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DISCIPLINA
FUNDAMENTOS DO DIREITO PENAL MILITAR
CONTEUDISTA
Arlindo da Cunha Medina Neto
FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva – 1º SGT PM
• 2023 •
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
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UNIDADE 1 - CRIME MILITAR
Definir o crime militar não é tarefa fácil, pois nem mesmo a CF/1988 (art. 5º, LXI1, e
arts. 1242 e 125, § 4º3), e a legislação específica do DPM, definem propriamente o crime
militar e não há entendimento pacífico na doutrina e na jurisprudência quanto aos
critérios para sua adequação.
Na presente Unidade você vai conhecer as circunstâncias para se definir o crime
militar, identificar as situações de aplicação da lei penal Militar e conhecer os Principais
Crimes Militares em tempo de paz.
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Art. 5 (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
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Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
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Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) § 4º Compete à Justiça Militar estadual
processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
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esteja na condição especial de militar (Por exemplo: No inciso II, alíneas ‘a”, “b”, “c”, “d” e
inciso III, alíneas “b” e “c”).
O critério do local (“ratione loci”) leva em consideração o local onde a conduta
criminosa foi praticada, qual seja “sob administração militar”, conforme inciso II, alíneas
“b”, “c”, “d” e inciso III, alíneas “b” e “c”.
Há, também, o critério de tempo (“ratione temporis”), pois o CPM prevê duas
modalidades de crimes militares, descrevendo condutas e culminando penas para os
crimes militares praticados em tempo paz e em tempo de guerra. Assim, para
considerarmos como crime militar, além de a conduta ter que estar tipificada no CPM
obedecendo às normas do art. 9º, deve-se considerar se o país está ou não em estado de
guerra.
Vários doutrinadores se manifestaram a respeito do tema, dando a sua contribuição,
dentre eles o saudoso professor Mirabete que afirmava: “árdua por vezes é a tarefa de
distinguir se o fato é crime comum ou militar, principalmente nos casos de ilícitos
praticados por policiais militares”.
Para NEVES e STREIFINGER, a definição do crime militar só é possível após se
percorrer três etapas, que para tanto devem resultar positivas. Em primeiro lugar, a
conduta delitiva deve estar tipificada na Parte Especial do CPM como crime militar. Em
seguida, num segundo momento, recorrer-se-á a Parte Geral, analisando o art. 9º do
CPM, e seus incisos, verificando se o fato se enquadra em uma das circunstâncias ali
descritas. Por último, se deve perguntar se o sujeito ativo pode cometer o delito militar
na esfera em que se está aplicando o CPM. Sendo que em nível Federal, pode responder o
militar federal e o civil, e em nível Estadual, apenas o militar estadual.
Assim, segundo os referidos mestres, para a definição do crime militar basta seguir a
proposta de assertivas abaixo:
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Como se sabe é na Parte Especial do CPM que estão descritos os tipos penais
militares, sendo que na terceira aula desta Unidade veremos os Principais Crimes
Militares em tempo de paz.
Quanto ao amoldamento ao art. 9º do CPM, tal artigo considera os crimes militares,
em tempo de paz, na forma que indica, estando abaixo uma reprodução sucinta do
mesmo:
II - Os crimes previstos no CPM, embora também o sejam com igual definição na lei
penal comum, quando praticados:
III - Os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:
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c) Contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) Ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da
ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele
fim, ou em obediência a determinação legal superior.
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Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) § 4º Compete à Justiça Militar estadual
processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
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Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
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Pode-se dizer que o assemelhado seria o servidor público que trabalha nas FFAA e
era submetido ao preceito da disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento (Art. 216
do CPM.
Entretanto, essa figura não mais existe no universo jurídico desde a edição do
Decreto nº 23.203, de 18 de junho de 1947, conforme lição de LOBÃO.
No Estado de São Paulo decisões judiciais recentes consideraram o Soldado
Temporário PM (Sd Temp PM) como assemelhado. Essa visão, no entanto, não tem
encontrado eco no Tribunal de Justiça Militar respectivo.
Tempo do Crime:
O tempo do crime no Direito Penal Militar segue a Teoria da Atividade (Art. 5°7 do
CPM), igualmente adotada no Direito Penal Comum, que diz que o crime ocorreu no
exato momento em que foi praticado.
Essa estipulação do tempo do crime é importante, para se evitar que um fato seja
considerado crime em decorrência de lei vigente na época do resultado e não no
momento da conduta delitiva (comissiva ou omissiva).
a) Descriminalização de Condutas
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Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de
disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento.
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Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado.
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Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença
condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil.
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mudanças da sociedade, o legislador deixa de considerar criminosas determinadas
condutas, retirando do ordenamento jurídico os seus tipos penais.
Ao dispor sobre a lei supressiva de incriminação, o CPM afirma que fato que já não é
mais considerado crime por uma lei mais atual e, assim, o agente ativo não pode mais ser
punido.
Na retroatividade de lei mais benigna (“Lex mitior ou Novatio legis in mellius”) a lei
penal nova só alcança o fato ocorrido antes da sua vigência se for uma lei melhor, mais
benéfica (Art. 2º, CPM, e Art. 5º, XL9, da CF/1988).
É considerada benéfica, por exemplo, a lei que reduz a pena, permite a substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direito, facilita a progressão de regime
etc.
A lei nova que torna típica conduta que antes era permitida (“Novatio Legis
incriminadora”) e a nova lei que é mais severa que a anterior (“Lex gravior ou novatio
legis in pejus”) nunca retroagirão, não se aplicando aos crimes ocorridos na vigência da lei
anterior. Assim, o juiz é obrigado a aplicar a lei anterior, vigente ao tempo do crime,
mesmo depois de revogada. Trata-se da eficácia ultra-ativa da norma penal mais benéfica,
que deve prevalecer por força do que prescreve o art. 5º, XL, da CF/1988.
d) A vacância da lei
A vacância da lei (“vacatio legis”) é uma expressão latina que significa o período
compreendido entre a data em que a lei passa a existir (dia da publicação) e a data em
que ela passa efetivamente a vigorar (dia em que tem o cumprimento obrigatório).
A doutrina entende que a lei penal mais benéfica pode ser aplicada imediatamente,
mesmo no período de “vacatio legis”, porque este instituto é protetivo e visa dar à
sociedade um tempo de adaptação à nova ordem legal, não podendo limitar a garantia da
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Art. 5º (...). XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
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retroatividade prevista no art. 5º, inciso XL10, da CF/1988.
Para definir o lugar do crime, diferentemente do CPB, o DPM (Art. 6º12 do CPM)
adota um sistema misto que concilia duas teorias conforme a ação praticada ou omitida:
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Art. 5º (...). XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
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Art. 2º (...). § 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de
suas normas aplicáveis ao fato.
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Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a
ação omitida.
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A Teoria do Resultado, que é a que diz ser o lugar do crime aquele em que se
produziu o evento, não se verifica sozinha no DPM.
Como os militares estaduais atuam nos limites de suas Unidades da federação,
portanto, somente no limite territorial do país, não trataremos neste curso da questão da
territorialidade e extraterritorialidade, pois são casos de crimes a distância que envolvem
países diferentes e pode resultar em conflito de jurisdição, de caráter internacional.
Apesar de você já conhecer pelo menos alguns dos crimes militares, nesta unidade
vamos nos recordar dos principais crimes militares que ocorrem em tempo de paz.
Os crimes militares em razão do tempo (“ratione temporis”) dividem-se em crimes
militares em tempo de paz e crimes militares em tempo de Guerra. Por questões óbvias,
neste curso só estudaremos os crimes militares em tempo de paz de maior relevância
para a atividade constitucional das Forças Militares Estaduais.
a) Motim (Art. 149 do CPM13): O motim é um crime militar próprio que se traduz em
uma manifestação da insurreição de militares reunidos contra autoridade
hierarquicamente superior, caracterizando-se por demonstrações inequívocas de
desobediência ou ocupação indevida de instalações e equipamentos militares.
b) Revolta (Art. 149, parágrafo único14): A revolta nada mais é do que uma forma
qualificada de motim. Distingue-se do crime de motim unicamente pelo fato dos militares
amotinados utilizarem armamento. Aliás, não é preciso sequer a efetiva utilização das
armas, basta que as tenham ao seu dispor.
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Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados: I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la; II - recusando obediência a
superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência; III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência, em
comum, contra superior; IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de qualquer dêles, hangar,
aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar, ou prática de
violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento da ordem ou da disciplina militar: Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de
um têrço para os cabeças.
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Art. 149. (...). Parágrafo único. Se os agentes estavam armados: Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um têrço para os cabeças.
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c) Incitamento (Art. 15515 do CPM): O Incitamento é crime impropriamente militar,
pois também está previsto de modo semelhante no art. 28616 do CPB. Por este tipo penal
militar é crime incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática de crime militar,
sujeitando o autor do delito à pena de reclusão, de dois a quatro anos.
d) Apologia de fato criminoso ou de seu autor (Art. 15617 do CPM): Fazer apologia
significa elogiar, louvar defender. Para que se consume tal crime esta apologia tem que
ocorrer em local sujeito a administração militar (Na esfera estadual, a OPM ou OBM).
e) Violência contra Superior (Art. 15718 do CPM): Crime militar próprio que consiste
em uma agressão física contra superior hierárquico, podendo haver empurrões, tapas,
puxões de orelha, pontapés, etc. A violência pode resultar também do arremesso de um
objeto, de ordem para um animal atacar ou investidas similares, em que o autor apesar
de não atingir o ofendido diretamente, mas foi o responsável pela conduta e pelo
resultado.
f) Violência contra Militar de Serviço (Art. 15819 do CPM): Neste tipo penal militar a
conduta violenta é direcionada contra o militar de serviço, nas funções grafadas no tipo
penal, ou seja, contra oficial de dia, de serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou
plantão.
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h) Recusa de Obediência (Art. 16321 do CPM): É um crime militar próprio que tem a
intenção de punir o comportamento rebelde do subordinado ao não cumprir ordem
emanada de uma autoridade superior, vez que atentatório à essência da vida em caserna,
pois um dos preceitos fundadores da ética militar é justamente o de cumprimento das
leis, dos regulamentos, das instruções e das ordens das autoridades competentes.
l) Uso Indevido por Militar de Uniforme, Distintivo ou Insígnia (Art. 17125 do CPM): O
militar estadual que usar indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia de posto ou
graduação superior, comete o crime de Uso Indevido por Militar de Uniforme, Distintivo
ou Insígnia.
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Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sôbre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever impôsto em lei, regulamento ou instrução:
Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não constitui crime mais grave.
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Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela: Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
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RISG - Art. 220: A sentinela é, por todos os títulos, respeitável e inviolável, sendo, por lei, punido com severidade quem atentar contra a sua autoridade;
por isso e pela responsabilidade que lhe incumbe, o soldado investido de tão nobre função portar-se-á com zelo, serenidade e energia, próprios à autoridade
que lhe foi atribuída.
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Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou documento oficial, ou criticar públicamente ato de seu superior ou assunto atinente à
disciplina militar, ou a qualquer resolução do Govêrno: Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
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Art. 171. Usar o militar ou assemelhado, indevidamente, uniforme, distintivo ou insígnia de pôsto ou graduação superior: Pena - detenção, de seis meses a
um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
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m) Rigor excessivo (Art. 17426 do CPM): É crime propriamente militar em que um
superior comete excesso de poder quando vai punir um subordinado seu, punindo-o com
rigor não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou escrito. Cabe a tentativa.
o) Fuga de Preso ou Internado (Art. 17828 do CPM): Para a caracterização desse tipo
penal militar é necessário que a fuga ocorra de estabelecimento prisional sob a guarda e
responsabilidade da administração militar, assim, a prisão deve ser militar (presídio
militar) e pode ser qualquer tipo de prisão (prisão provisória ou pena de prisão).
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Art. 174. Exceder a faculdade de punir o subordinado, fazendo-o com rigor não permitido, ou ofendendo-o por palavra, ato ou escrito: Pena - suspensão
do exercício do pôsto, por dois a seis meses, se o fato não constitui crime mais grave.
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Art. 175. Praticar violência contra inferior: Pena - detenção, de três meses a um ano. Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou morte é
também aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando fôr o caso, ao disposto no art. 159.
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Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente prêsa ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois
anos.
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Art. 351. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois
anos.
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3.2 Contra o Serviço e o Dever Militar
a) Deserção (Art. 18730 do CPM): Se configura esse tipo penal quando o militar
estadual fica ausente, injustificadamente, por um período superior a 08 (oito) dias de sua
unidade ou do lugar em que tinha de estar presente.
d) Retenção Indevida (Art. 19733 do CPM): O oficial ao deixar uma função ou quando
lhe for requisitado determinado material ou documento do patrimônio da Administração
Militar deve entregá-lo prontamente, pois a conduta do oficial que não cumpre uma
ordem recebida para restituir um objeto, um plano, uma carta, uma cifra, um código ou
mesmo um documento que lhe tenha sido confiado incide nesse crime militar.
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Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: Pena - detenção, de
seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
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Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
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Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que lhe foi confiada: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui crime mais
grave.
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Art. 197. Deixar o oficial de restituir, por ocasião da passagem de função ou quando lhe é exigido, objeto, plano, carta, cifra, código ou documento que lhe
haja sido confiado: Pena - suspensão do exercício do posto, de três a seis meses, se o fato não constitui crime mais grave.
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e) Embriaguez em Serviço (Art. 20234 do CPM): Não se admite o militar embriagado
de serviço, porque, no mínimo, ele apresentará falta de atenção e prejuízo ao
desempenho do serviço que está realizando. Esse crime se configura quando o militar já
se encontra de serviço e se embriaga e quando se apresenta embriagado para prestar o
serviço para o qual estava devidamente escalado e tinha ciência prévia. Neste crime é
imprescindível a comprovação da embriaguês do agente, que poderá ser realizada com
exame de dosagem alcoólica (exame de alcoolemia, exame de sangue) ou pelo exame
clínico (exame de embriaguez, “exame visual”), realizado por médico perito oficial e, na
ausência deste, por médico a ser designado pela autoridade militar. Não obstante,
também se admite como elemento de comprovação o resultado do teste do bafômetro,
prova testemunhal e imagens que evidenciem de modo preciso o estado do acusado na
ocasião do fato, com todas as circunstâncias demonstrativas da situação em que o mesmo
se encontrava.
f) Dormir em Serviço (Art. 20335 do CPM): Se configura com o militar estadual não se
mantém acordado durante o serviço, se diferenciando da transgressão disciplinar quanto
da intensidade da prática do ato. Por exemplo, se o militar estadual está de pé, na
condição de sentinela, mas vem a fechar os olhos, mas permanece ainda de pé, não há
que se falar em crime militar, mas em uma transgressão de natureza disciplinar. Mas, se a
mesma sentinela, deixa o seu posto, e se dirige a um local reservado, onde retira o cinto
de guarnição, a cobertura, para que possa dormir teremos neste caso o crime militar e
não a transgressão.
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Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
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Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo oficial, em serviço de
sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de natureza semelhante: Pena - detenção, de três meses a um ano.
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3.3 Contra a Pessoa
a) Homicídio Simples (Art. 20536 do CPM): Crime impropriamente militar, uma vez
que se encontra prevista também no art. 121 do CPB, é aquele em quer o militar que tira
a vida de outro militar. Importante frisar que recente alteração do Parágrafo único37 do
Art. 9º do CPM, determinou o julgamento no Tribunal do Júri quando o homicídio for
doloso e praticado contra civil.
b) Lesão Corporal (Art. 20938 do CPM): A conduta do militar estadual que ofende a
integridade corporal (física e psíquica) de uma pessoa. A lesão pode ser leve ou grave. Na
primeira hipótese se resultou consequências mais sérias para a vítima, podendo ser
considerada como infração disciplinar pelo juiz. (Art. 209, § 6º39, do CPM), e na segunda
hipótese se foi provocada dolosamente e produziu perigo de vida, debilidade permanente
de membro, sentido ou função, ou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de
30 (trinta) dias (Art. 209, §1º40, do CPM).
A 1ª Turma do STF entendeu que não cabe à Justiça Militar julgar o crime de lesão
corporal cometido por um militar em face de outro militar, fora do serviço, e sem que eles
soubessem da condição de militar de cada um, conforme precedente jurisprudencial
transcrito adiante.
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Art. 205. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
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Art. 9° (...). Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça
comum. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 07/08/96.)
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Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.
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Art. 209. (...) § 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar a infração como disciplinar.
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Art. 209. (...) § 1°: Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou incapacidade para as ocupações
habituais, por mais de trinta dias: Pena - reclusão, até cinco anos.
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Art. 213. Expor a perigo a vida ou saúde, em lugar sujeito à administração militar ou no exercício de função militar, de pessoa sob sua autoridade, guarda
ou vigilância, para o fim de educação, instrução, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a
trabalhos excessivos ou inadequados, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de dois meses a um ano.
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d) Calúnia (Art. 21442 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também está
previsto no CPB no art. 138, a Calúnia consiste em atribuir, falsamente à alguém a
responsabilidade pela prática de um determinado fato definido como crime.
e) Difamação (Art. 21543 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também está
previsto no CPB no art. 139, a Difamação consiste em atribuir à alguém fato determinado
ofensivo à sua reputação.
f) Injúria (Art. 21644 do CPM): Crime impropriamente militar, pois também está
previsto no CPB no art. 140, a Injúria consiste em atribuir a alguém qualidade negativa,
que ofenda sua dignidade ou decoro. Fere-se o decoro quando se critica o conjunto de
atributos físicos (“cabeção”, “pescoção”, “monstro”, etc.), intelectuais (“animal”,
“jumento”, “retardado”, etc.) e sociais (“vagabundo”, “almofadinha”, “arruaceiro”, etc.).
h) Ameaça (Art. 22346 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 147 do CPB, o Crime de consiste na conduta de ameaçar por uma
pessoa qualquer meio podendo chegar a causar-lhe mal injusto e grave.
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Art. 214. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
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Art. 215. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano.
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Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro: Pena - detenção, até seis meses.
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Art. 222. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer ou a tolerar que se faça, o que ela não manda: Pena - detenção, até um ano, se o fato não constitui
crime mais grave.
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Art. 223. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto e grave: Pena - detenção, até seis
meses, se o fato não constitui crime mais grave.
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i) Pederastia ou outro Ato de Libidinagem (Art. 23547 do CPM): Crime propriamente
militar, o Crime de Pederastia proíbe o sexo, homossexual ou não, dentro das
dependências militares.
j) Ato Obsceno (Art. 23848 do CPM): Caracteriza-se pela prática de uma ação de
cunho sexual que ofende o pudor (a moral), podendo ser a simples exposição em público
do órgão genital, a nudez, a masturbação, a micção, gestos ou sinais com a intenção de
ofender o pudor público, no interior de local sob a Administração Militar.
a) Furto Simples (Art. 24049 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 155 do CPB, o Crime de Furto se caracteriza pela subtração de
qualquer tipo ou forma de objeto para si ou outra pessoa, diferenciando-se do roubo,
pois naquele existe o uso de intimação, violência ou grave ameaça contra a vítima.
b) Roubo Simples (Art. 24250 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui
igual tipificação que o art. 157 do CPB, o Roubo Simples se caracteriza pela a subtração de
qualquer tipo ou forma de objeto para si ou outra pessoa, de forma diferente do furto,
com o emprego de violência ou ameaça ou depois de haver reduzido a possibilidade de
resistência da vítima.
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Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com êle se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar: Pena -
detenção, de seis meses a um ano.
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Art. 238. Praticar ato obsceno em lugar sujeito à administração militar: Pena - detenção de três meses a um ano.
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Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, até seis anos.
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Art. 242. Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante emprêgo ou ameaça de emprêgo de violência contra pessoa, ou depois de havê-la,
por qualquer modo, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a quinze anos.
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c) Extorsão Simples (Art. 24351 do CPM): Crime impropriamente militar, embora
possua descrição típica diferente do art. 15852 do CPB, a Extorsão Simples se caracteriza
pela obtenção indevida de vantagem econômica de alguma pessoa, mediante
constrangimento, violência ou grave ameaça.
f) Receptação (Art. 254|55 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 180 do CPB, o delito de Receptação caracteriza-se pelo recebimento
da coisa, que pelas condições do negócio, características do produto ou preço acordado, o
sujeito ativo deveria saber tratar-se de produto de origem ilícita, ou pelo menos deveria
suspeitar, mas mesmo assim ele adquire-o, ou influencia outra pessoa, que pensa ser
legítima a procedência, a adquiri-lo.
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Art. 243. Obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, constrangendo alguém, mediante violência ou grave ameaça: a) a praticar ou
tolerar que se pratique ato lesivo do seu patrimônio, ou de terceiro; b) a omitir ato de interêsse do seu patrimônio, ou de terceiro: Pena - reclusão, de
quatro a quinze anos.
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Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a
fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
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Art. 248. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou detenção: Pena - reclusão, até seis anos.
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Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em êrro, mediante artifício, ardil ou qualquer
outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de dois a sete anos.
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Art. 254. Adquirir, receber ou ocultar em proveito próprio ou alheio, coisa proveniente de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte: Pena - reclusão, até cinco anos.
56
Art. 262. Praticar dano em material ou aparelhamento de guerra ou de utilidade militar, ainda que em construção ou fabricação, ou em efeitos recolhidos
a depósito, pertencentes ou não às fôrças armadas: Pena - reclusão, até seis anos.
57
Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
18
Nacional) para que não sejam depredados ou destruídos.
Para efeitos deste crime militar: destruir significa quebrar totalmente, fazer em
pedaços, desfazer ou subverter a coisa; inutilizar significa alterar as características da
coisa de forma que ela não se preste mais a consecução do fim para o qual foi produzida;
deteriorar significa fazer com que a coisa se desgaste mais do que seria normal pela ação
do tempo ou fazer com que a coisa perca parte de sua utilidade; e fazer desaparecer
significa sumir com a coisa, tornar-la inalcançável.
58
Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso próprio,
guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que determine dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à
administração militar, sem autorização ou em desacôrdo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, até cinco anos.
19
3.6 Contra a Administração Militar
59
Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade: Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato
não constitui crime mais grave.
60
Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não constitui
outro crime.
61
Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade militar: Pena - detenção, até seis meses.
62
Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou
comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de três a quinze anos.
63
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo,
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
20
vigilância, para proveito próprio ou de terceiro.
e) Concussão (Art. 30564 do CPM): Crime impropriamente militar, pois possui igual
tipificação que o art. 316 do CPB, o delito militar de Concussão caracteriza-se pelo abuso
da função exercida, por isso só pode ser praticado por servidor público ou militar da ativa,
ainda que não tenha assumido a função, mas aja em razão dela, exigindo vantagem
indevida.
64
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
65
Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a oito anos.
66
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de
12/11/03)
67
Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevida para a prática, omissão ou retardamento de ato funcional: Pena - reclusão, até oito
anos.
68
Art. 311. Falsificar, no todo ou em parte, documento público ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde que o fato atente contra a
administração ou o serviço militar: Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a seis anos; sendo documento particular, reclusão, até cinco anos.
69
Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
70
Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
21
É imprescindível que a falsificação ou alteração seja idônea, isto é, apta a causar erro
naquele a que se destina o documento, caso contrário, se for grosseira e facilmente
perceptível, inexiste o delito em face da ausência de potencialidade lesiva, ocorrendo,
assim, crime impossível, hipótese em que restará apenas responsabilização disciplinar ao
agente.
71
Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dêle devia constar, ou nêle inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sôbre fato jurìdicamente relevante, desde que o fato atente contra a
administração ou o serviço militar: Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; reclusão, até três anos, se o documento é particular.
72
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco
anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
73
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfazer interêsse ou
sentimento pessoal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
22
b) Condescendência Criminosa (Art. 32274 do CPM): Crime impropriamente militar,
pois também é previsto com definição semelhante no art. 320 do CPB, a
Condescendência Criminosa só pode ser cometida pelo superior hierárquico em relação
ao seu subordinado infrator. Nesse caso o superior, por indulgência, benevolência ou
tolerância, deixa de responsabilizar subordinado hierárquico que tenha cometido crime,
contravenção penal ou qualquer falta disciplinar, sendo que quando não tem
competência disciplinar sobre ele, deve informar imediatamente à autoridade
competente para que sejam adotadas as providências cabíveis.
c) Inobservância de Lei, Regulamento ou Instrução (Art. 32475 do CPM): Crime
propriamente militar, pois não há previsão semelhante no CPB, o Crime de Inobservância
de Lei, Regulamento ou Instrução se caracteriza pelo não atendimento do preceito legal
(a lei, as instruções e os regulamentos afetos ao cumprimento do seu mister
constitucional) em prejuízo à Administração Militar.
É imprescindível que o preceito legal desconsiderado esteja contido em lei,
regulamento ou instrução e a conduta omissiva, obrigatoriamente, deve prejudicar a
Administração Militar.
74
Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete infração no exercício do cargo, ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente: Pena - se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis meses; se por negligência, detenção até três
meses.
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Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato prejudicial à administração militar:
Pena - se o fato foi praticado por tolerância, detenção até seis meses; se por negligência, suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função, de
três meses a um ano.
76
Art. 341. Desacatar autoridade judiciária militar no exercício da função ou em razão dela: Pena - reclusão, até quatro anos.
77
As autoridades judiciárias militar são os Ministros do Superior Tribunal Militar e o Juiz-Auditor Corregedor na esfera federal e, os juízes dos Tribunais
Militares dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, bem como, o Juiz-Corregedor da Justiça Militar Estadual e os Juízes-Militares que
compõem o Conselho de Justiça, Especial ou Permanente.
23
Aula 4 - Resumo.
Nesta Unidade você viu que definir o crime militar não é tarefa fácil e aprendeu
como defini-lo, aprendeu também como aplicar a Lei Penal Militar considerando o tempo,
a sua eficácia e o lugar do crime militar, e ao final, recordou dos principais crimes
militares em tempo de paz.
Um fato, para ser considerado delituoso, deve ser típico, antijurídico e culpável. Para
ser considerado como um delito militar, além de tudo isso, tem que se amoldar ao artigo
9º do Código Penal Militar (tipicidade indireta).
Muito se ouve falar em crimes propriamente militares e crimes impropriamente
militares. Mas, o que significam, afinal, essas expressões?
O artigo 124 da Constituição da República dispõe que compete à Justiça Militar
processar e julgar crimes militares definidos em lei, ou seja, cabe ao legislador ordinário
fixar os critérios para definir o crime militar. Essa lei é o Código Penal Militar,
especificamente o seu artigo 9o, que define o que vem a ser crime militar em tempo de
paz.
Contudo, a lei penal militar não define o que sejam crimes propriamente militares e
crimes impropriamente militares. Estas são apenas expressões doutrinárias.
Segundo a lição de Jorge Alberto Romeiro, em seu Curso de Direito Penal Militar, são
crimes propriamente militares aqueles que só podem ser praticados por militares, ou que
exigem do agente a condição de militar. É o caso, por exemplo, dos crimes de deserção,
24
de violência contra superior, de violência contra inferior, de recusa de obediência, de
abandono de posto, de conservação ilegal do comando etc.
Já os crimes impropriamente militares são os que, comuns em sua natureza, podem
ser praticados por qualquer cidadão, civil ou militar, mas que, quando praticados por
militar em certas condições, a lei considera militares. São impropriamente militares os
crimes de homicídio e lesão corporal, os crimes contra a honra, os crimes contra o
patrimônio (furto, roubo, apropriação indébita, estelionato, receptação, dano etc), os
crimes de tráfico ou posse de entorpecentes, o peculato, a corrupção, os crimes de
falsidade, dentre outros. Note-se que tais crimes também estão previstos no Código Penal
Brasileiro. A diferença está justamente na subsunção ao artigo 9º do CPM.
E o que diz esse artigo 9º?
Em seu inciso I, trata dos crimes previstos no Código Penal Militar, quando definidos
de modo diverso na lei penal comum ou nela não previstos, qualquer que seja o agente,
salvo disposição especial.
Quando o inciso diz qualquer que seja o agente, verifica-se que, além dos crimes
propriamente militares, que são aqueles que só podem ser cometidos por militares, tal
inciso abrange algo mais: os crimes somente previstos no Código Penal Militar, mas que
podem ser praticados por civis, como o crime de insubmissão. Daí, surge uma outra
denominação para o crime militar, qual seja, o crime tipicamente militar, trazido a lume
por Cláudio Amim Miguel e Ione de Souza Cruz, na obra Elementos de Direito Penal
Militar.
O crime tipicamente militar é aquele que somente está previsto no Código Penal
Militar, mas que pode ser praticado por civil. Temos assim o crime de insubmissão
(tipicamente militar) e o crime de deserção (que, além de ser propriamente militar, pois
somente pode ser cometido por militar, é também tipicamente militar, pois somente está
previsto na legislação penal militar).
O inciso II versa sobre os crimes previstos no Código Penal Militar, embora também o
sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados por militar da ativa
contra militar da ativa, ou por militar da ativa em lugar sujeito à administração militar, ou
por militar em serviço, ou ainda por militar da ativa contra o patrimônio sob a
administração militar (impropriamente militares cometidos por militar da ativa).
Finalmente, o inciso III traz como sujeito ativo o militar da reserva, o reformado ou o
civil quando cometem crime contra o patrimônio sob Administração Militar ou a Ordem
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Administrativa Militar, ou contra militar da ativa, servidores civis de Comando Militar ou
da Justiça Militar, no exercício da função, em local sujeito à Administração Militar, ou
ainda contra militar em serviço. Tais crimes, segundo a doutrina, são os crimes
impropriamente militares praticados por militares da reserva, reformados ou civis.
Do ponto de vista do bem tutelado - hierarquia, disciplina e ordem administrativa
militar - são igualmente importantes, e representam ofensa equivalente, os crimes
propriamente militares e os impropriamente militares. Assim, estando diante de um
crime militar, seja ele propriamente ou impropriamente militar, a competência para
processo e julgamento será da Justiça Militar.
GADELHA, Patricia Silva. Você Sabe o que é um Crime Militar? Disponível no sítio: <
http://www.adepolalagoas.com.br/artigo/voce-sabe-o-que-e-um-crime-militar.html>.
Acesso em 31 maio 2015.
1. Com relação a definição do Crime Militar assinale “V’ para as acepções verdadeiras e
“”F” para as falsas:
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2. Para definir o lugar do crime o DPM adota as seguintes teorias:
3. A respeito dos crimes militares assinale “V’ para as acepções verdadeiras e “”F” para as
falsas:
Gabarito:
1) a) V; b) V; c) F; d) V.
2) c.
3) a) V; b) F; c) F; d)
27
UNIDADE 2 - CULPABILIDADE
Uma conduta típica nem sempre será antijurídica, caso se verifique alguma causa de
exclusão de ilicitude.
Da mesma forma também não se pode dizer que um fato típico e antijurídico
sempre será culpável.
Antes de ser aplicada pena a um militar estadual que tenha praticado uma conduta
típica e antijurídica, esta deve passar pelo crivo da culpabilidade, que nada mais é do que
um juízo de reprovabilidade feito sobre uma conduta que se amolda a um tipo penal e
contraria as normas penais.
1º Condição: Não se pode aplicar pena a quem não tenha concorrido com um
mínimo de culpa para o resultado.
2º Condição: A pena deve ser proporcional à culpabilidade do agente, ou seja, não
se pode aplicar pena superior à medida de culpabilidade do agente, ainda que tenha
caráter de ressocialização ou que o agente seja perigoso.
Na presente Unidade você vai conhecer as circunstâncias para se configurar a
culpabilidade no Direito Penal Militar.
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Após as aulas de conteúdo são apresentados um resumo da Unidade, material
complementar e alguns exercícios de fixação.
O conceito de erro pode ser expresso como a falsa percepção da realidade, sendo
que a ignorância dessa realidade pode ser a ela equiparada para fins penais.
Contudo, o erro e a ignorância são distintos, visto que o primeiro trata de um
equívoco relativo à realidade e segundo é o completo desconhecimento dela.
A teoria do erro que foi adotada pelo CPM e também pelo CPB na maioria das vezes
estabelece situações que serão favoráveis ao agente em razão da forma como o fato foi
praticado, visto que a vontade do agente não era livre e consciente a ponto de permitir a
sua responsabilização integral.
Erro de Direito;
Erro de Fato; e
Erro de Pessoa.
a) Erro de Direito:
O Erro de Direito (Art. 3578 do CPM) é aquele em que o sujeito não tem
conhecimento da lei ou a sua interpretação equivocada da lei for plenamente justificável,
quando o agente não poderia superá-lo mesmo empregando a atenção ou a cautela que
lhe eram exigidos. Nesse caso, a pena pode ser reduzida ou substituída por outra menos
grave.
Ex: Um Militar Estadual da Ativa que encontra determinado bem em um quartel
(lugar sujeito a Administração Militar) e acreditando que por tê-lo encontrado é seu não o
entrega a autoridade competente no prazo de 15 (quinze) dias, comete o Crime Militar de
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Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente, salvo em se tratando de crime que atente contra o dever
militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou êrro de interpretação da lei, se escusáveis.
29
Apropriação de Coisa Achada (Art. 249, parágrafo único, do CPM).
O legislador penal ressalvou que o erro de direito não pode beneficiar o agente nos
casos de crimes contra o dever militar, como também, que o desconhecimento da lei não
exime o agente de responsabilidade penal. Isso, porque, em virtude do treinamento dos
militares, no qual lhe são repassados os conhecimentos necessários a poder discernir
sobre a ilicitude ou não de suas condutas, relativas à lei penal militar, presume-se que o
militar possua a potencial consciência da ilicitude relativa a seus deveres.
Interessante observar que enquanto no CPB o Erro de Proibição exclui a pena, o seu
similar no CPM, o Erro de Direito, apenas a atenua a pena e mesmo não produz qualquer
efeito, na hipótese de crime contra o Dever Militar.
b) Erro de Fato:
O Erro de Fato (Art. 3679 do CPM) é o erro que incide sobre as circunstâncias
concretas e objetivas do mundo fenomênico. O agente tem uma falsa representação da
realidade.
Neste tipo de erro o dolo do agente deve ser excluído, porque o agente é enganado
pelo encobrimento dos motivos ou circunstâncias que tornam o fato criminoso.
Assim, quando o erro de fato for:
ESCUSÁVEL (invencível ou inevitável): ele excluirá o dolo e a culpa, isentando o
sujeito ativo de pena;
INESCUSÁVEL (vencível ou evitável): ele excluirá somente o dolo, remanescendo a
culpa (art. 36, § 1°80, do CPM).
No tocante ao erro sobre a pessoa, a legislação penal militar não traz qualquer
benefício para ao agente que deverá ser responsabilizado na seara penal como se tivesse
praticado o ilícito contra aquela pessoa que realmente pretendia atingir.
Neste sentido, se o agente buscava praticar um ato contra um militar estadual, mas
por falta de conhecimento a respeito dele acabou atingindo outro, acreditando que
79
Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por êrro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a
existência de situação de fato que tornaria a ação legítima.
80
Art. 36. (...) § 1° Se o êrro deriva de culpa, a êste título responde o agente, se o fato é punível como crime culposo.
30
estava realmente praticando o ato contra o primeiro, responderá como se realmente
tivesse praticado o ato planejado.
Neste artigo a lei penal militar responsabiliza o agente para evitar a impunidade e a
quebra dos princípios de hierarquia, disciplina e ética.
Ex: Militar estadual que buscava praticar um ato contra a vida de seu Comandante e
acaba atingindo um Soldado da Unidade.
TIPO
SITUAÇÃO RESPONSABILIDADE PENAL
DE ERRO
ESCUSÁVEL A pena pode ser reduzida ou substituída
ERRO
(Invencível ou inevitável) por outra menos grave
DE DIREITO
Crime contra o Dever Militar Não produz qualquer efeito
ESCUSÁVEL Exclui o dolo e a culpa, isentando o
ERRO (Invencível ou inevitável) sujeito de pena.
DE FATO INESCUSÁVEL Exclui somente o dolo, responde o sujeito
(Vencível ou evitável) pelo crime culposo
ERRO
- Não produz qualquer efeito
DE PESSOA
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O sistema biológico leva em consideração unicamente a saúde mental do agente,
isto é, se ele é ou não doente mental ou possui, ou não, um desenvolvimento mental
incompleto (no caso dos menores de 18 anos e os silvícolas inadaptados) ou retardado (os
idiotas, imbecis e débeis mentais).
O sistema psicológico leva em consideração exclusivamente a capacidade que o
agente possui para apreciar o caráter ilícito do fato ou de comportar-se de acordo com
esse entendimento.
a) Doença mental.
81
Art. 113. Quando o condenado se enquadra no parágrafo único do art. 48 e necessita de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode
ser substituída pela internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em seção especial de um
ou de outro.
32
b) Desenvolvimento mental incompleto:
c) Embriaguez completa:
33
EMBRIAGUÊS
Espécie Divisão Ingestão de Álcool Pena
Com o intuito de se
Não acidental embriagar.
Dolosa
O agente responde pelo
(ou
VOLUNTÁRIA delito, haja vista a ação
intencional)
(dolosa ou culposa) livre na causa, com a
Não Isenta
e PREORDENADA agravante genérica.
(embriaguez com Não há intuito de se
motivação à prática embriagar, mas ingere
Culposa
de crime) imprudentemente
quantidade excessiva
Diminui, ainda que
consideravelmente, a
capacidade de entender
Resultado imprevisível e o caráter ilícito ou de
não deriva de culpa do autodeterminar-se de
Acidental
Caso agente acordo com esse
fortuito Ex: Sujeito que tropeça e entendimento.
INVOLUNTÁRIA
cai num barril de vinho, Pode ser aplicada, mas
embriagando-se apenas de forma
reduzida (Art. 49,
parágrafo único , do
CPM).
Sujeito predisposto ao
vício do alcoolismo.
Equipara-se à doença
mental, ensejando o
Patológica (ou crônica) Isenta
reconhecimento da
imputabilidade ou semi-
imputabilidade do
agente.
Caso Fortuito: Ocorre quando o agente é embriagado sem que tenha externado
vontade para isso, ou seja, ocorre de forma meramente acidental, quando o agente não
tinha a menor idéia de que estava ingerindo substância entorpecente ou quando mistura
34
álcool com remédios que provocam reações indesejadas, potencializando o efeito da
droga.
Ex: O PM/BM que está ingerindo determinado medicamento, quando, por descuido,
ingere vodka pensando tratar-se de água, levando-o a ficar embriagado.
Força Maior: Ocorre, por sua vez, quando o agente não sabe que está ingerindo
substância que causa a embriaguez, isto é, se origina de eventos não controláveis pelo
agente.
Ex: O PM/BM que hospitalizado vem a receber dose de morfina. Tal substância causa
um estado de embriaguez.
d) Menoridade:
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Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já tendo completado dezesseis anos, revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o
caráter ilícito do fato e determinar-se de acôrdo com êste entendimento. Neste caso, a pena aplicável é diminuída de um têrço até a metade.
83
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
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Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11/07/84)
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Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeito as normas estabelecidas na legislação especial.
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Art. 2°. Considera-se criança para efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.
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Aula 3 - Excludentes da Ilicitude
a) Estado de Necessidade.
ATENÇÃO!
Nem todo crime cometido pelo militar é um delito militar, porque
ele também atua como cidadão, e assim, dependendo da conduta e da
situação, ele pode cometer um delito penal comum.
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Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento do dever legal; IV
- em exercício regular de direito.
36
b) Legitima Defesa.
A Legítima Defesa está prevista no art. 4488 do CPM e ocorre quando alguém repele
uma agressão injusta, que seja atual ou iminente, usando os meios necessários. A
agressão pode ser contra o próprio agreesor ou contra um terceiro. Durante o exercício
da legítima defesa, podem ser cometidas infrações penais, porém quem as comete não é
criminalmente responsável, ou seja, ocorre a exclusão da ilicitude. Por outro lado, no caso
do ofendido ter usado exageradamente dos meios necessários para repelir a agressão, ou
seja, quando houver excesso de legítima defesa, o fato é ilícito e é punível, como crime
culposo.
Somente se verifica a causa excludente de legítima Defesa quando a conduta
defensiva é necessária para repelir a agressão. Os meios empregados devem ser os
necessários e usados de forma moderada. Não se admite o excesso, como, por exemplo,
um sujeito que mata uma criança que se encontra furtando mangas em seu pomar. Se
houver excesso o indivíduo responderá por dolo ou culpa (Art. 4589 do CPM).
Os requisitos da Legítima Defesa são:
Agressão injusta atual ou iminente;
Repulsa com meios necessários;
Uso moderado de tais meios;
Em direito próprio ou de outrem.
Ex: O PM que atinge mortalmente um assassino para evitar que ele matasse uma
criança.
O Estrito Cumprimento do Dever Legal (Art. 42, inciso III, do CPM) é o cometimento
de um fato típico pelo desempenho de uma obrigação legal.
Para o delito militar ser amparado por esta excludente, deve haver a previsão em lei
da conduta de quem cumpre regularmente um dever (dever profissional/funcional).
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Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
de outrem.
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Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, se êste é punível,
a título de culpa.
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Ex (1): A sentinela de uma OPM/OBM que empregando a força necessária para
impedir entrada clandestina no quartel, vem causar lesões corporais no invasor.
Ex (2): O BM que entra numa casa sem autorização, arrombando as portas e
obstáculos físicos, para debelar um incêndio, ou que danifica um automóvel para resgatar
uma vítima.
O Exercício Regular de Direito (Art. 42, inciso IV, do CPM) é composto pelo exercício
de uma prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico.
Diferencia-se do estrito cumprimento do dever legal porque enquanto aquele é
compulsório e tem origem na lei, exclusivamente, o exercício regular de direito, de acordo
com a sua natureza, é facultativo, pois o ordenamento jurídico autoriza o agente a agir, e
pode advir da lei, regulamentos e, para alguns, até mesmo do direito consuetudinário.
Aula 4 - Resumo
Nesta Unidade você conheceu os erros possíveis na execução dos delitos militares.
Aprendeu também a identificar as situações de imputabilidade penal e as
excludentes de ilicitude no DPM.
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Aula 5 - Material Complementar
Câmara Notícias
Direito e Justiça
18/03/2015 - 20h49
a Constituição de 1988.
Como o crime militar precisa estar definido em lei específica para ser julgado, a
ministra afirma que os magistrados estão sendo obrigados a um "contorcionismo jurídico
que compromete o senso de Direito e de justiça". "Nós estamos realmente incomodados
e preocupados com essa defasagem temporal. Somos uma justiça especializada com uma
lei especial (CPM), mas, até por uma questão de proporcionalidade e razoabilidade,
temos pinçado, à la carte, determinados dispositivos do Código Penal comum porque,
senão, a injustiça seria muito grande."
39
Conquistas sociais
Segundo a ministra do STM, a "defasagem" do Código Penal Militar faz com que
várias conquistas sociais implementadas por meio de leis deixem de ser aplicadas na
Justiça Militar.
Ela cita, como exemplos, as leis de combate ao feminicídio, à pedofilia, ao estupro e
aos crimes ambientais. "Portanto, por exemplo, a lei feminicídio; a lei dos crimes
hediondos; a lei dos crimes ambientais, que podem ser cometidos, eventualmente, por
militares; a lei da pedofilia; a lei do estupro, que é tão relevante e que hoje não
contempla mais somente as mulheres nem o ato da mera conjunção carnal, tendo um
escopo muito maior: nada disso pode ser aplicado dentro da nossa justiça especializada,
que pune com muito menor rigor e muito mais abrandamento crimes que hoje ofendem
tanto a sociedade.”
Sem previsão específica no código, esses crimes acabam tendo punição mais branda,
quando cometidos por militares. Outro exemplo está no trato de casos de homofobia,
como afirma a ministra. "Eu sei que existe uma discussão sobre a tipificação da conduta,
mas, de toda sorte, é inaceitável que, em um código legal que tenha por objetivo a
conduta correta e ética do cidadão, tenha expressões como 'pederastia' e 'ato
homossexual'. Isso é o discurso do ódio transposto para a lei".
Direito ao silêncio
Por outro lado, o código também apresenta pontos que prejudicam o julgamento
dos militares, como a possibilidade de o direito ao silêncio ser interpretado em desfavor
do réu, mesmo diante de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que previne a
autoincriminação.
Os casos de "crime continuado", mesmo que seja, por exemplo, um furto de celular,
pode dar ao militar uma pena maior do que a de um homicídio. Os militares também não
têm direito à progressão de pena.
O deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG) reclamou ainda que o código é
extremamente rigoroso com os praças das polícias e corpos de bombeiros militares.
Coordenador do grupo de trabalho da Câmara, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP)
determinou estudo técnico para permitir o início da tramitação do texto em forma de
40
proposta legislativa. "A gente vai encaminhar para a consultoria, que fará a análise e a
verificação de outros projetos que estão na Casa, a fim de que a gente tente sintetizar em
um projeto o mais próximo possível deste. Acredito que o melhor é pedir uma comissão
especial, o que possibilita, inclusive, o espaço para que os vários setores interessados
participem e sejam ouvidos".
Um rascunho da futura proposta legislativa deve ser apresentado na próxima
reunião do grupo de trabalho, no dia 8 de abril. O STM também prepara sugestões de
reforma do Código de Processo Penal Militar.
Reportagem - José Carlos Oliveira
Edição - Regina Céli Assumpção
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2. O instituto do erro é tratado no CPM e pode ser:
3. A respeito das excludentes da ilicitude assinale “V’ para as acepções verdadeiras e “”F”
para as falsas:
a) ( ) O Estado de Necessidade tem como fundamento um estado de perigo para
certo interesse jurídico, que somente pode ser resguardado mediante a lesão
de outro.
b) ( ) Na Legítima Defesa, em razão de se repelir uma injusta agressão, é possível se
usar desproporcionalmente os meios disponíveis.
c) ( ) O exercício regular de direito é composto pelo exercício de uma prerrogativa
conferida pelo ordenamento jurídico e é facultativo, diferenciando-se do
estrito cumprimento do dever, que é o cometimento de um fato típico pelo
desempenho de uma obrigação legal amparada pela previsão dessa conduta
em lei e ele é compulsório.
d) ( ) O PM que atinge mortalmente um assassino para evitar que ele matasse uma
criança está amparado pela excludente de exercício regular de direito.
Gabarito:
1) a) V; b) F; c) F; d) F.
2) b.
3) a) V; b) F; c) V; d) F.
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UNIDADE 3 - PENAS NO CPM
Penas Principais;
Penas Acessórias.
Morte;
Reclusão;
Detenção;
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Prisão;
Impedimento;
Suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
Reforma.
Pena de Morte.
90
At. 5º, XLVII: não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX.
91
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.
44
Caso o condenado seja militar, ele deverá usar uniforme comum e sem insígnias e
ter os olhos vendados no momento da execução, salvo se não desejar essa vendagem
(Art. 70792 do CPPM).
Pena de Reclusão.
Pena de Detenção.
92
Art. 707. O militar que tiver de ser fuzilado sairá da prisão com uniforme comum e sem insígnias, e terá os olhos vendados, salvo se o recusar, no
momento em que tiver de receber as descargas. As vozes de fogo serão substituídas por sinais.
93
Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos.
45
Pena de Prisão.
Pena de Impedimento.
ATENÇÃO!
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Ex: No crime de Exercício de Comércio por Oficial (Art. 20497 do CPM) e Inobservância
de Lei, Regulamento ou Instrução (Art. 32498 do CPM).
Pena de Reforma.
97
Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na administração ou gerência de sociedade comercial, ou dela ser sócio ou participar, exceto como
acionista ou cotista em sociedade anônima, ou por cotas de responsabilidade limitada:
98
Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de ato prejudicial à administração militar:
99
Art. 65: A pena de reforma sujeita o condenado à situação de inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do sôldo, por ano de
serviço, nem receber importância superior à do sôldo.
100
Art. 266: Se o crime dos arts. 262, 263, 264 e 265 é culposo, a pena é de detenção de seis meses a dois anos; ou, se o agente é oficial, suspensão do
exercício do pôsto de um a três anos, ou reforma; se resulta lesão corporal ou morte, aplica-se também a pena cominada ao crime culposo contra a pessoa,
podendo ainda, se o agente é oficial, ser imposta a pena de reforma.
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Os elementos essenciais do crime são a antijuridicidade, a culpabilidade e
punibilidade.
Nesta aula você vai ver apenas os elementos acidentais, que são os que podem não
existir, porém quando surgem eles modificam a responsabilidade do agente (agravando
ou atenuando a pena).
Circunstâncias Agravantes.
Reincidência; e ter o agente cometido o crime: por motivo fútil ou torpe; para
facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime;
Depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre de caso fortuito,
engano ou força maior;
À traição, de emboscada, com surpresa, ou mediante outro recurso insidioso
que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima;
Com o emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo, ou qualquer outro
meio dissimulado ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
Contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
Com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério
ou profissão;
Contra criança, velho ou enfermo; quando o ofendido estava sob a imediata
proteção da autoridade;
Em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, alagamento, inundação, ou
qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; estando
de serviço;
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Com emprego de arma, material ou instrumento de serviço, para esse fim
procurado;
Em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha sede a sua administração;
e
Em país estrangeiro.
Circunstâncias Atenuantes.
101
Art. 71. Verifica-se a reincidência quando o agente comete nôvo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior.
102
Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos; II - ser meritório seu
comportamento anterior; III - ter o agente: a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e
com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob a
influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado espontâneamente, perante a autoridade, a autoria do crime, ignorada ou
imputada a outrem; e) sofrido tratamento com rigor não permitido em lei. Não atendimento de atenuantes. Parágrafo único. Nos crimes em que a pena
máxima cominada é de morte, ao juiz é facultado atender, ou não, às circunstâncias atenuantes enumeradas no artigo.
49
Quando a pena-base for fixada no mínimo legal as circunstâncias atenuantes não
terão incidência, pois elas não podem.
O direito subjetivo do Estado de aplicar a sanção penal não é eterno e por esse
motivo o legislador previu causas de extinção da punibilidade (Art. 123103 do CPM), que
extinguem a pena aplicável. São causas exteriores ao crime e também, em regra,
posteriores ao mesmo.
Morte do Agente.
103
Art. 123. Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato
como criminoso; IV - pela prescrição; V - pela reabilitação; VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º). Parágrafo único. A extinção
da punibilidade de crime, que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro, não se estende a êste. Nos crimes conexos, a
extinção da punibilidade de um dêles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.
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Anistia ou Indulto.
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Retroatividade da lei que não mais considera o fato como criminoso.
A lei posterior que deixa de considerar uma fato como crime, retroage excluindo os
crimes ocorridos anteriormente a sua publicação. Essa retroatividade da lei que não mais
considera o fato como criminoso é conhecida como o “abolitio criminis”. O crime é
excluído, se lei posterior deixa de considerar o fato como tal. É retroativa a lei que não
mais considera o fato como criminoso.
Prescrição.
Exemplos:
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A prescrição é de ordem pública, devendo ser decretada de ofício ou a requerimento
do interessado.
Os prazos de prescrição são tratados no CPM em seu art. 125, sendo importante
ressaltar, ainda, os artigos 127 (prescrição no caso de reforma ou suspensão do exercício
do posto, graduação, cargo ou função); 129 (redução da prescrição, quando o criminoso
era, ao tempo do crime, menor de 21 anos ou maior de 70 anos); 131 (prescrição, no caso
de insubmissão); e 132 (prescrição, no caso de deserção).
A CF/1988 estabeleceu que são imprescritíveis os crimes de racismo (Art. 5º, XLII, da
CF/1988), bem como os praticados pela ação de grupos armados, civis ou militares, contra
a ordem constitucional e o Estado democrático (Art. 5º, XLIV, da CF/1988).
No crime de deserção o prazo prescricional corre normalmente, mas somente
poderá ser declarado quando o desertor completar 45 anos. Essas regras são necessárias,
pois esse crime, como também o crime de insubmissão, são permanentes, e se não fosse
assim seriam imprescritíveis (Art. 132106 do CPM).
Reabilitação.
106
Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a punibilidade quando o desertor atinge a idade de quarenta e
cinco anos, e, se oficial, a de sessenta.
107
Art. 134. A reabilitação alcança quaisquer penas impostas por sentença definitiva.
108
Art. 135. Declarada a reabilitação, serão cancelados, mediante averbação, os antecedentes criminais.
53
possibilitando-lhe plenas condições de voltar ao convívio da sociedade sem nenhuma
restrição ao exercício de seus direitos.
No Crime de Peculato Culposo (Art. 303, § 3º109), caso haja a reparação do dano
antes da sentença final, se dará a extinção da punibilidade, e caso a reparação seja
posterior, reduzirá a pena imposta pela metade (Art. 303, § 4º110, do CPM).
Aula 4 - Resumo
Nesta unidade você estudou as penas principais do DPM: morte; reclusão; detenção;
prisão; impedimento; suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função; e
reforma; e penas acessórias.
Conheceu também os elementos acidentais do crime militar: as circunstâncias
agravantes e atenuantes, como também, as causas de extinção da punibilidade: morte do
agente; anistia ou indulto; retroatividade da lei que não mais considera o fato como
criminoso; prescrição; reabilitação; e ressarcimento do dano no peculato culposo.
109
Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou
comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio: § 3º Se o funcionário ou o militar contribui culposamente para que outrem subtraia ou desvie o
dinheiro, valor ou bem, ou dele se aproprie: Pena - detenção, de três meses a um ano.
110
Art. 303. (...) § 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede a sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior,
reduz de metade a pena imposta.
54
O Superior Tribunal Militar determinou que o Facebook forneça o histórico das
conversas no aplicativo WhatsApp de um soldado do Exército, acusado de ser o
responsável pelo acidente de carro que matou o comandante do 12º Batalhão de
Engenharia de Combate Blindado e sua esposa em 2014, no Rio Grande do Sul. A decisão
foi emitida na semana passada pelo plenário do STM, instância máxima da Justiça Militar.
O STM atendeu ao pedido do Ministério Público Militar (MPM), que apura o
acidente de carro em que morreram o tenente-coronel Gerson Salther Ribeiro Lacerda,
de 45 anos, e a esposa dele, Graziela Campos Lacerda, de 40 anos, em outubro do ano
passado.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal afirmou na época, o veículo em que os dois
estavam saiu da pista e capotou após o motorista, o soldado Braudon Santos, de 20 anos,
perder o controle. Os três iam de Alegrete, onde ficava o 12º Batalhão, a Santa Maria. O
MPM acredita que o acidente foi causado pela falta de atenção.
“A causa determinante do acidente foi a ausência de percepção ou reação tardia
numa manobra com mudança brusca de direção, que ocasionou a perda do controle e foi
potencializado pelo excesso de velocidade”, afirma o laudo pericial.
O MPM já havia conseguido autorização da Justiça Militar para quebrar o sigilo
telefônico do soldado. Mas a primeira instância de Bagé havia negado a liberação dos
dados do WhatsApp. O argumento era de que os direitos de Santos previstos na
Constituição Federal seriam infringidos, pois o conteúdo do bate-papo seria liberado.
Já os ministros do STM atenderam ao pedido de forma parcial: apenas o registro das
mensagens enviadas deve ser liberado e não o conteúdo do que foi dito pelo soldado.
“Não é dado ao magistrado, sem que haja uma efetiva motivação, invadir a intimidade e a
privacidade do investigado quando dispõe de outros meios de produzir provas nos autos.
Por outra via, seu deferimento deverá sempre observar a necessidade da medida”,
afirmou o ministro Marcus Vinicius de Oliveira, relator do caso.
Disponível no sítio: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/05/stm-quebra-
sigilo-do-whatsapp-de-soldado-suspeito-de-causar-acidente.html>. Acessado em 31 maio
2015.
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Aula 6 - Exercícios de Fixação
1. Com relação às penas previstas no CPM, assinale “V’ para as acepções verdadeiras e
“”F” para as falsas:
2. Com relação aos elementos acidentais do crime militar marque a única opção que
corresponde a uma assertiva VÁLIDA:
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3. Sobre as causas de Extinção da Punibilidade assinale a alternativa INCORRETA:
a) ( ) O crime não é excluído se lei posterior deixou de considerar o fato como tal,
em razão da segurança jurídica.
b) ( ) A morte do agente dissolve sua responsabilidade penal.
c) ( ) A prescrição ocorre se a pena não é imposta ou executada dentro de
determinado prazo, cessando o interesse da lei pela punição.
d) ( ) Anistia é o esquecimento completo de tudo quanto diz respeito ao crime e ao
criminoso e o indulto exclui apenas a punibilidade e não o crime.
Gabarito:
1) a) V; b) F; c) F; d) F.
2) b.
3) a.
LISTA DE ABREVIATURAS
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PMCE - Polícia Militar do Ceará
SD - Soldado
SGT - Sargento
ST - Subtenente
TEN - Tenente
REFERÊNCIAS
ASSIS, Jorge César de. Direito Penal Militar. Aspectos Penais, Processuais Penais e Administrativos. 2ª edição,
Editora Juruá, 2007 - reimpressão em 2011.
58
_____. Código Penal Militar Comantado: parte geral. 2ª edição. São Paulo: Método
Editora, 2009.
SOUZA, Ione Cruz; AMIN, Cláudio Miguel. Elementos de Direito Penal Militar. 2ª edição:
Lumen Juris, 2009.
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