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Belo Horizonte
2011
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Belo Horizonte
2011
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AGRADECIMENTO
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade a exposição do que seria a honra pessoal e o
decoro da classe, estudando também a relação que há entre os Princípios da
moralidade e da legalidade. Teve como método de pesquisa a analise de livros e
estudo dos meios de comunicação analisando notícias e publicações. Pode-se
perceber ao final da pesquisa que existem grandes relações entre os Princípios ora
estudados e os termos pesquisados do Código de Ética, sendo que a ética pessoal e
o decoro da classe são de tamanha abrangência que quando aflorados em fatos e
atos cometidos englobam mais do que os Princípios, estes voltados para os
andamentos administrativos.
ABSTRACT
This work has as purpose the exposition of what it would be the personal honor and
the honor of the class, also studying the relation between the principles of the
morality and the legality. It had as research method, to analyze books and to study
the medias analyzing notes and publications. It can be perceived by the end of the
research that exists great relations between the principles that have been studied
and the searched terms of the Code of Ethics, and the personal ethics and the honor
of the class are of so great coverage that when arisen in facts and committed acts
involve more than the principles, which come back toward the administrative courses.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 11
2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................... 14
2.1 Conceitos fundamentais……..…………………………………………….. 14
2.1.1 Ética…………………………………………………...…………………......... 14
2.1.2 Moral…………………………………………………………………………… 15
2.1.3 Honra pessoal………………..................................................................... 17
2.1.4 Decoro da classe………........................................................................... 18
2.1.5 Princípios Constitucionais.…………………..………………....................... 19
2.1.5.1 Princípio da Legalidade………................................................................. 20
2.1.5.2 Princípio da Moralidade………................................................................. 22
2.1.6 Conselho de Ética e Disciplina dos Militares da Unidade
(CEDMU).................................................................................................. 24
2.2 Origem e história dos Corpos de Bombeiros…....................................... 25
2.2.1 Origem e história do Corpo de Bombeiros Militar no Brasil e em Minas
Gerais....................................................................................................... 26
2.3 Princípios e valores do CBMMG.............................................................. 31
2.4 Transgressões disciplinares…………………………................................. 35
2.5 O desvio da conduta militar…………..………..……….............................. 43
2.6 Embasamento legal…….......................................................................... 44
2.7 A exclusão no CBMMG……………………………………………………… 47
2.7.1 A exclusão para o militar com menos de três anos de efetivo
serviço……............................................................................................... 48
2.7.2 A exclusão para o militar com mais de três anos de efetivo
serviço...................................................................................................... 49
2.8 Casos concretos envolvendo a honra pessoal e o decoro da
classe........................................................................................................ 51
2.8.1 Bombeiro componente do CBMMG.......................................................... 51
2.8.2 Policial militar do Distrito Federal……...................................................... 53
2.8.3 Bombeiro Militar do Pará…………………………...................................... 54
10
3 METODOLOGIA...................................................................................... 61
4 DISCUSSÃO............................................................................................ 62
5 CONCLUSÃO.......................................................................................... 65
REFERÊNCIAS....................................................................................... 68
ANEXOS………………………………………………………………………. 72
11
1 INTRODUÇÃO
1
Grifo do autor.
12
Os fatos que vão de encontro aos Princípios morais do CBMMG devem ser
apurados com rigor e destreza, principalmente aqueles que por sua repercussão ou
gravidade venham atentar contra a honra pessoal e o decoro da classe, sendo
inadmissíveis no meio militar.
O geral visa criar uma fonte de consulta para os militares do CBMMG envolvidos na
apuração de transgressões de natureza demissionária.
13
Assim, a pesquisa se justifica, uma vez que será criada uma fonte de consulta
sólida, e proposta ao final deste trabalho, possíveis soluções para minimizar ou
desarraigar o cometimento de ações que atentem contra a honra pessoal e o decoro
da classe na Instituição Militar.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1.1 Ética
Vem do grego “ethos”, que significa o modo de ser de uma pessoa, de um grupo
social, conjunto de valores morais que dão um norte às condutas humanas. Coloca
um equilíbrio na vida em sociedade. Cada conjunto de indivíduos possui seu
conjunto de valores (CORTELLA, 2011,p.106).
Oliveira já define a ética, em sentido lato senso, como sendo uma “morada” ou seja
abrigo onde o homem socialmente habita e educa-se (OLIVEIRA, 2006, p.14).
Na prática, a ética e as condutas tidas como éticas são construídas de acordo com o
tempo e a história das instituições e das sociedades. O CBMMG, juntamente com a
15
Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) levaram décadas para materializar, de fato,
um código de ética atualizado e de acordo com os anseios contemporâneos,
logicamente que, como as demais normas vigentes no país, ele também necessita
de revisões constantes, para não perder sua finalidade, acompanhando os avanços
sociais.
Assim como a ética no militarismo existem outros milhares de tipos de éticas: a ética
médica, a ética religiosa, a ética na política, entre outras. Uma pessoa que não
segue a ética de seu grupo é chamada de “antiético”(FERREIRA, 1977). Ou seja,
todo grupo social tem seus Princípios e valores a serem seguidos. A ética é como
um Princípio no direito, ela determina uma linha imaginária a ser seguida através
dos atos morais de determinado grupo.
Cortella afirma que não existe “falta de ética”, quem diz isso está equivocado, talvez
o que a pessoa queira dizer é que determinado ato é “antiético”, algo contrário aos
Princípios éticos de quem analisa. A ética seria o conjunto de Princípios e valores de
um determinado grupo, mais voltada para o campo teórico. A moral é a prática, o
exercício das suas condutas. A ética são Princípios que orientam a conduta de
determinado grupo social (CORTELLA, 2011, p.110).
2.1.2 Moral
A moral origina-se do latim, mores, relativo aos costumes, ao dia a dia, as ações
rotineiras do ser-humano. Assim, moral é o conjunto de regras do convívio diário de
relações entre os homens. Como no direito, a moral é tida como uma forma de
controle social. É mais ampla que o direito positivado, porém ambos ajudam na
delimitação e na restrição de condutas aceitas ou não por uma célula da sociedade
(DIMOULIS, 2011, p.56).
16
Sua definição e aplicação na prática são bem mais amplas do que no direito, pois
nem todo ato positivado no direito é um ato tido como honroso e consequentemente
aceito sob os Princípios morais da sociedade, porém ambos se convergem em um
único fim, o “controle social” (NADER, 2011, p.35). Sendo que a Instituição Militar
por seu papel de manutenção da ordem e do bem-estar social possui suas regras de
conduta próprias e bem mais apuradas e restritas, se comparada à sociedade e às
normas vigentes no país, de forma genérica.
militar que cometer tal atitude não será aceito de forma alguma nas fileiras
novamente, salvo por ordem judicial.
Moral então são os costumes, a rotina. Possuem duas funções: a primeira é orientar
o comportamento dos indivíduos de um determinado grupo; e a segunda serve como
critério de avaliação da conduta humana, ou seja, a distinção do certo e do errado
(DIMOULIS, 2011, p.56).
Honra pessoal refere-se à conduta como pessoa, não importando se o militar está
ou não de serviço, reflete sua boa reputação e o respeito de que é merecedor no
seio da comunidade, é o sentimento de dignidade própria como o apreço e o
respeito que o militar se torna merecedor perante seus superiores, pares e
subordinados (GEN EX GLEUBER, 2002, p.9).
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A honra pessoal, confirmada pelo ordenamento jurídico interno, pode ser tida como
um sentimento de dignidade e moral inerentes à pessoa humana. Está relacionada
ao sentimento de dignidade própria, como apreço e o respeito de que é objeto, ou se
torna merecedor o indivíduo, perante os concidadãos (MATEPPAD, p.88).
Princípios são fontes do direito, surgindo como norteadores das ações humanas em
sentido amplo. Na administração pública funciona da mesma forma, direcionam as
ações dos servidores públicos, somente com esse guia e consequentemente com a
imposição legislativa pode-se ter uma Constituição Federal forte, alicerçada na
dignidade da pessoa humana e executável na prática de maneira justa e harmoniosa
(PAULO; ALEXANDRINO, 2010).
Silva afirma que a Administração Pública é informada por diversos Princípios gerais,
destinados de um lado, a orientar a ação do administrador na prática dos atos
administrativos e, de outro lado, a garantir a boa administração, que se
consubstancia na correta gestão dos negócios públicos e no manejo dos recursos
públicos, no interesse coletivo (SILVA, 2011, p.667).
Lenza afirma que o Princípio da legalidade surgiu com o Estado de Direito, opondo-
se a toda e qualquer forma de poder autoritário, antidemocrático. Art.5° da CF:
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa se não em virtude
de lei.” Tal inciso deve ser lido de forma diferente para o particular e para o
administrador. O particular pode fazer tudo que a lei não proíbe, vigorando o
“Princípio da autonomia da vontade”, já o administrador só poderá fazer o que a lei
21
permitir. Deve andar nos “trilhos da lei”. A Administração deve atuar segundo a lei e
nunca contra ou além da lei. Por esse motivo os atos ilegais poderão ser invalidados
de ofício ou pelo judiciário (LENZA, 2011, p.1160).
Logo, a omissão de leis que teriam que proibir determinadas condutas, faz com que
essas condutas possam ser executadas por determinados agentes particulares sem
que haja qualquer tipo de sanção. Paulo e Alexandrino (2010, p. 117) afirmam que:
Em suma, o administrador público irá fazer apenas o que a lei o permitir nunca a
mais nem a menos. Deverá o administrador ter suas ações administrativas pautadas
em um trilho imaginário imposto pelo Princípio da Legalidade administrativa.
Diferentemente do administrador particular que faz o que a lei permite e o que a lei
não proíbe.
Moraes afirma que o Princípio da Moralidade está intimamente ligado com a ideia de
probidade, dever inerente ao administrador público, que a conduta do administrador
público em desrespeito ao Princípio da Moralidade administrativa enquadra-se nos
denominados atos de improbidade, previstos no artigo 37, § 4°, da CF, e sancionado
com a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública (MORAES, 2011,
p.344).
Percebe-se então que o Princípio da Moralidade está voltado para a probidade, boa
fé, lealdade, correto cumprimento do dever e à ética profissional. Regulando a
administração e os atos administrativos. Tem abrangência ampla e vai muito além
da simples positivação em normas. Podendo o administrador ser punido civil, penal
e administrativamente caso não ocorra o correto cumprimento de tal Princípio
jurídico.
Aqui vem uma crítica à escola positivista, uma vez que, com argumentos desta
cumprir-se-á o que está na lei. Os Princípios são fontes primárias da lei, indo muito
além das normas positivadas. Mesmo não constando em lei, poderá o intérprete
desta, pressupor o uso de tal Princípio, obrigando o servidor público a agir com
caráter e boa índole nos atos da administração pública.
Tal colegiado será formado por três militares sendo que preferencialmente um
desses militares será do mesmo posto ou graduação do militar cujo processo está
sendo analisado, porém mais antigo que este, admitindo mais três militares como
suplentes. Os suplentes atuarão em caso de suspeição ou impedimento de algum
membro do conselho em questão. Exemplo disso pode ser o caso de um militar
pertencente ao CEDMU que terá que analisar um processo envolvendo um “inimigo
pessoal”. Assim o militar componente do CEDMU alegará suspeição, deixando
comissão (MINAS GERAIS, 2002).
3
Sistema que integra a segurança pública em Minas Gerais, maiores dados está disponível em:
https://www.sids.mg.gov.br/. Acessado em 06/04/2011.
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O efetivo do CBMMG está fixado pela lei 16.307 de agosto de 2006 prevendo 7.999
militares. O seu efetivo é distribuído no estado de Minas Gerais através de
Diretorias, Centros e 11 (onze) Batalhões sendo que entre eles estão: 1° Batalhão
de Bombeiros Militar (BBM), 2°BBM, 3°BBM e o Batalhão de Operações Aéreas em
Belo Horizonte e Região Metropolitana, o 4° BBM em Juiz de Fora, o 5° BBM em
Uberlândia, 6° BBM em Governador Valares, 7° BBM em Montes Claros, 8° BBM em
Uberaba, 9° BBM em Varginha e o 10° BBM em Divinópolis. Esses Batalhões se
subdividem em Companhias e Pelotões destacados. Ocupando assim os pontos
estratégicos de atendimento imediato no Estado (BATISTA 2009).
Pela própria história e seus objetivos, é inadmissível ter na Instituição uma conduta
que não seja retilínea e moralmente aceita. Ao cidadão civil é aceitável
determinadas condutas não tidas como crime, porém, em virtude dos serviços
prestados e da função fim para o qual se destina o CBMMG, é inadmissível que o
componente do Corpo de Bombeiros Militar tenha determinadas atitudes que possa
macular de forma negativa a imagem da corporação.
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Por isso, faz-se necessário o estudo e a ampla divulgação do que venha ser a honra
pessoal e o decoro da classe, objetos do núcleo deste estudo, com o intuito de
prevenir transgressões e conscientizar os componentes da Instituição Militar
estadual, das sanções advindas do cometimento de tais desvios.
A disciplina militar é mais severa, preconiza com mais afinco o cumprimento dos
deveres nos diversos níveis da hierarquia e cobra a exteriorização das boas
condutas como a: hombridade, honradez, sinceridade, coragem, camaradagem.
O negócio do CBMMG tem como objetivo o bem estar social e assim é estabelecido
como a: “Qualidade de vida por meio de ações de proteção pública” (CBMMG,
2010).
Tais garantias estão contidas no Código de Ética, principal escopo de estudo deste
trabalho, ele mostra de forma direta e indireta os valores e os Princípios a serem
seguidos pelos componentes do CBMMG.
O Código de Ética e Disciplina dos militares de Minas Gerais surge com a publicação
da lei 14.310 de 19 de junho de 2002, em substituição ao antigo Regulamento de
Disciplinar da Polícia Militar (RDPM), trazendo diversas inovações e o conforto de
garantir o direito ao contraditório e à ampla defesa ao militar acusado de qualquer
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ato tido como infração na parte administrativa, igualando oficiais e praças no que
tange ao direito de defesa em processos administrativos de natureza demissionária.
(BARBOSA, 2007, p.10)
5° “ser justo e imparcial na apuração de atos cometidos por integrantes das IMEs”
Nada mais é que cumprir os previsto no art.37 da CF, ou seja, possuir senso de
justiça e imparcialidade em apurações designadas mediante seu cargo ou posto
(MINAS GERAIS, 2002, p.2).
6° “zelar pelo seu próprio preparo profissional e incentivar a mesma prática nos
companheiros, em prol do cumprimento da missão comum”, ter a disciplina
consciente, ou seja, preparar-se fisicamente e mentalmente para os desafios do
serviço diário, incentivar seus superiores, pares e principalmente seus subordinados
a fazerem o mesmo (MINAS GERAIS, 2002, p.2).
12° “garantir assistência moral e material à família ou contribuir para ela”, deverá o
militar voltar-se para o seio familiar, contribuir para a formação, sustentação e
manutenção dos preceitos familiares (MINAS GERAIS, 2002, p.2).
15° “abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidade pessoal
de qualquer natureza ou encaminhar negócios particulares ou de terceiros”, não
deverá o militar da ativar ter sob sua administração empresas ou outra forma de
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negócio, nunca poderá também, aproveitar de seu cargo ou função, para conseguir
vantagens indevidas (MINAS GERAIS, 2002, p.2).
16° “o militar não poderá fazer uso das designações hierárquicas em atividades
liberais, comerciais ou industriais, para discutir ou provocar discussão pela imprensa
a respeito de assuntos institucionais. Não poderá também apresentar-se fardado no
exercício de cargo de natureza civil, em atividades religiosas, e em circunstâncias
prejudiciais à imagem das IMEs”, assim ficam resguardadas os uso e a
apresentação das insígnias militares pelos componentes da Instituição (MINAS
GERAIS, 2002, p.2).
É toda ofensa à honra ou aos preceitos militares. Ofensas essas que se distinguem
das ofensas tuteladas pelo código penal militar, ditas como crimes militares e
previstas na parte especial do Código Penal Militar.
Art. 14. Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária
aos preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à ética,
aos deveres e às obrigações militares, mesmo na sua manifestação
elementar e simples, ou, ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor
militar e o decoro da classe (BRASIL, 2002).
A Marinha do Brasil como Instituição Militar, também possui seu Código de Ética, e
tem como definição da expressão “transgressões disciplinares” a expressão
“contravenções disciplinares” definindo assim tal preceito jurídico como:
Estão descritos, ainda neste Código, nos artigos 13, 14 e 15, as transgressões
disciplinares, ou seja, o que o militar não deve fazer. Em seu artigo 12 são definidos
os “graus” de potencialização das transgressões:
Iniciamos a explicação de tais condutas pelo art. 15, as transgressões tidas como
leves. Por serem de menor potencial ofensivo contra a conduta retilínea do militar,
possuem punição condizente com a ação praticada. Podendo o militar, após o
decorrer do processo com todos seus trâmites legais, garantidos o contraditório e a
ampla defesa, perder até dez pontos, conforme previsto no artigo 18 da Lei
14.310/02 – CEDM:
amoldam-se quase que por inteiro às condutas ofensivas à “honra pessoal” ou levam
ao “decoro da classe”, expressões já estudadas neste trabalho.
A seguir será exposta cada transgressão e exemplificado caso a caso, dando como
exemplos circunstâncias que poderiam culminar no ataque à honra pessoal e ao
decoro da classe.
O inciso I nos cita as faltas que atentam contra a dignidade da pessoa humana, ou
aos direitos humanos, após fato devidamente comprovado. Para melhor elucidação,
cito um exemplo de Bombeiro Militar que deixa de tratar uma vítima com a dignidade
merecida, ou seja, nega socorro a essa vítima a qual o referido bombeiro, tinha o
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Exclusão de crime
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.
Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio,
aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade,
compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e
manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o
terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque (BRASIL, 1969).
Passemos para o inciso III do art. 13 do CEDM, o qual nos descreve a honra pessoal
e o decoro da classe. A honra pessoal é um conjunto de valores e premissas
militares, condutas valorosas e bem vistas no meio social. Já o atentado ao decoro
da classe, resumidamente, diz respeito à conduta que vai de encontro à Instituição,
contra os seus Princípios e valores.
Coação
Art. 342. Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer
interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra
pessoa que funciona, ou é chamada a intervir em inquérito policial, processo
administrativo ou judicial militar:
Pena - reclusão, até quatro anos, além da pena correspondente à violência.
42
Podendo sofrer variação de pena quanto à autoridade que for vítima de tal crime,
variando até quinze anos de reclusão, caso a vítima seja Oficial General. Assim o
inciso mostra que além de crime, o militar que incorrer em tal infração não será digno
de ostentar o fardamento de uma Instituição de tamanha representatividade como é
o CBMMG, uma vez que tal ato vai contra todos os Princípios e valores da
corporação.
Por fim, o inciso VI do mesmo art. 13 retrata a questão do militar que se apresenta,
de serviço ou não, com sintomas de embriaguez ou do uso de qualquer substância
que lhe altera os sentidos. Estas substâncias podem ser legais ou ilegais, desde que
provoque alguma alteração nos reflexos do militar. Podendo ocorrer, segundo a
mesma norma em quatro casos distintos: estando o bombeiro militar de serviço, ou
seja, trabalhando efetivamente; estando fardado, neste caso não necessita estar o
mesmo de serviço, podendo compreender suas horas de descanso, folga ou até
mesmo de férias; em situação que cause escanda-lo, sendo ainda mais ampla, pois
não necessita que o militar esteja de serviço ou fardado, apenas que provoque
escândalo, repercussão negativa perante a sociedade; e a quarta, diz respeito ao
militar que, mediante uso de substância entorpecente, coloca em perigo a sua
segurança ou de terceiro.
O desvio de conduta é toda ação ou omissão que atinja a conduta honrosa esperada
por um militar. As regras de conduta estão tipificadas no Código de Ética e disciplina
dos militares, como transgressões disciplinares e os crimes militares que estão
previstos no Código Penal Militar.
Aos olhos da sociedade é, e consequentemente terá que ser aos olhares dos
comandantes, estes englobando diretores e chefes, inadmissível, quem tem o dever
de proteger e zelar pela ordem pública cometer desvios de conduta.
âmbito social. Por isso tais atos desviantes devem ser apurados e seus autores
responsabilizados.
O Militar, com poder de correção, tem que atentar para responder de maneira
coerente ao clamor popular, cuidando para não cometer injustiças. Lembrando que a
mídia não causará a demissão ou uma punição mais severa ao contraventor das
normas, porém sim, potencializar-se-á o clamor popular em prol da punição do
suposto transgressor.
Retomando à Magna Carta, ela ainda regulada a carreira militar nos estados e no
Distrito Federal, através do art. 42 com a seguinte redação:
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Esse é um dos alvos de estudo deste trabalho. Uma vez que já foi exposto o real
entendimento de tal artigo, e será feito um apanhado geral do processo envolvido
nas entrelinhas deste ditame jurídico.
O militar que cometer ato que afete a honra pessoal ou decoro da classe, tipificado
no artigo 64, inciso II, do CEDM, incorrerá em falta grave gerando um Processo
Administrativo Disciplinar com intuito de avaliar a conveniência ou não do militar
faltoso permanecer nas fileiras do CBMMG, podendo ser instaurado pelo
Corregedor, Chefe do Estado Maior ou pelo Comandante Operacional (CEDM,2002).
2.7.1 A exclusão para o Militar com menos de três anos de efetivo serviço
PAD, possui o período de conclusão mais longo e seu parecer é proferido por três
militares (BARBOSA, 2007).
2.7.2 A exclusão para o Militar com mais de três anos de efetivo serviço
Toda decisão emanada pela administração poderá sofrer recurso, admitindo-se para
isso o duplo grau recursal, conforme Barbosa (2007, p. 52):
50
Assim, a Ampla Defesa e o Contraditório tem que estar bem claro e evidente em
todas as fases do processo, ou seja, o acusado deverá ter uma defesa efetiva e
habilitada, sendo convocada em todas as fases do processo. Podendo contradizer
toda e qualquer prova contra sua pessoa, tendo o direito de resposta e defesa.
Podendo, caso não seja cumprido todos os ditames legais, ensejar na anulação de
todo processo no prazo prescricional de cinco anos (BARBOSA, 2007).
Portanto, tem-se que, após haver fortes indícios, através de denuncias ou suspeição
do cometimento de ato atentatório à honra pessoal ou ao decoro da classe, será
instaurado um processo disciplinar para avaliar a conveniência ou não do militar
acusado permanecer ou sua exoneração das fileiras do CBMMG. Será um PAD,
caso o militar tenha três ou mais anos de efetivo serviço, ou um PADS, caso o militar
tenha menos de três anos de efetivo serviço.
Pesa contra o referido Militar a seguinte acusação: Que o mesmo havia apresentado
para o serviço com sintomas de embriagues e que após receber ordem para
comparecer à Seção de Saúde da Unidade, o mesmo resistiu e efetuou alguns
disparos com sua arma de fogo, sendo que logo depois arriou o pavilhão nacional
vindo a rasgar o mesmo, assim como consta na decisão exarada na solução do PAD
n° 03/2009 oriunda do COB.
II, III e VI toda da Lei nº 14.310/02, foram imputadas ao militar acusado, que
foi submetido a PAD (CBMMG,2011).
DA ANÁLISE E FUNDAMENTAÇÃO
Analisado os autos do processo verifica-se que os Princípios do processo
foram observados: Contraditório e defesa que se fez na amplitude desejada
pela defesa do acusado. É de se esclarecer que o PAD tem procedimento
talhado pela lei e que a Comissão observou todas as disposições impostas.
Entendemos que a solução dada pela autoridade instauradora do Processo
foi laborada em acerto ao contrariar o CEDMU, que se encontrou vício
impeditivo de avaliação de mérito deveria sugerir diligências saneadoras.
A matéria da acusação é apurada verticalmente na profundidade exigida
para o caso. O acusado tem em sua defesa, em síntese, alegações de
cunho processual, referente à inobservância de contraditório, o que
entendemos improcedentes, quando a defesa intervém no processar
durante todo o tempo. E, no mérito alega inimputabilidade do militar
acusado, alegação que não pode prosperar diante de laudo da Junta
Central de Saúde. Junta a defesa vários documentos médicos que
demonstram que o acusado passa por tratamento psicológico e psiquiátrico
desde bem antes dos fatos ensejadores do PAD, ocorrerem.
Contudo, diante das alegações de inimputabilidade é de se verificar se o
militar acusado, em tempo dos fatos, tinha ou não a capacidade de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento, diante da sua situação de paciente em tratamento médico-
psicológico.
A questão da incapacidade mental passa pela verificação pericial, e tal, fora
procedida, fls. 235/236, por peritos oficiais da Junta Central de Saúde da
Polícia Militar, como já dito. A JCS constatou a imputabilidade do militar.
Diante do laudo pericial e demais provas carreadas aos autos que
confirmam a ocorrência dos fatos como se deram e da autoria certificada,
não é de se olvidar que à autoridade não há alvedrio mas, dever de
providenciar quando do cometimento de transgressões pelo militar.
Assim, materialidade factual comprovada e autoria das condutas
confirmadas na apuração, não resta alternativa que demitir o acusado das
fileiras da Corporação (CBMMG, 2011).
Como se trata de situações pelas quais jornais e revistas exploram com intuito
comercial, não é raro estar estampada diversas notícias como essas nos meios de
comunicação (jornais, noticiários de televisão, sites da internet).
Serão expostas algumas dessas notícias para exemplificar melhor esses atos
atentatórios à honra pessoal e ao decoro da classe, pois em virtude da obrigação
prevista na Magna Carta e do dever profissional são incompatíveis com a carreira
militar.
Já, outro site noticia que: “Bombeiro militar é acusado de abusar de criança de 4
anos.”
Pesa na notícia que o referido militar foi preso em flagrante após praticar sexo oral
com uma menina de quatro anos:
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Assim foram expostos diversos casos que, divulgados pela mídia ou não, contribuem
de forma considerável para o desprestígio e a queda da credibilidade das
Instituições Militares, por se tratarem de casos que afetam a honra e o pundonor
55
militar. Tais fatos têm que ser apurados e seus responsáveis punidos de forma a
tornarem-se exemplos a não serem seguidos pela classe dos militares.
2.9 Acórdãos
Fato analisado no Tribuna de Justiça Militar de Minas Gerais 5, retrata que o Ex-Sd
BM Célio Miguel da Silva Gonçalves teria efetuado uma tentativa de roubo a mão
armada no estabelecimento conhecido como “Breik-Breik”, sendo excluído
administrativamente, por autoridade competente no uso do devido processo legal.
Foi de unanimidade de votos a decisão do conselho pela manutenção da exclusão
do referido cidadão, que pleiteava seu retorno às fileiras da Instituição por alegação
do não cumprimento dos Princípios da ampla defesa e do contraditório no ato de sua
exclusão.
5
Órgão colegiado da Justiça Militar de Minas Gerais, Disponível em <http://www.tjm.consultajurisprud
encia.mg.gov.br/jcab/recursos/APELACAOCIVELNo014.pdf> Com Acesso em 12/11/2011.
56
No manuseio mais detido dos autos, verifica-se uma certa fragilidade dos
mecanismos de acompanhamento e controle dos desvios de conduta
motivada, talvez, pelo número elevado de servidores militares, ensejando
que, em algumas vezes, não sejam detectadas transgressões disciplinares
na primeira falta ou crime cometido. (anexo 1)
Ele ainda exemplifica essas falhas no caso concreto quando relata que:
Tal fato6 é apreciado pelo Tribunal de Justiça Militar de São Paulo7. Pesa contra com
Sr° 1° Ten PM Danyel Laghi a seguinte acusação: que o referido militar no dia 6 de
agosto de 2001, por volta das 18:30 horas, na Estrada do Governo, altura do n° 439,
no Bairro Pouso Alegre, em concurso com outros autores, teria planejado e
executado a vítima Américo Grilo Nogueira, agindo com divisão de tarefas
destinadas a consecução do resultado criminoso. E na mesma ocasião produziram
lesões corporais em Cicero Felix Gomes, ofendendo sua integridade. (Anexo 3)
6
Acórdão disponível em < http://www.tjmsp.jus.br/ementario_pdf/0685.pdf> Acesso em 12/11/2011.
7
Criada pela Lei Estadual nº 2.856, de 8 de janeiro de 1937 a Justiça Militar de São Paulo conta com
o Tribuna de Justiça Militar, disponível maiores dados no Portal < http://www.tjmsp.jus.br/> com
acesso em 12/11/2011.
59
Pesa contra o 1°Ten PM Antônio Oscar Lima, Militar reformado, a acusação de ter
sido o mesmo flagrado em posse de veículo clonado. Diante dos fatos tal acusação
foi colocada em votação pelo conselho de Justiça do Tribunal Militar de São Paulo.
Não conseguindo lograr êxito na sua defesa, foi considerada tal atitude, por parte do
Militar, como sendo fato atentatório à honra pessoal, ao decoro da classe e ao
pundonor militar, culminando assim, por unanimidade de votos, à incapacidade do
acusado para permanecer no oficialato. Sendo levantado ainda pelo relator, e
confirmado pela corte, que tal fato é exemplo negativo e nunca deverá ser seguido
pelos pares e nem pelos subordinados do ex-Militar em questão. (Anexo 4)8
Ainda vale lembrar que neste caso, antes de ocorrer esta exclusão o cidadão em
questão já havia sido excluído por processo disciplinar interno da corporação, não
8
Disponível em < http://www.tjmsp.jus.br/ementario_pdf/1133.pdf> com Acesso em 12/11/2011
60
prejudicando em nada a exclusão perante a justiça militar, uma vez que são esferas
distintas.
61
3 METODOLOGIA
A normalização empregada neste estudo foi a última edição (2011) do Manual para
Normalização de Publicações Técnico-Científicas da Universidade Federal de Minas
Gerais.
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4 DISCUSSÃO
Como foi visto o Código de Ética do Corpo de Bombeiros Militar e da Polícia Militar,
ambos de Minas Gerais é uma norma nova, com menos de uma década de
existência voltado apenas para uma classe no estado mineiro, a classe dos militares.
Por esse motivo é pouco exposta em bibliografias. Foram encontradas poucas obras
relacionando o tema exposto. O autor que relata teve que fazer uso de diversos
trabalhos monográficos na área da Segurança Pública, para então embasar as
conclusões e discussões a seguir.
Para servir de base de análise e exposição, exemplificando o que foi dito no decorrer
do trabalho, foi encontrado junto aos arquivos da BM/1, desde 2008, uma publicação
de ato que atentou contra a honra e o decoro da classe. E ainda, por se tratar de um
assunto polêmico e que, quando ocorrido, provoca grande repercussão no meio
social e na imprensa, foram levantados diversos casos que se enquadram no artigo
64 II do Código de Ética dos militares mineiros.
Em virtude, de se tratar de uma Instituição Militar que é força reserva das Forças
Armadas, foram utilizados os conceitos de transgressão disciplinar de algumas
Instituições Militares como: o Exército Brasileiro, a Marinha Brasileira e o próprio
Bombeiro Militar de Minas Gerais. Aflorando em ambas as definições de
transgressão disciplinar como um ataque à ética militar.
Em análise a toda explanação teórica desta monografia, vemos que a honra pessoal
e o decoro da classe são termos sólidos, logo, podem ser definidos e se encaixam
em diversos casos concretos. Desde que a conduta do militar faltoso atente contra
64
Como na definição dos termos “honra pessoal” e “decoro da classe” bem definida
neste trabalho, percebemos que tais condutas nada mais são que a negativa dos
Princípios da ética militar relacionados no citado parágrafo anterior. Ou seja, o militar
que atentar contra a ética militar, contra seus Princípios, poderá incorrer no afronto à
honra pessoal e ao decoro da classe. Ressalvado o Princípio da Proporcionalidade
na aplicação da medida “punitiva”.
5 CONCLUSÃO
Têm-se casos que são titulados, de maneira unanime, como atentatórios à honra
pessoal e ao decoro da classe, conforme vistos anteriormente (sequestro, assalto,
roubo, extorsão), outros vão de encontro à honra, porém não interferem de maneira
significativa no CBMMG, de maneira tal que a administração tenha que interferir.
REFERÊNCIAS
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de perto as conquistas do corpo de bombeiros de minas gerais. 1° Belo Horizonte: O
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LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2011. 1196 p.
70
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Sedegra S/a - Gráficos e Editores, 1975. 138 p.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Ed. Atlas
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acadêmicos: normas e técinicas. 4° Juiz de Fora: Templo, 2006. 195 p.
TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 23. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2011. 239 p.
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ANEXO 1
73
ANEXO 2
74
ANEXO 3
75
ANEXO 4
76
ANEXO 5