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CÓD: OP-134JN-23

7908403547876

ITABERABA-BA
PREFEITURA MUNICIPAL DE ITABERABA - BAHIA

Comum a todas as Especialidades


de Professor NU I
EDITAL Nº 001/2024
• A Opção não está vinculada às organizadoras de Concurso Público. A aquisição do material não garante sua inscrição ou ingresso na
carreira pública,

• Sua apostila aborda os tópicos do Edital de forma prática e esquematizada,

• Dúvidas sobre matérias podem ser enviadas através do site: www.apostilasopção.com.br/contatos.php, com retorno do professor
no prazo de até 05 dias úteis.,

• É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código Penal.

Apostilas Opção, a Opção certa para a sua realização.


ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Leitura e interpretação de textos (ficcionais e/ou não ficcionais).............................................................................................. 5
2. Gêneros discursivos e tipologia textual...................................................................................................................................... 5
3. Ortografia.................................................................................................................................................................................... 6
4. acentuação................................................................................................................................................................................. 7
5. pontuação................................................................................................................................................................................... 7
6. Formação de palavras................................................................................................................................................................. 11
7. Léxico: adequação no emprego das palavras............................................................................................................................. 12
8. Verbos: conjugação, emprego dos tempos, modos e vozes verbais; as palavras de relação...................................................... 12
9. morfossintaxe; estrutura do período, da oração e da frase........................................................................................................ 15
10. regência nominal e verbal........................................................................................................................................................... 22
11. colocação pronominal................................................................................................................................................................. 23
12. formas de tratamento (usos e adequações)............................................................................................................................... 23
13. Noções de fonética; Noções de prosódia.................................................................................................................................... 26
14. Estrutura do parágrafo................................................................................................................................................................ 27
15. Coesão e coerência textuais....................................................................................................................................................... 28
16. Estilística: denotação e conotação; Semântica: sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia, polissemia e figuras de lingua-
gem. ........................................................................................................................................................................................... 29
17. figuras de linguagem................................................................................................................................................................... 29
18. Níveis de linguagem.................................................................................................................................................................... 32
19. Manual de Redação da Presidência da República (3ª edição, revista, atualizada e ampliada)................................................... 33

Matemática
1. Conjuntos; Problemas e Sistemas............................................................................................................................................... 53
2. Teoria dos ConjuntoS.................................................................................................................................................................. 62
3. Progressão Geométrica e Aritmética......................................................................................................................................... 65
4. Razão; Proporção....................................................................................................................................................................... 69
5. Regra de Três.............................................................................................................................................................................. 70
6. Porcentagem.............................................................................................................................................................................. 72
7. Equações e Inequações do 1º e 2º grau..................................................................................................................................... 73
8. Sistemas de equações................................................................................................................................................................. 76
9. Funções do 1º e 2º grau.............................................................................................................................................................. 78
10. Trigonometria............................................................................................................................................................................. 90
11. Logaritmo.................................................................................................................................................................................... 97
12. Probabilidade.............................................................................................................................................................................. 97
13. Análise Combinatória; Permutação............................................................................................................................................ 99
14. Geometria Plana, Espacial e Analítica......................................................................................................................................... 102
15. Matrizes e Determinantes.......................................................................................................................................................... 112
ÍNDICE

Conhecimentos Gerais
1. Temas relevantes e atuais de diversas áreas: Segurança, Política, Economia, Educação, Saúde, Cultura, Tecnologia e Desen-
volvimento sustentável................................................................................................................................................................ 123
2. Princípios Constitucionais da Administração Pública (Constituição Federal: art. 37 a 40).......................................................... 123
3. Poderes administrativos. Poder de polícia e abuso de poder...................................................................................................... 128
4. Princípios norteadores dos Serviços Públicos.............................................................................................................................. 135
5. Princípios do Processo Administrativo......................................................................................................................................... 147
6. Atos administrativos: requisitos, vícios, revogação e anulação................................................................................................... 156
7. Lei da improbidade administrativa (Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 e alterações posteriores)........................................... 167
8. Crimes contra Administração pública.......................................................................................................................................... 182
9. Lei Orgânica do Município de Itaberaba e alterações posteriores............................................................................................... 192

Conteúdo comum a todos os Professores


1. História do pensamento pedagógico brasileiro. Teoria da educação, diferentes correntes do pensamento pedagógico brasi-
leiro............................................................................................................................................................................................. 229
2. A didática e o processo de ensino e aprendizagem.................................................................................................................... 232
3. Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avaliação........................................................ 235
4. A sala de aula como espaço de aprendizagem e interação......................................................................................................... 239
5. A didática como fundamento epistemológico do fazer docente................................................................................................ 240
6. Principais teorias da aprendizagem; Inatismo, comportamentalismo, behaviorismo, interacionismo, cognitivismo; As bases
empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas teorias de aprendizagem; Contribuições de Piaget, Vygotsky e
Wallon para a psicologia e a pedagógica.................................................................................................................................... 240
7. A teoria das inteligências múltiplas de Gardner......................................................................................................................... 246
8. Psicologia do desenvolvimento. Aspectos históricos e biopsicossociais..................................................................................... 248
9. Temas contemporâneos: bullying............................................................................................................................................... 260
10. o papel da escola........................................................................................................................................................................ 265
11. a escolha da profissão................................................................................................................................................................. 265
12. transtornos alimentares na adolescência................................................................................................................................... 266
13. família......................................................................................................................................................................................... 267
14. educação sexual.......................................................................................................................................................................... 272
15. Avaliação institucional, de desempenho e de aprendizagem..................................................................................................... 283
16. Teorias do currículo.................................................................................................................................................................... 295
17. Acesso, permanência e sucesso do aluno na escola................................................................................................................... 307
18. Gestão da aprendizagem........................................................................................................................................................... 308
19. O professor: formação e profissão.............................................................................................................................................. 308
20. Projeto político-pedagógico........................................................................................................................................................ 309
21. A pesquisa na prática docente. .................................................................................................................................................. 316
22. Alfabetização e Letramento........................................................................................................................................................ 316
23. Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira; políticas educacionais para a educação básica.................. 319
24. Educação inclusiva...................................................................................................................................................................... 326
LÍNGUA PORTUGUESA

Tipos textuais
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS (FICCIONAIS A tipologia textual se classifica a partir da estrutura e da finali-
E/OU NÃO FICCIONAIS) dade do texto, ou seja, está relacionada ao modo como o texto se
apresenta. A partir de sua função, é possível estabelecer um padrão
Compreender e interpretar textos é essencial para que o obje- específico para se fazer a enunciação.
tivo de comunicação seja alcançado satisfatoriamente. Com isso, é Veja, no quadro abaixo, os principais tipos e suas características:
importante saber diferenciar os dois conceitos. Vale lembrar que o
texto pode ser verbal ou não-verbal, desde que tenha um sentido Apresenta um enredo, com ações
completo. e relações entre personagens, que
A compreensão se relaciona ao entendimento de um texto e ocorre em determinados espaço e
de sua proposta comunicativa, decodificando a mensagem explíci- TEXTO NARRATIVO tempo. É contado por um narrador,
ta. Só depois de compreender o texto que é possível fazer a sua e se estrutura da seguinte maneira:
interpretação. apresentação > desenvolvimento >
A interpretação são as conclusões que chegamos a partir do clímax > desfecho
conteúdo do texto, isto é, ela se encontra para além daquilo que Tem o objetivo de defender
está escrito ou mostrado. Assim, podemos dizer que a interpreta- determinado ponto de vista,
ção é subjetiva, contando com o conhecimento prévio e do reper- TEXTO DISSERTATIVO- persuadindo o leitor a partir do
tório do leitor. ARGUMENTATIVO uso de argumentos sólidos. Sua
Dessa maneira, para compreender e interpretar bem um texto, estrutura comum é: introdução >
é necessário fazer a decodificação de códigos linguísticos e/ou vi- desenvolvimento > conclusão.
suais, isto é, identificar figuras de linguagem, reconhecer o sentido
de conjunções e preposições, por exemplo, bem como identificar Procura expor ideias, sem a
expressões, gestos e cores quando se trata de imagens. necessidade de defender algum
ponto de vista. Para isso, usa-
Dicas práticas TEXTO EXPOSITIVO se comparações, informações,
1. Faça um resumo (pode ser uma palavra, uma frase, um con- definições, conceitualizações
ceito) sobre o assunto e os argumentos apresentados em cada pa- etc. A estrutura segue a do texto
rágrafo, tentando traçar a linha de raciocínio do texto. Se possível, dissertativo-argumentativo.
adicione também pensamentos e inferências próprias às anotações. Expõe acontecimentos, lugares,
2. Tenha sempre um dicionário ou uma ferramenta de busca pessoas, de modo que sua finalidade
por perto, para poder procurar o significado de palavras desconhe- TEXTO DESCRITIVO é descrever, ou seja, caracterizar algo
cidas. ou alguém. Com isso, é um texto rico
3. Fique atento aos detalhes oferecidos pelo texto: dados, fon- em adjetivos e em verbos de ligação.
te de referências e datas.
Oferece instruções, com o objetivo
4. Sublinhe as informações importantes, separando fatos de
de orientar o leitor. Sua maior
opiniões. TEXTO INJUNTIVO
característica são os verbos no modo
5. Perceba o enunciado das questões. De um modo geral, ques-
imperativo.
tões que esperam compreensão do texto aparecem com as seguin-
tes expressões: o autor afirma/sugere que...; segundo o texto...; de
Gêneros textuais
acordo com o autor... Já as questões que esperam interpretação do
A classificação dos gêneros textuais se dá a partir do reconhe-
texto aparecem com as seguintes expressões: conclui-se do texto
cimento de certos padrões estruturais que se constituem a partir
que...; o texto permite deduzir que...; qual é a intenção do autor
da função social do texto. No entanto, sua estrutura e seu estilo
quando afirma que...
não são tão limitados e definidos como ocorre na tipologia textual,
podendo se apresentar com uma grande diversidade. Além disso, o
GÊNEROS DISCURSIVOS E TIPOLOGIA TEXTUAL padrão também pode sofrer modificações ao longo do tempo, as-
sim como a própria língua e a comunicação, no geral.
Alguns exemplos de gêneros textuais:
A partir da estrutura linguística, da função social e da finali-
• Artigo
dade de um texto, é possível identificar a qual tipo e gênero ele
• Bilhete
pertence. Antes, é preciso entender a diferença entre essas duas
• Bula
classificações.
• Carta

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Conto
• Crônica
• E-mail
• Lista
• Manual
• Notícia
• Poema
• Propaganda
• Receita culinária
• Resenha
• Seminário

Vale lembrar que é comum enquadrar os gêneros textuais em determinados tipos textuais. No entanto, nada impede que um texto
literário seja feito com a estruturação de uma receita culinária, por exemplo. Então, fique atento quanto às características, à finalidade e à
função social de cada texto analisado.

ORTOGRAFIA

A ortografia oficial diz respeito às regras gramaticais referentes à escrita correta das palavras. Para melhor entendê-las, é preciso ana-
lisar caso a caso. Lembre-se de que a melhor maneira de memorizar a ortografia correta de uma língua é por meio da leitura, que também
faz aumentar o vocabulário do leitor.
Neste capítulo serão abordadas regras para dúvidas frequentes entre os falantes do português. No entanto, é importante ressaltar que
existem inúmeras exceções para essas regras, portanto, fique atento!

Alfabeto
O primeiro passo para compreender a ortografia oficial é conhecer o alfabeto (os sinais gráficos e seus sons). No português, o alfabeto
se constitui 26 letras, divididas entre vogais (a, e, i, o, u) e consoantes (restante das letras).
Com o Novo Acordo Ortográfico, as consoantes K, W e Y foram reintroduzidas ao alfabeto oficial da língua portuguesa, de modo que
elas são usadas apenas em duas ocorrências: transcrição de nomes próprios e abreviaturas e símbolos de uso internacional.

Uso do “X”
Algumas dicas são relevantes para saber o momento de usar o X no lugar do CH:
• Depois das sílabas iniciais “me” e “en” (ex: mexerica; enxergar)
• Depois de ditongos (ex: caixa)
• Palavras de origem indígena ou africana (ex: abacaxi; orixá)

Uso do “S” ou “Z”


Algumas regras do uso do “S” com som de “Z” podem ser observadas:
• Depois de ditongos (ex: coisa)
• Em palavras derivadas cuja palavra primitiva já se usa o “S” (ex: casa > casinha)
• Nos sufixos “ês” e “esa”, ao indicarem nacionalidade, título ou origem. (ex: portuguesa)
• Nos sufixos formadores de adjetivos “ense”, “oso” e “osa” (ex: populoso)

Uso do “S”, “SS”, “Ç”


• “S” costuma aparecer entre uma vogal e uma consoante (ex: diversão)
• “SS” costuma aparecer entre duas vogais (ex: processo)
• “Ç” costuma aparecer em palavras estrangeiras que passaram pelo processo de aportuguesamento (ex: muçarela)

Os diferentes porquês

POR QUE Usado para fazer perguntas. Pode ser substituído por “por qual motivo”
PORQUE Usado em respostas e explicações. Pode ser substituído por “pois”
O “que” é acentuado quando aparece como a última palavra da frase, antes da pontuação final (interrogação,
POR QUÊ
exclamação, ponto final)
PORQUÊ É um substantivo, portanto costuma vir acompanhado de um artigo, numeral, adjetivo ou pronome

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LÍNGUA PORTUGUESA

Parônimos e homônimos
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pronúncia semelhantes, porém com significados distintos.
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfego (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
Já as palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).

ACENTUAÇÃO

A acentuação é uma das principais questões relacionadas à Ortografia Oficial, que merece um capítulo a parte. Os acentos utilizados
no português são: acento agudo (´); acento grave (`); acento circunflexo (^); cedilha (¸) e til (~).
Depois da reforma do Acordo Ortográfico, a trema foi excluída, de modo que ela só é utilizada na grafia de nomes e suas derivações
(ex: Müller, mülleriano).
Esses são sinais gráficos que servem para modificar o som de alguma letra, sendo importantes para marcar a sonoridade e a intensi-
dade das sílabas, e para diferenciar palavras que possuem a escrita semelhante.
A sílaba mais intensa da palavra é denominada sílaba tônica. A palavra pode ser classificada a partir da localização da sílaba tônica,
como mostrado abaixo:
• OXÍTONA: a última sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: café)
• PAROXÍTONA: a penúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: automóvel)
• PROPAROXÍTONA: a antepenúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: lâmpada)
As demais sílabas, pronunciadas de maneira mais sutil, são denominadas sílabas átonas.

Regras fundamentais

CLASSIFICAÇÃO REGRAS EXEMPLOS


• terminadas em A, E, O, EM, seguidas ou não do
cipó(s), pé(s), armazém
OXÍTONAS plural
respeitá-la, compô-lo, comprometê-los
• seguidas de -LO, -LA, -LOS, -LAS
• terminadas em I, IS, US, UM, UNS, L, N, X, PS, Ã,
ÃS, ÃO, ÃOS
táxi, lápis, vírus, fórum, cadáver, tórax, bíceps,
• ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido
PAROXÍTONAS ímã, órfão, órgãos, água, mágoa, pônei, ideia, geleia,
ou não do plural
paranoico, heroico
(OBS: Os ditongos “EI” e “OI” perderam o
acento com o Novo Acordo Ortográfico)
PROPAROXÍTONAS • todas são acentuadas cólica, analítico, jurídico, hipérbole, último, álibi

Regras especiais

REGRA EXEMPLOS
Acentua-se quando “I” e “U” tônicos formarem hiato com a vogal anterior, acompanhados ou não de saída, faísca, baú, país
“S”, desde que não sejam seguidos por “NH” feiura, Bocaiuva,
OBS: Não serão mais acentuados “I” e “U” tônicos formando hiato quando vierem depois de ditongo Sauipe
têm, obtêm, contêm,
Acentua-se a 3ª pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos “TER” e “VIR” e seus compostos
vêm
Não são acentuados hiatos “OO” e “EE” leem, voo, enjoo
Não são acentuadas palavras homógrafas
pelo, pera, para
OBS: A forma verbal “PÔDE” é uma exceção

PONTUAÇÃO

Para a elaboração de um texto escrito, deve-se considerar o uso adequado dos sinais de pontuação como: pontos, vírgula, ponto e
vírgula, dois pontos, travessão, parênteses, reticências, aspas, etc.
Tais sinais têm papéis variados no texto escrito e, se utilizados corretamente, facilitam a compreensão e entendimento do texto.

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LÍNGUA PORTUGUESA

— A Importância da Pontuação Em diálogos, o ponto de interrogação pode aparecer acompa-


As palavras e orações são organizadas de maneira sintática, se-
1
nhando do ponto de exclamação, indicando o estado de dúvida de
mântica e também melódica e rítmica. Sem o ritmo e a melodia, os um personagem perante diante de um fato.
enunciados ficariam confusos e a função comunicativa seria preju- Ex.: — “Esteve cá o homem da casa e disse que do próximo mês
dicada. em diante são mais cinquenta...
O uso correto dos sinais de pontuação garante à escrita uma — ?!...”
solidariedade sintática e semântica. O uso inadequado dos sinais de
pontuação pode causar situações desastrosas, como em: — Ponto de Exclamação
– Não podem atirar! (entende-se que atirar está proibido) Este sinal (!) é colocado no final da oração enunciada com ento-
– Não, podem atirar! (entende-se que é permitido atirar) nação exclamativa.
Ex.: “Que gentil que estava a espanhola!”
— Ponto “Mas, na morte, que diferença! Que liberdade!”
Este ponto simples final (.) encerra períodos que terminem por
qualquer tipo de oração que não seja interrogativa direta, a excla- Este sinal é colocado após uma interjeição.
mativa e as reticências. Ex.: — Olé! exclamei.
Outra função do ponto é a da pausa oracional, ao acompanhar — Ah! brejeiro!
muitas palavras abreviadas, como: p., 2.ª, entre outros.
Se o período, oração ou frase terminar com uma abreviatura, As mesmas observações vistas no ponto de interrogação, em re-
o ponto final não é colocado após o ponto abreviativo, já que este, lação ao emprego do ponto final e ao uso de maiúscula ou minúscu-
quando coincide com aquele, apresenta dupla serventia. la inicial da palavra seguinte, são aplicadas ao ponto de exclamação.
Ex.: “O ponto abreviativo põe-se depois das palavras indicadas
abreviadamente por suas iniciais ou por algumas das letras com que — Reticências
se representam, v.g. ; V. S.ª ; Il.mo ; Ex.a ; etc.” (Dr. Ernesto Carneiro As reticências (...) demonstram interrupção ou incompletude de
Ribeiro) um pensamento.
O ponto, com frequência, se aproxima das funções do ponto e Ex.: — “Ao proferir estas palavras havia um tremor de alegria
vírgula e do travessão, que às vezes surgem em seu lugar. na voz de Marcela: e no rosto como que se lhe espraiou uma onda
de ventura...”
Obs.: Estilisticamente, pode-se usar o ponto para, em períodos — “Não imagina o que ela é lá em casa: fala na senhora a todos
curtos, empregar dinamicidade, velocidade à leitura do texto: “Era os instantes, e aqui aparece uma pamonha. Ainda ontem...
um garoto pobre. Mas tinha vontade de crescer na vida. Estudou.
Subiu. Foi subindo mais. Hoje é juiz do Supremo.”. É muito utilizado Quando colocadas no fim do enunciado, as reticências dispen-
em narrações em geral. sam o ponto final, como você pode observar nos exemplos acima.
As reticências, quando indicarem uma enumeração inconclusa,
— Ponto Parágrafo podem ser substituídas por etc.
Separa-se por ponto um grupo de período formado por orações Ao transcrever um diálogo, elas indicam uma não resposta do
que se prendem pelo mesmo centro de interesse. Uma vez que o interlocutor. Já em citações, elas podem ser postas no início, no
centro de interesse é trocado, é imposto o emprego do ponto pa- meio ou no fim, indicando supressão do texto transcrito, em cada
rágrafo se iniciando a escrever com a mesma distância da margem uma dessas partes.
com que o texto foi iniciado, mas em outra linha. Quando ocorre a supressão de um trecho de certa extensão,
O parágrafo é indicado por ( § ) na linguagem oficial dos artigos geralmente utiliza-se uma linha pontilhada.
de lei. As reticências podem aparecer após um ponto de exclamação
ou interrogação.
— Ponto de Interrogação
É um sinal (?) colocado no final da oração com entonação inter- — Vírgula
rogativa ou de incerteza, seja real ou fingida. A vírgula (,) é utilizada:
A interrogação conclusa aparece no final do enunciado e requer - Para separar termos coordenados, mesmo quando ligados por
que a palavra seguinte se inicie por maiúscula. Já a interrogação conjunção (caso haja pausa).
interna (quase sempre fictícia), não requer que a próxima palavra Ex.: “Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado”.
se inicia com maiúscula.
Ex.: — Você acha que a gramática da Língua Portuguesa é com- IMPORTANTE!
plicada? Quando há uma série de sujeitos seguidos imediatamente de
— Meu padrinho? É o Excelentíssimo Senhor coronel Paulo Vaz verbo, não se separa do verbo (por vírgula) o ultimo sujeito da série
Lobo Cesar de Andrade e Sousa Rodrigues de Matos. .
Ex.: Carlos Gomes, Vítor Meireles, Pedro Américo, José de Alen-
Assim como outros sinais, o ponto de interrogação não requer car tinham-nas começado.
que a oração termine por ponto final, a não ser que seja interna.
Ex.: “Esqueceu alguma cousa? perguntou Marcela de pé, no pa- - Para separar orações coordenadas aditivas, mesmo que estas
tamar”. se iniciem pela conjunção e, proferidas com pausa.
1 BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Ex.: “Gostava muito das nossas antigas dobras de ouro, e eu le-
2009. vava-lhe quanta podia obter”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Para separar orações coordenadas alternativas (ou, quer, etc.), - Para separar advérbios e conjunções adversativos (porém, to-
quando forem proferidas com pausa. davia, contudo, entretanto), principalmente quando pospostos.
Ex.: Ele sairá daqui logo, ou eu me desligarei do grupo. Ex.: “A proposta, porém, desdizia tanto das minhas sensações
últimas...”
IMPORTANTE!
Quando ou exprimir retificação, esta mesma regra vigora. - Algumas vezes, para indicar a elipse do verbo.
Ex.: Teve duas fases a nossa paixão, ou ligação, ou qualquer ou- Ex.: Ele sai agora: eu, logo mais. (omitiu o verbo “sairei” após
tro nome, que eu de nome não curo. “eu”; elipse do verbo sair)
Caso denote equivalência, o ou posto entre os dois termos não
é separado por vírgula. - Omissão por zeugma.
Ex.: Solteiro ou solitário se prende ao mesmo termo latino. Ex.: Na classe, alguns alunos são interessados; outros, (são) re-
lapsos. (Supressão do verbo “são” antes do vocábulo “relapsos”)
- Em aposições, a não ser no especificativo.
Ex.: “ora enfim de uma casa que ele meditava construir, para - Para indicar a interrupção de um seguimento natural das ideias
residência própria, casa de feitio moderno...” e se intercala um juízo de valor ou uma reflexão subsidiária.

- Para separar os pleonasmos e as repetições, quando não tive- - Para evitar e desfazer alguma interpretação errônea que pode
rem efeito superlativamente. ocorrer quando os termos estão distribuídos de forma irregular na
Ex.: “Nunca, nunca, meu amor!” oração, a expressão deslocada é separada por vírgula.
A casa é linda, linda. Ex.: De todas as revoluções, para o homem, a morte é a maior
e a derradeira.
- Para intercalar ou separar vocativos e apostos.
Ex.: Brasileiros, é chegada a hora de buscar o entendimento. - Em enumerações
É aqui, nesta querida escola, que nos encontramos. sem gradação: Coleciono livros, revistas, jornais, discos.
com gradação: Não compreendo o ciúme, a saudade, a dor da
- Para separar orações adjetivas de valor explicativo. despedida.
Ex.: “perguntava a mim mesmo por que não seria melhor depu-
tado e melhor marquês do que o lobo Neves, — eu, que valia mais, Não se separa por vírgula:
muito mais do que ele, — ...” - sujeito de predicado;
- objeto de verbo;
- Para separar, na maioria das vezes, orações adjetivas restritiva - adjunto adnominal de nome;
de certa extensão, ainda mais quando os verbos de duas orações - complemento nominal de nome;
distintas se juntam. - oração principal da subordinada substantiva (desde que esta
Ex.: “No meio da confusão que produzira por toda a parte este não seja apositiva nem apareça na ordem inversa).
acontecimento inesperado e cujo motivo e circunstâncias inteira-
mente se ignoravam, ninguém reparou nos dois cavaleiros...” — Dois Pontos
São utilizados:
IMPORTANTE! - Na enumeração, explicação, notícia subsidiária.
Mesmo separando por vírgula o sujeito expandido pela oração Ex.: Comprou dois presentes: um livro e uma caneta.
adjetiva, esta pontuação pode acontecer. “que (Viegas) padecia de um reumatismo teimoso, de uma
Ex.: Os que falam em matérias que não entendem, parecem fa- asma não menos teimosa e de uma lesão de coração: era um hos-
zer gala da sua própria ignorância. pital concentrado”
“Queremos governos perfeitos com homens imperfeitos: dispa-
rate”
- Para separar orações intercaladas.
Ex.: “Não lhe posso dizer com certeza, respondi eu” - Em expressões que se seguem aos verbos dizer, retrucar, res-
ponder (e semelhantes) e que dão fim à declaração textual, ou que
- Para separar, geralmente, adjuntos adverbiais que precedem assim julgamos, de outrem.
o verbo e as orações adverbiais que aparecem antes ou no meio da Ex.: “Não me quis dizer o que era: mas, como eu instasse muito:
sua principal. — Creio que o Damião desconfia alguma coisa”
Ex.: “Eu mesmo, até então, tinha-vos em má conta...”
- Em alguns casos, onde a intenção é caracterizar textualmente
- Para separar o nome do lugar em datas. o discurso do interlocutor, a transcrição aparece acompanhada de
Ex.: São Paulo, 14 de janeiro de 2020. aspas, e poucas vezes de travessão.
Ex.: “Ao cabo de alguns anos de peregrinação, atendi às suplicas
- Para separar os partículas e expressões de correção, continua- de meu pai:
ção, explicação, concessão e conclusão. — Vem, dizia ele na última carta; se não vieres depressa acharás
Ex.: “e, não obstante, havia certa lógica, certa dedução” tua mãe morta!”
Sairá amanhã, aliás, depois de amanhã.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Em expressões que, ao serem enunciadas com entonação espe- Além disso, ainda pode indicar a mudança de interlocutor, na
cial, o contexto acaba sugerindo causa, consequência ou explicação. transcrição de um diálogo, com ou sem aspas.
Ex.: “Explico-me: o diploma era uma carta de alforria” Ex.: — Ah! respirou Lobo Neves, sentando-se preguiçosamente
no sofá.
- Em expressões que possuam uma quebra na sequência das — Cansado? perguntei eu.
ideias. — Muito; aturei duas maçadas de primeira ordem (...)
Ex.: Sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou.
“Não! bradei eu; não hás de entrar... não quero... Ia a lançar-lhe Neste caso, pode, ou não, combinar-se com as aspas.
as mãos: era tarde; ela entrara e fechara-se”
— Parênteses e Colchetes
— Ponto e Vírgula Estes sinais ( ) [ ] apontam a existência de um isolamento sin-
Sinal (;) que denota pausa mais forte que a vírgula, porém mais tático e semântico mais completo dentro de um enunciado, assim
fraca que o ponto. É utilizado: como estabelecem uma intimidade maior entre o autor e seu leitor.
Geralmente, o uso do parêntese é marcado por uma entonação es-
- Em trechos longos que já possuam vírgulas, indicando uma pecial.
pausa mais forte. Se a pausa coincidir com o início da construção parentética, o
Ex.: “Enfim, cheguei-me a Virgília, que estava sentada, e travei- sinal de pontuação deve aparecer após os parênteses, contudo, se
-lhe da mão; D. Plácida foi à janela” a proposição ou frase inteira for encerrada pelos parênteses, a no-
tação deve aparecer dentro deles.
- Para separar as adversativas onde se deseja ressaltar o con- Ex.: “Não, filhos meus (deixai-me experimentar, uma vez que
traste. seja, convosco, este suavíssimo nome); não: o coração não é tão
Ex.: “Não se disse mais nada; mas de noite Lobo Neves insistiu frívolo, tão exterior, tão carnal, quanto se cuida”
no projeto” “A imprensa (quem o contesta?) é o mais poderoso meio que
se tem inventado para a divulgação do pensamento”. (Carta inserta
- Em leis, separando os incisos. nos Anais da Biblioteca Nacional, vol. I) [Carlos de Laet]

- Enumeração com explicitação. - Isolar datas.


Ex.: Comprei alguns livros: de matemática, para estudar para Ex.: Refiro-me aos soldados da Primeira Guerra Mundial (1914-
o concurso; um romance, para me distrair nas horas vagas; e um 1918).
dicionário, para enriquecer meu vocabulário.
- Isolar siglas.
- Enumeração com ponto e vírgula, mas sem vírgula, para mar- Ex.: A taxa de desemprego subiu para 5,3% da população eco-
car distribuição. nomicamente ativa (PEA)...
Ex.: Comprei os produtos no supermercado: farinha para um
bolo; tomates para o molho; e pão para o café da manhã. - Isolar explicações ou retificações.
Ex.: Eu expliquei uma vez (ou duas vezes) o motivo de minha
— Travessão preocupação.
É importante não confundir o travessão (—) com o traço de
união ou hífen e com o traço de divisão empregado na partição de Os parênteses e os colchetes estão ligados pela sua função dis-
sílabas. cursiva, mas estes são utilizados quando os parênteses já foram em-
O uso do travessão pode substituir vírgulas, parênteses, colche- pregados, com o objetivo de introduzir uma nova inserção.
tes, indicando uma expressão intercalada: São utilizados, também, com a finalidade de preencher lacunas
Ex.: “... e eu falava-lhe de mil cousas diferentes — do último bai- de textos ou para introduzir, em citações principalmente, explica-
le, da discussão das câmaras, berlindas e cavalos, de tudo, menos ções ou adendos que deixam a compreensão do texto mais simples.
dos seus versos ou prosas”
— Aspas
Se a intercalação terminar o texto, o travessão é simples; caso A forma mais geral do uso das aspas é o sinal (“ ”), entretanto,
contrário, se utiliza o travessão duplo. há a possibilidade do uso das aspas simples (‘ ’) para diferentes fina-
Ex.: “Duas, três vezes por semana, havia de lhe deixar na algi- lidades, como em trabalhos científicos sobre línguas, onde as aspas
beira das calças — umas largas calças de enfiar —, ou na gaveta da simples se referem a significados ou sentidos: amare, lat. ‘amar’
mesa, ou ao pé do tinteiro, uma barata morta” port.
As aspas podem ser utilizadas, também, para dar uma expres-
IMPORTANTE! são de sentido particular, ressaltando uma expressão dentro do
Como é possível observar no exemplo, pode haver vírgula após contexto ou indicando uma palavra como estrangeirismo ou uma
o travessão. gíria.
Se a pausa coincidir com o final da sentença ou expressão que
O travessão pode, também, denotar uma pausa mais forte. está entre aspas, o competente sinal de pontuação deve ser utili-
Ex.: “... e se estabelece uma cousa que poderemos chamar —, zado após elas, se encerrarem somente uma parte da proposição;
solidariedade do aborrecimento humano” mas se as aspas abarcarem todo o período, frase, expressão ou sen-
tença, a respectiva pontuação é abrangida por elas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: “Aí temos a lei”, dizia o Florentino. “Mas quem as há de Derivação


segurar? Ninguém.” A formação se dá por derivação quando ocorre a partir de uma
“Mísera, tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal, palavra simples ou de um único radical, juntando-se afixos.
que toda a luz resume!” • Derivação prefixal: adiciona-se um afixo anteriormente à pa-
“Por que não nasce eu um simples vaga-lume?” lavra ou radical. Ex: antebraço (ante + braço) / infeliz (in + feliz)
• Derivação sufixal: adiciona-se um afixo ao final da palavra ou
- Delimitam transcrições ou citações textuais. radical. Ex: friorento (frio + ento) / guloso (gula + oso)
Ex.: Segundo Rui Barbosa: “A política afina o espírito.” • Derivação parassintética: adiciona-se um afixo antes e outro
depois da palavra ou radical. Ex: esfriar (es + frio + ar) / desgoverna-
— Alínea do (des + governar + ado)
Apresenta a mesma função do parágrafo, uma vez que denota • Derivação regressiva (formação deverbal): reduz-se a pala-
diferentes centros de assuntos. Como o parágrafo, requer a mudan- vra primitiva. Ex: boteco (botequim) / ataque (verbo “atacar”)
ça de linha. • Derivação imprópria (conversão): ocorre mudança na classe
De forma geral, aparece em forma de número ou letra seguida gramatical, logo, de sentido, da palavra primitiva. Ex: jantar (verbo
de um traço curvo. para substantivo) / Oliveira (substantivo comum para substantivo
Ex.: Os substantivos podem ser: próprio – sobrenomes).
a) próprios
b) comuns Composição
A formação por composição ocorre quando uma nova palavra
— Chave se origina da junção de duas ou mais palavras simples ou radicais.
Este sinal ({ }) é mais utilizado em obras científicas. Indicam a • Aglutinação: fusão de duas ou mais palavras simples, de
reunião de diversos itens relacionados que formam um grupo. modo que ocorre supressão de fonemas, de modo que os elemen-
2
Ex.: Múltiplos de 5: {0, 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35,… }. tos formadores perdem sua identidade ortográfica e fonológica. Ex:
Na matemática, as chaves agrupam vários elementos de uma aguardente (água + ardente) / planalto (plano + alto)
operação, definindo sua ordem de resolução. • Justaposição: fusão de duas ou mais palavras simples, man-
Ex.: 30x{40+[30x(84-20x4)]} tendo a ortografia e a acentuação presente nos elementos forma-
Também podem ser utilizadas na linguística, representando dores. Em sua maioria, aparecem conectadas com hífen. Ex: beija-
morfemas. -flor / passatempo.
Ex.: O radical da palavra menino é {menin-}.
Abreviação
— Asterisco Quando a palavra é reduzida para apenas uma parte de sua
Sinal (*) utilizado após ou sobre uma palavra, com a intenção totalidade, passando a existir como uma palavra autônoma. Ex: foto
de se fazer um comentário ou citação a respeito do termo, ou uma (fotografia) / PUC (Pontifícia Universidade Católica).
explicação sobre o trecho (neste caso o asterisco se põe no fim do
período). Hibridismo
Emprega-se ainda um ou mais asteriscos depois de uma inicial, Quando há junção de palavras simples ou radicais advindos de
indicando uma pessoa cujo nome não se quer ou não se pode decli- línguas distintas. Ex: sociologia (socio – latim + logia – grego) / binó-
nar: o Dr.*, B.**, L.*** culo (bi – grego + oculus – latim).

— Barra Combinação
Aplicada nas abreviações das datas e em algumas abreviaturas. Quando ocorre junção de partes de outras palavras simples ou
radicais. Ex: portunhol (português + espanhol) / aborrecente (abor-
FORMAÇÃO DE PALAVRAS recer + adolescente).

Intensificação
A formação de palavras se dá a partir de processos morfológi- Quando há a criação de uma nova palavra a partir do alarga-
cos, de modo que as palavras se dividem entre: mento do sufixo de uma palavra existente. Normalmente é feita
• Palavras primitivas: são aquelas que não provêm de outra adicionando o sufixo -izar. Ex: inicializar (em vez de iniciar) / proto-
palavra. Ex: flor; pedra colizar (em vez de protocolar).
• Palavras derivadas: são originadas a partir de outras pala-
vras. Ex: floricultura; pedrada Neologismo
• Palavra simples: são aquelas que possuem apenas um radi- Quando novas palavras surgem devido à necessidade do falan-
cal (morfema que contém significado básico da palavra). Ex: cabelo; te em contextos específicos, podendo ser temporárias ou perma-
azeite nentes. Existem três tipos principais de neologismos:
• Palavra composta: são aquelas que possuem dois ou mais • Neologismo semântico: atribui-se novo significado a uma pa-
radicais. Ex: guarda-roupa; couve-flor lavra já existente. Ex: amarelar (desistir) / mico (vergonha)
Entenda como ocorrem os principais processos de formação de • Neologismo sintático: ocorre a combinação de elementos já
palavras: existentes no léxico da língua. Ex: dar um bolo (não comparecer ao
compromisso) / dar a volta por cima (superar).
2 https://bit.ly/2RongbC. • Neologismo lexical: criação de uma nova palavra, que tem

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LÍNGUA PORTUGUESA

um novo conceito. Ex: deletar (apagar) / escanear (digitalizar) Formas variantes


São as palavras que permitem mais de uma grafia correta, sem
Onomatopeia que ocorra mudança no significado. Ex: loiro – louro / enfarte – in-
Quando uma palavra é formada a partir da reprodução aproxi- farto / gatinhar – engatinhar.
mada do seu som. Ex: atchim; zum-zum; tique-taque.
Arcaísmo
LÉXICO: ADEQUAÇÃO NO EMPREGO DAS PALAVRAS. São palavras antigas, que perderam o uso frequente ao longo
do tempo, sendo substituídas por outras mais modernas, mas que
ainda podem ser utilizadas. No entanto, ainda podem ser bastante
Este é um estudo da semântica, que pretende classificar os encontradas em livros antigos, principalmente. Ex: botica <—> far-
sentidos das palavras, as suas relações de sentido entre si. Conheça mácia / franquia <—> sinceridade.
as principais relações e suas características:
VERBOS: CONJUGAÇÃO, EMPREGO DOS TEMPOS, MO-
Sinonímia e antonímia DOS E VOZES VERBAIS; AS PALAVRAS DE RELAÇÃO
As palavras sinônimas são aquelas que apresentam significado
semelhante, estabelecendo relação de proximidade. Ex: inteligente
<—> esperto Verbos
Já as palavras antônimas são aquelas que apresentam signifi- Os verbos podem ser flexionados em três tempos: pretérito
cados opostos, estabelecendo uma relação de contrariedade. Ex: (passado), presente e futuro, de maneira que o pretérito e o futuro
forte <—> fraco possuem subdivisões.
Eles também se dividem em três flexões de modo: indicativo
Parônimos e homônimos (certeza sobre o que é passado), subjuntivo (incerteza sobre o que é
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro- passado) e imperativo (expressar ordem, pedido, comando).
núncia semelhantes, porém com significados distintos. • Tempos simples do modo indicativo: presente, pretérito per-
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe- feito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do
go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal). presente, futuro do pretérito.
As palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma • Tempos simples do modo subjuntivo: presente, pretérito im-
grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo perfeito, futuro.
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).
As palavras homófonas são aquelas que possuem a mesma Os tempos verbais compostos são formados por um verbo
pronúncia, mas com escrita e significado diferentes. Ex: cem (nu- auxiliar e um verbo principal, de modo que o verbo auxiliar sofre
meral) X sem (falta); conserto (arrumar) X concerto (musical). flexão em tempo e pessoa, e o verbo principal permanece no parti-
As palavras homógrafas são aquelas que possuem escrita igual, cípio. Os verbos auxiliares mais utilizados são “ter” e “haver”.
porém som e significado diferentes. Ex: colher (talher) X colher (ver- • Tempos compostos do modo indicativo: pretérito perfeito,
bo); acerto (substantivo) X acerto (verbo). pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do preté-
rito.
Polissemia e monossemia • Tempos compostos do modo subjuntivo: pretérito perfeito,
As palavras polissêmicas são aquelas que podem apresentar pretérito mais-que-perfeito, futuro.
mais de um significado, a depender do contexto em que ocorre a As formas nominais do verbo são o infinitivo (dar, fazerem,
frase. Ex: cabeça (parte do corpo humano; líder de um grupo). aprender), o particípio (dado, feito, aprendido) e o gerúndio (dando,
Já as palavras monossêmicas são aquelas apresentam apenas fazendo, aprendendo). Eles podem ter função de verbo ou função
um significado. Ex: eneágono (polígono de nove ângulos). de nome, atuando como substantivo (infinitivo), adjetivo (particí-
pio) ou advérbio (gerúndio).
Denotação e conotação
Palavras com sentido denotativo são aquelas que apresentam Tipos de verbos
um sentido objetivo e literal. Ex: Está fazendo frio. / Pé da mulher. Os verbos se classificam de acordo com a sua flexão verbal.
Palavras com sentido conotativo são aquelas que apresentam Desse modo, os verbos se dividem em:
um sentido simbólico, figurado. Ex: Você me olha com frieza. / Pé Regulares: possuem regras fixas para a flexão (cantar, amar,
da cadeira. vender, abrir...)
• Irregulares: possuem alterações nos radicais e nas termina-
Hiperonímia e hiponímia ções quando conjugados (medir, fazer, poder, haver...)
Esta classificação diz respeito às relações hierárquicas de signi- • Anômalos: possuem diferentes radicais quando conjugados
ficado entre as palavras. (ser, ir...)
Desse modo, um hiperônimo é a palavra superior, isto é, que • Defectivos: não são conjugados em todas as pessoas verbais
tem um sentido mais abrangente. Ex: Fruta é hiperônimo de limão. (falir, banir, colorir, adequar...)
Já o hipônimo é a palavra que tem o sentido mais restrito, por- • Impessoais: não apresentam sujeitos, sendo conjugados sem-
tanto, inferior, de modo que o hiperônimo engloba o hipônimo. Ex: pre na 3ª pessoa do singular (chover, nevar, escurecer, anoitecer...)
Limão é hipônimo de fruta. • Unipessoais: apesar de apresentarem sujeitos, são sempre
conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural (latir, miar, custar,
acontecer...)

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Abundantes: possuem duas formas no particípio, uma regular e outra irregular (aceitar = aceito, aceitado)
• Pronominais: verbos conjugados com pronomes oblíquos átonos, indicando ação reflexiva (suicidar-se, queixar-se, sentar-se, pen-
tear-se...)
• Auxiliares: usados em tempos compostos ou em locuções verbais (ser, estar, ter, haver, ir...)
• Principais: transmitem totalidade da ação verbal por si próprios (comer, dançar, nascer, morrer, sorrir...)
• De ligação: indicam um estado, ligando uma característica ao sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar...)

Vozes verbais
As vozes verbais indicam se o sujeito pratica ou recebe a ação, podendo ser três tipos diferentes:
• Voz ativa: sujeito é o agente da ação (Vi o pássaro)
• Voz passiva: sujeito sofre a ação (O pássaro foi visto)
• Voz reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação (Vi-me no reflexo do lago)

Ao passar um discurso para a voz passiva, é comum utilizar a partícula apassivadora “se”, fazendo com o que o pronome seja equiva-
lente ao verbo “ser”.

Conjugação de verbos
Os tempos verbais são primitivos quando não derivam de outros tempos da língua portuguesa. Já os tempos verbais derivados são
aqueles que se originam a partir de verbos primitivos, de modo que suas conjugações seguem o mesmo padrão do verbo de origem.
• 1ª conjugação: verbos terminados em “-ar” (aproveitar, imaginar, jogar...)
• 2ª conjugação: verbos terminados em “-er” (beber, correr, erguer...)
• 3ª conjugação: verbos terminados em “-ir” (dormir, agir, ouvir...)

Confira os exemplos de conjugação apresentados abaixo:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-lutar

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Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-impor

MORFOSSINTAXE; ESTRUTURA DO PERÍODO, DA ORAÇÃO E DA FRASE


Frase
É todo enunciado capaz de transmitir a outrem tudo aquilo que pensamos, queremos ou sentimos.

Exemplos
Caía uma chuva.
Dia lindo.

Oração
É a frase que apresenta estrutura sintática (normalmente, sujeito e predicado, ou só o predicado).

Exemplos
Ninguém segura este menino. (Ninguém: sujeito; segura este menino: predicado)
Havia muitos suspeitos. (Oração sem sujeito; havia muitos suspeitos: predicado)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Termos da oração

Termos sujeito
1.
essenciais predicado

objeto
complemento verbal direto
Termos
2. complemento nominal objeto
integrantes
agente da passiva indireto

Adjunto adnominal
Termos
3. adjunto adverbial
acessórios
aposto
4. Vocativo

Diz-se que sujeito e predicado são termos “essenciais”, mas note que o termo que realmente é o núcleo da oração é o verbo:
Chove. (Não há referência a sujeito.)
Cansei. (O sujeito e eu, implícito na forma verbal.)
Os termos “acessórios” são assim chamados por serem supostamente dispensáveis, o que nem sempre é verdade.

Sujeito e predicado
Sujeito é o termo da oração com o qual, normalmente, o verbo concorda.

Exemplos
A notícia corria rápida como pólvora. (Corria está no singular concordando com a notícia.)
As notícias corriam rápidas como pólvora. (Corriam, no plural, concordando com as notícias.)

O núcleo do sujeito é a palavra principal do sujeito, que encerra a essência de sua significação. Em torno dela, como que gravitam as
demais.
Exemplo: Os teus lírios brancos embelezam os campos. (Lírios é o núcleo do sujeito.)

Podem exercer a função de núcleo do sujeito o substantivo e palavras de natureza substantiva. Veja:
O medo salvou-lhe a vida. (substantivo)
Os medrosos fugiram. (Adjetivo exercendo papel de substantivo: adjetivo substantivado.)

A definição mais adequada para sujeito é: sujeito é o termo da oração com o qual o verbo normalmente concorda.

Sujeito simples: tem um só núcleo.


Exemplo: As flores morreram.

Sujeito composto: tem mais de um núcleo.


Exemplo: O rapaz e a moça foram encostados ao muro.

Sujeito elíptico (ou oculto): não expresso e que pode ser determinado pela desinência verbal ou pelo contexto.
Exemplo: Viajarei amanhã. (sujeito oculto: eu)

Sujeito indeterminado: é aquele que existe, mas não podemos ou não queremos identificá-lo com precisão.
Ocorre:
- quando o verbo está na 3ª pessoa do plural, sem referência a nenhum substantivo anteriormente expresso.
Exemplo: Batem à porta.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- com verbos intransitivo (VI), transitivo indireto (VTI) ou de li- Exemplo: A população da vila assistia ao embarque. (Núcleo
gação (VL) acompanhados da partícula SE, chamada de índice de do sujeito: população; núcleo do predicado: assistia, verbo transi-
indeterminação do sujeito (IIS). tivo indireto)
Exemplos:
Vive-se bem. (VI) Verbos intransitivos
Precisa-se de pedreiros. (VTI) São verbos que não exigem complemento algum; como a ação
Falava-se baixo. (VI) verbal não passa, não transita para nenhum complemento, rece-
Era-se feliz naquela época. (VL) bem o nome de verbos intransitivos. Podem formar predicado sozi-
nhos ou com adjuntos adverbiais.
Orações sem sujeito Exemplo: Os visitantes retornaram ontem à noite.
São orações cujos verbos são impessoais, com sujeito inexis-
tente. Verbos transitivos
São verbos que, ao declarar alguma coisa a respeito do sujei-
Ocorrem nos seguintes casos: to, exigem um complemento para a perfeita compreensão do que
- com verbos que se referem a fenômenos meteorológicos. se quer dizer. Tais verbos se denominam transitivos e a pessoa ou
Exemplo: Chovia. Ventava durante a noite. coisa para onde se dirige a atividade transitiva do verbo se denomi-
na objeto. Dividem-se em: diretos, indiretos e diretos e indiretos.
- haver no sentido de existir ou quando se refere a tempo de-
corrido. Verbos transitivos diretos: Exigem um objeto direto.
Exemplo: Há duas semanas não o vejo. (= Faz duas semanas) Exemplo: Espero-o no aeroporto.

- fazer referindo-se a fenômenos meteorológicos ou a tempo Verbos transitivos indiretos: Exigem um objeto indireto.
decorrido. Exemplo: Gosto de flores.
Exemplo: Fazia 40° à sombra.
Verbos transitivos diretos e indiretos: Exigem um objeto direto
- ser nas indicações de horas, datas e distâncias. e um objeto indireto.
Exempl: São duas horas. Exemplo: Os ministros informaram a nova política econômi-
ca aos trabalhadores. (VTDI)
Predicado nominal
O núcleo, em torno do qual as demais palavras do predicado Complementos verbais
gravitam e que contém o que de mais importante se comunica a Os complementos verbais são representados pelo objeto direto
respeito do sujeito, e um nome (isto é, um substantivo ou adjetivo, (OD) e pelo objeto indireto (OI).
ou palavra de natureza substantiva). O verbo e de ligação (liga o nú-
cleo ao sujeito) e indica estado (ser, estar, continuar, ficar, perma- Objeto indireto
necer; também andar, com o sentido de estar; virar, com o sentido É o complemento verbal que se liga ao verbo pela preposição
de transformar-se em; e viver, com o sentido de estar sempre). por ele exigida. Nesse caso o verbo pode ser transitivo indireto ou
Exemplo: transitivo direto e indireto. Normalmente, as preposições que ligam
Os príncipes viraram sapos muito feios. (verbo de ligação mais o objeto indireto ao verbo são a, de, em, com, por, contra, para etc.
núcleo substantivo: sapos) Exemplo: Acredito em você.

Verbos de ligação Objeto direto


São aqueles que, sem possuírem significação precisa, ligam um Complemento verbal que se liga ao verbo sem preposição obri-
sujeito a um predicativo. São verbos de ligação: ser, estar, ficar, pa- gatória. Nesse caso o verbo pode ser transitivo direto ou transitivo
recer, permanecer, continuar, tornar-se etc. direto e indireto.
Exemplo: A rua estava calma. Exemplo: Comunicaram o fato aos leitores.

Predicativo do sujeito Objeto direto preposicionado


É o termo da oração que, no predicado, expressa qualificação É aquele que, contrariando sua própria definição e característi-
ou classificação do sujeito. ca, aparece regido de preposição (geralmente preposição a).
Exemplo: Você será engenheiro. O pai dizia aos filhos que adorava a ambos.

- O predicativo do sujeito, além de vir com verbos de liga- Objeto pleonástico


ção, pode também ocorrer com verbos intransitivos ou com ver- É a repetição do objeto (direto ou indireto) por meio de um
bos transitivos. pronome. Essa repetição assume valor enfático (reforço) da noção
contida no objeto direto ou no objeto indireto.
Predicado verbal Exemplos
Ocorre quando o núcleo é um verbo. Logo, não apresenta pre- Ao colega, já lhe perdoei. (objeto indireto pleonástico)
dicativo. E formado por verbos transitivos ou intransitivos. Ao filme, assistimos a ele emocionados. (objeto indireto pleo-
nástico)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Predicado verbo-nominal Período


Esse predicado tem dois núcleos (um verbo e um nome), é for- Enunciado formado de uma ou mais orações, finalizado por:
mado por predicativo com verbo transitivo ou intransitivo. ponto final ( . ), reticencias (...), ponto de exclamação (!) ou ponto
Exemplos: de interrogação (?). De acordo com o número de orações, classifi-
A multidão assistia ao jogo emocionada. (predicativo do sujei- ca-se em:
to com verbo transitivo indireto) Apresenta apenas uma oração que é chamada absoluta.
A riqueza tornou-o orgulhoso. (predicativo do objeto com ver- O período é simples quando só traz uma oração, chamada
bo transitivo direto) absoluta; o período é composto quando traz mais de uma oração.
Exemplo: Comeu toda a refeição. (Período simples, oração absolu-
Predicativo do sujeito ta.); Quero que você leia. (Período composto.)
O predicativo do sujeito, além de vir com verbos de ligação, Uma maneira fácil de saber quantas orações há num período
pode também ocorrer com verbos intransitivos ou transitivos. Nes- é contar os verbos ou locuções verbais. Num período haverá tan-
se caso, o predicado é verbo-nominal. tas orações quantos forem os verbos ou as locuções verbais nele
Exemplo: A criança brincava alegre no parque. existentes.
Há três tipos de período composto: por coordenação, por su-
Predicativo do objeto bordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo tempo
Exprime qualidade, estado ou classificação que se referem ao (também chamada de misto).
objeto (direto ou indireto).
Período Composto por Coordenação
Exemplo de predicativo do objeto direto:
O juiz declarou o réu culpado. As três orações que formam esse período têm sentido próprio
Exemplo de predicativo do objeto indireto: e não mantêm entre si nenhuma dependência sintática: são inde-
Gosto de você alegre. pendentes. Há entre elas uma relação de sentido, mas uma não de-
pende da outra sintaticamente.
Adjunto adnominal As orações independentes de um período são chamadas de
É o termo acessório que vem junto ao nome (substantivo), res- orações coordenadas (OC), e o período formado só de orações co-
tringindo-o, qualificando-o, determinando-o (adjunto: “que vem ordenadas é chamado de período composto por coordenação.
junto a”; adnominal: “junto ao nome”). Observe: As orações coordenadas podem ser assindéticas e sindéticas.
Os meus três grandes amigos [amigos: nome substantivo] vie- As orações são coordenadas assindéticas (OCA) quando não
ram me fazer uma visita [visita: nome substantivo] agradável on- vêm introduzidas por conjunção. Exemplo:
tem à noite. Os jogadores correram, / chutaram, / driblaram.
São adjuntos adnominais os (artigo definido), meus (pronome OCA OCA OCA
possessivo adjetivo), três (numeral), grandes (adjetivo), que estão
gravitando em torno do núcleo do sujeito, o substantivo amigos; - As orações são coordenadas sindéticas (OCS) quando vêm in-
o mesmo acontece com uma (artigo indefinido) e agradável (adje- troduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo:
tivo), que determinam e qualificam o núcleo do objeto direto, o A mulher saiu do prédio / e entrou no táxi.
substantivo visita. OCA OCS

O adjunto adnominal prende-se diretamente ao substantivo, As orações coordenadas sindéticas se classificam de acordo
ao passo que o predicativo se refere ao substantivo por meio de com o sentido expresso pelas conjunções coordenativas que as in-
um verbo. troduzem. Pode ser:

Complemento nominal - Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não só...


É o termo que completa o sentido de substantivos, adjetivos e mas também, não só... mas ainda.
advérbios porque estes não têm sentido completo. A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expressa
- Objeto – recebe a atividade transitiva de um verbo. ideia de acréscimo ou adição com referência à oração anterior, ou
- Complemento nominal – recebe a atividade transitiva de um seja, por uma conjunção coordenativa aditiva.
nome.
O complemento nominal é sempre ligado ao nome por prepo- - Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas, porém,
sição, tal como o objeto indireto. todavia, contudo, entretanto, no entanto.
Exemplo: Tenho necessidade de dinheiro. A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expressa
ideia de oposição à oração anterior, ou seja, por uma conjunção
Adjunto adverbial coordenativa adversativa.
É o termo da oração que modifica o verbo ou um adjetivo ou
o próprio advérbio, expressando uma circunstância: lugar, tempo, - Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto, por
fim, meio, modo, companhia, exclusão, inclusão, negação, afirma- isso, pois, logo.
ção, duvida, concessão, condição etc. A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expres-
sa ideia de conclusão de um fato enunciado na oração anterior, ou
seja, por uma conjunção coordenativa conclusiva.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou, ou... ou, que exerce a função de objeto indireto do verbo da oração princi-
ora... ora, seja... seja, quer... quer. pal. Observe: Preciso de sua ajuda. (objeto indireto)
A 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que estabele- - Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela que
ce uma relação de alternância ou escolha com referência à oração exerce a função de sujeito do verbo da oração principal. Observe: É
anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa alternativa. importante sua ajuda. (sujeito)
- Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal: É
- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que, porque, aquela que exerce a função de complemento nominal de um ter-
pois, porquanto. mo da oração principal. Observe: Estamos certos de sua inocência.
A 2ª oração é introduzida por uma conjunção que expressa (complemento nominal)
ideia de explicação, de justificativa em relação à oração anterior, ou - Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela que
seja, por uma conjunção coordenativa explicativa. exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal, vindo
sempre depois do verbo ser. Observe: O principal é sua felicidade.
Período Composto por Subordinação (predicativo)
Nesse período, a segunda oração exerce uma função sintática - Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela que
em relação à primeira, sendo subordinada a ela. Quando um perío- exerce a função de aposto de um termo da oração principal. Obser-
do é formado de pelo menos um conjunto de duas orações em que ve: Ela tinha um objetivo: a felicidade de todos. (aposto)
uma delas (a subordinada) depende sintaticamente da outra (prin-
cipal), ele é classificado como período composto por subordinação. Orações Subordinadas Adjetivas
As orações subordinadas são classificadas de acordo com a função Exercem a função de adjunto adnominal de algum termo da
que exercem. oração principal.
As orações subordinadas adjetivas são sempre introduzidas por
Orações Subordinadas Adverbiais um pronome relativo (que, qual, cujo, quem, etc.) e são classifica-
Exercem a função de adjunto adverbial da oração principal das em:
(OP). São classificadas de acordo com a conjunção subordinativa - Subordinadas Adjetivas Restritivas: São restritivas quando
que as introduz: restringem ou especificam o sentido da palavra a que se referem.
- Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração prin- - Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas quan-
cipal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que, visto do apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se referem,
que. esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem restringi-lo ou
- Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a ocor- especificá-lo.
rência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se, contanto
que, a menos que, a não ser que, desde que. Orações Reduzidas
- Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da oração São caracterizadas por possuírem o verbo nas formas de gerún-
principal, sem, no entanto, impedir sua realização. Conjunções: em- dio, particípio ou infinitivo. Ao contrário das demais orações subor-
bora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais que, mesmo que. dinadas, as orações reduzidas não são ligadas através dos conecti-
- Conformativas: Expressam a conformidade de um fato com vos. Há três tipos de orações reduzidas:
outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo.
- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao que - Orações reduzidas de infinitivo:
foi expresso na oração principal. Conjunções: quando, assim que, Infinitivo: terminações –ar, -er, -ir.
logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal (=assim que).
- Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi enun- Reduzida: Meu desejo era ganhar na loteria.
ciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de que, por- Desenvolvida: Meu desejo era que eu ganhasse na loteria.
que (=para que), que. (Oração Subordinada Substantiva Predicativa)
- Consecutivas: Expressam a consequência do que foi enuncia-
do na oração principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), - Orações Reduzidas de Particípio:
pois que, visto que. Particípio: terminações –ado, -ido.
- Comparativas: Expressam ideia de comparação com referência
à oração principal. Conjunções: como, assim como, tal como, (tão)... Reduzida: A mulher sequestrada foi resgatada.
como, tanto como, tal qual, que (combinado com menos ou mais). Desenvolvida: A mulher que sequestraram foi resgatada. (Ora-
- Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona pro- ção Subordinada Adjetiva Restritiva)
porcionalmente ao que foi enunciado na principal. Conjunções: à
medida que, à proporção que, ao passo que, quanto mais, quanto - Orações Reduzidas de Gerúndio:
menos. Gerúndio: terminação –ndo.
Orações Subordinadas Substantivas
São aquelas que, num período, exercem funções sintáticas pró- Reduzida: Respeitando as regras, não terão problemas.
prias de substantivos, geralmente são introduzidas pelas conjun- Desenvolvida: Desde que respeitem as regras, não terão pro-
ções integrantes que e se. blemas. (Oração Subordinada Adverbial Condicional)
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É aquela
que exerce a função de objeto direto do verbo da oração principal.
Observe: O filho quer a sua ajuda. (objeto direto)
- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É aquela

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LÍNGUA PORTUGUESA

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL

Concordância é o efeito gramatical causado por uma relação harmônica entre dois ou mais termos. Desse modo, ela pode ser verbal
— refere-se ao verbo em relação ao sujeito — ou nominal — refere-se ao substantivo e suas formas relacionadas.
• Concordância em gênero: flexão em masculino e feminino
• Concordância em número: flexão em singular e plural
• Concordância em pessoa: 1ª, 2ª e 3ª pessoa

Concordância nominal
Para que a concordância nominal esteja adequada, adjetivos, artigos, pronomes e numerais devem flexionar em número e gênero,
de acordo com o substantivo. Há algumas regras principais que ajudam na hora de empregar a concordância, mas é preciso estar atento,
também, aos casos específicos.
Quando há dois ou mais adjetivos para apenas um substantivo, o substantivo permanece no singular se houver um artigo entre os
adjetivos. Caso contrário, o substantivo deve estar no plural:
• A comida mexicana e a japonesa. / As comidas mexicana e japonesa.

Quando há dois ou mais substantivos para apenas um adjetivo, a concordância depende da posição de cada um deles. Se o adjetivo
vem antes dos substantivos, o adjetivo deve concordar com o substantivo mais próximo:
• Linda casa e bairro.

Se o adjetivo vem depois dos substantivos, ele pode concordar tanto com o substantivo mais próximo, ou com todos os substantivos
(sendo usado no plural):
• Casa e apartamento arrumado. / Apartamento e casa arrumada.
• Casa e apartamento arrumados. / Apartamento e casa arrumados.

Quando há a modificação de dois ou mais nomes próprios ou de parentesco, os adjetivos devem ser flexionados no plural:
• As talentosas Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles estão entre os melhores escritores brasileiros.

Quando o adjetivo assume função de predicativo de um sujeito ou objeto, ele deve ser flexionado no plural caso o sujeito ou objeto
seja ocupado por dois substantivos ou mais:
• O operário e sua família estavam preocupados com as consequências do acidente.

CASOS ESPECÍFICOS REGRA EXEMPLO


É PROIBIDO Deve concordar com o substantivo quando há
É proibida a entrada.
É PERMITIDO presença de um artigo. Se não houver essa determinação,
É proibido entrada.
É NECESSÁRIO deve permanecer no singular e no masculino.
Mulheres dizem “obrigada” Homens
OBRIGADO / OBRIGADA Deve concordar com a pessoa que fala.
dizem “obrigado”.
As bastantes crianças ficaram doentes
Quando tem função de adjetivo para um com a volta às aulas.
substantivo, concorda em número com o substantivo. Bastante criança ficou doente com a
BASTANTE
Quando tem função de advérbio, permanece volta às aulas.
invariável. O prefeito considerou bastante a respeito
da suspensão das aulas.
É sempre invariável, ou seja, a palavra “menas” não Havia menos mulheres que homens na
MENOS
existe na língua portuguesa. fila para a festa.
As crianças mesmas limparam a sala
MESMO Devem concordar em gênero e número com a depois da aula.
PRÓPRIO pessoa a que fazem referência. Eles próprios sugeriram o tema da
formatura.
Quando tem função de numeral adjetivo, deve
Adicione meia xícara de leite.
concordar com o substantivo.
MEIO / MEIA Manuela é meio artista, além de ser
Quando tem função de advérbio, modificando um
engenheira.
adjetivo, o termo é invariável.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Segue anexo o orçamento.


Seguem anexas as informações
Devem concordar com o substantivo a que se adicionais
ANEXO INCLUSO
referem. As professoras estão inclusas na greve.
O material está incluso no valor da
mensalidade.

Concordância verbal
Para que a concordância verbal esteja adequada, é preciso haver flexão do verbo em número e pessoa, a depender do sujeito com o
qual ele se relaciona.

Quando o sujeito composto é colocado anterior ao verbo, o verbo ficará no plural:


• A menina e seu irmão viajaram para a praia nas férias escolares.

Mas, se o sujeito composto aparece depois do verbo, o verbo pode tanto ficar no plural quanto concordar com o sujeito mais próximo:
• Discutiram marido e mulher. / Discutiu marido e mulher.

Se o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo deve ficar no plural e concordando com a pessoa que
tem prioridade, a nível gramatical — 1ª pessoa (eu, nós) tem prioridade em relação à 2ª (tu, vós); a 2ª tem prioridade em relação à 3ª (ele,
eles):
• Eu e vós vamos à festa.

Quando o sujeito apresenta uma expressão partitiva (sugere “parte de algo”), seguida de substantivo ou pronome no plural, o verbo
pode ficar tanto no singular quanto no plural:
• A maioria dos alunos não se preparou para o simulado. / A maioria dos alunos não se prepararam para o simulado.

Quando o sujeito apresenta uma porcentagem, deve concordar com o valor da expressão. No entanto, quanto seguida de um subs-
tantivo (expressão partitiva), o verbo poderá concordar tanto com o numeral quanto com o substantivo:
• 27% deixaram de ir às urnas ano passado. / 1% dos eleitores votou nulo / 1% dos eleitores votaram nulo.

Quando o sujeito apresenta alguma expressão que indique quantidade aproximada, o verbo concorda com o substantivo que segue
a expressão:
• Cerca de duzentas mil pessoas compareceram à manifestação. / Mais de um aluno ficou abaixo da média na prova.

Quando o sujeito é indeterminado, o verbo deve estar sempre na terceira pessoa do singular:
• Precisa-se de balconistas. / Precisa-se de balconista.

Quando o sujeito é coletivo, o verbo permanece no singular, concordando com o coletivo partitivo:
• A multidão delirou com a entrada triunfal dos artistas. / A matilha cansou depois de tanto puxar o trenó.

Quando não existe sujeito na oração, o verbo fica na terceira pessoa do singular (impessoal):
• Faz chuva hoje

Quando o pronome relativo “que” atua como sujeito, o verbo deverá concordar em número e pessoa com o termo da oração principal
ao qual o pronome faz referência:
• Foi Maria que arrumou a casa.

Quando o sujeito da oração é o pronome relativo “quem”, o verbo pode concordar tanto com o antecedente do pronome quanto com
o próprio nome, na 3ª pessoa do singular:
• Fui eu quem arrumei a casa. / Fui eu quem arrumou a casa.

Quando o pronome indefinido ou interrogativo, atuando como sujeito, estiver no singular, o verbo deve ficar na 3ª pessoa do singular:
• Nenhum de nós merece adoecer.

Quando houver um substantivo que apresenta forma plural, porém com sentido singular, o verbo deve permanecer no singular. Ex-
ceto caso o substantivo vier precedido por determinante:
• Férias é indispensável para qualquer pessoa. / Meus óculos sumiram.

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LÍNGUA PORTUGUESA

REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL

A regência estuda as relações de concordâncias entre os termos que completam o sentido tanto dos verbos quanto dos nomes. Dessa
maneira, há uma relação entre o termo regente (principal) e o termo regido (complemento).
A regência está relacionada à transitividade do verbo ou do nome, isto é, sua complementação necessária, de modo que essa relação
é sempre intermediada com o uso adequado de alguma preposição.

Regência nominal
Na regência nominal, o termo regente é o nome, podendo ser um substantivo, um adjetivo ou um advérbio, e o termo regido é o
complemento nominal, que pode ser um substantivo, um pronome ou um numeral.
Vale lembrar que alguns nomes permitem mais de uma preposição. Veja no quadro abaixo as principais preposições e as palavras que
pedem seu complemento:

PREPOSIÇÃO NOMES
acessível; acostumado; adaptado; adequado; agradável; alusão; análogo; anterior; atento; benefício; comum;
A contrário; desfavorável; devoto; equivalente; fiel; grato; horror; idêntico; imune; indiferente; inferior; leal; necessário;
nocivo; obediente; paralelo; posterior; preferência; propenso; próximo; semelhante; sensível; útil; visível...
amante; amigo; capaz; certo; contemporâneo; convicto; cúmplice; descendente; destituído; devoto; diferente;
DE dotado; escasso; fácil; feliz; imbuído; impossível; incapaz; indigno; inimigo; inseparável; isento; junto; longe; medo;
natural; orgulhoso; passível; possível; seguro; suspeito; temeroso...
SOBRE opinião; discurso; discussão; dúvida; insistência; influência; informação; preponderante; proeminência; triunfo...
acostumado; amoroso; analogia; compatível; cuidadoso; descontente; generoso; impaciente; ingrato;
COM
intolerante; mal; misericordioso; ocupado; parecido; relacionado; satisfeito; severo; solícito; triste...
abundante; bacharel; constante; doutor; erudito; firme; hábil; incansável; inconstante; indeciso; morador;
EM
negligente; perito; prático; residente; versado...
atentado; blasfêmia; combate; conspiração; declaração; fúria; impotência; litígio; luta; protesto; reclamação;
CONTRA
representação...
PARA bom; mau; odioso; próprio; útil...

Regência verbal
Na regência verbal, o termo regente é o verbo, e o termo regido poderá ser tanto um objeto direto (não preposicionado) quanto um
objeto indireto (preposicionado), podendo ser caracterizado também por adjuntos adverbiais.
Com isso, temos que os verbos podem se classificar entre transitivos e intransitivos. É importante ressaltar que a transitividade do
verbo vai depender do seu contexto.

Verbos intransitivos: não exigem complemento, de modo que fazem sentido por si só. Em alguns casos, pode estar acompanhado
de um adjunto adverbial (modifica o verbo, indicando tempo, lugar, modo, intensidade etc.), que, por ser um termo acessório, pode ser
retirado da frase sem alterar sua estrutura sintática:
• Viajou para São Paulo. / Choveu forte ontem.

Verbos transitivos diretos: exigem complemento (objeto direto), sem preposição, para que o sentido do verbo esteja completo:
• A aluna entregou o trabalho. / A criança quer bolo.

Verbos transitivos indiretos: exigem complemento (objeto indireto), de modo que uma preposição é necessária para estabelecer o
sentido completo:
• Gostamos da viagem de férias. / O cidadão duvidou da campanha eleitoral.

Verbos transitivos diretos e indiretos: em algumas situações, o verbo precisa ser acompanhado de um objeto direto (sem preposição)
e de um objeto indireto (com preposição):
• Apresentou a dissertação à banca. / O menino ofereceu ajuda à senhora.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de


COLOCAÇÃO PRONOMINAL qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise.
Eu lhe direi toda a verdade.
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da Tu me farias um favor?
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma Colocação do pronome átono nas locuções verbais
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
após o verbo – ênclise. não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini- rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua- Exemplos:
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita, Devo-lhe dizer a verdade.
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele. Devo dizer-lhe a verdade.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju- do auxiliar ou depois do principal.
dique a eufonia da frase. Exemplos:
Não lhe devo dizer a verdade.
Próclise Não devo dizer-lhe a verdade.
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise,
Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade. o pronome átono ficará depois do auxiliar.
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa- Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
cientemente.
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. auxiliar.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui. Exemplo: Não lhe havia dito a verdade.
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa? Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante- do infinitivo.
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor! Exemplos:
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita! Hei de dizer-lhe a verdade.
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se- Tenho de dizer-lhe a verdade.
jam reduzidas: Percebia que o observavam.
Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando, Observação
tudo dá. Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in- Devo-lhe dizer tudo.
tentos são para nos prejudicarem. Estava-lhe dizendo tudo.
Havia-lhe dito tudo.
Ênclise
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. FORMAS DE TRATAMENTO (USOS E ADEQUAÇÕES)

Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do


indicativo: Trago-te flores. Os pronomes de tratamento são expressões usadas para as
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade! pessoas com quem se fala. Pronomes de 2ª pessoa, empregados
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- com verbo na 3ª pessoa. Estes pronomes são formas de reverência
posição em: Saí, deixando-a aflita. a pessoas pelas suas qualidades ou cargos que ocupam.
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com – Abade, prior, superior, visitador de ordem religiosa - Paterni-
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: dade - Revmo. Dom (Padre);
Apressei-me a convidá-los. – Abadessa - Caridade - Revma. Madre;
– Almirante - Excelência - Exmo. Sr. Almirante;
Mesóclise – Arcebispo - Excelência e Reverendíssima - Exmo. e Revmo.
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. Dom;
– Arquiduque - Alteza - A Sua Alteza Arquiduque;
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no – Bispo - Excelência e Reverendíssima - Exmo. E Revmo. Dom;
futuro do pretérito que iniciam a oração. – Brigadeiro - Excelência - Exmo. Sr. Brigadeiro;
Dir-lhe-ei toda a verdade. – Cardeal - Eminência e Reverendíssima - Emmo. E Revmo. Car-
Far-me-ias um favor? deal Dom;
– Cônego - Reverendíssima - Revmo. Sr. Côn.;
– Cônsul - Senhoria (Vossa Senhoria) - Ilmo. Sr. Cônsul;
– Coronel - Senhoria - Ilmo. Sr. Cel.;

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LÍNGUA PORTUGUESA

– Deputado - Excelência - Exmo. Sr. Deputado;


– Desembargador - Excelência - Exmo. Sr. Desembargador;
– Duque - Alteza (Sereníssimo Senhor) - A Sua Alteza Duque;
– Embaixador - Excelência - Exmo. Sr. General;
– Frade - Reverendíssima - Revmo. Sr. Fr.;
– Freira - Reverendíssima - Revma. Ir.;
– General - Excelência - Exmo. Sr. General;
– Governador de Estado - Excelência - Exmo. Sr. Governador;
– Imperador - Majestade (Senhor) - A Sua Majestade Imperador;
– Irmã (Madre, Sóror) - Reverendíssima - Rema. Ir. (Madre, Sóror);
– Juiz - Excelência (Meritíssimo Juiz) - Exmo. Sr. Dr.;
– Major - Senhoria - Ilmo. Sr. Major;
– Marechal - Excelência - Emo. Sr. Marechal;
– Ministro - Excelência - Exmo. Sr. Ministro;
– Monsenhor - Reverendíssima - Revmo. Sr. Mons.;
– Padre - Reverendíssima - Revmo. Sr. Padre;
– Papa - Santidade (Santíssimo Padre), Beatitude - A Sua Santidade Papa (Ao Beatíssimo Padre);
– Patriarca - Excelência, Reverendíssima e Beatitude - Exmo. E Revmo. Dom (Ao Beatíssimo Padre);
– Prefeito - Excelência - Exmo. Sr. Prefeito;
– Presidente de Estado - Excelência - Exmo. Sr. Presidente;
– Príncipe, Princesa - Alteza (Sereníssimo Senhor, Sereníssima Senhor) - A Sua Alteza Príncipe (ou Princesa);
– Rei, Rainha - Majestade (Senhor, Senhora) - A Sua Majestade Rei (ou Rainha);
– Reitor (de Universidade) - Magnificência (Magnífico Reitor) - Exmo. Sr. Reitor;
– Reitor (de Seminário) - Reverendíssimo - Revmo. Sr. Pe.;
– Secretário de Estado - Excelência - Exmo. Sr. Secretário;
– Senador - Excelência - Exmo. Sr. Senador;
– Tenente Coronel - Senhoria - Ilmo. Sr. Ten. Cel.;
– Vereador - Excelência - Ilmo. Sr. Vereador;
– Demais autoridades, oficiais e particulares, chefes de seção, presidentes de bancos, órgãos de segundo escalão do governo - Se-
nhoria - Ilmo. Sr.;

— Abreviatura das Formas de Tratamento


A forma por extenso demonstra maior respeito, geralmente é a mais utilizada, principalmente em correspondência dirigida ao Presi-
dente da República.
No entanto, qualquer forma de tratamento pode ser escrita por extenso.

— Pronomes de Tratamento mais usados nas Redações Oficiais

1. Autoridades de Estado

Civis
Pronome Abrevia- Usado para
de tratamento tura
Presidente da República, Senadores da República, Minis-
Vossa Exce- tro de Estado, Governadores, Deputados Federais e Estadu-
V. Ex. ª
lência ais, Prefeitos, Embaixadores, Vereadores, Cônsules, Chefes
das Casas Civis e Casas Militares
Vossa Mag- V. Ma- Reitores de Universidade
nificência g.ª.
Vossa Se- V. S.ª Diretores de Autarquias Federais, Estaduais e Municipais
nhoria

24
LÍNGUA PORTUGUESA

Judiciárias
Pronome de tratamento Abreviatura Usado para
Vossa Excelência V. Ex. ª
Desembargador da Justiça, curador, promotor
Meritíssimo Juiz M. Juiz Juízes de Direito

Militares
Abre-
Pronome de tratamento Usado para
viatura
Vossa Excelência V. Ex.ª Oficiais generais (até coronéis)
Vossa Senhoria V. S. A.
Outras patentes militares

2. Autoridades Eclesiásticas
Abrevia-
Pronome de tratamento Usado para
tura
Vossa Santidade V. S. Papa
V. Em.ª
Vossa Eminência Reverendíssima Cardeais, arcebispos e bispos
Revm.ª
Vossa Abades, superiores de conventos, outras autori-
V. Revmª
Reverendíssima dades eclesiásticas e sacerdotes em geral

3. Autoridades Monárquicas
Pronome de tratamento Abreviatura Usado para
Vossa Majestade V. M. Reis e Imperadores
Vossa Alteza V. A. Príncipes

4. Outros Títulos

Pronome de trata- Abreviatura Usado para


mento

Vossa Senhoria V. S.ª Dom

Doutor Dr. Doutor

Comenda-
Comendador Com. dor

Professor Prof. Professor


http://www.pucrs.br/manua

Na Correspondência Pública, costuma-se usar V.Sª para pessoa de categoria igual ou inferior, e V. Exª para pessoa de categoria superior.
Consultor geral, Chefe de Estado, Chefe de gabinetes Legislativo e demais autoridades recebem como pronome de tratamento Vos-

25
LÍNGUA PORTUGUESA

sa Senhoria. Como vocativo - quando se dirige a autoridade (forma Os fonemas classificam-se em vogais, semivogais e consoan-
adequada ao Cargo): Usa-se “Senhor”. tes.
Todos os tratamentos podem aparecer na forma oblíqua, após
dirigir-se a uma autoridade. Podemos, sem temor de erro, dizer: Vogais
“Formulamos-lhe”, “pedimos-lhe”, vemos na sua pessoa”, em vez São fonemas produzidos livremente, sem obstrução da passa-
de formulamos a V. Sª., ou a V.Exª., etc. gem do ar. São mais tônicos, ou seja, têm a pronúncia mais forte
que as semivogais. São o centro de toda sílaba. Podem ser orais
NOÇÕES DE FONÉTICA; NOÇÕES DE PROSÓDIA (timbre aberto ou fechado) ou nasais (indicadas pelo ~, m, n). As
vogais são A, E, I, O, U, que podem ser representadas pelas letras
abaixo. Veja:
— Fonologia
Fonologia3 é o ramo da linguística que estuda o sistema sonoro A: brasa (oral), lama (nasal)
de um idioma. Ao estudar a maneira como os fones ou fonemas E: sério (oral), entrada (oral, timbre fechado), dentro (nasal)
(sons) se organizam dentro de uma língua, classifica-os em unida- I: antigo (oral), índio (nasal)
des capazes de distinguir significados. O: poste (oral), molho (oral, timbre fechado), longe (nasal)
4
A Fonologia estuda o ponto de vista funcional dos Fonemas. U: saúde (oral), juntar (nasal)
Y: hobby (oral)
— Estrutura Fonética
Observação: As vogais ainda podem ser tônicas ou átonas.
Fonema Tônica aquela pronunciada com maior intensidade. Ex.: café,
O fonema5 é a menor unidade sonora da palavra e exerce duas bola, vidro.
funções: formar palavras e distinguir uma palavra da outra. Veja o Átona aquela pronunciada com menor intensidade. Ex.: café,
exemplo: bola, vidro.
C + A + M + A = CAMA. Quatro fonemas (sons) se combinaram
e formaram uma palavra. Se substituirmos agora o som M por N, Semivogais
haverá uma nova palavra, CANA. São as letras “e”, “i”, “o”, “u”, representadas pelos fonemas (e,
A combinação de diferentes fonemas permite a formação de y, o, w), quando formam sílaba com uma vogal. Ex.: No vocábulo
novas palavras com diferentes sentidos. Portanto, os fonemas de “história” a sílaba “ria” apresenta a vogal “a” e a semivogal “i”.
uma língua têm duas funções bem importantes: formar palavras e Os fonemas semivocálicos (ou semivogais) têm o som de I e
distinguir uma palavra da outra. U (apoiados em uma vogal, na mesma sílaba). São menos tônicos
(mais fracos na pronúncia) que as vogais. São representados pelas
Ex.: mim / sim / gim... letras I, U, E, O, M, N, W, Y. Veja:
– pai: a letra I representa uma semivogal, pois está apoiada em
Letra uma vogal, na mesma sílaba.
A letra é um símbolo que representa um som, é a representa- – mouro: a letra U representa uma semivogal, pois está apoia-
ção gráfica dos fonemas da fala. É bom saber dois aspectos da letra: da em uma vogal, na mesma sílaba.
pode representar mais de um fonema ou pode simplesmente aju- – mãe: a letra E representa uma semivogal, pois tem som de I e
dar na pronúncia de um fonema. está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba.
Por exemplo, a letra X pode representar os sons X (enxame), – pão: a letra O representa uma semivogal, pois tem som de U
Z (exame), S (têxtil) e KS (sexo; neste caso a letra X representa dois e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba.
fonemas – K e S = KS). Ou seja, uma letra pode representar mais de – cantam: a letra M representa uma semivogal, pois tem som
um fonema. de U e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= cantãu).
Às vezes a letra é chamada de diacrítica, pois vem à direita de – dancem: a letra M representa uma semivogal, pois tem som
outra letra para representar um fonema só. Por exemplo, na palavra de I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= dancẽi).
cachaça, a letra H não representa som algum, mas, nesta situação, – hífen: a letra N representa uma semivogal, pois tem som de I
ajuda-nos a perceber que CH tem som de X, como em xaveco. e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= hífẽi).
Vale a pena dizer que nem sempre as palavras apresentam nú- – glutens: a letra N representa uma semivogal, pois tem som de
mero idêntico de letras e fonemas. I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba (= glutẽis).
– windsurf: a letra W representa uma semivogal, pois tem som
Ex.: bola > 4 letras, 4 fonemas de U e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba.
guia > 4 letras, 3 fonemas – office boy: a letra Y representa uma semivogal, pois tem som
de I e está apoiada em uma vogal, na mesma sílaba.

3 https://bit.ly/36RQAOb.
4 https://bit.ly/2slhcYZ.
5 PESTANA, Fernando. A gramática para concursos públicos. – 1. ed. – Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.

26
LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro de vogais e semivogais


Fonemas Regras
A Apenas VOGAL
VOGAIS, exceto quando está com A ou quando estão juntas
E-O (Neste caso a segunda é semivogal)
SEMIVOGAIS, exceto quando formam um hiato ou quando estão juntas
I-U (Neste caso a letra “I” é vogal)
Quando aparece no final da palavra é SEMIVOGAL.
AM Ex.: Dançam
Quando aparecem no final de palavras são SEMIVOGAIS.
EM - EN Ex.: Montem / Pólen

Consoantes
São fonemas produzidos com interferência de um ou mais órgãos da boca (dentes, língua, lábios). Todas as demais letras do alfabeto
representam, na escrita, os fonemas consonantais: B, C, D, F, G, H, J, K, L, M, N, P, Q, R, S, T, V, W (com som de V, Wagner), X, Z.
— Encontros Vocálicos
Como o nome sugere, é o contato entre fonemas vocálicos. Há três tipos:

Hiato
Ocorre hiato quando há o encontro de duas vogais, que acabam ficando em sílabas separadas (Vogal – Vogal), porque só pode haver
uma vogal por sílaba.
Ex.: sa-í-da, ra-i-nha, ba-ús, ca-ís-te, tu-cu-mã-í, su-cu-u-ba, ru-im, jú-ni-or.

Ditongo
Existem dois tipos: crescente ou decrescente (oral ou nasal).

Crescente (SV + V, na mesma sílaba). Ex.: magistério (oral), série (oral), várzea (oral), quota (oral), quatorze (oral), enquanto (nasal),
cinquenta (nasal), quinquênio (nasal).

Decrescente (V + SV, na mesma sílaba). Ex.: item (nasal), amam (nasal), sêmen (nasal), cãibra (nasal), caule (oral), ouro (oral), veia
(oral), fluido (oral), vaidade (oral).

Tritongo
O tritongo é a união de SV + V + SV na mesma sílaba; pode ser oral ou nasal. Ex.: saguão (nasal), Paraguai (oral), enxáguem (nasal),
averiguou (oral), deságuam (nasal), aguei (oral).

Encontros Consonantais
Ocorre quando há um grupo de consoantes sem vogal intermediária. Ex.: flor, grade, digno.
Dígrafos: duas letras representadas por um único fonema. Ex.: passo, chave, telha, guincho, aquilo.
Os dígrafos podem ser consonantais e vocálicos.
– Consonantais: ch (chuva), sc (nascer), ss (osso), sç (desça), lh (filho), xc (excelente), qu (quente), nh (vinho), rr (ferro), gu (guerra).
– Vocálicos: am, an (tampa, canto), em, en (tempo, vento), im, in (limpo, cinto), om, on (comprar, tonto), um, un (tumba, mundo).

LEMBRE-SE!
Nos dígrafos, as duas letras representam um só fonema; nos encontros consonantais, cada letra representa um fonema.

ESTRUTURA DO PARÁGRAFO

Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do texto. Um
dos maiores problemas nas redações é estruturar as ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. Fazer uma estrutura
no texto para poder guiar o seu pensamento e o do leitor.

Parágrafo
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser formado por
uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos relacionados com

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LÍNGUA PORTUGUESA

a tese ou ideia principal do texto, geralmente apresentada na introdução.

Embora existam diferentes formas de organização de parágrafos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalísticos
apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem a ideia-
núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em parágrafos curtos, é raro haver conclusão.

Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você irá
identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria prova.

Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possível
usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até citações de pessoas que tenham autoridade no assunto.

Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias conclusões
a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.

Outro aspecto que merece especial atenção são os conectores. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais fluente,
visando estabelecer um encadeamento lógico entre as ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do período, e o tópico
que o antecede.
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também para
a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advérbios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas vezes
o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro, sem coerência.
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumentativos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa estrutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento mais
direto

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS

A coerência e a coesão são essenciais na escrita e na interpretação de textos. Ambos se referem à relação adequada entre os compo-
nentes do texto, de modo que são independentes entre si. Isso quer dizer que um texto pode estar coeso, porém incoerente, e vice-versa.
Enquanto a coesão tem foco nas questões gramaticais, ou seja, ligação entre palavras, frases e parágrafos, a coerência diz respeito ao
conteúdo, isto é, uma sequência lógica entre as ideias.

Coesão
A coesão textual ocorre, normalmente, por meio do uso de conectivos (preposições, conjunções, advérbios). Ela pode ser obtida a
partir da anáfora (retoma um componente) e da catáfora (antecipa um componente).
Confira, então, as principais regras que garantem a coesão textual:

REGRA CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Pessoal (uso de pronomes pessoais ou possessivos)
– anafórica João e Maria são crianças. Eles são irmãos.
Demonstrativa (uso de pronomes demonstrativos e Fiz todas as tarefas, exceto esta: colonização
REFERÊNCIA
advérbios) – catafórica africana.
Comparativa (uso de comparações por Mais um ano igual aos outros...
semelhanças)
Substituição de um termo por outro, para evitar Maria está triste. A menina está cansada de
SUBSTITUIÇÃO
repetição ficar em casa.
No quarto, apenas quatro ou cinco
ELIPSE Omissão de um termo
convidados. (omissão do verbo “haver”)
Conexão entre duas orações, estabelecendo Eu queria ir ao cinema, mas estamos de
CONJUNÇÃO
relação entre elas quarentena.
Utilização de sinônimos, hiperônimos, nomes
A minha casa é clara. Os quartos, a sala e a
COESÃO LEXICAL genéricos ou palavras que possuem sentido aproximado
cozinha têm janelas grandes.
e pertencente a um mesmo grupo lexical.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Coerência Catacrese
Nesse caso, é importante conferir se a mensagem e a conexão Consiste em transferir a uma palavra o sentido próprio de ou-
de ideias fazem sentido, e seguem uma linha clara de raciocínio. tra, fazendo uso de formas já incorporadas aos usos da língua. Se a
Existem alguns conceitos básicos que ajudam a garantir a co- metáfora surpreende pela originalidade da associação de ideias, o
erência. Veja quais são os principais princípios para um texto coe- mesmo não ocorre com a catacrese, que já não chama a atenção
rente: por ser tão repetidamente usada. Toma-se emprestado um termo
• Princípio da não contradição: não deve haver ideias contradi- já existente e o “emprestamos” para outra coisa.
tórias em diferentes partes do texto. Ex.: Batata da perna; Pé da mesa; Cabeça de alho; Asa da xícara.
• Princípio da não tautologia: a ideia não deve estar redundan-
te, ainda que seja expressa com palavras diferentes. Comparação ou Símile
• Princípio da relevância: as ideias devem se relacionar entre É a comparação entre dois elementos comuns, semelhantes,
si, não sendo fragmentadas nem sem propósito para a argumenta- de forma mais explícita. Como assim? Normalmente se emprega
ção. uma conjunção comparativa: como, tal qual, assim como, que nem.
• Princípio da continuidade temática: é preciso que o assunto Ex.: “Como um anjo caído, fiz questão de esquecer...” (Legião
tenha um seguimento em relação ao assunto tratado. Urbana)
• Princípio da progressão semântica: inserir informações no-
vas, que sejam ordenadas de maneira adequada em relação à pro- Sinestesia
gressão de ideias. É a fusão de no mínimo dois dos cinco sentidos físicos, sendo
bastante utilizada na arte, principalmente em músicas e poesias.
Para atender a todos os princípios, alguns fatores são recomen- Ex.: “De amargo e então salgado ficou doce, - Paladar
dáveis para garantir a coerência textual, como amplo conhecimen- Assim que teu cheiro forte e lento - Olfato
to de mundo, isto é, a bagagem de informações que adquirimos ao Fez casa nos meus braços e ainda leve - Tato
longo da vida; inferências acerca do conhecimento de mundo do E forte e cego e tenso fez saber - Visão
leitor; e informatividade, ou seja, conhecimentos ricos, interessan- Que ainda era muito e muito pouco.” (Legião Urbana)
tes e pouco previsíveis.
Antonomásia
Quando substituímos um nome próprio pela qualidade ou ca-
ESTILÍSTICA: DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO; racterística que o distingue. Pode ser utilizada para eliminar repe-
SEMÂNTICA: SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HOMONÍMIA, tições e tornar o texto mais rico, devendo apresentar termos que
PARONÍMIA, POLISSEMIA E FIGURAS DE LINGUAGEM. sejam conhecidos pelo público, para não prejudicar a compreensão.
Ex.: O Águia de Haia (= Rui Barbosa)
O Pai da Aviação (= Santos Dumont)
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado
em tópicos anteriores.
Epíteto
FIGURAS DE LINGUAGEM. Significa “posto ao lado”, “acrescentado”. É um termo que de-
signa “apelido” ou “alcunha”, isto é, expressões ou palavras que são
acrescentados a um nome. Epíteto vem do Grego EPÍTHETON, “algo
Também chamadas de Figuras de Estilo. É possível classificá-las adicionado, apelido”, de EPI-, “sobre”, e TITHENAI, “colocar”.
em quatro tipos: Aparece logo após o nome da pessoa, de personagens literá-
– Figuras de Palavras (ou semânticas); rios, da história de militares, de reis e de muitos outros.
– Figuras Sonoras; Ex.: Nelson Rodrigues: o “Anjo Pornográfico”, por sua obra de
– Figuras de Construção (ou de sintaxe); cunho bastante sexual.
– Figuras de Pensamento. Augusto Dos Anjos: o “Poeta da Morte”, já que seu principal
tema era a morte.
— Figuras de Palavras
6
São as que dependem do uso de determinada palavra com Metonímia
sentido novo ou com sentido incomum. Vejamos: Troca-se uma palavra por outra com a qual ela se relaciona.
Ocorre quando um único nome é citado para representar um todo
Metáfora referente a ele.
É um tipo de comparação (mental) sem uso de conectivos com- A metonímia ocorre quando substituímos:
parativos, com utilização de verbo de ligação explícito na frase. Con- – O autor ou criador pela obra. Ex.: Gosto de ler Jorge Amado
siste em usar uma palavra referente a algo no lugar da característica (observe que o nome do autor está sendo usado no lugar de suas
propriamente dita, depreendendo uma relação de semelhança que obras).
pode ser compreendida por conta da flexibilidade da linguagem. – O efeito pela causa e vice-versa. Ex.: Ganho a vida com o suor
Ex.: “Sua boca era um pássaro escarlate.” (Castro Alves) do meu rosto. (o suor é o efeito ou resultado e está sendo usado no
lugar da causa, ou seja, o “trabalho”).
– O continente pelo conteúdo. Ex.: Ela comeu uma caixa de
doces. (= doces).
6 https://bit.ly/37nLTfx

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LÍNGUA PORTUGUESA

– O abstrato pelo concreto e vice-versa. Ex.: A velhice deve ser Disfemismo


respeitada. (= pessoas velhas). Expressão grosseira em lugar de outra, que poderia ser mais
– O instrumento pela pessoa que o utiliza. Ex.: Ele é bom no suave, branda.
volante. (= piloto ou motorista). Ex.: “Você não passa de um porco ... um pobretão.”
– O lugar pelo produto. Ex.: Gosto muito de tomar um Porto. (=
o vinho da cidade do Porto). Pleonasmo
– O símbolo ou sinal pela coisa significada. Ex.: Os revolucio- Repetição da ideia, ou seja, redundância semântica e sintática,
nários queriam o trono. (= império, o poder). divide-se em:
– A parte pelo todo. Ex.: Não há teto para os necessitados. (= – Gramatical: com objetos direto ou indireto redundantes, cha-
a casa). mam-nos pleonásticos.
– O indivíduo pela classe ou espécie. Exemplo: Ele foi o judas Ex.: “Perdoo-te a ti, meu amor.”
do grupo. (= espécie dos homens traidores). “O carro velho, eu o vendi ontem.”
– O singular pelo plural. Ex.: O homem é um animal racional. – Vicioso: deve ser evitado por não acrescentar informação
(o singular homem está sendo usado no lugar do plural homens). nova ao que já havia sido dito anteriormente.
– O gênero ou a qualidade pela espécie. Ex.: Nós mortais, so- Ex.: subir para cima; descer para baixo; repetir de novo; hemor-
mos imperfeitos. (= seres humanos). ragia sanguínea; protagonista principal; monopólio exclusivo.
– A matéria pelo objeto. Ex.: Ele não tem um níquel. (= moeda).
Anáfora
Observação: os últimos 5 casos recebem também o nome de É a repetição intencional de palavras, no início de um período,
Sinédoque. frase ou verso.
Ex.: “Eu quase não saio
Sinédoque Eu quase não tenho amigo
Significa a troca que ocorre por relação de compreensão e que Eu quase não consigo
consiste no uso do todo, pela parte do plural pelo singular, do gêne- Ficar na cidade sem viver contrariado.”
ro pela espécie, ou vice-versa. (Gilberto Gil)
Ex.: O mundo é violento. (= os homens)
Ambiguidade ou Anfibologia
Perífrase Esta é uma figura de linguagem bastante utilizada no meio ar-
Trata-se da substituição de um nome por uma expressão por tístico, de forma poética e literária. Entretanto, em textos técnicos e
alguma característica marcante ou por algum fato que o tenha tor- redações, ela é considerada um vício (e precisa ser evitada). Ocorre
nado célebre. quando uma frase fica com duplo sentido, dificultando sua inter-
Ex.: O país do futebol acredita no seu povo. (país do futebol = pretação.
Brasil) Ex.: A mãe avisou à filha que estava terminando o serviço.
(Quem terminava o serviço: a mãe ou a filha?)
Analogia
Trata-se de uma espécie de comparação, contudo, neste caso,
realizada por meio de uma correspondência entre duas entidades Alegoria
diferentes. Utilizada de maneira retórica, com o objetivo de ampliar o sig-
Na escrita, pode ocorrer a analogia quando o autor pretender nificado de uma palavra (ou oração). A alegoria ajuda a transmitir
estabelecer uma aproximação equivalente entre elementos através um (ou mais) sentidos do texto, além do literal.
do sentido figurado e dos conectivos de comparação. Ex.: “Vivemos em uma constante montanha russa: estamos em
Ex.: A árvore é um ser vivo. Tem metabolismo e reproduz-se. alta velocidade e os altos e baixos se revezam de maneira vertigino-
O ser humano também. Nisto são semelhantes. Ora se são seme- sa, sem que possamos pensar direito.” (Aqui, o enunciador propõe
lhantes nestas coisas e a árvore cresce podemos concluir que o ser equalizarmos o cotidiano a uma “montanha russa” e, na sequência,
humano também cresce. cria relações contínuas entre os dias e os movimentos propiciados
pelo mecanismo de brinquedo.)
Hipérbole
É a figura do exagero, a fim de proporcionar uma imagem cho- Simbologia
cante ou emocionante. É a exaltação de uma ideia, visando causar É o uso de simbologias para indicar algo.
maior impacto. Ex.: “A pomba branca simboliza a paz.”
Ex.: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac)
“Estou morta de fome”. Figuras de Harmonia
São as que reproduzem os efeitos de repetição de sons, ou ain-
Eufemismo da quando se busca representa-los. São elas:
Figura que atenua, que dá um tom mais leve a uma expressão.
Ex.: “E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Aliteração
Deus lhe pague.” (Chico Buarque) Repetição consonantal fonética (som da letra) geralmente no
Paz derradeira = morte início da palavra. Dá ritmo e também pode criar trava-línguas.
“Aquele homem de índole duvidosa apropriou-se (ladrão) inde- Ex.: “O rato roeu a roupa do rei de Roma”;
vidamente dos meus pertences.” (roubou) “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Assonância Zeugma
Repetição da vogal tônica ou de sílabas com as mesmas conso- Elipse especial que consiste na supressão de um termo já ex-
antes e vogais distintas. presso, anteriormente, no contexto.
Ex.: “É a moda / da menina muda / da menina trombuda / que Ex.: “Nós nos desejamos e não nos possuímos.” (supressão de
muda de modos / e dá medo” (Moda da Menina Trombuda - Cecília “nós”)
Meireles) “Eu prefiro literatura, ele, linguística” (supressão de “prefere”)

Paronomásia Anacoluto
É o uso de palavras iguais ou com sons semelhantes, porém É uma alteração na estrutura da frase, que é interrompida por
que possuem sentidos distintos. algum elemento inserido de maneira “solta”. Há estudiosos que de-
Ex.: “Berro pelo aterro pelo desterro fendem que o anacoluto é um erro gramatical. O anacoluto é pare-
Berro por seu berro pelo seu erro” (Caetano Veloso) cido com o pleonasmo, ou melhor, na tentativa de um pleonasmo
“Quem casa, quer casa”. sintático, muitas vezes, acaba-se por criar a ruptura.
Ex.: “Os meus vizinhos, não confio mais neles.” - a função sintá-
Cacofonia tica de “os meus vizinhos” é nula; entretanto, se houvesse preposi-
Trata-se da junção de duas palavras (as últimas sílabas de uma ção (“Nos meus vizinhos, não confio mais neles”), o termo seria ob-
+ as sílabas iniciais da outra), que podem tornar o som diferente e jeto indireto, enquanto “neles” seria o objeto indireto pleonástico.
criar um novo significado. A cacofonia é notada ao falar, com o som
fazendo parecer algo diferente daquilo que realmente foi dito. Anástrofe
Ex.: A boca dela. (cadela) Inversão sintática leve.
A prova valia 10 pontos, um por cada acerto. (porcada) Ex.: “Tão leve estou que já nem sombra tenho.” (ordem inver-
sa) (Mário Quintana)
Onomatopeia “Estou tão leve que já não tenho sombra.” (ordem direta)
Este é um recurso empregado com a intenção de reproduzir um
barulho, som ou ruído. É muito usada em histórias em quadrinhos Hipálage
e na literatura. No exemplo a seguir, o “tic-tac” reproduz o som de Inversão de um adjetivo (uma qualidade que pertence a um é
um relógio. atribuída a outro substantivo).
Ex: “Passa, tempo, tic-tac / Tic-tac, passa, hora / Chega logo, Ex.: “A mulher degustava lânguida cigarrilha.”
tic-tac / Tic-tac, e vai-te embora” (O Relógio - Vinícius de Moraes) Lânguida = sensual, portanto lânguida é a mulher, e não a cigar-
rilha como faz supor.
“Em cada olho um grito castanho de ódio.” (Dalton Trevisan)
Castanhos são os olhos, e não o grito.
Figuras de Construção
Dizem respeito aos desvios de padrão de concordância quer Hipérbato ou Inversão
quanto à ordem, omissões ou excessos. Dão maior fluidez ao texto. É a inversão da ordem direta da frase (sujeito-verbo-objeto-
Dividem-se em: -complementos).
Ex.: “Enquanto manda as ninfas amorosas grinaldas nas cabe-
Assíndeto ças pôr de rosas.” (Camões)
Ocorre por falta ou supressão de conectivos. Geralmente, é “Enquanto manda as ninfas amorosas pôr grinaldas de rosas
substituído por vírgula. na cabeça.”
Ex.: “Saí, bebi, enfim, vivi.” (Nel de Moraes)
“Meu filho não quer trabalhar, estudar, ser autônomo, ser in- Sínquise
dependente”. Há uma inversão violenta de distantes partes da oração. É um
hipérbato “hiperbólico”.
Polissíndeto Ex.: “...entre vinhedo e sebe
Repetição enfática de conectivos que ligam termos da oração corre uma linfa e ele no seu de faia
ou períodos. Na maioria das vezes, as conjunções coordenativas são de ao pé do Alfeu Tarro escultado bebe.” (Alberto de Oliveira)
repetidas. “Uma linfa corre entre vinhedo e sebe, e ele bebe no seu Tarro
Ex.: “E saber, e crescer, e ser, e haver escultado, de faia, ao pé do Alfeu.”
E perder, e sofrer, e ter horror.”
(Vinícius de Morais) Silepse
Ocorre quando há concordância com uma ideia, e não com uma
Elipse palavra — isto é, é feita com um elemento implícito. Pode aconte-
É a omissão de um termo que não prejudica ou altera o sentido cer nos seguintes âmbitos: de gênero, de número e de pessoa.
da frase. Ex.: “O casal se atrasou, estavam se arrumando”
Ex.: “Queria ser um pássaro dentro da noite.” (omissão de “Eu”) Neste exemplo, há uma silepse de número. Num primeiro mo-
“Quero mais respeito.” (omissão de “Eu” e “receber”) mento, a frase aparenta estar errada — uma vez que o verbo “es-
tar” deveria aparecer no singular, para concordar com “casal” —,
porém não se preocupe, essa construção é permitida.

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LÍNGUA PORTUGUESA

– De Gênero: masculino e feminino não concordam. Ex.: “A excelente Dona lnácia era mestra na arte de judiar de
Ex.: “A vítima era lindo e o carrasco estava temerosa quanto à criança.” (Monteiro Lobato)
reação da população.” “Dona Clotilde, o arcanjo do seu filho, quebrou minhas vidra-
Perceba que vítima e carrasco não receberam de seus adjetivos ças.”
lindo e temerosa a ‘atenção’ devida, por quê? Isso se deve à ideia
de que os substantivos sobrecomuns designam ambos os sexos, e Personificação ou Prosopopeia
não ambos os gêneros, portanto, por questões estilísticas, o autor É a atribuição de características humanas e qualidades a obje-
do texto preferiu a ideia à regra gramatical rígida que impõe que tos inanimados e irracionais.
adjetivos concordem em gênero com o substantivo, não em sexo. Ex.: “O vento beija meus cabelos
As ondas lambem minhas pernas
– De Pessoa: sujeito e verbo não concordam entre si. O sol abraça o meu corpo.” (Lulu Santos - Nelson Motta)
Ex.: “A gente não sabemos escolher presidente.”
“A gente não sabemos tomar conta da gente.” (Ultraje a Rigor) Reificação
Nos casos de silepse de pessoa há, por parte do autor, uma Consiste em “coisificar” os seres humanos.
clara intromissão, característica do discurso indireto livre, quando, Ex.: “Tia, já botei os candidatos na lista.”
ao informar, o emissor se coloca como parte da ação. “Fiquei plantada duas horas no consultório médico.”

— Figuras de Pensamento Lítotes


São recursos de linguagem que se referem ao aspecto semânti- Consiste em negar por afirmação ou vice-versa.
co, ou seja, ao significado dentro de um contexto. Ex.: “Ela até que não é feia.” (logo, é bonita)
“Você está exagerando. Não subestime a sua inteligência.”
Antítese (porque ela é inteligente)
É a aproximação de palavras de sentidos contrários, antagôni-
cos. Alusão
Ex.: “Onde queres prazer, sou o que dói Este é um recurso usado para fazer referência ou citação, rela-
E onde queres tortura, mansidão cionando uma ideia a outra — podendo ocorrer de maneira explí-
Onde, queres um lar, Revolução cita ou não. Ao realizar referência a um acontecimento, pessoas,
E onde queres bandido, sou herói.” personagens ou outros trabalhos, a alusão ajuda na compreensão
(Caetano Veloso) da ideia que se deseja passar.
Ex.: “Eles estavam apaixonados como Romeu e Julieta.”
Paradoxo ou Oximoro Neste exemplo, a intenção é explicar a grande paixão que uma
É mais que a aproximação antitética; é a própria ideia que se pessoa sente pela outra.
contradiz.
Ex.: “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa) NÍVEIS DE LINGUAGEM
“Mas tão certo quanto o erro de seu barco a motor é insistir em
usar remos.” (Legião Urbana)
Definição de linguagem
Apóstrofe Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
É a evocação, o chamamento. Identifica-se facilmente na fun- ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
ção sintática do vocativo. gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
Ex.: “Minha Nossa Senhora!” (usada quando alguém se espan- da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
ta com algo) cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
Quiasmo As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
Cruzamento de palavras que se repetem. Muito utilizado sado o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
para enfatizar algum feito. incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Ex.: “Tinha uma pedra no meio do meu caminho. / No meio do social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
meu caminho tinha uma pedra.” (C. D. Andrade) e caem em desuso.

Gradação ou Clímax Língua escrita e língua falada


É uma sequência de palavras ou ideias que servem de intensifi- A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
cação numa sequência temporal. O clímax é obtido com a gradação falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
ascendente, já o anticlímax, é a organização de forma contrária. parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
Ex.: “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião, uns cin- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
gidos de luz, outros ensanguentados.” (Ocidentais - Machado de mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
Assis) conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Ironia pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
Consiste em dizer o oposto do que se pensa, com intenção sar- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
cástica ou depreciativa.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Linguagem popular e linguagem culta O interlocutor:


Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua- Os interlocutores (emissor e receptor) são parceiros na comu-
gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala, nicação, por isso, esse é um dos fatores determinantes para a ade-
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja quação linguística. O objetivo de toda comunicação é a busca pelo
presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou sentido, ou seja, precisa haver entendimento entre os interlocuto-
valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que res, caso contrário, não é possível dizer que houve comunicação.
o diálogo é usado para representar a língua falada. Por isso, considerar o interlocutor é fundamental. Por exemplo, um
professor não pode usar a mesma linguagem com um aluno na fa-
Linguagem Popular ou Coloquial culdade e na alfabetização, logo, escolher a linguagem pensando
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase em quem será o seu parceiro é um fator de adequação linguística.
sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo Ambiente:
– erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo- A linguagem também é definida a partir do ambiente, por isso,
nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação, é importante prestar atenção para não cometer inadequações. É
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular impossível usar o mesmo tipo de linguagem entre amigos e em um
está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas, ambiente corporativo (de trabalho); em um velório e em um campo
irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na de futebol; ou, ainda, na igreja e em uma festa.
expressão dos esta dos emocionais etc.
Assunto:
A Linguagem Culta ou Padrão Semelhante à escolha da linguagem, está a escolha do assunto.
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que É preciso adequar a linguagem ao que será dito, logo, não se con-
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas vida para um chá de bebê da mesma maneira que se convida para
instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela uma missa de 7º dia. É preciso ter bom senso no momento da es-
obediência às normas gramaticais. Mais comumente usada na colha da linguagem, que deve ser usada de acordo com o assunto.
linguagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É
mais artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente Relação falante-ouvinte:
nas aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações A presença ou ausência de intimidade entre os interlocutores é
científicas, noticiários de TV, programas culturais etc. outro fator utilizado para a adequação linguística. Portanto, ao pe-
dir uma informação a um estranho, é adequado que se utilize uma
Gíria linguagem mais formal, enquanto para parabenizar a um amigo, a
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como informalidade é o ideal.
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- Intencionalidade (efeito pretendido):
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. Nenhum texto (oral ou escrito) é despretensioso, ou seja, sem
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam pretensão, sem objetivo, todos são carregados de intenções. E para
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de cada intenção existe uma forma de linguagem que será compatível,
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os por isso, as declarações de amor são feitas diferentes de uma soli-
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode citação de emprego. Há maneiras distintas para criticar, elogiar ou
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário ironizar. É importante fazer essas considerações.
de pequenos grupos ou cair em desuso.
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLI-
“mina”, “tipo assim”. CA (3ª EDIÇÃO, REVISTA, ATUALIZADA E AMPLIADA).
Linguagem vulgar
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco A terceira edição do Manual de Redação da Presidência da Re-
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar pública foi lançado no final de 2018 e apresenta algumas mudanças
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na quanto ao formato anterior. Para contextualizar, o manual foi criado
comida”. em 1991 e surgiu de uma necessidade de padronizar os protocolos
à moderna administração pública. Assim, ele é referência quando
Linguagem regional se trata de Redação Oficial em todas as esferas administrativas.
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- O Decreto de nº 9.758 de 11 de abril de 2019 veio alterar re-
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- gras importantes, quanto aos substantivos de tratamento. Expres-
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico, sões usadas antes (como: Vossa Excelência ou Excelentíssimo, Vossa
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino. Senhoria, Vossa Magnificência, doutor, ilustre ou ilustríssimo, digno
ou digníssimo e respeitável) foram retiradas e substituídas apenas
Os níveis de linguagem e de fala são determinados pelos fato- por: Senhor (a). Excepciona a nova regra quando o agente público
res a seguir: entender que não foi atendido pelo decreto e exigir o tratamento
diferenciado.

33
LÍNGUA PORTUGUESA

A redação oficial é a) alguém que comunique: o serviço público.


A maneira pela qual o Poder Público redige comunicações ofi- b) algo a ser comunicado: assunto relativo às atribuições do
ciais e atos normativos e deve caracterizar-se pela: clareza e pre- órgão que comunica.
cisão, objetividade, concisão, coesão e coerência, impessoalidade, c) alguém que receba essa comunicação: o público, uma insti-
formalidade e padronização e uso da norma padrão da língua por- tuição privada ou outro órgão ou entidade pública, do Poder Execu-
tuguesa. tivo ou dos outros Poderes.
Além disso, deve-se considerar a intenção do emissor e a fina-
SINAIS E ABREVIATURAS EMPREGADOS lidade do documento, para que o texto esteja adequado à situação
comunicativa. Os atos oficiais (atos de caráter normativo) estabele-
• Indica forma (em geral sintática) inaceitável ou cem regras para a conduta dos cidadãos, regulam o funcionamento
agramatical dos órgãos e entidades públicos. Para alcançar tais objetivos, em
§ Parágrafo sua elaboração, precisa ser empregada a linguagem adequada. O
mesmo ocorre com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua
adj. adv. Adjunto adverbial
é a de informar com clareza e objetividade.
arc. Arcaico
art.; arts. Artigo; artigos Atributos da redação oficial:
• clareza e precisão;
cf. Confronte • objetividade;
CN Congresso Nacional • concisão;
Cp. Compare • coesão e coerência;
• impessoalidade;
EM Exposição de Motivos • formalidade e padronização; e
f.v. Forma verbal • uso da norma padrão da língua portuguesa.
fem. Feminino
CLAREZA PRECISÃO
ind. Indicativo
Para a obtenção de clareza, O atributo da precisão
ICP - Brasil Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira
sugere-se: complementa a clareza e carac-
masc. Masculino a) utilizar palavras e ex- teriza-se por:
obj. dir. Objeto direto pressões simples, em seu senti- a) articulação da lingua-
do comum, salvo quando o tex- gem comum ou técnica para a
obj. ind. Objeto indireto to versar sobre assunto técnico, perfeita compreensão da ideia
p. Página hipótese em que se utilizará veiculada no texto;
p. us. Pouco usado nomenclatura própria da área; b) manifestação do pen-
b) usar frases curtas, bem samento ou da ideia com as
pess. Pessoa estruturadas; apresentar as mesmas palavras, evitando o
pl. Plural orações na ordem direta e evi- emprego de sinonímia com
tar intercalações excessivas. Em propósito meramente estilísti-
pref. Prefixo
certas ocasiões, para evitar am- co; e
pres. Presente biguidade, sugere-se a adoção c) escolha de expressão ou
Res. Resolução do Congresso Nacional da ordem inversa da oração; palavra que não confira duplo
c) buscar a uniformidade sentido ao texto.
RICD Regimento Interno da Câmara dos Deputados do tempo verbal em todo o
RISF Regimento Interno do Senado Federal texto;
s. Substantivo d) não utilizar regionalis-
mos e neologismos;
s.f. Substantivo feminino e) pontuar adequadamen-
s.m. Substantivo masculino te o texto;
f) explicitar o significado
SEI! Sistema Eletrônico de Informações
da sigla na primeira referência
sing. Singular a ela; e
tb. Também g) utilizar palavras e ex-
pressões em outro idioma ape-
v. Ver ou verbo nas quando indispensáveis, em
v.g. verbi gratia razão de serem designações ou
var. pop. Variante popular expressões de uso já consagra-
do ou de não terem exata tra-
A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela dução. Nesse caso, grafe-as em
escrita. Para que haja comunicação, são necessários: itálico.

34
LÍNGUA PORTUGUESA

Por sua vez, ser objetivo é ir diretamente ao assunto que se VII - respeitável.
deseja abordar, sem voltas e sem redundâncias. Para conseguir isso,
é fundamental que o redator saiba de antemão qual é a ideia prin- Todavia, o agente público federal que exigir o uso dos prono-
cipal e quais são as secundárias. A objetividade conduz o leitor ao mes de tratamento, mediante invocação de normas especiais refe-
contato mais direto com o assunto e com as informações, sem sub- rentes ao cargo ou carreira, deverá tratar o interlocutor do mesmo
terfúgios, sem excessos de palavras e de ideias. É errado supor que modo. Ademais, é vedado negar a realização de ato administrativo
a objetividade suprime a delicadeza de expressão ou torna o texto ou admoestar o interlocutor nos autos do expediente caso haja erro
rude e grosseiro. na forma de tratamento empregada.
Conciso é o texto que consegue transmitir o máximo de infor- O endereçamento das comunicações dirigidas a agentes pú-
mações com o mínimo de palavras. Não se deve de forma alguma blicos federais não conterá pronome de tratamento ou o nome
entendê-la como economia de pensamento, isto é, não se deve do agente público. Poderão constar o pronome de tratamento e o
eliminar passagens substanciais do texto com o único objetivo de nome do destinatário nas hipóteses de:
reduzi-lo em tamanho. Trata-se, exclusivamente, de excluir palavras I – A mera indicação do cargo ou da função e do setor da ad-
inúteis, redundâncias e passagens que nada acrescentem ao que já ministração ser insuficiente para a identificação do destinatário; ou
foi dito. II - A correspondência ser dirigida à pessoa de agente público
É indispensável que o texto tenha coesão e coerência. Tais atri- específico.
butos favorecem a conexão, a ligação, a harmonia entre os elemen- Até a segunda edição deste Manual, havia três tipos de expe-
tos de um texto. Percebe-se que o texto tem coesão e coerência dientes que se diferenciavam antes pela finalidade do que pela for-
quando se lê um texto e se verifica que as palavras, as frases e os ma: o ofício, o aviso e o memorando. Com o objetivo de uniformizá-
parágrafos estão entrelaçados, dando continuidade uns aos outros. -los, deve-se adotar nomenclatura e diagramação únicas, que sigam
Alguns mecanismos que estabelecem a coesão e a coerência de um o que chamamos de padrão ofício.
texto são: Consistem em partes do documento no padrão ofício:
• Referência (termos que se relacionam a outros necessários à • Cabeçalho: O cabeçalho é utilizado apenas na primeira página
sua interpretação); do documento, centralizado na área determinada pela formatação.
• Substituição (colocação de um item lexical no lugar de outro No cabeçalho deve constar o Brasão de Armas da República no topo
ou no lugar de uma oração); da página; nome do órgão principal; nomes dos órgãos secundá-
• Elipse (omissão de um termo recuperável pelo contexto); rios, quando necessários, da maior para a menor hierarquia; espa-
• Uso de conjunção (estabelecer ligação entre orações, perío- çamento entrelinhas simples (1,0). Os dados do órgão, tais como
dos ou parágrafos). endereço, telefone, endereço de correspondência eletrônica, sítio
A redação oficial é elaborada sempre em nome do serviço pú- eletrônico oficial da instituição, podem ser informados no rodapé
blico e sempre em atendimento ao interesse geral dos cidadãos. do documento, centralizados.
Sendo assim, os assuntos objetos dos expedientes oficiais não de-
vem ser tratados de outra forma que não a estritamente impessoal. • Identificação do expediente:
As comunicações administrativas devem ser sempre formais, a) nome do documento: tipo de expediente por extenso, com
isto é, obedecer a certas regras de forma. Isso é válido tanto para as todas as letras maiúsculas;
comunicações feitas em meio eletrônico, quanto para os eventuais b) indicação de numeração: abreviatura da palavra “número”,
documentos impressos. Recomendações: padronizada como Nº;
• A língua culta é contra a pobreza de expressão e não contra c) informações do documento: número, ano (com quatro dí-
a sua simplicidade; gitos) e siglas usuais do setor que expede o documento, da menor
• O uso do padrão culto não significa empregar a língua de para a maior hierarquia, separados por barra (/);
modo rebuscado ou utilizar figuras de linguagem próprias do estilo d) alinhamento: à margem esquerda da página.
literário;
• A consulta ao dicionário e à gramática é imperativa na reda- • Local e data:
ção de um bom texto. a) composição: local e data do documento;
b) informação de local: nome da cidade onde foi expedido o
O único pronome de tratamento utilizado na comunicação documento, seguido de vírgula. Não se deve utilizar a sigla da uni-
com agentes públicos federais é “senhor”, independentemente dade da federação depois do nome da cidade;
do nível hierárquico, da natureza do cargo ou da função ou da c) dia do mês: em numeração ordinal se for o primeiro dia do
ocasião. mês e em numeração cardinal para os demais dias do mês. Não se
Obs. O pronome de tratamento é flexionado para o femini- deve utilizar zero à esquerda do número que indica o dia do mês;
no e para o plural. d) nome do mês: deve ser escrito com inicial minúscula;
e) pontuação: coloca-se ponto-final depois da data;
f) alinhamento: o texto da data deve ser alinhado à margem
São formas de tratamento vedadas:
direita da página.
I - Vossa Excelência ou Excelentíssimo;
II - Vossa Senhoria;
• Endereçamento: O endereçamento é a parte do documento
III - Vossa Magnificência;
que informa quem receberá o expediente. Nele deverão constar :
IV - doutor;
a) vocativo;
V - ilustre ou ilustríssimo;
b) nome: nome do destinatário do expediente;
VI - digno ou digníssimo; e
c) cargo: cargo do destinatário do expediente;

35
LÍNGUA PORTUGUESA

d) endereço: endereço postal de quem receberá o expediente, dividido em duas linhas: primeira linha: informação de localidade/lo-
gradouro do destinatário ou, no caso de ofício ao mesmo órgão, informação do setor; segunda linha: CEP e cidade/unidade da federação,
separados por espaço simples. Na separação entre cidade e unidade da federação pode ser substituída a barra pelo ponto ou pelo traves-
são. No caso de ofício ao mesmo órgão, não é obrigatória a informação do CEP, podendo ficar apenas a informação da cidade/unidade da
federação;
e) alinhamento: à margem esquerda da página.

• Assunto: O assunto deve dar uma ideia geral do que trata o documento, de forma sucinta. Ele deve ser grafado da seguinte maneira:
a) título: a palavra Assunto deve anteceder a frase que define o conteúdo do documento, seguida de dois-pontos;
b) descrição do assunto: a frase que descreve o conteúdo do documento deve ser escrita com inicial maiúscula, não se deve utilizar
verbos e sugere-se utilizar de quatro a cinco palavras;
c) destaque: todo o texto referente ao assunto, inclusive o título, deve ser destacado em negrito;
d) pontuação: coloca-se ponto-final depois do assunto;
e) alinhamento: à margem esquerda da página.

• Texto:

NOS CASOS EM QUE NÃO SEJA USADO PARA ENCAMINHA- QUANDO FOREM USADOS PARA ENCAMINHAMENTO DE
MENTO DE DOCUMENTOS, O EXPEDIENTE DEVE CONTER A DOCUMENTOS, A ESTRUTURA É MODIFICADA:
SEGUINTE ESTRUTURA:
a) introdução: em que é apresentado o objetivo da comunica- a) introdução: deve iniciar com referência ao expediente que
ção. Evite o uso das formas: Tenho a honra de, Tenho o prazer de, solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver
Cumpre-me informar que. Prefira empregar a forma direta: Infor- sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da comu-
mo, Solicito, Comunico; nicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados completos
b) desenvolvimento: em que o assunto é detalhado; se o texto do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário e as-
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser trata- sunto de que se trata) e a razão pela qual está sendo encaminhado;
das em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposi- b) desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer
ção; e algum comentário a respeito do documento que encaminha, po-
c) conclusão: em que é afirmada a posição sobre o assunto. derá acrescentar parágrafos de desenvolvimento. Caso contrário,
não há parágrafos de desenvolvimento em expediente usado para
encaminhamento de documentos.

Em qualquer uma das duas estruturas, o texto do documento deve ser formatado da seguinte maneira:
a) alinhamento: justificado;
b) espaçamento entre linhas: simples;
c) parágrafos: espaçamento entre parágrafos: de 6 pontos após cada parágrafo; recuo de parágrafo: 2,5 cm de distância da margem
esquerda; numeração dos parágrafos: apenas quando o documento tiver três ou mais parágrafos, desde o primeiro parágrafo. Não se
numeram o vocativo e o fecho;
d) fonte: Calibri ou Carlito; corpo do texto: tamanho 12 pontos; citações recuadas: tamanho 11 pontos; notas de Rodapé: tamanho
10 pontos.
e) símbolos: para símbolos não existentes nas fontes indicadas, pode-se utilizar as fontes Symbol e Wingdings.

• Fechos para comunicações: O fecho das comunicações oficiais objetiva, além da finalidade óbvia de arrematar o texto, saudar o
destinatário.
a) Para autoridades de hierarquia superior a do remetente, inclusive o Presidente da República: Respeitosamente,
b) Para autoridades de mesma hierarquia, de hierarquia inferior ou demais casos: Atenciosamente,

• Identificação do signatário: Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da República, todas as demais comunicações ofi-
ciais devem informar o signatário segundo o padrão:
a) nome: nome da autoridade que as expede, grafado em letras maiúsculas, sem negrito. Não se usa linha acima do nome do signa-
tário;
b) cargo: cargo da autoridade que expede o documento, redigido apenas com as iniciais maiúsculas. As preposições que liguem as
palavras do cargo devem ser grafadas em minúsculas; e
c) alinhamento: a identificação do signatário deve ser centralizada na página. Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assi-
natura em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao menos a última frase anterior ao fecho.

• Numeração de páginas: A numeração das páginas é obrigatória apenas a partir da segunda página da comunicação. Ela deve ser
centralizada na página e obedecer à seguinte formatação:
a) posição: no rodapé do documento, ou acima da área de 2 cm da margem inferior; e

36
LÍNGUA PORTUGUESA

b) fonte: Calibri ou Carlito.

Quanto a formatação e apresentação, os documentos do pa-


drão ofício devem obedecer à seguinte forma:
a) tamanho do papel: A4 (29,7 cm x 21 cm);
b) margem lateral esquerda: no mínimo, 3 cm de largura;
c) margem lateral direita: 1,5 cm;
d) margens superior e inferior: 2 cm;
e) área de cabeçalho: na primeira página, 5 cm a partir da mar-
gem superior do papel;
f) área de rodapé: nos 2 cm da margem inferior do documento;
g) impressão: na correspondência oficial, a impressão pode
ocorrer em ambas as faces do papel. Nesse caso, as margens es-
querda e direita terão as distâncias invertidas nas páginas pares
(margem espelho);
h) cores: os textos devem ser impressos na cor preta em pa-
pel branco, reservando-se, se necessário, a impressão colorida para
gráficos e ilustrações;
i) destaques: para destaques deve-se utilizar, sem abuso, o
negrito. Deve-se evitar destaques com uso de itálico, sublinhado,
letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer
outra forma de formatação que afete a sobriedade e a padroniza-
ção do documento;
j) palavras estrangeiras: palavras estrangeiras devem ser grafa-
das em itálico;
k) arquivamento: dentro do possível, todos os documentos
elaborados devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
posterior ou aproveitamento de trechos para casos análogos. Deve
ser utilizado, preferencialmente, formato de arquivo que possa ser
lido e editado pela maioria dos editores de texto utilizados no servi-
ço público, tais como DOCX, ODT ou RTF.
l) nome do arquivo: para facilitar a localização, os nomes dos
arquivos devem ser formados da seguinte maneira: tipo do docu-
mento + número do documento + ano do documento (com 4 dígi-
tos) + palavras-chaves do conteúdo.

Os documentos oficiais podem ser identificados de acordo com


algumas possíveis variações:
a) [NOME DO EXPEDIENTE] + CIRCULAR: Quando um órgão en-
via o mesmo expediente para mais de um órgão receptor. A sigla na
epígrafe será apenas do órgão remetente.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

b) [NOME DO EXPEDIENTE] + CONJUNTO: Quando mais de um b) Encaminhamento de medida provisória.


órgão envia, conjuntamente, o mesmo expediente para um único c) Indicação de autoridades.
órgão receptor. As siglas dos órgãos remetentes constarão na epí- d) Pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presiden-
grafe. te da República se ausentarem do país por mais de 15 dias.
c) [NOME DO EXPEDIENTE] + CONJUNTO CIRCULAR: Quando e) Encaminhamento de atos de concessão e de renovação de
mais de um órgão envia, conjuntamente, o mesmo expediente para concessão de emissoras de rádio e TV.
mais de um órgão receptor. As siglas dos órgãos remetentes cons- f) Encaminhamento das contas referentes ao exercício anterior.
tarão na epígrafe. g) Mensagem de abertura da sessão legislativa.
h) Comunicação de sanção (com restituição de autógrafos).
Nos expedientes circulares, por haver mais de um receptor, o i) Comunicação de veto.
órgão remetente poderá inserir no rodapé as siglas ou nomes dos j) Outras mensagens remetidas ao Legislativo, ex. Apreciação
órgãos que receberão o expediente. de intervenção federal.
As mensagens contêm:
a) brasão: timbre em relevo branco;
Exposição de motivos (EM)
b) identificação do expediente: MENSAGEM Nº, alinhada à
É o expediente dirigido ao Presidente da República ou ao Vice-
margem esquerda, no início do texto;
Presidente para:
c) vocativo: alinhado à margem esquerda, de acordo com o
a) propor alguma medida;
pronome de tratamento e o cargo do destinatário, com o recuo de
b) submeter projeto de ato normativo à sua consideração; ou
parágrafo dado ao texto;
c) informa-lo de determinado assunto.
d) texto: iniciado a 2 cm do vocativo;
e) local e data: posicionados a 2 cm do final do texto, alinha-
A exposição de motivos é dirigida ao Presidente da República
dos à margem direita. A mensagem, como os demais atos assinados
por um Ministro de Estado. Nos casos em que o assunto tratado en-
pelo Presidente da República, não traz identificação de seu signa-
volva mais de um ministério, a exposição de motivos será assinada
tário.
por todos os ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada
A utilização do e-mail para a comunicação tornou-se prática
de interministerial. Independentemente de ser uma EM com ape-
comum, não só em âmbito privado, mas também na administra-
nas um autor ou uma EM interministerial, a sequência numérica
ção pública. O termo e-mail pode ser empregado com três sentidos.
das exposições de motivos é única. A numeração começa e termina
Dependendo do contexto, pode significar gênero textual, endere-
dentro de um mesmo ano civil.
ço eletrônico ou sistema de transmissão de mensagem eletrônica.
A exposição de motivos é a principal modalidade de comunica-
Como gênero textual, o e-mail pode ser considerado um documen-
ção dirigida ao Presidente da República pelos ministros. Além disso,
to oficial, assim como o ofício. Portanto, deve-se evitar o uso de
pode, em certos casos, ser encaminhada cópia ao Congresso Nacio-
linguagem incompatível com uma comunicação oficial. Como en-
nal ou ao Poder Judiciário.
dereço eletrônico utilizado pelos servidores públicos, o e-mail deve
O Sistema de Geração e Tramitação de Documentos Oficiais
ser oficial, utilizando-se a extensão “.gov.br”, por exemplo. Como
(Sidof) é a ferramenta eletrônica utilizada para a elaboração, a re-
sistema de transmissão de mensagens eletrônicas, por seu baixo
dação, a alteração, o controle, a tramitação, a administração e a ge-
custo e celeridade, transformou-se na principal forma de envio e
rência das exposições de motivos com as propostas de atos a serem
recebimento de documentos na administração pública.
encaminhadas pelos Ministérios à Presidência da República.
Nos termos da Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto
de 2001, para que o e-mail tenha valor documental, isto é, para
Ao se utilizar o Sidof, a assinatura, o nome e o cargo do sig- que possa ser aceito como documento original, é necessário existir
natário são substituídos pela assinatura eletrônica que informa o certificação digital que ateste a identidade do remetente, segundo
nome do ministro que assinou a exposição de motivos e do con- os parâmetros de integridade, autenticidade e validade jurídica da
sultor jurídico que assinou o parecer jurídico da Pasta. Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICPBrasil.
O destinatário poderá reconhecer como válido o e-mail sem
A Mensagem é o instrumento de comunicação oficial entre os certificação digital ou com certificação digital fora ICP-Brasil; con-
Chefes dos Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas tudo, caso haja questionamento, será obrigatório a repetição do
pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar ato por meio documento físico assinado ou por meio eletrônico re-
sobre fato da administração pública; para expor o plano de gover- conhecido pela ICP-Brasil. Salvo lei específica, não é dado ao ente
no por ocasião da abertura de sessão legislativa; para submeter público impor a aceitação de documento eletrônico que não atenda
ao Congresso Nacional matérias que dependem de deliberação de os parâmetros da ICP-Brasil.
suas Casas; para apresentar veto; enfim, fazer comunicações do que Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua
seja de interesse dos Poderes Públicos e da Nação. flexibilidade. Assim, não interessa definir padronização da mensa-
Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos ministérios gem comunicada. O assunto deve ser o mais claro e específico pos-
à Presidência da República, a cujas assessorias caberá a redação fi- sível, relacionado ao conteúdo global da mensagem. Assim, quem
nal. As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Congresso irá receber a mensagem identificará rapidamente do que se trata;
Nacional têm as seguintes finalidades: quem a envia poderá, posteriormente, localizar a mensagem na cai-
a) Encaminhamento de proposta de emenda constitucional, xa do correio eletrônico.
de projeto de lei ordinária, de projeto de lei complementar e os O texto dos correios eletrônicos deve ser iniciado por uma sau-
que compreendem plano plurianual, diretrizes orçamentárias, or- dação. Quando endereçado para outras instituições, para recepto-
çamentos anuais e créditos adicionais. res desconhecidos ou para particulares, deve-se utilizar o vocativo

38
LÍNGUA PORTUGUESA

conforme os demais documentos oficiais, ou seja, “Senhor” ou “Senhora”, seguido do cargo respectivo, ou “Prezado Senhor”, “Prezada
Senhora”.
Atenciosamente é o fecho padrão em comunicações oficiais. Com o uso do e-mail, popularizou-se o uso de abreviações como “Att.”,
e de outros fechos, como “Abraços”, “Saudações”, que, apesar de amplamente usados, não são fechos oficiais e, portanto, não devem ser
utilizados em e-mails profissionais.
Sugere-se que todas as instituições da administração pública adotem um padrão de texto de assinatura. A assinatura do e-mail deve
conter o nome completo, o cargo, a unidade, o órgão e o telefone do remetente.
A possibilidade de anexar documentos, planilhas e imagens de diversos formatos é uma das vantagens do e-mail. A mensagem que
encaminha algum arquivo deve trazer informações mínimas sobre o conteúdo do anexo.
Os arquivos anexados devem estar em formatos usuais e que apresentem poucos riscos de segurança. Quando se tratar de documento
ainda em discussão, os arquivos devem, necessariamente, ser enviados, em formato que possa ser editado.
A correção ortográfica é requisito elementar de qualquer texto, e ainda mais importante quando se trata de textos oficiais. Muitas
vezes, uma simples troca de letras pode alterar não só o sentido da palavra, mas de toda uma frase. O que na correspondência particular
seria apenas um lapso na digitação pode ter repercussões indesejáveis quando ocorre no texto de uma comunicação oficial ou de um ato
normativo. Assim, toda revisão que se faça em determinado documento ou expediente deve sempre levar em conta também a correção
ortográfica.

HÍFEN ASPAS ITÁLICO NEGRITO E SUBLINHADO


Emprega-se itálico em:
O hífen é um sinal usado a) títulos de publicações
As aspas têm os seguintes
para: (livros, revistas, jornais, perió-
empregos:
a) ligar os elementos de dicos etc.) ou títulos de con-
a) antes e depois de uma
palavras compostas: vice-mi- gressos, conferências, slogans,
citação textual direta, quando Usa-se o negrito para realce de
nistro; lemas sem o uso de aspas (com
esta tem até três linhas, sem palavras e trechos. Deve-se evitar o
b) para unir pronomes áto- inicial maiúscula em todas as
utilizar itálico; uso de sublinhado para realçar pa-
nos a verbos: agradeceu-lhe; e palavras, exceto nas de liga-
b) quando necessário, lavras e trechos em comunicações
c) para, no final de uma li- ção);
para diferenciar títulos, termos oficiais.
nha, indicar a separação das sí- b) palavras e as expressões
técnicos, expressões fixas, defi-
labas de uma palavra em duas em latim ou em outras línguas
nições, exemplificações e asse-
partes (a chamada translinea- estrangeiras não incorporadas
melhados.
ção): com-/parar, gover-/no. ao uso comum na língua portu-
guesa ou não aportuguesadas.

PARÊNTESES E TRAVESSÃO USO DE SIGLAS E ACRÔNIMOS


Os parênteses são empregados para intercalar, em um tex- Para padronizar o uso de siglas e acrônimos nos atos normativos,
to, explicações, indicações, comentários, observações, como por serão adotados os conceitos sugeridos pelo Manual de Elaboração de
exemplo, indicar uma data, uma referência bibliográfica, uma Textos da Consultoria Legislativa do Senado Federal (1999), em que:
sigla. a) sigla: constitui-se do resultado das somas das iniciais de um
O travessão, que é representado graficamente por um hífen título; e
prolongado (–), substitui parênteses, vírgulas, dois-pontos. b) acrônimo: constitui-se do resultado da soma de algumas síla-
bas ou partes dos vocábulos de um título.

Sintaxe é a parte da Gramática que estuda a palavra, não em si, mas em relação às outras, que, com ela, se unem para exprimir o
pensamento. Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos elementos que compõem uma oração:

SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO + ADJUNTO ADVERBIAL

O sujeito é o ser de quem se fala ou que executa a ação enunciada na oração. De acordo com a gramática normativa, o sujeito da
oração não pode ser preposicionado. Ele pode ter complemento, mas não ser complemento.

Embora seja usada como recurso estilístico na literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos textos oficiais, pois muitas
vezes dificulta a compreensão.

A omissão de certos termos, ao fazermos uma comparação, omissão própria da língua falada, deve ser evitada na língua escrita, pois
compromete a clareza do texto: nem sempre é possível identificar, pelo contexto, o termo omitido. A ausência indevida de um termo pode
impossibilitar o entendimento do sentido que se quer dar a uma frase.
Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de todo texto oficial,

39
LÍNGUA PORTUGUESA

deve-se atentar para as construções que possam gerar equívocos de compreensão. A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
identificar-se a que palavra se refere um pronome que possui mais de um antecedente na terceira pessoa.
A concordância é o processo sintático segundo o qual certas palavras se acomodam, na sua forma, às palavras de que dependem.
Essa acomodação formal se chama flexão e se dá quanto a gênero e número (nos adjetivos – nomes ou pronomes), números e pessoa (nos
verbos). Daí, a divisão: concordância nominal e concordância verbal.

CONCORDÂNCIA VERBAL CONCORDÂNCIA NOMINAL


O verbo concorda com seu sujeito em pessoa e número. Adjetivos (nomes ou pronomes), artigos e numerais concor-
dam em gênero e número com os substantivos de que dependem.

Regência é, em gramática, sinônimo de dependência, subordinação. Assim, a sintaxe de regência trata das relações de dependência
que as palavras mantêm na frase. Dizemos que um termo rege o outro que o complementa. Numa frase, os termos regentes ou subordi-
nantes (substantivos, adjetivos, verbos) regem os termos regidos ou subordinados (substantivos, adjetivos, preposições) que lhes comple-
tam o sentido.
Os sinais de pontuação, ligados à estrutura sintática, têm as seguintes finalidades:
a) assinalar as pausas e as inflexões da voz (a entoação) na leitura;
b) separar palavras, expressões e orações que, segundo o autor, devem merecer destaque; e
c) esclarecer o sentido da frase, eliminando ambiguidades.
A vírgula serve para marcar as separações breves de sentido entre termos vizinhos, as inversões e as intercalações, quer na oração,
quer no período. O ponto e vírgula, em princípio, separa estruturas coordenadas já portadoras de vírgulas internas. É também usado em
lugar da vírgula para dar ênfase ao que se quer dizer.
Emprega-se este sinal de pontuação para introduzir citações, marcar enunciados de diálogo e indicar um esclarecimento, um resumo
ou uma consequência do que se afirmou.
O ponto de interrogação, como se depreende de seu nome, é utilizado para marcar o final de uma frase interrogativa direta. O ponto
de exclamação é utilizado para indicar surpresa, espanto, admiração, súplica etc. Seu uso na redação oficial fica geralmente restrito aos
discursos e às peças de retórica.
O uso do pronome demonstrativo obedece às seguintes circunstâncias:
a) Emprega-se este(a)/isto quando o termo referente estiver próximo ao emissor, ou seja, de quem fala ou redige.
b) Emprega-se esse(a)/isso quando o termo referente estiver próximo ao receptor, ou seja, a quem se fala ou para quem se redige.
c) Emprega-se aquele(a)/aquilo quando o termo referente estiver distante tanto do emissor quanto do receptor da mensagem.
d) Emprega-se este(a) para referir-se ao tempo presente;
e) Emprega-se esse(a) para se referir ao tempo passado;
f) Emprega-se aquele(a)/aquilo em relação a um tempo passado mais longínquo, ou histórico.
g) Usa-se este(a)/isto para introduzir referência que, no texto, ainda será mencionado;
h) Usa-se este(a)para se referir ao próprio texto;
i) Emprega-se esse(a)/isso quando a informação já foi mencionada no texto.
A Semântica estuda o sentido das palavras, expressões, frases e unidades maiores da comunicação verbal, os significados que lhe são
atribuídos. Ao considerarmos o significado de determinada palavra, levamos em conta sua história, sua estrutura (radical, prefixos, sufixos
que participam da sua forma) e, por fim, o contexto em que se apresenta.
Sendo a clareza um dos requisitos fundamentais de todo texto oficial, deve-se atentar para a tradição no emprego de determinada
expressão com determinado sentido. O emprego de expressões ditas de uso consagrado confere uniformidade e transparência ao sentido
do texto. Mas isso não quer dizer que os textos oficiais devam limitar-se à repetição de chavões e de clichês.
Verifique sempre o contexto em que as palavras estão sendo utilizadas. Certifique-se de que não há repetições desnecessárias ou
redundâncias. Procure sinônimos ou termos mais precisos para as palavras repetidas; mas se sua substituição for comprometer o sentido
do texto, tornando-o ambíguo ou menos claro, não hesite em deixar o texto como está.
É importante lembrar que o idioma está em constante mutação. A própria evolução dos costumes, das ideias, das ciências, da política,
enfim da vida social em geral, impõe a criação de novas palavras e de formas de dizer.
A redação oficial não pode alhear-se dessas transformações, nem incorporá-las acriticamente. Quanto às novidades vocabulares, por
um lado, elas devem sempre ser usadas com critério, evitando-se aquelas que podem ser substituídas por vocábulos já de uso consolidado
sem prejuízo do sentido que se lhes quer dar.
De outro lado, não se concebe que, em nome de suposto purismo, a linguagem das comunicações oficiais fique imune às criações
vocabulares ou a empréstimos de outras línguas. A rapidez do desenvolvimento tecnológico, por exemplo, impõe a criação de inúmeros
novos conceitos e termos, ditando de certa forma a velocidade com que a língua deve incorporá-los. O importante é usar o estrangeirismo
de forma consciente, buscar o equivalente português quando houver ou conformar a palavra estrangeira ao espírito da Língua Portuguesa.
O problema do abuso de estrangeirismos inúteis ou empregados em contextos em que não cabem, é em geral causado ou pelo des-
conhecimento da riqueza vocabular de nossa língua, ou pela incorporação acrítica do estrangeirismo.
• A homonímia é a designação geral para os casos em que palavras de sentidos diferentes têm a mesma grafia (os homônimos homó-
grafos) ou a mesma pronúncia (os homônimos homófonos).
• Os homógrafos podem coincidir ou não na pronúncia, como nos exemplos: quarto (aposento) e quarto (ordinal), manga (fruta) e

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manga (de camisa), em que temos pronúncia idêntica; e apelo (pe- nacional, consequências de novos problemas técnicos, efeitos de
dido) e apelo (com e aberto, 1ª pess. Do sing. Do pres. Do ind. Do leis antigas, mudanças de concepção etc.
verbo apelar), consolo (alívio) e consolo (com o aberto, 1ª pess. Do Para verificar a adequação dos meios a serem utilizados, deve-
sing. Do pres. Do ind. Do verbo consolar), com pronúncia diferente. -se realizar uma análise dos objetivos que se esperam com a apro-
Os homógrafos de idêntica pronúncia diferenciam-se pelo contexto vação da proposta. A ação do legislador, nesse âmbito, não difere,
em que são empregados. fundamentalmente, da atuação do homem comum, que se caracte-
• Já o termo paronímia designa o fenômeno que ocorre com riza mais por saber exatamente o que não quer, sem precisar o que
palavras semelhantes (mas não idênticas) quanto à grafia ou à pro- efetivamente pretende.
núncia. É fonte de muitas dúvidas, como entre descrição (ato de A avaliação emocional dos problemas, a crítica generalizada
descrever) e discrição (qualidade do que é discreto), retificar (corri- e, às vezes, irrefletida sobre o estado de coisas dominante acabam
gir) e ratificar (confirmar). por permitir que predominem as soluções negativistas, que têm por
No Estado de Direito, as normas jurídicas cumprem a tarefa escopo, fundamentalmente, suprimir a situação questionada sem
de concretizar a Constituição. Elas devem criar os fundamentos de contemplar, de forma detida e racional, as alternativas possíveis ou
justiça e de segurança que assegurem um desenvolvimento social as causas determinantes desse estado de coisas negativo. Outras
harmônico em um contexto de paz e de liberdade. Esses complexos vezes, deixa-se orientar por sentimento inverso, buscando, pura e
objetivos da norma jurídica são expressos nas funções: simplesmente, a preservação do status quo.
I) de integração: a lei cumpre função de integração ao com- Essas duas posições podem levar, nos seus extremos, a uma
pensar as diferenças jurídico-políticas no quadro de formação da imprecisa definição dos objetivos. A definição da decisão legislati-
vontade do Estado (desigualdades sociais, regionais); va deve ser precedida de uma rigorosa avaliação das alternativas
II) de planificação: a lei é o instrumento básico de organização, existentes, seus prós e contras. A existência de diversas alternativas
de definição e de distribuição de competências; para a solução do problema não só amplia a liberdade do legislador,
III) de proteção: a lei cumpre função de proteção contra o arbí- como também permite a melhoria da qualidade da decisão legis-
trio ao vincular os próprios órgãos do Estado; lativa.
IV) de regulação: a lei cumpre função reguladora ao direcionar Antes de decidir sobre a alternativa a ser positivada, devem-
condutas por meio de modelos; -se avaliar e contrapor as alternativas existentes sob dois pontos de
V) de inovação: a lei cumpre função de inovação na ordem ju- vista: a) De uma perspectiva puramente objetiva: verificar se a aná-
rídica e no plano social. lise sobre os dados fáticos e prognósticos se mostra consistente; b)
De uma perspectiva axiológica: aferir, com a utilização de critérios
Requisitos da elaboração normativa: de probabilidade (prognósticos), se os meios a serem empregados
• Clareza e determinação da norma; mostram-se adequados a produzir as consequências desejadas. De-
• Princípio da reserva legal; vem-se contemplar, igualmente, as suas deficiências e os eventuais
• Reserva legal qualificada (algumas providências sejam prece- efeitos colaterais negativos.
didas de específica autorização legislativa, vinculada à determinada O processo de decisão normativa estará incompleto caso se en-
situação ou destinada a atingir determinado objetivo); tenda que a tarefa do legislador se encerre com a edição do ato nor-
• Princípio da legalidade nos âmbitos penal, tributário e admi- mativo. Uma planificação mais rigorosa do processo de elaboração
nistrativo; normativa exige um cuidadoso controle das diversas consequências
• Princípio da proporcionalidade; produzidas pelo novo ato normativo.
• Densidade da norma (a previsão legal contenha uma discipli- É recomendável que o legislador redija as leis dentro de um
na suficientemente concreta); espírito de sistema, tendo em vista não só a coerência e a harmonia
• Respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coi- interna de suas disposições, mas também a sua adequada inserção
sa julgada; no sistema jurídico como um todo. Essa sistematização expressa
• Remissões legislativas (se as remissões forem inevitáveis, se- uma característica da cientificidade do Direito e corresponde às
jam elas formuladas de tal modo que permitam ao intérprete apre- exigências mínimas de segurança jurídica, à medida que impedem
ender o seu sentido sem ter de compulsar o texto referido). uma ruptura arbitrária com a sistemática adotada na aplicação do
Direito. Costuma-se distinguir a sistemática da lei em sistemática
Além do processo legislativo disciplinado na Constituição (pro- interna (compatibilidade teleológica e ausência de contradição ló-
cesso legislativo externo), a doutrina identifica o chamado processo gica) e sistemática externa (estrutura da lei).
legislativo interno, que se refere à forma de fazer adotada para a Regras básicas a serem observadas para a sistematização do
tomada da decisão legislativa. texto do ato normativo, com o objetivo de facilitar sua estruturação:
Antes de decidir sobre as providências a serem tomadas, é es- a) matérias que guardem afinidade objetiva devem ser tratadas
sencial identificar o problema a ser enfrentado. Realizada a iden- em um mesmo contexto ou agrupamento;
tificação do problema em decorrência de impulsos externos (ma- b) os procedimentos devem ser disciplinados segundo a ordem
nifestações de órgãos de opinião pública, críticas de segmentos cronológica, se possível;
especializados) ou graças à atuação dos mecanismos próprios de c) a sistemática da lei deve ser concebida de modo a permitir
controle, o problema deve ser delimitado de forma precisa. que ela forneça resposta à questão jurídica a ser disciplinada; e
A análise da situação questionada deve contemplar as causas d) institutos diversos devem ser tratados separadamente.
ou o complexo de causas que eventualmente determinaram ou • O artigo de alteração da norma deve fazer menção expressa
contribuíram para o seu desenvolvimento. Essas causas podem ter ao ato normativo que está sendo alterado.
influências diversas, tais como condutas humanas, desenvolvimen- • Na hipótese de alteração parcial de artigo, os dispositivos que
tos sociais ou econômicos, influências da política nacional ou inter- não terão o seu texto alterado serão substituídos por linha ponti-

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lhada, cujo uso é obrigatório para indicar a manutenção e a não em caso de relevância e urgência. Decretos são atos administrativos
alteração do trecho do artigo. de competência exclusiva do Chefe do Executivo, destinados a pro-
O termo “republicação” é utilizado para designar apenas a hi- ver as situações gerais ou individuais, abstratamente previstas, de
pótese de o texto publicado não corresponder ao original assina- modo expresso ou implícito, na lei.
do pela autoridade. Não se pode cogitar essa hipótese por motivo • Decretos singulares ou de efeitos concretos: Os decretos po-
de erro já constante do documento subscrito pela autoridade ou, dem conter regras singulares ou concretas (por exemplo, decretos
muito menos, por motivo de alteração na opinião da autoridade. referentes à questão de pessoal, de abertura de crédito, de desa-
Considerando que os atos normativos somente produzem efeitos propriação, de cessão de uso de imóvel, de indulto, de perda de
após a publicação no Diário Oficial da União, mesmo no caso de re- nacionalidade, etc.).
publicação, não se poderá cogitar a existência de efeitos retroativos • Decretos regulamentares: Os decretos regulamentares são
com a publicação do texto corrigido. Contudo, o texto publicado atos normativos subordinados ou secundários.
sem correspondência com aquele subscrito pela autoridade poderá • Decretos autônomos: Limita-se às hipóteses de organização
ser considerado inválido com efeitos retroativos. e funcionamento da administração pública federal, quando não im-
Já a retificação se refere aos casos em que texto publicado plicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos pú-
corresponde ao texto subscrito pela autoridade, mas que continha blicos, e de extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos.
lapso manifesto. A retificação requer nova assinatura pelas autori- Portaria é o instrumento pelo qual Ministros ou outras autori-
dades envolvidas e, em muitos casos, é menos conveniente do que dades expedem instruções sobre a organização e o funcionamento
a mera alteração da norma. de serviço, sobre questões de pessoal e outros atos de sua compe-
A correção de erro material que não afete a substância do ato tência.
singular de caráter pessoal e as retificações ou alterações da de-
nominação de cargos, funções ou órgãos que tenham tido a deno- O processo legislativo abrange não só a elaboração das leis
minação modificada em decorrência de lei ou de decreto superve- propriamente ditas (leis ordinárias, leis complementares, leis de-
niente à expedição do ato pessoal a ser apostilado são realizadas legadas), mas também a elaboração das emendas constitucionais,
por meio de apostila. O apostilamento é de competência do setor das medidas provisórias, dos decretos legislativos e das resoluções.
de recurso humanos do órgão, autarquia ou fundação, e dispensa A iniciativa é a proposta de edição de direito novo. A iniciati-
nova assinatura da autoridade que subscreveu o ato originário. va comum ou concorrente compete ao Presidente da República, a
Atenção: Deve-se ter especial atenção quando do uso do apos- qualquer Deputado ou Senador, a qualquer comissão de qualquer
tilamento para os atos relativos à vacância ou ao provimento de- das Casas do Congresso, e aos cidadãos – iniciativa popular. A Cons-
corrente de alteração de estrutura de órgão, autarquia ou funda- tituição confere a iniciativa da legislação sobre certas matérias,
ção pública. O apostilamento não se aplica aos casos nos quais a privativamente, a determinados órgãos, denominada de iniciativa
essência do cargo em comissão ou da função de confiança tenham reservada. A Constituição prevê, ainda, sistema de iniciativa vincu-
sido alterados, tais como nos casos de alteração do nível hierárqui- lada, na qual a apresentação do projeto é obrigatória. Nesse caso, o
co, transformação de atribuição de assessoramento em atribuição Chefe do Executivo Federal deve encaminhar ao Congresso Nacio-
de chefia (ou vice-versa) ou transferência de cargo para unidade nal os projetos referentes às leis orçamentárias (plano plurianual,
com outras competências. Também deve-se alertar para o fato que lei de diretrizes orçamentárias e o orçamento anual).
a praxe atual tem sido exigir que o apostilamento decorrente de
alteração em estrutura regimental seja realizado na mesma data da A disciplina sobre a discussão e a instrução do projeto de lei
entrada em vigor de seu decreto. é confiada, fundamentalmente, aos Regimentos das Casas Legis-
A estrutura dos atos normativos é composta por dois elemen- lativas.
tos básicos: a ordem legislativa e a matéria legislada. A ordem legis-
lativa compreende a parte preliminar e o fecho da lei ou do decreto;
Emenda é a proposição apresentada como acessória de outra
a matéria legislada diz respeito ao texto ou ao corpo do ato.
proposição. Nem todo titular de iniciativa tem poder de emenda.
A lei ordinária é ato normativo primário e contém, em regra,
Essa faculdade é reservada aos parlamentares. Se, entretanto, for
normas gerais e abstratas. Embora as leis sejam definidas, normal-
de iniciativa do Poder Executivo ou do Poder Judiciário, o seu titular
mente, pela generalidade e pela abstração (lei material), estas con-
também pode apresentar modificações, acréscimos, o que fará por
têm, não raramente, normas singulares (lei formal ou ato normati-
meio de mensagem aditiva, dirigida ao Presidente da Câmara dos
vo de efeitos concretos).
Deputados, que justifique a necessidade do acréscimo. A apresen-
As leis complementares são um tipo de lei que não têm a ri-
tação de emendas a qualquer projeto de lei oriundo de iniciativa re-
gidez dos preceitos constitucionais, e tampouco comportam a re-
servada é autorizada, desde que não implique aumento de despesa
vogação por força de qualquer lei ordinária superveniente. Com a
e que tenha estrita pertinência temática.
instituição de lei complementar, o constituinte buscou resguardar
A Constituição não impede a apresentação de emendas ao pro-
determinadas matérias contra mudanças céleres ou apressadas,
jeto de lei orçamentária. Elas devem ser, todavia, compatíveis com
sem deixá-las exageradamente rígidas, o que dificultaria sua modifi-
o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias e devem
cação. A lei complementar deve ser aprovada pela maioria absoluta
indicar os recursos necessários, sendo admitidos apenas aqueles
de cada uma das Casas do Congresso Nacional.
provenientes de anulação de despesa. A Constituição veda a propo-
Lei delegada é o ato normativo elaborado e editado pelo Pre-
situra de emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias que
sidente da República em decorrência de autorização do Poder Le-
não guardem compatibilidade com o plano plurianual.
gislativo, expedida por meio de resolução do Congresso Nacional e
A votação da matéria legislativa constitui ato coletivo das Casas
dentro dos limites nela traçados. Medida provisória é ato normativo
do Congresso. Realiza-se, normalmente, após a instrução do proje-
com força de lei que pode ser editado pelo Presidente da República

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to nas comissões e dos debates no plenário. A sanção é o ato pelo


qual o Chefe do Executivo manifesta a sua anuência ao projeto de QUESTÕES
lei aprovado pelo Poder Legislativo. Verifica-se aqui a fusão da von-
tade do Congresso Nacional com a do Presidente, da qual resulta a 1. (ENEM - 2012) “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu
formação da lei. biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que colecionava de-
O veto é o ato pelo qual o Chefe do Poder Executivo nega san- safetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim
ção ao projeto – ou a parte dele –, obstando à sua conversão em lei. era José de Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guara-
Dois são os fundamentos para a recusa de sanção: a) inconstitucio- ni e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil.
nalidade; ou b) contrariedade ao interesse público. Além de criar clássicos da literatura brasileira com temas nati-
O veto deve ser expresso e motivado, e oposto no prazo de 15 vistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor
dias úteis, contado da data do recebimento do projeto, e comunica- de jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e
do ao Congresso Nacional nas 48 horas subsequentes à sua oposi- até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas fa-
ção. O veto não impede a conversão do projeto em lei, podendo ser cetas desse personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito
superado por deliberação do Congresso Nacional. será digitalizada.
A promulgação e a publicação constituem fases essenciais da História Viva, n.º 99, 2011.
eficácia da lei. A promulgação das leis compete ao Presidente da
República. Ela deverá ocorrer dentro do prazo de 48 horas, decor- Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alen-
rido da sanção ou da superação do veto. Nesse último caso, se o car e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que
Presidente não promulgar a lei, competirá a promulgação ao Pre- (A) a digitalização dos textos é importante para que os leitores
sidente do Senado Federal, que disporá, igualmente, de 48 horas possam compreender seus romances.
para fazê-lo; se este não o fizer, deverá fazê-lo o Vice-Presidente do (B) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante
Senado Federal, em prazo idêntico. porque deixou uma vasta obra literária com temática atempo-
O período entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor é ral.
chamado de período de vacância ou vacatio legis. Na falta de dis- (C) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digi-
posição especial, vigora o princípio que reconhece o decurso de um talização, demonstra sua importância para a história do Brasil
lapso de tempo entre a data da publicação e o termo inicial da obri- Imperial.
gatoriedade (45 dias). (D) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importan-
Podem-se distinguir seis tipos de procedimento legislativo: te papel na preservação da memória linguística e da identidade
a) procedimento legislativo normal: Trata da elaboração das nacional.
leis ordinárias (excluídas as leis financeiras e os códigos) e comple- (E) o grande romancista José de Alencar é importante porque
mentares. se destacou por sua temática indianista.
b) procedimento legislativo abreviado: Este procedimento
dispensa a competência do Plenário, ocorrendo, por isso, a deli- 2. (FUVEST - 2013) A essência da teoria democrática é a su-
beração terminativa sobre o projeto de lei nas próprias Comissões pressão de qualquer imposição de classe, fundada no postulado ou
Permanentes. na crença de que os conflitos e problemas humanos – econômicos,
c) procedimento legislativo sumário: Entre as prerrogativas políticos, ou sociais – são solucionáveis pela educação, isto é, pela
regimentais das Casas do Congresso Nacional existe a de conferir cooperação voluntária, mobilizada pela opinião pública esclarecida.
urgência a certas proposições. Está claro que essa opinião pública terá de ser formada à luz dos
d) procedimento legislativo sumaríssimo: Existe nas duas Ca- melhores conhecimentos existentes e, assim, a pesquisa científica
sas do Congresso Nacional mecanismo que assegura deliberação nos campos das ciências naturais e das chamadas ciências sociais
instantânea sobre matérias submetidas à sua apreciação. deverá se fazer a mais ampla, a mais vigorosa, a mais livre, e a difu-
e) procedimento legislativo concentrado: O procedimento le- são desses conhecimentos, a mais completa, a mais imparcial e em
gislativo concentrado tipifica-se, basicamente, pela apresentação termos que os tornem acessíveis a todos.
das matérias em reuniões conjuntas de deputados e senadores. Ex. (Anísio Teixeira, Educação é um direito. Adaptado.)
para leis financeiras e delegadas.
f) procedimento legislativo especial: Nesse procedimento, No trecho “chamadas ciências sociais”, o emprego do termo
englobam-se dois ritos distintos com características próprias, um “chamadas” indica que o autor
destinado à elaboração de emendas à Constituição; outro, à de có- (A) vê, nas “ciências sociais”, uma panaceia, não uma análise
digos. crítica da sociedade.
(B) considera utópicos os objetivos dessas ciências.
(C) prefere a denominação “teoria social” à denominação “ci-
ências sociais”.
(D) discorda dos pressupostos teóricos dessas ciências.
(E) utiliza com reserva a denominação “ciências sociais”.

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3. (UERJ - 2016)

A última fala da tirinha causa um estranhamento, porque assinala a ausência de um elemento fundamental para a instalação de um
tribunal: a existência de alguém que esteja sendo acusado.
Essa fala sugere o seguinte ponto de vista do autor em relação aos usuários da internet:
(A) proferem vereditos fictícios sem que haja legitimidade do processo.
(B) configuram julgamentos vazios, ainda que existam crimes comprovados.
(C) emitem juízos sobre os outros, mas não se veem na posição de acusados.
(D) apressam-se em opiniões superficiais, mesmo que possuam dados concretos.

4. (FUNDEP – 2014) As tipologias textuais são constructos teóricos inerentes aos gêneros, ou seja, lança-se mão dos tipos para a
produção dos gêneros diversos. Um professor, ao solicitar à turma a escrita das “regras de um jogo”, espera que os estudantes utilizem,
predominantemente, a tipologia
(A) descritiva, devido à presença de adjetivos e verbos de ligação.
(B) narrativa, devido à forte presença de verbos no passado.
(C) injuntiva, devido à presença dos verbos no imperativo.
(D) dissertativa, devido à presença das conjunções.

5. (ENEM 2010)
MOSTRE QUE SUA MEMÓRIA É MELHOR DO QUE A DE COMPUTADOR E GUARDE ESTA CONDIÇÃO: 12X SEM JUROS.
Revista Época. N° 424, 03 jul. 2006.
Ao circularem socialmente, os textos realizam-se como práticas de linguagem, assumindo funções específicas, formais e de conteúdo.
Considerando o contexto em que circula o texto publicitário, seu objetivo básico é
(A) definir regras de comportamento social pautadas no combate ao consumismo exagerado.
(B) influenciar o comportamento do leitor, por meio de apelos que visam à adesão ao consumo.
(C) defender a importância do conhecimento de informática pela população de baixo poder aquisitivo.
(D) facilitar o uso de equipamentos de informática pelas classes sociais economicamente desfavorecidas.
(E) questionar o fato de o homem ser mais inteligente que a máquina, mesmo a mais moderna.

6. (IBADE – 2020 adaptada)

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https://www.dicio.com.br/partilhar/ acesso em fevereiro de (C) Com a saúde de Fadinha comprometida, Remígio não con-
2020 seguia se recompôr e viver tranquilo.
(D) Com o triúnfo do bem sobre o mal, Fadinha se recuperou,
O texto apresentado é um verbete. Assinale a alternativa que Remígio resolveu pedí-la em casamento.
representa sua definição (E) Fadinha não tinha mágoa por não ser mais tão bela; agora,
interessava-lhe viver no paraíso com Remígio.
(A) é um tipo textual dissertativo-argumentativo, com o intuito
de persuadir o leitor. 11. (PUC-RJ) Aponte a opção em que as duas palavras são acen-
(B) é um tipo e gênero textual de caráter descritivo para de- tuadas devido à mesma regra:
talhar em adjetivos e advérbios o que é necessário entender. (A) saí – dói
(C) é um gênero textual de viés narrativo para contar em crono- (B) relógio – própria
logia obrigatória o enredo por meio de personagens. (C) só – sóis
(D) é um gênero textual de caráter informativo, que tem por in- (D) dá – custará
tuito explicar um conceito, mais comumente em um dicionário (E) até – pé
ou enciclopédia.
(E) é um tipo textual expositivo, típico em redações escolares. 12. (UEPG ADAPTADA) Sobre a acentuação gráfica das palavras
agradável, automóvel e possível, assinale o que for correto.
7. (INSTITUTO AOCP/2017 – EBSERH) Assinale a alternativa em (A) Em razão de a letra L no final das palavras transferir a tonici-
que todas as palavras estão adequadamente grafadas. dade para a última sílaba, é necessário que se marque graficamente
(A) Silhueta, entretenimento, autoestima. a sílaba tônica das paroxítonas terminadas em L, se isso não fosse
(B) Rítimo, silueta, cérebro, entretenimento. feito, poderiam ser lidas como palavras oxítonas.
(C) Altoestima, entreterimento, memorização, silhueta. (B) São acentuadas porque são proparoxítonas terminadas em L.
(D) Célebro, ansiedade, auto-estima, ritmo. (C) São acentuadas porque são oxítonas terminadas em L.
(E) Memorização, anciedade, cérebro, ritmo. (D) São acentuadas porque terminam em ditongo fonético – eu.
(E) São acentuadas porque são paroxítonas terminadas em L.
8. (ALTERNATIVE CONCURSOS/2016 – CÂMARA DE BANDEI-
RANTES-SC) Algumas palavras são usadas no nosso cotidiano de 13. (UNIFESP - 2015) Leia o seguinte texto:
forma incorreta, ou seja, estão em desacordo com a norma culta Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook?
padrão. Todas as alternativas abaixo apresentam palavras escritas Uma organização não governamental holandesa está propondo
erroneamente, exceto em: um desafio que muitos poderão considerar impossível: ficar 99 dias
(A) Na bandeija estavam as xícaras antigas da vovó. sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é medir o
(B) É um privilégio estar aqui hoje. grau de felicidade dos usuários longe da rede social.
(C) Fiz a sombrancelha no salão novo da cidade. O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológi-
(D) A criança estava com desinteria. cos realizados pelo próprio Facebook. A diferença neste caso é que
(E) O bebedoro da escola estava estragado. o teste é completamente voluntário. Ironicamente, para poder par-
ticipar, o usuário deve trocar a foto do perfil no Facebook e postar
9. (SEDUC/SP – 2018) Preencha as lacunas das frases abaixo um contador na rede social.
com “por que”, “porque”, “por quê” ou “porquê”. Depois, assinale a Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade
alternativa que apresenta a ordem correta, de cima para baixo, de dos participantes no 33º dia, no 66º e no último dia da abstinência.
classificação. Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam
“____________ o céu é azul?” em média 17 minutos por dia na rede social. Em 99 dias sem acesso,
“Meus pais chegaram atrasados, ____________ pegaram trân- a soma média seria equivalente a mais de 28 horas, 2que poderiam
sito pelo caminho.” ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.
“Gostaria muito de saber o ____________ de você ter faltado (http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)
ao nosso encontro.”
“A Alemanha é considerada uma das grandes potências mun- Após ler o texto acima, examine as passagens do primeiro pa-
diais. ____________?” rágrafo: “Uma organização não governamental holandesa está pro-
(A) Porque – porquê – por que – Por quê pondo um desafio” “O objetivo é medir o grau de felicidade dos
(B) Porque – porquê – por que – Por quê usuários longe da rede social.”
(C) Por que – porque – porquê – Por quê A utilização dos artigos destacados justifica-se em razão:
(D) Porquê – porque – por quê – Por que (A) da retomada de informações que podem ser facilmente de-
(E) Por que – porque – por quê – Porquê preendidas pelo contexto, sendo ambas equivalentes seman-
ticamente.
10. (VUNESP/2017 – TJ-SP) Assinale a alternativa em que todas (B) de informações conhecidas, nas duas ocorrências, sendo
as palavras estão corretamente grafadas, considerando-se as regras possível a troca dos artigos nos enunciados, pois isso não alte-
de acentuação da língua padrão. raria o sentido do texto.
(A) Remígio era homem de carater, o que surpreendeu D. Firmi- (C) da generalização, no primeiro caso, com a introdução de
na, que aceitou o matrimônio de sua filha. informação conhecida, e da especificação, no segundo, com
(B) O consôlo de Fadinha foi ver que Remígio queria desposa-la informação nova.
apesar de sua beleza ter ido embora depois da doença.

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LÍNGUA PORTUGUESA

(D) da introdução de uma informação nova, no primeiro caso, 17. (FCC – 2007) O emprego do elemento sublinhado compro-
e da retomada de uma informação já conhecida, no segundo. mete a coerência da frase:
(E) de informações novas, nas duas ocorrências, motivo pelo (A) Cada época tem os adolescentes que merece, pois estes são
qual são introduzidas de forma mais generalizada influenciados pelos valores socialmente dominantes.
(B) Os jovens perderam a capacidade de sonhar alto, por conse-
14. (UFMG-ADAPTADA) As expressões em negrito correspon- guinte alguns ainda resistem ao pragmatismo moderno.
dem a um adjetivo, exceto em: (C) Nos tempos modernos, sonhar faz muita falta ao adolescen-
(A) João Fanhoso anda amanhecendo sem entusiasmo. te, bem como alimentar a confiança em sua própria capacidade
(B) Demorava-se de propósito naquele complicado banho. criativa.
(C) Os bichos da terra fugiam em desabalada carreira. (D) A menos que se mudem alguns paradigmas culturais, as ge-
(D) Noite fechada sobre aqueles ermos perdidos da caatinga rações seguintes serão tão conformistas quanto a atual.
sem fim. (E) Há quem fique desanimado com os jovens de hoje, por-
(E) E ainda me vem com essa conversa de homem da roça. quanto parece faltar-lhes a capacidade de sonhar mais alto.

15. (UMESP) Na frase “As negociações estariam meio abertas 18. (UDESC – 2008) Identifique a ordem em que os períodos
só depois de meio período de trabalho”, as palavras destacadas são, devem aparecer, para que constituam um texto coeso e coerente.
respectivamente: (Texto de Marcelo Marthe: Tatuagem com bobagem. Veja, 05
(A) adjetivo, adjetivo mar. 2008, p. 86.)
(B) advérbio, advérbio I - Elas não são mais feitas em locais precários, e sim em gran-
(C) advérbio, adjetivo des estúdios onde há cuidado com a higiene.
(D) numeral, adjetivo II - As técnicas se refinaram: há mais cores disponíveis, os pig-
(E) numeral, advérbio mentos são de melhor qualidade e ferramentas como o laser tor-
naram bem mais simples apagar uma tatuagem que já não se quer
16. (ENEM – 2014) Há qualquer coisa de especial nisso de botar mais.
a cara na janela em crônica de jornal ‒ eu não fazia isso há muitos III - Vão longe, enfim, os tempos em que o conceito de tatua-
anos, enquanto me escondia em poesia e ficção. Crônica algumas gem se resumia à velha âncora de marinheiro.
vezes também é feita, intencionalmente, para provocar. Além do IV - Nos últimos dez ou quinze anos, fazer uma tatuagem dei-
mais, em certos dias mesmo o escritor mais escolado não está lá xou de ser símbolo de rebeldia de um estilo de vida marginal.
grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo para recla- Assinale a alternativa que contém a sequência correta, em que
mar: moderna demais, antiquada demais. os períodos devem aparecer.
(A) II, I, III, IV
Alguns discorrem sobre o assunto, e é gostoso compartilhar (B) IV, II, III, I
ideias. Há os textos que parecem passar despercebidos, outros ren- (C) IV, I, II, III
dem um montão de recados: “Você escreveu exatamente o que eu (D) III, I, IV, II
sinto”, “Isso é exatamente o que falo com meus pacientes”, “É isso (E) I, III, II, IV
que digo para meus pais”, “Comentei com minha namorada”. Os es-
tímulos são valiosos pra quem nesses tempos andava meio assim: é 19. (FUNRIO – 2012) “Todos querem que nós
como me botarem no colo ‒ também eu preciso. Na verdade, nunca ____________________.”
fui tão posta no colo por leitores como na janela do jornal. De modo
que está sendo ótima, essa brincadeira séria, com alguns textos que Apenas uma das alternativas completa coerente e adequada-
iam acabar neste livro, outros espalhados por aí. Porque eu levo a mente a frase acima. Assinale-a.
sério ser sério… mesmo quando parece que estou brincando: essa (A) desfilando pelas passarelas internacionais.
é uma das maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e (B) desista da ação contra aquele salafrário.
continua sendo a minha verdade: palavras são meu jeito mais se- (C) estejamos prontos em breve para o trabalho.
creto de calar. (D) recuperássemos a vaga de motorista da firma.
LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de janeiro: Record, 2004. (E) tentamos aquele emprego novamente.

Os textos fazem uso constante de recurso que permitem a ar- 20. (ITA - 1997) Assinale a opção que completa corretamente
ticulação entre suas partes. Quanto à construção do fragmento, o as lacunas do texto a seguir:
elemento “Todas as amigas estavam _______________ ansiosas
(A) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em _______________ ler os jornais, pois foram informadas de que as
crônica de jornal”. críticas foram ______________ indulgentes ______________ ra-
(B) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem no colo”. paz, o qual, embora tivesse mais aptidão _______________ ciên-
(C) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”. cias exatas, demonstrava uma certa propensão _______________
(D) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo para meus arte.”
pais”. (A) meio - para - bastante - para com o - para - para a
(E) “essa” recupera a informação anterior “janela do jornal”. (B) muito - em - bastante - com o - nas - em
(C) bastante - por - meias - ao - a - à
(D) meias - para - muito - pelo - em - por
(E) bem - por - meio - para o - pelas – na

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LÍNGUA PORTUGUESA

21. (Mackenzie) Há uma concordância inaceitável de acordo (D) Devemos ser fieis aos cumprimentos do dever.
com a gramática: (E) A cessão de terras compete ao Estado.
I - Os brasileiros somos todos eternos sonhadores.
II - Muito obrigadas! – disseram as moças. 26. (UEPB – 2010)
III - Sr. Deputado, V. Exa. Está enganada. Um debate sobre a diversidade na escola reuniu alguns, dos
IV - A pobre senhora ficou meio confusa. maiores nomes da educação mundial na atualidade.
V - São muito estudiosos os alunos e as alunas deste curso.
Carlos Alberto Torres
(A) em I e II 1
O tema da diversidade tem a ver com o tema identidade. Por-
(B) apenas em IV tanto, 2quando você discute diversidade, um tema que cabe muito no
(C) apenas em III 3
pensamento pós-modernista, está discutindo o tema da 4diversida-
(D) em II, III e IV de não só em ideias contrapostas, mas também em 5identidades que
(E) apenas em II se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E 6este é um processo
de aprendizagem. Uma segunda afirmação é 7que a diversidade está
22. (FUVEST – 2001) A única frase que NÃO apresenta desvio relacionada com a questão da educação 8e do poder. Se a diversidade
em relação à regência (nominal e verbal) recomendada pela norma fosse a simples descrição 9demográfica da realidade e a realidade fos-
culta é: se uma boa articulação 10dessa descrição demográfica em termos de
(A) O governador insistia em afirmar que o assunto principal constante articulação 11democrática, você não sentiria muito a pre-
seria “as grandes questões nacionais”, com o que discordavam sença do tema 12diversidade neste instante. Há o termo diversidade
líderes pefelistas. porque há 13uma diversidade que implica o uso e o abuso de poder,
(B) Enquanto Cuba monopolizava as atenções de um clube, do de uma 14perspectiva ética, religiosa, de raça, de classe.
qual nem sequer pediu para integrar, a situação dos outros pa- […]
íses passou despercebida.
(C) Em busca da realização pessoal, profissionais escolhem a Rosa Maria Torres
dedo aonde trabalhar, priorizando à empresas com atuação 15
O tema da diversidade, como tantos outros, hoje em dia, abre
social. 16
muitas versões possíveis de projeto educativo e de projeto 17po-
(D) Uma família de sem-teto descobriu um sofá deixado por um lítico e social. É uma bandeira pela qual temos que reivindicar, 18e
morador não muito consciente com a limpeza da cidade. pela qual temos reivindicado há muitos anos, a necessidade 19de
(E) O roteiro do filme oferece uma versão de como consegui- reconhecer que há distinções, grupos, valores distintos, e 20que a
mos um dia preferir a estrada à casa, a paixão e o sonho à regra, escola deve adequar-se às necessidades de cada grupo. 21Porém, o
a aventura à repetição. tema da diversidade também pode dar lugar a uma 22série de coisas
indesejadas.
23. (FUVEST) Assinale a alternativa que preenche corretamente […]
as lacunas correspondentes. Adaptado da Revista Pátio, Diversidade na educação: limites e
A arma ___ se feriu desapareceu. possibilidades. Ano V, nº 20, fev./abr. 2002, p. 29.
Estas são as pessoas ___ lhe falei.
Aqui está a foto ___ me referi. Do enunciado “O tema da diversidade tem a ver com o tema
Encontrei um amigo de infância ___ nome não me lembrava. identidade.” (ref. 1), pode-se inferir que
Passamos por uma fazenda ___ se criam búfalos. I – “Diversidade e identidade” fazem parte do mesmo campo
semântico, sendo a palavra “identidade” considerada um hiperôni-
(A) que, de que, à que, cujo, que. mo, em relação à “diversidade”.
(B) com que, que, a que, cujo qual, onde. II – há uma relação de intercomplementariedade entre “diversi-
(C) com que, das quais, a que, de cujo, onde. dade e identidade”, em função do efeito de sentido que se instaura
(D) com a qual, de que, que, do qual, onde. no paradigma argumentativo do enunciado.
(E) que, cujas, as quais, do cujo, na cuja. III – a expressão “tem a ver” pode ser considerada de uso co-
loquial e indica nesse contexto um vínculo temático entre “diversi-
24. (FESP) Observe a regência verbal e assinale a opção falsa: dade e identidade”.
(A) Avisaram-no que chegaríamos logo.
(B) Informei-lhe a nota obtida. Marque a alternativa abaixo que apresenta a(s) proposi-
(C) Os motoristas irresponsáveis, em geral, não obedecem aos ção(ões) verdadeira(s).
sinais de trânsito. (A) I, apenas
(D) Há bastante tempo que assistimos em São Paulo.   (B) II e III
(E) Muita gordura não implica saúde. (C) III, apenas
(D) II, apenas
25. (FMPA – MG) (E) I e II
Assinale o item em que a palavra destacada está incorretamen-
te aplicada:
(A) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes.
(B) A justiça infligiu pena merecida aos desordeiros.
(C) Promoveram uma festa beneficiente para a creche.

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27. (UNIFOR CE – 2006) 31. (IABAS – FARMACÊUTICO - IBADE - 2019)


Dia desses, por alguns momentos, a cidade parou. As televi-
sões hipnotizaram os espectadores que assistiram, sem piscar, ao Infestação de escorpiões no Brasil pode ser imparável
resgate de uma mãe e de uma filha. Seu automóvel caíra em um
rio. Assisti ao evento em um local público. Ao acabar o noticiário, o A infestação de escorpião no Brasil é o exemplo perfeito de
silêncio em volta do aparelho se desfez e as pessoas retomaram as como a vida moderna se tornou imprevisível. É uma característica
suas ocupações habituais. Os celulares recomeçaram a tocar. Per- do que, no complexo campo de problemas, chamamos de um mun-
guntei-me: indiferença? Se tomarmos a definição ao pé da letra, do “VUCA” (Volatility, uncertainty, complexity and ambiguity em in-
indiferença é sinônimo de desdém, de insensibilidade, de apatia e glês) - um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo.
de negligência. Mas podemos considerá-la também uma forma de Escorpiões, como as baratas que eles comem, são um a espécie
ceticismo e desinteresse, um “estado físico que não apresenta nada incrivelmente adaptável. O número de pessoas picadas em todo o
de particular”; enfim, explica o Aurélio, uma atitude de neutralida- Brasil aumentou de 12 mil em 2000 para 140 mil no ano passado,
de. de acordo com o Ministério da Saúde. A espécie que aterroriza os
Conclusão? Impassíveis diante da emoção, imperturbáveis brasileiros é o perigoso escorpião amarelo, ou Tityus serrulatus. Ele
diante da paixão, imunes à angústia, vamos hoje burilando nossa se reproduz por meio do milagre da partenogênese, significando
indiferença. Não nos indignamos mais! À distância de tudo, segui- que um escorpião feminino simplesmente gera cópias de si mesma
mos surdos ao barulho do mundo lá fora. Dos movimentos de mas- duas vezes por ano - nenhuma participação masculina é necessária.
sa “quentes” (lembram-se do “Diretas Já”?) onde nos fundíamos na A infestação do escorpião urbano no Brasil é um clássico “pro-
igualdade, passamos aos gestos frios, nos quais indiferença e dis- blema perverso”. Este termo, usado pela primeira vez em 1973, re-
tância são fenômenos inseparáveis. Neles, apesar de iguais, somos fere-se a enormes problemas sociais ou culturais como pobreza e
estrangeiros ao destino de nossos semelhantes. […] guerra - sem solução simples ou definitiva, e que surgem na interse-
(Mary Del Priore. Histórias do cotidiano. São Paulo: Contexto, ção de outros problemas. Nesse caso, a infestação do escorpião ur-
2001. p.68) bano no Brasil é o resultado de uma gestão inadequada do lixo, sa-
neamento inapropriado, urbanização rápida e mudanças climáticas.
Dentre todos os sinônimos apresentados no texto para o vo- No VUCA, quanto mais recursos você der para os problemas,
cábulo indiferença, o que melhor se aplica a ele, considerando-se melhor. Isso pode significar tudo, desde campanhas de conscien-
o contexto, é tização pública que educam brasileiros sobre escorpiões até for-
(A) ceticismo. ças-tarefa exterminadoras que trabalham para controlar sua popu-
(B) desdém. lação em áreas urbanas. Os cientistas devem estar envolvidos. O
(C) apatia. sistema nacional de saúde pública do Brasil precisará se adaptar a
(D) desinteresse. essa nova ameaça.
(E) negligência. Apesar da obstinada cobertura da imprensa, as autoridades
federais de saúde mal falaram publicamente sobre o problema do
28. (CESGRANRIO - RJ) As palavras esquartejar, desculpa e irre- escorpião urbano no Brasil. E, além de alguns esforços mornos em
conhecível foram formadas, respectivamente, pelos processos de: nível nacional e estadual para treinar profissionais de saúde sobre o
(A) sufixação - prefixação – parassíntese risco de escorpião, as autoridades parecem não ter nenhum plano
(B) sufixação - derivação regressiva – prefixação para combater a infestação no nível epidêmico para o qual ela está
(C) composição por aglutinação - prefixação – sufixação se dirigindo.
(D) parassíntese - derivação regressiva – prefixação Temo que os escorpiões amarelos venenosos tenham reivindi-
(E) parassíntese - derivação imprópria - parassíntese cado seu lugar ao lado de crimes violentos, tráfico brutal e outros
problemas crônicos com os quais os urbanitas no Brasil precisam
29. (UFSC) Aponte a alternativa cujas palavras são respectiva- lidar diariamente.
mente formadas por justaposição, aglutinação e parassíntese: * Hamilton Coimbra Carvalho é pesquisador em Problemas So-
(A) varapau - girassol - enfaixar ciais Complexos, na Universidade de São Paulo (USP).
(B) pontapé - anoitecer - ajoelhar
(C) maldizer - petróleo - embora Texto adaptado de Revista Galileu
(D) vaivém - pontiagudo - enfurece (https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/MeioAmbiente/noti-
(E) penugem - plenilúnio - despedaça cia/2019/02/infestacao-de-escorpioes-no-brasilpode-ser-imparavel-di-
z-pesquisador.html)
30. (CESGRANRIO) Assinale a opção em que nem todas as pala- Observe a oração destacada:
vras são de um mesmo radical:
(A) noite, anoitecer, noitada “A infestação do escorpião urbano no Brasil é um clássico “pro-
(B) luz, luzeiro, alumiar blema perverso.”
(C) incrível, crente, crer
(D) festa, festeiro, festejar Sobre seus termos, é correto afirmar que:
(E) riqueza, ricaço, enriquecer (A) escorpião é núcleo do sujeito.
(B) urbano é predicativo do objeto.
(C) perverso é núcleo do sujeito.
(D) clássico é núcleo do predicativo do objeto.
(E) problema é núcleo do predicativo do sujeito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

32. (SEAP-GO - AGENTE DE SEGURANÇA PRISIONAL - IADES - Em “como se se fosse afundando, num prazer grosso que nem
2019) azeite”, é correto afirmar que:
(A) o termo “que” é um pronome relativo e funciona como su-
jeito.
(B) em “como SE SE fosse afundando”, têm-se, respectivamen-
te, uma conjunção subordinativa de natureza condicional e
uma partícula integrante do verbo.
(C) a expressão “que nem” é uma locução conjuntiva coorde-
nativa aditiva.
(D) em “como se se fosse afundando”, o primeiro “se” é par-
tícula apassivadora, enquanto o segundo “se” é um pronome
clítico.
(E) o termo “num” é uma combinação, entre a preposição “em”
e o artigo definido “um”, que apresenta caráter informal na lín-
gua portuguesa.
COYLE, A. Administração penitenciária: uma abordagem de direitos
humanos. Manual para servidores penitenciários. Brasília: Ministé- 34. (Prefeitura de Piracicaba - SP - Professor - Educação Infantil
rio da Justiça, 2002, p. 21. - VUNESP - 2020)

Com base nas relações morfossintáticas estabelecidas pelo au- Escola inclusiva
tor no primeiro período, assinale a alternativa correta.
(A) Na linha 1, a conjunção “Quando” relaciona orações coor- É alvissareira a constatação de que 86% dos brasileiros
denadas entre si. concordam que há melhora nas escolas quando se incluem alunos
(B) Os termos “em prisões” (linha 1) e “seu aspecto físico” (li- com deficiência.
nha 2) funcionam como complementos verbais e classificam- Uma década atrás, quando o país aderiu à Convenção sobre
-se, respectivamente, como objeto indireto e objeto direto. os Direitos das Pessoas com Deficiência e assumiu o dever de uma
(C) As formas verbais “pensam” (linha 1) e “tendem a conside- educação inclusiva, era comum ouvir previsões negativas para tal
rar” (linhas 1 e 2) referem-se ao mesmo sujeito sintático: “as perspectiva generosa. Apesar das dificuldades óbvias, ela se tornou
pessoas” (linha 1). lei em 2015 e criou raízes no tecido social.
(D) Na linha 1, a exclusão do pronome “elas” alteraria a estru- A rede pública carece de profissionais satisfatoriamente qualifi-
tura do período, pois o predicado da segunda oração passaria a cados até para o mais básico, como o ensino de ciências; o que dizer
se referir a um sujeito indeterminado. então de alunos com gama tão variada de dificuldades.
(E) Na linha 2, o adjetivo “físico” completa o sentido do subs- Os empecilhos vão desde o acesso físico à escola, como o en-
tantivo “aspecto”, por isso desempenha a função de comple- frentado por cadeirantes, a problemas de aprendizado criados por
mento nominal. limitações sensoriais – surdez, por exemplo – e intelectuais.
Bastaram alguns anos de convívio em sala, entretanto, para
33. (IF-RO - ENGENHEIRO CIVIL - IBADE - 2019) minorar preconceitos. A maioria dos entrevistados (59%), hoje, dis-
corda de que crianças com deficiência devam aprender só na com-
“Viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, sur- panhia de colegas na mesma condição.
gir de ombros e braços nus, para dançar. A Lua destoldara-se nesse Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar
momento, envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir os com pessoal capacitado, em cada estabelecimento, para lidar com
meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios de uma graça necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2
irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, milhão de alunos assim categorizados. Embora tenha triplicado o
com muito de serpente e muito de mulher. número de professores com alguma formação em educação espe-
Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebo- cial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país.
lando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, Não se concebe que possa haver um especialista em cada sala de
ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num re- aula.
quebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma es-
empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como trutura para o atendimento inclusivo, as salas de recursos. Aí, ao
se se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno
se não toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se voltas- e sua família para definir atividades e de auxiliar os docentes do
se à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar período regular nas técnicas pedagógicas.
e vergando as pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Compe-
quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, te ao Estado disseminar essas iniciativas exitosas por seus estabele-
erguendo e abaixando os braços, que dobrava, ora um, ora outro, cimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a segregar
sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra, tiri- em salas especiais os estudantes com deficiência – que não se con-
lando.” funde com incapacidade, como felizmente já vamos aprendendo.
O cortiço, Aluísio de Azevedo. (Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos
pronome em relação ao verbo, conforme indicado nos parênteses, nos trechos a seguir.
a redação permanece em conformidade com a norma-padrão de I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa: “E
colocação dos pronomes. não se contenta em brindar os mares, rios e lagoas com seus pró-
(A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com prios dejetos.”
deficiência. (incluem-se) II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por verbo:
(B) ... em educação especial inclusiva, contam-se não muito “Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computadores,
mais que 100 mil deles no país. (se contam) sofás e até carcaças de automóveis.”
(C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada III – A próclise é sempre empregada quando há locução verbal:
sala de aula. (concebe-se) “Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem se
(D) Aí, ao menos um profissional preparado se encarrega de tornar as salamandras de Čapek.”
receber o aluno... (encarrega-se) IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser hu-
(E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmente mano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e pro-
já vamos aprendendo. (confunde-se) duzir um ‘Dom Quixote’”.

35. (Prefeitura de Caranaíba - MG - Agente Comunitário de Saú- Está correto apenas o que se afirma em
de - FCM - 2019) (A) I e II.
(B) I e III.
Dieta salvadora (C) II e IV.
A ciência descobre um micróbio adepto de um (D) III e IV.
alimento abundante: o lixo plástico no mar.
GABARITO
O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o
câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue dar um des-
tino razoável ao lixo que produz. E não se contenta em brindar os 1 D
mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos. Intoxica-os também
com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até carcaças 2 E
de automóveis. Tudo que perde o uso é atirado num curso d’água, 3 C
subterrâneo ou a céu aberto, que se encaminha inevitavelmente
4 C
para o mar. O resultado está nas ilhas de lixo que se formam, da
Guanabara ao Pacífico. 5 B
De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça, Itália, 6 D
China e dos Emirados Árabes descobriram em duas ilhas gregas um
micróbio marinho que se alimenta do carbono contido no plástico 7 A
jogado ao mar. Parece que, depois de algum tempo ao sol e atacado 8 B
pelo sal, o plástico, seja mole, como o das sacolas, ou duro, como o 9 C
das embalagens, fica quebradiço – no ponto para que os micróbios,
de guardanapo ao pescoço, o decomponham e façam a festa. Os 10 E
cientistas estão agora criando réplicas desses micróbios, para que 11 B
eles ajudem os micróbios nativos a devorar o lixo. Haja estômago.
12 E
Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco
Karel Čapek (pronuncia-se tchá-pek), um explorador descobre na 13 D
costa de Sumatra uma raça de lagartos gigantes, hábeis em colher 14 B
pérolas e construir diques submarinos. Em troca das pérolas que as
salamandras lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defende- 15 B
rem dos tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se re- 16 A
produzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a falar 17 A
e inundam os continentes. São agora bilhões e tomam o mundo.
Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem 18 C
se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as salamandras 19 C
aprendem a gerir o mundo melhor do que nós. Com os micróbios
20 A
no comando, nossos mares, pelo menos, estarão a salvo.
Ruy Castro, jornalista, biógrafo e escritor brasileiro. Folha de S. 21 C
Paulo. Caderno Opinião, p. A2, 20 mai. 2019. 22 E

Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo, 23 C


possuem três posições: próclise (antes do verbo), mesóclise (no 24 A
meio do verbo) e ênclise (depois do verbo). 25 C

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LÍNGUA PORTUGUESA

26 B ______________________________________________________

27 D ______________________________________________________
28 D
______________________________________________________
29 D
______________________________________________________
30 B
31 E ______________________________________________________
32 B
______________________________________________________
33 B
______________________________________________________
34 D
35 A ______________________________________________________

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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52
MATEMÁTICA

CONJUNTOS; PROBLEMAS E SISTEMAS

Conjunto dos números inteiros - z


O conjunto dos números inteiros é a reunião do conjunto dos números naturais N = {0, 1, 2, 3, 4,..., n,...},(N C Z); o conjunto dos opos-
tos dos números naturais e o zero. Representamos pela letra Z.

N C Z (N está contido em Z)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Z* Conjunto dos números inteiros não nulos
+ Z+ Conjunto dos números inteiros não negativos
*e+ Z*+ Conjunto dos números inteiros positivos
- Z_ Conjunto dos números inteiros não positivos
*e- Z*_ Conjunto dos números inteiros negativos

Observamos nos números inteiros algumas características:


• Módulo: distância ou afastamento desse número até o zero, na reta numérica inteira. Representa-se o módulo por | |. O módulo de
qualquer número inteiro, diferente de zero, é sempre positivo.
• Números Opostos: dois números são opostos quando sua soma é zero. Isto significa que eles estão a mesma distância da origem
(zero).

Somando-se temos: (+4) + (-4) = (-4) + (+4) = 0

53
MATEMÁTICA

Operações Na multiplicação e divisão de números inteiros é muito impor-


• Soma ou Adição: Associamos aos números inteiros positivos tante a REGRA DE SINAIS:
a ideia de ganhar e aos números inteiros negativos a ideia de perder.
Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo.
ATENÇÃO: O sinal (+) antes do número positivo pode ser dis-
pensado, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre
ser dispensado. negativo.

• Subtração: empregamos quando precisamos tirar uma quan- Exemplo:


tidade de outra quantidade; temos duas quantidades e queremos (PREF.DE NITERÓI) Um estudante empilhou seus livros, obten-
saber quanto uma delas tem a mais que a outra; temos duas quan- do uma única pilha 52cm de altura. Sabendo que 8 desses livros
tidades e queremos saber quanto falta a uma delas para atingir a possui uma espessura de 2cm, e que os livros restantes possuem
outra. A subtração é a operação inversa da adição. O sinal sempre espessura de 3cm, o número de livros na pilha é:
será do maior número. (A) 10
(B) 15
ATENÇÃO: todos parênteses, colchetes, chaves, números, ..., (C) 18
entre outros, precedidos de sinal negativo, tem o seu sinal inverti- (D) 20
do, ou seja, é dado o seu oposto. (E) 22
Exemplo:
(FUNDAÇÃO CASA – AGENTE EDUCACIONAL – VUNESP) Para Resolução:
zelar pelos jovens internados e orientá-los a respeito do uso ade- São 8 livros de 2 cm: 8.2 = 16 cm
quado dos materiais em geral e dos recursos utilizados em ativida- Como eu tenho 52 cm ao todo e os demais livros tem 3 cm,
des educativas, bem como da preservação predial, realizou-se uma temos:
dinâmica elencando “atitudes positivas” e “atitudes negativas”, no 52 - 16 = 36 cm de altura de livros de 3 cm
entendimento dos elementos do grupo. Solicitou-se que cada um 36 : 3 = 12 livros de 3 cm
classificasse suas atitudes como positiva ou negativa, atribuindo O total de livros da pilha: 8 + 12 = 20 livros ao todo.
(+4) pontos a cada atitude positiva e (-1) a cada atitude negativa. Resposta: D
Se um jovem classificou como positiva apenas 20 das 50 atitudes
anotadas, o total de pontos atribuídos foi • Potenciação: A potência an do número inteiro a, é definida
(A) 50. como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado a
(B) 45. base e o número n é o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é multi-
(C) 42. plicado por a n vezes. Tenha em mente que:
(D) 36. – Toda potência de base positiva é um número inteiro positivo.
(E) 32. – Toda potência de base negativa e expoente par é um número
inteiro positivo.
Resolução: – Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um nú-
50-20=30 atitudes negativas mero inteiro negativo.
20.4=80
30.(-1)=-30 Propriedades da Potenciação
80-30=50 1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se a base
Resposta: A e somam-se os expoentes. (–a)3 . (–a)6 = (–a)3+6 = (–a)9
2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-se a
• Multiplicação: é uma adição de números/ fatores repetidos. base e subtraem-se os expoentes. (-a)8 : (-a)6 = (-a)8 – 6 = (-a)2
Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser indicado 3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam-se
por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as letras. os expoentes. [(-a)5]2 = (-a)5 . 2 = (-a)10
4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (-a)1 = -a e
• Divisão: a divisão exata de um número inteiro por outro nú- (+a) = +a
1

mero inteiro, diferente de zero, dividimos o módulo do dividendo 5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É igual
pelo módulo do divisor. a 1. (+a)0 = 1 e (–b)0 = 1

ATENÇÃO: Conjunto dos números racionais – Q


1) No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa m
e não tem a propriedade da existência do elemento neutro. Um número racional é o que pode ser escrito na forma n ,
2) Não existe divisão por zero. onde m e n são números inteiros, sendo que n deve ser diferente
3) Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de zero, de zero. Frequentemente usamos m/n para significar a divisão de
é zero, pois o produto de qualquer número inteiro por zero é igual m por n.
a zero.

54
MATEMÁTICA

N C Z C Q (N está contido em Z que está contido em Q)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


Conjunto dos números
* Q*
racionais não nulos
Conjunto dos números
+ Q+
racionais não negativos
Conjunto dos números
*e+ Q*+
racionais positivos
Conjunto dos números
- Q_
racionais não positivos
Conjunto dos números
*e- Q*_
racionais negativos

Representação decimal
Podemos representar um número racional, escrito na forma de fração, em número decimal. Para isso temos duas maneiras possíveis:
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um número finito de algarismos. Decimais Exatos:

2
= 0,4
5
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente Decimais
Periódicos ou Dízimas Periódicas:
1
= 0,333...
3
Representação Fracionária
É a operação inversa da anterior. Aqui temos duas maneiras possíveis:

1) Transformando o número decimal em uma fração numerador é o número decimal sem a vírgula e o denominador é composto pelo
numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas decimais do número decimal dado. Ex.:
0,035 = 35/1000

2) Através da fração geratriz. Aí temos o caso das dízimas periódicas que podem ser simples ou compostas.
– Simples: o seu período é composto por um mesmo número ou conjunto de números que se repeti infinitamente. Exemplos:

55
MATEMÁTICA

Procedimento: para transformarmos uma dízima periódica simples em fração basta utilizarmos o dígito 9 no denominador para cada
quantos dígitos tiver o período da dízima.

– Composta: quando a mesma apresenta um ante período que não se repete.

a)

Procedimento: para cada algarismo do período ainda se coloca um algarismo 9 no denominador. Mas, agora, para cada algarismo do
antiperíodo se coloca um algarismo zero, também no denominador.

b)

Procedimento: é o mesmo aplicado ao item “a”, acrescido na frente da parte inteira (fração mista), ao qual transformamos e obtemos
a fração geratriz.

Exemplo:
(PREF. NITERÓI) Simplificando a expressão abaixo

Obtém-se :

(A) ½
(B) 1
(C) 3/2
(D) 2
(E) 3

56
MATEMÁTICA

Resolução: ATENÇÃO: Na adição/subtração se o denominador for igual,


conserva-se os denominadores e efetua-se a operação apresen-
tada.

Exemplo:
(PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERACIONAIS
– MAKIYAMA) Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua
portuguesa como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática como
favorita e os demais têm ciências como favorita. Sendo assim, qual
fração representa os alunos que têm ciências como disciplina favo-
Resposta: B rita?
(A) 1/4
Caraterísticas dos números racionais (B) 3/10
O módulo e o número oposto são as mesmas dos números in- (C) 2/9
teiros. (D) 4/5
(E) 3/2
Inverso: dado um número racional a/b o inverso desse número
(a/b)–n, é a fração onde o numerador vira denominador e o denomi- Resolução:
nador numerador (b/a)n. Somando português e matemática:

O que resta gosta de ciências:

Representação geométrica

Resposta: B

• Multiplicação: como todo número racional é uma fração ou


pode ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
dois números racionais a e c , da mesma forma que o produto de
b d
Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem infini- frações, através de:
tos números racionais.

Operações
• Soma ou adição: como todo número racional é uma fração
ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição
entre os números racionais a e c , da mesma forma que a soma
b d
de frações, através de: • Divisão: a divisão de dois números racionais p e q é a própria
operação de multiplicação do número p pelo inverso de q, isto é: p
÷ q = p × q-1

• Subtração: a subtração de dois números racionais p e q é a


própria operação de adição do número p com o oposto de q, isto é:
p – q = p + (–q)

57
MATEMÁTICA

Exemplo: C) Toda potência com expoente par é um número positivo.


(PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB) Numa operação
policial de rotina, que abordou 800 pessoas, verificou-se que 3/4
dessas pessoas eram homens e 1/5 deles foram detidos. Já entre as
mulheres abordadas, 1/8 foram detidas.
Qual o total de pessoas detidas nessa operação policial?
(A) 145
(B) 185
(C) 220
(D) 260 Expressões numéricas
(E) 120 São todas sentenças matemáticas formadas por números, suas
operações (adições, subtrações, multiplicações, divisões, potencia-
Resolução: ções e radiciações) e também por símbolos chamados de sinais de
associação, que podem aparecer em uma única expressão.

Procedimentos
1) Operações:
- Resolvermos primeiros as potenciações e/ou radiciações na
ordem que aparecem;
- Depois as multiplicações e/ou divisões;
- Por último as adições e/ou subtrações na ordem que aparecem.

2) Símbolos:
- Primeiro, resolvemos os parênteses ( ), até acabarem os cál-
culos dentro dos parênteses,
-Depois os colchetes [ ];
- E por último as chaves { }.

ATENÇÃO:
Resposta: A – Quando o sinal de adição (+) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
• Potenciação: é válido as propriedades aplicadas aos núme- chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
ros inteiros. Aqui destacaremos apenas as que se aplicam aos nú- com os seus sinais originais.
meros racionais. – Quando o sinal de subtração (-) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
A) Toda potência com expoente negativo de um número ra- chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
cional diferente de zero é igual a outra potência que tem a base com os seus sinais invertidos.
igual ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do
expoente anterior. Exemplo:
(MANAUSPREV – ANALISTA PREVIDENCIÁRIO – ADMINISTRATI-
VA – FCC) Considere as expressões numéricas, abaixo.
A = 1/2 + 1/4+ 1/8 + 1/16 + 1/32 e
B = 1/3 + 1/9 + 1/27 + 1/81 + 1/243

O valor, aproximado, da soma entre A e B é


(A) 2
(B) 3
B) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal da (C) 1
base. (D) 2,5
(E) 1,5

58
MATEMÁTICA

Resolução:
Vamos resolver cada expressão separadamente:

Resposta: E

Múltiplos
Dizemos que um número é múltiplo de outro quando o primei-
(Fonte: https://www.guiadamatematica.com.br/criterios-de-divisi-
ro é resultado da multiplicação entre o segundo e algum número
bilidade/ - reeditado)
natural e o segundo, nesse caso, é divisor do primeiro. O que sig-
Vale ressaltar a divisibilidade por 7: Um número é
nifica que existem dois números, x e y, tal que x é múltiplo de y se
divisível por 7 quando o último algarismo do número,
existir algum número natural n tal que:
multiplicado por 2, subtraído do número sem o algaris-
x = y·n
mo, resulta em um número múltiplo de 7. Neste, o pro-
cesso será repetido a fim de diminuir a quantidade de
Se esse número existir, podemos dizer que y é um divisor de x e
algarismos a serem analisados quanto à divisibilidade por
podemos escrever: x = n/y
7.
Observações:
Outros critérios
1) Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 quando é
2) Todo número natural é múltiplo de 1.
divisível por 3 e por 4 ao mesmo tempo.
3) Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos múltiplos.
Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 quando é
4) O zero é múltiplo de qualquer número natural.
divisível por 3 e por 5 ao mesmo tempo.
5) Os múltiplos do número 2 são chamados de números pares,
e a fórmula geral desses números é 2k (k ∈ N). Os demais são
Fatoração numérica
chamados de números ímpares, e a fórmula geral desses números
Trata-se de decompor o número em fatores primos. Para de-
é 2k + 1 (k ∈ N).
compormos este número natural em fatores primos, dividimos o
6) O mesmo se aplica para os números inteiros, tendo k ∈ Z.
mesmo pelo seu menor divisor primo, após pegamos o quociente
e dividimos o pelo seu menor divisor, e assim sucessivamente até
Critérios de divisibilidade
obtermos o quociente 1. O produto de todos os fatores primos re-
São regras práticas que nos possibilitam dizer se um número é ou
presenta o número fatorado. Exemplo:
não divisível por outro, sem que seja necessário efetuarmos a divisão.
No quadro abaixo temos um resumo de alguns dos critérios:

59
MATEMÁTICA

Exemplo:
Divisores MDC (18,24,42) =
Os divisores de um número n, é o conjunto formado por todos
os números que o dividem exatamente. Tomemos como exemplo o
número 12.

Um método para descobrimos os divisores é através da fato-


ração numérica. O número de divisores naturais é igual ao produto
dos expoentes dos fatores primos acrescidos de 1.
Logo o número de divisores de 12 são: Observe que os fatores comuns entre eles são: 2 e 3, então
pegamos os de menores expoentes: 2x3 = 6. Logo o Máximo Divisor
Comum entre 18,24 e 42 é 6.

Mínimo múltiplo comum (MMC)


É o menor número positivo que é múltiplo comum de todos
os números dados. A técnica para acharmos é a mesma do MDC,
apenas com a seguinte ressalva:
Para sabermos quais são esses 6 divisores basta pegarmos cada O MMC é o produto dos FATORES COMUNS E NÃO-COMUNS,
fator da decomposição e seu respectivo expoente natural que varia cada um deles elevado ao SEU MAIOR EXPOENTE.
de zero até o expoente com o qual o fator se apresenta na decom- Pegando o exemplo anterior, teríamos:
posição do número natural. MMC (18,24,42) =
12 = 22 . 31 = Fatores comuns e não-comuns= 2,3 e 7
22 = 20,21 e 22 ; 31 = 30 e 31, teremos: Com maiores expoentes: 2³x3²x7 = 8x9x7 = 504. Logo o Mínimo
20 . 30=1 Múltiplo Comum entre 18,24 e 42 é 504.
20 . 31=3
21 . 30=2 Temos ainda que o produto do MDC e MMC é dado por: MDC
21 . 31=2.3=6 (A,B). MMC (A,B)= A.B
22 . 31=4.3=12
22 . 30=4 Os cálculos desse tipo de problemas, envolvem adições e sub-
trações, posteriormente as multiplicações e divisões. Depois os pro-
O conjunto de divisores de 12 são: D (12)={1, 2, 3, 4, 6, 12} blemas são resolvidos com a utilização dos fundamentos algébricos,
A soma dos divisores é dada por: 1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 12 = 28 isto é, criamos equações matemáticas com valores desconhecidos
(letras). Observe algumas situações que podem ser descritas com
Máximo divisor comum (MDC) utilização da álgebra.
É o maior número que é divisor comum de todos os números É bom ter mente algumas situações que podemos encontrar:
dados. Para o cálculo do MDC usamos a decomposição em fatores
primos. Procedemos da seguinte maneira:
Após decompor em fatores primos, o MDC é o produto dos FA-
TORES COMUNS obtidos, cada um deles elevado ao seu MENOR
EXPOENTE.

Exemplos:
(PREF. GUARUJÁ/SP – SEDUC – PROFESSOR DE MATEMÁTICA –
CAIPIMES) Sobre 4 amigos, sabe-se que Clodoaldo é 5 centímetros
mais alto que Mônica e 10 centímetros mais baixo que Andreia. Sa-
be-se também que Andreia é 3 centímetros mais alta que Doralice e
que Doralice não é mais baixa que Clodoaldo. Se Doralice tem 1,70
metros, então é verdade que Mônica tem, de altura:
(A) 1,52 metros.

60
MATEMÁTICA

(B) 1,58 metros. Substituindo a equação ( I ) na equação ( II ), temos:


(C) 1,54 metros. 7.Q = 2. (360 – Q)
(D) 1,56 metros. 7.Q = 720 – 2.Q
7.Q + 2.Q = 720
Resolução: 9.Q = 720
Escrevendo em forma de equações, temos: Q = 720 / 9
C = M + 0,05 ( I ) Q = 80 (queimadas)
C = A – 0,10 ( II ) Como 10 lâmpadas boas quebraram, temos:
A = D + 0,03 ( III ) Q’ = 80 + 10 = 90 e B’ = 360 – 90 = 270
D não é mais baixa que C
Se D = 1,70 , então:
( III ) A = 1,70 + 0,03 = 1,73
( II ) C = 1,73 – 0,10 = 1,63
( I ) 1,63 = M + 0,05 Resposta: B
M = 1,63 – 0,05 = 1,58 m
Resposta: B Fração é todo número que pode ser escrito da seguinte forma
a/b, com b≠0. Sendo a o numerador e b o denominador. Uma fra-
(CEFET – AUXILIAR EM ADMINISTRAÇÃO – CESGRANRIO) Em ção é uma divisão em partes iguais. Observe a figura:
três meses, Fernando depositou, ao todo, R$ 1.176,00 em sua ca-
derneta de poupança. Se, no segundo mês, ele depositou R$ 126,00
a mais do que no primeiro e, no terceiro mês, R$ 48,00 a menos do
que no segundo, qual foi o valor depositado no segundo mês?
(A) R$ 498,00
(B) R$ 450,00
(C) R$ 402,00
(D) R$ 334,00 O numerador indica quantas partes tomamos do total que foi
(E) R$ 324,00 dividida a unidade.
O denominador indica quantas partes iguais foi dividida a uni-
Resolução: dade.
Primeiro mês = x Lê-se: um quarto.
Segundo mês = x + 126
Terceiro mês = x + 126 – 48 = x + 78 Atenção:
Total = x + x + 126 + x + 78 = 1176 • Frações com denominadores de 1 a 10: meios, terços, quar-
3.x = 1176 – 204 tos, quintos, sextos, sétimos, oitavos, nonos e décimos.
x = 972 / 3 • Frações com denominadores potências de 10: décimos, cen-
x = R$ 324,00 (1º mês) tésimos, milésimos, décimos de milésimos, centésimos de milési-
* No 2º mês: 324 + 126 = R$ 450,00 mos etc.
Resposta: B • Denominadores diferentes dos citados anteriormente:
Enuncia-se o numerador e, em seguida, o denominador seguido da
(PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO/SP – AGENTE palavra “avos”.
DE ADMINISTRAÇÃO – VUNESP) Uma loja de materiais elétricos
testou um lote com 360 lâmpadas e constatou que a razão entre o Tipos de frações
número de lâmpadas queimadas e o número de lâmpadas boas era – Frações Próprias: Numerador é menor que o denominador.
2 / 7. Sabendo-se que, acidentalmente, 10 lâmpadas boas quebra- Ex.: 7/15
ram e que lâmpadas queimadas ou quebradas não podem ser ven- – Frações Impróprias: Numerador é maior ou igual ao denomi-
didas, então a razão entre o número de lâmpadas que não podem nador. Ex.: 6/7
ser vendidas e o número de lâmpadas boas passou a ser de – Frações aparentes: Numerador é múltiplo do denominador.
(A) 1 / 4. As mesmas pertencem também ao grupo das frações impróprias.
(B) 1 / 3. Ex.: 6/3
(C) 2 / 5. – Frações mistas: Números compostos de uma parte inteira e
(D) 1 / 2. outra fracionária. Podemos transformar uma fração imprópria na
(E) 2 / 3. forma mista e vice e versa. Ex.: 1 1/12 (um inteiro e um doze avos)
– Frações equivalentes: Duas ou mais frações que apresentam
Resolução: a mesma parte da unidade. Ex.: 2/4 = 1/2
Chamemos o número de lâmpadas queimadas de ( Q ) e o nú- – Frações irredutíveis: Frações onde o numerador e o denomi-
mero de lâmpadas boas de ( B ). Assim: nador são primos entre si. Ex.: 5/11 ;
B + Q = 360 , ou seja, B = 360 – Q ( I )

, ou seja, 7.Q = 2.B ( II )

61
MATEMÁTICA

Operações com frações


(B)
• Adição e Subtração
Com mesmo denominador: Conserva-se o denominador e so-
ma-se ou subtrai-se os numeradores.
(C)

(D)

Com denominadores diferentes: é necessário reduzir ao mes-


mo denominador através do MMC entre os denominadores. Usa-
mos tanto na adição quanto na subtração. (E)

Resolução:
Se cada garrafa contém X litros de suco, e eu tenho 3 garrafas,
então o total será de 3X litros de suco. Precisamos dividir essa quan-
tidade de suco (em litros) para 5 pessoas, logo teremos:

O MMC entre os denominadores (3,2) = 6

• Multiplicação e Divisão Onde x é litros de suco, assim a fração que cada um recebeu de
Multiplicação: É produto dos numerados pelos denominadores suco é de 3/5 de suco da garrafa.
dados. Ex.: Resposta: B

TEORIA DOS CONJUNTOS

Um conjunto é uma coleção de objetos, chamados elementos,


que possuem uma propriedade comum ou que satisfazem determi-
nada condição.

Representação de um conjunto
Podemos representar um conjunto de várias maneiras.
– Divisão: É igual a primeira fração multiplicada pelo inverso da
segunda fração. Ex.: ATENÇÃO: Indicamos os conjuntos utilizando as letras maiús-
culas e os elementos destes conjuntos por letras minúsculas.

Vejamos:
1) os elementos do conjunto são colocados entre chaves sepa-
rados por vírgula, ou ponto e vírgula.
A = {a, e, i, o, u}

2) os elementos do conjunto são representados por uma ou


Obs.: Sempre que possível podemos simplificar o resultado da mais propriedades que os caracterize.
fração resultante de forma a torna-la irredutível.

Exemplo:
(EBSERH/HUPES – UFBA – TÉCNICO EM INFORMÁTICA – IA-
DES) O suco de três garrafas iguais foi dividido igualmente entre 5
pessoas. Cada uma recebeu

(A) 3) os elementos do conjunto são representados por meio de


um esquema denominado diagrama de Venn.

62
MATEMÁTICA

Os elementos do conjunto A estão contidos no conjunto B.

ATENÇÃO:
1) Todo conjunto A é subconjunto dele próprio;
2) O conjunto vazio, por convenção, é subconjunto de qualquer
conjunto;
3) O conjunto das partes é o conjunto formado por todos os
subconjuntos de A.
4) O número de seu subconjunto é dado por: 2n; onde n é o nú-
mero de elementos desse conjunto.
Relação de pertinência
Usamos os símbolos ∈ (pertence) e ∉ (não pertence) para rela- Operações com Conjuntos
cionar se um elemento faz parte ou não do conjunto. Tomando os conjuntos: A = {0,2,4,6} e B = {0,1,2,3,4}, como
exemplo, vejamos:
Tipos de Conjuntos • União de conjuntos: é o conjunto formado por todos os ele-
• Conjunto Universo: reunião de todos os conjuntos que esta- mentos que pertencem a A ou a B. Representa-se por A ∪ B. Sim-
mos trabalhando. bolicamente: A ∪ B = {x | x ∈ A ou x ∈ B}. Exemplo:
• Conjunto Vazio: é aquele que não possui elementos. Repre-
senta-se por 0/ ou, simplesmente { }.
• Conjunto Unitário: possui apenas um único elemento.
• Conjunto Finito: quando podemos enumerar todos os seus
elementos.
• Conjunto Infinito: contrário do finito.

Relação de inclusão
É usada para estabelecer relação entre conjuntos com con-
juntos, verificando se um conjunto é subconjunto ou não de outro
conjunto. Usamos os seguintes símbolos de inclusão:

• Intersecção de conjuntos: é o conjunto formado por todos


os elementos que pertencem, simultaneamente, a A e a B. Repre-
senta-se por A ∩ B. Simbolicamente: A ∩ B = {x | x ∈ A e x ∈ B}

Igualdade de conjuntos
Dois conjuntos A e B são IGUAIS, indicamos A = B, quando
possuem os mesmos elementos.
Dois conjuntos A e B são DIFERENTES, indicamos por A ≠ B, se
pelo menos UM dos elementos de um dos conjuntos NÃO perten-
ce ao outro.

Subconjuntos
Quando todos os elementos de um conjunto A são também
elementos de um outro conjunto B, dizemos que A é subconjunto
de B. Exemplo: A = {1,3,7} e B = {1,2,3,5,6,7,8}.

OBSERVAÇÃO: Se A ∩ B = φ , dizemos que A e B são conjun-


tos disjuntos.

Propriedades da união e da intersecção de conjuntos

1ª) Propriedade comutativa


A U B = B U A (comutativa da união)
A ∩ B = B ∩ A (comutativa da intersecção)

63
MATEMÁTICA

2ª) Propriedade associativa Se inscreveram em educação e saneamento 3 vereadores.


(A U B) U C = A U (B U C) (associativa da união)
(A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C) (associativa da intersecção)

3ª) Propriedade associativa


A ∩ (B U C) = (A ∩ B) U (A ∩ C) (distributiva da intersecção em
relação à união)
A U (B ∩ C) = (A U B) ∩ (A U C) (distributiva da união em rela-
ção à intersecção)

4ª) Propriedade
Se A ⊂ B, então A U B = B e A ∩ B = A, então A ⊂ B

Número de Elementos da União e da Intersecção de Conjuntos


E dado pela fórmula abaixo: Em saneamento se inscreveram: 3 + 7 + 8 = 18

Resposta: C

• Diferença: é o conjunto formado por todos os elementos


que pertencem a A e não pertencem a B. Representa-se por A – B.
Para determinar a diferença entre conjuntos, basta observamos o
que o conjunto A tem de diferente de B. Tomemos os conjuntos: A
= {1,2,3,4,5} e B = {2,4,6,8}

Exemplo:
(CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO –
FCC) Dos 43 vereadores de uma cidade, 13 dele não se inscreveram
nas comissões de Educação, Saúde e Saneamento Básico. Sete dos Note que: A – B ≠ B - A
vereadores se inscreveram nas três comissões citadas. Doze deles Exemplo:
se inscreveram apenas nas comissões de Educação e Saúde e oito (PREF. CAMAÇARI/BA – TÉC. VIGILÂNCIA EM SAÚDE NM –
deles se inscreveram apenas nas comissões de Saúde e Saneamen- AOCP) Considere dois conjuntos A e B, sabendo que assinale a
to Básico. Nenhum dos vereadores se inscreveu em apenas uma alternativa que apresenta o conjunto B.
dessas comissões. O número de vereadores inscritos na comissão (A) {1;2;3}
de Saneamento Básico é igual a (B) {0;3}
(A) 15. (C) {0;1;2;3;5}
(B) 21. (D) {3;5}
(C) 18. (E) {0;3;5}
(D) 27.
(E) 16. Resolução:
A intersecção dos dois conjuntos, mostra que 3 é elemento de
Resolução: B.
De acordo com os dados temos: A – B são os elementos que tem em A e não em B.
7 vereadores se inscreveram nas 3. Então de A ∪ B, tiramos que B = {0; 3; 5}.
APENAS 12 se inscreveram em educação e saúde (o 12 não
deve ser tirado de 7 como costuma fazer nos conjuntos, pois ele já Resposta: E
desconsidera os que se inscreveram nos três)
APENAS 8 se inscreveram em saúde e saneamento básico. • Complementar: chama-se complementar de B (B é subcon-
São 30 vereadores que se inscreveram nessas 3 comissões, junto de A) em relação a A o conjunto A - B, isto é, o conjunto dos
pois 13 dos 43 não se inscreveram. elementos de A que não pertencem a B. Exemplo: A = {0,1,2,3,4} e
Portanto, 30 – 7 – 12 – 8 = 3 B = {2,3}

64
MATEMÁTICA

PROGRESSÃO GEOMÉTRICA E ARITMÉTICA

Progressão aritmética (P.A.)


É toda sequência numérica em que cada um de seus termos, a partir do segundo, é igual ao anterior somado a uma constante r, deno-
minada razão da progressão aritmética. Como em qualquer sequência os termos são chamados de a1, a2, a3, a4,.......,an,....

• Cálculo da razão
A razão de uma P.A. é dada pela diferença de um termo qualquer pelo termo imediatamente anterior a ele.
r = a2 – a1 = a3 – a2 = a4 – a3 = a5 – a4 = .......... = an – an – 1

Exemplos:
- (5, 9, 13, 17, 21, 25,......) é uma P.A. onde a1 = 5 e razão r = 4
- (2, 9, 16, 23, 30,.....) é uma P.A. onde a1 = 2 e razão r = 7
- (23, 21, 19, 17, 15,....) é uma P.A. onde a1 = 23 e razão r = - 2.

• Classificação
Uma P.A. é classificada de acordo com a razão.

Se r > 0 ⇒ CRESCENTE. Se r < 0 ⇒ DECRESCENTE. Se r = 0 ⇒ CONSTANTE.

• Fórmula do Termo Geral


Em toda P.A., cada termo é o anterior somado com a razão, então temos:
1° termo: a1
2° termo: a2 = a1 + r
3° termo: a3 = a2 + r = a1 + r + r = a1 + 2r
4° termo: a4 = a3 + r = a1 + 2r + r = a1 + 3r
5° termo: a5 = a4 + r = a1 + 3r + r = a1 + 4r
6° termo: a6 = a5 + r = a1 + 4r + r = a1 + 5r
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .

65
MATEMÁTICA

n° termo é:

Exemplo:
(PREF. AMPARO/SP – AGENTE ESCOLAR – CONRIO) Descubra o 99º termo da P.A. (45, 48, 51,...)
(A) 339
(B) 337
(C) 333
(D) 331

Resolução:

Resposta: A

Propriedades
1) Numa P.A. a soma dos termos equidistantes dos extremos é igual à soma dos extremos.
2) Numa P.A. com número ímpar de termos, o termo médio é igual à média aritmética entre os extremos.

Exemplo:

3) A sequência (a, b, c) é P.A. se, e somente se, o termo médio é igual à média aritmética entre a e c, isto é:

Soma dos n primeiros termos

66
MATEMÁTICA

Progressão geométrica (P.G.)


É uma sequência onde cada termo é obtido multiplicando o anterior por uma constante. Essa constante é chamada de razão da P.G.
e simbolizada pela letra q.

Cálculo da razão
A razão da P.G. é obtida dividindo um termo por seu antecessor. Assim: (a1, a2, a3, ..., an - 1, an, ...) é P.G. ⇔ an = (an - 1) q, n ≥ 2

Exemplos:

Classificação
Uma P.G. é classificada de acordo com o primeiro termo e a razão.

CRESCENTE DECRESCENTE ALTERNANTE CONSTANTE SINGULAR


a1 > 0 e q > 1 a1 > 0 e 0 < q < 1 Cada termo apresenta sinal contrário q = 1. a1 = 0
ou quando ou quando ao do anterior. Isto ocorre quando. (também é chamada de Esta- ou
a1 < 0 e 0 < q < 1. a1 < 0 e q > 1. q<0 cionária) q = 0.

Fórmula do termo geral


Em toda P.G. cada termo é o anterior multiplicado pela razão, então temos:
1° termo: a1
2° termo: a2 = a1.q
3° termo: a3 = a2.q = a1.q.q = a1q2
4° termo: a4 = a3.q = a1.q2.q = a1.q3
5° termo: a5 = a4.q = a1.q3.q = a1.q4
. . . . .
. . . . .
. . . . .

n° termo é:

67
MATEMÁTICA

Exemplo:
(TRF 3ª – ANALISTA JUDICIÁRIO - INFORMÁTICA – FCC) Um tabuleiro de xadrez possui 64 casas. Se fosse possível colocar 1 grão de
arroz na primeira casa, 4 grãos na segunda, 16 grãos na terceira, 64 grãos na quarta, 256 na quinta, e assim sucessivamente, o total de
grãos de arroz que deveria ser colocado na 64ª casa desse tabuleiro seria igual a
(A) 264.
(B) 2126.
(C) 266.
(D) 2128.
(E) 2256.

Resolução:
Pelos valores apresentados, é uma PG de razão 4
a64 = ?
a1 = 1
q=4
n = 64

Resposta: B

Propriedades
1) Em qualquer P.G., cada termo, exceto os extremos, é a média geométrica entre o precedente e o consequente.
2) Em toda P.G. finita, o produto dos termos equidistantes dos extremos é igual ao produto dos extremos.

3) Em uma P.G. de número ímpar de termos, o termo médio é a média geométrica entre os extremos.
Em síntese temos:

4) Em uma PG, tomando-se três termos consecutivos, o termo central é a média geométrica dos seus vizinhos.

Soma dos n primeiros termos


A fórmula para calcular a soma de todos os seus termos é dada por:

68
MATEMÁTICA

Produto dos n termos Exemplo:


(SEPLAN/GO – PERITO CRIMINAL – FUNIVERSA) Em uma ação
policial, foram apreendidos 1 traficante e 150 kg de um produto
parecido com maconha. Na análise laboratorial, o perito constatou
que o produto apreendido não era maconha pura, isto é, era uma
mistura da Cannabis sativa com outras ervas. Interrogado, o trafi-
cante revelou que, na produção de 5 kg desse produto, ele usava
Temos as seguintes regras para o produto: apenas 2 kg da Cannabis sativa; o restante era composto por várias
1) O produto de n números positivos é sempre positivo. “outras ervas”. Nesse caso, é correto afirmar que, para fabricar todo
2) No produto de n números negativos: o produto apreendido, o traficante usou
a) se n é par: o produto é positivo. (A) 50 kg de Cannabis sativa e 100 kg de outras ervas.
b) se n é ímpar: o produto é negativo. (B) 55 kg de Cannabis sativa e 95 kg de outras ervas.
(C) 60 kg de Cannabis sativa e 90 kg de outras ervas.
Soma dos infinitos termos (D) 65 kg de Cannabis sativa e 85 kg de outras ervas.
A soma dos infinitos termos de uma P.G de razão q, com -1 < q (E) 70 kg de Cannabis sativa e 80 kg de outras ervas.
< 1, é dada por:
Resolução:
O enunciado fornece que a cada 5kg do produto temos que 2kg
da Cannabis sativa e os demais outras ervas. Podemos escrever em
forma de razão , logo :

Exemplo:
A soma dos elementos da sequência numérica infinita (3; 0,9;
0,09; 0,009; …) é
(A) 3,1
(B) 3,9
(C) 3,99
(D) 3, 999 Resposta: C
(E) 4
Razões Especiais
São aquelas que recebem um nome especial. Vejamos algu-
mas:
Resolução:
Sejam S as somas dos elementos da sequência e S1 a soma da Velocidade: é razão entre a distância percorrida e o tempo gas-
PG infinita (0,9; 0,09; 0,009;…) de razão q = 0,09/0,9 = 0,1. Assim: to para percorrê-la.
S = 3 + S1
Como -1 < q < 1 podemos aplicar a fórmula da soma de uma PG
infinita para obter S1:
S1 = 0,9/(1 - 0,1) = 0,9/0,9 = 1 → S = 3 + 1 = 4
Resposta: E
Densidade: é a razão entre a massa de um corpo e o seu volu-
RAZÃO; PROPORÇÃO me ocupado por esse corpo.

Razão
É uma fração, sendo a e b dois números a sua razão, chama-se
razão de a para b: a/b ou a:b , assim representados, sendo b ≠ 0.
Temos que: Proporção
É uma igualdade entre duas frações ou duas razões.

69
MATEMÁTICA

Lemos: a esta para b, assim como c está para d. Fazendo C = 28 e substituindo na proporção, temos:
Ainda temos:

4L = 28 . 3
L = 84 / 4
L = 21 ladrilhos
Assim, o total de ladrilhos foi de 28 . 21 = 588
Resposta: A

• Propriedades da Proporção REGRA DE TRÊS


– Propriedade Fundamental: o produto dos meios é igual ao
produto dos extremos: Regra de três simples
a.d=b.c Os problemas que envolvem duas grandezas diretamente ou
inversamente proporcionais podem ser resolvidos através de um
– A soma/diferença dos dois primeiros termos está para o pri- processo prático, chamado REGRA DE TRÊS SIMPLES.
meiro (ou para o segundo termo), assim como a soma/diferença • Duas grandezas são DIRETAMENTE PROPORCIONAIS quando
dos dois últimos está para o terceiro (ou para o quarto termo). ao aumentarmos/diminuirmos uma a outra também aumenta/di-
minui.
• Duas grandezas são INVERSAMENTE PROPORCIONAIS quan-
do ao aumentarmos uma a outra diminui e vice-versa.
– A soma/diferença dos antecedentes está para a soma/dife-
rença dos consequentes, assim como cada antecedente está para Exemplos:
o seu consequente. (PM/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VUNESP) Em 3 de maio
de 2014, o jornal Folha de S. Paulo publicou a seguinte informação
sobre o número de casos de dengue na cidade de Campinas.

Exemplo:
(MP/SP – AUXILIAR DE PROMOTORIA I – ADMINISTRATIVO –
VUNESP) A medida do comprimento de um salão retangular está
para a medida de sua largura assim como 4 está para 3. No piso
desse salão, foram colocados somente ladrilhos quadrados inteiros,
revestindo-o totalmente. Se cada fileira de ladrilhos, no sentido do
comprimento do piso, recebeu 28 ladrilhos, então o número míni-
mo de ladrilhos necessários para revestir totalmente esse piso foi
igual a
(A) 588.
(B) 350.
(C) 454. De acordo com essas informações, o número de casos regis-
(D) 476. trados na cidade de Campinas, até 28 de abril de 2014, teve um
(E) 382. aumento em relação ao número de casos registrados em 2007,
aproximadamente, de
Resolução: (A) 70%.
(B) 65%.
(C) 60%.
(D) 55%.
(E) 50%.

70
MATEMÁTICA

Resolução: Resolução:
Utilizaremos uma regra de três simples: Comparando- se cada grandeza com aquela onde está o x.

ano % M² ↑ varredores ↓ horas ↑


11442 100 6000 18 5
17136 x 7500 15 x

11442.x = 17136 . 100 Quanto mais a área, mais horas (diretamente proporcionais)
x = 1713600 / 11442 = 149,8% (aproximado)
149,8% – 100% = 49,8% Quanto menos trabalhadores, mais horas (inversamente pro-
Aproximando o valor, teremos 50% porcionais)
Resposta: E

(PRODAM/AM – AUXILIAR DE MOTORISTA – FUNCAB) Numa


transportadora, 15 caminhões de mesma capacidade transportam
toda a carga de um galpão em quatro horas. Se três deles quebras-
sem, em quanto tempo os outros caminhões fariam o mesmo tra-
balho?
(A) 3 h 12 min
(B) 5 h
(C) 5 h 30 min
(D) 6 h Como 0,5 h equivale a 30 minutos, logo o tempo será de 7 ho-
(E) 6 h 15 min ras e 30 minutos.
Resposta: D
Resolução:
Vamos utilizar uma Regra de Três Simples Inversa, pois, quanto (PREF. CORBÉLIA/PR – CONTADOR – FAUEL) Uma equipe cons-
menos caminhões tivermos, mais horas demorará para transportar tituída por 20 operários, trabalhando 8 horas por dia durante 60
a carga: dias, realiza o calçamento de uma área igual a 4800 m². Se essa
equipe fosse constituída por 15 operários, trabalhando 10 horas
cami- ho- por dia, durante 80 dias, faria o calçamento de uma área igual a:
nhões ras (A) 4500 m²
4 (B) 5000 m²
15 (C) 5200 m²
(15 – 3) x (D) 6000 m²
(E) 6200 m²
12.x = 4 . 15
x = 60 / 12 Resolução:
x=5h
Resposta: B
Operários
horas ↑ dias ↑ área ↑
Regra de três composta ↑
Chamamos de REGRA DE TRÊS COMPOSTA, problemas que 20 8 60 4800
envolvem mais de duas grandezas, diretamente ou inversamente
proporcionais. 15 10 80 x

Exemplos: Todas as grandezas são diretamente proporcionais, logo:


(CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO
– FCC) O trabalho de varrição de 6.000 m² de calçada é feita em
um dia de trabalho por 18 varredores trabalhando 5 horas por dia.
Mantendo-se as mesmas proporções, 15 varredores varrerão 7.500
m² de calçadas, em um dia, trabalhando por dia, o tempo de
(A) 8 horas e 15 minutos.
(B) 9 horas.
(C) 7 horas e 45 minutos. Resposta: D
(D) 7 horas e 30 minutos.
(E) 5 horas e 30 minutos.

71
MATEMÁTICA

Exemplo:
PORCENTAGEM (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO –
FCC) O preço de venda de um produto, descontado um imposto de
16% que incide sobre esse mesmo preço, supera o preço de com-
São chamadas de razões centesimais ou taxas percentuais ou pra em 40%, os quais constituem o lucro líquido do vendedor. Em
simplesmente de porcentagem, as razões de denominador 100, ou quantos por cento, aproximadamente, o preço de venda é superior
seja, que representam a centésima parte de uma grandeza. Costu- ao de compra?
mam ser indicadas pelo numerador seguido do símbolo %. (Lê-se: (A) 67%.
“por cento”). (B) 61%.
(C) 65%.
(D) 63%.
(E) 69%.

Exemplo: Resolução:
(CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP – ANA- Preço de venda: V
LISTA TÉCNICO LEGISLATIVO – DESIGNER GRÁFICO – VUNESP) O Preço de compra: C
departamento de Contabilidade de uma empresa tem 20 funcio- V – 0,16V = 1,4C
nários, sendo que 15% deles são estagiários. O departamento de 0,84V = 1,4C
Recursos Humanos tem 10 funcionários, sendo 20% estagiários. Em
relação ao total de funcionários desses dois departamentos, a fra-
ção de estagiários é igual a
(A) 1/5.
(B) 1/6.
(C) 2/5.
(D) 2/9. O preço de venda é 67% superior ao preço de compra.
(E) 3/5. Resposta: A

Aumento e Desconto em porcentagem


Resolução: – Aumentar um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo por

Logo:

Resposta: B

Lucro e Prejuízo em porcentagem


É a diferença entre o preço de venda e o preço de custo. Se - Diminuir um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo por
a diferença for POSITIVA, temos o LUCRO (L), caso seja NEGATIVA,
temos PREJUÍZO (P).

Logo: Lucro (L) = Preço de Venda (V) – Preço de Custo (C).


Logo:

72
MATEMÁTICA

Fator de multiplicação

É o valor final de , é o que chamamos de fator de multiplicação, muito útil para resolução de cálculos de
porcentagem. O mesmo pode ser um acréscimo ou decréscimo no valor do produto.

Aumentos e Descontos sucessivos em porcentagem


São valores que aumentam ou diminuem sucessivamente. Para efetuar os respectivos descontos ou aumentos, fazemos uso dos fato-
res de multiplicação. Basta multiplicarmos o Valor pelo fator de multiplicação (acréscimo e/ou decréscimo).

Exemplo: Certo produto industrial que custava R$ 5.000,00 sofreu um acréscimo de 30% e, em seguida, um desconto de 20%. Qual o
preço desse produto após esse acréscimo e desconto?

Resolução:
VA = 5000 .(1,3) = 6500 e
VD = 6500 .(0,80) = 5200, podemos, para agilizar os cálculos, juntar tudo em uma única equação:
5000 . 1,3 . 0,8 = 5200
Logo o preço do produto após o acréscimo e desconto é de R$ 5.200,00

EQUAÇÕES E INEQUAÇÕES DO 1º E 2º GRAU

Equação é toda sentença matemática aberta que exprime uma relação de igualdade e uma incógnita ou variável (x, y, z,...).

Equação do 1º grau
As equações do primeiro grau são aquelas que podem ser representadas sob a forma ax + b = 0, em que a e b são constantes reais,
com a diferente de 0, e x é a variável. A resolução desse tipo de equação é fundamentada nas propriedades da igualdade descritas a seguir.
Adicionando um mesmo número a ambos os membros de uma equação, ou subtraindo um mesmo número de ambos os membros,
a igualdade se mantém.
Dividindo ou multiplicando ambos os membros de uma equação por um mesmo número não-nulo, a igualdade se mantém.

• Membros de uma equação


Numa equação a expressão situada à esquerda da igualdade é chamada de 1º membro da equação, e a expressão situada à direita da
igualdade, de 2º membro da equação.

• Resolução de uma equação


Colocamos no primeiro membro os termos que apresentam variável, e no segundo membro os termos que não apresentam variável.
Os termos que mudam de membro têm os sinais trocados.
5x – 8 = 12 + x
5x – x = 12 + 8
4x = 20
X = 20/4
X=5

Ao substituirmos o valor encontrado de x na equação obtemos o seguinte:


5x – 8 = 12 + x

73
MATEMÁTICA

5.5 – 8 = 12 + 5 2º) A equação é da forma ax2 + c = 0 (incompleta)


25 – 8 = 17 x2 – 49= 0 Fatoramos o primeiro membro, que é uma diferença
17 = 17 ( V) de dois quadrados.
(x + 7) . (x – 7) = 0,
Quando se passa de um membro para o outro se usa a ope- x+7=0 x–7=0
ração inversa, ou seja, o que está multiplicando passa dividindo e
o que está dividindo passa multiplicando. O que está adicionando x=–7 x=7
passa subtraindo e o que está subtraindo passa adicionando.
ou
Exemplo:
(PRODAM/AM – AUXILIAR DE MOTORISTA – FUNCAB) Um gru- x2 – 49 = 0
po formado por 16 motoristas organizou um churrasco para suas x2 = 49
famílias. Na semana do evento, seis deles desistiram de participar. x2 = 49
Para manter o churrasco, cada um dos motoristas restantes pagou x = 7, (aplicando a segunda propriedade).
R$ 57,00 a mais. Logo, S = {–7, 7}.
O valor total pago por eles, pelo churrasco, foi:
(A) R$ 570,00 3º) A equação é da forma ax² + bx + c = 0 (completa)
(B) R$ 980,50 Para resolvê-la usaremos a formula de Bháskara.
(C) R$ 1.350,00
(D) R$ 1.480,00
(E) R$ 1.520,00

Resolução:
Vamos chamar de ( x ) o valor para cada motorista. Assim: Conforme o valor do discriminante Δ existem três possibilida-
16 . x = Total des quanto á natureza da equação dada.
Total = 10 . (x + 57) (pois 6 desistiram)
Combinando as duas equações, temos:
16.x = 10.x + 570
16.x – 10.x = 570
6.x = 570
x = 570 / 6
x = 95
O valor total é: 16 . 95 = R$ 1520,00.
Resposta: E Quando ocorre a última possibilidade é costume dizer-se que
não existem raízes reais, pois, de fato, elas não são reais já que não
Equação do 2º grau existe, no conjunto dos números reais, √a quando a < 0.
As equações do segundo grau são aquelas que podem ser re-
presentadas sob a forma ax² + bx +c = 0, em que a, b e c são cons- • Relações entre raízes e coeficientes
tantes reais, com a diferente de 0, e x é a variável.

• Equação completa e incompleta


1) Quando b ≠ 0 e c ≠ 0, a equação do 2º grau se diz completa.
Ex.: x2 - 7x + 11 = 0= 0 é uma equação completa (a = 1, b = – 7,
c = 11).

2) Quando b = 0 ou c = 0 ou b = c = 0, a equação do 2º grau se


diz incompleta.
Exs.:
x² - 81 = 0 é uma equação incompleta (b=0).
x² +6x = 0 é uma equação incompleta (c = 0). Exemplo:
2x² = 0 é uma equação incompleta (b = c = 0). (CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA – INDEC) Qual a
equação do 2º grau cujas raízes são 1 e 3/2?
• Resolução da equação (A) x²-3x+4=0
1º) A equação é da forma ax2 + bx = 0 (incompleta) (B) -3x²-5x+1=0
x2 – 16x = 0 colocamos x em evidência (C) 3x²+5x+2=0
x . (x – 16) = 0, (D) 2x²-5x+3=0
x=0
x – 16 = 0
x = 16
Logo, S = {0, 16} e os números 0 e 16 são as raízes da equação.

74
MATEMÁTICA

Resolução:
Como as raízes foram dadas, para saber qual a equação:
x² - Sx +P=0, usando o método da soma e produto; S= duas
raízes somadas resultam no valor numérico de b; e P= duas raízes
multiplicadas resultam no valor de c.

Exemplo:
(SEE/AC – PROFESSOR DE CIÊNCIAS DA NATUREZA MATEMÁ-
TICA E SUAS TECNOLOGIAS – FUNCAB) Determine os valores de
que satisfazem a seguinte inequação:

(A) x > 2
(B) x - 5
Resposta: D (C) x > - 5
(D) x < 2
Inequação do 1º grau (E) x 2
Uma inequação do 1° grau na incógnita x é qualquer expressão
do 1° grau que pode ser escrita numa das seguintes formas: Resolução:
ax + b > 0
ax + b < 0
ax + b ≥ 0
ax + b ≤ 0
Onde a, b são números reais com a ≠ 0

• Resolvendo uma inequação de 1° grau


Uma maneira simples de resolver uma equação do 1° grau é
isolarmos a incógnita x em um dos membros da igualdade. O méto-
do é bem parecido com o das equações. Ex.:
Resolva a inequação -2x + 7 > 0.
Solução:
-2x > -7 Resposta: B
Multiplicando por (-1)
2x < 7 Inequação do 2º grau
x < 7/2 Chamamos de inequação da 2º toda desigualdade pode ser re-
Portanto a solução da inequação é x < 7/2. presentada da seguinte forma:
ax2 + bx + c > 0
Atenção: ax2 + bx + c < 0
Toda vez que “x” tiver valor negativo, devemos multiplicar por ax2 + bx + c ≥ 0
(-1), isso faz com que o símbolo da desigualdade tenha o seu sen- ax2 + bx + c ≤ 0
tido invertido. Onde a, b e c são números reais com a ≠ 0
Pode-se resolver qualquer inequação do 1° grau por meio do
estudo do sinal de uma função do 1° grau, com o seguinte proce- Resolução da inequação
dimento: Para resolvermos uma inequação do 2o grau, utilizamos o estu-
1. Iguala-se a expressão ax + b a zero; do do sinal. As inequações são representadas pelas desigualdades:
2. Localiza-se a raiz no eixo x; > , ≥ , < , ≤.
3. Estuda-se o sinal conforme o caso. Ex.: x2 -3x + 2 > 0
Pegando o exemplo anterior temos: Resolução:
-2x + 7 > 0 x2 -3x + 2 > 0
-2x + 7 = 0 x ‘ =1, x ‘’ = 2
x = 7/2

75
MATEMÁTICA

Como desejamos os valores para os quais a função é maior que


zero devemos fazer um esboço do gráfico e ver para quais valores SISTEMAS DE EQUAÇÕES
de x isso ocorre.
Sistema do 1º grau
Um sistema de equação de 1º grau com duas incógnitas é for-
mado por: duas equações de 1º grau com duas incógnitas diferen-
tes em cada equação. Veja um exemplo:

Vemos, que as regiões que tornam positivas a função são: x<1


e x>2. Resposta: { x|R| x<1 ou x>2}
• Resolução de sistemas
Exemplo:
Existem dois métodos de resolução dos sistemas. Vejamos:
(VUNESP) O conjunto solução da inequação 9x2 – 6x + 1 ≤ 0, no
universo dos números reais é:
• Método da substituição
(A) ∅
Consiste em escolher uma das duas equações, isolar uma das
(B) R
incógnitas e substituir na outra equação, veja como:

(C)
Dado o sistema , enumeramos as equações.
(D)

(E)

Resolução:
Resolvendo por Bháskara:
Escolhemos a equação 1 (pelo valor da incógnita de x ser 1) e
isolamos x. Teremos: x = 20 – y e substituímos na equação 2.
3 (20 – y) + 4y = 72, com isso teremos apenas 1 incógnita. Re-
solvendo:
60 – 3y + 4y = 72 → -3y + 4y = 72 -60 → y = 12
Para descobrir o valor de x basta substituir 12 na equação x =
20 – y. Logo:
x = 20 – y → x = 20 – 12 →x = 8
Portanto, a solução do sistema é S = (8, 12)

Método da adição
Esse método consiste em adicionar as duas equações de tal
Fazendo o gráfico, a > 0 parábola voltada para cima: forma que a soma de uma das incógnitas seja zero. Para que isso
aconteça será preciso que multipliquemos algumas vezes as duas
equações ou apenas uma equação por números inteiros para que a
soma de uma das incógnitas seja zero.

Dado o sistema

Para adicionarmos as duas equações e a soma de uma das in-


cógnitas de zero, teremos que multiplicar a primeira equação por
– 3.

Resposta: C

76
MATEMÁTICA

Teremos: (SABESP – ANALISTA DE GESTÃO I -CONTABILIDADE – FCC) Em


um campeonato de futebol, as equipes recebem, em cada jogo, três
pontos por vitória, um ponto em caso de empate e nenhum ponto
se forem derrotadas. Após disputar 30 partidas, uma das equipes
desse campeonato havia perdido apenas dois jogos e acumulado 58
pontos. O número de vitórias que essa equipe conquistou, nessas
30 partidas, é igual a
(A) 12
Adicionando as duas equações: (B) 14
(C) 16
(D) 13
(E) 15

Resolução:
Vitórias: x
Para descobrirmos o valor de x basta escolher uma das duas
Empate: y
equações e substituir o valor de y encontrado:
Derrotas: 2
x + y = 20 → x + 12 = 20 → x = 20 – 12 → x = 8
Pelo método da adição temos:
Portanto, a solução desse sistema é: S = (8, 12).

Exemplos:
(SABESP – APRENDIZ – FCC) Em uma gincana entre as três equi-
pes de uma escola (amarela, vermelha e branca), foram arrecada-
dos 1 040 quilogramas de alimentos. A equipe amarela arrecadou
50 quilogramas a mais que a equipe vermelha e esta arrecadou 30
quilogramas a menos que a equipe branca. A quantidade de alimen-
tos arrecadada pela equipe vencedora foi, em quilogramas, igual a
(A) 310
(B) 320
(C) 330 Resposta: E
(D) 350
(E) 370 Sistema do 2º grau
Utilizamos o mesmo princípio da resolução dos sistemas de
Resolução: 1º grau, por adição, substituições, etc. A diferença é que teremos
Amarela: x como solução um sistema de pares ordenados.
Vermelha: y
Branca: z Sequência prática
x = y + 50 – Estabelecer o sistema de equações que traduzam o problema
y = z - 30 para a linguagem matemática;
z = y + 30 – Resolver o sistema de equações;
– Interpretar as raízes encontradas, verificando se são compatí-
veis com os dados do problema.

Exemplos:
(CPTM - MÉDICO DO TRABALHO – MAKIYAMA) Sabe-se que o
produto da idade de Miguel pela idade de Lucas é 500. Miguel é
Substituindo a II e a III equação na I: 5 anos mais velho que Lucas. Qual a soma das idades de Miguel e
Lucas?
(A) 40.
(B) 55.
(C) 65.
(D) 50.
(E) 45.

Substituindo na equação II Resolução:


x = 320 + 50 = 370 Sendo Miguel M e Lucas L:
z=320+30=350 M.L = 500 (I)
A equipe que mais arrecadou foi a amarela com 370kg M = L + 5 (II)
substituindo II em I, temos:
Resposta: E (L + 5).L = 500

77
MATEMÁTICA

L2 + 5L – 500 = 0, a = 1, b = 5 e c = - 500 Atenção


∆ = b² - 4.a.c Usualmente chamamos as funções polinomiais de: 1º grau, 2º
∆ = 5² - 4.1.(-500) etc, mas o correto seria Função de grau 1,2 etc. Pois o classifica a
∆ = 25 + 2000 função é o seu grau do seu polinômio.
∆ = 2025
x = (-b ± √∆)/2a A função do 1º grau pode ser classificada de acordo com seus
x’ = (-5 + 45) / 2.1 → x’ = 40/2 → x’ = 20 gráficos. Considere sempre a forma genérica y = ax + b.
x’’ = (-5 - 45) / 2.1 → x’’ = -50/2 → x’’ = -25 (não serve)
• Função constante
Então L = 20 Se a = 0, então y = b, b ∈ R. Desta maneira, por exemplo, se y =
M.20 = 500 4 é função constante, pois, para qualquer valor de x, o valor de y ou
m = 500 : 20 = 25 f(x) será sempre 4.
M + L = 25 + 20 = 45
Resposta: E

(TJ- FAURGS) Se a soma de dois números é igual a 10 e o seu


produto é igual a 20, a soma de seus quadrados é igual a:
(A) 30
(B) 40
(C) 50
(D) 60
(E) 80 • Função identidade
Se a = 1 e b = 0, então y = x. Nesta função, x e y têm sempre
Resolução: os mesmos valores. Graficamente temos: A reta y = x ou f(x) = x é
denominada bissetriz dos quadrantes ímpares.

Eu quero saber a soma de seus quadrados x2 + y2


Vamos elevar o x + y ao quadrado:
(x + y)2 = (10)2
x2 + 2xy + y2 = 100 , como x . y=20 substituímos o valor :
x2 + 2.20 + y2 = 100
x2 + 40 + y2 = 100
x2 + y2 = 100 – 40
x2 + y2 = 60
Resposta: D Mas, se a = -1 e b = 0, temos então y = -x. A reta determinada
por esta função é a bissetriz dos quadrantes pares, conforme mos-
tra o gráfico ao lado. x e y têm valores iguais em módulo, porém
FUNÇÕES DO 1º E 2º GRAU com sinais contrários.
Funções lineares
Chama-se função do 1º grau ou afim a função f: R  R definida
por y = ax + b, com a e b números reais e a 0. a é o coeficiente an-
gular da reta e determina sua inclinação, b é o coeficiente linear da
reta e determina a intersecção da reta com o eixo y.

• Função linear
É a função do 1º grau quando b = 0, a ≠ 0 e a ≠ 1, a e b ∈ R.
Com a ϵ R* e b ϵ R. • Função afim
É a função do 1º grau quando a ≠ 0, b ≠ 0, a e b ∈ R.

78
MATEMÁTICA

• Função Injetora • Função ímpar


É a função cujo domínio apresenta elementos distintos e tam- Quando para todo elemento x pertencente ao domínio, temos
bém imagens distintas. f(-x) = -f(x) ∀ x є D(f). Ou seja, os elementos simétricos do domínio
terão imagens simétricas.

• Função Sobrejetora
É quando todos os elementos do domínio forem imagens de
PELO MENOS UM elemento do domínio.
Gráfico da função do 1º grau
A representação geométrica da função do 1º grau é uma reta,
portanto, para determinar o gráfico, é necessário obter dois pontos.
Em particular, procuraremos os pontos em que a reta corta os eixos
x e y.
De modo geral, dada a função f(x) = ax + b, para determinarmos
a intersecção da reta com os eixos, procedemos do seguinte modo:

• Função Bijetora
É uma função que é ao mesmo tempo injetora e sobrejetora.

1º) Igualamos y a zero, então ax + b = 0 ⇒ x = - b/a, no eixo x


encontramos o ponto (-b/a, 0).
2º) Igualamos x a zero, então f(x) = a. 0 + b ⇒ f(x) = b, no eixo y
encontramos o ponto (0, b).
• f(x) é crescente se a é um número positivo (a > 0);
• f(x) é decrescente se a é um número negativo (a < 0).
• Função Par
Quando para todo elemento x pertencente ao domínio temos
f(x)=f(-x), ∀ x ∈ D(f). Ou seja, os valores simétricos devem possuir a
mesma imagem.

Raiz ou zero da função do 1º grau


A raiz ou zero da função do 1º grau é o valor de x para o qual y =
f(x) = 0. Graficamente, é o ponto em que a reta “corta” o eixo x. Por-
tanto, para determinar a raiz da função, basta a igualarmos a zero:

79
MATEMÁTICA

(CBTU/RJ - ASSISTENTE OPERACIONAL - CONDUÇÃO DE VEÍ-


CULOS METROFERROVIÁRIOS – CONSULPLAN) Qual dos pares de
pontos a seguir pertencem a uma função do 1º grau decrescente?
(A) Q(3, 3) e R(5, 5).
Estudo de sinal da função do 1º grau (B) N(0, –2) e P(2, 0).
Estudar o sinal de uma função do 1º grau é determinar os valo- (C) S(–1, 1) e T(1, –1).
res de x para que y seja positivo, negativo ou zero. (D) L(–2, –3) e M(2, 3).
1º) Determinamos a raiz da função, igualando-a a zero: (raiz:
x =- b/a) Resolução:
2º) Verificamos se a função é crescente (a>0) ou decrescente (a Para pertencer a uma função polinomial do 1º grau decrescen-
< 0); temos duas possibilidades: te, o primeiro ponto deve estar em uma posição “mais alta” do que
o 2º ponto.
Vamos analisar as alternativas:
( A ) os pontos Q e R estão no 1º quadrante, mas Q está em uma
posição mais baixa que o ponto R, e, assim, a função é crescente.
( B ) o ponto N está no eixo y abaixo do zero, e o ponto P está no
eixo x à direita do zero, mas N está em uma posição mais baixa que
o ponto P, e, assim, a função é crescente.
( D ) o ponto L está no 3º quadrante e o ponto M está no 1º
quadrante, e L está em uma posição mais baixa do que o ponto M,
sendo, assim, crescente.
( C ) o ponto S está no 2º quadrante e o ponto T está no 4º qua-
drante, e S está em uma posição mais alta do que o ponto T, sendo,
assim, decrescente.
Resposta: C
Exemplos:
(PM/SP – CABO – CETRO) O gráfico abaixo representa o salário Equações lineares
bruto (S) de um policial militar em função das horas (h) trabalhadas As equações do tipo a1x1 + a2x2 + a3x3 + .....+ anxn = b, são equa-
em certa cidade. Portanto, o valor que este policial receberá por ções lineares, onde a1, a2, a3, ... são os coeficientes; x1, x2, x3,... as
186 horas é incógnitas e b o termo independente.
Por exemplo, a equação 4x – 3y + 5z = 31 é uma equação line-
ar. Os coeficientes são 4, –3 e 5; x, y e z as incógnitas e 31 o termo
independente.
Para x = 2, y = 4 e z = 7, temos 4.2 – 3.4 + 5.7 = 31, concluímos
que o terno ordenado (2,4,7) é solução da equação linear
4x – 3y + 5z = 31.

Funções quadráticas
Chama-se função do 2º grau ou função quadrática, de domínio
R e contradomínio R, a função:

(A) R$ 3.487,50. Com a, b e c reais e a ≠ 0.


(B) R$ 3.506,25.
(C) R$ 3.534,00. Onde:
(D) R$ 3.553,00. a é o coeficiente de x2
Resolução: b é o coeficiente de x
c é o termo independente

Atenção:
Chama-se função completa aquela em que a, b e c não são nu-
los, e função incompleta aquela em que b ou c são nulos.

Raízes da função do 2ºgrau


Analogamente à função do 1º grau, para encontrar as raízes
da função quadrática, devemos igualar f(x) a zero. Teremos então:
Resposta: A ax2 + bx + c = 0

80
MATEMÁTICA

A expressão assim obtida denomina-se equação do 2º grau. Vértice da parábola – Máximos e mínimos da função
As raízes da equação são determinadas utilizando-se a fórmula de Observe os vértices nos gráficos:
Bhaskara:

Δ (letra grega: delta) é chamado de discriminante da equação.


Observe que o discriminante terá um valor numérico, do qual te-
mos de extrair a raiz quadrada. Neste caso, temos três casos a con-
siderar:
Δ > 0 ⇒ duas raízes reais e distintas; O vértice da parábola será:
Δ = 0 ⇒ duas raízes reais e iguais; • o ponto mínimo se a concavidade estiver voltada para cima
Δ < 0 ⇒ não existem raízes reais (∄ x ∈ R). (a > 0);
• o ponto máximo se a concavidade estiver voltada para baixo
Gráfico da função do 2º grau (a < 0).
A reta paralela ao eixo y que passa pelo vértice da parábola é
• Concavidade da parábola chamada de eixo de simetria.
Graficamente, a função do 2º grau, de domínio r, é representa-
da por uma curva denominada parábola. Dada a função y = ax2 + bx Coordenadas do vértice
+ c, cujo gráfico é uma parábola, se: As coordenadas do vértice da parábola são dadas por:

• O termo independente Estudo do sinal da função do 2º grau


Na função y = ax2 + bx + c, se x = 0 temos y = c. Os pontos em Estudar o sinal da função quadrática é determinar os valores de
que x = 0 estão no eixo y, isto significa que o ponto (0, c) é onde a x para que y seja: positivo, negativo ou zero. Dada a função f(x) = y
parábola “corta” o eixo y. = ax2 + bx + c, para saber os sinais de y, determinamos as raízes (se
existirem) e analisamos o valor do discriminante.

• Raízes da função
Considerando os sinais do discriminante (Δ) e do coeficiente de
x2, teremos os gráficos que seguem para a função y = ax2 + bx + c.

Exemplos:
(CBM/MG – OFICIAL BOMBEIRO MILITAR – FUMARC) Duas
cidades A e B estão separadas por uma distância d. Considere um
ciclista que parte da cidade A em direção à cidade B. A distância d,
em quilômetros, que o ciclista ainda precisa percorrer para chegar
ao seu destino em função do tempo t, em horas, é dada pela função
. Sendo assim, a velocidade média desenvolvida
pelo ciclista em todo o percurso da cidade A até a cidade B é igual a

81
MATEMÁTICA

(A) 10 Km/h (TRANSPETRO – TÉCNICO DE ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE


(B) 20 Km/h JÚNIOR – CESGRANRIO) A raiz da função f(x) = 2x − 8 é também raiz
(C) 90 Km/h da função quadrática g(x) = ax²+ bx + c. Se o vértice da parábola, grá-
(D) 100 Km/h fico da função g(x), é o ponto V(−1, −25), a soma a + b + c é igual a:
(A) − 25
Resolução: (B) − 24
Vamos calcular a distância total, fazendo t = 0: (C) − 23
(D) − 22
(E) – 21

Resolução:
2x-8=0
Agora, vamos substituir na função: 2x=8
X=4

100 – t² = 0
– t² = – 100 . (– 1)
t² = 100
t= √100=10km/h
Resposta: A

(IPEM – TÉCNICO EM METROLOGIA E QUALIDADE – VUNESP)


A figura ilustra um arco decorativo de parábola AB sobre a porta da
entrada de um salão:
Lembrando que para encontrar a equação, temos:
(x - 4)(x + 6) = x² + 6x - 4x - 24 = x² + 2x - 24
a=1
b=2
c=-24
a + b + c = 1 + 2 – 24 = -21
Resposta: E

Função exponencial
Antes seria bom revisarmos algumas noções de potencializa-
ção e radiciação.
Sejam a e b bases reais e diferentes de zero e m e n expoentes
Considere um sistema de coordenadas cartesianas com centro inteiros, temos:
em O, de modo que o eixo vertical (y) passe pelo ponto mais alto do
arco (V), e o horizontal (x) passe pelos dois pontos de apoio desse
arco sobre a porta (A e B).
Sabendo-se que a função quadrática que descreve esse arco é
f(x) = – x²+ c, e que V = (0; 0,81), pode-se afirmar que a distância ,
em metros, é igual a
(A) 2,1.
(B) 1,8.
(C) 1,6.
(D) 1,9.
(E) 1,4.

Resolução:
C=0,81, pois é exatamente a distância de V
F(x)=-x²+0,81
0=-x²+0,81
X²=0,81
X=±0,9
A distância AB é 0,9+0,9=1,8
Resposta: B

82
MATEMÁTICA

Equação exponencial
A equação exponencial caracteriza-se pela presença da incógnita no expoente. Exemplos:

Para resolver estas equações, além das propriedades de potências, utilizamos a seguinte propriedade:
Se duas potências são iguais, tendo as bases iguais, então os expoentes são iguais: am = an ⇔ m = n, sendo a > 0 e a ≠ 1.

Gráficos da função exponencial


A função exponencial f, de domínio R e contradomínio R, é definida por y = ax, onde a > 0 e a ≠1.

Exemplos:
01. Considere a função y = 3x.
Vamos atribuir valores a x, calcular y e a seguir construir o gráfico:

02. Considerando a função, encontre a função: y = (1/3)x

Observando as funções anteriores, podemos concluir que para y = ax:


• se a > 1, a função exponencial é crescente;
• se 0 < a < 1, a função é decrescente.

Graficamente temos:

83
MATEMÁTICA

Inequação exponencial Primeiramente, vamos calcular a população inicial, fazendo t


A inequação exponencial caracteriza-se pela presença da incóg- = 0:
nita no expoente e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
Analisando seus gráficos, temos:

Agora, vamos calcular a população após 1 ano, fazendo t = 1:

Por fim, vamos utilizar a Regra de Três Simples:


População----------%
234 --------------- 100
239,382 ------------ x
Observando o gráfico, temos que:
• na função crescente, conservamos o sinal da desigualdade 234.x = 239,382 . 100
para comparar os expoentes: x = 23938,2 / 234
x = 102,3%
102,3% = 100% (população já existente) + 2,3% (crescimento)
Resposta: C

(POLÍCIA CIVIL/SP – DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL – VU-


NESP) Uma população P cresce em função do tempo t (em anos),
segundo a sentença P = 2000.50,1t. Hoje, no instante t = 0, a popu-
• na função decrescente, “invertemos” o sinal da desigualdade lação é de 2 000 indivíduos. A população será de 50 000 indivíduos
para comparar os expoentes: daqui a
(A) 20 anos.
(B) 25 anos.
(C) 50 anos.
(D) 15 anos.
(E) 10 anos.
Desde que as bases sejam iguais.
Resolução:
Exemplos:
(CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/MT – OFICIAL BOMBEIRO
MILITAR – COVEST – UNEMAT) As funções exponenciais são muito
usadas para modelar o crescimento ou o decaimento populacional
de uma determinada região em um determinado período de tem-
po. A função P(t) = 234(1,023)t modela o comportamento de uma
determinada cidade quanto ao seu crescimento populacional em
um determinado período de tempo, em que P é a população em Vamos simplificar as bases (5), sobrando somente os expoen-
milhares de habitantes e t é o número de anos desde 1980. tes. Assim:
Qual a taxa média de crescimento populacional anual dessa 0,1 . t = 2
cidade? t = 2 / 0,1
(A) 1,023% t = 20 anos
(B) 1,23% Resposta: A
(C) 2,3%
(D) 0,023% Função logarítmica
(E) 0,23% • Logaritmo
O logaritmo de um número b, na base a, onde a e b são positi-
Resolução: vos e a é diferente de um, é um número x, tal que x é o expoente de
a para se obter b, então:

84
MATEMÁTICA

Onde:
b é chamado de logaritmando
a é chamado de base
x é o logaritmo

OBSERVAÇÕES
– loga a = 1, sendo a > 0 e a ≠ 1
– Nos logaritmos decimais, ou seja, aqueles em que a base é 10, está frequentemente é omitida. Por exemplo: logaritmo de 2 na
base 10; notação: log 2

Propriedades decorrentes da definição

• Domínio (condição de existência)


Segundo a definição, o logaritmando e a base devem ser positivos, e a base deve ser diferente de 1. Portanto, sempre que encontra-
mos incógnitas no logaritmando ou na base devemos garantir a existência do logaritmo.

– Propriedades

Logaritmo decimal - característica e mantissa


Normalmente eles são calculados fazendo-se o uso da calculadora e da tabela de logaritmos. Mas fique tranquilo em sua prova as
bancas fornecem os valores dos logaritmos.

Exemplo: Determine log 341.

Resolução:
Sabemos que 341 está entre 100 e 1.000:
102 < 341 < 103
Como a característica é o expoente de menor potência de 10, temos que c = 2.
Consultando a tabela para 341, encontramos m = 0,53275. Logo: log 341 = 2 + 0,53275  log 341 = 2,53275.

Propriedades operatórias dos logaritmos

Cologaritmo
cologa b = - loga b, sendo b> 0, a > 0 e a ≠ 1

Mudança de base
Para resolver questões que envolvam logaritmo com bases diferentes, utilizamos a seguinte expressão:

85
MATEMÁTICA

Função logarítmica
Função logarítmica é a função f, de domínio R*+ e contradomínio R, que associa cada número real e positivo x ao logaritmo de x na
base a, onde a é um número real, positivo e diferente de 1.

Gráfico da função logarítmica


Vamos construir o gráfico de duas funções logarítmicas como exemplo:
A) y = log3 x
Atribuímos valores convenientes a x, calculamos y, conforme mostra a tabela. Localizamos os pontos no plano cartesiano obtendo a
curva que representa a função.

B) y = log1/3 x
Vamos tabelar valores convenientes de x, calculando y. Localizamos os pontos no plano cartesiano, determinando a curva correspon-
dente à função.

Observando as funções anteriores, podemos concluir que para y = logax:


• se a > 1, a função é crescente;
• se 0 < a < 1, a função é decrescente.

Equações logarítmicas
A equação logarítmica caracteriza-se pela presença do sinal de igualdade e da incógnita no logaritmando.
Para resolver uma equação, antes de mais nada devemos estabelecer a condição de existência do logaritmo, determinando os valores
da incógnita para que o logaritmando e a base sejam positivos, e a base diferente de 1.

Inequações logarítmicas
Identificamos as inequações logarítmicas pela presença da incógnita no logaritmando e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
Assim como nas equações, devemos garantir a existência do logaritmo impondo as seguintes condições: o logaritmando e a base
devem ser positivos e a base deve ser diferente de 1.

86
MATEMÁTICA

Na resolução de inequações logarítmicas, procuramos obter logaritmos de bases iguais nos dois membros da inequação, para poder
comparar os logaritmandos. Porém, para que não ocorram distorções, devemos verificar se as funções envolvidas são crescentes ou de-
crescentes. A justificativa será feita por meio da análise gráfica de duas funções:

Na função crescente, os sinais coincidem na comparação dos logaritmandos e, posteriormente, dos respectivos logaritmos; porém,
o mesmo não ocorre na função decrescente. De modo geral, quando resolvemos uma inequação logarítmica, temos de observar o valor
numérico da base pois, sendo os dois membros da inequação compostos por logaritmos de mesma base, para comparar os respectivos
logaritmandos temos dois casos a considerar:
• se a base é um número maior que 1 (função crescente), utilizamos o mesmo sinal da inequação;
• se a base é um número entre zero e 1 (função decrescente), utilizamos o “sinal inverso” da inequação.

Concluindo, dada a função y = loga x e dois números reais x1 e x2:

Exemplos:
(PETROBRAS-GEOFISICO JUNIOR – CESGRANRIO) Se log x representa o logaritmo na base 10 de x, então o valor de n tal que log n =
3 - log 2 é:
(A) 2000
(B) 1000
(C) 500
(D) 100
(E) 10

Resolução:
log n = 3 - log 2
log n + log 2 = 3 * 1
onde 1 = log 10 então:
log (n * 2) = 3 * log 10
log(n*2) = log 10 ^3
2n = 10^3
2n = 1000
n = 1000 / 2
n = 500
Resposta: C

87
MATEMÁTICA

(MF – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF) Sabendo-se que log x representa o logaritmo de x na base 10, calcule o valor
da expressão log 20 + log 5.
(A) 5
(B) 4
(C) 1
(D) 2
(E) 3

Resolução:
E = log20 + log5
E = log(2 x 10) + log5
E = log2 + log10 + log5
E = log10 + log (2 x 5)
E = log10 + log10
E = 2 log10
E=2
Resposta: D

Funções trigonométricas
Podemos generalizar e escrever todos os arcos com essa característica na seguinte forma: π/2 + 2kπ, onde k Є Z. E de uma forma geral
abrangendo todos os arcos com mais de uma volta, x + 2kπ.
Estes arcos são representados no plano cartesiano através de funções circulares como: função seno, função cosseno e função tangente.

• Função Seno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu seno, então f(x) = sem x. O sinal da função f(x) = sem x é positivo no 1º
e 2º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 3º e 4º quadrantes.

88
MATEMÁTICA

• Função Cosseno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu cosseno, então f(x) = cos x. O sinal da função f(x) = cos x é positivo no
1º e 4º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 2º e 3º quadrantes.

• Função Tangente
É uma função f : R → R que associa a cada número real x a sua tangente, então f(x) = tg x.
Sinais da função tangente:
- Valores positivos nos quadrantes ímpares.
- Valores negativos nos quadrantes pares.
- Crescente em cada valor.

89
MATEMÁTICA

TRIGONOMETRIA

Trigonometria é a parte da matemática que estuda as relações existentes entre os lados e os ângulos dos triângulos.

No triângulo retângulo
Em todo triângulo retângulo os lados recebem nomes especiais. O maior lado (oposto do ângulo de 90°) é chamado de Hipotenusa
e os outros dois lados menores (opostos aos dois ângulos agudos) são chamados de Catetos. Deles podemos tirar as seguintes relações:
seno (sen); cosseno (cos) e tangente.

Como podemos notar, .

Em todo triângulo a soma dos ângulos internos é igual a 180°.


No triângulo retângulo um ângulo mede 90°, então:
90° + α + β = 180°
α + β = 180° - 90°
α + β = 90°

Quando a soma de dois ângulos é igual a 90°, eles são chamados de Ângulos Complementares. E, neste caso, sempre o seno de um
será igual ao cosseno do outro.

Exemplo:
(FUVEST) A uma distância de 40 m, uma torre é vista sob um ângulo , como mostra a figura.

90
MATEMÁTICA

Sabendo que sen20° = 0,342 e cos20° = 0,940, a altura da torre, Se dois ângulos são complementares, então o seno de um de-
em metros, será aproximadamente: les é igual ao cosseno do complementar. As tangentes de ângulos
(A) 14,552 complementares são inversas.
(B) 14,391
(C) 12,552 No triângulo qualquer
(D) 12,391 As relações trigonométricas se restringem somente a situações
(E) 16,552 que envolvem triângulos retângulos. Essas relações também ocor-
rem nos triângulos obtusos e agudos. Importante sabermos que:
resolução: sen x = sen (180º - x)
Observando a figura, nós temos um triângulo retângulo, vamos cos x = - cos (180º - x)
chamar os vértices de A, B e C. Lei (ou teorema) dos senos
A lei dos senos estabelece relações entre as medidas dos lados
com os senos dos ângulos opostos aos lados.

Lei (ou teorema) dos cossenos


Nos casos em que não podemos aplicar a lei dos senos, temos
o recurso da lei dos cossenos. Ela nos permite trabalhar com a me-
dida de dois segmentos e a medida de um ângulo. Dessa forma, se
dado um triângulo ABC de lados medindo a, b e c, temos:
a² = b² + c² - 2.b.c.cosA
b² = a² + c² - 2.a.c.cosB
Como podemos ver h e 40 m são catetos, a relação a ser usada c² = a² + b² - 2.a.b.cosC
é a tangente. Porém no enunciado foram dados o sen e o cos. Então,
para calcular a tangente, temos que usar a relação fundamental: Exemplo:
Determine o valor do lado oposto ao ângulo de 60º. Observe
figura a seguir:

Resposta: A

Valores Notáveis
Considere um triângulo retângulo BAC. Em resumo temos:

Resolução:
Pela lei dos cossenos
x² = 6² + 8² - 2 * 6 * 8 * cos 60º
x² = 36 + 64 – 96 * 1/2
x² = 100 – 48
x² = 52
√x² = √52
x = 2√13

91
MATEMÁTICA

Círculo trigonométrico
O ciclo trigonométrico é uma circunferência orientada de raio
1. A orientação é:

Arcos côngruos (ou congruentes)


Dois arcos são côngruos (ou congruentes) quando têm a mes-
ma extremidade e diferem entre si apenas pelo número de voltas
Observe que: inteiras.
O cosseno está associado ao eixo A (origem).
O seno está associado ao ângulo de 90º (ângulo reto).

Cada um dos semiplanos situados no círculo trigonométrico é


chamado de quadrante. Os sinais do seno e cosseno variam confor-
me os quadrantes da seguinte forma:

O círculo trigonométrico pode ser medido em radianos ou em


graus. Veja os dois círculos em graus e radianos.
1º quadrante: abscissa positiva e ordenada positiva → 0º < α
< 90º.
2º quadrante: abscissa negativa e ordenada positiva → 90º <
α < 180º.
3º quadrante: abscissa negativa e ordenada negativa → 180º
< α < 270º.
4º quadrante: abscissa positiva e ordenada negativa → 270º <
α < 360º.

Seno
Observando a figura temos:

92
MATEMÁTICA

Ao arco AB está associado o ângulo α; sendo o triângulo OBC Como o ciclo trigonométrico tem raio 1, para qualquer arco α,
retângulo, podemos determinar o seno de α: temos que:
-1≤ cos α ≤ 1

ATENÇÃO:

Observe que BC = OM, portanto podemos substituir BC por


OM, obtendo assim:

Tangente
Na figura, traçamos, no ciclo trigonométrico, uma reta paralela
ao eixo dos senos, tangente ao ciclo no ponto A.
Como o ciclo trigonométrico tem raio 1, para qualquer arco α,
temos que:
1≤ sen α ≤ 1

ATENÇÃO:

Cosseno
Observando a figura temos: No triângulo retângulo OAT, temos:

Como o raio é 1, então OA = 1


tg α = AT

Essa reta é chamada de eixo das tangentes. Observe que a tan-


gente de α é obtida prolongando-se o raio OP até interceptar o eixo
das tangentes.

ATENÇÃO:

O ângulo α está associado ao arco AB. No triângulo retângulo


OMB, calculamos o cosseno de α:

93
MATEMÁTICA

Relações Fundamentais da Trigonometria

Nestas relações, além do senx e cosx, temos: tg (tangente), cotg (cotangente), sec (secante) e cossec (cossecante).

Relações derivadas
Utilizando as definições de cotangente, secante e cossecante associadas à relação fundamental da trigonometria, extraímos formulas
que auxiliam na simplificação de expressões trigonométricas. São elas:

tg² α + 1 = sec² α , sendo α ≠ π/2 + kπ, K Z


1+ cotg² α = cossec² α , sendo α ≠ k.π, K Z

Redução para o primeiro quadrante

sen (90º - x) = cos x sen (90º + x) = cos x


cos (90º - x) = sen x cos (90º + x) = - sen x
tg (90º - x) = cotg x tg (90º -x) = - cotg x
sen (180º - x) = cos x sen (180º + x) = -sem x
cos (180º - x) = - cos x cos (180º + x) = - cos x
tg (180º - x) = - tg x tg (180º + x) = tg x
sen (270º - x) = - cos x sen (270º + x) = - cos x
cos (270º - x) = - sen x cos (270º + x) = sen x
tg (270º - x) = cotg x tg (270º + x) = - cotg x
sen (360º - x) = sen x
cos (360º - x) = cos x
tg (360º - x) = - tg x

94
MATEMÁTICA

Transformações trigonométricas
As fórmulas a seguir permitem calcular o cosseno, o a tangente da soma e da diferença de dois ângulos.

Exemplo:
(SANEAR – FISCAL - FUNCAB) Sendo cos x =1/2 com 0° < x < 90°, determine o valor da expressão E = sen² x + tg² x.
(A) 9/4
(B) 11/4
(C) 13/4
(D) 15/4
(E) 17/4

Resolução:

Resposta: D

95
MATEMÁTICA

Arcos Duplos Equações e inequações trigonométricas


Utilizado quando as fórmulas do seno, cosseno e tangente do Equação é onde a incógnita é uma função trigonométrica; po-
arco (a + b), fazemos b = a. rém nem todos os arcos satisfazem essas equações. Para determi-
nar esses arcos, recorremos ao ciclo trigonométrico sempre que
necessário.

As inequações se caracterizam pela presença de algum dos si-


nais de desigualdade. Como existem infinitos arcos com essas extre-
midades e no enunciado não é dado um intervalo para x, temos de
dar a solução utilizando uma expressão geral. Assim:
S = {x R | x = π/4 + k.2π ou x = 3π/4 + k.2π, K Z}
Arco Metade
O processo para se obter os arcos por simetria, que estão no
Encontramos os valores que mede a/2, conhecendo os valores
2º, 3º ou 4º quadrantes a partir de um arco α do 1º quadrante é o
das funções trigonométricas do arco que mede a.
seguinte:
• no 2º quadrante, subtraímos de π, ou seja, o arco será π - α;
• no 3º quadrante, somamos a π e o arco será π + α;
• no 4º quadrante, subtraímos de 2 π e o arco será 2 π - α.

Grande parte das equações trigonométricas é escrita na forma


de equações trigonométricas elementares ou equações trigonomé-
tricas fundamentais, representadas da seguinte forma:
Funções trigonométricas de arco que mede a, em função da sen x = sen α
tangente do arco metade cos x = cos α
tg x = tg α

Já as inequações, temos 6 tipos de relações fundamentais:


- sen x > n (sen x ≥ n)
- sen x < n (sen x ≤ n)
- cos x > n (cos x ≥ n)
- cos x < n (cos x ≤ n)
- tg x > n (tg x ≥ n)
- tg x < n (tg x ≤ n)

Exemplos:
(FGV) Estima-se que, em 2009, a receita mensal de um hotel te-
nha sido dada (em milhares de reais) por R(t)=3000+1500.cos(πt/6),
em que t = 1 representa o mês de janeiro, t = 2 o mês de fevereiro e
Transformação da soma em produto assim por diante. A receita de março foi inferior à de fevereiro em:
As fórmulas a seguir nos permitirão transformar somas em pro- (A) R$ 850.000,00
dutos. (B) R$ 800.000,00
(C) R$ 700.000,00
(D) R$ 750.000,00
(E) R$ 650.000,00

Resolução:

R(t) = 3000 + 1500.cos(30°.t)


No mês de fevereiro: t = 2
R(2) = 3000 + 1500.cos(30°.2)
R(2) = 3000 + 1500. cos60°
R(2) = 3000 + 1500.1/2
R(2) = 3000 + 750 = 3.750

96
MATEMÁTICA

No mês de março: t = 3 Exemplo:


R(3) = 3000 + 1500.cos(30°.3)
R(3) = 3000 + 1500.cos90° Casos particulares:
R(3) = 3000 + 1500.0 1) , pois a1 = a
R(3) = 3.000 2) , pois na = na
Logo, a receita em março foi menor em: 3.750 – 3.000 = 750. 3) , pois a0 = 1
No enunciado foi dito que a fórmulas está em milhares de reais,
portanto, R$ 750.000,0 Propriedades dos logaritmos
Resposta: D I) Logaritmo do Produto: o logaritmo de um produto é igual à
soma de logaritmos.
(PC/ES - PERITO CRIMINAL ESPECIAL – CESPE/UNB) Consideran-
do a função f(x) = senx - √3 cosx, em que o ângulo x é medido em
graus, julgue o item seguinte: II) Logaritmo da Divisão: o logaritmo da divisão é igual à subtra-
f(x) = 0 para algum valor de x tal que 230º < x < 250º. ção de dois logaritmos.
(certo) (errado)

Resolução: III) Logaritmo da Potência: o expoente passa multiplicando.

Mudança de Base
Sendo , então para f(x) = 0, temos:
Em alguns casos é necessário efetuar uma mudança na base
que foi dada, para isto temos a seguinte fórmula:

PROBABILIDADE

PROBABILIDADES
A teoria da probabilidade permite que se calcule a chance de
ocorrência de um número em um experimento aleatório.
Verificando no ciclo quais ângulos tem este valor de tangente:
Elementos da teoria das probabilidades
• Experimentos aleatórios: fenômenos que apresentam re-
sultados imprevisíveis quando repetidos, mesmo que as condições
sejam semelhantes.
• Espaço amostral: é o conjunto U, de todos os resultados pos-
síveis de um experimento aleatório.
• Evento: qualquer subconjunto de um espaço amostral, ou
seja, qualquer que seja E Ì U, onde E é o evento e U, o espaço amos-
tral.

x = 60° ou x = 240°
Resposta: Certo

LOGARITMO

Sendo a um número real, positivo e diferente de 1 e N um nú-


mero real positivo, chama-se logaritmo de N na base a o número ao
qual devemos elevar a base a para obtermos N.

Definição: , onde: Experimento composto


- N é chamado de logaritmando e N > 0. Quando temos dois ou mais experimentos realizados simulta-
- a é chamado de base e a > 0 e a ≠ 1. neamente, dizemos que o experimento é composto. Nesse caso, o
número de elementos do espaço amostral é dado pelo produto dos
números de elementos dos espaços amostrais de cada experimen-
to.
n(U) = n(U1).n(U2)

97
MATEMÁTICA

Probabilidade de um evento Probabilidade da união de eventos


Em um espaço amostral U, equiprobabilístico (com elementos Para obtermos a probabilidade da união de eventos utilizamos
que têm chances iguais de ocorrer), com n(U) elementos, o evento a seguinte expressão:
E, com n(E) elementos, onde E Ì U, a probabilidade de ocorrer o
evento E, denotado por p(E), é o número real, tal que:

Onde,
n(E) = número de elementos do evento E.
n(S) = número de elementos do espaço amostral S. Quando os eventos forem mutuamente exclusivos, tendo A ∩ B
= Ø, utilizamos a seguinte equação:
Sendo 0 ≤ P(E) ≤ 1 e S um conjunto equiprovável, ou seja, to-
dos os elementos têm a mesma “chance de acontecer.

ATENÇÃO:
As probabilidades podem ser escritas na forma decimal ou re-
presentadas em porcentagem.
Assim: 0 ≤ p(E) ≤ 1, onde:
p(∅) = 0 ou p(∅) = 0%
p(U) = 1 ou p(U) = 100%
Probabilidade de um evento complementar
Exemplo: É quando a soma das probabilidades de ocorrer o evento E, e
(PREF. NITERÓI – AGENTE FAZENDÁRIO – FGV) O quadro a de não ocorrer o evento E (seu complementar, Ē) é 1.
seguir mostra a distribuição das idades dos funcionários de certa
repartição pública:

FAIXA DE IDADES (ANOS) NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS


20 ou menos 2 Probabilidade condicional
De 21 a 30 8 Quando se impõe uma condição que reduz o espaço amostral,
De 31 a 40 12 dizemos que se trata de uma probabilidade condicional.
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral U, com p(B) ≠
De 41 a 50 14 0. Chama-se probabilidade de A condicionada a B a probabilidade
Mais de 50 4 de ocorrência do evento A, sabendo-se que já ocorreu ou que vai
ocorrer o evento B, ou seja:
Escolhendo ao acaso um desses funcionários, a probabilidade
de que ele tenha mais de 40 anos é:
(A) 30%;
(B) 35%;
(C) 40%;
(D) 45%;
(E) 55%. Podemos também ler como: a probabilidade de A “dado que”
ou “sabendo que” a probabilidade de B.
Resolução:
O espaço amostral é a soma de todos os funcionário: – Caso forem dois eventos simultâneos (ou sucessivos): para
2 + 8 + 12 + 14 + 4 = 40 se avaliar a probabilidade de ocorrem dois eventos simultâneos (ou
O número de funcionário que tem mais de 40 anos é: 14 + 4 = sucessivos), que é P (A ∩ B), é preciso multiplicar a probabilidade
18 de ocorrer um deles P(B) pela probabilidade de ocorrer o outro,
Logo a probabilidade é: sabendo que o primeiro já ocorreu P (A | B). Sendo:

Resposta: D

98
MATEMÁTICA

– Se dois eventos forem independentes: dois eventos A e B de B, e que existem mais cinco opções da cidade B para Roma, qual a
um espaço amostral S são independentes quando P(A|B) = P(A) ou quantidade de caminhos que se pode tomar para ir de A até Roma,
P(B|A) = P(B). Sendo os eventos A e B independentes, temos: passando necessariamente por B?
(A) Oito.
(B) Dez.
P (A ∩ B) = P(A). P(B) (C) Quinze.
(D) Dezesseis.
Lei Binomial de probabilidade (E) Vinte.
A lei binominal das probabilidades é dada pela fórmula:
Resolução:
Observe que temos uma sucessão de escolhas:
Primeiro, de A para B e depois de B para Roma.
1ª possibilidade: 3 (A para B).
Obs.: o número 3 representa a quantidade de escolhas para a
primeira opção.
Sendo:
n: número de tentativas independentes; 2ª possibilidade: 5 (B para Roma).
p: probabilidade de ocorrer o evento em cada experimento (su- Temos duas possibilidades: A para B depois B para Roma, logo,
cesso); uma sucessão de escolhas.
q: probabilidade de não ocorrer o evento (fracasso); q = 1 - p Resultado: 3 . 5 = 15 possibilidades.
k: número de sucessos. Resposta: C.

ATENÇÃO: (PREF. CHAPECÓ/SC – ENGENHEIRO DE TRÂNSITO – IOBV) Em


A lei binomial deve ser aplicada nas seguintes condições: um restaurante os clientes têm a sua disposição, 6 tipos de carnes,
– O experimento deve ser repetido nas mesmas condições as 4 tipos de cereais, 4 tipos de sobremesas e 5 tipos de sucos. Se o
n vezes. cliente quiser pedir 1 tipo carne, 1 tipo de cereal, 1 tipo de sobre-
– Em cada experimento devem ocorrer os eventos E e . mesa e 1 tipo de suco, então o número de opções diferentes com
– A probabilidade do E deve ser constante em todas as n vezes. que ele poderia fazer o seu pedido, é:
– Cada experimento é independente dos demais. (A) 19
(B) 480
Exemplo: (C) 420
Lançando-se um dado 5 vezes, qual a probabilidade de ocorre- (D) 90
rem três faces 6?
Resolução:
Resolução: A questão trata-se de princípio fundamental da contagem, logo
n: número de tentativas ⇒ n = 5 vamos enumerar todas as possibilidades de fazermos o pedido:
k: número de sucessos ⇒ k = 3 6 x 4 x 4 x 5 = 480 maneiras.
p: probabilidade de ocorrer face 6 ⇒ p = 1/6 Resposta: B.
q: probabilidade de não ocorrer face 6 ⇒ q = 1- p ⇒ q = 5/6
Fatorial
ANÁLISE COMBINATÓRIA; PERMUTAÇÃO Sendo n um número natural, chama-se de n! (lê-se: n fatorial)
a expressão:
A Análise Combinatória é a parte da Matemática que desen- n! = n (n - 1) (n - 2) (n - 3). ... .2 . 1, como n ≥ 2.
volve meios para trabalharmos com problemas de contagem. Ve-
jamos eles: Exemplos:
5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120.
Princípio fundamental de contagem (PFC) 7! = 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 5.040.
É o total de possibilidades de o evento ocorrer.
ATENÇÃO
• Princípio multiplicativo: P1. P2. P3. ... .Pn.(regra do “e”). É 0! = 1
um princípio utilizado em sucessão de escolha, como ordem.
• Princípio aditivo: P1 + P2 + P3 + ... + Pn. (regra do “ou”). É o 1! = 1
princípio utilizado quando podemos escolher uma coisa ou outra. Tenha cuidado 2! = 2, pois 2 . 1 = 2. E 3!
Não é igual a 3, pois 3 . 2 . 1 = 6.
Exemplos:
(BNB) Apesar de todos os caminhos levarem a Roma, eles pas-
sam por diversos lugares antes. Considerando-se que existem três
caminhos a seguir quando se deseja ir da cidade A para a cidade

99
MATEMÁTICA

Arranjo simples • Sem repetição


Arranjo simples de n elementos tomados p a p, onde n>=1 e p
é um número natural, é qualquer ordenação de p elementos dentre
os n elementos, em que cada maneira de tomar os elementos se
diferenciam pela ordem e natureza dos elementos.
Atenção: Todas as questões de permutação simples podem ser
Atenção: Observe que no grupo dos elementos: {1,2,3} um dos
resolvidas pelo princípio fundamental de contagem (PFC).
arranjos formados, com três elementos, 123 é DIFERENTE de 321, e
assim sucessivamente.
Exemplo:
(PREF. LAGOA DA CONFUSÃO/TO – ORIENTADOR SOCIAL –
• Sem repetição
IDECAN) Renato é mais velho que Jorge de forma que a razão entre
A fórmula para cálculo de arranjo simples é dada por:
o número de anagramas de seus nomes representa a diferença en-
tre suas idades. Se Jorge tem 20 anos, a idade de Renato é
(A) 24.
(B) 25.
(C) 26.
(D) 27.
(E) 28.
Onde:
n = Quantidade total de elementos no conjunto. Resolução:
P =Quantidade de elementos por arranjo Anagramas de RENATO
Exemplo: Uma escola possui 18 professores. Entre eles, serão ______
escolhidos: um diretor, um vice-diretor e um coordenador pedagó- 6.5.4.3.2.1=720
gico. Quantas as possibilidades de escolha?
n = 18 (professores) Anagramas de JORGE
p = 3 (cargos de diretor, vice-diretor e coordenador pedagógi- _____
co) 5.4.3.2.1=120

Razão dos anagramas: 720/120=6


Se Jorge tem 20 anos, Renato tem 20+6=26 anos.
Resposta: C.
• Com repetição
Os elementos que compõem o conjunto podem aparecer re- • Com repetição
petidos em um agrupamento, ou seja, ocorre a repetição de um Na permutação com elementos repetidos ocorrem permuta-
mesmo elemento em um agrupamento. ções que não mudam o elemento, pois existe troca de elementos
A fórmula geral para o arranjo com repetição é representada iguais. Por isso, o uso da fórmula é fundamental.
por:

Exemplo: Seja P um conjunto com elementos: P = {A,B,C,D}, Exemplo:


tomando os agrupamentos de dois em dois, considerando o arranjo (CESPE) Considere que um decorador deva usar 7 faixas colo-
com repetição quantos agrupamentos podemos obter em relação ridas de dimensões iguais, pendurando-as verticalmente na vitri-
ao conjunto P. ne de uma loja para produzir diversas formas. Nessa situação, se 3
faixas são verdes e indistinguíveis, 3 faixas são amarelas e indistin-
Resolução: guíveis e 1 faixa é branca, esse decorador conseguirá produzir, no
P = {A, B, C, D} máximo, 140 formas diferentes com essas faixas.
n=4 ( ) CERTO
p=2 ( ) ERRADO
A(n,p)=np
A(4,2)=42=16 Resolução:
Total: 7 faixas, sendo 3 verdes e 3 amarelas.
Permutação
É a TROCA DE POSIÇÃO de elementos de uma sequência. Utili-
zamos todos os elementos.

Resposta: Certo.

100
MATEMÁTICA

• Circular
A permutação circular é formada por pessoas em um formato circular. A fórmula é necessária, pois existem algumas permutações
realizadas que são iguais. Usamos sempre quando:
a) Pessoas estão em um formato circular.
b) Pessoas estão sentadas em uma mesa quadrada (retangular) de 4 lugares.

Exemplo:
(CESPE) Uma mesa circular tem seus 6 lugares, que serão ocupados pelos 6 participantes de uma reunião. Nessa situação, o número
de formas diferentes para se ocupar esses lugares com os participantes da reunião é superior a 102.
( ) CERTO
( ) ERRADO

Resolução:
É um caso clássico de permutação circular.
Pc = (6 - 1) ! = 5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120 possibilidades.
Resposta: CERTO.

Combinação
Combinação é uma escolha de um grupo, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO a ordem dos elementos envolvidos.

• Sem repetição
Dados n elementos distintos, chama-se de combinação simples desses n elementos, tomados p a p, a qualquer agrupamento de p
elementos distintos, escolhidos entre os n elementos dados e que diferem entre si pela natureza de seus elementos.

Fórmula:

Exemplo:
(CRQ 2ª REGIÃO/MG – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – FUNDEP) Com 12 fiscais, deve-se fazer um grupo de trabalho com 3 deles. Como
esse grupo deverá ter um coordenador, que pode ser qualquer um deles, o número de maneiras distintas possíveis de se fazer esse grupo
é:
(A) 4
(B) 660
(C) 1 320
(D) 3 960

Resolução:
Como trata-se de Combinação, usamos a fórmula:

Onde n = 12 e p = 3

Como cada um deles pode ser o coordenado, e no grupo tem 3 pessoas, logo temos 220 x 3 = 660.
Resposta: B.

101
MATEMÁTICA

As questões que envolvem combinação estão relacionadas a duas coisas:


– Escolha de um grupo ou comissões.
– Escolha de grupo de elementos, sem ordem, ou seja, escolha de grupo de pessoas, coisas, objetos ou frutas.

• Com repetição
É uma escolha de grupos, sem ordem, porém, podemos repetir elementos na hora de escolher.

Exemplo:
Em uma combinação com repetição classe 2 do conjunto {a, b, c}, quantas combinações obtemos?
Utilizando a fórmula da combinação com repetição, verificamos o mesmo resultado sem necessidade de enumerar todas as possibi-
lidades:
n=3ep=2

GEOMETRIA PLANA, ESPACIAL E ANALÍTICA

Geometria plana
Aqui nos deteremos a conceitos mais cobrados como perímetro e área das principais figuras planas. O que caracteriza a geometria
plana é o estudo em duas dimensões.

Perímetro
É a soma dos lados de uma figura plana e pode ser representado por P ou 2p, inclusive existem umas fórmulas de geometria que
aparece p que é o semiperímetro (metade do perímetro). Basta observamos a imagem:

Observe que a planta baixa tem a forma de um retângulo.

Exemplo:
(CPTM - Médico do trabalho – MAKIYAMA) Um terreno retangular de perímetro 200m está à venda em uma imobiliária. Sabe-se que
sua largura tem 28m a menos que o seu comprimento. Se o metro quadrado cobrado nesta região é de R$ 50,00, qual será o valor pago
por este terreno?
(A) R$ 10.000,00.
(B) R$ 100.000,00.
(C) R$ 125.000,00.
(D) R$ 115.200,00.
(E) R$ 100.500,00.

102
MATEMÁTICA

Resolução:
O perímetro do retângulo é dado por = 2(b+h);
Pelo enunciado temos que: sua largura tem 28m a menos que o seu comprimento, logo 2 (x + (x-28)) = 2 (2x -28) = 4x – 56. Como ele
já dá o perímetro que é 200, então
200 = 4x -56  4x = 200+56  4x = 256  x = 64
Comprimento = 64, largura = 64 – 28 = 36
Área do retângulo = b.h = 64.36 = 2304 m2
Logo o valor da área é: 2304.50 = 115200
Resposta: D

• Área
É a medida de uma superfície. Usualmente a unidade básica de área é o m2 (metro quadrado). Que equivale à área de um quadrado
de 1 m de lado.

Quando calculamos que a área de uma determinada figura é, por exemplo, 12 m2; isso quer dizer que na superfície desta figura cabem
12 quadrados iguais ao que está acima.

Planta baixa de uma casa com a área total

Para efetuar o cálculo de áreas é necessário sabermos qual a figura plana e sua respectiva fórmula. Vejamos:

(Fonte: https://static.todamateria.com.br/upload/57/97/5797a651dfb37-areas-de-figuras-planas.jpg)

103
MATEMÁTICA

Geometria espacial
Aqui trataremos tanto das figuras tridimensionais e dos sóli-
dos geométricos. O importante é termos em mente todas as figuras
planas, pois a construção espacial se dá através da junção dessas
figuras. Vejamos:
Diedros
Sendo dois planos secantes (planos que se cruzam) π e π’, o
espaço entre eles é chamado de diedro. A medida de um diedro é
feita em graus, dependendo do ângulo formado entre os planos.

Poliedros
São sólidos geométricos ou figuras geométricas espaciais for-
madas por três elementos básicos: faces, arestas e vértices. Cha-
mamos de poliedro o sólido limitado por quatro ou mais polígonos Poliedros Regulares
planos, pertencentes a planos diferentes e que têm dois a dois so- Um poliedro e dito regular quando:
mente uma aresta em comum. Veja alguns exemplos: - suas faces são polígonos regulares congruentes;
- seus ângulos poliédricos são congruentes;

Por essas condições e observações podemos afirmar que todos


os poliedros de Platão são ditos Poliedros Regulares.

Exemplo:
(PUC/RS) Um poliedro convexo tem cinco faces triangulares e
três pentagonais. O número de arestas e o número de vértices des-
te poliedro são, respectivamente:
(A) 30 e 40
(B) 30 e 24
(C) 30 e 8
(D) 15 e 25
(E) 15 e 9
Os polígonos são as faces do poliedro; os lados e os vértices dos
polígonos são as arestas e os vértices do poliedro. Resolução:
Um poliedro é convexo se qualquer reta (não paralela a ne- O poliedro tem 5 faces triangulares e 3 faces pentagonais, logo,
nhuma de suas faces) o corta em, no máximo, dois pontos. Ele não tem um total de 8 faces (F = 8). Como cada triângulo tem 3 lados e
possuí “reentrâncias”. E caso contrário é dito não convexo. o pentágono 5 lados. Temos:

Relação de Euler
Em todo poliedro convexo sendo V o número de vértices, A o
número de arestas e F o número de faces, valem as seguintes rela-
ções de Euler:
Poliedro Fechado: V – A + F = 2
Poliedro Aberto: V – A + F = 1
Resposta: E
Para calcular o número de arestas de um poliedro temos que
multiplicar o número de faces F pelo número de lados de cada face
Não Poliedros
n e dividir por dois. Quando temos mais de um tipo de face, basta
somar os resultados.
A = n.F/2

Poliedros de Platão
Eles satisfazem as seguintes condições:
- todas as faces têm o mesmo número n de arestas;
- todos os ângulos poliédricos têm o mesmo número m de ares-
tas;
- for válida a relação de Euler (V – A + F = 2).

Os sólidos acima são. São considerados não planos pois pos-


suem suas superfícies curvas.
Cilindro: tem duas bases geometricamente iguais definidas por
curvas fechadas em superfície lateral curva.

104
MATEMÁTICA

Cone: tem uma só base definida por uma linha curva fechada e Onde a é igual a h (altura do sólido)
uma superfície lateral curva.
Esfera: é formada por uma única superfície curva. c) O cubo e o paralelepípedo retângulo são prismas;
d) O volume do cilindro também se pode calcular da mesma
Planificações de alguns Sólidos Geométricos forma que o volume de um prisma reto.

Área e Volume dos sólidos geométricos

PRISMA: é um sólido geométrico que possui duas bases iguais


e paralelas.

Exemplo:
(PREF. JUCÁS/CE – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – INSTITUTO
NEO EXITUS) O número de faces de um prisma, em que a base é um
polígono de n lados é:
(A) n + 1.
(B) n + 2.
(C) n.
Fonte: https://1.bp.blogspot.com/-WWDbQ-Gh5zU/Wb7iCjR42BI/ (D) n – 1.
AAAAAAAAIR0/kfRXIcIYLu4Iqf7ueIYKl39DU-9Zw24lgCLcBGAs/ (E) 2n + 1.
s1600/revis%25C3%25A3o%2Bfiguras%2Bgeom%25C3%25A9tri-
cas-page-001.jpg Resolução:
Se a base tem n lados, significa que de cada lado sairá uma face.
Sólidos geométricos Assim, teremos n faces, mais a base inferior, e mais a base su-
O cálculo do volume de figuras geométricas, podemos pedir perior.
que visualizem a seguinte figura: Portanto, n + 2
Resposta: B

PIRÂMIDE: é um sólido geométrico que tem uma base e um


vértice superior.

a) A figura representa a planificação de um prisma reto;


b) O volume de um prisma reto é igual ao produto da área da
base pela altura do sólido, isto é:
V = Ab. a

105
MATEMÁTICA

CONE: é um sólido geométrico que tem uma base circular e


vértice superior.

Exemplo:
Uma pirâmide triangular regular tem aresta da base igual a 8
cm e altura 15 cm. O volume dessa pirâmide, em cm3, é igual a:
(A) 60
(B) 60
(C) 80
(D) 80
(E) 90

Resolução:
Do enunciado a base é um triângulo equilátero. E a fórmula
da área do triângulo equilátero é . A aresta da base é a = 8 cm e h
= 15 cm.
Cálculo da área da base:

Cálculo do volume: Exemplo:


Um cone equilátero tem raio igual a 8 cm. A altura desse cone,
em cm, é:

(A)

(B)

(C)

Resposta: D (D)
CILINDRO: é um sólido geométrico que tem duas bases iguais,
paralelas e circulares. (E) 8

Resolução:
Em um cone equilátero temos que g = 2r. Do enunciado o raio
é 8 cm, então a geratriz é g = 2.8 = 16 cm.
g2 = h2 + r2
162 = h2 + 82
256 = h2 + 64
256 – 64 = h2
h2 = 192

106
MATEMÁTICA

Exemplo:
(ESCOLA DE SARGENTO DAS ARMAS – COMBATENTE/LOGÍSTI-
CA – TÉCNICA/AVIAÇÃO – EXÉRCITO BRASILEIRO) O volume de um
tronco de pirâmide de 4 dm de altura e cujas áreas das bases são
iguais a 36 dm² e 144 dm² vale:
(A) 330 cm³
(B) 720 dm³
Resposta: D (C) 330 m³
(D) 360 dm³
ESFERA: superfície curva, possui formato de uma bola. (E) 336 dm³

Resolução:

AB=144 dm²
Ab=36 dm²

Resposta: E

Geometria analítica
Um dos objetivos da Geometria Analítica é determinar a reta
que representa uma certa equação ou obter a equação de uma reta
dada, estabelecendo uma relação entre a geometria e a álgebra.

Sistema cartesiano ortogonal (PONTO)


Para representar graficamente um par ordenado de números
reais, fixamos um referencial cartesiano ortogonal no plano. A reta
x é o eixo das abscissas e a reta y é o eixo das ordenadas. Como se
pode verificar na imagem é o Sistema cartesiano e suas proprieda-
des.

TRONCOS: são cortes feitos nas superfícies de alguns dos sóli-


dos geométricos. São eles:

Para determinarmos as coordenadas de um ponto P, traçamos


linhas perpendiculares aos eixos x e y.
• xp é a abscissa do ponto P;
• yp é a ordenada do ponto P;
• xp e yp constituem as coordenadas do ponto P.

107
MATEMÁTICA

Baricentro
O baricentro (G) de um triângulo é o ponto de intersecção das
medianas do triângulo. O baricentro divide as medianas na razão
de 2:1.

Mediante a esse conhecimento podemos destacar as formulas


que serão uteis ao cálculo.

Distância entre dois pontos de um plano


Por meio das coordenadas de dois pontos A e B, podemos lo-
calizar esses pontos em um sistema cartesiano ortogonal e, com
isso, determinar a distância d(A, B) entre eles. O triângulo formado Condição de alinhamento de três pontos
é retângulo, então aplicamos o Teorema de Pitágoras. Consideremos três pontos de uma mesma reta (colineares),
A(x1, y1), B(x2, y2) e C(x3, y3).

Estes pontos estarão alinhados se, e somente se:

Ponto médio de um segmento

Por outro lado, se D ≠ 0, então os pontos A, B e C serão vértices


de um triângulo cuja área é:

onde o valor do determinante é sempre dado em módulo, pois


a área não pode ser um número negativo.

Inclinação de uma reta e Coeficiente angular de uma reta (ou


declividade)
À medida do ângulo α, onde α é o menor ângulo que uma reta
forma com o eixo x, tomado no sentido anti-horário, chamamos de
inclinação da reta r do plano cartesiano.

108
MATEMÁTICA

Já a declividade é dada por: m = tgα

Cálculo do coeficiente angular


Se a inclinação α nos for desconhecida, podemos calcular o
coeficiente angular m por meio das coordenadas de dois pontos da
reta, como podemos verificar na imagem.
2) Dois pontos: A(x1, y1) e B(x2, y2)
Consideremos os pontos A(1, 4) e B(2, 1). Com essas informa-
ções, podemos determinar o coeficiente angular da reta:

Com o coeficiente angular, podemos utilizar qualquer um dos


dois pontos para determinamos a equação da reta. Temos A(1, 4),
m = -3 e Q(x, y)
y - y1 = m.(x - x1) ⇒ y - 4 = -3. (x - 1) ⇒ y - 4 = -3x + 3 ⇒ 3x + y - 4 - 3
= 0 ⇒ 3x + y - 7 = 0

Equação reduzida da reta


A equação reduzida é obtida quando isolamos y na equação da
reta y - b = mx
Reta

Equação da reta
A equação da reta é determinada pela relação entre as abscis-
sas e as ordenadas. Todos os pontos desta reta obedecem a uma
mesma lei. Temos duas maneiras de determinar esta equação:

1) Um ponto e o coeficiente angular

Exemplo:
Consideremos um ponto P(1, 3) e o coeficiente angular m = 2.
Dados P(x1, y1) e Q(x, y), com P ∈ r, Q ∈ r e m a declividade da
reta r, a equação da reta r será:

– Equação segmentária da reta


É a equação da reta determinada pelos pontos da reta que in-
terceptam os eixos x e y nos pontos A (a, 0) e B (0,b).

109
MATEMÁTICA

B) Retas paralelas: Se r1 e r2 são paralelas, seus ângulos com o


eixo x são iguais e, em consequência, seus coeficientes angulares
são iguais (m1 = m2). Entretanto, para que sejam paralelas, é neces-
sário que seus coeficientes lineares n1 e n2 sejam diferentes

Equação geral da reta


Toda equação de uma reta pode ser escrita na forma:
ax + by + c = 0

onde a, b e c são números reais constantes com a e b não si-


multaneamente nulos.

Posições relativas de duas retas


Em relação a sua posição elas podem ser:
C) Retas coincidentes: Se r1 e r2 são coincidentes, as retas cor-
A) Retas concorrentes: Se r1 e r2 são concorrentes, então seus tam o eixo y no mesmo ponto; portanto, além de terem seus coe-
ângulos formados com o eixo x são diferentes e, como consequên- ficientes angulares iguais, seus coeficientes lineares também serão
cia, seus coeficientes angulares são diferentes. iguais.

110
MATEMÁTICA

Intersecção de retas Resolução:


Duas retas concorrentes, apresentam um ponto de intersecção xo = 3, yo = 5 e = 1. As alternativas estão na forma de equação
P(a, b), em que as coordenadas (a, b) devem satisfazer as equações reduzida, então:
de ambas as retas. Para determinarmos as coordenadas de P, basta y – yo = m(x – xo)
resolvermos o sistema constituído pelas equações dessas retas. y – 5 = 1.(x – 3)
y–5=x–3
Condição de perpendicularismo y=x–3+5
Se duas retas, r1 e r2, são perpendiculares entre si, a seguinte y=x+2
relação deverá ser verdadeira. Resposta: C

Circunferência
É o conjunto dos pontos do plano equidistantes de um ponto
fixo O, denominado centro da circunferência.
A medida da distância de qualquer ponto da circunferência ao
centro O é sempre constante e é denominada raio.

Equação reduzida da circunferência


onde m1 e m2 são os coeficientes angulares das retas r1 e r2,
Dados um ponto P(x, y) qualquer, pertencente a uma circunfe-
respectivamente.
rência de centro O(a,b) e raio r, sabemos que: d(O,P) = r.
Distância entre um ponto e uma reta
A distância de um ponto a uma reta é a medida do segmento
perpendicular que liga o ponto à reta. Utilizamos a fórmula a seguir
para obtermos esta distância.

Equação Geral da circunferência


A equação geral de uma circunferência é obtida através do de-
onde d(P, r) é a distância entre o ponto P(xP, yP) e a reta r . senvolvimento da equação reduzida.

Exemplo:
(UEPA) O comandante de um barco resolveu acompanhar a
procissão fluvial do Círio-2002, fazendo o percurso em linha reta.
Para tanto, fez uso do sistema de eixos cartesianos para melhor
orientação. O barco seguiu a direção que forma 45° com o sentido
positivo do eixo x, passando pelo ponto de coordenadas (3, 5). Este Exemplo:
trajeto ficou bem definido através da equação: (VUNESP) A equação da circunferência, com centro no ponto
(A) y = 2x – 1 C(2, 1) e que passa pelo ponto P(0, 3), é:
(B) y = - 3x + 14 (A) x2 + (y – 3)2 = 0
(C) y = x + 2 (B) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 4
(D) y = - x + 8 (C) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 8
(E) y = 3x – 4 (D) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 16
(E) x2 + (y – 3)2 = 8

111
MATEMÁTICA

Resolução: b) Centrada na origem e com o eixo maior na vertical.


Temos que C(2, 1), então a = 2 e b = 1. O raio não foi dado no
enunciado.
(x – a)2 + (y – b)2 = r2
(x – 2)2 + (y – 1)2 = r2 (como a circunferência passa pelo ponto P,
basta substituir o x por 0 e o y por 3 para achar a raio.
(0 – 2)2 + (3 – 1)2 = r2
(- 2)2 + 22 = r2
4 + 4 = r2
r2 = 8
(x – 2)2 + (y – 1)2 = 8
Resposta: C

Elipse MATRIZES E DETERMINANTES


É o conjunto dos pontos de um plano cuja soma das distâncias
a dois pontos fixos do plano é constante. Onde F1 e F2 são focos: Matriz
Uma matriz é uma tabela de números reais dispostos segundo
linhas horizontais e colunas verticais.
O conjunto ordenado dos números que formam a tabela, é de-
nominado matriz, e cada número pertencente a ela é chamado de
elemento da matriz.

• Tipo ou ordem de uma matriz


As matrizes são classificadas de acordo com o seu número de
linhas e de colunas. Assim, a matriz representada a seguir é deno-
minada matriz do tipo, ou ordem, 3 x 4 (lê-se três por quatro), pois
tem três linhas e quatro colunas. Exemplo:

Mesmo que mudemos o eixo maior da elipse do eixo x para


o eixo y, a relação de Pitágoras (a2 =b2 + c2) continua sendo válida.

• Representação genérica de uma matriz


Costumamos representar uma matriz por uma letra maiúscula
(A, B, C...), indicando sua ordem no lado inferior direito da letra.
Quando desejamos indicar a ordem de modo genérico, fazemos uso
de letras minúsculas. Exemplo: Am x n.
Da mesma maneira, indicamos os elementos de uma matriz
Equações da elipse pela mesma letra que a denomina, mas em minúscula. A linha e a
a) Centrada na origem e com o eixo maior na horizontal. coluna em que se encontra tal elemento é indicada também no lado
inferior direito do elemento. Exemplo: a11.

112
MATEMÁTICA

Exemplo:
(PM/SE – SOLDADO 3ª CLASSE – FUNCAB) A matriz abaixo registra as ocorrências policiais em uma das regiões da cidade durante uma
semana.

Sendo M=(aij)3x7 com cada elemento aij representando o número de ocorrência no turno i do dia j da semana.
O número total de ocorrências no 2º turno do 2º dia, somando como 3º turno do 6º dia e com o 1º turno do 7º dia será:
(A) 61
(B) 59
(C) 58
(D) 60
(E) 62

Resolução:
Turno i –linha da matriz
Turno j- coluna da matriz
2º turno do 2º dia – a22=18
3º turno do 6º dia-a36=25
1º turno do 7º dia-a17=19
Somando:18+25+19=62
Resposta: E

• Igualdade de matrizes
Duas matrizes A e B são iguais quando apresentam a mesma ordem e seus elementos correspondentes forem iguais.

• Operações com matrizes


– Adição: somamos os elementos correspondentes das matrizes, por isso, é necessário que as matrizes sejam de mesma ordem.
A=[aij]m x n; B = [bij]m x n, portanto C = A + B ⇔ cij = aij + bij.

113
MATEMÁTICA

Exemplo:
(PM/SP – SARGENTO CFS – CETRO) Considere a seguinte sentença envolvendo matrizes:

Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta o valor de y que torna a sentença verdadeira.
(A) 4.
(B) 6.
(C) 8.
(D) 10.

Resolução:

y=10
Resposta: D

– Multiplicação por um número real: sendo k ∈ R e A uma matriz de ordem m x n, a matriz k . A é obtida multiplicando-se todos os
elementos de A por k.

– Subtração: a diferença entre duas matrizes A e B (de mesma ordem) é obtida por meio da soma da matriz A com a oposta de B.

– Multiplicação entre matrizes: consideremos o produto A . B = C. Para efetuarmos a multiplicação entre A e B, é necessário, antes de
mais nada, determinar se a multiplicação é possível, isto é, se o número de colunas de A é igual ao número de linhas de B, determinando
a ordem de C: Am x n x Bn x p = Cm x p, como o número de colunas de A coincide com o de linhas de B(n) então torna-se possível o produto, e a
matriz C terá o número de linhas de A(m) e o número de colunas de B(p)

De modo geral, temos:

114
MATEMÁTICA

Exemplo:
(CPTM – ALMOXARIFE – MAKIYAMA) Assinale a alternativa
que apresente o resultado da multiplicação das matrizes A e B abai-
xo:

(A)

Exemplo:
(B) (CPTM – ANALISTA DE COMUNICAÇÃO JÚNIOR – MAKIYAMA)
Para que a soma de uma matriz e sua respectiva matriz transposta
At em uma matriz identidade, são condições a serem cumpridas:
(A) a=0 e d=0
(C)
(B) c=1 e b=1
(C) a=1/c e b=1/d
(D) a²-b²=1 e c²-d²=1
(D) (E) b=-c e a=d=1/2

Resolução:

(E)

Resolução: 2a=1
a=1/2
b+c=0
b=-c
2d=1
D=1/2

Resposta: E
– Matriz inversa: dizemos que uma matriz quadrada A, de or-
dem n, admite inversa se existe uma matriz A-1, tal que:
Resposta: B
• Casos particulares
– Matriz identidade ou unidade: é a matriz quadrada que pos-
sui os elementos de sua diagonal principal iguais a 1 e os demais
elementos iguais a 0. Indicamos a matriz identidade de Ιn, onde n é Determinantes
a ordem da matriz. Determinante é um número real associado a uma matriz qua-
drada. Para indicar o determinante, usamos barras. Seja A uma ma-
triz quadrada de ordem n, indicamos o determinante de A por:

– Matriz transposta: é a matriz obtida pela troca ordenada de


linhas por colunas de uma matriz. Dada uma matriz A de ordem m
x n, obtém-se uma outra matriz de ordem n x m, chamada de trans-
posta de A. Indica-se por At.
• Determinante de uma matriz de 1ª- ordem
A matriz de ordem 1 só possui um elemento. Por isso, o deter-
minante de uma matriz de 1ª ordem é o próprio elemento.

115
MATEMÁTICA

• Determinante de uma matriz de 2ª- ordem


Em uma matriz de 2ª ordem, obtém-se o determinante por meio da diferença do produto dos elementos da diagonal principal pelo
produto dos elementos da diagonal secundária.

Exemplo:
(PM/SP – SARGENTO CFS – CETRO) É correto afirmar que o determinante é igual a zero para x igual a
(A) 1.
(B) 2.
(C) -2.
(D) -1.

Resolução:
D = 4 - (-2x)
0 = 4 + 2x
x=-2

Resposta: C

• Regra de Sarrus
Esta técnica é utilizada para obtermos o determinante de matrizes de 3ª ordem. Utilizaremos um exemplo para mostrar como aplicar
a regra de Sarrus. A regra de Sarrus consiste em:
a) Repetir as duas primeiras colunas à direita do determinante.
b) Multiplicar os elementos da diagonal principal e os elementos que estiverem nas duas paralelas a essa diagonal, conservando os
sinais desses produtos.
c) Efetuar o produto dos elementos da diagonal secundária e dos elementos que estiverem nas duas paralelas à diagonal e multipli-
cá-los por -1.
d) Somar os resultados dos itens b e c. E assim encontraremos o resultado do determinante.

Simplificando temos:

Exemplo:
(PREF. ARARAQUARA/SP – AGENTE DA ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO – CETRO) Dada a matriz

, assinale a alternativa que apresenta o valor do determinante de A é

(A) -9.
(B) -8.
(C) 0.
(D) 4.

116
MATEMÁTICA

Resolução:

detA = - 1 – 4 + 2 - (2 + 2 + 2) = - 9

Resposta: A

• Teorema de Laplace
Para matrizes quadradas de ordem n ≥ 2, o teorema de Laplace oferece uma solução prática no cálculo dos determinantes. Pelo teo-
rema, o determinante de uma matriz quadrada A de ordem n (n ≥ 2) é igual à soma dos produtos dos elementos de uma linha ou de uma
coluna qualquer, pelos respectivos co-fatores. Exemplo:

Dada a matriz quadrada de ordem 3, , vamos calcular det A usando o teorema de Laplace.
Podemos calcular o determinante da matriz A, escolhendo qualquer linha ou coluna. Por exemplo, escolhendo a 1ª linha, teremos:
det A = a11. A11 + a12. A12 + a13. A13

Portanto, temos que:


det A = 3. (-21) + 2. 6 + 1. (-12) ⇒ det A = -63 + 12 – 12 ⇒ det A = -63

Exemplo:
(TRANSPETRO – ENGENHEIRO JÚNIOR – AUTOMAÇÃO – CESGRANRIO) Um sistema dinâmico, utilizado para controle de uma rede
automatizada, forneceu dados processados ao longo do tempo e que permitiram a construção do quadro abaixo.

1 3 2 0
3 1 0 2
2 3 0 1
0 2 1 3

A partir dos dados assinalados, mantendo-se a mesma disposição, construiu-se uma matriz M. O valor do determinante associado à
matriz M é
(A) 42
(B) 44
(C) 46
(D) 48
(E) 50

117
MATEMÁTICA

Resolução:

Como é uma matriz 4x4 vamos achar o determinante através do teorema de Laplace. Para isso precisamos, calcular os cofatores. Dica:
pela fileira que possua mais zero. O cofator é dado pela fórmula: . Para o determinante é usado os números
que
sobraram tirando a linha e a coluna.

Resposta: D

• Determinante de uma matriz de ordem n > 3


Para obtermos o determinante de matrizes de ordem n > 3, utilizamos o teorema de Laplace e a regra de Sarrus.

Exemplo:

Escolhendo a 1ª linha para o desenvolvimento do teorema de Laplace. Temos então:


det A = a11. A11 + a12. A12 + a13. A13 + a14. A14

118
MATEMÁTICA

Como os determinantes são, agora, de 3ª ordem, podemos ATENÇÃO: TODOS os expoentes de todas as variáveis são
aplicar a regra de Sarrus em cada um deles. Assim: SEMPRE iguais a 1.
det A= 3. (188) - 1. (121) + 2. (61) ⇒ det A = 564 - 121 + 122 ⇒
det A = 565 • Solução de uma equação linear
Dada uma equação linear com n incógnitas:
• Propriedades dos determinantes a1x1 + a2x2 + ... + anxn = b, temos que sua solução é a sequência
a) Se todos os elementos de uma linha ou de uma coluna são de números reais (k1, k2, ..., kn) que, colocados correspondentemen-
nulos, o determinante é nulo. te no lugar de x1, x2, ..., xn, tornam verdadeira a igualdade.
Quando a equação linear for homogênea, então ela admitirá
pelo menos a solução (0, 0, ..., 0), chamada de solução trivial.

• Representação genérica de um sistema linear


Um sistema linear de m equações nas n incógnitas x1, x2, ..., xn
é da forma:

b) Se uma matriz A possui duas linhas ou duas colunas iguais,


então o determinante é nulo.

onde a11, a12 , ..., an e b1, b2 , ..., bn são números reais.

c) Em uma matriz cuja linha ou coluna foi multiplicada por um Se o conjunto de números reais (k1, k2, ..., kn) torna verdadeiras
número k real, o determinante também fica multiplicado pelo mes- todas as equações do sistema, dizemos que esse conjunto é solu-
mo número k. ção do sistema linear. Como as equações lineares são homogêneas
quando b = 0, então, consequentemente, um sistema linear será
homogêneo quando b1 = b2 = ... = bn = 0. Assim, o sistema admitirá
a solução trivial, (0, 0, ... 0).

Exemplo:
Na equação 4x – y = 2, o par ordenado (3,10) é uma solução,
pois ao substituirmos esses valores na equação obtemos uma igual-
dade.
4. 3 – 10 → 12 – 10 = 2
Já o par (3,0) não é a solução, pois 4.3 – 0 = 2 → 12 ≠ 2
d) Para duas matrizes quadradas de mesma ordem, vale a se-
guinte propriedade:
• Representação de um sistema linear por meio de matrizes
Um sistema linear de m equações com n incógnitas pode ser
det (A. B) = det A + det B.
escrito sob a forma de matrizes, bastando separar seus componen-
tes por matriz.
e) Uma matriz quadrada A será inversível se, e somente se, seu
Sejam:
determinante for diferente de zero.
Amn ⇒ a matriz dos coeficientes das incógnitas;
Xn1 ⇒ a matriz das incógnitas;
Sistemas lineares
Bn1 ⇒ a matriz dos termos independentes.
Entendemos por sistema linear um conjunto de equações li-
neares reunidas com o objetivo de se obterem soluções comuns a
todas essas equações.

• Equação linear
Chamamos de equações lineares as equações do 1º grau que
apresentam a forma:
a1x1 + a2x2 + a3x3+...anxn = b,

onde a1, a2, a3,.., an e b são números reais


x1, x2, x3,.., xn são as incógnitas.
Os números reais a1, a2, a3..., an são chamados de coeficientes e
b é o termo independente.

119
MATEMÁTICA

Portanto, podemos escrever o sistema sob a forma matricial: Suponhamos que a ≠ 0. Observamos que a matriz incompleta
desse sistema é

, cujo determinante é indicado por D = ad –


bc.

Escalonando o sistema, obtemos:

• Sistema normal
É o sistema em que o número de equações é igual ao número
de incógnitas (m = n) e o determinante da matriz dos coeficientes é
diferente de zero.
Se substituirmos em M a 2ª coluna (dos coeficientes de y) pela
Exemplo: coluna dos coeficientes independentes, obteremos , cujo de-
terminante é indicado por Dy = af – ce.
Dado o sistema S: , temos Assim, em (*), na 2ª equação, obtemos D. y = Dy. Se D ≠ 0, se-

gue que

Substituindo esse valor de y na 1ª equação de (*) e conside-

rando a matriz , cujo determinante é indicado por Dx =


Logo, o sistema linear S é normal. ed – bf, obtemos , D ≠ 0.

• Classificação de um sistema linear


Classificar um sistema linear é considerá-lo em relação ao nú- Em síntese, temos:
mero de soluções que ele apresenta. Assim, os sistemas lineares
podem ser:
a) Sistema impossível ou incompatível: quando não admite so- O sistema é possível e determinado quando
lução. O sistema não admite solução quando o det A for nulo, e pelo
menos um dos determinantes relativos às incógnitas for diferente
, e a solução desse sistema é dada por:
de zero, isto é: det A 1 0 ou det A2 0 ou ... ou det An 0.
b) Sistema possível ou compatível: quando admite pelo menos
uma solução. Este sistema pode ser:
– Determinado: quando admitir uma única solução. ‘O sistema
é determinado quando det A 0.
Em resumo temos:

Esta regra é um importante recurso na resolução de sistemas


lineares possíveis e determinados, especialmente quando o escalo-
namento se torna trabalhoso (por causa dos coeficientes das equa-
ções) ou quando o sistema é literal.

Exemplo:
Aplicando a Regra de Cramer para resolver os sistemas

• Regra de Cramer Temos que , dessa forma, SPD.


Para a resolução de sistemas normais, utilizaremos a regra de
Cramer.

Consideramos os sistemas .

120
MATEMÁTICA

Uma alternativa para encontrar o valor de z seria substituir x por -2 e y por 3 em qualquer uma das equações do sistema.
Assim, S = {(-2,3-1)}.

Exemplos:
(UNIOESTE – ANALISTA DE INFORMÁTICA – UNIOESTE) Considere o seguinte sistema de equações lineares

Assinale a alternativa correta.


(A) O determinante da matriz dos coeficientes do sistema é um número estritamente positivo.
(B) O sistema possui uma única solução (1, 1, -1).
(C) O sistema possui infinitas soluções.
(D) O posto da matriz ampliada associada ao sistema é igual a 3.
(E) Os vetores linha (1, 2, 3/2) e (2, 4, 3) não são colineares.

Resolução:

O sistema pode ser SI(sistema impossível) ou SPI(sistema possível indeterminado)


Para ser SI Dx = 0 e SPI Dx ≠ 0

Dx ≠ 0, portanto o sistema tem infinitas soluções.


Resposta: C

(SEDUC/RJ - PROFESSOR – MATEMÁTICA – CEPERJ) Sabendo-se que 2a + 3b + 4c = 17 e que 4a + b - 2c = 9, o valor de a + b + c é:


(A) 3.
(B) 4.
(C) 5.
(D) 6.
(E) 7.

121
MATEMÁTICA

Resolução: ______________________________________________________
(I) 2a + 3b + 4c = 17 x(-2)
(II) 4a + b – 2c = 9 ______________________________________________________
Multiplicamos a primeira equação por – 2 e somamos com a
segunda, cancelando a variável a: ______________________________________________________
(I) 2a + 3b + 4c = 17
______________________________________________________
(II) – 5b – 10c = - 25 : (- 5)
______________________________________________________
Então:
(I) 2a + 3b + 4c = 17 ______________________________________________________
(II) b +2c = 5
Um sistema com três variáveis e duas equações é possível e ______________________________________________________
indeterminado (tem infinitas soluções), então fazendo a variável c =
α (qualquer letra grega). ______________________________________________________
Substituímos c em (II):
______________________________________________________
b + 2α = 5
Reposta: D ______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
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122
CONHECIMENTOS GERAIS

TEMAS RELEVANTES E ATUAIS DE DIVERSAS ÁREAS: O mundo da informação está cada vez mais virtual e tecnoló-
SEGURANÇA, POLÍTICA, ECONOMIA, EDUCAÇÃO, SAÚDE, gico, as sociedades se informam pela internet e as compartilham
CULTURA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTEN- em velocidades incalculáveis. Pensando nisso, a editora prepara
TÁVEL; mensalmente o material de atualidades de mais diversos campos
do conhecimento (tecnologia, Brasil, política, ética, meio ambiente,
jurisdição etc.) na “Área do Cliente”.
A importância do estudo de atualidades Lá, o concurseiro encontrará um material completo de aula pre-
Dentre todas as disciplinas com as quais concurseiros e estudantes parado com muito carinho para seu melhor aproveitamento. Com
de todo o país se preocupam, a de atualidades tem se tornado cada vez o material disponibilizado online, você poderá conferir e checar os
mais relevante. Quando pensamos em matemática, língua portuguesa, fatos e fontes de imediato através dos veículos de comunicação vir-
biologia, entre outras disciplinas, inevitavelmente as colocamos em um tuais, tornando a ponte entre o estudo desta disciplina tão fluida e
patamar mais elevado que outras que nos parecem menos importan- a veracidade das informações um caminho certeiro.
tes, pois de algum modo nos é ensinado a hierarquizar a relevância de
certos conhecimentos desde os tempos de escola. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO
No, entanto, atualidades é o único tema que insere o indivíduo PÚBLICA (CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ART. 37 A 40).
no estudo do momento presente, seus acontecimentos, eventos
e transformações. O conhecimento do mundo em que se vive de
modo algum deve ser visto como irrelevante no estudo para concur- Disposições gerais e servidores públicos
sos, pois permite que o indivíduo vá além do conhecimento técnico A expressão Administração Pública em sentido objetivo traduz
e explore novas perspectivas quanto à conhecimento de mundo. a ideia de atividade, tarefa, ação ou função de atendimento ao inte-
Em sua grande maioria, as questões de atualidades em con- resse coletivo. Já em sentido subjetivo, indica o universo dos órgãos
cursos são sobre fatos e acontecimentos de interesse público, mas e pessoas que desempenham função pública.
podem também apresentar conhecimentos específicos do meio po- Conjugando os dois sentidos, pode-se conceituar a Administra-
lítico, social ou econômico, sejam eles sobre música, arte, política, ção Pública como sendo o conjunto de pessoas e órgãos que de-
economia, figuras públicas, leis etc. Seja qual for a área, as questões sempenham uma função de atendimento ao interesse público, ou
de atualidades auxiliam as bancas a peneirarem os candidatos e se- seja, que estão a serviço da coletividade.
lecionarem os melhores preparados não apenas de modo técnico.
Sendo assim, estudar atualidades é o ato de se manter cons- Princípios da Administração Pública
tantemente informado. Os temas de atualidades em concursos são Nos termos do caput do Artigo 37 da CF, a administração públi-
sempre relevantes. É certo que nem todas as notícias que você vê ca direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
na televisão ou ouve no rádio aparecem nas questões, manter-se do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
informado, porém, sobre as principais notícias de relevância nacio- legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
nal e internacional em pauta é o caminho, pois são debates de ex- As provas de Direito Constitucional exigem com frequência a
trema recorrência na mídia. memorização de tais princípios. Assim, para facilitar essa memori-
O grande desafio, nos tempos atuais, é separar o joio do trigo. zação, já é de praxe valer-se da clássica expressão mnemônica “LIM-
Com o grande fluxo de informações que recebemos diariamente, é PE”. Observe o quadro abaixo:
preciso filtrar com sabedoria o que de fato se está consumindo. Por
diversas vezes, os meios de comunicação (TV, internet, rádio etc.) Princípios da Administração Pública
adaptam o formato jornalístico ou informacional para transmitirem
outros tipos de informação, como fofocas, vidas de celebridades, L Legalidade
futebol, acontecimentos de novelas, que não devem de modo al- I Impessoalidade
gum serem inseridos como parte do estudo de atualidades. Os in-
teresses pessoais em assuntos deste cunho não são condenáveis de M Moralidade
modo algum, mas são triviais quanto ao estudo. P Publicidade
Ainda assim, mesmo que tentemos nos manter atualizados
E Eficiência
através de revistas e telejornais, o fluxo interminável e ininterrupto
de informações veiculados impede que saibamos de fato como es- LIMPE
tudar. Apostilas e livros de concursos impressos também se tornam
rapidamente desatualizados e obsoletos, pois atualidades é uma
disciplina que se renova a cada instante.

123
CONHECIMENTOS GERAIS

Passemos ao conceito de cada um deles: Em decorrência disso, a administração pública está obrigada a
desenvolver mecanismos capazes de propiciar os melhores resul-
– Princípio da Legalidade tados possíveis para os administrados. Portanto, a Administração
De acordo com este princípio, o administrador não pode agir Pública será considerada eficiente sempre que o melhor resultado
ou deixar de agir, senão de acordo com a lei, na forma determinada. for atingido.
O quadro abaixo demonstra suas divisões.
Disposições Gerais na Administração Pública
Princípio da Legalidade O esquema abaixo sintetiza a definição de Administração Pú-
blica:
Em relação à A Administração Pública
Administração Pública somente pode fazer o que a lei
permite → Princípio da Estrita Administração Pública
Legalidade Direta Indireta
Em relação ao Particular O Particular pode fazer tudo Federal Autarquias (podem ser
que a lei não proíbe Estadual qualificadas como agências
Distrital reguladoras)
– Princípio da Impessoalidade Municipal Fundações (autarquias
Em decorrência deste princípio, a Administração Pública deve e fundações podem ser
servir a todos, sem preferências ou aversões pessoais ou partidá- qualificadas como agências
rias, não podendo atuar com vistas a beneficiar ou prejudicar de- executivas)
terminadas pessoas, uma vez que o fundamento para o exercício de Sociedades de economia
sua função é sempre o interesse público. mista
Empresas públicas
– Princípio da Moralidade
Entes Cooperados
Tal princípio caracteriza-se por exigir do administrador público
um comportamento ético de conduta, ligando-se aos conceitos de Não integram a Administração Pública, mas prestam
probidade, honestidade, lealdade, decoro e boa-fé. serviços de interesse público. Exemplos: SESI, SENAC, SENAI,
A moralidade se extrai do senso geral da coletividade represen- ONG’s
tada e não se confunde com a moralidade íntima do administrador
(moral comum) e sim com a profissional (ética profissional). As disposições gerais sobre a Administração Pública estão elen-
O Artigo 37, § 4º da CF elenca as consequências possíveis, devi- cadas nos Artigos 37 e 38 da CF. Vejamos:
do a atos de improbidade administrativa:
CAPÍTULO VII
Sanções ao cometimento de atos de improbidade administra- DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
tiva
Suspensão dos direitos políticos (responsabilidade política) SEÇÃO I
Perda da função pública (responsabilidade disciplinar) DISPOSIÇÕES GERAIS
Indisponibilidade dos bens (responsabilidade patrimonial)
Ressarcimento ao erário (responsabilidade patrimonial) Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
– Princípio da Publicidade pios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora-
O princípio da publicidade determina que a Administração Pú- lidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
blica tem a obrigação de dar ampla divulgação dos atos que pratica, I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
salvo a hipótese de sigilo necessário. brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
A publicidade é a condição de eficácia do ato administrativo e como aos estrangeiros, na forma da lei;
tem por finalidade propiciar seu conhecimento pelo cidadão e pos- II - a investidura em cargo ou emprego público depende de apro-
sibilitar o controle por todos os interessados. vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego,
– Princípio da Eficiência na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
Segundo o princípio da eficiência, a atividade administrativa comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
deve ser exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional, III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
evitando atuações amadorísticas. anos, prorrogável uma vez, por igual período;
Este princípio impõe à Administração Pública o dever de agir IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo-
com eficiência real e concreta, aplicando, em cada caso concreto, a cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro-
medida, dentre as previstas e autorizadas em lei, que mais satisfaça vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa-
o interesse público com o menor ônus possível (dever jurídico de dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;
boa administração).

124
CONHECIMENTOS GERAIS

V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi- XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções
dores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de
preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e per- economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta
centuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribui- ou indiretamente, pelo poder público;
ções de direção, chefia e assessoramento; XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te-
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso- rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência
ciação sindical; sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
definidos em lei específica; autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo-
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último
para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de caso, definir as áreas de sua atuação;
sua admissão; XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria-
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de- ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior,
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
interesse público; XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro-
trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse- todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter-
de índices; mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun- técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e obrigações.
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona-
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen- mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas,
sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e
ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na- atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de
tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe- informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de de autoridades ou servidores públicos.
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos
cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
da lei.
Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defen-
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
sores Públicos;
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu-
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
tivo;
dos serviços;
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
serviço público; e XXXIII;
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
não serão computados nem acumulados para fins de concessão de ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
acréscimos ulteriores; § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em- a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que
qualquer caso o disposto no inciso XI: causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
a) a de dois cargos de professor; ressarcimento.
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
saúde, com profissões regulamentadas; agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

125
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital,
de cargo ou emprego da administração direta e indireta que ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
possibilite o acesso a informações privilegiadas. II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo,
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera-
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ção;
ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili-
administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego
de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não
dispor sobre: havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
I - o prazo de duração do contrato; IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi- de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
III - a remuneração do pessoal.” V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo de ori-
sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem gem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios
para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral. Servidores Públicos
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de Os servidores públicos são pessoas físicas que prestam serviços
aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a à administração pública direta, às autarquias ou fundações públi-
remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cas, gerando entre as partes um vínculo empregatício ou estatutá-
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos rio. Esses serviços são prestados à União, aos Estados-membros, ao
e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e Distrito Federal ou aos Municípios.
exoneração.
§ 11. Não serão computadas, para efeito dos limites As disposições sobre os Servidores Públicos estão elencadas
remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as dos Artigos 39 a 41 da CF. Vejamos:
parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, SEÇÃO II
fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, DOS SERVIDORES PÚBLICOS
mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e
centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo planos de carreira para os servidores da administração pública dire-
Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos ta, das autarquias e das fundações públicas.
subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
§ 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá instituirão conselho de política de administração e remuneração de
ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po-
responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que deres.
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, enquanto § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais
permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o componentes do sistema remuneratório observará:
nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino, mantida I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
a remuneração do cargo de origem. (Incluído pela Emenda cargos componentes de cada carreira;
Constitucional nº 103, de 2019) II - os requisitos para a investidura;
§ 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo III - as peculiaridades dos cargos.
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores
rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de
§ 15. É vedada a complementação de aposentadorias de convênios ou contratos entre os entes federados.
servidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o
não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX,
não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de
social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) admissão quando a natureza do cargo o exigir.
§ 16. Os órgãos e entidades da administração pública, individual § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os
ou conjuntamente, devem realizar avaliação das políticas públicas, Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão
inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
alcançados, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono,
nº 109, de 2021) prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória,
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se-
guintes disposições:

126
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos § 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer diferenciados para aposentadoria de servidores com deficiência,
caso, o disposto no art. 37, XI. previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão equipe multiprofissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda
anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e Constitucional nº 103, de 2019)
empregos públicos. § 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários diferenciados para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente
provenientes da economia com despesas correntes em cada penitenciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de
órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento que tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do
de programas de qualidade e produtividade, treinamento e art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda
desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização Constitucional nº 103, de 2019)
do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de § 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
produtividade. do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em diferenciados para aposentadoria de servidores cujas atividades
carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º. sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes,
temporário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação.
cargo em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído pela (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da
titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, aplicação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem
mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei
ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
complementar do respectivo ente federativo. (Redação dada pela
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos
§ 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência
acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção
social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional
de mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de
nº 103, de 2019)
previdência social, aplicando-se outras vedações, regras e condições
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em
para a acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no
que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese Regime Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda
em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para Constitucional nº 103, de 2019)
verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces- § 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se
são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo; tratar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) benefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a
de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente
e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme
idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons- critérios estabelecidos em lei.
tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os § 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou
demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo municipal será contado para fins de aposentadoria, observado
ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, o disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço
de 2019) correspondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores § 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem
ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência de tempo de contribuição fictício.
Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação dada pela § 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da
§ 3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como de
serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação outras atividades sujeitas a contribuição para o regime geral de
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) previdência social, e ao montante resultante da adição de proventos
§ 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados de inatividade com remuneração de cargo acumulável na forma
para concessão de benefícios em regime próprio de previdência desta Constituição, cargo em comissão declarado em lei de livre
social, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação nomeação e exoneração, e de cargo eletivo.
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

127
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o
regime próprio de previdência social, no que couber, os requisitos Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti-
e critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. tucional nº 103, de 2019)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
§ 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído
exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios V - condições para instituição do fundo com finalidade previ-
instituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur-
de previdência complementar para servidores públicos ocupantes sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de
de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
Regime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias 2019)
e das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado VI - mecanismos de equacionamento do déficit atuarial; (Inclu-
o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
103, de 2019) VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob-
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 servados os princípios relacionados com governança, controle inter-
oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribuição no e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por de 2019)
intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles
de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamen-
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) te, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional
§ 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nº 103, de 2019)
nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela
no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
correspondente regime de previdência complementar. X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados para o de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído
cálculo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados, pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
na forma da lei.
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias
e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que PODERES ADMINISTRATIVOS. PODER DE POLÍCIA E ABU-
superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime SO DE PODER
geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual
igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
Poder Hierárquico
§ 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do
Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo
administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de
que tenha completado as exigências para a aposentadoria
seus órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação
voluntária e que opte por permanecer em atividade poderá fazer
e subordinação entre os servidores que estiverem sob a sua
jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao
hierarquia.
valor da sua contribuição previdenciária, até completar a idade
A estrutura de organização da Administração Pública é baseada
para aposentadoria compulsória. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019) em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de
§ 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio competências e a hierarquia.
de previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora Em decorrência da amplitude das competências e das
desse regime em cada ente federativo, abrangidos todos os responsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda
poderes, órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão a função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou
responsáveis pelo seu financiamento, observados os critérios, os agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição
parâmetros e a natureza jurídica definidos na lei complementar dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e
de que trata o § 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº agentes integrantes da Administração Pública.
103, de 2019) Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de
§ 21. (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional maneira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados
nº 103, de 2019) em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que
§ 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de se encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir
previdência social, lei complementar federal estabelecerá, para os ordens e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação
que já existam, normas gerais de organização, de funcionamento de subordinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas,
e de responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros como o dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de
aspectos, sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de o imediato superior avocar atribuições, bem como a atribuição de
2019) rever os atos dos agentes subordinados.

128
CONHECIMENTOS GERAIS

Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado hierárquico de qualquer competência do subordinado, ressaltando-
não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas se que nesses casos, a competência a ser avocada não poderá ser
de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116, privativa do órgão subordinado.
XII, da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências
de representar contra o seu superior caso este venha a agir com do órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e
ilegalidade, omissão ou abuso de poder. temporário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e
Registra-se que a delegação de atribuições é uma das impreterivelmente justificados.
manifestações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir O superior também pode rever os atos dos seus subordinados,
a outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los,
dos atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação
Lopes Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a do interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato
algumas regras, sendo elas: administrativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido
A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um o ato viciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo,
Poder a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto infere-se que pode ocorrer de duas formas:
da Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada, a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato
que ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a válido se tornar inconveniente ou inoportuna;
delegar ao Chefe do Executivo a edição de lei. b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios.
B) É impossível a delegação de atos de natureza política.
Exemplos: o veto e a sanção de lei; No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre
C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determinada poderá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos
autoridade, não podem ser delegadas; atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a
D) O subordinado não pode recusar a delegação; revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se
E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver
autorização do delegante. sido criado o direito subjetivo para o particular.
– Observação importante: “revisão” do ato administrativo
Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da
não se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A
delegação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece
revisão de ato é condizente à avaliação por parte da autoridade
os ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as
superior em relação à manutenção ou não de ato que foi praticado
seguintes regras relacionadas a esse assunto:
por seu subordinado, no qual o fundamento é o exercício do
– A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser
poder hierárquico. Já na reconsideração, a apreciação relativa
delegada se não houver impedimento legal;
à manutenção do ato administrativo é realizada pela própria
– A delegação de competência é sempre exercida de forma
autoridade que confeccionou o ato, não existindo, desta forma,
parcial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular
não detém o poder de delegar todas as suas atribuições; manifestação do poder hierárquico.
– A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente
ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e, à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de
e agentes não subordinados à hierarquia. suas funções típicas constitucionais. No entanto, os membros
dos Poderes Judiciário e Legislativo também estão submetidos à
Não podem ser objeto de delegação: relação de hierarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas
– A edição de atos de caráter normativo; ou administrativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é
– A decisão de recursos administrativos; legalmente obrigado a adotar o posicionamento do Presidente
– As matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade; do Tribunal no julgamento de um processo de sua competência,
porém, encontra-se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens
Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua daquela autoridade quando versarem a respeito do horário de
revogação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da funcionamento dos serviços administrativos da sua Vara.
lei. Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação não
poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordinação
e os objetivos da delegação e também o recurso devidamente decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da mesma
cabível à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de supervisão
atribuição delegada. ou do poder de tutela que a Administração Direta detém sobre as
O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo entidades da Administração Indireta.
pela autoridade delegante como forma de transferência não
definitiva de atribuições, devendo as decisões adotadas por
delegação, mencionar de forma clara esta qualidade, que deverá
ser considerada como editada pelo delegado.
No condizente à avocação, afirma-se que se trata de
procedimento contrário ao da delegação de competência, vindo
a ocorrer quando o superior assume ou passa a desenvolver as
funções que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina,
a norma geral, é a possibilidade de avocação pelo superior

129
CONHECIMENTOS GERAIS

Esquematizando, temos: pressuposto para a aplicação de sanções de forma direta não é o


poder hierárquico, mas sim o princípio da supremacia do interesse
público sobre o particular.
Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e punir
crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo instituto
e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado somente
àqueles que possuem vínculo específico com a Administração de
forma funcional ou contratual, o segundo é exercido somente sobre
qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes.
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar,
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deverão
ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtornos ou
pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, denota-
se que o vínculo entre a Administração Pública e o administrado
Poder conferido à autoridade é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes do
administrativa para distribuir e dirimir funções poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação
PODER em escala de seus órgãos, que estabelece funcional ou contratual com a Administração.
HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordinação Em suma, temos:
entre os servidores que estiverem sob a sua 1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém
hierarquia. do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem
vínculo específico com a Administração Pública.
A edição de atos de caráter 2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém
normativo do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam
às regulamentações de polícia administrativa.
Não podem ser A decisão de recursos 3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder
objeto de delegação administrativos geral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem
As matérias de competência crimes ou contravenções penais.
exclusiva do órgão ou autoridade
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o poder
Por revogação: quando a disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação deve
manutenção do ato válido se tornar ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance como
Desfazimento do inconveniente ou inoportuna um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina administrativa
ato administrativo
Por anulação: quando o ator cometer infração, a única opção que restará ao gestor será aplicar á
apresentar vícios situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a aplicação
da pena é ato vinculado. Quando existente, a discricionariedade
Poder Disciplinar refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das sanções
O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito administrativo
de autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades não é predominável o princípio da pena específica que se refere à
aos servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à necessidade de prévia definição em lei da infração funcional e da
disciplina administrativa em decorrência de determinado vínculo exata sanção cabível.
específico. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o Em resumo, temos:
agente que possuir vínculo certo e preciso com a Administração,
não importando que esse vínculo seja de natureza funcional ou Poder Disciplinar
contratual. – Apura infrações e aplica penalidades;
Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar – Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é
é decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de preciso que possua vínculo funcional com a administração;
distribuição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a – A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de
uma mesma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao
determinar o cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que
subordinado, o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado seja aplicada a penalidade disciplinar cabível;
às determinações do seu superior ou descumprindo o dever – Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre
funcional, o seu chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação.
no estatuto funcional.
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder Poder regulamentar
de alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste
o Poder Público, a exemplo daqueles contratados para prestar o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do
serviços à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe Poder Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas
relação de hierarquia entre o particular e a Administração, o destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento
e eficaz execução.

130
CONHECIMENTOS GERAIS

A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão O ato de regulamento executivo é constituído por importantes
poder regulamentar. Isso acontece, por que há autores que, funções. São elas:
assemelhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam
esta expressão somente para se referirem à faculdade de editar 1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa
regulamentos conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores, Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade
a usam com conceito mais amplo, acoplando também os atos quando a lei confere ao agente público determinada quantidade de
gerais e abstratos que são emitidos por outras autoridades, tais liberdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade
como: resoluções, portarias, regimentos, deliberações e instruções e margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação
normativas. Há ainda uma corrente que entende essas providências de um regulamento executivo que estipula regras de observância
gerais e abstratas editadas sob os parâmetros e exigências da obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem
lei, com o fulcro de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de proceder no fiel cumprimento da lei.
manifestações do poder normativo. Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento
No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece o exercício da discricionariedade administrativa, o Chefe do
como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que Poder Executivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a
utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente estabelecer autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o
à competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para espaço para a discussão de casos e fatos sem importância para a
editar regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder administração pública.
normativo” para os demais atos normativos emitidos por outras
espécies de autoridades da Administração Direta e Indireta, como 2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei
por exemplo, de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros. É interpretada no contexto da primeira, posto que o
Registra-se que os regulamentos são publicados através de regulamento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente
decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados cumprida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade,
pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser fato que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei
por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda, aplicada. Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores
a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta na carreira de Policial Rodoviário Federal.
última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei
determinado nome a um prédio público. 9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidura
Em razão de os regulamentos serem editados sob forma no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por
condizente de decreto, é comum serem chamados de decretos
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe
regulamentares, decretos de execução ou regulamentos de
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º.
execução.
A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos
Podemos classificar os regulamentos em três espécies
para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto,
diferentes:
o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que
A) Regulamento executivo;
abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos
B) Regulamento independente ou autônomo;
servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base
c) Regulamento autorizado. em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições
e privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de
Vejamos a composição de cada em deles: regulamentação dos requisitos de promoção, como demonstra o
próprio estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art.
– Regulamento Executivo 10, parágrafo único da Lei 8.112/1990.
Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto
suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por 8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos
um regulamento para serem executadas. Entretanto, em tese, e estabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais
qualquer lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem, Rodoviários Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de
até mesmo aquelas cuja execução não dependa de regulamento. “resultado satisfatório na avaliação de desempenho no interstício
Para isso, suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda considerado para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da
conveniente detalhar a sua execução. mesma forma, a expressão “resultado satisfatório” também é
O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata. eivada de subjetividade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo
Sendo geral pelo fato de não possuir destinatários determinados dispositivo regulamentar designou que para o efeito de promoção,
ou determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam seria considerado satisfatório o alcance de oitenta por cento das
nas situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre metas estipuladas em ato do dirigente máximo do órgão.
hipóteses que, se e no momento em que forem verificadas no Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do
mundo concreto, passarão a gerar as consequências abstratamente dirigente máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é
previstas. Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui o estabelecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no
conteúdo material de lei, porém, com ela não se confunde sob o condizente à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores
aspecto formal. para o efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que,
diante da regulamentação, erigiu a existência de vinculação da
autoridade administrativa referente ao percentual considerado
satisfatório para o efeito de promoção dos servidores, critério que
inclusive já foi uniformizado.

131
CONHECIMENTOS GERAIS

Embora exista uma enorme importância em termos de Cuida-se de uma xucra hipótese de abandono do princípio do
praticidade, denota-se que os regulamentos de execução gozam paralelismo das formas. Isso por que em decorrência do princípio
de hierarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem da hierarquia das normas, se um instituto jurídico for criado por
jurídica, criando direitos ou obrigações, nem contrariando, intermédio de determinada espécie normativa, sua extinção apenas
ampliando ou restringindo as disposições da lei regulamentada. poderá ser veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de
São, em resumo, atos normativos considerados secundários que superior hierarquia.
são editados pelo Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos
execução dos atos normativos primários elaborados pelas leis. parâmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia
Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos extingui-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto,
à lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso deixando de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado
Nacional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos permitiu que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça
parâmetros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama por decreto. Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto
de “veto legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o autônomo, mas nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo
Chefe do Executivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo fato de tal decreto não gozar de generalidade e abstração, não
Parlamento. regulamentando determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de
Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações, um ato de efeitos concretos, amplamente desprovido de natureza
uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer regulamentar.
em função de o Presidente da República entender que o projeto De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento
de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei,
o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria destaca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente,
o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer encontra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que
por exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre justifica a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um
jurídico. Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento decreto regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a
venha a sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário configurar ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto
ao interesse público, uma vez que tal norma somente deve é inconstitucional porque exorbitou do poder regulamentar.
detalhar como a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será Assim, havendo agressão direta à Constituição, a lei, com certeza
indubitavelmente cumprida. Destarte, se o Parlamento entende pode ser considerada inconstitucional, mas não o decreto que a
que o decreto editado dentro do poder regulamentar é contrário regulamenta. Agora, em se tratando do decreto autônomo, infere-
ao interesse público, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que se que este é norma primária, vindo a fundamentar-se no próprio
lhe dá o sustento. texto constitucional, de forma a ser possível uma agressão direta
Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao à Constituição Federal de 1988, legitimando desta maneira, a
controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da instauração de processo de controle de constitucionalidade. Assim
exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser sendo, podemos citar a lição do Supremo Tribunal Federal:
reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do
Executivo no exercício da autotutela. Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição,
ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso
– Regulamento independente ou autônomo o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, por
Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, também conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tribunal
adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento executivo, Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucionalidade
esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo o reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado em ADI
poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de opção.
lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou isso claro.
ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle difuso,
diretamente da Constituição. quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucionalidade
A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta reflexa. É
figura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com uma opção da Corte para que não se realize o velho adágio: ‘muita
a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387-0/DF, Rel.
inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88. Min. Marco Aurélio).
Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutrina Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar
é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo que que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a
o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispositivo delegação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção
constitucional, que estabelece a competência do Presidente da a essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece
República para dispor, mediante decreto, sobre organização e com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser
funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar objeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral
em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos da República e ao Advogado
públicos. Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único
Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista do art. 84 da Constituição Federal.
na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o
Presidente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos
públicos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo.

132
CONHECIMENTOS GERAIS

– Regulamento autorizado ou delegado De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece
Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos,
apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à
menciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação específica
delegado. com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor grau
De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário de discricionariedade em relação aos regulamentos administrativos.
não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de Esquematicamente, temos:
forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo,
aos órgãos administrativos. Regulamentos jurídicos ou
Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades normativos
técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja Espécies de
controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a regulamento quanto aos Regulamentos
doutrina maior tem aceitado que as competências para regular destinatários administrativos ou de
determinadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio organização
legislador para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do
fenômeno da deslegalização, por meio do qual a normatização sai Poder de Polícia
da esfera da lei para a esfera do regulamento autorizado. O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado
No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limitado para estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício de
somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade, ele direitos e garantias individuais, tendo sempre em vista o interesse
busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas técnicas público.
não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expressa
determinação legal. – Limites
Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim
confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque, como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está
ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição, eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos
aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida fins, aos motivos ou ao objeto.
na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de
porque, embora seja um ato normativo secundário que retira sua polícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação
força jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao de proporcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim
contrário do que ocorre com este último no qual sua destinação é sendo, a medida de polícia não poderá ir além do necessário com
apenas a de detalhar a lei para que seja fielmente executada. o fito de atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos
Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de por exemplo, a hipótese de um estabelecimento comercial que
regulamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo somente possuía licença do poder público para atuar como revenda
disso é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo de roupas, mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier
em vista que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo de costura. Caso os fiscais competentes, na constatação do fato,
fato de estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo. viessem a interditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal
Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa medida seria desproporcional, tendo em vista que, para por fim
determinação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido à irregularidade, seria suficiente somente interditar a parte da
admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei revenda de roupas.
venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limites Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que
da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm sido estejam eivados de vícios de legalidade ou que se demonstrem
adotados com frequência para a fixação de normas técnicas, como desproporcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo
por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agências Poder Judiciário por meio do controle judicial, ou, pela própria
reguladoras. administração no exercício da autotutela.

– Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos – Prescrição


A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública
fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e Federal, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação
os regulamentos administrativos ou de organização. punitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de polícia,
Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam desde que contados da data da prática do ato ou, em se tratando de
regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que infração de forma permanente ou continuada, do dia em que tiver
passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da ação punitiva da
com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos Administração também for considerado crime, a prescrição deverá se
regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que reger pelo prazo previsto na lei penal em seu art. 1.º, § 2.º.
estes estabelecem normas sobre a organização administrativa Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação
ou que se relacionam aos particulares que possuem um vínculo de execução da administração pública federal relativa a crédito não
específico com o Estado, como por exemplo, os concessionários de tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação
serviços públicos ou que possuem um contrato com a Administração. em vigor, desde que devidamente contados da constituição
definitiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com
sua redação incluída pela Lei 11.941/2009.

133
CONHECIMENTOS GERAIS

Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibilidade — Autoexecutoriedade


de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no curso Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da
do processo, quando o procedimento administrativo vir a ficar autoexecutoriedade consiste na “faculdade de a Administração decidir
paralisado por mais de três anos, desde que pendente de despacho e executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem
ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados de intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento comercial estiver
ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que comercializando bebidas deteriorados, o Poder Público poderá usar do seu
haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente poder para apreendê-los e incinerá-los, sendo desnecessário haver qualquer
da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º. ordem judicial. Ocorre, também, que tal fato não impede ao particular, que
Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação se sentir prejudicado pelo excesso ou desvio de poder, de buscar o amparo
punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso do Poder Judiciário para fazer cessar o ato de polícia abusivo.
das seguintes hipóteses: Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia
A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma
meio de edital; que a autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sendo
B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo
fato; pela decisão condenatória recorrível; não estando prevista expressamente em lei, se houver situação
C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação de urgência que demande a execução direta da medida. O que
expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da infere que, não sendo cumprido nenhum desses requisitos, o ato
Administração Pública Federal. de polícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como
exemplo, o de ato de polícia que não contém autoexecutoriedade,
Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de como o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias.
em determinadas situações específicas, quando o interessado Nesse caso específico, se o poder público tiver a pretensão de
interromper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a cobrar o mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta,
suspensão do prazo prescricional para aplicação das sanções de sendo necessário que promova a execução judicial da dívida.
polícia, nos parâmetros do art. 3.º. A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que
Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade em dois, sendo
9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a executoriedade (privilège
processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do d’action d’office). Nesse diapasão, a exigibilidade ensejaria a possibilidade
art. 5º. de a Administração tomar decisões executórias, impondo obrigações aos
administrados mesmo sem a concordância destes, e a executoriedade,
– Atributos que consiste na faculdade de se executar de forma direta todas essas
Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder decisões sem que haja a necessidade de intervenção do Poder Judiciário,
de polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a usando-se, quando for preciso, do emprego direto da força pública.
coercibilidade. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas Imaginemos como exemplo, um depósito antigo de carros que esteja
características estão presentes de forma simultânea em todos os ameaçado de desabar. Nessa situação específica, a Administração pode
atos de polícia. ordenar que o proprietário promova a sua demolição (exigibilidade). E
Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada não sendo a ordem cumprida, a própria Administração possui o poder de
atributo: mandar seus servidores demolirem o imóvel (executoriedade).
Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que
— Discricionariedade a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios
Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilidade de
relação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as multas de trânsito,
polícia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de a executoriedade irá se consubstanciar no uso de meios diretos de coação,
polícia seja a regra, em determinadas situações o exercício do como por exemplo dissolução de reunião, da apreensão de mercadorias,
poder de polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que da interdição de estabelecimento e da demolição de prédio.
a autoridade responsável possa executar qualquer tipo de opção. Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente em todas as
Como exemplo do mencionado no retro parágrafo, medidas de polícia, ao contrário da executoriedade, que apenas se apresenta
comparemos os atos de concessão de alvará de licença e de nas hipóteses previstas por meio de lei ou em situações de urgência.
autorização, respectivamente. Em se tratando do caso do alvará
de licença, depreende-se que o ato é vinculado, significando que — Coercibilidade
a licença não poderá ser negada quando o requerente estiver É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato
preenchendo os requisitos legais para sua obtenção. Diga-se de seja imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras
passagem, que isso ocorre com a licença para dirigir, para construir termos, o ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal,
bem como para exercer certas profissões, como a de enfermagem, não está consignado à dependência da concordância do particular
por exemplo. Referente à hipótese de alvará de autorização, mesmo para que tenha validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é
o requerente atendendo aos requisitos da lei, a Administração indissociável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser
Pública poderá ou não conceder a autorização, posto que esse ato autoexecutável pelo fato de ser dotado de força coercitiva.
é de natureza discricionária e está sujeito ao juízo de conveniência Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida
e oportunidade da autoridade administrativa. É o que ocorre, por como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se
exemplo, coma autorização para porte de arma, bem como para a confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do
produção de material bélico. desdobramento do atributo da autoexecutoriedade.

134
CONHECIMENTOS GERAIS

– Poder de polícia originário e poder de polícia delegado


Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo como
fundamento a própria repartição de competências materiais e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988.
Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este faz referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito público da
Administração Indireta, posto que esta delegação deve ser feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o poder de polícia originário.
Como uma das mais claras manifestações do princípio segundo o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no
exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares ações e omissões independentemente das suas vontades. Tal possibilidade
envolve exercício de atividade típica de Estado, com clara manifestação de potestade (poder de autoridade). Assim, estão presentes
características ínsitas ao regime jurídico de direito público, o que tem levado o STF a genericamente negar a possibilidade de delegação do
poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado, ainda que integrantes da administração indireta (ADI 1717/DF).
Esquematizando, temos:

ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA


Discricionariedade Autoexecutoriedade Coercibilidade
Liberdade de escolha da autoridade pública Faculdade de a Administração decidir e execu- Faz com que o ato seja imposto
em relação à conveniência e oportunidade do tar diretamente sua decisão por seus próprios ao particular, concordando este,
exercício do poder de polícia. meios, sem intervenção do Judiciário. ou não.

Uso e abuso de poder


De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente,
desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em atendimento à consecução dos fins públicos.
No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder, venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para fins
diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocorre tanto
por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por meio do
qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito.
Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas:
– Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a autoridade atua extrapolando os limites da sua competência.
– Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, porém, o
utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária ao interesse público como um todo.
Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por
intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle judicial.

PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

Conceito
De modo geral, não havendo a existência de um conceito legal ou constitucional de serviço público, a doutrina se encarregou de buscar
uma definição para os contornos do instituto, ato que foi realizado com a adoção, sendo por algumas vezes isolada, bem como em outras, de
forma combinadas, vindo a utilizar-se dos critérios subjetivo, material e formal. Vejamos a definição conceitual de cada em deles:

Critério subjetivo
Aduz que o serviço público se trata de serviço prestado pelo Estado de forma direta.

Critério material
Sob esse crivo, serviço público é a atividade que possui como objetivo satisfazer as necessidades coletivas.

Critério formal
Segundo esse critério, serviço público é o labor exercido sob o regime jurídico de direito público denegridor e desmesurado do direito comum.
Passando o tempo, denota-se que o Estado foi se distanciando dos princípios liberais, passando a desenvolver também atividades
comerciais e industriais, que, diga se de passagem, anteriormente eram reservadas somente à iniciativa privada. De outro ângulo, foi
verificado em determinadas situações, que a estrutura de organização do Estado não se encontrava adequada à execução de todos os
serviços públicos. Por esse motivo, o Poder Público veio a delegar a particulares com o intuito de responsabilidade, a prestação de alguns
serviços públicos. Em outro momento, tais serviços públicos também passaram a ter sua prestação delegada a outras pessoas jurídicas, que
por sua vez, eram criadas pelo próprio Estado para esse fim específico. Eram as empresas públicas e sociedades de economia mista, que
possuem regime jurídico de direito privado, cujo serviço era mais eficaz para que fossem executados os serviços comerciais e industriais.
Esses acontecimentos acabaram por prejudicar os critérios utilizados pela doutrina para definir serviço público como um todo. Denota-se que
o elemento subjetivo foi afetado pelo fato de as pessoas jurídicas de direito público terem deixado de ser as únicas a prestar tais serviços, posto
que esta incumbência também passou a ser delegada aos particulares, como é o caso das concessionárias, permissionárias e autorizatárias. Já o

135
CONHECIMENTOS GERAIS

elemento material foi atingido em decorrência de algumas atividades De forma geral, a doutrina entende que os elementos subjetivo,
que outrora não eram tidas como de interesse público, mas que material e formal tradicionalmente utilizados para definir serviço
passaram a ser exercidas pelo Estado, 8como por exemplo, como se público, continuam de forma ampla a servir a esse propósito, desde
deu com o serviço de loterias. O elemento formal, por sua vez, também que estejam combinados e harmonizados com o fito de acoplar de
foi bastante atingido, na forma que aduz que nem todos os serviços forma correta, as contemporâneas figuras jurídicas que vêm sendo
públicos são prestados sob regime de exclusividade pública, como por inseridas e determinadas pelo legislador com força de lei, com o
exemplo, a aplicação de algumas normas de direito do consumidor fulcro de oferecer conveniência e utilidades, bem como de atender
e de direito civil a contratos feitos entre os particulares e a entidade as constantes necessidades da população que sempre acontecem
prestadora de serviço público de forma geral. de forma mutante, a exemplo das parcerias público-privadas, das
Assim sendo, em razão dessas inovações, os autores passaram, OSCIPs e organizações sociais.
por sua vez, a comentar em crise na noção de serviço público. Nesse sentido, com o objetivo de reinterpretar o elemento
Hodiernamente, os critérios anteriormente mencionados continuam subjetivo em consonância com o atual estágio de evolução do direito
sendo utilizados para definir serviço público, porém, não é exigido administrativo, podemos afirmar que a caracterização de um serviço
que os três elementos se façam presentes ao mesmo tempo para como público, em tempos contemporâneos passou a não exigir
que o serviço possa ser considerado de utilidade pública, passando mais que a prestação seja realizada pelo Estado, mas apenas que ele
a existir no campo doutrinário diversas definições, advindas do uso passe a deter, nos termos legais dispostos na Constituição Federal
isolado de um dos elementos ou da combinação existente entre eles. de 1988, a titularidade de tal serviço. Em relação a esse aspecto,
Registra-se, que além da enorme variedade de definições advindas destacamos a importância de não vir a confundir a expressiva
da combinação dos critérios subjetivo, material e formal, é de suma titularidade do serviço com sua efetiva prestação. Registe-se que o
importância compreendermos que o vocábulo “serviço público” pode titular do serviço, trata-se do sujeito que detém a atribuição legal
ser considerado sob dois pontos de vista, sendo um subjetivo e outro constitucional para vir a prestá-lo. Via de regra, aquele que detém
objetivo. Façamos um breve estudo de cada um deles: a titularidade do serviço não se encontra obrigado a prestá-lo de
forma direta através de seus órgãos, mas tem o dever legal de
– Sentido objetivo promover-lhe a prestação, de forma direta por meio de seu aparato
Infere-se que tal expressão é usada para fazer alusão ao sujeito administrativo, ou, ainda, mediante a legal delegação a particulares
responsável pela execução da atividade. Exemplo: determinada realizada por meio de concessão, permissão ou autorização.
autarquia com o dever de prestar de serviços para a área da De maneira igual, contemporaneamente, o critério material
educação. considerado de forma isolada não é suficiente para definir um serviço
como público. Isso ocorre pelo fato de existirem determinadas
– Sentido objetivo ou material atividades relativas aos direitos sociais como saúde e educação, por
Nesse sentido, a administração pública está coligada à diversas exemplo, que apenas podem ser enquadradas no conceito quando
atividades que são exercidas pelo Estado, por intermédio de forem devidamente prestadas pelo Estado, levando em conta que
seus agentes, órgãos e entidades na diligência eficaz da função a execução desses serviços por particulares deve ser denominada
administrativa estatal. como serviço privado.
Destaque-se, por oportuno, que o vocábulo serviço público Finalmente, em relação ao critério formal, nos tempos
sempre está se referindo a uma atividade, ou, ainda, a um conjunto modernos, infere-se que não é mais necessário que o regime
de atividades a serem exercidas, sem levar em conta qual o órgão jurídico ao qual está submetido o serviço público seja realizado
de maneira integral de direito público, sendo que em algumas
ou a entidade que as exerce.
situações, acaba existindo um sistema híbrido que é formado por
Mesmo com os aspectos expostos, boa parte da doutrina ainda
regras e normas de direito público e privado, principalmente em se
usa de definições de caráter amplo e restrito do vocábulo serviço
tratando de caso de serviços públicos nos quais sua prestação tenha
público. Para alguns, tal vocábulo se presta a designar todas as
sido delegada a terceiros.
funções do Estado, tendo em vista que nesse rol estão inclusas as
funções administrativa, legislativa e judiciária. Já outra corrente
– Observação importante: Com o entendimento acima
doutrinária, utiliza-se de um conceito com menor amplitude, vindo
mencionado, a ilustre Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro
a incluir somente as funções administrativas e excluindo, por sua acaba por definir serviço público como sendo toda a atividade
vez, as funções legislativa e judiciária. Destarte, infere-se que dentre material que a lei atribui ao Estado, para que este a exerça de forma
aquelas doutrinas que adotam um sentido mais restrito, existem direta ou por intermédio de seus delegados, com o condão de
ainda as que excluem do conceito atividades importantes advindas satisfazer de forma concreta as necessidades da coletividade, sob
do exercício do poder de polícia, de intervenção e de fomento. regime jurídico total ou parcialmente público.
Denota-se com grande importância, que o direito brasileiro
acaba por diferenciar de forma expressa o serviço público e o poder Elementos Constitutivos
de polícia. Em campo tributário, por exemplo, no disposto em Os elementos do serviço público podem ser classificados sob os
seus arts. 77 e 78, o Código Tributário Nacional dispõe do ensino seguintes aspectos:
e determinação de duas atuações como fatos geradores diversos Subjetivo: Por meio do qual o serviço público está sempre sob
do tributo de nome taxa. Nesse diapasão de linha diferenciadora, a total responsabilidade do Estado. No entanto, registra-se que ao
a ESAF, na aplicação da prova para Procurador do Distrito Estado como um todo, é permitido delegar determinados serviços
Federal/2007, veio a considerar como incorreta a afirmação: “o públicos, desde que sempre por intermediação dos parâmetros da
exercício da atividade estatal de polícia administrativa constitui a lei e sob regime de concessão ou permissão, bem como por meio de
prestação de um serviço público ao administrado”. licitação. Denota-se que nesse caso, é o próprio Estado que escolhe

136
CONHECIMENTOS GERAIS

os serviços que são considerados serviços públicos. Como exemplo, A esse respeito, dispõe a Lei 8997 de 1995 em seus arts. 3º e
podemos citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica, 32, respectivamente:
dentre outros serviços pertinentes à Administração Pública. Esse Art. 3º. As concessões e permissões sujeitar-se-ão à
elemento determina que o serviço público deve ser prestado pelo fiscalização pelo poder concedente responsável pela delegação,
Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas jurídicas com a cooperação dos usuários.
criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a terceiros Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão,
para que possam prestá-lo. com o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem
Formal: A princípio, o regime jurídico é de Direito Público, ou como o fiel cumprimento das normas contratuais, regulamentares
parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público deverá e legais pertinentes.
ser prestado. No entanto, quando particulares prestam seus serviços
em conjunto com o Poder Público, ressalta-se que o regime jurídico Deve-se registrar também, que outro aspecto que deve ser
é considerado como híbrido. Isso por que nesse caso, poderá haver enfatizado com destaque em relação à regulamentação e ao
a permanência do Direito Público ou do Direito Privado nos ditames
controle dos serviços públicos, são os requisitos do serviço e
da lei. Porém, em ambas as situações, a responsabilidade será
direito dos usuários, sendo que o primeiro deles é a permanência,
sempre objetiva.
que possui como atributo, impor a continuidade do serviço. Logo
Material: Por intermédio desse elemento, o serviço público
após, temos o requisito da generalidade, por meio do qual, os
deverá sempre prestar serviços condizentes a uma atividade de
serviços devem ser prestados de maneira uniforme para toda
interesse público como um todo. Denota-se que por meio da
a coletividade. Em seguida, surge o requisito da eficiência, por
aplicação desse elemento, o objetivo do serviço público será
intermédio do qual é exigida a eficaz atualização do serviço
sempre o de satisfazer de forma concreta as necessidades da
público. Em continuidade, vem a modicidade, por meio da qual,
coletividade.
infere-se que as tarifas que são cobradas dos usuários devem
Esquematizando, temos:
ser eivadas de valor razoável e por fim, a cortesia, que por seu
intermédio, entende-se que o tratamento com o usuário público
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
em geral, deverá ser oferecido com presteza.
Subjetivo: determina que o serviço público deve ser prestado
Havendo descumprimento de quaisquer dos requisitos retro
pelo Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas
mencionados, afirma-se que o usuário do serviço terá em suas
jurídicas criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a
mãos o direito pleno de recorrer ao Poder Judiciário para exigir
terceiros para que possam prestá-lo.
a correta prestação desses serviços. Neste mesmo sentido,
Formal: o regime jurídico é de Direito Público, ou
destaca-se que a greve de servidores públicos, não poderá jamais
parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público
ultrapassar o direito dos usuários dos serviços essenciais, que se
deverá ser prestado.
tratam daqueles que por decorrência de sua natureza, colocam
Material: o serviço público deverá sempre prestar serviços
a sobrevivência, a vida e a segurança da sociedade em risco se
condizentes a uma atividade de interesse público como um todo.
estiverem ausentes.
Subjetivo: é o próprio Estado que escolhe os serviços que
são considerados serviços públicos. Como exemplo, podemos
Formas de prestação e meios de execução
citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica, dentre
O art. 175 da Constituição Federal de 1988 determina, que
outros serviços pertinentes à Administração Pública.
compete ao Poder Público, nos parâmetros legais, de forma direta
Formal: poderá haver a permanência do Direito Público
ou sob regime de concessão ou permissão a prestação de serviços
ou do Direito Privado nos ditames da lei. Porém, em ambas as
públicos de forma geral. De acordo com esse mesmo dispositivo,
situações, a responsabilidade será sempre objetiva.
as concessões e permissões de serviços públicos deverão ser
Material: por meio da aplicação desse elemento, o objetivo
sempre precedidas de licitação.
do serviço público será sempre o de satisfazer de forma concreta
Entretanto, o parágrafo único do art. 175 da Carta Magna
as necessidades da coletividade.
dispõe a implementação de lei para regulamentar as seguintes
referências:
Regulamentação e Controle
I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias
Tanto a regulamentação quanto o controle do serviço público
de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
são realizados de maneira regular pelo Poder Público. Isso
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização
ocorre em qualquer sentido, ainda que o serviço esteja delegado
e rescisão da concessão ou permissão;
por concessão, permissão ou autorização, uma vez que nestas
II – os direitos dos usuários;
situações, deverá o Estado manter sua titularidade e, ainda que
III – política tarifária;
haja situações adversas e problemas durante a prestação, poderá
IV – a obrigação de manter serviço adequado.
o Poder Público interferir para que haja a regularização do seu
funcionamento, com fundamento sempre na preservação do
Considera-se que a Lei Federal 8.987/1995, em obediência
interesse público.
ao mandamento constitucional foi editada estabelecendo normas
Ressalta-se que esses serviços são controlados e também
generalizadas como um todo em matéria de concessão e permissão
fiscalizados pelo Poder Público, que deve intervir em caso de
de serviços públicos, devendo tais normas, ser aplicáveis à União,
má prestação, sendo que isso é uma obrigação que lhe compete
segundo parâmetros legais.

137
CONHECIMENTOS GERAIS

Estados, Distrito Federal e Municípios, da mesma forma que a Lei Federal 9.074/1995, que, embora tenha o condão de estipular regras
especificamente voltadas a serviços de competência da União, trouxe também em seu bojo, pouquíssimas regras gerais que podem ser
aplicadas a todos os entes federados.
Em relação à forma de prestação dos serviços públicos, depreende-se que estes podem ser prestados de forma centralizada ou
descentralizada, sendo a primeira forma caracterizada quando o serviço público for prestado pela própria pessoa jurídica federativa
que detém a sua titularidade e a segunda forma, quando, em várias situações, o ente político titular de determinado serviço público,
embora continue mantendo a sua titularidade, termina por transferir a pessoas diferentes e desconhecida à sua estrutura administrativa,
a responsabilidade pela prestação.
Lembremos que o ente político, mesmo ao transferir a responsabilidade pela prestação de serviços públicos a terceiros, sempre
poderá conservar a sua titularidade, fato que lhe garante a manutenção da competência para regular e controlar a prestação dos serviços
delegados a outrem.
A descentralização dos serviços públicos pode ocorrer de duas maneiras:
1. Por meio de outorga ou delegação legal: por meio da qual o Estado cria uma entidade que poderá ser autarquia, fundação pública
sociedade de economia mista ou empresa pública, transferindo-lhe, por meios legais a execução de um serviço público.
2. Por meio de delegação ou delegação negocial: por intermédio da qual, o Poder Público detém o poder de transferir por contrato
ou ato unilateral a execução ampla do serviço, desde que o ente delegado preste o serviço em nome próprio e por sua conta e risco, sob o
controle do Estado e dentro da mesma pessoa jurídica.
Esclarece-se ainda, a título de conhecimento, que a delegação negocial admite a titularidade exclusiva do ente delegante sobre o
serviço a ser delegado. Em se tratando de serviços nos quais a titularidade não for exclusiva do Poder Público, como educação e saúde,
por exemplo, o particular que tiver a pretensão de exercê-lo não estará dependente de delegação do Estado, uma vez que tais atos de
exercício de educação e saúde, quando forem prestados por particulares, não serão mais considerados como serviços públicos, mas sim
como atividade econômica da iniciativa privada.
Em outras palavras, os serviços públicos podem ser executados nas formas:
– Direta: Quando é prestado pela própria administração pública por intermédio de seus próprios órgãos e agentes.
– Indireta: Quando o serviço público é prestado por intermédio de entidades da Administração Pública indireta ou, ainda, de particulares,
por meio de delegação, concessão, permissão e autorização. Esta forma de prestação de serviço, deverá ser sempre sobrepujada de
licitação, formalizada por meio de contrato administrativo, seguida de adesão com prazo previamente estipulado e que por ato bilateral,
buscando somente transferir a execução, porém, jamais a titularidade que deverá sempre permanecer com o poder outorgante.

Em resumo, temos:

Descentralização Transferência da execução do serviço para outra pessoa física ou jurídica.


Desconcentração Divisão interna do serviço com outros órgãos da mesma pessoa jurídica.

— Delegação

Concessão
Ocorre a delegação negocial de serviços públicos mediante: concessão, permissão ou autorização.
Nesse tópico, não esgotaremos todas as formas de concessões existentes e suas formas de aplicação e execução nos serviços públicos,
porém destacaremos as mais importantes e mais cobradas em provas de concursos públicos e áreas afins.
Conforme o Ordenamento Jurídico Brasileiro, as concessões de serviços públicos podem ser divididas em duas espécies:
1ª) Concessões comuns, que estão sob a égide das leis 8.987/1995 e 9.074/1995 e 2ª, que subdividem em: concessão de serviços
públicos e concessão de serviço público precedida da execução de obra pública.
2ª) Concessões especiais, que são as parcerias público-privadas previstas na Lei 11.079/2004, sujeitas a alguns dispositivos da Lei
8.987/1995. Se subdividindo em duas categorias: concessão patrocinada e concessão administrativa.

138
CONHECIMENTOS GERAIS

A concessão comum de serviço público é uma modalidade de e) Comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos
contrato administrativo por intermédio do qual a Administração praticados pela concessionária na prestação do serviço;
Pública transfere delegação a pessoa jurídica ou, ainda, a consórcio f) Contribuir para a permanência das boas condições dos bens
de empresas a execução de certo serviço público pertencente à públicos pelos quais lhes são prestados os serviços.
sua titularidade, na qual o concessionário é obrigado, por meio de
contratos legais a executar o serviço delegado em nome próprio, Ademais, as concessionárias de serviços públicos, de direito
por sua conta e risco, sendo sujeito a controle e fiscalização do público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são legalmente
poder concedente e remunerado através de tarifa paga pelo usuário obrigadas a dispor ao consumidor e ao usuário, desde que dentro
ou outra modalidade de remuneração advinda da exploração do mês de vencimento, o mínimo de seis datas como opção
do serviço. Exemplo: as receitas adquiridas por empresas de para escolherem os dias de vencimento de seus débitos a serem
transporte coletivo que cobram por comerciais constantes na parte adimplidos, nos termos do art. 7º-A, da Lei 8.987/1995.
traseira dos ônibus.
Conforme mencionado, existem duas modalidades de 1. Serviço adequado
concessão comum, quais sejam: a concessão de serviço público, Os usuários detêm o direito de receber um serviço público
também conhecida como concessão simples e a concessão de adequado. Esse direito encontra-se regulamentado pelo seguinte
serviço público antecedida de execução por meio de obra pública. dispositivo:
A concessão de serviço público ou concessão simples, pode ser Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação
definida pela lei como a “delegação da prestação de serviço público, de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme
feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo
de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que contrato.
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
e por prazo determinado” (art. 2º, II). regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
Já a concessão de serviço público antecedida de execução generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
de obra pública pode ser como “a construção, total ou parcial,
conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer Denota-se que além do conhecimento da previsão no citado
obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, dispositivo, é importante compreendermos o significado prático de
mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa cada condição citada, com o objetivo de garantir que cada exigência
jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para legal seja cumprida para a qualificação do serviço como adequado.
a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento Desta forma, temos:
da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a 1 – Regularidade: exige que os serviços públicos sejam
exploração do serviço ou da obra por prazo determinado” (art. 2º, prestados de forma a garantir a estabilidade e a manutenção dos
III). Como hipótese de exemplo, citamos a concessão a particular, requisitos essenciais, sendo prestados em perfeita harmonia com a
vitorioso de processo licitatório por construção e conservação de lei e com o regulamento que disciplina a matéria.
rodovia, com o consequente pagamento realizado mediante a 2 – Continuidade: impõe que o serviço público, uma vez
cobrança de pedágio aos particulares que vierem a utilizar da via. instituído, seja prestado de forma permanente e sem interrupção,
Pondera-se que a diferença entre as duas modalidades de com exceção de situações de emergência, bem como a que advém
concessão comum está apenas no objeto. Perceba que na concessão de razões de ordem técnica ou de segurança das instalações
simples, o objeto do contrato é somente a execução de atividade elétricas, por exemplo.
que foi caracterizada como sendo serviço público, ao passo que 3 – Eficiência: refere-se à obtenção de resultados eficazes na
na concessão de serviço público antecedida da execução de obra prestação do serviço público, exigindo que o serviço seja realizado
pública existe uma duplicidade de objeto, sendo que o primeiro de acordo com uma adequada relação de custo/benefício, para,
deles se refere ao ajuste existente entre o poder concedente e com isso, evitar desperdícios.
o concessionário para que certa obra pública seja executada. 4 – Segurança: deverão os serviços públicos respeitar padrões,
Em relação ao segundo, a prestação do serviço público existe na bem como normas de segurança, de forma a preservar a integridade
exploração amplamente econômica do serviço ou da obra. da população de modo geral e dos equipamentos utilizados.
5 – Atualidade: possui como foco o impedimento de que o
– Direitos e obrigações dos usuários prestador se encontre alheio às inovações tecnológicas, suprimindo
Nos ditames do art. 7º da Lei 8.987/1995, os direitos e o investimento em termos de disponibilização aos usuários das
obrigações dos usuários dos serviços públicos delegados são os melhorias de qualidade e amplitude do serviço.
seguintes: 6 – Generalidade: deve oferecer a garantia de que o serviço
a) Receber serviço adequado; seja ofertado da forma mais abrangente possível.
b) Receber do poder concedente e da concessionária 7 – Cortesia: o prestador do serviço deverá tratar o usuário de
informações para a defesa de interesses individuais ou coletivos; forma educada e gentil.
c) Obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre
vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as 8 – Modicidade das tarifas: aduz que o valora a ser pago
normas do poder concedente; pela prestação dos serviços, deverá, nos parâmetros legais,
d) Levar ao conhecimento do poder público e da concessionária ser estabelecido de acordo com os padrões de razoabilidade,
as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao buscando evitar que os prestadores de serviços venham o obter
serviço prestado; lucros extraordinários causando prejuízo aos usuários econômico-
financeiros do contrato firmado com a administração.

139
CONHECIMENTOS GERAIS

– Observação importante: A celebração de qualquer espécie V – direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da
de contrato de concessão ou permissão de serviço público deve concessionária, inclusive os relacionados às previsíveis necessidades
ser realizada mediante licitação, conforme previsto no art. 175 da de futura alteração e expansão do serviço e consequente
Constituição Federal. Concernente às concessões, a Lei 8.987/1995 modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e
determinou que a delegação dependerá da realização de prévio das instalações;
procedimento licitatório para que seja escolhido o concessionário, VI – direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização
na modalidade obrigatória da concorrência. Sendo a modalidade do serviço;
licitatória regulada pela Lei de Licitações e Contratos, Lei VII – forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos,
8.666/1993, e tema dos próximos tópicos de estudo, mais adiante, dos métodos e práticas de execução do serviço, bem como a
detalharemos com maior aprofundamento sobre este importante indicação dos órgãos competentes para exercê-la; simples e nas
tema. concessões de serviço público precedida da execução de obra
pública (art. 23,caput);
Passemos a abordar a respeito do prazo que a Administração VIII – penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita
Pública permite à concessão na execução dos serviços públicos como a concessionária e sua forma de aplicação;
um todo. A Lei 8.987/1995 estabelece que a concessão simples de IX – casos de extinção da concessão;
serviço público ou a concessão de serviço público precedida de X – bens reversíveis;
obra pública deverá ser realizada por prazo determinado, mas não XI – critérios para o cálculo e a forma de pagamento das
define quais seriam os limites desse prazo. Assim sendo, caberá à lei indenizações devidas à concessionária, quando for o caso;
reguladora específica de cada serviço público, devidamente editada XII – condições para prorrogação do contrato;
pelo ente federado detentor de competência para prestá-lo, aditar XIII – à obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de
definindo qual o prazo de duração do contrato de concessão. Caso contas da concessionária ao poder concedente;
o legislador competente não estabeleça qualquer prazo, deverá, XIV – exigência da publicação de demonstrações financeiras
por conseguinte, o poder concedente fixá-lo no ato da minuta do periódicas da concessionária; e
contrato de concessão, que se encontra afixado como anexo no XV – o foro e o modo amigável de solução das divergências
edital da licitação. contratuais.
Denota-se que o prazo deve ser razoável, de forma a
Cláusulas obrigatórias somente nas concessões de serviços
permitir o abatimento dos investimentos a serem realizados pelo
públicos precedidas de obras públicas (art. 23, parágrafo único)
concessionário.
I – estipular os cronogramas físico-financeiros de execução das
Referente às concessões advindas de parceria público-privada,
obras vinculadas à concessão; e
infere-se que a vigência de tais contratos deverá ser sempre
II – exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessionária,
compatível com o abatimento dos investimentos realizados,
das obrigações relativas às obras vinculadas à concessão.
não podendo ser sendo inferior a 5 e nem superior a 35 anos, já
restando-se incluído nesse prazo eventual prorrogação nos termos Cláusulas facultativas (art. 23-A)
da Lei 11.079/2004, art. 5º, I. I – o contrato de concessão poderá prever o emprego de
mecanismos privados para resolução de disputas decorrentes ou
– Cláusulas do contrato de concessão relacionadas ao contrato, inclusive a arbitragem, a ser realizada
Nos ditames dos arts. 23 e 23-A da Lei 8.987/1995, as no Brasil e em língua portuguesa, nos termos da Lei 9.307, de
cláusulas do contrato de concessão tratam de modo geral sobre 23.09.1996;
o modo, a forma e as condições de prestação dos serviços; os II – qualquer outra que não seja obrigatória.
direitos e as obrigações do concedente, do concessionário e dos
usuários; os poderes de fiscalização do concedente; a obrigação É importante, demonstrar que o contrato de concessão é firmado
do concessionário de prestar contas; ou e disciplinam aspectos tendo em vista, não apenas oferecimento da melhor proposta,
relativos à extinção da concessão. mas incluindo também as características referentes à pessoa
Infere-se que as cláusulas podem ser divididas em: cláusulas contratada, devendo o concessionário demonstrar capacidade
essenciais obrigatórias em qualquer contrato de concessão, quer técnica e econômico-financeira que faça haver a presunção de que
seja concessão simples, quer seja concessão de serviço público haverá a perfeita execução do serviço. A esse aspecto, a doutrina
precedida de obra pública, cláusulas obrigatórias apenas nos denomina de contrato firmado intuitu personae, que se trata da
contratos de concessão de serviço público precedida da execução prática de eventual transferência da concessão para outra pessoa
de obra pública e cláusulas facultativas. Vejamos, em síntese: jurídica, bem como do controle societário da concessionária, sem
prévia aviso ou autorização do poder concedente, vindo a implicar a
(São obrigatórias nas concessões): caducidade que nada mais é do que a extinção da concessão.
I – objeto, área e prazo da concessão;
II – modo, forma e condições de prestação do serviço; – Intervenção na concessão
III – critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores A intervenção na concessão encontra-se submetida a um
da qualidade do serviço; procedimento formal. De antemão, o poder concedente, por meio
IV – preço do serviço, critérios e procedimentos para o reajuste de ato do Chefe do Poder Executivo, ao tomar conhecimento da
e a revisão das tarifas; falta de adequação da prestação do serviço ou do descumprimento
pela concessionária das normas pertinentes, edita o decreto de

140
CONHECIMENTOS GERAIS

intervenção que deverá conter a designação do interventor, o prazo somente à Administração Pública, para que o concessionário possa
da intervenção e os objetivos e limites da medida nos ditames do rescindir o contrato de concessão, deverá fazê-lo por intermédio de
legais pertinentes. ação judicial, sendo que os serviços prestados pela concessionária
Declarada a intervenção por intermédio de decreto, o poder não deverão ser interrompidos e nem mesmo paralisados em
concedente deverá, no prazo de até 30 dias, realizar a instauração hipótese alguma, até que a decisão judicial que determine a
de procedimento administrativo com o fito de comprovar as causas rescisão transite em julgado.
determinadas na medida e apurar as responsabilidades. Esse
procedimento administrativo deverá ser concluído em até 180 dias, 4 – Anulação
sob pena de ser considerada inválida a intervenção, nos termos do Trata-se de hipótese de extinção do contrato de concessão
art. 33, § 2º da Lei 8987/95. em decorrência de vício de legalidade, que pode, via de regra, ser
declarado por via administrativa ou judicial.
– Extinção da concessão
A concessão pode ser extinta por várias causas, colocando 5 – Falência ou extinção da empresa concessionária e
fim à prestação dos serviços pelo concessionário. O art. 35 da Lei falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa
8.987/1995, prevê de forma expressa algumas causas de extinção individual
da concessão. Sendo elas: o advento do termo contratual; a A Lei 8.987/1995, embora a Lei 8.987/95 mencione esse
encampação; a caducidade; a rescisão; a anulação; e a falência ou tópico como formas de extinção da concessão no art. 35, VI, nada
extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade dispõe em relação aos efeitos dessas hipóteses de extinção. No
do titular, em se tratando de empresa individual. entendimento de José dos Santos Carvalho Filho, tais fatos acabam
Pondera-se que além das causas anteriores, previstas na por provocar a extinção de pleno direito do contrato, pelo fato de
legislação e adotadas pela doutrina, a extinção da concessão de que tornam inviável a execução do serviço público objeto do ajuste.
serviço público também pode ocorrer por: desafetação do serviço;
distrato; ou renúncia da concessionária. 6 – Desafetação do serviço público
A Lei 8.987/1995 não se refere e nem minucia a desafetação de
Vejamos:
serviço público como causa de extinção da concessão. Entretanto,
1 – Encampação (ou resgate)
no entender de Diógenes Gasparini, a desafetação do serviço
Consiste na extinção da concessão em decorrência da retomada
público em decorrência de lei também é hipótese de extinção da
do serviço pelo poder concedente durante o prazo da concessão,
concessão, tendo em vista que a desafetação ocorre no momento
por motivos de interesse público.
em que uma lei torna público um serviço.
2 – Caducidade (ou decadência)
Consiste na extinção do contrato de concessão de serviço 7 – Distrato (acordo)
público em decorrência de inexecução total ou parcial do contrato, Mesmo não havendo referência legal à extinção da concessão
por razões que devem ser imputadas à concessionária. Poderá ser por intermédio de acordo ou distrato entre o poder concedente
declarada pelo poder concedente pelas seguintes maneiras, nos e a concessionária, esta hipótese não foi vedada pela legislação.
termos do art. 38, § 1º, I a VII: Por esse motivo, boa parte da doutrina vem admitindo a extinção
A) O serviço estiver sendo prestado de forma inadequada antecipada da concessão de forma amigável e também consensual.
ou deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e
parâmetros definidores da qualidade do serviço; 8 – Renúncia da concessionária
B) A concessionária descumprir cláusulas contratuais ou Nesse caso, a lei também não menciona essa hipótese como
disposições legais ou regulamentares concernentes à concessão; maneira de extinção da concessão. Porém, o ilustre Diogo de
C) A concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tanto, Figueiredo Moreira Neto, a renúncia da concessionária será aceita
ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força como forma de extinção da concessão, a partir do momento em
maior; que houver previsão contratual nesse sentido vindo a disciplinar-
D) A concessionária perder as condições econômicas, técnicas lhe as devidas consequências.
ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço
concedido; a concessionária não cumprir as penalidades impostas Nota importante acerca da concessão:
por infrações, nos devidos prazos; – Outro efeito da extinção da concessão é a assunção imediata
E) A concessionária não atender a intimação do poder do serviço pelo poder concedente, ficando este autorizado a ocupar
concedente no sentido de regularizar a prestação do serviço; e as instalações e a utilizar todos os bens reversíveis, tendo em vista a
F) A concessionária não atender a intimação do poder necessidade de dar continuidade à prestação do serviço público nos
concedente para, em 180 dias, apresentar a documentação relativa parâmetros do art. 35, §§ 2º e 3º.
à regularidade fiscal, no curso da concessão, na forma do art. 29 da – Independente da causa da extinção da concessão, os bens
Lei 8.666, de 21.06.1993. reversíveis que ainda não se encontrem amortizados ou depreciados
deverão ser indenizados ao concessionário, sob pena de, se não o
3 – Rescisão fizer, haver enriquecimento sem causa do poder concedente.
De acordo com a Lei 8.987/1995 a rescisão é a forma de extinção
da concessão, por iniciativa da respectiva concessionária, quando
esta se encontrar motivada pelo descumprimento de normas
contratuais advindas do poder concedente, nos ditames do art. 39.
Nesta hipótese, sendo a autoexecutoriedade privilégio aplicável

141
CONHECIMENTOS GERAIS

— Permissão é rescindido, o que se dá de forma contrária do ato administrativo


O art. 175 da Constituição Federal Brasileira determina que que é sujeito à revogação. De qualquer maneira, a precariedade do
“incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob vínculo encontra-se relacionada à possibilidade de extinção sem o
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a pagamento de indenização.
prestação de serviços públicos”. Pondera-se que todo e qualquer tipo de contrato administrativo,
Passível de observação, o ditado dispositivo constitucional não desde que esteja justificado pelo interesse público, pode ser
faz nenhum tipo de referência relativa à autorização de serviços rescindido de forma unilateral pela Administração Pública, não
públicos. Entretanto, denota-se que existe a admissão da delegação configurando esse aspecto apenas uma particularidade do contrato
de serviços públicos por intermédio de autorização com fulcro nos de permissão de serviços públicos.
art. 21, XI e XII, e art. 223 da Constituição Federal. Desta forma, Infere-se que quando a rescisão do contrato de concessão não
infere-se que a delegação de serviços públicos pode ser realizada for causada pelo concessionário, acarretará em direito a percepção
por meio de concessão, permissão ou autorização. Tratada de indenização pelos prejuízos sofridos, uma vez que a concessão
anteriormente, passemos a explorar os demais institutos. é impreterivelmente celebrada por prazo certo. No tocante à
Infere-se que a Lei 8.987/1995 não traz em seu bojo muitos permissão, existem contradições, pois existem doutrinadores que
dispositivos relacionados à permissão de serviços públicos, vindo entendem que a permissão sempre ocorre, via de regra, por prazo
a limitar-se a estabelecer o seu conceito. A permissão de serviço certo e determinado, ao passo que outros doutrinadores defendem
público, nos ditames da lei, pode ser conceituada como “a que a permissão ocorre, de antemão, por prazo indeterminado,
delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de porém, também admitem que ocorre prazo determinado, desde
serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou que tal dispositivo esteja fixado no edital da correspondente
jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua licitação. Essa última posição, é a que a Professora Maria Sylvia
conta e risco” (art. 2º, IV). Já o art. 40 da mesma Lei dispõe: Zanella Di Pietro defende, para quem a fixação de prazo de vigência
Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada da permissão faz com que desapareçam as diferenças existentes
mediante contrato de adesão, que observará os termos desta Lei, entre os institutos da permissão e da concessão. Por conseguinte,
das demais normas pertinentes e do edital de licitação, inclusive em se tratando da permissão por prazo determinado, ressalta-
quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato se que não existe a precariedade do vínculo, vindo, desta forma,
pelo poder concedente. o permissionário obter o direito de indenização quando não der
Proveniente do exposto, podemos expor com destaque as causa à rescisão deste.
principais características da permissão de serviço público. São elas: Em síntese, vejamos as principais características da concessão
a) É uma forma de delegação de serviços públicos; e da permissão de serviços públicos:
b) Deve ser precedida de licitação pública, mas a Lei não
determina a modalidade licitatória a ser seguida (diferencia-se da PERMISSÃO DE SERVIÇO CONCESSÃO DE SERVIÇO
concessão de serviço público que exige a licitação na modalidade PÚBLICO PÚBLICO
concorrência);
c) É formalizada por meio de um contrato de adesão, de – Forma de delegação de
natureza precária, uma vez que a lei prevê que pode ser revogado serviço público; – Forma de delegação de
de maneira unilateral pelo poder concedente (diferencia-se das – Depende de licitação, serviço público;
concessões de serviço público que não possuem natureza precária); mas a lei não – Depende de licitação
e – Predetermina a na modalidade obrigatória da
d) Os permissionários podem ser pessoas físicas ou jurídicas modalidade licitatória; concorrência;
(diferencia-se das concessões de serviço público em razão de os – Possui natureza precária, – Não possui natureza
concessionários somente poderem ser pessoa jurídica ou consórcio havendo controvérsias na precária;
de empresas). doutrina; – Os concessionários só
– Os permissionários podem ser pessoa jurídica ou
Por motivos importantes relacionados às características podem ser pessoa física ou consórcio de empresas.
anteriores, destacamos algumas observações. pessoa jurídica.
Relativo a primeira, aduz-se que todo contrato administrativo
é um contrato de adesão, posto que a minuta do contrato deve ser — Autorização
redigida pela Administração, bem como integra todos os anexos do De acordo com o entendimento da doutrina, a autorização se
edital de licitação apresentado. Desta maneira, aquele que vence a constitui em ato administrativo unilateral, discricionário e precário
licitação e, por sua vez, assina o contrato, passa a aderir somente por intermédio do qual, o poder público detém o poder de delegar
ao que foi estipulado pela Administração Pública, não podendo a execução de um serviço público de sua titularidade, possibilitando
haver discussões sobre as cláusulas contratuais. Assim ocorrendo, que o particular o realize em seu próprio benefício. Nos ditames
tanto a concessão quanto a permissão de serviço público estarão se de Hely Lopes Meirelles, “serviços autorizados são aqueles que o
constituindo em contrato de adesão, sendo que essa circunstância, Poder Público, por ato unilateral, precário e discricionário, consente
não serve para diferenciar os dois institutos. na sua execução por particular para atender a interesses coletivos
Direcionado à segunda observação a ser feita, trata-se de uma instáveis ou emergência transitória”.
relação à precariedade do vínculo, que de antemão, pode vir a ser Depreende-se que a autorização de serviço público não é
extinto a qualquer tempo, havendo ou não indenização. Registra- dependente de licitação, posto que esta somente é exigível para
se que o texto da lei acabou por usar designação imprópria de a realização de contrato. Sendo a autorização ato administrativo,
revogação do contrato, tendo em vista que este não é revogado, entende- se que não deverá ser precedida de procedimento

142
CONHECIMENTOS GERAIS

licitatório. Entretanto, se houver uma quantidade limitada doutrinária, em sentido jurídico, sequer poderiam ser considerados
de autorizações a serem fornecidas e existindo determinada serviços públicos, tendo em vista que a lei não atribui a sua
pluralidade de possíveis interessados, em atendimento ao princípio prestação ao Estado.
da isonomia, é necessário que se faça um processo seletivo para Hely Lopes Meirelles ensina que serviços próprios do Estado
facilitar a escolha dos entes que serão autorizados pelo Poder “são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do
Público. Poder Público, como: segurança, polícia, higiene e saúde públicos
Caso o ato de autorização seja precário, pode de antemão, etc., sendo que para a execução destes, a Administração utiliza de
ser revogado a qualquer tempo, desde que seja por motivo de seu poder de hierarquia sobre os administrados. Por esse motivo,
interesse público, suprimindo o direito à indenização por parte do infere-se que só devem ser prestados por órgãos ou entidades
eventual prejudicado. No entanto, a exemplo de exceção, existindo públicas, sem delegação a particulares”. Por sua vez, os serviços
estabelecimento de prazo para a autorização, ressalta-se que o impróprios do Estado “são os que não afetam substancialmente
vínculo acaba por perder a precariedade, passando a ser cabível as necessidades da comunidade, mas satisfazem interesses
o direito de indenização em se tratando de caso de revogação da comuns de seus membros, e, por isso, a Administração os presta
autorização. remuneradamente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas
Demonstramos, por fim, que embora seja tradição se definir (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia
a autorização como ato administrativo discricionário, a Lei Geral mista, fundações governamentais), ou delega sua prestação a
de Telecomunicações determina que a autorização de serviço de concessionários, permissionários ou autorizatários”.
telecomunicações é ato administrativo vinculado, nos parâmetros
da Lei 9.472/1997, art. 131, § 1º, de forma a não existir possibilidade c) Serviços administrativos, econômicos (comerciais ou
de a administração denegar a prática da atividade para os industriais) e sociais
particulares que vierem a preencher devidamente as condições São constituídos por atividades promovidas pelo Poder Público
objetivas e subjetivas necessárias. com o fulcro de atender às necessidades internas requeridas pela
Administração. Também podem preparar outros serviços que
— Classificação deverão ser prestados ao público, como por exemplo, as estações
experimentais e a imprensa oficial.
Existem vários critérios adotados para classificar os serviços,
Nos ditames da lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o serviço
dentre os quais, vale à pena destacar os seguintes:
comercial ou industrial é aquele que a Administração Pública
executa, direta ou indiretamente, com o objetivo de atender
a) Serviços públicos propriamente ditos (essenciais) e serviços
às necessidades coletivas de ordem econômica, tendo como
de utilidade pública (não essenciais)
supedâneo no art. 175 da Constituição Federal, a exemplo dos
Em relação aos serviços públicos propriamente ditos, afirma-se
serviços de telecomunicações, dentre outros.
que são serviços classificados como essenciais à sobrevivência da
Já o serviço público social, cuida-se daquele que atende
sociedade e do próprio Estado. Como exemplo, podemos citar o a necessidades coletivas, em áreas cuja atuação do Estado é
serviço de Polícia Judiciária e Administrativa. Tendo em vista que considerada de caráter essencial, a exemplo dos serviços de
tais serviços exigem a prática de atos de império relacionados aos educação, saúde e previdência. De acordo com a doutrina
administrados, denota-se que os mesmos só podem ser prestados dominante, tais serviços, quando são prestados pela iniciativa
de forma direta pelo Estado, sem a necessidade de delegação a privada não são considerados como serviços públicos, mas sim
terceiros. Concernente aos serviços de utilidade pública, aduz-se como serviços de natureza privada.
que são aqueles cuja prestação é de bom proveito à coletividade,
tendo em vista que, mesmo que estes visem a facilitação da vida d) Serviços uti singuli (singulares) e uti universi (coletivos)
do indivíduo na sociedade como um todo, não são considerados Também chamados de serviços singulares ou individuais,
essenciais, podendo, por esse motivo, ser executados de forma os serviços uti singuli são aqueles cuja finalidade é a satisfação
direta pelo Estado ou ter sua prestação delegada a particulares. individual e direta das necessidades do indivíduo. Esses serviços
Exemplo: a água tratada, o transporte coletivo, dentre outros. têm usuários determinados, sendo, por esse motivo, possível a
mensuração de forma individualizada da utilização de cada usuário.
b) Serviços próprios e impróprios São incluídos nessa categoria os serviços de fornecimento de água,
A classificação de serviços públicos próprios e impróprios é energia elétrica, telefone, etc. que podem ser remunerados por
apresentada com variações de sentido na doutrina. intermédio de taxa ou tarifa.
No entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a doutrina Os serviços uti universi, também conhecidos como serviços
clássica classifica como serviços públicos próprios aqueles que, em universais, coletivos ou gerais, são os serviços prestados à
decorrência de sua importância, o Estado passa a assumir como coletividade, porém, são usufruídos somente de forma indireta
seus e os coloca em execução de forma direta por intermédio de pelos indivíduos. Exemplos: serviço de iluminação pública, defesa
seus agentes, ou, ainda, indireta que ocorre mediante delegação nacional, dentre outros. Denota-se que os serviços uti universi,
a terceiros concessionários ou permissionários. Referente aos de modo geral são prestados a usuários indeterminados e
serviços públicos impróprios, são aqueles que, embora atendam indetermináveis, não sendo por esse motivo, passíveis de ter seu
às necessidades coletivas, não estão sendo executados pelo uso individualizado. Além disso são custeados através de impostos
Estado, nas suas formas direta ou indireta, mas estão autorizados, ou contribuições especiais. Por esse motivo, o STF editou a Súmula
regulamentados e fiscalizados pelo Poder Público. Exemplo: as 670 (posteriormente convertida na Súmula Vinculante 41), na qual
instituições financeiras, de seguro e previdência privada, dentre predomina o entendimento de que “o serviço de iluminação pública
outros. Entretanto, a própria autora explica que os serviços não pode ser remunerado mediante taxa”, uma vez que se trata de
considerados impróprios pela retro mencionado corrente serviço uti universi.

143
CONHECIMENTOS GERAIS

Por fim, ressalta-se que há uma correlação entre a conceituação Vejamos a definição e a importância de cada um deles:
do serviço como uti universi ou uti singuli e o seu custeio, pois,
quando o serviço é uti singuli, é possível identificar o usuário e – Princípio da legalidade
mencionar a utilização da expressão a “conta” deve ser paga pelo Previsto no art. 37 da CRFB/1988, é conceituado como um
próprio usuário, mediante o implemento de taxa, preço ou tarifa. produto do Liberalismo, que pregava a superioridade do Poder
Em se tratando de serviço uti universi, quando não é possível Legislativo na qual a legalidade se divide em dois importantes
saber quem são os usuários de forma individualizada, pois, o desdobramentos:
usuário é a “coletividade”, nem quantificar o uso, a “conta” é a) supremacia da lei: a lei acaba por prevalecer e tem
paga pela coletividade, mediante o recolhimento de impostos ou preferência sobre os atos da Administração;
contribuições especiais. b) reserva de lei: o tratamento de determinadas matérias deve
ser formalizado pela legislação, excluindo o uso de outros atos com
— Princípios caráter normativo.
Os princípios jurídicos solidificam os valores fundamentais
da ordem jurídica. Em razão de sua fundamentalidade e abertura Todavia, o princípio da legalidade deve ser conceituado
linguística, os princípios se espalham sobre todo o sistema jurídico,
como o principal conceito para a configuração do regime jurídico-
vindo a garantindo-lhe harmonia e coerência.
administrativo, tendo em vista que segundo ele, a administração
Os princípios jurídicos são classificados a partir de dois
pública só poderá ser desempenhada de forma eficaz em seus atos
critérios. Partindo da amplitude de aplicação no sistema normativo,
executivos, agindo conforme os parâmetros legais vigentes. De
os princípios podem ser divididos em três espécies:
acordo com o princípio em análise, todo ato que não possuir base
a) Princípios fundamentais: são princípios que representam
em fundamentos legais é ilícito.
as decisões políticas de estrutura do Estado, servindo de base
para todas as demais normas constitucionais, como por exemplo:
princípios republicanos, federativo, da separação de poderes, – Princípio da impessoalidade
dentre outros; Consagrado de forma expressa no art. 37 da CRFB/1988, possui
b) Princípios gerais: via de regra, se referem a importantes duas interpretações possíveis:
especificações dos princípios fundamentais, embora possuam a) igualdade (ou isonomia): dispõe que a Administração Pública
menor grau de abstração e acabam por se espalhar sobre todo o deve se abster de tratamento de forma impessoal e isonômico aos
ordenamento jurídico. Exemplos: os princípios da isonomia e da particulares, com o fito de atender a finalidade pública, vedadas
legalidade; a discriminação odiosa ou desproporcional. Exemplo: art. 37, II,
c) Princípios setoriais ou especiais: se destinam à aplicação de da CRFB/1988: concurso público. Isso posto, com ressalvas ao
certo tema, capítulo ou título da Constituição. Exemplos: princípios tratamento que é diferenciado para pessoas que estão se encontram
da Administração Pública dispostos no art. 37 da CRFB: legalidade, em posição fática de desigualdade, com o fulcro de efetivar a
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. igualdade material. Exemplo: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.0, § 2. °,
da Lei 8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos
Já a segunda classificação, acaba por levar em conta a menção para portadores de deficiência.
expressa ou implícita dos princípios em seus textos normativos. São b) proibição de promoção pessoal: quem faz as realizações
eles: públicas é a própria entidade administrativa e não são tidas como
a) Princípios expressos: são os que se encontram feitos pessoais dos seus respectivos agentes, motivos pelos quais
expressamente mencionados no texto da norma. Exemplos: toda a publicidade dos atos do Poder Público deve possuir caráter
princípios da Administração Pública que são elencados no art. 37 educativo, informativo ou de orientação social, nos termos do art.
da CRFB); 37, § 1.°, da CRFB : “dela não podendo constar nomes, símbolos
b) Princípios implícitos: são os reconhecidos pela doutrina ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
e pela jurisprudência advindo da interpretação sistemática do servidores públicos” .
ordenamento jurídico. Exemplos: princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, da segurança jurídica. – Princípio da moralidade
Disposto no art. 37 da CRFB/1988, presta-se a exigir que a
Em relação ao processo administrativo, denota-se que estes atuação administrativa, respeite a lei, sendo ética, leal e séria.
são regulados por leis infraconstitucionais e que também elencam Nesse diapasão, o art. 2. °, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999
outros princípios do Direito Administrativo. A nível federal, registra- ordena ao administrador nos processos administrativos, a autêntica
se que o art. 2. ° da Lei 9.784/1999 cita a existência dos seguintes “atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-
princípios: legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, fé”. Exemplo: a vedação do ato de nepotismo inserido da Súmula
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, Vinculante 13 do STF. Entretanto, o STF tem afastado a aplicação da
segurança jurídica, interesse público e eficiência. mencionada súmula para os cargos políticos, o que para a doutrina
Sem qualquer tipo de dependência da quantidade de princípios em geral não parece apropriado, tendo em vista que o princípio da
elencados pelo ordenamento e pela doutrina, podemos destacar, moralidade é um princípio geral e aplicável a toda a Administração
para fins de estudo os principais princípios do Direito Administrativo: Pública, vindo a alcançar, inclusive, os cargos de natureza política.
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,
razoabilidade, proporcionalidade, finalidade pública (supremacia – Princípio da publicidade
do interesse público sobre o interesse privado), continuidade, Sua função é impor a divulgação e a exteriorização dos atos
autotutela, consensualidade/participação, segurança jurídica, do Poder Público, nos ditames do art. 37 da CRFB/1988 e do art.
confiança legítima e boa-fé. 2. ° da Lei 9.784/1999). Ressalta-se com grande importância que a

144
CONHECIMENTOS GERAIS

transparência dos atos administrativos guarda estreita relação com na Alemanha, dignidade constitucional, a partir do momento
o princípio democrático nos termos do art. 1. ° da CRFB/1988), vindo em que a doutrina e a jurisprudência passaram a afirmar que a
a possibilitar o exercício do controle social sobre os atos públicos proporcionalidade seria um princípio implícito advindo do próprio
praticados pela Administração Pública em geral. Denota-se que a Estado de Direito.
atuação administrativa obscura e sigilosa é característica típica dos Embora haja polêmica em relação à existência ou não de
Estados autoritários. Como se sabe, no Estado Democrático de diferenças existentes entre os princípios da razoabilidade e da
Direito, a regra determinada por lei, é a publicidade dos atos estatais, proporcionalidade, de modo geral, tem prevalecido a tese da
com exceção dos casos de sigilo determinados e especificados fungibilidade entre os mencionados princípios que se relacionam
por lei. Exemplo: a publicidade é um requisito essencial para a e forma paritária com os ideais igualdade, justiça material e
produção dos efeitos dos atos administrativos, é uma necessidade racionalidade, vindo a consubstanciar importantes instrumentos de
de motivação dos atos administrativos. contenção dos excessos cometidos pelo Poder Público.
O princípio da proporcionalidade é subdividido em três
– Princípio da eficiência subprincípios:
Foi inserido no art. 37 da CRFB, por intermédio da EC 19/1998, a) Adequação ou idoneidade: o ato praticado pelo Estado será
com o fito de substituir a Administração Pública burocrática adequado quando vier a contribuir para a realização do resultado
pela Administração Pública gerencial. O intuito de eficiência pretendido.
está relacionado de forma íntima com a necessidade de célere b) Necessidade ou exigibilidade: em decorrência da proibição
efetivação das finalidades públicas dispostas no ordenamento do excesso, existindo duas ou mais medidas adequadas para
jurídico. Exemplo: duração razoável dos processos judicial e alcançar os fins perseguidos de interesse público, o Poder Público
administrativo, nos ditames do art. 5.0, LXXVIII, da CRFB/1988, terá o dever de adotar a medida menos agravante aos direitos
inserido pela EC 45/2004), bem como o contrato de gestão no fundamentais.
interior da Administração (art. 37 da CRFB) e com as Organizações c) Proporcionalidade em sentido estrito: coloca fim a uma
Sociais (Lei 9.637/1998). típica consideração, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
Em relação à circulação de riquezas, existem dois critérios que atuação do Estado e o benefício que ela produz, motivo pelo qual a
garantem sua eficiência: restrição ao direito fundamental deverá ser plenamente justificada,
a) eficiência de Pareto (“ótimo de Pareto”): a medida se torna tendo em vista importância do princípio ou direito fundamental
eficiente se conseguir melhorar a situação de certa pessoa sem que será efetivado.
piorar a situação de outrem.
b) eficiência de Kaldor-Hicks: as normas devem ser aplicadas de – Princípio da supremacia do interesse público sobre o
forma a produzir o máximo de bem-estar para o maior número de interesse privado (princípio da finalidade pública)
pessoas, onde os benefícios de “X” superam os prejuízos de “Y”). É considerado um pilar do Direito Administrativo tradicional,
tendo em vista que o interesse público pode ser dividido em duas
Ressalte-se, contudo, em relação aos critérios mencionados categorias:
acima, que a eficiência não pode ser analisada apenas sob o prisma a) interesse público primário: encontra-se relacionado com a
econômico, tendo em vista que a Administração possui a obrigação necessidade de satisfação de necessidades coletivas promovendo
de considerar outros aspectos fundamentais, como a qualidade justiça, segurança e bem-estar através do desempenho de
do serviço ou do bem, durabilidade, confiabilidade, dentre outros atividades administrativas que são prestadas à coletividade, como
aspectos. por exemplo, os serviços públicos, poder de polícia e o fomento,
dentre outros.
– Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade b) interesse público secundário: trata-se do interesse do
Nascido e desenvolvido no sistema da common law da Magna próprio Estado, ao estar sujeito a direitos e obrigações, encontra-
Carta de 1215, o princípio da razoabilidade o princípio surgiu no se ligando de forma expressa à noção de interesse do erário,
direito norte-americano por intermédio da evolução jurisprudencial implementado através de atividades administrativas instrumentais
da cláusula do devido processo legal, pelas Emendas 5.’ e 14.’ da que são necessárias ao atendimento do interesse público primário.
Constituição dos Estados Unidos, vindo a deixar de lado o seu Exemplos: as atividades relacionadas ao orçamento, aos agentes
caráter procedimental (procedural due process of law: direito ao público e ao patrimônio público.
contraditório, à ampla defesa, dentre outras garantias processuais)
para, por sua vez, incluir a versão substantiva (substantive due – Princípio da continuidade
process of law: proteção das liberdades e dos direitos dos indivíduos Encontra-se ligado à prestação de serviços públicos, sendo que
contra abusos do Estado). tal prestação gera confortos materiais para as pessoas e não pode
Desde seus primórdios, o princípio da razoabilidade vem ser interrompida, levando em conta a necessidade permanente de
sendo aplicado como forma de valoração pelo Judiciário, bem satisfação dos direitos fundamentais instituídos pela legislação.
como da constitucionalidade das leis e dos atos administrativos, Tendo em vista a necessidade de continuidade do serviço
demonstrando ser um dos mais importantes instrumentos de público, é exigido regularidade na sua prestação. Ou seja, prestador
defesa dos direitos fundamentais dispostos na legislação pátria. do serviço, seja ele o Estado, ou, o delegatório, deverá prestar o
O princípio da proporcionalidade, por sua vez origina-se das serviço de forma adequada, em consonância com as normas vigentes
teorias jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, a partir do momento e, em se tratando dos concessionários, devendo haver respeito às
no qual foi reconhecida a existência de direitos perduráveis ao condições do contrato de concessão. Em resumo, a continuidade
homem oponíveis ao Estado. Foi aplicado primeiramente no âmbito pressupõe a regularidade, isso por que seria inadequado exigir que
do Direito Administrativo, no “direito de polícia”, vindo a receber, o prestador continuasse a prestar um serviço de forma irregular.

145
CONHECIMENTOS GERAIS

Mesmo assim, denota-se que a continuidade acaba por não poderá gerar tanto uma “atuação coadjuvante” como uma “atuação
impor que todos os serviços públicos sejam prestados diariamente determinante por parte de interessados regularmente habilitados à
e em período integral. Na realidade, o serviço público deverá ser participação” (MOREIRA NETO, 2006, p. 337-338).
prestado sempre na medida em que a necessidade da população Desta forma, o princípio constitucional da participação é o
vier a surgir, sendo lícito diferenciar a necessidade absoluta da pioneiro da inclusão dos indivíduos na formação das tutelas jurídico-
necessidade relativa, onde na primeira, o serviço deverá ser políticas, sendo também uma forma de controle social, devido aos
prestado sem qualquer tipo interrupção, tendo em vista que a seus institutos participativos e consensuais.
população necessita de forma permanente da disponibilidade
do serviço. Exemplos: hospitais, distribuição de energia, limpeza – Princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
urbana, dentre outros. boa-fé
Os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
– Princípio da autotutela boa-fé possuem importantes aspectos que os assemelham entre si.
Aduz que a Administração Pública possui o poder-dever de O princípio da segurança jurídica está dividido em dois sentidos:
rever os seus próprios atos, seja no sentido de anulá-los por vício de – Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico, levando em
legalidade, ou, ainda, para revogá-los por motivos de conveniência conta a necessidade de que sejam respeitados o direito adquirido,
e de oportunidade, de acordo com a previsão contida nas Súmulas o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI, da CRFB);
346 e 473 do STF, e, ainda, como no art. 53 da Lei 9.784/1999. – Subjetivo: infere a proteção da confiança das pessoas
A autotutela designa o poder-dever de corrigir ilegalidades, relacionadas às expectativas geradas por promessas e atos estatais.
bem como de garantir o interesse público dos atos editados pela
própria Administração, como por exemplo, a anulação de ato ilegal Já o princípio da boa-fé tem sido dividido em duas acepções:
e revogação de ato inconveniente ou inoportuno. – Objetiva: diz respeito à lealdade e à lisura da atuação dos
Fazendo referência à autotutela administrativa, infere-se que particulares;
esta possui limites importantes que, por sua vez, são impostos – Subjetiva: está ligada à relação com o caráter psicológico
ante à necessidade de respeito à segurança jurídica e à boa-fé dos daquele que atuou em conformidade com o direito. Esta
particulares de modo geral. caracterização da confiança legítima depende em grande parte da
boa-fé do particular, que veio a crer nas expectativas que foram
– Princípios da consensualidade e da participação geradas pela atuação do Estado.
Segundo Moreira Neto, a participação e a consensualidade
tornaram-se decisivas para as democracias contemporâneas, pelo Condizente à noção de proteção da confiança legítima, verifica-
fato de contribuem no aprimoramento da governabilidade, vindo se que esta aparece em forma de uma reação frente à utilização
a fazer a praticar a eficiência no serviço público, propiciando mais abusiva de normas jurídicas e de atos administrativos que terminam
freios contra o abuso, colocando em prática a legalidade, garantindo por surpreender os seus receptores.
a atenção a todos os interesses de forma justa, propiciando decisões Em decorrência de sua amplitude, princípio da segurança
mais sábias e prudentes usando da legitimidade, desenvolvendo a jurídica, inclui na sua concepção a confiança legítima e a boa-fé,
responsabilidade das pessoas por meio do civismo e tornando os com supedâneo em fundamento constitucional que se encontra
comandos estatais mais aceitáveis e mais fáceis de ser obedecidos. implícito na cláusula do Estado Democrático de Direito no art. 1.° da
Desta forma, percebe-se que a atividade de consenso entre o CRFB/1988, na proteção do direito adquirido, do ato jurídico perfeito
Poder Público e particulares, ainda que de maneira informal, veio e da coisa julgada de acordo com o art. 5.0, XXXVI, da CRFB/1988.
a assumir um importante papel no condizente ao processo de Por fim, registra-se que em âmbito infraconstitucional, o
identificação de interesses públicos e privados que se encontram princípio da segurança jurídica é mencionado no art. 2. ° da Lei
sob a tutela da Administração Pública. 9.784/1999, vindo a ser caracterizado por meio da confiança
Assim sendo, com a aplicação dos princípios da consensualidade legítima, pressupondo o cumprimento dos seguintes requisitos:
e da participação, a administração termina por voltar-se para a a) ato da Administração suficientemente conclusivo para gerar
coletividade, vindo a conhecer melhor os problemas e aspirações no administrado (afetado) confiança em um dos seguintes casos:
da sociedade, passando a ter a ter atividades de mediação para confiança do afetado de que a Administração atuou corretamente;
resolver e compor conflitos de interesses entre várias partes ou confiança do afetado de que a sua conduta é lícita na relação
entes, surgindo daí, um novo modo de agir, não mais colocando jurídica que mantém com a Administração; ou confiança do afetado
o ato como instrumento exclusivo de definição e atendimento do de que as suas expectativas são razoáveis;
interesse público, mas sim em forma de atividade aberta para a b) presença de “signos externos”, oriundos da atividade
colaboração dos indivíduos, passando a ter importância o momento administrativa, que, independentemente do caráter vinculante,
do consenso e da participação. orientam o cidadão a adotar determinada conduta;
De acordo com Vinícius Francisco Toazza, “o consenso na c) ato da Administração que reconhece ou constitui uma situação
tomada de decisões administrativas está refletido em alguns jurídica individualizada (ou que seja incorporado ao patrimônio
institutos jurídicos como o plebiscito, referendo, coleta de jurídico de indivíduos determinados), cuja durabilidade é confiável;
informações, conselhos municipais, ombudsman, debate público, d) causa idônea para provocar a confiança do afetado (a
assessoria externa ou pelo instituto da audiência pública. Salienta- confiança não pode ser gerada por mera negligência, ignorância ou
se: a decisão final é do Poder Público; entretanto, ele deverá tolerância da Administração); e
orientar sua decisão o mais próximo possível em relação à síntese e) cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e
extraída na audiência do interesse público. Nota-se que ocorre obrigações no caso.
a ampliação da participação dos interessados na decisão”, o que

146
CONHECIMENTOS GERAIS

Princípio da Moralidade
PRINCÍPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO O princípio da moralidade no artigo 37 da Constituição Federal
e na Lei 9.784/99 traduz a ideia de que a Administração e seus
— Conceito1 agentes devem pautar-se pelos princípios éticos na condução do
Processo administrativo é a possibilidade que tem o processo administrativo, devendo observar, outrossim, a probidade,
administrado de ver revistos os atos impostos pela Administração. honestidade, respeito aos valores éticos e jurídicos da sociedade.
Consiste no conjunto de atos administrativos concatenados Logo, a moralidade aplicada ao processo impõe ao administrador
(ordenados) e preparatórios de uma decisão da Administração. o dever de conduzir o processo de forma íntegra, imparcial e
impessoal.
Em sentido amplo O princípio da moralidade, prevista na Constituição Federal e
Trata-se do conjunto de medidas jurídicas e materiais praticadas na Lei 9784/99, é quando a Administração e seus agentes devem se
com certa ordem e cronologia, necessárias ao registro dos atos pautar pelos princípios éticos no processo administrativo, contidos
da Administração Pública, ao controle do comportamento dos também a probidade, honestidade, respeito aos valores éticos e
administrados e de seus servidores, a compatibilizar, no exercício jurídicos da sociedade.
do poder de polícia, os interesses público e privado, a punir seus
servidores e terceiros, a resolver controvérsias administrativas e a Princípio da Eficiência
outorgar direitos a terceiros. A eficiência no que concerne ao processo administrativo
O processo administrativo, que pode ser instaurado significa não somente a prestação estatal célere, mas, eficiente, de
mediante provocação do interessado ou por iniciativa da própria acordo com os melhores instrumentos que realizem, plenamente, o
Administração, estabelece uma relação bilateral, “inter partes”, fim pretendido. A Administração deve atuar de forma mais eficiente
ou seja, de um lado, o administrado, que deduz uma pretensão e célere para assegurar a justiça processual.
e, de outro, a Administração que, quando decide, não age como O princípio da eficiência estabelece que a Administração
terceiro, estranho à controvérsia, mas como parte que atua no deve atingir os resultados práticos almejados com o mínimo de
próprio interesse e nos limites que lhe são impostos por lei. É desperdício, utilizando-se apropriadamente dos seus recursos.
toda e qualquer autuação efetivada pela Administração Pública no
interesse e segurança da função administrativa. Princípio da Finalidade
Ademais, importante destacar que uma das espécies de Na visão dominante, adotada por Hely Lopes Meirelles,
processo administrativo é o PAD (processo administrativo o princípio da finalidade seria apenas uma faceta do princípio
disciplinar), que visa apurar infrações funcionais praticadas pelos constitucional da impessoalidade. Isto ocorre em virtude de os dois
servidores públicos e que foi estudado no capítulo Agentes Públicos. buscarem o bem-estar coletivo.

Dita a Lei n. 9.784/99 em seu art. 2º que: Princípio da Oficialidade ou do Impulso Oficial
A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos Informa tal princípio que, mesmo o processo sendo iniciado por
princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, motivação do administrado, compete à Administração movimentar
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, o processo até o fim.
segurança jurídica, interesse público e eficiência. Esse princípio tem por fundamento a finalidade pública
da atuação administrativa, que exige a satisfação do interesse
— Princípios do Processo Administrativo2 público e, consequentemente, a movimentação de ofício
(independentemente de requerimento do particular) do processo
Princípio da Legalidade administrativo como única forma de tutelar o interesse coletivo. Se
O processo administrativo deve ser conduzido na forma da lei. o particular que requereu a instauração desapareceu, isso em nada
A legalidade está relacionada ao dever de submissão interfere no dever de a Administração dar andamento ao processo.
estatal à vontade popular, já que as normas são feitas pelos
representantes eleitos pelos cidadãos. Com isso, pode-se afirmar Princípio do Informalismo ou Formalismo Moderado
que o Poder Público, em virtude principalmente dos princípios da Os atos praticados no processo, especialmente aqueles
indisponibilidade do interesse público e da legalidade, deverá agir realizados pelo administrado, não possuem maiores exigências
de acordo com a vontade da coletividade, evitando, assim, excessos formais e deverão ser sempre aproveitados.
por parte dos administradores. Esse princípio legitima formas simples na composição do
Leciona Hely Lopes Meirelles: “Enquanto na administração processo administrativo, bastando que sejam suficientes para
particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração garantir a segurança e o respeito aos direitos dos administrados. Ex.:
Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza”. Perceba que, deve ser escrito, datado e assinado pela autoridade competente.
enquanto o particular preserva a autonomia de sua vontade, o
administrador encontra-se subordinado aos termos da lei. Princípio da Verdade Material
Para o Princípio da Verdade Material, o que importa saber
dentro de um processo administrativo é o fato que se deu no
mundo real.
1 Almeida, Fabrício Bolzan D. Manual de direito administrativo. Disponível em: Em razão de a Administração tutelar o interesse público, não
Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Saraiva, 2022. pode ficar aguardando as provas trazidas pelos administrados
2 Pessoa, Erick A. Direito Administrativo. (Coleção Método Essencial). Disponí- (verdade formal), devendo buscar o que realmente aconteceu
vel em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. (verdade material) durante o processo administrativo.

147
CONHECIMENTOS GERAIS

Princípio da Celeridade Processual ou Duração Razoável do interesse atingido por ato constante do processo ou que atue na
Processo defesa do interesse coletivo ou geral, no exercício do direito à
O art. 5º, LXXVIII, da CF estabelece que tanto o processo informação assegurado pelo artigo 5º, inciso XXXIII, da Constituição.
administrativo como o processo judicial deverão ter duração É evidente que o direito de acesso não pode ser exercido
razoável. A celeridade processual deverá ser interpretada em abusivamente, sob pena de tumultuar o andamento dos serviços
conjunto com o princípio do contraditório e da ampla defesa, públicos administrativos; para exercer esse direito, deve a pessoa
porque processo rápido pode não ser justo. Assim, imprescindível demonstrar qual o seu interesse individual, se for o caso, ou qual o
analisarmos alguns requisitos para saber se o processo teve ou não interesse coletivo que pretende defender.
duração razoável. O direito de acesso ao processo não se confunde com o direito
São eles: de “vista”, que somente é assegurado às pessoas diretamente
– Comportamento das partes no feito (se a atuação é atingidas por ato da Administração, para possibilitar o exercício do
protelatória ou não); seu direito de defesa.
– A atuação das autoridades judiciais; O direito de acesso só pode ser restringido por razões de
– A complexidade do caso. segurança da sociedade e do Estado, hipótese em que o sigilo deve
ser resguardado (art. 5º, XXXIII, da Constituição); ainda é possível
Princípio do Contraditório e Ampla Defesa restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
Por contraditório, entenda-se a possibilidade que é dada ao intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX).
administrado de ter conhecimento de que está sendo acusado e
poder se manifestar sobre tal acusação, enquanto ampla defesa é a Princípio da Gratuidade
possibilidade que tem o administrado de utilizar todos os meios e Sendo a Administração Pública uma das partes do processo
recursos para efetivar sua mais ampla defesa. Ambos decorrem do administrativo, não se justifica a mesma onerosidade que existe no
due process of law. processo judicial (v. item 14.1).
A regra da gratuidade está agora expressa no artigo 2º,
Princípio da Razoabilidade parágrafo único, inciso XI, da Lei nº 9.784, que proíbe “cobrança
Impõe que o administrador atue dentro de critérios aceitáveis de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei”. A menos
do ponto de vista racional. Augustin Gordillo8 define que um ato que haja leis específicas exigindo cobrança de determinados atos, a
será irrazoável quando: regra é a da gratuidade dos atos processuais.
– Não existirem fundamentos para ampará-los; Inclusive para fins de propositura de recurso na esfera
– Desconsiderar fatos ou circunstâncias; administrativa, o STJ sumulou o entendimento de que “é ilegítima
– Não guardar proporcionalidade entre meios utilizados e fins a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso
buscados pela lei com o ato (ou para prática do ato). administrativo” (Súmula nº 373). Esse também é o entendimento
do Supremo Tribunal Federal, conforme visto no Capítulo 17
Por certo, o princípio da razoabilidade se relaciona com o (item 17.3.2.1), agora objeto da Súmula Vinculante nº 21: “É
princípio da proporcionalidade, havendo quem entenda que este inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de
integra aquele. dinheiros ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.”

Princípio da Proporcionalidade
Exige que o administrador se paute por critérios de
ponderabilidade e de equilíbrio entre o ato praticado, a finalidade
perseguida e as consequências do ato. Afinal, mesmo o ato que
cumpre sua finalidade, poderá ser desproporcional se trouxer
consequências que contrariem ou esvaziem a finalidade buscada.
Juarez de Freitas pondera, com muita felicidade, que o princípio
da proporcionalidade exige sacrificar o mínimo para preservar o
máximo.
A Lei Federal nº 9.784/99, no artigo 2º, Parágrafo Único, Inciso
VI, consagra o princípio da proporcionalidade ao:
a) exigir adequação de fins e meios; e
b) vedar o estabelecimento de obrigações, restrições e sanções
superiores ao estritamente necessário. – Início do Processo
O processo tem início com despacho de autoridade
Princípio da Publicidade competente, determinando a instauração, assim que tiver ciência
Esse princípio, agora previsto expressamente no artigo 37, de alguma irregularidade; ela age ex officio, com fundamento no
caput, da Constituição, aplica-se ao processo administrativo. Por princípio da oficialidade.3
ser pública a atividade da Administração, os processos que ela Não havendo elementos suficientes para instaurar o processo,
desenvolve devem estar abertos ao acesso dos interessados. determinará previamente a realização de sindicância.
Esse direito de acesso ao processo administrativo é mais amplo
do que o de acesso ao processo judicial; neste, em regra, apenas
as partes e seus defensores podem exercer o direito; naquele, 3 Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha
qualquer pessoa é titular desse direito, desde que tenha algum Biblioteca, (36th edição). Grupo GEN, 2023.

148
CONHECIMENTOS GERAIS

– Instauração A autoridade julgadora deve fazer exame completo do processo


Determinada a instauração e já autuado o processo, é este para verificar a sua legalidade, podendo declarar a sua nulidade,
encaminhado à comissão processante, que o instaura, por meio determinar o saneamento do processo ou a realização de novas
de portaria em que conste o nome dos servidores envolvidos, a diligências que considere essenciais à prova. Tudo com base no
infração de que são acusados, com descrição sucinta dos fatos e princípio da oficialidade.
indicação dos dispositivos legais infringidos.
A portaria bem elaborada é essencial à legalidade do processo, — Modalidades4
pois equivale à denúncia do processo penal e, se não contiver Nos países que acolhem a dualidade de jurisdição, ou seja, a
dados suficientes, poderá prejudicar a defesa; é indispensável que existência de um contencioso administrativo ao lado da jurisdição
ela contenha todos os elementos que permitam aos servidores comum, é possível falar em dois tipos de processo administrativo: o
conhecer os ilícitos de que são acusados. gracioso e o contencioso.
Se, além da infração administrativa, a fato constituir ilícito No processo gracioso, os próprios órgãos da Administração
penal, deve a comissão processante comunicar às autoridades são encarregados de fazer atuar a vontade concreta da lei, com
policiais, fornecendo os elementos de instrução de que dispuser. vistas à consecução dos fins estatais que lhe estão confiados e que
nem sempre envolvem decisão sobre pretensão do particular. Para
– Instrução chegar à prática do ato final pretendido pela Administração, pratica-
A instrução rege-se pelos princípios da oficialidade e do se uma série de atos precedentes necessários para apuração
contraditório, este último essencial à ampla defesa. Com base no dos fatos, averiguação da norma legal aplicável, apreciação dos
primeiro, a comissão toma a iniciativa para levantamento das provas, aspectos concernentes à oportunidade e conveniência. Essa série
podendo realizar ou determinar todas as diligências que julgue de atos constitui o processo, que vai culminar com a edição de
necessárias a essa finalidade. O princípio do contraditório exige, um ato administrativo. É nesse sentido que se fala em processo
em contrapartida, que a comissão dê ao indiciado oportunidade administrativo no direito brasileiro.
de acompanhar a instrução, com ou sem defensor, conhecendo e O processo administrativo contencioso é o que se desenvolve
respondendo a todas as provas contra ele apresentadas. perante um órgão cercado de garantias que asseguram a sua
O STJ, pela Súmula nº 591, decidiu que “é permitida a prova independência e imparcialidade, com competência para proferir
emprestada no processo administrativo disciplinar desde que decisões com força de coisa julgada sobre as lides surgidas entre
devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o Administração e administrado. Esse tipo de processo administrativo
contraditório e a ampla defesa”. só existe nos países que adotam o contencioso administrativo;
Concluída a instrução, deve ser assegurado o direito de “vista” nos demais, essa fase se desenvolve perante o Poder Judiciário,
do processo e notificado o indiciado para a apresentação da sua porque só este pode proferir decisão com força de coisa julgada;
defesa. Embora esta fase seja denominada de defesa, na realidade a Administração Pública, sendo “parte” nas controvérsias que ela
as normas referentes à instauração e à instrução do processo já têm decide, não tem o mesmo poder, uma vez que ninguém pode ser
em vista propiciar a ampla defesa ao servidor. Nesta terceira fase, juiz e parte simultaneamente.
deve ele apresentar razões escritas, pessoalmente ou por advogado A Constituição de 1988 não prevê o contencioso administrativo
da sua escolha; na falta de defesa, a comissão designará funcionário, e mantém, no artigo 5º, XXXV, a unidade de jurisdição, ao determinar,
de preferência bacharel em direito, para defender o indiciado. que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
A citação do indiciado deve ser feita antes de iniciada a ameaça a direito”.
instrução e acompanhada de cópia da portaria para permitir-lhe Portanto, no direito brasileiro, falar em processo
pleno conhecimento da denúncia; além disso, é permitido a ele administrativo significa falar em processo gracioso.
assistir a inquirição das testemunhas e reperguntar às mesmas, por Ainda se pode falar em duas outras modalidades de processo
intermédio da comissão, devendo comparecer acompanhado do administrativo: o técnico e o jurídico.
seu defensor. Terminada a instrução, será dada vista dos autos a Alguns autores restringem o conceito de processo
indiciado e aberto o prazo para a defesa. O princípio do contraditório
administrativo para abranger somente os que envolvem interesses
é, pois, assegurado em toda a sua extensão.
de particulares, criando controvérsia entre Administração e
administrado. Hely Lopes Meirelles, por sua vez, só considera
– Relatório
como processos administrativos propriamente ditos “aqueles que
Terminada a defesa, a comissão apresenta o seu relatório, no
encerram um litígio entre a Administração e o administrado ou o
qual deve concluir com proposta de absolvição ou de aplicação de
servidor”; os demais, ele designa de processos de expediente, “que
determinada penalidade, indicando as provas em que baseia a sua
tramitam pelos órgãos administrativos, sem qualquer controvérsia
conclusão. O relatório é peça apenas opinativo, não obrigando a
autoridade julgadora, que poderá, analisando os autos e apresentar entre os interessados”.
conclusão diversa. No entanto, partindo-se da ideia de processo como instrumento
indispensável para exercício da função administrativa, não há como
– Decisão deixar de enquadrar os processos técnicos e os chamados “de
A fase final é a de decisão, em que a autoridade poderá expediente”, por aquele autor, entre os processos administrativos,
acolher a sugestão da comissão, hipótese em que o relatório considerados em seu sentido mais amplo. Nem sempre, quando
corresponderá à motivação; se não aceitar a sugestão, terá que o particular deduz uma pretensão perante a Administração, surge
motivar adequadamente a sua decisão, apontando os elementos uma controvérsia; nem por isso deixa de haver um processo
do processo em que se baseia. É comum a autoridade julgadora administrativo.
socorrer-se de pareceres de órgãos jurídicos antes de adotar a sua 4 Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha
decisão. Biblioteca, (36th edição). Grupo GEN, 2023.

149
CONHECIMENTOS GERAIS

O processo administrativo está hoje disciplinado, no âmbito Processo de Controle


federal, pela Lei nº 9.784, de 29-1-99. A respectiva Lei estabelece Processo administrativo de controle é aquele que permite
normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da à Administração Pública verificar o comportamento ou situação
Administração Federal Direta e Indireta, visando à “proteção dos de administrados ou servidores e declarar a sua regularidade ou
direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da irregularidade ante os termos e condições da legislação pertinente.
Administração”. Estados e Municípios que queiram dispor sobre a Tais processos, normalmente, têm rito próprio e, quando neles se
matéria têm competência para promulgar as suas próprias leis. deparam irregularidades puníveis, exigem oportunidade de defesa
A lei federal disciplina os processos administrativos em geral, ao interessado, antes do seu encerramento, sob pena de invalidade
que tramitam perante a Administração Pública federal, direta e do resultado da apuração.
indireta, abrangendo, além do Poder Executivo, também os órgãos
administrativos dos demais Poderes, conforme artigo 1º, § 1º. Processo Punitivo
Contudo, teve o cuidado de respeitar as normas que disciplinam É o promovido pela Administração Pública com o objetivo
os processos específicos, aos quais a nova lei se aplicará apenas de apurar infração à lei ou contrato, cometida por servidor,
subsidiariamente (art. 69). Assim, por exemplo, as normas legais administrado, contratado ou por quem estiver submetido a um
que disciplinam o processo disciplinar, o processo de licitação ou vínculo especial de sujeição, e aplicar a correspondente penalidade.
o processo administrativo tributário prevalecem, nessas matérias, Esses processos devem ser necessariamente contraditórios, com
sobre as normas da Lei nº 9.784/99. oportunidade de defesa e estrita observância do devido processo
A lei federal contém normas sobre os princípios da legal, sob pena de nulidade da sanção imposta.
Administração Pública, direitos e deveres do administrado, A sua instauração há que se basear em auto de infração,
competência, impedimento e suspeição, forma, tempo e lugar dos representação ou peça equivalente, iniciando-se com a exposição
atos do processo, comunicação, instrução, decisão, motivação, minuciosa dos atos ou fatos ilegais ou administrativamente ilícitos,
anulação, revogação e convalidação, recursos administrativos atribuídos ao indiciado e indicação da norma ou convenção
e prazos. Em regra, o que a lei faz é colocar no direito positivo infringida.
conceitos, regras, princípios já amplamente defendidos pela O processo punitivo poderá ser realizado por um só
doutrina e jurisprudência. Define algumas questões controvertidas, representante da Administração ou por comissão.
como a dos prazos para a Administração praticar determinados atos,
proferir decisões, emitir pareceres, anular atos administrativos. As LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999
normas da lei serão mencionadas nos itens pertinentes aos temas
nela tratados. REGULA O PROCESSO ADMINISTRATIVO NO ÂMBITO DA ADMI-
NISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL.
— Espécies de Processo Administrativo5
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FAÇO SABER QUE O CONGRES-
Processo de Expediente SO NACIONAL DECRETA E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
O processo de expediente é aquele que tramita pelo interior
da Administração Pública, instaurado por sua determinação ou CAPÍTULO I
mediante provocação de terceiros, e que não se caracteriza como de DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
outorga, de polícia, de controle ou de punição. Assim, são processos
dessa espécie, por exemplo, os que objetivam a desapropriação, a Art. 1° Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo ad-
licitação, a implantação de um novo serviço, a elaboração de uma ministrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta,
lei e a abertura de concurso público de admissão de servidores, visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e
todos instaurados, pela Administração Pública. Não possuem ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
procedimento próprio nem rito sacramental, seguindo pelos canais § 1° Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos
rotineiros para informações, pareceres, despacho final da chefia Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho
competente e subsequente arquivamento. de função administrativa.
§ 2° Para os fins desta Lei, consideram-se:
Processo de Outorga I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Ad-
Processo administrativo de outorga é o que permite à ministração direta e da estrutura da Administração indireta;
Administração Pública atribuir, a quem o requer, um direito. É II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade
aquele em que se pleiteia algum direito ou situação individual jurídica;
perante a Administração. Possui rito especial, mas não contraditório, III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder
salvo quando há oposição de terceiros ou impugnação da própria de decisão.
Administração. Em tais casos, deve-se dar oportunidade de defesa Art. 2° A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
ao interessado, sob pena de nulidade da decisão final. São exemplos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, pro-
desse tipo os processos de licenciamento de edificações, de licença porcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, seguran-
de habite-se, alvará de funcionamento, de isenção tributária e ça jurídica, interesse público e eficiência.
outros que consubstanciam pretensões de natureza negocial entre Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observa-
o particular e a Administração ou abranjam atividades sujeitas à dos, entre outros, os critérios de:
fiscalização do Poder Público. I - atuação conforme a lei e o Direito;
5 Gasparini, Diogénes. Direito administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia to-
(17th edição). Editora Saraiva, 2011. tal ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei;

150
CONHECIMENTOS GERAIS

III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada CAPÍTULO IV


a promoção pessoal de agentes ou autoridades; DO INÍCIO DO PROCESSO
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e
boa-fé; Art. 5° O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as pedido de interessado.
hipóteses de sigilo previstas na Constituição; Art. 6° O requerimento inicial do interessado, salvo casos em
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obri- que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e
gações, restrições e sanções em medida superior àquelas estrita- conter os seguintes dados:
mente necessárias ao atendimento do interesse público; I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que deter- II - identificação do interessado ou de quem o represente;
minarem a decisão; III - domicílio do requerente ou local para recebimento de co-
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos municações;
direitos dos administrados; IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade- fundamentos;
quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos admi- V - data e assinatura do requerente ou de seu representante.
nistrados; Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de ale- de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o in-
gações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, teressado quanto ao suprimento de eventuais falhas.
nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de Art. 7° Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar
litígio; modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas pretensões equivalentes.
as previstas em lei; Art. 8° Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem preju- tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formula-
ízo da atuação dos interessados; dos em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário.
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que me-
lhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada CAPÍTULO V
aplicação retroativa de nova interpretação. DOS INTERESSADOS

CAPÍTULO II Art. 9° São legitimados como interessados no processo admi-


DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS nistrativo:
I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de
Art. 3° O administrado tem os seguintes direitos perante a Ad- direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de re-
ministração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados: presentação;
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos
deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;
suas obrigações; III - as organizações e associações representativas, no tocante a
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em direitos e interesses coletivos;
que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter có- IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quan-
pias de documentos neles contidos e conhecer as decisões profe- to a direitos ou interesses difusos.
ridas; Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os
III - formular alegações e apresentar documentos antes da deci- maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato nor-
são, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente; mativo próprio.
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo
quando obrigatória a representação, por força de lei. CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA
CAPÍTULO III
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
Art. 4° São deveres do administrado perante a Administração, delegação e avocação legalmente admitidos.
sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
I - expor os fatos conforme a verdade; houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
III - não agir de modo temerário; mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colabo- tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
rar para o esclarecimento dos fatos. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
presidentes.
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;

151
CONHECIMENTOS GERAIS

III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori- Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis,
dade. no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi- o processo.
cados no meio oficial. Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os
§1° O ato de delegação especificará as matérias e poderes atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do pro-
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob- cedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração.
jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou
de exercício da atribuição delegada. autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele
§ 2° O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela au- participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo mo-
toridade delegante. tivo de força maior.
§ 3° As decisões adotadas por delegação devem mencionar ex- Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado
plicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo dele- até o dobro, mediante comprovada justificação.
gado. Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencial-
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos mente na sede do órgão, cientificando-se o interessado se outro for
relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de o local de realização.
competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publi- CAPÍTULO IX
camente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
unidade fundacional competente em matéria de interesse especial.
Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo
administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor administrativo determinará a intimação do interessado para ciência
grau hierárquico para decidir. de decisão ou a efetivação de diligências.
§1° A intimação deverá conter:
CAPÍTULO VII I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade ad-
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO ministrativa;
II - finalidade da intimação;
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o ser- III - data, hora e local em que deve comparecer;
vidor ou autoridade que: IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; representar;
II - tenha participado ou venha a participar como perito, teste- V - informação da continuidade do processo independente-
munha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao mente do seu comparecimento;
cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o inte- § 2° A intimação observará a antecedência mínima de três dias
ressado ou respectivo cônjuge ou companheiro. úteis quanto à data de comparecimento.
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimen- § 3° A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por
to deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio
de atuar. que assegure a certeza da ciência do interessado.
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedi- § 4° No caso de interessados indeterminados, desconhecidos
mento constitui falta grave, para efeitos disciplinares. ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor meio de publicação oficial.
que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos inte- § 5° As intimações serão nulas quando feitas sem observância
ressados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado su-
e afins até o terceiro grau. pre sua falta ou irregularidade.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reco-
objeto de recurso, sem efeito suspensivo. nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo
administrado.
CAPÍTULO VIII Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garanti-
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO do direito de ampla defesa ao interessado.
Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo
Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus,
forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir. sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos
§1° Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em de outra natureza, de seu interesse.
vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da
autoridade responsável.
§ 2° Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente
será exigido quando houver dúvida de autenticidade.
§ 3° A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá
ser feita pelo órgão administrativo.
§ 4° O processo deverá ter suas páginas numeradas seqüencial-
mente e rubricadas.

152
CONHECIMENTOS GERAIS

CAPÍTULO X Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou


DA INSTRUÇÃO a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão
expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo,
Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e forma e condições de atendimento.
comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o ór-
de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo proces- gão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a
so, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações omissão, não se eximindo de proferir a decisão.
probatórias. Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao
§1° O órgão competente para a instrução fará constar dos au- interessado forem necessários à apreciação de pedido formulado, o
tos os dados necessários à decisão do processo. não atendimento no prazo fixado pela Administração para a respec-
§ 2° Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados tiva apresentação implicará arquivamento do processo.
devem realizar-se do modo menos oneroso para estes. Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência
Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionan-
obtidas por meios ilícitos. do-se data, hora e local de realização.
Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão
interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quin-
motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de ze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior
terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para prazo.
a parte interessada. §1° Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emiti-
§1° A abertura da consulta pública será objeto de divulgação do no prazo fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva
pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas pos- apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso.
sam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de ale- § 2° Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser
gações escritas. emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e
§ 2° O comparecimento à consulta pública não confere, por si, ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade
a condição de interessado do processo, mas confere o direito de de quem se omitiu no atendimento.
obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser
comum a todas as alegações substancialmente iguais. previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e
Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade, estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão res-
diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú- ponsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro ór-
blica para debates sobre a matéria do processo. gão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes.
Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de
relevante, poderão estabelecer outros meios de participação de manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for
administrados, diretamente ou por meio de organizações e associa- legalmente fixado.
ções legalmente reconhecidas. Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública
Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de ou- poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a
tros meios de participação de administrados deverão ser apresen- prévia manifestação do interessado.
tados com a indicação do procedimento adotado. Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a ob-
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiên- ter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que
cia de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser reali- o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros prote-
zada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou repre- gidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.
sentantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emi-
ser juntada aos autos. tir a decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o
Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale- conteúdo das fases do procedimento e formulará proposta de deci-
gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a são, objetivamente justificada, encaminhando o processo à autori-
instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. dade competente.
Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão
registrados em documentos existentes na própria Administração CAPÍTULO XI
responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o ór- DO DEVER DE DECIDIR
gão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos
documentos ou das respectivas cópias. Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou recla-
tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili- mações, em matéria de sua competência.
gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Ad-
objeto do processo. ministração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorro-
§1° Os elementos probatórios deverão ser considerados na gação por igual período expressamente motivada.
motivação do relatório e da decisão.
§ 2° Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun-
damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam
ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.

153
CONHECIMENTOS GERAIS

CAPÍTULO XI-A Parágrafo único. Não poderá ser arguida matéria estranha ao
DA DECISÃO COORDENADA objeto da convocação. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 14.210, DE 2021) Art. 49-G. A conclusão dos trabalhos da decisão coordenada
será consolidada em ata, que conterá as seguintes informações: (In-
Art. 49-A. No âmbito da Administração Pública federal, as de- cluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
cisões administrativas que exijam a participação de 3 (três) ou mais I - relato sobre os itens da pauta; (Incluído pela Lei nº 14.210,
setores, órgãos ou entidades poderão ser tomadas mediante deci- de 2021)
são coordenada, sempre que: (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) II - síntese dos fundamentos aduzidos; (Incluído pela Lei nº
I - for justificável pela relevância da matéria; e (Incluído pela 14.210, de 2021)
Lei nº 14.210, de 2021) III - síntese das teses pertinentes ao objeto da convocação; (In-
II - houver discordância que prejudique a celeridade do proces- cluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
so administrativo decisório. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) IV - registro das orientações, das diretrizes, das soluções ou das
§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se decisão coordenada propostas de atos governamentais relativos ao objeto da convoca-
a instância de natureza interinstitucional ou intersetorial que atua ção; (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
de forma compartilhada com a finalidade de simplificar o proces- V - posicionamento dos participantes para subsidiar futura atu-
so administrativo mediante participação concomitante de todas as ação governamental em matéria idêntica ou similar; e (Incluído pela
autoridades e agentes decisórios e dos responsáveis pela instrução Lei nº 14.210, de 2021)
técnico-jurídica, observada a natureza do objeto e a compatibilida- VI - decisão de cada órgão ou entidade relativa à matéria sujei-
de do procedimento e de sua formalização com a legislação perti- ta à sua competência. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
nente. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) § 1º Até a assinatura da ata, poderá ser complementada a fun-
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) damentação da decisão da autoridade ou do agente a respeito de
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) matéria de competência do órgão ou da entidade representada. (In-
§ 4º A decisão coordenada não exclui a responsabilidade origi- cluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
nária de cada órgão ou autoridade envolvida. (Incluído pela Lei nº § 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
14.210, de 2021) § 3º A ata será publicada por extrato no Diário Oficial da União,
§ 5º A decisão coordenada obedecerá aos princípios da legali- do qual deverão constar, além do registro referido no inciso IV do
dade, da eficiência e da transparência, com utilização, sempre que caput deste artigo, os dados identificadores da decisão coordenada
necessário, da simplificação do procedimento e da concentração e o órgão e o local em que se encontra a ata em seu inteiro teor,
das instâncias decisórias. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) para conhecimento dos interessados. (Incluído pela Lei nº 14.210,
§ 6º Não se aplica a decisão coordenada aos processos admi- de 2021)
nistrativos: (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
I - de licitação; (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) CAPÍTULO XII
II - relacionados ao poder sancionador; ou (Incluído pela Lei nº DA MOTIVAÇÃO
14.210, de 2021)
III - em que estejam envolvidas autoridades de Poderes distin- Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
tos. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
Art. 49-B. Poderão habilitar-se a participar da decisão coorde- I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
nada, na qualidade de ouvintes, os interessados de que trata o art. II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
9º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
Parágrafo único. A participação na reunião, que poderá incluir pública;
direito a voz, será deferida por decisão irrecorrível da autoridade IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
responsável pela convocação da decisão coordenada. (Incluído pela tatório;
Lei nº 14.210, de 2021) V - decidam recursos administrativos;
Art. 49-C. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) VI - decorram de reexame de ofício;
Art. 49-D. Os participantes da decisão coordenada deverão ser VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
intimados na forma do art. 26 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.210, ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
de 2021) VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
Art. 49-E. Cada órgão ou entidade participante é responsável ção de ato administrativo.
pela elaboração de documento específico sobre o tema atinente à §1° A motivação deve ser explícita, clara e congruente, poden-
respectiva competência, a fim de subsidiar os trabalhos e integrar do consistir em declaração de concordância com fundamentos de
o processo da decisão coordenada. (Incluído pela Lei nº 14.210, de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que,
2021) neste caso, serão parte integrante do ato.
Parágrafo único. O documento previsto no caput deste artigo § 2° Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode
abordará a questão objeto da decisão coordenada e eventuais pre- ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das
cedentes. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos inte-
Art. 49-F. Eventual dissenso na solução do objeto da decisão ressados.
coordenada deverá ser manifestado durante as reuniões, de forma § 3° A motivação das decisões de órgãos colegiados e comis-
fundamentada, acompanhado das propostas de solução e de alte- sões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo
ração necessárias para a resolução da questão. (Incluído pela Lei nº escrito.
14.210, de 2021)

154
CONHECIMENTOS GERAIS

CAPÍTULO XIII III - as organizações e associações representativas, no tocante a


DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO DO PROCES- direitos e interesses coletivos;
SO IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses
difusos.
Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita, Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo
desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, re- para interposição de recurso administrativo, contado a partir da ci-
nunciar a direitos disponíveis. ência ou divulgação oficial da decisão recorrida.
§1° Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia §1° Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso adminis-
atinge somente quem a tenha formulado. trativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir
§ 2° A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, do recebimento dos autos pelo órgão competente.
não prejudica o prosseguimento do processo, se a Administração § 2° O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser
considerar que o interesse público assim o exige. prorrogado por igual período, ante justificativa explícita.
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o proces- Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no
so quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de ree-
impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente. xame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem
CAPÍTULO XIV efeito suspensivo.
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou
incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quan- ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar
do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de efeito suspensivo ao recurso.
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos adminis- conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo
trativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários de cinco dias úteis, apresentem alegações.
decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:
salvo comprovada má-fé. I - fora do prazo;
§1° No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de deca- II - perante órgão incompetente;
dência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. III - por quem não seja legitimado;
§ 2° Considera-se exercício do direito de anular qualquer me- IV - após exaurida a esfera administrativa.
dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali- §1° Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a auto-
dade do ato. ridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão § 2° O não conhecimento do recurso não impede a Administra-
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresen- ção de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão
tarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Ad- administrativa.
ministração. Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá con-
firmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a deci-
CAPÍTULO XV são recorrida, se a matéria for de sua competência.
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder
decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientifi-
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de cado para que formule suas alegações antes da decisão.
razões de legalidade e de mérito. Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado da
§1° O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, súmula vinculante, o órgão competente para decidir o recurso ex-
a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará plicitará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula,
à autoridade superior. conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006). Vigência
§ 2° Salvo exigência legal, a interposição de recurso administra- Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclama-
tivo independe de caução. ção fundada em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-
§ 3° Se o recorrente alegar que a decisão administrativa con- -se-á ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o
traria enunciado da súmula vinculante, caberá à autoridade prola- julgamento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões
tora da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes administrativas em casos semelhantes, sob pena de responsabiliza-
de encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplica- ção pessoal nas esferas cível, administrativa e penal. (Incluído pela
bilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído Lei nº 11.417, de 2006). Vigência
pela Lei nº 11.417, de 2006). Vigência Art. 65. Os processos administrativos de que resultem san-
Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,
instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa. quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetí-
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo: veis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro- Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar
cesso; agravamento da sanção.
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente
afetados pela decisão recorrida;

155
CONHECIMENTOS GERAIS

CAPÍTULO XVI ATOS ADMINISTRATIVOS: REQUISITOS, VÍCIOS, REVOGA-


DOS PRAZOS ÇÃO E ANULAÇÃO
Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cienti-
ficação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluin- Conceito
do-se o do vencimento. Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo
§1° Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se- “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública
guinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir,
ou este for encerrado antes da hora normal. resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou
§ 2° Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo. impor obrigações aos administrados ou a si própria”.
§ 3° Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a
data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àque- declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
le do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês. jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de
Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado, direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
os prazos processuais não se suspendem. O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez,
explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas:
CAPÍTULO XVII A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de
DAS SANÇÕES atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os
regulamentos.
Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade compe- No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato
tente, terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fa- administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do
zer ou de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa. Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um
concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas
CAPÍTULO XVIII públicas, manifestada mediante providências jurídicas
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a
controle de legitimidade por órgão jurisdicional”.
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a
reger-se por lei própria, aplicando-se lhes apenas subsidiariamente B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição
os preceitos desta Lei. anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta
Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão forma, no entendimento estrito de ato administrativo por ele
ou instância, os procedimentos administrativos em que figure como exposta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos,
parte ou interessado: (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). por exemplo, bem como os atos abstratos.
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos; Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir
(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). da análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos
II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental; (Incluído conceitos retro apresentados, é possível extrair alguns elementos
pela Lei nº 12.008, de 2009). fundamentais para a definição dos conceitos do ato administrativo.
III – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). De antemão, é importante observar que, embora o exercício
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, da função administrativa consista na atividade típica do Poder
neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitan- Executivo, os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função
te, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anqui- de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos.
losante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da Exemplo: ao realizar concursos públicos, os três Poderes devem
doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, nomear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo
síndrome de imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, benefícios legais aos servidores, dentre outras atividades. Acontece
com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a que em todas essas atividades, a função administrativa estará
doença tenha sido contraída após o início do processo. (Incluído sendo exercida que, mesmo sendo função típica, mas, recordemos,
pela Lei nº 12.008, de 2009). não é função exclusiva do Poder Executivo.
§1° A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício
prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administra- da função administrativa é ato administrativo, isso por que em
tiva competente, que determinará as providências a serem cumpri- inúmeras situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado,
das. (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico
§ 2° Deferida a prioridade, os autos receberão identificação de direito público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo:
própria que evidencie o regime de tramitação prioritária. (Incluído a emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida
pela Lei nº 12.008, de 2009). providência deve ser disciplinada exclusivamente por normas de
§ 3° (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). direito privado e não público.
§ 4° (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que
Brasília 29 de janeiro de 1999; 178° da Independência e 111o o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem
da República. como, os entes da Administração Indireta e particulares, como
acontece com as permissionárias e com as concessionárias de
serviços públicos.

156
CONHECIMENTOS GERAIS

Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não imposto e também para estabelecer as respectivas infrações e
apresentar caráter de definitividade, está sujeito a controle penalidades. Já em relação à instituição do tributo e cominação de
por órgão jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes, penalidades, que é de competência do legislativo, dentre os Órgãos
compreendemos que ato administrativo é a manifestação unilateral Constitucionais da União, o Órgão que possui tal competência, é o
de vontade proveniente de entidade arremetida em prerrogativas Congresso Nacional no que condizente à fiscalização e aplicação das
estatais amparadas pelos atributos provenientes do regime jurídico respectivas penalidades.
de direito público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e Em relação às fontes, temos as competências primária e
sujeitos a controle judicial específico. secundária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos
Em suma, temos: abaixo:
ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade a) Competência primária: quando a competência é estabelecida
proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais pela lei ou pela Constituição Federal.
amparadas pelos atributos provenientes do regime jurídico de b) Competência Secundária: a competência vem expressa em
direito público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos normas de organização, editadas pelos órgãos de competência
a controle judicial específico. primária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão
ou agente que possui competência primária.
Atos administrativos em sentido amplo
Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de
Atos de Direito Privado forma aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico
Atos materiais informando a distribuição de competências, como a matéria, o
território, a hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao
Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor critério da matéria, é a criação do Ministério da Saúde.
Atos políticos Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendências
Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia,
Contratos
a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF),
Atos normativos órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da
Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos Receita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da
Verdade que trabalham na investigação de violações graves de
Requisitos Direitos Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que
A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência resulta na combinação dos critérios da matéria e do tempo.
de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência, A competência possui como características:
finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma
falta ou o defeito desses elementos pode resultar. vez que se trata de um poder-dever de ambos.
De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vontade
simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidando da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez
o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente. que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo:
No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e
designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá
legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos
pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para a crimes considerados menos graves.
fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou
incompetente em termos jurídicos para executar tal tarefa. acordo com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra
Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades públicas, pessoa. Frise-se que a delegação de competência não provoca a
de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) transferência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de
não possui competência para conferir o passaporte e liberar a entrada determinadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante,
de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o controle de imigração que poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo,
brasileiro é atividade exclusiva e privativa da Polícia Federal. revogar a delegação.
Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente,
o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente
pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar estas normas poderão alterá-la.
o desempenho de suas atividades. e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que
A competência possui como fundamento do seu instituto não tenha sido utilizada por muito tempo.
a divisão do trabalho com ampla necessidade de distribuição f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista
do conjunto das tarefas entre os agentes públicos. Desta em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo
forma, a distribuição de competências possibilita a organização mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a
administrativa do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua
a cada pessoa política, órgão ou agente. prática.
Relativo à competência com aplicação de multa por infração
à legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas,
a União é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o

157
CONHECIMENTOS GERAIS

Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de
avocação, que podem ser definidas da seguinte forma: delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente
a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias
intermédio do qual um órgão administrativo ou um agente e poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do
público delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de delegado, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação.
executar parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a
delegação é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico Importante ressaltar:
inferior. No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício
justificadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança
hierárquica. ou a medida judicial.
Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamento
atribuição da autoridade delegante, que continua competente para do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não
o exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada.
foi delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada,
atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato
em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos. deverão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada.
Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando
cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também poderá Seguindo temos:
revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormente. a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação
Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de e se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer
competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer para si de forma temporária o devido exercício de competências
impedimentos legais vigentes. legalmente estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente
inferiores. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da
É importante conhecer a respeito da delegação de competência linha de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente
o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo de poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.
Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal, Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de
incorporou grande parte da orientação doutrinária existente, delegação:
dispondo em seus arts. 11 a 14: – Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competência
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado,
delegação e avocação legalmente admitidos. sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se autoridade avocante.
não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência – Já na revogação de delegação, anteriormente, a competência
a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delegação,
de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por
territorial. cunho de mão própria.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever
presidentes. ser exercido com autocontrole, o poder originário de avocar
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: competência também se constitui em regra na Administração
I - a edição de atos de caráter normativo; Pública, uma vez que é inerente à organização hierárquica como
II - a decisão de recursos administrativos; um todo. Entretanto, conforme a doutrina de forma geral, o órgão
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou superior não pode avocar a competência do órgão subordinado em
autoridade. se tratando de competências exclusivas do órgão ou de agentes
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser inferiores atribuídas por lei. Exemplo: Secretário de Segurança
publicados no meio oficial. Pública, mesmo estando alguns degraus hierárquicos acima de
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes todos os Delegados da Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os a competência para presidir determinado inquérito policial, tendo
objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva em vista que esta competência é exclusiva dos titulares desses
de exercício da atribuição delegada. cargos.
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela Não convém encerrar esse tópico acerca da competência
autoridade delegante. sem mencionarmos a respeito dos vícios de competência que
§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar é conceituado como o sofrimento de algum defeito em razão de
explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo problemas com a competência do agente que o pratica que se
delegado. subdivide em:
a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica
Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que o ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo
leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica, além das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo
social, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável

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CONHECIMENTOS GERAIS

a praticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser
poderá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício
que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso. de finalidade.
b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce
atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se
atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra verifica em duas hipóteses. São elas:
casamentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz. a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da
c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo
está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública de punição.
ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com
de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento. a finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de
Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem interesse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de
toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da perseguir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando
teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta interesse público.
deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados Em resumo, temos:
válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato.
Em suma, temos: Específica ou Imediata e Geral
Finalidade Pública
ou Mediata
VÍCIOS DE COMPETÊNCIA Ato praticado com finalidade
Em determinadas diversa da prevista em Lei.
Excesso de poder situações é possível a Desvio de finalidade e Ato praticado formalmente
convalidação ou desvio de poder com finalidade prevista em Lei,
Usurpação de função Ato inexistente porém, visando a atender a fins
pessoais de autoridade.
Ato válido, se houver
Função de fato
boa-fé do administrado Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas
ABUSO DE AUTORIDADE distintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas:
A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o
Excesso de poder Vício de competência modo de exteriorização do ato administrativo.
Desvio de poder Desvio de finalidade B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no
conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem
Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é como todas as formalidades que devem ser destacadas e observadas
uma das características do princípio da impessoalidade. Nesse no seu curso de formação.
diapasão, a Administração não pode atuar com o objetivo de
beneficiar ou prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se
seu comportamento deverá sempre ser norteado pela busca do simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo
interesse público. Além disso, existe determinada finalidade típica que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto
para cada tipo de ato administrativo. exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da
Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies formação do ato administrativo.
de finalidade pública. São elas:
a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse público Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade
considerado de forma geral. de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra
b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico é o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser
previsto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado revestido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que
ato. ele seja escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo
em vista que em alguns casos, via de regra, o agente público
Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a tem a possibilidade de se manifestar de outra forma, como
lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato. acontece nas ordens verbais transmitidas de forma emergencial
Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas aos subordinados, ou, ainda, por exemplo, quando um agente
finalidades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado de trânsito transmite orientações para os condutores de veículos
desvio de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é através de silvos e gestos.
vício que não pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado
convalidado. vício de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à
A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágrafo forma e sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via
único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se verifica de regra, considera-se plenamente possível a convalidação do
quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele ato administrativo que contenha vício de forma. No entanto, tal
previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”. convalidação não será possível nos casos em que a lei estabelecer
Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência que a forma é requisito primordial à validade do ato.
estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser

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CONHECIMENTOS GERAIS

Devemos explanar também que a motivação declarada e VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
escrita dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
for de caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação
maneira, quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja de ato administrativo.
vício de forma, mas não vício de motivo.
Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve
autoridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
elemento motivo. de concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte
Motivo integrante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de
O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que “motivação aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas
estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo. que está sendo admitida no direito brasileiro.
Quando a autoridade administrativa não tem margem para
decidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato A motivação dos atos administrativos
administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a
ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade respeito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos
administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a motivos determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei
prática do ato. não exigindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele
Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se só terá validade se os motivos declarados forem verdadeiros.
trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser
verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática Exemplo
do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de
empírico da situação prevista em lei. servidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de
Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente
administrativo depende da presença adjunta dos motivos de fato venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualidade
e de direito, posto que para isso, são imprescindíveis à existência habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá
abstrata de previsão normativa bem como a ocorrência, de fato a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já
concreto que se integre à tal previsão. se o interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua
De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de pontualidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial,
ocorrer nas seguintes situações: deverá ser anulada.
a) quando o motivo é inexistente. É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes
b) quando o motivo é falso. pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto
c) quando o motivo é inadequado. aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado.
Em suma, temos:
É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e
– Motivo do ato administrativo
motivação. Vejamos:
– Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a
– Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do ato
edição do ato administrativo.
administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrativo,
– Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma
sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legítimo
abstrata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo.
ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo.
– Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real
– Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo,
que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei,
sendo a declaração das razões que motivaram à edição do caracterizando o motivo de direito.
ato. Já a motivação declarada e expressa dos motivos dos atos
administrativos, via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se
for obrigatória pela lei, sua ausência causará invalidade do ato Vícios de motivo do ato
administrativo por vício de forma, e não de motivo. administrativo
Inexistente
Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o
processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o Falso
seguinte: Inadequado
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: – Teoria dos motivos determinantes
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; – O ato administrativo possui sua validade vinculada aos
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; motivos expostos mesmo que não seja exigida a motivação.
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção – Só é aplicada apenas se o ato conter motivação.
pública; – STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não
licitatório; está adequado à realidade fática”.
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;

160
CONHECIMENTOS GERAIS

Objeto contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado


O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como por algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá
sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras submetê-lo ao controle pela própria administração pública, bem
palavras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo como pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática
cuida-se da alteração da situação jurídica que o ato administrativo não está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações
se propõe a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por falsas, poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus
exemplo, o objeto é a punição do transgressor. efeitos.
Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve Denota-se que a principal consequência da presunção
ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os de veracidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido,
padrões aceitos como éticos e justos. relembremos que em regra, segundo os parâmetros jurídicos,
Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir o dever de provar é de quem alega o fato a ser provado. Desta
os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse maneira, se o particular “X” alega que o particular “Y” cometeu ato
sentido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam ilícito em prejuízo do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que
os seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos: está alegando, de maneira que, em nada conseguir provar os fatos,
a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspensão “Y” não poderá ser punido.
por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica.
b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para – Imperatividade
evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo. Em decorrência desse atributo, os atos administrativos são
c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da
dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas concordância destes. Infere-se que a imperatividade é proveniente
nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá
autoridade pública ou flagradas no teste do bafômetro. editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações
d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado
pessoas específicas para a ocupação noturna de determinado em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente
trecho de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua
o objeto é tido como imoral. expressa concordância.
Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperatividade,
Atributos do Ato Administrativo característica presente exclusivamente nos atos que impõem
Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o
público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos ato administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por
são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos exemplo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda,
privados. quando possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão,
Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente atestado ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade.
ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento,
bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos – Autoexecutoriedade
públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem
pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. executados diretamente pela Administração Pública, por
Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos intermédio de meios coercitivos próprios, sem que seja necessário
atos administrativos são: a intervenção prévia do Poder Judiciário.
Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do
– Presunção de legitimidade interesse público, típico do regime de direito administrativo, fato
Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos que acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente
atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos à rapidez e eficiência.
administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a
quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a autoexecutoriedade somente é possível quando estiver
administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros expressamente prevista em lei, ou, quando se tratar de medida
legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade, urgente, que não sendo adotada de imediato, ocasionará, por sua
os atos administrativos presumem-se editados em conformidade vez, prejuízo maior ao interesse público.
com a lei, até que se prove o contrário.
De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e Exemplos de Atos Administrativos Autoexecutórios
da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como apreensão de mercadorias impróprias para o consumo
presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da humano
presunção de que o ato administrativo foi editado em conformidade demolição de edifício em situação de risco
com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzidas
internação de pessoa com doença contagiosa
pela administração são verdadeiras.
As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos dissolução de reunião que ameace a segurança
e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No
entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo
ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido

161
CONHECIMENTOS GERAIS

Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da Exemplo:


prestação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel.
que considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, Por outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita-
possa livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da se: o ato de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto
defesa dos seus direitos. aos destinatários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES
PLÚRIMOS
– Tipicidade
De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita a b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem
tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo fato ser atos vinculados e discricionários.
de tal característica não estabelecer um privilégio da administração, – Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração
mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de que Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que
a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos comprovados os requisitos legais, a edição do ato se torna
atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos, obrigatória, nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para
deveremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos a construção de imóvel.
que apenas são considerados atributos as prerrogativas que acabam – Já os discricionários são aqueles em que a Administração
por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administração Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância
toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada.
com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar
Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria
decisões quando e como o ato será praticado, com a definição de
Sylvia Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato
seu conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática.
administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente
pela lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim
sendo, em consonância com esse atributo, para cada finalidade que c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos
a Administração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato administrativos podem ser atos de império, de gestão e de
previamente definido na lei. expediente.
Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio – Atos de império são atos por meio dos quais a Administração
da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais usando
atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o o poder de império para impô-los de modo unilateral e coercitivo
atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabelecimentos
autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberdade comerciais.
para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos
inominados. d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos
Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se quais a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas
que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontrando provenientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de
presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer administração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais
impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha com os particulares.
a firmar com o particular um contrato inominado desprovido de Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam
regulamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos.
atender tanto ao interesse público como ao interesse particular.
Exemplo:
Classificação dos Atos Administrativos uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de
A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada forma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do
à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos.
motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classificações
mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade – Já os atos de expediente são tidos como aqueles que
prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante impulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante
abordagem nas provas de concursos públicos. e sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos
e papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos.
a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. Exemplo:
Os atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as
determinados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que devidas análises”.
de uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas
que correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos
Regulamento do Imposto de Renda. simples, complexos e compostos.
– O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas
– Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários um órgão da administração pública, pouco importando se esse
individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que órgão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um
será singular quando alcançar um único sujeito determinado e servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada
será plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo
determinados em si. administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples
colegiado.

162
CONHECIMENTOS GERAIS

– O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou Exemplo:


mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem
sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo para fim de desapropriação.
Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado.
É importante não confundir ato complexo com procedimento Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato regulamentar, também designado de decreto de execução.
complexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção A doutrina o conceitua como sendo aquele que introduz um
de um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo regulamento, não permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance
praticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a possam ir além daqueles do que é permitido por Lei.
obtenção de um ato final e principal”. Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre
matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito.
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que Pondera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto
este também decorre do resultado da manifestação de vontade de autônomo admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84,
dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de VI, “a”, da Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional
que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem 32/2001, que predispõe a competência privativa do Presidente da
para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos, República para dispor, mediante decreto, sobre a organização e
um principal e outro acessório. funcionamento da administração federal, quando não incorrer em
Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.
Meirelles, para quem o ato administrativo composto “é o que
resulta da vontade única de um órgão, mas depende da verificação – Atos ordinatórios
por parte de outro, para se tornar exequível”. A mencionada Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem
definição, embora seja discutível, vem sendo muito utilizada ser editados no exercício do poder hierárquico, com o fulcro
pelas bancas examinadoras na elaboração de questões de provas de disciplinar as relações internas da Administração Pública.
de concurso público. Isso ocorreu na aplicação da prova para Detalharemos aqui os principais atos ordinatórios. São eles: as
Assistente Jurídico do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi instruções, as circulares, os avisos, as portarias, as ordens de
considerado correto o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja serviço, os ofícios e os despachos.
prática dependa de vontade única de um órgão da administração, Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela
mas cuja exequibilidade dependa da verificação de outro órgão, dá- autoridade hierarquicamente superior, com o fulcro de ordenar
se o nome de ato administrativo composto”. a atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo:
as instruções que ordenam os atos que devem ser usados de
Espécies forma interna na análise do pedido de utilização de bem público
O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos formalizado unicamente por particular.
administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos normativos, Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretanto,
atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e atos punitivos. de modo geral se encontram dotadas de menor abrangência.
Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados
– Atos normativos por Ministros de Estados com o objetivo de tratarem de assuntos
Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é correlatos aos respectivos Ministérios.
esmiuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução Portarias: são atos administrativos respectivamente editados
da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais, por autoridades administrativas, porém, diferentes das do chefe
não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas, do Poder Executivo. Exemplo: determinação por meio de portaria
versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos. determinando a instauração de processo disciplinar específico.
Ordens de serviço: tratam-se de atos administrativos
Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos ordenadores da adoção de conduta específica em circunstâncias
podem ser: especiais. Exemplo: ordem de serviço determinadora de início de
a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos obra pública.
chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação
Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se
geral ou individual prevista na legislação, englobando também de
responsabilizam pela formalização da comunicação de forma escrita
forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das
e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como
Casas Legislativas.
de entidades administrativas como um todo. Exemplo: requisição
O decreto é de suma importância no direito brasileiro, motivo
de informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por
pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser
meio de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de
classificados em decreto geral e individual. Vejamos:
Saúde.
b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras
Despachos: são atos administrativos eivados de poder
gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta
aplicação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento decisório ou apenas de mero expediente praticados em processos
do Imposto de Renda”. administrativos. Exemplo: quando da ocorrência de processo
c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação disciplinar, é emitido despacho especifico determinando a oitiva de
específica de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua testemunhas.
publicação produz de imediato, efeitos concretos.

163
CONHECIMENTOS GERAIS

– Atos negociais De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espécies


Também chamados de atos receptícios, são atos administrativos de pareceres. São eles:
de caráter administrativo editados a pedido do particular, com o 1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação
fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a para formulação da decisão administrativa. Ao ser elaborado, não
utilização de bens públicos. Nesse ato, a vontade da Administração vincula a autoridade competente;
Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte 2) Parecer obrigatório: é o parecer que deve ser necessariamente
desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão. elaborado nas hipóteses mencionadas na legislação, mas a
Vejamos: opinião nele contida não vincula de forma definitiva a autoridade
a) Licença: possui algumas características. São elas: responsável pela decisão administrativa, que pode contrariar o
Ato vinculado: desde que sejam preenchidos os requisitos parecer de forma motivada;
legais por parte do particular, o Poder Público deverá editar a 3) Parecer vinculante: é o parecer que deve ser elaborado
licença; de forma obrigatória contendo teor que vincule a autoridade
Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a administrativa com o dever de acatá-lo.
Administração se torna conivente com o exercício da atividade b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem
privada como um todo; o condão de declarar a existência ou inexistência de atos ou fatos
Ato declaratório: ato que reconhece o direito subjetivo do administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade,
particular, vindo a autorizar a habilitação do seu exercício. porém, não são capazes de criar ou extinguir relações jurídicas.
b) Permissão: trata-se de ato administrativo discricionário
dotado da permissão do exercício de atividades específicas *Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal
realizadas pelo particular ou, ainda, o uso privativo de determinado consagra o direito de certidão no âmbito de direitos fundamentais,
no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado,
bem público. Exemplo: a permissão para uso de bem público
independentemente do pagamento de taxas, “a obtenção de
específico.
certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
A permissão é dotada de características essenciais. São elas:
esclarecimento de situações de interesse pessoal”.
Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a
Administração Pública concorda com o exercício da atividade c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às
privada, bem como da utilização de bem público por particulares; certidões, posto que também declaram a existência ou inexistência
Ato discricionário: ato por intermédio do qual a autoridade de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as
administrativa é dotada de liberdade de análise referente à certidões, uma vez que nas certidões, o agente público utiliza-se do
conveniência e à oportunidade do ato administrativo; ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos
Ato constitutivo: ato por meio do qual, o particular possui públicos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de
somente expectativa de direito antes da edição do ato, e não retratar fatos que não constam de forma antecipada dos arquivos
apenas de direito subjetivo ao ato. da Administração Pública.
c)Autorização: é detentora de características iguais às da d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem
permissão, vindo a constituir ato administrativo discricionário o objetivo de averbar determinados fatos ou direitos reconhecidos
permissionário do exercício de atividade específica pelo particular pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar
ou, ainda, o uso particular de bem público. Da mesma forma que o apostilamento, via de regra, feito no verso da última página dos
a permissão, a autorização possui como características: o ato de contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda
consentimento estatal, o ato discricionário e o ato constitutivo. de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°,
d)Admissão: trata-se de ato administrativo vinculado portador da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações.
do reconhecimento do direito ao recebimento de serviço público
específico pelo particular, que deve ser editado na hipótese na qual – Atos punitivos
o particular preencha devidamente os requisitos legais. Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos
são aqueles que atuam na restrição de direitos, bem como de
– Atos enunciativos interesses dos administrados que vierem a atuar em desalento com
São atos administrativos que expressam opiniões ou, ainda, a ordem jurídica de modo geral. Entretanto, exige-se, de qualquer
que certificam fatos no campo da Administração Pública. A doutrina forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na
reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres, as edição de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição
certidões, os atestados e o apostilamento. Vejamos: Federal Brasileira, bem como que as sanções administrativas
a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar tenham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio
a opinião do agente público a respeito de determinada questão de da legalidade.
ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de Podemos dividir as sanções em dois grupos:
licenciamento ambiental é apresentado parecer técnico. 1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com
supedâneo no poder de polícia, bem como são relacionadas aos
particulares em geral. Exemplo: multa de trânsito.
2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com
embasamento no poder disciplinar aos servidores públicos e às
demais pessoas que se encontram especialmente vinculadas
à Administração Pública. Exemplo: reprimenda imposta à
determinada empresa contratada pela Administração.

164
CONHECIMENTOS GERAIS

Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as demonstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para justificar
multas, as interdições de atividades, as apreensões ou destruições de a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que houver sido
coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada espécie: fixado nas referidas leis ou normas similares. Esse entendimento,
Multas: tratam-se de sanções pecuniárias que são impostas em geral, evita que os particulares sejam coagidos a conviver com
aos administrados. extravagante insegurança jurídica, posto que, a qualquer momento a
Interdições de atividades: são atos que proibitivos ou administração estaria apta a propor a cassação do ato administrativo.
suspensivos do exercício de atividades diversas. Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada
Apreensão ou destruição de coisas: cuidam-se de sanções como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia
aplicadas pela Administração relacionadas às coisas que colocam a ser proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos
população em risco. agentes de fiscalização em descumprimento às condições de
Ressalta-se que em se tratando de perigo público iminente, a subsistência do ato, bem como por ato revisional que implicasse
autoridade pública deterá o poder de destruir as coisas nocivas à auditoria, acoplando até mesmo questões relativas à intercepção
coletividade, havendo ou não, processo administrativo prévio, situação de bases de dados públicas.
hipotética na qual a ampla defesa será delongada para momento Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos
posterior. Entretanto, estando ausente a urgência da medida, denota- parecidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação
se que a sua aplicação dependerá da formalização feita de forma prévia advém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários
no processo administrativo, situação por intermédio da qual, a ampla para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo
defesa será postergada para momento ulterior. que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato
Sanções disciplinares: também chamadas de sanções ocorreu na formação do ato.
funcionais, as sanções disciplinares são aplicadas aos servidores
públicos e aos administrados possuidores de relação jurídica – Anulação
especial com a Administração Pública, desde que tenha sido É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo
constatada a violação ao ordenamento jurídico, bem como aos de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei
termos do negócio jurídico. Um exemplo disso, é a demissão de e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle
servidor público que tenha cometido falta grave. de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou
legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito
*Nota importante: Diferentemente das sanções aplicadas aos do ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar
particulares, de modo geral, no exercício do poder de polícia, as sanções o ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por
disciplinares são aplicadas no campo das relações de sujeição especial conseguinte, revogá-lo, e não o anular.
de administrados específicos do poder disciplinar da Administração Diferentemente da revogação, que mantém incidência somente
Pública, como é o caso dos servidores e contratados. Ao passo que as sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto os atos
sanções de polícia são aplicadas para o exterior da Administração - as discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado pelo fato
chamadas sanções externas - as sanções disciplinares são aplicadas no de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de legalidade.
interior da Administração Pública, - as denominadas sanções internas. Em relação à competência, a anulação do ato administrativo
viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo
Extinção do ato administrativo Poder Judiciário.
Diversas são as causas que causam e determinam a extinção dos Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando
atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de Celso isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de
Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá ser autotutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do STF:
extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos, vindo
a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito, vindo a
causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção objetiva; PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do beneficiário. Súmula a Administração Pública pode declarar a nulidade dos
Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por meio 346 seus próprios atos.
das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos ocorre pelo
fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu efeito extintivo a Administração pode anular seus próprios atos,
sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes situações: quando eivados de vícios que os tornam ilegais, por-
Súmula que deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
– Cassação 473 motivo de conveniência ou oportunidade, respeita-
É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido dos os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar casos, a apreciação judicial.
continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção do
ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo sendo Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode ser
legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua execução. invocado para anular o ato administrativo por motivo de ilegalidade,
Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento de hotel que bem como para revogá-lo por razões de conveniência e oportunidade.
passou a funcionar ilegalmente como casa de prostituição. A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por
Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação provocação do interessado.
de um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no
vinculação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma exercício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato
similar. Desta forma, a Administração Pública não detém o poder de administrativo havendo pedido do interessado.

165
CONHECIMENTOS GERAIS

Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria – Convalidação


Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando
legalmente estabelecido. À vista da autonomia administrativa por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos, inclusive
atribuída de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e aqueles que foram gerados antes da providência saneadora. Em sentido
Municípios, cada uma dessas esferas tem a possibilidade de, técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc, uma vez que retroage à
observado o princípio da razoabilidade e mediante legislação data da edição do ato original, mantendo-lhe todos os efeitos.
própria, fixar os prazos para o exercício da autotutela. Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua
Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os
âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez,
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos.
destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos, Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios sanáveis
contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e anuláveis.
norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi
estipulação de prazos diferentes em outras esferas. incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão,
o art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a
– Revogação possibilidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos
É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela sanáveis, levando em conta que tal providência não acarrete lesão
própria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade, ao interesse público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja
sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de destinada à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento
conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento tem sido aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da
do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e perfeito existência de dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante
se torna inconveniente ao interesse público, a administração pública analogia com a esfera federal e também com fundamento na
poderá suprimi-lo por meio da revogação. prevalência doutrinária vigente.
A revogação resulta de um controle de conveniência e Assim, é de suma importância esclarecermos que a
oportunidade do ato administrativo promovido pela própria jurisprudência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em
Administração que o editou. determinadas lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em
É fundamental compreender que a revogação somente pode decorrência do princípio da segurança jurídica.
atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que
quando a administração está à frente do motivo que ordena a Decadência Administrativa
prática do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória, O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um
não lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de direito existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo
analisar a conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. determinado em lei e também pela vontade das próprias partes
Desta maneira, não havendo possibilidade de análise de mérito e, ainda no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu
para a edição do ato, essa abertura passará a não existir para que o titular, que não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido
ato seja desfeito pela revogação. pela lei.
Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como
Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo
princípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a
qualquer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de única forma de expressão do direito coincide conaturalmente
certos limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia com o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se
Zanella Di Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos: confunde com o exercício da ação para manifestá-lo”.
a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o
análise de conveniência e oportunidade; disposto legal sobre a decadência do direito de a administração
b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não pública anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses
retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos:
próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando Artigo 54. O direito da administração de anular os atos
transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público, administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
após o gozo do direito, não há como revogar o ato; destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem praticados, salvo comprovada má-fé.
o praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de § 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de
autoridade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
praticou deixou de ser competente para revogá-lo; § 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer
d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados, medida de autoridade administrativa que importe impugnação
votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela à validade do ato.”
lei;
e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai
novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior; no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi praticado.
f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito Isso significa que durante esse decurso, o administrado permanecerá
adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF. submetido a revisões ou anulações do ato administrativo que o
beneficia.

166
CONHECIMENTOS GERAIS

Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, § 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as con-
o administrado poderá ter suas relações com a administração dutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados
consolidadas contando com a proteção da segurança jurídica. tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do 2021)
Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento § 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcan-
sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu: çar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não
“No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230,
dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente de 2021)
essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração § 3º O mero exercício da função ou desempenho de compe-
tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não tências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito,
para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.
que estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
decadência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina § 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta
do Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sanciona-
proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático dor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético, § 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organiza-
social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive, ção do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do
as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju-
o fato de que o Poder Público não se submente também a essa diciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da
consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Incluído
decurso do tempo.” pela Lei nº 14.230, de 2021)
Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe § 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbida-
de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux de praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba
promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes pú-
Administração Pública, suprimindo da administração o poder de usar blicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Incluído
abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato administrativo, o pela Lei nº 14.230, de 2021)
que proporciona maior equilíbrio entre as partes interessadas. § 7º Independentemente de integrar a administração indireta,
Em resumo, é de grande importância o posicionamento estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade pratica-
adotado pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só dos contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou
tempo, propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou
contagem do prazo decadencial. receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (In-
LEI DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI Nº 8.429, DE cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
2 DE JUNHO DE 1992 E ALTERAÇÕES POSTERIORES). § 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente
de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ain-
da que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente
LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992 prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais
do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide
DISPÕE SOBRE AS SANÇÕES APLICÁVEIS EM VIRTUDE DA ADI 7236)
PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, DE Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público
QUE TRATA O § 4º DO ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL; o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda
E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
14.230, DE 2021) designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referi-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, FAÇO SABER QUE O CONGRES- das no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
SO NACIONAL DECRETA E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI: Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública,
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física
CAPÍTULO I ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, con-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS trato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de
cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela Lei
Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade nº 14.230, de 2021)
administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber,
exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada
pela Lei nº 14.230, de 2021) pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, § 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de
de 2021) pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de im-
probidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se,

167
CONHECIMENTOS GERAIS

comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela cilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne-
Lei nº 14.230, de 2021) cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de
§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, mercado;
caso o ato de improbidade administrativa seja também sanciona- IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel,
do como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas
12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empre-
2021) gados ou de terceiros contratados por essas entidades; (Redação
Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar,
Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público compe- quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
tente, para as providências necessárias. (Redação dada pela Lei nº VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
14.230, de 2021) ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técni-
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, co que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre
de 2021) quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercado-
Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art.
erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à 1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do pa- VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de manda-
trimônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) to, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles,
Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput
desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimô-
transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária. nio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) agente da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela
Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a Lei nº 14.230, de 2021)
responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de repara- VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con-
ção integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferi- sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te-
do, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou
decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente atividade;
intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei nº IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera-
14.230, de 2021) ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
CAPÍTULO II ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara-
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ção a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,
SEÇÃO I rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en-
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPOR- tidades mencionadas no art. 1° desta lei;
TAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan- art. 1° desta lei.
do em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato do-
loso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do SEÇÃO II
exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de ati- DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM
vidade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: PREJUÍZO AO ERÁRIO
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa
imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire- lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efe-
ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de tiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela
agente público; Lei nº 14.230, de 2021)
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida
cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica,
a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo
preço superior ao valor de mercado; patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação
dada pela Lei nº 14.230, de 2021)

168
CONHECIMENTOS GERAIS

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri- XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entida-
vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula-
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis (Vigência)
à espécie; XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fisca-
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desper- lização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas
sonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren- pela administração pública com entidades privadas; (Redação dada
das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades pela Lei nº 14.230, de 2021)
mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração
legais e regulamentares aplicáveis à espécie; pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor-
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, pela Lei nº 13.204, de 2015)
por preço inferior ao de mercado; XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tribu-
ou serviço por preço superior ao de mercado; tário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei
VI - realizar operação financeira sem observância das normas Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei
legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô- nº 14.230, de 2021)
nea; § 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser- ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não
vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es- ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento
pécie; sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo pela Lei nº 14.230, de 2021)
seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra- § 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econô-
tivos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimo- mica não acarretará improbidade administrativa, salvo se compro-
nial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) vado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído pela Lei nº
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza- 14.230, de 2021)
das em lei ou regulamento;
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, SEÇÃO II-A
bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio públi- (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
co; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas Art. 10-A. (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre-
gular; SEÇÃO III
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri- DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATEN-
queça ilicitamente; TAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí-
culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio- contra os princípios da administração pública a ação ou omissão
nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de
empregados ou terceiros contratados por essas entidades. legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Reda-
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por ção dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associa- I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
da sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 11.107, de 2005) III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi- das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando
ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali- beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco
dades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005) a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei nº
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorpo- 14.230, de 2021)
ração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua
rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou
pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias, de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº
sem a observância das formalidades legais ou regulamentares apli- 14.230, de 2021)
cáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência) V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitató-
privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos rio, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto,
pela administração pública a entidade privada mediante celebração ou de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula- VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo,
mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar
(Vigência) irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)

169
CONHECIMENTOS GERAIS

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei- I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores
ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, sus-
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. pensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibi-
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pú- ção de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou
blica com entidades privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019, de incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
2014) (Vigência) por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela Lei
X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) nº 14.230, de 2021)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autori- acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân-
dade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido cia, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano
cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada e proibição de contratar com o poder público ou de receber bene-
na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com- ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio ma-
preendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído pela joritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; (Redação dada
Lei nº 14.230, de 2021) pela Lei nº 14.230, de 2021)
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recur- III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil
sos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida
do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de
enaltecimento do agente público e personalização de atos, de pro- receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou in-
gramas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públi- diretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
cos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos;
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplica- Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº
ção deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do 14.230, de 2021)
agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para § 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos in-
si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, cisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma
de 2021) qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos o poder público na época do cometimento da infração, podendo
de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis espe- o magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em
ciais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade adminis- caráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas
trativa instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236)
que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da práti- § 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz conside-
ca de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação rar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado
das normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para
pela Lei nº 14.230, de 2021) reprovação e prevenção do ato de improbidade. (Incluído pela Lei
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem nº 14.230, de 2021)
lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis § 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser con-
de sancionamento e independem do reconhecimento da produção siderados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a
de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos. viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indi- § 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devida-
cação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sen- mente justificados, a sanção de proibição de contratação com o
do necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de
agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das
sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídi-
CAPÍTULO III ca, conforme disposto no § 3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº
DAS PENAS 14.230, de 2021)
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tute-
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano lados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de respon- prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos,
sabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica, quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (Incluído pela
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes Lei nº 14.230, de 2021)
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamen-
te, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº
14.230, de 2021)

170
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade


dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorri- determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação
do nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agen-
os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) te. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis-
Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de
o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei nº procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im-
14.230, de 2021) probidade.
§ 8º A sanção de proibição de contratação com o poder pú- Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho
blico deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas de Contas poderá, a requerimento, designar representante para
e Suspensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto acompanhar o procedimento administrativo.
de 2013, observadas as limitações territoriais contidas em decisão Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser
judicial, conforme disposto no § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indis-
nº 14.230, de 2021) ponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recompo-
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser sição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enrique-
executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória. cimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspen- § 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere
são dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o inter- o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da
valo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº
da sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
(Vide ADI 7236) § 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens a
que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame e
CAPÍTULO IV o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras man-
DA DECLARAÇÃO DE BENS tidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados
internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio- § 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o
nados à apresentação de declaração de imposto de renda e proven- caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração
tos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao re-
Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no ser- sultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabili-
viço de pessoal competente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de dade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com funda-
2021) mento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste arti- § 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a
go será atualizada anualmente e na data em que o agente público oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder com-
deixar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função. provadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a § 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores
declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado
prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação dada na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilí-
pela Lei nº 14.230, de 2021) cito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de
dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por
CAPÍTULO V caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial,
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO JUDI- a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a
CIAL instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da de-
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad- monstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apu-
ministrativa competente para que seja instaurada investigação des- rados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de
tinada a apurar a prática de ato de improbidade. incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser pro-
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e cessado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230,
assinada, conterá a qualificação do representante, as informações de 2021)
sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha § 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei,
conhecimento. no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In-
despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades es- cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a represen-
tação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.

171
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à in- § 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provisó-
disponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos rias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei
da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil (Inclu-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ído pela Lei nº 14.230, de 2021), (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
§ 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem § 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da
exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem in- Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil),
cidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem
multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade os incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamen-
lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) te inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei nº
§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar ve- 14.230, de 2021)
ículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semo- § 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará
ventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem
e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do
desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a sub- art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Pro-
sistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao cesso Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens § 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos § 9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas
práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarre- pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. (Incluí-
tar prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº do pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) § 10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de § 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, pode-
até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de rão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contes-
poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta corrente. tação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) nº 13.964, de 2019)
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de § 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor,
família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de van- o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei. I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo,
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbida-
Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta de; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a
comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela § 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá de-
Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) cisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbi-
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) dade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. (Inclu-
§ 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) ído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá
§ 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles pre-
proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa vistos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230,
jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste ar- § 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo, as
tigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações poste- partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem pro-
riormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o duzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação
§ 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela de improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230,
Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elemen- I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na
tos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóte- petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossi- II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele
bilidade devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230, tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
de 2021) 2021)
II - será instruída com documentos ou justificação que con- § 11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexis-
tenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo tência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improce-
imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de dente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação § 12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei § 13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In- § 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica inte-
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ressada será intimada para, caso queira, intervir no processo. (In-
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)

172
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa ju- § 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste arti-
rídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135, go dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de
136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de 2021)
Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior
§ 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a exis- ou posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230,
tência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a se- de 2021)
rem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo ór-
a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da gão do Ministério Público competente para apreciar as promoções
demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de im- de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da
probidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) III - de homologação judicial, independentemente de o acordo
§ 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade
civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) § 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere
§ 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a natu-
os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não reza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de
implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, da
§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa: rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido,
I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que
caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo
II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide
2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de ADI 7236)
Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade admi- celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso
nistrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença
Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de § 5º As negociações para a celebração do acordo a que se refe-
2021) re o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de um
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor. (In-
de extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230, cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
de 2021) § 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá con-
§ 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a templar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de in-
legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo adminis- tegridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades
trador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito
venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em
decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) favor do interesse público e de boas práticas administrativas. (Inclu-
(Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumen- § 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o
to, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscita- caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido
das pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do
2021) conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento.
Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 7043)
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere
III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº
§ 1º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluí-
§ 2º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) do pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram
§ 4º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que
§ 5º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circuns- II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre
tâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil, que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela
desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (In- Lei nº 14.230, de 2021)
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor
I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
14.230, de 2021) direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houve-
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida rem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; (Incluído
obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 14.230, de 2021)

173
CONHECIMENTOS GERAIS

IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada § 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providên-
ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) cias a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis) meses,
a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (In- contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida; do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem pre-
c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230, juízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. (Inclu-
de 2021) ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela Lei § 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão
nº 14.230, de 2021) ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela
e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021) § 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (qua-
f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequên- renta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débi-
cias advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; (Incluído pela to resultante de condenação pela prática de improbidade adminis-
Lei nº 14.230, de 2021) trativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de
g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das san- Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da
ções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído pela sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras
Lei nº 14.230, de 2021) já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual con-
VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro, tinuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o
quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior
concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das pe-
indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) nas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230,
VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios obje- de 2021)
tivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei nº II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito,
14.230, de 2021) o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos
configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou cre-
§ 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocor- ditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte)
rerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qual- anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
quer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata CAPÍTULO VI
esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) DAS DISPOSIÇÕES PENAIS
Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de ca- Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida-
ráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor
seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas da denúncia o sabe inocente.
e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está su-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) jeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle imagem que houver provocado.
de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos
públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença con-
danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor denatória.
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer ou- § 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o
tro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urba- afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego
nística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for
e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática
7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos § 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até 90
arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, median-
perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, con- te decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
forme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo
§ 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10
jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressar- II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
cimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens. interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

174
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão con- I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
siderados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído pela
§ 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as Lei nº 14.230, de 2021)
correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Jus-
da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na con- tiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condena-
duta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tória ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela Lei
§ 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à nº 14.230, de 2021)
ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da con- IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribu-
duta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230, de nal de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma
2021) acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fa- V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal
tos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór-
qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamen- dão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de § 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do
3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste
nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236) artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deve- § 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efei-
rão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta tos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Minis- § 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do
tério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrati- mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer
va ou mediante representação formulada de acordo com o disposto deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimen- 2021)
to investigativo assemelhado e requisitar a instauração de inquérito § 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público,
policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhe-
Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei, cer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decre-
será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por tá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no
escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo. (Incluído pela
e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de Lei nº 14.230, de 2021)
2021) Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua capacita-
ção aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou
CAPÍTULO VII repressão de atos de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei
DA PRESCRIÇÃO nº 14.230, de 2021)
Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não
Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído pela
ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a per- Lei nº 14.230, de 2021)
manência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais des-
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) pesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº 14.230,
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em
§ 1º A instauração de inquérito civil ou de processo adminis- caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada
trativo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o má-fé. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
curso do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patri-
dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso monial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de re-
não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. (Incluído cursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão
pela Lei nº 14.230, de 2021) responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de
§ 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será 1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236)
concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias corri-
dos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fun- CAPÍTULO VIII
damentado submetido à revisão da instância competente do órgão DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído
pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
§ 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação de- Art. 25. Ficam revogadas as Leis n° 3.164, de 1° de junho de
verá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso de ar- 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
quivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) em contrário.
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo inter-
rompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e
104° da República.

175
CONHECIMENTOS GERAIS

LEI Nº 14.230, DE 25 DE OUTUBRO DE 2021 Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública,
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física
Altera a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, que dispõe sobre ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, con-
improbidade administrativa. trato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de
cooperação ou ajuste administrativo equivalente.” (NR)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- “Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber,
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
dolosamente para a prática do ato de improbidade.
Art. 1º A ementa da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, passa § 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de
a vigorar com a seguinte redação: pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de impro-
“Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de bidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, com-
atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 provadamente, houver participação e benefícios diretos, caso em
da Constituição Federal; e dá outras providências.” que responderão nos limites da sua participação.
Art. 2º A Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, passa a vigorar § 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica,
com as seguintes alterações: caso o ato de improbidade administrativa seja também sanciona-
“Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbida- do como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº
de administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e 12.846, de 1º de agosto de 2013.” (NR)
no exercício de suas funções, como forma de assegurar a integrida- “Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade
de do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público compe-
Parágrafo único. (Revogado). tente, para as providências necessárias.
§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as con- Parágrafo único. (Revogado).” (NR)
dutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados “Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao
tipos previstos em leis especiais. erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do patri-
o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bas- mônio transferido.” (NR)
tando a voluntariedade do agente. “Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de competên- desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de
cias públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária.
a responsabilidade por ato de improbidade administrativa. Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a
§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de repara-
Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sanciona- ção integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferi-
dor. do, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei
§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organi- decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão ou
zação do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente intuito
patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju- de fraude, devidamente comprovados.”
diciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da “Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa impor-
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. tando em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão
praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba sub- do exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de ati-
venção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos vidade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. ..................................................................................................
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel,
estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade pratica- de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas
dos contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empre-
custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou gados ou de terceiros contratados por essas entidades;
receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à ...................................................................................................
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
§ 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorren- ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técni-
te de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, co que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre
ainda que não pacificada, mesmo que não venha a ser posterior- quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercado-
mente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tri- rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art.
bunais do Poder Judiciário.” (NR) 1º desta Lei;
“Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato,
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referi- à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente
das no art. 1º desta Lei. da licitude da origem dessa evolução;
..........................................................................................” (NR)

176
CONHECIMENTOS GERAIS

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efe- na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes
tiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com-
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades preendido o ajuste mediante designações recíprocas;
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recursos
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º do art.
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco enalteci-
de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo mento do agente público e personalização de atos, de programas, de
patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públicos.
................................................................................................... § 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro
para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplica-
dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efeti- ção deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do
va;...................................................................................................... agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, ou para outra pessoa ou entidade.
bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; § 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos
................................................................................................... de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis espe-
...... ciais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade adminis-
XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fisca- trativa instituídos por lei.
lização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas § 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de
pela administração pública com entidades privadas; que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática
................................................................................................... de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das
..... normas constitucionais, legais ou infralegais violadas.
XXI - (revogado); § 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tribu- lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis
tário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei de sancionamento e independem do reconhecimento da produção
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos.
§ 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais § 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou
ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos,
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte
sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. do agente.” (NR)
§ 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econô- “Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
mica não acarretará improbidade administrativa, salvo se compro- patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de respon-
vado ato doloso praticado com essa finalidade.” (NR) sabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica,
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que aten- está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes co-
ta contra os princípios da administração pública a ação ou omissão minações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de
dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de acordo com a gravidade do fato:
legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valo-
I - (revogado); res acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública,
II - (revogado); suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proi-
das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando be- bição de contratar com o poder público ou de receber benefícios
neficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco a ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
segurança da sociedade e do Estado; que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos;
imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores
de outras hipóteses instituídas em lei; acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân-
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorren- cia, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até
cial de concurso público, de chamamento ou de procedimento licita- 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do
tório, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, dano e proibição de contratar com o poder público ou de receber
ou de terceiros; benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamen-
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, te, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos;
irregularidades; III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil
IX - (revogado); de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida
X - (revogado); pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de re-
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, ceber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indire-
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autori- tamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
dade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos;
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de IV - (revogado).

177
CONHECIMENTOS GERAIS

Parágrafo único. (Revogado). § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade de-


§ 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos in- terminará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação
cisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agen-
qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com te.” (NR)
o poder público na época do cometimento da infração, podendo o “Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser
magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em ca- formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indispo-
ráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as nibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recomposi-
circunstâncias do caso e a gravidade da infração. ção do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enriqueci-
§ 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz conside- mento ilícito.
rar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado § 1º (Revogado).
na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para § 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere
reprovação e prevenção do ato de improbidade. o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da
§ 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser con- representação de que trata o art. 7º desta Lei.
siderados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a § 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens
viabilizar a manutenção de suas atividades. a que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exa-
§ 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devida- me e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras
mente justificados, a sanção de proibição de contratação com o po- mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados
der público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de impro- internacionais.
bidade, observados os impactos econômicos e sociais das sanções, § 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o
de forma a preservar a função social da pessoa jurídica, conforme caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração
disposto no § 3º deste artigo. no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao resul-
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tute- tado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabilidade
lados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com fundamento
prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos, nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu em 5
quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (cinco) dias.
§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a § 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a
que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorrido nas instân- oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder com-
cias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto os mesmos fatos. provadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a
Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar o urgência ser presumida.
princípio constitucional do non bis in idem. § 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores
§ 8º A sanção de proibição de contratação com o poder público declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado na
deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Sus- petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilícito.
pensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, § 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de
observadas as limitações territoriais contidas em decisão judicial, dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por
conforme disposto no § 4º deste artigo. caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial,
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser exe- a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a
cutadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória. instrução do processo.
§ 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspen- § 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da de-
são dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o interva- monstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apu-
lo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da rados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de
sentença condenatória.” (NR) incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser pro-
“Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio- cessado na forma da lei processual.
nados à apresentação de declaração de imposto de renda e proven- § 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei,
tos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei
Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no ser- nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
viço de pessoal competente. § 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à in-
§ 1º (Revogado). disponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste artigo da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
será atualizada anualmente e na data em que o agente público dei- § 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem ex-
xar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função. clusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem incidir
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa
outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita.
declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do § 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar ve-
prazo determinado ou que prestar declaração falsa. ículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semo-
§ 4º (Revogado).” (NR) ventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples
“Art. 14. ..................................................................................... e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência
... desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a sub-
................................................................................................... sistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao
... longo do processo.

178
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a
do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos instrução processual.
práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar § 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá de-
prejuízo à prestação de serviços públicos. cisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbi-
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de dade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar
até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor.
poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente. § 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de famí- necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles pre-
lia do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de vantagem vistos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei.
patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.” (NR) § 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo, as par-
“Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta tes serão intimadas a especificar as provas que pretendem produzir.
Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento § 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de
comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código improbidade administrativa que:
de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na
§ 1º (Revogado). petição inicial;
§ 2º (Revogado). II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele
§ 3º (Revogado). tempestivamente especificadas.
§ 4º (Revogado). § 11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexistên-
§ 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser cia do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improcedente.
proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa § 12. (Revogado).
jurídica prejudicada. § 13. (Revogado).
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste artigo § 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica inte-
prevenirá a competência do juízo para todas as ações posteriormen- ressada será intimada para, caso queira, intervir no processo.
te intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo § 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa ju-
objeto. rídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135,
§ 6º A petição inicial observará o seguinte: 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elemen- Processo Civil).
tos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóte- § 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a exis-
ses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibi- tência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a se-
lidade devidamente fundamentada; rem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para
II - será instruída com documentos ou justificação que conte- a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da
nham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo impu- demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de im-
tado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresen- probidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº
tação de qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, 7.347, de 24 de julho de 1985.
inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei nº 13.105, § 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação
de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). civil pública caberá agravo de instrumento.
§ 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provisó- § 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre
rias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). implicarão confissão.
§ 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da § 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em
bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem caso de revelia;
os incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamen- II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e
te inexistente o ato de improbidade imputado. 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
§ 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará Processo Civil);
autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade admi-
no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do nistrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do
art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Pro- Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros de
cesso Civil). Ministérios Públicos distintos;
§ 8º (Revogado). IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de
§ 9º (Revogado). extinção sem resolução de mérito.
§ 9-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas § 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a le-
pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. galidade prévia dos atos administrativos praticados pelo adminis-
§ 10. (Revogado). trador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este
................................................................................................... venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a
.... decisão transite em julgado.
§ 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, § 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumen-
o juiz: to, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscita-
I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo, ob- das pelo réu em sua contestação.” (NR)
servada a eventual inexistência manifesta do ato de improbidade;

179
CONHECIMENTOS GERAIS

“Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circuns- d) o proveito patrimonial obtido pelo agente;
tâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil, e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes;
desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequên-
I - o integral ressarcimento do dano; cias advindas de sua conduta omissiva ou comissiva;
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida g) os antecedentes do agente;
obtida, ainda que oriunda de agentes privados. V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das san-
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo ções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente;
dependerá, cumulativamente: VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro,
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ou quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua res-
posterior à propositura da ação; ponsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver concor-
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo ór- rido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais indevidas;
gão do Ministério Público competente para apreciar as promoções VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios obje-
de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da tivos que justifiquem a imposição da sanção.
ação; § 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo configura ato de improbidade.
ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade § 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocor-
administrativa. rerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qual-
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere quer solidariedade.
o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a na- § 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata
tureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato esta Lei.”
de improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, “Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
da rápida solução do caso. de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de ca-
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, ráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado
deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas
se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
de 90 (noventa) dias. e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle
celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes
da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por
condenatória. danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
§ 5º As negociações para a celebração do acordo a que se re- artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro
fere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urbanís-
um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor. tica, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos
§ 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá con- e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº
templar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de inte- 7.347, de 24 de julho de 1985..”
gridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades “Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos
e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à
da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, con-
favor do interesse público e de boas práticas administrativas. forme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o § 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa
caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior
de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressar-
conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento.” cimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens.
“Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere § 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providên-
esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº cias a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis) me-
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): ses, contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da
I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram os ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação
elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que não do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento
podem ser presumidos; do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem pre-
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre juízo de eventual responsabilização pela omissão verificada.
que decidir com base em valores jurídicos abstratos; § 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor ser descontados os serviços efetivamente prestados.
e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos § 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (quarenta
direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houve- e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débito resul-
rem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; tante de condenação pela prática de improbidade administrativa se o
IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de imediato.” (NR)
ou cumulativa: “Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da
a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras já
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida; impostas em outros processos, tendo em vista a eventual continuida-
c) a extensão do dano causado; de de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o seguinte:

180
CONHECIMENTOS GERAIS

I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior § 1º A instauração de inquérito civil ou de processo administra-
sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das pe- tivo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o curso
nas, o que for mais benéfico ao réu; do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) dias
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não
o juiz somará as sanções. concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão.
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos § 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou cre- concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias corri-
ditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) dos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fun-
anos.” damentado submetido à revisão da instância competente do órgão
“Art. 20. ............................................................................. ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica.
§ 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o § 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação
afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego deverá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso de
ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for arquivamento do inquérito civil.
necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática § 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo inter-
de novos ilícitos. rompe-se:
§ 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até 90 I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
(noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, median- II - pela publicação da sentença condenatória;
te decisão motivada.” (NR) III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justi-
“Art. 21. ..................................................................................... ça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condenató-
.... ria ou que reforma sentença de improcedência;
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal
quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10 de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór-
desta Lei; dão de improcedência;
................................................................................................... V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal
....§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão con- Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór-
siderados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a dão de improcedência.
conduta do agente público. § 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do dia
§ 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste artigo.
correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação da § 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos relati-
convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na conduta vamente a todos os que concorreram para a prática do ato de improbidade.
do agente. § 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do
§ 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer
ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da con- deles estendem-se aos demais.
duta ou pela negativa da autoria. § 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público,
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fa- deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhe-
tos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da cer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-
qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamen- -la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no §
tos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo.” (NR)
de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). “Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua capaci-
§ 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deve- tação aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou
rão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta repressão de atos de improbidade administrativa.”
Lei.” (NR) “Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não
“Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Ministé- haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
rio Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou honorários periciais e de quaisquer outras despesas.
mediante representação formulada de acordo com o disposto no art. § 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais
14 desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimento inves- despesas processuais serão pagas ao final.
tigativo assemelhado e requisitar a instauração de inquérito policial. § 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em caso
Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei, de improcedência da ação de improbidade se comprovada má-fé.”
será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por “Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patrimonial,
escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de recursos públicos
e auxiliem na elucidação dos fatos.” (NR) dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão responsabilizados nos
“Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995.” (ADI 7236)
Lei prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do Art. 3º No prazo de 1 (um) ano a partir da data de publicação
fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a desta Lei, o Ministério Público competente manifestará interesse
permanência. no prosseguimento das ações por improbidade administrativa em
I - (revogado); curso ajuizadas pela Fazenda Pública, inclusive em grau de recurso.
II - (revogado); (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
III - (revogado). § 1º No prazo previsto no caput deste artigo suspende-se o pro-
cesso, observado o disposto no art. 314 da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil).

181
CONHECIMENTOS GERAIS

2º Não adotada a providência descrita no caput deste artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito.
Art. 4º Ficam revogados os seguintes dispositivos e seção da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992:
I - parágrafo único do art. 1º;
II - arts. 4º, 5º e 6º;
III - Seção II-A do Capítulo II;
IV - parágrafo único do art. 7º;
V - inciso XXI do caput do art. 10;
VI - incisos I, II, IX e X do caput do art. 11;
VII - inciso IV do caput e parágrafo único do art. 12;
VIII - §§ 1º e 4º do art. 13;
IX - § 1º do art. 16;
X - §§ 1º, 2º, 3º, 4º, 8º, 9º, 10, 12 e 13 do art. 17; (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
XI - incisos I, II e III do caput do art. 23.
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 25 de outubro de 2021; 200o da Independência e 133o da República

CRIMES CONTRA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Neste ponto algumas informações são essenciais:


– A elementar do crime de peculato se comunica aos coautores e partícipes estranhos ao serviço público;
– Consuma-se o crime de PECULATO-DESVIO no momento em que o funcionário efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro bem
móvel, em proveito próprio ou de terceiro, ainda que NÃO obtenha a vantagem indevida;
– Configura o crime de CONCUSSÃO a conduta do funcionário público que, fora do exercício de sua função, mas em razão dela, exige
o pagamento de uma verba indevida (“taxa de urgência), para a aprovação de uma obra que sabe irregular;
– O EXCESSO DE EXAÇÃO – funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido,
emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei NÃO autoriza;
– O crime de CORRUPÇÃO PASSIVA possui natureza FORMAL e independe de resultado, NÃO se exigindo a prática de ato de ofício;
– Para o STJ, ao contrário do que ocorre no peculato culposo, a reparação do dano antes do recebimento da denúncia NÃO exclui o
crime de peculato doloso, diante da ausência de previsão legal, mas pode configurar arrependimento posterior (v. HC 239127/RS);
– Nos crimes contra a Administração Pública não incide o princípio da insignificância.

Peculato mediante erro de


Peculato-Apropriação e Peculato-Desvio Peculato Culposo
outrem
§ 2º - Se o funcionário
Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor
concorre culposamente para o
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de
crime de outrem: Art. 313 - Apropriar-se de
que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em
Pena - detenção, de três dinheiro ou qualquer utilidade
proveito próprio ou alheio.
meses a um ano. que, no exercício do cargo,
§ 3º - No caso do parágrafo recebeu por erro de outrem:
Obs. É peculato-furto, se o funcionário público,
anterior, a reparação do dano, se Pena - reclusão, de um a
embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o
precede à sentença irrecorrível, quatro anos, e multa.
subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
extingue a punibilidade; se lhe é
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
posterior, reduz de metade a pena
proporciona a qualidade de funcionário.
imposta.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de


Inserção de dados falsos em sistema de informações
informações
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de
inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados informações ou programa de informática sem autorização ou
corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da solicitação de autoridade competente:
Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
para si ou para outrem ou para causar dano: Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a
Administração Pública ou para o administrado.

182
CONHECIMENTOS GERAIS

– Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento: § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores
Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em
em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente. comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão
– Emprego irregular de verbas ou rendas pública: Dar às da administração direta, sociedade de economia mista, empresa
verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. pública ou fundação instituída pelo poder público.
– Concussão: Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas Quanto aos crimes praticados por particular contra a
em razão dela, vantagem indevida. Obs. é crime formal, se consuma Administração temos: usurpação de função pública; resistência;
com a exigência da vantagem indevida. desobediência; desacato; tráfico de influência; corrupção ativa;
– Excesso de exação: Se o funcionário exige tributo ou descaminho; contrabando; impedimento, perturbação ou fraude
contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando de concorrência; inutilização de edital ou sinal; subtração de
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei inutilização de livro ou documento; sonegação de contribuição
não autoriza. previdenciária.
– Corrupção passiva: Solicitar ou receber, para si ou para Aqui é importante memorizar que resistência, desobediência e
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes desacato não se confundem:
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem. Obs. configura corrupção passiva Resistência
receber propina sob o disfarce de doações eleitorais. Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência
– Facilitação de contrabando ou descaminho: Facilitar, ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe
com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou esteja prestando auxílio:
descaminho. Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
– Prevaricação: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para Pena - reclusão, de um a três anos
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Obs. Deixar o Diretor de § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar correspondentes à violência.
ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente Desobediência
externo. Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
– Condescendência criminosa: Deixar o funcionário, por Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração
no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o Desacato
fato ao conhecimento da autoridade competente. Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função
– Advocacia administrativa: Patrocinar, direta ou indiretamente, ou em razão dela:
interesse privado perante a administração pública, valendo-se da Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
qualidade de funcionário.
– Violência arbitrária: Praticar violência, no exercício de função O tráfico de influência consiste em: Solicitar, exigir, cobrar
ou a pretexto de exercê-la. ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de
– Abandono de função: Abandonar cargo público, fora dos vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário
casos permitidos em lei. público no exercício da função (qualquer funcionário público). A
– Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado: pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a
Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as vantagem é também destinada ao funcionário.
exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois É importante conhecer a literalidade do crime de corrupção
de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou ativa:
suspenso.
– Violação de sigilo funcional: Revelar fato de que tem ciência Corrupção ativa
em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a
lhe a revelação. funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar
ato de ofício:
Por fim, é importante conhecer a descrição de quem é Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
funcionário público, para as leis penais: Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em
razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite
Funcionário público ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, De acordo com o STJ, a inépcia da denúncia de corrupção ativa
exerce cargo, emprego ou função pública. não induz, por si só, o trancamento da ação penal de corrupção
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, passiva. Os dois crimes estão em tipos penais autônomos, e um não
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para pressupõe o outro.
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.      (Incluído
pela Lei nº 9.983, de 2000)

183
CONHECIMENTOS GERAIS

Ademais, o CP elenca os crimes praticados por particular contra Perturbação de processo licitatório (Incluído pela Lei nº
a Administração Pública Estrangeira: Corrupção ativa em transação 14.133, de 2021)
comercial internacional; Tráfico de influência em transação Art. 337-I. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de
comercial internacional. E, também, estabelece os crimes contra a qualquer ato de processo licitatório:
Administração da Justiça: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
– Reingresso de estrangeiro expulso;
– Denunciação caluniosa; Violação de sigilo em licitação (Incluído pela Lei nº 14.133,
– Comunicação falsa de crime ou contravenção; de 2021)
– Auto-acusação falsa; Art. 337-J. Devassar o sigilo de proposta apresentada em
– Falso Testemunho ou falsa perícia; processo licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-
– Coação no Curso do Processo; lo: (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)
– Exercício arbitrário das próprias razões; Pena - detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e multa.
– Fraude processual; (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)
– Favorecimento pessoal;
– Favorecimento real; Afastamento de licitante (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)
– Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança; Art. 337-K. Afastar ou tentar afastar licitante por meio de
– Evasão mediante violência contra a pessoa; violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de
– Arrebatamento de preso; qualquer tipo:
– Motim de presos; Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, e multa, além
– Patrocínio infiel; da pena correspondente à violência.
– Patrocínio simultâneo ou tergiversação; Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou
– Sonegação de papel ou objeto de valor probatório; desiste de licitar em razão de vantagem oferecida. (Incluído pela
– Exploração de prestígio; Lei nº 14.133, de 2021)
– Violência ou fraude em arrematação judicial;
– Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão Fraude em licitação ou contrato (Incluído pela Lei nº 14.133,
de direitos. de 2021)
Art. 337-L. Fraudar, em prejuízo da Administração Pública,
Aqui, o mais importante é ter em mente que denunciação licitação ou contrato dela decorrente, mediante:
caluniosa exige dolo direto do agente. Ou seja, o agente saiba que I - entrega de mercadoria ou prestação de serviços com
a pessoa é inocente: qualidade ou em quantidade diversas das previstas no edital ou nos
instrumentos contratuais;
Contratação direta ilegal (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021) II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de mercadoria
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação falsificada, deteriorada, inservível para consumo ou com prazo de
direta fora das hipóteses previstas em lei: validade vencido;
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. III - entrega de uma mercadoria por outra;
IV - alteração da substância, qualidade ou quantidade da
Frustração do caráter competitivo de licitação (Incluído pela mercadoria ou do serviço fornecido;
Lei nº 14.133, de 2021) V - qualquer meio fraudulento que torne injustamente mais onerosa
Art. 337-F. Frustrar ou fraudar, com o intuito de obter para si para a Administração Pública a proposta ou a execução do contrato:
ou para outrem vantagem decorrente da adjudicação do objeto da Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
licitação, o caráter competitivo do processo licitatório:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa. Contratação inidônea (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)
Art. 337-M. Admitir à licitação empresa ou profissional
Patrocínio de contratação indevida (Incluído pela Lei nº declarado inidôneo:
14.133, de 2021) Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e multa.
Art. 337-G. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse § 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional declarado
privado perante a Administração Pública, dando causa à instauração inidôneo:
de licitação ou à celebração de contrato cuja invalidação vier a ser Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e multa.
decretada pelo Poder Judiciário: § 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo aquele que,
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. declarado inidôneo, venha a participar de licitação e, na mesma
pena do § 1º deste artigo, aquele que, declarado inidôneo, venha
Modificação ou pagamento irregular em contrato administra- a contratar com a Administração Pública. (Incluído pela Lei nº
tivo (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021) 14.133, de 2021)
Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer
modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor Impedimento indevido (Incluído pela Lei nº 14.133, de 2021)
do contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a Art. 337-N. Obstar, impedir ou dificultar injustamente a inscrição
Administração Pública, sem autorização em lei, no edital da licitação de qualquer interessado nos registros cadastrais ou promover
ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura indevidamente a alteração, a suspensão ou o cancelamento de
com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade: registro do inscrito:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

184
CONHECIMENTOS GERAIS

Omissão grave de dado ou de informação por projetista (In- Segue o disposto no Código penal
cluído pela Lei nº 14.133, de 2021)
Art. 337-O. Omitir, modificar ou entregar à Administração Pública DECRETO-LEI NO 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940
levantamento cadastral ou condição de contorno em relevante
dissonância com a realidade, em frustração ao caráter competitivo TÍTULO XI
da licitação ou em detrimento da seleção da proposta mais vantajosa DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
para a Administração Pública, em contratação para a elaboração
de projeto básico, projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo CAPÍTULO I
competitivo ou em procedimento de manifestação de interesse: DOS CRIMES PRATICADOS
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
§ 1º Consideram-se condição de contorno as informações e CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
os levantamentos suficientes e necessários para a definição da
solução de projeto e dos respectivos preços pelo licitante, incluídos Peculato
sondagens, topografia, estudos de demanda, condições ambientais Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, va-
e demais elementos ambientais impactantes, considerados lor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem
requisitos mínimos ou obrigatórios em normas técnicas que a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
orientam a elaboração de projetos. alheio:
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefício, direto Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
ou indireto, próprio ou de outrem, aplica-se em dobro a pena § 1° - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embo-
prevista no caput deste artigo. ra não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou con-
Art. 337-P. A pena de multa cominada aos crimes previstos corre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valen-
neste Capítulo seguirá a metodologia de cálculo prevista neste do-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Código e não poderá ser inferior a 2% (dois por cento) do valor do
contrato licitado ou celebrado com contratação direta. Peculato culposo
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de § 2° - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de
procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de outrem:
processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de Pena - detenção, de três meses a um ano.
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, § 3° - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano,
infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:         se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. posterior, reduz de metade a pena imposta.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve
de anonimato ou de nome suposto. Peculato mediante erro de outrem
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que,
prática de contravenção. no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Ademais, tanto no falso testemunho como na falsa perícia: O
fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que Inserção de dados falsos em sistema de informações (Incluído
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. pela Lei n° 9.983, de 2000)
É importante saber diferenciar o favorecimento real do Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inser-
favorecimento pessoal: ção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corre-
– Exemplo de favorecimento real: um amigo do criminoso tos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administra-
guarda em sua casa o proveito do crime (um objeto furtado). ção Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para
– Exemplo de favorecimento pessoal: um amigo do criminoso outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000))
esconde o foragido em sua casa. Se quem presta o auxílio é Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído
ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica pela Lei n° 9.983, de 2000)
isento de pena.
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de infor-
Por fim, vale diferenciar patrocínio infiel de patrocínio mações (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
simultâneo ou tergiversação: Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de in-
formações ou programa de informática sem autorização ou solicita-
Patrocínio infiel Patrocínio simultâneo ou ção de autoridade competente: (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
Art. 355 - Trair, na tergiversação Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
qualidade de advogado Parágrafo único - Incorre (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
ou procurador, o dever na pena deste artigo o Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a
profissional, prejudicando advogado ou procurador metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Admi-
interesse, cujo patrocínio, em judicial que defende na nistração Pública ou para o administrado.(Incluído pela Lei n° 9.983,
juízo, lhe é confiado: mesma causa, simultânea de 2000)
Pena - detenção, de seis ou sucessivamente, partes
meses a três anos, e multa. contrárias.

185
CONHECIMENTOS GERAIS

Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente públi-
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que co, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefô-
tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou nico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros pre-
parcialmente: sos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei n° 11.466, de 2007).
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
crime mais grave.
Condescendência criminosa
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsa-
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa bilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou,
da estabelecida em lei: quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamen- Advocacia administrativa
te, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse pri-
dela, vantagem indevida: vado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação funcionário:
dada pela Lei n° 13.964, de 2019) Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Excesso de exação Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
§ 1° - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que
sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na co- Violência arbitrária
brança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: (Redação Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pre-
dada pela Lei n° 8.137, de 27.12.1990) texto de exercê-la:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena cor-
dada pela Lei n° 8.137, de 27.12.1990) respondente à violência.
§ 2° - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de ou-
trem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públi- Abandono de função
cos: Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Corrupção passiva § 1° - Se do fato resulta prejuízo público:
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, § 2° - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado
dada pela Lei n° 10.763, de 12.11.2003) Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de sa-
§ 1° - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência tisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autori-
da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de prati- zação, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,
car qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. substituído ou suspenso:
§ 2° - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem: Violação de sigilo funcional
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e
que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Facilitação de contrabando ou descaminho Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato
Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática não constitui crime mais grave.
de contrabando ou descaminho (art. 334): § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação pela Lei n° 9.983, de 2000)
dada pela Lei n° 8.137, de 27.12.1990) I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e
empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas
Prevaricação não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de Administração Pública; (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfa- II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela
zer interesse ou sentimento pessoal: (Vide ADPF 881) Lei n° 9.983, de 2000)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pú-
blica ou a outrem: (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído
pela Lei n° 9.983, de 2000)

186
CONHECIMENTOS GERAIS

Violação do sigilo de proposta de concorrência Corrupção ativa


Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência públi- Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio-
ca, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação
Funcionário público dada pela Lei n° 10.763, de 12.11.2003)
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe- Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em ra-
nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce zão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato
cargo, emprego ou função pública. de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 1° - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para Descaminho
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou
execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de merca-
pela Lei n° 9.983, de 2000) doria (Redação dada pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
§ 2° - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada
crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração § 1 Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei n°
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação insti- 13.008, de 26.6.2014)
tuída pelo poder público. (Incluído pela Lei n° 6.799, de 1980) I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos
em lei; (Redação dada pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
CAPÍTULO II II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; (Re-
DOS CRIMES PRATICADOS POR dação dada pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer
forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de ativida-
Usurpação de função pública de comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulenta-
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. mente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no terri-
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: tório nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. (Redação dada pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio,
Resistência no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal
ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. (Redação
esteja prestando auxílio: dada pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 2° Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste
§ 1° - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mer-
Pena - reclusão, de um a três anos. cadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (Redação
§ 2° - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das dada pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
correspondentes à violência. § 3° A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é
praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Redação dada
Desobediência pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído
Desacato pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído pela Lei
ou em razão dela: n° 13.008, de 26.6.2014)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1° Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei n° 13.008,
de 26.6.2014)
Tráfico de Influência (Redação dada pela Lei n° 9.127, de I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; (In-
1995) cluído pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para ou- II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que de-
trem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em penda de registro, análise ou autorização de órgão público compe-
ato praticado por funcionário público no exercício da função: (Reda- tente; (Incluído pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
ção dada pela Lei n° 9.127, de 1995) III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira desti-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação nada à exportação; (Incluído pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)
dada pela Lei n° 9.127, de 1995) IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qual-
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente quer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de
alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcioná- atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei bra-
rio. (Redação dada pela Lei n° 9.127, de 1995) sileira; (Incluído pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014)

187
CONHECIMENTOS GERAIS

V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no § 2° É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar so-
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida mente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes,
pela lei brasileira. (Incluído pela Lei n° 13.008, de 26.6.2014) desde que: (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
§ 2° - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos des- I – (VETADO) (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
te artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja
mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (In- igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, admi-
cluído pela Lei n° 4.729, de 14.7.1965) nistrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
§ 3° A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é execuções fiscais. (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Incluído pela § 3° Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pa-
Lei n° 13.008, de 26.6.2014) gamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e
dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade
Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência ou aplicar apenas a de multa. (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública § 4° O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajus-
ou venda em hasta pública, promovida pela administração federal, tado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos be-
estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou pro- nefícios da previdência social. (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000)
curar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: CAPÍTULO II-A
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da (INCLUÍDO PELA LEI N° 10.467, DE 11.6.2002)
pena correspondente à violência. DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A AD-
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se abstém de MINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
concorrer ou licitar, em razão da vantagem oferecida.
Corrupção ativa em transação comercial internacional
Inutilização de edital ou de sinal Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente,
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspur- vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira
car edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inuti- pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofí-
lizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem cio relacionado à transação comercial internacional: (Incluído pela
de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Lei n° 10.467, de 11.6.2002)
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído
pela Lei n° 10.467, de 11.6.2002)
Subtração ou inutilização de livro ou documento Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se,
Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro ofi- em razão da vantagem ou promessa, o funcionário público estran-
cial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em geiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
razão de ofício, ou de particular em serviço público: funcional. (Incluído pela Lei n° 10467, de 11.6.2002)
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui
crime mais grave. Tráfico de influência em transação comercial internacional
(Incluído pela Lei n° 10.467, de 11.6.2002)
Sonegação de contribuição previdenciária (Incluído pela Lei Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
n° 9.983, de 2000) outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou promessa de vanta-
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciá- gem a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público
ria e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Incluído estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação
pela Lei n° 9.983, de 2000) comercial internacional: (Incluído pela Lei n° 10.467, de 11.6.2002)
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído
de informações previsto pela legislação previdenciária segurados pela Lei n° 10.467, de 11.6.2002)
empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autô- Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente
nomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; (Incluído pela alega ou insinua que a vantagem é também destinada a funcionário
Lei n° 9.983, de 2000) estrangeiro. (Incluído pela Lei n° 10467, de 11.6.2002)
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da con- Funcionário público estrangeiro (Incluído pela Lei n° 10.467,
tabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou de 11.6.2002)
as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; (Incluído Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para
pela Lei n° 9.983, de 2000) os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remu-
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, neração, exerce cargo, emprego ou função pública em entidades
remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de con- estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro.
tribuições sociais previdenciárias: (Incluído pela Lei n° 9.983, de 2000) (Incluído pela Lei n° 10.467, de 11.6.2002)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público estrangeiro
pela Lei n° 9.983, de 2000) quem exerce cargo, emprego ou função em empresas controladas,
§ 1° É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, diretamente ou indiretamente, pelo Poder Público de país estrangei-
declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e pres- ro ou em organizações públicas internacionais. (Incluído pela Lei n°
ta as informações devidas à previdência social, na forma definida 10.467, de 11.6.2002)
em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela
Lei n° 9.983, de 2000)

188
CONHECIMENTOS GERAIS

CAPÍTULO II-B Afastamento de licitante (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)


DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATI- Art. 337-K. Afastar ou tentar afastar licitante por meio de vio-
VOS lência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de
(INCLUÍDO PELA LEI N° 14.133, DE 2021) qualquer tipo: (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, e multa, além
Contratação direta ilegal (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) da pena correspondente à violência. (Incluído pela Lei n° 14.133,
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação dire- de 2021)
ta fora das hipóteses previstas em lei: (Incluído pela Lei n° 14.133, Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou
de 2021) desiste de licitar em razão de vantagem oferecida. (Incluído pela Lei
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluí- n° 14.133, de 2021)
do pela Lei n° 14.133, de 2021)
Fraude em licitação ou contrato (Incluído pela Lei n° 14.133,
Frustração do caráter competitivo de licitação (Incluído pela de 2021)
Lei n° 14.133, de 2021) Art. 337-L. Fraudar, em prejuízo da Administração Pública, lici-
Art. 337-F. Frustrar ou fraudar, com o intuito de obter para si ou tação ou contrato dela decorrente, mediante: (Incluído pela Lei n°
para outrem vantagem decorrente da adjudicação do objeto da lici- 14.133, de 2021)
tação, o caráter competitivo do processo licitatório: (Incluído pela I - entrega de mercadoria ou prestação de serviços com quali-
Lei n° 14.133, de 2021) dade ou em quantidade diversas das previstas no edital ou nos ins-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa. trumentos contratuais; (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
(Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de mercadoria
falsificada, deteriorada, inservível para consumo ou com prazo de
Patrocínio de contratação indevida (Incluído pela Lei n° validade vencido; (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
14.133, de 2021) III - entrega de uma mercadoria por outra; (Incluído pela Lei n°
Art. 337-G. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse priva- 14.133, de 2021)
do perante a Administração Pública, dando causa à instauração de IV - alteração da substância, qualidade ou quantidade da mer-
licitação ou à celebração de contrato cuja invalidação vier a ser de- cadoria ou do serviço fornecido; (Incluído pela Lei n° 14.133, de
cretada pelo Poder Judiciário: (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) 2021)
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. (In- V - qualquer meio fraudulento que torne injustamente mais
cluído pela Lei n° 14.133, de 2021) onerosa para a Administração Pública a proposta ou a execução do
contrato: (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
Modificação ou pagamento irregular em contrato administra- Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
tivo (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer mo-
dificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor Contratação inidônea (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
do contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a Art. 337-M. Admitir à licitação empresa ou profissional declara-
Administração Pública, sem autorização em lei, no edital da licita- do inidôneo: (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
ção ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e multa. (Incluído
fatura com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade: pela Lei n° 14.133, de 2021)
(Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) § 1° Celebrar contrato com empresa ou profissional declarado
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa. inidôneo: (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
(Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e multa. (Inclu-
ído pela Lei n° 14.133, de 2021)
Perturbação de processo licitatório (Incluído pela Lei n° § 2° Incide na mesma pena do caput deste artigo aquele que,
14.133, de 2021) declarado inidôneo, venha a participar de licitação e, na mesma
Art. 337-I. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qual- pena do § 1° deste artigo, aquele que, declarado inidôneo, venha a
quer ato de processo licitatório: (Incluído pela Lei n° 14.133, de contratar com a Administração Pública. (Incluído pela Lei n° 14.133,
2021) de 2021)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. (In-
cluído pela Lei n° 14.133, de 2021) Impedimento indevido (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
Art. 337-N. Obstar, impedir ou dificultar injustamente a inscri-
Violação de sigilo em licitação (Incluído pela Lei n° 14.133, ção de qualquer interessado nos registros cadastrais ou promover
de 2021) indevidamente a alteração, a suspensão ou o cancelamento de re-
Art. 337-J. Devassar o sigilo de proposta apresentada em pro- gistro do inscrito: (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
cesso licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (In-
(Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) cluído pela Lei n° 14.133, de 2021)
Pena - detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e multa. (In-
cluído pela Lei n° 14.133, de 2021)

189
CONHECIMENTOS GERAIS

Omissão grave de dado ou de informação por projetista (In- Falso testemunho ou falsa perícia
cluído pela Lei n° 14.133, de 2021) Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade
Art. 337-O. Omitir, modificar ou entregar à Administração Pú- como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em pro-
blica levantamento cadastral ou condição de contorno em relevante cesso judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbi-
dissonância com a realidade, em frustração ao caráter competitivo tral: (Redação dada pela Lei n° 10.268, de 28.8.2001)
da licitação ou em detrimento da seleção da proposta mais vanta- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Reda-
josa para a Administração Pública, em contratação para a elabora- ção dada pela Lei n° 12.850, de 2013) (Vigência)
ção de projeto básico, projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime
competitivo ou em procedimento de manifestação de interesse: (In- é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter
cluído pela Lei n° 14.133, de 2021) prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em proces-
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa. (In- so civil em que for parte entidade da administração pública direta
cluído pela Lei n° 14.133, de 2021) ou indireta.(Redação dada pela Lei n° 10.268, de 28.8.2001)
§ 1° Consideram-se condição de contorno as informações e os § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no pro-
levantamentos suficientes e necessários para a definição da solu- cesso em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a ver-
ção de projeto e dos respectivos preços pelo licitante, incluídos son- dade.(Redação dada pela Lei n° 10.268, de 28.8.2001)
dagens, topografia, estudos de demanda, condições ambientais e Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra
demais elementos ambientais impactantes, considerados requisitos vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete,
mínimos ou obrigatórios em normas técnicas que orientam a elabo- para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimen-
ração de projetos. (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) to, perícia, cálculos, tradução ou interpretação: (Redação dada pela
§ 2° Se o crime é praticado com o fim de obter benefício, direto Lei n° 10.268, de 28.8.2001)
ou indireto, próprio ou de outrem, aplica-se em dobro a pena pre- Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.(Redação dada
vista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei n° 14.133, de 2021) pela Lei n° 10.268, de 28.8.2001)
Art. 337-P. A pena de multa cominada aos crimes previstos nes- Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um
te Capítulo seguirá a metodologia de cálculo prevista neste Código terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a
e não poderá ser inferior a 2% (dois por cento) do valor do contrato produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for
licitado ou celebrado com contratação direta. (Incluído pela Lei n° parte entidade da administração pública direta ou indireta. (Reda-
14.133, de 2021) ção dada pela Lei n° 10.268, de 28.8.2001)

CAPÍTULO III Coação no curso do processo


DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de
favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou
Reingresso de estrangeiro expulso qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova correspondente à violência.
expulsão após o cumprimento da pena. Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a
metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual.(In-
Denunciação caluniosa cluído pela Lei n° 14.245, de 2021)
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de pro-
cedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo Exercício arbitrário das próprias razões
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi- Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
dade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Redação Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da
dada pela Lei n° 14.110, de 2020) pena correspondente à violência.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se
§ 1° - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve procede mediante queixa.
de anonimato ou de nome suposto. Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria,
§ 2° - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prá- que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou con-
tica de contravenção. venção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Comunicação falsa de crime ou de contravenção
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a Fraude processual
ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verifi- Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo
cado: civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Autoacusação falsa Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em
ou praticado por outrem: dobro.
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

190
CONHECIMENTOS GERAIS

Favorecimento pessoal Patrocínio infiel


Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o
autor de crime a que é cominada pena de reclusão: dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo,
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. lhe é confiado:
§ 1° - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2° - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, côn- Patrocínio simultâneo ou tergiversação
juge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o advogado ou
procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou
Favorecimento real sucessivamente, partes contrárias.
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou
de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do cri- Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
me: Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facili- qualidade de advogado ou procurador:
tar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rá- Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
dio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
(Incluído pela Lei n° 12.012, de 2009). Exploração de prestígio
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra uti-
Lei n° 12.012, de 2009). lidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério
Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou tes-
Exercício arbitrário ou abuso de poder temunha:
Art. 350 - (Revogado pela Lei n° 13.869, de 2019) (Vigência) Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, se o
Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se des-
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente tina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.
presa ou submetida a medida de segurança detentiva:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Violência ou fraude em arrematação judicial
§ 1° - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial;
uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é de reclusão, de afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de
dois a seis anos. violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
§ 2° - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se tam- Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da
bém a pena correspondente à violência. pena correspondente à violência.
§ 3° - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o crime é
praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão
o internado. de direito
§ 4° - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou
ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de três meses a um ano, múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial:
ou multa. Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Evasão mediante violência contra a pessoa CAPÍTULO IV


Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência (INCLUÍDO PELA LEI N° 10.028, DE 2000)
contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena corres- Contratação de operação de crédito
pondente à violência. Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de crédi-
to, interno ou externo, sem prévia autorização legislativa: (Incluído
Arrebatamento de preso pela Lei n° 10.028, de 2000)
Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei n°
quem o tenha sob custódia ou guarda: 10.028, de 2000)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspon- Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, autoriza
dente à violência. ou realiza operação de crédito, interno ou externo: (Incluído pela Lei
n° 10.028, de 2000)
Motim de presos I – com inobservância de limite, condição ou montante estabe-
Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou dis- lecido em lei ou em resolução do Senado Federal; (Incluído pela Lei
ciplina da prisão: n° 10.028, de 2000)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena cor- II – quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o
respondente à violência. limite máximo autorizado por lei. (Incluído pela Lei n° 10.028, de
2000)

191
CONHECIMENTOS GERAIS

Inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar (In- LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE ITABERABA E ALTERA-
cluído pela Lei n° 10.028, de 2000) ÇÕES POSTERIORES
Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar,
de despesa que não tenha sido previamente empenhada ou que ex-
ceda limite estabelecido em lei: (Incluído pela Lei n° 10.028, de 2000) PREÂMBULO
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Incluído
pela Lei n° 10.028, de 2000) Nós, os lídimos representantes do povo itaberabense, consti-
tuídos em Poder Legislativo Orgânico deste Município, reunidos em
Assunção de obrigação no último ano do mandato ou legisla- Câmara Municipal, sob a proteção de Deus, e com as atribuições
tura (Incluído pela Lei n° 10.028, de 2000) previstas no artigo 29 da Constituição Federal, votamos e promul-
Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos gamos a seguinte LEI ORGÂNICA:
dois últimos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatu-
ra, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício financeiro TÍTULO I
ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não te- DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
nha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa: (Incluído
pela Lei n° 10.028, de 2000) CAPÍTULO I
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído pela Lei DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
n° 10.028, de 2000)
Art. 1.º O Município de Itaberaba, pessoa jurídica de direito pú-
Ordenação de despesa não autorizada (Incluído pela Lei n° blico interno, é a unidade territorial que integra a organização po-
10.028, de 2000) lítico administrativa da República Federativa do Brasil, e tem como
Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei: (Incluído fundamentos: (Caput com redação dada pela Emenda n.º 019, de
pela Lei n° 10.028, de 2000) 14-10-2002)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei I– a autonomia;
n° 10.028, de 2000) II– a cidadania;
III– a dignidade da pessoa humana;
Prestação de garantia graciosa (Incluído pela Lei n° 10.028, IV– os valores sociais do trabalho de livre iniciativa;
de 2000) V – o pluralismo político.
Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito sem que Art. 2.º Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
tenha sido constituída contragarantia em valor igual ou superior ao representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição
valor da garantia prestada, na forma da lei: (Incluído pela Lei n° Federal, da Constituição Estadual e desta Lei Orgânica.
10.028, de 2000) Art. 3.º São objetivos fundamentais dos cidadãos deste Municí-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela pio e de seus representantes:
Lei n° 10.028, de 2000) I – assegurar a construção de uma sociedade livre, justa e so-
lidária;
Não cancelamento de restos a pagar (Incluído pela Lei n° II – garantir o desenvolvimento local e regional;
10.028, de 2000) III– contribuir para o desenvolvimento estadual e nacional;
Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de promover o IV– erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
cancelamento do montante de restos a pagar inscrito em valor su- gualdades sociais na área urbana e na área rural;
perior ao permitido em lei: (Incluído pela Lei n° 10.028, de 2000) V– promover o bem de todos, sem preconceitos de origens,
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Incluído raças, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
pela Lei n° 10.028, de 2000) Art. 4.º Além dos direitos e garantias previstas nas Constitui-
ções Federal e Estadual, decorrentes do regime e princípios que
Aumento de despesa total com pessoal no último ano do elas adotam, o Município assegura, por suas leis e pelos atos dos
mandato ou legislatura (Incluído pela Lei n° 10.028, de 2000) seus agentes, os seguintes (Caput com redação dada pela Emenda
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumen- n.º 019, de 14-10-2002)
to de despesa total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao I– qualquer pessoa tem direito de obter providências imediatas
final do mandato ou da legislatura: (Incluído pela Lei n° 10.028, de 2000)) da autoridade, sempre que sofrer ameaça à vida, à liberdade e ao
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei patrimônio;
n° 10.028, de 2000) II– ninguém será prejudicado ao exercício de direito, nem pri-
vado de serviço essencial à saúde, à higiene e à educação, por falta
Oferta pública ou colocação de títulos no mercado (Incluído de recursos financeiros;
pela Lei n° 10.028, de 2000) III– as entidades associativas, legalmente constituídas, serão
Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta pública ou ouvidas pelos Poderes Municipais, na esfera de sua atuação sobre
a colocação no mercado financeiro de títulos da dívida pública sem assuntos de seu peculiar interesse;
que tenham sido criados por lei ou sem que estejam registrados em IV– proteção contra a discriminação em função de raça, cor,
sistema centralizado de liquidação e de custódia: (Incluído pela Lei sexo, idade, classe social, orientação sexual, deficiência física ou
n° 10.028, de 2000) sensorial, convicção político- ideológica, crença e manifestação reli-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei giosa, sendo os infratores passíveis de punição por lei;
n° 10.028, de 2000)

192
CONHECIMENTOS GERAIS

V– as autoridades políticas assegurarão a livre reunião e as ma- CAPÍTULO II


nifestações pacíficas, individuais e coletivas, sem armas, somente DA ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL
intervindo para manter a ordem ou coibir atentado ao direito; (TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA N.º 019, DE 14-10-2002)
VI– a prática de tortura ou coação será objeto de prioritária
prevenção e repressão pelos órgãos municipais competentes; Art. 5.º O Município de Itaberaba, dotado de autonomia políti-
VII– a autoridade policial não divulgará a identidade de pessoas ca, administrativa e financeira, rege-se por esta Lei Orgânica.
suspeita de prática de crime, enquanto não formalmente indiciada; Art. 6.º O território do Município compõe-se de distritos e suas
VIII– a autoridade pública só poderá usar a força estritamente circunscrições urbanas são classificadas em cidade, vilas e povoa-
necessária, sendo puníveis os excessos inclusive disciplinarmente; dos na forma da Lei Estadual.
IX– o cidadão poderá solicitar às autoridades públicas informa- § 1.º - A sede do Município tem o seu nome e tem categoria
ções sobre assuntos ou documentos de interesse público, que de- de cidade enquanto a sede do Distrito tem a categoria de vila.(§ 1.º
vem ser prestadas dentro do prazo de quinze dias; com redação dada pela Emenda n.º 019, de 14-10-2002)
X– qualquer cidadão pode apresentar queixa contra os agentes § 2.º A criação, a organização e a supressão de distritos dar-se-
do Poder Público Municipal, Estadual e Federal, sendo obrigatória a -ão por lei municipal observada a legislação estadual.
apuração dos fatos e das responsabilidades decorrentes; § 3.º Qualquer alteração territorial só pode ser feita, na forma
XI– em razão de denúncia contra agentes do Poder Público, nin- da Lei Complementar Estadual preservando a continuidade e a uni-
guém sofrerá embaraço ou restrição ao exercício de atividade ou a dade histórico-cultural do ambiente urbano, depende de consulta
prática de ato legítimo; prévia às populações interessadas, mediante plebiscito.
XII– O Município promoverá no sentido de assegurar às pesso- Art. 7.º São símbolos do Município a bandeira, o hino e o bra-
as sem teto, local de seguro recolhimento à noite; são.
XIII– o direito de certidão compreende o de obter reprodução Parágrafo único. A lei poderá estabelecer outros símbolos, dis-
integral dos documentos solicitados; pondo sobre o território do Município.
XIV– todas as pessoas têm direito a advogado para defender-se Art. 8.º O dia 26 de março, data oficial, comemorativa da eman-
em processo administrativo, judicial, cabendo ao Município propi- cipação, será feriado em todo o Município.
ciar assistência gratuita aos necessitados na forma da lei;
XV– ninguém será discriminado ou de qualquer modo prejudi- CAPÍTULO III
cado, em virtude de estar em litígio ou haver litigado com os órgãos DA ESTRUTURA ADMINISTRATIVA MUNICIPAL
municipais ou estaduais, na esfera administrativa ou judiciária; (TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA N.º 019, DE 14-10-2002)
XVI– fica assegurado ao consumidor usuário de produtos e ser-
viços comercializados no âmbito do Município a proteção do go- SEÇÃO I
verno municipal que fará adoção das seguintes medidas, além de DOS ÓRGÃOS
outras definidas em lei:
a)fiscalização e controle de qualidade, preços, características Art. 9.º A Estrutura Administrativa do Município de Itaberaba é
dos produtos e serviços comercializados, através de órgão criado composta de órgãos colegiados, de assessoramento e auxiliares:(-
para este fim; Caput com redação dada pela Emenda n.º 019, de 14-10-2002)
b)garantia de assistência jurídica gratuita ao consumidor le- I– órgãos colegiados:
sado por propaganda enganosa, atraso na entrega da mercadoria a)a Comissão de Licitação;
adquirida ou abuso na fixação de preços e alteração na qualidade b)a Comissão Municipal de Avaliação de Imóveis;
do produto; c)a Comissão de Defesa Civil;
c)tornar obrigatória a afixação na embalagem das característi- d)o Conselho Municipal de Educação;
cas dos produtos comercializados, sua composição, preço de fábrica e)o Conselho Municipal de Saúde;
e prazo de validade; f)o Conselho Municipal de Promoção dos Direitos e Defesa da
d)estimular a colaboração de Sindicatos e Associações nas Criança e do Adolescente;
campanhas de conscientização e fiscalização dos direitos do con- g)o Conselho Municipal de Meio Ambiente;
sumidor; h)o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano;
XVII– será assegurado ao servidor público municipal, o direito i)o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural.
de promover reunião ou manifestação pacífica no local de trabalho. II– órgãos de assessoramento:
Parágrafo único. Não será permitido o registro de dados refe- a)o Gabinete do Prefeito;
rentes à convicção filosófica, política ou religiosa, à filiação partidá- b)a Procuradoria Jurídica;
ria ou sindical e aos que digam respeito à vida privada e à intimida- c)a Secretaria de Planejamento e Coordenação;
de pessoal, salvo quando se tratar de processamento estatístico e d)administração de vilas e povoados.(Alínea d acrescida pela
não individualizado. Emenda n.º 001, de 08-12-1993)
III– órgãos auxiliares:
a)a Secretaria de Administração;
b)a Secretaria de Finanças;
c)a Secretaria de Educação e Cultura;
d)a Secretaria de Saúde e Saneamento;
e)a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ambiental e de
Vilas e Povoados;

193
CONHECIMENTOS GERAIS

f)a Secretaria de Obras e Urbanismo.(Inciso III e alíneas a, b, SUBSEÇÃO III


c,d, e “e” f acrescidas pela Emenda n.º 001, de 08-12-1993) DA SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO
IV– órgãos da Administração específica:
a)a Secretaria de Educação e Cultura; Art. 12. À Secretaria de Planejamento e Coordenação compete:
b)a Secretaria de Saúde; I– prestar assessoramento ao Prefeito em matéria de planeja-
c)a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ambiental e de mento, organização, coordenação, controle e avaliação das ativida-
Vilas e Povoados;(Alínea c com redação dada pela Emenda n.º 015, des desenvolvidas pela Prefeitura;
de 30-04-2001) II– elaborar, atualizar e promover a execução dos planos muni-
d)a Secretaria de Obras e Urbanismo; cipais de desenvolvimento, bem como, de elaborar projetos, estu-
e)a Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo.(Alínea e acrescida dos e pesquisas necessários ao desenvolvimento de políticas esta-
pela Emenda n.º 014, de 30-04-2001) belecidas pelo Governo Municipal;
III– promover a realização de programas e fomento à indústria,
SEÇÃO II comércio e todas as atividades produtivas do Município;
DA COMPETÊNCIA DOS ÓRGÃOS IV– a proposição das normas referentes a expansão urbana, sis-
tema viário, zoneamento, loteamento e outros assuntos pertinen-
SUBSEÇÃO I tes ao uso do solo, bem como, a estética urbana e a preservação do
DO GABINETE DO PREFEITO meio ambiente;
V– o estudo, a análise e a fiscalização dos projetos, obras, lotea-
Art. 10. Ao Gabinete do Prefeito compete: mentos urbanos e das normas sobre o uso do solo urbano;
I– a representação política e social do Prefeito e as atividades VI– o desempenho de outras atividades afins.
de relações públicas interna e externa;
II– assistir pessoalmente o Prefeito; SUBSEÇÃO IV
III– preparar, registrar, publicar e expedir os atos do Prefeito; DA SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO
IV– organizar, numerar e manter sob sua responsabilidade, ori-
ginais de leis, decretos, portarias e outros atos normativos perti- Art. 13. À Secretaria de Administração compete:
nentes ao Executivo Municipal; I – executar atividade relativas ao recrutamento, à seleção, à
V– responsabilizar-se pela execução das atividades de expe- avaliação do mérito, aos direitos e deveres, aos registros e controles
diente e apoio Administrativo do Gabinete; funcionais, regime jurídico e responsabilidades dos Servidores Mu-
VI– executar atividades de assessoramento legislativo; nicipais e demais atividades da Administração de pessoal;
VII – divulgar as atividades internas e externas do Prefeito; II– a promoção dos serviços de inspeção de saúde para admis-
VIII – desenvolver atividades de imprensa e relações públicas são de novos servidores;
da Prefeitura; III– promover a realização de licitação para compra de ma-
IX – o desempenho de outras atividades afins. teriais, obras e serviços necessários às atividades da Prefeitura–
executar atividades relativas ao tombamento, registro, inventário,
SUBSEÇÃO II proteção e conservação de bens móveis, imóveis e semoventes da
DA PROCURADORIA JURÍDICA Prefeitura;
IV– executar atividades relativas à padronização, aquisição,
Art. 11. À Procuradoria Jurídica compete: guarda, uso, venda e controle de material utilizado na Prefeitura;
I– representar e defender judicialmente ou extra judicialmente, V– receber, distribuir, controlar o andamento e arquivar os pa-
os direitos e interesses do Município; péis e documentos da Prefeitura;
II– promover a cobrança judicial da dívida ativa do Município VI– fiscalizar o cumprimento dos contratos relativos à presta-
ou de quaisquer outras dívidas que não forem liquidadas nos prazos ção de serviços por terceiros;
legais; VII– administrar e gerenciar atividades relativas ao processa-
III– redigir projetos de leis, justificativas de vetos, de regula- mento de dados da Prefeitura;
mentos, contratos e outros documentos de natureza jurídica; VIII– executar atividades relativas aos serviços de limpeza pú-
IV– assessorar o Prefeito nos atos executivos relativos a desa- blica e beneficiamento do lixo aproveitável;
propriação, alienação e aquisição de imóveis pela Prefeitura e nos IX– conservar, manter e administrar a frota de veículos e má-
contratos em geral; quinas da Prefeitura, bem como, sua guarda, distribuição, controle
V– manter atualizada a coletânea de Leis Municipais, bem de utilização de combustíveis e lubrificantes;
como a Legislação Federal e Estadual de interesse do Município; X– fiscalizar e controlar os serviços públicos ou de utilidade pú-
VI– propiciar assessoramento jurídico aos órgãos da Prefeitura; blica concedidos ou permitidos pelo Município;
VII– o recebimento das citações, intimações e notificações de XII– executar atividades relativas à prestação e manutenção
acordo com a legislação vigente; de serviços públicos locais, tais como: guarda municipal e cemité-
VIII– emitir pareceres sobre questões jurídicas; rios;
IX – o desempenho de outras atividades afins. XIII– promover a Administração dos serviços da estação rodo-
viária do Município;
XIV– administrar os serviços de trânsito e iluminação pública,
no âmbito de sua atuação, em coordenação com órgãos competen-
tes do Estado;

194
CONHECIMENTOS GERAIS

XV– conservar e manter os parques, praças e jardins do Muni- XII– promover atividades de fomento ao turismo do Município;
cípio; XII – o desempenho de outras atividades afins.(Incisos renume-
XI– promover os serviços de portaria, vigilância, conservação rados pela Emenda n.º 001, de 08-12-1993)
e de pequenos reparos em prédios, móveis, instalações e equipa-
mentos da Prefeitura; SUBSEÇÃO VII
XII– o desempenho de outras atividades afins.(Incisos renume- DA SECRETARIA DE SAÚDE E SANEAMENTO
rados pela Emenda n.º 001, de 08-12-1993) (TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA N.º 001, DE 08-12-1993)

SUBSEÇÃO V Art. 16. À Secretaria de Saúde e Saneamento compete:(Caput


DA SECRETARIA DE FINANÇAS com redação dada pela Emenda n.º 001, de 08-12-1993)
I– o desenvolvimento de campanhas e programas de saúde, de
Art. 14. À Secretaria de Finanças compete: medicina preventiva e de vigilância sanitária, com recursos do Mu-
I– executar a política fiscal do Município; nicípio ou convênios entre entidades governamentais;
II– cadastrar, lançar e arrecadar as receitas e rendas do Municí- II– executar programas de assistência médico-odontológica a
pio e exercer a fiscalização tributária; escolares e à comunidade em geral;
III– administrar a dívida ativa do Município; III– manter estreita coordenação com órgãos e entidades de
IV– processar as despesas e manter o registro e os controles saúde do Estado e da União, visando o atendimento dos serviços de
da Administração financeira, orçamentária e patrimonial do Muni- assistência médico-social e defesa sanitária do Município;
cípio; IV– cumprir os princípios constitucionais garantidos à popula-
V– preparar balancetes, bem como, o balanço geral e as presta- ção através do Conselho de Saúde, como o direito e deliberar sobre
ções de contas de recursos transferidos para o Município por outras a política de saúde;(Inciso IV com redação dada pela Emenda n.º
esferas de Governo; 016, de 30-04-2001)
VI– fiscalizar e fazer a tomada de contas dos órgãos da Admi- V– dirigir e fiscalizar a aplicação de recursos provenientes de
nistração centralizada encarregados da movimentação de dinheiro convênios destinados à saúde pública;
e outros valores; VI– a elaboração e execução de programas de assistência às
VII– receber, pagar, guardar e movimentar o dinheiro e outros gestantes, à infância e aos anciãos, bem como, de planejamento
valores do Município familiar;
VIII– o desempenho de outras atividades afins. VII– promover junto à população local, campanhas preventivas
em educação sanitária;
SUBSEÇÃO VI VIII– promover a vacinação em massa da população local atra-
DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA vés de campanhas específicas em casos de surtos epidêmicos;
IX– o desempenho de outras atividades afins.
Art. 15. À Secretaria de Educação e Cultura compete:
I– a Administração dos estabelecimentos de ensino pré-escolar SUBSEÇÃO VIII
e 1.º grau; DA SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, AM-
II– elaborar os planos municipais de educação, de longa e curta BIENTAL E DE VILAS E POVOADOS.
duração, em consonância com as normas e critérios do planejamen- (TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA 015, DE 30-04-2001)
to nacional e estadual na área de educação;
III– executar convênios com o Estado e a União no sentido de Art. 17. À Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ambien-
definir uma política de ação na prestação do ensino pré-escolar, 1.º tal e de Vilas e Povoados compete:(Caput com redação dada pela
e 2.º graus no Município; Emenda 015, de 30-04-2001)
IV– organizar a manutenção do serviço de merenda escolar, de I– elaborar e executar programas e campanhas de caráter eco-
materiais didáticos e outros destinados à assistência ao educando; nômico ambiental e rural com recursos do Município ou de convê-
V– a representação do Município em convênios com a União e nios entre entidades governamentais e não governamentais;(Inciso
o Estado para execução de programas e campanhas de educação; I com redação dada pela Emenda 015, de 30-04-2001)
VI– a fiscalização da aplicação das subvenções e auxílios conce- II– executar em colaboração com entidades públicas e priva-
didos pelo Governo Municipal para finalidades educacionais; das programas de capacitação de mão-de-obra e sua integração ao
VII– a promoção do desenvolvimento das atividades artísticas, mercado de trabalho local;
educacionais e culturais;(Inciso VII com redação dada pela Emenda III– coordenar ações dos órgãos públicos e entidades privadas
n.º 001, de 08-12-1993) na solução dos problemas econômicos e ambientais da comunida-
VIII– proteger o patrimônio artístico, histórico e cultural do Mu- de urbana e rural;(Inciso III com redação dada pela Emenda 015, de
nicípio; 30-04-2001)
IX– fiscalizar a aplicação das subvenções e auxílios concedidos IV– assistir técnica e materialmente as sociedades de bairros e
pelos Governos Federal, Estadual e Municipal para finalidades cul- outras formas de associações que tenham como objetivo a melho-
turais; ria das condições de vida dos habitantes da área periférica;
X – promover e apoiar as práticas esportivas nas escolas e na V– elaborar e executar campanhas que visem a preservação
comunidade; ambiental;(Inciso V com redação dada pela Emenda 015, de 30-04-
XI– a organização e manutenção da biblioteca pública munici- 2001)
pal, do arquivo público, do estádio municipal e de outros serviços
de caráter cultural e esportivo;

195
CONHECIMENTOS GERAIS

VI– Controle irrestrito de todas as ações que visem a ampliação III– promover a construção, pavimentação e conservação de es-
das áreas verdes e a arborização urbana, bem como o refloresta- tradas, vias urbanas, assim como, as obras de saneamento a cargo
mento e a defesa da fauna e da flora do Município;(Inciso VI com do Município;
redação dada pela Emenda 015, de 30-04-2001) IV– promover a execução de trabalhos topográficos, indispen-
VII– fiscalizar e proibir qualquer ação que seja contrária à polí- sáveis às obras e serviços a cargo da Prefeitura;
tica municipal de meio ambiente;(Inciso VII com redação dada pela V– manter atualizada a planta cadastral do Município;
Emenda 015, de 30-04-2001) VI– fiscalizar o cumprimento das normas referentes a
VIII– viabilizar com ações, convênios e parcerias, articulando- construções particulares; loteamento;
-se com órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, VII– fiscalizar o cumprimento das normas referentes a zonea-
quando for o caso, com outros municípios objetivando a solução mento e
dos problemas comuns relativos à proteção ambiental e implemen- VIII – manter o equilíbrio ecológico do Município, executando o
tação da política municipal de meio ambiente.(Inciso VIII com reda- combate à poluição em seus diversos aspectos;
ção dada pela Emenda 015, de 30-04-2001) IX– promover a execução das atividades relativas à urbanização
IX– executar atividades relativas ao abastecimento alimentar e habitação popular no âmbito do Governo Municipal;
do Município;(Inciso IX renumerado pela Emenda 001, de 08-12- X– fiscalizar o cumprimento das normas referentes a posturas
1993) municipais no campo de sua atuação;
X– fomentar a produção agropecuária e demais atividades eco- XI– promover a construção de parques, praças e jardins públi-
nômicas, inclusive artesanal; cos, tendo em vista a estética urbana e a preservação do ambiente
XI– coordenar a elaboração e recomendar a aprovação do Pla- natural;
no Municipal de Desenvolvimento Rural, devidamente compatibili- XII– executar atividades relativas aos serviços de limpeza públi-
zado com as políticas estaduais e federais; ca e beneficiamento do lixo;
XII– participar da elaboração e acompanhar a execução dos XIII– promover o desenvolvimento de programas de sanea-
planos operativos anuais dos diferentes órgãos atuantes no meio mento básico nas articulações com órgãos competentes;(Inciso XIII
rural do Município, integrando as suas ações; com redação alterada pela Emenda n.º 016, de 30-04-2001)
XIII– opinar sobre a aplicação de recursos de qualquer origem XIV– promover a administração dos terminais rodoviários do
destinados ao atendimento da área do Município; Município;
XIV– acompanhar, avaliar e apoiar a execução dos planos e pro- XV– administrar os serviços de trânsito e iluminação pública,
gramas agrícolas em desenvolvimento no Município, apresentando no âmbito de sua atuação, em coordenação com órgãos competen-
sugestões de medidas corretivas ou de ações que possam aumentar tes do Estado;
a sua eficácia; XVI– promover a conservação dos parques, jardins e praças do
XV– incentivar e apoiar a microempresa e à empresa de peque- Município; XVII – o desempenho de outras atividades afins.(Incisos
no porte na criação de associações de interesse econômico, com a XII, XIII, XIV, XV e XVI acrescentados pela Emenda n.º 001, de 08-
finalidade de aprimorar a condição de exercício e os resultados das 12-1993)
respectivas atividades econômicas;
XVI– o desempenho de outras atividades afins. CAPÍTULO IV
XVII– coordenação e indicação juntamente com o Sr. prefeito DOS BENS MUNICIPAIS
municipal da política de infra-estrutura rural, bem como os repre-
sentantes regionais, administradores distritais e de povoados;(Inci- Art. 19. São bens municipais:
so XVII com redação dada pela Emenda 015, de 30-04-2001) I– bens móveis e imóveis de seu domínio pleno, direto ou útil;
XVIII– criar, coordenar e presidir os Conselhos Distritais e Re- II– direitos e ações que a qualquer título pertençam ao Muni-
gionais que implementarão as ações e políticas de infra-estrutura, cípio;
concernentes às suas respectivas regiões;(Inciso XVII com redação III– águas fluentes emergentes e em depósito, localizadas ex-
dada pela Emenda 015, de 30-04-2001) clusivamente em seu território;
XIX– coordenar, viabilizar e dar assistência técnica à criação e IV– renda proveniente do exercício de suas atividades e da
manutenção das associações e cooperativas rurais;(Inciso XIX com prestação de serviços.
redação dada pela Emenda 015, de 30-04-2001) § 1.º Os bens imóveis de domínio municipal, conforme sua des-
XX– O desempenho de outras atividades afins.(Inciso XX com tinação, são de uso comum ao povo, de uso especial ou dominiais.
redação dada pela Emenda 015, de 30-04-2001) § 2.º O Município tem direito à participação no resultado da
exploração de recursos hídricos para fins de geração de energia elé-
SUBSEÇÃO IX trica e de recursos minerais de seu território.
DA SECRETARIA DE OBRAS E URBANISMO Art. 20. A aquisição de bens imóveis, por compra ou permuta,
dependerá de prévia avaliação e de autorização legislativa.
Art. 18. À Secretaria de Obras e urbanismo compete: Art.21. Os bens municipais serão identificados e cadastrados.
I– executar atividades concernentes à construção e conserva-
ção de obras públicas municipais e instalações para prestação de
serviços à comunidade;
II– promover atividades relativas à elaboração de projetos e
obras públicas municipais e do respectivo orçamento;

196
CONHECIMENTOS GERAIS

TÍTULO II XVII– amparar, de modo especial, os idosos, as crianças, os


DA COMPETÊNCIA MUNICIPAL adolescentes e portadores de deficiências;(Inciso XVII com redação
dada pela Emenda n.º 019, de 22-10-2002)
Art. 22. Compete ao Município: XVIII – realizar programas de apoio às práticas desportivas; XIX
I– elaborar e promulgar sua Lei Orgânica e administrar seu Pa- – realizar programas de alfabetização;
trimônio;(Inciso I com redação dada pela Emenda n.º 019, de 22- XX– realizar atividades de defesa civil, inclusive a de combate a
10-2002) incêndios e prevenção de acidentes naturais em coordenação com
II– legislar sobre assuntos de interesse local e elaborar Plano a União e o Estado;
Plurianual para aprovação do Legislativo;(Inciso II com redação XXI– promover, no que couber, adequado ordenamento ter-
dada pela Emenda n.º 019, de 22-10-2002) ritorial, mediante planejamento e controle do parcelamento e da
III– suplementar a legislação federal e a estadual, no que cou- ocupação do solo urbano;
ber; XXII– elaborar e executar com a participação das associações
IV– instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem representativas da comunidade o plano diretor como instrumento
como, aplicar as suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana;
prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; XXIII– planejar e promover a defesa permanente contra as ca-
V– criar, organizar e suprimir distritos, observando o disposto lamidades públicas;
nesta Lei Orgânica e na legislação estadual pertinente; XXIV– estimular a participação popular na formulação de polí-
VI– instituir a guarda municipal destinada à proteção de seus ticas públicas e sua ação governamental, estabelecendo programas
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei; de incentivo a projetos de organização comunitária nos campos so-
VII– instituir quadro, planos de carreira e o regime dos servido- cial e econômico, cooperativas de produção e mutirões;
res públicos, na forma da lei federal;(Inciso VII com redação dada XXV– legislar sobre licitação e contratação em todas as mo-
pela Emenda n.º 019, de 22-10-2002) dalidades para administração pública municipal, direta e indireta,
VIII– organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces- inclusive as fundações públicas municipais e em empresas sob seu
são ou permissão, entre outros, os seguintes serviços: controle, respeitadas as normas gerais de legislação federal;
a)transporte coletivo urbano e intermunicipal, que terá caráter XXVI– participar da gestão regional na forma que dispuser a Lei
essencial; Estadual;
b)abastecimento de água e esgotos sanitários; XXVII– organizar e manter os serviços de fiscalização necessá-
c)mercados, feiras e matadouros locais; rios ao exercício do seu poder de polícia administrativa;
d)cemitérios e serviços funerários; XXVIII– fiscalizar nos locais de venda, peso, medidas e condi-
e)limpeza pública, coleta domiciliar e destinação final do lixo; ções sanitárias dos gêneros alimentícios observada a legislação fe-
f)iluminação pública. deral pertinente;
IX- prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e XXIX– dispor sobre o depósito e venda de animais e merca-
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população, inclusive dorias apreendidas em decorrência de transgressão da legislação
assistência nas emergências médico-hospitalares e pronto-socorro municipal;
com recursos próprios ou mediante convênio com entidade espe- XXX– dispor sobre registros, guarda, vacinação e captura de
cializada e manter com a colaboração técnica e financeira da União animais, com a finalidade precípua de controlar e erradicar molés-
e do Estado da Bahia programas de Educação pré-escolar e de ensi- tias de que possam ser portadores ou transmissores;
no fundamental;(Inciso IX com redação dada pela Emenda n.º 019, XXXI– disciplinar os serviços de cargas e descargas, bem como
de 22-10-2002) fixar a tonelagem máxima permitida a veículos que circulem em
X– promover a proteção do patrimônio histórico, cultural, ar- vias públicas municipais, inclusive nas vicinais cuja conservação seja
tístico, turístico e paisagístico local, observada a legislação e a ação de sua competência;
fiscalizadora federal e estadual; XXXII– adquirir bens, inclusive através de desapropriação por
XI– atuar em cooperação com a União e o Estado visando coibir necessidade e utilidade pública e social;(Inciso XXXII com redação
a exigência de atestado de esterilização e de teste de gravidez como dada pela Emenda n.º 019, de 22-10-2002)
condição para admissão ou permanência no trabalho; XXXIII– assegurar a expedição de certidões, quando requeridas
XII– promover a cultura e a recreação; às repartições municipais, para defesa de direitos e esclarecimentos
XIII– promover, em cooperação com os Governos Estadual e de situações, no prazo de quinze dias;(Inciso XXXIII com redação
Federal, o desenvolvimento de seu meio rural, através de planos e dada pela Emenda n.º 019, de 22-10-2002)
ações que levem ao aumento de renda proveniente das atividades XXXIV– zelar pela guarda da Constituição Federal, da Constitui-
agropecuárias, à maior geração de empregos produtivos e à melho- ção Estadual e das leis destas esferas de Governo, das instituições
ria da qualidade de vida de sua população; democráticas e conservar o patrimônio público;
XIV– preservar as florestas, a fauna e a flora; XXXV– executar obras de:
XV– instituir, executar e apoiar programas educacionais e cul- a)abertura, pavimentação e conservação de vias;
turais que propiciem o pleno desenvolvimento da criança e do ado- b)drenagem pluvial;
lescente; c)construção e conservação de estradas, parques, jardins e hor-
XVI– realizar serviços de assistência social, diretamente ou por tos florestais
meio de instituições privadas, conforme critérios e condições fixa- d)construção e conservação de estradas vicinais;
das em lei municipal; e)edificação e conservação de prédios públicos municipais.
XXXVI– fixar:
a)tarifas dos serviços públicos, inclusive dos serviços de táxis;

197
CONHECIMENTOS GERAIS

b)horário de funcionamento dos estabelecimentos industriais, CAPÍTULO II


comerciais e de serviços; DO PODER LEGISLATIVO
XXXVII– sinalizar as vias públicas urbanas e rurais;
XXXVIII– regulamentar a utilização de vias e logradouros públi- SEÇÃO I
cos; XXXIX – conceder, renovar e cassar licença para: DA CÂMARA MUNICIPAL
a)localização,instalaçãoefuncionamentodeestabelecimentos
industriais, comerciais e de serviços; Art. 27. O Poder Legislativo é exercido pela Câmara Municipal,
b)afixação de cartazes, letreiros, anúncios, faixas, emblemas e composta de Vereadores, eleitos para cada legislatura entre cida-
utilização de auto-falantes e carros de som para fins de publicidade dãos maiores de dezoito anos, no exercício dos direitos políticos,
e propaganda;(Alínea b com redação dada pela Emenda n.º 019, de pelo voto direto e secreto.
22-10-2002) Parágrafo único. Cada legislatura terá duração de quatro anos.
c)exercício do comércio eventual ou ambulante; Art. 28. O número de Vereadores será fixado pela Câmara Mu-
d)realização de jogos, espetáculos e divertimentos públicos, nicipal observados os limites estabelecidos na Constituição Federal
observadas as prescrições legais; e as seguintes normas:
e)prestação de serviços de transporte.(Alínea e com redação I– o número de habitantes a ser utilizado como base de cálculo
dada pela Emenda n.º 019, de 22-10-2002) do número de Vereadores será aquele fornecido, mediante certi-
Art. 23. Além das competências previstas no artigo anterior e dão, pela fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
no artigo 59 da Constituição Estadual, o Município atuará em coo- IBGE;
peração com a União e o Estado para o exercício das competências II– o número de Vereadores será fixado, mediante decreto le-
enumeradas no artigo 23 da Constituição Federal, desde que as gislativo, até o final da sessão legislativa do ano que anteceder as
condições sejam de interesse do Município. eleições;
Art. 24. Além de outros casos previstos nesta Lei Orgânica, ao III– a Mesa da Câmara enviará ao Tribunal Regional Eleitoral,
Município é vedado: logo após sua edição, cópia do decreto legislativo de que trata o
I– estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, em- inciso anterior.
baraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles os seus repre- Art. 29. Salvo disposição em contrário desta Lei Orgânica, as
sentantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma deliberações da Câmara Municipal e de suas Comissões serão to-
da Lei, a colaboração de interesse público; madas por maioria de votos, podendo ser maioria simples, maioria
II– recusar fé aos documentos públicos; absoluta ou quorum qualificado de 2/3 dos membros da Câmara,
III– criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si; de acordo a natureza da matéria.(Caput com redação dada pela
IV– permitir ou fazer uso de bens de seu patrimônio como meio Emenda 018, de 20-12-2001)
de propaganda político-partidária; Art. 30. A Câmara poderá consorciar-se com outras Câmaras
V– subvencionar ou auxiliar, de qualquer forma, com recursos ou estabelecer convênios para prover a seguridade social dos Ve-
públicos, quer pela imprensa, rádio, televisão, serviço de auto-fa- readores.
lante, cartazes, anúncios ou outro meio de comunicação, propagan-
da político-partidária ou a que se destinar a campanhas ou objeti- SEÇÃO II
vos estranhos à administração e ao interesse público. DA POSSE

TÍTULO III Art. 31. A Câmara Municipal reunir-se-á em sessão preparató-


DO GOVERNO MUNICIPAL ria, a partir de 1.º de janeiro do primeiro ano da legislatura, para a
posse de seus membros.
CAPÍTULO I § 1.º Sob a presidência do Vereador que mais recentemente
DOS PODERES MUNICIPAIS tenha exercido cargo na Mesa, ou, na hipótese de inexistir tal si-
tuação, do mais votado entre os presentes, os demais Vereadores
Art. 25. O Governo Municipal é constituído pelos Poderes Le- prestarão compromisso e tomarão posse, cabendo ao Presidente
gislativo e Executivo, independentes e harmônicos entre si. prestar o seguinte compromisso:
Parágrafo único. É vedada aos Poderes Municipais a delegação “Prometo cumprir a Constituição Federal, a Constituição Esta-
recíproca de atribuições, salvo nos casos previstos nesta Lei Orgâ- dual e a Lei Orgânica Municipal, observar as leis, desempenhar o
nica. mandato que me foi confiado e trabalhar pelo progresso do Municí-
Art. 26. O Município objetivando integrar a organização, pla- pio e bem estar de seu povo”.
nejamento e a execução de funções públicas de interesse regional § 2.º Prestado o compromisso pelo Presidente, o Secretário
comum, pode associar-se aos demais Municípios limítrofes e ao Es- que for designado para esse fim fará a chamada nominal de cada
tado, para formar a região administrativa. Vereador, que declarará:
Parágrafo único. O Município poderá mediante autorização de “Assim o prometo”.
lei municipal, celebrar convênios, consórcios, contratos com outros § 3.º O Vereador que não tomar posse na sessão prevista neste
Municípios, com instituições públicas ou privadas ou entidades re- artigo deverá fazê-lo no prazo de quinze dias, salvo motivo justo
presentativas da comunidade para planejamento, execução de pro- aceito pela Câmara Municipal.
jetos, leis, serviços e decisões. § 4.º No ato da posse, os Vereadores deverão desincompatibi-
zar-se e fazer declaração de seus bens, repetida quando do término
do mandato, sendo ambas transcritas em livro próprio, resumidas
em ata e divulgadas para o conhecimento do público.

198
CONHECIMENTOS GERAIS

SEÇÃO III XIV– guarda municipal destinada a proteger bens, serviços e


DAS ATRIBUIÇÕES DA CÂMARA MUNICIPAL instalações doMunicípio;
XV– ordenamento, parcelamento, uso e ocupação do solo ur-
Art. 32. Cabe à Câmara Municipal, com a sanção do Prefeito, bano;
legislar sobre as matérias de competência do Município, especial- XVI – organização e prestação de serviços públicos;
mente no que se refere ao seguinte: XVII – normatização da cooperação das associações represen-
I– a assuntos de interesse local, inclusive suplementando a le- tativas no planejamento municipal e de outras formas de participa-
gislação federal e a estadual, notadamente no que diz respeito: ção popular na gestão municipal;
a)à saúde, à assistência pública e à proteção e garantia das pes- XVIII – criação, estruturação e definição de competências das
soas portadoras de deficiência; Secretarias Municipais e Órgãos da Administração Pública direta e
b)à proteção de documentos, obras e outros bens de valor his- indireta.
tórico, artístico e cultural, como os monumentos, as paisagens na- Art. 33. Compete à Câmara Municipal, privativamente, entre
turais notáveis e os sítios arqueológicos do Município; outras, as seguintes atribuições:
c)impedir a evasão, destruição e descaracterização de obras de I– elaborar o seu Regimento Interno;
arte e outros bens de valor histórico, artístico e cultural do Muni- II– eleger sua Mesa Diretora bem como destituí-la na forma
cípio; desta Lei Orgânica e do Regimento Interno;
d)à proteção ao meio ambiente e ao combate à poluição; III– fixar a remuneração do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos
e)à abertura de meios de acesso à cultura, à educação e à ci- Vereadores observando-se o disposto no inciso V do artigo 29 da
ência; Constituição Federal e o estabelecido nesta Lei Orgânica;
f)ao incentivo à indústria e ao comércio; IV– exercer, com o auxílio do Tribunal de Contas dos Municí-
g)à criação de distritos industriais; pios, a fiscalização financeira, orçamentária, operacional e patrimo-
h)ao fomento da produção agropecuária e à organização do nial do Município;
abastecimento alimentar; V– julgar as contas anuais do Município e apreciar os relatórios
i)à promoção de programas de construção de moradias, melho- sobre a execução dos planos de governo;
rando as condições habitacionais e de saneamento básico; VI– sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbi-
j)ao combate às causas da pobreza e aos fatores de marginali- tem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
zação, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; VII– dispor sua organização, funcionamento, política, criação,
k)ao registro, ao acompanhamento e à fiscalização das conces- transformação ou extinção de cargos, empregos e funções de seus
sões de pesquisa e exploração dos recursos hídricos e minerais em serviços e fixar a respectiva remuneração;
seu território; VIII– autorizar o Prefeito e Vice-Prefeito a se ausentarem do
l)ao estabelecimento e à implantação da política de educação Município, quando a ausência exceder a quinze dias;
para o trânsito; IX– mudar temporariamente a sua sede;
m)à cooperação com a União e o Estado, tendo em vista o equi- X– fiscalizar e controlar, diretamente, os atos do Poder Executi-
líbrio do desenvolvimento e do bem estar, atendidas as normas fixa- vo, incluídos os da Administração indireta fundacional;
das em Lei Complementar Federal; XI– proceder à tomada de contas do Prefeito Municipal, quan-
n)ao uso e ao armazenamento dos agrotóxicos, seus compo- do não apresentadas à Câmara Municipal dentro do prazo de ses-
nentes e afins senta dias após a abertura da sessão legislativa;
o)às políticas públicas do Município; XII– processar e julgar os Vereadores, na forma desta Lei Or-
II– tributos municipais, bem como autorizar isenções e anistias gânica;
fiscais e a remissão de dívidas; XIII– representar ao Procurador Geral da Justiça, mediante
III– orçamento anual, plano plurianual e diretrizes orçamentá- aprovação de dois terços dos seus membros, contra o Prefeito, o
rias, bem como autorizar a abertura de créditos suplementares e Vice-Prefeito e Secretários Municipais ou ocupantes de cargos da
especiais; mesma natureza, pela prática de crime contra a Administração pú-
IV– obtenção e concessão de empréstimos e operações de cré- blica que tiver conhecimento;
dito, bem como sobre a forma e os meios de pagamento; XIV– dar posse ao Prefeito e ao Vice-Prefeito, conhecer de sua
V– concessão e permissão de serviços públicos; renúncia e afastá-los definitivamente do cargo, nos termos previs-
VI – concessão de auxílio e subvenções; tos em lei;
VII – concessão de direito real de uso de bens municipais; XV– conceder licença ao Prefeito, ao Vice-Prefeito e aos Verea-
VIII – alienação e concessão de bens imóveis; dores para afastamento do cargo;
IX– aquisição de bens imóveis, quando se tratar de doação; XVI– criar comissões especiais de inquéritos sobre fato deter-
X– criação, organização e supressão de distritos, observada a minado que se inclua na competência da Câmara Municipal, sem-
legislação estadual; pre que o requerer pelo menos um terço dos membros da Câmara;
XI– criação, alteração e extinção de cargos, empregos e funções XVII– deliberar sobre o adiamento e suspensão de suas reuni-
públicas e fixação da respectiva remuneração; ões;
XII– planos e programas municipais de desenvolvimento, inclu- XVIII– promover periodicamente a consolidação dos textos le-
sive plano diretor urbano; gislativos, com finalidade de tornar acessível ao cidadão a consulta
XIII– proposição e alteração da denominação de nomes pró- às leis;
prios, de vias e logradouros públicos, vedada homenagem a pes- XIX– autorizar referendo e convocar plebiscito;
soas vivas;

199
CONHECIMENTOS GERAIS

XX– decidir sobre a perda de mandato de Vereador, por voto II– a segunda via deverá ser anexada às contas à disposição do
aberto nominativo da maioria absoluta, nas hipóteses previstas público pelo prazo que restar ao exame e apreciação;
nesta Lei Orgânica;(Inciso XX com redação dada pela Emenda n.º III– a terceira via se constituirá em recibo do reclamante e de-
007, de 09-12-1997) verá ser autenticada pelo servidor que receber no protocolo;
XXI– conceder título honorífico a pessoas que tenham reco- IV– a quarta via será arquivada na Câmara Municipal.
nhecidamente prestados serviços ao Município, mediante decreto § 5.º A anexação da segunda via, de que trata o inciso II do §
legislativo aprovado pela maioria de dois terços de seus membros; 4.º deste artigo, independerá de despacho de qualquer autoridade
XXII– aprovar, previamente, por voto aberto nominativo, após e deverá ser feita no prazo de quarenta e oito horas pelo servidor a
arguição pública, a escolha de titulares, de cargos e membros de que tenha recebido no protocolo da Câmara sob pena de suspensão
Conselho que a lei determinar;(Inciso XXII com redação dada pela sem vencimentos pelo prazo de quinze dias.
Emenda n.º 008, de 09-12-1997) Art. 35. A Câmara Municipal enviará ao reclamante cópia da
XXIII– solicitar intervenção do Estado no Município para asse- correspondência que encaminhou ao Tribunal de Contas dos Mu-
gurar o livre funcionamento da Instituição; nicípios.
XXIV– editar decretos legislativos e resoluções que serão regu-
lados no Regimento Interno da Câmara Municipal; SEÇÃO V
XXV– conhecer do veto e sobre ele deliberar; DA REMUNERAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS
XXVI– autorizar convênios, convenções ou acordos a serem ce-
lebrados pelo Executivo Municipal com entidades de direito público Art. 36. Os subsídios do prefeito, do vice-prefeito e secretários
ou privado e aprovar sob pena de nulidade, os que, por motivo de municipais serão fixados pela Câmara Municipal, anualmente, atra-
urgência ou de interesse público, forem efetivados sem autorização, vés de projeto de lei, observando o disposto na Constituição Fede-
a serem encaminhados nos dez dias subsequentes a sua celebração; ral.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 013, de 08-12-1999)
XXVII– processar e julgar o Prefeito, o Vice-Prefeito e os Secre- Art. 37. Os subsídios dos vereadores serão fixados por lei de ini-
tários Municipais nos crimes de responsabilidades; ciativa da Câmara Municipal, na razão de, no máximo, 75% (setenta
XXVIII– convocar o Secretário do Município ou a autoridade e cinco por cento) daquele estabelecido em espécie para os deputa-
equivalente para prestar esclarecimentos, designando dia e hora dos estaduais, respeitando o parâmetro de 5% (cinco por cento) da
para o comparecimento, importando a ausência sem justificação receita do Município, observando o disposto na Constituição Fede-
adequada crime de responsabilidade, punível na forma da lei; ral.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 013, de 08-12-1998)
XXIX– solicitar informações ao Prefeito, a Secretário do Municí- § 1.º O subsídios de que se trata este artigo será atualizado
pio, ou a autoridade equivalente, importando crime de responsabi- anualmente, mediante projeto de lei de iniciativa do Poder Legisla-
lidade a recusa ou o não atendimento no prazo de quinze dias, bem tivo.(§ 1º com redação dada pela Emenda n.º 013, de 08-12-1998)
como, a prestação de informações falsas; § 2.º o subsídio dos agentes políticos, prefeito, vice-prefeito,
XXX– ouvir Secretários do Município ou autoridades equivalen- vereadores, secretários municipais terá um único valor específico.(§
tes, quando, por sua iniciativa e mediante entendimentos prévios 2º com redação dada pela Emenda n.º 013, de 08-12-1998)
com a Mesa, comparecerem à Câmara Municipal para expor assun- § 3.º - os subsídios do prefeito e do vice-prefeito serão fixados
tos de relevância da Secretaria ou do Órgão da Administração que por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõe
forem titulares; os artigos 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I, da Constituição
XXXI– zelar pela preservação de sua competência legislativa em Federal.(§ 3º com redação dada pela Emenda n.º 019, de 14-10-
face da atribuição normativa do Poder Executivo. 2002)
§ 4.º o subsídio do vice-prefeito não poderá, em nenhuma hi-
SEÇÃO IV pótese, ultrapassar a 50% (cinqüenta por cento) do que percebe o
DO EXAME PÚBLICO DAS CONTAS MUNICIPAIS prefeito.(§ 4º com redação dada pela Emenda n.º 013, de 08-12-
1998)
Art. 34. As contas do Município ficarão à disposição dos cida- § 5.º os subsídios dos secretários municipais, em nenhuma hi-
dãos durante sessenta dias, a partir de 15 de abril de cada exercício, pótese, poderá ultrapassar a 75% (setenta e cinco por cento) do que
no horário de funcionamento da Câmara Municipal, em local de fá- percebe o vereador.(§ 5º com redação dada pela Emenda n.º 013,
cil acesso ao público. de 08-12-1998)
§ 1.º A consulta às contas municipais poderá ser feita por qual- § 6.º o subsídio do presidente da Câmara será diferenciado dos
quer cidadão, independente de requerimento, autorização ou des- demais vereadores na razão de 80% (oitenta por cento).(§ 6º com
pacho de qualquer autoridade. redação dada pela Emenda n.º 013, de 08-12-1998)
§ 2.º A consulta poderá ser feita no recinto da Câmara e haven- Art. 38. (suprimido).(Caput suprimido pela Emenda n.º 013, de
do pelo menos três cópias à disposição do público. 08-12-1998)
§ 3.º A reclamação apresentada deverá: Art. 39. O vereador poderá receber por sessões extraordinária,
I– ter a identificação e a qualificação de reclamante; desde que o valor não seja superior ao subsídios mensal, ressal-
II– ser apresentada em quatro vias no protocolo da Câmara; tando-se que a soma dos recebimentos não ultrapasse os limites
III– conter elementos e provas nas quais se fundamenta o re- constitucionais.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 013, de
clamante. 08-12-1998)
§ 4.º As vias da reclamação apresentadas no protocolo da Câ- Art. 40. Fica permitida a revisão dos subsídios dos agentes polí-
mara terão a seguinte destinação: ticos, uma vez por ano, sempre na mesma data, através de lei espe-
I– a primeira via deverá ser encaminhada pela Câmara ao Tribu- cífica e sem que haja distorção de índices.(Caput com redação dada
nal de Contas dos Municípios, mediante ofício; pela Emenda n.º 013, de 08-12-1998)

200
CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 41. A lei fixará critériosde indenização de despesas de via- SEÇÃO VIII
gem do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores. DAS SESSÕES
Parágrafo único. A indenização de que trata este artigo não será
considerada como remuneração. Art. 44. A sessão legislativa anual desenvolve-se de 15 de feve-
reiro a 30 de junho e de 1.º de agosto a 15 de dezembro, indepen-
SEÇÃO VI dentemente de convocação.
DA ELEIÇÃO DA MESA § 1.º As reuniões marcadas para as datas estabelecidas no
caput serão transferidas para o primeiro dia útil subsequente quan-
Art. 42. Imediatamente após a posse, os Vereadores reunir-se- do recaírem em sábados, domingos ou feriados.
-ão sob a presidência do Vereador que mais recentemente tenha § 2.º A Câmara Municipal reunir-se-á em sessões ordinárias,
exercido cargo na Mesa ou, na hipótese de inexistir tal situação, do extraordinárias, solenes e secretas, conforme dispuser o seu Regi-
mais votado entre os presentes e, havendo maioria absoluta dos mento Interno, e as renumerará de acordo com o estabelecido nes-
membros da Câmara, elegerão os componentes da Mesa, que fica- ta Lei Orgânica e na legislação específica.
rão automaticamente empossados. § 3.º Não poderá ser realizada mais de uma sessão ordinária
§ 1.º Na hipótese de não haver número suficiente para eleição por dia.
da Mesa, o Vereador que mais recentemente tenha exercido cargo § 4.º A sessão legislativa não será interrompida sem aprovação
na Mesa ou, na hipótese de inexistir tal situação, o mais votado en- dos projetos de lei relativos às diretrizes orçamentárias e ao orça-
tre os presentes permanecerá na Presidência e convocará sessões mento anual.
diárias, até que seja eleita a Mesa. Art. 45. As sessões da Câmara Municipal deverão ser realizadas
§ 2.º A eleição para renovação da Mesa realizar-se-á obrigato- em recinto destinado ao seu funcionamento, considerando-se nulas
riamente na última sessão ordinária da sessão legislativa, empos- as que se realizarem fora dele.
sando-se os eleitos em 1.º de janeiro. § 1.º Comprovada a impossibilidade de acesso àquele recinto
§ 3.º Caberá ao Regimento Interno da Câmara Municipal dispor ou outra causa que impeça a sua utilização, poderão ser realizadas
sobre a composição da Mesa Diretora e, subsidiariamente, sobre a sessões em outro local, por decisão do Presidente da Câmara.
sua eleição. § 2.º As sessões solenes poderão ser realizadas fora do recinto
§ 4.º Qualquer componente da Mesa poderá ser destituído, da Câmara.
pelo voto direto de dois terços dos membros da Câmara Municipal, Art. 46. As sessões da Câmara serão públicas, salvo deliberação
quando faltoso, omisso ou ineficiente no desempenho de suas atri- em contrário pela maioria absoluta de seus membros, quando ocor-
buições, devendo o Regimento Interno da Câmara Municipal dispor rer motivo relevante de preservação do decoro parlamentar.
sobre o processo de destituição e sobre a substituição do membro Art. 47. As sessões somente poderão ser abertas pelo Presi-
destituído. dente da Câmara ou por outro membro da Mesa com a presença
mínima de um terço de seus membros.
SEÇÃO VII Parágrafo único. Considerar-se-á presente à sessão o Vereador
DAS ATRIBUIÇÕES DA MESA que assinar o livro ou as folhas de presença até o início da ordem do
dia e participar das votações.
Art. 43. Compete à Mesa da Câmara Municipal, além de outras Art. 48. A convocação extraordinária da Câmara Municipal dar-
atribuições estipuladas no Regimento Interno: -se-á:
I– encaminhar, para parecer prévio, a prestação de contas do I – pelo Prefeito Municipal, quando este entender necessária;
Município ao Tribunal de Contas dos Municípios; II– pelo Presidente da Câmara;
II– propor ao Plenário projetos de resolução que criem, trans- III– a requerimento da maioria absoluta dos membros da Câ-
formem e extingam cargos, empregos ou funções da Câmara Muni- mara;
cipal, bem como a fixação da respectiva remuneração, observadas IV– pela Comissão Representativa da Câmara conforme previs-
as determinações legais; to no inciso V do artigo 51 desta Lei Orgânica.
III– declarar a perda de mandato de Vereador, de ofício ou por Parágrafo único. Na sessão legislativa extraordinária, a Câmara
provocação de qualquer dos membros da Câmara, nos casos previs- Municipal deliberará somente sobre a matéria para a qual foi con-
tos nos incisos I a VIII do artigo 60 desta Lei Orgânica, assegurada vocada.
ampla defesa, nos termos do Regimento Interno;
IV– elaborar e encaminhar ao Prefeito, até o dia 31 de agosto, SEÇÃO IX
após aprovação pelo Plenário, a proposta parcial do orçamento da DAS COMISSÕES
Câmara, para ser incluída na proposta geral do Município, preva-
lecendo, na hipótese de não aprovação pelo Plenário, a proposta Art. 49. A Câmara Municipal terá Comissões Permanentes e
elaborado pela Mesa. Especiais, constituídas na forma e com as atribuições definidas no
Parágrafo único. A Mesa decidirá sempre por maioria de seus Regimento Interno ou no ato de que resultar a sua criação.
membros. § 1.º Em cada Comissão será assegurada, tanto quanto possí-
vel, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parla-
mentares que participam da Câmara.
§ 2.º As Comissões, em razão da matéria de sua competência,
cabe:
I – discutir e oferecer parecer a projetos de lei na forma do
Regimento;

201
CONHECIMENTOS GERAIS

II – realizar audiências públicas com entidades da sociedade SEÇÃO X


civil; DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL
III– convocar Secretários Municipais ou ocupantes de cargos da
mesma natureza para prestar informações sobre assuntos inerentes Art. 53. Compete ao Presidente da Câmara, além de outras atri-
às suas atribuições; buições estipuladas no Regimento Interno:
IV– receber petições, reclamações, representações ou queixas I– representar a Câmara Municipal;
de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou II– dirigir, executar e disciplinar os trabalhos legislativos e admi-
entidades públicas; nistrativos da Câmara
V– solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão; III– interpretar e fazer cumprir o Regimento Interno;
VI– apreciar programas de obras e planos e, sobre eles emitir IV– promulgar as resoluções e os decretos legislativos, bem
parecer; como as leis que receberem sanção tácita e as cujo veto tenha sido
VII- acompanhar junto à Prefeitura Municipal a elaboração da rejeitado pelo Plenário e não tenha sido promulgadas pelo Prefeito
proposta orçamentária, bem como sua posterior execução; Municipal;
VIII – exercer a fiscalização dos atos do Executivo e da adminis- V– fazer publicar os atos da Mesa, bem como as resoluções, os
tração indireta. decretos legislativos e as leis por ele promulgadas;
Art. 50. As Comissões especiais de inquérito, que terão poderes VI– declarar extinto o mandato do Prefeito, do Vice-Prefeito e
de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros dos Vereadores, nos casos previstos em lei;
previstos no Regimento Interno, serão criados pela Câmara median- VII– apresentar ao Plenário, até o dia vinte de cada mês, o ba-
te requerimento de um terço de seus membros, para apuração de lanço relativo aos recursos recebidos e às despesas realizada no
fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o mês anterior;
caso, encaminhadas ao Ministério Público para que este promova a VIII– requisitar o numerário destinado às despesas da Câmara;
responsabilidade civil ou criminal dos infratores. IX– exercer, em substituição, a chefia do Executivo Municipal
Parágrafo único. Por iniciativa da maioria dos membros da Co- nos casos previstos em lei;
missão, poderá ser requisitada a presença do Representante do Mi- X– designar Comissões Especiais nos termos regimentais, ob-
nistério Público, em todos os trâmites da investigação, sendo-lhe servadas as indicações partidárias;
facultado, formular indagações dos interrogados e testemunhas, XI– mandar prestar informações por escrito e expedir certidões
bem assim pleitear medidas de caráter probatório. requeridas para a defesa de direitos e esclarecimentos de situações;
Art. 51. Ao término de cada sessão legislativa a Câmara elegerá, XII– realizar audiências públicas com entidades da sociedade
dentre os seus membros, em voto aberto e nominal, uma Comissão civil e com membros da comunidade;
representativa, cuja composição reproduzirá, tanto quanto possí- XIII– administrar os serviços da Câmara Municipal, fazendo la-
vel, a proporcionalidade da representação partidária ou dos blocos vrar os atos pertinentes a essa área de gestão.
parlamentares na Casa, que funcionará nos interregnos das sessões Art. 54. O Presidente da Câmara, ou quem o substituir somente
legislativas ordinárias, com as seguintes atribuições:(Caput com re- manifestará o seu voto nas seguintes hipóteses:
dação dada pela Emenda n.º 003, de 09-12-1997) I– na eleição da Mesa Diretora;
I– reunir-se ordinariamente uma vez por semana e, extraordi- II– quando a matéria exigir, para sua aprovação, o voto favorá-
nariamente, sempre que convocada pelo Presidente; vel de dois terços, ou da maioria absoluta dos membros da Câmara;
II– zelar pelas prerrogativas do Poder Legislativo; III– quando ocorrer empate em qualquer votação no Plenário.
III– zelar pela observância da Lei Orgânica e dos direitos e ga-
rantias individuais; SEÇÃO XI
IV– autorizar o Prefeito a afastar-se do Município por mais de DO VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL
quinze dias, observado o disposto no inciso VIII do artigo 33;
V– convocar extraordinariamente a Câmara em caso de urgên- Art. 55. Ao Vice-Presidente compete, além das atribuições con-
cia ou interesse público relevante. tidas no Regimento Interno, as seguintes:
§ 1.º A Comissão Representativa é constituída por número ím- I– substituir o Presidente da Câmara em suas faltas, ausências
par de Vereadores impedimentos ou lincenças
§ 2.º A Comissão Representativa deve apresentar relatórios dos II– promulgar e fazer publicar, obrigatoriamente, as resoluções
trabalhos por ela realizados, quando do reinício do período de fun- e os decretos legislativos sempre que o Presidente, ainda que se
cionamento ordinário da Câmara. ache em exercício, deixar de fazê-lo no prazo estabelecido;
Art. 52. Qualquer entidade da sociedade civil poderá solicitar III– promulgar e fazer publicar, obrigatoriamente, as leis quan-
ao Presidente da Câmara que lhe permita emitir conceitos ou opi- do o Prefeito Municipal e o Presidente da Câmara, sucessivamen-
niões, junto às Comissões sobre projetos que nelas se encontrem te, tenham deixado de fazê-lo, sob pena de perda de mandato de
para estudo. membro da Mesa.
Parágrafo único. O Presidente da Câmara, deferindo, enviará o
pedido ao Presidente da respectiva Comissão, a quem caberá de-
signar dia e hora para o pronunciamento e seu tempo de duração.

202
CONHECIMENTOS GERAIS

SEÇÃO XII a)ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que


DO SECRETÁRIO DA CÃMARA MUNICIPAL goze de favor decorrente de contrato celebrado com o Município ou
nela exercer função remunerada;
Art. 56. Ao Secretário compete, além das atribuições contidas b)ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum,
no Regimento Interno, as seguintes: nas entidades referidas na alínea “a” do inciso I, salvo o cargo de
I– redigir as atas das sessões secretas e das reuniões da Mesa; Secretário Municipal;
II– acompanhar e supervisionar a redação das atas das demais c)patrocinar causa em que sejam interessadas as entidades a
sessões e proceder à sua leitura; que se refere a alínea “a” do inciso I;
III– fazer a chamada dos Vereadores; d)ser titulares de mais um cargo ou mandato público eletivo.
IV– registrar, em livro próprio, os precedentes firmados na apli- Art. 60. Perderá o mandato o Vereador:
cação do Regimento Interno; I– que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo
V– fazer a inscrição dos oradores na pauta dos trabalhos; anterior;
VI– substituir os demais membros da Mesa, quando necessá- II– cujo procedimento for declarado incompatível com o deco-
rio. ro parlamentar;
III– que deixar de comparecer à Terça parte das reuniões ordi-
SEÇÃO XIII nárias realizadas em cada período de sessão legislativa, salvo por
DOS VEREADORES licença ou desempenho de missão oficial autorizada pela Câmara
Municipal;
SUBSEÇÃO I IV– que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS V– quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos na
Constituição Federal
Art. 57. Os Vereadores gozam de inviolabilidade por suas opi- VI– que sofrer condenação criminal em sentença transitada em
niões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição julgado;
do Município. VII – que fixar residência fora do Município;
§ 1.º Desde a expedição do diploma os membros da Câmara VIII – que deixar de tomar posse, sem motivo justificado, den-
Municipal não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime ina- tro do prazo estabelecido nesta Lei Orgânica.
fiançável, nem processados criminalmente, sem prévia licença da § 1.º Extingue-se o mandato, e assim será declarado pelo Pre-
Casa, observado o disposto no § 2.º, do artigo 53 da Constituição sidente da Câmara, quando ocorrer falecimento ou renúncia por
Federal. escrito do Vereador.
§ 2.º No caso de flagrante de crime inafiançável, os autos se- § 2.º Nos casos dos incisos I, II, VI e VII deste artigo, a perda
rão remetidos, dentro de vinte e quatro horas, à Câmara Municipal, do mandato será decidida pela Câmara, por voto aberto nominal e
para que, pelo voto aberto nominal da maioria de seus membros, maioria absoluta, mediante provocação da Mesa ou de partido po-
resolva sobre a prisão e autorize, ou não, a formação de culpa.(§ 2.º lítico representado na Câmara, assegurada ampla defesa.(§ 2.º com
com redação dada Emenda n.º 004, de 09-12-1997) redação dada pela Emenda n.º 005, de 09-12-1997)
§ 3.º Os Vereadores serão submetidos a julgamento perante o § 3.º Nos casos dos incisos III, IV, V e VIII, a perda do mandato
Tribunal de Alçada será declarada pela Mesa da Câmara, de ofício ou mediante provo-
§ 4.º Os Vereadores não serão obrigados a testemunhar peran- cação de qualquer Vereador ou de partido político representado na
te a Câmara sobre informações recebidas ou prestadas em razão do Câmara, assegurada ampla defesa.
exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhe confiaram ou
deles receberam informações. SUBSEÇÃO III
Art. 58. É incompatível com o decoro parlamentar, além dos DO VEREADOR SERVIDOR PÚBLICO
casos definidos no Regimento Interno, o abuso das prerrogativas
asseguradas aos Vereadores ou a percepção por estes, de vanta- Art. 61. O exercício de Vereança por Servidor Público se dará de
gens indevidas. acordo com as determinações da Constituição Federal.
Parágrafo único. O Vereador ocupante de cargo, emprego ou
SUBSEÇÃO II função pública municipal é inamovível de ofício pelo tempo de du-
DAS INCOMPATIBILIDADES ração de seu mandato.

Art. 59. Os Vereadores não poderão: SUBSEÇÃO IV


I– desde a expedição do diploma: DAS LICENÇAS
a)firmar ou manter contrato com o Município, suas autarquias,
empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações ou Art. 62. O Vereador poderá licenciar-se:
empresas concessionárias de serviços públicos municipais, salvo I– por motivos de saúde, devidamente comprovados de acordo
quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; com o Regimento Interno;
b)aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, in- II– para tratar de interesse particular, desde que o período de
clusive os de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades cons- licença não seja superior a cento e vinte dias por sessão legislativa;
tantes na alínea anterior; III– quando gestante, de acordo com a lei.
II– desde a posse: § 1.º Nos casos dos incisos I e II, não poderá o Vereador reassu-
mir antes que se tenha expirado o prazo de sua licença.

203
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 2.º Para fins de remuneração, considerar-se-á como em exer- SUBSEÇÃO III


cício o Vereador licenciado nos termos do inciso III. DAS LEIS
§ 3.º O Vereador investido no cargo de Secretário Municipal
será considerado automaticamente licenciado, podendo optar pela Art. 66. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe
remuneração da vereança. a qualquer Vereador ou Comissão da Câmara, ao Prefeito Municipal
§ 4.º O afastamento para o desempenho de missões temporá- e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Lei Orgânica.
rias de interesse do Município não será considerado como licença, Art. 67. Compete privativamente ao Prefeito Municipal a inicia-
fazendo o Vereador jus à remuneração estabelecida. tiva de leis que versem sobre:
§ 5.º O Vereador poderá receber auxílio doença ou auxílio es- I– regime jurídico dos servidores;
pecial, conforme estabelecer o Regimento Interno. II– criação de cargos, funções ou empregos públicos na Admi-
nistração direta, autárquica e fundacional ou aumento de remune-
SUBSEÇÃO V ração;
DA CONVOCAÇÃO DOS SUPLENTES III– matéria tributária e orçamentária;
IV– criação, estruturação e competência das secretarias e de-
Art. 63. No caso de vaga, licença ou investidura no cargo de mais órgãos da Administração pública;
Secretário Municipal, far-se-á convocação do suplente pelo Presi- V– organização da Procuradoria Municipal;
dente da Câmara. VI– fixação ou modificação do efetivo da Guarda Municipal;
§ 1.º O suplente convocado deverá tomar posse dentro do pra- VII– Organização Administrativa e serviços públicos, que impli-
zo de oito dias, salvo motivo justo aceito pela Câmara, sob pena de quem aumento ou redução de despesas;
ser considerado renunciante. VIII–matéria que autorize a abertura de créditos ou conceda
§ 2.º Enquanto a vaga a que se refere o parágrafo anterior não auxílios, prêmios e subvenções:
for preenchida, calcular-se-á o quorum em função dos Vereadores Art. 68. A iniciativa popular será exercida pela apresentação, à
remanescentes. Câmara Municipal, de projeto de lei subscrito por, no mínimo, cinco
por cento dos eleitores inscritos no Município, contendo assunto de
SEÇÃO XIV interesse específico do Município, da cidade ou de bairros.
DO PROCESSO LEGISLATIVO § 1.º A proposta popular deverá ser articulada, exigindo-se,
para o seu recebimento pela Câmara, a identificação dos assinan-
SUBSEÇÃO I tes, mediante indicação do número do respectivo título eleitoral,
DISPOSIÇÕES GERAIS bem como a certidão expedida pelo órgão eleitoral competente,
contendo a informação do número total de eleitores do bairro, da
Art. 64. O processo legislativo municipal compreende a elabo- cidade ou do Município.
ração de: § 2.º A tramitação dos projetos de lei de iniciativa popular obe-
I – emendas à Lei Orgânica Municipal; decerá às normas do processo legislativo.
II– leis complementares; § 3.º Caberá ao regimento Interno da Câmara assegurar e dis-
III– leis ordinárias; por sobre o modo pelo qual os projetos de iniciativa popular serão
IV– decretos legislativos; defendidos na Tribuna da Câmara.
V – resoluções. Art. 69. São objetos de leis complementares as seguintes maté-
rias: I – código tributário municipal;
SUBSEÇÃO II II– código de obras ou de edificações;
DAS EMENDAS À LEI ORGÂNICA MUNICIPAL III– código de posturas;
IV– código de zoneamento;
Art. 65. A Lei Orgânica Municipal poderá ser emendada me- V– código de parcelamento do solo;
diante proposta: VI – plano diretor;
I – de um terço no mínimo, dos membros da Câmara Municipal; VII – regime jurídico dos servidores;
II – do Prefeito Municipal; VIII – guarda municipal.
III – de iniciativa popular. Parágrafo único. As leis complementares exigem para a sua
§ 1.º A proposta será discutida e votada em dois turnos com in- aprovação o voto favorável da maioria absoluta dos membros da
terstício de dez dias, considerando-se aprovada se obtiver em cada Câmara.
um, dois terços dos votos dos membros da Câmara. Art. 70. Não será admitido aumento de despesa prevista:
§ 2.º A emenda à Lei Orgânica Municipal poderá ser promulga- I– nos projetos de iniciativa popular e nos de iniciativa exclusiva
da pela Mesa da Câmara com o respectivo número de ordem. do Prefeito Municipal, ressalvados, neste caso, os projetos de leis
§ 3.º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou orçamentárias;
havida prejudicada não pode ser objeto de proposta na mesma ses- II– nos projetos sobre organização dos serviços administrativos
são legislativa. da Câmara Municipal.
§ 4.º A Lei Orgânica não poderá ser emendada na vigência de Art. 71. Nenhuma matéria sujeita a processo legislativo poderá,
estado de sítio ou de intervenção no Município. a contar da sua apresentação, ultrapassar sessenta dias para ser co-
locada em votação, desde que devidamente instruída, sobrestando
à apreciação das demais até que se atenda a esta exigência.

204
CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 72. O Prefeito Municipal poderá solicitar urgência para CAPÍTULO III
apreciação de projetos de sua iniciativa, considerados relevantes, DO PODER EXECUTIVO
os quais deverão ser apreciadas no prazo de trinta dias.
§ 1.º Decorrido, sem deliberação, o prazo fixado no caput deste SEÇÃO I
artigo, o projeto será obrigatoriamente incluído na ordem do dia, DO PREFEITO MUNICIPAL
para que se ultime sua votação, sobrestando-se a deliberação sobre
qualquer outra matéria, exceto veto e leis orçamentárias. Art. 79. O Poder Executivo é exercido pelo Prefeito, auxiliado
§ 2.º O prazo referido neste artigo não corre no período de re- por Secretários Municipais.
cesso da Câmara e nem se aplica aos projetos de codificação. Art. 80. O Prefeito e o Vice-Prefeito serão eleitos simultanea-
Art. 73. O projeto de lei aprovado pela Câmara será, enviado mente, para cada legislatura, por eleição direta, em sufrágio uni-
pelo seu Presidente ao Prefeito Municipal que, aquiescendo o san- versal e secreto.
cionará no prazo de quinze dias úteis. § 1.º Será considerado eleito Prefeito o candidato que obtiver a
§ 1.º Decorrido o prazo de quinze dias úteis, o silêncio do Pre- maioria dos votos, não computados os em branco e nulos.
feito Municipal importará em sanção. § 2.º No caso de empate qualificar-se-á o candidato mais idoso.
§ 2.º Se o Prefeito Municipal considerar o projeto, no todo ou Art. 81. O Prefeito e o Vice-Prefeito tomarão posse no dia 1.º
em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá- de janeiro do ano subsequente à eleição, em sessão solene na Câ-
-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados mara Municipal ou, se esta não estiver reunida, perante autoridade
da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito judiciária competente, ocasião em que prestarão o seguinte com-
horas, ao Presidente da Câmara, os motivos do veto. promisso:
§ 3.º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, “Prometo cumprir a Constituição Federal, a Constituição Esta-
de parágrafo, de inciso ou de alínea. dual e Lei Orgânica Municipal, observar as leis, promover o bem ge-
§ 4.º O veto será apreciado no prazo de vinte dias úteis, con- ral dos munícipes e exercer o cargo sob inspiração da democracia,
tados do seu recebimento, com parecer ou sem ele, em uma única da legitimidade e da legalidade”.
discussão e votação. § 1.º Se até o dia 10 de janeiro o Prefeito e o Vice-Prefeito, sal-
§ 5.º O veto somente será rejeitado pela maioria absoluta dos vo motivo de força maior devidamente comprovado e aceito pela
Vereadores, mediante votação aberta e nominal.(§ 5.º com redação Câmara Municipal, não tiver assumido o cargo, este será declarado
dada pela Emenda n.º 006, de 09-12-1997) vago.
§ 6.º Esgotado sem deliberação o prazo previsto no § 4.º deste § 2.º Enquanto não ocorrer a posse do Prefeito, assumirá o car-
artigo, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, go o Vice- Prefeito, e, na falta ou impedimento deste, o Presidente
sobrestadas as demais proposições até sua votação final. da Câmara Municipal.
§ 7.º Se o veto for rejeitado, o projeto será enviado ao Prefeito § 3.º No ato da posse e ao término do mandato, o Prefeito e o
Municipal, em quarenta e oito horas, para promulgação. Vice-Prefeito farão declarações públicas de seus bens, a qual será
§ 8.º Se o Prefeito Municipal não promulgar a lei nos prazos transcrita em livro próprio, resumidas em atas e divulgadas para o
previstos, e ainda no caso de sanção tácita, o Presidente da Câmara conhecimento público.
a promulgará, e, se este não o fizer no prazo de quarenta e oito ho- § 4.º O Vice-Prefeito, além de outras atribuições que lhe forem
ras, caberá ao Vice-Presidente obrigatoriamente fazê-lo. conferidas pela legislação local, auxiliará o Prefeito sempre que por
§ 9.º A manutenção do veto não restaura matéria suprimida ou ele convocado para missões especiais, o substituirá nos casos de
modificada pela Câmara. licenças e o sucederá no caso de vacância de cargo.
Art. 74. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente § 5.º A investidura do Vice-Prefeito em Secretaria Municipal
poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislati- não impedirá as funções previstas no parágrafo anterior.
va, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara. Art. 82. Em caso de impedimento do Prefeito e do Vice-Prefei-
Art. 75. A resolução destina-se a regular matéria político admi- to, ou vacância dos respectivos cargos, será chamado ao exercício
nistrativa da Câmara, de sua competência exclusiva, não dependen- do cargo de Prefeito o Presidente da Câmara Municipal.
do de sanção ou veto do Prefeito Municipal. Art. 83. Vagando os cargos do Prefeito e do Vice-Prefeito, far-
Art. 76. O decreto legislativo destina-se a regular matéria de -se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
competência exclusiva da Câmara que produza efeitos externos, § 1.º Ocorrendo a vacância no terceiro ano de mandato, a elei-
não dependendo de sanção ou veto do Prefeito Municipal. ção para ambos os cargos será feita trinta dias depois de aberta a
Art. 77. O processo legislativo das resoluções e dos decretos le- última vaga, pela Câmara Municipal, na forma da lei.
gislativos se dará conforme determinado no Regimento Interno da § 2.º No caso de ocorrer a vaga no último ano de mandato,
Câmara, observado, no que couber, o disposto nesta Lei Orgânica. assumirá o Presidente da Câmara.
Art. 78. O cidadão que desejar, poderá usar da palavra durante a primei- § 3.º Em qualquer dos casos os eleitos deverão completar o
ra discussão dos projetos de lei, para opinar sobre eles, desde que se inscreva período dos antecessores.
em lista especial na Secretaria da Câmara, antes de iniciada a sessão. § 4.º A recusa do Presidente em assumir a Prefeitura implicará
§ 1.º Ao inscrever, o cidadão deverá fazer referência à matéria em perda do mandato que ocupa na Mesa Diretora.
sobre a qual falará, não lhe sendo permitido abordar temas que não
tenham sido expressamente mencionados na inscrição.
§ 2.º Caberá ao Presidente da Câmara fixar o número de cida-
dãos que poderá fazer uso da palavra em cada sessão.
§ 3.º O Regimento Interno da Câmara estabelecerá as condi-
ções e requisitos para o uso da palavra pelos cidadãos.

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CONHECIMENTOS GERAIS

SEÇÃO II XI – prover e extinguir os cargos públicos municipais na forma


DAS PROIBIÇÕES da lei;
XII– convocar extraordinariamente a Câmara Municipal nos ca-
Art. 84. O Prefeito e o Vice-Prefeito não poderão, desde a pos- sos previstos nesta Lei Orgânica;
se, sob pena de perda do mandato: XIII– enviar as contas do Poder Executivo à Câmara Municipal,
I– firmar ou manter contrato com o Município ou com suas até o dia 31 de março do exercício seguinte;
autarquias, empresa públicas, sociedades de economia mista, fun- XIV– dispor sobre a estruturação e funcionamento dos órgãos
dações ou empresas concessionárias de serviço público municipal, da Administração Municipal na forma da lei;
salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; XV– exonerar os Secretários Municipais, atendendo delibera-
II– aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, ção de dois terços dos membros da Câmara Municipal;
inclusive os que sejam demissíveis “ad nutum”, na Administração XVI– decretar, nos termos legais, desapropriação por necessi-
Pública direta ou indireta, ressalvadas a posse em virtude de con- dade ou utilidade pública ou por interesse social;
curso público, aplicando-se nesta hipótese, o disposto no artigo 38 XVII– publicar até trinta dias após o encerramento de cada bi-
da Constituição Federal e a investidura do Vice-Prefeito no cargo de mestre, relatório resumido da execução orçamentária;
Secretário Municipal; XVIII– repassar à Câmara Municipal, no prazo legal, os recursos
III– ser titular de mais de um mandato eletivo; correspondentes às suas dotações orçamentárias;
IV– patrocinar causas em que sejam interessadas as entidades XIX– solicitar o auxílio das forças policiais para garantir o cum-
mencionadas no inciso I deste artigo; primento de seus atos, bem como fazer uso da guarda municipal,
V– ser proprietário, controlador ou diretor de empresa que na forma da lei;
goze de favor decorrente de contrato celebrado com o Município XX– fixar as tarifas dos serviços públicos concedidos e permiti-
ou nela exercer função remunerada; dos, bem como daqueles explorados pelo próprio Município, con-
VI– fixar residência fora do Município. forme critérios estabelecidos na legislação Municipal;
XXI– requerer à autoridade competente a prisão administrativa
SEÇÃO III de Servidor Público Municipal omisso ou remisso na prestação de
DAS LICENÇAS contas dos dinheiros públicos;
XXII– propor à Câmara Municipal a denominação ou alteração
Art. 85. O Prefeito e o Vice-Prefeito não poderão se ausentar do de nomes próprios, vias e logradouros públicos vedadas quaisquer
Município, sem licença da Câmara Municipal, por período superior homenagens a pessoas vivas;
a quinze dias e do País, por qualquer período, sob pena de perda XXIII– superintender a arrecadação dos tributos e preços, bem
de mandato. como a guarda e a aplicação direta da receita, autorizando as des-
Art. 86. O Prefeito poderá licenciar-se quando impossibilitado pesas e os pagamentos, dentro das disponibilidades orçamentárias
de exercer o cargo, por motivo de doença devidamente comprova- ou dos créditos autorizados pela Câmara;
do. XXIV– realizar audiências públicas com entidades da sociedade
Parágrafo único. No caso deste artigo e da ausência em missão civil e com membros da comunidade;
oficial, o Prefeito licenciado fará jus à sua remuneração integral. XXV– resolver sobre os requerimentos, as reclamações ou as
representações que lhe forem dirigidos;
SEÇÃO IV XXVI– aplicar as multas previstas na legislação e nos contratos
DAS ATRIBUIÇÕES DO PREFEITO ou convênios bem como relevá-las quando for o caso;
XXVII– nomear, após aprovação pela Câmara Municipal, os ser-
Art. 87. Compete privativamente ao Prefeito: vidores que a lei assim determinar;
I– representar o Município em juízo ou fora dele, na forma des- XXVIII– fazer publicar os atos oficiais;
ta Lei Orgânica e da Lei; XXIX– expedir decretos, portarias e outros atos administrativos;
II– nomear e exonerar os Secretários Municipais; XXX– permitir ou autorizar o uso de bens municipais por tercei-
III– exercer com auxílio dos Secretários do Município a direção ros na forma da lei
superior da Administração do Município; XXXI– encaminhar aos órgãos competentes os planos de aplica-
IV– iniciar o processo legislativo, na forma e nos caos previstos ção e as prestações de contas exigidas em lei;
nesta Lei Orgânica; XXXII– prover os serviços e obras da Administração Pública;
V– sancionar, promulgar, vetar, fazer publicar as leis e, para sua XXXIII– oficializar, obedecidas as normas urbanísticas aplicá-
fiel execução, expedir decretos e regulamentos; veis, as vias e logradouros públicos, mediante denominação apro-
VI– comparecer ou enviar mensagem, à Câmara Municipal, no vada pela Câmara;
início de cada sessão legislativa, expondo a situação econômica, fi- XXXIV– aprovar projetos de edificação e planos de loteamento,
nanceira, administrativa, política e social do Município; arruamento e zoneamento urbano ou para fins urbanos;
VII– celebrar ou autorizar convênios, na forma da lei; XXXV– apresentar, anualmente, à Câmara, relatório circunstan-
VIII– prestar as informações solicitadas pelo Poder Legislativo ciado sobre o estado das obras e dos serviços municipais, bem as-
Municipal nos casos e prazos fixados em lei; sim o programa da Administração para o ano seguinte;
IX– enviar à Câmara Municipal o plano plurianual de investi- XXXVI– organizar os serviços internos das repartições criadas
mentos, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e a proposta por lei, com observância do limite das dotações a elas destinadas;
do orçamento anual; XXXVII– contrair empréstimos e realizar operações de crédito,
X– decretar as situações de emergências e estado de calami- mediante prévia autorização da Câmara;
dade pública;

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CONHECIMENTOS GERAIS

XXXVIII– providenciar sobre a administração dos bens do Muni- § 5.º Reconhecida a responsabilidade do Prefeito pela Câmara
cípio e sua alienação, na forma da lei; Municipal, limitar-se-á a condenação à perda do cargo, com inabili-
XXXIX– organizar e dirigir nos termos da Lei, os serviços relati- tação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem preju-
vos às terras do Município; ízo das sanções judiciais cabíveis.
XL – desenvolver o sistema viário do Município; § 6.º Aplica-se ao Vice-Prefeito, no que couber, o disposto nes-
XLI – conceder auxílios, prêmios e subvenções, nos limites das te artigo e seus parágrafos.
respectivas verbas orçamentárias e do plano de distribuição, prévia
e anualmente aprovado pela Câmara; SEÇÃO VI
XLII – providenciar sobre o incremento do ensino; DA TRANSIÇÃO ADMINISTRATIVA
XLIII – estabelecer a divisão administrativa do Município, de
acordo com a lei Art. 90. Até trinta dias antes das eleições municipais, o Prefei-
XLIV – solicitar, obrigatoriamente, autorização à Câmara para to Municipal deverá preparar, para entrega ao sucessor e para pu-
ausentar-se do Município por tempo superior a quinze dias; blicação imediata, relatório da situação da Situação Administração
XLV – adotar providências para conservação e salvaguarda do Municipal que conterá, entre outras informações:
patrimônio municipal; I– dívidas do Município, por credor, com as datas dos respec-
XLVI – estimular a participação popular e estabelecer programa tivos vencimentos, inclusive das dívidas a longo prazo e encargos
de incentivo e projetos de organização comunitária conforme esta decorrentes de operações de crédito, informando sobre a capaci-
Lei Orgânica; dade da Administração Municipal realizar operações de crédito de
XLVII – adotar providências para impedir a evasão, destruição qualquer natureza;
e a descaracterização de obras de artes e de outros bens de valor II– medidas necessárias à regularização das contas municipais
histórico, arquitetônico, artístico e cultural; perante o Tribunal de Contas dos Municípios;
XLVIII – enviar mensalmente à Câmara Municipal cópia dos do- III– prestações de contas de convênios celebrados com organis-
cumentos de controles contábeis; mos da União e do Estado, bem como do recebimento de subven-
XLIX – encaminhar à Câmara plano municipal de Desenvolvi- ções ou auxílios;
mento Rural. IV– situação dos contratos com concessionárias e permissioná-
Parágrafo único. O Prefeito poderá delegar, por decreto, a seus rias de serviços públicos;
auxiliares, as funções administrativas previstas nos incisos I, VII, V– estado dos contratos de obras e serviços em execução ou
IX, XIV, XVII, XVIII, XX, XXII, XXIII, XXIV, XXV, XXVI, XXVII, XXIX, XXX, apenas formalizados, informando sobre o que foi realizado e pago e
XXXII, XXXIII, XXXVI, XXXVII, XXXVIII, XXXIX, XL, XLI, XLII, XLV, XLVI, o que há por executar e pagar, com os prazos respectivos;
XLVII e XLVIII deste artigo. VI– transferências a serem recebidas da União e do Estado por
força de mandamento constitucional ou de convênios;
SEÇÃO V VII– projetos de lei de iniciativa do Poder Executivo em curso
DAS RESPONSABILIDADES DO PREFEITO na Câmara Municipal, para permitir que a nova administração deci-
da quanto à conveniência de lhes dar prosseguimento, acelerar seu
Art. 88. São crimes de responsabilidade os atos do Prefeito que andamento ou retirá-los;
atentem contra as Constituições Federal, Estadual, esta Lei Orgânica VIII– situação dos servidores do Município, seu custo, quanti-
e especialmente contra: dade e órgãos em que estão lotados e em exercício.
I– a integridade e a autonomia do Município; Art. 91. É vedado ao Prefeito Municipal assumir, por qualquer
II– o livre exercício do Poder Legislativo Municipal; forma, compromisso financeiros para execução de programas ou
III– o exercício dos direitos políticos, sociais e individuais; projetos após o término de seu mandato, não previstos na legisla-
IV – a probidade administrativa; ção orçamentária.
V– a lei orçamentária; § 1.º O disposto neste artigo não se aplica nos casos comprova-
VI– o cumprimento das leis e decisões judiciais. dos de calamidade pública.
Art. 89. O Prefeito será julgado, nos crimes de responsabilidade § 2.º Serão nulos e não produzirão nenhum efeito os empenhos
pela Câmara Municipal e, nos comuns pelo Tribunal de Justiça, de- e atos praticados em desacordo neste artigo, sem prejuízo da res-
pois de admitida a acusação por dois terços da Câmara. ponsabilidade do Prefeito Municipal.
§ 1.º O Prefeito ficará afastado de suas funções:
I– nos crimes comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime SEÇÃO VII
pelo Tribunal de Justiça DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS
II– nos crimes de responsabilidade, após a instauração do pro-
cesso pela Câmara Municipal; Art. 92. Os Secretários do Município serão escolhidos dentre
§ 2.º Cessará o afastamento do Prefeito, se o julgamento não brasileiros maiores de vinte e um anos de idade e no exercício dos
se concluir dentro de cento e vinte dias, sem prejuízo do regular direitos políticos.
prosseguimento do processo. Art. 93. Compete ao Secretário Municipal, além de outras atri-
§ 3.º O Prefeito não será preso senão pela superveniência de buições que lhe sejam conferidas por lei:
sentença condenatória passado em julgado, nos crimes comuns. I– exercer a orientação, coordenação e supervisão de órgãos
§ 4.º O Prefeito, na vigência do seu mandato, não poderá ser de sua Secretaria e das entidades da administração indireta a ela
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. vinculadas;
II– referendar os atos e decretos assinados pelo Prefeito;

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CONHECIMENTOS GERAIS

III– expedir instruções para a execução das leis, decretos e re- TÍTULO IV
gulamentos; DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
IV– apresentar ao Prefeito anualmente ou quando por este so-
licitado, relatório de sua gestão; CAPÍTULO I
V– praticar atos pertinentes às atribuições que lhe forem dele- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
gadas pelo Prefeito;
VI– comparecer, quando convocado pela Câmara Municipal, ou Art. 97. A administração pública direta, indireta, fundacional do
por Comissão sua, podendo fazê-lo por iniciativa própria, mediante Município obedecerá, no que couber, ao disposto no Capítulo VII do
ajuste com a respectiva Presidência, para expor assuntos relevantes Título III da Constituição Federal e nesta Lei Orgânica.
de sua pasta; Art. 98 Os planos de cargos e carreiras do serviço público mu-
§ 1.º Os Secretários do Município não poderão exercer outra nicipal serão elaborados de forma a assegurar aos servidores mu-
função pública, estendendo-se aos mesmos os impedimentos e nicipais remuneração compatível com o mercado de trabalho para
proibições prescritos para Vereadores, ressalvado o exercício do a função respectiva, oportunidade de progresso funcional e acesso
Magistério. a cargos de escalão superior, na forma da Lei.(Caput com redação
§ 2.º Os Secretários Municipais são solidariamente responsá- dada pela Emenda n.º 019 de 14-10-2002)
veis com o Prefeito, pelos atos que assinarem, ordenarem ou pra- § 1.º A produtividade dos servidores será adotada como crité-
ticarem. rio de promoção na carreira, mediante mecanismos estabelecidos
§ 3.º Os Secretários Municipais deverão fazer declaração de em lei.
bens no ato de sua posse e quando de sua exoneração. § 2.º O Município proporcionará aos servidores homens e mu-
lheres oportunidades adequadas de crescimento profissional atra-
SEÇÃO VIII vés de programas de formação de mão-de-obra, aperfeiçoamento
DA PROCURADORIA JURÍDICA DO MUNICÍPIO e reciclagem, inclusive para habilitação no atendimento específico
da mulher.
Art. 94. A Procuradoria Jurídica do Município é a instituição § 3.º Os programas mencionados no parágrafo anterior terão
que representa, como advogado geral, o Município, judicial e extra- caráter permanente, para tanto, o Município poderá manter convê-
-judicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que nios com instituições especializadas.
dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de Art. 99. O Prefeito Municipal, ao prover os cargos em comis-
consultoria e assessoramento jurídico ao Poder Executivo.(Caput são e as funções de confiança, deverá fazê-lo de forma a assegurar
com redação dada pela Emenda n.º 017, de 09-05-2001) que pelo menos 50% desses cargos e funções sejam ocupados por
§ 1.º – A Procuradoria Geral do Município de Itaberaba é che- servidores de carreira técnica ou profissional do próprio Município.
fiada por um Procurador Geral, nomeado pelo Prefeito Municipal, Art. 100 Um percentual não inferior a 5% dos cargos e empre-
após aprovação do seu nome pela maioria absoluta dos membros gos do Município será destinado a pessoas portadoras de deficiên-
da Câmara Municipal, dentre os advogados inscritos na OAB/BA, cias, devendo os critérios para seu preenchimento serem definidos
maior de 30 anos, integrante ou não da carreira de Procurador Mu- em lei municipal, regulamentada no prazo máximo de 180 dias.
nicipal, com comprovado exercício na atividade judicante de no (Caput com redação dada pela Emenda n.º 019, de 14-10-2002)
mínimo 3 (três) anos, notável saber jurídico e reputação ilibada, e Art. 101. É vedada a conversão de férias ou licenças em dinhei-
a sua destituição, deverá ser precedida de autorização da maioria ro, ressalvados os casos previstos na legislação federal.
absoluta da Câmara Municipal.(§ 1.º com redação dada pela Emen- Art. 102. O Município concederá, conforme a lei dispuser, li-
da n.º 017, de 09-05-2001) cença remunerada aos servidores que fizerem adoção na forma da
§ 2º - A Procuradoria Jurídica do Município compõe-se da Pro- legislação civil.
curadoria Fiscal e da Procuradoria do Meio Ambiente, Patrimônio, Art. 103. O Município garantirá proteção especial à servidora
Urbanismo e Obras, Procuradoria Civil, Administrativa e Trabalhista. pública gestante, adequando ou mudando temporariamente suas
(§ 2.º com redação dada pela Emenda n.º 019, de 14-10-2002) funções nos tipos de trabalho comprovadamente prejudiciais à sua
Art. 95. O ingresso na carreira de Procurador Municipal far-se-á saúde e à do nascituro sem que disso decorra qualquer ônus poste-
mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a parti- rior para o Município.
cipação de subseção, da Ordem do Advogados do Brasil em sua re- Art. 104. O Município assegurará a seus servidores e depen-
alização, inclusive na elaboração do programa e quesitos das provas dentes, na forma da lei municipal, serviços de atendimento médico,
observadas nas nomeações, a ordem de classificação. odontológico, e de assistência social.
Parágrafo único. Os serviços referidos neste artigo são extensi-
SEÇÃO IX vos aos aposentados e aos pensionistas do Município.
DA GUARDA MUNICIPAL Art. 105. O Município poderá instituir contribuição, cobrando
de seus servidores, para o custeio em benefício destes, de sistema
Art. 96. A guarda municipal destina-se à proteção dos bens, de previdência e assistência social.
serviços e instalações do Município e terá organização, funciona- Art. 106. Os concursos públicos para preenchimento de cargos
mento e comando na forma da lei complementar. ou funções na Administração municipal não poderão ser realizados
§ 1.º A lei complementar da criação da guarda municipal dispo- antes de decorridos trinta dias do encerramento das inscrições, as
rá sobre acesso, direitos, deveres, vantagens e regime de trabalho, quais deverão estar abertas por pelo menos quinze dias.
com base na hierarquia e disciplina.
§ 2.º A investidura nos cargos da guarda municipal far-se-á me-
diante concurso público de provas ou de provas e títulos.

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CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 107. O Município, suas entidades da Administração indire- XVI– licença para tratamento de interesse particular, sem re-
ta e fundacional, bem como as concessionárias e as permissionárias muneração;
do serviço público, responderão pelos danos que seus agentes, nes- XVII – licença para tratamento de saúde na forma da lei;
ta qualidade, causarem a terceiros, assegurando o direito de regres- XVIII– licença parental para atendimento de filho doente, con-
so contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. forme indicação médica;
Art. 108. Os conselhos Municipais, inclusive os que contem XIX– direito de greve cujo exercício se dará nos termos e limites
com a participação comunitária, deverão ser integrados por repre- definidos em lei complementar federal;
sentantes dos grupos ou organizações de mulheres conforme regu- XX– seguro contra acidente de trabalho;
lamentação legal. XXI– aperfeiçoamento pessoal e funcional, mediante cursos de
Art. 109. É vedada na Administração Pública direta, indireta e treinamentos e reciclagem, para o melhor desempenho das fun-
fundacional do Município, a contratação de empresas que reprodu- ções;
zam práticas discriminatórias na admissão de mão-de-obra. XXII– aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, nos ter-
Art. 110. É vedado ao Município veicular propaganda que resul- mos da lei;
ta em prática discriminatória. XXIII – estabilidade econômica, segundo os requisitos e exigên-
Art. 111. O Município poderá consorciar-se com outros Municí- cias que a lei estabelecer
pios ou estabelecer convênios com a União e o Estado para prover Art. 113 Aos servidores municipais é assegurado regime de
seguridade social dos seus funcionários. previdência próprio nos termos da Legislação Federal.(Caput com
redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
CAPÍTULO II § 1º - O servidor será aposentado:(§ 1.º Acrescentado pela
DO SERVIDOR PÚBLICO Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
I– por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais
Art. 112. O regime jurídico único para todos os servidores da ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em
Administração direta, das autarquias e das fundações públicas, será serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incu-
estabelecido através de lei, em estatuto próprio que disporá sobre rável, especificadas em lei;(Inciso I com redação dada pela Emenda
direitos, deveres e regime disciplinar, assegurados os direitos ad- n.º 19, de 14-10-2002)
quiridos. II– compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proven-
§ 1.º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais com- tos proporcionais ao tempo de contribuição;(Inciso II com redação
ponentes do sistema remuneratório serão observados na forma da dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
lei, obedecidos os princípios constitucionais pertinentes.(§ 1.º com III– voluntariamente, desde que preencha cumulativamente os
redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) requisitos tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no servi-
§ 2.º Além dos direitos assegurados pela Constituição Federal, ço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposen-
aplicam-se aos servidores municipais os seguintes:(§ 2.º com reda- tadoria, observadas as seguintes condições:(Inciso III com redação
ção dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
I– salário mínimo, na forma da lei; a)sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se
II– irredutibilidade de salário, salvo o disposto em convenção homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição,
ou acordo coletivo; se mulher;(Alínea a com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-
III– décimo terceiro salário com base na remuneração integral 10-2002)
ou no valor da aposentadoria; b)sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos
IV– remuneração do trabalho noturno superior à de diurno; de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
V – salário família para seus dependentes; contribuição.(Alínea a com redação dada pela Emenda n.º 19, de
VI– duração do trabalho normal não superior a oito horas diá- 14-10-2002)
rias e quarenta horas semanais; § 2º - É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados
VII– repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do- para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de
mingos; que trata este artigo, ressalvados os casos de atividades exercidas
VIII– remuneração do serviço extraordinário superior, no míni- exclusivamente sob condições especiais que prejudiquem a saúde
mo, em cinquenta por cento à do normal; ou a integridade física, definidos em Lei Complementar.(§ 2.º com
IX– gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
terço a mais que o salário normal; § 3º - Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão
X– licença à gestante, remunerada, de cento e vinte dias; XI – reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, a, para
licença à paternidade, nos termos da lei; o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exer-
XII– proteção do mercado de trabalho da mulher, nos termos cício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
da lei; fundamental e médio.(§ 3.º com redação dada pela Emenda n.º 19,
XIII– redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor- de 14-10-2002)
mas de saúde, higiene e segurança; § 4º - É assegurada a concessão de aposentadoria e pensão,
XIV– adicional de remuneração para atividades penosas, insa- a qualquer tempo, aos servidores públicos, bem como aos seus
lubres ou perigosas, na forma da lei; dependentes, que, até a vigência da Emenda Constitucional nº 20,
XV– proibições de diferenças de salários, de exercícios de fun- tenham cumprido os requisitos para a obtenção destes benefícios,
ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou com base nos critérios da legislação então vigente.(§ 4.º com reda-
estado civil; ção dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)

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CONHECIMENTOS GERAIS

§ 5º - O servidor de que trata este artigo, que tenha completa- V– a assembléia geral fixará a contribuição que será desconta-
do as exigências para aposentadoria integral e que opte por perma- da em folha, para custeio do sistema confederativo da representa-
necer em atividade fará jus à isenção da contribuição previdenciária ção sindical respectiva, independentemente da contribuição previs-
até completar as exigências para aposentadoria contidas no art. 40, ta em lei;
§ 1º, III, a, da Constituição Federal.(§ 5.º com redação dada pela VI– nenhum servidor será obrigado a filiar-se ou manter-se fi-
Emenda n.º 19, de 14-10-2002) liado ao sindicato;
§ 6º - Os proventos da aposentadoria a ser concedida aos ser- VII– é obrigatória a participação do sindicato nas negociações
vidores públicos referidos no caput, em termos integrais ou propor- coletivas de trabalho;
cionais ao tempo de serviço já exercido até a data de publicação VIII – o servidor aposentado tem direito a votação e ser votado
desta Emenda, bem como as pensões de seus dependentes, serão no sindicato
calculados de acordo com a legislação em vigor à época em que Art. 117. O direito de greve assegurado aos servidores públicos
foram atendidas as prescrições nela estabelecidas para a concessão municipais nos termos da Constituição Federal não se aplica aos
destes benefícios ou nas condições da legislação vigente.(§ 6.º com que exercem cargos em Comissão, demissíveis “ad nutum” ou aos
redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) que exercem funções em serviços de atividades essenciais, assim
Art. 114 Ao servidor público da administração direta, autárqui- definidas em lei.
ca e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as Art. 118. A lei disporá, em caso de greve, sobre o atendimento
seguintes disposições:(Caput com redação dada pela Emenda n.º das necessidades inadiáveis da comunidade.
19, de 14-10-2002) Art. 119. É assegurada a participação dos servidores públicos
I– tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, municipais, por eleição, nos colegiados da administração pública
ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam obje-
II– investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, to de discussão e deliberação.
emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remune- Art. 120. Haverá uma instância colegiada administrativa para
ração; dirimir controvérsias entre o Município e seus servidores públicos,
III– investido no mandato de Vereador, havendo compatibili- garantindo a paridade na sua composição.
dade de horário, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego
ou função, sem prejuízo de remuneração do cargo eletivo e, não CAPÍTULO III
havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
IV– em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício (TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA N.º 19, DE 14-10-2002)
do mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos
os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; Art. 121 A publicação das leis e dos atos municipais far-se-á
V– para efeito de benefício previdenciário, no caso de afasta- em órgãos da imprensa local ou afixando-se na sede da Prefeitura
mento, os valores serão determinados como se no exercício esti- e Câmara Municipal.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 19,
vesse. de 14-10-2002)
Art. 115. São estáveis, após dois anos de efetivo exercício, os § 1.º No caso de não haver periódicos no Município, a publica-
servidores nomeados em virtude de concurso público. ção será feita por afixação, em local próprio e de acesso público, na
§ 1.º O servidor público municipal estável só perderá o cargo sede da Prefeitura Municipal e da Câmara Municipal.
em virtude de sentença judicial transitada em julgado ou mediante § 2º Mensalmente o balancete resumido da receita e da des-
processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa. pesa.(§ 2.º com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
§ 2.º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor § 3.º A escolha do órgão de imprensa particular para divulgação
público municipal, será ele reintegrado e o eventual ocupante da dos atos municipais será feita por meio de licitação em que se leva-
vaga reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização rão em conta, além dos preços, as circunstâncias de periodicidade,
aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade. tiragem e distribuição.
§ 3.º Extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade, o servi- Art. 122. A formalização dos atos administrativos da competên-
dor estável ficará em disponibilidade remunerada, até seu adequa- cia do Prefeito far-se-á:
do aproveitamento em outro cargo. I – mediante decreto, numerado, em ordem cronológica, quan-
Art. 116. É livre a associação profissional ou sindical do servidor do se tratar de:
público municipal na forma da lei federal, observado o seguinte: a)regulamentação de lei;
I– haverá uma só associação sindical para os servidores da Ad- b)criação ou extinção de gratificações, quando autorizadas em
ministração direta, das autarquias e das fundações; lei;
II– é assegurado o direito de filiação de servidores, profissio- c)abertura de créditos especiais e suplementares
nais liberais, profissionais da área de saúde, à associação sindical d)declaração de utilidade pública ou de interesse social para
de sua categoria; efeito de desapropriação ou servidão administrativa;
III– os servidores da administração indireta, das empresas pú- e)criação, alteração e extinção de órgãos da Prefeitura, quando
blicas e de economia mista, todos celetista, poderão associar-se em autorizado em lei;
sindicato próprio; f)definição da competência dos órgãos e das atribuições dos
IV– ao sindicato dos servidores públicos municipais cabe a de- servidores da Prefeitura, não privativas de lei;
fesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, g)aprovação de regulamentos e regimentos dos órgãos da ad-
inclusive em questões judiciais e administrativas; ministração direta;
h)aprovação dos estatutos dos órgãos da Administração des-
centralizadas;

210
CONHECIMENTOS GERAIS

i)fixação e alteração dos preços dos serviços prestados pelo II - Os preços públicos serão fixados pelo Executivo, observada
Município e aprovação dos preços dos serviços concedidos ou au- as normas
torizados; gerais de Direito Financeiro e aprovados pela Câmara Munici-
j)permissão para exploração de serviços públicos e para uso de pal, de acordo com o Código Tributário.(Inciso II com redação dada
bens municipais; pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
k)aprovação de planos de trabalho dos órgãos da administra- III - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e
ção direta; serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte,
l)criação, extinção, declaração ou modificação de direitos facultado à administração tributária, especialmente para conferir
dos administradores, não privativos da lei; efetivamente a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos
m)medidas executórias do plano diretor; individuais e, nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as
n)estabelecimento de normas de efeitos externos, não priva- atividades econômicas do contribuinte.(Inciso III com redação dada
tivos de lei; pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
II – mediante portaria, quando se tratar de: Art. 125. A administração tributária é atividade vinculada, es-
a)provimento e vacância de cargos públicos e demais atos de sencial ao Município e deverá estar dotada de recursos humanos e
efeito individual relativos aos servidores municipais; materiais necessários ao fiel exercício de suas atribuições, principal-
b)lotação e relotação nos quadros de pessoal; mente no que se refere a:
c)criação de comissões e designação de seus membros; I – cadastramento dos contribuintes e das atividades econô-
d)instituição e dissolução de grupos de trabalho; micas;
e)autorização para contratação de servidores por prazo deter- II – lançamento dos tributos;
minado e dispensa, de acordo com a lei; III– fiscalização do cumprimento das obrigações tributárias;
f)abertura de sindicâncias e processos administrativos e aplica- IV– inscrição dos inadimplentes em dívida ativa e respectiva co-
ção de penalidades; brança amigável ou encaminhamento para cobrança judicial.
g)outros atos que, por sua natureza ou finalidade, não sejam Art. 126. O Município poderá criar colegiado instituído parita-
objeto de lei ou decreto riamente por servidores designados pelo Prefeito Municipal e con-
Parágrafo único. Poderão ser delegados os atos constantes do tribuintes indicados por entidades representativas de categorias
item II deste artigo. econômicas e profissionais, com atribuições de decidir, em grau de
Art. 123 A administração pública direta, indireta ou fundacional recurso, as reclamações sobre lançamentos e demais questões tri-
na prática de atos administrativos, observará as prescrições constitu- butárias.
cionais, o disposto nesta lei e demais normas pertinentes e atenderá Parágrafo único. Enquanto não for criado o órgão previsto nes-
aos princípios básicos de legalidade, moralidade, finalidade e publici- te artigo, os recursos serão decididos pelo Prefeito Municipal.
dade.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) Art. 127. O Prefeito Municipal, promoverá, periodicamente, a
I- A administração pública tem o dever de anular seus pró- atualização da base de cálculo dos tributos municipais.
prios atos, quando ilegais, e a faculdade de revogá-los, por moti- § 1.º A base de cálculo do Imposto Predial Territorial Urbano
vo de conveniência ou oportunidade, visando o interesse público, – IPTU, será atualizada anualmente, antes do término do exercício,
resguardados o direito adquirido e o devido processo legal.(Inciso I podendo para tanto ser criada comissão da qual participarão, além
com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) dos servidores do Município, representantes dos contribuintes de
II- A autoridade ou servidor público que, ciente de vício invali- acordo com decreto do Prefeito Municipal.
dador de ato administrativo, deixar de saná-lo ou de adotar provi- § 2.º A atualização da base de cálculo do imposto municipal
dências para que o órgão ou agente competente o faça, incorrerá sobre serviço de qualquer natureza, cobrado de autônomos e socie-
nas penalidades administrativas de lei, por sua omissão em atos de dades civis, obedecerá aos índices oficiais de atualização monetária
improbidade administrativa importarão na suspensão dos direitos e poderá ser realizada mensalmente.
públicos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e § 3.º A atualização da base de cálculo das taxas decorrentes do
o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, exercício do poder de polícia municipal obedecerá aos índices ofi-
sem prejuízo da ação penal cabível.(Inciso II com redação dada pela ciais de atualização monetária e poderá ser realizada mensalmente.
Emenda n.º 19, de 14-10-2002) § 4.º A atualização da base de cálculo das taxas de serviços le-
vará em consideração a variação de custos dos serviços prestados
CAPÍTULO IV ao contribuinte ou colocados à disposição, observados os seguintes
DO SISTEMA TRIBUTÁRIO MUNICIPAL critérios:
I– quando a variação de custos for inferior ou igual aos índices
SEÇÃO I oficiais de atualização monetária, poderá ser realizada mensalmen-
DOS IMPOSTOS MUNICIPAIS te;
II– quando a variação de custos for superior àqueles índices, a
Art. 124 Aplica-se ao sistema tributário municipal os princípios atualização poderá ser feita mensalmente até esse limite, ficando o
e normas gerais da Constituição Federal, Constituição Estadual, des- percentual restante para ser atualizado por meio de lei, que deverá
ta Lei Orgânica, das leis complementares e das demais leis perti- estar em vigor antes do início do exercício subsequente.
nentes, observando-se o seguinte:(Caput com redação dada pela Art. 128 A concessão de isenção e de anistia de tributos muni-
Emenda n.º 19, de 14-10-2002) cipais dependerá de autorização legislativa, aprovada por maioria
I - A receita pública municipal será constituída por tributos, pre- dos membros da Câmara Municipal, e terá prazo não superior a dois
ços e outros intgressos (Inciso I com redação dada pela Emenda n.º anos.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
19, de 14-10-2002)

211
CONHECIMENTOS GERAIS

Art.129. A remissão de créditos tributários somente poderá Art. 134 Fica o Poder Executivo autorizado a acompanhar o
ocorrer nos casos de calamidade pública ou notória pobreza do cálculo das quotas e a liberação de sua participação nas receitas
contribuinte, devendo a lei que a autorize ser aprovada por maioria tributárias a serem repartidas pela União e pelo Estado, nos termos
de dois terços dos membros da Câmara Municipal. da lei complementar.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 19,
Art. 130. A concessão de isenção, anistia ou moratória não gera de 14-10-2002)
direito adquirido e será revogado de ofício sempre que se apure Art. 135 O Poder Executivo divulgará, até o último dia do mês
que o beneficiário não satisfazia subseqüente ao da arrecadação, o montante de cada um dos tribu-
ou deixou de satisfazer as condições, não cumpria ou deixou de tos arrecadados e os recursos recebidos, os valores de origem tri-
cumprir os requisitos para sua concessão. butária entregues e a entregar e a expressão numérica dos critérios
Art. 131. É da responsabilidade do órgão competente da Prefei- de rateio do fundo de participação.(Caput com redação dada pela
tura Municipal a inscrição em dívida ativa dos créditos provenientes Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
de impostos, taxas, contribuição de melhoria e multas de qualquer
natureza, decorrentes de infrações à legislação tributária, com pra- CAPÍTULO V
zo de pagamento fixado pela legislação ou por decisão proferida em DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR
processo regular de fiscalização. (TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA N.º 19, DE 14-10-2002)
Art. 132. Ocorrendo a decadência do direito de constituir o
crédito tributário ou a prescrição da ação de cobrá-lo, abrir-se-á in- Art. 136. Para obter ressarcimento da prestação de serviços de
quérito administrativo para apurar as responsabilidades, na forma natureza comercial ou industrial ou de sua atuação na organização
da lei. e exploração de atividades econômicas, o Município poderá cobrar
Parágrafo único. A autoridade municipal, qualquer que seja seu preços públicos.
cargo, emprego ou função, e independentemente do vínculo que Parágrafo único. Os preços devidos pela utilização de bens e
possuir com o Município, responderá civil, criminal e administrati- serviços municipais deverão ser fixados de modo a cobrir os custos
vamente pela prescrição ou decadência ocorrida sob sua responsa- dos respectivos serviços e serem reajustados quando se tornarem
bilidade, cumprindo-lhe indenizar o Município do valor dos créditos deficitários.
prescritos ou não lançados. Art. 137. A administração financeira e patrimonial do Muni-
cípio, inclusive a arrecadação de tributos e rendas, será exercida
SEÇÃO II pelo Poder Executivo, através de seus órgãos de Controle Interno,
DA REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS criados por lei.(Caput com redação dada pela Emenda n.º 19, de
(TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA N.º 19, DE 14-10-2002) 14-10-2002)

Art. 133. Pertencem ao Município: CAPÍTULO VI


I– o produto de arrecadação do imposto da União sobre renda DAS FINANÇAS PÚBLICAS
e proventos de qualquer natureza incidente, na fonte, sobre ren- (TÍTULO MODIFICADO PELA EMENDA N.º 19, DE 14-10-2002)
dimentos pagos, a qualquer título, por ele, suas autarquias e pelas
fundações que instituir ou manter; SEÇÃO I
II– cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
da União sobre a propriedade rural relativamente aos imóveis neles
situados; Art. 138. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
III– cinquenta por canto da arrecadação do imposto do Estado I – plano plurianual;
sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seu II – as diretrizes orçamentárias;
território; III – os orçamentos anuais.
IV– a sua parcela dos vinte e cinco por cento do produto da § 1.º O plano plurianual compreenderá:
arrecadação dos Estado sobre operações relativas à circulação de I – diretrizes, objetivos e metas para as ações municipais de
mercadorias e sobre prestações de serviços de transportes interes- execução plurianual
tadual e intermunicipal e de comunicação – ICMs, na forma do pa- II – investimentos de execução plurianual;
rágrafo seguinte;
V– a sua parcela dos vinte e dois inteiros e cinco décimos por Gastos com a execução de programas de duração continuada.
cento do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e pro- § 2.º As diretrizes orçamentárias compreenderão:
ventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, I– as prioridades da administração pública municipal, quer de
através do Fundo de participação dos Municípios em transferências órgãos da administração direta, quer de administração indireta,
mensais da proporção do índice apurado pelo Tribunal de Contas com as respectivas metas, incluindo a despesa de capital para o
da União; exercício financeiro subsequente;
VI– a sua parcela dos vinte e cinco por cento relativa aos dez II– orientação para a elaboração da lei orçamentária anual;
por cento que o Estado receberá da União do produto da arrecada- III – alteração na legislação tributária;
ção do imposto sobre produtos industrializados na forma do pará- IV – autorização para a concessão de qualquer vantagem ou
grafo único deste artigo. aumento de remuneração, criação de cargos ou alteração de es-
Parágrafo único. As parcelas do ICMs a que se faz jus o Municí- trutura de carreiras, bem como a demissão de pessoal a qualquer
pio serão calculadas conforme dispuser Lei Estadual, assegurando- título, pelas unidades governamentais da administração direta ou
-se que no mínimo, três quartas partes serão na proporção do valor
adicionado nas operações realizadas no seu território.

212
CONHECIMENTOS GERAIS

indireta, inclusive as fundações instituídas e mantidas pelo Poder § 2.º Os créditos adicionais especiais e extraordinários terão
Público Municipal, ressalvadas as empresa públicas e as sociedades vigência no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo
de economia mista. se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses
§ 3.º O orçamento anual compreenderá: daquele exercício, caso em que, reaberto nos limites de seus sal-
I– o orçamento fiscal da administração direta municipal, in- dos, serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro sub-
cluindo os seus fundos especiais; sequente.
II– os orçamentos das entidades de administração indireta, in- § 3.º - A abertura de crédito extraordinário somente será admi-
clusive nas fundações instituídas pelo Poder Público Municipal; tida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as de-
III– o orçamento de investimentos das empresas em que o Mu- correntes de calamidade pública, pelo Prefeito.(§ 3.º com redação
nicípio direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
com direito a voto; § 4.º As autorizações previstas nos incisos VI e VII serão especi-
IV– o orçamento da seguridade social, abrangendo todas enti- ficadas nos casos de dotações para investimentos em obras.
dades e órgãos a elas vinculadas, da administração direta ou indi-
retamente, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder SEÇÃO III
Público Municipal. DAS EMENDAS AOS PROJETOS ORÇAMENTÁRIOS
Art. 139. Os planos e programas municipais de execução pluria-
nual ou anual serão elaborados em consonância com o plano e com Art. 142. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às di-
as diretrizes orçamentárias, respectivamente, e apreciados pela Câ- retrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicio-
mara Municipal. nais suplementares e especiais serão apreciados pela Câmara Mu-
Art. 140. Os orçamentos previstos no parágrafo terceiro do arti- nicipal, na forma do Regimento Interno.
go 138 serão compatibilizados com o plano plurianual e as diretrizes § 1.º Caberá à Comissão da Câmara Municipal:
orçamentárias, evidenciando os programas e políticas do Governo I– examinar e emitir parecer sobre os projetos do plano pluria-
Municipal. nual, diretrizes orçamentárias e orçamento anual e sobre as contas
do Município apresentadas anualmente pelo Prefeito;
SEÇÃO II II– examinar e emitir parecer sobre planos e programas muni-
DAS VEDAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS cipais, distritais, de bairros, e setoriais previstos nesta lei Orgânica
e exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem
Art. 141. São vedadas: prejuízo da atuação das demais comissões da Câmara Municipal
I– a inclusão de dispositivos estranhos à previsão da receita e a criadas de acordo com o artigo.(Inciso II com redação dada pela
fixação de despesa, excluindo-se as autorizações para a abertura de Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
créditos adicionais suplementares e contratações de operações de § 2.º- As emendas só serão apresentadas a Comissão de Finan-
créditos de qualquer natureza e objetivo; ças, que sobre elas emitirá parecer escrito, sendo apreciadas pelo
II– o início de programas ou projetos não incluídos no orçamen- Plenário da Câmara, na forma regimental.(§ 2.º com redação dada
to anual; pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
III– a realização de despesas ou a assunção de obrigações dire- § 3.º As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos
tas que excedam os créditos orçamentários originais ou adicionais; projetos que o modifiquem somente poderão ser aprovadas caso:
IV– a realização de operações de crédito que excedam o mon- I– sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de di-
tante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante retrizes orçamentárias;
créditos suplementares ou especiais, aprovados pela Câmara Muni- II– indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os pro-
cipal por maioria absoluta. venientes de anulação de despesas, excluídas as que incidam sobre:
V– a vinculação de receita de impostos a órgãos, fundos ou a)dotações para pessoal e seus encargos;
despesas, ressalvados os casos previstos na Constituição Fede- b)serviços da dívida municipal; (Alínea b com redação dada
ral;(Inciso V com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002)
VI– a abertura de créditos adicionais suplementares ou espe- c)transferências tributárias para autarquias e fundações insti-
ciais sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recur- tuídas e mantidas pelo Poder Público Municipal.
sos correspondentes; III– sejam relacionadas:
VII– a transposição, o remanejamento ou a transferência de a)com os dispositivos do texto da proposta ou do projeto de lei.
recursos de uma categoria de programação para outra ou de um (Alínea a com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-
órgão para outro sem prévia autorização legislativa; 2002)
VIII– a concessão ou utilização de créditos ilimitados; b)com os dispositivos do texto do projeto de lei.
IX– a utilização, sem autorização legislativa específica, de recur- § 4.º As emendas ao projeto de lei das diretrizes orçamentá-
sos do orçamento fiscal e da seguridade social para suprir necessi- rias não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano
dade ou cobrir déficit de empresa, fundações e fundos especiais; plurianual.
X– a instituição de fundos especiais de qualquer natureza, sem § 5.º - O prefeito poderá enviar mensagem à Câmara Municipal
prévia autorização legislativa; para propor modificação nos projetos ou propostas a que se refere
§ 1.º Nenhum investimento, cuja execução ultrapasse um exer- este artigo enquanto não iniciada a votação, na Comissão, da parte
cício financeiro, poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano cuja alteração é intentada. (§ 5.º com redação dada pela Emenda
plurianual, ou sem lei que a autorize, sob pena de crime de respon- n.º 19, de 14-10-2002)
sabilidade.

213
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 6.º - Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes e § 2.º Nos casos previstos no parágrafo anterior, os empenhos e
do orçamento anual serão enviados pelo Prefeito à Câmara Munici- os procedimentos de contabilidade terão a base legal dos próprios
pal, obedecendo os seguintes prazos:(§ 6.º com redação dada pela documentos que originarem o empenho.
Emenda n.º 19, de 14-10-2002) Art. 147. Os recursos correspondentes às dotações orçamentá-
I– o Projeto do Plano Plurianual, para vigência até o final do rias, compreendidos dos créditos suplementares e especiais, destina-
mandato subsequente, será encaminhado até 31 de agosto do pri- dos ao Poder Legislativo, serão entregues até o dia vinte de cada mês.
meiro exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerra-
mento da Sessão Legislativa; SEÇÃO V
II– o Projeto de Lei das Diretrizes orçamentárias será encami- DA GESTÃO DE TESOURARIA
nhado até 15 de abril do exercício financeiro e devolvido para san-
ção até o encerramento do primeiro período da Sessão Legislativa; Art. 148. As receitas e as despesas orçamentárias serão movi-
III– o Projeto de Lei Orçamentária será encaminhado até 30 de mentadas através de caixa única, regularmente instituída.
setembro e devolvido para sanção até o encerramento da Sessão Parágrafo único. A Câmara Municipal terá a própria tesouraria,
Legislativa; por onde movimentará os recursos que lhe forem liberados.
IV– os prazos estabelecidos nos incisos anteriores serão trans- Art. 149. As disponibilidades da caixa do Município e de sua
feridos para o primeiro dia útil subsequente quando recaírem em entidades de administração indireta, inclusive dos fundos especiais
sábados, domingos e feriados.(Incisos I, II, III e IV com redação dada e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal,
pela Emenda n.º 002, de 25-10-1995) serão depositadas em instituições financeiras oficiais.
§ 7.º Aplicam-se aos projetos referidos neste artigo, no que não Parágrafo único. As arrecadações das receitas do Município
contrariar o disposto nesta seção, as demais normas relativas ao e de suas entidades da administração indireta, poderão ser feitas
processo legislativo. através da rede bancária privada, mediante convênio.
§ 8.º Os recursos, que em decorrência de veto, emenda ou re- Art. 150. Poderá ser constituído o regime de adiantamento em
jeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas cada uma das unidades da administração direta, nas autarquias, nas
correspondentes, poderão ser utilizados, conforme o caso, median- fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal e
te abertura de créditos adicionais suplementares ou especiais com na Câmara Municipal para ocorrer às despesas miúdas de pronto
prévia e específica autorização legislativa. pagamento definidas em lei.

SEÇÃO IV SEÇÃO VI
DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA DA ORGANIZAÇÃO CONTÁBIL

Art. 143. A execução do orçamento do Município se refletirá Art. 151. A Contabilidade do Município obedecerá, na organiza-
na obtenção das suas receitas próprias, transferidas e outras, bem ção do seu sistema administrativo e informativo e nos seus procedi-
como na utilização das dotações consignadas às despesas para a mentos, aos princípios fundamentais de contabilidade e as normas
execução dos programas nele determinados, observado sempre o estabelecidas na legislação pertinente.
princípio do equilíbrio. Art. 152. A Câmara Municipal terá a sua própria contabilidade.
Art. 144 O Prefeito Municipal fará publicar, ao final de cada Parágrafo único. A Contabilidade da Câmara Municipal encami-
quadrimestre, relatório resumido da execução orçamentária.(Caput nhará as suas demonstrações até o dia vinte e cinco de cada mês,
com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) para fins de incorporação à contabilidade central na Prefeitura.
Art. 145. As alterações orçamentárias durante o exercício se
representarão: SEÇÃO VII
I – pelos créditos adicionais, suplementares, especiais e extra- DAS CONTAS MUNICIPAIS
ordinários;
II – pelos remanejamentos, transferências e transposições de Art. 153. Até o dia 31 de março de cada ano, o Prefeito enca-
recursos de uma categoria de programação para outra. minhará à Câmara Municipal as contas do Município, que se com-
Art. 146 Na efetivação dos empenhos sobre as dotações fixadas porão de:
para cada despesa será emitido o documento Nota de Empenho I- O Tesoureiro do Município, ou servidor que exerça a função,
que conterá as características já determinadas nas normas gerais fica obrigado à apresentação do boletim diário de tesouraria, que
de direito financeiro e Lei de Responsabilidade Fiscal.(Caput com será afixado em local próprio na sede da Prefeitura Municipal e Câ-
redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) mara Municipal.(Inciso I com redação dada pela Emenda n.º 19, de
§ 1.º Fica dispensada a emissão de Nota de Empenho nos se- 14-10-2002)
guintes casos: II– demonstrações contábeis, orçamentárias e financeiras con-
I – despesa relativas a pessoal e seus encargos; solidadas dos órgãos da administração direta com as dos fundos
II– contribuições para o PASEP; especiais, das fundações e das autarquias, instituídos e mantidos
III– amortização, juros e serviços de empréstimos e financia- pelo Poder Público Municipal;
mentos obtidos; III– demonstrações contábeis, orçamentárias e financeiras con-
IV– despesas relativas a consumo de água, energia elétrica, uti- solidadas das empresas municipais;
lização dos serviços de telefones, postais telegráficos e outros que IV– notas explicativas às demonstrações do que trata este ar-
vierem a ser definidos por atos normativos próprios. tigo;
V– relatório circunstanciado da gestão dos recursos públicos
municipais no exercício demonstrado.

214
CONHECIMENTOS GERAIS

SEÇÃO VIII § 2.º A permissão, que poderá incidir sobre qualquer bem pú-
DA PRESTAÇÃO E TOMADA DE CONTAS blico, será feita mediante licitação, a título precário e por decreto.
§ 3.º A autorização, que poderá incidir sobre qualquer bem pú-
Art. 154. São sujeitos à tomada ou à prestação de contas os blico, será feita por portaria, para atividades ou casos específicos e
agentes da administração municipal responsável por bens e valores transitórios.
pertencentes ou confiados à Fazenda Pública Municipal. Art. 161. Nenhum servidor será dispensado, transferido, exo-
§ 1.º O Tesoureiro do Município, ou servidor que exerça a fun- nerado ou aceito o seu pedido de exoneração ou rescisão de contra-
ção, fica obrigado à prestação do boletim diário de tesouraria, que to sem que o órgão responsável pelo controle de bens patrimoniais
será afixado em local próprio na sede da Prefeitura Municipal. da Prefeitura ou da Câmara ateste que o mesmo devolveu os bens
§ 2.º Os demais agentes municipais apresentarão as suas res- móveis do Município que estavam sob sua guarda.
pectivas prestações de contas até o dia 15 do mês subsequente Parágrafo único. O servidor terá prazo de cinco dias, improrro-
àquele em que o valor tenha sido recebido. gáveis, para devolução dos bens sob as penas da lei, ficando afas-
tado do cargo, emprego ou função, sem direito a qualquer remu-
SEÇÃO IX neração.
DO CONTROLE INTERNO INTEGRADO Art. 162. O órgão competente do Município será obrigado, in-
dependentemente de despacho de qualquer autoridade a abrir in-
Art. 155 Os Poderes Legislativo e Executivo manterão, na esfera quérito administrativo e a propor, se for o caso, a competente ação
de suas respectivas competências, sistema de controle interno com civil e penal contra qualquer servidor, sempre que forem apresenta-
a finalidade de:(Caput com redação dada pela Emenda n.º 19, de das denúncias contra extravio ou danos de bens municipais.
14-10-2002) Art. 163. O Município, preferentemente à venda ou à doação
I– avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria- de bens imóveis, concederá direito real de uso, mediante prévia au-
nual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos do torização legislativa e concorrência.
Município;(Inciso I com redação dada pela Emenda n.º 19, de 14- Parágrafo único. A concorrência poderá ser dispensada quando
10-2002) o uso se destinar a concessionária de serviço público, a entidades
II– comprovar a legitimidade e avaliar os resultados, quanto à assistenciais ou verificar-se relevante interesse público na conces-
eficácia e eficiência da gestão orçamentária, financeira e patri- são, devidamente justificado.
monial nos órgãos e entidades da administração municipal, bem
como da aplicação de recursos públicos municipais por entidades CAPÍTULO VIII
de direito privado;(Inciso II com redação dada pela Emenda n.º 19, DAS OBRAS E SERVIÇOS PÚBLICOS
de 14-10-2002)
III– exercer o controle das operações de crédito, avais e garan- Art. 164. É de responsabilidade do Município, mediante lici-
tias, bem como dos direitos e haveres do Município;(Inciso III com tação e de conformidade com os interesses e as necessidades da
redação dada pela Emenda n.º 19, de 14-10-2002) população, prestar serviços públicos, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, bem como realizar obras públicas, poden-
CAPÍTULO VII do contratá-la com particulares através de processo licitatório.
DA ADMINISTRÇÃO DOS BENS PATRIMONIAIS § 1.º Nas licitações a cargo do Município e de entidade de ad-
ministração indireta, observar-se-ão, sob pena de nulidade, os prin-
Art. 156. Compete ao Prefeito Municipal a administração dos cípios de isonomia, publicidade, probidade administrativa, vincula-
bens municipais, respeitada a competência da Câmara quanto ção ao instrumento convocatório e julgamento objetivo.
àqueles utilizados em seus serviços. § 2.º Os órgãos e entidades de administração do Município,
Art. 157. A alienação de bens municipais se fará de conformida- contratadores de obras e serviços, disporão de quadros de custos
de com a legislação pertinente. referenciais para processo de licitação pública, devendo a lei regu-
Art. 158. A afetação e a desafetação de bens municipais depen- lar os procedimentos necessários a este fim, bem como prazos e
derá de lei. mecanismos de acompanhamento e atualização permanentes.
Parágrafo único. As áreas transferidas em decorrência da apro- § 3.º A execução de obras públicas será precedida do respecti-
vação de loteamentos serão considerados bens dominiais enquanto vo projeto básico, sob pena de suspensão da despesa ou de invali-
não se efetivarem benfeitores que lhes dêem outra destinação. dade de sua contratação, ressalvadas as situações previstas em lei.
Art. 159. O uso de bens municipais por terceiros poderá ser Art. 165. Nenhuma obra pública, salvo casos de extrema urgên-
feito mediante concessão, permissão ou autorização, conforme o cia devidamente justificados, será realizada sem que conste:
interesse público o exigir. I– o respectivo projeto;
Parágrafo único. O Município poderá ceder seus bens a outros II– o orçamento de seu custo;
entes públicos, inclusive os da administração indireta, desde que III– a indicação dos recursos financeiros para o atendimento
atendido o interesse público. das respectivas despesas
Art. 160. A concessão administrativa dos bens municipais de IV– a viabilidade do empreendimento, sua conveniência e
uso especial e dominal dependerá de leis e de licitação e far-se-á oportunidade para
mediante contrato por prazo determinado, sob pena de nulidade o interesse público;
do ato. V– os prazos para seu início e término.
§ 1.º A licitação poderá ser dispensada nos casos permitidos na
legislação aplicável.

215
CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 166. Toda obra pública deverá estar acompanhada de placa Art. 173. As tarifas dos serviços públicos prestados diretamente
oficial com as seguintes informações: prazo de execução, valor da pelo Município ou por órgãos de sua administração descentralizada
obra, empresa construtora, número de concorrência, origem dos serão fixadas pelo Prefeito Municipal, cabendo à Câmara Municipal
recursos e quantificação da obra. definir os serviços remunerados pelo custo, acima do custo e abaixo
Art. 167. A concessão ou permissão de serviço público somente do custo, tendo em vista seu interesse econômico social.
será efetivada com autorização da Câmara Municipal e mediante Parágrafo único. Na formação do custo dos serviços de natu-
contrato, precedido de licitação. reza industrial computar-se-ão, além das despesas operacionais e
§ 1.º Serão nulas de pleno direito as concessões e as permis- administrativas, as reservas para depreciação e reposição dos equi-
sões, bem como qualquer autorização para exploração de serviço pamentos e instalações, bem como previsão para expansão dos
público feitas em desacordo com o estabelecido neste artigo. serviços.
§ 2.º Os serviços concedidos ou permitido ficarão sempre sujei- Art. 174. O Município deverá consorciar-se com outros Muni-
tos à regulamentação e à fiscalização da administração municipal, cípios para a realização de obras ou prestação de serviços públicos
cabendo ao Prefeito Municipal aprovar as tarifas respectivas. de interesse comum.
Art. 168. Os usuários estarão representados nas entidades Parágrafo único. O Município deverá propiciar meios para cria-
prestadoras de serviços públicos na forma que dispuser a legislação ção nos consórcios, de órgão consultivo, constituído por cidadãos
municipal, assegurando-se sua participação em decisões relativas a: não pertencentes ao serviço público municipal.
I– planos e programas de expansão dos serviços; Art. 175. Ao Município é facultado conveniar com a União ou
II– revisão da base de cálculos dos custos operacionais; com o Estado, a prestação de serviços públicos de sua competência
III – política tarifária; privativa, quando lhe faltarem recursos técnicos ou financeiros para
IV – nível de atendimento da população em termos de quanti- execução do serviço em padrões adequados, ou quando houver in-
dade e qualidade; teresse mútuo para a celebração do convênio.
V – mecanismos para atenção de pedidos e reclamações dos Parágrafo único. Na celebração de convênios de que trata este
usuários, inclusive para apuração de danos causados a terceiros. artigo deverá o Município:
Parágrafo único. Em se tratando de empresas concessionárias I – propor os planos de expansão dos serviços públicos;
ou permissionárias de serviços públicos, a obrigatoriedade men- II – propor critérios para fixação de tarifas;
cionada neste artigo deverá constar do contrato de concessão ou III – realizar avaliação periódica da prestação dos serviços.
permissão. Art. 176. A criação pelo Município de entidade de administra-
Art. 169. As entidades prestadoras de serviços públicos, são ção indireta para execução de obras ou prestação de serviços pú-
obrigadas, pelo menos uma vez por ano, dar ampla divulgação de blicos só será permitida caso a entidade possa assegurar sua auto
suas atividades, informando, em especial, sobre planos de expan- sustentação financeira.
são, aplicação de recursos financeiros e realização de programas de Art. 177. Os órgãos colegiados das entidades de administração
trabalho. indireta do Município terão a participação obrigatória de um repre-
Art. 170. Nos contratos de concessão ou permissão de serviços sentante de seus servidores, eleito por estes mediante voto direto
públicos serão estabelecidos, entre outros: e secreto, conforme regulamentação a ser expedida por ato do Pre-
I– os direitos dos usuários, inclusive as hipóteses de gratuida- feito Municipal.
de; Art. 178. A publicidade de atos, programas, obras, serviços e
II– as regras para a remuneração do capital e para garantir o campanhas, feita pelos órgãos públicos, deverão Ter caráter educa-
equilíbrio econômico e financeiro do contrato; tivo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
III– as normas que possam comprovar eficiência no atendimen- nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
to do interesse público bem como permitir a fiscalização pelo Muni- de autoridade ou servidores públicos.
cípio, de modo a manter o serviço contínuo, adequado e acessível;
IV– as regras para orientar a revisão periódica das bases de cál- CAPÍTULO IX
culo dos custos operacionais e da remuneração do capital, ainda DOS DISTRITOS
que estipulada em contrato anterior;
V– a remuneração dos serviços prestados aos usuários diretos, SEÇÃO I
assim como a responsabilidade de cobertura dos custos por cobran- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
ça a outros agentes beneficiados pela existência dos serviços;
VI– as condições de prorrogação, caducidade, rescisão e rever- Art. 179. Nos distritos, exceto no da sede, haverá um Conselho
são da concessão ou permissão. Distrital, composto por três Conselheiros e um Administrador Distri-
Parágrafo único. Na concessão ou na permissão de serviços pú- tal eleitos pela respectiva população.
blicos, o Município reprimirá qualquer forma de abuso do poder Art. 180. A instalação de Distrito novo dar-se-á com a posse
econômico, principalmente as que visem à dominação do mercado, do Administrador Distrital e dos Conselheiros distritais perante o
à exploração monopolística e ao aumento abusivo de lucros. Prefeito Municipal.
Art. 171. O Município poderá revogar a concessão ou a permis- Parágrafo único. O Prefeito Municipal comunicará ao Secretá-
são dos serviços que forem executados em desconformidade com o rio de Justiça do Estado, ou a quem lhe fizer a vez, e à Fundação
contrato ou ato pertinente, bem como daqueles que se revelarem Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para os devidos fins, a
manifestamente insatisfatórios para o atendimento dos usuários. instalação do Distrito.
Art. 172. As licitações para concessão ou permissão de serviços
públicos deverão ser precedidas de ampla publicidade, inclusive em
jornais da capital do Estado, mediante edital ou comunicado resumido.

216
CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 181. A eleição dos Conselheiros Distritais, de seus respec- IV– fiscalizar as repartições municipais no Distrito e a qualidade
tivos suplentes e do Administrador Distrital ocorrerá quarenta e dos serviços prestados pela Administração Distrital;
cinco dias após a posse do Prefeito Municipal, cabendo à Câmara V- Representar ao Prefeito ou à Câmara sobre qualquer assunto
Municipal adotar as providências necessárias à sua realização, ob- de interesse do Distrito;
servado o disposto nesta Lei Orgânica. VI– dar parecer sobre reclamações, representações e recursos
§ 1.º O voto para Conselheiro ou Administrador distrital será de habitantes do Distrito, encaminhando-o ao Poder competente;
obrigatório. VII– colaborar com a Administração Distrital na prestação dos
§ 2.º Qualquer eleitor residente no distrito onde se realizar a elei- serviços públicos; Municipal.
ção poderá candidatar-se independentemente de filiação partidária. VIII– prestar as informações que lhe forem solicitadas pelo Governo
§ 3.º A mudança de residência para fora do Distrito implicará a
perda de mandato do Conselheiro Distrital e para fora da vila a do SEÇÃO III
Administrador Distrital. DO ADMINISTRADOR DISTRITAL
§ 4.º O mandato dos Conselheiros Distritais terminará junto
com o do Prefeito Municipal. Art. 187. O Administrador Distrital terá a remuneração que for
§ 5.º A Câmara Municipal editará, até quinze dias antes da data fixada na legislação Municipal.
da Eleição dos Conselheiros Distritais e do Administrador Distrital, § 1.º Criado o Distrito, fica o Prefeito Municipal autorizado a
por meio de decreto legislativo, as instruções para inscrição de can- criar o respectivo cargo de Administrador Distrital.
didatos, coleta de votos e apuração dos resultados. § 2.º O mandato do Administrador Distrital será de dois anos
§ 6.º Quando se tratar de distrito novo, a eleição dos Conse- com direito a reeleição.
lheiros e do Administrador Distrital será realizada noventa dias após Art. 188. Compete ao Administrador Distrital:
a expedição da lei de criação, cabendo à Câmara Municipal regula- I– executar e fazer executar, na parte que lhe couber, as leis e os
mentá-la na forma do parágrafo anterior. demais atos emanados dos poderes competentes;
§ 7.º Na hipótese do parágrafo anterior, a posse dos Conselhei- II– coordenar e supervisionar os serviços públicos Distritais de
ros Distritais e do Administrador dar-se-á dez dias após a divulgação acordo com o que for estabelecido nas leis e nos regulamentos;
dos resultados da eleição. III– propor ao Prefeito Municipal a admissão e a dispensa dos
servidores lotados na Administração Distrital.
SEÇÃO II IV– promover a manutenção dos bens públicos municipais lo-
DOS CONSELHEIROS DISTRITAIS calizados no Distrito;
V– prestar contas das importâncias recebidas para fazer face às
Art. 182. Os Conselheiros Distritais, quando de sua posse, pro- despesas da Administração distrital, observadas as normas legais;
ferirão o seguinte juramento: VI– prestar informações que lhe forem solicitadas pelo Prefeito
“Prometo cumprir dignamente o mandato a mim conferido ob- Municipal ou pela Câmara Municipal;
servando as leis e trabalhando pelo engrandecimento do Distrito VII– solicitar ao Prefeito as providências necessárias à boa Ad-
que represento”. ministração do distrito;
Art. 183. A função do Conselheiro Distrital constitui serviço pú- VIII– presidir as reuniões do Conselho Distrital;
blico relevante e será exercida gratuitamente. IX– executar outra atividades que lhe forem cometidas pelo
Art. 184. O Conselheiro Distrital reunir-se-á, ordinariamente, Prefeito Municipal e pela legislação pertinente.
pelo menos uma vez por mês, nos dias estabelecidos em seu Re-
gimento Interno, e, extraordinariamente, por convocação do Pre- SEÇÃO IV
feito ou do Administrador Distrital, tomando suas deliberações por DO ADMINISTRADOR DE POVOADO
maioria de votos.
§ 1.º As reuniões do Conselho Distrital serão presididas pelo Art. 189. Nos Povoados haverá um administrador de Povoados
Administrador Distrital, que não terá direito a voto. eleito pela respectiva população.
§ 2.º Servirá de Secretário um dos Conselheiros eleito pelos Parágrafo único. O mandato do Administrador de Povoado será
seus pares. de dois anos com direito a reeleição.
§ 3.º Os serviços administrativos do Conselho Distrital serão Art. 190. Lei Municipal definirá da competência, da remunera-
providos pela Administração Distrital. ção e do processo eleitoral do Administrador de Povoado.
§ 4.º Nas reuniões do Conselho Distrital, qualquer cidadão,
desde que residente no Distrito, poderá usar da palavra, na forma CAPÍTULO X
que dispuser o Regimento Interno do Conselho. DO PLANEJAMENTO MUNICIPAL
Art. 185. Nos casos de licença ou de vaga de membro do Conse-
lho Distrital, será convocado o respectivo suplente. Art. 191. O Governo Municipal manterá processo permanente
Art. 186. Compete ao Conselho Distrital: de planejamento visando promover o desenvolvimento do Municí-
I– elaborar o seu Regimento Interno; pio, o bem estar da população e a melhoria da prestação dos servi-
II– elaborar, com a colaboração do Administrador Distrital e da ços públicos municipais.
população, a proposta orçamentária anual, do Distrito e encami- Parágrafo único. O desenvolvimento do Município terá por ob-
nhá-la ao Prefeito nos prazos fixados por este; jetivo a realização plena de seu potencial econômico e a redução
III– opinar, obrigatoriamente, no prazo de dez dias, sobre a pro- das desigualdades sociais no acesso aos bens e serviços, respeita-
posta do plano plurianual no que concerne ao Distrito, antes de seu das as vocações, as peculiaridades e a cultura locais e preservados
envio pelo Prefeito à Câmara Municipal; o seu patrimônio ambiental, natural e construído.

217
CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 192. O processo de planejamento municipal deverá consi- III– acesso universal e igualitário de todos os habitantes do Mu-
derar os aspectos técnicos e políticos envolvidos na fixação de obje- nicípio às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da
tivos, diretrizes e metas para a ação Municipal, propiciando que au- saúde, sem qualquer discriminação.
toridades, técnicos de planejamento, executores e representantes Art. 199. As ações de saúde são de relevância pública, devendo
da sociedade civil participem do debate sobre os problemas locais sua execução ser feita preferencialmente, através de serviços públi-
e as alternativas para o seu enfrentamento, buscando conciliar inte- cos e, complementamente, através de serviços de terceiros.
resses e solucionar conflitos. Parágrafo único. É vedado ao Município cobrar do usuário pela
Art. 193. O Planejamento Municipal deverá orientar-se pelos prestação de serviço de assistência à saúde mantidos pelo Poder
seguintes princípios básicos: Público ou contratados com terceiros.
I– democracia e transparência no acesso às informações dis- Art. 200. O Município garantirá a implantação, o acompanha-
poníveis; mento e a fiscalização da política de assistência integral à saúde da
II– eficiência e eficácia na utilização dos recursos financeiros, mulher em todas as fases de sua vida, de acordo com suas especifi-
técnicos e humanos disponíveis; cidades, assegurando, nos termos da lei:
III– complementaridade e integração de políticas, planos e pro- I– assistência ao pré-natal, parto e puerpério, incentivo ao alei-
gramas setoriais; tamento e assistência clínico-ginecológica;
IV– viabilidade técnica e econômica das proposições, avaliada a II– direito à auto-regulação da fertilidade, com livre decisão da
partir do interesse social da solução e dos benefícios públicos; mulher, do homem ou do casal, para exercer a procriação ou para
V– respeito e adequação à realidade local e regional e conso- evitá-la, vedada qualquer forma coercitiva de indução;
nância com os planos e programas estaduais e federais existentes. III– assistência à mulher em caso de aborto previsto em lei ou
Art. 194. A elaboração e a execução dos planos e dos progra- de sequelas de abortamento;
mas do Governo Municipal obedecerão às diretrizes do plano dire- IV– atendimento à mulher vítima de violência.
tor e terão acompanhamento e avaliação permanentes de modo a Art.201.OMunicípioincorporarápráticasalternativasdesaúde,
garantir e seu êxito e assegurar sua continuidade no horizonte de considerando a experiência de grupos ou instituições de defesa dos
tempo necessário. direitos da mulher.
Art. 195. O planejamento das atividades do Governo Munici- Art. 202. São atribuições do Município no âmbito do Sistema
pal obedecerá às diretrizes deste capítulo e será feito por meio de Único de Saúde:
elaboração e manutenção atualizada, entre outros, dos seguintes I– planejar, organizar, gerir, controlar e avaliar as ações e os ser-
instrumentos: viços de saúde
I– plano diretor; II– planejar, programar e organizar a rede regionalizada e hie-
II– plano de governo; rarquizada do SUS, em articulação com a sua direção estadual;
III– lei de diretrizes orçamentárias; III– gerir, executar controlar e avaliar as ações referentes às
IV – plano plurianual; condições e aos ambientes de trabalho;
V – orçamento anual. IV– executar serviços de:
Art. 196. Os instrumentos de planejamento municipal mencio- a)vigilância epidemiológica;
nados no artigo anterior deverão incorporar as propostas constan- b)vigilância sanitária;
tes dos planos e programas setoriais do Município, dadas as suas c)fiscalização e inspeção de alimentos, compreendido controle
implicações para o desenvolvimento local. de seu teor nutricional, bem como bebidas e água para consumo
humano;
CAPÍTULO XI d)controle e fiscalização de produção, transporte, guarda e uti-
DAS POLÍTICAS MUNICIPAIS lização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
e)plantões ininterruptos em postos de saúde;
SEÇÃO I V– planejar e executar a política de saneamento básico em ar-
DA POLÍTICA DE SAÚDE ticulação com o Estado e a União;
VI– executar a política de insumos e equipamentos para a saú-
Art. 197 A saúde é direito de todos e dever do Município que de;
integra com a União e o Estado o Sistema Único Descentralizado de VII– fiscalizar as agressões ao meio ambiente que tenham re-
Saúde, cujas ações e serviços públicos são por ele dirigidos, na sua percussão sobre a saúde humana e atuar, junto aos órgãos estadu-
circunscrição territorial.(Caput com redação dada pela Emenda n.º ais e federais competentes, para controlá- las;
19, de 14-10-2002) VIII– formar consórcios intermunicipais de saúde; IX – gerir la-
Art. 198. Para atingir os objetivos estabelecidos no artigo ante- boratórios públicos de saúde;
rior, o Município promoverá por todos os meios ao se alcance: X– avaliar e controlar a execução de convênios e contratos, ce-
I– o bem-estar físico, mental e social do indivíduo e da coleti- lebrados pelo Município, com entidades privadas prestadoras de
vidade e a eliminação ou redução do risco de doenças ou outros serviços de saúde;
agravos à saúde, assegurando condições dignas de trabalho, sanea- XI– autorizar a instalação de serviços privados de saúde e fisca-
mento, habitação, transporte e lazer, protegendo o meio ambiente lizar-lhe o funcionamento;
e planejamento familiar.(Inciso I com redação dada pela Emenda XII– incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento
n.º 19, de 14-10-2002) científico e tecnológico
II– respeito ao meio ambiente e controle da poluição ambien- XIII– colaborar no combate ao uso de tóxico;
tal;

218
CONHECIMENTOS GERAIS

XIV– fiscalizar as atividades de pesquisa genética e de repro- SEÇÃO II


dução em seres humanos e a comercialização de produtos anticon- DA POLÍTICA EDUCACIONAL, CULTURAL E DESPORTIVA
cepcionais.
Art. 203. As ações e os serviços de saúde realizados no Municí- Art. 209 O sistema de ensino do Município, integrado ao Sis-
pio integram uma rede regionalizada e hierarquizada constituindo tema Nacional de Educação, tendo como fundamento a Unidade
o Sistema Único de Saúde no âmbito do Município, organizado de Escolar, será organizado com observância das diretrizes comuns es-
acordo com as seguintes diretrizes: tabelecidas nas legislações federal, estadual e municipal e as pecu-
I – comando único exercido pela Secretaria Municipal de saúde; liaridades locais, e manterá:(Caput com redação dada pela Emenda
II – integridade na prestação das ações de saúde; n.º 19, de 14-10-2002)
III– organização de distritos sanitários com a locação de recur- I– ensino fundamental, obrigatório, inclusive para os que não
sos técnicos e práticos de saúde adequadas à realidade epidemio- tiveram acesso na idade própria;
lógica local; II– continuidade do ensino fundamental, obrigatório, nos distri-
IV– participação em nível de decisão de entidades represen- tos e povoados com população escolar correspondente à formação
tativas dos usuários, dos trabalhadores de saúde e dos represen- da série seguinte;
tantes governamentais na formulação, gestão e controle da política III– atendimento educacional especializado aos excepcionais e
municipal e das ações de saúde através do Conselho Municipal de aos portadores de deficiências físicas, mentais e sensoriais;
caráter deliberativo e paritário; IV– atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a
V– direito do indivíduo de obter informações e esclarecimentos seis anos de idade, inclusive nos distritos e povoados;
sobre assuntos pertinentes à promoção, proteção e recuperação de V– ensino noturno regular, adequado às condições do educan-
sua saúde e da coletividade. do;
Parágrafo único. Os limites dos distritos sanitários referidos no VI– atendimento ao educando, no ensino fundamental, por
inciso III, constarão do Plano Diretor de Saúde fixados segundo os meio de programas suplementares de fornecimento de material di-
seguintes critérios: dático, transporte escolar, alimentação e assistência à saúde.
I – área geográfica de abrangência; Art. 210. O Município atuará, junto com os órgãos competen-
II – inscrição de clientela; tes, na fiscalização do cumprimento das normas legais relativas à
III – resolutividade de serviços à disposição da população. manutenção de creches.
Art. 204. O Prefeito convocará anualmente o Conselho Mu- Art. 211. O Município promoverá, anualmente, o recensea-
nicipal de Saúde para avaliar a situação do Município, com ampla mento da população escolar e fará a chamada dos educandos.
participação da sociedade, e fixar as diretrizes gerais da política de Art. 212. O Município zelará, por todos os meios ao seu alcan-
saúde do Município. ce, pela permanência do educando na escola;
Art. 205. A lei disporá sobre a organização e o funcionamento Art. 213. O Município garantirá educação não diferenciada a
do Conselho Municipal de Saúde que terá as seguintes atribuições: alunos de ambos os sexos, eliminando práticas discriminatórias nos
I– formular a política Municipal de saúde, a partir das diretrizes currículos escolares e no material didático.
emanadas da Conferência Municipal de Saúde; Art. 214. O Calendário escolar municipal será flexível e adequa-
II– planejar e fiscalizar a distribuição dos recursos destinados do às peculiaridades climáticas e às condições sociais e econômicas
à saúde; dos alunos.
III– aprovar a instalação e o funcionamento de novos serviços Art. 215. Os currículos escolares serão adequados às peculiari-
públicos ou privados de saúde, atendidas as diretrizes do plano mu- dades do Município e valorização da sua cultura e seu patrimônio
nicipal de saúde. histórico, artístico, cultural e ambiental.
Art. 206. As instituições privadas poderão participar de forma Art. 216. O Município aplicará, anualmente, nunca menos de
complementar do Sistema Único de Saúde, mediante contrato de trinta por cento da receita resultante de impostos e das transferên-
direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filan- cias recebidas do Estado e da União na manutenção e no desen-
trópicas e as sem fins lucrativos. volvimento do ensino.(?) ser dirigidos, também, às escolas comu-
Art. 207. O Sistema Único de Saúde no âmbito do Município nitárias, confessionais ou filantrópicas, na forma da lei, desde que
será financiado com recursos do orçamento do Município, do Esta- atendidas as prioridades da rede de ensino do Município.
do, da União e da seguridade social, além de outras fontes. Art. 217. O Município não manterá escolas de segundo grau
§ 1.º Os recursos destinados às ações e aos serviços de saúde até que estejam atendidas todas as crianças de idade até quatorze
no Município constituirão Fundo Municipal de Saúde, conforme dis- anos, bem como não manterá nem subvencionará estabelecimento
puser a lei. de ensino superior.
§ 2.º O Município assegurará no orçamento subvenções a en- Art. 218. Ficam isentas do pagamento do imposto predial e
tidades filantrópicas de utilidade pública reconhecida pela Câmara territorial urbano os imóveis tombados pelo Município em razão,
Municipal. de suas características históricas, artísticas, culturais e paisagísticas.
§ 3.º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios Art. 219. É vedado ao Município a subvenção de entidades des-
ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. portivas profissionais.
Art. 208. A inspeção médica, nos estabelecimentos de ensino Art. 220. O Município deverá estabelecer e implantar políticas
municipal, terá caráter obrigatório de educação para a segurança de trânsito, em articulação com o
Estado.
Art. 221. É da competência comum da União, do Estado e do
Município proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação
e à ciência.

219
CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 222. O sistema de ensino do Município será organizado Art. 235. Constitui obrigatoriedade do Município a instalação e
com base nas seguintes diretrizes: manutenção da Biblioteca pública.
I– adaptação das diretrizes da legislação federal e estadual às Art. 236. O Município incluirá nos currículos escolares a maté-
peculiaridades locais ria Educação Associativa, visando dotar aos alunos e futuros profis-
II– manutenção de padrão de qualidade através de controle sionais conhecimentos sobre cooperativismo.
pelo Conselho Municipal de Educação; Art. 237. Constitui disciplina dos horários das escolas munici-
III– gestão democrática, garantindo a participação de entidades pais o ensino religioso, de matrícula facultativa, e será ministrado
da comunidade na concepção, execução, controle e avaliação dos de acordo com a confissão religiosa do aluno manifestado por ele se
processos educacionais; for capaz, ou por seu representante legal ou responsável.
IV– garantia de liberdade de ensino, de pluralismo religioso e Art. 238. O Município auxiliará, pelos meios ao seu alcance, as
cultural. organizações beneficentes, culturais e amadoristas, nos termos da
Art. 223. Serão criados o Conselho Municipal de Educação e lei, sendo que os amadoristas e as colegiais terão prioridade no uso
Colegiados Escolares, cuja composição e competência serão defini- de estádios, campos e instalações de propriedade do Município.
das em lei, garantindo-se a representação da comunidade escolar e Parágrafo único. Aplica-se ao Município, no que couber, o dis-
da sociedade. posto no artigo 217 da Constituição Federal.
Parágrafo único. Os Diretores e Vice-Diretores serão escolhidos Art. 239. O Município manterá o professorado municipal em
através de eleição direta, na forma da lei. nível econômico, social e moral à altura de suas funções.
Art. 224. O Município apoiará e incentivará a valorização, a pro-
dução e a difusão das manifestações culturais, prioritariamente, as SEÇÃO III
diretamente ligadas à sua história, à sua comunidade e aos seus DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
bens, através de:
I– criação, manutenção e abertura de espaços culturais; SUBSEÇÃO I
II– intercâmbio cultural e artístico com outros municípios e Es- DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
tados;
III – acesso livre aos acervos de bibliotecas, museus e arquivos; Art. 240. O Município executará na sua circunscrição territorial,
IV – aperfeiçoamento e valorização dos profissionais da cultura. com recursos da seguridade social, consoante normas gerais fede-
Art. 225. Ficam sob a proteção do Município, obras, objetos, rais, os programas de ação governamental na área de assistência
documentos e imóveis de valor histórico, paisagístico, artístico, ar- social.
queológico, paleantológico, ecológico, e científico tombados pelo § 1.º As entidades beneficentes e de assistência social sediadas
Poder Público Municipal. no Município poderão integrar os programas referidos no “caput”
Parágrafo único. Os bens tombados pela União ou pelo Estado deste artigo.
merecerão idêntico tratamento, mediante convênio. § 2.º A comunidade, por meio de suas organizações represen-
Art. 226. O Município promoverá o levantamento e a divulga- tativas, participará na formulação das políticas e no controle das
ção das manifestações culturais da memória da cidade e realizará ações.
concursos, exposições e publicações para sua divulgação. Art. 241. A ação do Município no campo de assistência social
Art. 227. O Município fomentará as práticas desportivas for- objetivará promover:
mais e não formais, dando prioridade aos alunos de sua rede de I– a integração do indivíduo homem ou mulher ao mercado de
ensino e à promoção desportiva dos clubes locais. trabalho e ao meio social;
Art. 228. O Município incentivará o lazer como forma de pro- II– o amparo à velhice e à criança abandonada;
moção e integração social. III – a integração das comunidades carentes;
Art. 229. Caberá ao Município estabelecer e desenvolver pla- IV – assistência médica, psicológica e jurídica à mulher e seus
nos e programas de construção e manutenção de equipamentos familiares
desportivos comunitários escolares, com alternativa da utilização vítimas de violência, sempre que possível por meio de servido-
para portadores de deficiência física. res do sexo feminino;
Art. 230. A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas V– a plena integração das mulheres portadoras de qualquer de-
de alta significação para o Município. ficiência física na vida econômica e social e o total desenvolvimento
Art. 231. O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Mu- de suas potencialidades, assegurando a todas adequada qualidade
nicípio ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autori- de vida em seus diversos aspectos;
dade competente. VI– assistência funerária às pessoas carentes.
Art. 232. O sistema de ensino municipal assegurará aos alunos
necessitados, condições de eficiência escolar. SUBSEÇÃO II
Art. 233. O Município orientará e estimulará, por todos os DA FAMÍLIA, DO DEFICIENTE, DO EXCEPCIONAL E DO IDOSO
meios a educação física, que será obrigatória nos estabelecimentos
municipais de ensino. Art. 242. O Município dispensará proteção especial ao casa-
Art. 234. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as se- mento e assegurará condições morais, físicas e sociais indispensá-
guintes condições: veis ao desenvolvimento, segurança e estabilidade da família.
I– cumprimento das normas gerais de educação nacional; § 1.º Serão proporcionadas aos interessados todas as facilida-
II– autorização e avaliação de qualidade pelos órgãos compe- des para a celebração do casamento.
tentes.

220
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 2.º A lei disporá sobre a assistência aos idoso, à maternida- SEÇÃO IV


de e aos excepcionais, assegurada aos maiores de sessenta e cinco DA POLÍTICA ECONÔMICA
anos a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.
§ 3.º Compete ao Município, suplementar a legislação federal e Art. 246. O Município promoverá o seu desenvolvimento eco-
a estadual dispondo a proteção à infância, à juventude e às pesso- nômico, agindo de modo que as atividades econômicas realizadas
as portadoras de deficiência, garantindo-lhes acesso a logradouros em seu território contribuam para elevar o nível de vida e o bem
públicos, edifícios e veículos de transporte coletivo. estar da população local, bem como para valorizar o trabalho hu-
§ 4.º No âmbito de sua competência, lei municipal disporá so- mano.
bre adaptação dos logradouros e dos edifícios de uso público, a fim Parágrafo único. Para a consecução do objetivo mencionado
de garantir o acesso adequado às pessoas portadoras de deficiên- neste artigo, O Município atuará de forma exclusiva ou em articula-
cia. ção com a União e com o Estado.
§ 5.º Para a execução do previsto neste artigo, serão adotadas, Art. 247. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer ati-
entre outras, as seguintes medidas: vidade econômica independentemente de autorização dos órgãos
I– amparo às famílias numerosas e sem recursos; públicos municipais, salvo nos casos previstos em lei.
II– ação contra os males que são instrumentos da dissolução Art. 248. Na promoção do desenvolvimento econômico, o Mu-
da família; nicípio agirá, sem prejuízo de outras iniciativas, no sentido de:
III– estímulos aos pais e às organizações sociais para formação I– fomentar a livre iniciativa;
moral, cívica, física e intelectual da juventude; II– privilegiar a geração do emprego;
IV– colaboração com as entidades assistenciais que visem a III– utilizar tecnologias de uso intensivo de mão-de-obra;
proteção e educação da criança; IV – racionalizar a utilização de recursos naturais;
V– amparo às pessoas idosas, assegurando sua participação na V– proteger o meio ambiente;
comunidade , defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo- VI– proteger os direitos dos usuários dos serviços públicos e
-lhes o direito à vida; dos consumidores;
VI– colaboração com a União, com o Estado e com os outros VII– dar tratamento diferenciado à pequena produção artesa-
Municípios para a solução do problema dos menores desampara- nal ou mercantil, às microempresas e às pequenas empresas locais,
dos ou desajustados, através de processo adequado de permanen- considerando sua contribuição para a democratização de oportuni-
te recuperação. dades econômicas, inclusive para os grupos sociais mais carentes;
Art. 243. O Município reconhecerá a maternidade e a pater- VIII– estimular o associativismo, o cooperativismo e as micro-
nidade como relevantes funções sociais assegurando aos pais os empresas;
meios necessários à educação, creche, saúde, alimentação e segu- IX– eliminar entraves burocráticos que possam limitar o exercí-
rança de seus filhos. cio da atividade econômica;
Art. 244. O Município promoverá programas de assistência à X– desenvolver ação direta ou reivindicativa junto a outras es-
criança, ao excepcional e ao idoso. feras de Governo, de modo que sejam, entre outros, efetivados:
a)assistência técnica;
SUBSEÇÃO III b)crédito especializado ou subsidiado;
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE c)estímulos fiscais e financeiros;
d)serviços de suporte informativo ou de mercado.
Art. 245. Fica criado o Conselho Municipal de Promoção dos Art. 249. Na aquisição de bens de serviços, o Poder Público Mu-
Direitos e Defesa da Criança e do Adolescente. nicipal dará tratamento preferencial, na forma da lei, às empresas
§ 1.º O Conselho responderá pela implementação da priorida- brasileiras de capital nacional, principalmente às microempresas e
de absoluta aos direitos da criança e do adolescente, nos termos do às empresas de pequeno porte.
artigo 227 da Constituição Federal. Art. 250. A exploração direta da atividade econômica, pelo Mu-
§ 2.º Para o cumprimento efetivo e pleno de sua missão institu- nicípio só será permitida em caso de relevante interesse coletivo
cional, o Conselho deverá ser: na forma da lei complementar que, dentre outras, especificará as
I– deliberativo; seguintes exigências para as empresas públicas e sociedades de
II– paritário: composto de representantes das políticas públicas economia mista ou entidade para criar ou manter:
e das entidades representativas da população; I– regime jurídico das empresas privadas, inclusive quanto às
III– formulador das políticas, através de cooperação no planeja- obrigações trabalhistas e tributárias;
mento municipal; adolescente; II– proibição de privilégios fiscais não extensivos ao setor pri-
IV– definidor do emprego dos recursos do Fundo Municipal da vado;
criança e do III – subordinação a uma Secretaria Municipal;
V – controlador das ações em todos os níveis. IV– adequação da atividade ao plano diretor, ao plano pluria-
§ 3.º O Fundo Municipal da Criança e do Adolescente mobiliza- nual e às diretrizes orçamentárias;
rá recursos do orçamento municipal, das transferências estaduais e V– orçamento anual aprovado pelo Prefeito.
federais e de outras fontes. Art. 251. É da responsabilidade do Município, no campo de sua
competência, a realização de investimentos para formar e manter
a infra estrutura básica capaz de atrair, apoiar e incentivar o desen-
volvimento de atividades produtivas, seja diretamente ou mediante
delegação ao setor privado para esse fim.

221
CONHECIMENTOS GERAIS

Parágrafo único. A atuação do Município dar-se-á, inclusive, I– orientação e gratuidade de assistência jurídica, independen-
no meio rural, para a fixação de contingentes populacionais, pos- temente da situação social e econômica do reclamante;
sibilitando-lhes acesso aos meios de produção e geração de renda II– criação de órgãos no âmbito da Prefeitura ou da Câmara
e estabelecendo a necessária infra estrutura destinada a viabilizar Municipal para defesa do consumidor;
esse propósito. III– atuação coordenada com a União e o Estado.
Art. 252. A atuação do Município da zona rural terá como prin- Art. 261. O Município dispensará tratamento jurídico e admi-
cipais objetivos: nistrativo diferenciados à microempresas e à empresas de pequeno
I– oferecer meios para assegurar ao pequeno produtor e traba- porte, assim definidas em legislação Municipal.
lhador rural condições de trabalho e de mercado para os produtos, Art. 262. Às microempresas e às empresas de pequeno porte
a rentabilidade dos empreendimentos e a melhoria do padrão de municipais serão concedidos os seguintes favores fiscais:
vida da família rural; I – isenção do imposto sobre serviços de qualquer natureza –
II– garantir o escoamento da produção, sobretudo o abasteci- ISS;
mento alimentar; II – isenção de taxa de licença para localização de estabeleci-
III – garantir a utilização racional dos recursos naturais. mento;
Art. 253. A política agrícola será realizada com base em planos III– dispensa da escrituração dos livros fiscais estabelecidos
plurianuais e planos anuais, elaborados de forma democrática, com pela legislação tributária do Município, ficando obrigadas a manter
a participação de representantes dos produtores, dos trabalhado- arquivada a documentação relativa aos atos negociais que pratica-
res rurais e do setor público agrícola buscando o desenvolvimento rem ou que intervierem;
agrícola que proporcione ao homem do campo o acesso aos servi- IV– autorização para utilizarem modelos simplificado de Notas
ços essenciais. iscais de serviços ou cupom de máquina registradora, na forma de-
Parágrafo único. Os planos de desenvolvimento agrícola deve- finida por instrução do órgão fazendário da Prefeitura;
rão prever: Parágrafo único. O tratamento diferenciado previsto neste arti-
I– integração das atividades agrícolas com as de preservação go será dado aos contribuintes citados, desde que atendam às con-
do meio ambiente, de reforma agrária e com as de apoio econômi- dições estabelecidas na legislação específica.
co e social do Município; Art. 263. O Município, em caráter precário e por prazo limitado
II– sistematização das ações de políticas agrícolas, fundiária e definido em ato do Prefeito, permitirá às microempresas se esta-
de reforma agrária, previstas pelos Governos Federal e Estadual que belecerem na residência de seus titulares, desde que não prejudi-
se apliquem ao Município; quem as normas ambientais, da segurança, de silêncio, de trânsito
III– apoio às iniciativas de comercialização direta entre produ- e de saúde pública.
tores rurais e consumidores, concedendo-lhes estímulos, na forma Parágrafo único. As microempresas, desde que trabalhadas ex-
da lei, desde que a venda seja por suas entidades representativas clusivamente pela família, não terão seus bens ou os de seus pro-
ou formas associativas; prietários sujeitos a penhora pelo Município para pagamento de
IV– prioridade para implantação de obras que tenham atendi- débito decorrente de sua atividade produtiva.
mento de caráter coletivo tais como: barragens, açudes, perfuração Art. 264. Fica assegurada às microempresas ou às empresas de
de poços, chafarizes comunitários, irrigação, armazéns, energia, te- pequeno porte a simplificação ou a eliminação, através de ato do
lefones e lazer rurais. Prefeito, de procedimentos administrativos em seu relacionamento
Art. 254. O Município deverá integrar-se com o Estado e a com a administração municipal, direta ou indireta, especialmente
União no apoio aos serviços oficiais de assistência técnica e exten- em exigências relativas às licitações.
são rural, pesquisa agropecuária, defesa sanitária animal e vegetal Art. 265. Os portadores de deficiência física e de limitação sen-
e de abastecimento alimentar. sorial, assim como as pessoas idosas, terão prioridade para exercer
Art. 255. O Município desenvolverá esforços para localizar pro- o comércio eventual ou ambulante no Município.
priedades rurais que não cumprem sua função social, solicitando a Art. 266. O Município promoverá e incentivará o turismo como
desapropriação desses imóveis aos órgãos competentes. fator de desenvolvimento cultural, social e econômico.
Art. 256. O Município instalará áreas de produção agropecuá-
ria comunitária como forma de geração de trabalho e produção de SEÇÃO V
alimentos a população mais carente. DA POLÍTICA URBANA
Art. 257. O Município será vigilante à ocorrência de surtos de
doenças e pragas nas lavouras e rebanhos, em sua área geográfica Art. 267 – Caberá ao Município formular e executar a política
e comunicará aos órgãos competentes qualquer evento desta na- urbana, conforme diretrizes fixadas em lei, observando o pleno de-
tureza. senvolvimento das funções sociais da cidade, assim como a garantia
Art. 258. Como principais instrumentos para o fomento da pro- do bem-estar dos seus habitantes pelo acesso de todo cidadão à
dução na zona rural, o Município utilizará a assistência técnica, a moradia, transporte público, água potável, esgoto sanitário, drena-
extensão rural, o armazenamento, o transporte, o associativismo e gem, energia elétrica, abastecimento alimentar, iluminação pública,
a divulgação das oportunidades de crédito e de incentivos fiscais. coleta e disposição de lixo, comunicação, educação, saúde, cultura,
Art. 259. O Município poderá consorciar-se com outras munici- creche, segurança, preservação do patrimônio ambiental e cultural,
palidades com vistas ao desenvolvimento de atividades econômicas e ao estado social de necessidade.
de interesse comum, bem como integrar-se em programas de de- § 1.º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, é o
senvolvimento regional, a cargo de outras esferas de Governo. instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão
Art. 260. O Município desenvolverá esforços para proteger o urbana.
consumidor através de:

222
CONHECIMENTOS GERAIS

§ 2.º O exercício do direito de propriedade atenderá a sua fun- IX– a participação da população e entidades comunitárias na
ção social quando condicionado as funções sociais da cidade. definição de prioridades, conteúdo e implementação de planos,
Art. 268. Para assegurar as funções sociais da cidade e da pro- programas e projetos que lhe sejam concernentes, mediante as
priedade, o Município, nos limites de sua competência, poderá uti- modalidades que a lei fixar;
lizar os seguintes instrumentos: X– especialmente às pessoas portadoras de deficiência, o livre
I – tributários e financeiros: acesso a edifícios públicos e particulares de frequência aberta ao
a)Imposto Predial e Territorial Urbano progressivo e diferencia- público e a logradouros públicos, mediante a eliminação de barrei-
do por zonas e outros critérios de ocupação e uso do solo; ras arquitetônicas e ambientais.
b)Taxas e tarifas diferenciadas por zonas, segundo os serviços Art. 270. O direito de propriedade territorial urbana não pres-
públicos oferecidos; supõe o direito de construir, cujo exercício deverá ser autorizado
c)Contribuição de melhoria; pelo Poder Público, segundo os critérios que forem estabelecido em
d)Incentivos e benefícios fiscais e financeiros em empreendi- Lei Municipal.
mentos e programas de notório alcance social; Parágrafo único. O abuso do direito pelo proprietário urbano
e)Fundos destinados ao desenvolvimento urbano; acarretará, além das sanções administrativas, as sanções civis e cri-
II – jurídicos, tais como: minais, conforme definido em lei.
a)discriminação de terras públicas; Art. 271. As terras públicas não utilizadas ou sub-utilizadas e
b)desapropriação; as discriminadas serão prioritariamente destinadas a assentamento
c)parcelamento ou edificação compulsórios; de população de baixa renda, instalações de equipamentos coleti-
d)servidão administrativa; vos ou a manutenção da preservação do equilíbrio ecológico e re-
e)restrição administrativa; cuperação do meio ambiente natural.
f)tombamento de imóveis; § 1.º É obrigação do Município manter atualizados os respecti-
g)declaração de área de proteção ambiental; vos cadastros imobiliários e de terras públicas.
h)concessão real de uso ou domínio; § 2.º Nos assentamentos em terras públicas e ocupadas por
i)outras medidas previstas em lei. população de baixa renda ou em terras não utilizadas ou sub-utili-
Parágrafo único. O imposto progressivo, a contribuição de me- zadas, o domínio ou a concessão real de uso, serão concedidos ao
lhoria e a edificação compulsória não poderão incidir sobre terreno homem ou a mulher, ou a ambos, independente do estado civil, nos
de até duzentos e cinquenta metros quadrados, destinados a mora- termos e condições previstas em lei.
dia de proprietário que não tenha outro imóvel. § 3.º Fica assegurado o uso coletivo de propriedade urbana
Art. 269. No estabelecimento de diretrizes ao desenvolvimento ocupada pelo prazo mínimo de cinco anos, por população de baixa
urbano, o Município deverá garantir: renda, desde que requerida em juízo por entidade representativa
I– o uso equânime do solo urbano, dos equipamentos, infra- da comunidade local, legalmente reconhecida, à qual caberá o títu-
-estrutura, dos bens e serviços produzidos, pela economia urbana e lo de domínio e a concessão de uso.
sua justa administração pelo Poder Público; Art. 272. A prestação dos serviços públicos à comunidade de
II– a preservação e o estímulo às atividades agrícolas e pecuá- baixa renda independerá do reconhecimento de seus logradouros
rias situadas no entorno urbano; e da regulamentação urbanística das áreas e de suas edificações ou
III– a urbanização, a regulamentação fundiária das áreas ocu- constituições.
padas pela população de baixa renda, garantindo o direito de uso Parágrafo único. O ato de reconhecimento de logradouros de
dos seus moradores, ressalvados os casos que impliquem em risco uso da população não importa aprovação de parcelamento do solo,
de vida ou problema de ordem técnica, que deverão ser apreciados nem aceitação de obras de urbanização nem dispensa das obriga-
por uma comissão formada pelas entidades comunitárias interessa- ções previstas na legislação aos proprietários loteadores e demais
das e por aquelas envolvidas com as questões urbanas; responsáveis.
IV– a promoção de programas habitacionais para a população Art. 273. Incumbe ao Município promover e executar progra-
que não tem acesso ao mercado formal de produção de habitação, mas de construção de moradias populares e garantir condições
garantindo condições básicas de saneamento e acesso ao transpor- habitacionais e de infra-estrutura urbana, em especial as de sanea-
te; mento básico e transporte, assegurando-se sempre um nível com-
V– a preservação, proteção e recuperação do meio ambiente patível com a dignidade da pessoa humana.
natural, cultural e histórico; Parágrafo único. O Poder Público dará apoio à criação de coo-
VI– a criação de áreas de especial interesse urbanístico, social, perativas e outras formas de organização que tenham por objetivos
ambiental, turístico e de utilização pública, sujeitos à legislação es- a realização de programas de habitação popular, colaborando na
pecífica que lhes garante a preservação e desenvolvimento; assistência técnica e financeira necessárias ao desenvolvimento dos
VII– a administração dos resíduos gerados no meio urbano programas de construção e reforma de casa populares.
através de métodos de coleta e disposição final que assegurem a Art. 274. O Município criará mecanismos que possibilitem o
preservação sanitária e ecológica àqueles que proporcionem o planejamento e implantação de sistema de coleta, transporte, tra-
aproveitamento de sua energia potencial; tamento e/ou disposição final do lixo, com ênfase nos processos
VIII– a utilização racional do território e dos recursos naturais, que envolvam sua reciclagem.
mediante controle da implantação e do funcionamento de empre- Art. 275. É isento de imposto sobre a propriedade predial e
endimentos industriais, comerciais, habitacionais, institucionais e territorial urbana o prédio ou terreno destinado à moradia do pro-
viários; prietário de pequenos recursos, que não possua outro imóvel, nos
termos e no limite do valor que a lei fixar.

223
CONHECIMENTOS GERAIS

Art. 276. Na promoção de seus programas de habitação popu- dos recursos provenientes dos desmates regulamentados por lei,
lar, o Município deverá articular-se com os órgãos estaduais regio- na região geradora dos mesmos, ficando a fiscalização por conta do
nais e federais, competentes e, quando couber, estimular a iniciativa Município;
privada e contribuir para aumentar a oferta de moradias adequadas VI– promover a conscientização pública para a defesa do meio
e compatíveis com a capacidade econômica da população. ambiente com uso inclusive dos modernos meios de comunicação
Art.277. Na elaboração, implantação e gestão de políticas ha- e estabelecer programas sistemáticos de educação ambiental em
bitacionais, de serviços públicos, de desenvolvimento industrial todos os níveis de ensino;
e turístico, bem como dos orçamentos, o Poder Executivo deverá VII– controlar e fiscalizar os processos de técnica de fabricação,
submeter ao Legislativo Municipal e à comunidade, através de suas estocagem, transporte, comercialização e técnicas de aplicação de
entidades representativas, valendo-se de audiências públicas, Con- substâncias e produtos que ofereçam riscos à saúde humana ou ao
selho Municipal, plebiscitos e referendo populares. meio ambiente, e incluídas as substâncias mutagênicas e carcinogê-
Art. 278. Fica criado o Conselho Municipal de Desenvolvimento nicas, equipamentos e materiais radioativos;
Urbano, com a finalidade de definir as diretrizes e normas urbanas, VIII– incentivar o reflorestamento do seu território, inclusive,
acompanhar o processo de planejamento, elaborar a programação fornecendo mudas de espécies nativas;
orçamentária, e analisar as diretrizes econômicas, financeiras e ad- IX– garantir o amplo acesso da comunidade às informações
ministrativas entre outras atribuições definidas em lei municipal, sobre as fontes e informar sistematicamente a população sobre os
assegurada a participação das entidades representativas de mora- níveis de poluição, a qualidade do meio ambiente, as situações de
dores e de profissionais ligados ao desenvolvimento urbano. riscos de acidentes e a presença de substâncias potencialmente da-
nosas à saúde na água potável, alimentos, ar e solo.
SEÇÃO VI Art. 282. São áreas de preservação permanentes, como defini-
DA POLÍTICA DO MEIO AMBIENTE das em lei:
I – as matas ciliares;
Art. 279. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente II– as reservas da flora apícula compreendendo uma infinidade
equilibrado e de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de espécies vegetais e enxames silvestres;
de vida, impondo-se ao Município e a coletividade, o dever de de- III– as áreas de proteção das aguadas, nascentes e margens dos
fendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. rios, riachos, compreendendo o espaço necessário à sua preserva-
Parágrafo único. Para assegurar efetividade a esse direito, o ção nos termos da lei;
Município deverá articular-se com os órgãos estaduais, regionais e IV– as áreas que abriguem exemplares raros, da fauna, da flora
federais competentes e ainda, quando for o caso, com outros Muni- e das espécies ameaçadas de extinção, bem como àqueles que sir-
cípios objetivando a solução de problemas comuns relativos à pro- vam como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias;
teção ambiental. V– as áreas de valor paisagístico, histórico e cultural;
Art. 280. O Município, na definição de sua política de desenvol- VI – as encostas sujeitas a erosão e deslizamento.
vimento econômico e social, observará como um dos seus princí- Art. 283. É dever do Município incentivar e apoiar as entidades
pios fundamentais, a proteção do meio ambiente e o uso ecológico ambientalistas não governamentais, constituídas na forma da lei
adequado e auto sustentado dos recursos naturais. respeitando sua autonomia e independência de ação.
Art. 281. O Município, obriga-se através de seus órgãos de ad- Art. 284. Aquele que explorar recursos minerais, inclusive ex-
ministração direta e indireta a: tração de areia, cascalho ou pedreiras, fica obrigado a recuperar o
I– preservar os sistemas naturais essenciais, prover o manejo meio ambiente degradado de acordo com a solução técnica exigida
ecológico e restaurar os ecossistemas degradados, bem como ga- pelo órgão público competente, na forma da lei.
rantir a utilização ecologicamente racional e sustentada dos recur- Art. 285. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
sos naturais; ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às
II– preservar a diversidade e a integridade do patrimônio bioló- sanções administrativas e penais independentemente da obrigação
gico e genético no âmbito municipal e fiscalizar as entidades dedica- de reparar os danos causados.
das a pesquisas e manipulação de material genético; Art. 286. Fica criado o Conselho Municipal de Meio Ambiente
III– definir espaços territoriais e seus componentes a serem es- cuja composição e competência serão definidas em lei.
pecialmente protegidos, representativos de todos os ecossistemas § 1.º Todos os projetos de investimentos às margens do Rio
originais do Município, sendo a alteração e supressão permitida so- Paraguaçu no Município, serão precedidos de avaliação do parecer
mente meio de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a técnico pelo Conselho Municipal.
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; § 2.º A derrubada da mata e caatinga dependerá de fiança pré-
IV– exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou ativida- via do Conselho Municipal de Meio Ambiente obedecida a Legisla-
de que ofereça risco ou provoque degradação significativa do meio ção Federal.
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental e à saúde humana, § 3.º O umbuzeiro, planta característica da região fica sob a
inclusive aos trabalhadores expostos, ao qual se dará ampla divul- proteção do Município e sua preservação será efetivada na forma
gação; da lei.
V– proteger a fauna e a flora, em especial as espécies ame-
açadas de extinção, fiscalizando a extração, captura, produção,
transporte, comercialização e consumo de seus espécimes e sub
produtos, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a sua extinção ou submetam
os animais à crueldade, assim como obrigatoriedade da aplicação

224
CONHECIMENTOS GERAIS

TÍTULO V § 3.º É vedada a realização de consulta popular nos quatro me-


DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO MUNICIPAL ses que antecedem às eleições para qualquer nível de governo.
Art. 291. O Prefeito Municipal proclamará o resultado da con-
CAPÍTULO I sulta popular, que será considerado como decisão sobre a questão
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS proposta, devendo o Governo Municipal, quando couber, adotar as
providências legais para sua consecução.
Art. 287. Será garantida a participação da comunidade e de
suas entidades representativas na gestão do Município, na formu- CAPÍTULO III
lação e na execução das políticas, planos, orçamentos, programas e DA COOPERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES NO PLANEJAMENTO
projetos municipais, conforme o disposto nas Constituições Fede- MUNICIPAL
ral, Estadual e nesta Lei Orgânica.
§ 1.º A participação referida neste artigo dar-se-á, dentre ou- Art. 292. O Município buscará, por todos os meios ao seu alcan-
tras formas, por: ce a cooperação das associações representativas no planejamento
I – mecanismos de exercício da soberania popular, tais como: municipal.
a)plebiscito; Parágrafo único. Para fins deste artigo, entende-se como as-
b)referendo popular; sociação representativa qualquer grupo organizado, de fins lícitos,
c)iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do que tenha legitimidade para representar seus filiados independen-
Município, de distritos, da cidade ou de bairros, mediante manifes- temente de seus objetivos ou natureza jurídica.
tação, de pelo menos, cinco por cento do eleitorado; Art. 293. O Município submeterá à apreciação das associações,
d)ação popular para suspender execução de lei que contrarie antes de encaminhá-lo à Câmara Municipal, os projetos de lei do
os interesses da população; plano plurianual, do orçamento anual e do plano diretor, a fim de
II – mecanismos de participação na administração municipal e receber sugestões quanto à oportunidade e o estabelecimento de
de controle de seus atos, tais como: prioridades das medidas propostas.
a)cooperação das associações representativas no planejamen- Parágrafo único. Os projetos de que trata este artigo ficarão à
to municipal disposição das associações durante trinta dias, antes das datas fixa-
b)assento em órgãos colegiados da administração pública mu- das para a sua remessa à Câmara Municipal.
nicipal Art. 294. A convocação das entidades mencionadas neste capí-
direta e indireta; tulo far-se-á por todos os meios à disposição do Governo Municipal.
c)audiências públicas; Art. 295. O Poder Público estabelecerá programas especiais de
d)ação popular para anular ato lesivo ao patrimônio público, à apoio à iniciativa popular que objetive implantar a organização da
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio pú- comunidade.
blico histórico e cultural; Art. 296. O Governo Municipal incentivará a colaboração popu-
e)acesso garantido de qualquer cidadão, sindicato, partido lar para a organização de mutirões de colheita, de roçado, de plan-
político e entidade representativa à informação sobre os atos do tio, de construção e outros, quando assim recomendar o interesse
Governo Municipal e das entidades por ele controladas, relativos à da comunidade diretamente beneficiada.
gestão dos interesses públicos.
ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
CAPÍTULO II
DA CONSULTA POPULAR Art. 1.º O Prefeito Municipal e os membros da Câmara Munici-
pal prestarão o compromisso de manter, defender e cumprir a Lei
Art. 288. O Prefeito Municipal poderá realizar consultas popu- Orgânica na data de sua promulgação.
lares para decidir sobre assuntos de interesse específico do Muni- Art. 2.º A remuneração dos Vereadores fixadas de uma legisla-
cípio, de bairro ou de distrito, cujas medidas deverão ser tomadas tura para outra somente poderá ser corrigida pelos índices de infla-
diretamente pela administração municipal. ção, ficando ratificados todos os valores estabelecidos até a vigên-
Art. 289. A consulta popular poderá ser realizada sempre que a cia da presente Lei Orgânica.
maioria absoluta dos membros da Câmara ou pelo menos cinco por Art. 3.º Nos dez primeiros anos da promulgação da Constitui-
cento do eleitorado inscrito no Município, com a identificação do ção Federal, o Município desenvolverá esforços, com a mobilização
título eleitoral, apresentarem proposição neste sentido. de todos os setores organizados da sociedade e com a aplicação
Art. 290. A votação será organizada pelo Poder Executivo, no de, pelo menos, cinquenta por cento dos recursos a que se refere o
prazo de dois meses após a apresentação da proposição, adotan- artigo 212 da Constituição Federal, para eliminar o analfabetismo e
do-se cédula oficial que conterá as palavras SIM ou NÃO, indicando, universalizar o ensino fundamental.
respectivamente, aprovação ou rejeição da proposição. Art. 4.º Até um ano da promulgação desta Lei, deverão ser re-
§ 1.º A proposição será considerada aprovada se o resultado gulamentados os conselhos Municipais nela criados.
lhe tiver sido favorável pelo voto da maioria dos eleitores que com- Art. 5.º O número de Vereadores para a atual legislatura é de
parecerem às urnas, em manifestação a que se tenham apresenta- quinze, ficando ratificado o ato de convocação realizado até a vi-
do pelo menos cinqüenta por cento da totalidade dos envolvidos. gência desta Lei.
§ 2.º Serão realizadas, no máximo, duas consultas por ano. Art. 6.º O Poder Executivo deverá, a contar da promulgação
desta Lei Orgânica, encaminhar à Câmara Municipal projetos de lei
destinados a:

225
CONHECIMENTOS GERAIS

I– estruturação administrativa do Município, no prazo de cento


e vinte dias;
QUESTÕES
IIinstituição do plano de cargos e salários dos servidores públi-
cos municipais, no prazo de cento e oitenta dias; 1-Quadrix - 2023
III– instituição da política de desenvolvimento urbano e rural No que se refere à ética na Administração Pública e à legis-
através do plano diretor do Município no prazo de cento e oitenta lação pertinente, julgue o item.
dias; Todo cidadão tem direito a exercer a cidadania. Nesse sen-
IV– estatuto dos servidores públicos municipais, no prazo de tido, a Constituição Federal estabelece que qualquer cidadão é
cento e oitenta dias; parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
V– código tributário do Município, no prazo de cento e oitenta lesivo à moralidade administrativa.
dias; ( ) Certo
VI– código de obras e edificações, no prazo de duzentos e qua- ( ) Errado
renta dias;
VII – código de posturas, no prazo de duzentos e quarenta dias. 2-FGV - 2023
Art. 7.º Dentro de cento e oitenta dias deverá ser instalada a Norma estadual autorizou a transformação, mediante de-
Procuradoria Jurídica do Município, na forma prevista nesta lei. creto, de funções de confiança em cargos em comissão.
Art. 8.º - O Poder Executivo reavaliará todos os incentivos fis- Considerando o exposto e a jurisprudência do Supremo Tri-
cais de natureza setorial ora em vigor, propondo ao Poder Legislati- bunal Federal, a norma é:
vo as medidas cabíveis. (A) constitucional, pois a Constituição da República de 1988 não
§ 1.º Considerar-se-ão revogados, a partir do exercício de 1991, faz distinção entre função de confiança e cargo em comissão;
os incentivos que não forem confirmados em lei. (B) constitucional, por observar a prerrogativa pautada na mera
§ 2.º A revogação não prejudicará os direitos que já tiverem reorganização administrativa e os princípios da Administração
sido adquiridos, àquela data, em relação a incentivos concedidos Pública;
sob condição e com prazo. (C) inconstitucional, por ultrapassar a prerrogativa pautada na
Art. 9.º O Município procederá estudos e elaboração de proje- mera reorganização administrativa e ofender o princípio da re-
tos visando o tratamento do lixo e de esgoto no prazo de cinco anos. serva legal;
Art. 10. Na liquidação dos débitos, inclusive sua renegociação (D) constitucional, por observar o princípio da separação de po-
e composição posteriores ainda que ajuizadas decorrentes das dí- deres, o princípio republicano e o princípio federativo;
vidas fiscais com o Município, as micro e pequenas empresas, pes- (E) inconstitucional, pois a Constituição da República de 1988
soas físicas, com débitos do ISS, IPTU e TAXAS, não existirá correção não permite a transformação de função de confiança em cargo
monetária desde que o débito tenha sido de : em comissão.
I– considerando para efeito deste artigo, microempresas as
pessoas jurídicas e as firmas individuais com receitas de até 30.000 3-CESPE / CEBRASPE - 2023
BTNs anuais e pequenas empresas as pessoas jurídicas e as firmas No que concerne aos poderes e princípios da administração
individuais com receita anual de até 60.000 BTNs; pública e à responsabilidade do Estado, julgue o item seguinte.
II– a isenção da correção monetária a que se refere este artigo Excesso de poder é uma das formas de abuso de poder e
só será concedida nos seguintes casos: ocorre quando a administração pública persegue uma finalidade
a)se a liquidação do débito inicial, acrescido de juros legais e legal, mas vai além do necessário para atingi-la.
taxas judiciais, vier a ser efetivada no prazo de noventa dias após a ( ) Certo
promulgação desta Lei Orgânica; ( ) Errado
b)os valores pagos serão abatidos no montante geral da dívida,
acrescida de juros. 4-CESPE / CEBRASPE - 2023
Art. 11. O Município desapropriará glebas de terras, para uso A respeito do controle parlamentar e do controle adminis-
coletivo, nas regiões limítrofes dos povoados e concentrações co- trativo, julgue o próximo item.
munitárias. Decorrente do poder hierárquico, que faculta à administra-
Art. 12. Ficam declaradas de utilidade publica para fins de de- ção pública a possibilidade de escalonar sua estrutura, a fisca-
sapropriação as áreas utilizadas em atividades desportivas nas vilas lização hierárquica pode ser realizada a qualquer tempo, antes
e povoados do Município. ou depois da edição do ato, e independentemente de qualquer
Art. 13. O Município mandará imprimir esta Lei Orgânica para provocação.
distribuição nas escolas e entidades representativas da comunida- ( ) Certo
de, gratuitamente, de modo que se faça a mais ampla divulgação ( ) Errado
do seu conteúdo.
Art. 14. Esta Lei Orgânica, aprovada pela Câmara Municipal,
será por ele promulgada e entrará em vigor na data de sua publica-
ção, revogadas as disposições em contrário.

Itaberaba-BA, 26 de março de 1990

226
CONHECIMENTOS GERAIS

5- FAURGS - 2023 10-FGV - 2023


A _____________, a boa vontade, o cuidado e o tem- João obtém, junto ao Município Beta, a concordância para
po dedicados ao serviço público caracterizam o esforço pela utilizar, privativamente, determinada rua da municipalidade.
_____________. Tratar mal uma pessoa que paga seus tribu- Contudo, antes mesmo de usufruir da coisa pública, o particular
tos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral. muda de ideia e informa a Administração que não irá desfrutar
Da mesma forma, causar dano a qualquer bem pertencente ao do bem público.
_____________ público, deteriorando-o, por descuido ou má Nesse cenário, considerando o entendimento doutrinário e
vontade, não constitui apenas uma ofensa ao equipamento e às jurisprudencial dominantes, se está diante da extinção do ato
instalações ou ao Estado, mas a todos os homens de boa vonta- administrativo em razão da
de que dedicaram sua _____________, seu tempo, suas espe- (A) caducidade.
ranças e seus esforços para construí-los. (B) anulação.
(C) cassação.
Assinale a alternativa que completa, correta e respectiva- (D) renúncia.
mente, as lacunas do texto acima. (E) recusa.
(A) disciplina – cortesia – patrimônio – competência
(B) cortesia – disciplina – patrimônio – inteligência 11-FADESP - 2023
(C) cortesia – competência – patrimônio – inteligência A extinção do ato administrativo de autorização de uso de
(D) disciplina – competência – ente – inteligência bem público, em razão de ilegalidade superveniente decorrente
(E) cortesia – prudência – ente – competência de alteração legislativa, recebe o nome de
(A) caducidade.
6-Quadrix - 2022 (B) cassação.
Com base na Lei n.º 9.784/1999, que regula o processo ad- (C) anulação.
ministrativo no âmbito da Administração Pública Federal, julgue (D) contraposição
o item.
Nos processos administrativos, serão observados, entre ou- 12-FGV - 2023
tros, os critérios de divulgação oficial dos atos administrativos, Márcia, na época em que ocupou o cargo de secretária Mu-
ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição Fe- nicipal de Administração, no exercício da função e de forma do-
deral de 1988. losa, facilitou a alienação de bem integrante do patrimônio do
( ) Certo Município por preço inferior ao de mercado. Assim agindo, de
( ) Errado acordo com a atual redação da Lei nº 8.429/1992, Márcia prati-
cou ato de improbidade administrativa que:
7-CESPE / CEBRASPE - 2021 (A) causou prejuízo ao erário e enseja, entre outras, a sanção
No que diz respeito aos princípios fundamentais, concessão, de suspensão dos direitos políticos até catorze anos;
autorização, permissão e atos da administração pública, julgue (B) importou enriquecimento ilícito e enseja, entre outras, a
o item a seguir. proibição de contratar com o poder público pelo prazo não su-
A obrigação de manter serviço adequado na concessão do perior a quatro anos;
serviço público decorre do princípio da continuidade do serviço. (C) causou prejuízo ao erário e enseja, entre outras, a sanção
( ) Certo de perda da função pública, que atinge apenas o vínculo de
( ) Errado mesma qualidade e natureza que Márcia detinha com o poder
público na época do cometimento da infração;
8-Quadrix - 2022 (D) importou enriquecimento ilícito e enseja, entre outras, a
Acerca dos processos administrativos no âmbito da Admi- sanção de pagamento de multa civil equivalente ao valor do
nistração Pública Federal, julgue o item. dano, que pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar
A Administração Pública obedecerá, entre outros, aos prin- que, em virtude da situação econômica de Márcia, o valor é
cípios da legalidade, da finalidade, da motivação, da razoabili- ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade;
dade, da proporcionalidade, da moralidade, da ampla defesa, (E) atentou contra os princípios da administração pública e
do contraditório, da segurança jurídica, do interesse público e enseja, entre outras, a sanção de pagamento de multa civil
da eficiência. equivalente ao valor do dano, que pode ser aumentada até o
( ) Certo quíntuplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação eco-
( ) Errado nômica de Márcia, o valor é ineficaz para reprovação e preven-
ção do ato de improbidade.
9-Avança SP - 2022
São os princípios do processo administrativo, exceto: 13-Quadrix - 2022
(A) Restrita Defesa Contraditório e Interesse Privado. De acordo com a Lei n.º 8.429/1992, julgue o item.
(B) Segurança Jurídica e Eficiência. A omissão decorrente de divergência interpretativa da lei,
(C) Razoabilidade e Finalidade. baseada em jurisprudência, ainda que não pacificada, enseja a
(D) Legalidade e Proporcionalidade. responsabilização do agente público por ato de improbidade ad-
(E) Motivação e Moralidade. ministrativa.
( ) Certo
( ) Errado

227
CONHECIMENTOS GERAIS

14-IGEDUC - 2023
Cuidar e zelar do patrimônio público é um direito de todos
ANOTAÇÕES
os cidadãos e danificá-lo é crime, previsto em lei, com pena de ______________________________________________________
multa, sendo que poderá responder criminalmente pela indeni-
zação ao patrimônio público municipal, podendo também ser ______________________________________________________
submetido a termo circunstanciado de infração penal, face ao
delito de dano ao patrimônio público. ______________________________________________________
( ) Certo
( ) Errado ______________________________________________________

______________________________________________________
15-FUMARC - 2022
Para fins de responsabilidade criminal, considera-se funcio- ______________________________________________________
nário público quem,
(A) embora transitoriamente ou sem remuneração, exerça car- ______________________________________________________
go, emprego ou função pública.
(B) embora transitoriamente ou sem remuneração, exerça car- ______________________________________________________
go, emprego ou função pública, exceto quem o faça por função
de confiança ______________________________________________________
(C) embora transitoriamente, desde que com remuneração,
______________________________________________________
exerça cargo, emprego ou função pública.
(D) permanentemente, com ou sem remuneração, exerça car- ______________________________________________________
go, emprego ou função pública.
(E) seja servidor público. ______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 CERTO ______________________________________________________
2 C
______________________________________________________
3 CERTO
______________________________________________________
4 CERTO
5 B ______________________________________________________
6 CERTO ______________________________________________________
7 CERTO
______________________________________________________
8 CERTO
9 A ______________________________________________________
10 E ______________________________________________________
11 A
______________________________________________________
12 C
_____________________________________________________
13 ERRADO
14 ERRADO _____________________________________________________
15 A ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

228
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

à riqueza, ao progresso, ao civismo, ao respeito e moralidade tão


HISTÓRIA DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO desejados ao povo ou do povo para alguém?
BRASILEIRO. TEORIA DA EDUCAÇÃO, DIFERENTES Conforme Bomeny, “O grande problema do Brasil, o analfabe-
CORRENTES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO tismo de praticamente 80% de sua população, aparece como uma
BRASILEIRO condenação ao projeto republicano.” Essa citação apresenta um
quadro, não tão confiável em termos de dados conforme Bomeny,
Pensamento Pedagógico Brasileiro mas delata a instabilidade educacional e política da nação no inicio
1
O Brasil, no início do século XIX, ao cabo de três séculos de co- do século XX. Para corrigir tal distorção, houve um empenho na-
lonização era um país de contrastes, de situações extremas: de um cional pela alfabetização em massa. “O remédio parecia milagroso:
lado o litoral e de outro o sertão, riqueza e pobreza, cultura popular alfabetizando a população, corrigiam-se de pronto todas as maze-
sincrética e ortodoxia filosófica e religiosa, de uma devassidão de las que afetavam a sociedade brasileira em sua expressiva maioria”.
costumes e de uma rigidez impecável de comportamento, valores Na verdade, vigorou o princípio da ciência positivista com caráter
cristãos e de escravidão, mandonismo rural e massa servil, econo- liberal, como direção essencial para instaurar o progresso, a inova-
mia exportadora e produção de autoconsumo, prevalecendo ainda ção no país. Um destes movimentos foi chamado de Escola Nova,
a contradição de um país dividido em múltiplas dicotomias. E uma tendo como base Anísio Texeira e organizado por intelectuais inspi-
delas, a educação. rados nas ideias político-filosóficas de igualdade entre os homens
Lembremos que a nação brasileira, conforme Monarcha era in- e do direito de todos à educação. “O movimento via na educação
culta, patriarca, conservadora, oligárquica e acima de tudo, estava integral vinculada a um sistema estatal de ensino público, livre e
atrasada e doente. Na verdade, esta foi a cara do Brasil na Primeira aberto, como sendo capaz de modernizar o homem brasileiro, e de
República, que sucede o período de escravidão, da abolição e do transformar essa espécie de “Jeca Tatu” em um sujeito laborioso,
tempo monárquico pós-independência. disciplinado, saudável e produtivo”.
Neste atravessamento, os livres-pensadores da época, com suas Devemos considerar que esta força intelectual, desejava pela
visões incertas de mundo, livres da religião e cheios de métodos- educação, salvar o Brasil do estrago causado por uma política edu-
-científicos veem no novo regime – A República, como derradeira cacional elitista, responsável pelos índices de analfabetismo, bem
abolição dos privilégios de classe, cor, raça e religião. Todavia não como pela doença que se alastrou sobre a nação. Nesta perspec-
representou a alforria para a maioria ao ingresso na vida, no merca- tiva, os ideais para a renovação da educação foram influenciados
do de trabalho e em especial na educação. Isto porque não houve em grande parte pela calorosa “conversão” de Anísio Teixeira no
esclarecimento e conquista das massas humanas, sob os princípios movimento educacional norte-americano (pragmatismo), pelo qual
das luzes e virtudes que por sinal foram a euforia da aurora da Pri- o aprendizado ocorre pela capacidade de observação, experimen-
meira República, mas que, infelizmente esquecida e apagadas as tação do aluno tendo como orientador, ou facilitador o professor
luzes e as virtudes postas de lado, em favor da “[...] depravação dos treinado para este fim.
costumes, à predominância dos vícios oligárquicos [...], à transfor- O movimento reformador queria ver contemplado as suas de-
mação da liberdade em licenciosidade, à instrução popular reduzi- mandas político-pedagógicas por meio de um sistema nacional de
da ao ler e escrever de poucos”. Na verdade, milhares de excluídos educação, bem como definir um programa educacional para o país.
da alfabetização. Houve muitas discussões e participações de segmentos. A Igreja
E o Estado-República? Após treze anos, o governo nada fez para acaba participando da discussão na tentativa de garantir seus inte-
ensinar o povo a ler e escrever. De repente o governo acorda e se resses e territórios enquanto formadora de mentes e de condutas.
depara com a possível ruína da nação, das elites e do povo, pois o Já, os educadores reformistas que elaboraram em 1932 o Manifesto
ímpeto modernizador republicano se perderá. Sem povo não exis- da Educação Nova, defendendo a democratização da educação - es-
te nação e não temos povo no Brasil, porque não temos educação cola pública gratuita e laica.
nacional organizada. Em contrapartida, outro movimento buscava estabelecer a pro-
A intervenção ou medicação para esta crise foi indicada em posta de Fernando Azevedo, que tem como base a distinção cla-
1927, na 1ª Conferência Nacional de Educação, no qual profissio- ra entre educação para elite, enquanto civilizadora e, a educação
nais especialmente do campo da saúde e do ensino por meio do para a massa, enquanto força instintiva e afetiva. As discussões se
lema norte-americano: sanitation over all, visam a higienização do estenderam, e os pioneiros são acusados de partidários de ideais
povo através do saneamento do meio físico, social e moral elimi- contrários aos interesses da nação. O interessante é que este grupo
nando a “doença endêmica multiforme e a ignorância do povo”. objetivava ser reconhecido como base para uma sociedade capita-
O povo é inculto e está doente! Acreditem, a educação e a saú- lista, liberal e de livre-mercado.
de são o elixir com direito a bula que deverá higienizar e educar o Todavia, no pós 1930, alguns interesses educacionais da nação
povo. Tomando, lendo e seguindo a risca a bula o povo terá acesso foram reclamados na Reforma de Capanema, e houve a retomada
das campanhas sanitaristas, que viabilizaram as Reformas no Ensino
1 Texto adaptado de MÜLLER, C. A. baseado no livro de GADOTTI, M. Pensa- Secundário tendo como base as orientações humanistas de caráter
mento Pedagógico Brasileiro.

229
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

elitista; criação do Sistema de Ensino Profissional (Senai, Sesi, Se- recer e sustentar o amor, a humildade, a esperança, fé e confiança
nac, Sesc) direcionado ao povo visando formar mão-de-obra quali- nas relações entre os sujeitos para descobrirem-se como sujeitos
ficada e, Reforma Universitária objetivando um padrão nacional de históricos no processo.
organização. Em suma, criados para incorporar a massa inculta ao Em linhas gerais, Paulo Freire, conforme Gadotti caracteriza
mercado de trabalho e este efeito permanece até hoje. duas concepções opostas de educação: a concepção bancária lite-
ralmente burguesa, pois, o educador é o que sabe e julga e os alunos
Por Uma Prática Libertadora meros objetos. Em contrapartida, a concepção problematizadora
No atravessamento de ideais, Germano, diz que a vida política funda-se justamente na relação dialógico-dialética entre educador
do Brasil sempre esteve enlaçada pelas Forças Armadas e em espe- e educando – ambos aprendem juntos, ambos se emancipam.
cial pelo exército, principalmente a partir da segunda metade do Ser fiel a Paulo Freire significa, antes de mais nada, reinventá-lo
século XIX, com a Guerra do Paraguai, a qual revelou conflitos entre e reinventar-se como ele. Nisto, aliás, consiste a superação (aufhe-
o Exército e o Poder Imperial. Esses laços se estenderam à abolição bung) na dialética: não é nem a cópia e nem a negação do passado,
da escravatura em 1888; na instauração da República em 1889; coo- do caminho já percorrido pelos outros. É a sua transformação e, ao
perou para o fim da República em 1930; auxiliou no estabelecimen- mesmo tempo, a conservação do que há de fundamental e original
to da ditadura de Vargas, período conhecido como Estado Novo; nele, e a elaboração de uma síntese qualitativa.
destituiu o mesmo Vargas em 1945, bem como, esteve presente no Em outro movimento, de acordo com Gadotti, o educador e
suicídio de Vargas; e, instaurou o golpe de Estado de 1964. antropólogo Brandão nos apresenta a educação popular como al-
O Estado Novo constitui-se, de acordo com Germano, na conso- ternativa à educação dominante e à conquista de novas formas de
lidação do domínio burguês no Brasil e este movimento efetiva uma organização de classes. Esse deslocamento aconteceria através de
acentuada intervenção do Estado na economia, na modernização, uma educação como processo de humanização ao longo da vida e
na educação, entre outros, fazendo com que os militares abando- de maneira variada.
nem as posições reformistas e busquem neste momento, o forta- Então, o processo de ensino-aprendizagem não é algo imposto
lecimento das “Forças Armadas, na segurança interna e na defesa e sim um ato de conhecimento e de transformação social, pois, o
externa”. Esse deslocamento dos militares preanuncia um aspecto aprender se daria a partir do conhecimento que o aluno traz consi-
importante do pós 64: a ideologia da Segurança Nacional. Ou seja, go, ou seja, um saber popular e para o educador é estar comprome-
é o momento do antiliberalismo e do anticomunismo. tido politicamente e, ser solidário e responsável por buscar a dire-
Devido a crise econômica e política, o inicio dos anos 60 foi crí- ção justa para que possam em conjunto construir uma consciência
tico para as elites brasileiras. Conforme Germano, a instabilidade cidadã até que o “povo assume de uma vez o leme e a direção do
e insustentabilidade do Estado em criar condições favoráveis para barco”.
um crescimento econômico e de garantir a seletividade de classe e Nesta perspectiva, a educação popular, será um processo que
a reprodução da dominação política da burguesia, em 1964 é de- busca na organização e na persistência, a participação na forma-
flagrado através da participação da elite, de multinacionais, do Go- ção, o “fortalecimento e instrumentalização das práticas e dos mo-
verno dos Estados Unidos, e das Forças Armadas como executiva, o vimentos populares, com o objetivo de apoiar a passagem do saber
golpe, chamado pelos militares de Revolução de 64. A ditadura foi popular ao saber orgânico, ou seja, do saber da comunidade ao sa-
consolidada enquanto processo pelos chamados Atos Institucionais ber de classe na comunidade”.
- AI, por meio dos quais, os direitos civis são aluídos. Nessa brutal Em uma sociedade, conforme Gadotti, que se fundamenta nos
repressão, milhares de pessoas tornaram-se expatriados políticos, princípios da eficiência e do lucro, as pessoas acabam dissipando
torturadas, mortas em nome da Segurança Nacional. sua identidade e viram função alienada que segue às cegas as re-
O regime militar, deste período, realizou a Reforma Universitá- gras da moral, da ciência, da religião etc., que são articuladas pelo
ria, através da Lei 5.540/68, e a Reforma do Ensino de 1° e 2° Graus, poder mágico do discurso vigente.
Lei 5.692/71. Nessas propostas, o homem deverá ser adestrado Nesse contexto, Rubem Alves propõe a educação como um
para a Segurança Nacional. espaço possível de desinstalação. Ou seja, procura construir uma
Em um cenário de intensos discursos e ações, surgem ideais em educação, uma escola, enquanto espaço de prazer e da fala. Este é
favor de reformas estruturais na sociedade brasileira. Em um pri- o enfoque principal de Alves, citado por Gadotti, a linguagem, a fala
meiro momento, Paulo Freire traz a possibilidade de compreender- ao lado do corpo.
mos que pela educação, enquanto prática libertadora será possível O educador fala com o corpo. É no corpo de cada educador e de
ampliar a participação das massas e conduzi-las à sua organização cada educando que estão escritas as suas histórias. Daí a necessi-
crescente, conforme Gadotti citando Freire: dade de lê-lo e relê-lo constantemente. O corpo é o primeiro livro
[...] as elites (intelectuais) são assistencionalistas e não têm re- que devemos descobrir; por isso, é preciso reaprender a linguagem
ceio de recorrer à repressão e ao autoritarismo quando se sentem do amor, das coisas belas e das coisas boas, para que o corpo se
ameaçadas. Por outro lado, as classes médias estão em busca de levante e se disponha a lutar.
ascensão social e se apoiam nas elites. Desta forma, a solução para Mostra a importância da formação do educador comprometido
transformar a sociedade opressora está nas mãos das massas po- consigo mesmo e com o aluno, capaz de superar a burocratização e
pulares, “conscientes e organizadas”. a uniformização a que são submetidos. Inquietando-se com o papel
Nessa perspectiva, a pedagogia do oprimido3, enquanto pro- da saber e com a crescente desumanização das relações humanas.
cesso, buscaria a superação de uma cultura colonial para uma socie- Nas palavras de Gadotti, é valorizar o prazer, o sentimento, a
dade aberta. Esse movimento deveria buscar a conscientização do arte e a paixão na educação e na vida humana. O melhor método?
sujeito articulado com uma práxis desafiadora e transformadora da O método do amor é melhor do que o racional para educar, apren-
realidade. Para tanto, torna-se imprescindível estabelecer um diálo- der e ensinar.
go crítico horizontal (oposta ao eletismo) como condição para favo- E por que não nos deixarmos envolver pela paixão de conhecer

230
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

o mundo? Eis a proposta de prática pedagógica de Madalena Freire, com Gadotti citando Florestan Fernandes, reajustar as economias
na qual é possível o exercício do diálogo desde a primeira educação periféricas às estruturas e aos dinamismos das economias centrais
articulando conhecer e viver, envolvidos pela paixão. e é claro, ao bom andamento dos negócios.
O trabalho de Madalena Freire, conforme Gadotti busca superar Nesta perspectiva, uma coisa é certa: de um passado muito
a dicotomia entre o cognitivo e o afetivo para que a educação seja presente o pensamento pedagógico brasileiro busca uma práxis,
um processo prazeroso. Nas palavras de Madalena Freire: o ato de conforme Germano, de resistência à dominação de classe, ao do-
conhecer é tão vital como comer ou dormir, e eu não podemos co- mínio estrangeiro, ao imperialismo e à transplantação cultural, con-
mer ou dormir por alguém. A escola em geral tem esta prática, a de figurando-se como um instrumento de luta em favor da identida-
que o conhecimento pode ser doado, impedindo que a criança e, de nacional, mediante a valorização e o fortalecimento das raízes
também, os professores o construam. Só assim a busca do conhe- culturais do povo brasileiro em busca da construção de um futuro
cimento não é preparação para nada, e sim VIDA, aqui e agora. E é melhor, diferente do passado/presente.
vida que precisa ser resgatada pela escola. Todavia devemos considerar de acordo com Gadotti, para o qual
A partir do vivido da criança, o educador pode planejar e orga- a crise do modelo de educação voltada para a rigidez e inflexibili-
nizar as atividades escolares sem perder a direção pedagógica e o dade não é apenas interna à escola e sim de acordo com os auto-
seu papel organizativo. As atividades se configuram a partir dos in- res Schwartzman e Brock, que o problema da educação no Brasil,
teresses das crianças, da sua vivência, para que o processo de cons- em um primeiro momento, estava erroneamente pautado na falta
trução do conhecimento e do afetivo, por exemplo, a alfabetização de escolas, às crianças que não iam para a escola, e à carência de
e a construção de um sistema de representação (leitura e escrita), verbas. Neste sentido, foi considerada, a necessidade de construir
fluam naturalmente na vida da criança para que quando adulto, a escolas, melhores salários ao corpo docente e claro, convencer os
vida possa fluir sem artifícios. pais a enviarem seus filhos à escola.
É procurando compreender as atividades espontâneas das Passado alguns bons anos, nos deparamos com os reais proble-
crianças que vou, pouco a pouco, captando os seus interesses, os mas: a má qualidade das escolas, a famosa repetência e acrescento
mais diversos. As propostas de trabalho que não apenas faço às aqui a qualidade das aprendizagens. Como após tantas reformas,
crianças, mas que também com elas discuto, expressam, e não investimentos, e elaborações de políticas e ações à educação, per-
poderia deixar de ser assim, aqueles interesses. sistem ainda as elevadas taxas de evasão e repetência e muitas ou-
Não é de estranhar, pois, que as crianças se encontrem nas suas tras dificuldades?
atividades e as percebam como algo delas, ao mesmo tempo em Creio que muitas escolas hoje estão afastadas não de uma con-
que vão entendendo o meu papel de organizadora e não de “dona” cepção democrática e libertadora. Isto porque, na grande maioria
de suas atividades. dos PPP das escolas, estas propostas, conceitos se fazem presentes
Creio que cabe aos professores o exercício proposto por Frei- na escrita. Mas, no planejamento, na prática, no exercício diário da
re, de se permitirem entender a espontaneidade dos nossos alunos intervenção pedagógica em sala de aula, esta práxis não se faz pre-
(crianças, jovens, adultos), enquanto condição possível para deses- sente.
tabilizar uma pedagogia atrelada desde muito tempo à autoridade, Tristemente, encontramos influência de uma pedagogia, con-
para reprodução homogeneizadora e, como “campo de vigilância forme Gadotti, do bom senso, e do silêncio, desconectada da vida
sobre o tempo, o espaço, o movimento, os gestos, para produzir dos educadores e dos alunos. “Uma vida opaca e conciliadora, e na
corpos submissos, exercitados e dóceis”. qual é preciso ser falso, esconder interesses, montar estratégias, ser
Na verdade, o movimento proposto e quando articulado às prá- “esperto” e “levar vantagem.
ticas pedagógicas é dar sentido não somente para as atividades, Entretanto, se o Brasil precisa de mais e melhor educação, con-
mas também às relações que se constituem no espaço pedagógico. forme previsto no Programa de Governo de Dilma Rousseff é por-
Esse deslocamento chama para uma nova postura não somente ao que a qualidade do ensino é um dos pilares que sustenta a proposta
professor, mas também ao aluno. por meio da valorização do professor. Valoração, renovação, ação.
Ao professor, Gadotti citando Chauí cabe algumas perguntas: Eis o sentido, das formações e\ou capacitações que deverão propi-
qual há de ser a função do educador atual? Como romper com essa ciar ao professor a redescoberta da sua função e tarefa - assumidas
violência chamada modernização? Como não cair nas armadilhas em juramento.
do conhecer para não pensar, adquirir e reproduzir para não criar, Fazer com que o professor saia de um monólogo e busque en-
consumir em lugar de realizar o trabalho de reflexão? tender as relações recíprocas existentes entre domínio do saber e
o domínio do saber fazer. Ou seja, tomar consciência do seu verda-
Ampliando ideais, emancipando ideias deiro exercício, como dinamizador do processo de ensino-aprendi-
Refletindo sobre os discursos, os ideais e práticas do ontem e do zagem e organizador da intervenção pedagógica. Esse processo de
hoje, salvo importantes exceções, percebe-se a constância não so- reflexão em formação pode tornar consciente os modelos teóricos
mente na nossa história política, mas também à educação voltada, e epistemológicos que se evidenciam na sua prática, para então re-
nas palavras de Germano, para manobras do alto, estabelecendo fletir sobre o saber e o saber fazer. Essa situação levará o professor a
a continuidade, as restaurações, as intervenções e exclusões das rever o que propôs e se dispor a novas possibilidades, modificando
massas populares por meio do autoritarismo. sua proposta, dispondo-se a repensá-la, ou manter a mesma pro-
Não é para menos que a insígnia, conforme Gadotti, da tradição posição.
brasileira é a influência de oligarquias que “compartilham” interes- Neste sentido, penso que a questão pontual para uma melhor
ses para conservar o controle do poder. educação seja a possibilidade do professor estabelecer relações
Hoje, esses conceitos e práticas se estendem e respingam na entre teoria e prática, assumindo seu papel no processo de ensi-
educação com um novo figurino, uma nova e boa maquiagem em no-aprendizagem e a importância deste trabalho ser em conjunto
nome do moderno. Todavia, modernizar ainda significa, de acordo entre professor x aluno, professor x professor. É buscar dar sentido

231
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

ao que somos ao que fazemos e por que fazemos. soa, em qualquer nível, especialmente a ler e escrever, começando
Na verdade as colocações apresentadas nos mostram o esfor- pela língua materna, numa época em que predominava o latim. No
ço para permitir um processo de ensino-aprendizagem voltado à entanto, não se tem conhecimento, com precisão, da formulação
constituição de sentidos, ou seja, produzir significado mostrando ao desse método.
aluno o que aquele conteúdo tem a ver com a vida dele e por que é Comenius valorizava o processo indutivo como sendo a melhor
importante e como aplicá-lo em uma situação real. Chamar os pro- forma de se chegar ao conhecimento generalizado, e aplicou-o na
fessores, conforme Mello, para uma reflexão sobre a própria prática sua prática instrucional. Ele afirmava que o método indutivo estava
pedagógica: o que se faz e com quais objetivos se faz. Torna-se mui- mais “de acordo com a natureza” e propunha a inclusão do estudo
to importante ter um parâmetro de como estamos para saber o que dos fenômenos físicos nos currículos e nos livros escolares.
precisamos mudar. Ninguém muda se não tem consciência do que Criou um método para o ensino de línguas, de acordo com suas
precisa mudar. Já sabemos o que mudar? ideias educacionais, considerado revolucionário para aqueles tem-
Penso que se este movimento estiver, conforme Gadotti, a pos. Até hoje são encontrados alguns ecos das propostas pedagógi-
construir um caminho próprio, libertando-se de um pensamento cas de Comenius, pelo menos da sua pretensão, ele achava que era
transplantado, buscando realmente a superação e transformação possível criar um método universal, invariável, capaz de orientar o
das dependências enraizadas nos modelos, nos paradigmas e das professor no seu trabalho.
teorias elaboradas em outros contextos, em especial aqueles de Assim, ao ensinar um assunto, o professor deveria:
países hegemônicos, estaremos sim, caminhando para um compro- • Apresentar seu objeto ou ideia diretamente, fazendo de-
metimento real para a transformação social. monstrações, pois o aluno aprende através dos sentidos, principal-
Um processo, uma luta contra si mesmo à tomada de consciên- mente vendo e tocando;
cia e contínua; o engajamento, por uma real mudança. • Mostrar a utilidade específica do conhecimento transmitido e
a sua aplicação na vida diária;
• Fazer referência à natureza e origem dos fenômenos estuda-
A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E dos, isto é, às suas causas;
APRENDIZAGEM • Explicar, primeiramente, os princípios gerais e só depois os
detalhes;
— Didática: um pouco de história • Passar para o assunto ou tópico seguinte do conteúdo apenas
A história da Didática está ligada ao aparecimento do ensino, quando o aluno tiver compreendido o anterior.
isto é, desde que alguém pela primeira vez se propôs, institucional- Como pode-se perceber, esses pressupostos da prática docente
mente, a ensinar a outrem alguma coisa. No entanto, para Libâneo, que são utilizados até hoje já eram proclamados por Comenius em
o termo “didática” surge quando adultos começam a intervir na ati- pleno século XVII.
vidade de aprendizagem das crianças e jovens, através da direção
deliberada e planejada do ensino, ao contrário das formas de inter- O que é Didática
venção mais ou menos espontâneas de antes2. A Didática é um ramo específico da Pedagogia. Enquanto a
Assim, ao se estabelecer a intenção propriamente pedagógica Pedagogia pode ser conhecida como filosofia, ciência e técnica da
na atividade de ensinar, a escola torna-se uma instituição onde este educação, que estuda, portanto, a educação, a instrução e o ensino,
processo passa a ser sistematizado conforme níveis, tendo em vista a Didática pode ser conceituada como a arte, como a técnica de
a adequação às possibilidades das crianças, às idades e ao ritmo de ensino.
assimilação dos estudos. Conceitua-se didática como sendo: síntese, sistematização, or-
Como campo teórico elaborado, a Didática passou a existir ganização do trabalho docente. E mais, a maneira como o professor
no século XVII, quando João Amos Comenius, pastor protestante sintetiza, sistematiza, organiza o conteúdo de sua prática docente
que viveu na Tchecoslováquia, publicou uma obra clássica sobre o depende de uma tomada de decisão que, por sua vez, dependerá
assunto, A Didática Magna, que pode ser considerado o marco de da fundamentação que o professor tenha sobre o seu trabalho e
fundação da disciplina, tanto pelo seu pioneirismo quanto pela sua suas relações com o ser humano e com o mundo em que vive.
influência, na época, e mesmo muito tempo depois. O conjunto dessas decisões é o que constitui o campo da Di-
Esse educador revolucionou a educação da sua época, defenden- dática. A didática é uma das áreas mais importantes da Pedagogia,
do a “escola para todos”, a pedagogia da fábrica, dos trabalhadores, pois ela investiga os fundamentos, as condições e os modos de rea-
numa fase em que a educação escolar era privilégio dos que perten- lizar a educação mediante o ensino.
ciam ao clero e à nobreza. Comenius desenvolveu ideias avançadas É uma ação historicamente situada e que faz a Didática ir se
para o seu tempo e teve influência direta sobre o trabalho docente, constituindo como teoria do ensino, não para criar regras e méto-
em contraposição às ideias conservadoras da nobreza e do clero. dos válidos para qualquer tempo e lugar, mas para ampliar nossa
Empenhou-se em desenvolver métodos de instrução mais rápi- compreensão das demandas que a atividade de ensinar produz,
dos e eficientes, partindo da observação e da experiência sensorial. com base nos saberes acumulados sobre essa questão.
Era intenção de Comenius que todas as pessoas usufruíssem dos A verdade é que o conceito de Didática tem mudado com o
benefícios do conhecimento. passar do tempo, estando ligado à sua colocação em relação à con-
Sonhava elaborar um método geral que chamava de “Método cepção de educação e à concepção filosófica que a orienta.
do Desenvolvimento Natural”, tratado da arte de ensinar tudo a to-
dos, o qual serviria para ensinar qualquer assunto a qualquer pes- Conceitos de Didática
A didática admite vários conceitos que foram apresentados
2 LIMA VERDE, Eudóxio Soares. Didática e seu objeto de estudo. Tere- a seguir e os justifica como sendo oriundos do ponto de vista de
sina: EDUFPI, 2019. várias abordagens ou concepções de educação, tais como: Sentido

232
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Etimológico; Senso Comum; Abordagem Tradicional; Abordagem zadora do tecnicismo, superando assim as tarefas especificamente
Humanista; Abordagem Tecnicista; Abordagem Sociopolítica; e, pedagógicas, desprestigiadas a partir do discurso reprodutivista.
Abordagem Multidimensional ou Fundamental.
• Abordagem Multidimensional ou Fundamental
• Sentido Etimológico Didática - assume a multidimensionalidade do processo ensi-
Didática - deriva da expressão grega techné didaktiké, que sig- no-aprendizagem, seu objeto de estudo, colocando a articulação
nifica “arte ou técnica de ensinar”. das dimensões técnica, humana, política, ética e estética no centro
da sua temática. A Didática Fundamental apresenta as seguintes ca-
• Senso Comum racterísticas:
Didática - método, técnica, norma, conjunto de princípios téc- - Assume a multidimensionalidade do seu objeto de estudo;
nicos; disciplina prática e normativa; modo, maneira de dar aula. - Analisa a prática pedagógica concreta, contextualizando-a;
- Explicita os pressupostos das diferentes metodologias;
• Abordagem Tradicional - Trabalha continuamente a relação teoria-prática;
Didática - doutrina da instrução, entendida como um conjunto - A reflexão didática parte do compromisso com a transforma-
de normas prescritivas centradas no método e em regras, no in- ção social; e,
telecto, no conteúdo dogmático. O método mais empregado é o - Ensaia, experimenta, analisa, propõe.
expositivo, segundo o qual o professor é o centro do processo da
aprendizagem. Considerando a evolução dos conceitos anteriormente apre-
A metodologia de ensino tem um caráter formal; o professor sentados, pode-se dizer que a Didática já não pode ser encarada
atribui um significado dogmático aos conteúdos, concebe o aluno apenas como uma disciplina de caráter instrumental. Ela deve ser
como um ser passivo, sem autonomia e sem considerar conhecimen- repensada em função dos objetivos mais amplos da educação, em
tos e experiências anteriores. Para garantir a atenção, o silêncio, o função da problematização dos homens em suas relações com o
professor usa a disciplina rígida, utilizando inclusive castigos físicos. mundo.
Ela já não pode entender-se como uma disciplina de pura or-
• Abordagem Humanista dem técnica, cujo objetivo seja o de rever o instrumental necessário
Didática - apresenta caráter de neutralidade científica, de base aplicável à margem dos objetivos e estruturas do sistema educacio-
psicológica, defendendo ideias de “aprender fazendo” e “aprender nal imperante. Ela implica numa combinação dos níveis teóricos e
a aprender”, sem considerar o contexto político-social. A caracte- do instrumento na análise e elaboração dos problemas de seu âm-
rística mais marcante da Didática é a valorização da criança que é bito, o que supõe uma inter-relação permanente entre a indagação
vista como um ser dotado de poderes individuais, cuja liberdade, teórica e a prática educativa.
iniciativa, autonomia e interesse devem ser respeitados. Desse modo, entendemos a Didática como a análise, a sistema-
Neste sentido, o conteúdo da Didática enfatiza a questão da tização da avaliação do fazer pedagógico, baseada no conhecimen-
motivação para aprender, o atendimento às diferenças individuais e to científico e na crítica da realidade, sendo algo do qual nenhum
aos interesses do aluno, como também uma metodologia que aten- professor pode escapar. Bem ou mal, consciente ou inconsciente-
da a esses aspectos. mente, ele usa a didática, pois compõe o conjunto de atitudes e
ações que o mesmo assume e realiza no desenvolvimento do seu
• Abordagem Tecnicista trabalho docente.
Didática - preocupa-se com as variáveis internas do processo Hoje, a Didática preconiza uma concepção pedagógica progres-
ensino-aprendizagem, sem considerar o contexto político-social, sista e uma prática educacional centrada no diálogo, na participa-
procurando desenvolver uma alternativa não psicológica, centran- ção ativa do aluno, no contato com a realidade, na discussão dos
do-se nos aspectos da “tecnologia educacional”, tendo como preo- problemas, na reflexão, na análise crítica dos conteúdos, enfim, na
cupação básica a eficácia e a eficiência do processo de ensino. A vivência democrática em sala de aula.
atuação da Didática está voltada para o planejamento didático for- Para finalizar esse tópico, enfatiza-se que não existe consenso
mal, na formulação de objetivos de ensino, na elaboração de mate- em relação à conceituação de Didática. Os estudos a respeito da di-
riais instrucionais, organização e eficiência técnica desse ensino e a dática como disciplina, no entanto, permitem dizer que o processo
uma avaliação objetiva da aprendizagem. de ensino e de aprendizagem é o seu objeto de estudo e que é o
principal ramo de estudo da Pedagogia.
• Abordagem Sociopolítica A ela compete: investigar os fundamentos, as condições e mo-
Didática - assume os discursos sociológico, filosófico e históri- dos de realização da instrução e da efetivação do ensino; converter
co. Ela é questionada, postula uma antididática e seu papel deverá os objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino;
ir além dos métodos e técnicas, associando escola e sociedade, teo- selecionar e organizar os conteúdos curriculares e estabelecer as
ria-prática, auxiliando o processo de politização do professor. estratégias para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem
A educação não está centrada no professor ou no aluno, mas do aluno.
na formação do homem. Neste sentido, a Didática adquire um ca- Pelo exposto, podemos afirmar que a Didática, enquanto dis-
ráter crítico. ciplina, se preocupa com as relações interpessoais dos sujeitos no
Volta-se para a preocupação com as finalidades e intenciona- processo educativo, com a organização técnico-metodológica do
lidades da educação, e com os pressupostos teórico-ideológicos processo de ensino e com a aprendizagem e a intencionalidade
que fundamentam o processo educativo. Buscando superar o inte- política da educação. É essencialmente o estudo de como ensinar
lectualismo formal do enfoque tradicional, evitando os efeitos do para um melhor aprender (aspecto técnico); do por que ensinar,
espontaneísmo escolanovista, combatendo a orientação desmobili- dependendo da concepção de homem e de sociedade que se tem

233
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

(aspecto filosófico); e do para quê ensinar (aspecto político), pauta- Professor: perfil e saberes docentes
do nas finalidades e intencionalidades sociopolíticas da educação. Os filósofos gregos são considerados os primeiros professores
Também ressalta Libâneo que o trabalho docente, isto é, a efe- do mundo. No Brasil, consideramos como primeiro professor o Pa-
tivação da tarefa de ensinar, é uma modalidade de trabalho peda- dre José de Anchieta, que, após desembarcar no país, em de 1553,
gógico e dela se ocupa a Didática. Nessa tarefa, a Didática recebe começou a ministrar aulas para os índios.
contribuições de outras disciplinas, tais como: Filosofia da Educa- O professor é, antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e
ção, Teoria da Educação e Teoria de Organização Escolar, dentre cuja função consiste em transmitir esse saber a outros. No entanto,
outras. as transformações advindas do processo de globalização e do quadro
Fundamenta-se nas ciências do comportamento e, de modo educacional, bem como as atuais exigências socioculturais suscitaram
especial, na Biologia e na Psicologia da Educação, através das pes- mudanças no perfil docente, passando esse a ser um mediador de co-
quisas experimentais. nhecimentos e gestor de aprendizagens, apresentando novas atitudes
e comportamentos perante a sociedade e à sua prática docente.
— A didática e a formação do profissional da educação Os professores, embora trabalhem em grupos, devem atingir
os indivíduos que os compõem porque são os indivíduos que apren-
O Papel da Didática na Formação dos Professores dem. A disposição do professor para conhecer seus alunos como
Para iniciar, destaca-se o que se entende por educador. Para indivíduos deve estar impregnada de sensibilidade e de discerni-
tanto, recorre-se a Luckesi, explicando que o educador é o profissio- mento a fim de evitar as generalizações excessivas e de afogar a
nal que se dedica à atividade de, intencionalmente, criar condições percepção que ele tem dos indivíduos em um agregado indistinto e
de desenvolvimento de condutas desejáveis, seja do ponto de vista pouco fértil para a adaptação de suas ações.
do indivíduo, seja do ponto de vista do grupamento humano. Assim, na atualidade, necessitamos de um professor que, não
O autor caracteriza o professor como sendo aquele que passa formado nessa perspectiva, busque se construir como intelectual,
por um processo formal de aquisição de conhecimentos e habilida- pesquisador de sua própria prática e do conteúdo que desenvolve,
des, garantidos por uma instituição oficial para o magistério, através o que reitera a necessidade da formação continuada e em serviço,
de processos de aprendizagem estruturados3. porque, o professor precisa mobilizar um vasto cabedal de saberes
Esse profissional, ao assumir o seu mister, terá de fazer opções e habilidades, porque sua ação é orientada por diferentes objetivos:
teóricas, tais como: filosóficas-políticas, pela libertação; nortear a emocionais, sociais, cognitivos, coletivos.
sua prática no sentido de criar modos de compreensão do mundo O exercício da profissão ganha mais qualidade se o professor
e adotar procedimentos metodológicos compatíveis com essas op- conhece bem o funcionamento do sistema escolar (as políticas
ções, realizando uma prática democrática, comprometida ideológi- educacionais, as diretrizes legais, as relações entre a escola e a so-
ca e efetivamente. ciedade, etc.) e das escolas (sua organização interna, as formas de
Luckesi, referindo-se à formação do educador, declarou que gestão, o currículo, os métodos de ensino, o relacionamento profes-
formar o educador, a meu ver, seria criar condições para que o su- sor-aluno, a participação da comunidade, etc.) e aprende a estabe-
jeito se prepare filosófica, científica, técnica e afetivamente para o lecer relações entre essas duas instâncias.
tipo de ação que vai exercer. Para tanto, serão necessárias não só Em suma, o professor ideal é alguém que deve conhecer sua
aprendizagens cognitivas sobre os diversos campos de conhecimen- matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos co-
to que o auxiliem no desempenho do seu papel, mas, especialmen- nhecimentos relativos às ciências da educação e à pedagogia, e de-
te, o desenvolvimento de uma atitude, dialeticamente crítica, sobre senvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana
o mundo e sua prática educacional. com os alunos.
O educador nunca estará definitivamente “pronto”, formado, O exercício profissional do professor, no sentido de contribuir
pois que a sua preparação, a sua maturação se faz no dia a dia, na com o funcionamento da escola, compreende, ao menos, três atri-
meditação teórica sobre a sua prática. buições: a docência, a atuação na organização e na gestão da esco-
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNs, para a for- la, e a produção de conhecimento pedagógico.
mação inicial e continuada do professor da Educação Básica, pro- A docência é uma profissão, sendo necessária uma formação
mulgadas pelo Conselho Nacional de Educação – CNE, em 2015, própria, para cujo exercício não basta adquirir conteúdos especí-
coloca uma atenção especial na proposta de integração entre teoria ficos, mas que inclua conhecimentos específicos e pedagógicos, o
e prática, trazendo recomendações de um desenho curricular para que exige bem mais do que conhecimento de um conteúdo exclusi-
os cursos de licenciaturas, nos quais os professores sejam formados vo. As atividades inerentes à docência envolvem relação professor/
em condições de construir uma nova escola, visando a inserção de aluno, questões metodológicas, planejamento de aula, de curso,
um aluno do século XXI. curricular, utilização de novas tecnologias no ensino, elaboração
O exercício da docência, na educação básica e no ensino su- e implementação de instrumentos de avaliação, participação na
perior, exigirá desse novo professor uma formação de base sólida elaboração do projeto pedagógico do curso, revisão curricular, ar-
de conhecimentos no campo específico e no campo pedagógico. ticulação da disciplina com a totalidade do curso e com a realidade
No campo pedagógico, a Didática, que tem como objeto de estudo social e profissional, participação em processos avaliativos internos
o ensino e aprendizagem, enquanto área da Pedagogia, articulada e externos, para citar apenas algumas ações em que a dimensão
com outras disciplinas que se ocupam da educação como, Filosofia, pedagógica está diretamente presente.
Sociologia História, e Psicologia, dentre outras, contribuirá de forma Então quais são os saberes que servem de base ao ofício de
significativa para a formação desse professor. professor, ou melhor, quais são os conhecimentos, as competências
e as habilidades, do saber fazer que o professor precisa mobilizar
3 LIMA VERDE, Eudóxio Soares. Didática e seu objeto de estudo. Tere- diariamente, na sala de aula, na escola, isto é, o seu fazer pedagógi-
sina: EDUFPI, 2019. co, a fim de desenvolver a sua prática docente?

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Define-se o saber docente como um saber plural, formado pelo Colaborar com as atividades de articulação da escola com as
amálgama, mais ou menos coerente, oriundos da: famílias e a comunidade;
a) formação profissional – conjunto de saberes, provenientes Experiência docente – é pré-requisito o exercício profissional de
das ciências da educação – os saberes pedagógicos, transmitidos quaisquer outras funções do magistério, nos termos das normas de
pelas instituições formadoras; cada estabelecimento de ensino (Art. 67).
b) saberes disciplinares – saberes sociais de diversos campos
do conhecimento definidos e selecionados pelas instituições uni- A competência profissional do professor não se esgota apenas
versitárias; no conhecimento científico que as ciências da educação podem lhe
c) saberes curriculares – correspondem aos discursos, objeti- dar, mas ao saber prático, “o saber da experiência” que deve ser
vos, conteúdos e métodos apresentados pelas instituições escola- integrado ao conhecimento acadêmico. O perfil ideal do professor
res, em forma de programas, que os professores devem aprender é de um profissional aberto ao aprendizado constante, atento à sua
e aplicar; capacidade de mediador de conhecimentos, habilidades e atitudes,
d) saberes experienciais – chamados saberes experienciais com curiosidade científica, inovador e reflexivo em relação à sua
práticos, brotam do trabalho cotidiano e no conhecimento do seu prática docente.
meio. São incorporados à experiência individual e coletiva transfor- Estas considerações justificam a necessidade de uma sólida
mando-se em hábitos e de habilidades, de saber-fazer e saber - ser. preparação profissional face às exigências colocadas pelo trabalho
docente. Essa é tarefa do curso de formação para atuação na edu-
Qual a fonte dos saberes dos professores e como são integra- cação básica e, particularmente, da Didática.
dos ao cotidiano da prática docente?
Ainda que se faça referência sobre os saberes desenvolvidos
por professores do ensino superior, suas ideias podem ser perfei-
ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DIDÁTICO:
tamente aplicadas no contexto da educação básica, pois têm como
PLANEJAMENTO, ESTRATÉGIAS E METODOLOGIAS,
fonte:
AVALIAÇÃO.
a) saberes pessoais dos professores, que têm como fonte a fa-
mília, o ambiente de vida, a educação no sentido lato e são integra- Planejamento: concepções
dos ao trabalho docente pela história de vida de cada um; O planejamento não deve ser tomado apenas como mais um
b) saberes provenientes da formação escolar anterior, que procedimento administrativo de natureza burocrática, decorrente
têm as escolas primária e secundária e os estudos pós-secundários de alguma exigência superior ou mesmo de alguma instância ex-
não especializados como fonte, e são integrados ao trabalho pela terna à instituição. Ao contrário, ele deve ser compreendido como
formação e socialização pré-profissionais; mecanismo de mobilização e articulação dos diferentes sujeitos,
c) saberes provenientes da formação profissional para o ma- segmentos e setores que constituem essa instituição e participam
gistério, que têm como fonte os estabelecimentos de formação de da mesma.
professores, os estágios, os cursos de reciclagem; saberes prove- A preocupação com o planejamento se desenvolveu, principal-
nientes dos programas e livros didáticos usados no trabalho, que mente, no mundo do trabalho, no contexto das teorias administra-
advêm da utilização das ferramentas dos professores, programas, tivas do campo empresarial.
livros, cadernos de exercícios, fichas, etc., que são adaptadas às ta- Essas teorias foram se constituindo nas chamadas escolas de
refas cotidianas; administração, que têm influenciado o campo da administração
d) saberes provenientes de sua própria experiência na profis- escolar. Para muitos teóricos e profissionais, os princípios por elas
são, na sala de aula e na escola, adquiridos e incorporados na práti- defendidos seriam aplicáveis em qualquer campo da vida social e
ca do trabalho e pela socialização profissional. ou do setor produtivo, inclusive na gestão da educação e da escola.
Essa influência deixa suas marcas também no que se refere ao
O professor tem várias responsabilidades profissionais: conhe- planejamento, à medida que o mesmo assumiu uma centralidade
cer bem a matéria, saber ensiná-la, ligar o ensino à realidade do cada vez maior, a partir dos princípios e métodos definidos por Tay-
aluno e a seu contexto social, ter uma prática de investigação sobre lor e os demais teóricos que o seguiram. Isso porque, a partir do
o seu próprio trabalho. taylorismo, assim como das teorias administrativas que o tomaram
como referência, uma das principais tarefas atribuídas à gerência
No tocante à organização da educação nacional, os docentes foram o planejamento e o controle do processo de trabalho.
estão incumbidos das seguintes atribuições, conforme estabelece a Na verdade, o formalismo e a burocratização do processo de
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Art. 13. BRA- planejamento no campo educacional decorrem, em boa medida,
SIL, 1996): das marcas deixadas pelos modelos de organização do trabalho
Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabele- voltados, essencialmente, para a busca de uma maior produtivida-
cimento de ensino; de, eficiência e eficácia da gestão e do funcionamento da escola.
Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pe- Isso secundariza os processos participativos, de trabalho coletivo e
dagógica do estabelecimento de ensino; do compromisso social, requeridos pela perspectiva da gestão de-
Zelar pela aprendizagem dos alunos; mocrática da educação. É o caso, por exemplo, dos modelos e das
Estabelecer estratégias de recuperação para alunos de menor concepções de planejamento orientadas pelo horizonte do plane-
rendimento; jamento tradicional ou normativo e do planejamento estratégico.
Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu a pers-
participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, pectiva do planejamento participativo.
à avaliação e ao desenvolvimento profissional;

235
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

O planejamento tradicional ou normativo realização do Projeto Políticopedagógico da escola.


O planejamento tradicional ou normativo trabalha em uma O planejamento participativo não possui um caráter meramen-
perspectiva em que o planejamento é definido como mecanismo te técnico e instrumental, à medida que parte de uma leitura de
por meio do qual se obteria o controle dos fatores e das variáveis mundo crítica, que apreende e denuncia o caráter excludente e de
que interferem no alcance dos objetivos e resultados almejados. injustiça presente em nossa realidade. As características de tal rea-
Nesse sentido, ele assume um caráter determinista em que o objeto lidade, por sua vez, decorrem, dentre outros fatores, da falta ou da
do plano, a realidade, é tomada de forma estática, passiva, pois, em impossibilidade de participação e do fato de a atividade humana
tese, tende a se submeter às mudanças planejadas. acontecer em todos os níveis e aspectos. Nessa perspectiva, a parti-
Ao lado dessas características, outros elementos marcam o pla- cipação se coloca como requisito fundamental para uma nova edu-
nejamento normativo: cação, uma nova escola, uma nova ordem social, uma participação
- Há uma ênfase nos procedimentos, nos modelos já estrutura- que pressupõe e aponta para a construção coletiva da escola e da
dos, na estrutura organizacional da instituição, no preenchimento própria sociedade.
de fichas e formulários, o que reduz o processo de planejamento a O planejamento participativo na educação e na escola traz con-
um mero formalismo. sigo, ainda, duas dimensões fundamentais: o trabalho coletivo e o
- O planejador é visto como o principal agente de mudança, compromisso com a transformação social.
desconsiderando-se os fatores sociais, políticos, culturais que en- O trabalho coletivo implica uma compreensão mais ampla da
gendram a ação, o que se traduz numa visão messiânica daquele escola. É preciso que os diferentes segmentos e atores que cons-
que planeja. Essa visão do planejador geralmente conduz a certo troem e reconstroem a escola apreendam suas várias dimensões
voluntarismo utópico. e significados. Isso porque o caráter educativo da escola não resi-
- Ao mesmo tempo em que, por um lado, há uma secundari- de apenas no espaço da sala de aula, nos processos de ensino e
zação das dimensões social, política, cultural da realidade, por ou- aprendizagem, mas se realiza, também, nas práticas e relações que
tro lado, prevalece a tendência de se explicar essa realidade e as aí se desenvolvem. A escola educa não apenas nos conteúdos que
mudanças que nela acontecem como resultantes, basicamente, da transmite, à medida que o processo de formação humana que ali se
dimensão econômica que a permeia. desenvolve acontece também nos momentos e espaços de diálogo,
de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de seus atores, nas
O planejamento estratégico práticas e modelos de gestão vivenciados.
O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvolveu den- De outra parte, o compromisso com a transformação social
tro de uma concepção de administração estratégica que se articula coloca como horizonte a construção de uma sociedade mais justa,
aos modelos e padrões de organização da produção, construídos solidária e igualitária, e uma das tarefas da educação e da escola é
no contexto das mudanças do mundo do trabalho e da acumulação contribuir para essa transformação.
flexível, a partir da segunda metade do século XX. Essa concepção Por certo, como já analisamos em outros momentos neste cur-
de administração e de planejamento procura definir a direção a ser so, a escola pode desempenhar o papel de instrumento de repro-
seguida por determinada organização, especialmente no que se dução do modelo de sociedade dominante, à medida que reproduz
refere ao âmbito de atuação, às macropolíticas e às políticas fun- no seu interior o individualismo, a fragmentação social e uma com-
cionais, à filosofia de atuação, aos macroobjetivos e aos objetivos preensão ingênua e pragmática da realidade, do conhecimento e
funcionais, sempre com vistas a um maior grau de interação dessa do próprio homem.
organização com o ambiente. Em contrapartida, a educação e a escola articuladas com a
Essa interação com o ambiente, no entanto, é compreendida transformação social implicam uma nova compreensão do conhe-
como a análise das oportunidades e ameaças do meio ambiente, de cimento, tomado agora como saber social, construção histórica,
forma a estabelecer objetivos, estratégias e ações que possibilitem instrumento para compreensão e intervenção crítica na realidade.
um aumento da competitividade da empresa ou da organização. Concebem o homem na sua totalidade e, portanto, visam a sua for-
Em síntese, o planejamento estratégico concebe e realiza o pla- mação integral: biológica, material, social, afetiva, lúdica, estética,
nejamento dentro um modelo de decisão unificado e homogeneiza- cultural, política, entre outras.
dor, que pressupõe os seguintes elementos básicos: A partir dos aspectos aqui destacados, é possível definir os se-
- determinação do propósito organizacional em termos de va- guintes elementos básicos que definem e caracterizam o planeja-
lores, missão, objetivos, estratégias, metas e ações, com foco em mento participativo:
priorizar a alocação de recursos - Distanciam-se daqueles modelos de organização do traba-
- análise sistemática dos pontos fortes e fracos da organização, lho que separa, no tempo e no espaço, quem toma as decisões de
inclusive com a descrição das condições internas de resposta ao quem as executa,
ambiente externo e à forma de modificá-las, com vistas ao fortale- - Conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente Projeto
cimento dessa organização Vivencial) enquanto ação de forma refletida, pensada,
- delimitação dos campos de atuação da organização - Pressupõem a unidade entre pensamento e ação,
- engajamento de todos os níveis da organização para a conse- - O poder é exercido de forma coletiva,
cução dos fins maiores. - Implicam a atuação permanente e organizada de todos os
segmentos envolvidos com o trabalho educativo,
Em contraposição a esses modelos de planejamento, a pers- - Constituem-se num avanço, na perspectiva da superação da
pectiva da gestão democrática da educação e da escola pressupõe organização burocrática do trabalho pedagógico escolar, assentado
o planejamento participativo como concepção e modelo de plane- na separação entre teoria e prática.
jamento. O planejamento participativo deve, pois, enquanto me-
todologia de trabalho, constituir a base para a construção e para a

236
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

O trabalho coletivo e o compromisso com a transformação so- 2) Considerar o que é importante e significativo para aquela
cial colocam, pois, o planejamento participativo como perspectiva turma. Ter claro onde se quer chegar, que recorte deve ser feito na
fundamental quando se pretende pensar e realizar a gestão demo- História para escolher temáticas e que atividades deverão ser im-
crática da escola. Ao mesmo tempo, essa concepção e esse modelo plementadas, considerando os interesses do grupo como um todo.
de planejamento se constituem como a base para a construção do
Projeto Políticopedagógico da escola. Para considerar os conhecimentos dos alunos é necessário pro-
O planejamento participativo implica, ainda, o aprofundamen- por situações em que possam mostrar os seus conhecimentos, suas
to crescente, a discussão e a reflexão sobre o tema da participação. hipóteses durante as atividades implementadas, para que assim
Sobre essa temática, na Sala Ambiente Projeto Vivencial, importan- forneçam pistas para a continuidade do trabalho e para o planeja-
tes elementos são destacados também. mento das ações futuras.
É preciso pensar constantemente para quem serve o planeja-
Referência: mento, o que se está planejando e para quê vão servir as suas ações.
SILVA, M. S. P. Planejamento e Práticas da Gestão Escolar. Planeja- Algumas indagações auxiliam quando se está construindo um
mento: concepções. Escola de gestores. MEC. planejamento. Seguem alguns exemplos:
- O que pretende-se fazer, por quê e para quem?
PLANEJAMENTO DE ENSINO - Que objetivos pretendem-se alcançar?
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário ainda - Que meios/estratégias são utilizados para alcançar tais obje-
mais desenvolver um planejamento. Neste caso, o ensino, tem tivos?
como principal função garantir a coerência entre as atividades que - Quanto tempo será necessário para alcançar os objetivos?
o professor faz com seus alunos e, além disso, as aprendizagens que - Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados?
pretende proporcionar a eles. Então, pode-se dizer que a forma de
planejar deve focar a relação entre o ensinar e o aprender. É a partir destas perguntas e respectivas respostas que são de-
Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvolver um terminadas algumas fases dentro do planejamento:
processo de decisão sobre a atuação concreta por parte dos pro- - Diagnóstico da realidade;
fessores, na sua ação pedagógica, envolvendo ações e situações - Definição do tema e Fase de preparação;
do cotidiano que acontecem através de interações entre alunos e - Avaliação.
professores.
O professor que deseja realizar uma boa atuação docente sabe Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir que
que deve participar, elaborar e organizar planos em diferentes ní- tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação educacio-
veis de complexidade para atender, em classe, seus alunos. Pelo en- nal é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo
volvimento no processo ensino-aprendizagem, ele deve estimular a de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final
participação do aluno, a fim de que este possa, realmente, efetuar que se pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir
uma aprendizagem tão significativa quanto o permitam suas possi- essa distância e para contribuir mais para o resultado final estabe-
bilidades e necessidades. lecido; executar – agir em conformidade com o que foi proposto; e
O planejamento, neste caso, envolve a previsão de resultados avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das
desejáveis, assim como também os meios necessários para os al- ações, bem como cada um dos documentos deles derivados”(GAN-
cançar. A responsabilidade do mestre é imensa. Grande parte da DIN, 2005, p.23).
eficácia de seu ensino depende da organicidade, coerência e flexibi- Fases do Planejamento
lidade de seu planejamento.
O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho do pro- Diagnóstico da Realidade:
fessor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão maior neste texto. Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de aten-
der as necessidades dos seus alunos, a primeira atitude a fazer, é
Fases do planejamento de ensino e sua importância no pro- “sondar o ambiente”. O médico antes de dizer com certeza o que
cesso de ensino-aprendizagem seu paciente tem, examina-o, fazendo um “diagnóstico” do seu pro-
O planejamento faz parte de um processo constante através blema. E, da mesma forma, deve acontecer com a prática de ensi-
do qual a preparação, a realização e o acompanhamento estão inti- no: o professor deve fazer uma sondagem sobre a realidade que se
mamente ligados. Quando se revisa uma ação realizada, prepara-se encontram os seus alunos, qual é o nível de aprendizagem em que
uma nova ação num processo contínuo e sem cortes. No caso do estão e quais as dificuldades existentes. Antes de começar o seu
planejamento de ensino, uma previsão bem-feita do que será reali- trabalho, o professor deve considerar, segundo Turra et alii, alguns
zado em classe, melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfei- aspectos, tais como:
çoa a prática pedagógica do professor. Por isso é que o planejamen- - as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim de me-
to deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para que não se lhor orientar suas realizações e sua integração à comunidade;
torne um ato meramente burocrático, como acontece em muitas - a realidade de cada aluno em particular, objetivando oferecer
escolas. A maneira de se planejar não deve ser mecânica, repetitiva, condições para o desenvolvimento harmônico de cada um, satisfa-
pelo contrário, na realização do planejamento devem ser considera- zendo exigências e necessidades biopsicossociais;
dos, combinados entre si, os seguintes aspectos: - os pontos de referência comuns, envolvendo o ambiente es-
1) Considerar os alunos não como uma turma homogênea, mas colar e o ambiente comunitário;
a forma singular de apreender de cada um, seu processo, suas hipó- - suas próprias condições, não só como pessoa, mas como pro-
teses, suas perguntas a partir do que já aprenderam e a partir das fissional responsável pela orientação adequada do trabalho escolar.
suas histórias;

237
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

A partir da análise da realidade, o professor tem condições de surgem durante o processo e busca-se, através dela, uma constante
elaborar seu plano de ensino, fundamentado em fatos reais e signi- melhoria na elaboração do planejamento, melhorando consequen-
ficativos dentro do contexto escolar. temente a prática do professor e a aprendizagem do aluno. Portan-
to, ela passa a ser um “norte” na prática docente, pois, “faz com que
Definição do tema e preparação: o grupo ou pessoa localize, confronte os resultados e determine a
Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode iniciar o continuidade do processo, com ou sem modificações no conteúdo
seu trabalho a partir de um tema, que tanto pode ser escolhido ou na programação”.
pelo professor, através do julgamento da necessidade de aplicação
do mesmo, ou decidido juntamente com os alunos, a partir do in- Importância do planejamento no processo de ensino-apren-
teresse deles. Planejar dentro de uma temática, denota uma preo- dizagem
cupação em não fragmentar os conhecimentos, tornando-os mais Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se desloca-
significativos. do para a questão de como se aprende. Frequentemente ouvia-se
Na fase de preparação do planejamento são previstos todos os por parte dos professores, a seguinte expressão: “ensinei bem de
passos que farão parte da execução do trabalho, a fim de alcançar a acordo com o planejado, o aluno é que não aprendeu”. Esta expres-
concretização e o desenvolvimento dos objetivos propostos, a par- são era muito comum na época da corrente tecnicista, em que se
tir da análise do contexto da realidade. Em outras palavras, pode-se privilegiava o ensino. Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refle-
dizer que esta é a fase da decisão e da concretização das ideias. tindo sobre a questão da construção do conhecimento, o questiona-
A tomada de decisão é que respalda a construção do futuro mento foi maior, no sentido da preocupação com a aprendizagem.
segundo uma visão daquilo que se espera obter [...] A tomada de No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pensar na
decisão corresponde, antes de tudo, ao estabelecimento de um questão do aprendizado. Se realmente há a preocupação com a
compromisso de ação sem a qual o que se espera não se conver- aprendizagem, deve-se questionar se a forma como se planeja tem
terá em realidade. Cabe ressaltar que esse compromisso será tanto em mente também o ensino, ou seja, deve haver uma correlação
mais sólido, quanto mais seja fundamentado em uma visão crítica entre ensino-aprendizagem.
da realidade na qual nos incluímos. A tomada de decisão implica, A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de uma vi-
portanto, nossa objetiva e determinada ação para tornar concretas são construtivista como um resultado do esforço de encontrar sig-
as situações vislumbradas no plano das ideias. nificado ao que se está aprendendo. E esse esforço é obtido através
Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramente os ob- da construção do conhecimento que acontece com a assimilação,
jetivos gerais e, em seguida, os objetivos específicos. Também são a acomodação dos conteúdos e que são relacionados com antigos
selecionados e organizados os conteúdos, os procedimentos de en- conhecimentos que constantemente vão sendo reformulados e/ou
sino, as estratégias a serem utilizadas, bem como os recursos, sejam “reesquematizados” na mente humana.
eles materiais e/ou humanos. Numa perspectiva construtivista, há que se levar em conta
os conhecimentos prévios dos alunos, a aprendizagem a partir da
Avaliação necessidade, do conflito, da inquietação e do desequilíbrio tão fa-
É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-á: lado na teoria de Piaget. E é aí que o professor, como mediador
a) demonstrar que a ação produz alguma diferença quanto ao do processo de ensino-aprendizagem, precisa definir objetivos e os
desenvolvimento dos alunos; rumos da ação pedagógica, responsabilizando-se pela qualidade do
b) promover o aprimoramento da ação como consequência ensino.
de sugestões resultantes da avaliação. Além disso, toda avaliação
deve estar intimamente ligada ao processo de preparação do plane- Essa forma de planejar considera a processualidade da apren-
jamento, principalmente com seus objetivos. Não se espera que a dizagem cujo avanço no processo se dá a partir de desafios e pro-
avaliação seja simplesmente um resultado final, mas acima de tudo, blematizações. Para tanto, é necessário, além de considerar os
seja analisada durante todo o processo; é por isso que se deve pla- conhecimentos prévios, compreender o seu pensamento sobre as
nejar todas as ações antes de iniciá-las, definindo cada objetivo em questões propostas em sala de aula.
termos dos resultados que se esperam alcançar, e que de fato possa O ato de aprender acontece quando o indivíduo atualiza seus
ser atingível pelo aluno. As atividades devem ser coerentes com os esquemas de conhecimento, quando os compara com o que é novo,
objetivos propostos, para facilitar o processo avaliativo e devem ser quando estabelece relações entre o que está aprendendo com o
elaborados instrumentos e estratégias apropriadas para a verifica- que já sabe. E, isso exige que o professor proponha atividades que
ção dos resultados. instiguem a curiosidade, o questionamento e a reflexão frente aos
conteúdos. Além disso, ao propiciar essas condições, ele exerce um
A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está ligada à práti- papel ativo de mediador no processo de aprendizagem do aluno,
ca do professor, o que faz com que aumente a responsabilidade em intervindo pedagogicamente na construção que o mesmo realiza.
bem planejar. Dalmás fala sobre avaliação dizendo que: Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar o plane-
Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um processo jamento como ferramenta básica e eficaz, a fim de fazer suas inter-
de ação-reflexão-ação. Em outras palavras, parte-se do planeja- venções na aprendizagem do aluno. É através do planejamento que
mento para agir na realidade sobre a qual se planejou, analisam-se são definidos e articulados os conteúdos, objetivos e metodologias
os resultados, corrige-se o planejado e retorna-se à ação para pos- são propostas e maneiras eficazes de avaliar são definidas. O plane-
teriormente ser esta novamente avaliada. jamento de ensino, portanto, é de suma importância para uma prá-
Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o planeja- tica eficaz e consequentemente para a concretização dessa prática,
mento de ensino, pois é através dela que se percebem os progres- que acontece com a aprendizagem do aluno.
sos dos alunos, descobrem-se os aspectos positivos e negativos que Se de fato o objetivo do professor é que o aluno aprenda, atra-

238
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

vés de uma boa intervenção de ensino, planejar aulas é um compro- — Estratégias de gestão do tempo e da aprendizagem
misso com a qualidade de suas ações e a garantia do cumprimento No desempenho da docência, a gestão do tempo e da apren-
de seus objetivos. dizagem significa a capacidade de aplicar e gerenciar estratégias de
ensino que entregam resultados para os estudantes. Além disso,
Referência: consiste na experiência positiva individual de cada um, o que auxilia
KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino como a instituição de ensino na obtenção de dados analíticos importantes
Ferramenta Básica do Processo Ensino-Aprendizagem. UNICENTRO para tomadas de decisão.
- Revista Eletrônica Lato Sensu, 2008 Ao pensar na gestão de tempo, é importante que esses mo-
mentos não sejam longos demais, intercalem momentos expositi-
vos, de produção em grupo e produção individual. Mas atenção:
A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E cuidado com as transições de um momento para o outro – elas de-
INTERAÇÃO vem ter comandos claras para que sejam rápidas.
As estratégias de aprendizagem consistem em um dos proces-
— A importância do Tripé (Organização da Coletividade, Cui- sos mais importantes de uma instituição de ensino. De maneira
dado com as Relações Interpessoais e Mediação do Conhecimen- prática, podem ser definidas como os procedimentos usados pelo
to) corpo docente com o objetivo de estimular o desenvolvimento dos
Para uma atuação efetiva, o docente precisa dominar a gestão alunos. Essas estratégias de podem ser ensinadas para alunos de
em sala de aula e esta, por sua vez, somente é exercida de forma baixo rendimento escolar. É possível ensinar a todos os alunos a ex-
satisfatória se tiver pautada em três dimensões básicas que, juntas, pandir notas de aulas, a sublinhar pontos importantes de um texto,
formam um tripé. Acompanhe a seguir quais são essas dimensões.   a monitorar a compreensão na hora da leitura, usar técnicas de me-
morização, fazer resumos, entre outras estratégias.
Organização da coletividade
Essa dimensão está relacionada à disciplina e ao chamado clima — A importância do clima escolar para a construção do res-
de trabalho em sala de aula. Organizar a coletividade nada mais é peito e de um ambiente acolhedor para a formação do estudante
do que criar um ambiente de participação, interação, disciplina e Uma boa escola é feita de professores comprometidos com a
respeito é importante para que o processo de ensino e aprendizagem missão de ensinar, de alunos empenhados em aprender e de famí-
aconteça da melhor forma. Entre as medidas que contribuem para lias investidas na importância de uma parceria com a escola. Esses
a organização da coletividade e, consequentemente, para um componentes têm igual importância para a construção de um bom
aprendizado efetivo, estão a realização assembleias de classe, a clima escolar.
promoção de conversas sobre a importância da escola, fazer com os A escola é um espaço humano, de convivência e da comunida-
alunos um contrato didático no início das aulas, etc. de. Por isso, deve-se considerar como as pessoas se sentem nesse
ambiente. Segundo Joice Lamb, coordenadora pedagógica, eleita
Cuidado com as Relações Interpessoais coordenadora do ano em 2019, “se pensamos primeiro nos conteú-
As relações interpessoais anteveem a estão à organização da dos a serem ensinados do que nas pessoas, estamos tratando-os
coletividade — e está diretamente relacionada à essa dimensão. como robôs, e a escola torna-se um lugar que só aplica matéria”.  
Um bom relacionamento entre professor e aluno gera uma cultura Essa reflexão está estritamente relacionada ao propósito de
de respeito mútuo, de atenção e de cuidado com o outro, e pro- toda instituição educacional. Preparar alunos para provas e avalia-
move a organização da coletividade. Para desenvolver esse tipo de ções, por exemplo, fará com que se sintam apenas executores, sem
relacionamento, é preciso que professor e aluno sejam capazes de a compreensão de conceitos mais amplos. Ainda segundo Lamb,
compreender os diferentes mundos em que estão inseridos. E este a escola precisa se entender como um espaço frequentando por
movimento deve partir do professor: é preciso demonstrar interes- crianças e adolescentes na busca por algo além do conteúdo peda-
se, fazer contato, conhecer e se conectar com a turma. gógico: elas buscam aprender a viver em sociedade, a ser cidadãos,
a pensar no país, no mundo e nos outros, isso vai se refletir no clima
Mediação do conhecimento do lugar, porque as ações que os docentes e a equipe pedagógica
Mediar o conhecimento quer dizer mostrar aos alunos onde pensarem serão definidas com vistas a esse propósito.  
se aplica o conteúdo recém aprendido, de que forma esse conteú- Primeiramente, antes mesmo de se pensar sobre como
do aumenta a compreensão sobre outros fatos e como o conceito construir um bom clima escolar, é importante ter em mente que isso
pode ampliar a sua compreensão de mundo. Tudo isso é mediar o está sujeito à mobilização de pessoas que se envolvem a proposta
significado de um conceito. de pensar coletivamente nos desafios da instituição. Um espaço
Diante dessas definições de cada dimensão, entendemos que a de convivência satisfatória, que acolhe e respeita a todos, também
importância do tripé integrado por elas tem sua importância devido pode ser construído a partir de ações de valorização do trabalho,
à educação escolar ser um processo coletivo e de interação com das ideias e posicionamento dos profissionais da educação e dos
a realidade, por meio do relacionamento humano baseado no tra- estudantes.  
balho com o conhecimento e na organização da coletividade, cuja
finalidade é colaborar na formação do educando na sua totalidade Medidas efetivas
tendo como mediação fundamental os saberes que possibilitam a Existem algumas ações que podem favorecer e, até mesmo,
emancipação humana. garantir a construção de um clima escolar satisfatório e acolhedor.
Conheça algumas:  
– Regras de convivência: essa medida desempenham um papel
importante, desde que construídas conjuntamente. Joice ressalta

239
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

que ser acolhedor não é sinônimo de não ter limites. Entender


o que pode e o que não pode é papel dos alunos, professores e PRINCIPAIS TEORIAS DA APRENDIZAGEM; INATISMO,
funcionários, e ajuda a compreender o espaço de cada um na COMPORTAMENTALISMO, BEHAVIORISMO,
escola.   INTERACIONISMO, COGNITIVISMO; AS BASES
– Tempo de intervalo: algumas escolas proporcionam quinze EMPÍRICAS, METODOLÓGICAS E EPISTEMOLÓGICAS
minutos de intervalo para comer, ir ao banheiro e brincar, mas as DAS DIVERSAS TEORIAS DE APRENDIZAGEM;
pessoas precisam de mais tempo para se relacionar. É evidente que CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON
os alunos ajudam na manutenção do clima, mas isso só é possível PARA A PSICOLOGIA E A PEDAGÓGICA
se a escola tiver uma proposta voltada a ouvir as crianças e jovens
e compreendê-los. — Epistemologia genética de Jean Piaget (1896-1980)
– Assembleias escolares: ouvir a opinião de crianças e jovens Jean Piaget foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço,
também é sempre relevante. Entretanto, com a volta das aulas considerado um dos mais importantes pensadores do século XX.
presenciais, Joice reforça que, além de avaliações e sondagens para Em seus estudos, Piaget não teve como propósito desenvolver uma
verificar a aprendizagem, é necessário promover momentos para teoria de aprendizagem, mas uma teoria do desenvolvimento. Sua
que os alunos possam falar como estão se sentindo. preocupação central era o sujeito epistêmico, ou seja, o estudo dos
processos de pensamentos presentes desde a infância inicial até a
A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTO EPISTEMOLÓGICO idade adulta4.
DO FAZER DOCENTE Definida como Epistemologia Genética, a teoria de Jean Piaget
estuda os mecanismos e processos que conduzem o sujeito de um
estado de menor conhecimento para estados de conhecimento
- A importância da didática para a formação docente mais avançados. Suas pesquisas sobre desenvolvimento cognitivo
A didática é muito importante para a formação do professor, tinham a perspectiva de maturação biológica, com ênfase na
pois proporciona o desenvolvimento de sua capacidade crítica e re- experiência como elemento essencial ao desenvolvimento da
flexiva, permitindo que ele analise com clareza a realidade do ensi- aprendizagem.
no, tomando decisões acertadas para proporcionar oportunidades Piaget debruçou-se a explicar a evolução cognitiva da criança,
de construção do conhecimento para o aluno. Dessa forma, pode- por meio da observação e do estudo da evolução das diferentes
mos entendê-la como a análise e desenvolvimento de técnicas e estratégias que ela utiliza para resolver situações problemas.
métodos que possam ser utilizados no ensino de um conteúdo para Com base nos resultados obtidos, comprova que a lógica de
atender a um indivíduo ou grupo, fazendo parte portanto, da ciên- funcionamento mental da criança difere qualitativamente da lógica
cia pedagógica, tratando dos processos de ensino e aprendizagem. de funcionamento mental do adulto.
Enquanto prática epistemológica, a didática representa um Para ele, o conhecimento não pode ser concebido como algo
conjunto de saberes utilizado pelo professor na preparação e re- inato, tampouco como resultado do simples registro de percepções
alização da prática docente, a fim de que os objetivos de apren- e informações. Mas é o resultado das ações e interações do sujeito
dizagem sejam realizados, entendendo que as bases epistemoló- com o ambiente onde vive.
gicas sustentam a prática educativa, elucidando o modo como as Embora o funcionamento da inteligência seja herdado, as
relações professor-aluno, aluno-conhecimento e aluno-aluno se estruturas da mente vão sendo construídas a partir da organização
estabelecem, assim como a compreensão de mundo. Com isso, o sucessiva das ações do sujeito sobre os objetos. Sendo o conhecimento
docente passa a ter elementos para construir sua prática dentro da resultado da interação do sujeito com o objeto, por meio da ação que
realidade de sala de aula, dissociando-a da teoria e adequando-a às realiza sobre ele, o sujeito conhece-o, transforma-o, compreendendo o
necessidades de seus alunos. processo dessa transformação, e como resultado, entendendo como o
objeto foi construído.
- Objetivos da didática Nisso reside um dos conceitos da teoria piagetiana: a
Nesse sentido, os objetivos da didática tornam-se claros e po- hereditariedade. Tal conceito diz que o sujeito herda estruturas
demos defini-los assim: biológicas que predispõem o aparecimento de estruturas mentais.
1.Reflexão sobre o papel sociopolítico da educação, da escola Mas, o surgimento das estruturas mentais necessita da interação
e do ensino; do sujeito com o ambiente, tanto nos aspectos físicos como nos
2.Compreensão do processo de ensino; sociais.
3.Instrumentalização do professor para identificação e resolu- O aspecto físico proporciona à criança a possibilidade de
ção de problemas na prática pedagógica; manipulação dos objetos, exploração de lugares, observação de
4.Desenvolvimento da capacidade de adequar a prática docen- fenômenos que ocorrem na natureza, entre outros. Socialmente, a
te à realidade do aluno e a seus conhecimentos prévios. criança tem a oportunidade de interagir com seus pares, adquirindo
e desenvolvendo competências indispensáveis ao seu pleno
- Conclusão desenvolvimento.
Podemos entender que a didática representa um conjunto de Para Piaget, a lógica do desenvolvimento é a busca do equilíbrio
conhecimentos que conferem condições ao docente de trabalhar que ocorre por meio de mecanismos de adaptação do indivíduo ao
com seus alunos, adequando seus métodos não só aos conteúdos, meio. Assimilação e acomodação são processos complementares,
mas também ao contexto social que o aluno está inserido, buscan-
do formas de obter uma aprendizagem mais significativa, a partir 4 Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem [recurso eletrôni-
dos conhecimentos prévios dos estudantes. co] / Josieli Piovesan ... [et al.]. – 1. ed. – Santa Maria, RS: UFSM, NTE,
2018.

240
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

diretamente ligados ao processo de adaptação.


No processo de assimilação, elementos do meio são incorporados à estrutura cognitiva do sujeito. Na acomodação, há uma modifica-
ção nas estruturas do sujeito para que se adapte às modificações do meio.
Para ilustrar tal processo, pensemos na seguinte situação: uma criança se depara com uma nova situação, tenta assimilá-la, buscando
compreendê-la com base nos esquemas5 que já possui em sua mente. Este processo é chamado de assimilação.
Porém, se esta experiência não coincidir com um esquema existente, ela necessita modificar o esquema, ampliando seu conhecimen-
to de mundo. Este movimento é denominado acomodação.
A figura a seguir demonstra a relação entre assimilação, acomodação e adaptação.

Processo de assimilação e acomodação

https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psicologia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendizagem.pdf

Segundo Piaget, haveria aprendizagem somente quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Nesse sentido, o sujeito vai
construindo teorias acerca do funcionamento do meio físico e social.
O desenvolvimento cognitivo constitui um processo de sucessivas mudanças nas estruturas cognitivas, de construção e reconstrução
contínuas de esquemas prévios, os quais, aos poucos, transformam bases inatas e reflexas em representações mentais, conduzindo ao
equilíbrio. O equilíbrio entre os dois processos possibilita uma adaptação cada vez mais adequada do sujeito ao mundo e, consequentemente,
sua organização mental.
Todavia, quando este equilíbrio é rompido por experiências ainda não assimiladas, a mente se reorganiza para construir novos
esquemas de assimilação e novamente atingir o equilíbrio. Este processo de reequilíbrio é denominado equilibração majorante e é o
responsável pelo desenvolvimento mental do sujeito.
A partir da abordagem piagetiana, é fundamental provocar o desequilíbrio na mente da criança para que ela, ao buscar o reequilíbrio,
se reorganize cognitivamente e consiga aprender. Ou seja, quando o equilíbrio é desestabilizado a criança tem a oportunidade de crescer
e se desenvolver. Sob esta ótica, é imprescindível que o professor desafie o aluno, provocando constante desequilíbrio em seus esquemas
mentais.
Para compreender melhor esse processo, tomemos como exemplo a figura abaixo:

Cavalo ou cachorro?

5 De acordo com Piaget, esquemas são estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o
meio.

241
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psico- Estágio pré-operatório, entre 2 e 7 anos de idade


logia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendizagem.pdf Neste estágio ocorre a transição entre a inteligência sensório-
-motora e a inteligência simbólica. A função simbólica na criança
é responsável pela capacidade de substituição do objeto por sua
Na imagem podemos ver dois animais: um cavalo e um representação, possibilitando-lhe tratar os objetos como símbolos.
cachorro. Pensemos numa criança que começa a reconhecer os Esta capacidade possibilita aquisição dos significados sociais, pre-
animais e, até o momento, conhece apenas o cachorro. Então, a sentes no contexto em que ela vive, criando as condições para a
representação mental que possui de animais foi construída com aquisição e desenvolvimento da linguagem.
base nas características do cachorro. Ao final deste estágio, o pensamento da criança começa a as-
Quando vê outro animal com características semelhantes vai sumir a forma de operações concretas, quando surgem as noções
utilizar o esquema que já construiu para identificar este animal. temporais, espaciais, de velocidade e ordem. A criança já tem con-
Assim, ao olhar o cavalo inicialmente pensará que ele também é dições de compreender o ponto de vista da outra pessoa e de con-
um cachorro: ambos possuem quatro patas, um rabo, pescoço, ceituar algumas relações. Nessa fase, são constituídas as bases para
nariz molhado, duas orelhas, etc. Nesta etapa ocorre a assimilação: o pensamento lógico característico do final do desenvolvimento
a semelhança entre o cavalo e o cachorro (apesar da diferença de cognitivo.
tamanho) faz com que um cavalo passe por um cachorro.
A quantidade de informações acumuladas pela criança ainda Terceiro estágio, operatório concreto, de 7 a 11 anos
não é suficiente para que ela diferencie os dois animais. A diferen- Neste estágio a criança é capaz de realizar operações a partir
ciação do cavalo para o cachorro deverá ocorrer após a intervenção de materiais concretos, desenvolve noções espaciais e a capacidade
de alguém que vai lhe explicar que se trata de um cavalo, e ela po- de raciocinar o mundo de maneira mais lógica e adulta. Adquire
derá diferenciá-los, construindo um novo esquema (conceito). a reversibilidade lógica, que configura uma propriedade das ações
Terá assim, dois conceitos diferentes: um para o cachorro e ou- da criança auxiliando na construção das noções de conservação de
tro para o cavalo, podendo diferenciá-los. É quando ocorre o pro- comprimento, distâncias, quantidades discretas e contínuas e quan-
cesso de acomodação. tidades físicas.
Piaget nomina como esquemas as estruturas cognitivas que Também desenvolve a capacidade de aplicar um mesmo tipo
são modificadas por meio dos processos de assimilação e acomo- de pensamento em situações-problema diferentes. Crianças na fai-
dação. Os esquemas estão em contínuo movimento e permitem ao xa etária das operações concretas tendem a ser menos egocêntricas
indivíduo melhor adaptar-se a uma realidade que, ele próprio, vai e mais eficientes em tarefas que demandam raciocínio lógico, como
percebendo mais complexa e abrangente, exigindo formas de pen- relações espaciais, causalidade, categorização, raciocínio indutivo e
samento e comportamento mais evoluídas. dedutivo e conservação. E é isso que diferencia a criança em idade
escolar de crianças menores.
— Estágios do Desenvolvimento segundo Piaget Já no estágio operatório formal, a partir dos 12 anos de idade,
Piaget sistematiza que o desenvolvimento cognitivo é marcado a criança consegue pensar de forma abstrata e hipotética, é capaz
por períodos com características bem definidas, as quais expõem de estabelecer relações possíveis respeitando determinada lógica,
uma estrutura qualitativamente diferente da que a precedera e testa hipóteses em busca de solução para problemas. Atinge um ní-
das que a sucederão, e, concomitantemente, preparam o indivíduo vel mais elevado de desenvolvimento, podendo resolver situações
para o estágio seguinte. Ao dividir o desenvolvimento da criança em através do raciocínio lógico e explicar fatos observáveis utilizando-
estágios, Piaget buscou explicar as principais características de cada -se de suposições. Neste estágio o indivíduo inicia sua transição
etapa, ressaltando que habilidades adquiridas em estágios anterio- para o modo adulto de pensar.
res são essenciais para o domínio de estágios posteriores. Por serem sucessivos, cada um dos estágios tem como ponto
Assim, os estágios representam o desenvolvimento da inteli- principal o aparecimento de uma etapa de equilíbrio, ou seja, uma
gência, que não ocorre de forma linear, nem por acúmulo de infor- fase de organização das ações e das operações do sujeito, descrita
mações. Ele se dá por saltos, por rupturas, modificando-se com as mediante uma estrutura lógico-matemática. Quando se considera a
experiências. ação educativa, a passagem de um estado de menos conhecimento
para um estado de conhecimento mais avançado encontra explica-
Estágio sensório motor, do nascimento aos 2 anos de idade ção nos estudos de Piaget.
Período em que os atos inteligentes da criança compreendem A aprendizagem escolar não é uma recepção passiva do conhe-
as ações motoras como resposta aos diversos estímulos que afetam cimento transmitido, mas sim um processo ativo de elaboração, no
os seus sentidos. A partir da inteligência prática, dos reflexos neu- qual a interação múltipla entre os alunos e os conteúdos que eles
rológicos básicos a criança inicia a construção de esquemas de ação têm de aprender deve ser favorecida. Assim, por meio das ações
para a assimilação do meio. efetivas ou mentais que realiza sobre o conteúdo de aprendizagem,
Porém, ainda não dispõe de uma estrutura representativa que o aluno constrói o conhecimento.
permita internalizar os objetos de modo que possa agir apenas no
plano mental. Por meio da imitação a criança realiza diferentes ex- — Teoria sociointeracionista de Vygostky
periências e aprende, mas é indispensável a presença do objeto, Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) foi um psicólogo bielo-
visto que ele é próprio modelo de imitação. Culmina com o apare- -russo, que realizou diversas pesquisas na área do desenvolvimen-
cimento da linguagem. to da aprendizagem e do papel preponderante das relações sociais
nesse processo, as quais originaram a perspectiva sociointeracionis-
ta da aprendizagem.
As formulações de Vygotsky possibilitaram uma maior com-

242
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

preensão do pensamento enquanto função cerebral, valorizando o processo de apropriação dos saberes culturais pelas crianças. Seus
estudos remetem à discussão das relações entre pensamento e linguagem, à questão da mediação cultural no processo de construção de
significados por parte do indivíduo, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimentos, exercendo forte
influência em pesquisas sobre a linguagem, a mente, a cognição, a cultura e o pensamento humano.
Um dos pressupostos básicos de Vygotsky é a ideia de que o ser humano constitui-se como tal na sua relação com o outro social. Para
Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da interação do sujeito com o meio social. Assim, o homem é um ser ativo, histó-
rico e social que através de interações constrói e modifica o ambiente.
Em Vygotsky, a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do
indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem.
Vygotsky dedicou-se ao estudo das funções psicológicas superiores que contemplam os processos que envolvem memória, atenção,
imaginação, planejamento, ação intencional, representação simbólica, pensamento abstrato, capacidade de solucionar problemas, forma-
ção de conceitos, linguagem, dentre outros. Tais funções humanas têm origem nas relações do indivíduo em seu contexto social e cultural.
No decorrer deste processo, o homem também forma sua personalidade. As funções psicológicas superiores do ser humano surgem
da interação dos fatores biológicos, que são parte da constituição física do Homo sapiens, com fatores culturais que evoluíram através de
dezenas de milhares de anos de história humana.
Vygotsky também afirma que as características específicas do ser humano não são inatas, mas desenvolvem-se ao longo da vida. Para
ele, a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia
humana.
Até agora, conhece-se apenas um esboço desse processo. Vygotsky concluiu que as origens das formas superiores de comportamento
consciente deveriam ser achadas nas relações sociais que o indivíduo mantém com o mundo exterior. Mas o homem não é apenas um
produto de seu ambiente, é também um agente ativo no processo de criação deste meio.
Neste sentido, destaca que o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crian-
ças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam. As formulações de Vygotsky permitem observar a existência de duas caracterís-
ticas diferentes na educação formal: a sistematização dos conhecimentos e a interação com os pares.
Nesse aspecto, um dos grandes legados de Vygotsky para a educação está nos conceitos de Zona de Desenvolvimento Real, Zona de
Desenvolvimento Proximal e Zona de Desenvolvimento Potencial. A partir de tais conceitos é possível concluir que a inserção social do
sujeito, sua interação com o outro, interfere significativamente no desenvolvimento intelectual, o qual está estreitamente ligado à apren-
dizagem.
Segundo Vygotsky, a Zona de Desenvolvimento Real refere-se ao nível de desenvolvimento das funções mentais da criança que se
estabelecem como resultado de certos ciclos de desenvolvimento já completados. Nisso reside a importância de, além das características
do desenvolvimento, a escola considerar o conhecimento que a criança já possui.
A Zona de Desenvolvimento Potencial refere-se ao que o sujeito pode aprender com o outro, cuja aprendizagem encontra-se num
nível mais elevado. A Zona de Desenvolvimento Proximal alude ao espaço entre o que a criança já possui e o que ela precisa construir, ou
seja, as funções que ainda estão em processo de maturação.
É um domínio psicológico em constante transformação, em que a criança se desenvolve com o auxílio de outras crianças e adultos
mais experientes. Em síntese, a Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de
problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.
O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal mostra que com auxílio do outro a criança tem possibilidade de produzir mais do
que produziria sozinha. Aponta o potencial da criança frente às possibilidades ainda não realizadas e destaca a importância da mediação
tanto para a construção de conhecimentos como para o desenvolvimento das relações sociais.

Zona de Desenvolvimento Proximal

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https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psico- aquisições independentes da criança.


logia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendizagem.pdf Outro aspecto importante na teoria de Vygotsky é a ideia de
mediação. As relações sociais dos seres humanos são mediadas por
A imagem auxilia a clarear tais conceitos. Como vemos, na instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente pelo próprio
Zona de Desenvolvimento Real está o saber atual, isto é, todas homem.
as aprendizagens que a criança já construiu, tudo aquilo que ela O desenvolvimento da linguagem, instrumento de comunicação
é capaz de fazer sem necessitar da ajuda de outras pessoas. Por e síntese do conhecimento, marca qualitativamente a evolução da
exemplo: amarrar os sapatos, vestir a roupa, andar, subir e descer espécie e do indivíduo. A mediação ocorre tanto nos processos de
escadas, andar de bicicleta, montar um quebra-cabeça, escrever, representação mental de natureza simbólica, em que o ser humano
desenhar, entre outras atividades realizadas sem a intervenção de é capaz de estabelecer relações mentais na ausência de referências
outra pessoa. concretas, como no aspecto social, com a internalização de formas
No centro da figura, está a Zona de Desenvolvimento Proximal, de comportamento culturalmente estabelecidas, num processo
onde a ponte indica um caminho a ser percorrido. É o lugar das que transforma as atividades externas, funções interpessoais, em
aprendizagens que estão sendo construídas, de tudo aquilo que atividades internas, intrapsicológicas.
a criança ainda não sabe, mas que pode aprender com o auxílio No que refere à intervenção pedagógica, ela provoca avanços
de pessoas mais experientes. Por isso é um lugar de mediação, de na aprendizagem que não ocorreriam espontaneamente. A
interação, de trocas com o professor, com os colegas, com outras importância da intervenção deliberada de um indivíduo sobre
pessoas que podem auxiliar a criança aprender. outro, com o intuito de promover desenvolvimento, articula-se
Existem tarefas que a criança ainda não consegue realizar como a ideia de Vygotsky de que a aprendizagem é fundamental
sozinha, mas se torna capaz de realizar se alguém lhe der um para o desenvolvimento desde o nascimento da criança.
exemplo, uma instrução de como fazer, fornecer pistas ou auxiliar na É importante ressaltar que para este teórico a aprendizagem
execução da tarefa para que entenda o processo. Por exemplo: para começa muito antes de a criança entrar na escola. Mas é na escola
uma criança que ainda não consegue andar sozinha, para aprender que o aluno entra em contato com saberes formalizados, diferentes
a andar precisa que um adulto a segure pela mão e a ensine, mas dos saberes do senso comum.
ela precisa estar num determinado nível de desenvolvimento (por
volta de um ano de idade). — Teoria do desenvolvimento humano de Henri Wallon
Uma criança de dois ou três meses, mesmo com a ajuda de um (1879-1962)
adulto, não é capaz de andar. Posterior à Zona de Desenvolvimento Henri Wallon nasceu na França, em 1879. Viveu toda sua vida em
Proximal está a Zona de Desenvolvimento Potencial que é o saber Paris, onde morreu em 1962. Filósofo, médico e psicólogo, marcou
a ser alcançado, ou seja, conhecimentos que a criança ainda não sua vida por intensa produção intelectual e ativa participação social
construiu, aquilo que ainda não sabe, que não consegue fazer e política.
sozinha, nem com a ajuda de outras pessoas. Seus estudos resultaram na construção da teoria que, por sua
É importante dizer que cada nova aprendizagem que a criança abrangência e profundidade, é denominada como psicogênese
consegue realizar se torna um saber atual e vai aumentando sua da pessoa completa. Nela, propõe que o desenvolvimento seja
capacidade de aprender coisas novas. Assim, aquilo que a criança estudado de maneira integrada, englobando a afetividade, a
não conseguiria realizar mesmo que recebesse ajuda de outra motricidade e a inteligência enquanto campos funcionais nos quais
pessoa vai se tornando mais acessível à sua capacidade e ela passa se distribui a atividade infantil, bem como os diferentes momentos
a conseguir realizar com auxílio, até a aprendizagem se tornar de sua evolução psíquica (estágios do desenvolvimento), numa
completa e ela realizar sozinha. perspectiva abrangente e global.
Nessa perspectiva, o professor desempenha uma função As proposições de Wallon demandam que se estude o
fundamental para o desenvolvimento da criança, na medida em desenvolvimento infantil tomando a própria criança como ponto de
que pode possibilitar diferentes maneiras de interação e construção partida, buscando compreender cada uma de suas manifestações
do conhecimento. Vygotsky critica o aprendizado orientado para os no conjunto de suas possibilidades, sem a prévia censura da lógica
níveis de desenvolvimento que já foram alcançados pelas crianças, adulta. Assim, a teoria de Wallon indica que no desenvolvimento
pois torna o trabalho educativo ineficaz do ponto de vista do humano é possível identificar a existência de etapas diferenciadas,
desenvolvimento global da criança. Acrescenta que a noção de Zona que se caracterizam por um conjunto de necessidades e de
de Desenvolvimento Proximal propõe que o “bom aprendizado” é interesses que lhe asseguram lógica e coesão.
aquele que se adianta ao desenvolvimento. O estudo da criança contextualizada possibilita que se perceba
Segundo o autor, aprendizado não é desenvolvimento; que, entre os seus recursos e os de seu meio, instala-se uma
entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em dinâmica de determinações recíprocas: a cada idade estabelece-se
desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos um tipo particular de interações entre o sujeito e seu ambiente.
de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis Os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem e
de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e os conhecimentos próprios a cada cultura formam o contexto do
universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas desenvolvimento.
culturalmente organizadas e especificamente humanas. Conforme as disponibilidades da idade, a criança interage mais
Assim, faz-se necessária uma compreensão de desenvolvimento fortemente com um ou outro aspecto de seu contexto, retirando
a partir de um processo dinâmico de aprendizagem, constituído por dele os recursos para o seu desenvolvimento. Com base nas suas
idas e vindas, elaborações e reelaborações, em que a aprendizagem competências e necessidades, a criança tem sempre a escolha
estimula o processo de desenvolvimento, que por sua vez incita do campo sobre o qual aplicar suas condutas. O meio não é,
processos internos que, ao serem internalizados, tornam-se portanto, uma entidade estática e homogênea, mas transforma-se

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juntamente com a criança.


Esse processo é influenciado por fatores orgânicos e sociais. Os fatores orgânicos são os responsáveis pela sequência fixa que se
estabelece entre as etapas do desenvolvimento, porém, não asseguram uma homogeneidade no seu tempo de duração, haja vista a
interferência das circunstâncias sociais.
O simples amadurecimento do sistema nervoso não garante o desenvolvimento de habilidades intelectuais mais complexas. Para que
se desenvolvam, precisam interagir com “alimento cultural”, isto é, linguagem e conhecimento”.
A passagem dos estágios de desenvolvimento não ocorre de maneira linear, mas num ritmo descontínuo, marcado por rupturas,
retrocessos e reviravoltas, provocando importantes mudanças em cada fase vivida pela criança. Consiste num processo de contínua
reformulação, marcado por crises que afetam a conduta da criança.
No processo de desenvolvimento infantil surgem inúmeros conflitos, o que conduz Wallon a manter um olhar atento a este aspecto.
Todavia, não os vê como problemas na vida da criança, e sim como propulsores do desenvolvimento.
Sobre a origem dos conflitos esclarece-se que Conflitos de origem exógena, quando resultantes dos desencontros entre as ações da
criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura. De natureza endógena, quando gerados pelos efeitos da maturação
nervosa.
Até que se integrem aos centros responsáveis por seu controle, as funções recentes ficam sujeitas a aparecimentos intermitentes e
entregues a exercícios de si mesmas, em atividades desajustadas das circunstâncias exteriores. Isso desorganiza, conturba, as formas de
conduta que já tinham atingido certa estabilidade na relação com o meio.
Nesse contexto, o desenvolvimento do sujeito é visto como uma construção progressiva, com fases sucessivas, em que o predomínio dos
aspectos afetivos e cognitivos se alterna. Wallon denomina essa tendência ao predomínio de um aspecto sobre o outro de “predominância
funcional”. Tal predomínio é orientado pelo princípio de alternância funcional, isto é, as formas de atividade se alternam em cada fase em
função do interesse da criança, estando ligadas aos recursos que a criança dispõe para interagir com o ambiente.

Apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não se mantém como funções exteriores uma à outra. Cada uma, ao
reaparecer como atividade predominante num dado estágio, incorpora as conquistas realizadas pela outra, no estágio anterior, construindo-
se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação.
São apresentadas abaixo, as características principais de cada um dos cinco estágios propostos pela psicogenética walloniana:
– No estágio impulsivo-emocional, que abrange o primeiro ano de vida, a emoção é o instrumento privilegiado de interação da criança
com o meio.
– No estágio sensório-motor e projetivo, que vai até o terceiro ano, a criança direciona seu interesse para a exploração sensório-
motora do mundo físico, em que predominam as relações cognitivas com o meio. O desenvolvimento da função simbólica e da linguagem
são marcos importantes desta fase.
– No estágio do personalismo, na idade dos três aos seis anos, a tarefa central é o desenvolvimento da personalidade. A construção da
consciência de si, que ocorre pelas interações sociais, reorienta o interesse da criança para as pessoas. Retorna o predomínio das relações afetivas.
– Aos seis anos tem início o estágio categorial, que, por conta da consolidação da função simbólica e da diferenciação da personalidade
realizadas no estágio anterior, traz importantes avanços no plano da inteligência. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança
para o conhecimento e conquista do mundo a sua volta. Predomínio do aspecto cognitivo.
– No estágio da adolescência a crise pubertária impõe a necessidade de uma nova definição dos contornos da personalidade em
virtude das mudanças corporais. Movimento que traz à tona questões pessoais, morais e existenciais, retomando a predominância da
afetividade.

Assim, ao estudar o ser humano em sua integralidade, a psicogenética walloniana identifica a existência de campos que reúnem a
diversidade das funções psíquicas. A efetividade, o ato motor, a inteligência, são campos funcionais entre os quais se distribui a atividade
infantil”, diferenciando-se gradativamente.
A pessoa é o todo que integra esses vários campos e é, ela própria, um outro campo funcional. A figura a seguir expressa a ideia de
inter-relação e continuidade presente nos quatro campos funcionais.

Quatro Campos Funcionais de Wallon

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https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psico- do todo em que o sujeito se constitui. Neste sentido, a teoria do


logia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendizagem.pdf desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da
pessoa completa.
No decorrer do desenvolvimento incidem, entre os campos Suas proposições pedagógicas indicam a necessidade de
funcionais e no interior de cada um, sucessivas diferenciações reformulação no contexto escolar, no sentido de superar a dicotomia
(mudanças). A ideia de diferenciação é fundamental na psicogenética entre indivíduo e sociedade, a partir de um processo de reflexão da
walloniana, e, numa perspectiva mais ampla, orienta o processo de própria escola acerca de suas dimensões sócio-políticas e de seu
formação da personalidade. papel no movimento de transformações da sociedade.
Outro aspecto a ser ressaltado na teoria de Wallon é o papel da
emoção. Para ele, a emoção encontra-se na origem da consciência,
regulando a passagem do mundo orgânico para o social, do plano
A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE
fisiológico para o psíquico. Diferencia emoção de afetividade,
GARDNER
sendo a emoção uma manifestação da vida afetiva e a afetividade
um conceito mais abrangente. As emoções se diferenciam de 6
Em 1983, Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Har-
outras manifestações afetivas e se manifestam acompanhadas vard concluiu o manuscrito “ As Estruturas da Mente” que buscava
de alterações orgânicas (aceleração dos batimentos cardíacos, da ultrapassar a noção comum de inteligência, como um potencial que
respiração, etc.), provocando alterações na expressão facial, na cada ser humano possuía em maior ou menor extensão e que este
postura, na maneira como os gestos são executados. potencial pudesse ser medido por instrumentos verbais padroniza-
Defende, ainda, que as emoções são reações organizadas e que dos como teste de Q.I.
se exercem reguladas pelo sistema nervoso central, cujos comandos A partir daí baseando-se no conceito de que inteligência é a ca-
próprios estão situados na região sub-cortical. Contudo, salienta pacidade de resolver problemas ou de criar produtos que sejam va-
que é somente com a aquisição da linguagem que as possibilidades lorizados dentro de um ou mais cenários culturais, tomando como
de expressar as emoções se diversificam, como também os motivos referência científica evidências biológicas e antropológicas intro-
que as originam. duziu oito critérios distintos para a caracterização da inteligência a
A motricidade ocupa lugar especial na teoria walloniana, partir de sete competência humanas, mais tarde elevadas para oito
é simultânea e sequencial à primeira estrutura de relação e ou eventualmente nove.
correlação, tanto com o meio, quanto com os outros e com os A teoria de Gardner mudou de forma significativa o conceito de
objetos posteriormente. É pelo ato motor que nos relacionamos escola e de aula, abrindo novas luzes sobre as competências huma-
com o mundo físico (motricidade de realização), tendo o movimento nas, mostrando que o sistema tradicional de avaliação baseado na
um papel fundamental na afetividade e também na cognição. capacidade de dominar conceitos escolares específicos necessitava
Um dos traços originais desta perspectiva teórica consiste na de imperiosa renovação, pois não havia mais sentido em se conce-
ênfase que dá à motricidade expressiva, isto é, à dimensão afetiva ber este aluno mais inteligente que outro apenas porque dominava
do movimento. Por meio do movimento as pessoas são mobilizadas com maior ou menor facilidade as explanações de seu professor ou
para posteriormente agirem sobre o mundo físico. os conceitos do livro didático.
A psicogenética walloniana também atribui muitas significações Nos dias atuais, os pensamentos de Gardner e a ideia das inteli-
ao tônus muscular, enquanto componente corporal que se modifica gências múltiplas evoluiu do campo das especulações, constituindo
ao manifestar emoções. Esclarece que o músculo, mesmo em uma nova maneira de ensinar e, sobretudo, uma outra forma de
repouso, possui um estado permanente de tensão que é conhecido conceber a capacidade dos alunos e a aula centrada em sua indivi-
como tono ou tônus muscular. Ele está presente em todas as dualidade. A despeito disso tudo, entretanto, ainda existe algumas
funções motrizes do organismo como o equilíbrio, a coordenação dificuldades em se situar com clareza a diferença que Gardner pro-
e o movimento. O tônus muscular é diretamente moldado pelas pôs para sua “teoria” e a “prática” da mesma.
emoções. “Teoria” e “prática” parecem ser palavras muito amigas e que
Nesse sentido, não é possível selecionar um único aspecto da gostam de andar juntas. Porém, enquanto a palavra “teoria” recebe
criança para ser trabalhado, pois o desenvolvimento acontece nos o desdém e desprezo, como algo que valha apenas no papel, mas
vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil: que não possui validade efetiva, a palavra “prática” ao contrário,
afetivo, cognitivo e motor. O campo afetivo oferece as funções recebe quase sempre o aplauso, revelando caráter de autenticida-
responsáveis pelas emoções, pelos sentimentos e pelo desejo. de e funcionando para valer. Pois “Teoria” significa um conjunto de
O campo cognitivo oferece um conjunto de funções que permite ideias científicas sistematizadas e pode muitas vezes assegurar in-
a aquisição e a manutenção do conhecimento por meio de imagens, discutível validade prática. É, por exemplo, o que acontece com a
noções, ideias e representações. É ele que permite ainda registrar Teoria das Inteligências Múltiplas.
e rever o passado, fixar e analisar o presente e projetar futuros Os argumentos propostos por Gardner para mostrar a multipli-
possíveis e imaginários. O campo motor oferece a possibilidade de cidade das inteligências parecem ser indiscutíveis. A lesão ou dis-
deslocamento do corpo no tempo e no espaço, as reações posturais função parcial do cérebro humano implica na perda de ações relati-
que garantem o equilíbrio corporal, bem como o apoio tônico para vas ou a inteligências especificas a essa área atingida, e não a todas,
as emoções e sentimentos se expressarem. assim como a manifestação da genialidade humana destaca-se que
A psicologia genética de Wallon, por sua abrangência e em alguns mostram exponencial inteligência linguística, como é o
dinamicidade, serve de base para direcionar muitas ações no campo caso de Shakespeare, por exemplo, outros se projetaram por sua in-
educacional. O maior objetivo da educação, no contexto de sua
psicologia genética, estaria posto no desenvolvimento da pessoa e 6 GARDNER, Howard - Estruturas da Mente - A Teoria das Inteligências
não em seu desenvolvimento intelectual. A inteligência é uma parte Múltiplas. Ed. Artes Médicas, 1994

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teligência musical como Mozart, ou matemática como ocorreu com Linguística, verbal ou comunicativo linguístico
Einstein, ou cinestésico-corporal nitidamente presente em Garrin- Voltada a capacidade em adquirir, compreender e dominar as
cha, Pelé entre outros, e outras inteligências que ainda poderíamos expressões da linguagem colocando em ação a semântica e a bele-
citar. za na construção da sintaxe. Manifesta em escritores, romancista,
jornalistas, palestrantes e poetas, mostra-se expressiva também
As Inteligências Múltiplas de Gardner em pessoas que cultuam a palavra e a construção de ideias verbais
ou escritas. Consiste na capacidade de pensar com palavras e de
Ao lançar sua teoria, Gardner falava em sete inteligências, mas usar a linguagem para expressar e avaliar significados complexos.
estudos e pesquisas posteriores elevaram esse número para nove, Crianças com expressiva capacidade linguística surpreendem pelo
admitindo que tal diversidade pode ainda vir a ser ampliada quando vocabulário que conhecem e utilizam, adoram ler, escrever e con-
ainda mais profundamente se conhecer a mente humana. Em linhas tar histórias, mostrando interesse por rima, trocadilhos, charadas e
gerais, portanto, todas as pessoas sem disfunções cerebrais agudas jogos com palavras.
apresentam em diferentes níveis de grandeza, as inteligências:
Musical ou Sonora
Espacial Expressa na capacidade em combinar e compor a música, en-
Expressa pela capacidade de relacionar o espaço próprio com o cadeando sons em uma sequência lógica e rítmica e estruturando
espaço do entorno, percebendo e administrando distâncias e pon- melodias. É a inteligência que se manifesta com mais extraordiná-
tos de referências, bem como revelando a capacidade em perceber rio esplendor em maestros, compositores e muitos outros. Destaca
visuo-espacialmente diferentes objetos, eventualmente transfor- pessoas com extrema sensibilidade para a entoação, ritmo, melodia
mando-os ou combinando-os em novas posições. Extremamente e o tom. Crianças com expressiva inteligência sonora mostram-se
nítida em grandes arquitetos, manifesta-se também em pessoas sensíveis a sons e seus ambientes, recordando com facilidade de rit-
que revelam facilidade em imaginar e percorrer referências espa- mos e melodias. As que se sentem cercadas por ambiente musical,
ciais, como alguns motoristas de praça de grandes cidades. Instiga motivam-se com instrumentos e incorporam a música como ele-
a capacidade em pensar de maneira tridimensional e permite que mento comum as suas vidas. Muitas entre elas acumulam coleção
a pessoa possua imagens externas e internas dos objetos através de CDs e parece que os fones de ouvido fazem parte da estrutura
do espaço e decodifique com facilidade as informações gráficas. orgânica de seus rostos.
Crianças com elevado nível de inteligência espacial percebem com
facilidade a mudança de algo em um cômodo de sua casa, detectan- Intrapessoal
do alterações mesmo sutis em ambientes que conhecem. Parecem É a inteligência de quem expressa grande facilidade para esta-
“pensar” por meio de imagens visuais e muitas vezes destacam-se belecer relações afetivas com o próprio eu, construindo uma per-
em atividades artísticas ou jogos que envolvem montagens. Não cepção apurada de si mesmo, fazendo despontar a autoestima e
poucas são fascinadas por máquinas e possuem elevada habilidade aprofundando o autoconhecimento de sentimentos, temperamen-
manual, mas não se interessam muito por atividades rotineiras, re- tos e intenções. Presente de forma mais acentuada em psicanalis-
fugiando-se em aventuras imaginárias. tas, mostra-se bem caracterizada em assistentes sociais, alguns pro-
fessores e outras profissões. Crianças com inteligência intrapessoal
Cinestésico-corporal elevada desde cedo demonstram saber “quem realmente são”, não
Identificada à capacidade em controlar e utilizar o corpo, ou se preocupando muito sobre o que pensam a seu respeito. Valori-
uma parte do mesmo em atividades motoras complexas e em situa- zam a privacidade e ainda que não gostem muito de misturarem-se
ções específicas, assim como manipular objetos de formas criativa e a multidão, costumam ser admiradas pelos colegas.
diferenciada. Marcante em pessoas que dançam muito bem, prati-
cam a mímica com precisão ou são hábeis em modalidades esporti- Interpessoal
vas diversas. Facilita a sintonização de diferentes habilidades físicas. Muito nítida em pessoas que revelam extrema capacidade em
Crianças com elevada inteligência espacial apresentam capacidade compreender a natureza humana em outras pessoas, procedendo
incomum em controlar o corpo e expressar-se por mímicas e care- uma verdadeira “leitura do outro” quanto seus aspectos emocio-
tas, precisando a toda hora mover-se, retorcer-se usando sensações nais, assim como a destacada facilidade para relações interpessoais
corporais para processarem informações, aprendendo bem menos e a compreensão da dinâmica dos grupos sociais. Crianças com for-
por ouvir e muito mais por fazer. tes habilidades nessa inteligência relacionam-se muito bem com
outras pessoas, fazem amizade com extrema facilidade e como
Lógico-matemática apresentam elevada sensibilidade para compreender sentimentos
Ligada a competência de se compreender os elementos da lin- de terceiros não raramente são escolhidas para liderar grupos, or-
guagem lógico-matemática, permitindo ordenar símbolos numéri- ganizar campanhas comunitárias.
cos e algébricos assim como quantidades, espaço e tempo. Presente
na Engenharia, na Física e na Matemática, também se manifesta na Naturalista
contabilidade, programadores de computação e outras profissões Associada a sensibilidade de percepção e compreensão dos ele-
que recorrem a lógica e os números. Crianças que apresentam uma mentos naturais e da interdependência entre a vida animal e vege-
elevada inteligência lógico-matemática adoram separar, classificar e tal e os ecossistemas e a leitura coerente e racional da natureza em
organizar objetos e brinquedos, aprendem a calcular rapidamente todo seu esplendor. Marcante no naturalista, botânico, jardineiro e
e são excelentes em jogos que envolvem lógica e estratégia e no paisagista tem em Darwin seu expoente mais extraordinário. Induz
manejo e compreensão dos desafios ligados a computação. a observações de padrões na natureza, identificando e classificando
sistemas naturais. As crianças com elevada inteligência naturalista

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interessam-se muito por animais e pela vida rural, sabendo quase tica. Mas, enquanto esse grupo busca a melhor forma de expressão
que intuitivamente separar, organizar e classificar e ilustrar tudo verbal, um outro por exemplo, pode estar pesquisando o tema para
que diz respeito a plantas e sobretudo a animais. expressar o conteúdo do mesmo, possível de ser exemplificado por
equações, médias, grandezas, gráficos e proporções.
Existencial Enquanto o primeiro grupo “mergulhou” no tema, mas buscou
Ligada a capacidade de se situar sobre os limites mais extremos resposta linguística; o segundo grupo não fez pesquisas menos in-
do cosmos e também em relação a elementos da condição huma- tensas e conclusivas, mas expressou suas respostas por uma visão
na como o significado da vida, o sentido da morte, o destino final lógico-matemática. O tema é o mesmo, mas áreas cerebrais di-
do mundo físico e ainda outras reflexões de natureza filosófica ou ferentes foras usados por grupos diferentes. Da mesma forma, o
metafísica. Marcante em pessoas com forte espiritualidade é a in- mesmo tema poderá suscitar a um terceiro grupo uma resposta
teligência dos filósofos, sacerdotes, xamãs, gurus e ainda outros. visuo-espacial e, assim, buscará sua expressão através de mapas e
de gráficos, de frisas do tempo e de colagens, de mapa conceituais
ATENÇÃO: alguns autores colocam a Inteligência Existencial ou outras manifestações da linguagem pictográfica. Observe que,
como sinônimo da Inteligência Naturalista, e trazem como sendo a nesse exemplo, três grupos diferentes, centrados em um mesmo
nona inteligência, a Pictográfica. tema, buscaram seu aprofundamento e sua integral significação ex-
plorando diferentes inteligências.
Pictográfica ou Pictórica Mas, será que esse tema ou conteúdo - seja ele qual for - não
Ligada a pessoas com facilidade em se expressar através dos poderá, por exemplo, ser pesquisado através de uma visão sonora
desenhos, pinturas e esculturas, cria imagens mentais. Possui ha- ou musical e, por essa via, propondo-se como letra de um samba,
bilidade que a pessoa tem de transmitir uma mensagem pelo de- valsa ou trovas populares? Será que os alunos empenhados nes-
senho que faz. Os pintores, escultores e artistas plásticos possuem sa busca o estarão estudando menos profundamente? Será, por
essa inteligência mais desenvolvida. Normalmente não aparece em exemplo, que além da linguagem linguística ou verbal, lógico-mate-
crianças que dizem que não conseguem e não sabem desenhar. mática, espacial ou sonora não seria o mesmo tema um excelente
desafio para se propor discussões que envolvessem a linguagem
De maneira geral é possível crer que todas as pessoas sem pro- corporal cinestésico, naturalista, inter ou intrapessoal?
blemas mentais específicos possuam todas as nove inteligências, Observe que qualquer conteúdo, de qualquer disciplina, pode
com algumas, bem mais acentuadas e desenvolvidas que as outras. ser analisando segundo a visão doentia e exclusivista de uma úni-
Trabalhos específicos desenvolvidos em sala de aula contribuem ca inteligência, mas pode também, com alunos se revezando em
de forma efetiva para “acordar” todas as inteligências nos alunos, funções que com o tempo de alternam, ser trabalhado de forma
ampliando sua criatividade e desenvolvendo-o de forma coerente interdisciplinar, valendo-se de outras linguagens e, por esse cami-
e holística. nho, explorando outras inteligências. Percebe-se pelo exposto que
usar as inteligências múltiplas em classes populares é tão simples
Inteligências Múltiplas e a Sala de Aula quanto agir com bom senso.
Mas, cuidado. Existe o bom senso de ontem e o bom senso de
Constitui mérito indiscutível na obra de Gardner a praticidade agora. O bom senso egoísta e exclusivista de antigamente que bus-
de sua teoria e, portanto, o uso em sala de aula, independente- cava normatizar a humanidade, valorizando apenas uma de suas
mente do nível de ensino com o qual se trabalha e o conteúdo que muitas linguagens e, dessa forma, excluindo todos quantos na mes-
se busca ministrar. A ideia essencial da teoria é assumir que todo ma não eram excelentes e o bom senso de agora que, ao admitir
aluno pode expressar saberes através de diferentes linguagens e o aluno como singularidade holística, permite a expressão de seu
que, devidamente estimulado, pode explorar sua potencialidade de saber através de diferentes formas, exercitando diferentes inteli-
forma diversificada. O texto abaixo, apenas como exemplo, procu- gências.
ra mostrar a extrema diversidade dessa aplicação e, nesse sentido,
enfatiza uma das inúmeras perspectivas de aplicação da teoria das
Inteligências Múltiplas em sala de aula.
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO. ASPECTOS HIS-
“Faça de conta que em frente à sala, o professor acabou de fazer
TÓRICOS E BIOPSICOSSOCIAIS
uma análise do tema Capitanias Hereditárias”. Se preferir, ao invés
deste, o tema tratado foi a “Como extrair-se raiz quadrada”, “O fun- PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
cionamento do pâncreas”, “O quadro climato-botânico da Região A Psicologia do Desenvolvimento como ramo da ciência psi-
Sudeste”, ou outro tema qualquer. No exemplo que se dará, o tema cológica constitui-se no estado sistemático da personalidade hu-
é pouco importante e o que modela a ação do professor será seu mana, desde a formação do indivíduo, no ato da fecundação até
procedimento, ministrando aula desta ou daquela disciplina, para o estágio terminal da vida, ou seja, a velhice.
este ou para aquele nível.
Ao concluir sua exposição e esclarecer dúvidas interpretativas, Como ciência comportamental, a psicologia do desenvol-
solicita uma síntese sobre o que falou, através da qual, alunos orga- vimento ocupa-se de todos os aspectos do desenvolvimento e
nizados em pequenos grupos, deverão se expressar. Alguns pode- estuda homem como um todo, e não como segmentos isolados
rão fazer uso de uma linguagem textual e, dessa forma, apresenta- de dada realidade biopsicológica. De modo integrado, portanto,
rão suas sínteses com palavras e, portanto, com frases significativas, a psicologia do desenvolvimento estuda os aspectos cognitivos,
textos elucidativos, manchetes marcantes, reportagens realistas.
Na execução desse trabalho, a atividade centrada na expressão ver-
bal, imporá ao aluno um uso consistente de sua inteligência linguís-

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emocionais, sociais e morais da evolução da personalidade, bem A questão da hereditariedade e do meio no desenvolvimento
como os fatores determinantes de todos esses aspectos do com- humano
portamento do indivíduo. A controvérsia hereditariedade e meio como influências ge-
Como área de especialização no campo das ciências com- radoras e propulsoras do desenvolvimento humano tem ocupado,
portamentais, argumenta Charles Woorth (1972), a psicologia através dos anos, lugar de relevância no contexto geral da psicolo-
do desenvolvimento se encarrega de salientar o fato de que o gia do desenvolvimento.
comportamento ocorre num contexto histórico, isto é, ela pro- A princípio, o problema foi estudado mais do ponto de vista
cura demonstrar a integração entre fatores passados e presen- filosófico, salientando-se, de um lado, teorias nativistas, como a de
tes, entre disposições hereditárias incorporadas às estruturas e Rousseau, que advogava a existência de ideias inatas, e, de outro
funções neurofisiológicas, as experiências de aprendizagem do lado, as teorias baseadas no empirismo de Locke, segundo o qual
organismo e os estímulos atuais que condicionam e determinam todo conhecimento da realidade objetiva resulta da experiência,
seu comportamento. através dos órgãos sensoriais, dando, assim, mais ênfase aos fato-
res do meio.
Processos básicos no Desenvolvimento Humano Particularmente, no contexto da psicologia do desenvolvimen-
Muitos autores usam indiferentemente as palavras desen- to, o problema da hereditariedade e do meio tem aparecido em
volvimento e crescimento. Entre estes encontram-se Mouly relação a vários tópicos. Por exemplo, no estudo dos processos
(1979) e Sawrey e Telford (1971). Outros, porém, como Rosa, perceptivos, os psicólogos da Gestalt advogaram que os fatores
Nerval (1985) e Bee (1984-1986), preferem designar como cres- genéticos são mais importantes à percepção do que os fatores do
cimento as mudanças em tamanho, e como desenvolvimento as meio. Por outro lado, cientistas como Hebb (1949) defendem a po-
mudanças em complexidade, ou o plano geral das mudanças do sição empirista, segundo a qual os fatores da aprendizagem são de
organismo como um todo. essencial importância ao processo perceptivo. Na área de estudo
Mussen (1979), associa a palavra desenvolvimento a mudan- da personalidade encontramos teorias constitucionais como as de
ças resultantes de influências ambientais ou de aprendizagem, e Kretschmer e Sheldon que advogam a existência de fatores inatos
o crescimento às modificações que dependem da maturação. determinantes do comportamento do indivíduo, enquanto outros,
Diante dos estudos e leituras realizados, torna-se evidente como Bandura, em sua teoria da aprendizagem social, afirmam que
e necessário o estabelecimento de uma diferenciação conceitual os fatores de meio é que, de fato, modelam a personalidade huma-
desses termos, vez que, constantemente encontramos os estu- na. Na pesquisa sobre o desenvolvimento verbal, alguns psicólogos
diosos dessa área referindo-se a um outro termo, de acordo com como Gesell e Thompson (1941) se preocupam mais com o pro-
a situação focalizada. Desta forma, preferimos conceituar o cres- cesso da maturação como fato biológico, enquanto outros se preo-
cimento como sendo o processo responsável pelas mudanças em cupam, mais, com o processo de aprendizagem, como é o caso de
tamanho e sujeito às modificações que dependem da matura- Gagné (1977), Deese e Hulse (1967) e tantos outros. Com relação ao
ção, e o desenvolvimento como as mudanças em complexidade estudo da inteligência, o problema é o mesmo: uns dão maior ênfa-
ou o plano geral das mudanças do organismo como um todo, e que se aos fatores genéticos, como é o caso de Jensen (1969), enquanto
sofrem, além da influência do processo maturacional, a ação ma- outros salientam mais os fatores do meio, como o faz Kagan (1969).
ciça das influências ambientais, ou da aprendizagem (experiência, Em 1958, surgiu uma proposta de solução à questão, por Anne
treino). Anastasi, que publicou um artigo no Psychological Review, sobre o
Através da representação gráfica, que se segue, ilustramos o problema da hereditariedade e meio na determinação do compor-
conceito de crescimento e desenvolvimento, evidenciando a inter- tamento humano.
veniência dos fatores que o determinam: Hereditariedade, meio ou O trabalho de Anastasi lançou considerável luz sobre o proble-
ambiente, maturação e aprendizagem (experiência, treino). ma, tanto do ponto de vista teórico como nos seus aspectos meto-
dológicos. Isso não significa que o problema tenha sido resolvido,
Processo de Desenvolvimento mas, pelo menos, ajudou os estudiosos a formularem a pergunta
Exemplificando o uso do conceito de crescimento e desen- adequada pois, como se sabe, fazer a pergunta certa é fundamental
volvimento: a qualquer pesquisa científica relevante.
É evidente que a mão de uma criança é bem menor do que a Faremos, a seguir, uma breve exposição da solução proposta
mão de um adulto normal. Pelo processo normal do crescimento, por Anne Anastasi (1958), contando com o auxílio de outras fontes
a mão da criança atinge o tamanho normal da mão do adulto na de informação.
medida em que ela cresce fisicamente. Dizemos, portanto, que, no A discussão do problema hereditariedade versus meio encon-
caso, houve crescimento dessa parte do corpo. A mão de um adulto tra-se, hoje, num estágio em que ordinariamente se admite que
normal é diferente da mão de uma criancinha, não somente por tanto os fatores hereditários como os fatores do meio são impor-
causa do seu tamanho. Ela é diferente, sobretudo, por causa de sua tantes na determinação do comportamento do indivíduo. A heran-
maior capacidade de coordenação de movimentos e de uso. Neste ça genética representa o potencial hereditário do organismo que
caso, podemos fazer alusão ao processo de desenvolvimento, que poderá ser desenvolvido dependendo do processo de interação
se refere mais ao aspecto qualitativo (coordenação dos movimen- com o meio, mas que determina os limites da ação deste.
tos da mão, desempenho), sem excluir, todavia, alguns aspectos Anastasi afirmou que mesmo reconhecendo que determinado
quantitativos (aumento do tamanho da mão). Nota-se, entretanto, traço de personalidade resulte da influência conjunta de fatores
que essa distinção entre crescimento e desenvolvimento nem sem- hereditários e mesológicos, uma diferença específica nesse traço
pre pode ser rigorosamente mantida, porque em determinadas fa- entre indivíduos ou entre grupos pode resultar de um dos fatores
ses da vida os dois processos são, praticamente, inseparáveis.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

apenas, seja o genético seja o ambiente. Determinar exatamente Note-se, entretanto, que a maturação não ocorre à revelia da
qual dos dois ocasiona tal diferença ainda é um problema na meto- contribuição do meio. Segundo Schneirla, o processo maturacional
dologia da pesquisa. deve, sempre, ocorrer no contexto de um ambiente favorável. Visto
Segundo Anastasi, a pergunta a ser feita, hoje, não mais deve que existe essa interdependência, a direção exata que a maturação
ser qual o fator mais importante para o desenvolvimento, ou quan- tomará será afetada por aquilo que acontece no contexto em que
to pode ser atribuído à hereditariedade e quanto pode ser atribuído vive o organismo.
ao meio, mas como cada um desses fatores opera em cada circuns- - Experiência se refere a todas as influências que agem sobre
tância. É, pois, portanto, mais preocupada com a questão de como o organismo através de sua vida. A experiência pode afetar o
os fatores hereditários e ambientais interagem do que propriamen- organismo em qualquer fase de sua ontogênese. Há experiência
te com o problema de qual deles é o mais importante, ou de quanto com ações químicas, ou enfermidades, que podem afetá-lo na
entra de cada um na composição do comportamento do indivíduo. vida intrauterina, e há outras que podem afetá-lo depois do nas-
Anastasi procurou demonstrar que os mecanismos de intera- cimento. Quer se trate, portanto, de experiência endógena ou
ção variam de acordo com as diferentes condições e, com respeito exógena, ela constitui, sempre, um dos fatores de interação que
aos fatores hereditários, ela usa vários exemplos ilustrativos desse determinam o desenvolvimento.
processo interativo. Maturação e experiência, portanto, interagem no processo
O primeiro exemplo é o da oligofrenia fenilpirúvica e a idiotia do desenvolvimento, e isso se dá de modo específico. Há experi-
amurótica. Em ambos os casos o desenvolvimento intelectual do ências, por exemplo, que produzem o que Schneirla chamou de
indivíduo será prejudicado como resultado de desordens metabóli- efeitos de traços, que são mudanças orgânicas que, por sua vez,
cos hereditárias. Até onde se sabe, não há qualquer fator ambiental afetam experiências futuras. Isto é, há experiências que produ-
que possa contrabalançar essa deficiência genética. Portanto, o in- zem mudanças no organismo, e estas mudanças determinam o
divíduo que sofreu essa desordem metabólica no seu processo de modo como experiências futuras afetarão o organismo. Exem-
formação será mentalmente retardado, por mais rico e estimulante plo, se uma criança passa por uma experiência que a incapacita
que seja o meio em que viva. para atividades esportivas, um programa de educação física a
afetará de modo diferente do que afetaria sem tal experiência
A questão da MATURAÇÃO e da APRENDIZAGEM no desenvol- traumática - exemplificar dentro do nosso sujeito.
vimento humano Acontece, porém, que os efeitos que determinada experiên-
A partir do patrimônio hereditário e tendo, do outro lado, o cia pode causar são limitadas pelo nível de maturação do orga-
meio para complementar o processo de desenvolvimento, temos nismo. A mesma experiência poderá produzir diferentes efeitos,
dois processos fundamentais: o da MATURAÇÃO e o da APRENDI- dependendo do nível de maturação do organismo. Aparente-
ZAGEM ou EXPERIÊNCIA. mente, não será de grande proveito submeter o organismo a um
Segundo Schneirla (1957), o desenvolvimento se refere a mu- processo de aprendizagem para o qual ele não tenha um mínimo
danças progressivas na organização de um organismo. Este, por sua de condições em termos de seu processo maturacional. Por ou-
vez, é encarado como um sistema funcional e adaptativo através de tro lado, entretanto, a experiência impõe limites à maturação.
toda a vida. Portanto, desenvolvimento implica em mudança pro- O crescimento e diferenciação do processo maturacional não
gressiva num sistema vivo, individual, funcional e adaptativo. Nessa ocorrerão sem os efeitos facilitadores da experiência. Portanto,
mudança progressiva do desenvolvimento há dois fatores gerais de maturação e experiência devem interagir para que o desenvolvi-
alta complexidade e de grande importância - maturação e experi- mento possa ocorrer.
ência. Passamos a ilustrar, com exemplos, situações práticas, atra-
Maturação significa crescimento e diferenciação dos sistemas vés das quais venha a ser evidenciada a questão da maturação
físicos e fisiológicos do organismo. Crescimento se refere a mudan- versus aprendizagem/experiência. É necessário que compre-
ças resultantes de acréscimo de tecidos. É, portanto, de natureza endamos que o desenvolvimento determinado pela maturação
quantitativa. Diferenciação se refere a mudanças nos aspectos ocorre, na sua forma pura, independentemente da prática ou
estruturais dos tecidos. Um exemplo típico de diferenciação seria tratamento, pois as sequências maturacionais são poderosas.
o caso do embrião, que em determinada fase de seu desenvolvi- Você não precisa praticar o crescimento dos pelos pubianos, não
mento é dividido em três camadas ou folhetos - o mesoderma, o precisou que lhes ensinassem como andar. Mas essas mudanças
endoderma e o ectoderma - dos quais se originam os vários órgãos não ocorrem no vácuo. A criança amadurece num ambiente es-
e sistemas do corpo. pecífico, e mesmo tais padrões maturacionais poderosos podem
Maturação, portanto, se refere a mudanças que ocorrem no ser perturbados pela privação ou por acidentes.
organismo como resultado de crescimento e diferenciação de seus Uma criança que não come o suficiente pode andar depois
tecidos e órgãos. que outra que recebeu uma boa dieta. Durante o desenvolvi-
Para elucidar, mais um pouco, a questão, faremos as seguintes mento pré-natal a sequência de mudanças pode ser perturba-
colocações; da por coisas, como por exemplo, doenças na mãe. Mesmo as
- O crescimento refere-se a alguns tipos de mudanças, passo mudanças físicas na puberdade podem ser alteradas em circuns-
a passo em quantidade, como por exemplo, em tamanho. Falamos tâncias extremas, particularmente pela desnutrição. Por exem-
do crescimento do vocabulário da criança ou do crescimento do seu plo, meninas severamente subnutridas não menstruam. Dennis
corpo. Tais mudanças em quantidade podem ser em função da ma- (1960), observou o desenvolvimento físico de crianças criadas
turação, mas não necessariamente. O corpo de uma criança pode em orfanato no Irã, durante os anos 50. Em um dos orfanatos,
mudar de tamanho porque sua alimentação mudou, o que é efeito as crianças eram colocadas em seus berços deitadas de costas,
externo, ou porque seus músculos e ossos cresceram, o que é, pro- sobre colchões que já estavam tão afundados que se tornava ex-
vavelmente, um efeito maturacional. tremamente difícil para os bebês rolarem, ou virarem.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Na medida em que eles raramente ficavam deitados de bar- teriormente padronizados, possibilitando a emergência de novos
riga para baixo, tinham poucas oportunidades para praticar os padrões essenciais ao desenvolvimento humano. De tal processo
movimentos que compõem os primeiros estágios da sequência resultam as mudanças ordenadas no comportamento, que se dão
que leva ao engatinhar e andar. Em função disso, muitos bebês de modo universal e ocorrem, mais ou menos na mesma época,
não engatinhavam. Ao invés disso, eles conseguiram se movi- em todos os indivíduos. A aprendizagem refere-se a mudanças no
mentar patinando, uma forma de locomoção na qual a criança comportamento e nas características físicas do indivíduo que im-
senta e impulsiona-se para frente através de um movimento de plicam em treino, exercício e, por vezes, em esforço consciente,
flexionar e esticar as pernas. Todas as crianças acabavam andan- deliberado, do próprio indivíduo. É de particular importância, em
do, mas os patinadores eram muito atrasados, e sua sequência se tratando de seres humanos, a aprendizagem que ocorre em si-
de movimentos pré-marcha estava alterada. Portanto, embora tuação social.
as sequências maturacionais sejam poderosas, elas são afetadas Embora a maturação possa ser tratada separadamente da
pelo tipo de estimulação disponível para a criança. aprendizagem, numa exposição teórica sobre o desenvolvimen-
Com referência às influências ambientais, tem havido gran- to humano não é fácil fazer tal separação na prática. Quase
de quantidade de pesquisas de psicologia do desenvolvimento todos os comportamentos resultantes de maturação sofrem a
sobre os efeitos de influências ambientais, como a pobreza ou influência da aprendizagem e os dois processos se apresentam
classe social. Estas pesquisas e estudos equivalentes sobre os de tal modo inter-relacionados que raramente é possível distin-
efeitos dos padrões familiares, dieta ou diferenças étnicas envol- guir o primeiro do segundo. No desenvolvimento da linguagem
vem, basicamente, a comparação de grupos que tenham sofrido da criança, por exemplo, a maturação de estruturas e funções
experiências bastante diferentes. As questões básicas respondi- envolvidas na produção e reconhecimento de sons interage es-
das são perguntas do tipo o que mais, do que, por que. Qual é treitamente com a aprendizagem de um idioma específico. A
o efeito da pobreza sobre o desenvolvimento da linguagem ou maturação, na verdade, fornece as mesmas bases para a apren-
crescimento físico da criança? O que acontece com o conceito dizagem de quaisquer idiomas.
de gênero da criança se ela não tem o pai ou a mãe em casa? O desenvolvimento psicossexual do adolescente, segundo
Podemos descobrir, por exemplo, que as crianças criadas em Samuel Pfromm Neto, serve, também, para ilustrar a interação
famílias pobres conhecem um número menor de palavras que acima referida. Não basta a maturação sexual ligada às transfor-
as crianças em famílias financeiramente mais seguras. Mas, por mações pubertárias para garantir a efetivação do comportamen-
que? Esta pergunta “por que” nos leva, inevitavelmente, ao exa- to sexual. Um complexo de aprendizagens sociais-sexuais deve
me mais detalhado dos ambientes desses dois tipos de crianças. ter lugar, antes que o jovem possa ser considerado seguro, bem
Quem conversa com a criança? Com que frequência? Que tipos ajustado e bem aceito em suas relações com o sexo.
de palavras são usados? Quando abordamos perguntas como es- Não obstante a dificuldade de diferenciar, na prática, as in-
sas saímos dos efeitos ambientais amplos e caímos no campo fluências da maturação e da aprendizagem, numerosas pesqui-
das experiências individuais específicas. Na verdade, os dois as- sas realizadas com êxito, com animais e seres humanos, permiti-
pectos do desenvolvimento, maturação e aprendizagem, são tão ram melhor conhecimento das relações entre os dois processos.
intimamente ligados que não é possível isolar a influência de um Eis algumas generalizações, derivadas de tais pesquisas:
e de outro. A pessoa baixa pode sê-lo devido a uma tendência a) As habilidades alicerçadas de modo mais direto sobre
hereditária, ou devido a uma doença que impediu o seu cres- padrões de desenvolvimento do comportamento que resulta
cimento. A capacidade herdada não pode desenvolver-se num de maturação são mais facilmente aprendidas (por exemplo, a
vácuo, nem pode ser medida a não ser através do estado atual aprendizagem universal de pa-pa e ma-ma, palavras que se ajus-
de desenvolvimento, e este, naturalmente, resulta em parte da tam mais facilmente ao balbucio natural da criancinha).
aprendizagem. Se uma pessoa se comporta de maneira não-in- b) Quanto mais amadurecido o organismo, tanto menor trei-
teligente, não existe forma infalível de saber se tal comporta- no é necessário para atingir um determinado nível de proficiên-
mento resulta de limitações herdadas ou de limitações de seu cia.
ambiente na estimulação do crescimento. Apenas no caso em c) A aprendizagem ou treino antes da maturação pode resul-
que podemos, com razoável certeza, eliminar as possibilidades tar em melhoria nula ou apenas temporária.
de insuficiente oportunidade para aprender, podemos conside- d) Quando o treino prematuro é frustrado, seus efeitos po-
rar o comportamento inadequado como indicador de deficiên- dem ser prejudiciais (Hitgard -1962).
cias herdadas. Dessa maneira, se alguém parece estúpido em
um problema de cálculo adiantado, isso pode ou não implicar Princípios Gerais do Desenvolvimento Humano
falta de inteligência, o que depende da experiência do indivíduo O desenvolvimento é um processo contínuo que começa com a
nesse campo; ao contrário, a incapacidade para compreender vida, isto é, na concepção, e a acompanha, sendo agente de modi-
relações entre ideias comuns pode ser interpretada, com mais ficações e aquisições.
segurança, como resultado de insuficiência mental. A sequência do desenvolvimento no período pré-natal, isto é,
Segundo Samuel Pfromm Neto (1976), pode-se inferir a atua- antes do nascimento, é fixa e invariável. A cabeça, os olhos, o tron-
ção de dois processos básicos no desenvolvimento: a maturação e co, os braços, as pernas, os órgãos genitais e os órgãos internos de-
a aprendizagem. A maturação, responsável pela diferenciação ou senvolvem-se na mesma ordem, e aproximadamente nas mesmas
desenvolvimento de traços potencialmente presentes no indiví- idades pré-natais em todos os fatos.
duo, ocorre independentemente da experiência. Frank (1963), en- Embora os processos subjacentes ao crescimento sejam muito
tretanto, assinala que mais do que a emergência de padrões não complexos, tanto antes quanto após o nascimento, o desenvolvi-
aprendidos, a noção de maturação implica na reorganização e re- mento humano ocorre de acordo com certo número de princípios
combinação da sequência total de funções e comportamentos an- gerais, os quais veremos a seguir.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Primeiro: O crescimento e as mudanças no comportamento da filha de um bem-sucedido homem de negócios e de uma advo-
são ordenados e, na maior parte das vezes, ocorrem em sequên- gada. O quociente intelectual da menina é 140, o que é muito alto.
cias invariáveis. Todos os fetos podem mover a cabeça antes de po- Esse resultado é o produto de sua herança de um potencial alto ou
derem abrir as mãos. Após o nascimento, há padrões definidos de de um ambiente mais estimulante no lar? Muito provavelmente, é
crescimento físico e de aumentos nas capacidades motoras e cogni- o resultado da interação dos dois fatores.
tivas. Toda criança consegue sentar-se antes de ficar de pé, fica de Podemos considerar as influências genéticas sobre caracterís-
pé antes de andar e desenha um círculo antes de poder desenhar ticas específicas como altura, inteligência ou agressividade, mas,
um quadrado. Todos os bebês passam pela mesma sequência de na maior parte dos casos de funções psicológicas as contribuições
estágios no desenvolvimento da fala: balbuciam antes de falar, pro- exatas dos fatores hereditários são desconhecidas. Para tais carac-
nunciam certos sons antes de outros e formam sentenças simples terísticas, as perguntas relevantes são: quais das potencialidades
antes de pronunciar sentenças complexas. Certas capacidades cog- genéticas do indivíduo serão realizadas no ambiente físico, social e
nitivas precedem outras, invariavelmente. Todas as crianças podem cultural em que ele ou ela se desenvolve? Que limites para o desen-
classificar objetos ou colocá-los em série, levando em consideração volvimento das funções psicológicas são determinados pela consti-
o tamanho, antes de poder pensar logicamente, ou formular hipó- tuição genética do indivíduo?
teses. Muitos aspectos do físico e da aparência são fortemente in-
A natureza ordenada do desenvolvimento físico e motor inicial fluenciados por fatores genéticos sexo, cor dos olhos e da pele,
está ilustrada pelas tendências “direcionais”. Uma dessas tendên- forma do rosto, altura e peso. No entanto, fatores ambientais po-
cias é chamada cefalocaudal ou da cabeça aos pés, isto é, a direção dem exercer forte influência mesmo em algumas dessas caracterís-
do desenvolvimento de qualquer forma e função vai da cabeça para ticas que são basicamente determinadas pela hereditariedade. Por
os pés. Por exemplo, os “botões” dos braços do feto surgem antes exemplo, os filhos de judeus, nascidos na América do Norte, de pais
dos “botões” das pernas, e a cabeça já está bem desenvolvida antes que para lá imigraram há duas gerações, tornaram-se mais altos e
que as pernas estejam bem formadas. mais pesados do que seus pais, irmãos e irmãs nascidos no estran-
No instante, a fixação visual e a coordenação olho-mão estão geiro. As crianças da atual geração, nos Estados Unidos e em outros
desenvolvidas muito antes que os braços e as mãos possam ser países do Ocidente, são mais altas e pesadas e crescem mais rapida-
usadas com eficiência para tentar alcançar e agarrar objetos. A di- mente do que as crianças de gerações anteriores. Evidentemente,
reção seguinte do desenvolvimento é chamada próximo-distal, ou os fatores ambientais, especialmente a alimentação e as condições
de dentro para fora. Isso significa que as partes centrais do corpo de vida afetam o físico e a rapidez do crescimento.
amadurecem mais cedo e se tornam funcionais antes das partes Fatores genéticos influenciam características do temperamen-
que se situam na periferia. Movimentos eficientes do braço e ante- to, tais como tendência para ser calmo e relaxado ou tenso e pron-
braço precedem os movimentos dos pulsos, mãos e dedos. O braço to a reagir. A hereditariedade pode também estabelecer os limites
e a coxa são controlados voluntariamente antes do antebraço, da superiores, além dos quais a inteligência não pode se desenvolver.
perna, das mãos e dos pés. Os primeiros atos do infante são difusos Como e sob que condições as características temperamentais ou
grosseiros e indiferenciados, envolvendo o corpo todo ou grandes de inteligência se manifestarão, depende, não obstante de muitos
segmentos do mesmo. Pouco a pouco, no entanto, esses movimen- fatores do ambiente. Crianças com bom potencial intelectual, ge-
tos são substituídos por outros, mais refinados, diferenciados e neticamente determinado, não parecem muito inteligentes se são
precisos - uma tendência evolutiva do maciço para o específico dos educadas em ambientes monótonos e não estimulantes, ou se não
grandes para os pequenos músculos. As tentativas iniciais do bebê tiverem motivação para usar seu potencial.
para agarrar um cubo, por exemplo, são muito desajeitadas quando Em suma, as contribuições relativas das forças hereditárias e
comparadas aos movimentos refinados do polegar e do indicador ambientais variam de características para características. Quando
que ele poderá executar alguns meses depois. Seus primeiros pas- se pergunta sobre as possíveis influências genéticas no comporta-
sos no andar são indecisos e implicam movimentos excessivos. No mento, devemos sempre estar atentos às condições nas quais as
entanto, pouco a pouco, começa a andar de modo mais gracioso e características se manifestam. No que diz respeito à maior parte
preciso. das características comportamentais, as contribuições dos fatores
Segundo: O desenvolvimento é padronizado e contínuo, mas hereditários são desconhecidas e indiretas.
nem sempre uniforme e gradual. Há períodos de crescimento físico Quatro: Todas as características e capacidades do indivíduo, as-
muito rápido - nos chamados surtos do crescimento - e de incre- sim como as mudanças de desenvolvimento, são produtos de dois
mentos extraordinários nas capacidades psicológicas. Por exemplo, processos básicos, embora complexos, que são os seguintes: ma-
a altura do bebê e seu peso aumentam enormemente durante o turação (mudanças orgânicas neurofisiológicas e bioquímicas que
primeiro ano, e os pré-adolescentes e adolescentes também cres- ocorrem no corpo do indivíduo e que são relativamente indepen-
cem de modo extremamente rápido. Os órgãos genitais desenvol- dentes de condições ambientais externas, de experiências ou de
ve-se muito lentamente durante a infância, mas de modo muito práticas) e experiência (aprendizagem e treino).
rápido durante a adolescência. Durante o período pré-escolar, ocor- Como a aprendizagem e a maturação quase sempre interagem
rem rápidos aumentos no vocabulário e nas habilidades motoras é difícil separar seus efeitos ou especificar suas contribuições rela-
e, por volta da adolescência, a capacidade individual para resolver tivas ao desenvolvimento psicológico. Com certeza, o crescimento
problemas lógicos apresenta um progresso notável. pré-natal e as mudanças na proporção do corpo e na estrutura do
Terceiro: Interações complexas entre a hereditariedade, isto é, sistema nervoso são antes produtos de processos de maturação
fatores genéticos, e o ambiente (a experiência) regulam o curso do que de experiências. Em contraste, o desenvolvimento das habilida-
desenvolvimento humano. É, portanto, extremamente difícil distin- des motoras e das funções cognitivas depende da maturação, de ex-
guir os efeitos dos dois conjuntos de determinantes sobre caracte- periência e da interação entre os dois processos. Por exemplo, são
rísticas específicas observadas. Considere-se, por exemplo, o caso as forças de maturação entre os dois processos que determinam,

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

em grande parte, quando a criança está pronta para andar. Restri- cada vez que elas vocalizem (sorrindo-lhes ou tocando-lhes leve-
ções ao exercício da locomoção não adiam seu começo, a nãos ser mente na barriga), ocorre um aumento marcante na frequência
que sejam extremas. Muitos infantes dos índios bopis são mantidos de vocalização das crianças.
em berços durante a maior parte do tempo de seus primeiros três Muitas das respostas das crianças são modificadas ou mode-
meses de vida, e mesmo durante parte do dia, após esse período ladas através do condicionamento operante. Num estudo, cada
inicial. Portanto, têm muito pouca experiência ou oportunidade de criança de uma classe pré-escolar foi recompensada pela apro-
exercitar os músculos utilizados habitualmente no andar. No entan- vação do professor por toda resposta social que desse e outras
to, começam a andar com a mesma idade que as outras crianças. crianças e cada vez que manifestasse um comportamento de co-
Reciprocamente, nãos e pode ensinar recém-nascidos e ficar de pé operação ou de ajuda a outras crianças. Respostas agressivas,
ou andar antes que ser equipamento neural e muscular tenha ama- como bater, importunar, gritar e quebrar objetos, foram igno-
durecido o suficiente. Quando essas habilidades motoras básicas radas ou punidas por repreensão. Dentro de muito pouco tem-
forem adquiridas, no entanto, elas melhoram com a experiência e po, houve aumentos notáveis no número de respostas dirigidos
prática. O andar torna-se mais coordenado e mais gracioso à medi- aos colegas, de respostas agressivas declinou rapidamente. Do
da que os movimentos inúteis são eliminados; os passos mais lon- mesmo modo, diversas características de personalidade, muitos
gos, coordenados e rápidos. motivos e respostas sociais são aprendidos através do contato
A aquisição da linguagem e o desenvolvimento das habilidades direto com um ambiente que reforça certas respostas e pune ou
cognitivas são, também, resultados da interação entre as forças de ignora outras.
experiência e da maturação. Assim, embora as crianças não come- Respostas complexas podem, também, ser aprendidas de
cem a falar ou juntar palavras antes de atingirem certo nível de ma- outro modo pela observação dos outros. O repertório comporta-
turidade física, pouco importando quanto “ensinamento” lhes for mental de uma criança expande-se consideravelmente, através
ministrado, obviamente a linguagem que vierem a adquirir depen- da aprendizagem por observação. Esse fato tem sido muitas ve-
de de suas experiências, isto é, da linguagem que ouvem os outros zes demonstrado em experimentos envolvendo grande variedade
falar. Sua facilidade verbal será, pelo menos parcialmente, função de respostas. Nesses experimentos, as crianças são expostas a um
do apoio e das recompensas que recebem quando expressam ver- modelo que executa diversos tipos de ações, simples ou comple-
balmente. xas, verbais ou motoras, agressivas, dependentes ou altruísticas.
Qualogamente, as crianças não adquirirão certas habilidades As crianças do grupo de controle não observam o modelo. Poste-
intelectuais ou cognitivos, enquanto não tiverem atingido determi- riormente, as crianças são observadas para se determinar até que
nado grau de maturidade. Por exemplo, até o estágio o que Piaget ponto copiam e imitam o comportamento mostrado pelo modelo.
denomina operacional - aproximadamente entre seis e sete anos as Os resultados demonstram que aprendizagem por observação é
crianças só conseguem lidar com objetos, eventos e representações muito eficiente. As crianças do grupo experimental geralmente
desses. Mas não conseguem lidar com ideias ou conceitos. Antes imitam as respostas do modelo, ao passo que as do grupo de con-
de atingirem o estágio operacional, não dispõem do conceito de trole não exibem essas respostas. Note-se que não foi necessário
conservação a idéia de que a qualidade de uma substância, como a o reforço para adquirir ou para provocar respostas imitativas.
argila não muda simplesmente porque sua forma mudou de esféri- Obviamente, a criança não tem de aprender como respon-
ca, digamos a cilíndrica. Uma vez atingido o estágio das operações der a cada situação nova. Depois de uma resposta ter-se associa-
concretas e tendo acumulado mais experiências ligadas à noção de do a um estímulo ou arranjo ambiental, ela tem probabilidade
conservação, podem, agora aplicá-la a outras qualidades. Podem de ser transferida a situações similares. Esse é o princípio da ge-
compreender que o comprimento, a massa, o número e o peso neralização do estímulo. Se a criança aprendeu a acariciar seu
permanecem constantes, apesar de certas mudanças na aparência próprio cão, poderá acariciar outros cães, especialmente os se-
externa. melhantes ao seu.
Quinto: características de personalidade e respostas social, Sexto: Há períodos críticos ou sensíveis ao desenvolvimento
incluindo-se motivos, respostas emocionais e modos habituais de a certos órgãos do corpo e de certas funções psicológicas. Se
reagir, são em grande proporção aprendidos, isto é, são o resultado ocorrem interferências no desenvolvimento normal durante es-
de experiência e prática ou exercício. Com isso, não se pretende ses períodos, é possível que surjam deficiências, ou disfunções
negar o princípio de que fatores genéticos e de maturação desem- permanentes. Por exemplo, há períodos críticos no desenvolvi-
penham importante papel na determinação do que e como o indi- mento do coração, olhos, rins e pulmões do feto. Se o curso do
víduo aprende. desenvolvimento normal for interrompido em um desses perí-
A aprendizagem vem sendo, desde há muito, uma das áreas odos por exemplo, em consequência de rubéola ou de infecção
centrais de pesquisa e teoria em psicologia e muitos princípios causada por algum vírus da mãe, a criança pode sofrer um dano
importantes de aprendizagem foram estabelecidos. Há três tipos orgânico permanente.
de aprendizagem que são de importantes crítica no desenvolvi- Erick Erikson, psicanalista eminente de crianças, além de te-
mento da personalidade e no desenvolvimento social. órico, considera que o primeiro ano de vida é um período crítico
A primeira e mais tradicional abordagem da aprendizagem para o desenvolvimento de confiança nos outros. O infante que
é c condicionamento operante ou instrumental, uma resposta não for objeto de calor humano e de amor, e que não for satis-
que já está no repertório da criança é recompensada ou reforça- feito em suas necessidades durante esse período, corre o risco
da por alimento, prazer, aprovação ou alguma outra recompen- de não desenvolver um sentido de confiança, por conseguinte,
sa material. Torne-se, em consequência, fortalecida, isto é, há de não ser sucedido posteriormente na formação de relações
maior probabilidade de que essa resposta se repita. Por exem- sociais satisfatórias: De modo análogo, parece haver um período
plo, ao reforçarmos ou recompensarmos crianças de três meses crítico ou de prontidão para a aprendizagem de várias tarefas,

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

como ler ou andar de bicicleta. A criança que não aprende tais curto, o indivíduo muda em muitas significativas maneiras. Nes-
tarefas durante esses períodos pode ter grandes dificuldades em ta fase da vida o adolescente se torna biologicamente capaz de
apreendê-las posteriormente. reproduzir a espécie, experimenta acelerado crescimento físico,
Sétimo: As experiências das crianças, em qualquer etapa seguido, logo depois, por uma quase paralisação nesse processo,
do desenvolvimento, afetam ser desenvolvimento posterior. Se e seu desenvolvimento mental atinge praticamente os pontos
uma mulher grávida sofrer problemas severos de desnutrição, culminantes, em termos de suas potencialidades para o racio-
a criança em formação pode não desenvolver o número normal cínio abstrato.
de células cerebrais e, portanto, nasce com deficiência mental. Outro conceito de fundamental importância para o estudo
Os infantes que passam os primeiros meses em ambientes mui- da psicologia do desenvolvimento é a noção de tarefa evolutiva.
tos monótonos e não estimulantes parecem ser deficientes em Desenvolvido, principalmente, por Havighurst (1953), esse con-
atividades cognitivas e apresentam desempenho muito fraco em ceito tem sido de grande utilidade para o estudo da evolução do
testes de funcionamento intelectual em idades posteriores. comportamento humano.
A criança que recebe pouco afeto, amor e atenção no pri- A pressuposição fundamental desse conceito é a de que vi-
meiro ano de vida não desenvolve a autoconfiança nem a con- ver é aprender, e crescer ou desenvolver-se é, também, apren-
fiança nos outros no início da vida e, provavelmente, será, na der. Há certas tarefas ou habilidades que o indivíduo tem que
adolescência, desajustada e emocionalmente instável. aprender para poder ser considerado como pessoa de desenvol-
vimento adequado e satisfatoriamente ajustado, conforme as
Estágios evolutivos e tarefas evolutivas expectativas da sociedade. Segundo essa teoria, à semelhança
Embora criticado por algumas teorias, o conceito de estágios do que acontece nas teorias de estágios evolutivos, há fases crí-
evolutivos é uma ideia constante nos estudos atuais da psicolo- ticas no processo do desenvolvimento humano, isto é, período
gia do desenvolvimento. Enquanto aquelas teorias interpretam em que tais tipos de aprendizagem ou ajustamento devem acon-
o desenvolvimento humano como algo contínuo, desenvolven- tecer. O organismo, por assim dizer, encontra-se em condições
do-se o comportamento humano de maneira gradual, na direção ótimas para que tal ajustamento ocorra. Por exemplo, há um mo-
de sua maturidade, as teorias que preconizam a existência de mento em que o organismo da criança está maturacionalmente
estágios evolutivos (de Freud, Erickson, Sullivan, Piaget e mui- pronto para aprender a falar, a andar, etc. Se a aquisição dessas
tos outros) tendem a ver o desenvolvimento humano como algo habilidades se der no tempo próprio, os ajustamentos delas de-
descontínuo. Segundo essas teorias, o curso do desenvolvimen- pendentes serão feitos naturalmente, através de todo o proces-
to humano se dá por meio de mudanças mais ou menos bruscas, so evolutivo. Caso contrário, haverá, sempre, déficits em todo
na história do organismo. tipo de ajustamento que requer tais habilidades como condição
Mussem et ali (1974), afirmam que cada estágio do desen- fundamental. Em termos gerais do organismo, podemos dizer
volvimento humano, segundo essas teorias, representam um que se uma tarefa evolutiva for realizada na fase crítica adequa-
padrão de características inter-relacionadas. Cada estágio de da, as fases subsequentes da evolução do indivíduo serão mais
desenvolvimento representa uma evolução de estágio anterior, facilmente alcançadas em termos do seu ajustamento pessoal.
mas, ao mesmo tempo, cada um deles se caracteriza por fun- Se, por outro lado, o organismo deixar de realizar uma tarefa
ções qualitativamente diferentes. De acordo com essas teorias evolutiva, ou se houver falhas no processo em qualquer das suas
o desenvolvimento psicológico do indivíduo ocorre de maneira partes, os ajustamentos nas fases subsequentes serão mais difí-
progressiva através de estágios fixos e invariáveis, cada indivíduo ceis e, em alguns casos, podem até deixar de ocorrer. As tarefas
tendo que atravessar os mesmos estágios, na mesma sequência. evolutivas abrangem vários aspectos do processo evolutivo, in-
Conforme Jean Piaget (1973) existe fundamento biológico para cluindo o crescimento físico, o desempenho intelectual, ajusta-
a teoria de estágios evolutivos, em outro contexto (1997), consi- mento emocionais e sociais, as atitudes com relação ao próprio
derando as estruturas principais, diz que os estágios cognitivos eu, é realidade objetiva, bem como a formação dos padrões típi-
têm uma propriedade sequencial, isto é, aparecem em ordem cos de comportamento e a elaboração de um sistema de valores.
fixa de sucessão, pois cada um deles é necessário para a forma- Segundo Havighurst, há três aspectos principais da tarefa
ção do seguinte. evolutiva.
Os embriologistas dão evidências em favor da teoria dos es- O primeiro se refere à maturação biológica, tal como apren-
tágios evolutivos. Falam da existência de períodos críticos para der e andar, a falar, etc. O segundo se refere às pressões sociais,
o desenvolvimento do zigoto, ou seja “fases críticas” em que se tais como aprender a ler, a comportar-se como cidadão respon-
determinadas mudanças não ocorrem na célula dentro de cada sável e várias outras formas do comportamento social. O ter-
intervalo e em dada sequência, o desenvolvimento do organis- ceiro aspecto se refere aos valores pessoais que constituem a
mo pode sofrer danos permanentes. Os estágios do desenvolvi- personalidade de cada indivíduo, que resulta de processos de
mento humano se caracterizam pela organização dos comporta- interação das forças orgânicas e ambientais.
mentos típicos que ocorrem simultaneamente em determinado Para cada estágio da vida humana, há certas tarefas evoluti-
estádio evolutivo. Há, portanto, certos padrões de comporta- vas que devem ser incorporadas aos padrões de experiências e
mento que caracterizam cada estágio da evolução psicológica de comportamento do indivíduo.
do indivíduo, sem, contudo, implicar que tais comportamentos
sejam de natureza estática. Os estágios evolutivos se caracteri-
zam, também por mudanças qualitativas, com relação a estágios
anteriores. Pode acontecer, também, que num determinado es-
tágio evolutivo várias mudanças ocorram simultaneamente. É o
caso, por exemplo, da adolescência. Num período relativamente

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Teorias do desenvolvimento humano da psicologia do desenvolvimento, que sofreram durante muito


A complexidade do desenvolvimento humano de certo tempo grande influência da psicanálise, limitavam-se à infância
modo exige uma complexa metodologia para seu estudo. Dentre e à adolescência. A rigor, a psicanálise clássica não tem muito a
as estratégias para o estudo de desenvolvimento da personalida- dizer sobre o desenvolvimento da personalidade após a adoles-
de salientam-se a teoria dos estágios evolutivos, as teorias dife- cência, pois o estágio genital representa, praticamente, o ponto
renciais, ipsativas e da aprendizagem social. final e até mesmo, ideal da evolução psicossexual do ser huma-
A teoria dos estágios evolutivos procura estabelecer leis no. Mais tarde, Freud tentou ampliar a extensão desse proces-
gerais do desenvolvimento humano. Advogando a existência de so evolutivo, ao elaborar a teoria do impulso para a morte, ou,
diferentes níveis qualitativos da organização, através dos quais, mais especificamente, a teoria do comportamento agressivo.
invariavelmente, passam todos os indivíduos de determinada Não chegou a deixar marcas significativas às demais fases da
espécie. As teorias diferenciais, por outro lado, procuram esta- evolução psicológica do homem, além da infância e da adoles-
belecer leis que permitem predizer os fatores determinados das cência. Coube a outros psicanalistas a tarefa de ampliar a teoria
diferenças individuais de subgrupos no processo evolutivo. Para freudiana quanto a esse aspecto. É o caso, por exemplo, de Harry
os adeptos das teorias ipsativas o que interessa é verificar o que Sullivan e especialmente o de Erik Erikson.
muda e o que permanece constante através da história evolutiva A teoria freudiana salienta os conceitos de energia psíqui-
de cada indivíduo. As teorias da aprendizagem social procuram ca e de fatores inconscientes de comportamento como ponto
explicar o processo evolutivo do ser humano em temos das téc- de partida. Os impulsos básicos são eros - impulso para a vida,
nicas de condicionamento, e tentam explicar o comportamento e agressão - impulso para a morte. A estrutura da personali-
como simples relação estímulo-resposta. dade concebida originalmente, em termos topográficos como
Dentre as muitas teorias do desenvolvimento humano sa- consciente, pré-consciente e inconsciente, é substituída pelo
lientamos quatro que evidenciam como de maior importância: a conceito dinâmico do id, que representa as forças biológicas,
teoria psicanalítica de Freud, a teoria interpessoal de Sullivan, a instintivas da personalidade; e ego, que representa o princípio
teoria psicossocial de Erickson, e a teoria cognitiva de Jean Pia- da realidade, e o superego, que representa as forças repressivas
get. da sociedade. Há cinco estágios da evolução psicossexual: a fase
Teoria Psicanalítica de Freud - Existem críticas a essa teoria oral, período da vida em que, praticamente, a única fonte de
pelo fato de não haver Freud, para estabelecer suas conclusões, prazer é a zona oral do corpo, e que apresenta como principal
feito seus estudos com crianças, e sim, com adultos psicologica- característica psicológica a dependência emocional.
mente doentes. E há sérias restrições à teoria freudiana da per- A fase anal, caracterizada pela retentividade, a fase fálica,
sonalidade, especialmente por ela baseada, exclusivamente, no na qual surge o Complexo de Édipo, e o que se caracteriza pelo
método de observação clínica e fundamentada na psicopatolo- exibicionismo. A fase latente, em que a energia libidinosa é ca-
gia. Reconhecemos, entretanto, a grande intuição de Freud e sua nalizada para outros fins e a fase genital, que representa o alvo
notável contribuição para o estudo do comportamento humano. ideal do desenvolvimento humano. No processo evolutivo o in-
Convém salientar que mais recentemente tem havido sérias tenta- divíduo pode parar numa fase imatura. Nesse caso se diz que
tivas no sentido de testar, experimentalmente, algumas das hipó- houve uma fixação. O indivíduo pode, também, voltar a formas
teses levantadas por Freud, como atestam o trabalho de Lindzey e imaturas do comportamento, em cujo caso se diz que houve uma
Hall, Silvermam e outros. Segundo Hall e Lindzey (1970), Freud foi regressão. Mecanismos de defesas são formas pelas quais o eu
o primeiro a reconhecer a estrita relação existente sobre o proces- procura manter sua integridade. Dentro de certos limites são
so evolutivo e a personalidade humana. considerados normais. Quando, porém, ultrapassam esses limi-
Embora hoje a influência da teoria psicanalítica não seja tes, tornam-se patogênicos.
tão grande como antes, no campo da psicologia do desenvol- Sullivan é psicanalista, mas dá muita ênfase aos fatores
vimento, ela perdura através de reformulações que procuram sociais do comportamento humano. As relações interpessoais
operacionalizar, para fins de pesquisa experimental, alguns dos constituem a base da personalidade. Na infância, a experiên-
conceitos fundamentais elaborados pelo criador da Psicanálise. cia básica é o medo ou ansiedade, resultante da inter-relação
Parece razoável dizer-se que, de todas as teorias de perso- com a figura materna. Através da empatia a criança incorpora
nalidade até hoje formuladas, a teoria de Freud é a que mais personificações positivas e negativas. Nesse período ela forma,
se aproxima daquilo que chamam os autores de paradigma na também, diferentes autoimagens: o bom-eu, o mau-eu e o não-
história das ciências. -eu. A idade juvenil é a grande fase do processo de socialização.
É verdade que podemos fazer restrições à teoria freudiana A criança aprende a subordinação e a acomodação social bem
do desenvolvimento da personalidade, mas há certos pontos como a lidar com o conceito de autoridade. A pré-adolescência
que mesmo os que não concordam com Freud têm dificulda- se caracteriza pela necessidade de companheirismo com pesso-
de em negar. Por exemplo, a tese de que existe uma relação de as do mesmo sexo e pela capacidade de apreciar as necessidades
causa e efeito no processo evolutivo, partindo da infância até a e sentimentos do outro. Na primeira adolescência o indivíduo
vida adulta, parece indiscutível à luz das evidências disponíveis. se torna cônscio de três necessidade básicas: paixão, intimidade
Se bem que o determinismo absoluto do passado, implícito na e segurança pessoal, e procura meios de integrá-los adequada-
teoria freudiana, mereça restrições, não se pode negar que ex- mente. A segunda adolescência marca o início das relações inter-
periências prévias são importantes na determinação de futuros pessoais amadurecidas. Na fase adulta o eu se apresenta estável
padrões de comportamento. e idealmente livre da excessiva ansiedade.
A grande ênfase da teoria freudiana, quanto ao processo Erickson salienta os aspectos culturais do processo evoluti-
da evolução psicológica do homem, concentra-se nos primeiros vo da personalidade. Há oito estágios nesse processo, cada um
anos de vida. Daí o fato de que, até recentemente os estudos deles apresenta duas alternativas: quando o estágio evolutivo é

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satisfatoriamente alcançado, o produto será uma personalidade 1 - Período sensório-motor: de 0 a 2 anos


saudável; quando não é atingido, o resultado será uma persona- 2 - Período pré-operacional: de 2 a 7 anos
lidade emocionalmente imatura ou desajustada. Na infância o 2.1. Pensamento simbólico pré-conceitual: 2 a 4 anos
indivíduo adquire confiança básica ou desconfiança básica. Na 2.2. Pensamento intuitivo: 4 a 7 anos
meninice ele pode adquirir o senso de autonomia ou, então, o 3 - Período das operações intelectuais concretas: 7 a 12 anos
sentimento de vergonha e dúvida. Na fase lúdica a criança pode 4 - Período das operações intelectuais abstratas: dos 12 anos
desenvolver a atitude de iniciativa ou, quando lhe falta o estímu- em diante.
lo do meio, pode desenvolver o sentimento de culpa e de inade- Além de serem observados os períodos ou estágios acima, os
quação. Na idade escolar o indivíduo se identifica com o ethos estudiosos da psicologia do desenvolvimento humano estabelece-
tecnológico de sua cultura adquirindo o senso de indústria ou, ram áreas ou aspectos para esse estudo. Embora o ser humano seja
na ausência dessas condições, pode desenvolver o sentimento um todo, integrado, sabemos que existem setores ou áreas para
de inferioridade. Na adolescência a crise psicossocial é o encon- as quais são dirigidas as atividades e o comportamento humanos,
tro da identidade do indivíduo. Quando isso não ocorre, dá-se ainda que sejam profundamente interligados. Desta forma, para
a difusão da identidade com repercussões negativas através de estudo e análise apropriados, o desenvolvimento é estudado nos
toda a vida. aspectos físico, mental/cognitivo, emocional/ afetivo, social. Muitas
A vida adulta compreende três fases: adulto jovem, caracte- vezes empregam-se outras divisões, agrupando diferentemente as
rizada por intimidade e solidariedade, do ângulo positivo, e iso- áreas: psicofísica, sócioemocional, psicossocial, psicomotora, etc.
lamento, do lado negativo; adultícia que se caracteriza ou pela
geratividade ou pela estagnação; e a maturidade que apresenta As tarefas evolutivas do processo de desenvolvimento humano
a integridade ou desespero como alternativas. são, sobretudo:
A teoria cognitiva de Jean Piaget exerce hoje relevante papel a) ter um corpo sadio, forte, residente, desenvolvido;
em todas as áreas da psicologia e, principalmente, nos campos b) usá-lo como instrumento de expressão e de comunicação
aplicados da educação e da psicoterapia. Abandonando a ideia social, como meio de participar da vida social, de colaborar com os
de avaliar o nível de inteligência de um indivíduo por meio de outros na responsabilidade de fazer sua vida e de melhorar sua qua-
suas respostas aos itens de determinados testes, Piaget adotou lidade e, enfim, uma base consistente sobre a qual a pessoa possa
um método clínico através do qual procura acompanhar o pro- desenvolver o seu espírito;
cesso do pensamento da criança para daí chegar ao conceito de c) formar o intelecto até alcançar a etapa do pensamento abs-
inteligência como capacidade geral de adaptação do organismo. trato, imprescindível para se compreender com mais profundidade
Os conceitos fundamentais da teoria de Piaget são: esquema, ou e realidade humana;
estrutura, que é a unidade estrutural do desenvolvimento cog- d) alcançar o equilíbrio emocional;
nitivo; assimilação, processo pelo qual novos objetos são incor- e) a integração social;
porados aos esquemas; acomodação, que ocorre quando novas f) a consciência moral;
experiências modificam esquemas; equilibração, resolução de g) compreender o seu papel, em seu tempo, na comunidade
tensão entre assimilação e acomodação; operação, rotina men- em que vive e ter condições de assumi-lo, decisão e capacidade de
tal caracterizada por sua reversibilidade e que representa o ele- realizá-lo.
mento principal do processo do desenvolvimento cognitivo. O
desenvolvimento cognitivo se dá em quatro período: o período Para iniciar o estudo das fases do desenvolvimento humano, é
sensório-motor, caracterizado pelas atividades reflexas; o perío- necessário que seja focalizado o período que antecede o nascimen-
do pré-operacional, em que a criança pode lidar simbolicamente to, tão importante e decisivo que é para o desenvolvimento, ante-
com certos aspectos da realidade, mas seu pensamento ainda se rior ao período pré-natal. A vida começa, a rigor, no momento em
caracteriza pela responsabilidade; o período das operações con- que as células germinais procedentes de seus pais se encontram.
cretas, em que a criança adquire o esquema de conservação; e o Modernamente, o desenvolvimento pré-natal tem sido focalizado
período das operações formais, caracterizado pelo pensamento sob três perspectivas, a saber: do ponto de vista dos fatores he-
proposicional e que representa o ideal da evolução cognitiva do reditários, da influência do ambiente durante a vida intrauterina,
ser humano. e do efeito das atitudes das pessoas que constituem o mundo sig-
nificativo da criança. O estudo da inter-relação entre esses fatores
Estágio ou períodos de desenvolvimento da vida humana revela a importância do desenvolvimento pré-natal sobre as fases
Os psicólogos do desenvolvimento humano são unânimes em subsequentes do processo evolutivo do ser humano.
estabelecerem fases, períodos para determinar nas várias etapas da O mecanismo de transmissão hereditária é altamente com-
vida do indivíduo. plexo, mas ao nível do presente texto ele consiste essencialmente
São assim circunscritas por apresentarem características e pa- no encontro de uma célula germinal masculina e uma feminina. Os
drões de si mesmas semelhantes. Sucedem-se, naturalmente, uma genes, unidades genéticas que fornecem a base do desenvolvimen-
a outra, desde o momento da concepção até à velhice. to, são diretamente responsáveis pela transmissão do patrimônio
Para atender aos objetivos do trabalho, focalizaremos as pri- hereditário.
meiras fases de vida até à adolescência. Existe uma diferença fundamental entre fatores genéticos e fa-
Tomando por base a classificação dos estágios evolutivos se- tores congênitos no processo de desenvolvimento. Genético só é
gundo Jean Piaget (conforme já estudado no tópico “Principais te- aquilo que o indivíduo recebe através dos genes. Congênito é tudo
orias da aprendizagem”), o grande estudioso da gênese e desen- aquilo que influencia desenvolvimento do indivíduo, e que foi ad-
volvimento dos processos cognitivos da criança, existem quatro quirido durante a vida intrauterina, mas não é transmitido através
períodos no desenvolvimento humano:

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dos genes. Ex.: a sífilis é uma doença congênita, porque pode ser seus próprios atributos fisiológicos e a aquisição do senso moral,
adquirida durante a vida intrauterina, mas não é transmitida atra- que permite ao indivíduo a formulação de um sistema de valores
vés dos genes. Logo, a sífilis não é hereditária. no qual, em muitas circunstâncias, as necessidades secundárias se
Durante a vida intrauterina, o indivíduo pode receber a influ- tornam mais salientes e decisivas do que as próprias necessidades
ência de vários fatores que determinarão o curso do seu desenvol- psicológicas ou primárias.
vimento. Dentre esses fatores, salientam-se a idade e a dieta da Na fase do nascimento aos dois anos de vida as estruturas bá-
gestante e o uso abusivo de tóxicos, infecções e da própria irradia- sicas da personalidade são lançadas. A figura materna, ou substitu-
ção. Enfermidades que podem ser transmitidas ao indivíduo na vida ta, é muito importante para essa formação, bem como a forma ou
intrauterina, como a sífilis, a rubéola e a diabete, prejudicam o de- a maneira como o indivíduo recebe o alimento da figura materna
senvolvimento normal do ser humano. tem profundas repercussões sobre seu futuro comportamento em
Analisaremos, a seguir, de maneira muito sucinta, os períodos termos da modelagem de sua personalidade. O contato físico é,
do desenvolvimento humano, a partir do nascimento, focalizando também, de vital importância para o desenvolvimento emocional
as áreas ou aspectos em cada um deles. do indivíduo.
Segundo Piaget, cada período é caracterizado pelo que de Com relação à aquisição do senso moral, sabemos que o mes-
melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os mo vai ser incorporado através da aprendizagem social dos valores.
indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequ- Ela é relativa ao meio que o produziu. A princípio o comportamen-
ência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das to moral da criança é de caráter imitativo e mais ou menos guiado
características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, pelos impulsos. O conceito de certo ou errado para a criança é uma
sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e função de prazer ou de sofrimento que sua ação é capaz de produ-
não uma norma rígida. zir. Esse conceito ainda não é concebido em termos do bem ou do
mal que a criança fez aos outros. Nessa idade a criança ainda não
Período sensório-motor - 0 a 2 anos tem a capacidade intelectual de considerar os efeitos de sua ação
Esse período diz respeito ao desenvolvimento do recém-nasci- sobre outras pessoas. Consequentemente ela não sente a necessi-
do e do latente. dade de modificar seu comportamento, a não ser quando sua ação
É a fase em que predomina o desenvolvimento das percepções lhe produz algum desconforto. Isto quer dizer que a criança nessa
e dos movimentos. idade ainda não tem propriamente uma consciência moral; ela ain-
O desenvolvimento físico é acelerado, pois constitui-se no su- da não tem a capacidade de sentir-se culpada.
porte para o aparecimento de novas habilidades. O desenvolvimen- Segundo a teoria psicanalítica, o período de treinamento de
to ósseo, muscular e neurológico permite a emergência e novos toalete desempenha importante papel na formação dos conceitos
comportamentos, como sentar-se, engatinhar, andar, o que propi- morais do indivíduo. Aqui pela primeira vez, o indivíduo se defronta
ciará um domínio maior do ambiente. Essa fase do processo é ca- com os conceitos do certo e do errado. Daí, segundo a teoria, o
racterizada por uma série de ajustamentos que o organismo tem de começo de um superego ou de uma consciência moral. Do ponto de
fazer, em função das demandas do meio. É evidente que o processo vista do desenvolvimento da personalidade, a natureza desse treino
de adaptação do organismo não se limita a essa fase da vida, mas o de toalete é de grande significação.
que acontece ao indivíduo nessa fase é crucial na importância para Se o indivíduo foi educado com excessivo rigor nesse particular,
todo o processo do desenvolvimento. ele poderá tornar-se uma pessoa extremamente meticulosa e su-
Em termos do conceito de tarefas evolutivas, Havighurst as- persensível, sempre perseguido pelo sentimento de culpa. Se, por
sinala como sendo as principais dessa fase da vida as seguintes: outro lado, não houve qualquer restrição ao seu comportamento
aprender a andar e a tomar alimentos sólidos. Aprender a falar e a nesse período, ele pode se tornar um tipo humano desorganizado
controlar o processo de eliminação de produtos excretórios. Apren- e com tendências absolutistas prejudiciais a si mesmo e à socie-
der a diferença básica entre os sexos e a alcançar estabilidade fisio- dade. O ideal, portanto, seria uma atitude comedida para que se
lógica. Formar conceitos sobre a realidade física e social, aprender possa antecipar um desenvolvimento normal da personalidade do
as formas básicas do relacionamento emocional e a adquirir as ba- indivíduo.
ses de um sistema de valores. De acordo com Freud, ao primeiro ano de vida o indivíduo está
Segundo Piaget, nessa etapa inicial o indivíduo se encontra na na fase ORAL da evolução psicossexual, ou seja, todo o senso de
fase sensório-motora do seu desenvolvimento cognitivo. Essa fase prazer que o indivíduo experimenta provem das zonas orais do seu
compreende seis sub-fases, a saber: o uso dos reflexos, as reações corpo. A primeira ou única sensação de prazer que a criança expe-
circulares primárias e secundárias, reações circulares, terciárias, e a rimenta é através da boca, pela ingestão de alimentos. O alimento
invenção de novos significados para as coisas através de combina- não se refere a simples incorporação de material nutritivo, mas in-
ções mentais. clui uma gama de relações humanas e de afetos implícitos no pro-
Apesar da importância dos aspectos biológicos do desenvol- cesso da alimentação. Uma das características mais óbvias de uma
vimento humano nessa fase, os aspectos psicossociais dessa evo- criança nessa idade é sua dependência do mundo adulto, especial-
lução são os de maior interesse para a psicologia do desenvolvi- mente da figura materna. A criança depende dos outros não só para
mento. Dentre os aspectos mais importantes do desenvolvimento lhe fornecer o senso do prazer e conforto através da alimentação e
psicossocial salientam-se os seguintes: a aquisição da linguagem de outros cuidados, mas por sua própria sobrevivência. Nesta fase
articulada, cujo processo se completará no período pré-operacio- da vida, a mãe é praticamente a única fonte de prazer da criança e
nal, é que constitui elementos de fundamental importância para os a atitude básica da mãe para com ela determinará a sua atitude bá-
outros aspectos do desenvolvimento humano; o desenvolvimento sica perante a vida. A essa fase oral corresponde uma característica
emocional, através do qual o indivíduo deixa de funcionar a ní- psicológica chamada caráter oral. O indivíduo é dependente emo-
vel puramente biológico e passa ao processo de socialização dos cionalmente de outros. Aparece aglutonomia, o alcoolismo.

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Período pré-operacional - 2 a 7 anos 4) o desenvolvimento dos padrões de agressão que resulta de


É grande o interesse dos estudiosos sobre a fase da vida huma- vários fatores dentre os quais se salientam: a severa punição física,
na. Corresponde ao período pré-escolar, considerado a idade áurea identificação com o agressor e a frustração;
da vida, pois é nesse período que o organismo se torna estrutural- 5) as motivações básicas do senso de competência e a neces-
mente capacitado para o exercício de atividades psicológicas mais sidade de realização, ambas muito dependentes das condições do
complexas, como o uso da linguagem articulada. Quase todas as meio e da fundamental importância para o desenvolvimento ade-
teorias do desenvolvimento humano admitem que a idade de es- quado do ser humano.
tudo é de fundamental importância na vida humana, por ser esse
o período em que os fundamentos da personalidade do indivíduo Período das operações concretas - 7 a 12 anos
lançados na fase anterior começam a tomar formas claras e defi- É a fase escolar, também chamada de período das operações
nidas. Existe um enorme volume de trabalho científico sobre esse concretas. Nesta fase da vida, o crescimento físico é mais lento do
período, que em termos de pesquisa, em consequente formulação que em fases anteriores, as diferenças resultantes do fator sexo co-
de teorias sobre esta fase do desenvolvimento. meçam a se acentuar mais nitidamente.
O período pré-operacional é caracterizado por consideráveis Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo o indivíduo
mudanças físicas, as quais são um desafio para os pais e educado- se encontra, na idade escolar, no estágio das operações concretas,
res, como para as próprias crianças. A terminologia período pré- segundo a teoria de Piaget. O pensamento da criança nessa idade
-operacional foi dada por Piaget e se refere ao desenvolvimento apresenta as características de reversibilidade e de associação que
cognitivo. No mundo moderno Piaget é, talvez, a figura de maior lhe permitem interpretar eventos independentemente do seu ar-
relevo no estudo do desenvolvimento dos processos cognitivos do ranjo atual. Nesse estágio, entretanto, a criança ainda se limita, em
ser humano. De acordo com esse cientista, o período pré-operacio- termos cognitivos, ao seu mundo imediato e concretamente real.
nal é dividido em dois estágios: de dois a quatro anos de idade, em Este período, ou idade escolar, segundo a teoria freudiana,
que a criança se caracteriza pelo pensamento egocêntrico, e dos corresponde ao estágio latente, assim designado por que nela a li-
quatro aos sete anos, em que ela se caracteriza pelo pensamento bido não exerce grande influência no comportamento observável
intuitivo. As operações mentais da criança nessa idade se limitam do indivíduo, visto que praticamente toda a sua energia é utilizada
aos significados imediatos do mundo infantil. no sentido de adquirir as competências básicas para a vida em so-
Enquanto no período anterior ao pensamento e raciocínio da ciedade. O ponto mais importante a salientar nesta fase da vida,
criança são limitados a objetos e acontecimentos imediatamente no contexto da teoria psicanalítica, é o conceito de mecanismo de
presentes e diretamente percebidos, no período pré-operacional, defesa, dos quais se distinguem a negação, a identificação com o
ao contrário a criança começa a usar símbolos mentais _ imagens agressor, a repressão a sublimação, o deslocamento, a regressão, a
ou palavras que representam objetos que não estão presentes. São racionalização e a projeção.
características dessa fase o egocentrismo infantil, o animismo, o ar- Segundo a teoria de Erickson, a crise psicossocial da idade es-
tificialismo e o finalismo. Também inexiste o conceito de invariância colar se encontra nos polos industriais versus inferioridade. Depen-
e a noção de reversibilidade. dendo do resultado da solução dessa crise evolutiva, o indivíduo
É adquirida a linguagem articulada, e passa por uma sequência pode emergir como ser capaz e produtivo, ou como alguém com
de aquisições. A criança nesta fase precisa aprender novas maneiras um profundo e persistente sentimento de incompetência e de in-
de se comportar em seus relacionamentos. Freud descreve os anos ferioridade.
pré-escolares como sendo o tempo do conflito de Édipo (para os Nessa idade, advogada Sullivan, o indivíduo adquire os concei-
meninos) e do complexo de Eletra (para as meninas). Segundo Erik- tos de subordinação social que podem ajudá-lo a ajustar-se à vida
son, a tarefa primordial da criança nessa idade é resolver o conflito em sociedade. Nesta idade, os padrões supervisores contribuem
entre a iniciativa e a culpa. Quando os pais são capazes de tratar os para a formação de uma autoimagem através das expectativas do
filhos aplicando a dosagem certa da permissividade e de autorida- mundo social do indivíduo. Mas, sobretudo, a idade escolar é im-
de, as crianças acham mais fácil desenvolver um senso de autono- portante porque nela a criança adquire o conceito de orientação
mia pessoal. na vida, através do qual ela realiza a integração dos vários fatores
Nesse estágio, a criança aprende a assumir os papéis sexuais socioemocionais do processo de desenvolvimento.
considerados aceitáveis pelos pais e pela sociedade. No ajustamento psicossocial os grupos de parceria e a esco-
Os relacionamentos sociais e as atividades lúdicas preparam a la representam relevante papel. Os grupos de parceria oferecem à
criança para lidar com um mundo mais vasto, fora do círculo fami- criança nessa idade certo apoio social, modelos humanos a imitar,
liar. a noção fundamental dos diferentes papéis que os indivíduos exer-
cem na sociedade, e certos padrões de autoavaliação. Por sua vez,
Os aspectos mais importantes do desenvolvimento psicossexu- a escola oferece à criança a oportunidade de lidar com figuras que
al da idade pré-operacional abrangem os seguintes pontos: representam autoridade fora do ambiente do lar.
1) a formação de um conceito do “eu”, facilitado pela aquisição No período das operações concretas, ou seja, época deno-
da linguagem articulada; minada fase escolar, o autoconceito assume forma mais definida,
2) a definição da identidade sexual do indivíduo através da qual especialmente porque aqui a criança aprende que é um indivíduo
ele aprende a se comportar de acordo com as expectações da so- diferente dos demais. É assim que ela é tratada por seus profes-
ciedade; sores e colegas. Esse tratamento recebido e também dispensado
3)a aquisição de sua consciência moral que vai além da simples aos outros contribui para acentuar a identidade sexual da criança
limitação do comportamento do mundo adulto e que é capaz de de idade escolar. Quanto ao conceito de moralidade nessa fase
levar o indivíduo a se sentir culpado em face da violação das regras da vida, talvez o ponto mais importante seja a mudança quanto à
de conduta do seu meio social; orientação ou ponto de referência. Antes, a decisão moral da crian-

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ça era inteiramente heteronômica, segundo Piaget, agora ela tende demonstração de ansiedades. Passa a ter um elevado grau de falta
a ser autonômica. Uma das melhores evidências dessa mudança de de confiança própria e medo de falhar socialmente. Muitos não al-
orientação é a capacidade de sentir-se culpada, e não somente com cançam o grau de ajustamento nessa fase e atravessam a existência
medo de ser apanhada em falta e castigada. dominados pelo chamado complexo de inferioridade. Outro proble-
Os padrões de agressão da criança de idade escolar são influen- ma é a excessiva timidez, ou acanhamento natural, resultante do
ciados por três fatores principais, a saber: pelos pais, pelos com- fato de que a criança teme que os outros vão notar as mudanças
panheiros e pelos meios de comunicação de massa. Quanto aos porque está passando e também por ignorar qual a atitude que es-
pais, os fatores que mais afetam esses padrões de agressão são a sas pessoas terão com ela. Existe uma falta de coordenação moto-
rejeição e o castigo físico demasiado severo. Os grupos de parceria ra resultante do rápido crescimento de certas áreas do corpo que
modificam esses padrões criando rivalidade intergrupal e reduzindo torna a criança desajeitada e tímida e receosa de dar má impressão
a cooperação entre grupos competitivos. Os meios de comunicação aos que a cercam. Esses problemas serão esclarecidos e soluciona-
de massa oferecem modelos de violência, que tendem a aumentar dos com a definição da identidade do indivíduo, que normalmente
a agressão dos indivíduos que já possuem certo grau de revolta con- ocorre na adolescência.
tra as instituições sociais.
Período das operações formais - 12 anos aos 21 anos
O fenômeno PUBERDADE Corresponde ao período chamado adolescência, que significa
A puberdade é considerada uma fase de transição no processo crescer ou desenvolver-se até a maturidade.
evolutivo porque ela abrange parte da infância e parte da adoles- Durante muitos séculos, o termo adolescência foi definido qua-
cência. Representa o início de uma das fases mais importantes do se que exclusivamente, em função dos seus aspectos biológicos.
desenvolvimento humano. Ela é um período relativamente curto de Adolescência e puberdade eram usadas como palavras sinônimas.
vida, com duração de dois a quatro anos, e os estudiosos da psicolo- Modernamente, entretanto, a adolescência deixou de ser um con-
gia do desenvolvimento a dividem em três fases, a saber: ceito puramente biológico e passou a ter, sobretudo, uma cono-
- o estágio pré-pubescente, durante o qual as características se- tação psicossocial. É baseado neste conceito que Munuss (1971),
xuais secundárias começam a aparecer. Nesse estágio, entretanto, define adolescência em termos sociológicos, psicológicos e crono-
os órgãos reprodutivos ainda não se encontram plenamente desen- lógicos.
volvidos; Cronologicamente, a adolescência, ao menos nas culturas oci-
- o estágio pubescente, durante o qual as características sexuais dentais, é o período da vida humana que vai dos doze ou treze anos
secundárias continuam a se desenvolver e os órgãos sexuais come- até mais ou menos aos vinte dois ou vinte e quatro anos de idade,
çam normalmente a produzir células germinativas; admitindo-se consideráveis variações. Tanto de ordem individual e,
- o estágio pós-pubescente, durante o qual as características sobretudo, de ordem cultural.
sexuais secundárias continuam a se desenvolver e os órgãos sexuais Sociologicamente, adolescência seria o período de transição
começam a funcionar de maneira amadurecida. em que o indivíduo passa de um estado de dependência do seu
mundo maior para uma condição de autonomia e, sobretudo, em
São muitas e profundas as mudanças fisiológicas e estruturais que o indivíduo começa a assumir determinadas funções e respon-
que ocorrem no corpo das meninas e meninos púberes, porém sabilidades características do mundo adulto.
podemos afirmar não estarem aptos para o exercício da atividade Do ponto de vista psicológico, a adolescência é o período crí-
sexual. Com relação aos meninos, e as características sexuais primá- tico de definição da identidade do “eu”, cujas repercussões podem
rias e secundárias, as gônadas masculinas ou testículos, até a idade ser de graves consequências para o indivíduo e a sociedade.
de catorze anos, aproximadamente, representam cerca de dez por Vale ressaltar a diferença entre os termos puberdade, pubes-
cento do seu tamanho normal no adulto. Durante um ano ou dois, cência e adolescência. A puberdade é o estágio evolutivo em que
então, ocorre um crescimento rápido, que logo depois começa a o indivíduo alcança a sua maturidade sexual. A data exata em que
decrescer até que pelos vinte ou vinte e um anos de idade os testí- ocorre o amadurecimento sexual do ser humano, diz Munuss, varia
culos atingem seu desenvolvimento pleno. de acordo com fatores de ordem socioeconômica e geográfica. Por
Com relação às meninas, temos a constatação muito válida e exemplo, a maturidade sexual tende a ocorrer mais cedo em indiví-
útil para o objeto do nosso estudo, que o seu aparelho reprodutor duos que vivem em climas temperados e que pertencem às classes
vai-se desenvolvendo ao longo da puberdade, mas não bruscamen- sociais mais elevadas. Em zonas tropicais, e também por influência
te. A exemplo, o útero de uma garota de onze ou doze anos de idade de fatores nutricionais, esse amadurecimento sexual tende a ocor-
pesa, em média, quarenta e três gramas. Os demais órgãos - trom- rer um pouco mais tarde. Pubescência seria o período, também
pas, ovários, vaginas - crescem rapidamente. A ação dos hormônios chamado de pré-adolescência, caracterizado pelas mudanças bio-
é determinante para essas mudanças do organismo. lógicas associadas com a maturação sexual. É o período de desen-
Ao lado dos efeitos físicos mencionados, verificam-se, tam- volvimento fisiológico durante o qual as funções reprodutoras ama-
bém, efeitos psicológicos de consequências consideráveis. Nesta durecem; é filogenético e inclui o aparecimento de características
fase tende a criança a isolar-se do convívio com outras pessoas, sexuais secundárias e a maturidade fisiológica dos órgãos sexuais
torna-se, geralmente, mais hostil para com os companheiros e para primários. Estas mudanças ocorrem num período de aproximada-
com os seus próprios familiares. Passa muito tempo sozinha, sen- mente dois anos. Adolescência é um conceito mais amplo e inclui
tindo-se mal compreendida, entregando-se ao autoerotismo ou mudanças consideráveis nas estruturas da personalidade e nas fun-
masturbação. Perde o interesse pelas atividades de que gostava e ções que o indivíduo exerce na sociedade. Em síntese, o conceito
o entusiasmo pelas atividades escolares. Possui um autogonismo moderno de adolescência não se confunde com puberdade, como
social, negando sua cooperação e se tornando hostil à criança do fato biológico, nem tampouco com pubescência, como estágio de
sexo oposto. É instável emocionalmente, sujeita a irritabilidade e a transição marcada por grandes mudanças fisiológicas. Adolescência

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

é um conceito psicossocial. Representa uma fase crítica no processo A adolescência é o período de grandes sonhos e aspirações,
evolutivo me que o indivíduo é chamado a fazer importantes ajusta- mesmo que não sejam sempre, realistas. De acordo com o próprio
mentos de ordem pessoal e de ordem social. Entre estes ajustamen- Piaget, nessa fase da vida a possibilidade é mais importante do que
tos, temos a luta pela independência financeira e emocional, a es- a realidade. Com o amadurecimento normal do ser humano é que
colha de uma vocação e a própria identidade sexual. Como conceito ele vai aprendendo a discriminar entre o possível e o desejável.
psicossocial, a adolescência não está necessariamente limitada Na adolescência, como nas demais fases da vida, o indivíduo
aos fatores cronológicos. Em determinadas sociedades primitivas, tem que cumprir tarefas evolutivas.
a adolescência é bastante curta e termina com os ritos de passa- As principais tarefas evolutivas da adolescência, segundo Havi-
gem em que os indivíduos, principalmente os de sexo masculino, ghurst, são as seguintes: aceitar e aproveitar ao máximo o próprio
são admitidos no mundo adulto. Na maioria das culturas ocidentais, corpo; estabelecer relações sociais mais adultas com companheiros
entretanto, a adolescência se prolonga por mais tempo e pode-se de ambos os sexos; chegar a ser independente dos pais e de outros
dizer que a ausência de ritos de passagem torna essa fase de transi- adultos, dos pontos de vista emocional e pessoal; escolha de uma
ção um período ambíguo da vida humana. Portanto, diz Munuss, só ocupação e preparação para a mesma; preparação para o noivado
se pode falar sobre o término da adolescência em termos de idade e o matrimônio; desenvolvimento de civismo; conquista de uma
cronológica à luz do contexto sociocultural do indivíduo. O que, de identidade pessoal, uma escala de valores e uma filosofia de vida.
fato, marca o fim da adolescência são os ajustamentos normais do Do ponto de vista cognitivo e segundo Jean Piaget, o adolescen-
indivíduo aos padrões de expectativas da sociedade com relação às te está no estágio das operações formais. Segundo Piaget, o amadu-
populações adultas. recimento biológico do adolescente torna possível a aquisição das
Do ponto de vista de um conceito psicossocial da adolescên- operações formais, que representam o ponto máximo do processo
cia, podemos dizer, como observa Hurlock (1975), que ela é um do desenvolvimento cognitivo. As operações formais, entretanto,
período de transição na vida humana. O adolescente não é mais não são um dado a priori, mas dependem da interação do organis-
criança, porém, ainda não é adulto. Esta condição ambígua tende a mo com o meio. A aquisição das operações formais é de fundamen-
gerar confusão na mente do adolescente, que não sabe exatamente tal importância, especialmente em face do enorme progresso das
qual o papel que tem na sociedade. Esta confusão começa a de- ciências naturais em nosso século. Elas são, também, necessárias a
saparecer na medida em que o adolescente define sua identidade todo o processo de ajustamento social do adolescente.
psicológica. A adolescência é, também, um período de mudanças
significativas na vida humana. Hurlock fala de quatro mudanças de Fonte
profunda repercussão nessa fase. A primeira delas é a elevação do PINHEIRO, M. da S. Aspectos biopsicossociais da Criança e do
tônus emocional, cuja intensidade depende da rapidez com que as adolescente.
mudanças físicas e psicológicas ocorrem na experiência do indiví- Disponível em http://www.cedeca.org.br/conteudo/noticia/arqui-
duo. A segunda mudança significativa dessa fase da vida é decor- vo/3883a852-e760-fc9f-57158b8065d42b0e.pdf
rente do amadurecimento sexual que ocorre quando o adolescente
se encontra inseguro com relação a si mesmo, a suas habilidades
TEMAS CONTEMPORÂNEOS: BULLYING
e seus interesses. O adolescente experimenta nesta fase da vida o
sentimento de instabilidade, especialmente em face do tratamen-
to muito ambíguo que recebe do seu mundo exterior. Em terceiro Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões inten-
lugar, as mudanças que ocorrem no seu corpo, nos seus interesses cionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou
e nas suas funções sociais, criam problemas para o adolescente por- mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem ori-
que, muitas vezes, ele não sabe o que o grupo espera dele. E, final- gem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo
mente, há mudanças consideráveis na vida do adolescente quanto sem uma denominação em português, é entendido como ameaça,
ao sistema de valores. Muitas coisas que antes eram importantes, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato.
para ele, passam a ser consideradas como algo de ordem secun- “É uma das formas de violência que mais cresce no mundo”,
dária, a capacidade intelectual do adolescente lhe dá condição de afirma Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying:
analisar de modo crítico o sistema de valores a que foi exposto e Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz(224
a que, até então, respondem de modo mais ou menos automáti- págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868 ). Segundo a especialista, o
co. Porém, agora o adolescente está em busca de algo que lhe seja bullying pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas,
próprio, algo pelo qual ele possa assumir responsabilidade pessoal. universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à
Daí, então, as lutas por que passa o ser humano nessa fase da vida, primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode
no sentido da vida, no sentido de definir seu próprio sistema de afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa.
valores, seus próprios padrões de comportamento moral. Além de um possível isolamento ou queda do rendimento
A adolescência é, também, um período em que o indivíduo tem escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações ra-
que lutar contra o estereótipo social e contra uma autoimagem dis- cistas, difamatórias ou separatistas podesm apresentar doenças
torcida dele decorrente. A cultura tende a ver o adolescente como psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie
um indivíduo desajeitado, irresponsável e inclinado às mais varia- traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying che-
das formas de comportamento antissocial. Por sua vez, o adoles- ga a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele
cente vai desenvolvendo uma autoimagem que reflete, de alguma opte por soluções trágicas, como o suicídio.
forma, esse estereótipo da sociedade. Essa condição indesejável or-
dinariamente cria conflitos entre pais e filhos, entre o adolescente
e a escola, entre o adolescente e a sociedade em geral.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Nem tudo é bullying. como natural dentro do ambiente escolar. ‘’O espectador se fecha
Discussões ou brigas pontuais não são bullying. Conflitos en- aos relacionamentos, se exclui porque acha que pode sofrer tam-
tre professor e aluno ou aluno e gestor também não são conside- bém no futuro.
rados bullying. Para que seja bullying, é necessário que a agressão Se for pela internet, por exemplo, ele ?apenas? repassa a in-
ocorra entre pares (colegas de classe ou de trabalho, por exemplo). formação. Mas isso o torna um coautor’’, explica a pesquisadora
Todo bullying é uma agressão, mas nem toda a agressão é classifi- Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como
cada como bullying Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs., Ed.
Para Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e profes- Verus, tel. (19) 4009-6868).
sora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Cam-
pinas (Unicamp), para ser dada como bullying, a agressão física ou Como identificar o alvo do bullying.
moral deve apresentar quatro características: a intenção do autor O alvo costuma ser uma criança ou um jovem com baixa au-
em ferir o alvo, a repetição da agressão, a presença de um pú- toestima e retraído tanto na escola quanto no lar. ‘’Por essas ca-
blico espectador e a concordância do alvo com relação à ofensa. racterísticas, dificilmente consegue reagir’’, afirma o pediatra Lauro
‘’Quando o alvo supera o motivo da agressão, ele reage ou ignora, Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional
desmotivando a ação do autor’’, explica a especialista. de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). Aí é que entra a
O bullying não é um fenômeno recente. questão da repetição no bullying, pois se o aluno procura ajuda, a
O bullying sempre existiu. No entanto, o primeiro a relacionar tendência é que a provocação cesse.
a palavra a um fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universida- Além dos traços psicológicos, os alvos desse tipo de violência
de da Noruega, no fim da década de 1970. Ao estudar as tendências costumam apresentar particularidades físicas. As agressões podem
suicidas entre adolescentes, o pesquisador descobriu que a maioria ainda abordar aspectos culturais, étnicos e religiosos.
desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, “Também pode ocorrer com um novato ou com uma menina
o bullying era um mal a combater. bonita, que acaba sendo perseguida pelas colegas”, exemplifica
A popularidade do fenômeno cresceu com a influência dos Guilherme Schelb, procurador da República e autor do livro Vio-
meios eletrônicos, como a internet e as reportagens na televisão, lência e Criminalidade Infanto-Juvenil (164 págs., Thesaurus Editora
pois os apelidos pejorativos e as brincadeiras ofensivas foram to- tel. (61) 3344-3738).
mando proporções maiores. “O fato de ter consequências trágicas
- como mortes e suicídios - e a impunidade proporcionaram a ne- Consequências para o aluno que é alvo de bullying.
cessidade de se discutir de forma mais séria o tema”, aponta Gui- O aluno que sofre bullying, principalmente quando não pede
lherme Schelb, procurador da República e autor do livro Violência ajuda, enfrenta medo e vergonha de ir à escola. Pode querer aban-
e Criminalidade Infanto-Juvenil (164 págs., Thesaurus Editora tel. donar os estudos, não se achar bom para integrar o grupo e apre-
(61) 3344-3738). sentar baixo rendimento.
Sozinha, a escola não consegue resolver o problema, mas é Uma pesquisa da Associação Brasileira Multiprofissional de
normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros si- Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) revela que 41,6% das
nais de um praticante de bullying. “A tendência é que ele seja assim vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem
por toda a vida, a menos que seja tratado”, diz mesmo com os colegas.
As vítimas chegam a concordar com a agressão, de acordo com
O que leva o autor do bullying a praticá-lo. Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da
Querer ser mais popular, sentir-se poderoso e obter uma boa Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinhas
imagem de si mesmo. Isso tudo leva o autor do bullying a atingir o (Unicamp). O discurso deles segue no seguinte sentido: “Se sou
colega com repetidas humilhações ou depreciações. É uma pessoa gorda, por que vou dizer o contrário?”
que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem Aqueles que conseguem reagir podem alternar momentos de
o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo ansiedade e agressividade. Para mostrar que não são covardes ou
contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo quando percebem que seus agressores ficaram impunes, os alvos
ou antecipando quão dolorosa será aquela crueldade vivida pela podem escolher outras pessoas mais indefesas e passam a provo-
vítima. cá-las, tornando-se alvo e agressor ao mesmo tempo.

O espectador também participa do bullying. Bullying com agressão física e o bullying com agressão moral.
É comum pensar que há apenas dois envolvidos no conflito: o Ambas as agressões são graves e causam danos ao alvo do
autor e o alvo. Mas os especialistas alertam para esse terceiro per- bullying. Por ter consequências imediatas e facilmente visíveis, a
sonagem responsável pela continuidade do conflito. violência física muitas vezes é considerada mais grave do que um
O espectador típico é uma testemunha dos fatos, pois não sai xingamento ou uma fofoca.
em defesa da vítima nem se junta aos autores. Quando recebe uma ‘’A dificuldade que a escola encontra é justamente porque o
mensagem, não repassa. Essa atitude passiva pode ocorrer por professor também vê uma blusa rasgada ou um material furtado
medo de também ser alvo de ataques ou por falta de iniciativa para como algo concreto. Não percebe que uma exclusão, por exemplo,
tomar partido. é tão dolorida quanto ou até mais’’, explica Telma Vinha, doutora
Também são considerados espectadores os que atuam como em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação
plateia ativa ou como torcida, reforçando a agressão, rindo ou di- da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
zendo palavras de incentivo. Eles retransmitem imagens ou fofo- Os jovens também podem repetir esse mesmo raciocínio e a
cas. Geralmente, estão acostumados com a prática, encarando-a escola deve permanecer alerta aos comportamentos moralmente
abusivos.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Existe diferença entre o bullying praticado por meninos e por ‘’A intervenção da escola também precisa chegar ao especta-
meninas? dor, o agente que aplaude a ação do autor é fundamental para a
De modo geral, sim. As ações dos meninos são mais expansi- ocorrência da agressão’’, complementa a especialista.
vas e agressivas, portanto, mais fáceis de identificar. Eles chutam,
gritam, empurram, batem. O professor também é alvo de bullying?
Já no universo feminino o problema se apresenta de forma Conceitualmente, não, pois, para ser considerada bullying, é
mais velada. As manifestações entre elas podem ser fofocas, boa- necessário que a violência ocorra entre pares, como colegas de
tos, olhares, sussurros, exclusão. “As garotas raramente dizem por classe ou de trabalho. O professor pode, então, sofrer outros tipos
que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada”, de agressão, como injúria ou difamação ou até física, por parte de
explica a pesquisadora norte-americana Rachel Simmons, especia- um ou mais alunos.
lista em bullying feminino. Mesmo não sendo entendida como bullying, trata-se de uma
Ela conta que as meninas agem dessa maneira porque a ex- situação que exige a reflexão sobre o convívio entre membros da
pectativa da sociedade é de que sejam boazinhas, dóceis e sempre comunidade escolar. Quando as agressões ocorrem, o problema
passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas uti- está na escola como um todo. Em uma reunião com os educadores,
lizam meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. “É preciso pode-se descobrir se a violência está acontecendo com outras pes-
reconhecer que as garotas também sentem raiva. A agressividade soas da equipe para intervir e restabelecer as noções de respeito.
é natural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar outros Se for uma questão pontual, com um professor apenas, é ne-
meios - além dos físicos - para se expressar”, diz Rachel. cessário refletir sobre a relação entre o docente e o aluno ou a clas-
se. ‘’O jovem que faz esse tipo de coisa normalmente quer expor
O que fazer em sala de aula quando se identifica um caso de uma relação com o professor que não está bem. Existem comuni-
bullying? dades na internet, por exemplo, que homenageiam os docentes.
Ao surgir uma situação em sala, a intervenção deve ser imediata. Então, se o aluno se sente respeitado pelo professor, qual o motivo
“Se algo ocorre e o professor se omite ou até mesmo dá uma risadinha de agredi-lo?’’, questiona Adriana Ramos, pesquisadora da Univer-
por causa de uma piada ou de um comentário, vai pelo caminho erra- sidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso
do. Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo”, diz de pós-graduação “As relações interpessoais na escola e a constru-
Aramis Lopes Neto, presidente do Departamento Científico de Segu- ção da autonomia moral”, da Universidade de Franca (Unifran).
rança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria. O professor é uma autoridade na sala de aula, mas essa autori-
O professor pode identificar os atores do bullying: autores, es- dade só é legitimada com o reconhecimento dos alunos em uma re-
pectadores e alvos. Claro que existem as brincadeiras entre colegas lação de respeito mútua. ‘’O jovem está em processo de formação e
no ambiente escolar. Mas é necessário distinguir o limiar entre uma o educador é o adulto do conflito e precisa reagir com dignidade’’,
piada aceitável e uma agressão. “Isso não é tão difícil como parece. afirma Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professo-
Basta que o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é ra da Faculdade de Educação da Unicamp.
engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse chamado assim?”,
orienta o pediatra Lauro Monteiro Filho. O que fazer para evitar o bullying?
Veja os conselhos dos especialistas Cléo Fante e José Augusto A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância
Pedra, autores do livro Bullying Escolar (132 págs., Ed. Artmed, tel; e Adolescência (Abrapia) sugere as seguintes atitudes para um am-
0800 703 3444): biente saudável na escola:
- Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às di- - Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações
ferenças por meio de conversas, campanhas de incentivo à paz e à ou sugestões;
tolerância, trabalhos didáticos, como atividades de cooperação e - Estimular os estudantes a informar os casos;
interpretação de diferentes papéis em um conflito; - Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate
- Desenvolver em sala de aula um ambiente favorável à comu- ao problema;
nicação entre alunos; - Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em
- Quando um estudante reclamar de algo ou denunciar o coerência com o regimento escolar;
bullying, procurar imediatamente a direção da escola. - Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo fu-
turos casos;
O papel do professor em conflitos fora da sala de aula. - Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para que-
O professor é um exemplo fundamental de pessoa que não brar a dinâmica do bullying.
resolve conflitos com a violência. Não adianta, porém, pensar que
o bullying só é problema dos educadores quando ocorre do portão Todo ambiente escolar pode apresentar esse problema. “A es-
para dentro. É papel da escola construir uma comunidade na qual cola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negan-
todas as relações são respeitosas. do sua existência”, diz o pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador
‘’Deve-se conscientizar os pais e os alunos sobre os efeitos da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e
das agressões fora do ambiente escolar, como na internet, por Adolescência (Abrapia). O primeiro passo é admitir que a escola é
exemplo’’, explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade um local passível de bullying. É necessário também informar pro-
Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós- fessores e alunos sobre o que é o problema e deixar claro que o
-graduação ‘’As relações interpessoais na escola e a construção da estabelecimento não admitirá a prática.
autonomia moral’’, da Universidade de Franca (Unifran).

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

“A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas Como deve ser uma conversa com os pais dos alunos envol-
também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, coo- vidos no bullying?
peração e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata É preciso mediar a conversa e evitar o tom de acusação de
e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na socieda- ambos os lados. Esse tipo de abordagem não mostra como o outro
de”, afirma o pediatra. se sente ao sofrer bullying. Deve ser sinalizado aos pais que alguns
comentários simples, que julgam inofensivos e divertidos, são car-
Como agir com os alunos envolvidos em um caso de bullying? regados de ideias preconceituosas.
O foco deve se voltar para a recuperação de valores essen- ‘’O ideal é que a questão da reparação da violência passe por
ciais, como o respeito pelo que o alvo sentiu ao sofrer a violência. um acordo conjunto entre os envolvidos, no qual todos consigam
A escola não pode legitimar a atuação do autor da agressão nem enxergar em que ponto o alvo foi agredido para, assim, restaurar
humilhá-lo ou puni-lo com medidas não relacionadas ao mal causa- a relação de respeito’’ explica Telma Vinha, professora do Depar-
do, como proibi-lo de frequentar o intervalo. tamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Já o alvo precisa ter a autoestima fortalecida e sentir que está Muitas vezes, a escola trata de forma inadequada os casos re-
em um lugar seguro para falar sobre o ocorrido. “Às vezes, quando latados por pais e alunos, responsabilizando a família pelo proble-
o aluno resolve conversar, não recebe a atenção necessária, pois ma. É papel dos educadores sempre dialogar com os pais sobre os
a escola não acha o problema grave e deixa passar”, alerta Ara- conflitos - seja o filho alvo ou autor do bullying, pois ambos preci-
mis Lopes, presidente do Departamento Científico de Segurança da sam de ajuda e apoio psicológico.
Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Ainda é preciso conscientizar o espectador do bullying, que en- O que fazer em casos extremos de bullying?
dossa a ação do autor. ‘’Trazer para a aula situações hipotéticas, A primeira ação deve ser mostrar aos envolvidos que a escola
como realizar atividades com trocas de papéis, são ações que aju- não tolera determinado tipo de conduta e por quê. Nesse encon-
dam a conscientizar toda a turma. tro, deve-se abordar a questão da tolerância ao diferente e do res-
A exibição de filmes que retratam o bullying, como ‘’As me- peito por todos, inclusive com os pais dos alunos envolvidos.
lhores coisas do mundo’’ (Brasil, 2010), da cineasta Laís Bodanzky, Mais agressões ou ações impulsivas entre os envolvidos podem
também ajudam no trabalho. A partir do momento em que a escola ser evitadas com espaços para diálogo. Uma conversa individual
fala com quem assiste à violência, ele para de aplaudir e o autor com cada um funciona como um desabafo e é função do educador
perde sua fama’’, explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universi- mostrar que ninguém está desamparado.
dade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de ‘’Os alunos e os pais têm a sensação de impotência e a esco-
pós-graduação ‘’As relações interpessoais na escola e a construção la não pode deixá-los abandonados. É mais fácil responsabilizar a
da autonomia moral’’, da Universidade de Franca (Unifran). família, mas isso não contribui para a resolução de um conflito’’,
diz Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora
Bullying contra alunos com deficiência da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas
Conversar abertamente sobre a deficiência é uma ação que (Unicamp).
deve ser cotidiana na escola. O bullying contra esse público costu- A especialista também aponta que a conversa em conjunto,
ma ser estimulado pela falta de conhecimento sobre as deficiên- com todos os envolvidos, não pode ser feita em tom de acusação.
cias, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo pre- ‘’Deve-se pensar em maneiras de mostrar como o alvo do bullying
conceito trazido de casa. se sente com a agressão e chegar a um acordo em conjunto. E, de-
De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. pois de alguns dias, vale perguntar novamente como está a relação
Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São entre os envolvidos’’, explica Telma.
Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma É também essencial que o trabalho de conscientização seja
situação desconhecida. Cabe ao educador estabelecer limites para feito também com os espectadores do bullying, aqueles que en-
essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por dossam a agressão e os que a assistem passivamente. Sem que a
meio da conscientização e do esclarecimento. plateia entenda quão nociva a violência pode ser, ela se repetirá
Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assun- em outras ocasiões.
to é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda
em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar Bullying na Educação Infantil.
um aluno e vitimar o outro é desatar os nós da tensão por meio Se houver a intenção de ferir ou humilhar o colega repetidas
do diálogo. A violência começa em tirar do aluno com deficiência vezes caracteriza-se o bullying. Entre as crianças menores, é co-
o direito de ser um participante do processo de aprendizagem. É mum que as brigas estejam relacionadas às disputas de território,
tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que to- de posse ou de atenção - o que não caracteriza o bullying. No en-
dos, especialmente os que têm deficiência, se desenvolvam. Com tanto, por exemplo, se uma criança apresentar alguma particulari-
respeito e harmonia. dade, como não conseguir segurar o xixi, e os colegas a segregarem
por isso ou darem apelidos para ofendê-la constantemente, trata-
-se de um caso de bullying.
“Estudos na Psicologia afirmam que, por volta dos dois anos de
idade, há uma primeira tomada de consciência de ‘quem eu sou’,
separada de outros objetos, como a mãe.

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E perto dos três anos, as crianças começam a se identificar LEI Nº 13.185, DE 6 DE NOVEMBRO DE 2015
como um indivíduo diferente do outro, sendo possível que uma
criança seja alvo ou vítima de bullying. Essa conduta, porém, será Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (
mais frequentes num momento em que houver uma maior relação Bullying ).
entre pares, mais cotidiana’’, explica Adriana Ramos, pesquisadora
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
do curso de pós-graduação As relações interpessoais na escola e a cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
construção da autonomia moral”, da Universidade de Franca (Uni-
fran). Art. 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação
Sistemática ( Bullying ) em todo o território nacional.
Quais são as especificidades para lidar com o bullying na Edu- § 1º No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimi-
cação Infantil? dação sistemática ( bullying ) todo ato de violência física ou psico-
Para evitar o bullying, é preciso que a escola valide os prin- lógica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente,
cípios de respeito desde cedo. É comum que as crianças menores praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com
briguem com o argumento de não gostar uma das outras, mas o o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à
educador precisa apontar que todos devem ser respeitados, inde- vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes
pendentemente de se dar bem ou não com uma pessoa, para que envolvidas.
essa ideia não persista durante o desenvolvimento da criança. § 2º O Programa instituído no caput poderá fundamentar as
ações do Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais e Mu-
nicipais de Educação, bem como de outros órgãos, aos quais a ma-
téria diz respeito.
Bullying virtual ou cyberbullying Art. 2º Caracteriza-se a intimidação sistemática ( bullying )
É o bullying que ocorre em meios eletrônicos, com mensa- quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação,
gens difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails, sites, humilhação ou discriminação e, ainda:
blogs (os diários virtuais), redes sociais e celulares. É quase uma I - ataques físicos;
extensão do que os alunos dizem e fazem na escola, mas com o II - insultos pessoais;
agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara. III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;
Dessa forma, o anonimato pode aumentar a crueldade dos IV - ameaças por quaisquer meios;
comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou V - grafites depreciativos;
piores. “O autor, assim como o alvo, tem dificuldade de sair de seu VI - expressões preconceituosas;
papel e retomar valores esquecidos ou formar novos”, explica Lu- VII - isolamento social consciente e premeditado;
ciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora do VIII - pilhérias.
Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educa- Parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial
ção da Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp). de computadores ( cyberbullying ), quando se usarem os instru-
Esse tormento que é a agressão pela internet faz com que a mentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência,
criança e o adolescente humilhados não se sintam mais seguros em adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de
lugar algum, em momento algum. Marcelo Coutinho, especialista constrangimento psicossocial.
no tema e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que es- Art. 3º A intimidação sistemática ( bullying ) pode ser classifica-
ses estudantes não percebem as armadilhas dos relacionamentos da, conforme as ações praticadas, como:
digitais. “Para eles, é tudo real, como se fosse do jeito tradicional, I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;
tanto para fazer amigos como para comprar, aprender ou combinar II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;
um passeio.” III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;
IV - social: ignorar, isolar e excluir;
Como lidar com o cyberbullying? V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar,
. Trabalhar com a ideia de que nem sempre se consegue apagar dominar, manipular, chantagear e infernizar;
aquilo que foi para a rede dá à turma a noção de como as piadas VI - físico: socar, chutar, bater;
ou as provocações não são inofensivas. ‘’O que chamam de brinca- VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;
deira pode destruir a vida do outro. É também responsabilidade da VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimi-
escola abrir espaço para discutir o fenômeno’’, afirma Telma Vinha, dade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em
doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psi-
Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). cológico e social.
Caso o bullying ocorra, é preciso deixar evidente para crianças Art. 4º Constituem objetivos do Programa referido no caput
e adolescentes que eles podem confiar nos adultos que os cercam do art. 1º :
para contar sobre os casos sem medo de represálias, como a proi- I - prevenir e combater a prática da intimidação sistemática (
bição de redes sociais ou celulares, uma vez que terão a certeza bullying ) em toda a sociedade;
de que vão encontrar ajuda. ‘’Mas, muitas vezes, as crianças não II - capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implemen-
recorrem aos adultos porque acham que o problema só vai piorar tação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do
com a intervenção punitiva’’, explica a especialista.7 problema;
III - implementar e disseminar campanhas de educação, cons-
7 Fonte: www.novaescola.org.br cientização e informação;

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IV - instituir práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e agressores;
V - dar assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores;
VI - integrar os meios de comunicação de massa com as escolas e a sociedade, como forma de identificação e conscientização do
problema e forma de preveni-lo e combatê-lo;
VII - promover a cidadania, a capacidade empática e o respeito a terceiros, nos marcos de uma cultura de paz e tolerância mútua;
VIII - evitar, tanto quanto possível, a punição dos agressores, privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos que promovam a
efetiva responsabilização e a mudança de comportamento hostil;
IX - promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência, com ênfase nas práticas recorrentes
de intimidação sistemática ( bullying ), ou constrangimento físico e psicológico, cometidas por alunos, professores e outros profissionais
integrantes de escola e de comunidade escolar.
Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, pre-
venção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática ( bullying ).
Art. 6º Serão produzidos e publicados relatórios bimestrais das ocorrências de intimidação sistemática ( bullying ) nos Estados e Mu-
nicípios para planejamento das ações.
Art. 7º Os entes federados poderão firmar convênios e estabelecer parcerias para a implementação e a correta execução dos objeti-
vos e diretrizes do Programa instituído por esta Lei.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias da data de sua publicação oficial.

O PAPEL DA ESCOLA

O papel da escola consiste em muito mais do que desenvolver as habilidades intelectuais do aluno, pois a interação com a sociedade
e a atuação no mercado de trabalho requerem sujeitos com atributos diversificados. Assim, como responsável pela formação de um indiví-
duo, a escola deve ser um ambiente de preparação para a vida. Dentro dessa função, existem fatores fundamentais, como os relacionados
abaixo:
1. Contribuir com a formação política e cidadã: é papel da escola fazer com que o aluo tenha consciência de seus direitos e dever na
sociedade, fornecendo mecanismos para que ele se torne apto a reivindicar aquilo que lhe é garantido pela lei.  
2. Preparar o aluno para exercer autonomia: ao contrário das abordagens tradicionais, que colocavam o aluno com um simples recep-
tador de conteúdos, a escola contemporânea deve empregar as chamadas metodologias ativas de aprendizagem, que requerem do aluno
uma participação ativa, contribuindo para o desenvolvimento de sua independência e autonomia.
3. Estimular o pensamento crítico: a escola deve atuar no sentido de fazer com que seus alunos estejam aptos a questionar e a elaborar
ideias próprias acerca das informações e dados, os quais eles têm acesso a meios de comunicação e, nos dias de hoje, em especial, nas
muitas plataformas digitais com as quais estão em contato o tempo todo. O pensamento crítico auxilia no desenvolvimento do controle
emocional, extremamente relevante para as vivências, sejam no interior do ambiente escolar ou fora dele.  
4. Incentivar as habilidades socioemocionais: é necessário que o aluno compreenda e saiba lidar com seus próprios sentimentos e
também com os sentimentos das outras pessoas. As Bases Nacionais Comum Curriculares (BNCC) determinam um grupo de habilidades
emocionais e sociais que precisam ser construídas no indivíduo desde sua tenra infância, sendo da Educação Infantil até o Ensino Médio.  
5. Comunicar o significado do respeito à diversidade: a sociedade contemporânea é composta pela pluralidade de raças, etnias, ca-
pacidades cognitivas e culturas. Por isso, cada indivíduo é único, e o papel da escola, nesse sentido, é ensinar o aluno a respeitar aqueles
que lhes são diferentes.

A ESCOLHA DA PROFISSÃO

A escolha da profissão é o objetivo exclusivo dos estudantes, desde o seu ingresso na vida escolar, sobretudo durante o Ensino Médio.
Enquanto alguns alunos encontram-se decididos desde crianças quanto ao trabalho que irão exercer. Outros, no entanto, devido a muitos
fatores, não conseguem definir esse aspecto crucial da vida em sociedade. De fato, não se trata de uma decisão simples, mas determinadas
ações podem auxiliar nesse sentido, portanto, é necessário que o aluno conheça a diversidade existente de atuações profissionais, como
também as especializações, isto é, as muitas opções existentes.
Para tal propósito, é necessário procurar informações sobre uma determinada profissão, não somente naquilo que concerne à sua
prática, como também à situação dessa profissão no mercado de trabalho, a sua remuneração média, o seu campo de atuação, e como
essa profissão é considerada e introduzida socialmente. Uma estratégia que pode auxiliar o jovem na sua decisão é realizar visitas por
faculdades, durante as quais ele poderá observar as aulas e o ambiente em geral.  
Conforme for formando uma ideia acerca das profissões que lhe despertam interesse, o jovem poderá visitar os locais onde os profis-
sionais atuam e, assim, explicar-lhes que deseja saber um pouco mais sobre o modo como sua função é exercida em campo real. Observar
uma carreira pessoalmente é uma forma eficiente de tirar as dúvidas e ter certeza se aprecia aquela profissão. Não é raro que muitos
alunos se esforcem, porém, ao ingressarem no curso superior, podem perder a atração que cultivaram por anos com a carreira escolhida
e acabam descobrindo que não é aquilo que desejam exercer pelo resto de suas vidas. Assim, é fundamental que se faça, pelo menos, um
contato com o universo profissional, para prevenir eventuais equívocos. Equívocos que, futuramente, podem resultar em prejuízos finan-
ceiros e emocionais, talvez irreparáveis.

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TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA

Os transtornos alimentares são causados principalmente, pelo excesso de preocupações com os padrões de beleza, uma busca inces-
sante pela magreza, principalmente entre jovens e adolescentes, com início em transtornos psiquiátricos, elevando os prejuízos físicos,
biológicos e psicológicos, que elevam a morbidade e a mortalidade.
A baixa autoestima e a insatisfação corporal são características relacionadas aos transtornos alimentares, também a relação proble-
mática com a imagem de si mesmo e com a alimentação ingerida, levando a distúrbios alimentares, que induzem ao estado corpóreo de
extrema magreza. Entre os transtornos alimentares se encontram a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa.
Acredita-se que a causa dos transtornos alimentares é multifatorial e não há uma causa isolada. Veja a tabela:

FATORES DESCRIÇÃO
BIOLÓGICOS Alterações de neurotransmissores (serotonina, dopamina e noradrenalima).
Presença de casos de Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa em parentes, suge-
GENÉTICOS
rindo um modelo de transmissão genética.
SOCIOCULTURAIS Valorização de modelos de baixo peso, elevando a insatisfação corporal.
Conflitos e ausências familiares, falta de diálogo, comentários preconceituosos
FAMILIARES
principalmente pelo peso.
Perfeccionismo, distorções cognitivas, rigidez no comportamento, baixa au-
PSICOLÓGICOS
toestima e situações de estresse.

Pacientes com transtornos alimentares tem o consumo, a estrutura e as atitudes alimentares comprometidas, tendo como caracterís-
tica dietas restritivas e severas, irregularidade na ingestão alimentar, aversões, compulsões, momentos de purgações, distorção da imagem
corporal e a negação da condição patológica.
Nesses casos, o corpo é afetado em sua forma orgânica e funcional com manifestações que podem ser vistas por exames laboratoriais,
de imagem e clínicos.

Anorexia Nervosa
A anorexia nervosa é uma doença psicológica, fisiológica e social, que agrega uma disfunção alimentar pela busca da magreza, carac-
terizada por uma perda de peso exagerada através de uma dieta restritiva.
Restrições quantitativas e qualitativas são usadas por pessoas com anorexia nervosa e em muitos casos a refeição diária não é verda-
deiramente realizada, o indivíduo com esse transtorno tem dificuldades de lidar com o seu sentimento de medo, com suas crenças errô-
neas e com as distorções sobre alimentação e nutrição.
É uma doença comportamental de cunho alimentar, que ocasiona um desgaste físico e psicológico exagerados, por causa do desajuste
da autoimagem, o mesmo acredita estar acima do peso controlando obsessivamente a alimentação, levando seu organismo a beira de um
colapso.
Bulimia Nervosa
A síndrome da bulimia nervosa é caracterizada por hiperfagia repetidas (hiperalimentação) e preocupação exagerada com o controle
de peso, levando o indivíduo a cometer atitudes extremas para não “engordar”.
A palavra bulimia pode ser traduzida por fome intensa. Pessoas com este transtorno sofre de momentos de compulsão, consumo de
grande quantidade de alimentos e, após, provocam vômitos por culpa, usam laxantes, inibidores de apetite, diuréticos, dietas e exercícios
físicos como métodos “compensatórios”.
O comportamento bulímico altera em ciclos de restrição – compulsão – purgação (vômitos), dependendo de uma série de fatores
como a oportunidade de purgação, alimento disponível e o humor. Tendo um padrão caótico de dias com refeições bem estruturadas e
outros dias com dietas restritivas e/ou inadequadas.
E apresentam vários sintomas associados às funções de alterações endócrinas, hematológicas e principalmente gastrointestinais.

Transtorno da Compulsão Alimentar Periódico


A TCAP, transtorno da compulsão alimentar periódica caracteriza-se por episódios compulsivos de ingestão alimentar em curto pe-
ríodo, e não apresenta comportamentos compensatórios, como a indução vômitos, prática exagerada de atividade física ou consome de
medicamentos como no caso da bulimia nervosa. Acometendo principalmente pessoas com sobrepeso e obesos.

Tratamento dos Transtornos Alimentares


Os pacientes com transtornos alimentares apresentam graves quadros de saúde e complexos quadros psicológicos, dependendo de
tratamentos com abordagens multiprofissionais e estratégicas.
A insatisfação afeta vários aspectos da vida dos indivíduos com transtornos alimentares, como: o comportamento alimentar, a autoes-
tima e os desempenhos psicossociais, físicos e cognitivos.

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Tratamento Nutricional dos Transtornos Alimentares


A terapia nutricional nos transtornos alimentares é uma das ferramentas usadas no tratamento dos transtornos alimentares, segundo
a ADA (American Dietetic Association) é importante que a “intervenção e educação nutricionais sejam integradas ao tratamento”.
E o objetivo do tratamento nutricional na anorexia nervosa, envolve o ganho de peso, o restabelecimento do sentido da fome e sacie-
dade, além do auxílio nos sintomas da desnutrição.
É recomendado pela American Psychological Association (APA, 200) para pacientes internados em enfermaria um ganho de peso entre
900g a 1,3 kg/semana ou 250 g a 450 g/semana para pacientes de ambulatório.
Já o tratamento nutricional no caso da bulimia, tem como função a diminuir as compulsões alimentares, evitar as restrições, padro-
nizar horários para as refeições, incluir nas refeições variedades de alimentos, tratar as deficiências de vitaminas e minerais e ajudar nas
práticas de alimentação saudável, ressignificando os comportamentos alimentares perturbados.
No tratamento do transtorno compulsivo alimentar periódico consiste na redução dos episódios de compulsão e, na ajuda da perca
peso.
De um modo geral o aconselhamento no tratamento nutricional faz parte integral da terapia dos pacientes com transtornos alimenta-
res, e através dele à promoção de padrões nutricionais adequados.
Em todo tratamento multidisciplinar, o nutricionista trabalha no planejamento das refeições, auxiliando os pacientes nas dietas ade-
quadas que se deve consumir, monitorando seus balanços energéticos e ganho de peso, sempre mostrando que o contato com os alimen-
tos é a principal mudança de comportamento.

Outros Transtornos Alimentares


Ortorexia, preocupação demasiada com o que se come e com a qualidade do que se come.
Vigorexia ou transtorno dismórfico muscular ou Síndrome de Adonis, preocupação com o corpo perfeito, e a prática exagerada de
atividade física.
Síndrome do comer noturno, como o próprio nome já diz é caracterizado pela falta de fome durante o dia, tendo ataques compensa-
tórios noturnos de comida algumas vezes atrelado a insônia.

FAMÍLIA

8
De acordo com Caio Mário, família em sentido genérico e biológico é o conjunto de pessoas que descendem de tronco ancestral
comum; em senso estrito, a família se restringe ao grupo formado pelos pais e filhos; e em sentido universal é considerada a célula social
por excelência.
No que concerne à família, Silvio Rodrigues num conceito mais amplo, diz ser a formação por todas aquelas pessoas ligadas por vínculo
de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco ancestral comum, o que inclui, dentro da órbita da família, todos os
parentes consanguíneos. Num sentido mais estrito, constitui a família o conjunto de pessoas compreendido pelos pais e sua prole.
Já Maria Helena Diniz discorre sobre família no sentido amplo como todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo da consan-
guinidade ou da afinidade, chegando a incluir estranhos. No sentido restrito é o conjunto de pessoas unidas pelos laços do matrimônio e
da filiação, ou seja, unicamente os cônjuges e a prole.
Cezar Fiúza, considera família de modo lato sensu, como sendo “uma reunião de pessoas descendentes de um tronco ancestral co-
mum, incluídas aí também as pessoas ligadas pelo casamento ou pela união estável, juntamente com seus parentes sucessíveis, ainda que
não descendentes”, como também define em modo stricto sensu dizendo que: “família é uma reunião de pai, mãe e filhos, ou apenas um
dos pais com seus filhos”.
Segundo Paulo Nader, Família consiste em “uma instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam no pro-
pósito de desenvolver, entre si, a solidariedade nos planos assistencial e da convivência ou simplesmente descendem uma da outra ou de
um tronco comum”.
Sintetizando a conceituação desse instituto, Silvio Venosa, assevera que a Família em um conceito amplo, “é o conjunto de pessoas
unidas por vínculo jurídico de natureza familiar”, em conceito restrito, “compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem
sob o pátrio poder”.
Washington de Barros Monteiro ainda menciona que, enquanto a família num sentido restrito, abrange tão somente o casal e a prole,
num sentido mais largo, cinge a todas as pessoas ligadas pelo vínculo da consanguinidade, cujo alcance é mais dilatado, ou mais circuns-
crito.
Finalizando Carlos Roberto Gonçalves traz família de uma forma abrangente como “todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e
que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como unidas pela afinidade e pela adoção”. E também de uma forma mais
específica como, “parentes consanguíneos em linha reta e aos colaterais até o quarto grau”.
Dessa forma, a partir do conceito, pode-se perceber que família é, unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ances-
trais em comum ou ligados por laços afetivos. Podendo também ser considerada como, um conjunto invisível de exigências funcionais que
organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais.

8 Texto baseado na obra de MOTA, T. S.; ROCHA, R. F.; MOTA, G. B. C. Família – Considerações gerais e historicidade no âmbito jurídico. 2011.

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Os Tipos de Família
Por muito tempo, a organização familiar fora comandada pelo modelo matriarcal, ou seja, modelo que surgiu do vínculo sanguíneo,
biológico e instintivo da mãe para com o filho. Nesse modelo a mãe, a figura da mulher no lar, destacava por sua autoridade. Após a fase
utilização de tal modelo, criou-se um novo sistema de costumes, ou seja, o das famílias patriarcais, tendo como característica principal a
inquestionável e arbitrária autoridade do pai. O homem destacou nas atividades do campo, da batalha e da caça, e tornou figura principal.
A família num sentido sociológico recoloca-se em estágios de comprovação fática prevalecendo na ocorrência de indução de fenô-
menos sociais e políticos de aceitação.
Para Mac Lennan, Morgan, Spencer, Engels, D’aguano, Westermarck, Gabriel Tarde, Bachofen, em embasamentos de monumentos
históricos estabelece observância aos “primitivos atuais”, ou seja, as tribos indígenas, para a reconstituição das origens.
Em um período evolutivo como um todo, a mulher este reservada a um lar, fato este, que a família ocidental viveu longo período sob
forma “patriarcal”.
Como ressalta Caio Mário em que atualmente Cícero alude à figura valetudinária o tônus emocional com plena autoridade de um
patriarcal não se condicionando a idade avançada e a quase cegueira.
Em Roma, a família era organizada em função do princípio da autoridade abrangendo a eles subordinados. O pater era ao mesmo tem-
po chefe político, sacerdote e juiz, comandava como um todo, impondo-lhes pena corporal. A mulher vivia subordinada a esta autoridade,
em nenhum momento adquirindo autonomia, se passando a função de filho e de esposa sem direitos próprios. Só a esta autoridade pater
que lhe adquiria bens, domínio sobre o patrimônio familiar.
Com o passar do tempo houve alterações a este rigor conhecendo-se o casamento, a instigação ao patrimônio independente para os
filhos em relação aos militares contraídos como soldado.
Daí podemos falar em poder familiar, como já falamos que no poder familiar não é mais absoluto no sentido do poder que conferia aos
pais sobre domínio dos filhos, mas sim focado no poder afetivo, cabendo aos pais a corresponsabilidade e parceria nos direitos e deveres
dos filhos e a missão de equilibrá-los.
Neste contexto, diante da promulgação da nossa Carta Magna, foram devolvidos parâmetros ao reconhecimento da família como base
da sociedade fundando princípios, efeitos e as obrigações, incumbindo a responsabilidade de proteção da família ao Estado.
Portanto o artigo 226 da Carta Magna identifica formas de entidades familiares diversificadas como a união estável, sendo reconhe-
cida a união entre homem e mulher com características de duradoura, ininterrupta e com objetivo de constituir família, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento, a família monoparental, como comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes e o
casamento, a união mais comum, feita em contrato solene.
Segundo Dimitre Soares “as relações de família são, portanto, amplamente afetadas pelas transformações da globalização, que abre
espaço para as manifestações plurais de comportamento”. Ainda fala da necessidade do ordenamento jurídico se adequar a interpretação
das relações de família, visando a desordem nos “parâmetros tradicionais de organização familiar”.
Com relação as modificações do conceito de família e das diversas formas de constituição de família com o passar dos anos, Soares
ainda fala que:
“O mundo contemporâneo requer a adequação do fenômeno de internacionalização de Direitos Humanos às normas de direito in-
terno. Assim, novos temas como a igualdade de gênero, a democratização de uniões livres, a reconstrução do parâmetro parental, a so-
cioafetividade, a inseminação artificial ou as uniões homoafetivas incrementam o debate que descamba, necessariamente, na concepção
tradicional dos modelos familiares, passando a ser necessário que se repense os critérios de igualdade e de cidadania aplicáveis a estes e
inúmeros outros casos.”
A partir daí, pode-se concluir que existem novas espécies de família como substituta, alternativa, moderna, extensa e ampliada, só-
cioafetiva entre outras.

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Quadro – tipos de Famílias

- Família Natural
A família natural é tida como a mais comum, pois é aquela que possui laços sanguíneos, constituída por pais e filhos,
provinda do modelo de família através do casamento ou da união estável.

- Família Monoparental
Família constituída por um de seus genitores e filho, ou seja, por mãe e filho, ou pai e filho, decorrente de produção inde-
pendente, separação dos cônjuges, morte, abandono, podendo ser biologicamente constituída e por adoção. Reconhecida
como entidade familiar na Carta Magna, artigo 226, §4º: “comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.

- União Estável
União estável é entidade familiar, que constitui união entre homem e mulher, fora do casamento, sendo esta duradoura,
pública, com fins de constituir família, e possuem fidelidade recíproca.

- Casamento
Casamento é a terceira e última entidade familiar trazida pelo Constituição Federal de 1988, considerando a mais anti-
ga, mais conhecida e aceita pela sociedade, e a mais formal.
Conforme Silvio Rodrigues:
“Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher, de conformi-
dade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência.”
Conceito muito comum em relação a nossa legislação civil. Carlos Roberto Gonçalves diz ser contrato de direito de
família que regula a união entre marido e mulher.

- Família Substituta
A família substituta é favorável da família moderna, assim nas palavras de Marlusse Pestana Daher, que prossegue:
“É aquela que se propõe trazer para dentro dos umbrais da própria casa, uma criança ou adolescente que por qualquer
circunstância foi desprovido da família natural, para que faça parte integrante dela, nela se desenvolva e seja”.
Pode-se constatar nestas palavras a apropriada natureza da Colocação em Família Substituta, porquanto expõe que
é na solidariedade que incide todo o alicerce deste instituto. A necessidade de um, sendo satisfeita pela possibilidade de
ajuda do outro.
A colocação em família substituta pode ocorrer de três formas: guarda, tutela e adoção.

- Família Alternativa
Dividida em famílias homossexuais e família comunitárias, sendo nesta o papel dos pais e da escola descentralizado
como ocorre nas famílias tradicionais, sendo todos os adultos responsáveis pela educação e criação das crianças e ado-
lescentes; a primeira se trata de um casal do mesmo sexo que vivem juntos tendo filhos adotados ou biológicos de um dos
parceiros ou de ambos.

- Família Moderna
E o modelo de família em que o pai perde o autoritarismo, e mãe deixa de cuidar única e exclusivamente da casa e dos
filhos e passa a competir com o homem, sendo assim todos que compõem a família passam a ter influência dentro dos lares,
expondo suas opiniões, participando efetivamente, com base no respeito, no amor, na afetividade, no carinho, na atenção.

- Família Extensa e Ampliada


O artigo 25, parágrafo único, da Lei 12.010/09, que trata da reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente, introduz
família extensa ou ampliada como sendo espécie da família natural, distinta da família substituta, in verbis: “Entende-se por
família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por
parentes próximos com os quais a criança ou o adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade”.

- Família Sócioafetiva
Consolida-se a família sócioafetiva como um novo elemento no Direito Brasileiro contemporâneo, transpondo os limites
fixados pela Constituição Federal de 1988, porém incorporados dos seus princípios. Quando declarada a convivência fami-
liar e comunitária, a não discriminação de filhos, a corresponsabilidade dos pais quanto ao exercício do poder familiar e o
núcleo monoparental reconhecido como entidade familiar está concretizada a chamada família sócioafetiva. Os vínculos de
afeto se sobrepõem à verdade biológica, convocando assim, os pais a uma “paternidade responsável”.

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Função Social da Família, da Escola e Interdependência dos Desta forma entende-se que, apesar de escola e família serem
Sistemas Família e Escola9 agências socializadoras distintas, as mesmas apresentam aspectos
comuns e divergentes: compartilham a tarefa de preparar os sujei-
Educação e escola têm uma relação estreita, apesar de esta não tos para a vida socioeconômica e cultural, mas divergem nos objeti-
configurar uma relação de dependência, pois há uma distinção en- vos que têm nas tarefas de ensinar.
tre a educação escolar e a educação que ocorre fora da escola. De
acordo com Guzzo, o sentido etimológico da palavra educar signifi- Relação família-escola
ca promover, assegurar o desenvolvimento de capacidades físicas, Tendo como pano de fundo a divisão de responsabilidades no
intelectuais e morais, sendo que, de forma geral, tal tarefa tem sido que concerne à educação e socialização de crianças e jovens e a re-
de responsabilidade dos pais. lação que se estabelece entre as instituições familiares e escolares,
De acordo com Bock, Furtado e Teixeira, o grupo familiar tem pesquisas e levantamentos acerca desta relação passam a ser obje-
uma função social determinada a partir das necessidades sociais, to de estudo de diversas áreas do conhecimento, como a psicologia,
sendo que entre suas funções está, principalmente, o dever de ga- a sociologia, a educação, entre outras.
rantir o provimento das crianças para que possam exercer futura- Considerando as várias perspectivas e abordagens relativas ao
mente atividades produtivas, bem como o dever de educá-las para tema, os trabalhos e pesquisas sobre a temática da relação família-
que “tenham uma moral e valores compatíveis com a cultura em -escola podem ser organizados em dois grandes grupos, denomina-
que vivem”. Nesse mesmo sentido, Oliveira resume a função da fa- dos enfoque sociológico e enfoque psicológico.
mília dizendo que “a educação moral, ou seja, a transmissão de cos- No enfoque sociológico a relação família-escola é vista em fun-
tumes e valores de determinada época torna-se, nesta perspectiva, ção de determinantes ambientais e culturais. A relação entre edu-
seu principal objetivo” cação e classe social mostra um certo conflito entre as finalidades
A responsabilidade familiar junto às crianças em termos de mo- socializadoras da escola (valores coletivos) e a educação doméstica
delo que a criança terá e do desempenho de seus papéis sociais é (valores individuais), ou seja, entre a organização da família e os
tradicionalmente chamada de educação primária, uma vez que tem objetivos da escola. As famílias que não se enquadram no suposto
como tarefa principal orientar o desenvolvimento e aquisição de modelo desejado pela escola são consideradas as grandes respon-
comportamentos considerados adequados, em termos dos padrões sáveis pelas disparidades escolares. Seguindo este enfoque, faz-se
sociais vigentes em determinada cultura. necessário, para o bom funcionamento da escola, que as famílias
A escola é a instituição que tem como função a socialização adotem as mesmas estratégias de socialização por elas utilizadas.
do saber sistematizado, ou seja, do conhecimento elaborado e da Assim, a representação de modelo familiar certo/correto ganha
cultura erudita. De acordo com Saviani, a escola se relaciona com projeção e se naturaliza, tendo a própria escola como dissemina-
a ciência e não com o senso comum, e existe para proporcionar dora da ideia de que algumas famílias operam de modo diverso do
a aquisição de instrumentos que possibilitam o acesso ao saber seu objetivo. Em função dessa divergência, as estratégias de sociali-
elaborado (ciência) e aos rudimentos (bases) desse saber. A contri- zação das famílias passam a ser a preocupação da escola, de forma
buição da escola para o desenvolvimento do sujeito é específica à que esta amplia seus âmbitos de ação, tentando assumir ou tentan-
aquisição do saber culturalmente organizado e às áreas distintas de do substituir a família em sua ampla missão socializadora. Para Oli-
conhecimento. No que diz respeito à família, “um dos seus papéis veira, há uma intenção que passa muitas vezes despercebida nessa
principais é a socialização da criança, isto é, sua inclusão no mundo tentativa de aproximação e colaboração, que é a de promover uma
cultural mediante o ensino da língua materna, dos símbolos e re- educação para as famílias tidas como “desestruturadas”. O ambien-
gras de convivência em grupo, englobando a educação geral e parte te escolar exerce um poder de orientação sobre os pais para que
da formal, em colaboração com a escola”. estes possam educar melhor os filhos e estes, por sua vez, possam
Escola e família têm suas especificidades e suas complemen- frequentar a escola.
tariedades. Embora não se possa supô-las como instituições com- Enquanto no enfoque sociológico a família é responsabilizada
pletamente independentes, não se pode perder de vista suas fron- pela formação social e moral do indivíduo, no enfoque psicológico
teiras institucionais, ou seja, o domínio do objeto que as sustenta ela é responsabilizada pela formação psicológica. A ideia de que a
como instituições. família é a referência de vida da criança - o locus afetivo e condi-
Esses dois sistemas têm objetivos distintos, mas que se interpe- ção sine qua non de seu desenvolvimento posterior - será utilizada
netram, uma vez que “compartilham a tarefa de preparar as crian- para manter certa ligação entre o rendimento escolar do aluno e
ças e os jovens para a inserção crítica, participativa e produtiva na sua dinâmica familiar, colocando, mais uma vez, a família no lugar
sociedade”. A divergência entre escola e família está na tarefa de de desqualificada.
ensinar, sendo que a primeira tem a função de favorecer a aprendi- Nesse enfoque, as razões de ordem emocional e afetiva ga-
zagem dos conhecimentos construídos socialmente em determina- nham um colorido permanente quanto ao entendimento da rela-
do momento histórico, de ampliar as possibilidades de convivência ção família-escola e da ocorrência do fracasso escolar. Ganha status
social e, ainda, de legitimar uma ordem social, enquanto a segunda natural a crença de que uma “boa” dinâmica familiar é responsável
tem a tarefa de promover a socialização das crianças, incluindo o pelo “bom” desempenho do aluno. As descrições centradas no pla-
aprendizado de padrões comportamentais, atitudes e valores acei- no afetivo ganham a atenção dos professores que, com algum co-
tos pela sociedade. nhecimento de psicologia, levam esse discurso para dentro da sala
de aula e passam, em um processo naturalizado por todos, a avaliar
e analisar o comportamento dos alunos.
Posto desta forma, nota-se que o enfoque sociológico aborda
9 Oliveira, C. B. E. de; Marinho-Araújo, C. M. A relação família-escola: os determinantes ambientais e culturais presentes na relação fa-
intersecções e desafios. Estud. Psicol.: Campinas vol. 2010. mília-escola, destacando que cabe à escola cumprir as exigências

270
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

sociais, enquanto o enfoque psicológico considera os determinan- d) envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem, em
tes psicológicos presentes na estrutura familiar como os grandes casa, participando da realização de trabalhos, projetos e deveres
responsáveis pelo desencontro entre objetivos e valores nas duas de casa;
instituições. Assim, em uma espécie de complementaridade, en- e) envolvimento dos pais na direção das escolas, influenciando
contra-se um velado enfrentamento da escola com a família, apa- e participando da tomada de decisões, se possível.
rentemente diluído nos grandes projetos de participação e de par-
ceria entre esses dois sistemas, podendo-se afirmar que em ambos O aspecto mais comum entre os três modelos10 refere-se ao
os enfoques destacam-se dois aspectos principais: fato de que em todos a ação dos pais é priorizada, seja diante de
questões pedagógicas (ensino tutorial em casa ou na escola, traba-
1) a incapacidade da família para a tarefa de educar os filhos e lho voluntário dos pais na escola e na sala de aula, apoio na realiza-
2) a entrada da escola para subsidiar essa tarefa, principalmen- ção de tarefas, trabalhos e atividades de aprendizagem) ou de ques-
te quando se trata do campo moral. tões políticas (pais com poder deliberativo na escola, participando e
influenciando a tomada de decisões). Os modelos pouco se referem
A partir destas colocações, vê-se que a relação família-escola às ações da escola e dos professores no sentido de promover a re-
está permeada por um movimento de culpabilização e não de res- lação família-escola; tais ações são referidas somente nas ocasiões
ponsabilização compartilhada, além de estar marcada pela existên- em que cabe à escola informar aos pais acerca do regulamento in-
cia de uma forte atenção da escola dirigida à instrumentalização terno da escola, dos programas escolares e de progressos e dificul-
dos pais para a ação educacional, por se acreditar que a participa- dades dos filhos.
ção da família é condição necessária para o sucesso escolar. Ao listar as “16 maneiras de envolver os pais na escola”, Mar-
A quem caberia a responsabilidade de construir essa relação? ques fez uma adaptação do trabalho de Joyce Epstein e elaborou
No relato de muitos professores há a afirmação de que, apesar de uma lista de procedimentos que podem favorecer a aproximação
abrirem as portas da escola à participação dos pais, esses são de- das famílias. Entretanto, tal lista menciona, exclusivamente, ações
sinteressados em relação à educação dos filhos, na medida em que a serem desencadeadas pelos pais no contexto familiar, sem haver
atribuem à escola toda a responsabilidade pela educação. Esta ar- menção à interação família-escola.
gumentação dos professores “visa, apenas, culpar a vítima e é uma Além de tais ações se referirem apenas a atitudes a serem ado-
visão pessimista das relações escola/pais”, a partir da qual não se tadas pelos pais, fica explícita, entre as maneiras listadas, a crença
consegue dar passos positivos para ultrapassar os obstáculos à re- existente acerca da necessidade de orientar e ensinar aos pais so-
lação família-escola. bre como ensinar seus filhos: “explicar aos pais certas técnicas de
Ao contrário dos professores que acreditam que os pais é que ensino” ou “propor aos pais que treinem os filhos, ajudando-os a
devem ir à escola mostrando-se interessados pelo desenvolvimen- fazer exercícios de leitura, matemática, etc.”
to de seus filhos e pela relação entre família e escola, Tancredi e Tais atitudes decorrem da noção da escola de que o envolvi-
Reali, acreditam que a construção da parceria entre escola e família mento dos pais aparece relacionado à participação e colaboração
é função inicial dos professores, pois eles são elementos-chave no nas atividades propostas pela escola e no interesse pelo desempe-
processo de aprendizagem. Dada a formação profissional específica nho de seus filhos. As expectativas quanto à participação dos pais
que têm, as tentativas de aproximação e de melhoria das relações envolvem o acompanhamento da tarefa de casa ou a formação do
estabelecidas com as famílias devem partir, preferencialmente, da aluno em termos de disciplina, respeito e comportamento adequa-
escola, pois “transferir essa função à família somente reforça sen- do.
timentos de ansiedade, vergonha e incapacidade aos pais, uma vez Junto a diretores e professores percebe-se, também, a pouca
que não são eles os especialistas em educação”. tendência da escola para buscar uma parceria. É interessante ob-
Todavia, apesar desse discurso em que se fala que a escola é servar a colocação acerca do posicionamento contraditório dos di-
que deve ir às famílias, os modelos de envolvimento entre as famí- retores e professores que, por um lado, “acusaram os pais de falta
lias e a escola focalizam principalmente os pais e se referem pouco de compreensão ou aceitação dos problemas das crianças, e o pou-
às ações dos professores e da escola na promoção da relação famí- co retorno de seus esforços para ajudá-los”, mas, por outro lado,
lia-escola, como mostram os modelos propostos por Joyce Epstein, sentem-se invadidos pela presença dos pais, pois consideram que
Don Davies e Owen Heleen. os pais não sabem participar com uma relação de colaboração, mas
sim de cobrança, uma vez que não entendem do processo de ensi-
Para exemplificar, o modelo de Joyce Epstein defende a existên- no-aprendizagem.
cia de cinco tipos de envolvimento: À família são impostos limites para entrar em questões próprias
da escola, como no campo pedagógico. Mas o mesmo parece
a) os pais ajudarem os filhos em casa, que diz respeito à função não acontecer com a escola em relação à sua entrada na família,
dos pais em atender as necessidades básicas dos filhos e em organi- pois aquela acredita estar autorizada a penetrar nos problemas
zar a rotina familiar diária; domésticos e a lidar com eles, além de se considerar apta a
b) os professores comunicarem-se com os pais, que se refere à estabelecer os parâmetros para a participação e o envolvimento
função da escola de informar os pais acerca do regulamento interno da família.
da escola, dos programas escolares e dos progressos e dificuldades
dos filhos;
c) envolvimento dos pais na escola, apoiando voluntariamente
a organização de festas e alunos com dificuldades de aprendizagem;

10 Modelos de Joyce Epstein, Don Davies e Owen Heleen.

271
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

As formulações conceituais sobre sexualidade infantil datam


EDUCAÇÃO SEXUAL do começo deste século e ainda hoje não são conhecidas ou acei-
tas por parte dos profissionais que se ocupam de crianças, inclusive
A sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e educadores. Para alguns, as crianças são seres “puros” e “inocen-
na vida psíquica das pessoas, pois independentemente da potencia- tes” que não têm sexualidade a expressar, e as manifestações da
lidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessida- sexualidade infantil possuem a conotação de algo feio, sujo, peca-
de fundamental dos seres humanos. Nesse sentido, a sexualidade é minoso, cuja existência se deve à má influência de adultos. Entre
entendida como algo inerente, que se manifesta desde o momento outros educadores, no entanto, já se encontram bastante difundi-
do nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa do das as noções da existência e da importância da sexualidade para o
desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída ao desenvolvimento de crianças e jovens.
longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela história, Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem altera-
cultura, ciência, assim como pelos afetos e sentimentos, expressan- ções hormonais que, muitas vezes, provocam estados de excitação
do-se então com singularidade em cada sujeito. Indissociavelmente incontroláveis, ocorre intensificação da atividade masturbatória e
ligado a valores, o estudo da sexualidade reúne contribuições de instala-se a função genital. É a fase das descobertas e experimenta-
diversas áreas, como Antropologia, História, Economia, Sociologia, ções em relação à atração e às fantasias sexuais. A experimentação
Biologia, Medicina, Psicologia e outras mais. Se, por um lado, sexo dos vínculos tem relação com a rapidez e a intensidade da formação
é expressão biológica que define um conjunto de características e da separação de pares amorosos entre os adolescentes.
anatômicas e funcionais (genitais e extragenitais), a sexualidade é, É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de todos
de forma bem mais ampla, expressão cultural. Cada sociedade cria os profissionais da educação a postura a ser adotada, dentro das
conjuntos de regras que constituem parâmetros fundamentais escolas, em face das manifestações da sexualidade dos alunos.
para o comportamento sexual de cada indivíduo. Nesse sentido, Como dito anteriormente, sexo também é coisa de criança12.
a proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade nas suas Tendo sempre em mente que cada criança é uma criança, vamos
dimensões biológica, psíquica e sociocultural. pensar o desenvolvimento sexual da criança.
Tomando por base os modos de viver e expressar a dimensão
Sexualidade na Infância e na Adolescência11 humana, temos seis períodos distintos - primeira infância, fase
pré-escolar, segunda infância, adolescência, maturidade e terceira
Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as pri- idade. Aqui vamos nos ater apenas aos três primeiros: primeira in-
meiras vivências de prazer. Essas primeiras experiências sensuais de fância (0 a 2 anos), fase pré-escolar (2 a 6 anos) e segunda infância
vida e de prazer não são essencialmente biológicas, mas constitui- (6 a 10 anos).
rão o acervo psíquico do indivíduo, serão o embrião da vida mental
no bebê. A sexualidade infantil se desenvolve desde os primeiros Primeira Infância (0 a 2 anos)
dias de vida e segue se manifestando de forma diferente em cada “A educação sexual começa a partir das atitudes dos pais, no
momento da infância. A sua vivência saudável é fundamental na momento em que decidem ter filhos”.
medida em que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento As primeiras atitudes dos pais podem proporcionar ou um am-
global dos seres humanos. biente afetivo e amoroso, ou um ambiente ríspido e tumultuado.
A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a par- Esse ambiente será a primeira influência no desenvolvimento da
tir das possibilidades individuais e de sua interação com o meio e criança. É “nos primeiros anos de vida que se estabelecem as bases
a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra, aos pri- do comportamento erótico do adulto e se inicia a formação de uma
meiros movimentos exploratórios que a criança faz em seu corpo e sexualidade saudável”.
aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças recebem então, Neste período (0 a 2 anos) a criança começa a explorar seu
desde muito cedo, uma qualificação ou “julgamento” do mundo mundo através de seu corpo, de suas sensações. Será através do
adulto em que está imersa, permeado de valores e crenças que são gosto, do cheiro, do toque, do olhar e do ouvir que a criança vai ex-
atribuídos à sua busca de prazer, o que comporá a sua vida psíquica. perimentar o prazer. Essa relação com seu corpo e com os sentidos
Nessa exploração do próprio corpo, na observação do corpo de formará suas atitudes sexuais mais tarde.
outros, e a partir das relações familiares é que a criança se descobre A relação que essa criança tem com seus cuidadores também
num corpo sexuado de menino ou menina. Preocupa-se então mais será definidor das suas atitudes relacionais. Esse primeiro vínculo é
intensamente com as diferenças entre os sexos, não só as anatô- um primeiro passo. Ele será fortalecido, ou não, no seu desenvol-
micas, mas também com todas as expressões que caracterizam o vimento.
homem e a mulher. A construção do que é pertencer a um ou outro É nessa fase que começamos a amar e sermos amados. A nossa
sexo se dá pelo tratamento diferenciado para meninos e meninas, capacidade de amar e de se relacionar está diretamente ligada a
inclusive nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos esse aprendizado na infância.
padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino. Esses
padrões são oriundos das representações sociais e culturais cons- Fase pré-escolar (2 a 6 anos)
truídas a partir das diferenças biológicas dos sexos e transmitidas Essa fase tem quatro momentos importantes:
pela educação, o que atualmente recebe a denominação de rela-
ções de gênero. Essas representações absorvidas são referências 1. Formação da Identidade de gênero
fundamentais para a constituição da identidade da criança. A identidade de gênero é a condição de pertencer a um sexo.
Nesta fase a criança começa a definir-se como menino ou menina.
11 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curricula-

res Nacionais: Orientação Sexual. Portal MEC. 12 Colunista Portal Educação, 2013. http://www.portaleducacao.com.br.

272
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Os pais e educadores(as) devem, neste momento, favorecer o pro- Segunda Infância (6 a 10 anos)
cesso de identificação da criança, através da brincadeira. Mostrar Período no qual a sexualidade entra em latência. Ou seja, entra
as diferenças e semelhanças entre ser menino e ser menina (evitar em adormecimento para ser mais bem elaborada. É um momen-
ao máximo estereótipos!). Reforçar a visão de sexo da criança, sem to de sensualidade, pois as crianças estão aptas a experimentar as
nunca desvalorizar o sexo oposto. A questão não é superioridade/ sensações. Por isso, há muitos jogos sexuais nesta fase. O lúdico
inferioridade, mas sim diferenças. aparece na imitação de modelos. É um momento em que pais e
educadores(as) devem tomar cuidado com o que falam e com o
2. Assimilação do papel sexual (social) que fazem. A criança está em constante observação. Assim, é um
O papel sexual diz respeito ao comportamento que a criança bom momento para transmitir informações e valores (confiança,
terá diante sua identidade de gênero. Importante evitar a manuten- respeito, amor, honestidade, responsabilidade), as crianças estão
ção de preconceitos de comportamentos tipicamente masculinos prestando atenção.
e/ou femininos. É nesse período que se fortalece a identidade de gênero e
prepara a criança para o próximo período, a puberdade.
3. Aprendizagem e controle dos esfíncteres
É a primeira oportunidade da criança de aprender e exercer o O que são jogos sexuais?
autocontrole, através do treinamento do controle dos esfíncteres. Definição: são brincadeiras que ajudam a satisfazer a curiosi-
Segundo as considerações de Figueirêdo Netto, a aprendiza- dade sexual.
gem do controle dos esfíncteres, no que se refere ao desenvolvi-
mento da sexualidade, tem fundamental importância, pois: Alguns tipos:
a) “As áreas genitais se encontram na mesma zona do corpo - Cócegas;
que intervém na excreção. Os músculos que participam deste ato - Pegar nos próprios genitais e nos dos / das coleguinhas;
são exatamente os mesmos que posteriormente atuarão na respos- - Brincadeiras de médico;
ta sexual. - Brincadeiras de papai e mamãe.
b) O ato de reter e expulsar os excrementos (urina e fezes) pro-
duz prazer sensual, pela tensão e alívio ou relaxamento, que acom- Atenção: essas brincadeiras devem ser feitas com crianças da
panham estes comportamentos. mesma idade. E de acordo com Suplicy “os professores constataram
c) O controle voluntário desses músculos, assim como as sen- que em geral os jogos sexuais são realizados na hora do recreio.
sações prazerosas deles resultantes, são associados à sexualidade”. As crianças escolherem um lugar protegido, fora da vista do adul-
Para não adiantar nem atrasar esse processo da criança é preci- to; não tiram a roupa e brincam de médico e de papai-e-mamãe.
so ter em mente que ele(a) poderá ter este tipo de controle entre os Se esses jogos forem observados, mas não atrapalharem nenhuma
dois e três anos de idade. Adiantar ou atrasar esse momento pode atividade, não precisam ser interrompidos, pois fazem parte do de-
ser prejudicial ao desenvolvimento da criança. Importante, ainda, senvolvimento sexual da criança. O professor só deve estar atento
salientar que pais e educadores devem evitar relacionar questões para que não haja coação nessas brincadeiras”.
negativas (como sujo, feio, associar a castigos e chantagens), no de-
correr do treinamento do controle dos esfíncteres. Sexualidade e Escola: Um espaço de Intervenção13

4. Interesses e curiosidades sexuais Desde a antiguidade a sexualidade vem gerando polêmicas,


É a conhecida fase dos porquês. Além das perguntas, as crianças mexendo com a sensação e fantasia das pessoas, associada a coisas
querem ver e saber. Com tantas perguntas, é um bom momento feias, inconvenientes e impróprias. Apesar da revolução sexual, da
para ensinar às crianças os nomes corretos das partes de seu corpo. globalização e dos meios de comunicação terem contribuído para
Como parte de seu desenvolvimento a masturbação aparece uma modificação nas atitudes morais e nas questões ligadas ao sexo
como curiosidade natural da criança de seu corpo e suas sensações. e sexualidade, esse assunto ainda assim continua sendo um tabu.
É um jogo exploratório de sensações. Não tem a mesma conota- O estudo da sexualidade envolve o crescimento global do in-
ção da masturbação na adolescência e no adulto. Assim, é um bom divíduo, tanto intelectual, físico, afetivo-emocional e sexual pro-
momento para ensinar às crianças sobre a intimidade. O público e priamente dito. A maioria dos pais acham constrangedor conver-
o privado. Não precisa problematizar a situação, apenas orientar. A sar sobre sexo com seus filhos, ora pela educação recebida de seus
repressão é indesejada. pais, ora pela repressão ou por não saberem como abordar o tema.
Além de se tocarem, as crianças exploram também os outros. Assim, os filhos na maioria das vezes, ficam sem respostas para suas
É a fase da conhecida “brincadeira de médico”. Se a brincadeira for dúvidas, gerando conflitos ou acidentes inesperados por terem in-
entre crianças da mesma idade não há razão para se preocupar, é formações errôneas ao consultar variadas fontes impróprias.
conhecimento não abuso. A maior parte dos adolescentes passam seu tempo na escola
Nessa fase o pensamento é mágico e fantasioso, por isso devem onde começam a se sociabilizar, aflorando sua sexualidade devido
ser evitadas conversas como a da “cegonha” e da “sementinha”. As ao desenvolvimento corporal gerado pelos hormônios. A escola é o
respostas devem ser claras e objetivas o suficiente para satisfazer ambiente onde a interação com o mundo ao redor e com as pessoas
a curiosidade da criança. Ela quer saber do fato, a maldade está na que o cercam acontece. Depois do ambiente familiar é a escola que
cabeça do(a) adulto(a). Outro cuidado com as histórias fantasiosas complementa a educação dada pela família onde são abordados te-
é que elas podem gerar fantasias negativas, temores e culpas. Des- mas mais complexos que no dia-a-dia não são ensinados e aprendi-
necessário. dos, tendo esta uma imensa responsabilidade na formação afetiva
13 BERALDO, F. N.de M. Sexualidade e escola: um espaço de interven-
ção. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) vol.7 no.1 Campinas, 2003.

273
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

e emocional de seus alunos. E quanto ao assunto sexo e sexualida- Os Jovens e a Sexualidade14


de? Qual o papel da escola frente a esse tema? A escola não deve
nem vai tomar o lugar da família, mas cabe a ela possibilitar uma Para realizar uma prática adequada de Orientação Sexual com
aprendizagem correta, já que essa instituição visa o crescimento do jovens, é necessário que o profissional conheça o público beneficiá-
indivíduo como um todo. rio de sua ação, ou seja, de quem e com quem falamos na condição
A educação sexual acontece no seio familiar. É uma experiên- de educadores.
cia pessoal contida de valores e condutas transmitidos pelos pais
e por pessoas que o cercam desde bebê. Já a Orientação Sexual é Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei
dada pela escola onde são feitas discussões e reflexões a respeito 8.069, de 13 de julho de 1.990 - Art. 2º) “considera-se criança, [...],
do tema de uma maneira formal e sistematizada que constitui em a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela
uma proposta objetiva de intervenção por parte dos educadores. entre doze e dezoito anos de idade” (Brasil, 1990).
O que nos cabe é refletir acerca da importância da Orientação
Sexual na Escola para a construção da cidadania, de uma socieda- Muitos autores que se preocupam com a temática da infância
de livre de falso moralismo e mais feliz. O trabalho de Orientação e juventude afirmam que não é possível definir o período que com-
Sexual tem como objetivo principal as mudanças nos padrões de preende a infância e a adolescência apenas pela faixa etária. Quan-
comportamento, levando-se em conta três aspectos fundamentais: do podemos afirmar que uma criança deixou de sê-lo e passou a
a transmissão de informações de maneira verdadeira; a eliminação ser adolescente? Quais comportamentos são considerados infantis,
do preconceito e a atuação na área afetivo-emocional. Para se fazer juvenis e/ou adultos? Estes são questionamentos complexos.
um bom trabalho de Orientação Sexual dentro da escola é impor- Em todos os questionamentos que formulamos a respeito dos
tante dar atenção a alguns passos: seres humanos, devemos sempre conceber o homem enquanto
a) apresentar um projeto para a instituição com o objetivo do ser integral, biopsicossocial. Desta forma, precisamos considerar as
trabalho; dimensões biológica, psicológica e social das pessoas, compreen-
b) fazer uma reunião com os pais e professores para esclarecer dendo que estas não são separadas, mas integradas na existência
quaisquer dúvidas que possam surgir ao longo do trabalho e expli- humana.
car o papel de ambos junto à escola neste projeto; Em relação à dimensão biológica, percebemos que uma criança
c) observar a demanda da escola para que se atinja a expecta- começa a deixar de sê-lo quando ela vivencia o período do desen-
tiva desta; volvimento humano chamado de puberdade. Para esta discussão,
d) a partir das séries estabelecidas para o trabalho entrar em tomaremos como referência o trabalho de Gewandsznajder.
contato com elas para explicar como este será administrado; Na puberdade, o corpo do menino ou da menina passa por um
e) colher, por meio de “bilhetinhos sigilosos, ” dúvidas e curio- processo de transformação, deixando de ser um corpo infantil para
sidades de cada aluno garantindo-lhes total sigilo; se tornar um corpo adulto, ou seja, pronto para reprodução.
f) após levantar as dúvidas e curiosidades fazer uma estrutu- A faixa etária que corresponde a este período é variável. Em
ração do programa a ser cumprido em diferentes séries (conteúdo, geral, a puberdade ocorre nos garotos entre 11 e 13 anos e nas
horário, encontros, local), para uma maior eficácia; garotas entre 10 e 12 anos. É necessário saber que estas idades não
g) estabelecer um contrato (regras sugeridas pelo grupo); são fixas, podendo variar de pessoa para pessoa.
h) garantir a ética do trabalho tanto para os alunos como para Tanto em garotos quanto em garotas ocorre o chamado “esti-
os professores; rão”, ou seja, um crescimento do corpo acentuado em um curto pe-
i) garantir a liberdade de opinião e o respeito do grupo pelas ríodo de tempo. O “estirão” costuma iniciar mais cedo nas meninas
dúvidas de seus colegas, sem monopólio da verdade de ambas as que nos meninos, razão pela qual as meninas por volta dos 12 anos
partes. de idade são frequentemente mais altas que os meninos. Também
tanto em garotos quanto em garotas ocorre o aparecimento de pê-
O primeiro conteúdo indispensável neste trabalho é a dife- los pubianos e axilares. A pele se torna mais oleosa e o corpo, atra-
renciação de sexo e sexualidade e também de Educação Sexual e vés do suor, passa a ter um cheiro característico de pessoa adulta,
Orientação Sexual, que são muito confundidos na maioria das ve- diferenciando-se da criança.
zes. O educador de Orientação Sexual deve ser uma pessoa aberta, Nos garotos ocorre o aparecimento da barba, e a laringe se
livre de mitos e preconceitos referentes à sexualidade para melhor alarga provocando a tendência da voz se tornar mais grave. Tam-
ministrar a turma sem causar problemas com a instituição, pais, alu- bém ocorre o aumento da massa muscular, com consequente am-
nos e professores, podendo abordar os assuntos através de aulas pliação da força física, e o aumento do pênis e testículos.
expositivas, dinâmica de grupo, folhetos explicativos, filmes e ou- Nas garotas ocorre o aumento dos seios, quadris, nádegas e
tros materiais referentes ao tema. O trabalho não envolve nota ou coxas, dando ao corpo o aspecto de mulher em fase adulta. A partir
reprovação. da puberdade a garota passa a menstruar, característica que sinaliza
Para finalizar seguem dois lembretes essenciais: é necessário que seu organismo está pronto para gerar filhos.
ressaltar a importância dos pais nesse processo para que estes não É preciso deixar claro que puberdade não é sinônimo de
se acomodem, julgando a escola responsável pelo processo da edu- adolescência. Puberdade compreende as transformações corporais
cação sexual de seus filhos; não cabe ao professor de Orientação que tornam o corpo humano adequado para a reprodução,
Sexual virar conselheiro ou confidente dos alunos. Deve, se neces- deixando de ser um corpo infantil para tornar-se um corpo adulto. A
sário, encaminhar para um profissional especializado.
14 BRANCO, M. A. O.; PINTO, M. J. C.; VIANNA, a. M. S. A. Orientação

Sexual com Jovens: Construindo um Exercício Responsável da Sexualidade. Sim-


pósio Internacional de Educação Sexual da UEM, 2009.

274
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

adolescência compreende um período mais extenso e significativo Orientação Sexual X Educação Sexual
que a puberdade, sendo esta etapa constituinte daquela. Os autores que se preocupam atualmente com a temática da
O termo adolescência vem do termo latino adolescere, que Orientação Sexual formulam questionamentos a respeito do termo
significa “crescer, engrossar, tornar maior”. Em relação à dimensão que deve ser utilizado para definir tais práticas. Quando falamos
psicológica, segundo Canosa Gonçalves et. al. e Tavares, as crianças em Orientação Sexual e em Educação Sexual, utilizamos a mesma
que se tornam adolescentes também passam por transformações. definição para as duas expressões?
A principal delas é em relação à própria identidade. Neste momen- De acordo com Ribeiro falamos em Educação Sexual quando
to, o adolescente necessita se reconhecer num corpo transforma- nos referimos aos “processos culturais contínuos [...] que direcio-
do, que não é mais o corpo infantil que ele tinha, e que agora é um nam os indivíduos para diferentes atitudes e comportamentos li-
corpo adulto, visivelmente modificado. gados à manifestação de sua sexualidade”. Nesta definição, pode-
Outro passo importante é a consolidação de si próprio enquan- mos pensar que a educação sexual tem seu início no nascimento de
to pessoa “independente”, sob o ponto de vista da determinação cada indivíduo, sendo que o processo educacional acontece através
de suas escolhas pessoais e da responsabilidade que elas trazem. É da relação deste indivíduo com seu meio social. Então, as “atitu-
neste momento que pode haver uma divergência, e até um ques- des e comportamentos ligados à manifestação da sexualidade” são
tionamento, com as regras determinadas pela família e pela socie- construídos por cada pessoa em contato com a sociedade, ou seja,
dade. amigos, grupos religiosos e/ou de convivência, meios de comuni-
Na adolescência é comum ocorrer uma identificação muito in- cação e, principalmente, a família. Portanto, a sociedade pratica
tensa do jovem com seu grupo de “iguais”, em geral outros jovens. ações educativas em sexualidade em relação aos indivíduos que a
Não é raro este grupo (galera, turma, etc.) compartilhar um deter- constituem. Porém, em grande parte das vezes, estas ações se tor-
minado modo de conversar, de se vestir, enfim, de se comportar. nam “deseducativas”, na medida em que reproduzem e perpetuam
Esta identificação com o grupo é importante na construção da pró- tabus, desinformações e atitudes repressivas em relação à sexuali-
pria identidade (pessoal, sexual, social) do adolescente. dade humana.
Em geral, nesta fase do desenvolvimento ocorrem as primei- Para Ribeiro, a Orientação Sexual pressupõe uma intervenção
ras manifestações da sexualidade adulta, ou seja, o primeiro beijo, institucionalizada, sistematizada e realizada por profissionais es-
o “ficar”, o namoro, as primeiras experiências eróticas. Trata-se de pecialmente preparados para exercer esta função. Diferencia-se,
uma busca pelo outro para um relacionamento afetivo-sexual. “A portanto, da Educação Sexual, que acontece durante toda a vida
adolescência é uma fase de descobertas, de desafios e a sexualida- das pessoas, e que diz respeito ao processo educacional referente
de humana talvez seja, para a maioria dos jovens, o aspecto mais às atitudes em relação à sexualidade. Desta forma, podemos pen-
interessante desta jornada”. sar a Orientação Sexual enquanto prática interventiva na vida das
Em relação à dimensão social, precisamos considerar que a pessoas, prática que intervém na Educação Sexual que todas elas
adolescência enquanto processo de desenvolvimento humano não receberam em contato com a sociedade em que vivem.
é universal, ou seja, não é igual para todos os jovens. Cada um vi-
venciará a sua adolescência de acordo com suas condições de vida, Citando Suplicy et. al. “Orientação Sexual é um processo de in-
o seu lugar de moradia, a dinâmica de sua família de origem, as tervenção sistemática na área de sexualidade, realizado principal-
características de acesso à escola ou aos serviços de saúde, as mo- mente nas escolas e envolve o desenvolvimento sexual compreen-
dalidades de lazer a que tem acesso, dentre outros condicionantes. dido como: saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade,
Todas as transformações vivenciadas pelo jovem são construídas imagem corporal, autoestima e relações de gênero. Enfoca as di-
mediante as relações sociais que eles estabelecem. Não existe um mensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e espirituais da se-
“padrão”. Cada indivíduo, a partir de sua realidade social, vivencia- xualidade, através do desenvolvimento das áreas cognitiva, afetiva
rá sua juventude de forma particular. e comportamental, incluindo as habilidades para a comunicação e a
Não devemos pensar a juventude como crise, mas como um tomada responsável de decisões”.
processo do ciclo vital do jovem. Isto quer dizer que devemos com-
preender o jovem não enquanto um “problema” ou um “fardo”. Percebemos a concordância de Suplicy et. al. com Ribeiro em
Deve ser compreendido sempre a partir da sua pessoa em condição afirmar que a Orientação Sexual é uma prática interventiva siste-
peculiar de desenvolvimento inserida num determinado contexto mática na área da sexualidade. Suplicy et. al., na definição cita-
sociocultural. da, enfatiza que a Orientação Sexual deve ser pensada e executada
Outro fator importante a ser abordado é o prolongamento da a partir da consideração do orientando enquanto ser integral, ou
juventude. Atualmente vivenciamos uma clara dificuldade em de- seja, devem ser consideradas suas dimensões fisiológicas, sociológi-
limitar o término deste período. Não é raro encontrarmos pessoas cas, psicológicas e espirituais no exercício de sua sexualidade. Além
que pretendem terminar seus estudos, incluindo até cursos de mes- disso, a Orientação Sexual deve contemplar diversos aspectos do
trado e doutorado, antes de decidirem morar sozinhos ou casaram- desenvolvimento sexual dos indivíduos, ou seja, saúde reprodutiva,
-se, e então deixar de morar com seus pais. relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, autoestima
Partindo da premissa de todas estas transformações contem- e relações de gênero. Compreende-se o ser humano enquanto ser
porâneas, é interessante tomarmos a definição do Conselho Nacio- sexuado inserido num meio social, que continuamente se relaciona
nal da Juventude no que diz respeito a estender até os 29 anos a com outros seres humanos. Desta forma, amplia-se o enfoque da
faixa etária das pessoas que são consideradas jovens. Orientação Sexual no Brasil que, no início e meados do século XX
São estes jovens que constituem o público beneficiário da prá- priorizava a dimensão biológica da sexualidade. No final do século
tica de Orientação Sexual, no enfoque deste trabalho. XX e nos dias atuais, deve-se compreender a sexualidade enquan-
to manifestação humana, com desdobramentos além da mera re-
produção e da possibilidade de contágio de doenças sexualmente

275
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

transmissíveis. Tais aspectos não devem ser descartados, mas deve- Entre as décadas de 1920 e 1940, mesma época em que foi pu-
-se somar a eles outros aspectos como o prazer, as relações afetivas blicado o manual citado por Chauí, foram publicados vários outros
e os papéis sexuais na (re)definição de gênero. livros de orientação sexual cientificamente fundamentados, escri-
Neste contexto, Santos e Bruns apontam que um dos objetivos tos por médicos, professores e até sacerdotes. Assim foi criada a
da Orientação Sexual é levar o indivíduo a valorizar o prazer, o res- sexologia enquanto campo oficial do saber médico.
peito mútuo, possibilitando-lhe uma vivência mais íntegra e feliz. Concomitante à consolidação do conhecimento científico da
época em relação à sexualidade, a Igreja Católica imprime severa
Breve histórico da Orientação Sexual no Brasil repressão às práticas sexuais da população brasileira. Desta forma,
a década de 50 é considerada pobre no sentido de não contar com
No Brasil, a sexualidade tem sido um aspecto polêmico do coti- nenhuma iniciativa no campo da Orientação Sexual.
diano das pessoas, desde a época da Colônia do século XVI. Na década de 60 surgem as primeiras experiências de Orienta-
O homem brasileiro branco, nos primeiros anos da coloniza- ção Sexual nas escolas dos estados de Minas Gerais (Belo Horizonte,
ção, mantinha relações sexuais com várias índias, tendo com elas em 1963, no Grupo Escolar Barão do Rio Branco), Rio de Janeiro
muitos filhos, caracterizando um comportamento sexual bastante (Rio de Janeiro, em 1964, no Colégio Pedro Alcântara; em 1968, nos
promíscuo. colégios Infante Dom Henrique, Orlando Rouças, André Maurois e
Com o advento da escravatura, os jovens homens filhos dos se- José Bonifácio) e São Paulo (São Paulo, de 1963 a 1968, no Colégio
nhores de engenho eram incentivados a se relacionar sexualmente de Aplicação Fidelino Figueiredo; de 1961 a 1969, nos Ginásios Vo-
com as escravas negras, para provar que eram “machos”. As mulhe- cacionais; de 1966 a 1969, no Ginásio Estadual Pluricurricular Expe-
res brancas eram dominadas e submetidas às regras de seus pais, rimental). Estas experiências são realizadas com base na ênfase ao
inicialmente, e de seus maridos, após o casamento. Em geral, ca- aspecto biológico da sexualidade humana, tal qual era o tratamento
savam ainda adolescentes com homens bem mais velhos que elas. dado a esta questão nos livros que possibilitaram o surgimento da
Era-lhes exigido um comportamento acanhado e humilde frente à sexologia enquanto área do conhecimento da medicina. Além disso,
sociedade. estas experiências foram fortemente carregadas com as marcas da
Tal cenário brasileiro se mantém praticamente o mesmo du- repressão das manifestações da sexualidade.
rante os séculos XVII, XVIII e XIX. Neste período da História do Brasil Na época das primeiras experiências em Orientação Sexual
não há registros conhecidos de Orientação Sexual enquanto inter- nas escolas brasileiras, o país vivia seu período histórico e político
venção sistematizada. chamado de ditadura militar. Em 1964, a população assiste à che-
A preocupação com a Orientação Sexual no Brasil, enquanto gada das forças armadas ao poder da República Federativa do Bra-
tema científico e pedagógico, data do início do século XX. Neste mo- sil, através da imposição do Golpe de Estado. A partir daí o regime
mento da história brasileira registra-se a organização dos primeiros militar reprime não só as manifestações políticas, mas também as
espaços urbanos, que originaram as cidades brasileiras. Nestes lo- manifestações sexuais e as implicações nos padrões de comporta-
cais a comunidade científica brasileira se organizava sofrendo forte mento delas decorrentes.
influência europeia. Em 1968, a deputada federal do Rio de Janeiro Júlia Steinbruk
Barroso e Bruschini afirmam que, no início do século XX, esta apresentou um projeto de lei que previa a introdução obrigatória
influência europeia manifesta-se no Brasil através de algumas cor- da Educação Sexual nas escolas brasileiras. Tal projeto de lei não foi
rentes médicas e higienistas de sucesso na Europa. Tais correntes transformado em legislação porque o então Ministério da Educação
pregavam a necessidade de uma Educação Sexual eficaz no comba- e Cultura, através de sua Comissão Moral e Civismo, rejeitou o pro-
te à masturbação e às doenças venéreas (termo utilizado na época jeto, demonstrando o severo receio por parte dos gestores da edu-
para referir-se às infecções sexualmente transmissíveis - IST´s) e que cação brasileira da época em relação ao tratamento de questões
preparasse a mulher para desempenhar adequadamente seu “no- sexuais com os estudantes.
bre papel de esposa e de mãe”. Notamos que, logo no início de suas Na década de 70, cresce a censura do governo militar e há um
atividades no Brasil, a Orientação Sexual carrega uma característi- quase desaparecimento de projetos de Orientação Sexual nas es-
ca de incitação do medo aos jovens (combate à masturbação e às colas brasileiras. Apenas em 1978, com a abertura política trazida
doenças sexualmente transmissíveis - IST´s), além de ser impregna- pelo presidente Ernesto Geisel, a Prefeitura Municipal de São Paulo
da pela chamada ideologia de gênero machista (preparar a mulher implantou projetos de Orientação Sexual em três escolas, os quais,
para desempenhar adequadamente seu papel de esposa e mãe). posteriormente, foram ampliados para muitas escolas municipais,
Neste momento, emerge a produção de teses, livros e manuais envolvendo orientadores educacionais e professores de Ciências e
que tratam da Orientação Sexual, todos baseados no modelo mé- Biologia. Em 1979, a rede pública estadual paulista iniciou um tra-
dico higienista vigente. Referenciando este período, Chauí cita uma balho de informação aos estudantes sobre os aspectos biológicos
obra datada de 1938, de autoria de Oswaldo Brandão da Silva, in- da reprodução, por intermédio da disciplina de Ciências e Progra-
titulada Iniciação Sexual-Educacional. Este livro, segundo consta, mas de Saúde da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
tinha um conteúdo destinado somente aos “meninos de valor”. Ao fim da década de 70 e durante a década de 80, surgem no-
Segundo esta autora, o autor da obra não explica o significado do vas ações no plano da Orientação Sexual, como o aparecimento de
termo “valor”, mas fica claro que as meninas estavam proibidas de serviços telefônicos, programas de rádio e de televisão, enciclopé-
ler tal obra, pois deveriam manter-se inocentes e ser iniciadas na dias e fascículos, congressos e encontros de professores. Proliferam
vida sexual apenas por seus maridos. Interessante ressaltar que, do as iniciativas na rede particular de ensino. Nasce nessa época a
grupo de meninas excluídas do acesso ao conteúdo da obra, não SBRASH - Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.
fazem parte as prostitutas. Estas eram consideradas uma tentação De 1989 a 1992, na cidade de São Paulo, foi desenvolvido um
para os meninos enquanto aquelas eram chamadas de meninas de abrangente projeto de Orientação Sexual nas escolas municipais,
“boa família”. com a participação do renomado GTPOS (Grupo de Trabalho e Pes-

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

quisa em Orientação Sexual). Este projeto atingiu 30.000 alunos e modo, a preocupação advinda dos pais e educadores quanto ao nú-
foram capacitados 1.105 professores para oferecer ações de orien- mero de gestações na adolescência pode ser um ponto de partida
tação sexual nas escolas. para propiciar espaços abertos de discussão, onde o jovem possa
Nota-se que, desde as primeiras experiências de projetos de refletir sobre sua própria sexualidade, no sentido de consciente-
Orientação Sexual na década de 1960, não existiram ações conti- mente poder efetuar escolhas para sua vida, que incluem ter ou
nuadas, sendo que estes projetos historicamente ficaram atrelados não filhos. Para tal escolha, o jovem, que num futuro próximo se
às vontades político-partidárias de prefeitos ou governadores. tornará um adulto, deve ter conhecimento e autonomia sobre o uso
Ribeiro corrobora dizendo que, somente com a aprovação da de métodos contraceptivos.
LDB - Lei de Diretrizes e Bases em 1996 e o estabelecimento dos Outra preocupação de pais e educadores que mobiliza a exe-
Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997 como linhas a serem cução de programas de Orientação Sexual são as doenças sexual-
seguidas para se concretizar a meta da educação para o exercício da mente transmissíveis uma vez que, ao iniciar a vida sexual, muitos
cidadania, a Orientação Sexual teve oficialmente reconhecida sua jovens, ainda que possuam conhecimento de prevenção, não utili-
necessidade e importância enquanto ação educativa escolar. zam preservativo.
Infelizmente a maioria dos programas brasileiros de Orientação
Os programas de Orientação Sexual Sexual não é contínua. Caracterizam-se muitas vezes pelo ofereci-
mento de palestras pontuais sobre sexualidade. Este tipo de progra-
Podemos constatar na maioria dos programas de Orientação ma não atinge os objetivos de propiciar elementos para uma cons-
Sexual executados no Brasil, ainda nos dias atuais, uma tendência trução adequada do exercício da sexualidade dos jovens. Para trazer
de mostrar apenas os problemas e possíveis más consequências da efetivos benefícios à juventude, o processo de educação precisa de
sexualidade. Em geral, no conteúdo destes programas são enfati- continuidade, de vínculo, de tempo, de reconhecimento.
zadas (quando não são exclusivas) as IST - Infecções Sexualmente
Transmissíveis e as gravidezes precoces na adolescência, com ma- Orientação Sexual como Tema Transversal
ternidade e/ou paternidade indesejadas. Este conteúdo não sen-
sibiliza os jovens para a discussão construtiva do tema sexualidade O governo federal brasileiro, através do Ministério da Educação
humana. Eles costumam não se sentir à vontade para receber uma - MEC, em seus Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), estabe-
adequada Orientação Sexual, pois identificam claramente a repres- lece a Orientação Sexual no Ensino Fundamental enquanto tema
são sexual que experimentam em seu meio social, aqui também re- transversal, isto é, um assunto a ser trabalhado em todas as disci-
produzida pelos profissionais orientadores sexuais. plinas escolares, por quaisquer professores que se sintam mobiliza-
Em contato com um conteúdo de Orientação Sexual que prio- dos, sempre que houver espaço na grade curricular ou em horários
riza os problemas advindos de uma vivência inadequada da se- extraclasses.
xualidade e não os aspectos afetivos, prazerosos, e de respeito às Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, “propõe-
relações humanas, os jovens costumam não perceber uma relação -se que a Orientação Sexual oferecida pela escola aborde com as
coerente entre o conteúdo abordado e suas próprias experiências crianças e os jovens as repercussões das mensagens transmitidas
reais concretas. Comenta-se que o sexo traz problemas, mas a pela mídia, pela família e pelas demais instituições da sociedade.
maioria dos jovens percebe suas experiências sexuais como praze- Trata-se de preencher lacunas nas informações que a criança e o
rosas, surgindo aí um paradoxo. adolescente já possuem e, principalmente, criar a possibilidade de
Desta forma, urge a necessidade da discussão de conteúdos formar opinião a respeito do que lhes é ou foi apresentado. A esco-
adequados à realidade dos jovens para que eles possam realmente la, ao propiciar informações atualizadas do ponto de vista científico
tomar atitudes responsáveis na vivência de suas sexualidades. As- e ao explicitar e debater os diversos valores associados à sexualida-
sim, um programa efetivo de Orientação Sexual deve reconhecer o de e aos comportamentos sexuais existentes na sociedade, possibi-
exercício prazeroso da sexualidade, sem deixar de contemplar as lita ao aluno desenvolver atitudes coerentes com os valores que ele
medidas de proteção à saúde e os métodos contraceptivos para próprio eleger como seus”.
tornar possível a emergência de maternidades e paternidades res-
ponsáveis, no momento de escolha consciente de cada pessoa que Percebemos o complexo dever atribuído à Orientação Sexual
deseje ter filhos. no âmbito escolar na medida em que é sua função a reflexão con-
Nos dias atuais, percebe-se a crescente preocupação de alguns tínua sobre as informações constantes recebidas pelos jovens em
pais e educadores diante do número de gestações na adolescência. suas relações sociais. Daí decorre a necessidade de que os pro-
Segundo o Ministério da Saúde, enquanto a taxa de fecundidade fissionais que executam programas de Orientação Sexual tenham
de mulheres adultas tem caído nas últimas quatro décadas, entre conhecimentos científicos suficientes e adequados para abordar
as mulheres jovens existe uma relação inversamente proporcional. as demandas cotidianas da juventude em relação à sexualidade. É
“Desde os anos 90, a taxa de fecundidade entre adolescentes au- preciso que, pela Orientação Sexual, os jovens possam formar suas
mentou 26%. opiniões a respeito do tema para propiciar um pleno exercício de
Tal preocupação mobiliza e estimula o avanço das ações em suas sexualidades.
orientação sexual, o que pode ser intensamente benéfico para os Apesar da clara proposição dos PCN de conceber a Orientação
jovens, visto que eles poderão ter maior acesso a programas desta Sexual no âmbito escolar enquanto tema transversal extremamen-
natureza. No entanto, cabe questionar se pais e educadores ain- te importante para a formação de valores conscientes pelos jovens
da mantêm seu foco sob uma concepção repressiva da sexualida- em relação à sexualidade, muitas dificuldades têm permanecido no
de humana, desejando que uma Orientação Sexual possa produzir exercício diário desta prática educacional. Como sexo é um assunto
uma atitude sexualmente abstinente dos jovens brasileiros, desejo intensamente repleto de repressões em nossa sociedade ocidental,
que se mostra absolutamente inalcançável e indesejável. De outro muitos educadores não manifestam interesse sobre o tema, deixan-

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

do de buscar formação adequada para o trabalho de Orientação preferências. Diferenciar-se pessoalmente de quem orienta é im-
Sexual com a juventude. prescindível para que o educador sexual possa propiciar condições
Além dos profissionais diretamente em contato com os jovens, para reflexão ao jovem para que este possa realizar suas próprias
há uma grande parcela de educadores que são dirigentes de esta- escolhas. Segundo Canosa Gonçalves um bom educador sexual é
belecimentos educacionais e, reproduzem as mesmas repressões “aquele que convive com os jovens no dia-a-dia, que os conhece
sociais em relação à sexualidade, não contribuindo positivamente e é reconhecido por eles, e que tem em sua prática profissional os
para a execução de bons programas de Orientação Sexual, uma vez pressupostos da educação”.
que não acreditam que este tema seja importante para a comunida- Desafiante para o trabalho do educador sexual com jovens é
de estudantil ou acreditam que falar sobre sexualidade com jovens utilizar métodos e técnicas que prendam a atenção deste público,
estudantes pode induzi-los à prática precoce de relações sexuais. que provoquem reflexão e que sejam capazes de fazer com que o
A Orientação Sexual na escola ainda tem um extenso caminho jovem se comprometa consigo próprio e com suas parcerias.
a ser trilhado para que a sexualidade, presente na vida de todas É imprescindível que o educador sexual possua conhecimentos
as pessoas, possa ser tratada (e aprendida) pelos profissionais da científicos adequados sobre desenvolvimento humano, constituição
educação e seus respectivos educandos sem os massacrantes e si- dos órgãos sexuais, saúde reprodutiva, métodos de prevenção às
lenciadores tabus e com respeito e propriedade, para inibir práticas IST´s e/ou contraceptivos, relacionamentos interpessoais e relações
inadequadas e produzir práticas saudáveis do exercício da sexuali- de gênero. Não é necessário que o profissional detenha estes
dade. conhecimentos em nível de especialista em sexualidade humana,
mas deve continuar a buscar atualizar tais saberes, afim de oferecer
O Educador/Orientador Sexual uma prática de qualidade em relação à Orientação Sexual.
Nesta realidade, o desafio proposto ao orientador sexual é que,
Retomando a discussão sobre a definição dos termos “educa- através de seu trabalho, possa propiciar condições para que os jo-
ção sexual” e “orientação sexual” presente no item “Orientação Se- vens reflitam a respeito de suas sexualidades e possam exercê-las
xual X Educação Sexual” deste trabalho, encontramos com maior de maneira saudável. Segundo Vitiello educar é dar ao educando
frequência na literatura especializada o termo “educador sexual” condições e meios para que cresça interiormente.
referindo-se àquele profissional que exerce a prática educacional
de Orientação Sexual, enquanto prática institucionalizada e siste- Mas afinal o que é diversidade sexual de gênero no ambiente
matizada. Desta forma, neste momento, utilizaremos o termo “edu- escolar?
cador sexual” para fazermos referência a este profissional especiali-
zado e não aos membros da família e demais relações interpessoais Gênero e Sexualidade: Diálogos e Conflitos
dos jovens, que contribuem para a sua educação em um sentido
mais amplo, conforme Vitiello. Marcas epistemológicas
Segundo Canosa Gonçalves, o desenvolvimento psicossexual é O modo de compreender a diferença evoluiu no sentido de
um processo único e pessoal, que sofre transformações ao longo do pensa-la junto com o seu duplo, seu contrário, seu avesso, ou seja,
processo por diversos aspectos do comportamento sexual humano ela é sempre relacional e dificilmente bipolarizada. Esse modo de
sendo eles: constituição biológica do indivíduo (hereditariedade, compreensão aguça a sensibilidade humana e sua condição de ex-
níveis hormonais), relações familiares, padrão econômico, caracte- perimentar, de se (auto) inventar.
rísticas culturais, adoção da fé, entre outros. A relevância do debate crítico ancorado no domínio discursivo
Portanto, o educador sexual, ao realizar sua prática, está inse- da heterossexualidade que, pretensiosamente hegemônica e uni-
rido neste complexo contexto do comportamento humano e deve ficada em um modo de ser, desconsidera outras formas que não
intervir nesta realidade. Os jovens com os quais o educador sexual atendem às suas práticas discursivas. Pensamos que essa situação
trabalhará trazem em suas histórias de vida diversas realidades, va- se reflete diretamente nas práticas curriculares, prejudicando o en-
riadas construções biopsicossociais em um mesmo grupo de jovens tendimento de diversas relações sociais e culturais presentes na es-
orientandos. Cabe ao educador sexual ter capacidade para perce- cola, e mais amplamente, na sociedade. Estamos entendendo como
ber tais diferenças e pautar suas ações de maneira a privilegiar a currículos as ações escolares, culturais e tecnológicas (arquitetura,
diversidade, num contexto de respeito às escolhas pessoais de cada livros didáticos, vestimentas, músicas, conteúdos e dizeres cientí-
jovem. Ao educador sexual é requerida abertura intelectual, moral ficos, meios midiáticos e outros) que, significadas na cultura, ensi-
e afetiva para tornar possível a realização da Orientação Sexual com nam e regulam o corpo, produzindo subjetividades e arquitetando
jovens tão diversos. formas e configurações de viver na sociedade.

A Orientação Sexual deve ser uma prática ofertada a todos os Os equívocos


jovens, mas não uma prática arbitrária e unidimensional, que re- Recorda-se que, no Brasil, a homossexualidade deixou de se
produz os preconceitos repressivos de nossa sociedade. Assim, o configurar como doenças nos instrumentos médicos (mais precisa-
educador sexual deve ser flexível em relação às diversas orienta- mente como desvio mental e transtorno sexual), em fevereiro de
ções afetivo-sexuais, às religiosidades, enfim, diversas concepções 1985. Essa alteração foi fruto de uma intensa campanha, liderada
construídas sobre sexualidade na história pessoal de cada jovem. pelo antropólogo Luiz Mott, junto com o Conselho Federal de Medi-
Orientação Sexual “se destina à pessoa humana, com a prerrogativa cina (CFM) que, por resolução, retirou a homossexualidade da lista
de igualdade entre os seres humanos, em primeiro lugar”. de doença. Sendo importante lembrar que, já em 1973, a Ameri-
O educador sexual deve apresentar adequação sexual, isto é, can Psychiatric Association, afirmara que a homossexualidade não
reconhecer-se enquanto pessoa sexuada, com suas preferências tinha ligação alguma com qualquer tipo de patologia e propusera a
e limites, e não influenciar as decisões dos jovens a partir destas sua retirada do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Mentais (DSM-IV). Já a Organização Mundial de Saúde (OMS), so- vido à não aceitação do “outro”, a quem se atribui dessemelhança
mente no dia 17 de maio de 1990, reuniu-se em Assembleia Geral e desigualdade, potencializando os efeitos destrutivos da xenofobia
e retirou a homossexualidade de sua lista de doenças mentais, de- que, em todas as suas manifestações, incluindo as homofóbicas,
clarando que ela não constituía um distúrbio, uma doença ou per- conduz e justifica a aversão, o domínio ou a eliminação dos “estra-
versão. Assim, o que antes tinha sido classificado, estabelecido e nhos”, que ameaçam e incomodam o exercício arbitrário do poder.
difundido como desvio e anormalidade, a partir dessa assembleia,
seria considerado normal. Diversidade e Educação: Apontamentos Sobre Sexualidade e
Se aceitarmos a sexualidade assim como a experiência estão Gênero na Escola
condicionadas pela necessidade humana de se construir nas inte-
rações sociais, culturais e históricas, aceitaremos também que não Desde as décadas de 1960 e 1970, expressivas mudanças so-
há uma única sexualidade. A ausência de liberdade impede o mo- cioculturais e históricas ocorreram, no que se refere às perspectivas
vimento de busca pela completude, na qual a sexualidade, como das relações de gênero e sexualidade. Essas mudanças se acentua-
dimensão da humanidade, se constitui. ram de modo significativo, a partir, não apenas da atuação de mo-
Existe um nexo entre a sexualidade, a vida e a curiosidade pelo vimentos sociais, mas também da emergência da discussão da AIDS
saber. Esse movimento infinito em busca de completude e em bus- nos anos 80.
ca de conhecimento é fator que constitui o ser humano e seu desejo Novas maneiras de entender e discutir as questões foram sen-
de liberdade. do consideradas, com desdobramentos na esfera social e política
No entanto, ainda que pareça contraditório, não confiamos (por meio de Organizações Não Governamentais/ONGs, de movi-
no desejo como princípio, condição e direito de liberdade. Não mentos sociais e de políticas públicas) e, na esfera acadêmica, com
cremos, em absoluto, que haja desejo anterior a um conjunto de a efetivação de estudos em vários campos de conhecimento, que
normas ou acordos sociais que o faça livre. Nós o pensamos como têm direcionado seu foco para a sexualidade e as relações de gêne-
criado singularmente, mas em redes de relações. ro, como fenômenos a serem conhecidos de modo mais fundamen-
Sem dúvidas, a compreensão da sexualidade poderá contribuir, tado, expandindo sua discussão para outros aspectos, como os das
de modo significativo, para novas possibilidades de construção de identidades e seus fundamentos históricos e culturais.
conhecimentos e caminhos de busca do saber. Não se trata, portan- Sexo e sexualidade são frequentemente tomados como sinôni-
to, de aprisioná-la nos discursos sobre o ato sexual, mas de aprovei- mos; todavia, sexo admite uma compreensão referida ao aspecto
tá-la em seu potencial epistemológico. Essa análise é especialmente natural, biológico, da distinção física entre o homem e a mulher. No
oportuna e necessária à escola. senso comum, o sentido de sexo remete ao ato sexual. Já a sexua-
lidade refere-se à esfera mais ampla, dos sentimentos, das intera-
A Discussão na Escola ções entre as pessoas.
Na escola, as atitudes de hostilidade às identidades sexuais dis- Recorda-se e reafirma-se, portanto, que a sexualidade, como
sidentes são capazes de gerar inúmeras situações de violências ho- construção social, tem absorvido, historicamente, em seus signifi-
mofóbicas. Algumas, que não se encontram na esfera dos números cados, elementos das relações de gênero, frequentemente subme-
e dados quantitativos, são vivenciadas no silêncio e ocultadas na tidas a prescrições de como homens e mulheres devem vivenciá-
invisibilidade. -las. Contudo, apesar da sexualidade estar imbricada, implícita ou
A discriminação afirma o “direito” dos que discriminam e a su- explicitamente às relações de gênero, essas não são consideradas
balternidade dos que são discriminados. Nesse sentido, ela é ob- sinônimas16. A vivência da sexualidade não é determinada por nor-
servada nos espaços-tempos escolares. As identidades vinculadas mas padronizadas às quais homens e mulheres devem se adaptar.
às expectativas de gênero e/ou sexo biológico estão no interior das Esse é um dos princípios que motivam e sustentam significados,
hierarquizações e classificações sociais, tanto quanto nos currículos mas amplos da sexualidade e promovem a sua problematização,
e, mais amplamente, nas ações e relações do cotidiano escolar. que incorpora aportes como os que são revistos nas relações de
A sexualidade, infelizmente, é algo temido e capaz de gerar gênero.
tantos discursos na sociedade, na ciência e na cultura. Sua estreita
relação com o conhecimento amedronta os que se nutrem da arro- Problematização das Relações de Gênero: Revisão de Dados
gância, porque fragiliza suas verdades e certezas. Históricos e Conceituais
Foucault15 nos ajuda a observar que é preciso fortalecer, apro- O entendimento das relações de gênero implica a noção de
fundar e prosseguir contra a dicotomia e lógica binária, até que as que, no decorrer da vida, por intermédio das mais díspares insti-
oposições binárias deixem de ter sentido e se consolidem convivên- tuições e práticas sociais, os sujeitos se constituem como homens
cias solidárias, em contextos sem discriminações e violências. Como e mulheres, em uma ação que não é unidimensional, coerente ou
estratégia para fazer difuso o antigo jogo de poder que se instala na congruente e que também sempre estará inacabada ou incompleta.
relação entre opressor e oprimido, a proposta foucaultiana é a “pro- Sendo assim, partindo desse pressuposto de incompletude, en-
liferação” de saberes sobre os seres humanos e as relações e de contra-se fundamento para realçar a noção de gênero na educação,
poder que os oprimem, de tal modo que o modelo jurídico de poder já que essa disposição teórica expande socialmente a própria ideia
como opressão e regulação deixe de ser hegemônico. Talvez, desse de educação, podendo-se entender que educar envolve um conjun-
significado de “proliferação” de saberes, possamos retirar as bases to de forçasse de processos, em cuja dinâmica os sujeitos aprendem
para “proliferar” inúmeras e ilimitadas formas de compreender os a se aceitar como homens e mulheres, na esfera das sociedades e
seres humanos, sem as violências, já tantas vezes vivenciadas, e dos grupos que estão inseridos. Essa é mais uma premissa que con-
com tantas exterminações em massa, como na Segunda Guerra, de- tribui para a desconstrução de estereótipos que limitam e reduzem
15 FOUCAULT, M. História da sexualidade - A vontade de saber. Rio de 16 LOURO, G.L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
Janeiro: Graal, 1988. -estruturalista. 2 ed., Petrópolis: Vozes, 1998.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

a compreensão social, culturalmente contextualizada, de gênero. Corpo: inclui além das potencialidades biológicas, todas as di-
mensões psicológicas, sociais e culturais do aprendizado pelo qual
Identidades Sexuais: Revisão de Perspectivas de Desconstru- as pessoas desenvolvem a percepção da própria vivência. Não existe
ção de Estereótipos um corpo humano universal - mas sim corpos marcados por expe-
É oportuno indagar se é plausível que a manifestação riências específicas de classe, de etnia, de raça, de gênero, de idade.
aparente de identidades sexuais não normativas na escola Visto que os corpos são significados e alterados pelas diferentes cul-
colabore para desajustar dispositivo de rejeição ou, ao contrário, turas, pelos processos morais, pelos hábitos, pelas distintas opções
para realçá-lo, uma vez que a construção da heterossexualidade e possibilidades de desejo, além das diversas formas de intervenção
e da homossexualidade tem configurado por meio de oposição e produção tecnológica. Por isso, o corpo é uma produção histórica.
recíproca. No mesmo sentido, é apropriado indagar sobre o alcance Foucault ao analisar instituições como escolas, prisões, hospi-
político de transformação para uma escolarização radicalmente tais psiquiátricos, fábricas, fala das maneiras como as diferentes dis-
não heterossexista e excludente, com base na visibilidade dessas ciplinas controlam, domesticam, normalizam os corpos. Sua preo-
identidades. cupação é com as práticas sociais, sendo que é no corpo que se dá
Dessa forma, enfatiza-se a relevância da efetivação de pesqui- o controle da sociedade sobre os indivíduos. Os corpos apresentam
sas sobre a presença de sexualidades não normativas no espaço as marcas do processo de passar ou não pela escola como o auto
escolar como forma de ampliar vetores de análises dos processos disciplinamento, o investimento continuado e autônomo do sujeito
educacionais possivelmente geradores de antagonismos e exclusão sobre si mesmo.
que se contrapõem a políticas que realçam o princípio da autono- Louro parte do pressuposto antropológico de que “os corpos
mia na educação inclusiva e, nela, o respeito ao significado plural são o que são na cultura”, isto é, que os corpos adquirem seu sig-
da diversidade, sem imposição de uma única identidade central, nificado apenas através dos discursos na cultura e na história. Essa
padrão. vertente se afasta das discussões teóricas nas quais o corpo é tido
Contudo, o que se espera da escola, no interesse de ensinar como “natural”, no qual o biológico determina o gênero.
e aprender, mais amplamente, sobre sexualidade, encontra barrei-
ras em processos de atitudes homofóbicas que ainda permanecem Desigualdade: é um fenômeno social que produz uma
contaminando o seu ambiente. hierarquização entre os indivíduos e/ou grupos que não permite
o tratamento igualitário (em termos de mercado de trabalho, de
Ninguém Pode Calar a Homossexualidades e Homofobia na acesso a bens e recursos, para todos e todas.
Escola Essa desigualdade existe na divisão dos atributos entre homens
Recorda-se que, desde os anos 90, a preocupação com a pre- e mulheres. Esse desnível se evidencia em vários contextos: fami-
venção da AIDS e da gravidez na adolescência inseriu-se nas escolas liar, social, escolar, religioso, econômico, político, .... Dessa forma,
de modo mais evidente e sistematizado. A ideia era a de que várias fica claro que existem fronteiras que separam atitudes e comporta-
disciplinas agregassem o assunto de modo conectado com outros mentos tidos como apropriados, válidas e legítimas relacionadas ao
temas. No entanto, o tratamento alicerçado em uma ótica biologi- sexo masculino e ao feminino.
zante do sexo prosseguiu, sendo o debate sobre a diversidade de
orientação sexual ainda incipiente ou, na melhor das hipóteses, re- Diferença: indivíduos e/ou grupos possuem várias formas de
legado a segundo plano. distinção e de semelhanças (cor, sexo, idade, nacionalidade). A de-
Espera-se que a instituição escolar, como espaço de formação, sigualdade pauta-se por essas diferenças e semelhanças que consti-
local onde se formam cidadãos e se estudam e consolidam direitos, tuem os indivíduos e/ou grupos.
reconheça o problema da discriminação gerada pela homofobia em
suas salas de aula e perceba a necessidade de enfrentá-lo, no inte- Direitos Sexuais: direitos que asseguram aos indivíduos a li-
resse de que sejam superadas a intolerância e a violência, que se berdade e a autonomia nas escolhas sexuais, como a de exercer a
multiplicam em sofrimento, silêncio, invisibilidade, medo e morte orientação sexual sem sofrer discriminações ou violência. Os direi-
física e existencial. tos sexuais englobam múltiplas expressões legítimas da sexualida-
de, como por exemplo, o direito à saúde - direito de cada pessoa
Para Saber Mais... de ver reconhecidos e respeitados o seu corpo (autonomia), o seu
desejo e o seu direito de amar (reconhecimento da diversidade se-
A seguir alguns termos relevantes a serem considerados sobre xual).
a diversidade de gênero:
Discriminação: ação de discriminar, tratar diferente, excluir,
Assimetrias de Gênero: desigualdades de oportunidades, con- marginalizar.
dições e direitos entre homens e mulheres, gerando hierarquias.
Por exemplo: no mercado de trabalho. Estereótipo: é uma generalização de julgamentos subjetivos
feitos a um grupo ou a um indivíduo. Pode ser atribuindo valor
Binarismo: forma de pensamento que separa e opõe mascu- negativo desqualificando-os e impondo-lhes um lugar inferior, ou
lino e feminino, apoiando-se numa concepção naturalizante dos simplesmente, reduzindo determinado grupo ou indivíduo a algu-
corpos biológicos. mas características e, assim, definindo lugares específicos a serem
ocupados.
Bissexual: pessoa que tem desejos, práticas sexuais e relacio-
namento afetivo-sexual com pessoas de ambos os sexos;

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Feminilidade: se refere às características e comportamentos Homoafetivo: é um termo utilizado para descrever relações en-
considerados por uma determinada cultura associados ou apropria- tre pessoas do mesmo sexo e tem relação com os aspectos emocio-
dos às mulheres. nais e afetivos envolvidos na relação amorosa e sexual entre essas
Caracterizar os comportamentos como “masculinos” ou “fe- pessoas.
mininos” é basear-se nas noções essencialistas do binarismo mu-
lher/homem, isto quer dizer que, atributos que muitas vezes são Homofobia: termo usado para descrever vários fenômenos
considerados femininos podem estar baseados no biológico e nas sociais relacionados ao preconceito, a discriminação e à violência
diferenças físicas. Dessa forma, a feminilidade nos homens, bem contra os homossexuais (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de
como a masculinidade nas mulheres, é considerada negativa por pessoas com orientação sexual diferente do padrão heterossexual).
agir contra os papéis tradicionais da nossa cultura. Um estereótipo O termo, no entanto, não se refere ao conceito tradicional de fobia,
comum para homens homossexuais é de que são efeminados por- facilmente associável à ideia de doença e tratados com terapias e
que utilizam ou exageram comportamentos tidos como femininos, antidepressivos. Atualmente, grupos lésbicos, bissexuais e transgê-
por exemplo. neros, com o intuito de conferir maior visibilidade política à suas
lutas e criticar normas e valores postos pela dominação masculina,
Gênero: conceito formulado a partir das discussões trazidas do propõem, também, o uso dos termos lesbofobia, bifobia e transfo-
movimento feminista para expressar contraposição ao sexo biológi- bia.
co e aos termos “sexo” e “diferença sexual”, distinguindo a dimen- Daniel Borrillo faz uma leitura epistemológica e política desse
são biológica da dimensão sexual e, acentuando através da lingua- conceito, não para compreender a origem e o funcionamento da
gem, “o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas homossexualidade, mas para “analisar a hostilidade provocada por
no sexo”. Não com a intenção de negar totalmente a biologia dos essa forma específica de orientação sexual”. Segundo este autor
corpos, mas para enfatizar a construção social e histórica produ- quando a homossexualidade requer publicamente sua expressão é
zida sobre as características biológicas. Dessa forma, gênero seria que se torna insuportável, pois rompe com a hierarquia da ordem
a construção social do sexo anatômico demarcando que homens sexual. Por isso, a tarefa pedagógica deve ser questionar a heteros-
e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da sexualidade compulsória e mostrar que a hierarquia de sexualida-
anatomia dos seus corpos. des é tão insustentável quanto a de sexos, bem como incluir a ideia
de diversidade sexual em livros e apostilas escolares.
Heteronormatividade: termo utilizado para expressar que
existe uma norma social que está relacionada ao comportamento Homossexual: é a pessoa que tem atração sexual e afetiva por
heterossexual como padrão. Dessa forma, a ideia de que apenas o pessoas do mesmo gênero e relacionamento com elas.
padrão de conduta heterossexual é válido socialmente, colocando
em desvantagem os sujeitos que possuem uma orientação sexual Homossexualidade: é a atração sexual e afetiva por pessoas do
diferente da heterossexual. mesmo sexo. Cabe uma ressalva, não é correto o uso do termo ho-
mossexualismo, porque reveste de conotação negativa, atribuindo-
Heterossexismo: se refere à ideia de que a heterossexualida- -lhe significado de doença e aberração. Por isso, devemos preferir a
de é a orientação sexual “normal” e “natural”. Considerar a hete- utilização dos termos homossexualidade, lesbianidade, bissexuali-
rossexualidade como “natural”, aponta para algo inato, instintivo e dade, travestilidade, transgeneridade e transexualidade.
que não necessita de ser ensinado ou aprendido. Ao considerar a
heterossexualidade “normal”, contrapõe-se a ideia de que as ou- Identidade De Gênero: expressão utilizada primeiramente no
tras orientações sexuais (homossexualidade e bissexualidade, por campo médico-psiquiátrico para designar os “transtornos de iden-
exemplo) são um desvio à norma e reveladoras de perturbação, não tidade de gênero”, isto é, o desconforto persistente criado pela di-
sendo encaradas como um dos aspectos possíveis na diversidade vergência entre o sexo atribuído ao corpo e a identificação subjetiva
das expressões da sexualidade humana. O heterossexismo funciona com o sexo oposto. Entretanto, atualmente, a identidade de gênero
através de um sistema de negação e discriminação - a sociedade corresponde à experiência de cada um, que pode ou não corres-
tende a negar a existência da homossexualidade, tornando-a invi- ponder ao sexo do nascimento. Podemos dizer que a identidade de
sível (em quantos manuais escolares existem referências neutras gênero é a maneira como alguém se sente e se apresenta para si ou
ou positivas à homossexualidade?) e tende a reprimir e discriminar para os outros na condição de homem ou de mulher, ou de ambos,
todos aqueles que se tornam visíveis. sem que isso tenha necessariamente uma relação direta com o sexo
biológico. É composta e definida por relações sociais e moldadas
Heterossexual: quem tem atração sexual por pessoas do sexo pelas redes de poder de uma sociedade. Os sujeitos têm identida-
oposto ao seu, e relacionamento afetivo-sexual com elas. Heteros- des plurais, múltiplas, identidades que se transformam, que não
sexuais não precisam, necessariamente, terem vivido experiências são fixas ou permanentes, que podem até ser contraditórias. Os
sexuais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto para se sujeitos se identificam, social e historicamente, como masculinos e
identificarem como tal. femininos e assim constroem suas identidades de gênero.
Cabe enfatizar que a identidade de gênero se trata da forma
Heterossexualidade Compulsória: sistema que acomoda e hie- que nos vemos e queremos ser vistos, reconhecidos e respeita-
rarquiza as relações de gênero, no qual o homem é o modelo para dos, como homens ou mulheres, e não pode ser confundida com
todas as relações, inclusive aquelas em que ele não está presente. a orientação sexual (atração sexual e afetiva pelo outro sexo, pelo
mesmo sexo ou por ambos).

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Identidade Sexual: identidades sexuais se constituem através Essas vias se entrecruzam, por diversas vezes, para desestabili-
das formas como vivemos nossa sexualidade, e refere-se a duas zar representações, questionar a divisão sexual da sociedade, opor-
questões diferenciadas: -se à hierarquização dos gêneros e, por isso, as teorias nem sempre
1) É o modo como a pessoa se percebe em termos de orienta- podem dissociar-se de suas ações políticas, e vice-versa.
ção sexual;
2) É o modo como ela torna pública (ou não) essa percepção de Poder/Relações de Poder: nossas definições, crenças, conven-
si em determinados ambientes ou situações. Quer dizer, correspon- ções, identidades e comportamentos sexuais têm sido modeladas
de ao posicionamento (nem sempre permanente) da pessoa como no interior de relações definidas de poder. Para Michel Foucault, o
homossexual, heterossexual, ou bissexual, e aos contextos em que poder está em toda parte; não porque englobe tudo e sim porque
essa orientação pode ser assumida pela pessoa e/ou reconhecida provém de todos os lugares. O poder se exerce de diversas formas:
em seu entorno. poder de produzir os corpos que controla, produz sujeitos, fabrica
corpos dóceis, induz comportamentos. Foucault propõe que obser-
Intersexual ou Intersex: a palavra intersexual é preferível ao vemos o poder como uma rede que, capilarmente, se distribui por
termo hermafrodita e é um termo usado para se referir a uma va- toda a sociedade. Nas palavras dele: “lá onde há poder, há resistên-
riedade de condições (genéticas e/ou somáticas) com que uma pes- cia e, no entanto (ou melhor, por si mesmo) esta nunca se encontra
soa nasce, apresentando uma anatomia reprodutiva e sexual que em posição de exterioridade em relação ao poder”.
não se ajusta às definições de masculino e feminino, tendo parcial
ou completamente desenvolvidos ambos os órgãos sexuais, ou um Preconceito: é um pré-conceito uma opinião que se emite an-
predominando sobre o outro. A intersexualidade, enquanto trans- tecipadamente alimentada pelo estereótipo, é um juízo preconce-
generidade é uma condição e não uma orientação sexual. Portanto, bido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discrimina-
as pessoas que se autodenominam intersexuais podem se identifi- tória perante pessoas, lugares ou tradições consideradas diferentes
car como homossexuais, heterossexuais ou bissexuais. ou “estranhos”.

Lesbofobia: termo usado para descrever vários fenômenos Racismo: conjunto de princípios que se baseia na superiorida-
sociais relacionados ao preconceito, a discriminação e à violência de de uma raça sobre a outra. A atitude racista é aquela que atribui
contra as lésbicas (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas qualidades aos indivíduos conforme seu suposto pertencimento
com orientação sexual diferente do padrão heterossexual). Ver ho- biológico a uma determinada raça. Não é apenas uma reação ao
mofobia. outro, mas é uma forma de subordinação do outro.

Machismo: é a crença de que os homens são superiores às mu- Sexismo: atitude preconceituosa que difere homens de mulhe-
lheres. É uma construção cultural que definiu que as característi- res definindo características específicas para cada um, subordinan-
cas atribuídas aos homens, tem um valor maior. Se pensarmos na do o feminino ao masculino.
educação de meninos e meninas, veremos que há um tratamento
diferenciado que reproduz as manifestações de machismo nos me- Sexo Biológico: é o conjunto de características fisiológicas, in-
ninos, e às vezes, nas próprias meninas. Ao incentivar (infidelidade, formações cromossômicas, órgãos genitais, potencialidade indivi-
violência doméstica, esporte, diferença de direitos). dual para o exercício de qualquer função biológica que diferencia
machos e fêmeas. Entretanto, o sexo não é simplesmente algo que
Masculinidade: faz oposição ao termo feminilidade e diz res- lhe foi dado pela biologia. Foucault analisa o sexo biológico como
peito a imagem estereotipada de tudo aquilo que seria próprio dos um efeito discursivo. O poder cria o corpo ao anunciá-lo sexuado,
indivíduos homens, ou seja, às características e comportamentos ao fazer de sua constituição biológica um fator natural que carrega
considerados por uma determinada cultura como associados ou características específicas e torna indiscutível a divisão dos huma-
apropriados aos homens. Ver feminilidade, pois são conceitos re- nos em dois blocos distintos (homens e mulheres). Isto não significa
lacionais que não passíveis de serem entendidos separadamente. que o corpo não exista de forma sexuada. O que o poder cria é ou-
tra coisa: é a importância dada a esse fator corporal (biológico). O
Masculinidade Hegemônica: é um modelo construído social- sexo produz, interdita, possibilita e regula o corpo limitando certos
mente que controla, domina e substima as diversas formas de ex- tipos de escolhas para a produção de um corpo sexuado que seja
pressão de outras masculinidades, tornando-se um padrão de mas- culturalmente aceitável e inteligível. Assim, o sexo é uma norma
culinidade. através da qual alguém se torna viável.

Movimento Feminista: o movimento feminista surgiu para Sexualidade: é aprendida, ou melhor, é construída ao longo de
questionar a organização social, política, econômica, sexual e cul- toda a vida, de muitos e diferentes modos, por todos os sujeitos
tural de uma sociedade profundamente hierárquica, autoritária, por isso, é entendida como um conceito dinâmico que se modifica
masculina, branca e excludente. Sendo assim, o feminismo pode ser conforme as posições do sujeito e suas disputas políticas. A sexua-
entendido como uma luta pela transformação da condição das mu- lidade tem a ver tanto com o corpo, como também com os rituais,
lheres, que é pública e também privada. E que pode ser entendida, o desejo, a fantasia, as palavras, as sensações, emoções, imagens e
a partir de três eixos: experiências. Ela não tem ligação somente com a questão do sexo
1) como movimento social e político; e dos atos sexuais, mas também com os prazeres e sua relação com
2) como política social; o corpo e a cultura compreendendo o erotismo, o desejo e o afeto;
3) e como ciência, ampliando os debates teóricos e conceituais até questões relativas a reprodução, saúde sexual, utilização de no-
(derivando a categoria gênero como analítica de sexo). vas tecnologias.

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Transexual: pessoa que possui uma identidade de gênero di- (...) O papel disciplinador, com o uso do poder, via a avaliação
ferente do sexo designado no nascimento. Homens e mulheres classificatória, o professor representando o sistema, enquadra os
transexuais podem manifestar o desejo de se submeterem a inter- alunos -educando-os dentro da normatividade socialmente esta-
venções médico-cirúrgicas para realizarem a adequação dos seus belecida. Daí decorre manifestações constantes de autoritarismo,
atributos físicos de nascença (inclusive genitais) à sua identidade de chegando mesmo a sua exacerbação.
gênero constituída. Quem acha que o papel do professor é só “passar” conheci-
mentos talvez veja a aprendizagem ativa e interativa como um
Transfobia: termo usado para descrever vários fenômenos capricho da imaginação teórica ou simplesmente como ilusões
sociais relacionados ao preconceito, a discriminação e à violência de certas propostas pedagógicas. Isso, na prática, reduz o ensino
contra transexuais (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas à instrução individual em massa, quando sabemos que ainda exis-
com orientação sexual diferente do padrão heterossexual). Ver ho- tem educadores usando juízos de valores, para marcar seu lugar
mofobia. e mostrar aos alunos que eles têm de ocupar outra posição. Essa
prática educativa perdurou por muitos anos, alunos chegavam a
Transgêneros ou Trans: são termos utilizados para reunir, numa ser estigmatizados e sem confiança de si mesmo, eram avaliados
só categoria, travestis e transexuais como sujeitos que realizam um por expressões que amedrontavam, utilizando-se das provas como
trânsito entre um gênero e outro. fator negativo de motivação.
Quando um aluno vai mal numa prova, isso pode ter sido pro-
Travesti: pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas vocado por muitos motivos, inclusive uma falha na metodologia de
que tem sua identidade de gênero oposta a seu sexo biológico, as- ensino do professor em sala de aula. Mas é sempre mais cômodo
sumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela socie- culpar a criança do que se avaliar.
dade. Muitas travestis modificam seus corpos através de hormonio- Com o surgimento da burguesia, a pedagogia tradicional emer-
terapias, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale giu e se cristalizou, porém é certo que aperfeiçoou seu mecanismo
ressaltar que isso não é regra para todas (Definição adotada pelo de controle, destacando a seletividade escolar e seus processos de
Conferência Nacional LGBT em 2008). formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche
são mecanismos imprescindíveis, assim aponta Luckesi (2005, p.
Orientação Sexual: refere-se ao sexo das pessoas que elege- 23) que:
mos para nos relacionar afetiva e sexualmente. Atualmente temos Ao longo da história da educação moderna e de nossa prática
três tipos de orientação sexual: heterossexual, homossexual e bis- pedagógica, a avaliação da aprendizagem escolar, por meio de exa-
sexual. Contrapõem a OPÇÃO SEXUAL entendida como escolha de- mes e provas, foi se tornando um fetiche. “Por fetiche entendemos
liberada e realizada de forma autônoma. uma entidade” criada pelo ser humano para atender a uma neces-
sidade, mas que se torna independente dele e o domina, universali-
Violência De Gênero: é aquela oriunda do preconceito e da zando-se. (LUCKESI, 2005, p. 23)
desigualdade entre homens e mulheres e apoia-se no estigma da A reprodução desse modelo fez com que as crianças oriun-
virilidade masculina (legítima defesa da honra) e da submissão fe- das de famílias carentes, quando matriculadas, simplesmente não
minina. aprendessem, elas não dispunham de repertório para acompanhar
Quando as vítimas são crianças e adolescentes o Art. 245 do o ensino que privilegiava a transmissão do conhecimento.
ECA, obriga os profissionais da saúde e educadores e educadoras a A gestão, a organização do espaço e a expectativa em relação
comunicarem o fato aos órgãos competentes. Na escola a discrimi- ao comportamento não levaram em consideração as diferenças,
nação é manifestada por meio de apelidos, exclusões, perseguição, esperava-se que todas estivessem educadas de acordo com os pa-
agressão física. drões das classes privilegiadas.
O direito a educação passa a constar de fato na lei a partir da
segunda constituição republicana, em 1934. Isso depois de os in-
AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL, DE DESEMPENHO E DE
telectuais brasileiros, comandados pelo educador Anísio Teixeira
APRENDIZAGEM
(1900-1971), terem produzido o manifesto dos pioneiros da Edu-
cação Nova, primeiro movimento intelectual no país a lutar aberta-
Avaliação mente pelo acesso amplo à Educação como uma forma de reduzir
as desigualdades culturais e econômicas. Desta forma podemos
A prática avaliativa na aprendizagem na escola acompanhar estas mudanças significativas na educação brasileira
através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9. 394 de 1996 no tí-
A importância da avaliação escolar: retrocessos e avanços tulo II do artigo 3, diz que o ensino será ministrado com base nos
No século XIX até a década de 1950 era unânime a forma de seguintes princípios:
ensinar e tinha como estratégia de ensino a repetição de ativida- I - Igualdade e condições para o acesso e permanência na es-
des, cópias de modelos e memorização. O professor adotava a pos- cola;
tura de transmissão do conhecimento, e o aluno só bastava absor- II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu-
ver o que era ensinado sem espaço para contestação. A turma era ra, o pensamento, arte e o saber;
bem avaliada quando conseguia reproduzir com rigor os conteúdos III- Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
repassados pelo professor, essa metodologia foi contestada por IV - Respeito à liberdade e apreço a tolerância;
Luckesi (2005, p. 37), da seguinte forma: V - Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - Valorização do profissional da educação escolar;

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VIII - Gestão democrática do ensino público, na forma desta lei Portanto, como observamos os municípios tem o dever de
e da legislação dos sistemas de ensino; priorizar a educação infantil e principalmente o ensino fundamen-
IX - Garantia de padrão de qualidade; tal, para que haja uma melhor educação e, haja a aquisição e cons-
X - Valorização da experiência extra-escolar; trução do conhecimento do aluno e o mesmo possa contribuir com
XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práti- a sociedade.
cas sociais; (LDB, 1996)
Modalidades e funções da avaliação escolar
Este movimento nasceu por volta de 1960 sob a influência das O ensino no Brasil que antecedeu o período republicano tinha
idéias do movimento da Escola Nova que tinha como foco princi- como base a educação jesuítica em 1549, segundo Pinto (2002),
pal a aprendizagem do aluno como um ser social, que dizia não se os conteúdos tinham um papel de domesticação e adestramento,
importar com o resultado, mas com o processo e, principalmente com visões bíblicas somente para ensinar a ler e a escrever. A me-
a experiência. todologia utilizada era a tradicional, que tinha como princípio levar
Havia a valorização do desenvolvimento criador e da iniciativa os alunos, a saber, dados e fatos na ponta da língua, o saber do
do aluno durante as atividades em classe, as estratégias de ensino professor deveria se manter neutro diante dos alunos e se ater a
não apontavam o certo ou errado na maneira de fazer de cada estu- passar os conhecimentos sem discuti-los, usando para isso a expo-
dante. Ao professor, não cabe corrigir ou orientar os trabalhos nem sição cronológica. Na hora de avaliar, provas orais e escritas eram
mesmo utilizar outras produções culturais para influenciar a turma. inspiradas no livro de catequese, com perguntas objetivas e respos-
A idéia é que o estudante exponha suas inspirações internas. tas diretas. Essa postura em sala de aula só seria questionada no
início do século XX.
O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cultu- Novas fontes de aprendizagem como, visitas a museus e expo-
rais de 1992, assinado pelo Brasil, afirma que: “A Educação é direito sições, foram incorporadas com o objetivo de fazer o aluno pensar
de toda pessoa. Ela deve visar o pleno desenvolvimento da per- e não apenas decorar o conteúdo. Os conteúdos de Piaget (1896
sonalidade humana e capacitar todos a participar efetivamente de - 1980) e de Vygotsky (1896 - 1934), contudo começaram a ser di-
uma sociedade livre”. vulgadas, trazendo teorias que influenciaram mais e a idéia de que
No que diz respeito à LDB nº 9. 394, de 20 de novembro de aprender é decorar, começou a mostrar sinais de fragilidade, como
1996, no artigo 2 diz que: ressalta Luckesi (2005, p. 28):
A educação é um dever da família e do Estado, inspirada nos Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a ser-
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem viço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. procuramos fazer, temos de necessariamente situá-Ia num outro
Neste contexto, hoje a educação é uma obrigação do Estado e contexto pedagógico, ou seja, temos de, opostamente. Colocar a
das famílias. A escola pública teve e tem de se adaptar para receber avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja
a parcela da população antes excluída e com padrões culturais dife- preocupada com a educação como mecanismo de transformação
rentes daqueles aos quais ela estava acostumada. social.
Podemos constatar que a educação no Brasil discutida hoje, Neste contexto, em qualquer nível de ensino em que ocorra, a
como um direito foi o resultado de muitas lutas anteriores, como já avaliação não existe e não opera por si mesma, está sempre a servi-
vimos, essas garantias são anos de lutas, isso significa o marco na ço de um projeto ou de um conceito teórico, ou seja, é determinada
trajetória democrático do Brasil. O Estatuto da Criança e do Adoles- pelas concepções que fundamentam a proposta de ensino. Numa
cente (ECA), que assegura a criança e adolescentes o direito à edu- época em que os modelos de avaliação contínua ganham forças nas
cação formal, como podemos ver em seu capítulo IV - Do Direito à escolas e nos livros de formação, avaliar o aluno conforme as teo-
Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, artigo 53, diz que: rias da avaliação é incentivá-lo rumo ao processo de ensino apren-
dizagem, neste sentido abordaremos as avaliações: diagnóstica,
A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao formativa e somativa, dentro de seus conceitos, como seus avanços
pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da e a arma do aluno e do professor avançar em todas as etapas e,
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: contudo para garantir a eficácia e eficiência do processo avaliativo.
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
cola; Avaliação Diagnóstica
II - direito de ser respeitado por seus educadores; A avaliação diagnóstica é aquela que ao iniciar um curso ou um
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer período letivo, dado a diversidade de saberes, o professor deve ve-
às instâncias escolares superiores; rificar o conhecimento prévio dos alunos com a finalidade de cons-
IV - direito de organização e participação em entidades estu- tatar os pré-requisitos necessários de conhecimentos ou habilida-
dantis; des imprescindíveis de que os educandos possuem para o preparo
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. de novas aprendizagens.
O diagnóstico deverá ser feito diariamente durante as aulas
As crianças e os adolescentes têm, pois, garantido, no Brasil, o di- com a retomada de objetivos não atingidos e a elaboração de dife-
reito ao ensino, a educação. A constituição delega ao Estado o dever rentes estratégias de reforço (feedback), assim declara Sant?anna
para com esses cidadãos, mais cabe a cada um reivindicar a efetivação (2009, p. 33):
desse direito, que nem sempre é efetivado de forma eficiente. O diagnóstico se constitui por uma sondagem, projeção e re-
trospecção da situação de desenvolvimento do aluno, dando-Ihe
elementos para verificar o que aprendeu e como aprendeu. É uma

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

etapa do processo educacional que tem por objetivo verificar em colher dados da realidade, para trazer de volta para dentro de mim
que medidas os conhecimentos anteriores ocorreram e o que se e repensar as hipóteses. É uma leitura da realidade para que eu
faz necessário planejar para selecionar dificuldades encontradas. possa me ler.
Este é um momento recíproco, em que o aluno e o professor Essa observação vem informar ao professor e ao aluno sobre o
de forma integrada reajustarão seus planos de ação, que poderá rendimento da aprendizagem durante o desenvolvimento das ati-
auxiliar o professor em outras avaliações. E tem como objetivo de- vidades escolares. A avaliação que procede à ação de informação e
terminar a forma para qual o educador deverá encaminhar, através formação possui como objetivo ajustar o conteúdo programático
do planejamento, sua ação educativa. com as reais aprendizagens, por ser uma avaliação informativa e re-
Pode ser considerado como o ponto de partida para todo tra- guladora, justifica-se pelo fato de que, ao oferecer informação aos
balho a ser desenvolvido pelo educador, em favor a esta educa- professores e alunos, permite que estes lêem suas ações. Assim o
ção Hoffmann (2008, p. 59), tece a idéia de que, “os alunos não professor faz regulações, no âmbito do desenvolvimento das ações
aprendem sem bons professores”, é estar presente em todos os pedagógicas, e o aluno conscientiza-se de suas dificuldades e busca
momentos que favorece o diagnóstico do aluno. A avaliação só será novas estratégias de aprendizagens.
eficiente e eficaz se ocorrer de forma interativa entre professor e Um dos pontos fundamentais para este processo é o diálogo,
aluno, ambos caminhando em mesma direção, em busca dos mes- ele perpassa por uma proposta construtivista de ensino, garantindo
mos objetivos. um processo de intervenção eficaz e uma relação de afetividade,
que passa contribuir para a construção do conhecimento. Perre-
Avaliação Formativa noud (2002, p. 143) esboçou o seguinte pensamento:
A avaliação formativa enfoca o papel do aluno, a aprendizagem A aprendizagem é um processo complexo e caprichoso. Por ve-
e a necessidade de o educador repensar o trabalho para melhorá- zes, alimenta-se da interação, da comunicação, quando nada pode
-lo, cuja função controladora sendo realizada durante todo o ano ocorrer na ausência de solicitações ou de feedback exteriores. Em
letivo. Localiza deficiências na organização do ensino-aprendiza- outros momentos, são do silêncio e da tranqüilidade que o aluno
gem, de modo a possibilitar reformulações no mesmo e assegurar necessita para reorganizar suas idéias e assimilar novos conheci-
o alcance aos objetivos. mentos.
Essa modalidade de avaliação é orientadora, porque orienta o É preciso ressaltar que, numa avaliação formativa, professor e
estudo do aluno ao trabalho do professor, prevê que os estudantes aluno precisam ter uma participação ativa, ela torna-se um meio ou
possuem processos e ritmos de aprendizagem diferentes, sendo um instrumento de controle da qualidade objetivando um ensino
que cada professor está comprometido com sua ação recíproca de de excelência em todos os níveis de todos os cursos e estará a ser-
conhecimento. viço da qualidade educativa, dentre outros, cumprirem o seu papel
de promoção do ensino, o qual irá guiar os passos do educador. Ela
Segundo Cool (1996), apud Silva (2004, p. 31) referencia que: precisa possuir o caráter de contribuição para a formação do aluno
A escola é a instituição escolhida pela população para desen- e, não apenas, classificar e medir a aprendizagem.
volver práticas educativas sistematizadas no intuito de possibilitar a
construção das identidades pessoais e coletivas. Processo pelo qual Avaliação Somativa
nos encontramos e nos transformamos em cidadãos para vivemos A avaliação somática tem por função básica a classificação dos
na floresta de pedra, complexa e conflituosa da sociedade. A pas- alunos, sendo realizada ao final de um curso ou unidade de ensino,
sagem da condição natural do homem e da mulher para a cultural classificando o aluno de acordo com os níveis de aproveitamento
toma como principal caminho a dinâmica educativa, sendo a escola previamente estabelecidos: acesso como ingresso, por oferta de
a principal instituição responsável por orientar a construção iden- vagas no ensino público; acesso a outras séries e graus de ensino,
titária dos sujeitos. por permanência de aluno em sala de aula, através de um processo
de aprendizagem contínuo e que lhe possibilite, de fato, o acesso
Neste contexto, a avaliação considera que o aluno aprende ao a outros níveis de saber ignorando a evasão escolar, portanto Hof-
longo do processo, que vai reestruturando o seu conhecimento por fmann (1993, p. 13), enfatiza que:
meios das atividades que executa, para isso, é preciso propor ações É preciso saber que o acesso (a outros níveis) passa a ser obs-
transformadoras por meios das quais sejam mobilizados novos sa- taculizado pela definição de critérios rígidos de aprovação ao final
beres. dessas séries, estabelecidos à revelia de uma análise séria sobre
A informação procurada na avaliação se refere às represen- seu significado e com uma variabilidade enorme de parâmetros por
tações mentais do aluno e as estratégias utilizadas para chegar a parte dos educadores, entre eles os alfabetizadores. Pretendendo
um determinado resultado. É através da avaliação formativa que alertar, pois, que os professores são muitas vezes coniventes com
o aluno toma conhecimento dos seus erros e acertos e encontra uma política de elitização do ensino público e justificam-se através
estímulos para um estudo sistemático. de exigências necessárias à manutenção de um ensino de qualida-
Ela permite ao professor detectar e identificar deficiências na de.
forma de ensinar, orientando-o na formulação do seu trabalho di- O que queremos enfatizar é que o professor não deixe de usar
dático, visando aperfeiçoá-lo. Desse modo o docente continuará instrumentos de testagem como provas, exercícios escritos, pro-
seu trabalho ou irá direcioná-lo, de modo que a maioria dos alunos dução textual, trabalhos individuais, mas que estes sejam acom-
alcance. Desta maneira Freire (1989, p. 03) relaciona que: panhados pelo mediador com a intenção de observar e investigar
A observação é o que me possibilita o exercício do aprendizado sobre o momento de aprendizagem em que o aluno se encontra, ou
do olhar. Olhar é como sair de dentro de mim para ver o outro. É a seja, problematizar as situações de modo a fazer o aluno ele pró-
partir da hipótese do momento de educação que o outro está para prio, construir o conhecimento sobre o tema abordado de acordo
com o contexto histórico e social e político o qual está inserido, bus-

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

cando a igualdade entre educador - educando, onde ambos apren- educacional de nosso país e quando se fala atingir todo o processo,
dem, trocam experiências e aprendizagens no processo educativo. deve valer de fato a todos os profissionais e não apenas alguns,
Conforme a idéia de Sant?anna (2009, p.36): para dessa forma haver uma melhoria na educação.
Nossa opinião é de que não apenas os objetivos individuais de-
viam servir de base, mas também o rendimento apresentado pelo A avaliação escolar como fator preponderante para uma edu-
grupo. Por exemplo, se em número x de questões a classe toda ou cação de qualidade
uma porcentagem significativa de alunos não corresponde aos re- Até o século XIX, o ensino ficava a cargo da família ou de pe-
sultados desejados, esta habilidade, atitude ou informação deveria quenos grupos, sendo que cada ensino de seu jeito. Depois a es-
ser desconsiderada e retomada no novo planejamento, pois ficou cola assumiu o papel de formalizar os conhecimentos, ampliá-los
constatado que a aprendizagem não ocorreu. sistematizá-los comuns a todos, conforme a constituição federal de
Concluímos que, a avaliação somativa deva se processar con- 1988, no capítulo III, do artigo 205, rege que:
forme os parâmetros individuais e grupais, pois este processo, ob- A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
jetiva melhorar a aprendizagem. será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o
Avaliação como instrumento para analisar o processo exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Boa parte
Nos dias atuais, muitos professores ainda medem a capacidade da educação oferecida pela família foi deslegitimizada.
do educando e não os qualificam, porém existe um problema que Agora a situação é diferente, a família antes afastada, está sen-
desencadeia muitas inquietações para quase todos os professores, do convocada a participar da escola, com isso possibilitando a famí-
uma vez que avaliam os alunos, mas não permitem que sejam ava- lia a participar do que acontece dentro da escola. Hoffmann (2008,
liados. Talvez isso aconteça porque muitos educadores se acham os p.41 e 42) diz que:
“donos” da verdade, acham que não erram e por este motivo não [...] a qualidade do ensino nas escolas não depende dos pais ou
precisam ser avaliados. Os professores precisam se conscientizar de sua “cobrança”, mas da atuação competente dos profissionais
que a avaliação será ótimo para seu rendimento como profissional, que ali atuam, somada à adequada infra-estrutura das instituições;
como pessoa e será muito importante para escola e alunos. quaisquer reformulações pedagógicas devem ser decisões de pro-
Se o professor avalia terá que dar oportunidades para que seu fissionais da educação, embasadas em fundamentos teóricos con-
aluno ou quem for necessário (colegas, diretores, coordenadores, sistentes.
pais etc...) possam avaliá-lo, como diz Demo (1995, p. 34), “Se ava- Outro fator observado na fala de alguns professores, em re-
lio não posso impedir que me avaliem, pois avaliar e ser avaliado uniões de pais, é a questão de notas referenciando o aluno A, B
fazem parte da mesma lógica. Quem foge da avaliação perde a ou C, com baixo ou péssimo rendimento escolar focando o aluno
oportunidade de avaliar”. como único culpado. É evidente que nós, educadores temos que
São exatamente estas palavras de Demo (1994), que expres- comunicar aos pais as notas do seu aluno, mas será que é só mos-
sam os verdadeiros significados de “dar” e “receber”, pois quando trar as notas? É claro que os pais precisam entender o que seus
o professor dá a nota, o aluno, também deve avaliar. Assim, todos filhos sabem e o que não sabem (se aprenderam ou não, o que foi
receberão uma nota e isso poderá ser de grande importância para ensinado na escola), e essa função está nas mãos do educador em
ambos, servindo para mudar seu método se necessário ou para ver explicar qual é a estratégia de ensino ou conteúdos atuais, a forma
onde é possível melhorar ou continuar, para alcançar os objetivos que ele (o aluno) foi avaliado e como foi desenvolvido o conteúdo.
previstos. Hoffmann (2008, p. 42) interpreta a ação do professor diante da
Não se pode e nem se deve, ter uma prática que só é válida sociedade: “Nesse sentido, resgatar a credibilidade da sociedade
para os alunos, isso não tem lógica. Os professores também devem quanto à competência dos professores é uma das condições neces-
ser avaliados. Quando isso não acontece, impede-se o aluno de dar sárias para qualquer avanço”. Sabemos que vários fatores influen-
sua opinião, expressar o que sente sobre a prática do professor e ciam o aproveitamento do aluno, se a escola e a família buscam
ainda o reprime, pois ele tem opinião. ações coordenadas, os problemas são enfrentados e resolvidos.
Muitos ousam falar que quando se avalia o aluno é para ver O comportamento do aluno vem sendo motivo para muitos
se ele aprendeu, se assimilou, se cresceu. Então o ideal é que se os professores, como fator principal do desrespeito com sua pessoa,
educadores forem avaliados também terão a chance de melhorar e embora não esteja ligado diretamente ao aprendizado, mas é vis-
serem capazes de distinguir o significado de ser avaliado e não levar to e julgado como obstáculo da sala de aula por educadores, que
isso para o lado pessoal, pois muitas vezes o aluno não tem nada chegam a dar nota ao comportamento de cada aluno, como forma
contra seu modo de agir profissionalmente. de punição.
Não se deve esquecer que às vezes é muito mais fácil avaliar, É neste contexto que o professor precisa conscientizar-se que
que ser avaliado, pois quando avaliamos vimos apenas o fracasso a socialização também é um conteúdo escolar, especialmente nas
e erros dos alunos e quando somos avaliados corremos o risco de séries iniciais do Ensino Fundamental, porém precisa ser trabalhada
ter que enxergar como somos frágeis em alguns aspectos e como às sem estigmatizar o aluno, avaliando diariamente, oferecendo es-
vezes, somos injustos e incoerentes com a própria prática. tratégias de ensino com o objetivo de chamar a atenção do aluno.
Ensina-se sempre o que é ser bom e ruim, justo e injusto, então Tendo como objetivo, observar mudanças tanto no comporta-
se deve usar isso na prática, pois desta forma mostra-se aos alunos mento como no desenvolvimento aos objetivos propostos. Neste
que todos têm os mesmos direitos e deveres, assim verão que não sentido faz-se importante refletir o que Hoffmann (2008, p. 55) es-
há distinção entre educadores e educandos. tabelece:
Pois segundo Vasconcellos (1995, p. 78) “a avaliação deve atin- Não tenho a pretensão de dizer que se conhece verdadeira-
gir todo o processo educacional e social, se quisermos efetivamen- mente a pessoa do aluno apenas convivendo com ele algumas
te superar os problemas”. Para assim podermos mudar a realidade horas semanais. Por vezes, um educador, por mais que tente, não

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

consegue conhecer os estudantes em um mês, em um semestre, Alguns professores cobram “criatividade” na hora da avaliação,
em um ano. O desenvolvimento, como processo de significação de quando todo o trabalho em sala de aula está baseado na repetição,
mundo, é sempre dinâmico e, portanto, as reações individuais são na reprodução, na passividade, na aplicação mecânica de passos
inesperadas, inusitadas. Mas, conviver e sensibilizar é o compro- que devem ser seguidos de acordo com modelos apresentados.
misso do educador, por um lado, e, por outro, a grande magia da Ora a criatividade é fundamental na formação do educando e do
tarefa. Pressupõe manter-se permanentemente atento a cada alu- cidadão, mas ela precisa de uma base material: ensino significativo,
no, olhando para traz e o agora, ou seja, procurando captar-lhe as oportunidade e condições para participação e expressão das idéias
experiências vividas para poder cuidar mais de quem precisa mais. e alternativas, compreensão crítica para o erro, pesquisa, diálogo.
É normal que se tenha essa situação como desafiadora para a (VASCONCELLOS 2008, p. 68)
escola e em especial ao professor. Como mediador ele pode recor- Nesta direção, ensinar e garantir que os conhecimentos façam
rer ao serviço pedagógico para auxiliá-lo no que for possível (é bom um sentido amplo para todos os estudantes em sua vida e para
lembrar que ele precisa usar estratégias durante a aula como forma além da sala de aula, ou seja, para que possam efetivamente, cons-
de chamar atenção, ou mesmo de envolver o educando durante o truir e promover uma educação de qualidade. Sabemos que, nin-
processo). O serviço pedagógico é um recurso que ajuda o profes- guém duvida que ensinar é o principal papel da escola, e o diálogo
sor caso suas tentativas tenham se esgotado. faz parte dessa conquista.17
Sabemos que os diferentes graus de desenvolvimento dentro
de uma turma não podem servir de desculpa para que só alguns Aspectos Positivos e Negativos da avaliação
alunos aprendam. Acompanhar estudante é prever intervenções Dentro da sala de aula, o termo avaliar está, intimamente re-
personalizadas e atividades diferenciadas para que cada um ou to- lacionado à resolução de provas, exames, resultado de nota, ser
dos possam avançar. aprovado ou reprovado. Em meio a esses fatores, a prova torna-se
Segundo Luckesi (2005, p. 88 a 89) relata a respeito da avalia- instrumento característico de todo processo de uma avaliação tra-
ção escolar: dicional, mas pode também ser de muita utilidade para o professor
Para coletar os dados e proceder à medida da aprendizagem e aluno saberem em que medida o processo de ensino-aprendiza-
dos educandos, os professores, em sala de aula, utilizam-se de ins- gem está útil para a formação do conhecimento do aluno. Nessa
trumentos que variam desde a simples e ingênua observação até os perspectiva, verifica-se que esse instrumento é adequado especial-
sofisticados testes, produzidos segundo normas e critérios técnicos mente quando desejamos avaliar procedimentos específicos, a ca-
de elaboração e padronização. pacidade de organizar ideias, a clareza da expressão e a possibilida-
Essa operação com resultados da aprendizagem é o processo de de apresentar soluções originais.
de medir, que muito ainda se vê em sala de aula, sabemos que se Assim, a avaliação tem seu lado positivo e negativo. O primei-
torna um ato necessário por conta da sistematização do ensino bra- ro pode ser atribuído ao fato da avaliação admitir uma função de
sileiro que descreve no seu artigo 21, do capítulo V, do parágrafo 1 orientadora e cooperativa, sendo assim, realizada de uma forma
estabelece que; A unidade escolar deverá ainda, em seu regimento contínua, cumulativa e ordenada dentro da sala de aula com o obje-
estabelecer o conceito percentual ou nota mínima para a promo- tivo de fazer um diagnóstico da situação de aprendizagem de cada
ção do aluno. educando, em relação aos conteúdos passados pelo professor, des-
O que se alerta, de fato, é quanto à prática avaliativa de ma- se modo, verificando se o aluno está progredindo no processo de
neira ainda tradicional, que vem com a intenção exclusivamente ensino-aprendizagem. A avaliação, dessa forma, tem uma função
de “verificar” ou “registrar” se o aluno aprendeu ou não aprendeu prognostica que avalia os conhecimentos prévios dos alunos, con-
o que se pretendia. Luckesi (2005, p. 89), define está prática como siderada a avaliação de entrada, avaliação de input; uma função
ponto de partida: diagnóstica, do dia-a-dia , a fim de verificar quem absorveu todos
Importa-nos ter clareza que, no momento real da operação conhecimentos e adquiriu as habilidades previstas nos objetivos
com resultados da aprendizagem, o primeiro ato do professor tem estabelecidos.
sido, e necessita ser, a medida, porque é a partir dela, como pon- Por outro lado, a avaliação está voltada com a função de clas-
to de partida, que se pode dar os passos seguintes da aferição da sificação, apresentando o lado negativo, pois o aluno que não al-
aprendizagem. cançou a média fica sob a visão de excluído e fracassado perante os
colegas de classe, professores e escola, ocasionando muitas vezes
Esses registros do passo a passo, servem para o professor pen- a evasão escolar. De acordo com Luckesi (2006), a avaliação que
sar sobre as escolhas didáticas e perceber onde estão os nós do é praticada na escola é sinônimo da avaliação da culpa. As notas
próprio trabalho, tendo como base o diagnóstico sobre os pontos são usadas para como índices de classificação de alunos, onde os
em que os alunos têm dificuldades e o que os faz avançar e pode-se desempenhos são comparados e não perspectivas que se desejam
pensar em modificações e intervenções necessárias. atingir.
O planejamento diário é essencial para uma boa avaliação, pois O que significa em termos de avaliação um aluno ter obtido
sem ele torna-se impossível fazê-lo. Não há avaliação sem plane- nota 5,0 ou média 5,0? E o que tirou 4,0? O primeiro, na maioria
jamento e este deve ser anterior de toda ação e tão importante das escolas está aprovado, enquanto o segundo, reprovado. O que
quanto o encadeamento da seqüência é observar a evolução da o primeiro sabe é considerado suficiente. Suficiente para quê? E o
classe e atentar para as adaptações que podem ser necessárias no que ele não sabe? O que ele deixou de “saber” não pode ser mais
meio do processo. Todos os passos de uma sequência didática de- importante do que o que ele “sabe”? E o que o aluno que tirou
vem ser complementares, e precisam propor um aumento gradual 4,0 “sabe” não pode ser mais importante do que aquilo que não
de dificuldade, quando Vasconcellos (2008, p. 68), debate este pro- “sabe”?
cedimentos usados por professores em sala de aula:
17Fonte: www.webartigos.com

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Dentro do contexto da avaliação temos o erro, significando Essa reflexão envolve os próprios princípios da democracia, ci-
algo que não ocorreu de maneira correta. No entanto, esse erro dadania e direito à educação, que se contrapõem às concepções
pode ser útil vindo a ser utilizado como fonte de virtude para apren- avaliativas classificatórias, que se fundamentam na competição, no
dizagem escolar, pois tanto para o professor quanto para o aluno individualismo, no poder, na arbitrariedade, que acabam enlaçan-
ao reconhecerem a origem e a constituição dos seus erros passam do tanto os professores quanto os alunos em suas relações pessoais
a superá-los, tornando assim um “obstáculo vencido” e uma ava- verticais e horizontais. A avaliação a serviço da ação. A contraposi-
liação adequada. Luckesi (2006) afirma quando o professor atribui ção básica estabelecida por este princípio é estabelecida entre uma
uma atividade a seus alunos e observa que estes não conseguem concepção classificatória de avaliação da aprendizagem escolar e
obter o resultado esperado, o educador deve conversar com seu a concepção de avaliação mediadora. A avaliação mediadora, fun-
aluno e verificar o porquê desse erro e como foi cometido. Esse dada na ação pedagógica reflexiva, implica necessariamente uma
autor ainda ressalta que, na maioria das vezes, é frequente o aluno ação que promova melhoria na situação avaliada. Em se tratando
dizer que só agora ele percebeu o que era para fazer, ou seja, o erro da avaliação da aprendizagem, sua finalidade não é o registro do
conscientemente elaborado possibilita o avanço. desempenho escolar, mas sim a observação contínua das manifes-
tações de aprendizagem para desenvolver ações educativas que
Avaliar para Promover visem à promoção, a melhoria das evoluções individuais.
Para Hoffmann, o trajeto a ser percorrido, quando praticamos Da mesma forma, a avaliação de um curso só terá sentido se
a avaliação, é impulsionado pelo inusitado, pelo sonho, pelo desejo for capaz de possibilitar a implementação de programas que resul-
de superação, pela vontade de chegar ao objetivo/destino que vai tem em melhorias do curso, da escola ou da instituição avaliada. No
sendo traçado, assim como quando realizamos o caminho a Santia- entanto, a despeito das inovações propostas pela nova LDB (9394/
go de Compostela, na Espanha. Da mesma forma, avaliar necessita 96), observa-se na maioria das escolas brasileiras, de todos os ní-
da conversa uns com os outros, para compartilhar dos sentimentos veis, a dificuldade para incorporar e compreender a concepção de
de conquista, da compreensão das setas. A ousadia do ato de ava- avaliação mediadora. Em seus regimentos escolares enunciam-se
liar, neste caminho, tem o sentido de avançar sempre: promover e objetivos de avaliação contínua, mas, ao mesmo tempo, estabele-
a autora nos apresenta as setas do caminho. Buscando caminhos. cem-se normas classificatórias e normativas, o que revela a manu-
A avaliação, compreendida como a avaliação da aprendizagem tenção das práticas tradicionais e a resistência à implementação de
escolar, deve servir à promoção, isto é, acesso a um nível superior regimes não seriados, ciclos, programas de aceleração, evidencian-
de aprendizagem por meio de uma educação digna e de direito de do o caráter burocrático e seletivo que persiste no país.
todos os seres humanos. Hoffmann é contrária à ideia de que pri- É a compreensão e definição da finalidade da avaliação da
meiro é preciso mudar a escola e a sociedade para depois mudar a aprendizagem que deve nortear as metodologias e não o inverso,
avaliação. Pelo contrário, a avaliação, por ser uma atividade de re- como se tem observado até agora. A autora resume os princípios
flexão sobre os próprios atos, interagida com o meio físico e social, básicos – as setas do caminho – a seguir, apontando para onde va-
influi e sofre a influência desse próprio ato de pensar e agir. Assim, mos: De para avaliação para classificação, seleção, seriação. Ava-
é a avaliação reflexiva que pode transformar a realidade avaliada. liação a serviço da aprendizagem, da formação, da promoção da
Para transformar a escola, lugar em que ocorre a gestão edu- cidadania, a atitude reprodutora, alienadora, normativa Mobiliza-
cacional de um trabalho coletivo, é necessário que ocorra uma re- ção em direção à busca de sentido e significado da ação. A intenção
flexão conjunta de professores, alunos e comunidade, pois a partir prognóstica, somativa, explicativa e de desempenho, leva à inten-
disso desencadeiam-se processos de mudança muito mais amplos ção de acompanhamento permanente de mediação e intervenção
do que a simples modificação das práticas de ensino.Esse processo, pedagógica favorável à aprendizagem. Visão centrada no professor
assim como no caminho a Santiago de Compostela, gera inquieta- e em medidas padronizadas de disciplinas fragmentadas. Visão dia-
ção e incertezas para os professores, as quais devem ser respeita- lógica, de negociação, referenciada em valores, objetivos e discus-
das, por meio de oportunidades de expressão desses sentimentos, são interdisciplinar.
de compreensão de outras perspectivas e de reflexão sobre as pró- A organização homogeneizada, classificação e competição, de-
prias crenças. É no confronto de ideias que a avaliação vai se cons- sencadeia o respeito às individualidades, confiança na capacidade
truindo para cada um dos professores à medida que discutem, em de todos, na interação e na socialização. A finalidade da avaliação
conjunto, valores, princípios e metodologias. Rumos da Avaliação mediadora é subsidiar o professor, como instrumento de acom-
neste século. O problema da avaliação da aprendizagem tem sido panhamento do trabalho, e a escola, no processo de melhoria da
discutido intensamente neste último século. qualidade de ensino, para que possam compreender os limites e
Nas últimas décadas, adquiriu um enfoque político e social, as possibilidades dos alunos e delinear ações que possam favore-
que intensificou a pesquisa sobre o assunto. A tendência, dentre cer seu desenvolvimento, isto é, a finalidade da avaliação é promo-
os principais estudiosos do assunto, é a de procurar superar a con- ver a evolução da aprendizagem dos educandos e a promoção da
cepção positivista e classificatória das práticas avaliativas escolares qualidade do trabalho educativo. Regimes seriados versus regimes
(baseada em verdades absolutas, critérios objetivos, medidas pa- não-seriados. Uma das maiores dificuldades de compreensão das
dronizadas e estatísticas) em favor de uma ação consciente e refle- propostas educacionais contemporâneas reside no problema da
xiva sobre o valor do objeto avaliado, as situações avaliadas e do organização do regime escolar em ciclos e outras formas não seria-
exercício do diálogo entre os envolvidos. Dessa maneira, assume-se das. A razão dessa dificuldade reside justamente no apego às ideias
conscientemente o papel do avaliador no processo, dentro de um tradicionais às quais se vinculam o processo de avaliação classifica-
dado contexto, que confere ao educador uma grande responsabi- tória e seletiva.
lidade por seu compromisso com o objeto avaliado e com sua pró- Os regimes seriados estabelecem oficialmente uma série de
pria aprendizagem - a de como ocorre o processo avaliativo. obstáculos aos alunos, por meio de critérios pré-definidos arbi-
trariamente como requisitos para a passagem à série seguinte. Os

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

desempenhos individuais dos alunos são utilizados para se compa- tivas acerca dos diferentes jeitos de ser e de aprender do educando
rar uns com os outros, promovendo os “melhores” e retendo os que interage com outros educadores e com outros conhecimentos.
“piores”. As questões atitudinais não devem ocupar um tempo enorme em
As diferenças individuais são reconhecidas, não como riqueza, detrimento das questões do ensino-aprendizagem.
mas como instrumento de dominação de uns poucos sobre mui- Para Hoffman, projetar a avaliação no futuro dos alunos signi-
tos. Os regimes não seriados, ao contrário, fundamentam-se em fica reforçar as setas dos seus caminhos: confiar, apoiar, sugerir e,
concepções desenvolvimentistas e democráticas, focalizando o principalmente, desafiá-los a prosseguir por meio de provocações
processo de aprendizagem, e não o produto. O trabalho do aluno, significativas. Uma atividade ética. Não basta desenvolver a ava-
a aprendizagem, é comparado com ele próprio, sendo possível ob- liação educacional a serviço de uma ação com perspectiva par o
servar sua evolução de diversas formas ao longo do processo de en- futuro, mas torná-la referência para decisões educativas pautadas
sino-aprendizagem, reconhecer suas possibilidades e respeitá-las. por valores, por posturas políticas, fundamentos filosóficos e consi-
Dessa forma, a avaliação contínua adquire o significado de ava- derações sociais. Os protagonistas da avaliação precisam ser leva-
liação mediadora do processo de desenvolvimento e da aprendiza- dos a refletir sobre o que fazem e por que fazem. As práticas edu-
gem de cada aluno, de acordo com suas possibilidades e da promo- cacionais exigem, além de conhecimento, metodologia, trabalho
ção da qualidade na escola. Isso está longe de ser menos exigente, científico, a inclusão da dimensão ética e sensível. Nesse sentido
rigorosa e mais permissiva. Pelo contrário, essa organização de programas e projetos desenvolvidos para dar conta de problemas
trabalho escolar exige à realização de uma prática pedagógica que apresentados para o estudo de uma área de conhecimento ou para
assuma a diversidade humana como riqueza, as facilidades e difi- resolver questões de determinadas escolas, estariam respondendo
culdades de cada um como parte das características humanas, que às dimensões ético-políticas neste contexto avaliativo.
devem ser respeitadas e, ao fazê-lo, novas formas de relações edu- As reformas educacionais oriundas de posturas políticas que
cativas se constituem a partir da cooperação e não da competição. não devem se sobrepujar aos atos educativos, as novas medidas
Deste modo, se torna possível acolher a todos os alunos, por- em avaliação educacional afetam os sentimentos dos atores envol-
que não há melhores nem piores, sendo que, num processo de ava- vidos, por se tratar de uma atividade prática, ética em seu sentido
liação classificatória, estes últimos, “os piores” estarão predestina- mais original, porque está embasada em juízo de valor. Não concor-
dos ao fracasso e à exclusão. Provas de recuperação versus estudos damos que deva haver regra única em avaliação, ainda que elenca-
paralelos. A ideia de recuperação vem sendo concebida como re- da no bojo de diretrizes unificadoras das reformas educacionais,
trocesso, retomo. As provas de recuperação se confundem com a porque cada situação envolve a singularidade dos participantes do
recuperação das notas já alcançadas, com repetição de conteúdos. processo educativo. Não encontramos mecanismos únicos, classifi-
Estudos paralelos de recuperação são próprios a uma prática de catórios que deem conta da complexidade do ato avaliativo. É pre-
avaliação mediadora. Neste processo o conhecimento é construído ciso considerar a complexidade inerente a tal finalidade.
entre descobertas e dúvidas, retomadas, obstáculos e avanços.
A progressão da aprendizagem, nos estudos paralelos, está di- A participação das famílias.
recionada ao futuro do desenvolvimento do aluno. Os estudos pa- Os pais devem participar da escolaridade de seus filhos, con-
ralelos precisam acompanhar os percursos individuais de formação siderando, entretanto, a natureza do envolvimento; a realidade
dos alunos e considerar os princípios da pedagogia diferenciada, social destes pais; a constituição de suas famílias; a luta pela so-
para a qual nos chama a atenção Perrenoud (2000), que alerta: “o brevivência, etc., nos faz ponderar que as dificuldades de apren-
que caracteriza a individualização dos percursos não é a solidão no dizagem dos alunos não podem ser atribuídas às famílias, muito
trabalho, mas o caráter único da trajetória de cada aluno no con- menos o trabalho de superação destas dificuldades não pode recair
junto de sua escolaridade”. sob a responsabilidade destes, mas dos profissionais que atuam nas
Nesse sentido, o reforço e a recuperação (nas suas modalida- escolas, bem como são de sua responsabilidade a aquisição de ati-
des contínua, paralela ou final) são considerados parte integran- tudes e habilidades que favoreçam o enriquecimento das relações
te do processo de ensino e de aprendizagem para atendimento interpessoais no ambiente escolar. É compromisso dos pais acom-
à diversidade das características, das necessidades e dos ritmos panhar o processo vivido pelos filhos, dialogar com a escola, assu-
dos alunos. Alertamos para o fato de que Hoffman defende que mir o que lhes é de responsabilidade. Promover o diálogo entre os
o termo paralelo pressupõe estudos desenvolvidos pelo professor pais e os professores é função da escola, que não significa atribuir
em sua classe e no decorrer natural do processo. Cada professor a eles a tarefa da escola.
estabelece uma relação diferenciada de saber com seus alunos. É
compromisso seu orientá-los na resolução de dúvidas, no aprofun- A educação inclusiva
damento das noções, e a melhor forma de fazê-lo é no dia-a-dia da Num processo de avaliação mediadora, a promoção se baseia
sala de aula, contando com a cooperação de toda a turma. Conse- na evolução alcançada pelo aluno, na sua singularidade e de acordo
lhos de classe versus “conselhos de classe”. com suas possibilidades, desde que se tenha garantido as melho-
Os conselhos de classe vêm sendo realizados, em grande parte res oportunidades possíveis à aprendizagem e ao desenvolvimento
das escolas, orientados por modelos avaliativos classificatórios e de todos e de cada um. Nesse contexto, a responsabilidade pelo
com caráter sentencitivo - se propondo a deferir uma sentença ao fracasso não pode ser atribuída ao aluno, às suas dificuldades ou
aluno. Nestas sessões, o privilégio ao passado é evidente. Hoffman à sua incapacidade. A responsabilidade pelo desenvolvimento da
defende que esta deve ser uma ação voltada para o futuro, de ca- aprendizagem contínua do aluno recai sobre os educadores e sobre
ráter interativo e reflexivo, deliberadora de novas ações que garan- a comunidade. Dessa compreensão decorre o princípio da educa-
tam a aquisição de competências necessárias à aprendizagem dos ção inclusiva: oferecer ao aluno oportunidade máxima de aprendi-
alunos. Os momentos do conselho de classe precisam ser repensa- zagem e de inserção social, em condições de igualdade educativa,
dos pelas escolas e serem utilizados para a ampliação das perspec-

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

isto é, oferece ao aluno condições adequadas de aprendizagem de de aquisição de conhecimentos é não linear e infinito, além de im-
acordo com suas características, suas possibilidades. Isso significa possível de se determinar a priori: a questão dos conteúdos acadê-
encontrar meios para favorecer aprendizagem de todos os alunos. micos e do tempo. Sobre isso, a autora afirma que uma pedagogia
Assim, são professores e escolas que precisam adequar-se aos diferenciada pode se desenvolver na experiência coletiva da sala de
alunos e não os alunos que devem adequar-se às escolas e aos pro- aula, desde que haja a clareza de que o aluno aprende na relação
fessores. A dimensão da exclusão de muitos alunos da escola pode com os outros, interativamente, mas aprende ao seu tempo e de
ser medida: forma única e singular.
• pela constatação das práticas reprovativas baseadas em pa-
râmetros de maturidade e de normalidade; Todo o aprendiz está sempre a caminho
• pela ocorrência dos encaminhamentos de alunos para classes Constatamos, no caminho, que há um conjunto de variações de
e escolas especiais por erros na avaliação pedagógica. A inclusão respostas dos alunos de todo os níveis de ensino. Esta variabilidade
nas classes regulares de alunos que necessitam de atendimento de manifestações nos aponta que muitas tentativas de acerto são
especializado, sem que haja a preparação do professor no desem- feitas por meio de ensaios e erros.Essas estratégias são desenhadas
penho de seu papel, priva os alunos com necessidades especiais de por meio de respostas que chamamos de erro, são comuns e o pro-
uma escolaridade digna. fessor precisa compreender que trata-se de uma resposta incorre-
ta, mas indicadora de progresso, de avanço em relação a uma fase
Para Hoffman, um sério compromisso irá mobilizar a escola anterior do aprendizado, dizendo muito sobre “qualidade”.
brasileira deste século: formar e qualificar profissionais conscien- É preciso reconhecer que nas práticas atuais, a padronização
tes de sua responsabilidade ética frente à inclusão. Se incluir é fun- dos percursos incorre em sérios prejuízos para os alunos, porque,
damental e singular, como no caminho de Santiago, é necessário notas e conceitos são superficiais e genéricos em relação à qualida-
valorizar cada passo do processo, sem pressa, vivendo cada dia o de das tarefas e manifestação dos alunos. Notas e conceitos clas-
inusitado. sificatórios padronizam o que é diferente, despersonalizando as
dificuldades de avanços de cada aluno. Superficializam e adulteram
Outra concepção de tempo em avaliação a visão da progressão das aprendizagens e do seu conjunto tanto
O tempo é um tema recorrente nas discussões sobre avaliação, em uma única tarefa, quanto em um ao letivo, pelo caráter somati-
principalmente nas séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino vo que anula o processo. Baseiam-se, arbitrariamente, em certos e
Médio. Os professores do Ensino Médio, premidos pelo vestibular, errados absolutos, negando a relativização desses parâmetros em
desaguam os conteúdos que têm que dar conta, no afã de estarem diferentes condições de aprendizagem. Produzem a ficção de um
sempre concluindo caminhos que, na verdade, são inconclusos.A ensino homogêneo pela impossibilidade de acompanhar a hetero-
trajetória a ser percorrida pela avaliação requer diálogo, abertura e geneidade do grupo. Reforçam o valor mercadológico das aprendi-
interação, não havendo como delimitar tempos fixos. Na última dé- zagens e das relações de autoritarismo em sala de aula. Privilegiam
cada, as trajetórias da avaliação se propõem a respeitar os tempos a classificação e a competição em detrimento da aprendizagem. En-
e percursos individuais de formação, no sistema de ensino e na sala travam o diálogo entre os professores, entre professores e alunos e
de aula. O aprendiz determina o próprio tempo da aprendizagem. da escola com os pais, em termos de avaliação, pela superficialida-
É preciso conhecer o aluno enquanto aprendiz, enquanto pes- de do acompanhamento.
soa, membro de uma família, de uma comunidade, com o qual inte- Qualidade significa intensidade, profundidade, criação, perfei-
rage ativa e continuamente. O aprendiz é sujeito de sua história. É ção. Como tal, sua magnitude não pode ser medida em “escalas
preciso respeitar seu tempo de aprender e de ser, o que implica de- métricas” ou por recursos de “conversão entre sistema de men-
sagregar-se do tempo determinado para aprender dado conteúdo. suração”. É importante refletir a cada passo. Mediar é aproximar,
Tendo oportunidade de confrontar suas ideias com as dos colegas, dialogar, acompanhar, ajudar, sem interferir no direito de escolha
ou em textos, vivendo situações problema, o aluno irá progressi- do aprendiz sobre os rumos de sua trajetória de conhecimento.
vamente compreender e evoluir conceitualmente. Desta forma, Classes numerosas podem dificultar essa aproximação, mas umas
o ensino não está centrado no professor, nas aulas frontais, pois das alternativas é justamente o trabalho em equipe por parte dos
cada participante do processo pode colaborar com a aprendizagem professores, que podem dividir entre si a tarefa de acompanhar
dos outros. Sendo assim, o tempo é determinado pelo aprendiz e o mais de perto um grupo de alunos (tutoria). O trabalho em equipe
conteúdo pode ser proposto e explorado de diversas formas, tanto de professores envolve o compromisso de compartilhamento das
pelo professor, como pela turma. experiências, favorecendo a abordagem interdisciplinar, a amplia-
ção das perspectivas acerca da aprendizagem dos alunos.
Cada passo é uma grande conquista
A autora oferece sugestões e exemplos de oportunidades de A auto-avaliação como processo contínuo
aprendizagem que podem ser oferecidas, mesmo em condições A auto-avaliação é um processo contínuo que só se justifica
limitantes (classes superlotadas, escassez de materiais e outras si- quando se constitui como oportunidade de reflexão, tomada de
tuações apontadas por muitos como justificativa para a má qualida- consciência sobre a própria aprendizagem e sobre a própria con-
de do ensino). Avaliação mediadora significa a busca de significado duta, para ampliar suas possibilidades e favorecer a superação de
para todas as dimensões do processo por meio de uma investiga- dificuldades.Ao ser solicitado a explicar como chegou a uma dada
ção séria sobre as características próprias dos aprendizes; conhecer solução de uma situação, o aluno é levado a pensar e explicitar suas
para promover e não para julgar e classificar; convicção de que as próprias estratégias de aprendizagem, ampliando sua consciência
incertezas são parte da educação porque esta é fruto de relações sobre seu próprio fazer e pensar, sobre o seu aprender a aprender.
humanas, fundamentalmente qualitativas. Outro problema passa
a se constituir aqui, quando não se compreende que o processo

290
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

O mesmo processo se aplica aos próprios professores, no processo interdisciplinaridade e transversalidade são inerentes ao processo
de orientação e apoio de colegas, supervisor e demais profissionais educativo. A compreensão que o aluno tem de uma dada disciplina
de suporte pedagógico. interfere em sua aprendizagem em outras disciplinas.

As múltiplas dimensões do olhar avaliativo Os conteúdos


Avaliar, em sua totalidade, implica em prestar atenção aos
seus fundamentos. Como um grande iceberg do qual só se percebe Cabe ao professor:
os registros, precisamos construir olhares mais profundos, para po- • atentar às concepções prévias dos alunos e seus modos
der ter acesso às suas dimensões sobre: de expressarem-se sobre elas para poder organizar situações de
- os registros obtidos; aprendizagem capazes de envolver esses alunos;
- o processo de avaliação; • estar alerta aos desdobramentos dos objetivos traçados ini-
- as concepções de avaliação; cialmente, que constituirão diversos rumos de prolongamento dos
- os valores sociais e éticos. temas em estudo, dentro de uma visão interdisciplinar, e diversifi-
cação dos procedimentos de aprendizagem;
Avaliação é controle. No âmbito escolar, isso reverte o com- • organizar momentos de estruturação do pensamento, favo-
promisso do profissional do educador: quais os princípios e valo- recendo aos alunos oportunidades para objetivação de suas ideias
res morais, sociais, educacionais que fundamentam as tomadas de e a consolidação dos conceitos e noções desenvolvidas.
decisões com base nos processos de avaliação realizados; quais os
critérios utilizados, até que ponto são claros e transparentes para O planejamento pedagógico revela múltiplos direcionamentos
todas a comunidade (escola, família, os próprios alunos); quais os e está diretamente vinculado ao processo avaliatório, uma vez que
benefícios ou prejuízos que podem advir desse processo de contro- as decisões metodológicas estabelecem as condições de aprendiza-
le outorgado à escola e aos professores. Surge aí o compromisso gem ampliando ou restringindo o processo de conhecimento. A in-
ético implícito no processo de avaliação mediadora. Avaliar para re- tervenção pedagógica deve estar comprometida com a superação
provar não é indicador da qualidade da escola ou do professor. Isso de desafios que possam ser enfrentados pelos alunos, favorecen-
só tem sentido dentro de uma perspectiva classificatória e seletiva. do-os avançar sempre. Perguntar mais do que responder, avaliar
A finalidade do controle deve ser entendida a favor do aluno é questionar, formular perguntas, propor tarefas desafiadoras em
e não como obrigação imposta pelo sistema. Os trajetos de cada processo consecutivo/contínuo.
aprendiz são únicos, obedecem a ritmos e interesses diversos, mes- A avaliação contínua significa acompanhamento da construção
mo vivendo a mesma experiência, cada um a experimenta de uma do conhecimento por parte do aprendiz, exigindo alterações quali-
forma singular, o que implica em aprendizagens diferentes dentro tativas nas formas registro e tomadas de decisão sobre aprovação.
de um mesmo contexto. Cabe ao professor perguntar mais do que responder, oferecendo ao
aluno múltiplas oportunidades de pensar, buscar conhecimentos,
Delineando objetivos. engajar-se na solução de problemas, repensar, comprometer-se
Definir os rumos, delinear o norte, o destino essencial das com seus próprios avanços e dificuldades. Transformar respostas
ações educativas precisa ser o compromisso fundamental do edu- em novas perguntas. Cada resposta deve suscitar mais perguntas,
cador no processo de avaliação da aprendizagem. “Entretanto, este tanto por parte dos aprendizes como do próprio professor.
trabalho se dá em um contexto escolar concreto em que” a escola A continuidade da ação pedagógica condiciona-se aos pro-
enfrenta muitos limites nesse sentido: behaviorismo, taxionomias cessos vividos, interesses, avançados e necessidades dos alunos.
intermináveis, excessivo fracionamento dos objetivos, e perma- Assim: experiências coletivas resultam em construções individuais
nente tensão no ambiente escolar entre os que querem transmitir (cada aluno aprenderá a seu jeito, em seu tempo, responderá a sua
conhecimentos e os que querem desenvolver práticas sociais”(Per- maneira). A interpretação das respostas dos alunos possibilita ao
renoud, 2000). professor perceber necessidades e interesses individuais de múlti-
Metas e objetivos não se constituem em pontos de chegada plas dimensões (análise qualitativa).
absolutos, mas pontos de passagem, novos rumos para a continui- Novas experiências educativas, enriquecedoras e complemen-
dade do trabalho educativo. Avaliar segundo esses princípios impli- tares, articuladas às observações feitas, são propostas e/ou ne-
ca refletir sobre as crenças, intenções, ideias, estratégias, a quem gociadas com os alunos (explicações do professor, atividades que
se destinam, quais as condições existentes, quais possibilidades e podem ser para todo o grupo, em pequenos grupos ou específicas
alternativas que pode ser citadas em favor do aprendiz. para determinados alunos).Novas tarefas e/ou atividades são pro-
postas para acompanham o aluno em sua evolução (preferencial-
O plano epistemológico. mente tarefas avaliativas individuais).
A intervenção pedagógica é determinada pela compreensão
dos processos realizados pelo aprendiz em sua relação com o obje- A Avaliação da Aprendizagem Escolar
to de conhecimento. Aprender exige engajamento do aprendiz na A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido na
construção de sentidos o que implica busca de informações per- medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu
tinentes momentos diversificados de aprendizagem contínua. Isso consequente projeto de ensino. A avaliação, tanto no geral quanto
resulta em que o trabalho do professor acerca dos conceitos que no caso específico da aprendizagem, não possui uma finalidade em
pretende ensinar consiste em provocar gradativamente os apren- si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um resultado
dizes, oferecendo oportunidade para que estabeleçam relações previamente definido. No caso que nos interessa, a avaliação subsi-
entre conceitos e entre as várias áreas do conhecimento. Assim, dia decisões a respeito da aprendizagem dos educandos, tendo em

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

vista garantir a qualidade do resultado que estamos construindo. rísticas que nos indicarão se os atos de aferição do aproveitamento
Por isso, não pode ser estudada, definida e delineada sem um pro- escolar, praticados pelos professores, são de verificação ou de ava-
jeto que a articule. liação.
Para os desvendamentos e proposições sobre a avaliação da
aprendizagem, que serão expostos neste texto, teremos sempre Transformação da Medida em Nota ou Conceito
presente este fato, assumindo que estamos trabalhando no con- Outra conduta do professor no processo de aferição do apro-
texto do projeto educativo, que prioriza o desenvolvimento dos veitamento escolar tem sido a conversão da medida em nota ou
educandos - crianças, jovens e adultos - a partir de um processo conceito. Com o processo de medida, o professor obtém o resulta-
de assimilação ativa do legado cultural já produzido pela socieda- do - por suposto, objetivo - da aprendizagem do educando que, por
de: a filosofia, a ciência, a arte, a literatura, os modos de ser e de sua vez, é transformado ou em nota, adquirindo conotação numéri-
viver. Deste modo, os encaminhamentos que estaremos fazendo ca, ou em conceito, ganhando conotação verbal. Neste último caso,
para a prática da avaliação da aprendizagem destinam-se a servir o resultado é expresso ou por símbolos alfabéticos, tais como SS =
de base para tomadas de decisões no sentido de construir com e superior, MS = médio superior, ME = médio, MI = médio inferior,
nos educandos conhecimentos, habilidades e hábitos que possibili- IN = inferior, SR = sem rendimento, ou por palavras denotativas de
tem o seu efetivo desenvolvimento, através da assimilação ativa do qualidade, tais como Excelente, Muito Bom, Bom, Regular, Inferior,
legado cultural da sociedade. Péssimo.
Tendo por base a compreensão exposta neste texto, abordare- A transformação dos resultados medidos em nota ou concei-
mos a prática da aferição do aproveitamento escolar, tendo como to dá-se através do estabelecimento de uma equivalência simples
matriz de abordagem os conceitos de verificação e avaliação, na entre os acertos ou pontos obtidos pelo educando e uma escala,
perspectiva de, ao final, retirar proveitos para a prática docente. previamente definida, de notas ou conceitos. Um exemplo é sufi-
Importa enfatizar que estaremos trabalhando com os conceitos de ciente para compreender como se dá esse processo. Para um tes-
verificação e avaliação, e não com os termos verificação e avalia- te de dez questões, as correspondências entre acertos e notas são
ção. Isso significa que iremos trabalhar com esses conceitos a partir simples: cada questão equivale a um décimo da nota máxima, que
de suas “determinações” no movimento real da prática escolar com seria dez. Assim, um aluno que acertou oito questões obtém nota
a qual convivemos. oito. A transformação de acertos em conceitos poderia ser feita
O conceito é uma formulação abstrata que configura, no pensa- por uma escala como a que segue: SR (sem rendimento) = nenhum
mento, as determinações de um objeto ou fenômeno. No contexto acerto; IN (inferior) = um ou dois acertos; MI (médio inferior) = três
do pensamento marxista, o conceito equivale a uma categoria ex- ou quatro acertos; ME (médio) = cinco ou seis acertos; MS (médio
plicativa, que ordena, compreende e expressa uma realidade empí- superior) = sete ou oito acertos; SS (superior) = nove ou dez acer-
rica concreta, como um “concreto pensado”, “síntese de múltiplas tos. As escalas de conversão poderão ser mais complexas que estas,
determinações’”. O nosso esforço, ao longo deste texto, é expor mas sem nenhuma grande dificuldade.
os elementos do movimento real na prática escolar, relativos ao Para proceder a essa transformação tem-se estabelecido varia-
tratamento dos resultados da aprendizagem dos alunos, tentando das tabelas de conversão. Se não há uma tabela oficial na escola,
responder à seguinte pergunta: a configuração formada pelos da- cada professor cria a sua, em função do instrumento de coleta de
dos da prática escolar, referentes aos resultados da aprendizagem dados que constrói ou utiliza. Notas e conceitos, em princípio, ex-
dos educandos, define-se como verificação ou como avaliação? pressam a qualidade que se atribui à aprendizagem do educando,
Da resposta que pudermos dar a esta questão, estaremos reti- medida sob a forma de acertos ou pontos. Caso o professor, por
rando consequências para a prática docente, acreditando que o es- decisão pessoal ou por norma escolar, multiplique as situações e
forço científico visa fundamentar a ação humana de forma adequa- os momentos de aferição do aproveitamento escolar, para obter o
da. A ciência constitui um instrumento com o qual se trabalha no resultado final de um bimestre ou ano letivo, ele se utiliza da média
desvendamento dos objetos e, por isso, ela nos permite, com algu- de notas ou conceitos.
ma segurança, escolher um caminho de ação. No caso deste texto, No caso das notas, a média é facilitada pelo fato de se estar
no limite do possível, a análise crítica que pretendemos proceder operando com números, que de símbolos qualitativos se transfor-
da prática avaliativa, identificando-a com o conceito de verificação mam indevidamente em quantitativos; no caso dos conceitos, a
ou de avaliação, deixa-nos aberta a possibilidade de encaminha- média é obtida após a conversão dos conceitos em números. Por
mentos, que cremos serem coerentes e consistentes. exemplo, pode-se estabelecer a equivalência entre S e a nota dez,
entre MS e a nota oito, e assim sucessivamente. A partir daí, basta
Fenomenologia da Aferição dos Resultados da Aprendiza- fazer uma média simples ou ponderada, conforme a decisão, ob-
gem Escolar tendo-se o que seria a média da aprendizagem do educando no bi-
Na prática da aferição do aproveitamento escolar, os professo- mestre ou no semestre letivo. Aqui também ocorre a transposição
res realizam, basicamente, três procedimentos sucessivos: indevida de qualidade para quantidade, de tal forma que se torna
• medida do aproveitamento escolar; possível, ainda que impropriamente, obter uma média de conceitos
• transformação da medida em nota ou conceito; qualitativos.
• utilização dos resultados identificados.
Utilização dos Resultados
Iniciaremos nossa análise pela descrição fenomenológica des- Com o resultado em mãos, o professor tem diversas possibili-
sas três condutas dos professores. Tal descrição delimita um qua- dades de utilizá-lo, tais como:
dro empírico, que nos permitirá, posteriormente, abstrair caracte- - registrá-lo, simplesmente, no Diário de Classe ou Caderneta
de Alunos;

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

- oferecer ao educando, caso ele tenha obtido uma nota ou dela consequências novas e significativas. As entrelinhas do pro-
conceito inferior, uma “oportunidade” de melhorar a nota ou con- cesso descrito no tópico anterior demonstram que, no geral, a es-
ceito, permitindo que ele faça uma nova aferição; cola brasileira opera com a verificação e não com a avaliação da
- atentar para as dificuldades e desvios da aprendizagem dos aprendizagem. A partir dessas observações, podemos dizer que a
educandos e decidir trabalhar com eles para que, de fato, apren- prática educacional brasileira opera na quase totalidade das vezes,
dam aquilo que deveriam aprender, construam efetivamente os como verificação. Por isso, têm sido incapaz de retirar do processo
resultados necessários da aprendizagem. de aferição as consequências mais significativas para a melhoria da
qualidade e do nível de aprendizagem dos educandos. Ao contrário,
Se os dados obtidos revelarem que o educando se encontra sob a forma de verificação, tem-se utilizado o processo de aferição
numa situação negativa de aprendizagem e, por isso, possui uma da aprendizagem de uma forma negativa, à medida que tem servi-
nota ou um conceito de reprovação, usualmente tem-se utilizado do para desenvolver o ciclo do medo nas crianças e jovens, através
a primeira e, no máximo, a segunda opção; neste caso, no mínimo da constante “ameaça” da reprovação.
registram-se os dados em cadernetas e, no máximo, chama-se a Em síntese, o atual processo de aferir a aprendizagem escolar,
atenção do aluno, pedindo-lhe que estude para fazer uma segunda sob a forma de verificação, além de não obter as mais significativas
aferição, tendo em vista a melhoria da nota e, nesta circunstân- consequências para a melhoria do ensino e da aprendizagem, ain-
cia, deve-se observar que a orientação, no geral, não é para que o da impõe aos educandos consequências negativas, como a de viver
educando estude a fim de aprender melhor, mas para que estude sob a égide do medo, através da ameaça de reprovação - situação
“tendo em vista a melhoria da nota”. que nenhum de nós, em sã consciência, pode desejar para si ou
A partir dessa observação, poder-se-á arguir: estudar para me- para outrem.
lhorar a nota não possibilita uma aprendizagem efetiva? É possível O modo de trabalhar com os resultados da aprendizagem es-
que sim; contudo, importa observar que o que está motivando e colar - sob a modalidade da verificação- reifica a aprendizagem, fa-
polarizando a ação não é a aprendizagem necessária, mas sim a zendo dela uma “coisa” e não um processo. O momento de aferição
nota. E isso, do ponto de vista educativo, é um desvio, segundo nos- do aproveitamento escolar não é ponto definitivo de chegada, mas
sa concepção. A terceira opção possível de utilização dos resultados um momento de parar para observar se a caminhada está ocorren-
da aprendizagem é a mais rara na escola, pois exige que estejamos, do com a qualidade que deveria ter. Neste sentido, a verificação
em nossa ação docente, polarizados pela aprendizagem e desen- transforma o processo dinâmico da aprendizagem em passos es-
volvimento do educando; a efetiva aprendizagem seria o centro de táticos e definitivos. A avaliação, ao contrário, manifesta-se como
todas as atividades do educador. Contudo, esta não tem sido a nos- um ato dinâmico que qualifica e subsidia o reencaminhamento da
sa conduta habitual de educadores escolares; usualmente, estamos ação, possibilitando consequências na direção da construção, dos
preocupados com a aprovação ou reprovação do educando, e isso resultados que se deseja.
depende mais de uma nota que de uma aprendizagem ativa, inte- Diante do fato de que, no movimento real da aferição da apren-
ligível, consistente. dizagem escolar, nos deparamos com a prática escolar da verifica-
Em síntese, as observações até aqui desenvolvidas demons- ção e não da avaliação, e tendo ciência de que o exercício efetivo
tram que a aferição da aprendizagem escolar é utilizada, na quase da avaliação seria mais significativo para a construção dos resulta-
totalidade das vezes, para classificar os alunos em aprovados ou dos da aprendizagem do educando, propomos, neste segmento do
reprovados. E nas ocasiões onde se possibilita uma revisãodos con- texto, algumas indicações que poderão ser estudadas e discutidas
teúdos, em si, não é para proceder a uma aprendizagem ainda não na perspectiva de gerar encaminhamentos para a melhor forma de
realizada ou ao aprofundamento de determinada aprendizagem, condução possível do ensino escolar.
mas sim para “melhorar” a nota do educando e, por isso, aprová-
-lo’. Uso da Avaliação
Em primeiro lugar, propomos que a avaliação do aproveita-
A Escola Opera Com Verificação e Não Com Avaliação da mento escolar seja praticada como uma atribuição de qualidade
Aprendizagem aos resultados da aprendizagem dos educandos, tendo por base
Iniciemos pelos conceitos de verificação e avaliação, para, a seus aspectos essenciais e, como objetivo final, uma tomada de de-
seguir, identificarmos se a fenomenologia da aferição do aprovei- cisão que direcione o aprendizado e, consequentemente, o desen-
tamento escolar, descrita no item anterior, se configura como ve- volvimento do educando. Com isso, fugiremos ao aspecto classifi-
rificação ou avaliação. O termo verificar provém etimologicamente catório que, sob a forma de verificação, tem atravessado a aferição
do latim - verum facere - e significa “fazer verdadeiro”. Contudo, do aproveitamento escolar. Nesse sentido, ao avaliar, o professor
o conceito verificação emerge das determinações da conduta de, deverá:
intencionalmente, buscar “ver se algo é isso mesmo”, “investigar a • coletar, analisar e sintetizar, da forma mais objetiva possível,
verdade de alguma coisa”. O processo de verificar configura-se pela as manifestações das condutas cognitivas, afetivas, psicomotoras
observação, obtenção, análise e síntese dos dados ou informações - dos educandos, produzindo uma configuração do efetivamente
que delimitam o objeto ou ato com o qual se está trabalhando. A aprendido;
verificação encerra-se no momento em que o objeto ou ato de in- • atribuir uma qualidade a essa configuração da aprendiza-
vestigação chega a ser configurado, sinteticamente, no pensamen- gem, a partir de um padrão (nível de expectativa) preestabelecido e
to abstrato, isto é, no momento em que se chega à conclusão que admitido como válido pela comunidade dos educadores e especia-
tal objeto ou ato possui determinada configuração. listas dos conteúdos que estejam sendo trabalhados;
A dinâmica do ato de verificar encerra-se com a obtenção do • a partir dessa qualificação, tomar uma decisão sobre as con-
dado ou informação que se busca, isto é, “vê-se” ou “não se vê” dutas docentes e discentes a serem seguidas, tendo em vista:
alguma coisa. Por si, verificação não implica que o sujeito retire

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

- a reorientação imediata da aprendizagem, caso sua qualidade deixar de menciona-la, pois sem ela a avaliação não alcançará seu
se mostre insatisfatória e o conteúdo, habilidade ou hábito, que es- papel significativo na produção de um ensino-aprendizagem satis-
teja sendo ensinado e aprendido, seja efetivamente essencial para fatório.
a formação do educando;
- o encaminhamento dos educandos para passos subsequentes — Sistema Nacional de Avaliação Superior (SINAES)
da aprendizagem, caso se considere que, qualitativamente, atingi- Criado pela Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, o Sistema
ram um nível da satisfatoriedade no que estava sendo trabalhado. Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) analisa as ins-
tituições, os cursos e o desempenho dos estudantes. O processo
Assim, o objetivo primeiro da aferição do aproveitamento es- de avaliação leva em consideração aspectos como ensino, pesqui-
colar não será a aprovação ou reprovação do educando, mas o dire- sa, extensão, responsabilidade social, gestão da instituição e corpo
cionamento da aprendizagem e seu consequente desenvolvimento. docente 18.
Padrão Mínimo de Conduta: Para que se utilize corretamen- O Sinaes reúne informações do Exame Nacional de Desem-
te a avaliação no processo ensino-aprendizagem, no contexto es- penho de Estudantes (Enade) e das avaliações institucionais e dos
colar, importa estabelecer um padrão mínimo de conhecimentos, cursos. As informações obtidas são utilizadas para orientação ins-
habilidades e hábitos que o educando deverá adquirir; um padrão titucional de estabelecimentos de ensino superior e para embasar
mínimo de conhecimentos, habilidades e hábitos e não uma média políticas públicas.
mínima de notas, como ocorre hoje na prática escolar. Os dados também são úteis para a sociedade, especialmente
Estar interessado que o Educando Aprenda e Desenvolva: A aos estudantes, como referência quanto às condições de cursos e
prática da avaliação da aprendizagem, em seu sentido pleno, só instituições. Os processos avaliativos do Sinaes são coordenados e
será possível na medida em que se estiver efetivamente interessa- supervisio­nados pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação
do na aprendizagem do educando, ou seja, há que se estar interes- Superior (Conaes).
sado em que o educando aprenda aquilo que está sendo ensinado. A operacionalização é de responsabilidade do Instituto Nacio-
Parece um contra senso essa afirmação, na medida em que pode- nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
mos pensar que quem está trabalhando nó ensino está interessado
em que os educandos aprendam. Todavia, não é o que ocorre.
O sistema social não demonstra estar tão interessado em que o
educando aprenda a partir do momento que investe pouco na Edu-
cação. Os dados estatísticos educacionais estão aí para demonstrar
o pequeno investimento, tanto do ponto de vista financeiro quanto
do pedagógico, na efetiva aprendizagem do educando. No caso da
avaliação da aprendizagem, vale lembrar o baixo investimento pe-
dagógico. Nós, professores, assim como normalmente os alunos e
seus pais, estamos interessados na aprovação ou reprovação dos
educandos nas séries escolares; porém, estamos pouco atentos ao
seu efetivo desenvolvimento.
A nossa prática educativa se expressa mais ou menos da se-
guinte forma: “Ensinamos, mas os alunos não aprenderam; o que é
que vamos fazer”?
De fato, se ensinamos, os alunos não aprenderam e estamos
interessados que aprendam, há que se ensinar até que aprendam;
há que se investir na construção dos resultados desejados. A avalia-
ção só pode funcionar efetivamente num trabalho educativo com https://portais.ufma.br/PortalUnidade/cpa/paginas/pagina_esta-
estas características. Sem esta perspectiva dinâmica de aprendiza- tica.jsf?id=1147
gem para o desenvolvimento, a avaliação não terá espaço; terá es-
paço, sim, a verificação, desde que ela só dimensione o fenômeno No ensino superior, a avaliação do ensino-aprendizagem é vista
sem encaminhar decisões. A avaliação implica a retomada do curso como um processo, porque, ao avaliar o aluno, o professor não o
de ação, se ele não tiver sido satisfatório, ou a sua reorientação, julga em uma situação específica, mas acompanhar evolução do seu
caso esteja se desviando. A avaliação é um diagnóstico da qualida- crescimento.
de dos resultados intermediários ou finais; a verificação é uma con-
figuração dos resultados parciais ou finais. A primeira é dinâmica, a Modalidades e funções das avaliações:  
segunda, estática. — avaliação diagnóstica: é aplicada no início do período letivo
Rigor Científico e Metodológico: Para que a avaliação se tome ou do curso, e tem o objetivo de verificar se os estudantes dominam
um instrumento subsidiário significativo da prática educativa, é os pré-requisitos fundamentais, ou seja, se detém as habilidades
importante que tanto a prática educativa como a avaliação se- e conhecimentos indispensáveis para as aprendizagens previstas
jam conduzidas com um determinado rigor científico e técnico. A futuramente. É aplicada, também, para identificar possíveis proble-
ciência pedagógica, hoje, está suficientemente amadurecida para mas de aprendizagem, bem como suas causas prováveis, na busca
oferecer subsídios à condução de uma prática educativa capaz de por solucioná-los.  
levar ã construção de resultados significativos da aprendizagem, 18 http://portal.mec.gov.br/component/content/270-programas-e-a-
que se manifestem em prol do desenvolvimento do educando. Não coes-1921564125/sinaes-2075672111/12303-sistema-nacional-de-avaliacao-da-e-
caberia tratar desta questão neste texto; todavia, não poderíamos ducacao-superior-sinaes

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

— avaliação formativa: é realizada durante do processo de en- Teorias tradicionais do currículo


sino-aprendizagem, isto é, no decorrer do período letivo. O objetivo As teorias curriculares tradicionais, também chamadas
desse tipo de avaliação é fornecer ao educador as informações so- de teorias técnicas, foram promovidas na primeira metade do
bre o desempenho de aprendizagem de cada aluno. século XX, sobretudo por John Franklin Bobbitt, que associava
— avaliação somativa: aplicada ao término do curso ou do perí- as disciplinas curriculares a uma questão puramente mecânica.
odo letivo, tem a função de classificar os alunos conforme os níveis Nessa perspectiva, o sistema educacional estaria conceitualmente
de aproveitamento pré-definidos. A avaliação somática atribui a atrelado ao sistema industrial, que, na época, vivia os paradigmas
cada aluno um conceito final ou nota relacionada à sua assimilação da administração científica, também conhecida como Taylorismo.
dos conteúdos. Em geral, resulta na promoção de séries. Assim, da mesma forma que o Taylorismo buscava a
padronização, a imposição de regras no ambiente produtivo,
Instrumentos avaliativos mais aplicados na educação superior o trabalho repetitivo e com base em divisões específicas de
Pode-se entender que as técnicas ou instrumentos avaliativos tarefas, além da produção em massa, as teorias tradicionais
simplificam e contribuem tanto para o ensino como para a aprendi- também seguiram essa lógica no princípio do currículo. Dessa
zagem. Dentre os mais aplicados na educação superior, estão:   forma, o currículo era visto como uma instrução mecânica em
— prova: basicamente, esse instrumento serve para revelar o que se elaborava a listagem de assuntos impostos que deveriam
que os alunos sabem e quais são seus erros e suas dificuldades, ser ensinados pelo professor e memorizados (repetidos) pelos
— estudo de caso: esse mecanismo avalia conhecimento e sua estudantes.
aplicação a uma situação-problema de caso específico, e serve tam- Nesse sentido, a elaboração do currículo limitava-se
bém serve para se avaliar as atitudes e habilidades dos alunos, em a ser uma atividade burocrática, desprovida de sentido e
conformidade com os objetivos que definidos.   fundamentada na concepção de que o ensino estava centrado
— trabalhos e monografias: esse mecanismo avaliativo é vol- na figura do professor, que transmitia conhecimentos específicos
tado para a pesquisa científica, pois exige que os alunos aprendam aos alunos, estes vistos apenas como meros repetidores dos
a buscar por informações, assim coo catalogá-las, confrontá-las, assuntos apresentados.
examiná-las e criticá-las. A partir desse instrumento, o aluno desen-
volverá diversas aprendizagens, tudo sob supervisão do professor.   Teorias críticas do currículo
— observação em estágios aulas práticas, laboratórios exercí- As teorias curriculares críticas basearam o seu plano teórico
cios profissionais simulados, etc.: esse é o método mais empregado nas concepções marxistas e também nos ideários da chamada
para conscientizar o aluno a respeito de sua capacitação em fazer Teoria Crítica, vinculada a autores da Escola de Frankfurt,
uso do conhecimento adquirido em circunstâncias profissionais.   notadamente Max Horkheimer e Theodor Adorno. Outra
— diário de curso (portfólio): o registro diário e conciso das influência importante foi composta pelos autores da chamada
atividades efetuados no curso pelo aluno evidencia as interações Nova Sociologia da Educação, tais como Pierre Bourdieu e Louis
com colegas e professores, além do relacionamento do aluno com Althusser.
as metas propostas.   Esses autores conheceram uma maior crescente de suas
— seminários: esse método de aprendizagem que proporciona teorias na década de 1960, compreendendo que tanto a escola
ao aluno o desenvolvimento de sua capacidade de pesquisa, de or- como a educação em si são instrumentos de reprodução e
ganização e fundamentação de ideias e de geração de conhecimen- legitimação das desigualdades sociais propriamente constituídas
to, de comunicação, além de viabilizar a produção de conhecimento no seio da sociedade capitalista. Nesse sentido, o currículo estaria
em grupo. atrelado aos interesses e conceitos das classes dominantes, não
estando diretamente fundamentado ao contexto dos grupos
sociais subordinados.
TEORIAS DO CURRÍCULO
Assim sendo, a função do currículo, mais do que um conjunto
coordenado e ordenado de matérias, seria também a de conter
O currículo, mais do que uma simples enumeração de uma estrutura crítica que permitisse uma perspectiva libertadora
conteúdos e diretrizes a serem trabalhados em sala de aula pelos e conceitualmente crítica em favorecimento das massas
professores ao longo das diferentes fases da vida escolar dos populares. As práticas curriculares, nesse sentido, eram vistas
estudantes, é uma construção histórica e também cultural que como um espaço de defesa das lutas no campo cultural e social.
sofre, ao longo do tempo, transformação em suas definições.
Por esse motivo, para o professor, é preciso não só conhecer os Teorias pós-críticas do currículo
temas concernentes ao currículo de suas áreas de atuação, como Já as teorias curriculares pós-críticas emergiram a partir das
também o sentido expresso por sua orientação curricular. décadas de 1970 e 1980, partindo dos princípios da fenomenologia,
Por esse motivo, o conceito de currículo na educação foi do pós-estruturalismo e dos ideais multiculturais. Assim como as
se transformando ao longo do tempo, e diferentes correntes teorias críticas, a perspectiva pós-crítica criticou duramente as
pedagógicas são responsáveis por abordar a sua dinâmica e teorias tradicionais, mas elevaram as suas condições para além
suas funções. Assim, diferentes autores enumeram de distintas da questão das classes sociais, indo direto ao foco principal: o
formas as várias teorias curriculares, de forma que abordaremos sujeito.
a seguir as correntes apontadas por Silva (2003). No entanto, vale
ressaltar que existem outras formas e perspectivas, a depender
do autor escolhido.
Dessa forma, podemos distinguir três notórias teorias
curriculares: as tradicionais, as críticas e as pós-críticas.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Desse modo, mais do que a realidade social dos indivíduos, era preciso compreender também os estigmas étnicos e culturais, tais
como a racialidade, o gênero, a orientação sexual e todos os elementos próprios das diferenças entre as pessoas. Nesse sentido, era
preciso estabelecer o combate à opressão de grupos semanticamente marginalizados e lutar por sua inclusão no meio social.
As teorias pós-críticas consideravam que o currículo tradicional atuava como o legitimador dos modus operandi dos preconceitos
que se estabelecem pela sociedade. Assim, a sua função era a de se adaptar ao contexto específico dos estudantes para que o
aluno compreendesse nos costumes e práticas do outro uma relação de diversidade e respeito. Além do mais, em um viés pós-
estruturalista, o currículo passou a considerar a ideia de que não existe um conhecimento único e verdadeiro, sendo esse uma
questão de perspectiva histórica, ou seja, que se transforma nos diferentes tempos e lugares.19

Organização curricular
Os documentos, os textos, os planejamentos, os planos e as tarefas são, para Sacristán e Gómez (1998), as “fotos fixas” que
reflete de maneira aproximada aquilo que deve ser o processo de ensino na interligação entre diversas etapas. Isso significa dizer
que um currículo poderia ser analisado a partir dos documentos legais, ou dos programas e concepções que veicula um livro-texto,
ou dos planos de tarefas que equipes de professores elaboram para ser executados em uma escola, ou ainda, a partir dos trabalhos
acadêmicos realizados nas escolas seja, por exemplo, os exames, as avaliações.
A figura abaixo é uma síntese do que vem a ser “o currículo em processo”, segundo Sacristán e Gómez (1998, p.139). Analise-a
conforme suas concepções de currículo, de planejamento, de plano e de avaliação confrontando com as idéias que se pode sugerir
em torno dessa figura (Fig. 1).

Figura 1: O currículo como processo

Note, então, que os currículos escolares transcendem os guias curriculares. A partir disso vale refletir sobre as seguintes
proposições.
1. O currículo não é um conjunto de objetivos, conteúdos, experiências de aprendizagem e avaliação.
2. O currículo escolar não lida apenas com o conhecimento escolar, mas com diferentes aspectos da cultura.
3. A seleção de conteúdos e procedimentos que comporão o currículo é um processo político.

A didática e o currículo
Ao falarmos de currículo surge, de imediato, a questão sobre o que esse termo denota no âmbito escolar. Ora, normalmente,
estamos nos referindo a uma organização intencional de conhecimentos e de práticas, isto é, a uma política cultural, que envolve a
construção de significados individuais e coletivos e que deve ser direcionado à escola para ditar o quê e como ensinar.
Isso não é muito novo, uma vez que o termo currículo é encontrado em registros do século XVII, sempre relacionado a um
projeto de ensino e de aprendizagem, quer dizer, da atividade prática da escola. Neste aspecto, vale notar que currículo envolvia,
já em outros tempos, uma associação entre o desejo de ordem e de método, caracterizando-se como um instrumento facilitador da
administração escolar.

19 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Assim, mesmo na atualidade, dentro da educação A busca por uma escola que se coloque em parceria com
institucionalizada delineia-se um plano para a educação e, as demandas de uma nova sociedade, entre elas, a necessidade
consequentemente, para o currículo. Esse plano é pautado pela de jovens desenvoltos, aptos a enfrentar situações diversas
introdução de mecanismos de controle e regulação no interior da tanto no trabalho como na vida, em condições para lidar com o
educação que, por sua vez, se constituem como instrumentos da imprevisível, com as mudanças rápidas, leva esta proposta a se
sociedade capitalista, que prima pela produção e pelo mercado, opor a um currículo enciclopédico.
tendo como objetivo a obtenção de resultados que vão se ajustar No caso de um currículo centrado nas competências
às necessidades da sociedade em questão. básicas os conteúdos são tidos como meios básicos para
Contudo, numa visão mais alargada sobre o currículo constituir competências cognitivas ou sociais, contrariamente
escolar é importante notar que ele reflete experiências em ao que acontecem num currículo enciclopédico. Neste
termos de conhecimento que serão proporcionados aos alunos último, os conteúdos são considerados como puramente
de um determinado nível escolar.Neste caso, existe hoje uma informativo, orientando o aluno para o vestibular, priorizando os
distância entre a realidade vivida pelos alunos e os conteúdos conhecimentos e as competências mais gerais.
que constituem os currículos escolares. Essa distância é pelo
processo de globalização, pela inserção de novas linguagens Um currículo organizado por área de conhecimento e não
– computacionais, gráficas – enfim, novos meios e técnicas de por disciplinas
comunicação que antes não existiam. A nova sociedade que Ao se considerar que as disciplinas não teriam limites entre
se configura faz com que os currículos escolares reflitam uma elas, pensa-se que as áreas também não teriam. Assim surge
realidade de um mundo social que já não é mais condizente com a proposta de um currículo centrado nas áreas. Tal proposta
a nova sociedade. não é de fácil elaboração, uma vez que necessita de mudanças
Há que se considerar que cada momento, cada cultura profundas na organização dos sistemas escolares e, além de tudo,
define o currículo a partir das finalidades da escola. Cada época está em contraposição com a estrutura da formação docente
enfatiza finalidades de uma ou outra natureza, seja, religiosas, nos cursos de licenciatura. Porém, a expectativa é que se faça
sociopolíticas, psicológicas, culturais, podendo cada uma projetos pilotos, partindo de uma ou outra escola, com o intuito
dessas finalidades assumirem diversas formas, dependendo das de acompanhar e avaliar a produtividade do processo ensino e
características e das necessidades das sociedades. aprendizagem em tal proposta.
Para amenizar o problema do distanciamento entre a
realidade vivida pelos alunos e os currículos escolares ou, ao Um currículo estruturado a partir dos princípios pedagógi-
menos, tentar sintonizar-se a contemporaneidade, a legislação cos da identidade, da diversidade, da autonomia, da interdisci-
atual (LDB e as DCNs) procura explicitar diretrizes tanto de plinaridade e da contextualização
formação, quanto de ordem cultural, que devem fundamentar Tanto a identidade, como a interdisciplinaridade e
as definições e ações dos profissionais de ensino e, sobretudo, contextualização são princípios estimulados nas DCNs. A questão
os professores de cada escola ao formularem o currículo para os da identidade, ou melhor, da identidade de cada escola, leva
alunos. a identificação do que se é, gerando exercícios diferentes da
As Diretrizes Curriculares regulamentam diretrizes para a autonomia, assim como uma grande diversidade de trajetórias
elaboração de um currículo; não são o currículo. Isso significa convergindo para pontos comuns. Isso implica na proposição
que, a autonomia, idéia forte tanto das DCNs, como da LDB, dá curricular em dada direção, condizente com os anseios e a
a possibilidade de se construir o currículo escolar a partir das identidade dos atores da escola.
necessidades de cada estado, muito embora, se exija a qualidade O princípio da interdisciplinaridade se dá de que todo
dos resultados obtidos que serão percebidos pela sociedade conhecimento mantém um diálogo permanente com outros
em relação à qualidade da aprendizagem dos alunos. Vale conhecimentos, seja de construção do conhecimento, de
notar, então, que as Diretrizes oferecem as grandes linhas de metodologia, de linguagem, de questionamento. Isso supõe o
pensamento, orientando os educadores para uma definição do entendimento de que as disciplinas escolares são oriundas de
currículo. Paralelamente, os Parâmetros Curriculares Nacionais áreas de conhecimento que representam. Neste caso, a sugestão
(PCNs) propõem um itinerário de conteúdos e métodos para é de que as escolas organizem currículos interdisciplinares,
as disciplinas e áreas, ou seja, têm o caráter de sugestão aos propondo o estudo comum de problemas concretos ou o
professores. desenvolvimento de projetos de ação ou investigação, a partir
Vejamos, de uma maneira sintética, o que nos propõem daquilo que permite dar a interdisciplinaridade, por exemplo,
as DCNs como linhas gerais para a elaboração de currículo na métodos e procedimentos, objeto de conhecimento, tipo de
atualidade. habilidade.
Enfim, a contextualização pressupondo que a relação teoria
Um currículo centrado nas competências básicas e prática requer a concretização dos conteúdos curriculares em
Baseando-se nos objetivos em torno do desenvolvimento situações mais próximas e familiares do aluno, implicando num
da capacidade de aprender e continuar a aprender, da aquisição ensino que parta de situações da vida cotidiana e da experiência
de conhecimentos e habilidades, da capacidade de relacionar a do aluno.
teoria com a prática, da preparação básica para o trabalho e a A partir, então, do que propõe as DCNs a respeito do
cidadania, tal proposta se articula a partir da concepção de um currículo nota-se,uma vez mais, a supremacia da autonomia e do
currículo que desenvolva competências básicas no educando. poder docente na tomada de decisão de encaminhamentos para
os conteúdos e a forma curricular. Assim a reflexão, a discussão,
a busca de consensos e de possibilidades de implementação

297
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

curricular a partir do texto das DCNs cada escola pode escolher orientações, muitas vezes, apresentam-se de difícil compreensão
seu caminho. No entanto, o limite da autonomia de escolha é a e muito genéricas para a viabilidade da elaboração de um
avaliação dessa escolha a partir dos resultados de aprendizagem currículo. Nesse caso, costuma-se traduzir para os professores o
dos alunos conduzidos pelo currículo elaborado. significado e os conteúdos do currículo prescrito, definindo-se em
Segundo Sacristàn (2000) as formas de estruturação dos documentos que são currículos apresentados aos professores. O
conhecimentos escolares definem o formato do currículo que livro-texto é um dos meios mais decisivos que desempenha esse
é fundamental para a organização da prática pedagógica, para papel de intermediário entre o professor e as prescrições.
o modo como o professor atua no ensino e no modo como a No entanto, ainda que haja as prescrições e uma releitura
escola funciona. Um currículo denominado de mosaico tem como dessas prescrições, seja através da prescrição administrativa, seja
característica o modelo multidisciplinar, onde a organização dos do currículo elaborado pelos materiais, guias, livros didáticos,
conteúdos se dá mediante a reunião de diferentes disciplinas etc., o professor é um sujeito ativo que molda a partir de sua
com fronteiras nítidas entre si e os conhecimentos são estudados cultura profissional qualquer proposta que lhe é feita. Assim, o
separadamente, cada qual segundo suas categorias e métodos currículo geralmente é modificado pelo professor que o adapta
explicativos próprios. Neste caso, “...os professores manterão as suas necessidades concretas, constituindo o currículo moldado
entre si as mesmas barreiras que guardam entre si os diferentes pelo professor. Contudo, é na prática real, guiada pelas tarefas
especialistas da matéria a cuja lógica têm que se submeter” acadêmicas, pela ação pedagógica, que o currículo é colocado
(Sacristán, 2000, p.77). em ação.
Um currículo integrado é caracterizado pela organização dos Como consequência da prática efeitos diversos são
conteúdos que aparecem uns relacionados com os outros numa produzidos, tais como, cognitivo, afetivo, social, moral, etc. Tais
fronteira bastante aberta, procurando-se estabelecer relações consequências se refletem na aprendizagem dos alunos, mas
entre os conhecimentos e o tipo de trabalho pedagógico a ser também afetam os professores que, por meio da socialização
desenvolvido. “Os currículos de caráter mais integrado deixam profissional gera-se o currículo realizado.
ao professor mais espaço profissional para organizar o conteúdo,
à medida que se requerem outras lógicas, que não são as dos A contextualização dos currículos (interdisciplinaridade,
respectivos especialistas” (Sacristán, 2000, p.77). transdisciplinaridade e multidisciplinaridade)
É notório que, no caso de Matemática o currículo escolar que O papel da escola, mais precisamente do ensino e da
predomina é o denominado mosaico. Isso porque cada conteúdo educação, sempre foi e sempre será questionado através
é pensado e definido a partir do encadeamento na qualidade de dos tempos. Questionar-se-á não sobre a sua necessidade e
pré-requisito para o estudo de um outro conteúdo na seqüência importância na vida dos indivíduos, uma vez que estes temas já
curricular. A estrutura curricular se dá, normalmente, num foram amplamente discutidos e esgotados por diversos grupos
percurso univocamente determinado, definindo uma organização durante a história. Questionar-se-á sempre se esta, a escola,
linear. Porém, contrariamente a essa posição, Pires (2000) nos tem servido ao seu papel sociológico, propósito central, de
contempla com novas idéias, considerando a interdisciplinaridade “cunhar” indivíduos preparando-os para se posicionarem como
e a inteligência múltipla, para definir um “currículo em rede”. seres sociais integrados e adaptados à convivência em grupo, à
Assim, diferentemente da organização linear, a idéia de sociedade, agindo como participantes no desenvolvimento do
rede tem como propósito o de articular disciplinas no currículo, todo. Ainda, não somente como membros destes grupos capazes
trazendo possibilidades para projetos interdisciplinares. O de se interrelacionarem com seus entes, mas como membros
princípio da heterogeneidade mostra o quanto “... as conexões qualitativos capazes de somar através de suas habilidades e
de uma rede curricular são heterogêneas, isto é, nela vão estar conhecimentos.
presentes palavras, números, códigos, leis, linguagens, sons, Ao pontuarmos a escola, e suas responsabilidades, como
sensações, modelos, gestos, movimentos, dados, informações” algo focado na “formatação” de indivíduos para serem inseridos
(Pires, 2000, p.145). Assim, entra em jogo o fato de que tudo em grupos sociais perceberemos, claramente, de que o desafio
pode funcionar por proximidade, por vizinhança. aqui proposto para a escola é, indubitavelmente, complexo e
Diante de toda essa teorização acerca do currículo cabe uma dinâmico. Dinâmico pelo fato de se estruturar sobre um conjunto
questão fundamental: de que maneira o currículo se modela de regras e padrões, os sociais, que se apresentam em constante
no interior dos sistemas escolares, isto é, como se realiza como mudança, reflexo do próprio processo evolutivo social de cada
prática concreta? era na qual se viverá; Complexo pelo fato de exigir de si mesma a
Sacristán (2000) discute acerca de um modelo de necessidade de capacitar o indivíduo a observar a sociedade, seus
interpretação do currículo a partir da confluência de prática problemas, relacionamentos e saberes de uma forma dinâmica,
docente (Veja figura 1). Segundo este autor, para a compreensão interligada, completamente dependente de causas e efeitos
do sistema curricular, diferentes níveis de concretização do nas mais diversas áreas, do saber do conhecimento ao saber do
currículo são levados em conta, são eles: o currículo prescrito, relacionamento, permitindo assim, e somente assim, que estes
o currículo apresentado aos professores, o currículo moldado possam ser formados com as habilidades necessários, acima
pelos professores, o currículo em ação, o currículo realizado, o descritas, para ocuparem sua posição dentro desta sociedade.
currículo avaliado. Diante do entendimento da complexidade na qual estamos
O currículo prescrito se refere às prescrições e orientações inseridos percebe-se a necessidade da implantação de um
que organizam os sistemas de ensino e servem como referência raciocínio horizontalizado complementar para o estabelecimento
para a organização dos currículos. No nosso caso, discutimos do saber. O estudo dos problemas através de uma comunicação
acima as Diretrizes Curriculares Nacionais, considerando-se horizontalizada se faz necessário no intuito de maximizar o
ainda, os Parâmetros Curriculares Nacionais. As prescrições e “produto social final” esperado das escolas, e mais do que isso,

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

para a busca da democratização real do conhecimento através uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento
da libertação do pensamento, da visão e do raciocínio crítico na analisado. Segundo Almeida Filho (Almeida Filho, 1997) a idéia
formação do saber individual seja ele de quem for. mais correta para esta visão seria a da justaposição das disciplinas
Currículo e as disciplinas cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do
O questionamento se inicia ao analisarmos a estrutura atual elemento em questão. Nesta, cada professor cooperará com
na qual estão inseridas as escolas e centros de pensamento o estudo dentro da sua própria ótica; um estudo sob diversos
crítico-criativo, os centros de ensino superior. Umas das ângulos, mas sem existir um rompimento entre as fronteiras das
primeiras barreiras encontradas para a implantação de um disciplinas.
pensamento horizontalizado na construção do conhecimento Como um processo inicial rumo à tentativa de um pensamento
esta na estrutura do currículo. horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplinaridade
Saviani [Saviani, 2003] é categórico quando apresenta os institui o inicio do fim da especialização do conteúdo. Para Morin
posicionamentos de autores como Apple e Weis sobre o currículo. (Morin, 2000) a grande dificuldade nesta linha de trabalho se
Para estes o foco central na estruturação do currículo esta na encontra na difícil localização da “via de interarticulação” entre
concretização do monopólio social sobre a sociedade através as diferentes ciências.É importante lembrar que cada uma delas
do campo educacional. Apple prossegue afirmando que esta possui uma linguagem própria e conceitos particulares que
ferramenta será estruturada através de regras não formalizadas precisam ser traduzidos entre as linguagens.
que constituirão o que ele mesmo denominou de “currículo
oculto”. Interdisciplinaridade
Berticelli (Berticelli, 2003) e Moreira e Silva (Moreira e Silva, A interdisciplinaridade, segundo Saviani (Saviani, 2003) é
1995)não destoam de Saviani ao indicar que o currículo é um indispensável para a implantação de uma processo inteligente
local de “jogos de poder”, de inclusões e exclusões, uma arena de construção do currículo de sala de aula – informal, realístico
política. e integrado. Através da interdisciplinaridade o conhecimento
Na busca da prática da horizontalização do pensamento passa de algo setorizado para um conhecimento integrado onde
e do estudo a presença do currículo como selecionador as disciplinas científicas interagem entre si.
de conhecimentos pré-definidos se constitui como uma Bochniak (Bochniak, 1992) afirma que a interdisciplinaridade
ferramenta castratória que limita o docente a mero reprodutor é a forma correta de se superar a fragmentação do saber
de conhecimento. São verdadeiros instrumentos que tolem instituída no currículo formal. Através desta visão ocorrem
o processo crítico-criativo necessário ao entendimento interações recíprocas entre as disciplinas. Estas geram a troca
contextualizado e multifacetado das problemáticas presentes na de dados, resultados, informações e métodos. Esta perspectiva
vida real. transcende a justaposição das disciplinas, é na verdade um
A presença do currículo formal como ferramenta norteadora “processo de co-participação, reciprocidade, mutualidade,
do processo de ensino-aprendizado institui a fragmentação do diálogo que caracterizam não somente as disciplinas, mas todos
conhecimento trazendo ao discente uma visão completamente os envolvidos no processo educativo”(idem).
esfacelada do item analisado e desta forma impossibilitando uma
compreensão maior de mundo, de sociedade e de problemática Transdisciplinaridade
estudada. A transdisciplinaridade foi primeiramente proposta por
Em busca de uma solução Silva (Silva, 1999) propõe o Piaget em 1970 (PIAGET, 1970) há muitos anos, contudo,
abandono do currículo padrão, pré-definido utilizado atualmente, só recentemente é que esta proposta tem sido analisada e
para a adoção do “currículo da sala de aula”. Este, construído pontualmente estudada para implementação como processo de
no trabalho diário do docente e do seu relacionamento com o ensino/aprendizado.
meio na busca pela compreensão multifacetada da realidade Para a transdisciplinaridade as fronteiras das disciplinas
vivenciada do aluno. Seria a instituição da relação dialógica real são praticamente inexistentes. Há uma sobreposição tal que é
entre o professor e o aluno na construção do saber. impossível identificar onde um começa e onde ela termina.
Na construção deste currículo informal, mas real, extraído “a transdisciplinaridade como uma forma de ser, saber e
das páginas da realidade do aluno Fazenda indica a necessidade abordar, atravessando as fronteiras epistemológicas de cada
da dissolução das barreiras entre as disciplinas buscando uma ciência, praticando o diálogo dos saberes sem perder de vista a
visão interdisciplinar do saber “que respeite a verdade e a diversidade e a preservação da vida no planeta, construindo um
relatividade de cada disciplina, tendo-se em vista um conhecer texto contextualizado e personalizado de leitura de fenôminos”.
melhor” (Fazenda,1992) (Theofilo, 2000)
Surge então a necessidade de reformular o modus operand A importância deste novo método de analise das
iestabelecido através da re-análise das atuais temáticas e problemáticas sob a ótica da transdisciplinaridade pode ser
conseqüentemente propondo uma visão horizontalizada para constatada através da recomendação instituída pela UNESCO em
a analise e pesquisa dos temas apresentados no dia-a-dia do sua conferência mundial para o ensino Superior (UNESCO, 1998).
discente surgem a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade Nicolescu (Nicolescu, 1996) formula a frase: “A
e a transdisciplinaridade. transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra entre
as disciplinas, através das disciplinas e para além de toda
Multidisciplinaridade a disciplina”. A esta ultima colocação entende-se “zona do
A multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de espiritual e/ou sagrado”.
todas as 3 visões. Para este, um elemento pode ser estudado por
disciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocorrerá

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

O indivíduo do terceiro milênio esta exposto a problemas sobre o processo da aprendizagem terá aplicação para a sua
cada vez mais complexos. Estes podem estar ligados a própria elaboração”, considerando o mesmo, como um aspecto a ser
complexidade do inter-relacionamento dentro da sociedade reproduzido, modificado e reconstruído no decorrer do tempo.
humana ou através do grau de especialização atingido pelo O processo de compreensão do conceito de currículo, não
conhecimento científico da humanidade. pode ser dado através de conceitos anteriormente formados, à
O fato é que o ser social deste novo milênio, caracterizado medida que no mundo ocorrem constantes transformações, a
pela era da informação, do avanço tecnológico diuturno, da construção do conhecimento e do campo do currículo precisa
capacidade de interconexão em rede e de outras propriedades ser repensada, sem desconsiderar o espaço e o tempo em que
que caracterizam os paradigmas que constituem essa nova era, se inserem, tornando, assim, necessário criar novas perspectivas
precisa encontrar na escola, seu ente social para a formação, o para que se forme um próprio conceito.
aparato técnico-científico-social capaz de o “cunhar” para a sua Como se vê atualmente, as dificuldades no ensino aumentam,
participação social. principalmente, caso a organização do currículo escolar contraste
Diante de paradigmas tão dispares quanto os que são com a realidade vivenciada pelo aluno, impossibilitando-lhe de
vivenciados hoje pela humanidade, a necessidade de se repensar participar dela de forma mais crítica. Propõe-se nesse artigo,
o processo de ensino-aprendizagem atual se faz necessário. problematizar aspectos concernentes à história e evolução do
Continuar com o processo pedagógico-histórico atualmente currículo, bem como o seu norteamento para a construção do
instituído nas escolas e centros de estudo acadêmico é somente conhecimento em sala de aula.
comparável com a geração de indivíduos, e consequentemente,
de uma sociedade, intelectualmente analfabeta e limitada.20 O Currículo Escolar: Aspectos Históricos
São diversas as definições para o conceito do que venha a ser
Como organizar o currículo segundo a BNCC? o currículo, isto pode ser percebido na existência de inúmeros
Os campos de experiência representam uma mudança na autores que tendem a abranger o referente tema, cada um com
lógica do currículo, que deixa de ser uma estrutura formada por a sua própria concepção, tendo em vista as diversas temáticas
conteúdos prévios e passa a se centrar na experiência da criança, exploradas por eles que giram em torno desse assunto, o que
na maneira como ela constrói sentido sobre as coisas, os outros faz com que cada indivíduo possua também a sua própria
e si mesma. definição, desde que seja levado em consideração o contexto
Alguns estudiosos partem do princípio de que a criança não social e histórico em que vive o aluno. Etimologicamente, a
sabe menos, ela tem um conhecimento diferente dos adultos, palavra currículo vem do latim curriculum, perpassando uma
que precisam saber entrar naquele universo e respeitar a cultura noção de conjunto de dados integrados e variáveis para cada
que já existe no imaginário infantil. Assim, conhecer os alunos é pessoa, observando as suas necessidades, os seus problemas,
o primeiro passo para navegar no contexto educativo tendo em os seus interesses, e tudo aquilo que contribua para o seu
mente os campos de experiência. desenvolvimento.
Na prática, o currículo deve conter as atividades educativas A partir do século XVIII, a criança passou a ser considerada
que irão compor as aulas, levando-se em consideração a rotina, como um ser diferenciado na sociedade, possuindo suas próprias
os espaços e os materiais que a escola disponibiliza. Cabe ao características. Tal fato decorreu através da ascensão da família
professor, portanto, identificar como os campos de experiência burguesa, na qual a sociedade passou por profundas mudanças
podem ser manifestados em cada disciplina. econômicas e industriais, ocasionando assim a reorganização
Por exemplo, o campo “corpo, gestos e movimentos” pode ser da escola. Nesse contexto, surge também um novo modelo de
integrado à disciplina de Artes, com atividades de dança, teatro e currículo escolar, centrado nas experiências da criança (ACÚRCIO,
mímica. O campo “escuta, fala, pensamento e imaginação” pode 2003).
incorporar tanto Artes, como História e Português. O campo O currículo escolar não surgiu num ritmo acelerado, vem
“espaço, tempo, quantidades, relações e transformações pode de um processo de transformação lento, e é sintomático seu
ajudar a tornar o ensino de Matemática mais palpável. E assim surgimento, uma vez que mantém uma relação associada
por diante. diretamente entre aluno-escola-sociedade, motivo de sua
Nesse sentido, é importante considerar o currículo um amplitude cada vez mais diversificada.
organismo vivo, composto por ações que farão parte do cotidiano Observando o panorama histórico do currículo, podemos
das crianças e contribuirão diretamente para a formação delas. perceber a relação que se estabeleceu a partir do século XIX,
Assim, se considerarmos que o processo de aprendizado é expandindo-se pelo século XX entre o ensino e a sua amplitude
mais efetivo quando as experiências são colocadas em evidência, que vai além da sala de aula. Nessa época, vários autores
concluímos que o aluno se relaciona melhor com o que lhe incita passaram a escrever acerca deste assunto cujas áreas mais
sensações. Além disso, é válido se atentar para a importância da comuns eram “Aritmética; Artes Plásticas e Artesanatos; Saúde,
educação inclusiva. Educação Física e Segurança; Segurança; Linguagem; Música;
Ciência; Estudos Sociais, etc” (TRALDI, 1984, p. 36). Somente nos
Currículo e construção do conhecimento. últimos anos do século XIX, passou-se a pensar num currículo
São vários os conceitos que se tem de currículo, dentre eles, voltado para as experiências vividas pelo aluno, o qual serviria
temos o referido por Traldi (1984, p. 25) de que “currículo é como veículo de transmissão de valores julgados necessários
um plano para a aprendizagem, em que tudo o que se conheça para o crescimento integral de cada um deles, partindo da sua
20 Baseado em “Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e mé- realidade, que na maioria das vezes, contrasta com a realidade
dia” - Por Amélia Domingues de Castro, Anna Maria/ www.diaadiaeducacao. vivenciada na escola.
pr.gov.br/www.webartigos

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Partindo da premissa de que a formação integral do aluno eficácia de um currículo bem estruturado seja alvo de bastantes
não se concretiza apenas pela formação intelectual, Dewey, discussões entre teóricos, as unidades de ensino oferecidas nas
principal representante da pedagogia Progressiva, refletiu grades curriculares das escolas em sua maioria, tornam-se cada
inúmeras ideias nas quais a educação deveria ser feita pela vez mais conteudistas, fazendo com que o aluno, não passe
ação. Nessa perspectiva, pode-se entender a educação como um de um mero receptor, desconsiderando as suas necessidades
processo gradativo que não depende apenas do ensino oferecido educativas, as quais deveriam ocupar lugar central desde o
pela escola. planejamento curricular.
A escola não é uma preparação para a vida, é a própria vida; Nesta perspectiva, Piletti (1995, p. 15) afirma que, o aluno não
a educação é o resultado da integração entre o organismo e o é mais visto como um ser passivo que deve apenas assimilar os
meio através da experiência e da reconstrução da experiência. conhecimentos que lhe são transmitidos pelos seus professores.
A função mais genuína da educação é a de prover e estimular É visto, antes de mais nada, como um ser ativo que aprende não
a atividade própria do organismo para que alcance seu objetivo através do contato com professor e com a matéria (conteúdo),
de crescimento e desenvolvimento. Por isso, a atividade escolar mas através de todos os elementos do meio.
deve centrar-se em situações de experiência onde são ativadas
as potencialidades, capacidades, necessidades e interesses A Relação entre o Currículo e a Construção do Conhecimen-
naturais da criança. O currículo não se baseia nas matérias de to
estudo convencionais que expressam a lógica do adulto, mas nas Embora seja um dos elementos mais importantes, se não
atividades e ocupações da vida presente de modo que a escola o mais importante da escola, o currículo ainda vem sendo
se transforme num lugar de vivência daquelas tarefas requeridas encarado como um elemento de pouca relevância, no que diz
para a vida em sociedade. O aluno e o grupo passam a ser o respeito à prática educativa. A organização curricular norteia a
centro de convergência do trabalho escolar (LIBÂNEO, 2004, p. prática educativa do professor, e embora não ofereça soluções
62 e 63). prontas, deve priorizar a melhoria da qualidade de ensino. Para
O trajeto do currículo escolar como produto cultural prova Teixeira (1976, p. 58), a escola tem de se fazer prática e ativa, e
a nítida relação entre os sujeitos que planejam o currículo e não passiva e expositiva, formadora e não formalista. Não será a
aqueles a quem ele é destinado. As transformações no conceito instituição decorativa pretensamente destinada á ilustração dos
de currículo e escola tornam o aluno um sujeito com identidade seus alunos, mas a casa que ensine a ganhar a vida e a participar
própria, visto como um determinante em potencial para a inteligente e adequadamente da sociedade.
sociedade. O aumento de conceito para o campo do currículo, O papel concebido à escola é muito diversificado e
faculta o aparecimento de autores que passam a levá-lo em importante, pois este ambiente, além de atender às necessidades
conta. educacionais das crianças, deve garantir-lhes um lugar especial,
Na mesma linha de pensamento, Traldy (1984, p. 33) oferecendo todas as condições necessárias ao seu aprendizado,
afirma que currículo é uma sucessão de experiências escolares além disso, pode também contribuir na formação de competências
adequadas a produzir de forma satisfatória, a contínua e habilidades consideradas essenciais para o desenvolvimento de
reconstrução da experiência, sendo o papel do mestre preparar sua criticidade.
o ambiente para que esta sucessão se faça de tal forma que A estrutura e organização do currículo é muito importante
promova o desenvolvimento dos alunos e os faça atingir os para a aprendizagem da criança, uma vez que possibilita a
fins de autodireção, no redirecionamento de suas capacidades, promoção de meios que facilitam o processo de ensino, tendo
potencialidades e atividades. em vista a reciprocidade e a integridade da mesma com relação
Influenciado pelas ideias de Dewey e Kilpatrick, Teixeira às atividades envolvidas. O problema é que na maioria das vezes
introduziu inovações no modelo do currículo brasileiro, os métodos e os conteúdos de ensino são pensados fora do
considerando que deveria haver uma relação cada vez mais ambiente escolar.
aproximada entre o desenvolvimento social, moral e intelectual Para Traldy (1984), um bom currículo escolar, é aquele que se
do aluno, sem deixar de lado as suas emoções. Novas perspectivas fundamenta numa concepção de educação que: Pressupõe que o
em relação ao currículo eram evidentes na reorganização aluno seja sujeito de seu processo de aprendizagem; privilegia
da instrução pública na Bahia. (...) Teixeira chamou, assim, a principalmente o saber que deve ser produzido, sem relegar a
atenção para a importância de se organizar o currículo escolar segundo plano o saber que o aluno já possui; as atividades de
em harmonia com os interesses, as necessidades e os estágios de currículo e ensino não são separadas da totalidade social e
desenvolvimento das crianças baianas (MOREIRA, 1990, p. 85). visam à transformação crítica e criativa do contexto escolar,
Tais ideias foram propagadas e defendidas por muitos e mais especificamente de sua forma de se organizar; essa
estudiosos da educação, resultando assim, em reformas transformação ocorre através do acirramento das contradições e
importantes no sistema educacional (como a Reforma Campos) da elaboração de propostas de ação, tendo em vista a superação
de vários estados brasileiros, com o objetivo de propor novas das questões apresentadas pela prática pedagógica.
formas de se pensar o currículo. Posteriormente, a disciplina A escolha dos conteúdos deve partir da realidade concreta
Currículos e Programas foram introduzidos no Brasil com do aluno, considerando desde a essência dos dados ao contexto
o propósito de contribuir com a formação do professor, e em que está inserida a escola, dando mais ênfase à interação
consequentemente, do aluno, buscando valorizar as funções que professor-aluno, valorizando a participação de ambos nas
ambos desempenhavam na sala de aula. tomadas de decisões, promovendo a integração do conteúdo,
Não podemos apresentar completamente a história do selecionando-o conforme as necessidades das partes envolvidas.
currículo, mesmo porque a sua abrangência corresponde a
contextos variados que se dão social e historicamente. Embora a

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Há, porém, que se levantar fatores definitivos na construção tornando assim, algo que faz bem, que promove transformação
do currículo, tal como podemos observar nas palavras de Moreira e desenvolve o senso crítico, em algo que não passe de um mero
(1990, p. 49): No nível da teoria curricular, um interesse em conteúdo.
controle é claro quando as tarefas curriculares correspondem à O professor, bem como toda a equipe que compõe a escola,
a) definição dos elementos ou variáveis relevantes envolvidos deve criar um meio educacional adaptado às condições locais
no currículo; e do aluno dentro e fora da escola. Isto favorece o envolvimento
b) criação de um sistema de tomada de decisões para o escola-aluno, promovendo um relacionamento capaz de
planejamento curricular. ocasionar a identificação de ambas as partes, não somente
Ao chegar à escola, a criança já traz de casa um conjunto no campo intelectual, mas também em reflexões sobre nós
de habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas, mesmos como seres humanos. Mediante a isso, procurou-
e por sua vez, definidas pelo professor. Além de promover se nesse estudo, apresentar alguns dos muitos estudos e
o desenvolvimento dessas habilidades, o professor precisa pesquisas que evidenciaram a importância do currículo como
aprender a interagir, perguntar e fazer bons questionamentos, fator indispensável para o bom desenvolvimento da criança no
sendo flexível para mudanças metodológicas que surgirem no processo educacional.21
decorrer de sua prática, em todas as áreas curriculares, fazendo
com que o currículo se torne mais próximo da identidade do Princípios epistemológicos do currículo
aluno. De acordo com Moreira (1990, p. 54): “paralelamente As discussões contemporâneas sobre as ciências abrem uma
às mudanças na vida social, a escola deveria transformar-se e reflexão epistemológica que têm colocado em pauta o estatuto
organizar-se cientificamente de modo a compensar os problemas da ciência, a cientificidade das diferentes disciplinas e remetem
da sociedade mais ampla e contribuir para o alcance de justiça ao currículo escolar. A Teoria do Currículo, como ciência humana,
social”. tem sido sensível a essas discussões. É recorrente a discussão em
O aluno deve participar ativamente do processo de ensino torno da crise dos paradigmas seja diante da impossibilidade do
realizado pela escola, sendo entendido não apenas como mecanicismo determinista clássico explicar eventos, ou os limites
objeto, mas como sujeito da prática de ensino. O professor em abrirem fundadas perspectivas para o presente e o futuro da
consideração a individualidade de cada um, tendo em vista o humanidade.
contexto cada vez mais diversificado da sala de aula, no qual cada Sensibilizar-se às novas tendências epistemológicas e, ao
aluno possui características distintas. mesmo tempo, manterse atento às suas contribuições para
Outro aspecto básico que merece destaque na organização a Educação, supõe não perder de vista os avanços, mesmo
curricular é a forma de como se avalia a aprendizagem do contraditórios, que a teoria e a prática do Currículo têm realizado
aluno. A avaliação deve estar incorporada ao currículo a partir na história da escola no mundo contemporâneo.
do momento que se faz presente na sala de aula. São muitas as No universo científico, muitos autores abraçam a hipótese
escolas que não permitem que haja uma melhoria nos métodos de que as ciências, e em particular, as ciências humanas,
de avaliação, permanecendo conservadoras, embora vivamos em emergidas no século passado, estariam no limiar de um novo
constantes transformações. paradigma (SANTOS, 1996; HELLER, SANTOS et al., 1999),
Traldy (1984) acrescenta que em uma proposta de educação compelidas pela convergência de uma nova compreensão da
transformadora e de currículo com um enfoque crítico, só se natureza e pelo estabelecimento de uma nova aliança, conforme
pode falar em um processo de avaliação que seja compatível com anunciam Prigogine & Stengers (1979).Estariam, definitivamente,
essa concepção de educação e de currículo. inaugurando o advento do fim das certezas (PRIGOGINE, 1996),
O processo de avaliação na sala de aula deve estar de acordo ecos de uma substancial revolução em curso no paradigma da
com as particularidades de cada sujeito presente em tal processo, física clássica, principalmente a concorrência da energia e da
respeitando as diferenças no currículo escolar, e, por sua vez, na termodinâmica rivalizarem-se com o tema nuclear da gravitação
sala de aula. Avaliar, não significa dar todo o conteúdo até o final mecânica determinista de Newton. Prigogine avalia os suportes
do ano e cobrar o que foi ensinado, por meio de inúmeras provas, da física clássica, traduzida na idéia de uma formulação
que acabam se tornando quase o único instrumento, termômetro definitiva das leis da física newtoniana: ela está baseada em uma
a medir o que os alunos e alunas aprenderam (OLIVEIRA, 2003). concepção de que a natureza é inerte, equilibrada, submetida a
A partir dessa reflexão teórica, percebemos o currículo, como um pequeno número de leis imutáveis, previsíveis, autômatas,
um parâmetro que norteia a prática educativa, o qual precisa na qual o homem é um estranho ao mundo que descreve, para
ser planejado de acordo com a realidade de cada escola e dos propor o “ tempo de novas alianças, desde sempre firmadas,
sujeitos nela envolvidos, e atualizado devido às constantes durante muito tempo, ignoradas, entre a história dos homens,
transformações sociais. de suas sociedades, de seus saberes, e a aventura exploradora
Tem-se a educação como único meio digno capaz de da natureza”(PRIGOGINE & STENGERS, 1979 p. 226) em que o
fazer com que o indivíduo ascenda social e intelectualmente, cientista se vê imerso no mundo que descreve, é parte dele,
através da produção de múltiplos conhecimentos que o levam em “escuta poética” da natureza, agora, sem antigas e estáveis
à ação transformadora de si e do mundo. É preciso pensar o certezas, mas em comunicação encantada com a natureza.
currículo como algo que norteia a prática do professor na sala Proposições cada vez mais presentes consideram que as
de aula, exigindo, entretanto, a consideração das competências ciências teriam chegado ao limiar de um a crise dos paradigmas
anteriormente formadas pelos alunos, caso contrário, o seu dominantes e anunciam possíveis novos paradigmas emergentes.
ensino continuará a mesma coisa, sem inovações, sem estímulos, O ingresso em uma revolução científica contemporânea
aponta que “o paradigma a emergir dela não pode ser apenas
21 Fonte: www.editorarealize.com.br/www.educacaoinfantil.aix.com.br

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

um paradigma científico (o paradigma de um conhecimento O objetivo das ciências cognitivas é alcançar uma
prudente), tem de ser também um paradigma social (o paradigma compreensão extensiva da inteligência humana seja descrevendo,
de uma vida decente)” (SANTOS, 1987, p. 37). A configuração simulando, reproduzindo as capacidades mentais – percepção,
de um novo paradigma é uma especulação a partir das muitas raciocínio, linguagem, ações – seja replicando e transferindo
interrogações e dúvidas manifestadas por muitos cientistas para máquina capacidades e ações extraídas dos processos
contemporâneos que puseram em questão as teorias admitidas lógicos comportamentais humanos. A evolução e amplitude
e a racionalidade que as presidiu, e abalaram os fundamentos da temática, dificulta uma definição, uma vez que transita
da ciência paradigmática da natureza – a física. São muitas as pela mecânica, biologia, filosofia, linguagem e outras ciências
correntes que postulam a emergência de uma nova racionalidade que se juntam, cada vez mais, na discussão da inteligência e
como suporte mais adequado ao avanço científico, subvertendo consciência humana. Um campo em franca expansão refere-se
crenças, métodos e paradigmas, e abalando convicções nos à Inteligência Artificial - um domínio que procura representar
diferentes domínios da vida contemporânea (HELLER et al., 1999). na máquina os mecanismos do raciocínio e busca, mas outros
Essa conflagração teórica traria uma problemática inovadora à campos da Inteligência Artifical (AI) tratam das redes neuronais
abordagem do currículo, ainda não captada suficientemente e do conexismo com padrões computadorizados ou, ainda,
pelos estudos sobre as questões curriculares. campos ligados à biologia, à robótica e à informática, na tentativa
Nesse texto, elegem-se algumas referências teóricas que se de construir vida, recorrendo aos processos historicamente
afirmam como crítica ao universo de crenças que sustentam o considerados exclusivos de seres humanos. Um esforço que
conhecimento instituído e advogam um novo horizonte para a liga a tecnologia à imaginação, o manipulável à consciência, o
compreensão das ciências humanas e, por extensão, ao currículo. conhecimento à fantasia.
As ciências cognitivas constituem uma reunião de disciplinas O grande alvo é tratar da consciência – campo que, como
(psicologia, filosofia, biologia, lingüística, informática e outras) que a cosmologia, quanto mais se avança, mais se descobre a
visam compreender as complexas atividades mentais humanas e incipiência dos estudos. Se as redes e sintonias 4 neuronais
o próprio cérebro. Comportam diversas fases evolutivas e estão auxiliam a explicação da origem bio-fisiológica da consciência,
em franca expansão. Podem-se extrair alguns eixos nucleares o problema da consciência do sujeito enquanto a vivencia na
dessa comunhão de disciplinas científicas: a princípio surge como sua experiência humana, permanece um enigma provocador de
uma reação ao comportametalismo behaviorista que restringira novas investigações.
a psicologia ao estímulo-resposta, desconhecendo os processos As ciências cognitivas abrem um campo instigante de questões
e condicionamentos não observáveis. para a educação, em especial, para o currículo, revolucionando as
Na metade do século passado, o advento do computador e possibilidades multiformes da educação e as possíveis inovações
a capacidade de realizar tarefas, antes tidas como estritamente curriculares. Um panorama dos conhecimentos atuais e das
humanas (memorizar, classificar, triar etc.), induziram acreditar descobertas no domínio das ciências cognitivas, das pesquisas
que as atividades mentais têm um sistema lógico muito similar sobre o cérebro e os avanços da neurociência induzem muitos
a um programa de informática (SIMON, 1969) e estruturas a crer no nascimento de uma nova ciência da aprendizagem. É
profundas, que presidem a linguagem humana, podem ser expressivo o texto publicado, em 2007, pela Organização para
decodificadas e transformadas em uma linguagem de máquina a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Fruto de um
Isso suscitou, nos anos 1950-80, questões a respeito dos projeto originado em 1999 sobre as ‘ciências da aprendizagem
automatismos do pensamento, da linguagem e do raciocínio, e a pesquisa sobre o cérebro’, inspirado nas ciências cognitivas
ou ainda, a transferência para máquina dos processos e neurociências, o Centro de Pesquisa e Inovação Educacional
mecanicamente decifráveis de atividades cerebrais. A informática (CERI- Centre for Educational Research and Innovation) sugere
é uma referência fundamental nesse modelo computacional que as descobertas sobre a plasticidade do cérebro podem ser
de tratamento de informações: crê-se possível decodificar e aplicadas às políticas e às práticas em matéria de educação e
descrever todas atividades mentais por meio de programas deixa entrever novas pistas para o ensino e novas possibilidades
informáticos. A mente poderia ser considerada. assemelhada a para o currículo, que abriram caminhos para um novo paradigma.
um software, tendo o cérebro como programa computacional (OCDE.CERI.2007).
que conjuga e manipula leis lógicas e elementos físicos. As ciências cognitivas, ou da cognição, como alguns preferem,
Uma segunda fase das ciências cognitivas está conexa com ou, simplesmente, neurociências, não podem se constituir em
a neurociência e as descobertas dos mecanismos cerebrais um novo paradigma, seja pela incipiência dos estudos, seja pela
dos anos 1990, a “década do cérebro”: além de cartografar ausência de um corpo teórico elaborado, mas é perceptível que
o cérebro, procurou-se compreender os mecanismos que os avanços já produzidos pelas pesquisas nessa área levantam
regem as operações mentais associadas a uma região cerebral questões que não podem ser ignoradas por aqueles que tratam
específica e levantar questões em torno da associação entre do currículo escolar.
uma área cerebral, os estados mentais e a consciência O impulso A pós-modernidade é um termo genérico para uma ampla
institucional dado pela fundação privada norte-americana Alfred gama de autores que põem em questão os pressupostos
P. Sloan e as incipientes pesquisas do MIT, propiciaram a criação da racionalidade moderna, sugerindo a superação de uma
da revista Cognitive science, em 1977.Em 1979, a fundação de cosmovisão paradigmática que dominou o pensamento centro-
uma associação de cientistas, oriundos das áreas, filosofia, europeu e se estendeu como a concepção hegemônica do
psicologia, lingüística, antropologia e inteligência artificial, deu pensamento universal. O conceito, porém, sofre uma proliferação
uma fundamentação teórica ao que se cunhou como “paradigma de significados e metamorfoses que podem ser polarizadas entre
cognitivo”.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

aqueles que afirmam a ocorrência de mudanças substantivas Além de uma crítica à racionalidade onisciente e à
nas concepções do conhecimento e os que consideram essa infalibilidade científica, é, também, uma crítica ao sujeito tanto
tendência um modismo volátil, sem consistência teórica definida. cartesiano quanto estruturalista. A crítica ao sujeito unitário e
A pós-modernidade usada, inicialmente, com uma racional cartesiano enquanto é visto como um agente intelectual
promiscuidade de sentidos, ganhou fortuna com a emergência de abstrato, livre, que estaria imune às circunstâncias históricas e
uma nova e indefinida percepção de ruptura, no após II Grande culturais - um sujeito impregnado da subjetividade transcendental
Guerra, popularizando-se em Nova York, nos anos 1960, como idealista, que tem sua força motriz na autoconsciência de sua
crítica de jovens artistas contra a cultura oficial, institucionalizada razão e de sua liberdade que lhe garante conquistar certezas
nos museus e academias, e tipificando uma vanguarda que científicas perenes e absolutas. A crítica pretende desfazer essa
exaltava a cultura de massa, os meios tecnológicos de difusão, concepção amparada em ma racionalidade puramente abstrata
como televisão, vídeo, computador. Transmigra dos Estados para insistir em sujeitos concretos, premidos por necessidades,
Unidos para Europa, via Paris e Frankfurt. O termo torna-se preso por vínculos sociais e culturais, envolvidos pela força do
expressivo nos meios acadêmicos com o relatório de Lyotard desejo e com vínculos comprometedores com o poder. Para
sobre a condição pós-moderna (LYOTARD, 1979) como crítica essa corrente, o refúgio em convicções definitivas, em certezas
ao conhecimento e à racionalidade moderna, no seu caso, universais, em verdades irrefutáveis é pretensão ilusória que
conjunturalmente condicionada pela polaridade ideológica deve ceder lugar ao caráter falível do conhecimento, ao saber
militante da Guerra Fria da segunda metade do século XX. A particular e plural, quantas são as culturas e contextos, à busca
partir daí ganhou foros de uma crítica à estética e aos modos de sempre provisória de todo esforço científico. Essa crítica, ao
vida, em geral e, finalmente, uma crítica à sociedade capitalista, menos na França, está centrada nas objeções à eliminação
tornando-se uma vexata quaestio acadêmica. do sujeito, empreendida pelo estruturalismo. Lévi-Strauss,
Lyotard, em seu relatório, expõe a fratura entre a respaldado na lingüística de Saussure, descartara qualquer
modernidade-pósmodernidade, o Ocidente-Oriente,a Europa- relevância do sujeito e os significados culturais que é capaz de
América e denuncia o mito da idade moderna, calcado nas criar, considerando-o como objeto falante, mero usuário de
grandes meta-narrativas, tais como, a dialética do espírito, a códigos e símbolos de estruturas pré-constituídas. A “morte
hermenêutica do sentido, a emancipação do sujeito racional ou ao sujeito” do estruturalismo é a afirmação de que são as
trabalhador, o desenvolvimento da riqueza, acompanhada da estruturas que organizam a ação e determinam as regras de
libertação progressiva da humanidade pela ciência, e fundada ser e pensar. A contaminação do marxismo pelo estruturalismo
na esperança de que a filosofia pode recompor tanto a unidade esgotava as possibilidades mobilizadoras da ação e remetia
do saber quanto desenvolver um conhecimento universalmente o sujeito aos determinismos infra-estruturais economicistas.
válido para todas as visões da história. A crítica ao discurso Contra esse estruturalismo a-histórico, sem sujeito, movimenta-
científico é sobretudo à sua onipotência ordenadora da realidade se um conjunto cambiante de autores, chamados, depois, pós-
e sua apropriação por uma grei acadêmica profissionalizada estruturalistas, e pelo prefixo, que foram associados à pós-
que canonizou uma linguagem, viciou-se das meta-narrativas modernidade, que refutam os argumentos estruturalistas em
consagradas, legitimou a realidade descrita, colorida de adornos razão de seu exacerbado idealismo, sua lógica abstrata e sua
críticos, fixou os requisitos de aceitação da comunicação e incompreensão histórica da sociedade e repõem a relevância
comprometeu-se irremediavelmente com o poder. do sujeito, as vias pelas quais se torna um ser social e exaltam
O termo difundiu-se como uma crítica à razão triunfante, à a exuberância dos fatos e particularidades, que dão uma
ciência onipotente, à representação ufanista de um mundo em configuração especial à subjetividade. O movimento pós-
progresso radioso e à cultura oficial estabelecida. Por extensão, estruturalista afirma-se como crítica à relevância central da
o termo passou a significar a superação da “modernidade” no estrutura sob diversos matizes, na epistemologia, na linguagem,
sentido weberiano, como uma crítica ao estilo característico de psicanálise, na sociedade capitalista em favor de uma concepção
racionalização iluminista e de organização social que emergiram que afirma o surgimento de múltiplos núcleos de poder e focos
na Europa a partir do século XVII, produzindo um desenvolvimento de lutas ideológicas e políticas.
científico, artístico e político que, posteriormente, difundiu- Um projeto de investigação de Habermas, nos anos 1980,
se pelo mundo, como paradigma exemplar de vida humana. A tornou-se um tema de pesquisa e debates com os críticos da
crítica alcançou o conceito hegeliano de modernidade, aquela racionalidade moderna, para reconstruir o discurso filosófico
concepção epistemológica ocidental e profana do mundo, da modernidade (1990), Nessa obra, Habermas reconhece
calcada nas ciências, na estética e nas teorias do direito e da a atualidade do conteúdo normativo e das propostas
moral, que passaram a se auto-validar por suas leis imanentes e emancipadoras da modernidade e sua capacidade de desfazer
auto-autenticáveis. as teias de dominação, e considera-o como um projeto ainda
O termo exprime, para alguns, como uma crítica ao conceito inacabado quanto às promessas iluministas de liberdade, de
de racionalidade iluminista, enquanto discurso onisciente, organização racional da vida social, de verdade justificada e
ordenador infalível da realidade. É, também, genericamente universalidade da justiça.
invocado em oposição às pretensões totalizantes de O movimento pós-moderno, nos anos 60, se afirmara
universalidades teóricas e ao que consideram enclausuramentos nos meios artísticos novaiorquinos como uma crítica à arte
totalitários da realidade,.Tornou-se uma expressão crítica de conformista e conservadora, inculcada pelas instituições, museus
racionalidades totalitárias e, com tal sentido, ingressa nos foros e meios de comunicação oficiais. O termo pós exprimia, então,
acadêmicos, via Paris, Frankfurt, Londres. um movimento de vanguarda crítica às formas de reprodução e
difusão de sons, movimentos e imagens.

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A pós-modernidade exprime, ainda, um sentimento difuso Para as teorias sistêmicas, o conceito de sistema e a
de transformação da vida social no Ocidente, com a emergência formulação de uma epistemologia sistêmica resultam de
da hegemonia norte americana e com o sucesso do fordismo, um conjunto de conceitos que recobrem diversas teorias e
da acumulação capitalista, da difusão de novos modos de vida e concepções surgidas na segunda metade do século passado, com
do deslocamento da gravitação universal em torno do estilo de a cibernética e inteligência artificial, as teorias da informação
vida europeu. Nessa ótica, passou a significar uma perspectiva e comunicação e a informática. No final dos anos 1940, uma
nova, em espaço e tempo originais, socialmente construída, que confluência de idéias estuda processos mecânicos automáticos,
reconhece as particularidades e sujeitos concretos, seus desejos auto-reguladores e os meios de associar o cálculo a um suporte
e enganos. mecânico. Wiener considerado o pai da cibernética, com Bidelow,
Por outro lado, o movimento “New Times”, liderado por criam mecanismos autoreguladores (feed back) e autodirigíveis,
Stuart Hall e Martin Jacques, difundiu algumas teses afins ao a partir da circularidade da ação-reação-ação, tal como o
conceito: a mudança substantiva no mundo nos países capitalistas termostato, que recebe informação do sensor exterior, reage ao
avançados, caracterizada pela diversidade, diferenciação e fluxo do calor e mantém o ponteiro no disco regulador, princípio
fragmentação e o conseqüente declínio tanto da produção em que balizará a teoria da informação e comunicação e o conceito
massa quanto do proletariado industrial tradicional e, por outro de uma lógica circular. Esses autores, nos anos 1946-1953
lado, o surgimento de uma multiplicidade de lutas sociais e participam das conferências organizadas pela fundação Macy,
políticas, o recrudescimento do individualismo e a suplantação em Nova Iorque, e Wiener define a Cibernética como a “nova
da solidariedade humana pelo consumo. ( COLE; HILL, 1996) ciência do comando e da comunicação, na máquina e no animal”
Harwey (1996) em seu estudo sobre as formas culturais pós- (Wiener, 1948), e com outros colegas, entre os quais, Bidelow,
modernistas e os modos mais flexíveis de acumulação de capital, W. McCulloch, G. Bateson, T. Parsons procuram investigar os
entende esse momento como uma mudança mais na superfície fenômenos, a partir de uma reflexão instrumental: visam não
aparente do que sinal de emergência de uma sociedade nova, o desvendamento do que as coisas são, mas descobrir como
pós-capitalista. ou, na visão de Jameson (1996), uma lógica funcionam, o que fazem ou podem fazer, na medida em que são
cultural do capitalismo tardio. capazes de receber e processar informações e usá-las para o
Outros preferem referir-se à emergência da hiper- auto-controle e a auto-regulação. Esses fundamentos aplicados
modernidade (LIPOVETSKY, 2004), na última década do século à engenharia, proporcionam a Neumann a concepção da
passado, em virtude da consciência dos desvirtuamentos sócio- arquitetura do computador, a Bateson (1972, 1979), desenvolver
econômicos, ambientais, psico-sociais, da perda de referencias um método sistêmico das comunicações interpessoais
tradicionais, como o Estado, a família, a religião, uma hiper- paradoxais, e a Foerster (1949, 2002) formular a noção de ordem
concentração obsessiva no indivíduo (AUBERT, 2004; ASCHER, a partir da turbulência (noise), fundamentos que suscitaram
2005) a exaltação do hipermercado, da exacerbação do consumo, idéias e conceitos originários de diferentes teorias sistêmicas.
da concorrência, do lucro, do hedonismo, da violência, do As idéias matrizes que aproximam esses pesquisadores são:
terrorismo. os fenômenos são considerados como uma rede de relações
A pós-modernidade com todo seu vigor crítico, no final entre os elementos ou o sistema; todos os sistemas - elétricos,
do século passado, suscitou temas e debates que estiveram biológicos ou sociais - têm padrões comuns, comportamentos
presentes em quase todas as disciplinas das ciências humanas e propriedades que podem ser compreendidos e usados para
e foram referências para estudos críticos sobre o currículo, de ampliar o conhecimento comportamental dos fenômenos
modo particular, como crítica ao currículo concebido a partir complexos. Interessa, sobretudo, conhecer o funcionamento de
de uma racionalidade instrumental. Não parece, porém, ter um todo, considerado superior à mera soma de suas partes, no
constituído um conjunto articulado de conceitos que se afigure qual os elementos são interdependentes, interagem entre si e
a de um novo paradigma. A ductilidade emprestada ao termo se auto-regulam por um processo circular: uma causa (A) afeta
favorece a imprecisão e torna difícil reconhecê-lo como um um efeito (B) que, por sua vez, retroage sobre a causa (A), que o
paradigma, no sentido estrito do termo. produziu.
A concepção pós-moderna, embora não possa ser vista como A cibernética de primeira geração está voltada para a
unitária, tem adeptos na área do currículo, que compreendem causalidade circular, a retro-alimentação (feed back), a regulação
que as metanarrativas de caráter iluminista, que organizaram e o auto-controle de processos mecânicos, autômatos ou
os currículos, estejam superadas, assim como o modelo de vida projéteis auto-dirigíveis. O objetivo é a avaliar como um impulso,
proposto pela modernidade esteja obsoleto. Para eles não há digital, mecânico ou biológico, atua em um sistema, que reage e
possibilidade e nem interessa pensar um currículo do ponto de o processa, e provoca uma mudança para melhor realizar uma
vista totalizante, que tenha como objetivo formar um cidadão finalidade. Nessa primeira fase, está associada à automática, à
coletivo engajado na transformação social. engenharia, aos sinais físicos do tipo emissor-canal-receptor,
Essa concepção de currículo traz contribuições fundamentais temas fundamentais para o desenvolvimento do computador, da
em relação aos estudos da diversidade cultural, mas retira o robótica, projéteis bélicos autodirigíveis.
enfoque da Teoria do Currículo e da prática curricular de uma A cibernética de segunda geração volta-se para o estudo dos
análise mais estrutural, recolhendo a reflexão para o âmbito seres vivos, em particular, para o papel do observador humano
do indivíduo.Quais têm sido as contribuições dessa tendência na construção de modelos de sistema, pressupondo uma nova
para a Educação e, especificamente, para o Currículo. Esse é um epistemologia para o estudo de fenômenos complexos. A
desafio que temos que enfrentar em relação a cada uma dessas predominância da engenharia na cibernética cede importância
tendências aqui apontadas. aos significados humanos latentes nesses processos mecânicos.
O termo ‘cibernética’ entrou em desuso, mas muniu diversas

305
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áreas de uma gama de questões aplicadas na investigação de A teoria da complexidade ingressa nos foros científicos como
campos do conhecimento e pavimentou as versões nascentes da uma crítica difusa ao conhecimento determinista em ciências, já
teoria dos sistemas. presentes no Congresso de Filosofia da Ciência, em Londres em
As teorias dos sistemas ou teoria sistêmica surgem amparadas 1963, no qual autores ascendentes como Khun, Lakatos, Popper se
nos conceitos da cibernética, da termodinâmica, da teoria da afirmam contra a supremacia do empirismo lógico, especialmente
informação, recobrindo um amplo espectro de disciplinas que de R. Carnap e Willard Quine, crítica reforçadas com as objeções
estudam o funcionamento de entidades que recebem uma aos conceitos deterministas da física clássica, trazidas pela teoria
ação, seja energia, estímulo ou informação, reagem, produzindo quântica e, em 1979, uma nova aliança preconiza visão dinâmica,
alguma modificação, resultante dessa ação instável e imprevisível da física, tematizada na desordem,
O biólogo Bertalanffy (1968) elabora a teoria geral do sistema, no indeterminismo, nas instabilidades, no caos. Se a ciência
na qual trata de uma organização holística dos fenômenos, como clássica congelava a complexidade para mostrar a simplicidade
um conjunto elementos biológicos ou de qualquer ente, objeto unidimensional oculta em leis imutáveis, a complexidade, com
ou atividade, real ou abstrato estão mutuamente integrados e as teorias que lhe dão suporte, elege a efervescência multiforme
interdependentes em um todo, e em interação dinâmica entre as constitutiva da realidade. Em ciências humanas, o tema surge
partes. Importa identificar como se dá o arranjo interdependente sob a noção da indissociabilidade da certeza-incerteza, da
e interativo dos elementos com seus atributos e interações para ordem-desordem, tema central em Monod (1972), Morin
realizar um objetivo. A teoria sistêmica pretende ser uma reflexão (1977), Atlan (1979), e, na década de 1990, adensa-se com as
da coerência estrutural e da coesão funcional de uma totalidade críticas ao “pensamento único” . Uma confluência de tendências
e da interdependência dinâmica das partes, extrapolando os procura investigar fenômenos que escapam à lógica linear, ao
processos eletromagnéticos e biológicos para ser referência conhecimento instituído e às certezas oficiais, recusando-se a
para as ciências humanas. É aplicada aos sujeitos da observação reconhecer a pretensão de modelos únicos de explicação do real,
e a uma variedade de fenômenos físicos, biológicos, e sociais, para enveredar na investigação dos fenômenos complexos da
abrangendo áreas do conhecimento, como ecologia, terapêutica, vida humana, como um novo paradigma (ZWIRN, 2003, 2006)..
ciências cognitivas, epistemologia, educação, economia, política. Esse clima enseja um projeto no qual a noção de complexidade
Podem-se levantar alguns fundamentos norteadores:- a torna-se o núcleo central dos desafios aos quais está submetido
totalidade - considera o valor do todo é superior à soma das o pensamento contemporâneo e se afirma como um novo
partes, mas tudo está na parte e a parte está no todo; por outro paradigma em elaboração para compreender a diversidade das
lado, cada parte pode constituir um subsistema completo; atividades humanas.
interdependência - as partes mantém inter-relações estruturais Com essas referências, Morin pretende instaurar um nova
e funcionais entre si;- arborescência - as partes se interligam e via para se fundamentar uma ciência com consciência (1996)
podem ser dirigidas, se organizadas de forma de complexidade para as ciências humanas e sociais e discutir o método, um
crescente que vá do mais simples ao mais complexo;- projeto de reforma do pensamento a fim de compreender a
interatividade - está em um meio do qual recebe material, interno complexidade dos fenômenos humanos. Sua teoria exposta em
ou externo, como energia, estímulo, informação, processa a cinco tomos, e muitos artigos e conferências, procura formular
reação e retorna ao estado inicial; sem finalidade, degrada-se uma teoria que seja capaz de articular o sujeito e objeto,
por entropia;- retro-atividade ou retro-alimentação (feed back) mantenha laços indissolúveis entre a ordem e o caos, dê conta
- obedece uma causalidade circular: um efeito(B) vai retroagir do humano enquanto indivíduo biológico e ator social, considere
sobre uma causa (A) que a produziu; por isso, é homeostático, as interações, os fenômenos de emergência e auto-organização
tende sempre a se auto-regular, reproduzir-se de modo idêntico; e olhe o fato no que tem de criador e singular; para isso, propõe
recursividade - mais que auto-regulação (feed back), é capaz os recursos mentais da recursividade, da dialógica, a emergência
de se auto-repetir, autoproduzir-se e auto-organizar-se; auto- e a economia da ação (1977-2001).
organização - a retro-alimentação positiva leva a um crescimento Ele próprio refere os fundamentos do paradigma da
expansivo, que termina quando todos os componentes tenham complexidade, composto de várias avenidas ou um edifício
sido absorvidos em uma nova configuração; previsibilidade - de vários andares: no primeiro, as teorias da informação, a
pode ser determinista ou previsível (ergódico), ou não se pode cibernética e a teoria dos sistemas para dar suporte à teoria da
alcançar um conhecimento futuro de seu estado atual (não organização; no segundo, são as idéias de Neumann, Foerster,
ergódico), tal como o sorteio de loteria; pluridisciplinaridade Atlan e Prigogine para fundamentar a teoria da auto-organização.
- integra a cibernética, a teoria da informação, ecologia, a A cibernética provê conceitos como, regulação, autonomia,
psiquiatria, a filosofia política, teoria das organizações. retroação, causalidade circular e a teoria dos sistemas, as noções
Alguns autores chegam a anunciar as teorias sistêmicas como de totalidade, recursividade, auto-organização (1996). O autor
um novo paradigma emergente e têm sido apropriadas para considera a complexidade como um tecido de constituintes
análises e proposições de políticas educacionais, presumindo que heterogêneos, inseparavelmente associados, paradoxos do uno e
os sistemas de ensino e o currículo sejam conjuntos que possam do múltiplo, “é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações,
submeter-se a uma organização sistêmica. Essas teorias estão interações, retroações, determinações, acasos que constituem
contempladas nas propostas de estandadização do currículo com o nosso mundo fenomenal”. São, desse modo, conceitos
um discurso que funciona, apenas, como um verniz da proposta, paradoxais ao conhecimento linear, tais como, a incerteza, a
de que o currículo escolar é uma construção sócio-cultural, desordem, a ambigüidade, a confusão (MORIN, 1991), aplicáveis
encaminham-se projetos de um currículo administrativamente à compreensão dos fenômenos sociais concretos, onde a ordem
estabelecido como um sistema determinado. e desordem se fundem, as ações individuais e os acontecimentos
são produtos e produtores da dinâmica social e fenômenos como,

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autoorganização, emergência, caos, bifurcação e atratores, 2003, 2006) ou com uma “paradigmatologia”, um esforço de
tornam-se constitutivos da ordem social, e meios para superar compreender a riqueza do universo pensável. Não se trata da
a incerteza. tarefa individual; mas da “obra histórica de uma convergência de
Para a teoria da complexidade, um pensamento pensamentos”, como afirma J. L. Le Moigne. Os epistemólogos
compartimentado, fragmentado, parcelar, monodisciplinar contextualistas tendem a não admitir uma originalidade
é obtuso; oblitera a atitude pertinente a todo conhecimento substantiva que esteja transformando o universo científico;
humano, necessariamente contextualizado e globalizado. É os marxistas, p.e., não vêem novidade apta a revolucionar a
necessário compreender o tanto o entrelaçamento dos diversos estrutura social; para esses, não se configuram paradigmas
fatores naturais, biológicos, culturais e psicológicos, que se novos, mas ensaios do pensamento curioso.
interligam, quanto os liames entre caos e ordem, a relevância Talvez fosse mais adequado considerar como tradições de
das interações humanas, a dinâmica da auto-organização, a pesquisa, no sentido preconizado por Laudan (1977), definidas
novidade dos fenômenos emergentes e o acontecimento no como um conjunto de pressupostos gerais e processos presentes
que tem de singular, criador ou irredutível. Conhecer é um em um domínio de estudo, recorrendo a alguns métodos
esforço ininterrupto de separar para analisar, contrapor para apropriados para investigar os problemas e construir teorias em
ampliar, religar para complexificar e sintetizar. Contesta ao determinado domínio. A juventude teórica dessas teorias parece
que chama os pilares da ciência e do pensamento clássicos: a recomendar essa delimitação.
ordem, o determinismo, preconizado por Laplace, a disjunção e A expansão da investigação, a busca por novos domínios do
separabilidade afirmado por Descartes, a rejeição da contradição conhecimento, novos campos de investigação têm provocado
de Aristóteles e a exclusão do sujeito na ciência moderna. uma exuberante profusão de teorias, Os “novos paradigmas”
Em diferentes textos, em linguagem plena de afirmações analisados, uns mais que outros, participam desse movimento
paradoxais e conotações auto-referenciais, Morin explicita a e têm seguidores convencidos da originalidade dessas teorias e
substrução de seu paradigma, em 8 avenidas (1996, p.177-192). da oportunidade de serem apropriadas para o estudo de temas
curriculares. Essa é a provocação que o texto quis trazer.22
A primeira avenida, a irredutibilidade do acaso e a desordem
como ingredientes inevitáveis de tudo que acontece no
ACESSO, PERMANÊNCIA E SUCESSO DO ALUNO NA
universo; a segunda, a transgressão aos limites impostos pela
ESCOLA
abstração universalista que elimina a singularidade, a localidade
e a temporalidade; a terceira, a complicação - os fenômenos
biológicos e sociais apresentam uma fusão de interações, Os princípios e valores que sustentam a cultura da escola es-
inter-reações incalculáveis; a quarta, a relação, logicamente tão profundamente associados com as práticas e políticas escolares
antagônica, mas complementar entre ordem, desordem e para dar base ao aprendizado de todos os estudantes, em espe-
organização; a quinta, a complexidade é organização, resultante cial, àqueles portadores de quaisquer dificuldades ou necessidades
de elementos diferentes cuja soma é mais e é menos que as mais específicas.  
partes: menos, porque o todo inibe as potencialidades de cada A cidadania e a dignidade humana estão proferidas na Cons-
parte, como ocorre na sociedade, na qual as coações restringem tituição Federal Brasileira, no artigo. 1º (incisos II e III), como prin-
ou reprimem as individualidades; é mais, porque o todo faz surgir cípios da República, assim como seus objetivos básicos (artigo 3º,
qualidades “emergentes” que só existem, porque retroagem inciso. IV), que são: a garantia do bem comum, sem discriminação
sobre as partes e estimulam a manifestar suas potencialidades. de etnia, raça, cor, sexo, idade e outras formas de distinção.  
A sexta, (embora não enuncie) é auto-organização recursiva, Assegura-se, também de forma expressa, o direito à igualdade
tal como o holograma em que cada qualidade das partes e o direito de acesso à educação todos os cidadãos (artigos 5 e 205,
inclui toda a informação do conjunto e, pois, a parte está no respectivamente). Sobre a igualdade de condições de acesso à es-
todo como todo na parte. Conexo ao princípio hologrâmico, a cola, a CF determina que o objetivo é “o pleno desenvolvimento da
organização recursiva habilita o sistema a ser causa e efeitos pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
da própria produção; o produto e o produtor, em razão da para o trabalho”
causalidade circular, são elementos inerentes da complexidade As determinações constitucionais não se limitam à regulação
; a sétima, é a falência dos conceitos de clareza resultante de do acesso à instrução, mas profere, também, a igualdade de con-
distinção cartesiana de idéias e a simplificação do conhecimento dições de permanência na escola como um dos princípios para o
e isolamento dos objetos. Um sistema é auto-eco-organizado ensino, e acrescenta que o Estado tem o dever com a educação, ao
- sua autonomia depende da energia do meio ambiente para modo como ela será ofertada e praticada, tendo em vista a garantia
sobreviver, paradoxalmente, é preciso ser dependente para ser de acesso a todos os níveis de ensino, da pesquisa e da habilidade
autônomo; a oitava, a volta do observador na sua observação específica de cada um. Assim, o acesso à educação e à escola é asse-
da sociedade. O “observador-conceptor deve se integrar na sua gurado constitucionalmente. Toda instituição que for reconhecida
observação e na sua concepção”, como um ser sócio-cultural. Ele pelos órgãos governamentais como escola, tem o dever de atender
está na sociedade e ela está no observador. aos princípios constitucionais, atuando sem fazer qualquer exclusão
As teorias da complexidade apresentam-se com uma motivada por etnia, taça, cor, sexo, idade, deficiência ou mesmo a
variedade de nuanças semânticas, e uma ampla difusão nos falta dela.
meios acadêmicos, como um novo paradigma que foge a
uma racionalidade linear, determinista, para se afirmar como
mobilizada pela complexidade da realidade natural e social da
vida Anuncia-se como um nova ciência do século XXI (ZWIRN, 22 Fonte: www.anped.org.br

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Aprender a ensinar
GESTÃO DA APRENDIZAGEM Bernadete Gatti, presidente do Conselho Estadual de Educação
de São Paulo (CEE-SP), atenta para o fato de que o docente deve
Prezado Candidato, o tema supracitado, já foi abordado nos aprender a criar ambientes de aprendizagem para os alunos se de-
tópicos anteriores senvolverem. Não é isso, contudo, que a formação de professores
tem exercido.
Em suas pesquisas, Bernadete relata que é comum se deparar
O PROFESSOR: FORMAÇÃO E PROFISSÃO
com professores bem formados nos conteúdos específicos de sua
área, mas que não sabem ensinar. “Nos cursos de licenciatura o alu-
“A forma como o educador aprende é a forma como o educa- no não estuda Sociologia ou Antropologia cultural para entender
dor ensina”. Logo, tudo que quisermos transformar depende dessa a juventude. Não estuda fundamentos da Educação e vai ser um
formação e da reelaboração dessa cultura profissional”. É a partir educador. As universidades precisam dar formação em metodologia
dessa máxima que José Pacheco, um dos criadores da Escola da e mostrar as várias possibilidades didáticas”, explica a especialista.
Ponte, em Portugal, explica um dos imbróglios da escola brasileira: É comum se deparar com professores bem formados nos con-
a formação de professores. acrescenta o educador. Em outras pala- teúdos específicos de sua área, mas que não sabem ensinar, diz
vras, a transformação da escola começa antes mesmo dos profes- Bernadete Gatti
sores entrarem nela. Assim, quando em sala de aula esse professor encontrar dificul-
Recentemente divulgada, a pesquisa Profissão Professor, pro- dades, ele saberá buscar outros meios de ensinar. Essa capacidade
duzida pelo Todos pela Educação em parceria com a Fundação Itaú de encontrar soluções, ser criativo e estar em constante aprendi-
Social com professores das redes municipais, estaduais e privada de zagem é, inclusive, desejável não somente para os professores em
todo o País, mostrou, por exemplo, que não há consenso sobre o formação, mas para os alunos.
papel da formação inicial. “É urgente fazer com o que os docentes compreendam que não
há dificuldade de aprendizagem dos alunos, mas de ‘ensinagem’
Nessa pesquisa 1/3 dos professores afirmou que a formação dos professores”, reforça José Pacheco.
inicial os preparou para os desafios do início da docência, outro
1/3 discordou. A satisfação foi maior, no entanto, entre os profes- Diálogo com os sujeitos e território
sores das etapas iniciais, que cursaram Pedagogia e também entre Lúcia Helena Alvarez Leite, docente e integrante do grupo Ter-
aqueles com mais tempo de carreira. Além disso, chama atenção ritórios, Educação Integral e Cidadania (TEIA) da Faculdade de Edu-
no estudo o fato da grande maioria (82%) ter elencando como o cação da Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG), avalia
elemento mais importante trabalhado na sua formação inicial o co- que o primeiro passo para a formação de professores se tornar mais
nhecimento sobre didáticas específicas da sua disciplina. significativa é aproximar os docentes das escolas brasileiras.
É nesse contato com as escolas que os educadores em forma-
Formação conteudista ção poderão compreender as diversas realidades que convivem em
Afirmações como estas podem ser melhor entendidas quan- uma mesma sala de aula. Além disso, é no chão de escola que terão
do olhamos para a formação de professores sob um viés histórico. consciência da importância que as tecnologias digitais têm para os
Cláudia Passos Sant’Anna, coordenadora de projetos da instituição jovens, por exemplo, e das dificuldades próprias desse ambiente.
EcoHabitare, explica que a escola atual foi desenhada a partir da Pri- “Da mesma maneira que a escola tem que se abrir para o bair-
meira Revolução Industrial e teve sua função idealizada para aquele ro, a universidade tem que se abrir para as realidades do País, para
contexto histórico e de civilização, que hoje se mostra ultrapassado. conhecer quem são os nossos alunos”, diz Lúcia, apontando ainda
“Existia uma necessidade de processos estruturados e repeti- para a necessidade dos professores lerem o mundo criticamente,
tivos para uma produção em escala. Agora temos outras necessi- entendendo as visões de mundo que os alunos têm a partir de seus
dades, como entender o mundo em rede: o que acontece em um contextos de vida.
lugar, impacta em outro. Temos que sair da visão cartesiana e en-
trar para a visão sistêmica. Mas como integrar todas as partes se a “A educação para uma criança indígena não é a mesma para
escola ainda pensa a História desconectada da Geografia, que não outra que vive em ambiente urbano ou na periferia. E assim como a
dialoga com a Matemática, e assim por diante?”, questiona Cláudia. presença, a ausência desses sujeitos na escola também precisa ser
Na formação de professores, explica Pacheco, essa estrutura pensada”, afirma. Por isso, a especialista defende que a formação
ultrapassada se traduz em alunos conhecendo teorias inovadoras de professores seja feita por meio da experiência, de oficinas, saí-
de educação por meio de métodos arcaicos — uma contradição. das e trocas com as escolas, e conversas com os egressos.
“O Ensino Superior trabalha a partir da noção de instrução,
com aulas expositivas, transmissão do conhecimento para um alu- Formação inicial
no depositário de informação, a ser testado por uma prova. Nada Encarar a realidade brasileira também significa olhar para o
disso faz sentido se o objetivo é alinhar a prática escolar e formativa expressivo número de professores sem formação adequada, ainda
ao século XXI, e acabar com todos os efeitos funestos que a escola que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e o Pla-
atual provoca: insucesso, ignorância, violência, evasão, e doenças no Nacional de Educação (PNE) prevejam que todos os docentes
nos professores”, diz Pacheco. tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de
Licenciatura na área em que atuam.

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Dos quase 2,2 milhões de professores da Educação Básica do País, mais de 480 mil só possuem Ensino Médio. Outros 6 mil, apenas o
Ensino Fundamental. Cerca de 95 mil têm formação superior, mas sem cursos de Licenciatura. Os dados são do Censo da Educação, divul-
gado em 2016.
“Um professor precisa conhecer o currículo da Educação Básica, ter formação cultural, e saber criar ambientes de aprendizagem,
porque ele é a base de tudo. A ausência de formação inicial, ou quando ela é feita de forma precária, faz com que a formação continuada
seja um supletivo, gastando duplamente o esforço da educação”, diz Bernadete, afirmando que é preciso uma ação incisiva do Governo
Federal no sentido de reverter o quadro.
Em outubro de 2017, o Ministério da Educação (MEC) anunciou a nova Política Nacional de Formação de Professores, que contém
medidas como a criação de uma Base Nacional Docente, a ampliação do ProUni, do ensino a distância, e o Programa de Residência Peda-
gógica.
“Estamos sendo convidados a mudar o nosso próprio caminho. E a escola tem que acompanhar, porque ela é um elemento estratégico
na construção e manutenção de uma cultura”, finaliza Cláudia.23
Resolução CNE/CP nº 1/02, de 18 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

O Conselho Nacional de Educação elaborou a Resolução CNE/CP 1/2002 (BRASIL, 2002), que fixava as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNS) para a formação de professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Trata-se de um
conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos que devem ser observados na organização institucional e curricular das instituições
de ensino superior que ofertam cursos de licenciatura para todos os níveis e modalidade da educação básica.
As políticas para formação de professores da educação básica em nível superior tem sido tema recorrente no meio acadêmico devido
às reivindicações por melhoria na qualidade da educação básica no País. Acredita-se que melhorar a qualidade da educação básica implica
necessariamente, em melhorar a formação inicial e continuada dos profissionais da educação.
Nesse sentido, em substituição a Resolução do Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno (CNE/CP) nº 1/2002 que fixava as Di-
retrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação
plena, foi aprovada em julho de 2015, novas diretrizes para a formação inicial de professores, em nível superior. Trata-se da Resolução nº
2, de 1º de julho de 2015, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de Licenciatura,
cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.
Em 2 de julho de 2015 foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução n. 2, de 1º de julho de 2015, que define as Diretrizes Curri-
culares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos
de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Essa Diretriz é que norteia (desde a data de sua publicação) os cursos de formação
de professores e, diferentemente da anterior, tendo estabelecido prazo de dois anos para que as instituições de ensino superior fizessem
as devidas adequações em seu Projeto Pedagógico Institucional (PPI), Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e Projeto de Desenvolvimento
Institucional (PDI).24
Veja o conteúdo na íntegra através da página do Ministério da Educação, que aborda os dispositivos que tratam da Formação Superior
para a Docência na Educação Básica:
http://portal.mec.gov.br/pnaes/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12861-formacao-superior-para-a-
-docencia-na-educacao-basica

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um projeto político-
-pedagógico (o PPP, ou simplesmente Projeto Pedagógico).
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa lançar para diante.
Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de edificação.
Segundo Veiga, ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos
para diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro diferente do presente.

Resumindo, temos três marcos importantes:


- marco referencial: posicionamento político e pedagógico guiados por um ideal do que se quer alcançar, as referências
e a missão da escola na sociedade são discutidas e definidas;
- marco diagnóstico: a busca das necessidades a partir da realidade orientada pela indagação do que nos falta para ser
o que desejamos;
- marco da programação: elaboração de uma proposta de ação estruturada a partir da ideia do que faremos concreta-
mente para suprir as necessidades.

23 Fonte: www.educacaointegral.org.br
24 Fonte: www.ppe.uem.br

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Nas palavras de Gadotti: Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto po-
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para lítico-pedagógico busca a organização do trabalho pedagógico da
o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável escola na sua globalidade.
para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar A principal possibilidade de construção do projeto político-pe-
uma nova estabilidade em função da promessa que cada proje- dagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capaci-
to contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educa- dade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a
tivo pode ser tomado com a promessa frente a determinadas rup- escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado
turas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, na reflexão coletiva.
comprometendo seus atores e autores. Portanto, é preciso entender que o projeto político-pedagógi-
co da escola dará indicações necessárias à organização do trabalho
Nessa perspectiva, o Projeto Político Pedagógico vai além de pedagógico, que inclui o trabalho do professor na dinâmica interna
um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades di- da sala de aula.
versas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arqui- Buscar uma nova organização para a escola constitui uma ousa-
vado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do dia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para enfren-
cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado tarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial que funda-
em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo mente a construção do projeto político-pedagógico.
educativo da escola. A questão é, pois, saber a qual referencial temos que recorrer
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencio- para a compreensão de nossa prática pedagógica. Nesse sentido,
nal, com um sentido explícito, com um compromisso definido cole- temos que nos alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógi-
tivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, ca crítica viável, que parta da prática social e esteja compromissa-
um projeto político por estar intimamente articulado ao compro- da em solucionar os problemas da educação e do ensino de nossa
misso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população escola.
majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógi-
do cidadão para um tipo de sociedade. co e, por sua vez, a prática pedagógica que ali se proces-
sa deve estar ligada aos interesses da maioria da popu-
“A dimensão política se cumpre na medida em que ela se lação. Faz-se necessário, também, o domínio das bases
realiza enquanto prática especificamente pedagógica”. teórico-metodológicas indispensáveis à concretização das concep-
ções assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação que:
da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão partici-
pativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de
no sentido de definir as ações educativas e as características neces- luta, de correlações de força - às vezes favoráveis, às vezes desfa-
sárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionali- voráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, com apoio
dade. dos professores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas por
Político e pedagógico têm assim uma significação indissociável. alguém, longe da escola e da luta da escola.
Neste sentido é que se deve considerar o projeto político-pedagó-
gico como um processo permanente de reflexão e discussão dos Se a escola se nutre da vivência cotidiana de cada um de seus
problemas da escola, na busca de alternativas viáveis a efetivação membros, coparticipantes de sua organização do trabalho pedagó-
de sua intencionalidade, que “não é descritiva ou constatativa, mas gico à administração central, seja o Ministério da Educação, a Se-
é constitutiva”. cretaria de Educação Estadual ou Municipal, não compete a eles
Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária para definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular inovações
a participação de todos os membros da comunidade escolar e o e coordenar as ações pedagógicas planejadas e organizadas pela
exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mas trata-se de própria escola.
uma relação recíproca entre a dimensão política e a dimensão pe- Em outras palavras, as escolas necessitam receber assistência
dagógica da escola. técnica e financeira decidida em conjunto com as instâncias supe-
riores do sistema de ensino.
O Projeto Político-Pedagógico, ao se constituir em processo Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de orga-
democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma nização das instâncias superiores, implicando uma mudança subs-
de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, tancial na sua prática. Para que a construção do projeto político-pe-
buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e auto- dagógico seja possível não é necessário convencer os professores,
ritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionali- a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-los
zado da burocracia que permeia as relações no interior da escola, de forma espontânea, mas propiciar situações que lhes permitam
diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coe-
reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. rente.
A escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as normas e
organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como organi- exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a des-
zação da escola num todo e como organização da sala de aula, centralização em busca de sua autonomia e qualidade.
incluindo sua relação com o contexto social imediato, procurando O projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um
preservar a visão de totalidade. rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em todo o pro-

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cesso vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do trabalho novos cursos ou de novas disciplinas, na formação de grupos de
pedagógico da escola tem a ver com a organização da sociedade. A trabalho, na capacitação dos recursos humanos, etc.
escola nessa perspectiva é vista como uma instituição social, inseri-
da na sociedade capitalista, que reflete no seu interior as determi- Então não se esqueça:
nações e contradições dessa sociedade. 1- O projeto político pedagógico da escola pode ser entendi-
Está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade. Cada do como um processo de mudança e definição de um rumo, que
escola é resultado de um processo de desenvolvimento de suas pró- estabelece princípios, diretrizes e propostas de ação para melhor
prias contradições. Não existem duas escolas iguais. Diante disso, organizar, sistematizar e significar as atividades desenvolvidas pela
desaparece aquela arrogante pretensão de saber de antemão quais escola como um todo. Sua dimensão política pedagógica pressupõe
serão os resultados do projeto. A arrogância do dono da verdade uma construção participativa que envolve ativamente os diversos
dá lugar à criatividade e ao diálogo. A pluralidade de projetos peda- segmentos escolares e a própria comunidade onde a escola se in-
gógicos faz parte da história da educação da nossa época. Por isso, sere.
não deve existir um padrão único que oriente a escolha do projeto 2- Quando a atuação ocorre em um planejamento participativo,
das escolas. as pessoas ressignificam suas experiências, refletem suas práticas,
Não se entende, portanto, uma escola sem autonomia para es- resgatam, reafirmam e atualizam valores. Explicitam seus sonhos e
tabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-lo. A utopias, demonstram seus saberes, suas visões de mundo, de edu-
autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte da própria cação e o conhecimento, dão sentido aos seus projetos individuais e
natureza do ato pedagógico. A gestão democrática da escola é, por- coletivos, reafirmam suas identidades estabelecem novas relações
tanto, uma exigência de seu projeto político-pedagógico. de convivência e indicam um horizonte de novos caminhos, possibi-
Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade de lidades e propostas de ação. Este movimento visa promover a trans-
todos os membros da comunidade escolar. Mudança que implica formação necessária e desejada pelo coletivo escolar e comunitário
deixar de lado o velho preconceito de que a escola pública é apenas e a assunção de uma intencionalidade política na organização do
um aparelho burocrático do Estado e não uma conquista da comu- trabalho pedagógico escolar.
nidade. 3- Para que o projeto seja impregnado por uma intencionali-
dade significadora, é necessário que as partes envolvidas na práti-
A gestão democrática da escola implica que a comunidade, os ca educativa de uma escola estejam profundamente integradas na
usuários da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não ape- constituição e que haja vivencia dessa intencionalidade. A comuni-
nas os seus fiscalizadores ou meros receptores dos serviços educa- dade escolar então tem que estar envolvida na construção e explici-
cionais. Os pais, alunos, professores e funcionários assumem sua tação dessa mesma intencionalidade.
parte na responsabilidade pelo projeto da escola.
Processos e Princípios de Construção
Há pelo menos duas razões, que justificam a implantação de
um processo de gestão democrática na escola pública: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no arti-
1º: a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve go 12, define claramente a incumbência da escola de elaborar o seu
dar o exemplo. projeto pedagógico.
2º: porque a gestão democrática pode melhorar o que é espe- Além disso, explicita uma compreensão de escola para além da
cífico da escola, isto é, o seu ensino. sala de aula e dos muros da escola, no sentido desta estar inserida
em um contexto social e que procure atender às exigências não só
A participação na gestão da escola proporcionará um melhor dos alunos, mas de toda a sociedade.
conhecimento do funcionamento da escola e de todos os seus ato- Ainda coloca, nos artigos 13 e 14, como tarefa de professores,
res. Proporcionará um contato permanente entre professores e supervisores e orientadores a responsabilidade de participar da ela-
alunos, o que leva ao conhecimento mútuo e, em consequência, boração desse projeto.
aproximará também as necessidades dos alunos dos conteúdos en- A construção do projeto político-pedagógico numa perspectiva
sinados pelos professores. emancipatória se constitui num processo de vivência democrática
O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua à medida que todos os segmentos que compõem a comunidade
própria aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito da sua apren- escolar e acadêmica, devem participar, comprometidos com a inte-
dizagem ele precisa participar das decisões que dizem respeito ao gridade do seu planejamento, de modo que todos assumem o com-
projeto da escola que faz parte também do projeto de sua vida. promisso com a totalidade do trabalho educativo.
Segundo Veiga
A autonomia e a participação - pressupostos do projeto po- , a abordagem do projeto político-pedagógico, como organização
lítico-pedagógico da escola, não se limitam à mera declaração do trabalho da escola como um todo, está fundada nos princípios
de princípios consignados em alguns documentos. Sua presença que deverão nortear a escola democrática, pública e gratuita:
precisa ser sentida no conselho de escola ou colegiado, mas
também na escolha do livro didático, no planejamento do ensino, na Igualdade: de condições para aces-
organização de eventos culturais, de atividades cívicas, esportivas, so e permanência na escola. Saviani
recreativas. Não basta apenas assistir reuniões. alerta-nos para o fato de que há uma desigualdade no ponto de
A gestão democrática deve estar impregnada por certa atmos- partida, mas a igualdade no ponto de chegada deve ser garantida
fera que se respira na escola, na circulação das informações, na pela mediação da escola. O autor destaca: Portanto, só é possível
divisão do trabalho, no estabelecimento do calendário escolar, na considerar o processo educativo em seu conjunto sob a condição de
distribuição das aulas, no processo de elaboração ou de criação de se distinguir a democracia com a possibilidade no ponto de partida

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e democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que
oportunidades requer, portanto, mais que a expansão quantitativa supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de ór-
de ofertas; requer ampliação do atendimento com simultânea ma- gãos intermediários que elaboram políticas educacionais das quais
nutenção de qualidade. a escola é mera executora.
A busca da gestão democrática inclui, necessariamen-
Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias econômi- te, a ampla participação dos representantes dos diferen-
cas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto político-pedagógico tes segmentos da escola nas decisões/ações administrati-
da escola é o de propiciar uma qualidade para todos. A qualidade vo-pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques
que se busca implica duas dimensões indissociáveis: a formal ou : A participação ampla assegura a transparência das decisões, for-
técnica e a política. Uma não está subordinada a outra; cada uma talece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o contro-
delas tem perspectivas próprias. le sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, contribui para que
sejam contempladas questões que de outra forma não entrariam
Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os em cogitação.
métodos, a técnica. A qualidade formal não está afei- Neste sentido, fica claro entender que a gestão democrática,
ta, necessariamente, a conteúdos determinados. Demo no interior da escola, não é um princípio fácil de ser consolidado,
afirma que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de ma- pois trata-se da participação crítica na construção do projeto políti-
nejar meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante co-pedagógico e na sua gestão.
dos desafios do desenvolvimento”.
Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado à
Política - a qualidade política é condição imprescindível da par- ideia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto de
ticipação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. Quer dizer partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia e liber-
“a competência humana do sujeito em termos de se fazer e de fazer dade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria natureza
história, diante dos fins históricos da sociedade humana”. do ato pedagógico. O significado de autonomia remete-nos para
Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de que regras e orientações criadas pelos próprios sujeitos da ação educa-
a qualidade se centra no desafio de manejar os instrumentos ade- tiva, sem imposições externas.
quados para fazer a história humana. A qualidade formal está rela-
cionada com a qualidade política e esta depende da competência Para Rios
dos meios. , a escola tem uma autonomia relativa e a liberdade é algo
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as ma- que se experimenta em situação e esta é uma articulação de limites
neiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir a meta e possibilidades. Para a autora, a liberdade é uma experiência de
qualitativa do desempenho satisfatório de todos. Qualidade para educadores e constrói-se na vivência coletiva, interpessoal. Portan-
todos, portanto, vai além da meta quantitativa de acesso global, no to, “somos livres com os outros, não, apesar dos outros”. Se pensa-
sentido de que as crianças, em idade escolar, entrem na escola. É mos na liberdade na escola, devemos pensá-la na relação entre ad-
preciso garantir a permanência dos que nela ingressarem. Em sín- ministradores, professores, funcionários e alunos que aí assumem
tese, qualidade “implica consciência crítica e capacidade de ação, sua parte de responsabilidade na construção do projeto político-pe-
saber e mudar”. dagógico e na relação destes com o contexto social mais amplo.
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que exige A liberdade deve ser considerada, também, como liberdade
dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição clara do tipo para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e o saber direcio-
de escola que intentam, requer a definição de fins. Assim, todos nados para uma intencionalidade definida coletivamente.
deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de cidadão que pre-
tendem formar. As ações especificas para a obtenção desses fins Valorização do magistério: é um princípio central na discussão
são meios. Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a do projeto político-pedagógico. A qualidade do ensino ministrado
construção do projeto político-pedagógico. na escola e seu sucesso na tarefa de formar cidadãos capazes de
participar da vida socioeconômica, política e cultural do país rela-
Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela cionam-se estreitamente a formação (inicial e continuada), condi-
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, admi- ções de trabalho (recursos didáticos, recursos físicos e materiais,
nistrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na prática dedicação integral à escola, redução do número de alunos na sala
administrativa da escola, com o enfrentamento das questões de ex- de aula etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à pro-
clusão e reprovação e da não permanência do aluno na sala de aula, fissionalização do magistério.
o que vem provocando a marginalização das classes populares. Esse O reforço à valorização dos profissionais da educação, garantin-
compromisso implica a construção coletiva de um projeto político- do-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional permanente, sig-
-pedagógico ligado à educação das classes populares. nifica “valorizar a experiência e o conhecimento que os professores
A gestão democrática exige a compreensão em profundidade têm a partir de sua prática pedagógica”.
dos problemas postos pela prática pedagógica. Ela visa romper com
a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o fazer, A formação continuada é um direito de todos os profissionais
entre teoria e prática. Busca resgatar o controle do processo e do que trabalham na escola, uma vez que não só ela possibilita a pro-
produto do trabalho pelos educadores. gressão funcional baseada na titulação, na qualificação e na compe-
Implica principalmente o repensar da estrutura de poder da es- tência dos profissionais, mas também propicia, fundamentalmente,
cola, tendo em vista sua socialização. A socialização do poder propi- o desenvolvimento profissional dos professores articulado com as
cia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo; escolas e seus projetos.

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A formação continuada deve estar centrada na escola e fazer como a escola pode colaborar com a formação deste sujeito du-
parte do projeto político-pedagógico. Assim, compete à escola: rante a sua vida.
- proceder ao levantamento de necessidades de formação con-
tinuada de seus profissionais; Para definirmos o marco operativo sugere-se que analisemos
- elaborar seu programa de formação, contando com a partici- a concepção e os princípios para o papel que a escola pode desem-
pação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de fortalecer seu penhar na sociedade.
papel na concepção, na execução e na avaliação do referido pro-
grama. Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de
Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação con- cada um, discutir com todos os segmentos como queremos que
tinuada, questões como cidadania, gestão democrática, avaliação, seja nossa escola, que tipo de educação precisamos desenvolver
metodologia de pesquisa e ensino, novas tecnologias de ensino, para ajudar a construir a sociedade que idealizamos como enten-
entre outras. demos que ser a proposta pedagógica da escola, como devem ser
Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa as relações entre direção, equipe pedagógica, professores, alunos,
tomada de consciência, dos princípios do projeto político-pedagó- pais, comunidade, como a escola pode envolver a comunidade e
gico, não pode ter o sentido espontaneísta de se cruzar os braços se fazer presente nela, analisando qual a importância desta relação
diante da atual organização da escola, que inibe a participação de para os sujeitos que dela participam.
educadores, funcionários e alunos no processo de gestão.
É preciso ter consciência de que a dominação no interior da Marco Diagnóstico: é o segundo passo da construção do
escola efetiva-se por meio das relações de poder que se expres- projeto e se constitui num momento importante que permite uma
sam nas práticas autoritárias e conservadoras dos diferentes pro- radiografia da situação em que a escola se encontra na organização
fissionais, distribuídos hierarquicamente, bem como por meio das e desenvolvimento do seu trabalho pedagógico acima de tudo, ten-
formas de controle existentes no interior da organização escolar. do por base, o marco referencial, fazer comparações e estabelecer
Por outro lado, a escola é local de desenvolvimento da consciência necessidades para se chegar à intencionalidade do projeto.
crítica da realidade.
O documento produzido sobre o marco referencial deve ser
Estratégia de Planejamento lido por todos. Com base neste documento deve-se elaborar um
roteiro de discussão para comparar todos os elementos que apa-
Marco Referencial: é necessário definir o conjunto de ideias, recem no documento com a prática social vivida, ou seja, discutir
de opções e teorias que orientará a prática da escola. Para tanto, como de fato se dá a relação entre escola e a comunidade, como ela
é preciso analisar em que contexto a escola está inserida. Para trabalha com os conhecimentos que os alunos trazem da sua práti-
assim definir e explicitar com que tipo de sociedade a escola se ca social, como os conteúdos são escolhidos, como os professores
compromete, que tipo de pessoas ela buscará formar e qual a sua planejam o seu trabalho pedagógico da escola, como e quando se
intencionalidade político, social, cultural e educativa. Esta assunção avalia o trabalho na sala de aula e o trabalho pedagógico da escola,
permite clarear os critérios de ação para planejar como se deseja quem participa desta avaliação, como a escola tem definido a sua
a escola no que se refere à dimensão pedagógica, comunitária e opção teórica no trabalho pedagógico, como se dão as relações e a
administrativa. participação de alunos, professores, coordenadores, diretores, pais,
É um momento que requer estudos, reflexões teóricas, análise funcionários e comunidade na organização do trabalho pedagógico
do contexto, trabalho individual, em grupo, debates, elaboração escolar.
escrita. Devem ser criadas estratégias para que todos os segmentos Estes dados precisam ser sistematizados e discutidos por todos
envolvidos com a construção do projeto político-pedagógico pos- da equipe que elabora o projeto. Com a finalização do diagnóstico
sam refletir, se posicionar acerca do contexto em que a escola se da escola e de sua relação com a comunidade pode-se definir um
insere. É necessário partir da realidade local, para compreendê-la plano de ação e as grandes estratégias que devem ser perseguidas
numa dimensão mais ampla. Então se deve analisar e discutir como para atingir a intencionalidade assumida no marco referencial.
vivem as pessoas da comunidade, de onde vieram quais grupos étni-
cos a compõem, qual o trabalho que realizam como são as relações Propostas de Ação ou Marco da Programação: este é o mo-
deste trabalho, como é a vida no período da infância, juventude, mento em que se procura pensar estratégias, linhas de ação, nor-
idade adulta e a melhor idade (idoso) nesta comunidade, quais são mas, ações concretas permanentes e temporárias para responder
as formas de organização desta comunidade, etc. às necessidades apontadas a partir do diagnóstico tendo por refe-
A partir da reflexão sobre estes elementos pode-se discutir a rência sempre à intencionalidade assumida. Assim, cada problema
relação que eles têm no tempo histórico, no sentido de perceber constatado, cada necessidade apontada é preciso definir uma pro-
mudanças ocorridas na forma de vida das pessoas e da comunida- posta de ação.
de. Analisar o que tem de comum e tentar fazer relação com outros Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes
espaços, com a sociedade como um todo. Discutir como se vê a so- metas. Para cada meta pode-se definir ações permanentes, ações
ciedade brasileira, quais são os valores que estão presentes, como de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para atingir
estes são manifestados, se as pessoas estão satisfeitas com esta so- a meta definida. Além disso, é preciso justificar cada meta, traçar
ciedade e o seu modo de organização. seus objetivos, sua metodologia, os recursos necessários, os res-
ponsáveis pela execução, o cronograma e como será feita a avalia-
Para delimitar o marco doutrinal do projeto político-pedagó- ção.
gico propõe-se discutir: que tipo de sociedade nós queremos cons-
truir, com que valores, o que significa ser sujeito nesta sociedade,

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Com base nesses três momentos que devem estar dialetica- ca, necessariamente, a interação entre sujeitos que têm um mesmo
mente articulados elabora-se o projeto político-pedagógico, o qual objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente. Na
precisa também de forma coletiva ser executado, avaliado e (re) organização curricular é preciso considerar alguns pontos básicos:
planejado.
1º - é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O
Etapas currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar e desvelar
Devemos analisar e compreender a organização do trabalho os componentes ideológicos do conhecimento escolar que a classe
pedagógico, no sentido de se gestar uma nova organização que re- dominante utiliza para a manutenção de privilégios. A determina-
duza os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e ção do conhecimento escolar, portanto, implica uma análise inter-
do controle hierárquico. pretativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto da cultura
Nessa perspectiva, a construção do projeto político-pedagógico popular. O currículo expressa uma cultura.
é um instrumento de luta, é uma forma de contrapor-se à fragmen- 2º - é o de que o currículo não pode ser separado do contexto
tação do trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e social, uma vez que ele é historicamente situado e culturalmente
aos efeitos negativos do poder autoritário e centralizador dos ór- determinado.
gãos da administração central. 3º - diz respeito ao tipo de organização curricular que a escola
As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem as- deve adotar. Em geral, nossas instituições têm sido orientadas para
sim ser definidas: a organização hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar.
4º - refere-se a questão do controle social, já que o currículo
Cronograma de trabalho e definição da divisão de tarefas: de- formal (conteúdos curriculares, metodologia e recursos de ensino,
finição da periodicidade e das tarefas para a elaboração do projeto avaliação e relação pedagógica) implica controle. Por outro lado, o
pedagógico. Definir um prazo faz com que haja organização e com- controle social é instrumentalizado pelo currículo oculto, entendido
promisso com o trabalho de elaboração. este como as “mensagens transmitidas pela sala de aula e pelo am-
biente escolar”.
É importante reiterar que, quando se busca uma nova
organização do trabalho pedagógico, está se considerando que as Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os valores
relações de trabalho, no interior da escola deverão estar calçadas dominantes são passados aos alunos no ambiente escolar, no ma-
nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de participação terial didático e mais especificamente por intermédio dos livros di-
coletiva, em contraposição à organização regida pelos princípios da dáticos, na relação pedagógica, nas rotinas escolares. Os resultados
divisão do trabalho da fragmentação e do controle hierárquico. do currículo oculto “estimulam a conformidade a ideais nacionais e
É nesse movimento que se verifica o confronto de interesses convenções sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades
no interior da escola. Por isso todo esforço de se gestar uma nova socioeconômicas e culturais”.
organização deve levar em conta as condições concretas presentes Orientar a organização curricular para fins emancipatórios im-
na escola. Há uma correlação de forças e é nesse embate que plica, inicialmente desvelar as visões simplificadas de sociedade,
se originam os conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando a concebida como um todo homogêneo, e de ser humano como al-
construção de novas formas de relações de trabalho, com espaços guém que tende a aceitar papéis necessários à sua adaptação ao
abertos à reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunicação contexto em que vive. Controle social na visão crítica, é uma contri-
horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos com o buição e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideologia
processo educativo, a descentralização do poder. veiculada por intermédio dos currículos escolares.

Histórico da instituição: sua criação, ato normativo, origem de Ensino, aprendizagem e avaliação: orientações didáticas e me-
seu nome, etc. todológicas quanto à educação infantil, ensino fundamental, ensino
médio, educação especial, educação de jovens e adultos, educação
Abrangência da ação educativa referente: profissional. Mecanismos de acompanhamento pedagógico, de re-
- Nível de ensino e suas etapas; cuperação paralela, de avaliação: indicadores de aprendizagem, di-
- Modalidades de educação que irá atender; retrizes, procedimentos e instrumentos de recuperação e avaliação.
- Aos profissionais, considerando: à área, o trabalho da equipe
pedagógica e administrativa; Programa de formação continuada: concepção, objetivos, ei-
- À comunidade externa: entorno social. xos, política e estratégia.

Objetivos: gerais, observando os objetivos definidos pela ins- Formas de relacionamento com a comunidade: concepção de
tituição. educação comunitária, princípios, objetivos e estratégias.

Princípios legais e norteadores da ação: a instituição deve ob- Organização do tempo e do espaço escolar: cronograma de
servar ainda os planos e Políticas (federal, estadual ou municipal) atividades.
de Educação. A partir da identificação dos princípios registrados nas - diárias, semanais, bimestrais, semestrais, anuais.
legislações em vigor, deve explicitar o sentido que os mesmos ad- - estudo, planejamento, enriquecimento curricular, ação comu-
quirem em seu contexto de ação. nitária.
- normas de utilização de espaços comuns da instituição.
Currículo: identificar o paradigma curricular em concordância
com sua opção do método, da teoria que orienta sua prática. Impli- O tempo é um dos elementos constitutivos da organização do

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trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo: deter- entidades exteriores ou se são definidas no interior do território
mina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as férias, os social e se são definidas por consenso ou por conflito ou até se é
períodos escolares em que o ano se divide, os feriados cívicos e re- matéria ambígua, imprecisa ou marginal.
ligiosos, as datas reservadas à avaliação, os períodos para reuniões Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola deve
técnicas, cursos etc. assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho de refletir
O horário escolar, que fixa o número de horas por semana e sobre sua intencionalidade educativa. Nesse sentido, ela procura
que varia em razão das disciplinas constantes na grade curricular, alicerçar o conceito de autonomia, enfatizando a responsabilidade
estipula também o número de aulas por professor. Tal como afirma de todos, sem deixar de lado os outros níveis da esfera administra-
Enguita25. tiva educacional.
(...) As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o mes- A ideia de autonomia está ligada à concepção emancipadora
mo número de horas por semana e, são vistas como tendo menor da educação. Para ser autônoma, a escola não pode depender dos
prestígio se ocupam menos tempo que as demais. órgãos centrais e intermediários que definem a política da qual ela
não passa de executora. Ela concebe seu projeto político-pedagó-
A organização do tempo do conhecimento escolar é marcada gico e tem autonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma
pela segmentação do dia letivo, e o currículo é, consequentemente, nova atitude de liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades
organizado em períodos fixos de tempo para disciplinas suposta- sociopolíticas e culturais da escola.
mente separadas. O controle hierárquico utiliza o tempo que mui-
tas vezes é desperdiçado e controlado pela administração e pelo Estrutura Organizacional
professor. A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de es-
Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, mais truturas: administrativas e pedagógicas.
hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais, reduzindo,
também, as possibilidades de se institucionalizar o currículo inte- Administrativas - asseguram praticamente, a locação e a ges-
gração que conduz a um ensino em extensão. tão de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, ainda,
Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se ne- das estruturas administrativas todos os elementos que têm uma
cessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo perío- forma material como, por exemplo, a arquitetura do edifício escolar
dos de estudo e reflexão de equipes de educadores fortalecendo a e a maneira como ele se apresenta do ponto de vista de sua ima-
escola como instância de educação continuada. gem: equipamentos e materiais didáticos, mobiliário, distribuição
É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu das dependências escolares e espaços livres, cores, limpeza e sa-
conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão aprendendo. É neamento básico (água, esgoto, lixo e energia elétrica).
preciso tempo para acompanhar e avaliar o projeto político-peda-
gógico em ação. É preciso tempo para os estudantes se organizarem Pedagógicas - que, teoricamente, determinam a ação das ad-
e criarem seus espaços para além da sala de aula. ministrativas, “organizam as funções educativas para que a escola
atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. As estruturas
Acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico: parâ- pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às interações políti-
metros, mecanismos de avaliação interna e externa, responsáveis, cas, às questões de ensino e de aprendizagem e às de currículo. Nas
cronograma. estruturas pedagógicas incluem-se todos os setores necessários ao
Esses são alguns elementos que devem ser abordados no pro- desenvolvimento do trabalho pedagógico.
jeto pedagógico.
Geralmente encontram-se documentos com a seguinte orga- A análise da estrutura organizacional da escola visa identificar
nização: apresentação, dados de identificação, organograma, his- quais estruturas são valorizadas e por quem, verificando as relações
tórico, filosofia, pressupostos teóricos e metodológicos, objetivos, funcionais entre elas. É preciso ficar claro que a escola é uma or-
organização curricular, processo de avaliação da aprendizagem, ganização orientada por finalidades, controlada e permeada pelas
avaliação institucional, processo de formação continuada, organiza- questões do poder. A análise e a compreensão da estrutura orga-
ção e utilização do espaço físico, projetos/programas, referências, nizacional da escola significam indagar sobre suas características,
anexos, apêndices, dentre outros: seus polos de poder, seus conflitos.
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os pres-
Finalidades supostos que embasam a estrutura burocrática da escola que in-
Segundo Veiga26, a escola persegue finalidades. É importante viabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a modificar a rea-
ressaltar que os educadores precisam ter clareza das finalidades de lidade social. Para realizar um ensino de qualidade e cumprir suas
sua escola. Para tanto há necessidade de se refletir sobre a ação finalidades, as escolas têm que romper com a atual forma de orga-
educativa que a escola desenvolve com base nas finalidades e nos nização burocrática que regula o trabalho pedagógico - pela confor-
objetivos que ela define. As finalidades da escola referem-se aos midade às regras fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emana-
efeitos intencionalmente pretendidos e almejados. das do poder central e pela cisão entre os que pensam e executam,
Alves27 afirma que há necessidade de saber se a escola dispõe que conduz a fragmentação e ao consequente controle hierárquico
de alguma autonomia na determinação das finalidades e, conse- que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a ordem e
quentemente, seu desdobramento em objetivos específicos. O au- a disciplina.
tor enfatiza que: interessará reter se as finalidades são impostas por Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao ava-
liar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e vislumbrar as
possibilidades, os educadores vão desvelando a realidade escolar,
estabelecendo relações, definindo finalidades comuns e configu-

315
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

rando novas formas de organizar as estruturas administrativas e pe-


dagógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola na direção A PESQUISA NA PRÁTICA DOCENTE.
do que se pretende.
Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos dis- De acordo com a BNCC, o Campo das Práticas de Estudo e Pes-
poníveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade escolar, quisa se fundamenta na ampliação e na qualificação dos estudantes
cada instituição educativa assume sua marca, tecendo, no coletivo, por meio de:  
seu projeto político-pedagógico, propiciando consequentemente a – Entendimento dos interesses, atividades e procedimentos
construção de uma nova forma de organização. que movimentam os âmbitos escolar, científico e de divulgação
científica;
Processo de Decisão – Reconhecimento da relevância do domínio dessas práticas
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas das para a compreensão do mundo físico e da realidade social, para o
ações e principalmente das decisões é orientado por procedimen- prosseguimento dos estudos e para formação para o trabalho;
tos formalizados, prevalecendo as relações hierárquicas de mando – Desenvolvimento de habilidades e aprendizagens de procedi-
e submissão, de poder autoritário e centralizador. mentos envolvidos na leitura/escuta e produção de textos perten-
Uma estrutura administrativa da escola adequada à realização centes a gêneros relacionados ao estudo, à pesquisa e à divulgação
de objetivos educacionais, de acordo com os interesses da popu- científica.
lação, deve prever mecanismos que estimulem a participação de
todos no processo de decisão. Esse campo de dedica ao estudo dos gêneros argumentati-
Isto requer uma revisão das atribuições especificas e gerais, vos e expositivos, e promove as práticas relacionadas ao estudo,
bem como da distribuição do poder e da descentralização do pro- à pesquisa e à divulgação científica. Por dialogar diretamente com
cesso de decisão. Para que isso seja possível há necessidade de se as outras três áreas do conhecimento (Ciências Humanas, Mate-
instalarem mecanismos institucionais visando à participação políti- mática e Ciências da Natureza), as práticas de estudo e pesquisa
ca de todos os envolvidos com o processo educativo da escola. contribuem de forma global para a formação do estudante. Alguns
gêneros abordados nesse campo são: entrevistas, gráficos, infográ-
Contudo, a participação da coordenação pedagógica nesse ficos, diagramas, tabelas, notas de divulgação científica, relatos de
processo é fundamental, pois o trabalho é garantir a satisfação experimentos, verbetes de enciclopédia.
do bom atendimento em prol de toda a instituição.
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Avaliação
Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a reflexão
com base em dados concretos sobre como a escola organiza-se Alfabetização
para colocar em ação seu projeto político-pedagógico. A avaliação
do projeto político-pedagógico, numa visão crítica, parte da neces- O termo Alfabetização, segundo Soares28, etimologicamente,
sidade de se conhecer a realidade escolar, busca explicar e com- significa:
preender ceticamente as causas da existência de problemas bem Levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a es-
como suas relações, suas mudanças e se esforça para propor ações crever. Assim, a especificidade da Alfabetização é a aquisição do
alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador é conferido pela código alfabético e ortográfico, através do desenvolvimento das
autocrítica. habilidades de leitura e de escrita.
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global, ana-
lisam o projeto político-pedagógico, não como algo estanque des- Letramento
vinculado dos aspectos políticos e sociais. Não rejeitam as contra-
dições e os conflitos. A avaliação tem um compromisso mais amplo De acordo com Soares, a palavra letramento é de uso ainda
do que a mera eficiência e eficácia das propostas conservadoras. recente e significa:
Portanto, acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico é ava- “Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever
liar os resultados da própria organização do trabalho pedagógico. dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido
Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar dois e façam parte da vida do aluno.”
pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato dinâmico que
qualifica e oferece subsídios ao projeto político-pedagógico. Segun- A escola não somente influencia a sociedade, mas também é
do, ela imprime uma direção às ações dos educadores e dos edu- por ela influenciada, ou seja, conjuntos de possíveis causas que es-
candos. tão dentro e no entorno da escola, realmente, afetam o ensino e a
O processo de avaliação envolve três momentos: a descrição e aprendizagem. Há algumas décadas, a principal causa que apontava
a problematização da realidade escolar, a compreensão crítica da para a baixa qualidade da alfabetização era o ensino fundamentado
realidade descrita e problematizada e a proposição de alternativas na Pedagogia Tradicional.
de ação, momento de criação coletiva.
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser instrumento (...só lembrando as características da Pedagogia Tradicio-
de exclusão dos alunos provenientes das classes trabalhadoras. Por- nal...: o papel da escola é o de promover uma formação puramente
tanto, deve ser democrática, deve favorecer o desenvolvimento da moral e intelectual; os conteúdos de ensino são aqueles que foram
capacidade do aluno de apropriar-se de conhecimentos científicos,
sociais e tecnológicos produzidos historicamente e deve ser resul- 28 SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Tra-
tante de um processo coletivo de avaliação diagnóstica. balho apresentado na 26° Reunião Anual da ANPED, Minas Gerais, 2003.

316
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

ao longo do tempo acumulados e, nesse momento, são passados como já foi dito, necessitarem acontecer de maneira inter-relacio-
como verdades absolutas, sem chance de questionamentos ou le- nada. Com uma prática educativa que faça uma aliança entre alfa-
vantamentos de dúvidas; a metodologia de ensino é a exposição betização e letramento, sem perder a especificidade de cada um
verbal por parte do professor; a relação professor-aluno é marcada dos processos, sempre fazendo relação entre conteúdo e prática e
pelo autoritarismo do primeiro em relação ao segundo; os pressu- que, fundamentalmente, tenha por objetivo a melhor formação do
postos da aprendizagem são fundamentados na receptividade dos aluno.
conteúdos e na mecanização de sua recepção.) O letramento ganha espaço a partir da constatação de uma
problemática na educação, pois através de pesquisas, avaliações e
Atualmente, entre outros fatores que envolvem um bom en- análises realizadas, chegou- se à conclusão de que nem sempre o
sino e aprendizagem, as principais causas estão ligadas à perda da ato de ler e escrever garante que o indivíduo compreenda o que lê
especificidade da alfabetização, devido à compreensão equivocada e o que escreve. Entretanto, se reconhece que muito mais que isso,
de novas perspectivas teóricas e suas metodologias, que foram sur- é realizar uma leitura crítica da realidade, respondendo satisfatoria-
gindo em contraposição ao tradicional, e a grande abrangência que mente as demandas sociais.
se tem dado ao termo alfabetização.
Deve-se cuidar para não privilegiar um ou outro processo
Concordando, com Magda Soares, em seu artigo Letramento e (alfabetização/letramento) e entender que eles são processos
Alfabetização: as muitas facetas, a expansão do significado de alfa- diferentes, mas, indissociáveis e simultâneos.
betização em direção ao conceito de letramento, levou à perda de
sua especificidade. [...] no Brasil a discussão do letramento surge Assim, como descreve Soares: entretanto, o que lamentavel-
sempre enraizada no conceito de alfabetização, o que tem levado, mente parece estar ocorrendo atualmente é que a percepção que
apesar da diferenciação sempre proposta na produção acadêmica, se começa a ter, de que, se as crianças estão sendo, de certa forma,
a uma inadequada e inconveniente fusão dos dois processos, com letradas na escola, não estão sendo alfabetizadas, parece estar con-
prevalência do conceito de letramento, [...] o que tem conduzido a duzindo à solução de um retorno à alfabetização como processo
certo apagamento da alfabetização que, talvez com algum exagero, autônomo, independente do letramento e anterior a ele.
denomino desinvenção da alfabetização. Analisando dialeticamente a evolução humana, fica explíci-
to que o homem antes mesmo de aprender à escrita, apreende o
Essa fusão dos dois processos, que leva à chamada “desinven- mundo a sua volta e faz a leitura crítica desse imenso mundo ma-
ção da alfabetização”, aliada à interpretação equivocada das novas terial. Por isso, é incorreto dizer que uma pessoa é iletrada, mesmo
perspectivas teóricas acarretou na prática a negação de qualquer que ela ainda não seja alfabetizada, pois ela desde o princípio da
atividade que visasse à aquisição do sistema alfabético e ortográ- vida reflete sobre as coisas. O letramento está intimamente ligado
fico, como o ensino das relações entre letras e sons, o desenvol- às práticas sociais, exigindo do indivíduo, uma visão do contexto
vimento da consciência fonológica e o reconhecimento das partes social em que vive. Isso faz da alfabetização uma prática centrada
menores das palavras, como as sílabas, pois eram vistos como tradi- mais na individualidade de cada um e do letramento uma prática
cionais. Passou-se a acreditar que o aluno aprenderia o sistema sim- mais ampla e social.
plesmente pelo contato com a cultura letrada, como se ele pudesse Nesse sentido, destacamos o papel do professor dentro desse
aprender sozinho o código, sem ensino explícito e sistemático. processo. Este profissional deve acreditar e promover a construção
Atualmente, se reconhece a importância de se usar algumas de pensamento crítico em si próprio e em seus alunos. Assim, o le-
práticas da escola tradicional, que são entendidas como as facetas tramento se torna uma forma de entender a si e aos outros, desen-
da alfabetização segundo Soares, assim como os equívocos de com- volvendo a capacidade de questionar com fundamento e discerni-
preensão do construtivismo foram percebidos e ajustados e muitos mento, intervindo no mundo e combatendo situações de opressão.
aspectos da escola nova tidos como essenciais. Com tudo isso, não Pronto!! Agora que entendemos a diferença entre os dois pro-
se pode negar uma prática ou outra, só por ela estar fundamentada cessos... podemos chegar à qualidade, conciliando ambos os pro-
em uma ou em outra concepção, mas, sim, avaliar quais são as suas cedimentos e produzindo uma prática reflexiva de aliança entre os
contribuições e se convêm serem utilizadas para um processo de dois processos.
alfabetização significativa. Partindo das reflexões de Brandão30, sobre a metodologia frei-
riana de se alfabetizar, é possível compreender a importância da
Dermeval Saviani29, apresenta que aspectos da escola tradicio- indissociabilidade e simultaneidade destes dois processos. Em seu
nal são importantes para a educação. Ainda argumenta que uma método de alfabetização, ele propõe que se parta daquilo que é
pedagogia comprometida com a qualidade educacional e voltada concreto e real para o sujeito, tornando a aprendizagem significati-
para a transformação social, deve incorporar aspectos positivos e va, mas utilizando também os mecanismos de alfabetização.
relevantes da pedagogia tradicional e da pedagogia nova, de modo Ele ainda coloca em sua obra Pedagogia da Autonomia, que o
que o ponto de partida seja a prática social sincrética e o de chega- sujeito quanto mais amplia sua visão de mundo, mais se liberta da
da uma prática social transformada. opressão, ou seja, o sujeito letrado que já possui seus conhecimen-
Assim, se faz necessário resgatar a significação verdadeira da tos prévios, com um determinado ponto de vista, quando alfabe-
alfabetização e delinear corretamente o conceito de letramento, de tizado, pode modificar seus pensamentos, ampliando-os de forma
forma que eles não se fundam e nem se confundam, apesar de, que passa a refletir criticamente sobre a prática social. Freire acredi-
tava ser fundamental que as pessoas compreendam o seu lugar no
29 SAVIANI, D. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da

vara, onze teses sobre a educação política. 40ªed. Campinas: Autores Associados, 30 BRANDÃO, C.R. O que é o método Paulo Freire. São Paulo:
2008. Brasiliense, 2004.

317
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

mundo e sua função social nele. Vargas32 apresenta uma distinção entre ledores e leitores muito
O professor, portanto, tem um papel muito importante a rea- importante quando se fala de alfabetização e de letramento. Segun-
lizar, para que esse pensamento crítico se desenvolva em seus alu- do a autora,
nos. Para Freire...
[...] A estrutura educacional brasileira tem formado mais ledo-
“[...] percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o res que leitores. Qual é a diferença entre uns e outros se os dois
mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa são decodificadores de discursos? A diferença está na qualidade da
docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a decodificação, no modo de sentir e de perceber o que está escrito. O
pensar certo.” leitor, diferentemente do ledor, compreende o texto na sua relação
dialética com o contexto, na sua relação de interação com a forma.
É fundamental que o educador esclarecido de uma realidade de O leitor adquire através da observação mais detida, da compreen-
opressão, não torne o processo de ensino bancário e improdutivo, são mais eficaz, uma percepção mais crítica do que é lido, isto é,
mas uma educação que desvende o mundo material e liberte as chega à política do texto. A compreensão social da leitura dá-se na
pessoas da opressão, como defende Freire. Para isso, as práticas medida dessa percepção. Pois bem, na medida em que ajudo meu
de alfabetização e letramento são necessárias, cada uma com suas leitor, meu aluno, a perceber que a leitura é fonte de conhecimento
especificidades, como explicita Tfouni31: e de domínio do real, ajudo-o a perceber o prazer que existe na de-
codificação aprofundada do texto.
“Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por
um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os as- O objetivo de se ensinar a ler e escrever deve estar centrado
pectos sócio históricos da aquisição de um sistema escrito por uma em propiciar ao estudante a aquisição da língua portuguesa, de
sociedade.” maneira que ele possa exprimir-se corretamente, aconselhado pelo
professor por meio de estímulos à leitura de variados textos, nos
Logo, o letramento vai além do ler e escrever, ele tem sua fun- quais serão verificadas as diferentes variações linguísticas, tornan-
ção social, enquanto a alfabetização encarrega-se em preparar o in- do um poliglota em sua língua, para que, ao dominar o maior nú-
divíduo para a leitura e um desenvolvimento maior do letramento mero de variantes, ele possa ser capaz de interferir socialmente nas
do sujeito. Nessa perspectiva, alfabetização e letramento se com- diversas situações a que for submetido.
pletam e enriquecem o desenvolvimento do aluno. A educação, sendo uma prática social, não pode restringir-se a
Alfabetizar letrando é uma prática necessária nos dias atuais, ser puramente livresca, teórica, sem compromisso com a realidade
para que se possa atingir a educação de qualidade e produzir um local e com o mundo em que vivemos. Educar é também, um ato
ensino, em que os educandos não sejam apenas uma caixa de de- político. É preciso resgatar o verdadeiro sentido da educação. De
pósito de conhecimentos, mas que venham a ser seres pensantes e acordo com Freire33,
transformadores da sociedade.
(...) o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do
O papel do educador na formação de indivíduos alfabetiza- mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos,
dos e letrados como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores,
que não apenas sabem mas sabem que sabem.
Numa sociedade letrada, o objetivo do ensino deve ser o de
aprimorar a competência e melhorar o desempenho linguístico do Assim, quando os alunos são o sujeito da própria aprendiza-
estudante, tendo em vista a integração e a mobilidade sociais dos gem, “seres fazedores, transformadores”, no dizer de Paulo Freire,
indivíduos, além de colocar o ensino numa perspectiva produtiva. tomam consciência de que sabem e podem transformar o já feito,
O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como práti- construído. Deixam a passividade e a alienação para se constituírem
ca de um sujeito agindo sobre o mundo para transformá-lo e, para, como seres políticos. Como afirma Freire34,
através da sua ação, afirmar a sua liberdade e fugir à alienação.
É através da prática que desenvolvemos nossa capacidade “O diálogo é fundamental em qualquer prática social. O diálogo
linguística. Conhecer diferentes tipos de textos não é, pois, decorar consiste no respeito aos educandos, não somente enquanto indiví-
regras gramaticais e listas de palavras. duos, mas também enquanto expressões de uma prática social. (...)
No rap Estudo Errado, Gabriel, o Pensador, diz com proprieda- A grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, deposi-
de: “Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. Decoreba: este é tar, oferecer, doar ao outro, tomado como paciente de seu pensar
o método de ensino. Eles me tratam como ameba e assim eu não a inteligibilidade das coisas, dos fatos, dos conceitos. A tarefa
raciocino”. coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser
É lamentável que, no Brasil, a escola, lugar fundamental para humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com
a pessoa desenvolver sua capacidade de linguagem, continue quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão
limitando-se, na maioria das vezes, a um ensino mecânico. Na
perspectiva do letramento, a leitura e a escrita são vistas como 32 VARGAS, Suzana. Leitura: uma aprendizagem de prazer. 4ª ed. Rio de

práticas sociais. Janeiro: José Olympio, 2000.

33 FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se

completam. São Paulo: Autores Associados, 1989.

34 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à práti-

31 TFOUNI, L.V. Letramento e alfabetização. São Paulo, Cortez,1995. ca educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

do que vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não Enfim, nos dias atuais, o conhecimento é uma das “ferramen-
seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na tas” para se conquistar oportunidades de trabalho e renda. Assim,
dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico.” aos professores, cabe a responsabilidade de fazer com que seus alu-
nos se interessem pela leitura e pela escrita.
O aluno não pode ser um simples objeto nas mãos do professor.
É o que Freire chama de “educação bancária”, isto é, o educando,
ao receber passivamente os conhecimentos, torna-se um depósito
ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA ORGANIZAÇÃO DA
do educador. “Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as
EDUCAÇÃO BRASILEIRA; POLÍTICAS EDUCACIONAIS
possibilidades para sua produção ou a sua construção”.
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
Cabe ao professor mostrar aos alunos uma pluralidade de dis-
curso. Trabalhar com diferentes textos possibilita ao professor fazer Aspectos Históricos
uma abordagem mais consciente das variadas formas de uso da lín-
gua. Assim, o professor pode transformar a sua sala de aula num Com a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabe-
espaço de descobertas e construção de conhecimentos. tização e Diversidade, conhecida pela sigla SECAD, desde 2004, o
A tarefa de selecionar materiais de leitura para os alunos é uma Ministério da Educação agilizou os enfrentamentos das injustiças
das tarefas mais difíceis. Nessa escolha, são postas em jogo as dife- encontradas em nosso país. O objetivo é a universalização do aces-
rentes concepções que tem cada professor sobre a aprendizagem, so, a permanência e aprendizagem na escola pública, com a cons-
os processos de leitura, a compreensão, as funções dos textos e o trução participativa de uma proposta de Educação Integral, através
universo do discurso. Além disso, coloca-se em jogo a represen- da ação articulada entre os entes federados e a organização civil,
tação que tem cada docente não só do desenvolvimento cogniti- principalmente quando se diz respeito à superação das desigualda-
vo e sócio afetivo dos sujeitos a quem são dirigidos os materiais, des e afirmação dos direitos mediante às diferenças.
mas também dos interesses de leitura de tais destinatários. Assim, Entre o final de 2007 e ao longo de primeiro semestre de 2008,
também intervém como variável significativa o valor que o docente gestores municipais e estaduais, que representam a União Nacio-
atribui aos materiais enquanto recursos didáticos. nal dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), do Conselho
Trabalhar com gêneros textuais variados nos permite entender Nacional de Secretários de Educação (CONSED), da Confederação
que a escolha de um gênero leva em conta os objetivos visados, o Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), da Associação
lugar social e os papéis dos participantes. Daí decorre a detecção do Nacional pela Formação de Profissionais da Educação (ANFOPE), de
que é adequado ou inadequado em cada uma das práticas sociais. Organizações não-governamentais comprometidas com a educação
Diante disso, na medida em que o educador tomar consciência pública e de professores universitários reuniram-se periodicamen-
de sua posição política, articulando conteúdos significativos a uma te, com a coordenação do SECAD e convocação do MEC, para con-
prática também significativa, desvinculando-se da função tradicio- tribuírem para o debate nacional. Nessas reuniões debatia-se sobre
nal de mero transmissor de conteúdos e, consequentemente, de uma política de Educação Integral, sustentada na intersetorialidade
mero repetidor de exercícios do livro didático estará transforman- da gestão pública, com uma possível articulação com a sociedade
do o ensino da leitura e da escrita. Um educador como mediador, civil e no diálogo entre os saberes clássicos e contemporâneos.
partindo da observação da realidade para, em seguida, propor res-
postas diante dela estará contribuindo para a formação de pessoas Base Conceitual
críticas e participativas na sociedade.
Assim, uma prática significativa depende do interesse do pro- Antes de adentrar no contexto que envolve as Políticas Públicas
fessor em planejar as suas aulas com coerência, visando a constru- Educacionais35, tem-se o entendimento do que vem a ser Política
ção de conhecimentos com os alunos. Pública, que a partir da etimologia da palavra se refere ao desen-
É importante destacar que letrar não é apenas função de volvimento a partir do trabalho do Estado junto à participação do
professor de Língua Portuguesa. Em todas as áreas de conhecimento, povo nas decisões.
em todas as disciplinas, os alunos aprendem através de práticas
de leitura e de escrita: em História, em Geografia, em Ciências, Sob este entendimento conceitua-se que:
mesmo em Matemática, enfim, em todas as disciplinas, os alunos Se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo faz ou dei-
aprendem lendo, interpretando e escrevendo. xa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo que um
Letrar é função de todos os professores, mesmo porque, em governo faz ou deixa de fazer em educação. Porém, educação é
cada área de conhecimento, a escrita e a leitura têm peculiaridades, um conceito muito amplo para se tratar das políticas educacionais.
que só os professores que nela atuam é que conhecem e dominam. Isso quer dizer que políticas educacionais é um foco mais específi-
O educador reeducando-se e transformando-se, deixará de vez co do tratamento da educação, que em geral se aplica às questões
“suas tarefas e as funções da educação sob a ótica das elites eco- escolares. Em outras palavras, pode-se dizer que políticas públicas
nômicas, culturais e políticas das classes dominantes”, em direção a educacionais dizem respeito à educação escolar.36
uma prática libertadora. Assim, o ensino deixará de ser um martírio,
para se tornar num processo de construção permanente de conhe- É importante observar que as Políticas Públicas Educacionais
cimentos. O educador deve estimular no aluno o pensamento críti- 35 FERREIRA, C. S.; SANTOS, E. N. dos. Políticas públicas educacionais:
co, de modo que ele possa atuar na sociedade como um indivíduo apontamentos sobre o direito social da qualidade na educação. Revista LABOR nº
pensante, questionador. 11, v.1, 2014.

36 OLIVEIRA, Adão Francisco de. Políticas públicas educacionais: concei-

to e contextualização numa perspectiva didática. In: OLIVEIRA, Adão Francisco de.


Fronteiras da educação: tecnologias e políticas. Goiânia-Goiás: PUC Goiás, 2010.

319
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

não apenas se relacionam às questões relacionadas ao acesso de oportunidades de aprendizagem a partir da construção de conhe-
todas as crianças e adolescentes as escolas públicas, mas também, cimento.41
a construção da sociedade que se origina nestas escolas a partir da A luta por uma escola cidadã no Brasil é envolvida por uma his-
educação. Neste entendimento, aponta-se que as Políticas Públicas tória de encontros e desencantos em que nem sempre o foco dos
Educacionais influenciam a vida de todas as pessoas. projetos é a qualidade da educação e a construção da cidadania,
No Brasil, com ênfase para a última década a expressão Políticas isto é:
Públicas ganhou um rol de notoriedade em todos os campos, fala-se
de Políticas Públicas para a educação, saúde, cultura, esporte, justi- Ao evidenciar um conjunto de concepções, práticas e estruturas
ça e assistência social. No entanto, tais políticas nem sempre trazem inovadoras, a experiência da escola cidadã aponta possibilidades
os resultados esperados, pois somente garantir o acesso a todos de uma educação com qualidade social, não redutora à dinâmica
estes serviços públicos não significa que estes tenham qualidade mercantil. O desenvolvimento de uma cultura participativa, de uma
e, que efetivamente, os usuários terão seus direitos respeitados.37 inquietação pedagógica com a não-aprendizagem, da busca dos
Diante destes aspectos tem-se que as Políticas Públicas se vol- aportes teóricos da ciência da educação, legítima a ideia de que a
tam para o enfrentamento dos problemas existentes no cotidiano não-aprendizagem é uma disfunção da escola e que a reprovação e
das escolas, que reduzem a possibilidade de qualidade na educa- a evasão são mecanismos de exclusão daqueles setores sociais que
ção. No entanto, somente o direcionamento destas para a educa- mais necessitam da escola pública. Isso levou à convicção da neces-
ção não constitui uma forma de efetivamente auxiliar crianças e sidade de reinventar a escola, de redesenhá-la de acordo com novas
adolescentes a um ensino de melhor qualidade, posto que existam concepções. Os avanços na formação em serviço evidenciaram aos
outros pontos que também devem ser tratados a partir das Políticas educadores que a estrutura convencional da escola está direcionada
Públicas, como os problemas de fome, drogas e a própria violência para transmissão, para o treinamento e para a repetição, tendendo
que vem se instalando nas escolas em todo o Brasil.38 a neutralizar as novas proposições pedagógicas, no máximo trans-
Quando se fala em Políticas Públicas na educação a abordagem formando-as em modismos fugazes. Por isso, embora essenciais,
trata-se da articulação de projetos que envolvem o Estado e a so- não bastam apenas mudanças metodológicas, novidades teóricas,
ciedade, na busca pela construção de uma educação mais inclusiva a adesão aos princípios de uma escola inclusiva, democrática, com
e de melhor qualidade, ou seja, que resgate a construção da cida- práticas avaliativas voltadas ao sucesso do educando, é indispensá-
dania.39 vel ainda a superação da estrutura taylorista-fordista, redefinindo
Tem-se que o sistema educativo adotado e as Políticas Públicas os espaços, os tempos e os modelos de trabalho escolar.42
direcionadas para a educação, são elementos que demonstram a
preocupação do país com o seu futuro, pois somente, o ensino pú- Neste sentido, se observam que as transformações vivenciadas
blico gratuito, inclusivo e de qualidade pode construir uma socieda- no cenário educacional, especialmente, nas escolas públicas nas
de em que as diferenças socioculturais e socioeconômicas não são últimas décadas, estão diretamente ligadas às mudanças ocorridas
tão díspares.40 nos campos político, social, econômico e cultural, que originam
Neste sentido, tem-se que as Políticas Públicas Educacionais es- uma nova situação nas condições de vida da sociedade, seja no
tão diretamente ligadas a qualidade da educação e, consequente- campo social ou econômico.43
mente, a construção de uma nova ordem social, em que a cidadania Compreender a necessidade de qualidade na educação e bus-
seja construída primeiramente nas famílias e, posteriormente, nas car a construção desta qualidade somente ocorre quando a escola
escolas e na sociedade. cumpre com seu papel social e educacional.44
Dentre os processos que envolvem o desencanto com a educa-
Educação pública no Brasil: Uma História de Encontros e De- ção pública, tem-se o fato de que:
sencantos
Crianças de 5ª série que não sabem ler nem escrever, salários
A escola pública brasileira vem demonstrando, especialmente, baixos para todos os profissionais da escola, equipes desestimu-
nas últimas décadas um processo de desenvolvimento no contexto ladas, famílias desinteressadas pelo que acontece com seus filhos
organizacional e de gestão, partindo do princípio que a democracia nas salas de aula, qualidade que deixa a desejar, professores que
gera qualidade e oportunidade a todos também no âmbito escolar. fingem que ensinam e alunos que fingem que aprendem. O quadro
Porém, a educação pública necessita mais do que oferecer escolas, da Educação Brasileira (sobretudo a pública) está cada vez mais de-
mas é imprescindível ter docentes conscientes de seu papel educa- sanimador. [...].45
cional, tanto quanto social, bem como sejam oferecidas as crianças 41 BOLZANO, Sonia Maria Nogueira. Do direito ao ensino de qualidade ao

direito de aprender com qualidade - o desafio da nova década. In: LIBERTI, Wilson
37 SETUBAL, Maria Alice. Com a palavra... Consulex. Ano XVI. N.382. 15
42 AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade.
38 QUADROS, Neli Helena Bender de. Políticas públicas voltadas para a

qualidade da educação no ensino fundamental: inquietudes e provocações a partir 43 FURGHESTTI, Mara Luciane da Silva; GRECO, Maria Terêsa Cabral;
do plano de desenvolvimento da educação. [Dissertação de Mestrado em Educa- CARDOSO, Rosinete Costa Fernandes. Ensino fundamental de nove anos: os im-
ção]. Passo Fundo - RS: Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo, pactos das políticas públicas para a alfabetização com letramento. IX ANPED Sul
39 GIRON, Graziela Rossetto. Políticas públicas, educação e neoliberalis- 44 SAVIANI, Demerval. História das ideais pedagógicas no Brasil. Campi-
mo: o que isso tem a ver com a cidadania. Revista de Educação. PUC-Campinas.

40 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à práti-


45 BENCINI, Roberta; MORAES, Trajano de; MINAMI, Thiago. O desafio

320
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Esta realidade de desencanto com a educação brasileira asse- A QUALIDADE do ensino tem sido foco de discussão intensa, es-
gura a esta um status de baixa qualidade, seja no contexto de toda pecialmente na educação pública. Educadores, dirigentes políticos,
a estrutura organizacional e educacional vivenciada, seja mídia e, nos últimos tempos, economistas, empresários, consultores
nos resultados de desempenho dos estudantes no processo ensino empresariais e técnicos em planejamento têm ocupado boa parte
e aprendizagem. do espaço dos educadores, emitindo receitas, soluções técnicas e,
Várias políticas públicas foram lançadas por todos os setores não raro, sugerindo a incompetência dos educadores para produzir
do governo federal para se alcançar os objetivos propostos pela soluções que empolguem a qualificação do ensino. Essa invasão de
Constituição Federal. A título de exemplo, entre outras políticas profissionais não identificados ou não envolvidos com as atividades
podem ser citadas as seguintes: do campo educacional merece uma reflexão. Não se trata aqui de
a) Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Funda- preconizar o monopólio da discussão da educação aos educadores,
mental e de Valorização do Magistério- (FUNDEB); mas de registrar a intensa penetração ideológica das análises, dos
b) Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE); procedimentos e das receitas tecnocráticas à educação.47
c) Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE);
d) Programa Bolsa Família; A qualidade da educação, especialmente nas escolas públicas
e) Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); não podem ser construídas com base unicamente em políticas
f) Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); quantitativas e privatizadoras, em que a escola particular seja sím-
g) Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE); bolo de eficiência, mas em programas que tenham no resgate da
h) Exame Nacional do Ensino Médio (ENEN; qualidade da escola pública a sua força para alcançar efetivamente
i) Sistema de Seleção Unificada (SISU); um melhor nível educacional.
j) Programa Universidade para Todos (PROUNI); No Brasil a eficiência das escolas públicas, que poderiam ser
k) Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equi- traduzidas em qualidade educacional, está intimamente ligada a
pamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (PROIN- influência tecnicista dos americanos e do humanismo republicano.
FÂNCIA). Porém, este humanismo é contraditório, pois não tem por objetivo
a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e,
O Plano Nacional de Educação é a política pública mais atual sim, de seus direitos, fazendo surgir um paternalismo que oprime a
e tem como objetivo a melhoria da educação. Está amparado na escola a oferece educação e não educação de qualidade.48
Constituição Federal e visa efetivar os deveres do Estado em relação Esta qualidade não é alcançada com uma educação institucio-
à Educação. Os planos devem contemplar a realidade nacional, es- nalizada que busca fornecer conhecimento já pronto para que as
tadual e municipal, razão pela qual se mostra de extrema relevância crianças e os adolescentes continuem a propagação desta socieda-
o diagnóstico realizado. de mercantilizada, mas deve buscar a geração e transmissão de va-
A participação de todos redunda do modelo democrático assu- lores éticos, morais e cidadãos que efetivamente são construtores
mido pelo País e previsto constitucionalmente. Mas, esta participa- de novos conhecimentos e de uma sociedade a luz da cidadania.49
ção tem outro efeito, o princípio do pertencimento da coisa pública,
ou seja, as pessoas tendem a se comprometer com o que lhes per- Amparo Constitucional50
tence, o que lhes diz respeito. Quando se tem um plano elaborado A Constituição Federal Brasileira de 1988, considerada a mais
com a efetiva participação dos professores, educadores, pais, fun- humana de todos os tempos, trouxe em seu bojo abordagens im-
cionários, vereadores, do executivo, enfim de toda a sociedade, a portantes para a educação. Nesta contextualização, o artigo 205
possibilidade de não se tornar um plano fictício ou dissociado da preleciona que:
realidade local é muito menor, pois cobranças advirão da sua imple- Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da fa-
mentação, inclusive em esferas extra educacionais, com a participa- mília, será promovida e incentivada com a colaboração da socieda-
ção do Ministério Público e Judiciário. de, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.51
A Qualidade da Educação
A qualidade na educação é elemento complexo devido a sua Não obstante aponta-se que a Constituição Federal (CF) não traz
abrangência e necessidade de ter nas características físicas da es- em seu bojo somente o acesso à escola, mas o pleno desenvolvi-
cola, nos docentes e na didática de ensino fatores que possibilitem mento das pessoas a partir da educação, o que denota a pertinência
a construção desta qualidade. Isto não significa dizer que nenhuma
criança ou adolescente fique fora da sala de aula é, importante que 47 AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade.
exista qualidade nesta escola básica, oferecida para todos.46 Estud. av. v.21. n.60. São Paulo.2007.
Com a necessidade de construir uma sociedade mais justa, dig- 48 LIBERATI, Wilson Donizetti. Conteúdo material do direito à educação
na e cidadã as discussões sobre a qualidade da educação se exacer- escolar. In: LIBERTI, Wilson Donizeti. . Direito à educação: uma questão de justiça.
São Paulo: Malheiros, 2004.
baram, neste campo tem-se que:
49 FURGHESTTI, Mara Luciane da Silva; GRECO, Maria Terêsa Cabral;
CARDOSO, Rosinete Costa Fernandes. Ensino fundamental de nove anos: os im-
pactos das políticas públicas para a alfabetização com letramento. IX ANPED Sul
da qualidade não dá mais para esperar: ou o Brasil coloca a Educação no topo Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012.
das prioridades ou estará condenado ao subdesenvolvimento. A boa notícia é que
a situação tem jeito se a sociedade agir já. Nova Escola. Ano XXI. N.1996. Out. de 50 FERREIRA, Cleia Simone, Santos dos, Everton Neves. Políticas públi-
2006. cas educacionais: apontamentos sobre o direito social da qualidade na educação.
2014.
46 BOLZANO, Sonia Maria Nogueira. Do direito ao ensino de qualidade ao
direito de aprender com qualidade - o desafio da nova década. In: LIBERTI, Wilson 51 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição federal anotada. 9. ed. rev. e
Donizeti. Direito à educação: uma questão de justiça. São Paulo: Malheiros, 2004. atual. até a EC n.57/2008. São Paulo: Saraiva, 2009.

321
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

de uma educação de qualidade. Sendo que a CF em seu art. 205, VII, buições de sua Câmara de Educação Básica (CEB), deliberar sobre
menciona a “garantia de padrão de qualidade” do ensino, ou seja, as Diretrizes Curriculares propostas pelo Ministério da Educação.
não apenas o acesso de crianças e adolescentes a escola, mas um Esta competência para definir as Diretrizes Curriculares Nacionais
ensino de qualidade. Garantia está também presente no inciso IX torna-as mandatórias para todos os sistemas. Ademais, atribui-lhe,
do art. 4º da LDB. entre outras, a responsabilidade de assegurar a participação da so-
Ao tratar sobre a educação à luz da Constituição Federal, tem- ciedade no aperfeiçoamento da educação nacional (artigo 7º da Lei
-se que segundo a: “[...] legislação brasileira, o direito à educação nº 4.024/61, com redação dada pela Lei 9.131/95), razão pela qual
engloba os pais, o Estado e a comunidade em geral e os próprios as diretrizes constitutivas deste Parecer consideram o exame das
educandos, mas é obrigação do Estado garantir esse direito, inclusi- avaliações por elas apresentadas, durante o processo de implemen-
ve quando o assunto é qualidade. [...]”.52 tação da LDB.
Em consonância com a Constituição Federal de 1988 a educação O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está formulado
pública de qualidade é obrigação do Estado, sendo ainda o acesso na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as delimita como conjunto de
ao ensino fundamental obrigatório e gratuito, um direito público definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedi-
subjetivo, BRASIL.53 mentos na Educação Básica (…) que orientarão as escolas brasileiras
dos sistemas de ensino, na organização, na articulação, no desen-
A Constituição Federal em seu art. 6º preceitua: volvimento e na avaliação de suas propostas pedagógicas.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, Por outro lado, a necessidade de definição de Diretrizes Cur-
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ- riculares Nacionais Gerais para a Educação Básica está posta pela
dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência emergência da atualização das políticas educacionais que consubs-
aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada tanciem o direito de todo brasileiro à formação humana e cidadã
pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015). e à formação profissional, na vivência e convivência em ambiente
educativo. Têm estas Diretrizes por objetivos:
Neste enfoque quando é negado a qualquer criança ou adoles- I - Sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Bá-
cente o seu direito de frequentar uma escola e receber um ensino sica contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais,
de qualidade, possibilitando a construção de valores que o levam ao traduzindo-os em orientações que contribuam para assegurar a for-
exercício da cidadania, se está negando um direito social amparado mação básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que
na Constituição Federal. dão vida ao currículo e à escola;
II - Estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar a
Amparo em Leis Federais formulação, execução e avaliação do projeto políticopedagógico da
Na organização do Estado Brasileiro, a matéria educacional é escola de Educação Básica;
conferida pela Lei nº 9.394/9654, de Diretrizes e Bases da Educação III - Orientar os cursos de formação inicial e continuada de pro-
Nacional (LDB), aos diversos entes federativos: União, Distrito Fede- fissionais - docentes, técnicos, funcionários - da Educação Básica, os
ral, Estados e Municípios, sendo que a cada um deles compete orga- sistemas educativos dos diferentes entes federados e as escolas que
nizar seu sistema de ensino, cabendo, ainda, à União a coordenação os integram, indistintamente da rede a que pertençam.
da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e
sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
(artigos 8º, 9º, 10 e 11). a Educação Básica visam estabelecer bases comuns nacionais para
No tocante à Educação Básica, é relevante destacar que, entre a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, bem
as incumbências prescritas pela LDB aos Estados e ao Distrito Fede- como para as modalidades com que podem se apresentar, a partir
ral, está assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, com priorida- das quais os sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, por
de, o Ensino Médio a todos que o demandarem. E ao Distrito Fede- suas competências próprias e complementares, formularão as suas
ral e aos Municípios cabe oferecer a Educação Infantil em Creches e orientações assegurando a integração curricular das três etapas se-
Pré-Escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental. quentes desse nível da escolarização, essencialmente para compor
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vários sistemas, um todo orgânico.
a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui à União estabelecer, O processo de formulação destas Diretrizes foi acordado, em
em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os municípios, 2006, pela Câmara de Educação Básica com as entidades: Fórum
competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Funda- Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, União Nacional dos
mental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus con- Conselhos Municipais de Educação, Conselho dos Secretários Es-
teúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum. taduais de Educação, União Nacional dos Dirigentes Municipais de
A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais constitui, por- Educação, e entidades representativas dos profissionais da educa-
tanto, atribuição federal, que é exercida pelo Conselho Nacional de ção, das instituições de formação de professores, das mantenedo-
Educação (CNE), nos termos da LDB e da Lei nº 9.131/95, que o ras do ensino privado e de pesquisadores em educação.
instituiu. Esta lei define, na alínea “c” do seu artigo 9º, entre as atri- Para a definição e o desenvolvimento da metodologia destina-
da à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi constituída uma
52 CABRAL, Karina Melissa; DI GIORGI, Cristiano Amaral Garboggini. O
comissão que selecionou interrogações e temas estimuladores dos
direito à qualidade da educação básica no Brasil: uma análise da legislação perti-
nente e das definições pedagógicas necessárias para uma demanda judicial. Edu- debates, a fim de subsidiar a elaboração do documento preliminar
cação. Porto Alegre. v.35. n.1. jan./abr. 2012. visando às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Bási-
53 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outu- ca, sob a coordenação da então relatora, conselheira Maria Beatriz
bro de 1988. Luce. (Portaria CNE/CEB nº 1/2006)
54 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. A comissão promoveu uma mobilização nacional das diferen-

322
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

tes entidades e instituições que atuam na Educação Básica no País, II - Os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as inúmeras
mediante: alterações nela introduzidas por várias leis, bem como a edição de
I - Encontros descentralizados com a participação de Municípios outras leis que repercutem nos currículos da Educação Básica;
e Estados, que reuniram escolas públicas e particulares, mediante III - O penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de Educação
audiências públicas regionais, viabilizando ampla efetivação de ma- (PNE), que passa por avaliação, bem como a mobilização nacional
nifestações; em torno de subsídios para a elaboração do PNE para o período
II - Revisões de documentos relacionados com a Educação Bá- 2011-2020;
sica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover a atualização mo- IV - A aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
tivadora do trabalho das entidades, efetivadas, simultaneamente, da Educação Básica e de Valorização dos Professores da Educação
com a discussão do regime de colaboração entre os sistemas edu- (FUNDEB), regulado pela Lei nº 11.494/2007, que fixa percentual
cacionais, contando, portanto, com a participação dos conselhos de recursos a todas as etapas e modalidades da Educação Básica;
estaduais e municipais. V - A criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da Educação
Inicialmente, partiu-se da avaliação das diretrizes destinadas à Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Educação Básica que, até então, haviam sido estabelecidas por eta- Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC);
pa e modalidade, ou seja, expressando-se nas Diretrizes Curricula- VI - A formulação, aprovação e implantação das medidas ex-
res Nacionais para a Educação Infantil; para o Ensino Fundamental; pressas na Lei nº 11.738/2008, da Educação Básica;
para o Ensino Médio; para a Educação de Jovens e Adultos; para a VII - A criação do Fórum Nacional dos Conselhos de Educação,
Educação do Campo; para a Educação Especial; e para a Educação objetivando prática de regime de colaboração entre o CNE, o Fórum
Escolar Indígena. Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação e a União Nacional
Os temas considerados pertinentes à matéria objeto deste dos Conselhos Municipais de Educação;
Parecer passaram a se constituir nas seguintes ideias-força: VIII - A instituição da política nacional de formação de profissio-
I - As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação nais do magistério da Educação Básica (Decreto nº 6.755, de 29 de
Básica devem presidir as demais diretrizes curriculares específicas janeiro de 2009);
para as etapas e modalidades, contemplando o conceito de Educa- IX - A aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da Resolu-
ção Básica, princípios de organicidade, sequencialidade e articula- ção CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes Nacionais para os
ção, relação entre as etapas e modalidades: articulação, integração Planos de Carreira e Remuneração dos Profissionais do Magistério
e transição; da Educação Básica Pública, que devem ter sido implantados até
II - O papel do Estado na garantia do direito à educação de qua- dezembro de 2009;
lidade, considerando que a educação, enquanto direito inalienável X - As recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo CNE, ex-
de todos os cidadãos, é condição primeira para o exercício pleno pressas no documento Subsídios para Elaboração do PNE Conside-
dos direitos: humanos, tanto dos direitos sociais e econômicos rações Iniciais. Desafios para a Construção do PNE (Portaria CNE/
quanto dos direitos civis e políticos; CP nº 10/2009);
III - A Educação Básica como direito e considerada, contextua- XI - A realização da Conferência Nacional de Educação (CONAE),
lizadamente, em um projeto de Nação, em consonância com os com o tema central “Construindo um Sistema Nacional Articulado
acontecimentos e suas determinações histórico-sociais e políticas de Educação: Plano Nacional de Educação - Suas Diretrizes e Estra-
no mundo; tégias de Ação”, tencionando propor diretrizes e estratégias para a
IV - A dimensão articuladora da integração das diretrizes cur- construção do PNE 2011-2020;
riculares compondo as três etapas e as modalidades da Educação XII - A relevante alteração na Constituição, pela promulgação
Básica, fundamentadas na indissociabilidade dos conceitos referen- da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, entre suas medidas,
ciais de cuidar e educar; assegura Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos
V - A promoção e a ampliação do debate sobre a política curri- de idade, inclusive a sua oferta gratuita para todos os que a ela não
cular que orienta a organização da Educação Básica como sistema tiveram acesso na idade própria; assegura o atendimento ao estu-
educacional articulado e integrado; dante, em todas as etapas da Educação Básica, mediante programas
VI - A democratização do acesso, permanência e sucesso escolar suplementares de material didático-escolar, transporte, alimenta-
com qualidade social, científica, cultural; ção e assistência à saúde, bem como reduz, anualmente, a partir do
VII - A articulação da educação escolar com o mundo do traba- exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da
lho e a prática social; União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e ao
VIII - A gestão democrática e a avaliação; desenvolvimento do ensino.
IX - A formação e a valorização dos profissionais da educação;
X - O financiamento da educação e o controle social. Para a comissão, o desafio consistia em interpretar essa reali-
dade e apresentar orientações sobre a concepção e organização da
Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes Curricula- Educação Básica como sistema educacional, segundo três dimen-
res Nacionais Gerais para a Educação Básica estão sendo elaboradas sões básicas: organicidade, sequencialidade e articulação. Dispor
é muito singular, pois, simultaneamente, as diretrizes das etapas da sobre a formação básica Nacional relacionando-a com a parte di-
Educação Básica, também elas, passam por avaliação, por meio de versificada, e com a preparação para o trabalho e as práticas sociais,
contínua mobilização dos representantes dos sistemas educativos consiste, portanto, na formulação de princípios para outra lógica
de nível nacional, estadual e municipal. A articulação entre os dife- de diretriz curricular, que considere a formação humana de sujeitos
rentes sistemas flui num contexto em que se vivem: concretos, que vivem em determinado meio ambiente, contexto
I - Os resultados da Conferência Nacional da Educação Básica histórico e sociocultural, com suas condições físicas, emocionais e
(2008); intelectuais.

323
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Para a organização das orientações contidas neste texto, optou- Salienta-se que, além das condições para acesso à escola, há
-se por enunciá-las seguindo a disposição que ocupam na estrutura de se garantir a permanência nela, e com sucesso. Esta exigência
estabelecida na LDB, nas partes em que ficam previstos os princí- se constitui em um desafio de difícil concretização, mas não impos-
pios e fins da educação nacional; as orientações curriculares; a for- sível.
mação e valorização de profissionais da educação; direitos à educa- O artigo 6º, da LDB, alterado pela Lei nº 11.114/2005,55 prevê
ção e deveres de educar: Estado e família, incluindo-se o Estatuto que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos meno-
da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90 e a Declaração res, a partir dos seis anos de idade, no Ensino Fundamental.
Universal dos Direitos Humanos. Essas referências levaram em con- Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas da Edu-
ta, igualmente, os dispositivos sobre a Educação Básica constantes cação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era, originalmente,
da Carta Magna que orienta a Nação brasileira, relatórios de pesqui- obrigatória, mas indicada como de extensão progressiva, porém, a
sas sobre educação e produções teóricas versando sobre sociedade Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II do artigo 4º e o inciso VI do ar-
e educação. tigo 10 da LDB, para garantir a universalização do Ensino Médio gra-
Com treze anos de vigência já completados, a LDB recebeu vá- tuito e para assegurar o atendimento de todos os interessados ao
rias alterações, particularmente no referente à Educação Básica, Ensino Médio público. De todo modo, o inciso VII do mesmo artigo
em suas diferentes etapas e modalidades. Após a edição da Lei nº já estabelecia que se deve garantir a oferta de educação escolar re-
9.475/1997, que alterou o artigo 33 da LDB, prevendo a obrigato- gular para jovens e adultos, com características e modalidades ade-
riedade do respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, ou- quadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos
tras leis modificaram-na quanto à Educação Básica. que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência
A maior parte dessas modificações tem relevância social, por- na escola.
que, além de reorganizarem aspectos da Educação Básica, ampliam Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políticas pú-
o acesso das crianças ao mundo letrado, asseguram-lhes outros be- blicas para a educação no Brasil, entre eles as avaliações do Siste-
nefícios concretos que contribuem para o seu desenvolvimento ple- ma de Avaliação da Educação Básica (SAEB), da Prova Brasil e do
no, orientado por profissionais da educação especializados. Nesse Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), definidas como consti-
sentido, destaca-se que a LDB foi alterada pela Lei nº 10.287/2001 tutivas do Sistema de Avaliação da Qualidade da Oferta de Cursos
para responsabilizar a escola, o Conselho Tutelar do Município, o no País. Destaca-se que tais programas têm suscitado interrogações
juiz competente da Comarca e o representante do Ministério Pú- também na Câmara de Educação Básica do CNE, entre outras ins-
blico pelo acompanhamento sistemático do percurso escolar das tâncias acadêmicas: teriam eles consonância com a realidade das
crianças e dos jovens. Este é, sem dúvida, um dos mecanismos escolas? Esses programas levam em consideração a identidade de
que, se for efetivado de modo contínuo, pode contribuir significa- cada sistema, de cada unidade escolar? O fracasso do escolar, ave-
tivamente para a permanência do estudante na escola. Destaca-se, riguado por esses programas de avaliação, não estaria expressando
também, que foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008, o inciso X no o resultado da forma como se processa a avaliação, não estando de
artigo 4º, fixando como dever do Estado efetivar a garantia de vaga acordo com a maneira como a escola e os professores planejam e
na escola pública de Educação Infantil ou de Ensino Fundamental operam o currículo? O sistema de avaliação aplicado guardaria re-
mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em lação com o que efetivamente acontece na concretude das escolas
que completar 4 (quatro) anos de idade. brasileiras?
É relevante lembrar que a Constituição Federal, acima de Como consequência desse método de avaliação externa, os es-
todas as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º, determina que um tudantes crianças não estariam sendo punidos com resultados pés-
dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e, portanto, obriga- simos e reportagens terríveis? E mais, os estudantes das escolas in-
ção das empresas, é a assistência gratuita aos filhos e dependentes dígenas, entre outros de situações específicas, não estariam sendo
desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em Creches e Pré- afetados negativamente por essas formas de avaliação?
-Escolas. Embora redundante, registre-se que todas as Creches e Lamentavelmente, esses questionamentos não têm indicado al-
Pré-Escolas devem estar integradas ao respectivo sistema de ensino ternativas para o aperfeiçoamento das avaliações nacionais. Como
(artigo 89 da LDB). se sabe, as avaliações ENEM e Prova Brasil vêm-se constituindo em
No período de vigência do Plano Nacional de Educação (PNE), políticas de Estado que subsidiam os sistemas na formulação de
desde o seu início até 2008, constata-se que, embora em ritmo políticas públicas de equidade, bem como proporcionam elemen-
distinto, menos de um terço das unidades federadas (26 Estados tos aos municípios e escolas para localizarem as suas fragilidades e
e o Distrito Federal) apresentaram resposta positiva, uma vez que, promoverem ações, na tentativa de superá-las, por meio de metas
dentre eles, apenas 8 formularam e aprovaram os seus planos de integradas.
educação. Relendo a avaliação técnica do PNE, promovida pela Co- Além disso, é proposta do CNE o estabelecimento de uma Base
missão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados (2004), Nacional Comum que terá como um dos objetivos nortear as ava-
pode-se constatar que, em todas as etapas e modalidades educa- liações e a elaboração de livros didáticos e de outros documentos
tivas contempladas no PNE, três aspectos figuram reiteradamente: pedagógicos.
acesso, capacitação docente e infraestrutura. Em contrapartida, O processo de implantação e implementação do disposto na
nesse mesmo documento, é assinalado que a permanência e o su- alteração da LDB pela Lei nº 11.274/2006,56 que estabeleceu o in-
cesso do estudante na escola têm sido objeto de pouca atenção.
Em outros documentos acadêmicos e oficiais, são também aspectos 55 BRASIL. Lei nº 11.114 de 16 de maio de 2005. Disponível em: http://
que têm sido avaliados de modo descontínuo e escasso, embora a
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11114.htm
permanência se constitua em exigência fixada no inciso I do artigo
3º da LDB. 56 BRASIL. Lei nº 11.274 de 06 de fevereiro de 2006. Disponível em: http://

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm

324
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

gresso da criança a partir dos seis anos de idade no Ensino Funda- a conquista da qualidade social da educação escolar, inclusive em
mental, tem como perspectivas melhorar as condições de equidade relação às metas previstas no PNE 2001-2010. Apesar da relevância
e qualidade da Educação Básica, estruturar um novo Ensino Funda- do FUNDEF, e agora com o FUNDEB em fase inicial de implantação,
mental e assegurar um alargamento do tempo para as aprendiza- ainda não se tem política financeira compatível com as exigências
gens da alfabetização e do letramento. da Educação Básica em sua pluridimensionalidade e totalidade.
Há necessidade de aproximação da lógica dos discursos nor- As políticas de formação dos profissionais da educação, as Dire-
mativos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e das funções trizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de qualidade definidos
sociais em seu dinamismo. Um dos desafios, entretanto, está no pelo Ministério da Educação, associados às normas dos sistemas
que Arroyo57 aponta, por exemplo, em seu artigo, “Ciclos de desen- educativos dos Estados, Distrito Federal e Municípios, são orienta-
volvimento humano e formação de educadores”, em que assinala ções cujo objetivo central é o de criar condições para que seja pos-
que as diretrizes para a educação nacional, quando normatizadas, sível melhorar o desempenho das escolas, mediante ação de todos
não chegam ao cerne do problema, porque não levam em conta a os seus sujeitos.
lógica social. Com base no entendimento do autor, as diretrizes não Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares Nacionais
preveem a preparação antecipada daqueles que deverão implantá- Gerais para a Educação Básica terão como fundamento essencial
-las e implementá-las. O comentário do autor é ilustrativo por essa a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a sociedade
compreensão: não se implantarão propostas inovadoras listando o têm de garantir a democratização do acesso, inclusão, permanência
que teremos de inovar, listando as competências que os educado- e sucesso das crianças, jovens e adultos na instituição educacional,
res devem aprender e montando cursos de treinamento para for- sobretudo em idade própria a cada etapa e modalidade; a aprendi-
má-los. É (…) no campo da formação de profissionais de Educação zagem para continuidade dos estudos; e a extensão da obrigatorie-
Básica onde mais abundam as leis e os pareceres dos conselhos, os dade e da gratuidade da Educação Básica.
palpites fáceis de cada novo governante, das equipes técnicas, e até
das agências de financiamento, nacionais e internacionais. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e Pro-
Outro limite que tem sido apontado pela comunidade educa- fissionalizante
tiva, a ser considerado na formulação e implementação das Dire-
trizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, é a O Brasil vive, nos últimos anos, um processo de desenvolvimen-
desproporção existente entre as unidades federadas do Brasil, sob to que se reflete em taxas ascendentes de crescimento econômico
diferentes pontos de vista: recursos financeiros, presença política, tendo o aumento do Produto Interno Bruto ultrapassado a casa dos
dimensão geográfica, demografia, recursos naturais e, acima de 7%, em 2010. Este processo de crescimento tem sido acompanhado
tudo, traços socioculturais. de programas e medidas de redistribuição de renda que o retroali-
Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior está na mentam. Evidenciam-se, porém, novas demandas para a sustenta-
necessidade de repensar as perspectivas de um conhecimento dig- ção deste ciclo de desenvolvimento vigente no País. A educação,
no da humanidade na era planetária, pois um dos princípios que sem dúvida, está no centro desta questão.
orientam as sociedades contemporâneas é a imprevisibilidade. As O crescimento da economia e novas legislações, como o Fun-
sociedades abertas não têm os caminhos traçados para um percur- do de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), a Emenda
so inflexível e estável. Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade Constitucional nº 59/2009 - que extinguiu a Desvinculação das Re-
e a imprevisibilidade, e não programas sustentados em certezas. ceitas da União (DRU) - e dispôs sobre outras medidas, têm permi-
Há entendimento geral de que, durante a Década da Educa- tido ao País aumentar o volume de recursos destinados à Educação.
ção (encerrada em 2007), entre as maiores conquistas destaca-se Tais iniciativas, nas quais o Conselho Nacional de Educação
a criação do FUNDEF, posteriormente transformado em FUNDEB. (CNE) tem tido destacada participação, visam criar condições para
Este ampliou as condições efetivas de apoio financeiro e de gestão que se possa avançar nas políticas educacionais brasileiras, com vis-
às três etapas da Educação Básica e suas modalidades, desde 2007. tas à melhoria da qualidade do ensino, à formação e valorização dos
Do ponto de vista do apoio à Educação Básica, como totalidade, profissionais da educação e à inclusão social.
o FUNDEB apresenta sinais de que a gestão educacional e de po- Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa investir
líticas públicas poderá contribuir para a conquista da elevação da fortemente na ampliação de sua capacidade tecnológica e na for-
qualidade da educação brasileira, se for assumida por todos os que mação de profissionais de nível médio e superior. Hoje, vários seto-
nela atuam, segundo os critérios da efetividade, relevância e perti- res industriais e de serviços não se expandem na intensidade e rit-
nência, tendo como foco as finalidades da educação nacional, con- mos adequados ao novo papel que o Brasil desempenha no cenário
forme definem a Constituição Federal e a LDB, bem como o Plano mundial, por se ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma
Nacional de Educação. sólida expansão do Ensino Médio com qualidade, por outro lado,
Os recursos para a educação serão ainda ampliados com a des- não se conseguirá que nossas universidades e centros tecnológicos
vinculação de recursos da União (DRU) aprovada pela já destacada atinjam o grau de excelência necessário para que o País dê o grande
Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem dúvida, essa conquista, salto para o futuro.
resultado das lutas sociais, pode contribuir para a melhoria da qua- Tendo em vista que a função precípua da educação, de um
lidade social da ação educativa, em todo o País. modo geral, e do Ensino Médio - última etapa da Educação Básica
No que diz respeito às fontes de financiamento da Educação - em particular, vai além da formação profissional, e atinge a cons-
Básica, em suas diferentes etapas e modalidades, no entanto, veri- trução da cidadania, é preciso oferecer aos nossos jovens novas
fica-se que há dispersão, o que tem repercutido desfavoravelmente perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes
na unidade da gestão das prioridades educacionais voltadas para e dotá-los de autonomia intelectual, assegurando-lhes o acesso ao
57 ARROYO, Miguel G. Ciclos de desenvolvimento humano e formação de
conhecimento historicamente acumulado e à produção coletiva de
educadores. Educação & Sociedade, Campinas, v.20, n.68, set./dez. 1999. novos conhecimentos, sem perder de vista que a educação tam-

325
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

bém é, em grande medida, uma chave para o exercício dos demais Profissional e Tecnológica”.
direitos sociais. Especificamente em relação aos pressupostos e fundamentos
É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, nos últimos para a oferta de um Ensino Médio de qualidade social, incluindo,
anos, um papel de destaque nas discussões sobre educação brasi- também, a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, são apre-
leira, pois sua estrutura, seus conteúdos, bem como suas condições sentadas as dimensões da formação humana que devem ser consi-
atuais, estão longe de atender às necessidades dos estudantes, tan- deradas de maneira integrada na organização curricular dos diver-
to nos aspectos da formação para a cidadania como para o mundo sos cursos e programas educativos: trabalho, ciência, tecnologia e
do trabalho. Como consequência dessas discussões, sua organiza- cultura.
ção e funcionamento têm sido objeto de mudanças na busca da Uma política educacional requer sua articulação com outras po-
melhoria da qualidade. Propostas têm sido feitas na forma de leis, líticas setoriais vinculadas a diversos ministérios responsáveis pela
de decretos e de portarias ministeriais e visam, desde a inclusão de definição e implementação de políticas públicas estruturantes da
novas disciplinas e conteúdos, até a alteração da forma de finan- sociedade brasileira. Portanto, ao se pensar a Educação Profissional
ciamento. Constituem-se exemplos dessas alterações legislativas a de forma integrada e inclusiva como política pública educacional
criação do FUNDEB e a ampliação da obrigatoriedade de escolariza- é necessário pensá-la também na perspectiva de sua contribuição
ção, resultante da Emenda Constitucional no 59, de novembro de para a consolidação, por exemplo, das políticas de ciência e tecno-
2009. logia, de geração de emprego e renda, de desenvolvimento agrário,
Especificamente em relação ao Ensino Médio, o número de es- de saúde pública, de desenvolvimento de experiências curriculares
tudantes da etapa é, atualmente, da ordem de 8,3 milhões. A taxa e de implantação de polos de desenvolvimento da indústria e do
de aprovação no Ensino Médio brasileiro é de 72,6%, enquanto as comércio, entre outras. Enfim, é necessário buscar a caracterização
taxas de reprovação e de abandono são, respectivamente, de 13,1% de seu papel estratégico no marco de um projeto de desenvolvi-
e de 14,3% (INEP, 2009). Observe-se que essas taxas diferem de re- mento socioeconômico sustentável, inclusivo e solidário do estado
gião para região e entre as zonas urbana e rural. Há também uma brasileiro.
diferença significativa entre as escolas privadas e públicas. Eis o desafio enfrentado, conseguir aproximar as experiências
Em resposta a esses desafios que permanecem, algumas po- da vida cotidiana, articulando com os mais variados setores das po-
líticas, diretrizes e ações do governo federal foram desenvolvidas líticas públicas. Para tanto, devemos conhecer as proposições e ar-
com a proposta de estruturar um cenário de possibilidades que si- ticular com a construção de um projeto de educação integral, com
nalizam para uma efetiva política pública nacional para a Educação qualidade social.
Básica, comprometida com as múltiplas necessidades sociais e cul- Devemos fazer valer o que a Constituição Federal, através de
turais da população brasileira. Nesse sentido, situam-se a aprova- seus instrumentos nos oferece, como por exemplo uma educação
ção e implantação do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e pública de qualidade oferecida a todos.
implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), e
a consolidação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),
do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Índice de Desen-
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
volvimento da Educação Básica (IDEB). No âmbito deste Conselho,
destacam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Edu- Introdução
cação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº Na Constituição Brasileira de 1988, a educação é um direito de
4/2010) e o processo de elaboração deste Parecer, de atualização todos e um dever do Estado e da família. Para assegurar que seja
das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. cumprida, foram criadas leis que garantem a inclusão escolar de
Diante o contexto de atualização geral do conjunto das Diretrizes alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e
Curriculares Nacionais para todas as etapas e modalidades de Edu- superdotação. Tais leis orientam os sistemas de ensino e garantem
cação Básica que deve ser entendida a demanda atual, que é objeto o acesso desta população ao ensino regular com participação,
do presente Parecer, houve especificamente, da definição de novas aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino.
orientações para as instituições educacionais e sistemas de ensino,
à luz das alterações introduzidas na LDB pela Lei nº 11.741/2008, no Desigualdade e diversidade
tocante à Educação Profissional e Tecnológica, com foco na Educa- Crianças abandonadas nas ruas, restrita da cobertura escolar e,
ção Profissional Técnica de Nível Médio, também definindo normas consequentemente, um grande número de analfabetos são alguns
gerais para os cursos e programas destinados à formação inicial e dos desafios que o Brasil ainda não conseguiu superar.
continuada ou qualificação profissional, bem como para os cursos e A desigualdade social é oriunda do fim da escravidão, quando
programas de especialização técnica de nível médio, na perspectiva um grande contingente de escravos foi morar nos grandes centros
de propiciar aos trabalhadores o contínuo e articulado desenvolvi- sem emprego e iletrados, com condições totalmente inadequadas
mento profissional e consequente aproveitamento de estudos rea- de sobrevivência. Marginalizados pela elite europeizada, começou-
lizados no âmbito dos cursos técnicos de nível médio organizados se a se confundir no país, o significado de pobreza e delinquência.
segundo a lógica dos itinerários formativos. Dentro dessa massa marginal, estavam também, os portadores de
A Educação Profissional Tecnológica, de graduação e pós-gra- deficiência.
duação, prevista no inciso III do art. 39 da atual LDB, será objeto de A partir da década de 30, foram instituídas leis que separavam
outro Parecer e respectiva Resolução, produzidos a partir de estu- as crianças em instituições por suas características. Os delinquentes,
dos conduzidos por uma Comissão Especial Bicameral, constituída os normais e os anormais.
no âmbito do Conselho Pleno, com a finalidade de “redimensionar,
institucionalizar e integrar as ações da Educação Profissional Técni-
ca de Nível Médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Educação

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CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

Número de matriculados e anos de escolaridade 2. (MOURA MELO/2015) Para que o conhecimento seja perti-
Durante os governos que sucederam, a preocupação comum nente, a educação deverá tornar certos fatores evidentes. São eles,
sempre foi o número de alunos matriculados e o tempo de exceto:
escolaridade. Apesar de todos os esforços, só atingimos números (A) O global.
próximos da universalização escolar na década de 90, incluindo a (B) O complexo.
população de portadores de deficiências. (C) O contexto.
(D) O unidimensional.
Inclusão no Brasil
O acesso das crianças com deficiência a escola passou por 3. (MOURA MELO/2015) O acesso ao ensino fundamental é di-
muitas fases, sendo em um primeiro momento, delegadas a reito:
instituições especializadas no atendimento desse público, muitas (A) Privado objetivo.
vezes com viés assistencialista. (B) Privado subjetivo.
Mais tarde, crianças com deficiência começaram a ser aceitas (C) Público objetivo.
em instituições de ensino regulares e a política vigente para elas era (D) Público subjetivo.
a integração que consistia em avaliar se o aluno especial conseguia
ou não acompanhar a turma regular, sem nenhum tipo de apoio 4. Alfabetização é um processo complexo que envolve não ape-
diferenciado, fosse ele estrutural, pedagógico ou um professor nas habilidades de codificar e decodificar, mas se caracteriza como
com formação específica. Aqueles que conseguiam acompanhar um processo ativo por meio do qual a criança constrói e reconstrói
continuavam na escola comum e, aqueles que não, eram hipóteses. Dessa forma, assinale a opção CORRETA que expressa o
encaminhados para”instituições especiais”, ou seja, segregados. conceito de alfabetização numa perspectiva mais ampla.
Então surgiram as turmas especiais dentro das escolas regulares (A) Domínio da relação grafemas/ fonemas, ou seja, decodifi-
que abrigavam os alunos com deficiência, ampliando a segregação. cação e codificação.
Políticas de inclusão só passaram a ser adotadas a partir do início (B) Decodificação dos sinais gráficos, transformando as letras
do século XXI, prevendo formação dos professores, adaptação do em sons.
sistema de ensino e dos formatos de avaliação, além de adaptações (C) Desenvolvimento da capacidade de codificar os sons da fala
estruturais da escola, para que os alunos com deficiência pudessem em sinais gráficos.
frequentar as salas regulares como todos os demais. (D) Aprendizado da leitura e escrita, natureza e funcionamento
Panorama atual do sistema de escrita.
Os Institutos Rodrigo Mendes e Unibanco com o apoio da (E) Apropriação de hipóteses de codificar e decodificar os sons
Organização Todos pela Educação, do Centro Lemann de Sobral e em sinais gráficos.
do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançaram o
Painel de Indicadores da Educação Especial. Os dados de 2019, 2020 5. (CONSULPLAN/2014) O currículo tem um papel tanto de con-
e 2021 mostram que há um longo caminho a percorrer, para que o servação quanto de transformação e construção dos conhecimen-
Brasil consiga levar a inclusão de fato a todas as crianças portadoras tos historicamente acumulados. A perspectiva teórica que trata o
de deficiência. currículo como um campo de disputa e tensões, pois o vê implicado
com questões ideológicos e de poder, denomina-se
Painel de Indicadores da Educação Especial (A) tecnicista.
(B) crítica.
Indicadores Média (19, 20 e 21) (C) tradicional.
(D) pós-crítica.
Distorção série-idade 41% fora da série indicada
Professores: formação 5% sem formação específica* 6. (SEDUC-AM/2014) A respeito da formação de professores
para a Educação Especial, assinale a afirmativa incorreta.
Escolas 29% sem adaptações (A) A proposta inclusiva envolve uma escola cujos professores
tenham um perfil compatível com os princípios educacionais
QUESTÕES humanistas.
(B) Os professores estão continuamente atualizando-se, para
conhecer cada vez mais de perto os seus alunos, promover a
1. (MOURA MELO/2015) Com relação à Educação para a Cida- interação entre as disciplinas escolares, reunir os pais, a comu-
dania, podemos afirmar, exceto: nidade, a escola em que exercem suas funções, em torno de
(A) Estimula o desenvolvimento de competência. um projeto educacional que estabeleceram juntos.
(B) Não se atém à abordagem de temas transversais. (C) A formação continuada dos professores é, antes de tudo,
(C) Valoriza o desenvolvimento do espírito crítico. uma auto formação, pois acontece no interior das escolas e a
(D) Preocupa-se com o apreço pelos valores democráticos. partir do que eles estão buscando para aprimorar suas práticas.
(D) As habilitações dos cursos de Pedagogia para formação de
professores de alunos com deficiência ainda existem em diver-
sos estados brasileiros.
(E) A inclusão diz respeito a uma escola cujos professores te-
nham uma formação que se esgota na graduação ou nos cursos
de pós-graduação em que se diplomaram.

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7. Sobre a avaliação da aprendizagem, marque V para as afir- Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos.
mativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas. Florianópolis: IOESC, 2005, p. 23-25.
() Podemos afirmar que prova escrita, portfólio, trabalhos, tes- Em relação aos conceitos de alfabetização e letramento, mar-
tes, pesquisas, e relatórios são exemplos de instrumentos de ava- que com V as afirmações verdadeiras e com F as falsas, e assinale a
liação. alternativa com a sequência correta.
() A avaliação no contexto atual deve priorizar a nota em detri- () Em sentido amplo, a alfabetização é entendida como pro-
mento da qualidade do processo de aprendizagem. cesso de apropriação do sistema de escrita, do domínio do sistema
() A avaliação tem diversas funções. Algumas delas são: facili- alfabético-ortográfico.
tar o diagnóstico, interpretar os resultados, promover e agrupar os () A alfabetização é elemento essencial do letramento que
alunos. orienta o indivíduo para que se aproprie do código escrito, aprenda
() A avaliação é uma atividade que informa tanto durante o de- a ler e escrever e ao mesmo tempo conviva e participe de práticas
senvolvimento do processo ensino-aprendizagem (avaliação forma- reais de leitura e escrita.
tiva) quanto no final do processo (avaliação somativa). () O letramento refere-se ao processo de inclusão e participa-
() A avaliação é um ritual a serviço da manutenção da ordem e ção na cultura escrita, envolvendo o uso da língua em situações re-
da disciplina em sala de aula. ais, ou seja, constitui um conjunto de conhecimentos, atitudes e
capacidades indispensáveis para o uso da língua em práticas sociais
Assinale a alternativa correta: que requerem habilidades mais complexas.
(A) V, F, V, F, F; () A difusão e o emprego do termo letramento passou a ter
(B) F, F, V, V, V; relevância no meio educacional, a partir da década de 1970. Tradu-
(C) V, V, F, V, F; z-se nas ações pedagógicas que priorizam a memorização dos dife-
(D) V, F, V, V, F; rentes elementos que compõem a língua.
(E) F, F, V, V, F. () “...letramento significa experienciar situações que envolvam
as diferentes linguagens de forma crítica e dialógica, sendo os pro-
8. (IBFC/2015) A Educação Inclusiva não deve ser confundida fessores os mediadores.”
como Educação Especial, porém, a segunda esta inclusa na primei-
ra. Em outras palavras, a Educação Inclusiva é a forma de: (A) F - V - F - V - F
(A) Promover a aprendizagem e o desenvolvimento de todos. (B) V - F - F - F - V
(B) Inclusão de jovens e adultos no ensino médio. (C) F - V - V - F - V
(C) Promover a aprendizagem de crianças somente na educa- (D) V - F - V - F - V
ção infantil.
(D) Inclusão de crianças no ensino fundamental. 11. (SELECON/2018 Prefeitura de Cuiabá/MT) Segundo Bar-
bosa (2010), a Pedagogia da Infância “constitui-se de um conjunto
9. (FEPESE/ Prefeitura de Brusque/SC) Assinale a alternativa de fundamentos e indicações de ação pedagógica que tem como
que completacorretamentea frase abaixo: referência as crianças e as múltiplas concepções de infância em di-
“A Pedagogia da Infância admite como pressuposto básico a ferentes espaços educacionais”. A partir dessa consideração, pode-
criança como um (…)” -se dizer que as propostas pedagógicas baseadas nesta perspectiva
devem considerar:
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Pedagogia da Infância. (A) a reprodução de uma pedagogia transmissiva, que prioriza
que todas crianças realizem a mesma tarefa e ao mesmo tem-
(A) vir a ser. po, cabendo ao professor ser o transmissor dos saberes hierar-
(B) sujeito de direitos (à provisão, à proteção e à participa- quizados e às crianças meras receptoras
ção social, com base na Convenção dos Direitos das Crianças (B) a observação sistemática dos comportamentos da criança,
(1989). ignorando os contextos dos quais fazem parte e a participação
(C) adulto em miniatura, tendo todas as habilidades já prontas, dos sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem e desen-
faltando apenas o seu desabrochar, independentemente de volvimento
classe social, sexo ou cultura. (C) a elaboração de experiências significativas e interativas,
(D) ser que ainda não é adulto. A infância neste caso é a incuba- considerando a criança como um sujeito social e com compe-
ção para que ela se torne alguém. tências, cabendo ao professor organizar os espaços e o tempo
(E) ser a-histórico, que depende do adulto para construir cul- de modo a favorecer a participação ativa e a interatividade dela
tura. no processo educativo
(D) a promoção de um clima de bem-estar na creche e pré-es-
10. ACAFE/2017 – SED/SC) Nos dias atuais, em que as socie- cola, no qual as crianças se sintam à vontade para, esponta-
dades estão centradas cada vez mais na escrita, saber codificar e neamente, desenvolver propostas interativas com os adultos e
decodificar, por meio do código linguístico, tem-se constituído con- demais crianças
dição insuficiente para responder de forma adequada às exigências
do mundo contemporâneo. É necessário ir além da simples apro-
priação do código escrito; é preciso exercer as práticas sociais de
leitura e escrita demandadas nas diferentes esferas da sociedade.

328
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

12. (VUNESP/2016) Para Vygotsky, o tema do pensamento e da Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas pelo au-
linguagem situa-se entre as questões de psicologia, em que aparece tor?
em primeiro plano, a relação entre as diversas funções psicológicas (A) A organização da vida escolar, relacionado à organização
e as diferentes modalidades de atividade da consciência. O ponto do trabalho escolar em função de sua especificidade de seus
central de toda essa questão é objetivos.
(A) a relação entre o pensamento e a palavra. (B) Organização do processo de ensino e aprendizagem – refe-
(B) a relação entre o desenvolvimento e a linguagem. re-se basicamente aos aspectos de organização do trabalho do
(C) a priorização das diversas funções psicológicas. professor e dos alunos na sala de aula.
(D) os diversos modos de desenvolver a consciência. (C) Organização das atividades de apoio técnico administrati-
(E) o pensamento e o desenvolvimento ampliado das relações vo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao trabalho
morais. docente.
13. (Prefeitura de Fortaleza /CE – 2016) É necessário considerar (D) Orientação de atividades que vinculam escola e família –
que as linguagens se inter-relacionam. Quando se volta para cons- refere-se às relações entre a escola e o ambiente interno: com
truir conhecimentos sobre diferentes aspectos do seu entorno, a os alunos, professores e famílias.
criança elabora suas capacidades linguísticas e cognitivas envolvi- (E) Organização de atividades que vinculam escola e comunida-
das na explicação, argumentação e outras capacidades. de – refere-se às relações entre a escola e o ambiente externo:
Indique a alternativa que traz um exemplo de atividade que com os níveis superiores da gestão de sistemas escolar, com as
contempla tal concepção de currículo para a Educação Infantil. organizações políticas e comunitárias.
(A) A escrita de um texto coletivo proposto sobre um tema ou
assunto indicado pela professora ou professor para explicar o 16. Com relação aos objetivos e às competências do Plano Na-
conceito de enchentes. cional de Educação (PNE), assinale (V) para a afirmativa verdadeira
(B) A brincadeira cantada, em que a criança explora as possibi- e (F) para a falsa.
lidades expressivas de seus movimentos e brinca com as pala- ( ) O PNE organiza e regulamenta a estrutura e o funcionamento
vras e imita certos personagens. do sistema educacional (público e privado) e de seus profissionais.
(C) A condução de um jogo de regras, no qual o professor ou ( ) O PNE estabelece um conjunto de metas para todos os ní-
professora lê as regras para as crianças e cuida para que se obe- veis, modalidades e etapas educacionais.
deça a essas regras. ( ) O PNE traça caminhos para enfrentar os grandes desafios
(D) A comemoração de datas cívicas e feriados nacionais como do sistema de educação, como a falta de vagas e a desigualdade
forma de trabalhar a compreensão do tempo e do calendário. no ensino.

14. (VUNESP/2016) O sentido social que se atribui à profissão As afirmativas são, respectivamente,
docente está diretamente relacionado à compreensão política da (A) F – V – F.
finalidade do trabalho pedagógico, ou seja, da concepção que se (B) F – V – V.
tem sobre a relação entre sociedade e escola. Assim, a escola é o (C) V – F – F.
cenário onde alunos e professores, juntos, vão construindo uma (D) V – V – F.
história que se modifica, amplia, transforma e interfere em diferen-
tes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está inserida e 17. (IFRO/ 2014) Para Vygotsky (1998), não basta delimitar o ní-
o da sociedade, numa perspectiva mais ampla. É correto afirmar vel de desenvolvimento alcançado por um indivíduo. Dessa forma,
que a escola ele demarca dois níveis de desenvolvimento:
(A) é suprassocial, não está ligada a nenhuma classe social es- (A) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
pecífica e serve, indistintamente, a todas. tais da criança já estão completadas e NDP (Nível de Desenvol-
(B) não é capaz de funcionar como instrumento para mudan- vimento Pessoal) onde a criança consegue realizar tarefas com
ças, serve apenas para reproduzir as injustiças. a ajuda de adultos ou colegas mais próximos.
(C) não tem, de forma alguma, autonomia, é determinada, de (B) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
maneira absoluta, pela classe dominante da sociedade. tais da criança ainda já estão completadas e ZDP (Zona de De-
(D) é o lugar especialmente estruturado para potencializar a senvolvimento Processual) que define funções ainda não ama-
aprendizagem dos alunos. durecidas, mas em processo de maturação.
(E) tem a tarefa primordial de servir ao poder e não a de atuar (C) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
no âmbito global da sociedade. tais da criança já estão completadas e NDP (Nível de Desen-
volvimento Proximal) onde a criança consegue realizar tarefas
15. (IFRO/ 2014) O Projeto Político pedagógico é por si a pró- com a ajuda de adultos ou colegas mais avançados.
pria organização do espaço escolar. Ele organiza as atividades admi- (D) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções
nistrativas, pedagógicas, curriculares e os propósitos democráticos. mentais da criança ainda não estão completadas e NDP (Nível
Dizer que o Projeto Político pedagógico abrange a organização do de Desenvolvimento Processual) onde a criança não consegue
espaço escolar significa dizer que o ambiente escolar é normatizado realizar tarefas com a ajuda de adultos ou colegas mais avan-
por ideais comuns a todos que constitui esse espaço, visto que o çados.
Projeto Político Pedagógico deve ser resultado dos atributos parti- (E) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
cipativos. Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro áreas de ação tais da criança ainda não estão completadas e ZDP (Zona de
em que a organização do espaço escolar deve abranger. Desenvolvimento Proximal) que define funções ainda não ama-
durecidas, mas em processo de maturação.

329
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

18. (IFRO/ 2014) Dentro do processo de ensino e aprendiza- 23. (IF-SC/2015 - IF-SC) A avaliação constitui tarefa complexa
gem, aponte qual o teórico que defende que a criança nasce inse- que não se resume à realização de provas e atribuição de notas.
rida em um meio social, que é a família, e é nele que estabelece as Nessa perspectiva autores como Haydt (2000), Sant’anna (2001),
primeiras relações com a linguagem na interação com os outros. Luckesi (2002) caracterizam três modalidades de avaliação: diag-
(Nas interações cotidianas, a mediação (necessária intervenção de nóstica, formativa e somativa. Em relação às modalidades de ava-
outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça) com o liação associe corretamente a coluna da direita com a coluna da
adulto acontecem espontaneamente no processo de utilização da esquerda.
linguagem, no contexto das situações imediatas.) (1) Diagnóstica
(A) Jean Piaget. (2) Formativa
(B) Henry Wallon. (3) Somativa
(C) Paulo Freire.
(D) Louis Althusser. () Provoca o distanciamento dos autores que participam do
(E) Lev Vygotsky. processo ensino e aprendizagem.
() Identifica as aptidões iniciais, necessidades e interesses dos
19. (SEE-AC- Professor de Ciências Humanas- FUNCAB/2014) estudantes com o objetivo de determinar os conteúdos e as estra-
“Organizar os conteúdos é estruturar a sequência lógica em que tégias de ensino mais adequadas.
eles serão apresentados ao aluno.” (MALHEIROS, Bruno T. Didática () Constitui uma importante fonte de informações para o aten-
Geral. Rio de Janeiro: LTC, 2012, p. 97) dimento às diferenças culturais, sociais e psicológicas dos alunos.
Dessa forma, os conteúdos devem ser organizados, consideran- () Fundamenta-se na verificação do desempenho dos alunos,
do-se três critérios. São eles: perante os objetivos de ensino previamente estabelecidos no pla-
(A) importância do conteúdo; grau de dificuldade; novidade. nejamento.
(B) continuidade; grau de dificuldade; importância do conte- () Realizada durante o processo de ensino e aprendizagem, com
údo. a finalidade de melhorar as aprendizagens em curso, por meio de
(C) continuidade; sequência; integração. um processo de regulação permanente.
(D) sequência; importância do conteúdo; grau de dificuldade. () Subsidia o planejamento e permite estabelecer o nível de ne-
(E) integração; facilidade de ensino; importância do conteúdo. cessidades iniciais para a realização de um planejamento adequado.
() Possibilita localizar as dificuldades encontradas no processo
20. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA - BIO- de assimilação e produção do conhecimento.
RIO/2016) O brincar fornece à criança a possibilidade de construir
uma identidade autônoma e criativa. A criança que brinca entra no Assinale a alternativa que contém a ordem CORRETA de asso-
mundo do trabalho, da cultura e do afeto pela via da: ciação, de cima para baixo.
(A) família; (A) 3, 2, 1, 1, 1, 3, 2
(B) imaturidade; (B) 3, 1, 2, 3, 2, 1, 2
(C) representação e da experimentação; (C) 3,1, 2,1, 2,1, 3,1
(D) coerção. (D) 1, 3, 2, 3, 1, 2, 2
(E) 2, 1, 3, 1, 1, 2, 3
21. Quanto ao processo de avaliação na educação infantil, ana-
lise as assertivas, e em seguida, assinale a alternativa que aponta 24. A Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº. 9394/96, em seu art. 3º
a(s) correta(s). enfatiza os princípios norteadores do ensino no Brasil. Analise-os:
I. A expectativa em relação à aprendizagem da criança deve es- I. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu-
tar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram ra, o pensamento, a arte e o saber.
oferecidas a ela. II. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
II. Deve-se ter em conta que não se trata de avaliar a criança, III. Respeito à liberdade e apreço à tolerância.
mas sim as situações de aprendizagem que lhe foram oferecidas.
III. Será necessária uma observação cuidadosa das crianças, Está(ão) correto(s) apenas o(s) princípio(s):
buscando compreender as situações e planejar situações que con- (A) I, II
tribuam para superação das dificuldades. (B) II
(C) III
(A) Apenas I. (D) I, II, III
(B) Apenas II e III.
(C) Apenas I e III. 25. (IMPARH/2015 - Prefeitura de Fortaleza – CE) A escola con-
(D) I, II e III. temporânea, caracterizada por ser democrática, está sempre em
defesa da humanização, baseada nos princípios de respeito e soli-
22. Sobre a avaliação na Educação Infantil, podemos afirmar dariedade humana, busca assegurar uma aprendizagem significati-
que ela: va. Na perspectiva de atender aos desafios impostos pela sociedade
(A) deve ser baseada em julgamentos. atual, a escola vem se organizando internamente reconhecendo e
(B) avalia-se para quantificar o que foi aprendido. respeitando as(os):
(C) faz parte do processo de aprendizagem e é essencial conhe- (A) políticas públicas, analfabetismos, fisiologias.
cer cada criança. (B) diferenças, gêneros, diferentes tipos de gestão.
(D) considera o “erro” como parte do resultado final.

330
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(C) diversidades, diferenças sociais, potencialidades. l.Oralidade e escrita caminham juntas e, portanto, o estudo da
(D) intervenções governamentais, participações, articulações. linguagem requer que sejam trabalhadas de forma a serem consi-
deradas as suas diferenças e, ao mesmo tempo, suas similaridades,
26. ((IMA/2017 - Prefeitura de Penalva/MA) Para a criança ser usos e funções.
bem-sucedida na alfabetização necessita antes de tudo: ll.A oralidade é fundamental ao processo de alfabetização. Pela
(A) dominar a técnica de ler e escrever com muita cópia e trei- fala as crianças constituem-se sujeitos capacitados para a apren-
no; dizagem, bem como para a apropriação de conhecimentos novos
(B) entender a natureza e as funções do nosso sistema de es- ancorados nas suas experiências prévias.
crita; lll.O aprendizado da fala e da escrita se dá de forma espontâ-
(C) entrar na escola já diferenciando a escrita do desenho; nea e independente, no contexto de convívio entre os pares.
(D) entrar para a escola aos quatro anos pois a escola já começa lV.A fala da criança é tão importante quanto às ações dela de-
a alfabetizar. correntes para o alcance dos objetivos educacionais. Na perspectiva
histórico-cultural, à fala atribui-se importância tão vital que, se não
27. (ACAFE/2017 – SED/SC)“A igualdade de condições para o for permitido seu uso, muitos indivíduos não conseguirão resolver
acesso nem sempre é algo que esteja na esfera de abrangência da seus intentos.
escola.” Entretanto, devemos lembrar que a escola pode canalizar V.O sistema de escrita implica apenas em codificação de sím-
as demandas e lutas sociais da comunidade em que está inserida. bolos.
Nesse sentido é correto afirmar,exceto:
Fonte: Documento do CONSED - Como articular a função social da (A) II - III - V
escola com as especificidades e as demandas da comunidade? P.37 (B) I - II - IV
(A) A escola deve atender seu limite de vagas, pois assim cum- (C) III - IV
pre seu papel social. As famílias que ficaram sem atendimento (D) IV - V
devem procurar seus direitos em outras esferas, não sendo res-
ponsabilidade da equipe gestora seus destinos. 30. (IF/GO – 2019 – IF/Goiano) A inclusão implica um esforço de
(B) Quando se manifesta o problema da falta de vagas, sobre- modernização e reestruturação das condições de funcionamento e
tudo no ensino fundamental, o poder público é responsável organização da maioria das escolas brasileiras, em especial as de
por ele, tanto no âmbito da rede municipal como da estadual. educação básica. No entanto, mudar a escola é enfrentar, de acordo
Nesse sentido, a vaga deve ser assegurada a todas as crianças com Mantoan, estudiosa da questão da inclusão, muitas frentes de
e adolescentes. trabalho, cuja tarefa fundamental é:
(C) A luta para que todas as crianças tenham acesso à escola é (A) recriar o modelo educativo da escola, tendo como eixo o
legítima e deve ser assumida não apenas pelos dirigentes es- ensino para todos.
colares e do sistema de ensino, como também pelos políticos. (B) reorganizar administrativamente as escolas, tendo como
(D) A equipe gestora de uma escola tem responsabilidade so- princípio a normalização.
bre isso. Deve articular-se com a Secretaria de Educação para (C) reestruturar a prática pedagógica dos professores, tendo
ver o que pode ser feito a esse respeito. como eixo o ensino especializado.
(D) aprimorar os sistemas educacionais, tendo como princípio
28. (IDHTEC/2016 - Prefeitura de Itaquitinga/PE) Na organiza- a integração.
ção do trabalho pedagógico, o conjunto de atividades ligadas entre
si e planejadas para ensinar um conteúdo etapa por etapa, de forma 31. (AMEOSC - 2018 - Prefeitura de Palma Sola - SC - Professor
gradual, de acordo com objetivos de aprendizagem é denominado: com Formação de Magistério) É uma das diretrizes da política de
(A) Contrato pedagógico. atendimento presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente:
(B) Projetos de intervenção. (A) Criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos
(C) Atividades interativas. direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e
(D) Sequência didática. controladores das ações em todos os níveis, assegurada a par-
(E) Transposição didática. ticipação popular não paritária por meio de organizações re-
presentativas, segundo leis federal, estaduais e municipais.
29. (ACAFE/2017 – SED/SC) A linguagem não é um meio neutro (B) Criação e manutenção de programas específicos, observada
através do qual uma mensagem é enviada. As palavras são carrega- a centralização políticoadministrativa.
das de sentido para os falantes. A linguagem é ela própria, criadora (C) Manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais
de significados e produtora de sentidos e como tal deve ser estuda- desvinculados dos respectivos conselhos dos direitos da crian-
da. Segundo Bakhtin (1990), ela é inseparável do fluxo da interação ça e do adolescente.
verbal e, portanto, não é transmitida como um produto acabado, (D) Integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
mas como algo que se constitui continuadamente nessa corrente. Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social,
Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agili-
Florianópolis: IOESC, 2005, p. 21-22. zação do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua
autoria de ato infracional.
Considere a “linguagem no processo de alfabetização”, analise
as afirmações a seguir e assinale a alternativa que contém todas
ascorretas.

331
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

32. (AMEOSC - 2018 - Prefeitura de Palma Sola - SC - Professor com Formação de Magistério) Segundo o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente: I - Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável;
II - A autorização não será exigida quando tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federa-
ção, ou incluída na mesma região metropolitana.

Sobre os itens acima:


(A) Apenas o item I está correto.
(B) Apenas o item II está correto.
(C) Ambos estão corretos.
(D) Ambos estão incorretos.

33. (FURB - 2019 - Prefeitura de Blumenau - SC - Educador Social) O vínculo entre a saúde e a educação é reconhecido e, sob o argu-
mento dessa íntima ligação entre as duas áreas, existe, ao menos, um consenso: bons níveis de educação estão relacionados a uma popula-
ção mais saudável, assim como uma população saudável tem maiores possibilidades de apoderar-se de conhecimentos da educação formal
e informal. Considerando-se que o Brasil tem alguns marcos legais que ratificam o direito à saúde, analise os itens abaixo e identifique os
corretos:
I- Constituição Federal de 1988.
II- Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) que regulamenta o artigo 227 da Constituição Federal.
III- Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/1990), que regulamenta a disposição constitucional, que concebeu a saúde como um direito
social.
IV- Lei 9.605/1998 – Lei dos Crimes Ambientais – que reordena a legislação ambiental quanto às infrações e punições.

Assinale a alternativa correta:


(A) Todos os itens estão corretos.
(B) Apenas os itens III e IV estão corretos.
(C) Apenas os itens I e II estão corretos.
(D) Apenas os itens I e III estão corretos.
(E) Apenas os itens I, II e III estão corretos.

34. (FURB - 2019 - Prefeitura de Blumenau - SC - Educador Social) Considere o conjunto de transgressões que correspondem às si-
tuações de riscos pessoal e social das quais as crianças e adolescentes devem ser defendidos, segundo o ECA, e registre com V os itens
verdadeiros e com F, os falsos:
( ) Discriminação.
( ) Exploração.
( ) Violência.
( ) Crueldade.
( ) Opressão. Assinale a alternativa com a sequência correta:

(A) F – F – V – V – V.
(B) V – V – F – V – F
(C) F – V – F – V – V.
(D) V – F – V – F – V.
(E) V – V – V – V – V.

35. (AMEOSC - 2021 - Prefeitura de São Miguel do Oeste - SC - Pedagogo) O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe sobre:
(A) A proteção integral à criança e ao adolescente.
(B) O apoio financeiro às famílias em situação de risco social, que tenham crianças de até cinco anos.
(C) As políticas públicas para o desenvolvimento infantil.
(D) As leis de apoio ao desenvolvimento da educação

332
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

GABARITO ANOTAÇÕES

1 B ______________________________________________________

2 D ______________________________________________________
3 D
______________________________________________________
4 D
______________________________________________________
5 B
6 E ______________________________________________________
7 D ______________________________________________________
8 A
______________________________________________________
9 B
10 C ______________________________________________________

11 C ______________________________________________________
12 A ______________________________________________________
13 B
______________________________________________________
14 D
15 D ______________________________________________________
16 B ______________________________________________________
17 C
______________________________________________________
18 E
______________________________________________________
19 C
20 C ______________________________________________________
21 D ______________________________________________________
22 C
______________________________________________________
23 B
24 D ______________________________________________________
25 C ______________________________________________________
26 B
______________________________________________________
27 A
______________________________________________________
28 D
29 B ______________________________________________________
30 A _____________________________________________________
31 D
_____________________________________________________
32 C
33 E ______________________________________________________

34 E ______________________________________________________
35 A
______________________________________________________

______________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

333
CONTEÚDO COMUM A TODOS OS PROFESSORES

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