Você está na página 1de 33

Direito Penal Militar

Continuação...

Capítulo II: O art. 9º do Código Penal Militar

Parte 1: Noções sobre o crime militar

- Conceito de crime militar:

“Crime Militar é toda violação acentuada ao dever militar e aos valores militares das
instituições militares. Distingue-se da transgressão disciplinar porque esta é a mesma violação,
porém na sua manifestação elementar e simples. A relação entre crime militar e transgressão
disciplinar é a mesma que existe entre crime e contravenção”.

Jorge C. de Assis

CRIME PROPRIMENTE MILITAR

Para Alexandre Saraiva, é aquele que guarda sua razão de ser exclusivamente para tutelar uma
objetividade jurídica estanha à sociedade civil, ou seja, é um tipo penal especificamente criado
para proteger um interesse próprio, particular e característico da ambiência militar,
preferencialmente veiculado em norma específica e, via de regra, praticado por militares.

Ex.: motim, deserção, abandono de posto, violência contra inferior

CRIME IMPROPRIAMENTE MILITAR

Após o advento da Lei n.º 13.491/17, pode ser definido como aquele com previsão no Código
Penal Militar – CPM e o previsto na legislação penal, praticado, em ambos os casos, em
situações que se enquadram no inciso II do art. 9º do CPM, quando o agente for militar da
ativa, e no inciso III, do mesmo artigo, quando o agente for militar da reserva ou reformado.

Ex.: lesão corporal, furto, prevaricação, disparo de arma de fogo, tortura etc.

- Importância da classificação do crime militar

CF/88, art. 5º, LXI: LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
crime propriamente militar, definidos em lei;

Código Penal, art. 64, II: não haverá reincidência por crime propriamente militar anteriormente
praticado.

Parte 2: A lei nº 13.491/17 e seus reflexos na justiça militar.

- Essa lei estipula uma “nova competência da justiça militar”.


Destacam-se:

- Maior abrangência da competência da justiça militar (estadual e federal)

- O julgamento, pela Justiça Militar da União, de crime doloso contra a vida de civis praticado
por militar das Forças Armadas no contexto de certas atividades. Ex.: intervenção federal; em
operações de garantia da lei e da ordem etc.

Nova competência da Justiça Militar:

A alteração é significativa, pois, antes da Lei n° 13.491/17, somente seria crime militar aquele
com previsão na parte especial do CPM .

Agora, porém, consideram-se crimes militares os previstos no CPM e os previstos na legislação


penal, quando praticados, em ambos os casos, em situações que se enquadram no art. 9º do
CPM.

Praticará crime de pedofilia por meio da internet (art. 241 e 241-A da Lei n.º 8.069/90 – ECA) o
policial militar de serviço que, no interior do quartel, usando o computador da unidade,
publica na internet fotografias de pornografia infantil. Antes da Lei n.º 13.491/17, o fato seria
crime comum.

Exemplos de leis cujos crimes poderão ser julgados pela Justiça Militar:

- Lei n.º 8.069/1990 – ECA;

- Lei n.º 9.455/1997 – Tortura;

- Lei n.º 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro;

- Lei n.º 9.605/1998 – Crimes ambientais;

- Lei n.º 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento;

- Lei n.º 11.343/2006 – Tóxicos;

- Lei nº 13.869/2019 – Abuso de autoridade;

- Lei nº 14.133/2021 – Lei de Licitações.


#ATENÇÃO: O julgamento pela JM só ocorrerá se não houver previsão constitucional ou legal
outorgando a referida competência a uma outra Justiça.

Ex.: se um policial militar, de serviço no pleito eleitoral, efetua transporte de eleitores na


viatura militar, praticará um crime a ser julgado pela Justiça Eleitoral.

Ex.: Crimes de "Lavagem" ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores, previstos na Lei nº


9.613/98: Justiça Federal ou Justiça Estadual.

- Súmulas do STJ superadas:

Súmula nº 6: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de


acidente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem
policiais militares em situação de atividade.

Súmula nº 75: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime
de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.

Obs.: CP, art. 351 (Presídio Comum).

Súmula nº 90: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela
prática do crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.

Súmula nº 172: Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço.

Parte 3: Considerações sobre o art. 9º do CPM.

O art. 9º do CPM é considerado a “coluna vertebral da lei penal militar”.

As exigências contidas neste artigo consubstanciam um dos passos na adequação típica de


qualquer comportamento humano que se pretenda tratar como crime militar.

O art. 9º do CPM completa a tipicidade dos crimes militares em tempo de paz.

Ex.: militar que efetua disparo de lugar de fogo em lugar habitado. O crime será militar se o
fato se enquadrar em uma das hipóteses do art. 9º. Será comum, por outro lado, se não se
encaixar em uma das referidas hipóteses.

- Para verificar se um crime é de natureza militar:

1º passo: o fato em análise possui tipificação na Parte Especial do CPM (arts. 136 a 408) ou na
legislação penal comum?

2º passo: as hipóteses do art. 9° estão presentes para complementar a tipicidade do crime


militar.

3º passo: a Justiça Militar é competente para julgamento?

Ex.: No Hospital do Policial Militar, A, que trabalha naquele local, é agredido por B, paciente
indignado com a demora no atendimento.
- ART. 9º, INCISO I: Crimes Propriamente Militares.

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum ,
ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial

Na segunda parte (“nela não previstos”), temos os crimes não previstos na lei penal comum.
Ex.: deserção (art. 187); desrespeito a superior (art. 160).

Na primeira parte (“definidos de modo diverso na lei penal comum”), a definição do delito, no
CPM, tem algum elemento especializante (ver próximo slide) no tipo penal, que o distingue do
crime comum.

Exemplos de elementos especializantes:

- ART. 9º, INCISO I:

Crimes Impropriamente Militares praticados por Militares da ATIVA.

a) Crimes com definição idêntica no Código Penal Militar e na legislação penal comum. Ex.:
furto; ameaça; lesão corporal etc.

b) Crimes previstos apenas na legislação penal comum. Ex.: tortura; abuso de autoridade;
disparo de arma de fogo.

Somente teremos o crime militar com a ocorrência concomitante de condições que são
expressas pelas alíneas do inciso II, vistas a seguir:

- ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “A”:

São crimes militares os praticados por militar da ativa contra militar na mesma situação.

Crime praticado por militar da ativa contra militar da ativa.

O crime praticado caracterizar-se-á como crime militar em função das pessoas envolvidas
(sujeito passivo e ativo).

Ex.: ameaça (art. 223) cometida por PM da ativa, de folga, contra PM da ativa, também de
folga.
 TEMAS POLÊMICOS – Alínea “a”:

1. E se o crime for praticado por militares de forças diferentes (militar estadual x militar
federal)?

Cícero R. C. Neves: “o conceito de militar da ativa, em nossa visão, restringe-se ao âmbito


federal ou estadual, não havendo, em regra, transferência entre essas espécies”. Essa visão
abarca os casos previstos na alínea a do inciso II do art. 9º, mas também os casos previstos no
inciso I (Ex.: “superior”).

No Superior Tribunal Militar, verifica-se a tendência em considerar que, após o advento da


Emenda Constitucional nº 18/98, são iguais os cargos de militar federal e estadual. Nesse
sentido, o Habeas Corpus nº 2007.01.034321-0/MG, que considerou como crime militar, na
hipótese do inciso II, alínea a, do art. 9º do CPM, delito previsto nos arts. 177 (Resistência
mediante ameaça ou violência) e 299 (desacato a militar) praticado por militar das FFAA contra
policiais militares.

No STJ, a posição não é unânime, havendo julgados nos dois sentidos, ora admitindo (HC
94.277/RS), ora negando (Conflito de Competência nº 48.804/RJ) a incidência da alínea a do
inciso II do art. 9º do CPM.

Já a visão do STF parece caminhar para uma não equiparação entre militares federais e
estaduais. HC nº 83.003/RS.

2. E se o crime for praticado por militares de forças diferentes (militares de forças


estaduais distintas)?

Predomina o entendimento que se trata de crime militar, sendo competente a Justiça Militar
do Estado do autor do delito, em conformidade com a Súmula nº 78/STJ: Compete a Justiça
Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido
praticado em outra unidade federativa.

Cícero R. C. Neves, por sua vez, discorda desse entendimento por entender que a autonomia
do ente federativo leva à conclusão que o militar de um Estado da Federação não pode ser
igualado ao militar de outro Estado.

3. Existe a necessidade de conhecimento da condição de militar da ativa do sujeito


passivo?

Cícero R. C. Neves, embora reconhecendo que contraria a visão predominante, entende que,
em se tratando de crime militar doloso, é imprescindível o conhecimento, pelo sujeito ativo, da
condição de militar da ativa do sujeito passivo para que se configure a hipótese da alínea a do
inciso II do art. 9º do CPM.

Jorge César de Assis, atundo como representante do Ministério Público no IPM nº 52/03,
solicitou o arquivamento dos autos no caso em que um cabo do EB foi acusado de agredir um
soldado do EB, sem conhecer a condição de militar do outro. Para ele, o caso era de crime
comum, a ser julgado pelo Juizado Especial Criminal.
O tema já foi objeto de decisão do STF, decidindo-se, com base na visão restritiva que
prevalece naquela Corte, em favor da necessidade de conhecimento da condição de militar do
sujeito passivo para o reconhecimento do crime militar inter milites.

A visão predominante nos tribunais militares é pela desnecessidade do conhecimento. Nesse


sentido, decidiu o TJM/SP no julgamento da Apelação Criminal nº 5.619/06.

4. E nos casos de violência doméstica?

Com o advento da Lei nº 13.491/2017, é possível trasladar, para o Direito Penal Militar,
dispositivos de lei penal comum, no caso a Lei Maria da Penha. Trata-se, no caso, de crime
militar extravagante.

A Lei Maria da Penha, por ser especial, deve prevalecer sobre o CPM, o que levaria a uma
desnaturalização da conduta do agente, de crime militar para crime comum. Além disso, com
base em princípios de âmbito constitucional, a mulher militar (da ativa) deve ser amparada
pela Lei Maria da Penha quando for vítima de violência doméstica praticada por seu
companheiro, também militar (da ativa).

A incidência do CPM ou da Lei Maria da Penha vai depender do ambiente. Se este for
distanciado da caserna, o fato não merece a tutela penal militar. Porém, em ambiente onde
estejam presentes a hierarquia e disciplina, bens tutelados pelo Direito Penal Militar, aplica-se
o Estatuto Repressivo Castrense, diante do disposto na alínea a do inciso II de seu art. 9º.

Os tribunais militares não privilegiam a posição restritiva, com tendência a aplicar a lei de
forma objetiva, ou seja, se a violência doméstica for praticada por policial contra policial,
ambos da ativa e de folga, no interior da residência do casal, independentemente do motivo
agressão, o caso será crime militar a ser processado e julgado pela Justiça Militar Estadual.
Dessa forma decidiu o Tribunal de Justiça Militar de São Paulo, no julgamento do Recurso
Inominado nº 0003140-04-2018.9.26.0010.

- ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “B”:

São crimes militares os praticados por militar da ativa, em lugar sujeito à administração
militar, contra militar da reserva, ou reformado ou contra civil.

A vítima pode ser qualquer pessoa, exceto militar em situação de atividade (caso da alínea “a”).

Limitação territorial: lugar sujeito à administração militar.

Ex.: Cb BM da ativa, de folga, esmurra um civil no interior de um quartel do Corpo de


Bombeiros, durante uma solenidade.

- ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “C”:

São crimes militares os praticados por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que em local sujeito à administração
militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil.

Não importa onde o crime é praticado, mas sim as quatro situações elencadas pela lei: em
serviço, em comissão militar, em formatura, ou atuando em razão da função.

Ex.: PM de serviço pratica lesão corporal em civil, durante uma abordagem policial.
- ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “D”:

São crimes militares os praticados por militar, durante o período de manobras ou exercício,
contra militar da reserva ou reformado ou contra civil.

O momento em que o crime é praticado importa em sua caracterização como militar.

O legislador quis distinguir atividade de treinamento (manobras e exercícios), em geral


simulações, das atividades de emprego real.

Ex.: recrutas que, durante exercícios de campo, aproveitam breve folga para furtar objetos de
uma fazenda próxima ao local de treinamento.

- ART. 9º, INCISO II, ALÍNEA “E”:

São crimes militares os praticados por militar da ativa contra o patrimônio sob a
administração militar ou contra a ordem administrativa militar.

O polo passivo é composto pela Administração Pública.

Patrimônio militar: conjunto de bens móveis ou imóveis pertencentes ou não às Corporações


Militares, mas sob sua administração.

Ex.: militar que danifica, dolosamente, uma pistola da Polícia Militar.

Ordem administrativa militar: é a regularidade, a lisura, a transparência e a eficiência da


administração pública militar.

Ex.: Oficial PM retarda ato de ofício, para satisfazer interesse pessoal, no crime de
prevaricação.

- ART. 9º, INCISO III:

Crimes militares praticados por militares da reserva, ou reformados ou civis.

São os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os crimes compreendidos no inciso I,
como os do inciso II.

R/R, Ref. e civis podem ser autores de crimes militares.

R/R ≠ Ref. ≠ R/2.

Civil: só poderá figurar como sujeito ativo de crime militar na esfera federal. CF, art. 124 e 125 §
4º.

- ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “A”:

São crime militares os praticados por militar da reserva, ou reformado ou civil contra o
patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar.

Ex.: o furto de material bélico do Exército Brasileiro praticado por um civil, independentemente
de onde o fato ocorra.
Ex.: militar inativo para em um posto do Batalhão Rodoviário e ali subtrai o macaco e a chave
de roda de um veículo apreendido.

- ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “B”:

São crimes militares os praticados em lugar sujeito à administração militar, contra militar da
ativa ou contra servidor público das instituições militares ou da Justiça Militar, no exercício
de função inerente ao seu cargo.

Ex.: militar reformado pratica lesão corporal contra um militar da ativa, de folga, no interior do
quartel.

No caso de crime praticado contra funcionário da Justiça Militar, exige-se que o fato seja
praticado em lugar sujeito à administração militar. Ex.: militar inativo, preso em um quartel,
agride oficial de justiça que ali comparece para lhe entregar uma intimação.

- ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “C”:

São crimes militares os praticados por militar da reserva, ou reformado ou civil contra militar
em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração,
exercício, acampamento, acantonamento ou manobras.

O delito praticado por civil ou inativo torna-se crime militar estando o sujeito passivo (militar
da ativa), em qualquer das situações enumeradas na lei.

Ex.: agressão pratica por manifestante civil a um militar do Exército que participa do Desfile de
7 de Setembro.

- ART. 9º, INCISO III, ALÍNEA “D”:

São crimes militares os praticados por militar da reserva, ou reformado ou civil, ainda que
fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar,
ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública,
administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em
obediência a determinação legal superior.

O STM reconheceu delitos de desacato (art. 299) e desobediência (art. 301) do civil a militar da
Polícia do Exército, que desempenhava atribuições de sua função e em local sob tutela da
Administração Militar.

Parte 4: Os crimes dolosos contra a vida de civis praticados por militares.

§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.

§ 2°Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União,
se praticados no contexto ...

O disposto no § 2º do art. 9° é restrito à Justiça Militar da União. Logo, somente pode ser
aplicada aos militares das Forças Armadas.
Além disso, não poderia a lei afrontar a Constituição Federal de 1988, que preconiza, em ser
art. 125, § 4º, que, no caso dos militares estaduais, a competência para o julgamento de tais
crimes é do tribunal do júri.

Caberá à Justiça Militar da União o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civis,
cometidos por militares das Forças Armadas, nas seguintes situações:

a) No cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República


ou pelo Ministro de Estado da Defesa. Ex.: Operações de Auxílio a moradores da Amazônia.

b) Em ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante. Ex.: Sentinela de uma Base Aérea que repele a invasão de um civil.

Caberá à JMU o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civis, cometidos por
militares das FFAA, nas seguintes situações (cont....):

c) Em atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de


atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da CF/88 e na
forma dos seguintes diplomas legais:

c.1) Em conformidade com a Lei no 7.565/1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. Ex.: Tiro de
Abate.

c.2) Em conformidade com a Lei Complementar no 97/1999 – Emprego das Forças Armadas.
Ex.: Operações de Garantia da Lei e da Ordem – GLO, em uma favela do Rio de Janeiro.

c.3) Em conformidade com o Decreto-Lei no 1.002/1969 - Código de Processo Penal Militar. Ex.:
crimes praticados no exercício da polícia judiciária militar (mandado de busca e apreensão).

c.4) Em conformidade com a Lei no 4.737/1965 - Código Eleitoral. Ex.: crimes praticados por
integrante de tropas requisitadas pela Justiça Eleitoral para a segurança das eleições.

Capítulo IV: Aspectos relacionados ao crime militar

- Relação de Causalidade:

Art. 29. O resultado de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Não há crime sem conduta humana.

A conduta punível pode ser:

a) Ação: transgressão de uma proibição. Ex. incitamento (art. 155).

b) Omissão: transgressão de uma ordem para que se faça alguma coisa. Ex.: omissão de
lealdade militar (art. 151).

Ação não se confunde com ato. Uma ação criminosa pode ser praticada por diversos atos.

Ex.: no crime de violência contra superior (art. 157), o subordinado desfere tapas, chutes e
socos contra seu superior. A ação é única, embora praticada por diversos atos.
Art. 29. § 1º A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação
quando, por si só, produziu o resultado. Os fatos anteriores, imputam-se, entretanto, a quem
os praticou.

Causa (condição) é a ação ou omissão indispensável para a ocorrência do resultado.

Teoria da equivalência das condições: condição é tudo o que concorrer para a produção do
resultado.

Por menor que seja o grau de contribuição, todos que contribuíram responderão pelo
resultado.

Causas supervenientes: forças que atuam depois da causa humana. Ex.: capotamento da
ambulância. O resultado só pode ser imputado ao agente se estiver na mesma linha de
desdobramento natural da ação. Ex.: vítima de esfaqueamento morre vítima de infecção
hospitalar: o autor responde por homicídio.

- Omissão Penalmente Relevante:

§ 2º A omissão é relevante como causa quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância; a quem, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; e a
quem, com seu comportamento anterior, criou o risco de sua superveniência.

Garantidor ou garante: pessoa obrigada por lei a agir para impedir o resultado. De acordo com
o CPM, são garantidores as seguintes pessoas:

a) quem tenha por lei obrigação de cuidado, guarda e vigilância. Ex.: PM durante a abordagem.

b) quem, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Ex.: instrutor de


paraquedismo.

c) quem, com seu comportamento anterior, criou o risco. Ex.: instrutor que joga gás pimenta
em sala de aula.

- Crime Consumado e Crime Tentado:

Art. 30. Diz-se o crime:

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à


vontade do agente.

Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime, diminuída de um


a dois terços, podendo o juiz, no caso de excepcional gravidade, aplicar a pena do crime
consumado.

Caminho do crime (iter criminis):


a) Cogitação: é o que se passa na mente do agente. Ex.: Cadete pensa em matar o instrutor
após tirar nota vermelha na prova de DPM. Por força do Princípio da Ofensividade, não se pune
a cogitação.

b) Atos Preparatórios: são atos necessários ao êxito da ação criminosa. Ex.: compra da arma;
escolha do local etc. Em regra, não são puníveis, pois o inciso II do art. 30 exige o início da
execução para que a tentativa seja punida. Todavia, o legislador optou por punir de forma
autônoma certas condutas que, a princípio, são atos preparatórios de outros delitos. Ex.: crime
de conspiração (art. 152), que é ato preparatório dos crimes de motim ou revolta.

c) Execução: o agente ingressa nos atos executórios do crime. O CPM adota a Teoria Objetivo-
formal, segundo a qual ato executório é aquele descrito no tipo penal objetivo.

d) Consumação: é a reunião de todos os elementos da definição legal do crime (art. 30, I). A
consumação depende da natureza do delito. Ex.: crimes materiais; crimes permanentes etc.

Obs.: Exaurimento: para a maioria dos doutrinadores, não é fase do crime. Ex.: o recebimento
da propina no crime de corrupção passiva (art. 308);

Crime consumado: reunião de todos os elementos de sua definição legal. Ex.: Art. 207. Instigar
ou induzir alguém a suicidar-se, ou prestar-lhe auxílio para que o faça, vindo o suicídio
consumar-se.

Crime tentado: a execução do crime é interrompida por circunstâncias alheias à vontade do


sujeito ativo. Ex.: Militar pega a pistola e aponta para outro militar, mas é impedido por um
terceiro.

Espécies de tentativa:

a) Tentativa Perfeita (ou tentativa acabada ou crime falho): o agente esgota toda a fase
executória. Ex.: militar A, com dolo de matar, efetua 5 disparos de pistola contra o militar B,
atingindo-o em em região letal, mas este último é socorrido do sobrevive.

b) Tentativa Imperfeita (ou inacabada ou tentativa propriamente dita): o agente não exaura
toda a sua potencialidade lesiva. Ex.: militar A, com dolo de matar, deseja efetuar 6 disparos
contra o militar B; todavia, ao efetuar dois disparos, é interrompido pelo militar C.

Pena da tentativa: redução de uma dois terços; pode o juiz, em casos graves, aplicar a pena do
crime consumado. Aplicado pelo STM, mas não pelo STF.

- Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz:

Art. 31. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Não se confundem com a tentativa (em que a consumação não ocorre por circunstância alheias
à vontade do agente).

O agente responde pelos atos já praticados se estes, isoladamente, constituem tipos penais.
Ex.: após roubo, o agente devolve a coisa roubada, respondendo, porém, pelo constrangimento
da vítima, na forma do art. 222, § 1º (emprego de arma).
#ATENÇÃO: O CPM, diferentemente do CP comum (art. 16) não contempla o arrependimento
posterior como causa obrigatória de redução da pena (minorante).

- Crime Impossível:

Art. 32. Quando, por ineficácia absoluta do meio empregado ou por absoluta impropriedade
do objeto, é impossível consumar-se o crime, nenhuma pena é aplicável.

Quase crime ou tentativa impossível.

Existe apenas a parte subjetiva do crime (o intuito) mas falta o elemento objetivo (o dano
material).

Ex.: PM efetua disparos de pistola em um cadáver, achando que o corpo ainda estivesse com
vida (impropriedade absoluta do objeto).

Ex.: soldado do refeitório coloca antiácido no suco dos oficiais, achando que se trata de
poderoso veneno (ineficácia absoluta do meio empregado).

Ineficácia relativa do meio empregado ou uma relativa impropriedade do objeto: o delito não
estaria descaracterizado.

- Culpabilidade:

Art. 33. Diz-se o crime:

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência


ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o
resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que
poderia evitá-lo.

Excepcionalidade do crime culposo

Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente.

Crime doloso: o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

Crime culposo: diferença entre o CP e o CPM.

 Culpa CONSCIENTE e culpa INCONSCIENTE.

a) Culpa Consciente: o agente prevê o resultado, mas supõe levianamente que não se realizaria
ou que poderia evitá-lo. = Ex.: armeiro, durante instrução, arremessa granada supostamente
desativada, que explode e mata o instrutor.

b) Culpa Inconsciente: o agente não prevê o resultado que podia prever. Ex.: militar que não
deixa o veículo freado quando estacionado.
- Nenhuma Pena sem culpabilidade:

Art. 34. Pelos resultados que agravam especialmente as penas só responde o agente quando
os houver causado, pelo menos, culposamente.

O CPM consagrou o Princípio da Culpabilidade ao prever que ninguém pode ser punido por um
resultado mais grave se não o tiver causado pelo menos a título de culpa.

Crime preterdoloso: combinação de dolo e culpa, que se sucedem no fato delituoso. Resultado
além da intenção do agente. Ex.: em partida de futebol, Sgt agride Cb com empurrão e este, ao
cair, bate a cabeça em uma trave, vindo a falecer.

Ocorrendo um resultado mais grave por mera obra do acaso, sem presença de dolo ou culpa, o
evento mais gravoso não repercute na órbita penal.

Para a punição do autor pelo resultado mais grave, deve-se provar que ele agiu com dolo (quis
o resultado ou assumiu o risco) ou culpa (consciente ou inconsciente).

- Erro de Direito:

Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente,
salvo em se tratando de crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por
ignorância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis.

Erro de direito é quando o agente comete o erro por desconhecer a lei.

Erro escusável é o mesmo que erro invencível. Erro inescusável é o mesmo que erro vencível.

O erro de direito incide sobre a proibição jurídica do fato praticado. Ex.: Recruta, com pouco
tempo de caserna, que participa de uma reunião ilícita por desconhecer o caráter criminoso de
tal conduta (art. 165).

Tratamento duplamente severo no CPM: a pena poderá ser atenuada ou substituída por outra
menos grave e, se for crime contra o dever militar, o erro de direito não aproveita ao agente
(Ex.: deserção, abandono de posto).

- Erro de Fato:

Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a
inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que
tornaria a ação legítima.

1º Se o erro deriva de culpa, a este título responde o agente, se o fato é punível como crime
culposo.

2º Se o erro é provocado por terceiro, responderá este pelo crime, a título de dolo ou culpa,
conforme o caso.

Erro de fato é aquele em que o agente erra por meio de uma falsa percepção da realidade.

O agente desconhece a existência de uma situação de fato que integra a figura típica penal.

Ex.: Militar que se apodera de um coisa alheia, julgando-a própria.


Erro provocado quando o agente a ele é induzido por conduta de terceiro. A provocação pode
ser dolosa ou culposa.

- Erro na Execução, Erro sobre a Pessoa, Erro Quanto ao Bem Jurídico.

Art. 37. Quando o agente, por erro de percepção ou no uso dos meios de execução, ou outro
acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde como se tivesse praticado o crime
contra aquela que realmente pretendia atingir. Devem ter-se em conta não as condições e
qualidades da vítima, mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou exclusão
do crime, e agravação ou atenuação da pena.

Erro quanto ao bem jurídico

Art. 37, § 1º: Se, por erro ou outro acidente na execução, é atingido bem jurídico diverso do
visado pelo agente, responde este por culpa, se o fato é previsto como crime culposo.

Duplicidade do resultado

Art. 37, § 2º: Se, no caso do artigo, é também atingida a pessoa visada, ou, no caso do
parágrafo anterior, ocorre ainda o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 79.

Erro na execução: é o desvio do golpe; é o erro no ataque. Ex.: agressor quer atingir o Sd
Antônio, mas erra a pontaria e atinge o Sd Benedito.

Erro sobre a pessoa: o agente acerta o golpe, mas, por erro de percepção, atinge uma pessoa
supondo tratar-se de outra. Ex.: agressor quer atingir o Sgt Pedro, seu desafeto, mas confunde-
se e atinge o Sgt Paulo, sósia do alvo.

Nos casos acima deve-se ter em conta não as qualidades da vítima, mas as da pessoa que
realmente o agente queria atingir.

Erro quanto ao bem jurídico: por acidente ou erro na execução do crime, o agente atinge um
bem jurídico diverso do que realmente queria atingir. Ex.: militar que danificar uma viatura do
quartel, mas acaba atingindo outro militar que operava o equipamento.

Responde o agente por culpa, se o fato é previsto na modalidade culposa.

Se também ocorre o resultado pretendido, o agente responde por concurso de crimes (art. 79).

- Coação Irresistível e Obediência Hierárquica:

Art. 38. Não é culpado quem comete o crime:

a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade de agir segundo a própria vontade;

b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárquico, em matéria de serviços.

§ 1° Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem.

§ 2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou


há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior hierárquico.
Coação: emprego de força física ou de grave ameaça contra alguma pessoa para obrigá-la a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

Pode ser:

a) Física: soldado bastante forte segura com vigor as mãos de um colega magro e com elas
danifica equipamento militar.

b) Moral: militar que, sequestrando o filho de outro militar, obriga este último a publicar, sem
autorização, documento oficial.

Requisitos da obediência hierárquica:

1º) que haja relação de hierarquia entre o autor da ordem (superior) e o subordinado;

2º) que a ordem não seja manifestamente ilegal;

3º) que a ordem preencha os requisitos formais e refira-se à matéria de serviço;

4º) que a ordem seja diretamente emanada de autoridade competente;

5º) que o subordinado não exceda os limites da ordem que lhe foi dada.

- Estado de Necessidade e Excludente da Culpabilidade:

Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito próprio ou de pessoa a quem
está ligado por estreitas relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo e atual, que não
provocou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao
direito protegido, desde que não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa.

Teoria diferenciadora: permite o sacrifício de um bem de maior valor para proteger o bem de
menor valor, se não for exigível outra conduta. Ex.: militar que pratica deserção para dar apoio
à mãe doente.

O CPM adotou a Teoria Diferenciadora, oriunda do Direito Penal alemão. Já o CP adotou a


Teoria Unitária.

No estado de necessidade exculpante, o bem sacrificado pode ser de igual ou de maior valor
em relação ao bem protegido. Ex.: o caso clássico dos dois náufragos.

Se o bem sacrificado for menos importante que o bem protegido, a solução é a exclusão da
ilicitude. Ex.: militares do Corpo de Bombeiros destroem um carro de luxo para entrar em um
prédio durante uma emergência.

- Coação Física ou Material:

Art. 40. Nos crimes em que há violação do dever militar, o agente não pode invocar coação
irresistível senão quando física ou material.

Nos crimes em que há violação do dever militar, ao agente somente lhe aproveita a coação
física (ou material) exercida sobre o seu corpo.
Ex.: em crime omissivo, do soldado que não desempenha missão que lhe foi confiada de dar o
toque de alarme, por haver sido amarrado a uma árvore por outro militar.

Já a coação moral não pode ser invocada, em hipótese alguma, pois o militar tem o dever legal
de enfrentar o perigo.

Ex.: militar que não cumpriu o seu dever e abandona o posto por ameaça de morte.

- Atenuação da Pena:

Art. 41. Nos casos do art. 38, letras a e b, se era possível resistir à coação, ou se a ordem não
era manifestamente ilegal; ou, no caso do art. 39, se era razoavelmente exigível o sacrifício
do direito ameaçado, o juiz, tendo em vista as condições pessoais do réu, pode atenuar a
pena.

O coagido terá a sua pena atenuada por ter sido coagido de forma resistível. Ex.: por covardia,
o agente cedeu à pressão do coator e abandonou seu posto de serviço.

Na obediência hierárquica, a atenuante é reconhecida se houver, por parte do subordinado,


dúvida quanto à legalidade.

No estado de necessidade exculpante, atenua-se a pena do necessitado se lhe era razoável


exigir-se o sacrifício do direito ameaçado. Ex.: militar abandonou o posto para ir à formatura do
filho.

- Excludentes da Ilicitude:

Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento do dever legal;

IV - em exercício regular de direito.

Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave ou


praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por
meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou
evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque.

 Estrito Cumprimento do Dever Legal

Requisitos: o dever legal e o seu estrito cumprimento.

Exs.: a) PM que efetua a prisão do autor de um crime (não há crime de constrangimento ilegal;
art. 222); b) guarnição policial no cumprimento de mandado de busca domiciliar (não há crime
de violação de domicílio; art. 226).

Atenção: PM que mata um criminoso em troca de tiros age em legítima defesa. Quem mata em
ECDL é o carrasco.
 Exercício Regular do Direito

No exercício regular do direito, a ordem jurídica autoriza o agente a praticar o ato que, sem tal
permissão, seria criminoso.

Exs.: a) a lesão decorrida da prática do esporte militar, quando respeitadas as normas


regulamentares e os costumes (“bola militar”); b) advogado ou médico que, mesmo
desobrigado pela parte interessada em guardar segredo, recusa-se a testemunhar, como lhe
faculta o art. 355 do CPPM; c) a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica,
nos termos do art. 222, II, do COM.

- Estado de Necessidade como Excludente do Crime:

Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para preservar direito
seu ou alheio, de perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar,
desde que o mal causado, por sua natureza e importância, é consideravelmente inferior ao
mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo.

Ex.: Bombeiros militares que danificam um veículo particular para ter acesso ao local de
incêndio.

Requisitos:

a) perigo certo e atual;

b) situação de perigo não provocada pelo necessitado;

c) inevitabilidade do perigo;

d) salvamento de direito próprio ou alheio;

e) inexigibilidade de conduta diversa;

f) sacrifício do bem jurídico de menor valor (valor maior ou igual, temos o estado de
necessidade exculpante)

g) ausência da obrigação legal de enfrentar o perigo.

- Legítima Defesa:

Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Requisitos:

1) Agressão injusta, atual ou iminente;

2) Lesão ou ameaça a direito próprio ou de terceiro;

3) Escolha e uso dos meios necessários;

4) Uso moderado dos meios necessários;

5) Intenção de defender.
- Excesso Culposo e Excesso Escusável:

Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os
limites da necessidade, responde pelo fato, se este é punível, a título de culpa.

Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável surpresa ou perturbação
de ânimo, em face da situação.

 Excesso Culposo:

Ocorre em qualquer causa de exclusão da ilicitude.

O agente deseja um resultado proporcional, mas excedeu-se por indesculpável precipitação,


por falta de cuidado ou por desatenção.

Jurisprudência: O excesso da legítima defesa não absorve toda ação. O agente só será punido
pelo ato que gerou o excesso.

O agente responde pelo fato, se este é punível a título de culpa.

TJM/RS: “Age com excesso culposo na legítima defesa e deve ser condenado nas sanções dos
arts. 206 (homicídio culposo) e 210 (lesão corporal culposa) do CPM o policial que desfere três
tiros contra as vítimas, matando uma e ferindo outra, porque, embora desarmadas, o
ameaçaram quando tentava apartar a luta corporal em que estavam envolvidos.

 Excesso Escusável:

Também chamado de Excesso Exculpante.

Nada mais é do que o excesso fortuito, ou seja, aquele que não merece ser reprovado.

No CPM é aquele que resulta de escusável surpresa ou perturbação de ânimo, em face da


situação. Isso o diferencia do excesso culposo, que é resultante de uma falta de atenção, de
cuidado.

Ex.: O agente, ao se defender de um ataque inesperado e violento, apavora-se e dispara seu


revólver mais vezes do que seria necessário para repelir o ataque, matando o agressor.

 Excesso Doloso:

Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por excesso doloso.

Em um primeiro momento, a conduta do agente está acobertada por uma descriminante;


porém, em um segundo momento, o agente passa a agir ilicitamente de forma intencional.

Ex.: uma vez prostrado seu agressor, o PM agredido prossegue na conduta de feri-lo, passando,
assim, de uma conduta lícita a um comportamento ilícito.

- Elementos Não Constitutivos do Crime:

Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime:

I - a qualidade de superior ou a de inferior hierárquico, quando não conhecida do agente;


II - a qualidade de superior ou a de inferior hierárquico, a de oficial de dia, de serviço ou de
quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a
agressão.

Em alguns crimes militares, a circunstância de se defrontarem superiores e subordinados


assume importância, seja na tipificação do delito, na qualificação deste ou no aumento da
pena. Ex.: violência contra superior.

Todavia, é necessária, por parte do agente, a consciência de infringir a hierarquia e a disciplina.

Além disso, a ação também deixará de constituir crime, quando praticada em repulsa a
agressão exercidas pelos ocupantes de determinadas funções militares.

Capítulo 5: Imputabilidade Penal.

- Imputáveis x Inimputáveis:

“O Grito”, um dos quadros mais famosos do mundo, pintado pelo norueguês Edvard Munch e
datado de 1893.

As doenças e perturbações mentais podem excluir ou diminuir a imputabilidade penal.

- Culpabilidade:

CONCEITO: é um juízo de reprovação (de censura) que recai na conduta típica e ilícita praticada
pelo agente.

O agente podia praticar uma conduta lícita, mas acaba praticando uma conduta criminosa.

O juízo de valor recai sobre o autor da conduta ilícita, ou seja, sobre o agente.

Enquanto a análise da tipicidade (fato típico) e a ilicitude (antijuridicidade) recaem sobre o fato,
a análise da culpabilidade recai sobre o agente.

 Elementos:

Noções: De acordo com a teoria adotada pelo Direito Penal, a culpabilidade é formada de três
elementos:

- Imputabilidade;

- Potencial consciência da ilicitude;

- Exigibilidade de conduta diversa.


I. Imputabilidade:

Conceito: é a capacidade de imputação do agente. É a possibilidade de se atribuir a alguém a


responsabilidade pela prática de uma infração penal.

A capacidade na esfera penal é diferente da capacidade na esfera civil. Ex. menor de 18 anos,
civilmente emancipado, é menor para fins penais.

É a capacidade que tem o indivíduo de compreender a ilicitude de seu ato e de livremente


querer praticá-lo.

Imputável, então, é o sujeito que, mentalmente, tem a capacidade de entender o caráter ilícito
do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Se faltar ao agente tal capacidade de entendimento e determinação, será ele inimputável.

Ex.: menor de idade; doente mental; etc.

A imputabilidade pode ser excluída nas seguintes situações, em que desaparece a capacidade
de imputação do agentes:

a) Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica:

b) Inimputabilidade em razão da idade do agente;

c) Inimputabilidade em razão da embriaguez.

A imputabilidade será afastadas apenas excepcionalmente, de acordo com as hipóteses


previstas na lei.

Critério biológico: a inimputabilidade decorre da simples presença de causa mental deficiente.

Critério psicológico: basta se mostrar incapacitado para entender o caráter ilícito do fato ou
determinar-se de acordo com esse entendimento, no momento do fato.

Critério biopsicológico: É a reunião do critério biológico, que verifica a existência da causa


biológica com o efeito psicológico.

Este último é o critério adotado pelo CP e pelo CPM, EXCETO em relação aos menores de 18
anos.

Inimputáveis

Art. 48. Não é imputável quem, no momento da ação ou da omissão, não possui a
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento, em virtude de doença mental, de desenvolvimento mental incompleto ou
retardado.

- Inimputáveis – Causas Biológicas:

a) Doença mental: enfermidade, permanente ou transitória, que tira do agente a capacidade


de entender e de querer (Ex.: surto psicótico; esquizofrenia).

b) Desenvolvimento mental incompleto: é aquele que não se concluiu (Ex.: menores de idade;
silvícolas não adaptados)..
c) Desenvolvimento mental retardado: é a redução acentuada do QI (Ex.: imbecilidade, QI <
50; idiotia, QI < 25).

E A SENTENÇA?

A inimputabilidade afasta a culpabilidade e, como consequência, o próprio crime.

O inimputável é absolvido da imputação de crime (art. 439, d, do CPPM). É a chamada


absolvição imprópria.

Uma vez isento de pena, o juiz determina a aplicação de medida de segurança: internação em
estabelecimento de custódia e tratamento (art. 112 do CPM).

O que fundamenta a aplicação de medida de segurança não é reprovabilidade da conduta, mas


sim a periculosidade do agente.

- Inimputabilidade Reduzida:

Art. 48 ...

Redução facultativa da pena

Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência mental não suprime, mas diminui


consideravelmente a capacidade de entendimento da ilicitude do fato ou a de
autodeterminação, não fica excluída a imputabilidade, mas a pena pode ser reduzida de 1/3
a 2/3, sem prejuízo do disposto no art. 113 (substituição da pena por internação).

Oligofrenia suave: nos casos de QI acima de 50, até 80 (Ex.: débil mental, QI < 80).

Psicopatia (ou sociopatia): Transtorno de personalidade caracterizado pelo sentimento de


desprezo por obrigações sociais ou falta de empatia ou remorso para com os outros.

Transtornos mentais transitórios: crise de pânico.

A imputabilidade é diminuída se a doença ou deficiência mental não suprime, mas diminui


consideravelmente a capacidade de entendimento da ilicitude do fato ou de
autodeterminação.

O semi-imputável possui reduzida capacidade de entendimento e autodeterminação

A constatação da inimputabilidade ou da imputabilidade reduzida cabe à psiquiatria forense.

E A SENTENÇA?

Na hipótese do parágrafo único do art. 48 (imputabilidade reduzida), não fica excluída a


imputabilidade, mas a pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3 (causa de diminuição de pena),
sem prejuízo do disposto no art. 113 (substituição da pena por internação).

De acordo com o art. 113, na hipótese do parágrafo único do art. 48 (imputabilidade reduzida),
e se o condenado necessitar de especial tratamento curativo destinado aos inimputáveis, a
pena privativa de liberdade poderá ser substituída por internação ou por tratamento
ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do art. 112 (internação
em estabelecimento de custódia e tratamento).

- Embriaguez:
Processo agudo de intoxicação resultante da ação do álcool ou substância equivalente sobre o
sistema nervoso.

No aspecto penal, é importante definir a modalidade e a intensidade da embriaguez.

 Modalidades de embriaguez

- Acidental: é a proveniente de:

a) Caso fortuito: é a proveniente do acaso: Ex.: o agente desconhece ser sensível ao álcool.

b) Força maior: o agente é obrigado a ingerir o álcool. Ex.: no trote militar, recruta é obrigado a
ingerir pinga.

- Não acidental: pode ser:

a) Culposa: causada pela imprudência. O agente não quer se embriagar, mas por descuido
acaba se embriagando.

b) Voluntária ou dolosa: o agente se embriaga por assim querer, mas não deseja cometer
crime.

c) Pré-ordenada: o agente se embriaga para cometer o crime.

 Intensidade da embriaguez

a) Embriaguez incompleta: a capacidade de entendimento e autodeterminação começa a


declinar.

b) Embriaguez completa: perturbação das funções mentais, em que deixa de existir a


capacidade de entender e de querer.

c) Embriaguez comatosa: fase da letargia, sem interesse para o Direito Penal.

Art. 49. Não é igualmente imputável o agente que, por embriaguez completa proveniente de
caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

 Isenção de pena na embriaguez

Será isento de pena o agente que, no caso de embriaguez completa, proveniente de caso
fortuito ou de força maior, era, no momento da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender e de querer.

Ex.: Completamente embriagado no alojamento, após ser obrigado a ingerir álcool, militar
pratica violência contra um superior hierárquico que ali comparece.

 Redução de pena na embriaguez

Art. 49 (...)

Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente por embriaguez
proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão,
a plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.
Se o embriagado não possuía, no momento da ação ou omissão, a plena capacidade de
entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento”, em
razão de caso fortuito ou força maior, a sua pena é reduzida de um a dois terços.

Ex.: Parcialmente embriagado, após ingerir acidentalmente álcool, militar desrespeita uma
superiora hierárquica.

#ATENÇÃO:

- Não se aplicam os dispositivos acima ao agente que comete o crime sob o efeito de drogas
ilícitas já que estas possuem um tratamento especial dado no arts. 45 a 47 da Lei nº 11.343/06.

- A Lei de Drogas isenta de pena quem estiver completamente privado da consciência em


virtude de consumo de drogas acidental ou derivado de vício. Se a privação não for plena, é
prevista a redução da pena, de 1/3 a 2/3.

 Imputabilidade penal mantida – embriaguez

A embriaguez, seja ela voluntária (dolosa) ou culposa, em qualquer grau, não exclui a
imputabilidade penal.

Já embriaguez preordenada é uma circunstância agravante da pena (art. 70, II, c).

Teoria da actio libera in causa (ação livre na causa): a aferição da capacidade de entender e de
querer é transferida para o momento antecedente à prática delitiva, ou seja, quando o agente
estava lúcido e decidiu pela ingestão álcool ou substância equivalente.

- Menoridade:

Art. 50. O menor de 18 (dezoito) anos é penalmente inimputável, ficando sujeito às normas
estabelecidas na legislação especial.

Nova redação dada pela Lei nº 14.688, de 20/09/2023, que, no que concerne aos menores de
idade, adequa o CPM à Constituição Federal de 1988, art. 226.

ECA, Lei nº 8.069/90, art. 104.

Menores de 18 anos: critério biológico, ou cronológico ou etário.

Trata-se de um presunção absoluta. Não se avaliam questões sobre a emancipação,


inteligência, experiência etc.

O menor, todavia, pratica fato típico e ilícito, denominado ato infracional (ECA, art. 103).

Nesse contexto, a medida socioeducativa é uma das possíveis respostas frente ao ato
infracional.

E as punições disciplinares? Podem ser aplicadas aos menores, em razão da finalidade


pedagógica da punição disciplinar e do âmbito de sua aplicação (administrativo/disciplinar).

Isso porque, tanto a Constituição Federal (art. 226) quanto o CPM (art. 50) referem-se ao
“penalmente inimputáveis”.

É claro que a punição disciplinar deve atentar para a condição de menor de idade do sujeito
ativo.
Capítulo 6: Concurso de agentes

Conceito: Concurso de agentes (CPM) ou concurso de pessoas (CP) é a atuação, ciente e


voluntária, de duas ou mais pessoas na mesma infração penal.

 Tipos de Concurso:

Concurso eventual: o crime poderia ser praticados por uma só pessoa. Ex.: roubo simples (art.
242, caput); abandono de posto (art. 195).

Concurso necessário: exige a concorrência de duas o mais pessoas. Ex.: rixa (CP, art. 137);
associação criminosa (CP, art. 288); motim (CPM, art. 149); revolta (CPM, art. 149, par. único);
reunião ilícita (CPM, art. 165).

 Agentes de um crime:

Autor: É aquele que executa o fato delituoso. Tem o domínio final da ação, podendo
interrompê-la.

Coautor: Quando mais de um agente pratica o fato previsto no tipo penal. O coautor colabora
decisivamente para o resultado, participando da execução do crime, realizando ou não o verbo
núcleo do tipo. Todos os coautores, entretanto, possuem o co-domínio do fato.

Intelectual: planeja a ação e execução do crime. É aquele que organiza ou planeja ou dirige a
atividade dos demais coautores. Também chamado de "coautor de escritório".

Ex.: O Sgt Lobo, na função de Adjunto, planeja a apropriação de combustível do quartel (crime
de peculato) e distribui as funções dos demais coautores que trabalham no serviço interno da
Unidade. Ele tem o domínio organizacional do fato.

- Tipos de Coautor:

Executor: realiza o verbo núcleo do tipo. É quem realiza a ação descrita no tipo legal (matar,
subtrair, praticar violência, etc).

Ex.: Seguindo as orientações do Sgt Lobo, o Sgt Hiena e o Sgt Chacal “apropriam-se” de 500
litros de gasolina por eles retirado da bomba de combustível do quartel.

Funcional: participa da execução do crime, mas, sem realizar, diretamente, o verbo núcleo do
tipo.

Ex.: Seguindo as orientações do Sgt Lobo, o Cb Coiote, apodera-se da chave da bomba de


combustível para que o Sgt Hiena e o Sgt Chacal subtraiam a gasolina. Em seguida, altera o
marcador da bomba, valendo-se de sua experiência como ex-frentista, e recoloca a chave no
lugar.

Partícipe: é o agente que não pratica a conduta descrita no tipo penal, mas coopera na
empresa criminosa, emprestando auxílio, estímulo ou apoio ao autor. Não tem o domínio (ou
co-domínio) do fato.
Ex.: no caso da subtração de gasolina do quarte, acima narrado, a Sgt Raposa, Comandante da
Guarda, monitora a entrada de pessoas no quartel para possibilitar a ação criminosa dos
coautores.

 Teorias sobre o concurso de pessoas:

1) Teoria monista (também chamada de unitária ou igualitária): afirma que o crime praticado
em concurso de pessoas é único e indivisível, ainda que praticado por vários agentes. = Os
concorrentes cometem o mesmo crime, ou seja, há uma unidade de crime e pluralidade de
agentes.

É a teoria adotada pelo CP (art. 29) e pelo CPM (art. 53).

2) Teoria dualista: defende a existência de dois crimes no concurso de pessoas: um praticado


pelos autores e outro praticado pelos partícipes, isto porque existem ações principais,
praticadas pelos primeiros, e ações secundárias, praticadas pelos segundos.

3) Teoria pluralista: considera que cada um dos concorrentes (autores ou partícipes) pratica
uma conduta própria.

Ao contrário dos monistas, professa a pluralidade de agentes e de crimes.

 Requisitos para o concurso de agentes: (PRIL)

i. Pluralidade de agentes e condutas: é necessária a participação de duas ou mais pessoas,


cada uma com a sua conduta delituosa.
ii. Relevância causal de cada conduta: a participação deve ser relevante para a concretização
do delito.
iii. Identidade de delitos: é a identidade de infração para todos os participantes, ou seja,
todos devem responder pelo mesmo crime.
iv. Ligação subjetiva entre os sujeitos concorrentes: deve existir um vínculo entre os agentes,
ou seja, todos devem ter a consciência de que estão colaborando para a realização de um
crime. Não é necessário pacto prévio, basta aderir.

Coautoria

Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas.]

Adoção da Teoria Monista: o crime é único, mesmo que praticado por várias pessoas.

Ex.: linchamento.

- Circunstâncias ou Condições pessoais:

Art. 53. (...)

§ 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes é independente da dos outros,


determinando-se segundo a sua própria culpabilidade. Não se comunicam, outrossim, as
condições ou circunstâncias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

 Punibilidade dos concorrentes:


A punibilidade dos concorrentes é independente uma da outra. Cada concorrente irá
responder de acordo com sua própria culpabilidade.

Isso quer dizer que, em um mesmo crime, um agente pode ter uma pena diferente da do
outro.

Ex.: no crime de violência contra superior, praticado em concurso por dois agentes, um será
apenado na forma simples e outro na forma qualificada, porque foi o único a usar arma.

(...) Não se comunicam as condições ou circunstâncias de caráter pessoal, SALVO quando


ELEMENTARES DO CRIME.

Condições referem-se às relações do agente com a vida exterior, com outros seres e com as
coisas (menoridade, reincidência etc.), além de indicar um estado (casamento, parentesco etc.)

Circunstâncias são elementos que, embora não essenciais à infração penal, a ela se integram e
funcionam para modelar a qualidade e quantidade da pena (motivo do crime,
desconhecimento da lei, confissão espontânea etc.).

Resumindo:

a) Cada um dos concorrentes responderá de acordo coma as suas condições (superior,


menoridade, reincidência, parentesco) e circunstâncias (motivo fútil, de relevante valor social
ou moral, de prescrição etc.).

b) Todavia, irão comunicar se forem elementares do crime.

E as circunstâncias elementares?

As condições ou circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do crime, comunicam-


se entre os concorrentes.

Ex.: aquele que auxilia o funcionário público na prática do peculato responde por este crime,
ainda que não exerça a função pública; ou aquele que instiga o médico a não comunicar a
moléstia cuja notificação é compulsória responderá por este crime.

 Coautoria de Militar Estadual com Civil:

No âmbito da Justiça Estadual, ocorrerá sempre separação dos processos. Ex.: Um civil e um Sd
PM ameaçam matar um Sgt PM. O primeiro será julgado pela Justiça Comum e o outro pela
Justiça Militar.

Em relação à Justiça Militar da União, a situação é diversa.

Ex.: Sd EB e um civil apropriam-se de armamento de um quartel do Exército. Ambos


responderão perante a JMU.

 Coautoria de civil em crime militar próprio na esfera federal:

Tema divergente:

- Célio Lobão: não é possível.


- STF / STM / Jorge C. de Assis: admitem, argumentando que a circunstância de caráter pessoal
(ser militar e superior da vítima) comunica-se com o coautor.

Ex.: militar e civil praticam, em concurso, crime de violência contra superior (art. 157).

E SE FOR NA ESFERA ESTADUAL?

1) Se a conduta praticada pelo civil também for prevista na legislação penal comum, mesmo
que com outra denominação, irá ele responder por esse delito.

Ex.: O Capitão BM A (da ativa) e o civil B agridem o Tenente BM C (da ativa), causando-lhe
lesões físicas; o Oficial Intermediário A irá responder pelo crime militar de violência contra
inferior qualificada (CP, art. 175, par. único), perante a Justiça Militar Estadual; já o civil C
responderá pelo crime de lesão corporal (CP, art. 129), perante a Justiça Comum.

2) Se a conduta praticada pelo civil não estiver prevista na legislação penal comum, mesmo
que com outra denominação, o fato será a típico.

Ex.: o Sd A e o civil B subtraem o carro do Sd C, que estava estacionado na garagem do quartel.


Após passearem pelas ruas de Goiânia, devolvem o carro, em perfeitas condições, no lugar em
que se encontrava; o Sd A responderá pelo crime de furto de uso (art. 241); já o civil B praticou
um fato atípico.

- Agravação da pena:

Art. 53 ...

§ 2° A pena é agravada em relação ao agente que:

I - promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;

II - coage outrem à execução material do crime;

III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível
em virtude de condição ou qualidade pessoal;

IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.

- Participação de menor importância:

Art. 53 ...

§ 3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja participação no crime é de somenos


importância.

A p.m.i. merece um tratamento penal atenuado, uma vez que revela uma culpabilidade menos
expressiva.

No CPM, configurada a p.m.i., a atenuação é obrigatória, diferentemente do CP (art. 29, § 1º)


em que a redução da pena é facultativa. Art. 29, § 1º
Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um
terço.

O concorrente deseja participar de uma determinada operação criminosa durante a qual,


contra a sua vontade ou fora de sua previsibilidade, é produzido um resultado mais grave.

Ex.: A e B combinaram de furtar uma casa que aparentemente encontra-se vazia, B entra na
casa, enquanto A espera no carro para a fuga. Ao invadir a casa B encontra a dona da casa e
decide por conta própria estuprá-la. Logo após o delito, o meliante B encontra A e ambos
fogem com um televisor.

 Tipos de Excesso:

1) Excesso qualitativo: é aquele imprevisível, em que um dos agentes não esperava que o
outro fugisse do que fora anteriormente planejado.

Ex.: “A” e “B” combinam roubar a casa de “C”. “A” (partícipe) fica no carro, esperando,
enquanto “B” (autor) pratica o roubo. Todavia, “B” acaba, também, violentando a filha de “C ”.
Não é normal que o outro agente (B) se exceda tanto na ação criminosa, fugindo totalmente do
que fora anteriormente planejado.

2) Excesso quantitativo: é aquele previsível, sendo um desdobramento normal da conduta do


agente principal.

Ex.: “A” e “B" combinam praticar lesão corporal em “C”. Para tanto, “A” (partícipe) empresta
uma barra de ferro para “B” (autor) desferir os golpes contra a vítima. Porém, “B” se excede e,
além de lesionar “C”, acaba causando a sua morte . É normal se esperar (PREVER) que durante
uma agressão física alguém se exceda e acabe matando o agredido.

A cooperação dolosamente distinta não é tratada pelo Código Penal Militar.

Havendo, assim, hipótese de cooperação dolosamente distinta em um crime militar, deve-se


aplicar o art. 29, § 2º, do Código Penal Comum, que preceitua: Se algum dos concorrentes quis
participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada
até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

- Cabeças:

Art. 53 ...

§ 4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se cabeças os que dirigem,


provocam, instigam ou excitam a ação.

§ 5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais oficiais, são estes considerados
cabeças, assim como os inferiores que exercem função de oficial.

A figura do cabeça, portanto, de acordo com o CPM, aparece em duas situações:

1ª) nos crimes de autoria coletiva necessária, fixando-se naqueles que dirigem a ação, podendo
ser oficiais ou praças;
2ª) em crimes de autoria coletiva eventual, fixando-se nos oficiais, sempre, se delinquirem com
inferiores; ou nestes, quando exercerem função de oficial.

- Casos de Inimputabilidade

Art. 54. O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição em contrário,


não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

Fora as exceções previstas em lei (Ex.: conspiração), se o crime não chega ao menos a ser
tentado, não são puníveis: o ajuste, isto é, o acordo para a prática do crime; a determinação,
impulso para que surja a vontade de se cometer a infração; a instigação, persuasão para a
prática de um crime; e o auxílio, a ajuda material para essa atitude.

Você também pode gostar