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SUMÁRIO
Bases legais da Persecução Penal Militar estadual .................................................................... 2
Fase pré-processual – Inquérito Policial Militar ............................................................................. 4
Características do Inquérito Policial Militar ..................................................................................... 5
Instauração do Inquérito Policial Militar ............................................................................................ 9
Processamento e julgamento dos crimes militares no âmbito estadual ................... 14
Da deserção praticada por militares estaduais ............................................................................17
Para que se consiga fazer uma análise sobre a lei processual penal militar
e de outros instrumentos aplicados por analogia, deve-se, primeiramente,
analisar a base do ordenamento jurídico, qual seja, a Constituição Federal de
1988. Servindo de alicerce para todo o sistema jurídico brasileiro, não é
diferente em relação ao Direito Processual Penal Militar.
Cabe salientar a existência de uma clara distinção entre a competência
da Justiça Militar da União e a Justiça militar Estadual, presente na própria
Constituição Federal, sendo tal distinção perceptível ao se analisar os dois
artigos que delineiam tais competências.
Ao passo que o artigo 124 da Constituição Federal de 1988 define como
sendo competência da Justiça Militar processar e julgar os crimes militares
definidos em Lei, salientando-se aqui que referido artigo está a tratar da
Justiça Militar da União, em seu artigo 125, parágrafo 4º, dispõe que copete à
Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei.
Assim, pode-se concluir que a Justiça Militar da União tem competência
para processar e julgar os crimes militares de interesse da União, seja quem
for o autor do crime, ao passo que à Justiça Militar dos estados copete o
processamento e julgamento somente dos militares estaduais, excluindo-se
assim réus outros que não os militares estaduais, entendendo-se os membros
das Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares.
Outro ponto importante merecedor de destaque referente aos mesmos
dispositivos legais é que a Justiça Militar da União tem competência apenas
criminal, não cabendo a ela conhecer de matéria estranha ao direito criminal
castrense. De outra banda, à Justiça Militar estadual tem uma competência
híbrida, sendo competente para conhecer de matéria criminal estadual, bem
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como de questões não criminais, que refiram-se a ações judiciais contra atos
disciplinares militares.
Com relação ao julgamento dos recursos advindos das ações de natureza
militar, ao Superior Tribunal Militar competente processar e julgar os recursos
advindos das ações criminais militares da União. Já no âmbito da justiça
militar dos estados, a competência para o processamento e julgamento dos
recursos dependerá da existência ou não de Tribunal Militar. Nos estados em
que o efetivo militar for maior que vinte mil militares estaduais, por proposta
do respectivo Tribunal de Justiça, poderão ser criados Tribunais de Justiça
Militares. Atualmente, somente três estados criaram seus Tribunais de Justiça
Militares, sendo eles São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Nos demais
estados, os recursos oriundos da Justiça militar estadual serão julgados pelos
próprios Tribunais de Justiça.
Adentrando ao Direito Processual Penal Militar propriamente dito, cabe
lembrar que os crimes dolosos cometidos por militares dos estados contra a
vida de civis não serão julgados pela Justiça Militar dos estados, mas sim pelo
Tribunal do Júri. Somente serão de competência da Justiça Militar, e aqui vale
ressaltar, Justiça Militar da União, os crimes dolos contra a vida de civis quando
praticados por militares das Forças Armadas e no cumprimento de
atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou
pelo Ministro de Estado da Defesa, em ação que envolva a segurança de
instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante, ou em
atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da
ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o
disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes
diplomas legais.
Nos casos em que o regramento processual penal militar for insuficiente,
deverá ser utilizada a legislação de processo penal comum, quando aplicável
ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar.
Observa-se que o regulamentado no artigo 6º do Código de Processo
Penal Militar, dispondo que excetuadas as normas relativas a organização de
Justiça, aos recursos e à execução de sentença, os processos da Justiça Militar
Estadual obedecerão às normas processuais previstas no Código de Processo
Penal Militar, nos crimes previstos na Lei Penal Militar a que responderem os
militares estaduais, no que forem aplicáveis.
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Isso porque, no tocante a organização da Justiça Militar Estadual, cada
Estado-Membro detém competência legislativa, prevista
constitucionalmente, para se organizarem de acordo com suas
peculiaridades. No mesmo sentido, em relação aos recursos, que por serem
julgados pelos Tribunais de Justiça, ressalvados os três Estados-Membros que
têm Tribunal Militar Estadual, serão julgados de acordo com seus ritos
próprios. Também com relação ao cumprimento das sentenças, pela mesma
razão, objetivando o respeito as peculiaridades de cada estado.
A fase de investigação, por não ser afeta a nenhum dos pontos citados
acima, é regulamentada pelo Código de Processo Penal Militar também em
âmbito estadual. Assim, seguem alguns pontos de destaque em relação ao
Inquérito Policial Militar quando tratar-se de crime militar de competência
estadual.
O artigo 7º do Código Processual Penal Castrense elenca as
autoridades a quem incumbe a função de polícia judiciária militar, aqui
também, cabendo alguns esclarecimentos, visto que existem claras distinções
entre as autoridades militares da União e dos estados.
Embora não haja uma correspondência direta entre as autoridades da
União elencadas no dispositivo legal e as autoridades militares estaduais,
existe uma certa correspondência entre elas, devendo tal correspondência ser
considerada mesmo que não exata.
Portanto, quanto às autoridades listadas no artigo 7º do Código de
Processo Penal Militar, em se tratando de Polícia Judiciária Militar Estadual,
deverão ser considerados como correspondentes o Comandante Geral, o
Chefe do Estado-Maior, os Comandantes Regionais e os Comandantes de
Unidades.
Quanto ao exercício de tal atribuição, tendo em vista que muitas vezes
as autoridades anteriormente listadas estarão em atividades outras,
normalmente ligadas a comando, a competência de Polícia Judiciária Militar
poderá ser delegada, se assim as circunstâncias permitirem.
Assim, os parágrafos do já referido artigo 7º regulamentam a forma
como esta delegação poderá se dar. Poderão ser delegadas a oficiais da ativa,
para fins especificados e por tempo limitado, devendo sempre recair em
oficial de posto superior ao do indiciado, seja este oficial da ativa, da reserva,
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remunerada ou não, ou reformado. Não sendo possível a designação de oficial
de posto superior ao do indiciado, poderá ser feita a de oficial do mesmo posto,
desde que mais antigo, salientando-se que se o indiciado é oficial da reserva
ou reformado, não prevalece, para a delegação, a antiguidade de posto.
Cabe a ressaltar que o encarregado do Inquérito Policial Militar é o
previsto no art. 15 do Código de Processo Penal Militar, que atuará por
delegação da autoridade policial militar. Referido dispositivo rege que: “Será
encarregado do inquérito, sempre que possível, oficial de posto não inferior a
capitão ou capitão-tenente, e, em se tratando de infração penal contra a
segurança nacional, sê-lo-a, sempre que possível, oficial superior, atendida,
em cada caso, a sua hierarquia, se oficial o indicado.”
As atribuições de Polícia Judiciária Miliar encontram-se no artigo 8º do
Código Processual Castrense, tais como apurar os crimes militares e os que
estão sob jurisdição da Justiça Militar, prestar informações e realizar
diligências aos juízes militares e aos órgão do Ministério Público quando
necessários, representar a autoridades judiciárias militares acerca da prisão
preventiva dentre outras medidas cabíveis, dentre outras atividades próprias
da atividade de polícia judiciária.
Dispensável
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Ainda, o inquérito policial, em alguns aspectos, pode ser sigiloso, como
por exemplo as diligências ainda em andamento. Porém a negativa sem o
devido fundamento legal fere prerrogativa imprescindível ao exercício da
advocacia (7º, XIV, da Lei nº 8.906/94 – Estatuto da Advocacia e da Ordem dos
Advogados do Brasil), além de poder constituir crime de abuso de autoridade,
nos termos do artigo 32 da lei 13.869/2019 Sendo assim, no que tange aos
elementos de prova que ainda não estão documentados, o sigilo se estende
ao defensor.
Inquisitório
Discricionário
Indisponível
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indícios de autoria, mesmo que o encarregado conclua pela atipicidade da
conduta praticada, não poderá arquivá-lo, devendo fazer a remessa ao titular
da ação penal que se assim entender fará a devida promoção de
arquivamento. O § 2º do art. 25 do diploma processual penal militar estabelece
que o Ministério Público poderá requerer o arquivamento dos autos, se
entender inadequada a instauração do inquérito.
Temporário
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Mas para que estes passos ocorram, a autoridade policial deve tomar
conhecimento da ocorrência de um crime militar para que instaure o
competente Inquérito. Este conhecimento da infração penal militar poderá se
dar por cognição imediata (quando a autoridade policial judiciária militar
toma conhecimento do fato por meios de suas atividades rotineiras e
cotidianas), por cognição mediata (quando toma conhecimento através da
vítima ou de terceiro), ou por cognição coercitiva (caso em que o policial
militar ou o bombeiro militar seja preso em flagrante delito).
Quanto às formas especificadas no artigo 10 do Código de Processo
Penal Miliar, referido artigo assim as elenca:
a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de jurisdição ou
comando haja ocorrido a infração penal, atendida a hierarquia do infrator;
b) por determinação ou delegação da autoridade militar superior, que
em caso de urgência, poderá ser feita por via telegráfica ou radiotelefônica e
confirmada, posteriormente, por ofício;
c) em virtude de requisição do Ministério público;
d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos termos do art. 25;
e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a
represente, ou em virtude de representação devidamente autorizada de
quem tenha conhecimento de infração penal, cuja repressão caiba à Justiça
Militar;
f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte
indício da existência de infração penal militar.
Especificamente sobre cada uma das espécies elencadas no artigo 10,
seguem os apontamentos necessários:
Ex-Offício
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Determinação ou Delegação de Autoridade Superior
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processuais, conforme preconizado no artigo. 129, inciso VIII, da Constituição
Federal.
Assim, ao receber a requisição do Ministério Público para a instauração
de procedimento investigatório, a autoridade de Polícia Judiciária Militar não
poderá descumpri-la, embora não exista subordinação desta em relação ao
Promotor de Justiça,. Tal recusa à determinação poderia configurar o delito de
prevaricação, caso a omissão decorrera de interesse ou sentimento pessoal.
Contudo, caso a autoridade verifique que a requisição é manifestamente
ilegal, não estará obrigada a atendê-la não incorrendo em qualquer
ilegalidade.
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autoridade competente relato de fato que possa ser interpretado como
criminoso.
Aqui, cabe salientar que não é qualquer notícia crime que será levada a
cabo, ensejando a instauração de um Inquérito Policial Militar, devendo a
autoridade determinar que se realize uma apuração sumária e preliminar
para que se possa determinar a veracidade e legitimidade do comunicado.
Cabe destacar que, em se tratando noticia crime realizada por militar,
por força da alínea “e” do art. 10, do Código de Processo Penal Militar, visando
a preservação da hierarquia e disciplina, princípios basilares das instituições
militares, a notícia deverá ser realizada por meio de representação
devidamente autorizada. Por óbvio, não há de se falar em tal autorização para
casos em que o comunicante é civil.
Resultante de Sindicância
Prisão em flagrante
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Assim, é direito do militar estadual preso em flagrante:
1) Somente em caso de flagrante delito o militar poderá ser preso por autoridade policial, devendo ser
entregue imediatamente à autoridade militar mais próxima;
2) Só pode ficar retido na delegacia policial durante o tempo necessário à lavratura do flagrante;
4) Caso não haja fundadas suspeitas em desfavor do militar conduzido, a autoridade militar é obrigada a
realizar o relaxamento da prisão.
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competente para processar e julgar os crimes militares cometidos contra civis
(exceto os de competência do Tribunal do Júri).
Antes da Emenda Constitucional nº 45/2004 todos os processos em
trâmite na Justiça Militar Estadual eram processados e julgados pelo Conselho
de Justiça, que era formado por um juiz auditor e quatro oficiais militares.
Com o advento da citada emenda, inseriu-se na Justiça Militar Estadual
a figura do juiz monocrático para processar e julgar, singularmente, os crimes
militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares.
Outrossim, permaneceu com o Conselho de Justiça, sob a Presidência
do Juiz de Direito do Juízo Militar, a competência para processar e julgar os
demais crimes, ou seja, aqueles cometidos contra outro militar ou contra a
administração militar.
Sobre os crimes cometidos contra civil julgados pelo juízo monocrático,
dispõe o texto constitucional que a competência do Juiz de Direito para julgar
crimes militares não-dolosos contra a vida, cuja ação criminosa tenha sido
desencadeada contra um civil é do Juiz togado, monocraticamente.
Entretanto, não foram estabelecidos quais seriam esses crimes,
desencadeando correntes divergentes.
Pela primeira corrente interpretativa, o enfoque deve se concentrar nas
consequências do delito, verificando se algum civil, de alguma forma, sofreu
algum injusto em decorrência da prática delitiva. Por esta corrente, vários
crimes poderiam ser perpetrados contra civis, mesmo aqueles que
possuíssem capitulação entre os crimes contra a Administração Militar. Pela
segunda corrente, a razão de definição deveria ser a capitulação do delito, que
daria destaque ao bem jurídico tutelado, principalmente o sujeito passivo
diretamente atingido pelo crime. Nessa linha, os crimes contra o serviço
militar, contra a Administração Militar etc. estariam fora da conceituação.
Contudo, a Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004,
manteve a existência do tradicional Conselho de Justiça, embora com
algumas modificações. O Conselho de Justiça tornou-se competente para
processar e julgar os demais crimes militares, que não sejam da competência
do juízo monocrático, ou seja, está excluída a competência do Conselho para
o processamento e julgamento dos crimes militares praticados contra civis e
as ações contra atos disciplinares, sendo que também não esclareceu quais
seriam “os demais crimes militares” de competência do Conselho de Justiça
que o § 5º do artigo 125 da Constituição Federal menciona.
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Para este caso, as mesmas correntes são levantadas como
solucionadoras da questão, seja a que tem como vítima civil a principal
prejudicada no delito, sendo que os crimes de competência do Conselho se
restringirão aos Crimes contra a Pessoa e alguns Crimes contra o Patrimônio,
desde que o patrimônio seja de particular, ambos descritos no Código Penal
Militar, seja a corrente que acredita que o legislador considera a vítima civil
aquele atingido pelo crime, independentemente de ter sido a vítima principal
ou não, em que se terá um leque menor da competência do Conselho, haja
vista que outros crimes serão inseridos na competência do juiz monocrático.
Para se definir qual seria a competência do juízo singular e qual seria a
competência dos Conselhos, posicionamento jurisprudencial adotou firmou-
se no sentido de que são de competência do Conselho de Justiça os crimes
propriamente militares, previstos apenas no Código Penal Militar que só
podem ser cometidos por militares, violando a disciplina, hierarquia, o dever
ou o serviço militar, e também os crimes impropriamente militares que tenha
a Administração Castrense como sujeito passivo principal e o civil como vítima
secundária, como, por exemplo, o delito de peculato-furto previsto no art. 303,
§ 2º, do Código Penal Militar.
O problema surge quando um militar pratica mais de um crime militar,
sendo um deles de competência do Juízo singular, por ter civil como vítima
principal, e, o outro, de competência do Conselho de Justiça, nos demais
crimes militares.
Nesse caso, são possibilidades a cisão dos processos e do julgamento
desde o início, o processo e julgamento apenas pelo Conselho de Justiça, o
processo e julgamento apenas pelo juiz singular, o processamento e o
julgamento em razão do delito de maior gravidade, a instrução probatória una
perante o colegiado, cindindo-se o processo apenas no momento do
julgamento, com proferimento de duas sentenças, sendo uma singular do juiz
de Direito e, a outra do Conselho de Justiça.
Ainda, importante destacar a ampliação da competência das justiças
militares com a entrada em vigor da Lei 13.491, de 21 de outubro de 2017, que
alterou o artigo 9º do Código Penal Militar, expandindo o rol de crimes
militares. Referida lei modificou a redação do inciso II do artigo 9º, tornando
crimes militares, além dos já previstos no Código Penal Militar, os previstos em
toda a legislação penal nacional, quando praticados no contexto das alíneas
do referido inciso.
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Como reflexo, muitos crimes que anteriormente somente poderia ser
considerados como comuns, e assim julgados pela justiça comum, passaram
a poder serem considerados também como crimes militares,
consequentemente de competência das Justiças Militares, tanto estadual
quando da União.
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Sendo capturado ou apresentando-se voluntariamente após
configurado o crime de deserção e lavrado o termo de deserção, o militar será
submetido a inspeção de saúde para fins de reincorporação. Tal procedimento
se faz necessário, visto que após a configuração do crime de deserção, o militar
é desligado, seja pela via da agregação, seja por via da desincorporação.
Pelo fato de o termo de deserção ter o caráter de instrução provisória e
destinar-se a fornecer os elementos necessários à propositura da ação penal,
sujeitando, desde logo, o desertor à prisão, a instauração de Inquérito Policial
Militar, ou respectiva representação por prisão provisória, tornam-se
desnecessárias.
Em caso de deserção de oficiais, o rito a ser seguindo encontra previsão
legal no Capítulo II do Título II do Código de Processo Penal Militar, ao passo
que se for o militar praça com ou sem estabilidade, a previsão legal encontra-
se o Capítulo III do mesmo Título II do Código de Processo Penal Militar.
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