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INTRODUÇÃO:
CONTEÚDO:
O Direito Penal Militar (DPM) trata de normas que são definidas como de direito
material ou substantivo, enquanto as de direito formal ou adjetivo são relativas ao Direito
Processual Penal Militar. O diploma legal que reúne as normas de direito material é o
Código Penal Militar, instituído pelo Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969.
É um direito penal especial uma vez que suas normas se aplicam a um grupo
específico de pessoas, os militares, resguardando valores e deveres peculiares. Sua
natureza especial é corroborada pela carta magna quando estabelece as Justiças
Militares.
Podemos definir o Direito Penal Militar como o conjunto de regras jurídicas que tem
como escopo garantir o perfeito cumprimento das missões constitucionais pertinentes às
Instituições Militares.
Álvaro Mayrink da Costa sustenta que o Direito Penal Militar possui objeto
específico, porque se constrói sobre uma categoria de bens e interesses que lhe é
privativa por natureza. Se os bens jurídicos, penalmente considerados, comportam, por
natureza, uma diferenciação em categorias e exigem tratamento jurídico diverso, dão
origem a ordenamentos autônomos.
No que se refere ao conceito de Direito Penal Militar, vale reproduzir os
ensinamentos de Ione de Souza Cruz e Claudio Amin Miguel quando o definem como “um
ramo do Direito Penal, especial, criado não com a finalidade de definir crimes para
militares, mas sim de criar regras jurídicas destinadas à proteção das instituições militares
e o cumprimento de seus objetivos constitucionais”.
No mesmo sentido, Cícero Robson Coimbra Neves & Marcello Streifinger definem
o Direito Penal Militar da seguinte maneira:
Com efeito, tudo aquilo que viola a Instituição viola a sua base, o seu alicerce, os
seus principais pilares, que no caso são os princípios da hierarquia e disciplina.
INSTITUIÇÕES MILITARES
DISCIPLINA
HIERARQUIA
Definido o Direito Penal Militar passamos para o estudo do crime militar e suas
especificidades.
2. Crime militar
Art. 5º - LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
Dessa forma, o crime militar é aquele assim definido na lei, ou seja, no Código
Penal Militar (CPM). Sendo assim, um fato é considerado crime militar quando
corresponder a alguma conduta taxativamente prevista no CPM.
Indispensável é o estudo dos crimes militares devido a sua natureza especial,
dificuldade de conceituação e interpretação. É interessante destacarmos que nos crimes
militares haverá sempre uma lesão de um bem ou interesse jurídico tutelado pelo
ordenamento penal militar. Independente do conceito, importante é a compreensão de que
os crimes militares visam à defesa de tudo aquilo que consubstancia a razão de ser das
instituições militares, dessa forma, qualquer conduta que atente contra a ordem militar será
uma infração penal militar, seja o agente militar ou civil.
Célio Lobão define o crime militar da seguinte forma:
[...] é a infração penal prevista na lei penal militar que lesiona bens ou
interesses vinculados à destinação constitucional das instituições militares, às
suas atribuições
legais, ao seu funcionamento, à sua própria existência, no aspecto particular
da disciplina, da hierarquia, da proteção à autoridade militar e ao serviço
militar.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra
a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum.
(Parágrafo incluído pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a
vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo
quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art.
303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011)
O art. 9º do CPM será melhor estudado mais a frente, pois requer uma análise
minuciosa de suas diversas hipóteses, a fim de que seja bem compreendido e,
posteriormente, aplicado corretamente no exercício do poder de polícia judiciária militar.
O conceito de militar, para fins de aplicação do Direito Penal Militar, está previsto no
art. 22 do Código Penal Militar:
Como se observa, este artigo do CPM apenas prevê como militares as pessoas
incorporadas às forças armadas, não fazendo menção aos militares estaduais integrantes
das Forças Auxiliares.
Desta forma, o art. 22 do CPM precisa ser complementado pelo art. 42 da Lei Maior,
trazendo o seguinte mandamento:
Sendo assim, há que se fazer uma interpretação sistemática do art. 22 do CPM com
o art. 42 da Constituição Federal/88, eis que esta ampliou o conceito de militar, incluindo os
representantes das Forças Auxiliares Estaduais.
Detenção de indiciado
Sendo assim, o crime propriamente militar não pode ser cometido por civil e, por
conseguinte, este não pode ser preso pela exceção constitucional da privação de liberdade
estatuída no Art. 5º, previsão que subordina apenas os militares. Estes sim podem ser
presos sem estarem em flagrante delito e inexistindo ordem escrita e fundamentada de
autoridade judicial competente. O direito constitucional expresso no inciso LXI, do Art. 5º, é
única e exclusivamente direcionado aos civis, havendo ressalva quanto a sua aplicação
aos militares nos casos de crime propriamente militar ou transgressão disciplinar.
Em síntese, podemos definir o crime propriamente militar como aquele que só tem
previsão no Código Penal Militar e só pode ser praticado pelo militar. Nas palavras de
Jorge Alberto Romeiro é aquele cuja ação penal somente pode ser proposta contra
militar.
Donde se conclui a vontade constitucional inequívoca de tratamento diferenciado
entre civis e militares, permitindo-se a privação de liberdade do militar pelo mero
cometimento de transgressão disciplinar, fato que retrata a extrema importância da
manutenção da disciplina militar, princípio basilar das instituições castrenses.
CONCLUSÃO:
Os crimes propriamente são aqueles que só podem ser praticados pelo militar,
enquanto os crimes impropriamente militares são aqueles que têm previsão no
Código Penal Militar, mas podem ser praticados tanto por militares como por civis.
ASSIS, Jorge César de. Curso de Direito Disciplinar Militar – Da Simples Transgressão ao Processo
Administrativo. 1ª ed. Curitiba: Juruá, 2009.
COSTA, Álvaro Mayrink da Costa. Crime Militar. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1978.
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL; Cláudio Amin. Elementos de Direito Penal Militar – Parte Geral. Rio
de Janeiro: Lumen Júris, 2005.
FIGUEIREDO, Telma Angélica. Excludentes de Ilicitude no Direito Penal Militar. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar –
Vol. 1 – Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2005.
APRENDA MAIS!
Um estudo acerca da natureza jurídica do Direito Penal Militar
http://www.jusmilitaris.com.br/novo/uploads/docs/natjurdirpenmil.pdf
INTRODUÇÃO:
CONTEÚDO:
Primeiro passo: O fato previsto como delito na Parte Especial do Código Penal Militar
contém descrição semelhante na legislação penal comum?
Segundo passo: Há previsão das circunstâncias em um dos incisos do art. 9º do CPM?
Terceiro passo: O sujeito ativo do crime pode ser processado e julgado pela Justiça Militar,
que apreciará o delito (arts. 124 e 125, § 4º, da CF)?
No caso das três respostas serem afirmativas o crime será militar. Os autores
lembram ainda, que a conclusão por crime depende também da análise da antijuridicidade e,
para os adeptos da teoria tripartida, da culpabilidade.
Importante notarmos que para haver dúvida sobre a natureza do crime ele tem que
estar previsto na parte especial do CPM. Sendo assim, antes de iniciarmos as perguntas
precisamos verificar se há subsunção do fato com algum tipo penal do CPM, caso contrário
o crime será comum ou fato atípico. Da mesma forma, o fato previsto na parte especial do
CPM tem que ter descrição semelhante na legislação penal comum ou então não haverá
dúvida. A descrição semelhante abarca os crimes definidos de modo diverso ou igual na
legislação penal comum.
Entretanto, é preciso compreender que o procedimento citado é apenas um meio
célere de verificação do crime militar, e, de maneira residual, do comum. As três perguntas
definidas pelos autores têm como objetivo facilitar a constatação dos crimes e não devem
ser analisadas de forma absoluta.
Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger apresentam exemplos que
merecem a transcrição para fins didáticos e de fixação do procedimento aludido.
Exemplo 1: Soldado PM, de folga, intervém em roubo a uma casa lotérica e entre em
confronto com os roubadores; ferindo mortalmente um deles, vem posteriormente a saber
que o morto também é policial militar da ativa. Nesse caso, vamos responder às questões:
1ª) Sim, há o tipo “homicídio no art. 205 do CPM, e o crime contém igual definição
no Código Penal.
2ª) Sim, por ter sido cometido por policial militar da ativa e por ter igual definição no
Código Penal, aplicamos o inciso II do art. 9º, enquadrando-se na alínea a, já que o sujeito
passivo também é militar da ativa.
3ª) Sim, nos termos do § 4º do art. 125 da CF, a Justiça Militar Estadual julga policial
militar.
Exemplo 1 - Crime Militar
1ª) Sim, há o tipo “homicídio” no art. 205 do CPM, e o crime contém igual definição
no Código Penal.
2ª) Sim, por ter sido cometido por civil que almejava atingir a Corporação, em lugar
sujeito à Administração Militar, aplicamos a alínea b do inciso III do art. 9º.
3ª) Não, nos termos do § 4º do art. 125 da CF, a Justiça Militar Estadual não é
competente para julgar civis.
Exemplo 2 – Crime comum.
1ª) Sim, há o tipo “homicídio” no art. 205 do CPM, e o crime contém igual definição
no Código Penal;
2ª) Sim, por ter sido cometido por civil que almejava atingir a Corporação, em lugar
sujeito à Administração Militar, aplicamos a alínea b do inciso III do art. 9º.
3ª) Sim, nos termos do art. 124 da CF, a Justiça Militar Federal é competente para
julgar qualquer pessoa que pratique crime militar.
Exemplo 3 – Crime militar.
Com efeito, há que se conhecer bem o tipo legal dos crimes militares e suas
hipóteses de configuração do art. 9º, de modo a diferenciar o delito castrense do crime
comum pela regra da exclusão, ou seja, se o fato não constitui crime militar será então uma
infração penal comum. Isso, por óbvio, no caso de realmente ser um delito, pois poderá
também ser considerado um fato atípico, como ocorre, por exemplo, com o civil que pratica
um crime previsto no CPM, mas sem equivalente no CP.
Existem alguns crimes muito comuns ao dia-a-dia policial que não são considerados
militares pelo fato de não preencherem os requisitos da primeira fase de identificação do
crime militar, qual seja a subsunção a um tipo da parte especial do Código Penal Militar.
Dentre eles podemos destacar o crime de abuso de autoridade, quadrilha ou bando, porte
ilegal de arma e disparo de arma de fogo.
No caso específico do abuso de autoridade, sendo um crime de ações múltiplas
prevê diversas condutas. Havendo lesão corporal, o policial militar responderá pelo crime do
Código Penal Militar se o ilícito for enquadrado em uma das circunstâncias do art. 9º. Se o
abuso não resultar em lesão corporal, responderá pelas condutas da lei 4.898-65 que regula
os casos de abuso de autoridade. Cabe destacar o art. 3 desta lei, porquanto prevê
condutas que podem ocorrer no cotidiano da atividade policial, quando o militar não cumpre
os ensinamentos que lhes foram transmitidos no período de formação:
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
Dessa forma, é possível o policial militar responder pelo abuso de autoridade e pelo
crime militar de lesão corporal previsto no art. 209 do Código Penal Militar, salientando que o
crime militar só existirá quando a conduta resultar em lesão.
O policial militar, pelos mesmos motivos do abuso de autoridade, também poderá
responder pela infração penal comum e militar na hipótese da prática de tortura, resultando
em lesão corporal. A Lei 9.455/97 prevê as seguintes condutas:
O crime de quadrilha ou bando não tem previsão no CPM, razão pela qual não
caracterizará uma infração penal castrense. Deste modo, o policial militar que figurar como
integrante de uma quadrilha responderá pelo crime na justiça comum.
Os crimes de porte ilegal de arma de fogo e disparo de arma de fogo, comuns ao
cotidiano policial militar, pelas mesmas razões do delito de quadrilha ou bando, não serão
considerados crimes militares, haja vista não possuírem previsão na parte especial do CPM.
Tais delitos estão previstos na Lei 10.826/2003, nos arts. 14, 15 e 16:
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a
arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)
Casos assimilados
Na hipótese do inciso III, o civil não será considerado no âmbito estadual, uma vez
que não é julgado pelas Justiças Militares Estaduais.
Destarte, no tocante aos crimes relacionados a entorpecentes o militar pode praticar
um delito castrense, havendo subsunção ao art. 290 e enquadramento em uma das
circunstâncias do art. 9º. A Lei 11.343/06 – Nova lei de drogas – só se aplica para o militar
nos casos que não configurarem o crime do art. 290 do Código Penal Militar, por exemplo na
hipótese do militar que, de folga, que faz uso de entorpecente, fora de local sujeito à
administração militar e sem fornecer a substância entorpecente para outro militar.
Por fim, cabe trazer à baila uma decisão recente do Tribunal de Justiça Militar do
Estado de São Paulo, demonstrando a plena aplicabilidade do art. 290, mesmo após a Lei
11.343/06 entrar em vigor:
APELACAO Nº 006263/10 (Feito nº 058893/10 4A AUDITORIA )
Relator: FERNANDO PEREIRA
Órgão: 1ª Câmara
Votação: Unânime
Julgamento: 02/08/2011
Ementa:
Decisão:
[...] é a infração penal prevista na lei penal militar que lesiona bens ou
interesses vinculados à destinação constitucional das instituições militares, às
suas atribuições legais, ao seu funcionamento, à sua própria existência, no
aspecto particular da disciplina, da hierarquia, da proteção à autoridade militar
e ao serviço militar.
São Transgressões
Ocorre que em alguns casos uma mesma conduta violadora poderá configurar um
crime e, simultaneamente, uma transgressão disciplinar. Isso porque a prática de um crime,
sobretudo nos delitos funcionais, exigirá uma avaliação da repercussão ética e disciplinar
deste fato. Assim como em alguns casos, a conduta poderá ser apenas criminosa ou
somente uma infração administrativa. A dificuldade está justamente na definição do caso
concreto, ou seja, em definir pela existência de uma ou outra hipótese, ou pela coexistência
das duas.
Vale frisar ainda que se um fato criminoso foi apurado, estando em fase de
persecução criminal ou julgamento judicial, ou seja, sem haver trânsito em julgado, a
Administração poderá apreciar o aspecto disciplinar independente da decisão judicial, no
caso de entender pela existência de elementos suficientes que permitam a avaliação
administrativa. Tal possibilidade tem como base o princípio da independência das instâncias,
previsto no art. 2º da CF/88.
Consubstanciando a idéia de independência das esferas, Hely Lopes Meirelles
preceitua que a mesma infração pode dar ensejo a punição administrativa (disciplinar) e a
punição penal (criminal), porque aquela é sempre um minus (menos) em relação a esta.
Concluindo que em razão disso toda condenação criminal por delito funcional acarreta a
punição disciplinar, mas nem toda falta administrativa exige sanção penal.
Ione de Souza Cruz & Claudio Amin Miguel lembram que um fato pode ser, ao
mesmo tempo, definido como crime militar e transgressão disciplinar, como por exemplo o
abandono de posto. Nesses casos, o critério a ser levado em consideração é o do grau de
violação do bem jurídico tutelado. Portanto, a definição pelo crime ou pela transgressão
dependerá da análise do caso concreto.
Dentre os principais casos que geram dúvidas na diferenciação do crime e
transgressão disciplinar estão os de abandono de posto e o de dormir em serviço.
Vale destacar decisão do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo
entendendo em um caso concreto de abandono de posto pela existência de mera infração
disciplinar.
Ementa:
Policial Militar - Apelação criminal - Crime de abandono de posto - Sentença absolutória com
fulcro na alínea "e" do artigo 439 do CPPM - Irresignação Ministerial - Punição pelos mesmos
fatos na seara administrativa - Permanência disciplinar de oito dias - Independência das
Instâncias - Entretanto, penalidade suficiente para a prevenção de nova ocorrência - Eventual
condenação não teria o caráter reeducativo - Policial de bom caráter e extrema dedicação -
Ausência de dolo em sua conduta - Infração penal não caracterizada - Recurso ministerial a
que se nega provimento.
Decisão:
"A E. Primeira Câmara do TJME, por maioria de votos (2x1), negou provimento ao apelo
ministerial, de conformidade com o relatório e voto do E. Relator, que ficam fazendo parte do
acórdão. Vencido o E. Juiz Paulo A. Casseb, que dava provimento".
Ementa:
Absolvem-se da acusação de dormir em serviço os policiais militares que, impedidos de
prosseguir no patrulhamento por defeito no sistema elétrico da única viatura disponível, são
surpreendidos dormindo no interior do veículo, estacionado no interior do quartel, se há dúvida de
que haviam premeditado os momentos de sono.
Decisão:
"A E. SEGUNDA CÂMARA DO TJME, À UNANIMIDADE DE VOTOS, NEGOU PROVIMENTO
AO APELO INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, DE CONFORMIDADE COM O
RELATÓRIO E VOTO DO E. JUIZ RELATOR, QUE FICAM FAZENDO PARTE DO ACÓRDÃO".
Jorge César de Assis ensina que o crime militar é toda violação acentuada ao dever
militar e aos valores das instituições militares. Distingue-se da transgressão disciplinar
porque esta é a mesma violação, porém na sua manifestação elementar e simples.
Outrossim, a relação entre crime militar e transgressão disciplinar é a mesma que existe
entre crime e contravenção penal. Conclui o mesmo autor que a diferença entre crime militar
e transgressão disciplinar será apenas da intensidade da referida violação das
obrigações e deveres, mostrando ainda a estreita ligação entre o Direito Penal Militar e o
Direito Disciplinar.
Neste diapasão, Cícero Robson Coimbra Neves & Marcello Streifinger discorrem
sobre a intervenção administrativa e penal:
SÍNTESE DA AULA
ASSIS, Jorge César de. Curso de Direito Disciplinar Militar – Da Simples Transgressão ao Processo
Administrativo. 1ª ed. Curitiba: Juruá, 2009.
COSTA, Álvaro Mayrink da Costa. Crime Militar. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1978.
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL; Cláudio Amin. Elementos de Direito Penal Militar – Parte Geral. Rio
de Janeiro: Lumen Júris, 2005.
FIGUEIREDO, Telma Angélica. Excludentes de Ilicitude no Direito Penal Militar. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar –
Vol. 1 – Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2005.
APRENDA MAIS!
INTRODUÇÃO:
CONTEÚDO:
1. Art. 9º - Inciso I
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
Deserção
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do
lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
Vale frisar que a “disposição especial” também poderá prever a condição de civil do
agente, e, por conseguinte, excluirá a hipótese do militar como sujeito ativo. É o que
acontece no crime de Insubmissão (Ar. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar-se antes
do ato oficial de incorporação).
Importante lembrar que o crime pode ter previsão apenas no CPM e não ser
propriamente militar, sendo possível o civil figurar como sujeito ativo nos crimes de
competência da Justiça Militar da União. É o caso do crime de “Violência contra militar de
serviço” (Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra
sentinela, vigia ou plantão), que só tem previsão no CPM, mas não é propriamente militar.
Sob a óptica das forças auxiliares, o inciso I gera maiores confusões, eis que a
expressão “qualquer que seja o agente” não se aplica, por força da competência
constitucional da Justiça Militar Estadual, limitando-se a julgar e processar os militares
estaduais, eliminando a hipótese do civil.
Sobre a análise do inciso I, Célio Lobão ensina que a 1ª parte do inciso I trata de
crimes impropriamente militares, definidos de modo diverso no Código Penal Militar e no
Código Penal, isto é, de figuras delituosas cujas descrições típicas não são idênticas nos
dois diplomas repressivos. Por exemplo: incitamento (Art. 155 do CPM e art. 286 do CP);
apologia (art. 156 do CPM e art. 287 do CP); amotinamento de presos (art. 182 do CPM e
art. 354 do CP); ato obsceno (art. 239 do CPM e art. 233 do CP); escrito ou objeto obsceno
(art. 234 do CPM e art. 234 do CP); desacato a militar (art. 299 do CPM e art. 331 do CP);
desobediência (art. 301 do CPM e art. 330 do CP); falsificação de documento (art. 311 do
CPM e art. 297 do CP); Falsidade ideológica (art. 312 do CPM e art. 299 do CP); incêndio
(art. 268 do CPM e art. 250 do CP).
O mesmo autor continua o estudo do inciso I asseverando que na sua 2ª parte trata
dos crimes propriamente militares e, também, os impropriamente militares sem definição na
lei penal comum.
São exemplos de crimes somente previstos no CPM: desrespeito a superior (art.
160), a insubmissão (art. 183), aliciação (art. 154), violência contra militar em serviço (art.
158) e a deserção (art. 187).
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na
lei penal comum, quando praticados:
Ementa
Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Homicídio qualificado praticado por
militar da ativa contra militar do Corpo de Bombeiros da ativa. Delito
praticado fora do lugar sujeito à administração militar e por motivos pessoais.
3. Competência da Justiça comum. Tribunal do júri. 4. Recurso a que se nega
provimento.
Decisão
Negado provimento ao recurso ordinário, nos termos do voto do Relator.
Decisão unânime. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello. 2ª
Turma, 10.04.2012.
“Neste recurso ordinário em habeas corpus, reitera os fundamentos
submetidos a exame da Corte estadual e do Superior Tribunal de Justiça,
sustentando, em síntese, a incompetência da Justiça comum, por meio do tribunal
do júri, para julgamento do delito de homicídio praticado por policial militar
contra bombeiro militar, ainda que cometido por razões estranhas ao serviço.”
“Na espécie, não obstante a condição de militar da ativa tanto do
recorrente quanto da vítima, verifico que o delito foi praticado em uma
universidade, portanto fora de lugar sujeito à administração militar. Além disso,
segundo consta da denúncia, a motivação do crime (cobrança de dívida
particular) não estaria relacionada com as atividades militares, não
vislumbrando qualquer agressão aos bens jurídicos tipicamente associados à
função castrense. Desse modo, não há como acolher o pleito da defesa para que
seja determinada a incompetência da Justiça comum, porquanto a competência
do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes contra a vida prevalece
sobre a da Justiça Militar em se tratando de fato circunscrito ao âmbito
privado, sem nexo relevante com as atividades castrenses. (HC 103812, Min.
Cármen Lúcia, redator p/acórdão: Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em
29/11/2011, DJ 17.2.2012)”.
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1935683
Em que pese o entendimento do STF no caso em tela, o art. 9º, inciso II, alínea a, não
prevê qualquer condição para a caracterização do delito militar, exige tão somente a
previsão do crime no CPM e a condição de militar da ativa do sujeito ativo e passivo. É o
que verificamos nos seguintes julgados:
Ementa:
POLICIAL MILITAR - DIREITO PENAL MILITAR - HOMICÍDIO
QUALIFICADO. Artigo 205, § 2º, inciso I, do Código Penal Militar. Delito
configurado. Apelo não provido. Policial militar que, em horário de folga e
civilmente trajado, por motivo fútil, dispara tiro contra a cabeça de outro
policial militar, que com ele estava na mesa de um bar, também em horário
de folga - Vítima civil que presenciou os fatos e confirmou a desproporção
entre o crime e sua causa moral.
Decisão:
"A E. Segunda Câmara do TJME, por maioria de votos (2X1), negou
provimento ao apelo, de conformidade com o relatório e voto do E. Relator,
que ficam fazendo parte do acórdão. Vencido o E. Juiz Revisor Paulo
Prazak, que dava parcial provimento ao apelo, mantendo a condenação,
todavia, apenas a título de homicídio simples, fixando a pena no seu mínimo
legal".
“Aos 20 dias do mês de janeiro de 2011 realizou-se a Sessão de Julgamento,
conforme Ata de fls. 270/272. Na r. Sentença encartada aos autos (fls.
273/289), consta a decisão do Conselho Permanente de Justiça que, à
unanimidade, condenou o Acusado pela prática do crime previsto no artigo
205, § 2º, inciso I, c.c. o artigo 9º, inciso II, alínea “a”, ambos do Código
Penal Militar, à pena de 18 (dezoito) anos de reclusão, a ser inicialmente
cumprida no regime fechado.” http://www.tjmsp.jus.br/SMD/3827.pdf
EMENTA:
Crimes previstos inicialmente no artigo 121, § 2º, inciso II, na forma do
artigo 14, II, ambos do Código Penal, em concurso material. Tentativa de
homicídio recíproca e acusado e vítima eram policiais militares, que
estavam de folga, sem farda e um não sabia que o outro era integrante
da mesma corporação. Conflito de jurisdição. O suscitante, Juízo da
Auditoria da Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro, entendeu que a
competência seria da justiça comum, porque acusado e vítima estavam
de folga, fora do exercício de sua função policial, em local não sujeito à
administração militar, ambos ignorando por completo, a condição militar
um do outro. 1 – A despeito das considerações supra, o artigo 9º do
Código Penal Militar estabelece que é crime de natureza castrense o
cometido por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra
militar na mesma situação ou assemelhado. Em atividade, não significa
em serviço e sim que não se trata de membro da corporação reformado
ou da reserva. Tanto isso é verdade, que na alínea “c” do referido
dispositivo legal, há referência expressa a militar “em serviço”, o que
significa que essa expressão não é semelhante à de “militar em situação
de atividade”. 2 – Não podemos criar restrições, fazendo uma
interpretação extensiva da lei. 3 – Este Magistrado filia-se à corrente
jurisprudencial que entende que militar em atividade é antônimo de
militar de folga. Em sendo assim, uma simples interpretação gramatical
do que dispõe o artigo 9º do CPM, alínea “a”, nos conduz à conclusão
de que é crime militar o cometido por miliciano em atividade contra
outro militar em idêntica situação, pouco importando se estão de
serviço ou de folga. 3 – Conflito conhecido e não provido, firmando-se a
competência do suscitante.
“Conflito Negativo de Jurisdição que tem como suscitante o Juízo de
Direito da Auditoria de Justiça Militar deste Estado e suscitado o Juízo de
Direito da Quarta Vara Criminal da Comarca de Nova Iguaçu, já que este
último declinou de sua competência em razão de serem acusado e vítima
policiais militares, em plena atividade à época do fato, com fulcro no artigo 9º,
inciso II, alínea “a” do Código Penal Militar, remetendo os autos ao juízo
suscitante, fl. 15.
Por sua vez o suscitante às fls. 29/31, por entender que a
competência do juízo militar, in casu, é fixada verificando-se se o policial, no
momento do cometimento do delito, encontrava-se em pleno exercício da as
função e por estarem os envolvidos de folga, além do fato de que não se
conheciam e, portanto, ignoravam a qualidade de militar um do outro,
suscitou o presente conflito negativo com base no artigo 114, caput, in fine,
do Código de Processo Penal Militar e artigo 116 § 1º do Código de Processo
Penal.
Disse que a jurisprudência do Egrégio Supremo Tribunal
Federal, vem-se solidificando no sentido de que em tais casos não basta
apenas que os envolvidos sejam militares da ativa, mas entendendo que nas
hipóteses em que o autor e vítima encontram-se de folga, e assim afastados
da função policial e em local não sujeito à administração militar, trata-se de
crime de competência da justiça comum.
(...)
Constata-se também que no caso da alínea “a”, pouco importa se
os militares se encontravam de serviço ou de folga, assim como se
utilizavam fardas ou se motivação para o cometimento do delito seja ou
não alheia à função que desempenhavam.
(...)
No caso em exame e segundo a denúncia verifica-se que se trata de
crime definido no artigo 121, § 2º, inciso II c/c artigo 14, inciso II, na forma do
artigo 69 do Código Penal, em que são autores e vítima militares
pertencente à Polícia
Militar deste Estado e à época todos em situação ativa naquela
corporação, pouco importando se estavam de folga, com ou sem farda,
eis que tais condições não são exigidas para a fixação da competência.
Destarte, voto pelo conhecimento e provimento do presente conflito,
fixando a competência no juízo suscitante”.
Também vimos que este conceito deve ser interpretado de maneira sistemática com
o mandamento do art. 42 e 125 § 4º, incluindo os militares dos Estados e ampliando o
conceito de militar do art. 22 do CPM.
Acórdão
Ementa
Num: 0000114-81.2010.7.07.0007
(2009.01.007687-0) UF: PE Decisão:
03/08/2010
Proc: RSE(FO) - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (FO) Cód. 320
Esses são exemplos de casos nos quais os militares federais e estaduais foram
considerados militares em crimes que praticaram um contra o outro. Em que pese tais
entendimentos, em regra serão considerados civis quando figurarem como sujeito ativo e
passivo de delito castrense. É o que defende a doutrina majoritária. Cabe destacar julgado
do STF seguindo a doutrina majoritária:
Vale destacar que o militar estadual pode praticar um crime que viole bens e
interesses jurídicos das Forças Armadas, sendo considerado delito militar por se enquadrar
nas mesmas hipóteses que o civil incidiria, quais sejam as previstas no art. 9º, inciso III.
Neste caso, o crime será considerado castrense, não pela condição de militar do sujeito
ativo, mas porque o praticou em circunstâncias específicas que não exigem a qualidade de
militar. Lembrando que a Justiça Militar da União julga tanto o militar como o civil.
Estudaremos o inciso III mais a frente.
No que se refere ao crime, previsto no CPM, praticado por militares estaduais de
Estados distintos o entendimento predominante é de que há crime militar e a competência
será da Justiça Militar do Estado do sujeito ativo do crime, ou seja, do militar que praticou o
crime. Nesse caso, a instauração do inquérito policial militar será de acordo com a atribuição
territorial.
Dessa forma, se um policial militar do Estado do Rio de Janeiro pratica um crime
militar contra um policial do Estado de São Paulo, sendo o crime praticado neste Estado, a
atribuição de apuração será da polícia de São Paulo, enquanto o militar será julgado na
Justiça Militar do Rio de Janeiro. É o que preconiza a súmula 78 do STJ: “Compete à Justiça
Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido
praticado em outra unidade federativa”.
Uma outra questão que gera dúvidas é a do delito cometido por um cônjuge ou
companheiro contra o outro, quando ambos são militares da ativa. Célio Lobão esclarece a
hipótese definindo que se a ocorrência diz respeito à vida em comum, permanecendo nos
limites da relação conjugal ou de companheiros, sem reflexos na disciplina e na hierarquia
militar; permanecerá no âmbito da jurisdição comum. O autor ainda cita uma decisão da
Corte Suprema, segundo a qual a administração militar “não interfere na privacidade do lar
conjugal, máxime no relacionamento do casal”.
Os crimes que se enquadram na alínea a, do inciso II, são aqueles que possuem
igual definição no Código Penal comum, razão pela qual são classificados como crimes
impropriamente militares. Célio Lobão enumera, com base na alínea a, as hipóteses de
crime comum um militar nas respectivas combinações de sujeito ativo e passivo, da seguinte
maneira:
I – sujeitos ativo e passivo militares (art. 22), isto é, integrantes das Forças
Armadas: crime militar da competência da Justiça Militar federal;
São exemplos de crimes que possuem igual definição no CPM e CP: homicídio, lesão
corporal e concussão.
Homicídio simples - CP
Art. 121. Matar alguém:
Lesão leve - CPM
Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Lesão corporal - CP
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Concussão - CPM
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Concussão - CP
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida:
Por fim, cumpre frisar que a figura do assemelhado não mais existe, razão pela qual
esta parte da alínea a deve ser desconsiderada.
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na
lei penal comum, quando praticados:
A alínea b do inciso II versa que será crime militar aquele praticado: por militar em
situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
Esta alínea prevê como sujeito passivo qualquer pessoa que não seja militar da ativa,
bem como assinala que o crime deve ser praticado em local sujeito à administração militar.
Não há muito o que debater nesta hipótese, o principal é definirmos o que seria o
lugar sujeito à administração militar. Célio Lobão conceitua o lugar sujeito à administração
militar como aquele “que pertence ao patrimônio das Forças Armadas, da Polícia Militar ou
do Corpo de Bombeiros Militares ou encontra-se sob a administração dessas instituições
militares, por disposição legal ou ordem igualmente legal de autoridade competente”.
Acrescenta que o local pode ser imóvel ou móvel, como veículo, embarcação, aeronave, etc.
Vale salientar que a residência do militar não é considerada local sob a administração
militar, mesmo que se encontre em áreas militares, como é o caso das vilas residenciais,
muito comum nas forças armadas. Aqui cabe lembrar o preceito constitucional do inciso XI
do artigo 5º, declarando que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador. Note-se que apenas a residência não é
considerada, no entanto as áreas comuns das vilas serão locais sob a administração militar.
Célio Lobão cita orientação jurisprudencial proferida pelo STM entendendo que “constitui
crime comum o praticado por militar contra civil, em casa particular, situada em vila
residencial, embora em zona sob a administração militar. A administração militar não
penetra no interior das casas cedidas a oficiais e praças, interferindo nas suas relações civis
e de suas famílias.”
Definido o lugar sujeito à administração militar passamos para o estudo das alíneas
“c” e “d” do inciso II do art. 9º do CPM.
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na
lei penal comum, quando praticados:
c) por militar em serviço, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora
do lugar sujeito a administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil;
Inicialmente, vale notar que a alínea c foi alterada pela Lei nº 9.299, de 08.08.1996,
trazendo significante modificação pelo fato de incluir a expressão “ou atuando em razão da
função”. Hipótese muito comum nas forças auxiliares, em razão dos deveres legais previstos
no art. 301 do Código de Processo Penal e art. 144 da Constituição Federal, nos seguintes
termos:
II - polícia
rodoviária federal; III -
polícia ferroviária
federal; IV - polícias
civis;
É o que o autor Jorge César de Assis chamou de crime militar em razão do dever
jurídico de agir: o policial militar que, à paisana, e de folga, e com armamento particular,
comete o fato delituoso por ter se colocado em serviço, intervindo numa situação de
flagrância.
As alíneas c e d serão abordadas na mesma parte do estudo, pois, na realidade,
abarcam diversas situações que, basicamente, se resumem na expressão “em serviço ou
atuando em razão da função”. Comissão de natureza militar, formatura, manobras ou
exercício, são circunstancias que caracterizam um serviço.
Nessas alíneas também temos como sujeito passivo qualquer pessoa que não seja
militar da ativa.
Quanto ao conceito de serviço, cumpre reproduzir os ensinamentos do insigne autor
Célio Lobão:
A ordem deve ter suporte legal, caso contrário, não ocorre a condição de
militar em serviço. Já tivemos a oportunidade de decidir que o militar
encarregado pelo comandante de apurar furto de gado de particular não se
encontra em serviço, o que é diferente se o gado pertencesse à
administração militar. Nessa última hipótese, o agente estaria em serviço,
embora não se encontrasse em função de natureza militar.
No mesmo sentido, Célio Lobão afirma que a súmula 06 do STJ foi reformada por
decisão do Supremo Tribunal Federal: “Crime militar cometido por policial da ativa, em
serviço de patrulhamento, contra civil (artigos 9º, II, c, e 210 do Código Penal Militar). É
competente, para o julgamento, a Justiça Militar estadual, de acordo com o § 4º do art.
125 da Constituição Federal”. (RE nº 135.195 – 1ª T., unânime, Ac. de 06.08.91.)
Adotando o mesmo entendimento, o Tribunal de Justiça Militar de São Paulo decidiu:
Ementa:
Decisão:
Órgão: 2ª Câmara
Votação: Unânime
Julgamento: 05/08/2004
Indexação:
Ementa:
Decisão:
Votação:Unânime
Julgamento:30/06/2010
Ementa:
Decisão:
http://www.tjmsp.jus.br/SMD/2864.pdf
No caso do militar que abandona o posto para praticar um crime é preciso avaliar as
condutas separadamente. Na primeira, o militar está de serviço e deixa o seu posto sem
ordem ou autorização, incidindo na infração penal militar de abandono de posto. Todavia, na
segunda conduta delitiva, o militar não será considerado como “estando de serviço”, razão
pela qual o crime será comum, ressalvada a hipótese de configurar outro crime militar que
não exija como circunstância configuradora o “estar de serviço”. É o que ocorre quando um
militar da ativa abandona o seu posto para praticar homicídio contra outro militar da ativa
que está de folga em sua casa. Nesse caso o crime de homicídio será militar, pois a alínea a
do inciso II não exige que esteja de serviço.
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na
lei penal comum, quando praticados:
Na alínea e, temos como sujeito ativo o militar da ativa e como sujeito passivo a
Administração Militar. A alínea e do inciso II define que haverá crime militar quando
praticado “por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar”.
Resta conceituar o patrimônio sob a administração militar e a ordem administrativa
militar para melhor compreensão dessa hipótese.
Os autores Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger lecionam que o
patrimônio sob a Administração Militar abrange, além dos bens pertencentes à Força Militar,
os de propriedade de pessoas naturais e jurídicas que, por alguma razão, encontram-se sob
responsabilidade da Administração Militar. Acrescentam que não fazem parte do patrimônio
sob a administração militar os bens de entidades civis, ainda que compostas por militares,
como por exemplo clubes, associações, cooperativas etc.
Importante notar que o requisito em tela não exige que o bem pertença à
administração militar, mas tão somente que esteja sob a sua administração.
A ordem administrativa militar, de acordo com a doutrina e jurisprudência dominantes,
trata da organização, existência e finalidade das instituições militares, assim como o seu
prestígio moral.
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na
lei penal comum, quando praticados:
A súmula 47 do STJ versa que “compete à Justiça Militar processar e julgar crime
cometido por militar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo
não estando em serviço”. (STJ Súmula nº 47 - 20/08/1992 - DJ 25.08.1992. Competência -
Processo e Julgamento - Crime Cometido por Militar Contra Civil - Arma da
Corporação)
No entanto, tal entendimento foi superado pela Lei 9.299/96, quando revogou a alínea
f do inc. II do art. 9º do CPM.
Portanto, o uso de armamento de propriedade militar para a prática de ato ilegal, por
si só, não mais configura um crime militar, exigindo que a conduta esteja enquadrara em
outras hipóteses do art. 9º para que seja considerado um delito castrense.
Sendo assim, o policial militar que de folga comete homicídio contra um civil, por
razões absolutamente particulares, não cometerá um crime militar, mas comum, ainda que
utilize armamento da Polícia Militar. Cabe a observação da motivação por razões
absolutamente particulares, pois se o policial militar praticar um homicídio ao atuar em razão
da função, mesmo de folga, o fato poderá, nesta hipótese, configurar um crime militar.
ASSIS, Jorge César de. Curso de Direito Disciplinar Militar – Da Simples Transgressão ao Processo
Administrativo. 1ª ed. Curitiba: Juruá, 2009.
COSTA, Álvaro Mayrink da Costa. Crime Militar. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1978.
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL; Cláudio Amin. Elementos de Direito Penal Militar – Parte Geral. Rio
de Janeiro: Lumen Júris, 2005.
FIGUEIREDO, Telma Angélica. Excludentes de Ilicitude no Direito Penal Militar. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar –
Vol. 1 – Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2005.
APRENDA MAIS!
AULA 04: Art. 9º - Inciso III e o crime militar doloso contra a vida de civil
INTRODUÇÃO:
Na presente aula, estudaremos as hipóteses de configuração do crime militar previstas no inciso III
do art. 9º do Código Penal Militar, bem como as peculiaridades do crime militar doloso contra a vida
de civil. Para facilitar o aprendizado analisaremos jurisprudências pertinentes aos casos dessa aula.
CONTEÚDO:
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação
da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para
aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.
Este inciso é um tanto controvertido no que se refere às forças auxiliares, uma vez que
parte da doutrina entende que não é aplicado na Justiça Militar Estadual, enquanto outra
parte entende que é possível a sua aplicação para os militares inativos, ou seja, da reserva
remunerada e reformados.
Integrando a corrente que sustenta a não aplicabilidade do inciso III no âmbito
estadual, Célio Lobão defende que este inciso coloca o militar inativo ao lado do civil e, por
este motivo, seriam considerados civis para efeito da aplicação do Código Penal castrense,
pois não estão incorporados às Forças Armadas, à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros
Militares. A única exceção seria o militar da reserva convocado para o serviço ativo. Como o
civil não é julgado pela Justiça Militar Estadual o militar inativo teria o mesmo tratamento
deste, praticando apenas o crime análogo previsto no Código Penal.
O fato é que a jurisprudência aponta a possibilidade de julgar os militares inativos, com
base no art. 9º, inciso III, do CPM, sobretudo nos Tribunais de Justiça Militar dos Estados de
Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. De modo que na prática o militar inativo é
julgado, sendo possível figurar como sujeito ativo de delito militar. É o que se observa nos
seguintes julgados:
Votação: Unânime
Julgamento: 20/09/2011
Ementa:
Decisão:
Acórdão na íntegra
http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/EMBARGOSIN
FRIN
GENTESNo149.pdf
Acórdão na íntegra
http://www.tjmrs.jus.br/jurisprudencia/arquivo_jurisprudencia.asp?pIndice=595
8
Ainda com relação aos elementos contidos no inciso III, deve-se frisar que a
Justiça Militar Estadual, por força do § 4º do art. 125 da CF, não tem
competência para julgar civis, o que resulta em atipicidade, no Código
Penal Militar, dos fatos praticados por civis. Em outras palavras, para as
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, o inciso III somente
pode ser aplicado à possibilidade de cometimento de crime militar por
militar da reserva ou reformado. (grifei)
Vale frisar que os autores, assim como a jurisprudência pacífica dos Tribunais de
Justiça Militar Estadual, frisam a possibilidade do militar inativo cometer o delito militar,
sendo uma referência doutrinária desta hipótese.
O § 4º do art. 125 da CF versa que “compete à Justiça Militar estadual processar e
julgar os militares dos Estados (não autoriza julgar civis), nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”.(grifei)
Sendo assim, a JME não julga o civil, somente tem competência para processar e
julgar os militares dos Estados. Por conseguinte, há entendimento dominante no sentido de
que o civil não pratica crime militar em âmbito estadual.
Sobre a não aplicação do inciso III na JME, cumpre citar um artigo interessante escrito
por Edmar Martins, publicado no site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, intitulado
“O crime militar praticado por militar estadual e seus requisitos”.
http://www2.forumseguranca.org.br/node/22201
Sobre a possibilidade do civil praticar delito militar, vale a leitura do artigo “Crimes
militares praticados por civil contra as instituições militares estaduais”, de autoria de João
Paulo Fiúza da Silva, publicado no site Jus Navigandi.
http://jus.com.br/revista/texto/22380/crimes-militares-praticados-por-civil-contra-as-
instituicoes-militares-estaduais
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
Não há muito o que debater a respeito desta hipótese, cabendo apenas definir o
patrimônio sob a administração militar e a ordem administrativa militar, o que já foi feito
quando estudamos a alínea e do inciso II do art. 9º. No entanto, destacaremos novamente
os conceitos para fins de fixação desse conhecimento.
Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger lecionam que o patrimônio sob a
Administração Militar abrange, além dos bens pertencentes à Força Militar, os de
propriedade de pessoas naturais e jurídicas que, por alguma razão, encontram-se sob
responsabilidade da Administração Militar. Acrescentam que não fazem parte do patrimônio
sob a administração militar os bens de entidades civis, ainda que compostas por militares,
como por exemplo clubes, associações, cooperativas etc.
Importante notar que o requisito em tela não exige que o bem pertença à administração
militar, mas tão somente que esteja sob a sua administração.
A ordem administrativa militar, de acordo com a doutrina e jurisprudência dominantes,
trata da organização, existência e finalidade das instituições militares, assim como o seu
prestígio moral.
Portanto, em âmbito estadual, a alínea a tem como sujeito ativo o militar da reserva
remunerada ou reformado e como sujeito passivo o patrimônio sob a administração militar
ou ordem administrativa militar.
Para Ivone de Souza Cruz e Claudio Amin Miguel, a hipótese da alínea b deve ocorrer
em local sujeito à administração militar para que configure um delito castrense.
Importante lembrar que o dispositivo salienta que o funcionário de Ministério Militar ou
Justiça Militar precisa estar no exercício de função inerente ao seu cargo.
A hipótese mais comum, naturalmente, será a do crime militar praticado por inativo
contra o militar da ativa, quando estiverem em local sujeito à administração militar.
Estudando a jurisprudência pátria, verifica-se que a alínea b do inciso III ocorre com
freqüência nas Unidades Militares de atendimento médico e odontológico, onde militares
inativos constantemente têm contato com militares da ativa, muitas vezes do quadro de
saúde das respectivas Corporações, durante algum tratamento. Vale trazer à baila um
julgado com esta hipótese para melhor visualização da matéria em questão:
Acórdão na íntegra
http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/RECURSOEM
SENTI
DOESTRITONo248.pdf
Por fim, cumpre frisar que se um militar inativo cometer um crime contra outro militar
inativo, em local sujeito à administração militar, este delito será comum, uma vez que não
configura nenhuma das hipóteses do inciso III do art. 9º.
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
Esta alínea trata de crimes cujo sujeito ativo, na esfera estadual, é o militar inativo,
praticando o delito em face de militares da ativa em determinadas circunstâncias, quais
sejam em formatura, durante o período de prontidão, vigilância, exploração, exercício,
acampamento, acantonamento ou manobras.
O acantonamento é a área de alojamento do efetivo em local construído. Já o
acampamento consiste no local de estacionamento da tropa em área não construída.
A hipótese da alínea em tela exige tão somente o conhecimento de circunstâncias do
dia-a-dia para a caracterização do crime, razão pela qual não é preciso discorrer
demasiadamente sobre a sua previsão.
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação
da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para
aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.
I - polícia federal;
II - polícia
rodoviária federal; III -
polícia ferroviária
federal; IV - polícias
civis;
Acórdão na íntegra
http://www.tjmrs.jus.br/jurisprudencia/arquivo_jurisprudencia.asp?pIndice=578
0
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum. (Parágrafo incluído
pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando
praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565,
de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela
Lei nº 12.432, de 2011)
A ressalva do parágrafo único não tem pertinência para os militares dos estados uma
vez que trata de hipótese aplicada exclusivamente em ações da Força Aérea Brasileira, na
forma do art. 303 do Código Brasileiro de Aeronáutica, versando sobre a possibilidade de
destruir ou abater aeronaves que violem tal dispositivo normativo, bem como as
determinações da autoridade aeronáutica.
"Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida
praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz:
...........................................................................................
§ 1° ....................................................................................
Destarte, a própria Lei 9.299/1996 prevê que o fato continuará sendo apurado por
inquérito policial militar (IPM) e posteriormente encaminhado à justiça comum, pela justiça
militar. Por conseguinte, o crime não deixou de ser militar, já que investigado por IPM.
Inobstante a previsão legal da norma infraconstitucional em questão, o Superior
Tribunal de Justiça, como cita Célio Lobão na sua obra Direito Penal Militar, em acórdão
proferido no CC. Nº 17.665, sustenta que a norma é de “conteúdo material. Não lei
processual penal”. E prossegue: “quando a lei determinar que o delito deixará de ser julgado
pela Justiça Militar, lógico, desqualifica-o da natureza anterior. Vale dizer, deixou de ser
crime militar para ingressar na regra geral – crime comum”. Julgamento realizado em 27 de
novembro de 1996.
Sendo assim, o STJ entendeu que o crime passou a ser comum, porquanto a norma
prevista na Lei 9.299/1996 seria de conteúdo material. Em sentido contrário, Célio Lobão
profere insigne comentário a respeito do tema:
A Lei nº 9.299/96 não retirou os crimes dolosos contra a vida da categoria de
crime militar, como conseqüência não podem ser julgados pela Justiça
comum, sem violação da Lei Fundamental. Se não houvesse o açodamento
de fazer-se uma lei para dar satisfação às ONGs internacionais, para
satisfazer interesses eleitoreiros, a redação do parágrafo único seria outra:
“Não se consideram militares, os crimes dolosos contra a vida, cometidos nas
circunstâncias das alíneas b, c, e d, do inciso II”. Nessa hipótese, a lei declara
(e pode fazê-lo) que esses delitos deixam de ser militares. Dessa maneira, as
infrações penais escapam da competência da Justiça Militar, sem
inconstitucionalidade.
Dessa forma, o STF entendeu ser cabível a instauração de inquérito policial militar para
apurar o crime doloso contra a vida de civil, quando praticado nas hipóteses previstas no
Código Penal Militar, reconhecendo a natureza militar do delito. No entanto, destacou que
não é vedada a instauração paralela de inquérito pela polícia civil.
A Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro de 2004, trouxe nova redação para
o art. 125 § 4º da Carta Magna:
Redação antiga
Acórdão
Diante de toda essa discussão, o importante é verificarmos que o crime militar doloso
contra a vida de civil não perdeu a sua natureza castrense, apenas teve o seu julgamento
deslocado para a justiça comum. Porém, em que pese continuar sendo um crime militar, o
STF entendeu que a polícia civil também pode instaurar inquérito policial para investigar os
fatos.
Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger encerram muito bem o debate
sobre o assunto, apresentando a seguinte conclusão:
“(...) conclui-se que, na esfera estadual, o crime doloso contra a vida de civil
continua a ser crime militar, havendo, porém, a competência de julgamento
pelo Tribunal do Júri.
(...)
Votação: Maioria
Julgamento: 28/07/2011
Ementa:
Decisão:
No mesmo sentido, o policial militar da ativa que pratica o crime de homicídio doloso
contra outro policial militar da ativa dentro do quartel, indubitavelmente, será de competência
da Justiça Militar Estadual e a investigação será de atribuição da Polícia Militar, consoante o
disposto no § 4º do art. 144 da Constituição Federal: § 4º - às polícias civis, dirigidas por
delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. (grifei)
Para se aprofundar no tema, vale a leitura do artigo escrito por Cícero Robson Coimbra
Neves, publicado no site Jus Navigandi, sob o título de “Crimes dolosos, praticados por
militares dos Estados, contra a vida de civis”.
http://jus.com.br/revista/texto/7416/crimes-dolosos-praticados-por-militares-dos-estados-
contra-a-vida-de-civis
ASSIS, Jorge César de. Curso de Direito Disciplinar Militar – Da Simples Transgressão ao Processo
Administrativo. 1ª ed. Curitiba: Juruá, 2009.
COSTA, Álvaro Mayrink da Costa. Crime Militar. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1978.
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL; Cláudio Amin. Elementos de Direito Penal Militar – Parte Geral. Rio
de Janeiro: Lumen Júris, 2005.
FIGUEIREDO, Telma Angélica. Excludentes de Ilicitude no Direito Penal Militar. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar –
Vol. 1 – Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2005.
APRENDA MAIS!
Crimes dolosos contra a vida praticados por militares estaduais contra civis e a competência da
Justiça Militar Estadual – Breves considerações
http://www.jusmilitaris.com.br/novo/uploads/docs/crimesdolosos.pdf