tem aplicado a competência do lugar do serviço, ou seja, a Auditoria responsável por
conhecer a acusação será aquela do local onde o militar serve (art. 85, II do CPPM e art. 76 do Código Civil).
A BORDO DE AERONAVE
Art. 90. Os crimes cometidos a bordo de aeronave militar ou militarmente ocupada, dentro do espaço
aéreo correspondente ao território nacional, serão processados pela Auditoria da Circunscrição em
cujo território se verificar o pouso após o crime; e se este se efetuar em lugar remoto ou em tal distância
que torne difíceis as diligências, a competência será da Auditoria da Circunscrição de onde houver
partido a aeronave, salvo se ocorrerem os mesmos óbices, caso em que a competência será da Auditoria
mais próxima da 1ª, se na Circunscrição houver mais de uma.
Imagine que uma aeronave saia da base aérea localizada no Recife, com destino a Porto Alegre. Ocorrido
crime a bordo da aeronave, o comandante decide pousar em São Paulo. Neste caso, a Auditoria Militar
competente será a de São Paulo.
Jorge César de Assis diz que a segunda situação prevista no dispositivo (lugar remoto) tornou-se inaplicável
pelo desuso (desuetudo), pois, na prática, há Auditorias Militares com competência jurisdicional sobre cada
parte do território nacional, e, portanto, não importa se a aeronave pousou em lugar remoto.
O Direito Penal Militar adota a territorialidade e a extraterritorialidade incondicionada, o que significa dizer
que os crimes cometidos fora do território nacional também serão processados pela Justiça brasileira. Os
últimos exemplos são os crimes cometidos pelos militares brasileiros que servem em forças de paz,
principalmente no Haiti.
Se o crime militar for cometido no exterior, o acusado será processado em Brasília, na 11ª CJM.
Lembre-se de que, no Direito Penal Militar, o lugar do crime é tanto aquele onde foi praticada a conduta
quanto aquele em que se produziu o resultado (teoria da ubiquidade). Com base nessa distinção poderemos
determinar quem julgará o crime praticado apenas em parte no território nacional.
Caso a execução se inicie em território estrangeiro e o crime se consume no Brasil, será competente a
Auditoria Militar do local do resultado. Observe que a regra continua válida mesmo que o resultado não
venha a ocorrer efetivamente.
No caso do crime que se inicia em território nacional e se consuma no estrangeiro, a Auditoria competente
será a do lugar em que foi praticado o último ato ou execução.
Quanto ao parágrafo único, você já sabe que apenas no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília há mais de uma
Auditoria Militar na mesma sede. Nestes locais, haverá distribuição, regulamentada pela Lei de Organização
Judiciária Militar da União. Doutrinariamente, a distribuição é considerada uma espécie de prevenção.
Lembro a você que o domicílio é regulado pelo Código Civil, e que o militar tem domicílio necessário, nos
termos do art. 76, parágrafo único.
A atribuição de competência em razão do domicílio é claramente subsidiária, pois o próprio art. 93 determina
que a regra somente é aplicável quando não for possível saber onde o crime foi cometido.
PREVENÇÃO. REGRA.
Art. 94. A competência firmar-se-á por prevenção, sempre que, concorrendo dois ou mais juízes
igualmente competentes ou com competência cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na
prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da
denúncia.
A competência por prevenção apenas surgirá quando houver mais de um juiz competente. Essa regra se
aplica tanto ao caso em que há mais de uma Auditoria na mesma sede, quanto aos processos conhecidos
pelo juiz substituto da Auditoria Militar.
Caso o substituto, por exemplo, pratique atos do próprio processo ou qualquer ato na fase de inquérito
policial militar, será considerado prevento.
A hipótese de crime praticado na divisa de duas ou mais jurisdições somente é aplicável quando o local do
crime é incerto.
Este seria o caso, por exemplo, de um crime cometido na “região” da cidade de Petrolina, no sertão do meu
querido Pernambuco. Petrolina é separada de Juazeiro (Bahia) pelo Rio São Francisco. Pode haver evidências,
portanto, de que o crime foi praticado naquela região, mas sem a certeza de qual dos dois lados do rio, e
neste caso estaremos diante da hipótese da alínea A.
Já a alínea B trata da situação em que há certeza sobre o local em que o crime foi praticado, mas não há
certeza de qual órgão julgador exerce a competência sobre aquele território. Agora podemos dizer que o
limite territorial entre duas ou mais jurisdições é incerto.
O crime continuado e o crime permanente, por se estenderem no tempo, podem ultrapassar o território da
jurisdição. Nesses casos, o juízo que primeiro praticar atos do processo será competente.
As regras acerca da residência do acusado são aplicáveis, mas sua interpretação deve ser feita à luz dos
dispositivos que já mencionamos do Código Civil.
LUGAR DE SERVIÇO
Art. 96. Para o militar em situação de atividade ou assemelhado na mesma situação, ou para o
funcionário lotado em repartição militar, o lugar da infração, quando este não puder ser determinado,
será o da unidade, navio, força ou órgão onde estiver servindo, não lhe sendo aplicável o critério da
prevenção, salvo entre Auditorias da mesma sede e atendida a respectiva especialização.
Essa regra hoje é redundante, tendo em vista o domicílio necessário do militar, previsto no Código Civil. Este
dispositivo não é mais necessário, pois a regra do domicílio pode ser aplicada apenas com base no art. 85, I,
b.
A seguir o legislador trata da especialização das auditorias. Já vimos que essas regras não são mais aplicáveis,
pois a LOJMU não contempla mais a especialização.
8. Da Conexão ou Continência
A maior parte da Doutrina entende que a conexão e a continência são hipóteses de prorrogação de
competência. O CPPM adota essa tese expressamente em seu art. 103, mas há vozes doutrinárias no sentido
de que a conexão e continência são critérios de fixação da competência.
A Conexão ocorrerá quando houver um liame entre diversos crimes. Em regra haverá conexão quando
houver duas ou mais pessoas praticando dois ou mais crimes. Também haverá conexão quando alguém
praticar um crime para encobrir outro.
A Continência ocorrerá nas hipóteses de concurso de agentes ou de concurso de crimes. Neste caso haverá
uma pessoa praticando dois ou mais crimes, ou duas ou mais pessoas praticando um único crime.
CONEXÃO CONTINÊNCIA
Há mais de uma conduta Há apenas uma conduta
Em ambas pode haver pluralidade de agentes
CASOS DE CONEXÃO
Art. 99. Haverá conexão:
a) se, ocorridas duas ou mais infrações, tiverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas,
umas contra as outras;
b) se, no mesmo caso, umas infrações tiverem sido praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou
para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
c) quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova
de outra infração.
A alínea A trata da conexão intersubjetiva, que ocorre quando duas ou mais infrações são praticadas por
dois ou mais sujeitos, sendo que o vínculo entre os delitos reside justamente nisso.
a1) intersubjetiva por simultaneidade → se, ocorrendo duas ou mais infrações penais,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas. Não há liame
subjetivo ou acordo de vontade prévio. Como exemplo podemos citar a depredação de
estádio de futebol pela torcida adversária.
a2) intersubjetiva por concurso → se, ocorrendo duas ou mais infrações penais, houverem
sido praticadas por várias pessoas em concurso, embora diverso tempo e lugar. Neste caso há
liame subjetivo entre os agentes. Como exemplo podemos citar a ação de quadrilhas
especializadas em roubo a banco, na mesma região, dia e horário.
a3) intersubjetiva por reciprocidade → se as infrações forem praticadas por duas ou mais
pessoas, umas contra as outras. Como exemplo podemos citar as agressões mútuas entre
torcidas de futebol adversárias.
A alínea B trata da conexão objetiva. São hipóteses em que o vínculo entre as infrações está na motivação
de uma delas em relação à outra.
b1) objetiva teleológica → quando uma infração penal visa a assegurar a execução de outra.
Exemplo: matar o único vigilante de uma casa para entrar e furtar objetos.
CASOS DE CONTINÊNCIA
Art. 100. Haverá continência:
a) quando duas ou mais pessoas forem acusadas da mesma infração;
b) na hipótese de uma única pessoa praticar várias infrações em concurso.
A alínea A trata da cumulação subjetiva, que ocorre quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela
mesma infração (concurso de pessoas).
A alínea B traz a cumulação objetiva, que ocorre na hipótese de concurso formal, inclusive da aberratio ictus
e aberratio criminis. Uma única conduta com dois ou mais resultados.
Hoje não há mais Auditorias especializadas, mas podemos dizer que existem um caso de especialização ainda
aplicável no Processo Penal Militar: a competência das auditorias de Brasília para julgar crimes militares
ocorridos no estrangeiro. A regra do inciso I, portanto, é utilizada para os crimes militares cometidos fora do
território nacional. O termo “cumulativa”, neste caso, deve ser entendido como “mista”.
Para ilustrar a hipótese da alínea A, utilizarei o exemplo trazido por Ricardo Giuliani: “Sujeito prestando
serviço militar em Bagé-RS, rouba um celular de um colega e é transferido para prestar serviço militar em
Porto Alegre e lá, antes de iniciada a ação penal em Bagé, vende este celular para outro colega de farda da
guarnição, sabendo ser produto de crime (receptação). Temos dois crimes militares, um de receptação –
pena de reclusão até cinco anos –, e roubo – pena de reclusão de quatro a quinze anos”.
Utilizando a regra do art. 101, II, “a”, será competente para julgar a processar os dois delitos a Auditoria de
Bagé-RS, pois lá ocorreu o crime de roubo, apenado de forma mais severa.
Quanto à alínea B, mais uma vez utilizarei o exemplo de Giuliani: “Militar prestando serviço militar em Bagé-
RS subtrai um aparelho celular de um colega e uma mochila de outro, no alojamento da organização militar.
Transferidos para Porto Alegre, um dos colegas de farda empresta-lhe um aparelho celular, que, após
receber, inverte a posse e não entrega mais o aparelho para seu colega, apropriando-se do bem”.
Neste caso há dois crimes de furto com pena de reclusão de até seis anos e um crime de apropriação indébita
com igual pena. Aplica-se, portanto, a regra do art. 101, II, “b”, pois a pena é a mesma para todos os crimes.
Mais uma vez a Auditoria competente será a de Bagé-RS.
Não sendo possível estabelecer a competência por meios das regras que vimos até agora, deve-se utilizar o
critério da prevenção, conforme alínea C.
CATEGORIAS
III - no concurso de jurisdição de diversas categorias, predominará a de maior graduação.
Esta regra é utilizada na relação entre o STM e as Auditorias. Neste caso prevalece o STM, por ser instância
superior, apesar da imprecisão do dispositivo em utilizar o termo “maior graduação”.
UNIDADE DO PROCESSO
Art. 102. A conexão e a continência determinarão a unidade do processo, salvo:
CASOS ESPECIAIS
a) no concurso entre a jurisdição militar e a comum;
b) no concurso entre a jurisdição militar e a do Juízo de Menores.
JURISDIÇÃO MILITAR E CIVIL NO MESMO PROCESSO
Parágrafo único. A separação do processo, no concurso entre a jurisdição militar e a civil, não quebra
a conexão para o processo e julgamento, no seu foro, do militar da ativa, quando este, no mesmo
processo, praticar em concurso crime militar e crime comum.
A regra geral é a de que a conexão e a continência resultam no julgamento dos fatos em um só processo. O
art. 102, entretanto, traz exceções a essa regra.
A alínea A trata do concurso entre a jurisdição militar e a comum. É o caso de civil que pratica crime conexo
com policial militar. Neste caso o Policial Militar será julgado na Justiça Militar do estado, enquanto o civil
será julgado na Justiça comum, pois não há previsão do cometimento de crime militar por civil no âmbito
estadual.
Se o civil cometer crime militar conexo com militar federal, entretanto, não estaremos diante de concurso
de jurisdição militar com jurisdição comum, pois ambos podem julgados na Justiça Militar da União.
SÚMULA Nº 90 DO STJ
Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar policial militar pela prática de crime militar,
e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.
Neste caso estamos tratando de dois crimes diferentes, um militar e outro comum, praticados pela mesma
pessoa simultaneamente. Como você já sabe, o fato de o agente ser militar não é suficiente para atrair a
competência da Justiça Militar.
Um bom exemplo desta situação de concomitância é o ocorrido na tragédia em que um Boeing 737 da Gol
se chocou com o Jato Legacy da empresa Excel Air Service. Os controladores de vôo, sargentos da Força
Aérea, foram denunciados pelo Ministério Público Federal por dois crimes dolosos de atentado contra a
segurança de transporte aéreo, em concurso formal, sendo um na modalidade fundamental (art. 261 do CP),
e outro qualificado por 154 mortes (art. 261, §1º, c/c o art. 263, ambos do CP).
Na sequência, o Ministério Público Militar ofereceu denúncia contra os mesmos profissionais pela prática do
delito de inobservância de lei, regulamento ou instrução (art. 324 do CPM).
Em julgamento de habeas corpus, o STF considerou válida esta situação, confirmando a licitude das ações
penais simultâneas na Justiça Federal e na Justiça Militar da União.
A alínea B, por outro lado, determina a separação obrigatória quando houver concurso entre a jurisdição
militar e a do Juízo de Menores. O civil ou militar responderá na Justiça Militar e o menor na vara ou juízo
da infância e juventude pelo ato infracional conexo com o crime militar.
SEPARAÇÃO DE JULGAMENTO
Art. 105. Separar-se-ão somente os julgamentos:
a) se, de vários acusados, algum estiver foragido e não puder ser julgado à revelia;
b) se os defensores de dois ou mais acusados não acordarem na suspeição de juiz de Conselho de Justiça,
superveniente para compô-lo, por ocasião do julgamento.
Nestes casos não há quebra da unidade processual exigida pela conexão ou continência, mas só do
julgamento, quando ocorrerem as hipóteses previstas.
Na hipótese da alínea A, a única previsão do CPPM em que o acusado não pode ser julgado à revelia, em
primeira instância, é a deserção. Os corréus, portanto, não poderão ser julgados juntos se um deles for revel.
A hipótese da alínea B é mais frequente, pois, sendo o conselho um colegiado, pode haver superveniência
de juiz na sua formação, ensejando a suspeição ou impedimento desse juiz, em relação a um ou mais
acusados.
SEPARAÇÃO DE PROCESSOS
Art. 106. O juiz poderá separar os processos:
a) quando as infrações houverem sido praticadas em situações de tempo e lugar diferentes;
b) quando for excessivo o número de acusados, para não lhes prolongar a prisão;
c) quando ocorrer qualquer outro motivo que ele próprio repute relevante.
O legislador conferiu ao juiz, em algumas situações, a prerrogativa de separar os processos ligados por
conexão ou continência.
A principal função da reunião dos processos nesse caso é facilitar a colheita da prova e evitar decisões
conflitantes. Acontece que, em determinadas situações, a reunião ao invés de ajudar acaba prejudicando o
bom andamento do processo ou causando grande gravame para o acusado, autorizando a cisão do processo.
Da decisão do Juiz Federal ou do Conselho de Justiça que determinar a separação haverá recurso de ofício
para o STM.
A sentença definitiva à qual se refere o dispositivo é aquela que primeiramente decide o mérito, sendo
cabível ainda recurso de apelação. Não se trata da sentença definitiva.
9. Da Competência pela Prerrogativa de Posto ou da Função
O CPPM prevê duas modalidades de prerrogativa: a de posto e a de função. A competência por prerrogativa
de posto está prevista no art. 6° da LOJMU, que confere competência ao STM para processar julgar
originariamente os oficiais-generais.
Quanto à competência por prerrogativa de função, a única hipótese hoje existente está prevista no
parágrafo único do art. 95 da LOJMU: “O comandante do teatro de operações responderá a processo perante
o Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação penal à requisição do Presidente da
República”.
Neste caso o legislador faz menção à função exercida, e não à condição de oficial-general, até porque a
função de comando pode ser exercida, em algumas hipóteses, por outros oficiais.
CASO DE DESAFORAMENTO
Art. 109. O desaforamento do processo poderá ocorrer:
a) no interesse da ordem pública, da Justiça ou da disciplina militar;
b) em benefício da segurança pessoal do acusado;
c) pela impossibilidade de se constituir o Conselho de Justiça ou quando a dificuldade de constituí-lo
ou mantê-lo retarde demasiadamente o curso do processo.
O “desaforamento” pode ser entendido como a subtração da lide, de um determinado foro para outro foro,
pelas razões alineadas no art. 109.
Quero chamar sua atenção para a hipótese da alínea C. Esta situação é típica do CPPM. O processo e
julgamento dos crimes militares na instância inferior cabe aos Conselhos de Justiça, que devem ser
compostos por oficiais de mesmo posto ou mais antigos que o acusado. Se não for possível compor o
Conselho nesses moldes, poderá haver desaforamento.
Caso defira o pedido, o STM, ouvido o Procurador-Geral, se dele não proveio o pedido, designará a Auditoria
por onde deva ter curso o processo. O pedido, mesmo quando negado, poderá ser feito novamente, se
houver motivo superveniente.
Uma vez concedido o desaforamento, em regra não é mais possível que o processo retorne ao juízo de
origem. O retorno desse processo à sua origem é também conhecido como “reaforamento” e é aceito em
situações expepcionais, desde que cessado o impedimento que motivou o desaforamento inicial, associado
com a indicação de eventual óbice para o regular processamento e julgamento do feito no atual foro.
RESUMO
A Justiça Militar da União tem competência para julgar civis que cometam crime militar,
mas a Justiça Militar dos estados apenas julga policiais militares e bombeiros militares.
LUGAR DO CRIME
- Para os crimes omissivos aplica-se a teoria da atividade, devendo o lugar do crime ser
considerado aquele em que deveria ser realizada a ação omitida.
CONEXÃO CONTINÊNCIA
Há mais de uma conduta Há apenas uma conduta
Em ambas pode haver pluralidade de agentes
Neste dispositivo não há muitas novidades, não é mesmo? Você já sabe que ocorre conflito positivo de
competência quando duas ou mais autoridades se julgam competentes, enquanto o conflito negativo ocorre
quando duas ou mais autoridades se julgam incompetentes para conhecer a matéria.
O inciso II, entretanto, merece comentários adicionais. Esse conflito provém das hipóteses de Continência
onde deva existir um juízo prevalente, na forma do art. 101 do CPPM. Daí falar-se em junção (e não “função”
como vem nos códigos) ou separação de processos.
O conflito pode ser suscitado pelo acusado, pelo órgão do Ministério Público, ou pela própria autoridade
judiciária, nos termos do art. 113. Os dois primeiros farão por requerimento, e último, sob forma de
representação, suscitando-se perante a autoridade competente para dirimir o conflito.
Se o conflito for negativo, poderá ser suscitado nos próprios autos do processo. Tratando-se de conflito
positivo, o relator do feito poderá ordenar, desde logo, que se suspenda o andamento do processo, até a
decisão final, da qual não caberá recurso.
RESUMO
AUTORIDADE COMPETENTE PARA DECIDIR CONFLITO DE COMPETÊNCIA
STF Se o suscitante ou o suscitado for o STM (art. 102, I, “o” da CF).
Se o conflito se der entre Juízo Militar de Primeira Instância e Juízo vinculado a
STJ
outro Tribunal (art. 105, I, “d” da CF).
Se o conflito se der entre autoridades judiciárias subordinadas a esse Tribunal
STM
(art. 6º, II, “g” da LOJMU).
QUESTÕES COMENTADAS
Comentários
A regra acerca do crime doloso contra a vida praticado contra civil é de que a Justiça Militar encaminhe os
autos do inquérito policial militar para a Justiça comum, pois esta é competente para julgar este tipo de
crime, mesmo quando praticado por militar.
GABARITO: A
Comentários
A assertiva I está correta quando diz que a competência é determinada, em regra, pelo local da infração. A
atribuição de competência em razão do local de serviço do militar, entretanto, não ocorre quando o crime
se consuma em mais de um local, mas sim quando o lugar da infração não pode ser determinado, nos termos
do art. 96.
GABARITO: D
Comentários
Tivemos uma série de mudanças legislativas que ocorreram entre a aplicação desta questão e o nosso
momento atual. O art. 82 do CPPM prevê o contrário do que consta no enunciado dessa questão, mas com
as alterações promovidas no CPM, mais precisamente no art. 9º, parágrafo 2º, entendemos que a resposta
atual dessa questão é CERTO.
GABARITO: CERTO
Comentários
Esta é bem batida, não é mesmo? A Justiça Militar da União julga tanto civis quanto militares que praticarem
crimes militares, definidos em lei. Já a Justiça Militar dos Estados não tem competência para julgar civis.
GABARITO: ERRADO
Comentários
Vimos que o posicionamento da Doutrina e do Cespe é no sentido de que, uma vez concedido o
desaforamento, não é possível haver a devolução do processo. O “reaforamento” só será aceito em situações
excepcionais.
GABARITO: CERTO
Comentários
Lembre-se que para o Cespe uma assertiva incompleta não está necessariamente errada. O art. 102 do CPPM
traz duas hipóteses de separação obrigatória dos processos em que há conexão ou continência: concurso
entre a jurisdição militar e a comum; e concurso entre a jurisdição militar e o Juízo de Menores. Apesar de a
assertiva não mencionar a hipótese do Juízo de Menores, deve ser marcada como correta.
GABARITO: CERTO
Comentários
O Direito Penal Militar adota a territorialidade e a extraterritorialidade. Dessa forma, mesmo os crimes
praticados no exterior são de competência da Justiça Militar. Neste caso, o art. 91 do CPPM determina que
a Auditoria competente será uma das localizadas em Brasília.
GABARITO: CERTO
A questão encontra-se incorreta, pois como Celso é militar do Estado, os crimes praticados contra civis são
competência do Juiz Singular, os demais crimes são de competência do Conselho Permanente de Justiça, nos
termos do art. 125, § 5º da CF/88:
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares
cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça,
sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.
GABARITO: ERRADO
Comentários
A questão nos exige o conhecimento do art. 88, segundo o qual competência será, de regra, determinada
pelo lugar da infração; e, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
GABARITO: ERRADO
Comentários
Segundo o art. 91 do CPPM, os crimes militares cometidos fora do território nacional serão, em regra,
processados em Auditoria da capital federal.
GABARITO: CERTO
Comentários
Certo! A regra é que a competência será fixada em razão do local da infração (Rio de Janeiro), conforme o
art. 88 do CPPM.
Sendo militar da ativa e desconhecido o local do crime, o art. 96 do CPPM determina que a competência será
fixada a partir do local da unidade, navio, força ou órgão onde o militar estiver servindo. No caso, seria
Manaus-AM, pois é aonde está situado o quartel em que o Sargento das Forças Armadas serve.
Art. 96. Para o militar em situação de atividade ou assemelhado na mesma situação, ou para o
funcionário lotado em repartição militar, o lugar da infração, quando este não puder ser
determinado, será o da unidade, navio, força ou órgão onde estiver servindo, não lhe sendo
aplicável o critério da prevenção, salvo entre Auditorias da mesma sede e atendida a respectiva
especialização.
GABARITO: CERTO
Errado! A regra é que a competência será fixada em razão do local da infração (Manaus-AM), conforme o
art. 88 do CPPM.
Somente em se tratando de militar da ativa e sendo desconhecido o lugar da infração é que a competência
passará a ser determinada pelo local aonde está situado o órgão em que o militar serve, nos termos do art.
96 do CPPM.
GABARITO: ERRADO
Comentários
Errado! A competência será, de regra, determinada pelo lugar da infração, e, no caso de tentativa, pelo lugar
em que for praticado o último ato de execução. (Art. 88 do CPPM)
GABARITO: ERRADO
Comentários
Certo! O art. 91 do CPPM estipula que em se tratando de crimes militares cometidos fora do território
nacional, a competência para julgamento, em regra, será da Auditoria da Capital da União.
Como se sabe, a “capital da União” é Brasília. Lembre-se que o CPPM é de 1969, motivo pelo qual ainda
utiliza a equivocada expressão. No art. 18, §1º da CF/1988 corretamente é previsto que Brasília é a Capital
Federal.
GABARITO: CERTO
Comentários
Certo! O caso narrado, conforme o art. 99, alínea a, do CPPM, é de conexão, pois presente uma pluralidade
de infrações praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas ou por várias pessoas em concurso,
embora diverso o tempo e o lugar.
Esclareço que o habeas corpus é medida excepcional para o trancamento da ação penal, somente sendo
admissível quando constatado nos autos, de forma inequívoca, a inocência do acusado, a atipicidade da
conduta ou a extinção da punibilidade, todas elas circunstâncias equivalente a absolvição.
GABARITO: CERTO
LISTA DE QUESTÕES
GABARITO
1. A 5. CERTO 9. ERRADO
2. D 6. CERTO 10. CERTO
3. CERTO 7. CERTO 11. CERTO
4. ERRADO 8. ERRADO 12. ERRADO
13. ERRADO 14. CERTO 15. CERTO