Você está na página 1de 24

Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE

FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

Maria IZOLDA CELA de Arruda Coelho


GOVERNADORA DO ESTADO DO CEARÁ

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS

SANDRO Luciano CARON de Moraes - DPF


SECRETÁRIO DA SSPDS

ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE

Antônio CLAIRTON Alves de Abreu – CEL PM


DIRETOR-GERAL DA AESP|CE

NARTAN da Costa Andrade - DPC


DIRETOR DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE

HUMBERTO Rodrigues Dias – CEL BM


COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE

José ROBERTO de Moura Correia – TC PM


COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE

Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – CAP PM


SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE

ALANA Dutra do Carmo


ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNCIA DA AESP|CE

CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS POLICIAIS MILITARES - CFSD PM

DISICPLINA
Fundamentos de Direito Constitucional

CONTEUDISTAS
Renata Amaral Mesquita Loiola

FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva – 1º SGT PM

• 2022 •

2
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

SUMÁRIO

FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL ............................................................................................................................. 4


1. APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................................................................... 4
1. O ESTADO, SOCIEDADE E O DIREITO ........................................................................................................................................... 4
1.1 Hierarquia das Normas Jurídicas do Estado Brasileiro ......................................................................................................... 4
1.2 As Constituições na História do Brasil .................................................................................................................................. 5
1.3 O que é Constituição? .......................................................................................................................................................... 6
1.4 A Constituição do Brasil de 1988.......................................................................................................................................... 6
2. COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA ............................................................................................................................ 7
2.1 Considerações Preliminares ................................................................................................................................................. 7
2.2 Dos Princípios Fundamentais – Título I ................................................................................................................................ 7
3. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – Título II............................................................................................................ 9
3.1 Considerações iniciais .......................................................................................................................................................... 9
3.2 Comentários Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – Capítulo I ............................................................................ 9
4. DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Seção I DISPOSIÇÕES GERAIS - CAPÍTULO VII da CFB. ........................................................... 19
4.1 Princípios da Administração Pública .................................................................................................................................. 19
4.2 Conceitos............................................................................................................................................................................ 19
5. DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS ........................................................................... 20
5.1 Considerações Preliminares ............................................................................................................................................... 20
5.2 Os Membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares ............................................................................... 20
6. SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 ............................................................................... 21
6.1 Definições ........................................................................................................................................................................... 21
6.2 Sistema de Segurança Pública no Brasil ............................................................................................................................. 21
7. ORIGEM DO PODER DE POLÍCIA – (DA TRIBUTAÇÃO E DO ORÇAMENTO - TÍTULO VI - CF/88.) ................................................ 22
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................................ 24

3
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL As normas jurídicas distinguem-se das demais regras


de comportamento devido, essencialmente, ao fator
1. APRESENTAÇÃO coercibilidade. Quer dizer, a norma jurídica conta com a
força coercitiva do Estado para impor-se sobre as pessoas.
A Apostila de Fundamentos de Direito Constitucional Resguardando o Direito, existe a coerção (força) potencial do
foi elaborada com a finalidade de fornecer elementos Estado, que se concretiza em alguma forma de sanção
teórico-práticos para que os profissionais de Segurança (punição), quando alguém transgride a norma legal a todos
Pública possam pautar o exercício de sua atividade no imposta. O mesmo já não ocorre com as outras regras
respeito aos direitos e liberdades individuais, extrajurídicas. Assim, por exemplo, se alguém desrespeita a
conscientizando-se de sua capacidade de promover e uma norma meramente religiosa, sua conduta ofende,
proteger, considerando que tal ramo do Direito seja o que dá apenas, aos ensinamentos da religião. O Estado não reage a
norte a todos os demais ramos do Direito, e é de extrema esta ofensa, se vivemos um regime de liberdades de crenças
relevância para a execução da prestação do serviço no e convicções. A Norma religiosa não possui coercibilidade.
âmbito da segurança pública, qual seja a preservação da Ao contrário, se uma pessoa lesiona alguém sua conduta fere
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do uma norma jurídica prevista no Código Penal Brasileiro e
patrimônio. essa conduta é tipificada provocará a reação punitiva do
Os temas serão discorridos através de sete capítulos, Estado.
versando sobre a visão panorâmica do Direito Constitucional Organizando a sociedade, o Estado impõe-lhe
e os principais assuntos teóricos e práticos aplicados ao determinada ordem e direção. Porém, só existe organização
Militar Estadual, que nortearão os futuros agentes social, onde houver Direito, traçando regras obrigatórias de
aplicadores da Lei, no desempenho jurídico-técnico- conduta. Por isso, afirmavam os antigos romanos: “ubi
operacional do Policial Militar e Bombeiro Militar. Tentamos societas, ibi jus”: onde houver sociedade, aí estará o Direito.
o máximo incluir os textos originais da Constituição para que Convém esclarecer que a relação necessária entre a
possamos aprender juntos a interpretar um documento feito existência do Estado e a do Direito não deve ser confundida
para dificultar para o cidadão não-especializado a transpor com a noção de Estado de Direito.
os obstáculos de um texto redigido na linguagem do Direito. Por Estado de Direito entende-se o Estado que
Para tanto, será adotada a seguinte cronologia: O autodisciplina suas relações com os membros da sociedade
Estado, Sociedade e o Direito; Comentários à Constituição mediante normas jurídicas que se tornam obrigatórias para
Brasileira; Dos Direitos e Garantias Fundamentais – Título II; todos, inclusive e, principalmente, para o próprio Estado.
Da Administração Pública; Dos Militares dos Estados, do Assim, a noção de Estado de Direito corresponde ao
Distrito Federal e dos Territórios; Segurança Pública na estágio civilizatório das democracias em que o poder das leis
Constituição Federal Brasileira de 1988 e a está acima das leis do poder.
Constitucionalidade do Poder de Polícia. É este estágio civilizatório que a nova Constituição
Isto posto, é mister relembrar a importância de Federal Brasileira, promulgada no dia 5 de outubro de 1988,
termos a convicção de que os desafios na área de segurança instituiu no Brasil: O Estado Democrático de Direito,
pública não se exaurem somente nestes fundamentos, os
quais não são exclusivos dos governantes, depende 1.1 Hierarquia das Normas Jurídicas do Estado
essencialmente de todos, uma vez que “segurança pública é Brasileiro
dever do Estado e obrigação de todos”.
No Direito Brasileiro existe enorme quantidade de
1. O ESTADO, SOCIEDADE E O DIREITO normas jurídicas. Para que não haja contradição entre essas
normas, é preciso que elas estejam integradas num sistema
Nós constituímos o povo Brasileiro. E, como tal, jurídico hierarquicamente organizado. Esse sistema constitui
pertencemos um Estado: a República Federativa do Brasil. o ordenamento jurídico brasileiro, que se compõe de
A todo o momento, sentimos a presença do Estado diversos subordinamentos, dentre os quais o mais
brasileiro em nossa vida social. Presença que se manifesta, importante (porque mais poderoso) é o ordenamento
por exemplo, quando votamos nas eleições, quando jurídico do Estado brasileiro, justamente aqueles
pagamos impostos federais, estaduais, municipais, quando disciplinados em suas estruturas fundamentais pela
chamamos a polícia militar, polícia civil, bombeiros Militar, Constituição Federal. O ordenamento jurídico do Estado
quando obedecemos às normas jurídicas em geral. Então o Brasileiro assenta-se basicamente nas leis (CF, Art 5º, II:
que é o Estado? É essa gigantesca instituição com poderes “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
para organizar a sociedade no território brasileiro. senão em virtude da lei”), admitindo-se porém a
Entretanto, para organizar a sociedade, o Estado insuficiência do sistema das leis do Estado e, portanto, a
necessita do Direito. Isto é, necessita estabelecer um necessidade e a existência de outras normas jurídicas,
conjunto de normas obrigatórias que disciplinam o convívio diferentes das leis, e complementares destas, quando
social humano. Direito, aqui, tem o sentido de conjunto de omissas (lei de introdução ao Código civil, art.4º: “Quando a
normas jurídicas adotadas pelo Estado. lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com analogia,
costumes e os princípios gerais de direito”). É importante
notar, pois que a norma jurídica é noção mais ampla do que

4
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

a lei. A lei é espécie dentre as normas jurídicas, embora, no ANO DA CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
Brasil, a espécie mais importante. É comum, por causa dessa CONSTITUI
importância das leis, confundirem-se lei e norma jurídica. ÇÃO
E sentido amplo, a palavra lei designa todas as 1824  Outorgada pelo Imperador D. Pedro I.
espécies de regras (jurídicas e não jurídicas: “o contrato é lei  É a 1ª Constituição do Brasil. Permaneceu mais
tempo em vigor.
entre as partes”; “ninguém pode contrariar as leis da
 Forma de governo: monarquia constitucional
natureza”). Entretanto, em sentido técnico estrito, lei são,
 Estado Unitário: sem autonomia para as
apenas, as normas jurídicas ordinárias, que logo à frente províncias.
veremos.  Quatro Poderes: Moderador, Executivo,
No ordenamento jurídico encontramos normas Legislativo e Judiciário.
situadas em diferentes graus de hierarquia. Graus que 1891  Votada.
costumam ser representados sob a forma de uma pirâmide  É a 1ª Constituição Republicano.
de normas.  Forma de governo: república federalista.
Concepções de hierarquia das normas do  Três poderes: Executivo Legislativo e Judiciário.
ordenamento jurídico brasileiro: 1934  Votada
 Mantém a federação, mas restringe um pouco a
1. Normas constitucionais: ocupam o lugar mais autonomia dos Estados-Membros.
elevado da hierarquia das normas jurídicas. As demais 1937  Outorgada por Getúlio Vargas.
normas do ordenamento jurídico devem subordinar-se às  É a Constituição do Estado novo.
normas presentes da CF. Isto é: não podem contrariar os  Fortalece o poder executivo do Federal. Os
Estados-membros são governados por interventores
preceitos constitucionais. Quando contrariam, costuma-se
nomeados pelo Presidente da República.
dizer que a norma inferior é inconstitucional.
 Cria a legislação trabalhista.
2. Normas complementares: são as leis que 1946  Votada.
completam o texto constitucional. A lei complementar deve  Fortalece o regime democrático, assegurando o
estar devidamente prevista na constituição. Quer dizer: a pluripartidarismo. Proclama respeito aos direitos
constituição declara, expressamente, que tal ou qual matéria humanos.
será regulada por lei complementar.  Restabelece o federalismo: autonomia aos
3. Normas ordinárias: são as normas elaboradas pelo Estados-Membros
Poder Legislativo em função típica de legislar. Exemplo: 1967  Outorgada pelo Marechal Castelo Branco
Código Penal, Código Tributário, Código Penal etc. (embora, formalmente, fosse votada pelo Congresso
4. Normas regulamentares: são os regulamentos Nacional)
estabelecidos pelas autoridades administrativas em  Atende às exigências do Movimento Militar de
1964.
desenvolvimento da lei. Exemplo: decretos, portaria Etc.
 Promove a centralização dos poderes no
5. Normas individuais: são as normas que
Executivo Federal.
representam a aplicação concreta das demais normas do  Criou as eleições indiretas para Presidente da
Direito à conduta social das pessoas. Ex.: sentenças, República (Colégio Eleitoral)
contratos etc. 1969  Outorgada por três Ministros Militares (embora,
formalmente, essa Constituição tenha tomado o
1.2 As Constituições na História do Brasil aspecto de emenda à carta de 1967).
 Promoveu uma maior centralização do poder
O Brasil teve oito Constituições. Destas, quatro político nas mãos do Executivo Federal.
nasceram de um processo legítimo de outorga (Constituições  Descaracterizou o federalismo, privilegiando a
de 1824, de 1937, de 1967 e de 1969). Isto é, foram impostas União em detrimento dos Estados-Membros e
Municípios
pelo Chefe de Estado, sem a devida consulta prévia ao povo
1988  Convocação de uma Assembleia Nacional
ou seus legítimos representantes. As outras quatro
Constituinte em 1985, a qual foi instalada em 1º de
(Constituições de 1891, de 1934, de 1946 e de 1988)
fevereiro de 1987, e finalizou em 5 de outubro de
resultam de um processo democrático, foram votadas e 1988, data da promulgação da atual Constituição.
promulgadas por assembleias constituintes.  Transição entre o antigo regime e a “Nova
Resumo de algumas características centrais destas República”.
constituições:  Forma federativa de Estado
 Forma republicana de governo,
 Sistema presidencialista de governo
 Direitos fundamentais da pessoa humana
 Município considerado como entidade federativa,
 Sistema de Controle de Constitucionalidade,
 Reforma econômica,
 Reforma administrativa,
 Reforma previdenciária,
 Reforma do Judiciário

5
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

1.3 O que é Constituição? Estudamos algumas formas de classificação das


Constituições e neste momento é oportuno reforçar e
A Constituição é a lei máxima e fundamental do observar mais detalhadamente a Constituição “Cidadã”
Estado. Ocupa o ponto mais alto da hierarquia das normas Brasileira, a qual se classifica como sendo Promulgada,
jurídicas. Por isso, recebe nomes enaltecedores que indicam Escrita e Rígida, conforme se vê no quadro abaixo:
essa posição de ápice na pirâmide das normas: Lei suprema,
Lei Maior, Carta Magna, Lei das Leis ou Lei Fundamental. Surgiu de uma Assembléia Nacional
Promulgada
Na Constituição encontram-se as normas básicas que Constituinte, fruto da participação popular.
constituem a estrutura jurídica, política, social e econômica É formatada em um único documento,
do Estado. Escrita onde dispõe de regras fundamentais do
Estado.
Qual o conteúdo específico de uma Constituição? Exige um processo complexo para alteração
Rígida
de seus dispositivos.
Não existe um conteúdo específico, previamente
identificável, do que seja ou não próprio de uma Feitos os estudos históricos e doutrinários do
Constituição. O conteúdo de uma Constituição é Constitucionalismo, do Direito Constitucional e das
extremamente elástico. Varia conforme a vontade política do Constituições Brasileiras, adentraremos agora em uma visão
povo. Tudo o que uma determinada a sociedade considera geral da organização estrutural da Constituição Brasileira de
fundamental e importante pode ser ou torna-se conteúdo de 1988, oportunidade em que, teremos uma visão ampla de
uma Constituição. sua importância e alcance.
Apesar da variedade do conteúdo de uma De início, precisamos reconhecer que todas as
Constituição, adotamos como adequada a definição de normas da Constituição são regras jurídicas. Isto é, são
Gilberto Vieira Cotrim: normas a dotadas de imperatividade. Como escreveu Rui
“Constituição é a declaração da vontade política de Barbosa: “não há numa Constituição, cláusulas, a que se
um povo, efetuada por intermédio de seus representantes. deva atribuir meramente o valor moral de conselhos, avisos,
Declaração solene, expressa através de um conjunto de lições. Todas têm força imperativa de regras”. No entanto,
normas superiores a todas as outras e que estabelece os tendo em vista a eficácia jurídica, podemos distinguir na
direitos e deveres fundamentais das pessoas (indivíduos, Constituição dois grupos básicos de normas:
entidades, governo).”
Logo, o Direito Constitucional é o ramo do Direito a) Normas de eficácia plena: estabelecem um
Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e mandamento certo e definido que, desde a entrada em vigor
normas fundamentais do Estado. É constituído pelas normas da Constituição, tem a possibilidade de produzir todos os
fundamentais da organização do Estado, isto é, pelas normas seus efeitos essenciais. São normas de aplicação imediata.
relativas à estrutura do Estado, forma de governo, modo de Exemplo: “a lei não excluirá da apreciação do Poder
aquisição e exercício do poder, estabelecimento de seus Judiciário lesão ou ameaça a direito (Art.5º, XXXVII, CFB/88)”;
órgãos, limites de sua atuação, direitos fundamentais do “gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
homem e respectivas garantias, regras básicas da ordem terço a mais do que o salário normal; (Art. 7º, XVII, CFB/88)”;
econômica e social. “II–ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei (Art.5º II, CF/88)”.
1.4 A Constituição do Brasil de 1988 A própria Constituição estabelece que as normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
Instalada em 1º de fevereiro de 1987, a Assembléia aplicação imediata. Desde modo, no mínimo, todas as
Nacional Constituinte, livre e soberana, compunha-se dos normas integrantes do “Título II – Dos Direitos e Garantias
membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Fundamentais” têm eficácia plena. São as normas que se
Não foi uma assembleia constituinte exclusiva; funcionou, referem aos direitos e deveres individuais e coletivos, aos
simultaneamente com o Congresso Nacional (daí a expressão direitos sociais (trabalhistas), à nacionalidade e aos direitos
Congresso Constituinte). políticos.
Após 20 meses de trabalho, a Assembléia Nacional
Constituinte promulgou a nova Carta Magna do País, em 5 b) Normas de eficácia não-plena: estabelecem
de outubro de 1988. É a nossa mais longa Constituição: com objetivos, orientações, valores que devem nortear a
245 artigos, hoje com 250 artigos no seu corpo permanente, atividade do Poder Público e da sociedade. Essas normas
e mais 70 artigos das disposições constitucionais transitórias, dependem, para sua execução integral, de leis
hoje 114 e mais 134 Leis Complementares. complementares ou regulamentações futuras que
A Constituição Brasileira de 1988 caracterizou a desenvolvam mais plenamente a matéria de que tratam.
redemocratização do País com um forte aparado de Neste grupo, estão as chamadas normas programáticas que,
Garantias e Direitos Individuais e Coletivos. em vez de determinar regras de aplicação imediata e
Como características principais pode-se destacar a concreta, traçam princípios que devem orientar a ação do
Forma Federativa de Estado e Forma Republicana de Estado. Exemplo: “I–construir uma sociedade livre, justa e
Governo, bem como o Sistema Presidencialista de Governo. solidária; II–garantir o desenvolvimento nacional; III–

6
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as 2.2 Dos Princípios Fundamentais – Título I


desigualdades sociais e regionais; IV–promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e No Título I, a Constituição proclama os princípios
quaisquer outras formas de discriminação. (Art.3º, CF/88).” fundamentais da República Federativa do Brasil. Declara o
Normas como estas não têm aplicação concreta e regime político-jurídico do Estado, a divisão funcional do
imediata como às do primeiro grupo. Contudo, também Poder, a forma de governo e de Estado, os objetivos e valores
possuem eficácia jurídica na medida em que, por exemplo, primordiais do País, no campo interno e nas relações
estabelecem princípios para o Estado e as sociedades internacionais.
atribuem fins sociais para a política de desenvolvimento
nacional, condicionam o sentido que deve seguir a legislação “Art. 1º A República (1) Federativa (2) do Brasil (3),
futura, sob pena de ser considerada ilegal esta legislação. formada pela união indissolúvel (4) dos Estados e
Conscientes desses dois grupos básicos de normas Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
cabem aos interessados saber exigir o seu cumprimento, Democrático (5) de Direito (6) e tem como fundamentos:”
conforme a natureza de sua eficácia (plena ou não-plena). (grifo nosso)

2. COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA (1) Forma de governo; (2) Forma de Estado; (3) Nome
do país; (4) Impede a separação; (5) é aquele em que todo
2.1 Considerações Preliminares poder emana do povo – é a base do Estado democrático; (6)
são aqueles onde governantes e governados tem condutas
No preâmbulo – ou palavras introdutórias – conforme as leis.
encontramos anunciados os propósitos fundamentais da
Constituição Federal. A maioria desses propósitos são I – a soberania;
retomados pelos preceitos que compõem o Título I da Carta
Magna. Significa que o poder político é supremo dentro dos
Na interpretação do texto constitucional, é valioso limites territoriais do Estado brasileiro e independente em
termos em mente o anúncio de seus propósitos relação aos demais Estados. Representa justamente a
fundamentais que está lançado no preâmbulo. independência política de um país.

PREÂMBULO II – a cidadania;

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Qualidade do cidadão caracterizada pelo livre
Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado exercício dos direitos e deveres políticos e civis.
democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, III – a dignidade da pessoa humana;
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem Dignidade da pessoa humana, ou mínimo existencial.
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, Corresponde a um conjunto de circunstâncias que garantirão
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica ao cidadão uma sobrevivência digna na ordem espiritual,
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a física intelectual, econômica, dentre outras. Deve ser
seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.” garantido por todos da Sociedade, é dizer, pelo Estado e
cidadãos.
Nas Constituições, o preâmbulo aparece com as O valor dignidade da pessoa humana deve ser
Constituições escritas, consistindo numa declaração entendido como absoluto respeito aos seus direitos
preliminar, na qual o legislador constituinte esclarece a fundamentais, assegurando-se condições dignas de
origem do documento e seus princípios informadores. existência para todos.
Via de regra, o preâmbulo apresenta três dados Dignidade da pessoa humana é um valor supremo
básicos: que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do
homem, desde o direito à vida.
a) Declaração referente à origem da Constituição;
b) Definição de seus princípios públicos; e IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
c) Invocação divina.
Isto quer dizer que todo trabalho é digno, consagrada
O Preâmbulo constitui norma obrigatória da a liberdade de iniciativa na atividade econômica. Isto insere
Constituição Brasileira? Não. Conforme interpretação do STF, o Brasil nas economias abertas, em que não há dirigismo do
“não se trata de norma de reprodução obrigatória na Estado, em que os indivíduos serão condutores da atividade
Constituição Estadual, não tendo força normativa”. (ADI econômica.
2.076, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 08/08/03).

7
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

V– o pluralismo político. Esses objetivos são os fundamentais, não todos, a


toda evidência. Os enumerados são os fundamentais e que
Existência de mais de um partido ou associação valem como prestações positivas e que deverão concretizar a
disputando o poder político. democracia econômica, social e política. Todos esses
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o objetivos do Estado se dirigem à dignificação da pessoa
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, humana.
nos termos desta Constituição.
Art. 4o A República Federativa do Brasil rege-se nas
Art. 2º São Poderes da União, independentes e suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário. O art.4º propõe o que deve ser o Brasil na ordem
A divisão funcional do poder representa princípio internacional. Assim estão estabelecidos compromissos com
básico que visa impedir, ou, pelo menos, limitar, a a independência nacional ou autodeterminação de todos os
prepotência do Estado através de um sistema integrado de povos, a igualdade entre os Estados e a solução pacífica dos
freios e contrapesos, cujo objetivo é controlar o poder. conflitos. Nessa linha, preconiza-se a não-intervenção e a
defesa da paz. De todas essas posturas frente à ordem
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da internacional, sobreleva a referente à previdência dos
República Federativa do Brasil: direitos humanos. Vale dizer que em todos os litígios, em
todas as questões, a garantia dos direitos humanos é
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; essencial para a postura do Brasil deva adotar. Assim,
registram-se também dentre as preocupações o progresso
Estado tem de propiciar todos os meios para que a da humanidade através da cooperação entre os povos e a
democracia seja exercida. Esse preceito foi estabelecido para concessão de asilo político.
os brasileiros no intuito de proporcionar bem-estar,
qualidade de vida e harmonia social. Contudo, ainda não é I – independência nacional;
uma realidade vista na prática, existem mecanismos
constitucionais de garantia, porém muitos indivíduos ainda A República Federativa do Brasil não se submeterá a
não sabem como usá-los. nenhum outro ordenamento jurídico.

II – garantir o desenvolvimento nacional; II – prevalência dos direitos humanos;


Os direitos humanos têm de estar em posição
O Desenvolvimento Nacional dá-se pelo hierárquica acima do que qualquer outro bem jurídico local.
aperfeiçoamento do ser humano, das propriedades e das O Brasil é um dos maiores signatários da Declaração
Instituições. Que esse desenvolvimento seja estendido à Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela UNO, 1948.
política, a economia, a vida social e a todas as áreas que
contribuam para o aperfeiçoamento da nação. III – autodeterminação dos povos;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir Cada nação de vê conduzir seu próprio destino, e
as desigualdades sociais e regionais; respeitar a soberania dos outros países.

Por esse enunciado podemos entender que é objetivo IV – não-intervenção;


da nossa República tomar medidas de governo que Pode ser entendida como a não aceitação de invasão
possibilite uma igualdade de condições para todos os armada de outros países a nossa República. Nenhum estado
cidadãos. Medidas essas que tragam melhorias para áreas tem direito interferir no assunto interno de outro.
como educação, saúde e emprego, dando às classes mais
pobres maiores possibilidades a esses direitos. V – igualdade entre os Estados;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de Todo Estado tem direito à igualdade jurídica perante
discriminação. outros Estados, isto é, igualdade de tratamento perante as
Que o nosso país seja o país do respeito. Todo direito normas internacionais.
e todo dever tem de ser estendido a qualquer indivíduo,
respeitando-se as normas da constituição e até aonde for o VI – defesa da paz;
direito do próximo.
Como o nome já diz esses preceitos são objetivos, Pode ser entendido de duas maneiras, de acordo com
metas a serem alcançadas. Têm se visto um progresso lento Celso Albuquerque de Melo. Por uma linha, é o conflito
em relação ao alcance desses objetivos, mas aos poucos com armado nacional (ou seja, guerra), internacional, ou
o povo acordando para seus devidos direitos e deveres e qualquer combate armado, sendo preferível esta segunda
pondo-os em prática um dia chegaremos lá! interpretação. Mas a defesa da paz, de que fala a
Constituição, não é somente evitar ou finalizar um conflito

8
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

armado. A expressão abrange também os direitos de A principal interpretação que pode ser extraída deste
solidariedade, também chamados de novos DIREITOS DO caput é o Princípio Igualdade Formal, ou Princípio da
HOMEM ou 3ª geração de direitos humanos, que são o Isonomia, segundo o qual “todos são iguais perante a lei”.
direito ao desenvolvimento, direito à autodeterminação dos (Não quer dizer que todas as pessoas terão tratamento igual
povos e direito à paz no sentido mais estrito, todos se veem pelas leis brasileiras, mas que terão tratamento diferenciado
de expressão coletiva. na medida das suas diferenças.

VII – solução pacífica dos conflitos; I - homens e mulheres são iguais em direitos e
obrigações, nos termos desta Constituição;
Um instrumento muito utilizado para preservar essa
via pacífica de soluções de conflitos é o arbitramento ou Princípio da igualdade. Concede para homens e
arbitragem, no qual os Estados em litígio escolhem outro, mulheres a igualdade em direitos, mas também impõe a
não envolvido, par intermediar as conversações e igualdade em obrigações. Afinal, de um direito sempre
encaminhar uma solução aceitável. decorrem obrigações a estes inerentes. Cabe ressaltar que a
luta das mulheres para ter os mesmos direitos que os
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; homens, ganhou força desde 1988 com a publicação da
Pode ser entendido como a rejeição a essas duas nossa atual Constituição. Pois todas as leis existentes em
espécies de condutas vis. (suas definições já estão muito território brasileiro devem estar em consonância com a
bem definidas nos arcabouços jurídicos internacionais e Constituição da República, ou seja, devem respeitar a
nacionais. igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres.

IX – cooperação entre os povos para o progresso da II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
humanidade; alguma coisa senão em virtude de lei;

É princípio que impõe de plano, uma limitação aos Princípio da Legalidade. É o mais importante
conceitos de soberania e de independência nacional, uma instrumento constitucional de proteção individual, sendo um
vez que cooperar é interagir. princípio basilar no Estado Democrático de Direito. Podemos
entender que o indivíduo tem liberdade de ir e vir, tomar as
X – concessão de asilo político. próprias decisões, todavia, se houver alguma lei que defina
tais decisões e atitudes como ilegais ou que as restrinjam só
Recolhimento de cidadãos estrangeiros que fogem de assim existirá a proibição.
perseguições políticas.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil III - ninguém será submetido à tortura nem a
buscará a integração econômica, política, social e cultural tratamento desumano ou degradante;
dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações. Aqui se destaca de forma bastante clara a
materialização dos Direitos Humanos que na realidade são a
3. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – Título II expressão da luta contínua pelo respeito à essência do Ser
Humano em seu mais sublime sentido. O policial tem não
3.1 Considerações iniciais apenas o dever de não utilizar estas práticas, mas também
de impedi-las quando possível, sob pena inclusive de ser
Assegura um conjunto de prerrogativas fundamentais responsabilizado por omissão. Neste contexto válido
que dizem respeito às principais dimensões do ser humano. observar a Lei Federal Nº 9.455, de 7 de abril de 1997 que
Essas dimensões referem-se ao ser humano enquanto define o Crime de Tortura e dá várias providências a este
pessoa; enquanto membro da sociedade civil; enquanto respeito.
cidadão capaz de influir na sociedade política.
É importante salientar que as normas definidoras dos IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. vedado o anonimato;

3.2 Comentários Dos Direitos e Deveres Individuais e Liberdade de Pensamento. A proibição do anonimato
Coletivos – Capítulo I visa proteger o direito da pessoa que se sentir ofendida por
palavras ou opinião manifestada a seu respeito. Essa
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção proteção concerne ao direito de ressarcimento material,
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos moral ou à imagem (responsabilidade civil) de vê-la
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito responsável, criminalmente, caso sua conduta seja possível
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à de punição, por qualquer dos crimes contra honra: calúnia,
propriedade, nos termos seguintes: difamação e injúria (responsabilidade penal).

9
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo
à imagem; se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada
Direito de resposta: A segunda linha de defesa do em lei;
ofendido ocorre através do pedido de indenização em juízo,
pela ação civil própria. Os danos indenizáveis são o material Sempre que o exercício do direito ou o cumprimento
(representados pelos danos causados e pelos lucros não de obrigações estiverem em confronto com a crença religiosa
obtidos por causa da ofensa), moral (à intimidade da pessoa, ou com a convicção filosófica ou política de qualquer pessoa,
independentemente de ter a ofensa sido conhecida por deve ser ofertada a esta pessoa outra forma de cumprimento
qualquer outra pessoa, bastando que se sinta ofendido) e à de tal obrigação ou de exercício do direito que lhe é
imagem (dano produzido contra a pessoa e suas relações garantido.
externas, ou seja, à maneira como ela aparece e é vista por Exemplificando para melhor entendimento, os
outras pessoas). As indenizações pedidas pelas três linhas Adventistas guardam o sábado para adoração a Deus, assim
são acumuláveis, o que se significa dizer que podem ser neste dia os fiéis não fazem outra coisa a não ser dedicar-se
pedidas na mesma ação e somadas para o pagamento final. ao que sua religião prega. Assim, se uma pessoa que segue
esta religião for condenada a cumprir uma pena de
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de prestação de serviços à comunidade no sábado, poderá
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos solicitar – com base no texto constitucional – que o dia de
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais cumprimento seja alterado em razão de sua crença religiosa.
de culto e as suas liturgias; No caso de alistamento obrigatório, título eleitoral, o voto e
participação em tribunal do júri.
Liberdade de consciência, de crença e de culto. Este Porém, caso o indivíduo se recuse a cumprir a
inciso trata de três direitos: o de ter liberdade de consciência obrigação legal e também a prestação alternativa que lhe foi
e de crença (que não são a mesma coisa), e de ter livre o ofertada, poderá ser privado destes direitos, arcando com as
exercício do culto religioso pelo qual tenha optado, e o de ter consequências legais cabíveis ao caso.
os locais onde esses cultos são realizados protegidos contra
agressões de quem quer que seja. IX - é livre a expressão da atividade intelectual,
Consciência e crença são diferentes, porque a artística, científica e de comunicação, independentemente
primeira é uma orientação filosófica, como o pacifismo e o de censura ou licença;
naturismo (nudismo), além do que, uma consciência livre
pode optar por não ter crença nenhuma, como no caso dos Liberdade de expressão. Censura é uma análise
ateus e agnósticos. Estes também são protegidos pela baseada em critérios morais e políticos, sendo estes critérios
constituição, porque se trata de um direito individual. Os subjetivos, para decidir se a atividade intelectual, artística,
adeptos de ritos satânicos também estão protegidos pelo científica ou de comunicação será liberada ou não ao
dispositivo, porque mal ou bem, também é de crença que se público. Licença é a permissão do Poder Público para que a
trata, e desde que respeitam os direitos de outras pessoas e atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação
as leis, poderão exercer os seus ritos sob proteção possa ser expressada.
Constitucional. De acordo com o texto constitucional, não se faz
O livre exercício dos cultos não é amplo, devendo ser necessário a censura ou licença para que ocorram tais
observadas as leis sobre repouso noturno e horários de manifestações.
silêncio, por exemplo, bem com áreas de restrição a Atenção! Censura e licença não devem ser
barulhos, como proximidades de hospitais. confundidas com classificação indicativa.
A classificação indicativa é apenas uma informação
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de sobre as faixas etárias recomendadas ou não para assistir
assistência religiosa nas entidades civis e militares de produtos de televisão e produtos de cinema, fazer uso de
internação coletiva; jogos eletrônicos, aplicativos, jogos de interpretação, entre
outros.
Pessoas que estiverem nessas entidades de
internação coletivas civis (como hospitais, presídios e asilos) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
e militares (como os quartéis) podem querer praticar seus honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
cultos ou crenças para engrandecimento espiritual. Por indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
estarem em locais de onde o acesso a seus templos e violação;
sacerdotes não é livre, e já que não podem ir até os locais
onde está a sua religião, terão direito de receber a Invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
assistência religiosa onde estiverem, sendo o Poder Público imagem Diante do conteúdo deste inciso e do Princípio a ele
obrigado a permitir que isso aconteça. Sem ônus para o atrelado o operador de segurança pública deve ter muito
Estado. zelo, cuidado e respeito pela honra e imagem das pessoas
com que tem contato profissional, inclusive o preso.

10
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Infelizmente, em alguns casos se expõe a figura do preso XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
como se troféu fosse e sem qualquer finalidade justificável comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
alguma a não ser promoção particular, promoção telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
institucional e/ou atendimento a solicitação de parte da hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
mídia que se preocupa meramente com a audiência investigação criminal ou instrução processual penal;
independente da repercussão e tragédia social.
Inviolabilidade de correspondência. Em regra, são
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém invioláveis. A exceção ocorre quando no curso de uma
nela podendo penetrar sem consentimento do morador, investigação criminal ou instrução processual penal, o juiz
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para conceder a sua violação. Lembrando que somente é cabível
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; em instrução de processo penal ou investigações criminais
que ensejaram ações penais, realizadas pela Polícia Judiciária
Inviolabilidade da casa. Este inciso que trata da ou pelo Ministério Público, não se aplica em outras esferas
inviolabilidade do domicílio é corriqueiro na atividade como cível, família.
policial, sendo assim, deve-se observá-lo com atenção
máxima. Vamos estudar por partes. XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício
ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
1. Consentimento do morador lei estabelecer;

A entrada é possível em qualquer caso em a qualquer Liberdade do exercício de profissão. Observando o


hora. Faz-se prudente, porém que o policial solicite texto constitucional percebe-se que o exercício de trabalho,
autorização por escrito e nesta assinem duas testemunhas ofício ou profissão é livre, mas cabe a lei o dever de
(vizinhos, por exemplo). Além disso, faz-se interessante estabelecer as condições referentes à capacidade técnica
também que morador e testemunhas acompanhem a e/ou qualificação profissional exigidas para quem exerça (ou
diligência na casa e que ao final também assinem dizendo queira exercer) tais exercícios.
que não houve qualquer abuso por parte da equipe policial. Exemplificando para um melhor entendimento, cabe
Obviamente caso haja algum aspecto de crime, por exemplo, a lei exigir que aquele que quiser exercer a profissão de
existência de drogas, deve ser feito o procedimento legal médico tenha feito a faculdade de medicina e esteja
levando-se todos para a Delegacia. devidamente registrado no CRM.
Ressaltando que aqueles trabalhos, ofícios ou
2. Independente de Consentimento do Morador e de profissões que a lei não definir qualificações profissionais ou
horário condições técnicas como exigência para que possam ser
exercidos, seu exercício será livre. Exemplo: a profissão de
a) Nos casos de flagrante delito - Artigo 302 do Código costureira, lavadeira e de pedreiro, onde a lei não impõe
de Processo Penal Brasileiro: ”...o agente está cometendo a qualificações profissionais ou condições técnicas para o seu
infração penal, ou acaba de cometê-la, e é perseguido, logo exercício.
após, pela autoridade, pelo ofendido, ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser o autor da XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
infração, ou quando é encontrado, logo depois, com resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir exercício profissional;
ser o sujeito ativo.”
b) Nos casos de desastre – Acidente grave, sinistro, Direito de acesso a informação. O acesso à
desgraça, fatalidade, que justifique a entrada na casa. informação é assegurado para que, com o conhecimento de
c) Para prestar socorro – Caso em que alguém se fatos, atos, situações e acontecimentos, cada pessoa possa
formar suas próprias convicções a respeito de assuntos
encontra necessitando de uma atenção de saúde ou
públicos.
proteção imediata.
O sigilo da fonte é resguardado para que, quando
d) Independente de consentimento do Morador e
necessário, a fonte que cedeu às informações seja
mediante mandado Judicial – Apenas durante o dia,
preservada. Porém, ao preservar o sigilo da fonte, o
destacando-se que não existe definição precisa do horário de
responsável por sua divulgação assume a responsabilidade
início do dia e da noite, porém, uma margem de segurança
que possa decorrer da veiculação das informações.
plausível e aceitável é que o dia estende-se das 06h até as
Exemplificando, um jornalista consegue uma matéria
18h.
sobre um crime grave ocorrido e a testemunha tem medo de
e) Em caso alguma fuja das hipóteses legais, pois, no
se expor. Este jornalista poderá exibir a matéria sem
caso de violação você poderá responder
informar quem é sua fonte – para preservá-la, mas caso a
administrativamente, penalmente e civilmente. Ou seja, o notícia não seja verdadeira ou se verdadeira cause danos
único caminho é o agir dentro da legalidade. Leia também o materiais, danos morais ou danos à imagem de terceiros, os
Art. 150 do CPB. prejudicados com a exibição da notícia responsabilizarão o
responsável pela matéria – no caso o jornalista – pelos danos
que lhes foram causados.

11
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

XV - é livre a locomoção no território nacional em As associações e as cooperativas não precisam de


tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, autorização estatal para serem criadas, bastando para a sua
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; criação apenas que sejam cumpridos os requisitos
legalmente exigidos e assim ocorre – com todos os requisitos
O que o policial pode fazer é do ponto de vista legal, preenchidos – surge uma associação ou cooperativa.
solicitar a identificação para os que ficam até altas horas em Ressaltando que uma vez cumpridos estes requisitos
espaços públicos e ambientes ermos por exemplo. No impostos por lei, o Estado não pode se opor a criação da
mesmo sentido, caso sejam crianças (até 12 anos de idade) associação ou cooperativa, nem interferir em seu
ou adolescentes (até 18 anos de idade) pode além de funcionamento desde que esteja funcionando dentro da
solicitar a identificação, orientar para que sigam para casa e legalidade.
em caso contrário buscar contato com os pais ou instituições
responsáveis como o Juizado da Criança e do Adolescente. XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
Em consonância com os princípios do Estatuto da dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
Criança e do Adolescente, juízes tem decretado toque de judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
recolher para crianças e adolescentes, em alguns casos para
as crianças até às 20h e para os adolescentes até às 22h. As associações e as cooperativas não precisam de
Ressalvas acontecem obviamente quando estão autorização estatal para serem criadas, bastando para a sua
acompanhadas dos pais ou responsáveis. criação apenas que sejam cumpridos os requisitos
legalmente exigidos e assim ocorre – com todos os requisitos
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem preenchidos – surge uma associação ou cooperativa.
armas, em locais abertos ao público, independentemente de Ressaltando que uma vez cumpridos estes requisitos
autorização, desde que não frustrem outra reunião impostos por lei, o Estado não pode se opor a criação da
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas associação ou cooperativa, nem interferir em seu
exigido prévio aviso à autoridade competente; funcionamento desde que esteja funcionando dentro da
legalidade.
Direito de Reunião. Neste inciso serve as colocações
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
feitas quando da identificação das pessoas pela polícia e
permanecer associado;
também é de destacar a necessidade de aviso prévio para
eventos em espaços abertos ao público como praças,
Liberdade de associação. Ninguém pode ser obrigado
parques, etc. O aviso é muito importante principalmente nos
a associar-se. Da mesma forma que ninguém pode ser
períodos eleitorais (comícios, passeatas, carreatas, etc.). A
obrigado a deixar de ser associado. A associação e a
ideia é que a polícia em sendo avisada possa agir
permanência como associado não pode ser imposta,
preventivamente e se programe para acompanhar o evento
devendo o indivíduo associar-se ou manter-se como
garantindo a segurança devida aos participantes e ao púbico
associado por livre e espontânea vontade.
em geral.
XXI - as entidades associativas, quando
XVII - é plena a liberdade de associação para fins expressamente autorizadas, têm legitimidade para
lícitos, vedada a de caráter paramilitar; representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Direito e associação. O Estado não interferirá nas Observando o texto constitucional percebe-se que é
associações para fins lícitos, salvo para através de lei necessário a autorização expressa do associado para que a
normatizar as suas regulações. Porém, é certo que a entidade a qual o associado seja filiado o represente, tanto
interferência estatal nas associações para fins ilícitos judicialmente quanto extrajudicialmente.
ocorrerá devido – logicamente – a ilicitude e a ilegalidade Em outras palavras, pelo fato da Constituição não
das condutas que envolverem a associação e seus prever a possibilidade de autorização tácita, o simples fato
associados. de ser associado não basta para que a entidade associativa
Para melhor compreender o texto constitucional, faz- possa representar o seu associado, é obrigatória a
se necessário entender que a associação de caráter autorização expressa para haver tal representação.
paramilitar é aquela formada por civis, que usam táticas e
técnicas militares e/ou policiais, além de armas de fogo, para XXII - é garantido o direito de propriedade;
a consecução de seus objetivos, que contrariam as leis
vigentes em nosso ordenamento jurídico. Direito de Propriedade. Para melhor compreender o
texto constitucional, faz-se necessário entender o que é o
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de direito de propriedade. O direito de propriedade consiste na
cooperativas independem de autorização, sendo vedada a autonomia que o indivíduo ou a organização possuidora de
interferência estatal em seu funcionamento; bens – sejam eles móveis ou imóveis – têm para gerir estes
bens, dos quais sejam os proprietários. Ressaltando que ao
proprietário dos bens a lei confere o uso, o gozo e a
disposição destes bens, que sejam de sua propriedade.

12
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; perdendo a sua lavoura, o seu rebanho. Deste modo, se o
rendimento do seu trabalho não for suficiente para o
Função social da propriedade é um conceito pagamento dos débitos sua atividade produtiva não pode
indeterminado, sofrendo variações de acordo com o que a haver a penhora da pequena propriedade.
sociedade espera daquela propriedade.
Por exemplo, um terreno desocupado num grande XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
centro comercial não atende a sua função social, pois ele utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
poderia ser melhor aproveitado de outra forma. transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
Já a propriedade rural, a própria Constituição
estabeleceu, em seu Art. 186, os requisitos necessários para Direito autoral. Estes direitos podem ser de natureza
atender a sua função social: pessoal ou de natureza patrimonial. Pertencem, em regra, ao
autor da obra. Podem ser cedidos a terceiros e também
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para podem ser transmitidos aos herdeiros.
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por Ressaltando que este direito patrimonial terá a
interesse social, mediante justa e prévia indenização em validade de setenta anos, a contar da morte do autor, em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; outras palavras, após esse período referido a obra será de
domínio público, assim deixando os herdeiros de receber os
Desapropriação. Pode o Poder Público desapropriar direitos autorais hereditários.
bens sobre os quais recaiam o direito de propriedade,
devendo – para tanto – o seu proprietário ser indenizado XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
antes de ocorrer a desapropriação e por uma quantia justa. utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
O texto constitucional também estabelece que a transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
indenização deva ser prévia, ou seja, antes de tomar a posse
do imóvel desapropriado deve ser paga a indenização ao XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
proprietário do imóvel.
Conforme previsão constitucional, somente ocorrerá a) a proteção às participações individuais em obras
a desapropriação em caso de necessidade pública ou coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive
utilidade pública, ou ainda por interesse social. Exemplos: nas atividades desportivas;
desapropriar um imóvel para construir ali uma praça, b) o direito de fiscalização do aproveitamento
desapropriar as casas à margem da estrada para aumentar a econômico das obras que criarem ou de que participarem
rodovia. aos criadores, aos intérpretes e às respectivas
representações sindicais e associativas;
XXV - no caso de iminente perigo público, a
autoridade competente poderá usar de propriedade XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se industriais privilégio temporário para sua utilização, bem
houver dano; como proteção às criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos,
Requisição administrativa. Para proteção da vida e tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
patrimônio, poderão acontecer casos em que o policial tecnológico e econômico do País;
poderá necessitar de requisitar junto a alguém a propriedade
particular (móvel ou imóvel). Como exemplos práticos XXX - é garantido o direito de herança;
podemos citar o caso em que uma família está sendo
mantida como refém dentro de uma casa e a polícia XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
necessita dos imóveis vizinhos para estabelecer estrutura País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge
tático/operacional com vistas à negociação e/ou invasão. ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida
em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua do consumidor;
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de
financiar o seu desenvolvimento; XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos
públicos informações de seu interesse particular, ou de
Proteção a pequena propriedade. Proteção à fonte interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
de subsistência da família, quando ela se constitui de uma lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
pequena propriedade rural. Sabendo que, por vezes, sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
pequenos agricultores fazem empréstimos para poder Estado; (Lei nº 12.527, de 2011)
financiar o desenvolvimento de seu pequeno negócio.
Muitas vezes estes pequenos agricultores sofrem com
fenômenos naturais como a seca, as enchentes, assim

13
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Em consonância com o Princípio da Publicidade, o Direito adquirido é – como o próprio nome já faz
texto constitucional dispõe que as informações de interesse alusão – aquele direito que foi previamente adquirido pelo
particular, de interesse coletivo ou de interesse geral devem autor, cumprindo para tal as exigências legais. Em outras
ser prestadas em órgãos públicos. palavras, direito adquirido é aquele que está totalmente
Isto se deve para que o particular tenha respeitado o integrado ao patrimônio do autor.
seu direito ao conhecimento, para assim – caso haja algum Exemplo de direito adquirido: o direito de poder votar
ato que lhe foi desfavorável – o particular ter ciência de atos se adquire ao completar dezesseis anos, assim ao completar
que lhe interessem e, caso seja necessário, poder manifestar- dezesseis anos adquire-se o direito ao voto.
se. Ato jurídico perfeito é aquele que, após cumprir todos
E, ainda, sobre as informações de interesse coletivo os requisitos legais, produz seus efeitos, se incorporando ao
ou de interesse geral, pois sendo estas públicas, deve a patrimônio jurídico de seu beneficiário como um direito
sociedade tomar conhecimento das mesmas para assim definitivo.
exercer o direito de fiscalização. Exemplo: a pessoa se aposenta após trinta anos de
serviço, conforme a lei atual (vigente até a data da
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente postagem) prevê após a sua aposentadoria a lei é alterada e
do pagamento de taxas: exige-se quarenta anos para a aposentadoria; esta pessoa
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em que já se aposentou não será afetada porque sua
defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; aposentadoria já foi concretizada e, além de ser um direito
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, adquirido, o ato jurídico foi perfeito e Coisa julgada é quando
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de ocorre o trânsito em julgado da sentença, ou seja, não cabe
interesse pessoal; mais recurso, não podendo esta sentença ser modificada,
Direito de petição. De acordo com o texto devendo ser respeitada por todos, tanto pelas partes no
constitucional, qualquer pessoa pode recorrer aos Poderes processo quanto pelo Judiciário. A lei nova não poderá
Públicos quando sentir algum direito ameaçado ou violado e alterar aquilo que já é tido como certo de acordo com o
ainda contra atos ilegais ou com abuso de poder. direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Porém, cabe ressaltar, que o direito de peticionar ao
Poder Público não significa que o pedido vai ser atendido, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
significa apenas que em caso de um direito estar sendo
prejudicado ou quando houver ilegalidade ou abuso de Faz-se necessário ressaltar que juízo de exceção ou
poder na atuação da administração pública, a pessoa pode tribunal de exceção, como o próprio nome já diz, possui
procurar os Poderes Públicos e pedir a sua tutela. caráter excepcional ou temporário.
Com o pedido da tutela o Poder Público fará a sua A Constituição não admite a utilização de juízo ou
análise para ver se cabe ou não a sua interferência no caso tribunal de exceção em território brasileiro porque caso
em que foi solicitado a tutela. admitisse estaria desrespeitando princípios básicos
O que também ocorre com o pedido de certidões em consagrados no texto constitucional, como o princípio do
repartições públicas, caso este pedido seja negado, pode a devido processo legal e o princípio do juiz natural, entre
pessoa que solicitou buscar a tutela dos Poderes Públicos outros.
para fazer valer este direito constitucional. Em conformidade com o princípio do devido processo
legal todo procedimento deve seguir a forma que a lei
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder previamente estabelece para tal.
Judiciário lesão ou ameaça a direito; De acordo com o princípio do juiz natural devem
haver regras objetivas de competência jurisdicional, para que
Jurisdição Universal. Observando o texto assim possa ser garantindo a independência e a
constitucional, percebemos que qualquer pessoa que sentir imparcialidade do órgão julgador.
que há alguma ameaça ou lesão a qualquer direito, pode Assim, percebe-se que não pode ser criado órgão
pleitear a tutela jurisdicional ao Poder Judiciário. julgador em caráter excepcional ou temporário, com o
Assim, a Constituição Brasileira determina que o intuito de julgar crimes pretéritos.
legislador não poderá editar qualquer lei que proíba a
apreciação de tais pedidos pelo Poder Judiciário. XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
Em outras palavras, se qualquer pessoa se sentir organização que lhe der a lei, assegurados:
ameaçada de fazer uso de qualquer direito ou se perceber
que teve algum direito violado, poderá pedir a apreciação do O Júri além da previsão constitucional está
Poder Judiciário ao caso em questão, cabendo ao Poder disciplinado em aspectos a partir do artigo 406 do Código de
Judiciário decidir se o caso concreto evidenciado merece ou Processo Penal Brasileiro. Destaca-se que o júri volta-se para
não a tutela jurisdicional. os crimes dolosos contra a vida (Entende-se por doloso o
crime quando o autor tem a intenção de praticar o delito ou
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato assume o risco de que o resultado aconteça).
jurídico perfeito e a coisa julgada;

14
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

São crimes dolosos contra a vida, por exemplo, o Imprescritível é o crime que não prescreverá,
homicídio (Art. 121 do CPB), Induzimento, instigação ou podendo a qualquer tempo o autor responder pelo crime
auxílio a suicídio (Art. 122 do CPB), Infanticídio (Art. 123 do cometido. A maioria dos crimes tem um prazo para que o
CBP). autor seja responsabilizado, já o crime imprescritível não,
podendo o autor responder durante toda a sua vida.
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal; XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico
Percebe-se em seu teor que para a conduta ser ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
considerada crime é necessário que no momento de seu definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
cometimento exista previsão legal que defina esta conduta mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
como sendo um crime. omitirem;
Caso a lei não defina tal conduta como crime, ainda A tortura, o terrorismo e tráfico ilícito de
que a conduta seja imoral ou antiética não será considerada entorpecentes e drogas são crimes equiparados a hediondos.
crime. E, ainda, para que haja sanção a ser imposta ao Estipula que os crimes hediondos e os crimes a estes
cometimento deste crime previsto legalmente é preciso que equiparados são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
haja previsão da pena a ele imposta na legislação. anistia.
De fato enquanto cidadão e de forma mais enfática Graça e anistia são formas de extinção da
enquanto policial deve-se obedecer rigorosamente ao que se punibilidade, ou seja, ambas funcionam como espécies de
encontra escrito nas diversas legislações. Neste sentido é perdão aos agentes delituosos pelos crimes que cometeram
importante o estudo e atualização constante. e com a sua concessão não mais recairá a punição sobre o
autor. Impõe ainda que por estes crimes respondam os
XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o mandantes de tais crimes, aqueles que executarem tais
réu; crimes e aqueles que se omitirem de evitá-los quando
Percebe-se em seu teor que se for criada uma nova lei puderem fazer.
que não considere a conduta cometida anteriormente como Ressaltando que quando sobre a omissão também
crime ou que estabeleça a conduta anteriormente praticada recai sobre aqueles que devem evitar, por obrigação
uma pena mais branda que a pena imposta pela lei anterior, legalmente imposta.
deverá a lei nova ser utilizada em benefício do réu. Essa lei
nova que beneficia do réu é o que a doutrina chama de lex XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a
mitior. ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
Porém, se for criada uma nova lei que considere como constitucional e o Estado Democrático;
crime a conduta que antes não era assim prevista ou que
estabeleça a conduta já considerada como crime uma pena Assim, observando o texto constitucional percebe-se
mais severa que a pena anteriormente imposta, esta lei não que a ação de grupos armados, seja ela composta por civis
poderá ser utilizada, porque ela prejudicaria o réu. Essa lei ou por militares, com o intuito de agir contra a ordem
nova que prejudicaria o réu é o que a doutrina chama de lex constitucional ou o Estado Democrático, impossibilita o seu
gravior. agente de livrar-se solto mediante fiança e o Estado sempre
irá ter o direito de puni-lo em razão de tal conduta delituosa.
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória
dos direitos e liberdades fundamentais; XLV – nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
A Constituição Federal estabeleceu em seu texto os decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
direitos fundamentais inerentes a todos os seres humanos e, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
com o intuito de protegê-los e dar-lhes exequibilidade, limite do valor do patrimônio transferido;
estabeleceu também às garantias constitucionais. Percebe-se A pena não pode passar da pessoa do condenado, ou
que em seu conteúdo é previsto que qualquer ato que seja, somente o autor do fato delituoso pode por este fato
atente contra qualquer direito fundamental ou liberdade sofrer sanções penais, não podendo terceiros responder em
garantida pela Constituição, deve ser punido por lei. seu lugar.
Já o perdimento dos bens e a obrigação de reparar o
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável dano pode ser estendida a terceiros, isto no caso em que o
e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da autor do fato delituoso transmitiu o seu patrimônio a
lei; terceiros, seja por ocasião de sua morte, ou seja, ainda em
Racismo é a segregação, a tentativa de separar os vida.
indivíduos, de impedir o contato entre as pessoas, em razão O perdimento dos bens e a obrigação de reparar o
de sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. dano podem atingir a terceiros somente até o limite do
Inafiançável é o crime em que não é admitida a fiança patrimônio que seria do autor, não podendo ultrapassar este
para que o acusado possa livrar-se solto e responder em limite.
liberdade.

15
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

No caso de herdeiros e sucessores do autor do fato Percebe-se que o preso não pode sofrer nenhum tipo
delituoso, este limite para perdimento de bens e obrigação de violência, seja ela física ou moral, durante o seu
de reparar o dano se estende até o patrimônio que fora encarceramento, devendo ter seus direitos fundamentais
recebido do autor. respeitados.

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e Ressaltando que o texto constitucional não fala a
adotará, entre outras, as seguintes: respeito à integridade psicológica do preso, mas – de acordo
com o ordenamento jurídico – sabe-se que esta também
a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de deve ser respeitada.
bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão
ou interdição de direitos; L – às presidiárias serão asseguradas condições para
Por esse princípio, a pena deve ser individualizada nos que possam permanecer com seus filhos durante o período
planos legislativos, judiciário e executório, evitando-se a de amamentação;
padronização a sanção penal. Para cada crime tem-se uma
pena que varia de acordo com a personalidade do agente, o Percebe-se que – em conformidade com os tratados
meio de execução etc. internacionais dos quais o Brasil é signatário – este inciso
preceitua que as presidiárias poderão permanecer com seus
XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso filhos no estabelecimento prisional em que se encontrem.
de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter O aleitamento materno é essencial até que os seis
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) meses de idade da criança, período em que a criança fica
cruéis; com a mãe, em cárcere, depois disso a criança segue para a
família, podendo apenas visitar a mãe.
A pena de morte, que é proibida em todo o território LII – não será concedida extradição de estrangeiro por
nacional apenas em períodos de paz. Isto porque a exceção a crime político ou de opinião;
proibição da pena de morte se dá quando em tempos de Crime político é aquele motivado por ideais políticos
guerra declarada, sendo durante este período a pena de com a intenção de alcançar a revolução da organização do
morte autorizada em território brasileiro. Estado, visando alterar a forma de governo, assim
Quanto à proibição das penas de caráter perpétuo, a prejudicando interesses do Estado.
lei estipulou como prazo máximo para a imposição das penas Crime de opinião é quando a conduta de manifestar-
o período de 30 anos, não podendo a pena imposta exceder se de forma contrária ao Estado é considerada delito.
a este limite. É preciso ressaltar que em nosso ordenamento
Quanto à pena de trabalhos forçados, não pode ao jurídico não é admissível o crime de opinião, pelo fato de
preso ser imposto o trabalho forçado, mas quando o preso não ser tipificado como conduta delituosa e também porque
trabalha durante a sua custódia, de acordo com o que a Constituição, que é a nossa lei maior, garantiu a liberdade
regulamenta a legislação vigente, tem-se a remissão de um de expressão.
dia de pena a cada três dias trabalhados. As penas não
podem ser cruéis e não há pena de banimento. LIII – ninguém será processado nem sentenciado
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos senão pela autoridade competente;
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o
sexo do apenado; Princípio do juiz natural. De acordo com o princípio
Nossa lei maior determinou que os estabelecimentos do juiz natural devem haver regras objetivas de competência
prisionais ou de internação devem ser separados para jurisdicional, para que assim possa ser garantindo a
homens e mulheres; para menores de idade e maiores de independência e a imparcialidade do órgão julgador.
acordo com a sua idade; e ainda conforme o crime que
cometeram. LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus
Essas separações foram estabelecidas em nossa bens sem o devido processo legal.
Constituição e regulamentada através de lei. Não podendo
ser contrariado o contido no texto constitucional e caso o Princípio do devido processo legal, que estipula que
seja constituirá ilegalidade flagrante e crime, conforme o todo procedimento deve seguir a forma legal, ou seja, a
ordenamento jurídico vigente em território brasileiro. forma que a lei previamente estabelece para tal. Percebe-se
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à que somente a autoridade competente para tal, respeitando
integridade física e moral; o processo legalmente estabelecido no ordenamento jurídico
Respeitando os tratados internacionais de direitos pátrio, poderá sentenciar o acusado e privá-lo de sua
humanos e os direitos do homem, os direitos constitucionais liberdade ou de seus bens.
protegem a integridade física e moral de todos os seres
humanos, desta forma não haveria de ser diferente com a LV – aos litigantes, em processo judicial ou
população carcerária. administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

16
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Estão contidos o princípio do contraditório e o LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
princípio da ampla defesa. processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
De acordo com o princípio do contraditório todos os social o exigirem;
acusados possuem o direito de contradizer daquilo que são
acusados, podendo utilizar-se dos meios de defesa Em conformidade com o princípio da publicidade, o
legalmente garantidos para isto. Já o princípio da ampla ordenamento jurídico vigente estipula que, via de regra, os
defesa admite a utilização de todos os meios de prova em atos processuais são públicos.
direito admitidas. Porém a Constituição Federal, que é nossa lei maior e
Assim, o referido inciso assegura a todos os acusados em razão de hierarquia se sobrepõe a todas as demais,
o seu direito de defesa, podendo contradizer tudo aquilo que impõe que quando necessário a defesa da intimidade ou o
contra si recai para isto utilizando todos os meios de prova interesse social exigirem a publicidade dos atos processuais
em direito admitidas. pode ser restringida.

LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito
por meios ilícitos; ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
Assim, por analogia, percebe-se que as provas ilícitas judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
não são admitidas no nosso ordenamento jurídico, não militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
podendo existir lei ou norma que admita tais tipos de provas
sob pena de ser a lei ou norma inconstitucional. Flagrante delito é quando a pessoa é captura no
LVII – ninguém será considerado culpado até o momento em que está cometendo um crime ou em
trânsito em julgado de sentença penal condenatória; perseguição logo após ter cometido um crime.
Prisão por ordem judicial ocorre quando a autoridade
Princípio da presunção de inocência. Trânsito em judiciária expede um mandado de prisão contra uma pessoa
julgado da sentença é quando não se admite mais recursos e este mandado é cumprido. O mandado de prisão pode ser
contra aquela decisão, ou seja, a decisão do juiz sentenciante decorrente de sentença penal condenatória ou pode ser uma
não pode mais ser alterada. Também chamado de coisa medida cautelar, como a prisão preventiva ou a prisão
julgada. temporária.
Sentença penal condenatória é a decisão judicial com Ordem fundamentada porque – via de regra – toda
o julgamento do caso em questão, condenando o réu e ordem judicial deve ser, ou seja, o juiz deve dizer a
estabelecendo a sua pena. motivação que o levou àquela decisão.
Observando o referido inciso constitucional, percebe- Além da prisão em flagrante e por ordem judicial, a
se que em seu conteúdo é previsto que até que a sentença Constituição também estipula que aos militares é cabível a
penal condenatória vire coisa julgada e não caiba mais prisão administrativa no caso de transgressão militar e a
recurso contra a decisão, o acusado deve ser tratado como prisão regulamentada em legislação especial pelo
se inocente fosse. cometimento de crime propriamente militar.
Ainda que a sentença penal condenatória julgue o réu
como culpado, enquanto for admitido recurso o réu não LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
pode ser considerado culpado, ou seja, não pode ser tratado encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
como culpado enquanto tiver o direito de recorrer e puder – competente e à família do preso ou à pessoa por ele
ao menos hipoteticamente – reverter a decisão judicial. indicada;

LVIII – o civilmente identificado não será submetido à Ao prender uma pessoa o policial militar deve levá-lo
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; imediatamente até a presença do Delegado de Polícia e este,
como dito, tomará as providências legais cabíveis dentro de
Identidade civil é aquela feita a partir de qualquer seu livre convencimento jurídico fundamentado, podendo
documento civil apto para provar que a pessoa é quem diz então dentre outras medidas: Lavrar o Flagrante Delito –
ser, como a carteira de identidade, a carteira de trabalho, o Lavrar o Termo Circunstanciado de Ocorrência – Registrar um
passaporte. Identificação criminal é a dactiloscópica, ou seja, Boletim de Ocorrência – Colher depoimentos – Apreender
o decalque das impressões digitais em papel. Para alguns, Objetos – Fazer Representações junto ao Poder Judiciário –
também a fotografia policial seria identificação criminal. Arbitrar Fiança, etc.
Dentre estas providências obriga-se a fazer a
LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação comunicação da lavratura do auto de prisão em flagrante ao
pública, se esta não for intentada no prazo legal; Juiz, ao familiar do preso ou pessoa por ele indicada, ao
Ministério Público e a Defensoria Pública nos casos em que o
Observando o texto constitucional, percebe-se que acusado não possui advogado nem condição de pagá-lo.
ficando o Ministério Público inerte e não intentando a ação
pública no prazo legal, será admitida a ação penal privada LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre
subsidiária da pública. os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;

17
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

No momento da lavratura de sua prisão, o preso LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que
deverá ser cientificado dos direitos que lhes são garantidos alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
pela Constituição Federal, devendo ser-lhes informados, sob coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
pena de ilegalidade da prisão. abuso de poder;

LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre O habeas corpus é o remédio constitucional cabível
os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a quando a houver restrição da liberdade de locomoção ou
assistência da família e de advogado; ameaça a violação deste direito.
Há que se ressaltar que esta violação ou ameaça deve
LXIV – o preso tem direito à identificação dos ocorrer por ilegalidade ou abuso de poder. Pois se os direitos
responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório estiverem sendo restringidos de acordo com a legalidade não
policial; há que se falar em remédio constitucional.
Os servidores públicos que realizaram a prisão, assim O habeas corpus pode ser preventivo ou repressivo.
como aqueles que o interrogaram em sede policial devem Preventivo quando houver ameaça a violação dos
ser identificados ao preso, caso ele assim o solicite. direitos a que ele se adéqua para proteção.
Repressivo quando o direito em questão já estiver
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela sendo violado, sendo necessário para a cessação desta
autoridade judiciária; violação.

A autoridade judiciária competente ao ser informada LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para
da prisão de qualquer pessoa verificará os requisitos de proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
legalidade. corpus ou habeas data, quando o responsável pela
Verificados os requisitos de legalidade, procederá a ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
avaliação do caso concreto para decidir se converte a prisão agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
em flagrante em prisão preventiva ou até mesmo temporária Poder Público;
ou se arbitra fiança, isso quando o caso concreto lhe O mandado de segurança é o remédio constitucional
permitir. que visa a garantir direito líquido e certo do impetrante.
Porém, caso verifique qualquer ilegalidade na prisão O direito a ser protegido deve ser líquido e certo, ou
deverá – cumprindo o que é estabelecido no inciso seja, deve ser evidenciado de pronto, podendo facilmente
constitucional em epígrafe – relaxá-la imediatamente. ser observado, não devendo precisar de provas a serem
produzidas para a sua comprovação. Isso não diz respeito
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, sobre juízo de valor, que é avaliar a situação de acordo com o
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem caso concreto, ou sobre discussão doutrinária e
fiança; jurisprudencial a respeito do tema.

Percebe-se que sempre que a lei permitir liberdade LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser
provisória, independente de ser afiançada ou não, esta impetrado por:
deverá ser concedida pela autoridade competente. Isto
ocorre porque o encarceramento deve ser exceção e não a) partido político com representação no Congresso
regra. Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou
LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do associação legalmente constituída e em funcionamento há
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; membros ou associados;
Observando o conteúdo do texto constitucional,
percebe-se que a nossa lei maior permite a prisão civil LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre
somente em caso de dívida de pensão alimentícia ou por ser que a falta de norma regulamentadora torne inviável o
depositário infiel. exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
Porém, é preciso ressaltar que, o Pacto de San José da prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
Costa Rica proíbe a prisão do depositário infiel. E pelo fato cidadania;
do Brasil ser signatário deste tratado internacional, este
prevalece perante o texto constitucional, assim não podendo LXXII – conceder-se-á habeas data:
haver a prisão do depositário infiel.
Desta forma, somente haverá prisão civil por dívida a) para assegurar o conhecimento de informações
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de pensão relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou
alimentícia. bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

18
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral eficiência e, também, ao seguinte: Emenda Constitucional nº
e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos 19, de 1998)...

LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro Princípio da legalidade a que, nos termos do caput do
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo art. 37 da Constituição Federal de 1988, está jungida a
fixado na sentença; Administração Pública, é no sentido de que a atuação
administrativa deve aplicar a lei e exercer a
LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente discricionariedade com vistas à efetivação dos princípios e
pobres, na forma da lei: valores constitucionais.

a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de 4.2 Conceitos


óbito;
a. Princípio da legalidade: É todo e qualquer ato
LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e administrativo, somente será valido se houver lei que
habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao fundamente. Considerando-se, de outra parte, que é a lei
exercício da cidadania. que determina a finalidade do ato administrativo, o princípio
da legalidade traz implícito em seu bolo o outro princípio da
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, finalidade. Ele impõe ao administrador público que só
são assegurados a razoável duração do processo e os meios pratique o ato para seu fim legal, fim este que, em última
que garantam a celeridade de sua tramitação. análise, deverá corresponder, sempre, ao interesse público;
em não atendendo a este princípio, o administrador
Ressaltando que este inciso constitucional foi incluído incorrerá em “desvio de finalidade”, uma das formas de
pela Emenda Constitucional 45, com o intuído de diminuir a abuso de poder.
morosidade do sistema.
Assim, de acordo com o seu conteúdo, os processos b. Impessoalidade: a administração pública não dá
administrativos e judiciais devem ter uma duração razoável e espaço para expressão da vontade meramente pessoal,
célere. E o sistema deve possuir mecanismos que garantam a subjetiva, do administrador. A produção do ato
celeridade na tramitação dos processos. administrativo está diretamente condicionada pela lei. E
mesmo quando há maior grau de liberdade para
4. DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Seção I DISPOSIÇÕES administrador público agir (ato discricionário), esta liberdade
GERAIS - CAPÍTULO VII da CFB. é exercida dentro de limites nítidos fixados pela lei.

A dinamicidade da sociedade contemporânea, c. Moralidade: o ato administrativo, além de atender


complexa e plural, exige que o Estado seja ágil e eficaz nas à lei, deve guiar-se pelos padrões éticos da administração.
suas ações, de modo a garantir o atendimento das múltiplas Quer dizer, não basta apenas ser legal. Deve ser também
necessidades sociais e individuais. Se, por um lado, não se honesto, tendo como finalidade o bem comum. Os dois
pode admitir que o administrador público exerça o seu ofício elementos essenciais da moralidade pública são
segundo os seus critérios pessoais; de outro, é igualmente conveniência e oportunidade do ato administrativo.
inadmissível que as balizas da legalidade sejam tão estreitas
que não lhe permita qualquer margem de conformação da d. Publicidade: O ato do administrador público deve
sua atuação administrativa. ser oficialmente divulgado. Esta divulgação é fundamental
Encontrar o ponto de equilíbrio é requisito para que o ato seja de conhecimento público e produza seus
indeclinável para a atuação administrativa consentânea com efeitos regulares.
os ditames do Estado Social e Democrático de Direito,
mormente no que diz respeito à proteção e promoção da e. Princípio da eficiência: O princípio da eficiência é
dignidade humana e dos direitos fundamentais que lhe são tudo o que está imputado ao agente público de cumprir com
correlatos. suas obrigações qualificadamente e que o conteúdo não seja
perdido. Em outras palavras o presente princípio é o trabalho
4.1 Princípios da Administração Pública público realizado com presteza, gerando o resultado
desejado.
O caput do art.37 da Constituição enumera A gestão pela qualidade das Instituições Policiais
expressamente como princípios da Administração Pública os também é uma exigência constitucional. Estabelece que a
da legalidade, impessoalidade, moralidade publicidade e eficiência é um dos princípios que norteiam a Administração
eficiência. Pública. De forma específica, o § 7º do art. 144 da
Constituição Federal determina que as Instituições Policiais
Art. 37. A administração pública direta e indireta de devem ser eficientes na sua missão de garantir a segurança
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito pública. E, como é evidente, não há eficiência sem gestão
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de pela qualidade.
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

19
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

5. DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a
DOS TERRITÓRIOS elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República e
asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou
5.1 Considerações Preliminares reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos
militares e, juntamente com os demais membros, o uso dos
O Congresso foi correto ao disciplinar a matéria uniformes das Forças Armadas;
relativa aos militares estaduais, através da Emenda II - o militar em atividade que tomar posse em cargo
Constitucional nº18, de 1998. Até então havia aqueles, ou emprego público civil permanente, ressalvada a hipótese
interessados na confusão, que sustentavam que o policial prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", será transferido
militar não era militar e sim civil, pois, militar só o era o das para a reserva, nos termos da lei;
Forças Armadas. III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar
As mudanças foram profundas no artigo 42. Além da posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária,
já sinalizada anteriormente, materializada com a exclusão não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada
com diferenciação dos militares dos Estados, DF e territórios, a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará
e dos militares das forças amadas, tem-se aqui, ainda, a agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto
remissão expressa à necessidade de uma lei que venha tratar permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade,
especialmente do regime militar local, lei essa que será contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela
estadual para o primeiro grupo e federal os do DF e dos promoção e transferência para a reserva, sendo depois de
territórios. dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para
a reserva, nos termos da lei;
5.2 Os Membros das Polícias Militares e Corpos de IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
Bombeiros Militares V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode
estar filiado a partidos políticos;
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for
Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito decisão de tribunal militar de caráter permanente, em
Federal e dos Territórios. tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a
Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em pena privativa de liberdade superior a dois anos, por
lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. sentença transitada em julgado, será submetido ao
142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor julgamento previsto no inciso anterior;
sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º,
patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI,
governadores. XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência
da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea "c";
Art. 14, § 8º: § 8º O militar alistável é elegível, X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas,
atendidas as seguintes condições: os limites de idade, a estabilidade e outras condições de
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá transferência do militar para a inatividade, os direitos, os
afastar-se da atividade; deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações
II - se contar mais de dez anos de serviço, será especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de
agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de
automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. compromissos internacionais e de guerra.
art. 40, § 9º: § 9º O tempo de contribuição federal,
estadual, distrital ou municipal será contado para fins de Art. 142, § 3º, inciso X: - a lei disporá sobre o ingresso
aposentadoria, observado o disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e
201, e o tempo de serviço correspondente será contado para outras condições de transferência do militar para a
fins de disponibilidade. inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do prerrogativas e outras situações especiais dos militares,
Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive
em lei específica do respectivo ente estatal. aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito e de guerra.
Federal e dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI, § 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do
com prevalência da atividade militar. Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado
art. 142, §§ 2º e 3º: § 2º Não caberá habeas corpus em lei específica do respectivo ente estatal.
em relação a punições disciplinares militares. § 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito
§ 3º Os membros das Forças Armadas são Federal e dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI,
denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que com prevalência da atividade militar.
vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:

20
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Art.37...XVI - é vedada a acumulação remunerada de Polícia Militar: Trata-se do Órgão do Sistema de


cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de Segurança Pública com a competência majoritariamente
horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI votada para as atividades de polícia ostensiva e preservação
a) a de dois cargos de professor b) a de um cargo de da ordem pública.
professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de Corpo de Bombeiro Militar: Apresenta-se como o
profissionais de saúde, com profissões regulamentadas; Órgão do Sistema de Segurança Pública com a competência
de executar as atividades de Busca, Salvamento e Defesa
6. SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL civil, além de outras atribuições específicas estabelecidas em
BRASILEIRA DE 1988 lei.
Uma das premissas maiores da Segurança Pública é a
Para análise do Artigo 144 da Constituição Federal e sua perspectiva sistêmica, expressa na interação permanente
do Modelo de Segurança Pública Brasileiro faz-se entre seus diversos órgãos e destes com a sociedade civil
interessante observar algumas definições pertinentes as organizada.
quais construímos a partir da leitura de diversas obras acerca
da temática. 6.2 Sistema de Segurança Pública no Brasil

6.1 Definições Do ponto de vista Constitucional o Sistema de


Segurança Pública no Brasil rege-se, pelo disposto no art.
Ordem Pública: É o conjunto de regras formais que 144 que passamos a ler, estudar e refletir.
emanam do ordenamento jurídico da nação, tendo por “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado,
escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
interesse público, estabelecendo um clima de convivência preservação da ordem pública e da incolumidade das
harmoniosa e pacífica, fiscalizada pelo poder de polícia, o pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
constituindo uma situação ou condição que conduz ao bem I - polícia federal;
comum. (Art.2º do Decreto nº 88.777, de 30/set/1983.) II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
Segurança Pública: Trata-se de atividade patrocinada IV - polícias civis;
pelos órgãos públicos em parceria com a comunidade, tendo V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
como objetivo prevenir e reprimir a criminalidade e da § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão
violência, com vistas a garantir o exercício cidadania e a permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
promoção do bem comum. em carreira, destina-se a:
É o conjunto de ações que envolvem dentre outras I - apurar infrações penais contra a ordem política e
atividades assistenciais, a prestação de serviços de social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da
Segurança Pública e de Defesa Civil. União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
Defesa Civil: Pode ser concebida como conjunto de interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
medidas que visam prevenir e atuar, em situações diversas segundo se dispuser em lei;
onde haja riscos e/ou perdas a que estão sujeitas as pessoas II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de
e os bens, seja por interferência da conduta humana seja em entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
consequência de calamidades e desastres naturais. descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
Polícia: É o conjunto de instituições fundadas pelo III - exercer as funções de polícia marítima,
Estado, para que, segundo as prescrições legais e aeroportuária e de fronteiras;
regulamentares estabelecidas, exerçam vigilância para que IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia
se mantenha a ordem pública e se assegure o bem estar judiciária da União.
coletivo, garantindo-se a propriedade e os outros direitos § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente,
individuais. organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
Polícia Civil: É Órgão do Sistema de Segurança Pública rodovias federais.
responsável pelas atividades de “Polícia Judiciária”, quando § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente,
atua em atendimento as requisições emanadas do Poder organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
Judiciário e “Polícia Investigativa” quando atua na apuração destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
das infrações penais, exceto as militares e as de competência ferrovias federais.
da União. § 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares.

21
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e “Art. 78 do CTN. Considera-se poder de polícia
a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros atividade da administração pública que, limitando ou
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática
execução de atividades de defesa civil. de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes,
militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam- à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos atividades econômicas dependentes de concessão ou
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
§ 7º - A lei disciplinará a organização e o respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança
pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do
§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas poder de polícia quando desempenhado pelo órgão
municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e competente nos limites da lei aplicável, com observância do
instalações, conforme dispuser a lei. processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha
§ 9º A remuneração dos servidores policiais como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.”
integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada
na forma do § 4º do art. 39. “ Na visão moderna, o poder de polícia compreende
uma atividade do Estado consistente em limitar o exercício
Do constante no art. 144 da Constituição Federal dos direitos individuais em benefício do interesse público. A
Brasileira Vigente, pode-se concluir que o Sistema de nobre doutrinadora Odete Medauar em sua obra Direito
Segurança Pública Brasileiro é formado, basicamente, por Administrativo Moderno cita Caio Tácito, que conceitua
instituições federais de atribuições específicas e instituições poder de polícia como sendo um: “*...+ conjunto de
estaduais, também com suas atividades estabelecidas e atribuições concedidas à Administração para disciplinar e
delimitadas. restringir, em favor do interesse público adequado, direitos e
Em relação aos municípios resta a faculdade de liberdades individuais”. (MEDAUAR, 2007:333)
constituir guardas (não forças policiais), com vistas à Segundo a doutrinadora Fernanda Marinela, o poder
proteção de seus próprios bens, serviços e instalações. de polícia é “*...+ um instrumento conferido ao administrador
Destaca-se, entretanto que as guardas municipais vêm que lhe permite condicionar, restringir, frenar o exercício da
atuando cada vez mais como cooperadoras do policiamento atividade, o uso e gozo de bens e direitos pelos particulares,
ostensivo e preventivo. O fato e que por estarem nas praças, em nome do interesse da coletividade”. *...+ a atividade da
escolas e prédios públicos da prefeitura, deparam-se Administração Pública que se expressa por meio de atos
frequentemente com situações delituosas e podem/devem normativos ou concretos, com fundamento na supremacia
intervir para mantença da ordem pública. geral e, na forma da lei, de condicionar a liberdade e a
propriedade dos indivíduos mediante ações fiscalizadoras,
7. ORIGEM DO PODER DE POLÍCIA – (DA TRIBUTAÇÃO E DO preventivas e repressivas, impondo aos administrados
ORÇAMENTO - TÍTULO VI - CF/88.) comportamentos compatíveis com os interesses sociais
sedimentados no sistema normativo. (MARINELA, 2006: 150)
A Carta Magna, de 1988, e diversas leis concedem aos Poder de polícia é a competência institucional que a
cidadãos uma série de direitos, mas seu exercício deve estar administração pública tem para impor restrições a certas
de acordo com o bem-estar social, como por exemplo, o uso atividades privadas e obrigar ou proibir determinadas formas
da liberdade e da propriedade, os quais devem estar de utilização das coisas, tendo em vista o bem comum.
compatíveis com o bem comum, não prejudicando os Consiste numa limitação do exercício da liberdade e
interesses públicos. da propriedade dos indivíduos para que, no uso delas, os
Nossa Constituição Federal faz referência ao Art. 145, membros da coletividade se mantenham ajustados a padrões
II, ”à União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios compatíveis com os objetivos sociais. O Estado cumpre sua
poder para instituir taxas, em razão do exercício do poder de missão de defensor e propagador dos interesses gerais,
polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços coibindo os excessos e prevenindo as perturbações à ordem
públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou jurídico-social. (MEIRELLES 1997, p. 115).
postos a sua disposição.” Deve-se usar o poder de polícia de forma
Nosso ordenamento trouxe uma conceituação legal discricionária, onde através de critérios técnicos, de
de Poder de Polícia, por via Código Tributário Nacional, oportunidade e de justiça, pode fazer-se cumprir sua ordem.
Art.78: Como o poder conferido é discricionário, e jamais
arbitrário, o policial deve manter suas ações exatamente
O código tributário Nacional é a lei complementar dentro dos limites legais.
que regula o sistema tributário nacional e dispõe sobre No nosso caso, o Militar Estadual, por seu caráter
normas gerais de direito tributário. LEI Nº 5.172, DE 25 DE visível, absorve, na verdade, toda a gana de expectativas da
OUTUBRO DE 1966. população. Não importam ao público estes por menores
técnicos de delimitação de competência, mas sim a proteção
que o poder público lhe deva dar. E o uniforme, as viaturas

22
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

caracterizadas, os equipamentos e o armamento simbolizam 14. O preso brasileiro tem direito a praticar religião no
para este público o poder do Estado na defesa da população. período de cárcere? Fundamente.
O Militar Estadual, de acordo com anuários 15. Quando um PM/BM poderá adentrar sem
estatísticos, contabilizam menos de 20% de registros de consentimento na casa de um morador?
crime, sendo que o restante das solicitações ficam por conta 16. O “traficante de cocaína” não pode ser preso em
dos problemas de trânsito e da rubrica auxilio, que constitui- flagrante delito, considerando direito da liberdade do
se numa vasta categoria de favores informais à população exercício de profissão assegurado na Constituição?
que vão desde auxílio a parturientes a desinteligências Fundamente.
domesticas, busca, salvamento e outros sinistros. 17. A reunião em praça pública é necessária
Como exemplo tem outra atribuição legal conferida autorização do poder público? Fundamente.
aos Corpos de Bombeiros Militares diz respeito à fiscalização 18. O Policial é obrigatório associar-se em entidade de
de edificações e áreas de risco, ou seja, o poder de polícia sua Corporação? Fundamente.
para atuar proativamente na fiscalização do cumprimento 19. Quando o PM/BM poderá se utilizar de
das medidas de segurança contra incêndios previstas em propriedade privada?
Normas de Segurança Contra Incêndio, independentemente 20. Em que consiste o Direito de Petição?
de solicitação do particular. 21. O que significa “coisa julgada”?
Desta forma, no campo Constitucional a Segurança 22. Qual a importância do “Princípio da Reserva legal”
Pública, o Militar Estadual, por vocação, não é apenas uma na atuação policial?
organização de prevenção e repressão do crime, socorrismo 23. Existe pena de morte no Brasil? Fundamente.
e outros sinistros, e sim Corporações públicas de proteção e 24. O preso no Brasil só perderá sua liberdade e
socorro comunitários, abrangendo uma vasta gama de integridade moral? Fundamente.
atividades sociais, particularmente para as populações de 25. Em que consiste o “Princípio do devido processo
menor poder aquisitivo. legal”?
Acreditamos que com o conteúdo visto você teve 24. Os acusados em processo administrativo só têm
condição de assimilar e conhecer importantes fundamentos direito ao contraditório? Fundamente.
de Direito Constitucional, em especial, aplicados à atividade 25. Em que consiste o “Princípio da Presunção de
dos Militares Estaduais, que irão ajudá-lo na vida pessoal e Inocência”?
profissional. 26. Como se dá a prisão no Brasil?
Orientar, servir, proteger e salvar é o nosso lema! 27. Quais os direitos dos presos?
Bons estudos! 28. Quais os direitos das vítimas?
O conteudista. 30. Em que circunstância poderá haver prisão por
dívida no Brasil?
Perguntas para conhecimento, compreensão e 31. O que você entende por Habeas Corpus?
aplicação do Direito Constitucional. 32. Existe mandado de segurança, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for de
1. Como forma de Estado, de Governo, sistema de entidade privada? Fundamente.
Governo e regime Político, o Brasil adota, respectivamente? 33. Em que consiste o Habeas data?
2. Como a federação Brasileira é formada? 34. O que acontecerá em caso de erro judiciário no
3. Conceitue Estado de Direito. Estado Brasileiro?
4. Como é constituída a hierarquia das leis no 35. Quais os princípios que regem a administração
ordenamento jurídico Brasileiro? pública do Brasil? Em sua opinião qual o mais importante na
5. Qual a Constituição Brasileira que mais tempo aplicação do policiamento ostensivo?
permaneceu em vigor e como foi sua aprovação? 36. Porque o Policial Militar é proibido à
6. Porque a Constituição Brasileira é considerada a lei sindicalização e a greve? Fundamente.
máxima e fundamental do Estado? 37. Qual a diferença entre Ordem Pública e Segurança
7. Qual a classificação da nossa Constituição Pública?
Brasileira? 38. Estabeleça as atribuições constitucionais das
8. O preâmbulo da nossa Constituição tem vinculação Policias Civis e dos Militares Estaduais.
absoluta com as demais Constituições Estaduais? 39. Quem é responsável pela elaboração dos
Fundamente. Inquéritos policiais no Brasil?
9. Quais os fundamentos da República Federativa do 40. Formule um conceito de Poder de Polícia. Só tem
Brasil? Discorra sobre o da “Dignidade da Pessoa Humana”. Poder de Polícia quem é polícia? Justifique.
10. Em que consiste o “princípio da igualdade”?
11. O que significa dizer que: “O Militar Estadual deve
pautar sua profissão na promoção da lei”?
12. Qual a diferença entre tratamento desumano e
degradante? Em que circunstância o Policial pode empregar?
13. O que protege (objeto jurídico) a “proibição do
anonimato” na Constituição?

23
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
FUNDAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL

REFERÊNCIAS

ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional


Descomplicado. Niteroi-Rj, Editora Impetus Ltda, 2007.
ARAÚJO, Francisco Erivaldo Gomes de. O Exercício do Poder
de Polícia da Polícia Militar. Fortaleza-CE, 2001.
AMARAL, Luiz Otávio de. Direito e Segurança Pública a
juridicidade operacional da polícia. Brasília-DF, Editora
Consulex, 2003.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5
de Outubro de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br
BRASIL. Código de Direito Penal Brasileiro, de 7 de dezembro
de 1940. Disponível em: www.planalto.gov.br
Conceito de Poder de Polícia - Portal Educação
(portaleducacao.com.br)
MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 9. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2006.
MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. Ed. Revista dos
Tribunais. 2007.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 18º
Ed. São Paulo. Malheiros Editores
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional
Positivo. 28ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
SILVA, José Afonso da. Manual da Constituição de 1988. São
Paulo: Malheiros, 2012.

24

Você também pode gostar