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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Autoridades

Governador do Estado do Riode Janeiro


Exmº Sr Cláudio Bomfim de Castro e Silva

Secretário de Estado de Polícia Militar e Comandante-Geral


Exmº Sr Coronel Luiz Henrique Pires

Subsecretário de Estado de Polícia Militar e Chefe do Estado-


Maior Geral
Ilmº Sr Coronel Eduardo Sarmento da Costa

Diretor-Geral de Ensino e Instrução


Ilmº Sr Coronel Marco Aurelio Ciarlini Guarabyra Vollmer

Comandante do CFAP 31 de Voluntários


Ilmº Sr Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva

Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia


Militar
Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

APRESENTAÇÃO

Atualmente, conhecimento, informação, tecnologia e serviço


constituem valores de primeira grandeza, capazes de transformar o ambiente
interno e externo das organizações sociais e das instituições públicas. No
intuito de instigar a autonomia, permitir a flexibilidade temporal, evitar o
deslocamento de efetivo e facilitar questões de cunho logístico, o Comando
da Corporação, através da proposta do Diretor-Geral de Ensino e Instrução,
interligando os eixos acima supracitados, oferece a você, Sargento da Polícia
Militar do Estado do Rio de Janeiro, o Curso Especial de Formação de
Sargentos EAD/2021 (CEFS – EAD/2021).
Este curso tem por objetivo não só capacitar, mas confirmar as divisas
dos policiais militares já promovidos à graduação de 3º Sargento. Para tanto,
as disciplinas do CEFS serão todas no ambiente virtual de aprendizagem,
através da Escola Virtual, do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar
(CEADPM).
Assim, ressaltamos a importância de sua dedicação ao curso, pois um
policial militar bem formado, bem treinado, capacitado e motivado para o
cumprimento da missão, conhecedor dos valores institucionais alicerçados
sob a base do conhecimento, da informação, da tecnologia e do serviço é
capaz de consolidar e aprimorar a sua consciência democrática; cultivar
elevados padrões morais para continuar com dignidade no exercício da
profissão; garantir o respeito às leis e a dedicação ao cumprimento do dever;
estimular o senso de responsabilidade e o interesse pela comunidade; dentre
outros.
Desta forma, esperamos que com este curso você, policial militar,
possa estar fortalecendo seu vínculo profissional, repensando o seu papel
como profissional diante da necessidade de soluções cada vez mais rápidas e
dentro da legalidade para os mais complexos problemas enfrentados no
singular cotidiano do Estado do Rio de Janeiro.

Desejamos a todos bons estudos!

Marco Aurelio Ciarlini Guarabyra Vollmer - Coronel PM


Diretor-Geral de Ensino e Instrução

Marcelo André Teixeira da Silva – Coronel PM


Comandante do CFAP
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Desenvolvedores

CFAP

Supervisão e Coordenação Pedagógica

Cap PM PED Patricia Kalife Paiva


3º SGT PM Rodrigo Barroso Candido
CB PM Juliana Pereira de Carvalho
SD PM Eduarda Vasconcellos Dias de Oliveira

Conteudista
Cap PM Leandro da Silva Neves

CEADPM

Supervisão Geral EAD


MAJ PM Rodrigo Fernandes Ferreira

Equipe Técnica
SUBTEN PM Willian Jardim de Souza
3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos
SD PM Lucas Almeida de Oliveira
SD PM Diogo Ramalho Pereira

Diagramação
2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira
2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira
CB PM Vanessa Souza Rino Bahia

Design Instrucional
1º SGT PM Eloisa Cláudia Clemente de Almeida
CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira

Filmagem e Edição de Vídeo


CB PM Renan Campos Barbosa
SD PM Alessandra Albuquerque da Silva

Designer Gráfico / Diagramação Interativa


2º SGT PM Wallace Reis Fernandes
SD PM Leonardo da Silva Ramos

Suporte ao Aluno
CB PM Vanessa Souza Rino Bahia

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 6

A RELAÇÃO ENTRE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEGISLAÇÃO


PENAL MILITAR .............................................................................................................. 8

CRIMES MILITARES PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS ....................................... 10

PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR ......................................... 13

APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR ................................................................ 18

INFRAÇÕES DISCIPLINARES ................................................................................ 29

PESSOA CONSIDERADA MILITAR ...................................................................... 31

CONCEITO DE SUPERIOR ........................................................................................ 34

PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS ................................................................. 36

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ....................................................................... 43

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

INTRODUÇÃO

Não podemos demarcar o exato momento que surgiu o Direito


Penal Militar, na história da humanidade. Contudo, pode-se afirmar que
ele se originou na Antiguidade, junto com os primeiros
exércitos.1Certamente, surgiu dos primeiros órgãos julgadores, cuja
finalidade seria analisar os crimes praticados por militares, em tempos
de guerra.
Indo por vias diversas do Direito Penal Comum, que teria a função
de tutelar “os bens mais importantes e necessários para a
sobrevivência da própria sociedade”1 (vida, liberdade, integridade
física, patrimônio, e etc.), o Direito Penal militar tem como fundamento
a proteção da “hierarquia e disciplina”1, fatores estes de extrema
preponderância para a coesão e o regular funcionamento das
instituições militares.
Neste sentido, segundo a visão do professor Univaldo Correa, o
Direito Castrense nasce da “necessidade de contar, a qualquer hora e
em qualquer situação, com um corpo de soldados disciplinados”2, por
meio de uma legislação peculiar e específica.
No Brasil, o Direito Militar tem suas raízes na legislação
portuguesa. As Ordenações Filipinas (1595), e os Artigos de Guerra do
Conde de Lippe (1763), positivavam previsões legais próximas à
legislação Castrense. Em 1808, foi criado no Brasil, pelo Príncipe
Regente D. João VI, o Conselho Supremo Militar e de Justiça, com
funções administrativas (promoções, soldos, etc.) e judiciárias
(julgamentos de processos criminais, cujos réus fossem militares).

1
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 50.

2
Corrêa, Univaldo. A evolução da Justiça Militar no Brasil – alguns dados históricos. In: Direito militar:
história e doutrina – artigos inéditos.Florianópolis: Amajme, 2002, p. 9.

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No ano de 1824, com a primeira Constituição brasileira, já se


previa o Conselho Supremo Militar e constitucionalizava a “Força
Militar” para segurança e defesa do Império, nos artigos 145 a 150.
No âmbito da legislação penal foram criados o Código Penal da
Armada/Marinha (1891), sendo aplicado ao Exército Nacional (1899)
e a Força Aérea (1941).
Em 24 de janeiro de 1944, o Decreto-Lei nº 6.227 entrou em
vigor e trouxe ao cenário nacional o Código Penal Militar, aplicado às
Forças Armadas, que vigorou até 31 de dezembro de 1969, quando
entrou em vigor o Decreto-Lei nº 1.001, nosso atual Código Penal
Militar.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

A RELAÇÃO ENTRE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEGISLAÇÃO


PENAL MILITAR

No tópico anterior, vimos que a nossa


primeira Constituição (1824), já trazia em
suas linhas a finalidade e a composição da
então “Força Militar”, que era constituída
basicamente pela “Força Armada de Mar e de
Terra”. A Constituição Federal de 1988 dita
no seu Artigo 42 que “os membros das
Policias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e disciplina,
são Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios”. Já em seu Artigo 142, a Carta
Constitucional positiva a respeito das Forças
Armadas compostas por Marinha, Exército e
Aeronáutica.

 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
 LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei;
 Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os
crimes militares definidos em lei.
 Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o
funcionamento e a competência da Justiça Militar.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

 Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados


os princípios estabelecidos nesta Constituição.
 § 4º Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar
os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as
ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e
da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)
 Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
 § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

Você sabe a diferença da


competência de Justiça
Militar e Justiça Comum?

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Ao analisar estes dispositivos Constitucionais, podemos


observar que cabe à Justiça Militar Estadual processar e julgar
os Militares Estaduais (Policiais Militares e Bombeiros
Militares), nos crimes militares e ações judiciais contra atos
disciplinares. Cabendo ressaltar que, com o advento da Lei nº
9.299/96, foi retirada a competência da Justiça Militar para a apuração
dos crimes dolosos contra a vida, praticados por militares contra civil.
Nesse sentido, se um policial militar ao fazer uso de sua arma de fogo,
durante ação policial, vier atingir fatalmente um cidadão, restando
comprovado o dolo por parte do agente de segurança pública, a
competência para julgamento será da Justiça Comum.

CRIMES MILITARES PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS

Como já sabemos, o
Código Penal Militar tipifica
os crimes militares. Não
obstante, não existe
positivado, em nossa
legislação pátria, a definição
de crimes militares próprios
ou impróprios, limitando-se
tal distinção a cargo da doutrina ou jurisprudência. Contudo,

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

independente de classificações, as duas categorias (próprios ou


impróprios), “são crimes militares e julgados, com exceção do
crime doloso contra a vida de civil praticado por militares dos
Estados, pelas Justiças Militares Estaduais e da União”3.

Mas afinal, o
que são os crimes
militares próprios e
impróprios?

O crime propriamente militar, na lição de Célio Lobão,


“recebeu definição precisa no direito romano e consistia naquele “que
só o soldado pode cometer”, porque “dizia particularmente respeito à
vida militar, considerada no conjunto da qualidade funcional do agente,
da materialidade especial da infração e da natureza peculiar do objeto
danificado, que devia seria o
serviço, a disciplina, a
administração ou a economia
militar4”. Nesse prisma, seria as
infrações previstas no Código
Penal Militar e que somente
poderão ser praticadas por
militar.

3
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 113.

4
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 81;

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VAMOS AOS EXEMPLOS!

Crime Propriamente Militar

 Abandono de Posto
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de
serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria,
antes de terminá-lo.

 Dormir em Serviço
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de
quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo oficial,
em serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda
ou em qualquer serviço de natureza semelhante.
 Deserção
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da Unidade em que
serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias.

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Crime Impropriamente Militar

Já os crimes impropriamente militares


seriam previstos no Código Penal Militar, dentro
das condicionantes do seu Art. 9º, que podem ser
cometidos tanto civil quanto militarmente.
Nesse sentido, um civil que entra em instalações
militares (desde que fossem das forças armadas),
e efetua o roubo ou furto de um armamento ficaria sujeito a processo
na Justiça Militar. Se o mesmo cidadão efetuar o roubo ou furto em
alguma Unidade da Polícia Militar ou Corpo de Bombeiro Militar dos
Estados, apesar de também tipificado no Código de Processo Penal, no
seu Art. 242, será processado pela Justiça Comum, uma vez que não
há previsão legal para Justiça Militar Estadual processar e julgar civil
(art. 125, §4º).
 Incêndio
Art. 268. Causar incêndio em lugar sujeito à administração
militar, expondo à perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio
de outrem.
 Desacato a militar
Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza
militar ou em razão dela.

PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR

O Direito Penal Militar é regido por diversos


princípios. Segundo o ensinamento de Cícero

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Robson Coimbra Neves e Marcello Streifinger5, os princípios


norteadores e limitadores do jus puniendi (direito que corresponde ao
Estado criar e aplicar o direito penal), do Direito Penal Militar são: o
Princípio da Legalidade, o Princípio da Intervenção Mínima, o Princípio
da Insignificância, o Princípio da Culpabilidade e o Princípio da
Humanidade.

Agora veremos cada um dos princípios:

Princípio da Legalidade

De acordo com o Princípio da


Legalidade Penal, não há crime
sem lei anterior que o defina, não
há pena sem prévia cominação
legal. Tal princípio vem esculpido
no Artigo 5º, Inciso XXXIX, da
Constituição Federal de 1988, nos
Artigos 1º do Código Penal e do
Código Penal Militar.

O Princípio da Legalidade é um dos princípios mais celebrados do


Direito Moderno, e não é por coincidência que surge logo no primeiro
artigo do COM, sendo colocado no rol dos direitos e garantias
fundamentais na Constituição Federal. Este princípio delimita o poder
estatal, instituindo a chamada reserva legal, ou seja, o Estado somente

5
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 97.

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pode aplicar as penas de acordo com a tipificação penal já existente


anteriormente a prática do fato delituoso.

Princípio da Intervenção Mínima

Esse princípio coaduna que o


Direito Penal Militar deva se preocupar
com a proteção dos bens jurídicos mais
importantes. Como nos mostra Greco6,
“o legislador, por meio de um critério
político que varia de acordo com o
momento em que vive a sociedade,
sempre que entender que os outros ramos do direito se revelem
incapazes de proteger devidamente aqueles bens mais importantes
para a sociedade, seleciona, escolhe as condutas, positivas ou
negativas, que deverão merecer a atenção do Direito Penal”.
Princípio da Insignificância

6
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal/Rogério Greco -12 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Seguindo o ensinamento
de ClausRoxin7, este “princípio
chega-se à conclusão de que
nem toda conduta é dotada da
lesividade necessária para
merecer reprimenda penal.
Nullumcrimensineiniuria, ou
seja, não há crime sem que haja
o dano, digno de reprovação, ao bem jurídico”.
Em outras palavras, chamado de princípio da insignificância,
também conhecido como princípio da bagatela, sustenta que o Direito
de punir do Estado não deve ser clamado a interceder, quando a lesão
produzida ao bem jurídico for de pequeníssima monta.

Princípio da Culpabilidade

Este princípio encontra lastro na Constituição Federal de 1988.


Remonta do brocardo nullumcrimensine culpa, neste entendimento a
pena só pode ser imposta ao indivíduo com dolo ou culpa (imprudência,
imperícia ou negligência).

7
ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tradução para o espanhol e notas de Diego-Manuel Luzón
Pena, Miguel Díaz García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997, t. 1, p. 217.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

Exemplo:Após a Corporação adquirir um veículo zero


quilômetro, e é entregue a guarnição de RP do Batalhão X.
Após a manutenção de primeiro escalão os dois policiais
saem para o serviço. O policial condutor acessa uma rodovia
mantendo-se dentro da velocidade regulamentar, minutos
depois ouve um forte barulho oriundo em uma das peças do
mecanismo de direção do veículo. Uma das peças se soltou,
a viatura se desgorvenou vindo a atingir um muro e ferindo
o policial que encontrava-se no banco do carona.

Vimos que no caso em tela, o


policial que estava conduzindo a viatura
não foi negligente, imprudente ou
imperito, nem poderia prever o
desastroso resultado.

Princípio da Humanidade

Um dos fundamentos do Estado


Democrático de Direito é a dignidade da
pessoa humana, presente no Inciso III, do
Artigo 1º, da Constituição de 1988. O Artigo
5º, Inciso XLVII, da Constituição de 1988,
não tolera a pena de morte (exceto em caso de guerra declarada), de
caráter perpétuo, trabalhos forçados, banimentos e cruéis, sendo que
nenhuma pena pode ser ofensiva à dignidade da pessoa humana.
Nesse sentido, não se pode pensar que o Direito Penal Militar deve se
adequar os preceitos constitucionais. Essa hegemonia dos princípios
carreia ao entendimento de que estes devem ser reverenciados a todo
momento, pelo fato de corporificar a matriz do Direito.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR

Lei Penal Militar no tempo

Em seu primeiro título, o Código Penal Militar conclama à


“aplicação da lei penal militar”. Logo em seu Art. 1º, o Código Penal
Militar também expressa como será aplicada a lei penal no tempo,
quando diz que “não há crime sem lei anterior que o defina, não há
pena sem prévia cominação legal”. Nesse sentido, para que uma
conduta possa ser considerada crime, necessariamente tem que haver
a tipificação penal anterior à ação do agente.

Assim se um militar pratica uma conduta e posteriormente


o legislador cria uma nova tipificação penal, definindo essa
conduta como crime, o militar não será alcançado por aquele.
Neste caso sua conduta foi atípica.

Neste mesmo entendimento, se o militar


pratica uma conduta que é considerada crime e
tempos depois esta conduta passar a não ser mais
considerada crime, irá cessar todos os efeitos
penais, mesmo que seja considerada crime. Isso é
o previsto no art. 2º do CPM:

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

 Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria
vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos
de natureza civil.
 O Art. 5º acolheu a chamada teoria da atividade para
definir o tempo do crime:

Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou


omissão, ainda que outro seja o do resultado.

Desse jeito, para que uma conduta possa ser considerada crime,
é preciso avaliar se, no momento da ação ou omissão, ela era tipificada
como crime, pouco importando o instante que ocorreu o resultado.

Exemplo: Mévio, com a idade 17 anos, 11 meses e 25 dias,


desfere golpes de faca em Tício, que após 10 dias veio a óbito.
Mévio não pratica crime por ser inimputável à época da conduta.

Lugar do Crime

Conforme previsto
no art. 6º do CPM,
considera-se praticado o
fato no lugar em que se
desenvolveu a atividade
criminosa, no todo ou em
parte, e ainda que sob forma de participação, bem como onde se
produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o
fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação
omitida.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Diante da previsão legal retro citada, houve a adoção


da chamada teoria da ubiquidade, a qual considera tanto
o local no qual se deu a ação ou omissão como o local que
o resultado ocorreu.

O Direito Penal Militar também adotou o


Princípio da Territorialidade/ Extraterritorialidade,
conforme art. 7º, do CPM:

 Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de


convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora
dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado
ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira.

Essa irrestrita extraterritorialidade,


aduz Romeiro, aproveitando o magistério
de Silvio Martins Teixeira, “justifica-se
com o fato de os crimes militares, que se
destinam à defesa do País (CF, Artigo
142), e poderem ser, por inteiro,
cometidos em outros países e até,
mesmo em benefício destes, que não
teriam, assim, qualquer interesse na punição de seus autores. Daí não
ser entregue à justiça estrangeira o processo e o julgamento dos
crimes militares”.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

Nesse sentido, do ponto do


magistério de Silvio Martins
Teixeira8, essa ampla
extraterritorialidade “justifica-se
com o fato de os crimes militares,
que se destinam à defesa do País
(CF, Artigo 142), e poderem ser, por inteiro, cometidos em outros
países e até, mesmo em benefício destes, que não teriam, assim,
qualquer interesse na punição de seus autores. Daí não ser entregue à
justiça estrangeira o processo e o julgamento dos crimes militares”.

CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ

Diferente do que ocorre com o Código Penal,


no Código Penal Militar os crimes são considerados
de tipicidade indireta. O que significa isso? É
“necessário à tipicidade que se complete o tipo
penal com outras normas, contidas na parte
geral”9. Ou seja, é necessário combinar a

8
TEIXEIRA, Sílvio Martins. Código Penal Militar Explicado. 1996 –Pág 52

9
JulioFabbrine Mirabete. Manuela de Direito Penal – Pg 113.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

tipificação (descrição do crime), dos crimes em


tempo de paz (Art. 136 a 354 do CPM), com as
hipóteses elencadas nos Art. 9º do CPM, para que
de fato possa se caracterizado como da
competência da Justiça Militar.

Art. 9º do CPM

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - Os crimes de que trata este Código, quando definidos de


modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos,
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

Este inciso cuida de crimes que apresentam duas formas:

 Estão previstos exclusivamente no CPM.


 Os crimes que previstos no CPM e em outra Legislação
Penal Comum, no entanto com tipos penais diversos. A expressão
“qualquer que seja o agente” não se aplica à civil, quando este pratica
crime contra as intuições militares estaduais, por falta de previsão
constitucional, para julgamento de civis pela Justiça Estadual, em caso
de crimes militares.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os


princípios estabelecidos nesta Constituição.

§ 4º Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar os


militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e
as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

 Previsão também sumulada pelo Superior Tribunal de


Justiça (STJ):

Súmula 53 do STJ
Compete à justiça comum estadual
processar e julgar civil acusado de pratica de
crime contra instituições militares estaduais.

 O Inciso II do CPM traz a seguinte redação:

II - Os crimes previstos neste Código, embora também o sejam


com igual definição na lei penal comum, quando praticados:

O inciso II fala de crimes militares que tenham sua previsão no


CPM e possuam igual definição na legislação penal comum. Tal fato
ocorre como, por exemplo, no crime de homicídio:

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Código Penal Militar


Art. 205 Matar alguém:
Pena: reclusão, de 6 a 20
anos.
Código Penal
Art. 121 Matar Alguem
Pena: reclusão de 6 a 20
anos.

Vencida esta análise, passaremos para as hipóteses elencadas em suas


alíneas:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado,


contra militar na mesma situação ou assemelhado;

Essa alínea fala do militar em “situação de atividade”. No caso


concreto, basta o policial encontrar-se na ativa, não precisando
necessariamente encontra-se escalado de serviço.
O “assemelhado”, conforme art. 21, do COM, era “o servidor,
efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar, em virtude de


lei ou regulamento”.

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado,


em lugar sujeito à administração militar, contra militar da
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

Nesse caso, o sujeito ativo continua sendo militar do serviço


ativo. Contudo, a prática do crime ocorre em local sujeito a
administração militar (Batalhão, DPO, PPC e etc.). O sujeito (para
quem recaí a atividade criminosa), passa a ser militar da reserva ou
reformado e civil.
É bom salientar que o art. 13, do COM, diz que “o militar da
reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e prerrogativas
do posto ou graduação, para o efeito da aplicação da lei penal militar,
quando pratica ou contra ele é praticado crime militar”. Neste sentido,
ele pode ser sujeito ativo ou passivo de crimes militares.

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função,


em comissão de natureza militar, ou em formatura,
ainda que fora do lugar sujeito à administração militar
contra militar da reserva, ou reformado, ou
civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996).

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Vemos, na hipótese da alínea “c”, o crime praticado por militar


da ativa em serviço ou atuando em razão da função. Veja que não é
necessária que a conduta criminosa ocorra dentro de lugar sujeito à
administração militar. Os sujeitos passivos da ação são os militares da
reserva, reformados ou civis.

d) por militar durante o período de manobras ou


exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil;

Na alínea “d”, a conduta é praticada por militares durante


manobras ou exercício, tendo também como vítima da ação delituosa
o militar da reserva, reformado ou civil.

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado,


contra o patrimônio sob a administração militar, ou a
ordem administrativa militar;

Nesta alínea, verificamos que o sujeito ativo do crime é o militar


da ativa, e objeto o qual recai a ação delituosa é o patrimônio sob a

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

administração militar, inclusive os bens que, mesmo não pertencentes


aos patrimônios, são por elas administrados.
Vimos também que o sujeito passivo deste crime pode ser a
“ordem administrativa militar”, o que nos dizeres de Reinaldo Zychan
de Moares10 “ ocorre em todos os crimes impropriamente militares,
previstos nos artigos 298 a 354, do Código de Processo Penal Militar,
os quais estão agrupados nos Títulos VII e VIII, do Livro I, da Parte
Especial (Dos Crimes Contra a Administração Militar e Dos Crimes
Contra a Administração da Justiça Militar), respectivamente. Assim, por
exemplo, o crime de peculato, praticado por um militar da ativa, terá
sua conduta prevista em tal alínea e nos artigo 303, do CPM”.

Agora, estudaremos o inciso III, do art. 9º,


do CPM, e veremos os crimes praticados por
civis e por militares inativos
(pertencentes a reserva remunerada ou
reformados):
III - os crimes praticados por militar da
reserva, ou reformado, ou por civil, contra
as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no
inciso I, como os do inciso II, nos seguintes
casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a
ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em
situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de

10
Moraes, Reynaldo Zychan de – Os crimes militares e o inquérito policial militar: uma visão
prática/Reynaldo Zycham de Moares – São Paulo: Livraria Científica Ernesto Reichmann, 2003.- Pag. 49.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Ministério Militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente


ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de
prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício,
acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra
militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço
de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa
ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em
obediência a determinação legal superior.

Podemos verificar que o inciso III, do art. 9º,


do CPM, possui uma redação muito parecida com o
inciso anterior, mudando, como já dito, o sujeito
ativo que comete o delito, agora, os crimes são
praticados por civis e militares inativos.

Contudo cabe novamente destacar que o civil não


responde perante a Justiça Militar Estadual aos crimes
praticados contra as intuições militares estaduais,
devendo responder apenas pelo crime equivalente na
justiça comum.

Por derradeiro, veremos o parágrafo único, do Art. 9º, que diz:


Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos
contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça
comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada
na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 -
Código Brasileiro de Aeronáutica.(Redação dada pela Lei nº 12.432, de
2011).

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

Os crimes dolosos contra a vida, cuja autoria


seja atribuída a militar contra vítima civil, serão
julgados pela justiça comum, sendo que a
competência para decisão do tribunal do Júri, conforme
o Artigo 5º, Alínea “d”, do Inciso XXXVIII, da
Constituição Federal.

INFRAÇÕES DISCIPLINARES

As infrações disciplinares são previstas nos


mais diversos regulamentos disciplinares das
Forças Armadas e Auxiliares. O Regulamento
Disciplinar da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro (RDPMERJ / R-9), Decreto nº. 6.579, de
05 de março de 1983, define que:

29
DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Art. 13 - Transgressão disciplinar é qualquer violação


dos princípios da ética, dos deveres e das obrigações Policiais
Militares, na sua manifestação elementar e simples, e
qualquer ação ou omissão contrárias aos preceitos estatuídos
em leis, regulamentos, normas ou disposições, desde que não
constituam crime.

Art. 14 – São transgressões disciplinares:

I - Todas as ações ou omissões contrárias à Disciplina


Policial Militar especificadas no Anexo I do presente
Regulamento;

II - Todas as ações, omissões ou atos, não especificados


na relação de transgressões do Anexo citado, que afetem a
honra pessoal, o Pundonor Policial Militar, o decoro da classe
ou o sentimento do dever e outras prescrições contidas no
Estatuto dos Policiais Militares, leis e regulamentos, bem como
os praticados contra as regras e ordens de serviço
estabelecidas por autoridades competentes.

Contudo, apesar de Transgressão da


Disciplina não constituir crime, conforme positiva
o próprio art. 13, do RDPMRJ, aduzem Cícero
Robson Coimbra Neves e Marcelo Streifinger11
que, associados, “o Direito Penal Militar e o
Direito Administrativo (Militar), se

11
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 54.

30
DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

relacionam de forma intensa justamente por ter a hierarquia e


a disciplina como base de toda a estrutura jurídica construída,
de sorte que se pode afirmar que nem todo ilícito disciplinar
configura delito, porém todo delito reclama, residualmente, a
existência de uma transgressão disciplinar.”

A própria Constituição Federal fixa um Direito Disciplinar Militar,


quando em seu Artigo 125, Parágrafo 4º, inclui nas competências da
Justiça Militar Estadual julgar os crimes militares e as ações judiciais
contra crimes disciplinares.

Podemos assim concluir que tanto o poder de


coação do Direito Penal Militar (com suas penas),
quanto o do Direito Administrativo Disciplinar
possuem como finalidade a proteção da
“hierarquia e disciplina”, fatores estes, como já
vimos, de extrema preponderância para a coesão e o
regular funcionamento das instituições militares.

PESSOA CONSIDERADA MILITAR

O Código Penal Militar, para


fins de aplicação do Direito Penal
Militar, define o conceito de Militar,
em seu art. 22:

Art. 22. É considerado militar, para efeito da aplicação


deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de
guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas servir
em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar.

31
DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

E os militares das Policias


Militares e Bombeiros
Militares Estaduais?

Segundo ensinamento de Cícero Robson Coimbra Neves e


Marcelo Streifinger12, no artigo acima, “a palavra “incorporada” dá o
mote interpretativo adequado, impondo que, sempre que houver
grafado o elemento típico “militar”, deve-se entender como pessoa
incorporada às Forças Armadas e, por extensão arrimada no art. 42,
da Constituição Federal, às Polícias Militares e aos Corpos de Bombeiros
Militares, ou seja, militares da ativa das Forças Militares Federais e
Estaduais”.
Vejamos então o Artigo 42, da CF/1988:

Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de


Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998).

12
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 153.

32
DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

Exemplos

Ainda alerta os autores que, realizando uma


“interpretação teleológica, com base exatamente no
art. 22, de modo que todos os tipos penais que
possuam a palavra “militar” abarquem apenas os
militares da ativa, já que essa, inequivocamente, foi a
intenção do legislador”.

Neste sentido, crimes que viriam expressamente a


palavra “militar” só poderiam ser cometidos por
militares da ativa (excluindo militares da reserva e
reformados).

Art. 137 - Provocar o militar,


diretamente, país estrangeiro a declarar
guerra ou mover hostilidade contra o Brasil
ou a intervir em questão que respeite à
soberania nacional.
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país
estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de guerra.
Art. 140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendimento com
país estrangeiro, para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra:

33
DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

Todavia existe uma exceção, podendo militares da


reserva figurar como sujeitos ativos de crimes que
possuam a palavra “militar” em seu tipo penal.

O art. 12, do CPM, equipara militar da reserva ou reformado que


se encontra empregado, em serviços na administração militar, a militar
da ativa, para fins de aplicação da lei penal militar. Vejamos então o
art. 12, do CPM:

Art. 12. O militar da reserva ou reformado, empregado


na administração militar, equipara-se ao militar em situação de
atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar.

CONCEITO DE SUPERIOR

O conceito de superior funcional vem elencado no art. 24, do


CPM:

Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce


autoridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera-
se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

O Código Penal Militar aplica dois


conceitos para superior que são: superior
funcional e superior hierárquico. A
definição de superior funcional, “em
virtude da função”, vem claramente
descrita no art. 24, do CPM. A definição de
superior hierárquico não se encontra no CPM, de modo que cada
instituição militar, em regulamentação própria, define a hierárquica,
através de postos (oficiais) e graduações (praças).

O art. 12, § 1°, do Estatuto dos


Policiais Militares do Estado do Rio de
Janeiro, define como se dará a ordenação
hierárquica na PMERJ:

“A hierarquia policial-militar é a ordenação da


autoridade em níveis diferentes, dentro da estrutura da Polícia
Militar. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro
de um mesmo posto ou de uma mesma graduação se faz pela
antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia
é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de
autoridade. ”

Segundo Cícero Robson Coimbra Neves e Marcelo Streifinger13,


o conceito de superior funcional “somente entrará em voga, primeiro
havendo igualdade hierárquica e, segundo, quando um par exercer, em
razão da função, autoridade sobre outro. ”

13
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 161

35
DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

E completa o Ensinamento14:

“Para sedimentar nossa explanação, tomemos os seguintes


exemplos: se um soldado agride um primeiro-tenente, teremos a
possibilidade do crime capitulado no art. 157, do CPM (violência contra
superior), em função da
superioridade hierárquica do ofendido, em relação ao sujeito ativo;
contudo, também haverá o mesmo delito se um primeiro-tenente
agredir outro militar do mesmo posto, estando este na função de
Comandante de Companhia daquele, estabelecendo-se a superioridade
funcional. Por vezes, é bom esclarecer, a superioridade funcional
sobrepõe-se à antiguidade. Imaginemos, por exemplo, que um coronel
da Polícia Militar, promovido a esse posto no ano de 2005, agrida outro
coronel, promovido em 2006. Apesar de o primeiro ser mais antigo
do que o segundo, em razão do maior tempo no posto, se o
Coronel mais moderno for o Comandante Geral, haverá
violência contra superior (art. 157 do CPM).

PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS

O Código Penal Militar em seu Título DAS PENAS, classifica as


sanções aplicadas, em penas principais e acessórias. Neste tópico,
veremos cada uma delas.

14
Idem, ibidem, Pág. 161 e .162.

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O art. 55, do Código Penal Militar, faz previsão das seguintes


penas principais: morte, reclusão, detenção, prisão, impedimento,
suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função e
reforma.

Penas principais

Art. 55. As penas principais são:

a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
função;
g) reforma.

 PENA DE MORTE – A pena capital de morte, prevista através de


fuzilamento (Art. 56 do CPM), não entra em conflito com a Constituição
Federal, uma vez que, em seu Art. 5º, Inciso XLVII, prevê tal pena em
casos de guerra. São exemplos de crime punidos com pena de morte
os crimes de traição (art. 355), de favor ao inimigo (art. 356), entre
outros.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

 RECLUSÃO E DETENÇÃO – São penas privativas de liberdade


que para o CPM não guarda muita distinção uma da outra, sendo a
principal diferença, conforme o Art. 58, que “o mínimo da pena de
reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena
de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos. ”

 PRISÃO – Diferencia-se da reclusão e detenção com relação ao


cumprimento, conforme art. 58, do CPM.
 IMPEDIMENTO – A pena de Impedimento, conforme art. 63, do
COM, “sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem
prejuízo da instrução militar”. Esta pena restritiva de liberdade
somente é aplicada ao crime de insubmissão, previsto no art. 183, do
CPM.
 SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO POSTO, GRADUAÇÃO,
CARGO OU FUNÇÃO – Esta pena está prevista no art 64, que diz: “A
pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função
consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na
disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem
prejuízo do seu comparecimento regular à sede do serviço. Não será

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS 2021

contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o do


cumprimento da pena”.
 REFORMA – Sujeita o militar à situação de inatividade. E esta
prevista no Art. 65 do CPM. Dessa forma o militar condenado a esta
pena deverá receber vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.

Penas Acessórias

Art. 98. As penas acessórias são:

I - A perda de posto e patente;


II - A indignidade para o oficialato;
III - A incompatibilidade com o oficialato;
IV - A exclusão das forças armadas;
V - A perda da função pública, ainda que eletiva;

Como o nome sugere, as


penas acessórias dependem
da aplicação de uma pena
principal.

39
DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

 PERDA DO POSTO E DA PATENTE (art. 99, do CPM),


INDIGNIDADE PARA O OFICIALATO E INCOMPATIBILIDADE
COM O OFICIALATO(Art. 100, do CPM) –Estas três penas acessórias
foram consideradas inconstitucionais, uma vez que, conforme a
Constituição Federal trata do assunto, em seu Artigo 142, Incisos VI e
VII:
Art. 142, VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for
julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de
tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de
tribunal especial, em tempo de guerra; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998).
Art. 142, VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar à
pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença
transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no
inciso anterior.
Art. 125, § 4º Compete à Justiça Militar Estadual processar e
julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e
as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e
da graduação das praças.

 EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS - Prevista no art.


102 do CPM. Esta pena acessória deve constar expressamente da
sentença que condena a praça à pena privativa de liberdade superior
a dois anos.

Por força também do Parágrafo


4º, do Artigo 125, da Constituição
Federal, na Justiça Militar Estadual, a
exclusão da praça das Forças

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Armadas ou Auxiliares dependerão de decisão do Tribunal, não


funcionando como pena acessória.

 PERDA DE FUNÇÃO PÚBLICA – Incorre na perda de


função pública o civil, o militar da reserva ou reformado nos casos de
condenação por crime militar, a qual se manifeste por aplicação desta
pena acessória, conforme Art. 103 do CPM.

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DIREITO PENAL MILITAR– CEFS

CONCLUSÃO

Você policial militar é o primeiro defensor dos direitos humanos,


um promotor da igualdade entre as pessoas, seja patrulhando,
prevenindo a práticas delituosas, seja preservando uma pessoa
solitária, ferida ou doente nos logradouros.
Você sargento precisa ter um conhecimento a respeito da
legislação penal militar, pois estes serão de grande valia na sua
graduação.
Você tem uma profissão de destaque, que realiza tarefas
importantes para a sociedade, sua comunidade, seus amigos e sua
família. Tenha orgulho de ser policial militar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar,


comentários, doutrina, jurisprudência dos tribunais militares e
tribunais superiores. 7ª edição. Curitiba: Juruá, 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de


outubro de 1988. VadeMecum Acadêmico de Direito Rideel / Anne
Joyce Angher, organização. 20ª edição. São Paulo: Rideel, 2015.

NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Processual


Penal Militar. São Paulo: Editora Saraiva, 2014.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Militar


Comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
Código Penal Militar Comentado. 2ª edição revista, atualizada e
ampliada. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

RAMOS, DircêoTorrecillas et ali. Direito Militar: Doutrina e


Aplicações. 1ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

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