Você está na página 1de 41

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - EFSd

CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS 2022

DIREITO PENAL MILITAR

NOSSOS SÍMBOLOS, NOSSA HONRA.


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
- Contextualização da aula
- Objetivo geral
- Objetivos específicos

DESENVOLVIMENTO
Unidade 1
Unidade 2
Unidade 3

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO

Contextualização da aula

Conhecer o conceito de crime militar, suas especificidades e a


aplicabilidade no cotidiano policial, especialmente por ser o policial
militar um encarregado de aplicação da lei, fazendo cumprir e sendo
exemplo de profissional que preza pela fiel execução da lei. Entretanto,
apesar de ser o policial militar o braço estatal mais próximo do cidadão,
é dever dele atuar dentro do regramento constitucional, prezando pela
legalidade e legitimidade, minimizando a possibilidade de figurar como
autor de crime militar ou transgressão disciplinar.
Objetivo Geral
Ao final da disciplina, o discente deverá identificar conceitos básicos, institutos jurídicos e
tipos penais mais importantes do Direito Penal Militar, para aplicá-los na atividade policial,
operacionalizando o Direito, voltado à vida prática do policial militar.

Objetivos Específicos
- classificar o aspecto limitador e aplicador da lei penal comum e militar;
- definir quais fatos típicos constituem crime militar;
- identificar um fato social que, sob o aspecto legal, recebe o nome de tipo penal comum
ou militar;
-definir a infração penal militar sob o aspecto das pessoas que podem cometê-la, militar
e/ou civil, bem como, a categoria de militares e pessoas que podem figurar como sujeitos
ativos e passivos no crime militar; diferenciar e identificar as condutas que constituam a
ocorrência de crimes militares, crimes comuns e contravenções penais, visando o melhor
amoldamento do caso à infração penal e a correta adoção das medidas legais cabíveis,
com a respectiva codificação da ocorrência no boletim de ocorrência.
DESENVOLVIMENTO

UNIDADE 1 – CRIME MILITAR

1.1 Conceito e definição;


1.2 Crime militar próprio, impróprio e por extensão;
1.3 Art. 9º do CPM;
1.4 Equiparação a militar da ativa e conceito de superior.
1.1 Conceito e definição

“Crime militar é toda violação acentuada ao dever militar e aos


valores das instituições militares.” (ASSIS, 2009)

PRINCÍPIO DA HIERÁRQUIA E DISCIPLINA


(artigo 42, CRFB/1988) Os membros das
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, instituições organizadas com base
na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
A doutrina estabeleceu 04 critérios para definir crime militar:

EM RAZÃO DA MATÉRIA (ratione materiae) – matéria própria da caserna –


dupla qualidade no ato e no agente: deserção (art. 187);
EM RAZÃO DA PESSOA (ratione personae) – reside da qualidade militar do
agente: abandono de pessoa (art. 212). Para Coimbra Neves, a qualidade de
militar deve residir, também, na vítima, quando podemos citar a letra “a” do inc.
II, do art. 9o do CPM (militar da ativa contra militar da ativa);
EM RAZÃO DO LOCAL (ratione loci) – crime praticado em lugar sujeito à
administração militar, com enquadramento na letra “b”, dos incisos II e III do art.
9º. E, em alguns crimes militares que tem como elementar a exigência do fato
ocorrer em lugar sujeito à administração militar (ex: arts. 156 e 290, caput);
EM RAZÃO DO TEMPO (ratione temporis) – crimes praticados em tempo de
guerra (art. 10), bem como, durante o período de manobras ou exercício etc.
a) Conceito Formal: pode-se dizer que é o ato ilícito violador de
norma penal que é apenado com prisão ou qualquer outra sanção
penal prevista no ordenamento jurídico. É uma conduta ilícita,
contrária à norma penal, sendo a tal conduta imputada uma pena
prevista em lei.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (artigo 5º,


inciso XXXIX - CRFB/1988) - não há crime
sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal.
b) Conceito Material: é a conduta que lesa ou expõe a perigo bens
jurídicos considerados fundamentais para a paz e o convívio social,
ou seja, materialmente pensando, crime é um comportamento que
ofende os bens jurídicos mais relevantes à sociedade.
Percebe-se que os conceitos anteriores não são conflitantes e
possuem sua relevância jurídica. No entanto, não transmitem com
exatidão o que vem a ser crime, tampouco colaboram com sua
aplicação ao caso em concreto. Sendo assim, surge a necessidade
da elaboração do conceito analítico de crime.
Além dos conhecidos conceitos formal (crime é toda a ação ou omissão
proibida por lei, sob ameaça de pena) e material (crime é a ação ou
omissão que contraria os valores ou interesses do corpo social, exigindo
sua proibição com a ameaça de pena), faz-se necessário a adoção de
um conceito analítico de crime. Os conceitos formal e material são
insuficientes para permitir à dogmática penal a realização de uma análise
dos elementos estruturais do conceito de crime.
c) Conceito Analítico: de maneira didática fragmenta os
elementos do crime em tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade
para que suas características sejam estudadas separadamente e
de forma sucessiva, seguindo etapas de avaliação lógica e fixa.
1.2 Crime militar próprio, impróprio e por extensão

Crime comum x crime militar


CRIME COMUM CRIME MILITAR
Os crimes comuns serão Enquanto os crimes militares serão
processados e julgados na justiça processados serão processados e
comum estadual ou federal, julgados pela justiça castrense
conforme o caso em concreto. estadual ou federal.

Muito embora o civil possa cometer crime militar na esfera federal, conforme
previsto no artigo 9º, inciso III, do CPM, deve-se ressaltar que com base no
artigo 125, §4º, da CRFB/88 o mesmo não ocorre na esfera estadual, ou
seja, não há possibilidade de julgamento de civis no âmbito da justiça
militar estadual.
a) Crime Propriamente Militar (ou Crime Militar Próprio): é o
delito que está tipificado exclusivamente no Código Penal Militar e
somente pode ser cometido pelo militar, com exceção do crime de
insubmissão, cujo sujeito ativo somente pode ser o civil.

b) Crime Impropriamente Militar (ou Crime Militar Impróprio): são


aqueles crimes que seja qual for o sujeito ativo está previsto no
Código Penal Militar com igual definição na legislação penal comum.

c) Crime Militar por Extensão (Lei n. 13.491/17): são aqueles


crimes previstos exclusivamente na legislação penal comum, ou
seja, no Código Penal (CP) e na legislação extravagante.
1.3 Art. 9º do CPM
Esse artigo trata do elemento especializador do DPM e possui três
incisos que, em apertada síntese, são estruturados da seguinte
maneira:
a) o inciso I - dedica-se aos casos de crimes propriamente militares
que são aqueles previstos apenas no Código Penal Militar;
b) o inciso II - trata-se dos crimes impropriamente militares e
crimes militares por extensão praticados por militares da ativa;
c) o inciso III - dispõe sobre os crimes propriamente e
impropriamente militares, bem como os militares por extensão,
praticados na esfera estadual por militares da reserva e reformados.
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo


diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o
agente, salvo disposição especial.
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação
penal, quando praticados:

A nova Lei n. 13.491/17 aumentou o rol de crimes militares e igualmente ampliou


a competência da Justiça Militar, trazendo uma nova categoria de crimes
militares. Ao lado da tradicional classificação dos crimes propriamente militares
(aqueles previstos exclusivamente no CPM), contemplada na CF (art. 5º, LXI, in
fine) e dos crimes impropriamente militares (aqueles que possuem igual definição
no Código Penal Comum), a referida Lei agora instituiu os crimes militares por
extensão (aqueles previstos exclusivamente na legislação penal comum, isto é,
no Código Penal e na legislação extravagante c/c o elemento especializador
(alíneas do inciso II, art. 9º CPM).
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra
militar na mesma situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar
sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do
lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o
patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa
militar.
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou
por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais
não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos
seguintes casos:
a) o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em
situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de
Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função
inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,
vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento,
acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra
militar em função de natureza militar, ou no desempenho de
serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública,
administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para
aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.
§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a
vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do
Tribunal do Júri.
§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a
vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil,
serão da competência da Justiça Militar da União.
1.4 Equiparação a militar da ativa e conceito de superior

Equiparação a militar da ativa


Art. 12. O militar da reserva ou reformado,
empregado na administração militar, equipara-se ao
militar em situação de atividade, para o efeito da
aplicação da lei penal militar.

Militar da reserva ou reformado


Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva
as responsabilidades e prerrogativas do posto ou
graduação, para o efeito da aplicação da lei penal
militar, quando pratica ou contra ele é praticado
crime militar.
Conceito de superior
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade
sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se superior,
para efeito da aplicação da lei penal militar.
UNIDADE 2 - EXCLUDENTES DE ILICITUDE E CULPABILIDADE
APLICÁVEIS NO DIREITO PENAL COMUM E
DIREITO PENAL MILITAR
EXCLUDENTES DE ILÍCITUDE

Exclusão de crime (CPM)

Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:


I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.
I- Estado de Necessidade
(CPM adota teoria diferenciadora)

Art. 43. Considera-se em estado de


necessidade quem pratica o fato
para preservar direito seu ou Estado de
alheio, de perigo certo e atual, Necessidade
Justificante (ilicitude)
que não provocou, nem podia de Bem sacrificado é
outro modo evitar, desde que o inferior ao mal
evitado
mal causado, por sua natureza e
importância, é consideravelmente
inferior ao mal evitado, e o agente
não era legalmente obrigado a
arrostar o perigo.
Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito
próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de
parentesco ou afeição, contra perigo certo e atual, que não
provocou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito
alheio, ainda quando superior ao direito protegido, desde que
não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa.

Estado de Necessidade Exculpante (culpabilidade)

Bem sacrificado é igual ou superior ao direito preservado


II- Legítima Defesa

Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando


moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
III- Estrito Cumprimento do Dever Legal

“Ação praticada em cumprimento a um


dever imposto por lei, penal ou extrapenal,
mesmo que cause lesão a bem jurídico de
terceiro” (NUCCI, 2013)

“[...] caso haja o resultado morte


decorrente da atuação policial, haveria
reconhecimento, preenchidos os demais
requisitos, de legítima defesa, já que seria
difícil aceitar a imposição legal do dever
de matar alguém, exceto no exemplo já
mencionado do carrasco.” (NEVES e
STREIFINGER, 2012)
IV- Exercício Regular de Direito
O exercício regular de um direito “compreende
ações do cidadão comum autorizadas pela
existência de direito definido em lei e
condicionadas à regularidade do exercício
desse direito” (NEVES e STREIFINGER, 2012)
Apesar dos ofendículos serem considerados por
alguns como legítima defesa preordenada,
entende-se ser mais adequado o exercício regular
de um direito. Segundo (NEVES e STREIFINGER,
2012) “quando a armadilha entra em ação, não
mais está funcionando o homem, motivo pelo qual
não se pode admitir esteja ocorrendo uma situação
de legítima defesa, mas sim de exercício de direito.
[...] pois não se pode considerar uma reação contra
quem não está agredindo”.
Excesso Culposo
Art. 45. O agente que, em qualquer
dos casos de exclusão de crime,
excede culposamente os limites da
necessidade, responde pelo fato, se
este é punível, a título de culpa.

Excesso Doloso
Art. 46. O juiz pode atenuar a pena
ainda quando punível o fato por
excesso doloso.

Artigo 26, Parágrafo Único, Decreto-Lei n. 2.848/1940 (Código Penal) “O agente,


em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou
culposo.” (BRASIL, 1940)
EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE
(Artigos 38, 39, 40 e 41, CPM)

Art. 38. Não é culpado quem


comete o crime:
Coação irresistível
a) sob coação irresistível ou que lhe
suprima a faculdade de agir
segundo a própria vontade;
Obediência hierárquica
b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárquico, em
matéria de serviços.
§ 1° Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem.
§ 2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato
manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da
execução, é punível também o inferior.
Coação física ou material
Art. 40. Nos crimes em que há violação do dever militar, o agente não pode
invocar coação irresistível senão quando física ou material. (art. 183 a 204
CPM)

Atenuação de pena
Art. 41. Nos casos do art. 38, letras a e b , se era possível resistir à coação, ou
se a ordem não era manifestamente ilegal; ou, no caso do art. 39, se era
razoavelmente exigível o sacrifício do direito ameaçado, o juiz, tendo em vista
as condições pessoais do réu, pode atenuar a pena.
Elementos não Constitutivos do
Crime (art. 47, CPM)

Art. 47. Deixam de ser elementos


constitutivos do crime:

I - a qualidade de superior ou a de
inferior, quando não conhecida do
agente;
II - a qualidade de superior ou a de
inferior, a de oficial de dia, de serviço
ou de quarto, ou a de sentinela, vigia,
ou plantão, quando a ação é praticada
em repulsa a agressão.
OBRIGADO.

Você também pode gostar