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FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL MILITAR

Curso de Formação de Soldados – CFSD/2023

POLÍCIA MILITAR DO PIAUÍ


DIRETORIA DE ENSINO, INSTRUÇÃO E PESQUISA
CENTRO DE EDUCAÇÃO, FORM. E APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – CFSD

FUNDAMENTOS
DE
DIREITO PENAL MILITAR

CONTEUDISTA / INSTRUTOR: MAJ PM JANSEN CERQUEIRA DE FARIAS

INSTRUTORES: CAPITAL e INTERIOR a cargo do CEFAP

“Os direitos garantidos pela justiça não são sujeitos à negociação


política e nem aos cálculos em nome dos interesses sociais; a
verdade e a justiça, virtudes primeiras do comportamento
humano, não podem sofrer nenhuma forma de compromisso”.

J. Hawls

TERESINA - PI
OUT- 2023
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Curso de Formação de Soldados – CFSD/2023

FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL MILITAR

NOÇÕES PRELIMINARES

O Direito Penal Militar como espécie do direito penal, embora não estudado nos cursos
regulares das faculdades jurídicas pátrias, é norteado por legislação própria, e motivo da existência da
própria justiça militar, nos âmbitos federal e estadual (ou distrital), nos termos da nossa Carta Magna,
tendo por objetivo principal tutelar os bens, dentre eles a hierarquia e disciplina militares, pilares da
manutenção e existência das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) e das forças militares
estaduais e do Distrito Federal (Corpos de Bombeiros e Polícias Militares).
Por mandamento constitucional, o Direito Penal Militar, está intrínseco, no dia a dia do
bombeiro e do policial militar do Estado do Piauí, norteando a sua forma de agir, interna e externa
corporis em suas ações ou omissões, em razão da sua simples condição de militar (estadual) ou mesmo
em detrimento do serviço ou da função que estiver realizando em nome da Instituição Militar a qual
pertence, sendo de suma importância, de forma a conceder o subsídio necessário para sua materialização
por meio da lei processual penal castrense, através da ação penal e dos atos de polícia judiciária militar
que a antecedem, a ser realizada, esta última, por parte dos seus oficiais e graduados.
Buscamos por meio de seus conceitos, princípios e fontes e por meio da explanação de
exemplos práticos de seus principais delitos apreciados pelo Direito Penal castrense (militar), entender
sobre as circunstâncias e critérios determinantes do seu cometimento e suas consequências, com as
inovações da Lei nº 13.491, de 13/10/2017, e com as recentes e significativas alterações no Código Penal
Militar (CPM) proporcionadas pela Lei nº 14.688, de 20/09/2023, visando de forma especial a proteção
dos bens jurídicos também tutelados pelo direito penal militar, como a vida, a integridade física, a honra,
além da própria a hierarquia e a disciplina, pilares da existência e regularidade das Instituições Militares,
fundamentais para a atividade militar, sem, é claro, deixar de se observar o respeito e preservação dos
Direitos Humanos.

UNIDADE I – DIREITO PENAL MILITAR

1.1. DIREITO PENAL MILITAR SUBSTANTIVO E ADJETIVO

As normas penais militares, tais quais as do Direito Penal comum, são divididas em
substantivas (ou materiais) previstas no Código Penal Militar - CPM (Dec. nº 1001/69) que se
caracterizam pela previsão do fato típico codificada. Já as normas adjetivas (ou formais) previstas no
Código de Processo Penal Militar - CPPM (Dec. nº 1002/69) são as que regulam de modo geral o
processo, ou seja, seu início, desenvolvimento e encerramento.
A normas substantivas, em regra, no Direito Penal Militar, objeto da nossa disciplina estão
definidas no Código Penal Militar (CPM).

1.2. O BEM JURÍDICO NO DIREITO PENAL MILITAR

Bem jurídico no Direito Penal é tudo o que se apresenta com digno, útil, necessário e
valioso, selecionado para ser protegido por esse Direito, carecendo de uma intervenção grave, como
último recurso (ultima ratio) na proteção de sua dignidade penal ante à ofensividade da conduta delituosa.
As Instituições Militares, Forças Armadas, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
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Militares, têm missões Constitucionais de suma importância na preservação das liberdades públicas,
porquanto a elas a proteção de seus bens jurídicos - a defesa da Pátria, a garantia dos poderes
constitucionais, da lei e da ordem, o policiamento ostensivo preventivo, a preservação da ordem pública e
as atividades da defesa civil. É inadmissível, por exemplo, que o responsável pela preservação da ordem
pública, e obviamente pela sua própria natureza constitucional, não atente cuidadosamente também, para
a manutenção da hierarquia e da disciplina na Instituição Militar. Temos que o desrespeito a um superior
praticado por um integrante de uma Força militar, importa em desestabilização da regularidade do
desempenho de sua missão constitucional, visto que a ausência dessa tutela poderia levar a uma
indisciplina generalizada dessa Força.
Da mesma forma, que uma lesão corporal ou a prática de um crime ambiental no exercício
da função, praticados por um policial militar em serviço, representará afronta à regularidade da própria
Instituição, porquanto, como Estado que compõe, não poderia turbar injustamente um direito fundamental
ou mesmo difuso, senão protege-lo, buscando-se, portanto, neste caso, proteger o pleno exercício dos
desses direitos pela necessária regularidade da Instituição Militar.

1.3. CARÁTER ESPECIAL DO DIREITO PENAL MILITAR

A especialidade do Direito Penal castrense evidencia-se pelo órgão especial que o


aplica: as Justiças Militares (da União e as Estaduais e do Distrito Federal), distinguindo-se do Direito
Penal comum, uma vez que só pode ser assinalada tendo em vista o órgão encarregado de aplicar o
Direito objetivo comum ou especial, na forma do que dispõe os arts. 124 e 125, §4º, da CF/88, que
definem a competência dessas Justiças Militares.
É de se perceber que o Direito Penal Militar, direito especial que é, não constitui uma
exceção, mas sim uma especificação, um complemento do direito penal, representando um corpo
autônomo de princípios, com diretivas próprias. No Direito Penal Militar a lei militar, algumas vezes, se
apresenta de forma mais rígida que a legislação comum.
A título exemplificativo, temos, em regra, que os crimes militares são de ação penal
pública incondicionada, à exceção dos crimes contra a segurança externa do país (artigos 136 a 148, do
Código Penal Militar) que são crimes de ação pública condicionada à representação.

1.4. CONCEITO DE DIREITO PENAL MILITAR

Nas palavras do eminente Cícero Robson Coimbra Neves o Direito Penal Militar consiste
no “conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações penais, com suas
consequências medidas coercitivamente em face da violação, e ainda, pela garantia dos bens
juridicamente tutelados, mormente a regularidade de ação das forças militares, visando proteger a
ordem jurídica militar, fomentando o salutar desenvolver das missões precípuas atribuídas às Forças
Armadas e às Forças Auxiliares”.

1.5. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL MILITAR

Os princípios aplicados ao Direito Penal Militar são proposições que alicerçam o próprio
sistema penal, constituindo verdadeiras garantias de limitar o exercício do jus puniendi, do Estado
Juiz. Tendo na própria Carta Magna, norma guia de todo ordenamento, de forma implícita ou explícita.

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1.5.1. Princípio da legalidade

No Direito Público, o princípio da legalidade ou da reserva legal, da mesma forma que


no Direito Penal comum é aplicado também no Direito Penal Militar, constituindo nas lições de
Bitencourt “uma verdadeira limitação do poder punitivo estatal”, pela fórmula nullum crimen, nulla
poena sine lege, ou seja, não se distingue do princípio da anterioridade, podendo ambos estarem
condensados no disposto no inciso XXXIX, do art. 5º, da Lex Mater, transcrito no art. 1º, do CPM.
Este princípio também se desdobra em três postulados – reserva legal, taxatividade e
irretroatividade.
Temos que na Reserva legal, o fato só é punível se tiver na Lei, na Taxatividade exigi-se
uma técnica especial do legislador ao consagrar as técnicas penais por meio de tipos abstratos dotados de
clareza, certeza e precisão, evitando-se palavras ambíguas e vagas. Já a Irretroatividade complementa a
reserva legal ao exigir atualidade da lei.

1.5.2. Princípio da intervenção mínima

A legalidade, de fato, limita o jus puniendi, no entanto, não afasta a possibilidade de


cominações penais absurdas e desnecessárias. Pelo princípio da intervenção mínima é preciso um
outro norte a limitar o poder de punir. Deve -se buscar o minimalismo no momento da criminalização
da pena na seara castrense, requerendo-se um maior cuidado, tendo-se em conta o bem jurídico militar.
Para tanto temos o Direito Administrativo Disciplinar (Militar) sem dúvida, como
mecanismo suficiente para resolver boa parte destas condutas lesivas e indisciplinadas de forma
minimalista e alternativa à aplicação da lei Penal castrense, na forma do que dispõem os Estatutos e
Códigos de Ética e Disciplina Militares (Ex. Lei Estadual nº 3.808/1981 e a Lei Estadual nº 7.725/2022,
de 17/01/2022, que dispõe sobre o Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado do Piauí -
CEDME/PI).

1.5.3. Princípio da insignificância

O princípio da insignificância é aplicável, quase que exclusivamente, apenas ao Direito


Penal comum, como desdobramento do princípio da intervenção mínima.
Por este princípio, nem toda conduta é dotada da lesividade necessária, para merecer a
reprimenda penal. Nullum crimen sine iniuria, ou seja, “não há crime sem que haja o dano, ao bem
jurídico, digno de grave reprovação”.
Este princípio é pouco ou raramente seguido no âmbito do Direito Penal Militar, sendo
adotado excepcionalmente e, em observância ao critério racione legis, para casos específicos previstos
no próprio Código Penal Militar, cabendo ao Juiz invocar subsidiariamente e sem discricionarismos a
bagatela, em que citamos como exemplo na figura do crime de lesão corporal levíssima (art. 209, §6º, do
CPM) em que o Magistrado poderá considerar a conduta como infração disciplinar, pugnando
subsidiariamente pela adoção de sanção administrativa à luz da norma disciplinar castrense.

1.5.4. Princípio da culpabilidade

O princípio da culpabilidade, aplicado ao Direito Público, também sem precisa previsão


constitucional, é adotado tanto no Direito Administrativo Disciplinar, como no Direito Penal comum e no
Direito Penal Militar, em que ninguém pode sofrer reprimenda penal ou administrativa se não
houver atuado com culpa ou dolo.
A culpabilidade como medida da reprimenda penal é que orienta a dosimetria da
pena, inferindo uma medida retributiva justa ao delito.

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1.5.5. Princípio da humanidade

Pelo princípio da humanidade, o direito público em especial não pode vilipendiar a


esfera da dignidade humana, em seus mais diversos aspectos. O direito penal por este princípio deve ser
usado em favor do homem, não turbando suas liberdades. É possível, portanto, reconhecer neste
princípio todos os demais, uma vez que se buscarão limites para a atuação estatal.

1.6. RELAÇÃO DO DIREITO PENAL MILITAR COM OUTRAS CIÊNCIAS E OUTROS


RAMOS DO DIREITO

Da mesma forma, que o Direito Penal comum, o Direito Penal Militar sofre a
interferência de várias ciências afins e auxiliares todas a contribuir para um sistema penal repressivo
eficaz e ao mesmo tempo humano. Para tanto temos com a:

1.6.1. Medicina Legal

Auxilia tanto o Direito Penal comum como o Direito Penal Militar, ao colaborar na
elaboração da Lei e na sua correta aplicação adjetiva, colaborando para a definição de autoria e
materialidade, ou seja, com base em prova eminentemente técnica médico-legal (laudo pericial de
exame).

1.6.2. Criminalística

Compõe um grupo de outras ciências na investigação criminal, sendo conhecida também


como Polícia Científica, atuando como meio auxiliar do Direito Penal comum e do Direito Penal Militar,
colaborando para a definição de autoria e materialidade pela constatação e colheita de provas –
manchas, impressões digitais e palmares, pegadas, DNA, etc, com a emissão de respectivos laudos
periciais.

1.6.3. Psiquiatria Forense

Igualmente auxiliar do Direito Penal comum e do Direito Penal Militar, a questão principal
a se analisar pela Psiquiatria Forense é a imputabilidade, ao avaliar a capacidade de entendimento
do fato delituoso pelo criminoso, contribuindo, assim, para sua responsabilização e para a prescrição
de tratamento psíquico, aplicação de pena ou mesmo medida de segurança.

1.6.4. Ciências criminais

O Direito Penal comum e o Direito Penal castrense estão intimamente vinculados às


chamadas ciências criminais como a sociologia criminal, a biologia criminal e, principalmente a
criminologia, esta ultima a ciência definida como um conjunto de conhecimentos que estudam os
fenômenos e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente e a sua conduta delituosa e
a maneira de ressocializá-lo.
Iniciada por Lombroso com a sua análise física do delinquente, hoje temos a criminologia
crítica, com o estudo técnico do criminoso e seu comportamento.

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1.6.5. Filosofia do Direito

Como todos os demais ramos das ciências jurídicas o Direito Penal Militar relaciona-se
com a Filosofia do Direito, ciência jurídica fundamental ao lado da Teoria Geral do Direito e da
Sociologia Jurídica, na investigação dos princípios lógicos e formulação de conceitos indispensáveis à
elaboração da lei penal (militar).
São exemplos clássicos da utilização da Filosofia do Direito, a influência de seus
postulados nas questões afetas à elaboração e aperfeiçoamento das leis, delineação dos limites da
intervenção penal e de sua finalidade.

1.6.6. Sociologia Jurídica

Também de grande importância para o Direito Penal Militar, pois estuda o crime como
fenômeno jurídico, como um fato social e seus fatores como fruto do convívio social, como fenômeno
integrante do próprio desenvolvimento da Humanidade. Temos por exemplo o homicídio como fato social
a partir do momento em que um indivíduo mata o seu semelhante.

1.6.7. Direito Constitucional

O Direito Penal Militar ao se relacionar com outros ramos do Direito se insere em todo o
ordenamento jurídico. O Direito Penal castrense tem sua existência a partir da matriz constitucional
como ciência autônoma em especial em razão, principalmente do que consignam os arts 122, 123,
124, 125 §4º, da CF.
Outro meio de se interpretar a norma penal militar na dogmática constitucional, se
evidencia, por exemplo, na previsão da existência dos crimes propriamente militares, consoante
disposto no art. 5º, LXI; bem como nos conceitos de militar, também previstos nos arts. 42 e 142,
§3º, dessa nossa Carta Maior; e na identificação do bem jurídico-penal militar com base na missão
precípua das organizações militares (arts. 142 e 144, da CF).

1.6.8. Direito Administrativo

O Direito Penal Militar encontra no Direito Administrativo uma complementariedade


inquestionável, na medida em que várias disposições penais dependem da interpretação dada pelo Direito
Administrativo.
São exemplos dessa complementação a compreensão de militar da reserva, reformado,
incorporado - condição exigida, nos termos do art. 22, do CPM, para que esteja o militar das Forças
Armadas na ativa, bem como o conceito de superior hierárquico implicitamente evidenciado no art. 24, do
CPM, conceitos estes, por exemplo, melhor especificados nos Estatutos Militares e legislações afins.

1.6.9. Direito Administrativo Disciplinar

O Direito Administrativo Disciplinar é um ramo autônomo do Direito, em razão de estar


vinculado a postulados de princípios próprios.
O Direito Administrativo Disciplinar (Militar) se relaciona com o Direito Penal Militar
de forma intensa, justamente por ter na hierarquia e disciplina a base de toda a estrutura jurídica
construída, de sorte que se pode afirmar que nem todo ilícito castrense se configura como delito
militar, porém todo delito, reclama, residualmente, a existência de uma transgressão disciplinar.
Em uma esfera circular, tratamos das responsabilidades penal-militar e disciplinar militar,
estando a esfera penal mais ao centro.

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Como dito anteriormente, temos a possibilidade de localizarmos alguns numerus clausus,


como circunstâncias em que o legislador, norteado pelo princípio da intervenção mínima, entendendo o
Direito Penal Militar subsidiário àquela, no como caso citado da lesão corporal (levíssima) que pode ser
classificada de crime militar para transgressão disciplinar, nos termos do §6º, do art. 209, do CPM.

1.7. FONTES DO DIREITO PENAL MILITAR

1.7.1. Fonte imediata

A fonte imediata do Direito Penal Militar é a Lei Penal Militar como sendo o Código
Penal Militar - CPM (Decreto-Lei nº 1.001, de 21/10/69), esta sendo, considerada Lei ordinária, com
base na teoria da recepção, nos termos do inciso I, do art. 22, da CF, cabendo somente à União legislar
sobre a matéria.

1.7.2. Fontes mediatas

São fontes mediatas (ou secundárias) do Direito Penal Militar, consoante previsão
subsidiária da lei adjetiva castrense (Código de Processo Penal Militar), em seu art. 3º, a jurisprudência,
os princípios gerais do direito, os usos e costumes militares e a analogia.
A jurisprudência se caracteriza pela decisão reiterada de juízos e tribunais.
Os princípios gerais do direito visam a correta aplicação do direito (penal comum e
militar) dentro da legalidade, como meio de controle do poder de punir do Estado, sem deixar de observar
a dignidade da pessoa humana.
Os usos e costumes militares, por exemplo, se caracterizam pela repetição contínua de um
comportamento de caráter geral (militar) respaldado pelo convencimento jurídico da sua necessidade.
A analogia, a exemplo do que ocorre no Direito Penal comum, é aplicada no Direito Penal
castrense sempre in bona partem, ou seja, nunca por analogia uma outra norma penal (militar ou não)
poderá ser aplicada no intuito de prejudicar o seu infrator.
A doutrina, também é uma fonte mediata do Direito Penal Militar, por tratar-se de um
conjunto de princípios, ideias e ensinamentos de autores, juristas ou não que, no caso, servem de base
para o Direito Penal castrense, influenciando e fundamentando as decisões judiciais. É fonte do direito,
utilizada também para a interpretação das leis, fixando as diretrizes gerais das normas jurídicas.

1.8. LEI PENAL MILITAR NO TEMPO

A aplicação da lei penal militar no tempo é tratada pelo Direito Penal Militar
material e não processual, entrando em vigor desde logo, aplicando-se aos processos pendentes, sem
prejuízo da validade do realizado na vigência da Lei anterior (art. 5º, do CPPM).
No entanto há casos em que a lei penal militar pode alcançar fatos pretéritos, e, nesse
aspecto, em nada ou pouco divergem a lei penal militar e a lei penal comum.

1.9. TEMPO DO CRIME MILITAR

Para tanto vejamos o art. 5º, do CPM, cujo texto é semelhante ao do art. 4º, do CP comum:
“Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do
resultado”.

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O Código Penal Militar adotou, destarte, a teoria da ação ou da atividade, ou seja, o


momento da conduta (ação ou omissão) será considerado o da prática do crime.

1.9.1. Irretroatividade da lex gravior

A lex gravior (lei mais gravosa) não retroagirá, ou seja, tanto a lei que incrimina a
conduta quanto aquela que agrava as consequências do delito, não poderá retroagir em desfavor do
delinquente.

1.9.2. Abolitio criminis (supressão de incriminação)

Ocorre o abolitio criminis quando a lei mais nova excluir da órbita penal um fato
considerado crime pela legislação anterior. Trata-se de uma hipótese de descriminalização.
Prevê expressamente o caput do art. 2º do CPM que “ninguém pode ser punido por fato
que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória”.
A hipótese se configura causa de extinção da punibilidade, nos termos do inciso III, do
seu art. 123, reconhecida em qualquer tempo, ou seja, antes ou durante o processo, após a sentença
condenatória irrecorrível e na fase de execução da sentença.

1.9.3. Lex mitior ou lex mellius.

Decorrente dos preceitos fundamentais da nossa Carta Maior, aqui tratados, tem-se como
exceção à irretroatividade a retroação da lei mais benigna (lex mitior ou lex mellius), ou seja, no
sistema constitucional, houve a recepção contida no §1º, do art. 2º, do CPM: “A lei posterior que, de
qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo
sentença condenatória irrecorrível”.
E suma, deverá prevalecer, no conflito temporal, a lei mais benigna, seja ela anterior,
havendo ultratividade, sendo ela posterior haverá a retroatividade.
No entendimento de Fernando Galvão, nos casos em que a descrição típica do novo crime
militar (por extensão) apresentar alguma inovação em relação ao crime já previsto no Código Penal
Militar, deve-se reconhecer que a previsão legal para o crime militar mais novo revoga a previsão
mais antiga constante no CPM, a saber quanto ao crime de tráfico, posse ou uso de entorpecente ou
substância de efeito similar, previsto no art. 290, do CPM, cabendo, segundo ele, na observância da Lei
13.491/2017, a aplicação do disposto nos arts. 28 ou 35, da Lei nº 11.343/2006 (Lei Anti-Drogas) em vez
do mencionado artigo do CPM.
Entretanto, o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (1) –
Decreto-Lei 4.657/42 dispõe que a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.
Nesse compasso, discordamos do digno doutrinador, pois também outrora a aplicação do
art. 290, do CPM só ocorresse (para quaisquer de seus núcleos delitivos) caso cometido(s) em lugar
sob administração militar, com a inclusão dos §§3º, 4º e 5º no art. 290 do CPM, pela Lei nº
14.688/2023, claro é o espectro de aplicação do disposto no art. 290, também se esse crime ocorrer
quando o militar, observado os §§1º e 3º se apresentar-se para o serviço, em lugar não sujeito à
administração militar sob o efeito de substância entorpecente, tendo a mencionada Lei agravado a
pena para reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos, na incidência de tráfico de drogas.

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1.10. MEDIDAS DE SEGURANÇA

Dispõe o art. 3º, do CPM: “As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo
da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução”. São aplicadas
alternativamente às penas de prisão ou detenção, previstas no CPM (art. 55) aos penalmente
considerados inimputáveis.

1.11. NORMA PENAL EM BRANCO

Considera-se norma penal em branco, ou cega, aquela que define um delito com o auxílio
de outras normas legais (penais ou não) para a sua exatidão.
Temos como exemplo clássico, o crime militar de Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou
substância de efeito similar (art. 290, do CPM), para cuja exata definição é mister lançar mão de uma
regulamentação administrativa (P.Ex. Portaria da ANVISA ou Resolução do Ministério da Saúde) ao
enumerar quais substâncias possuem o rótulo de entorpecentes. Temos como outro exemplo o crime
de Inobservância de lei, regulamento ou instrução (art. 324, do CPM) que carece para sua
aplicação da complementação por outras normas sejam penais (lei das contravenções penais),
administrativas ou mesmo disciplinares, a exemplo do Código de Ética e Disciplina dos Militares do
Estado do Piauí (Lei nº 7.725/2022- CEDME/PI).

1.12. LEI EXCEPCIONAL OU LEI TEMPORÁRIA

A lei Excepcional é criada para vigorar sob determinadas condições excepcionais


(calamidade, guerra, eleições, etc). Sua vigência se dá, apenas, no período de tais condições, ou seja,
fora dos períodos “normais”. A lei Temporária, é aquela que já “nasce” sabendo quando vai “morrer”.
É certa a data do seu término.
Dispõe o art. 4º, do CPM: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de
sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinam, aplica-se ao fato praticado durante sua
vigência”. Temos como um primeiro exemplo de lei Excepcional o próprio Código Penal Militar (Dec-
Lei nº 1001/69), apenas no que se refere aos dispositivos aplicáveis em tempo de guerra, um outro
exemplo seria a Lei nº 4.737, de 15/07/65 (Código Eleitoral). Já como exemplo de lei Temporária
temos a Lei nº 12.663, de 05/06/2012 (chamada popularmente de a Lei da Copa), e como um outro
exemplo do que deveria ter sido temporária, temos a Lei nº 13.491/2017, esta que não foi como
veremos em seguida.
Temos como outro exemplo a proposta inicial da própria Lei nº 13.491, que alterou o art. 9º
do Código Penal Militar, a qual era para ser uma lei temporária, em vigor apenas durante o pronto
emprego da Forças Armadas no serviço de Garantida Lei da Ordem (GLO) durante os Jogos Olímpicos do
Rio de Janeiro, mas que por questões relacionadas à Política Nacional de Segurança Pública, ante ao
contexto do crescente aumento do crime organizado naquele Estado da Federação, ganhou permanência
sancionada pelo ex-Presidente Michel Temer em meados de outubro do ano de 2017, vigorando até os
dias atuais.

1.13. LEI PENAL MILITAR NO ESPAÇO

O Direito Penal Militar tomou por regra a territorialidade ao mesmo tempo que a
extraterritorialidade, nos termos do art. 7º, do CPM, que sacramenta in verbis: “Aplica-se a lei penal
militar sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no
todo ou em parte, no território nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo
processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira”.
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Um exemplo interessante que temos é o policial militar efetivo, integrante de contingente


brasileiro em missão de paz no exterior, estando incorporado como efetivo de força auxiliar do Exército
Brasileiro (art. 144, §6º da CF), está, portanto, inserido no conceito de militar do art. 22, do CPM, sujeito
ao foro militar, nos termos do art. 82, §1º, “d”, do CPPM, por estar sob um comando central daquela
Força Terrestre, até mesmo se estiver responsável pela condução e a seleção de militares dos Estados para
a referida missão.
Temos também por analogia uma espécie de aplicação de Lei Penal no Espaço para os
crimes militares também cometidos por militares estaduais dentro do próprio território brasileiro,
porém, em unidades da federação diversa da sua unidade de origem, onde preleciona o iminente
Célio Lobão Ferreira, que “qualquer crime militar cometido pelo policial militar em território de
unidade federativa que não aquela à qual pertence sua corporação a jurisprudência prevalente dos
tribunais tem considerado competente a Justiça Militar do Estado de origem do militar”, senão vejamos
o constante na Súmula nº 78, do STJ: "Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de
corporação estadual, ainda que o crime tenha sido praticado em outra unidade federativa".
(INFLUÊNCIA DA DOUTRINA QUE EXURGIU NA CITADA JURISPRUDÊNCIA)

1.14. LUGAR DO CRIME MILITAR

Dispõe o art. 6º, do CPM: “Considera-se praticado o fato, no lugar em que se


desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação, bem
como onde se produziu o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em
que deveria realizar-se a ação omitida”.
O Código Penal Militar, ante a previsão acima, adotou também a teoria da ubiquidade,
segundo a qual se considera local do crime, tanto o lugar onde se deu a ação ou omissão como o sítio
em que o resultado ocorreu ou deveria ocorrer.

1.15. DISTINÇÃO ENTRE DIREITO PENAL MILITAR E DIREITO PENAL COMUM

Direito Penal Militar é o ramo do Direito Penal que conceitua os crimes militares,
atribuindo-lhes penas e medidas de segurança respectivas. Enquanto que as normas de Direito Penal
comum (Código Penal e outras normas penais) são destinadas a todos os cidadãos, sem distinção, as
de direito penal militar, por terem caráter especial, aplicam-se, quase que exclusivamente (salvo
algumas exceções, como os casos em que o civil comete crime militar) aos militares integrantes das
Forças Armadas, das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos Estados e do Distrito
Federal.
Entre as causas de extinção de punibilidade como as previstas no art. 107, VI, do CP, no
Código Penal Militar, em regra, não existe a retratação do agente, como pois, tratam-se os crimes
militares de crimes de ação pública incondicionada.
Outra diferença interessante do Direito Penal comum para o Direito Penal Militar é que
neste último, em regra, não existe a possibilidade do sursis etário nem do sursis humanitário ou
profilático do art. 77, §2º, do CP, a não ser que daqui para frente, possa ser aplicado para os crimes
militares por extensão, ou seja, os crimes comuns militarizados por sua circunstância de cometimento,
na forma do inciso II, 2ª parte, do art. 9º do CPM.

A título exemplificativo, também, temos ao contrário do Direito Penal comum, no Direito


Penal Militar, a não aplicação da pena de multa, a não fixação de fiança, bem como a não aplicação de
medidas previstas pela Lei nº 9.099/95, para crimes militares, consoante dispõe o art. 90-A desta mesma

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lei, ou, como dito anteriormente, o fato do direito militar só prever, em regra, que os crimes militares
são de ação penal pública incondicionada.

1.16. AS PENAS NO DIREITO PENAL MILITAR

As penas previstas no Código Penal Militar, estão nas alíneas do art. 55 são: a) Morte; b)
Reclusão; c) Detenção; d) Prisão; e e) Impedimento.
Foram revogadas pela Lei nº 14.688/2023 as penas de suspensão do exercício do posto,
graduação, cargo ou função (alínea “f” e art. 64) e de reforma (alínea “g” e art. 65).
A forma de cumprimento das penas e demais disposições, estão previstas no art. 56 e ss do
CPM.
No Código Penal Militar, no concurso de crimes, a regra é a do cúmulo material
(somam-se as penas), cujas penas sejam da mesma espécie. Caso as espécies de pena sejam diversas
aplica-se a exasperação (a pena do crime mais grave).
Inobstante o disposto pela Lei nº 13.491/2017, temos no Direito Penal Militar a
inaplicabilidade da suspensão condicional do processo, da transação penal e de outras respetivas
medidas previstas na Lei nº 9.099/95, para os crimes militares apenados com menos de 02(dois) anos de
detenção ou reclusão ex vi art. 90-A da referida lei.
No Código Penal Militar, temos como penas principais além da reclusão as penas
acessórias (art. 99 a 106), específicas do Direito Penal Militar, como a perda do posto e da patente
(art. 99), incompatibilidade com o oficialato (art. 101), para alguns doutrinadores, considerado
inconstitucional) e algumas previstas no próprio Código Penal comum, como a pena de perda de cargo,
função pública ou mandato eletivo (art. 92, I, CP, no Título V, Capitulo VI- Dos efeitos da
condenação), constando de forma desmembrada no CPM (no Título V, Capitulo V- Das penas
acessórias), nos arts 103 (Perda da função pública) e art. 106 (Suspensão dos direitos políticos).

1.17. A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NO DIREITO PENAL MILITAR

Não muito diferente do que ocorre no Direito Penal comum, na forma do disposto no art.
107, do CP, no Direito Penal Militar temos como causas extintivas da punibilidade, de acordo com as
alíneas do art. 123, do CPM (caput revogado pela Lei nº 14.688/2023): I) pela morte do agente, II) pela
anistia, graça ou indulto; III) pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como
criminoso; IV) pela prescrição; VI) pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º)
e VII) pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei (alínea acrescida pela Lei nº 14.688/2023).
Fora revogada pela Lei nº 14.688/2023, juntamente com o caput do art. 123, a alínea V)
que trata da reabilitação.
No Direito Penal Militar, não temos do art. 107, do CP, o instituto da retratação do
agente, por serem em regra, os crimes militares de ação penal pública incondicionada.

1.17.1. Espécies de prescrição (arts. 124 a 133, do CPM), com as alterações da Lei nº 14.688/2023

A prescrição refere-se à pretensão punitiva ou executória (art. 124, do CPM, nova


redação dada pela Lei nº 14.688/2023).
A prescrição da pretensão punitiva (de acordo com o art. 125, do CPM) salvo o disposto
no §1º deste artigo, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se:
I) em 30(trinta) anos, se a pena é de morte;
II) em 20(vinte) anos, se o máximo da pena é superior a 12(doze);

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III) em 16(dezesseis) anos, se o máximo da pena é superior a 08(oito) e não excede a 12


(doze);
IV) em 12(doze) anos, se o máximo da pena é superior a 04(quatro) e não excede a
08(oito);
V) em 08(oito) anos, se o máximo da pena é superior a 02(dois) e não excede a 04(quatro);
VI) em 04(quatro) anos, se o máximo da pena é igual a 01(um) ano ou, sendo superior, não
excede a 02(dois);
VII) em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano (alínea acrescida pela
Lei nº 14.688/2023).

1.17.2. A Reabilitação (arts. 134 e 135, do CPM)

A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por sentença definitiva.


Poderá ser requerida decorridos cinco anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a
pena principal ou terminar a execução desta ou da medida de segurança aplicada em substituição ou do
dia em que terminar o prazo da suspensão condicional da pena ou do livramento condicional, desde que o
condenado: a) tenha tido domicílio no País, no prazo acima referido; b) tenha dado, durante esse tempo,
demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; c) tenha ressarcido o dano
causado pelo crime ou demonstre absoluta impossibilidade de o fazer até o dia do pedido, ou exiba
documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida.
A reabilitação não pode ser concedida: a) em favor dos que foram reconhecidos perigosos,
salvo prova cabal em contrário; b) em relação aos atingidos pelas penas acessórias do art. 98, inciso VII,
se o crime for de natureza sexual em detrimento de filho, tutelado ou curatelado.

UNIDADE II – OUTROS CONCEITOS NO DIREITO PENAL MILITAR

2.1. CONCEITO DE MILITAR

 Sobre os membros das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) assim


dispõe §3º, do art. 142, da CF:

Art. 142 ...

§3º. Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes


além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: ...

De acordo com o art. 22 do CPM (alterado pela Lei nº 14.688/2023):

Art. 22. É militar, para o efeito da aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada a instituições militares ou nelas
matriculada, para servir em posto ou em graduação ou em regime de sujeição à disciplina
militar.
Ex1.: Atletas (civis) incorporados ás Forças Armadas que representaram o Brasil nas
últimas Olimpíadas. Ex2.: Militares da PM e do BM incorporados ao Exército Brasileiro
em missão de paz da ONU. Ex2.: Alunos (oriundos) do meio civil matriculados nos cursos
de formação militares (Alunos do CFSD, Cadetes do CFO, Cadetes da AMAN, Alunos do

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EAO de Saúde).

Temos aqui diferentes conceitos constitucionais, de militares (Militares das FFAA X


Militares Estaduais), para fins de aplicação da Lei Penal Militar, ressalvando eventuais casos de
aplicação da hipótese do art. 144, §6º, da CF, no caso em que o efetivo (integrantes) das Forças
Militares Estaduais, se incorporará ao Efetivo do Exército Brasileiro, conservando seus postos e
graduações.

Sobre os integrantes das Polícias e Corpos de Bombeiros Militares, assim dispõe o art. 42,
da CF:

Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.

Também a Lei Estadual nº 3.808, de 16/07/81 (Estatuto dos Policiais Militares do


Estado do Piauí) em seu art. 3º, assim dispõe:

Art. 3º - Os integrantes da Polícia Militar, em razão da destinação constitucional da


Corporação e em decorrência das Leis vigentes, constituem uma categoria especial dos
servidores públicos estaduais e são denominados policiais-militares.

§ 1º - Os policiais–militares encontram-se em uma das seguintes situações:

a) na ativa:
I – os policiais–militares de carreira;
II – os incluídos na Polícia Militar voluntariamente, durante os prazos a que se obrigam a
servir;
III – os componentes da reserva remunerada quando convocados; e
IV – os alunos de órgãos de formação de policiais-militares da ativa. (Derrogado pela LC
nº 35, de 06/11/2003).

b) na inatividade:
I – na reserva remunerada, quando pertencem à reserva da Corporação e percebem
remuneração do Estado do Piauí, porém sujeitos, ainda, à prestação de serviço na ativa,
mediante convocação;
II – reformados, quando tendo passado por uma das situações anteriores, estão
dispensados, definitivamente, da prestação de serviço na ativa, mas continuam a perceber
remuneração do Estado do Piauí.
§ 2º - Os policiais-militares de carreira são os que no desempenho voluntário e
permanente do serviço policial-militar, tem vitaliciedade assegurada.

2.2. MILITAR DA RESERVA OU REFORMADO

O servidor militar em situação de atividade é o militar da ativa, o que se encontra ainda,


no exercício de suas funções. Cumpre-nos, porém, esclarecer, com relação o que seja militar da reserva ou
reformado.
Militar da reserva ou reformado é o que se encontra na inatividade.
A diferença entre eles é a seguinte: o militar da reserva, remunerada ou não (o art. 97 do

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CPPM alude a essas duas categorias da reserva), está sujeito, ainda, à prestação de serviço na ativa,
mediante convocação ou mobilização, enquanto o militar reformado está dispensado definitivamente, da
prestação de serviço na ativa.
Prevê a legislação castrense para efeito de sua aplicação, a equiparação dos mesmos
(reserva ou reformado) ao militar da ativa. Dispõe a respeito o art. 12 da legislação penal castrense,
recentemente alterado pela Lei nº 14.688/2023:

Art. 12. O militar da reserva ou reformado, quando empregado na administração militar,


equipara-se ao militar da ativa, para o efeito da aplicação da lei penal militar.

Trata-se de uma hipótese em que o inativo passa para a atividade em uma situação especial.
Natural, portanto, que integrando-se novamente a administração militar, fique sujeito à jurisdição militar.

A outra prerrogativa do militar da reserva ou reformado refere-se ao art. 13 do CPM,


verbis:

Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e prerrogativas


do posto ou da graduação, para o efeito da aplicação da lei penal militar, quando pratica
ou contra ele é praticado crime militar.

Justifica-se, pois o militar não perde esta qualidade ao deixar o serviço em tais situações.
Portanto, natural que mantenha todas as prerrogativas de seu posto ou graduação.

2.3. EQUIPARAÇÃO A COMANDANTE

Nos termos do art. 23, do CPM, “equipara-se a comandante, para o efeito da aplicação da
Lei Penal Militar, toda autoridade com função de Direção”.
Nessa senda, temos a definição do art. 33, da Lei nº 3.808/81 (Estatuto dos Policiais e
Bombeiros Militares do Estado do Piauí), onde consta que comando é a soma de autoridade, deveres e
responsabilidades de que o policial-militar é investido legalmente, quando conduz homens ou dirige
uma organização policial-militar.
Para o exercício destes deveres e responsabilidades, portanto, temos a figura do
comandante como aquele vinculado ao grau hierárquico, tendo sua prerrogativa impessoal, em cujo
exercício o policial-militar se define e se caracteriza como chefe, aplicando-se ao diretor e ao chefe de
uma Organização Policial-Militar (OPM), no que couber, o mesmo que é estabelecido para o Comando.

2.4. CONCEITO DE SUPERIOR

A hierarquia e a disciplina são as vigas mestras das Forças Armadas e das Milícias
Estaduais (Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares Estaduais e do Distrito Federal).
Tanto na Lei nº 6.880/80 (Estatuto das Forças Armadas), como na Lei nº 3.808/81 (Estatuto
dos Policiais e Bombeiros Militares do Estado do Piauí), temos em suma que hierarquia militar é a
ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas ou Milícias
Estaduais. Sua ordenação se faz em postos ou graduações, sendo que esta se faz dentro de um
mesmo posto ou graduação, pela antiguidade no posto ou graduação ocupada na Instituição, ou, em
razão da função de autoridade exercida, sendo por consequência o respeito à hierarquia
consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade.

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Já a disciplina nos mesmos estatutos consta como a rigorosa observância e acatamento


integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam e coordenam o organismo militar
e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever
por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo.
No Código Penal Militar, temos no art. 24, como sendo superior para fins de aplicação
da lei penal militar:
I - o militar que ocupa nível hierárquico, posto ou graduação superiores, conforme a
antiguidade, nos termos da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980 (Estatuto dos Militares), e de leis das
unidades da Federação que regulam o regime jurídico de seus militares;
II - o militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou
graduação.
Parágrafo único. O militar sobre o qual se exerce autoridade nas condições descritas nos
incisos I e II do caput deste artigo é considerado inferior hierárquico para fins de aplicação da lei penal
militar."
Exemplificando: um oficial subalterno no comando interino de uma companhia, é
considerado superior aos colegas do mesmo posto que servem na mesma companhia.
Vejamos outros exemplos:
Ex. Capitão PM de folga que agride e desacata fisicamente um outro Capitão PM de
serviço de Oficial de Operações, com quem não precisa ter vínculo funcional algum (mesmo este mais
moderno na escala hierárquica ocupada na Instituição), poderá ocorrer o desrespeito a superior (critério
ratione labore) sendo um crime contra autoridade e a disciplina e o desacato a superior (crime
contra administração militar, que ocorre obrigatoriamente contra aquele no exercício da função,
previsto no art. 298, do CPM) analisado pelo critério ratione materiae.

2.5. MILITARES ESTRANGEIROS

Art. 11. Os militares estrangeiros, quando em comissão ou em estágio em instituições


militares, ficam sujeitos à lei penal militar brasileira, ressalvado o disposto em tratados ou
em convenções internacionais.

2.6. CONCEITO DE CRIME MILITAR


A Constituição Federal dispõe em seu art. 124, que: "À Justiça Militar compete processar e
julgar os crimes militares definidos em lei. (grifo nosso)".
Crime segundo o saudoso Mirabete “é o fato humano contrário à lei” (conceito formal).
Enquanto Noronha esclarece que o crime “é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem
jurídico protegido pela lei penal”(visão ou conceito material), sua essência é a ofensa ao bem jurídico,
pois toda norma penal tem por finalidade sua tutela. Para Damásio de Jesus, crime ainda sob o ponto de
vista do conceito material, “é a violação de um bem penalmente protegido e, sob o ponto de vista formal,
é um fato típico e antijurídico”. Já no ensinamento de Heleno Fragoso, “é a ação ou omissão típica,
antijurídica e culpável” (conceito analítico, pelo incremento da culpabilidade).
Já no Direito Penal Militar, dentro da dogmática do Direito Penal, também não tem o seu
conceito de crime definido, recorrendo a dispositivos específicos dentro da própria norma penal castrense,
como o art. 9º, do Código Penal Militar, que é o dispositivo que prevê as circunstâncias em que
ocorrem os crimes militares em tempo de paz, com as inovações trazidas pela Lei nº 13.491, de
13/10/2017, com sensíveis alterações proporcionadas pela Lei nº 14.688, de 20/09/2023 , em algumas
das alíneas dos incisos II e III.
Estudaremos, nesta disciplina, dentre outros aspectos, as circunstâncias do cometimento do
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crime militar tratadas nos incisos de I, II e III do art. 9º do Código Penal Militar (CPM).
Como se sabe, prescreve a Carta Magna que "à Justiça Militar compete processar e julgar
os crimes militares definidos em lei" (artigo 124) sejam hoje, os definidos na própria Lei Penal
Militar, bem como os previstos na Legislação Penal comum, se praticados nas circunstâncias previstas
no art. 9º, do CPM acima mencionadas. Vê-se, portanto, que a Justiça Militar da União (ou Federal) tem
sua competência hoje delimitada pelos critérios ratione materiae e ratione legis, ou seja, incumbe-lhe,
sem exceções, julgar os delitos castrenses definidos em lei, qualquer que seja o agente, sejam estes
praticados por militares da ativa, da reserva, reformados ou por civis, desde que conduta delituosa
seja lesiva às Instituições Militares da União.
Já a Justiça Militar Estadual, não possui competência tão abrangente quanto a sua
congênere, pois tem limitada sua atuação constitucionalmente pelo critério ratione personae mesmo
definida pelo ratione materiae na forma do que dispõe, o §4º do artigo 125 da Constituição Federal, ao
estabelecer que lhe compete “processar e julgar os militares dos Estados nos crimes militares definidos
em lei”.
Nota-se, assim, que sua competência outrora de ratione materiae e ratione personae,
passou a ser também a ser ratione legis, da mesma forma de como vimos, no parágrafo anterior quando
falamos da Justiça Militar da União. Ou seja, apesar das inovações proporcionadas pela Lei nº 13.491/17,
com efeitos também na esfera estadual, na definição circunstancial do que vem a ser crime militar, em
nada mudou a área de atuação da Justiça Militar Estadual, pois esta continua restrita a julgar apenas
militares estaduais e do Distrito Federal (que pelo art. 42, da CF/88, são os membros das Polícias
Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares), nos crimes militares por eles praticados, definidos em
lei, sejam os previstos no próprio CPM ou na Lei Penal comum, se praticados também nas dadas
circunstâncias já mencionadas, desde que conduta delituosa seja lesiva às Instituições Militares estaduais.
De forma exclusória, temos ainda, que compete à Justiça Militar estadual não processar e
julgar o civil ou o militar das forças armadas, acusado da prática de crimes contra instituições militares
estaduais (Súmula n.º. 53 do STJ) ou praticado contra bombeiro ou policial militar, competindo, sim neste
caso à Justiça Comum.

2.7. CRITÉRIOS DETERMINANTES DO CRIME MILITAR SOB A ÓTICA DO CÓDIGO


PENAL MILITAR, COM ALTERAÇÕES PROPORCIONADAS PELAS LEIS N.ºS 13.491/2017 E
14.688/2023

Prescreve o art. 9º do CPM.

Art. 9º Consideram-se crimes militares em tempo de paz:

I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando


praticados:

a) por militar da ativa contra militar na mesma situação;

b) por militar da ativa, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da


reserva ou reformado ou civil;

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c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza


militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar
contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva ou


reformado ou civil;

e) por militar da ativa contra o patrimônio sob a administração militar ou contra a


ordem administrativa militar.

III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa


militar;

b) em lugar sujeito à administração militar, contra militar da ativa ou contra servidor


público das instituições militares ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente
ao seu cargo;
Ver art. 27, do CPM (que trata dos Servidores da Justiça Militar)

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,


observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da
ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele
fim, ou em obediência a determinação legal superior.

§1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.

§2º Os crimes militares de que trata este artigo, incluídos os previstos na legislação
penal, nos termos do inciso II do caput deste artigo, quando dolosos contra a vida e
cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da
Justiça Militar da União, se praticados no contexto:

I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da


República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;

II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo


que não beligerante; ou

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem


ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da
Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;

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b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;

c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e

d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.

A Constituição de 1988, além de expor em seus arts. 124 e 125, §§4º e 5º as competências
da Justiça Militar (da União ou Federal) e Justiça Militar Estadual, quanto ao processamento e julgamento
dos crimes militares definidos em lei, ainda estatuiu, tacitamente, em seu art. 5º, inciso LXI, que o
legislador ordinário deverá obrigatoriamente atender a divisão de crimes propriamente e impropriamente
militares.
Diz o citado inciso LXI: “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
crime propriamente militar.”

2.7.1. Crimes propriamente, impropriamente militares e crimes militares extravagantes (ou por
extensão)

A definição do crime militar continua sendo a mesma, apenas com o aumento do rol dos
crimes militares que podem ser cometidos pelos Civis (na esfera federal, se contra as Instituições
Militares, a Justiça Militar e seus respectivos integrantes), pelos membros das Forças Armadas e pelos
membros Forças Auxiliares (Bombeiros Militares e Policiais Militares) decorrendo, unicamente, do fato
de que, agora, desde que cometidos nas hipóteses do art. 9º do CPM, estes delitos em tempo de paz
constituem, não somente os presentes no Código Penal Militar, mas por força da Lei nº 13.491/2017, os
crimes também previstos na Lei Penal comum (Código Penal - Dec Lei nº 2.848/40 e demais legislações
penais extravagantes, excetuando-se desse rol os delitos da Lei das Contravenções Penais).

Para efeitos didáticos, os crimes militares divididos em 03 (três) categorias:

a) Propriamente Militares (crimes militares próprios ou puros)


Também denominados puramente, essencialmente ou exclusivamente militares (art. 9º,
inc. I, segunda parte – “...ou nela não previstos...”. Sendo que “nela” se refere à não previsão na Lei
Penal comum. São aqueles que, em regra, só podem ser praticados por militar, por constituir infração
específica do ocupante do cargo militar quando no exercício das funções desse cargo, o sujeito ativo
assume uma particularidade, condição esta de origem jurídica, considerando-o como aquele praticado por
pessoa de certa qualidade, como de militar.
Este tipo de crime é o que atinge, diretamente, a disciplina e o dever militar. São
delitos, tipicamente, do militar. No entanto, temos, quanto ao civil no polo ativo, as exceções do crime de
insubmissão (art. 183, do CPM) em que unicamente o civil convocado (conscrito) irá cometer, porém,
apenas na seara militar federal, bem como também, e apenas nessa mesma esfera, na hipótese de
concurso eventual (art. 53, caput e §1º, do CPM), o civil como coautor com um militar federal, em
alguns crimes propriamente militares, como especificamente nos crimes de violência contra superior (art.
157), desrespeito a superior (art. 160), violência contra inferior (art. 175) e desacato a superior (art. 298) e
no motim (art. 149, nas suas modalidades comissivas).
Temos com meio de reconhecer os crimes como propriamente militares também, por
meio de certas elementares (elementos constitutivos do crime) presentes na tipicidade penal militar, tais
como as palavras - militar, superior, inferior, subordinado, dentre outras elementares especificas da
condição de militar do sujeito ativo ou passivo, como também o tipo de pena imposta, por exemplo,

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que também os caracterizam como crimes propriamente militares. Sendo que, especificamente, e na maior
parte dos casos destes crimes em que tivermos em vez da palavra militar, aparecerem as elementares
superior ou inferior, com a possibilidade destes crimes serem cometidos também por civis (porém como
coautores eventuais) ou por militares inativos, estes últimos também como coautores eventuais como se
fossem civis, dentro do inc. III, do art. 9º, do CPM, exceto quando houver a equiparação a militar da ativa
(nos termos do art. 12, observadas as prerrogativas do art. 13, do CPM) em que estarão nas circunstâncias
do inc. II, do mesmo art. 9º, podendo responder como partícipes ou mesmo como coautores em concurso
necessários.

Ex1:
Deserção
“Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em
que deve permanecer, por mais de oito dias.”

Ex2:
Recusa de obediência
“Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou
relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução.”

Ex3:
Desacato a superior
“Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou procurando
deprimir-lhe a autoridade.”

São outros exemplos de crimes propriamente militares: art. 149 (Motim); art. 149
(Parágrafo Único, Revolta); art. 152, (Conspiração); art. 157 (Violência contra superior); art. 171 (Usar o
militar, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia de posto ou de graduação superior); art. 183
(Insubmissão).

b) Impropriamente Militares (crimes militares impróprios)


São delitos previstos no Código Penal Militar, em seu art. 9º, inc. I, 1ª parte e inc. II, 1ª
parte), sendo definidos de modo diverso ou idêntico na lei penal comum). Os bens imediatamente
protegidos são aqueles pertinentes às Instituições Militares. No crime militar impróprio, não se exige
qualquer qualidade específica à pessoa do agente do sujeito ativo (qualquer que seja o agente). É
aquele que pode ser praticado tanto pelo agente militar ou civil (este apenas na esfera federal). É delito
militar apenas pelas circunstâncias, estando previsto como crime no Código Penal Militar (CPM)
encontrando correspondência na Lei Penal comum (Código Penal comum - CP e demais leis penais
comuns, aqui incluído a LCP), por estar definido nesta de modo diverso ou idêntico.

b.1) Na prática, exemplos de crimes impropriamente militares definidos de modo diverso


na lei penal comum:
Ex1:
Uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar por qualquer pessoa (CPM –
Código Penal Militar)
“Art. 172. Usar, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia militar a que não tenha
direito.”

Definição diversa (diferente):


Uso ilegítimo de uniforme ou distintivo (LCP – Lei das Contravenções Penais)

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“Art. 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo de função pública que não
exercer; usar, indevidamente, de sinal, distintivo ou denominação cujo emprego seja
regulado por lei.”

Ex2:
Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito similar (CPM – Código
Penal Militar)
“Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso próprio, guardar, ministrar ou
entregar de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que determine
dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à administração militar, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.”

Definição diversa (diferente):


(Lei nº 11.343/06 – Lei Antidrogas)
Posse e consumo
“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas...”

Tráfico
“Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar...”

JURISPRUDÊNCIA
EMENTA: PROCESSUAL PENAL MILITAR. AGRAVO REGIMENTAL EM
HABEAS CORPUS. TRÁFICO, POSSE OU USO DE ENTORPECENTE OU
SUBSTÂNCIA DE EFEITO SIMILAR (ART. 290 DO CPM). LEI 11.343/06.
INAPLICABILIDADE. 1. Em se tratando de uso/porte de droga por militar em
ambiente militar, incide a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (HC
103.684, Rel. Min. Ayres Britto), no sentido de que “o art. 290 do Código Penal
Militar é o regramento específico do tema para os militares. Pelo que o princípio da
especialidade normativo-penal impede a incidência do art. 28 da Lei de Drogas
(artigo que, de logo, comina ao delito de uso de entorpecentes penas restritivas de
direitos). Princípio segundo o qual somente a inexistência de um regramento
específico em sentido contrário ao normatizado na Lei 11.343/2006 é que
possibilitaria a aplicação da legislação comum. Donde a impossibilidade de se
mesclar esse regime penal comum e o regime penal especificamente castrense,
mediante a seleção das partes mais benéficas de cada um deles, pena de incidência
em postura hermenêutica tipificadora de hibridismo ou promiscuidade regratória
incompatível com o princípio da especialidade das leis”. 2. Ausência de ilegalidade
ou abuso de poder que autorize o acolhimento da pretensão defensiva. 3. Agravo
regimental desprovido. (HC 158077 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 01/03/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-051
DIVULG 14-03-2019 PUBLIC 15-03-2019)

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Ex3:
Desobediência (CPM – Código Penal Militar)
“Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar.”

Definição diversa (diferente):


Desobediência (CP – Código Penal)
“Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público.”

Ex4:
Desacato a militar (CPM – Código Penal Militar)
“Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela.”

Definição diversa (diferente):


Desacato (CP – Código Penal)
“Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela.”

b.2) Na prática, exemplos de crimes impropriamente militares “... previstos neste


código...” (definidos de modo idêntico na lei penal comum):
Ex1:
Homicídio simples (CPM – Código Penal Militar)
“Art. 205. Matar alguém.”

Idêntica definição:
Homicídio simples (CP – Código Penal)
“Art. 121. Matar alguém.”

Ex2:
Estelionato (CPM – Código Penal Militar)
“Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo
ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento.”

Idêntica definição:
Estelionato (CP – Código Penal)
“Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo
ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento.”

Ex3:
Ameaça (CPM – Código Penal Militar)
“Art. 223. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de lhe causar mal injusto e grave.”

Idêntica definição:
Ameaça (CP – Código Penal)
“Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave.”

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Ex4:
Prevaricação (CPM – Código Penal Militar)
“Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo
contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.”

Idêntica definição:
Prevaricação (CP – Código Penal)
“Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo
contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.”

b.3) Na prática, são também, estranhamente, exemplos de crimes impropriamente militares


– “... qualquer que seja o agente...” - CPM (previsto apenas no Código Penal Militar), ou seja, não
importando quem pratique, se civil e/ou militar:

Ex1:
Violência contra militar de serviço
“Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra
sentinela, vigia ou plantão.”

Ex2:
Oposição a ordem de sentinela
“Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela.”

Ex3:
Desacato a servidor público
“Art. 300. Desacatar servidor público no exercício de função ou em razão dela, em lugar
sujeito à administração militar. ”

c) Crimes Militares por Extensão (ou Extravagantes, Extramilitares ou Crime


Equiparado a Militar por Força das Circunstâncias)

Denominados, inicialmente, crimes militares extravagantes, pelo ilustre Cícero Robson


Coimbra Neves, são aqueles que estão tipificados fora do Código Penal Militar, desde que
subsumidos às hipóteses do art. 9º, daquele Código. Posteriormente por Adriano Menechini,
denominado crime extramilitar ou crime equiparado a militar por força das circunstâncias é aquele
que nos termos do art. 9º, II (com a nova redação dada pela Lei nº 14.688/2023) está previsto na
legislação penal comum (CP e nas leis penais extravagantes, à exceção da LCP), que, a despeito de não
estar tipificado no CPM, é equiparado ao crime militar em seu tratamento jurídico quando for praticado
nas circunstâncias descritas nas alíneas a a e do citado dispositivo legal. Já Ronaldo João Roth,
conceitua estes “novos crimes militares” de crimes militares por extensão, ou seja, os crimes
existentes na legislação comum que, episodicamente, constituem-se crimes militares quando
preencherem quaisquer das hipóteses, previstas no art. 9º do CPM, constituindo este o conceito da
doutrina dominante.
Em suma, crimes militares por extensão (seguindo esta, a definição que seguiremos para
fins didáticos em nossa disciplina) são aqueles que mesmo comuns em sua essência, se militarizam se
praticados dentro das circunstâncias ou hipóteses do art. 9º do CPM.

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c.1) Na prática, exemplos de crimes militares por extensão - “... e os previstos na


legislação penal...”:

Ex1:
Episodicamente praticado por militar, se nas hipóteses do art. 9º, segunda parte do
inciso II, do CPM.

(Lei nº 11.343/06 – Lei Antidrogas)


Posse e consumo
“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas.”

Tráfico
“Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar.”
OBS: Em regra, será aplicado o art. 290, do CPM, mas excepcionalmente, poderá ser
aplicada a Lei nº 11.343/2006, na incidência de conduta(s) nuclear(s) da autoria, não
presentes no caput do referido artigo, em crime comeito em lugar sujeito ou não à
administração militar, observando-se o caso concreto.

Ex2:
Episodicamente praticado por militar, se nas hipóteses do art. 9º, segunda parte do
inciso II, do CPM.

(Lei nº 9.455/97 – Lei dos Crimes de Tortura)


Tortura
“Art. 1º. Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa.”

Ex3:
Episodicamente praticado por militar, se nas hipóteses do art. 9º, segunda parte do
inciso II, do CPM.

Abuso de autoridade (Lei nº 13.869/19, de 05/09/19)


“Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade
judiciária no prazo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à
autoridade judiciária que a decretou;
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada;

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III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa,
assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das
testemunhas;
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão
preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e
excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de
promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal.

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de
sua capacidade de resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à
violência.

Ex4:
Circunstancialmente praticados por militar, se nas hipóteses do art. 9º, segunda parte
do inciso II, do CPM.

Feminicídio (agravante do homicídio - CP – Código Penal)


Art. 121...
...
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
...
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Perseguição (CP – Código Penal)

“Art. 147-A Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a


integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
(Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)”

Desacato (CP – Código Penal)


“Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.” (Ex.: Sargento PM em serviço que
desacata Delegado de Polícia Civil, por não concordar com o procedimento realizado por
aquela autoridade policial quando da entrega de um preso na Central de Flagrantes).

Temos outros exemplos de crimes militares por extensão, cujas condutas estão definidas
fora do Código Penal Militar, mas nas legislações penais comuns:

Decreto-Lei nº 2.848/40 - Código Penal (crimes sem correlatos idênticos ou diversos no


CPM como p.ex o aborto – arts. 124 a 127), Lei nº 12.850/2013 - Organização criminosa, Lei nº
13.869/19 - Lei de Abuso de Autoridade, Lei nº 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos, Lei nº

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9.455/97 - Lei dos Crimes de Tortura, Lei nº 10.826/03 - Lei do Desarmamento, Lei nº 11.343/06 -
Lei Antidrogas, etc).

Por falarmos aqui de crime, NÃO SE ENQUADRAM NESSE CONTEXTO as


condutas delitivas previstas na Lei Contravenções Penais (Decreto-Lei Nº 3.688, de 03 de outubro de
1941).

Como dito acima, temos em dadas circunstâncias, alguns crimes militares (neste caso
os impropriamente militares previstos no Código Penal Militar e definidos de modo diverso na Lei
Penal Comum), que poderão a depender do seu contexto, ocorrer na incidência da tipicidade do
próprio CPM, já em outros contextos serem considerados crimes militares por extensão, se assim
considerados na forma da Lei nº 13.491/2017, com previsão na Lei Penal comum. P. Ex.: Poderemos
ter de modo geral dentro das hipóteses do art. 9º do CPM, os crimes de desacato (arts. 299 ou 300 do
CPM) e desobediência (art. 301, do CPM), como sendo considerados crimes impropriamente
militares, se praticados por militar (ou civil, este apenas na esfera federal) contra as Instituições
Militares. Bem como os crimes de desobediência, por extensão (art. 330, do CP), desacato, por extensão
(art. 331, do CP), que poderão no contexto do art. 9º, “c” do CPM, serem considerados crimes militares
(por extensão), quando, tivermos o caso, por exemplo, do militar que em serviço ou no exercício de
função, praticar as condutas previstas nos referidos tipos penais, contra outros funcionários públicos ou
autoridades civis, como Promotores de Justiça, Juízes de Direito, Delegados de Polícia, estes, obviamente
e exclusivamente, também, no exercício de suas funções.
Outro exemplo prático, de incidência de crime militar por extensão, é o crime de aborto
(este sem correlato no Código Penal Militar, previsto apenas na Lei Penal comum, a saber, no art. 125, do
Código Penal comum) provocado por terceiro, se praticado por um militar da ativa contra uma
gestante, também militar da ativa, será crime militar (um crime militar por extensão), nos termos do
disposto na alínea “a” do inciso II do art. 9º do Código Castrense.
Preleciona ainda o eminente Cícero Robson Coimbra Neves, que nessa análise tem-se ainda
o inciso III do art. 9º do Código Penal Militar, o qual embora não tenha sido diretamente alterado pela Lei
nº 13.491/2017, utiliza-se do inciso II para definir seu espectro de aplicação (“III – os crimes praticados
por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como
tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos”), também exigindo a
subsunção em suas alíneas, diversas daquelas do inciso II, ressalte-se.
Exemplificativamente, se um militar reformado, em um hospital militar, praticar
aborto em gestante militar da ativa, estará ele em prática de um crime militar extravagante, com base
no disposto no art. 125 do Código Penal comum combinado coma alínea “b” do inciso III do art. 9º do
Código Penal Militar.

2.8. SUJEITO ATIVO E PASSIVO NO CRIME MILITAR

Prevê a legislação castrense para efeito de sua aplicação a existência do “militar da ativa
por equiparação” ao militar da reserva ou o reformado equiparado ao militar da ativa, consoante o art.
12, do CPM, com sua nova redação dada pela Lei nº 14.688/2023:

Art. 12. O militar da reserva ou reformado, quando empregado na administração militar,


equipara-se ao militar da ativa, para o efeito da aplicação da lei penal militar.

Trata-se de uma hipótese em que o inativo passa para a atividade em uma situação especial,
se integrando novamente a administração militar, ficando sujeito à jurisdição militar, como se da ativa

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ainda fosse.

A outra prerrogativa do militar da reserva ou reformado refere-se ao art. 13 do CPM, in


verbis:
Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e
prerrogativas do posto ou da graduação, para o efeito da aplicação da lei penal militar,
quando pratica ou contra ele é praticado crime militar.

Justifica-se, pois o militar não perde esta qualidade ao deixar o serviço em tais
situações. Portanto, é natural que mantenha todas as prerrogativas de seu posto ou graduação.

Conclui-se que o militar é sujeito ativo do crime militar nas seguintes situações:

a) Por militar em serviço de qualquer natureza – compreendendo as hipóteses que estão


contempladas no Código Penal Militar. Contemplando neste caso, o militar da ativa ou o inativo (da
reserva remunerada, revertido para a atividade, nos termos do art. 12 e empregado na administração
militar).
b) Por militar de folga, mas em situação de atividade, ou seja, no serviço ativo – desde
que o crime praticado seja contra outro na mesma situação, ainda que de folga, de férias, porém no
serviço ativo. Entretanto, se o crime for praticado contra militar da reserva, reformado ou civil (sujeito
passivo), é necessário que seja em lugar sujeito à administração militar, ou ainda na hipótese de o delito
ser praticado contra o patrimônio sob a administração militar ou a ordem administrativa militar.

Situações em que o militar inativo ou civil (este apenas na esfera federal) pratica crime
militar (sujeito ativo):

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa


militar;
b) em lugar sujeito à administração militar, contra militar da ativa ou contra servidor
público das instituições militares ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente
ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,
exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da
ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele
fim, ou em obediência a determinação legal superior.

2.9. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO SUJEITO ATIVO

Para o eminente Jorge César de Assis, “o mais simples da prática delituosa consiste na
intervenção de uma só pessoa mediante uma conduta positiva ou negativa. A infração penal, porém,
nem sempre é obra de um só homem”.
Quanto ao sujeito ativo, os crimes se classificam em:

a) Crimes unilaterais ou unissubjetivos – também chamados de monossubjetivos, são


aqueles que podem ser cometidos por um único sujeito. Ex: homicídio (art. 205), deserção (art. 187).

b) Crimes plurilaterais ou plurissubjetivos – são aqueles que só podem ser cometidos

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por mais de um sujeito. Ex: motim (com autores e/ou coautores).

2.10. CRIMES EVENTUALMENTE (ACIDENTALMENTE) PLURISSUBJETIVOS

Se a pluralidade de agente é da própria essência do tipo penal, os crimes podem ser


praticados por mais de um sujeito, temos aqui, o princípio contido no art. 53, caput segundo o qual,
“quem de qualquer modo concorre para o crime incide nas penas a ele cominadas”. Ocorrendo os
casos de concurso necessário como nos de concurso eventual.:

a) Concurso necessário: no tocante aos crimes plurissubjetivos. Como exemplo de


concurso necessário, temos entre militares, o crime militar de motim (art. 149, CPM).
Ex: Poderemos ter aqui o Oficial, como cabeça ao liderar, dirigir ou conduzir prática do
delito de motim, estando obviamente, em concurso necessário (art. 53, caput e §§4º e 5º, do CPM),
figurando como coautor necessário como os demais militares em estado de motim.

b) Concurso eventual: quando, podendo o delito ser praticado por uma só pessoa, acaba
sendo cometido por várias (em coautoria ou em participação), deve-se observar o art. 53, caput e §§4º e
5º, do CPM.
Ex1: No crime de violência contra superior (art. art.157, CPM), temos o civil como coautor
eventual (em concurso eventual), uma vez que como autor temos o militar (inferior hierárquico).
Ex2: No motim (art. 149) em suas modalidades comissivas, temos o civil como coautor
eventual (em concurso eventual) juntamente com os militares (ativa e/ou inativos revertidos para a
atividade para servirem na administração militar).
Ex2: No crime de motim (art. 149) podemos ter o civil também em outra hipótese, porém,
como partícipe em concurso eventual (ao aliciar - art. 154, instigando os militares a praticarem o
motim).
Ex3: Ainda no motim poderemos ter o Oficial, este não como cabeça (ao aliciar a
prática do delito de motim), em concurso eventual (art. 53, caput e §4º, do CPM), porém agindo como
partícipe ao apenas incentivar a prática do motim, não praticando nem comissivamente, nem
omissivamente.

2.11. TIPOS DE SUJEITO ATIVO

a) Autor: é aquele que executa o fato delituoso. Tem o domínio final da ação, podendo
interrompê-la. Ex. militar federal sozinho como autor em pratica de violência contra superior (art. 157,
CPM).

b) Coautor: é(são) aquele(s) que juntamente com autor pratica o fato previsto no tipo
penal. Ex. Civil (na esfera federal) como coautor (eventual) de militar inferior da ativa (autor) no crime
de violência contra superior (art. 157, CPM).
Ex1: militar federal (autor) auxiliado por civil (coautor) em pratica de violência contra
superior (art. 157, CPM), incidência do art. 53, caput e §1º.
Ex2: Policiais militares que disparam 19 tiros contra veículo com assaltantes de uma
lotérica em fuga, matando um de seus tripulantes (homicídio doloso, eis que assumiram o risco de
produzir o resultado), configura-se coautoria (concurso necessária) uma vez que todos os agentes atuaram
na perseguição desses assaltantes, com o uso de suas armas, embora somente um deles tenha matado a
vítima (um dos assaltantes).

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c) Partícipe: embora não se subsumindo diretamente ao tipo penal, exige também, sobre o
partícipe, uma responsabilidade por concorrer, indiretamente, para a execução criminosa. Ex:
Militares (federais) em prática de crime de motim (art. 149, do CPM), aliciados ou incitados por civil (ou
outro militar ativo ou inativo), onde temos o civil (ou outro militar ativo ou inativo) como sujeito ativo
do crime de aliciação para motim ou revolta do (art. 154, CPM) e neste caso como partícipe no crime no
motim.
Por fim, temos que no âmbito da Justiça Militar da União, ao contrário da Justiça Militar
dos Estados, é admitido o processo e julgamento de civis. Eis que a competência definida pela
Constituição Federal em seu art. 124 não restringe sua sujeição, de modo diverso do que prevê o art.
125, §4º, onde remete ao critério da qualidade do agente, no caso, o militar estadual ou do Distrito
Federal (integrante da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros Militar) e ressalvado a competência do
Tribunal do Júri, quando a vítima for civil, como definidor da competência da Justiça Militar Estadual.
Partindo do pressuposto de que o civil pode cometer um crime militar e se ver processado
na Justiça Militar da União, em decorrência do imperativo constitucional, segue o seguinte
questionamento: é possível que o civil possa cometer um crime militar próprio?
A resposta ao questionamento acima passa por 03 (três) temas de extrema relevância nos
estudos do Direito Penal Militar. O primeiro passa pela definição do crime militar, o segundo é pela
classificação do crime militar e sua relação com o crime de insubmissão, e por fim, o terceiro tema é
pela verificação da responsabilidade criminal do civil frente ao concurso de agentes e o crime
militar de mão própria.

2.12. COAUTORIA DE CIVIL EM CRIME PROPRIAMENTE MILITAR NA ESFERA


FEDERAL

Como já vimos aqui, anteriormente, com as nossas primeiras considerações sobre os crimes
propriamente militares e impropriamente militares, no item 2.7.1. verificamos, especificamente, nos
crimes propriamente militares a hipótese do civil como coautor nestes crimes próprios, responder na
esfera federal, caso intente contra as Instituições Militares da União (FFAA) ou seja, pela interpretação
extensiva, dada ao disposto no art. 53, §1º, primeira parte, do CPM. O que na esfera estadual não
ocorrerá, ex vi art. 125, §4º, da Carta Magna e Súmula 53, do STJ.
Contrariando os dogmas tradicionais, doutrinários e até mesmo, jurisprudenciais, a esse
respeito o Supremo Tribunal Federal (STF), mantendo posição anteriormente adotada pelo Superior
Tribunal Militar (STM), confirmou a possibilidade do civil ser coautor em crime próprio, fato que
suscitou controvérsia. Senão vejamos:

Ementa: Coautoria de civil em crime militar. Considerando que o art. 53, §1º, do CPM,
estabelece que as condições ou circunstâncias de caráter pessoal quando forem
elementares do crime militar se comunicam entre os autores no caso do concurso de
agentes, a Turma indeferiu habeas corpus impetrado contra acordão do STM, no qual se
sustentava a atipicidade da conduta do paciente – consistente na suposta prática do crime
de ofensa aviltante a inferior (CPM, art. 176) em coautoria com militar - , já que, na
condição de civil não poderia ter sido submetido a norma penal militar. Considerou-se que
a qualidade de superior hierárquico, do có-reu, por ser elementar do crime, estende-se ao
paciente (CPM, art. 53, §1º, “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas
penas a este cominadas. §1º (...) Não se comunicam, outrossim, as condições e
circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do crime”). (STF - 2ª Turma – HC
81.438-RJ – Rel, Min, Nelson Jobim – J, em 11.12.2001).

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Jorge César de Assis ao comentar o entendimento de Célio Lobão, afirmou que este
renomado autor, em análise da decisão acima mostrada, e que foi publicada à época na Revista Direito
Militar, nº 46 (2004:23), prelecionou que a Corte Suprema brasileira rompeu com a tradição da
jurisprudência e da doutrina brasileira ao estender equivocadamente ao civil a condição de sujeito ativo
(coautor) do crime propriamente militar.
Para ele Jorge César de Assis, a análise de Célio Lobão, estaria embasada nos antigos
doutrinadores brasileiros e estrangeiros, no sentido de que somente o militar é quem poderá cometer o
crime militar próprio, explicando ainda que a condição de militar integrando o tipo penal, explícita ou
implicitamente, como sujeito ativo do crime propriamente militar, afasta a incidência do art. 53, §1º,
segunda parte, do CPM, quando se tratar de coautor civil. Uma vez que nada tem a ver em comparar com
o crime de peculato, em que, quando na qualidade funcionário público, elementar do tipo, comunica-se
em caso de concurso.
Cícero Robson Coimbra Neves, corroborando com Jorge César de Assis preleciona
que a circunstância de caráter pessoal (ser militar e superior da vítima) comunica-se com o coautor, tendo
acertado o STM e STF em suas decisões, uma vez que, embora inquestionável, o dispositivo
constitucional referido (art. 5º, LXI, da CF), não interfere nos princípios norteadores do concurso de
agentes, principalmente porque é o próprio §1º, do art. 53, que assegura à semelhança do §2º, do art.
29, do Código Penal comum, que as circunstâncias de caráter pessoal, quando forem elementares
do crime, comunicam-se aos concorrentes.
Portanto, quando o elemento constitutivo se constituir em uma circunstância pessoal,
poderá haver coautoria (concurso eventual), nos termos do art. 53, do CPM). Ex. Crime de violência
contra superior (art. 157, do CPM) praticado por militar (inferior hierárquico) em conluio com civil ou
inativo. O civil (apenas na esfera federal) ou inativo (equiparado ao ativo, nos termos do art. 12, do
CPM), devendo neste último caso, ter sua conduta completada não pelo inciso III, mas pelos incisos I e II,
do art. 9º, do CPM.
Da mesma forma, concluímos que não se pode aceitar a inaplicabilidade do art. 5º, LXI, da
Lex Matter, que assegura que autores de crime militar próprio, inclusive os civis (em coautoria) poderão
ser presos independentemente de flagrante ou de ordem judicial.

2.13. COAUTORIA DE CIVIL EM CRIME MILITAR NA ESFERA ESTADUAL

Verificamos anteriormente, que nos crimes militares temos a hipótese do miliar inativo,
como coautor nestes crimes, podendo responder na esfera estadual, caso intente contra as Instituições
Militares Estaduais (PPMM ou BBMM) ou seja, pela interpretação extensiva, dada ao disposto no art. 53,
§1º, primeira parte, do CPM, o que não ocorrerá, com o civil que não poderá figurar no polo ativo, ex
vi art. 125, §4º, da Carta Magna e Súmula 53, do STJ.
Em suma, na esfera estadual, nada obsta que tenhamos nos casos de coautoria indireta
de policial militar com civil, porém ocorrerá sempre a separação dos processos. A questão inclusive
já que está sumulada no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Senão vejamos:

Militar (PM). Coautoria com civil. Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar
o policial militar pela prática de crime militar, e à comum pela prática de crime comum
simultâneo àquele (Súmula 90, do STJ).

2.14. ELEMENTOS NÃO CONSTITUTIVOS DO CRIME

De acordo com o art. 47, do CPM deixam de ser elementos constitutivos do crime:
I – a qualidade de superior ou de inferior hierárquico, quando não conhecida do agente;

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II – a qualidade de superior ou a de inferior hierárquico, a de oficial do dia, de serviço ou de quarto, ou a


de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão.

2.15. O CRIME DOLOSO E O CRIME CULPOSO (CPM, ARTS. 33 E 34)

a) Crime doloso é aquele em que agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
Vontade ou intenção de delinquir. Dolo - É a união da vontade e da consciência de realizar o tipo penal.
b) Crime culposo é aquele em que o agente, deixando de empregar cautela, atenção, ou
diligência ordinária ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado
que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.
Podemos assim dizer que o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.
Salvo nos casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime,
senão quando o pratica dolosamente.

2.16. EXCLUDENTES DA ILICITUDE


As excludentes da ilicitude conforme estabelecido no art. 42 do Código Penal Militar, estão
enumeradas em 04(quatro), a saber: Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumprimento do
Dever Legal e Exercício Regular de Direito. Cada uma das excludentes têm seus requisitos próprios, a
saber:
a) O Estado de Necessidade exige: 1) Situação de Perigo Atual; 2) Ameaça a direito
próprio ou alheio; 3) Situação não causada voluntariamente pelo sujeito; 4 ) Inexistência do dever legal de
afastar o perigo; 5) Inevitabilidade do comportamento lesivo e 6) Inexigibilidade de sacrifício do interesse
ameaçado.
b) A Legítima Defesa: 1) Agressão Injusta, atual ou Iminente; 2) Direitos do agredido (em
se defender para proteger sua vida ou de outrem); 3) Uso dos meios necessários; 4) Moderação no uso dos
meios necessários. (legítima defesa com aberratio ictus: o sujeito, ao repelir a agressão injusta, por erro
na execução, atinge bem de pessoa diversa da que o agrida). Exemplo: A, para salvar sua vida, saca de
uma arma de fogo, e atira em direção ao seu algoz, B; no entanto, erra o alvo e acerta C, que apenas
passava pelo local. A agiu sobre o abrigo da excludente e deverá ser absolvido criminalmente).
c) O Exercício Regular de um Direito é composto pelo exercício de uma prerrogativa
conferida pelo ordenamento jurídico. (Todo aquele que exerce um direito amparado por lei não pratica ato
ilícito.)
d) O Estrito Cumprimento do Dever Legal é o cometimento de um fato típico pelo
desempenho de uma obrigação legal. Para que o cumprimento do dever legal exclua a ilicitude da
conduta, é preciso que obedeça aos seguintes requisitos, dentre os quais a existência prévia de um dever
legal. Exemplo castrense: execução de mandado de busca e apreensão e arrombamento; Soldado que
fuzila condenado a morte por crime militar em tempo de guerra.

UNIDADE III - PRINCIPAIS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ


(Art. 136 a 354, do CPM)

3.1. CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR (ARTS. 149 A 182, DO


CPM)

Neste item estão relacionados os delitos que merecem uma maior ênfase, por
entendermos ser de extrema relevância para o conhecimento dos membros da nossa Corporação, com as
recentes alterações proporcionadas pela Lei nº 14.688/2023, de 20/09/2023.
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Com exceção dos crimes dos art. 136 a 148 (Dos crimes contra a segurança nacional),
todos os demais crimes militares são de ação pública incondicionada (a ação penal inicia-se apenas
mediante denúncia do MP, quando recebida pela Justiça Militar), independe de representação para
propositura da ação penal, não cabendo retratação (desistência de dar prosseguimento pela parte
ofendida), independe da vontade da vítima.

MOTIM

Tipo penal:

Art. 149. Reunirem-se militares:

I - agindo contra ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la;


II - recusando obediência a superior quando estejam agindo sem ordem ou praticando
violência;
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência
comum contra superior;
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou
dependência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar,
rr9ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar,
ou prática de violência, em desobediência à ordem superior ou em detrimento da ordem ou
da disciplina militar.
Pena - reclusão, de quatro a oito anos com aumento de um terço para os cabeças.
(Definição nos §§4º e 5º, do art. 53, do CPM).

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade (tanto a autoridade militar


quanto a Lei Penal Militar que é violada) e a disciplina militares.

Sujeito Ativo: coautoria necessária - Militares Federais (das FFAA) ou o Militares dos
Estados (PPMM e BBMM) e o civil (como coautor eventual apenas na esfera federal).

Sujeitos do Delito: Plurissubjetivo (em regra, mais de um militar do serviço ativo como
autores). Já os inativos (como coautores, se revestidos para o serviço ativo, nos termos art. 53, caput
e §1º, segunda parte do CPM) e, se em conluio com dois ou mais militares da ativa), poderão incorrer
no crime de motim. (Ver Art. 12, 13 e 22, do CPM).

Na participação os civis (apenas na esfera federal) poderão incorrer com partícipes no


crime de motim, nas modalidades comissivas (inc. I primeira parte, II, segunda parte e IV do art.
149) ou omissivas (inc. I segunda parte, II primeira parte e III, do art. 149), podendo incorrer nos
crimes de aliciação para motim ou revolta.

Na coautoria (necessária obrigatória nesse delito entre militares da ativa ou entre


estes e inativos da reserva revertidos) – mais de um militar pratica o crime. Ressalvado o caso de
concurso (coautoria) eventual (art. 53, caput, do CPM), hipótese em que o civil, também poderá
praticar o crime em comento, como coautor, (concurso eventual) por comunicação elementar sendo
considerado como se fosse militar da ativa (inferior do superior ofendido) apenas nas modalidades
comissivas (inc. I primeira parte, II segunda parte e IV do art. 149).

Elemento Objetivo: a coautoria é necessária. Reunirem MILITARES, no mínimo

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02(dois) do serviço ativo, podendo um deles ser inativo se revestido para trabalhar na administração
(lembrar dos arts. 12, 13 e 22, do CPM).

Elemento subjetivo: é o dolo, a vontade livre e consciente de macular a autoridade e a


disciplina militares.

Tentativa: admite tanto na forma comissiva (incisos I, primeira parte e II, segunda
parte), quanto omissiva (incisos III e IV), sendo, portanto, um crime plurissubsistente (admite formas
comissivas e/ou omissivas).

OBS: Crime plurissubsistente é aquele cuja ação é representada por vários atos, ou seja, a
conduta é um processo executivo composto por fases que podem ser fracionadas (modalidade
comissiva e omissiva). Para ser plurissubsistente, basta admitir a tentativa. Ex.: o próprio motim, o
homicídio.

Crime propriamente militar: pelo critério ratione legis, está previsto apenas na Lei Penal
Militar, por compreensão do disposto no inc. I, segunda parte, do art. 9º, do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

REVOLTA (Qualificação do Motim)

Parágrafo Único. Se os agentes estavam armados:


Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um terço para os cabeças.

OBS: Nas PPMM, poderá em tese, com maior frequência, ocorrer a Revolta em vez do
Motim, pois é da natureza da atividade policial militar no seu exercício da atividade de segurança
pública, encontrarem-se estes militares estaduais de serviço, se armados. A qualificação será estando, pelo
menos dois ou mais militares armados.

OBS: As armas impróprias (paus, pedras, facas, etc) serão aqui considerados, para
fins da aplicação da lei penal militar, como armas que podem ser usadas por militares para prática
de violência, incorrendo os mesmos na hipótese do crime de revolta.
OBS: Na coautoria (necessária) – o civil (na esfera federal) em conluio com mais de
um militar (a partir de dois ativos ou revertidos) aqui também pratica o crime,
podendo aqui em concurso eventual (como coautor) nos termos do art. 53, caput, do
CPM, praticar o crime da modalidade agravada do motim (a revolta – parágrafo
único, do art. 49, do CPM), por comunicação elementar (agindo contra ordem do
superior dos militares) sendo considerado com se fosse militar da ativa (inferior do
superior ofendido) nas modalidades comissivas do motim, aqui agravadas pelo uso de
armas.

ALICIAÇÃO PARA MOTIM OU REVOLTA

Tipo penal:

Art. 154. Aliciar militar para a prática de qualquer dos crimes previstos no Capítulo I
deste Título (CAPÍTULO I – Do Motim e da Revolta – arts. 149 a 152)

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Pena - reclusão, de dois a quatro anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade e disciplina militar, são atingidas
pelo infrator ao buscar convencer (aliciar) terceiros para o motim ou a revolta, ferindo assim a
estrutura Institucional, a ordem castrense.

Sujeito Ativo: é qualquer pessoa, militar ou civil (este apenas no âmbito federal). Se contra
as instituições militares estaduais, será crime previsto no delito de Incitação ao crime (art. 286, do CP),
não havendo semelhança para justificar a complementação da tipicidade pelo inc. II, cabendo a do
inc. I, primeira parte, do art. 9º do CPM. (DEFINIDO DE MODO DIVERSO NA LEI PENAL
COMUM, no CASO O CP)

Sujeito Passivo: é a própria Instituição Militar.

Elemento Objetivo: “aliciar” (atrair, seduzir, envolver, convencer o militar a praticar um


dos crimes previstos no Capítulo I – Do motim e da Revolta). Induzir deve ser entendido com “persuadir
à prática de alguma coisa” “ou ser causa ou motivo de (sensação, impressão) em alguém; inspirar
provocar. Já incitar é apenas gerar a idéia (fazer surgir no pensamento alguma ideia antes,
inexistente).

Elemento subjetivo: dolo, intenção, vontade livre e consciente, apenas para os delitos
dos art. 149 a 152, do CPM.
art. 149 – Motim , caput e parágrafo único);
art. 150 – Organização de grupo para a prática de violência;
art. 151 – Omissão de Lealdade;
art. 152 – Conspiração.

Tentativa: É possível quando o autor discursa, escreve ou de qualquer forma envia


ao(s) militar(es) mensagem(ens), mas não o(s) convence. Entra aqui na tentativa, quando o militar tenta
distribuir panfletos concitando a paralisação – contrariando ordem expressa e precedente em sentido
contrário e é preciso antes de distribuir o material. Se consumar a entrega, aí poderá, em concurso com
a aliciação, ocorrer o incitamento (art. 155), na forma do seu parágrafo único.

Crime impropriamente militar: Está previsto nas circunstâncias do inciso I (qualquer


que seja o agente) e nas alíneas dos incisos II (ativos e inativos da reserva remunerada revertidos para
atividade) e III (inativos ou civis, estes últimos apenas na esfera federal), do art. 9º, do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

OBS: Os crimes de que trata o CAPÍTULO I – Do Motim e da Revolta são: art. 149
(Motim e seu parágrafo único, a Revolta), art. 150 (Organização de grupo para a
prática de violência), art. 151 (Omissão de lealdade), art. 152 (Conspiração).

INCITAMENTO

Tipo penal:

Art. 155. Incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de crime militar:

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Pena - reclusão, de dois a quatro anos.


Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem introduz, afixa ou distribui, em lugar
sujeito à administração militar, material impresso, manuscrito ou produzido por meio
eletrônico, fotocopiado ou gravado que contenha incitamento à prática dos atos previstos
no caput deste artigo.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade e disciplina militar, são atingidas
pelo infrator ao incitar (buscar levar) terceiros a atos de indisciplina ou de desobediência em geral,
ferindo, igualmente, a estrutura, a ordem castrense, atinge a autoridade quando se prega a desobediência.

Sujeito Ativo: é qualquer pessoa, militar ou civil (este apenas no âmbito federal). Se
contra as instituições militares estaduais, será crime previsto no delito de Incitação ao crime (art.
286, do CP), também não havendo semelhança para justificar a complementação da tipicidade pelo
inc. II, cabendo, porém, a do inc. I, primeira parte, do art. 9º do CPM.

Sujeito Passivo: é a própria Instituição Militar.

Elemento Objetivo: “incitar” (impelir, mover, instigar) abrange a indisciplina e a


desobediência, não só a crimes, mas como incitar a desobediência e a indisciplina para prática de
infrações administrativas disciplinares que não configurem crime, mas cujo induzimento ofenda a
tutela penal militar.
OBS: na modalidade do seu parágrafo único, temos também como elemento objetivo –
“lugar sujeito à administração militar”, nos casos de fixação, introdução de impressos, etc ,
diferenciando-se da Aliciação para Motim ou Revolta (art. 154).

OBS: O Incitamento (art. 155, do CPM), diferencia-se também aqui da Aliciação para
motim ou revolta (art. 154), por este ultimo delito, ter o seu induzimento ocorrer apenas nos crimes dos
arts. 149 a 152, do CPM, cabendo se o induzimento for a outros crimes ou então, dentro da área sob
administração militar, a subsunção ao delito de Incitamento (art. 155, do CPM).

Elemento subjetivo: dolo, intenção, vontade livre e consciente.

Tentativa: É possível quando o autor envia a mensagem, mas essa é interceptada, NÃO
surtindo o efeito de excitar a ideia pré-existente.

Crime impropriamente militar: Está previsto nas circunstâncias do inciso I (descrito de


modo diverso na lei penal comum e qualquer que seja o agente) e nas alíneas dos incisos II e III, do art.
9º, do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR

(VER CONCEITO DE SUPERIOR DO ART. 24, do CPM)

Tipo penal:

Art. 157. Praticar violência contra superior:

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Pena - detenção de três meses a dois anos.

Formas Qualificadas

§1º. Se o superior é comandante da unidade a que pertence o agente, ou oficial general:


Pena - reclusão, de três a nove anos.
§2º. Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço.
§3º. Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do
crime contra a pessoa. (APLICAM-SE AS DUAS PENAS, comutação das penas)
§4º. Se da violência resulta morte:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§5º. A pena é aumentada da Sexta parte se o crime ocorre em serviço.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade (tanto a autoridade militar


quanto a Lei que é violada) e a disciplina militares.

Sujeito Ativo: o inferior hierárquico, da ativa ou inativo (da reserva remunerada)


equiparado a militar da ativa empregado na administração militar (nos termos do art. 12 e 13, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. II, do art. 9º) ou o inativo não equiparado a ativo (art. 12, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. III, art. 9º) e o civil (apenas na esfera federal), este último como coautor
(em concurso eventual, em observância ao que dispõe o art. 53, caput, do CPM, ante a elementar
“SUPERIOR”, desde que no exercício da função).

Os inativos (da reserva) se revertidos – art. 12, do CPM, serão equiparados aos militares
da ativa, praticando ou contra ele podendo ser praticados o crime militar de violência contra
superior, nas condições dos incisos I e II, do art. 9º, do CPM), desde que no exercício da função na
administração militar.

Os inativos que não estiverem na situação do art. 12, do CPM, serão sujeitos ativos no
crime de violência contra superior, na situação do inciso III, do art. 9º, do CPM.

OBS: militar inativo (não revertido para atividade nos termos do art. 12) contra outro
inativo (não revertido para atividade nos termos do art. 12), ou seja, a conduta será atípica na esfera penal
militar, nada obstando a apuração no âmbito disciplinar (art. 2º, da Lei nº 7.725/2022 - CEDME/PI).

OBS: militar em atividade contra inferior inativo, se for fora de lugar sujeito a
administração militar, praticará transgressão disciplinar, cuja apuração ocorrerá na esfera disciplinar
(art. 2º, da Lei nº 7.725/2022 - CEDME/PI).

Sujeito Passivo: imediato primário ou principal (as Instituições Militares) e o mediato ou


secundário (o superior hierárquico da ativa ou inativo revertido para atividade) este quando em serviço
ou no desempenho da função ali representando a administração militar. Já não estando o sujeito passivo
mediato em serviço ou em razão da função, a conduta do sujeito ativo (se militar) será criminalmente
atípica, devendo o fato ser resolvido na esfera disciplinar.

Elemento Objetivo: “praticar violência” contra superior hierárquico (que poderá, embora
de mesmo posto ou graduação ser, em determinada situação, superior desde que observados o que dispõe
os incisos do art. 9º, e o inativo será sujeito ativo ou passivo.

Elemento subjetivo: é o dolo, a vontade livre e consciente de investir contra o superior.


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Ou seja, o sujeito ativo (seja militar da ativa ou inativo), deve ter conhecimento de que o sujeito
passivo (mediato ou secundário), seja seu superior hierárquico (art. 47, I, do CPM).

Consumação: se consuma quando o autor atinge fisicamente o superior, seja direta


(contato corporal) ou indiretamente (com algum objeto).

Tentativa: o sujeito ativo investe contra a vítima, mas, circunstâncias alheias à sua
vontade o impedem.

Crime propriamente militar.

Tipicidade indireta: pode ser praticado por qualquer que seja o agente (terceira parte, do
inciso I, art. 9º) – militar da ativa ou inativo (revertido para atividade), com a subsunção do fato ao tipo
penal da parte especial, buscada nas alíneas do inciso II, do art. 9º. Com a ressalva do caso de concurso
(coautoria) eventual (art. 53, caput, do CPM), hipótese em que o civil, também poderá praticar o
crime em comento, como coautor (concurso eventual) ao auxiliar o militar a praticar a violência
contra o seu superior. Já o civil (este apenas na esfera federal) e o inativo não revertido, estes últimos
cuja subsunção está na complementação buscada nas alíneas do inciso III, do art. 9º. Exceto os da reserva
não remunerada (Ex. Reservistas de 1ª classe, Oficiais da Reserva não-remunerada – R-2).

Ação penal: pública incondicionada.

Exemplos:

Ex1: Sargento PM, de folga ou de serviço, está sujeito à prática de crime militar de
violência contra superior, um Capitão da PM no exercício da função.
Ex2: Sargento BM, de folga ou de serviço, está sujeito à prática de crime militar de
violência contra superior, um Capitão da BM, no exercício da função.
Ex3: Sargento da PMPI à disposição da Força Nacional de Segurança Pública agride
fisicamente, porém, sem lesionar um 1º Tenente da PMPB, também da Força Nacional, este último, de
serviço ou no exercício de uma função. Aplicação da Súmula 78, do STJ, no que se refere ao
processamento e julgamento do crime.
Ex4: Sargento da PMMA agride fisicamente, sem lesionar, um Capitão da PMPI, no
exercício de função ou de serviço, pode ser caracterizado também crime de violência contra superior.
Aplicação da Súmula 78, do STJ, no que se refere ao processamento e julgamento do crime.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

1- NÃO HAVERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR ENTRE MILITARES


DE FORÇAS ARMADAS E ESTADUAIS, POR ESTAREM ESTES MILITARES EM CONCEITOS
DIFERENTES DE MILITAR (art. 42, CF X art. 142,§3º, art. 22, CPM). No entanto, em caso de Guerra,
Estado de Sítio, ou por exemplo, militares estaduais PM ou BM integrando o contingente do Exército
Brasileiro em missão de Paz, fora do país, serão considerados militares as pessoas incorporadas (na forma
do art. 22, do CPM) àquela Força Armada, na subsunção ao art. 144, §6º, CF, devendo, neste caso, os
citados militares estaduais serem enquadrados nas mesmas prerrogativas militares dos militares do
Exército Brasileiro, na forma do art. 22, CPM, para fins de aplicação a Lei Penal Militar), hipótese, em
que poderá haver o crime militar de violência contra superior, pelos critérios ratione personae e ratione
labore, ou seja, em razão da função, entre militares estaduais e militares do Exército Brasileiro. Para
tanto, exemplificamos abaixo:

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Ex1: Grupamento de militares do Exército Brasileiro, excepcionalmente, sob o Comando de


um Capitão da Polícia Militar (PM), poderá ocorrer, portanto, o crime de violência contra superior
praticado por um militar do Exército contra este Capitão PM de serviço ou ele estando em razão função.
Aplicação do art. 124, da CF/88.

Ex2: Grupamento de bombeiros e policiais militares (incorporados ao Exército Brasileiro)


a serviço de operações de missão de paz pela ONU, no Haiti, sob o Comando de um Major do Exército
Brasileiro (EB). Pode ocorrer o crime de violência contra superior, praticado por um Soldado PM (de
folga ou de serviço) contra um Maj EB, desde que este esteja de serviço ou em razão da função.
Aplicação do art. 124, da CF/88.

2-NÃO SERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR SE FOR PRATICADO


CONTRA COISA, PERTENCENTE AO SUPERIOR.

3- OS MILITARES DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL, NO CONCEITO DO


ART. 42, DA CF, ESTÃO SUJEITOS À JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL (OU DO DISTRITO
FEDERAL), POIS PERANTE ESSE JUÍZO CASTRENSE, A POLÍCIA MILITAR E O CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR, SÃO COMO UMA ÚNICA CORPORAÇÃO (FORÇA MILITAR) COMO
SE NUNCA TIVESSEM SE DESMEMBRADO (SE SEPARADO), PARA FINS DE
PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DOS CRIMES MILITARES, NOS TERMOS DO ART. 125,
§§4º E 5º DA CF, OBSERVADA A RESSALVA DA SÚMULA 78, DO STJ.

4- EM REGRA, O CIVIL NÃO COMETE ESTE CRIME.

5-NÃO PRECISA DEIXAR LESÃO OU VESTÍGIO (TIPO ARRANCAR UM BOTÃO


DA FARDA, QUE NÃO E LESÃO, MAS É UM ATO DE VIOLÊNCIA) PARA SER CRIME.

6-NÃO SERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR, O ARREMESSO DE


EXCREMENTOS E CUSPIR NO SUPERIOR, SERÁ CRIME DE DESRESPEITO A SUPERIOR. NO
ENTANTO, SERÁ CRIME O EMPURRÃO, SOCOS MESMO QUE SEM LESÃO, ARRANCAR
BOTÃO DO UNIFORME, INSÍGNIAS...

7-NÃO SERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR SE TAL CONDIÇÃO


NÃO FOR CONHECIDA PELO AGENTE ATIVO (VER ART. 47, I, DO CPM) E A AGRESSÃO
COMETIDA PELO AGENTE ATIVO FOR EM REPULSA A AGRESSÃO COMETIDA PELO
SUPERIOR (art. 47, II, do CPM).

VIOLÊNCIA CONTRA MILITAR DE SERVIÇO

Tipo penal:

Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra
sentinela, vigia ou plantão:
Pena - reclusão, de três a oito anos.

Formas qualificadas
§ 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um terço.
§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do
crime contra a pessoa.
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§ 3º Se da violência resulta morte:


Pena – reclusão, de doze a trinta anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade e a disciplina militares.

Sujeito Ativo: civis, militares federais e estaduais (esfera federal). Já na esfera estadual
apenas os militares estaduais.
OBS: militar superior poderá figurar no polo ativo.
OBS: a agressão cometida pelo agente ativo contra o superior for com o
desconhecimento de sua condição de militar ou em repulsa a agressão provocada pelo militar de
serviço ou (art. 47, I e II do CPM), eximirá o sujeito ativo de responder por este crime.
OBS: a embriaguez voluntária não afasta a prática do delito.

Sujeito Passivo: a Instituição Militar sujeito passivo primário (imediato) e, o militar de


serviço agredido (passivo mediato ou secundário). P.ex. o Oficial/Fiscal de Dia (Oficial subalterno ou
mesmo, subtenente ou o aspirante), na PMPI, temos Oficial CPU (Coordenador de Policiamento da
Unidade), o Oficial SPM (Supervisor de Policiamento de Módulo (ou autoridade correspondente nas
OPMs especializadas), o Superior de Dia, Plantão da Corregedoria PM, a sentinela de plantão, etc.

Elemento Objetivo: Praticar a violência.

Elemento subjetivo: é o dolo, a vontade livre de praticar a violência contra o militar de


serviço.

Consumação: ocorre quando o autor atinge fisicamente o ofendido, seja direta (com o
próprio corpo) ou indiretamente (usando objeto).

Tentativa: é possível quando o agente investe contra o ofendido, porém é impedido por
circunstâncias alheias à sua vontade.

Tipicidade indireta: qualquer que seja o agente. O civil pratica na esfera federal, e o
inativo (inciso III, do art. 9º, do CPM).

Crime impropriamente militar (critério racione personae – qualquer que seja o agente
do inciso I, do CPM) - pode ser praticado por qualquer que seja o agente – militar ativo, inativo (inciso
III, do art. 9º, do CPM) ou civil – agente principal (se contra as Instituições Militares das FFAA, vide art.
124, da CF/88, e o art. 125, §4º, da CF/88, que exclui os civis se praticado contra as Instituições militares
estaduais). O civil irá responder a depender da conduta violenta que praticar na justiça comum, se o
sujeito passivo for militar estadual de serviço.
OBS: Temos aqui em uma primeira situação o civil (este apenas esfera federal) no polo
ativo, que conhece a condição de militar da vítima. Em segunda situação o militar (estadual ou
federal) ativo ou inativo (este, se nas condições do art. 12, do CPM) que conhece a condição de
militar da vítima, porém sem saber tratar-se a vítima de ser seu superior (ou inferior) hierárquico.
OBS: Cabem, porém, as considerações de desconstituição deste delito, caso também
presentes quaisquer das hipóteses do art. 47, I e II, do CPM.
Ação penal: pública incondicionada.

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DESRESPEITO A SUPERIOR

(VER CONCEITO DE SUPERIOR DO ART. 24, do CPM)

Tipo Penal:

Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

Desrespeito a comandante, oficial-general ou oficial de serviço.


Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o comandante da unidade a que pertence o
agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada da
metade.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade militar (personificada pelo


superior hierárquico) e a disciplina militares.

Sujeito Ativo: o inferior hierárquico, da ativa ou inativo (da reserva remunerada)


equiparado a militar da ativa empregado na administração militar (nos termos do art. 12 e 13, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. II, do art. 9º) ou o inativo não equiparado a ativo (art. 12, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. III, art. 9º) e o civil (apenas na esfera federal), este último como coautor
(em concurso eventual, em observância ao que dispõe o art. 53, caput, do CPM, ante a elementar
“SUPERIOR”, desde que no exercício da função).

Os inativos (da reserva) se revertidos – art. 12, do CPM, serão equiparados aos militares
da ativa, praticando ou contra ele podendo ser praticados o crime militar de desrespeito a superior,
nas condições dos incisos I e II, do art. 9º, do CPM), desde que no exercício da função na
administração militar.

Os inativos que não estiverem na situação do art. 12, do CPM, serão sujeitos ativos no
crime de desrespeito a superior, na situação do inciso III, do art. 9º, do CPM.
OBS: militar inativo (não revertido para atividade nos termos do art. 12) contra outro
inativo (não revertido para atividade nos termos do art. 12), ou seja, a conduta será atípica na esfera penal
militar, nada obstando a apuração no âmbito disciplinar (art. 2º, da Lei nº 7.725/2022 - CEDME/PI).
OBS: militar em atividade contra inferior inativo (não revertido para atividade nos termos
do art. 12), se for fora de lugar sujeito a administração militar, praticará transgressão disciplinar, cuja
apuração ocorrerá na esfera disciplinar (art. 2º, da Lei nº 7.725/2022 - CEDME/PI).

Sujeito Passivo: imediato primário ou principal (as Instituições Militares) e o mediato ou


secundário (o superior hierárquico da ativa ou inativo revertido para atividade), em serviço ou no
desempenho da função ali representando a administração militar. Já não estando o sujeito passivo mediato
em serviço ou em razão da função, a conduta do sujeito ativo (se militar) será criminalmente atípica,
devendo o fato ser resolvido na esfera disciplinar.

Elemento Objetivo: Praticar o desrespeito ao superior, diante de outro militar (válidas


as construções do art. 157, do CPM).

Elemento subjetivo: é o dolo, a vontade livre de praticar o desrespeito ao superior diante


de outro militar. O animus jocandi não exclui o dolo, a vontade deliberada de ofender o superior

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hierárquico ou funcional, no exercício da função.

Consumação: quando o autor ofende a vítima secundária (o superior). Obrigatoriamente,


só ocorrerá este crime, se na presença de pelo menos um outro militar (conditio sine quae non,
constante na própria tipicidade penal).

Tentativa: hipoteticamente aceita, pode ocorrer pela perda do controle emocional do


sujeito ativo, sendo raras às vezes em que é premeditado e praticado por escrito ou por outro meio
melhor trabalhado.

Tipicidade indireta: Só pode ser cometido propriamente por militares do serviço ativo
ou inativos (incisos I e II, do art. 9º, do CPM, se na forma do art. 12) e se não revertido apenas nas
hipóteses do inciso III, do art. 9º, exceto os da reserva não remunerada (Ex. Reservistas de 1ª classe,
Oficiais da Reserva não-remunerada – R-2).

Crime propriamente militar – previsto apenas no CPM (I, art. 9º, do CPM) e em regra,
só pode ser cometido propriamente por militares do serviço ativo ou inativos. Ressalvado o caso de
concurso (coautoria) eventual (art. 53, caput, do CPM), hipótese em que o civil, também poderá
praticar o crime em comento, como coautor (concurso eventual).

Ação penal: pública incondicionada.

Exemplos:

Ex1: Sargento PM, em serviço ou em razão da função, está sujeito à prática de crime militar
de desrespeito superior, contra um Capitão da PM no exercício da função.
Ex2: Sargento BM, em serviço ou em razão da função, está sujeito à prática de crime militar
de desrespeito superior, contra um Capitão da BM, no exercício da função.
Ex3: Sargento da PMPI à disposição da Força Nacional de Segurança Pública poderá
praticar o crime de desrespeito a superior - 1º Tenente da PMES, também da Força Nacional, estando este
último de serviço ou no exercício de uma função. Aplicação da Súmula 78, do STJ, no que se refere ao
processamento e julgamento do crime.
Ex4: Sargento da PMMA praticará o crime militar de desrespeito a superior contra um
Capitão da PMPI, no exercício de função ou de serviço, pode ser caracterizado também crime de
desrespeito a superior. Aplicação da Súmula 78, do STJ, no que se refere ao processamento e julgamento
do crime.
Ex5: Sargento PM que desrespeita com palavras desairosas Capitão PM que vai a sua casa,
junto com outros militares, chama-lo a fim de resolver uma ocorrência.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

1- NÃO HAVERÁ CRIME DE DESRESPEITO A SUPERIOR ENTRE MILITARES DE


FORÇAS ARMADAS E ESTADUAIS, POR ESTAREM ESTES MILITARES EM CONCEITOS
DIFERENTES DE MILITAR (art. 42, CF/88 X art. 142,§3º, CF/88). No entanto, em caso de Guerra,
Estado de Sítio, ou por exemplo, militares estaduais PM ou BM integrando o contingente do Exército
Brasileiro em missão de Paz, fora do país, serão considerados incorporados temporariamente (na forma do
art. 22, do CPM) àquela Força Armada, na subsunção ao art. 144, §6º, CF, devendo, neste caso, os citados
militares estaduais serem enquadrados nas mesmas prerrogativas militares dos militares do Exército
Brasileiro, ou seja, na forma do art. 22, CPM, para fins de aplicação a Lei Penal Militar), hipótese, em
que poderá haver o crime militar de desrespeito a superior, pelos critérios ratione personae e ratione
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labore, ou seja, em razão da função, entre militares estaduais e militares do Exército Brasileiro. Para
tanto, exemplificamos abaixo:
Ex1: Grupamento de militares do Exército Brasileiro, excepcionalmente, sob o Comando
de um Capitão da Polícia Militar (PM), numa operação em conjunto entre forças militares (operação
policial entre forças militares do Exército e PM, na retomada dos morros cariocas no RJ), estando estes
militares do Exército Brasileiro, subordinados funcionalmente ao Capitão da Polícia Militar, podendo
ocorrer, portanto, o crime de desrespeito a superior praticado por um militar do Exército contra este
Capitão PM de serviço ou ele estando em razão função. Aplicação do art. 124, da CF/88.
Ex2: Grupamento de bombeiros e policiais militares (incorporados ao Exército Brasileiro) a
serviço de operações de missão de paz pela ONU, no Haiti, sob o Comando de um Major do Exército
Brasileiro (EB). Pode ocorrer o crime de desrespeito superior, praticado por um Soldado PM (de folga ou
de serviço) contra um Maj EB, desde que este esteja de serviço ou em razão da função. Aplicação do art.
124, da CF/88.

2- EM REGRA, O CIVIL NÃO COMETE ESTE CRIME.

3- OS MILITARES DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL, NO CONCEITO DO


ART. 42, DA CF, ESTÃO SUJEITOS À JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL (OU DO DISTRITO
FEDERAL), POIS PERANTE ESSE JUÍZO CASTRENSE, A POLÍCIA MILITAR E O CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR, SÃO COMO UMA ÚNICA CORPORAÇÃO (FORÇA MILITAR) COMO SE
NUNCA TIVESSE SE DESMEMBRADO (SE SEPARADO), PARA FINS DE PROCESSAMENTO E
JULGAMENTO DOS CRIMES MILITARES, NOS TERMOS DO ART. 125, §§4º E 5º DA CF,
OBSERVADA A RESSALVA DA SÚMULA 78, DO STJ.

4- O DESRESPEITO OBJETIVA-SE POR MEIO DE PALAVRAS, GRITOS, GESTOS,


IMITAÇÃO DE VOZES DE ANIMAIS, DESENHOS, ESCRITOS, RUIDOS, EM FIM, QUALQUER
MANIFESTAÇÃO EXTERNA CAPAZ DE TRANSMITIR DESRESPEITO.

5- SERÁ CRIME DE DESRESPEITO A SUPERIOR, O ARREMESSO DE


EXCREMENTOS E CUSPIR NO SUPERIOR.

6- NÃO SERÁ CRIME DE DESRESPEITO A SUPERIOR SE TAL CONDIÇÃO NÃO


FOR CONHECIDA PELO AGENTE ATIVO (VER ART. 47, I, DO CPM) E A AGRESSÃO
COMETIDA PELO AGENTE ATIVO FOR EM REPULSA A AGRESSÃO COMETIDA PELO
SUPERIOR (art. 47, II, do CPM).
,

DESRESPEITO A SÍMBOLO NACIONAL

Tipo Penal:

Art. 161. Praticar o militar diante da tropa, ou em lugar sujeito à administração militar,
ato que se traduza em ultraje ao símbolo nacional:
Pena - detenção, de um a dois anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade e a disciplina militares, pois um


desvio de conduta usando o símbolo nacional depõe contra a ordem mínima necessária à
normalidade da vida disciplinada de caserna.

Sujeito Ativo: o militar da ativa (alínea “e”, do Inciso II) e o inativo (alínea “a”, do inciso
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III), do art. 9º, do CPM.

Sujeitos Passivo: É a instituição militar (sujeito passivo imediato), ofendida pela


indisciplina.
Elemento Objetivo: praticar ultraje, ou ultrajar ao símbolo nacional (bandeira, hino,
armas nacionais, selo nacional, art. 13, §1º, da CF/88).

Elemento subjetivo: o dolo em ultrajar o símbolo nacional (bandeira, hino, selo, armas
nacionais). Não cabe para bandeiras estaduais.

Tentativa: É possível, exceto se for por palavra, gesto, ou qualquer outra conduta
instantânea. Ex1: cantar o hino nacional com tom de deboche. Ex2: queimar a bandeira (pavilhão) nacional
ou utilizá-la de alguma forma desrespeitosa, como pano de chão por exemplo. Ex3: militar que limpa a
boca com a bandeira nacional.

Consumação: com o desrespeito ao símbolo nacional.

Crime propriamente militar – previsto apenas no CPM (I, art. 9º, do CPM) e em regra,
só pode ser cometido propriamente por militares do serviço ativo ou inativos (os revertidos sua conduta
complementada pelos incisos I e II, do art. 9º, e os não revertidos pelo inc. III).
OBS: Ao civil, seja na esfera estadual ou federal, que praticar tal conduta de ultraje ao
símbolo nacional, restar-se-á aplicar as sanções o disposto no art. 40 (Provocação de tumulto. Conduta
inconveniente), da LCP (Lei das Contravenções Penais).

Tipicidade indireta: Como o delito só pode ser praticado por militar da ativa ou inativo
(excluído o da reserva não remunerada), para se ter a completa compreensão da tipicidade deste crime,
devem-se verificar o inciso I, para os militares da ativa, ou o inciso III, para os inativos, ambos do art. 9º
do CPM, bastando para a subsunção do fato ao delito, que sejam encontrados o elementos grafados no
tipo penal da Parte Especial do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

RECUSA DE OBEDIÊNCIA

Tipo penal:

Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou
relativamente a dever imposto em lei, regulamento ou instrução:
Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade e a disciplina militares.

Sujeito Ativo: inferior hierárquico e funcional (art. 24, do CPM). No tipo se utiliza
superior, então civil não comete o crime, apenas militares ativos e inativos (reformados ou da
reserva, este, ultimo se revertido atividade, nos termos do art. 12, do CPM, tendo as
responsabilidades inerentes ao seu posto ou graduação, conforme art. 13, do CPM).
Delito de mão própria, ou seja, é unissubjetivo – um só sujeito ativo vai praticar. A
ordem é sobre matéria de serviço, a dever imposto em lei, regulamento ou instrução, não se aplica as

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regras do art. 53, do CPM, por isso Não admite nenhum tipo de coautoria (nem necessária, nem
eventual), senão o crime seria motim ou revolta, que são crimes que admitem mais de um autor (e/ou
coautores), ou seja são crimes plurissubjetivos, em que, também e coletivamente os autores descumprem
ordem). Tem apenas participação.

Na participação: o civil (esfera federal) ou outro militar (este ultimo não subordinado
ao superior ofendido) não pratica o crime de recusa de obediência, mas participará neste caso,
INCITANDO o militar (inferior hierárquico com grau de subordinação) a se recusar cumprir a
ordem recebida do seu superior.

Sujeito Passivo: imediato ou primário – são as instituições militares, e o sujeito passivo


mediato ou secundário é o superior hierárquico da ativa e o inativo (se revertido para a atividade,
art. 12, com as prerrogativas do art. 13, do CPM). Há ofensa à autoridade e a disciplina. Deve haver
para o descumprimento da ordem, uma relação de subordinação superior-subordinado, em razão de ambos
estarem em serviço ou em razão da função. Já não estando este sujeito ativo em serviço ou em razão da
função, a sua conduta será a do crime militar de desobediência (art. 301, do CPM).

Elemento Objetivo: recusar a obedecer.

OBS: O descumprimento da ordem pode até ser silenciosa, mas não deve passar
despercebida. Exige o enfrentamento ainda que em silêncio.

A ordem dever ser:

 Imperativa: deve ser uma exigência. Por isso não é conselho ou pedido.
 Pessoal: deve ser dirigida a um ou mais inferiores. Não é ordem de caráter geral,
senão será coletiva, não constituindo crime e sim transgressão.
 Concreta: pura e simples, não há apreciação pelo subordinado.

OBS: a ordem é referente a matéria de serviço. Ordem direta da autoridade militar.

Sendo que o art. 301 do CPM (Desobediência, que não é crime contra a autoridade e
sim contra a administração militar, é crime contra ordem prevista na lei, apenas previsto na Lei, não
diretamente da autoridade.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre recusar a obedecer a ordem do superior


(hierárquico, inciso I ou funcional, inciso II do art. 24 do CPM).

Tentativa: Não é possível a tentativa.

Consumação: com a efetiva recusa da obediência pelo autor (ou sujeito ativo).

Crime propriamente militar.

Tipicidade indireta:

Como o delito só pode se praticado por militares da ativa ou inativos (excluído o da


reserva não remunerada), para se ter a completa compreensão da tipicidade deste crime, devem-se
verificar o inciso I ou o inciso III, ambos do art. 9º do CPM, bastando para a subsunção do fato ao delito,
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que sejam encontrados o elementos grafados no tipo penal da Parte Especial do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

OBS: juntamente com os crimes de “Oposição à ordem de sentinela” (art. 164),


“Reunião ilícita” (art. 165) e “Publicação ou crítica indevida” (art. 166) são espécies de Crimes de
Insubordinação.

OPOSIÇÃO À ORDEM DA SENTINELA

Tipo Penal:

Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela:


Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade militar, personificada no


ordenador da ordem transmitida pela Sentinela. A disciplina é maculada em face da perturbação à
regularidade da Instituição Militar, turbada pela oposição.

Sujeito Ativo: poderá ser o militar (ativo ou inativo), federal ou dos Estados, bem como o
civil (este apenas na esfera federal). O militar de qualquer posto ou graduação ainda que superior
hierárquico da sentinela, poderá figurar no polo ativo do delito. Ex: um Major PM poderá ser autor
(sujeito ativo do delito) ao ser opor à ordem de uma sentinela, soldado PM da guarda do quartel.

Sujeito Passivo: imediato ou primário – são as instituições militares, e o sujeito passivo


mediato ou secundário a Sentinela e até o ordenador da ordem retransmitida é que é aquele que
superior da Sentinela (Comandante, Subcomandante da Unidade, Oficial de Dia, Comandante da
Guarda, Cabo da Guarda, por exemplo).
A Sentinela é apenas a transmissora da ordem emanada do Comandante do Órgão
Militar.

Elemento Objetivo: “opor-se”, obstar, contrariar, interromper, impedir a ordem.


Esta oposição à ordem pode dar-se por palavras, por gestos, por comportamento comissivo
ou omissivo que permitam a qualquer um entender que o autor não se submeterá à determinação recebida.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre e consciente, a intenção de se opor à ordem da


Sentinela.
OBS: Ausente a intenção de afronta à autoridade militar não haverá o crime. Por exemplo,
um militar (ou mesmo civil, este na esfera federal), que embora alertado de que não pode
estacionar em frente ao quartel, mesmo assim estaciona momentaneamente seu veículo, para
interceder junto ao Oficial de Dia, para que abra uma exceção.

Tentativa: Não admite a tentativa, por ser crime unissubsistente.

Consumação: o delito se consuma quando o autor se opõe, seja da forma que for, à ordem
da Sentinela.

Crime impropriamente militar.

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Tipicidade indireta: pode ser praticado por qualquer que seja o agente (terceira parte, do
inciso I, art. 9º) - militar com a subsunção do fato ao tipo penal da parte especial buscada nas alíneas do
inciso II, do art. 9º ou por civil (este apenas na esfera federal) ou inativo estes últimos cuja subsunção está
na complementação buscada nas alíneas do inciso III, do art. 9º do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

REUNIÃO ILÍCITA

Tipo Penal:

Art. 165. Promover a reunião de militares, ou nela tomar parte, para a discussão de ato
de superior ou assunto atinente à disciplina militar:
Pena - detenção, de seis meses a um ano a quem promove a reunião; de dois a seis meses a
quem dela participa, se o fato não constitui crime mais grave.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a disciplina e a autoridade militar, esta última
se versar sobre ordem de superior.

Sujeito Ativo: o sujeito ativo desse crime será apenas o militar (estadual ou federal)
inferior (ativo ou inativo) hierárquico ou funcional, ao praticante do ato discutido, em todas as
modalidades descritas na tipicidade penal. Já o civil (apenas na esfera federal) poderá praticar este crime,
apenas nas modalidades “promoção de reunião de militares” ou de “ou nela tomar parte... para
discussão de assunto atinente à disciplina”.
Ex1: Sargentos promovem ou fazem parte e se reúnem, para discutir o ato de seu
comandante de Unidade ou de outro superior hierárquico, ou sobre assunto atinente à disciplina da tropa
na OPM.

OBS: O superior que promover a reunião, para discutir ato de outro superior que seja
inferior hierárquico a ele, não praticará o crime, não será coautor, apenas partícipe (ao INCITAR).
Ex2: Um Major que sabendo do propósito da reunião de discutir ato de um Capitão,
empresta seu sítio para que Sargentos se reúnam e discutam o ato daquele Oficial Intermediário. Será o
Major partícipe do delito e não coautor. Já se o Major promover a reunião com o objetivo de discutir
o ato do capitão não será crime de reunião ilícita.
Para Célio Lobão “o militar que promove e os que participam da reunião para discutir ato
de superior, necessariamente são subordinados hierárquicos de quem emanou a ordem, o que não
impede a responsabilidade penal, por coautoria, do militar com grau hierárquico igual ou superior,
desde que promova a reunião ou dela participe juntamente com militares de menor grau hierárquico ao
seu”.

Sujeito Passivo: imediato a Instituição Militar e o mediato o superior hierárquico ou


funcional praticante do ato discutido.

Elemento Objetivo: “promover” a reunião de militares ou “tomar parte”.

Núcleos do tipo:

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Promover: organizar, acionar, convocar ou mobilizar outras pessoas, tornando a reunião


real para, no caso do tipo, discutir assuntos militares (ato de superior, assunto atinente à disciplina). Se
houver recusa do convite não há crime.
Tomar parte: participar no sentido de estar presente de forma engajada.

OBS: A reunião se configurará, em face da ausência de disposição em sentido contrário,


com a presença de, no mínimo, dois militares.
O ato de superior será qualquer atitude no bojo das relações afetas ao serviço, que
contenham decisão, deliberação, opinião etc., podendo este ato ser praticado gestualmente, por
escrito ou outras normas.
Estão fora da concepção do tipo penal da reunião ilícita, atos praticados na vida
privada, que não possam comprometer a disciplina e a autoridade no seio da caserna.
Ex. Não se enquadra no crime em comento, a reunião entre amigos militares, para
trocarem informações sobre o planejamento financeiro, mesmo de superior que se tenha individado
por falta de conhecimento de mesmo de técnicas de planejamento de orçamento pessoal.
O assunto atinente à disciplina – se promoção da reunião for para discutir de forma
negativa a disciplina em geral ou dela participar.
Se houver acerto para que aqueles militares ingressarem na conduta de motim (art. 149
ou seu parágrafo único a revolta) teremos o delito de conspiração (art. 152). Já se discussão se
enveredar para instigação à desobediência, à indisciplina ou prática ou outro crime militar teremos
o incitamento (art. 155). Se redundar no acerto para prática de deserção (art. 187 ou 188), teremos
o crime de concerto para deserção (art. 191).

Verifica-se uma subsidiariedade com outros delitos, especificamente na modalidade


“tomar parte”.

O militar que se reúne a outros sem saber do propósito do encontro e, ao tomar


conhecimento do teor da reunião do encontro, deixa o local imediatamente por não pactuar com a
discussão, não comete o delito. Porém sua omissão em não procurar evitar que ocorra a reunião, para
satisfazer interesse pessoal, poderá configura em crime de prevaricação (art. 319, do CPM).
Já embora não pactuando, resolver permanecer, independente do tempo na reunião,
responderá pelo delito.

Entendemos que inobstante o direito constitucional de reunião, estampado no art. 5º,


XVI, da CF, direito este individual e coletivo, sabemos que não pode ser usado como escudo protetivo
para a prática de atividades ilícitas, tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da
responsabilidade civil ou penal por atos criminosos.
Há para conter tal argumento a aplicação do princípio da relativização ou da convivência
das liberdades públicas, bucando-se para solucionar este dilema o verdadeiro significado da norma e da
harmonia com o texto constitucional.
Para tanto, partimos da premissa de que os textos constitucionais não são absolutos,
podendo haver a necessidade de sua restrição ou limitação, dentro da própria Constituição, quando ela
estabelece no próprio dispositivo citado que a exigência de que a reunião seja convocada e realizada
para um fim lícito, incluindo a previsão infraconstitucional para considerar determinado fim
ilícito, não podendo a reunião ser desencadeada para aquele fim, sob pena de responsabilidade,
inclusive penal militar.
Ex1: Reunião de militares para deliberar acerca de uma forma de descumprimento de uma
missão policial militar.

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Temos então a correta análise do tipo penal do art. 165, ou seja, sua constitucionalidade, no
sentido da aplicação do princípio da legalidade, quando há a vedação legal para que certos assuntos sejam
objeto de discussão por militares, sendo criminalizada a promoção de uma reunião para discutir tais
assuntos, bem como nela tomar parte. Por fim a reunião com tal escopo possui fim ilícito.

De acordo com o eminente constitucionalista Alexandre de Moraes, temos que a reunião


deve possuir os seguintes elementos:

 Pluralidade de participantes (diferente de partícipes): a reunião é considerada forma


de ação coletiva.
 Tempo: toda reunião deve ter duração limitada.
 Finalidade: a reunião tem um propósito determinado - finalidade ilícita, pacífica e sem
armas. Não sendo motivo de dissolução da reunião o fato de alguém estar portando armas. Deve-se, se
possível, haver o desarme para que prossiga a reunião, com o demais participantes desarmados.
 Lugar: a reunião deverá ser realizada em local delimitado, em área certa, mesmo que seja
um percurso móvel, desde que predeterminada. Sujeitando-se, tão somente, aos requisitos constitucionais,
estão nesta categoria, os desfiles, cortejos, comícios, banquetes com índole política.

Elemento subjetivo: Só admite o dolo, a intenção, vontade livre consciente de promover a


reunião ou nela tomar parte com um fim específico: discutir ato de superior ou assunto afeto à
disciplina. Ou seja, há a finalidade específica, elemento subjetivo específico.
OBS: caso o militar lá compareça, não poderá ser incriminado até o momento em que se
anuncie o que se pretende com a reunião, isso se deliberar pela permanência e por tomar parte na
discussão. Até este momento falta o dolo de afrontar os bens jurídicos tutelados e, portanto, não há falar
em crime de reunião ilícita.

Tentativa: Não cabe a tentativa em nenhuma das previsões, por se configurar delito
unissubsistente.

Consumação: o delito se consuma quando a reunião acontece, pois até que isso
aconteça, não há falar em “promover”, já que não existiu, nem em “tomar parte”, pelo mesmo
motivo.
Crime impropriamente militar.

Tipicidade indireta: pode ser praticado por qualquer que seja o agente (terceira parte,
do inciso I, art. 9º) - militar com a subsunção do fato ao tipo penal da parte especial buscada nas alíneas
do inciso II, do art. 9º ou por civil (este apenas na esfera federal) ou inativo estes últimos cuja subsunção
está na complementação buscada nas alíneas do inciso III, do art. 9º.

Ação penal: pública incondicionada.

PUBLICAÇÃO OU CRÍTICA INDEVIDA

Tipo Penal:

Art. 166. Publicar, o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou documento oficial, ou
criticar publicamente ato de seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a
qualquer resolução do Governo:

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Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): como no delito anterior, o bem protegido é a
disciplina militar perturbada pela afronta da publicação ou da crítica, entretanto, se o alvo da conduta for
ato de superior, teremos também o ferimento da autoridade de que o praticou.

Sujeito Ativo: é o militar (federal ou estadual) da ativa ou inativo revertido à


atividade empregado na administração militar, nos termos do art. 12, do CPM. O inativo (não revertido) e
o civil, se em concurso com militar da ativa, quando a circunstância pessoal “militar”, que é elementar
do crime, comunica-se aos concorrentes (art. 53, caput e §1º segunda parte, do CPM).

Sujeito Passivo: é a própria Instituição Militar (sujeito passivo imediato), que se vê lesada
em sua disciplina. Já o sujeito passivo mediato é superior hierárquico ou funcional do praticante do ato
atingido, criticado.

Elemento Objetivo: Publicar (tornar público) sem a devida autorização ato ou


documento oficial ou criticar ato de superior.
A primeira possibilidade é Publicar (tornar público), levar a conhecimento, o que pode ser
de viva voz, por escrito, diretamente ou através de meio qualquer como televisão ou jornal, e-mail etc.
Irrelevante o crime, se o público for interno (militares) ou externo (civis).

Segundo Célio Lobão temos:

Ato oficial: “consiste na declaração verbal ou escrita, de autoridade militar, relativa a


assunto atinente às Instituições Militares.
Documento: “qualquer objeto hábil para transmitir uma idéia, um pensamento, por meio de
escrita, desenho, número, figura geométrica, mídia digital ou meio eletrônico etc”, devendo ganhar o
adjetivo de oficial, ou seja, também, como no ato oficial, tratar de assunto atinente à Instituição Militar.
O ato ou documento tem que ser oficial e versar de assunto atinente à Instituição Militar,
havendo prejuízo à disciplina militar.

A segunda possibilidade é a de criticar publicamente, também ato ou documento oficial,


atinente à Instituição Militar.
Tal qual a discussão, a crítica pode comportar conteúdo positivo e negativo sendo que a
crítica positiva não afetará os bens tutelados, não bastando para caracterizar o tipo penal, por outro lado,
ocorrendo o delito se a crítica negativa.

A crítica, para ser delituosa, recairá sobre três objetos: a) o ato de superior; b) o assunto
atinente à disciplina; c) a resolução do governo.
A resolução, segundo o saudoso Hely Lopes Meirelles é “toda manifestação unilateral de
vontade da administração Pública, que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir,
resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados
ou a si própria”.
A publicação de resolução, nesse aporte, significa afronta à disciplina, pois o governo
se personifica na pessoa do Chefe do Poder Executivo que é, ao final, o Chefe Supremo da Força
Militar, seja ela federal ou estadual, conforme preceitos constitucionais (arts. 142 e 144, §6º, da CF).

Elemento subjetivo: só admite o dolo, a vontade livre e consciente de praticar as condutas

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descritas.
Caso o agente publique o ato ou documento, por autorização de pessoa que pense ser
competente para autorizar, sem que de fato o seja, haverá hipótese de erro de fato que afastará o
dolo, se plenamente escusável, isentando o agente de pena (art. 36, do CPM), sem prejuízo da
responsabilização da pessoa que, indevidamente, autorizou e provocou o erro (art. 36, §2º, do
CPM).

Tentativa: é admissível nos casos em que se tomam todas as providências para se


efetivar a publicação e ela acaba por não acontecer por fatores alheios á vontade do autor. No caso
específico da crítica, é inadmissível por ser modalidade unissubsistente.

Consumação: se consuma quando ocorre a publicação do ato ou documento em


questão, sendo indiferente para alguém que tenha acesso à publicação, bastando que, potencialmente,
possa ela chegar ao conhecimento de alguém, configurando em crime de perigo abstrato, o que leva a crer
que não se exige que a veiculação da informação lese efetivamente a disciplina e a autoridade
militares, basta simples conduta, sendo presumido o risco de lesão.

Já na crítica o crime se consuma com a externalização do pensamento crítico, desde


que publicamente, exigindo-se, porém, nesta modalidade, que pessoas apreendam as críticas
publicadas (crime de perigo concreto).

Crime propriamente militar:

Tipicidade indireta: pode ser praticado por qualquer que seja o agente (terceira parte, do
inciso I, art. 9º) – militar da ativa ou inativo (revertido para atividade), com a subsunção do fato ao tipo
penal da parte especial, buscada nas alíneas do inciso II, do art. 9º. Com a ressalva do caso de concurso
(coautoria) eventual (art. 53, caput, do CPM), hipótese em que o civil, também poderá praticar o
crime em comento, como coautor (concurso eventual) ao auxiliar o militar a praticar a publicação
ou a crítica indevida. Já ou por civil (este apenas na esfera federal) e o inativo não revertido, estes
últimos cuja subsunção está na complementação buscada nas alíneas do inciso III, do art. 9º. Exceto os da
reserva não remunerada (Ex. Reservistas de 1ª classe, Oficiais da Reserva não-remunerada – R-2).

Ação penal: pública incondicionada.

USO INDEVIDO POR MILITAR DE UNIFORME, DISTINTIVO OU INSÍGNIA

Tipo Penal:

Art. 171. Usar o militar, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia de posto ou de


graduação superior:

Pena - detenção, de seis meses a um ano se o fato não constitui crime mais grave.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a disciplina militar, que tem sua ordem
perturbada com a aparição pública de militar com indumentária que não lhe é pertinente. A peça indevida
deverá ser de superior, havendo afronta a autoridade do posto ou da graduação que está sendo violado,
sendo ela a autoridade militar, também objeto da proteção.

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FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL MILITAR
Curso de Formação de Soldados – CFSD/2023

Sujeito Ativo: é o militar (federal ou estadual) da ativa ou inativo revertido a atividade e


empregado na administração militar, nos termos do art. 12, do CPM.
Por ser “crime de mão própria” o inativo (não revertido) e o civil, se em concurso com
militar da ativa, quando a circunstância pessoal “militar”, for elementar do crime, comunica-se aos
concorrentes (art. 53, caput e §1º segunda parte, do CPM), serão partícipes, nunca coautores.

Sujeito Passivo: é a Instituição Militar (sujeito passivo imediato).

Elemento Objetivo: “usar”, que significa utilizar, vestir-se com uniforme, distintivo ou
insígnia de posto ou graduação superior.
OBS: o uso tem que ser indevido, o que implica desconformidade com os regulamentos de
ordens vigentes e estar desabrigado pela autorização superior.
Ex. autorização de uso para teatralização em um treinamento ou até mesmo para um evento
de cunho artístico.
Quanto aos demais elementos típicos, o agente deve usar uniforme, distintivo ou insígnia
de posto ou graduação superior.
 Uniforme: é o fardamento constituído pela roupa, cobertura, calçados, equipamentos e
acessórios como cinto, meias, quepes, capacetes e outras peças, que assim forem definidas em
regulamento.
 Distintivo: é o símbolo sobreposto ao uniforme, indicativo de curso (brevê), brasão da
Unidade Militar , ou de função desempenhada pelo militar (ex. o alamar de ajudante de ordens do
Governador do Estado).
 Insígnia: é o símbolo também sobreposto ao uniforme, geralmente nas golas, ombros ou
mangas de camisa, indicativo de quadro, arma, posto ou graduação.
OBS: aquele que se utiliza de peças avulsas (camisas, gandolas, etc) do uniforme com
outras roupas que não o uniforme regulamentar não estará em prática delitiva, resolvendo-se a questão
apenas na esfera disciplinar.

Elemento subjetivo: Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente do autor de


usar uniforme, distintivo ou insígnia de superior, capaz de provocar o engodo ou confusão, não
necessariamente praticando atos em que pretensamente se passe por superior.
OBS: O dolo estará ausente, portanto, não teremos o delito, se o ato for praticado por
brincadeira (animus jocandi), em peças teatrais, trotes etc. Cabendo apurar-se o fato na esfera
disciplinar.

Tentativa: não é possível por ser crime de unissubsistente.

Consumação: o delito se consuma quando o autor usa peça (própria ou de superior) a que
não faz jus, independentemente de ele praticar ou não o ato de passar-se por superior, bastando que sua
conduta confunda os que com ele eventualmente interagirem, gerando risco à disciplina e
autoridade miliares.

Crime propriamente militar.

Tipicidade indireta: só pode ser praticado propriamente por militar da ativa (ou inativo
revertido para atividade nos termos do art. 12, CPM, empregado na administração militar), devendo para
se ter a completa compreensão da tipicidade deste crime, verificar o inc. I, do art. 9º, do CPM, para a
subsunção do fato a este delito.

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FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL MILITAR
Curso de Formação de Soldados – CFSD/2023

Ação penal: pública incondicionada.

USO INDEVIDO DE UNIFORME, DISTINTIVO OU INSÍGNIA MILITAR POR


QUALQUER PESSOA

Tipo Penal:

Art. 172. Usar, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia militar a que não tenha
direito:
Pena - detenção, até seis meses.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): é autoridade militar, que pode ser lesada diante
do engodo (confusão) causado pelo uso indevido de uniforme. Visa, resguardar a disciplina militar
afetada pelo uso indevido do uniforme.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa, civil ou militar (da ativa ou inativo). O civil apenas na
esfera federal. Caso o uniforme (insígnia ou distintivo) utilizado seja das Milícias Estaduais, a tipificação
será buscada (definido de modo diverso) na legislação penal comum (art. 46, da Lei da
Contravenções Penais – LCP).
OBS: aqui temos a situação do superior que poderá incorrer no delito, se utilizar
uniforme (insígnia ou distintivo) de inferior hierárquico. Ex. Oficial que incorre no delito, ao vestir
uniforme de sargento, afrontando, portando a disciplina.

Sujeitos Passivo: é a própria Instituição Militar.

Elemento Objetivo: aqui temos, diferindo do delito anterior (do art. 171) apenas o fato de
que naquele a conduta recai sobre uniforme, distintivo ou insígnia próprios de superior, enquanto aqui
temos a utilização será sobre qualquer uniforme, insígnia ou distintivo, da indumentária referente ao
superior.
OBS: Da mesma forma que no outro delito (do art. 171), a utilização indevida deve ser
capaz de provocar engodo, confusão, pondo em risco os bens tutelados. Não precisa o uniforme estar
completo, bastando que sua utilização cause confusão.
OBS: Da mesma que no outro delito (do art. 171) se utiliza de peças avulsas (camisas,
gandolas, etc) do uniforme com outras roupas que não o uniforme regulamentar não estará em prática
delitiva, resolvendo-se a questão apenas na esfera disciplinar.

Elemento subjetivo: Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de usar


indevidamente o objeto.

Tentativa: não é possível por se tratar de crime unissubsistente.

Consumação: se consuma quando o autor usa o uniforme, distintivo ou insígnia a que não
faz jus, independentemente de ele, se civil, praticar ou não ato passando-se por militar, de praticar ato
especificamente respaldado pelo curso, estágio, classificação em Unidade, função, representados pelo
distintivo ou insígnia, bastando como no delito anterior (art. 171), a demonstração de que sua conduta era
capaz de confundir os que com ele eventualmente interagirem, gerando risco à disciplina e à autoridade
miliares.

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Crime impropriamente militar (por estar definido de modo diverso na Lei Penal Comum,
no caso a LCP).

Tipicidade indireta: o agente deve querer atentar contra a Instituição Militar. Pode ser
praticado por qualquer pessoa militar superior da ativa (ou inativo revertido para atividade nos termos do
art. 12, CPM, empregado na administração militar), devendo para se ter a completa compreensão da
tipicidade deste crime, verificar o inc. I, do art. 9º, do CPM, para a subsunção do fato a este delito,
superior inativo não revertido para atividade e civil (este na esfera federal), cuja complementação deve
ser buscada no inc. III, do art. 9º, do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

RIGOR EXCESSIVO

Tipo Penal:

Art. 174. Exceder a faculdade de punir o subordinado, fazendo-o com rigor não
permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou escrito:
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade militar daquele que exercita mal
seu poder e perde a ascendência sobre seus subordinados, assim com a disciplina militar, atingida pela
quebra da relação funcional sadia entre as partes.

OBS: A ofensa poderá ser verbal ou por escrito (Publicação).

Sujeito ativo: comete só o militar SUPERIOR hierárquico ou funcional (apenas do


serviço ativo ou o inativo revertido, nos termos do art. 12, empregado na administração) – o
SUPERIOR HIERÁRQUICO (art. 24, I) ou FUNCIONAL (art. 24, II) pode ser sujeito ativo (crime
outrora praticado apenas por Oficial, pois antes a pena era de “suspensão do exercício do posto”,
que fora extinta no CPM, com a Lei nº 14.688/2023, sendo substituída pela pena de detenção,
podendo, hoje, sim, sim agora ser cometido tanto por Oficial como por Praça, desde que estes na
condição de superior funcional ou hierárquico do sujeito passivo).
O Superior (ver definição do art. 24, do CPM): deve ter também ascendência funcional
sobre o subordinado, e consequentemente o poder de puní-lo.

OBS: OBS: Na PMPI, o poder de punir (ou poder disciplinar), com a sua respectiva
competência está previsto no art. 13, do CEDME/PI, este também adotado pelo Corpo de Bombeiros
Militar do Estado do Piauí - CBMEPI), bem como nos Regimentos das Unidades de Ensino da PMPI.

OBS: Por se tratar o delito de “Crime de mão própria”, o Inativo (não revestido para
atividade) e o Civil não cometem o delito como coautores, por conta da expressão subordinado, cabendo
apenas a militares da ativa (ou inativo revertido) a prática do delito. Podendo ser partícipes, Não
admitirá o concurso, pois é delito de mão própria, admitindo-se apenas a participação. (NA
INCITAÇÃO)

Sujeito Passivo: imediato – as Instituições Militares, mediato – O militar punido (sujeito


ativo mediato).

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Elemento Objetivo: “exceder”, passar do limite legal, ultrapassar a possibilidade técnica


trazida pela Lei ou Regulamento.
OBS: o excesso pode se verificar de três formas:
 A primeira delas é impondo ao subordinado uma sanção não prevista na norma
disciplinar castrense, como por exemplo número de dias de prisão ou detenção acima do prazo legal, ou
ainda, mandar como punição disciplinar o subordinado confeccionar trabalho da faculdade onde o
Superior cursa;
 O excesso pode ainda consistir na imposição de condições subumanas no período
de execução da sanção disciplinar com limitação de locomoção, falta de água ou alimentação, seja porque
não há banheiro no local, ou ainda, não há água corrente, etc.
 O excesso seria ainda, ofender o subordinado com palavras (impropérios), atos
(gestos ofensivos) ou escrito, isso tanto no documento formal de punição (despacho com enquadramento
disciplinar, nota de corretivo ou nota de punição), ao motivar sua decisão, ofendendo por escrito o
subordinado;
 Se dá também o excesso com a ofensa face a face, como por exemplo, no
momento da divulgação da punição à tropa, ao ler o enquadramento o superior o faz de forma exaltada,
ofendendo seu subordinado por palavra ou ato excessivo ali realizado.
O delito de rigor excessivo (art. 174, do CPM) é subsidiário, sendo absorvido por
delito mais grave (aplica-se a exasperação) se verificado, conforme de denota da análise do preceito
secundário que consigna a expressão “se não constituir fato mais grave”. Assim, se do excesso praticado
pelo agente resultar lesão corporal, ou mesmo morte, do sujeito passivo mediato (o subordinado), os
delitos de lesão corporal ou de homicídio hão de absorver o delito em comento.

Elemento subjetivo: só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de atacar


seu subordinado mediante aplicação de punição excessiva ou ilegal.

Tentativa: É possível na modalidade da infração praticada por escrito, se enviada à


publicação e interceptada por motivos alheios à vontade do acusado, ou ainda, no caso de o rigor
excessivo ter sido determinado, mas impedido no momento da execução.

Consumação: o crime se consuma quando o autor publica ou ofende seu subordinado por
palavra ou ato, ou ainda quando lhe impõe o cumprimento do corretivo em local incompatível à
sobrevivência humana (ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana).

Crime propriamente militar

Tipicidade indireta: Como ao delito só pode ser perpetrado propriamente por militar da
ativa superior hierárquico ou funcional, com competência disciplinar para punir.
Para se ter a completa compreensão da tipicidade deste crime, deve-se verificar o inciso I
do art. 9º, do CPM, bastando para a subsunção do fato ao delito, que sejam encontrados o elementos
grafados no tipo penal da Parte Especial do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR

(VER CONCEITO DE SUPERIOR DO ART. 24, do CPM)


Tipo Penal:

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Art. 175. Praticar violência contra inferior hierárquico:


Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo Único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte é também aplicada a
pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando for o caso, ao disposto no art. 159.

Observações:
Sujeito Ativo: o superior hierárquico, da ativa ou inativo (da reserva remunerada
equiparado a militar da ativa empregado na administração militar, nos termos do art. 12 e 13, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. II, do art. 9º) ou o inativo não equiparado a ativo (art. 12, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. III, art. 9º) e o civil (este apenas na esfera federal), este último como
coautor (em concurso eventual, em observância ao que dispõe o art. 53, caput, do CPM, ante a elementar
“INFERIOR”, desde que no exercício da função).

Os inativos (da reserva) se revertidos – art. 12, do CPM, serão equiparados aos militares
da ativa, praticando ou contra ele podendo ser praticados o crime militar de violência contra
inferior, nas condições dos incisos I e II, do art. 9º, do CPM), desde que no exercício da função na
administração militar.

Os inativos que não estiverem na situação do art. 12, do CPM, serão sujeitos ativos no
crime de violência contra inferior, na situação do inciso III, do art. 9º, do CPM.

OBS: militar inativo (não revertido para atividade nos termos do art. 12) contra outro
inativo (não revertido para atividade nos termos do art. 12), ou seja, a conduta será atípica na esfera penal
militar, nada obstando a apuração no âmbito disciplinar (art. 2º, da Lei nº 7.725/2022 - CEDME/PI).

OBS: militar em atividade contra inferior inativo, se for fora de lugar sujeito a
administração militar, praticará transgressão disciplinar, cuja apuração ocorrerá na esfera disciplinar
(art. 2º, da Lei nº 7.725/2022 - CEDME/PI).
Sujeito Passivo: imediato primário ou principal (as Instituições Militares) e o mediato ou
secundário (o superior hierárquico da ativa ou inativo revertido para atividade), este quando em serviço
ou em razão da função. Já não estando o sujeito passivo mediato em serviço ou em razão da função, a
conduta do sujeito ativo (se militar) será criminalmente atípica, devendo o fato ser resolvido na esfera
disciplinar.

Exemplos:

Ex1: Capitão PM, de serviço (ou em razão da função) ou de folga, está sujeito à prática de
crime militar de violência contra inferior, um Sargento da PM no exercício da função.
Ex2: Capitão BM, de serviço (ou em razão da função) ou de folga, está sujeito à prática de
crime militar de violência contra inferior, um Sargento da BM, no exercício da função.
Ex3: Capitão Bombeiro desempenhando funções na PMPI está sujeito à prática de crime
militar de violência contra inferior, um Sargento da PM, no exercício da função.
Ex4: Capitão da PM de folga ou no desempenho de funções no CBMEPI, está sujeito à
prática de crime militar de violência contra inferior, um Sargento da BM, estando este último de serviço
ou no desempenho de função.
Ex5: Capitão da PMPI de serviço (ou em razão da função) ou de folga, à disposição da
Força Nacional de Segurança Pública agride fisicamente, porém, sem lesionar, um Sargento da PMES,
também da Força Nacional, este último de serviço ou no exercício de uma função. Aplicação da Súmula
78, do STJ, no que se refere ao processamento e julgamento por crime, no caso, de violência contra
inferior.
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Ex6: Capitão da PMMA agride fisicamente, sem lesionar, um Sargento da PMPI, este
último no exercício de função ou de serviço, pode ser caracterizado também crime de violência contra
inferior. Aplicação da Súmula 78, do STJ, no que se refere ao processamento e julgamento por crime, no
caso, de violência contra inferior.

Elemento Objetivo: “praticar violência” contra inferior hierárquico (que poderá, embora
de mesmo posto ou graduação ser, em determinada situação, inferior desde que observados o que dispõe
os incisos do art. 9º, e o inativo será sujeito ativo ou passivo.

Elemento subjetivo: é o dolo, a vontade livre e consciente de investir contra o inferior. Ou


seja, o sujeito ativo (seja militar da ativa ou inativo), deve ter conhecimento de que o sujeito passivo
(mediato ou secundário), seja seu inferior hierárquico ou funcional (art. 47, I, do CPM), no exercício
da função.

Consumação: se consuma quando o autor atinge fisicamente o inferior, seja direta


(contato corporal) ou indiretamente (com algum objeto).

Tentativa: o sujeito ativo investe contra a vítima, mas, circunstâncias alheias à sua
vontade o impedem.

Crime propriamente militar – previsto apenas no CPM (I, art. 9º, do CPM) e só pode
ser cometido propriamente por militares do serviço ativo ou inativos. Ressalvado o caso de concurso
(coautoria) eventual (art. 53, caput, do CPM), hipótese em que o civil, também poderá praticar o
crime em comento, como coautor (concurso eventual).

Tipicidade indireta: pode ser praticado por qualquer que seja o agente (terceira parte, do
inciso I, art. 9º) – militar da ativa ou inativo (revertido para atividade), com a subsunção do fato ao tipo
penal da parte especial, buscada nas alíneas do inciso II, do art. 9º. Com a ressalva do caso de concurso
(coautoria) eventual (art. 53, caput, do CPM), hipótese em que o civil, também poderá praticar o
crime em comento, como coautor (concurso eventual) ao auxiliar o militar a praticar a violência
contra o seu inferior. Já ou por civil (este apenas na esfera federal) e o inativo não revertido, estes
últimos cuja subsunção está na complementação buscada nas alíneas do inciso III, do art. 9º. Exceto os da
reserva não remunerada (Ex. Reservistas de 1ª classe, Oficiais da Reserva não-remunerada – R-2).

Ação Penal: Pública incondicionada.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

1- NÃO HAVERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR ENTRE MILITARES


DE FORÇAS ARMADAS E ESTADUAIS, POR ESTAREM ESTES MILITARES EM CONCEITOS
DIFERENTES DE MILITAR (art. 42, CF/88 X art. 142,§3º, CF/88). No entanto, em caso de Guerra,
Estado de Sítio, ou por exemplo, militares estaduais PM ou BM integrando o contingente do Exército
Brasileiro em missão de Paz, fora do país, serão considerados incorporados na forma do art. 22, do CPM
àquela Força Armada, na subsunção ao art. 144, §6º, CF, devendo, neste caso, os citados militares
estaduais serem enquadrados nas mesmas prerrogativas militares dos militares do Exército Brasileiro, ou
seja, no conceito do art. 22, CPM, para fins de aplicação a Lei Penal Militar), hipótese, em que poderá
haver o crime militar de violência contra inferior, pelos critérios ratione personae e ratione labore, ou
seja, em razão da função, entre militares estaduais e militares do Exército Brasileiro. Para tanto,

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exemplificamos abaixo:

Ex1: Grupamento de militares do Exército Brasileiro, excepcionalmente, numa operação em


conjunto entre forças militares (operação policial entre forças militares do Exército e PM, na retomada
dos morros cariocas no RJ), estando estes militares do Exército Brasileiro, subordinados funcionalmente
ao Capitão da Polícia Militar, podendo ocorrer, portanto, o crime de violência contra inferior se praticado
por aquele Capitão PM, contra um soldado EB, estando este de serviço ou em razão função. Aplicação do
art. 124, da CF/88.

Ex2: Grupamento de bombeiros e policiais militares (incorporados ao Exército Brasileiro)


a serviço de operações de missão de paz pela ONU, no Haiti, sob o Comando de um Major do Exército
Brasileiro (EB). Pode ocorrer o crime de violência contra superior, praticado por um 1º Sargento PM (de
folga ou de serviço) contra um Soldado EB, desde que este último esteja de serviço ou em razão da
função. Aplicação do art. 124, da CF/88.

2-NÃO SERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR SE FOR PRATICADO


CONTRA COISA, PERTENCENTE AO INFERIOR.

3- OS MILITARES DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL, NO CONCEITO DO


ART. 42, DA CF, ESTÃO SUJEITOS À JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL (OU DO DISTRITO
FEDERAL), POIS PERANTE ESSE JUÍZO CASTRENSE, A POLÍCIA MILITAR E O CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR, SÃO COMO UMA ÚNICA CORPORAÇÃO (FORÇA MILITAR) COMO SE
NUNCA TIVESSES SE DEMEMBRADO (SE SEPARADO), PARA FINS DE PROCESSAMENTO E
JULGAMENTO DOS CRIMES MILITARES, NOS TERMOS DO ART. 125, §§4º E 5º DA CF,
OBSERVADA A RESSALVA DA SÚMULA 78, DO STJ.

4- EM REGRA, O CIVIL NÃO COMETE ESTE CRIME.

5-NÃO PRECISA DEIXAR LESÃO OU VESTÍGIO (TIPO ARRANCAR UM BOTÃO


DA FARDA, QUE NÃO E LESÃO, MAS É UM ATO DE VIOLÊNCIA) PAR SER CRIME.

6-NÃO SERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR, O ARREMESSO DE


EXCREMENTOS E CUSPIR NO SUPERIOR, NO ENTANTO, SERÁ CRIME O EMPURRÃO, SOCOS
MESMO QUE SEM LESÃO, ARRANCAR BOTÃO DO UNIFORME, INSÍGNIAS.

7-NÃO SERÁ CRIME DE VIOLÊNCIA CONTRA INFERIOR SE TAL CONDIÇÃO


NÃO FOR CONHECIDA PELO AGENTE ATIVO (VER ART. 47, I, DO CPM) E A AGRESSÃO
COMETIDA PELO AGENTE ATIVO FOR EM REPULSA A AGRESSÃO COMETIDA PELO
INFERIOR (art. 47, II, do CPM).

RESISTÊNCIA MEDIANTE AMEAÇA OU VIOLÊNCIA


(Correspondente no art. 329, do CP)

Tipo penal
Art. 177. Opor-se à execução de ato legal, mediante ameaça ou violência ao executor, ou a
quem esteja prestando auxílio:

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Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Forma qualificada

§1º Se o ato não se executa em razão da resistência:


Pena – reclusão de dois a quatro anos.

§ 1º-A. Se da resistência resulta morte:


Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.

Cumulação de penas
§ 2º As penas previstas no caput e no §1º deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
correspondentes à violência.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade, perturbada pelo ímpeto do autor
em não se submeter ao ato legal, e a disciplina militar.

Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, militares federais (ativos e inativos), estaduais (ativos e
inativos) e civil (apenas na esfera federal). Ver as circunstâncias do art. 9º, inciso II, de militar da ativa (e
o inativo revertido nos termos do art.12, do CPM) e inciso III (civil e inativo não revertido para o serviço
ativo), do art. 9º, do CPM.

Sujeito Passivo: sujeito passivo imediato (as Instituições Militares) e sujeito passivo
mediato – o executor ou aquele que auxilia na execução do ato legal.

Elemento Objetivo: “Opor-se à execução” (reagir, resistir). Resistir para que o ato não
se realize.

OBS:
A resistência deve ocorrer com violência física ou ameaça (verbal ou por escrito), por parte
do autor.
A resistência passiva não é crime de resistência. Ex. Militar que se algema para poder
evitar a sua prisão em flagrante.
A violência deve ser dirigida a pessoa e não a coisa.
Haverá soma de penas, se ocorrerem outros crimes mais graves, com o homicídio ou
desacato a superior ou a militar, por exemplo.

Elemento subjetivo: o dolo, a intenção e a livre vontade de opor resistência contra


execução de ato legal.

Tentativa: admite tentativa, quando o autor ao investir fisicamente contra o executor


da ordem é impedido por questões alheias a sua vontade (Alguém que impede a reação do sujeito
ativo). A mensagem escrita de ameaça é interceptada.

Crime impropriamente militar: Previsto nas duas legislações (art. 177, do CPM e art.
329, do CP).

Tipicidade indireta: Para a completa compreensão da tipicidade deste delito, quando


praticado por militar em situação de atividade, deve-se verificar o inciso II do art. 9º do CPM,
complementando a tipicidade com uma das alíneas do referido inciso, geralmente a alínea “a” que
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subsume fato praticado por militar da ativa contra militar na mesma situação. A complementação pelo
inciso II, de notar, deve-se ao fato de o tipo penal em estudo possuir semelhante previsão no Código Penal
comum, especificamente no art. 329, do CP. Já se o delito foi cometido civil (este na esfera federal) ou
por inativo (não revertido para atividade), a complementação deve ser buscada nas alíneas do inciso III,
do art. 9º, lembrando que o agente, neste caso, deve querer atentar contra a própria Instituição Militar.

Ação penal: pública incondicionada.

FUGA DE PRESO OU INTERNADO (DE ESTABELECIMENTO MILITAR OU SOB


ESCOLTA) – Correspondente no art. 351, do CP.

Tipo penal:

Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida à medida
de segurança detentiva:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Formas qualificadas
§ 1º Se o crime é praticado a mão armada ou por mais de uma pessoa, ou mediante
arrombamento:
Pena – reclusão, de dois a seis anos.

§ 2º Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à


violência.

§ 3º Se o crime é praticado por pessoa sob cuja guarda, custódia ou condução está o
preso ou internado:
Pena – reclusão, até quatro anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade militar, personificada no


Comandante (Diretor) do Presídio, Comandante de Unidade, guarda ou locomoção ou de quem os
represente no caso da escolta, porquanto as prisões militares se constituem em Unidades
regularmente previstas da organização das Corporações Militares.

Sujeito Ativo: poderá ser qualquer pessoa, militar ou civil (este último apenas na esfera
federal).

Sujeitos Passivo: é a Instituição Militar.

Elemento Objetivo: “promover” ou “facilitar” a fuga de preso ou internado.


Promoção de fuga – significa originar, iniciar, causar ou provocar a fuga de preso ou
internado. Já a facilitação de fuga embora o agente não seja o desencadeador do plano de fuga, toma
parte no esquema, montado, favorecendo-a, tornando-a fácil, facultando-a por exemplo pela remoção de
obstáculo.
Na segunda modalidade (facilitar), a inciativa é do favorecido, ao que adere o agente
“auxiliando-o com instrumentos, meios de disfarces, informações etc, ou mesmo se omitindo quando se
tem o dever de obstar a fuga.
Ocorrerá o delito, quando se fala em pessoa presa legalmente (provisória ou definitiva)
ou internada - submetida a medida de segurança (atualmente deverá ser cumprida em “hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico”, antes, denominado manicômio judiciário) a disposição da

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Justiça (comum ou militar) em estabelecimento prisional militar (ou congênere).


A prisão terá que ser legal, caso contrário, não teremos o delito de “promoção ou
facilitação de fuga”.
Pode ocorrer o crime de facilitação de fuga de preso, se for de estabelecimento prisional
militar, ou sob escolta miliar, mesmo de preso civil ou militar (à disposição da justiça comum ou militar).

OBS: Não ocorrerá este delito se se tratar de preso disciplinar, cabendo para este caso
o tipo penal do delito militar de corrupção passiva, previsto no art. 308, §2º, do CPM.

Elemento subjetivo: só admite o dolo, a intenção de promover ou facilitar a fuga.

Tentativa: É admitida a tentativa, havendo promoção ou facilitação, mesmo a pessoa


presa ou sob medida de segurança não fugindo ou ainda, mesmo quando o preso é capturado na
tentativa de fuga, antes que se consiga se desvencilhar da esfera de vigilância do Estado.

Consumação: O delito se consuma quando o preso ou o submetido a medida de segurança


foge, mesmo que seja capturado em seguida.

Crime impropriamente militar: tem nas duas legislações - está no art. 178, do CPM e no
art. 351, do CP.

Tipicidade indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, vê-
se que ele ocorre quando praticado por qualquer pessoa, militares federais (ativos e inativos), estaduais
(ativos e inativos) e civil (apenas na esfera federal).
Ver no art. 9º, inciso II, alínea “e”, praticado por de militar da ativa (e o inativo revertido
nos termos do art.12, do CPM) e inciso III, alínea “a” (civil e inativo não revertido para o serviço ativo),
do art. 9º, do CPM. Deve o agente atentar contra a ordem administrativa da própria Corporação Militar.

Ação penal: pública incondicionada.

Modalidade Culposa

Art. 179. Deixar, por culpa, fugir pessoa legalmente presa, confiada à sua guarda ou
condução:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

OBS: Diferente ao do art. 178, neste não cabe este delito a pessoa submetida a medida
de segurança, apenas o preso.
Elemento Objetivo: “Deixar, por culpa”.

Elemento Subjetivo: A culpa.

Consumação: quando o preso foge, mesmo que capturado em seguida.

Crime propriamente militar: pois a modalidade culposa só tem no CPM.

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EVASÃO DE PRESO OU INTERNADO – Correspondente no art. 352, do CP.

Tipo penal:

Art. 180. Evadir-se, ou tentar evadir-se, o preso ou internado, usando de violência contra
a pessoa:
Pena - detenção, de um a dois anos, além da correspondente à violência.

§ 1º Se a evasão ou a tentativa ocorre mediante arrombamento da prisão militar:


Pena – detenção, de seis meses a um ano.

Cumulação de penas
§2º Se ao fato sucede deserção, aplicam-se cumulativamente as penas correspondentes.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade militar, personificada no


Comandante (Diretor) do Presídio, Comandante de Unidade, guarda ou locomoção ou de quem os
represente no caso da escolta, porquanto as prisões (recintos) militares se constituem em Unidades
regularmente previstas da organização das Instituições Militares.

Sujeito Ativo: será qualquer pessoa, civil (apenas na esfera federal) ou militar desde que
preso em recinto militar (prisão ou Unidade dotada de cela) ou submetido à escolta ou guarda de
autoridade militar.
OBS: Pode ocorrer o crime de evasão de preso, se fora do estabelecimento prisional
militar ou de estabelecimento prisional comum, neste caso, de preso (à disposição da justiça comum ou
militar).

Sujeito Passivo: é a Instituição Militar.

Elemento Objetivo: “Evadir” ou “tentar evadir”, podendo-se firmar que a figura tentada
equipara-se à consumada.
 Evadir-se é fugir, é subtrair-se à custódia ou guarda de outrem, sendo
fundamental que a prisão seja legal ou de outra forma, o delito não se verificará.
OBS: Essa evasão, somente será delituosa se for empregada violência contra a pessoa,
não importando ser ela a autoridade responsável pela guarda ou ainda um outro preso.
A violência deve ser dotada de contato físico, afastando-se a violência moral, representada
pela grave ameaça. Não se exige que a violência resulte em lesão ou morte naquele contra quem se dirigiu
a conduta, porém, se houver resultado nesse sentido, o preceito secundário comanda o cúmulo material
(soma das penas), sendo hipótese de concurso material de crimes com regra prevista no art. 79, caput do
CPM.

OBS: Não cabe este delito para evasão de prisão disciplinar.

OBS: A prisão tem que ser legal.

Elemento subjetivo: Só admite o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de praticar


violência contra a pessoa ou coisa com o fim único de conseguir fugir. Exige-se, portanto, um elemento
subjetivo específico do injusto (antigo dolo específico).

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Tentativa: Não admite tentativa.

Consumação: O delito se consuma quando o autor pratica o ato de violência e atinge a


pessoa, ou ainda destrói ou inutiliza, total ou parcialmente o mecanismo de segurança
(porta – arrombamento) de algum acesso que impeça a sua saída, tudo isso com o intuito
de fugir, mesmo que não consiga.

Crime impropriamente militar: Previsto também no art. 352, do CP.

Tipicidade indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, vê-
se que ele ocorre quando praticado por qualquer pessoa, militares federais (ativos e inativos), estaduais
(ativos e inativos) e civil (apenas na esfera federal).
Ver no art. 9º, inciso II, alínea “e”, praticado por militar da ativa (e o inativo revertido nos
termos do art.12, do CPM) e inciso III, alínea “a” (civil e inativo não revertido para o serviço ativo), do
art. 9º, do CPM. Deve o agente atentar contra ordem administrativa da própria Instituição Militar.
Sua conduta se aproxima do art. 352, do CP, tendo sua complementação dada pelo inc.
II, do art. 9º, do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

ARREBATAMENTO DE PRESO OU INTERNADO – Correspondente no art. 353, do


CP.

Tipo penal:

Art. 181. Arrebatar preso ou internado, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha
sob guarda ou custódia militar:
Pena - reclusão, até quatro anos, além da correspondente à violência.
Art. 353, CP.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a autoridade militar, personificada na pessoa


que tem o preso arrebatado sob sua guarda.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa, civil (esfera federal) ou militar.

Sujeitos Passivo: imediatamente a Instituição Militar e mediatamente o militar de quem


o preso foi arrebatado, lesado em sua autoridade. O preso arrebatado não se constitui em sujeito
passivo do delito em comento, mesmo que, posteriormente, seja efetivamente maltratado, ocasião em que
poderá ser sujeito passivo de outro delito (lesão corporal, atentado violento ao pudor etc.)

Elemento Objetivo: “arrebatar”, que significa tomar à força, arrancar, afastar a


custódia de autoridade militar, exigindo-se, pois que haja emprego de violência física contra a pessoa
ou coisa.

Ocorrerá o delito, quando se fala em pessoa presa legalmente (provisória ou definitiva)


ou internada - submetida a medida de segurança (à disposição da Justiça (comum ou militar) em
estabelecimento prisional militar (ou congênere), excluindo-se, a prisão disciplinar.

Elemento subjetivo: só admite o dolo, caracterizado pela prática de arrebatamento com

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o específico fim de maltratar a pessoa arrebatada (elemento subjetivo específico do tipo, antigo dolo
específico).

Tentativa: é possível a tentativa, como no caso do agente que inicia a ação, mas é
impedido, mediante força necessária da autoridade militar, de tomar a guarda do preso.

Consumação: se consuma quando o autor consegue tirar o preso ou internado do poder


daquele que lhe guardava.

OBS: Não se exige que o preso seja efetivamente maltratado.

Crime impropriamente militar.

Tipicidade indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, vê-
se que ele ocorre quando praticado por qualquer pessoa, militares federais (ativos e inativos), estaduais
(ativos e inativos) e civil (apenas na esfera federal).
Ver no art. 9º, inciso II, alínea “e”, praticado por de militar da ativa (e o inativo revertido
nos termos do art.12, do CPM) e inciso III, alínea “a” (civil e inativo não revertido para o serviço ativo),
do art. 9º, do CPM. Deve o agente atentar contra ordem administrativa da própria Instituição
Militar.
Sua conduta se aproxima do art. 353, do CP, tendo sua complementação dada pelo inc.
II, do art. 9º, do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

AMOTINAMENTO – Correspondente no art. 354, do CP.

Tipo penal:

Art. 182. Amotinarem-se presos, ou internados, perturbando a disciplina do recinto de


prisão militar:
Pena - reclusão, até três anos, aos cabeças; aos demais, detenção de um a dois anos.

Responsabilidade de partícipe ou de oficial

Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem participa do amotinamento ou, sendo
oficial e estando presente, não usa os meios ao seu alcance para debelar o amotinamento
ou evitar-lhe as consequências.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a disciplina militar é trazida no primeiro


plano da proteção da norma, por ser indispensável ao bom funcionamento de um recinto de prisão
militar. Também é com prática delituosa, sai maculada a autoridade dos militares Comandantes ou
Dirigentes da Unidade Prisional ou da Unidade onde se localiza a prisão.

Sujeito Ativo: crime de autoria coletiva (plurissubjetivo) dada a pluralidade de pessoas


para configurá-lo. Bastando que no mínimo a conduta nuclear de duas pessoas para que o delito ocorra.
Será o sujeito ativo, qualquer pessoa, civil (esfera federal) ou militar (ativo ou inativo, revertido o
não para atividade), desde que esteja preso em estabelecimento prisional militar (ou Unidade com
dependência de prisão).

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OBS: Embora conste no tipo penal a possibilidade do internado (o sob medida de


segurança) mesmo ocorrendo em hospital de custódia, não há afronta a disciplina, salvo se no hospital
de custódia tiver recinto de prisão militar.

OBS: Poderá figurar no polo ativo qualquer pessoa, civil ou militar, ainda que não seja
preso ou internado, mas que tome parte no amotinamento. (coautor eventual, já que o coautor
necessário é preso amotinado).
Pela previsão da segunda parte do parágrafo único temos que a sujeição ativa poderá
recair sobre Oficial da ativa ou inativo que, presente no local do amotinamento, não busque, com todas
as suas energias, sufoca-lo, uma vez estar afeto à tutela da disciplina.
Quem embora não preso ou internado incorre na mesma pena, quem participar desde que
esteja dentro do recinto e/ou sua extensão, respondendo como partícipe (art. 53, do CPM).

Sujeito Passivo: é a instituição Militar.

Elemento Objetivo: “amotinar-se”, ou seja, rebelar-se, perturbar a ordem vigente no


recinto de prisão militar, negando-se a sair ou a voltar para as celas, fazendo algazarra, tomando
terceiro qualquer com refém, em suma, alterando indevidamente a regularidade das atividades
daquele estabelecimento que contenha prisão militar, compreendendo o recinto militar, toda área
interna, onde se realizam banho de sol, refeições, local de exercícios físicos, recreação etc.
Elemento subjetivo: só admite o dolo, onde temos a vontade livre e consciente de
desencadear ou participar do amotinamento.

Tentativa: Por ser plurissubsistente, a tentativa é admissível quando os sujeitos ativos, em


fase inicial da execução, não conseguirem seu intento (tomar seu recinto, por exemplo).

Consumação: O delito se consuma com a deflagração do amotinamento, com a prática


de atos que perturbem a disciplina do recinto.

Crime Impropriamente Militar (CPM, art. 9º, inciso I, primeira parte, descrito de modo
diverso na lei penal comum) – CP.

Tipicidade indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, vê-
se que ele ocorre quando praticado por qualquer pessoa, militares federais (ativos e inativos), estaduais
(ativos e inativos) e civil (apenas na esfera federal).
Ver no art. 9º, inciso I, primeira parte, praticado por de militar da ativa (e o inativo
revertido nos termos do art.12, do CPM) e inciso III, alínea “a” (civil e inativo não revertido para o
serviço ativo), do art. 9º, do CPM. Deve o agente atentar contra ordem administrativa da própria
Instituição Militar.
Sua conduta está descrita de modo diverso na lei pena comum sob o nomen - Motim de
presos - Art. 354, tendo sua complementação dada pelo inc. I, do art. 9º, do CPM.

Ação penal: pública incondicionada.

3.2. CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR

Estes crimes militares, com exceção da insubmissão (art. 183, do CPM), só poderão ser
praticados por militares da ativa, esta sua principal condição de procedibilidade, excluídos, em regra,
portanto, os inativos de fazerem parte do polo ativo.

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INSUBMISSÃO

Tipo penal:
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à Incorporação, dentro do prazo que lhe
foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação:
Pena - Impedimento, de três meses a um ano.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): o serviço militar uma vez que o convocado
(também chamado conscrito) não está ainda atado ao dever militar.

Sujeito Ativo: é o civil convocado, porquanto em nenhuma das condutas descritas no


tipo exige-se que o sujeito ativo esteja incorporado à Instituição Militar. De forma sui generis, limita
a sua sujeição quem não é militar.
O civil aqui está sujeito à Lei nº 4.375, de 17/08/64 (Lei do Serviço Militar Obrigatório),
em que no seu art. 25 dispõe que o “convocado selecionado e designado para incorporação ou
matrícula, que não se apresentar a Organização Militar que lhe for designada, dentro do prazo
marcado ou que, tendo-o feito, se ausentar antes do ato final de incorporação ou matrícula, será
declarado insubmisso”.
Na esfera estadual (ou do Distrito Federal) o sujeito ativo que figura como convocado
não existe nas Policias e Corpos de Bombeiros Militares, os quais possuem um sistema de
voluntariado na prestação do serviço da instituição, conforme comando o art. 11, do Decreto Lei nº
667, de 02/08/69, não ocorrendo o cometimento do delito de insubmissão no âmbito das milícias
estaduais. Por exemplo, na PMESP, por exemplo, o candidato aprovado no CFSD que não se apresentar
para tomar posse no cargo será considerado desistente e abrirá vaga para o próximo classificado. Caso se
apresente, por outro lado, e efetive sua admissão, saindo em seguida e não mais retornando, será
considerado ausente e se iniciará a contagem de prazo para sua deserção.

Sujeito Passivo: é a própria instituição militar.

Elemento Objetivo: “deixar de apresentar-se”. O delito em comento visa alcançar o civil


que, convocado, busca escapulir da prestação do serviço militar, iniciado com o ato de incorporação
ou de matrícula na força onde se alistou. O serviço militar de que tratamos aqui, no Brasil é obrigatório
nos termos do caput do art. 143, da CF/88 e da Lei nº 4.375, de 17/08/64 (Lei do Serviço Militar
Obrigatório).

Elemento subjetivo: só admite o dolo, a intenção livre e consciente de se furtar ao serviço


militar, deixando de se apresentar ou ausentando-se após sua apresentação. Por admitir a modalidade
dolosa, o autor deve obrigatoriamente saber o dia, a hora e o local da apresentação, o que deverá estar
expresso em documento que recebeu na vez anterior em esteve em seleção.

Tentativa: Não é possível tentativa, uma vez que conduta ser omissiva e de mera conduta.

Consumação: Se consuma quando o autor (civil) deixa de comparecer à Instituição Militar


no limite do tempo que lhe foi concedido para tal ou quando se ausenta, tendo já se apresentado para
incorporação que ainda não foi oficializada.

Crime propriamente Militar (CPM, art. 9º, I, segunda parte).

Tipicidade indireta: como o delito de insubmissão (art. 183, do CPM) somente pode ser

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perpetrado por um civil com a especial condição de convocado, para se ter a completa compreensão da
sua tipicidade, deve-se verificar o inc. III, nos termos do inc. I, do art. 9º do CPM.
Ação penal: pública incondicionada. Porém só ocorre após a prévia incorporação do
civil para que seja desencadeada a ação penal (sendo sua condição de procedibilidade).

DESERÇÃO

Tipo penal:

Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que
deve permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial a pena é agravada.

Obs: Praticado apenas por militares do serviço ativo.


Casos Assimilados

Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:

I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de trânsito ou
férias;
II - deixa de se apresentar à autoridade competente, dentro do prazo de oito dias,
contados daquele em que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é
declarado o estado de sítio ou de guerra;
III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de 8 (oito) dias;
IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou simulando
incapacidade.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): o serviço militar, afetado pelo fato do agente
não esta presente. A pena da deserção é de 06(seis) meses a 02(dois) anos, sendo agravada se o infrator
for oficial. Incorrendo na mesma pena o militar da ativa que incidir nos casos previstos no art. 188, do
CPM.
Sujeito Ativo: o militar da ativa (tanto na esfera federal, como na estadual) sendo esta a
sua condição de procedibilidade. É delito de mão própria não admite coautoria.
Sujeito Passivo: a Instituição Militar.
Elemento Objetivo: “ausentar-se”, afastar-se de estar no lugar em que devia por
imposição do dever e do serviço militar, obrigação constituída sob forma de escala ou sob forma de
ordem específica (escrita ou oral).
A deserção se consuma quando se ultrapassa o prazo de graça (oito dias), conforme o
arts. 187 sendo o mesmo entendimento para o art. 188, I, II e III, do CPM, compreendendo o lapso
temporal “dentro de oito dias”, como período que ultrapassar 08(oito) dias da data e que deixou de se
apresentar ao término de trânsito, férias ou licença.

Cícero Robson Coimbra Neves assim define:


 Trânsito: “ é o afastamento legal do militar que, em razão de classificação em outra
unidade, deve deslocar-se para a assunção de seu novo encargo. As Instituições Militares
tem regras próprias para a concessão de trânsito, geralmente sendo cabível quando a
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transferência do militar for para órgão de considerável distância daquele em que serve
antes da movimentação”. Como nas Forças Armadas e, ressalvada as disposições legais
peculiares das demais Corporações Militares Estaduais, temos para os policiais militares e
bombeiros militares do Piauí o que dispõe na Lei Estadual nº 3.808, em seu art. 62, inciso
IV, que fixa em 30 (trinta) dias o período de trânsito.
 Férias: “ é o regulamentar afastamento, daquele que, após período aquisitivo, faz jus ao
direito constitucional grafado no art. 7º, XVII, da CF, ratificado pelo inciso VIII, do §3º,
do art. 142, e art. 42, §1º, também na Lei Maior”. Não diferente das Forças Armadas e
demais Corporações Militares Estaduais, temos para os policiais militares e bombeiros
militares do Piauí o que dispõe na Lei Estadual nº 3.808, em seu art. 61, caput, que fixa a
concessão em 30 (trinta) dias consecutivos dias de férias regulamentares.
 Licença: “é a autorização para afastamento total do serviço, em caráter temporário,
concedida ao militar, obedecidas as disposições legais e regulamentares”. Como nas
Forças Armadas e, ressalvada as disposições legais peculiares das demais Corporações
Militares Estaduais, temos para os policiais militares e bombeiros militares do Piauí o que
dispõe na Lei Estadual nº 3.808, em seu art. 64, os tipos de licenças concedidas aos seus
integrantes como – licença especial, licença para tratar de interesse particular, licença
para tratamento de saúde de pessoa da família e licença para tratamento de saúde
própria. Temos ainda outros afastamentos temporários, compreendidos como licença, tais
como - núpcias, luto e instalação, cuja não apresentação ao seu termino poderá também
resultar também em conduta subsumida de deserção, nos termos do art. 188, I, do CPM.

Consiste a deserção na ausência do militar, pelo lapso temporal de mais de 08 (oito)


dias, sem qualquer permissivo, ou conhecimento de seus superiores, da unidade onde serve, ou, onde
recebeu determinação de permanecer ou de se apresentar.
É um crime classificado como instantâneo (a consumação se realiza em um instante), de
efeito permanente (a consumação se prolonga no tempo dependente da ação do agente, até sua captura
ou apresentação voluntária).
O Termo de Deserção (TD) ou Instrução Provisória de Deserção (IPD) é o
procedimento de polícia judiciária militar, que serve como peça informativa específica de instrução
provisória iniciando-se no âmbito administrativo, prosseguindo o seu processamento com a
denúncia do Ministério Público, se recebida pela Justiça Militar Estadual, cuja competência no Estado
do Piauí, se encontra sendo exercida pela 8ª Vara Criminal da Comarca de Teresina-PI (Juízo Militar
Estadual), estando o rito previsto nos arts. 451 a 457, do Código de Processo Penal Militar (CPPM).
Elemento subjetivo: o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de furtar-se do serviço
militar para o qual estava escalado e faltando ao respectivo dever.
Tentativa: É também um crime formal, ou seja, sua consumação é antecipada, portanto
não admite a tentativa. Crime unissubsistente.
Consumação: o crime de deserção se consuma quando se completar mais que 08(oito)
dias, conforme contagem que segue no quadro abaixo idealizado por Alexandre Henriques da Costa,
citado por Cícero Robson Coimbra Neves, o qual passou a ser adotado na Polícia Militar do Piauí,
consoante o atual Manual de Prática de Polícia Judiciária Militar - IN001/EMG/PMPI/2013, em fase
de revisão e de atualização:

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Os efeitos da deserção perduram no tempo, motivo pelo qual estando o infrator em


constante estado de flagrância, este cessa quando da sua apresentação voluntária ou captura, ou com a
prescrição que ocorre pelo critério etário, ou seja, a prescrição penal para a deserção ocorre, nos
termos do art. 132, do CPM, para as praças na idade de 45 anos e oficiais com 60 anos de idade.

Temos por fim, no art. 188, a estranha situação do inciso IV, uma espécie de “modalidade
autônoma do delito de deserção”, que por equívoco legislativo, consoante preleciona com sábia razão
Célio Lobão não deveria se configurar como deserção, mas como uma fraude de prontidão em que o
militar simula (finge, disfarça) incapacidade (física ou mental) para passar para a inatividade (o militar de
carreira) ou ser excluído do serviço ativo (aquele que cumpre serviço militar obrigatório), para Célio
Lobão, não se lavraria o Termo (ou Instrução Provisória) de Deserção, por não se ter a contagem de
08(oito) dias, mas pertinente Inquérito Policial Militar, para que se comprove a simulação ou a geração de
incapacidade, inclusive com perícias médicas.
Já Jorge César de Assis discordando de Célio Lobão entende, que embora não haja ausência
por não haver contagem, deve neste caso do inciso IV, do art. 188, ser lavrado diretamente o Termo de
Deserção, logo no momento em que for conhecida a fraude, ainda que o sujeito ativo esteja presente a
esse ato, postulando, que se a exclusão ou agregação já estiver sido efetivada, “o Termo de Deserção
deverá ser lavrado de imediato, mesmo que as autoridades saibam onde o autor se encontra, ficando ele
desertor, desde logo, sujeito à prisão”.
Além das modalidades de deserção previstas nos arts. 187 e 188, temos as dos arts. 190 e
192, do CPM, senão vejamos:

Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da partida do navio ou aeronave,


de que é tripulante, ou do deslocamento da unidade ou força em que serve: Pena -
detenção, até três meses, se após a partida ou deslocamento se apresentar, dentro de vinte
e quatro horas, à autoridade militar do lugar, ou, na falta desta, à autoridade policial,
para ser comunicada a apresentação ao comando militar competente.
§ 1º Se a apresentação se der dentro de prazo superior a vinte e quatro horas e não
excedente a cinco dias: Pena - detenção, de dois a oito meses.
§ 2º Se superior a cinco dias e não excedente a oito dias: Pena - detenção, de três meses a
um ano.
§ 2º-A. Se superior a oito dias: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
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Aumento de pena
§ 3º A pena é aumentada de um terço, se se tratar de sargento, subtenente ou suboficial, e
de metade, se oficial.

A deserção especial, modalidade prevista no art. 190, do CPM, é aquela na qual o


legislador trouxe diversos lapsos temporais, os quais na medida em que o período de ausência aumenta a
pena do crime também aumenta.
Nesta modalidade de deserção basta que o militar deixe de se apresentar no momento da
partida do navio ou aeronave de que é tripulante, ou do deslocamento da unidade ou força em que serve
estará configurado o delito.

Em regra, na Polícia Militar temos a incidência do referido crime apenas na segunda parte
deste dispositivo – “do deslocamento da unidade ou força em que serve”.

Temos, por fim, que na ocorrência da deserção do art. 192, do CPM, para a consecução
da Instrução Provisória de Deserção será lavrado instantaneamente, de plano, logo, Termo de Deserção,
após a não apresentação, de forma que além deste ato, serão realizados outros pertinentes a depender do
lapso temporal verificado.

Art. 192. “Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de recinto de detenção ou de prisão,


ou fugir em seguida à prática de crime para evitar prisão, permanecendo ausente por mais
de oito dias: Pena - detenção, de seis meses a dois anos”.

Temos nessa modalidade a consumação do crime de deserção, por militar da ativa, com o
transcurso de oito dias após prática de crime para evitar prisão ou evasão do poder de escolta ou do
recinto de detenção ou de prisão.
Somente ocorrerá a deserção do art. 192, se o militar continuar ausente depois de
transcorrido o prazo de graça, nos moldes do que ocorre na hipótese do art. 187, do CPM.

Embora seja delito formal, que se consuma num determinado momento, os efeitos da
deserção perduram no tempo, motivo pelo qual a doutrina e a jurisprudência consideram-na, também,
um crime instantâneo, de efeitos permanentes, estando infrator em constante estado de flagrância (na
forma do que dispõe o art. 243, do CPPM), que cessa quando da sua apresentação voluntária ou
captura, ou decorrido o prazo da prescrição, esta que extingue sua punibilidade quando o desertor
atinge a idade de 45 anos se praça e se oficial 60 anos, na forma do que dispõe o art. 132, do CPM.

Crime propriamente militar – previsto apenas no CPM.

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade indireta: Por poder ser praticado apenas por militar da ativa, sua
compreensão está descrita no entendimento do inciso I, segunda parte, do art. 9º, do CPM, bastando
que os elementos do tipo estejam na Parte Especial deste Código.

ABANDONO DE POSTO

Tipo penal:

Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha sido

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designado, ou serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo.


Pena - detenção, de três meses a um ano.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): o dever e o serviço militar.

Sujeito Ativo: o militar da ativa (ou o da ativa por equiparação), que de serviço em
posto (fixo ou móvel), em um lugar delimitado ou em execução de tarefa específica.

Sujeito Passivo: imediato ou primário – é a Instituição Militar.

Elemento Objetivo: “abandonar”, deixar o posto ou lugar de serviço no qual presta


serviço, sem ordem superior. O abandono causa um prejuízo ao serviço.
Posto – local certo e determinado, fixo ou não (se não for fixo deve ter percurso limitado,
demarcado).
Lugar de serviço – é a área geográfica delimitada, maior que o posto, a qual impede que o
militar possa lhe dar cobertura permanente, embora não afaste o local de vigilância ou guarda.
Elemento subjetivo: o dolo, a intenção a vontade livre de abandonar o posto, lugar de
serviço ou o próprio serviço.

Tentativa: Não é possível por ser crime unissubsistente.

Consumação: Ocorre quando o autor se afasta.

Crime propriamente militar.

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade indireta: Por poder ser praticado, apenas por militar da ativa (ou da ativa
por equiparação), sua compreensão está descrita no entendimento do inciso I, segunda parte, do art.
9º, do CPM, bastando que os elementos do tipo estejam na Parte Especial deste Código.

OBS:
Para a configuração do delito o autor deixa o posto (local de serviço ou o próprio serviço)
sem ordem superior. Caso haja a anuência do superior, ou de autoridade competente, não haverá
tipicidade objetiva para o fato, uma vez que não estará havendo o abandono que, nos termos exigidos
para o delito, pressupõe a clandestinidade ou não autorização por quem de direito.
Ex1: Militar (Oficial de Dia, Cmt de Policiamento, Sargento de Dia Sentinela etc) que
abandona o seu serviço ou quarto de hora, sem a devida autorização para ir para lugar estranho ao serviço
(para casa, faculdade, festa etc).
Ex2: o policial militar que tem uma área geográfica onde deva realizar patrulhamento
motorizado (subsetor, consoante escala ou cartão programa ou ordem verbal do Cmt do Policiamento) ou
a pé e dela se afasta.
No abandono de posto há sempre uma área geográfica delimitada, com menor
amplitude(posto) ou maior amplitude (lugar de serviço).
Há também atividades que não se desenvolvem em espaços demarcados, mas em
cumprimento de determinadas tarefas inerentes à função desempenhada, situação em que não se falará em
abandono de posto ou de lugar de serviço, mas sim em abandono de serviço antes de termina-lo.
Para que o militar abandone o serviço, deve primeiro assumi-lo e depois não pôr
termo a sua missão. A situação em que o militar não cumpre a ordem direta de assumir o serviço e deixa

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a unidade não configurará abandono de serviço (nem de posto ou de lugar de serviço), mas poderá
configurar outro delito, como a recusa de obediência (art. 163, do CPM).
O tempo mensurado para o abandono de posto é irrelevante, não importando, se o
abandono de posto (ou lugar de serviço) tenha sido pelo lapso temporal de cinco ou de cinquenta minutos,
por exemplo, bastando que o ato (abandono) tenha existido.

DESCUMPRIMENTO DE MISSÃO

Tipo penal:

Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi confiada:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): o dever e o serviço militar.

Sujeito Ativo: o militar da ativa e o inativo, desde que equiparado a militar da ativa (art.
12, do CPM). Crime de mão própria não admite coautoria.

Sujeito Passivo: imediato ou primário – é a Instituição Militar.


Elemento Objetivo: “deixar” o autor de cumprir a missão que lhe foi determinada.
Atividade específica, certa, definida, evidentemente legal. Decorrente de lei, decreto, ordem verbal,
com estabelecimento de tempo e meios para sua execução. Deixa de cumprir antes ou após o seu
início.

Elemento subjetivo: o dolo, a intenção, a vontade consciente, orientada no sentido do


descumprimento de missão, da qual lhe foi incumbido.

Tentativa: Não é possível por ser a conduta omissiva.

Consumação: com a inércia do autor no momento limite em que deveria cumprir a


missão que lhe foi confiada.

Crime propriamente militar.

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade indireta: Por poder ser praticado apenas por militar da ativa ou inativo,
este desde que equiparado a militar da ativa (art. 12, do CPM), sua compreensão está descrita no
entendimento do inciso I, segunda parte, do art. 9º, do CPM, bastando que os elementos do tipo
estejam na Parte Especial deste Código.

EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO

Tipo penal:

Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para


prestá-lo:

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Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): o dever militar e o serviço militar, em risco
pela presença de um integrante embrigado.

Sujeito Ativo: o militar da ativa e o inativo, desde que equiparado a militar da ativa
(art. 12, do CPM). Crime de mão própria não admite coautoria. O militar que instigar o agente a
embriagar-se responderá por incitamento ou apologia (art. 155 e 156, do CPM), sendo que o civil ao
incitar o militar federal responderá na esfera militar federal e se o incitador for inativo, responderá (art.
53, §1º, primeira parte, do CPM).

Sujeito Passivo: imediato ou primário – é a Instituição Militar.

Elemento Objetivo: a conduta é “embriagar-se” estando de serviço ou apresentar-se


embriagado para o serviço. O autor deve ingerir ou auto-administrar-se, substância que o conduza ao
estado de embriaguez.
Exclui-se, a ingestão contra vontade do agente, ou mediante força.
A perícia pode ser clínica (observação do médico - hálito, sensibilidade, marcha e
equilíbrio) ou laboratorial (dosagem de substância da corrente sanguínea que indique embriaguez)
mediante autorização do autor.
A embriaguez será por ingestão de álcool, no entanto, se por outra substância de efeito
análogo, em especial os entorpecentes (cocaína, maconha, crack, etc) sua conduta será subsumida pelo
art. 290, do CPM, caso se apresente para o serviço sob o efeito de substância entorpecente (diferente do
álcool) incorrerá na mesma pena do referido artigo..
Não será crime o militar saindo de sua casa, não conseguir chegar ao quartel em
decorrência de seu estado de embriaguez.
Não será embriaguez, se o militar se embriagar no dia anterior ao que tiver que assumir o
serviço.
Não será embriaguez o militar que estiver embriagado decorrente de efeito de remédio que
contenha álcool ou que cause embriaguez não procurada pelo agente.

Elemento subjetivo: o dolo, a intenção a vontade livre de embriagar-se em serviço ou


apresentar-se embriagado para o serviço.

Tentativa: Não é possível por ser crime instantâneo. Juridicamente impossível.

Consumação: ocorre quando o autor alcança o estado de embriaguez, mensurado por


avaliação médica (clínica ou laboratorial) ou por provas testemunhais.

Crime propriamente militar.

Tipicidade indireta: Por poder ser praticado apenas por militar da ativa ou inativo,
este desde que equiparado a militar da ativa (art. 12, do CPM), sua compreensão está descrita no
entendimento do inciso I, segunda parte, do art. 9º, do CPM, bastando que os elementos do tipo
estejam na Parte Especial deste Código.

Ação penal: Pública incondicionada.

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DORMIR EM SERVIÇO

Tipo penal:

Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de ronda, ou em
situação equivalente, ou, não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às
máquinas, ou leme, de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): o dever militar e a segurança das


Instituições Militares e, no caso das instituições militares estaduais, do próprio serviço de manutenção
da ordem e segurança pública por elas desempenhado, ou seja, o serviço militar é ameaçado, em alguns
casos, em face à desatenção do militar que descuida de sua missão de segurança ao dormir em
serviço.

Sujeito Ativo: o militar da ativa ou inativo equiparado a militar da ativa (art. 12, CPM),
quando de serviço.

Sujeito Passivo: imediato ou primário – é a Instituição Militar.

Elemento Objetivo: o verbo nuclear do delito do sono é “dormir” em serviço de quarto de


hora, ronda, plantão, ou outro que exija estado de alerta, vigilância ou atenção.

Elemento subjetivo: é o dolo, a intenção, a vontade livre e consciente de dormir em


serviço de vigilância.

Tentativa: Não é possível por ser crime unissubsistente.


Consumação: ocorre quando o autor adormece, ou seja, perde a consciência daquilo
que passa à sua volta, desliga-se da realidade independente do tempo de sua duração.

Crime propriamente militar.

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade indireta: Por poder ser praticado apenas por militar da ativa ou inativo,
este desde que equiparado a militar da ativa (art. 12, do CPM), sua compreensão está descrita no
entendimento do inciso I, segunda parte, do art. 9º, do CPM, bastando que os elementos do tipo
estejam na Parte Especial deste Código.

OBS: Não constitui o crime de dormir em serviço, dormir no quartel durante estado de
prontidão.

3.2.1. Crimes praticados por militar da ativa

Perante a Justiça Militar da União os Militares Estaduais são, indiretamente, considerados


civis e perante a Justiça Militar Estadual, os Militares das Forças Armadas, por exclusão constitucional,
são considerados civis,
No CPM, a competência, para processo e julgamento, está nos art. 124, para os crimes

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militares contra as Forças Armadas e Justiça Militar da União e seu respectivos membros. Já a definição
para crime militar na esfera estadual, tem a competência para processo e julgamento no art. 125, §4º da
CF/88, aplicando-se, portanto, o disposto no inciso III, do art. 9º, do CPM, para se definir em quais casos
vai ocorrer o crime militar, neste caso específico, se contra as forças armadas e a Súmula 53, do STJ, c/c
o art. 125, §4º, se contra as instituições militares estaduais,
O art. 124, da CF/88, em seu teor, não discrimina quem é o sujeito ativo, podendo ser
civil, militar, ativo ou inativo . O que não ocorre, no art. 125, §4º, ao delimitar, pelos critérios ratione
materiae e ratione personae, o seu raio de ação aos militares estaduais e do Distrito Federal, no
processamento dos crimes militares.
Como se sabe, prescreve a Carta Magna que “à Justiça Militar compete processar e julgar
os crimes militares definidos em lei” (artigo 124). Vê-se, portanto, que a Justiça Militar Federal tem
sua competência delimitada ratione materiae, ou seja, incumbe-lhe, sem exceções, julgar os delitos
castrenses definidos em lei, sejam estes praticados por militares da ativa, da reserva, reformados ou por
civis, apontando-se, em relação aos inativos e aos civis, que, nos exatos termos do inciso III do artigo 9º,
sua conduta deve ter por finalidade ofender as Instituições Militares.

3.2.2. Militar da ativa contra militar da ativa (ratione personae)

a) “por militar da ativa contra militar na mesma situação;"


Por militar da ativa deve-se entender o militar que está ainda no serviço ativo, ainda que
de licença, esteja ou não "em" ou "a" serviço, fardado ou não, e que o crime contra outro militar
(seja na mesma corporação ou não) da ativa.
Para exemplificar a letra “a” do inciso II, se:
Ex1: Um soldado do Exército de serviço ou em razão da função(ou de folga) ao agredir com
socos e pontapés um outro soldado do exército, da ativa, de folga, ocasionando-lhe lesões corporais, em
lugar sujeito ou não à administração militar cometerá crime militar capitulado no art. 209 do CPM (crime
militar, conforme, inciso II, alínea “a” do art. 9º, do CPM) segundo o entendimento seguido pelo STM
(Superior Tribunal Militar, órgão de 2º e 3º Graus de Jurisdição na esfera Militar Federal),
Ex2: Um soldado da PM (ou BM) de serviço ou em razão da função, ao agredir com socos e
pontapés um outro soldado da PM (ou do BM) de serviço ou em razão da função (ou de folga),
ocasionando-lhe lesões corporais, em lugar não sujeito à administração militar cometerá crime capitulado
no art. 209 do CPM (crime militar, conforme, inciso II, alínea “a” do art. 9º do CPM), pois denota-se
claro prejuízo a Instituição Militar, segundo entendimento do STJ (Superior Tribunal de Justiça, Órgão de
3º Grau de Jurisdição para a esfera estadual e do Distrito Federal).
Ex3: Um soldado da PM (ou BM), de folga, ao agredir com socos e pontapés um outro
soldado da PM (ou do BM), da ativa, de folga, ocasionando-lhe lesões corporais, em lugar não sujeito à
administração militar cometerá crime comum capitulado no art. 129 do CP, (inaplicável o inciso II, alínea
“a” do art. 9º do CPM), pois segundo entendimento do STJ (Superior Tribunal de Justiça, Órgão de 3º
Grau de Jurisdição para a esfera estadual e do Distrito Federal), para que possa ter crime militar, teria que
haver prejuízo à Instituição Militar Estadual, ocorrendo, crime.

3.2.3. Em local sob a administração militar (ratione loci)

“b) por militar da ativa, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da
reserva ou reformado ou civil.”
Requer o dispositivo agora que o local onde ocorreu o delito esteja sujeito à
administração militar.
Lugar sujeito à administração militar é o espaço físico em que, necessariamente, as
Forças Armadas, as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares realizam suas atividades, como
quartéis, aeronaves e navios militares ou mercantes em serviço militar, fortalezas, estabelecimentos de
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ensino militar, campos de prova ou treinamento etc. e também o que, na forma da lei, se encontrar sob a
administração militar.
Não se considera, entretanto, lugar sujeito à administração militar a casa nele situada,
como a cedida a oficiais e praças para residência, nas chamadas vilas militares, por força do inciso
XI do art. 5º, da Constituição Federal: "A casa é o asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem o consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial". Parte da doutrina e da
jurisprudência considera o interior de uma viatura policial como sendo extensão do lugar sob a
administração militar.
Em virtude desse mandamento constitucional, a administração não penetra no interior das
casas referidas, não interfere na privacidade dos lares, conforme tem decidido a jurisprudência dominante.
Ex1: Um soldado da PM (ou BM), de folga, ao agredir com socos e pontapés um outro
soldado da PM (ou do BM), também de folga, em lugar sujeito à administração militar, ocasionando-lhe
lesões corporais, cometerá o crime capitulado no art. 209 do CPM pois segundo entendimento do STJ
(Superior Tribunal de Justiça, Órgão de 3º Grau de Jurisdição para a esfera estadual e do Distrito
Federal), teria crime militar, dado o haver prejuízo à Instituição Militar Estadual.
Ex2: Um Sargento, de folga, no interior do 2º BPM, ao manusear indevidamente sua pistola
particular, calibre .40, efetua disparo acidental que atinge um estagiário civil que trabalhava como
telefonista. Em decorrência do disparo que atingiu-lhe o tórax, o meio veio a falecer. (crime militar,
perante a Justiça Militar Estadual - circunstância do inciso II, b), do art. 9º, do CPM – se em lugar sujeito
a administração militar, será crime militar. Se não for em lugar sujeito e estando de folga, será crime
comum e não crime militar) - critério ratione loci.
Ex3: Um soldado da ativa do Exército, mesmo de folga, ao agredir com socos e pontapés
um soldado inativo Exército ou um civil, dentro da área sob administração militar, praticará crime militar
capitulado no art. 209 do CPM (crime militar, perante a Justiça Militar da União). Circunstância do inciso
II, b), do art. 9º, do CPM – se em lugar sujeito a administração militar, será crime militar. Se não for em
lugar sujeito, estando de folga, será crime comum) – critério ratione loci.
Ex4: Um soldado da ativa da PM (ou BM), mesmo de folga, ao agredir com socos e
pontapés um soldado PM (ou BM) inativo ou um civil, dentro da área sob administração militar, praticará
crime militar capitulado no art. 209 do CPM (crime militar, perante a Justiça Militar da União).
Circunstância do inciso II, b), do art. 9º, do CPM – se em lugar sujeito a administração militar, será crime
militar. Se não for em lugar sujeito, estando de folga, será crime comum) - critério ratione loci.

3.2.4. De serviço (ratione labore)

“c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza


militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar da
reserva, ou reformado, ou civil."
A redação dada a alínea "c", pela Lei n.º 9.299/1996, acrescentou-se a expressão atuando
em razão da função e suprimiu a expressão assemelhado, o que ocorreu com as demais alíneas do art. 9º,
do CPM, com a novatio Lei nº 16.688/2023.
Evidentemente não se houve o legislador com felicidade pela técnica legislativa
empregada, pois se o militar encontra-se "em comissão de natureza militar, ou em formatura", está, à
evidência, em serviço. Bastaria, pois, somente a expressão "em serviço".
Para a configuração do crime previsto na letra "c" do inciso II, não basta, como no da letra
"b" , que o agente militar seja da ativa. Necessário se faz que esteja no desempenho de um serviço ou
comissão inerente a seu cargo militar ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração
militar, ou que esteja atuando em razão da função.
Ex1: Um soldado da PM, de serviço ou em razão da função, ao agredir com socos e

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pontapés um outro soldado da PM (ou do BM), da ativa, de folga (ou de serviço, ou inativo) ocasionando-
lhe lesões corporais, praticará crime capitulado no art. 209 do CPM. (crime militar, conforme, inciso II, c)
do art. 9º, do CPM) - critério racione labore.
Ex2.: Uma guarnição do 1º BPM composta de um sargento e dois soldados, ao se deparar
com um roubo a banco no centro de Teresina, é recebida com disparos de arma de fogo efetuados pelos
meliantes, e, ao final da ocorrência, defendendo-se da ação dos marginais, os Policiais Militares
conseguem alvejar um dos meliantes que veio a falecer no hospital. (crime militar, conforme, inciso II, c)
do art. 9º, do CPM) - critério racione labore.

3.2.5. Em período de manobras

"d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva ou
reformado ou civil.”
Em face do que já foi esclarecido com relação às outras alíneas, só comporta dois
comentários: 1º de que por período de manobras ou exercício deve ser o entendido como o do tempo real
da manobra ou exercício; 2º a mesma incoerência ocorrida na alínea anterior observa-se nesta, quando diz
: "por militar durante o período de manobras ou exercício"; ora, difícil conceber um militar de folga
fazendo parte de manobras ou exercícios.
Ex.: Durante exercícios de maneabilidade no Parque da Cidade, um soldado do BPA
(Batalhão de Polícia Ambiental) atinge um civil, que pescava no rio, com um disparo a esmo de fuzil,
ocasionando-lhe lesões na perna.

3.2.6. Contra o patrimônio e a ordem administrativa militar

“e) por militar da ativa contra o patrimônio sob a administração militar ou contra a
ordem administrativa militar."
Nesta alínea não constitui condição que o militar esteja em serviço; basta que esteja no
serviço ativo. Trata-se agora de um militar, ainda que de folga, que pratique um crime contra o patrimônio
sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar.
Patrimônio sob a administração militar não é somente o complexo de bens pertencentes às
Forças Armadas, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, mas quaisquer bens sob a referida
administração, como, por exemplo, veículos e máquinas de propriedade de pessoas físicas ou
jurídicas cedidos ou locados para determinados fins etc.
Crimes contra o patrimônio sob a administração militar são os previstos no Título V do
Livro I da Parte Especial do CPM, com a epígrafe "Dos crimes contra o patrimônio", como os de furto
simples (art. 240), estelionato (art. 251), apropriação indébita (art. 248), receptação (art. 254), etc.
No que se refere à última parte desse dispositivo, que trata da "ordem administrativa
militar" é a administração militar propriamente dita. Assim, os crimes contra a ordem
administrativa militar são os elencados nos Títulos VII (Dos crimes contra a administração militar)
e VIII (Dos crimes contra a administração da Justiça Militar) do Livro I da Parte Especial do
CPM, como os de peculato (art. 303), corrupção passiva (art. 308), prevaricação (art. 319), etc.

f) "Revogada pela Lei n.º 9.299, de 07/08/96.

No inciso II e suas alíneas, que acabamos de examinar, arrolou o CPM os crimes só


praticados por militares ou assemelhados.

3.2.7. Crimes militares praticados por Militares da Reserva, Reformados ou Civis

Veremos agora o inciso III, cujos agentes agora são o militar da reserva, o reformado e o
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civil, desde que praticados contra as instituições militares, nas hipóteses compreendidas nas quatro
alíneas do mesmo inciso e nas hipóteses dos incisos I e II. Observa-se que o militar da reserva, reformado
ou civil estão sujeitos a praticar crime propriamente militar ou crimes militares impróprios, conforme o
caso os quais veremos a seguir:
"III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra
as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do
inciso II, nos seguintes casos:"
O crime militar, se contra as Instituições Militares (federais, ou seja, FFAA), por
interpretação extensiva in genere, do disposto no art. 124, da CF e art. 9º, I, do CPM, terceira parte
( “qualquer que seja o agente”), civis só praticarão crime militar nas circunstâncias do inciso III, do art.
9º, do CPM.
Já esfera estadual (contra as Instituições Militares estaduais, ou seja, PPMM e
BBMM) por exclusão tácita dos civis no polo ativo, verificada no teor do art. 125, §4º, da CF,
primeira parte, e conforme Súmula 53, do STJ, os civis se intentarem contra as instituições militares
estaduais não cometerão crime militar e sim contravenção penal ou crime comum.

3.2.8. Crimes praticados por militar da reserva, reformado ou civil contra:

3.2.8.1. O patrimônio e a ordem administrativa militar.

“a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa


militar."
A alínea "a" trata do crime praticado "contra o patrimônio sob a administração militar ou
contra a ordem administrativa militar". Com relação ao patrimônio militar, é necessário que o crime
atente sobre bem que esteja efetivamente sob a tutela da administração militar, a exemplo do crime
de Receptação, em se tratando de coisa sob a administração militar o crime é militar, embora civil o
autor. Da mesma forma, o crime militar que venha atingir a ordem administrativa militar deverá ser do
interesse da administração militar e de fato refletir no bom andamento do serviço.
No entanto, se a coisa, originariamente militar, por qualquer meio deixa de estar sob a
administração militar, ou passa a pertencer a militares, como patrimônio individual, o crime cometido,
desde que fora da área sob à administração militar, será processado e julgado pela Justiça Comum, a
exemplo de armas compradas pela Polícia Militar do Piauí e vendida a oficiais e praças, para sua defesa
pessoal. Sua apropriação, por parte de terceiros (civis), não constitui crime militar, a não ser que os
terceiros sejam militares, aplicando-se, para subsunção do delito como crime militar, o critério
ratione personae da alínea “a”, II, do art. 9º, do CPM.
Para Cícero Robson Coimbra Neves, deve-se entender como patrimônio sob a
administração militar não só os bens pertencentes à Instituição, mas também aqueles pertencentes
a pessoas físicas e jurídicas que, por qualquer forma, se encontram sob responsabilidade da
administração militar.
O militar da ativa, funcionário da Justiça Militar ou de Ministério Militar, em local sob a
administração militar:

“b) em lugar sujeito à administração militar, contra militar da ativa ou contra servidor
público das instituições militares ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo.”

Trata a alínea "b" dos crimes praticados pelos mesmos agentes (militar da reserva,
reformado ou civil), contra militar da ativa ou contra servidor público das instituições militares ou da
Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo

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De acordo com o art. 27, do CPM, para o efeito da aplicação deste Código, consideram-se
servidores da Justiça Militar os juízes, os servidores públicos e os auxiliares da Justiça Militar.
Assim exemplificando:
Ex1: Um civil, que desempenha suas funções numa unidade militar, culminar por causar
lesões corporais num oficial de justiça da Justiça Militar que comparecer naquela unidade para citá-lo.
Ex2: Um Sargento reformado que comparece a Unidade Militar para resolver problema de
seu particular interesse, e desacata um militar que ali trabalhava como atendente.
Ex3: Um soldado do Exército, inativo, ao agredir com socos e pontapés um outro soldado
do Exército, da ativa, de folga, ocasionando-lhe lesões corporais, praticará, em tese, crime militar
capitulado no art. 209 do CPM (para ser crime militar, perante a Justiça Militar da União,tem que se
verificar a circunstância do art. 9º, no caso, incisos I e II se tiver na condição do art. 12 – militar da ativa
por equiparação, se não tiver, só será crime militar observadas as alíneas do inciso III, do art. 9º do CPM
e se não tiver nas condições desse inciso, nem na condição do art. 12 e incisos I e II, do art. 9º, do CPM,
será crime comum). Pois de conformidade com o art. 22, do CPM, que complementa o art. 9º, do CPM,
para os militares federais, será considerado civil, desde que não esteja nas condições do art. 12, do CPM
(militar da ativa por equiparação).
Ex4: Um soldado da PM, inativo, ao agredir com socos e pontapés um outro soldado da
PM ou mesmo do BM, também inativo, ocasionando-lhe lesões corporais, praticará, em tese, crime militar
capitulado no art. 209 do CPM, ou então será crime comum. (para ser crime militar, da competência da
Justiça Militar Estadual, tem que se verificar a circunstância do art. 9º, no caso, incisos I e II se tiver o
inativo na condição do art. 12 – militar da ativa por equiparação, se não tiver nessa condição, só será
crime militar observadas as alíneas do inciso III, do art. 9º do CPM e se não tiver nas condições desse
inciso, será crime comum). Ou seja, em observância aos arts 42 e 125, §4º, da CF, para os militares
dos estados, será crime militar desde que o inativo esteja nas condições do art. 12, do CPM (militar
da ativa por equiparação), para os incisos I e II, ou nos casos das circunstâncias do inciso III, do
art. 9º, do CPM).
O crime militar, se contra as Instituições Militares (federais, ou seja, as FFAA), por
interpretação extensiva in genere, do disposto no art. 124, da CF e art. 9º, I, do CPM, terceira parte
(“qualquer que seja o agente”), civis, estes apenas na esfera federal, que em regra (ou seja, temos o
ressalvado no art. 53, do CPM, onde poderemos ter a hipótese do civil como coautor em alguns crimes
propriamente militares), praticarão crime militar nas circunstâncias do inciso III, do art. 9º, do CPM
Já esfera estadual (contra as Instituições Militares estaduais, ou seja, PPMM e BBMM) por
exclusão tácita dos civis no polo ativo, verificada no teor do art. 125, §4º, da CF, primeira parte, e
conforme Súmula 53, do STJ, os civis se intentarem contra as instituições militares estaduais não
cometerão crime militar e sim contravenção penal ou crime comum.

3.2.8.2. O militar em formatura, ou durante exercícios, estacionamentos e manobras militares em


geral

“c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,


observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras."

Entendeu o legislador acertadamente que a jurisdição militar deve estender-se também nos
casos em que o militar deva, por dever, afastar-se de sua unidade. Vejamos as diversas situações:

Formatura - lexicamente, significa ato ou efeito de formar; alinhamento e ordenação de


tropa.
Período de prontidão - lapso temporal em que a tropa permanece em sua unidade em
estado de alerta para eventual deslocamento.
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Vigilância e observação - ato ou efeito de vigiar, espreitar.


Exploração - procurar, descobrir; percorrer, estudando; em regra, explora-se terreno para
cumprimento de alguma missão.
Exercício - refere-se a adestramento de tropa.
Acampamento - estacionamento de tropa em barracas.
Acantonamento - deriva de acantonar, que significa dispor ou distribuir tropas por
cantões; é o lugar onde se acantonam tropas, aproveitando das instalações existentes.
Manobras - também visa o adestramento da tropa com seu deslocamento da unidade.
Ex1: Dois pelotões de alunos do Curso de Formação de Soldados - CFSD do CEFAP
montam acampamento de barracas na localidade Cacimba Velha, nesta Capital.
Ex2: Dois militares inativos (ou da ativa jogam), em uma das barracas, uma garrafa com
gasolina (coquetel molotov) que explode e queima um dos alunos, ocasionando-lhe queimaduras graves
no corpo.

3.2.8.3. O militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância,


garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária

“d) “ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem
pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em
obediência a determinação legal superior."
Esse dispositivo é de uma amplitude por demais abrangente, pois abrange, inúmeras
situações em que não predomine sua natureza militar. Assim em sua primeira parte, compreende a
situação do militar da reserva, reformado ou civil, que pratique crime contra militar em função de
natureza militar, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar.
Na sua segunda parte compreende as situações que não sejam de natureza militar e sim de
natureza policial-militar. Em situações anormais, as Forças Armadas podem ser convocadas ou
requisitadas para a preservação da ordem pública (a GLO), como, por exemplo, no estado de sítio,
calamidade pública etc. Finaliza o dispositivo na hipótese do militar estar cumprindo ordem legal
superior.
Prevê o dispositivo uma terceira hipótese: nesse caso, o militar estaria exercendo uma
função que não seria nem de natureza militar nem policial-militar. Apenas requer-se que a ordem superior
seja legal.
Vimos, portanto, nesse inciso, as diversas hipóteses em que o militar da reserva, reformado
ou o civil está sujeito à jurisdição militar, quando são sujeitos ativos de crime.
Da análise do dispositivo legal, verifica-se (nos incisos I e II) que para existir o crime
militar nem sempre bastará que o autor seja militar praticando fato previsto como crime no CPM. Será
necessário, além da previsão de um delito tipificado no CPM, algumas condições ou situações objetivas
quanto às circunstâncias da pessoa, do lugar e do tempo, sem as quais poderá existir um crime de
natureza comum, mas nunca um crime militar.

3.3. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR

DESACATO A SUPERIOR

Tipo penal:

Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou procurando


deprimir-lhe a autoridade:
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Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial general ou comandante da
unidade a que pertence.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a administração militar que tem sua
autoridade ali representada desrespeitada, humilhada, a ordem administrativa, a hierarquia e a
disciplina abaladas.
Segundo o saudoso Nelson Hungria, desacato a superior é “qualquer palavra ou ato que
redunde vexame, humilhação, gestos obscenos, gritos agudos, etc.”

Sujeito Ativo: o inferior hierárquico, da ativa ou inativo (da reserva remunerada)


equiparado a militar da ativa empregado na administração militar (nos termos do art. 12 e 13, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. II, do art. 9º) ou o inativo não equiparado a ativo (art. 12, atendidos os
pressupostos das alíneas do inc. III, art. 9º) e o civil (apenas na esfera federal), este último como
coautor (em concurso eventual, em observância ao que dispõe o art. 53, caput, do CPM, ante a elementar
“SUPERIOR”, desde que no exercício da função).

OBS: O civil em companhia de outro militar inferior hierárquico que cometer o crime
de DESACATO A SUPERIOR, do art. 298, figurará no polo ativo como coautor
eventual, deste crime, ex vi art. 53, §1º, do CPM). Já se esse civil estiver sozinho, aí
cometerá com autor o crime militar de DESCATO A MILITAR, do art. 299, do
CPM). Caso o desacato praticado for contra civil a serviço da Instituição Militar
(federal) em lugar sob administração militar, incorrerá o civil no crime de desacato a
servidor público, previsto no art. 300 do CPM.

Sujeito Passivo: o superior hierárquico militar em serviço ou no desempenho da função ali


representando a administração militar, que tem sua autoridade menosprezada, humilhada por inferior
hierárquico, Já não estando o sujeito passivo mediato em serviço ou em razão da função, a conduta do
sujeito ativo (se militar) será criminalmente atípica, devendo o fato ser resolvido na esfera disciplinar.

Elemento Objetivo: “desacatar”, “humilhar”, “menoscabar” a autoridade administrativa


representada pelo superior hierárquico, atingindo a sua dignidade, respeitabilidade, decoro, decência,
honra e pundonor.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre e consciente de proferir palavra ou praticar ato
injurioso e, o especial a fim é desprestigiar a autoridade do superior hierárquico.

Tentativa: Não é possível, por ser crime unissubsistente, ou seja, é realizado num só ato.

Consumação: Ocorre através de expressões ofensivas, proferidas pelo agente


(xingamentos, palavras desrespeitosas), agressões ou tentativas, ameaças de vias de fato, dirigidas
ao superior, quando no exercício de seu comando ou em razão da função exercida, com o fim de
deprimir ou humilhar a sua autoridade.

OBS: A ofensa tem que acontecer na presença do superior ofendido (sujeito passivo),
mesmo que ele ofensor não veja o ofendido.
Caso não seja na sua presença, será injúria.
O crime não pode ser praticado por telefone, no entanto, parte da doutrina defende que
poderá ser por escrito se dirigidas as palavras escritas e ultrajantes especialmente ao superior (no

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exercício da função).

Crime propriamente militar.

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade indireta: pode ser praticado por qualquer que seja o agente (terceira parte, do
inciso I, art. 9º) – militar da ativa ou inativo revertido para a atividade (nos termos do art. 12, do CPM),
com a subsunção do fato ao tipo penal da parte especial, buscada nas alíneas do inciso II, do art. 9º. Com
a ressalva do caso de concurso (coautoria) eventual inativo não revertido, estes últimos cuja subsunção
está na complementação buscada nas alíneas do inciso III, do art. 9º. Exceto os da reserva não remunerada
(Ex. Reservistas de 1ª classe, Oficiais da Reserva não-remunerada – R-2).
OBS: Servem para o entendimento deste delito, considerações feitas nos crimes de
violência contra superior (art. 157) e desrespeito a superior (art. 160), quanto às
hipóteses art. 47, I e II e do art. 53, do CPM.

DESACATO A MILITAR - Correspondente no art. 331, do CP.

Tipo penal:

Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão


dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui outro crime.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a administração militar que tem sua
autoridade ali representada desrespeitada, humilhada, a ordem administrativa abalada.

Sujeito Ativo: na esfera federal é qualquer pessoa, inclusive o militar (da ativa ou
inativo). Já na esfera estadual apenas o militar estadual (da ativa ou inativo). Neste crime podemos
ter o inverso do que ocorre com o desacato a superior, onde o superior poderá desacatar seu inferior
hierárquico, deste que este último esteja em serviço ou no desempenho da função.

Sujeito Passivo: o militar da ativa em serviço ou no desempenho da função ali


representando a administração militar, que tem sua autoridade no exercício da função menosprezada,
humilhada podendo ser inclusive por superior hierárquico. Já não estando o sujeito passivo mediato em
serviço ou em razão da função, a conduta do sujeito ativo (se militar) será criminalmente atípica, devendo
o fato ser resolvido na esfera disciplinar.

Elemento Objetivo: “desacatar”, ou seja, “humilhar”, “menoscabar” a autoridade


administrativa ali representada.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre e consciente de proferir palavra ou praticar ato
injurioso e, o especial a fim é desprestigiar a autoridade e a ordem administrativa ali representadas.

Tentativa: Não é possível, por ser crime unissubsistente.

Consumação: Ocorre através de expressões ofensivas, proferidas pelo agente, agressões


ou tentativas dirigidas ao militar de serviço ou no exercício da função.

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Crime impropriamente militar – descrito de modo diverso na lei penal comum.


(Código Penal, art. 331)

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade Indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, deve-
se verificar o inciso I, primeira parte, do art. 9º do CPM, complementando a tipicidade com uma das
alíneas do inciso II, podendo ser as alíneas “a”, “c” ou “e”, que subsume fato praticado por militar da
ativa (ou militar revertido para a atividade empregado na administração militar), atingindo a própria
Instituição Militar. A complementação deve-se ao fato de o tipo penal em estudo possuir previsão no
Código Penal comum, embora definido de modo diverso, especificamente no art. 331, do CP. Já se o
delito foi cometido por civil (este na esfera federal) e/ou se em concurso com militar da ativa ou por
inativo (não revertido para atividade), a complementação deve ser buscada nas alíneas “b”, “c” e “d” do
inciso III, do art. 9º, lembrando que o agente, neste caso, atenta diretamente contra a própria
Instituição Militar, afetando a sua regularidade administrativa. O civil, no entanto, responderá na Justiça
Comum, se praticado contra a Instituição Militar estadual, consoante dispõe a Súmula 53, do STJ, pelo
crime comum de desacato, na figura do art. 331, do CP.
OBS: Servem para o entendimento deste delito, as considerações feitas no crime de
violência contra militar de serviço (art. 158, do CPM).

DESOBEDIÊNCIA – Correspondente de modo diverso no art. 330, do CP.

Tipo penal:

Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar:


Pena - detenção, até seis meses.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a administração militar que sua ordem
administrativa atingida pelo descumprimento de uma norma ou ordem. O descumprimento é
praticado por militar fora do serviço ou do desempenho de sua função. Difere da Recusa de obediência
(art. 163, do CPM) e do Motim (art. 149, do CPM), uma vez que estes compõem o rol dos crimes de
insubordinação e se referem a descumprimento de ordem quanto a matéria de serviço, o seu cometimento
implica em prejuízo à autoridade e a disciplina militares.

Sujeito Ativo: na esfera federal é o particular (civil) ou militar inativo ou o da ativa,


mas desde que fora do seu serviço, em regra não estando no desempenho da missão ou serviço, estando
de folga ou de férias por exemplo. Na esfera estadual somente o militar estadual, estando afastado do
serviço.

Sujeito Passivo: a administração militar.

Elemento Objetivo: “desobedecer” a ordem emanada.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre e consciente de desobedecer a ordem dada.


Tentativa: Não é possível, por ser crime unissubsistente.

Consumação: ocorre com o não cumprimento da ordem. (RETIFIQUEM).

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Crime impropriamente militar: definido de modo diverso na lei penal comum (Código
Penal, art. 330).

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade Indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, deve-
se verificar o inciso I, primeira parte, do art. 9º do CPM, complementando a tipicidade com uma
das alíneas do inciso II, podendo ser as alíneas “a”, “c” ou “e”, que subsume fato praticado por militar
da ativa (ou militar revertido para a atividade empregado na administração militar), atingindo a própria
Instituição Militar. A complementação deve-se ao fato de o tipo penal em estudo possuir previsão no
Código Penal comum, embora definido de modo diverso, especificamente no art. 330, do CP. Já se o
delito foi cometido por civil (este na esfera federal) e/ou se em concurso com militar da ativa ou por
inativo (não revertido para atividade), a complementação deve ser buscada nas alíneas “a”,”b”, “c” e
“d” do inciso III, do art. 9º, lembrando que o agente, neste caso, atenta diretamente contra a própria
Instituição Militar, afetando a sua regularidade administrativa. O civil, no entanto, responderá na Justiça
Comum, se praticado contra a Instituição Militar estadual, consoante dispõe a Súmula 53, do STJ, pelo
crime comum de desobediência, na figura do art. 330, do CP.

DO PECULATO – Correspondente de modo diverso no art. 312, do CP


(ACRESCENTA-SE as palavras do CPP, depois de “Apropriar-se funcionário público...”

Tipo penal:

Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo
em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão de três a quinze anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a administração militar e a proteção do bem


público ou do particular (material, dinheiro ou valor não lhe pertence) sob sua guarda ou
vigilância.

Sujeito Ativo: na esfera federal é o servidor publico (civil ou militar) a serviço da


administração militar responsável pela guarda ou vigilância do valor ou do bem. Na esfera estadual
apenas o militar estadual poderá praticar.

Sujeito Passivo: a administração militar e o proprietário do bem ou valor sob a


guarda da administração.

Elemento Objetivo: “apropriar-se” do bem público ou particular em proveito próprio ou


de terceiro.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre de apropriar-se do bem público ou particular.


Consumação: ocorre com a apropriação ou posse indevida do bem público ou
particular. Ocorre também com o desvio pelo agente, sem ânimo de apossamento definitivo ao
empregar o objeto material em fim diverso de sua destinação específica, em proveito próprio.

Crime impropriamente militar: descrito de diverso na lei penal comum (Código Penal,

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art. 312).
Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade Indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, deve-
se verificar o inciso I, primeira parte, do art. 9º do CPM, complementando a tipicidade com a
alínea “a” do inciso II, que subsume o fato praticado por militar da ativa (ou militar revertido para a
atividade empregado na administração militar), atingindo a própria Instituição Militar. A complementação
deve-se ao tipo penal em estudo possuir previsão no Código Penal comum, embora definido de modo
diverso, especificamente no art. 312, do CP. Já se o delito foi cometido por civil (este na esfera federal),
e/ou se em concurso com militar da ativa ou por inativo (não revertido para atividade), a complementação
buscada na alínea “a”, do inciso III, do art. 9º, lembrando que o agente, neste caso, atenta diretamente
contra a própria Instituição Militar, afetando a sua regularidade administrativa. O civil, no entanto,
responderá na Justiça Comum, se praticado contra a Instituição Militar estadual, consoante dispõe a
Súmula 53, do STJ, pelo crime comum de desobediência, na figura do art. 312, do CP.

CONCUSSÃO – Correspondente de modo idêntico no art. 316, do CP.

Tipo penal:

Art. 305. Exigir para si ou para outrem direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a regularidade administrativa abalada pelo


abuso exercido pelo servidor civil ou militar que exige algo de outrem no exercício da função. Pode
ocorrer ainda que fora do exercício da função, mesmo antes de assumir futuramente a função. Na esfera
estadual é praticado apenas pelo militar estadual.

Sujeito Ativo: na esfera federal é o servidor publico (civil ou militar) a serviço da


administração militar. Na esfera estadual apenas o militar poderá praticar.

Sujeito Passivo: a administração militar ofendida pela ação do agente, que exerce uma
função pública, atinge a moralidade administrativa, incrustada no caput do art. 37, da CF.

Elemento Objetivo: “exigir” vantagem indevida, mesmo fora da função, mas em razão
da função pública. A concussão é uma espécie de extorsão, só que praticada pelo agente público.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre de obter vantagem indevida.

Consumação: no ato de exigir a vantagem indevida.


Crime impropriamente militar: descrito idêntico na lei penal comum (Código Penal,
art. 316).

Ação penal: Pública incondicionada.

Tipicidade Indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, deve-
se verificar o inciso II do art. 9º do CPM, complementando a tipicidade com uma das alíneas do referido
inciso, podendo ser as alíneas “b” “c” ou “e”, que subsume o fato praticado por militar da ativa (ou

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militar revertido para a atividade empregado na administração militar), geralmente contra civil. A
complementação pelo inciso II, de notar, deve-se ao tipo penal em estudo possuir igual definição no
Código Penal comum, especificamente no art. 316, do CP. Já se o delito foi cometido por civil (este na
esfera federal), e/ou se em concurso com militar da ativa ou por inativo (não revertido para atividade), a
complementação deve ser buscada nas alíneas “a” e “d” do inciso III, do art. 9º, lembrando que o agente,
neste caso, atenta diretamente contra a própria Instituição Militar, afetando a sua regularidade
administrativa. . O civil, no entanto, responderá na Justiça Comum, se praticado contra a Instituição
Militar estadual, consoante dispõe a Súmula 53, do STJ, pelo crime comum de desobediência, na figura
do art. 316, do CP.

CORRUPÇÃO PASSIVA – Correspondente de modo idêntico no art. 317, do CP (com


a alteração proporcionada pela Lei nº 14.688/2023)

Tipo penal:

Art. 308. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a regularidade administrativa abalada pelo


fato de receber ou aceitar a vantagem. Pode ocorrer ainda que fora do exercício da função, mesmo
antes de assumir futuramente a função. Na esfera estadual é praticado apenas pelo militar estadual.

Sujeito Ativo: na esfera federal é o agente publico (civil ou militar) que recebe ou
aceita a vantagem. Na esfera estadual apenas o militar poderá praticar.

Sujeito Passivo: a administração militar ofendida pela ação do agente, que ao receber e
aceitar a vantagem atinge a moralidade administrativa, incrustada no caput do art. 37, da CF.

Elemento Objetivo: “receber” para si ou para outra a vantagem indevida ou aceitar a


vantagem indevida , ou aceitar a promessa de tal vantagem, deixando de realizar atos obrigatórios
relativos ao seu dever funcional.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre de receber a vontade indevida.

Tentativa: Por ser formal não admite tentativa.

Consumação: por ser delito formal, consuma-se com a simples solicitação. Exige a
iniciativa do corruptor, já que o corrompido apenas recebe a vantagem indevida ou aceita a promessa de
tal vantagem, jamais a solicita.

Crime impropriamente militar: descrito idêntico na lei penal comum (Código Penal,
art. 317), variando do CPM, que não prevê aplicação de “multa” para o delito, prevendo o art. 308,
apenas a pena de reclusão de 02(dois) a 08(oito) anos.

Tipicidade Indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, deve-
se verificar o inciso II do art. 9º do CPM, complementando a tipicidade com uma das alíneas do referido

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inciso, podendo ser as alíneas “b” “c” ou “e”, que subsume fato praticado por militar da ativa (ou militar
revertido para a atividade empregado na administração militar), geralmente contra civil. A
complementação deve-se ao tipo penal em estudo possuir previsão no Código Penal comum, de modo
idêntico no art. 317. Já se o delito foi cometido por civil (este na esfera federal), e/ou se em concurso com
militar da ativa ou por inativo (não revertido para atividade), a complementação deve ser buscada nas
alíneas “a” e “d” do inciso III, do art. 9º, lembrando que o agente, neste caso, atenta diretamente contra a
própria Instituição Militar, afetando a sua regularidade administrativa. . O civil, no entanto, responderá na
Justiça Comum, se praticado contra a Instituição Militar estadual, consoante dispõe a Súmula 53, do STJ,
pelo crime comum de desobediência, na figura do art. 317, do CP.

Ação penal: Pública incondicionada.

CORRUPÇÃO ATIVA – Correspondente de modo diverso no art. 333, do CP.

Tipo penal:

CPM - Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevida para a prática,
omissão ou retardamento de ato funcional.
Pena - reclusão, até oito anos.

CORRUPÇÃO ATIVA (POR EXTENSÃO)


Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-
lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): a regularidade administrativa abalada pelo


corrompimento do agente público pelo corruptor ao dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem
indevida, para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional.

Sujeito Ativo: na esfera federal poderá ser qualquer pessoa (civil ou militar) que der
oferecer, ou prometer dinheiro ou vantagem indevida.

Sujeito Passivo: a administração militar.

Elemento Objetivo: “dar”, “oferecer”, “prometer” dinheiro ou vantagem indevida em


troca da omissão ou retardamento do ato funcional.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre de receber a vontade dar, oferecer ou prometer
dinheiro ou vantagem indevida, porém em troca de vantagem decorrente do dever funcional do agente
público.

Tentativa: Por ser formal não admite tentativa.

Consumação: ao dar, oferecer e prometer, mesmo que o agente público não aceite,
existindo apenas a figura do corruptor.

Crime impropriamente militar: descrito diverso na lei penal comum (Código Penal,
art. 333), variando também pelo fato da pena ser de 02(dois) a 12(doze) anos de reclusão e multa.

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Tipicidade Indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito, deve-
se verificar o inciso I, primeira parte, do art. 9º do CPM, complementando a tipicidade com uma
das alíneas “b” “c” ou “e”, do inciso II, do art. 9º do CPM, que subsume fato praticado por militar da
ativa (ou militar revertido para a atividade empregado na administração militar), atingindo a própria
Instituição Militar. A complementação deve-se ao tipo penal em estudo possuir previsão no Código Penal
comum, embora definido de modo diverso, especificamente no art. 333, do CP. Já se o delito foi cometido
por civil-corruptor (este na esfera federal) e/ou se em concurso com militar da ativa ou por inativo (não
revertido para atividade), a complementação deve ser buscada nas alíneas “a”,”b” e “d” do inciso III, do
art. 9º do inciso III, do art. 9º, lembrando que o agente, neste caso, atenta diretamente contra a própria
Instituição Militar, afetando a sua regularidade administrativa. O civil, no entanto, responderá na Justiça
Comum, se praticado contra a Instituição Militar estadual, consoante dispõe a Súmula 53, do STJ, pelo
crime comum de desobediência, na figura do art. 333, do CP.

Ação penal: Pública incondicionada.

PREVARICAÇÃO – Correspondente de modo idêntico no art. 319, do CP.

Tipo penal:

CPM - Art. 319. Retardar ou deixar de praticar indevidamente, ato de ofício ou praticá-
lo contra expressa disposição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

PREVARICAÇÃO (POR EXTENSÃO) – REFIFIQUEM NA APOSTILA


CP - Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo
contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

PREVARICAÇÃO (POR EXTENSÃO) - REFIFIQUEM NA APOSTILA


CP - Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu
dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466,
de 2007).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Objetividade Jurídica (ou bem tutelado): o dever militar e a regularidade


administrativa.

Sujeito Ativo: na esfera federal será o agente público (civil ou militar) que retardar ou
deixar de praticar, indevidamente ato que em virtude da função tinha por obrigação legal de fazer.

Sujeito Passivo: a administração militar.

Elemento Objetivo: “retardar” ou “deixar de praticar”, ato que tinha por obrigação
legal de fazer para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Elemento subjetivo: o dolo, a vontade livre de retardar ou deixar de fazer obrigação legal
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

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Tentativa: admite tentativa por se consumar em três etapas (prolonga, se omite,


pratica ação contrária a ato legal) faltando uma delas o crime não consuma.

Consumação: se consuma em três etapas. Na primeira, o agente retarda (protrai,


delonga), na segunda ele se omite e, na terceira ele pratica ato contra disposição legal ou inerente às
suas atribuições do servidor ou que está na esfera de sua competência, administrativa ou judicial.

Crime impropriamente militar: descrito de modo idêntico na lei penal comum (Código
Penal, coincidentemente também no art. 319).

Tipicidade Indireta: para se ter a completa compreensão da tipicidade deste delito,


quando praticado por militar em situação de atividade, deve-se verificar o inciso II do art. 9º do CPM,
complementando a tipicidade com uma das alíneas do referido inciso, podendo ser as alíneas “b” “c”, “d”
ou “e” que subsume fato praticado por militar da ativa (ou militar revertido para a atividade empregado na
administração militar), atingindo a própria Instituição Militar. A complementação pelo inciso II, de
notar, deve-se ao tipo penal em estudo possuir igual definição no Código Penal comum,
especificamente no art. 319, do CP. Já se o delito foi cometido por civil (este na esfera federal), e/ou se
em concurso com militar da ativa ou por inativo (não revertido para atividade), a complementação deve
ser buscada nas alíneas “a”,”b” e “d” do inciso III, do art. 9º, lembrando que o agente, neste caso, atenta
diretamente contra a própria Instituição Militar, afetando a sua regularidade administrativa ao deixar de
realizar seu dever funcional, que por lei tinha obrigação de fazer. O civil, no entanto, responderá na
Justiça Comum, se praticado contra a Instituição Militar estadual, consoante dispõe a Súmula 53, do STJ,
pelo crime comum de desobediência, na figura do art. 319, do CP.

Ação penal: Pública incondicionada.

UNIDADE IV – CRIMES CONTRA A VIDA

Com a edição das Leis Federais nº 13.491, de 13/10/2017 e nº 14.688, de 20/09/2023, o


Código Penal Militar teve significativa mudança, trazendo à baila a inclusão de novos delitos como
crimes militares não previstos no Código Penal Militar, mas encontrados na Lei Penal comum, consoante
disposto no inciso II, do art. 9º, e com a inserção dos parágrafos 1º e 2º, os quais versam sobre os crimes
dolosos contra a vida de civil, praticados, respectivamente por militares estaduais e militares das Forças
Armadas, em serviço ou em razão da função militar.
Temos que a competência da Justiça Militar, como nunca deixou de ser, é matéria
constitucional, pois o art. 124 prescreve que “compete a Justiça Militar processar e julgar os crimes
militares definidos em lei”, não importando quem seja o agente, o qual pode ser militar da ativa (federal
ou estadual ou distrital), militar da reserva (federal ou estadual ou distrital), reformado ou civil.
O crime militar, se contra as Instituições Militares (da União, ou seja, as FFAA), por
interpretação extensiva in genere, ocorrerá na forma do disposto no art. 124, da CF e art. 9º, I, terceira
parte (“qualquer que seja o agente”) e II, do CPM, civis, em regra, e apenas na esfera federal, só
praticarão crime militar nas circunstâncias do inciso III, do art. 9º, do CPM.
Já na esfera estadual (contra as Instituições Militares estaduais, ou seja, as PPMM e
BBMM) por exclusão tácita dos civis no polo ativo, verificada no teor do art. 125, §4º, da CF, primeira
parte, e conforme Súmula 53, do STJ, os civis se intentarem contra as instituições militares estaduais
não cometerão crime militar e sim crime comum ou contravenção penal. Por exclusão além dos
civis, também os militares das Forças Armadas não cometerão crimes militares contra as

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Instituições Militares estaduais.


Em suma, notamos que os arts. 124 e 125, §4º da CF/88 expressam a competência
constitucional da Justiça Militar da União e Estadual, respectivamente, de maneira cristalina, ou seja,
processar e julgar os crimes militares definidos em lei, não fazendo distinção, em regra, quanto ao fato de
serem dolosos ou culposos, nem muito menos ao agente passivo (vítima), com a ressalva da competência
de processamento e julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civil pela Justiça Comum (o Júri no
caso), se praticados por militares estaduais se em serviço ou em razão da função (II, alínea “c”, art. 9º, do
CPM) em nada mudando com a Lei nº 13.491/2017, que terminou por findar por meio da adição do §2º ao
art. 9º, em substituição ao parágrafo único, incluído anteriormente pela Lei nº 9.299/96) a enorme
celeuma quanto o processamento e julgamento pela Justiça Militar da União (embora já
constitucionalmente garantida pelo art. 124, da CF) de tais crimes. Ressaltando-se que embora
posicionamentos contrários quanto à constitucionalidade da Lei nº 13.491/17, temos como mitigado,
porém apenas, para os fins da Justiça Militar da União, o disposto no art. 82, §2º, do Código de Processo
Penal Militar (CPPM), quanto ao declínio à Justiça Comum, do autos do IPM, para os crimes dolosos
contra a vida de civil.
Quanto aos crimes dolosos contra a vida de civil praticados pelos militares estaduais (ou
do Distrito Federal), em especial, no serviço ou desempenho da função, em nada mudou, com o advento
da Lei nº 13.491/17, por conta do disposto no §1º do art. 9º, do CPM, também em substituição ao
antigo parágrafo único, inalterada, portanto, a competência constitucional do Tribunal do Júri,
continuando, no entanto, a eterna celeuma quanto à sua investigação de tais crimes, se pela Polícia
Judiciária ou pela Polícia Judiciária Militar Estadual, na forma do art. 144, §4º, última parte, da CF, pois
apesar do destino em regra ser para a Justiça comum (Júri), temos o crime militar de homicídio,
por exemplo, ainda previsto no art. 205, do CPM, definido modo idêntico no art. 121, do Código
Penal comum, cabendo no nosso entender o juízo de valoração quanto ao encaminhamento do feito
persecutório ao Júri, não ser do Delegado de Polícia e sim, ainda, atribuição exclusiva do Membro
do Ministério Público atuante no Juízo Militar Estadual, o qual entendendo em ser realmente doloso o
homicídio, suscitará o declínio dos autos no caso, do IPM, da Justiça Militar Estadual, para o Tribunal do
Júri, na forma do que dispõe, validamente, ainda, o art. 82, §2º, do CPPM, pois nem sempre teremos
necessariamente, a figura do dolo dentre os crimes contra a vida, mesmo que de civil, praticados por
militares estaduais nas hipóteses do art. 9º do CPM.

UNIDADE V – AS ALTERAÇÕES NO CÓDIGO PENAL MILITAR, PROPORCIONADAS PELA


RECENTE LEI Nº. 14.688, DE 20/09/2023

O Código Penal Militar com a Lei nº 14.688, de 20/09/2023, sofreu consideráveis


mudanças, como meio de se adequar à nova legislação, à Constituição Federal e à jurisprudência,
vigentes.
Instituído em 1969, o Código Penal Militar precisou ser compatibilizado com a
Constituição Federal, o Código Penal e com a Lei de Crimes Hediondos, dentre outras legislações.
Para tanto foram atualizadas algumas tipificações de crimes, com alterações de suas penas.
Em alguns pontos, houveram mudanças do termo "Forças Armadas" para Instituições
Militares, como na nova redação dada ao art. 22, do CPM.
O texto da novatio legis tratou de crimes sexuais a alterações no crime de tráfico, uso e
posse de drogas previsto no CPM (art. 290), com o aumento da pena para a modalidade Tráfico, com
aumento no rigor da pena para o militar que se apresentar para o serviço sob o efeito de substância
entorpecente, com reclusão de até cinco anos.

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Dentre as várias alterações trazidas pela Lei nº. 14.688/2023, também destacamos:

1- Foi inserido no rol de homicídio qualificado o crime praticado contra autoridade ou


agente das forças armadas e da segurança pública, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, quando no exercício da função ou em decorrência dela. O mesmo vale para crime
contra cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau dessas autoridades ou agentes,
quando em razão dessa condição.
2- No homicídio culposo, foi explicitado o aumento de um terço da pena para o crime que
resultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício; ou ainda se o agente deixar de
prestar imediato socorro à vítima, não procurar diminuir as consequências do seu ato, ou fugir para evitar
prisão em flagrante.
3- Passou a ser duplicada a pena na provocação direta ou auxílio a suicídio quando o crime
for praticado por motivo egoístico, a vítima for menor ou tiver diminuída sua resistência moral.
4- Crimes definidos como hediondos pela Lei nº 8.072/2990, foram inseridos ao texto, o
que já não seria tanta novidade desde o advento da Lei nº13.491/2017.
5- Estupro, lesão qualificada, sequestro em cárcere privado, abandono e maus-tratos,
corrupção passiva e tráfico de influência tiveram atualização de pena, com redução ou agravante.
6- Revogação dos arts. 21 e 60, que culminou na retirada da expressão “assemelhado” das
alíneas “a”, “b”, “d” e “e”, do inciso II, da alínea “b” do art. 9º e dos arts. 103, 122, 151, 166, 171, 300,
332, 336 e 340.
7- Revogação do art. 55, caput e alínea “f” e dos arts. 64 e 86, que tratam da pena de
“Suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função” com a consequente substituição dessa
modalidade de pena, para pena de “detenção”, nos crimes dos arts. 170 (Ordem arbitrária de invasão),
174 (Rigor excessivo), 197 (Retenção indevida), 198 (Omissão de eficiência da força), 201 (Omissão de
socorro), 204 (Exercício de comércio por oficial), 266 (Desaparecimento, consunção ou
extravio/modalidades culposas), 324 (Inobservância de lei, regulamento ou instrução) e 340 (Recusa de
função na Justiça Militar).
8- Revogação dos art. 65 e 127 que tratam da pena de “reforma” e de“Suspensão do
exercício do posto, graduação, cargo ou função.
9- Revogação dos arts. 78 e 82, que tratam do criminoso habitual e do crime continuado
pelo criminoso habitual.
10- Revogação do art. 123, caput e inciso V, que trata da “reabilitação”, como causa
extintiva da punibilidade.
11- Revogação no CPM, do art. 233, trata do crime de “Atentado violento ao pudor!, em
face do nova redação, dada ao art. 232, que trata do crime de estupro.
12- Mudança no art. 235 do nomen iuris do crime de “Pederastia ou outro ato de
libidinagem” para “Ato de Libidinagem”, com nova redação da sua tipicidade (definição) formal.
13- Inserção de mais uma hipótese (§5º) de coautoria no art. 53.
14- Agravamento da pena do crime de “violência contra superior (art. 175)”, com a do
crime de violência contra superior.
15- Acréscimo do §1º-A como qualificadora no crime de “Resistência mediante ameaça ou
violência (art. 177)”.
16- Nova redação dada ao art. 99, que trata da pena de “Perda do Posto e da Patente”, ao
oficial ao julgamento previsto no inciso VI do § 3º do art. 142 da Constituição Federal.

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REFERÊNCIAS

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jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores./6ª Ed. (ano 2007). 1. reimp.,
Curitiba: Juruá, 2008, 832p.
 ASSIS. Jorge César de. A Lei 13.491/17 e a alteração no conceito de crime militar: primeiras
impressões – primeiras inquietações, Disponível em:
<https://www.observatoriodajusticamilitar.info/single-post/2018/01/18/A-Lei-1349117-e-a-
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em: 06 mar. 2018.
 BRASIL. Código Penal. Presidência da República Casa Civil. Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>.
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 BRASIL. Código Penal Militar. Presidência da República Casa Civil. Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1001.htm>. Acesso
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 BRASIL. Código de Processo Penal. Presidência da República Casa Civil. Subchefia para
Assuntos Jurídicos. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689.htm>. Acesso em 18 março 2022.
 BRASIL. Código de Processo Penal Militar. Presidência da República Casa Civil. Subchefia
para Assuntos Jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del1002.htm>. Acesso em 18 março 2022.
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Presidência da República
Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 18 março
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 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.688, de 03/10/1941. Lei das Contravenções Penais. Presidência da
República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/del3688.htm#:~:text=Provocar%20tumulto%2
0ou%20portar%2Dse,a%20dois%20contos%20de%20r%C3%A9is.>. Acesso em 22 nov. 2020.
 BRASIL. Lei nº 9.455, de 07/04/1997. Define os crimes de tortura e dá outras providências.
Presidência da República Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9455.htm#:~:text=Define%20os%20crimes%20de%20tort
ura,Art.>. Acesso em 22 nov. 2020.
 BRASIL. Lei nº 10.826, de 22/12/2003. Dispõe sobre registro, posse e comercialização de
armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá
outras providências. Presidência da República Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm>. Acesso em 22 nov.
2020.
 BRASIL. Lei nº 11.343, de 23/08/2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Presidência da
Presidência da República Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm >. Acesso em 22 nov.
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2020.
 BRASIL. Lei nº 13.869, de 05/11/2020. Dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade.
Presidência da República Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13869.htm >. Acesso em 22 nov.
2020.
 BRASIL. Lei nº 13.774, de 19/12/2018. Altera a Lei nº 8.457, de 4 de setembro de 1992, que
“Organiza a Justiça Militar da União e regula o funcionamento de seus Serviços Auxiliares”.
Presidência da República Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13774.htm >. Acesso em 06
fev. 2021;
 BRASIL. Lei nº 14.688, de 20/09/2023. Altera o Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969
(Código Penal Militar), a fim de compatibilizá-lo com o Decreto-Lei nº2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal), e com a Constituição Federal, e a Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990
(Lei dos Crimes Hediondos), para classificar como hediondos os crimes que especifica. Diário
Oficial da UNIÃO Nº 181, de 21-03-2023. Seção 1. p.5. Disponível em: <
https://www.jusbrasil.com.br/diarios/1264070201/dou-secao-1-21-09-2023-pg-5>. Acesso em
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 COSTA, Edmar Monteiro. CPM anotado. 2. ed. Rio de Janeiro: Letras e Versos, 2022;
 FIGUEIREDO, Ricardo Vergueiro. Org. Código Penal Militar. Código de Processo Penal
Militar. Códigos e Legislação. 16 ed. São Paulo: Rideel, 2018.
 FOUREAUX, Rodrigo. A Lei 13.491/17 e a ampliação da competência da Justiça Militar.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/61251/a-lei-13-491-17-e-a-ampliacao-da-
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 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, Volume I, 19 ed, Niterói: Impetus, 2017.
 HORCAIO, Ivan. Dicionário Jurídico Referenciado. São Paulo: Primeira Impressão, 2006.
 LOBÃO, Célio, Direito Penal Militar, 3 ed. atualizada, Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
 MARREIROS, Adriano Alves. Lei 13.491/2017, uma breve análise sobre a mudança da
natureza comum para militar de certos casos de crimes dolosos contra a vida: um resumo
didático da confusão que se reinicia... Disponível em
<http://s3.meusitejuridico.com.br/2017/11/740512c5-adriano-marreiro.pdf>. Acesso em 06
MAR 18.
 MENECHINI, Adriano. Crime Extramilitar: Uma inovação polêmica da Lei nº 13.491/2017,
Estudos Avançados de Direito Militar. 2 ed. São Paulo: Rideel, 2022.
 NEVES, Cícero Robson Coimbra. STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal
Militar: Parte Geral, Volume 1, São Paulo: Saraiva, 2005 (2ª Tiragem -2008).
 NEVES, Cícero Robson Coimbra. STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal
Militar: (Parte Especial, Volume 2, São Paulo: Saraiva, 2005 (2ª Tiragem -2008).
 NEVES, Cícero Robson Coimbra. Inquietações na investigação criminal militar após a entrada
em vigor da Lei n. 13.491, de 13 de outubro de 2017, Revista Direito Militar nº 126,
Florianópolis: AMAJME, setembro a dezembro de 2017, pp. 23-28;
 PAVIONE, Lucas dos Santos et alii. Direito Penal Militar, Parte Geral e Especial In: Coleção
Resumos para Concursos. 5 ed. Salvador: Juspodivm, 2019.
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 PIAUÍ. Lei Nº 3.808, de 16-07-1981. Estatuto da Polícia Militar do Piauí. Diário Oficial do
Estado Nº 140, de 29-07-1981, até as recentes alterações da Lei nº 7.427- 2020, de 28-12-2020.
 PIAUÍ. Lei nº 7.725, de 17/01/2022. Dispõe sobre o Código de Ética e Disciplina dos Militares
do Estado do Piauí. CEDME/PI. Diário Oficial do Estado Nº 11, de 17-01-2022.
 PIAUÍ. Polícia Militar, Estado Maior Geral. Manual de Prática de Polícia Judiciária Militar
/Estado Maior Geral da Polícia Militar do Piauí (IN001/EMG/PMPI), publicado BCG nº 112, de
18 de junho de 2013.
 ROTH, Ronaldo. Os delitos militares por extensão e a nova competência da Justiça Militar (Lei
13.491/17), Revista Direito Militar nº 126, Florianópolis: AMAJME, setembro a dezembro de
2017, pp. 29-36.
SÃO PAULO, Tribunal de Justiça Militar, Coletânea de Estudos de Direito Militar: doutrina e
jurisprudência/coordenação geral Orlando Eduardo Geraldi; coordenação editorial Ronaldo João
Roth; revisão Ronaldo João Roth e Sílvia Helena Ono - São Paulo: Tribunal da Justiça Militar,
2012.

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APÊNDICE

SÚMULAS DO STJ E STF PARA O DIREITO PENAL MILITAR

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

Súmula 298
"O legislador ordinário só pode sujeitar civis à Justiça Militar, em tempo de paz, nos crimes contra a
segurança externa do país ou as instituições militares".

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ)

Súmula 06
"Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o delito decorrente de acidente de trânsito
envolvendo viatura da Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de
atividade". (overruled pela Lei nº 13.491/17, de 13/10/17)

Súmula 53
"Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra as
instituições militares estaduais". (mitigada pelo art. 125, §4º, da CF/88)

Súmula 75
"Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou
facilitar a fuga de preso de Estabelecimento Penal". (overruled pela Lei nº 13.491/17, de 13/10/17)

Súmula 78
"Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o crime tenha
sido praticado em outra unidade federativa".

Súmula 90
"Compete à Justiça Militar processar e julgar o policial militar pela prática de crime militar, e à Comum
pela prática do crime comum simultâneo àquele". (Parcialmente mitigada pela Lei nº 13.491/17, de
13/10/17)

Súmula 172
"Compete a Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
praticado em serviço". (overruled pela Lei nº 13.491/17, de 13/10/17)

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