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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

ELMANO de FREITAS da Costa


GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS

SAMUEL ELÂNIO de Oliveira Júnior - DPF


SECRETÁRIO DA SSPDS

ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE

Clauber Wagner Vieira DE PAULA – CEL PM


DIRETOR-GERAL DA AESP|CE

KAMILLY Távora CAMPOS Petrola - DPC


DIRETORA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE

Francisco EDINALDO do Vale Cavalcante – DPC


COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE

José ROBERTO de Moura Correia – TC PM


COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE

Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – MAJ PM


SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE

CURSO DE HABILITAÇÃO A SARGENTO POLICIAL MILITAR - CHS PM/2023

DISCIPLINA
FUNDAMENTOS DO DIREITO PENAL MILITAR

CONTEUDISTA
Arlindo da Cunha Medina Neto

FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva – 1º SGT PM

• 2023 •
SUMÁRIO

FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL MILITAR ...................................................................... 1


APRESENTAÇÃO.................................................................................................................. 1
UNIDADE 1 - CRIME MILITAR .............................................................................................. 2
Aula 1 - Definição do Crime Militar .................................................................................... 2
Aula 2 - Aplicação da Lei Penal Militar ................................................................................ 6
2.1 Aplicação da Lei Penal Militar no TEMPO ................................................................... 6
2.2 Eficácia da Lei Penal Militar no Tempo ....................................................................... 6
2.3 Lugar do Crime Militar ............................................................................................... 8
Aula 3 - Principais Crimes Militares em tempo de paz. ....................................................... 9
3.1 Contra a Autoridade ou a Disciplina ........................................................................... 9
3.2 Contra o Serviço e o Dever Militar ........................................................................... 13
3.3 Contra a Pessoa........................................................................................................ 15
3.4 Contra o Patrimônio ................................................................................................. 17
3.5 Contra a Saúde ......................................................................................................... 19
3.6 Contra a Administração Militar ................................................................................ 20
3.7 CONTRA O DEVER FUNCIONAL................................................................................. 22
3.8 Contra a Administração da Justiça Militar ................................................................ 23
Aula 4 - Resumo. .............................................................................................................. 24
Aula 5 - Material Complementar. ..................................................................................... 24
Aula 6 - Exercícios de Fixação. .......................................................................................... 26
UNIDADE 2 - CULPABILIDADE ........................................................................................... 28
Aula 1 - Dos Erros ............................................................................................................. 29
Aula 2 - Imputabilidade Penal .......................................................................................... 31
Aula 3 - Excludentes da Ilicitude ....................................................................................... 36
Aula 4 - Resumo ............................................................................................................... 38
Aula 5 - Material Complementar ...................................................................................... 39
Aula 6 - Exercícios de Fixação ........................................................................................... 41
UNIDADE 3 - PENAS NO CPM ........................................................................................... 43
Aula 1 - Penas do CPM ..................................................................................................... 43
Aula 2 - Elementos Acidentais do Crime Militar ............................................................... 47
Aula 3 - Extinção da Punibilidade. .................................................................................... 50
Aula 4 - Resumo ............................................................................................................... 54
Aula 5 - Material Complementar ...................................................................................... 54
Aula 6 - Exercícios de Fixação ........................................................................................... 56
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 58
FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL MILITAR

APRESENTAÇÃO

Em cursos anteriores você já teve a oportunidade de conhecer e apropriar-se de


alguns institutos que trataram da disciplina e hierarquia da Corporação Militar Estadual e
do Direito Penal Militar.
No presente curso você vai sedimentar conhecimentos aprendidos e avançar nesse
conhecimento, através de uma forma simples e direta da linguagem utilizada, para
proporcionar condições de auxiliar a feitura dos Procedimentos Criminais Militares.
O estudo do conteúdo didático permitirá ao militar estadual da graduação de
Subtenente PM/BM o bom exercício nas atividades processuais penais militares,
possibilitando a melhor efetivação da Justiça Militar em cada Corporação Militar do nosso
Estado.

Ao final do curso você será capaz de:


- Definir os delitos militares;
- Identificar as situações de aplicação da Lei Penal Militar.
- Conhecer os Principais Crimes Militares em tempo de paz.
- Conhecer os erros na execução dos delitos militares;
- Identificar as situações de imputabilidade penal.
- Identificar as excludentes de ilicitude no DPM.
- Reconhecer a penas principais e acessórias do DPM;
- Contextualizados os elementos acidentais do crime militar;
- Identificar as causas de extinção da Criminalidade.

Para atingir os objetivos propostos o curso está dividido em 3 (três) Unidades


Didáticas:

UNIDADE 1 - Crime Militar.


UNIDADE 2 - Culpabilidade.
UNIDADE 3 - Penas do CPM.

1
UNIDADE 1 - CRIME MILITAR

Definir o crime militar não é tarefa fácil, pois nem mesmo a CF/1988 (art. 5º, LXI1, e
arts. 1242 e 125, § 4º3), e a legislação específica do DPM, definem propriamente o crime
militar e não há entendimento pacífico na doutrina e na jurisprudência quanto aos
critérios para sua adequação.
Na presente Unidade você vai conhecer as circunstâncias para se definir o crime
militar, identificar as situações de aplicação da lei penal Militar e conhecer os Principais
Crimes Militares em tempo de paz.

Ao final desta Unidade você será capaz de:


- Definir os delitos militares;
- Identificar as situações de aplicação da Lei Penal Militar.
- Conhecer os Principais Crimes Militares em tempo de paz.

Esta unidade está dividida em 3 (três) aulas de conteúdo:


Aula 1 - Definição do Crime Militar;
Aula 2 - Aplicação da Lei Penal Militar;
Aula 3 - Principais Crimes Militares em tempo de paz.

Após as aulas de conteúdo são apresentados um resumo da Unidade, material


complementar e alguns exercícios de fixação.

Aula 1 - Definição do Crime Militar

O critério geral estabelecido no DPM para a definição do crime militar é em razão da


lei (“ratione legis”), ou seja, a conduta estabelecida no Código Penal Militar. O critério em
razão da pessoa (“ratione persone”) se dá quando exige que o sujeito ativo ou passivo

1
Art. 5 (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
2
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
3
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) § 4º Compete à Justiça Militar estadual
processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

2
esteja na condição especial de militar (Por exemplo: No inciso II, alíneas ‘a”, “b”, “c”, “d” e
inciso III, alíneas “b” e “c”).
O critério do local (“ratione loci”) leva em consideração o local onde a conduta
criminosa foi praticada, qual seja “sob administração militar”, conforme inciso II, alíneas
“b”, “c”, “d” e inciso III, alíneas “b” e “c”.
Há, também, o critério de tempo (“ratione temporis”), pois o CPM prevê duas
modalidades de crimes militares, descrevendo condutas e culminando penas para os
crimes militares praticados em tempo paz e em tempo de guerra. Assim, para
considerarmos como crime militar, além de a conduta ter que estar tipificada no CPM
obedecendo às normas do art. 9º, deve-se considerar se o país está ou não em estado de
guerra.
Vários doutrinadores se manifestaram a respeito do tema, dando a sua contribuição,
dentre eles o saudoso professor Mirabete que afirmava: “árdua por vezes é a tarefa de
distinguir se o fato é crime comum ou militar, principalmente nos casos de ilícitos
praticados por policiais militares”.
Para NEVES e STREIFINGER, a definição do crime militar só é possível após se
percorrer três etapas, que para tanto devem resultar positivas. Em primeiro lugar, a
conduta delitiva deve estar tipificada na Parte Especial do CPM como crime militar. Em
seguida, num segundo momento, recorrer-se-á a Parte Geral, analisando o art. 9º do
CPM, e seus incisos, verificando se o fato se enquadra em uma das circunstâncias ali
descritas. Por último, se deve perguntar se o sujeito ativo pode cometer o delito militar
na esfera em que se está aplicando o CPM. Sendo que em nível Federal, pode responder o
militar federal e o civil, e em nível Estadual, apenas o militar estadual.
Assim, segundo os referidos mestres, para a definição do crime militar basta seguir a
proposta de assertivas abaixo:

 1º O FATO ESTÁ PREVISTO NA PARTE ESPECIAL DO CPM?


 2º A CONDUTA SE AMOLDA ÀS CIRCUNSTÂNCIAS PREVISTAS EM ALGUM DOS
INCISOS DO ARTIGO 9º DO CPM (EM TEMPO DE PAZ)?
 3º A JUSTIÇA MILITAR É COMPETENTE PARA JULGAR O SUJEITO ATIVO DO
CRIME?

3
Como se sabe é na Parte Especial do CPM que estão descritos os tipos penais
militares, sendo que na terceira aula desta Unidade veremos os Principais Crimes
Militares em tempo de paz.
Quanto ao amoldamento ao art. 9º do CPM, tal artigo considera os crimes militares,
em tempo de paz, na forma que indica, estando abaixo uma reprodução sucinta do
mesmo:

I - Os crimes previstos no CPM, quando definidos de modo diverso na lei penal


comum, ou nela não previstos;

II - Os crimes previstos no CPM, embora também o sejam com igual definição na lei
penal comum, quando praticados:

a) Por militar em situação de atividade contra militar na mesma situação;


b) Por militar em situação de atividade, em lugar sujeito à administração militar,
contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
c) Por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra
militar da reserva, ou reformado, ou civil;
d) Por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva,
ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) Por militar em situação de atividade, contra o patrimônio sob a administração
militar, ou a ordem administrativa militar;

III - Os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:

a) Contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa


militar;
b) Em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou
assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no
exercício de função inerente ao seu cargo;

4
c) Contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) Ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da
ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele
fim, ou em obediência a determinação legal superior.

O parágrafo único do art. 9º passou para a competência da justiça comum os crimes


militares quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, excetuando aqueles
praticados no contexto de ação militar realizada na forma prevista no art. 303 do Código
Brasileiro de Aeronáutica.
Quanto ao questionamento da esfera de aplicação da do CPM, isso se deve porque a
CF/1988, em seu art. 125, § 4º4, restringiu a competência da Justiça Militar Estadual a
somente processar e julgar os militares dos Estados deixando o civil de fora, enquanto
que com relação ao Justiça Militar Federal apenas estabeleceu sua competência para
processar e julgar os crimes militares definidos em lei (Art. 1245) sem restringir o sujeito
ativo de tal crime. Assim, é por isso que o âmbito de incidência da JMF, por expressa
previsão constitucional, abrange os civis, além dos militares federais (integrantes das
FFAA), e a JME incide somente aos militares estaduais (policial militar e bombeiro militar).

O que é o “assemelhado” que algumas vezes é citado no CPM?

Em alguns dispositivos, o CPM utiliza a palavra “assemelhado” para grafar


proposições, não só na Parte Geral, a exemplo da alínea a do inciso II do art. 9º, como
também na Parte Especial, em alguns delitos, a exemplo do art. 149 do CPM (Crime de
Motim).

4
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) § 4º Compete à Justiça Militar estadual
processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
5
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.

5
Pode-se dizer que o assemelhado seria o servidor público que trabalha nas FFAA e
era submetido ao preceito da disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento (Art. 216
do CPM.
Entretanto, essa figura não mais existe no universo jurídico desde a edição do
Decreto nº 23.203, de 18 de junho de 1947, conforme lição de LOBÃO.
No Estado de São Paulo decisões judiciais recentes consideraram o Soldado
Temporário PM (Sd Temp PM) como assemelhado. Essa visão, no entanto, não tem
encontrado eco no Tribunal de Justiça Militar respectivo.

Aula 2 - Aplicação da Lei Penal Militar

2.1 Aplicação da Lei Penal Militar no TEMPO

Tempo do Crime:

O tempo do crime no Direito Penal Militar segue a Teoria da Atividade (Art. 5°7 do
CPM), igualmente adotada no Direito Penal Comum, que diz que o crime ocorreu no
exato momento em que foi praticado.
Essa estipulação do tempo do crime é importante, para se evitar que um fato seja
considerado crime em decorrência de lei vigente na época do resultado e não no
momento da conduta delitiva (comissiva ou omissiva).

2.2 Eficácia da Lei Penal Militar no Tempo

a) Descriminalização de Condutas

Ocorre a Descriminalização de Condutas (“Abolitio criminis”) quando nova lei


descriminaliza conduta anteriormente incriminada (Artigo 2º8 do CPM). Atento às

6
Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de
disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento.
7
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado.
8
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença
condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil.

6
mudanças da sociedade, o legislador deixa de considerar criminosas determinadas
condutas, retirando do ordenamento jurídico os seus tipos penais.
Ao dispor sobre a lei supressiva de incriminação, o CPM afirma que fato que já não é
mais considerado crime por uma lei mais atual e, assim, o agente ativo não pode mais ser
punido.

b) Retroatividade de lei mais benigna

Na retroatividade de lei mais benigna (“Lex mitior ou Novatio legis in mellius”) a lei
penal nova só alcança o fato ocorrido antes da sua vigência se for uma lei melhor, mais
benéfica (Art. 2º, CPM, e Art. 5º, XL9, da CF/1988).
É considerada benéfica, por exemplo, a lei que reduz a pena, permite a substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direito, facilita a progressão de regime
etc.

c) Irretroatividade da lei penal

A lei nova que torna típica conduta que antes era permitida (“Novatio Legis
incriminadora”) e a nova lei que é mais severa que a anterior (“Lex gravior ou novatio
legis in pejus”) nunca retroagirão, não se aplicando aos crimes ocorridos na vigência da lei
anterior. Assim, o juiz é obrigado a aplicar a lei anterior, vigente ao tempo do crime,
mesmo depois de revogada. Trata-se da eficácia ultra-ativa da norma penal mais benéfica,
que deve prevalecer por força do que prescreve o art. 5º, XL, da CF/1988.

d) A vacância da lei

A vacância da lei (“vacatio legis”) é uma expressão latina que significa o período
compreendido entre a data em que a lei passa a existir (dia da publicação) e a data em
que ela passa efetivamente a vigorar (dia em que tem o cumprimento obrigatório).
A doutrina entende que a lei penal mais benéfica pode ser aplicada imediatamente,
mesmo no período de “vacatio legis”, porque este instituto é protetivo e visa dar à
sociedade um tempo de adaptação à nova ordem legal, não podendo limitar a garantia da
9
Art. 5º (...). XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

7
retroatividade prevista no art. 5º, inciso XL10, da CF/1988.

e) Apuração da maior benignidade

A lei melhor é aquela que atenua a resposta penal, reduzindo o tempo de


encarceramento ou a quantidade de pena, por exemplo. É possível que uma nova lei
pareça mais gravosa em abstrato, mas, no caso concreto, efetivamente seja mais
benéfica, devendo retroagir. Portanto, a benignidade da lei nova deve sempre ser aferida
no caso concreto, cabendo exclusivamente ao juiz comparar as leis em confronto de per si
e decidir qual é a mais benéfica.
Nessa linha, o art. 2º, § 2°11, do CPM orienta que, para se reconhecer qual a lei mais
favorável, a lei posterior e anterior devem ser consideradas separadamente.

2.3 Lugar do Crime Militar

Para definir o lugar do crime, diferentemente do CPB, o DPM (Art. 6º12 do CPM)
adota um sistema misto que concilia duas teorias conforme a ação praticada ou omitida:

1ª TEORIA DA UBIQUIDADE (ou mista ou unitária): Adota-se a, pois se considera


praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em
parte, e ainda que sob forma de participação, bem como aquele onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado =► Quando a conduta for um CRIME COMISSIVO (ação
positiva).

2ª TEORIA DA ATIVIDADE: Diz que o lugar do crime é aquele em que se iniciou a


execução da conduta típica, que é a posição do CPM, em relação aos crimes omissivos, já
que “pois "considera-se o lugar do crime aquele em que em que deveria realizar-se a ação
omissiva" =► Quando o a conduta for um CRIME OMISSIVO (ação negativa - omissão).

10
Art. 5º (...). XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
11
Art. 2º (...). § 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de
suas normas aplicáveis ao fato.
12
Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a
ação omitida.

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A Teoria do Resultado, que é a que diz ser o lugar do crime aquele em que se
produziu o evento, não se verifica sozinha no DPM.
Como os militares estaduais atuam nos limites de suas Unidades da federação,
portanto, somente no limite territorial do país, não trataremos neste curso da questão da
territorialidade e extraterritorialidade, pois são casos de crimes a distância que envolvem
países diferentes e pode resultar em conflito de jurisdição, de caráter internacional.

Aula 3 - Principais Crimes Militares em tempo de paz.

Apesar de você já conhecer pelo menos alguns dos crimes militares, nesta unidade
vamos nos recordar dos principais crimes militares que ocorrem em tempo de paz.
Os crimes militares em razão do tempo (“ratione temporis”) dividem-se em crimes
militares em tempo de paz e crimes militares em tempo de Guerra. Por questões óbvias,
neste curso só estudaremos os crimes militares em tempo de paz de maior relevância
para a atividade constitucional das Forças Militares Estaduais.

3.1 Contra a Autoridade ou a Disciplina

a) Motim (Art. 149 do CPM13): O motim é um crime militar próprio que se traduz em
uma manifestação da insurreição de militares reunidos contra autoridade
hierarquicamente superior, caracterizando-se por demonstrações inequívocas de
desobediência ou ocupação indevida de instalações e equipamentos militares.

b) Revolta (Art. 149, parágrafo único14): A revolta nada mais é do que uma forma
qualificada de motim. Distingue-se do crime de motim unicamente pelo fato dos militares
amotinados utilizarem armamento. Aliás, não é preciso sequer a efetiva utilização das
armas, basta que as tenham ao seu dispor.

13
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados: I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la; II - recusando obediência a
superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência; III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência, em
comum, contra superior; IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de qualquer dêles, hangar,
aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar, ou prática de
violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento da ordem ou da disciplina militar: Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de
um têrço para os cabeças.
14
Art. 149. (...). Parágrafo único. Se os agentes estavam armados: Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um têrço para os cabeças.

9
c) Incitamento (Art. 15515 do CPM): O Incitamento é crime impropriamente militar,
pois também está previsto de modo semelhante no art. 28616 do CPB. Por este tipo penal
militar é crime incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de crime militar,
sujeitando o autor do delito à pena de reclusão, de dois a quatro anos.

d) Apologia de fato criminoso ou de seu autor (Art. 15617 do CPM): Fazer apologia
significa elogiar, louvar defender. Para que se consume tal crime esta apologia tem que
ocorrer em local sujeito a administração militar (Na esfera estadual, a OPM ou OBM).

e) Violência contra Superior (Art. 15718 do CPM): Crime militar próprio que consiste
em uma agressão física contra superior hierárquico, podendo haver empurrões, tapas,
puxões de orelha, pontapés, etc. A violência pode resultar também do arremesso de um
objeto, de ordem para um animal atacar ou investidas similares, em que o autor apesar
de não atingir o ofendido diretamente, mas foi o responsável pela conduta e pelo
resultado.

f) Violência contra Militar de Serviço (Art. 15819 do CPM): Neste tipo penal militar a
conduta violenta é direcionada contra o militar de serviço, nas funções grafadas no tipo
penal, ou seja, contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou
plantão.

g) Desrespeito a Superior (Art. 16020 do CPM): Desrespeito a superior é a falta de


consideração e educação para com o superior hierárquico. Para sua configuração é
necessário que os sujeitos, passivo e ativo, sejam militares, sendo indispensável que o
ofensor saiba da condição hierárquica do ofendido. Se o autor desconhece a condição de
superior do ofendido, sua conduta não pode ser considerada crime militar.
15
Art. 155. Incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de crime militar: Pena - reclusão, de dois a quatro anos.
16
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
17
Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera crime, ou do autor do mesmo, em lugar sujeito à administração militar: Pena - detenção, de seis
meses a um ano.
18
Art. 157. Praticar violência contra superior: Pena - detenção, de três meses a dois anos. § 1º Se o superior é comandante da unidade a que pertence o
agente, ou oficial general: Pena - reclusão, de três a nove anos. § 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um têrço. § 3º Se da
violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do crime contra a pessoa. § 4º Se da violência resulta morte: Pena - reclusão, de doze
a trinta anos. § 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em serviço.
19
Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão: Pena - reclusão, de três a oito anos. § 1º Se
a violência é praticada com arma, a pena é aumentada de um têrço. § 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da pena da violência, a do
crime contra a pessoa. § 3º Se da violência resulta morte: Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
20
Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único.
Se o fato é praticado contra o comandante da unidade a que pertence o agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada
da metade.

10
h) Recusa de Obediência (Art. 16321 do CPM): É um crime militar próprio que tem a
intenção de punir o comportamento rebelde do subordinado ao não cumprir ordem
emanada de uma autoridade superior, vez que atentatório à essência da vida em caserna,
pois um dos preceitos fundadores da ética militar é justamente o de cumprimento das
leis, dos regulamentos, das instruções e das ordens das autoridades competentes.

i) Oposição a Ordem de Sentinela (Art. 16422 do CPM): A Sentinela, que compõe a


Guarda do Quartel, é respeitável e inviolável, conforme previsto no art. 220 do RISG23,
sendo, por lei, punido com severidade quem atentar contra a sua autoridade.

j) Publicação ou Crítica Indevida (Art. 16624 do CPM): A conduta do militar estadual


de publicar, sem licença, ato ou documento oficial, ou fazer criticas em público de ato de
seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer resolução do Governo,
se configura neste crime militar.

l) Uso Indevido por Militar de Uniforme, Distintivo ou Insígnia (Art. 17125 do CPM): O
militar estadual que usar indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia de posto ou
graduação superior, comete o crime de Uso Indevido por Militar de Uniforme, Distintivo
ou Insígnia.

21
Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sôbre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever impôsto em lei, regulamento ou instrução:
Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.
22
Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela: Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
23
RISG - Art. 220: A sentinela é, por todos os títulos, respeitável e inviolável, sendo, por lei, punido com severidade quem atentar contra a sua autoridade;
por isso e pela responsabilidade que lhe incumbe, o soldado investido de tão nobre função portar-se-á com zelo, serenidade e energia, próprios à autoridade
que lhe foi atribuída.
24
Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou documento oficial, ou criticar públicamente ato de seu superior ou assunto atinente à
disciplina militar, ou a qualquer resolução do Govêrno: Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
25
Art. 171. Usar o militar ou assemelhado, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia de pôsto ou graduação superior: Pena - detenção, de seis meses a
um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

11
m) Rigor excessivo (Art. 17426 do CPM): É crime propriamente militar em que um
superior comete excesso de poder quando vai punir um subordinado seu, punindo-o com
rigor não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou escrito. Cabe a tentativa.

n) Violência contra Inferior (Art. 17527 do CPM): É um crime propriamente militar,


que se caracteriza pelo abuso de poder do superior. O que se protege é a disciplina
militar, uma vez que, é um dos alicerces fundamentais da instituição militar.

o) Fuga de Preso ou Internado (Art. 17828 do CPM): Para a caracterização desse tipo
penal militar é necessário que a fuga ocorra de estabelecimento prisional sob a guarda e
responsabilidade da administração militar, assim, a prisão deve ser militar (presídio
militar) e pode ser qualquer tipo de prisão (prisão provisória ou pena de prisão).

Portanto, caso a fuga tenha ocorrida de carceragem de delegacia da Polícia Civil,


Cadeia Pública ou penitenciária a conduta do militar estadual indiciado poderá se
enquadrar, em tese, no art. 35129 do CPB - Fuga de pessoa presa ou submetida à medida
de segurança.

26
Art. 174. Exceder a faculdade de punir o subordinado, fazendo-o com rigor não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou escrito: Pena - suspensão
do exercício do pôsto, por dois a seis meses, se o fato não constitui crime mais grave.
27
Art. 175. Praticar violência contra inferior: Pena - detenção, de três meses a um ano. Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte é
também aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando fôr o caso, ao disposto no art. 159.
28
Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente prêsa ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois
anos.
29
Art. 351. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois
anos.

12
3.2 Contra o Serviço e o Dever Militar

a) Deserção (Art. 18730 do CPM): Se configura esse tipo penal quando o militar
estadual fica ausente, injustificadamente, por um período superior a 08 (oito) dias de sua
unidade ou do lugar em que tinha de estar presente.

b) Abandono de Posto (Art. 19531 do CPM): A consumação desse crime ocorre no


exato momento em que o militar se afasta de seu posto e o deixa sem vigilância, não
importando o tempo que fica ausente.

c) Descumprimento de Missão (Art. 19632 do CPM): Os militares estaduais no


exercício de suas atividades e de suas atribuições, devem cumprir as ordens e também as
missões que lhe foram confiadas pelas autoridades superiores ou mesmo pelas
autoridades civis as quais estiverem subordinados. O cumprimento de ordens e também
das missões não é uma faculdade, mas uma obrigação decorrente do dever militar e dos
regulamentos disciplinares. Somente quando as ordens forem manifestamente ilegais, e o
mesmo se aplica à missão, é que o militar não estará obrigado a cumpri-las. Contudo,
mesmo se existir alguma dúvida quanto à legalidade da ordem, o militar está obrigado a
cumpri-la, e, neste caso, se houverem responsabilidades subseqüentes, penal, civil e
administrativa, elas recairão sobre aquele que deu a ordem, ou seja, o superior
hierárquico.

d) Retenção Indevida (Art. 19733 do CPM): O oficial ao deixar uma função ou quando
lhe for requisitado determinado material ou documento do patrimônio da Administração
Militar deve entregá-lo prontamente, pois a conduta do oficial que não cumpre uma
ordem recebida para restituir um objeto, um plano, uma carta, uma cifra, um código ou
mesmo um documento que lhe tenha sido confiado incide nesse crime militar.

30
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: Pena - detenção, de
seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
31
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
32
Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi confiada: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui crime mais
grave.
33
Art. 197. Deixar o oficial de restituir, por ocasião da passagem de função ou quando lhe é exigido, objeto, plano, carta, cifra, código ou documento que lhe
haja sido confiado: Pena - suspensão do exercício do posto, de três a seis meses, se o fato não constitui crime mais grave.

13
e) Embriaguez em Serviço (Art. 20234 do CPM): Não se admite o militar embriagado
de serviço, porque, no mínimo, ele apresentará falta de atenção e prejuízo ao
desempenho do serviço que está realizando. Esse crime se configura quando o militar já
se encontra de serviço e se embriaga e quando se apresenta embriagado para prestar o
serviço para o qual estava devidamente escalado e tinha ciência prévia. Neste crime é
imprescindível a comprovação da embriaguês do agente, que poderá ser realizada com
exame de dosagem alcoólica (exame de alcoolemia, exame de sangue) ou pelo exame
clínico (exame de embriaguez, “exame visual”), realizado por médico perito oficial e, na
ausência deste, por médico a ser designado pela autoridade militar. Não obstante,
também se admite como elemento de comprovação o resultado do teste do bafômetro,
prova testemunhal e imagens que evidenciem de modo preciso o estado do acusado na
ocasião do fato, com todas as circunstâncias demonstrativas da situação em que o mesmo
se encontrava.

f) Dormir em Serviço (Art. 20335 do CPM): Se configura com o militar estadual não se
mantém acordado durante o serviço, se diferenciando da transgressão disciplinar quanto
da intensidade da prática do ato. Por exemplo, se o militar estadual está de pé, na
condição de sentinela, mas vem a fechar os olhos, mas permanece ainda de pé, não há
que se falar em crime militar, mas em uma transgressão de natureza disciplinar. Mas, se a
mesma sentinela, deixa o seu posto, e se dirige a um local reservado, onde retira o cinto
de guarnição, a cobertura, para que possa dormir teremos neste caso o crime militar e
não a transgressão.

34
Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
35
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo oficial, em serviço de
sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante: Pena - detenção, de três meses a um ano.

14
3.3 Contra a Pessoa

a) Homicídio Simples (Art. 20536 do CPM): Crime impropriamente militar, uma vez
que se encontra prevista também no art. 121 do CPB, é aquele em quer o militar que tira
a vida de outro militar. Importante frisar que recente alteração do Parágrafo único37 do
Art. 9º do CPM, determinou o julgamento no Tribunal do Júri quando o homicídio for
doloso e praticado contra civil.

b) Lesão Corporal (Art. 20938 do CPM): A conduta do militar estadual que ofende a
integridade corporal (física e psíquica) de uma pessoa. A lesão pode ser leve ou grave. Na
primeira hipótese se resultou consequências mais sérias para a vítima, podendo ser
considerada como infração disciplinar pelo juiz. (Art. 209, § 6º39, do CPM), e na segunda
hipótese se foi provocada dolosamente e produziu perigo de vida, debilidade permanente
de membro, sentido ou função, ou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de
30 (trinta) dias (Art. 209, §1º40, do CPM).
A 1ª Turma do STF entendeu que não cabe à Justiça Militar julgar o crime de lesão
corporal cometido por um militar em face de outro militar, fora do serviço, e sem que eles
soubessem da condição de militar de cada um, conforme precedente jurisprudencial
transcrito adiante.

c) Maus-tratos (Art. 21341 do CPM): Consiste em expor a perigo a vida ou a saúde de


pessoa, que esteja sob cuidado ou guarda, privando-a de condições essenciais para a vida
ou sujeitando-a a tratamento desumano, com a intenção de educá-la ou discipliná-la.

36
Art. 205. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
37
Art. 9° (...). Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça
comum. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 07/08/96.)
38
Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.
39
Art. 209. (...) § 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar a infração como disciplinar.
40
Art. 209. (...) § 1°: Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou incapacidade para as ocupações
habituais, por mais de trinta dias: Pena - reclusão, até cinco anos.
41
Art. 213. Expor a perigo a vida ou saúde, em lugar sujeito à administração militar ou no exercício de função militar, de pessoa sob sua autoridade, guarda
ou vigilância, para o fim de educação, instrução, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a
trabalhos excessivos ou inadequados, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de dois meses a um ano.

15
d) Calúnia (Art. 21442 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também está
previsto no CPB no art. 138, a Calúnia consiste em atribuir, falsamente à alguém a
responsabilidade pela prática de um determinado fato definido como crime.

e) Difamação (Art. 21543 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também está
previsto no CPB no art. 139, a Difamação consiste em atribuir à alguém fato determinado
ofensivo à sua reputação.

f) Injúria (Art. 21644 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também está
previsto no CPB no art. 140, a Injúria consiste em atribuir a alguém qualidade negativa,
que ofenda sua dignidade ou decoro. Fere-se o decoro quando se critica o conjunto de
atributos físicos (“cabeção”, “pescoção”, “monstro”, etc.), intelectuais (“animal”,
“jumento”, “retardado”, etc.) e sociais (“vagabundo”, “almofadinha”, “arruaceiro”, etc.).

g) Constrangimento Ilegal (Art. 22245 do CPM): Crime impropriamente militar, pois


também está previsto no CPB no art. 146, o Constrangimento Ilegal consiste em forçar
alguém a fazer algo que ele não quer, sendo passível de punição pelo DPM, por violar o
direito à liberdade individual.

h) Ameaça (Art. 22346 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 147 do CPB, o Crime de consiste na conduta de ameaçar por uma
pessoa qualquer meio podendo chegar a causar-lhe mal injusto e grave.

42
Art. 214. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
43
Art. 215. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano.
44
Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro: Pena - detenção, até seis meses.
45
Art. 222. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer ou a tolerar que se faça, o que ela não manda: Pena - detenção, até um ano, se o fato não constitui
crime mais grave.
46
Art. 223. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto e grave: Pena - detenção, até seis
meses, se o fato não constitui crime mais grave.

16
i) Pederastia ou outro Ato de Libidinagem (Art. 23547 do CPM): Crime propriamente
militar, o Crime de Pederastia proíbe o sexo, homossexual ou não, dentro das
dependências militares.

j) Ato Obsceno (Art. 23848 do CPM): Caracteriza-se pela prática de uma ação de
cunho sexual que ofende o pudor (a moral), podendo ser a simples exposição em público
do órgão genital, a nudez, a masturbação, a micção, gestos ou sinais com a intenção de
ofender o pudor público, no interior de local sob a Administração Militar.

3.4 Contra o Patrimônio

a) Furto Simples (Art. 24049 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 155 do CPB, o Crime de Furto se caracteriza pela subtração de
qualquer tipo ou forma de objeto para si ou outra pessoa, diferenciando-se do roubo,
pois naquele existe o uso de intimação, violência ou grave ameaça contra a vítima.

b) Roubo Simples (Art. 24250 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui
igual tipificação que o art. 157 do CPB, o Roubo Simples se caracteriza pela a subtração de
qualquer tipo ou forma de objeto para si ou outra pessoa, de forma diferente do furto,
com o emprego de violência ou ameaça ou depois de haver reduzido a possibilidade de
resistência da vítima.

47
Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com êle se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar: Pena -
detenção, de seis meses a um ano.
48
Art. 238. Praticar ato obsceno em lugar sujeito à administração militar: Pena - detenção de três meses a um ano.
49
Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, até seis anos.
50
Art. 242. Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante emprêgo ou ameaça de emprêgo de violência contra pessoa, ou depois de havê-la,
por qualquer modo, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.

17
c) Extorsão Simples (Art. 24351 do CPM): Crime impropriamente militar, embora
possua descrição típica diferente do art. 15852 do CPB, a Extorsão Simples se caracteriza
pela obtenção indevida de vantagem econômica de alguma pessoa, mediante
constrangimento, violência ou grave ameaça.

d) Apropriação Indébita Simples53: Crime impropriamente militar, pois possui igual


tipificação que o art. 168 do CPB, a Apropriação Indébita Simples ocorre quando o autor
dispõe da coisa móvel que lhe estava confiada (dá, vende, destrói, etc.) em dissenso com
o dono ou lhe nega a devolução da mesma.
e) Estelionato (Art. 25154 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 171 do CPB, o delito militar de Estelionato caracteriza-se pelo agente
obter uma vantagem em prejuízo a outra pessoa, mediante um esquema fraudulento que
instiga a vítima ao erro.

f) Receptação (Art. 254|55 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 180 do CPB, o delito de Receptação caracteriza-se pelo recebimento
da coisa, que pelas condições do negócio, características do produto ou preço acordado, o
sujeito ativo deveria saber tratar-se de produto de origem ilícita, ou pelo menos deveria
suspeitar, mas mesmo assim ele adquire-o, ou influencia outra pessoa, que pensa ser
legítima a procedência, a adquiri-lo.

g) Dano (Art. 26256 do CPM): Diferentemente do Crime de Dano previsto no Direito


Penal Comum (Art. 16357 do CPB), a tipificação penal militar visa proteger os bens que
pertencem ao patrimônio militar (armamentos, equipamentos em geral, viaturas,
utensílios, instalações, etc.), excluindo-se os bens particulares que são protegidos pela
Justiça Comum. Esse delito do CPM protege os bens da Fazenda Pública (Estadual ou

51
Art. 243. Obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, constrangendo alguém, mediante violência ou grave ameaça: a) a praticar ou
tolerar que se pratique ato lesivo do seu patrimônio, ou de terceiro; b) a omitir ato de interêsse do seu patrimônio, ou de terceiro: Pena - reclusão, de
quatro a quinze anos.
52
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a
fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
53
Art. 248. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou detenção: Pena - reclusão, até seis anos.
54
Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em êrro, mediante artifício, ardil ou qualquer
outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de dois a sete anos.
55
Art. 254. Adquirir, receber ou ocultar em proveito próprio ou alheio, coisa proveniente de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte: Pena - reclusão, até cinco anos.
56
Art. 262. Praticar dano em material ou aparelhamento de guerra ou de utilidade militar, ainda que em construção ou fabricação, ou em efeitos recolhidos
a depósito, pertencentes ou não às fôrças armadas: Pena - reclusão, até seis anos.
57
Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

18
Nacional) para que não sejam depredados ou destruídos.
Para efeitos deste crime militar: destruir significa quebrar totalmente, fazer em
pedaços, desfazer ou subverter a coisa; inutilizar significa alterar as características da
coisa de forma que ela não se preste mais a consecução do fim para o qual foi produzida;
deteriorar significa fazer com que a coisa se desgaste mais do que seria normal pela ação
do tempo ou fazer com que a coisa perca parte de sua utilidade; e fazer desaparecer
significa sumir com a coisa, tornar-la inalcançável.

3.5 Contra a Saúde

a) Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito similar (Art. 290 58


do CPM): Este tipo penal militar ao tratar da posse ou uso de entorpecente por militar,
dentre outras ações ali definidas, tem especial relevância uma vez que um eventual uso
de substância entorpecente por um policial militar ou bombeiro militar durante o
exercício de sua atividade pode resultar em consequências imprevisíveis para a população
em geral. Deve-se levar em consideração a potencialidade do risco para o cidadão, diante
da possibilidade de utilização de arma de fogo no atendimento de uma ocorrência ou o
perigo decorrente da condução de uma viatura policial ou bomberística sob os efeitos
mesmo de uma pequena quantidade de droga ilícita.

58
Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso próprio,
guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que determine dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à
administração militar, sem autorização ou em desacôrdo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, até cinco anos.

19
3.6 Contra a Administração Militar

a) Desacato a Superior (Art. 29859 do CPM): É um crime propriamente militar, em que


se protege a autoridade, disciplina e a hierarquia militar. Consiste na ofensa lançada
contra a dignidade, o decoro ou a autoridade do superior hierárquico.

b) Desacato a Militar (Art. 29960 do CPM): Consiste na ofensa lançada contra a


dignidade, o decoro ou a autoridade do militar no exercício de função de natureza militar
ou em razão dela e atinge o prestígio, o respeito devido à função pública, ou seja, atinge o
próprio Estado.

c) Desobediência (Art. 30161 do CPM): É crime militar impróprio, diferenciando-se do


Crime de Recusa de Obediência (Art. 163 do CPM) que é crime militar próprio, sendo a
Administração Militar, e não a Autoridade e a Disciplina Militar, o bem jurídico tutelado
por esse tipo penal.
Para configuração desse delito é necessário que a ordem desobedecida seja legal e
seja emanada de autoridade militar, podendo ter sido dada de forma direta ou indireta.
Devendo, ainda, a desobediência resultar de uma conduta comissiva, por se fazer algo
diverso do que foi determinado, ou de uma conduta omissiva, por ter simplesmente se
negado a fazer o que foi determinado, sem adotar outra ação.
Enquanto o sujeito ativo do delito de Recusa de Obediência somente poderá ser o
subordinado hierárquico diante de um superior, no de Desobediência poderá ser o
superior hierárquico, e até mesmo o civil, perante a Justiça Militar da União.

d) Peculato (Art. 30362 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também é


previsto com definição semelhante no art. 31263 do CPB, o Crime de Peculato ocorre
quando o sujeito arbitrariamente faz seu ou desvia bem que detém a posse em razão do
cargo, seja ele pertencente à Fazenda Pública ou a particular, ou esteja sob guarda ou

59
Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato
não constitui crime mais grave.
60
Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui
outro crime.
61
Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar: Pena - detenção, até seis meses.
62
Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou
comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de três a quinze anos.
63
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo,
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

20
vigilância, para proveito próprio ou de terceiro.

e) Concussão (Art. 30564 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 316 do CPB, o delito militar de Concussão caracteriza-se pelo abuso
da função exercida, por isso só pode ser praticado por servidor público ou militar da ativa,
ainda que não tenha assumido a função, mas aja em razão dela, exigindo vantagem
indevida.

f) Corrupção Passiva (Art. 30865 do CPM): Crime impropriamente militar, pois


também é previsto com definição semelhante no art. 31766 do CPB, contudo não possui a
conduta nuclear “solicitar”, o Crime de Corrupção Passiva se caracteriza pelo recebimento
de vantagem indevida ou aceitamento de promessa dela sempre em razão da função
(violação ao dever funcional), todavia não sendo imprescindível que o militar estadual ou
o servidor público esteja no exercício dela, já que a lei ressalva a hipótese de se aceitar
promessa de vantagem.
g) Corrupção Ativa (Art. 30967 do CPM): A materialidade desse crime consiste em dar,
oferecer (exibir ou propor para que seja aceita), ou prometer (obrigar-se a dar) vantagem
indevida a servidor público ou militar, para levá-lo a praticar, omitir ou retardar ato de
ofício.

h) Falsificação de Documento (Art. 31168 do CPM): Crime impropriamente militar,


pois também é previsto com definição semelhante nos arts. 29769 e 29870 do CPB, tendo-
se condensado os dois tipos penais comuns em um só tipo penal militar, a Falsificação de
Documento se caracteriza pela falsificação ou alteração de documento público ou
particular que afete à Administração Militar.

64
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
65
Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a oito anos.
66
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de
12/11/03)
67
Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional: Pena - reclusão, até oito
anos.
68
Art. 311. Falsificar, no todo ou em parte, documento público ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde que o fato atente contra a
administração ou o serviço militar: Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a seis anos; sendo documento particular, reclusão, até cinco anos.
69
Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
70
Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

21
É imprescindível que a falsificação ou alteração seja idônea, isto é, apta a causar erro
naquele a que se destina o documento, caso contrário, se for grosseira e facilmente
perceptível, inexiste o delito em face da ausência de potencialidade lesiva, ocorrendo,
assim, crime impossível, hipótese em que restará apenas responsabilização disciplinar ao
agente.

i) Falsidade Ideológica (Art. 31271 do CPM): Crime impropriamente militar, pois


também é previsto com definição semelhante no art. 29972 do CPB, contudo com o
acréscimo da condicionante que atente contra a administração ou o serviço militar, o
crime de Falsidade Ideológico se caracteriza pela adulteração de documento, público ou
particular, com o objetivo de obter vantagem ou para prejudicar terceiro. Para que se
configure é necessário que a falsidade documental atente contra a administração ou
serviço militar.

3.7 CONTRA O DEVER FUNCIONAL

a) Prevaricação (Art. 31973 do CPM):Crime impropriamente militar, pois possui igual


tipificação ao art. 319 do CPB, o Crime de Prevaricação caracteriza-se pelo não
cumprimento ou protelamento no cumprimento de ato inerente as funções do militar ou
servidor público civil trabalhando na Corporação Militar (Este somente na esfera civil)
para satisfação própria.

71
Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dêle devia constar, ou nêle inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sôbre fato jurìdicamente relevante, desde que o fato atente contra a
administração ou o serviço militar: Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; reclusão, até três anos, se o documento é particular.
72
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco
anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
73
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfazer interêsse ou
sentimento pessoal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

22
b) Condescendência Criminosa (Art. 32274 do CPM): Crime impropriamente militar,
pois também é previsto com definição semelhante no art. 320 do CPB, a
Condescendência Criminosa só pode ser cometida pelo superior hierárquico em relação
ao seu subordinado infrator. Nesse caso o superior, por indulgência, benevolência ou
tolerância, deixa de responsabilizar subordinado hierárquico que tenha cometido crime,
contravenção penal ou qualquer falta disciplinar, sendo que quando não tem
competência disciplinar sobre ele, deve informar imediatamente à autoridade
competente para que sejam adotadas as providências cabíveis.
c) Inobservância de Lei, Regulamento ou Instrução (Art. 32475 do CPM): Crime
propriamente militar, pois não há previsão semelhante no CPB, o Crime de Inobservância
de Lei, Regulamento ou Instrução se caracteriza pelo não atendimento do preceito legal
(a lei, as instruções e os regulamentos afetos ao cumprimento do seu mister
constitucional) em prejuízo à Administração Militar.
É imprescindível que o preceito legal desconsiderado esteja contido em lei,
regulamento ou instrução e a conduta omissiva, obrigatoriamente, deve prejudicar a
Administração Militar.

3.8 Contra a Administração da Justiça Militar

a) Desacato (Art. 34176 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também é


previsto com definição semelhante no art. 331 do CPB, mas com definição do sujeito
passivo diversa, para a configuração deste tipo penal militar a autoridade judiciária77
desacatada (ofendida por qualquer palavra ou ato que redunde em vexame, humilhação,
desprestígio ou irreverência a vítima imediata) deve estar no exercício da função ou em
razão dela.

74
Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete infração no exercício do cargo, ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente: Pena - se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis meses; se por negligência, detenção até três
meses.
75
Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato prejudicial à administração militar:
Pena - se o fato foi praticado por tolerância, detenção até seis meses; se por negligência, suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função, de
três meses a um ano.
76
Art. 341. Desacatar autoridade judiciária militar no exercício da função ou em razão dela: Pena - reclusão, até quatro anos.
77
As autoridades judiciárias militar são os Ministros do Superior Tribunal Militar e o Juiz-Auditor Corregedor na esfera federal e, os juízes dos Tribunais
Militares dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, bem como, o Juiz-Corregedor da Justiça Militar Estadual e os Juízes-Militares que
compõem o Conselho de Justiça, Especial ou Permanente.

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Aula 4 - Resumo.

Nesta Unidade você viu que definir o crime militar não é tarefa fácil e aprendeu
como defini-lo, aprendeu também como aplicar a Lei Penal Militar considerando o tempo,
a sua eficácia e o lugar do crime militar, e ao final, recordou dos principais crimes
militares em tempo de paz.

Aula 5 - Material Complementar.

VOCÊ SABE O QUE É UM CRIME MILITAR?

Autora: Patricia Silva Gadelha - advogada em Belém (PA), servidora do Ministério


Público Militar

Um fato, para ser considerado delituoso, deve ser típico, antijurídico e culpável. Para
ser considerado como um delito militar, além de tudo isso, tem que se amoldar ao artigo
9º do Código Penal Militar (tipicidade indireta).
Muito se ouve falar em crimes propriamente militares e crimes impropriamente
militares. Mas, o que significam, afinal, essas expressões?
O artigo 124 da Constituição da República dispõe que compete à Justiça Militar
processar e julgar crimes militares definidos em lei, ou seja, cabe ao legislador ordinário
fixar os critérios para definir o crime militar. Essa lei é o Código Penal Militar,
especificamente o seu artigo 9o, que define o que vem a ser crime militar em tempo de
paz.
Contudo, a lei penal militar não define o que sejam crimes propriamente militares e
crimes impropriamente militares. Estas são apenas expressões doutrinárias.
Segundo a lição de Jorge Alberto Romeiro, em seu Curso de Direito Penal Militar, são
crimes propriamente militares aqueles que só podem ser praticados por militares, ou que
exigem do agente a condição de militar. É o caso, por exemplo, dos crimes de deserção,

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de violência contra superior, de violência contra inferior, de recusa de obediência, de
abandono de posto, de conservação ilegal do comando etc.
Já os crimes impropriamente militares são os que, comuns em sua natureza, podem
ser praticados por qualquer cidadão, civil ou militar, mas que, quando praticados por
militar em certas condições, a lei considera militares. São impropriamente militares os
crimes de homicídio e lesão corporal, os crimes contra a honra, os crimes contra o
patrimônio (furto, roubo, apropriação indébita, estelionato, receptação, dano etc), os
crimes de tráfico ou posse de entorpecentes, o peculato, a corrupção, os crimes de
falsidade, dentre outros. Note-se que tais crimes também estão previstos no Código Penal
Brasileiro. A diferença está justamente na subsunção ao artigo 9º do CPM.
E o que diz esse artigo 9º?
Em seu inciso I, trata dos crimes previstos no Código Penal Militar, quando definidos
de modo diverso na lei penal comum ou nela não previstos, qualquer que seja o agente,
salvo disposição especial.
Quando o inciso diz qualquer que seja o agente, verifica-se que, além dos crimes
propriamente militares, que são aqueles que só podem ser cometidos por militares, tal
inciso abrange algo mais: os crimes somente previstos no Código Penal Militar, mas que
podem ser praticados por civis, como o crime de insubmissão. Daí, surge uma outra
denominação para o crime militar, qual seja, o crime tipicamente militar, trazido a lume
por Cláudio Amim Miguel e Ione de Souza Cruz, na obra Elementos de Direito Penal
Militar.
O crime tipicamente militar é aquele que somente está previsto no Código Penal
Militar, mas que pode ser praticado por civil. Temos assim o crime de insubmissão
(tipicamente militar) e o crime de deserção (que, além de ser propriamente militar, pois
somente pode ser cometido por militar, é também tipicamente militar, pois somente está
previsto na legislação penal militar).
O inciso II versa sobre os crimes previstos no Código Penal Militar, embora também o
sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados por militar da ativa
contra militar da ativa, ou por militar da ativa em lugar sujeito à administração militar, ou
por militar em serviço, ou ainda por militar da ativa contra o patrimônio sob a
administração militar (impropriamente militares cometidos por militar da ativa).
Finalmente, o inciso III traz como sujeito ativo o militar da reserva, o reformado ou o
civil quando cometem crime contra o patrimônio sob Administração Militar ou a Ordem

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Administrativa Militar, ou contra militar da ativa, servidores civis de Comando Militar ou
da Justiça Militar, no exercício da função, em local sujeito à Administração Militar, ou
ainda contra militar em serviço. Tais crimes, segundo a doutrina, são os crimes
impropriamente militares praticados por militares da reserva, reformados ou civis.
Do ponto de vista do bem tutelado - hierarquia, disciplina e ordem administrativa
militar - são igualmente importantes, e representam ofensa equivalente, os crimes
propriamente militares e os impropriamente militares. Assim, estando diante de um
crime militar, seja ele propriamente ou impropriamente militar, a competência para
processo e julgamento será da Justiça Militar.

GADELHA, Patricia Silva. Você Sabe o que é um Crime Militar? Disponível no sítio: <
http://www.adepolalagoas.com.br/artigo/voce-sabe-o-que-e-um-crime-militar.html>.
Acesso em 31 maio 2015.

Aula 6 - Exercícios de Fixação.

1. Com relação a definição do Crime Militar assinale “V’ para as acepções verdadeiras e
“”F” para as falsas:

a) ( ) O critério geral estabelecido no DPM para a definição do crime militar é em


razão da lei (“ratione legis”).
b) ( ) A análise do art. 9º do CPM é necessária para essa definição.
c) ( ) Para essa definição não importa a verificação de qual esfera da justiça militar é
competente para julgar o sujeito ativo do crime.
d) ( ) A competência da justiça comum quanto aos crimes militares dolosos contra a
vida e cometidos contra civil foi excetuada no caso de ação militar prevista no
Código Brasileiro de Aeronáutica.

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2. Para definir o lugar do crime o DPM adota as seguintes teorias:

a) ( ) Da Ubiquidade, da Unidade e a Mista.


b) ( ) Da Retroatividade da lei mais benigna e da Irretroatividade da lei mais severa.
c) ( ) Da Atividade e da Ubiquidade.
d) ( ) Do Tempo e do Resultado.

3. A respeito dos crimes militares assinale “V’ para as acepções verdadeiras e “”F” para as
falsas:

a) ( ) O crime de Revolta distingue-se do Motim unicamente pelo fato dos militares


amotinados utilizarem armamento.
b) ( ) Para que se verifique a consumação do crime de Abandono de Posto é
necessário que o militar fique pelo menos 01 (uma) hora afastado
injustificadamente do seu posto de serviço.
c) ( ) O crime de Embriaguez em Serviço somente se configura se o militar que já se
encontra de serviço vier a se embriagar de forma a não poder ficar acordado
no serviço.
d) ( ) O crime militar de Concussão caracteriza-se pelo abuso da função exercida,
mesmo se o agente ativo que ainda não tenha assumido a função, mas aja em
razão dela, exigindo vantagem indevida.

Gabarito:
1) a) V; b) V; c) F; d) V.
2) c.
3) a) V; b) F; c) F; d)

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UNIDADE 2 - CULPABILIDADE

Uma conduta típica nem sempre será antijurídica, caso se verifique alguma causa de
exclusão de ilicitude.
Da mesma forma também não se pode dizer que um fato típico e antijurídico
sempre será culpável.
Antes de ser aplicada pena a um militar estadual que tenha praticado uma conduta
típica e antijurídica, esta deve passar pelo crivo da culpabilidade, que nada mais é do que
um juízo de reprovabilidade feito sobre uma conduta que se amolda a um tipo penal e
contraria as normas penais.

O princípio da culpabilidade, entretanto, garante duas condições para aplicação da


pena:

1º Condição: Não se pode aplicar pena a quem não tenha concorrido com um
mínimo de culpa para o resultado.
2º Condição: A pena deve ser proporcional à culpabilidade do agente, ou seja, não
se pode aplicar pena superior à medida de culpabilidade do agente, ainda que tenha
caráter de ressocialização ou que o agente seja perigoso.
Na presente Unidade você vai conhecer as circunstâncias para se configurar a
culpabilidade no Direito Penal Militar.

Ao final desta Unidade você será capaz de:


- Conhecer os erros na execução dos delitos militares;
- Identificar as situações de imputabilidade penal.
- Identificar as excludentes de ilicitude no DPM.

Esta unidade está dividida em 3 (três) aulas de conteúdo:


Aula 1 - Dos Erros.
Aula 2 - Imputabilidade Penal.
Aula 3 - Excludentes da Ilicitude.

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Após as aulas de conteúdo são apresentados um resumo da Unidade, material
complementar e alguns exercícios de fixação.

Aula 1 - Dos Erros

O conceito de erro pode ser expresso como a falsa percepção da realidade, sendo
que a ignorância dessa realidade pode ser a ela equiparada para fins penais.
Contudo, o erro e a ignorância são distintos, visto que o primeiro trata de um
equívoco relativo à realidade e segundo é o completo desconhecimento dela.
A teoria do erro que foi adotada pelo CPM e também pelo CPB na maioria das vezes
estabelece situações que serão favoráveis ao agente em razão da forma como o fato foi
praticado, visto que a vontade do agente não era livre e consciente a ponto de permitir a
sua responsabilização integral.

O instituto do erro é tratado nos arts. 35, 36 e 37 do CPM e, respectivamente, pode


ser:

 Erro de Direito;
 Erro de Fato; e
 Erro de Pessoa.

a) Erro de Direito:

O Erro de Direito (Art. 3578 do CPM) é aquele em que o sujeito não tem
conhecimento da lei ou a sua interpretação equivocada da lei for plenamente justificável,
quando o agente não poderia superá-lo mesmo empregando a atenção ou a cautela que
lhe eram exigidos. Nesse caso, a pena pode ser reduzida ou substituída por outra menos
grave.
Ex: Um Militar Estadual da Ativa que encontra determinado bem em um quartel
(lugar sujeito a Administração Militar) e acreditando que por tê-lo encontrado é seu não o
entrega a autoridade competente no prazo de 15 (quinze) dias, comete o Crime Militar de
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Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente, salvo em se tratando de crime que atente contra o dever
militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou êrro de interpretação da lei, se escusáveis.

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Apropriação de Coisa Achada (Art. 249, parágrafo único, do CPM).
O legislador penal ressalvou que o erro de direito não pode beneficiar o agente nos
casos de crimes contra o dever militar, como também, que o desconhecimento da lei não
exime o agente de responsabilidade penal. Isso, porque, em virtude do treinamento dos
militares, no qual lhe são repassados os conhecimentos necessários a poder discernir
sobre a ilicitude ou não de suas condutas, relativas à lei penal militar, presume-se que o
militar possua a potencial consciência da ilicitude relativa a seus deveres.
Interessante observar que enquanto no CPB o Erro de Proibição exclui a pena, o seu
similar no CPM, o Erro de Direito, apenas a atenua a pena e mesmo não produz qualquer
efeito, na hipótese de crime contra o Dever Militar.

b) Erro de Fato:

O Erro de Fato (Art. 3679 do CPM) é o erro que incide sobre as circunstâncias
concretas e objetivas do mundo fenomênico. O agente tem uma falsa representação da
realidade.
Neste tipo de erro o dolo do agente deve ser excluído, porque o agente é enganado
pelo encobrimento dos motivos ou circunstâncias que tornam o fato criminoso.
Assim, quando o erro de fato for:
ESCUSÁVEL (invencível ou inevitável): ele excluirá o dolo e a culpa, isentando o
sujeito ativo de pena;
INESCUSÁVEL (vencível ou evitável): ele excluirá somente o dolo, remanescendo a
culpa (art. 36, § 1°80, do CPM).

c) Erro sobre Pessoa:

No tocante ao erro sobre a pessoa, a legislação penal militar não traz qualquer
benefício para ao agente que deverá ser responsabilizado na seara penal como se tivesse
praticado o ilícito contra aquela pessoa que realmente pretendia atingir.
Neste sentido, se o agente buscava praticar um ato contra um militar estadual, mas
por falta de conhecimento a respeito dele acabou atingindo outro, acreditando que
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Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por êrro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a
existência de situação de fato que tornaria a ação legítima.
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Art. 36. (...) § 1° Se o êrro deriva de culpa, a êste título responde o agente, se o fato é punível como crime culposo.

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estava realmente praticando o ato contra o primeiro, responderá como se realmente
tivesse praticado o ato planejado.
Neste artigo a lei penal militar responsabiliza o agente para evitar a impunidade e a
quebra dos princípios de hierarquia, disciplina e ética.

Ex: Militar estadual que buscava praticar um ato contra a vida de seu Comandante e
acaba atingindo um Soldado da Unidade.

TIPO
SITUAÇÃO RESPONSABILIDADE PENAL
DE ERRO
ESCUSÁVEL A pena pode ser reduzida ou substituída
ERRO
(Invencível ou inevitável) por outra menos grave
DE DIREITO
Crime contra o Dever Militar Não produz qualquer efeito
ESCUSÁVEL Exclui o dolo e a culpa, isentando o
ERRO (Invencível ou inevitável) sujeito de pena.
DE FATO INESCUSÁVEL Exclui somente o dolo, responde o sujeito
(Vencível ou evitável) pelo crime culposo
ERRO
- Não produz qualquer efeito
DE PESSOA

Aula 2 - Imputabilidade Penal

A imputabilidade parte do princípio de que o homem é capaz de entender seus atos


e é livre para praticá-los. Optando por uma ação que afete bens relevantes, o agente deve
responder conforme sua culpabilidade. Todavia, aqueles que não têm essa capacidade e
determinação não podem ser responsabilizados, pois são considerados inimputáveis.
Essa capacidade de determinação (imputabilidade) deve existir no momento da ação
ou omissão. Dessa forma, podemos dizer que a imputabilidade penal está compreendida
dentro da culpabilidade (ou fato culpável) e é a somatória das condições pessoais do
agente, que o tornam capaz de entender o caráter ilícito de um fato e comportar-se
adequadamente diante desse entendimento, isto é, a capacidade de entender e querer
(autodeterminar-se), o que permite ao Estado aplicar-lhe uma sanção penal.
O CPM, nos moldes do CPB, adotou o chamado sistema biopsicológico (ou misto),
que considera os sistemas biológico e psicológico.

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O sistema biológico leva em consideração unicamente a saúde mental do agente,
isto é, se ele é ou não doente mental ou possui, ou não, um desenvolvimento mental
incompleto (no caso dos menores de 18 anos e os silvícolas inadaptados) ou retardado (os
idiotas, imbecis e débeis mentais).
O sistema psicológico leva em consideração exclusivamente a capacidade que o
agente possui para apreciar o caráter ilícito do fato ou de comportar-se de acordo com
esse entendimento.

São causas de exclusão da imputabilidade:


 Doença mental;
 Desenvolvimento mental incompleto ou retardado;
 Embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior e a
embriagues patológica.
 Menoridade.

a) Doença mental.

Quando o agente, em razão de perturbação da saúde mental ou desenvolvimento


mental retardado, apresenta considerável diminuição na capacidade de entendimento do
caráter ilícito do fato ou da autodeterminação é considerado semi-imputável, não ficando
excluída sua imputabilidade, mas quando condenado pode ser:
Aplicada uma pena atenuada, diante da culpabilidade diminuída;
Caso necessite de tratamento especial curativo, tem a pena privativa de liberdade
substituída pela medida de segurança (Art. 11381 do CPM).

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Art. 113. Quando o condenado se enquadra no parágrafo único do art. 48 e necessita de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode
ser substituída pela internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial de um
ou de outro.

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b) Desenvolvimento mental incompleto:

No desenvolvimento mental incompleto, a mentalidade do agente ainda não está


completamente formada, podendo ser em razão da idade (menor de idade) ou em razão
da falta de convívio em sociedade, como no caso do silvícola (não adaptado à civilização),
ou ainda, por falta de interação com a sociedade, como no caso do surdo-mudo (que não
recebeu instrução adequada).
Com relação ao menor de 18 (dezoito) anos, o seu presumido desenvolvimento
mental incompleto é uma presunção legal, pois é considerado como uma pessoa em
desenvolvimento. Portanto, somente na medida em que vai crescendo, vai tendo o
conseqüente amadurecimento psíquico.
Quanto ao silvícola, na proporção do crescimento de sua participação com o mundo
“civilizado” vai tendo seu desenvolvimento completado. No caso do índio é necessária a
produção de laudo pericial para constatar a inimputabilidade.
Por último, o mesmo pode-se dizer do surdo-mudo, na medida em que o mesmo vai
aprendendo a Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) ou a leitura labial (entre outros
recursos), seu desenvolvimento mental vai se completando.

c) Embriaguez completa:

O CPM, a exemplo do CPB, isenta de pena tão somente a embriaguez completa e


decorrente de caso fortuito ou de força maior.
A embriaguez é compreendida como o estado derivado de uma intoxicação aguda e
transitória em decorrência da ingestão do álcool ou de substância análoga, como éter,
morfina e outras drogas sintéticas ou naturais.
A sentença condenatória é aplicada conforme o caso da embriaguês:

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EMBRIAGUÊS
Espécie Divisão Ingestão de Álcool Pena
Com o intuito de se
Não acidental embriagar.
Dolosa
O agente responde pelo
(ou
VOLUNTÁRIA delito, haja vista a ação
intencional)
(dolosa ou culposa) livre na causa, com a
Não Isenta
e PREORDENADA agravante genérica.
(embriaguez com Não há intuito de se
motivação à prática embriagar, mas ingere
Culposa
de crime) imprudentemente
quantidade excessiva
Diminui, ainda que
consideravelmente, a
capacidade de entender
Resultado imprevisível e o caráter ilícito ou de
não deriva de culpa do autodeterminar-se de
Acidental
Caso agente acordo com esse
fortuito Ex: Sujeito que tropeça e entendimento.
INVOLUNTÁRIA
cai num barril de vinho, Pode ser aplicada, mas
embriagando-se apenas de forma
reduzida (Art. 49,
parágrafo único , do
CPM).
Sujeito predisposto ao
vício do alcoolismo.
Equipara-se à doença
mental, ensejando o
Patológica (ou crônica) Isenta
reconhecimento da
imputabilidade ou semi-
imputabilidade do
agente.

E o que é Caso Fortuito e Força Maior?

Caso Fortuito: Ocorre quando o agente é embriagado sem que tenha externado
vontade para isso, ou seja, ocorre de forma meramente acidental, quando o agente não
tinha a menor idéia de que estava ingerindo substância entorpecente ou quando mistura

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álcool com remédios que provocam reações indesejadas, potencializando o efeito da
droga.

Ex: O PM/BM que está ingerindo determinado medicamento, quando, por descuido,
ingere vodka pensando tratar-se de água, levando-o a ficar embriagado.

Força Maior: Ocorre, por sua vez, quando o agente não sabe que está ingerindo
substância que causa a embriaguez, isto é, se origina de eventos não controláveis pelo
agente.

Ex: O PM/BM que hospitalizado vem a receber dose de morfina. Tal substância causa
um estado de embriaguez.

d) Menoridade:

A menoridade constitui causa de exclusão da imputabilidade do agente, sem que


seja necessária a produção de prova pericial. Neste caso a inimputabilidade ocorre em
virtude de uma presunção legal, onde, por questões política criminal, entendeu o
legislador que os menores de 18 (dezoito) anos não gozam de plena capacidade de
entendimento que lhes permita imputar a prática de um fato típico e ilícito.
Para fazer prova da menoridade penal basta que seja apresentada a certidão
nascimento expedida pelo registro civil ou documento que a substitua, como, por
exemplo, a carteira de identidade.
Interessante destacar que a imputabilidade do menor de 18 (dezoito) anos e maior
de 16 (dezesseis) foi prevista no art. 5082 do CPM, contudo tal artigo não foi recepcionado
pelo art. 22883 da CF/1988 e, assim, somente o maior de 18 (dezoito) anos pode ser
considerado imputável para a lei penal militar (Art. 2784 do CPM). A menoridade penal
também está inserida no art. 2785 do CPB e no art. 2º86 do ECA.

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Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já tendo completado dezesseis anos, revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o
caráter ilícito do fato e determinar-se de acôrdo com êste entendimento. Neste caso, a pena aplicável é diminuída de um têrço até a metade.
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Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
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Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11/07/84)
85
Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeito as normas estabelecidas na legislação especial.
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Art. 2°. Considera-se criança para efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.

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Aula 3 - Excludentes da Ilicitude

De forma semelhante ao Direito Penal comum, no DPM as excludentes da ilicitude


(Art. 4287 do CPM) são:
 Estado de Necessidade;
 Legítima Defesa;
 Estrito Cumprimento do Dever Legal; e
 Exercício Regular de Direito.

a) Estado de Necessidade.

O Estado de Necessidade tem como fundamento um estado de perigo para certo


interesse jurídico, que somente pode ser resguardado mediante a lesão de outro. Se há
dois bens em perigo de lesão, o Estado permite que seja sacrificado um deles, pois, diante
do caso concreto e tutela penal, não pode salvaguardar a ambos.

Os requisitos do Estado de Necessidade são:


Situação de Perigo Atual;
Ameaça a direito próprio ou alheio;
Situação não causada voluntariamente pelo sujeito;
Inexistência do dever legal de afastar o perigo;
Inevitabilidade do comportamento lesivo; e
Inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado.

ATENÇÃO!
Nem todo crime cometido pelo militar é um delito militar, porque
ele também atua como cidadão, e assim, dependendo da conduta e da
situação, ele pode cometer um delito penal comum.

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Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento do dever legal; IV
- em exercício regular de direito.

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b) Legitima Defesa.

A Legítima Defesa está prevista no art. 4488 do CPM e ocorre quando alguém repele
uma agressão injusta, que seja atual ou iminente, usando os meios necessários. A
agressão pode ser contra o próprio agreesor ou contra um terceiro. Durante o exercício
da legítima defesa, podem ser cometidas infrações penais, porém quem as comete não é
criminalmente responsável, ou seja, ocorre a exclusão da ilicitude. Por outro lado, no caso
do ofendido ter usado exageradamente dos meios necessários para repelir a agressão, ou
seja, quando houver excesso de legítima defesa, o fato é ilícito e é punível, como crime
culposo.
Somente se verifica a causa excludente de legítima Defesa quando a conduta
defensiva é necessária para repelir a agressão. Os meios empregados devem ser os
necessários e usados de forma moderada. Não se admite o excesso, como, por exemplo,
um sujeito que mata uma criança que se encontra furtando mangas em seu pomar. Se
houver excesso o indivíduo responderá por dolo ou culpa (Art. 4589 do CPM).
Os requisitos da Legítima Defesa são:
 Agressão injusta atual ou iminente;
 Repulsa com meios necessários;
 Uso moderado de tais meios;
 Em direito próprio ou de outrem.

Ex: O PM que atinge mortalmente um assassino para evitar que ele matasse uma
criança.

c) Estrito Cumprimento do Dever Legal.

O Estrito Cumprimento do Dever Legal (Art. 42, inciso III, do CPM) é o cometimento
de um fato típico pelo desempenho de uma obrigação legal.
Para o delito militar ser amparado por esta excludente, deve haver a previsão em lei
da conduta de quem cumpre regularmente um dever (dever profissional/funcional).

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Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
de outrem.
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Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, se êste é punível,
a título de culpa.

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Ex (1): A sentinela de uma OPM/OBM que empregando a força necessária para
impedir entrada clandestina no quartel, vem causar lesões corporais no invasor.
Ex (2): O BM que entra numa casa sem autorização, arrombando as portas e
obstáculos físicos, para debelar um incêndio, ou que danifica um automóvel para resgatar
uma vítima.

d) Exercício Regular de Direito.

O Exercício Regular de Direito (Art. 42, inciso IV, do CPM) é composto pelo exercício
de uma prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico.
Diferencia-se do estrito cumprimento do dever legal porque enquanto aquele é
compulsório e tem origem na lei, exclusivamente, o exercício regular de direito, de acordo
com a sua natureza, é facultativo, pois o ordenamento jurídico autoriza o agente a agir, e
pode advir da lei, regulamentos e, para alguns, até mesmo do direito consuetudinário.

Ex (1): O Oficial Médico que, ao realizar um procedimento cirúrgico, cortar o paciente


para ter acesso à região a ser operada, de forma similar, não poderá ser processado por
Lesão Corporal, pois é um ato legítimo e necessário em uma cirurgia, portanto, legal.
Ex (2): O Oficial PM/BM que preside uma Sindicância Administrativa em razão de
portaria nomeante para apurar acusações, não poderá ser processado por Dano Moral
passível de indenização pelo sindicado absolvido, pois exerce os trabalhos processuais
pertinentes de acordo com a norma jurídica.

Aula 4 - Resumo

Nesta Unidade você conheceu os erros possíveis na execução dos delitos militares.
Aprendeu também a identificar as situações de imputabilidade penal e as
excludentes de ilicitude no DPM.

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Aula 5 - Material Complementar

Câmara Notícias
Direito e Justiça
18/03/2015 - 20h49

MAGISTRADOS APRESENTAM ANTEPROJETO DE ATUALIZAÇÃO DO CÓDIGO PENAL


MILITAR

Magistrados apresentaram nesta quarta-feira (18), na Câmara dos Deputados,


anteprojeto de atualização do Código Penal Militar. O texto, elaborado por uma comissão
do Superior Tribunal Militar (STM), foi entregue ao grupo de trabalho da Câmara que
deverá preparar uma futura proposta legislativa sobre o tema.

O Código Penal Militar (Decreto-Lei


1.001/69) está em vigor desde 1969, mas
grande parte de seu texto foi elaborada ainda
na década de 1940. Ex-presidente do STM, a
ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira
Rocha argumentou que vários pontos do
Elizabeth Rocha: vários pontos do código estão revogados
código estão revogados ou incompatíveis com ou incompatíveis com a Constituição.

a Constituição de 1988.

Como o crime militar precisa estar definido em lei específica para ser julgado, a
ministra afirma que os magistrados estão sendo obrigados a um "contorcionismo jurídico
que compromete o senso de Direito e de justiça". "Nós estamos realmente incomodados
e preocupados com essa defasagem temporal. Somos uma justiça especializada com uma
lei especial (CPM), mas, até por uma questão de proporcionalidade e razoabilidade,
temos pinçado, à la carte, determinados dispositivos do Código Penal comum porque,
senão, a injustiça seria muito grande."

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Conquistas sociais

Segundo a ministra do STM, a "defasagem" do Código Penal Militar faz com que
várias conquistas sociais implementadas por meio de leis deixem de ser aplicadas na
Justiça Militar.
Ela cita, como exemplos, as leis de combate ao feminicídio, à pedofilia, ao estupro e
aos crimes ambientais. "Portanto, por exemplo, a lei feminicídio; a lei dos crimes
hediondos; a lei dos crimes ambientais, que podem ser cometidos, eventualmente, por
militares; a lei da pedofilia; a lei do estupro, que é tão relevante e que hoje não
contempla mais somente as mulheres nem o ato da mera conjunção carnal, tendo um
escopo muito maior: nada disso pode ser aplicado dentro da nossa justiça especializada,
que pune com muito menor rigor e muito mais abrandamento crimes que hoje ofendem
tanto a sociedade.”
Sem previsão específica no código, esses crimes acabam tendo punição mais branda,
quando cometidos por militares. Outro exemplo está no trato de casos de homofobia,
como afirma a ministra. "Eu sei que existe uma discussão sobre a tipificação da conduta,
mas, de toda sorte, é inaceitável que, em um código legal que tenha por objetivo a
conduta correta e ética do cidadão, tenha expressões como 'pederastia' e 'ato
homossexual'. Isso é o discurso do ódio transposto para a lei".

Direito ao silêncio

Por outro lado, o código também apresenta pontos que prejudicam o julgamento
dos militares, como a possibilidade de o direito ao silêncio ser interpretado em desfavor
do réu, mesmo diante de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que previne a
autoincriminação.
Os casos de "crime continuado", mesmo que seja, por exemplo, um furto de celular,
pode dar ao militar uma pena maior do que a de um homicídio. Os militares também não
têm direito à progressão de pena.
O deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG) reclamou ainda que o código é
extremamente rigoroso com os praças das polícias e corpos de bombeiros militares.
Coordenador do grupo de trabalho da Câmara, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP)
determinou estudo técnico para permitir o início da tramitação do texto em forma de

40
proposta legislativa. "A gente vai encaminhar para a consultoria, que fará a análise e a
verificação de outros projetos que estão na Casa, a fim de que a gente tente sintetizar em
um projeto o mais próximo possível deste. Acredito que o melhor é pedir uma comissão
especial, o que possibilita, inclusive, o espaço para que os vários setores interessados
participem e sejam ouvidos".
Um rascunho da futura proposta legislativa deve ser apresentado na próxima
reunião do grupo de trabalho, no dia 8 de abril. O STM também prepara sugestões de
reforma do Código de Processo Penal Militar.
Reportagem - José Carlos Oliveira
Edição - Regina Céli Assumpção

Disponível no sítio: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITO-E-


JUSTICA/483866-MAGISTRADOS-APRESENTAM-ANTEPROJETO-DE-ATUALIZACAO-DO-
CODIGO-PENAL-MILITAR.html>. Acesso em 31 maio 2015.

Aula 6 - Exercícios de Fixação

1. Com relação a causas de exclusão da imputabilidade assinale “V’ para as acepções


verdadeiras e “”F” para as falsas:

a) ( ) Com relação ao menor de 18 (dezoito) anos, o seu presumido desenvolvimento


mental incompleto é uma presunção legal.
b) ( ) A menoridade não constitui causa de exclusão da imputabilidade do agente.
c) ( ) Para o efeito de imputabilidade penal no DPM, o silvícola e o índio são
considerados doentes mentais.
d) ( ) No CPM a embriaguês culposa é isenta de pena.

41
2. O instituto do erro é tratado no CPM e pode ser:

a) ( ) Erro de Pontaria e Erro de Objeto.


b) ( ) Erro de Direito; Erro de Fato; e Erro de Pessoa.
c) ( ) Erro de Raciocínio, Erro de Consciência e Erro de Alcance.
d) ( ) Erro de Direito Penal Militar.

3. A respeito das excludentes da ilicitude assinale “V’ para as acepções verdadeiras e “”F”
para as falsas:
a) ( ) O Estado de Necessidade tem como fundamento um estado de perigo para
certo interesse jurídico, que somente pode ser resguardado mediante a lesão
de outro.
b) ( ) Na Legítima Defesa, em razão de se repelir uma injusta agressão, é possível se
usar desproporcionalmente os meios disponíveis.
c) ( ) O exercício regular de direito é composto pelo exercício de uma prerrogativa
conferida pelo ordenamento jurídico e é facultativo, diferenciando-se do
estrito cumprimento do dever, que é o cometimento de um fato típico pelo
desempenho de uma obrigação legal amparada pela previsão dessa conduta
em lei e ele é compulsório.
d) ( ) O PM que atinge mortalmente um assassino para evitar que ele matasse uma
criança está amparado pela excludente de exercício regular de direito.

Gabarito:
1) a) V; b) F; c) F; d) F.
2) b.
3) a) V; b) F; c) V; d) F.

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UNIDADE 3 - PENAS NO CPM

Na presente Unidade você vai estudar as penas criminais do DPM, os elementos


acidentais do crime militar e as causas de Extinção da Criminalidade.

Ao final desta Unidade você será capaz de:


- Reconhecer a penas principais e acessórias sancionadas ao crime militar;
- Contextualizados os elementos acidentais do crime militar;
- Identificar as causas de extinção da Criminalidade.

Esta unidade está dividida em 3 (três) aulas de conteúdo:


Aula 1 - Penas do CPM;
Aula 2 - Elementos Acidentais do Crime Militar;
Aula 3 - As Causas de Extinção da Punibilidade.

Após as aulas de conteúdo são apresentados um resumo da Unidade, material


complementar e alguns exercícios de fixação.

Aula 1 - Penas do CPM

A pena é a sanção imposta pelo Estado, através do Poder Judiciário e mediante um


processo criminal, ao autor de infração penal, como retribuição de seu ato ilícito e
prevenção para que outros não cometam o crime. O CPM classifica as penas em:

 Penas Principais;
 Penas Acessórias.

As Penas Principais estão classificadas em:

 Morte;
 Reclusão;
 Detenção;

43
 Prisão;
 Impedimento;
 Suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
 Reforma.

Já as penas acessórias estão classificadas em: Perda do posto e patente; Indignidade


para o Oficialato; Incompatibilidade para o Oficialato; A incompatibilidade com o
Oficialato; Exclusão das Forças Armadas; Perda da função pública; Inabilitação para o
exercício de função pública; Suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela; Suspensão dos
direitos políticos.
As penas acessórias em regra se apresentam anexadas a uma pena principal.

A seguir você verá cada uma das Penas Principais:

Pena de Morte.

A Pena de Morte é uma exceção no Direito Brasileiro e ela só ocorre em caso de


guerra declarada (Art. 5º XLVII, alínea “a”90, da CF/1988) e só pode ser executada por
fuzilamento (Art. 56 do CPM91).
A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe em
julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois de sete dias
após a comunicação. Se a pena é imposta em zona de operação de guerra, poderá ser
executada imediatamente, quando o interesse da ordem e da disciplina exigir.

90
At. 5º, XLVII: não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX.
91
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.

44
Caso o condenado seja militar, ele deverá usar uniforme comum e sem insígnias e
ter os olhos vendados no momento da execução, salvo se não desejar essa vendagem
(Art. 70792 do CPPM).

Pena de Reclusão.

A Reclusão é o cumprimento da pena em regime fechado, semiaberto ou aberto. Em


regra é aplicada ao criminoso que tenha sido condenado a pena superior de 02 (dois)
anos. Neste Caso a pena deve ser cumprida em estabelecimento prisional militar, e, na
falta deste, em estabelecimento prisional civil.
O mínimo e máximo genérico da pena de reclusão é de um ano e trinta anos,
respectivamente (Art. 5893 do CPM).

Pena de Detenção.

A Detenção é o cumprimento da pena em regime semiaberto ou aberto, exceto


quando houver necessidade de transferência a regime fechado. Em regra é aplicada ao
criminoso que tenha sido condenado a pena superior a 02 (dois) anos, contudo seu
cumprimento se dá em estabelecimento agrícola, ou similar.
O mínimo e máximo genérico da pena de detenção é de trinta dias e de dez anos
respectivamente (Art. 58 do CPM).

92
Art. 707. O militar que tiver de ser fuzilado sairá da prisão com uniforme comum e sem insígnias, e terá os olhos vendados, salvo se o recusar, no
momento em que tiver de receber as descargas. As vozes de fogo serão substituídas por sinais.
93
Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos.

45
Pena de Prisão.

Resulta da conversão das penas de detenção e de reclusão até 02 (dois) anos,


quando não for cabível a suspensão condicional. A pena de prisão é cumprida em
estabelecimento militar (Art. 5994 do CPM).

Pena de Impedimento.

A pena de impedimento é aplicada especialmente ao insubmisso, que é aquele que


não se apresenta para a incorporação nas FFAA (Art. 18395 do CPM), sujeitando-o a
permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar (Art. 6396 do CPM).

ATENÇÃO!

O Crime de Insubmissão só se verifica nas Forças Armadas


(Marinha, Exército e Aeronáutica), que tem o serviço militar
obrigatório a todo jovem brasileiro do sexo masculino que completa 18
(dezoito) anos de idade. Não se verifica nas Forças Auxiliares (Polícias
Militares e Corpos de Bombeiros Militares), pois seus integrantes só
ingressam na Corporação voluntariamente mediante concurso público.

A pena de Suspensão do Exercício do Posto, Graduação, Cargo ou Função.

Consiste na agregação (o afastamento temporário do militar do serviço ativo, ficando


adido ao corpo ou repartição a que pertence), no afastamento (retirada do condenado de
cargo ou função), no licenciamento (pode importar em dispensa definitiva do cargo ou
função exercida pelo militar) ou na disponibilidade (desemprego temporário na
expectativa de reintegração, ao mesmo ou em outro cargo de igual categoria) do
condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízos de seu comparecimento
regular à sede do serviço, sendo que o tempo do cumprimento da pena não será contado
como tempo de serviço, para qualquer efeito.
94
Art. 59 - A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a
suspensão condicional: (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30/06/78) I - pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar; II - pela praça, em
estabelecimento penal militar, onde ficará separada de presos que estejam cumprindo pena disciplinar ou pena privativa de liberdade por tempo superior a
dois anos.
95
Art. 183: Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial
de incorporação: Pena - impedimento, de três meses a um ano.
96
Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar.

46
Ex: No crime de Exercício de Comércio por Oficial (Art. 20497 do CPM) e Inobservância
de Lei, Regulamento ou Instrução (Art. 32498 do CPM).

Pena de Reforma.

O CPM permite que o Juiz de Direito do Juízo Militar, o Conselho de Justiça,


Permanente ou Especial, em razão do ato ilícito praticado pelo infrator possa lhe impor
após um devido processo judicial a pena de reforma. Esta pena só pode ser imposta se
houver previsão expressa no tipo penal militar em tese praticado pelo infrator.
Por força da norma penal militar, o militar que tenha sido apenado com a sanção de
reforma passará imediatamente para a situação de inatividade, contudo não poderá
perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço trabalhado, nem
importância superior a do soldo (Art. 65 do CPM99). Se o agente do crime militar é Oficial,
essa pena está ainda prevista no art. 266 do CPM100, como modalidade alternativa ou
cumulativa.

Aula 2 - Elementos Acidentais do Crime Militar

Os Elementos do crime militar são:


 Elementos essenciais;
 Elementos acidentais.

97
Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na administração ou gerência de sociedade comercial, ou dela ser sócio ou participar, exceto como
acionista ou cotista em sociedade anônima, ou por cotas de responsabilidade limitada:
98
Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato prejudicial à administração militar:
99
Art. 65: A pena de reforma sujeita o condenado à situação de inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do sôldo, por ano de
serviço, nem receber importância superior à do sôldo.
100
Art. 266: Se o crime dos arts. 262, 263, 264 e 265 é culposo, a pena é de detenção de seis meses a dois anos; ou, se o agente é oficial, suspensão do
exercício do pôsto de um a três anos, ou reforma; se resulta lesão corporal ou morte, aplica-se também a pena cominada ao crime culposo contra a pessoa,
podendo ainda, se o agente é oficial, ser imposta a pena de reforma.

47
Os elementos essenciais do crime são a antijuridicidade, a culpabilidade e
punibilidade.

Nesta aula você vai ver apenas os elementos acidentais, que são os que podem não
existir, porém quando surgem eles modificam a responsabilidade do agente (agravando
ou atenuando a pena).

Circunstâncias Agravantes.

Na pretensão de se ajustar a medida da pena à real gravidade do fato e a


culpabilidade acrescida do agente no seu crime, leva-se em consideração algumas
circunstâncias que acompanham a conduta punível e determinam o aumento da sua
reprovabilidade na consciência comum, com conseqüente exasperação da sanção penal.

As circunstâncias agravantes, previstas no art. 70 do CPM, são:

 Reincidência; e ter o agente cometido o crime: por motivo fútil ou torpe; para
facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime;
 Depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre de caso fortuito,
engano ou força maior;
 À traição, de emboscada, com surpresa, ou mediante outro recurso insidioso
que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima;
 Com o emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo, ou qualquer outro
meio dissimulado ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
 Contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
 Com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério
ou profissão;
 Contra criança, velho ou enfermo; quando o ofendido estava sob a imediata
proteção da autoridade;
 Em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, alagamento, inundação, ou
qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; estando
de serviço;

48
 Com emprego de arma, material ou instrumento de serviço, para esse fim
procurado;
 Em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha sede a sua administração;
e
 Em país estrangeiro.

Dentre todas as circunstâncias agravantes, a mais grave é a reincidência (Art. 71 do


CPM101), porque o agente revela periculosidade, uma confirmação da tendência
criminosa. A reincidência ocorre quando o agente pratica novo crime, depois de transitar
em julgado a sentença que o tenha condenado por crime anterior. No entanto, o CPM não
distingue mais a reincidência específica, que é a prática de novo crime da mesma
natureza, da genérica, que é a prática de novo crime de natureza diversa.

Circunstâncias Atenuantes.

São circunstâncias que sempre atenuam a pena (Art. 72 do CPM102), ficando a


dosimetria dela a critério do juiz, e são:

 Ser o agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos;


 Ser meritório o comportamento anterior do agente;
 Ter o agente: cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano; cometido o crime sob a influência de violenta emoção,
provocada por ato injusto da vítima; confessado espontaneamente, perante a
autoridade, a autoria do crime, ignorada ou imputada a outrem; e sofrido
tratamento com rigor não permitido em lei.

101
Art. 71. Verifica-se a reincidência quando o agente comete nôvo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior.
102
Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos; II - ser meritório seu
comportamento anterior; III - ter o agente: a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e
com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob a
influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado espontâneamente, perante a autoridade, a autoria do crime, ignorada ou
imputada a outrem; e) sofrido tratamento com rigor não permitido em lei. Não atendimento de atenuantes. Parágrafo único. Nos crimes em que a pena
máxima cominada é de morte, ao juiz é facultado atender, ou não, às circunstâncias atenuantes enumeradas no artigo.

49
Quando a pena-base for fixada no mínimo legal as circunstâncias atenuantes não
terão incidência, pois elas não podem.

Aula 3 - Extinção da Punibilidade.

O direito subjetivo do Estado de aplicar a sanção penal não é eterno e por esse
motivo o legislador previu causas de extinção da punibilidade (Art. 123103 do CPM), que
extinguem a pena aplicável. São causas exteriores ao crime e também, em regra,
posteriores ao mesmo.

Estas causas e ocorrem pela:


 Morte do Agente;
 Anistia ou indulto;
 Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
 Prescrição;
 Reabilitação;
 Ressarcimento do dano, no peculato culposo.

Morte do Agente.

Morrendo o agente, extingue-se a punibilidade, o que acarreta o desaparecimento


de todos os efeitos penais da sentença condenatória. Já os efeitos extrapenais
permanecem. Assim, a obrigação de indenizar o dano transfere-se aos herdeiros do
condenado falecido, observado a proporção de cada um na herança.
O brocado-princípio “mors omnia solvit” (a morte tudo resolve) é famoso. O
falecimento do indiciado, réu ou condenado deve ser provado por intermédio de certidão
de óbito ou documento com validade legal.

103
Art. 123. Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato
como criminoso; IV - pela prescrição; V - pela reabilitação; VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º). Parágrafo único. A extinção
da punibilidade de crime, que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro, não se estende a êste. Nos crimes conexos, a
extinção da punibilidade de um dêles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.

50
Anistia ou Indulto.

A Anistia e o Indulto são conhecidos como indulgências soberanas, em razão do


reconhecido esforço do legislador penal em “suavizar a aspereza da justiça”, em algumas
circunstâncias, como as políticas, sociais, econômicas, ou mesmo particulares, em que o
esquecimento do crime é mais útil à sociedade do que a punição do infrator.
Anistia é o esquecimento completo de tudo quanto diz respeito ao crime e ao
criminoso e pode ser concedida em casos excepcionais, principalmente a crimes políticos
(anistia especial), para apaziguar os ânimos, acalmar as paixões sociais, e pode também
incidir sobre delitos comuns (anistia comum). Produz efeitos ex tunc (retroativos) e deve
manter o caráter de generalidade, pois abrange fatos (delitos) e não pessoas. Porém não
abrange os efeitos civis.
Não é aplicável, porém, aos delitos referentes à prática da tortura, ao tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, ao terrorismo e aos definidos como crimes hediondos
(Art. 5º, XLIII, da CF/1988).
A anistia pode ser concedida pelo Congresso Nacional (Art. 48, VIII, da CF/1988). É
importante ressaltar que a anistia, após ser concedida, não pode ser revogada (Art. 5º,
XXXVI e XL, da CF/1988).
A anistia tem como efeitos: apagar o crime, extinguir a punibilidade e demais
conseqüências de natureza penal. Não abrange os efeitos civis.
O indulto exclui apenas a punibilidade e não o crime. Pressupõe, em regra,
condenação com trânsito em julgado. Compete ao Presidente da República (Art. 84, XII da
CF/1988) que poderá delegar esta atribuição de conceder o indulto aos Ministros de
Estado, ao Procurador Geral da República ou ao Advogado-Geral da União (Art. 84,
parágrafo único, da CF/1988). É importante ressaltar os efeitos do indulto:
Somente extinguem a punibilidade, subsistindo o crime, a condenação irrecorrível e
seus efeitos secundários (diferencia¬do da anistia, que apaga o crime e seus efeitos).
Assim, vindo o sujeito indultado a cometer novo crime, ele será considerado reincidente,
diferenciando-se do sujeito anistiado que, conforme o art. 71, § 2º, do CPM, não será
reincidente.
A anistia e o indulto são formas de dispensa de aplicação da lei penal.

51
Retroatividade da lei que não mais considera o fato como criminoso.

A lei posterior que deixa de considerar uma fato como crime, retroage excluindo os
crimes ocorridos anteriormente a sua publicação. Essa retroatividade da lei que não mais
considera o fato como criminoso é conhecida como o “abolitio criminis”. O crime é
excluído, se lei posterior deixa de considerar o fato como tal. É retroativa a lei que não
mais considera o fato como criminoso.

Prescrição.

A prescrição (Art. 124 à 133 do CPM) extingue a punibilidade, baseando-se na


fluência do tempo. Se a pena não é imposta ou executada dentro de determinado prazo,
cessa o interesse da lei pela punição, passando a prevalecer o interesse pelo
esquecimento e pela pacificação social. Prescrição é a extinção do direito de punir do
Estado pelo decurso do tempo. Pode ela ocorrer antes do trânsito em julgado da sentença
e, conseqüentemente, o direito de exercer a ação (prescrição da ação penal) ou,
posteriormente a esse fato, quando põe fim ao direito de aplicar a pena, impedindo a
execução do título e¬xecutório (prescrição da execução da pena).

Exemplos:

a) Suponha-se que um militar estadual do Ceará tenha cometido um crime de lesão


corporal leve (Art. 209 do CPM), onde a pena cominada é de detenção, de três meses a um
ano, não se descobrindo a autoria. Se o Estado, dentro de 04 (quatro) anos não exercer o
“jus persequendi”, opera-se a extinção da punibilidade pela prescrição da ação (Art. 125,
VI104, do CPM).

b) Suponha-se que o PM/BM tenha sido condenado irrecorrivelmente a 03 (três)


meses de detenção pela prática de lesão corporal leve, não merecendo “sursis”. Se o
Estado não iniciar a execução da pena dentro de 02 (dois) anos, opera-se a extinção da
punibilidade pela prescrição da execução da pena (Art. 125, VII105, do CPM).
104
Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º dêste artigo, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se: VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;
105
Art. 125. (...)VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.

52
A prescrição é de ordem pública, devendo ser decretada de ofício ou a requerimento
do interessado.
Os prazos de prescrição são tratados no CPM em seu art. 125, sendo importante
ressaltar, ainda, os artigos 127 (prescrição no caso de reforma ou suspensão do exercício
do posto, graduação, cargo ou função); 129 (redução da prescrição, quando o criminoso
era, ao tempo do crime, menor de 21 anos ou maior de 70 anos); 131 (prescrição, no caso
de insubmissão); e 132 (prescrição, no caso de deserção).

A CF/1988 estabeleceu que são imprescritíveis os crimes de racismo (Art. 5º, XLII, da
CF/1988), bem como os praticados pela ação de grupos armados, civis ou militares, contra
a ordem constitucional e o Estado democrático (Art. 5º, XLIV, da CF/1988).
No crime de deserção o prazo prescricional corre normalmente, mas somente
poderá ser declarado quando o desertor completar 45 anos. Essas regras são necessárias,
pois esse crime, como também o crime de insubmissão, são permanentes, e se não fosse
assim seriam imprescritíveis (Art. 132106 do CPM).

Reabilitação.

A Reabilitação (Art. 134107 a 135108 do CPM) é a reintegração do condenado no


exercício dos direitos atingidos pela sentença, com a restituição das qualidades ou
atributos que havia perdido. No conceito penal, é entendida como a cessação dos efeitos
da condenação, notadamente no que concerne às incapacidades e restrições
conseqüentes da penalidade imposta. Estimula-se o condenado à completa regeneração,

106
Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a punibilidade quando o desertor atinge a idade de quarenta e
cinco anos, e, se oficial, a de sessenta.
107
Art. 134. A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por sentença definitiva.
108
Art. 135. Declarada a reabilitação, serão cancelados, mediante averbação, os antecedentes criminais.

53
possibilitando-lhe plenas condições de voltar ao convívio da sociedade sem nenhuma
restrição ao exercício de seus direitos.

Ressarcimento do Dano no Peculato Culposo.

No Crime de Peculato Culposo (Art. 303, § 3º109), caso haja a reparação do dano
antes da sentença final, se dará a extinção da punibilidade, e caso a reparação seja
posterior, reduzirá a pena imposta pela metade (Art. 303, § 4º110, do CPM).

Aula 4 - Resumo

Nesta unidade você estudou as penas principais do DPM: morte; reclusão; detenção;
prisão; impedimento; suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função; e
reforma; e penas acessórias.
Conheceu também os elementos acidentais do crime militar: as circunstâncias
agravantes e atenuantes, como também, as causas de extinção da punibilidade: morte do
agente; anistia ou indulto; retroatividade da lei que não mais considera o fato como
criminoso; prescrição; reabilitação; e ressarcimento do dano no peculato culposo.

Aula 5 - Material Complementar

25/05/2015 11h14 - Atualizado em 25/05/2015 11h14


STM QUEBRA SIGILO DO WHATSAPP DE SOLDADO SUSPEITO DE CAUSAR ACIDENTE

109
Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou
comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: § 3º Se o funcionário ou o militar contribui culposamente para que outrem subtraia ou desvie o
dinheiro, valor ou bem, ou dele se aproprie: Pena - detenção, de três meses a um ano.
110
Art. 303. (...) § 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede a sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior,
reduz de metade a pena imposta.

54
O Superior Tribunal Militar determinou que o Facebook forneça o histórico das
conversas no aplicativo WhatsApp de um soldado do Exército, acusado de ser o
responsável pelo acidente de carro que matou o comandante do 12º Batalhão de
Engenharia de Combate Blindado e sua esposa em 2014, no Rio Grande do Sul. A decisão
foi emitida na semana passada pelo plenário do STM, instância máxima da Justiça Militar.
O STM atendeu ao pedido do Ministério Público Militar (MPM), que apura o
acidente de carro em que morreram o tenente-coronel Gerson Salther Ribeiro Lacerda,
de 45 anos, e a esposa dele, Graziela Campos Lacerda, de 40 anos, em outubro do ano
passado.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal afirmou na época, o veículo em que os dois
estavam saiu da pista e capotou após o motorista, o soldado Braudon Santos, de 20 anos,
perder o controle. Os três iam de Alegrete, onde ficava o 12º Batalhão, a Santa Maria. O
MPM acredita que o acidente foi causado pela falta de atenção.
“A causa determinante do acidente foi a ausência de percepção ou reação tardia
numa manobra com mudança brusca de direção, que ocasionou a perda do controle e foi
potencializado pelo excesso de velocidade”, afirma o laudo pericial.
O MPM já havia conseguido autorização da Justiça Militar para quebrar o sigilo
telefônico do soldado. Mas a primeira instância de Bagé havia negado a liberação dos
dados do WhatsApp. O argumento era de que os direitos de Santos previstos na
Constituição Federal seriam infringidos, pois o conteúdo do bate-papo seria liberado.
Já os ministros do STM atenderam ao pedido de forma parcial: apenas o registro das
mensagens enviadas deve ser liberado e não o conteúdo do que foi dito pelo soldado.
“Não é dado ao magistrado, sem que haja uma efetiva motivação, invadir a intimidade e a
privacidade do investigado quando dispõe de outros meios de produzir provas nos autos.
Por outra via, seu deferimento deverá sempre observar a necessidade da medida”,
afirmou o ministro Marcus Vinicius de Oliveira, relator do caso.
Disponível no sítio: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/05/stm-quebra-
sigilo-do-whatsapp-de-soldado-suspeito-de-causar-acidente.html>. Acessado em 31 maio
2015.

55
Aula 6 - Exercícios de Fixação

1. Com relação às penas previstas no CPM, assinale “V’ para as acepções verdadeiras e
“”F” para as falsas:

a) ( ) A principal diferença da pena de detenção para a de reclusão é o


estabelecimento em que a pena deve ser cumprida.
b) ( ) A suspensão dos direitos políticos é uma pena principal.
c) ( ) A pena de morte só pode ser aplicada em caso de guerra declarada e será
executada por fuzilamento, enforcamento ou afogamento.
d) ( ) As penas acessórias em regra são aplicadas independentemente da pena
principal.

2. Com relação aos elementos acidentais do crime militar marque a única opção que
corresponde a uma assertiva VÁLIDA:

a) ( ) Os elementos acidentais do crime são a antijuridicidade, a culpabilidade e


punibilidade.
b) ( ) Quando existem, os elementos acidentais modificam a responsabilidade do
agente, agravando ou atenuando a pena.
c) ( ) Aplica-se a gravação da pena, mesmo, quando uma das circunstâncias
agravantes, funcionar como elementar ou como circunstância qualificadora.
d) ( ) Mesmo quando a pena-base for fixada no mínimo legal devem incidir as
circunstâncias atenuantes.

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3. Sobre as causas de Extinção da Punibilidade assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) O crime não é excluído se lei posterior deixou de considerar o fato como tal,
em razão da segurança jurídica.
b) ( ) A morte do agente dissolve sua responsabilidade penal.
c) ( ) A prescrição ocorre se a pena não é imposta ou executada dentro de
determinado prazo, cessando o interesse da lei pela punição.
d) ( ) Anistia é o esquecimento completo de tudo quanto diz respeito ao crime e ao
criminoso e o indulto exclui apenas a punibilidade e não o crime.

Gabarito:
1) a) V; b) F; c) F; d) F.
2) b.
3) a.

LISTA DE ABREVIATURAS

APFD - Auto de Prisão em Flagrante Delito


ART - Artigo
BM - Bombeiro Militar
CB - Cabo
CBMCE - Corpo de Bombeiro Militar do Ceará
CPB - Código Penal Brasileiro
CPM - Código Penal Militar
CPPM - Código de Processo Penal Militar
CF/1988 - Constituição da República Federativa do Brasil
DPM - Direito Penal Militar
FFAA - Forças Armadas
IPM - Inquérito Policial Militar
OM - Organização Militar
OBM - Organização Bombeiro Militar
OPM - Organização Policial Militar
PM - Policial Militar

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PMCE - Polícia Militar do Ceará
SD - Soldado
SGT - Sargento
ST - Subtenente
TEN - Tenente

REFERÊNCIAS

ASSIS, Jorge César de. Direito Penal Militar. Aspectos Penais, Processuais Penais e Administrativos. 2ª edição,
Editora Juruá, 2007 - reimpressão em 2011.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: 05/10/1988.


41ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
_____. Decreto-Lei n. 1.001, de 21 de outubro de 1969. Dispõe sobre o Código Penal
Militar. Vade mecum Direito Militar: Coletânea de Legislação Militar. São Paulo, Suprema
Cultura Editora. 2004.
_____. Regulamento Interno e dos Serviços Gerais (R-1), aprovado pela Portaria nº 816,
de 19/12/03, do Ministério da Defesa.
CEARÁ. Polícia Militar do. Código Disciplinar da Polícia Militar do Ceará e do Corpo de
Bombeiros Militar do. Lei n. 13.407, de 21 de novembro de 2003. Fortaleza: Inesp, 2004.
GIULIANI, Ricardo Henrique Alves. Direito Penal Militar. Porto Alegre: Verbo Jurídico,
2007.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. Brasília: Brasília Jurídica, 3ª ed. 2006.
NETO, José da Silva Loureiro. Direito Penal Militar. 5ª edição, São Paulo: Atlas, 2010.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcelo. Apontamentos de direito Penal
Militar, São Paulo: Saraiva, 2005.
_____. Manual de Direito Penal Militar, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado, 7ª ed. Ed. Revista dos Tribunais,
2007.
ROSA, Paulo tadeu Rodrigues. Direito Administrativo Militar. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007.
SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Inquérito Policial Militar e Auto de prisão em
Flagrante nos Crimes Militares. São Paulo: Atlas, 1999.

58
_____. Código Penal Militar Comantado: parte geral. 2ª edição. São Paulo: Método
Editora, 2009.
SOUZA, Ione Cruz; AMIN, Cláudio Miguel. Elementos de Direito Penal Militar. 2ª edição:
Lumen Juris, 2009.

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