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25/02/2019 Quando o civil é julgado pela Justiça Militar?

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Quando o civil é julgado pela Justiça Militar?


Primeiramente, faz-se necessário distinguir o militar estadual, do militar
federal. O primeiro é vinculado às polícias militares e corpo de bombeiros,
órgãos que compõe a segurança pública, nos termos do art. 144, inciso V
da CF/88, já o segundo é integrante das Forças Armadas (Exército,
Marinha e Aeronáutica), ex vi do disposto no art. 142 da CF/88.

Os crimes militares estão definidos no Código Penal Militar e nas Leis


Militares Especiais. Deve-se observar, que por força de disposição
constitucional a Justiça Militar Estadual tem competência apenas e
tão somente para julgar os militares estaduais. Já a Justiça Militar
Federal, julga os militares federais e, em alguns casos, os civis.

Justiça Militar Federal e Estadual possuem organização judiciária


semelhante: a 1 ª instância da Justiça Militar denomina-se
Conselho de Justiça, que tem como sede uma auditoria militar. O
Conselho de Justiça divide-se em Conselho de Justiça Permanente
e Conselho de Justiça Especial. O primeiro destina-se ao
julgamento das praças. O segundo destina-se ao julgamento dos
oficiais. A presidência do Conselho de Justiça é exercida pelo
oficial de mais alta patente.

A 2 ª instância da Justiça Militar Federal é exercida pelo Superior


Tribunal Militar – S.T.M, com sede em Brasília, que possui competência
originária e derivada para processar e julgar todos os recursos
provenientes das auditorias militares distribuídas pelo território brasileiro.

A 2 ª instância da Justiça Militar Estadual nos Estado de São


Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, é exercida pelo Tribunal
de Justiça Militar que possui competência originária e derivada
para processar e julgar os recursos provenientes das auditorias
militares estaduais. Nos demais Estados, a 2 ª instância da
Justiça Militar é exercida por uma Câmara Especializada do
Tribunal de Justiça em atendimento ao Regimento Interno e Lei
de Organização Judiciária.

Os artigos 122 e seguintes da CF/88 definem a competência da justiça


militar, dispondo o art. 124 que: “ a justiça militar compete processar e
julgar osEsse
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O art. 9º do Código Penal Militar define os crimes militares em tempo de
paz e em tempo de guerra da seguinte forma:
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Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

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III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado,


ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso
II, nos seguintes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem


administrativa militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de


atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou
da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,


vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento,
acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar


em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de
vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou
judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em
obediência a determinação legal superior.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos


contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça
comum.

Infere-se do dispositivo supra que a competência da Justiça Militar


estende-se não somente aos militares, como também aos crimes
praticados por civis contra as instituições militares, nos termos do
inciso III do referido artigo.

No art. 125, notadamente nos §4º e §5º, da CF/88 há disposições sobre a


competência da justiça militar estadual:

§4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos


Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a
vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

§5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,


singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência do juiz de direito, processar e julgar os demais
crimes.

Depreende-se dos dispositivos supra que a competência da justiça


militar estadual para processar e julgar os militares estaduais
ficou restrita aos crimes militares cometidos por militares, com
exceção da competência do tribunal do júri quando a vítima for
civil.

Os demais crimes militares praticados contra civis, a competência


será da justiça militar, mas o julgamento não será do Conselho de
Justiça, mas do Juiz de Direito do Juízo Militar, ou seja, em tal
situação não há um julgamento coletivo, mas singular.

Já em relação aos crimes militares praticados por militares federais não


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deve ser aplicada a regra acima mencionada, já que a Constituição
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expressamente se referiu aos militares estaduais no art. 125. Assim, aos
militares federais aplica-se a regra contida no artigo 124 da CF/88, o qual
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dispõe que: “ a justiça militar compete processar e julgar os crimes
militares definidos em lei”. Praticado o crime contra civil ou militar, por
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um militar federal em serviço, a competência será da Justiça Militar da


União.

No entanto, ainda é polêmica a jurisprudência no sentido de fixar a


competência da justiça militar para processar e julgar os crimes militares
praticados por civis contra militares, nos termos do art. 9º, III do Código
Penal Militar.

A interpretação que a jurisprudência do STM vem dando é que o art. 124


da CF/88 que define a competência da Justiça Militar em processar os
crimes militares definidos em lei permite que civis também sejam
julgados pelo Conselho de Justiça, já que o referido dispositivo deixou ao
legislador infraconstitucional a competência de definir quais são os crimes
militares e, como já visto acima, o art. 9º do Código Penal Militar, que
define os crimes militares, inclui, em seu inciso III, a possibilidade de
civis também serem julgados perante a Justiça Militar.

Essa é também a jurisprudência dos Tribunais de Justiça dos Estados que


entendem quando os crimes são praticados contra militares no exercício
da função militar que lhes é própria, o que afasta a discussão sobre as
denominadas atribuições subsidiárias das Forças Armadas, a competência
será da Justiça Militar para processar e julgar a respectiva ação penal,
com exceção daqueles outros de induvidosa competência da Justiça
Federal.

Tal fato, porém, segundo entendimento recente do STF deve ser aplicado
com excepcionalidade e com ponderação, uma vez que deve ser analisado
o objetivo do civil em atingir a instituição militar:

HABEAS CORPUS. CRIMES DE HOMICÍDIO E LESÃO CORPORAL GRAVE


CONTRA MILITAR EM OPERAÇÃO DE TRANSPORTE DE FARDAMENTO DO
EXÉRCITO. COLISÃO DO VEÍCULO DO PACIENTE COM A VIATURA
MILITAR. IMPUTAÇÃO DE DOLO EVENTUAL. AGENTE CIVIL.
INOCORRÊNCIA DE CRIME MILITAR. INTERPRETAÇÃO ESTRITA DA
FUNÇÃO DE NATUREZA MILITAR. EXCEPCIONALIDADE DA JUSTIÇA
CASTRENSE PARA O JULGAMENTO DE CIVIS, EM TEMPO DE PAZ. 1. Ao
contrário do entendimento do Superior Tribunal Militar, é excepcional a
competência da Justiça Castrense para o julgamento de civis, em tempo
de paz. A tipificação da conduta de agente civil como crime militar está a
depender do “intuito de atingir, de qualquer modo, a Força, no sentido de
impedir, frustrar, fazer malograr, desmoralizar ou ofender o militar ou o
evento ou situação em que este esteja empenhado” (CC 7.040, da
relatoria do ministro Carlos Velloso). 2. O cometimento do delito militar
por agente civil em tempo de paz se dá em caráter excepcional. Tal
cometimento se traduz em ofensa àqueles bens jurídicos tipicamente
associados à função de natureza militar: defesa da Pátria, garantia dos
poderes constitucionais, da Lei e da ordem (art. 142 da Constituição
Federal). 3. No caso, a despeito de as vítimas estarem em serviço no
momento da colisão dos veículos, nada há na denúncia que revele a
vontade do paciente de se voltar contra as Forças Armadas, tampouco a
de impedir a continuidade de eventual operação militar ou atividade
genuinamente castrense. 4. Ordem concedida para anular o processo-
crime, inclusive a denúncia.(HC 86216, Relator(a): Min. CARLOS
BRITTO, Primeira Turma, julgado em 19/02/2008, DJe-202 DIVULG 23-
10-2008 PUBLIC 24-10-2008 EMENT VOL-02338-01 PP-00153) .
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Portanto, tratando-se de crime militar praticado por civil deve se
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atentar, para a questão da competência, se havia a intenção do
agente civil em atingir a instituição militar em algumas de suas
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funções constitucionais, caso contrário, o crime terá natureza


comum, atraindo a competência da justiça comum.

Tratando-se de crime contra a vida praticado por civil contra militar em


serviço, nos levaria a uma conclusão de que a competência para o
processamento e julgamento deste crime seria do Tribunal do Júri, uma
vez que há indicação expressa pela Constituição a essa competência. No
entanto, esse não é o entendimento do STM e STF, para os quais,
tratando-se de crime doloso praticado por civil contra a vida de
militar, a competência seria da Justiça Militar, nos termos do art.
124 da CF/88.

Tal fato é corroborado pela ementa do Superior Tribunal Militar a seguir


transcrita:

EMENTA: Habeas Corpus. Prisão preventiva. Excesso de prazo.


Inconstitucionalidade do art. 9º do CPM. Homicídio doloso.
Competência. Falta de amparo legal. Civil e mais dois comparsas,
armados com arma de fogo, entram em vila militar e, de surpresa, atiram
em Soldado da Aeronáutica, em serviço de sentinela, tirando-lhe a vida.
Inconstitucionalidade. Inexistência. Crime praticado por civil contra
militar das Forças Armadas em serviço é da competência da Justiça
Militar da União, conforme preceitua o art. 9º, inciso III, do CPM, lei
autorizada a dispor sobre a matéria. As alterações trazidas pela Lei nº
9.299/96 não atingiram a competência da Justiça Militar da União, nem
poderia, posto que esta é estabelecida pela Constituição Federal (art.
124). Prisão preventiva. Excesso de prazo. Não configura
constrangimento ilegal o excesso de prazo que se baseia na
periculosidade do indivíduo, bem como na conduta dos advogados dos
réus, in casu, responsáveis pelos inúmeros adiamentos de audiências.
Preliminar de incompetência rejeitada. Denegada a ordem. Falta de
amparo legal. Decisão unânime. (Num: 2006.01.034286-9 UF: BA
Decisão: 27/02/2007, Proc: HC – HABEAS CORPUS Cód. 180, Data da
Publicação: 04/04/2007 Vol: Veículo: Min. Relator MARCOS AUGUSTO
LEAL DE AZEVEDO).

O entendimento do Supremo também é nesse sentido:

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR.


PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DOLOSO PRATICADO POR CIVIL
CONTRA A VIDA DE MILITAR DA AERONÁUTICA EM SERVIÇO:
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PARA PROCESSAMENTO E
JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL: ART. 9º, INC. III, ALÍNEA D, DO CÓDIGO
PENAL MILITAR: CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. HABEAS
CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
no sentido de ser constitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida de militar em serviço pela justiça castrense, sem a submissão destes
crimes ao Tribunal do Júri, nos termos do o art. 9º, inc. III, “d”, do
Código Penal Militar. 2. Habeas corpus denegado. (HC 91003, Relator(a):
Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 22/05/2007, DJe-072
DIVULG 02-08-2007 PUBLIC 03-08-2007 DJ 03-08-2007 PP-00087
EMENT VOL-02283-04 PP-00753)

Conclui-se, desse modo, que cabe à Justiça Militar não só julgar crimes
militares praticados por militares, com as exceções previstas na CF/88,
como também os praticados por civis contra as instituições militares,
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inclusive, crimes dolosos contra a vida, excepcionando a regra do Tribunal
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