Você está na página 1de 369

CÓD: OP-019ST-22

7908403526871

PC-GO
POLÍCIA CIVIL DE GOIÁS

Agente de Polícia Civil 3ª Classe e


Escrivão de Polícia Civil 3ª Classe
EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO Nº 006/2022
• A Opção não está vinculada às organizadoras de Concurso Público. A aquisição do material não garante sua inscrição ou ingresso na
carreira pública,

• Sua apostila aborda os tópicos do Edital de forma prática e esquematizada,

• Dúvidas sobre matérias podem ser enviadas através do site: www.apostilasopção.com.br/contatos.php, com retorno do professor
no prazo de até 05 dias úteis.,

• É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código Penal.

Apostilas Opção, a Opção certa para a sua realização.


ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados..................................................................................................... 9
2. Reconhecimento de tipos e gêneros textuais.............................................................................................................................. 9
3. Domínio da ortografia oficial....................................................................................................................................................... 10
4. Domínio dos mecanismos de coesão textual. Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição, de 10
conectores e de outros elementos de sequenciação textual......................................................................................................
5. Emprego de tempos e modos verbais. Domínio da estrutura morfossintática do período. Emprego das classes de palavras........... 11
6. Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. Relações de subordinação entre orações e entre termos 17
da oração....................................................................................................................................................................................
7. Emprego dos sinais de pontuação............................................................................................................................................... 19
8. Concordância verbal e nominal................................................................................................................................................... 20
9. Regência verbal e nominal.......................................................................................................................................................... 22
10. Emprego do sinal indicativo de crase.......................................................................................................................................... 23
11. Colocação dos pronomes átonos................................................................................................................................................ 23
12. Reescrita de frases e parágrafos do texto................................................................................................................................... 23
13. Significação das palavras. Substituição de palavras ou de trechos de texto................................................................................. 24
14. Reorganização da estrutura de orações e de períodos do texto................................................................................................... 27
15. Reescrita de textos de diferentes gêneros e níveis de formalidade........................................................................................... 27
16. Figuras de linguagem.................................................................................................................................................................. 27

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e


Econômica do Estado de Goiás
1. Formação econômica de Goiás: a mineração no século XVIII, a agropecuária nos séculos XIX e XX, a estrada de ferro e a
modernização da economia goiana, as transformações econômicas com a construção de Goiânia e Brasília, industrialização,
infraestrutura e planejamento.................................................................................................................................................... 37
2. Modernização Da Agricultura E Urbanização Do Território Goiano............................................................................................. 59
3. População goiana: povoamento, movimentos migratórios e densidade demográfica................................................................ 64
4. Economia goiana: industrialização e infraestrutura de transportes e comunicação................................................................... 73
5. As regiões goianas e as desigualdades regionais......................................................................................................................... 49
6. Aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidrografia, clima e relevo................................................................................. 53
7. Aspectos da história política de Goiás: a independência em Goiás, o coronelismo na República Velha, as oligarquias, a
Revolução de 1930 e a administração política de 1930 até os dias atuais.................................................................................. 55
8. Aspectos da história social de Goiás: o povoamento branco, os grupos indígenas, a escravidão e a cultura negra, os
movimentos sociais no campo e a cultura popular...................................................................................................................... 60
9. Atualidades econômicas, políticas e sociais do Brasil, especialmente do Estado de Goiás......................................................... 63
ÍNDICE

Raciocínio Lógico
1. Estruturas lógicas. Lógica de argumentação: analogias, inferências, deduções e conclusões. Lógica sentencial (ou
proposicional). Proposições simples e compostas. Tabelas verdade. Equivalências. Leis de Morgan. Diagramas lógicos. Lógica
de primeira ordem....................................................................................................................................................................... 67
2. Princípios de contagem e probabilidade..................................................................................................................................... 89
3. Operações com conjuntos............................................................................................................................................................ 94
4. Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais........................................................................ 103

Direito Administrativo
1. Estado, Governo e Administração Pública. Conceitos, elementos, poderes e organização. Natureza, fins e princípios. .......... 105
2. Organização administrativa da União: administração direta e indireta...................................................................................... 107
3. Atos administrativos. Conceitos, requisitos, elementos, pressupostos e classificação. Fato e ato administrativo. Atos
administrativos em espécie. O silêncio no direito administrativo Cassação. Revogação e anulação Fatos da administração
pública: atos da administração pública e fatos administrativos. Formação do ato administrativo: elementos, procedimento
administrativo. Validade, eficácia e autoexecutoriedade do ato administrativo. Atos administrativos simples, complexos
e compostos. Atos administrativos unilaterais, bilaterais e multilaterais. Atos administrativos gerais e individuais. Atos
administrativos vinculados e discricionários. Mérito do ato administrativo, discricionariedade. Ato administrativo inexistente.
Teoria das nulidades no direito administrativo. Atos administrativos nulos e anuláveis. Vícios do ato administrativo. Teoria
dos motivos determinantes. Revogação, anulação e convalidação do ato administrativo. ....................................................... 114
4. Processo administrativo (Lei estadual n.º 13.800/2001). ........................................................................................................... 118
5. Poderes administrativos. Poder hierárquico. Poder disciplinar. Poder regulamentar. Poder de polícia. Uso e abuso do
poder.......................................................................................................................................................................................... 123
6. Controle e responsabilização da administração. Controle administrativo. Controle judicial. Controle legislativo. ................... 125
7. Responsabilidade civil do Estado................................................................................................................................................ 128
8. Licitações e contratos administrativos: Lei Federal nº 14.133/2021.......................................................................................... 132
9. Improbidade administrativa....................................................................................................................................................... 141
10. Agentes Públicos: disposições constitucionais referentes aos servidores públicos. ................................................................. 149
11. Lei Estadual nº 20.756/2020...................................................................................................................................................... 160
12. Súmulas, jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores e legislação relacionada com os temas..................................... 160

Direito Constitucional
1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Princípios fundamentais. ................................................................. 173
2. Constituição: conceito; classificação; histórico e elementos. Poder Constituinte...................................................................... 174
3. Aplicabilidade das normas constitucionais. Normas de eficácia plena, contida e limitada. Normas programáticas................. 179
4. Direitos e garantias fundamentais. Direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade,
direitos políticos, partidos políticos, remédios constitucionais.................................................................................................. 180
5. Organização político-administrativa do Estado. Estado federal brasileiro, União, estados, Distrito Federal, municípios e
territórios. ................................................................................................................................................................................. 190
6. Administração pública. Disposições gerais, servidores públicos................................................................................................ 197
7. Poder executivo. Atribuições e responsabilidades do presidente da República......................................................................... 203
8. Poder legislativo. Estrutura. Funcionamento e atribuições. Processo legislativo......................................................................... 206
9. Poder judiciário. Disposições gerais. Órgãos do poder judiciário............................................................................................... 215
10. Funções essenciais à Justiça........................................................................................................................................................ 218
11. Defesa do Estado e das instituições democráticas. Segurança pública. Organização da segurança pública.............................. 223
ÍNDICE

12. Ordem social. Base e objetivos da ordem social. Seguridade social. Meio ambiente. Família, criança, adolescente, idoso
e índio......................................................................................................................................................................................... 225
13. Direitos humanos na Constituição Federal. ............................................................................................................................... 237
14. Política Nacional de Direitos Humanos. ..................................................................................................................................... 237
15. A Constituição brasileira e os tratados internacionais de direitos humanos............................................................................. 238
16. Súmulas, jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores e legislação relacionada com os temas..................................... 243

Noções de Direito Penal


1. Aplicação da lei penal. Princípios da legalidade e da anterioridade. Lei penal no tempo e no espaço. Tempo e lugar do
crime. Lei penal excepcional, especial e temporária. Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal. Contagem de
prazo. Interpretação da lei penal. Analogia. Irretroatividade da lei penal. Lei penal em branco. Princípios aplicáveis ao
direito penal. ............................................................................................................................................................................ 249
2. Infração penal: elementos, espécies, sujeito ativo e sujeito passivo. Classificação dos crimes............................................... 250
3. O fato típico e seus elementos. Crime consumado e tentado. Concurso de crimes. Ilicitude e causas de exclusão. Punibilidade.
Excesso punível. Culpabilidade (elementos e causas de exclusão). Erro de tipo e erro de proibição. Desistência voluntária,
arrependimento eficaz, arrependimento posterior e crime impossível. Imputabilidade penal. Concurso de pessoas............ 250
4. Crimes contra a pessoa. ............................................................................................................................................................ 261
5. Crimes contra o patrimônio. ..................................................................................................................................................... 269
6. Crimes contra a dignidade sexual. ............................................................................................................................................ 273
7. Crimes contra a fé pública. ....................................................................................................................................................... 275
8. Crimes contra a administração pública. ................................................................................................................................... 276
9. Disposições constitucionais aplicáveis ao Direito Penal............................................................................................................. 278
10. Súmulas, jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores e legislação relacionada com os temas................................... 279

Noções de Direito Processual Penal


1. Inquérito policial. Histórico, natureza, conceito, finalidade, características, fundamento, titularidade, grau de cognição,
valor probatório, formas de instauração, notitia criminis, delatio criminis, procedimentos investigativos, indiciamento,
garantias do investigado. Conclusão, prazos. Presidência, arquivamento e trancamento do inquérito policial. Acordo de não
persecução penal....................................................................................................................................................................... 283
2. Prova. Exame do corpo de delito e perícias em geral. Interrogatório do acusado. Confissão. Qualificação e oitiva do ofendido.
Testemunhas. Reconhecimento de pessoas e coisas. Acareação. Documentos de prova. Indícios. Busca e apreensão........... 285
3. restrição de liberdade. Prisão em flagrante. Prisão preventiva. Medidas Cautelares. Liberdade Provisória. Audiência de
Custódia. Lei nº 7.960/1989 (prisão temporária). Liberdade provisória, fiança e medidas cautelares diversas da prisão......... 286
4. Alterações da Lei nº 12.403/2011.............................................................................................................................................. 297
5. Disposições constitucionais aplicáveis ao Direito Processual Penal.......................................................................................... 300
6. Princípios aplicáveis ao processo penal. Sistemas de processo penal....................................................................................... 302
7. Ação Penal................................................................................................................................................................................. 309
8. Competência.............................................................................................................................................................................. 315
9. Processo criminal de crimes comuns: procedimento comum ordinário, sumário e sumaríssimo............................................. 318
10. Nulidades, recursos e ações autônomas de impugnação.......................................................................................................... 322
11. Súmulas, jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores e legislação relacionada com os temas.................................... 322
ÍNDICE

Noções de Criminalística
1. Histórico e doutrina da Criminalística; ....................................................................................................................................... 329
2. Postulados da criminalística; ..................................................................................................................................................... 329
3. Noções e princípios da Criminalística; ....................................................................................................................................... 329
4. Tipos de Provas: prova confessional, prova testemunhal, prova documental e prova pericial; ................................................. 330
5. Métodos da Criminalística; ......................................................................................................................................................... 330
6. Corpo de Delito: conceito; ......................................................................................................................................................... 330
7. Classificação dos locais de crime: Quanto à natureza do fato; Quanto à natureza da área: local de crime interno e local
de crime externo; Quanto à divisão: local mediato, imediato e relacionado; Quanto à preservação: idôneo e inidôneo;
Isolamento de local. .................................................................................................................................................................. 331
8. Documentos criminalísticos: auto, laudo pericial, parecer criminalístico; ................................................................................. 333
9. Finalidade da criminalística: constatação do fato, verificação dos meios e dos modos e possível indicação da autoria............ 336

Noções de Medicina Legal


1. Noções de Tanatologia Forense:. cronotanatognose; Morte suspeita; Morte súbita; Morte agonizante. ................................. 339
2. Noções de Asfixiologia Forense: Por constrição cervical: enforcamento, estrangulamento, esganadura;. Por modificação do
meio: afogamento, soterramento, confinamento; Por sufocação: direta e indireta. .................................................................. 340
3. Noções de instrumentos de ação mecânica: Ação cortante, perfurante, contundente e mista.................................................. 340
4. Noções de agentes químicos;. Noções de agentes térmicos; ...................................................................................................... 341
5. Noções de sexologia forense. ...................................................................................................................................................... 345
6. Traumatologia forense. Energia de ordem física. Energia de ordem mecânica. Lesões corporais: leve, grave e gravíssima e
seguida de morte.......................................................................................................................................................................... 364

Conteúdo Digital
Noções de Legislação Penal e Processual Penal Especial
1. Crimes previstos no Estatuto do Desarmamento (Lei n° 10.826/2003);................................................................................... 3
2. Crimes hediondos (Lei n° 8.072/1990); .................................................................................................................................... 8
3. Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei n° 7.716/1989); ............................................................................ 10
4. Definição dos crimes de tortura (Lei n° 9.455/1997);............................................................................................................... 11
5. Crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/1990); .................................................................... 11
6. Crimes previstos no Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/2003); ................................................................................................... 48
7. Organizações Criminosas (Lei n° 12.850/2013);........................................................................................................................ 58
8. Interceptações telefônicas (Lei n° 9.296/1996); ....................................................................................................................... 63
9. Crimes previstos no Código de Trânsito Brasileiro (Lei n° 9.503/1997);................................................................................... 64
10. Lei de execução penal (Lei n° 7.210/1984);.............................................................................................................................. 109
11. Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei n° 9.099 /1995);....................................................................................................... 125
12. Crimes contra a Ordem Tributária, Econômica e outras relações de consumo (Lei n° 8.137/1990); ....................................... 132
13. Lei Maria da Penha - Violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei n° 11.340/2006); .................................................. 134
14. Crimes previstos na (Lei n° 11.343/2006); ............................................................................................................................... 140
15. Crimes contra as Relações de Consumo (Título II da Lei n° 8.078/1990); ................................................................................. 152
16. Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei n° 3.688/1941); ................................................................................................... 153
17. Crimes previstos na (Lei n° 9.605/1998); ................................................................................................................................. 157
ÍNDICE

18. Lei n° 8.429/1992 (improbidade administrativa); ..................................................................................................................... 163


19. Lei nº 12.037/2009 (identificação criminal);.............................................................................................................................. 171
20. Lei nº 13.869/2019 (abuso de autoridade);.............................................................................................................................. 172
21. Lei n.º 13.431/2017 (Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de
violência)................................................................................................................................................................................... 175
22. Lei nº 14.344/2022 – Violência Doméstica e Familiar contra a Criança e ao Adolescente....................................................... 179
23. Súmulas, jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores e legislação relacionada com os temas................................... 184

Noções de Legislação Estadual


1. Noções de Tanatologia Forense:. cronotanatognose; Morte suspeita; Morte súbita; Morte agonizante. ................................ 201
2. Noções de Asfixiologia Forense: Por constrição cervical: enforcamento, estrangulamento, esganadura;. Por modificação do
meio: afogamento, soterramento, confinamento; Por sufocação: direta e indireta. ................................................................. 202
3. Noções de instrumentos de ação mecânica: Ação cortante, perfurante, contundente e mista.................................................. 202
4. Noções de agentes químicos;. Noções de agentes térmicos; ...................................................................................................... 203
5. Noções de sexologia forense. ..................................................................................................................................................... 207
6. Traumatologia forense. Energia de ordem física. Energia de ordem mecânica. Lesões corporais: leve, grave e gravíssima
e seguida de morte..................................................................................................................................................................... 226

Conteúdo Digital
• Para estudar o Conteúdo Digital acesse sua “Área do Cliente” em nosso site, ou siga os passos indicados na
página 2 para acessar seu bônus.
https://www.apostilasopcao.com.br/customer/account/login/
LÍNGUA PORTUGUESA

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE RECONHECIMENTO DE TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS


GÊNEROS VARIADOS
A partir da estrutura linguística, da função social e da finali-
Compreender e interpretar textos é essencial para que o obje- dade de um texto, é possível identificar a qual tipo e gênero ele
tivo de comunicação seja alcançado satisfatoriamente. Com isso, é pertence. Antes, é preciso entender a diferença entre essas duas
importante saber diferenciar os dois conceitos. Vale lembrar que o classificações.
texto pode ser verbal ou não-verbal, desde que tenha um sentido
completo. Tipos textuais
A compreensão se relaciona ao entendimento de um texto e A tipologia textual se classifica a partir da estrutura e da finali-
de sua proposta comunicativa, decodificando a mensagem explíci- dade do texto, ou seja, está relacionada ao modo como o texto se
ta. Só depois de compreender o texto que é possível fazer a sua apresenta. A partir de sua função, é possível estabelecer um padrão
interpretação. específico para se fazer a enunciação.
A interpretação são as conclusões que chegamos a partir do Veja, no quadro abaixo, os principais tipos e suas característi-
conteúdo do texto, isto é, ela se encontra para além daquilo que cas:
está escrito ou mostrado. Assim, podemos dizer que a interpreta-
ção é subjetiva, contando com o conhecimento prévio e do reper- Apresenta um enredo, com ações
tório do leitor. e relações entre personagens, que
Dessa maneira, para compreender e interpretar bem um texto, ocorre em determinados espaço e
é necessário fazer a decodificação de códigos linguísticos e/ou vi- TEXTO NARRATIVO tempo. É contado por um narrador,
suais, isto é, identificar figuras de linguagem, reconhecer o sentido e se estrutura da seguinte maneira:
de conjunções e preposições, por exemplo, bem como identificar apresentação > desenvolvimento >
expressões, gestos e cores quando se trata de imagens. clímax > desfecho
Dicas práticas Tem o objetivo de defender determi-
1. Faça um resumo (pode ser uma palavra, uma frase, um con- nado ponto de vista, persuadindo o
ceito) sobre o assunto e os argumentos apresentados em cada pa- TEXTO DISSERTATIVO- leitor a partir do uso de argumentos
rágrafo, tentando traçar a linha de raciocínio do texto. Se possível, -ARGUMENTATIVO sólidos. Sua estrutura comum é:
adicione também pensamentos e inferências próprias às anotações. introdução > desenvolvimento >
2. Tenha sempre um dicionário ou uma ferramenta de busca conclusão.
por perto, para poder procurar o significado de palavras desconhe- Procura expor ideias, sem a neces-
cidas. sidade de defender algum ponto de
3. Fique atento aos detalhes oferecidos pelo texto: dados, fon- vista. Para isso, usa-se comparações,
te de referências e datas. TEXTO EXPOSITIVO
informações, definições, conceitua-
4. Sublinhe as informações importantes, separando fatos de lizações etc. A estrutura segue a do
opiniões. texto dissertativo-argumentativo.
5. Perceba o enunciado das questões. De um modo geral, ques-
Expõe acontecimentos, lugares,
tões que esperam compreensão do texto aparecem com as seguin-
pessoas, de modo que sua finalida-
tes expressões: o autor afirma/sugere que...; segundo o texto...; de
de é descrever, ou seja, caracterizar
acordo com o autor... Já as questões que esperam interpretação do TEXTO DESCRITIVO
algo ou alguém. Com isso, é um
texto aparecem com as seguintes expressões: conclui-se do texto
texto rico em adjetivos e em verbos
que...; o texto permite deduzir que...; qual é a intenção do autor
de ligação.
quando afirma que...
Oferece instruções, com o objetivo
de orientar o leitor. Sua maior ca-
TEXTO INJUNTIVO
racterística são os verbos no modo
imperativo.

Gêneros textuais
A classificação dos gêneros textuais se dá a partir do reconhe-
cimento de certos padrões estruturais que se constituem a partir
da função social do texto. No entanto, sua estrutura e seu estilo
não são tão limitados e definidos como ocorre na tipologia textual,

9
LÍNGUA PORTUGUESA
podendo se apresentar com uma grande diversidade. Além disso, o • Nos sufixos “ês” e “esa”, ao indicarem nacionalidade, título ou
padrão também pode sofrer modificações ao longo do tempo, as- origem. (ex: portuguesa)
sim como a própria língua e a comunicação, no geral. • Nos sufixos formadores de adjetivos “ense”, “oso” e “osa” (ex:
Alguns exemplos de gêneros textuais: populoso)
• Artigo
• Bilhete Uso do “S”, “SS”, “Ç”
• Bula • “S” costuma aparecer entre uma vogal e uma consoante (ex:
• Carta diversão)
• Conto • “SS” costuma aparecer entre duas vogais (ex: processo)
• Crônica • “Ç” costuma aparecer em palavras estrangeiras que passa-
• E-mail ram pelo processo de aportuguesamento (ex: muçarela)
• Lista
• Manual Os diferentes porquês
• Notícia
• Poema Usado para fazer perguntas. Pode ser
• Propaganda POR QUE
substituído por “por qual motivo”
• Receita culinária
• Resenha Usado em respostas e explicações. Pode ser
PORQUE
• Seminário substituído por “pois”
O “que” é acentuado quando aparece como
Vale lembrar que é comum enquadrar os gêneros textuais em POR QUÊ a última palavra da frase, antes da pontuação
determinados tipos textuais. No entanto, nada impede que um tex- final (interrogação, exclamação, ponto final)
to literário seja feito com a estruturação de uma receita culinária,
É um substantivo, portanto costuma vir
por exemplo. Então, fique atento quanto às características, à finali-
PORQUÊ acompanhado de um artigo, numeral, adjetivo
dade e à função social de cada texto analisado.
ou pronome

DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL Parônimos e homônimos


As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro-
A ortografia oficial diz respeito às regras gramaticais referentes núncia semelhantes, porém com significados distintos.
à escrita correta das palavras. Para melhor entendê-las, é preciso Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe-
analisar caso a caso. Lembre-se de que a melhor maneira de memo- go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
rizar a ortografia correta de uma língua é por meio da leitura, que Já as palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma
também faz aumentar o vocabulário do leitor. grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
Neste capítulo serão abordadas regras para dúvidas frequentes
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).
entre os falantes do português. No entanto, é importante ressaltar
que existem inúmeras exceções para essas regras, portanto, fique
atento! DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL.
EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO,
Alfabeto SUBSTITUIÇÃO E REPETIÇÃO, DE CONECTORES E DE
O primeiro passo para compreender a ortografia oficial é co- OUTROS ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL
nhecer o alfabeto (os sinais gráficos e seus sons). No português, o
alfabeto se constitui 26 letras, divididas entre vogais (a, e, i, o, u) e
A coerência e a coesão são essenciais na escrita e na interpre-
consoantes (restante das letras).
tação de textos. Ambos se referem à relação adequada entre os
Com o Novo Acordo Ortográfico, as consoantes K, W e Y foram
componentes do texto, de modo que são independentes entre si.
reintroduzidas ao alfabeto oficial da língua portuguesa, de modo
Isso quer dizer que um texto pode estar coeso, porém incoerente,
que elas são usadas apenas em duas ocorrências: transcrição de
e vice-versa.
nomes próprios e abreviaturas e símbolos de uso internacional.
Enquanto a coesão tem foco nas questões gramaticais, ou seja,
ligação entre palavras, frases e parágrafos, a coerência diz respeito
Uso do “X”
ao conteúdo, isto é, uma sequência lógica entre as ideias.
Algumas dicas são relevantes para saber o momento de usar o
X no lugar do CH:
Coesão
• Depois das sílabas iniciais “me” e “en” (ex: mexerica; enxer-
A coesão textual ocorre, normalmente, por meio do uso de co-
gar)
nectivos (preposições, conjunções, advérbios). Ela pode ser obtida
• Depois de ditongos (ex: caixa)
a partir da anáfora (retoma um componente) e da catáfora (anteci-
• Palavras de origem indígena ou africana (ex: abacaxi; orixá)
pa um componente).
Confira, então, as principais regras que garantem a coesão tex-
Uso do “S” ou “Z”
tual:
Algumas regras do uso do “S” com som de “Z” podem ser ob-
servadas:
• Depois de ditongos (ex: coisa)
• Em palavras derivadas cuja palavra primitiva já se usa o “S”
(ex: casa > casinha)

10
LÍNGUA PORTUGUESA

REGRA CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Pessoal (uso de pronomes pessoais ou possessivos) –
João e Maria são crianças. Eles são irmãos.
anafórica
Fiz todas as tarefas, exceto esta: colonização
REFERÊNCIA Demonstrativa (uso de pronomes demonstrativos e
africana.
advérbios) – catafórica
Mais um ano igual aos outros...
Comparativa (uso de comparações por semelhanças)
Substituição de um termo por outro, para evitar Maria está triste. A menina está cansada de
SUBSTITUIÇÃO
repetição ficar em casa.
No quarto, apenas quatro ou cinco convidados.
ELIPSE Omissão de um termo
(omissão do verbo “haver”)
Conexão entre duas orações, estabelecendo relação Eu queria ir ao cinema, mas estamos de
CONJUNÇÃO
entre elas quarentena.
Utilização de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos
A minha casa é clara. Os quartos, a sala e a
COESÃO LEXICAL ou palavras que possuem sentido aproximado e
cozinha têm janelas grandes.
pertencente a um mesmo grupo lexical.

Coerência
Nesse caso, é importante conferir se a mensagem e a conexão de ideias fazem sentido, e seguem uma linha clara de raciocínio.
Existem alguns conceitos básicos que ajudam a garantir a coerência. Veja quais são os principais princípios para um texto coerente:
• Princípio da não contradição: não deve haver ideias contraditórias em diferentes partes do texto.
• Princípio da não tautologia: a ideia não deve estar redundante, ainda que seja expressa com palavras diferentes.
• Princípio da relevância: as ideias devem se relacionar entre si, não sendo fragmentadas nem sem propósito para a argumentação.
• Princípio da continuidade temática: é preciso que o assunto tenha um seguimento em relação ao assunto tratado.
• Princípio da progressão semântica: inserir informações novas, que sejam ordenadas de maneira adequada em relação à progressão
de ideias.

Para atender a todos os princípios, alguns fatores são recomendáveis para garantir a coerência textual, como amplo conhecimento
de mundo, isto é, a bagagem de informações que adquirimos ao longo da vida; inferências acerca do conhecimento de mundo do leitor;
e informatividade, ou seja, conhecimentos ricos, interessantes e pouco previsíveis.

EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS. DOMÍNIO DA ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO. EMPREGO


DAS CLASSES DE PALAVRAS

Para entender sobre a estrutura das funções sintáticas, é preciso conhecer as classes de palavras, também conhecidas por classes
morfológicas. A gramática tradicional pressupõe 10 classes gramaticais de palavras, sendo elas: adjetivo, advérbio, artigo, conjunção, in-
terjeição, numeral, pronome, preposição, substantivo e verbo.
Veja, a seguir, as características principais de cada uma delas.

CLASSE CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Menina inteligente...
Expressar características, qualidades ou estado dos seres Roupa azul-marinho...
ADJETIVO
Sofre variação em número, gênero e grau Brincadeira de criança...
Povo brasileiro...
A ajuda chegou tarde.
Indica circunstância em que ocorre o fato verbal
ADVÉRBIO A mulher trabalha muito.
Não sofre variação
Ele dirigia mal.
Determina os substantivos (de modo definido ou indefinido) A galinha botou um ovo.
ARTIGO
Varia em gênero e número Uma menina deixou a mochila no ônibus.
Liga ideias e sentenças (conhecida também como conecti-
Não gosto de refrigerante nem de pizza.
CONJUNÇÃO vos)
Eu vou para a praia ou para a cachoeira?
Não sofre variação
Exprime reações emotivas e sentimentos Ah! Que calor...
INTERJEIÇÃO
Não sofre variação Escapei por pouco, ufa!
Atribui quantidade e indica posição em alguma sequência Gostei muito do primeiro dia de aula.
NUMERAL
Varia em gênero e número Três é a metade de seis.

11
LÍNGUA PORTUGUESA

Posso ajudar, senhora?


Acompanha, substitui ou faz referência ao substantivo Ela me ajudou muito com o meu trabalho.
PRONOME
Varia em gênero e número Esta é a casa onde eu moro.
Que dia é hoje?
Relaciona dois termos de uma mesma oração Espero por você essa noite.
PREPOSIÇÃO
Não sofre variação Lucas gosta de tocar violão.
Nomeia objetos, pessoas, animais, alimentos, lugares etc. A menina jogou sua boneca no rio.
SUBSTANTIVO
Flexionam em gênero, número e grau. A matilha tinha muita coragem.
Ana se exercita pela manhã.
Indica ação, estado ou fenômenos da natureza
Todos parecem meio bobos.
Sofre variação de acordo com suas flexões de modo, tempo,
VERBO Chove muito em Manaus.
número, pessoa e voz.
A cidade é muito bonita quando vista do
Verbos não significativos são chamados verbos de ligação
alto.

Substantivo
Tipos de substantivos
Os substantivos podem ter diferentes classificações, de acordo com os conceitos apresentados abaixo:
• Comum: usado para nomear seres e objetos generalizados. Ex: mulher; gato; cidade...
• Próprio: geralmente escrito com letra maiúscula, serve para especificar e particularizar. Ex: Maria; Garfield; Belo Horizonte...
• Coletivo: é um nome no singular que expressa ideia de plural, para designar grupos e conjuntos de seres ou objetos de uma mesma
espécie. Ex: matilha; enxame; cardume...
• Concreto: nomeia algo que existe de modo independente de outro ser (objetos, pessoas, animais, lugares etc.). Ex: menina; cachor-
ro; praça...
• Abstrato: depende de um ser concreto para existir, designando sentimentos, estados, qualidades, ações etc. Ex: saudade; sede;
imaginação...
• Primitivo: substantivo que dá origem a outras palavras. Ex: livro; água; noite...
• Derivado: formado a partir de outra(s) palavra(s). Ex: pedreiro; livraria; noturno...
• Simples: nomes formados por apenas uma palavra (um radical). Ex: casa; pessoa; cheiro...
• Composto: nomes formados por mais de uma palavra (mais de um radical). Ex: passatempo; guarda-roupa; girassol...

Flexão de gênero
Na língua portuguesa, todo substantivo é flexionado em um dos dois gêneros possíveis: feminino e masculino.
O substantivo biforme é aquele que flexiona entre masculino e feminino, mudando a desinência de gênero, isto é, geralmente o final
da palavra sendo -o ou -a, respectivamente (Ex: menino / menina). Há, ainda, os que se diferenciam por meio da pronúncia / acentuação
(Ex: avô / avó), e aqueles em que há ausência ou presença de desinência (Ex: irmão / irmã; cantor / cantora).
O substantivo uniforme é aquele que possui apenas uma forma, independente do gênero, podendo ser diferenciados quanto ao gêne-
ro a partir da flexão de gênero no artigo ou adjetivo que o acompanha (Ex: a cadeira / o poste). Pode ser classificado em epiceno (refere-se
aos animais), sobrecomum (refere-se a pessoas) e comum de dois gêneros (identificado por meio do artigo).
É preciso ficar atento à mudança semântica que ocorre com alguns substantivos quando usados no masculino ou no feminino, trazen-
do alguma especificidade em relação a ele. No exemplo o fruto X a fruta temos significados diferentes: o primeiro diz respeito ao órgão
que protege a semente dos alimentos, enquanto o segundo é o termo popular para um tipo específico de fruto.

Flexão de número
No português, é possível que o substantivo esteja no singular, usado para designar apenas uma única coisa, pessoa, lugar (Ex: bola;
escada; casa) ou no plural, usado para designar maiores quantidades (Ex: bolas; escadas; casas) — sendo este último representado, geral-
mente, com o acréscimo da letra S ao final da palavra.
Há, também, casos em que o substantivo não se altera, de modo que o plural ou singular devem estar marcados a partir do contexto,
pelo uso do artigo adequado (Ex: o lápis / os lápis).

Variação de grau
Usada para marcar diferença na grandeza de um determinado substantivo, a variação de grau pode ser classificada em aumentativo
e diminutivo.
Quando acompanhados de um substantivo que indica grandeza ou pequenez, é considerado analítico (Ex: menino grande / menino
pequeno).
Quando acrescentados sufixos indicadores de aumento ou diminuição, é considerado sintético (Ex: meninão / menininho).
Novo Acordo Ortográfico
De acordo com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, as letras maiúsculas devem ser usadas em nomes próprios de
pessoas, lugares (cidades, estados, países, rios), animais, acidentes geográficos, instituições, entidades, nomes astronômicos, de festas e
festividades, em títulos de periódicos e em siglas, símbolos ou abreviaturas.
Já as letras minúsculas podem ser usadas em dias de semana, meses, estações do ano e em pontos cardeais.
Existem, ainda, casos em que o uso de maiúscula ou minúscula é facultativo, como em título de livros, nomes de áreas do saber,
disciplinas e matérias, palavras ligadas a alguma religião e em palavras de categorização.

12
LÍNGUA PORTUGUESA
Adjetivo
Os adjetivos podem ser simples (vermelho) ou compostos (mal-educado); primitivos (alegre) ou derivados (tristonho). Eles podem
flexionar entre o feminino (estudiosa) e o masculino (engraçado), e o singular (bonito) e o plural (bonitos).
Há, também, os adjetivos pátrios ou gentílicos, sendo aqueles que indicam o local de origem de uma pessoa, ou seja, sua nacionali-
dade (brasileiro; mineiro).
É possível, ainda, que existam locuções adjetivas, isto é, conjunto de duas ou mais palavras usadas para caracterizar o substantivo. São
formadas, em sua maioria, pela preposição DE + substantivo:
• de criança = infantil
• de mãe = maternal
• de cabelo = capilar

Variação de grau
Os adjetivos podem se encontrar em grau normal (sem ênfases), ou com intensidade, classificando-se entre comparativo e superlativo.
• Normal: A Bruna é inteligente.
• Comparativo de superioridade: A Bruna é mais inteligente que o Lucas.
• Comparativo de inferioridade: O Gustavo é menos inteligente que a Bruna.
• Comparativo de igualdade: A Bruna é tão inteligente quanto a Maria.
• Superlativo relativo de superioridade: A Bruna é a mais inteligente da turma.
• Superlativo relativo de inferioridade: O Gustavo é o menos inteligente da turma.
• Superlativo absoluto analítico: A Bruna é muito inteligente.
• Superlativo absoluto sintético: A Bruna é inteligentíssima.

Adjetivos de relação
São chamados adjetivos de relação aqueles que não podem sofrer variação de grau, uma vez que possui valor semântico objetivo, isto
é, não depende de uma impressão pessoal (subjetiva). Além disso, eles aparecem após o substantivo, sendo formados por sufixação de um
substantivo (Ex: vinho do Chile = vinho chileno).

Advérbio
Os advérbios são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Eles se classificam de acordo com a tabela
abaixo:

CLASSIFICAÇÃO ADVÉRBIOS LOCUÇÕES ADVERBIAIS


DE MODO bem; mal; assim; melhor; depressa ao contrário; em detalhes
ontem; sempre; afinal; já; agora; doravante; primei- logo mais; em breve; mais tarde, nunca mais, de
DE TEMPO
ramente noite
DE LUGAR aqui; acima; embaixo; longe; fora; embaixo; ali Ao redor de; em frente a; à esquerda; por perto
DE INTENSIDADE muito; tão; demasiado; imenso; tanto; nada em excesso; de todos; muito menos
DE AFIRMAÇÃO sim, indubitavelmente; certo; decerto; deveras com certeza; de fato; sem dúvidas
DE NEGAÇÃO não; nunca; jamais; tampouco; nem nunca mais; de modo algum; de jeito nenhum
DE DÚVIDA Possivelmente; acaso; será; talvez; quiçá Quem sabe

Advérbios interrogativos
São os advérbios ou locuções adverbiais utilizadas para introduzir perguntas, podendo expressar circunstâncias de:
• Lugar: onde, aonde, de onde
• Tempo: quando
• Modo: como
• Causa: por que, por quê

Grau do advérbio
Os advérbios podem ser comparativos ou superlativos.
• Comparativo de igualdade: tão/tanto + advérbio + quanto
• Comparativo de superioridade: mais + advérbio + (do) que
• Comparativo de inferioridade: menos + advérbio + (do) que
• Superlativo analítico: muito cedo
• Superlativo sintético: cedíssimo

Curiosidades
Na linguagem coloquial, algumas variações do superlativo são aceitas, como o diminutivo (cedinho), o aumentativo (cedão) e o uso
de alguns prefixos (supercedo).
Existem advérbios que exprimem ideia de exclusão (somente; salvo; exclusivamente; apenas), inclusão (também; ainda; mesmo) e
ordem (ultimamente; depois; primeiramente).

13
LÍNGUA PORTUGUESA
Alguns advérbios, além de algumas preposições, aparecem Os tempos verbais compostos são formados por um verbo
sendo usados como uma palavra denotativa, acrescentando um auxiliar e um verbo principal, de modo que o verbo auxiliar sofre
sentido próprio ao enunciado, podendo ser elas de inclusão (até, flexão em tempo e pessoa, e o verbo principal permanece no parti-
mesmo, inclusive); de exclusão (apenas, senão, salvo); de designa- cípio. Os verbos auxiliares mais utilizados são “ter” e “haver”.
ção (eis); de realce (cá, lá, só, é que); de retificação (aliás, ou me- • Tempos compostos do modo indicativo: pretérito perfeito,
lhor, isto é) e de situação (afinal, agora, então, e aí). pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do preté-
rito.
Pronomes • Tempos compostos do modo subjuntivo: pretérito perfeito,
Os pronomes são palavras que fazem referência aos nomes, pretérito mais-que-perfeito, futuro.
isto é, aos substantivos. Assim, dependendo de sua função no As formas nominais do verbo são o infinitivo (dar, fazerem,
enunciado, ele pode ser classificado da seguinte maneira: aprender), o particípio (dado, feito, aprendido) e o gerúndio (dando,
• Pronomes pessoais: indicam as 3 pessoas do discurso, e po- fazendo, aprendendo). Eles podem ter função de verbo ou função
dem ser retos (eu, tu, ele...) ou oblíquos (mim, me, te, nos, si...). de nome, atuando como substantivo (infinitivo), adjetivo (particí-
• Pronomes possessivos: indicam posse (meu, minha, sua, teu, pio) ou advérbio (gerúndio).
nossos...)
• Pronomes demonstrativos: indicam localização de seres no Tipos de verbos
tempo ou no espaço. (este, isso, essa, aquela, aquilo...) Os verbos se classificam de acordo com a sua flexão verbal.
• Pronomes interrogativos: auxiliam na formação de questio- Desse modo, os verbos se dividem em:
namentos (qual, quem, onde, quando, que, quantas...) Regulares: possuem regras fixas para a flexão (cantar, amar,
• Pronomes relativos: retomam o substantivo, substituindo-o vender, abrir...)
na oração seguinte (que, quem, onde, cujo, o qual...) • Irregulares: possuem alterações nos radicais e nas termina-
• Pronomes indefinidos: substituem o substantivo de maneira ções quando conjugados (medir, fazer, poder, haver...)
imprecisa (alguma, nenhum, certa, vários, qualquer...) • Anômalos: possuem diferentes radicais quando conjugados
• Pronomes de tratamento: empregados, geralmente, em si- (ser, ir...)
• Defectivos: não são conjugados em todas as pessoas verbais
tuações formais (senhor, Vossa Majestade, Vossa Excelência, você...)
(falir, banir, colorir, adequar...)
• Impessoais: não apresentam sujeitos, sendo conjugados sem-
Colocação pronominal
pre na 3ª pessoa do singular (chover, nevar, escurecer, anoitecer...)
Diz respeito ao conjunto de regras que indicam a posição do
• Unipessoais: apesar de apresentarem sujeitos, são sempre
pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, o, a, os, as, lo,
conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural (latir, miar, custar,
la, no, na...) em relação ao verbo, podendo haver próclise (antes do
acontecer...)
verbo), ênclise (depois do verbo) ou mesóclise (no meio do verbo).
• Abundantes: possuem duas formas no particípio, uma regular
Veja, então, quais as principais situações para cada um deles:
e outra irregular (aceitar = aceito, aceitado)
• Próclise: expressões negativas; conjunções subordinativas; • Pronominais: verbos conjugados com pronomes oblíquos
advérbios sem vírgula; pronomes indefinidos, relativos ou demons- átonos, indicando ação reflexiva (suicidar-se, queixar-se, sentar-se,
trativos; frases exclamativas ou que exprimem desejo; verbos no pentear-se...)
gerúndio antecedidos por “em”. • Auxiliares: usados em tempos compostos ou em locuções
Nada me faria mais feliz. verbais (ser, estar, ter, haver, ir...)
• Principais: transmitem totalidade da ação verbal por si pró-
• Ênclise: verbo no imperativo afirmativo; verbo no início da prios (comer, dançar, nascer, morrer, sorrir...)
frase (não estando no futuro e nem no pretérito); verbo no gerún- • De ligação: indicam um estado, ligando uma característica ao
dio não acompanhado por “em”; verbo no infinitivo pessoal. sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar...)
Inscreveu-se no concurso para tentar realizar um sonho.
Vozes verbais
• Mesóclise: verbo no futuro iniciando uma oração. As vozes verbais indicam se o sujeito pratica ou recebe a ação,
Orgulhar-me-ei de meus alunos. podendo ser três tipos diferentes:
• Voz ativa: sujeito é o agente da ação (Vi o pássaro)
DICA: o pronome não deve aparecer no início de frases ou ora- • Voz passiva: sujeito sofre a ação (O pássaro foi visto)
ções, nem após ponto-e-vírgula. • Voz reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação (Vi-me no reflexo
do lago)
Verbos
Os verbos podem ser flexionados em três tempos: pretérito Ao passar um discurso para a voz passiva, é comum utilizar a
(passado), presente e futuro, de maneira que o pretérito e o futuro partícula apassivadora “se”, fazendo com o que o pronome seja
possuem subdivisões. equivalente ao verbo “ser”.
Eles também se dividem em três flexões de modo: indicativo
(certeza sobre o que é passado), subjuntivo (incerteza sobre o que é
passado) e imperativo (expressar ordem, pedido, comando). Conjugação de verbos
• Tempos simples do modo indicativo: presente, pretérito per- Os tempos verbais são primitivos quando não derivam de ou-
feito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do tros tempos da língua portuguesa. Já os tempos verbais derivados
presente, futuro do pretérito. são aqueles que se originam a partir de verbos primitivos, de modo
• Tempos simples do modo subjuntivo: presente, pretérito im- que suas conjugações seguem o mesmo padrão do verbo de ori-
perfeito, futuro. gem.
• 1ª conjugação: verbos terminados em “-ar” (aproveitar, ima-
ginar, jogar...)

14
LÍNGUA PORTUGUESA
• 2ª conjugação: verbos terminados em “-er” (beber, correr, erguer...)
• 3ª conjugação: verbos terminados em “-ir” (dormir, agir, ouvir...)

Confira os exemplos de conjugação apresentados abaixo:

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-lutar

15
LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-impor

Preposições
As preposições são palavras invariáveis que servem para ligar dois termos da oração numa relação subordinada, e são divididas entre
essenciais (só funcionam como preposição) e acidentais (palavras de outras classes gramaticais que passam a funcionar como preposição
em determinadas sentenças).
Preposições essenciais: a, ante, após, de, com, em, contra, para, per, perante, por, até, desde, sobre, sobre, trás, sob, sem, entre.
Preposições acidentais: afora, como, conforme, consoante, durante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto etc.
Locuções prepositivas: abaixo de, afim de, além de, à custa de, defronte a, a par de, perto de, por causa de, em que pese a etc.
Ao conectar os termos das orações, as preposições estabelecem uma relação semântica entre eles, podendo passar ideia de:

16
LÍNGUA PORTUGUESA
• Causa: Morreu de câncer.
• Distância: Retorno a 3 quilômetros. RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES
• Finalidade: A filha retornou para o enterro. E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO. RELAÇÕES DE
• Instrumento: Ele cortou a foto com uma tesoura. SUBORDINAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS
• Modo: Os rebeldes eram colocados em fila. DA ORAÇÃO
• Lugar: O vírus veio de Portugal.
• Companhia: Ela saiu com a amiga. A sintaxe estuda o conjunto das relações que as palavras esta-
• Posse: O carro de Maria é novo. belecem entre si. Dessa maneira, é preciso ficar atento aos enuncia-
• Meio: Viajou de trem. dos e suas unidades: frase, oração e período.
Frase é qualquer palavra ou conjunto de palavras ordenadas
Combinações e contrações que apresenta sentido completo em um contexto de comunicação
Algumas preposições podem aparecer combinadas a outras pa- e interação verbal. A frase nominal é aquela que não contém verbo.
lavras de duas maneiras: sem haver perda fonética (combinação) e Já a frase verbal apresenta um ou mais verbos (locução verbal).
havendo perda fonética (contração). Oração é um enunciado organizado em torno de um único ver-
• Combinação: ao, aos, aonde bo ou locução verbal, de modo que estes passam a ser o núcleo
• Contração: de, dum, desta, neste, nisso da oração. Assim, o predicativo é obrigatório, enquanto o sujeito é
opcional.
Conjunção Período é uma unidade sintática, de modo que seu enuncia-
As conjunções se subdividem de acordo com a relação estabe- do é organizado por uma oração (período simples) ou mais orações
lecida entre as ideias e as orações. Por ter esse papel importante (período composto). Eles são iniciados com letras maiúsculas e fina-
de conexão, é uma classe de palavras que merece destaque, pois lizados com a pontuação adequada.
reconhecer o sentido de cada conjunção ajuda na compreensão e
interpretação de textos, além de ser um grande diferencial no mo- Análise sintática
mento de redigir um texto. A análise sintática serve para estudar a estrutura de um perío-
Elas se dividem em duas opções: conjunções coordenativas e do e de suas orações. Os termos da oração se dividem entre:
conjunções subordinativas. • Essenciais (ou fundamentais): sujeito e predicado
• Integrantes: completam o sentido (complementos verbais e
Conjunções coordenativas nominais, agentes da passiva)
As orações coordenadas não apresentam dependência sintáti- • Acessórios: função secundária (adjuntos adnominais e adver-
ca entre si, servindo também para ligar termos que têm a mesma biais, apostos)
função gramatical. As conjunções coordenativas se subdividem em
cinco grupos: Termos essenciais da oração
• Aditivas: e, nem, bem como. Os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado.
• Adversativas: mas, porém, contudo. O sujeito é aquele sobre quem diz o resto da oração, enquanto o
• Alternativas: ou, ora…ora, quer…quer. predicado é a parte que dá alguma informação sobre o sujeito, logo,
• Conclusivas: logo, portanto, assim. onde o verbo está presente.
• Explicativas: que, porque, porquanto.
O sujeito é classificado em determinado (facilmente identificá-
Conjunções subordinativas vel, podendo ser simples, composto ou implícito) e indeterminado,
As orações subordinadas são aquelas em que há uma relação podendo, ainda, haver a oração sem sujeito (a mensagem se con-
de dependência entre a oração principal e a oração subordinada. centra no verbo impessoal):
Desse modo, a conexão entre elas (bem como o efeito de sentido) Lúcio dormiu cedo.
se dá pelo uso da conjunção subordinada adequada. Aluga-se casa para réveillon.
Elas podem se classificar de dez maneiras diferentes: Choveu bastante em janeiro.
• Integrantes: usadas para introduzir as orações subordinadas
substantivas, definidas pelas palavras que e se. Quando o sujeito aparece no início da oração, dá-se o nome de
• Causais: porque, que, como. sujeito direto. Se aparecer depois do predicado, é o caso de sujeito
• Concessivas: embora, ainda que, se bem que. inverso. Há, ainda, a possibilidade de o sujeito aparecer no meio
• Condicionais: e, caso, desde que. da oração:
• Conformativas: conforme, segundo, consoante. Lívia se esqueceu da reunião pela manhã.
• Comparativas: como, tal como, assim como. Esqueceu-se da reunião pela manhã, Lívia.
• Consecutivas: de forma que, de modo que, de sorte que. Da reunião pela manhã, Lívia se esqueceu.
• Finais: a fim de que, para que. Os predicados se classificam em: predicado verbal (núcleo do
• Proporcionais: à medida que, ao passo que, à proporção que. predicado é um verbo que indica ação, podendo ser transitivo, in-
• Temporais: quando, enquanto, agora. transitivo ou de ligação); predicado nominal (núcleo da oração é
um nome, isto é, substantivo ou adjetivo); predicado verbo-nomi-
nal (apresenta um predicativo do sujeito, além de uma ação mais
uma qualidade sua)
As crianças brincaram no salão de festas.
Mariana é inteligente.
Os jogadores venceram a partida. Por isso, estavam felizes.

17
LÍNGUA PORTUGUESA
Termos integrantes da oração
Os complementos verbais são classificados em objetos diretos (não preposicionados) e objetos indiretos (preposicionado).
A menina que possui bolsa vermelha me cumprimentou.
O cão precisa de carinho.

Os complementos nominais podem ser substantivos, adjetivos ou advérbios.


A mãe estava orgulhosa de seus filhos.
Carlos tem inveja de Eduardo.
Bárbara caminhou vagarosamente pelo bosque.

Os agentes da passiva são os termos que tem a função de praticar a ação expressa pelo verbo, quando este se encontra na voz passiva.
Costumam estar acompanhados pelas preposições “por” e “de”.
Os filhos foram motivo de orgulho da mãe.
Eduardo foi alvo de inveja de Carlos.
O bosque foi caminhado vagarosamente por Bárbara.

Termos acessórios da oração


Os termos acessórios não são necessários para dar sentido à oração, funcionando como complementação da informação. Desse
modo, eles têm a função de caracterizar o sujeito, de determinar o substantivo ou de exprimir circunstância, podendo ser adjunto adver-
bial (modificam o verbo, adjetivo ou advérbio), adjunto adnominal (especifica o substantivo, com função de adjetivo) e aposto (caracteriza
o sujeito, especificando-o).
Os irmãos brigam muito.
A brilhante aluna apresentou uma bela pesquisa à banca.
Pelé, o rei do futebol, começou sua carreira no Santos.

TIPOS DE ORAÇÕES
Levando em consideração o que foi aprendido anteriormente sobre oração, vamos aprender sobre os dois tipos de oração que existem
na língua portuguesa: oração coordenada e oração subordinada.

Orações coordenadas
São aquelas que não dependem sintaticamente uma da outra, ligando-se apenas pelo sentido. Elas aparecem quando há um período
composto, sendo conectadas por meio do uso de conjunções (sindéticas), ou por meio da vírgula (assindéticas).
No caso das orações coordenadas sindéticas, a classificação depende do sentido entre as orações, representado por um grupo de
conjunções adequadas:

CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONJUNÇÕES


ADITIVAS Adição da ideia apresentada na oração anterior e, nem, também, bem como, não só, tanto...
Oposição à ideia apresentada na oração anterior (inicia
ADVERSATIVAS mas, porém, todavia, entretanto, contudo...
com vírgula)
Opção / alternância em relação à ideia apresentada na
ALTERNATIVAS ou, já, ora, quer, seja...
oração anterior
CONCLUSIVAS Conclusão da ideia apresentada na oração anterior logo, pois, portanto, assim, por isso, com isso...
EXPLICATIVAS Explicação da ideia apresentada na oração anterior que, porque, porquanto, pois, ou seja...

Orações subordinadas
São aquelas que dependem sintaticamente em relação à oração principal. Elas aparecem quando o período é composto por duas ou
mais orações.
A classificação das orações subordinadas se dá por meio de sua função: orações subordinadas substantivas, quando fazem o papel
de substantivo da oração; orações subordinadas adjetivas, quando modificam o substantivo, exercendo a função do adjetivo; orações
subordinadas adverbiais, quando modificam o advérbio.
Cada uma dessas sofre uma segunda classificação, como pode ser observado nos quadros abaixo.

SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS FUNÇÃO EXEMPLOS


APOSITIVA aposto Esse era meu receio: que ela não discursasse outra vez.
COMPLETIVA NOMINAL complemento nominal Tenho medo de que ela não discurse novamente.
OBJETIVA DIRETA objeto direto Ele me perguntou se ela discursaria outra vez.
OBJETIVA INDIRETA objeto indireto Necessito de que você discurse de novo.
PREDICATIVA predicativo Meu medo é que ela não discurse novamente.
SUBJETIVA sujeito É possível que ela discurse outra vez.

18
LÍNGUA PORTUGUESA

SUBORDINADAS
CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS
ADJETIVAS
Esclarece algum detalhe, adicionando uma infor-
O candidato, que é do partido socialista, está
EXPLICATIVAS mação.
sendo atacado.
Aparece sempre separado por vírgulas.
Restringe e define o sujeito a que se refere.
As pessoas que são racistas precisam rever seus
RESTRITIVAS Não deve ser retirado sem alterar o sentido.
valores.
Não pode ser separado por vírgula.
Introduzidas por conjunções, pronomes e locuções
conjuntivas. Ele foi o primeiro presidente que se preocupou
DESENVOLVIDAS
Apresentam verbo nos modos indicativo ou sub- com a fome no país.
juntivo.
Não são introduzidas por pronomes, conjunções
sou locuções conjuntivas. Assisti ao documentário denunciando a corrup-
REDUZIDAS
Apresentam o verbo nos modos particípio, gerún- ção.
dio ou infinitivo

SUBORDINADAS ADVERBIAIS FUNÇÃO PRINCIPAIS CONJUNÇÕES


CAUSAIS Ideia de causa, motivo, razão de efeito porque, visto que, já que, como...
como, tanto quanto, (mais / menos) que, do
COMPARATIVAS Ideia de comparação
que...
CONCESSIVAS Ideia de contradição embora, ainda que, se bem que, mesmo...
caso, se, desde que, contanto que, a menos
CONDICIONAIS Ideia de condição
que...
CONFORMATIVAS Ideia de conformidade como, conforme, segundo...
CONSECUTIVAS Ideia de consequência De modo que, (tal / tão / tanto) que...
FINAIS Ideia de finalidade que, para que, a fim de que...
quanto mais / menos... mais /menos, à medida
PROPORCIONAIS Ideia de proporção
que, na medida em que, à proporção que...
TEMPORAIS Ideia de momento quando, depois que, logo que, antes que...

EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Os sinais de pontuação são recursos gráficos que se encontram na linguagem escrita, e suas funções são demarcar unidades e sinalizar
limites de estruturas sintáticas. É também usado como um recurso estilístico, contribuindo para a coerência e a coesão dos textos.
São eles: o ponto (.), a vírgula (,), o ponto e vírgula (;), os dois pontos (:), o ponto de exclamação (!), o ponto de interrogação (?), as
reticências (...), as aspas (“”), os parênteses ( ( ) ), o travessão (—), a meia-risca (–), o apóstrofo (‘), o asterisco (*), o hífen (-), o colchetes
([]) e a barra (/).
Confira, no quadro a seguir, os principais sinais de pontuação e suas regras de uso.

SINAL NOME USO EXEMPLOS


Indicar final da frase declarativa Meu nome é Pedro.
. Ponto Separar períodos Fica mais. Ainda está cedo
Abreviar palavras Sra.
Iniciar fala de personagem A princesa disse:
Antes de aposto ou orações apositivas, - Eu consigo sozinha.
enumerações ou sequência de palavras Esse é o problema da pandemia: as
: Dois-pontos
para resumir / explicar ideias apresentadas pessoas não respeitam a quarentena.
anteriormente Como diz o ditado: “olho por olho,
Antes de citação direta dente por dente”.
Indicar hesitação
Sabe... não está sendo fácil...
... Reticências Interromper uma frase
Quem sabe depois...
Concluir com a intenção de estender a reflexão

19
LÍNGUA PORTUGUESA

Isolar palavras e datas A Semana de Arte Moderna (1922)


() Parênteses Frases intercaladas na função explicativa (podem Eu estava cansada (trabalhar e estudar
substituir vírgula e travessão) é puxado).
Indicar expressão de emoção Que absurdo!
! Ponto de Exclamação Final de frase imperativa Estude para a prova!
Após interjeição Ufa!
? Ponto de Interrogação Em perguntas diretas Que horas ela volta?
A professora disse:
Iniciar fala do personagem do discurso direto e
— Boas férias!
indicar mudança de interloculor no diálogo
— Travessão — Obrigado, professora.
Substituir vírgula em expressões ou frases
O corona vírus — Covid-19 — ainda
explicativas
está sendo estudado.

Vírgula
A vírgula é um sinal de pontuação com muitas funções, usada para marcar uma pausa no enunciado. Veja, a seguir, as principais regras
de uso obrigatório da vírgula.
• Separar termos coordenados: Fui à feira e comprei abacate, mamão, manga, morango e abacaxi.
• Separar aposto (termo explicativo): Belo Horizonte, capital mineira, só tem uma linha de metrô.
• Isolar vocativo: Boa tarde, Maria.
• Isolar expressões que indicam circunstâncias adverbiais (modo, lugar, tempo etc): Todos os moradores, calmamente, deixaram o
prédio.
• Isolar termos explicativos: A educação, a meu ver, é a solução de vários problemas sociais.
• Separar conjunções intercaladas, e antes dos conectivos “mas”, “porém”, “pois”, “contudo”, “logo”: A menina acordou cedo, mas não
conseguiu chegar a tempo na escola. Não explicou, porém, o motivo para a professora.
• Separar o conteúdo pleonástico: A ela, nada mais abala.

No caso da vírgula, é importante saber que, em alguns casos, ela não deve ser usada. Assim, não há vírgula para separar:

• Sujeito de predicado.
• Objeto de verbo.
• Adjunto adnominal de nome.
• Complemento nominal de nome.
• Predicativo do objeto do objeto.
• Oração principal da subordinada substantiva.
• Termos coordenados ligados por “e”, “ou”, “nem”.

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL

Concordância é o efeito gramatical causado por uma relação harmônica entre dois ou mais termos. Desse modo, ela pode ser verbal
— refere-se ao verbo em relação ao sujeito — ou nominal — refere-se ao substantivo e suas formas relacionadas.
• Concordância em gênero: flexão em masculino e feminino
• Concordância em número: flexão em singular e plural
• Concordância em pessoa: 1ª, 2ª e 3ª pessoa

Concordância nominal
Para que a concordância nominal esteja adequada, adjetivos, artigos, pronomes e numerais devem flexionar em número e gênero,
de acordo com o substantivo. Há algumas regras principais que ajudam na hora de empregar a concordância, mas é preciso estar atento,
também, aos casos específicos.
Quando há dois ou mais adjetivos para apenas um substantivo, o substantivo permanece no singular se houver um artigo entre os
adjetivos. Caso contrário, o substantivo deve estar no plural:
• A comida mexicana e a japonesa. / As comidas mexicana e japonesa.

Quando há dois ou mais substantivos para apenas um adjetivo, a concordância depende da posição de cada um deles. Se o adjetivo
vem antes dos substantivos, o adjetivo deve concordar com o substantivo mais próximo:
• Linda casa e bairro.

Se o adjetivo vem depois dos substantivos, ele pode concordar tanto com o substantivo mais próximo, ou com todos os substantivos
(sendo usado no plural):
• Casa e apartamento arrumado. / Apartamento e casa arrumada.
• Casa e apartamento arrumados. / Apartamento e casa arrumados.

20
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando há a modificação de dois ou mais nomes próprios ou de parentesco, os adjetivos devem ser flexionados no plural:
• As talentosas Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles estão entre os melhores escritores brasileiros.

Quando o adjetivo assume função de predicativo de um sujeito ou objeto, ele deve ser flexionado no plural caso o sujeito ou objeto
seja ocupado por dois substantivos ou mais:
• O operário e sua família estavam preocupados com as consequências do acidente.

CASOS ESPECÍFICOS REGRA EXEMPLO


É PROIBIDO Deve concordar com o substantivo quando há presença
É proibida a entrada.
É PERMITIDO de um artigo. Se não houver essa determinação, deve
É proibido entrada.
É NECESSÁRIO permanecer no singular e no masculino.
Mulheres dizem “obrigada” Homens dizem
OBRIGADO / OBRIGADA Deve concordar com a pessoa que fala.
“obrigado”.
As bastantes crianças ficaram doentes com a
volta às aulas.
Quando tem função de adjetivo para um substantivo,
Bastante criança ficou doente com a volta às
BASTANTE concorda em número com o substantivo.
aulas.
Quando tem função de advérbio, permanece invariável.
O prefeito considerou bastante a respeito da
suspensão das aulas.
É sempre invariável, ou seja, a palavra “menas” não Havia menos mulheres que homens na fila
MENOS
existe na língua portuguesa. para a festa.
As crianças mesmas limparam a sala depois
MESMO Devem concordar em gênero e número com a pessoa a da aula.
PRÓPRIO que fazem referência. Eles próprios sugeriram o tema da
formatura.
Quando tem função de numeral adjetivo, deve
Adicione meia xícara de leite.
concordar com o substantivo.
MEIO / MEIA Manuela é meio artista, além de ser
Quando tem função de advérbio, modificando um
engenheira.
adjetivo, o termo é invariável.
Segue anexo o orçamento.
Seguem anexas as informações adicionais
ANEXO INCLUSO Devem concordar com o substantivo a que se referem. As professoras estão inclusas na greve.
O material está incluso no valor da
mensalidade.
Concordância verbal
Para que a concordância verbal esteja adequada, é preciso haver flexão do verbo em número e pessoa, a depender do sujeito com o
qual ele se relaciona.

Quando o sujeito composto é colocado anterior ao verbo, o verbo ficará no plural:


• A menina e seu irmão viajaram para a praia nas férias escolares.

Mas, se o sujeito composto aparece depois do verbo, o verbo pode tanto ficar no plural quanto concordar com o sujeito mais próximo:
• Discutiram marido e mulher. / Discutiu marido e mulher.

Se o sujeito composto for formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo deve ficar no plural e concordando com a pessoa que
tem prioridade, a nível gramatical — 1ª pessoa (eu, nós) tem prioridade em relação à 2ª (tu, vós); a 2ª tem prioridade em relação à 3ª (ele,
eles):
• Eu e vós vamos à festa.

Quando o sujeito apresenta uma expressão partitiva (sugere “parte de algo”), seguida de substantivo ou pronome no plural, o verbo
pode ficar tanto no singular quanto no plural:
• A maioria dos alunos não se preparou para o simulado. / A maioria dos alunos não se prepararam para o simulado.

Quando o sujeito apresenta uma porcentagem, deve concordar com o valor da expressão. No entanto, quanto seguida de um subs-
tantivo (expressão partitiva), o verbo poderá concordar tanto com o numeral quanto com o substantivo:
• 27% deixaram de ir às urnas ano passado. / 1% dos eleitores votou nulo / 1% dos eleitores votaram nulo.

Quando o sujeito apresenta alguma expressão que indique quantidade aproximada, o verbo concorda com o substantivo que segue
a expressão:
• Cerca de duzentas mil pessoas compareceram à manifestação. / Mais de um aluno ficou abaixo da média na prova.

21
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando o sujeito é indeterminado, o verbo deve estar sempre na terceira pessoa do singular:
• Precisa-se de balconistas. / Precisa-se de balconista.

Quando o sujeito é coletivo, o verbo permanece no singular, concordando com o coletivo partitivo:
• A multidão delirou com a entrada triunfal dos artistas. / A matilha cansou depois de tanto puxar o trenó.

Quando não existe sujeito na oração, o verbo fica na terceira pessoa do singular (impessoal):
• Faz chuva hoje

Quando o pronome relativo “que” atua como sujeito, o verbo deverá concordar em número e pessoa com o termo da oração principal
ao qual o pronome faz referência:
• Foi Maria que arrumou a casa.

Quando o sujeito da oração é o pronome relativo “quem”, o verbo pode concordar tanto com o antecedente do pronome quanto com
o próprio nome, na 3ª pessoa do singular:
• Fui eu quem arrumei a casa. / Fui eu quem arrumou a casa.

Quando o pronome indefinido ou interrogativo, atuando como sujeito, estiver no singular, o verbo deve ficar na 3ª pessoa do singular:
• Nenhum de nós merece adoecer.

Quando houver um substantivo que apresenta forma plural, porém com sentido singular, o verbo deve permanecer no singular. Ex-
ceto caso o substantivo vier precedido por determinante:
• Férias é indispensável para qualquer pessoa. / Meus óculos sumiram.

REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL

A regência estuda as relações de concordâncias entre os termos que completam o sentido tanto dos verbos quanto dos nomes. Dessa
maneira, há uma relação entre o termo regente (principal) e o termo regido (complemento).
A regência está relacionada à transitividade do verbo ou do nome, isto é, sua complementação necessária, de modo que essa relação
é sempre intermediada com o uso adequado de alguma preposição.

Regência nominal
Na regência nominal, o termo regente é o nome, podendo ser um substantivo, um adjetivo ou um advérbio, e o termo regido é o
complemento nominal, que pode ser um substantivo, um pronome ou um numeral.
Vale lembrar que alguns nomes permitem mais de uma preposição. Veja no quadro abaixo as principais preposições e as palavras que
pedem seu complemento:

PREPOSIÇÃO NOMES
acessível; acostumado; adaptado; adequado; agradável; alusão; análogo; anterior; atento; benefício; comum;
contrário; desfavorável; devoto; equivalente; fiel; grato; horror; idêntico; imune; indiferente; inferior; leal;
A
necessário; nocivo; obediente; paralelo; posterior; preferência; propenso; próximo; semelhante; sensível; útil;
visível...
amante; amigo; capaz; certo; contemporâneo; convicto; cúmplice; descendente; destituído; devoto; diferente;
DE dotado; escasso; fácil; feliz; imbuído; impossível; incapaz; indigno; inimigo; inseparável; isento; junto; longe; medo;
natural; orgulhoso; passível; possível; seguro; suspeito; temeroso...
SOBRE opinião; discurso; discussão; dúvida; insistência; influência; informação; preponderante; proeminência; triunfo...
acostumado; amoroso; analogia; compatível; cuidadoso; descontente; generoso; impaciente; ingrato; intolerante;
COM
mal; misericordioso; ocupado; parecido; relacionado; satisfeito; severo; solícito; triste...
abundante; bacharel; constante; doutor; erudito; firme; hábil; incansável; inconstante; indeciso; morador;
EM
negligente; perito; prático; residente; versado...
atentado; blasfêmia; combate; conspiração; declaração; fúria; impotência; litígio; luta; protesto; reclamação;
CONTRA
representação...
PARA bom; mau; odioso; próprio; útil...

Regência verbal
Na regência verbal, o termo regente é o verbo, e o termo regido poderá ser tanto um objeto direto (não preposicionado) quanto um
objeto indireto (preposicionado), podendo ser caracterizado também por adjuntos adverbiais.
Com isso, temos que os verbos podem se classificar entre transitivos e intransitivos. É importante ressaltar que a transitividade do
verbo vai depender do seu contexto.

22
LÍNGUA PORTUGUESA
Verbos intransitivos: não exigem complemento, de modo que
fazem sentido por si só. Em alguns casos, pode estar acompanhado DICA: Como a crase só ocorre em palavras no feminino, em
de um adjunto adverbial (modifica o verbo, indicando tempo, lugar, caso de dúvida, basta substituir por uma palavra equivalente no
modo, intensidade etc.), que, por ser um termo acessório, pode ser masculino. Se aparecer “ao”, deve-se usar a crase: Amanhã iremos
retirado da frase sem alterar sua estrutura sintática: à escola / Amanhã iremos ao colégio.
• Viajou para São Paulo. / Choveu forte ontem.

Verbos transitivos diretos: exigem complemento (objeto dire- COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS
to), sem preposição, para que o sentido do verbo esteja completo:
• A aluna entregou o trabalho. / A criança quer bolo. Prezado candidato, o tópico acima foi abordado no decorrer da
matéria.
Verbos transitivos indiretos: exigem complemento (objeto in-
direto), de modo que uma preposição é necessária para estabelecer
o sentido completo: REESCRITA DE FRASES E PARÁGRAFOS DO TEXTO
• Gostamos da viagem de férias. / O cidadão duvidou da cam-
panha eleitoral. A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi-
cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos
Verbos transitivos diretos e indiretos: em algumas situações, o ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que
verbo precisa ser acompanhado de um objeto direto (sem preposi- observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
ção) e de um objeto indireto (com preposição): na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
• Apresentou a dissertação à banca. / O menino ofereceu ajuda A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
à senhora. implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.

EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE Quando reescrevemos, refazemos nosso texto, é um proces-
so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor
tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente,
Crase é o nome dado à contração de duas letras “A” em uma possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er-
só: preposição “a” + artigo “a” em palavras femininas. Ela é de- ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen-
marcada com o uso do acento grave (à), de modo que crase não volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer
é considerada um acento em si, mas sim o fenômeno dessa fusão. melhor seus objetivos e razões para a produção de textos.
Veja, abaixo, as principais situações em que será correto o em-
prego da crase: Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja
• Palavras femininas: Peça o material emprestado àquela alu- um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa
na. a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento
• Indicação de horas, em casos de horas definidas e especifica- do processo de escrever do aluno.
das: Chegaremos em Belo Horizonte às 7 horas.
• Locuções prepositivas: A aluna foi aprovada à custa de muito Operações linguísticas de reescrita:
estresse. A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope-
• Locuções conjuntivas: À medida que crescemos vamos dei- rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons-
xando de lado a capacidade de imaginar. trução do texto escrito.
• Locuções adverbiais de tempo, modo e lugar: Vire na próxima - Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele-
à esquerda. mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam-
Veja, agora, as principais situações em que não se aplica a cra- bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de
se: várias frases.
• Palavras masculinas: Ela prefere passear a pé. - Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi-
• Palavras repetidas (mesmo quando no feminino): Melhor ter- do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe-
mos uma reunião frente a frente. mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
• Antes de verbo: Gostaria de aprender a pintar. - Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter-
• Expressões que sugerem distância ou futuro: A médica vai te mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag-
atender daqui a pouco. ma, ou sobre conjuntos generalizados.
• Dia de semana (a menos que seja um dia definido): De terça - Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo-
a sexta. / Fecharemos às segundas-feiras. dificar sua ordem no processo de encadeamento.
• Antes de numeral (exceto horas definidas): A casa da vizinha
fica a 50 metros da esquina. Graus de Formalismo
São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais
Há, ainda, situações em que o uso da crase é facultativo como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
• Pronomes possessivos femininos: Dei um picolé a minha filha. quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por
/ Dei um picolé à minha filha. construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases
• Depois da palavra “até”: Levei minha avó até a feira. / Levei curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
minha avó até à feira. de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado
• Nomes próprios femininos (desde que não seja especificado): entre membros de uma mesma família ou entre amigos).
Enviei o convite a Ana. / Enviei o convite à Ana. / Enviei o convite à
Ana da faculdade.

23
LÍNGUA PORTUGUESA
As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for-
malismo existente na situação de comunicação; com o modo de SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS. SUBSTITUIÇÃO DE
expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a PALAVRAS OU DE TRECHOS DE TEXTO
sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe- Este é um estudo da semântica, que pretende classificar os
cífico de algum campo científico, por exemplo). sentidos das palavras, as suas relações de sentido entre si. Conheça
Expressões que demandam atenção as principais relações e suas características:
– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, Sinonímia e antonímia
aceito As palavras sinônimas são aquelas que apresentam significado
– acendido, aceso (formas similares) – idem semelhante, estabelecendo relação de proximidade. Ex: inteligente
– à custa de – e não às custas de <—> esperto
– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con- Já as palavras antônimas são aquelas que apresentam signifi-
forme cados opostos, estabelecendo uma relação de contrariedade. Ex:
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que forte <—> fraco
– a meu ver – e não ao meu ver
– a ponto de – e não ao ponto de Parônimos e homônimos
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro-
– em termos de – modismo; evitar núncia semelhantes, porém com significados distintos.
– enquanto que – o que é redundância Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe-
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
– implicar em – a regência é direta (sem em) As palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma
– ir de encontro a – chocar-se com grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
– ir ao encontro de – concordar com “rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se- As palavras homófonas são aquelas que possuem a mesma
parado; quando não se pode, junto pronúncia, mas com escrita e significado diferentes. Ex: cem (nu-
– todo mundo – todos meral) X sem (falta); conserto (arrumar) X concerto (musical).
– todo o mundo – o mundo inteiro As palavras homógrafas são aquelas que possuem escrita igual,
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo porém som e significado diferentes. Ex: colher (talher) X colher (ver-
for substantivo bo); acerto (substantivo) X acerto (verbo).
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando) Polissemia e monossemia
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte As palavras polissêmicas são aquelas que podem apresentar
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre- mais de um significado, a depender do contexto em que ocorre a
sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase). frase. Ex: cabeça (parte do corpo humano; líder de um grupo).
Já as palavras monossêmicas são aquelas apresentam apenas
Expressões não recomendadas um significado. Ex: eneágono (polígono de nove ângulos).
– a partir de (a não ser com valor temporal).
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de... Denotação e conotação
Palavras com sentido denotativo são aquelas que apresentam
– através de (para exprimir “meio” ou instrumento). um sentido objetivo e literal. Ex: Está fazendo frio. / Pé da mulher.
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se- Palavras com sentido conotativo são aquelas que apresentam
gundo... um sentido simbólico, figurado. Ex: Você me olha com frieza. / Pé
da cadeira.
– devido a.
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de. Hiperonímia e hiponímia
Esta classificação diz respeito às relações hierárquicas de signi-
– dito. ficado entre as palavras.
Opção: citado, mencionado. Desse modo, um hiperônimo é a palavra superior, isto é, que
tem um sentido mais abrangente. Ex: Fruta é hiperônimo de limão.
– enquanto. Já o hipônimo é a palavra que tem o sentido mais restrito, por-
Opção: ao passo que. tanto, inferior, de modo que o hiperônimo engloba o hipônimo. Ex:
Limão é hipônimo de fruta.
– inclusive (a não ser quando significa incluindo-se).
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. Formas variantes
São as palavras que permitem mais de uma grafia correta, sem
– no sentido de, com vistas a. que ocorra mudança no significado. Ex: loiro – louro / enfarte – in-
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista. farto / gatinhar – engatinhar.

– pois (no início da oração).


Opção: já que, porque, uma vez que, visto que.

– principalmente.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular.

24
LÍNGUA PORTUGUESA
Arcaísmo A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sineste-
São palavras antigas, que perderam o uso frequente ao longo sia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão luminosa”, “indiferen-
do tempo, sendo substituídas por outras mais modernas, mas que ça gelada”.
ainda podem ser utilizadas. No entanto, ainda podem ser bastante
encontradas em livros antigos, principalmente. Ex: botica <—> far- Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade,
mácia / franquia <—> sinceridade. atributo ou circunstância que individualiza o ser e notabiliza-o.

Figuras de linguagem Exemplos


As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para O filósofo de Genebra (= Calvino).
valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um re- O águia de Haia (= Rui Barbosa).
curso linguístico para expressar de formas diferentes experiências
comuns, conferindo originalidade, emotividade ao discurso, ou tor- Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que
nando-o poético. a palavra empregada lembra, sugere e retoma a que foi omitida.

As figuras de linguagem classificam-se em Exemplos


– figuras de palavra; Leio Graciliano Ramos. (livros, obras)
– figuras de pensamento; Comprei um panamá. (chapéu de Panamá)
– figuras de construção ou sintaxe. Tomei um Danone. (iogurte)

Figuras de palavra Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como siné-


Emprego de um termo com sentido diferente daquele conven- doque quando se têm a parte pelo todo e o singular pelo plural.
cionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais ex-
pressivo na comunicação. Exemplo
A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro
Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos co- sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. (singular pelo
nectivos comparativos; é uma comparação subjetiva. Normalmente plural)
vem com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase. (José Cândido de Carvalho)

Exemplos Figuras Sonoras


...a vida é cigana Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geral-
É caravana mente em posição inicial da palavra.
É pedra de gelo ao sol.
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença) Exemplo
Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes ve-
Encarnado e azul são as cores do meu desejo. ladas.
(Carlos Drummond de Andrade) (Cruz e Sousa)

Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de um
ligados por conectivos comparativos explícitos: como, tal qual, tal verso ou poesia.
como, que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a com-
paração: parecer, assemelhar-se e outros. Exemplo
Sou Ana, da cama,
Exemplo da cana, fulana, bacana
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando Sou Ana de Amsterdam.
você entrou em mim como um sol no quintal. (Chico Buarque)
(Belchior)
Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma ou
Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o na prosódia, mas diferentes no sentido.
qual não existe uma designação apropriada.
Exemplo
Exemplos Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
– folha de papel [erro
– braço de poltrona quero que você ganhe que
– céu da boca [você me apanhe
– pé da montanha sou o seu bezerro gritando
[mamãe.
Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sen- (Caetano Veloso)
tidos físicos.
Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som pro-
Exemplo duzido por seres animados e inanimados.
Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva)
mecânica. Exemplo
(Carlos Drummond de Andrade) Vai o ouvido apurado
na trama do rumor suas nervuras

25
LÍNGUA PORTUGUESA
inseto múltiplo reunido Morrerás morte vil na mão de um forte.
para compor o zanzineio surdo (Gonçalves Dias)
circular opressivo Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidia-
zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor na, considerado vício de linguagem. Deve ser evitado.
da noite em branco
(Carlos Drummond de Andrade) Exemplos
Ouvir com os ouvidos.
Observação: verbos que exprimem os sons são considerados Rolar escadas abaixo.
onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaquear, miar etc. Colaborar juntos.
Hemorragia de sangue.
Figuras de sintaxe ou de construção Repetir de novo.
Dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os
termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões. Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente suben-
tendidas na frase. Geralmente essas palavras são pronomes, con-
Podem ser formadas por: junções, preposições e verbos.
omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto; Exemplos
inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage; Compareci ao Congresso. (eu)
ruptura: anacoluto; Espero venhas logo. (eu, que, tu)
concordância ideológica: silepse. Ele dormiu duas horas. (durante)
No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver)
Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período, (Camões)
frase ou verso.
Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas anterior-
Exemplo mente.
Dentro do tempo o universo
[na imensidão. Exemplos
Dentro do sol o calor peculiar Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes.
[do verão. (Camilo Castelo Branco)
Dentro da vida uma vida me
[conta uma estória que fala Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.
[de mim. (Machado de Assis)
Dentro de nós os mistérios
[do espaço sem fim! Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elemen-
(Toquinho/Mutinho) tos na frase.

Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam Exemplos


vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem separadas por Passeiam, à tarde, as belas na avenida.
vírgulas. (Carlos Drummond de Andrade)

Exemplo Paciência tenho eu tido...


Não nos movemos, as mãos é (Antônio Nobre)
que se estenderam pouco a
pouco, todas quatro, pegando-se, Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a
apertando-se, fundindo-se. frase, alterando a sequência do processo lógico. A construção do
(Machado de Assis) período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coorde- função sintática definida.
nativa mais vezes do que exige a norma gramatical.
Exemplos
Exemplo E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem (Manuel Bandeira)
tuge, nem muge.
(Rubem Braga) Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas bo-
tassem as mãos.
Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um ter- (José Lins do Rego)
mo já expresso.
Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que
Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expres- pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase).
são, dando ênfase à mensagem.
Exemplo
Exemplos ...em cada olho um grito castanho de ódio.
Não os venci. Venceram-me (Dalton Trevisan)
eles a mim. ...em cada olho castanho um grito de ódio)
(Rui Barbosa)

26
LÍNGUA PORTUGUESA
Silepse “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Pessoa)
Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo
ou pronome com a pessoa a que se refere. Nesse caso, a metáfora é possível na medida em que o poeta
estabelece relações de semelhança entre um rio subterrâneo e seu
Exemplos pensamento.
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho...
(Rachel de Queiroz) Comparação: é a comparação entre dois elementos comuns;
semelhantes. Normalmente se emprega uma conjunção comparati-
V. Ex.a parece magoado... va: como, tal qual, assim como.
(Carlos Drummond de Andrade)
“Sejamos simples e calmos
Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com Como os regatos e as árvores”
o sujeito da oração. Fernando Pessoa

Exemplos Metonímia: consiste em empregar um termo no lugar de ou-


Os dois ora estais reunidos... tro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido.
(Carlos Drummond de Andrade) Observe os exemplos abaixo:

Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas. -autor ou criador pela obra. Exemplo: Gosto de ler Machado de
(Machado de Assis) Assis. (Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis.)

Silepse de número: Não há concordância do número verbal -efeito pela causa e vice-versa. Exemplo: Vivo do meu trabalho.
com o sujeito da oração. (o trabalho é causa e está no lugar do efeito ou resultado).

Exemplo - continente pelo conteúdo. Exemplo: Ela comeu uma caixa de


Corria gente de todos os lados, e gritavam. bombons. (a palavra caixa, que designa o continente ou aquilo que
(Mário Barreto) contém, está sendo usada no lugar da palavra bombons).

REORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE ORAÇÕES E DE -abstrato pelo concreto e vice-versa. Exemplos: A gravidez deve
PERÍODOS DO TEXTO ser tranquila. (o abstrato gravidez está no lugar do concreto, ou
seja, mulheres grávidas).
Prezado candidato, o tópico acima foi abordado no decorrer - instrumento pela pessoa que o utiliza. Exemplo: Os microfo-
da matéria. nes foram atrás dos jogadores. (Os repórteres foram atrás dos jo-
gadores.)
REESCRITA DE TEXTOS DE DIFERENTES GÊNEROS E
NÍVEIS DE FORMALIDADE - lugar pelo produto. Exemplo: Fumei um saboroso havana.
(Fumei um saboroso charuto.).
Prezado candidato, o tópico acima foi abordado no decorrer - símbolo ou sinal pela coisa significada. Exemplo: Não te afas-
da matéria. tes da cruz. (Não te afastes da religião.).

- a parte pelo todo. Exemplo: Não há teto para os desabrigados.


FIGURAS DE LINGUAGEM (a parte teto está no lugar do todo, “o lar”).

As figuras de linguagem são recursos especiais usados por - indivíduo pela classe ou espécie. Exemplo: O homem foi à Lua.
quem fala ou escreve, para dar à expressão mais força, intensidade (Alguns astronautas foram à Lua.).
e beleza. - singular pelo plural. Exemplo: A mulher foi chamada para ir às
São três tipos: ruas. (Todas as mulheres foram chamadas, não apenas uma)
Figuras de Palavras (tropos);
Figuras de Construção (de sintaxe); - gênero ou a qualidade pela espécie. Exemplo: Os mortais so-
Figuras de Pensamento. frem nesse mundo. (Os homens sofrem nesse mundo.)
Figuras de Palavra
- matéria pelo objeto. Exemplo: Ela não tem um níquel. (a ma-
É a substituição de uma palavra por outra, isto é, no emprego téria níquel é usada no lugar da coisa fabricada, que é “moeda”).
figurado, simbólico, seja por uma relação muito próxima (contigui-
dade), seja por uma associação, uma comparação, uma similarida- Atenção: Os últimos 5 exemplos podem receber também o
de. São as seguintes as figuras de palavras: nome de Sinédoque.

Metáfora: consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão Perífrase: substituição de um nome por uma expressão para
em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude facilitar a identificação. Exemplo: A Cidade Maravilhosa (= Rio de
da circunstância de que o nosso espírito as associa e depreende Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo.
entre elas certas semelhanças. Observe o exemplo:

27
LÍNGUA PORTUGUESA
Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o nome de - de gênero. Exemplo: Vossa Majestade parece desanimado. (o
antonomásia. adjetivo desanimado concorda não com o pronome de tratamento
Exemplos: Vossa Majestade, de forma feminina, mas com a pessoa a quem
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o esse pronome se refere – pessoa do sexo masculino).
bem. - de número. Exemplo: O pessoal ficou apavorado e saíram cor-
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. rendo. (o verbo sair concordou com a ideia de plural que a palavra
pessoal sugere).
Sinestesia: Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as - de pessoa. Exemplo: Os brasileiros amamos futebol. (o sujeito
sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. Exemplo: os brasileiros levaria o verbo na 3ª pessoa do plural, mas a concor-
No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (si- dância foi feita com a 1ª pessoa do plural, indicando que a pessoa
lêncio = auditivo; negro = visual) que fala está incluída em os brasileiros).

Onomatopeia: Ocorre quando se tentam reproduzir na forma


Catacrese: A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de
de palavras os sons da realidade.
um termo específico para designar um conceito, toma-se outro
Exemplos: Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.
“emprestado”. Passamos a empregar algumas palavras fora de seu
Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
sentido original. Exemplos: “asa da xícara”, “maçã do rosto”, “braço
Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar.
da cadeira” .
As onomatopeias, como no exemplo abaixo, podem resultar da
Figuras de Construção
Aliteração (repetição de fonemas nas palavras de uma frase ou de
Ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade ao
um verso).
significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela maior expres-
“Vozes veladas, veludosas vozes,
sividade que se dá ao sentido. São as mais importantes figuras de
volúpias dos violões, vozes veladas,
construção:
vagam nos velhos vórtices velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
Elipse: consiste na omissão de um termo da frase, o qual, no
entanto, pode ser facilmente identificado. Exemplo: No fim da co-
(Cruz e Sousa)
memoração, sobre as mesas, copos e garrafas vazias. (Omissão do
Repetição: repetir palavras ou orações para enfatizar a afirma-
verbo haver: No fim da festa comemoração, sobre as mesas, copos
ção ou sugerir insistência, progressão:
e garrafas vazias).
“E o ronco das águas crescia, crescia, vinha pra dentro da ca-
sona.” (Bernardo Élis)
Pleonasmo: consiste no emprego de palavras redundantes
“O mar foi ficando escuro, escuro, até que a última lâmpada se
para reforçar uma ideia. Exemplo: Ele vive uma vida feliz.
Deve-se evitar os pleonasmos viciosos, que não têm valor de apagou.” (Inácio de Loyola Brandão)
reforço, sendo antes fruto do desconhecimento do sentido das pa- Zeugma: omissão de um ou mais termos anteriormente enun-
lavras, como por exemplo, as construções “subir para cima”, “entrar ciados. Exemplo: Ele gosta de geografia; eu, de português. (na se-
para dentro”, etc. gunda oração, faltou o verbo “gostar” = Ele gosta de geografia; eu
gosto de português.).
Polissíndeto: repetição enfática do conectivo, geralmente o “e”. Assíndeto: quando certas orações ou palavras, que poderiam
Exemplo: Felizes, eles riam, e cantavam, e pulavam, e dançavam. se ligar por um conectivo, vêm apenas justapostas. Exemplo: Vim,
Inversão ou Hipérbato: alterar a ordem normal dos termos ou vi, venci.
orações com o fim de lhes dar destaque:
“Justo ela diz que é, mas eu não acho não.” (Carlos Drummond Anáfora: repetição de uma palavra ou de um segmento do
de Andrade) texto com o objetivo de enfatizar uma ideia. É uma figura de cons-
“Por que brigavam no meu interior esses entes de sonho não trução muito usada em poesia. Exemplo: Este amor que tudo nos
sei.” (Graciliano Ramos) toma, este amor que tudo nos dá, este amor que Deus nos inspira,
Observação: o termo deseja realçar é colocado, em geral, no e que um dia nos há de salvar
início da frase.
Paranomásia: palavras com sons semelhantes, mas de signi-
Anacoluto: quebra da estrutura sintática da oração. O tipo mais ficados diferentes, vulgarmente chamada de trocadilho. Exemplo:
comum é aquele em que um termo parece que vai ser o sujeito da Comemos fora todos os dias! A gente até dispensa a despensa.
oração, mas a construção se modifica e ele acaba sem função sintá-
tica. Essa figura é usada geralmente para pôr em relevo a ideia que Neologismo: criação de novas palavras. Exemplo: Estou a fim
consideramos mais importante, destacando-a do resto. Exemplo: do João. (estou interessado). Vou fazer um bico. (trabalho tempo-
O Alexandre, as coisas não lhe estão indo muito bem. rário).
A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha. (Camilo
Castelo Branco) Figuras de Pensamento
Utilizadas para produzir maior expressividade à comunicação,
Silepse: concordância de gênero, número ou pessoa é feita as figuras de pensamento trabalham com a combinação de ideias,
com ideias ou termos subentendidos na frase e não claramente ex- pensamentos.
pressos. A silepse pode ser:
Antítese: Corresponde à aproximação de palavras contrárias,
que têm sentidos opostos. Exemplo: O ódio e o amor andam de
mãos dadas.

28
LÍNGUA PORTUGUESA
Apóstrofe: interrupção do texto para se chamar a atenção de se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E 6este é um processo
alguém ou de coisas personificadas. Sintaticamente, a apóstrofe de aprendizagem. Uma segunda afirmação é 7que a diversidade está
corresponde ao vocativo. Exemplo: Tende piedade, Senhor, de to- relacionada com a questão da educação 8e do poder. Se a diversidade
das as mulheres. fosse a simples descrição 9demográfica da realidade e a realidade fos-
se uma boa articulação 10dessa descrição demográfica em termos de
Eufemismo: Atenua o sentido das palavras, suavizando as ex- constante articulação 11democrática, você não sentiria muito a pre-
pressões do discurso Exemplo: Ele foi para o céu. (Neste caso, a ex- sença do tema 12diversidade neste instante. Há o termo diversidade
pressão “para a céu”, ameniza o discurso real: ele morreu.) porque há 13uma diversidade que implica o uso e o abuso de poder,
de uma 14perspectiva ética, religiosa, de raça, de classe.
Gradação: os termos da frase são fruto de hierarquia (ordem […]
crescente ou decrescente). Exemplo: As pessoas chegaram à festa,
sentaram, comeram e dançaram. Rosa Maria Torres
15
O tema da diversidade, como tantos outros, hoje em dia, abre
Hipérbole: baseada no exagero intencional do locutor, isto é,
16
muitas versões possíveis de projeto educativo e de projeto 17po-
expressa uma ideia de forma exagerada. lítico e social. É uma bandeira pela qual temos que reivindicar, 18e
Exemplo: Liguei para ele milhões de vezes essa tarde. (Ligou pela qual temos reivindicado há muitos anos, a necessidade 19de
várias vezes, mas não literalmente 1 milhão de vezes ou mais). reconhecer que há distinções, grupos, valores distintos, e 20que a
escola deve adequar-se às necessidades de cada grupo. 21Porém, o
Ironia: é o emprego de palavras que, na frase, têm o sentido tema da diversidade também pode dar lugar a uma 22série de coisas
oposto ao que querem dizer. É usada geralmente com sentido sar- indesejadas.
cástico. Exemplo: Quem foi o inteligente que usou o computador e […]
apagou o que estava gravado? Adaptado da Revista Pátio, Diversidade na educação: limites e
possibilidades. Ano V, nº 20, fev./abr. 2002, p. 29.
Paradoxo: Diferente da antítese, que opõem palavras, o pa-
Do enunciado “O tema da diversidade tem a ver com o tema
radoxo corresponde ao uso de ideias contrárias, aparentemente
identidade.” (ref. 1), pode-se inferir que
absurdas. Exemplo: Esse amor me mata e dá vida. (Neste caso, o
I – “Diversidade e identidade” fazem parte do mesmo campo
mesmo amor traz alegrias (vida) e tristeza (mata) para a pessoa.)
semântico, sendo a palavra “identidade” considerada um hiperôni-
Personificação ou Prosopopéia ou Animismo: atribuição de mo, em relação à “diversidade”.
ações, sentimentos ou qualidades humanas a objetos, seres irracio- II – há uma relação de intercomplementariedade entre “diversi-
nais ou outras coisas inanimadas. Exemplo: O vento suspirou essa dade e identidade”, em função do efeito de sentido que se instaura
manhã. (Nesta frase sabemos que o vento é algo inanimado que no paradigma argumentativo do enunciado.
não suspira, sendo esta uma “qualidade humana”.) III – a expressão “tem a ver” pode ser considerada de uso co-
Reticência: suspender o pensamento, deixando-o meio velado. loquial e indica nesse contexto um vínculo temático entre “diversi-
Exemplo: dade e identidade”.
“De todas, porém, a que me cativou logo foi uma... uma... não
sei se digo.” (Machado de Assis) Marque a alternativa abaixo que apresenta a(s) proposi-
ção(ões) verdadeira(s).
Retificação: consiste em retificar uma afirmação anterior. (A) I, apenas
Exemplos: O médico, aliás, uma médica muito gentil não sabia qual (B) II e III
seria o procedimento. (C) III, apenas
(D) II, apenas
EXERCÍCIOS (E) I e II

3. (UNIFOR CE – 2006)
1. (FMPA – MG) Dia desses, por alguns momentos, a cidade parou. As televi-
Assinale o item em que a palavra destacada está incorretamen- sões hipnotizaram os espectadores que assistiram, sem piscar, ao
te aplicada: resgate de uma mãe e de uma filha. Seu automóvel caíra em um
(A) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes. rio. Assisti ao evento em um local público. Ao acabar o noticiário, o
(B) A justiça infligiu pena merecida aos desordeiros. silêncio em volta do aparelho se desfez e as pessoas retomaram as
(C) Promoveram uma festa beneficiente para a creche. suas ocupações habituais. Os celulares recomeçaram a tocar. Per-
(D) Devemos ser fieis aos cumprimentos do dever. guntei-me: indiferença? Se tomarmos a definição ao pé da letra,
(E) A cessão de terras compete ao Estado. indiferença é sinônimo de desdém, de insensibilidade, de apatia e
. de negligência. Mas podemos considerá-la também uma forma de
ceticismo e desinteresse, um “estado físico que não apresenta nada
2. (UEPB – 2010)
de particular”; enfim, explica o Aurélio, uma atitude de neutralida-
Um debate sobre a diversidade na escola reuniu alguns, dos
de.
maiores nomes da educação mundial na atualidade.
Conclusão? Impassíveis diante da emoção, imperturbáveis
diante da paixão, imunes à angústia, vamos hoje burilando nossa
Carlos Alberto Torres
1
O tema da diversidade tem a ver com o tema identidade. Por- indiferença. Não nos indignamos mais! À distância de tudo, segui-
tanto, 2quando você discute diversidade, um tema que cabe muito no mos surdos ao barulho do mundo lá fora. Dos movimentos de mas-
3
pensamento pós-modernista, está discutindo o tema da 4diversida- sa “quentes” (lembram-se do “Diretas Já”?) onde nos fundíamos na
de não só em ideias contrapostas, mas também em 5identidades que

29
LÍNGUA PORTUGUESA
igualdade, passamos aos gestos frios, nos quais indiferença e dis- Aos poucos, eu me habituei a colocar as letras e os sinais no
tância são fenômenos inseparáveis. Neles, apesar de iguais, somos lugar certo. Como essa aprendizagem foi demorada, não sei se con-
estrangeiros ao destino de nossos semelhantes. […] seguirei escrever de outra forma – agora que teremos novas regras.
(Mary Del Priore. Histórias do cotidiano. São Paulo: Contexto, Por isso, peço desde já que perdoem meus futuros erros, que servi-
2001. p.68) rão ao menos para determinar minha idade.
– Esse aí é do tempo do trema.”
Dentre todos os sinônimos apresentados no texto para o vo-
cábulo indiferença, o que melhor se aplica a ele, considerando-se Assinale a alternativa correta.
o contexto, é (A) As expressões “monstro ortográfico” e “abominável mons-
(A) ceticismo. tro ortográfico” mantêm uma relação hiperonímica entre si.
(B) desdém. (B) Em “– Atrapalha a gente na hora de escrever”, conforme a
(C) apatia. norma culta do português, a palavra “gente” pode ser substi-
tuída por “nós”.
(D) desinteresse.
(C) A frase “Fui-me obrigando a escrever minimamente do jeito
(E) negligência.
correto”, o emprego do pronome oblíquo átono está correto de
acordo com a norma culta da língua portuguesa.
4. (CASAN – 2015) Observe as sentenças.
(D) De acordo com as explicações do autor, as palavras pregüiça
I. Com medo do escuro, a criança ascendeu a luz. e tranqüilo não serão mais grafadas com o trema.
II. É melhor deixares a vida fluir num ritmo tranquilo. (E) A palavra “evocação” (3° parágrafo) pode ser substituída no
III. O tráfico nas grandes cidades torna-se cada dia mais difícil texto por “recordação”, mas haverá alteração de sentido.
para os carros e os pedestres.

Assinale a alternativa correta quanto ao uso adequado de ho- 6. (FMU) Leia as expressões destacadas na seguinte passagem:
mônimos e parônimos. “E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero
na salada – o meu jeito de querer bem.”
(A) I e III. Tais expressões exercem, respectivamente, a função sintática
(B) II e III. de:
(C) II apenas. (A) objeto indireto e aposto
(D) Todas incorretas. (B) objeto indireto e predicativo do sujeito
(C) complemento nominal e adjunto adverbial de modo
5. (UFMS – 2009) (D) complemento nominal e aposto
Leia o artigo abaixo, intitulado “Uma questão de tempo”, de (E) adjunto adnominal e adjunto adverbial de modo
Miguel Sanches Neto, extraído da Revista Nova Escola Online, em
30/09/08. Em seguida, responda. 7. (PUC-SP) Dê a função sintática do termo destacado em: “De-
“Demorei para aprender ortografia. E essa aprendizagem con- pressa esqueci o Quincas Borba”.
tou com a ajuda dos editores de texto, no computador. Quando eu (A) objeto direto
cometia uma infração, pequena ou grande, o programa grifava em (B) sujeito
vermelho meu deslize. Fui assim me obrigando a escrever minima- (C) agente da passiva
mente do jeito correto. (D) adjunto adverbial
Mas de meu tempo de escola trago uma grande descoberta, (E) aposto
a do monstro ortográfico. O nome dele era Qüeqüi Güegüi. Sim,
8. (MACK-SP) Aponte a alternativa que expressa a função sintá-
esse animal existiu de fato. A professora de Português nos disse que
tica do termo destacado: “Parece enfermo, seu irmão”.
devíamos usar trema nas sílabas qüe, qüi, güe e güi quando o u é
(A) Sujeito
pronunciado. Fiquei com essa expressão tão sonora quanto enig-
(B) Objeto direto
mática na cabeça.
(C) Predicativo do sujeito
Quando meditava sobre algum problema terrível – pois na pré- (D) Adjunto adverbial
-adolescência sempre temos problemas terríveis –, eu tentava me (E) Adjunto adnominal
libertar da coisa repetindo em voz alta: “Qüeqüi Güegüi”. Se numa
prova de Matemática eu não conseguia me lembrar de uma fórmu- 9. (OSEC-SP) “Ninguém parecia disposto ao trabalho naquela
la, lá vinham as palavras mágicas. manhã de segunda-feira”.
Um desses problemas terríveis, uma namorada, ouvindo minha (A) Predicativo
evocação, quis saber o que era esse tal de Qüeqüi Güegüi. (B) Complemento nominal
– Você nunca ouviu falar nele? – perguntei. (C) Objeto indireto
– Ainda não fomos apresentados – ela disse. (D) Adjunto adverbial
– É o abominável monstro ortográfico – fiz uma falsa voz de (E) Adjunto adnominal
terror.
– E ele faz o quê? 10. (MACK-SP) “Não se fazem motocicletas como antigamen-
– Atrapalha a gente na hora de escrever. te”. O termo destacado funciona como:
Ela riu e se desinteressou do assunto. Provavelmente não sabia (A) Objeto indireto
usar trema nem se lembrava da regrinha. (B) Objeto direto
(C) Adjunto adnominal
(D) Vocativo
(E) Sujeito

30
LÍNGUA PORTUGUESA
11. (UFRJ) Esparadrapo até a beira da mesa, e deixava cair com estrondo sabendo que os
Há palavras que parecem exatamente o que querem dizer. “Es- meninos, mais que as meninas, se botariam de quatro catando lá-
paradrapo”, por exemplo. Quem quebrou a cara fica mesmo com pis, canetas, borracha – as tediosas regras de ordem e quietude se-
cara de esparadrapo. No entanto, há outras, aliás de nobre sentido, riam rompidas mais uma vez.
que parecem estar insinuando outra coisa. Por exemplo, “incuná- Fazendo a toda hora perguntas loucas, ela aborrecia os profes-
bulo*”. sores e divertia a turma: apenas porque não queria ser diferente,
QUINTANA, Mário. Da preguiça como método de trabalho. Rio queria ser amada, queria ser natural, não queria que soubessem
de Janeiro, Globo. 1987. p. 83. que ela, doze anos, além de histórias em quadrinhos e novelinhas
*Incunábulo: [do lat. Incunabulu; berço]. Adj. 1- Diz-se do livro açucaradas, lia teatro grego – sem entender – e achava emocionan-
impresso até o ano de 1500./ S.m. 2 – Começo, origem. te.
(E até do futuro namorado, aos quinze anos, esconderia isso.)
A locução “No entanto” tem importante papel na estrutura do O meu aniversário: primeiro pensei numa grande celebração,
texto. Sua função resume-se em: eu que sou avessa a badalações e gosto de grupos bem pequenos.
(A) ligar duas orações que querem dizer exatamente a mesma Mas pensei, setenta vale a pena! Afinal já é bastante tempo! Logo
coisa. me dei conta de que hoje setenta é quase banal, muita gente com
(B) separar acontecimentos que se sucedem cronologicamen- oitenta ainda está ativo e presente.
te. Decidi apenas reunir filhos e amigos mais chegados (tarefa difí-
(C) ligar duas observações contrárias acerca do mesmo assun- cil, escolher), e deixar aquela festona para outra década.”
to. LUFT, 2014, p.104-105
(D) apresentar uma alternativa para a primeira ideia expressa.
(E) introduzir uma conclusão após os argumentos apresenta- Leia atentamente a oração destacada no período a seguir:
dos. “(...) pois ainda escutava em mim as risadas da menina que
queria correr nas lajes do pátio (...)”
12. (IBFC – 2013) Leia as sentenças:
É preciso que ela se encante por mim! Assinale a alternativa em que a oração em negrito e sublinhada
Chegou à conclusão de que saiu no prejuízo. apresenta a mesma classificação sintática da destacada acima.
(A) “A menina que levava castigo na escola porque ria fora de
Assinale abaixo a alternativa que classifica, correta e respecti- hora (...)”
vamente, as orações subordinadas substantivas (O.S.S.) destacadas: (B) “(...) e deixava cair com estrondo sabendo que os meninos,
(A) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. objetiva indireta. mais que as meninas, se botariam de quatro catando lápis, ca-
(B) O.S.S. subjetiva e O.S.S. completiva nominal netas, borracha (...)”
(C) O.S.S. subjetiva e O.S.S. objetiva indireta. (C) “(...) não queria que soubessem que ela (...)”
(D) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. completiva nominal. (D) “Logo me dei conta de que hoje setenta é quase banal (...)”

13. (ADVISE-2013) Todos os enunciados abaixo correspondem 16. (FUNRIO – 2012) “Todos querem que nós
a orações subordinadas substantivas, exceto: ____________________.”
(A) Espero sinceramente isto: que vocês não faltem mais.
(B) Desejo que ela volte. Apenas uma das alternativas completa coerente e adequada-
(C) Gostaria de que todos me apoiassem. mente a frase acima. Assinale-a.
(D) Tenho medo de que esses assessores me traiam. (A) desfilando pelas passarelas internacionais.
(E) Os jogadores que foram convocados apresentaram-se on- (B) desista da ação contra aquele salafrário.
tem. (C) estejamos prontos em breve para o trabalho.
(D) recuperássemos a vaga de motorista da firma.
14. (PUC-SP) “Pode-se dizer que a tarefa é puramente formal.” (E) tentamos aquele emprego novamente.
No texto acima temos uma oração destacada que é ________e
um “se” que é . ________. 17. (ITA - 1997) Assinale a opção que completa corretamente
(A) substantiva objetiva direta, partícula apassivadora as lacunas do texto a seguir:
(B) substantiva predicativa, índice de indeterminação do sujeito “Todas as amigas estavam _______________ ansiosas
(C) relativa, pronome reflexivo _______________ ler os jornais, pois foram informadas de que as
(D) substantiva subjetiva, partícula apassivadora críticas foram ______________ indulgentes ______________ ra-
(E) adverbial consecutiva, índice de indeterminação do sujeito paz, o qual, embora tivesse mais aptidão _______________ ciên-
cias exatas, demonstrava uma certa propensão _______________
15. (UEMG) “De repente chegou o dia dos meus setenta anos. arte.”
Fiquei entre surpresa e divertida, setenta, eu? Mas tudo parece (A) meio - para - bastante - para com o - para - para a
ter sido ontem! No século em que a maioria quer ter vinte anos (B) muito - em - bastante - com o - nas - em
(trinta a gente ainda aguenta), eu estava fazendo setenta. Pior: du- (C) bastante - por - meias - ao - a - à
vidando disso, pois ainda escutava em mim as risadas da menina (D) meias - para - muito - pelo - em - por
que queria correr nas lajes do pátio quando chovia, que pescava (E) bem - por - meio - para o - pelas – na
lambaris com o pai no laguinho, que chorava em filme do Gordo e
Magro, quando a mãe a levava à matinê. (Eu chorava alto com pena
dos dois, a mãe ficava furiosa.)
A menina que levava castigo na escola porque ria fora de hora,
porque se distraía olhando o céu e nuvens pela janela em lugar de
prestar atenção, porque devagarinho empurrava o estojo de lápis

31
LÍNGUA PORTUGUESA
18. (Mackenzie) Há uma concordância inaceitável de acordo 23. (FESP) Observe a regência verbal e assinale a opção falsa:
com a gramática: (A) Avisaram-no que chegaríamos logo.
I - Os brasileiros somos todos eternos sonhadores. (B) Informei-lhe a nota obtida.
II - Muito obrigadas! – disseram as moças. (C) Os motoristas irresponsáveis, em geral, não obedecem aos
III - Sr. Deputado, V. Exa. Está enganada. sinais de trânsito.
IV - A pobre senhora ficou meio confusa. (D) Há bastante tempo que assistimos em São Paulo.
V - São muito estudiosos os alunos e as alunas deste curso. (E) Muita gordura não implica saúde.

(A) em I e II 24. (IBGE) Assinale a opção em que todos os adjetivos devem


(B) apenas em IV ser seguidos pela mesma preposição:
(C) apenas em III (A) ávido / bom / inconsequente
(D) em II, III e IV (B) indigno / odioso / perito
(E) apenas em II (C) leal / limpo / oneroso
(D) orgulhoso / rico / sedento
19. (CESCEM–SP) Já ___ anos, ___ neste local árvores e flores. (E) oposto / pálido / sábio
Hoje, só ___ ervas daninhas.
(A) fazem, havia, existe 25. (TRE-MG) Observe a regência dos verbos das frases reescri-
(B) fazem, havia, existe tas nos itens a seguir:
(C) fazem, haviam, existem I - Chamaremos os inimigos de hipócritas. Chamaremos aos ini-
(D) faz, havia, existem migos de hipócritas;
(E) faz, havia, existe II - Informei-lhe o meu desprezo por tudo. Informei-lhe do meu
desprezo por tudo;
20. (IBGE) Indique a opção correta, no que se refere à concor- III - O funcionário esqueceu o importante acontecimento. O
dância verbal, de acordo com a norma culta: funcionário esqueceu-se do importante acontecimento.
(A) Haviam muitos candidatos esperando a hora da prova.
(B) Choveu pedaços de granizo na serra gaúcha. A frase reescrita está com a regência correta em:
(C) Faz muitos anos que a equipe do IBGE não vem aqui. (A) I apenas
(D) Bateu três horas quando o entrevistador chegou. (B) II apenas
(E) Fui eu que abriu a porta para o agente do censo. (C) III apenas
(D) I e III apenas
21. (FUVEST – 2001) A única frase que NÃO apresenta desvio (E) I, II e III
em relação à regência (nominal e verbal) recomendada pela norma
culta é: 26. (INSTITUTO AOCP/2017 – EBSERH) Assinale a alternativa
(A) O governador insistia em afirmar que o assunto principal em que todas as palavras estão adequadamente grafadas.
seria “as grandes questões nacionais”, com o que discordavam (A) Silhueta, entretenimento, autoestima.
líderes pefelistas. (B) Rítimo, silueta, cérebro, entretenimento.
(B) Enquanto Cuba monopolizava as atenções de um clube, do (C) Altoestima, entreterimento, memorização, silhueta.
qual nem sequer pediu para integrar, a situação dos outros pa- (D) Célebro, ansiedade, auto-estima, ritmo.
íses passou despercebida. (E) Memorização, anciedade, cérebro, ritmo.
(C) Em busca da realização pessoal, profissionais escolhem a
dedo aonde trabalhar, priorizando à empresas com atuação 27. (ALTERNATIVE CONCURSOS/2016 – CÂMARA DE BANDEI-
social. RANTES-SC) Algumas palavras são usadas no nosso cotidiano de
(D) Uma família de sem-teto descobriu um sofá deixado por um forma incorreta, ou seja, estão em desacordo com a norma culta
morador não muito consciente com a limpeza da cidade. padrão. Todas as alternativas abaixo apresentam palavras escritas
(E) O roteiro do filme oferece uma versão de como consegui- erroneamente, exceto em:
mos um dia preferir a estrada à casa, a paixão e o sonho à regra, (A) Na bandeija estavam as xícaras antigas da vovó.
a aventura à repetição. (B) É um privilégio estar aqui hoje.
(C) Fiz a sombrancelha no salão novo da cidade.
22. (FUVEST) Assinale a alternativa que preenche corretamen- (D) A criança estava com desinteria.
te as lacunas correspondentes. (E) O bebedoro da escola estava estragado.
A arma ___ se feriu desapareceu.
Estas são as pessoas ___ lhe falei.
Aqui está a foto ___ me referi.
Encontrei um amigo de infância ___ nome não me lembrava.
Passamos por uma fazenda ___ se criam búfalos.

(A) que, de que, à que, cujo, que.


(B) com que, que, a que, cujo qual, onde.
(C) com que, das quais, a que, de cujo, onde.
(D) com a qual, de que, que, do qual, onde.
(E) que, cujas, as quais, do cujo, na cuja.

32
LÍNGUA PORTUGUESA
28. (SEDUC/SP – 2018) Preencha as lacunas das frases abaixo 33. (UEPG ADAPTADA) Sobre a acentuação gráfica das palavras
com “por que”, “porque”, “por quê” ou “porquê”. Depois, assinale a agradável, automóvel e possível, assinale o que for correto.
alternativa que apresenta a ordem correta, de cima para baixo, de (A) Em razão de a letra L no final das palavras transferir a toni-
classificação. cidade para a última sílaba, é necessário que se marque grafi-
“____________ o céu é azul?” camente a sílaba tônica das paroxítonas terminadas em L, se
“Meus pais chegaram atrasados, ____________ pegaram trân- isso não fosse feito, poderiam ser lidas como palavras oxítonas.
sito pelo caminho.” (B) São acentuadas porque são proparoxítonas terminadas em
“Gostaria muito de saber o ____________ de você ter faltado L.
ao nosso encontro.” (C) São acentuadas porque são oxítonas terminadas em L.
“A Alemanha é considerada uma das grandes potências mun- (D) São acentuadas porque terminam em ditongo fonético –
diais. ____________?” eu.
(A) Porque – porquê – por que – Por quê (E) São acentuadas porque são paroxítonas terminadas em L.
(B) Porque – porquê – por que – Por quê
(C) Por que – porque – porquê – Por quê 34. (IFAL – 2016 ADAPTADA) Quanto à acentuação das palavras,
(D) Porquê – porque – por quê – Por que assinale a afirmação verdadeira.
(E) Por que – porque – por quê – Porquê (A) A palavra “tendem” deveria ser acentuada graficamente,
como “também” e “porém”.
29. (CEITEC – 2012) Os vocábulos Emergir e Imergir são parô- (B) As palavras “saíra”, “destruída” e “aí” acentuam-se pela
nimos: empregar um pelo outro acarreta grave confusão no que mesma razão.
se quer expressar. Nas alternativas abaixo, só uma apresenta uma (C) O nome “Luiz” deveria ser acentuado graficamente, pela
frase em que se respeita o devido sentido dos vocábulos, selecio- mesma razão que a palavra “país”.
nando convenientemente o parônimo adequado à frase elaborada. (D) Os vocábulos “é”, “já” e “só” recebem acento por constituí-
Assinale-a. rem monossílabos tônicos fechados.
(A) A descoberta do plano de conquista era eminente. (E) Acentuam-se “simpática”, “centímetros”, “simbólica” por-
(B) O infrator foi preso em flagrante. que todas as paroxítonas são acentuadas.
(C) O candidato recebeu despensa das duas últimas provas.
(D) O metal delatou ao ser submetido à alta temperatura. 35. (MACKENZIE) Indique a alternativa em que nenhuma pala-
(E) Os culpados espiam suas culpas na prisão. vra é acentuada graficamente:
(A) lapis, canoa, abacaxi, jovens
30. (FMU) Assinale a alternativa em que todas as palavras estão (B) ruim, sozinho, aquele, traiu
grafadas corretamente. (C) saudade, onix, grau, orquídea
(A) paralisar, pesquisar, ironizar, deslizar (D) voo, legua, assim, tênis
(B) alteza, empreza, francesa, miudeza (E) flores, açucar, album, virus
(C) cuscus, chimpazé, encharcar, encher
(D) incenso, abcesso, obsessão, luxação 36. (IFAL - 2011)
(E) chineza, marquês, garrucha, meretriz Parágrafo do Editorial “Nossas crianças, hoje”.

31. (VUNESP/2017 – TJ-SP) Assinale a alternativa em que todas “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão impor-
as palavras estão corretamente grafadas, considerando-se as regras tante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos sentimos
de acentuação da língua padrão. na pele e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento da
(A) Remígio era homem de carater, o que surpreendeu D. Firmi- infância mais pobre. Nosso Estado e nossa região padece de índices
na, que aceitou o matrimônio de sua filha. vergonhosos no tocante à mortalidade infantil, à educação básica e
(B) O consôlo de Fadinha foi ver que Remígio queria desposa-la tantos outros indicadores terríveis.” (Gazeta de Alagoas, seção Opi-
apesar de sua beleza ter ido embora depois da doença. nião, 12.10.2010)
(C) Com a saúde de Fadinha comprometida, Remígio não con-
O primeiro período desse parágrafo está corretamente pontua-
seguia se recompôr e viver tranquilo.
do na alternativa:
(D) Com o triúnfo do bem sobre o mal, Fadinha se recuperou,
(A) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão
Remígio resolveu pedí-la em casamento.
importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos,
(E) Fadinha não tinha mágoa por não ser mais tão bela; agora,
sentimos na pele e na alma a dor dos mais altos índices de so-
interessava-lhe viver no paraíso com Remígio.
frimento da infância mais pobre.”
(B) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão
32. (PUC-RJ) Aponte a opção em que as duas palavras são acen-
importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos
tuadas devido à mesma regra:
sentimos, na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de
(A) saí – dói
sofrimento da infância mais pobre.”
(B) relógio – própria
(C) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão
(C) só – sóis
importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos,
(D) dá – custará
sentimos na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de
(E) até – pé
sofrimento da infância mais pobre.”

33
LÍNGUA PORTUGUESA
(D) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos sentimos,
na pele e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento, da infância mais pobre.”
(E) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos, sentimos,
na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de sofrimento da infância mais pobre.”

37. (F.E. BAURU) Assinale a alternativa em que há erro de pontuação:


(A) Era do conhecimento de todos a hora da prova, mas, alguns se atrasaram.
(B) A hora da prova era do conhecimento de todos; alguns se atrasaram, porém.
(C) Todos conhecem a hora da prova; não se atrasem, pois.
(D) Todos conhecem a hora da prova, portanto não se atrasem.
(E) N.D.A

38. (VUNESP – 2020) Assinale a alternativa correta quanto à pontuação.


(A) Colaboradores da Universidade Federal do Paraná afirmaram: “Os cristais de urato podem provocar graves danos nas articulações.”.
(B) A prescrição de remédios e a adesão, ao tratamento, por parte dos pacientes são baixas.
(C) É uma inflamação, que desencadeia a crise de gota; diagnosticada a partir do reconhecimento de intensa dor, no local.
(D) A ausência de dor não pode ser motivo para a interrupção do tratamento conforme o editorial diz: – (é preciso que o doente confie
em seu médico).
(E) A qualidade de vida, do paciente, diminui pois a dor no local da inflamação é bastante intensa!

39. (ENEM – 2018)


Física com a boca
Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do ventilador?
Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras. Quando você não tem mais o que fazer e fica falando na frente dele, as ondas da
voz se propagam na direção contrária às do ventilador. Davi Akkerman – presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – diz
que isso causa o mismatch, nome bacana para o desencontro entre as ondas. “O vento também contribui para a distorção da voz, pelo fato
de ser uma vibração que influencia no som”, diz. Assim, o ruído do ventilador e a influência do vento na propagação das ondas contribuem
para distorcer sua bela voz.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).

Sinais de pontuação são símbolos gráficos usados para organizar a escrita e ajudar na compreensão da mensagem. No texto, o sentido
não é alterado em caso de substituição dos travessões por
(A) aspas, para colocar em destaque a informação seguinte
(B) vírgulas, para acrescentar uma caracterização de Davi Akkerman.
(C) reticências, para deixar subetendida a formação do especialista.
(D) dois-pontos, para acrescentar uma informação introduzida anteriormente.
(E) ponto e vírgula, para enumerar informações fundamentais para o desenvolvimento temático.

40. (FUNDATEC – 2016)

34
LÍNGUA PORTUGUESA
Sobre fonética e fonologia e conceitos relacionados a essas 44. (FUVEST-SP) Foram formadas pelo mesmo processo as se-
áreas, considere as seguintes afirmações, segundo Bechara: guintes palavras:
(A) vendavais, naufrágios, polêmicas
I. A fonologia estuda o número de oposições utilizadas e suas (B) descompõem, desempregados, desejava
relações mútuas, enquanto a fonética experimental determina a (C) estendendo, escritório, espírito
natureza física e fisiológica das distinções observadas. (D) quietação, sabonete, nadador
II. Fonema é uma realidade acústica, opositiva, que nosso ouvi- (E) religião, irmão, solidão
do registra; já letra, também chamada de grafema, é o sinal empre-
gado para representar na escrita o sistema sonoro de uma língua. 45. (FUVEST) Assinale a alternativa em que uma das palavras
III. Denominam-se fonema os sons elementares e produtores não é formada por prefixação:
da significação de cada um dos vocábulos produzidos pelos falantes (A) readquirir, predestinado, propor
da língua portuguesa. (B) irregular, amoral, demover
(C) remeter, conter, antegozar
Quais estão INCORRETAS? (D) irrestrito, antípoda, prever
(A) Apenas I. (E) dever, deter, antever
(B) Apenas II.
(C) Apenas III. 46. (UNIFESP - 2015) Leia o seguinte texto:
(D) Apenas I e II Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook?
(E) Apenas II e III. Uma organização não governamental holandesa está propondo
um desafio que muitos poderão considerar impossível: ficar 99 dias
41. (CEPERJ) Na palavra “fazer”, notam-se 5 fonemas. O mesmo sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é medir o
número de fonemas ocorre na palavra da seguinte alternativa: grau de felicidade dos usuários longe da rede social.
a) tatuar O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológi-
b) quando cos realizados pelo próprio Facebook. A diferença neste caso é que
c) doutor o teste é completamente voluntário. Ironicamente, para poder par-
d) ainda ticipar, o usuário deve trocar a foto do perfil no Facebook e postar
e) além um contador na rede social.
Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade
42. (OSEC) Em que conjunto de signos só há consoantes sono- dos participantes no 33º dia, no 66º e no último dia da abstinência.
ras? Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam
(A) rosa, deve, navegador; em média 17 minutos por dia na rede social. Em 99 dias sem acesso,
(B) barcos, grande, colado; a soma média seria equivalente a mais de 28 horas, 2que poderiam
(C) luta, após, triste; ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.
(D) ringue, tão, pinga; (http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)
(E) que, ser, tão.
Após ler o texto acima, examine as passagens do primeiro pa-
43. (UFRGS – 2010) No terceiro e no quarto parágrafos do tex- rágrafo: “Uma organização não governamental holandesa está pro-
to, o autor faz referência a uma oposição entre dois níveis de análi- pondo um desafio” “O objetivo é medir o grau de felicidade dos
se de uma língua: o fonético e o gramatical. usuários longe da rede social.”
Verifique a que nível se referem as características do português A utilização dos artigos destacados justifica-se em razão:
falado em Portugal a seguir descritas, identificando-as com o núme- (A) da retomada de informações que podem ser facilmente de-
ro 1 (fonético) ou com o número 2 (gramatical). preendidas pelo contexto, sendo ambas equivalentes seman-
( ) Construções com infinitivo, como estou a fazer, em lugar de ticamente.
formas com gerúndio, como estou fazendo. (B) de informações conhecidas, nas duas ocorrências, sendo
( ) Emprego frequente da vogal tônica com timbre aberto em possível a troca dos artigos nos enunciados, pois isso não alte-
palavras como académico e antónimo, raria o sentido do texto.
( ) Uso frequente de consoante com som de k final da sílaba, (C) da generalização, no primeiro caso, com a introdução de
como em contacto e facto. informação conhecida, e da especificação, no segundo, com
( ) Certos empregos do pretérito imperfeito para designar fu- informação nova.
turo do pretérito, como em Eu gostava de ir até lá por Eu gostaria (D) da introdução de uma informação nova, no primeiro caso,
de ir até lá. e da retomada de uma informação já conhecida, no segundo.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de (E) de informações novas, nas duas ocorrências, motivo pelo
cima para baixo, é: qual são introduzidas de forma mais generalizada
(A) 2 – 1 – 1 – 2.
(B) 2 – 1 – 2 – 1. 47. (UFMG-ADAPTADA) As expressões em negrito correspon-
(C) 1 – 2 – 1 – 2. dem a um adjetivo, exceto em:
(D) 1 – 1 – 2 – 2. (A) João Fanhoso anda amanhecendo sem entusiasmo.
(E) 1 – 2 – 2 – 1. (B) Demorava-se de propósito naquele complicado banho.
(C) Os bichos da terra fugiam em desabalada carreira.
(D) Noite fechada sobre aqueles ermos perdidos da caatinga
sem fim.
(E) E ainda me vem com essa conversa de homem da roça.

35
LÍNGUA PORTUGUESA
48. (UMESP) Na frase “As negociações estariam meio abertas
21 E
só depois de meio período de trabalho”, as palavras destacadas são,
respectivamente: 22 C
(A) adjetivo, adjetivo 23 A
(B) advérbio, advérbio
(C) advérbio, adjetivo 24 D
(D) numeral, adjetivo 25 E
(E) numeral, advérbio
26 A
49. (ITA-SP) 27 B
Beber é mal, mas é muito bom. 28 C
(FERNANDES, Millôr. Mais! Folha de S. Paulo, 5 ago. 2001, p.
28.) 29 B
30 A
A palavra “mal”, no caso específico da frase de Millôr, é:
(A) adjetivo 31 E
(B) substantivo 32 B
(C) pronome
33 E
(D) advérbio
(E) preposição 34 B
35 B
50. (PUC-SP) “É uma espécie... nova... completamente nova!
(Mas já) tem nome... Batizei-(a) logo... Vou-(lhe) mostrar...”. Sob o 36 E
ponto de vista morfológico, as palavras destacadas correspondem 37 A
pela ordem, a:
(A) conjunção, preposição, artigo, pronome 38 A
(B) advérbio, advérbio, pronome, pronome 39 B
(C) conjunção, interjeição, artigo, advérbio 40 A
(D) advérbio, advérbio, substantivo, pronome
(E) conjunção, advérbio, pronome, pronome 41 D
42 D

GABARITO 43 B
44 D
45 E
1 C
46 D
2 B
47 B
3 D
48 B
4 C
49 B
5 C
50 E
6 A
7 D
8 C
9 B
10 E
11 C
12 B
13 E
14 B
15 A
16 C
17 A
18 C
19 D
20 C

36
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA,
CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA

O segundo elemento catalisador do processo foi a descoberta


FORMAÇÃO ECONÔMICA DE GOIÁS: A MINERAÇÃO de novos achados. Esses direcionavam o fluxo da população, desco-
NO SÉCULO XVIII, A AGROPECUÁRIA NOS SÉCULOS bria-se uma nova mina e, pronto, surgia uma nova vila, geralmente
XIX E XX, A ESTRADA DE FERRO E A MODERNIZAÇÃO às margens de um rio.
DA ECONOMIA GOIANA, AS TRANSFORMAÇÕES “O mineiro extraía o ouro e podia usá-lo como moeda no terri-
ECONÔMICAS COM A CONSTRUÇÃO DE GOIÂNIA E tório das minas, pois, proibida a moeda de ouro, o ouro em pó era a
BRASÍLIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, INFRAESTRUTURA E única moeda em circulação. No momento em que decidisse retirar
PLANEJAMENTO o seu ouro para outras capitanias é que lhe urgia a obrigação de
fundi-lo e pagar o quinto”. (PALACÍN, 1994, p. 44).
A Extração Aurífera Nessa economia onde a descoberta e extração de ouro para o
O elemento que legitimava as ações de controle político e eco- enriquecimento era o sentido dominante na consciência das pes-
nômico da metrópole sobre a colônia era o Pacto Colonial, este soas, o comerciante lucrou enormemente porque havia uma infini-
tornava a segunda uma extensão da primeira e por isso nela vigo- dade de necessidades dos habitantes, que deveriam ser sanadas. A
ravam todos os mandos e desmandos do soberano, inclusive havia escassez da oferta ocasionava valorização dos produtos de primeira
grande esforço da metrópole no sentido de reprimir a dedicação necessidade e assim grande parte do ouro que era extraído das la-
a outras atividades que não fossem a extração aurífera, tais como vras acabava chegando às mãos do comerciante, que era quem na
agricultura e pecuária, que inicialmente existiam estritamente para maioria das vezes o direcionava para as casas de fundição. Inicial-
a subsistência. A explicação para tal intransigência era simples: au- mente, todo ouro para ser quitado deveria ser encaminhado para
mentar a arrecadação pela elevação da extração. a capitania de São Paulo, posteriormente de acordo com Palacin
O ouro era retirado das datas que eram concedidas com pri- (1975, p. 20) foram criadas “duas Casas de Fundição na Capitania
vilégios a quem as encontrassem. De acordo com Salles, ao des- de Goiás: uma em Vila Boa, atendendo à produção do sul e outra
cobridor cabia os “melhores cabedais o direito de socavar vários em S. Félix para atender o norte.”
locais, e escolher com segurança a mina mais lucrativa, assim como
situar outras jazidas sem que outro trabalho lhe fosse reservado, A Produção de Ouro Em Goiás
senão o de reconhecer o achado, legalizá-lo e receber o respectivo A partir do ano de 1725 o território goiano inicia sua produção
tributo, era vantajosa política para a administração portuguesa. Ao aurífera. Os primeiros anos são repletos de achados. Vários arraiais
particular, todas as responsabilidades seduzindo-o com vantagens vão se formando onde ocorrem os novos descobertas, o ouro extra-
indiscriminadas, porém temporárias”. (SALLES, 1992, p.131). ído das datas era fundido na Capitania de São Paulo, para “lá, pois,
À metrópole Portuguesa em contrapartida cabia apenas o deviam ir os mineiros com seu ouro em pó, para fundi -lo, receben-
bônus de receber os tributos respaldados pelo pacto colonial e di- do de volta, depois de descontado o quinto, o ouro em barras de
recionar uma parte para manutenção dos luxos da coroa e do cle- peso e toque contrastados e sigilados com o selo real.” (PALACÍN,
ro e outra, uma boa parte desse numerário, era canalizada para 1994, p. 44).
a Inglaterra com quem a metrópole mantinha alguns tratados co- Os primeiros arraiais vão se formando aos arredores do rio ver-
merciais que serviam apenas para canalizar o ouro para o sistema melho, Anta, Barra, Ferreiro, Ouro Fino e Santa Rita que contribuí-
financeiro inglês. ram para a atração da população. À medida que vão surgindo novos
“Os Quintos Reais, os Tributos de Ofícios e um por cento sobre descobertos os arraiais vão se multiplicando por todo o território.
os contratos pertenciam ao Real Erário e eram remetidos direta- A Serra dos Pirineus em 1731 dará origem à Meia Ponte, importan-
mente a Lisboa, enquanto sob a jurisdição de São Paulo, o exce- te elo de comunicação, devido a sua localização. Na Região Norte,
dente das rendas da Capitania eram enviados à sede do governo foram descobertas outras minas, Maranhão (1730), Água Quente
e muitas vezes redistribuídos para cobrirem as despesas de outras (1732), Natividade (1734), Traíras (1735), São José (1736), São Félix
localidades carentes”. (SALLES, 1992, p.140). (1736), Pontal e Porto Real (1738), Arraias e Cavalcante (1740), Pi-
O um dos fatores que contribuiu para o sucesso da empresa lar (1741), Carmo (1746), Santa Luzia (1746) e Cocal (1749).
mineradora foi sem nenhuma sombra de dúvidas o trabalho com- Toda essa expansão demográfica serviu para disseminar focos
pulsório dos escravos africanos, expostos a condições de degrada- de população em várias partes do território e, dessa forma, estru-
ção, tais como: grande período de exposição ao sol, manutenção turar economicamente e administrativamente várias localidades,
do corpo por longas horas mergulhado parcialmente em água e em mesmo que sobre o domínio da metrópole Portuguesa, onde toda
posições inadequadas. produção que não sofria o descaminho era taxada. “Grande impor-
Além disso, ainda eram submetidos a violências diversas, que tância é conferida ao sistema administrativo e fiscal das Minas; no-
os mutilavam fisicamente e psicologicamente de forma irremedi- ta-se a preocupação de resguardar os descaminhos do ouro, mas
ável. Sob essas condições em média os africanos escravos tinham também a de controlar a distribuição dos gêneros.” (SALLES, 1992,
uma sobrevida de oito anos. Os indígenas também foram submeti- p.133).
dos a tais condições, porém não se adaptaram. Apesar de todo o empenho que era direcionado para a con-
tenção do contrabando, como a implantação de casas de fundição,
isolamento de minas, proibição de utilização de caminhos não ofi-

37
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
ciais, revistas rigorosas, e aplicação de castigos penosos aos que cio , o não surgimento de novas técnicas capazes de reinventar tal
fossem pegos praticando; o contrabando se fazia presente, primei- sistema, além da cobrança descabida de impostos, taxas e contri-
ro devido à insatisfação do povo em relação a grande parte do seu buições, que desanimavam o mais motivado minerador.
trabalho, que era destinada ao governo, e, em segundo, em razão
da incapacidade de controle efetivo de uma região enorme. Dessa A Decadência da Mineração
forma se todo ouro objeto de contrabando, que seguiu por cami- A diminuição da produtividade das minas é a característica
nhos obscuros, florestas e portos, tivesse sido alvo de mensuração marcante do início da decadência do sistema, como citado ante-
a produção desse metal em Goiás seria bem mais expressiva. riormente, esse fenômeno passa a ocorrer já nos primeiros anos
Os dados oficiais disponíveis sobre a produção aurífera na épo- após a descoberta, porém não é possível afirmar que nessa época
ca são inconsistentes por não serem resultado de trabalho estatís- seja consequência do esgotamento do minério, devido a outros fa-
tico, o que contribui para uma certa disparidade de dados obtidos tores econômicos e administrativos, como a escassez de mão-de-o-
em obras distintas, mesmo assim retratam uma produção tímida bra e a vinculação à capitania de São Paulo
ao ser comparado a Minas Gerais. A produção do ouro em Goiás de Para efeito de análise pode-se convencionar o ano de 1753, o
1730 a 1734 atingiu 1.000 kg, o pico de produção se dá de 1750 a de maior produção, como o divisor de águas que dá início à efetiva
1754, sendo um total de 5.880 kg. Há vários relatos de que o ano de derrocada da produção que se efetivará no século seguinte
maior produção foi o de 1.753, já de 1785 a 1789, a produção fica O fato é que com a exaustão das minas superficiais e o fim dos
em apenas 1.000 kg, decaindo nos anos seguintes. novos descobertos, fatores dinâmicos da manutenção do processo
A produção do ouro foi “subindo constantemente desde o expansionista da mineração aurífera, a economia entra em estag-
descobrimento até 1753, ano mais elevado com uma produção de nação, o declínio da população ocasionado pelo fim da imigração
3.060 kg. Depois decaiu lentamente até 1778 (produção: 1.090), reflete claramente a desaceleração de vários setores como o co-
a partir desta data a decadência cada vez é mais acentuada (425 mércio responsável pela manutenção da oferta de gêneros oriun-
kg em 1800) até quase desaparecer” (20 kg. Em 1822). (PALACÍN, dos das importações. A agropecuária que, embora sempre orienta-
1975, p. 21). Foram utilizadas duas formas de recolhimento de tri- da para a subsistência, fornecia alguns elementos e o próprio setor
butos sobre a produção: o Quinto e a Capitação. E essas formas público sofria com a queda da arrecadação.
se alternaram à medida que a efetividade de sua arrecadação foi “A falta de experiência, a ambição do governo, e, em parte,
reduzindo. O fato gerador da cobrança do quinto ocorria no mo- o desconhecimento do País, mal organizado e quase despovoado,
mento em que o ouro era entregue na casa de fundição, para ser deram lugar a muitas leis inadequadas, que provocavam a ruína rá-
fundido, onde era retirada a quinta parte do montante entregue e pida desse notável ramo de atividade, importante fonte de renda
direcionada ao soberano sem nenhum ônus para o mesmo. A ta- para o Estado. De nenhuma dessas leis numerosas que tem apareci-
bela 2 mostra os rendimentos do Quinto do ouro. Observa-se que do até hoje se pode dizer propriamente que tivesse por finalidade a
como citado anteriormente o ano de 1753 foi o de maior arrecada- proteção da indústria do ouro. Ao contrário, todas elas apenas visa-
ção e pode-se ver também que a produção de Minas Gerais foi bem vam o aumento a todo custo da produção, com o estabelecimento
superior a Goiana. de medidas que assegurassem a parte devida à Coroa”. (PALACÍN,
A capitação era cobrada percapita de acordo com o quantitati- 1994, p.120).
vo de escravos, nesse caso se estabelecia uma produtividade média É certo que a grande ambição do soberano em muito preju-
por escravo e cobrava-se o tributo. “Para os escravos e trabalhado- dicou a empresa mineradora e o contrabando agiu como medida
res livres na mineração, fez-se uma tabela baseada na produtivida- mitigadora desse apetite voraz, porém com a decadência nem mes-
de média de uma oitava e meia de ouro por semana, arbitrando-se mo aos comerciantes, que foram os grandes beneficiados economi-
em 4 oitavas e ¾ o tributo devido anualmente por trabalhador, camente, restaram recursos para prosseguir. O restabelecimento
compreendendo a oitava 3.600 gramas de ouro, no valor de 1$200 da atividade extrativa exigia a criação de novas técnicas e novos
ou 1$500 conforme a época”. (SALLES, 1992, p.142) Além do quin- processos algo que não se desenvolveu nas décadas em que houve
to e da capitação havia outros dispêndios como pagamento do im- prosperidade, não poderia ser desenvolvido de imediato.
posto das entradas, os dízimos sobre os produtos agropecuários, À medida que o ouro de superfície, de fácil extração, vai se
passagens nos portos, e subornos de agentes públicos; tudo isso escasseando ocorre a necessidade de elevação do quantitativo do
tornava a atividade lícita muito onerosa e o contrabando bastante elemento motriz minerador, o escravo, desse modo:
atraente, tais cobranças eram realizadas por particulares que obti- “As lavras operavam a custos cada vez mais elevados, ainda
nham mediante pagamento antecipado à coroa Portuguesa o direi- mais pelo fato de parte da escravaria estar voltada também para
to de receber as rendas, os poderes de aplicar sanções e o risco de atividades complementares. O adiantamento de capital em escra-
um eventual prejuízo. A redução da produtividade foi um grande vos, a vida curta deles aliada à baixa produtividade nas minas fa-
problema para a manutenção da estabilidade das receitas prove- talmente conduziram empreendimentos à insolvência e falência”.
nientes das minas. “A diminuição da produtividade iniciou-se já nos (ESTEVAM, 2004, p. 34).
primeiros anos, mas começou a tornar-se um problema grave de- Após verificar o inevitável esgotamento do sistema econômico
pois de 1750; nos dez primeiros anos (1726-1735), um escravo po- baseado na extração do ouro a partir do segundo quartel do século
dia produzir até perto de 400 gramas de ouro por ano; nos 15 anos XVIII, o governo Português implanta algumas medidas visando re-
seguintes (1736-1750) já produzia menos de 300; a partir de 1750 erguer a economia no território, dentre elas o incentivo à agricul-
não chegava a 200, e mais tarde, em plena decadência, a produção tura e à manufatura, e a navegação dos rios Araguaia, Tocantins,
era semelhante à dos garimpeiros de hoje: pouco mais de 100 gra- e Paranaíba, que se fizeram indiferentes ao desenvolvimento do
mas”. (PALACÍN, 1975, p.21). sistema. Ocorre então a falência do sistema e o estabelecimento de
Essa baixa na produtividade era consequência do esgotamento uma economia de subsistência, com ruralização da população e o
do sistema que tinha como base a exploração de veios auríferos consequente empobrecimento cultural.
superficiais, a escassez de qualificação de mão de obra e equipa- “Mas, tão logo os veios auríferos escassearam, numa técni-
mentos apropriados, que pudessem proporcionar menor desperdí- ca rudimentar, dificultando novos descobertos, a pobreza, com a
mesma rapidez, substituiu a riqueza, Goiás, apesar de sua aparente

38
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
embora curta prosperidade, nunca passou realmente, de um pouso teira agrícola para a região central do país. Nas primeiras décadas
de aventureiros que abandonavam o lugar, logo que as minas co- do século em questão, o Estado permaneceu com baixíssima den-
meçavam a dar sinais de cansaço”. (PALACÍN, 1975, p.44). sidade demográfica, onde a maioria da população se encontrava
espalhada por áreas remotas do território, modificando-se apenas
A Decadência econômica de Goiás na segunda metade do mesmo século.
Essa conclusão pode ser atribuída ao século XIX devido ao des- O deslocamento da fronteira agrícola para as regiões centrais
mantelamento da economia decorrente do esgotamento do produ- do país foi resultado da própria dinâmica do desenvolvimento de
to chave e o consequente empobrecimento sócio cultural. Os últi- regiões como São Paulo, Minas Gerais e o Sul do País, que ao adap-
mos descobertos de relevância são as minas de Anicuns em 1809, tarem sua economia com os princípios capitalistas realizaram uma
que serviram para animar novamente os ânimos. Inicialmente a inversão de papéis, onde regiões que eram consumidoras de pro-
extração gerou ganhos muito elevados, porém após três anos já dutos de primeira necessidade passaram a produzir tais produtos e
apresentava uma produção bem inferior, além disso, os constantes as regiões centrais, antes produtoras desses produtos passaram a
atritos entre os “cotistas” levaram o empreendimento a falência. produzir os produtos industrializados que antes eram importados.
A característica básica do século em questão foi a transição da “Enquanto o Centro-Sul se efetivava como a periferia do capi-
economia extrativa mineral para a agropecuária, os esforços conti- talismo mundial, outras regiões faziam o papel de periferia do Cen-
nuados do império em estabelecer tal economia acabaram se es- tro-Sul, ou seja, a periferia da periferia, como já vinha acontecendo
barrando, nas restrições legais que foram impostas inicialmente, no Rio Grande do Sul e o Nordeste, por exemplo”. (FAYAD, 1999,
como forma de coibir tais atividades, a exemplo da taxação que p.23)
recaía sobre os agricultores, e também em outros fatores de ordem
econômica, como a inexistência de um sistema de escoamento Fonte:http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2014-01/amine-
adequado, o que inviabilizava as exportações pelo alto custo ge- racao-em-goias-e-o-desenvolvimento-do-estado.pdf
rado, e cultural, onde predominava o preconceito contra as ativi-
dades agropastoris, já que a profissão de minerador gerava status
social na época. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E URBANIZAÇÃO
Desse modo a agricultura permaneceu orientada basicamente DO TERRITÓRIO GOIANO
para a subsistência em conjunto com as trocas intra regionais, já a
pecuária se potencializou devido à capacidade do gado em se mo- A Ocupação Mineratória – Mineração
ver até o destino e a existência de grandes pastagens naturais em Enquanto o século XVII representou etapa de investigação das
certas localidades, favorecendo a pecuária extensiva. Nesse senti- possibilidades econômicas das regiões goianas, durante a qual o
do, os pecuaristas passam a atuar de forma efetiva na exportação seu território tornou-se conhecido, o século XVIII, em função da ex-
de gado fornecendo para a Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e pansão da marcha do ouro, foi ele devassado em todos os sentidos,
Pará. Segundo Bertran: estabelecendo -se a sua efetiva ocupação através da mineração. A
“A pecuária de exportação existia em Goiás como uma exten- primeira região ocupada em Goiás foi a região do Rio Vermelho.
são dos currais do Vale do São Francisco, mobilizando as regiões Entre 1727 e 1732 surgiram diversos arraiais, além de Santana (pos-
da Serra Geral do Nordeste Goiano, (de Arraias a Flores sobretu- teriormente Vila Boa de Goiás), em consequência das explorações
do), com 230 fazendas consagradas à criação. Mais para o interior, auríferas ou da localização na rota de Minas para Goiás. Em 1736
sobre as chapadas do Tocantins, na vasta extensão entre Traíras já havia nas minas de Goiás 10.236 escravos. Nas proximidades de
e Natividade contavam outras 250. Em todo o restante de Goiás, Santana surgiram os arraiais de Anta e Ouro Fino; mais para o Nor-
não havia senão outras 187 fazendas de criação”. (BERTRAN, 1988, te, Santa Rita, Guarinos e Água Quente. Na porção Sudeste, Nossa
p.43). Senhora do Rosário da Meia Ponte (atual Pirenópolis) e Santa Cruz.
A existência de uma pecuária incipiente favoreceu o desenvol- Outras povoações surgidas na primeira metade do século XVIII fo-
vimento de vários curtumes nos distritos. Conforme Bertran (1988) ram: Jaraguá, Corumbá e o Arraial dos Couros (atual Formosa), na
chegou a existir em Goiás 300 curtumes, no final do século XIX. Por rota de ligações de Santana e Pirenópolis a Minas Gerais.
outro lado, apesar do escasseamento das minas e a ruralização da Ao longo dos caminhos que demandavam a Bahia, mais ao
população, a mineração exercida de modo precário nunca deixou Norte, na bacia do Tocantins, localizaram-se diversos núcleos popu-
de existir, o que constituiu em mais um obstáculo para a implanta- lacionais, como São José do Tocantins (Niquelândia), Traíras, Cacho-
ção da agropecuária. Outra dificuldade foi a falta de mão de obra eira, Flores, São Félix, Arraias (TO), Natividade (TO), Chapada (TO) e
para a agropecuária, visto que grande parte da população se des- Muquém. Na década de 1740 a porção mais povoada de Goiás era
locou para outras localidades do país, onde poderiam ter outras o Sul, mas a expansão rumo ao norte prosseguia com a implantação
oportunidades. Isto tudo não permitiu o avanço da agricultura nem dos arraiais do Carmo (TO), Conceição (TO), São Domingos, São José
uma melhor expansão da pecuária, que poderia ter alcançado ní- do Duro (TO), Amaro Leite, Cavalcante, Vila de Palma (T O), hoje
veis mais elevados. Paranã, e Pilar de Goiás e Porto Real (TO), atual Porto Nacional, a
Do ponto de vista cultural ocorre uma “aculturação” da popu- povoação mais setentrional de Goiás.
lação remanescente ruralizada. Segundo Palacin:
“Os viajantes europeus do século XIX aludem a uma regressão O sistema de datas
sócio cultural, onde os brancos assimilaram os costumes dos sel- Era através do sistema de datas que se organizava a exploração
vagens, habitam choupanas, não usam o sal, não vestem roupas, do ouro, conforme o ordenamento jurídico da época. Assim que um
não circula moeda... Tão grande era a pobreza das populações que veio de ouro era descoberto em uma região mineradora, imediata-
se duvidou ter havido um período anterior com outras característi- mente, o Superintendente das Minas ordenava que a região fosse
cas”. (PALACÍN, 1975, p.46). medida e dividida em lotes para poder ter início o processo de mi-
Desse modo o Estado de Goiás chegou ao século XX como um neração. Cada lote tinha a medida de 30 x 30 braças (uma braça tem
território inexpressivo economicamente e sem representatividade 2,20m), ou seja, aproximadamente 66 x 66m. Estes lotes recebiam
política e cultural. Nesse século iria se concretizar a agropecuária a denominação de datas e, cada data, por sua vez, era equivalente
no Estado, como consequência do processo de expansão da fron- a uma lavra de mineração.

39
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
As datas se distribuíam da seguinte forma: tirada era sonegada para fugir dos pesados impostos e, portanto,
- O minerador responsável pelo achado escolhia a primeira não sabemos ao certo quanto ouro foi retirado de fato das terras
data para si. Um funcionário da Real Fazenda (o ministério respon- goianas.
sável pela mineração na época) escolhia a segunda data para o rei.
O responsável pelo achado tinha o direito de escolher mais uma. Declínio da Mineração
- O rei não tinha interesse em explorar diretamente a sua data A partir da segunda metade do século XVIII, Portugal começou
e ordenava que ela fosse leiloada entre os mineradores interessa- a entrar em fase de decadência progressiva, que coincidiu com o
dos em explorá-la. Quem pagasse mais ficaria com ela. O dinhei- decréscimo da produtividade e do volume médio da produção das
ro do leilão era enviado a Portugal, como renda pessoal do rei. As minas do Brasil. Então desde 1778, a produção bruta das minas de
demais datas eram distribuídas por sorteio aos mineradores que Goiás começou a declinar progressivamente, em consequência da
possuíssem um mínimo de doze escravos para poder explorá-las. escassez dos metais das minas conhecidas, da ausência de novas
Cada minerador tinha direito a uma data por vez. Repare que a ati- descobertas e do decréscimo progressivo do rendimento por escra-
vidade mineradora era extremamente intensiva em utilização de vo. O último grande achado mineratório em Goiás deu-se na cidade
mão-de-obra. Doze homens trabalhavam junto em um espaço de de Anicuns, em 1809, no sul da capitania.
apenas uma lavra.
A atividade agropecuária nas regiões mineradoras
O início da mobilidade social Assim que foram descobertas grandes jazidas de ouro no Bra-
Diferentemente da economia canavieira (cana-de-açúcar) que sil logo se organizou uma hierarquia da produção: os territórios de
tinha uma sociedade estamental (no estado em que você nasceu minas deveriam dedicar-se exclusivamente – ou quase exclusiva-
permanece), a sociedade mineradora não era estática. Havia a pos- mente – à produção de ouro, sem desviar esforços na produção de
sibilidade, mesmo que pequena, de mudança de classe social. Foi o outros bens, que poderiam ser importados. Isso era resquício da
início da mobilidade social no Brasil. mentalidade Mercantilista, em voga na época, que, durante muito
Existiam dois tipos de mineradores, o grande, era o minerador tempo, identificou a riqueza com a posse dos metais preciosos. Os
de lavra, e o pequeno, o de faiscamento. O minerador de lavra era alimentos e todas as outras coisas necessárias para a vida vinham
aquele, dono de pelo menos 12 escravos, que participava do sorteio das capitanias da costa. As minas eram assim, uma espécie de colô-
das datas e tinha o direito de explorar os veios de ouro em primeiro nia dentro da colônia, no dizer do historiador Luís Palacín. Isso nos
lugar. Quando uma lavra começava a demonstrar esgotamento e a explica o pouco desenvolvimento da lavoura e da pecuária em Goi-
produtividade caía geralmente ela era abando ada e, a partir deste ás, durante os cinquenta primeiros anos. Tal sistema não se devia
momento, o faiscador poderia ficar com o que sobrou dela. exclusivamente aos desejos e à política dos dirigentes; era também
O faiscador era o minerador com pequena quantidade de es- decorrente da mentalidade do povo.
cravos, insuficientes para participar dos sorteios, ou mesmo o tra-
balhador individual, que só tinha a sua bateia para tentar a sorte O Final da Mineração e Tentativa de navegação no Araguaia
nas lavras abandonadas. Alguns conseguiram ir juntando ouro su- e Tocantins
ficiente para adquirir mais escravos e, posteriormente, passaram a A partir de 1775, com a mineração em franco declínio, o Pri-
ser grandes mineradores. Alguns até fizeram fortuna. meiro Ministro de Portugal, Sebastião de Carvalho e Melo, Marquês
Existem registro de alguns proprietários de escravos que os de Pombal, toma diversas medidas para diversificar a economia no
deixavam faiscar nos seus poucos momentos de descanso e alguns Brasil, sendo que várias delas vão afetar diretamente a capitania
até conseguiram comprar a sua carta de alforria, documento que de Goiás. A primeira, como tentativa de estimular a produção, foi
garantia a liberdade ao escravo. Tropeiros que abasteciam as regi- isentar de impostos por um período de 10 anos os lavradores que
ões mineradoras também conseguiram enriquecer. Tome cuidado, fundassem estabelecimentos agrícolas às margens dos rios. Dentre
porém, com uma coisa. A mobilidade social era pequena, não foi os produtos beneficiados estavam o algodão, a cana-de-açúcar e o
suficiente para desenvolver uma classe média. gado. A segunda medida foi a criação, em 1775 da Companhia de
Classe social pressupõe uma grande quantidade de pessoas, Comércio do Grão Pará e Maranhão, para explorar a navegação e o
e o número daquelas que conseguiam ascender não era suficiente comércio nos rios amazônicos, incluindo os rios Araguaia e Tocan-
para isso. Só se pode falar em classe média no Brasil, a partir da tins. O Marquês de Pombal também ordenou a criação dos chama-
industrialização. dos aldeamentos indígenas. Todas essas medidas fracassaram.

Povoamento irregular Novas tentativas de reativação da Economia


O povoamento determinado pela mineração do ouro é um Na primeira metade dos éculos XIX, era desolador o estado da
povoamento muito irregular e mais instável; sem nenhum plane- capitania de Goiás. Co m a decadência a população não só diminuiu
jamento, sem nenhuma ordem. Onde aparece ouro, ali surge uma como se dispersou pelos sertões, os arraiais desapareciam ou se
povoação; quando o ouro se esgota, os mineiros mudam-se para arruinavam e a agropecuária estava circunscrita à produção de sub-
outro lugar e a povoação definha e desaparece, isso porque o ouro sistência. Como medidas salvadoras, o príncipe regente D. João VI,
encontrado em Goiás era o ouro de aluvião, em pequenas partí- assim que chegou ao Brasil, em 1808, passou a incentivar a agricul-
culas, que ficavam depositadas no leito de rios e córregos ou no tura, a pecuária, o comércio e a navegação dos rios. Várias medidas
sopé das montanhas, geralmente. Sua extração era rápida e logo as foram anunciadas, mas a maioria nunca saiu do papel:
jazidas se esgotavam forçando os mineiros a se mudarem em busca 1) Foi concedida a isenção de impostos pelo período de 10
de novas áreas para mineração. A produção de ouro em Goiás foi anos aos lavradores que, nas margens dos rios Tocantins, Araguaia
maior que a de Mato Grosso, porém muito menor que em Minas e Maranhão fundassem estabelecimentos agrícolas.
Gerais. O declínio da produção foi rápido. 2) Ênfase à catequese do índio para aculturá-lo e aproveitá-lo
O pico de foi em 1753, mas 50 a nos depois a produção já era como mão-de-obra na agricultura.
insignificante. Luís Palacín afirma que esses são os dados oficiais 3) Criação de presídios às margens dos rios, com os seguintes
disponíveis, porém, o volume de ouro extraído deve ter sido muito objetivos: proteger o comércio, auxiliar a navegação e aproveitar o
maior. De acordo com esse historiador, a maior parte do ouro re- trabalho dos nativos para o cultivo da terra. Presídios eram colônias

40
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
militares de povoamento, defesa e especialização agrícola. Em Goi- inicialmente uma fazenda de criação, e Anápolis, local de passagem
ás, os mais importantes foram Santa Maria (atual Araguacema-TO), de muitos fazendeiros de gado que iam em demanda à região das
Jurupense, Leopoldina (atual Aruanã-GO), São José dos Martírios. minas e que, impressionados com seus campos, aí se instalaram.
Na verdade, deram poucos resultados, por causa do isolamento e
da inaptidão dos soldados no cultivo da terra. A maioria desses pre- A pecuária
sídios desapareceu com o tempo. Está se desenvolve melhor no Sul devido ao povoamento oriun-
4) D. João VI, atendendo a uma antiga demanda de vários ca- do da pecuária, entretanto, apresentou numerosos problemas. Não
pitães-generais (governadores) de Goiás que reclamavam do ta- foi, por exemplo, um povoamento uniforme: caracterizou-se pela
manho gigantesco da área geográfica de Goiás, dividiu o território má distribuição e pela heterogeneidade do seu crescimento. Pros-
goiano em duas comarcas: a do sul, compreendendo o s julgados perou mais no Sul, que ficava mais perto do mercado consumidor
de Goiás (cabeça ou sede), de Meia Ponte, de Santa Cruz, de Santa do Sudeste e do litoral. Enquanto algumas áreas permaneceram es-
Luzia, de Pilar, de Crixás e de Desemboque; a do norte ou Comarca tacionárias – principalmente no Norte, outras decaíram (os antigos
de São João das Duas Barras, compreendendo os julgados de V ila centros mineradores), e outras ainda, localizadas principalmente na
de São João da Palma (cabeça ou sede), de Conceição, de Nativida- região Centro-Sul, surgiram e se desenvolveram, em decorrência
de, de Porto Imperial, de São Félix, de Cavalcante e de Traíras. Foi sobretudo do surto migratório de paulistas, mineiros e nordestinos.
nessa época que surgiram através da navegação: Araguacema, To- Durante o século XIX a população de Goiás aumentou continua-
cantinópolis, Pedro Afonso, Araguatins e Tocantínia e pela expansão mente, não só pelo crescimento vegetativo, como pelas migrações
da criação de gado, Lizarda. dos Estados vizinhos.
Os índios diminuíram quantitativamente e a contribuição es-
A divisão de Goiás em duas comarcas trangeira foi inexistente. A pecuária tornou-se o setor mais im-
Esta foi a semente que deu origem ao atual estado do Tocan- portante da economia. O incremento da pecuária trouxe como
tins, pois ficou determinado que a divisa das duas comarcas fosse consequência o crescimento da população. Correntes migratórias
mais ou menos à altura do paralelo 13º., atual fronteira entre os chegavam em Goiás oriundas do Pará, do Maranhão, da Bahia e de
dois estados. Outro fato importante foi a nomeação de Joaquim Te- Minas, povoando os inóspitos sertões Povoações surgidas no pe-
otônio Segurado como Ouvidor da Co marca do Norte, que acabou ríodo: no Sul de Goiás: arraial do Bonfim (Silvânia), à margem do
liderando o primeiro movimento separatista. O avanço da Pecuária rio Vermelho, fundado por mineradores que haviam abandonado
Com a decadência da mineração a pecuária tornou -se uma opção as minas de Santa Luzia, em fase de esgotamento. Campo Alegre,
natural, por vários motivos: originada de um pouso de tropeiros; primitivamente, chamou-
1) O isolamento provocado pela falta de estradas e da precária -se Arraial do Calaça. Ipameri, fundada por criadores e lavradores
navegação impediam o desenvolvimento de uma agricultura co- procedentes de Minas Gerais. Santo Antônio do Morro do Chapéu
mercial. (Monte Alegre de Goiás), na zona Centro-Oriental, na rota do sertão
2) O gado não necessita de estradas, auto locomove-se por tri- baiano. Posse, surgida no início do século XIX, em consequência da
lhas e campos até o local de comercialização e/ou abate. fixação de criadores de gado de origem nordestina.
3) Existência de pastagem natural abundante. Especialmente
nos chamados cerrados de campo limpo. O movimento separatista do norte de Goiás (1821-1823)
4) O investimento era pequeno e o rebanho se se multiplica Em 1821, houve a primeira tentativa oficial de criação do que
naturalmente. hoje é o estado do Tocantins. O movimento iniciou-se na cidade de
5) Não necessita de uso de mão-de-obra intensiva, como na Cavalcante. O mais proeminente líder do movimento separatista foi
mineração. Aliás, dispensa mão-de-obra escrava. o ouvidor Joaquim Teotônio Segurado, que já manifestara preocu-
6) Não era preciso pagar salário aos vaqueiros, que eram ho- pação com o desenvolvimento do norte goiano antes mesmo de se
mens livres e que trabalhavam por produtividade. Recebiam um instalar na região. Teotônio Segurado, entre 1804 e 1809, fora ou-
percentual dos bezerros que nasciam nas fazendas (regime de vidor de toda a Capitania de Goiás e, quando em 1809, o território
sorte). Um novo tipo de povoamento se estabeleceu a partir do fi- goiano foi dividido em duas comarcas, por D. João VI, ele tornou-se
nal do século XVIII, sobretudo no Sul da capitania, onde campos ouvidor da comarca do norte. Teotônio declarou a Comarca do Nor-
de pastagens naturais se transformaram em centros de criatório. te (o que corresponde ao atual estado do Tocantins) independente
A necessidade de tomar dos silvícolas (índios) áreas sob seu domí- da comarca do sul (atual estado de Goiás). É importante destacar
nio, que estrangulavam a marcha do povoamento rumo às porções que Teotônio Segurado não era propriamente um defensor da
setentrionais (norte), propiciou também a expansão da ocupação causa da independência brasileira, diferenciando-se, portanto, do
neste período. “grupo de radicais”, liderados pelo Padre Luíz Bartolomeu Marques,
A ocupação de Goiás, quando no Sul e no Norte de Goiás, no originário de Vila Boa. O ouvidor defendia a manutenção do vínculo
início do século XIX, a mineração era de pequena monta, fazendo com as Cortes de Lisboa, sendo inclusive, eleito representante goia-
surgir um novo surto econômico e de povoamento representado no para aquela assembleia, cuja função seria elaborar uma Consti-
pela pecuária, estabelecida através de duas grandes vias de pe- tuição comum para todos os territórios ligados à Coroa Portuguesa.
netração: a do Nordeste, representada por criadores e rebanhos
nordestinos, que pelo São Francisco se espalharam pelo Oeste da Estrada de ferro dinamiza povoamento de Goiás
Bahia, penetrando nas zonas adjacentes de Goiás. O Arraial dos A construção da Estrada de Ferro foi o primeiro dinamismo na
Couros (Formosa) foi o grande centro dessa via. urbanização de Goiás. Em 1896 a Estrada de Ferro Mogiana chegou
A de São Paulo e Minas Gerais, que através dos antigos cami- até Araguari (MG). Em 1909, os trilhos da Paulista atingiram Bar-
nhos da mineração, penetrou no território goiano, estabilizando- retos (SP). Em 1913 Goiás foi ligado à Minas Gerais pela E.F. Goiás
-se no Sudoeste da capitania. Assim, extensas áreas do território e pela Rede Mineira de Viação. Inaugurava -se uma nova etapa na
goiano foram ocupadas em função da pecuária, dela derivando a ocupação do Estado.
expansão do povoamento e o surgimento de cidades como Itaberaí, O expressivo papel das ferrovias na intensificação do povoa-
mento goiano ligou-se a duas ordens principais de fato res: de um
lado, facilitou o acesso dos produtos goianos aos mercados do li-

41
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
toral; de outro, possibilitou a ocupação de vastas áreas da região Apesar da suposta “vocação natural” do estado para agricul-
meridional de Goiás, correspondendo à efetiva ocupação agrícola tura, o papel interventor do setor público, tanto federal, como es-
de parte do território goiano. tadual, foi vital para o processo de modernização da agricultura e
Entre 1888 e 1930, o adensamento e a expansão do povoa- desenvolvimento do setor agroindustrial. Os trabalhos de Estevam
mento nas porções meridionais de Goiás ( Sudeste, Sul e Sudoes- (2004), Pires e Ramos (2009), e Castro e Fonseca (1995) mostram
te) evidenciaram- se através da formação de diversos povoados, com detalhes como o setor público foi essencial para a estruturação
como: Santana das Antas (Anápolis), Rio Verde das Abóboras (Rio dessas atividades no território goiano. As culturas priorizadas fo-
Verde), São Sebastião do Alemão (Palmeiras), Nazário, Catingueiro ram, principalmente, a soja, o milho e, mais recentemente, a cana-
Grande (Itauçu), Inhumas, Cerrado (Nerópolis), Ribeirão (Guapó), -de-açúcar. Essas culturas foram selecionadas devido ao seu maior
Santo Antônio das Grimpas (Hidrolândia), Pindaibinha (Leopoldo de potencial exportador e maior encadeamento com a indústria.
Bulhões), Vianópolis, Gameleira (Cristianópolis), Urutaí, Goiandira, Em meio a essas transformações, em 1988, o norte do estado
Ouvidor, Cumari, Nova Aurora, Boa Vista de Marzagão (Marzagão), foi desmembrado, dando origem ao estado do Tocantins.
Cachoeira Alta, São Sebastião das Bananeiras (Goiatuba), Serania A partir da década de 1990 houve maior diversificação do setor
(Mairipotaba), Água Fria (Caçu), Cachoeira da Fumaça (Cachoeira industrial por meio do crescimento de
de Goiás), Santa Rita de Goiás, Bom Jardim (Bom Jardim de Goiás) atividades do setor de fabricação de produtos químicos, farma-
e Baliza. cêuticos, veículos automotores e produção de etanol. Um fator res-
Dez novos municípios surgiram então: Planaltina, Orizona, Bela ponsável pela atração desse capital foram os programas de incen-
Vista, Corumbaíba, Itumbiara, Mineiros, Anicuns, Trindade, Cristali- tivos fiscais estaduais implementados a partir da década de 1980.
na, Pires do Rio, Caldas Novas e Buriti Alegre. O dinamismo econômico provocado por todos esses processos
ocasionou também a redistribuição da população no território, por
Economia meio de um intenso êxodo rural. As novas formas de produção ado-
Chegada da Ferrovia Goiás tadas, intensivas em capital foram as principais responsáveis pela
1913 – Goiandira, Ipameri e Catalão mudança da população do campo para a cidade. As cidades que re-
1924 – Vianópolis 1930 – Silvânia ceberam a maior parte desses migrantes do campo foram a capital,
1931 – Leopoldo de Bulhões Goiânia, as cidades da região do Entorno de Brasília - como Luziânia
1935 – Anápolis - Aumento da atividade agrícola (arroz, milho e e Formosa -, e as cidades próximas às regiões que desenvolveram o
feijão) - Charqueadas (Catalão, Ipameri e Pires do Rio) agronegócio como Rio Verde, Jataí, Cristalina e Catalão.
Movimentos de Contestação ao coronelismo Goiás tornou-se também um local de alto fluxo migratório nas
- 1919 – Revolta em São José do Duro (Cel. Abílio Wolney) últimas décadas, tornando-se recentemente um dos estados com
- 1925 – Benedita Cypriana Gomes (Santa Dica) maior fluxo migratório líquido do país. As principais razões para
- 1924-27 - Coluna Prestes (Tenentismo) esse alto fluxo migratório são a localização estratégica, que inter-
liga praticamente todo o país por eixos rodoviários, o dinamismo
Imigração Árabes: sírios e libaneses (dispersaram pelo estado econômico e também a proximidade com a capital federal - Brasília.
de Goiás – Goiânia, Anápolis, Catalão, dentre outras cidades) Os indicadores que medem as condições de vida da popula-
Alemães (Colônia de Uvá – Cidade de Goiás) ção apresentaram desempenho positivo nas últimas duas décadas.
Italianos (Nova Veneza) Houve queda expressiva do número de pobres e extremamente
pobres. Os indicadores de esperança de vida, mortalidade infantil,
As Colônias Agrícolas saúde, educação apresentaram melhorias significativas. Dentre os
A par do estímulo à fundação de Goiânia, centro dinamizador indicadores analisados, o único que não tem evolução desejável é o
da região, o Governo Federal prosseguiu a sua política de interiori- de acesso à rede de esgoto sanitário.
zação através da fundação de várias colônias agrícolas espalhadas A estratégia de desenvolvimento adotada pelo estado de Goiás
pelas áreas mais frágeis do País. Em Goiás, esta política foi concreti- ao longo das últimas décadas foi baseada, fundamentalmente, no
zada na criação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás e na ação da estímulo à atração de empreendimentos industriais, concentrando-
Fundação Brasil Central. Estes empreendimentos deram um novo -se esforços, basicamente, na dotação de infraestrutura física re-
impulso na expansão rumo ao Oeste. A cidade de Ceres e Carmo querida pelas plantas industriais e na oferta de reduções tributárias
do Rio por meio dos incentivos fiscais. Essa estratégia parece ter propicia-
do a alavancagem do crescimento econômico de Goiás com melho-
A modernização ria de alguns indicadores sociais. Contudo, o desafio ainda é pro-
A partir de 1940, Goiás cresce rapidamente: a construção de porcionar um desenvolvimento mais homogêneo do território bem
Goiânia, o desbravamento do mato grosso goiano, a campanha na- como da sua distribuição funcional da renda. Exemplo disso é que o
cional “marcha para o oeste”, que culmina na década de 50 com a PIB de Goiás permanece concentrado em apenas dez municípios do
construção de Brasília, imprimem um ritmo acelerado ao progresso estado, todos localizados na Metade Sul do território.
de Goiás. A partir da década de 1960, o estado passa a apresentar
um processo dinâmico de desenvolvimento. Nos anos mais recen-
tes, Goiás passa a ser um grande exportador de commodities agro-
pecuárias, destacando-se pelo rápido processo de industrialização.
Hoje, está bastante inserido no comércio nacional, aprofundando
e diversificando, a cada dia, suas relações com os grandes centros
comerciais.
O processo de modernização agrícola na década de 1970 e o
posterior desenvolvimento do setor agroindustrial na década de
1980 representaram uma nova página para o desenvolvimento do
estado de Goiás. A expansão desses setores ampliou as exportações
e os elos da cadeia industrial goiana.

42
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Ademais, grandes obras de infraestrutura que estão em anda-
mento no estado como a Ferrovia Norte-Sul, o aeroporto de cargas POPULAÇÃO GOIANA: POVOAMENTO, MOVIMENTOS
de Anápolis e duplicação de rodovias, tanto estaduais como fede- MIGRATÓRIOS E DENSIDADE DEMOGRÁFICA
rais, devem dar novo fôlego para o seu desenvolvimento.
Início do povoamento
O início do povoamento em 1726, D. Rodrigo César de Mene-
zes, governador da Capitania de São Vicente, manda o Anhanguera
Filho de volta a Goiás, com o título de Superintendente das Minas,
para iniciar o povoamento, quando foi fundado o Arraial de Santa-
na. Logo depois surgiriam novas povoações no entorno como Anta,
Ferreiro e Ouro Fino.
Em 1739, o Arraial de Santana foi elevado à condição de Vila.
Vila Boa de Goiás. A partir de mo mento em que um arraial atingia o
status d e vila, passava a ter autonomia e o direito a uma espécie de
prefeito, o Intendente, um Senado da Câmara, formado por verea-
dores, escolhidos entre o s “homens bons” da vila. Ser um “homem
bom” era sinônimo de ser rico, católico e branco. A vila também
tinha direito a ter um juiz e a um pelourinho, local onde se adminis-
trava a justiça. O pelourinho tinha, necessariamente, uma cadeia,
uma forca, para executar as penas de morte, muito comuns à época
e um tronco, onde os escravos eram castigados. Goiás permaneceu
ligado à Capitania de São Vicente até 1749, embora, por alvará de
08 de novembro de 1744, de D. Luís de Mascarenhas, governador
da capitania de São Vicente tivesse sido oficializada a separação de
Goiás e de Mato Grosso daquela capitania. Porém, o primeiro go-
vernador de Goiás, D. Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, só
chegou a Goiás em 1749 e, portanto, somente aí Goiás passou a ser,
de fato, uma Capitania independente.

Uma Tendência da Urbanização no Brasil Migrações externas


Goiás, nas últimas décadas do século passado e primeiros anos O Brasil foi um país de imigrantes. Primeiramente foi ocupa-
deste século, passou a acompanhar a tendência de crescimento po- do pelos portugueses, que, por sua vez, trouxeram para a colônia
pulacional e econômico das médias cidades, sendo hoje um Estado os africanos escravizados (imigração forçada). Entre 1850 e 1934,
que atrai imigrantes. Assim, depois de uma urbanização explosiva, ocorreu a maior entrada de imigrantes no país, os quais vieram es-
que concentrou população nas grandes metrópoles – principalmen- pontaneamente da Europa, no auge da agricultura cafeeira no Bra-
te do Sudeste – ao longo dos anos 70 e 80, o Brasil está passando sil. Os principais grupos que entraram no Brasil, em toda a história
por mudanças na distribuição de sua população. A marca desta dé- da imigração espontânea, foram os portugueses, os italianos, os
cada é interiorização do crescimento e a formação de novas aglo- espanhóis, os alemães e os japoneses. Nesse período, o governo
merações urbanas. Essas são algumas das principais conclusões do paulista chegou a estimular o processo imigratório, inclusive com
mais aprofundado estudo sobre o tema realizado no país nos últi- ajuda financeira (subvenção).
mos anos e que está em fase de conclusão, sendo realizado pelo Além dos imigrantes constituírem mão de obra para a lavoura
IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com apoio do IBGE cafeeira, após a proibição do tráfico de escravizados em 1850 (lei
e da Unicamp, além de outras instituições, como o Seade (Serviço Eusébio de Queirós), vários grupos, principalmente alemães e italia-
Estadual de Análise de Dados de São Paulo). nos, foram utilizados para a colonização da atual Região Sul do país.
Com a abolição da escravatura (1888), o número de imigrantes mul-
Problemas da Urbanização Desenfreada em Goiás tiplicou-se e se manteve elevado até as primeiras décadas do século
Na área do entorno do Distrito Federal temos a problemática XX. A partir de 1934, foi estabelecida a Lei de Cotas, que restringia a
da definição de administração nos municípios que a compõem.A entrada de estrangeiros, com exceção dos portugueses. O declínio
população destes municípios trabalha no Distrito Federal, mas mo- da economia cafeeira, decorrente da crise mundial de 1929, afetou
ram em Goiás, o que gera uma grave falta de infraestrutura nestes o crescimento econômico do Brasil. A nova lei foi justificada como
municípios. uma forma de evitar que o índice de desemprego aumentasse ain-
Goiânia e seus municípios conurbados – Conurbação é o nome da mais, provocando instabilidade social. A lei de Cotas estabelecia
que se dá para o crescimento de duas ou mais cidades vizinhas, que que apenas 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade, que
acabam por formar um único aglomerado urbano. Em geral, numa haviam entrado nos cinquenta anos anteriores à promulgação da
conurbação existe uma cidade principal e uma (ou mais de uma) lei, podiam fixar residência no país. Embora numa proporção bem
cidade-satélite. Goiânia é a maior Metrópole Regional do Centro menor, o Brasil continuou recebendo imigrantes. A partir da década
Oeste do Brasil.Metrópoles regionais são grandes cidades, porém de 1940, a imigração para o país esteve muito ligada à conjuntura
menores e menos equipadas que as metrópoles nacionais. da Segunda Guerra Mundial. Os principais grupos de imigrantes à
época foram judeus, poloneses, japoneses e chineses, além de ita-
lianos, alemães e pessoas de outros países europeus.

43
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Nova onda migratória: outros contextos – O avanço da urbanização: nas últimas décadas, a urbaniza-
Na década de 1970, o Brasil recebeu muitos imigrantes de An- ção avançou pelo Brasil, o que proporcionou a melhoria na infraes-
gola e Moçambique. Tendo perdido privilégios com a descoloniza- trutura de transportes, de telecomunicações e de energia elétrica,
ção desses países, vieram para o Brasil diversos descendentes de favorecendo a geração de empregos em locais até então menos de-
portugueses que lá viviam. A partir do final do século XX, sobretudo senvolvidos. Como a principal motivação para a migração é a busca
nos anos 1990, o país passou a receber maior quantidade de imi- por melhores condições de vida e de trabalho, à medida que ocorre
grantes peruanos, bolivianos, paraguaios, argentinos, coreanos e uma distribuição mais equilibrada das ofertas de trabalho, a busca
chineses. Muitos desses imigrantes estão em situação ilegal. Com por outros lugares para morar tende a cair.
vistos vencidos e vivendo na clandestinidade, não podem trabalhar
com carteira assinada, adquirir casa própria ou montar seu próprio Os novos fluxos migratórios
negócio. Entre 1995 e 2000, 3,4 milhões de pessoas trocaram a região
Na cidade de São Paulo e em outras cidades do interior paulis- onde nasceram por outra. Já entre 2005 e 2010, esse número bai-
ta, por exemplo, parte desses imigrantes trabalha em confecções xou para 3 milhões. Assim, a migração entre regiões perde força
que funcionam ilegalmente. Nelas, submetem-se a regimes de frente a outros fluxos, como:
semiescravidão, com jornada diária de até 17 horas e rendimen- – Migração intrarregional: ocorre entre municípios de um
to inferior ao do salário mínimo estabelecido no país. Apesar dos mesmo estado ou ainda entre estados de uma mesma região, so-
abusos sofridos, esses imigrantes evitam denunciar a situação para bretudo em direção a cidades de médio porte. Esse processo é im-
as autoridades brasileiras por terem entrado clandestinamente no pulsionado, muitas vezes, por Indústrias que migram para cidades
país, o que resultaria na deportação para seu país de origem. Em menores. A migração entre os estados movimentou 4,6 milhões de
meados de 2009, o governo federal aprovou uma lei anistiando to- pessoas entre 2005 e 2010.
dos os imigrantes que entraram irregularmente no Brasil até 1o de – Migração pendular: neste caso, trata-se de um arranjo popu-
fevereiro de 2009. Desse modo, aproximadamente 50 mil estran- lacional entre dois ou mais municípios onde há grande integração
geiros ilegais passaram a contar com a possibilidade de regularizar demográfica. A migração pendular ocorre quando as pessoas estu-
sua permanência e obter vínculos empregatícios de acordo com a dam ou trabalham em um município diferente de onde mora, sendo
legislação trabalhista vigente ou ainda denunciar eventuais abusos obrigado a se deslocar diariamente para cumprir essas obrigações.
cometidos por aliciadores e empregadores, sem correr o risco de – Migração de retorno: é o deslocamento de pessoas para sua
ser deportado. região de origem, após ter migrado. É o que ocorreu na região Nor-
deste a partir dos anos 1980, com a melhora da economia local. Na
Movimentos atuais Região Metropolitana de São Paulo, 60% dos que deixaram a região
Atualmente, as atividades econômicas tornaram-se mais diver- entre 2000 e 2010, eram migrantes de retorno.
sificadas em todas as regiões. Além disso, a “guerra fiscal” travada
entre os estados, que lançam mão de isenções de impostos para Demografia
atrair empresas, leva a uma relativa desconcentração industrial. A verdadeira evolução de Goiás e de sua história tem como
Esse processo tem alterado a dinâmica do fluxo populacional, ca- ponto de partida o final do século XVII, com a descoberta das suas
racterizado pelo crescimento das cidades médias em um ritmo su- primeiras minas de ouro, e início do século XVIII. Esta época, inicia-
perior ao das metrópoles, particularmente do Sudeste. O Censo de da com a chegada dos bandeirantes, vindos de São Paulo em 1727,
2010 apontou uma redução no volume total de migrantes, que caiu foi marcada pela colonização de algumas regiões.
de 3,3 milhões de pessoas no quinquênio 1995-2000 para 2 milhões Goiás pertenceu até 1749 à capitania de São Paulo. A partir
no quinquênio 2004-2009. O Sudeste apresentou saldo líquido mi- desta data tornou-se capitania independente. Ao se evidenciar a
gratório negativo, apesar de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Ja- decadência do ouro, várias medidas administrativas foram tomadas
neiro apresentarem saldo positivo. Outras regiões passaram a atrair por parte do governo, sem alcançar, no entanto, resultados satisfa-
população, e muitos migrantes residentes no Sudeste retornaram à tórios.
sua região de origem. A economia do ouro, sinônimo de lucro fácil, não encontrou,
O Centro-Oeste, em razão do crescimento das cidades médias de imediato, um produto que a substituísse em nível de vantagem
e do desenvolvimento agropecuário e do setor de serviços, havia econômica. A decadência do ouro afetou a sociedade goiana, so-
apresentado o mais expressivo saldo migratório líquido positivo. bretudo na forma de ruralização e regressão a uma economia de
subsistência.
Os fatores que influenciam as mudanças nos fluxos migrató- É a partir de 1940, que Goiás cresce rapidamente: a construção
rios de Goiânia, o desbravamento do mato grosso goiano, a campanha
Entre os principais fatores que explicam a mudança nos fluxos nacional “marcha para o oeste”, que culmina na década de 50 com a
migratórios internos estão: construção de Brasília, imprimem um ritmo acelerado ao progresso
– O desenvolvimento econômico em outras regiões: a partir de Goiás. A partir da década de 1960, o estado passa a apresentar
dos anos 1960, começou a ocupação maciça das regiões Centro-O- um processo dinâmico de desenvolvimento. Nos anos mais recen-
este e Norte. A primeira teve como fator de atração a inauguração tes, Goiás passa a ser um grande exportador de commodities agro-
de Brasília e, posteriormente, o avanço do agronegócio. Já a região pecuárias, destacando-se pelo rápido processo de industrialização.
Norte passou a atrair migrantes a partir da abertura de estradas Hoje, está bastante inserido no comércio nacional, aprofundando
como a Belém-Brasília e da criação da Zona Franca de Manaus. e diversificando, a cada dia, suas relações com os grandes centros
– A desconcentração industrial: a partir dos anos 1990, as po- comerciais.
líticas de isenção de impostos e doação de terrenos feitas por esta- Goiás tornou-se também um local de alto fluxo migratório nas
dos e municípios acabaram atraindo as empresas para diferentes últimas décadas, tornando-se recentemente um dos estados com
regiões. Consequentemente, a ampliação da oferta de emprego maior fluxo migratório líquido do país. As principais razões para
nesses locais impulsionou o recebimento de migrantes. esse alto fluxo migratório são a localização estratégica, que inter-
liga praticamente todo o país por eixos rodoviários, o dinamismo
econômico e também a proximidade com a capital federal - Brasília.

44
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
A estrutura demográfica do Estado de Goiás passou por intensa transformação nas últimas décadas. Talvez a mais expressiva tenha
sido o deslocamento da população da zona rural para os espaços urbanos. De um Estado eminentemente agrário, a realidade começa a se
alterar na segunda metade do século XX e se intensifica na década de 1970. Atualmente, Goiás conta com mais de 90% de sua população
vivendo em cidades. Esse fenômeno é resultado direto da mudança na base econômica e de produção pela qual nosso território passou. A
expansão do parque industrial, notadamente o da agroindústria, e o fortalecimento do setor de serviços impulsionaram a economia goiana
atraindo leva de imigrantes de outras Unidades da Federação e desencadeando o êxodo rural.

Goiás está no ranking dos Estados brasileiros por residentes não naturais do próprio Estado, Goiás é o sétimo, em termo relativo, e o
quarto, em número absoluto. Não há como negar, portanto, o poder de atração do território goiano cada vez mais dotado de infraestrutu-
ras e equipamentos que agregam vantagens para o dinamismo da economia e para a melhoria da qualidade de vida de sua população, seja
nativo ou imigrante. Derivado das alterações na composição populacional e atrelada às questões culturais, a estrutura etária dos goianos
sofre forte modificação. Se em 1970 as crianças perfaziam mais de 45% da população total, em 2010 essa participação cai para 24%. Nas
projeções para 2020 e 2030 segue a tendência de queda do percentual das crianças e o aumento dos idosos. Persistindo nessa direção,
não tardará para que o número de pessoas com mais de 64 anos supere o total de crianças em Goiás.

Com a diminuição da fecundidade - em Goiás a média de filhos por mulher em idade fértil caiu de 4,46 em 1970, para 1,86 em 2010,
cifra esta inferior à taxa de reposição (2,1) necessária a manter a população em números estáveis – e a consequente redução da carga
de dependência exercida pelas crianças, somada ao gradativo aumento da população em idade ativa, criam-se condições para o melhor
aproveitamento dos recursos gerados pela parcela produtiva da população. Para tanto, é necessário dimensionar a duração do bônus de-
mográfico, já com a certeza de que a janela de oportunidades começará a se fechar a partir da década de 2030.

45
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Nota-se o quão a razão de dependência – peso da população inativa sobre a ativa – decresceu depois da década de 1970. Percebe-se
que atingirá o menor índice nos anos de 2020, de modo que esse período será o auge das oportunidades do bônus demográfico, e por isso,
é necessário preparar as condições para aproveitá-las. A partir da década de 2030 a razão de dependência crescerá devido ao aumento do
contingente de idosos, exigindo ações para atender às demandas de grupo.

As mudanças na estrutura etária da população goiana exigirão políticas e ações condizentes com a realidade. Para tanto é preciso
saber aproveitar o bônus demográfico, absorvendo a grande mão de obra presente no período, possibilita a geração de mais recursos e
a melhor distribuição de renda na sociedade. Além disso, é necessário se adequar às novas demandas sociais: a redução de crianças e
jovens e a consequente diminuição na exigência de matrículas, especialmente no ensino fundamental, por exemplo, possibilita direcionar
o investimento para a qualidade do ensino e para a qualificação do jovem ingressante no mercado de trabalho, garantindo a ocupação em
áreas que exigem maior especialidade e rendimento. É o momento, portanto, de aumentar a frequência dos jovens no ensino médio e da
expansão dos cursos profissionalizantes, visando subsidiar as perspectivas de instalação de mais empreendimentos produtivos em Goiás.
A ascensão na renda domiciliar per capita, pode-se embasar na dinâmica econômica do Estado que tem se mantido em expansão o
que gera impacto positivo na geração de emprego e renda dos trabalhadores, assim contribuindo sobre a renda domiciliar per capita. Não
se pode deixar de mencionar ainda, os programas federal e estadual de transferência de renda que impactaram positivamente a renda das
famílias mais pobres. É digno de destaque, nesse contexto, o aumento do salário mínimo no decorrer desta década. Tendo este cenário
contribuído para a redução nos números referente à pobreza.
Destacam-se ainda em âmbito estadual as ações tomadas pelo Governo como forma de combater a situação de pobreza, sendo uma
delas o Programa Renda Cidadã que repassa mensalmente benefício para 58 mil famílias em todo o Estado, além de programas como o
Bolsa Futuro, que age na área da profissionalização juvenil, a qual pode-se identificar como uma tentativa de reduzir a vulnerabilidade
social entre os jovens.

A própria formação histórica econômica e geográfica de Goiás aponta os motivos pelo qual a parte norte do Estado tenha uma situa-
ção de vulnerabilidade maior que o Sul, portanto sugere-se um acompanhamento acurado dessa parte do Estado. No quesito vulnerabili-
dade ressalta-se ainda a região do Entorno do Distrito Federal, por esta composição atípica de um ente federado contido em uma região
do Estado do Goiás, portanto há a necessidade de ações em cooperação entres os entes para a redução da extrema pobreza na região.

46
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Estado de Goiás - Proporção de indivíduos extremamente pobres por município e região de planejamento - 2010

Desafios
- É necessário se adequar às novas demandas sociais: a redução de crianças e jovens e a consequente diminuição na exigência de
matrículas, especialmente no ensino fundamental, por exemplo, possibilita direcionar o investimento para a qualidade do ensino e para a
qualificação do jovem ingressante no mercado de trabalho, garantindo a ocupação em áreas que exigem maior especialidade e rendimen-
to. É o momento, portanto, de aumentar a frequência dos jovens no ensino médio e da expansão dos cursos profissionalizantes, visando
subsidiar as perspectivas de instalação de mais empreendimentos produtivos em Goiás.
- Há que se atentar, nesse contexto, para o aumento da participação da população idosa. Esse grupo, como se viu, ultrapassará o con-
tingente das crianças já depois da década de 2030, exigindo atenções específicas e carecendo de ações públicas voltadas, principalmente,
para a saúde, assistência social e lazer. As políticas devem ser gestadas desde já, aproveitando o momento propício em que o peso dos
inativos é bem suportado pela população ativa.
- Fortalecimento das políticas de redução da desigualdade;
- Uma maior integração entre os sistemas de políticas sociais (Federal e Estadual), como por exemplo, o cruzamento de informações
entre os dados do Bolsa Família (Federal) e do Renda Cidadã (Estadual);
- Aumentar o enfoque das políticas sociais nas regiões mais vulneráveis (principalmente região Norte do Estado).
- Segurar os jovens na escola para que completem pelo menos o Ensino Médio.
- Melhorar a qualidade do ensino para que o jovem saia da escola apto a ingressar no mercado formal de trabalho.
- Geração de emprego para atender os jovens aptos a entrarem no mercado de trabalho.
- Capacitação dos jovens goianos para o mercado de trabalho.
- Tirar os jovens da situação de vulnerabilidade
- Diminuir ao máximo para que chegue próximo de zero a taxa de incidência de gravidez precoce.
- Diminuir a proporção de analfabetismo entre crianças para perto de zero
- Diminuir de maneira efetiva o número de crianças fora da escola
- Alcançar a situação ideal de nenhuma criança inserida no mercado de trabalho.

47
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Educação
A área da educação em Goiás avançou consideravelmente nos últimos anos. O estado praticamente universalizou a participação das
crianças no ensino fundamental. Houve consideráveis melhorias nas taxas de rendimento escolar. Derivando disso, Goiás obteve excelen-
tes resultados nas divulgações recentes das notas do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – tanto no ensino fundamental
quanto no ensino médio.
A taxa de analfabetismo das pessoas com 15 anos ou mais em Goiás está situada abaixo da média nacional. Contudo, no analfabetismo
por faixa etária, observa-se o efeito estoque, ou seja, analfabetos de mais longa data. Neste quesito, há necessidade de atenção com os
analfabetos em idades mais avançadas.

Quanto ao ensino superior, o privado merece ser ressaltado já que, nos últimos15 anos, houve uma expansão expressiva. Aliou-se a
isso, no período mais recente, a ampliação da educação superior pública considerando, principalmente: a criação da Universidade Estadual
de Goiás (UEG) em 1999, a criação e novos cursos e vagas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e a criação de Institutos Federais de
Educação (IFE’s).
Ressalta-se que esse processo expansionista, aqui entendido como a ampliação de vagas, cursos e instituições superiores, começa a
partir de meados dos anos de 1990 e foi acompanhado de sua interiorização, fator de consolidação e desenvolvimento de algumas cidades.
Contudo, apesar da expansão do ensino superior, apenas 10% da população possui nível superior, sendo 12% de homens e 8% mulheres
(Pnad Contínua).

IDEB – Anos iniciais do ensino fundamental (Rede pública) [2017] - 5,9


IDEB – Anos finais do ensino fundamental (Rede pública) [2017] - 5,1
Matrículas no ensino fundamental [2018] - 877.593 matrículas
Matrículas no ensino médio [2018] - 233.412 matrículas
Docentes no ensino fundamental [2018] - 42.203 docentes
Docentes no ensino médio [2018] - 15.992 docentes
Número de estabelecimentos de ensino fundamental [2018] - 3.415 escolas
Número de estabelecimentos de ensino médio [2018] - 976 escolas
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) [2010] - 0,735
Fonte: IBGE

Desafios:
- Um dos fatores que podem contribuir para o bom desempenho do ensino-aprendizagem é formação do docente, seja a qualidade
da formação ou mesmo a atuação na disciplina na qual é formado.
- Observa-se o déficit de docentes atuando de acordo com sua formação. Apenas 40% dos professores do ensino fundamental da rede
estadual de Goiás são formados na disciplina em que ministram aula; no ensino médio esse percentual sobe para 43%. No extremo tem-se
a Região Metropolitana de Goiânia com a melhor condição (53% no ensino fundamental e 56% no ensino médio) e a Região Nordeste
Goiano (26% e 29%, respectivamente).
- Percebe-se a inadequação de professores formados por disciplina. Em melhores situações estão as disciplinas de português e biolo-
gia, na ponta oposta encontram-se as de química e de física. Com isso, sabem-se quais profissionais se priorizar e onde se deve concentrar
esforços para a mudança dessa realidade.
- Outra questão necessária para o salto na área da educação diz respeito às pessoas em idade escolar que estão inseridas na educação
formal. Nesta seara, merece destaque a universalidade do ensino fundamental: das crianças entre 6 e 14 anos de Goiás, apenas 2% não
estão matriculadas numa rede de ensino. Por outro lado, daqueles entre 15 e 18 anos, idade em que se estaria no ensino médio, 24,4%
não frequentam a escola. Em situação mais grave, tem-se os de idade pré-escolar (até 5 anos) em que 67% não estão no sistema educa-
cional e os de 19 a 24 anos, faixa etária em que se estaria cursando o ensino superior, mais de 69% não frequentam qualquer modalidade
de ensino.

ECONOMIA GOIANA: INDUSTRIALIZAÇÃO E INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÃO

Prezado candidato, o tema supracitado foi abordado em tópicos anteriores.

48
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA

AS REGIÕES GOIANAS E AS DESIGUALDADES REGIONAIS

O estado de Goiás foi dividido em dez regiões para fins de planejamento estratégico governamental:
- A região do Entorno do Distrito Federal
- A região metropolitana de Goiânia
- As regiões Norte Goiano e Nordeste Goiano, delimitadas a partir de características socioeconômicas e espaciais.
As outras seis regiões foram definidas a partir dos principais eixos rodoviários do estado.
O objetivo deste projeto de regionalização foi planejar e gerir investimentos governamentais com o intuito de minimizar os desequi-
líbrios regionais goianos.

De acordo com Salgado, Arrais e Lima (2010, p. 130), a desigualdade regional do território goiano foi provocada pelo modelo de inte-
gração regional à economia nacional. Os grandes projetos nacionais, como a Marcha para o Oeste, amplos projetos expansão rodoviária, a
construção de Goiânia e Brasília, entre outros investimentos em infraestrutura e de modernização agrícola, “atingiram o território goiano
de forma diferenciada e, em pouco tempo, mudaram o perfil de sua economia”.
Na década de 1990, Goiás apresentava importantes desigualdades regionais. Os espaços metropolitanos, compreendidos pela Região
Metropolitana de Goiânia e a região do Entorno do Distrito Federal, apresentavam alta densidade demográfica em relação ao estado,
concentrando a maior parte da população goiana (SALGADO; ARRAIS; LIMA, 2010).

Saúde e Saneamento
Estudos realizados no Brasil mostram que os serviços de atenção primária em saúde podem resolver até 85% das necessidades da po-
pulação, desde que estejam bem estruturados, com profissionais qualificados, infraestrutura adequada, com fluxos definidos e organiza-
dos entre os diferentes níveis de atenção. Através da Estratégia da Saúde da Família busca-se atender essa necessidade. Por essa estratégia
65,3% da população goiana são cobertos.

49
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
A ampliação da Estratégia Saúde da Família (ESF), programa com foco na atenção básica à saúde, tem contribuído também para o
avanço na área. No período de 2000 a 2014, Goiás tem apresentado uma cobertura de equipes da saúde da família superior à do Brasil e
da região Centro-Oeste. O Estado estendeu essa cobertura estimada de equipes da saúde da família de 25,24% da população em 2010 para
66,91% no final do período analisado.

Desafios:
- Fortalecer e ampliar os serviços de saúde pública para que fiquem mais próximos dos usuários, com foco na qualidade, humanização
e excelência da promoção, prevenção, atenção e recuperação das pessoas.
- Ampliar a estratégia de saúde da família e qualificação dos seus profissionais, em todo o Estado, especialmente nos municípios com
cobertura menor que 50%.
- Prover de profissionais médicos os municípios, onde se fizer necessário, mas com condições de trabalho, incluindo equipe, infraes-
trutura e equipamentos médico-hospitalares básicos.
- Garantir que todos os municípios tenham laboratórios de análises clínicas para fazerem exames complementares básicos essenciais.

A importância do saneamento básico está ligada à implantação de sistemas e modelos públicos que promovam o abastecimento de
água, esgoto sanitário e destinação correta de lixo, com o objetivo de prevenção e controle de doenças, promoção de hábitos higiênicos e
saudáveis, melhorias da limpeza pública básica e, consequentemente, da qualidade de vida da população.
Na última década houve aumento considerável no que diz respeito ao abastecimento de água, praticamente universalizada na área
urbana. Observa-se também melhorias que ocorreram no esgotamento sanitário e coleta de lixo adequados. Apesar do crescimento na
prestação desses serviços, o estado de Goiás está abaixo dos níveis do Centro Oeste e do Brasil. O esgotamento sanitário urbano é ainda
muito precário, sendo que pouco mais da metade da população possui o benefício.
No que se refere à coleta de lixo, este serviço tem maior cobertura, sendo que 99,5% da área urbana goiana possuem coleta adequada,
pouco acima do Brasil, 98% e Centro Oeste, 98,8%.

50
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Desafios:
- O investimento em saneamento resulta em benefícios muito elevados para a população. Assim, ter um saneamento básico adequado
contribui para redução de mortes por doenças infecciosas e parasitais além de aumentar a expectativa de vida da população ao nascer.
- Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) gastar em saneamento básico implica em redução no gasto com a saúde pública na
proporção de um para quatro, ou seja, a cada 1 real investido em saneamento obtém-se redução de 4 reais em saúde.
- O principal desafio de Goiás com relação ao Saneamento é aumentar os baixos índices de esgotamento sanitário de maneira urgente.
É importante também que ocorram melhoras no abastecimento de água e coleta de lixo, principalmente no interior.
- Ampliar os investimentos em saneamento básico a fim de reduzir custos socialmente incalculáveis, como redução da mortalidade
infantil bem como por consequências de mosquitos, como é o caso da dengue a fim de reduzir os gastos públicos em saúde.

Habitação
Segundo estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Brasil como um todo houve redução no indicador do déficit
habitacional no período recente. Em 2015, no Centro-Oeste havia um déficit habitacional total de 506.822 mil domicílios, o que representa
8,2% do déficit brasileiro. Entre os estados da região, Goiás tem o maior déficit, pouco mais de 40%.
Em Goiás, com foco no déficit habitacional, o programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida já entregou 219.315 unidades
habitacionais.

Mercado de Trabalho
O fortalecimento do setor industrial e sua maior integração ao setor agropecuário, aliado ao bom momento das políticas macroeconô-
micas que ampliaram o mercado consumidor interno brasileiro, onde Goiás se consolidou como fornecedor de produtos para atender esse
mercado, são fatores que propiciaram ao estado ser um dos principais geradores de empregos formais entre as unidades da Federação. A
partir dos anos 2000, o mercado de trabalho mostrou-se bastante dinâmico e, normalmente, com desempenho acima da média nacional.
Embora o mercado de trabalho goiano tenha tido grandes avanços, muito há de ser feito no que diz respeito à capacitação da mão
de obra, principalmente entre os jovens. O percentual de trabalhadores formais com nível superior em Goiás é um dos mais baixos do
país (20%),menos da metade dos trabalhadores possui nível médio (45%) e 9,5% dos trabalhadores possuem apenas o nível fundamental
completo.

51
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Segurança Pública
Mesmo com a elevação dos gastos em segurança pública os crimes violentos ainda apresentam índices elevados em Goiás. A sensação
de insegurança crescente está diretamente associada ao fenômeno da violência, que tem nos homicídios uma de suas expressões mais
cruéis. Apesar desse indicador ter diminuído, ainda se encontra acima da maioria dos estados.

O gasto total ampliou-se, em valores reais, de R$ 879,2 milhões em 2003 para R$ 2,18 bilhões em 2014, o que representa crescimen-
to médio de 7,9% ao ano dessa despesa. Em termos per capita, o crescimento foi de R$ 165,7 em 2003 para R$ 335,2 em 2014, ou seja,
crescimento médio de 6% ao ano.

52
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Desafios: quanto à hidrografia. Graças ao seu histórico geológico constituído
- Consolidação de uma visão mais integrada dos problemas as- durante milhões de anos, foram depositadas várias rochas sedi-
sociados à segurança pública; mentares, entre elas o arenito de alta porosidade e alta permea-
- Revisão do modelo de policiamento em prol de maior aproxi- bilidade, que permitiram a formação de grandes cursos d’água e o
mação entre a polícia e a sociedade; depósito de parte de grandes aquíferos, como o Bambuí, o Urucuia
- Investimento em ações estratégicas e de inteligência com e o Guarani, este último um dos maiores do mundo, com área total
base em informações qualificadas; de até 1,4 milhão de km².
- Integração de ações de prevenção da violência e combate de
suas causas com ações de repressão e ordenamento social nas áre- Centro das águas
as com maior ocorrência de crimes; Nascem, em Goiás, rios formadores das três mais importan-
- Melhorar a efetividade dos órgãos e programas existentes das tes bacias hidrográficas do país. Todos os cursos d’água no senti-
distintas polícias. do Sul-Norte, por exemplo, são coletados pela Bacia Amazônica,
dos quais destacam-se os rios Maranhão, Almas e Paraná que dão
origem ao Rio Tocantins, mais importante afluente econômico do
ASPECTOS FÍSICOS DO TERRITÓRIO GOIANO: Rio Amazonas. No mesmo sentido, corre o Rio Araguaia, de impor-
VEGETAÇÃO, HIDROGRAFIA, CLIMA E RELEVO tância ímpar na vida do goiano e que divide Goiás com os Estados
de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando em Tocantins ao
Aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidrografia, encontro do outro curso que leva o nome daquele Estado, no Bico
clima e relevo; do Papagaio.
A Bacia do Rio São Francisco tem entre seus representantes os
CLIMA rios Entre ribeiro, Paracatu e Preto, os quais nascem próximos ao
O clima goiano é predominantemente tropical, com a divisão Distrito Federal e seguem em direção ao Nordeste do país.
marcante de duas estações bem definidas durante o ano: verão Enquanto que, por outro lado, corre o rio Corumbá, afluente
úmido, nos meses de dezembro a março, e inverno seco, predo- do Paranaíba, formador da Bacia do Paraná que segue rumo ao Sul,
minante no período de junho a agosto. De acordo com o Sistema pontilhado dentro de Goiás por hidrelétricas, o que denota seu po-
de Meteorologia e Hidrologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia tencial energético para o Estado.
(Simehgo/Sectec), a temperatura média varia entre 18ºC e 26ºC,
com amplitude térmica significativa, variando segundo o regime Serra da Mesa
dominante no Planalto Central. Em Goiás também está localizado o lago artificial da Usina de
Serra da Mesa, no Noroeste do Estado. Considerado o quinto maior
Estações lago do Brasil (1.784 km² de área inundada), é o primeiro em volu-
No mês de setembro, com o início da primavera, as chuvas pas- me de água (54,4 bilhões de m³) e, formado pelos rios Tocantins,
sam a ser mais intensas e frequentes, marcando o período de tran- Traíras e Maranhão, atrai importantes atrativos turísticos para a
sição entre as duas estações protagonistas. As pancadas de chuva, região, com a realização de torneios esportivos e de pesca, além da
no final da tarde ou noite, ocorrem em decorrência do aumento geração de energia elétrica.
do calor e da umidade que se intensificam e que podem ocasionar
raios, ventos fortes e queda de granizo. RELEVO
No verão, coincidente a alta temporada de férias no Brasil, há Goiás está situado sobre o Planalto Central Brasileiro e abriga
a ocorrência de dias mais longos e mudanças rápidas nas condições em suas terras um mosaico de formações rochosas distintas quanto
diárias do tempo, com chuvas de curta duração e forte intensidade, à idade e à composição. Resultado de um processo de milhões de
acompanhadas de trovoadas e rajadas de vento. Há ainda o registro anos da evolução de seus substratos, o solo goiano foi favorecido
de veranicos com períodos de estiagem com duração de 7 a 15 dias. com a distribuição de regiões planas, o que favoreceu a ocupação
Há registros do índice pluviométrico oscilando entre 1.200 e 2.500 do território, além da acumulação de metais básicos e de ouro,
mm entre os meses de setembro a abril. bem como gemas (esmeraldas, ametistas e diamantes, entre ou-
No outono, assim como na primavera, há o registro de transi- tros) e metais diversos, que contribuíram para a exploração mineral
ção entre estações o que representa mudanças rápidas nas condi- propulsora da colonização e do desenvolvimento dos núcleos urba-
ções de tempo com redução do período chuvoso. As temperaturas nos na primeira metade do século XVIII.
tornam-se mais amenas devido à entrada de massas de ar frio, com O processo de formação do relevo e de decomposição de ro-
temperaturas mínimas variando entre 12ºC e 18ºC e máximas de chas explica, ainda, a formação de solos de fertilidade natural baixa
18ºC e 28ºC. A umidade relativa do ar é alta com valores alcançan- e média (latossolos) predominantes na maior parte do Estado, e
do até 98% de solos podzólicos vermelho-amarelo, terra roxa estruturada, bru-
Já o inverno traz o clima tipicamente seco do Cerrado, com nizém avermelhado e latossolo roxo, que apresentam alta fertili-
baixos teores de umidade, chegando a valores extremos e níveis dade e se concentram nas regiões Sul e Sudoeste do Estado, além
de alerta em algumas partes do Estado. Há o registro da entrada do Mato Grosso Goiano. A distribuição de ligeiras ondulações e o
de algumas massas de ar frio que, dependendo da sua trajetória e relevo esculpido entre rochas salientaram ainda a caracterização
intensidade, provocam quedas acentuadas de temperatura, espe- do curso de rios, formadores de aquíferos importantes das bacias
cialmente à noite, apesar dos dias serem quentes, propícios à alta hidrográficas sul-americanas e que fazem do Estado um dos mais
temporada de férias no Rio Araguaia. abundantes em recursos hídricos. Associados a esses processos, a
vegetação rala do Cerrado também contribui para o processo de
HIDROGRAFIA erosão e da formação de grutas, cavernas e cachoeiras, que asso-
Engana-se quem pensa que as características de vegetação de ciadas às chapadas e poucas serras presentes no Estado, configu-
savana, típicas do Cerrado, são reflexos de escassez de água na re- ram opções de lazer e turismo da região.
gião. Pelo contrário, Goiás é rico em recursos hídricos, sendo con-
siderado um dos mais peculiares e abundantes Estados brasileiros

53
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Potencial Mineral do Estado de Goiás Formação Serra Geral: aqui o Cerrado dá lugar à mata ciliar, de
• Água mineral terra fértil, que foi transformada no decorrer do tempo em roças de
• Água termal subsistência. Ocorrem em geral nos valos dos rios e foram substituí-
• Areia e Cascalho das por culturas de banana ou café, além das invernadas destinadas
• Argila Ametista Amianto à engorda de bois;
• Basalto Berilo Calcário Formação Botucatu: o Cerrado propriamente dito é encon-
• Agrícola Calcário trado neste tipo de formação, rico em frutos e animais silvestres.
• Dolomítico Cobre, Apresenta baixa fertilidade e boa parte de sua área foi subjugada
• Ouro e Prata por criadores de gado. É encontrada às margens do Rio Verde, en-
• Diamante industrial tre Mineiros e Serranópolis, e do Rio Paraíso, em Jataí;
• Esmeralda Formação de Irati: vegetação de solos acidentados, é em geral
• Filito bem fértil, cedendo lugar a matas de peroba-rosa de onde se retira
• Fosfato calcário para correção de solos. Pode ser encontrada em Montivi-
• Gnaisse diu, Perolândia e Portelândia;
• Granito Formação Aquidauana: Cerrado ralo de árvores altas, solos ra-
• Granodiorito sos e arenosos. Era encontrada na Serra do Caiapó e adjacências
• Granulito antes de ser transformado em pastagens;
• Manganês Formação Ponta Grossa: de solos inconstantes, apresenta Cer-
• Mecaxisto rado diversificado. É encontrado em Caiapônia, Doverlândia e con-
• Níquel e Cobalto fluências;
• Quartzito Formação Furnas: Cerrado intercalado com matas de aroeira.
• Titânio De solo acidentado, é arenoso e de média fertilidade
• Vermiculita
• Xisto Berço das águas
No setor de geração de energia, sete em cada dez litros das
VEGETAÇÃO águas que passam pelas turbinas da usina de Tucuruí (PA) vêm do
É praticamente impossível visitar Goiás e não ouvir falar nele. Cerrado, bem como metade da água que alimenta Itaipu (PR). No
Considerado o segundo maior bioma brasileiro, atrás apenas da caso da hidrelétrica de Sobradinho (BA), o montante é de quase
Floresta Amazônica, o Cerrado tem grande representatividade no 100%. De forma geral, nove em cada dez brasileiros consomem ele-
território goiano. Apesar do elevado nível de desmatamento regis- tricidade produzida com águas do bioma.
trado no Estado desde a criação de Brasília e a abertura de estradas,
na década de 1960, e da expansão da fronteira agrícola, décadas de Fauna
1970 e 1980, Goiás conseguiu manter reservas da mata nativa em A mesma forma que a vegetação varia na vastidão das paisa-
algumas regiões, até hoje alvo de discussões entre fazendeiros e gens do Cerrado, a fauna local também impressiona pela diversi-
ambientalistas. No entanto, o velho argumento utilizado para sua dade de animais que podem ser encontrados dentro do bioma. Se-
derrubada de que os troncos retorcidos e pequenos arbustos são gundo relatório da Conservação Internacional, o Cerrado apresenta
sinais de pobreza da biodiversidade finalmente caiu por terra. uma particularidade quanto à sua distribuição espacial que permite
Na totalidade, incluindo as zonas de transição com outros bio- o desenvolvimento e a localização de diferentes espécies. Enquan-
mas, o Cerrado abrange 2.036.448 km², o equivalente a 23,92% do to a estratificação vertical da Amazônia ou a Mata Atlântica propor-
território brasileiro, ou à soma das áreas de Espanha, França, Ale- ciona oportunidades diversas para o estabelecimento das espécies,
manha, Itália e Reino Unido (Fonte: WWF Brasil). E se considerada em uma mesma árvore, por exemplo, no Cerrado a heterogeneida-
sua diversidade de ecossistemas, é notório o título de formação de espacial no sentido horizontal seria fator determinante para a
com savanas mais rica em vida a nível mundial, uma vez que sua ocorrência de um variado número de exemplares, de acordo com
área protege 5% de todas as espécies do planeta e três em cada dez a ocorrência de áreas de campo, floresta ou brejo, em um mesmo
espécies brasileiras, muitas delas só encontradas aqui. macro ambiente.
De acordo com o Ibama, no Cerrado brasileiro podem ser en-
Variedade de paisagens em um só bioma contradas cerca de 837 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos,
Tipicamente, o Cerrado é conhecido por apresentar árvores de os quais abrangem 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espé-
pequeno porte – até 20 metros –, esparsas em meio a arbustos e cies de anfíbios (45 só encontrados aqui); e 120 espécies de répteis,
distribuídas sobre uma vegetação baixa, constituída em geral por dos quais 45 também endêmicas. Além disso, o Cerrado abriga 90
gramíneas. No entanto, dependendo da formação geológica e do mil espécies de insetos, sendo 13% das borboletas, 35% das abe-
solo no qual o Cerrado finca suas raízes profundas, suas caracte- lhas e 23% dos cupins dos trópicos.
rísticas podem variar bastante apresentando vasta diversidade de Dentre tantos, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a ema
paisagens. São elas: (Rhea americana) aparecem como animais símbolo do bioma. No
Formação do Terciário ou Cachoeirinha: local onde ocorriam entanto, são famosos também o tamanduá-bandeira (Myrmeco-
os campos limpos, formados por gramíneas, chamados também de phaga tridactyla), o tatu-canastra (Priodontes giganteusso), a serie-
chapadão. Localizava-se na região de Jataí, Mineiros e Chapadão do ma (Cariama cristata), o pica-pau-do-campo (Colaptes campestres),
Céu e sua vegetação original, hoje, encontra-se totalmente substi- o teiu (Tupinambis sp), entre outros.
tuída por campos de soja;
Grupo Bauru: de solo arenoso de média fertilidade, é onde
aparece o chapadão. De solo relativamente plano, também foi
transformado em lavoura, em geral de cana ou pastagens, e cor-
responde às áreas que vão de Jataí e do canal de São Simão até o
Aporé;

54
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Flora Tradição Uma
A vegetação típica do Cerrado possui troncos retorcidos, de É a tradição ceramista mais antiga do Estado. Habitavam abri-
baixo porte, com cascas espessas e folhas grossas. Em geral, as raí- gos e grutas naturais, cultivavam milho, cabaça, amendoim, abóbo-
zes de suas árvores são pivotantes, ligadas ao lençol freático o que ra e algodão e desenvolveram a tecnologia da produção de vasilha-
pode propiciar seu desenvolvimento para até 15 metros de profun- mes cerâmicos.
didade.
É comum, assim, ouvir dizer que o Cerrado é uma floresta in- Tradição Aratu
vertida. Isso deve a essa característica subterrânea de boa parte do São os primeiros aldeões conhecidos. Habitavam grandes agru-
corpo das plantas, explicada pela adaptação das espécies às quei- pamentos, em disposição circular ou elíptica ao redor de um espaço
madas naturais verificadas no inverno seco de Goiás. Além disso, vazio, situados em ambientes abertos, geralmente matas, próximos
seus ramos exteriores apresentam um ciclo de dormência, no qual a águas perenes. Cultivavam milho, feijão, algodão e tubérculos.
as folhas se desprendem e também resguardam a planta do fogo Produziam vasilhames cerâmicos de diferentes tamanhos e, a partir
para depois renascerem, com chuva ou não. da manipulação da argila, confeccionavam rodelas de fusos, utiliza-
Em geral a florescência é registrada nos meses de maio a julho, dos na fiação do algodão, dentre outros artefatos.
com o aparecimento de frutos ou vagens até agosto
Tradição Uru
Diversidade A população da Tradição Uru chegou um pouco mais tarde no
Em todo o Cerrado já foram registradas em torno de 11,6 mil ti- território goiano. Os sítios arqueológicos datados do século XII es-
pos de plantas, com mais de cinco mil espécies endêmicas da área. tão localizados no vale do Rio Araguaia e seus afluentes.
Destacam-se no Estado a presença do pequi (Caryocar brasiliense),
do jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa), do buriti (Mauritia Tradição Tupi-Guarani
flexuosa), do cajueiro-do-campo (Anacardium humile) e da canela- É a mais recente das populações com aldeias, datada de 600
-de-ema (Vellozia flavicans). Também aparecem no rol das espécies anos atrás. Habitavam aldeias dispersas na bacia do Alto Araguaia
características do bioma a cagaita (Eugenia dysenterica), a manga- e na bacia do Tocantins. Conviviam, às vezes, na mesma aldeia com
ba (Hancornia speciosa), o ipê-amarelo (Tabebuia ochracea) e do outros grupos horticultores, de outras tradições.
baruzeiro (Dipteryx alata), entre várias outras
Fonte: http://www.goias.gov.br/ Colonização
Após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, durante os
séculos XVI e XVII, o território goiano começou a receber diversas
ASPECTOS DA HISTÓRIA POLÍTICA DE GOIÁS: A expedições exploratórias. Vindas de São Paulo, as Bandeiras tinham
INDEPENDÊNCIA EM GOIÁS, O CORONELISMO NA como objetivo a captura de índios para o uso como mão de obra es-
REPÚBLICA VELHA, AS OLIGARQUIAS, A REVOLUÇÃO crava na agricultura e minas. Outras expedições saíam do Pará, nas
DE 1930 E A ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA DE 1930 ATÉ chamadas Descidas com vistas à catequese e ao aldeamento dos
OS DIAS ATUAIS índios da região. Ambas passavam pelo território, mas não criavam
vilas permanentes, nem mantinham uma população em número
A ocupação do território de Goiás teve início há milhares de estável na região.
anos com registros arqueológicos mais antigos datados de 11 mil A ocupação, propriamente dita, só se tornou mais efetiva com
anos atrás. A região de Serranópolis, Caiapônia e Bacia do Paranã a descoberta de ouro nessas regiões. Na época, havia sido acha-
reúne a maior parte dos sítios arqueológicos distribuídos no Estado, do ouro em Minas Gerais, próximo a atual cidade de Ouro Preto
abrigados em rochosos de arenito e quatzito e em grutas de maci- (1698), e em Mato Grosso, próximo a Cuiabá (1718). Como havia
ços calcários. Também há indícios da ocupação pré-histórica nos uma crença, vinda do período renascentista, que o ouro era mais
municípios de Uruaçu, em um abrigo de micaxisto, e Niquelândia, abundante quanto mais próximo ao Equador e no sentido leste-o-
cujo grande sítio superficial descoberto por pesquisadores da Uni- este, a busca de ouro no “território dos Goyazes”, passou a ser foco
versidade Federal de Goiás (UFG) guarda abundante material lítico de expedições pela região.
do homem Paranaíba
O homem Paranaíba, por sinal, é o primeiro representante Bandeiras
humano conhecido na área, cujo grupo caçador-coletor possuía O território goiano recebeu bandeiras diversas, sendo que a
presença constante de artefatos plano-convexos, denominados de Francisco Bueno foi a primeira a achar ouro na região (1682),
“lesmas”, com poucas quantidades de pontas de projéteis líticas. mas em pequena quantidade. Essa expedição explorou até as mar-
Outro grupo caçador-coletor é o da Fase Serranópolis que influen- gens do Rio Araguaia e junto com Francisco Bueno veio seu filho,
ciado por mudanças climáticas passou a se alimentar de moluscos Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido por Anhanguera (Diabo ve-
terrestres e dulcícolas e uma quantidade maior de frutos, além da lho). Segundo se registra, Bartolomeu Bueno da Silva teria se inte-
caça e da pesca. ressado sobre o ouro que adornava algumas índias de uma tribo,
mas não obteve êxito em obter informações sobre a procedência
Grupos Ceramistas desse ouro. Para conseguir a localização, resolveu então ameaçar
As populações ceramistas passam a ocupar o território de Goi- por fogo nas fontes e rios da região, utilizando aguardente para
ás a cerca de dois mil anos, quando supostamente o clima e a ve- convencer aos índios de que poderia realmente executar o feito – o
getação eram semelhantes aos atuais. São classificados em quatro que lhe conferiu o apelido.
tradições: Una, Aratu, Uru e Tupi-Guarani. Seu filho, também chamado de Bartolomeu Bueno da Silva, 40
anos depois, também tentou retornar aos locais onde seu pai havia
passado, indo em busca do mito da “Serra dos Martírios”, um lugar
fantástico onde grandes cristais aflorariam, tendo formas seme-
lhantes a coroas, lanças e cravos, referentes à “Paixão de Cristo”.
Chegou, então, as regiões próximas ao rio Vermelho, onde achou

55
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
ouro (1722) em maior quantidade do que noutros achados e aca- Durante a república, com a criação do município de Araguaia
bou fixando na região a Vila de Sant’Anna (1727), chamada depois (1913) por parte do Mato Grosso e de Mineiros por parte de Goiás,
Vila Boa de Goyaz. o conflito se intensificou. A questão ficou em suspenso até 1975,
Após retornar para São Paulo para apresentar os achados, foi quando uma nova demarcação foi efetuada. Por fim, em 2001, o
nomeado capitão-mor das “minas das terras do povo Goiá”. Entre- STF definitivamente demarcou a nascente A do Rio Araguaia como
tanto, seu poder foi sendo diminuído à medida que a administração ponto de partida das linhas demarcatórias entre os estados.
régia se organizava na região. Em 1733, perdeu direitos obtidos jun-
to ao rei, sob a alegação de sonegação de rendas, vindo a falecer Império
em 1740, pobre e praticamente sem poder. A partir de 1780, com o esgotamento das jazidas auríferas, a
Nessa época, as principais regiões ocupadas no período aurí- Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização e regressão
fero foram o Centro-Sul (próximo ao caminho para São Paulo), o a uma economia de subsistência, gerando graves problemas finan-
Alto Tocantins e Norte da capitania, até próximo a cidade de Porto ceiros, pela ausência de um produto básico rentável
Nacional (hoje Estado do Tocantins). Grandes áreas como o Sul, o Para tentar reverter esta situação, o governo português pas-
Sudoeste, o Vale do Araguaia e as terras ao Norte de Porto Nacional sou a incentivar e promover a agricultura em Goiás, sem grandes
só foram ocupadas mais intensamente no século XIX e XX, com a resultados, já que havia temor dos agricultores ao pagamento de
ampliação da pecuária e da agricultura. dízimos; desprezo dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco ren-
O ouro goiano era principalmente de aluvião (retirado na su- tável; a ausência de um mercado consumidor; e dificuldade de ex-
perfície dos rios, pela peneiragem do cascalho), e se tornou escasso portação, pela ausência de um sistema viário.
depois de 1770. Com o enfraquecimento da extração, a região pas- Com a Independência do Brasil, em 1822, a Capitania de Goiás
sou a viver principalmente da pequena agricultura de subsistência foi elevada à categoria de província. Porém, essa mudança não alte-
e de alguma pecuária. rou a realidade socioeconômica de Goiás, que continuava vivendo
um quadro de pobreza e isolamento. As pequenas mudanças que
As primeiras divisões do Estado ocorreram foram apenas de ordem política e administrativa
Durante o período colonial e imperial, as divisas entre provín- A expansão da pecuária em Goiás, nas três primeiras décadas
cias eram difíceis de serem definidas com exatidão, muitas vezes do século XIX, que alcançou relativo êxito, trouxe como consequ-
sendo definidas de forma a serem coincidentes com os limites das ência o aumento da população. A Província de Goiás recebeu cor-
paróquias ou através de deliberações políticas vindas do poder cen- rentes migratórias oriundas, principalmente, dos Estados do Pará,
tral. No entanto, no decorrer do processo de consolidação do Esta- Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Novas cidades surgiram: no su-
do de Goiás, o território sofreu diversas divisões, com três perdas doeste goiano, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia (Rio Bonito),
significativas no período colonial Quirinópolis (Capelinha), entre outras. No norte (hoje Estado do To-
cantins), além do surgimento de novas cidades, as que já existiam,
Separação da Capitania de São Paulo como Imperatriz, Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina
Durante parte do período colonial o território que hoje é o e Arraias, ganharam novo impulso
Estado de Goiás foi administrado pela Capitania de São Paulo, na Os presidentes de província e outros cargos de importância
época a maior delas, estendendo-se do Uruguai até o atual estado política, no entanto, eram de livre escolha do poder central e conti-
de Rondônia. Seu poder não era tão extenso, ficando distante das nuavam sendo de nacionalidade portuguesa, o que descontentava
populações e, também, dos rendimentos. os grupos locais. Com a abdicação de D. Pedro I, ocorreu em Goi-
A medida que se achava ouro pelas terras do sertão brasileiro, ás um movimento nacionalista liderado pelo bispo Dom Fernando
o governo português buscava aproximar-se da região produtora. Ferreira, pelo padre Luiz Bartolomeu Marquez e pelo coronel Felipe
Isso aconteceu em Goiás depois da descoberta de ouro em 1722. Antônio, que recebeu o apoio das tropas e conseguiu depor todos
Como uma forma de controlar melhor a produção de ouro, evitan- os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, inclusive
do o contrabando, responder mais rapidamente aos ataques de ín- o presidente da província.
dios da região e controlar revoltas entre os mineradores, foi criado Nas últimas décadas do século XIX, os grupos locais insatisfei-
através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São tos fundaram partidos políticos: O Liberal, em 1878, e o Conser-
Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1748, pela chegada do vador, em 1882. Também fundaram jornais para divulgarem suas
primeiro governador a Vila Boa de Goyaz, Dom Marcos de Noronha. ideias: Tribuna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio e Folha
de Goyaz. Com isso, representantes próprios foram enviados à Câ-
Triângulo mineiro mara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases
A região que hoje é chamada de “Triângulo Mineiro” perten- para as futuras oligarquias.
ceu à capitania de Goiás desde sua criação em 1744 até 1816. Sua
incorporação à província de Minas Gerais é resultado de pressões Educação em Goiás no século XIX
pessoais de integrantes de grupos dirigentes da região, sendo que Em 1835, o presidente da província, José Rodrigues Jardim re-
em 1861 a Assembleia Geral foi palco de discussões acaloradas en- gulamentou o ensino em Goiás. Em 1846 foi criado na então capi-
tre parlamentares de Minas Gerais, que tentavam ampliar ainda tal, Cidade de Goiás, o Liceu, que contava com o ensino secundário.
mais a incorporação de territórios até o Rio São Marcos e de Goiás. Os jovens do interior que tinham um poder aquisitivo maior, ge-
ralmente concluíam seus estudos em Minas Gerais e faziam curso
Leste do Mato Grosso superior em São Paulo, e os de família menos abastada, encaminha-
Em 1753, começaram as discussões entre a administração da vam-se para a escola militar ou seminários. A maioria da população,
Capitania de Mato Grosso e de Goiás para a definição de divisas no entanto, permanecia analfabeta. A primeira Escola Normal de
entre as duas. Nesse período, a divisa entre elas ficou definida a Goiás foi criada em 1882, e em 1889 foi fundado pelas irmãs domi-
partir do Rio das Mortes até o Rio Pardo. Em 1838, o Mato Gros- nicanas um colégio na Cidade de Goiás, que atendia às moças
so reiniciou as movimentações de contestação de divisa, criando a
vila de Sant’Ana do Paranaíba. Apenas em 1864, a Assembleia Geral
cria legislação para tentar regular o caso.

56
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
O Movimento Abolicionista em Goiás A construção de Goiânia devolveu aos goianos a confiança em
O poeta Antônio Félix de Bulhões (1845-1887) foi um dos si mesmos, após um período de decadência da mineração, de isola-
goianos que mais lutaram pela libertação dos escravos. Fundou o mento e esquecimento nacional. Em vez de pensarem na grandeza
jornal O Libertador (1885), promoveu festas para angariar fundos do passado, começaram a pensar, a partir de então, na grandeza
para alforriar escravos e compôs o Hino Abolicionista Goiano. Com do futuro.
a sua morte, em 1887, várias sociedades emancipadoras se uniram A partir de 1940, Goiás passa a crescer em ritmo acelerado
e fundaram a Confederação Abolicionista Félix de Bulhões. Quando também em virtude do desbravamento do Mato Grosso Goiano,
foi promulgada a Lei Áurea, havia aproximadamente quatro mil es- da campanha nacional de “Marcha para o Oeste” e da construção
cravos em Goiás. de Brasília. A população do Estado se multiplicou, estimulada pela
forte imigração, oriunda principalmente dos Estados do Maranhão,
Período Republicano Bahia e Minas Gerais. A urbanização foi provocada essencialmen-
A proclamação da República (15/11/1889) não alterou os pro- te pelo êxodo rural. Contudo, a urbanização neste período não foi
blemas socioeconômicos enfrentados pela população goiana, em acompanhada de industrialização. A economia continuava predo-
especial pelo isolamento proveniente da carência dos meios de co- minantemente baseada no setor primário (agricultura e pecuária) e
municação, com a ausência de centros urbanos e de um mercado continuava vigente o sistema latifundiário
interno e com uma economia de subsistência. As elites dominantes Com o impulso, na década de 50 foi criado o Banco do Estado
continuaram as mesmas. As mudanças advindas foram apenas ad- e a CELG (Centrais Elétricas de Goiás S.A). O governo Mauro Borges
ministrativas e políticas (1960-1964) propôs como diretriz de ação um “Plano de Desenvol-
A primeira fase da República em Goiás, até 1930, foi marcada vimento Econômico de Goiás” abrangendo as áreas de agricultura
pela disputa das elites oligárquicas goianas pelo poder político: Os e pecuária, transportes e comunicações, energia elétrica, educação
Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado. Até o ano de 1912, prevale- e cultura, saúde e assistência social, levantamento de recursos na-
ceu na política goiana a elite oligárquica dos Bulhões, liderada por turais, turismo, etc., e criou as seguintes autarquias e paraestatais:
José Leopoldo de Bulhões, e a partir desta data até 1930, a elite CERNE (Consórcio de Empresas de Radiodifusão e Notícias do Es-
oligárquica dominante passa a ser dos Jardim Caiado, liderada por tado), OSEGO (Organização de Saúde do Estado de Goiás), EFOR-
Antônio Ramos Caiado. MAGO (Escola de Formação de Operadores de Máquinas Agrícolas
A partir de 1891, o Estado começou a vivenciar certo desen- e Rodoviárias), CAIXEGO (Caixa Econômica do Estado de Goiás),
volvimento com a instalação do telégrafo em Goiás para a trans- IPASGO (Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado
missão de notícias. Com a chegada da estrada de ferro em territó- de Goiás), SUPLAN, ESEFEGO (Escola Superior de Educação Física
rio goiano, no início do século XX, a urbanização na região sudeste de Goiás), CEPAIGO (Centro Penitenciário de Atividades Industriais
começou a ser incrementada o que facilitou, também, a produção de Goiás), IDAGO (Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás),
de arroz para exportação. Contudo, por falta de recursos financei- DERGO (Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás), DETEL-
ros, a estrada de ferro não se prolongou até a capital e o norte GO, METAGO (Metais de Goiás S/A), CASEGO, IQUEGO (Indústria
goiano, que permanecia praticamente incomunicável. O setor mais Química do Estado de Goiás), entre outras.
dinâmico da economia era a pecuária e predominava no estado o
latifúndio. Redemocratização
Com a revolução de 30, que colocou Getúlio Vargas na Presi- Nos últimos 30 anos, o Estado de Goiás passou por profundas
dência da República do Brasil, foram registradas mudanças no cam- transformações políticas, econômicas e sociais. O fim da ditadura
po político. Destituídos os governantes, Getúlio Vargas colocou em militar e o retorno da democracia para o cenário político foi repre-
cada estado um governo provisório composto por três membros. sentado pela eleição de Iris Rezende para governador, em 1982,
Em Goiás, um deles foi o Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que, dias de- com mais de um milhão de votos. Nesse campo, por sinal, Goiás
pois, foi nomeado interventor sempre ofereceu quadros significativos para sua representação em
Com a revolução, o governo adotou como meta trazer o desen- nível federal, como pode ser observado no decorrer da “Nova Re-
volvimento para o estado, resolver os problemas do transporte, da pública”, na qual diversos governadores acabaram eleitos senado-
educação, da saúde e da exportação. Além disso, a revolução de 30 res ou nomeados ministros de Estado.
em Goiás deu início à construção de Goiânia. No campo econômico, projetos de dinamização econômica ga-
nharam forma, partindo de iniciativas voltadas para o campo, como
A construção de Goiânia e o governo Mauro Borges o projeto de irrigação Rio Formoso, iniciado ainda no período mili-
A mudança da capital de Goiás já havia sido pensada em gover- tar e, hoje, no território do Tocantins, até a construção de grandes
nos anteriores, mas foi viabilizada somente a partir da revolução estruturas logísticas, a exemplo do Porto Seco de Anápolis e a im-
de 30 e seus ideais de “progresso” e “desenvolvimento”. A região plantação da Ferrovia Norte-Sul. É válido, ainda, o registro de estí-
de Campinas foi escolhida para ser o local onde se edificaria a nova mulos especiais para produção e a instalação de grandes indústrias
capital por apresentar melhores condições hidrográficas, topográfi- no estado, a exemplo dos polos farmacêutico e automobilístico.
cas, climáticas, e pela proximidade da estrada de ferro. As modificações econômicas, no entanto, deixaram os proble-
No dia 24 de outubro de 1933 foi lançada a pedra fundamental. mas sociais, que existiam no Estado, ainda mais acentuados, com
Dois anos depois, em 07 de novembro de 1935 foi iniciada a mu- o registro de um grande número de pessoas sem moradia digna e
dança provisória da nova capital. O nome “Goiânia”, sugerido pelo sem emprego. Essa situação mobilizou governantes e população a
professor Alfredo de Castro, foi escolhido em um concurso promo- empreender ações concretas de forma a minimizar essas dificulda-
vido pelo semanário “O Social” des, como programas de transferência de renda, profissionalização
A transferência definitiva da nova capital, da Cidade de Goiás e moradia, além de programas de estímulos para que a população
para Goiânia, se deu no dia 23 de março de 1937, por meio do de- se mantivesse junto ao campo, evitando assim o êxodo rural
creto 1.816. Em 05 de julho de 1942, quando foi realizado o “ba- Com as mudanças políticas e a maior participação popular,
tismo cultural”, Goiânia já contava com mais de 15 mil habitantes vinda com o advento da redemocratização da vida política nacio-
nal, houve também uma maior exigência da sociedade em relação
às práticas administrativas. O governo de Goiás passou por várias

57
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
“reformas administrativas” e outras iniciativas nesse período, onde áreas, foi feito um levantamento amplo (topográfico, climatológi-
foram buscadas a racionalização, melhoria e moralização da admi- co, geográfico, hidrológico, zoológico etc.) da região, mapeando-se
nistração pública. Nesse período, também, Goiás aumentou seu a área compreendida pelos municípios goianos de Formosa, Planal-
destaque quanto a produção no setor cultural, seja com a eleição tina e Luziânia. O relatório final permitiu que fosse definida a área
da cidade de Goiás como patrimônio da humanidade ou com seus onde futuramente seria implantada a capital.
talentos artísticos sendo consagrados, como Goiandira de Couto, Uma segunda missão de estudos foi empreendida nos locais
Siron Franco e Cora Coralina. onde a implantação de uma cidade seria conveniente dentro do
quadrilátero definido anteriormente. A saída de Floriano Peixoto
O Césio-137 do governo em 1896 fez com que os trabalhos da Comissão Ex-
Goiás abriga em seu passado um dos episódios mais tristes da ploradora do Planalto Central do Brasil fossem interrompidos. No
história brasileira. No ano de 1987, alguns moradores da capital entanto, mesmo não contando com a existência de Goiânia, os ma-
saíram em busca de sucata e encontraram uma cápsula abandona- pas nacionais já traziam o “quadrilátero Cruls” e o “Futuro Distrito
da nas ruínas do Instituto Radiológico de Goiânia. Mal sabiam eles Federal”
que naquele vasilhame havia restos de um pó radioativo mortal, Apesar do enfraquecimento do ímpeto mudancista, eventos
o Césio-137. Inconsequentemente, a cápsula foi aberta por eles e isolados deixavam claro o interesse de que essa região recebesse
manipulada, deixando milhares de vítimas e sequelas do pó azul a capital da federação. Em 1922, nas comemorações do centenário
brilhante, lacrado hoje, junto aos destroços do maior acidente ra- da Independência nacional, foi lançada a pedra fundamental próxi-
diológico do mundo, no depósito da Comissão Nacional de Energia mo à cidade de Planaltina. Na década de 1940, foram retomados os
Nuclear (Cnen), em Abadia de Goiás. estudos na região pelo governo de Dutra (1945-50) e, no segundo
governo de Getúlio Vargas (1950-1954), o processo se mostrou for-
A criação do DF talecido com o levantamento de cinco sítios para a escolha do local
A construção e a inauguração de Brasília, em 1960, como ca- da nova capital. Mesmo com a morte de Vargas, o projeto avançou,
pital federal, foi um dos marcos deixados na história do Brasil pelo mas a passos lentos, até a posse de Juscelino Kubitschek
governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Essa mudança, visando
um projeto especifico, buscava ampliar a integração nacional, mas Governo JK
JK, no entanto, não foi o primeiro a propô-la, assim como Goiás Desde seu governo como prefeito de Belo Horizonte (também
nem sempre foi o lugar projetado para essa experiência. projetada e implantada em 1897), Juscelino ficou conhecido pela
quantidade e o ímpeto das obras que tocava, sendo chamado à
Desejo de transferência (séc. XVIII e XIX) época de “prefeito-furacão”. O projeto de Brasília entrou no plano
As primeiras capitais do Brasil, Salvador e Rio de Janeiro, ti- de governo do então presidente como uma possibilidade de aten-
veram como característica fundamental o fato de serem cidades der a demanda da época.
litorâneas, explicado pelo modelo de ocupação e exploração em- Mesmo não constando no plano original, ao ser questionado
preendido pelos portugueses anteriormente no continente africa- sobre seu interesse em cumprir a constituição durante um comí-
no e asiático. À medida que a importância econômica da colônia cio em Jataí-GO, Juscelino sentiu-se impelido a criar uma obra que
aumentava para a manutenção do reino português, as incursões garantisse a obtenção dos objetivos buscados pela sociedade brasi-
para o interior se tornavam mais frequentes. leira na época: desenvolvimento e modernização do país. Entrando
A percepção da fragilidade em ter o centro administrativo pró- como a meta 31 – posteriormente sendo chamada de “meta sínte-
ximo ao mar, no entanto, fez que muitos intelectuais e políticos se” - Brasília polarizou opiniões. Em Goiás existia interesse na efe-
portugueses discutissem a transferência da capital da colônia – e tivação da transferência, apesar da oposição existente em alguns
até mesmo do império – para regiões mais interiores do território. jornais, assim como no Rio de Janeiro, onde ocorria uma campanha
Um dos mais importantes apoiadores desse projeto foi Sebastião aberta contra os defensores da “NovaCap” (nome da estatal res-
José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, em 1751. A trans- ponsável por coordenar as obras de Brasília e que, por extensão,
ferência também era uma das bandeiras de movimentos que ques- virou uma alusão a própria cidade). Com o compromisso assumido
tionavam o domínio português, como a Inconfidência Mineira, ou por JK em Jataí, Brasília passou a materializar-se imediatamente,
de personagens que, após a independência do Brasil, desejavam o mas a cada passo político ou técnico dado, uma onda de acusações
fortalecimento da unidade do país e o desenvolvimento econômico era lançada contra a iniciativa.
das regiões interioranas, como o Triângulo Mineiro ou o Planalto Construída em pouco mais de 3 anos (de outubro de 1956 a
Central. abril de 1960), Brasília tornou-se símbolo do espírito da época. Goi-
Com a primeira constituição republicana (1891), a mudança ás, por outro lado, tornou-se a base para a construção, sendo que
ganhou maior visibilidade e mais apoiadores, tanto que em seu 3º Planaltina, Formosa, Corumbá de Goiás, Pirenópolis e, principal-
artigo havia determinação de posse pela União de 14.400 quilôme- mente, Anápolis tiveram suas dinâmicas modificadas, econômica e
tros quadrados na região central do país pra a futura instalação do socialmente.
Distrito Federal.
A criação do TO
Comissão Cruls e as décadas seguintes Em 1988, foi aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte
Depois da Proclamação da República em 1889, o país se encon- o projeto de divisão territorial que criou o Estado do Tocantins. A
trava imerso em um cenário de euforia com a mudança de regime divisão partia do desmembramento da porção norte do Estado de
e da crença no progresso e no futuro. Para definir o lugar onde se Goiás, desde aproximadamente o paralelo 13°, até a região do Bico
efetivaria a determinação da futura capital, em 1892, o presidente do Papagaio, na divisa do Estado com o Pará e o Maranhão. No
Floriano Peixoto criou uma comissão para concretizar esses estu- entanto, a divisão vinha sendo buscada desde o período colonial
dos, chefiada pelo cientista Luis Cruls, de quem a expedição herdou
o nome. A expedição partiu de trem do Rio de Janeiro até Uberaba
(estação final da Estrada de Ferro Mogiana) e dali a pé e em lombo
de animais até o Planalto Central. Com pesquisadores de diversas

58
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Período do ouro É dessa época (1956) a chamada “Carta de Porto Nacional” ou
Durante o ciclo do ouro, a cobrança de impostos diferenciada “Proclamação Autonomista de Porto Nacional”, que norteou esse
gerou insatisfação junto a muitos garimpeiros e comerciantes da esforço. Mas a oposição de lideranças políticas da região e a trans-
região norte da província de Goiás. As reivindicações eram contra o ferência do juiz Feliciano Braga para outra comarca, fez com que o
chamado “captação”, imposto criado para tentar a sonegação que movimento enfraquece-se..
taxava os proprietários pela quantidade de escravos que possuíam
e não pela quantidade de ouro extraída, o que onerava demais a Décadas de 1970 e 1980
produção do norte. Por não conseguirem pagar as quantias presu- Durante o período do regime militar, as modificações na orga-
midas de imposto, esses proprietários sofriam a “derrama” - im- nização territorial dos estados ficaram a cargo do Governo Central,
posto cobrado para complementar os débitos que os mineradores e acabaram regidas por orientações políticas. Exemplos fortes disso
acumulavam junto à Coroa Portuguesa. foram a fusão do Estado da Guanabara, pelo Rio de Janeiro (1975),
Os garimpeiros viam na província do Maranhão uma alternati- e o desmembramento do Sul do Mato Grosso (1977). Nesse contex-
va para o recolhimento de impostos menores. O governo da provín- to, o deputado federal Siqueira Campos iniciou uma campanha na
cia goiana, com isso, temendo perder os rendimentos oriundos das Câmara onde pedia a redivisão territorial da Amazônia Legal (com
minas do norte, suspende tanto a cobrança do imposto – voltando ênfase no norte goiano), uma vez que mesmo com investimentos
a cobrar somente o quinto – quanto a execução de dividas (a der- de projetos como o Polocentro e Polamazônia, o norte do estado
rama), o que arrefece a insatisfação das vilas mais distantes de Vila ainda tinha fraco desempenho econômico.
Boa de Goiás. A campanha também foi apoiada por intelectuais, por meio do
surgimento da Comissão de Estudos do Norte Goiano (Conorte), em
A comarca do Norte 1981, que promoveu debates públicos sobre o assunto em Goiânia.
A ocupação da porção norte da província de Goiás era feita A discussão pela divisão foi levada do nível estadual para o nível
a medida em que se descobria ouro. Para estimular o desenvolvi- federal, onde a proposta foi rejeitada duas vezes pelo presidente
mento dessa parte da província e melhorar a ação do governo e da José Sarney (1985), sob a alegação do Estado ser inviável econo-
justiça, foi proposta a criação de uma nova comarca, a “Comarca micamente
do Norte” ou “Comarca de São João das Duas Barras”, por Teotônio A mobilização popular e política da região norte fizeram com
Segurado, ouvidor-geral de Goiás, em 1809. que o governador eleito de Goiás, em 1986, Henrique Santillo,
A proposta foi aceita por D. João VI e, em 1915, Teotônio Se- apoiasse a proposta de divisão, passando a ser grande articulador
gurado se tornou ouvidor na Vila da Palma, criada para ser a sede da questão. A efetivação dessas articulações deu-se durante a As-
dessa nova Comarca. Com o retorno da Família Real para Portugal, sembleia Constituinte, que elaborou a nova Constituição Nacional,
as movimentações pela independência do Brasil e a Revolução do promulgada em 1988, e que contemplou a criação do Estado do
Porto (em Portugal), Teotônio Segurado, junto com outras lideran- Tocantins, efetivamente, a partir do dia 1º de janeiro de 1989.
ças declaram a separação da Comarca do Norte em relação ao sul Atualmente
da província, criando-se a “Província do Norte”. Em 1823, é pedido Governador de Goiás
o reconhecimento da divisão junto à corte no Rio de Janeiro, mas Marconi Ferreira Perillo Júnior
esse reconhecimento foi negado, e houve a determinação para que
houvesse a “reunificação” do governo da província. A governadoria e o senado
O padre Luiz Gonzaga Camargo Fleury ficou encarregado de Em 1998, Marconi Perillo deixou a possibilidade de reeleição
desmobilizar com os grupos autonomistas, que já estavam enfra- à Câmara dos Deputados para enfrentar o pleito ao Governo de
quecidos por conflitos internos desde o afastamento de Teotônio Goiás. Pregando um novo tempo para Goiás, foi eleito com quase
Segurado, ainda em 1821, como representante goiano junto as um milhão de votos, garantindo a maioria das intenções no primei-
cortes em Portugal. Durante o período imperial, outras propostas ro turno e a vitória em segunda votação, que o colocou no Palácio
de divisão que contemplavam de alguma forma o norte de Goiás das Esmeraldas, aos 35 anos, o governador mais jovem já eleito no
ainda foram discutidas, como a do Visconde de Rio Branco e Adolfo país. Em 2002, foi reeleito com 51,2% dos votos válidos dando con-
Varnhagen. tinuidade ao seu governo voltado para a modernização do Estado
e amplitude das questões sociais. Deixou o cargo em 2006, quando
O começo do século XX e a Marcha para Oeste foi eleito senador da República pelo PSDB com mais de dois milhões
Com a Proclamação da República, mudam-se os nomes das uni- de votos. No Senado, presidiu a Comissão de Serviços de Infraes-
dades federativas de “Província” para “Estado”, mas não houveram trutura e foi vice-líder do PSDB, atuando em diversas comissões,
grandes alterações na delimitação de divisas. As principais altera- chegando inclusive à vice-presidência da Casa. Decidiu-se retornar
ções ocorreram no Sul do país (com o conflito do Contestado entre ao Estado, em 2010, lançando nova candidatura ao Governo do Es-
Santa Catarina e Paraná) e no Nordeste. Entretanto, esse cenário tado, da qual saiu vencedor. Em 2014 foi reeleito novamente, se
ganha nova dinâmica com o começo da II Grande Guerra (1939), tornando o primeiro a governar Goiás por quatro vezes.
quando surgem pressões para a criação de territórios fronteiriços
(Ponta Porã, Iguaçu, Amapá, Rio Branco, Guaporé e Fernando de Vice Governador
Noronha), para proteção contra possíveis ataques estrangeiros.
Nesse contexto, também surge um movimento pela ocupação José Eliton de Figuerêdo Júnior
dos vazios internos – a Marcha para Oeste – com a abertura de li- Convidado para o movimento de sucessão estadual para o plei-
nhas telegráficas, pistas de pouso e construção de cidades, a exem- to de 2010, assumiu a vice governadoria do Estado de Goiás junto
plo de Goiânia. Apenas na década de 1950 o movimento divisionis- ao terceiro mandato do governador Marconi Perillo e continua no
ta ressurge com maior força, a partir da mobilização personagens quarto mandato, sendo ainda secretário de estado de Desenvolvi-
como o Major Lysias Rodrigues e o Juiz de Direito Feliciano Braga. mento.
Integrou a Comissão de Juristas do Senado Federal para a ela-
boração do anteprojeto de reformulação do Código Eleitoral Brasi-
leiro. Foi membro e tesoureiro do Instituto Goiano de Direito Elei-

59
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
toral (IGDEL) e da Comissão de Direito Político e Eleitoral da Ordem Fizeram ampla resistência à invasão de suas terras e foram regis-
dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB/GO). Autor do livro trados vários conflitos entre eles e os colonos. Vítimas de perse-
Legislação Eleitoral – Eleições 2008, é ainda membro do Diretório guições e massacres, foram também extintos no Estado de Goiás.
Estadual de Goiás dos Democratas (DEM) e presidente estadual do
Democratas Empreendedor. Akwen
Fonte: http://www.goias.gov.br Os Akwen pertencem à família Jê e subdividem-se em Akroá,
Xacriabá, Xavante e Xerente:
- Akroá e Xacriabá: habitavam extenso território entre a Serra
ASPECTOS DA HISTÓRIA SOCIAL DE GOIÁS: O Geral e o rio Tocantins, as margens do rio do Sono e terras banhadas
POVOAMENTO BRANCO, OS GRUPOS INDÍGENAS, A pelo rio Manoel Alves Grande. Estabeleceram-se, também, além da
ESCRAVIDÃO E A CULTURA NEGRA, OS MOVIMENTOS Serra Geral, em solo baiano e nas ribeiras do rio São Francisco, nos
SOCIAIS NO CAMPO E A CULTURA POPULAR distritos de Minas Gerais. Depois de vários conflitos com os colonos
que se estabeleceram em suas terras, foram levados para o aldea-
Índios mento oficial de São Francisco Xavier do Duro, construído em 1750.
Quando os bandeirantes chegaram a Goiás, este território, que Os Akroá foram dizimados mais tarde e os Xacriabá encontram-se
atualmente forma os Estados de Goiás e Tocantins, já era habita- atualmente em Minas Gerais, sob os cuidados da Funai.
do por diversos grupos indígenas. Naquela época, ao verem suas - Xavante: Seu território compreendia regiões do alto e médio
terras invadidas, muitos foram os que entraram em conflito com rio Tocantins e médio rio Araguaia. Tinham suas aldeias distribuí-
os bandeirantes e colonos, em lutas que resultaram no massacre das nas margens do Tocantins, desde Porto Imperial até depois de
de milhares de indígenas, aldeamentos oficiais ou migração para Carolina, e a leste, de Porto Imperial até a Serra Geral, limites das
outras regiões províncias de Goiás (antes da divisão) e Maranhão. Havia também
A maioria dos grupos que viviam em Goiás pertencia ao tronco aldeias na bacia do rio Araguaia, na região do rio Tesouras, nos dis-
linguístico Macro-Jê, família Jê (grupos Akuen, Kayapó, Timbira e tritos de Crixás e Pilar, e na margem direita do rio Araguaia. Na
Karajá). Outros três grupos pertenciam ao tronco linguístico Tupi, primeira metade do século XIX entraram em conflito com as frentes
família Tupi-Guarani (Avá-Canoeiro, Tapirapé e Guajajara). A au- agropastoris que invadiam seus territórios e, após intensas guerras,
sência de documentação confiável, no entanto, dificulta precisar migraram para o Mato Grosso, na região do rio das Mortes, onde
com exatidão a classificação linguística dos povos Goyá, Araé, Crixá vivem atualmente.
e Araxá. - Xerente: Este grupo possuía costumes e língua semelhante
aos Xavantes e há pesquisadores que acreditam que os Xerentes
Goyá são uma subdivisão do grupo Xavante. Os Xerentes habitavam os
Segundo a tradição, os Goyá foram os primeiros índios que a territórios da margem direita do rio Tocantins, ao norte, no territó-
expedição de Bartolomeu Bueno da Silva Filho encontrou ao iniciar rio banhado pelo rio Manoel Alves Grande, e ao sul, nas margens
a exploração aurífera e foram eles, também, que indicaram o lugar dos rios do Sono e Balsas. Também viviam nas proximidades de La-
– Arraial do Ferreiro – no qual Bartolomeu Bueno estabeleceu seu geado, no rio Tocantins, e no sertão do Duro, nas proximidades dos
primeiro arranchamento. Habitavam a região da Serra Dourada, distritos de Natividade, Porto Imperial e Serra Geral. Seus domínios
próximo a Vila Boa, e quatro décadas após o início do povoamento alcançavam as terras do Maranhão, na região de Carolina até Pas-
desapareceram daquela região. Não se sabe ao certo seu destino e tos Bons. Como os Xavante, também entraram em intenso conflito
nem há registros sobre seu modo de vida ou sua língua com as frentes agropastoris do século XIX e, atualmente, os Xeren-
te vivem no Estado de Tocantins.
Krixá
Seus limites iam da região de Crixás até a área do rio Tesouras. Karajá
Como os Goyá, também desapareceram no início da colonização do Os grupos indígenas Karajá, Javaé e Xambioá pertencem ao
Estado e não se sabe ao certo seu destino, sua cultura e sua língua. tronco linguístico Macro-Jê, família Karajá, compartilhando a mes-
ma língua e cultura. Viviam nas margens do rio Araguaia, próximo à
Araé Ilha do Bananal. Ao longo do século XIX, entraram em conflito com
Também não há muitos registros a respeito dos Araé. Possivel- as guarnições militares sediadas no presídio de Santa Maria, sendo
mente teriam habitado a região do rio das Mortes. que os Karajá de Aruanã são a única aldeia do grupo que atualmen-
te vivem no Estado de Goiás.
Araxá
Habitavam o local onde se fundou a cidade de Araxá, que per- Timbira
tencia a Goiás e atualmente faz parte do território de Minas Gerais. Eram bastante numerosos e habitavam uma vasta região entre
a Caatinga do Nordeste e o Cerrado, abrangendo o sul do Mara-
Kayapó nhão e o norte de Goiás. Ao longo do século XIX, devido à expansão
Filiados à família linguística Jê, subdividiam-se em Kayapó do pecuária, entraram em conflitos com os criadores de gado que in-
Sul, ou Kayapó Meridionais, e Kayapó Setentrionais. Os Kayapó do- vadiam suas terras. O grupo Timbira é formado pelas etnias Krahô,
minavam todo o sul da capitania de Goiás. Havia aldeias na região Apinajé, Gavião, Canela, Afotogés, Corretis, Otogés, Porecramec-
de rio Claro, na Serra dos Caiapós, em Caiapônia, no alto curso do rãs, Macamecrãs e Temembus.
rio Araguaia e a sudeste, próximo ao caminho de Goiás a São Paulo.
Seu território estendia-se além dos limites da capitania de Goiás: Tapirapés
a oeste, em Camapuã, no Mato Grosso do Sul; a norte, na região Pertencem ao tronco linguístico Tupi, família Tupi-Guarani.
entre o Xingu e o Araguaia, em terras do Pará; a leste, na beira do Este grupo inicialmente habitava a oeste do rio Araguaia e eventu-
rio São Francisco, nos distritos de Minas Gerais; e ao sul, entre os almente frequentavam a ilha do Bananal. Com o passar do tempo,
rios Paranaíba e Pardo, em São Paulo. Dedicavam-se à horticultura, se estabeleceram ao longo do rio Tapirapés, onde atualmente ain-
à caça e à pesca, além de serem conhecidos como povo guerreiro. da vivem os remanescentes do grupo.

60
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Avá-Canoeiro Pilar: próximo à cidade de mesmo nome, foi destruído em lu-
Pertencentes ao tronco linguístico Tupi, os Avá-Canoeiro ha- tas. Seus 300 integrantes chegaram a planejar a morte de todos os
bitavam as margens e ilhas dos rios Maranhão e Tocantins, desde brancos do local, mas o plano foi descoberto antes.
Uruaçu até a cidade de Peixe, em Tocantins. Entre meados do sé- Tesouras: no arraial de mesmo nome, tinha até atividades de
culo XVIII e ao longo do século XIX, entraram em graves conflitos mineração e um córrego inclusive chamado Quilombo.
com as frentes agropastoris que invadiam suas terras. Atualmente, Três Barras: tinha 60 integrantes, conhecidos pelos insultos e
os Avá-Canoeiro do Araguaia vivem na Ilha do Bananal, na aldeia provocações ao viajantes.
Canoanã, dos índios Javaés, e os Avá-Canoeiro do Tocantins vivem São Gonçalo: próxima à cidade de Goiás, então capital, seus
na Serra da Mesa, município de Minaçu. integrantes atacavam roças e rebanhos das fazendas vizinhas.

Quilombos Goianos e Goianienses


Ligados diretamente à história da ocupação do território brasi- A composição inicial da população de Goiás se deu por meio da
leiro, os quilombos surgiram a partir do início do ciclo da mineração convivência nem tão pacífica entre os índios que aqui residiam e as
no Brasil, quando a mão de obra escrava negra passou a ser utiliza- levas de paulistas e portugueses que vinham em busca das rique-
da nas minas, especialmente de ouro, espalhadas pelo interior do zas minerais. Estes por sua vez, trouxeram negros africanos à tira
Brasil. Em Goiás, esse processo teve início com a chegada de Barto- colo para o trabalho escravista, moldando a costumeira tríade da
lomeu Bueno da Silva, em 1722, nas minas dos Goyazes. Segundo miscigenação brasileira entre índios, negros e brancos, e todas as
relatos dos antigos quilombolas, o trabalho na mineração era difícil suas derivações. Entretanto, a formação do caráter goiano vai além
e a condição de escravidão na qual viviam tornavam a vida ainda dessa visão simplista e adquiriu características especiais à medida
mais dura. As fugas eram constantes e àqueles recapturados res- que o espaço físico do Estado passou a ser ocupado
tavam castigos muito severos, o que impelia-os a procurar refúgios Até o início do século XIX, a maioria da população em Goiás era
em lugares cada vez mais isolados, dando origem aos quilombolos. composta por negros. Os índios que habitavam o Estado ou foram
Os Kalungas são os maiores representantes desses grupos em dizimados pelo ímpeto colonizador ou migraram para aldeamen-
Goiás. Na língua banto, a palavra kalunga significa lugar sagrado, tos oficiais. Segundo o recenseamento de 1804, o primeiro oficial,
de proteção, e foi nesse refúgio, localizado no norte da Chapada 85,9% dos goianos eram “pardos e pretos” e este perfil continuou
dos Veadeiros, que os descendentes desses escravos se refugiaram constante até a introdução das atividades agropecuárias na agenda
passando a viver em relativo isolamento. Com identidade e cultura econômica do Estado.
próprias, os quilombolas construíram sua tradição em uma mistura Havia no imaginário popular da época a ideia de sertão pre-
de elementos africanos, europeus e forte presença do catolicismo sente na constituição física do Estado. O termo, no entanto, reme-
tradicional do meio rural teria a duas possibilidades distintas de significação: assim como na
A área ocupada pela comunidade Kalunga foi reconhecida pelo África, representava o vazio, isolado e atrasado, mas que por outro
Governo do Estado de Goiás, desde 1991, como sítio histórico que lado se apresentava como desafio a ser conquistado pela ocupação
abriga o Patrimônio Cultural Kalunga. Com mais de 230 mil hecta- territorial.
res de Cerrado protegido, abriga cerca de quatro mil pessoas em Essa ocupação viria acompanhada predominantemente pela
um território que estende pelos municípios de Cavalcante, Monte domesticação do sertão segundo um modelo de trabalho familiar,
Alegre e Teresina de Goiás. Seu patrimônio cultural celebra festas cujo personagem principal, o sertanejo, assumiu para si a respon-
santas repletas de rituais cerimoniosos, como a Festa do Império e sabilidade da construção do país, da ocupação das fronteiras e, por
o Levantamento do mastro, que atraem turistas todos os anos para seguinte, da Marcha para o Oeste impulsionadora do desenvolvi-
a região. mento brasileiro. Registros da época dão conta de processos migra-
tórios ao longo do século XIX e metade do século XX, com correntes
Quilombolos registrados em Goiás migratórias de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Pará, resultando
Acaba Vida: na mesma região de Niquelândia, ocupavam terras em uma ampla mestiçagem na caracterização do personagem ser-
férteis e era conhecido localmente, sendo citado em 1879. tanejo.
Ambrósio: existiu na região do Triângulo Mineiro, que, até O sertanejo, aí, habitante do vazio e isolado sertão, tinha uma
1816, pertencia a Goiás. Teve mais de mil moradores e foi destruí- vida social singela e pobre de acontecimentos. O calendário litúrgi-
do por massacre. co e a chegada de tropas e boiadas traziam as únicas novidades pe-
Cedro: localizado no atual município de Mineiros, tinha cerca las bocas de cristãos e mascates. Nessa época, a significação da vida
de 250 moradores que praticam a agricultura de subsistência. So- estava diretamente ligada ao campo e dele resultaram, segundo as
breviveu até hoje. atividades registradas nos arraias, o militar, o jagunço, o funcioná-
Forte: localizado no nordeste de Goiás, sobreviveu até hoje, rio público, o comerciante e o garimpeiro.
tornando-se povoado do município de São João d’Aliança. Ao longo do século XX, novas levas migratórias, dessa vez do
Kalunga: localizado no Vão do Paranã, no nordeste de Goiás, sul e de estrangeiros começam a ser registradas no território goia-
existe há 250 anos, tendo sido descoberto pela sociedade nacional no, de modo que no Censo do ano 2000, os cinco milhões de ha-
somente em fins do anos 1960. Tem 5 mil habitantes, distribuídos bitantes se declararam como 50,7% de brancos, 43,4% de pardos,
em vários núcleos na mesma região. 4,5% de negros e 0,24% de outras etnias.
Mesquita: próximo à atual cidade de Luziânia, estendia sua po-
pulação para diversas localidades no seu entorno. Goianos e muitas goianas
Muquém: próximo à atual cidade de Niquelândia e junto ao O último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geogra-
povoado de mesmo nome, foi notório, mas deixou poucas informa- fia e Estatística (IBGE) de 2010 confirmou uma população residente
ções a seu respeito. em Goiás de 6.003.788 habitantes, com crescimento acima da mé-
Papuã: na mesma região do Muquém, foi descoberto em 1741 dia nacional, que foi de 1,17% ao ano
e destruído anos depois pelos colonizadores.

61
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
Em termos de gênero, a população feminina sai na frente. São das poucas opções de entretenimento da época. Por todo o Estado,
3.022.161 mulheres, contra 2.981.627 homens – em uma propor- são costumeiras as distribuições das cidades no espaço geográfico
ção de 98 homens para cada 100 mulheres. Reflexo também sen- partindo de uma igreja católica como ponto central do município,
tido na capital, Goiânia, com 681.144 mulheres e 620.857 homens o que lhes atribuía também o direcionamento das festas populares
(diferença de 60.287 pessoas). Pirenópolis e cidade de Goiás talvez sejam as maiores expres-
sões desse tradicionalismo cristão imbuído em festejos tradicio-
Artes nais. São famosas as Festas do Divino Espírito Santo, Cavalhadas
Goiás é pleno em artes. O Estado conjuga sob sua tutela mani- e comemorações da Semana Santa, como a Procissão do Fogaréu.
festações artísticas variadas, que englobam do traço primitivo até o No entanto, de norte a sul, fervilham expressões populares, quer
mais moderno desenho. Contemplado com nomes de peso no ce- seja em vilarejos, como a tradicional Romaria de Nossa Senhora do
nário regional, Goiás é expressivo quanto aos artistas que contaram Muquém, no distrito de Niquelândia, ou próximo a grandes centros
em prosa e verso as belezas do Cerrado ou o ritmo de um Estado urbanos, caso da cidade de Trindade, próximo à Goiânia, e o Santu-
em crescimento e mesmo as nuances de ritos cotidianos ário do Divino Pai Eterno.
Na escultura, José Joaquim da Veiga Valle é unanimidade. Na- Mesmo no interior, esses valores persistem e são comuns no
tural de Pirenópolis, esculpia imagens, na maioria em cedro, sendo começo do ano as Folias de Reis que dão o tom de festa e oração
considerado um dos grandes “santeiros” do século XIX. Suas ma- firmes no intuito de retribuir graças recebidas, como uma boa co-
donas são as mais representativas e na época eram expressadas lheita ou recuperação de enfermidades. Na adoração ao menino
conforme a devoção de cada pessoa que a encomendava. Já a pin- Jesus, segundo a saga dos três santos reis magos, os festeiros ar-
tura é honrada pelas técnicas e pincéis de Siron Franco e Antônio recadam alimentos, animais e até dinheiro para cobrir as despesas
Poteiro, artistas renomados e reconhecidos mundialmente em pin- da festa popularizando a fé e promovendo a socialização entre co-
turas, monumentos e instalações, que vão do primitivismo de Po- munidades.
teiro até o temas atuais na mãos de Siron Franco. Isso sem contar a O Divino em Pirenópolis e o Fogaréu da cidade de Goiás É qua-
arte inigualável de Goiandira do Couto, expressa por seus quadros se um consenso geral a polaridade existente entre as tradições de
pintados não com tinta, mas com areia colorida retirada da Serra Pirenópolis e da cidade de Goiás. De um lado, Pirenópolis aposta
Dourada. nas bênçãos do Divino Espírito Santo para consagrar sua festa em
A literatura goiana é destaque à parte. Destacam-se os nomes louvor ao Pentecostes. Por outro lado, a cidade de Goiás carrega
de Hugo de Carvalho Ramos, com Tropas e Boiadas; Basileu Toledo entre o seu legado a tradição medieval do ritual da Procissão do
França e os romances históricos Pioneiros e Jagunços e Capanguei- Fogaréu, durante a Semana Santa, no qual mais de três mil pessoas
ros; Bernardo Élis e as obras Apenas um Violão, O Tronco e Ermos acompanham a caçada feita pelos faricocos, personagens centrais
Gerais; Carmo Bernardes com Jurubatuba e Selva-Bichos e Gente; do cortejo que representam os soldados romanos, a Jesus Cristo.
Gilberto Mendonça Teles, considerado o escritor goiano mais fa-
moso na Europa, com A Raiz da Fala e Hora Aberta; Yêda Schmaltz Gastronomia
com Baco e Anas Brasileiras; Pio Vargas e Anatomia do Gesto e Os Em Goiás, comer é um ato social. A comida carrega traços da
Novelos do Acaso; e Leo Lynce, um dos precursores do modernis- identidade e da memória do povo goiano, tanto que a cozinha típica
mo, com seu livro Ontem. goiana é geralmente grande e uma das partes mais importantes da
casa, por agregar ritos e hábitos do ato de fazer a comida. Historica-
Cora Coralina mente, a culinária goiana se desenvolveu carregada de influências e
Ana Lins Guimarães Peixoto Bretas tinha quase 76 anos quando misturas que, em virtude da colonização e da escassez de alimentos
publicou seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias vindos de outras capitanias, teve que buscar adaptações de acordo
Mais. Conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina foi poetisa e com a realidade local, em especial a do Cerrado. O folclorista Ba-
contista, sendo considerada uma das maiores escritoras brasileiras riani Ortêncio, em seu livro Cozinha goiana: histórico e receituário,
do século XX. Também era conhecida por seus dotes culinários, es- resumiu essa ideia ao ressaltar essas substituições. Se não havia a
pecialmente na feitura dos típicos doces da cidade de Goiás, onde batatinha inglesa, havia a mandioca e o inhame nativos, a serralha
morava – motivo do qual é evidente a presença do cotidiano inte- entrava no lugar do almeirão e a taioba substituía a couve.
riorano brasileiro, em especial dos becos e ruas de pedras históri- E assim, foram introduzidos na panela goiana, o pequi, a guari-
cas, em sua obra. roba, além dos diversos frutos do Cerrado, como o cajá-manga e a
mangaba, consumidos também em sucos, compotas, geleias, doces
Festas e festivais e sorvetes.
O Estado de Goiás promove, constantemente, manifestações Do fogão caipira até as mais modernas cozinhas industriais é
artísticas conjuntas de forma a apresentar novos nomes do cená- costumeiro se ouvir falar no tradicional arroz com pequi, cujo chei-
rio regional. Três festivais têm espaço garantido no calendário de ro característico anuncia de longe o cardápio da próxima refeição.
eventos estadual, dando repercussão à cultura audiovisual, drama- O pequi, aliás, é figura tão certa na tradição goiana, quanto os cui-
turgia e à música. Na cidade de Goiás, é realizado o Festival Interna- dados ministrados àqueles que se aventuram a experimentá-lo
cional de Cinema e Vídeo Ambiental, o Fica; em Porangatu, a Mos- pela primeira vez. A quem não sabe, não se morde, nem se parte o
tra de Teatro Nacional de Porangatu, o TeNPo; e o Festival Canto da pequi. O fruto é roído com os dentes incisivos e qualquer menção
Primavera, em Pirenópolis. no sentido de mordê-lo pode resultar em uma boca recheada de
dolorosos espinhos
Festas religiosas Também se inclui no cardápio típico goiano a paçoca de pilão,
Resultado do processo de formação da chamada gente goiana, o peixe assado na telha e a galinhada. A galinhada, por sinal, não
o legado religioso no Estado de Goiás está intimamente ligado ao se resume ao frango com arroz. É mais, acompanhada de açafrão,
processo de colonização portuguesa registrado por quase toda a milho e cheiro verde, rendendo uma mistura que agrada a ambos,
extensão do território brasileiro. Reflexo dessa realidade é a forte olfato e paladar. Sem contar a infinidade de doces típicos interiora-
presença de elementos cristãos nas manifestações populares, que nos, visto na leveza de alfenins, pastelinhos, ambrosias, entre ou-
a exemplo da formação do sertanejo se consolidavam como uma tras guloseimas.

62
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
A pamonha geralmente por duplas de cantores. Diferenças, no entanto, podem
Iguaria feita à base de milho verde, a pamonha está ligada ser notadas quanto à temática, uma vez que o sertanejo tem se
diretamente à tradição goiana. Encontrada em diversos sabores, apresentado majoritariamente enquanto produto da indústria cul-
salgados, doces, apimentados e com os mais diferentes recheios, tural e a música de raiz ou caipira se inspirado nas belezas do cam-
que incluem até jiló e guariroba, a pamonha é quase unanimidade po e do cotidiano do sertanejo.
no prato do goiano, frita, cozida ou assada, especialmente em dias
chuvosos. Difícil mesmo encontrar algum goiano que não goste de Pluralidade de ritmos
comê-la e, principalmente, de fazê-la. É comum, especialmente no Nem só de sertanejo vive o Estado de Goiás. Na verdade, rit-
interior, reunir familiares e amigos para preparar caldeirões imen- mos antes considerados característicos de eixos do Sudeste do país
sos da pamonhada, como forma de integração social. Homens, mu- têm demarcado cada vez mais seu espaço dentro do território goia-
lheres, crianças, jovens e adultos – todos participam. E é, em geral, no. Bons exemplos são a cena alternativa e do rock, divulgados em
coisa de amigos íntimos, ditos “de dentro de casa”. peso por festivais de renome como o Bananada e o Vaca Amarela,
enquanto que, por outro lado, rodas de samba e apresentações
Manifestações populares de chorinho também têm angariado novos adeptos, dentre outros
O desenrolar da história de Goiás propiciou o aparecimento tantos ritmos encontrados na cultura goiana.
de diversas atividades culturais no Estado, das quais originaram Fonte: http://www.goias.gov.br/
legítimas manifestações do folclore goiano. Apesar de boa parte
delas estar relacionada ao legado religioso introduzido pelos por-
tugueses, o movimento cultural que floresceu no Estado agregou ATUALIDADES ECONÔMICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS DO
tradições indígenas, africanas e europeias de maneira a abrigar um BRASIL, ESPECIALMENTE DO ESTADO DE GOIÁS
sincretismo não apenas religioso, mas de tradições, ritmos e mani-
festações que tornaram a cultura goiana um mix de sensações que A importância do estudo de atualidades
vão da batida do tambor da Congada e dos mantras entoados nas Dentre todas as disciplinas com as quais concurseiros e estu-
orações ao Divino, até a cadência da viola sertaneja ou o samba e o dantes de todo o país se preocupam, a de atualidades tem se tor-
rock que por aqui também fizeram morada. nado cada vez mais relevante. Quando pensamos em matemática,
As Cavalhadas talvez sejam uma das manifestações populares língua portuguesa, biologia, entre outras disciplinas, inevitavelmen-
mais dinâmicas e expressivas do Estado de Goiás. A encenação épi- te as colocamos em um patamar mais elevado que outras que nos
ca da luta entre mouros e cristãos na Península Ibérica é apresenta- parecem menos importantes, pois de algum modo nos é ensinado a
da tradicionalmente por diversas cidades goianas, tendo seu ápice hierarquizar a relevância de certos conhecimentos desde os tempos
no município de Pirenópolis, quinze dias após a realização da Festa de escola.
do Divino. Toda a cidade se prepara para a apresentação, traves- No, entanto, atualidades é o único tema que insere o indivíduo
tida no esforço popular em carregar o estandarte que representa no estudo do momento presente, seus acontecimentos, eventos
sua milícia. O azul cristão trava a batalha contra o rubro mouro, e transformações. O conhecimento do mundo em que se vive de
ornados ambos de luxuosos mantos, plumas, pedras incrustadas e modo algum deve ser visto como irrelevante no estudo para concur-
elmos metálicos, desenhando, por conseguinte, símbolos da cris- sos, pois permite que o indivíduo vá além do conhecimento técnico
tandade como o peixe ou a pomba branca – símbolo do Divino – e e explore novas perspectivas quanto à conhecimento de mundo.
do lado muçulmano o dragão e a lua crescente. Paralelamente, os Em sua grande maioria, as questões de atualidades em con-
mascarados quebram a solenidade junto ao público, introduzindo cursos são sobre fatos e acontecimentos de interesse público, mas
o sarcástico e profano, em meio a um dos maiores espetáculos do podem também apresentar conhecimentos específicos do meio po-
Centro-Oeste. lítico, social ou econômico, sejam eles sobre música, arte, política,
As Congadas dão outro show à parte. Realizadas tradicional- economia, figuras públicas, leis etc. Seja qual for a área, as questões
mente no município de Catalão, reúnem milhares de pessoas no de atualidades auxiliam as bancas a peneirarem os candidatos e se-
desenrolar do desfile dos ternos de Congo que homenageiam o es- lecionarem os melhores preparados não apenas de modo técnico.
cravo Chico Rei e sua luta pela libertação de seus companheiros, Sendo assim, estudar atualidades é o ato de se manter cons-
com o bônus da devoção à Nossa Senhora do Rosário. Ao toque de tantemente informado. Os temas de atualidades em concursos são
três apitos, os generais dão início às batidas de percussão dos mais sempre relevantes. É certo que nem todas as notícias que você vê
de 20 ternos que se revezam entre Catupés-Cacunda, Vilão, Mo- na televisão ou ouve no rádio aparecem nas questões, manter-se
çambiques, Penacho e Congos, cada qual com suas cores em cerca informado, porém, sobre as principais notícias de relevância nacio-
de dez dias de muita festa. nal e internacional em pauta é o caminho, pois são debates de ex-
trema recorrência na mídia.
A raiz e o sertanejo O grande desafio, nos tempos atuais, é separar o joio do trigo.
Nem só de manifestações religiosas vive a tradicional cultura Com o grande fluxo de informações que recebemos diariamente, é
goiana. Uma dança bastante antiga e muito representativa do Es- preciso filtrar com sabedoria o que de fato se está consumindo. Por
tado também faz as vezes em apresentar Goiás aos olhos dos visi- diversas vezes, os meios de comunicação (TV, internet, rádio etc.)
tantes. A Catira que tem seus primeiros registros desde o tempo adaptam o formato jornalístico ou informacional para transmitirem
colonial não tem origem certeira. Há relatos de caráter europeu, outros tipos de informação, como fofocas, vidas de celebridades,
africano e até mesmo indígena, com resquícios do processo ca- futebol, acontecimentos de novelas, que não devem de modo al-
tequizador como forma de introduzir cantos cristãos na possível gum serem inseridos como parte do estudo de atualidades. Os in-
dança indígena. No entanto, seu modo de reprodução compassado teresses pessoais em assuntos deste cunho não são condenáveis de
entre batidas de mãos e pés, permeados por cantigas de violeiros modo algum, mas são triviais quanto ao estudo.
perfaz a beleza cadenciada pela dança Ainda assim, mesmo que tentemos nos manter atualizados
A viola, aliás, está presente em boa parte do cancioneiro po- através de revistas e telejornais, o fluxo interminável e ininterrupto
pular goiano, especialmente nos gêneros caipira e sertanejo, que de informações veiculados impede que saibamos de fato como es-
em conjunto com sanfonas e gaitas têm sido bastante divulgados,

63
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
tudar. Apostilas e livros de concursos impressos também se tornam 4. O Rio Paranaíba é um dos rios mais importantes do estado
rapidamente desatualizados e obsoletos, pois atualidades é uma de Goiás porque é utilizado para
disciplina que se renova a cada instante. (A) a geração de energia elétrica, abrigando grandes barragens.
O mundo da informação está cada vez mais virtual e tecnoló- (B) o abastecimento de mais de trinta cidades, incluindo a ca-
gico, as sociedades se informam pela internet e as compartilham pital.
em velocidades incalculáveis. Pensando nisso, a editora prepara (C) as atividades de turismo, formando praias no período de
mensalmente o material de atualidades de mais diversos campos estiagem.
do conhecimento (tecnologia, Brasil, política, ética, meio ambiente, (D) o desenvolvimento da aquicultura, diversificando a econo-
jurisdição etc.) na “área do cliente”. mia regional.
Lá, o concurseiro encontrará um material completo com ilus-
trações e imagens, notícias de fontes verificadas e confiáveis, tudo 5. Analisando os aspectos físicos do território goiano, notada-
preparado com muito carinho para seu melhor aproveitamento. mente quanto ao relevo e à hidrografia, é correto afirmar que
Com o material disponibilizado online, você poderá conferir e che- (A) predominam, em Goiás, rios meândricos e intermitentes,
car os fatos e fontes de imediato através dos veículos de comunica- com pequena influência do clima em suas vazões.
ção virtuais, tornando a ponte entre o estudo desta disciplina tão (B) as maiores declividades do relevo de Goiás ocorrem no su-
fluida e a veracidade das informações um caminho certeiro. doeste do estado, o que dificulta as práticas agrícolas mecani-
Acesse: https://www.editorasolucao.com.br/errata-retificacao zadas.
Bons estudos! (C) a região em que se inserem o estado de Goiás e o Distrito
Federal é divisora de águas de três grandes bacias hidrográficas
brasileiras.
EXERCÍCIOS
(D) poucos pontos do território goiano ultrapassam os dois mil
metros de altitude em relação ao nível do mar, resultado da
1. Goiânia foi fundada em 1937 para ser a nova capital de Goi- antiguidade de sua formação e da ação de agentes erosivos ex-
ás. Antes dela a capital do estado de Goiás era: ternos.
(A) A cidade de Goiás, antiga Vila Boa. (E) diversos corpos hídricos goianos cumprem importante pa-
(B) A cidade de Itumbiara, antiga Vila Real. pel na geração de energia elétrica, a exemplo do rio das Almas
(C) A cidade de Pirinópolis, antiga Vila Nova. e do rio Maranhão, que abastecem, respectivamente, as usinas
(D) A cidade de Caldas Novas, antiga Vila Bela. de Serra da Mesa e de Corumbá.

2. Foi somente no início do século XX que o Brasil passou a ter a 6. A Cidade de Goiás, declarada patrimônio histórico, surgiu às
configuração atual. Porém, internamente a divisão era diferente. O margens do Rio Vermelho, fruto da
estado de Tocantins foi criado em 1988 após a divisão do seguinte (A) fixação dos entrepostos comerciais criados pelos tropeiros.
estado: (B) expansão das lavouras cafeeiras realizada pelos fazendeiros.
(A) Pará. (C) atividade de exploração mineradora iniciada pelos bandei-
(B) Goiás. rantes.
(C) Amazonas. (D) implementação da pecuária extensiva promovida pelos co-
(D) Mato Grosso. lonizadores.

3. Na segunda metade do século XIX, como resultado do ritmo 7. Sobre aspectos físicos do território goiano: vegetação, hidro-
de transformação da estrutura econômica produtiva do Centro-Sul grafia, clima e relevo. É incorreto afirmar que
do País a partir do alargamento da fronteira agrícola, ocorreu uma (A) O Cerrado é considerado o segundo maior bioma brasileiro,
expansão das estradas de ferro, com o prolongamento das ferro- atrás apenas da Floresta Amazônica, possui representatividade
vias paulistas para além dos limites do estado de São Paulo. Os tri- no território goiano. Mesmo com elevado nível de desmata-
lhos seguiram em direção a outros estados, como no caso de Goiás, mento registrado desde a década de 1960, Goiás conseguiu
com a construção da Estrada de Ferro Goiás, ligando-se à Estrada manter reservas da mata nativa em algumas regiões, o que
de Ferro Mogiana, localizada em solo mineiro. gera discussões entre fazendeiros e ambientalistas.
Internet: <www.revistas.ufg.br> (com adaptações). (B) O Estado de Goiás tem apenas duas estações sazonais que
são a seca e a chuvosa. A “estação seca” tem seu início no mês
A justificativa da construção da ferrovia goiana estava ancora- de abril e estende-se até a primeira quinzena de outubro. Já
da no(na) a “estação chuvosa” tem seu início na segunda quinzena de
(A) posição assumida pelo estado de Goiás como região produ- outubro e se estende até março do ano seguinte. (Simehgo/
tora e fornecedora de produtos agrícolas básicos para os mer- Sectec).
cados da região Sudeste. (C) O Estado de Goiás possui vegetação de savana, típica do
(B) pensamento, predominante naquele momento, de que a cerrado, reflexo da escassez de água na região. Goiás é precário
construção da nova capital do estado demandaria ligações fer- em recursos hídricos.
roviárias com o restante do País. (D) Além da presença marcante dos planaltos, dentro dos limi-
(C) significativa produção de café no sul goiano, que seria ma- tes do Estado de Goiás, encontramos também áreas de planí-
joritariamente encaminhada ao porto de Santos, em São Paulo, cies e depressões.
por via férrea. (E) O Estado de Goiás está localizado no Planalto Central Brasi-
(D necessidade de escoar a vasta produção de minerais, como leiro, o que justifica a predominância de planaltos em seu re-
níquel e fosfato, produzidos no norte goiano. levo.
(E) possibilidade de que funcionasse como vetor de transferên-
cia maciça dos imigrantes que chegavam de Minas Gerais.

64
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
8. Das mesorregiões do Estado de Goiás, a que possui o maior
quantitativo populacional e abriga a capital do Estado é a do GABARITO
(A) Sul Goiano.
(B) Centro Goiano. 1 A
(C) Norte Goiano.
(D) Leste Goiano. 2 B
3 A
9. (QUADRIX - 2019 - PREFEITURA DE CRISTALINA - GO -
ASSISTENTE SOCIAL) A porção do Sudeste Goiano denominada 4 A
“região da Estrada de Ferro”, após ter passado por um período de 5 C
crescimento econômico no início do século XX, a partir de 1930,
6 C
enfrentou a estagnação, vindo a recuperar sua primazia apenas a
partir dos anos de 1970. 7 C
8 B
Patrícia Francisca de Matos. Estrada de Ferro: o anúncio das
metamorfoses de modernização do território no Sudeste Goiano. In: 9 A
Revista eletrônica Ateliê Geográfico, UFG‐IESA, p. 14. 10 B

Com relação à formação econômica de Goiás e às suas trans-


formações ao longo do século XX, assinale a alternativa correta. ANOTAÇÕES
(A) A estagnação ocorrida a partir de 1930 tem, entre seus mo-
tivos, a expansão da ferrovia até Anápolis, o que viria a consoli-
dar o domínio comercial por outras regiões do estado. ______________________________________________________
(B) A construção de Goiânia não impactou na decadência da
região da Estrada de Ferro, visto que sua influência econômica ______________________________________________________
se deu apenas no campo político.
(C) Liderados por Mauro Borges, grupos que se opunham aos ______________________________________________________
coronéis da região da Estrada de Ferro investiram na moder-
______________________________________________________
nização de outras áreas e contribuíram, nos anos 1930, para a
decadência dessa região. ______________________________________________________
(D) Apesar da estagnação econômica referida, o Sudeste Goia-
no viveu, entre 1930 e 1970, um forte incremento na dinâmica ______________________________________________________
populacional, tornando‐se a região mais populosa do estado.
(E) Mesmo com menor fluxo de capitais em relação às décadas ______________________________________________________
anteriores a 1930, a região da Estrada de Ferro continuou sen-
do, até 1970, grande exportadora de produtos da agropecuária. ______________________________________________________

______________________________________________________
10. (IADES - 2019 - AL-GO - TÉCNICO EM ENFERMAGEM DO
TRABALHO) A consolidação do espaço geográfico da capitania de ______________________________________________________
Goiás, localizada na região central do Brasil, foi marcada pela polí-
tica centralizadora de ocupação colonial portuguesa do século 18. ______________________________________________________
Em relação ao exposto, assinale a alternativa que indica o pro-
cesso histórico na formação e desenvolvimento econômico da ca- ______________________________________________________
pitania de Goiás.
(A) A limitação da ocupação portuguesa a Oeste do meridiano ______________________________________________________
de Tordesilhas, conforme acordo entre os governos de Espanha
e Portugal no ano de 1494. ______________________________________________________
(B) A adoção do sistema de sesmaria e o incentivo às atividades
______________________________________________________
mineradoras e agropastoris.
(C) A proibição, por Portugal, da criação de prelazia na capita- ______________________________________________________
nia de Goiás.
(D) A restrição, pela Coroa portuguesa, da construção de aldea- ______________________________________________________
mentos e limitação da entrada de imigrantes na região.
(E) A legitimação e ocupação do território de Goiás com o Tra- ______________________________________________________
tado de Tordesilhas, firmado entre as coroas portuguesa e es-
panhola, em 1750. ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

65
REALIDADE ÉTNICA, SOCIAL, HISTÓRICA, GEOGRÁFICA, CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA
_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

66
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

ESTRUTURAS LÓGICAS. LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO: ANALOGIAS, INFERÊNCIAS, DEDUÇÕES E CONCLUSÕES. LÓGICA


SENTENCIAL (OU PROPOSICIONAL). PROPOSIÇÕES SIMPLES E COMPOSTAS. TABELAS VERDADE. EQUIVALÊNCIAS. LEIS
DE MORGAN. DIAGRAMAS LÓGICOS. LÓGICA DE PRIMEIRA ORDEM

RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO


Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver problemas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das diferentes
áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte consiste nos
seguintes conteúdos:
- Operação com conjuntos.
- Cálculos com porcentagens.
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais.
- Geometria básica.
- Álgebra básica e sistemas lineares.
- Calendários.
- Numeração.
- Razões Especiais.
- Análise Combinatória e Probabilidade.
- Progressões Aritmética e Geométrica.

RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO


Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de Argumentação.

ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL


O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação tem-
poral envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo.
O mais importante é praticar o máximo de questões que envolvam os conteúdos:
- Lógica sequencial
- Calendários

RACIOCÍNIO VERBAL
Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar conclusões lógicas.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de habilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma vaga.
Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteligência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do conhecimento
por meio da linguagem.
Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirmações,
selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das informações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as informações ou opiniões contidas no trecho)
C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é verdadeira ou falsa sem mais informações)

ESTRUTURAS LÓGICAS
Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições. Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos atri-
buir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos. Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.

Elas podem ser:


• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

67
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições sim-
ples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Proposições Compostas – Conectivos


As proposições compostas são formadas por proposições simples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que po-
demos vê na tabela a seguir:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

68
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F

Resposta: Certo

Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposi-
ção é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.

69
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.

Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.

70
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Conectivos (conectores lógicos)
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

71
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B.

Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.

• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”

Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.

Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.

Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado

72
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Resposta: Certo.

Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.

Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.

Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

Resposta: B.

Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

73
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.

Conectivo “ou” (v)


Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. (Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente).

Conectivo “ou” (v)


Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa).

74
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
• Mais sobre o Conectivo “ou”
– “inclusivo”(considera os dois casos)
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa

No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeiro

Conectivo “Se... então” (→)


Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer sol,
então irei à praia”.
1. Podem ocorrer as situações:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
Temos então sua tabela verdade:

Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.

Conectivo “Se e somente se” (↔)


Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é con-
dição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela verdade:

Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.

ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qualquer
questão referente ao assunto.

75
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Ordem de precedência dos conectivos:
O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica matemática
prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:

Em resumo:

Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q
Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B

CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais proposições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente do
valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua tabela-verdade:

Exemplo:
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a proposição ~P ∧ P é:
(A) uma tautologia.
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p.
(C) uma contradição.
(D) uma contingência.
(E) uma disjunção.

Resolução:
Montando a tabela teremos que:

P ~p ~p ^p
V F F
V F F
F V F
F V F

Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante de uma CONTRADIÇÃO.
Resposta: C

A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira. Repre-
sentamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).

76
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distin- • Silogismo Disjuntivo
tos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conec-
tivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica
que pode ou não existir entre duas proposições.

Exemplo:

• Modus Ponens

Observe:
- Toda proposição implica uma Tautologia:

• Modus Tollens

- Somente uma contradição implica uma contradição:

Propriedades
• Reflexiva:
– P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
– Uma proposição complexa implica ela mesma. Tautologias e Implicação Lógica
• Teorema
• Transitiva: P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...)
– Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
– Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R

Regras de Inferência
• Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
sições verdadeiras já existentes.

Regras de Inferência obtidas da implicação lógica

Observe que:
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.

77
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Inferências Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no
• Regra do Silogismo Hipotético conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
“Todo B é A”.

• Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B”


Tais proposições afirmam que não há elementos em comum
Princípio da inconsistência entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mes-
– Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica mo que dizer “nenhum B é A”.
p ^ ~p ⇒ q Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte dia-
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo- grama (A ∩ B = ø):
sição q.

A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a


condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren- • Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta pro-
ou falsa. posição:
Vejamos algumas formas:
- Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.
Onde temos que A e B são os termos ou características dessas
proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com


o tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.

– Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição


categórica em afirmativa ou negativa.
– Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica- Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A”
ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição. tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Con-
tudo, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo
A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”.

• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B”


Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três
representações possíveis:

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.

• Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”


Teremos duas possibilidades.

Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o


conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao
conjunto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo
que Algum B não é A.

78
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
• Negação das Proposições Categóricas (CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
seguintes convenções de equivalência: vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos (A) Todos os não psicólogos são professores.
uma proposição categórica particular. (B) Nenhum professor é psicólogo.
– Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição (C) Nenhum psicólogo é professor.
categórica particular geramos uma proposição categórica universal. (D) Pelo menos um psicólogo não é professor.
– Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos, (E) Pelo menos um professor não é psicólogo.
sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca,
negando uma proposição de natureza negativa geramos, sempre, Resolução:
uma proposição de natureza afirmativa. Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
Em síntese: ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
menos um professor não é psicólogo.
Resposta: E

• Equivalência entre as proposições


Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões.

Exemplos:
(DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não
são pardos, e aqueles que não são pardos miam alto.
Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir-
mação anterior é:
(A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par- Exemplo:
dos. (PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação
(B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos. lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual
(C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos a cinco”?
não miam alto. (A) Todo número natural é menor do que cinco.
(D) Todos os gatos que miam alto são pardos. (B) Nenhum número natural é menor do que cinco.
(E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é (C) Todo número natural é diferente de cinco.
pardo. (D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco.
Resolução:
Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição Resolução:
do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação. Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede-
O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo -se a sua negação.
o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum). O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
Logo, podemos descartar as alternativas A e E. esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção, ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To-
em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta- dos e Nenhum, que também são universais.
mos a alternativa B.
Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
A é não B.
Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
são pardos NÃO miam alto.
Resposta: C

79
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem
quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
nativas A, B e C.
Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Resposta: D Existe pelo menos um elemento co-
mum aos conjuntos A e B.
Diagramas lógicos Podemos ainda representar das seguin-
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble- tes formas:
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam ALGUM
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po- I
AéB
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.

Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:

TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS

TODO
A
AéB

Se um elemento pertence ao conjunto


A, então pertence também a B.

NENHUM
E
AéB
ALGUM
O
A NÃO é B
Existe pelo menos um elemento que
pertence a A, então não pertence a B, e
vice-versa.

Perceba-se que, nesta sentença, a aten-


ção está sobre o(s) elemento (s) de A
que não são B (enquanto que, no “Algum
A é B”, a atenção estava sobre os que
eram B, ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a
diferença entre conjuntos, que forma o
conjunto A - B

Exemplo:
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é
casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que
(A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.

80
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução: (D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi-
Vamos chamar de: cativa é observada no diagrama da alternativa anterior.
Cinema = C (E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor-
Casa de Cultura = CC reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que todo
Teatro = T cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura também
Analisando as proposições temos: não é cinema.
- Todo cinema é uma casa de cultura

- Existem teatros que não são cinemas


Resposta: E

LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.

- Algum teatro é casa de cultura

Exemplo:
Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC P1: Todos os cientistas são loucos.
Segundo as afirmativas temos: P2: Martiniano é louco.
(A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último Q: Martiniano é um cientista.
diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe pelo
menos um dos cinemas é considerado teatro. O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento
formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.

Argumentos Válidos
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató-
ria do seu conjunto de premissas.
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
mo princípio acima. Exemplo:
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado, O silogismo...
a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama nos P1: Todos os homens são pássaros.
afirma isso P2: Nenhum pássaro é animal.
Q: Portanto, nenhum homem é animal.

... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um


argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis.

ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CON-


TEÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido,
independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão!

81
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
• Como saber se um determinado argumento é mesmo váli- Argumentos Inválidos
do? Dizemos que um argumento é inválido – também denominado
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé- das premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclu-
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que são.
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como Exemplo:
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa P1: Todas as crianças gostam de chocolate.
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar P2: Patrícia não é criança.
essa frase da seguinte maneira: Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate.

Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois


as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão.
Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois
a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam
de chocolate.
Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade
do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo arti-
fício, que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela pri-
meira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”.

Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho-


mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo
menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO.
Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa-
lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é
de uma total dissociação entre os dois conjuntos.

Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é


criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Pa-
trícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das
crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do
diagrama:
Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença 1º) Fora do conjunto maior;
“Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em 2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:
comum.
Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:

Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não


gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este ar-
Comparando a conclusão do nosso argumento, temos: gumento é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado
NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência - É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de cho-
necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con- colate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não!
junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do Pode ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círcu-
conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido! lo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)!
Enfim, o argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a
veracidade da conclusão!

82
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Métodos para validação de um argumento
Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO, AL-
GUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocorre quan-
do nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se na construção
da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a desvantagem de ser mais
trabalhoso, principalmente quando envolve várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e considerando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a validade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibilidade
do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades. Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobriremos o
valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em verdade, para que o argumento seja considerado válido.
4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, considerando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da con-
clusão de maneira direta, mas somente por meio de análises mais complicadas.

Em síntese:

Exemplo:
Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido:

(p ∧ q) → r
_____~r_______
~p ∨ ~q

83
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução: Resolução:
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre-
ou nenhum? missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas:
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos A = Chove
à pergunta seguinte. B = Maria vai ao cinema
- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposi- C = Cláudio fica em casa
ções simples? D = Faz frio
A resposta também é não! Portanto, descartamos também o E = Fernando está estudando
2º método. F = É noite
- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposi- A argumentação parte que a conclusão deve ser (V)
ção simples ou uma conjunção? Lembramos a tabela verdade da condicional:
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar
então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos
seguir adiante com uma próxima pergunta, teríamos:
- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição
simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta
também é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso
queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método!
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo
3º e pelo 4º métodos.

Resolução pelo 3º Método A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa,


Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão utilizando isso temos:
verdadeira. Teremos: O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa! estava estudando. // B → ~E
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa, Iniciando temos:
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma 4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am- = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove
bas forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores tem que ser F.
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar 3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V).
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria
argumento é ou NÃO VÁLIDO. vai ao cinema tem que ser V.
2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D
Resolução pelo 4º Método = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio
Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere- sai de casa tem que ser F.
mos: 5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V).
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda- // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode
deiro! ser V ou F.
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas 1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V
verdadeiras! Teremos:
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver- Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo: dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
r é verdadeiro. Resposta: Errado
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi! (PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO
Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada,
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si- então Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma
o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido! bruxa.
Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
Exemplos:
(A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
(DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as
(B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
seguintes proposições sejam verdadeiras.
(C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
• Quando chove, Maria não vai ao cinema.
(D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
• Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.
(E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.
• Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
• Quando Fernando está estudando, não chove.
Resolução:
• Durante a noite, faz frio.
Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é
bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão
Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o
o valor lógico (V), então:
item subsecutivo.
(4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F)
Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando.
→V
( ) Certo
( ) Errado

84
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
(3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro (F) → V
(2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F) → V
(1) Tristeza não é uma bruxa (V)

Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)

Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B

LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA


Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:

01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.

Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

2º passo – construir a tabela gabarito.


Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos
Luís
Paulo

3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:

85
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.

86
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está resolvido:

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro Patrícia
Luís Médico Maria
Paulo Advogado Lúcia

Exemplo:
(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, todos
para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curitiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram, sabe-se que:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;
− Mariana viajou para Curitiba;
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza.

É correto concluir que, em janeiro,


(A) Paulo viajou para Fortaleza.
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia.
(D) Mariana viajou para Salvador.
(E) Luiz viajou para Curitiba.

Resolução:
Vamos preencher a tabela:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N
Arnaldo N
Mariana
Paulo

87
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
− Mariana viajou para Curitiba; Na representação do diagrama lógico, seria:

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N N
Arnaldo N N
Mariana N N S N
Paulo N
ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
− Paulo não viajou para Goiânia; mem.
A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador 1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
2ª) Se José é homem, então José é mortal.
Luiz N N A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.
Arnaldo N N A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
(x) (A (x) → B).
Mariana N N S N
Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão
Paulo N N de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional.

− Luiz não viajou para Fortaleza. Aplicando temos:


x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for-
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x
+ 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira?
Luiz N N N A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador,
Arnaldo N N a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul-
gar, logo, é uma proposição lógica.
Mariana N N S N
Paulo N N • Quantificador existencial (∃)
O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
Agora, completando o restante:
Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En-
tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N S N N
Arnaldo S N N N Exemplo:
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase
Mariana N N S N
é:
Paulo N N N S

Resposta: B

Quantificador
É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
proposição aberta em uma proposição lógica. O quantificador existencial tem a função de elemento comum.
A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co-
QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃
(x)) (A (x) ∧ B).
Tipos de quantificadores
• Quantificador universal (∀) Aplicando temos:
O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas: x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença
será verdadeira?
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador,
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos
julgar, logo, é uma proposição lógica.
Exemplo:
Todo homem é mortal. ATENÇÃO:
A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será – A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B”
mortal. é diferente de “Todo B é A”.

88
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é Exemplos:
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”. (BNB) Apesar de todos os caminhos levarem a Roma, eles pas-
sam por diversos lugares antes. Considerando-se que existem três
Forma simbólica dos quantificadores caminhos a seguir quando se deseja ir da cidade A para a cidade
Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B). B, e que existem mais cinco opções da cidade B para Roma, qual a
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B). quantidade de caminhos que se pode tomar para ir de A até Roma,
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B). passando necessariamente por B?
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B). (A) Oito.
(B) Dez.
Exemplos: (C) Quinze.
Todo cavalo é um animal. Logo, (D) Dezesseis.
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo. (E) Vinte.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo. Resolução:
(D) Nenhum animal é cavalo. Observe que temos uma sucessão de escolhas:
Primeiro, de A para B e depois de B para Roma.
Resolução: 1ª possibilidade: 3 (A para B).
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu- Obs.: o número 3 representa a quantidade de escolhas para a
sões: primeira opção.
– Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal. 2ª possibilidade: 5 (B para Roma).
– Se é cavalo, então é um animal. Temos duas possibilidades: A para B depois B para Roma, logo,
Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça uma sucessão de escolhas.
de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma Resultado: 3 . 5 = 15 possibilidades.
de conclusão). Resposta: C.
Resposta: B
(PREF. CHAPECÓ/SC – ENGENHEIRO DE TRÂNSITO – IOBV) Em
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi- um restaurante os clientes têm a sua disposição, 6 tipos de carnes,
ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V. 4 tipos de cereais, 4 tipos de sobremesas e 5 tipos de sucos. Se o
cliente quiser pedir 1 tipo carne, 1 tipo de cereal, 1 tipo de sobre-
Resolução: mesa e 1 tipo de suco, então o número de opções diferentes com
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais que ele poderia fazer o seu pedido, é:
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R) (A) 19
tal que x + y = x. (B) 480
– 1º passo: observar os quantificadores. (C) 420
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos (D) 90
os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne- Resolução:
cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade. A questão trata-se de princípio fundamental da contagem, logo
– 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos vamos enumerar todas as possibilidades de fazermos o pedido:
6 x 4 x 4 x 5 = 480 maneiras.
x e y.
Resposta: B.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais.
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
Fatorial
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
Sendo n um número natural, chama-se de n! (lê-se: n fatorial)
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
a expressão:
Existe sim! y = 0.
n! = n (n - 1) (n - 2) (n - 3). ... .2 . 1, como n ≥ 2.
X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de Exemplos:
x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor- 5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120.
reto. 7! = 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 5.040.
Resposta: CERTO

ATENÇÃO
PRINCÍPIOS DE CONTAGEM E PROBABILIDADE
0! = 1
1! = 1
A Análise Combinatória é a parte da Matemática que desen-
volve meios para trabalharmos com problemas de contagem. Ve- Tenha cuidado 2! = 2, pois 2 . 1 = 2. E 3!
jamos eles: Não é igual a 3, pois 3 . 2 . 1 = 6.

Princípio fundamental de contagem (PFC) Arranjo simples


É o total de possibilidades de o evento ocorrer. Arranjo simples de n elementos tomados p a p, onde n>=1 e p
• Princípio multiplicativo: P1. P2. P3. ... .Pn.(regra do “e”). É é um número natural, é qualquer ordenação de p elementos dentre
um princípio utilizado em sucessão de escolha, como ordem. os n elementos, em que cada maneira de tomar os elementos se
• Princípio aditivo: P1 + P2 + P3 + ... + Pn. (regra do “ou”). É o diferenciam pela ordem e natureza dos elementos.
princípio utilizado quando podemos escolher uma coisa ou outra.

89
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Atenção: Observe que no grupo dos elementos: {1,2,3} um dos Exemplo:
arranjos formados, com três elementos, 123 é DIFERENTE de 321, e (PREF. LAGOA DA CONFUSÃO/TO – ORIENTADOR SOCIAL –
assim sucessivamente. IDECAN) Renato é mais velho que Jorge de forma que a razão entre
o número de anagramas de seus nomes representa a diferença en-
• Sem repetição tre suas idades. Se Jorge tem 20 anos, a idade de Renato é
A fórmula para cálculo de arranjo simples é dada por: (A) 24.
(B) 25.
(C) 26.
(D) 27.
(E) 28.

Resolução:
Onde: Anagramas de RENATO
n = Quantidade total de elementos no conjunto. ______
P =Quantidade de elementos por arranjo 6.5.4.3.2.1=720
Exemplo: Uma escola possui 18 professores. Entre eles, serão
escolhidos: um diretor, um vice-diretor e um coordenador pedagó- Anagramas de JORGE
gico. Quantas as possibilidades de escolha? _____
n = 18 (professores) 5.4.3.2.1=120
p = 3 (cargos de diretor, vice-diretor e coordenador pedagógi-
co) Razão dos anagramas: 720/120=6
Se Jorge tem 20 anos, Renato tem 20+6=26 anos.
Resposta: C.

• Com repetição
• Com repetição Na permutação com elementos repetidos ocorrem permuta-
Os elementos que compõem o conjunto podem aparecer re- ções que não mudam o elemento, pois existe troca de elementos
petidos em um agrupamento, ou seja, ocorre a repetição de um iguais. Por isso, o uso da fórmula é fundamental.
mesmo elemento em um agrupamento.
A fórmula geral para o arranjo com repetição é representada
por:

Exemplo:
Exemplo: Seja P um conjunto com elementos: P = {A,B,C,D}, (CESPE) Considere que um decorador deva usar 7 faixas colo-
tomando os agrupamentos de dois em dois, considerando o arranjo ridas de dimensões iguais, pendurando-as verticalmente na vitri-
com repetição quantos agrupamentos podemos obter em relação ne de uma loja para produzir diversas formas. Nessa situação, se 3
ao conjunto P. faixas são verdes e indistinguíveis, 3 faixas são amarelas e indistin-
guíveis e 1 faixa é branca, esse decorador conseguirá produzir, no
Resolução: máximo, 140 formas diferentes com essas faixas.
P = {A, B, C, D} ( ) Certo
n=4 ( ) Errado
p=2
A(n,p)=np Resolução:
A(4,2)=42=16 Total: 7 faixas, sendo 3 verdes e 3 amarelas.

Permutação
É a TROCA DE POSIÇÃO de elementos de uma sequência. Utili-
zamos todos os elementos.
• Sem repetição Resposta: Certo.

• Circular
A permutação circular é formada por pessoas em um formato
circular. A fórmula é necessária, pois existem algumas permutações
realizadas que são iguais. Usamos sempre quando:
Atenção: Todas as questões de permutação simples podem ser a) Pessoas estão em um formato circular.
resolvidas pelo princípio fundamental de contagem (PFC). b) Pessoas estão sentadas em uma mesa quadrada (retangular)
de 4 lugares.

90
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo:
(CESPE) Uma mesa circular tem seus 6 lugares, que serão ocupados pelos 6 participantes de uma reunião. Nessa situação, o número
de formas diferentes para se ocupar esses lugares com os participantes da reunião é superior a 102.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
É um caso clássico de permutação circular.
Pc = (6 - 1) ! = 5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120 possibilidades.
Resposta: CERTO.

Combinação
Combinação é uma escolha de um grupo, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO a ordem dos elementos envolvidos.

• Sem repetição
Dados n elementos distintos, chama-se de combinação simples desses n elementos, tomados p a p, a qualquer agrupamento de p
elementos distintos, escolhidos entre os n elementos dados e que diferem entre si pela natureza de seus elementos.
Fórmula:

Exemplo:
(CRQ 2ª REGIÃO/MG – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – FUNDEP) Com 12 fiscais, deve-se fazer um grupo de trabalho com 3 deles. Como
esse grupo deverá ter um coordenador, que pode ser qualquer um deles, o número de maneiras distintas possíveis de se fazer esse grupo
é:
(A) 4
(B) 660
(C) 1 320
(D) 3 960

Resolução:
Como trata-se de Combinação, usamos a fórmula:

Onde n = 12 e p = 3

Como cada um deles pode ser o coordenado, e no grupo tem 3 pessoas, logo temos 220 x 3 = 660.
Resposta: B.

As questões que envolvem combinação estão relacionadas a duas coisas:


– Escolha de um grupo ou comissões.
– Escolha de grupo de elementos, sem ordem, ou seja, escolha de grupo de pessoas, coisas, objetos ou frutas.

• Com repetição
É uma escolha de grupos, sem ordem, porém, podemos repetir elementos na hora de escolher.

Exemplo:
Em uma combinação com repetição classe 2 do conjunto {a, b, c}, quantas combinações obtemos?
Utilizando a fórmula da combinação com repetição, verificamos o mesmo resultado sem necessidade de enumerar todas as possibi-
lidades:
n=3ep=2

91
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
PROBABILIDADES
A teoria da probabilidade permite que se calcule a chance de ocorrência de um número em um experimento aleatório.

Elementos da teoria das probabilidades


• Experimentos aleatórios: fenômenos que apresentam resultados imprevisíveis quando repetidos, mesmo que as condições sejam
semelhantes.
• Espaço amostral: é o conjunto U, de todos os resultados possíveis de um experimento aleatório.
• Evento: qualquer subconjunto de um espaço amostral, ou seja, qualquer que seja E Ì U, onde E é o evento e U, o espaço amostral.

Experimento composto
Quando temos dois ou mais experimentos realizados simultaneamente, dizemos que o experimento é composto. Nesse caso, o nú-
mero de elementos do espaço amostral é dado pelo produto dos números de elementos dos espaços amostrais de cada experimento.
n(U) = n(U1).n(U2)

Probabilidade de um evento
Em um espaço amostral U, equiprobabilístico (com elementos que têm chances iguais de ocorrer), com n(U) elementos, o evento E,
com n(E) elementos, onde E Ì U, a probabilidade de ocorrer o evento E, denotado por p(E), é o número real, tal que:

Onde,
n(E) = número de elementos do evento E.
n(S) = número de elementos do espaço amostral S.

Sendo 0 ≤ P(E) ≤ 1 e S um conjunto equiprovável, ou seja, todos os elementos têm a mesma “chance de acontecer.

ATENÇÃO:
As probabilidades podem ser escritas na forma decimal ou representadas em porcentagem.
Assim: 0 ≤ p(E) ≤ 1, onde:
p(∅) = 0 ou p(∅) = 0%
p(U) = 1 ou p(U) = 100%

Exemplo:
(PREF. NITERÓI – AGENTE FAZENDÁRIO – FGV) O quadro a seguir mostra a distribuição das idades dos funcionários de certa repartição
pública:
FAIXA DE IDADES (ANOS) NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS
20 ou menos 2
De 21 a 30 8
De 31 a 40 12
De 41 a 50 14
Mais de 50 4

Escolhendo ao acaso um desses funcionários, a probabilidade de que ele tenha mais de 40 anos é:
(A) 30%;
(B) 35%;
(C) 40%;
(D) 45%;
(E) 55%.

92
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução:
O espaço amostral é a soma de todos os funcionário:
2 + 8 + 12 + 14 + 4 = 40
O número de funcionário que tem mais de 40 anos é: 14 + 4 = 18
Logo a probabilidade é:

Resposta: D

Probabilidade da união de eventos


Para obtermos a probabilidade da união de eventos utilizamos a seguinte expressão:

Quando os eventos forem mutuamente exclusivos, tendo A ∩ B = Ø, utilizamos a seguinte equação:

Probabilidade de um evento complementar


É quando a soma das probabilidades de ocorrer o evento E, e de não ocorrer o evento E (seu complementar, Ē) é 1.

Probabilidade condicional
Quando se impõe uma condição que reduz o espaço amostral, dizemos que se trata de uma probabilidade condicional.
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral U, com p(B) ≠ 0. Chama-se probabilidade de A condicionada a B a probabilidade de
ocorrência do evento A, sabendo-se que já ocorreu ou que vai ocorrer o evento B, ou seja:

Podemos também ler como: a probabilidade de A “dado que” ou “sabendo que” a probabilidade de B.

– Caso forem dois eventos simultâneos (ou sucessivos): para se avaliar a probabilidade de ocorrem dois eventos simultâneos (ou
sucessivos), que é P (A ∩ B), é preciso multiplicar a probabilidade de ocorrer um deles P(B) pela probabilidade de ocorrer o outro, sabendo
que o primeiro já ocorreu P (A | B). Sendo:

93
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
– Se dois eventos forem independentes: dois eventos A e B de um espaço amostral S são independentes quando P(A|B) = P(A) ou
P(B|A) = P(B). Sendo os eventos A e B independentes, temos:

P (A ∩ B) = P(A). P(B)

Lei Binomial de probabilidade


A lei binominal das probabilidades é dada pela fórmula:

Sendo:
n: número de tentativas independentes;
p: probabilidade de ocorrer o evento em cada experimento (sucesso);
q: probabilidade de não ocorrer o evento (fracasso); q = 1 - p
k: número de sucessos.

ATENÇÃO:
A lei binomial deve ser aplicada nas seguintes condições:
– O experimento deve ser repetido nas mesmas condições as n vezes.
– Em cada experimento devem ocorrer os eventos E e .
– A probabilidade do E deve ser constante em todas as n vezes.
– Cada experimento é independente dos demais.

Exemplo:
Lançando-se um dado 5 vezes, qual a probabilidade de ocorrerem três faces 6?

Resolução:
n: número de tentativas ⇒ n = 5
k: número de sucessos ⇒ k = 3
p: probabilidade de ocorrer face 6 ⇒ p = 1/6
q: probabilidade de não ocorrer face 6 ⇒ q = 1- p ⇒ q = 5/6

OPERAÇÕES COM CONJUNTOS

Conjunto dos números inteiros - z


O conjunto dos números inteiros é a reunião do conjunto dos números naturais N = {0, 1, 2, 3, 4,..., n,...},(N C Z); o conjunto dos opos-
tos dos números naturais e o zero. Representamos pela letra Z.

N C Z (N está contido em Z)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Z* Conjunto dos números inteiros não nulos
+ Z+ Conjunto dos números inteiros não negativos
*e+ Z*+ Conjunto dos números inteiros positivos
- Z_ Conjunto dos números inteiros não positivos
*e- Z*_ Conjunto dos números inteiros negativos

94
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Observamos nos números inteiros algumas características:
• Módulo: distância ou afastamento desse número até o zero, na reta numérica inteira. Representa-se o módulo por | |. O módulo de
qualquer número inteiro, diferente de zero, é sempre positivo.
• Números Opostos: dois números são opostos quando sua soma é zero. Isto significa que eles estão a mesma distância da origem
(zero).

Somando-se temos: (+4) + (-4) = (-4) + (+4) = 0

Operações
• Soma ou Adição: Associamos aos números inteiros positivos a ideia de ganhar e aos números inteiros negativos a ideia de perder.

ATENÇÃO: O sinal (+) antes do número positivo pode ser dispensado, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode ser
dispensado.

• Subtração: empregamos quando precisamos tirar uma quantidade de outra quantidade; temos duas quantidades e queremos saber
quanto uma delas tem a mais que a outra; temos duas quantidades e queremos saber quanto falta a uma delas para atingir a outra. A
subtração é a operação inversa da adição. O sinal sempre será do maior número.

ATENÇÃO: todos parênteses, colchetes, chaves, números, ..., entre outros, precedidos de sinal negativo, tem o seu sinal invertido,
ou seja, é dado o seu oposto.

Exemplo:
(FUNDAÇÃO CASA – AGENTE EDUCACIONAL – VUNESP) Para zelar pelos jovens internados e orientá-los a respeito do uso adequado
dos materiais em geral e dos recursos utilizados em atividades educativas, bem como da preservação predial, realizou-se uma dinâmica
elencando “atitudes positivas” e “atitudes negativas”, no entendimento dos elementos do grupo. Solicitou-se que cada um classificasse
suas atitudes como positiva ou negativa, atribuindo (+4) pontos a cada atitude positiva e (-1) a cada atitude negativa. Se um jovem classi-
ficou como positiva apenas 20 das 50 atitudes anotadas, o total de pontos atribuídos foi
(A) 50.
(B) 45.
(C) 42.
(D) 36.
(E) 32.

Resolução:
50-20=30 atitudes negativas
20.4=80
30.(-1)=-30
80-30=50
Resposta: A

• Multiplicação: é uma adição de números/ fatores repetidos. Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser indicado por
a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as letras.

• Divisão: a divisão exata de um número inteiro por outro número inteiro, diferente de zero, dividimos o módulo do dividendo pelo
módulo do divisor.

ATENÇÃO:
1) No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa e não tem a propriedade da existência do elemento neutro.
2) Não existe divisão por zero.
3) Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de zero, é zero, pois o produto de qualquer número inteiro por zero é igual a
zero.
Na multiplicação e divisão de números inteiros é muito importante a REGRA DE SINAIS:

Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo.


Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre
negativo.

95
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo:
(PREF.DE NITERÓI) Um estudante empilhou seus livros, obtendo uma única pilha 52cm de altura. Sabendo que 8 desses livros possui
uma espessura de 2cm, e que os livros restantes possuem espessura de 3cm, o número de livros na pilha é:
(A) 10
(B) 15
(C) 18
(D) 20
(E) 22

Resolução:
São 8 livros de 2 cm: 8.2 = 16 cm
Como eu tenho 52 cm ao todo e os demais livros tem 3 cm, temos:
52 - 16 = 36 cm de altura de livros de 3 cm
36 : 3 = 12 livros de 3 cm
O total de livros da pilha: 8 + 12 = 20 livros ao todo.
Resposta: D

• Potenciação: A potência an do número inteiro a, é definida como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado a base
e o número n é o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é multiplicado por a n vezes. Tenha em mente que:
– Toda potência de base positiva é um número inteiro positivo.
– Toda potência de base negativa e expoente par é um número inteiro positivo.
– Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um número inteiro negativo.

Propriedades da Potenciação
1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se a base e somam-se os expoentes. (–a)3 . (–a)6 = (–a)3+6 = (–a)9
2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-se a base e subtraem-se os expoentes. (-a)8 : (-a)6 = (-a)8 – 6 = (-a)2
3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam-se os expoentes. [(-a)5]2 = (-a)5 . 2 = (-a)10
4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (-a)1 = -a e (+a)1 = +a
5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É igual a 1. (+a)0 = 1 e (–b)0 = 1

Conjunto dos números racionais – Q m


Um número racional é o que pode ser escrito na forma n , onde m e n são números inteiros, sendo que n deve ser diferente de zero.
Frequentemente usamos m/n para significar a divisão de m por n.

N C Z C Q (N está contido em Z que está contido em Q)

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Q* Conjunto dos números racionais não nulos
+ Q+ Conjunto dos números racionais não negativos
*e+ Q*+ Conjunto dos números racionais positivos
- Q_ Conjunto dos números racionais não positivos
*e- Q*_ Conjunto dos números racionais negativos

Representação decimal
Podemos representar um número racional, escrito na forma de fração, em número decimal. Para isso temos duas maneiras possíveis:
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um número finito de algarismos. Decimais Exatos:

2
= 0,4
5

96
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente Decimais
Periódicos ou Dízimas Periódicas:

1
= 0,333...
3

Representação Fracionária
É a operação inversa da anterior. Aqui temos duas maneiras possíveis:

1) Transformando o número decimal em uma fração numerador é o número decimal sem a vírgula e o denominador é composto pelo
numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas decimais do número decimal dado. Ex.:
0,035 = 35/1000

2) Através da fração geratriz. Aí temos o caso das dízimas periódicas que podem ser simples ou compostas.
– Simples: o seu período é composto por um mesmo número ou conjunto de números que se repeti infinitamente. Exemplos:

Procedimento: para transformarmos uma dízima periódica simples em fração basta utilizarmos o dígito 9 no denominador para cada
quantos dígitos tiver o período da dízima.

– Composta: quando a mesma apresenta um ante período que não se repete.

a)

Procedimento: para cada algarismo do período ainda se coloca um algarismo 9 no denominador. Mas, agora, para cada algarismo do
antiperíodo se coloca um algarismo zero, também no denominador.

b)

97
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Procedimento: é o mesmo aplicado ao item “a”, acrescido na
frente da parte inteira (fração mista), ao qual transformamos e ob-
temos a fração geratriz.

Exemplo:
(PREF. NITERÓI) Simplificando a expressão abaixo ATENÇÃO: Na adição/subtração se o denominador for igual,
conserva-se os denominadores e efetua-se a operação apresen-
tada.
Obtém-se :
Exemplo:
(A) ½ (PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERACIONAIS
(B) 1 – MAKIYAMA) Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua
(C) 3/2 portuguesa como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática como
(D) 2 favorita e os demais têm ciências como favorita. Sendo assim, qual
(E) 3 fração representa os alunos que têm ciências como disciplina favo-
rita?
Resolução: (A) 1/4
(B) 3/10
(C) 2/9
(D) 4/5
(E) 3/2

Resolução:
Somando português e matemática:
Resposta: B

Caraterísticas dos números racionais


O módulo e o número oposto são as mesmas dos números in-
teiros.
O que resta gosta de ciências:
Inverso: dado um número racional a/b o inverso desse número
(a/b)–n, é a fração onde o numerador vira denominador e o denomi-
nador numerador (b/a)n.

Resposta: B

• Multiplicação: como todo número racional é uma fração ou


pode ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
dois números racionais a e c , da mesma forma que o produto de
b d
Representação geométrica frações, através de:

• Divisão: a divisão de dois números racionais p e q é a própria


Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem infini- operação de multiplicação do número p pelo inverso de q, isto é: p
tos números racionais. ÷ q = p × q-1

Operações
• Soma ou adição: como todo número racional é uma fração
ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição
entre os números racionais a e c , da mesma forma que a soma Exemplo:
de frações, através de: b d (PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB) Numa operação
policial de rotina, que abordou 800 pessoas, verificou-se que 3/4
dessas pessoas eram homens e 1/5 deles foram detidos. Já entre as
mulheres abordadas, 1/8 foram detidas.
Qual o total de pessoas detidas nessa operação policial?
(A) 145
(B) 185
• Subtração: a subtração de dois números racionais p e q é a (C) 220
própria operação de adição do número p com o oposto de q, isto é: (D) 260
p – q = p + (–q) (E) 120

98
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução: 2) Símbolos:
- Primeiro, resolvemos os parênteses ( ), até acabarem os cál-
culos dentro dos parênteses,
-Depois os colchetes [ ];
- E por último as chaves { }.

ATENÇÃO:
– Quando o sinal de adição (+) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
com os seus sinais originais.
– Quando o sinal de subtração (-) anteceder um parêntese, col-
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
com os seus sinais invertidos.

Exemplo:
Resposta: A (MANAUSPREV – ANALISTA PREVIDENCIÁRIO – ADMINISTRATI-
VA – FCC) Considere as expressões numéricas, abaixo.
• Potenciação: é válido as propriedades aplicadas aos núme- A = 1/2 + 1/4+ 1/8 + 1/16 + 1/32 e
ros inteiros. Aqui destacaremos apenas as que se aplicam aos nú- B = 1/3 + 1/9 + 1/27 + 1/81 + 1/243
meros racionais. O valor, aproximado, da soma entre A e B é
(A) 2
A) Toda potência com expoente negativo de um número ra- (B) 3
cional diferente de zero é igual a outra potência que tem a base (C) 1
igual ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do (D) 2,5
expoente anterior. (E) 1,5

Resolução:
Vamos resolver cada expressão separadamente:

B) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal da


base.

C) Toda potência com expoente par é um número positivo.

Resposta: E

Múltiplos
Dizemos que um número é múltiplo de outro quando o primei-
Expressões numéricas ro é resultado da multiplicação entre o segundo e algum número
São todas sentenças matemáticas formadas por números, suas natural e o segundo, nesse caso, é divisor do primeiro. O que sig-
operações (adições, subtrações, multiplicações, divisões, potencia- nifica que existem dois números, x e y, tal que x é múltiplo de y se
ções e radiciações) e também por símbolos chamados de sinais de existir algum número natural n tal que:
associação, que podem aparecer em uma única expressão. x = y·n

Procedimentos Se esse número existir, podemos dizer que y é um divisor de x e


1) Operações: podemos escrever: x = n/y
- Resolvermos primeiros as potenciações e/ou radiciações na
ordem que aparecem;
- Depois as multiplicações e/ou divisões;
- Por último as adições e/ou subtrações na ordem que aparecem.

99
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Observações: Exemplo:
1) Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
2) Todo número natural é múltiplo de 1.
3) Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos múltiplos.
4) O zero é múltiplo de qualquer número natural.
5) Os múltiplos do número 2 são chamados de números pares,
e a fórmula geral desses números é 2k (k ∈ N). Os demais são cha-
mados de números ímpares, e a fórmula geral desses números é 2k
+ 1 (k ∈ N).
6) O mesmo se aplica para os números inteiros, tendo k ∈ Z.

Critérios de divisibilidade
São regras práticas que nos possibilitam dizer se um número é ou Divisores
não divisível por outro, sem que seja necessário efetuarmos a divisão. Os divisores de um número n, é o conjunto formado por todos
No quadro abaixo temos um resumo de alguns dos critérios: os números que o dividem exatamente. Tomemos como exemplo o
número 12.

Um método para descobrimos os divisores é através da fato-


ração numérica. O número de divisores naturais é igual ao produto
dos expoentes dos fatores primos acrescidos de 1.
Logo o número de divisores de 12 são:

Para sabermos quais são esses 6 divisores basta pegarmos cada


fator da decomposição e seu respectivo expoente natural que varia
de zero até o expoente com o qual o fator se apresenta na decom-
posição do número natural.
12 = 22 . 31 =
22 = 20,21 e 22 ; 31 = 30 e 31, teremos:
20 . 30=1
20 . 31=3
21 . 30=2
(Fonte: https://www.guiadamatematica.com.br/criterios-de-divisibili- 21 . 31=2.3=6
dade/ - reeditado) 22 . 31=4.3=12
22 . 30=4
Vale ressaltar a divisibilidade por 7: Um número é divisível por
7 quando o último algarismo do número, multiplicado por 2, sub- O conjunto de divisores de 12 são: D (12)={1, 2, 3, 4, 6, 12}
traído do número sem o algarismo, resulta em um número múltiplo A soma dos divisores é dada por: 1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 12 = 28
de 7. Neste, o processo será repetido a fim de diminuir a quantida-
de de algarismos a serem analisados quanto à divisibilidade por 7. Máximo divisor comum (MDC)
É o maior número que é divisor comum de todos os números
Outros critérios dados. Para o cálculo do MDC usamos a decomposição em fatores
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 quando é primos. Procedemos da seguinte maneira:
divisível por 3 e por 4 ao mesmo tempo. Após decompor em fatores primos, o MDC é o produto dos FA-
Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 quando é TORES COMUNS obtidos, cada um deles elevado ao seu MENOR
divisível por 3 e por 5 ao mesmo tempo. EXPOENTE.

Fatoração numérica
Trata-se de decompor o número em fatores primos. Para de-
compormos este número natural em fatores primos, dividimos o
mesmo pelo seu menor divisor primo, após pegamos o quociente
e dividimos o pelo seu menor divisor, e assim sucessivamente até
obtermos o quociente 1. O produto de todos os fatores primos re-
presenta o número fatorado.

100
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo:
MDC (18,24,42) =

Observe que os fatores comuns entre eles são: 2 e 3, então pegamos os de menores expoentes: 2x3 = 6. Logo o Máximo Divisor Co-
mum entre 18,24 e 42 é 6.

Mínimo múltiplo comum (MMC)


É o menor número positivo que é múltiplo comum de todos os números dados. A técnica para acharmos é a mesma do MDC, apenas
com a seguinte ressalva:
O MMC é o produto dos FATORES COMUNS E NÃO-COMUNS, cada um deles elevado ao SEU MAIOR EXPOENTE.
Pegando o exemplo anterior, teríamos:
MMC (18,24,42) =
Fatores comuns e não-comuns= 2,3 e 7
Com maiores expoentes: 2³x3²x7 = 8x9x7 = 504. Logo o Mínimo Múltiplo Comum entre 18,24 e 42 é 504.

Temos ainda que o produto do MDC e MMC é dado por: MDC (A,B). MMC (A,B)= A.B

Os cálculos desse tipo de problemas, envolvem adições e subtrações, posteriormente as multiplicações e divisões. Depois os pro-
blemas são resolvidos com a utilização dos fundamentos algébricos, isto é, criamos equações matemáticas com valores desconhecidos
(letras). Observe algumas situações que podem ser descritas com utilização da álgebra.
É bom ter mente algumas situações que podemos encontrar:

Exemplos:
(PREF. GUARUJÁ/SP – SEDUC – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – CAIPIMES) Sobre 4 amigos, sabe-se que Clodoaldo é 5 centímetros
mais alto que Mônica e 10 centímetros mais baixo que Andreia. Sabe-se também que Andreia é 3 centímetros mais alta que Doralice e que
Doralice não é mais baixa que Clodoaldo. Se Doralice tem 1,70 metros, então é verdade que Mônica tem, de altura:
(A) 1,52 metros.
(B) 1,58 metros.
(C) 1,54 metros.
(D) 1,56 metros.

Resolução:
Escrevendo em forma de equações, temos:
C = M + 0,05 ( I )
C = A – 0,10 ( II )
A = D + 0,03 ( III )
D não é mais baixa que C
Se D = 1,70 , então:
( III ) A = 1,70 + 0,03 = 1,73
( II ) C = 1,73 – 0,10 = 1,63
( I ) 1,63 = M + 0,05
M = 1,63 – 0,05 = 1,58 m
Resposta: B

101
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
(CEFET – AUXILIAR EM ADMINISTRAÇÃO – CESGRANRIO) Em Fração é todo número que pode ser escrito da seguinte forma
três meses, Fernando depositou, ao todo, R$ 1.176,00 em sua ca- a/b, com b≠0. Sendo a o numerador e b o denominador. Uma fra-
derneta de poupança. Se, no segundo mês, ele depositou R$ 126,00 ção é uma divisão em partes iguais. Observe a figura:
a mais do que no primeiro e, no terceiro mês, R$ 48,00 a menos do
que no segundo, qual foi o valor depositado no segundo mês?
(A) R$ 498,00
(B) R$ 450,00
(C) R$ 402,00
(D) R$ 334,00
(E) R$ 324,00 O numerador indica quantas partes tomamos do total que foi
dividida a unidade.
Resolução: O denominador indica quantas partes iguais foi dividida a uni-
Primeiro mês = x dade.
Segundo mês = x + 126 Lê-se: um quarto.
Terceiro mês = x + 126 – 48 = x + 78
Total = x + x + 126 + x + 78 = 1176 Atenção:
3.x = 1176 – 204 • Frações com denominadores de 1 a 10: meios, terços, quar-
x = 972 / 3 tos, quintos, sextos, sétimos, oitavos, nonos e décimos.
x = R$ 324,00 (1º mês) • Frações com denominadores potências de 10: décimos, cen-
* No 2º mês: 324 + 126 = R$ 450,00 tésimos, milésimos, décimos de milésimos, centésimos de milési-
Resposta: B mos etc.
• Denominadores diferentes dos citados anteriormente:
(PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO/SP – AGENTE Enuncia-se o numerador e, em seguida, o denominador seguido da
DE ADMINISTRAÇÃO – VUNESP) Uma loja de materiais elétricos palavra “avos”.
testou um lote com 360 lâmpadas e constatou que a razão entre o
número de lâmpadas queimadas e o número de lâmpadas boas era Tipos de frações
2 / 7. Sabendo-se que, acidentalmente, 10 lâmpadas boas quebra- – Frações Próprias: Numerador é menor que o denominador.
ram e que lâmpadas queimadas ou quebradas não podem ser ven- Ex.: 7/15
didas, então a razão entre o número de lâmpadas que não podem – Frações Impróprias: Numerador é maior ou igual ao denomi-
ser vendidas e o número de lâmpadas boas passou a ser de nador. Ex.: 6/7
(A) 1 / 4. – Frações aparentes: Numerador é múltiplo do denominador.
(B) 1 / 3. As mesmas pertencem também ao grupo das frações impróprias.
(C) 2 / 5. Ex.: 6/3
(D) 1 / 2. – Frações mistas: Números compostos de uma parte inteira e
(E) 2 / 3. outra fracionária. Podemos transformar uma fração imprópria na
forma mista e vice e versa. Ex.: 1 1/12 (um inteiro e um doze avos)
Resolução: – Frações equivalentes: Duas ou mais frações que apresentam
Chamemos o número de lâmpadas queimadas de ( Q ) e o nú- a mesma parte da unidade. Ex.: 2/4 = 1/2
mero de lâmpadas boas de ( B ). Assim: – Frações irredutíveis: Frações onde o numerador e o denomi-
B + Q = 360 , ou seja, B = 360 – Q ( I ) nador são primos entre si. Ex.: 5/11 ;

Operações com frações


, ou seja, 7.Q = 2.B ( II ) • Adição e Subtração
Com mesmo denominador: Conserva-se o denominador e so-
Substituindo a equação ( I ) na equação ( II ), temos: ma-se ou subtrai-se os numeradores.
7.Q = 2. (360 – Q)
7.Q = 720 – 2.Q
7.Q + 2.Q = 720
9.Q = 720
Q = 720 / 9
Q = 80 (queimadas) Com denominadores diferentes: é necessário reduzir ao mes-
Como 10 lâmpadas boas quebraram, temos: mo denominador através do MMC entre os denominadores. Usa-
Q’ = 80 + 10 = 90 e B’ = 360 – 90 = 270 mos tanto na adição quanto na subtração.

Resposta: B

O MMC entre os denominadores (3,2) = 6

102
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
• Multiplicação e Divisão
Multiplicação: É produto dos numerados pelos denominadores RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARIT-
dados. Ex.: MÉTICOS, GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS

As sequências podem ser formadas por números, letras, pes-


soas, figuras, etc. Existem várias formas de se estabelecer uma se-
quência, o importante é que existem pelo menos três elementos
que caracterize a lógica de sua formação, entretanto algumas séries
necessitam de mais elementos para definir sua lógica1. Um bom co-
nhecimento em Progressões Algébricas (PA) e Geométricas (PG), fa-
zem com que deduzir as sequências se tornem simples e sem com-
plicações. E o mais importante é estar atento a vários detalhes que
elas possam oferecer. Exemplos:
– Divisão: É igual a primeira fração multiplicada pelo inverso da
segunda fração. Ex.: Progressão Aritmética: Soma-se constantemente um mesmo
número.

Obs.: Sempre que possível podemos simplificar o resultado da


fração resultante de forma a torna-la irredutível. Progressão Geométrica: Multiplica-se constantemente um
mesmo número.
Exemplo:
(EBSERH/HUPES – UFBA – TÉCNICO EM INFORMÁTICA – IA-
DES) O suco de três garrafas iguais foi dividido igualmente entre 5
pessoas. Cada uma recebeu

(A)
Sequência de Figuras: Esse tipo de sequência pode seguir o
mesmo padrão visto na sequência de pessoas ou simplesmente so-
(B) frer rotações, como nos exemplos a seguir. Exemplos:

Exemplos:
(C) Analise a sequência a seguir:

(D)

(E) Admitindo-se que a regra de formação das figuras seguintes


permaneça a mesma, pode-se afirmar que a figura que ocuparia a
Resolução: 277ª posição dessa sequência é:
Se cada garrafa contém X litros de suco, e eu tenho 3 garrafas,
então o total será de 3X litros de suco. Precisamos dividir essa quan-
tidade de suco (em litros) para 5 pessoas, logo teremos:

Onde x é litros de suco, assim a fração que cada um recebeu de


suco é de 3/5 de suco da garrafa. Resolução:
Resposta: B A sequência das figuras completa-se na 5ª figura. Assim, conti-
nua-se a sequência de 5 em 5 elementos. A figura de número 277
ocupa, então, a mesma posição das figuras que representam núme-
ro 5n + 2, com n N. Ou seja, a 277ª figura corresponde à 2ª figura,
que é representada pela letra “B”.
Resposta: B

1 https://centraldefavoritos.com.br/2017/07/21/sequencias-com-numeros-
-com-figuras-de-palavras/

103
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
(CÂMARA DE ARACRUZ/ES - AGENTE ADMINISTRATIVO E LEGISLATIVO - IDECAN) A sequência formada pelas figuras representa as
posições, a cada 12 segundos, de uma das rodas de um carro que mantém velocidade constante. Analise-a.

Após 25 minutos e 48 segundos, tempo no qual o carro permanece nessa mesma condição, a posição da roda será:

Resolução:
A roda se mexe a cada 12 segundos. Percebe-se que ela volta ao seu estado inicial após 48 segundos.
O examinador quer saber, após 25 minutos e 48 segundos qual será a posição da roda. Vamos transformar tudo para segundos:
25 minutos = 1500 segundos (60x25)
1500 + 48 (25m e 48s) = 1548
Agora é só dividir por 48 segundos (que é o tempo que levou para roda voltar à posição inicial)
1548 / 48 = vai ter o resto “12”.
Portanto, após 25 minutos e 48 segundos, a roda vai estar na posição dos 12 segundos.
Resposta: B

ANOTAÇÕES
_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________

104
DIREITO ADMINISTRATIVO

O governo, por sua vez, é o elemento gestor do Estado. Pode-se


ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. dizer que o governo é a cúpula diretiva do Estado que se organiza
CONCEITOS, ELEMENTOS, PODERES E ORGANIZAÇÃO. sob uma ordem jurídica por ele posta, a qual consiste no complexo
NATUREZA, FINS E PRINCÍPIOS de regras de direito baseadas e fundadas na Constituição Federal.

CONCEITOS Administração pública


É a forma como o Estado governa, ou seja, como executa as
Estado suas atividades voltadas para o atendimento para o bem estar de
O Estado soberano, traz como regra, um governo, indispensá- seu povo.
vel por ser o elemento condutor política do Estado, o povo que irá
representar o componente humano e o território que é o espaço Pode ser conceituado em dois sentidos:
físico que ele ocupa. a) sentido formal, orgânico ou subjetivo: o conjunto de ór-
gãos/entidades administrativas e agentes estatais, que estejam no
São Características do Estado: exercício da função administrativa, independentemente do poder a
- Soberania:.No âmbito interno refere-se à capacidade de auto- que pertençam, tais como Poder Executivo, Judiciário ou Legislativo
determinação e, no âmbito externo, é o privilégio de receber trata- ou a qualquer outro organismo estatal.
mento igualitário perante os outros países. Em outras palavras, a expressão Administração Pública confun-
- Sociedade: é o conjunto de pessoas que compartilham pro- de-se com os sujeitos que integram a estrutura administrativa do
pósitos, preocupações e costumes, e que interagem entre si consti- Estado, ou seja, com quem desempenha a função administrativa.
tuindo uma comunidade. Assim, num sentido subjetivo, Administração Pública representa o
- Território é a base espacial do poder jurisdicional do Estado conjunto de órgãos, agentes e entidades que desempenham a fun-
onde este exerce o poder coercitivo estatal sobre os indivíduos hu- ção administrativa.
manos, sendo materialmente composto pela terra firme, incluindo
o subsolo e as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo b) sentido material ou objetivo: conjunto das atividades ad-
mar territorial, pela plataforma continental e pelo espaço aéreo. ministrativas realizadas pelo Estado, que vai em direção à defesa
- Povo é a população do Estado, considerada pelo aspecto pu- concreta do interesse público.
ramente jurídico.É o conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas leis. Em outras palavras, a Administração Pública confunde-se com
São os cidadãos de um mesmo Estado, detentores de direitos e de- a própria função (atividade) administrativa desempenhada pelo Es-
veres. tado. O conceito de Administração Pública está relacionado com o
- Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela objeto da Administração. Não se preocupa aqui com quem exerce
origem comum, pelos interesses comuns, e principalmente, por a Administração, mas sim com o que faz a Administração Pública.
ideais e princípios comuns.
A doutrina moderna considera quatro tarefas precípuas da Ad-
Governo ministração Pública, que são:
A palavra governo tem dois sentidos, coletivo e singular. 1 - a prestação de serviços públicos,
- Coletivo: conjunto de órgãos que orientam a vida política do 2 - o exercício do poder de polícia,
Estado. 3 - a regulação das atividades de interesse público e
- Singular: como poder executivo, órgão que exerce a função 4 - o controle da atuação do Estado.
mais ativa na direção dos negócios públicos. É um conjunto par-
ticular de pessoas que, em qualquer tempo, ocupam posições de Em linhas gerais, podemos entender a atividade administrativa
autoridade dentro de um Estado, que tem o objetivo de estabelecer como sendo aquela voltada para o bem toda a coletividade, desen-
as regras de uma sociedade política e exercer autoridade. volvida pelo Estado com a finalidade de privilegiar e administrar a
coisa pública e as necessidades da coletividade.
Importante destacar o conceito de governo dado por Alexandre Por sua vez, a função administrativa é considerada um múnus
Mazza: “... é a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução público, que configura uma obrigação ou dever para o administra-
dos altos interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição dor público que não será livre para atuar, já que deve obediência ao
pode ser modificada mediante eleições.” direito posto, para buscar o interesse coletivo.
O governo é a instância máxima de administração executiva,
geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma Separação dos Poderes
nação. É formado por dirigentes executivos do Estado e ministros. O Estado brasileiro adotou a tripartição de poderes, assim são
Os conceitos de Estado e Governo não podem ser confundidos, seus poderes o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, conforme se
já que o Estado é um povo situado em determinado território, com- infere da leitura do art. 2º da Constituição Federal: “São Poderes da
posto pelos elementos: povo, território e governo. União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Execu-
tivo e o Judiciário.”.

105
DIREITO ADMINISTRATIVO
a) Poder Executivo: No exercício de suas funções típicas, pratica Princípios Expressos:
atos de chefia do Estado, de Governo e atos de administração, ou São os princípios expressos da Administração Pública os que
seja, administra e executa o ordenamento jurídico vigente. É uma estão inseridos no artigo 37 “caput” da Constituição Federal: legali-
administração direita, pois não precisa ser provocada. Excepcional- dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
mente, no exercício de função atípica, tem o poder de legislar, por - Legalidade: O princípio da legalidade representa uma garantia
exemplo, via medida provisória. para os administrados, pois qualquer ato da Administração Pública
b) Poder legislativo: No exercício de suas funções típicas, é de somente terá validade se respaldado em lei. Representa um limite
sua competência legislar de forma geral e abstrata, ou seja, legislar para a atuação do Estado, visando à proteção do administrado em
para todos. Tem o poder de inovar o ordenamento jurídico. Em fun- relação ao abuso de poder.
ção atípica, pode administrar internamente seus problemas. O princípio apresenta um perfil diverso no campo do Direito
c) Poder judiciário: No exercício de suas funções típicas, tem o Público e no campo do Direito Privado. No Direito Privado, tendo
poder jurisdicional, ou seja, poder de julgar as lides, no caso concre- em vista o interesse privado, as partes poderão fazer tudo o que a
to. Sua atuação depende de provocação, pois é inerte. lei não proíbe; no Direito Público, diferentemente, existe uma rela-
ção de subordinação perante a lei, ou seja, só se pode fazer o que a
Como vimos, o governo é o órgão responsável por conduzir os lei expressamente autorizar.
interesses de uma sociedade. Em outras palavras, é o poder diretivo
do Estado. - Impessoalidade: a Administração Pública não poderá atuar
discriminando pessoas de forma gratuita, a Administração Pública
FONTES deve permanecer numa posição de neutralidade em relação às pes-
A Administração Pública adota substancialmente as mesmas soas privadas. A atividade administrativa deve ser destinada a todos
fontes adotadas no ramo jurídico do Direito Administrativo: Lei, os administrados, sem discriminação nem favoritismo, constituindo
Doutrina, Jurisprudência e Costumes. assim um desdobramento do princípio geral da igualdade, art. 5.º,
Além das fontes mencionadas, adotadas em comum com o caput, CF.
Direito Administrativo, a Administração Pública ainda utiliza-se das - Moralidade: A atividade da Administração Pública deve obe-
seguintes fontes para o exercício das atividades administrativas: decer não só à lei, mas também à moral. Como a moral reside no
campo do subjetivismo, a Administração Pública possui mecanis-
- Regulamentos São atos normativos posteriores aos decretos, mos que determinam a moral administrativa, ou seja, prescreve
que visam especificar as disposições de lei, assim como seus man- condutas que são moralmente aceitas na esfera do Poder Público.
damentos legais. As leis que não forem executáveis, dependem de - Publicidade: É o dever atribuído à Administração, de dar total
regulamentos, que não contrariem a lei originária. Já as leis auto- transparência a todos os atos que praticar, ou seja, como regra ge-
-executáveis independem de regulamentos para produzir efeitos. ral, nenhum ato administrativo pode ser sigiloso.
- Instruções normativas Possuem previsão expressa na Consti- A regra do princípio que veda o sigilo comporta algumas ex-
tuição Federal, em seu artigo 87, inciso II. São atos administrativos ceções, como quando os atos e atividades estiverem relacionados
privativos dos Ministros de Estado. É a forma em que os superiores com a segurança nacional ou quando o conteúdo da informação for
expedem normas de caráter geral, interno, prescrevendo o meio de resguardado por sigilo (art. 37, § 3.º, II, da CF/88).
atuação de seus subordinados com relação a determinado serviço, - Eficiência: A Emenda Constitucional nº 19 trouxe para o tex-
assemelhando-se às circulares e às ordens de serviço. to constitucional o princípio da eficiência, que obrigou a Adminis-
- Regimentos São atos administrativos internos que emanam tração Pública a aperfeiçoar os serviços e as atividades que presta,
do poder hierárquico do Executivo ou da capacidade de auto-orga- buscando otimização de resultados e visando atender o interesse
nização interna das corporações legislativas e judiciárias. Desta ma- público com maior eficiência.
neira, se destinam à disciplina dos sujeitos do órgão que o expediu.
- Estatutos É o conjunto de normas jurídicas, através de acordo
Princípios Implícitos:
entre os sócios e os fundadores, regulamentando o funcionamento
Os demais são os denominados princípios reconhecidos (ou
de uma pessoa jurídica. Inclui os órgãos de classe, em especial os
implícitos), estes variam de acordo com cada jurista/doutrinador.
colegiados.
Destaca-se os seguintes princípios elaborados pela doutrina
administrativa, dentre outros:
PRINCÍPIOS
- Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Parti-
Os princípios jurídicos orientam a interpretação e a aplicação
cular: Sempre que houver necessidade de satisfazer um interesse
de outras normas. São as diretrizes do ordenamento jurídico, guias
de interpretação, às quais a administração pública fica subordinada. público, em detrimento de um interesse particular, prevalece o
Possuem um alto grau de generalidade e abstração, bem como um interesse público. São as prerrogativas conferidas à Administração
profundo conteúdo axiológico e valorativo. Pública, porque esta atua por conta dos interesses públicos.
Os princípios da Administração Pública são regras que surgem
como parâmetros e diretrizes norteadoras para a interpretação das No entanto, sempre que esses direitos forem utilizados para
demais normas jurídicas. finalidade diversa do interesse público, o administrador será res-
Com função principal de garantir oferecer coerência e harmo- ponsabilizado e surgirá o abuso de poder.
nia para o ordenamento jurídico e determinam a conduta dos agen- - Indisponibilidade do Interesse Público: Os bens e interesses
tes públicos no exercício de suas atribuições. públicos são indisponíveis, ou seja, não pertencem à Administra-
Encontram-se de maneira explícita/expressas no texto consti- ção ou a seus agentes, cabendo aos mesmos somente sua gestão
tucional ou implícitas na ordem jurídica. Os primeiros são, por una- em prol da coletividade. Veda ao administrador quaisquer atos que
nimidade, os chamados princípios expressos (ou explícitos), estão impliquem renúncia de direitos da Administração ou que, injustifi-
previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal. cadamente, onerem a sociedade.
- Autotutela: é o princípio que autoriza que a Administração
Pública revise os seus atos e conserte os seus erros.

106
DIREITO ADMINISTRATIVO
- Segurança Jurídica: O ordenamento jurídico vigente garante ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
que a Administração deve interpretar a norma administrativa da Em âmbito federal o Decreto-Lei 200/67 regula a estrutura ad-
forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se ministrativa dividindo, para tanto, em Administração Direta e Admi-
dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação. nistração Indireta.
- Razoabilidade e da Proporcionalidade: São tidos como prin-
cípios gerais de Direito, aplicáveis a praticamente todos os ramos Administração Direta
da ciência jurídica. No âmbito do Direito Administrativo encontram A Administração Pública Direta é o conjunto de órgãos públi-
aplicação especialmente no que concerne à prática de atos adminis- cos vinculados diretamente ao chefe da esfera governamental que
trativos que impliquem restrição ou condicionamento a direitos dos a integram.
administrados ou imposição de sanções administrativas.
- Probidade Administrativa: A conduta do administrador públi- DECRETO-LEI 200/67
co deve ser honesta, pautada na boa conduta e na boa-fé. Art. 4° A Administração Federal compreende:
- Continuidade do Serviço Público: Via de regra os serviços pú- I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integra-
blicos por serem prestados no interesse da coletividade devem ser dos na estrutura administrativa da Presidência da República e dos
adequados e seu funcionamento não deve sofrer interrupções. Ministérios.

Ressaltamos que não há hierarquia entre os princípios (expres- Por característica não possuem personalidade jurídica própria,
sos ou não), visto que tais diretrizes devem ser aplicadas de forma patrimônio e autonomia administrativa e cujas despesas são reali-
harmoniosa. Assim, a aplicação de um princípio não exclui a aplica- zadas diretamente por meio do orçamento da referida esfera.
ção de outro e nem um princípio se sobrepõe ao outros. Assim, é responsável pela gestão dos serviços públicos executa-
Nos termos do que estabelece o artigo 37 da Constituição Fe- dos pelas pessoas políticas por meio de um conjunto de órgãos que
deral, os princípios da Administração abrangem a Administração estão integrados na sua estrutura.
Pública direta e indireta de quaisquer dos Poderes da União, dos Outra característica marcante da Administração Direta é que
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, vinculando todos os não possuem personalidade jurídica, pois não podem contrair direi-
órgãos, entidades e agentes públicos de todas as esferas estatais ao tos e assumir obrigações, haja vista que estes pertencem a pessoa
cumprimento das premissas principiológicas. política (União, Estado, Distrito Federal e Municípios).
A Administração direta não possui capacidade postulatória, ou
seja, não pode ingressar como autor ou réu em relação processual.
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO: Exemplo: Servidor público estadual lotado na Secretaria da Fazenda
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA que pretende interpor ação judicial pugnando o recebimento de al-
guma vantagem pecuniária. Ele não irá propor a demanda em face
NOÇÕES GERAIS da Secretaria, mas sim em desfavor do Estado que é a pessoa polí-
Para que a Administração Pública possa executar suas ativida- tica dotada de personalidade jurídica com capacidade postulatória
des administrativas de forma eficiente com o objetivo de atender para compor a demanda judicial.
os interesses coletivos é necessária a implementação de tecnicas
organizacionais que permitam aos administradores públicos decidi- Administração Indireta
rem, respeitados os meios legias, a forma adequada de repartição São integrantes da Administração indireta as fundações, as au-
de competencias internas e escalonamento de pessoas para melhor tarquias, as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
atender os assuntos relativos ao interesse público.
Celso Antonio Bandeira de Mello, em sua obra Curso de Direito DECRETO-LEI 200/67
Administrativo assim afirma: “...o Estado como outras pessoas de Art. 4° A Administração Federal compreende:
Direito Público que crie, pelos múltiplos cometimentos que lhe as- [...]
sistem, têm de repartir, no interior deles mesmos, os encargos de II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes ca-
sua alçada entre diferentes unidades, representativas, cada qual, tegorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
de uma parcela de atribuições para decidir os assuntos que lhe são a) Autarquias;
afetos...” b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
A Organização Administrativa é a parte do Direito Administra- d) fundações públicas.
tivo que normatiza os órgãos e pessoas jurídicas que a compõem, Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administra-
além da estrutura interna da Administração Pública. ção Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência
Em âmbito federal, o assunto vem disposto no Decreto-Lei n. estiver enquadrada sua principal atividade.
200/67 que “dispõe sobre a organização da Administração Pública
Federal e estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa”. Essas quatro pessoas ou entidades administrativas são criadas
O certo é que, durante o exercício de suas atribuições, o Esta- para a execução de atividades de forma descentralizada, seja para
do pode desenvolver as atividades administrativas que lhe compete a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades
por sua própria estrutura ou então prestá-la por meio de outros econômicas, com o objetivo de aumentar o grau de especialidade
sujeitos. e eficiência da prestação do serviço público. Têm característica de
A Organização Administrativa estabelece as normas justamen- autonomia na parte administrativa e financeira
te para regular a prestação dos encargos administrativos do Estado
bem como a forma de execução dessas atividades, utilizando-se de O Poder Público só poderá explorar atividade econômica a títu-
técnicas administrativas previstas em lei. lo de exceção em duas situações previstas na CF/88, no seu art. 173:
- Para fazer frente à uma situação de relevante interesse cole-
tivo;
- Para fazer frente à uma situação de segurança nacional.

107
DIREITO ADMINISTRATIVO
O Poder Público não tem a obrigação de gerar lucro quando b) pessoas/entidades administrativas ou particulares as quais
explora atividade econômica. Quando estiver atuando na atividade foi atribuído o desempenho da atividade em questão.
econômica, entretanto, estará concorrendo em grau de igualdade Importante ressaltar que dessa relação de descentralização não
com os particulares, estando sob o regime do art. 170 da CF/88, há que se falar em vínculo hierárquico entre a Administração Cen-
inclusive quanto à livre concorrência. tral e a pessoa descentralizada, mantendo, no entanto, o controle
sobre a execução das atividades que estão sendo desempenhadas.
DESCONCENTRAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO Por sua vez, a desconcentração está sempre referida a uma úni-
No decorrer das atividades estatais, a Administração Pública ca pessoa, pois a distribuição de competência se dará internamen-
pode executar suas ações por meios próprios, utilizando-se da es- te, mantendo a particularidade da hierarquia.
trutura administrativa do Estado de forma centralizada, ou então
transferir o exercício de certos encargos a outras pessoas, como en- CRIAÇÃO, EXTINÇÃO E CAPACIDADE PROCESSUAL DOS ÓR-
tidades concebidas para este fim de maneira descentralizada. GÃOS PÚBLICOS
Assim, como técnica administrativa de organização da execu-
ção das atividades administrativas, o exercício do serviço público Conceito:
poderá ser por: Órgãos Públicos, de acordo com a definição do jurista adminis-
trativo Celso Antônio Bandeira de Mello “são unidade abstratas que
Centralização: Quando a execução do serviço estiver sendo sintetizam os vários círculos de atribuição do Estado.”
feita pela Administração direta do Estado, ou seja, utilizando-se do Por serem caracterizados pela abstração, não tem nem vonta-
conjunto orgânico estatal para atingir as demandas da sociedade. de e nem ação próprias, sendo os órgão públicos não passando de
(ex.: Secretarias, Ministérios, departamentos etc.). mera repartição de atribuições, assim entendidos como uma uni-
Dessa forma, o ente federativo será tanto o titular como o pres- dade que congrega atribuições exercidas por seres que o integram
tador do serviço público, o próprio estado é quem centraliza a exe- com o objetivo de expressar a vontade do Estado.
cução da atividade. Desta forma, para que sejam empoderados de dinamismo e
ação os órgãos públicos necessitam da atuação de seres físicos, su-
Descentralização: Quando estiver sendo feita por terceiros que jeitos que ocupam espaço de competência no interior dos órgãos
não se confundem com a Administração direta do Estado. Esses ter- para declararem a vontade estatal, denominados agentes públicos.
ceiros poderão estar dentro ou fora da Administração Pública (são
sujeitos de direito distinto e autônomo). Criação e extinção
Se os sujeitos que executarão a atividade estatal estiverem vin- A criação e a extinção dos órgãos públicos ocorre por meio de
culadas a estrutura centra da Administração Pública, poderão ser lei, conforme se extrai da leitura conjugada dos arts. 48, XI, e 84,
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de econo- VI, a, da Constituição Federal, com alteração pela EC n.º 32/2001.6
mia mista (Administração indireta do Estado). Se estiverem fora da Em regra, a iniciativa para o projeto de lei de criação dos órgãos
Administração, serão particulares e poderão ser concessionários, públicos é do Chefe do Executivo, na forma do art. 61, § 1.º, II da
permissionários ou autorizados. Constituição Federal.
Assim, descentralizar é repassar a execução de das atividades “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe
administrativas de uma pessoa para outra, não havendo hierarquia. a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do
Pode-se concluir que é a forma de atuação indireta do Estado por Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da Re-
meio de sujeitos distintos da figura estatal pública, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao
Desconcentração: Mera técnica administrativa que o Estado Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
utiliza para a distribuição interna de competências ou encargos de previstos nesta Constituição.
sua alçada, para decidir de forma desconcentrada os assuntos que
lhe são competentes, dada a multiplicidade de demandas e interes- § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as
ses coletivos. leis que:
Ocorre desconcentração administrativa quando uma pessoa [...]
política ou uma entidade da administração indireta distribui com-
petências no âmbito de sua própria estrutura a fim de tornar mais II - disponham sobre:
ágil e eficiente a prestação dos serviços. [...]
Desconcentração envolve, obrigatoriamente, uma só pessoa
jurídica, pois ocorre no âmbito da mesma entidade administrativa. e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
Surge relação de hierarquia de subordinação entre os órgãos pública, observado o disposto no art. 84, VI;
dela resultantes. No âmbito das entidades desconcentradas temos
controle hierárquico, o qual compreende os poderes de comando, Entretanto, em alguns casos, a iniciativa legislativa é atribuída,
fiscalização, revisão, punição, solução de conflitos de competência, pelo texto constitucional, a outros agentes públicos, como ocorre,
delegação e avocação. por exemplo, em relação aos órgãos do Poder Judiciário (art. 96, II,
c e d, da Constituição Federal) e do Ministério Público (127, § 2.º),
Diferença entre Descentralização e Desconcentração cuja iniciativa pertence aos representantes daquelas instituições.
As duas figuras técnicas de organização administrativa do Esta- Trata-se do princípio da reserva legal aplicável às técnicas de
do não podem ser confundidas tendo em vista que possuem con- organização administrativa (desconcentração para órgãos públicos
ceitos completamente distintos. e descentralização para pessoas físicas ou jurídicas).
A Descentralização pressupõe, por sua natureza, a existência
de pessoas jurídicas diversas sendo: Atualmente, no entanto, não é exigida lei para tratar da orga-
a) o ente público que originariamente tem a titularidade sobre nização e do funcionamento dos órgãos públicos, já que tal matéria
a execução de certa atividade, e; pode ser estabelecida por meio de decreto do Chefe do Executivo.

108
DIREITO ADMINISTRATIVO
De forma excepcional, a criação de órgãos públicos poderá ser PESSOAS ADMINISTRATIVAS
instrumentalizada por ato administrativo, tal como ocorre na insti-
tuição de órgãos no Poder Legislativo, na forma dos arts. 51, IV, e Pessoas Políticas
52, XIII, da Constituição Federal.
Neste contexto, vemos que os órgãos são centros de compe- Autarquias
tência instituídos para praticar atos e implementar políticas por in- As autarquias são pessoas jurídicas de direito público criadas
termédio de seus agentes, cuja conduta é imputada à pessoa jurídi- por lei para a prestação de serviços públicos e executar as ativida-
ca. Esse é o conceito administrativo de órgão. É sempre um centro des típicas da Administração Pública, contando com capital exclusi-
de competência, que decorre de um processo de desconcentração vamente público.
dentro da Administração Pública. O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as autarquias:
Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
Capacidade Processual dos Órgãos Públicos I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com perso-
Como visto, órgão público pode ser definido como uma unida- nalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar ati-
de que congrega atribuições exercidas pelos agentes públicos que o vidades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu
integram com o objetivo de expressar a vontade do Estado. melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descen-
Na realidade, o órgão não se confunde com a pessoa jurídica, tralizada.
embora seja uma de suas partes integrantes; a pessoa jurídica é o
todo, enquanto os órgãos são parcelas integrantes do todo. As autarquias são regidas integralmente por regras de direito
O órgão também não se confunde com a pessoa física, o agente público, podendo, tão-somente, serem prestadoras de serviços e
público, porque congrega funções que este vai exercer. Conforme contando com capital oriundo da Administração Direta (ex.: IN-
estabelece o artigo 1º, § 2º, inciso I, da Lei nº 9.784/99, que disci- CRA, INSS, DNER, Banco Central etc.).
plina o processo administrativo no âmbito da Administração Públi-
ca Federal, órgão é “a unidade de atuação integrante da estrutura Características: Temos como principais características das au-
da Administração direta e da estrutura da Administração indireta”. tarquias:
Isto equivale a dizer que o órgão não tem personalidade jurídica - Criação por lei: é exigência que vem desde o Decreto-lei nº 6
própria, já que integra a estrutura da Administração Direta, ao con- 016/43, repetindo-se no Decreto-lei nº 200/67 e no artigo 37, XIX,
trário da entidade, que constitui “unidade de atuação dotada de da Constituição;
personalidade jurídica” (inciso II do mesmo dispositivo); é o caso - Personalidade jurídica pública: ela é titular de direitos e obri-
das entidades da Administração Indireta (autarquias, fundações, gações próprios, distintos daqueles pertencentes ao ente que a ins-
empresas públicas e sociedades de economia mista). tituiu: sendo pública, submete-se a regime jurídico de direito públi-
Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, os órgãos: co, quanto à criação, extinção, poderes, prerrogativas, privilégios,
“nada mais significam que círculos de atribuições, os feixes indivi- sujeições;
duais de poderes funcionais repartidos no interior da personalidade - Capacidade de autoadministração: não tem poder de criar o
estatal e expressados através dos agentes neles providos”. próprio direito, mas apenas a capacidade de se auto administrar a
Embora os órgãos não tenham personalidade jurídica, eles respeito das matérias especificas que lhes foram destinadas pela
podem ser dotados de capacidade processual. A doutrina e a ju- pessoa pública política que lhes deu vida. A outorga de patrimônio
risprudência têm reconhecido essa capacidade a determinados ór- próprio é necessária, sem a qual a capacidade de autoadministra-
gãos públicos, para defesa de suas prerrogativas. ção não existiria.
Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, “embora despersonaliza- Pode-se compreender que ela possui dirigentes e patrimônio
dos, os órgãos mantêm relações funcionais entre si e com terceiros, próprios.
das quais resultam efeitos jurídicos internos e externos, na forma - Especialização dos fins ou atividades: coloca a autarquia entre
legal ou regulamentar. E, a despeito de não terem personalidade as formas de descentralização administrativa por serviços ou fun-
jurídica, os órgãos podem ter prerrogativas funcionais próprias que, cional, distinguindo-a da descentralização territorial; o princípio da
quando infringidas por outro órgão, admitem defesa até mesmo especialização impede de exercer atividades diversas daquelas para
por mandado de segurança”. as quais foram instituídas; e
Por sua vez, José dos Santos Carvalho Filho, depois de lem- - Sujeição a controle ou tutela: é indispensável para que a au-
brar que a regra geral é a de que o órgão não pode ter capacida- tarquia não se desvie de seus fins institucionais.
de processual, acrescenta que “de algum tempo para cá, todavia, - Liberdade Financeira: as autarquias possuem verbas próprias
tem evoluído a ideia de conferir capacidade a órgãos públicos para (surgem como resultado dos serviços que presta) e verbas orça-
certos tipos de litígio. Um desses casos é o da impetração de man- mentárias (são aquelas decorrentes do orçamento). Terão liberdade
dado de segurança por órgãos públicos de natureza constitucional, para manejar as verbas que recebem como acharem conveniente,
quando se trata da defesa de sua competência, violada por ato de dentro dos limites da lei que as criou.
outro órgão”. Admitindo a possibilidade do órgão figurar como par- - Liberdade Administrativa: as autarquias têm liberdade para
te processual. desenvolver os seus serviços como acharem mais conveniente
Desta feita é inafastável a conclusão de que órgãos públicos (comprar material, contratar pessoal etc.), dentro dos limites da lei
possuem personalidade judiciária. Mais do que isso, é lícito dizer que as criou.
que os órgãos possuem capacidade processual (isto é, legitimidade
para estar em juízo), inclusive mediante procuradoria própria, Patrimônio: as autarquias são constituídas por bens públicos,
Ainda por meio de construção jurisprudencial, acompanhando conforme dispõe o artigo 98, Código Civil e têm as seguintes carac-
a evolução jurídica neste aspecto tem reconhecido capacidade pro- terísticas:
cessual a órgãos públicos, como Câmaras Municipais, Assembleias a) São alienáveis
Legislativas, Tribunal de Contas. Mas a competência é reconhecida b) impenhoráveis;
apenas para defesa das prerrogativas do órgão e não para atuação c) imprescritíveis
em nome da pessoa jurídica em que se integram. d) não oneráveis.

109
DIREITO ADMINISTRATIVO
Pessoal: em conformidade com o que estabelece o artigo 39 Contratos: os contratos celebrados pelas autarquias são de
da Constituição, em sua redação vigente, as pessoas federativas caráter administrativo e possuem as cláusulas exorbitantes, que
(União, Estados, DF e Municípios) ficaram com a obrigação de insti- garantem à administração prerrogativas que o contratado comum
tuir, no âmbito de sua organização, regime jurídico único para todos não tem, assim, dependem de prévia licitação, exceto nos casos de
os servidores da administração direta, das autarquias e das funda- dispensa ou inexigibilidade e precisam respeitar os trâmites da lei
ções públicas. 8.666/1993, além da lei 10.520/2002, que institui a modalidade lici-
tatória do pregão para os entes públicos.
Controle Judicial: as autarquias, por serem dotadas de persona- Isto acontece pelo fato de que por terem qualidade de pessoas
lidade jurídica de direito público, podem praticar atos administrati- jurídicas de direito público, as entidades autárquicas relacionam-se
vos típicos e atos de direito privado (atípicos), sendo este último, com os particulares com grau de supremacia, gozando de todas as
controlados pelo judiciário, por vias comuns adotadas na legislação prerrogativas estatais.
processual, tal como ocorre com os atos jurídicos normais pratica-
dos por particulares. Empresas Públicas
Empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Privado, e
Foro dos litígios judiciais: a fixação da competência varia de tem sua criação por meio de autorização legal, isso significa dizer
acordo com o nível federativo da autarquia, por exemplo, os litígios que não são criadas por lei, mas dependem de autorização legis-
comuns, onde as autarquias federais figuram como autoras, rés, as- lativa.
sistentes ou oponentes, têm suas causas processadas e julgadas na O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as empresas públicas:
Justiça Federal, o mesmo foro apropriado para processar e julgar
mandados de segurança contra agentes autárquicos. Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
Quanto às autarquias estaduais e municipais, os processos em [...]
que encontramos como partes ou intervenientes terão seu curso na
Justiça Estadual comum, sendo o juízo indicado pelas disposições II - Empresa Pública - a entidade dotada de personalidade jurí-
da lei estadual de divisão e organização judiciárias. dica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo
Nos litígios decorrentes da relação de trabalho, o regime po- da União, criado por lei para a exploração de atividade econômica
derá ser estatutário ou trabalhista. Sendo estatutário, o litígio será que o Governo seja levado a exercer por fôrça de contingência ou
de natureza comum, as eventuais demandas deverão ser processa-
de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das
das e julgadas nos juízos fazendários. Porém, se o litígio decorrer
formas admitidas em direito.
de contrato de trabalho firmado entre a autarquia e o servidor, a
natureza será de litígio trabalhista (sentido estrito), devendo ser re-
As empresas públicas têm seu próprio patrimônio e seu capital
solvido na Justiça do Trabalho, seja a autarquia federal, estadual ou
municipal. é integralmente detido pela União, Estados, Municípios ou pelo Dis-
Responsabilidade civil: prevê a Constituição Federal que as pes- trito Federal, podendo contar com a participação de outras pessoas
soas jurídicas de direito público respondem pelos danos que seus jurídicas de direito público, ou também pelas entidades da admi-
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. nistração indireta de qualquer das três esferas de governo, porém,
A regra contida no referido dispositivo, consagra a teoria da a maioria do capital deve ser de propriedade da União, Estados,
responsabilidade objetiva do Estado, aquela que independe da in- Municípios ou do Distrito Federal.
vestigação sobre a culpa na conduta do agente.
Foro Competente
Prerrogativas autárquicas: as autarquias possuem algumas A Justiça Federal julga as empresas públicas federais, enquanto
prerrogativas de direito público, sendo elas: a Justiça Estadual julga as empresas públicas estaduais, distritais e
- Imunidade tributária: previsto no art. 150, § 2 º, da CF, veda municipais.
a instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços
das autarquias, desde que vinculados às suas finalidades essenciais Objetivo
ou às que delas decorram. Podemos, assim, dizer que a imunidade É a exploração de atividade econômica de produção ou comer-
para as autarquias tem natureza condicionada. cialização de bens ou de prestação de serviços, ainda que a ativida-
- Impenhorabilidade de seus bens e de suas rendas: não pode de econômica esteja sujeita ao regime de monopólio da União ou
ser usado o instrumento coercitivo da penhora como garantia do preste serviço público.
credor.
- Imprescritibilidade de seus bens: caracterizando-se como Regime Jurídico
bens públicos, não podem ser eles adquiridos por terceiros através Se a empresa pública é prestadora de serviços públicos, por
de usucapião. consequência está submetida a regime jurídico público. Se a empre-
- Prescrição quinquenal: dívidas e direitos em favor de terceiros sa pública é exploradora de atividade econômica, estará submetida
contra autarquias prescrevem em 5 anos. a regime jurídico privado igual ao da iniciativa privada.
- Créditos sujeitos à execução fiscal: os créditos autárquicos são As empresas públicas, independentemente da personalidade
inscritos como dívida ativa e podem ser cobrados pelo processo es-
jurídica, têm as seguintes características:
pecial das execuções fiscais.
- Liberdade financeira: Têm verbas próprias, mas também são
contempladas com verbas orçamentárias;
- Liberdade administrativa: Têm liberdade para contratar e de-
mitir pessoas, devendo seguir as regras da CF/88. Para contratar,
deverão abrir concurso público; para demitir, deverá haver moti-
vação.

110
DIREITO ADMINISTRATIVO
Não existe hierarquia ou subordinação entre as empresas pú- Não existe hierarquia ou subordinação entre as sociedades de
blicas e a Administração Direta, independentemente de sua fun- economia mista e a Administração Direta, independentemente da
ção. Poderá a Administração Direta fazer controle de legalidade e função dessas sociedades. No entanto, é possível o controle de le-
finalidade dos atos das empresas públicas, visto que estas estão galidade. Se os atos estão dentro dos limites da lei, as sociedades
vinculadas àquela. Só é possível, portanto, controle de legalidade não estão subordinadas à Administração Direta, mas sim à lei que
finalístico. as autorizou.
Como já estudado, a empresa pública será prestadora de ser- As sociedades de economia mista integram a Administração
viços públicos ou exploradora de atividade econômica. A CF/88 Indireta e todas as pessoas que a integram precisam de lei para au-
somente admite a empresa pública para exploração de atividade torizar sua criação, sendo que elas serão legalizadas por meio do
econômica em duas situações (art. 173 da CF/88): registro de seus estatutos.
- Fazer frente a uma situação de segurança nacional; A lei, portanto, não cria, somente autoriza a criação das so-
- Fazer frente a uma situação de relevante interesse coletivo: ciedades de economia mista, ou seja, independentemente das ati-
vidades que desenvolvam, a lei somente autorizará a criação das
A empresa pública deve obedecer aos princípios da ordem sociedades de economia mista.
econômica, visto que concorre com a iniciativa privada. Quando o A Sociedade de economia mista, quando explora atividade eco-
Estado explora, portanto, atividade econômica por intermédio de nômica, submete-se ao mesmo regime jurídico das empresas pri-
uma empresa pública, não poderão ser conferidas a ela vantagens vadas, inclusive as comerciais. Logo, a sociedade mista que explora
e prerrogativas diversas das da iniciativa privada (princípio da livre atividade econômica submete-se ao regime falimentar. Sociedade
concorrência). de economia mista prestadora de serviço público não se submete
Cabe ressaltar que as Empresas Públicas são fiscalizadas pelo ao regime falimentar, visto que não está sob regime de livre con-
Ministério Público, a fim de saber se está sendo cumprido o acor- corrência.
dado.
Fundações e Outras Entidades Privadas Delegatárias.
Sociedades de Economia Mista Fundação é uma pessoa jurídica composta por um patrimônio
As sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de personalizado, destacado pelo seu instituidor para atingir uma fina-
Direito Privado, integrante da Administração Pública Indireta, sua lidade específica. As fundações poderão ser tanto de direito público
criação autorizada por lei, criadas para a prestação de serviços pú- quanto de direito privado. São criadas por meio de por lei específica
blicos ou para a exploração de atividade econômica, contando com cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de
capital misto e constituídas somente sob a forma empresarial de sua atuação.
S/A (Sociedade Anônima). Decreto-lei 200/67 assim definiu as Fundações Públicas.
O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as empresas públicas:
Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se: [...
[...] IV - Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade ju-
rídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de
III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de perso- autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que
nalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público,
de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos
ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recur-
entidade da Administração Indireta. sos da União e de outras fontes.

As sociedades de economia mista são: Apesar da legislação estabelecer que as fundações públicas são
- Pessoas jurídicas de Direito Privado. dotadas de personalidade jurídica de direito privado, a doutrina ad-
- Exploradoras de atividade econômica ou prestadoras de ser- ministrativa admite a adoção de regime jurídico de direito público
viços públicos. a algumas fundações.
- Empresas de capital misto. As fundações que integram a Administração indireta, quando
- Constituídas sob forma empresarial de S/A. forem dotadas de personalidade de direito público, serão regidas
integralmente por regras de Direito Público. Quando forem dotadas
Veja alguns exemplos de sociedade mista: de personalidade de direito privado, serão regidas por regras de di-
a). Exploradoras de atividade econômica: Banco do Brasil. reito público e direito privado, dada sua relevância para o interesse
b) Prestadora de serviços públicos: Petrobrás, Sabesp, Metrô, coletivo.
entre outras O patrimônio da fundação pública é destacado pela Adminis-
tração direta, que é o instituidor para definir a finalidade pública.
Características Como exemplo de fundações, temos: IBGE (Instituto Brasileiro Ge-
As sociedades de economia mista têm as seguintes caracterís- ográfico Estatístico); Universidade de Brasília; Fundação CASA; FU-
ticas: NAI; Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), entre outras.
- Liberdade financeira;
- Liberdade administrativa; Características:
- Dirigentes próprios; - Liberdade financeira;
- Patrimônio próprio. - Liberdade administrativa;
- Dirigentes próprios;
- Patrimônio próprio:

111
DIREITO ADMINISTRATIVO
As fundações governamentais, sejam de personalidade de di- I - especificação do programa de trabalho proposto pela organi-
reito público, sejam de direito privado, integram a Administração zação social, a estipulação das metas a serem atingidas e os respec-
Pública. Importante esclarecer que não existe hierarquia ou subor- tivos prazos de execução, bem como previsão expressa dos critérios
dinação entre a fundação e a Administração direta. O que existe é objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, median-
um controle de legalidade, um controle finalístico. te indicadores de qualidade e produtividade;
As fundações são dotadas dos mesmos privilégios que a Admi- II - a estipulação dos limites e critérios para despesa com re-
nistração direta, tanto na área tributária (ex.: imunidade prevista no muneração e vantagens de qualquer natureza a serem percebidas
art. 150 da CF/88), quanto na área processual (ex.: prazo em dobro). pelos dirigentes e empregados das organizações sociais, no exercí-
As fundações respondem pelas obrigações contraídas junto a cio de suas funções;
terceiros. A responsabilidade da Administração é de caráter subsi- III - os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da área
diário, independente de sua personalidade. de atuação da entidade devem definir as demais cláusulas dos con-
As fundações governamentais têm patrimônio público. Se ex- tratos de gestão de que sejam signatários.
tinta, o patrimônio vai para a Administração indireta, submetendo- A fiscalização do contrato de gestão será exercida pelo órgão ou
-se as fundações à ação popular e mandado de segurança. As par- entidade supervisora da área de atuação correspondente à ativida-
ticulares, por possuírem patrimônio particular, não se submetem de fomentada, devendo a organização social apresentar, ao término
à ação popular e mandado de segurança, sendo estas fundações de cada exercício, relatório de cumprimento das metas fixadas no
fiscalizadas pelo Ministério Público. contrato de gestão.
Se descumpridas as metas previstas no contrato de gestão, o
DELEGAÇÃO SOCIAL Poder Executivo poderá proceder à desqualificação da entidade
como organização social, desde que precedida de processo admi-
Organizações sociais nistrativo com garantia de contraditório e ampla defesa.
Criada pela Lei n. 9.637/98, organização social é uma qualifica- Por fim, convém relembrar que o art. 24, XXIV, da Lei n.
ção especial outorgada pelo governo federal a entidades da inicia- 8.666/93 prevê hipótese de dispensa de licitação para a celebração
tiva privada, sem fins lucrativos, cuja outorga autoriza a fruição de de contratos de prestação de serviços com a s organizações sociais,
vantagens peculiares, como isenções fiscais, destinação de recursos qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para
orçamentários, repasse de bens públicos, bem como empréstimo atividades contempladas no contrato de gestão. Excessivamente
temporário de servidores governamentais. abrangente, o art. 24, XXIV, da Lei n. 8.666/93, tem a sua consti-
As áreas de atuação das organizações sociais são ensino, pes- tucionalidade questionada perante o Supremo Tribunal Federal na
quisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preserva- ADIn 1.923/98. Recentemente, foi indeferida a medida cautelar que
ção do meio ambiente, cultura e saúde. Desempenham, portanto, suspendia a eficácia da norma, de modo que o dispositivo voltou a
atividades de interesse público, mas que não se caracterizam como ser aplicável.
serviços públicos stricto sensu, razão pela qual é incorreto afirmar
que as organizações sociais são concessionárias ou permissionárias. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
Nos termos do art. 2º da Lei n. 9.637/98, a outorga da qualifi- As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, popu-
cação constitui decisão discricionária, pois, além da entidade pre- larmente denominadas OSCIP é um título fornecido pelo Ministério
encher os requisitos exigidos na lei, o inciso II do referido disposi- da Justiça do Brasil, cuja finalidade é facilitar a viabilidade de parce-
tivo condiciona a atribuição do título a “haver aprovação, quanto à rias e convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos
conveniência e oportunidade de sua qualificação como organização (federal, estadual e municipal).
social, do Ministro ou titular de órgão supervisor ou regulador da OSCIPs são ONGs criadas por iniciativa privada, que obtêm um
área de atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro certificado emitido pelo poder público federal ao comprovar o cum-
de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado”. Assim, primento de certos requisitos, especialmente aqueles derivados de
as entidades que preencherem os requisitos legais possuem sim- normas de transparência administrativas. Em contrapartida, podem
ples expectativa de direito à obtenção da qualificação, nunca direito celebrar com o poder público os chamados termos de parceria, que
adquirido. são uma alternativa interessante aos convênios para ter maior agili-
Evidentemente, o caráter discricionário dessa decisão, permi- dade e razoabilidade em prestar contas.
tindo outorgar a qualificação a uma entidade e negar a outro que Uma ONG (Organização Não-Governamental), essencialmente
igualmente atendeu aos requisitos legais, viola o princípio da iso- é uma OSCIP, no sentido representativo da sociedade, OSCIP é uma
nomia, devendo-se considerar inconstitucional o art. 2º, II, da Lei qualificação dada pelo Ministério da Justiça no Brasil.
n. 9.637/98. A lei que regula as OSCIPs é a nº 9.790/1999. Esta lei traz a
Na verdade, as organizações sociais representam uma espécie possibilidade das pessoas jurídicas (grupos de pessoas ou profissio-
de parceria entre a Administração e a iniciativa privada, exercen- nais) de direito privado sem fins lucrativos serem qualificadas, pelo
do atividades que, antes da Emenda 19/98, eram desempenhadas Poder Público, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse
por entidades públicas. Por isso, seu surgimento no Direito Brasi- Público - OSCIPs e poderem com ele relacionar-se por meio de par-
leiro está relacionado com um processo de privatização lato sensu ceria, desde que os seus objetivos sociais e as normas estatutárias
realizado por meio da abertura de atividades públicas à iniciativa atendam os requisitos da lei.
privada. Um grupo privado recebe a qualificação de OSCIP depois que o
O instrumento de formalização da parceria entre a Administra- estatuto da instituição, que se pretende formar, tenha sido analisa-
ção e a organização social é o contrato de gestão, cuja aprovação do e aprovado pelo Ministério da Justiça. Para tanto, é necessário
deve ser submetida ao Ministro de Estado ou outra autoridade su- que o estatuto atenda a certos pré-requisitos que estão descritos
pervisora da área de atuação da entidade. nos artigos 1º, 2º, 3º e 4º da Lei nº 9.790/1999. Vejamos:
O contrato de gestão discriminará as atribuições, responsabi- Art. 1º Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade
lidades e obrigações do Poder Público e da organização social, de- Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado sem
vendo obrigatoriamente observar os seguintes preceitos: fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em

112
DIREITO ADMINISTRATIVO
funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos re- ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
quisitos instituídos por esta Lei. técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos neste artigo.
a pessoa jurídica de direito privado que não distribui, entre os seus XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibi-
sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doa- lização e a implementação de tecnologias voltadas à mobilidade de
dores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos, divi- pessoas, por qualquer meio de transporte.
dendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às ati-
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica vidades nele previstas configura-se mediante a execução direta de
integralmente na consecução do respectivo objeto social. projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da doa-
§ 2o A outorga da qualificação prevista neste artigo é ato vincu- ção de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela presta-
lado ao cumprimento dos requisitos instituídos por esta Lei. ção de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem
Art. 2o Não são passíveis de qualificação como Organizações fins lucrativos e a órgãos do setor público que atuem em áreas afins.
da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de Art. 4o Atendido o disposto no art. 3o, exige-se ainda, para
qualquer forma às atividades descritas no art. 3o desta Lei: qualificarem-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse
I - as sociedades comerciais; Público, que as pessoas jurídicas interessadas sejam regidas por es-
II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação tatutos cujas normas expressamente disponham sobre:
de categoria profissional; I - a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade,
III - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência;
de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
II - a adoção de práticas de gestão administrativa, necessárias
IV - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
e suficientes a coibir a obtenção, de forma individual ou coletiva, de
fundações;
benefícios ou vantagens pessoais, em decorrência da participação
V - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios; no respectivo processo decisório;
VI - as entidades e empresas que comercializam planos de saú- III - a constituição de conselho fiscal ou órgão equivalente, dota-
de e assemelhados; do de competência para opinar sobre os relatórios de desempenho
VII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas financeiro e contábil, e sobre as operações patrimoniais realizadas,
mantenedoras; emitindo pareceres para os organismos superiores da entidade;
VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra- IV - a previsão de que, em caso de dissolução da entidade, o
tuito e suas mantenedoras; respectivo patrimônio líquido será transferido a outra pessoa jurídi-
IX - as organizações sociais; ca qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente que tenha o
X - as cooperativas; mesmo objeto social da extinta;
XI - as fundações públicas; V - a previsão de que, na hipótese de a pessoa jurídica perder a
XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito qualificação instituída por esta Lei, o respectivo acervo patrimonial
privado criadas por órgão público ou por fundações públicas; disponível, adquirido com recursos públicos durante o período em
XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de que perdurou aquela qualificação, será transferido a outra pessoa
vinculação com o sistema financeiro nacional a que se refere o art. jurídica qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente que te-
192 da Constituição Federal. nha o mesmo objeto social;
Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em VI - a possibilidade de se instituir remuneração para os diri-
qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res- gentes da entidade que atuem efetivamente na gestão executiva
pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi- e para aqueles que a ela prestam serviços específicos, respeitados,
da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos em ambos os casos, os valores praticados pelo mercado, na região
objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades: correspondente a sua área de atuação;
I - promoção da assistência social; VII - as normas de prestação de contas a serem observadas pela
II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio entidade, que determinarão, no mínimo:
histórico e artístico; a) a observância dos princípios fundamentais de contabilidade
III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma e das Normas Brasileiras de Contabilidade;
complementar de participação das organizações de que trata esta
b) que se dê publicidade por qualquer meio eficaz, no encerra-
Lei;
mento do exercício fiscal, ao relatório de atividades e das demons-
IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com-
trações financeiras da entidade, incluindo-se as certidões negativas
plementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
de débitos junto ao INSS e ao FGTS, colocando-os à disposição para
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e pro- exame de qualquer cidadão;
moção do desenvolvimento sustentável; c) a realização de auditoria, inclusive por auditores externos
VII - promoção do voluntariado; independentes se for o caso, da aplicação dos eventuais recursos
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e com- objeto do termo de parceria conforme previsto em regulamento;
bate à pobreza; d) a prestação de contas de todos os recursos e bens de origem
IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio- pública recebidos pelas Organizações da Sociedade Civil de Interes-
-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, em- se Público será feita conforme determina o parágrafo único do art.
prego e crédito; 70 da Constituição Federal.
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos di- Parágrafo único. É permitida a participação de servidores pú-
reitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; blicos na composição de conselho ou diretoria de Organização da
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu- Sociedade Civil de Interesse Público.
manos, da democracia e de outros valores universais;

113
DIREITO ADMINISTRATIVO
Pode-se dizer que as OSCIPs são o reconhecimento oficial e le- Conselhos Profissionais
gal mais próximo do que modernamente se entende por ONG, es- Trata-se de entidades que são destinadas ao controle e fiscali-
pecialmente porque são marcadas por uma extrema transparência zação de algumas profissões regulamentadas. Eis que tem-se uma
administrativa. Contudo ser uma OSCIP é uma opção institucional, grande controvérsia, quanto à sua natureza jurídica.
não uma obrigação. O STF considera que como se trata de função típica do Estado,
Em geral, o poder público sente-se muito à vontade para se o controle e fiscalização do exercício de atividades profissionais não
relacionar com esse tipo de instituição, porque divide com a socie- poderia ser delegado a entidades privadas, em decorrência disso,
dade civil o encargo de fiscalizar o fluxo de recursos públicos em chegou-se ao entendimento que os conselhos profissionais pos-
parcerias. suem natureza autárquica.
A OSCIP, portanto, é uma organização da sociedade civil que, Assim, não estamos diante de entes de colaboraçao, mas sim
em parceria com o poder público, utilizará também recursos públi- de pessoas jurídicas de direito público.
cos para suas finalidades, dividindo dessa forma o encargo adminis-
trativo e de prestação de contas. Fazendo-se um comparativo, a Constituição Federal não admite
Entidades de utilidade pública que esses conselhos tenham personalidade jurídica de direito pri-
Figuram ainda como entidades privadas de utilidade pública: vado, gozando de prerrogativas que são conferidas ao Estado. Os
conselhos profissionais com natureza autárquica é uma forma de
Serviços sociais autônomos descentralizar a atividade administrativa que não pode mais ser de-
São pessoas jurídicas de direito privado, criados por intermé- legada a associações profissionais de caráter privado.
dio de autorização legislativa. Tratam-se de entes paraestatais de
cooperação com o Poder Público, possuindo administração e patri-
mônio próprios. ATOS ADMINISTRATIVOS. CONCEITOS, REQUISITOS,
Para ficar mais fácil de compreender, basta pensar no sistema ELEMENTOS, PRESSUPOSTOS E CLASSIFICAÇÃO. FATO
“S”, cujo o qual resulta do fato destas entidades ligarem-se à es- E ATO ADMINISTRATIVO. ATOS ADMINISTRATIVOS EM
trutura sindical e terem sua denominação iniciada com a letra “S” ESPÉCIE. O SILÊNCIO NO DIREITO ADMINISTRATIVO.
– SERVIÇO. CASSAÇÃO. REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO. FATOS DA
Integram o Sistema “S:” SESI, SESC, SENAC, SEST, SENAI, SENAR ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: ATOS DA ADMINISTRAÇÃO
e SEBRAE. PÚBLICA E FATOS ADMINISTRATIVOS. FORMAÇÃO
Estas entidades visam ministrar assistência ou ensino a algu- DO ATO ADMINISTRATIVO: ELEMENTOS,
mas categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins lucrativos. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. VALIDADE,
São mantidas por dotações orçamentárias e até mesmo por contri- EFICÁCIA E AUTOEXECUTORIEDADE DO ATO
buições parafiscais. ADMINISTRATIVO. ATOS ADMINISTRATIVOS SIMPLES,
Ainda que sejam oficializadas pelo Estado, não são partes inte- COMPLEXOS E COMPOSTOS. ATOS ADMINISTRATIVOS
grantes da Administração direta ou indireta, porém trabalham ao UNILATERAIS, BILATERAIS E MULTILATERAIS. ATOS
lado do Estado, seja cooperando com os diversos setores as ativida- ADMINISTRATIVOS GERAIS E INDIVIDUAIS. ATOS
des e serviços que lhes são repassados. ADMINISTRATIVOS VINCULADOS E DISCRICIONÁRIOS.
MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO,
Entidades de Apoio DISCRICIONARIEDADE. ATO ADMINISTRATIVO
As entidades de apoio fazem parte do Terceiro Setor e são pes- INEXISTENTE. TEORIA DAS NULIDADES NO DIREITO
soas jurídicas de direito privado, criados por servidores públicos ADMINISTRATIVO. ATOS ADMINISTRATIVOS NULOS
para a prestação de serviços sociais não exclusivos do Estado, pos- E ANULÁVEIS. VÍCIOS DO ATO ADMINISTRATIVO.
suindo vínculo jurídico com a Administração direta e indireta. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES.
Atualmente são prestadas no Brasil através dos serviços de lim- REVOGAÇÃO, ANULAÇÃO E CONVALIDAÇÃO DO ATO
peza, conservação, concursos vestibulares, assistência técnica de ADMINISTRATIVO
equipamentos, administração em restaurantes e hospitais univer-
sitários. CONCEITO
O bom motivo da criação das entidades de apoio é a eficiência Ato Administrativo, em linhas gerais, é toda manifestação lícita
na utilização desses entes. Através delas, convênios são firmados e unilateral de vontade da Administração ou de quem lhe faça às
com a Administração Pública, de modo muito semelhante com a vezes, que agindo nesta qualidade tenha por fim imediato adquirir,
celebração de um contrato transferir, modificar ou extinguir direitos e obrigações.
Para Hely Lopes Meirelles: “toda manifestação unilateral de
Associações Públicas vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, te-
Tratam-se de pessoas jurídicas de direito público, criadas por nha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, ex-
meio da celebração de um consórcio público com entidades fede- tinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados
rativas. ou a si própria”.
Quando as entidades federativas fazem um consórcio público, Para Maria Sylvia Zanella di Pietro ato administrativo é a “de-
elas terão a faculdade de decidir se essa nova pessoa criada será de claração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
direito privado ou de direito público. Caso se trate de direito públi- jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de
co, caracterizar-se-á como Associação Pública. No caso de direito direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
privado, não se tem um nome específico. Conforme se verifica dos conceitos elaborados por juristas
A finalidade da associação pública é estabelecer finalidades administrativos, esse ato deve alcançar a finalidade pública, onde
de interesse comum entre as entidades federativas, estabelecendo serão definidas prerrogativas, que digam respeito à supremacia do
uma meta a ser atingida. interesse público sobre o particular, em virtude da indisponibilidade
Faz parte da administração indireta de todas as entidades fede- do interesse público.
rativas consorciadas.

114
DIREITO ADMINISTRATIVO
Os atos administrativos podem ser delegados, assim os parti- ATRIBUTOS
culares recebem a delegação pelo Poder Público para prática dos Atributos são qualidades, prerrogativas ou poderes especiais
referidos atos. que revestem os atos administrativos para que eles alcancem os
Dessa forma, os atos administrativos podem ser praticados pelo fins almejados pelo Estado.
Estado ou por alguém que esteja em nome dele. Logo, pode-se con- Existem por conta dos interesses que a Administração repre-
cluir que os atos administrativos não são definidos pela condição senta, são as qualidades que permitem diferenciar os atos adminis-
da pessoa que os realiza. Tais atos são regidos pelo Direito Público. trativos dos outros atos jurídicos. Decorrem do princípio da supre-
macia do interesse público sobre o privado.
REQUISITOS São atributos dos atos administrativos:
São as condições necessárias para a existência válida do ato.
Os requisitos dos atos administrativos são cinco: a) Presunção de Legitimidade/Legitimidade: É a presunção
- Competência: o ato deve ser praticado por sujeito capaz. Tra- de que os atos administrativos devem ser considerados válidos, até
ta-se de requisito vinculado, ou seja, para que um ato seja válido que se demonstre o contrário, a bem da continuidade da prestação
deve-se verificar se foi praticado por agente competente. dos serviços públicos.
O ato deve ser praticado por agente público, assim considerado A presunção de legitimidade não pressupõe no entanto que Ios
todo aquele que atue em nome do Estado, podendo ser de qual- atos administrativos não possam ser combatidos ou questionados,
quer título, mesmo que não ganhe remuneração, por prazo deter- no entanto, o ônus da prova é de quem alega.
minado ou vínculo de natureza permanente. O atributo de presunção de legitimidade confere maior cele-
Além da competência para a prática do ato, se faz necessário ridade à atuação administrativa, já que depois da prática do ato,
que não exista impedimento e suspeição para o exercício da ativi- estará apto a produzir efeitos automaticamente, como se fosse vá-
dade. lido, até que se declare sua ilegalidade por decisão administrativa
Deve-se ter em mente que toda a competência é limitada, não ou judicial.
sendo possível um agente que contenha competência ilimitada,
tendo em vista o dever de observância da lei para definir os critérios b) Imperatividade: É a prerrogativa que os atos administrativos
de legitimação para a prática de atos. possuem de gerar unilateralmente obrigações aos administrados,
independente da concordância destes. É o atributo que a Adminis-
- Finalidade: O ato administrativo deve ser editado pela Admi- tração possui para impor determinado comportamento a terceiros.
nistração Pública em atendimento a uma finalidade maior, que é a c) Exigibilidade ou Coercibilidade: É a prerrogativa que pos-
pública; se o ato praticado não tiver essa finalidade, ocorrerá abuso suem os atos administrativos de serem exigidos quanto ao seu cum-
de poder. primento sob ameaça de sanção. A imperatividade e a exigibilidade,
Em outras palavras, o ato administrativo deve ter como fina- em regra, nascem no mesmo momento.
lidade o atendimento do interesse coletivo e do atendimento das Caso não seja cumprida a obrigação imposta pelo administrati-
demandas da sociedade. vo, o poder público, se valerá dos meios indiretos de coação, reali-
zando, de modo indireto o ato desrespeitado.
- Forma: é o requisito vinculado que envolve a maneira de exte-
riorização e demais procedimentos prévios que forem exigidos com d) Autoexecutoriedade: É o poder de serem executados mate-
a expedição do ato administrativo. rialmente pela própria administração, independentemente de re-
Via de regra, os atos devem ser escritos, permitindo de ma- curso ao Poder Judiciário.
neira excepcional atos gestuais, verbais ou provindos de forças que A autoexecutoriedade é atributo de alguns atos administrati-
não sejam produzidas pelo homem, mas sim por máquinas, que são vos, ou seja, não existe em todos os atos. Poderá ocorrer quando
os casos dos semáforos, por exemplo. a lei expressamente prever ou quando estiver tacitamente prevista
A forma não configura a essência do ato, mas apenas o ins- em lei sendo exigido para tanto situação de urgência; e inexistência
trumento necessário para que a conduta administrativa atinja seus de meio judicial idôneo capaz de, a tempo, evitar a lesão.
objetivos. O ato deve atender forma específica, justamente porque
se dá pelo fato de que os atos administrativos decorrem de um pro- CLASSIFICAÇÃO
cesso administrativo prévio, que se caracterize por uma série de Os atos administrativos podem ser objeto de várias classifica-
atos concatenados, com um propósito certo. ções, conforme o critério em função do qual seja agrupados. Men-
cionaremos os agrupamentos de classificação mais comuns entre
- Motivo: O motivo será válido, sem irregularidades na prática os doutrinadores administrativos.
do ato administrativo, exigindo-se que o fato narrado no ato prati-
cado seja real e tenha acontecido da forma como estava descrito na Quanto à composição da vontade produtora do ato:
conduta estatal. Simples: depende da manifestação jurídica de um único órgão,
Difere-se de motivação, pois este é a explicação por escrito das mesmo que seja de órgão colegiado, torna o ato perfeito, portan-
razões que levaram à prática do ato. to, a vontade para manifestação do ato deve ser unitária, obtida
através de votação em órgão colegiado ou por manifestação de um
- Objeto lícito: É o conteúdo ato, o resultado que se visa rece- agente em órgãos singulares.
ber com sua expedição. Todo e qualquer ato administrativo tem por Complexo: resulta da manifestação conjugada de vontades de
objeto a criação, modificação ou comprovação de situações jurídi- órgãos diferentes. É necessária a manifestação de vontade de dois
cas referentes a pessoas, coisas ou atividades voltadas à ação da ou mais órgãos para formar um único ato.
Administração Pública. Composto: manifestação de dois ou mais órgãos, em que um
Entende-se por objeto, aquilo que o ato dispõe, o efeito causa- edita o ato principal e o outro será acessório. Como se nota, é com-
do pelo ato administrativo, em decorrência de sua prática. Trata-se posto por dois atos, geralmente decorrentes do mesmo órgão pú-
do objeto como a disposição da conduta estatal, aquilo que fica de- blico, em patamar de desigualdade, de modo que o segundo ato
cidido pela prática do ato. deve contar com o que ocorrer com o primeiro.

115
DIREITO ADMINISTRATIVO
Quanto a formação do ato: Declaratório: Simplesmente afirma ou declara uma situação já
Atos unilaterais: Dependem de apenas a vontade de uma das existente, seja de fato ou de direito. Não cria, transfere ou extingue
partes. Exemplo: licença a situação existente, apenas a reconhece.
Atos bilaterais: Dependem da anuência de ambas as partes. Modificativo: Altera a situação já existente, sem que seja extin-
Exemplo: contrato administrativo; ta, não retirando direitos ou obrigações. A alteração do horário de
Atos multilaterais: Dependem da vontade de várias partes. atendimento da repartição é exemplo desse tipo de ato.
Exemplo: convênios. Extintivo: Pode também ser chamado desconstitutivo, é o ato
que põe termo a um direito ou dever existente. Cite-se a demissão
Quanto aos destinatários do ato: do servidor público.
Individuais: são aqueles destinados a um destinatário certo e
determinado, impondo a norma abstrata ao caso concreto. Nesse Quanto à situação de terceiros:
momento, seus destinatários são individualizados, pois a norma é Internos: Destinados a produzir seus efeitos no âmbito interno
geral restringindo seu âmbito de atuação. da Administração Pública, não atingindo terceiros, como as circula-
Gerais: são os atos que têm por destinatário final uma catego- res e pareceres.
ria de sujeitos não especificados. Os atos gerais tem a finalidade Externos: Destinados a produzir efeitos sobre terceiros, e, por-
de normatizar suas relações e regulam uma situação jurídica que tanto, necessitam de publicidade para que produzam adequada-
abrange um número indeterminado de pessoas, portanto abrange mente seus efeitos.
todas as pessoas que se encontram na mesma situação, por tratar-
-se de imposição geral e abstrata para determinada relação. Quanto à validade do ato:
Válido: É o que atende a todos os requisitos legais: competên-
Quanto à posição jurídica da Administração: cia, finalidade, forma, motivo e objeto. Pode estar perfeito, pronto
Atos de império: Atos onde o poder público age de forma impe- para produzir seus efeitos ou estar pendente de evento futuro.
rativa sobre os administrados, impondo-lhes obrigações. São atos Nulo: É o que nasce com vício insanável, ou seja, um defeito
praticados sob as prerrogativas de autoridade estatal. Ex. Interdição que não pode ser corrigido. Não produz qualquer efeito entre as
de estabelecimento comercial. partes. No entanto, em face dos atributos dos atos administrativos,
Atos de gestão: são aqueles realizados pelo poder público, sem ele deve ser observado até que haja decisão, seja administrativa,
as prerrogativas do Estado (ausente o poder de comando estatal), seja judicial, declarando sua nulidade, que terá efeito retroativo, ex
sendo que a Administração irá atuar em situação de igualdade com tunc, entre as partes. Por outro lado, deverão ser respeitados os
o particular. Nesses casos, a atividade será regulada pelo direito pri- direitos de terceiros de boa-fé que tenham sido atingidos pelo ato
vado, de modo que o Estado não irá se valer das prerrogativas que nulo.
tenham relação com a supremacia do interesse público. Anulável: É o ato que contém defeitos, porém, que podem ser
Exemplo: a alienação de um imóvel público inservível ou alu- sanados, convalidados. Ressalte-se que, se mantido o defeito, o
guel de imóvel para instalar uma Secretaria Municipal. ato será nulo; se corrigido, poderá ser “salvo” e passar a ser válido.
Atente-se que nem todos os defeitos são sanáveis, mas sim aqueles
Quanto à natureza das situações jurídicas que o ato cria: expressamente previstos em lei.
Atos-regra: Criam situações gerais, abstratas e impessoais.Tra- Inexistente: É aquele que apenas aparenta ser um ato admi-
çam regras gerais (regulamentos). nistrativo, mas falta a manifestação de vontade da Administração
Atos subjetivos: Referem-se a situações concretas, de sujeito Pública. São produzidos por alguém que se faz passar por agente
determinado. Criam situações particulares e geram efeitos indivi- público, sem sê-lo, ou que contém um objeto juridicamente impos-
duais. sível.
Atos-condição: Somente surte efeitos caso determinada condi-
ção se cumpra. Quanto à exequibilidade:
Perfeito: É aquele que completou seu processo de formação,
Quanto ao grau de liberdade da Administração para a prática estando apto a produzir seus efeitos. Perfeição não se confunde
do ato: com validade. Esta é a adequação do ato à lei; a perfeição refere-se
Atos vinculados: Possui todos seus elementos determinados às etapas de sua formação.
em lei, não existindo possibilidade de apreciação por parte do ad- Imperfeito: Não completou seu processo de formação, portan-
ministrador quanto à oportunidade ou à conveniência. Cabe ao ad- to, não está apto a produzir seus efeitos, faltando, por exemplo, a
ministrador apenas a verificação da existência de todos os elemen- homologação, publicação, ou outro requisito apontado pela lei.
tos expressos em lei para a prática do ato. Pendente: Para produzir seus efeitos, sujeita-se a condição ou
Atos discricionários: O administrador pode decidir sobre o mo- termo, mas já completou seu ciclo de formação, estando apenas
tivo e sobre o objeto do ato, devendo pautar suas escolhas de acor- aguardando o implemento desse acessório, por isso não se confun-
do com as razões de oportunidade e conveniência. A discricionarie- de com o imperfeito. Condição é evento futuro e incerto, como o
dade é sempre concedida por lei e deve sempre estar em acordo casamento. Termo é evento futuro e certo, como uma data espe-
com o princípio da finalidade pública. O poder judiciário não pode cífica.
avaliar as razões de conveniência e oportunidade (mérito), apenas a Consumado: É o ato que já produziu todos os seus efeitos, nada
legalidade, os motivos e o conteúdo ou objeto do ato. mais havendo para realizar. Exemplifique-se com a exoneração ou a
concessão de licença para doar sangue.
Quanto aos efeitos:
Constitutivo: Gera uma nova situação jurídica aos destinatários.
Pode ser outorgado um novo direito, como permissão de uso de
bem público, ou impondo uma obrigação, como cumprir um perío-
do de suspensão.

116
DIREITO ADMINISTRATIVO
ESPÉCIES - Ofícios – comunicações oficiais que são feitas pela Adminis-
a) Atos normativos: São aqueles que contém um comando ge- tração a terceiros;
ral do Executivo visando o cumprimento de uma lei. Podem apre- - Despachos administrativos – são decisões tomadas pela auto-
sentar-se com a característica de generalidade e abstração (decreto ridade executiva (ou legislativa e judiciária, quando no exercício da
geral que regulamenta uma lei), ou individualidade e concreção função administrativa) em requerimentos e processos administrati-
(decreto de nomeação de um servidor). vos sujeitos à sua administração.
Os atos normativos se subdividem em:
- Regulamentos: São atos normativos posteriores aos decretos, c) Atos negociais: São todos aqueles que contêm uma declara-
que visam especificar as disposições de lei, assim como seus man- ção de vontade da Administração apta a concretizar determinado
damentos legais. As leis que não forem executáveis, dependem de negócio jurídico ou a deferir certa faculdade ao particular, nas con-
regulamentos, que não contrariem a lei originária. Já as leis auto- dições impostas ou consentidas pelo Poder Público.
-executáveis independem de regulamentos para produzir efeitos. - Licença – ato definitivo e vinculado (não precário) em que a
1. Regulamentos executivos: são os editados para a fiel execu- Administração concede ao Administrado a faculdade de realizar de-
ção da lei, é um ato administrativo que não tem o foto de inovar o terminada atividade.
ordenamento jurídico, sendo praticado para complementar o texto - Autorização – ato discricionário e precário em que a Adminis-
legal. Os regulamentos executivos são atos normativos que comple- tração confere ao administrado a faculdade de exercer determinada
mentam os dispositivos legais, sem que ivovem a ordem jurídica, atividade.
com a criação de direitos e obrigações. - Permissão - ato discricionário e precário em que a Administra-
2. Regulamentos autônomos: agem em substituição a lei e vi- ção confere ao administrado a faculdade de promover certa ativida-
sam inovar o ordenamento jurídico, determinando normas sobre de nas situações determinadas por ela;
matérias não disciplinadas em previsão legislativa. Assim, podem - Aprovação - análise pela própria administração de atividades
ser considerados atos expedidos como substitutos da lei e não fa- prestadas por seus órgãos;
cilitadores de sua aplicação, já que são editados sem contemplar - Visto - é a declaração de legitimidade de deerminado ato pra-
qualquer previsão anterior. ticado pela própria Administração como maneira de exequibilidade;
- Homologação - análise da conveniência e legalidade de ato
Nosso ordenamento diverge acercada da possibilidade ou não praticado pelos seus órgãos como meio de lhe dar eficácia;
de serem expedidos regulamentos autônomos, em decorrência do - Dispensa - ato administrativo que exime o particular do cum-
princípio da legalidade. primento de certa obrigação até então conferida por lei.
- Instruções normativas – Possuem previsão expressa na Cons- - Renúncia - ato administrativo em que o poder Público extin-
tituição Federal, em seu artigo 87, inciso II. São atos administrativos gue de forma unilateral um direito próprio, liberando definitiva-
privativos dos Ministros de Estado. mente a pessoa obrigada perante a Administração Pública.
- Regimentos – São atos administrativos internos que emanam
do poder hierárquico do Executivo ou da capacidade de auto-orga- d) Atos enunciativos: São todos aqueles em que a Administra-
nização interna das corporações legislativas e judiciárias. Desta ma- ção se limita a certificar ou a atestar um fato, ou emitir uma opinião
neira, se destinam à disciplina dos sujeitos do órgão que o expediu. sobre determinado assunto, constantes de registros, processos e
- Resoluções – São atos administrativos inferiores aos regimen- arquivos públicos, sendo sempre, por isso, vinculados quanto ao
tos e regulamentos, expedidos pelas autoridades do executivo. motivo e ao conteúdo.
- Deliberações – São atos normativos ou decisórios que ema- - Atestado - são atos pelos quais a Administração Pública com-
nam de órgãos colegiados provenientes de acordo com os regula- prova um fato ou uma situação de que tenha conhecimento por
mentos e regimentos das organizações coletivas. Geram direitos meio dos órgãos competentes;
para seus beneficiários, sendo via de regra, vinculadas para a Ad- - Certidão – tratam-se de cópias ou fotocópias fiéis e autentica-
ministração. das de atos ou fatos existentes em processos, livros ou documentos
que estejam na repartição pública;
b) Atos ordinatórios: São os que visam a disciplinar o funcio- - Pareceres - são manifestações de órgãos técnicos referentes a
namento da Administração e a conduta funcional de seus agentes. assuntos submetidos à sua consideração.
Emanam do poder hierárquico, isto é, podem ser expedidos por
chefes de serviços aos seus subordinados. Logo, não obrigam aos e) Atos punitivos: São aqueles que contêm uma sanção impos-
particulares. ta pela lei e aplicada pela Administração, visando punir as infrações
São eles: administrativas ou condutas irregulares de servidores ou de parti-
- Instruções – orientação do subalterno pelo superior hierár- culares perante a Administração.
quico em desempenhar determinada função; Esses atos são aplicados para aqueles que desrespeitam as dis-
- Circulares – ordem uniforme e escrita expedida para determi- posições legais, regulamentares ou ordinatórias dos bens ou servi-
nados funcionários ou agentes; ços.
- Avisos – atos de titularidade de Ministros em relação ao Mi- Quanto à sua atuação os atos punitivos podem ser de atuação
nistério; externa e interna. Quando for interna, compete à Administração
- Portarias – atos emanados pelos chefes de órgãos públicos punir disciplinarmente seus servidores e corrigir os serviços que
aos seus subalternos que determinam a realização de atos especiais contenham defeitos, por meio de sanções previstas nos estatutos,
ou gerais; fazendo com que se respeite as normas administrativas.
- Ordens de serviço – determinações especiais dirigidas aos res-
ponsáveis por obras ou serviços públicos; EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO.
- Provimentos – atos administrativos intermos, com determina- Os atos administrativos são produzidos e editados com a fina-
ções e instruções em que a Corregedoria ou os Tribunais expedem lidade de produzir efeitos jurídicos. Cumprida a finalidade a qual
para regularização ou uniformização dos serviços; fundamenta a edição do ato o mesmo deve ser extinto.

117
DIREITO ADMINISTRATIVO
Outras vezes, fatos ou atos posteriores interferem diretamente Existem três formas de convalidação:
no ato e geram sua suspensão ou elimina definitivamente seus efei- a) Ratificação: É a convalidação feita pela própria autoridade
tos, causando sua extinção. que praticou o ato;
Ademais, diversas são as causas que determinam a extinção b) Confirmação: É a convalidação feita por autoridade superior
dos atos adminsitrativos ou de seus efeitos, vejamos: àquela que praticou o ato;
c) Saneamento: É a convalidação feita por ato de terceiro, ou
Cassação: Ocorre a extinção do ato administrativo quando o seja, não é feita nem por quem praticou o ato nem por autoridade
administrado deixa de preencher condição necessária para perma- superior.
nência da vantagem, ou seja, o beneficiário descumpre condição
indispensável para manutenção do ato administrativo. Verificado que um determinado ato é anulável, a convalidação
Anulação ou invalidação (desfazimento): É a retirada, o desfa- será discricionária, ou seja, a Administração convalidará ou não o
zimento do ato administrativo em decorrência de sua invalidade, ou ato de acordo com a conveniência. Alguns autores, tendo por base
seja, é a extinção de um ato ilegal, determinada pela Administração o princípio da estabilidade das relações jurídicas, entendem que a
ou pelo judiciário, com eficácia retroativa – ex tunc. convalidação deverá ser obrigatória, visto que, se houver como sa-
A anulação pode acontecer por via judicial ou por via admi- nar o vício de um ato, ele deverá ser sanado. É possível, entretanto,
nistrativa. Ocorrerá por via judicial quando alguém solicita ao Ju- que existam obstáculos ao dever de convalidar, não havendo outra
diciário a anulação do ato. Ocorrerá por via administrativa quando alternativa senão anular o ato.
a própria Administração expede um ato anulando o antecedente,
utilizando-se do princípio da autotutela, ou seja, a Administração DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA
tem o poder de rever seus atos sempre que eles forem ilegais ou A decadência (art. 207 do Código Civil), incide sobre direitos
inconvenientes. Quando a anulação é feita por via administrativa, potestativos, que “são poderes que a lei confere a determinadas
pode ser realizada de ofício ou por provocação de terceiros. pessoas de influírem, com uma declaração de vontade, sobre situ-
De acordo com entendimento consolidado pelo Supremo Tri- ações jurídicas de outras, sem o concurso da vontade destas”, ou
bunal Federal, a anulação de um ato não pode prejudicar terceiro seja, quando a lei ou a vontade fixam determinado prazo para se-
de boa-fé. rem exercidos e se não o forem, extingue-se o próprio direito ma-
Vejamos o que consta nas Súmulas 346 e 473 do STF: terial.
- SÚMULA 346: A administração pública pode declarar a nulida- O instituto da decadência tem a finalidade de garantir a segu-
de dos seus próprios atos. rança jurídica. A decadência que decorre de prazo legal é de ordem
- SÚMULA 473: A administração pode anular seus próprios pública, não podendo ser renunciada. Entretanto, se o prazo deca-
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles dencial for ajustado, por declaração unilateral de vontade ou por
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência convenção entre as partes, pode ser renunciado, que correspon-
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, derá a uma revogação da condição para o exercício de um direito
em todos os casos, a apreciação judicial. dentro de determinado tempo.
Para Hely Lopes Meirelles mais adequado seria considerar-se
Revogação: É a retirada do ato administrativo em decorrência como de decadência administrativa os prazos estabelecidos por
da sua inconveniência ou inoportunidade em face dos interesses diversas leis, para delimitar no tempo as atividades da Adminis-
públicos. Somente se revoga ato válido que foi praticado de acordo tração. E isso porque a prescrição, como instituto jurídico, pressu-
com a lei. A revogação somente poderá ser feita por via adminis- põe a existência de uma ação judicial apta à defesa de um direito.
trativa. Contudo, a legislação, ao estabelecer os prazos dentro dos quais o
Quando se revoga um ato, diz-se que a Administração perdeu administrado pode interpor recursos administrativos ou pode a Ad-
o interesse na manutenção deste, ainda que não exista vício que o ministração manifestar-se, seja pela prática de atos sobre a conduta
tome. Trata-se de ato discricionário, referente ao mérito adminis- de seus servidores, sobre obrigações fiscais dos contribuintes, ou
trativo, por set um ato legal, todos os atos já foram produzidos de outras obrigações com os administrados, refere-se a esses prazos
forma lícita, de modo que a revogação não irá retroagir, contudo denominando-os de prescricionais.
mantem-se os efeitos já produzidos (ex nunc). Em suma, decadência administrativa ocorre com o transcurso
Não há limite temporal para a revogação de atos administrati- do prazo, impedindo a prática de um ato pela própria Administra-
vos, não se configurando a decadência, no prazo quinquenal, tendo ção.
em vista o entendimento que o interesse público pode ser alterado
a qualquer tempo.
Não existe efeito repristinatório, ou seja, a retirada do ato, por PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI ESTADUAL N.º
razões de conveniência e oportunidade. 13.800/2001)

Convalidação ou Sanatória: É o ato administrativo que, com LEI Nº 13.800, DE 18 DE JANEIRO DE 2001.
efeitos retroativos, sana vício de ato antecedente, de modo a torná-
-lo válido desde o seu nascimento, ou seja, é um ato posterior que Regula o processo administrativo no âmbito da Administração
sana um vício de um ato anterior, transformando-o em válido desde Pública do Estado de Goiás.
o momento em que foi praticado. Alguns autores, ao se referir à
convalidação, utilizam a expressão sanatória. A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS decreta e
O ato convalidatório tem natureza vinculada (corrente majori- eu sanciono a seguinte lei:
tária), constitutiva, secundária, e eficácia ex tunc.
Há alguns autores que não aceitam a convalidação dos atos,
sustentando que os atos administrativos somente podem ser nu-
los. Os únicos atos que se ajustariam à convalidação seriam os atos
anuláveis.

118
DIREITO ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO I II – ter ciência da tramitação dos processos administrativos
DISPOSIÇÕES GERAIS em que tenha a condição de interessado, ter vista dos mesmos,
pessoalmente ou através de procurador legitimamente constitu-
Art. 1 - Esta lei estabelece normas básicas sobre o processo ído, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer das
administrativo no âmbito da Administração Estadual direta e indi- decisões proferidas;
reta, visando à proteção dos direitos dos administrados e ao me- III – formular alegações e apresentar documentos antes da
lhor cumprimento dos fins da Administração. decisão, os quais serão objeto de consideração pela autoridade
§ 1 - O disposto nesta lei aplica-se, no que couber, aos órgãos julgadora;
dos Poderes Legislativo e Judiciário e ao Ministério Público, quan- IV – fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo
do no desempenho de função administrativa. quando obrigatória a representação, por força de lei.
§ 2 – Para os fins desta lei, consideram-se: Art. 3º-A Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão
I – órgão – a unidade de atuação integrante das estruturas das ou instância, os procedimentos administrativos em que figure
Administrações direta e indireta; como parte ou interessado:
II – entidade – a unidade de atuação dotada de personalidade - Redação dada pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
jurídica; I – pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;
III – autoridade – o servidor ou agente público dotado de po- - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
der de decisão. II – pessoa portadora de deficiência;
Art. 2 – A Administração pública obedecerá, dentre outros, - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, III – pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múlti-
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, se- pla, neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapa-
gurança jurídica, interesse público e eficiência. citante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose
Parágrafo único – Nos processos administrativos serão obser- anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avan-
vados, entre outros, os critérios de: çados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação
I – atuação conforme a lei e o direito; por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, ou outra
II – atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia doença grave, com base em conclusão da medicina especializa-
total ou parcial de poderes ou competências, ressalvadas as auto- da, mesmo que a doença tenha sido contraída após o início do
rizadas em lei; processo.
III – objetividade no atendimento do interesse público; - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
IV – atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e § 1º A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando
boa-fé; prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade adminis-
V – divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as trativa competente para decidir o feito, que determinará as provi-
hipóteses de sigilo previstas na Constituição Federal; dências a serem cumpridas.
VI – adequação entre meios e fins, vedada a imposição de - Redação dada pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas es- § 2 VETADO.
tritamente necessárias ao atendimento do interesse público; - Acrescido pela Lei nº 16.105, de 24-07-2007.
VII – indicação dos pressupostos de fato e de direito que de- § 3º A prioridade de que trata este artigo não cessará com
terminarem a decisão; a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge su-
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos pérstite, companheiro ou companheira, em união estável.
direitos dos administrados; - Redação dada pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
IX – adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade- § 4º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação
quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos ad- própria que evidencie o regime de tramitação prioritária.
ministrados; - Acrescido pela Lei nº 17.054, de 22-06-2010.
X – garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de § 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade espe-
alegações finais, à produção de provas e à interposição de recur- cial aos maiores de 80 (oitenta) anos.
sos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situa- - Acrescido pela Lei nº 21.519, de 26-07-2022.
ções de litígio;
XI – proibição de cobrança de despesas processuais, ressalva- CAPÍTULO III
das as previstas em lei; DOS DEVERES DO ADMINISTRADO
XII – seguimento, de ofício, do processo administrativo, sem
prejuízo da atuação dos interessados; Art. 4 – São deveres do administrado perante a Administra-
XIII – interpretação da norma administrativa da forma que ção, sem prejuízo de outros previstos em ato normativo:
melhor garanta o atendimento de sua finalidade pública, vedada I – expor os fatos conforme a verdade;
aplicação retroativa de nova interpretação. II – proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
III – não agir de modo temerário;
CAPÍTULO II IV – prestar as informações que lhe forem solicitadas e cola-
DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS borar para o esclarecimento dos fatos.

Art. 3 – Sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados, o CAPÍTULO IV


administrado tem os seguintes direitos: DO INÍCIO DO PROCESSO
I – ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores,
que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento Art. 5 – O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou
de suas obrigações; a pedido do interessado.

119
DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 6 – O requerimento inicial do interessado, salvo casos em - Revogado pela Lei nº 14.211, de 08-07-2002, retroagindo os
que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e efeitos a 23/01/2001.
conter os seguintes dados: II – a decisão de recursos administrativos;
I – órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; III - Revogado;
II – identificação do interessado ou de quem o represente; - Revogado pela Lei nº 13.870, de 19-7-2001 .
III – domicílio do requerente ou local para recebimento de Art. 14 – O ato de delegação e sua revogação deverão ser pu-
comunicações; blicados no meio oficial.
IV – formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus § 1o – O ato de delegação especificará as matérias e condi-
fundamentos; ções dos poderes delegados e sua duração.
V – data e assinatura do requerente ou de seu representante. § 2o – O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela
§ 1º É vedada à Administração a recusa imotivada de recebi- autoridade delegante, respeitados os atos praticados ou decisões
mento de documentos, devendo o servidor orientar o interessado proferidas na vigência da delegação, excetuados os casos de má-
quanto ao suprimento de eventuais falhas. -fé ou comprovadamente prejudiciais a quaisquer das partes en-
- Redação dada pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010. volvidas.
§ 2º Nos casos de processo eletrônico, o requerimento inicial § 3o – As decisões adotadas por delegação deverão mencio-
de interessado não pertencente à Administração Pública Estadual nar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas
pode ser formulado e inserido eletronicamente no sistema, via as- pelo delegante.
sinatura eletrônica, ou ainda, ser formulado por escrito, assinado Art. 15 – Será permitida, em caráter excepcional e por moti-
pelo requerente ou representante, digitalizado e inserido no siste-
vos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária
ma de gerenciamento eletrônico de documentos em conformida-
de competência atribuída.
de com a lei específica.
Art. 16 – Os órgãos e entidades administrativas divulgarão pu-
- Acrescido pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010.
blicamente os locais das respectivas sedes.
Art. 7– Os órgãos e entidades administrativas deverão elabo-
rar modelos ou formulários padronizados para assuntos que im- Art. 17 – Inexistindo competência legal específica, o processo
portem pretensões equivalentes. administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor
Art. 8 – Quando os pedidos de uma pluralidade de interes- grau hierárquico para decidir.
sados tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser
formulados em um único requerimento, salvo preceito legal em CAPÍTULO VII
contrário. DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO

CAPÍTULO V Art. 18 – É impedido de atuar em processo administrativo o


DOS INTERESSADOS servidor ou autoridade que:
I – tenha interesse direto ou indireto na matéria;
Art. 9 – São legitimados como interessados no processo ad- II – tenha participado ou venha a participar como perito, tes-
ministrativo: temunha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto
I – pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;
de direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de III – esteja litigando judicial ou administrativamente com o in-
representação; teressado ou respectivo cônjuge ou companheiro.
II – aqueles que, sem terem iniciado o processo, tenham di- Art. 19 – A autoridade ou servidor que incorrer em impedi-
reitos ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser mento deve comunicar o fato à autoridade competente, absten-
adotada; do-se de atuar.
III – as organizações e associações representativas, no tocante Parágrafo único – A omissão do dever de comunicar o impedi-
a direitos e interesses coletivos; mento constitui falta grave, para os efeitos disciplinares.
IV – as pessoas ou associações legalmente constituídas quan- Art. 20 – Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou ser-
to a direitos ou interesses difusos. vidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum
Art. 10 – São capazes, para fins do processo administrativo, dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros,
os maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato parentes e afins até o terceiro grau.
normativo próprio.
Art. 21 – O indeferimento de alegação de suspeição poderá
ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.
CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA
CAPÍTULO VIII
Art. 11 – A competência é irrenunciável e se exerce pelos ór- DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO
gãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os
casos de delegação e avocação legalmente admitidos. Art. 22 – Os atos do processo administrativo não dependem
Art. 12 – Os titulares de órgão administrativo poderão, se não de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir.
houver impedimento legal, delegar competência a titulares de ou- § 1o – Os atos do processo devem ser produzidos por escrito,
tros órgãos, quando for conveniente em razão de circunstâncias em português, com a data e o local de sua realização e a assinatu-
de ordem técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. ra da autoridade responsável.
Parágrafo único – O disposto neste artigo aplica-se à delega- § 2o – Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma so-
ção de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presi- mente será exigido quando houver dúvida de autenticidade.
dentes. § 3°A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá
Art. 13 – Não podem ser objeto de delegação: ser feita pelo órgão administrativo ou pelo advogado constituído.
I - Revogado; - Redação dada pela Lei nº 20.293, de 27-09-2018.

120
DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 4º À exceção do processo eletrônico, o processo deverá ter CAPÍTULO X
suas páginas numeradas sequencialmente e rubricadas pelo res- DA INSTRUÇÃO
ponsável por sua autuação e, em sua tramitação, por quem nele
inserir quaisquer documentos. Art. 29 – As atividades de instrução destinadas a averiguar e
- Redação dada pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010. comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se
§ 5º Os atos administrativos e todos os documentos produ- de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo pro-
zidos pela Administração Pública que instruírem os processos cesso, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atua-
eletrônicos deverão ser transmitidos, armazenados e assinados ções probatórias.
eletronicamente na forma de lei específica. § 1o – O órgão competente para a instrução fará constarem
- Acrescido pela Lei nº 17.039, de 22-06-2010. dos autos os dados necessários à decisão do processo.
Art. 23 – Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, § 2o – Os atos de instrução que exijam a atuação dos interes-
no horário normal de funcionamento da repartição na qual trami- sados devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.
tar o processo. Art. 30 – São inadmissíveis no processo administrativo as pro-
Parágrafo único – Serão concluídos depois do horário normal vas obtidas por meios ilícitos.
os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do Art. 31 – Quando a matéria do processo envolver assunto de
procedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração. interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
Art. 24 – Inexistindo disposição específica, os atos do órgão motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
ou autoridade responsável pelo processo e dos administrados que terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para
dele participem devem ser praticados em cinco dias, podendo a parte interessada.
este prazo ser dilatado até o dobro por motivo justo, devidamente § 1o – A abertura da consulta pública será objeto de divulga-
comprovado. ção pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas
Art. 25 – Os atos do processo devem realizar-se preferencial- possam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de
mente na sede do órgão, cientificando-se os interessados se outro alegações escritas.
for o local de realização. § 2o – O comparecimento à consulta pública não confere, por
si, a condição de interessado do processo, mas confere o direito
CAPÍTULO IX de obter da Administração resposta fundamentada, que poderá
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS ser comum a todas as alegações substancialmente iguais.
Art. 32 – Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade,
Art. 26 – O órgão competente perante o qual tramita o pro- diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência
cesso administrativo determinará a intimação dos interessados pública para debates sobre a matéria do processo.
para ciência de decisão ou a efetivação de diligências.
Art. 33 – Os órgãos e entidades da Administração, em matéria
§ 1o – A intimação deverá conter:
relevante, poderão estabelecer outros meios de participação de
I – identificação do intimado e nome do órgão ou entidade
administrados, diretamente ou por meio de organizações e asso-
administrativa;
ciações legalmente reconhecidas.
II – finalidade da intimação;
Art. 34 – Os resultados da consulta e audiência pública e de
III – data, hora e local em que deve comparecer;
outros meios de participação de administrados deverão ser apre-
IV – se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-
sentados com a indicação do procedimento adotado.
-se representar;
Art. 35 – Quando necessária à instrução do processo, a audi-
V – informação da continuidade do processo independente-
mente do seu comparecimento; ência de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser
VI – indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes. realizada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou
§ 2o – A intimação observará a antecedência mínima de três representantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva
dias úteis quanto à data de comparecimento. ata, a ser juntada aos autos.
§ 3o – A intimação poderá ser efetuada por ciência no pro- Art. 36 – Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale-
cesso, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para
outro meio que assegure a certeza da ciência do interessado. a instrução e do disposto no artigo seguinte.
§ 4o – No caso de interessados indeterminados, desconheci- Art. 37 – Quando o interessado declarar que fatos e dados
dos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada estão registrados em documentos existentes na própria Adminis-
por meio de publicação oficial. tração responsável pelo processo ou em outro órgão administra-
§ 5o – As intimações serão nulas quando feitas sem observân- tivo, o órgão competente para a instrução proverá, de ofício, à
cia das prescrições legais, mas o comparecimento do administra- obtenção dos documentos ou das respectivas cópias.
do supre sua falta ou irregularidade. Art. 38 – O interessado poderá, na fase instrutória e antes da
Art. 27 – O desatendimento da intimação não importa o reco- tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili-
nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à maté-
administrado. ria objeto do processo.
Parágrafo único – No prosseguimento do processo, será ga- § 1o – Os elementos probatórios deverão ser considerados na
rantido direito de ampla defesa ao interessado. motivação do relatório e da decisão.
Art. 28 – Devem ser objeto de intimação os atos do processo § 2o – Somente poderão ser recusadas, mediante decisão
que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus, fundamentada, as provas propostas pelos interessados quando
sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e atos de sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.
outra natureza, de seu interesse. Art. 39 – Quando for necessária a prestação de informações
ou a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, se-
rão expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data,
prazo, forma e condições de atendimento.

121
DIREITO ADMINISTRATIVO
Parágrafo único – Não sendo atendida a intimação, poderá VII – deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a ques-
o órgão competente, se entender relevante a matéria, suprir de tão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios ofi-
ofício a omissão, não se eximindo de proferir a decisão. ciais;
Art. 40 – Quando dados, atuações ou documentos solicitados VIII – impliquem anulação, revogação, suspensão ou convali-
ao interessado forem necessários à apreciação de pedido formu- dação de ato administrativo.
lado, o não atendimento no prazo fixado pela Administração para § 1o – A motivação deve ser explícita, clara e congruente, po-
a respectiva apresentação implicará arquivamento do processo. dendo basear-se em pareceres anteriores, informações ou deci-
Art. 41 – Os interessados serão intimados de prova ou diligên- sões, que, neste caso, serão parte integrante do ato, o que não
cia ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, men- elide a explicitação dos motivos que firmaram o convencimento
cionando-se data, hora e local de realização. pessoal da autoridade julgadora.
Art. 42 – Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um ór- § 2o – Na solução de vários assuntos da mesma natureza,
gão consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos
quinze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos
maior prazo. interessados.
Parágrafo único – Se um parecer obrigatório e vinculante dei- § 3o – A motivação das decisões dos órgãos colegiados e co-
xar de ser emitido no prazo fixado, o processo não terá seguimen- missões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou termo
to até a respectiva apresentação, responsabilizando-se quem der escrito.
causa ao atraso.
Art. 43 – Quando por disposição de ato normativo devam ser CAPÍTULO XIII
previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos DA DESISTÊNCIA E DE OUTROS CASOS
e estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão DE EXTINÇÃO DO PROCESSO
responsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro
órgão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes. Art. 51 – O interessado poderá, mediante manifestação escri-
Art. 44 – Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de ta, desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda,
manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo renunciar a direitos disponíveis.
for legalmente fixado. § 1o – Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia
Art. 45 – Em caso de risco iminente, a Administração Pública atinge somente quem a tenha formulado.
poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a § 2o – A desistência ou renúncia do interessado, conforme o
prévia manifestação do interessado. caso, não prejudica o prosseguimento do processo, se a Adminis-
Art. 46 – Os interessados têm direito à vista do processo e a
tração considerar que o interesse público assim o exige.
obter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos
Art. 52 – O órgão competente poderá declarar extinto o pro-
que o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros
cesso quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se
protegidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à
tornar impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
imagem.
Art. 47 – A autoridade encarregada da instrução do proce-
CAPÍTULO XIV
dimento que não for competente para emitir a decisão final ela-
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
borará relatório indicando o pedido inicial, o conteúdo das fases
do procedimento e formulará proposta de decisão, objetivamente
justificada, e encaminhará o processo à autoridade competente Art. 53 – A Administração deve anular seus próprios atos,
para a decisão. quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
CAPÍTULO XI adquiridos.
DO DEVER DE DECIDIR Art. 54 – O direito da Administração de anular os atos admi-
nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatá-
Art. 48 – A Administração tem o dever de explicitamente emi- rios decai em cinco anos, contados da data em que foram pratica-
tir decisão nos processos administrativos sobre solicitações ou re- dos, salvo comprovada má-fé.
clamações, em matéria de sua competência. Parágrafo único – No caso de efeitos patrimoniais contínuos,
Art. 49 – Concluída a instrução de processo administrativo, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pa-
a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo gamento.
prorrogação por igual período expressamente motivada. Art. 55 – Em decisão na qual se evidencie não acarretarem
lesão ao interesse público nem prejuízos a terceiros, os atos que
CAPÍTULO XII apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela
DA MOTIVAÇÃO própria Administração.

Art. 50 – Os atos administrativos deverão ser motivados, com CAPÍTULO XV


indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO
I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; Art. 56 - Das decisões administrativas cabe recurso, em face
III – decidam processos administrativos de concurso ou sele- de razões de legalidade e de mérito.
ção pública; § 1o – O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a de-
IV – dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo li- cisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o enca-
citatório; minhará à autoridade superior.
V – decidam recursos administrativos; § 2o – Salvo exigência legal, a oposição de recurso administra-
VI – decorram de reexame de ofício; tivo independe de caução.

122
DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 57 – O recurso administrativo tramitará no máximo por § 2º Na contagem de prazo em dias, computar-se-ão somente
três instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa. os dias úteis.
Art. 58 – Têm legitimidade para opor recurso administrativo: - Redação dada pela Lei nº 20.276, de 19-09-2018.
I – os titulares de direitos e interesses que forem parte no § 3o – Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data
processo; a data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente
II – aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente àquele do início do prazo, tem-se como termo o último dia do
afetados pela decisão recorrida; mês.
III – as organizações e associações representativas, no tocante Art. 67. Os prazos processuais não se suspendem, salvo moti-
a direitos e interesses coletivos; vo de força maior devidamente comprovado.
IV – os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interes- - Redação dada pela Lei nº 20.471, de 26-04-2019.
ses difusos. Parágrafo único. Suspende-se o curso dos prazos processuais
Art. 59 – Salvo disposição legal específica, é de dez dias o pra- nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro,
zo para oposição de recurso administrativo, contado a partir da inclusive.
ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida. - Acrescido pela Lei nº 20.471, de 26-04-2019.
§ 1o – Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso admi-
nistrativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a CAPÍTULO XVII
partir do recebimento dos autos pelo órgão competente. DISPOSIÇÕES FINAIS
§ 2o – O prazo de que trata o parágrafo precedente poderá
ser prorrogado por igual período, ante justificativa explícita. Art. 68 – Os processos administrativos específicos continua-
Art. 60 – O recurso opõe-se por meio de requerimento no rão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidia-
qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de re- riamente os preceitos desta lei.
exame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes. Art. 69 – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Art. 61 – Salvo disposição legal em contrário, o recurso não
tem efeito suspensivo. PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, em Goiânia,
Parágrafo único – Havendo justo receio de prejuízo de difícil 18 de janeiro de 2001, 113º da República.
ou incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recor-
rida ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido,
dar efeito suspensivo ao recurso. PODERES ADMINISTRATIVOS. PODER HIERÁRQUICO.
Art. 62 - Oposto o recurso, a autoridade competente para PODER DISCIPLINAR. PODER REGULAMENTAR. PODER
dele conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no DE POLÍCIA. USO E ABUSO DO PODER
prazo de cinco dias úteis, apresentem alegações.
Art. 63 – O recurso não será conhecido quando oposto: O poder administrativo representa uma prerrogativa especial
I – fora do prazo; de direito público (conjunto de normas que disciplina a atividade
II – perante autoridade incompetente; estatal) outorgada aos agentes do Estado, no qual o administrador
III – por quem não seja legitimado; público para exercer suas funções necessita ser dotado de alguns
IV – após exaurida a esfera administrativa. poderes.
§ 1o – Na hipótese do inciso II deste artigo, será indicada ao Esses poderes podem ser definidos como instrumentos que
recorrente a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo possibilitam à Administração cumprir com sua finalidade, contudo,
para recurso. devem ser utilizados dentro das normas e princípios legais que o
§ 2o – O não conhecimento do recurso não impede a Admi- regem.
nistração de rever o ato, se ilegal, desde que não ocorrida preclu- Vale ressaltar que o administrador tem obrigação de zelar pelo
são administrativa. dever de agir, de probidade, de prestar contas e o dever de pautar
Art. 64 – A autoridade competente para decidir o recurso po- seus serviços com eficiência.
derá confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmen-
te, a decisão recorrida. PODER HIERÁRQUICO
Parágrafo único – Se da aplicação do disposto neste artigo pu- A Administração Pública é dotada de prerrogativa especial de
der decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser organizar e escalonar seus órgãos e agentes de forma hierarquiza-
cientificado para que formule suas alegações antes da decisão. da, ou seja, existe um escalonamento de poderes entre as pessoas
Art. 65 – Os processos administrativos de que resultem san- e órgãos internamente na estrutura estatal
ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofí- É pelo poder hierárquico que, por exemplo, um servidor está
cio, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes obrigado a cumprir ordem emanada de seu superior desde que não
suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada. sejam manifestamente ilegais. É também esse poder que autoriza a
Parágrafo único – Da revisão do processo não poderá resultar delegação, a avocação, etc.
agravamento da sanção. A lei é quem define as atribuições dos órgãos administrativos,
bem como cargos e funções, de forma que haja harmonia e unidade
CAPÍTULO XVI de direção. Percebam que o poder hierárquico vincula o superior e
DOS PRAZOS o subordinado dentro do quadro da Administração Pública.
Compete ainda a Administração Pública:
Art. 66 – Os prazos começam a correr a partir da data da cien- a) editar atos normativos (resoluções, portarias, instruções),
tificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e in- que tenham como objetivo ordenar a atuação dos órgãos subordi-
cluindo-se o do vencimento. nados, pois refere-se a atos normativos que geram efeitos internos
§ 1o – Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil e não devem ser confundidas com os regulamentos, por serem de-
seguinte se o vencimento cair em dia em que não houver expe- correntes de relação hierarquizada, não se estendendo a pessoas
diente ou este for encerrado antes da hora normal. estranhas;

123
DIREITO ADMINISTRATIVO
b) dar ordens aos subordinados, com o dever de obediência, Cabe destacar que as agências reguladoras são legalmente
salvo para os manifestamente ilegais; dotadas de competência para estabelecer regras disciplinando os
c) controlar a atividade dos órgãos inferiores, com o objetivo de respectivos setores de atuação. É o denominado poder normativo
verificar a legalidade de seus atos e o cumprimento de suas obriga- das agências.
ções, permitindo anular os atos ilegais ou revogar os inconvenien- Tal poder normativo tem sua legitimidade condicionada ao
tes, seja ex. officio (realiza algo em razão do cargo sem nenhuma cumprimento do princípio da legalidade na medida em que os atos
provocação) ou por provocação dos interessados, através dos re- normativos expedidos pelas agências ocupam posição de inferiori-
cursos hierárquicos; dade em relação à lei dentro da estrutura do ordenamento jurídico.
d) avocar atribuições, caso não sejam de competência exclusiva
do órgão subordinado; PODER DE POLÍCIA
e) delegação de atribuições que não lhe sejam privativas. É certo que o cidadão possui garantias e liberdades individuais
e coletivas com previsão constitucional, no entanto, sua utilização
A relação hierárquica é acessória da organização administrati- deve respeitar a ordem coletiva e o bem estar social.
va, permitindo a distribuição de competências dentro da organiza- Neste contexto, o poder de polícia é uma prerrogativa confe-
ção administrativa para melhor funcionamento das atividades exe- rida à Administração Pública para condicionar, restringir e limitar
cutadas pela Administração Pública. o exercício de direitos e atividades dos particulares em nome dos
interesses da coletividade.
PODER DISCIPLINAR Possui base legal prevista no Código Tributário Nacional, o qual
O Poder Disciplinar decorre do poder punitivo do Estado de- conceitua o Poder de Polícia:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administra-
corrente de infração administrativa cometida por seus agentes ou
ção pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou li-
por terceiros que mantenham vínculo com a Administração Pública.
berdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de
Não se pode confundir o Poder Disciplinar com o Poder Hierár-
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
quico, sendo que um decorre do outro. Para que a Administração
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
possa se organizar e manter relação de hierarquia e subordinação é atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização
necessário que haja a possibilidade de aplicar sanções aos agentes do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à proprie-
que agem de forma ilegal. dade e aos direitos individuais ou coletivos.
A aplicação de sanções para o agente que infringiu norma de Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de
caráter funcional é exercício do poder disciplinar. Não se trata aqui polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites
de sanções penais e sim de penalidades administrativas como ad- da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se
vertência, suspensão, demissão, entre outras. de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou des-
Estão sujeitos às penalidades os agentes públicos quando pra- vio de poder.
ticarem infração funcional, que é aquela que se relaciona com a
atividade desenvolvida pelo agente. Os meios de atuação da Administração no exercício do poder
É necessário que a decisão de aplicar ou não a sanção seja de polícia compreendem os atos normativos que estabelecem limi-
motivada e precedida de processo administrativo competente que tações ao exercício de direitos e atividades individuais e os atos ad-
garanta a ampla defesa e o contraditório ao acusado, evitando me- ministrativos consubstanciados em medidas preventivas e repressi-
didas arbitrárias e sumárias da Administração Pública na aplicação vas, dotados de coercibilidade.
da pena. A competência surge como limite para o exercício do poder de
polícia. Quando o órgão não for competente, o ato não será consi-
PODER REGULAMENTAR derado válido.
É o poder que tem os chefes do Poder Executivo de criar e edi- O limite do poder de atuação do poder de polícia não poderá
tar regulamentos, de dar ordens e de editar decretos, com a finali- divorciar-se das leis e fins em que são previstos, ou seja, deve-se
dade de garantir a fiel execução à lei, sendo, portanto, privativa dos condicionar o exercício de direitos individuais em nome da coleti-
Chefes do Executivo e, em princípio, indelegável. vidade.
Podemos dizer então que esse poder resulta em normas inter-
nas da Administração. Como exemplo temos a seguinte disposição Limites
constitucional (art. 84, IV, CF/88): Mesmo que o ato de polícia seja discricionário, a lei impõe al-
guns limites quanto à competência, à forma, aos fins ou ao objeto.
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
Em relação aos fins, o poder de polícia só deve ser exercido
[...]
para atender ao interesse público. A autoridade que fugir a esta re-
IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
gra incidirá em desvio de poder e acarretará a nulidade do ato com
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução.
todas as consequências nas esferas civil, penal e administrativa.
Dessa forma, o fundamento do poder de polícia é a predomi-
A função do poder regulamentar é estabelecer detalhes e os nância do interesse público sobre o particular, logo, torna-se escuso
procedimentos a serem adotados quanto ao modo de aplicação de qualquer benefício em detrimento do interesse público.
dispositivos legais expedidos pelo Poder Legislativo, dando maior
clareza aos comandos gerais de caráter abstratos presentes na lei. Atributos do poder de polícia
- Os atos gerais são os atos como o próprio nome diz, geram Os atributos do poder de polícia, busca-se garantir a sua execu-
efeitos para todos (erga omnes); e ção e a prioridade do interesse público. São eles: discricionarieda-
- O caráter abstrato é aquele onde há uma relação entre a cir- de, autoexecutoriedade e coercibilidade.
cunstância ou atividade que poderá ocorrer e a norma regulamen-
tadora que disciplina eventual atividade.

124
DIREITO ADMINISTRATIVO
- Discricionariedade: a Administração Pública goza de liberdade b. quando o agente público visa uma finalidade que, no entan-
para estabelecer, de acordo com sua conveniência e oportunidade, to, não é o fim pré-determinado pela lei que enseja validade ao
quais serão os limites impostos ao exercício dos direitos individuais ato administrativo e, por conseguinte, quando o agente busca uma
e as sanções aplicáveis nesses casos. Também confere a liberdade finalidade, seja alheia ao interesse público ou à categoria deste que
de fixar as condições para o exercício de determinado direito. o ato se revestiu, por meio de omissão.
No entanto, a partir do momento em que são fixados esses li-
mites, com suas posteriores sanções, a Administração será obrigada
a cumpri-las, ficando dessa maneira obrigada a praticar seus atos CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA
vinculados. ADMINISTRAÇÃO. CONTROLE ADMINISTRATIVO.
CONTROLE JUDICIAL. CONTROLE LEGISLATIVO
- Autoexecutoriedade: Não é necessário que o Poder Judiciário
intervenha na atuação da Administração Pública. No entanto, essa INTRODUÇÃO
liberdade não é absoluta, pois compete ao Poder Judiciário o con- A Administração Pública se sujeita a controle por parte dos Po-
trole desse ato. deres Legislativo e Judiciário, além de exercer, ela mesma, o contro-
Somente será permitida a autoexecutoriedade quando esta for le sobre os próprios atos.
prevista em lei, além de seu uso para situações emergenciais, em Com base nesses elementos, Maria Sylvia Zanella di Pietro con-
que será necessária a atuação da Administração Pública. ceitua “o controle da Administração Pública como o poder de fis-
Vale lembrar que a administração pública pode executar, por calização e correção que sobre ela exercem os órgãos dos Poderes
seus próprios meios, suas decisões, não precisando de autorização Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir a con-
judicial. formidade de sua atuação com os princípios que lhe são impostos
pelo ordenamento jurídico”.
- Coercibilidade: Limita-se ao princípio da proporcionalidade, Embora o controle seja atribuição estatal, há possibilidade
na medida que for necessária será permitido o uso da força par constitucional do administrado participar dele à medida que pode
cumprimento dos atos. A coercibilidade é um atributo que torna e deve provocar o procedimento de controle, não apenas na defesa
obrigatório o ato praticado no exercício do poder de polícia, inde- de seus interesses individuais, mas também na proteção do interes-
pendentemente da vontade do administrado.
se coletivo.
Uso e Abuso De Poder
O controle abrange a fiscalização e a correção dos atos ilegais e,
Sempre que a Administração extrapolar os limites dos pode-
em certa medida, dos inconvenientes ou inoportunos.
res aqui expostos, estará cometendo uma ilegalidade. A ilegalidade
traduz o abuso de poder que, por sua vez, pode ser punido judicial-
CONTROLE EXERCIDO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (CON-
mente.
TROLE INTERNO)
O abuso de poder pode gerar prejuízos a terceiros, caso em que
O controle administrativo é o que decorre da aplicação do prin-
a Administração será responsabilizada. Todos os Poderes Públicos
cípio do autocontrole, ou autotutela, do qual emerge o poder com
estão obrigados a respeitar os princípios e as normas constitucio-
nais, qualquer lesão ou ameaça, outorga ao lesado a possibilidade idêntica designação (poder de autotutela).
do ingresso ao Poder Judiciário. A Administração tem o dever de anular seus próprios atos,
A responsabilidade do Estado se traduz numa obrigação, atri- quando eivados de nulidade, podendo revogá-los ou alterá-los, por
buída ao Poder Público, de compor os danos patrimoniais causados conveniência e oportunidade, respeitados, nessa hipótese, os direi-
a terceiros por seus agentes públicos tanto no exercício das suas tos adquiridos.
atribuições quanto agindo nessa qualidade. É o poder de fiscalização e correção que a Administração Pú-
blica (em sentido amplo) exerce sobre sua própria atuação, sob os
Desvio de Poder aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante
O desvio significa o afastamento, a mudança de direção da que provocação.
fora anteriormente determinada. Este tipo de ato é praticado por O controle sobre os órgãos da Administração Direta é um con-
autoridade competente, que no momento em que pratica tal ato, trole interno e decorre do poder de autotutela que permite à Admi-
distinto do que é visado pela norma legal de agir, acaba insurgindo nistração Pública rever os próprios atos quando ilegais, inoportunos
no desvio de poder. ou inconvenientes, sendo amplamente reconhecido pelo Poder Ju-
diciário (Súmulas 346 e 473 do STF).
Segundo Cretella Júnior:
“o fim de todo ato administrativo, discricionário ou não, é o Controle Administrativo Exercitado de Ofício:
interesse público. O fim do ato administrativo é assegurar a ordem O controle é exercitado de ofício, pela própria Administração,
da Administração, que restaria anarquizada e comprometida se o ou por provocação. Na primeira hipótese, pode decorrer de: fiscali-
fim fosse privado ou particular”. zação hierárquica; supervisão superior; controle financeiro; parece-
res vinculantes; ouvidoria; e recursos administrativos hierárquicos
Não ser refere as situações que estejam eivadas de má-fé, mas ou de ofício.
sim quando a intenção do agente encontra-se viciada, podendo a) fiscalização hierárquica: Procede do poder hierárquico, que
existir desvio de poder, sem que exista má-fé. É a junção da vontade faculta à Administração a possibilidade de escalonar sua estrutura,
de satisfação pessoal com inadequada finalidade do ato que pode- vinculando uns a outros e permitindo a ordenação, coordenação,
ria ser praticado. orientação de suas atividades.
b) supervisão superior: Difere da fiscalização hierárquica por-
Essa mudança de finalidade, de acordo com a doutrina, pode que não pressupõe o vínculo de subordinação, ficando limitada a
ocorrer nas seguintes modalidades: hipóteses em que a lei expressamente admite a sua realização. No
a. quando o agente busca uma finalidade alheia ao interesse âmbito da Administração Pública Federal é nominada de “supervi-
público; são ministerial” e aplicável às entidades vinculadas aos ministérios

125
DIREITO ADMINISTRATIVO
c) controle financeiro: O art. 74 da Constituição Federal deter- 1. provocados ou voluntários: é o interposto pelo interessado,
mina que os Poderes mantenham sistema de controle interno com a pelo particular, devendo ser dirigido à autoridade competente para
finalidade de “avaliar o cumprimento das metas previstas no plano rever a decisão, contendo a exposição dos fatos e fundamentos ju-
plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos rídicos da irresignação.
da União; comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à Nada impede, ainda, que, presente o recurso, julgue o admi-
eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimo- nistrador conveniente a revogação da decisão, ou a sua anulação,
nial nos órgãos e entidades da Administração Federal, bem como ainda que o recurso não objetive tal providência. Os recursos sem-
da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; pre produzem efeitos devolutivos, permitindo o reexame da maté-
exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem ria decidida (devolve à Administração a possibilidade de decidir), e
como dos direitos e haveres da União; apoiar o controle externo no excepcionalmente produzirão efeitos suspensivos, obstando a exe-
exercício de sua missão institucional”. cução da decisão impugnada.
d) pareceres vinculantes: Trata-se de controle preventivo sobre
determinados atos e contratos administrativos realizado por órgão 2. hierárquicos ou Administrativo: é o pedido de reexame do
técnico integrante da Administração ou por órgão do Poder Execu- ato dirigido à autoridade superior à que o proferiu. Só podem recor-
tivo. rer os legitimados, que, segundo o artigo 58 da Lei federal 9784/99,
e) ouvidoria: limita-se a receber e proceder ao encaminhamen- são:
to das reclamações que recebe. Ouvidoria, assim entendido como -. Os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro-
cesso;
um canal de comunicação, tem-se dedicado a receber reclamações
-. Aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afe-
de populares e usuários dos serviços públicos.
tados pela decisão recorrida;
f) recursos administrativos hierárquicos ou de ofício: por ve-
-. Organizações e associações representativas, no tocante a di-
zes a lei condiciona a decisão ao reexame superior, carecendo ser
reitos e interesses coletivos;
conhecida e eventualmente revista por agente hierarquicamente -. Os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses
superior àquele que decidiu. difusos.
Controle Administrativo Exercitado Por Provocação: Nesta Pode-se, em tese, recorrer de qualquer ato ou decisão, salvo os
hipótese de controle interno, ou administrativo (por provocação), atos de mero expediente ou preparatórios de decisões.
pode decorrer das seguintes formas: O recurso hierárquico tem sempre efeito devolutivo e pode ter
a) direito de petição: A Constituição Federal assegura a todos, efeito suspensivo, se previsto em lei.
independentemente do pagamento de taxas, “o direito de petição Na decisão do recurso, o órgão ou autoridade competente tem
aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou amplo poder de revisão, podendo confirmar, desfazer ou modificar
abuso de poder” (art. 5º, XXXIV, a). o ato impugnado. Entretanto, a reforma não pode impor ao recor-
O direito individual consagrado no inciso XXXIV é amplo, e seu rente um maior gravame (reformatio in pejus).
exercício não exige legitimidade ou interesse comprovado. Pode,
assim, ser a petição individual ou coletiva subscrita por brasileiro ou e) Pedido de revisão é o recurso utilizado pelo servidor público
estrangeiro, pessoa física ou jurídica, e ser endereçada a qualquer punido pela Administração, visando ao reexame da decisão, no caso
dos Poderes do Estado. de surgirem fatos novos suscetíveis de demonstrar a sua inocência.
Enquanto o direito de petição é utilizado para possibilitar o Pode ser interposto pelo próprio interessado, por seu procurador
acesso a informações de interesse coletivo, o direito de certidão ou por terceiros, conforme dispuser a lei estatutária. É admissível
é utilizado para a obtenção de informações que dizem respeito ao até mesmo após o falecimento do interessado.
próprio requerente.
b) pedido de reconsideração: O pedido de reconsideração abri- Coisa julgada administrativa:
ga requerimento que objetiva a revisão de determinada decisão Quando inexiste, no âmbito administrativo, possibilidade de
administrativa. reforma da decisão oferecida pela Administração Pública, está-se
Exige a demonstração de interesse daquele que o subscreve, diante da coisa julgada administrativa. Esta não tem o alcance da
podendo ser exercido por pessoa física ou jurídica, brasileira ou coisa julgada judicial, porque o ato jurisdicional da Administração
Pública é tão-só um ato administrativo decisório, destituído do po-
estrangeira, desde que detentora de interesse. O prazo para sua
der de dizer do direito em caráter definitivo. Tal prerrogativa, no
interposição deve estar previsto na lei que autoriza o ato; no seu
Brasil, é só do Judiciário.
silêncio, a prescrição opera-se em um ano, contado da data do ato
A imodificabilidade da decisão da Administração Pública só en-
ou decisão.
contra consistência na esfera administrativa. Perante o Judiciário,
c) reclamação administrativa: Esta modalidade de recurso ad- qualquer decisão administrativa pode ser modificada, salvo se tam-
ministrativo tem a finalidade de conferir à oportunidade do cidadão bém essa via estiver prescrita.
questionar a realização de algum ato administrativo. Portanto, a expressão “coisa julgada”, no Direito Administrati-
Trata-se de pedido de revisão que impugna ato ou atividade vo, não tem o mesmo sentido que no Direito Judiciário. Ela significa
administrativa. É a oposição solene, escrita e assinada, a ato ou apenas que a decisão se tornou irretratável pela própria Adminis-
atividade pública que afete direitos ou interesses legítimos do re- tração.
clamante. Dessas reclamações são exemplos a que impugna lança-
mentos tributários e a que se opõe a determinada medida punitiva. CONTROLE JUDICIAL
d) recurso administrativo: Recurso é instrumento de defesa, O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema de juris-
meio hábil de impugnação ou ferramenta jurídica que possibilita o dição una processar e julgar suas lides, pelo qual o Poder Judiciá-
reexame de decisão da Administração. Os recursos administrativos rio tem o monopólio da função jurisdicional, ou seja, do poder de
podem ser: apreciar, com força de coisa julgada, a lesão ou ameaça de lesão a
direitos individuais e coletivos (art. 5º, XXXV CF/88).

126
DIREITO ADMINISTRATIVO
Neste aspecto afastou o sistema da dualidade de jurisdição, Pedido de Informações: O controle exercido por “pedido de in-
em que, paralelamente ao Poder Judiciário, existem os órgãos de formações” está previsto no art. 50, § 2º, da Constituição Federal,
Contencioso Administrativo, que exercem, como aquele, função podendo ser dirigido a ministro de Estado ou a qualquer agente
jurisdicional sobre lides de que a Administração Pública seja parte público subordinado à Presidência da República, a fim de aclarar
interessada. matéria que lhe seja afeta.
O Poder Judiciário possui como prerrogativa inerente a função
típica que exerce examinar os atos da Administração Pública, de Tal pedido somente pode ser formulado pelas Mesas da Câ-
qualquer natureza, sejam gerais ou individuais, unilaterais ou bila- mara e do Senado, devendo ser atendido no prazo de trinta dias,
terais, vinculados ou discricionários, mas sempre sob o aspecto da sujeitando o agente, no caso de descumprimento, a crime de res-
legalidade e da moralidade (art. 5º, LXXIII, e art. 37). ponsabilidade. A norma é aplicável, por simetria, aos Estados e Mu-
Quanto aos atos discricionários, sujeitam-se à apreciação judi- nicípios.
cial, desde que não invadam os aspectos reservados à apreciação
subjetiva da Administração, conhecidos sob a denominação de mé- Convocação de Autoridades: A Constituição Federal permite às
rito (oportunidade e conveniência). Casas Legislativas e às suas Comissões a convocação de ministros de
No entanto, não há invasão do mérito quando o Judiciário Estado para prestarem esclarecimentos sobre matéria previamente
aprecia os motivos, ou seja, os fatos que precedem a elaboração definida. Tais esclarecimentos, ou informações, deverão ser pres-
do ato; a ausência ou falsidade do motivo caracteriza ilegalidade, tados pessoalmente e o descumprimento, repetimos, pode corres-
suscetível de invalidação pelo Poder Judiciário. ponder à prática de crime de responsabilidade.
Nos casos concretos, poderá o Poder Judiciário apreciar a le-
galidade ou constitucionalidade dos atos normativos do Poder Constituição Federal:
Executivo, mas a decisão produzirá efeitos apenas entre as partes, Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qual-
devendo ser observada a norma do art. 97 da Constituição Federal, quer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou
que exige maioria absoluta dos membros dos Tribunais para a de- quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidên-
claração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder cia da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre
Público. assunto previamente determinado, importando crime de responsa-
bilidade a ausência sem justificação adequada.
Com relação aos atos políticos, é possível também a sua apre-
ciação pelo Poder Judiciário, desde que causem lesão a direitos in-
Nos Estados e Municípios, a Constituição Estadual e as Leis
dividuais ou coletivos.
Orgânicas também disciplinam, invariavelmente, a convocação de
Quanto aos atos interna corporis (atos administrativos que pro-
secretários municipais e dos dirigentes de autarquias, fundações,
duzem efeitos internos), em regra, não são apreciados pelo Poder
sociedades de economia mista, empresas públicas ou outras enti-
Judiciário, porque se limitam a estabelecer normas sobre o funcio-
dades. Não há previsão constitucional para a convocação do chefe
namento interno dos órgãos; no entanto, se exorbitarem em seu
do Executivo.
conteúdo, ferindo direitos individuais e coletivos, poderão também
ser apreciados pelo Poder Judiciário. Fiscalização pelo Tribunal de Contas: A função desempenhada
pelo Tribunal de Contas é técnica, administrativa, e não jurisdicio-
CONTROLE LEGISLATIVO nal. Apesar de auxiliar o Legislativo, detém autonomia e não integra
O controle legislativo, ou parlamentar, é exercido pelo Poder a estrutura organizacional daquele Poder.
Legislativo em todas as suas esferas de atuação como: A fiscalização não se restringe ao “controle financeiro”, mas in-
a) Federal: Congresso Nacional composto pelo Senado Federal, clui a fiscalização contábil, orçamentária, operacional e patrimonial
Câmara dos Deputados, da Administração Pública direta e indireta, bem como de qualquer
b) Estadual: Assembleias Legislativas, pessoa física ou jurídica que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou
c) Municipal: Câmara de Vereadores administre dinheiros, bens e valores públicos (CF, art. 70, parágrafo
d) Distrital: Câmara Distrital único).

O controle que o Poder Legislativo exerce sobre a Administra- CONTROLE PELOS TRIBUNAIS DE CONTAS
ção Pública limita-se às hipóteses previstas na Constituição Federal. O Tribunal de Contas é competente para realizar a fiscalização
Alcança os órgãos do Poder Executivo, as entidades da Administra- contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial dos
ção Indireta e o próprio Poder Judiciário, quando executa função entes federativos, da Administração Pública direta e indireta, além
administrativa. das empresas públicas e sociedades de economia mista que tam-
O exercício do controle constitui uma das funções típicas do bém estão sujeitas à fiscalização dos Tribunais de Contas.
Poder Legislativo, ao lado da função de legislar. O Tribunal de Contas auxilia o Poder Legislativo mas não o inte-
gra de forma direta. Embora o nome sugira que faça parte do Poder
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI): As Comissões Judiciário, o Tribunal de Contas está administrativamente enqua-
Parlamentares de Inquérito são constituídas pelo Senado ou pela drado no Poder Legislativo. Essa é a posição adotada no Brasil, pois
Câmara, em conjunto ou separadamente, para investigar fato deter- em outros países essa corte pode integrar qualquer dos outros dois
minado e por prazo certo. Exige-se que o requerimento para a insta- poderes. Sua situação é de órgão auxiliar do Congresso Nacional, e
lação contenha um terço de adesão dos membros que compõem as como tal exerce competências de assessoria do Parlamento, bem
Casas Legislativas, sendo suas conclusões encaminhadas, quando como outras privativas.
for o caso, ao Ministério Público.
As Comissões detêm poderes de investigação, mas não com-
petência para atos judiciais. Assim, investigam com amplitude, mas
não julgam e submetem suas conclusões ao Ministério Público.

127
DIREITO ADMINISTRATIVO
Os Tribunais de Contas têm natureza jurídica de órgãos públi- É ainda competente para fiscalizar os procedimentos de licita-
cos primários despersonalizados. São chamados de órgãos “pri- ções e, nesse caso, possui prerrogativa para adotar medidas caute-
mários” ou “independentes” porque seu fundamento e estrutura lares com a finalidade de evitar futura lesão ao erário, bem como
encontram-se na própria Constituição Federal, não se sujeitando para garantir o cumprimento de suas decisões.
a qualquer tipo de subordinação hierárquica ou funcional a outras Cabe destacar que é da alçada do Tribunal de Contas julgar as
autoridades estatais contas anuais dos administradores e outros responsáveis pelo erá-
rio público.
Composição dos Tribunais de Contas: O Tribunal de Contas da Tem ainda o Tribunal a chamada competência sancionatória,
União é composto por nove ministros que possuem as mesmas ga- ou seja, o poder de aplicar sanções em caso de ilegalidades nas des-
rantias, prerrogativas, vencimentos e impedimentos dos ministros pesas e nas contas. Suas decisões tem natureza de título executivo
do STJ.
Os Tribunais de Contas dos Estados são formados conforme
previsto nas Constituições Estaduais, respeitando sempre a Cons-
tituição Federal. É integrado por sete conselheiros, sendo quatro
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
escolhidos pela Assembleia Legislativa e três pelo Governador do
Estado (súmula 653 do STF). RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Quanto à criação de Tribunais, Conselhos e órgãos de contas
municipais, a Constituição Federal veda a sua criação, no entanto, EVOLUÇÃO HISTÓRICA
os municípios que possuíam estas instituições antes da Constituição
Durante muito tempo o Estado não era civilmente responsável
de 1988 poderão mantê-las. Já para os municípios posteriores a ela
por seus atos, vigorava à época a era do Absolutismo em que o Rei
terão o controle externo da Câmara Municipal realizado com o auxí-
era a figura suprema e, justamente por isso, concentrava todo o
lio dos Tribunais de Contas dos Estados e Ministério Público. Veja-se
poder em suas mãos.
o dispositivo constitucional:
A figura do rei era indissociável da figura do Estado e, em vá-
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder rias civilizações seu poder supremo era fundamentado na vontade
Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de Deus. Surge então a expressão “the king can do no wrong”, ou
de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. seja, “o rei nunca erra, e por tal razão não se cogitava em respon-
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com sabilizá-lo e os danos eventualmente causados decorrente de seus
o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou atos ficavam sem reparação. Essa é a teoria da irresponsabilidade
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. do Estado.
Contudo, o funcionário do rei poderia ser responsabilizado
Competências: Os Tribunais de contas têm competência fisca- quando o ato lesivo tivesse relação direta com seu comportamento.
lizadora e a exercem por meio da realização de auditorias e inspe-
ções em entidades e órgãos da Administração Pública. Somente no século XIX passou a se admitir a responsabilidade
A competência de controle exercido pelos Tribunais de conta subjetiva do Estado. Esse tipo de responsabilidade demanda uma
atinge a: legalidade, legitimidade, economicidade e aplicação de análise sobre a intenção do agente pois, sem essa não se fala em
subvenções e renúncia de receitas A Constituição Federal ampliou responsabilidade. Assim, por essa teoria, somente se responsabiliza
significativamente as atribuições das Cortes de Contas, dentre as o sujeito que age com dolo ou culpa.
quais se destacam: Dado à ineficiência desse tipo de responsabilização, mostran-
a) oferecer parecer prévio sobre contas prestadas anualmente do-se insuficiente para as demandas sociais, surgiu a teoria da res-
pelo chefe do Poder Executivo; ponsabilidade objetiva que ignora a demonstração inicial de culpa,
b) examinar, julgando, as contas dos agentes públicos e admi- logo, haverá responsabilidade quando houver dano, ilícito e nexo
nistradores de dinheiros, bens e valores públicos; causal.
c) aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
ou irregularidade de contas, sanções previstas em lei; ATENÇÃO: Nexo causal é o liame subjetivo que une o dano ao
d) fiscalizar repasses de recursos efetuados pela União a Esta- ilícito, ou seja, à conduta.
dos, Distrito Federal ou a Municípios, mediante convênio, acordo,
ajuste ou outros instrumentos congêneres;
Desde os tempos do Império que a Legislação Brasileira prevê a
e) conceder prazo para a correção de irregularidade ou ilega-
reparação dos danos causados a terceiros pelo Estado, por ação ou
lidade;
omissão dos seus agentes.
f) realizar auditorias e inspeções de natureza contábil, financei-
No Brasil, surgiu a criação do Tribunal de Conflitos, em 1.873,
ra, orçamentária, operacional e patrimonial em qualquer unidade
administrativa dos três Poderes, seja da Administração direta, seja passando a evoluir à Responsabilidade Subjetiva.
da indireta. Quando falamos em responsabilidade extracontratual, deve-
mos pensar que será excluída a responsabilidade contratual, pois
O Supremo Tribunal Federal reconheceu a competência do Tri- será regida por princípios próprios
bunal de Contas para apreciar a inconstitucionalidade de leis e atos As Constituições de 1824 e de 1891 já previam a responsabili-
do poder público, dessa forma suas atribuições não dizem respeito zação dos funcionários públicos por abusos e omissões no exercício
somente à apreciação da legalidade, mas também da legitimidade de seus cargos. Mas a responsabilidade era do funcionário, vingan-
do órgão e do princípio da economicidade. Segue a súmula: do até aí, a teoria da irresponsabilidade do Estado.
Durante a vigência das Constituições de 1934 e 1937 passou a
Súmula 347, STF. O Tribunal de Contas, no exercício de suas atri- vigorar o princípio da responsabilidade solidária, por ele o lesado
buições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do podia mover ação contra o Estado ou contra o servidor, ou contra
poder público. ambos, inclusive a execução.

128
DIREITO ADMINISTRATIVO
O Código Civil de 1916, em seu art. 15, já tratava do assun- - Objetiva:
to, a saber: “As pessoas jurídicas de direito público são civilmente O Brasil adota a Responsabilidade Objetiva do Estado. Na res-
responsáveis por atos dos seus representantes que nessa qualidade ponsabilidade objetiva, o dano decorre de uma atividade lícita, que
causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito apesar deste caráter gera um perigo a outrem, ocasionando o dever
ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o direito regressivo con- de ressarcimento, pelo simples fato do implemento do nexo cau-
tra os causadores do dano”. sal. Para tanto, surgiu a teoria do risco para preencher as lacunas
Entretanto, a figura da responsabilidade direta ou solidária do deixadas pela culpabilidade, permitindo que o dano fosse reparado
funcionário desapareceu com o advento da Carta de 1946, que ado- independente de culpa.
tou o princípio da responsabilidade objetiva do Estado, evolução Para Rui Stoco1: “a doutrina da responsabilidade civil objetiva,
jurídica que garante a possibilidade de ação regressiva contra o ser- em contrapartida aos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo
vidor no caso de culpa. de causalidade) determina que a responsabilidade civil assenta-se
Note-se que, a partir da Constituição de 1967 houve um alarga- na equação binária, cujos polos são o dano e a autoria do evento
mento na responsabilização das pessoas jurídicas de direito público danoso. Sem considerar a imputabilidade ou investigar a antijuri-
por atos de seus servidores. Saiu a palavra interno, passando a al- cidade do evento danoso, o que importa, para garantir o ressar-
cançar tanto as entidades políticas nacionais, como as estrangeiras. cimento, é a averiguação de que se sucedeu o episódio e se dele
Esse alargamento ampliou-se ainda mais com a Constituição de proveio algum prejuízo, confirmando o autor do fato causador do
1988, que estendeu a aplicabilidade da responsabilidade civil obje- dano como o responsável.”
tiva às pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviços
Teorias da responsabilidade objetiva do Estado:
públicos, os não essenciais, por concessão, permissão ou autoriza-
De acordo com o jurista Hely Lopes Meirelles, são teorias da
ção.
responsabilidade objetiva do Estado.
a) teoria da culpa administrativa: a obrigação do Estado inde-
Modalidades de responsabilidade civil
nizar decorre da ausência objetiva do serviço público em si. Não se
A responsabilidade civil pode demonstrar-se de diversas mo- trata de culpa do agente público, mas de culpa especial do Poder
dalidades: Público, caracterizada pela falta de serviço público.
b) teoria do risco administrativo: a responsabilidade civil do
- Subjetiva: Estado por atos comissivos ou omissivos de seus agentes é de natu-
A responsabilidade subjetiva difere-se da responsabilidade ob- reza objetiva, ou seja, dispensa a comprovação de culpa, bastando
jetiva com relação à forma, em ambas é exigido a reparação e inde- assim a conduta, o fato danoso e o dano, seja ele material ou moral.
nização do dano causado, diferenciando-se com relação à existên- Não se indaga da culpa do Poder Público mesmo porque ela é infe-
cia ou não de culpa por parte do agente que tenha causado dano rida do ato lesivo da Administração.
à vítima.
Na responsabilidade subjetiva, o fundamento é a demonstra- Entretanto, é fundamental, que haja o nexo causal.
ção de que o dano contra a vítima foi causado por culpa do agente. Deve-se atentar para o fato de que a dispensa de comprova-
ção de culpa da Administração pelo administrado não quer dizer
Para que o agente repare o dano causado é necessário a plena que aquela esteja proibida de comprovar a culpa total ou parcial da
consciência do erro causado, caracterizando, desta forma o dolo ou vítima, para excluir ou atenuar a indenização. Verificado o dolo ou
até mesmo a culpa por negligência, imprudência e imperícia. Con- a culpa do agente, cabe à fazenda pública acionar regressivamente
tudo, se o dano não tiver sido causado por dolo ou culpa do agente, para recuperar deste, tudo aquilo que despendeu com a indeniza-
compete à vítima suportar os prejuízos, como se tivessem sido cau- ção da vítima.
sados em virtude de caso fortuito ou força maior. Como se sabe, o Estado é realmente um sujeito político, jurídi-
co e economicamente mais poderoso que o administrado, gozando
- Contratual e Extracontratual: de determinadas prerrogativas que não se estendem aos demais
A responsabilidade contratual decorre da inexecução de um sujeitos de direito.
contrato, unilateral ou bilateral, ou seja, foi quebrado o acordo de Em razão desse poder, o Estado teria que arcar com um risco
vontade entre as partes, o que acabou causando um ilícito contra- maior, decorrente de suas inúmeras atividades e, ter que responder
tual. Esse pacto de vontades pode se dar de maneira tácita ou ex- por ele, trazendo, assim a teoria do Risco Administrativo.
Para excluir-se a responsabilidade objetiva, deverá estar ausen-
pressa, uma das partes pretende ver sua solicitação atendida e a
te ao menos um dos seus elementos, quais sejam conduta, dano
outra, da mesma forma, assume a obrigação de cumpri-la, mesmo
e nexo de causalidade. A culpa exclusiva da vítima, caso fortuito
que seja de forma verbal.
e força maior são excludentes de responsabilidade e se tratam de
A responsabilidade extracontratual relaciona-se com a prática
hipóteses de interrupção do nexo de causalidade.
de um ato ilícito que origine dano a outrem, sem gerar vínculo con-
tratual entre as partes, devendo a parte lesada comprovar além do c) Teoria do risco integral: a Administração responde invariavel-
dano a culpa e o nexo de causalidade entre ambos, o que é difícil mente pelo dano suportado por terceiro, ainda que decorrente de
de se comprovar. Irá se preocupar com a reparação dos danos pa- culpa exclusiva deste, ou até mesmo de dolo. É a exacerbação da
trimoniais. teoria do risco administrativo que conduz ao abuso e à iniquidade
Este tipo de responsabilidade caracteriza o estado democrático social, com bem lembrado por Meirelles.
de direito, conferindo liberdade individual em face da coletividade,
através de leis.
O que ambas tem em comum é que existe a obrigação de re-
parar o prejuízo, ou por violação a um dever legal, ou por violação
a um dever contratual.
1 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisdicional. 4. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

129
DIREITO ADMINISTRATIVO
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, § 6º, diz: “As Não há responsabilidade civil objetiva do Estado, mas há pre-
pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestado- sunção de culpabilidade derivada da existência de um dever de di-
ras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, ligência especial. Tanto é assim que, se a vítima tiver concorrido
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de re- para o evento danoso, o valor de uma eventual condenação será
gresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. minimizado.
E no art. 5º, X, está escrito: “são invioláveis a intimidade, a vida Essa distinção não é meramente acadêmica, especialmente
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a in- porque a avaliação do elemento subjetivo é indispensável, em cer-
denização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. tas circunstâncias, para a determinação da indenização devida.
Vê-se por esse dispositivo que a indenização não se limita aos A Constituição Federal de 1988, seguindo uma tradição estabe-
danos materiais. No entanto, há uma dificuldade nos casos de da- lecida desde a Constituição Federal de 1946, determinou, em seu
nos morais na fixação do quantum da indenização, em vista da au- art. 37, §6º, a responsabilidade objetiva do Estado e responsabili-
sência de normas regulamentadoras para aferição objetiva desses dade subjetiva do funcionário.
danos. Em que pese a aplicação da teoria da responsabilidade objetiva
Portanto, a responsabilidade do Estado se traduz numa obriga- ser adotada pela Constituição Federal, o Poder Judiciário, em deter-
ção, atribuída ao Poder Público, de compor os danos patrimoniais minados julgamentos, utiliza a teoria da culpa administrativa para
causados a terceiros por seus agentes públicos, tanto no exercício responsabilizar o Estado em casos de omissão.
das suas atribuições, quanto agindo nessa qualidade. Assim, a omissão na prestação do serviço público tem levado à
O Estado responde pelos danos causados com base no concei- aplicação da teoria da culpa do serviço público (faute du service). A
to de nexo de causalidade, ou seja, na relação de causa e efeito culpa decorre da omissão do Estado, quando este deveria ter agido
existente entre o fato ocorrido e as consequências dele resultantes. e não agiu. Por exemplo, o Poder Público não conservou adequa-
Não se cogita a necessidade daquele que sofreu o prejuízo, damente as rodovias e ocorreu um acidente automobilístico com
comprovar a culpa ou o dolo, bastando apenas a demonstração do terceiros.
nexo de causalidade, como se observou na leitura do art. 37, § 6º Com relação ao comportamento comissivo ou omissivo do Es-
da Constituição Federal. tado, importante destacar o que dispõe MAZZA2 sobre o tema:
Existem situações em que o comportamento comissivo de um
RESPONSABILIDADE POR AÇÃO OU OMISSÃO DO ESTADO agente público causa prejuízo a particular. São os chamados da-
Nos termos constitucionais. o dano indenizável pode ser mate- nos por ação. Noutros casos, o Estado deixa de agir e, devido a tal
rial e/ou moral e ambos podem ser requeridos na mesma ação, se inação, não consegue impedir um resultado lesivo. Nessa hipótese,
preencherem os requisitos expostos. fala-se me dano por omissão. Os exemplos envolvem prejuízos de-
Aquele que é investido de competências estatais tem o dever correntes de assalto, enchente, bala perdida, queda de árvore, bu-
objetivo de adotar as providências necessárias e adequadas a evitar raco na via pública e bueiro aberto sem sinalização causando dano
danos às pessoas e ao patrimônio. a particular. Tais casos têm em comum a circunstância de inexistir
Quando o Estado infringir esse dever objetivo e, exercitando um ato estatal causador do prejuízo.
suas competências, der oportunidades a ocorrências do dano, esta-
(...)
rão presentes os elementos necessários à formulação de um juízo
Em linhas gerais, sustenta-se que o estado só pode ser conde-
de reprovabilidade quanto a sua conduta.
nado a ressarcir prejuízos atribuídos à sua omissão quando a legis-
No entanto, não é necessário apurar a existência de uma von-
lação considera obrigatória a prática da conduta omitida. Assim, a
tade psíquica no sentido da ação ou omissão causadoras do dano.
omissão que gera responsabilidade é aquela violadora de um dever
de agir. Em outras palavras, os danos por omissão são indenizáveis
Danos por Ação do Estado
somente quando configura omissão dolosa ou omissão culposa. Na
O exercício da atuação administrativa esta sujeita a causar le-
omissão dolosa, o agente público encarregado de praticar a condu-
são a terceiros, ou seja, a ação estatal é apta a gerar danos e capaz
de produzir o evento lesivo. Indenizável. ta decide omitir-se e, por isso, não evita o prejuízo. Já na omissão
Se houve conduta estatal lesiva a bem jurídico tutelado, cau- culposa, a falta de ação do agente público não decorre de sua inten-
sando prejuízos de ordem material ou moral ao cidadão, é suficien- ção deliberada em omitir-se, mas deriva da negligência na forma
te para postular a reclamação e consequentemente a reparação do de exercer a função administrativa. Exemplo: policial militar que
dano experimentado. adorme em serviço e, por isso, não consegue evitar furto a banco
Por obvio, eventualmente o Estado pode vir a lesar direitos ou privado.
interesses de terceiros com o intuito de satisfazer um determinado
interesse público, mediante ação legítima do Estado, sob o funda- REQUISITOS PARA A DEMONSTRAÇÃO DA RESPONSABILIDA-
mento da Supremacia dos Interesses Coletivos. No entanto, apesar DE DO ESTADO
de legitima a ação estatal, no caso de produção de evento lesivo a Assim, pode-se afirmar que são requisitos para a demonstra-
outrem, coexiste o dever de indenizar os danos. ção da responsabilidade do Estado a ação ou omissão (ato do agen-
te público), o resultado lesivo (dano) e nexo de causalidade.
Danos por Omissão do Estado Dano: decorre da violação de um bem juridicamente tutelado,
A omissão da conduta necessária e adequada consiste apta a que pode ser patrimonial ou extrapatrimonial.
caracterizar responsabilidade do Estado consiste na materialização Para que seja ressarcido deve ser certo, atual, próprio ou pes-
de vontade, defeituosamente desenvolvida do ente estatal. soal.
Logo, a responsabilidade continua a envolver um elemento Insta dizer que o dano não é apenas patrimonial (atinge bens
subjetivo, consiste na formulação defeituosa da vontade de agir ou jurídicos que podem ser auferidos pecuniariamente) ele também
deixar de agir. pode ser moral (ofende direitos personalíssimos que atingem inte-
gridade moral, física e psíquica).
2 MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. Ed. Saraiva. 4ª edição.
2014.

130
DIREITO ADMINISTRATIVO
Logo, o dano que gera a indenização deve ser: A culpa de terceiro ocorre quando o dano é causado por pessoa
Certo: É o dano real, efetivo, existente. Para requerer indeniza- diferente da vítima e do agente público.
ção do Estado é necessário que o dano já tenha sido experimenta- Observe-se que cabe ao Poder Público o ônus de provar a exis-
do. Não se configura a possibilidade de indenização de danos que tência de excludente ou atenuante de responsabilidade.
podem eventualmente ocorrer no futuro.
Especial: É o dano que pode ser particularizado, aquele que REPARAÇÃO DO DANO
não atinge a coletividade em geral; deve ser possível a identificação Quanto à reparação do dano, esta pode ser obtida administra-
do particular atingido. tivamente ou mediante ação de indenização junto ao Poder Judici-
Anormal: É aquele que ultrapassa as dificuldades da vida co- ário. Para conseguir o ressarcimento do prejuízo, a vítima deverá
mum, as dificuldades do cotidiano. demonstrar o nexo de causalidade entre o fato lesivo e o dano, bem
Direto e imediato: O prejuízo deve ser resultado direito e ime- como o valor do prejuízo.
diato da ação ou omissão do Estado, sem quebra do nexo causal. Uma vez indenizada a vítima, fica a pessoa jurídica com direito
de regresso contra o responsável, isto é, com o direito de recuperar
CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA RESPONSABILIDA- o valor da indenização junto ao agente que causou o dano, desde
DE DO ESTADO que este tenha agido com dolo ou culpa. Observe-se que não está
A responsabilidade do Poder Público poderá ser excluída ou sujeito a prazo prescricional a ação regressiva contra o agente pú-
será atenuada quando a conduta da Administração Pública não der blico que agiu com dolo ou culpa para a recuperação dos valores
causa ao prejuízo, ou concorrerem outras circunstâncias que pos- pagos pelos cofres públicos, conforme inteligência do art. 37, pará-
sam afastar ou mitigar sua responsabilidade. grafo 5º da Constituição Federal:
Em geral, são chamadas causas excludentes da responsabili- §5º: A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra-
dade estatal; a força maior, o caso fortuito, a culpa exclusiva da ticados por qualquer agente servidor ou não, que causem prejuízos
vítima e a culpa de terceiro. ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
Nestes casos, não existindo nexo de causalidade entre a condu-
DIREITO DE REGRESSO
ta da Administração e o dano ocorrido, a responsabilidade estatal
Nos casos em que se verificar a existência de culpa ou dolo na
será afastada.
conduta do agente público causador do dano (Art. 37, §6º, CF), po-
A força maior pode ser definida como um evento previsível ou
derá o Estado propor ação regressiva, com a finalidade de apurar a
não, porém excepcional e inevitável. responsabilidade pessoal do agente, sempre partindo-se do pressu-
Em regra, não há responsabilidade do Estado, contudo existe posto de que o Estado já foi condenado anteriormente.
a possibilidade de responsabilizá-lo mesmo na ocorrência de uma A entidade estatal que propuser a ação deverá demonstrar a
circunstância de força maior, desde que a vítima comprove o com- ocorrência dos requisitos que comprovem a responsabilidade do
portamento culposo da Administração Pública. Por exemplo, num agente, ou seja, ato, dano, nexo e culpa ou dolo. Caso o elemento
primeiro momento, uma enchente que causou danos a particulares subjetivo, representado pela culpa ou dolo, não esteja presente no
pode ser entendida como uma hipótese de força maior e afastar a caso concreto, haverá exclusão da responsabilidade do agente pú-
responsabilidade Estatal, contudo, se o particular comprovar que blico.
os bueiros entupidos concorreram para o incidente, o Estado tam- Note-se que a Administração Pública tem o dever de propor
bém responderá, pois a prestação do serviço de limpeza pública foi ação regressiva, em razão do princípio da indisponibilidade. Outra
deficiente. questão importante é que não há prazo para propositura da ação
O caso fortuito é um evento imprevisível e, via de consequ- regressiva, uma vez que, por força do Art. 37, §5º da CF, esta é im-
ência, inevitável. Alguns autores diferenciam-no da força maior prescritível.
alegando que ele tem relação com o comportamento humano, en- Ensina mais Alexandre Mazza: quando se tratar de dano causa-
quanto a força maior deriva da natureza. Outros, atestam não haver do por agente ligado a empresas públicas, sociedades de economia
diferença entre ambos. mista, fundações governamentais, concessionários e permissioná-
rios, isto é, para pessoas jurídicas de direito privado, o prazo é de
A regra é que o caso fortuito exclua a responsabilidade do Esta- três anos (art. 206, § 3º, V, do CC) contados do trânsito em julgado
do, contudo, se o dano for consequência de falha da Administração, da decisão condenatória.
poderá haver a responsabilização. Ex: rompimento de um cabo de São pressupostos para a propositura da ação regressiva:
energia elétrica por falta de manutenção ou por má colocação que 1) condenação do Estado na ação indenizatória;
cause a morte de uma pessoa. 2) trânsito em julgado da decisão condenatória;
Nos casos em que está presente a culpa da vítima, duas situa- 3) culpa ou dolo do agente;
ções podem surgir: 4) ausência de denunciação da lide na ação indenizatória.
a) O Estado não responde, desde que comprove que houve cul-
Importante ressaltar a denunciação à lide, que trata-se de uma
pa exclusiva do lesado;
ação secundária regressiva, podendo ser feita tanto pelo autor
b) O Estado responde parcialmente, se demonstrar que houve
como pelo réu, será citada e denunciada a pessoa contra quem o
culpa concorrente do lesado para a ocorrência do dano.
denunciante tem pretensão indenizatória ou de reembolso.
Em caso de culpa concorrente, aplica-se o disposto no art. 945
do Código Civil:
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o
evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a
gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

131
DIREITO ADMINISTRATIVO
Diga-se de passagem, não apenas os participantes, mas qual-
LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: LEI quer cidadão, pode por direito, impugnar edital de licitação em de-
FEDERAL Nº 14.133/2021 corrência de irregularidade na aplicação da lei, vir a representar ao
Ministério Público, aos Tribunais de Contas ou aos órgãos de con-
trole interno em face de irregularidades em licitações públicas, nos
Princípios termos dos arts. 41, § 1º, 101 e 113, § 1º da Lei 8666/1993.
Diante do cenário atual, pondera-se que ocorreram diversas
mudanças na Lei de Licitações. Porém, como estamos em fase Princípio da impessoalidade
de transição em relação às duas leis, posto que nos dois primei- Com ligação umbilical ao princípio da isonomia, o princípio da
ros anos, as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na impessoalidade demonstra, em primeiro lugar, que a Administra-
aplicação para processos que começaram na Lei anterior, deverão ção deve adotar o mesmo tratamento a todos os administrados que
continuar a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que estejam em uma mesma situação jurídica, sem a prerrogativa de
começarem após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos quaisquer privilégios ou perseguições. Por outro ângulo, ligado ao
com a aplicação da nova Lei. princípio do julgamento objetivo, registra-se que todas as decisões
Aprovada recentemente, a Nova Lei de Licitações sob o nº. administrativas tomadas no contexto de uma licitação, deverão ob-
14.133/2.021, passou por significativas mudanças, entretanto, no servar os critérios objetivos estabelecidos de forma prévia no edital
que tange aos princípios, manteve o mesmo rol do art. 3º da Lei nº. do certame. Desta forma, ainda que determinado licitante venha a
8.666/1.993, porém, dispondo sobre o assunto, no Capítulo II, art. apresentar uma vantagem relevante para a consecução do objeto
5º, da seguinte forma: do contrato, afirma-se que esta não poderá ser levada em consi-
Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios deração, caso não haja regra editalícia ou legal que a preveja como
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, passível de fazer interferências no julgamento das propostas.
da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa,
da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da Princípios da moralidade e da probidade administrativa
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do A Lei 8.666/1993, Lei de Licitações, considera que os princípios
julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da da moralidade e da probidade administrativa possuem realidades
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economi- distintas. Na realidade, os dois princípios passam a informação de
cidade e do desenvolvimento nacional sustentável, assim como as que a licitação deve ser pautada pela honestidade, boa-fé e ética,
disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1.942, (Lei isso, tanto por parte da Administração como por parte dos entes
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). licitantes. Sendo assim, para que um comportamento seja conside-
O objetivo da Lei de Licitações é regular a seleção da proposta rado válido, é imprescindível que, além de ser legalizado, esteja nos
que for mais vantajosa para a Administração Pública. No condizente ditames da lei e de acordo com a ética e os bons costumes. Exis-
à promoção do desenvolvimento nacional sustentável, entende-se tem desentendimentos doutrinários acerca da distinção entre esses
que este possui como foco, determinar que a licitação seja destina- dois princípios. Alguns autores empregam as duas expressões com
da com o objetivo de garantir a observância do princípio constitu- o mesmo significado, ao passo que outros procuram diferenciar
cional da isonomia. os conceitos. O que perdura, é que, ao passo que a moralidade é
Denota-se que a quantidade de princípios previstos na lei não constituída em um conceito vago e sem definição legal, a probidade
é exaustiva, aceitando-se quando for necessário, a aplicação de ou- administrativa, ou melhor dizendo, a improbidade administrativa
tros princípios que tenham relação com aqueles dispostos de forma possui contornos paramentados na Lei 8.429/1992.
expressa no texto legal.
Verificamos, por oportuno, que a redação original do caput do Princípio da Publicidade
art. 3º da Lei 8.666/1993 não continha o princípio da promoção do Possui a Administração Pública o dever de realizar seus atos pu-
desenvolvimento nacional sustentável e que tal menção expressa, blicamente de forma a garantir aos administrados o conhecimento
apenas foi inserida com a edição da Lei 12.349/2010, contexto no do que os administradores estão realizando, e também de manei-
qual foi criada a “margem de preferência”, facilitando a concessão ra a possibilitar o controle social da conduta administrativa. Em se
de vantagens competitivas para empresas produtoras de bens e tratando especificamente de licitação, determina o art. 3º, § 3º, da
serviços nacionais. Lei 8.666/1993 que “a licitação não será sigilosa, sendo públicos e
acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao
Princípio da legalidade conteúdo das propostas, até a respectiva abertura”.
A legalidade, que na sua visão moderna é chamado também de Advindo do mesmo princípio, qualquer cidadão tem o direito
juridicidade, é um princípio que pode ser aplicado à toda atividade de acompanhar o desenvolvimento da licitação, desde que não in-
de ordem administrativa, vindo a incluir o procedimento licitatório. terfira de modo a atrapalhar ou impedir a realização dos trabalhos
A lei serve para ser usada como limite de base à atuação do gestor (Lei 8.666/1993, art. 4º, in fine).
público, representando, desta forma, uma garantia aos administra- A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece que “a publici-
dos contra as condutas abusivas do Estado. dade é tanto maior, quanto maior for a competição propiciada pela
No âmbito das licitações, pondera-se que o princípio da lega- modalidade de licitação; ela é a mais ampla possível na concorrên-
lidade é fundamental, posto que todas as fases do procedimento cia, em que o interesse maior da Administração é o de atrair maior
licitatório se encontram estabelecidas na legislação. Considera-se número de licitantes, e se reduz ao mínimo no convite, em que o
que todos os entes que participarem do certame, têm direito pú- valor do contrato dispensa maior divulgação. “
blico subjetivo de fiel observância do procedimento paramentado Todo ato da Administração deve ser publicado de forma a for-
na legislação por meio do art. 4° da Lei 8.666/1993, podendo, caso necer ao cidadão, informações acerca do que se passa com as ver-
venham a se sentir prejudicados pela ausência de observância de bas públicas e sua aplicação em prol do bem comum e também por
alguma regra, impugnar a ação ou omissão na esfera administrativa obediência ao princípio da publicidade.
ou judicial.

132
DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da eficiência do interesse público Princípio do Planejamento
Trata-se de um dos princípios norteadores da administração A princípio, infere-se que o princípio do planejamento se en-
pública acoplado aos da legalidade, finalidade, motivação, razoabili- contra dotado de conteúdo jurídico, sendo que é seu dever fixar o
dade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, dever legal do planejamento como um todo.
da segurança jurídica e do interesse público. Registra-se que a partir deste princípio, é possível compreen-
Assim sendo, não basta que o Estado atue sobre o manto da der que a Administração Pública tem o dever de planejar toda a
legalidade, posto que quando se refere serviço público, é essencial licitação e também toda a contratação pública de forma adequada
que o agente público atue de forma mais eficaz, bem como que e satisfatória. Assim, o planejamento exigido, é o que se mostre de
haja melhor organização e estruturação advinda da administração forma eficaz e eficiente, bem como que se encaixe a todos os outros
pública. princípios previstos na CFB/1.988 e na jurisdição pátria como um
Vale ressaltar que o princípio da eficiência deve estar subme- todo.
tido ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a Desta forma, na ausência de justificativa para realizar o pla-
atuação administrativa agindo de forma contrária ao ordenamento nejamento adequado da licitação e do contrato, ressalta-se que a
jurídico, posto que por mais eficiente que seja, ambos os princípios ausência, bem como a insuficiência dele poderá vir a motivar a res-
devem atuar de forma acoplada e não sobreposta. ponsabilidade do agente público.
Por ser o objeto da licitação a escolha da proposta mais vanta-
josa, o administrador deverá se encontrar eivado de honestidade ao Princípio da transparência
cuidar da Administração Pública. O princípio da transparência pode ser encontrado dentro da
aplicação de outros princípios, como os princípios da publicidade,
Princípio da Probidade Administrativa imparcialidade, eficiência, dentre outros.
A Lei de Licitações trata dos princípios da moralidade e da pro- Boa parte da doutrina afirma o princípio da transparência não é
bidade administrativa como formas distintas uma da outra. Os dois um princípio independente, o incorporando ao princípio da publici-
princípios passam a noção de que a licitação deve ser configurada dade, posto ser o seu entendimento que uma das inúmeras funções
pela honestidade, boa-fé e ética, tanto por parte da Administração do princípio da publicidade é o dever de manter intacta a trans-
Pública, como por parte dos licitantes. Desta forma, para que um parência dos atos das entidades públicas. Entretanto, o princípio
comportamento tenha validade, é necessário que seja legal e esteja da transparência pode ser diferenciado do princípio da publicida-
em conformidade com a ética e os bons costumes. de pelo fato de que por intermédio da publicidade, existe o dever
Existe divergência quanto à distinção entre esses dois princí- das entidades públicas consistente na obrigação de divulgar os seus
pios. Alguns doutrinadores usam as duas expressões com o mesmo atos, uma vez que nem sempre a divulgação de informações é feita
significado, ao passo que outros procuram diferenciar os conceitos. de forma transparente.
O correto é que, enquanto a moralidade se constitui num conceito O Superior Tribunal de Justiça entende que o “direito à infor-
vago, a probidade administrativa, ou melhor dizendo, a improbida- mação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição
de administrativa se encontra eivada de contornos definidos na Lei Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da
8.429/1992. Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Ob-
jetiva e do Princípio da Confiança […].” (STJ. RESP 200301612085,
Princípio da igualdade Herman Benjamin – Segunda Turma, DJE DATA:19/03/2009).
Conhecido como princípio da isonomia, decorre do fato de que
a Administração Pública deve tratar, de forma igual, todos os licitan- Princípio da eficácia
tes que estiverem na mesma situação jurídica. O princípio da igual- Por meio desse princípio, deverá o agente público agir de for-
dade garante a oportunidade de participar do certame de licitação, ma eficaz e organizada promovendo uma melhor estruturação por
todos os que tem condições de adimplir o futuro contrato e proíbe, parte da Administração Pública, mantendo a atuação do Estado
ainda a feitura de discriminações injustificadas no julgamento das dentro da legalidade.
propostas. Vale ressaltar que o princípio da eficácia deve estar submetido
Aplicando o princípio da igualdade, o art. 3º, I, da Lei ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a atuação
8.666/1993, veda de forma expressa aos agentes públicos admitir, administrativa contrária ao ordenamento jurídico, por mais eficien-
prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação por meio de edital te que seja, na medida em que ambos os princípios devem atuar de
ou convite, as cláusulas que comprometam, restrinjam ou frustrem maneira conjunta e não sobrepostas.
o seu caráter de competição, inclusive nos casos de sociedades co-
operativas, e estabeleçam preferências ou diferenças em decorrên- Princípio da segregação de funções
cia da naturalidade, da sede ou do domicílio dos licitantes ou de Trata-se de uma norma de controle interno com o fito de evitar
“qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o falhas ou fraudes no processo de licitação, vindo a descentralizar o
específico objeto do contrato”, com ressalva ao disposto nos §§ 5º a poder e criando independência para as funções de execução opera-
12 do mesmo artigo, e no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991. cional, custódia física, bem como de contabilização
Ante o exposto, conclui-se que, mesmo que a circunstância Assim sendo, cada setor ou servidor incumbido de determina-
restrinja o caráter de competição do certame, se for pertinente ou da tarefa, fará a sua parte no condizente ao desempenho de fun-
relevante para o objeto do contrato, poderá ser incluída no instru- ções, evitando que nenhum empregado ou seção administrativa
mento de convocação do certame. venha a participar ou controlar todas as fases relativas à execução e
O princípio da isonomia não impõe somente tratamento igua- controle da despesa pública, vindo assim, a possibilitar a realização
litário aos assemelhados, mas também a diferenciação dos desi- de uma verificação cruzada.
guais, na medida de suas desigualdades. O princípio da segregação de funções, advém do Princípio da
moralidade administrativa e se encontra previsto no art. 37, caput,
da CFB/1.988 e o da moralidade, no Capítulo VII, seção VIII, item
3, inciso IV, da IN nº 001/2001 da Secretaria Federal de Controle
Interno do Ministério da Fazenda.

133
DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da motivação inciso IV do art. 170 da Constituição Federal Brasileira. Desta manei-
O princípio da motivação predispõe que a administração no ra, devido ao fato da lei recalcar o abuso do poder econômico que
processo licitatório possui o dever de justificar os seus atos, vindo pretenda eliminar a concorrência, a lei e os demais atos normativos
a apresentar os motivos que a levou a decidir sobre os fatos, com pertinentes não poderão agir com o fulcro de limitar a competitivi-
a observância da legalidade estatal. Desta forma, é necessário que dade na licitação.
haja motivo para que os atos administrativos licitatórios tenham Assim, havendo cláusula que possa favorecer, excluir ou infrin-
sido realizados, sempre levando em conta as razões de direito que gir a impessoalidade exigida do gestor público, denota-se que esta
levaram o agente público a proceder daquele modo. poderá recair sobre a questão da restrição de competição no pro-
cesso licitatório.
Princípio da vinculação ao edital Obs. importante: De acordo com o Tribunal de Contas, não é
Trata-se do corolário do princípio da legalidade e da objetivi- aceitável a discriminação arbitrária no processo de seleção do con-
dade das determinações de habilidades, que possui o condão de tratante, posto que é indispensável o tratamento uniforme para si-
impor tanto à Administração, quanto ao licitante, a imposição de tuações uniformes, uma vez que a licitação se encontra destinada
que este venha a cumprir as normas contidas no edital de maneira a garantir não apenas a seleção da proposta mais vantajosa para a
objetiva, porém, sempre zelando pelo princípio da competitividade. Administração Pública, como também a observância do princípio
Denota-se que todos os requisitos do ato convocatório devem constitucional da isonomia. Acórdão 1631/2007 Plenário (Sumá-
estar em conformidade com as leis e a Constituição, tendo em vista rio).
que se trata de ato concretizador e de hierarquia inferior a essas
entidades. Princípio da proporcionalidade
Nos ditames do art. 3º da Lei nº 8.666/93, a licitação destina-se O princípio da proporcionalidade, conhecido como princípio
a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a da razoabilidade, possui como objetivo evitar que as peculiaridades
seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a pro- determinadas pela Constituição Federal Brasileira sejam feridas ou
moção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada suprimidas por ato legislativo, administrativo ou judicial que possa
e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da le- exceder os limites por ela determinados e avance, sem permissão
galidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publi- no âmbito dos direitos fundamentais.
cidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. Princípio da celeridade
O princípio da vinculação ao instrumento convocatório princí- Devidamente consagrado pela Lei nº 10.520/2.002 e conside-
pio se destaca por impor à Administração a não acatar qualquer rado um dos direcionadores de licitações na modalidade pregão, o
proposta que não se encaixe nas exigências do ato convocatório, princípio da celeridade trabalha na busca da simplificação de pro-
sendo que tais exigências deverão possuir total relação com o obje- cedimentos, formalidades desnecessárias, bem como de intransi-
to da licitação, com a lei e com a Constituição Federal. gências excessivas, tendo em vista que as decisões, sempre que for
possível, deverão ser aplicadas no momento da sessão.
Princípio do julgamento objetivo
O objetivo desse princípio é a lisura do processo licitatório. De Princípio da economicidade
acordo com o princípio do julgamento objetivo, o processo licitató- Sendo o fim da licitação a escolha da proposta que seja mais
rio deve observar critérios objetivos definidos no ato convocatório, vantajosa para a Administração Pública, pondera-se que é neces-
para o julgamento das propostas apresentadas, devendo seguir de sário que o administrador esteja dotado de honestidade ao cuidar
forma fiel ao disposto no edital quando for julgar as propostas. coisa pública. O princípio da economicidade encontra-se relaciona-
Esse princípio possui o condão de impedir quaisquer interpre- do ao princípio da moralidade e da eficiência.
tações subjetivas do edital que possam favorecer um concorrente e, Sobre o assunto, no que condiz ao princípio da economicidade,
por consequência, vir a prejudicar de forma desleal a outros. entende o jurista Marçal Justen Filho, que “… Não basta honestida-
de e boas intenções para validação de atos administrativos. A eco-
Princípio da razoabilidade nomicidade impõe adoção da solução mais conveniente e eficiente
Trata-se de um princípio de grande importância para o contro- sob o ponto de vista da gestão dos recursos públicos”. (Justen Filho,
le da atividade administrativa dentro do processo licitatório, posto 1998, p.66).
que se incumbe de impor ao administrador, a atuação dentro dos
requisitos aceitáveis sob o ponto de vista racional, uma vez que ao Princípio da licitação sustentável
trabalhar na interdição de decisões ou práticas discrepantes do mí- Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “o princípio da susten-
nimo plausível, prova mais uma vez ser um veículo de suma im- tabilidade da licitação ou da licitação sustentável liga-se à ideia de
portância do respeito à legalidade, na medida em que é a lei que que é possível, por meio do procedimento licitatório, incentivar a
determina os parâmetros por intermédio dos quais é construída a preservação do meio ambiente”.
razão administrativa como um todo. Esse princípio passou a constar de maneira expressa do contido
Pondera-se que o princípio da razoabilidade se encontra aco- na Lei 8.666/1993 depois que o seu art. 3º sofreu alteração pela Lei
plado ao princípio da proporcionalidade, além de manter relação 12.349/2010, que incluiu entre os objetivos da licitação a promoção
com o princípio da finalidade, uma vez que, caso não seja atendida do desenvolvimento nacional sustentável.
a razoabilidade, a finalidade também irá ficar ferida. Da mesma maneira, a Lei 12.462/2011, que institui o Regime
Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), dispõe o desenvolvi-
Princípio da competitividade mento nacional sustentável como forma de princípio a ser obser-
O princípio da competição se encontra relacionado à competiti- vado nas licitações e contratações regidas por seu diploma legal.
vidade e às cláusulas que são responsáveis por garantir a igualdade Assim, prevê a mencionada Lei que as contratações realizadas com
de condições para todos os concorrentes licitatórios. Esse princípio fito no Regime Jurídico Diferenciado de Contratações Públicas de-
se encontra ligado ao princípio da livre concorrência nos termos do vem respeitar, em especial, as normas relativas ao art. 4º, § 1º:

134
DIREITO ADMINISTRATIVO
A) disposição final ambientalmente adequada dos resíduos só- Princípio da competitividade
lidos gerados pelas obras contratadas; É advindo do princípio da isonomia. Em outras palavras, ha-
B) mitigação por condicionantes e compensação ambiental, vendo restrição à competição, de maneira a privilegiar determi-
que serão definidas no procedimento de licenciamento ambiental; nado licitante, consequentemente ocorrerá violação ao princípio
c) utilização de produtos, equipamentos e serviços que, comprova- da isonomia. Por esse motivo, como manifestação do princípio da
damente, reduzam o consumo de energia e recursos naturais; competitividade, tem-se a regra de que é proibido aos agentes pú-
D) avaliação de impactos de vizinhança, na forma da legislação blicos “admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação,
urbanística; cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem
E) proteção do patrimônio cultural, histórico, arqueológico e o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades coope-
imaterial, inclusive por meio da avaliação do impacto direto ou indi- rativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da natu-
reto causado pelas obras contratadas; ralidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra
F) acessibilidade para o uso por pessoas com deficiência ou com circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto
mobilidade reduzida. do contrato”, com exceção do disposto nos §§ 5º a 12 deste art. e
no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991” .
Princípios correlatos Convém mencionar que José dos Santos Carvalho Filho, enten-
Além dos princípios anteriores determinados pela Lei de que o dispositivo legal mencionado anteriormente é tido como
8.666/1993, a doutrina revela a existência de outros princípios que manifestação do princípio da indistinção.
também são atinentes aos procedimentos licitatórios, dentre os
quais se destacamos:
Princípio da vedação à oferta de vantagens imprevistas
É um corolário do princípio do julgamento objetivo. No referen-
Princípio da obrigatoriedade
te ao julgamento das propostas, a comissão de licitação não poderá,
Consagrado no art. 37, XXI, da CF, esse princípio está disposto
no art. 2º do Estatuto das Licitações. A determinação geral é que por exemplo, considerar qualquer oferta de vantagem que não es-
as obras, serviços, compras, alienações, concessões, permissões e teja prevista no edital ou no convite, inclusive financiamentos sub-
locações da Administração Pública, quando forem contratadas por sidiados ou a fundo perdido, nem preço ou vantagem baseada nas
terceiros, sejam precedidas da realização de certame licitatório, ofertas dos demais licitantes, nos ditames do art. 44, parag. 2°da
com exceção somente dos casos previstos pela legislação vigente. Lei 8.666/1993.

Princípio do formalismo Competência Legislativa


Por meio desse princípio, a licitação se desenvolve de acordo A União é munida de competência privativa para legislar sobre
com o procedimento formal previsto na legislação. Assim sendo, o normas gerais de licitações, em todas as modalidades, para a admi-
art. 4º, parágrafo único, da Lei 8.666/1993 determina que “o pro- nistração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
cedimento licitatório previsto nesta lei caracteriza ato administrati- Federal e dos Municípios, conforme determinação do art. 22, XXVII,
vo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da Administração da CFB/1988.
Pública”. Desse modo, denota-se que de modo geral, as normas edita-
das pela União são de observância obrigatória por todos os entes
Princípio do sigilo das propostas federados, competindo a estes, editar normas específicas que são
Até a abertura dos envelopes licitatórios em ato público ante- aplicáveis somente às suas próprias licitações, de modo a comple-
cipadamente designado, o conteúdo das propostas apresentadas mentar a disciplina prevista na norma geral sem contrariá-la.
pelos licitantes deve ser mantido em sigilo nos termos do art. 43, Nessa linha, a título de exemplo, a competência para legislar
§ 1º, da Lei 8.666/1993. Deixando claro que violar o sigilo de pro- supletivamente não permite: a) a criação de novas modalidades li-
postas apresentadas em procedimento licitatório, ou oportunizar citatórias ou de novas hipóteses de dispensa de licitação; b) o esta-
a terceiro a oportunidade de devassá-lo, além de prejudicar os de- belecimento de novos tipos de licitação (critérios de julgamento das
mais licitantes, constitui crime tipificado no art. 94 do Estatuto das propostas); c) a redução dos prazos de publicidade ou de recursos.
Licitações, vindo a sujeitar os infratores à pena de detenção, de 2 É importante registrar que a EC 19/1998, em alteração ao art.
(dois) a 3 (três) anos, e multa; 173, § 1º, da Constituição Federal, anteviu que deverá ser editada
lei com o fulcro de disciplinar o estatuto jurídico da empresa pú-
Princípio da adjudicação compulsória ao vencedor
blica, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
Significa que a Administração não pode, ao concluir o procedi-
explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
mento, atribuir o objeto da licitação a outro agente ou ente que não
bens ou de prestação de serviços, sendo que esse estatuto deverá
seja o vencedor. Esse princípio, também impede que seja aberta
nova licitação enquanto for válida a adjudicação anterior. dispor a respeito de licitação e contratação de obras, serviços, com-
Registra-se que a adjudicação é um ato declaratório que ga- pras e alienações, desde que observados os princípios da adminis-
rante ao vencedor que, vindo a Administração a celebrar um con- tração pública.
trato, o fará com o agente ou ente a quem foi adjudicado o objeto. A mencionada modificação constitucional, teve como objeti-
Entretanto, mesmo que o objeto licitado tenha sido adjudicado, é vo possibilitar a criação de normas mais flexíveis sobre licitação e
possível que não aconteça a celebração do contrato, posto que a contratos e com maior adequação condizente à natureza jurídica
licitação pode vir a ser revogada de forma lícita por motivos de in- das entidades exploradoras de atividades econômicas, que traba-
teresse público, ou anulada, caso seja constatada alguma irregula- lham sob sistema jurídico predominantemente de direito privado.
ridade Insanável. O Maior obstáculo, é o fato de que essas instituições na maioria das
vezes entram em concorrência com a iniciativa privada e precisam
ter uma agilidade que pode, na maioria das situações, ser prejudi-
cada pela necessidade de submissão aos procedimentos burocráti-
cos da administração direta, autárquica e fundacional.

135
DIREITO ADMINISTRATIVO
Em observância e cumprimento à determinação da Constitui- h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e en-
ção Federal, foi promulgada a Lei 13.303/2016, Lei das Estatais, que saios de campo e laboratoriais, instrumentação e monitoramento
criou regras e normas específicas paras as licitações que são dirigi- de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais
das por qualquer empresa pública e sociedade de economia mista serviços de engenharia que se enquadrem no disposto neste inciso;
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ponde- IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de
ra-se que tais regras forma mantidas pela nova Lei de Licitações, Lei credenciamento;
nº: 14.133/2.021 em seu art. 1º, inciso I. V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de ins-
De acordo com as regras e normas da Lei 13.303/2016, tais em- talações e de localização tornem necessária sua escolha.
presas públicas e sociedades de economia mista não estão dispen- Em entendimento ao inc. I, afirma-se que o fornecedor exclu-
sadas do dever de licitar. Mas estão somente adimplindo tal obriga- sivo, vedada a preferência de marca, deverá a comprovar a exclu-
ção com seguimento em procedimentos mais flexíveis e adequados sividade por meio de atestado fornecido pelo órgão de registro do
a sua natureza jurídica. Assim sendo, a Lei 8.666/1993 acabou por comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o
não mais ser aplicada às estatais e às suas subsidiárias. serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou,
Entretanto, com a entrada em vigor da nova Lei de Licitações de ainda, pelas entidades equivalentes.
nº. 14.133/2.021, advinda do Projeto de Lei nº 4.253/2020, obser- Em relação ao inc. II do referido diploma legal, verifica-se a dis-
va-se que ocorreu um impacto bastante concreto para as estatais pensabilidade da exigência de licitação para a contratação de profis-
naquilo que se refere ao que a Lei nº 13.303/16 expressa ao reme- sionais da seara artística de forma direta ou através de empresário,
ter à aplicação das Leis nº 8.666/93 e Lei nº 10.520/02. levando em conta que este deverá ser reconhecido publicamente.
Nesse sentido, denota-se em relação ao assunto acima que são Por fim, o inc. III, aduz sobre a contratação de serviços técnicos
pontos de destaque com a aprovação da Nova Lei de Licitações de especializados, de natureza singular, com profissionais ou empresas
nº. 14.133/2.021: de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de
1) O pregão, sendo que esta modalidade não será mais regula- publicidade e divulgação.
da pela Lei nº 10.520/02, que consta de forma expressa no art. 32,
IV, da Lei nº 13.303/16; Ressalta-se que além das mencionadas hipóteses previstas de
2) As normas de direito penal que deverão ser aplicadas na forma exemplificativa na legislação, sempre que for impossível a
seara dos processos de contratação, que, por sua vez, deixarão de competição, o procedimento de inexigibilidade de licitação deverá
ser regulados pelos arts. 89 a 99 da Lei nº 8.666/93; e ser adotado.
3) Os critérios de desempate de propostas, sendo que a Lei Vale destacar com grande importância, ainda, em relação ao
nº 13.303/16 dispõe de forma expressa, dentre os critérios de de- inc. III da Nova Lei de Licitações, que nem todo serviço técnico espe-
sempate contidos no art. 55, inc. III, a adoção da previsão que se cializado está apto a ensejar a inexigibilidade de licitação, fato que
encontra inserida no § 2º do art. 3º da Lei nº 8.666/93, que por sua se verificará apenas se ao mesmo tempo, tal serviço for de natureza
vez, passará a ter outro tratamento pela Nova Lei de Licitações. singular e o seu prestador for dotado de notória especialização. O
serviço de natureza singular é reconhecido pela sua complexidade,
Dispensa e inexigibilidade relevância ou pelos interesses públicos que estiverem em jogo, vin-
Verificar-se-á a inexigibilidade de licitação sempre que houver do demandar a contratação de prestador com a devida e notória
inviabilidade de competição. Com a entrada em vigor da Nova Lei especialização.
de Licitações, Lei nº. 14.133/2.021 no art. 74, I, II e III, foi disposto Por sua vez, a legislação considera como sendo de notória
as hipóteses por meio das quais a competição é inviável e que, por- especialização, aquele profissional ou empresa que o conceito no
tanto, nesses casos, a licitação é inexigível. Vejamos: âmbito de sua especialidade, advindo de desempenho feito ante-
riormente como estudos, experiências, publicações, organização,
Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, equipe técnica, ou de outros atributos e requisitos pertinentes com
em especial nos casos de: suas atividades, que permitam demonstrar e comprovar que o seu
I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou trabalho é essencial e o mais adequado à plena satisfação do objeto
contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor, do contrato.
empresa ou representante comercial exclusivos; Vale mencionar que em situações práticas, a contratação de
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente serviços especializados por inexigibilidade de licitação tem criado
ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela várias controvérsias, principalmente quando se refere à contrata-
crítica especializada ou pela opinião pública; ção de serviços de advocacia e também de contabilidade.
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados Conforme já estudado, a licitação é tida como dispensada
de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou quando, mesmo a competição sendo viável, o certame deixou de
empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para ser realizado pelo fato da própria lei o dispensar. Tem natureza dife-
serviços de publicidade e divulgação: rente da ausência de exigibilidade da licitação dispensável porque
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou proje- nesta, o gestor tem a possibilidade de decidir por realizar ou não o
tos executivos; procedimento.
b) pareceres, perícias e avaliações em geral; A licitação dispensada está acoplada às hipóteses de alienação
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras de bens móveis ou imóveis da Administração Pública. Em grande
ou tributárias; parte das vezes, quando, ao pretender a Administração alienar bens
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou ser- de sua propriedade, sejam estes móveis ou imóveis, deverá proce-
viços; der à realização de licitação. No entanto, em algumas situações, em
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas; razão das peculiaridades do caso especifico, a lei acaba por dispen-
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; sar o procedimento, o que é verificado, por exemplo, na hipótese da
g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico; doação de um bem para outro órgão ou entidade da Administração

136
DIREITO ADMINISTRATIVO
Pública de qualquer esfera de governo. Ocorre que nesse caso, a cífico, o licitante demonstra e apresenta a sua proposta e a docu-
Administração já determinou previamente para qual órgão ou en- mentação usando três envelopes distintos, sendo eles: o primeiro
tidade irá doar o bem. Assim sendo, não existe a necessidade de para a habilitação, o segundo para o deslinde da proposta técnica e
realização do certame licitatório. o terceiro, com o preço, que deverão ser avaliados nessa respectiva
ordem.
Critérios de Julgamento
Os novos critérios de julgamento tratam-se das referências Maior lance (leilão)
que são utilizadas para a avaliação das propostas de licitação. Regis- Nos ditames da nova Lei de Licitações, esse critério se encon-
tra-se que as espécies de licitação encontram-se dotadas de carac- tra restrito à modalidade de leilão, disciplina que estudaremos nos
terísticas e exigências diversas, sendo que as espécies de licitação próximos tópicos.
tendem sempre a variam de acordo com seus prazos e ritos espe-
cíficos como um todo. Com a aprovação da Lei 14.133/2.021 em Maior retorno econômico
seu art. 33, foram criados novos tipos de licitação designados para Registra-se que esse tema se trata de uma das maiores novida-
a compra de bens e serviços. Sendo eles: menor preço, maior des- des advindas da Nova Lei de Licitações, pelo fato desse requisito ser
conto, melhor técnica ou conteúdo artístico, técnica e preço, maior um tipo de licitação de uso para licitações cujo objeto e fulcro sejam
lance (leilão), maior retorno econômico. uma espécie de contrato de eficiência.
Vejamos:
Assim dispõe o inc. LIII do Art. 6º da Nova Lei de Licitações:
Menor preço
LIII - contrato de eficiência: contrato cujo objeto é a prestação
Trata-se do principal objetivo da Administração Pública que é
de serviços, que pode incluir a realização de obras e o fornecimento
o de comprar pelo menor preço possível. É o critério padrão bási-
de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante,
co e o mais utilizado em qualquer espécie de licitação, inclusive o
pregão. Desta forma, vence, aquele que apresentar o preço menor na forma de redução de despesas correntes, remunerado o contra-
entre os participantes do certame, desde que a empresa licitante tado com base em percentual da economia gerada;
atenda a todos os requisitos estipulados no edital. Desta forma, depreende-se que a pretensão da Administração
Nesta espécie de licitação, vencerá a proposta que oferecer e não se trata somente da obra, do serviço ou do bem propriamente
comprovar maiores vantagens para a Administração Pública, ape- dito, mas sim do resultado econômico que tenha mais vantagens
nas em questões de valores, o que, na maioria das vezes, termina advindas dessas prestações, razão pela qual, a melhor proposta de
por prejudicar a população, tendo em vista que ao analisar apenas ajuste trata-se daquela que oferece maior retorno econômico à ma-
a questão de menor preço, nem sempre irá conseguir contratar um quina pública.
trabalho de qualidade.
Modalidades
Maior desconto
Pondera-se que caso a licitação seja julgada pelo critério de De antemão, infere-se que com o advento da nova Lei de Lici-
maior desconto, o preço com o valor estimado ou o máximo aceitá- tações de nº. 14.133/2.021, foram excluídas do diploma legal da
vel, deverá constar expressamente do edital. Isso acontece, por que Lei 8.666/1.993 as seguintes modalidades de licitação: tomada de
nessas situações específicas, a publicação do valor de referência da preços, convite e RDC – Lei 12.462/2.011. Desta forma, de acordo
Administração Pública é extremamente essencial para que os pro- com a Nova Lei de Licitações, são modalidades de licitação: con-
ponentes venham a oferecer seus descontos. corrência, concurso, leilão, pregão e diálogo competitivo.
Denota-se que o texto de lei determina que a administração li- Lembrando que conforme afirmado no início desse estudo,
citante forneça o orçamento original da contratação, mesmo que tal pelo fato do ordenamento jurídico administrativo estar em fase de
orçamento tenha sido declarado sigiloso, a qualquer instante tanto transição em relação às duas leis, posto que nos dois primeiros anos
para os órgãos de controle interno quanto externo. Esse fato é de as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na aplicação
grande importância para a administração Pública, tendo em vista para processos que começaram na Lei anterior, deverão continuar
que a depender do mercado, a divulgação do orçamento original no a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que começarem
instante de ocorrência da licitação acarretará o efeito âncora, fazen- após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos com a aplica-
do com que os valores das propostas sejam elevados ao patamar
ção da nova Lei.
mais aproximado possível no que diz respeito ao valor máximo que
a Administração admite.
Concorrência
Com fundamento no art. 29 da Lei 14.133/2.021, concorrência
Melhor técnica ou conteúdo artístico
Nesse tipo de licitação, a escolha da empresa vencedora leva é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na
em consideração a proposta que oferecer mais vantagem em ques- fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requi-
tão de fatores de ordem técnica e artística. Denota-se que esta es- sitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de
pécie de licitação deve ser aplicada com exclusividade para serviços seu objeto.
de cunho intelectual, como ocorre na elaboração de projetos, por Em termos práticos, trata-se a concorrência de modalidade
exemplo incluindo-se nesse rol, tanto os básicos como os executi- licitatória conveniente para contratações de grande aspecto. Isso
vos como: cálculos, gerenciamento, supervisão, fiscalização e ou- ocorre, por que a Lei de Licitações e Contratos dispôs uma espécie
tros pertinentes à matéria. de hierarquia quando a definição da modalidade de licitação acon-
tece em razão do valor do contrato. Ocorre que quanto maiores
Técnica e preço forem os valores envolvidos, mais altos e maiores serão o nível de
Depreende-se que esta espécie de licitação é de cunho obriga- publicidade bem como os prazos estipulados para a realização do
tório quando da contratação de bens e serviços na área tecnológica procedimento. Em alguns casos, não obstante, é permitido uso da
como de informática e áreas afins, e também nas modalidade de modalidade de maior publicidade no lugar das de menor publicida-
concorrência, segundo a nova lei de Licitações. Nesse caso espe- de, jamais o contrário.

137
DIREITO ADMINISTRATIVO
Nesta linha de pensamento, a regra passa a exigir o uso da con- Pondera-se que a Lei geral que rege os pregões é a Lei
corrência para valores elevados, vindo a permitir que seja realizada 10.520/02. No entanto, em âmbito federal, o pregão presencial é
a tomada de preços ou concorrência para montantes de cunho in- fundamentado e regulamentado pelo Decreto3.555/00, já o pregão
termediário e convite (ou tomada de preços ou concorrência), para eletrônico, por meio do Decreto 5.450/05.
contratos de valores mais reduzidos. Os gestores, na prática, ge- Os referidos decretos, em razão da natureza institucional de
ralmente optam por utilizar a modalidade licitatória que seja mais processamento dos pregões, são estabelecidos por meio de regras
simplificada dentro do possível, de maneira a evitar a submissão a diferentes que serão adotadas pelo Poder Público.
prazos mais extensos de publicidade do certame. Em âmbito federal, a modalidade pregão é obrigatória para
contratação de serviços e bens comuns. No entanto, o Decreto
Concurso 5.459/05 determina que a forma eletrônica é, via de regra, prefe-
Disposto no art. 30 da Nova Lei de Licitações, esta modalidade rencial.
de licitação pode ser utilizada para a escolha de trabalho técnico, Ressalta-se que aqueles que estiverem interessados em partici-
científico ou artístico. Vejamos o que dispõe a Nova Lei de Licita- par do pregão presencial, deverão comparecer em hora e local nos
ções: quais deverá ocorrer a Sessão Pública, onde será feito o credencia-
Art. 30. O concurso observará as regras e condições previstas mento, devendo ainda, apresentar os envelopes de proposta, bem
em edital, que indicará: como os documentos pertinentes.
I - a qualificação exigida dos participantes; Referente ao pregão eletrônico, deverão os interessados fazer
II - as diretrizes e formas de apresentação do trabalho; cadastro no sistema de compras a ser usado pelo ente licitante, vin-
III - as condições de realização e o prêmio ou remuneração a ser do, por conseguinte, cadastrar a sua proposta.
concedida ao vencedor. A classificação a respeito das formas de pregão está também
Parágrafo único. Nos concursos destinados à elaboração de eivada de diferenças. Infere-se que no pregão presencial, o prego-
projeto, o vencedor deverá ceder à Administração Pública, nos ter- eiro deverá fazer a seleção de todas as propostas de até 10% acima
mos do art. 93 desta Lei, todos os direitos patrimoniais relativos ao da melhor proposta e as classificar para a fase de lances. Havendo
projeto e autorizar sua execução conforme juízo de conveniência e ausência de propostas que venham a atingir esses 10%, restarão
oportunidade das autoridades competentes. selecionadas, por conseguinte, as três melhores propostas.
Diversamente do que ocorre no pregão eletrônico, levando em
Leilão conta que todos os participantes são classificados e tem o direito de
Disposto no art. 31 da Nova Lei de Licitações, o leilão poderá participar da fase na qual ocorrem os lances por meio do sistema,
ser cometido a leiloeiro oficial ou a servidor designado pela auto- dentro dos parâmetros pertinentes ao horário indicado no edital ou
ridade competente da Administração, sendo que seu regulamento carta convite.
deverá dispor sobre seus procedimentos operacionais. Inicia-se a fase de lances do pregão presencial com o lance da
Se optar pela realização de leilão por intermédio de leiloeiro licitação que possui a maior proposta, vindo a seguir, por conse-
oficial, a Administração deverá selecioná-lo mediante credencia- guinte, a lista decrescente até alcançar ao menor valor.
mento ou licitação na modalidade pregão e adotar o critério de jul- É importante destacar que no pregão eletrônico, os lances são
gamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas, lançados no sistema na medida em que os participantes vão ofer-
utilizados como parâmetro máximo, os percentuais definidos na lei tando, devendo ser sempre de menor valor ao último lance que por
que regula a referida profissão e observados os valores dos bens a este foi ofertado. Assim, lances são lançados e registrados no siste-
serem leiloados ma, até que esta fase venha a se encerrar.
O leilão não exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de Desde o início da Sessão, no pregão presencial o pregoeiro de-
habilitação e deverá ser homologado assim que concluída a fase verá se informar de antemão, quem são os participantes, tendo em
de lances, superada a fase recursal e efetivado o pagamento pelo vista que estes se identificam no momento do em que fazem o cre-
licitante vencedor, na forma definida no edital. denciamento.
No pregão eletrônico, até que chegue a fase de habilitação,
Quaisquer interessados podem participar do leilão. Denota-se o pregoeiro não possui a informação sobre quem são os licitantes
que o bem será vendido para o licitante que fizer a oferta de maior participantes, para evitar conluio.
lance, o qual deverá obrigatoriamente ser igual ou superior ao valor A intenção de recorrer no pregão presencial, deverá por parâ-
de avaliação do bem. metros legais, ser manifestada e eivada com as motivações ao final
A realização do leilão poderá ser por meio de leiloeiro oficial ou da Sessão.
por servidor indicado pela Administração, procedendo-se conforme No pregão eletrônico, havendo a intenção de recorrer, deverá
os ditames da legislação pertinente. de imediato a parte interessada se manifestar, devendo ser regis-
trado no campo do sistema de compras pertinente, no qual deverá
Destaca-se ainda, que algumas entidades financeiras da Admi- conter as exposições com a motivação da interposição.
nistração indireta executam contratos de mútuo que são garantidos
por penhor e que, restando-se vencido o contrato, se a dívida não Diálogo competitivo
for liquidada, promover-se-á o leilão do bem empenhado que deve- Com supedâneo no art. 32 da Nova Lei de Licitações, modali-
rá seguir as regras pertinentes à Lei de licitações. dade diálogo competitivo é restrita a contratações em que a Admi-
nistração:
Pregão Art. 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita a contrata-
Com fundamento no art. 29 da Nova Lei de Licitações, trata- ções em que a Administração:
-se o pregão de uma modalidade de licitação do tipo menor preço, I - vise a contratar objeto que envolva as seguintes condições:
designada ao aferimento de aquisição de bens e serviços comuns. a) inovação tecnológica ou técnica;
Existem duas maneiras de ocorrência dos pregões, sendo estas nas b) impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua necessidade
formas eletrônica e presencial. satisfeita sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado; e

138
DIREITO ADMINISTRATIVO
c) impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas III - indicação do pessoal técnico, das instalações e do apare-
com precisão suficiente pela Administração; lhamento adequados e disponíveis para a realização do objeto da
II - verifique a necessidade de definir e identificar os meios e as licitação, bem como da qualificação de cada membro da equipe téc-
alternativas que possam satisfazer suas necessidades, com desta- nica que se responsabilizará pelos trabalhos;
que para os seguintes aspectos: IV - prova do atendimento de requisitos previstos em lei espe-
a) a solução técnica mais adequada; cial, quando for o caso;
b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a solução já defi- V - registro ou inscrição na entidade profissional competente,
nida; quando for o caso;
c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato. VI - declaração de que o licitante tomou conhecimento de todas
as informações e das condições locais para o cumprimento das obri-
Obs. Importante: § 1º, inc. VIII , Lei 14.133/2021- a Adminis- gações objeto da licitação.
tração deverá, ao declarar que o diálogo foi concluído, juntar aos
autos do processo licitatório os registros e as gravações da fase de Julgamento
diálogo, iniciar a fase competitiva com a divulgação de edital con- Sob a vigência do nº. 14.133/2.021, a Nova Lei de Licitações
tendo a especificação da solução que atenda às suas necessidades
trouxe em seu art. 33, a nova forma de julgamento, sendo que de
e os critérios objetivos a serem utilizados para seleção da proposta
agora em diante, as propostas deverão ser julgadas de acordo sob
mais vantajosa e abrir prazo, não inferior a 60 (sessenta) dias úteis,
os seguintes critérios:
para todos os licitantes pré-selecionados na forma do inciso II deste
1. Menor preço;
parágrafo apresentarem suas propostas, que deverão conter os ele-
mentos necessários para a realização do projeto. 2. Maior desconto;
3. Melhor técnica ou conteúdo artístico;
Habilitação, Julgamento e recursos 4. Técnica e preço;
Habilitação 5. Maior lance, no caso de leilão;
Com determinação expressa no Capítulo VI da Nova Lei de Lici- 6. Maior retorno econômico.
tações, art. 62, denota-se que a habilitação se mostra como a fase Observa-se que os títulos por si só já dão a noção a respeito do
da licitação por meio da qual se verifica o conjunto de informações seu funcionamento, bem como já foram estudados anteriormente
e documentos necessários e suficientes para demonstrar a capaci- nesta obra. Entretanto, é possível afirmar que a maior novidade,
dade do licitante de realizar o objeto da licitação. trata-se do critério de maior retorno econômico, que é uma espécie
Registra-se no dispositivo legal, que os critérios inseridos foram de licitação usada somente para certames cujo objeto seja contrato
renovados pela Nova Lei, como por exemplo, a previsão em lei de de eficiência de forma geral.
aceitação de balanço de abertura. Nesta espécie de contrato, busca-se o resultado econômico
No que condiz à habilitação econômico-financeira, com supe- que proporcione a maior vantagem advinda de uma obra, serviço
dâneo legal no art. 68 da Nova Lei, observa-se que possui utilidade ou bem, motivo pelo qual, a melhor proposta deverá ser aquela que
para demonstrar que o licitante se encontra dotado de capacidade trouxer um maior retorno econômico.
para sintetizar com suas possíveis obrigações futuras, devendo a
mesma ser comprovada de forma objetiva, por intermédio de coefi- Recursos
cientes e índices econômicos que deverão estar previstos no edital Com base legal no art. 71 da nova Lei de Licitações, não ocor-
e devidamente justificados no processo de licitação. rendo inversão de fases na licitação, pondera-se que os recursos em
De acordo com a Nova lei, os documentos exigidos para a ha- face dos atos de julgamento ou habilitação, deverão ser apresenta-
bilitação são: a certidão negativa de feitos a respeito de falência ex- dos no término da fase de habilitação, tendo em vista que tal ato
pedida pelo distribuidor da sede do licitante, e, por último, exige-se deverá acontecer em apenas uma etapa.
o balanço patrimonial dos últimos dois exercícios sociais, salvo das Caso os licitantes desejem recorrer a despeito dos atos do jul-
empresas que foram constituídas no lapso de menos de dois anos. gamento da proposta e da habilitação, denota-se que deverão se
Registra-se que base legal no art. 66 da referida Lei, habilita-
manifestar de imediato o seu desejo de recorrer, logo após o térmi-
ção jurídica visa a demonstrar a capacidade de o licitante exercer
no de cada sessão, sob pena de preclusão
direitos e assumir obrigações, e a documentação a ser apresentada
Havendo a inversão das fases com a habilitação de forma pre-
por ele limita-se à comprovação de existência jurídica da pessoa e,
cedente à apresentação das propostas, bem como o julgamento,
quando cabível, de autorização para o exercício da atividade a ser
contratada. afirma-se que os recursos terão que ser apresentados em dois in-
Já o art. 67, dispõe de forma clara a respeito da documentação tervalos de tempo, após a fase de habilitação e após o julgamento
exigida para a qualificação técnico-profissional e técnico-operacio- das propostas.
nal. Vejamos:
Art. 67. A documentação relativa à qualificação técnico-profis- Adjudicação e homologação
sional e técnico-operacional será restrita a: O Direito Civil Brasileiro conceitua a adjudicação como sendo
I - apresentação de profissional, devidamente registrado no o ato por meio do qual se declara, cede ou transfere a propriedade
conselho profissional competente, quando for o caso, detentor de de uma pessoa para outra. Já o Direito Processual Civil a conceitua
atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou ser- como uma forma de pagamento feito ao exequente ou a terceira
viço de características semelhantes, para fins de contratação; pessoa, por meio da transferência dos bens sobre os quais incide
II - certidões ou atestados, regularmente emitidos pelo conse- a execução.
lho profissional competente, quando for o caso, que demonstrem Ressalta-se que os procedimentos legais de adjudicação têm
capacidade operacional na execução de serviços similares de com- início com o fim da fase de classificação das propostas. Adilson
plexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior, bem Dallari (1992:106), doutrinariamente separando as fases de classi-
como documentos comprobatórios emitidos na forma do § 3º do ficação e adjudicação, ensina que esta não é de cunho obrigatório,
art. 88 desta Lei; embora não seja livre.

139
DIREITO ADMINISTRATIVO
Podemos conceituar a homologação como o ato que perfaz o § 1º O critério de julgamento de menor preço por grupo de
encerramento da licitação, abrindo espaço para a contratação. Ho- itens somente poderá ser adotado quando for demonstrada a invia-
mologação é a aprovação determinada por autoridade judicial ou bilidade de se promover a adjudicação por item e for evidenciada a
administrativa a determinados atos particulares com o fulcro de sua vantagem técnica e econômica, e o critério de aceitabilidade de
produzir os efeitos jurídicos que lhes são pertinentes. preços unitários máximos deverá ser indicado no edital.
Considera-se que a homologação do processo de licitação re- § 2º Na hipótese de que trata o § 1º deste artigo, observados
presenta a aceitação da proposta. De acordo com Sílvio Rodrigues os parâmetros estabelecidos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 23 desta Lei,
(1979:69), a aceitação consiste na “formulação da vontade concor- a contratação posterior de item específico constante de grupo de
dante e envolve adesão integral à proposta recebida.” itens exigirá prévia pesquisa de mercado e demonstração de sua
Registre-se por fim, que a homologação vincula tanto a Admi- vantagem para o órgão ou entidade.
nistração como o licitante, para buscar o aperfeiçoamento do con- § 3º É permitido registro de preços com indicação limitada a
trato. unidades de contratação, sem indicação do total a ser adquirido,
apenas nas seguintes situações:
Registro de preços I - quando for a primeira licitação para o objeto e o órgão ou
Registro de preços é a modalidade de licitação que se encontra entidade não tiver registro de demandas anteriores;
apropriada para possibilitar diversas contratações que sejam conco- II - no caso de alimento perecível;
mitantes ou sucessivas, sem que haja a realização de procedimento III - no caso em que o serviço estiver integrado ao fornecimento
de licitação de forma específica para cada uma destas contratações. de bens.
Registra-se que o referido sistema é útil tanto a um, quanto a § 4º Nas situações referidas no § 3º deste artigo, é obrigatória
mais órgãos pertencentes à Administração. a indicação do valor máximo da despesa e é vedada a participação
De modo geral, o registro de preços é usado para compras cor- de outro órgão ou entidade na ata.
riqueiras de bens ou serviços específicos, em se tratando daqueles § 5º O sistema de registro de preços poderá ser usado para
que não se sabe a quantidade que será preciso adquirir, bem como a contratação de bens e serviços, inclusive de obras e serviços de
quando tais compras estiverem sob a condição de entregas parcela- engenharia, observadas as seguintes condições:
das. O objetivo destas ações é evitar que se formem estoques, uma I - realização prévia de ampla pesquisa de mercado;
vez que estes geram alto custo de manutenção, além do risco de II - seleção de acordo com os procedimentos previstos em re-
tais bens vir a perecer ou deteriorar. gulamento;
Por fim, vejamos os dispositivos legais contidos na Nova lei de III - desenvolvimento obrigatório de rotina de controle;
Lictações que regem o sistema de registro de preços: IV - atualização periódica dos preços registrados;
Art. 82. O edital de licitação para registro de preços observará V - definição do período de validade do registro de preços;
as regras gerais desta Lei e deverá dispor sobre: VI - inclusão, em ata de registro de preços, do licitante que acei-
I - as especificidades da licitação e de seu objeto, inclusive a tar cotar os bens ou serviços em preços iguais aos do licitante vence-
quantidade máxima de cada item que poderá ser adquirida; dor na sequência de classificação da licitação e inclusão do licitante
II - a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou, que mantiver sua proposta original.
no caso de serviços, de unidades de medida; § 6º O sistema de registro de preços poderá, na forma de regu-
III - a possibilidade de prever preços diferentes: lamento, ser utilizado nas hipóteses de inexigibilidade e de dispen-
a) quando o objeto for realizado ou entregue em locais dife- sa de licitação para a aquisição de bens ou para a contratação de
rentes; serviços por mais de um órgão ou entidade.
b) em razão da forma e do local de acondicionamento; Art. 83. A existência de preços registrados implicará compro-
c) quando admitida cotação variável em razão do tamanho do misso de fornecimento nas condições estabelecidas, mas não obri-
lote; gará a Administração a contratar, facultada a realização de licita-
d) por outros motivos justificados no processo; ção específica para a aquisição pretendida, desde que devidamente
IV - a possibilidade de o licitante oferecer ou não proposta em motivada.
quantitativo inferior ao máximo previsto no edital, obrigando-se Art. 84. O prazo de vigência da ata de registro de preços será de
nos limites dela; 1 (um) ano e poderá ser prorrogado, por igual período, desde que
V - o critério de julgamento da licitação, que será o de menor comprovado o preço vantajoso.
preço ou o de maior desconto sobre tabela de preços praticada no Parágrafo único. O contrato decorrente da ata de registro de
mercado; preços terá sua vigência estabelecida em conformidade com as dis-
VI - as condições para alteração de preços registrados; posições nela contidas.
VII - o registro de mais de um fornecedor ou prestador de servi-
ço, desde que aceitem cotar o objeto em preço igual ao do licitante Revogação e anulação da licitação
vencedor, assegurada a preferência de contratação de acordo com De antemão, em relação à revogação e a anulação do proce-
a ordem de classificação; dimento licitatório, aplica-se o mesmo raciocínio, posto que caso
VIII - a vedação à participação do órgão ou entidade em mais tenha havido vício no procedimento, busca-se por vias legais o a
de uma ata de registro de preços com o mesmo objeto no prazo de possibilidade de corrigi-lo. Em se tratando de caso de vício que não
validade daquela de que já tiver participado, salvo na ocorrência de se possa sanar, ou haja a impossibilidade de saná-lo, a anulação se
ata que tenha registrado quantitativo inferior ao máximo previsto impõe. Entretanto, caso não exista qualquer espécie de vício no cer-
no edital; tame, mas, a contratação tenha sido deixada de ser considerada de
IX - as hipóteses de cancelamento da ata de registro de preços interesse público, impõe-se a aplicação da revogação.
e suas consequências Nos ditames do art. 62 da Lei nº 13.303/2016, após o início da
fase de apresentação de lances ou propostas, “a revogação ou a
anulação da licitação somente será efetivada depois de se conceder

140
DIREITO ADMINISTRATIVO
aos licitantes que manifestem interesse em contestar o respectivo Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
ato prazo apto a lhes assegurar o exercício do direito ao contraditó-
rio e à ampla defesa”. Perturbação de processo licitatório
Já na seara da lei nº 8.666/93, ressalta-se que a norma tratou • Os valores fixados na Lei, serão anualmente corrigidos pelo
de limitar a indicar, por meio do art. 49, §3º, que em caso de des- IPCA-E, nos termos do art. 182: O Poder Executivo federal atua-
fazimento do processo licitatório, ficará assegurado o contraditório lizará, a cada dia 1º de janeiro, pelo Índice Nacional de Preços ao
e a ampla defesa. Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) ou por índice que venha a subs-
Por fim, registra-se que em se tratando da obrigatoriedade da tituí-lo, os valores fixados por esta Lei, os quais serão divulgados no
aprovação de espaço aos licitantes interessados no exercício do di- PNCP.
reito ao contraditório e à ampla defesa, de forma anterior ao ato
de decisório de revogação e anulação, criou-se de forma tradicio-
nal diversos debates tanto na doutrina quanto na jurisprudência
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
nacional. Um exemplo da informação acima, trata-se dos diversos
julgados que ressalvam a aplicação contida no art. 49, §3º da Lei
8.666/1.993 nas situações de revogação de licitação antes de sua LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992
homologação. Pondera-se que esse entendimento afirma que o
contraditório e a ampla defesa apenas seriam exigíveis quando o Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de
procedimento de licitação tiver sido concluído. atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37
Obs. Importante: Ainda que em situações por meio das quais é da Constituição Federal; e dá outras providências. (Redação dada
considerado dispensável dar a oportunidade aos licitantes do con- pela Lei nº 14.230, de 2021)
traditório e a ampla defesa, a obrigação da administração em mo-
tivar o ato revogatório não será afastada, uma vez que devendo se O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Na-
ater aos princípios da transparência e da motivação, o gestor por cional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
força de lei, deverá sempre evidenciar as razões pelas quais foram
fundamentadas a conclusão pela revogação do certame, bem como CAPÍTULO I
os motivos de não prosseguir com o processo licitatório. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Breves considerações adicionais acerca das mudanças no pro- Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade
cesso de licitação após a aprovação da Lei 14.133/2.021 administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no
• Com a aprovação da Nova Lei, nos ditames do §2º do art. 17, exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade
será utilizada como regra geral, a forma eletrônica de contratação do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada
para todos os procedimentos licitatórios. pela Lei nº 14.230, de 2021)
• Como exceção, caso seja preciso que a forma de contratação Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
seja feita presencialmente, o órgão deverá expor os motivos de fato de 2021)
e de direito no processo administrativo, porém, ficará incumbido da § 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as con-
obrigação de gravar a sessão em áudio e também em vídeo. dutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados
• O foco da Nova Lei, é buscar o incentivo para o uso do siste- tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
ma virtual nos certames, vindo, assim, a dar mais competitividade, 2021)
segurança e isonomia para as licitações de forma geral. § 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcan-
• A Nova Lei de Licitações criou o PNCP (Portal Nacional de çar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não
Contratações Públicas), que irá servir como um portal obrigatório. bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230,
• Todos os órgãos terão obrigação de divulgar suas licitações, de 2021)
sejam eles federais, estaduais ou municipais. § 3º O mero exercício da função ou desempenho de compe-
• Art. 20. Os itens de consumo adquiridos para suprir as de- tências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito,
mandas das estruturas da Administração Pública deverão ser de afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa.
qualidade comum, não superior à necessária para cumprir as finali- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
dades às quais se destinam, vedada a aquisição de artigos de luxo. § 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta
• Art. 95, § 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sanciona-
a Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação dor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de serviços de pronto pagamento, assim entendidos aqueles de va- § 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organiza-
lor não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). ção do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do
• São atos da Administração Pública antes de formalizar ou patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju-
prorrogar contratos administrativos: verificar a regularidade fiscal diciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da
do contratado; consultar o Cadastro Nacional de Empresas idôneas União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Incluído
e suspensas (CEIS) e punidas (CNEP). pela Lei nº 14.230, de 2021)
• A Nova Lei de Licitações inseriu vários crimes do Código Pe- § 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbida-
nal, no que se refere às licitações, dentre eles, o art. 337-H do Có- de praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba
digo Penal de 1.940: subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes pú-
Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer mo- blicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Incluído
dificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor pela Lei nº 14.230, de 2021)
do contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a
Administração Pública sem autorização em lei, no edital da licitação
ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatu-
ra com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade:

141
DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, CAPÍTULO II
estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade pratica- DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
dos contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou SEÇÃO I
custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPOR-
receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à TAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (In-
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan-
§ 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente do em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato do-
de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ain- loso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
da que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de ati-
prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais vidade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire-
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referi- ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
das no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) agente público;
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou
ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, con- a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por
trato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de preço superior ao valor de mercado;
cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela Lei III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
nº 14.230, de 2021) cilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne-
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra mercado;
dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel,
pela Lei nº 14.230, de 2021) de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empre-
pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de im- gados ou de terceiros contratados por essas entidades; (Redação
probidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar,
Lei nº 14.230, de 2021) de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
caso o ato de improbidade administrativa seja também sanciona- VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
do como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técni-
12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de co que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre
2021) quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercado-
Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art.
Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) 1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de manda-
Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade to, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles,
que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público compe- bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput
tente, para as providências necessárias. (Redação dada pela Lei nº deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimô-
14.230, de 2021) nio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, agente da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela
de 2021) Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con-
erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te-
obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do pa- nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou
trimônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º atividade;
desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera-
transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária. ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara-
responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de repara- ção a que esteja obrigado;
ção integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferi- XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,
do, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en-
decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão tidades mencionadas no art. 1° desta lei;
ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores
intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei nº integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
14.230, de 2021) art. 1° desta lei.

142
DIREITO ADMINISTRATIVO
SEÇÃO II XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorpo-
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM ração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens,
PREJUÍZO AO ERÁRIO rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias,
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa sem a observância das formalidades legais ou regulamentares apli-
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efe- cáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
tiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela pela administração pública a entidade privada mediante celebração
Lei nº 14.230, de 2021) de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula-
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, (Vigência)
de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entida-
patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula-
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri- (Vigência)
vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fisca-
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a lização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis pela administração pública com entidades privadas; (Redação dada
à espécie; pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desper- XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração
sonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren- pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor-
das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada
legais e regulamentares aplicáveis à espécie; pela Lei nº 13.204, de 2015)
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tribu-
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
tário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei nº
por preço inferior ao de mercado;
14.230, de 2021)
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
§ 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais
ou serviço por preço superior ao de mercado;
ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não
VI - realizar operação financeira sem observância das normas
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento
legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído
nea;
pela Lei nº 14.230, de 2021)
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser- § 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econô-
vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es- mica não acarretará improbidade administrativa, salvo se compro-
pécie; vado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído pela Lei nº
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo 14.230, de 2021)
seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra-
tivos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimo- SEÇÃO III
nial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATEN-
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza- TAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
das em lei ou regulamento;
X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio públi- contra os princípios da administração pública a ação ou omissão
co; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Reda-
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre- ção dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
gular; I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri- II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
queça ilicitamente; III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí- das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando
culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio- a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei nº
nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, 14.230, de 2021)
empregados ou terceiros contratados por essas entidades. IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou
objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associa- de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº
da sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei 14.230, de 2021)
nº 11.107, de 2005) V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi- de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitató-
ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali- rio, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto,
dades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005) ou de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)

143
DIREITO ADMINISTRATIVO
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores
desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, sus-
irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) pensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei- multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibi-
ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou ção de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário,
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pú- pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela Lei
blica com entidades privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019, de nº 14.230, de 2021)
2014) (Vigência) II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores
IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân-
X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cia, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autori- e proibição de contratar com o poder público ou de receber bene-
dade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio ma-
cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada
joritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; (Redação dada
na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes
pela Lei nº 14.230, de 2021)
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com-
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil
preendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído pela
de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida
Lei nº 14.230, de 2021)
pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recur-
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou in-
sos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º
diretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos;
enaltecimento do agente público e personalização de atos, de pro-
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
gramas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públi-
cos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2021)
de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplica- § 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos in-
ção deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do cisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma
agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com
si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, o poder público na época do cometimento da infração, podendo
de 2021) o magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos caráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas
de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis espe- as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela
ciais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade adminis- Lei nº 14.230, de 2021)
trativa instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz conside-
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de rar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado
que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para
de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das reprovação e prevenção do ato de improbidade. (Incluído pela Lei
normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído pela nº 14.230, de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021) § 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser con-
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem siderados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo
lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis a viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei nº
de sancionamento e independem do reconhecimento da produção 14.230, de 2021)
de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos. § 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devida-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) mente justificados, a sanção de proibição de contratação com o
§ 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indi- poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de
cação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sen- improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das
do necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica,
agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) conforme disposto no § 3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)
CAPÍTULO III § 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tute-
DAS PENAS lados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem
prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos,
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (Incluído pela
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de respon- Lei nº 14.230, de 2021)
sabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica, § 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorri-
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamen- do nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto
te, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021)

144
DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho
Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar de Contas poderá, a requerimento, designar representante para
o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei nº acompanhar o procedimento administrativo.
14.230, de 2021) Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser
§ 8º A sanção de proibição de contratação com o poder público formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indis-
deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Sus- ponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recompo-
pensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, sição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enrique-
observadas as limitações territoriais contidas em decisão judicial, cimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
conforme disposto no § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2021) § 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere
§ 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da
executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória. representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspen- § 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens a
são dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o inter- que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame e
valo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras man-
sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados
internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
CAPÍTULO IV § 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o
DA DECLARAÇÃO DE BENS caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração
no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao re-
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio- sultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabili-
nados à apresentação de declaração de imposto de renda e proven- dade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com funda-
tos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria mento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu
Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no ser- em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
viço de pessoal competente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de § 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a
2021) oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder com-
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) provadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste arti- circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a
go será atualizada anualmente e na data em que o agente público urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
deixar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função. § 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilí-
outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a cito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do § 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de
prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação dada dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por
pela Lei nº 14.230, de 2021) caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial,
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a
instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
CAPÍTULO V § 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da de-
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO JUDI- monstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apu-
CIAL rados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser pro-
Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad- cessado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
ministrativa competente para que seja instaurada investigação des- 2021)
tinada a apurar a prática de ato de improbidade. § 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei,
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei
assinada, conterá a qualificação do representante, as informações nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In-
sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
conhecimento. § 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à in-
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em disponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos
despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades es- da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
tabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a represen- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei. § 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem in-
determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação cidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de
que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agen- multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade
te. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis- § 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar ve-
tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de ículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semo-
procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im- ventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples
probidade. e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência

145
DIREITO ADMINISTRATIVO
desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a sub- § 9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas
sistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. (Incluí-
longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) do pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens § 10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos § 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, pode-
práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarre- rão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contes-
tar prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº tação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei
14.230, de 2021) nº 13.964, de 2019)
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de § 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor,
até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente. I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo,
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbida-
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de de; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de van- II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a
tagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei. instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá de-
Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta cisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbi-
Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento dade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar
comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. (Inclu-
de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 14.230, de 2021) § 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles pre-
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) vistos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)
§ 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo, as
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem pro-
§ 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser
duzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa
§ 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação
jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230, de
§ 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste ar-
2021)
tigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações poste-
I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na
riormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele
§ 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
Lei nº 14.230, de 2021) 2021)
I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elemen- § 11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexis-
tos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóte- tência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improce-
ses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossi- dente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
bilidade devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230, § 12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2021) § 13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - será instruída com documentos ou justificação que con- § 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica inte-
tenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo ressada será intimada para, caso queira, intervir no processo. (In-
imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação § 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa ju-
vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei rídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135,
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In- 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provi- § 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a exis-
sórias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da tência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a se-
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil rem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da
§ 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de im-
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), probidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº
bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
os incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamen- § 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação
te inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei nº civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará § 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre
autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não
no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Pro- § 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
cesso Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em
§ 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

146
DIREITO ADMINISTRATIVO
II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e § 5º As negociações para a celebração do acordo a que se re-
2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de fere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de
Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor.
III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade admi- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
nistrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do § 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá con-
Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros templar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de in-
de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de tegridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades
2021) e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em
de extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230, favor do interesse público e de boas práticas administrativas. (Inclu-
de 2021) ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a § 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o
legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo adminis- caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido
trador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do
venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento.
decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumen- Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere
to, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscita- esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº
das pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluí-
2021) do pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houve-
Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circuns- rem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; (Incluído
tâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil, pela Lei nº 14.230, de 2021)
desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (In- IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (Inclu-
14.230, de 2021) ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida;
obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230,
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste ar- de 2021)
tigo dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela Lei
2021) nº 14.230, de 2021)
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela
ou posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de Lei nº 14.230, de 2021)
2021) f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequên-
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo ór- cias advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; (Incluído pela
gão do Ministério Público competente para apreciar as promoções Lei nº 14.230, de 2021)
de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 2021)
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das san-
ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade ções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído pela
administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro,
o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a natu- quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua
reza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver
improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, da concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais
rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios obje-
deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que tivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei nº
se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo 14.230, de 2021)
de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso § 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocor-
da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença rerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qual-
condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) quer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

147
DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata CAPÍTULO VI
esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) DAS DISPOSIÇÕES PENAIS
Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de ca- Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida-
ráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor
seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas da denúncia o sabe inocente.
e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está su-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) jeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle imagem que houver provocado.
de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos
públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença con-
danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor denatória.
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer ou- § 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o
tro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urba- afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego
nística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for
e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática
7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos § 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até 90
arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, median-
perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, con- te decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
forme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo
§ 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10
jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressar- II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
cimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens. interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão con-
§ 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providên- siderados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a
cias a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis) meses, conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da § 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as
ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação
do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na con-
do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem pre- duta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
juízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. (Incluí- § 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à
do pela Lei nº 14.230, de 2021) ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da con-
§ 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão duta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela 2021)
Lei nº 14.230, de 2021) § 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fa-
§ 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (qua- tos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da
renta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débi- qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamen-
to resultante de condenação pela prática de improbidade adminis- tos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de
trativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei
imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) nº 14.230, de 2021)
Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da § 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deve-
sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras rão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta
já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual con- Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tinuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Minis-
seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrati-
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior va ou mediante representação formulada de acordo com o disposto
sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das pe- no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimen-
nas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230, to investigativo assemelhado e requisitar a instauração de inquérito
de 2021) policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei,
o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações
e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou cre- e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
ditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) 2021)
anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

148
DIREITO ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO VII Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não
DA PRESCRIÇÃO haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído pela
Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei Lei nº 14.230, de 2021)
prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato § 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais des-
ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a per- pesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº 14.230,
manência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada
III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) má-fé. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A instauração de inquérito civil ou de processo adminis- Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patri-
trativo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o monial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de re-
curso do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) cursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão
dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de
não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. (Incluído 1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será CAPÍTULO VIII
concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias corri- DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
dos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fun-
damentado submetido à revisão da instância competente do órgão Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de
1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
pela Lei nº 14.230, de 2021)
em contrário.
§ 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação de-
verá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso de ar-
quivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) AGENTES PÚBLICOS: DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo inter- REFERENTES AOS SERVIDORES PÚBLICOS.
rompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa; CONCEITO
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Em seu conceito mais amplo Agente Público é a pessoa física
II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído pela Lei que presta serviços às Pessoas Jurídicas da Administração Pública
nº 14.230, de 2021) Direta ou Indireta, também são aqueles que exercem função públi-
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Jus- ca, seja qual for a modalidade (mesário, jurado, servidor público,
tiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condena- etc.).
tória ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela Lei A Lei de Improbidade Administrativa (8.429/92) conceitua
nº 14.230, de 2021) Agente Público:
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribu- “Artigo 2° - Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,
nal de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remu-
acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) neração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qual-
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal quer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, empre-
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór- go ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior”.
dão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do Para o jurista administrativo Celso Antonio Bandeira de Mello
dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste “...esta expressão – agentes públicos – é a mais ampla que se pode
artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) conceber para designar genérica e indistintamente os sujeitos que
§ 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efei- servem ao Poder Público como instrumentos expressivos de sua von-
tos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato tade ou ação, ainda quando o façam apenas ocasional ou episodica-
de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) mente. Quem quer que desempenhe funções estatais, enquanto as
§ 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do exercita, é um agente público.”
mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer A denominação “agente público” é tratada como gênero das
diversas espécies que vinculam o indivíduo ao estado a partir da
deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
sua natureza jurídica. As espécies do agente público podem ser di-
2021)
vididas como do qual são espécies os agentes políticos, servidores
§ 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público,
públicos (servidores estatais, empregado público, temporários e co-
deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhe-
missionados), particulares em colaboração, agentes militares e os
cer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decre- agentes de fato.
tá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no
§ 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo. (Incluído pela ESPÉCIES (CLASSIFICAÇÃO)
Lei nº 14.230, de 2021) Agentes públicos abrangem todas as demais categorias, sendo
Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua capacita- que alguns deles fazem parte da estrutura administrativa do Estado,
ção aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou seja em sua estrutura direta ou então na organização indireta.
repressão de atos de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei Outros, no entanto, não compõe os quadros internos da admi-
nº 14.230, de 2021) nistração Pública, isto é, são alheios ao aparelho estatal, permane-
cendo externamente.

149
DIREITO ADMINISTRATIVO
Vamos analisar cada uma dessas categorias: Possui vínculo estatutário sujeito a regime jurídico próprio, me-
a) Agentes políticos: agentes políticos exercem uma função diante remuneração paga pelos cofres públicos.
pública de alta direção do Estado. São os que ocupam lugar de co-
mando e chefia de cada um dos Poderes (Executivo, Legislativo e d) Particulares em colaboração / honoríficos: são prestadores
Judiciário). São titulares dos cargos estruturais à organização polí- de serviços ao Estado sem vinculação permanente de emprego e
tica do País. sem remuneração. Essa categoria de agentes públicos pode ser
Ingressam em regra, por meio de eleições, desempenhando prestada de diversas formas, segundo entendimento de Celso An-
mandatos fixos e quando termina o mandato a relação com o Esta- tônio Bandeira de Mello, se dá por:
do também termina automaticamente. - requisitados de serviço: como mesários e convocados para o
A vinculação dos agentes políticos com o aparelho governa- serviço militar (conscritos);
mental não é profissional, mas institucional e estatutária. - gestores de negócios públicos: são particulares que assumem
Os agentes políticos serão remunerados exclusivamente por espontaneamente uma tarefa pública, em situações emergenciais,
subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer quando o Estado não está presente para proteger o interesse pú-
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou blico.
outra espécie remuneratória. - contratados por locação civil de serviços: é o caso, por exem-
plo, de jurista famoso contratado para emitir um parecer;
b) Servidores Públicos: são as pessoas que executam serviços - concessionários e permissionários: exercem função pública
ao Estado e também às entidades da Administração Pública direta e por delegação estatal;
indireta (sentido amplo). Os servidores têm vínculo empregatício e - delegados de função ou ofício público: é o caso dos titulares
sua remuneração é paga pelos cofres públicos. de cartórios.
Também chamados de servidores estatais engloba todos aque-
les que mantêm com o Estado relação de trabalho de natureza pro- e) Agentes de fato: é o particular que sem vínculo formal e le-
fissional, de caráter não eventual e sob o vínculo de dependência. gítimo com o Estado exerce função pública, acreditando estar de
Servidores públicos podem ser: boa-fé e com o objetivo de atender o interesse público. Neste caso,
- estatutários: são os ocupantes de CARGOS PÚBLICOS e estão não há investidura prévia nos cargos, empregos e funções públicas.
sob o regime estatutário. Quando nomeados, ingressam numa situ- Agente de fato putativo: é aquele que desempenha atividade
ação jurídica previamente definida, à qual se submetem com o ato pública com a presunção de que tem legitimidade, mas há alguma
da posse. Assim, não tem como modificar as normas vigentes por ILEGALIDADE em sua INVESTIDURA. É aquele servidor que toma
meio de contrato entre o servidor e a Administração, mesmo que posse sem cumprir algum requisito do cargo.
com a concordância de ambos, por se tratar de normas de ordem Agentes de fato necessário: são os que atuam em situações de
pública. Não há contrato de trabalho entre os estatutários e a Ad- calamidade pública ou emergência.
ministração, tendo em vista sua natureza não contratual mas sim
regida por um estatuto jurídico condicionada ao termo de posse. CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICA
- empregados públicos: são ocupantes de empregos públicos Cargo, emprego e função pública são tipos de vínculos de tra-
contratados sob o regime da CLT, com vínculo contratual, precisam balho na Administração Pública ocupadas por servidores públicos.
de aprovação em concurso público ou processo seletivo e sua de- A Constituição Federal, em vários dispositivos, emprega os vocábu-
missão precisa ser motivada; los cargo, emprego e função para designar realidades diversas, po-
- temporários ou em regime especial: são os contratados por rém que existem paralelamente na Administração.
tempo determinado, com base no artigo 37, IX, CF. Não ocupam
cargos ou empregos públicos e não exige aprovação em concurso Cargo público: unidade de atribuições e competências funcio-
público, mas a Administração Pública deve respeitar os princípios nais. É o lugar dentro da organização funcional da Administração
constitucionais da impessoalidade e da moralidade, realizando um Direta de suas autarquias e fundações públicas que, ocupado por
processo seletivo simplificado. servidor público, submetidos ao regime estatuário.
Possui funções específicas e remuneração fixada em lei ou di-
Para que tenha a contratação de temporários, se faz necessária ploma a ela equivalente. Todo cargo tem uma função, porém, nem
a existência de lei regulamentadora, com a previsão dos casos de toda função pressupõe a existência de um cargo.
contratação, o prazo da contratação, a necessidade temporária e a Para Celso Antônio Bandeira de Mello são as mais simples e
motivação do interesse público. indivisíveis unidades de competência a serem titularizadas por um
- cargos comissionados: são os de livre nomeação e exonera- agente. São criados por lei, previstos em número certo e com de-
ção, tem caráter provisório e se destina às atribuições de direção, nominação própria.
chefia e assessoramento. Os efetivos também podem ser comissio- Com efeito, as várias competências previstas na Constituição
nados. Ao servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissão para a União, Estados e Municípios são distribuídas entre seus res-
aplica-se o regime geral de previdência social previsto na Constitui- pectivos órgãos, cada qual dispondo de determinado número de
ção Federal, artigo 40, § 13. cargos criados por lei, que lhes confere denominação própria, defi-
ne suas atribuições e fixa o padrão de vencimento ou remuneração.
c) Agentes militares: são as pessoas físicas que prestam ser-
viços à Forças Armadas (Marinha, Aeronáutica, Exército - art. 142, Empregos públicos: são núcleos de encargos de trabalho per-
caput, e § 3º, CF, Polícias Militares, Corpo de Bombeiros - art. 42, manentes a serem preenchidos por pessoas contratadas para de-
CF). sempenhá-los, sob relação jurídica trabalhista (CLT) de natureza
Aqueles que compõem os quadros permanentes das forças contratual e somente podem ser criados por lei.
militares possuem vinculação estatutária, e não contratual, mas o
regime jurídico é disciplinado por legislação específica diversa da
aplicável aos servidores civis.

150
DIREITO ADMINISTRATIVO
Função pública: é a atividade em si mesma, é a atribuição, as do cargo ocupado ou destinado a reintegração de servidor), seja
tarefas desenvolvidas pelos servidores. São espécies: no mesmo cargo anteriormente ocupado ou em cargo equivalente
a) Funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi- quanto as atribuições e vencimentos.
dores ocupantes de cargo efetivo, e destinadas ás atribuições de f) Reintegração: retorno de servidor ilegalmente desligado de
chefia, direção e assessoramento; seu cargo. O reconhecimento do direito a reintegração pode decor-
b) Funções exercidas por contratados por tempo determinado rer de decisão proferida na esfera administrativa ou judicial.
para atender a necessidade temporária de excepcional interesse g) Recondução: retorno de servidor estável ao cargo que an-
público, nos termos da lei autorizadora, que deve advir de cada teriormente ocupava, seja por não ter sido habilitado no estágio
ente federado. probatório relativo a outro cardo para o qual tenha sido nomeado
ou por ter sido desalojado do cargo em razão de reintegração do
REGIME JURÍDICO servidor que ocupava o cargo anteriormente.
Regime jurídico dos servidores públicos é o conjunto de nor-
mas e princípios referentes a direitos, deveres e demais regras ju- Vacância
rídicas normas que regem a vida funcional do servidor. A lei que A vacância é a situação jurídica atribuída a um cargo que está
reúne estas regras é denominada de Estatuto e o regime jurídico sem ocupante. Vários fatos levam à vacância, entre os quais:
passa a ser chamado de regime jurídico Estatutário. - o servidor pediu o desligamento (exoneração a pedido);
No âmbito de cada pessoa política - União, Estados, Distrito Fe- - o servidor foi desligado do cargo em comissão ou não iniciou
deral e Municípios - há um Estatuto. A Lei nº 8.112 de 11/12/1990 exercício (exoneração ex officio);
(por exemplo) estabeleceu que o regime jurídico Estatutário é o - o servidor foi punido com a perda do cargo (demissão);
aplicável aos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e - o servidor passou a exercer outro cargo ante limitações em
fundações públicas federais, ocupantes de cargos públicos. sua capacidade física ou mental (readaptação);
- aposentadoria ou falecimento do servidor;
Provimento - acesso ou promoção.
Segundo Hely Lopes Meirelles, é o ato pelo qual se efetua o
preenchimento do cargo público, com a designação de seu titular. Para Di Pietro3, vacância é o ato administrativo pelo qual o ser-
Configura-se no ato de designação de um sujeito para titularizar vidor é destituído do cargo, emprego ou função.
cargo público Podendo ser: Decorre de exoneração, demissão, aposentadoria, promoção e
a) originário ou inicial: quando o agente não possui vinculação falecimento. O artigo 33 da Lei 8.112/90 prevê ainda a readaptação
anterior com a Administração Pública; e a posse em outro cargo inacumulável. Mas a ascensão e a trans-
b) derivado: pressupõe a existência de um vínculo com a Ad- formação deixaram de existir por força da Lei 9.527/97.
ministração. A exoneração não é penalidade; ela se dá a pedido ou ex offi-
cio, neste caso quando se tratar de cargo em comissão ou função
Posse: é o ato pelo qual uma pessoa assume, de maneira efe- de confiança; no caso de cargo efetivo, quando não satisfeitas as
tiva, o exercício das funções para que foi nomeada, designada ou exigências do estágio probatório ou quando, tendo tomado posse,
eleita, ou seja, é sua investidura no cargo público. O ato da posse o servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido.
determina a concordância e a vontade do sujeito em entrar no exer- Já a demissão constitui penalidade decorrente da prática de ilí-
cício, além de cumprir a exigência regulamentar.
cito administrativo; tem por efeito desligar o servidor dos quadros
do funcionalismo.
Exercício: é o momento em que o servidor dá início ao desem-
A promoção é, ao mesmo tempo, ato de provimento no cargo
penho de suas atribuições de trabalho. A data do efetivo exercício
superior e vacância no cargo inferior.
é considerada como o marco inicial para a produção de todos os
A readaptação, segundo artigo 24 da 8.112/90, “é a investidura
efeitos jurídicos da vida funcional do servidor público e ainda para
do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatí-
o início do período do estágio probatório, da contagem do tempo
veis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou
de contribuição para aposentadoria, período aquisitivo para a per-
mental verificada em inspeção médica”.
cepção de férias e outras vantagens remuneratórias.
São formas de provimento: nomeação, promoção, readapta-
ção, reversão, aproveitamento, reintegração e recondução. Efetividade, estabilidade e vitaliciedade
a) Nomeação: é o único caso de provimento originário, já que o Efetividade: cargos efetivos são aqueles que se revestem de ca-
servidor dependerá da aprovação prévia em concurso público e não ráter de permanência, constituindo a maioria absoluta dos cargos
possuirá relação anterior com o Estado; integrantes dos diversos quadros funcionais.
b) Promoção: é forma de provimento derivado (neste caso o Com efeito, se o cargo não é vitalício ou em comissão, terá que
agente público já se encontra ocupando o cargo) onde o servidor ser necessariamente efetivo. Embora em menor escala que nos
passará a exercer um cargo mais elevado dentro da carreira exer- cargos vitalícios, os cargos efetivos também proporcionam segu-
cida. rança a seus titulares; a perda do cargo, segundo art. 41, §1º da
c) Readaptação: espécie de transferência efetuada com a finali- Constituição Federal, só poderá ocorrer, quando estáveis, se houver
dade de prover o servidor em outro cargo compatível com eventual sentença judicial ou processo administrativo em que se lhes faculte
limitação de capacidade física ou mental, condicionada a inspeção ampla defesa, e agora também em virtude de avaliação negativa de
médica. desempenho durante o período de estágio probatório.
d) Reversão: trata-se do reingresso de servidor aposentado de
seu ofício por não subsistirem mais as razões que lhe determinarão Estabilidade: confere ao servidor público a efetiva permanên-
a aposentadoria por invalidez. cia no serviço após três anos de estágio probatório, após os quais
e) Aproveitamento: relaciona-se com a retomada do servidor só perderá o cargo se caracterizada uma das hipóteses previstas no
posto em disponibilidade (ato pelo qual se transfere o servidor à artigo 41, § 1º, ou artigo 169, ambos da CF.
inatividade remunerada de servidor estável em razão de extinção
3 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, 31ª edição, 2018

151
DIREITO ADMINISTRATIVO
Hipóteses: Por se tratar de prerrogativa constitucional, em função da qual
a) em razão de sentença judicial com trânsito em julgado (art. cabe ao Constituinte aferir a natureza do cargo e da função para
41, §1º, I, da CF); atribuí-la, não podem Constituições Estaduais e Leis Orgânicas mu-
b) por meio de processo administrativo em que lhe seja assegu- nicipais, nem mesmo lei de qualquer esfera, criar outros cargos com
rada a ampla defesa (art. 41, § 1º, II, da CF); a garantia da vitaliciedade. Consequentemente, apenas Emenda à
c) mediante procedimento de avaliação periódica de desempe- Constituição Federal poderá fazê-lo.
nho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa (art.
41, § 1º, III, da CF); Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e fun-
d) em virtude de excesso de despesas com o pessoal ativo e ções públicas
inativo, desde que as medidas previstas no art. 169, § 3º, da CF, não Com efeito, as várias competências previstas na Constituição
surtam os efeitos esperados (art. 169, § 4º, da CF). para a União, Estados e Municípios são distribuídas entre seus res-
pectivos órgãos, cada qual dispondo de determinado número de
A estabilidade é a prerrogativa atribuída ao servidor que pre- cargos criados por lei, que lhes confere denominação própria, defi-
encher os requisitos estabelecidos na Constituição Federal que lhe ne suas atribuições e fixa o padrão de vencimento ou remuneração.
garante a permanência no serviço. Criar um cargo é oficializá-lo, atribuindo a ele denominação
O servidor estável, que tiver seu cargo extinto, não estará fora própria, número certo, funções determinadas, etc. Somente se cria
da Administração Pública, porque a norma constitucional lhe garan- um cargo por meio de lei, logo cada Poder, no âmbito de suas com-
te estabilidade no serviço e não no cargo. Nesta hipótese o servidor petências podem criar um cargo por meio da lei. No caso dos cargos
é colocado em disponibilidade remunerada, seguindo o disposto no públicos da União, o vencimento é pago pelos cofres públicos, para
art. 41, § 3.º, da Constituição sendo sua remuneração calculada de provimento em caráter efetivo ou em comissão.
forma proporcional ao tempo de serviço. A transformação ocorre quando há modificação ou alteração
O servidor aprovado em concurso público de cargo regido pela na natureza do cargo de forma que, ao mesmo tempo em que o
lei 8112/90 e consequentemente nomeado passará por um período cargo é extinto, outro é criado. Somente se dá por meio de lei e há
de avaliação, terá o novo servidor que comprovar no estágio proba- o aproveitamento de todos os servidores quando o novo cargo tiver
tório que tem aptidão para exercer as atividades daquele cargo para o mesmo nível e atribuições compatíveis com o anterior.
o qual foi nomeado em tais fatores: A extinção corresponde ao fim do cargo e também deve ser
a) Assiduidade; efetuada por meio de lei.
b) Disciplina; No entanto, o art. 84, VI, “b” da Constituição Federal revela
c) Capacidade de iniciativa; exceção a norma geral ao atribuir competência para o Presidente
d) Produtividade; da República para dispor, mediante decreto, sobre a extinção de
e) Responsabilidade. funções ou cargos públicos quando vagos.

Atualmente o prazo mencionado de 3 anos de efetivo exercício Desvio de função


para o servidor público (de forma geral), adquirir estabilidade é o O servidor público deve exercer suas atividades funcionais res-
que está previsto na Constituição, que foi alterado após a Emenda peitando as competências e atribuições previstas para o cargo que
nº 19/98. ocupa. Cumpre ressaltar que a lei que cria o cargo estabelece quais
Muito embora, a Lei nº 8.112/90, no artigo 20 cite o prazo de 2 são os limites das atribuições e competências do cargo.
anos, para que o servidor adquira estabilidade devemos considerar No entanto, não raro identificar o servidor exercendo atribui-
que o correto é o texto inserido na Constituição Federal, repita-se 3 çoes diversas daquelas previstas em lei para o cargo atualmente
anos de efetivo exercício. ocupado.
Como não houve uma revogação expressa de tais normas elas Por definição, o desvio de função do servidor público ocorre
permanecem nos textos legais, mesmo que na prática não são apli- quando este desempenha função diversa daquela correspondente
cadas, pois ferem a CF (existe uma revogação tácita dessas normas). ao cargo por ele legalmente investido mediante aprovação em con-
curso público.
- Requisitos para adquirir estabilidade: Quando constatada a ocorrência de desvio de função, o servi-
a) estágio probatório de três anos; dor que teve suas atribuições desviadas faz jus a indenização relati-
b) nomeação em caráter efetivo; vas as diferenças salarias decorrentes do desvio.
c) aprovação em avaliação especial de desempenho. Este é o entendimento já consolidado pelo Superior Tribunal de
Justiça que editou Sumula a respeito.
Vitaliciedade: Cargos vitalícios são aqueles que oferecem a Súmula nº 378 STJ
maior garantia de permanência a seus ocupantes. Somente através “Reconhecido o desvio de função, o servidor faz jus às diferen-
de processo judicial, como regra, podem os titulares perder seus ças salariais decorrentes”.
cargos (art. 95, I, CF). Desse modo, torna-se inviável a extinção do
vínculo por exclusivo processo administrativo (salvo no período ini- Importante esclarecer que em caso de desvio de função, o ser-
cial de dois anos até a aquisição da prerrogativa). A vitaliciedade vidor público que teve as atribuições do cargo para o qual foi inves-
configura-se como verdadeira prerrogativa para os titulares dos tido desviadas não tem direito ao reenquadramento funcional. Isso
cargos dessa natureza e se justifica pela circunstância de que é ne- porque inafastável o princípio da imprescindibilidade de concurso
cessária para tornar independente a atuação desses agentes, sem público para o preenchimento de cargos pela administração públi-
que sejam sujeitos a pressões eventuais impostas por determina- ca, No entanto, tem direito a receber os vencimentos correspon-
dos grupos de pessoas. dentes à função desempenhada.
Existem três cargos públicos vitalícios no Brasil:
- Magistrados (Art. 95, I, CF); REMUNERAÇÃO
- Membros do Ministério Público (Art. 128, § 5º, I, “a”, CF); Vencimento: é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo
- Membros dos Tribunais de Contas (Art. 73, §3º). público, com valor fixado em lei.

152
DIREITO ADMINISTRATIVO
Remuneração: é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das Direito de Petição: o direito de petição existe para a defesa do
vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. O acrés- direito ou interesse legítimo. É instrumento utilizado pelo servidor
cimo de vantagens permanentes ao vencimento do cargo efetivo é e dirigido à autoridade competente que deve decidir.
irredutível.
Constitui vedação legal o pagamento de remuneração inferior RESPONSABILIDADE
ao salário mínimo Ao exercer funções públicas, os servidores públicos não estão
desobrigados de se responsabilizar por seus atos, tanto atos públi-
IMPORTANTE: tanto o vencimento com a remuneração e o pro- cos quanto atos administrativos, além dos atos políticos, dependen-
vento não serão objeto de arresto, seqüestro ou penhora, exceto do de sua função, cargo ou emprego.
nos casos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial. Esta responsabilidade é algo indispensável na atividade admi-
nistrativa, ou seja, enquanto houver exercício irregular de direito ou
DIREITOS E DEVERES de poder a responsabilidade deve estar presente.
Os direitos e vantagens dos servidores públicos, quais sejam: Quanto o Estado repara o dano, em homenagem à responsa-
vencimento, indenizações, gratificações, diárias, adicionais, férias, bilidade objetiva do Estado, fica com direito de regresso contra o
licenças, concessões e direito de petição. responsável que efetivamente causou o dano, isto é, com o direito
Indenizações: de acordo com o art. 51 da Lei nº 8.112/90 as in- de recuperar o valor da indenização junto ao agente que causador
denizações são constituídas pela ajuda de custo, diárias, transporte do dano.
e auxílio moradia. Efetivamente, o direito de regresso, em sede de responsabilida-
Ajuda de custo: A ajuda de custo destina-se a compensar as de estatal, configura-se na pretensão do Estado em buscar do seu
despesas de instalação do servidor que, no atendimento do inte- agente, responsável pelo dano, a recomposição do erário, uma vez
resse do serviço, passar a ter exercício em nova sede, desde que desfalcado do montante destinado ao pagamento da indenização
acarrete mudança de domicílio em caráter permanente. à vítima.
Constitui vedação legal o duplo pagamento de indenização, a Nesse aspecto, o direito de regresso é o direito assegurado ao
qualquer tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que dete- Estado no sentido de dirigir sua pretensão indenizatória contra o
nha também a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma agente responsável pelo dano, quando tenha este agido com culpa
sede. ou dolo.
Diárias: essa prerrogativa está regulamentada no art. 58 da Lei Neste contexto, o agente público poderá ser responsabilizado
nº 8.112/90. É devida ao servidor que se afastar da sede em caráter nos âmbitos civil, penal e administrativo.
eventual ou transitório para outro ponto do território nacional ou
para o exterior. São destinadas a indenizar as parcelas de despesas a) Responsabilidade Civil: A responsabilidade civil decorre de
extraordinárias com pousada, alimentação e locomoção urbana. ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em pre-
Gratificações e Adicionais: são tratados no art. 61 da Lei nº juízo ao erário ou a terceiros.
8.112/90 que as discrimina, a saber: Neste caso, responsabilidade civil se refere à responsabilidade
- retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as- patrimonial, que faz referência aos Atos Ilícitos e que traz consigo a
sessoramento, regra geral da responsabilidade civil, que é de reparar o dano cau-
- gratificação natalina, sado a outrem.
- adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou A Administração Pública, confirmada a responsabilidade de
penosas, seus agentes, como preceitua a no art.37, §6, parte final do Texto
- adicional pela prestação de serviço extraordinário, Maior, é “assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
- adicional noturno, casos de dolo ou culpa”, descontará nos vencimentos do servidor
- adicional de férias, público, respeitando os limites mensais, a quantia exata para o res-
- outros (relativos ao local ou à natureza do trabalho), sarcimento do dano.
- gratificação por encargo de curso ou concurso.
b) Responsabilidade Administrativa: A responsabilidade admi-
Férias: é um direito que o servidor alcança após cumprir o pe- nistrativa é apurada em processo administrativo, assegurando-se
ríodo aquisitivo (12 meses). Consiste em um período de 30 dias de ao servidor o contraditório e a ampla defesa.
descanso que podem ser cumuladas até o máximo de dois perío- Uma vez constatada a prática do ilícito administrativo, ficará
dos, bem como podem ser parceladas em até três etapas. o servidor sujeito à sanção administrativa adequada ao caso, que
Licenças: de acordo com o art. 81 da referida lei a licença é con- poderá ser advertência, suspensão, demissão, cassação de aposen-
cedida por motivo de doença em pessoa da família, de afastamento tadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão ou
do cônjuge ou companheiro, para o serviço militar, para a atividade destituição de função comissionada.
política, para capacitação, para tratar de interesses particulares e
para desempenho de mandato classista. A penalidade deve sempre ser motivada pela autoridade com-
Concessões: existem quando é permitido ao servidor se ausen- petente para sua aplicação, sob pena de nulidade.
tar sem ter que arcar com quaisquer prejuízos. Se durante a apuração da responsabilidade administrativa a
O art. 97 da Lei nº 8.112/90 elenca as hipóteses de concessão, autoridade competente verificar que o ilícito administrativo tam-
vejamos: bém está capitulado como ilícito penal, deve encaminhar cópia do
- por um dia para doação de sangue, processo administrativo ao Ministério Público, que irá mover ação
- pelo período comprovadamente necessário para alistamen- penal contra o servidor
to ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso a dois
dias, c) Responsabilidade Penal: A responsabilidade penal do servi-
- por oito dias consecutivos em razão de casamento, falecimen- dor é a que resulta de uma conduta tipificada por lei como infração
to de cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, en- penal. A responsabilidade penal abrange crimes e contravenções
teados, menor sob guarda ou tutela ou irmãos. imputadas ao servidor, nessa qualidade.

153
DIREITO ADMINISTRATIVO
Os crimes funcionais estão definidos no Código Penal, artigos Das Proibições
312 a 326, como o peculato, a concussão, a corrupção passiva, a De acordo com o estatuto federal, aplicável aos Servidores Pú-
prevaricação etc. Outros estão previstos em leis especiais federais. blicos Civis da União, das autarquias e fundações públicas federais,
A responsabilidade penal do servidor é apurada em Juízo Cri- ocupantes de cargos público, seu artigo 117 traz um rol de proibi-
minal. Se o servidor for responsabilizado penalmente, sofrerá uma ções sendo elas:
sanção penal, que pode ser privativa de liberdade (reclusão ou de- - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au-
tenção), restritiva de direitos (prestação pecuniária, perda de bens torização do chefe imediato;
e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públi- - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qual-
cas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana) quer documento ou objeto da repartição;
ou multa (Código Penal, art. 32). - recusar fé a documentos públicos;
Importante ressaltar que a decisão penal, apurada por causa - opor resistência injustificada ao andamento de documento e
da responsabilidade penal do servidor, só terá reflexo na responsa- processo ou execução de serviço;
bilidade civil do servidor se o ilícito penal tiver ocasionado prejuízo - promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto
patrimonial (ilícito civil). da repartição;
- cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previs-
Nos termos do que estabelece o artigo 125 da Lei 8.112/90, as tos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabi-
sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo lidade ou de seu subordinado;
independentes entre si.
- coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a as-
A responsabilidade administrativa do servidor será afastada
sociação profissional ou sindical, ou a partido político;
se, no processo criminal, o servidor for absolvido por ter sido de-
- manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de con-
clarada a inexistência do fato ou, quando o fato realmente existiu,
fiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil;
não tenha sido imputada sua autoria ao servidor. Notem que, se o
servidor for absolvido por falta ou insuficiência de provas, a respon- - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem,
sabilidade administrativa não será afastada. em detrimento da dignidade da função pública;
- participar de gerência ou administração de sociedade privada,
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na
O Regime Disciplinar é o conjunto de deveres, proibições, que qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
geram responsabilidades aos agentes públicos. Descumprido este
rol, se apura os ilícitos administrativos, onde gera as sanções dis- A essa vedação existe duas exceções, já que o servidor poderá:
ciplinares. I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em-
Com o intuito de responsabilizar quem comete faltas adminis- presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta-
trativas, atribui-se à Administração o Poder Disciplinar do Estado, mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa
que assegura a responsabilização dos agentes públicos quando co- constituída para prestar serviços a seus membros;
mentem ações que contrariam seus deveres e proibições relacio- II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na
nados às atribuições do cargo, função ou emprego de que estão forma do art. 91 (8.112), observada a legislação sobre conflito de
investidos. Por consequência dos descumprimentos legais, há a interesses.
aplicação de sanções disciplinares, conforme dispõe a legislação. - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições
públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou
Dos Deveres assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou com-
Via de regra, os estatutos listam condutas e proibições a serem panheiro;
observadas pelos servidores, configurando, umas e outras, os seus - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual-
deveres como dois lados da mesma moeda. Por exemplo: a proibi- quer espécie, em razão de suas atribuições;
ção de proceder de forma desidiosa equivale ao dever de exercer - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro;
com zelo as atribuições do cargo. Por isso, podem ser englobados - praticar usura sob qualquer de suas formas;
sob a rubrica “deveres” os que os estatutos assim intitulam e os que - proceder de forma desidiosa;
os estatutos arrolam como proibições. - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em servi-
- Dever de Agir: Devem os administradores agirem em benefí-
ços ou atividades particulares;
cio da coletividade.
- cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que
- Dever de Probidade: O agente público deve agir de forma
ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;
honesta e em conformidade com os princípios da legalidade e da
- exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o
moralidade.
- Dever de Prestar Contas: Todo administrador deve prestar exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho;
contas do dinheiro público. - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicita-
- Dever de Eficiência: Deve elaborar suas funções perfeição e do.
rendimento funcional.
- Dever de Urbanidade: Deve o servidor ser cordial com os de- Infrações e Sanções Administrativas/Penalidades
mais colegas de trabalho e com o público em geral. Os servidores públicos de cada âmbito - União, Estados, Distrito
- Dever de Assiduidade: O servidor deve comparecer em seu Federal e Municípios - têm um Estatuto próprio. Quanto aos agen-
serviço, a fim de cumprir seu horário conforme determinado. tes públicos Federais rege a Lei nº 8.112/1990, já o regimento dos
demais depende de cada Estado/Município.
Devido ao princípio da Legalidade, todos os agentes devem fa-
zer aquilo que está restrito em lei, e caso algum deles descumpram
a legislação, ocorre uma infração administrativa, pelo poder discipli-
nar, os agentes infratores estão sujeitos a penalidades, que podem

154
DIREITO ADMINISTRATIVO
ser: advertência, suspensão, demissão, cassação de aposentadoria XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão e destituição ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
de função comissionada. fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
Para uma aplicação de penalidade justa deve ser considerada Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen-
provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
atenuantes e os antecedentes funcionais. ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na-
É necessário que cada penalidade imposta mencione o funda- tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
mento legal e a causa da sanção disciplinar. Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe-
cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
A Constituição Federal, em capítulo específico determina as Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
diretrizes a serem adotadas pela Administração Pública no trata- Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
mento de normas específicas aos ocupantes de cargos e empregos cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
públicos da Administração Direta ou Indireta. Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
Vejamos os dispositivos constitucionais relativos ao tema. aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defen-
sores Públicos;
CAPÍTULO VII XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu-
tivo;
SEÇÃO I XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es-
DISPOSIÇÕES GERAIS pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
serviço público;
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí- não serão computados nem acumulados para fins de concessão de
pios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora- acréscimos ulteriores;
lidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em-
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
como aos estrangeiros, na forma da lei; XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de apro- exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em
vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, qualquer caso o disposto no inciso XI:
de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, a) a de dois cargos de professor;
na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois saúde, com profissões regulamentadas;
anos, prorrogável uma vez, por igual período; XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo- e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de
cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro- economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta
vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa- ou indiretamente, pelo poder público;
dos para assumir cargo ou emprego, na carreira; XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te-
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi- rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência
dores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e per- XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
centuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribui- autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo-
ções de direção, chefia e assessoramento;   mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso- caso, definir as áreas de sua atuação;
ciação sindical; XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria-
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior,
definidos em lei específica; assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro-
sua admissão; cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de- todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter-
interesse público; mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por obrigações.
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse-
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção
de índices;

155
DIREITO ADMINISTRATIVO
XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo,
Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona- fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito,
mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo
atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen-
cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. tésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam- Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos
panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informa- subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
tivo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, § 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser rea-
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto- daptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilida-
ridades ou servidores públicos. des sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição,
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos
da lei. para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori-
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na gem.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
administração pública direta e indireta, regulando especialmente: § 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública,
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom-
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição.
dos serviços; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor- § 15. É vedada a complementação de aposentadorias de ser-
mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X vidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que
e XXXIII; não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que
III - a disciplina da representação contra o exercício negligente não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência
ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a sus- Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica
pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo- e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se-
nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada- guintes disposições:
ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital,
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra- ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo,
ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera-
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito priva- ção;
do prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili-
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não
§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu- havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
pante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício
possibilite o acesso a informações privilegiadas. de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previ-
ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra- dência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo
de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
2019)
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
I - o prazo de duração do contrato;
SEÇÃO II
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi-
DOS SERVIDORES PÚBLICOS
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às
instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e
sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
planos de carreira para os servidores da administração pública dire-
recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni-
ta, das autarquias e das fundações públicas. (Vide ADIN nº 2.135-4)
cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
geral. instituirão conselho de política de administração e remuneração de
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo- pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po-
sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re- deres. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os (Vide ADIN nº 2.135-4)
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo-
e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e nentes do sistema remuneratório observará:
exoneração. I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
§ 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera- cargos componentes de cada carreira;
tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de II - os requisitos para a investidura;
caráter indenizatório previstas em lei. III - as peculiaridades dos cargos.

156
DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas § 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores
de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores
públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisi- ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência
tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração Social, obser vado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação dada pela
de convênios ou contratos entre os entes federados. Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o dis- § 3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria se-
posto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, rão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação
XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
admissão quando a natureza do cargo o exigir. § 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os para concessão de benefícios em regime próprio de previdência so-
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão cial, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela úni- dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, § 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia-
obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. dos para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multi-
cípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor remu- profissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda Constitucional
neração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o nº 103, de 2019)
disposto no art. 37, XI. § 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia-
anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e dos para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente peniten-
empregos públicos. ciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art.
cípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenien- 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda
tes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia Constitucional nº 103, de 2019)
e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do
qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, mo-
respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferen-
dernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público,
ciados para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam
inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio-
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada
carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
a caracterização por categoria profissional ou ocupação. (Incluído
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo-
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima
em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído pela Emen-
da Constitucional nº 103, de 2019) reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores aplicação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem
titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação
mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei comple-
ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que mentar do respectivo ente federativo. (Redação dada pela Emenda
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela Constitucional nº 103, de 2019)
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos
§ 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de
social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdên-
nº 103, de 2019) cia social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime
que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitu-
em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para cional nº 103, de 2019)
verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces- § 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se tratar
são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo; da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o be-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) nefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a
de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente
e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser-
e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios
idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons- estabelecidos em lei.
tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os § 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou
demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o
ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço corres-
de 2019) pondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de conta-
gem de tempo de contribuição fictício.

157
DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for por-
proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu- tador de doença incapacitante (Incluído pela Emenda Constitucio-
lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi- nal nº 47, de 2005) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 103,
dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência de 2019) (Vigência) (Vide Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi- § 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de previ-
dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons- dência social, lei complementar federal estabelecerá, para os que
tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de
exoneração, e de cargo eletivo. responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos,
§ 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em re- sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
gime próprio de previdência social, no que couber, os requisitos e I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o
critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (Reda- Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) tucional nº 103, de 2019)
§ 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera- cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ção, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído
emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. (Redação pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela
§ 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ins- Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
tituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime V - condições para instituição do fundo com finalidade previ-
de previdência complementar para servidores públicos ocupantes denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur-
de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Re- sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de
gime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias e qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado 2019)
o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº VI - mecanismos de equacionamento do deficit atuarial; (Inclu-
103, de 2019) ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob-
servados os princípios relacionados com governança, controle inter-
14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribui-
no e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
ção definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por
de 2019)
intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou
VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles
de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada
que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamen-
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
te, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional
§ 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dis-
nº 103, de 2019)
posto nos § § 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver in-
IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela
gressado no serviço público até a data da publicação do ato de ins-
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
tituição do correspondente regime de previdência complementar.
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál- de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído
culo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados, pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
na forma da lei. Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser-
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado- vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de
rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que concurso público.
superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado
igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu-
§ 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do rada ampla defesa;
respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem-
tenha completado as exigências para a aposentadoria voluntária e penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
que opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abo- § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
no de permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua con- estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es-
tribuição previdenciária, até completar a idade para aposentadoria tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização,
compulsória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com re-
2019) muneração proporcional ao tempo de serviço.
§ 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser-
previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora des- vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor-
se regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes, cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsá- outro cargo.
veis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga-
e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
§ 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) para essa finalidade.
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá ape-
nas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de pensão EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA POR SERVIDORES CELETISTA
que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os bene- A Polícia Administrativa é manifestada por meio de atos norma-
fícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 tivos e de alcance geral, bem como de atos concretos e específicos.

158
DIREITO ADMINISTRATIVO
Além disso, outra característica marcante dos atos expedidos Súmula Vinculante 43 É inconstitucional toda modalidade de
por força da Polícia Administrativa são os atos revestidos de contro- provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia apro-
le e fiscalização. vação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo
A atividade administrativa que envolve atos fiscalizadores e de que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
controle , os quais a Administração Pública pretende a prevenção
de atos lesivos ao bem estar social ou saúde pública não podem ser Exceção: As nomeação efetuadas pela Administração Pública
proferidos por servidores com regime contratual – CLT. para preenchimento de cargo em comissão declarado em lei de li-
Esta é a grande polêmica envolvendo a prática de atos admi- vre nomeação e exoneração dispensa a realização e aprovação em
nistrativos revestidos de Poder de Polícia quando praticados por concurso público.
servidores celetistas. O concurso público terá prazo de validade de até dois anos,
Conforme ressaltado pela melhor doutrina, Celso António Ban- podendo ser prorrogável uma única vez por igual período. Em ho-
deira de Mello afirma que “o regime normal dos servidores públicos menagem ao princípio constitucional da impessoalidade, durante o
teria mesmo de ser o estatutário, pois este (ao contrário do regime prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele que
trabalhista) é o concebido para atender a peculiaridades de um vín- for aprovado será convocado com prioridade sobre novos concursa-
culo no qual não estão em causa tão-só interesses empregatícios, dos para assumir cargo ou emprego.
mas onde avultam interesses públicos são os próprios instrumentos
de atuacão do Estado”. Direito de acesso aos cargos, empregos e funções públicas.
A jurisprudência já se manifestou neste sentido no julgamento A Constituição Federal estabelece o Princípio da Ampla Aces-
da cautelar da ADin no 2.310, o Supremo examinou a lei que trata sibilidade aos cargos, funções e empregos públicos aos brasileiros
dos agentes públicos de agências reguladoras (Lei no 9.985/2000), que preencham os requisitos estabelecidos em lei específica, bem
e ali se posicionou contrário à contratação de servidores em regime como aos estrangeiros, na forma da lei.
celetista para a execução de atos revestidos com o Poder de Polícia Tal princípio que garante a ampla acessibilidade tem por objeti-
no ato de fiscalização. De acordo com o ministro Marco Aurélio, re- vo proporcionar iguais oportunidades de disputar, por meio de con-
lator: curso público, o preenchimento em cargos ou empregos públicos
“...prescindir, no caso, da ocupação de cargos públicos, com os
na Administração Direta ou Indireta.
direitos e garantias a eles inerentes, é adotar flexibilidade incompa-
tível com a natureza dos serviços a serem prestados, igualizando os
Requisito de inscrição e requisitos de cargos
servidores das agências a prestadores de serviços subalternos, dos
Nas regras gerais constantes nos editais de concursos públicos
quais não se exige, até mesmo, escolaridade maior, como são ser-
é vedada a inclusão de cláusulas discriminatórias entre brasileiros
ventes, artífices, mecanógrafos, entre outros. Atente-se para as es-
natos e naturalizados, salvo para preenchimento de cargos específi-
pécies. Está-se diante de atividade na qual o poder de fiscalização,
cos mencionados no artigo 12, § 3º da Constituição Federal.
o poder de polícia fazem- se com envergadura ímpar, exigindo, por
Artigo 12.
isso mesmo, que aquele que a desempenhe sinta-se seguro, atue
[...]
sem receios outros, e isso pressupõe a ocupação de cargo público
(…). Em suma, não se coaduna com os objetivos precípuos das agên- § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
cias reguladoras, verdadeiras autarquias, embora de caráter espe- I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
cial, a flexibilidade inerente aos empregos públicos, impondo-se a II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
adoção da regra que é revelada pelo regime de cargo público, tal III - de Presidente do Senado Federal;
como ocorre em relação a outras atividades fiscalizadoras — fiscais IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
do trabalho, de renda, servidores do Banco Central, dos Tribunais V - da carreira diplomática;
de Contas etc.” VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa.
Portanto, muito embora não tenha previsão legal, o entendi-
mento construído pela doutrina e jurisprudência entende que o Ademais, em decorrência do mandamento constitucional do
emprego público, de natureza contratual (CLT) é incompatível com artigo 7º, XXX, em princípio não seria admissível restrições de con-
a atividade a ser desenvolvida quando se exige a incidência de ato crrencia em concurso público por motivos de idade ou sexo para
com poder de polícia. O cargo público, sim, é cercado de garantias a regular admissão em cargos e empregos públicos, no entanto, o
institucionais, destinadas a dar proteção e independência ao servi- mencionado artigo constitucional prevê a possibilidade de se insti-
dor para prestar a manifestação do Estado quando no exercício do tuírem requisitos específicos e diferenciados de admissão quando
Poder de Polícia. a natureza do cargo assim exigir. Exemplo: Teste de Aptidão Física
– TAF - permite exigência sequência de exercícios fisicos diferencia-
REGIME CONSTITUCIONAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS dos entre homens e mulheres.
Quanto aos requisitos específicos para investidura em cargos
Concurso público públicos, a Lei 8.112/90, em seu artigo 5º assim determina:
Via de regra, para que ocorra a legal investidura em cargou ou Art. 5o São requisitos básicos para investidura em cargo público:
emprego público é necessária prévia aprovação em concurso de I - a nacionalidade brasileira;
prova ou de provas e títulos, levando em consideração a natureza e II - o gozo dos direitos políticos;
a complexidade do cargo ou emprego.Quanto as normas constitu- III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
cionais acerca da obrigatoriedade de concurso para o preenchimen- IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
to de cargos públicos V - a idade mínima de dezoito anos;
A jurisprudência é pacífica quanto a necessidade de aprovação VI - aptidão física e mental.
previa em concurso público para ocupar cargo na estrutura admi-
nistrativa.

159
DIREITO ADMINISTRATIVO
Ainda em homenagem ao Princípio da Acessibilidade aos car- Da investidura do servidor público
gos e empregos públicos, o texto constitucional determina que a lei A investidura em cargo público, mesmo nos casos em que o
deverá reservar percentual do total das vagas a serem preenchidas cargo não é vitalício ou em comissão, terá que ser necessariamente
por concurso público de cargos e empregos públicos para as pesso- efetivo.
as portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão. Embora em menor escala que nos cargos vitalícios, os cargos
efetivos também proporcionam segurança a seus titulares; a perda
Invalidação do concurso. do cargo, segundo art. 41, §1º da Constituição Federal, só poderá
Conforme mencionado, os concursos públicos devem ser rea- ocorrer, quando estáveis, se houver sentença judicial ou processo
lizados previamente para o preenchimento de cargos e empregos administrativo em que se lhes faculte ampla defesa, e agora tam-
públicos, devendo para tanto dispensar tratamento impessoal e bém em virtude de avaliação negativa de desempenho durante o
igualitário entre os interessados, sendo certo que a ausência desse período de estágio probatório.
tratamento causaria fraude a ordem constitucional de realização de Isso lhe garante que, uma vez legalmente investido em cargo
concurso público. público passa a ser representante do Estado nas manifestações
Neste contexto, são inválidas as disposições constantes em edi- proferidas durante o exercício do cargo, e assim, passa a gozar de
tais ou normas de admissão em cargos e empregos públicos que prerrogativas especiais (típicas de direito público) com o objetivo de
desvirtuam as finalidades da realização do concurso público. satisfazer as demandas coletivas.

Caso se identifique qualquer norma ou cláusula constante em Estágio experimental, estágio probatório e Estabilidade
edital que inviabilize ou dificulte a ampla participação daqueles que O instituto da Estabilidade corresponde à proteção ao ocupan-
preencham os requisitos mínimos ou então que direcione, de qual- te do cargo, garantindo, não de forma absoluta, a permanência no
quer forma, com o objetivo de beneficiar ou prejudicar alguem em Serviço Público, o que permite a execução regular de suas ativida-
concurso público poderá acarretar na invalidação de todo o certa- des, visando exclusivamente o alcance do interesse coletivo.
me. No entanto, para se conquistar a estabilidade prevista constitu-
cionalmente é necessário superar a etapa de estágio experimental
O direito à revisão judicial de provas e exames seletivos à luz ou também chamada de estágio probatório, que pressupõe a reali-
dos tribunais pátrios zação de avaliação de desempenho e transpor o período de 3 (três)
anos de efetivo desempenho da função.
O controle judicial dos atos administrativos é preceito básico A Avaliação de Desempenho é uma importante ferramenta de
do Estado de Direito com status de garantia constitucional, nos ter- Gestão de Pessoas que corresponde a uma análise sistemática do
mos do que estabelece o artigo 5º, XXXV da Constituição Federal desempenho do profissional em função das atividades que realiza,
de 1988. das metas estabelecidas, dos resultados alcançados e do seu poten-
cial de desenvolvimento.
Art. 5º
[...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
LEI ESTADUAL Nº 20.756/2020
ou ameaça a direito;

Esta, inclusive, se configura em função típica do Poder Judici- Prezado Candidato, a Lei Estadual 20.756/2020 já foi aborda-
ário, exercer o controle legal dos atos editados pela ente estatal, da na matéria de Noções de Legislação Estadual.
como forma de controle externo da Administração Pública. Não deixe de conferir!
Neste contexto, ainda é complexa a discussão sobre a legiti-
midade do Poder Judiciário exercer revisão judicial de questões e
resultados em provas de concurso público.
SÚMULAS, JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DOS TRI-
É crescente a demanda de candidatos que buscam na tutela do
BUNAIS SUPERIORES E LEGISLAÇÃO RELACIONADA
Poder Judiciário a revisão de resultados de concursos públicos, atri-
COM OS TEMAS
buindo as bancas organizadoras, entre outros argumentos, a carên-
cia de razoabilidade, proporcionalidade, isonomia e transparência
durante a realização do certame. Súmulas Vinculantes do STF para Direito Administrativo
A jurisprudência dos nossos Tribunais tem-se orientado no sen- Súmula Vinculante nº 3
tido de que só são passíveis de reexame judicial as questões cuja
impugnação se funda na ilegalidade da avaliação ou dos graus con- Nos processos perante o Tribunal de Contas da União assegu-
feridos pelos examinadores ou ainda a ausência de impessoalidade ram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder
dedicada nas provas com privilégios exorbitantes a determinados resultar a anulação ou revogação de ato administrativo que bene-
candidatos, com a exclusão arbitrária de outros. ficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de
Nos Estados de Direito, em que vige o princípio da legalidade, concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão.
não há espaço para arbitrariedades estatais, ao impor a Ordem Jurí-
dica, não ficando de toda sorte excluída da apreciação judicial toda Súmula Vinculante nº 5
lesão ou ameaça a direito, inclusive quanto ao possível reexame
judicial de atos praticados durante os concursos públicos ou pro- A falta de defesa técnica por advogado no processo administra-
cessos de seleção. tivo disciplinar não ofende a constituição.

Súmula Vinculante nº 13

160
DIREITO ADMINISTRATIVO
A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha Comentário: Outra SV extremamente cobrada em questões de
reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da concursos. Fique atento quando o enunciado disser que algum Es-
autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica in- tado ou Município definiu determinados atos como sendo crimes
vestido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exer- de responsabilidade, apenas a União pode realizar esta definição.
cício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer Súmula Vinculante nº 55
dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nicípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, O direito ao auxílio-alimentação não se estende aos servidores
viola a Constituição Federal. inativos.

Comentário: Uma das principais súmulas para direito adminis- Súmulas do STF
trativo, uma vez que o nepotismo não é vedado por lei nem pela Apesar de não serem tão cobradas quanto as Súmulas Vincu-
Constituição Federal de forma explícita. Esta súmula vinculante lantes, também existem as Súmulas (ordinárias). A diferença é que
vem, portanto, estabelecer barreiras à nomeação de parentes para a primeira é dotada de teor obrigatório e só pode ser criada pelo
cargos e funções públicas STF. Por outro lado, as súmulas registram uma interpretação pací-
fica ou majoritária definida por um tribunal, sem, todavia, vincular
Súmula Vinculante nº 21 qualquer outra decisão futura.

É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento pré- O Supremo Tribunal Federal não apenas elabora Súmulas Vin-
vios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso adminis- culantes, como também Súmulas “normais”, isto é, sem teor vin-
trativo. culante. Vamos às principais súmulas para direito administrativo
segundo o STF.
Comentário: A exigência de depósito prévio viola o direito de
petição e ampla defesa, garantidos pela Constituição Federal Súmula nº 8 do STF

Súmula Vinculante nº 33 Diretor de sociedade de economia mista pode ser destituído no


curso do mandato.
Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do Re-
gime Geral da Previdência Social sobre aposentadoria especial de Súmula nº 17 do STF
que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a
edição de Lei Complementar específica. A nomeação de funcionário sem concurso pode ser desfeita
antes da posse.
Súmula Vinculante nº 37
Súmula nº 19 do STF
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada
de isonomia. no mesmo processo em que se fundou a primeira.

Súmula Vinculante nº 42 Comentário: Súmula bastante cobrada nos certames. Esta sú-
mula proíbe a incidência do bis in idem.
É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de
servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção Súmula nº 20 do STF
monetária.
É necessário processo administrativo com ampla defesa, para
Súmula Vinculante nº 43 demissão de funcionário admitido por concurso.

É inconstitucional toda modalidade de provimento que pro- Súmula nº 347 do STF


picie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso
público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
carreira na qual anteriormente investido. apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.

Súmula Vinculante nº 44 Súmula nº 365 do STF

Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
de candidato a cargo público.
Súmula nº 398 do STF
Súmula Vinculante nº 46
O Supremo Tribunal Federal não é competente para processar
A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimen- e julgar, originariamente, deputado ou senador acusado de crime.
to das respectivas normas de processo e julgamento são da compe-
tência legislativa privativa da união.

161
DIREITO ADMINISTRATIVO
Súmula nº 429 do STF Súmula nº 611 do STJ

A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo Desde que devidamente motivada e com amparo em investi-
não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da gação ou sindicância, é permitida a instauração de processo admi-
autoridade. nistrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do
poder-dever de autotutela imposto à Administração.
Súmula nº 473 do STF
Súmula nº 619 do STJ
A administração pode anular seus próprios atos, quando eiva-
dos de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam A ocupação indevida de bem público configura mera detenção,
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunida- de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por
de, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os acessões e benfeitorias
casos, a apreciação judicial.
Súmula nº 628 do STJ
Comentário: Uma das principais súmulas para direito admi-
nistrativo. Apesar de sabermos que a administração DEVE anular A teoria da encampação é aplicada no mandado de seguran-
seus atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, a súmula ça quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos: a)
utiliza o verbo PODE. Atenção, portanto, para não considerar uma existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou
alternativa como falsa apenas por este motivo. informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; b) ma-
nifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e c) au-
Súmula nº 702 do STF sência de modificação de competência estabelecida na Constituição
Federal.
A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos res-
tringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual;
nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
tribunal de segundo grau.
QUESTÕES

Súmulas do STJ 1. (Prefeitura de Jataí/GO - Auditor de Controladoria - Quadrix


Como dito, todos os tribunais podem editar súmulas, uma vez /2019) A cúpula diretiva investida de poder político para a condu-
que exista um consenso sobre determinada jurisprudência. Toda- ção dos interesses nacionais consiste
via, iremos focar apenas nas Súmulas do STF e do STJ, visto que são (A) no Estado.
as principais e mais abordadas em concursos. (B) na Administração Pública.
(C) no Poder Executivo.
Súmula nº 525 do STJ (D) no governo.
(E) nos agentes políticos.
A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica,
apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em 2. (CRO-GO - Assistente Administrativo – Quadrix/2019) No que
juízo para defender os seus direitos institucionais. se refere ao Estado e a seus Poderes, julgue o item.
A noção de Estado de direito baseia‐se na regra de que, ao
Súmula nº 591 do STJ mesmo tempo em que o Estado cria o direito, deve sujeitar‐se a ele.
( ) CERTO
É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo ( ) ERRADO
disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo compe-
tente e respeitados o contraditório e a ampla defesa. 3. (CRO-GO - CRO-GO - Fiscal Regional - Quadrix – 2019) No que
se refere ao Estado e a seus Poderes, julgue o item.
Comentário: Súmula bastante exigida. Portanto, atenção. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário exercem suas res-
pectivas funções com absoluta exclusividade.
Súmula nº 592 do STJ ( ) CERTO
( ) ERRADO
O excesso de prazo para a conclusão do processo administrati-
vo disciplinar só causa nulidade se houver demonstração de preju- 4. (CRF-PR - Analista de RH – Quadrix/2019) A supremacia do
ízo à defesa. interesse público sobre o privado, também chamada simplesmente
de princípio do interesse público ou da finalidade pública, princípio
Súmula nº 599 do STJ implícito na atual ordem jurídica, significa que os interesses da co-
letividade são mais importantes que os interesses individuais, razão
O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a pela qual a Administração, como defensora dos interesses públicos,
administração pública. recebe da lei poderes especiais não extensivos aos particulares.
Alexandre Mazza. Manual de direito administrativo. 8.ª ed. São
Súmula nº 601 do STJ Paulo: Saraiva Educação, 2018.

O Ministério Público tem legitimidade ATIVA para atuar na de- Com relação a esse princípio, assinale a alternativa correta.
fesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos (A) Apesar da supremacia presente, não possibilita que a Admi-
consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço pú- nistração Pública convoque particulares para a execução com-
blico. pulsória de atividades públicas.

162
DIREITO ADMINISTRATIVO
(B) Só existe a supremacia do interesse público primário sobre 9. (JARU-PREVI - RO - Assistente Administrativo – IBADE/2019)
o interesse privado. O interesse patrimonial do Estado como Com base nos três poderes do estado e nas suas funções, afirma-se
pessoa jurídica, conhecido como interesse público secundário, que ao:
não tem supremacia sobre o interesse do particular. (A) legislativo: cabe a ele criar leis em cada uma das três esferas
(C) Não permite a requisição de veículo particular, pela polícia, e fiscalizar e controlar os atos do poder executivo.
para perseguir criminoso. Referida atitude não é prevista no di- (B) executivo: estabelece normas que regem a sociedade.
reito brasileiro. (C) judiciário: responsável pela regulação da administração dos
(D) Não permite que a Administração Pública transforme com- interesses públicos.
pulsoriamente propriedade privada em pública. (D) legislativo: poder exercido pelos secretários do Estado.
(E) Estará presente em todos os atos de gestão da Administra- (E) executivo: sua principal tarefa é a de controle de constitu-
ção Pública. cionalidade.

5. (TRT /8ª Região - Analista Judiciário – CESPE/2016). A respei- 10. (CONRERP 2ª Região - Assistente Administrativo - Qua-
to dos elementos do Estado, assinale a opção correta. drix/2019) Quanto à Administração Pública, julgue o item.
(A) Povo, território e governo soberano são elementos indisso- À Administração Pública é facultado fazer tudo o que a lei não
ciáveis do Estado. proíbe.
(B) O Estado é um ente despersonalizado. ( ) CERTO
(C) São elementos do Estado o Poder Legislativo, o Poder Judi- ( ) ERRADO
ciário e o Poder Executivo.
(D) Os elementos do Estado podem se dividir em presidencia- 11. (MPE-CE - Técnico Ministerial - CESPE – 2020) No que diz
lista ou parlamentarista. respeito à administração pública direta, à administração pública in-
(E) A União, o estado, os municípios e o Distrito Federal são direta e aos agentes públicos, julgue o item que se segue.
elementos do Estado brasileiro. A administração pública indireta é composta por órgãos e agen-
tes públicos que, no âmbito federal, constituem serviços integrados
6. (IF/AP - Auxiliar em Administração – FUNIVERSA/2016). No na estrutura administrativa da presidência da República e dos mi-
sistema de governo brasileiro, os chefes do Poder Executivo (presi- nistérios.
dente da República, governadores e prefeitos) exercem, ao mesmo ( ) CERTO
tempo, as funções administrativa (Administração Pública) e política ( ) ERRADO
(governo). No entanto, são funções distintas, com conceitos e ob-
jetivos bem definidos. Acerca de Administração Pública e governo, 12. (AL-AP - Analista Legislativo - FCC – 2020) A organização
assinale a alternativa correta. administrativa pode implicar desconcentração e descentralização.
(A) Administração Pública e governo são considerados sinôni- A criação de empresas estatais
mos, visto que ambos têm como objetivo imediato a busca da (A) depende da edição de lei instituidora dos entes, da qual
satisfação do interesse coletivo.
também deverão constar as competências próprias atribuídas
(B) As ações de Administração Pública têm como objetivo a
a essas pessoas jurídicas dotadas de personalidade jurídica de
satisfação do interesse público e são voltadas à execução das
direito privado ou de direito público.
políticas públicas.
(B) difere da instituição de autarquias e fundações, pessoas
(C) Administração Pública é a atividade responsável pela fixa-
jurídicas que expressam a desconcentração da Administração
ção dos objetivos do Estado, ou seja, nada mais é que o Estado
pública.
desempenhando sua função política.
(C) indica a desconcentração da organização administrativa,
(D) Governo é o conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídi-
que se caracteriza pela criação de pessoas jurídicas com com-
cas de que o Estado dispõe para colocar em prática as políticas
públicas. petências próprias.
(E) A Administração pratica tanto atos de governo (políticos) (D) é expressão da descentralização administrativa, que implica
como atos de execução das políticas públicas. a criação de pessoas jurídicas com atribuições previstas em lei
e em seus atos constitutivos.
7. (UFAL - Auxiliar em Administração – COPEVE-UFAL). O termo (E) e de outras pessoas jurídicas com personalidade jurídica de
Administração Pública, em sentido estrito e objetivo, equivale direito público configura forma híbrida de organização admi-
(A) às funções típicas dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju- nistrativa.
diciário.
(B) à noção de governo. 13. (FITO – Advogado - VUNESP – 2020) De acordo com o orde-
(C) ao conceito de Estado. namento jurídico brasileiro, uma fundação pública
(D) ao conceito de função administrativa. (A) poderá celebrar parcerias com organizações da sociedade
(E) ao Poder Executivo. civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de
finalidades de interesse público e recíproco, mediante a exe-
8. (CESPE – INSS - Perito Médico Previdenciário – CESPE). Acer- cução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos
ca do direito administrativo, julgue os itens a seguir. em planos de trabalho inseridos em termos de colaboração,
Povo, território e governo soberano são elementos do Estado. em termos de fomento ou em acordos de cooperação.
() CERTO (B) poderá consorciar-se com outras fundações públicas que in-
() ERRADO tegrem a Administração indireta de outros entes da federação,
para estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive a
realização de objetivos de interesse comum, passando a cons-
tituir consórcio público com personalidade jurídica de direito
público.

163
DIREITO ADMINISTRATIVO
(C) criada por lei, poderá representar a Administração direta III. Sociedade de economia mista é a entidade com criação au-
na celebração de acordos de cooperação técnica com outros torizada por lei sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com
órgãos ou entidades integrantes da Administração indireta dos direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos Estados, ao
demais entes federados, com a finalidade de expandir o alcan- Distrito Federal, aos Municípios ou à entidade da administração in-
ce das finalidades de interesse público que justificaram sua direta, dotada de personalidade jurídica de direito privado.
criação. Quais estão corretas?
(D) cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa cien- (A) Apenas III.
tífica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preserva- (B) Apenas I e II.
ção do meio ambiente, à cultura e à saúde, serão qualificadas (C) Apenas I e III.
como organizações da sociedade civil de interesse público, (D) Apenas II e III.
podendo celebrar contrato de gestão com dispensa de chama-
mento público, com o poder público. 18. (SPPREV - Analista em Gestão Previdenciária - FCC – 2019)
(E) que tenha sido constituída e esteja em funcionamento regu- As autarquias são pessoas jurídicas integrantes da Administração
lar há, no mínimo, três anos, poderá qualificar-se como organi- pública indireta, que podem ter receitas próprias e receber recur-
zação da sociedade civil de interesse público com fundamento sos orçamentários e financeiros do erário público. No caso de uma
no princípio da universalização dos serviços de interesse públi- autarquia auferir receitas próprias em montante suficiente para su-
co que autorizaram sua criação. portar todas as despesas e investimentos do ente,
(A) fica excepcionada a aplicação do regime jurídico de direito
14. (AL-AP - Assistente Legislativo - FCC – 2020) A amplitude público durante o período em que perdurar a condição de pes-
da Administração pública considera dois grupos de instituições, que soa jurídica não dependente.
são classificados em Administração direta e indireta. Considera-se (B) poderá realizar contratações efetivas sem a necessidade de
Administração Direta, prévio concurso público, diante da não incidência da regra para
(A) as Fundações públicas. os entes da Administração pública indireta que não sejam de-
(B) as Autarquias. pendentes.
(C) as Empresas públicas. (C) permanece sujeita aos princípios e regras que regem a Ad-
(D) as Sociedades de Economia mista. ministração pública, tais como a impenhorabilidade de seus
(E) a Casa Civil. bens, exigência de autorização legislativa para alienação de
bens imóveis e realização de concurso público para admissão
15. (TRE-PA - Analista Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020) de servidores, com exceção de comissionados.
Assinale a alternativa que apresenta corretamente um conceito de (D) permanecerá obrigada à regra geral de licitação para firmar
Desconcentração Administrativa. contratos administrativos, com exceção das hipóteses de alie-
(A) Distribuição de competências de uma para outra pessoa, nação de bens imóveis, porque geram receita como resultado.
física ou jurídica (E) ficará equiparada, em direitos e obrigações, às empresas
(B) Distribuição interna de competências, ou seja, uma distri- estatais não dependentes, que podem adquirir bens e serviços
buição de competências dentro da mesma pessoa jurídica sem prévia realização de licitação, mas têm patrimônio sujeito
(C) Distribuição de competências de uma pessoa jurídica inte- à penhorabilidade e prescritibilidade.
grante da Administração Pública para uma pessoa física
(D) Distribuição de competências de uma pessoa física inte- 19. (Prefeitura de Aracruz - ES – Contador - IBADE – 2019) Os
grante da Administração Pública para uma pessoa jurídica órgãos públicos representam compartimentos internos da pessoa
pública, podendo ser criados ou extintos por meio de lei. Já a es-
16. (TRF - 1ª REGIÃO - Estagiário – Direito - COPESE – UFPI/2019) truturação e as atribuições dos órgãos podem ser processadas por:
Considere o seguinte conceito. (A) lei, apenas.
“Pessoa jurídica de direito privado composta por capital exclu- (B) lei em tese do Chefe do Judiciário.
sivamente público, criada para a prestação de serviços públicos ou (C) decreto do Chefe do Executivo.
exploração de atividades econômicas, sob qualquer modalidade (D) resolução legislativa.
empresarial.” (E) ofício da Presidência da República.
MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva,
2016. 20. (IF Baiano - Assistente em Administração - IF-BA – 2019)
Esse conceito aplica-se à: No que se refere à organização administrativa do Estado, assinale a
(A) Empresa pública. afirmativa incorreta.
(B) Autarquia. (A) Compreende-se como Administração Pública Direta ou Cen-
(C) Agência executiva. tralizada aquela constituída a partir de um conjunto de órgãos
(D) Sociedade de economia mista. públicos despersonalizados, através dos quais o Estado desem-
penha diretamente a atividade administrativa.
17. (Prefeitura de Porto Alegre /RS - Auditor Fiscal da Receita (B) Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
Municipal – FUNDATEC/2019) Acerca da administração pública in- autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de
direta e do regime jurídico das empresas públicas e sociedades de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar,
economia mista, analise as seguintes assertivas: neste último caso, definir as áreas de sua atuação.
I. Empresa pública é a entidade com criação autorizada por lei (C) Compreende-se como Administração Pública Indireta ou
e com patrimônio próprio, cujo capital social é integralmente deti- Descentralizada aquela constituída a partir de um conjunto de
do pelo poder público, dotada de personalidade jurídica de direito entidades dotadas de personalidade jurídica própria, algumas
público. de direito público, outras de direito privado, responsáveis pelo
II. A criação de subsidiárias de empresa pública e de sociedade exercício, em caráter especializado e descentralizado, de certa
de economia mista independe de autorização legislativa. e determinada atividade administrativa.

164
DIREITO ADMINISTRATIVO
(D) As empresas públicas e as sociedades de economia mista 24. (CREFONO-5° Região - Assistente Administrativo - Quadrix
fazem parte da Administração Pública Direta. – 2020) Acerca da Administração Pública e dos servidores públicos,
(E) As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, cria- julgue o item conforme o texto constitucional.
das por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita A investidura em cargo ou emprego público independe de apro-
próprios, para executar atividades típicas da Administração Pú- vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
blica. de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego,
na forma prevista em lei, exceto para nomeações para cargo em
21. (Prefeitura de São Roque - SP – Advogado - VUNESP – 2020) comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
A respeito dos servidores públicos estatutários, assinale a alterna- ( ) CERTO
tiva correta. ( ) ERRADO
(A) O regime jurídico dos servidores estatutários não pode ser
alterado de forma prejudicial aos agentes públicos que estejam 25. (TRE-PA - Analista Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020)
no exercício da função pública. O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercí-
(B) Os ocupantes de empregos públicos não dispõem de estabi- cio irregular de suas atribuições. Analise o texto abaixo e assinale
lidade no serviço público. a alternativa que preencha correta e respectivamente as lacunas.
(C) A estabilidade garante ao agente público a permanência no “A responsabilidade _____ abrange os crimes e contravenções
serviço público, de modo que o vínculo somente poderá ser imputadas ao servidor, nessa qualidade.” “A responsabilidade _____
desconstituído por decisão judicial com trânsito em julgado. decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resul-
(D) É constitucional lei que propicie ao servidor investir-se em te em prejuízo ao erário ou a terceiros.” A responsabilidade _____
cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investi- do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue
do, sem prévia aprovação em concurso público. a existência do fato ou sua autoria.” “As sanções civis, penais e ad-
(E) O candidato aprovado em concurso público dentro do nú- ministrativas poderão cumular-se, sendo _____ entre si.”
mero de vagas previstos no edital possui expectativa de direito (A) penal / civil / administrativa / independentes
à nomeação. (B) civil / administrativa / penal / independentes
(C) penal / administrativa / civil / dependentes
22. (AL-AP - Assistente Legislativo - FCC – 2020) Ricardo Reis, (D) penal / civil / administrativa / dependentes
servidor público, foi acusado, em processo disciplinar, de haver
subtraído da repartição um aparelho de ar condicionado, falta que 26. (TRE-PA - Analista Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020)
ensejaria sua demissão a bem do serviço público. Em processo cri- Acerca do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União
minal instaurado concomitantemente, o juiz absolveu Ricardo, con- (Lei nº 8.112/1990), analise as afirmativas abaixo e dê valores Ver-
cluindo que Bernardo Soares, pessoa totalmente estranha à reparti- dadeiro (V) ou Falso (F).
ção, era o verdadeiro responsável pelo furto. Constatou-se, todavia, ( ) Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são cria-
que Ricardo Reis havia se ausentado da repartição sem acionar os dos por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos co-
alarmes antifurto, providência de sua exclusiva responsabilidade. fres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão.
Tal comportamento não gerou punição na esfera criminal, por se ( ) Os requisitos básicos para investidura em cargo público es-
tratar de conduta criminalmente atípica. tão contidos no artigo 5º e portanto, as atribuições do cargo não po-
Diante do relato hipotético, conclui-se que Ricardo Reis dem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos em lei.
(A) será absolvido da conduta que lhe foi inicialmente imputa- ( ) O servidor estável só perderá o cargo em virtude de sentença
da, mas ainda poderá ser punido pela conduta omissiva, pois, judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disci-
embora considerada criminalmente atípica, pode configurar plinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa.
falta disciplinar residual. ( ) A posse em cargo público dependerá de prévia inspeção mé-
(B) deve pedir a inclusão de Bernardo Soares no processo dis- dica oficial. Só poderá ser empossado aquele que for julgado apto
ciplinar, na qualidade de corréu, de maneira a diminuir sua res- física e mentalmente para o exercício do cargo.
ponsabilidade no incidente.
(C) não sofrerá punições em âmbito administrativo, visto que a Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de
decisão criminal é vinculante na esfera administrativa. cima para baixo.
(D) pode ser demitido pela subtração do equipamento, visto (A) F, V, V, F
que as conclusões da decisão proferida na esfera criminal não (B) V, V, F, F
vinculam a Administração. (C) F, V, F, V
(E) será indenizado pela injusta submissão a processo discipli- (D) V, F, V, V
nar, o que é suficiente para configurar dano moral.
27. (UFRJ – Administrador - CESGRANRIO – 2019) O servidor
23. (CREFONO-5° Região - Assistente Administrativo - Quadrix público W foi demitido do serviço público, após processo adminis-
– 2020) Acerca da Administração Pública e dos servidores públicos, trativo disciplinar. Inconformado, ele propôs ação judicial, buscan-
julgue o item conforme o texto constitucional. do o retorno ao serviço público, tendo obtido decisão favorável,
O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser readap- após dez anos de duração do processo.
tado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades Nos termos da Lei no 8.112/1990, quando invalidada a demis-
sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capa- são por decisão judicial, ocorre a denominada
cidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição, des- (A) reinclusão
de que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para (B) reintegração
o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de origem. (C) recondução
( ) CERTO (D) revisão
( ) ERRADO (E) repristinação

165
DIREITO ADMINISTRATIVO
28. (CRN - 2° Região (RS) - Assistente Administrativo - Quadrix 33. (SPPREV - Técnico em Gestão Previdenciária - FCC – 2019)
– 2020) Texto associado. Um agente público, em regular diligência de fiscalização a es-
Considera‐se como agente público aquele que, mesmo que por tabelecimentos de ensino, constatou potencial irregularidade no
período determinado e sem remuneração, exerce mandato, cargo, procedimento de matrícula de determinado nível de escolaridade
emprego ou função pública. e determinou a interdição do estabelecimento. Considerando os
Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo. Direito administrativo des- fatos descritos, uma das possíveis conclusões para a atuação do
complicado. 16.ª ed. 2008. p. 122. agente público é
(A) atuação com excesso de poder disciplinar, pois este somen-
Com relação aos agentes públicos, julgue o item. te incide na esfera hierárquica do quadro de servidores de ór-
Agentes políticos têm sua competência extraída da Constitui- gão da Administração direta ou pessoa jurídica integrante da
ção Federal e normalmente são investidos em seus cargos por elei- Administração indireta.
ção, nomeação ou designação. (B) a regularidade da conduta, considerando o princípio da su-
( ) CERTO premacia do interesse público, cabendo ao responsável pelo
( ) ERRADO estabelecimento regularizar o procedimento apontado e, após,
pleitear a reabertura da unidade de ensino.
29. CRN - 2° Região (RS) - Assistente Administrativo - Quadrix – (C) a viabilidade jurídica da conduta, considerando que será
2020) Com relação aos agentes públicos, julgue o item. oportunizado contraditório e ampla defesa ao responsável pela
Agentes administrativos consistem naqueles agentes públicos escola, com possibilidade de reposição das aulas no caso de
que exercem funções de alta direção e orientação da Administração procedência de suas alegações.
Pública e, por isso, possuem prerrogativas pessoais para garantir li- (D) ter agido com abuso de poder no exercício do poder de po-
berdade para suas tomadas de decisão. lícia inerente à sua atuação, não se mostrando razoável a me-
( ) CERTO dida adotada, que prejudicou o cronograma de aulas de todos
( ) ERRADO os alunos da instituição.
(E) que o poder regulamentar confere ao representante da Ad-
30. (CREFONO - 1ª Região - Agente Fiscal - Quadrix – 2020) Jul- ministração pública o poder de baixar atos normativos dotados
gue o item no que se refere à Administração Pública. de autoexecutoriedade, protegendo o direito à educação em
Os requisitos para acesso a cargos públicos mediante concurso detrimento do direito individual dos alunos.
devem estar claramente estabelecidos na lei e(ou) no edital.
( ) CERTO 34. (IF Baiano - Contador IF-BA -2019) A respeito dos poderes
( ) ERRADO administrativos da Administração Pública, assinale a alternativa cor-
reta.
31. (Valiprev - SP - Analista de Benefícios Previdenciários VU- (A) O Poder Normativo ou regulamentar se traduz no poder
NESP – 2020) É o de que dispõe a Administração para distribuir e conferido à Administração Pública de expedir atos administra-
escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de tivos gerais e abstratos, com efeitos erga omnes, podendo, in-
seus agentes estabelecendo a relação de subordinação entre os ser- clusive, inovar no ordenamento jurídico, criando e extinguindo
vidores de seu quadro de pessoal. Dele decorrem algumas prerro- direitos e obrigações a todos os cidadãos.
gativas: delegar e avocar atribuições, dar ordens, fiscalizar e rever (B) O Poder Hierárquico é característica que integra a estrutura
atividades de órgãos inferiores. das pessoas jurídicas da Administração Pública, sejam os entes
É correto afirmar que o texto do enunciado se refere ao poder da Administração Direta ou Indireta. Trata-se de atribuição con-
(A) disciplinar. cedida ao administrador para organizar, distribuir e escalonar
(B) hierárquico. as funções de seus órgãos.
(C) de delegação. (C) O Poder Disciplinar é a atribuição de aplicar sanções àque-
(D) regulamentar. les que estejam sujeitos à disciplina do ente estatal. Podem ser
(E) de polícia. aplicadas sanções aos particulares, mesmo não possuindo vín-
culo.
32. (MPE-CE - Técnico Ministerial - CESPE – 2020) Cada um do (D) O Poder de Polícia, segundo doutrina majoritária, não é ad-
item a seguir apresenta uma situação hipotética seguida de uma mitido no ordenamento jurídico brasileiro, por ferir o Estado
assertiva a ser julgada, acerca dos poderes administrativos. Democrático de Direito.
O corpo de bombeiros de determinada cidade, em busca da (E) O Poder Discricionário se verifica quando a lei cria um ato
garantia de máximo benefício da coletividade, interditou uma esco- administrativo estabelecendo todos os elementos de forma ob-
la privada, por falta de condições adequadas para a evacuação em jetiva, sem que a autoridade pública possa valorar acerca da
caso de incêndio. Nesse caso, a atuação do corpo de bombeiros de- conduta exigida legalmente.
corre imediatamente do poder disciplinar, ainda que o proprietário
da escola tenha direito ao prédio e a exercer o seu trabalho. 35. (SEAP-GO - Agente de Segurança Prisional - IADES/2019)
( ) CERTO C. L. V., agente de segurança prisional, estava realizando sua ronda
( ) ERRADO habitual durante o respectivo turno, quando observou que dois de-
tentos – R. M. V. e J. O. M. – estavam em vias de fato no momento
do “banho de sol”. Ao tentar separá-los, utilizou-se de força des-
proporcional, amarrando os dois detentos com uma corda, a qual
causou lesões contusas em ambos os detentos. Essa situação hipo-
tética representa caso de
(A) desvio de poder.
(B) desvio de finalidade.
(C) estrito cumprimento do dever legal.

166
DIREITO ADMINISTRATIVO
(D) excesso de poder. (D) o poder conferido à Administração Pública é uma faculdade
(E) abuso de direito. que a Constituição e a lei colocam à disposição do administra-
dor, que o exercerá de acordo com sua livre convicção.
36. (CFESS - Assistente Técnico Administrativo - CONSUL-
PLAN/2017) Quando a Administração Pública aplica penalidade de 40. (ANS - Técnico em Regulação de Saúde Suplementar - FUN-
cassação da carteira de motorista ao particular que descumpre as CAB/2016) No tocante aos poderes administrativos pode-se afirmar
regras de direção de veículos configura-se o exercício do poder que a delegação e avocação decorrem do poder:
(A) de polícia. (A) hierárquico.
(B) disciplinar. (B) discricionário.
(C) ordinatório. (C) disciplinar.
(D) regulamentar (D) regulamentar.
(E) de polícia.
37. (PC/SE - Delegado de Polícia – CESPE/2018) Acerca do po-
der de polícia — poder conferido à administração pública para im- 41. (Valiprev - SP - Analista de Benefícios Previdenciários - VU-
por limites ao exercício de direitos e de atividades individuais em NESP/2020) É correto afirmar que o ato administrativo do Analista
função do interesse público —, julgue o próximo item. de Benefícios Previdenciários é dotado de
O poder de polícia é indelegável. (A) autoexecutoriedade, ante a inevitabilidade de sua execu-
( ) CERTO ção, porquanto reúne sempre poder de coercibilidade para
( ) ERRADO aqueles a que se destina, havendo a possibilidade de ser revo-
gado pela própria Administração e pelo Poder Judiciário, quan-
38. (PC/AC - Escrivão de Polícia Civil - IBADE/2017) Consideran- do sua manutenção deixar de ser conveniente e oportuna.
do os Poderes e Deveres da Administração Pública e dos administra- (B) imperatividade, ante a inevitabilidade de sua execução, por-
dores públicos, é correta a seguinte afirmação: quanto reúne sempre poder de coercibilidade para aqueles a
(A) O dever-poder normativo viabiliza que o Chefe do Poder que se destina, havendo a possibilidade de ser revogado pela
Executivo expeça regulamentos para a fiel execução de leis. própria Administração quando sua manutenção deixar de ser
(B) O dever-poder de polícia, também denominado de dever- conveniente e oportuna.
-poder disciplinar ou dever-poder da supremacia da admi- (C) presunção de legitimidade, de legalidade e veracidade, por-
nistração perante os súditos, é a atividade da administração que se presume legal a atividade administrativa, por conta da
pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou li- inteira submissão ao princípio da legalidade, havendo a pos-
berdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão sibilidade de ser revogado pela própria Administração e pelo
de interesse público concernente à segurança, à higiene, à or- Poder Judiciário, quando sua manutenção deixar de ser conve-
dem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao niente e oportuna.
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão (D) imperatividade, uma vez que será executado, quando ne-
ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao cessário e possível, ainda que sem o consentimento do seu des-
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. tinatário, havendo a possibilidade de ser revogado pelo Poder
(C) Verificado que um agente público integrante da estrutura Judiciário, em razão de sua eventual ilegalidade.
organizacional da Administração Pública praticou uma infração (E) presunção de legitimidade, de legalidade e veracidade, por-
funcional, o dever-poder de polícia autoriza que seu superior que se presume legal a atividade administrativa, por conta da
hierárquico aplique as sanções previstas para aquele agente. inteira submissão ao princípio da legalidade, havendo a possi-
(D) O dever-poder de polícia pressupõe uma prévia relação en- bilidade de ser revogado pelo Poder Judiciário, em razão de sua
tre a Administração Pública e o administrado. Esta é a razão eventual ilegalidade.
pela qual este dever-poder possui por fundamento a suprema-
cia especial. 42. (EBSERH - Assistente Administrativo - VUNESP/2020) O re-
(E) A possibilidade do chefe de um órgão público emitir ordens vestimento exteriorizador do ato administrativo normal é a escrita,
e punir servidores que desrespeitem o ordenamento jurídico embora existam atos consubstanciados em ordens verbais e até
não possui arrimo no dever-poder de polícia, mas sim no de- mesmo em sinais convencionais. Esse requisito do ato é denomi-
ver-poder normativo. nado
(A) objeto.
39. (MPE/RN -Técnico do Ministério Público Estadual - COM- (B) motivo.
PERVE/2017) Os poderes inerentes à Administração Pública são (C) forma.
necessários para que ela sobreponha a vontade da lei à vontade (D) mérito.
individual, o interesse público ao privado. Nessa perspectiva, (E) finalidade.
(A) no exercício do poder disciplinar, são apuradas infrações
e aplicadas penalidades aos servidores públicos sempre por 43. (CRN - 2° Região - Assistente Administrativo - Quadrix –
meio de procedimento em que sejam asseguradas a ampla de- 2020) Atos administrativos são atos jurídicos que constituem ma-
fesa e o contraditório. nifestações unilaterais de vontade. A respeito dos atos administra-
(B) no exercício do poder normativo, são editados decretos re- tivos, julgue o item.
gulamentares estabelecendo normas ultra legem, inovando na A Administração pode anular seus próprios atos quando eiva-
ordem jurídica para criar direitos e obrigações. dos de vícios que os tornem ilegais ou revogá‐los, por motivo de
(C) o poder de polícia, apesar de possuir o atributo da coerci- conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e
bilidade, carece do atributo da autoexecutoriedade, de modo ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
que a Administração Pública deve sempre recorrer ao judiciário ( ) CERTO
para executar suas decisões. ( ) ERRADO

167
DIREITO ADMINISTRATIVO
44. (MPE-CE - Promotor de Justiça de Entrância Inicial – CES- 48. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2017). Sobre a
PE/2020) Com o fim de assegurar a adequação na prestação do ser- revogação dos atos administrativos, assinale a alternativa INCOR-
viço e o fiel cumprimento das normas previstas em contrato de con- RETA.
cessão de serviço público, o poder público concedente, mesmo sem (A) Nem todos os atos administrativos podem ser revogados.
autorização judicial, interveio na concessão por meio de resolução (B) A revogação de ato administrativo é realizada, ordinaria-
que previu a designação de interventor, o prazo da intervenção e os mente, pelo Poder Judiciário, cabendo-lhe ainda examinar os
objetivos e limites da medida interventiva. aspectos de validade do ato revogador.
Nessa situação hipotética, o ato administrativo de intervenção (C) Considerando que a revogação atinge um ato que foi pra-
encontra-se eivado de vício quanto ticado em conformidade com a lei, seus efeitos são ex nunc.
(A) ao objeto. (D) Pode a Administração Pública se arrepender da revogação
(B) ao motivo. de determinado ato.
(C) à finalidade. (E) O fundamento jurídico da revogação reside no poder discri-
(D) à competência. cionário da Administração Pública
(E) à forma.
49. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2017). Assinale
45. (TJ-PA - Auxiliar Judiciário - CESPE – 2020) A propriedade da a alternativa CORRETA sobre os atos administrativos.
administração de, por meios próprios, pôr em execução suas deci- (A) Atos individuais, também chamados de normativos, são
sões decorre do atributo denominado aqueles que se voltam para a regulação de situações jurídicas
(A) exigibilidade. concretas, com destinatários individualizados, como instruções
(B) autoexecutoriedade. normativas e regulamentos.
(C) vinculação. (B) Em razão do formalismo que o caracteriza, o ato administra-
(D) discricionariedade. tivo deve sempre ser escrito, sendo juridicamente insubsisten-
(E) E medidas preventivas. tes comandos administrativos verbais.
(C) Aprovação é o ato unilateral e vinculado pelo qual a Ad-
46. (UEPA - Técnico de Nível Superior – Administração – FA- ministração Pública reconhece a legalidade de um ato jurídico.
DESP/2020) Um ato administrativo é o ato jurídico praticado, segun- (D) Tanto os atos vinculados como os atos discricionários po-
do o Direito Administrativo, pelas pessoas administrativas, ou a Ad- dem ser objeto de controle pelo Poder Judiciário.
ministração Pública, por intermédio de seus agentes, no exercício (E) Os provimentos são exclusivos dos órgãos colegiados, ser-
de suas competências funcionais, capaz de produzir efeitos com fim vindo especificamente para demonstrar sua organização e seu
público. Os atos administrativos podem ser invalidados pela própria funcionamento.
Administração Pública ou pelo Poder Judiciário. O ato administrati-
vo pode vir a ser invalidado, quando o agente público 50. (CONFERE - Assistente Administrativo VII - INSTITUTO CIDA-
(A) foi empossado recentemente em cargo que lhe atribuiu a DES/2016). A anulação do ato administrativo:
competência para o ato administrativo. (A) Pode ser decretada à revelia pelo administrador público.
(B) praticou ato administrativo de modo a melhorar o ambiente (B) Pode ser decretada somente pelo poder judiciário, desde
organizacional de que faz parte, sem que, seja considerado um que exista base legal para isso.
ato com fim público. (C) Pode ser decretada tanto pelo poder judiciário como pela
(C) praticou ato administrativo motivado por fatores apresenta- administração pública competente.
dos por terceiros que correspondem à realidade e foram apre- (D) Não pode ser decretada em hipótese alguma, pois o ato
sentados formalmente. administrativo tem força de lei.
(D) praticou ato administrativo formalmente, para contraste
com a lei e aferido, pela própria Administração ou pelo Judici- 51.(TRE-PA - Técnico Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020) O
ário, que foi considerado estranho às vontades do gestor máxi- controle administrativo pode ser conceituado como “o conjunto de
mo da instituição pública. instrumentos definidos pelo ordenamento jurídico a fim de permitir
a fiscalização da atuação estatal por órgãos e entidades da própria
47. (SPPREV - Técnico em Gestão Previdenciária – FCC/2019) A Administração Pública, dos Poderes Legislativos e Judiciário, assim
edição de um ato administrativo de natureza vinculada acarreta ou como pelo povo”. Nesse sentido, analise as afirmativas abaixo e dê
pressupõe, para a Administração pública, o dever valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
(A) de ter observado o preenchimento dos requisitos legais ( ) O Brasil adota o sistema de jurisdição única quanto ao con-
para a edição, tendo em vista que nos atos vinculados a legis- trole da Administração Pública, razão pela qual não é possível a pro-
lação indica os elementos constitutivos do direito à prática do vocação do Poder Judiciário para análise de controvérsias antes do
ato. esgotamento das instâncias administrativas.
(B) subjetivo de emissão do mesmo, este que, em razão da na- ( ) O controle administrativo decorre do poder de autotutela
tureza, não admite anulação ou revogação. conferido à Administração Pública que deve efetivar a fiscalização
(C) de observar as opções legalmente disponíveis para decisão e revisão de seus atos, mediante provocação ou de ofício, com a
do administrador, que deverá fundamentá-la em razão de con- finalidade de verificar os aspectos de ilegalidade ou inconveniência
veniência e interesse público. do ato.
(D) do administrado destinatário do ato exercer o direito que ( ) O controle legislativo, realizado no âmbito do parlamento e
lhe fora concedido, tendo em vista que os atos administrativos dos órgãos auxiliares do Poder Legislativo, inclui o controle político
são vinculantes para os particulares, que não têm opção de não sobre o próprio exercício da função administrativa e o controle fi-
realizar o objeto ou finalidade do mesmo. nanceiro sobre a gestão dos gastos públicos dos três poderes.
(E) de submeter o ato ao controle externo do Tribunal de Con-
tas competente e do Poder Judiciário, sob o prisma da legalida-
de, conveniência e oportunidade.

168
DIREITO ADMINISTRATIVO
( ) A ação popular é considerada pela doutrina como remédio (D) Poder Judiciário, que deve ser precedido de parecer prévio
constitucional que pode ser utilizado por pessoas físicas ou jurídicas e apenas opinativo emitido pelo tribunal de contas.
para provocar o controle judicial, visando a anulação de ato lesivo (E) Tribunal de Contas da União (TCU), exclusivamente.
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio his- 56. (MPE-CE - Técnico Ministerial – CESPE/2020) Acerca da res-
tórico e cultural. ponsabilidade civil do Estado e de improbidade administrativa, jul-
gue o item seguinte.
Assinale a alternativa que representa a sequência correta de A responsabilidade civil da pessoa jurídica de direito público
cima para baixo: pelos atos causados por seus agentes é objetiva, enquanto a res-
(A) V, F, V, F ponsabilidade civil dos agentes públicos é subjetiva.
(B) V, V, V, F ( ) CERTO
(C) F, V, V, F ( ) ERRADO
(D) F, F, F, V
57. (TRE-PA - Técnico Judiciário – Administrativa – IBFC/2020)
52. (TJ-PA - Oficial de Justiça Avaliador - CESPE – 2020) Acerca A responsabilidade civil do Estado brasileiro pelos danos causados
do controle da administração pública, julgue os itens a seguir. a terceiros encontra-se disciplinada no artigo 37, parágrafo 6º, da
I Em nenhuma hipótese é possível a revogação, pelo Poder Ju- Constituição Federal de 1988 (CF/88). Sobre o tema, assinale a al-
diciário, de atos praticados pelo Poder Executivo. ternativa correta.
II A reclamação para anulação de ato administrativo em des- (A) Segundo a teoria do risco integral, o ente público deve ser
conformidade com súmula vinculante é uma modalidade de contro- responsabilizado objetivamente pelos danos que seus agentes
le externo da atividade administrativa. causarem a terceiros, sendo, contudo, admitida a exclusão da
III Nenhuma lei pode criar uma modalidade inovadora de con- responsabilidade em determinadas situações, tais como culpa
trole externo não prevista constitucionalmente. exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior, h aja vista ser
o Estado garantidor universal de seus subordinados
Assinale a opção correta.
(A) Apenas o item I está certo. (B) A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito pú-
(B) Apenas o item II está certo. blico e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de
(C) Apenas os itens I e III estão certos. serviços públicos não depende da comprovação de elementos
(D) Apenas os itens II e III estão certos. subjetivos ou da ilicitude do ato
(E) Todos os itens estão certos. (C) A Constituição Federal de 1988 admite ação de regresso do
Estado em face do agente público que, nessa qualidade, causar
53. (UEPA - Técnico de Nível Superior – Administração - FADESP danos a terceiros, cujo direito ao ressarcimento será aferido
– 2020) O controle da administração pública é realizado por meio por meio da responsabilidade objetiva do agressor
de um conjunto de mecanismos que permitem a vigilância, a orien- (D) As empresas públicas e sociedades de economia mista, en-
tação e a correção da atuação administrativa. Esse controle pode quanto exploradoras de atividade econômica, estão submeti-
ser classificado como interno ou externo. É considerado um tipo de das aos ditames da responsabilidade objetiva prevista no artigo
controle interno 37, parágrafo 6º, da CF/88, uma vez que gozam das prerrogati-
(A) análises do Tribunal de Contas da União – TCU. vas e sujeições inerentes ao regime jurídico administrativo
(B) apuração de irregularidades em Comissão Parlamentar de
Inquérito – CPI. 58. (TJ-PA - Analista Judiciário - Área Administração – CES-
(C) controle administrativo por autotutela. PE/2020) Acerca da responsabilidade civil do Estado, assinale a op-
(D) controle judicial mediante provocação. ção correta.
(A) É vedado ao Estado realizar pagamento administrativo de-
54. (DPE-AM - Assistente Técnico de Defensoria - FCC - 2019) dano causado a terceiro, devendo aguardar eventual condena-
Determinado órgão da Administração Estadual está sofrendo um ção em ação judicial para proceder ao pagamento mediante
processo de tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas do precatório.
Estado. Nesse caso, a tomada de contas é uma manifestação de (B) O Estado não deve indenizar prejuízos oriundos de altera-
controle ção de política econômico-tributária caso não se tenha com-
(A) prévio. prometido previamente por meio de planejamento específico.
(B) interno. (C) A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso
(C) jurisdicional. público gera direito a indenização caso se comprove cabalmen-
(D) político. te erro da administração pública.
(E) externo. (D) A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito pri-
vado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a
55. (TCE-RO - Auditor de Controle Externo - CESPE – 2019) A terceiros usuários, mas subsidiária para não usuários.
competência para o julgamento das contas do chefe do Executivo (E) O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos emprega-
é do: dos de empresa terceirizada não gera responsabilidade solidá-
(A) Poder Legislativo, que deve ser precedido de parecer vincu- ria do poder público, mas tão somente subsidiária.
lativo emitido pelo tribunal de contas.
(B) Poder Judiciário, que deve ser precedido de parecer prévio 59. (UEPA - Técnico de Nível Superior – Administração – FA-
e vinculativo do tribunal de contas. DESP/2020) A responsabilidade civil do Estado é decorrente de ação
(C) Poder Legislativo, que deve ser precedido de parecer prévio ou omissão estatal lícita ou ilícita que cause dano a alguém. São
e apenas opinativo emitido pelo tribunal de contas. considerados excludentes de responsabilização civil do Estado

169
DIREITO ADMINISTRATIVO
(A) força maior e caso fortuito. ( ) CERTO
(B) culpa exclusiva da vítima e danos exclusivamente morais. ( ) ERRADO
(C) dano não intencional e culpa exclusiva de terceiros.
(D) força maior e culpa de agentes públicos terceirizados. 64. (CRO-GO - Assistente Administrativo - Quadrix – 2019) Com
relação à responsabilidade civil do Estado, julgue o item.
60. (Prefeitura de Contagem - MG - Procurador Municipal – É objetiva a responsabilidade das fundações públicas de natu-
FUNDEP/ 2019) Analise a situação a seguir. reza autárquica.
Dirigindo a serviço um veículo oficial, um motorista servidor ( ) CERTO
público municipal colide em um carro particular, ocasionando estra- ( ) ERRADO
gos em ambos os carros, sem que haja vítimas.
Nessa situação hipotética, analisando a responsabilidade civil 65 (TRF - 3ª REGIÃO - Técnico Judiciário – Administrativa - FCC
do estado em relação ao particular, é correto afirmar: – 2019) Julio exerce cargo público efetivo de motorista em uma
(A) Não se aplica a responsabilidade objetiva prevista no art. autarquia federal e, durante o exercício funcional, envolveu-se em
37, §6º, da Constituição da República, pois o dano não foi cau- acidente que causou danos patrimoniais a terceiros. Nesse caso, no
sado por um ato administrativo, mas sim por um fato. tocante ao regime de responsabilidade civil, o referido servidor
(B) A responsabilidade é subjetiva e recai sobre o servidor pú- (A) responderá de forma objetiva e solidária com a autarquia.
blico motorista, que agiu com imprudência e imperícia no de- (B) não responderá em hipótese alguma, pois se trata de hipó-
sempenho da função. tese de responsabilidade integral da União.
(C) O município responde de maneira objetiva pelo prejuízo de- (C) responderá de forma subjetiva apenas se incluído no polo
corrente da colisão, sofrido pelo particular podendo cobrar do passivo da ação pelo terceiro afetado.
servidor o valor desembolsado em ação de regresso. (D) responderá de forma objetiva e subsidiária em relação à
(D) Aplica-se a teoria do risco administrativo, pois o servidor autarquia.
condutor do veículo estava dirigindo a serviço e não pode ser (E) responderá de forma subjetiva e por meio de ação regres-
responsabilizado pelo exercício de suas funções. siva.

61. (METRÔ-SP - Analista Desenvolvimento Gestão Júnior - FCC GABARITO


– 2019) Considere a seguinte situação.
Em uma determinada metrópole, há duas linhas de trem me-
tropolitano: uma é operada por uma empresa privada, mediante 1 D
regime contratual de concessão, e o sistema de condução dos trens
é totalmente automatizado, sem maquinistas ou operadores manu- 2 CERTO
ais; na outra linha, gerida por empresa estatal, os trens são condu- 3 ERRADO
zidos por maquinistas.
Em caso de ocorrência de acidentes envolvendo usuários em 4 B
cada uma dessas linhas, é correto concluir que será aplicado o regi- 5 A
me de responsabilidade
6 B
(A) subjetivo, em ambas as situações.
(B) objetivo, em ambas as situações. 7 D
(C) subjetivo na linha gerida pela concessionária e objetivo na 8 CERTO
linha gerida pela empresa estatal.
(D) objetivo na linha gerida pela concessionária e subjetivo na 9 A
linha gerida pela empresa estatal. 10 ERRADO
(E) integral, em ambas as situações.
11 ERRADO
62. (IF Baiano – Contador - IF-BA/2019) Em relação à responsa- 12 D
bilidade civil do Estado, assinale a alternativa correta.
13 A
(A) A responsabilidade civil do Estado prevista no art. 37, §6º
da CF/88 é subjetiva. 14 E
(B) A teoria do risco administrativo não admite excludente da 15 B
responsabilidade.
(C) O Brasil adotou como regra geral a teoria do risco integral. 16 A
(D) O Brasil adotou como regra geral a teoria do risco adminis- 17 A
trativo.
(E) Não se admite a responsabilidade por omissão do Estado, 18 C
segundo a doutrina majoritária e a jurisprudência consolidada 19 C
dos Tribunais Superiores. 20 D
63. (CRO-GO - Fiscal Regional - Quadrix – 2019) Com relação à 21 B
responsabilidade civil do Estado, julgue o item. 22 A
Para a teoria da responsabilidade objetiva, a responsabilização
do Estado prescinde da demonstração de culpa quanto ao fato da- 23 CERTO
noso, bastando que esteja presente a relação causal entre o fato e 24 ERRADO
o dano.

170
DIREITO ADMINISTRATIVO

25 A ANOTAÇÕES
26 D
27 B ______________________________________________________
28 CERTO ______________________________________________________
29 ERRADO
______________________________________________________
30 ERRADO
31 B ______________________________________________________
32 ERRADO ______________________________________________________
33 D
______________________________________________________
34 B
______________________________________________________
35 D
36 A ______________________________________________________
37 ERRADO ______________________________________________________
38 A
______________________________________________________
39 A
40 A ______________________________________________________

41 B ______________________________________________________
42 C
______________________________________________________
43 CERTO
______________________________________________________
44 E
45 B ______________________________________________________
46 B ______________________________________________________
47 A
______________________________________________________
48 B
49 D ______________________________________________________

50 C ______________________________________________________
51 C ______________________________________________________
52 E
______________________________________________________
53 C
54 E ______________________________________________________
55 C ______________________________________________________
56 CERTO
_____________________________________________________
57 B
_____________________________________________________
58 B
59 A ______________________________________________________
60 C ______________________________________________________
61 B
______________________________________________________
62 D
63 CERTO ______________________________________________________
64 CERTO ______________________________________________________
65 E
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

171
DIREITO ADMINISTRATIVO
______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

172
DIREITO CONSTITUCIONAL

II - a cidadania
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO III - a dignidade da pessoa humana;
BRASIL DE 1988. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Forma, Sistema e Fundamentos da República Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
• Papel dos Princípios e o Neoconstitucionalismo Constituição.
Os princípios abandonam sua função meramente subsidiária Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos en-
na aplicação do Direito, quando serviam tão somente de meio de tre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
integração da ordem jurídica (na hipótese de eventual lacuna) e ve-
tor interpretativo, e passam a ser dotados de elevada e reconhecida Objetivos Fundamentais da República
normatividade. Os Objetivos Fundamentais da República estão elencados no
Artigo 3º da CF/88. Vejamos:
• Princípio Federativo Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Fede-
Significa que a União, os Estados-membros, o Distrito Federal rativa do Brasil:
e os Municípios possuem autonomia, caracteriza por um determi- I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
nado grau de liberdade referente à sua organização, à sua adminis- II - garantir o desenvolvimento nacional;
tração, à sua normatização e ao seu Governo, porém limitada por III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
certos princípios consagrados pela Constituição Federal. gualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
• Princípio Republicano raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
É uma forma de Governo fundada na igualdade formal entre as
pessoas, em que os detentores do poder político exercem o coman- Princípios de Direito Constitucional Internacional
do do Estado em caráter eletivo, representativo, temporário e com Os Princípios de Direito Constitucional Internacional estão
responsabilidade. elencados no Artigo 4º da CF/88. Vejamos:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas rela-
• Princípio do Estado Democrático de Direito ções internacionais pelos seguintes princípios:
O Estado de Direito é aquele que se submete ao império da lei. I - independência nacional;
Por sua vez, o Estado democrático caracteriza-se pelo respeito ao II - prevalência dos direitos humanos;
princípio fundamental da soberania popular, vale dizer, funda-se na III - autodeterminação dos povos;
noção de Governo do povo, pelo povo e para o povo. IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
• Princípio da Soberania Popular VI - defesa da paz;
O parágrafo único do Artigo 1º da Constituição Federal reve- VII - solução pacífica dos conflitos;
la a adoção da soberania popular como princípio fundamental ao VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
prever que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio IX - cooperação entre os povos para o progresso da humani-
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Cons- dade;
tituição”. X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a in-
• Princípio da Separação dos Poderes tegração econômica, política, social e cultural dos povos da América
A visão moderna da separação dos Poderes não impede que Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana
cada um deles exerça atipicamente (de forma secundária), além de de nações.
sua função típica (preponderante), funções atribuídas a outro Po-
der. Referências Bibliográficas:
Vejamos abaixo, os dispositivos constitucionais corresponden- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
tes ao tema supracitado: Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.

TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti-
tui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;

173
DIREITO CONSTITUCIONAL
Constitucionalismo
CONSTITUIÇÃO: CONCEITO; CLASSIFICAÇÃO; Canotilho define o constitucionalismo como uma teoria (ou
HISTÓRICO E ELEMENTOS. PODER CONSTITUINTE ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável
à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização
Conceito de Constituição político-social de uma comunidade.
A Constituição é a norma suprema que rege a organização de Neste sentido, o constitucionalismo moderno representará
um Estado Nacional. uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos.
Por não haver na doutrina um consenso sobre o conceito de O conceito de constitucionalismo transporta, assim, um claro
Constituição, faz-se importante o estudo das diversas concepções juízo de valor. É, no fundo, uma teoria normativa da política, tal
que o englobam. Então vejamos: como a teoria da democracia ou a teoria do liberalismo.
Partindo, então, da ideia de que o Estado deva possuir uma
• Constituição Sociológica Constituição, avança-se no sentido de que os textos constitucionais
Idealizada por Ferdinand Lassalle, em 1862, é aquela que deve contêm regras de limitação ao poder autoritário e de prevalência
traduzir a soma dos fatores reais de poder que rege determinada dos direitos fundamentais, afastando-se a visão autoritária do an-
nação, sob pena de se tornar mera folha de papel escrita, que não tigo regime.
corresponde à Constituição real.
Poder Constituinte Originário, Derivado e Decorrente - Refor-
• Constituição Política ma (Emendas e Revisão) e Mutação da Constituição
Desenvolvida por Carl Schmitt, em 1928, é aquela que decorre Canotilho afirma que o poder constituinte tem suas raízes em
de uma decisão política fundamental e se traduz na estrutura do uma força geral da Nação. Assim, tal força geral da Nação atribui ao
Estado e dos Poderes e na presença de um rol de direitos funda- povo o poder de dirigir a organização do Estado, o que se conven-
mentais. As normas que não traduzirem a decisão política funda- cionou chamar de poder constituinte.
mental não serão Constituição propriamente dita, mas meras leis Munido do poder constituinte, o povo atribui parcela deste a
constitucionais. órgãos estatais especializados, que passam a ser denominados de
Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
• Constituição Jurídica Portanto, o poder constituinte é de titularidade do povo, mas
Fundada nas lições de Hans Kelsen, em 1934, é aquela que se é o Estado, por meio de seus órgãos especializados, que o exerce.
constitui em norma hipotética fundamental pura, que traz funda-
mento transcendental para sua própria existência (sentido lógico- • Poder Constituinte Originário
-jurídico), e que, por se constituir no conjunto de normas com mais É aquele que cria a Constituição de um novo Estado, organi-
alto grau de validade, deve servir de pressuposto para a criação das zando e estabelecendo os poderes destinados a reger os interesses
demais normas que compõem o ordenamento jurídico (sentido ju- de uma sociedade. Não deriva de nenhum outro poder, não sofre
rídico-positivo). qualquer limitação na órbita jurídica e não se subordina a nenhuma
Na concepção jurídico-positiva de Hans Kelsen, a Constituição condição, por tudo isso é considerado um poder de fato ou poder
ocupa o ápice da pirâmide normativa, servindo como paradigma político.
máximo de validade para todas as demais normas do ordenamento
jurídico. • Poder Constituinte Derivado
Ou seja, as leis e os atos infralegais são hierarquicamente in- Também é chamado de Poder instituído, de segundo grau ou
feriores à Constituição e, por isso, somente serão válidos se não constituído, porque deriva do Poder Constituinte originário, encon-
contrariarem as suas normas. trando na própria Constituição as limitações para o seu exercício,
Abaixo, segue a imagem ilustrativa da Pirâmide Normativa: por isso, possui natureza jurídica de um poder jurídico.

Pirâmide Normativa • Poder Constituinte Derivado Decorrente


É a capacidade dos Estados, Distrito Federal e unidades da Fe-
deração elaborarem as suas próprias Constituições (Lei Orgânica),
no intuito de se auto-organizarem. O exercente deste Poder são as
Assembleias Legislativas dos Estados e a Câmara Legislativa do Dis-
trito Federal.

• Poder Constituinte Derivado Reformador


Pode editar emendas à Constituição. O exercente deste Poder
é o Congresso Nacional.

• Mutação da Constituição
A interpretação constitucional deverá levar em consideração
todo o sistema. Em caso de antinomia de normas, buscar-se-á a so-
lução do aparente conflito através de uma interpretação sistemáti-
ca, orientada pelos princípios constitucionais.
Assim, faz-se importante diferenciarmos reforma e mutação
Como Normas Infraconstitucionais entendem-se as Leis Com- constitucional. Vejamos:
plementares e Ordinárias; → Reforma Constitucional seria a modificação do texto consti-
Como Normas Infralegais entendem-se os Decretos, Portarias, tucional, através dos mecanismos definidos pelo poder constituinte
Instruções Normativas, Resoluções, etc. originário (emendas), alterando, suprimindo ou acrescentando ar-
tigos ao texto original.

174
DIREITO CONSTITUCIONAL
→ Mutações Constitucionais não seria alterações físicas, pal- • Método Científico-Espiritual
páveis, materialmente perceptíveis, mas sim alterações no significa- Desenvolvido por Rudolf Smend. Baseia-se no pressuposto de
do e sentido interpretativo de um texto constitucional. A transfor- que o intérprete deve buscar o espírito da Constituição, ou seja, os
mação não está no texto em si, mas na interpretação daquela regra valores subjacentes ao texto constitucional.
enunciada. O texto permanece inalterado. É um método marcadamente sociológico que analisa as nor-
mas constitucionais a partir da ordem de valores imanentes do
As mutações constitucionais, portanto, exteriorizam o caráter texto constitucional, a fim de alcançar a integração da Constituição
dinâmico e de prospecção das normas jurídicas, através de proces- com a realidade social.
sos informais. Informais no sentido de não serem previstos dentre
aquelas mudanças formalmente estabelecidas no texto constitucio- • Método Normativo-Estruturante
nal. Pensado por Friedrich Muller, parte da premissa de que não há
uma identidade entre a norma jurídico-constitucional e o texto nor-
Métodos de Interpretação Constitucional mativo. A norma constitucional é mais ampla, uma vez que alcança
A hermenêutica constitucional tem por objeto o estudo e a a realidade social subjacente ao texto normativo.
sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido Assim, compete ao intérprete identificar o conteúdo da norma
e o alcance das normas constitucionais. É a ciência que fornece a constitucional para além do texto normativo. Daí concluir-se que a
técnica e os princípios segundo os quais o operador do Direito po- norma jurídica só surge após a interpretação do texto normativo.
derá apreender o sentido social e jurídico da norma constitucional
em exame, ao passo que a interpretação consiste em desvendar o Princípios de Interpretação Constitucional
real significado da norma. É, enfim, a ciência da interpretação das
normas constitucionais. • Princípio da Unidade da Constituição
A interpretação das normas constitucionais é realizada a partir O texto constitucional deve ser interpretado de forma a evitar
da aplicação de um conjunto de métodos hermenêuticos desenvol- contradições internas (antinomias), sobretudo entre os princípios
vidos pela doutrina e pela jurisprudência. Vejamos cada um deles: constitucionais estabelecidos. O intérprete deve considerar a Cons-
tituição na sua totalidade, harmonizando suas aparentes contradi-
• Método Hermenêutico Clássico ções.
Também chamado de método jurídico, desenvolvido por Ernest
Forsthoff, considera a Constituição como uma lei em sentido amplo, • Princípio do Efeito Integrador
logo, a arte de interpretá-la deverá ser realizada tal qual a de uma Traduz a ideia de que na resolução dos problemas jurídico-
lei, utilizando-se os métodos de interpretação clássicos, como, por -constitucionais deve-se dar primazia aos critérios que favoreçam a
exemplo, o literal, o lógico-sistemático, o histórico e o teleológico. unidade político-social, uma vez que a Constituição é um elemento
→ Literal ou gramatical: examina-se separadamente o sentido do processo de integração comunitária.
de cada vocábulo da norma jurídica. É tida como a mais singela for-
ma de interpretação, por isso, nem sempre é o mais indicado; • Princípio da Máxima Efetividade
→ Lógico-sistemático: conduz ao exame do sentido e do alcan- Também chamado de princípio da eficiência, ou princípio da
ce da norma de forma contextualizada ao sistema jurídico que inte- interpretação efetiva, reza que a interpretação constitucional deve
gra. Parte do pressuposto de que a norma é parcela integrante de atribuir o sentido que dê maior efetividade à norma constitucional
um todo, formando um sistema jurídico articulado; para que ela cumpra sua função social.
→ Histórico: busca-se no momento da produção normativa o É hoje um princípio aplicado a todas as normas constitucionais,
verdadeiro sentido da lei a ser interpretada; sendo, sobretudo, aplicado na interpretação dos direitos funda-
→ Teleológico: examina o fim social que a norma jurídica pre- mentais.
tendeu atingir. Possui como pressuposto a intenção do legislador ao
criar a norma. • Princípio da Justeza
Também chamado de princípio da conformidade funcional,
• Método Tópico-Problemático estabelece que os órgãos encarregados da interpretação constitu-
Este método valoriza o problema, o caso concreto. Foi ideali- cional não devem chegar a um resultado que subverta o esquema
zado por Theodor Viehweg. Ele interpreta a Constituição tentando organizatório e funcional traçado pelo legislador constituinte.
adaptar o problema concreto (o fato social) a uma norma consti- Ou seja, não pode o intérprete alterar a repartição de funções
tucional. Busca-se, assim, solucionar o problema “encaixando” em estabelecida pelos Poderes Constituintes originário e derivado.
uma norma prevista no texto constitucional.
• Princípio da Harmonização
• Método Hermenêutico-Concretizador Este princípio também é conhecido como princípio da concor-
Seu principal mentor foi Konrad Hesse. Concretizar é aplicar a dância prática, e determina que, em caso de conflito aparente entre
norma abstrata ao caso concreto. normas constitucionais, o intérprete deve buscar a coordenação e
Este método reconhece a relevância da pré-compreensão do a combinação dos bens jurídicos em conflito, de modo a evitar o
intérprete acerca dos elementos envolvidos no texto constitucional sacrifício total de uns em relação aos outros.
a ser desvendado.
A reformulação desta pré-compreensão e a subsequente re- • Princípio da Força Normativa da Constituição
leitura do texto normativo, com o posterior contraponto do novo Neste princípio o interprete deve buscar a solução hermenêu-
conteúdo obtido com a realidade social (movimento de ir e vir) de- tica que possibilita a atualização normativa do texto constitucional,
ve-se repetir continuamente até que se chegue à solução ótima do concretizando sua eficácia e permanência ao longo do tempo.
problema. Esse movimento é denominado círculo hermenêutico ou
espiral hermenêutica.

175
DIREITO CONSTITUCIONAL
• Princípio da Interpretação conforme a Constituição
Este princípio determina que, em se tratando de atos normativos primários que admitem mais de uma interpretação (normas polissê-
micas ou plurissignificativas), deve-se dar preferência à interpretação legal que lhe dê um sentido conforme a Constituição.

• Princípio da Supremacia
Nele, tem-se que a Constituição Federal é a norma suprema, haja vista ser fruto do exercício do Poder Constituinte originário. Essa
supremacia será pressuposto para toda interpretação jurídico-constitucional e para o exercício do controle de constitucionalidade.

• Princípio da Presunção de Constitucionalidade das Leis


Segundo ele, presumem-se constitucionais as leis e atos normativos primários até que o Poder Judiciário os declare inconstitucionais.
Ou seja, gozam de presunção relativa.

• Princípio da Simetria
Deste princípio extrai-se que, as Constituições Estaduais, a Lei Orgânica do Distrito Federal e as Leis Orgânicas Municipais devem se-
guir o modelo estatuído na Constituição Federal.

• Princípio dos Poderes Implícitos


Segundo a teoria dos poderes implícitos, para cada dever outorgado pela Constituição Federal a um determinado órgão, são implici-
tamente conferidos amplos poderes para o cumprimento dos objetivos constitucionais.

Classificação das Constituições

• Quanto à Origem
a) Democrática, Promulgada ou Popular: elaborada por legítimos representantes do povo, normalmente organizados em torno de
uma Assembleia Constituinte;
b) Outorgada: Imposta pela vontade de um poder absolutista ou totalitário, não democrático;
c) Cesarista, Bonapartista, Plebiscitária ou Referendária: Criada por um ditador ou imperador e posteriormente submetida à aprova-
ção popular por plebiscito ou referendo.

• Quanto ao Conteúdo
a) Formal: compõe-se do que consta em documento solene;
b) Material: composta por regras que exteriorizam a forma de Estado, organizações dos Poderes e direitos fundamentais, podendo
ser escritas ou costumeiras.

• Quanto à Forma
a) Escrita ou Instrumental: formada por um texto;
a.i) Escrita Legal – formada por um texto oriundo de documentos esparsos ou fragmentados;
a.ii) Escrita Codificada – formada por um texto inscrito em documento único.
b) Não Escrita: identificada a partir dos costumes, da jurisprudência predominante e até mesmo por documentos escritos.

• Quanto à Estabilidade, Mutabilidade ou Alterabilidade


a) Imutável: não prevê nenhum processo para sua alteração;
b) Fixa: só pode ser alterada pelo Poder Constituinte Originário;
c) Rígida: o processo para a alteração de suas normas é mais difícil do que o utilizado para criar leis;
d) Flexível: o processo para sua alteração é igual ao utilizado para criar leis;
e) Semirrígida ou Semiflexível: dotada de parte rígida e parte flexível.
• Quanto à Extensão
a) Sintética: regulamenta apenas os princípios básicos de um Estado, organizando-o e limitando seu poder, por meio da estipulação
de direitos e garantias fundamentais;
b) Analítica: vai além dos princípios básicos e dos direitos fundamentais, detalhando também outros assuntos, como de ordem eco-
nômica e social.

• Quanto à Finalidade
a) Garantia: contém proteção especial às liberdades públicas;
b) Dirigente: confere atenção especial à implementação de programas pelo Estado.

• Quanto ao Modo de Elaboração


a) Dogmática: sistematizada a partir de ideias fundamentais;
b) Histórica: de elaboração lenta, pois se materializa a partir dos costumes, que se modificam ao longo do tempo.

• Quanto à Ideologia
a) Ortodoxa: forjada sob a ótica de somente uma ideologia;
b) Eclética: fundada em valores plurais.

176
DIREITO CONSTITUCIONAL
• Quanto ao Valor ou Ontologia (Karl Loewestein)
a) Normativa: dotada de valor jurídico legítimo;
b) Nominal: sem valor jurídico, apenas social;
c) Semântica: tem importância jurídica, mas não valoração legítima, pois é criada apenas para justificar o exercício de um Poder não
democrático.

Classificação da Constituição da República Federativa do Brasil


Democrática, Formal Escrita Rígida Analítica Dirigente Dogmática Eclética Normativa
Promulgada ou Popular

Classificação das Normas Constitucionais


– Normas Constitucionais de Eficácia Plena: Possuem aplicabilidade imediata, direta e integral.
– Normas Constitucionais de Eficácia Contida: Possuem aplicabilidade imediata, direta, mas não integral.
– Normas Constitucionais de Eficácia Limitada Definidoras de Princípios Institutivos: Possuem aplicabilidade indireta, dependem de
lei posterior para dar corpo a institutos jurídicos e aos órgãos ou entidades do Estado, previstos na Constituição.
– Normas Constitucionais de Eficácia Limitada Definidoras de Princípios Programáticos: Possuem aplicabilidade indireta, estabele-
cem programas, metas, objetivos a serem desenvolvidos pelo Estado, típicas das Constituições dirigentes.
– Normas Constitucionais de Eficácia Absoluta: Não podem ser abolidas nem mesmo por emenda à Constituição Federal.
– Normas Constitucionais de Eficácia Exaurida: Possuem aplicabilidade esgotada.
– Normas Constitucionais de Eficácia Negativa
→ Impedem a recepção das normas infraconstitucionais pré-constitucionais materialmente incompatíveis, revogando-as;
→ Impedem que sejam produzidas normas ulteriores que contrariem os programas por ela estabelecidos. Serve, assim, como parâme-
tro para o controle de constitucionalidade;
→ Obrigam a atuação do Estado no sentido de conferir eficácia aos programas estatuídos no texto constitucional.

História Constitucional Brasileira

• Constituição de 18241
Primeira Constituição brasileira, a Constituição Política do Império do Brasil foi outorgada por Dom Pedro I, em 25 de março de 1824.
Instalava-se um governo monárquico, hereditário, constitucional e representativo.
Além dos três Poderes, Legislativo, Judiciário e Executivo, havia ainda o Poder Moderador. O Poder Legislativo era exercido pela Assem-
bleia Geral, composta de duas câmaras: a dos senadores, cujos membros eram vitalícios e nomeados pelo Imperador dentre integrantes
de uma lista tríplice enviada pela Província, e a dos deputados, eletiva e temporária.
Nesta Constituição destacaram-se: o fortalecimento da figura do Imperador com a criação do Poder Moderador acima dos outros
Poderes; a indicação pelo Imperador dos presidentes que governariam as províncias; o sistema eletivo indireto e censitário, com o voto
restrito aos homens livres e proprietários e subordinado a seu nível de renda.
Em 1834 foi promulgado o Ato Adicional, que criava as Assembleias Legislativas provinciais e suprimia o Poder Moderador, só restau-
rado em 1840, com a Emenda Interpretativa do Ato Adicional.
Foi a constituição que vigorou por maior tempo, 65 anos.

• Constituição de 1891
Foi promulgada pelo Congresso Constitucional, o mesmo que elegeu Deodoro da Fonseca como Presidente. Tinha caráter liberal e
federalista, inspirado na tradição republicana dos Estados Unidos.
Instituiu o presidencialismo, concedeu grande autonomia aos estados da federação e garantiu a liberdade partidária.
Estabeleceu eleições diretas para a Câmara, o Senado e a Presidência da República, com mandato de quatro anos. Estabeleceu o voto
universal e não-secreto para homens acima de 21 anos e vetava o mesmo a mulheres, analfabetos, soldados e religiosos; determinou a
separação oficial entre o Estado e a Igreja Católica; instituiu o casamento civil e o habeas corpus; aboliu a pena de morte e extinguiu o
Poder Moderador.
Também nesta Constituição ficou estabelecida, em seu artigo terceiro, uma zona de 14.400 Km² no Planalto Central, para a futura
Capital Federal.
A Constituição de 1891 vigorou por 39 anos.

• Constituição de 1934
Foi promulgada pela Assembleia Constituinte no primeiro governo do Presidente Getúlio Vargas e preservou a essência do modelo
liberal da Constituição anterior.
Garantiu maior poder ao governo federal; instituiu o voto obrigatório e secreto a partir dos 18 anos e o voto feminino, já instituídos
pelo Código Eleitoral de 1932; fixou um salário mínimo; introduziu a organização sindical mantida pelo Estado.
Criou o mandado de segurança. Sob a rubrica “Da Ordem Econômica e Social”, explicitava que deveria possibilitar “a todos existência
digna” e sob a rubrica “Da família, da Educação e da Cultura” proclamava a educação “direito de todos”.
Mudou também o enfoque da democracia individualista para a democracia social. Estabeleceu os critérios acerca da criação da Justiça
do Trabalho e da Justiça Eleitoral. O Poder Legislativo seria exercido pela Câmara dos Deputados com colaboração do Senado, sendo aquela
constituída por representantes eleitos pela população e por organizações de caráter profissional e trabalhista.
1 https://www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/copy_of_museu/publicacoes/arquivos-pdf/Constituicoes%20Brasileiras-PDF.pdf

177
DIREITO CONSTITUCIONAL
A Constituição de 1934 vigorou por 3 anos. A Constituição de 1967 autorizava a expedição de decretos-lei,
a nomeação de senadores pelas Assembleias Legislativas, a pror-
• Constituição de 1937 rogação do mandato presidencial para seis anos e a alteração da
No início de novembro de 1937, tropas da polícia militar do proporcionalidade de deputados no Congresso.
Distrito Federal cercaram o Congresso e impediram a entrada dos A Constituição de 1967 vigorou por 21 anos.
parlamentares. No mesmo dia, Vargas apresentou uma nova fase
política e a entrada em vigor de nova Carta Constitucional. Começa- • Constituição de 1988
va oficialmente o “Estado Novo”. Deu-se a supressão dos partidos Atualmente em vigor, a Constituição de 1988 foi promulga-
políticos e a concentração de poder nas mãos do chefe supremo. da no governo de José Sarney. Foi elaborada por uma Assembleia
A Carta de 1937 possuía clara inspiração nos modelos fascistas Constituinte, legalmente convocada e eleita e a primeira a permitir
europeus, institucionalizando o regime ditatorial do Estado Novo. a incorporação de emendas populares.
Ficaria conhecida como “Polaca”, devido a certas semelhanças com O Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Gui-
a Constituição Polonesa de 1935. marães, ao entregá-la à nação, chamou-a de “Constituição Cidadã”.
Extinguiu o cargo de vice-presidente, suprimiu a liberdade po- Seus pontos principais são a República representativa, federati-
lítico partidária e anulou a independência dos Poderes e a autono- va e presidencialista. Os direitos individuais e as liberdades públicas
mia federativa. são ampliados e fortalecidos. É garantida a inviolabilidade do direito
Essa Constituição permitiu a cassação da imunidade parlamen- à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
tar, a prisão e o exílio de opositores. Instituiu a eleição indireta para O Poder Executivo mantém sua forte influência, permitindo a
presidente da República, com mandato de seis anos; a pena de edição de medidas provisórias com força de lei (vigorantes por um
morte e a censura prévia nos meios de comunicação. Manteve os mês, passíveis de serem reeditadas enquanto não forem aprovadas
direitos trabalhistas. ou rejeitadas pelo Congresso).
A Constituição de 1937 vigorou por 8 anos. O voto se torna permitido e facultativo a analfabetos e maiores
de 16 anos. A educação fundamental é apresentada como obrigató-
• Constituição de 1946 ria, universal e gratuita.
Promulgada durante o governo do presidente Eurico Gaspar Também são abordados temas como o dever da defesa do
Dutra, foi elaborada sob os auspícios da derrota dos regimes totali- meio ambiente e de preservação de documentos, obras e outros
tários na Europa ao término da Segunda Guerra Mundial, refletia a bens de valor histórico, artístico e cultural, bem como os sítios ar-
redemocratização do Estado brasileiro. queológicos.
Restabeleceu os direitos individuais, extinguindo a censura e a Reformas constitucionais começaram a ser votadas pelo Con-
pena de morte. Devolveu a independência dos três poderes, a au- gresso Nacional a partir de 1992. Algumas das principais medidas
tonomia dos estados e municípios e a eleição direta para presidente abrem para a iniciativa privada atividades antes restritas à esfera de
da República, com mandato de cinco anos. ação do Estado, esvaziando, de certa forma, o poder e a influência
Em 1961 sofreu importante reforma com a adoção do parla- estatais em determinados setores.
mentarismo. Foi posteriormente anulada pelo plebiscito de 1963, A iniciativa privada, nacional ou internacional, recebe autoriza-
que restaurava o regime presidencialista. ção para explorar a pesquisa, a lavra e a distribuição dos derivados
A Constituição de 1946 vigorou por 21 anos. de petróleo, as telecomunicações e o gás encanado. As empresas
estrangeiras adquirem o direito de exploração dos recursos mine-
• Constituição de 1967 rais e hídricos.
Foi promulgada pelo Congresso Nacional durante o governo Na esfera política ocorrem mudanças na organização e regras
Castelo Branco. referentes ao sistema eleitoral; o mandato do presidente da Repú-
Oficializava e institucionalizava a ditadura do Regime Militar de blica é reduzido de cinco para quatro anos e, em 1997, é aprovada
1964. Foi por muitos denominada de “Super Polaca”. a emenda que permite a reeleição do presidente da República, de
Conservou o bipartidarismo criado pelo Ato Adicional n° 2. Es- governadores e prefeitos. Os candidatos processados por crime co-
tabeleceu eleições indiretas, por meio do Colégio Eleitoral, para a mum não podem ser eleitos, e os parlamentares submetidos a pro-
presidência da República, com quatro anos de mandato. cesso que possa levar à perda de mandato e à inelegibilidade não
Foram incorporadas nas suas Disposições Transitórias os dispo- podem renunciar para impedir a punição.
sitivos do Ato Institucional n° 5 (AI-5), de 1968, dando permissão ao
presidente para, dentre outros, fechar o Congresso, cassar manda- Constituições Brasileiras
tos e suspender direitos políticos. Permitiu aos governos militares
total liberdade de legislar em matéria política, eleitoral, econômica Outorgadas Promulgadas
e tributária. 1824 – Constituição do Brasil- 1891 – 1ª Constituição da
Desta forma, o Executivo acabou por substituir, na prática, o Império República
Legislativo e o Judiciário. Sofreu algumas reformas como a emen-
da Constitucional nº 1, de 1969, outorgada pela Junta Militar. Tal 1937 – Imposta por Getúlio 1934 – Influenciada pela
emenda se apresenta como um “complemento” às leis e regula- Vargas Constituição de Weimar
mentações da Constituição de 1967. (Alemanha – 1919).
Embora seja denominada por alguns como Constituição, já que Evidenciou os direitos
promulgou um texto reformulado a partir da Constituição de 1967, fundamentais de 2ª geração
muitos são os que não a veem como tal. A verdade é que, a par- 1967 – Imposta após o Golpe 1946 – Redemocratização do
tir desta emenda, ficam mais claras as características políticas da Militar de 1964 Brasil após a era Vargas
ditadura militar. Continuava em vigor o Ato Institucional nº 5 e os
* EC nº1/1969 – Imposta pela 1988 – Atual Carta Política
demais atos institucionais anteriormente baixados.
ditadura

178
DIREITO CONSTITUCIONAL
Referências Bibliográficas: c) possuem aplicabilidade direta (não dependem de norma re-
BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons- gulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (estão aptas
titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que é pro-
Salvador: Editora JusPODIVM. mulgada a Constituição) e integral (não podem sofrer limitações ou
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e restrições em sua aplicação).
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 11 edição – 2) Normas constitucionais de eficácia contida ou prospectiva
São Paulo: Editora Método. São normas que estão aptas a produzir todos os seus efeitos
desde o momento da promulgação da Constituição, mas que po-
dem ser restringidas por parte do Poder Público. Cabe destacar que
APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. a atuação do legislador, no caso das normas de eficácia contida, é
NORMAS DE EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA. discricionária: ele não precisa editar a lei, mas poderá fazê-lo.
NORMAS PROGRAMÁTICAS Um exemplo clássico de norma de eficácia contida é o art.5º,
inciso XIII, da CF/88, segundo o qual “é livre o exercício de qualquer
O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais é essen- trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissio-
cial à correta interpretação da Constituição Federal2. É a compreen- nais que a lei estabelecer”.
são da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitirá Em razão desse dispositivo, é assegurada a liberdade profissio-
entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dis- nal: desde a promulgação da Constituição, todos já podem exercer
positivos da Constituição. qualquer trabalho, ofício ou profissão. No entanto, a lei poderá es-
Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. To- tabelecer restrições ao exercício de algumas profissões. Citamos,
das elas são imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as por exemplo, a exigência de aprovação no exame da OAB como pré-
normas constitucionais surtem efeitos jurídicos: o que varia entre -requisito para o exercício da advocacia.
elas é o grau de eficácia. As normas de eficácia contida possuem as seguintes caracte-
A doutrina americana (clássica) distingue duas espécies de nor- rísticas:
mas constitucionais quanto à aplicabilidade: as normas autoexecu- a) são autoaplicáveis, ou seja, estão aptas a produzir todos os
táveis (“self executing”) e as normas não-autoexecutáveis. seus efeitos, independentemente de lei regulamentadora. Em ou-
As normas autoexecutáveis são normas que podem ser aplica- tras palavras, não precisam de lei regulamentadora que lhes com-
das sem a necessidade de qualquer complementação. São normas plete o alcance ou sentido.
completas, bastantes em si mesmas. Já as normas não-autoexecu- Vale destacar que, antes da lei regulamentadora ser publicada,
táveis dependem de complementação legislativa antes de serem o direito previsto em uma norma de eficácia contida pode ser exer-
aplicadas: são as normas incompletas, as normas programáticas citado de maneira ampla (plena); só depois da regulamentação é
(que definem diretrizes para as políticas públicas) e as normas de que haverá restrições ao exercício do direito;
estruturação (instituem órgãos, mas deixam para a lei a tarefa de b) são restringíveis, isto é, estão sujeitas a limitações ou restri-
organizar o seu funcionamento). ções, que podem ser impostas por:
Embora a doutrina americana seja bastante didática, a classifi- - uma lei: o direito de greve, na iniciativa privada, é norma de
cação das normas quanto à sua aplicabilidade mais aceita no Brasil eficácia contida prevista no art. 9º, da CF/88. Desde a promulgação
foi a proposta pelo Prof. José Afonso da Silva. da CF/88, o direito de greve já pode exercido pelos trabalhadores
A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, José do regime celetista; no entanto, a lei poderá restringi-lo, definindo
Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em três grupos: os “serviços ou atividades essenciais” e dispondo sobre “o atendi-
→ normas de eficácia plena; mento das necessidades inadiáveis da comunidade”.
→ normas de eficácia contida; - outra norma constitucional: o art. 139, da CF/88 prevê a pos-
→ normas de eficácia limitada. sibilidade de que sejam impostas restrições a certos direitos e ga-
rantias fundamentais durante o estado de sítio.
1) Normas de eficácia plena - conceitos ético-jurídicos indeterminados: o art. 5º, inciso XXV,
São aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, da CF/88 estabelece que, no caso de “iminente perigo público”, o
produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos que o Estado poderá requisitar propriedade particular. Esse é um conceito
legislador constituinte quis regular. É o caso do art. 2º da CF/88, que ético-jurídico que poderá, então, limitar o direito de propriedade;
diz: “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. c) possuem aplicabilidade direta (não dependem de norma re-
As normas de eficácia plena possuem as seguintes caracterís- gulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (estão aptas a
ticas: produzir todos os seus efeitos desde o momento em que é promul-
a) são autoaplicáveis, é dizer, elas independem de lei posterior gada a Constituição) e possivelmente não-integral (estão sujeitas a
regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido. Isso não limitações ou restrições).
quer dizer que não possa haver lei regulamentadora versando sobre
uma norma de eficácia plena; a lei regulamentadora até pode exis- 3) Normas constitucionais de eficácia limitada
tir, mas a norma de eficácia plena já produz todos os seus efeitos São aquelas que dependem de regulamentação futura para
de imediato, independentemente de qualquer tipo de regulamen- produzirem todos os seus efeitos. Um exemplo de norma de eficá-
tação; cia limitada é o art. 37, inciso VII, da CF/88, que trata do direito de
b) são não-restringíveis, ou seja, caso exista uma lei tratando greve dos servidores públicos (“o direito de greve será exercido nos
de uma norma de eficácia plena, esta não poderá limitar sua apli- termos e nos limites definidos em lei específica”).
cação;

2 http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:j3AAnRpJ4j-
8J:www.estrategiaconcursos.com.br/curso/main/downloadPDF/%3Faula%-
3D188713+&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

179
DIREITO CONSTITUCIONAL
Ao ler o dispositivo supracitado, é possível perceber que a → efeito negativo;
Constituição Federal de 1988 outorga aos servidores públicos o di- → efeito vinculativo.
reito de greve; no entanto, para que este possa ser exercido, faz-se
necessária a edição de lei ordinária que o regulamente. Assim, en- O efeito negativo consiste na revogação de disposições ante-
quanto não editada essa norma, o direito não pode ser usufruído. riores em sentido contrário e na proibição de leis posteriores que
As normas constitucionais de eficácia limitada possuem as se- se oponham a seus comandos. Sobre esse último ponto, vale desta-
guintes características: car que as normas de eficácia limitada servem de parâmetro para o
a) são não-autoaplicáveis, ou seja, dependem de complemen- controle de constitucionalidade das leis.
tação legislativa para que possam produzir os seus efeitos; O efeito vinculativo, por sua vez, se manifesta na obrigação de
b) possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma re- que o legislador ordinário edite leis regulamentadoras, sob pena de
gulamentadora para produzir seus efeitos) mediata (a promulgação haver omissão inconstitucional, que pode ser combatida por meio
do texto constitucional não é suficiente para que possam produzir de mandado de injunção ou Ação Direta de Inconstitucionalidade
todos os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de eficácia res- por Omissão.
trito quando da promulgação da Constituição). Ressalte-se que o efeito vinculativo também se manifesta na
obrigação de que o Poder Público concretize as normas programá-
Muito cuidado para não confundir! ticas previstas no texto constitucional. A Constituição não pode ser
As normas de eficácia contida estão aptas a produzir todos os uma mera “folha de papel”; as normas constitucionais devem re-
seus efeitos desde o momento em que a Constituição é promul- fletir a realidade político-social do Estado e as políticas públicas de-
gada. A lei posterior, caso editada, irá restringir a sua aplicação. vem seguir as diretrizes traçadas pelo Poder Constituinte Originário.
As normas de eficácia limitada não estão aptas a produzirem
todos os seus efeitos com a promulgação da Constituição; elas
dependem, para isso, de uma lei posterior, que irá ampliar o seu DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. DIREITOS
alcance. E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS, DIREITOS
SOCIAIS, DIREITOS DE NACIONALIDADE, DIREITOS
José Afonso da Silva subdivide as normas de eficácia limitada POLÍTICOS, PARTIDOS POLÍTICOS, REMÉDIOS
em dois grupos: CONSTITUCIONAIS
a) normas declaratórias de princípios institutivos ou organiza-
tivos: são aquelas que dependem de lei para estruturar e organizar Distinção entre Direitos e Garantias Fundamentais
as atribuições de instituições, pessoas e órgãos previstos na Consti- Pode-se dizer que os direitos fundamentais são os bens jurídi-
tuição. É o caso, por exemplo, do art. 88, da CF/88, segundo o qual cos em si mesmos considerados, de cunho declaratório, narrados
“a lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da no texto constitucional. Por sua vez, as garantias fundamentais são
administração pública.” estabelecidas na mesma Constituição Federal como instrumento de
As normas definidoras de princípios institutivos ou organizati- proteção dos direitos fundamentais e, como tais, de cunho assecu-
vos podem ser impositivas (quando impõem ao legislador uma obri- ratório.
gação de elaborar a lei regulamentadora) ou facultativas (quando
estabelecem mera faculdade ao legislador). Evolução dos Direitos e Garantias Fundamentais
O art. 88, da CF/88, é exemplo de norma impositiva; como
exemplo de norma facultativa citamos o art. 125, § 3º, CF/88, que • Direitos Fundamentais de Primeira Geração
dispõe que a “lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribu- Possuem as seguintes características:
nal de Justiça, a Justiça Militar estadual”; a) surgiram no final do século XVIII, no contexto da Revolução
Francesa, fase inaugural do constitucionalismo moderno, e domina-
b) normas declaratórias de princípios programáticos: são ram todo o século XIX;
aquelas que estabelecem programas a serem desenvolvidos pelo b) ganharam relevo no contexto do Estado Liberal, em oposição
legislador infraconstitucional. Um exemplo é o art. 196 da Carta ao Estado Absoluto;
Magna (“a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido c) estão ligados ao ideal de liberdade;
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do ris- d) são direitos negativos, que exigem uma abstenção do Estado
co de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário em favor das liberdades públicas;
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”). e) possuíam como destinatários os súditos como forma de pro-
Cabe destacar que a presença de normas programáticas na teção em face da ação opressora do Estado;
Constituição Federal é que nos permite classificá-la como uma f) são os direitos civis e políticos.
Constituição-dirigente.
É importante destacar que as normas de eficácia limitada, em- • Direitos Fundamentais de Segunda Geração
bora tenham aplicabilidade reduzida e não produzam todos os seus Possuem as seguintes características:
efeitos desde a promulgação da Constituição, possuem eficácia ju- a) surgiram no início do século XX;
rídica. b) apareceram no contexto do Estado Social, em oposição ao
Guarde bem isso: a eficácia dessas normas é limitada, porém Estado Liberal;
existente! Diz-se que as normas de eficácia limitada possuem efi- c) estão ligados ao ideal de igualdade;
cácia mínima. d) são direitos positivos, que passaram a exigir uma atuação
Diante dessa afirmação, cabe-nos fazer a seguinte pergunta: positiva do Estado;
quais são os efeitos jurídicos produzidos pelas normas de eficácia e) correspondem aos direitos sociais, culturais e econômicos.
limitada?
As normas de eficácia limitada produzem imediatamente, des-
de a promulgação da Constituição, dois tipos de efeitos:

180
DIREITO CONSTITUCIONAL
• Direitos Fundamentais de Terceira Geração Natureza Relativa dos Direitos e Garantias Fundamentais
Em um próximo momento histórico, foi despertada a preocu- Encontram limites nos demais direitos constitucionalmente
pação com os bens jurídicos da coletividade, com os denominados consagrados, bem como são limitados pela intervenção legislativa
interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogê- ordinária, nos casos expressamente autorizados pela própria Cons-
neos), nascendo os direitos fundamentais de terceira geração. tituição (princípio da reserva legal).

Direitos Metaindividuais Colisão entre os Direitos e Garantias Fundamentais


O princípio da proporcionalidade sob o seu triplo aspecto (ade-
Natureza Destinatários quação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) é a
Difusos Indivisível Indeterminados ferramenta apta a resolver choques entre os princípios esculpidos
na Carta Política, sopesando a incidência de cada um no caso con-
Determináveis creto, preservando ao máximo os direitos e garantias fundamentais
Coletivos Indivisível ligados por uma constitucionalmente consagrados.
relação jurídica
Determinados Os quatro status de Jellinek
Individuais a) status passivo ou subjectionis: quando o indivíduo se encon-
Divisível ligados por uma
Homogêneos tra em posição de subordinação aos poderes públicos, caracterizan-
situação fática
do-se como detentor de deveres para com o Estado;
Os Direitos Fundamentais de Terceira Geração possuem as se- b) status negativo: caracterizado por um espaço de liberdade
guintes características: de atuação dos indivíduos sem ingerências dos poderes públicos;
a) surgiram no século XX; c) status positivo ou status civitatis: posição que coloca o indi-
b) estão ligados ao ideal de fraternidade (ou solidariedade), víduo em situação de exigir do Estado que atue positivamente em
que deve nortear o convívio dos diferentes povos, em defesa dos seu favor;
bens da coletividade; d) status ativo: situação em que o indivíduo pode influir na for-
c) são direitos positivos, a exigir do Estado e dos diferentes mação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos direi-
povos uma firme atuação no tocante à preservação dos bens de tos políticos, manifestados principalmente por meio do voto.
interesse coletivo;
d) correspondem ao direito de preservação do meio ambiente, Referências Bibliográficas:
de autodeterminação dos povos, da paz, do progresso da humani- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
dade, do patrimônio histórico e cultural, etc. Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.

• Direitos Fundamentais de Quarta Geração Os direitos individuais estão elencados no caput do Artigo 5º
Segundo Paulo Bonavides, a globalização política é o fator his- da CF. São eles:
tórico que deu origem aos direitos fundamentais de quarta gera-
ção. Eles estão ligados à democracia, à informação e ao pluralismo. Direito à Vida
Também são transindividuais. O direito à vida deve ser observado por dois prismas: o direito
de permanecer vivo e o direito de uma vida digna.
Direitos Fundamentais de Quinta Geração O direito de permanecer vivo pode ser observado, por exem-
Paulo Bonavides defende, ainda, que o direito à paz represen- plo, na vedação à pena de morte (salvo em caso de guerra decla-
taria o direito fundamental de quinta geração. rada).
Já o direito à uma vida digna, garante as necessidades vitais
Características dos Direitos e Garantias Fundamentais básicas, proibindo qualquer tratamento desumano como a tortura,
São características dos Direitos e Garantias Fundamentais: penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc.
a) Historicidade: não nasceram de uma só vez, revelando sua
índole evolutiva; Direito à Liberdade
b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos, indepen- O direito à liberdade consiste na afirmação de que ninguém
dentemente de características pessoais; será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em vir-
c) Relatividade: não são absolutos, mas sim relativos; tude de lei. Tal dispositivo representa a consagração da autonomia
d) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia; privada.
e) Inalienabilidade: são indisponíveis e inalienáveis por não Trata-se a liberdade, de direito amplo, já que compreende,
possuírem conteúdo econômico-patrimonial; dentre outros, as liberdades: de opinião, de pensamento, de loco-
f) Imprescritibilidade: são sempre exercíveis, não desparecen- moção, de consciência, de crença, de reunião, de associação e de
do pelo decurso do tempo. expressão.

Destinatários dos Direitos e Garantias Fundamentais Direito à Igualdade


Todas as pessoas físicas, sem exceção, jurídicas e estatais, são A igualdade, princípio fundamental proclamado pela Constitui-
destinatárias dos direitos e garantias fundamentais, desde que ção Federal e base do princípio republicano e da democracia, deve
compatíveis com a sua natureza. ser encarada sob duas óticas, a igualdade material e a igualdade
formal.
Eficácia Horizontal dos Direitos e Garantias Fundamentais A igualdade formal é a identidade de direitos e deveres conce-
Muito embora criados para regular as relações verticais, de su- didos aos membros da coletividade por meio da norma.
bordinação, entre o Estado e seus súditos, passam a ser emprega-
dos nas relações provadas, horizontais, de coordenação, envolven-
do pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado.

181
DIREITO CONSTITUCIONAL
Por sua vez, a igualdade material tem por finalidade a busca IX - é livre a expressão de atividade intelectual, artística, cientí-
da equiparação dos cidadãos sob todos os aspectos, inclusive o fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
jurídico. É a consagração da máxima de Aristóteles, para quem o X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
princípio da igualdade consistia em tratar igualmente os iguais e gem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano ma-
desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam. terial ou moral decorrente de sua violação;
Sob o pálio da igualdade material, caberia ao Estado promover XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
a igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas e leis penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran-
que, atentos às características dos grupos menos favorecidos, com- te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
pensassem as desigualdades decorrentes do processo histórico da determinação judicial;
formação social. XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no úl-
Direito à Privacidade timo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade é gênero, estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução proces-
do qual são espécies a intimidade, a honra, a vida privada e a ima- sual penal;
gem. De maneira que, os mesmos são invioláveis e a eles assegura- XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
-se o direito à indenização pelo dano moral ou material decorrente atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
de sua violação. XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado
o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
Direito à Honra XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz,
O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atributos perti- podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane-
nentes à reputação do cidadão sujeito de direitos, exatamente por cer ou dele sair com seus bens;
tal motivo, são previstos no Código Penal. XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo-
cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde
Direito de Propriedade que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o
É assegurado o direito de propriedade, contudo, com restri- mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com-
ções, como por exemplo, de que se atenda à função social da pro- petente;
priedade. Também se enquadram como espécies de restrição do XVII- é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada
direito de propriedade, a requisição, a desapropriação, o confisco
a de caráter paramilitar;
e o usucapião.
XVIII- a criação de associações e, na forma da lei, a de coope-
Do mesmo modo, é no direito de propriedade que se assegu-
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência
ram a inviolabilidade do domicílio, os direitos autorais (propriedade
estatal em seu funcionamento;
intelectual) e os direitos reativos à herança.
Destes direitos, emanam todos os incisos do Art. 5º, da CF/88, XIX- as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi-
conforme veremos abaixo: das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
TÍTULO II XX- ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma-
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS necer associado;
XXI- as entidades associativas, quando expressamente autori-
CAPÍTULO I zadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS extrajudicialmente;
XXII- é garantido o direito de propriedade;
Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de XXIII- a propriedade atenderá a sua função social;
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos previstos nesta Constituição;
termos desta Constituição; XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade compe-
II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma tente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro-
coisa senão em virtude de lei; prietário indenização ulterior, se houver dano;
III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desu- XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des-
mano ou degradante; de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano- pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
nimato; pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem; publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo ros pelo tempo que a lei fixar;
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
XXVIII- são assegurados, nos termos da lei:
ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
desportivas;
VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença reli-
giosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
prestação alternativa, fixada em lei; pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;

182
DIREITO CONSTITUCIONAL
XXIX- a lei assegurará aos autores de inventos industriais privi- b) de caráter perpétuo;
légio temporário para sua utilização, bem como às criações indus- c) de trabalhos forçados;
triais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros d) de banimento;
signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi- e) cruéis;
mento tecnológico e econômico do País; XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de
XXX- é garantido o direito de herança; acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XXXI- a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos moral;
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável à lei pessoal L- às presidiárias serão asseguradas condições para que pos-
do de cujus; sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta-
XXXII- o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con- ção;
sumidor; LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informa- em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
ções de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, gas afins, na forma da lei;
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime po-
sociedade e do Estado; lítico ou de opinião;
XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do paga- LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão por au-
mento de taxas: toridade competente;
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi- LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; devido processo legal;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão com os meios e recursos a ela inerentes;
ou ameaça a direito; LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico ilícitos;
perfeito e a coisa julgada; LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julga-
XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção; do da sentença penal condenatória;
XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização LVIII- o civilmente identificado não será submetido à identifica-
que lhe der a lei, assegurados: ção criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
a) a plenitude da defesa; LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
b) o sigilo das votações; esta não for intentada no prazo legal;
c) a soberania dos veredictos; LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
a vida; LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or-
XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,
sem prévia cominação legal; salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi-
XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; litar, definidos em lei;
XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
e liberdades fundamentais;
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família
XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
ou à pessoa por ele indicada;
critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o
XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí-
graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecen-
lia e de advogado;
tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion-
LXIV- o preso tem direito a identificação dos responsáveis por
dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
sua prisão ou por seu interrogatório policial;
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de gru- LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autori-
pos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o dade judiciária;
Estado Democrático; LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a
XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimen-
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; tícia e a do depositário infiel;
XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre LXVIII- conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
outras, as seguintes: ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda-
a) privação ou restrição de liberdade; de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
b) perda de bens; LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger di-
c) multa; reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
d) prestação social alternativa; data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
e) suspensão ou interdição de direitos; autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri-
XLVII- não haverá penas: buições de Poder Público;
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do LXX- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
artigo 84, XIX; a) partido político com representação no Congresso Nacional;

183
DIREITO CONSTITUCIONAL
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal- Os direitos sociais são prestações positivas proporcionadas
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas cons-
defesa dos interesses de seus membros ou associados; titucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais
LXXI- conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações so-
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e ciais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona- igualdade. Estão previstos na CF nos artigos 6 a 11. Vejamos:
lidade, à soberania e à cidadania;
LXXII- conceder-se-á habeas data: CAPÍTULO II
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à DOS DIREITOS SOCIAIS
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
de entidades governamentais ou de caráter público; Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ-
por processo sigiloso, judicial ou administrativo; dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilida-
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o de social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus poder público em programa permanente de transferência de renda,
da sucumbência; cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, ob-
LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita servada a legislação fiscal e orçamentária. (Incluído pela Emenda
aos que comprovarem insuficiência de recursos; Constitucional nº 114, de 2021)
LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as- Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; outros que visem à melhoria de sua condição social:
LXXVI- são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na for- I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
ma da lei: ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
a) o registro civil de nascimento; indenização compensatória, dentre outros direitos;
b) a certidão de óbito. II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data III - fundo de garantia do tempo de serviço;
e, na forma da lei, os atos necessário ao exercício da cidadania; IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado,
LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse- capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa-
gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
celeridade de sua tramitação. higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos para qualquer fim;
dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do
Constitucional nº 115, de 2022) trabalho;
§1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamen- VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção
tais têm aplicação imediata. ou acordo coletivo;
§2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não ex- VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que
cluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adota- percebem remuneração variável;
dos, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral
do Brasil seja parte. ou no valor da aposentadoria;
§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu- IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos retenção dolosa;
§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Interna- XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re-
cional a cuja criação tenha manifestado adesão. muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre-
sa, conforme definido em lei;
O tratado foi equiparado no ordenamento jurídico brasileiro às XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalha-
leis ordinárias. Em que pese tenha adquirido este caráter, o men- dor de baixa renda nos termos da lei;
cionado tratado diz respeito a direitos humanos, porém não possui XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas di-
característica de emenda constitucional, pois entrou em vigor em árias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
nosso ordenamento jurídico antes da edição da Emenda Constitu- horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
cional nº 45/04. Para que tal tratado seja equiparado às emendas coletiva de trabalho;
constitucionais deverá passar pelo mesmo rito de aprovação destas. XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
Referências Bibliográficas: XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e mingos;
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no míni-
mo, em cinquenta por cento à do normal;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
terço a mais do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário,
com a duração de cento e vinte dias;

184
DIREITO CONSTITUCIONAL
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante in- coletivas de trabalho;
centivos específicos, nos termos da lei; VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no organizações sindicais;
mínimo de trinta dias, nos termos da lei; VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par-
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor- tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação
mas de saúde, higiene e segurança; sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
insalubres ou perigosas, na forma da lei; Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à orga-
XXIV - aposentadoria; nização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas- as condições que a lei estabelecer.
cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos traba-
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de lhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os inte-
trabalho; resses que devam por meio dele defender.
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre- sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas
incorrer em dolo ou culpa; da lei.
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e em-
trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalha- pregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus inte-
dores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do resses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e
contrato de trabalho; deliberação.
a) (Revogada). Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é as-
b) (Revogada). segurada a eleição de um representante destes com a finalidade
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empre-
e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado gadores.
civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário Os direitos sociais regem-se pelos princípios abaixo:
e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; • Princípio da proibição do retrocesso: qualifica-se pela impos-
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e sibilidade de redução do grau de concretização dos direitos sociais
intelectual ou entre os profissionais respectivos; já implementados pelo Estado. Ou seja, uma vez alcançado deter-
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a minado grau de concretização de um direito social, fica o legislador
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem que haja
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; a criação de mecanismos equivalentes chamados de medias com-
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo pensatórias.
empregatício permanente e o trabalhador avulso. • Princípio da reserva do possível: a implementação dos di-
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhado- reitos e garantias fundamentais de segunda geração esbarram no
res domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, óbice do financeiramente possível.
XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, • Princípio do mínimo existencial: é um conjunto de bens e di-
atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplifi- reitos vitais básicos indispensáveis a uma vida humana digna, intrin-
cação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e aces- secamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa humana
sórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previsto no Artigo 1º, III, CF. A efetivação do mínimo existencial não
previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua se sujeita à reserva do possível, pois tais direitos se encontram na
integração à previdência social. estrutura dos serviços púbicos essenciais.
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado
o seguinte: Os direitos sociais são divididos em:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a funda-
ção de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, veda- Direitos relativos aos trabalhadores
das ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização Direitos relativos ao salário, às condições de trabalho, à liber-
sindical; dade de instituição sindical, o direito de greve, entre outros (CF, ar-
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, tigos 7º a 11).
em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou eco-
nômica, na mesma base territorial, que será definida pelos traba- Direitos relativos ao homem consumidor
lhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à Direito à saúde, à educação, à segurança social, ao desenvolvi-
área de um Município; mento intelectual, o igual acesso das crianças e adultos à instrução,
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coleti- à cultura e garantia ao desenvolvimento da família, que estariam no
vos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou título da ordem social.
administrativas;
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratan- Referências Bibliográficas:
do de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
do sistema confederativo da representação sindical respectiva, in- Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
dependentemente da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a
sindicato;

185
DIREITO CONSTITUCIONAL
Os direitos referentes à nacionalidade estão previstos dos Arti- Espécies de Nacionalidade
gos 12 a 13 da CF. Vejamos: São duas as espécies de nacionalidade:
a) Nacionalidade primária, originária, de 1º grau, involuntá-
CAPÍTULO III ria ou nata: é aquela resultante de um fato natural, o nascimento.
DA NACIONALIDADE Trata-se de aquisição involuntária de nacionalidade, decorrente do
simples nascimento ligado a um critério estabelecido pelo Estado
Art. 12. São brasileiros: na sua Constituição Federal. Descrita no Artigo 12, I, CF/88.
I - natos: b) Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de 2º
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de grau, voluntária ou naturalização: é a que se adquire por ato voliti-
pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; vo, depois do nascimento, somado ao cumprimento dos requisitos
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei- constitucionais. Descrita no Artigo 12, II, CF/88.
ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
tiva do Brasil; O quadro abaixo auxilia na memorização das diferenças entre
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra- as duas:
sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e Nacionalidade
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira; Primária Secundária
II - naturalizados: Nascimento + Requisitos Ato de vontade + Requisitos
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, constitucionais constitucionais
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi-
dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; Brasileiro Nato Brasileiros Naturalizado
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterrup- • Critérios para Adoção de Nacionalidade Primária
tos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade O Estado pode adotar dois critérios para a concessão da nacio-
brasileira. nalidade originária: o de origem sanguínea (ius sanguinis) e o de
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se origem territorial (ius solis).
houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os O critério ius sanguinis tem por base questões de hereditarie-
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Cons- dade, um vínculo sanguíneo com os ascendentes.
tituição. O critério ius solis concede a nacionalidade originária aos nas-
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros cidos no território de um determinado Estado, sendo irrelevante a
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. nacionalidade dos genitores.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: A CF/88 adotou o critério ius solis como regra geral, possibili-
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; tando em alguns casos, a atribuição de nacionalidade primária pau-
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; tada no ius sanguinis.
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; Portugueses Residentes no Brasil
V - da carreira diplomática; O §1º do Artigo 12 da CF confere tratamento diferenciado aos
VI - de oficial das Forças Armadas. portugueses residentes no Brasil. Não se trata de hipótese de natu-
VII - de Ministro de Estado da Defesa. ralização, mas tão somente forma de atribuição de direitos.
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
que: Portugueses Equiparados
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional; Igual os Direitos Se houver 1) Residência
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: dos Brasileiros permanente no
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es- Naturalizados Brasil;
trangeira; 2) Reciprocidade
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao aos brasileiros em
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para Portugal.
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Fe- Distinção entre Brasileiros Natos e Naturalizados
derativa do Brasil. A CF/88 em seu Artigo 12, §2º, prevê que a lei não poderá fa-
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, zer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, com exceção às
o hino, as armas e o selo nacionais. seguintes hipóteses:
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter Cargos privativos de brasileiros natos → Artigo 12, §3º, CF;
símbolos próprios. Função no Conselho da República → Artigo 89, VII, CF;
Extradição → Artigo 5º, LI, CF; e
A Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público Direito de propriedade → Artigo 222, CF.
interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da di-
mensão pessoal do Estado (o seu povo).

Considera-se povo o conjunto de nacionais, ou seja, os brasilei-


ros natos e naturalizados.

186
DIREITO CONSTITUCIONAL
Perda da Nacionalidade § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Repú-
O Artigo 12, §4º da CF refere-se à perda da nacionalidade, que blica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos
apenas poderá ocorrer nas duas hipóteses taxativamente elencadas devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do
na CF, sob pena de manifesta inconstitucionalidade. pleito.
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o côn-
Dupla Nacionalidade juge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou
O Artigo 12, §4º, II da CF traz duas hipóteses em que a opção por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado
por outra nacionalidade não ocasiona a perda da brasileira, passan- ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
do o nacional a possuir dupla nacionalidade (polipátrida). substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Polipátrida → aquele que possui mais de uma nacionalidade. § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con-
dições:
Heimatlos ou Apátrida → aquele que não possui nenhuma na- I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
cionalidade. da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
Idioma Oficial e Símbolos Nacionais autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
Por fim, o Artigo 13 da CF elenca o Idioma Oficial e os Símbolos da diplomação, para a inatividade.
Nacionais do Brasil. § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibi-
lidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
Referências Bibliográficas: administrativa, a moralidade para exercício de mandato conside-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e rada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
indireta.
Os Direitos Políticos têm previsão legal na CF/88, em seus Arti-
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
gos 14 a 16. Seguem abaixo:
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruí-
da a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
CAPÍTULO IV fraude.
DOS DIREITOS POLÍTICOS § 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo
de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio univer- manifesta má-fé.
sal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos § 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições munici-
termos da lei, mediante: pais as consultas populares sobre questões locais aprovadas pelas
I - plebiscito; Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 (no-
II - referendo; venta) dias antes da data das eleições, observados os limites ope-
III - iniciativa popular. racionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela Emenda
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são: Constitucional nº 111, de 2021)
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; § 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões
II - facultativos para: submetidas às consultas populares nos termos do § 12 ocorrerão
a) os analfabetos; durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda
b) os maiores de setenta anos; gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda Constitucio-
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. nal nº 111, de 2021)
§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, du- Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
rante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. suspensão só se dará nos casos de:
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
I - a nacionalidade brasileira; julgado;
II - o pleno exercício dos direitos políticos; II - incapacidade civil absoluta;
III - o alistamento eleitoral; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du-
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; rarem seus efeitos;
V - a filiação partidária; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
VI - a idade mínima de: alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Re-
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor
pública e Senador;
na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e
até um ano da data de sua vigência.
do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual De acordo com José Afonso da Silva, os direitos políticos, rela-
ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; cionados à primeira geração dos direitos e garantias fundamentais,
d) dezoito anos para Vereador. consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. de participação no processo político e nos órgãos governamentais.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do São instrumentos previstos na Constituição e em normas infra-
Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substi- constitucionais que permitem o exercício concreto da participação
tuído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único do povo nos negócios políticos do Estado.
período subsequente.

187
DIREITO CONSTITUCIONAL
Capacidade Eleitoral Ativa II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
Segundo o Artigo 14, §1º da CF, a capacidade eleitoral ativa é autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
o direito de votar nas eleições, nos plebiscitos ou nos referendos, da diplomação, para a inatividade.
cuja aquisição se dá com o alistamento eleitoral, que atribui ao na-
cional a condição de cidadão (aptidão para o exercício de direitos Observa-se que a norma restringe a elegibilidade aos militares
políticos). alistáveis, logo, os conscritos, que são inalistáveis, são inelegíveis. O
quadro abaixo serve como exemplo:
Alistamento Eleitoral e Voto
Obrigatório Facultativo Inalistável – Artigo 14, §2º Militares – Exceto os Conscritos

Maiores de 18 e Maiores de 16 Estrangeiros (com Menos de 10 anos Registro da candidatura →


menores de 70 e menores de exceção aos portugueses Inatividade
anos 18 anos equiparados, constantes no Mais de 10 anos Registro da candidatura →
Maiores de 70 Artigo 12, §1º da CF) Agregado
anos Conscritos (aqueles Na diplomação → Inatividade
Analfabetos convocados para o serviço
militar obrigatório) Privação dos Direitos Políticos
De acordo com o Artigo 15 da CF, o cidadão pode ser privado
• Características do Voto dos seus direitos políticos por prazo indeterminado (perda), sendo
O voto no Brasil é direito (como regra), secreto, universal, com que, neste caso, o restabelecimento dos direitos políticos depende-
valor igual para todos, periódico, personalíssimo, obrigatório e livre. rá do exercício de ato de vontade do indivíduo, de um novo alista-
Capacidade Eleitoral Passiva mento eleitoral.
Também chamada de Elegibilidade, a capacidade eleitoral pas- Da mesma forma, a privação dos direitos políticos pode se dar
siva diz respeito ao direito de ser votado, ou seja, de eleger-se para por prazo determinado (suspensão), em que o restabelecimento se
cargos políticos. Tem previsão legal no Artigo 14, §3º da CF. dará automaticamente, ou seja, independentemente de manifesta-
O quadro abaixo facilita a memorização da diferença entre as ção do suspenso, desde que ultrapassado as razões da suspensão.
duas espécies de capacidade eleitoral. Vejamos: Vejamos:

Capacidade Eleitoral Ativa Capacidade Eleitoral Passiva Privação dos Direitos Políticos
Alistabilidade Elegibilidade Perda Suspensão
Direito de votar Direito de ser votado Privação por prazo Privação por prazo
indeterminado determinado
Inelegibilidades
A inelegibilidade afasta a capacidade eleitoral passiva (direito Restabelecimento dos direitos Restabelecimento dos
de ser votado), constituindo-se impedimento à candidatura a man- políticos depende de um novo direitos políticos se dá
datos eletivos nos Poderes Executivo e Legislativo. alistamento eleitoral automaticamente

• Inelegibilidade Absoluta Referências Bibliográficas:


Com previsão legal no Artigo 14, §4º da CF, a inelegibilidade ab- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
soluta impede que o cidadão concorra a qualquer mandato eletivo Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
e, em virtude de natureza excepcional, somente pode ser estabele-
cida na Constituição Federal. A previsão legal dos Partidos Políticos de dá no Artigo 17 da CF.
Refere-se aos Inalistáveis e aos Analfabetos. Vejamos:

• Inelegibilidade Relativa CAPÍTULO V


Consiste em restrições que recaem à candidatura a determi- DOS PARTIDOS POLÍTICOS
nados cargos eletivos, em virtude de situações próprias em que se
encontra o cidadão no momento do pleito eleitoral. São elas: Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de
→ Vedação ao terceiro mandato sucessivo para os Chefes do partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime de-
Poder Executivo (Artigo 14, §5º, CF); mocrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
→ Desincompatibilização para concorrer a outros cargos, apli- humana e observados os seguintes preceitos:
cada apenas aos Chefes do Poder Executivo (Artigo 14, §6º, CF); I - caráter nacional;
→ Inelegibilidade reflexa, ou seja, inelegibilidade relativa por II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entida-
motivos de casamento, parentesco ou afinidade, uma vez que não de ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
incide sobre o mandatário, mas sim perante terceiros (Artigo 14, III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
§7º, CF). IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir
Condição de Militar sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação
O militar alistável é elegível, desde que atenda as exigências e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua
previstas no §8º do Artigo 14, da CF, a saber: organização e funcionamento e para adotar os critérios de esco-
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se lha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada
da atividade; a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade

188
DIREITO CONSTITUCIONAL
de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, Tal conceito vai ao encontro das disposições acerca dos parti-
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas dos políticos trazidas pelo Artigo 1º da Lei nº 9296/1995, para quem
de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda o partido político, pessoa jurídica de Direito Privado, destina-se a
Constitucional nº 97, de 2017) assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade ju- sistema representativo e a defender os direitos fundamentais defi-
rídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal nidos na Constituição Federal.
Superior Eleitoral. A Constituição confere ampla liberdade aos partidos políticos,
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e uma vez que são instituições indispensáveis para concretização do
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos Estado democrático de direito, muito embora restrinja a utilização
políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda Consti- de organização paramilitar.
tucional nº 97, de 2017)
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no Referências Bibliográficas:
mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons-
menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU.
(dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído Salvador: Editora JusPODIVM.
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais dis- Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
tribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (In-
cluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) Remédios e Garantias Constitucionais
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organiza- As ações constitucionais dispostas no Artigo 5º da CF também
ção paramilitar. são conhecidas como remédios constitucionais, porque servem
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos pre- para “curar a doença” do descumprimento de direitos fundamen-
vistos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a fi- tais.
liação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingi- Em outras palavras, são instrumentos colocados à disposição
do, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos dos indivíduos para garantir o cumprimento dos direitos fundamen-
recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio tais.
e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Depu- • Habeas Corpus
tados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo O habeas corpus é a ação constitucional que tutela o direito
qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de fundamental à liberdade ambulatorial, ou seja, o direito de ir, vir e
anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabele- estar/permanecer em algum lugar.
De acordo com o texto constitucional, o habeas corpus pode
cidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de par-
ser:
tido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de
→ Preventivo: “sempre que alguém se achar ameaçado de so-
outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.
frer”;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
→ Repressivo: “sempre que alguém sofrer”.
§ 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco
por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na manu-
Ambos em relação a violência ou coação em sua liberdade de
tenção de programas de promoção e difusão da participação po-
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
lítica das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) • Habeas Data
§ 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Cam- O habeas data é a ação constitucional impetrada por pessoa
panha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas física ou jurídica, que tenha por objetivo assegurar o conhecimento
eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na de informações sobre si, constantes de registros ou banco de dados
televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, de entidades governamentais ou de caráter público, ou para retifi-
deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao cação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada confor- judicial ou administrativo.
me critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas Esse remédio constitucional está regulamentado pela Lei
normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse parti- 9.507/97, que disciplina o direito de acesso a informações e o rito
dário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) processual do habeas data.

De acordo com os ensinamentos de José Afonso da Silva, o par- • Mandado de Segurança


tido político é uma forma de agremiação de um grupo social que O mandado de segurança individual é a ação constitucional im-
se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular petrada por pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado, que
com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de go- busca a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas
verno. corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
Os partidos são a base do sistema político brasileiro, pois a filia- abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
ção a partido político é uma das condições de elegibilidade. no exercício de atribuições do Poder Público.
Trata-se de um privilégio aos ideais políticos, que devem estar Observa-se, portanto, que o mandado de segurança tem cabi-
acima das características pessoais do candidato. mento subsidiário. É disciplinado pela Lei 12.016/09.
Segundo Dirley da Cunha Júnior, entende-se por partido polí-
tico uma pessoa jurídica de Direito Privado que consiste na união
ou agremiação voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e
políticas, organizada segundo princípios de disciplina e fidelidade.

189
DIREITO CONSTITUCIONAL
• Mandado de Segurança Coletivo • Garantias Constitucionais do Processo
O mandado de segurança coletivo é a ação constitucional im- No art. 5º da Constituição da República, entre os direitos fun-
petrada por partido político com representação no Congresso Na- damentais, estão estabelecidos os princípios constitucionais básicos
cional, organização sindical, entidade de classe ou associação legal- do processo justo, quais sejam: a garantia de pleno acesso à justiça,
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano (em a garantia do juiz natural (não haverá juízo ou Tribunal de exceção),
defesa dos interesses de seus membros ou associados), que busca ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus competente, a garantia do devido processo legal, do contraditório e
ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso da ampla defesa, a vedação das provas ilícitas, a garantia de publici-
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no dade dos atos processuais (exigência de fundamentação de todas as
exercício de atribuições do Poder Público. decisões judiciais), o dever de assistência jurídica integral e gratuita
a todos que comprovarem insuficiência de recursos, a garantia de
• Mandado de Injunção duração razoável do processo e da adoção de meios para assegurar
O mandado de injunção é a ação constitucional impetrada por a celeridade de sua tramitação4.
pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado, que objetive sa- Possível, ainda, apontar-se outros princípios constitucionais do
nar a falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício processo justo, como o direito à representação técnica e à paridade
dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas ineren- de armas.
tes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Basicamente, pode-se dizer que o mandado de injunção é ajui- O modelo mínimo de processo, no Estado Democrático de Di-
zado em face das normas de eficácia limitada, que são aquelas que reito, portanto, somente pode ser buscado na Constituição. A fiel
possuem aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (não direta, observância do direito ao processo justo é condição indispensável
não imediata e não integral), pois exigem norma infraconstitucio- para produzir decisões justas, ou seja, trata-se de elemento neces-
nal, que, até hoje, não existe. sário, embora não único e suficiente, para se assegurar justiça ao
É regulado pela Lei 13.300/2016. caso concreto.
O direito ao processo justo, portanto, constitui direito à orga-
• Ação Popular nização de um processo justo, tarefa do legislador infraconstitucio-
A ação popular é o remédio constitucional ajuizado por qual- nal, do administrador da justiça e do órgão jurisdicional. Assim, a
quer cidadão, que tenha por objetivo anular ato lesivo ao patrimô- consecução do direito ao processo justo depende de sua própria
nio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralida- viabilização pelo Estado Democrático de Direito, mediante a edição
de administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e de normas, a administração da estrutura judicante e pela própria
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas atuação jurisdicional.
judiciais e do ônus da sucumbência.
A ação popular será regulamentada infraconstitucionalmente Referências Bibliográficas:
pela Lei 4.717/65. BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons-
titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU.
Direitos Constitucionais-Penais e Garantias Constitucionais do Salvador: Editora JusPODIVM.
Processo

• Direitos Constitucionais Penais ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO


A Constituição Federal de 1988, no capítulo referente aos direi- ESTADO. ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO,
tos e deveres individuai e coletivos, definiu vários princípios consti- ESTADOS, DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS E
tucionais penais, garantidores de garantias aos cidadãos quando o TERRITÓRIOS
Estado é obrigado a colocar em prática o jus puniendi, para que não
existam arbitrariedades e nem regimes de exceção3. São eles: Formas de Estado - Estado Unitário, Confederação e Federa-
Dignidade da pessoa humana, Igualdade ou isonomia, Legali- ção
dade e anterioridade, Irretroatividade da lei penal, Personalidade A forma de Estado relaciona-se com o modo de exercício do po-
da pena, Individualização da pena, Humanidade, Intervenção míni- der político em função do território do Estado. Verifica-se no caso
ma, Alteridade, Culpabilidade, Proporcionalidade, Ofensividade ou concreto se há, ou não, repartição regional do exercício de poderes
lesividade, Insignificância e Adequação social. autônomos, podendo ser criados, a partir dessa lógica, um modelo
Tais princípios são norteadores da atuação Estatal no campo de Estado unitário ou um Estado Federado.
penal, para a garantia de um processo imparcial e justo, afastando
qualquer punição exacerbada e desmedida quando da aplicação da • Estado Unitário
pena e garantidor do devido processo legal, amparado no contradi- Também chamado de Estado Simples, é aquele dotado de um
tório e na ampla defesa. Fundamentos de um Estado Democrático único centro com capacidade legislativa, administrativa e judiciá-
de Direito. ria, do qual emanam todos os comandos normativos e no qual se
Assim, a observância dos princípios constitucionais penais é de concentram todas as competências constitucionais (exemplos: Uru-
suma importância para a garantia dos direitos fundamentais e para guai, e Brasil Colônia, com a Constituição de 1824, até a Proclama-
a aplicação da lei penal, sendo, pois, repetido no Código Penal e nas ção da República, com a Constituição de 1891).
demais leis, como forma de concretização da Justiça.

4 COSTA, Miguel do Nascimento. Das garantias constitucionais e o devido pro-


cesso no Estado liberal aos direitos fundamentais e o processo justo no Estado
3 http://iccs.com.br/dos-principios-constitucionais-penais-rodrigo-otavio-dos- Democrático de Direito. Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 42, n. 139, dezem-
-reis-chediak/ bro, 2015.

190
DIREITO CONSTITUCIONAL
O Estado Unitário pode ser classificado em: O Federalismo Brasileiro
a) Estado unitário puro ou centralizado: casos em que haverá Observe a disposição legal do Artigo 18 da CF:
somente um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Ju-
diciário, exercido de forma central; TÍTULO III
b) Estado unitário descentralizado: casos em que haverá a for- DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
mação de entes regionais com autonomia para exercer questões
administrativas ou judiciárias fruto de delegação, mas não se con- CAPÍTULO I
cede a autonomia legislativa que continua pertencendo exclusiva- DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
mente ao poder central.
Art. 18. A organização político-administrativa da República Fe-
• Estado Federativo – Federação derativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Fede-
Também chamados de federados, complexos ou compostos, ral e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constitui-
são aqueles em que as capacidades judiciária, legislativa e admi- ção.
nistrativa são atribuídas constitucionalmente a entes regionais, que § 1º Brasília é a Capital Federal.
passam a gozar de autonomias próprias (e não soberanias). § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação,
Nesse caso, as autonomias regionais não são fruto de delega- transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem se-
ção voluntária, como ocorre nos Estados unitários descentralizados, rão reguladas em lei complementar.
mas se originam na própria Constituição, o que impede a retirada § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
de competências por ato voluntário do poder central. desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos
O quadro abaixo facilita este entendimento. Vejamos: Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população
diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Na-
Formas de Estado cional, por lei complementar.
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento
Unitário de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período deter-
Único centro de onde emana o poder estatal minado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta
prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvi-
Puro Descentralizado
dos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apre-
Não há delegação de Há delegação de competências sentados e publicados na forma da lei.
competências
Federado Nos termos do supracitado Artigo 18, a organização político-
-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a
O exercício do poder estatal é atribuído constitucionalmente a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autô-
entes regionais autônomos nomos (não soberanos). Trata-se de norma que reflete a forma fe-
derativa de Estado.
• Confederação Ser ente autônomo dentro de um federalismo significa a pos-
Se caracteriza por uma reunião dissolúvel de Estados sobera- sibilidade de implementar uma gestão particularizada, mas sempre
nos, que se unem por meio de um tratado internacional. Aqui, per- respeitando os limites impostos pelos princípios e regras do Estado
cebe-se o traço marcante da Confederação, ou seja, a dissolubilida- federal. Daí, têm-se os seguintes elementos:
de do pacto internacional pelos Estados soberanos que o integram, → Auto-organização: permite aos Estados-membros criarem
a partir de um juízo interno de conveniência. as Constituições Estaduais (Artigo 25 da CF) e aos Municípios firma-
Observe a ilustração das diferenças entre uma Federação e
rem suas Leis Orgânicas (Artigo 29 da CF);
uma Confederação:
→ Auto legislação: os entes da federação podem estabelecer
normas gerais e abstratas próprias, a exemplos das leis estaduais e
Federação Confederação municipais (Artigos 22 e 24 da CF);
Formada por uma Constituição Formada por um trato → Auto governo: os Estados membros terão seus Governado-
internacional res e Deputados estaduais, enquanto os Municípios possuirão Pre-
feitos e Vereadores, nos termos dos Artigos 27 a 29 da CF;
Os entes regionais gozam de Os Estados que o integram → Auto administração: os membros da federação podem pres-
autonomia mantêm sua soberania tar e manter serviços próprios, atendendo às competências admi-
Indissolubilidade do pacto Dissolubilidade do pacto nistrativas da CF, notadamente de seu Artigo 23.
federativo internacional
• Vedação aos Entes Federados
Consoante ao Artigo 19 da CF, destaca-se que a autonomia dos
entes da federação não é limitada, e sofre as seguintes vedações:
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, em-
baraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus repre-
sentantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma
da lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

191
DIREITO CONSTITUCIONAL
Repartição de Competências Constitucionais X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos
A Repartição de competências é a técnica de distribuição de e pré-históricos;
competências administrativas, legislativas e tributárias aos entes XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
federativos para que não haja conflitos de atribuições dentro do § 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao
território nacional. Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da ex-
Competência é a capacidade para emitir decisões dentro de um ploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins
campo específico. de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no res-
A Constituição trabalha com três naturezas de competência, a pectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
administrativa, legislativa e a tributária. econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa explora-
→ Competência administrativa ou material: refere-se à execu- ção. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 102, de 2019)
ção de alguma atividade estatal, ou seja, é a capacidade para atuar § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao
concretamente sobre a matéria; longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira,
→ Competência legislativa: atribui iniciativa para legislar sobre é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua
determinada matéria, ou seja, é a capacidade para estabelecer nor- ocupação e utilização serão reguladas em lei.
mas gerais e abstratas sobre determinado campo; Art. 21. Compete à União:
→ Competência tributária: refere-se ao poder de instituir tri- I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de
butos. organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
• Técnica da Repartição de Competência III - assegurar a defesa nacional;
Trata-se da predominância do interesse, segundo a qual, à IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que for-
União caberão as matérias de interesse nacional (Artigos 21 e 22 da ças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele perma-
CF), aos Estados-membros, o interesse regional, e aos municípios, neçam temporariamente;
as questões de predominante interesse local (Artigo 30 da CF). V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a interven-
Para tanto, a Constituição enumerou expressamente as com- ção federal;
petências da União e dos municípios, resguardando aos Estados- VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material
-membros a chamada competência residual, remanescente, não bélico;
enumerada ou não expressa (Artigo 25, §1º da CF). VII - emitir moeda;
Acresça-se que, para o Distrito Federal, a Constituição atribuiu VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
as competências previstas para os estados e os municípios, denomi- operações de natureza financeira, especialmente as de crédito,
nada de competência cumulativa (Artigo 32, § 1º da CF). câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência
privada;
Organização do Estado – União IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordena-
A União é a pessoa jurídica de Direito Público interno, parte ção do território e de desenvolvimento econômico e social;
integrante da Federação brasileira dotada de autonomia. Possui ca- X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
pacidade de auto-organização (Constituição Federal), autogoverno, XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
auto legislação (Artigo 22 da CF) e autoadministração (Artigo 20 da ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei,
CF). que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um ór-
A União tem previsão legal na CF, dos Artigos 20 a 24. Vejamos: gão regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
ou permissão:
CAPÍTULO II
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
DA UNIÃO
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveita-
mento energético dos cursos de água, em articulação com os Esta-
Art. 20. São bens da União:
dos onde se situam os potenciais hidro energéticos;
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeropor-
atribuídos;
tuária;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras,
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre por-
das fortificações e construções militares, das vias federais de comu- tos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites
nicação e à preservação ambiental, definidas em lei; de Estado ou Território;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e interna-
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites cional de passageiros;
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Públi-
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros co do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos
países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluí- Territórios;
das, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como
as referidas no art. 26, II; prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela
econômica exclusiva; Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
VI - o mar territorial; XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geo-
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; grafia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
VIII - os potenciais de energia hidráulica; XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; públicas e de programas de rádio e televisão;

192
DIREITO CONSTITUCIONAL
XVII - conceder anistia; XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as cala- nacionais;
midades públicas, especialmente as secas e as inundações; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos popular;
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusi- XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
ve habitação, saneamento básico e transportes urbanos; garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das po-
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional lícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada
de viação; pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e
de fronteiras; ferroviária federais;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer XXIII - seguridade social;
natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio XXV - registros públicos;
de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes prin- XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
cípios e condições: XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas
admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
Nacional; obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercializa- e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
ção e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso agrícolas e XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa maríti-
industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de ma, defesa civil e mobilização nacional;
2022) XXIX - propaganda comercial.
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a co- XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela
mercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Esta-
2022) dos a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da neste artigo.
existência de culpa; Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distri-
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; to Federal e dos Municípios:
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
atividade de garimpagem, em forma associativa. democráticas e conservar o patrimônio público;
XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garan-
pessoais, nos termos da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional tia das pessoas portadoras de deficiência;
nº 115, de 2022) III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, notáveis e os sítios arqueológicos;
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de
II - desapropriação; obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cul-
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e tural;
em tempo de guerra; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodi- ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela
fusão; Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
V - serviço postal; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qual-
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos quer de suas formas;
metais; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de va- VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abaste-
lores; cimento alimentar;
VIII - comércio exterior e interestadual; IX - promover programas de construção de moradias e a melho-
IX - diretrizes da política nacional de transportes; ria das condições habitacionais e de saneamento básico;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginali-
aérea e aeroespacial; zação, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - trânsito e transporte; XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; territórios;
XIV - populações indígenas; XII - estabelecer e implantar política de educação para a segu-
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de rança do trânsito.
estrangeiros; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
para o exercício de profissões; cípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-es-
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito tar em âmbito nacional.
Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal le-
bem como organização administrativa destes; gislar concorrentemente sobre:

193
DIREITO CONSTITUCIONAL
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e ur- § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir
banístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
II - orçamento; constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para inte-
III - juntas comerciais; grar a organização, o planejamento e a execução de funções públi-
IV - custas dos serviços forenses; cas de interesse comum.
V - produção e consumo; Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, de- I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
fesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorren-
controle da poluição; tes de obras da União;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turís- II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no
tico e paisagístico; seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu- ou terceiros;
midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
e paisagístico; IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa cor-
pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda responderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos
Constitucional nº 85, de 2015) Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
causas; § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
XI - procedimentos em matéria processual; aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleito-
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; ral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato,
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de
deficiência; iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, se-
XV - proteção à infância e à juventude; tenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias ci- Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57,
vis. § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regi-
União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874, mento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria,
de 2019) e prover os respectivos cargos.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas ge- § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legis-
rais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº lativo estadual.
13.874, de 2019) Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Es-
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados tado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas pe- domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de
culiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do tér-
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais sus- mino do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de
pende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto
nº 13.874, de 2019) no art. 77 desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Consti-
tucional nº 111, de 2021)
Organização do Estado – Estados § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo
Os Estados-membros são pessoas jurídicas de Direito Público ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada
interno, dotados de autonomia, em razão da capacidade de auto- a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no
-organização (Artigo 25 da CF), autoadministração (Artigo 26 da CF), art. 38, I, IV e V.
autogoverno (Artigos 27 e 28 da CF) e auto legislação (Artigo 25 e § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Se-
parágrafos da CF). cretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembleia
Os dispositivos constitucionais referentes ao tema vão dos Ar- Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150,
tigos 25 a 28: II, 153, III, e 153, § 2º, I.

CAPÍTULO III Organização do Estado – Municípios


DOS ESTADOS FEDERADOS Sobre os Municípios, prevalece o entendimento de que são en-
tes federativos, uma vez que os artigos 1º e 18 da CF, são expressos
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui- ao elencar a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui- como integrantes da Federação brasileira.
ção. Como pessoa política também dotada de autonomia, possuem
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes auto-organização (Artigo 29 da CF), auto legislação (Artigo 30 da
sejam vedadas por esta Constituição. CF), autogoverno (Incisos do Artigo 29 da CF) e autoadministração
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante con- (Artigo 30 da CF).
cessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada A previsão legal sobre os Municípios está prevista na CF, dos
a edição de medida provisória para a sua regulamentação. Artigos 29 a 31. Vejamos:

194
DIREITO CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO IV q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais
DOS MUNICÍPIOS de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até
2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes;
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até
terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, aten- 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
didos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
do respectivo Estado e os seguintes preceitos: 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para milhões) de habitantes;
mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo reali- t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
zado em todo o País; 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro milhões) de habitantes;
domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Mu- de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis
nicípios com mais de duzentos mil eleitores; milhões) de habitantes;
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
ano subsequente ao da eleição; 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete mi-
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observa- lhões) de habitantes;
do o limite máximo de: w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito
mil) habitantes; milhões) de habitantes; e
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
(quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes; 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Mu-
(trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes; nicipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
(cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes; VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câ-
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 maras Municipais em cada legislatura para a subsequente, obser-
(oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habi- vado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabe-
tantes; lecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos:
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000 a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo
(cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil) dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos De-
habitantes; putados Estaduais;
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o
160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezen- subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento
tos mil) habitantes;
do subsídio dos Deputados Estaduais;
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes,
300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e
o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por
cinquenta mil) habitantes;
cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes,
450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000
o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a cinquenta por
(seiscentos mil) habitantes;
cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habi-
600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos
tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta
cinquenta mil) habitantes;
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000 f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o sub-
(novecentos mil) habitantes; sídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores
e cinquenta mil) habitantes; não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de do Município;
1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras
(um milhão e duzentos mil) habitantes; e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município;
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança,
1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para os
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes; membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 Estado para os membros da Assembleia Legislativa;
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes; XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câ-
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais mara Municipal;
de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de até XII - cooperação das associações representativas no planeja-
1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; mento municipal;

195
DIREITO CONSTITUCIONAL
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico § 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as
do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de preva-
pelo menos, cinco por cento do eleitorado; lecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, pa- § 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias,
rágrafo único. anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos ter-
incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com ina- mos da lei.
tivos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao § 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de
somatório da receita tributária e das transferências previstas no § Contas Municipais.
5o do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exer-
cício anterior: Organização do Estado - Distrito Federal e Territórios
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até
100.000 (cem mil) habitantes; • Distrito Federal
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre O Distrito Federal é o ente federativo com competências par-
100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes; cialmente tuteladas pela União, conforme se extrai dos Artigos 21,
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre XIII e XIV, e 22, VII da CF.
300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes; Por ser considerado um ente político dotado de autonomia,
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para possui capacidade de auto-organização (Artigo 32 da CF), autogo-
Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e verno (Artigo 32, §§ 2º e 3º da CF), autoadministração (Artigo 32, §§
3.000.000 (três milhões) de habitantes; 1º e 4º da CF) e auto legislação (Artigo 32, § 1º da CF).
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre
3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habi- CAPÍTULO V
tantes; DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Muni-
cípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e um) ha- SEÇÃO I
bitantes. DO DISTRITO FEDERAL
§ 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cen-
to de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios,
subsídio de seus Vereadores. reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício
§ 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal: mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legisla-
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo; tiva, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou Constituição.
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Or- § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legisla-
tivas reservadas aos Estados e Municípios.
çamentária.
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observa-
§ 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câ-
das as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com
mara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.
a dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual
Art. 30. Compete aos Municípios:
duração.
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
o disposto no art. 27.
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Dis-
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres-
trito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do
tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; corpo de bombeiros militar. (Redação dada pela Emenda Constitu-
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação cional nº 104, de 2019)
estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces- • Territórios
são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o Os Territórios possuem natureza jurídica de autarquias territo-
de transporte coletivo, que tem caráter essencial; riais integrantes da Administração indireta da União. Por isso, não
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e são dotados de autonomia política.
do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen-
tal; SEÇÃO II
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e DOS TERRITÓRIOS
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo- Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judi-
rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e ciária dos Territórios.
da ocupação do solo urbano; § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Título.
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao
Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da
de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. União.
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com
o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

196
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o
além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o inter-
órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Mi- ventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da
nistério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa.
Intervenção Federal e Estadual § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a As-
É uma excepcional possibilidade de supressão temporária da sembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo
autonomia política de um ente federativo. Suas hipóteses integram prazo de vinte e quatro horas.
um rol taxativo previsto na Constituição Federal. § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a
apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa,
CAPÍTULO VI o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se
DA INTERVENÇÃO essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afas-
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Fe- tadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.
deral, exceto para:
I - manter a integridade nacional; Referências Bibliográficas:
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons-
em outra; titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU.
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; Salvador: Editora JusPODIVM.
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas uni- DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
dades da Federação; Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DISPOSIÇÕES GERAIS,
anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
SERVIDORES PÚBLICOS
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas
nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; Disposições gerais e servidores públicos
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitu- A expressão Administração Pública em sentido objetivo traduz
cionais: a ideia de atividade, tarefa, ação ou função de atendimento ao inte-
a) forma republicana, sistema representativo e regime demo- resse coletivo. Já em sentido subjetivo, indica o universo dos órgãos
crático; e pessoas que desempenham função pública.
b) direitos da pessoa humana; Conjugando os dois sentidos, pode-se conceituar a Administra-
c) autonomia municipal; ção Pública como sendo o conjunto de pessoas e órgãos que de-
d) prestação de contas da administração pública, direta e in- sempenham uma função de atendimento ao interesse público, ou
direta. seja, que estão a serviço da coletividade.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impos-
tos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na Princípios da Administração Pública
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços Nos termos do caput do Artigo 37 da CF, a administração públi-
públicos de saúde. ca direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
As provas de Direito Constitucional exigem com frequência a
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos
memorização de tais princípios. Assim, para facilitar essa memori-
consecutivos, a dívida fundada;
zação, já é de praxe valer-se da clássica expressão mnemônica “LIM-
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
PE”. Observe o quadro abaixo:
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita muni-
cipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e
serviços públicos de saúde; Princípios da Administração Pública
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para L Legalidade
assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Es-
tadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão I Impessoalidade
judicial. M Moralidade
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:
P Publicidade
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou
do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supre- E Eficiência
mo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judi- LIMPE
ciário;
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de Passemos ao conceito de cada um deles:
requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; • Princípio da Legalidade
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de represen- De acordo com este princípio, o administrador não pode agir
tação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, ou deixar de agir, senão de acordo com a lei, na forma determinada.
e no caso de recusa à execução de lei federal. O quadro abaixo demonstra suas divisões.
IV - (Revogado).

197
DIREITO CONSTITUCIONAL

Princípio da Legalidade Disposições Gerais na Administração Pública


O esquema abaixo sintetiza a definição de Administração Pú-
A Administração Pública blica:
Em relação à Administração somente pode fazer o que a
Pública lei permite → Princípio da
Estrita Legalidade Administração Pública

O Particular pode fazer tudo Direta Indireta


Em relação ao Particular
que a lei não proíbe Autarquias (podem ser
qualificadas como agências
• Princípio da Impessoalidade reguladoras)
Federal
Em decorrência deste princípio, a Administração Pública deve Fundações (autarquias
Estadual
servir a todos, sem preferências ou aversões pessoais ou partidá- e fundações podem ser
Distrital
rias, não podendo atuar com vistas a beneficiar ou prejudicar de- qualificadas como agências
Municipal
terminadas pessoas, uma vez que o fundamento para o exercício de executivas)
sua função é sempre o interesse público. Sociedades de economia mista
Empresas públicas
• Princípio da Moralidade Entes Cooperados
Tal princípio caracteriza-se por exigir do administrador público
um comportamento ético de conduta, ligando-se aos conceitos de Não integram a Administração Pública, mas prestam serviços de
probidade, honestidade, lealdade, decoro e boa-fé. interesse público. Exemplos: SESI, SENAC, SENAI, ONG’s
A moralidade se extrai do senso geral da coletividade represen-
tada e não se confunde com a moralidade íntima do administrador As disposições gerais sobre a Administração Pública estão elen-
(moral comum) e sim com a profissional (ética profissional). cadas nos Artigos 37 e 38 da CF. Vejamos:
O Artigo 37, § 4º da CF elenca as consequências possíveis, devi-
do a atos de improbidade administrativa: CAPÍTULO VII
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Sanções ao cometimento de atos de improbidade
administrativa SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Suspensão dos direitos políticos (responsabilidade política)
Perda da função pública (responsabilidade disciplinar) Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
Indisponibilidade dos bens (responsabilidade patrimonial)
pios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora-
Ressarcimento ao erário (responsabilidade patrimonial) lidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
• Princípio da Publicidade brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
O princípio da publicidade determina que a Administração Pú- como aos estrangeiros, na forma da lei;
blica tem a obrigação de dar ampla divulgação dos atos que pratica, II - a investidura em cargo ou emprego público depende de apro-
salvo a hipótese de sigilo necessário. vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
A publicidade é a condição de eficácia do ato administrativo e de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego,
tem por finalidade propiciar seu conhecimento pelo cidadão e pos- na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
sibilitar o controle por todos os interessados. comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
• Princípio da Eficiência anos, prorrogável uma vez, por igual período;
Segundo o princípio da eficiência, a atividade administrativa IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo-
deve ser exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional, cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro-
evitando atuações amadorísticas. vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa-
Este princípio impõe à Administração Pública o dever de agir dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;
com eficiência real e concreta, aplicando, em cada caso concreto, a V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi-
medida, dentre as previstas e autorizadas em lei, que mais satisfaça dores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
o interesse público com o menor ônus possível (dever jurídico de preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e per-
boa administração). centuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribui-
Em decorrência disso, a administração pública está obrigada a ções de direção, chefia e assessoramento;
desenvolver mecanismos capazes de propiciar os melhores resul- VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso-
tados possíveis para os administrados. Portanto, a Administração ciação sindical;
Pública será considerada eficiente sempre que o melhor resultado VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
for atingido. definidos em lei específica;
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de
sua admissão;
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público;

198
DIREITO CONSTITUCIONAL
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona-
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse- mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas,
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e
de índices; atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun- cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam-
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor-
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen- símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto-
sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ridades ou servidores públicos.
ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na- § 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a
tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, da lei.
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe- administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
dos serviços;
Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defen-
mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
sores Públicos;
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder e XXXIII;
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu- III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
tivo; ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi-
serviço público; bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
não serão computados nem acumulados para fins de concessão de § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra-
acréscimos ulteriores; ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em- ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri-
e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
qualquer caso o disposto no inciso XI: § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante
a) a de dois cargos de professor; de cargo ou emprego da administração direta e indireta que possi-
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; bilite o acesso a informações privilegiadas.
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
saúde, com profissões regulamentadas; órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra-
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
ou indiretamente, pelo poder público; I - o prazo de duração do contrato;
XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te- II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi-
rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
III - a remuneração do pessoal.”
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo-
sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último
caso, definir as áreas de sua atuação; recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni-
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, geral.
assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro- muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os
cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exo-
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter- neração.
mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera-
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de
obrigações. caráter indenizatório previstas em lei.

199
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, SEÇÃO II
fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, DOS SERVIDORES PÚBLICOS
mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respecti- Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
vo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e
centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo planos de carreira para os servidores da administração pública dire-
Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos ta, das autarquias e das fundações públicas.
subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
§ 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser re- instituirão conselho de política de administração e remuneração de
adaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabili- pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po-
dades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua deres.
capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição, § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo-
desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos nentes do sistema remuneratório observará:
para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori- I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
gem. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) cargos componentes de cada carreira;
§ 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo II - os requisitos para a investidura;
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, III - as peculiaridades dos cargos.
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom- § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas
pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. (In-
de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores
cluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisi-
§ 15. É vedada a complementação de aposentadorias de ser-
tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração
vidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que
de convênios ou contratos entre os entes federados.
não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que
não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o dis-
social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) posto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX,
§ 16. Os órgãos e entidades da administração pública, indi- XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de ad-
vidual ou conjuntamente, devem realizar avaliação das políticas missão quando a natureza do cargo o exigir.
públicas, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os
resultados alcançados, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Cons- Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão
titucional nº 109, de 2021) remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prê-
e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se- mio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obe-
guintes disposições: decido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; nicípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor re-
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, muneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso,
emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera- o disposto no art. 37, XI.
ção; § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili- anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e
dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego empregos públicos.
ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; pios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenien-
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício tes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia
de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, moder-
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previ- nização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclu-
dência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo sive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
2019)
carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo-
Servidores Públicos
rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo
Os servidores públicos são pessoas físicas que prestam serviços
à administração pública direta, às autarquias ou fundações públi- em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído pela Emen-
cas, gerando entre as partes um vínculo empregatício ou estatutá- da Constitucional nº 103, de 2019)
rio. Esses serviços são prestados à União, aos Estados-membros, ao Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores
Distrito Federal ou aos Municípios. titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário,
As disposições sobre os Servidores Públicos estão elencadas mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores
dos Artigos 39 a 41 da CF. Vejamos: ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência
social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 103, de 2019)

200
DIREITO CONSTITUCIONAL
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em § 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se tra-
que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese tar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o be-
em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para nefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do
verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces- respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a
são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo; hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser-
e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, estabelecidos em lei.
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, § 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou
e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o
idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons- disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço corres-
tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os pondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação dada
demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, § 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de conta-
de 2019) gem de tempo de contribuição fictício.
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores § 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos
ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu-
ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi-
Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação dada pela dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi-
§ 3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons-
serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) exoneração, e de cargo eletivo.
§ 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados § 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em regi-
para concessão de benefícios em regime próprio de previdência so- me próprio de previdência social, no que couber, os requisitos e cri-
cial, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação térios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res- § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia- cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
dos para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente ção, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de
submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multi- emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. (Redação
profissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda Constitucional dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
nº 103, de 2019) § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ins-
§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res- tituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados de previdência complementar para servidores públicos ocupantes
para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Re-
de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tratam gime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias
o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art. 52 e os e das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado
incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda Constitu- o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
cional nº 103, de 2019) 103, de 2019)
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res- § 15. O regime de previdência complementar de que trata o §
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados 14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribui-
para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam exercidas ção definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por
com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos preju- intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou
diciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracteriza- de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada
ção por categoria profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Constitucional nº 103, de 2019) § 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dispos-
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima re- to nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressa-
duzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da apli- do no serviço público até a data da publicação do ato de instituição
cação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem tempo do correspondente regime de previdência complementar.
de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e § 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál-
no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar do res- culo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados,
pectivo ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional na forma da lei.
nº 103, de 2019) § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado-
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que
acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdên- geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual
cia social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime § 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do res-
Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitu- pectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que tenha
cional nº 103, de 2019) completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que

201
DIREITO CONSTITUCIONAL
opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abono de § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser-
permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor-
previdenciária, até completar a idade para aposentadoria compul- cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
sória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) outro cargo.
§ 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga-
previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora des- tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
se regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes, para essa finalidade.
órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsá-
veis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros • Estabilidade
e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o A estabilidade é a garantia que o servidor público possui de
§ 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) permanecer no cargo ou emprego público depois de ter sido apro-
§ 21. (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional vado em estágio probatório.
nº 103, de 2019) De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, a estabilidade
§ 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de previ- poder ser definida como a garantia constitucional de permanência
dência social, lei complementar federal estabelecerá, para os que no serviço público, do servidor público civil nomeado, em razão de
já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de concurso público, para titularizar cargo de provimento efetivo, após
responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos, o transcurso de estágio probatório.
sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) A estabilidade é assegurada ao servidor após três anos de efe-
tivo exercício, em virtude de nomeação em concurso público. Esse
I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o
é o estágio probatório citado pela lei.
Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti-
Passada a fase do estágio, sendo o servidor público efetivado,
tucional nº 103, de 2019)
ele perderá o cargo somente nas hipóteses elencadas no Artigo 41,
II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
§ 1º da CF.
cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Haja vista o tema ser muito cobrado nas provas dos mais varia-
III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído dos concursos públicos, segue a tabela explicativa:
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Estabilidade do Servidor
V - condições para instituição do fundo com finalidade previ- Requisitos para aquisição de Cargo de provimento efetivo/
denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur- Estabilidade ocupado em razão de concurso
sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de público
qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 3 anos de efetivo exercício
2019) Avaliação de desempenho por
comissão instituída para esta
VI - mecanismos de equacionamento do déficit atuarial; (Inclu- finalidade
ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Hipóteses em que o servidor Em virtude de sentença judicial
VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob- estável pode perder o cargo transitada em julgado
servados os princípios relacionados com governança, controle inter- Mediante processo
no e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, administrativo em que lhe seja
de 2019) assegurada ampla defesa
VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles Mediante procedimento
que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamen- de avaliação periódica de
te, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional desempenho, na forma de lei
nº 103, de 2019) complementar, assegurada
IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela ampla defesa
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Em razão de excesso de
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição despesa
de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser- A CF/88 impôs aos Militares, regime especial e diferenciado do
vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de servidor civil. Os direitos e deveres dos militares e dos civis não se
concurso público. misturam a não ser por expressa determinação constitucional.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: Não pode o legislador infraconstitucional cercear direitos ou
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; impor deveres que a Constituição Federal não trouxe de forma taxa-
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu- tiva, tampouco não se pode inserir deveres dos servidores civis aos
militares de forma reflexa.
rada ampla defesa;
A Emenda Constitucional nº 101/19, promulgada pelo Congres-
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem-
so Nacional, permite acúmulo de cargos públicos nas áreas de saú-
penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
de e educação por militares. Através da referida Emenda, os Milita-
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
res poderão exercer funções de professor ou profissional da saúde
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es- desde que haja compatibilidade de horário. Ou seja, aplicou-se a
tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, tais profissionais o disposto no art. 37, inciso XVI, da CF/88.
aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remu-
neração proporcional ao tempo de serviço.

202
DIREITO CONSTITUCIONAL
Desde a promulgação da CF/88, o exercício simultâneo de Referências Bibliográficas:
cargos era permitido apenas para servidores públicos civis e para BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons-
militares das Forças Armadas que atuam na área de saúde. A acu- titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU.
mulação passou a ser possível, desde que haja compatibilidade de Salvador: Editora JusPODIVM.
horários. NADAL, Fábio; e SANTOS, Vauledir Ribeiro. Administrativo – Série
Vejamos as disposições do Art. 42 da CF/88: Resumo. 3ª edição. São Paulo: Editora Método.

SEÇÃO III
DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS PODER EXECUTIVO. ATRIBUIÇÕES E
RESPONSABILIDADES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bom-
beiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e Presidente da República, Vice-Presidente da República e Mi-
disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Ter- nistros de Estado
ritórios.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e • Presidente e Vice-Presidente
dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições O Poder Executivo, em âmbito federal, é exercido pelo Presi-
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo dente da República, auxiliado pelos ministros de Estado.
a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, Como função típica, compete ao Poder Executivo administrar a
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos coisa pública. Atipicamente, o mesmo legisla (medidas provisórias,
governadores. leis delegadas e decretos autônomos) e julga (processos adminis-
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Fe- trativos).
deral e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do Segue abaixo os artigos 76 a 86 da CF:
respectivo ente estatal.
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e CAPÍTULO II
dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI, com prevalência DO PODER EXECUTIVO
da atividade militar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 101,
de 2019)
SEÇÃO I
DO PRESIDENTE E DO VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Das Regiões
De acordo com a CF/88 as políticas da União podem se dar de
Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da Repú-
forma regionalizada e a disposição legal do Art. 43 visa reduzir as
blica, auxiliado pelos Ministros de Estado.
desigualdades regionais. Este tema será regulado por Lei Comple-
Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da Repú-
mentar.
blica realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de ou-
Diz o Art. 43 da CF/88:
tubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em se-
SEÇÃO IV gundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato
DAS REGIÕES presidencial vigente.
§ 1º A eleição do Presidente da República importará a do Vice-
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular -Presidente com ele registrado.
sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a § 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, regis-
seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais. trado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não
§ 1º - Lei complementar disporá sobre: computados os em branco e os nulos.
I - as condições para integração de regiões em desenvolvimen- § 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na pri-
to; meira votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a pro-
II - a composição dos organismos regionais que executarão, na clamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais vota-
forma da lei, os planos regionais, integrantes dos planos nacionais dos e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos
de desenvolvimento econômico e social, aprovados juntamente com válidos.
estes. § 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, de-
§ 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além de outros, sistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre
na forma da lei: os remanescentes, o de maior votação.
I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de custos § 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em
e preços de responsabilidade do Poder Público; segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, quali-
II - juros favorecidos para financiamento de atividades priori- ficar-se-á o mais idoso.
tárias; Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão
III - isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso
federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, pro-
IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social dos mover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integri-
rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de dade e a independência do Brasil.
baixa renda, sujeitas a secas periódicas. Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para
§ 3º - Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União incentivará a a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força
recuperação de terras áridas e cooperará com os pequenos e mé- maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.
dios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e su-
fontes de água e de pequena irrigação. ceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.

203
DIREITO CONSTITUCIONAL
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de ou- XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos
tras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, au- do art. 89, VII;
xiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho
especiais. de Defesa Nacional;
Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Pre- XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autori-
sidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente zado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocor-
chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos rida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições,
Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congres-
República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última so Nacional;
vaga. XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele per-
depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. maneçam temporariamente;
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o pro-
período de seus antecessores. jeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento
Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro)
previstos nesta Constituição;
anos e terá início em 5 de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição.
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas refe-
Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República não po-
rentes ao exercício anterior;
derão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por
período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo. XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma
da lei;
SEÇÃO II XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos
DAS ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: XXVIII - propor ao Congresso Nacional a decretação do estado
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; de calamidade pública de âmbito nacional previsto nos arts. 167-
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção B, 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G desta Constituição. (Incluído
superior da administração federal; pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as
nesta Constituição; atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte,
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; respectivas delegações.
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, SEÇÃO III
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção DA RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus da República que atentem contra a Constituição Federal e, especial-
representantes diplomáticos; mente, contra:
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujei- I - a existência da União;
tos a referendo do Congresso Nacional; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
X - decretar e executar a intervenção federal;
Federação;
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Na-
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
cional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a si-
IV - a segurança interna do País;
tuação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;
V - a probidade na administração;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se ne-
cessário, dos órgãos instituídos em lei; VI - a lei orçamentária;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promo- Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial,
ver seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são que estabelecerá as normas de processo e julgamento.
privativos; Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República,
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Minis- por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a jul-
tros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Go- gamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
vernadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o pre- comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabili-
sidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando dade.
determinado em lei; § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou quei-
Tribunal de Contas da União; xa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Consti- II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do pro-
tuição, e o Advogado-Geral da União; cesso pelo Senado Federal.

204
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamen- A Lei nº 1.079 de 1950 define os crimes de responsabilidade e
to não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem regula o respectivo processo de julgamento, que, segundo o STF, foi
prejuízo do regular prosseguimento do processo. recepcionada com modificações decorrentes da Constituição.
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infra- De acordo com o Artigo 86, caput, da CF, o Presidente da Re-
ções comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. pública será processado e julgado por crimes de responsabilidade
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, perante o Senado Federal, após admitida a acusação por dois terços
não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de da Câmara dos Deputados (juízo de admissibilidade).
suas funções.
O quadro abaixo ilustra as hipóteses de julgamento do Presi-
Ministros de Estado dente da República:
Os Ministros de Estado exercem a função de auxiliares do Pre-
sidente da República na direção superior da Administração Pública Julgamento do Presidente da República
federal.
Têm disposição legal nos Artigos 87 e 88 da CF. Vejamos: Juízo de admissibilidade: Câmara dos Deputados por 2/3
Crime comum → STF Crime de responsabilidade →
SEÇÃO IV Senado Federal
DOS MINISTROS DE ESTADO
Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional
Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasilei- O Conselho da República (Artigos 89 e 90, da CF) e o Conselho
ros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. de Defesa Nacional (Artigo 91 da CF), são órgãos de assessoramento
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de ou- superior do Presidente da República, cujas manifestações não pos-
tras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei: suem caráter vinculante.
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos Conforme o Artigo 84, XVIII, compete privativamente ao Presi-
e entidades da administração federal na área de sua competência dente da República convocar e presidir o Conselho da República e o
e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da Repú- Conselho de Defesa Nacional.
blica; Vejamos os artigos supracitados correspondentes ao tema:
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e re-
SEÇÃO V
gulamentos;
DO CONSELHO DA REPÚBLICA E DO CONSELHO DE DEFESA
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de
NACIONAL
sua gestão no Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem
SUBSEÇÃO I
outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República. DO CONSELHO DA REPÚBLICA
Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e
órgãos da administração pública. Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta
do Presidente da República, e dele participam:
Imunidade, Crimes Comuns, Crimes de Responsabilidade (Lei I - o Vice-Presidente da República;
nº 1.079 de 1950) e Impeachment II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
• Imunidades do Presidente IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputa-
O Presidente não poderá ser preso, salvo em razão de uma sen- dos;
tença penal condenatória com trânsito em julgado. Ademais, o Pre- V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
sidente, durante o mandato, não poderá ser processado por atos VI - o Ministro da Justiça;
estranhos ao exercício da função, ou seja, só poderá ser processado VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco
pela prática de crimes ex officio, assim considerados aqueles prati- anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República,
cados em razão do exercício da função presidencial (como exemplo: dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos De-
crimes contra a Administração Pública). putados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.
Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se so-
• Crimes Comuns bre:
O Presidente da República será processado e julgado perante I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;
o STF, nas infrações penais comuns, após admitida a acusação por II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições
dois terços da Câmara dos Deputados (juízo de admissibilidade) democráticas.
§ 1º O Presidente da República poderá convocar Ministro de
• Crimes de Responsabilidade (Lei nº 1.079 de 1950) e Impe- Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar da
achment pauta questão relacionada com o respectivo Ministério.
§ 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do Conse-
Os crimes de responsabilidade (também chamados de impe-
lho da República.
achment ou impedimento), são infrações político-administrativas
cometidas no desempenho de funções políticas, definidas por lei
especial federal.
O Artigo 85 da CF traz um rol de crimes de responsabilidade
meramente exemplificativo, uma vez que seu próprio parágrafo
único dispõe que tais crimes serão definidos em lei especial, que
estabelecerá as normas de processo e julgamento.

205
DIREITO CONSTITUCIONAL
SUBSEÇÃO II Distrito Federal Câmara Legislativa (Artigo 32,
DO CONSELHO DE DEFESA NACIONAL § 3º, da CF)
Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Municípios Câmaras Municipais (Artigo 29
Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania da CF)
nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como
membros natos: Congresso Nacional
I - o Vice-Presidente da República; O Congresso Nacional é formado pela Câmara dos Deputados
II - o Presidente da Câmara dos Deputados; e pelo Senado Federal, ou seja, sistema bicameral (Artigo 44, caput,
III - o Presidente do Senado Federal; da CF).
IV - o Ministro da Justiça;
V - o Ministro de Estado da Defesa; Câmara dos Deputados
VI - o Ministro das Relações Exteriores; É composta por representantes do povo, eleitos pelo sistema
VII - o Ministro do Planejamento. proporcional em cada estado, em cada território e no Distrito Fede-
VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáu- ral, para um mandato de 4 anos, permitidas sucessivas reeleições
tica. (Artigo 45, caput, da CF).
§ 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional: À luz do § 1º do Artigo 45, da CF, nenhum Estado e o Distrito Fe-
I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebra- deral terá menos do que 8 nem mais do que 70 deputados federais,
ção da paz, nos termos desta Constituição; levando-se em conta a população de cada ente federativo.
II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de Já os territórios federais, caso existentes, terão 4 deputados fe-
sítio e da intervenção federal; derais (Artigo 45, § 2º, da CF).
III - propor os critérios e condições de utilização de áreas in- Conforme dispõe a Lei Complementar nº 78, de 30/12/93, que
dispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu disciplina a fixação do número de deputados, nos termos do Artigo
efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas 45, § 1º, da CF, uma vez estabelecido o número de deputados fe-
com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qual- derais, será definido o número de deputados estaduais, conforme
quer tipo; preceitua o Artigo 27 da CF.
IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de inicia-
tivas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Senado Federal
Estado democrático. Compõe-se de representantes dos estados e do Distrito Fede-
§ 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do Conse- ral, de forma paritária, eleitos segundo o princípio majoritário, para
lho de Defesa Nacional. um mandato de 8 anos, sendo que em cada eleição, que ocorre a
cada 4 anos, serão eleitos, alternadamente, um terço e dois terços
Referências Bibliográficas: dos membros dessa Casa Legislativa (Artigo 46, caput e seu § 2º).
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Cada estado e o Distrito Federal possuem 3 senadores, eleitos,
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. cada qual, com dois suplentes, totalizando 81 (Artigo 46, §§ 1º e 3º
da CF).
Vejamos nosso quadro sinótico:
PODER LEGISLATIVO. ESTRUTURA. FUNCIONAMENTO
E ATRIBUIÇÕES. PROCESSO LEGISLATIVO
Congresso Nacional
Funções Típicas e Atípicas Câmara dos Deputados (Artigo Senado Federal (Artigo 46 da
O Poder Legislativo possui as funções típicas de elaborar nor- 45 da CF) CF)
mas gerais e abstratas (leis) e exercer a atividade fiscalizatória. Esta 513 membros 81 membros
fiscalização engloba tanto a econômico-financeira (Artigos 70 a 75
Representantes do povo Representantes dos estados/
da CF), bem como a político-administrativa, por intermédio de suas
DF
Comissões, em especial, a Comissão Parlamentar de Inquérito (Ar-
tigo 58, § 3º, da CF). Caracteriza o princípio Caracteriza o princípio
Como funções atípicas o Poder Legislativo administra e julga. republicano federativo
Administra quando, por exemplo, nomeia, exonera, ou promove os Eleição pelo sistema Eleição pelo sistema
seus servidores. Julga quando o Senado Federal decide acerca da proporcional majoritário
ocorrência ou não de crime de responsabilidade cometido por cer-
tas autoridades previstas na Constituição (Artigo 52, I, II e parágrafo Mandato de 4 anos Mandato de 8 anos (Artigo 46,
único). § 1º, da CF)
O Poder Legislativo no âmbito da Federação está assim confi- Sucessivas reeleições Sucessivas reeleições
gurado:
Mínimo de 8 e máximo de 70 3 senadores por estado/DF
por estado/DF (Artigo 45, § 1º (Artigo 46, § 1º, da CF).
Poder Legislativo da CF) Cada senador será eleito com
União Congresso Nacional (Artigo 44 2 suplentes (Artigo 46, § 3º,
e seguintes da CF) da CF)
Estados-Membros Assembleias Legislativas Idade mínima: 21 anos (Artigo Idade mínima: 35 anos (Artigo
(Artigo 27 da CF) 14, § 3º, VI, c, da CF) 14, § 3º, VI, a, da CF)

206
DIREITO CONSTITUCIONAL

Territórios se houver elegem Recomposição alternada de VII - transferência temporária da sede do Governo Federal;
4 deputados (Artigo 45, § 2º, 1/3 e 2/3 dos Senadores a VIII - concessão de anistia;
da CF) cada 4 anos (Artigo 46, § 2º, IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Públi-
da CF) co e da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização
judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal;
X – criação, transformação e extinção de cargos, empregos e
Seguem abaixo os dispositivos constitucionais corresponden-
funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, b;
tes:
XI – criação e extinção de Ministérios e órgãos da administra-
ção pública;
TÍTULO IV
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES XII - telecomunicações e radiodifusão;
(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE XIII - matéria financeira, cambial e monetária, instituições fi-
2014) nanceiras e suas operações;
XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mo-
CAPÍTULO I biliária federal.
DO PODER LEGISLATIVO XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Fe-
deral, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e
SEÇÃO I 153, § 2º, I.
DO CONGRESSO NACIONAL Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos in-
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, ternacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. patrimônio nacional;
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a ce-
anos. lebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo terri-
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representan- tório nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados
tes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em os casos previstos em lei complementar;
cada Território e no Distrito Federal. III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a
§ 1º O número total de Deputados, bem como a representação se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias;
por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei comple- IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autori-
mentar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes zar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;
necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daque- V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem
las unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
Deputados. VI - mudar temporariamente sua sede;
§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados. VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Se-
Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Es- nadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II,
tados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. 153, III, e 153, § 2º, I;
§ 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da
com mandato de oito anos. República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os
§ 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da
terços. República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de
§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes. governo;
Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as delibe- X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas
rações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maio- Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração
ria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. indireta;
XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em
SEÇÃO II face da atribuição normativa dos outros Poderes;
DAS ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de
emissoras de rádio e televisão;
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presi- XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas
dente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. da União;
49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a ativi-
União, especialmente sobre: dades nucleares;
I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas; XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anu- XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aprovei-
al, operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado; tamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas mi-
III - fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas; nerais;
IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais de de-
XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras
senvolvimento;
públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.
V - limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e
XVIII - decretar o estado de calamidade pública de âmbito na-
bens do domínio da União;
cional previsto nos arts. 167-B, 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G
VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de
desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de
Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembleias Legisla-
2021)
tivas;

207
DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qual- VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites glo-
quer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou bais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados,
quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidên- do Distrito Federal e dos Municípios;
cia da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações
assunto previamente determinado, importando crime de responsa- de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Fede-
bilidade a ausência sem justificação adequada. ral e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades contro-
§ 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer ao Senado Fe- ladas pelo Poder Público federal;
deral, à Câmara dos Deputados, ou a qualquer de suas Comissões, VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de ga-
por sua iniciativa e mediante entendimentos com a Mesa respecti- rantia da União em operações de crédito externo e interno;
va, para expor assunto de relevância de seu Ministério. IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput deste ar- inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
tigo, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exone-
- atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de ração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término
informações falsas. de seu mandato;
XII - elaborar seu regimento interno;
SEÇÃO III XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia,
DA CÂMARA DOS DEPUTADOS criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções
de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva re-
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: muneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de dire-
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de trizes orçamentárias;
processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do
Ministros de Estado; art. 89, VII.
II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tribu-
quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessen- tário Nacional, em sua estrutura e seus componentes, e o desem-
ta dias após a abertura da sessão legislativa; penho das administrações tributárias da União, dos Estados e do
III - elaborar seu regimento interno; Distrito Federal e dos Municípios.
IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, cria- Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcio-
ção, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de nará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se
seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remune- a condenação, que somente será proferida por dois terços dos vo-
tos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito
ração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais
orçamentárias;
sanções judiciais cabíveis.
V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do
art. 89, VII.
Vedações, Garantias e Imunidades Parlamentares
SEÇÃO IV
• Vedações
DO SENADO FEDERAL
Aos parlamentares federais, é vedado o exercício de algumas
atividades, em decorrência das relevantes atribuições constitucio-
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: nais que possuem, à luz do que dispõe o Artigo 54 da CF.
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da Re-
pública nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de • Garantias
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica Artigo 53, § 6º da CF → Isenção do dever de testemunhar: é o
nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; chamado sigilo da fonte;
II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, Artigo 53, § 7º da CF → Incorporação às Forças Armadas;
os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacio- Artigo 53, § 8º da CF → Estado de sítio: limitação de sua sus-
nal do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Ad- pensão pela Constituição.
vogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;
III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pú- • Imunidades
blica, a escolha de: Imunidades são prerrogativas outorgadas pela Constituição aos
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; ocupantes de mandatos eletivos com a finalidade de assegurar-lhes
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre- proteção no exercício de suas atribuições constitucionais.
sidente da República; – Imunidade Material: afasta a possibilidade de responsabili-
c) Governador de Território; zação civil e penal do congressista por suas manifestações, desde
d) Presidente e diretores do banco central; que emanadas no desempenho da atividade congressual (Artigo 53,
e) Procurador-Geral da República; caput, da CF).
f) titulares de outros cargos que a lei determinar; – Imunidade Formal: são garantias atribuídas aos parlamenta-
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em res com relação ao trâmite dos processos-crimes em que figuram
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca- como réus e prisões contra si decretadas, a partir de sua diploma-
ráter permanente; ção (Artigo 53, §§ 1º ao 5º, da CF).
V - autorizar operações externas de natureza financeira, de in-
teresse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e
dos Municípios;

208
DIREITO CONSTITUCIONAL
Vejamos os dispositivos constitucionais correspondentes: III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à
terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo
SEÇÃO V licença ou missão por esta autorizada;
DOS DEPUTADOS E DOS SENADORES IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penal- nesta Constituição;
mente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, julgado.
serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Fede- § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos
ral. definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas assegu-
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso radas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vanta-
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime ina- gens indevidas.
fiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e § 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por
seus membros, resolva sobre a prisão. maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por partido político representado no Congresso Nacional, assegurada
ampla defesa.
crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será decla-
ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
rada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provoca-
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até
ção de qualquer de seus membros, ou de partido político represen-
a decisão final, sustar o andamento da ação.
tado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva § 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise
no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimen- ou possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá
to pela Mesa Diretora. seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto §§ 2º e 3º.
durar o mandato. Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemu- I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Ter-
nhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercí- ritório, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de
cio do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;
receberam informações. II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou
§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Sena- para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que,
dores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, depende- neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por ses-
rá de prévia licença da Casa respectiva. são legislativa.
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão du- § 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidu-
rante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto ra em funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento
de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos e vinte dias.
praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incom- § 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição
patíveis com a execução da medida. para preenchê-la se faltarem mais de quinze meses para o término
Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: do mandato.
I - desde a expedição do diploma: § 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito pú- optar pela remuneração do mandato.
blico, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou
empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato Comissões Parlamentares e Comissões Parlamentares de In-
obedecer a cláusulas uniformes; quérito (CPIs)
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado,
• Comissões e Mesas
inclusive os de que sejam demissíveis “ad nutum”, nas entidades
A Constituição Federal faculta ao Congresso Nacional e suas
constantes da alínea anterior;
Casas Legislativas (Câmara e Senado) a criação de Comissões per-
II - desde a posse:
manentes e temporárias, que deverão ser constituídas na forma e
com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que que resultar sua criação (Artigo 58, caput, da CF).
goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito Por seu turno, as Mesas são órgãos de direção superior da Câ-
público, ou nela exercer função remunerada; mara dos Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacional,
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis “ad nu- cuja composição possui mandato de dois anos, sendo vedada a ree-
tum”, nas entidades referidas no inciso I, “a”; leição para o mesmo cargo (Artigo 57, § 4º, da CF).
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das enti-
dades a que se refere o inciso I, “a”; • Comissão Parlamentar de Inquérito
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público ele- Tem como fundamento a função típica fiscalizatória do Poder
tivo. Legislativo e é uma consequência direta e imediata da adoção do
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: sistema de freios e contrapesos previsto na Constituição.
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo São criadas com a finalidade de apurar fato determinado rele-
anterior; vante para a sociedade e a sua previsão constitucional encontra-se
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro no Artigo 58, § 3º, da CF.
parlamentar; Vamos aos dispositivos constitucionais correspondentes:

209
DIREITO CONSTITUCIONAL
SEÇÃO VI I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do re-
DAS REUNIÕES gimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um
décimo dos membros da Casa;
Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Ca- II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade ci-
pital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 vil;
de dezembro. III - convocar Ministros de Estado para prestar informações so-
§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas bre assuntos inerentes a suas atribuições;
para o primeiro dia útil subsequente, quando recaírem em sábados, IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas
domingos ou feriados. de qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou en-
§ 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a aprova- tidades públicas;
ção do projeto de lei de diretrizes orçamentárias. V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
§ 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, a Câ- VI - apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e
mara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir parecer.
conjunta para: § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão pode-
I - inaugurar a sessão legislativa; res de investigação próprios das autoridades judiciais, além de ou-
II - elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços tros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas
comuns às duas Casas; pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto
III - receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus
da República; membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo,
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar. sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos
a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a infratores.
posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para man- § 4º Durante o recesso, haverá uma Comissão representativa
dato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na do Congresso Nacional, eleita por suas Casas na última sessão ordi-
eleição imediatamente subsequente. nária do período legislativo, com atribuições definidas no regimento
comum, cuja composição reproduzirá, quanto possível, a proporcio-
§ 5º A Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo Presi-
nalidade da representação partidária.
dente do Senado Federal, e os demais cargos serão exercidos, alter-
nadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câmara dos
O Processo Legislativo é o conjunto de atos (iniciativa, dis-
Deputados e no Senado Federal.
cussão, votação, emenda, sanção, veto, derrubada do veto, pro-
§ 6º A convocação extraordinária do Congresso Nacional far-
mulgação, publicação) realizados pelo Congresso Nacional e pela
-se-á:
Presidência da República, visando à elaboração de emendas à Cons-
I - pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decretação
tituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medi-
de estado de defesa ou de intervenção federal, de pedido de autori-
das provisórias, decretos legislativos e resoluções.
zação para a decretação de estado de sítio e para o compromisso e
a posse do Presidente e do Vice-Presidente da República; Processo Legislativo Ordinário
II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara É o procedimento exigido para a elaboração das leis ordinárias
dos Deputados e do Senado Federal ou a requerimento da maioria e das leis complementares, que de decompõe em três fases: intro-
dos membros de ambas as Casas, em caso de urgência ou interesse dutória, constitutiva e complementar.
público relevante, em todas as hipóteses deste inciso com a apro-
vação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Fase Introdutória – Iniciativa de Lei por Parlamentar e Extra-
Nacional. parlamentar
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacio- A Fase Introdutória tem início quando um dos legitimados pela
nal somente deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado, CF (Art. 61, caput) toma a iniciativa de apresentar um projeto de lei
ressalvada a hipótese do § 8º deste artigo, vedado o pagamento de a uma das Casas do Congresso Nacional.
parcela indenizatória, em razão da convocação. Esta iniciativa, também chamada de proposição, disposição,
§ 8º Havendo medidas provisórias em vigor na data de convo- competência legiferante ou competência legislativa, pode ser clas-
cação extraordinária do Congresso Nacional, serão elas automati- sificada em parlamentar, extraparlamentar, privativa, concorrente
camente incluídas na pauta da convocação. ou popular.
A Iniciativa Parlamentar, como o próprio nome sugere, é aque-
la realizada pelos membros do Congresso Nacional. Noutro giro, a
SEÇÃO VII Iniciativa Extraparlamentar ocorre quando a Constituição confere
DAS COMISSÕES a legitimidade para proposição legislativa a órgãos dos Poderes Exe-
cutivo e Judiciário.
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões
permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atri- Fase Constitutiva
buições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar O projeto de lei será apresentado a uma das Casas do Congres-
sua criação. so Nacional, que atuará como Casa iniciadora, cumprindo a outra
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é asse- Casa Legislativa a função de Casa Revisora.
gurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos Nas Casas do Congresso Nacional funcionará parcela da fase
partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva constitutiva, formada pela discussão, votação, além de possível
Casa. análise de veto. Após a deliberação parlamentar, a fase constitutiva
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, encerrar-se-á com a deliberação executiva, por meio da sanção ou
cabe: do veto presidencial.

210
DIREITO CONSTITUCIONAL
Deliberação Parlamentar Espécies Normativas
A deliberação parlamentar refere-se a discussão, votação e,
eventualmente, a análise do veto. • Medida Provisória
Em caso de relevância e urgência, o Presidente poderá adotar
Regime de Urgência (Processo Legislativo Sumário) medidas provisórias, com força de lei (possui natureza jurídica de
O Processo Legislativo Sumário é deflagrado quando o Presi- lei em sentido material, pois é um ato normativo primário sob con-
dente da República solicita urgência na apreciação de projetos de dição resolutiva), devendo submetê-las de imediato ao Congresso
lei de sua iniciativa (privativa ou concorrente). Nacional por meio de mensagem.
Observe o quadro abaixo:
• Lei Delegada
Processo Legislativo Sumário – Artigo 64, § 1º, da CF As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da Repúbli-
ca, devendo solicitar a delegação ao Congresso Nacional, que, por
Projetos de lei de iniciativa resolução, especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
privativa ou concorrente do
Requisitos Presidente da República; • Decreto Legislativo
Pedido de urgência pelo São atos normativos primários mediante os quais são executa-
Presidente da República. das as competências exclusivas do Congresso Nacional.

Deliberação Executiva • Resolução


A deliberação executiva refere-se à sanção ou veto. As resoluções são atos normativos primários (Artigo 59, VII, da
CF) que materializam as competências privativas da Câmara e do
Fase Complementar Senado.
Refere-se a promulgação e publicação.
Os dispositivos constitucionais referentes ao Processo Legisla-
A lei nasce com a sanção ou, excepcionalmente, com a rejeição tivo encontram-se elencados do Artigos 59 a 69 da CF, conforme
do veto. Com a promulgação, ocorre a sua inserção no ordenamen- seguem:
to jurídico e a produção de seus efeitos se dá com a publicação.
SEÇÃO VIII
O quadro abaixo resume as fases do Processo Legislativo Or- DO PROCESSO LEGISLATIVO
dinário.
SUBSEÇÃO I
Processo Legislativo Ordinário DISPOSIÇÃO GERAL
Fase Introdutória Iniciativa do projeto de lei
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
Deliberação parlamentar I - emendas à Constituição;
→ discussão, votação e, II - leis complementares;
eventualmente, a análise do III - leis ordinárias;
Fase Constitutiva
veto. IV - leis delegadas;
Deliberação executiva → V - medidas provisórias;
sanção ou veto. VI - decretos legislativos;
Promulgação e publicação da VII - resoluções.
Fase Complementar
lei Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,
redação, alteração e consolidação das leis.
Espécies Normativas: Lei Complementar e Lei Ordinária
Todo o processo legislativo ordinário aplica-se, igualmente, à SUBSEÇÃO II
aprovação de leis ordinárias e leis complementares. A única distin- DA EMENDA À CONSTITUIÇÃO
ção está no quórum de aprovação, que, para as leis complementa-
res, é de maioria absoluta, conforme o Artigo 69, da CF. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante propos-
Não há hierarquia entre lei ordinária e lei complementar, uma ta:
vez que ambas retiram seu fundamento de validade direto da Cons- I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Depu-
tituição Federal. tados ou do Senado Federal;
A diferença entre ambas encontra-se na reserva de matéria, ou II - do Presidente da República;
seja, as matérias que devem ser veiculadas por lei complementar III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unida-
estão exaustivamente previstas na Constituição, por sua vez, onde des da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria
a Carta Política for silente, interpreta-se que a matéria deve ser tra- relativa de seus membros.
tada por lei ordinária. § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de
intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Con-
gresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se ob-
tiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo
número de ordem.

211
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda ten- § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração
dente a abolir: de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II,
I - a forma federativa de Estado; só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.
III - a separação dos Poderes; § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e
IV - os direitos e garantias individuais. 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma
havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por
mesma sessão legislativa. decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da
SUBSEÇÃO III medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso
DAS LEIS do Congresso Nacional.
§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Na-
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a cional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo
qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Sena- prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais.
do Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta
ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procura- e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de ur-
dor-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previs- gência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso
tos nesta Constituição. Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver trami-
leis que: tando.
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; § 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência
II - disponham sobre: de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na adminis- sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas
tração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; do Congresso Nacional.
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária § 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câ-
e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos mara dos Deputados.
Territórios; § 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores exa-
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídi- minar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de
serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma
co, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
das Casas do Congresso Nacional.
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de me-
União, bem como normas gerais para a organização do Ministério
dida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua
Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e
eficácia por decurso de prazo.
dos Territórios;
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida
pública, observado o disposto no art. 84, VI;
provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimen-
praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.
to de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto
transferência para a reserva. original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.
Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:
um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cin- I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da Repúbli-
co Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores ca, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;
de cada um deles. II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da Re- da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Fede-
pública poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, deven- rais e do Ministério Público.
do submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tri-
I – relativa a: bunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políti- § 1º O Presidente da República poderá solicitar urgência para
cos e direito eleitoral; apreciação de projetos de sua iniciativa.
b) direito penal, processual penal e processual civil; § 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada qual suces-
carreira e a garantia de seus membros; sivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção
créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ulti-
167, § 3º; me a votação.
II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança § 3º A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara
popular ou qualquer outro ativo financeiro; dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao
III – reservada a lei complementar; mais o disposto no parágrafo anterior.
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso § 4º Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do
Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de código.

212
DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto Tribunal de Contas da União (TCU) e Fiscalização Contábil, Fi-
pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviado à nanceira e Orçamentária da União
sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, Conforme já visto neste, além da função típica de legislar, ao
se o rejeitar. Poder Legislativo também foi atribuída função fiscalizatória.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa ini- Sabe-se que, de modo geral, todo poder deverá manter, de for-
ciadora. ma integrada, sistema de controle interno fiscalizatório, conforme
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação envia- estabelece o Artigo 74, caput, da CF.
rá o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o Em relação ao Legislativo, além do controle interno (inerente
sancionará. a todo poder), também realiza controle externo, através da fiscali-
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo zação contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial
ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, ve- da União e das entidades da administração direta (pertencentes ao
tá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, con- Executivo, Legislativo e Judiciário) e indireta, levando-se em consi-
tados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta deração a legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. subvenções e renúncia de receitas (Artigo 70, caput, da CF).
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, A CF/88 consagra, dessa forma, um sistema harmônico, inte-
de parágrafo, de inciso ou de alínea. grado e sistêmico de perfeita convivência entre os controles inter-
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente nos de cada poder e o controle externo exercido pelo Legislativo,
da República importará sanção. com o auxílio do Tribunal de Contas (Artigo 74, IV, da CF).
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trin- Esse sistema de atuação conjunta é reforçado pela regra conti-
ta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo da no Artigo 74, § 1º, da CF, na medida em que os responsáveis pelo
voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregula-
§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para ridade ou ilegalidade, dela deverão dar ciência ao TCU, sob pena de
promulgação, ao Presidente da República. responsabilidade solidária.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o Portanto, o controle externo será realizado pelo Congresso
veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobresta- Nacional, auxiliado pelo Tribunal de Contas, cuja competência está
das as demais proposições, até sua votação final. expressa no Artigo 71 da CF.
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito ho- Dentre as várias competências atribuídas ao Tribunal de Con-
ras pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presi- tas, encontra-se a de auxiliar o Legislativo (Congresso Nacional), no
dente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, controle externo das contas do Executivo.
caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. O Tribunal de Contas decide administrativamente, não produ-
zindo nenhum ato marcado pela definitividade, ou fixação do direi-
Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente to no caso concreto, no sentido de afastamento da pretensão resis-
poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legisla- tida. Portanto, o Tribunal de Contas não integra o Poder Judiciário.
tiva, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qual- O Tribunal de Contas, apesar de ser autônomo, não tendo qual-
quer das Casas do Congresso Nacional. quer vínculo de subordinação ao Legislativo, é auxiliar deste. A fis-
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da
calização em si é realizada pelo Legislativo. O Tribunal de Contas,
República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
como órgão auxiliar, apenas emite pareces técnicos.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência
exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da
Tribunais de Contas dos Estados (TCEs) e Tribunais e Conse-
Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada
lhos de Contas dos Municípios
à lei complementar, nem a legislação sobre:
No que couber, as regras estabelecidas para o Tribunal de
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a
Contas da União (TCU) deverão ser observadas pelos Tribunais de
carreira e a garantia de seus membros;
Contas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Artigo 75,
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e
eleitorais; caput, da CF).
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. Segue abaixo os Artigos pertinentes da CF:
§ 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de
resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e SEÇÃO IX
os termos de seu exercício. DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
§ 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo
Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, ope-
emenda. racional e patrimonial da União e das entidades da administração
Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
absoluta. aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo
Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de
Referências Bibliográficas: controle interno de cada Poder.
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurí-
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. dica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou
administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária.
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional,
será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual
compete:

213
DIREITO CONSTITUCIONAL
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da § 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão,
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão
sessenta dias a contar de seu recebimento; à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação.
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Mi-
por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in- nistros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e
direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber,
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa as atribuições previstas no art. 96.
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao § 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomea-
erário público; dos dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de
admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e idade;
indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder II - idoneidade moral e reputação ilibada;
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas financeiros ou de administração pública;
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva ati-
fundamento legal do ato concessório; vidade profissional que exija os conhecimentos mencionados no in-
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, ciso anterior.
do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções § 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão esco-
e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, ope- lhidos:
racional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre auditores e
inciso II; membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e mere-
de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, cimento;
nos termos do tratado constitutivo; II - dois terços pelo Congresso Nacional.
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos § 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mes-
congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município; mas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e van-
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacio- tagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se
nal, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do
Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, art. 40.
operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspe- § 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mes-
ções realizadas; mas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de des- demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional
pesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que Federal.
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão,
causado ao erário; de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro- de:
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria-
nual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da
ilegalidade;
União;
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, co-
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à
municando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimo-
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
nial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como
abusos apurados.
da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado dire-
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garan-
tamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao
tias, bem como dos direitos e haveres da União;
Poder Executivo as medidas cabíveis.
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão insti-
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de tucional.
noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo ante- § 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhe-
rior, o Tribunal decidirá a respeito. cimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciên-
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito cia ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade
ou multa terão eficácia de título executivo. solidária.
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral § 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato
e anualmente, relatório de suas atividades. é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou
Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art. ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.
166, §1º, diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no
sob a forma de investimentos não programados ou de subsídios não que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais
aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsá- de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais
vel que, no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessá- e Conselhos de Contas dos Municípios.
rios. Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os
§ 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Con-
insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento selheiros.
conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias.

214
DIREITO CONSTITUCIONAL
Referências Bibliográficas: d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá re-
DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e cusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de
Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada am-
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 11 edição – pla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação;
São Paulo: Editora Método. e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver
autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los
ao cartório sem o devido despacho ou decisão;
PODER JUDICIÁRIO. DISPOSIÇÕES GERAIS. ÓRGÃOS III o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigui-
DO PODER JUDICIÁRIO dade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única
entrância;
IV previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamen-
Disposições Gerais no Poder Judiciário to e promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do
Como função típica, compete ao Poder Judiciário aplicar a lei processo de vitaliciamento a participação em curso oficial ou re-
ao caso concreto, substituindo a vontade das partes, resolvendo o conhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de
conflito de interesses de forma definitiva. Atipicamente, administra magistrados;
seus órgãos e pessoal, nomeando servidores, executando licitações V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores correspon-
e contratos administrativos, etc., bem assim, legisla, elaborando os derá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os
regimentos internos dos tribunais (Artigo 96, I, a). Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais
As Disposições Gerais no Poder Judiciário estão previstas na CF, magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e
dos Artigos 92 a 100. Vejamos: estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária
nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a
CAPÍTULO III dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa
DO PODER JUDICIÁRIO e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais
Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37,
SEÇÃO I XI, e 39, § 4º;
DISPOSIÇÕES GERAIS VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus de-
pendentes observarão o disposto no art. 40;
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: VII o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autoriza-
I - o Supremo Tribunal Federal; ção do tribunal;
I-A o Conselho Nacional de Justiça; VIII - o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado,
II - o Superior Tribunal de Justiça; por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; (Incluído pela Emenda absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça,
Constitucional nº 92, de 2016) assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; nal nº 103, de 2019)
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; VIII-A a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de co-
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; marca de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas
VI - os Tribunais e Juízes Militares; alíneas a , b , c e e do inciso II;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
Territórios. públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justi-
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
ça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal.
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm
a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
jurisdição em todo o território nacional.
prejudique o interesse público à informação;
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal
X as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas
Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os
e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da
seguintes princípios:
maioria absoluta de seus membros;
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substi-
XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,
tuto, mediante concurso público de provas e títulos, com a partici-
poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o
pação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exi-
gindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições
jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribu-
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por nal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra
antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: metade por eleição pelo tribunal pleno;
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes XII a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado fé-
consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento; rias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando,
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercí- nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em
cio na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte plantão permanente;
da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisi- XIII o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcio-
tos quem aceite o lugar vago; nal à efetiva demanda judicial e à respectiva população;
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos
critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da ju- de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório;
risdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou XV a distribuição de processos será imediata, em todos os graus
reconhecidos de aperfeiçoamento; de jurisdição.

215
DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Fede- Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus mem-
rais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios bros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tri-
será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez bunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de re- Poder Público.
putação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profis- Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Esta-
sional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação dos criarão:
das respectivas classes. I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execu-
lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias sub- ção de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de
sequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação. menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e suma-
Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: ríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;
dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos
de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos de- pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos
mais casos, de sentença judicial transitada em julgado; e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar,
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de
forma do art. 93, VIII; habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdi-
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. cional, além de outras previstas na legislação.
37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. § 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no
Parágrafo único. Aos juízes é vedado: âmbito da Justiça Federal.
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun- § 2º As custas e emolumentos serão destinados exclusivamente
ção, salvo uma de magistério; ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça.
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia adminis-
em processo; trativa e financeira.
III - dedicar-se à atividade político-partidária. § 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias
IV receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui- dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Pode-
ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas res na lei de diretrizes orçamentárias.
as exceções previstas em lei; § 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribu-
V exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, nais interessados, compete:
antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposen-
I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal
tadoria ou exoneração.
Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos
Art. 96. Compete privativamente:
tribunais;
I - aos tribunais:
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios,
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos in-
aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos res-
ternos, com observância das normas de processo e das garantias
pectivos tribunais.
processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funciona-
§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as res-
mento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;
pectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juí-
zos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para
correicional respectiva; fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os
juiz de carreira da respectiva jurisdição; limites estipulados na forma do § 1º deste artigo.
d) propor a criação de novas varas judiciárias; § 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títu- forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na
los, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos ne- forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários
cessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.
definidos em lei; § 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus mem- haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que ex-
bros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vincu- trapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias,
lados; exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos suplementares ou especiais.
Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observa- Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Fe-
do o disposto no art. 169: deral, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judi-
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores; ciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresen-
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus tação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e
a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos nos créditos adicionais abertos para este fim.
tribunais inferiores, onde houver; § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aque-
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; les decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; complementações, benefícios previdenciários e indenizações por
III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Dis- morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em vir-
trito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Pú- tude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com
blico, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a com- preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles re-
petência da Justiça Eleitoral. feridos no § 2º deste artigo.

216
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, origi- III - pagamento de outorga de delegações de serviços públicos
nários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de e demais espécies de concessão negocial promovidas pelo mesmo
idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com defi- ente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021)
ciência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferên- IV - aquisição, inclusive minoritária, de participação societária,
cia sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo disponibilizada para venda, do respectivo ente federativo; ou (Inclu-
fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido ído pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021)
o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será V - compra de direitos, disponibilizados para cessão, do respec-
pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Reda- tivo ente federativo, inclusive, no caso da União, da antecipação de
ção dada pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) valores a serem recebidos a título do excedente em óleo em contra-
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expe- tos de partilha de petróleo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
dição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações 113, de 2021)
definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a
devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita
leis próprias, valores distintos às entidades de direito público, se- pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupan-
gundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ça, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no
ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de pou-
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de pança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.
direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos,
§ 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus crédi-
oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de preca-
tos em precatórios a terceiros, independentemente da concordância
tórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o paga-
do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§ 2º e
mento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores
3º.
atualizados monetariamente.
§ 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão con- § 14. A cessão de precatórios, observado o disposto no § 9º des-
signados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente te artigo, somente produzirá efeitos após comunicação, por meio
do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o paga- de petição protocolizada, ao Tribunal de origem e ao ente federa-
mento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusiva- tivo devedor. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 113,
mente para os casos de preterimento de seu direito de precedência de 2021)
ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação § 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a
do seu débito, o sequestro da quantia respectiva. esta Constituição Federal poderá estabelecer regime especial para
§ 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comis- pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e
sivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e
precatórios incorrerá em crime de responsabilidade e responderá, forma e prazo de liquidação.
também, perante o Conselho Nacional de Justiça. § 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União poderá
§ 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados, Distrito Fede-
suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, reparti- ral e Municípios, refinanciando-os diretamente.
ção ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de § 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo. aferirão mensalmente, em base anual, o comprometimento de suas
§ 9º Sem que haja interrupção no pagamento do precatório e respectivas receitas correntes líquidas com o pagamento de preca-
mediante comunicação da Fazenda Pública ao Tribunal, o valor cor- tórios e obrigações de pequeno valor. (Incluído pela Emenda Consti-
respondente aos eventuais débitos inscritos em dívida ativa contra tucional nº 94, de 2016)
o credor do requisitório e seus substituídos deverá ser depositado à § 18. Entende-se como receita corrente líquida, para os fins
conta do juízo responsável pela ação de cobrança, que decidirá pelo de que trata o § 17, o somatório das receitas tributárias, patrimo-
seu destino definitivo. (Redação dada pela Emenda Constitucional niais, industriais, agropecuárias, de contribuições e de serviços, de
nº 113, de 2021) transferências correntes e outras receitas correntes, incluindo as
§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará oriundas do § 1º do art. 20 da Constituição Federal, verificado no
à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, período compreendido pelo segundo mês imediatamente anterior
sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os
ao de referência e os 11 (onze) meses precedentes, excluídas as du-
débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os
plicidades, e deduzidas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94,
fins nele previstos.
de 2016)
§ 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei do
I - na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Distrito Fe-
ente federativo devedor, com auto aplicabilidade para a União, a
oferta de créditos líquidos e certos que originalmente lhe são pró- deral e aos Municípios por determinação constitucional; (Incluído
prios ou adquiridos de terceiros reconhecidos pelo ente federativo pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)
ou por decisão judicial transitada em julgado para: (Redação dada II - nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por de-
pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021) terminação constitucional; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
I - quitação de débitos parcelados ou débitos inscritos em dívida 94, de 2016)
ativa do ente federativo devedor, inclusive em transação resolutiva III - na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios,
de litígio, e, subsidiariamente, débitos com a administração autár- a contribuição dos servidores para custeio de seu sistema de previ-
quica e fundacional do mesmo ente; (Incluído pela Emenda Consti- dência e assistência social e as receitas provenientes da compensa-
tucional nº 113, de 2021) ção financeira referida no § 9º do art. 201 da Constituição Federal.
II - compra de imóveis públicos de propriedade do mesmo ente (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)
disponibilizados para venda; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 113, de 2021)

217
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de condena- → o ato de remoção;
ções judiciais em precatórios e obrigações de pequeno valor, em pe- → disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interes-
ríodo de 12 (doze) meses, ultrapasse a média do comprometimento se público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
percentual da receita corrente líquida nos 5 (cinco) anos imediata- respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada
mente anteriores, a parcela que exceder esse percentual poderá ser ampla defesa;
financiada, excetuada dos limites de endividamento de que tratam → princípio da fundamentação obrigatória;
os incisos VI e VII do art. 52 da Constituição Federal e de quaisquer → órgão especial;
outros limites de endividamento previstos, não se aplicando a esse → continuidade da atividade jurisdicional;
financiamento a vedação de vinculação de receita prevista no inciso → proporcionalidade juízes/demanda;
IV do art. 167 da Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Cons- → funcionamento adequado;
titucional nº 94, de 2016) → vitaliciedade;
§ 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze por → inamovibilidade;
cento) do montante dos precatórios apresentados nos termos do § → irredutibilidade de subsídio.
5º deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste precatório
serão pagos até o final do exercício seguinte e o restante em parce- Vedações
las iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de juros de São Vedações dos Magistrados, de acordo com o Artigo 95, pa-
mora e correção monetária, ou mediante acordos diretos, perante rágrafo único e incisos, da CF:
Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com redução máxi-
ma de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado, des- I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun-
de que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial ção, salvo uma de magistério;
e que sejam observados os requisitos definidos na regulamentação II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participa-
editada pelo ente federado. (Incluído pela Emenda Constitucional ção em processo;
nº 94, de 2016) III - dedicar-se à atividade político-partidária;
§ 21. Ficam a União e os demais entes federativos, nos mon- IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui-
tantes que lhes são próprios, desde que aceito por ambas as partes, ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas
autorizados a utilizar valores objeto de sentenças transitadas em as exceções previstas em lei;
julgado devidos a pessoa jurídica de direito público para amortizar V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou,
dívidas, vencidas ou vincendas: (Incluído pela Emenda Constitucio- antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposen-
nal nº 113, de 2021) tadoria ou exoneração (chamada de quarentena).
I - nos contratos de refinanciamento cujos créditos sejam deti-
dos pelo ente federativo que figure como devedor na sentença de Quinto Constitucional da OAB e do MP
que trata o caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional Previsto no Artigo 94 da CF, um quinto das vagas nos TRFs, dos
nº 113, de 2021) TJs dos estados e do TJ do Distrito Federal e Territórios será com-
II - nos contratos em que houve prestação de garantia a ou- posto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de
tro ente federativo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 113, carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação
de 2021) ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indi-
III - nos parcelamentos de tributos ou de contribuições sociais; cados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respec-
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021) tivas classes.
IV - nas obrigações decorrentes do descumprimento de pres- Recebidas as indicações apresentadas pelos órgãos representa-
tação de contas ou de desvio de recursos. (Incluído pela Emenda tivos das respectivas classes (Ministério Público ou OAB), o tribunal
Constitucional nº 113, de 2021) (TRF, TJ ou TJDFT) formará uma lista tríplice, enviando-a ao Poder
§ 22. A amortização de que trata o § 21 deste artigo: (Incluído Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus
pela Emenda Constitucional nº 113, de 2021) integrantes para nomeação.
I - nas obrigações vencidas, será imputada primeiramente às
parcelas mais antigas; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 113, Referências Bibliográficas:
de 2021) DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
II - nas obrigações vincendas, reduzirá uniformemente o valor Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
de cada parcela devida, mantida a duração original do respectivo
contrato ou parcelamento. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
113, de 2021)

Garantias do Poder Judiciário e de seus Membros O Capítulo IV, do Título IV, da Constituição Federal de 1988
cuida das Funções Essenciais à Justiça compostas pelo Ministério
• Garantias Funcionais Público, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública e pela Ad-
→ ingresso por concurso público; vocacia Privada.
→ a promoção se dará de entrância para entrância, alternada- Tais órgãos, que não integram a estrutura do Poder Judiciário,
mente, por antiguidade e merecimento; mas atuam perante ele, provocam a tutela jurisdicional, haja vista
→ o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigui- que o Judiciário não age de ofício, somente por provocação.
dade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única Vejamos abaixo o perfil constitucional de cada órgão integrante
entrância; do gênero funções essenciais à Justiça.
→ o Estatuto da Magistratura deve prever cursos oficiais de
preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistrados;
→ remuneração por subsídio;
→ residência na comarca;

218
DIREITO CONSTITUCIONAL
— Ministério Público
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Princípios Institucionais do MP
Segundo o Artigo 127, § 1º da CF, são princípios institucionais do MP a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.
• O Princípio da Unidade está afeto à ideia de que todos os membros do MP integram um único órgão, possuindo uma única estrutura
e sendo chefiado por um só procurador-geral;
• De acordo com o Princípio da Indivisibilidade, os membros do Ministério Público não estão vinculados aos processos nos quais atu-
am, podendo ser substituídos uns pelos outros, desde que sejam do mesmo ramo do MP, haja vista que o ato é praticado pela instituição
e não pelo agente;
• O Princípio da Independência Funcional, significa que o membro do MP, quando atua em um processo, não está subordinado a
ninguém, nem mesmo ao seu procurador-geral, vinculando-se, tão somente, à sua consciência jurídica.

Garantias Institucionais do MP
a) Autonomia funcional: como sinônimo de independência funcional, significa dizer que o membro do Ministério Público, no cumpri-
mento de suas atribuições constitucionais e legais, não está subordinado a ninguém, nem mesmo ao seu procurador-geral, condicionando
sua atuação tão somente à sua consciência jurídica;
b) Autonomia administrativa: poder de gestão sobre a administração dos seus órgãos, bens e pessoas, segundo as normas legais
pertinentes, editadas pela entidade estatal competente;
c) Autonomia financeira: capacidade de elaboração da proposta orçamentária e de gestão e aplicação dos recursos destinados a pro-
ver as atividades e serviços dos órgãos do MP (Artigo 127, §§ 3º ao 6º);
d) Iniciativa do processo legislativo: disposto nos Artigos 127, § 2º e 128, § 5º, da CF;
e) Vedação de promotor ad hoc: disposto no Artigo 129, § 2º, da CF;
f) Ingresso da carreira por concurso público: disposto no Artigo 129, § 3º, da CF;
g) Distribuição imediata de processo: disposto no Artigo 129, § 5º, da CF.

Órgãos do MP Brasileiro
a) Ministério Público da União: formado pelo Ministério Público Federal, pelo Ministério Público do Trabalho, pelo Ministério Público
Militar e pelo Ministério Público do Distrito Federal e territórios;
b) Ministérios Públicos dos Estados.

Observe abaixo a ilustração que demonstra de forma simples a composição do MP Brasileiro:

Procurador Geral da República


Escolhido pelo Presidente, dentre os integrantes da carreira com mais de 35 anos, sendo seu nome indicado ao Senado, que o apro-
vará, ou não, por maioria absoluta de votos.
Exerce mandato de 2 anos, permitindo-se reconduções sucessivas. A cada nova recondução, deve-se submeter o nome à nova apro-
vação pelo Senado Federal.
A destituição do PGR pelo Presidente da República depende de prévia autorização do Senado Federal por maioria absoluta da Casa.

Procuradores Gerais de Justiça


Os Ministérios Públicos dos estados e o Ministério Público do Distrito Federal e territórios formarão lista tríplice dentre integrantes
da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu procurador-geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo respectivo
(governador dos estados e Presidente da República, no caso do MPDFT), para um mandato de dois anos, permitida uma recondução.
Ademais, os procuradores-gerais nos Estados e no Distrito Federal e territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria
absoluta do Poder legislativo, na forma da lei complementar respectiva.

219
DIREITO CONSTITUCIONAL
Garantias Funcionais do MP dação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei
De acordo com o Artigo 128, § 5º, I, da CF, os membros do MP orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipula-
gozam das seguintes garantias funcionais: dos na forma do § 3º.
a) vitaliciedade: após 2 anos de exercício, não podendo perder § 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for
o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado; encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do
b) inamovibilidade: salvo por motivo de interesse público, me- § 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins
diante decisão do órgão colegiado competente do MP, por voto da de consolidação da proposta orçamentária anual.
maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa; § 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá
c) irredutibilidade de subsídio. haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que ex-
trapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias,
Vedações aos Membros do MP exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos
Estão elencadas no Artigo 128, II e alíneas, da CF: suplementares ou especiais.
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorá- Art. 128. O Ministério Público abrange:
rios, percentagens ou custas processuais; I - o Ministério Público da União, que compreende:
b) exercer a advocacia; a) o Ministério Público Federal;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; b) o Ministério Público do Trabalho;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra fun- c) o Ministério Público Militar;
ção pública, salvo uma de magistério; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
e) exercer atividade político-partidária; II - os Ministérios Públicos dos Estados.
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui- § 1º O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-
ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas -Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre
as exceções previstas em lei; integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a apro-
vação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado
g) exercício da advocacia no juízo ou tribunal do qual se afas-
Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução.
tou, antes de decorrido três anos do seu afastamento do cargo por
§ 2º A destituição do Procurador-Geral da República, por inicia-
razões de aposentadoria ou exoneração.
tiva do Presidente da República, deverá ser precedida de autoriza-
Funções Institucionais do MP
ção da maioria absoluta do Senado Federal.
As funções institucionais do MP estão exemplificativamente
§ 3º Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal
(rol não taxativo) elencadas no Artigo 129, da CF.
e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira,
na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral,
Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP
que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de
O CNMP não é um órgão que integra a estrutura do Ministé-
dois anos, permitida uma recondução.
rio Público. Trata-se de um tribunal administrativo com a função § 4º Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e
de controlar a atuação administrativa e financeira do Ministério Pú- Territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria abso-
blico e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros. luta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva.
Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes ao Mi- § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciati-
nistério Público: va é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão
a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Públi-
CAPÍTULO IV co, observadas, relativamente a seus membros:
DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA I - as seguintes garantias:
(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo per-
2014) der o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, me-
SEÇÃO I diante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Pú-
DO MINISTÉRIO PÚBLICO blico, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada
ampla defesa;
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essen- c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º,
cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, §
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e in- 2º, I;
dividuais indisponíveis. II - as seguintes vedações:
§ 1º São princípios institucionais do Ministério Público a unida- a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorá-
de, a indivisibilidade e a independência funcional. rios, percentagens ou custas processuais;
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e b) exercer a advocacia;
administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra fun-
auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas ção pública, salvo uma de magistério;
e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei dis- e) exercer atividade político-partidária;
porá sobre sua organização e funcionamento. f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui-
§ 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas
dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. as exceções previstas em lei.
§ 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva pro- § 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no
posta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes art. 95, parágrafo único, V.
orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consoli- Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

220
DIREITO CONSTITUCIONAL
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma § 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o
da lei; controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Pú-
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos servi- blico e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros,
ços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constitui- cabendo lhe:
ção, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; I zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a pro- Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
teção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros competência, ou recomendar providências;
interesses difusos e coletivos; II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou me-
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representa- diante provocação, a legalidade dos atos administrativos pratica-
ção para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos pre- dos por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos
vistos nesta Constituição; Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que
V - defender judicialmente os direitos e interesses das popula- se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei,
ções indígenas; sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou ór-
sua competência, requisitando informações e documentos para ins- gãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra
truí-los, na forma da lei complementar respectiva; seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares
da lei complementar mencionada no artigo anterior; em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar ou-
tras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; (Redação
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas ma-
IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disci-
nifestações processuais;
plinares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
julgados há menos de um ano;
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação V elaborar relatório anual, propondo as providências que jul-
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. gar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis pre- atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista
vistas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóte- no art. 84, XI.
ses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei. § 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas nacional, dentre os membros do Ministério Público que o integram,
por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da res- vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe
pectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. forem conferidas pela lei, as seguintes:
§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á me- I receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado,
diante concurso público de provas e títulos, assegurada a partici- relativas aos membros do Ministério Público e dos seus serviços au-
pação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exi- xiliares;
gindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correi-
jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. ção geral;
§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto III requisitar e designar membros do Ministério Público, dele-
no art. 93. gando-lhes atribuições, e requisitar servidores de órgãos do Minis-
§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será ime- tério Público.
diata. § 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advoga-
Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos Tribu- dos do Brasil oficiará junto ao Conselho.
nais de Contas aplicam-se as disposições desta seção pertinentes a § 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Minis-
direitos, vedações e forma de investidura. tério Público, competentes para receber reclamações e denúncias
Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe- de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério
-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, Público, inclusive contra seus serviços auxiliares, representando di-
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Fe- retamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.
deral, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução,
Advocacia Pública
sendo:
I o Procurador-Geral da República, que o preside;
• Advocacia Pública Federal
II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada
A Advocacia Pública Federal é exercida pela Advocacia-Geral
a representação de cada uma de suas carreiras;
da União, que é a instituição que, diretamente ou através de órgão
III três membros do Ministério Público dos Estados; vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, caben-
IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e do-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua
outro pelo Superior Tribunal de Justiça; organização e funcionamento (Lei Complementar nº 73/1993), as
V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Exe-
dos Advogados do Brasil; cutivo.
VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Fe-
deral.
§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público
serão indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na forma da
lei.

221
DIREITO CONSTITUCIONAL
Observe o quadro abaixo: Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a Ad-
vocacia Privada:
Advocacia-Geral da União
SEÇÃO III
Dimensão contenciosa Representação judicial e DA ADVOCACIA
extrajudicial da União (órgãos (REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE
e entidades dos Poderes 2014)
Executivo, Legislativo e
Judiciário). Art. 133. O advogado é indispensável à administração da jus-
Dimensão consultiva Consultoria e Assessoramento tiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da
jurídico dos órgãos e entidades profissão, nos limites da lei.
do Poder Executivo.
Defensoria Pública
• Advocacia Pública nos Estados e no Distrito Federal É instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incum-
É exercida pelos procuradores dos estados e pelos procurado- bindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
res do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso necessitados, na forma do Artigo 5º, LXXIV.
dependerá de concurso público de provas e títulos, com a partici- Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a De-
pação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, fensoria Pública:
cumprindo a representação judicial e a consultoria jurídica das res-
pectivas unidades federadas. SEÇÃO IV
Seguem abaixo as disposições constitucionais referentes a Ad- DA DEFENSORIA PÚBLICA
vocacia Pública: (REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 80, DE
2014)
SEÇÃO II
DA ADVOCACIA PÚBLICA Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essen-
cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expres-
Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, dire- são e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a
tamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa,
e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e
que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma
de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada
§ 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Ge- pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)
ral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da
cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas
reputação ilibada. gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira,
§ 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e
de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público de pro- títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilida-
vas e títulos. de e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institu-
§ 3º Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a re- cionais.
presentação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacio- § 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas au-
nal, observado o disposto em lei. tonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, or- orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
ganizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.
público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advo- § 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da
gados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação União e do Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional
judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. nº 74, de 2013)
Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é as- § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a uni-
segurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante dade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se
avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relató- também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art.
rio circunstanciado das corregedorias. 96 desta Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 80, de 2014)
Advocacia Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas
nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados na forma do
• Advocacia Privada art. 39, § 4º.
O Artigo 133 da CF preceitua que o advogado é indispensável à
administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifes- Referências Bibliográficas:
tações no exercício da profissão, nos limites da lei. DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
Esta norma traz a lume duas características fundamentais do Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
advogado:
a) a indispensabilidade, como regra; e
b) a imunidade relativa no exercício do seu mister.

222
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se
DEMOCRÁTICAS. SEGURANÇA PÚBLICA. persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
ORGANIZAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA § 3º Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo exe-
O Título V da Carta Constitucional consagra as normas per- cutor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz
tinentes à defesa do Estado e das instituições democráticas, pre- competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso re-
vendo medidas excepcionais para manter ou restabelecer a ordem querer exame de corpo de delito à autoridade policial;
constitucional em momentos de anormalidade da vida política do II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela au-
Estado, é o chamado sistema constitucional das crises, composto toridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua
pelo estado de defesa (Artigo 136, da CF) e pelo estado de sítio (Ar- autuação;
tigos 137 a 139, da CF). III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser
Ademais, prevê o Texto Maior o perfil constitucional das insti- superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;
tuições responsáveis pela defesa do Estado, quais sejam, as Forças IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
Armadas (Artigos 142 e 143, da CF) e os órgãos de segurança públi- § 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presi-
ca (Artigo 144, da CF). dente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato
Com efeito, os estados de defesa e de sítio são momentos de com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá
crise constitucional de legalidade extraordinária, em que são per- por maioria absoluta.
mitidas a suspensão ou a diminuição do alcance de certos direitos § 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convoca-
fundamentais, mitigando a proteção dos cidadãos em face da ação do, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
opressora do Estado. § 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez
dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando
enquanto vigorar o estado de defesa.
Sistema Constitucional das Crises § 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de de-
Estado de Defesa Estado de Sítio fesa.

Estado de Defesa Estado de Sítio


Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por Consiste na instauração de uma legalidade extraordinária, por
tempo certo, em locais restritos e determinados, mediante decreto tempo determinado (que poderá ser no território nacional inteiro),
do Presidente da República, ouvidos o Conselho da República e o objetivando preservar ou restaurar a normalidade constitucional,
Conselho de Defesa Nacional, para preservar a ordem pública ou perturbada por motivo de comoção grave de repercussão nacional
a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institu- ou por situação de beligerância com Estado estrangeiro (Artigo 49,
cional ou atingidas por calamidades de grandes proporções da na- II c/c Artigo 84, XIX, da CF).
tureza. É mais grave que o estado de defesa, no sentido em que as me-
Vejamos o dispositivo constitucional que o representa: didas tomadas contra os direitos individuais serão mais restritivas,
conforme faz ver o Artigo 139, da CF.
TÍTULO V Vejamos os dispositivos constitucionais correspondentes:
DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
SEÇÃO II
CAPÍTULO I DO ESTADO DE SÍTIO
DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO
Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho
SEÇÃO I da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congres-
DO ESTADO DE DEFESA so Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos
de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de
Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho
fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o es-
da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de
tado de defesa;
defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais res-
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão ar-
tritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas
mada estrangeira.
por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por ca-
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autori-
lamidades de grandes proporções na natureza.
zação para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o
os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacio-
tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e
nal decidir por maioria absoluta
indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigo- Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração,
rarem, dentre as seguintes: as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucio-
I - restrições aos direitos de: nais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; República designará o executor das medidas específicas e as áreas
b) sigilo de correspondência; abrangidas.
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; § 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez,
hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo
e custos decorrentes. o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.

223
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio du- CAPÍTULO II
rante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de DAS FORÇAS ARMADAS
imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional
para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato. Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
§ 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes
até o término das medidas coercitivas. e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com funda- a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se
mento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
seguintes medidas: iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
I - obrigação de permanência em localidade determinada; § 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condena- adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Ar-
dos por crimes comuns; madas.
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições discipli-
sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade nares militares.
de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados milita-
IV - suspensão da liberdade de reunião; res, aplicando-se lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as
V - busca e apreensão em domicílio; seguintes disposições:
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas ine-
VII - requisição de bens. rentes, são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difu- em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sen-
são de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Ca- do-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os
sas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa. demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas;
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou em-
SEÇÃO III prego público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no
DISPOSIÇÕES GERAIS art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva, nos
termos da lei;
Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes par- III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em
tidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ain-
para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao da que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista no
estado de defesa e ao estado de sítio. art. 37, inciso XVI, alínea “c”, ficará agregado ao respectivo quadro
Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, ces- e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser pro-
sarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos movido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço ape-
ilícitos cometidos por seus executores ou agentes. nas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido
de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo para a reserva, nos termos da lei;
Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional, IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
com especificação e justificação das providências adotadas, com V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado
relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas. a partidos políticos;
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado in-
Forças Armadas e Segurança Pública
digno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal
militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal es-
• Forças Armadas
pecial, em tempo de guerra;
Constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema
em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso ante-
do Presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à ga-
rior;
rantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer des-
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII,
tes, da lei e da ordem.
XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem
• Segurança Pública como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art.
Dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exer- 37, inciso XVI, alínea “c”;
cida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das IX - (Revogado)
pessoas e do patrimônio. X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites
Os órgãos de segurança pública são: polícia federal, polícia ro- de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do mi-
doviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias litar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as
militares e corpos de bombeiros militares e polícias penais federal, prerrogativas e outras situações especiais dos militares, considera-
estaduais e distrital. das as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpri-
Segue abaixo os Artigos da CF, correspondentes aos referidos das por força de compromissos internacionais e de guerra.
temas: Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir servi-
ço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem
imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de
crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximi-
rem de atividades de caráter essencialmente militar.

224
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço mili- § 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos
tar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do
que a lei lhes atribuir. art. 39.
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem
CAPÍTULO III pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias
DA SEGURANÇA PÚBLICA públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trân-
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res- sito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos
seguintes órgãos: Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus
I - polícia federal; agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal; Referências Bibliográficas:
IV - polícias civis; DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
ORDEM SOCIAL. BASE E OBJETIVOS DA ORDEM
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanen-
SOCIAL. SEGURIDADE SOCIAL. MEIO AMBIENTE.
te, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, des-
FAMÍLIA, CRIANÇA, ADOLESCENTE, IDOSO E ÍNDIO
tina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas O Título VIII da Constituição cuida da Ordem Social, elencada
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras in- em seus artigos 193 a 232.
frações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacio-
nal e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; → Chamamos a atenção para o fato de que referente ao assun-
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas to supracitado, os concursos públicos cobram do candidato a litera-
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazen- lidade do texto legal, portanto, é importante conhecer bem todos os
dária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de compe- artigos deste capítulo em sua integralidade!
tência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de CF, TÍTULO VIII
fronteiras; DA ORDEM SOCIAL
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária
CAPÍTULO I
da União.
DISPOSIÇÃO GERAL
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organiza-
do e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho,
forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organi-
Parágrafo único. O Estado exercerá a função de planejamento
zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
das políticas sociais, assegurada, na forma da lei, a participação da
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
sociedade nos processos de formulação, de monitoramento, de con-
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de car-
trole e de avaliação dessas políticas. (Incluído pela Emenda Consti-
reira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções tucional nº 108, de 2020)
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as mi-
litares. No tocante à Seguridade Social, segue um processo mnemô-
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preser- nico para ser utilizado como técnica de auxílio no processo de me-
vação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além morização:
das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades
de defesa civil.
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador Seguridade Social
do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a se- P Previdência Social
gurança dos estabelecimentos penais. (Redação dada pela Emenda
A Assistência Social
Constitucional nº 104, de 2019)
§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, S Saúde
forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente
com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Re-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos ór-
gãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a
eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais des-
tinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
dispuser a lei.

225
DIREITO CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO II § 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá
DA SEGURIDADE SOCIAL ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de
custeio total.
SEÇÃO I § 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão
DISPOSIÇÕES GERAIS ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da
lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto inte- disposto no art. 150, III, «b».
grado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, § 7º São isentas de contribuição para a seguridade social as
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigên-
e à assistência social. cias estabelecidas em lei.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, § 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exer-
I - universalidade da cobertura e do atendimento; çam suas atividades em regime de economia familiar, sem emprega-
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às po- dos permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a
pulações urbanas e rurais; aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.
e serviços; § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; artigo poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da atividade
V - equidade na forma de participação no custeio; econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da
VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sen-
rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as des- do também autorizada a adoção de bases de cálculo diferenciadas
pesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, apenas no caso das alíneas «b» e «c» do inciso I do caput. (Redação
preservado o caráter contributivo da previdência social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, o sistema único de saúde e ações de assistência social da União para
mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhado- os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os
res, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos.
colegiados. § 11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo su-
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a socie- perior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a
dade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recur- remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea
sos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito «a» do inciso I e o inciso II do caput. (Redação dada pela Emenda
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: Constitucional nº 103, de 2019)
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada § 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os
na forma da lei, incidentes sobre: quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos caput, serão não-cumulativas.
ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste servi- § 13. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ço, mesmo sem vínculo empregatício; § 14. O segurado somente terá reconhecida como tempo de
b) a receita ou o faturamento; contribuição ao Regime Geral de Previdência Social a competência
c) o lucro; cuja contribuição seja igual ou superior à contribuição mínima men-
sal exigida para sua categoria, assegurado o agrupamento de con-
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência so-
tribuições. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
cial, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o
valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre
Saúde
aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdên-
A saúde é direito de todos e dever do Estado. Segundo o artigo
cia Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
197, da Constituição, as ações e os serviços de saúde devem ser
2019)
executados diretamente pelo poder público ou por meio de tercei-
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
ros, tanto por pessoas físicas quanto jurídicas.
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem
A responsabilidade em matéria de saúde é solidária entre os
a lei a ele equiparar. entes federados.
§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nicípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos • Diretrizes da Saúde
orçamentos, não integrando o orçamento da União. De acordo com o Art. 198, da CF, as ações e os serviços públicos
§ 2º A proposta de orçamento da seguridade social será ela- de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e cons-
borada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, tituem um sistema único – o SUS –, organizado de acordo com as
previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e seguintes diretrizes:
prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, asse- I – descentralização, com direção única em cada esfera de go-
gurada a cada área a gestão de seus recursos. verno;
§ 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da segurida- II – atendimento integral, com prioridade para as atividades
de social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou III – participação da comunidade.
creditícios.
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a
manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o dispos-
to no art. 154, I.

226
DIREITO CONSTITUCIONAL
• A Saúde e a Iniciativa Privada § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial
Referente ao Artigo 199, da CF, a assistência à saúde é livre à profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a
iniciativa privada e instituições privadas poderão participar de for- regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e
ma complementar do SUS, segundo diretrizes deste, mediante con- agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos
trato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao
filantrópicas e as sem fins lucrativos. Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido
piso salarial.
• Atribuições Constitucionais do SUS § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º
Por fim, o Artigo 200 da CF, elenca quais atribuições são de do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções
competência do SUS. equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de
combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumpri-
SEÇÃO II mento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício.
DA SAÚDE § 7º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos
agentes de combate às endemias fica sob responsabilidade da
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garanti- União, e cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
do mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do estabelecer, além de outros consectários e vantagens, incentivos,
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitá- auxílios, gratificações e indenizações, a fim de valorizar o trabalho
rio às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. desses profissionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120,
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, de 2022)
cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regu- § 8º Os recursos destinados ao pagamento do vencimento dos
lamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às ende-
diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou mias serão consignados no orçamento geral da União com dotação
jurídica de direito privado. própria e exclusiva. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120,
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma de 2022)
rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, § 9º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos
organizado de acordo com as seguintes diretrizes: agentes de combate às endemias não será inferior a 2 (dois) salários
I - descentralização, com direção única em cada esfera de go- mínimos, repassados pela União aos Municípios, aos Estados e ao
verno; Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades 2022)
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; § 10. Os agentes comunitários de saúde e os agentes de com-
III - participação da comunidade.
bate às endemias terão também, em razão dos riscos inerentes às
§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos
funções desempenhadas, aposentadoria especial e, somado aos
do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da
seus vencimentos, adicional de insalubridade. (Incluído pela Emen-
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de
da Constitucional nº 120, de 2022)
outras fontes.
§ 11. Os recursos financeiros repassados pela União aos Esta-
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios apli-
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para pagamento do ven-
carão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos
cimento ou de qualquer outra vantagem dos agentes comunitários
mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre:
de saúde e dos agentes de combate às endemias não serão objeto
I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo
exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por cen- de inclusão no cálculo para fins do limite de despesa com pessoal.
to); (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015) (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da ar- Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
recadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de § 1º As instituições privadas poderão participar de forma com-
que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas plementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, me-
as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; diante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.
arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos § 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios
de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada § 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas
cinco anos, estabelecerá: ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º; (Reda- casos previstos em lei.
ção dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015) § 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facili-
II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à tem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins
saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, proces-
e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando samento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado
a progressiva redução das disparidades regionais; todo tipo de comercialização.
III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despe- Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras
sas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; atribuições, nos termos da lei:
IV - (revogado). I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão de interesse para a saúde e participar da produção de medicamen-
admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às tos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insu-
endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a mos;
natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica,
para sua atuação. bem como as de saúde do trabalhador;

227
DIREITO CONSTITUCIONAL
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou per-
IV - participar da formulação da política e da execução das manente para o trabalho e idade avançada; (Redação dada pela
ações de saneamento básico; Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
científico e tecnológico e a inovação; (Redação dada pela Emenda III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego invo-
Constitucional nº 85, de 2015) luntário;
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo segurados de baixa renda;
humano; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao côn-
VII - participar do controle e fiscalização da produção, trans- juge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.
porte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, § 1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
tóxicos e radioativos; para concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei comple-
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreen- mentar, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribui-
dido o do trabalho. ção distintos da regra geral para concessão de aposentadoria ex-
clusivamente em favor dos segurados: (Redação dada pela Emenda
Previdência Social Constitucional nº 103, de 2019)
A previdência social será organizada sob a forma de regime I - com deficiência, previamente submetidos a avaliação biop-
geral (RGPS). Ele terá caráter contributivo e será de filiação obri- sicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar;
gatória. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
O leque de proteções da Previdência Social vai muito além da II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a
aposentadoria, conforme elenca o Artigo 201 da CF. agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou asso-
ciação desses agentes, vedada a caracterização por categoria pro-
• Regras para Aposentadoria no RGPS fissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
Atenção: Em regra, no RGPS não há aposentadoria compulsó- de 2019)
ria. § 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição
Regras para aposentadoria no RGPS antes da EC n. 103/2019 ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior
ao salário mínimo.
Homens Mulheres § 3º Todos os salários de contribuição considerados para o cál-
Por tempo de 35 anos 30 anos culo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei.
contribuição § 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser-
var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios
Por idade* 65 anos 60 anos
definidos em lei.
*é reduzido em cinco anos o limite de idade para os § 5º É vedada a filiação ao regime geral de previdência social,
trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de re-
suas atividades em regime de economia familiar, nestes gime próprio de previdência.
incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. § 6º A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas
terá por base o valor dos proventos do mês de dezembro de cada
Regras para aposentadoria no RGPS pós EC n. 103/2019 ano.
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdên-
Homens Mulheres
cia social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:
Trabalhadores 65 anos 62 anos I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (ses-
urbanos senta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo
Trabalhadores 60 anos 55 anos de contribuição; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103,
rurais* de 2019)
II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e
*para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas
cinco) anos de idade, se mulher, para os trabalhadores rurais e para
atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o
os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar,
produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador arte-
sanal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Zf8R-
§ 8º O requisito de idade a que se refere o inciso I do § 7º será
GtlpQiwJ:https://www.grancursosonline.com.br/download-de-
reduzido em 5 (cinco) anos, para o professor que comprove tempo
monstrativo/download-aula-pdf-demo/codigo/47mLWGgdrdc%-
de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil
253D+&cd=3&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
e no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar. (Re-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
SEÇÃO III
§ 9º Para fins de aposentadoria, será assegurada a contagem
DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
recíproca do tempo de contribuição entre o Regime Geral de Previ-
dência Social e os regimes próprios de previdência social, e destes
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do
entre si, observada a compensação financeira, de acordo com os
Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de fi-
critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Consti-
liação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
tucional nº 103, de 2019)
financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

228
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 9º-A. O tempo de serviço militar exercido nas atividades de § 4º Lei complementar disciplinará a relação entre a União,
que tratam os arts. 42, 142 e 143 e o tempo de contribuição ao Re- Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias,
gime Geral de Previdência Social ou a regime próprio de previdência fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas
social terão contagem recíproca para fins de inativação militar ou direta ou indiretamente, enquanto patrocinadores de planos de be-
aposentadoria, e a compensação financeira será devida entre as re- nefícios previdenciários, e as entidades de previdência complemen-
ceitas de contribuição referentes aos militares e as receitas de con- tar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
tribuição aos demais regimes. (Incluído pela Emenda Constitucional § 5º A lei complementar de que trata o § 4º aplicar-se-á, no que
nº 103, de 2019) couber, às empresas privadas permissionárias ou concessionárias
§ 10. Lei complementar poderá disciplinar a cobertura de be- de prestação de serviços públicos, quando patrocinadoras de planos
nefícios não programados, inclusive os decorrentes de acidente do de benefícios em entidades de previdência complementar. (Redação
trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo Regime Geral de dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Previdência Social e pelo setor privado. (Redação dada pela Emenda § 6º Lei complementar estabelecerá os requisitos para a desig-
Constitucional nº 103, de 2019) nação dos membros das diretorias das entidades fechadas de previ-
§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, se- dência complementar instituídas pelos patrocinadores de que trata
rão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenci- o § 4º e disciplinará a inserção dos participantes nos colegiados e
ária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma instâncias de decisão em que seus interesses sejam objeto de dis-
da lei. cussão e deliberação. (Redação dada pela Emenda Constitucional
§ 12. Lei instituirá sistema especial de inclusão previdenciária, nº 103, de 2019)
com alíquotas diferenciadas, para atender aos trabalhadores de
Assistência Social
baixa renda, inclusive os que se encontram em situação de informa-
Quanto à Assistência Social, destacam-se dois aspectos impor-
lidade, e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamen-
tantes:
te ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que
→ A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
pertencentes a famílias de baixa renda. (Redação dada pela Emen- independentemente de contribuição à seguridade social;
da Constitucional nº 103, de 2019) → Benefício de Prestação Continuada (BPC): consiste em um
§ 13. A aposentadoria concedida ao segurado de que trata o § benefício, no valor de um salário mínimo, pago mensalmente às
12 terá valor de 1 (um) salário-mínimo. (Redação dada pela Emenda pessoas com deficiência e aos idosos com mais de 65 anos.
Constitucional nº 103, de 2019)
§ 14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício SEÇÃO IV
para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de con- DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
tagem recíproca. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019) Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela ne-
§ 15. Lei complementar estabelecerá vedações, regras e con- cessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e
dições para a acumulação de benefícios previdenciários. (Incluído tem por objetivos:
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescên-
§ 16. Os empregados dos consórcios públicos, das empresas cia e à velhice;
públicas, das sociedades de economia mista e das suas subsidiárias II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
serão aposentados compulsoriamente, observado o cumprimento III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
do tempo mínimo de contribuição, ao atingir a idade máxima de IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de defi-
que trata o inciso II do § 1º do art. 40, na forma estabelecida em lei. ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pes-
Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter comple- soa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
mentar e organizado de forma autônoma em relação ao regime ge- meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
ral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição família, conforme dispuser a lei.
de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei VI - a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famí-
complementar. lias em situação de pobreza ou de extrema pobreza. (Incluído pela
§ 1° A lei complementar de que trata este artigo assegurará Emenda Constitucional nº 114, de 2021)
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social
ao participante de planos de benefícios de entidades de previdência
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social,
privada o pleno acesso às informações relativas à gestão de seus
previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com
respectivos planos.
base nas seguintes diretrizes:
§ 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as con-
I - descentralização político-administrativa, cabendo a coorde-
dições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos nação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a exe-
de benefícios das entidades de previdência privada não integram o cução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal,
contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos bem como a entidades beneficentes e de assistência social;
benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participan- II - participação da população, por meio de organizações repre-
tes, nos termos da lei. sentativas, na formulação das políticas e no controle das ações em
§ 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência todos os níveis.
privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas au- Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal
tarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco
mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocina- décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplica-
dor, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal ção desses recursos no pagamento de:
poderá exceder a do segurado. I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;

229
DIREITO CONSTITUCIONAL
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamen- Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-cien-
te aos investimentos ou ações apoiados. tífica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obe-
decerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
Educação, Cultura e Desporto extensão.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos
• Educação e cientistas estrangeiros, na forma da lei.
A educação é tratada nos artigos 205 a 214, da Constituição. § 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesqui-
Constituindo-se em um direito de todos e um dever do Estado e da sa científica e tecnológica.
família, a educação visa ao desenvolvimento da pessoa, seu prepa- Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado me-
ro para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. diante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
Organização dos Sistemas de Ensino (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita
Prevê o Art. 211, da CF, que: A União, os Estados, o Distrito Fe- para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
deral e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;
sistemas de ensino. III - atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5
ENTE FEDERADO ÂMBITO DE ATUAÇÃO (cinco) anos de idade;
(PRIORITÁRIA) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
União Ensino superior e técnico criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
Estados e DF Ensino fundamental e médio
do educando;
Municípios Educação infantil e ensino VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da edu-
fundamental cação básica, por meio de programas suplementares de material
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Zf8R- § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
GtlpQiwJ:https://www.grancursosonline.com.br/download-de- subjetivo.
monstrativo/download-aula-pdf-demo/codigo/47mLWGgdrdc%- § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Pú-
253D+&cd=3&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br blico, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autorida-
de competente.
CAPÍTULO III § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no en-
DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO sino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
responsáveis, pela frequência à escola.
SEÇÃO I Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as se-
DA EDUCAÇÃO guintes condições:
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da fa- II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.
mília, será promovida e incentivada com a colaboração da socieda- Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fun-
de, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para damental, de maneira a assegurar formação básica comum e res-
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. peito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes prin- § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá
cípios: disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fun-
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es- damental.
cola; § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen- portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a uti-
samento, a arte e o saber; lização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendi-
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexis- zagem.
tência de instituições públicas e privadas de ensino; Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garanti- § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos
Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e
dos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamen-
exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva,
te por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência téc-
VII - garantia de padrão de qualidade.
nica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino funda-
educação escolar pública, nos termos de lei federal.
mental e na educação infantil.
IX - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no
da vida. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
ensino fundamental e médio.
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de traba- § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os
lhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de co-
fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos laboração, de forma a assegurar a universalização, a qualidade e a
de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e equidade do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda Cons-
dos Municípios. titucional nº 108, de 2020)

230
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao II - os fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão
ensino regular. constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se referem
§ 6º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios os incisos I, II e III do caput do art. 155, o inciso II do caput do art.
exercerão ação redistributiva em relação a suas escolas. (Incluído 157, os incisos II, III e IV do caput do art. 158 e as alíneas “a” e “b” do
pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) inciso I e o inciso II do caput do art. 159 desta Constituição; (Incluído
§ 7º O padrão mínimo de qualidade de que trata o § 1º deste pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
artigo considerará as condições adequadas de oferta e terá como III - os recursos referidos no inciso II do caput deste artigo se-
referência o Custo Aluno Qualidade (CAQ), pactuados em regime de rão distribuídos entre cada Estado e seus Municípios, proporcional-
colaboração na forma disposta em lei complementar, conforme o mente ao número de alunos das diversas etapas e modalidades da
parágrafo único do art. 23 desta Constituição. (Incluído pela Emen- educação básica presencial matriculados nas respectivas redes, nos
da Constitucional nº 108, de 2020) âmbitos de atuação prioritária, conforme estabelecido nos §§ 2º e
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoi- 3º do art. 211 desta Constituição, observadas as ponderações refe-
to, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por ridas na alínea “a” do inciso X do caput e no § 2º deste artigo; (In-
cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida cluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento IV - a União complementará os recursos dos fundos a que se
do ensino. refere o inciso II do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Cons-
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela titucional nº 108, de 2020)
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos V - a complementação da União será equivalente a, no mínimo,
Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito 23% (vinte e três por cento) do total de recursos a que se refere o in-
do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir. ciso II do caput deste artigo, distribuída da seguinte forma: (Incluído
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no «caput» deste pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e a) 10 (dez) pontos percentuais no âmbito de cada Estado e do
municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213. Distrito Federal, sempre que o valor anual por aluno (VAAF), nos
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade termos do inciso III do caput deste artigo, não alcançar o mínimo
ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se definido nacionalmente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equida- 108, de 2020)
de, nos termos do plano nacional de educação. b) no mínimo, 10,5 (dez inteiros e cinco décimos) pontos per-
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência centuais em cada rede pública de ensino municipal, estadual ou dis-
à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos trital, sempre que o valor anual total por aluno (VAAT), referido no
provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentá- inciso VI do caput deste artigo, não alcançar o mínimo definido na-
rios. cionalmente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de c) 2,5 (dois inteiros e cinco décimos) pontos percentuais nas
financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida redes públicas que, cumpridas condicionalidades de melhoria de
pelas empresas na forma da lei. gestão previstas em lei, alcançarem evolução de indicadores a se-
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contri- rem definidos, de atendimento e melhoria da aprendizagem com
buição social do salário-educação serão distribuídas proporcional- redução das desigualdades, nos termos do sistema nacional de ava-
mente ao número de alunos matriculados na educação básica nas liação da educação básica; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
respectivas redes públicas de ensino. 108, de 2020)
§ 7º É vedado o uso dos recursos referidos no caput e nos §§ 5º VI - o VAAT será calculado, na forma da lei de que trata o inciso
e 6º deste artigo para pagamento de aposentadorias e de pensões. X do caput deste artigo, com base nos recursos a que se refere o
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) inciso II do caput deste artigo, acrescidos de outras receitas e de
§ 8º Na hipótese de extinção ou de substituição de impostos, transferências vinculadas à educação, observado o disposto no § 1º
serão redefinidos os percentuais referidos no caput deste artigo e e consideradas as matrículas nos termos do inciso III do caput deste
no inciso II do caput do art. 212-A, de modo que resultem recur- artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
sos vinculados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino, bem VII - os recursos de que tratam os incisos II e IV do caput deste
como os recursos subvinculados aos fundos de que trata o art. 212- artigo serão aplicados pelos Estados e pelos Municípios exclusiva-
A desta Constituição, em aplicações equivalentes às anteriormente mente nos respectivos âmbitos de atuação prioritária, conforme
praticadas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 desta Constituição; (Incluído
§ 9º A lei disporá sobre normas de fiscalização, de avaliação e pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
de controle das despesas com educação nas esferas estadual, dis- VIII - a vinculação de recursos à manutenção e ao desenvol-
trital e municipal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de vimento do ensino estabelecida no art. 212 desta Constituição su-
2020) portará, no máximo, 30% (trinta por cento) da complementação da
Art. 212-A. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios des- União, considerados para os fins deste inciso os valores previstos no
tinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 des- inciso V do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional
ta Constituição à manutenção e ao desenvolvimento do ensino na nº 108, de 2020)
educação básica e à remuneração condigna de seus profissionais, IX - o disposto no caput do art. 160 desta Constituição aplica-se
respeitadas as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Consti- aos recursos referidos nos incisos II e IV do caput deste artigo, e seu
tucional nº 108, de 2020) descumprimento pela autoridade competente importará em crime
I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre o de responsabilidade; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108,
Distrito Federal, os Estados e seus Municípios é assegurada median- de 2020)
te a instituição, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de
um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), de natureza
contábil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)

231
DIREITO CONSTITUCIONAL
X - a lei disporá, observadas as garantias estabelecidas nos inci- § 3º Será destinada à educação infantil a proporção de 50%
sos I, II, III e IV do caput e no § 1º do art. 208 e as metas pertinentes (cinquenta por cento) dos recursos globais a que se refere a alínea
do plano nacional de educação, nos termos previstos no art. 214 «b» do inciso V do caput deste artigo, nos termos da lei.” (Incluído
desta Constituição, sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
108, de 2020) Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas pú-
a) a organização dos fundos referidos no inciso I do caput deste blicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais
artigo e a distribuição proporcional de seus recursos, as diferenças ou filantrópicas, definidas em lei, que:
e as ponderações quanto ao valor anual por aluno entre etapas, I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus exce-
modalidades, duração da jornada e tipos de estabelecimento de dentes financeiros em educação;
ensino, observados as respectivas especificidades e os insumos ne- II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola
cessários para a garantia de sua qualidade; (Incluído pela Emenda comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no
Constitucional nº 108, de 2020) caso de encerramento de suas atividades.
b) a forma de cálculo do VAAF decorrente do inciso III § 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser desti-
do caput deste artigo e do VAAT referido no inciso VI do caput deste nados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na
artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos,
c) a forma de cálculo para distribuição prevista na alínea “c” do quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública
inciso V do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público
nº 108, de 2020) obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na
d) a transparência, o monitoramento, a fiscalização e o con- localidade.
trole interno, externo e social dos fundos referidos no inciso I § 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e
do caput deste artigo, assegurada a criação, a autonomia, a ma- fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por institui-
nutenção e a consolidação de conselhos de acompanhamento e ções de educação profissional e tecnológica poderão receber apoio
controle social, admitida sua integração aos conselhos de educa- financeiro do Poder Público. (Redação dada pela Emenda Constitu-
ção; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) cional nº 85, de 2015)
e) o conteúdo e a periodicidade da avaliação, por parte do ór- Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de
gão responsável, dos efeitos redistributivos, da melhoria dos indica- duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de
dores educacionais e da ampliação do atendimento; (Incluído pela
educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos,
Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
metas e estratégias de implementação para assegurar a manuten-
XI - proporção não inferior a 70% (setenta por cento) de cada
ção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas
fundo referido no inciso I do caput deste artigo, excluídos os recur-
e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos
sos de que trata a alínea “c” do inciso V do caput deste artigo, será
das diferentes esferas federativas que conduzam a:
destinada ao pagamento dos profissionais da educação básica em
I - erradicação do analfabetismo;
efetivo exercício, observado, em relação aos recursos previstos na
II - universalização do atendimento escolar;
alínea “b” do inciso V do caput deste artigo, o percentual mínimo
III - melhoria da qualidade do ensino;
de 15% (quinze por cento) para despesas de capital; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 108, de 2020) IV - formação para o trabalho;
XII - lei específica disporá sobre o piso salarial profissional na- V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.
cional para os profissionais do magistério da educação básica públi- VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos
ca; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) em educação como proporção do produto interno bruto.
XIII - a utilização dos recursos a que se refere o § 5º do art. 212
desta Constituição para a complementação da União ao Fundeb, • Cultura
referida no inciso V do caput deste artigo, é vedada. (Incluído pela Dentro do item cultura, deve-se atentar para o Plano Nacional
Emenda Constitucional nº 108, de 2020) da Cultura (EC n. 48/2005) e para o Sistema Nacional da Cultura (EC
§ 1º O cálculo do VAAT, referido no inciso VI do caput deste n. 71/2012).
artigo, deverá considerar, além dos recursos previstos no inciso
II do caput deste artigo, pelo menos, as seguintes disponibilida- SEÇÃO II
des: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) DA CULTURA
I - receitas de Estados, do Distrito Federal e de Municípios vincu-
ladas à manutenção e ao desenvolvimento do ensino não integran- Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos di-
tes dos fundos referidos no inciso I do caput deste artigo; (Incluído reitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e
pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
II - cotas estaduais e municipais da arrecadação do salário-edu- § 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas popula-
cação de que trata o § 6º do art. 212 desta Constituição; (Incluído res, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participan-
pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) tes do processo civilizatório nacional.
III - complementação da União transferida a Estados, ao Dis- § 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de
trito Federal e a Municípios nos termos da alínea “a” do inciso V alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
do caput deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, § 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração
de 2020) plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integra-
§ 2º Além das ponderações previstas na alínea «a» do inciso ção das ações do poder público que conduzem à:
X do caput deste artigo, a lei definirá outras relativas ao nível so- I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
cioeconômico dos educandos e aos indicadores de disponibilidade II produção, promoção e difusão de bens culturais;
de recursos vinculados à educação e de potencial de arrecadação III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em
tributária de cada ente federado, bem como seus prazos de imple- suas múltiplas dimensões;
mentação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) IV democratização do acesso aos bens de cultura;

232
DIREITO CONSTITUCIONAL
V valorização da diversidade étnica e regional. § 2º Constitui a estrutura do Sistema Nacional de Cultura, nas
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de respectivas esferas da Federação:
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em con- I - órgãos gestores da cultura;
junto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos II - conselhos de política cultural;
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se III - conferências de cultura;
incluem: IV - comissões intergestores;
I - as formas de expressão; V - planos de cultura;
II - os modos de criar, fazer e viver; VI - sistemas de financiamento à cultura;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; VII - sistemas de informações e indicadores culturais;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espa- VIII - programas de formação na área da cultura;
ços destinados às manifestações artístico-culturais; IX - sistemas setoriais de cultura.
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, § 3º Lei federal disporá sobre a regulamentação do Sistema
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Nacional de Cultura, bem como de sua articulação com os demais
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, pro- sistemas nacionais ou políticas setoriais de governo.
moverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de § 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão
inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e seus respectivos sistemas de cultura em leis próprias.
de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão • Desporto
da documentação governamental e as providências para franquear Sobre o desporto, ressaltam-se dois pontos: o primeiro, sobre
sua consulta a quantos dela necessitem. o fato de a Justiça Desportiva não integrar o Poder Judiciário; o se-
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conheci- gundo, sobre a chamada instância administrativa de cunho forçado.
mento de bens e valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, SEÇÃO III
na forma da lei. DO DESPORTO
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detento-
res de reminiscências históricas dos antigos quilombos. Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas for-
§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a mais e não-formais, como direito de cada um, observados:
fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associa-
sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas ções, quanto a sua organização e funcionamento;
e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no paga- II - a destinação de recursos públicos para a promoção priori-
mento de: tária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do
I - despesas com pessoal e encargos sociais; desporto de alto rendimento;
II - serviço da dívida; III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamen- não- profissional;
te aos investimentos ou ações apoiados. IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de
Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em criação nacional.
regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa, § 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina
institui um processo de gestão e promoção conjunta de políticas pú- e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da
blicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas entre os justiça desportiva, regulada em lei.
entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo promover o § 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias,
desenvolvimento humano, social e econômico com pleno exercício contados da instauração do processo, para proferir decisão final.
dos direitos culturais. § 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma de pro-
§ 1º O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na política moção social.
nacional de cultura e nas suas diretrizes, estabelecidas no Plano Na-
cional de Cultura, e rege-se pelos seguintes princípios: Ciência, Tecnologia e Comunicação Social
I - diversidade das expressões culturais; Atentamos ao fato de que, até 2015, a denominação deste ca-
II - universalização do acesso aos bens e serviços culturais; pítulo era “da ciência e tecnologia”, sendo que a “inovação” foi in-
III - fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento corporada pela EC n. 85/2015.
e bens culturais; Um ponto importante a ser destacado, exatamente por tratar-
IV - cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e -se de uma exceção, é a faculdade aos Estados e ao Distrito Federal
privados atuantes na área cultural; de vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi-
V - integração e interação na execução das políticas, progra- cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
mas, projetos e ações desenvolvidas; A grande importância desse dispositivo decorre de dois moti-
VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais; vos: primeiro, por ser uma exceção à proibição de vinculação de
VII - transversalidade das políticas culturais; receita orçamentária; segundo, por não estender a possibilidade de
VIII - autonomia dos entes federados e das instituições da so- vinculação à União e aos Municípios.
ciedade civil; A EC n. 85/2015 introduziu o artigo 219-B da Constituição, que
IX - transparência e compartilhamento das informações; trata do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, orga-
X - democratização dos processos decisórios com participação nizado em regime de colaboração, tanto público quanto privado.
e controle social; O objetivo da criação do sistema é promover o desenvolvimen-
XI - descentralização articulada e pactuada da gestão, dos re- to científico e tecnológico e a inovação. Quanto aos pormenores, a
cursos e das ações; Constituição delega essa tarefa à lei federal, mas logo depois prevê
XII - ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamen- que os Estados, o DF e os Municípios também legislarão concorren-
tos públicos para a cultura. temente sobre o tema, para atender suas peculiaridades.

233
DIREITO CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO IV § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios legislarão
DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO concorrentemente sobre suas peculiaridades. (Incluído pela Emen-
(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 85, DE da Constitucional nº 85, de 2015)
2015)
• Comunicação Social
Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento Dentro da comunicação social, atenta-se a uma das hipóteses
científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a ino- de distinção entre natos e naturalizados (propriedade de empresa
vação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) jornalística), à vedação a censura e também à inexigência de diplo-
§ 1º A pesquisa científica básica e tecnológica receberá tra- ma de jornalismo para o exercício da profissão de jornalista.
tamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o
progresso da ciência, tecnologia e inovação. (Redação dada pela CAPÍTULO V
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
§ 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente
para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expres-
do sistema produtivo nacional e regional.
são e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não
§ 3º O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas
sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constitui-
áreas de ciência, pesquisa, tecnologia e inovação, inclusive por meio
ção.
do apoio às atividades de extensão tecnológica, e concederá aos
que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho. (Re- § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir em-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) baraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer
§ 4º A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV,
pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aper- V, X, XIII e XIV.
feiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política,
de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do ideológica e artística.
salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produ- § 3º Compete à lei federal:
tividade de seu trabalho. I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Po-
§ 5º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular par- der Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que
cela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se
ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. mostre inadequada;
§ 6º O Estado, na execução das atividades previstas no caput, II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à fa-
estimulará a articulação entre entes, tanto públicos quanto priva- mília a possibilidade de se defenderem de programas ou programa-
dos, nas diversas esferas de governo. Incluído pela Emenda Consti- ções de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem
tucional nº 85, de 2015) como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam
§ 7º O Estado promoverá e incentivará a atuação no exterior ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
das instituições públicas de ciência, tecnologia e inovação, com § 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas,
vistas à execução das atividades previstas no caput. (Incluído pela agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sem-
pre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de
Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e seu uso.
será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e § 5º Os meios de comunicação social não podem, direta ou in-
socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnoló- diretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
gica do País, nos termos de lei federal. § 6º A publicação de veículo impresso de comunicação indepen-
Parágrafo único. O Estado estimulará a formação e o fortale-
de de licença de autoridade.
cimento da inovação nas empresas, bem como nos demais entes,
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e
públicos ou privados, a constituição e a manutenção de parques e
televisão atenderão aos seguintes princípios:
polos tecnológicos e de demais ambientes promotores da inovação,
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e
a atuação dos inventores independentes e a criação, absorção, difu-
são e transferência de tecnologia. (Incluído pela Emenda Constitu- informativas;
cional nº 85, de 2015) II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produ-
Art. 219-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- ção independente que objetive sua divulgação;
cípios poderão firmar instrumentos de cooperação com órgãos e III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística,
entidades públicos e com entidades privadas, inclusive para o com- conforme percentuais estabelecidos em lei;
partilhamento de recursos humanos especializados e capacidade IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
instalada, para a execução de projetos de pesquisa, de desenvolvi- Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifu-
mento científico e tecnológico e de inovação, mediante contraparti- são sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou
da financeira ou não financeira assumida pelo ente beneficiário, na naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constitu-
forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) ídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inova- § 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital
ção (SNCTI) será organizado em regime de colaboração entre entes, total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifu-
tanto públicos quanto privados, com vistas a promover o desenvol- são sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indire-
vimento científico e tecnológico e a inovação. (Incluído pela Emenda tamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos,
Constitucional nº 85, de 2015) que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabele-
§ 1º Lei federal disporá sobre as normas gerais do SNCTI. (Inclu- cerão o conteúdo da programação.
ído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)

234
DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção CAPÍTULO VI
e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros DO MEIO AMBIENTE
natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de
comunicação social. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
§ 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independente- equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali-
mente da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, deverão dade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
observar os princípios enunciados no art. 221, na forma de lei espe- de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.
cífica, que também garantirá a prioridade de profissionais brasilei- § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Po-
ros na execução de produções nacionais. der Público:
§ 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
empresas de que trata o § 1º. prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
§ 5º As alterações de controle societário das empresas de que II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio gené-
trata o § 1º serão comunicadas ao Congresso Nacional. tico do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipu-
Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar con- lação de material genético;
cessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão so- III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territo-
nora e de sons e imagens, observado o princípio da complementari- riais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo
dade dos sistemas privado, público e estatal. a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, veda-
§ 1º O Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do art. 64, da qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
§ 2º e § 4º, a contar do recebimento da mensagem. que justifiquem sua proteção;
§ 2º A não renovação da concessão ou permissão dependerá de IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativida-
aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em de potencialmente causadora de significativa degradação do meio
votação nominal. ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará pu-
§ 3º O ato de outorga ou renovação somente produzirá efeitos blicidade;
legais após deliberação do Congresso Nacional, na forma dos pará- V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de
grafos anteriores. técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
§ 4º O cancelamento da concessão ou permissão, antes de ven- qualidade de vida e o meio ambiente;
cido o prazo, depende de decisão judicial. VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de en-
§ 5º O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para sino e a conscientização pública para a preservação do meio am-
as emissoras de rádio e de quinze para as de televisão. biente;
Art. 224. Para os efeitos do disposto neste capítulo, o Congresso VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
Nacional instituirá, como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comuni- práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
cação Social, na forma da lei. extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a re-
Meio Ambiente cuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técni-
O direito ao meio ambiente equilibrado está entre os chama- ca exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
dos direitos de terceira geração/dimensão, ou seja, aqueles conhe- § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio am-
cidos como direitos de fraternidade/solidariedade. Eles abrangem biente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a san-
os direitos difusos, coletivos, meta ou transindividuais, como é o ções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
caso do meio ambiente, da proteção aos consumidores, a aposen- reparar os danos causados.
tadoria etc. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra
do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimô-
Segundo a norma constitucional, todos têm direito ao meio nio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
ambiente ecologicamente equilibrado, bem como de uso comum condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusi-
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder ve quanto ao uso dos recursos naturais.
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pe-
presentes e futuras gerações. los Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
Há dois princípios muito aplicados no direito ambiental: o da ecossistemas naturais.
prevenção e o da precaução. O objetivo de ambos é o mesmo, ou § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
seja, impedir danos ao meio ambiente, por meio de cautelas dire- localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser ins-
cionadas a atividades potencialmente poluidoras ou que utilizem taladas.
recursos naturais. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º des-
te artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utili-
• Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica zem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambien- § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem
te sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções pe- de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
nais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-
os danos causados. -estar dos animais envolvidos. (Incluído pela Emenda Constitucional
As pessoas físicas e jurídicas estão sujeitas à responsabilização nº 96, de 2017)
penal, civil e administrativa quando praticarem atos lesivos ao meio
ambiente.

235
DIREITO CONSTITUCIONAL
Família, Criança, Adolescente e Idoso § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros
e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de trans-
• Família porte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas porta-
É importante nos atentarmos, qual abrangente o conceito do doras de deficiência.
termo “família”, já que engloba combinações mais amplas (uniões § 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes as-
plúrimas, homoafetivas etc.), não previstas no texto constitucional. pectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,
• Criança e Adolescente observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
Quanto à criança e ao adolescente, deve-se dar atenção espe- II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
cial para a responsabilização por atos infracionais. III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à
Além disso, o tema relativo ao jovem, apesar de não ser muito escola;
cobrado, chama-se a atenção apenas ao plano nacional da juventu- IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de
de e sua duração. ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar
• Idoso específica;
Por fim, o idoso tem repercussões relevantes na jurisprudência V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e
e na interpretação de algumas leis, como é o caso do Estatuto do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quan-
Idoso. do da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica,
CAPÍTULO VII incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob
DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO JOVEM E a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
DO IDOSO do;
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes
do Estado. e drogas afins.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. ção sexual da criança e do adolescente.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união § 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte
a lei facilitar sua conversão em casamento. de estrangeiros.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunida- § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
de formada por qualquer dos pais e seus descendentes. adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quais-
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são quer designações discriminatórias relativas à filiação.
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. levar-se- á em consideração o disposto no art. 204.
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e § 8º A lei estabelecerá:
da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
jovens;
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma co-
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando
ercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
à articulação das várias esferas do poder público para a execução
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de
de políticas públicas.
cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a vio-
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
lência no âmbito de suas relações.
anos, sujeitos às normas da legislação especial.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegu-
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
rar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade,
menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade pais na velhice, carência ou enfermidade.
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de am-
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, parar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comuni-
crueldade e opressão. dade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à direito à vida.
saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participa-
ção de entidades não governamentais, mediante políticas específi- § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados pre-
cas e obedecendo aos seguintes preceitos: ferencialmente em seus lares.
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratui-
saúde na assistência materno-infantil; dade dos transportes coletivos urbanos.
II - criação de programas de prevenção e atendimento especia-
lizado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou Índios
mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem De acordo com o art. 231, da CF, são reconhecidos aos índios
portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos
de discriminação. os seus bens.

236
DIREITO CONSTITUCIONAL
Entende-se por terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
aquelas por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação
dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessá- A Constituição de 1934 foi promulgada com forte influência da
rias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes Constituição de Weimar, marco da 2ª dimensão de direitos huma-
e tradições. nos. Assim, prezou pelos direitos sociais. Algumas de suas caracte-
As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se rísticas marcantes foi:
à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das ri- • Nacionalista – criou restrições às imigrações;
quezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. • Permitiu o voto secreto e feminino;
São inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, im- • Trouxe o Mandado de Segurança e a Ação Popular;
prescritíveis. Em outras palavras, elas não podem ser vendidas e • Deu direitos aos trabalhadores;
não podem ser objeto de usucapião (prescrição aquisitiva). • Trouxe o bicameralismo, com destaque para a Câmara;
As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da • O Ministério Público ganhou status constitucional, mas
União. Eles possuem apenas o direito à posse e ao usufruto (artigo como instrumento de cooperação do governo.
20, inciso XI, Constituição).
A Constituição Federal de 1988 (atual), deve ser compreendida
CAPÍTULO VIII com o momento histórico em que foi promulgada. Após os anos de
DOS ÍNDIOS chumbo (ditadura militar), a Constituição Cidadã nasceu com forte
espírito democrático. Alguma de suas características são:
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, • Amplos instrumentos para a proteção dos direitos cons-
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários so- titucionais – habeas corpus, habeas data, mandado de injunção,
bre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União mandado de segurança coletivo etc.
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. • Nascimento do STJ.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por • Estados e Municípios fortalecidos.
eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas ati- • Super detalhada, enumerando diversos direitos funda-
vidades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos mentais, para cada setor da sociedade.
ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua re- • Veda a discriminação, inclusive, tornou o racismo crime
produção física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. imprescritível.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios desti- • Prezou pela seguridade social.
nam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo
das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. A CF/88 nasceu de uma emenda na Constituição de 1969, que
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os po- convocou a Assembleia Nacional Constituinte, para a redemocra-
tenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em tização do país. Assim, deve ser interpretada à luz dos direitos hu-
terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Con- manos.
gresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indis-
poníveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras,
salvo, «ad referendum» do Congresso Nacional, em caso de catás-
trofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interes- A política nacional de direitos humanos do Estado brasileiro,
se da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, desenvolvida desde o retorno ao governo civil em 1985, e de forma
garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse mais definida, desde 1995, pelo governo do Presidente Fernando
o risco. Henrique Cardoso, reflete e aprofunda uma concepção de direitos
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os humanos partilhada por organizações de direitos humanos desde a
atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das resistência ao regime autoritário nos anos 1970. Pela primeira vez,
terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas entretanto, na história republicana, quase meio- século depois da
naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, os direitos hu-
relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei manos passaram a ser assumidos como política oficial do governo,
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a inde- num contexto social e político deste fim de século extremamente
nização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às adverso para a maioria das não-elites na população brasileira.
benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé. A luta pelos direitos humanos é um processo contraditório, no
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § qual o Estado, qualquer que seja o governo no regime democrático,
3º e § 4º. e a sociedade civil têm responsabilidades necessariamente com-
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são par- partilhadas. É uma parceria que se funda sobre princípios rígidos e
tes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e irrenunciáveis, qualquer que seja a conjuntura.
interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do pro- Não há política sem contradição, não há luta pelos direitos hu-
cesso. manos sem conflitos, obstáculos e resistências: negar essa realida-
de é recusar a própria luta, na qual como a viagem do navegante na
política e na democracia não há porto final.

237
DIREITO CONSTITUCIONAL
DECRETO Nº 7.037, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2009 V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Huma-
nos:
Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 e a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da po-
dá outras providências. lítica nacional de educação em Direitos Humanos para fortalecer
uma cultura de direitos;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e
confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas insti-
DECRETA: tuições de ensino superior e nas instituições formadoras;
c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como
Art. 1o Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos Huma- espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos;
nos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes, objetivos estra- d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no
tégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do Anexo serviço público; e
deste Decreto. e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática
Art. 2o O PNDH-3 será implementado de acordo com os se- e ao acesso à informação para consolidação de uma cultura em Di-
guintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes: reitos Humanos; e
I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e so- VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:
ciedade civil: a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como
a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade Direito Humano da cidadania e dever do Estado;
civil como instrumento de fortalecimento da democracia participa- b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção
tiva; pública da verdade; e
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como ins- c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com
trumento transversal das políticas públicas e de interação demo- promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a de-
crática; e mocracia.
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informa- Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos res-
ções em Direitos Humanos e construção de mecanismos de avalia- ponsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros órgãos fe-
ção e monitoramento de sua efetivação; derais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores
II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos: e suas diretrizes.
a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sus- Art. 3o As metas, prazos e recursos necessários para a imple-
tentável, com inclusão social e econômica, ambientalmente equi- mentação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de
librado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente Ação de Direitos Humanos bianuais.
diverso, participativo e não discriminatório; Art. 4 (Revogado pelo Decreto nº 10.087, de 2019)
b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito cen- Art. 5o Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos
tral do processo de desenvolvimento; e do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público,
c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como serão convidados a aderir ao PNDH-3.
Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como sujeitos de Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
direitos; Art. 7o Fica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de maio de
III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto 2002.
de desigualdades:
a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma univer- Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188o da Independência e
sal, indivisível e interdependente, assegurando a cidadania plena; 121o da República.
b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes
para o seu desenvolvimento integral, de forma não discriminatória,
assegurando seu direito de opinião e participação; A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E OS TRATADOS
c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;
IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e Sempre se debateu imensamente qual seria o nível hierárquico
Combate à Violência: que os tratados adquiririam ao serem internados no ordenamento
a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de brasileiro.
segurança pública;
b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema Isto porque, segundo parte da doutrina sempre defendeu, os
de segurança pública e justiça criminal; tratados são internados em nosso país sob o status de lei ordiná-
c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e pro- ria, o que implicaria em ser possível sua revogação por outra lei de
fissionalização da investigação de atos criminosos; mesmo nível hierárquico, em atenção ao princípio do paralelismo
d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase das formas.
na erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e car-
cerária; Contudo, para outra parte da doutrina, capitaneada pela pro-
e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de fessora Flávia Piovesan, esta regra geral não poderia ser aplicada
proteção das pessoas ameaçadas; aos tratados internacionais cujo tema versasse sobre direitos hu-
f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, manos.
priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à privação Segundo esta corrente, em razão da importância e proeminên-
de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e cia destes dentro do ordenamento jurídico, deveriam receber status
g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, de norma constitucional, não podendo mais ser alterados quando
ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa de direi- adentrasse na regra de cláusula pétrea do art. 60, §4º. Desta forma,
tos; estariam mais protegidos.

238
DIREITO CONSTITUCIONAL
A Emenda 45 de 2004 realizou alterações no art. 5º da Cons- que um tratado deve ser respeitado, mesmo que colida com o texto
tituição Federal, inserindo a celeridade processual e a razoável constitucional, é imprimir-lhe situação superior à própria Carta Po-
duração do processo como sendo direitos e garantias individuais lítica” (STF, RTJ 121/270, RE 109.173-SP, rel. Min. Carlos Madeira).
e tuteladas em nosso ordenamento e dispondo sobre o status dos Contudo, temos que ponderar melhor assuntos que versem
tratados em nosso ordenamento jurídico, sepultando as discussões. sobre direitos humanos em tratados internacionais, pois especifi-
Em relação ao §3º, a incorporação de tratados internacionais cadamente sobre este tema, temos na Constituição artigos tidos
nós temos que analisar o art. 84, VIII que diz que a competência do como Cláusulas Pétreas que defendem posicionamento distinto do
Presidente da República é assinar os tratados internacionais. abordado acima, como o Art. 5, §§ 1º e 2º em conjunto com o Art.
4º, inciso II da Constituição da Republica de 1988. Estes dispositivos
Em seguida, analisando-se o art. 49, I, diz ser de competência visam distinguir os assuntos gerais sobre tratados internacionais,
do Congresso Nacional confirmar (ratificar) os tratados assinados dos assuntos que versem sobre direitos humanos, trazendo uma
pelo presidente. visão coerente da forma como deve ser aplicada a norma no que
tange aos princípios fundamentais.
Caso isto ocorra, o tratado será internado em nosso ordena-
mento. DA PREVALÊNCIA DOS DIREITOS HUMANOS NAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Contudo, criou-se com isto um grande celeuma referente ao ní-
vel hierárquico que os tratados assumiam em nosso ordenamento. Uma vez demonstrado a necessidade de se distinguir os trata-
É absolutamente importante determinar onde que o tratado entra- dos que versem sobre direitos humanos dos demais para a correta
ria em nosso ordenamento, uma vez que isto implica em substan- aplicabilidade da norma interna brasileira, vale frisar o que nos trás
cial alteração em relação a um eventual conflito entre normas. o Art. 4º, inciso II da CR/88:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas rela-
Atualmente, temos três níveis: ções internacionais pelos seguintes princípios:
II - prevalência dos direitos humanos. (grifo nosso)
1) Nível Constitucional
Para tanto, precisa versar sobre direitos humanos e ter sido De acordo com Valério de Oliveira Mazuolli, “fazendo-se uma
interpretação sistemática da Constituição, que proclama em seu
aprovado pelo Congresso Nacional pelo mesmo rito das emendas
artigo 4º, II, que o Brasil se rege em suas relações internacionais
à Constituição.
pelo princípio da prevalência dos direitos humanos, e em seu artigo
1º, III, que o Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito,
Ex.: Tratado que versa sobre o direito dos deficiente.
tendo como fundamento, inter alia, a dignidade da pessoa humana
(sendo esta um dos pilares sobre o qual se assenta o Estado brasi-
2) Nível infraconstitucional e supralegal.
leiro)”.
Fica entre o constitucional e o legal, sendo que se trata de tra-
Logo, se este dispositivo trata sobre os princípios fundamen-
tados que versam sobre direitos humanos e que não foram subme-
tais brasileiros, subentende-se que todos os tratados que versarem
tidos ao rito das emendas à Constituição. sobre direitos humanos terão prevalência sobre os demais tratados
de assuntos gerais.
3) Nível legal
São os demais tratados (quanto ao assunto não versam sobre I - A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMA-
direitos humanos). NOS
Importante notar que, nesta situação, não há diferença entre Pode-se definir o Direito Internacional dos Direitos Humanos
os tratados terem sido aprovados por meio de um rito ou outro. como sendo aquele que visa proteger todos os indivíduos, qualquer
DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO BRASIL que seja a sua nacionalidade, sendo os mesmos positivados em tra-
tados ou costumes internacionais, ou seja, são aqueles direitos que
Quando nos deparamos com assuntos inerentes a Tratados In- já ascenderam ao patamar do direito internacional público.
ternacionais que versem sobre Direitos Humanos em consonância A sistemática universal de proteção dos direitos humanos foi
com o direito interno brasileiro, precisamos entender a sistemática concebida aos poucos, na medida em que a questão dos direitos
dessa a aplicabilidade, tanto em eficácia, quando em hierarquia no humanos adquiriu tratamento internacional. A internacionalização,
Brasil. por sua vez, se deu principalmente por meio da declaração de di-
É sabido que nosso Judiciário tende a frisar seu entendimento reitos em instrumentos específicos que levaram logo à frente, ao
sobre a vertente “monista nacionalista”, onde os tratados de direito estabelecimento de instituições e mecanismos para a sua garantia.
internacional terão força apenas de Legislação Ordinária – sistema A internacionalização da proteção dos direitos humanos é um
paritário –, desde que ratificados, podendo revogar as disposições fenômeno recente, que se iniciou após a Segunda Guerra Mundial.
em contrário ou ser revogado diante de lei posterior. Isso signifi- Os abusos perpetrados contra os indivíduos naquela Guerra impul-
ca dizer que qualquer tratado ou convenção internacional estará sionaram a criação de normas e princípios concernentes em asse-
sempre abaixo da Constituição Federal, norma máxima em nosso gurar o respeito à dignidade humana, bem como a responsabiliza-
ordenamento, não tendo os tratados internacionais força para mo- ção dos Estados no plano internacional.
dificar o texto constitucional já que figuram com caráter de Legisla- A Organização das Nações Unidas, criada à época para diligen-
ção Ordinária. ciar pela paz e segurança mundial é que deu início ao movimento,
Neste sentido, nos traz Luís Roberto Barroso, in verbis: sendo que no âmbito da ONU, desenvolveu-se desde a sua criação,
“Inadmissível a prevalência de tratados e convenções interna- instrumentos de proteção aos direitos humanos que dão forma a
cionais contra o texto expresso da Lei Magna (…). Hierarquicamen- uma sistemática normativa internacional e universal de proteção
te, tratado e lei situam-se abaixo da Constituição Federal. Consagrar desses direitos.

239
DIREITO CONSTITUCIONAL
Os principais instrumentos são a Carta das Nações Unidas, a Destacamos que outros instrumentos diversos referentes à
Declaração Universal dos Direitos do Homem e os Pactos e Tratados proteção dos direitos humanos no sistema universal foram formu-
temáticos internacionais, que são frutos de uma codificação das re- lados, com temas e circunstâncias específicos.
gras de proteção.
III – O CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS
II – A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM
A Assembléia Geral das Nações Unidas, após meses de inces-
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, datada de 10 santes negociações, votou no dia 15 de março de 2006 uma Resolu-
de dezembro de 1948, é composta por 30 artigos além do preâm- ção (60/251), que criou o chamado Conselho de Direitos Humanos,
bulo, constitui o primeiro instrumento de âmbito geral de direitos sendo este um órgão que tem por precipuidade substituir a Comis-
humanos adotado por uma organização internacional. são de Direitos Humanos na condução de mecanismos que visam a
Em uma análise perfunctória, vemos primeiramente que a res- proteção dos direitos e das liberdades fundamentais.
pectiva Declaração determina direitos que pertencem a todas as O referido Conselho, formado por 47 membros eleitos, segue
pessoas, independentemente de limitações, tais como: nacionali- o princípio da representação geográfica na distribuição dos chama-
dade, raça, sexo, cor ou religião. Desta feita, incorpora-se a idéia dos “assentos”, e delimita o mandato dos membros de 1 a 3 anos,
de universalidade de direitos e liberdades pertencentes aos seres possibilitando a sua reeleição.
humanos e decorrentes de sua própria existência. O Conselho de Direitos Humanos perfaz-se como sendo um ór-
Em seguida, observa-se também que a Declaração reúne direi- gão subsidiário da Assembléia Geral, fazendo com que ele responda
tos e liberdades de diferentes categorias, que se complementam e diretamente por seus atos frente a todos os membros das Nações
traduzem o ideal de dignidade humana. Logo, a priori temos que Unidas, sendo assim, essa característica peculiar acaba conferindo
um status mais elevado ao órgão, e ainda, permite uma maior res-
a Declaração garante direitos e liberdades de caráter individual, e
ponsabilização de seus membros.
em seguida, vemos o reconhecimento dos direitos do indivíduo no
A sede do Conselho fica em Genebra, onde o mesmo reúne-se
mundo e, sobretudo nos grupos sociais aos quais pertence.
por pelo menos três vezes ao ano, por um período total de pelo
Mais à frente, destaca-se o reconhecimento dos direitos e li-
menos dez semanas. Para que o órgão possa se reunir em sessões
berdades espirituais, políticos e civis. Seguidamente, a Declaração extraordinárias visando tratar de questões urgentes, basta que o
vislumbra os direitos econômicos, sociais e culturais, sendo o direi- requerimento seja feito por um membro do Conselho, com o aval
to à seguridade social e a um nível de vida pautada na dignidade. de um terço dos demais membros
Finalmente, é imposto um direito de todos a uma ordem social
e internacional na qual os direitos e liberdades previstos na Decla- IV- DA ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS
ração sejam efetivados de forma plena.
O caráter universal e a indivisibilidade dos direitos humanos fo- À Assembléia Geral cabe examinar e preservar os objetivos
ram confirmados de forma expressa na Declaração de Viena (1993), constantes da Organização das nações Unidas, tendo esta função
quando da Conferência Mundial de direitos de Viena, onde desta- uma permissividade de a Assembléia recorrer ao artigo 1º, § 3º, da
camos o parágrafo 5º: Carta das Nações Unidas para justificar a sua efetiva participação
“Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, inter- para questões condizentes com os direitos do homem.
dependentes e interrelacionados. A comunidade internacional A Carta, em seu preâmbulo, dispõe sua crença nos direitos fun-
deve tratar os direitos humanos globalmente, de maneira justa e damentais, na dignidade e no valor da pessoa humana. Cabe-nos
equânime, com os mesmos parâmetros e com a mesma ênfase. As transcrever o disposto no artigo 55, onde enquadra a ação da As-
particularidades nacionais e regionais e bases históricas, culturais sembléia, vejamos:
e religiosas devem ser consideradas, mas é obrigação dos Estados, “[...] com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar,
independentemente de seu sistema político, econômico e cultural, necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, base-
promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades fun- adas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autode-
damentais.” terminação dos povos, as nações Unidas favorecerão: a) níveis mais
Posteriormente foram elaborados tratados internacionais com altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e desenvol-
força vinculante para os Estados, hábeis a determinar o exercício vimento econômico e social; b) a solução dos problemas internacio-
dos direitos e liberdades consagrados na Declaração Universal. Res- nais econômicos, sociais, sanitários e conexos; a cooperação inter-
saltamos para tanto, dois principais Pactos Internacionais Relativos nacional, de caráter cultural e educacional; e c) o respeito universal
aos Direitos Humanos, sendo eles: o Pacto Internacional relativo e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para
todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”.
aos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional relativo aos
O artigo 13 da mesma Carta determina ser uma das funções
direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
da Assembléia Geral a feitura de estudos e recomendações que são
Nota-se que nas últimas décadas a codificação acerca da pro-
destinados a promover uma cooperação internacional nas searas
teção internacional dos direitos humanos tem se intensificado. Em
econômica, social, cultural, educacional e sanitária, favorecendo
que pese os amplos instrumentos de proteção desses direitos, po- ainda o gozo pleno dos direitos humanos e das liberdades funda-
demos citar os seguintes tratados sobre temas específicos, vejamos: mentais por parte de todos os povos, independente de raça, sexo,
- Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de to- língua ou religião.
dos os Trabalhadores Migrantes e de seus Familiares. O artigo 62, por sua vez, reafirma o papel da Assembléia no
- Cruéis, Desumanos ou Degradantes. sentido de encorajar e favorecer o respeito mútuo e universal pelos
- Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discri- direitos do homem, quando estabelece que:
minação contra a Mulher.
- Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as For-
mas de Discriminação Racial.

240
DIREITO CONSTITUCIONAL
“[...] o Conselho Econômico e Social fará ou iniciará estudos e O Estado tem que criar um ambiente no qual a preservação
relatórios a respeito de assuntos internacionais de caráter econômi- dos direitos humanos seja um dos pontos centrais, isso, aliado a
co, social, cultural, educacional, sanitário e conexos e poderá fazer projetos de desenvolvimento. Por óbvio que o desenvolvimento
recomendações a respeito de tais assuntos à Assembléia Geral, aos estatal deve ocorrer, no entanto, deve-se levar em conta critérios
membros das nações Unidas e às entidades especializadas interes- ambientais e questões sociais.
sadas”. Observamos uma flagrante complexidade do mundo atual
quanto aos chamados direitos atuais, uma vez que se determinada
V – DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA pessoa cumpre alguns direitos, acaba acentuando outros. Isso pode
ocorrer, por exemplo, no tocante às políticas de desenvolvimento
A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), que visem apenas a criação de empregos, sendo que a princípio
é o principal órgão judiciário das Nações Unidas, e funciona confor- poderão privilegiar o direito do trabalho, mas em contrapartida
me as normas previstas em seu Estatuto, que é parte integrante da poderão também acabar criando trabalho precário e prejudicar o
Carta da ONU. meio ambiente.
Todos os membros das Nações Unidas são também parte do A carta da ONU, a Declaração Universal dos Direitos do Ho-
Estatuto. Os Estados não-membros das nações Unidas podem tor- mem, o Pacto Internacional relativos aos direitos civis e políticos
nar-se partes do Estatuto, desde que obedecidas às condições esti- e o Pacto Internacional relativo aos direitos econômicos e culturais
puladas para cada caso pela Assembléia Geral e à recomendação do balizam o processo da internacionalização dos Direitos Humanos.
Conselho de Segurança. Nota-se que ao tempo em que se consolida o registro da pri-
A competência da referida Corte se estande às questões a ela meira geração dos direitos políticos, civis e cívicos, balizando o po-
submetidas pelos Estados e a todos os assuntos previstos na Carta der de ação do Estado e se fortalece o registro da segunda geração
das Nações Unidas, e ainda, nos tratados e convenções vigentes à dos direitos sociais, econômicos e culturais, onde impõe uma ação
época. positiva ao Estado, uma terceira geração de direitos, desta vez os
Os Estados podem comprometer-se de forma antecipada a coletivos surge com: direito ao meio ambiente, direito ao desenvol-
aceitar a jurisdição da Corte em determinados casos, isso, por meio vimento dos povos, direito a redução da pobreza, da criminalidade
de tratados ou convenções que estipulem o recurso à Corte ou por e talvez o que mais está em voga nos dias atuais, o direito a redução
meio de uma declaração especial nesse sentido. Referidas declara- da destruição ambiental.
ções, quando da aceitação da jurisdição compulsória da Corte po- Assim como os direitos humanos, a noção de desenvolvimento
dem excluir determinados tipos de questões. se faz presente nas preocupações da ONU. A idéia simplista de que
Ao proferir suas sentenças, a Corte recorre às fontes de direito o crescimento econômico por si só bastaria para assegurar o de-
previstas no Artigo 38 do Estatuto, vejamos: senvolvimento foi abandonada em proveito de uma caracterização
- Convenções Internacionais que estabelecem regras conheci- mais complexa do conceito, acrescendo os aspectos econômico,
das pelos Estados litigantes; social, cultural, político e humano, significando ter como objetivo
- Costumes Internacionais com evidências de uma praxe geral- o desenvolvimento dos homens e das mulheres no lugar da multi-
mente aceita como de direito; plicação das coisas.
- Princípios Gerais de direito reconhecidos pelas nações civili- A declaração e o programa de Ação de Viena, adotados pela
zadas; conferência Mundial sobre os direitos humanos também reforçam
- Jurisprudência e pareceres de competentes juristas das várias o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais, e ainda, a efe-
nações, como elementos subsidiários para determinar as regras de tivação de um sistema de indicadores para avaliar o progresso na
direito. realização dos direitos enunciados no pacto internacional.
A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento adotada pela
A Corte Internacional de Justiça é composta por 15 magistrados Assembléia Geral das Nações Unidas em 1986 reconhece o direito
independentes, sendo eleitos pela Assembléia Geral e pelo conse-
ao desenvolvimento como sendo um direito inalienável, assegu-
lho de Segurança pelo período de nove anos, com a possibilidade
rando a todos uma participação no desenvolvimento econômico,
de reeleição, desempenhando um papel de extrema importância
social, cultural e político, destacando ainda que conforme a De-
na solução de controvérsias internacionais no tocante a matéria de
claração Universal dos Direitos Humanos, todos tem direito a uma
direitos humanos.
ordem social e internacional, onde os direitos e as liberdades ali
consagrados possam se colocados em prática de forma plena.
VI – DIREITOS HUMANOS E POLÍTICAS PARA O DESENVOLVI-
MENTO
VII – O BRASIL E OS DIREITOS HUMANOS
Os direitos humanos podem ser reivindicados indistintamente
por todo e qualquer cidadão e em quaisquer condições, bastando A promulgação da Constituição da República Federativa do Bra-
para tanto que seja violado um direito seu devidamente reconheci- sil em 1988 caracteriza-se como um marco temporal concernente
do em tratado internacional do qual seu país faça parte. ao reconhecimento de obrigações internacionais quando se trata
Há que se destacar a dimensão internacional dos direitos hu- de direitos humanos no país, e ainda, quando da inserção dos siste-
manos, já que os Estados desenvolvidos são os detentores da obri- mas internacionais de garantia e proteção desses direitos.
gação legal de cooperação e os Estados em desenvolvimento são A Lei Maior consagra a dignidade humana como um valor in-
os possuidores do direito ao desenvolvimento, logo, conclui-se que trínseco ao Estado brasileiro e norteador de toda interpretação e
o direito ao desenvolvimento almeja uma globalização pautada na compreensão da sistemática constitucional.
ética e solidária. O artigo 1º determina que a cidadania e a dignidade da pes-
As políticas de desenvolvimento devem ser pensadas em con- soa humana são fundamentos da República Federativa do Brasil. O
junto com os direitos humanos, pois se assim não ocorrer, o próprio artigo 3º, por sua vez, destaca entre os objetivos fundamentais da
Estado pode acentuar uma violação. República Federativa do Brasil “erradicar a pobreza e a marginaliza-

241
DIREITO CONSTITUCIONAL
ção e reduzir as desigualdades sociais e regionais” e “promover o Apesar da universalidade dos direitos humanos e da busca pela
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e dignidade da pessoa humana, é difícil promover tal conceito em
quaisquer outras formas de discriminação”. culturas diferentes. Assim, essa concepção universal dos direitos
O artigo 4º destaca-se quando define os princípios que regem o humanos costuma ser confrontada com o “relativismo cultural”: a
Estado brasileiro em suas relações internacionais e inclui entre eles cultura de cada país seria um entrave à validade de um mesmo gru-
a “prevalência dos direitos humanos”. po de direitos em todos os países.
A regra disposta no § 2º do artigo 5º da Carta Magna se mostra O ponto chave é definir até que ponto o relativismo cultural
determinante quanto à inserção do país na dinâmica da proteção pode justificar práticas internas de um Estado que, numa ótica in-
internacional dos direitos humanos, senão vejamos: ternacional, são lesivas aos direitos humanos.
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não ex- Tem prevalecido a ideia de forte proteção aos direitos humanos
cluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adota- e fraco relativismo cultural, concepção que afirma que o relativis-
dos, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa mo cultural não pode ser ignorado, mas não pode ser defendido ao
do Brasil seja parte”. ponto de justificar violações a direitos humanos.
Outro dispositivo determinante na sistemática constitucional O que se deve entender por universal é a ideia de que o ser
brasileira está contido no § 1º do artigo 5º da Constituição Federal, humano é titular de um conjunto de direitos, independentemente
onde proclama a aplicabilidade imediata das normas definidoras das leis e cultura de cada Estado, e, não, a ideia de que o direito x, y
dos direitos e garantias fundamentais no país, e conseqüentemen- ou z tem que ser reconhecido em todos os Estados.
te, essas normas deverão ser aplicadas de forma direta e máxima
pelos poderes públicos constantes no território nacional. Relatividade: essa característica vem demonstrar que os direi-
Os tratados concernentes aos direitos humanos ratificados tos humanos não são absolutos, podendo sofrer limitações no caso
pelo Brasil são passíveis de imediata invocação pelos brasileiros, de confronto com outros direitos, ou ainda, em casos de grave crise
sem que se faça necessário editar qualquer ato cogente para sua institucional, como ocorre, por exemplo, na decretação do Estado
vigência interna. de Sítio.
Em exemplo, o direito à liberdade de expressão pode ser rela-
VIII – CONCLUSÃO tivizado para se harmonizar com a proteção da vida privada, não se
admitindo que a expressão chegue ao ponto de ofender a imagem
Acerca de todo o exposto, concluímos o presente estudo afir- de alguém; o direito ao desenvolvimento pode ser relativizado para
mando ser de extrema importância o acompanhamento permanen- compatibilizá-lo com o direito ao ambiente e assim por diante.
te no que tange aos direitos humanos devidamente reconhecidos Cabe registrar uma exceção à relatividade dos direitos huma-
na seara internacional, evitando divergências outras que possam nos, a tortura é uma prática vedada em toda e qualquer situação,
levar este ou aquele indivíduo a ter sobrestado o seu direito de vi- havendo sim de se lhe reconhecer um caráter absoluto. Pode-se
ver com o mínimo de dignidade. Por fim, exaltamos os dispositivos dizer então, que a característica da relatividade é também relativa.
colacionados na Constituição Federal Brasileira, onde dispõe de for- A “Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
ma clara e inquestionável a proteção absoluta dos direitos humanos Cruéis, Desumanos ou Degradantes”, da ONU, enuncia em seu art.
em nossa pátria, sendo destarte fato incontroverso que a temática 2º o seguinte:
relacionada a proteção dos direitos humanos está inserida de forma Artigo 2º
definitiva na agenda internacional no Brasil. 1. Cada Estado tomará medidas eficazes de caráter legislati-
vo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS NO DIREITO prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição.
INTERNACIONAL 2. Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excep-
Historicidade: significa que os direitos humanos não surgi- cionais, como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política
ram todos ao mesmo tempo, são frutos de conquistas históricas; interna ou qualquer outra emergência pública, como justificação
são construídos gradualmente e vão se expandindo ao longo da para a tortura.
história, devido a luta de movimentos sociais para que se afirme a 3. A ordem de um funcionário superior ou de uma autoridade
dignidade da pessoa humana. pública não poderá ser invocada como justificação para a tortura.
Essa característica é a que fundamenta a ideia de gerações/ Essencialidade: significa dizer que os direitos humanos são
dimensões dos direitos humanos. inerentes ao ser humano, tendo dois aspectos, o aspecto material
Os direitos humanos não são direitos naturais, que decorrem que representa os valores supremos do homem e sua dignidade e
da natureza das coisas, como já se chegou a afirmar no período das o aspecto formal, isto é, assume posição normativa de destaque.
revoluções liberais e da superação do antigo Estado Absolutista. Irrenunciabilidade: não é possível a renúncia dos direitos hu-
Pois o que é natural é atemporal, ou seja, sempre esteve lá, e não manos, pois, como são direitos inerentes à condição humana, nin-
é isso o que ocorre com os direitos humanos, que foram conquista- guém pode abrir mão de sua própria natureza.
dos ao longo de toda história. Dessa característica decorre que eventual manifestação de
Cabe registrar que a historicidade dos direitos humanos é ex- vontade da pessoa em abdicar de sua dignidade não terá valor jurí-
pansiva, isto é, não há supressão de direitos (proibição do retroces- dico, sendo reputada nula.
so) já reconhecidos na ordem jurídica, mas sim uma ampliação da Um exemplo é o famoso caso francês do “arremesso de anões”,
proteção do indivíduo, reconhecendo novos direitos. espécie de “entretenimento” outrora adotado em bares franceses,
Universalidade: essa característica garante que os direitos hu- consistente em arremessarem anões em direção a uma “pista” de
manos engloba todos os indivíduos, pouco importando a naciona- colchões, como se fossem dardos humanos.
lidade, a cor, a opção religiosa, sexual, política, etc. Ou seja, esses No caso, as pessoas se reuniam nos bares para disputar tor-
direitos se destinam a todas as pessoas (sem qualquer tipo de dis- neios de “arremesso de anões”, ganhando a disputa aquele que
criminação) e possuem abrangência territorial universal (em todo conseguisse arremessar o anão mais longe na “pista de colchões”.
mundo). Em uma cidade francesa, a Prefeitura proibiu a prática, interditan-

242
DIREITO CONSTITUCIONAL
do um bar que promovia as disputas, e o caso foi parar na justiça, de habeas corpus, isto é, se um indivíduo sofrer uma prisão ilegal,
chegando até o Conselho de Estado, instancia máxima da justiça não pode simplesmente alegar a liberdade de locomoção e sair da
administrativa francesa, e o órgão entendeu adequada a postura cadeia, deve impetrar habeas corpus para que a prisão ilegal seja
do poder público. sanada e sua liberdade seja garantida.
O grande detalhe é que a interdição foi questionada por inicia-
tiva de um anão, que alegava que a prática representava, para ele, Inalienabilidade: significa que os direitos humanos não são
uma forma de trabalho, importante para a sua sobrevivência, e que objeto de comércio e, portanto, não podem ser alienados, trans-
a ordem jurídica francesa tutelava o direito ao trabalho. feridos. A dignidade pessoa humana, por exemplo, não pode ser
O anão chegou a levar o caso até o Comitê de Direitos Huma- vendida. A inalienabilidade não importa dizer, entretanto, que não
nos da ONU, que concordou com a decisão da jurisdição francesa, se possa desempenhar atividades econômicas utilizando-se de um
afirmando que a prática violaria a dignidade da pessoa humana. direito humano.
A irrenunciabilidade dos direitos humanos suscita importantes
discussões envolvendo o direito à vida, como eutanásia, aborto e a Concorrência: essa característica revela a possibilidade dos
recusa em receber transfusão de sangue. O questionamento base é direitos humanos serem exercidos concorrentemente, cumulativa-
o seguinte: se a vida é irrenunciável, como validar eutanásia e abor- mente, ao mesmo tempo.
to? Havendo risco de morte, a manifestação de vontade da pessoa Ao mesmo tempo que posso exercer o meu direito a vida, te-
em não aceitar a transfusão de sangue deve ser considerada? nho direito de ser livre, ter moradia, trabalhar, estudar, ter um pa-
A resposta a essas perguntas passa pela compreensão da rela- drão de vida capaz de assegurar a mim e a minha família, saúde e
tividade dos direitos humanos e da necessidade de harmonizá-los bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, cuidados médicos e os
com outros valores; deve ser ponderado que, apesar de irrenunciá- serviços sociais indispensáveis, enfim, ter uma vida digna.
veis, os direitos humanos podem ser relativizados num caso concre-
to ante a necessidade de harmonizá-los com outros valores.

Imprescritibilidade: significa dizer que a pretensão de respei-


SÚMULAS, JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DOS TRIBU-
to e concretização de direitos humanos não se esgota pelo passar
NAIS SUPERIORES E LEGISLAÇÃO RELACIONADA COM
dos anos, podendo ser exigida a qualquer momento. Dito de outra
OS TEMAS
forma, o decurso do tempo não atinge a pretensão de respeito aos
direitos que materializam a dignidade humana.
A imprescritibilidade dos direitos humanos não deve ser con- Principais Súmulas para Direito Constitucional
fundida com a prescritibilidade da reparação econômica decorren- De forma análoga ao artigo anterior, iremos iniciar pelas mais
te da violação de direitos humanos. Trata-se de situações distintas, importantes, que são as Súmulas Vinculantes do STF.
pretensões diversas.
Uma coisa é a pretensão de respeito aos direitos humanos, de Para maiores esclarecimentos sobre as súmulas abaixo, junta-
não violação ao direito; outra é a pretensão de reparação do dano mente com exercícios e exemplos práticos, acesse os melhores cur-
causado pela violação de um direito, essa sim submetida a prazo sos de Direito Constitucional.
prescricional.
Nessa esteira, pode-se exigir, a qualquer momento, que cesse Súmulas Vinculantes do STF para Direito Constitucional
uma situação de lesão a direitos humanos, mas, de outro modo, Súmula Vinculante 2, STF:
a reparação econômica decorrente da lesão gerada haverá de se
submeter aos prazos prescricionais previstos em lei. É inconstitucional a lei ou ato normativo Estadual ou Distrital
que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bin-
Inviolabilidade: impossibilidade de desrespeito ou descum- gos e loterias.
primentos por determinações infraconstitucionais ou por atos das
autoridades públicas, sob pena de responsabilização civil, adminis- Comentário: Trata-se de competência da União, segundo a
trativa e criminal. CF/88.
Complementaridade, Unidade e Indivisibilidade: os direitos hu-
manos não devem ser interpretados isoladamente, mas de forma Súmula Vinculante 3, STF:
conjunta e interativa com os demais direitos.
Essa característica afasta a ideia de que haveria hierarquia en- Nos processos perante o Tribunal de Contas da União assegu-
tre os direitos, como se uns fossem superiores aos outros, e propõe ram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder
que todos os direitos são exigíveis, por serem todos importantes resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie
para a materialização da dignidade humana. o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de con-
Assim, ainda que haja diferença entre os direitos, não haverá cessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
superioridade, sendo todos igualmente exigíveis e importantes à
materialização da dignidade humana. Súmula Vinculante 10, STF:

Efetividade: a atuação do Poder Público deve ser no sentido de Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão
garantir a efetivação dos direitos humanos e garantias fundamen- de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expres-
tais previstos, através de mecanismos coercitivos, pois a Constitui- samente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
ção Federal não se satisfaz com o simples reconhecimento abstrato, Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.
os direitos devem ser garantidos no caso concreto.
Interdependência: os direitos, apesar de autônomos, possuem Comentário: A cláusula de reserva de plenário está cada vez
diversas interseções para atingirem suas finalidades. Por exem- mais em voga nas questões de concurso público. Portanto, atenção
plo, a liberdade de locomoção está intimamente ligada à garantia sobre este tema.

243
DIREITO CONSTITUCIONAL
Súmula Vinculante 18, STF: Súmula 245, STF:

A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa
mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 prerrogativa.
da Constituição Federal.
Súmula 347, STF:
Comentário: Umas das principais súmulas para Direito Consti-
tucional. Trata-se da INELEGIBILIDADE REFLEXA, vedada pela CF/88: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.
Art. 14, § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titu-
lar, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo Comentário: Todos os tribunais apreciam a constitucionalida-
grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de de, não apenas os tribunais do Poder Judiciário.
Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se Súmula 614, STF:
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Somente o Procurador-Geral da Justiça tem legitimidade para
Súmula Vinculante 25, STF: propor ação direta INTERVENTIVA por inconstitucionalidade de lei
municipal.
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade de depósito. Súmula 642, STF:

Súmula Vinculante 38, STF: Não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do distrito
federal derivada da sua competência legislativa municipal.
É competente o município para fixar o horário de funcionamen-
to do estabelecimento comercial. Súmula 643, STF:

Súmula Vinculante 39, STF: O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil
pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensali-
Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dades escolares.
dos membros das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros
militar do Distrito Federal. Súmula 649, STF:

Súmula Vinculante 46, STF: É inconstitucional a criação, por constituição estadual, de órgão
de controle administrativo do poder judiciário do qual participem
A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimen- representantes de outros poderes ou entidades.
to das respectivas normas de processo e julgamento são da compe-
tência legislativa privativa da União. Súmula 653, STF:

Comentário: Fique atento quando o comando da questão dis- No Tribunal de Contas estadual, composto por sete conselhei-
ser que Estados ou Municípios estão definindo hipóteses de crimes ros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia Legislativa e três
de responsabilidades em suas respectivas Constituições Estaduais pelo Chefe do Poder Executivo estadual, cabendo a este indicar um
ou Leis Orgânicas. Essa competência não pertence a estes entes, dentre auditores e outro dentre membros do Ministério Público, e
mas sim à União. um terceiro à sua livre escolha.

Súmula Vinculante 49, STF: Súmula 654, STF:

Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que im- A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI,
pede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo da Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal
em determinada área. que a tenha editado.

Súmulas do STF para Direito Constitucional Comentário: Outra dentre as principais súmulas para direito
Além das SV, existem também as Súmulas do STF que, apesar constitucional. Veja o que diz o art. 5º, inciso XXXVI:
de padecerem de efeito vinculante, ainda exercem uma forte influ-
ência nas decisões dos tribunais brasileiros. Veja as principais sú- XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
mulas para direito constitucional emanadas pelo STF. perfeito e a coisa julgada;

Súmula 6, STF: Súmulas do STJ para Direito Constitucional


Para finalizar, vamos às principais súmulas para Direito Consti-
A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposenta- tucional emitidas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
doria, ou qualquer outro ato aprovado pelo Tribunal de Contas, não
produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a Súmula nº 2 do STJ
competência revisora do judiciário.
Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra a) se não houve
recusa de informações por parte da autoridade administrativa.

244
DIREITO CONSTITUCIONAL
Comentário: Súmula importantíssima. (B)É compatível com a posição do autor a recusa ao reconhe-
cimento do princípio da aplicabilidade imediata das normas
Súmula nº 19 do STJ definidoras de direitos e garantias fundamentais no sistema
constitucional brasileiro.
A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é (C) O autor se refere particularmente à distinção existente
da competência da União. entre direitos fundamentais políticos e direitos fundamentais
sociais, haja vista a mais ampla proteção constitucional aos pri-
Súmula nº 42 do STJ meiros, que não estão limitados ao mínimo existencial.
(D) O autor se refere particularmente à distinção entre os di-
Compete à Justiça Comum estadual processar e julgar as cau- reitos fundamentais que consistem em cláusulas pétreas e os
sas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes direitos fundamentais que não estão protegidos por essa cláu-
praticados em seu detrimento. sula, sendo que a maior proteção dada aos primeiros os torna
imunes à incidência da reserva do possível.
Súmula nº 99 do STJ (E) O autor se refere particularmente à distinção entre os di-
reitos fundamentais que estão expressos na Constituição de
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no proces- 1988 e aqueles que estão implícitos, decorrendo dos princípios
por ela adotados, haja vista o expresso regime diferenciado de
so em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da
proteção estabelecido em nível constitucional para esses dois
parte.
grupos de direitos.
Súmula nº 147 do STJ
2. De acordo com a Constituição Federal de 1988, é certo di-
zer que quando a propriedade rural atende, simultaneamente, se-
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes pratica- gundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos se-
dos contra funcionário público federal, quando relacionados com o guintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utilização
exercício da função. adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente; observância das disposições que regulam as relações de
Súmula nº 208 do STJ trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários
e dos trabalhadores, está cumprida a:
Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal (A) Função econômica.
por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão (B) Reforma agrária.
federal. (C) Desapropriação.
(D) Função social.
Súmula nº 329 do STJ
3. Assinale a única alternativa que não contemple um direito
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil social previsto na Constituição Federal.
pública em defesa do patrimônio público. (A)direito ao lazer
(B) . direito à previdência social
Súmula nº 444 do STJ (C) direito à alimentação
(D)direito à ampla defesa
É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em (E) direito à educação
curso para agravar a pena-base.
4. Segundo as disposições do Art. 12 da Constituição Federal, é
Súmula nº 604 do STJ privativo de brasileiro nato o cargo de:
(A)Ministro do Supremo Tribunal Federal.
O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito sus- (B)Ministro de Estado da Justiça e da Segurança Pública.
(C) Ministro do Superior Tribunal de Justiça.
pensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público.
(D) Deputado Federal.
(E) Senador da República.

QUESTÕES 5. Com base nas disposições constitucionais sobre os direitos e


garantias fundamentais, analise as afirmativas a seguir:
I. Os cargos de Vice-Presidente da República e Senador são pri-
1. [...] não se pode deduzir que todos os direitos fundamentais vativos de brasileiro nato.
possam ser aplicados e protegidos da mesma forma, embora todos II. São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
eles estejam sob a guarda de um regime jurídico reforçado, conferi- III. Os partidos políticos não estão subordinados a nenhum tipo
do pelo legislador constituinte. (HACHEM, Daniel Wunder. Manda- de governo, mas podem receber recursos financeiros de entidades
do de Injunção e Direitos Fundamentais, 2012.) nacionais ou estrangeiras.
Sobre o tema, assinale a alternativa correta.
(A)É compatível com a posição do autor inferir-se que, não obs- Assinale
tante o reconhecimento do princípio da aplicabilidade imediata (A) se somente a afirmativa I estiver correta.
das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, (B) se somente a afirmativa II estiver correta.
há peculiaridades nas consequências jurídicas extraíveis de (C) se somente a afirmativa III estiver correta
cada direito fundamental, haja vista existirem distintos níveis (D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
de proteção. (E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

245
DIREITO CONSTITUCIONAL
6. Doutrinariamente, o conceito e a classificação das constitui- 8. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabili-
ções podem variar de acordo com o sentido e o critério adotados dade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
para sua definição. A respeito dessa temática, leia as afirmativas incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
abaixo: órgãos, EXCETO:
I. Para o sociólogo Ferdinand Lassalle, “Constituição” seria a (A) Polícia Federal.
somatória dos fatores reais de poder dentro de uma sociedade, en- (B) Polícia Rodoviária Federal.
quanto reflexo do embate das forças econômicas, sociais, políticas e (C) Defesa Civil.
religiosas de um Estado. Nesse sentido, por ser uma norma jurídica, (D) Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
ainda que não efetiva, uma Constituição legítima é aquela escrita
em uma “folha de papel”. 9. De acordo com as disposições constitucionais acerca da Or-
II. O alemão Carl Schmitt define “Constituição” como sendo dem Social, assinale a afirmativa incorreta.
uma decisão política fundamental, cuja finalidade precípua é orga- (A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata-
nizar e estruturar os elementos essenciais do Estado. Trata-se do mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o
sentido político delineado na teoria decisionista ou voluntarista, em progresso da ciência, tecnologia e inovação.
que a Constituição é um produto da vontade do titular do Poder (B)A educação básica pública terá como fonte adicional de fi-
Constituinte. nanciamento a contribuição social do salário-educação, reco-
III. Embasada em uma concepção jurídica, “Constituição” é lhida pelas empresas na forma da lei.
uma norma pura, a despeito de fundamentações oriundas de ou-
tras disciplinas. Através do sentido jurídico-positivo, Hans Kelsen (C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados a
define a Constituição como norma positiva suprema, dentro de um vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi-
sistema escalonado e hierarquizado de normas, em que aquela ser- cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
ve de fundamento de validade para todas as demais. (D) Incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental
IV. “Constituição-dirigente ou registro” é aquela que traça di- em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
retrizes objetivando nortear a ação estatal, mediante a previsão de preservação do meio ambiente.
normas programáticas. Marcante em nações socialistas, visa reger o (E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensi-
ordenamento jurídico de um Estado durante certo período de tem- no fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
po nela estabelecido, cujo decurso implicará a elaboração de uma responsáveis, pela frequência à escola.
nova Constituição ou adaptação de seu texto.
V. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é 10. A Constituição Brasileira instituiu um modelo de proteção
classificada, pela doutrina majoritária, como sendo de ordem de- social aos brasileiros que inclui a assistência social como um direi-
mocrática, nominativa, analítica, material e super-rígida. to de seguridade social reclamável juridicamente e traduzível em
proteção social não contributiva devida ao cidadão (BRASIL, 2013).
Assinale a alternativa correta.
Sobre a assistência social como direito à seguridade social é COR-
(A)Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas
RETO afirmar que:
(B) . Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas
(A) A confguração da assistência social como política pública
(C)Apenas as afirmativas II, III e V estão corretas
lhe atribui um campo específico de ação, no caso, a proteção
(D) Apenas as afirmativas II e III estão corretas
social não contributiva como direito de cidadania, aos que dela
necessitar, os pobres.
7. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República,
(B)A política de assistência social, como política de seguridade
auxiliado pelos Ministros de Estado. No que se refere às disposi-
ções constitucionais sobre o Poder Executivo, analise as afirmativas social, é responsável pela provisão de direitos sociais.
abaixo: (C) Na condição de prática, a política de assistência social pode
I. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições ter múltiplas expressões, ser realizada em direções e abrangên-
que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presi- cias diferentes, desenvolver experiências, fazer uma ou outra
dente, sempre que por ele convocado para missões especiais. atenção.
II. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presiden- (D)A atenção prestada não se refere ao escopo de um indivíduo
te, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente cha- ou uma família, mas deve ter presente que sua responsabilida-
mados ao exercício da Presidência o Presidente do Supremo Tribu- de exige que se organize para que a ela tenham acesso todos
nal Federal, da Câmara dos Deputados e o do Senado Federal. aqueles que estão na mesma situação.
III. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período (E) Atenções prestadas de modo focalizadas a grupos de pobres
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias e miseráveis, de forma subalternizadora, constituindo um pro-
depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. cesso de assistencialização das políticas sociais.

Assinale a alternativa correta. 11. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a op-


(A)As afirmativas I, II e III estão corretas ção CORRETA.
(B)Apenas as afirmativas I e II estão corretas (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade da
(C) Apenas as afirmativas II e III estão corretas norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, em
(D) Apenas as afirmativas I e III estão corretas regra, são ex nunc.
(B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto re-
gulamentar deve ser realizado pela via difusa.
(C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de
Inconstitucionalidade.
(D) Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucionali-
dade é admissível a desistência.

246
DIREITO CONSTITUCIONAL
(E) A mutação constitucional tem relação não com o aspecto (D) As custas e emolumentos serão destinados, preferencial-
formal do texto constitucional, mas com a interpretação dada mente, ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas
à Constituição. da Justiça.
(E)O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze)
12. Sobre a aplicabilidade das normas constitucionais, examine membros com mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução.
as assertivas seguintes:
I – Para Hans Kelsen, eficácia é a possibilidade de a norma jurí- 15. O Ministério Público da União compreende:
dica, a um só tempo, ser aplicada e não obedecida, obedecida e não (A)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba-
aplicada. Para se considerar um preceito como eficaz deve existir a lho e o Ministério Público Militar.
possibilidade de uma conduta em desarmonia com a norma. Uma (B) o Ministério Público Estadual, o Ministério Público do Traba-
norma que preceituasse um certo evento que de antemão se sabe lho e o Ministério Público Militar.
que necessariamente se tem de verificar, sempre e em toda parte, (C) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba-
por força de uma lei natural, será tão absurda como uma norma que lho e o Ministério Público do Distrito Federal.
preceituasse um certo fato que de antemão se sabe que de forma (D)o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba-
alguma se poderá verificar, igualmente por força de uma lei natural. lho e o Ministério Público Militar, do Distrito Federal e territó-
II – O fenômeno relativo à desconstitucionalização, ou seja, a rios.
retirada de temas do sistema constitucional e a sua inserção em (E) o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Traba-
sede de legislação ordinária, pode ser observado no Brasil. lho e o Ministério Público Militar e territórios.
III – A norma constitucional com eficácia relativa restringível
tem aplicabilidade direta e imediata, podendo, todavia, ter a am- 16. Com base nas disposições constitucionais sobre a Advoca-
plitude reduzida em razão de sobrevir texto legislativo ordinário ou cia Pública e a Defensoria Pública, analise os itens abaixo:
mesmo sentença judicial que encurte o espectro normativo, como I. Aos advogados públicos são assegurados a inamovibilidade,
é, por exemplo, o direito individual à inviolabilidade do domicílio, a independência funcional e a estabilidade após três anos de efeti-
desde que é possível, por determinação judicial, que se lhe promo- vo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos
va restrição. próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.
II. A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral
Assinale a alternativa CORRETA: da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre
(A)Apenas as assertivas I e II estão corretas. cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e
(B)Apenas as assertivas I e III estão corretas. reputação ilibada.
(C) Apenas as assertivas II e III estão corretas. III. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à
(D) Todas as assertivas estão corretas. função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, dentre outras atri-
buições, a orientação jurídica aos necessitados.
13. Sobre o Poder Legislativo da União, assinale a alternativa
INCORRETA. Assinale:
(A)A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do (A)se apenas a afirmativa I estiver correta.
povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada estado, em (B) se apenas a afirmativa II estiver correta.
cada território e no Distrito Federal. (C) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas.
(B) O Senado Federal compõe-se de representantes dos esta- (D) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
dos e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majori-
tário. 17. A respeito do controle de constitucionalidade preventivo
(C) Cada estado, território e o Distrito Federal elegerão três se- no direito brasileiro, é correto afirmar que
nadores, com mandato de oito anos. (A)é exercido pelo Legislativo ao sustar os atos normativos do
(D) O número total de deputados, bem como a representação Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos
por estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei limites de delegação legislativa.
complementar, proporcionalmente à população, procedendo- (B)é praticado, por exemplo, quando o Senado suspende a exe-
-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para cução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional
que nenhuma das unidades da Federação tenha menos de oito por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal.
ou mais de setenta deputados. (C) não cabe ao Poder Judiciário exercer esse tipo de controle,
Poder este que tem competência apenas para exercer o con-
14. Referente ao Poder Judiciário, assinale a alternativa correta. trole repressivo.
(A)O ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por (D) as comissões parlamentares têm competência para exer-
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria cer esse tipo de controle ao examinar os projetos de lei a elas
do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, as- submetidos.
segurada ampla defesa. (E) o veto presidencial, que é uma forma de controle preven-
(B)Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgado- tivo de constitucionalidade, é sujeito à apreciação e anulação
res, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de pelo Poder Judiciário.
onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício
das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da 18. Acerca do Controle de Constitucionalidade, marque a op-
competência do tribunal pleno, provendo-se metade das va- ção CORRETA.
gas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal (A)Os efeitos da decisão que afirma a inconstitucionalidade da
pleno. norma em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, em
(C) Aos juízes é vedado exercer a advocacia no juízo ou tribunal regra, são ex nunc.
do qual se afastou, antes de decorridos 02 (dois) anos do afas- (B)O controle de Constitucionalidade de qualquer decreto re-
tamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. gulamentar deve ser realizado pela via difusa.

247
DIREITO CONSTITUCIONAL
(C) É impossível matéria de fato em sede de Ação Direta de (B) centralização político-administrativa, cabendo a coordena-
Inconstitucionalidade. ção e as normas gerais à esfera municipal com a participação
(D)Após a propositura da Ação Declaratória de Constitucionali- de outras entidades.
dade é admissível a desistência. (C)primazia da responsabilidade da sociedade civil na condu-
(E) A mutação constitucional tem relação não com o aspecto ção da Política de Assistência Social em cada esfera de governo.
formal do texto constitucional, mas com a interpretação dada (D) centralidade nas pessoas em situação de risco para con-
à Constituição. cepção e implementação dos benefícios, serviços, programas
e projetos.
19. A luz da Constituição Federal de 1988, é CORRETO afirmar (E) gestão dos recursos financeiros pela Câmara Municipal lo-
que é um princípio da República Federativa do Brasil, em que irá cal, a quem cabe definir as prioridades para a distribuição.
reger-se em suas relações internacionais.
(A) Soberania.
(B)Garantir o desenvolvimento nacional.
(C) A dignidade da pessoa humana. GABARITO
(D) Auto determinação dos povos.

1 A
20. Leia as afirmativas a seguir:
I. De acordo com o artigo 20 da Constituição da República Fe- 2 D
derativa do Brasil de 1988, são bens da União as terras devolutas 3 D
dispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
militares, das vias internacionais de comunicação e à degradação 4 A
ambiental, definidas em lei. 5 B
II. A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 7º, a idade
6 D
inicial e as condições em que é permitido trabalhar no Brasil. O dis-
positivo constitucional estabelece a proibição de trabalho noturno, 7 D
perigoso ou insalubre aos menores de dezesseis anos e de qual- 8 C
quer trabalho aos menores de quatorze anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de doze anos. 9 C
10 D
Marque a alternativa CORRETA:
(A) . As duas afirmativas são verdadeiras. 11 E
(B)A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. 12 B
(C) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
13 C
(D)As duas afirmativas são falsas.
14 B
21. De acordo com as disposições constitucionais acerca da Or- 15 D
dem Social, assinale a afirmativa incorreta.
(A)A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata- 16 D
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o 17 D
progresso da ciência, tecnologia e inovação.
(B) A educação básica pública terá como fonte adicional de fi- 18 E
nanciamento a contribuição social do salário-educação, reco- 19 D
lhida pelas empresas na forma da lei. 20 D
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados a
vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi- 21 C
cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. 22 A
(D) Incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental
em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente.
(E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensi-
no fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
responsáveis, pela frequência à escola.

22. A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concepção


para a Assistência Social brasileira. Incluída no âmbito da Segurida-
de Social e regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), como política social pública, a assistência social inicia seu
trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universali-
zação dos acessos e da responsabilidade estatal. Entre as diretrizes
traçadas para a Assistência Social encontra-se:
(A) participação da população, por meio de organizações repre-
sentativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis.

248
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

• Princípio da subsidiariedade = primeiro tentar aplicar o crime


APLICAÇÃO DA LEI PENAL. PRINCÍPIOS DA LEGALI- mais grave, se não for o caso, aplicar a norma subsidiária, menos
DADE E DA ANTERIORIDADE. LEI PENAL NO TEM- grave.
PO E NO ESPAÇO. TEMPO E LUGAR DO CRIME. LEI • Consunção = ao punir o todo pune a parte. Ex. crime progres-
PENAL EXCEPCIONAL, ESPECIAL E TEMPORÁRIA. sivo (o agente necessariamente precisa passar pelo crime menos
TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE DA grave), progressão criminosa (o agente queria praticar um crime
LEI PENAL. CONTAGEM DE PRAZO. INTERPRETA- menos grave, mas em seguida pratica crime mais grave), atos im-
ÇÃO DA LEI PENAL. ANALOGIA. IRRETROATIVIDADE puníveis (prévios, simultâneos ou subsequentes).
DA LEI PENAL. LEI PENAL EM BRANCO. PRINCÍPIOS Lei Penal no Espaço
APLICÁVEIS AO DIREITO PENAL
▪ Lugar do Crime, Territorialidade e Extraterritorialidade
Lei Penal em Branco Quanto à aplicação da lei penal no espaço, a regra adotada no
▪ Interpretação e Analogia Brasil é a utilização do princípio da territorialidade, ou seja, aplica-
As normas penais em branco são normas que dependem do -se a lei penal aos crimes cometidos no território nacional.
complemento de outra norma. Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no ter-
Norma Penal em branco Norma Penal em branco ritório nacional.
Homogênea Heterogênea Como o CP admite algumas exceções, podemos dizer que foi
adotado o princípio da territorialidade mitigada/temperada.
A norma complementar Fique atento, pois são considerados como território brasileiro
possui o mesmo nível por extensão:
hierárquico da norma penal. A norma complementar • Navios e aeronaves públicos;
Quando homovitelina, não possui o mesmo nível • Navios e aeronaves particulares, desde que se encontrem em
corresponde ao mesmo hierárquico da norma penal. Ex. alto mar ou no espaço aéreo. Ou seja, não estando no território de
ramo do Direito, ex. o complemento da lei de drogas nenhum outro país.
Penal e Penal. Quando está em decreto que define
heterovitenila, abrange substâncias consideradas drogas. Por outro lado, a extraterritorialidade é a aplicação da lei penal
ramos diferentes do Direito, brasileira a um fato criminoso que não ocorreu no território nacio-
ex. Penal e Civil. nal.
Extraterritorialidade
Outro ponto fundamental é a diferenciação entre analogia e Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
interpretação analógica: estrangeiro:
I - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA):
A lei penal admite interpretação Já a analogia só pode a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
analógica para incluir hipóteses ser utilizada em normas b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
análogas às elencadas pelo legislador, não incriminadoras, para Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa públi-
ainda que prejudiciais ao agente. beneficiar o réu. ca, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público;
Lei Penal no Tempo c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
▪ Conflito Aparente de Leis Penais e Tempo do Crime d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado
Sobre o tempo do crime, é importante saber que: A teoria da no Brasil;
atividade é adotada pelo Código Penal, de maneira que, conside- II - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA):
ra-se praticado o crime no momento da ação ou omissão (data da a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a repri-
conduta). mir;
Nos crimes permanentes e continuados aplica-se a lei em vigor b) praticados por brasileiro;
ao final da prática criminosa, ainda que mais gravosa. Não é caso de c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mer-
retroatividade, pois na verdade, a lei mais grave está sendo aplica- cantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro
da a um crime que ainda está sendo praticado. e aí não sejam julgados.
Sobre o conflito aparente de leis penais, a doutrina resolve § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei
essa aparente antinomia através dos seguintes princípios: brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
• Princípio da especialidade = norma especial prevalece sobre § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depen-
a geral, ex. infanticídio. de do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

249
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasilei- - Antijuridicidade (Ilicitude):o fato para ser antijurídico deve
ra autoriza a extradição; ser contrário às normas do direito penal. Existem situações, no en-
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí tanto, que alguns fatos são amparados por causas excludentes de
cumprido a pena; ilicitude, como por exemplo na legítima defesa, no estado de ne-
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro cessidade, no estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favo- regular de direito. Nestes casos, o fato será típico, mas não será
rável. antijurídico, logo não haverá crime.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por - Culpabilidade: diz respeito a possibilidade ou não de aplica-
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condi- ção de uma pena ao autor de um crime. Para que a pena possa
ções previstas no parágrafo anterior: ser aplicada, alguns requisitos/elementos são essenciais: imputa-
Quanto ao lugar do crime, a teoria adotada é a da ubiquidade: bilidade penal, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocor- conduta diversa. Ausente quaisquer destes requisitos, não haverá
reu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se culpabilidade, logo não haverá crime.
produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Portanto, o lugar do crime é tanto o local da ação/omissão, 2) Contravenção Penal:
quanto o local da ocorrência do resultado, ex. o local do disparo da A Lei de Introdução ao Código Penal, em seu artigo 1º, além de
arma e o local da morte. apresentar a conceituação de crime, trouxe também a definição de
contravenção penal da seguinte forma:
INFRAÇÃO PENAL: ELEMENTOS, ESPÉCIES, SUJEITO Decreto-Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941
ATIVO E SUJEITO PASSIVO. CLASSIFICAÇÃO DOS CRI- Art. 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina
MES pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alter-
nativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a
A infração penal pode ser conceituada como toda conduta pre- infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
viamente prevista em lei como ilícita, para qual se estabelece uma simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
pena. (Grifo nosso)
As infrações penais se subdividem em duas espécies: CRIMES e
CONTRAVENÇÕES PENAIS. Nota-se que o legislador diferenciou o crime e a contravenção
penal basicamente com relação a pena aplicada, sendo considerado
1) Crime: crime as infrações mais graves (punidas com reclusão ou detenção)
A Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914, de 9 e contravenção as infrações mais leves (punidas com prisão simples
de dezembro de 1941), em seu artigo 1º, conceituou o crime da se- e multa).
guinte forma:“Considera-se crime a infração penal que a lei comina Outra diferença entre os dois institutos é que no crime pune-se
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alterna- a tentativa, já na contravenção a tentativa não é punível.
tiva ou cumulativamente com a pena de multa; (...) Por fim, nos crimes o tempo de cumprimento das penas priva-
Já a doutrina majoritária, que adota o conceito analítico de cri- tivas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos, já na
me, defende que crime étodo fato típico, antijurídico e culpável. contravenção penal a pena de prisão simples pode chegar no máxi-
Nota-se que o conceito analítico é majoritariamente tripartite, visto mo a 05 (cinco) anos e é cumprida sem rigor penitenciário.
que considera que o crime possui 3 elementos ou requisitos: o fato
típico, a ilicitude e a culpabilidade.
O FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS. CRIME CONSU-
Elementos do Crime MADO E TENTADO. CONCURSO DE CRIMES. ILICITUDE
Sobre os elementos do crime, a doutrina destaca duas teorias: E CAUSAS DE EXCLUSÃO. PUNIBILIDADE. EXCESSO
PUNÍVEL. CULPABILIDADE (ELEMENTOS E CAUSAS DE
a) Teoria Bipartida:para esta teoria crime é todo fato típico e EXCLUSÃO).ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO. DE-
antijurídico (ilícito). Considera, portanto, como elementos do crime SISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ,
apenas o fato típico e a antijuridicidade/ilicitude. A culpabilidade ARREPENDIMENTO POSTERIOR E CRIME IMPOSSÍVEL.
para esta teoria é mero pressuposto para aplicação da pena e não IMPUTABILIDADE PENAL. CONCURSO DE PESSOAS
elemento do crime.
b) Teoria Tripartida (Corrente Majoritária):considera crime Conceito
todo fato típico, antijurídico e culpável (conceito analítico). Aqui, O crime, para a teoria tripartida, é fato típico, ilícito e culpável.
a culpabilidade também é considerada elemento do crime, junta- Alguns, entendem que a culpabilidade não é elemento do crime
mente como fato típico e a antijuridicidade. Na falta de algum des- (teoria bipartida).
ses elementos o fato não será considerado crime.
Classificações
Análise dos Elementos do Crime: (Conceito Analítico) • Crime comum: qualquer pessoa pode cometê-lo.
• Crime próprio: exige determinadas qualidades do sujeito.
- Fato Típico: toda conduta que se enquadra em um tipo penal, • Crime de mão própria: só pode ser praticado pela pessoa.
ou seja, é o fato descrito pela lei penal como crime. Quando alguém Não cabe coautoria.
pratica um fato que não está descrito em nenhum tipo penal, ele • Crime material: se consuma com o resultado.
será atípico e, portanto, não será crime. O fato típico é composto • Crime formal: se consuma independente da ocorrência do
dos seguintes elementos:Conduta; Nexo Causal;Resultado e Tipici- resultado.
dade • Crime de mera conduta: não há previsão de resultado natu-
ralístico.

250
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Fato Típico e Teoria do Tipo Por algum tempo a teoria da equivalência dos antecedentes foi
O fato típico divide-se em elementos: criticada, no sentido de até onde vai a sua extensão?! Em resposta
• Conduta humana; a isso, ficou definido que como filtro o dolo. Ou seja, só será consi-
• Resultado naturalístico; derada causa a conduta que é indispensável ao resultado e que foi
• Nexo de causalidade; querida pelo agente. Assim, toda conduta que leva ao resultado do
• Tipicidade. crime deve ser punida, desde que haja dolo ou culpa.
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,
▪ Teorias que explicam a conduta somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Teoria Causal- Teoria Finalista Em contraposição a essa teoria, existe a Teoria da Causalidade
Teoria Social Adequada, adotada parcialmente pelo sistema brasileiro. Trata-se
Naturalística (Hans Welzel)
de hipótese de concausa superveniente relativamente indepen-
Conduta é ação dente que, por si só, produz o resultado.
Conduta como Ação humana
voluntária (dolosa ou Mas pera... O que é uma concausa? Circunstância que atua pa-
movimento voluntária com
culposa) destinada a ralelamente à conduta do agente em relação ao resultado. As con-
corporal. relevância social.
uma finalidade. causas absolutamente independentes são aquelas que não se jun-
tam à conduta do agente para produzir o resultado, e podem ser:
A teoria finalista da conduta foi adotada pelo Código Penal, • Preexistentes: Já tinham colocado veneno no chá do meu de-
pois como veremos adiante o erro constitutivo do tipo penal exclui safeto quando eu vou matá-lo.
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em • Concomitantes: Atiro no meu desafeto, mas o teto cai e mata
lei. Isso demonstra que o dolo e a culpa se inserem na conduta. ele.
A conduta humana pode ser uma ação ou omissão. Há também • Supervenientes: Dou veneno ao meu desafeto, mas antes de
o crime omissivo impróprio, no qual a ele é imputado o resultado, fazer efeito alguém o mata.
em razão do descumprimento do dever de vigilância, de acordo
com a TEORIA NATURALÍSTICO-NORMATIVA. Consequência em todas as hipóteses de concausa absoluta-
Perceba a diferença: mente independente: O AGENTE SÓ RESPONDE POR TENTATIVA,
• Crime comissivo = relação de causalidade física ou natural PORQUE O RESULTADO SE DEU POR CAUSA ABSOLUTAMENTE IN-
que enseja resultado naturalístico, ex. eu mato alguém. DEPENDENTE. SE SUBTRAIR A CONDUTA DO AGENTE, O RESULTA-
• Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio) = relação DO TERIA OCORRIDO DE QUALQUER JEITO (TEORIA DA EQUIVALÊN-
de causalidade normativa, o descumprimento de um dever leva ao CIA DOS ANTECEDENTES).
resultado naturalístico, ex. uma babá fica no Instagram e não vê a Até aí fácil né? Mas agora vem o pulo do gato! Existem as con-
criança engolir produtos de limpeza – se tivesse agido teria evitado causas relativamente independentes, que se unem a outras cir-
o resultado. cunstâncias para produzir o resultado.
• Preexistente: O agente provoca hemofilia no seu desafeto,
O dever de agir incumbe a quem? já sabendo de sua doença, que vem a óbito por perda excessiva de
sangue. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e ele teve
A quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma-
vigilância, ex. os pais. do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
A quem tenha assumido a responsabilidade de impedir o • Concomitante: Doses de veneno se unem e levam a óbito
resultado, ex. por contrato. a vítima. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e existe
dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma-
A quem com o seu comportamento anterior, criou o risco
do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
da ocorrência do resultado (norma de ingerência), ex. trote de
• Superveniente: Aqui tudo muda, pois é utilizada a teoria da
faculdade.
causalidade adequada. Se a concausa não é um desdobramento
natural da conduta, o agente só responde por tentativa, ex. eu dou
Quanto ao resultado naturalístico, é considerado como mu-
um tiro no agente, mas ele morre em um acidente fatal dentro da
dança do mundo real provocado pela conduta do agente. Nos cri-
ambulância. Todavia, se a concausa é um desdobramento da con-
mes materiais exige-se um resultado naturalístico para a consuma-
duta do agente, ele responde pelo resultado, ex. infecção generali-
ção, ex. o homicídio tem como resultado naturalístico um corpo
zada gerada pelo ferimento do tiro (homicídio consumado).
sem vida.
Nos crimes formais, o resultado naturalístico pode ocorrer,
Agora vem a cereja do bolo, com a Teoria da Imputação Ob-
mas a sua ocorrência é irrelevante para o Direito Penal, ex. auferir
jetiva (Roxin). Em linhas gerais, nessa visão, só ocorre imputação
de fato vantagem no crime de corrupção passiva é mero exauri-
ao agente que criou ou aumentou um risco proibido pelo Direito,
mento.
desde que esse risco tenha ligação com o resultado. Ex. Eu causo
Já os crimes de mera conduta são crimes em que não há um
um incêndio na casa do meu desafeto, serei imputada pelo incên-
resultado naturalístico, ex. invasão de domicílio – nada muda no
dio, não pela morte de alguém que entrou na casa para salvar bens.
mundo exterior.
Mas não confunda! O resultado normativo/jurídico ocorre em
todo e qualquer crime, isto é, lesão ao bem jurídico tutelado pela
norma penal.
O nexo de causalidade consiste no vínculo que une a conduta
do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo exterior.
No Brasil adotamos a Teoria da Equivalência dos Antecedentes
(conditio sine qua non), que considera causa do crime toda condu-
ta sem a qual o resultado não teria ocorrido.

251
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Explicando melhor, para a teoria da imputação objetiva, a im- Crime Culposo
putação só pode ocorrer quando o agente tiver dado causa ao fato No crime culposo, a conduta do agente viola um dever de cui-
(causalidade física), mas, ao mesmo tempo, haja uma relação de dado:
causalidade normativa, isto é, criação de um risco não permitido • Negligência: o agente deixa de fazer algo que deveria.
para o bem jurídico que se pretende tutelar. • Imprudência: o agente se excede no que faz.
• Imperícia: O agente desconhece uma regra técnica profissio-
Criar ou aumentar um risco + O risco deve ser proibido pelo nal, ex. o médico dá um diagnóstico errado ao paciente que vem a
Direito + O risco deve ser criado no resultado receber alta e falecer.

Por fim, a tipicidade consiste na subsunção – adequação da • Requisitos do crime culposo


conduta do agente a uma previsão típica. Algumas vezes é necessá- a) Conduta Voluntária: o fim da conduta pode ser lícito ou ilíci-
rio usar mais de um tipo penal para fazer a subsunção (conjugação to, mas quando ilícito não é o mesmo que se produziu (a finalidade
de artigos). não é do resultado).
Ainda dentro do fato típico, vamos analisar dolo e culpa. Com o b) Violação de um dever objetivo de cuidado: negligência, im-
finalismo (Hans Welzel), o dolo e a culpa, que são elementos subje- prudência, imperícia.
tivos, foram transportados da culpabilidade para o fato típico (con- c) Resultado naturalístico involuntário (não querido).
duta). Assim, a conduta passou a ser definida como ação humana d) Nexo causal.
dirigida a um fim. e) Tipicidade: o fato deve estar previsto como crime culposo
Crime Doloso expressamente.
• Dolo direto = vontade livre e consciente de praticar o crime. f) Previsibilidade objetiva: o homem médio seria capaz de pre-
• Dolo eventual = assunção do risco produzido pela conduta. ver o resultado.

Perceba que no dolo eventual existe consciência de que a con- Culpa Consciente Culpa Inconsciente
duta pode gerar um resultado criminoso, e mesmo diante da proba-
bilidade de dar algo errado, o agente assume esse risco. O agente prevê o resultado O agente não prevê que o
como possível, mas acredita resultado possa ocorrer. Só tem a
sinceramente que este não previsibilidade objetiva, mas não
Vontade de praticar a conduta irá ocorrer. subjetiva.
Dolo genérico descrita no tipo penal sem
nenhuma outra finalidade Culpa Própria Culpa Imprópria
Dolo específico O agente pratica a conduta típica O agente quer o resultado, mas
(especial fim de agir) por alguma razão especial. acha que está amparado por
Dolo direto de primeiro A vontade é direcionada para a O agente não quer o uma excludente de ilicitude ou
grau produção do resultado. resultado criminoso. culpabilidade.
Consequência: exclui o dolo, mas
O agente possui uma vontade, mas imputa culpa.
sabe que para atingir sua finalidade
existem efeitos colaterais que irão Não existe no Direito Penal brasileiro compensação de culpas,
Dolo direto de necessariamente lesar outros bens de maneira que cada um deve responder pelo o que fez. Outro pon-
segundo grau (dolo jurídicos. to interessante é que o crime preterdoloso é uma espécie de crime
de consequências Ex. dolo direto de primeiro grau é qualificado pelo resultado. No delito preterdoloso, o resultado que
necessárias) atingir o Presidente, dolo direto de qualifica o crime é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resul-
segundo grau é atingir o motorista tado que ocorreu.
do Presidente, ao colocar uma O crime material consumado exige conduta + resultado natura-
bomba no carro. lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por
Ocorre quando o agente, não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre-
acreditando ter alcançado seu sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa
Dolo geral, por erro objetivo, pratica nova conduta, com pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso
sucessivo, aberratio finalidade diversa, mas depois se do pretendido pelo agente no momento da prática criminosa.
causae (erro de relação constata que esta última foi a que Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen-
de causalidade) efetivamente causou o resultado. te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra
Ex. enforco e depois atiro no lago, e norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo
a vítima morre de afogamento. penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a exe-
cução penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do
O dolo antecedente é o que se dá agente o resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente
antes do início da execução. O dolo é punido pelo crime, mas de forma tentada.
atual é o que está presente durante
Dolo antecedente, atual a execução. O dolo subsequente Crime Preterdoloso
e subsequente ocorre quando o agente inicia a O crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado pelo
conduta com finalidade lícita, mas resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime
altera o seu ânimo e passa a agir de é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resultado que ocorreu.
forma ilícita. Como consequência, o crime preterdoloso não admite tentativa, já
que o resultado é involuntário.

252
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Erro de Tipo • Erro sobre o objeto (Error in objecto): imagine que o agente
deseja furtar uma valiosa obra de arte, mas acaba subtraindo um
▪ Erro de tipo essencial quadro de pequeno valor, por confundir-se. Consequência: o agen-
O agente desconhece algum dos elementos do tipo penal. Ou te responde pelo o que efetivamente fez.
seja, há uma representação errônea da realidade, na qual o agente
acredita não se verificar a presença de um dos elementos essenciais ▪ Erro determinado por terceiro
que compõe o tipo penal. Quem nunca pegou a coisa de alguém O agente erra porque alguém o induz a isso, de maneira que o
pensando que era sua?! Cometeu furto? Não, pois faltou você sa- autor mediato (quem provocou o erro) será punido. O autor ime-
ber que a coisa era alheia. O erro de tipo exclui o dolo e a culpa (se diato (quem realiza) é mero instrumento, e só responderá caso fi-
foi um erro perdoável/escusável) ou exclui o dolo e o agente só car demonstrada alguma forma de culpa.
responde por culpa, se prevista (no caso de erro inescusável).
Outros exemplos: não sabe que o agente é funcionário público, Iter Criminis
em desacato; não sabe que é garantidor em crime comissivo por Iter Criminis significa caminho percorrido pelo crime. A cogita-
omissão; erro sobre o elemento normativo, ex. justa causa. ção (fase interna) não é punida – ninguém pode ser punido pelos
Não restam mais dúvidas, certo? Erro de tipo é erro sobre a seus pensamentos. Os atos preparatórios, em regra, também, não
existência fática de um dos elementos que compõe o tipo penal. são punidos.
▪ Erro de tipo acidental
Aqui o erro ocorre na execução ou há um desvio no nexo causal A partir do início da execução do crime, o agente sofre punição.
da conduta com o resultado. Caso complete o que é dito pelo tipo penal, o crime estará consu-
• Erro sobre a pessoa: O agente pratica o ato contra pessoa mado; caso não se consume por circunstâncias alheias à vontade
diversa da pessoa visada, por confundi-la com o seu alvo, que nem do agente, pune-se a tentativa.
está no local dos fatos. Consequência: o agente responde como se
tivesse praticado o crime contra a pessoa visada (teoria da equiva- Tentativa
lência). O crime material consumado exige conduta + resultado natura-
• Erro sobre o nexo causal: o resultado é alcançado mediante lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por
um nexo causal diferente daquele que planejou. não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre-
a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: com um ato o sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa
agente produz o resultado, apesar do nexo causal ser diferente, ex. pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso
eu disparo contra o meu desafeto, mas ele morre afogado ao cair do pretendido pelo agente no momento da prática criminosa.
na piscina. Consequência: o agente responde pelo o que efetiva- Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen-
mente ocorreu (morte por afogamento). te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra
b) Dolo geral/aberratio causae/dolo geral ou sucessivo: O norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo
agente acredita que já ocorreu o resultado pretendido, então, pra- penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a exe-
tica outro ato (+ de 1 ato). Ao final verifica-se que o último ato foi o cução penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do
que provocou o resultado. Consequência: o agente responde pelo agente o resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente
nexo causal efetivamente ocorrido, não pelo pretendido. é punido pelo crime, mas de forma tentada.
O CP adotou a teoria dualística/realista/objetiva da punibi-
• Erro na execução (aberratio ictus): é o famoso erro de pon- lidade da tentativa. Assim, a pena do crime tentado é a pena do
taria, no qual a pessoa visada e a de fato acertada estão no mesmo crime consumado com diminuição de 1/3 a 2/3 (varia de acordo o
local. quanto chegou perto do resultado). Isso ocorre porque o desvalor
a) Erro sobre a execução com unidade simples (aberratio ic- do resultado para a sociedade é menor.
tus de resultado único): O agente somente atinge a pessoa diversa — Tentativa branca ou incruenta = o agente não atinge o bem
da pretendida. Consequência: responde como se tivesse atingido a que pretendia lesar;
pessoa visada. — Tentativa vermelha ou cruenta = o agente atinge o bem que
pretendia lesar;
b) Erro sobre a execução com unidade complexa (aberratio — Tentativa perfeita = o agente completa os atos de execução;
ictus de resultado duplo): O agente atinge a vítima pretendida, e, — Tentativa imperfeita = o agente não esgota os meios de
também, a vítima não pretendida. Consequência: responde pelos execução.
dois crimes em concurso formal.
▪ Crimes que não admitem tentativa
• Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido • Culposo (é involuntário);
(aberratio delicti ou aberratio criminis): o agente pretendia come- • Preterdoloso (o resultado é involuntário);
ter um crime, mas por acidente ou erro na execução acaba come- • Unissubsistente (um ato só);
tendo outro (relação pessoa x coisa ou coisa x pessoa). • Omissivo puro (não dá para tentar se omitir);
a) Com unidade simples: O agente atinge apenas o resultado • Perigo abstrato (só de gerar o perigo o crime se consuma);
não pretendido. Ex. uma pessoa é visada, mas uma coisa é atin- • Contravenção (a lei quis assim);
gida – responde pelo dolo em relação a pessoa, na forma tentada • De atentado/empreendimento (a tentativa já gera consuma-
(tentativa de homicídio, tentativa de lesão corporal). Ex. Uma coisa ção);
é visada, mas a pessoa é atingida – responde apenas pelo resultado • Habitual (atos isolados são indiferentes penais).
ocorrido em relação à pessoa, de forma culposa (homicídio culpo-
so, lesão corporal culposa).
b) Com unidade complexa: O agente atinge tanto a pessoa
quanto a coisa. Consequência: responde pelos dois crimes em con-
curso formal.

253
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz a) Estado de Necessidade:
Ambas afastam a tipicidade do dolo inicial e o agente só res- Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica
ponde pelo o que fez (danos que efetivamente causou). o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vonta-
• Na desistência voluntária, o agente voluntariamente desiste de, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
de dar sequência aos atos executórios iniciados, mesmo podendo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
fazê-lo (fórmula de Frank). O resultado não se consuma por desis- § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
tência do agente. dever legal de enfrentar o perigo.
• No arrependimento eficaz, o agente pratica todos os atos de § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ame-
execução, mas após isto se arrepende e adota medidas que impe- açado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
dem a consumação.
De acordo com a TEORIA UNITÁRIA, o bem jurídico protegido
Atenção: se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado. Ex. vida x vida. Se
responde pelo crime com uma atenuante genérica. compromete um bem de maior valor para salvar um bem de menor
Atenção: se o crime for cometido em concurso de pessoas e valor incide uma causa de diminuição de pena (-1/3 a 2/3).
somente um deles realiza a conduta de desistência voluntária ou Requisitos:
arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos de- — Perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro;
mais. Motivo: Trata-se de exclusão da tipicidade, o crime não foi — Conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio para
cometido, respondendo todos apenas pelos atos praticados até salvar o próprio ou do terceiro;
então. — A situação de perigo não pode ter sido criada voluntaria-
mente pelo agente;
Arrependimento Posterior — O perigo tem que estar ocorrendo (atual);
É uma causa de diminuição de pena para o crime já consuma- — O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o resul-
do, desde que: tado, ex. bombeiro;
1. Crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, — A conduta do agente precisa ser inevitável (o bem jurídico só
ou culposo; pode ser salvo se ele agir);
2. O juiz ainda não recebeu a denúncia ou queixa; — A conduta do agente precisa ser proporcional (salvar bem
3. O agente reparou o dano ou restituiu a coisa voluntariamen- de valor igual ou maior).
te.
— A diminuição é de 1/3 a 2/3, a depender da celeridade e Estado de Estado de Estado de Estado de
voluntariedade do ato. necessidade necessidade necessidade necessidade
— O arrependimento posterior se comunica aos demais agen- agressivo defensivo real putativo
tes.
— Se a vítima se recusar a receber a reparação mesmo assim o Quando a
agente terá a diminuição de pena. situação de
perigo não existe
Crime Impossível (tentativa inidônea) O agente de fato, apenas
Embora o agente inicie a execução do delito, jamais o crime se prejudica o na imaginação
O agente
consumará. bem jurídico do agente.
sacrifica o
Por quê? O meio utilizado é completamente ineficaz ou o obje- de terceiro Consequência:
bem jurídico
to material do crime é impróprio para aquele crime. que não O perigo se o erro é
de quem
Ex. Ineficácia absoluta do meio = arma que não dispara. produziu o existe. escusável,
provocou o
Ex. Absoluta impropriedade do objeto = atirar em corpo sem perigo. exclui dolo e
perigo.
vida. Obs. o agente culpa; se o erro
O CP adotou a teoria objetiva da punibilidade do crime impos- precisa é inescusável,
sível, ou seja, não é punido (atipicidade). indenizar. exclui o dolo,
Câmeras e dispositivos de segurança em estabelecimentos mas responde
comerciais não tornam o crime impossível. por culpa, se
prevista.
Ilicitude
Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumprimento • Estado de necessidade recíproco é possível, se nenhum deles
de Dever Legal, Exercício Regular de Direito. provocou o perigo.
• O estado de necessidade se comunica a todos os agentes.
A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade, nos traz
a ideia de que a conduta está em desacordo com o Direito. b) Legítima Defesa:
Presente o fato típico, presume-se que o fato é ilícito. Assim, o Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mode-
ônus da prova passa a ser do acusado, ou seja, o acusado é quem radamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
vai precisar comprovar a existência de uma excludente de ilicitude. iminente, a direito seu ou de outrem.
As excludentes da ilicitude podem ser genéricas (incidem em Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput
todos os crimes) ou específicas (próprias de alguns crimes). deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de
Causas genéricas = estado de necessidade; legítima defesa; segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a víti-
exercício regular de direito; estrito cumprimento do dever legal. ma mantida refém durante a prática de crimes.
Causa supralegal de exclusão da ilicitude = consentimento do
ofendido nos crimes contra bens disponíveis.

254
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
O agente pratica um fato para repelir uma agressão injusta, • Teoria limitada da culpabilidade: A teoria normativa pura se
atual ou iminente (prestes a ocorrer), contra direito próprio ou divide em teoria extremada e teoria limitada. O que as diferencia é
alheio. Ex. o dono de um animal bravo utiliza o animal como instru- o tratamento dado ao erro sobre as causas de justificação (exclusão
mento de agressão contra outrem – o agente poderá se defender. da ilicitude), isto é, descriminantes putativas. A teoria extremada
• Cabe LD contra agressão de inimputável; defende que todo erro que recaia sobre uma causa de justificação
• Ainda que possa fugir, o agente pode escolher ficar e repelir seja equiparado ao ERRO DE PROIBIÇÃO. A teoria limitada divide
a agressão (no estado de necessidade não); o erro sobre pressuposto fático da causa de justificação e o erro
• Os meios utilizados devem ser suficientes e necessários para sobre a existência ou limites jurídicos de uma causa de justificação.
repelir a injusta agressão (proporcionalidade); No primeiro caso (erro de fato) aplicam-se as regras do erro de tipo,
• Na LD putativa, o agente pensa que está sendo agredido. que aqui passa a se chamar erro de tipo permissivo. No segundo
Consequência: se o erro é escusável, exclui dolo e culpa; se o erro caso (erro sobre a ilicitude da conduta) aplicam-se as regras do erro
é inescusável, exclui o dolo, mas responde por culpa, se prevista. de proibição.
• É possível que ocorra LD sucessiva, ex. A agride B, B repele a
agressão de forma excessiva, A passa ter o direito de agir em LD em Obs.: O CP adota a teoria normativa pura limitada, ou seja, se-
razão do excesso (agressão injusta). para o erro de tipo do erro de proibição.
• Se o bem é indisponível, a vontade do dono (consentimento)
é indiferente para a atuação da LD de terceiro. ▪ Elementos da culpabilidade:
• Não cabe LD real em face de LD real, porque falta injusta 1. Imputabilidade Penal: Capacidade de entender o caráter ilí-
agressão. Por outro lado, pode ter LD putativa (agressão injusta) cito da conduta e autodeterminar-se conforme o Direito. Na ausên-
sucedida por LD real (repelir agressão injusta). cia de qualquer desses elementos será inimputável, de acordo com
o critério biopsicológico.
c) Estrito Cumprimento do Dever Legal: O CP também adota o critério biológico, pois os menores de 18
O agente comete um fato típico, em razão de um dever legal. anos são inimputáveis.
Mas não confunda! Quando um policial numa troca de tiros mata Lembre-se que a imputabilidade penal deve ser aferida no mo-
um bandido não age em estrito cumprimento de dever legal, mas mento que ocorreu o fato criminoso.
em LD, pois não existe o dever legal de matar, mas sim injusta Lembre-se, também, que em crime permanente só cessa a
agressão. conduta quando a vítima é liberada (ex. sequestro), logo, a idade
• O estrito cumprimento do dever legal se comunica aos de- do agente vai ser analisada até que realmente cesse a conduta, com
mais agentes. a libertação da vítima/apreensão do agente.
• Particular também pode estar amparado pelo estrito cumpri- O ordenamento jurídico prevê a completa inimputabilidade,
mento do dever legal. que exclui a culpabilidade e impõe medida de segurança (sentença
absolutória imprópria); bem como, prevê a semi-imputabilidade,
d) Exercício Regular de Direito: que enseja medida de segurança (sentença absolutória imprópria)
O agente age no legítimo exercício de um direito seu (previsto ou sentença condenatória com causa de diminuição de pena (-1/3
em lei). Ex. lutas desportivas. a 2/3).
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
EXCESSO PÚNIVEL: EM TODAS AS EXCLUDENTES DE ILICUTDE, desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo
EVENTUAL EXCESSO SERÁ PUNIDO, SEJA ELE DOLOSO OU CULPO- da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
SO! ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimen-
to.
Culpabilidade: Imputabilidade Penal, Potencial Consciência Redução de pena
da Ilicitude, Exigibilidade de Conduta Diversa Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
O último elemento da análise analítica do crime é a culpabili- se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
dade. Lembre-se, para a teoria tripartida o crime é fato típico, anti- desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteira-
jurídico e culpável. Para a teoria bipartida a culpabilidade é pressu- mente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
posto para a aplicação da pena. -se de acordo com esse entendimento.
A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade, e divide-se nas
seguintes teorias: Atenção
• Teoria Psicológica: Os causalistas acreditavam que o agente — Os índios podem ser imputáveis (integrados à sociedade),
era culpável se imputável no momento do crime e se havia agido semi-imputáveis (parcialmente integrados à sociedade) ou inimpu-
com dolo ou culpa. táveis (não integrados).
• Teoria normativa (psicológico-normativa): Além de imputá- — A conduta do sonâmbulo é atípica, pois falta conduta (dolo/
vel e com dolo ou culpa o agente tinha que estar consciente da culpa).
ilicitude e ser exigível conduta diversa. — A embriaguez acidental gera inimputabilidade (isenção de
• Teoria extremada da culpabilidade (normativa pura): Se co- pena), desde que decorrente de caso fortuito ou força maior +
aduna com a teoria finalista, pois dolo e culpa transportaram-se completa + retirar totalmente a capacidade de discernimento do
para a tipicidade (dolo subjetivo). Para essa teoria, os elementos da agente. Obs. se for parcial (retirar parcialmente a capacidade de
culpabilidade são: imputabilidade + potencial consciência da ilicitu- discernimento do agente) a pena será reduzida.
de (dolo normativo) + exigibilidade de conduta diversa. • Nos casos de embriaguez não se aplica medida de segurança,
pois o agente não é doente mental.
• A embriaguez voluntária e culposa não exclui a imputabili-
dade!
• A lei de drogas exclui a imputabilidade do inebriado patoló-
gico.

255
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
— A embriaguez preordenada (se embriaga para cometer cri- — Unidade de crime (identidade de infração): todos respon-
me) não retira a imputabilidade do agente, pelo contrário, trata-se dem pelo mesmo crime.
de circunstância agravante da pena. — Existência de fato punível: a colaboração só é punível se o
2. Potencial consciência da ilicitude: neste elemento da impu- crime for, pelo menos, tentado (princípio da exterioridade – exige
tabilidade, é verificado se a pessoa tinha a possibilidade de conhe- o início da execução).
cer o caráter ilícito do fato, de acordo com as suas características • Na autoria mediata por inimputabilidade do agente não bas-
(não como parâmetro o homem médio). ta que o executor seja inimputável, ele deve ser um instrumento do
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é pe- mandante (não ter o mínimo discernimento).
nalmente ilícita comete erro de proibição. • Na autoria mediata por erro do executor, quem pratica a con-
duta é induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proi-
3. Exigibilidade de conduta diversa: É verificado se o agente bição), ex. médico determina que enfermeira aplique uma injeção
podia agir de outro modo. Caso comprovado que não dava para tóxica no paciente alegando que é um medicamento normal.
agir de outra maneira, no caso concreto, a culpabilidade é excluída • Na autoria mediata por coação do executor existe coação
(isenção de pena). Ex. coação moral irresistível – uma pessoa coage moral irresistível, a culpabilidade é apenas do coator, não do coagi-
outra a praticar determinado crime, sob ameaça de lhe fazer algum do (inexigibilidade de conduta diversa).
mal grave. Obs. se a coação é física exclui a tipicidade pela falta de • Para ter autoria mediata em crime próprio, o autor mediato
conduta. Obs. se podia resistir a coação, recebe apenas uma ate- (mandante) precisa reunir as condições especiais exigidas pelo tipo
nuante genérica. Ex. obediência hierárquica – funcionário público penal. Se o mandante não reúne as condições do crime próprio há
cumpre ordem não manifestamente ilegal emanada pelo seu su- autoria por determinação, punindo quem exerce sobre a conduta
perior (isenção de pena). Obs. se a ordem é manifestamente ilegal domínio equiparado à figura da autoria (autor da determinação da
comete crime. conduta/responsável pela sua ocorrência).
• Nos crimes de mão própria não se admite autoria mediata,
Concurso de Pessoas porque o crime não pode ser realizado por interposta pessoa. To-
O concurso de pessoas consiste na colaboração de dois ou davia, pode ter a figura do autor por determinação (pune quem
mais agentes para a prática de um delito ou contravenção penal. determinou o crime).
De acordo com a teoria monista (unitária), todos respondem pelo Autor é quem pratica a conduta descrita no núcleo do tipo pe-
mesmo crime, na medida de sua culpabilidade. Ex. 3 amigos furtam nal, todos os demais que de alguma forma prestarem colaboração
uma casa, todos respondem pelo crime de furto, mas o juiz vai va- serão partícipes. Essa teoria foi adotada pelo Código Penal e é de-
lorar a conduta de cada um de acordo com a individualidade dos nominada de teoria objetivo-formal.
agentes. No entanto, atente-se para a teoria do domínio do fato (nos
crimes dolosos), criada por Hans Welzel e desenvolvida por Claus
Roxin: o autor é todo aquele que possui domínio da conduta cri-
Concurso de pessoas
Concurso de pessoas necessário minosa, seja ele executor ou não. O importante, para essa teoria,
eventual
é que tenha o poder de decidir sobre o rumo da prática delituosa,
O tipo penal não exige a O tipo penal exige que a o cabeça do crime. O partícipe, por sua vez, é quem contribui, mas
presença de mais de uma conduta seja praticada por mais sem poder de direção. Ou seja, o controle da situação (quem pode
pessoa. de uma pessoa. intervir a qualquer momento para fazer cessar a conduta) é o crité-
rio utilizado para definir o autor.
▪ Requisitos do concurso de pessoas: A coautoria é espécie de concurso de pessoas na qual duas ou
— Pluralidade de agentes: Se um imputável determina que um mais pessoas praticam a conduta descrita no núcleo do tipo penal.
inimputável realize um crime não existe concurso de pessoas, mas Na coautoria funcional, os agentes realizam condutas diversas que
sim autoria mediata (o mandante é o autor do crime e o inimputá- se somam para produzir o resultado. Na coautoria material (direta)
vel instrumento). todos realizam a mesma conduta.
Nos crimes plurissubjetivos (concurso de pessoas necessário), • Cabe coautoria em crimes próprios (todos reúnem as condi-
se um dos colaboradores não é culpável, mesmo assim haverá cri- ções ou pelo menos tem ciência que um deles as possui), mas não
me. cabe coautoria em crime de mão própria (só participação).
Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (concurso de pes- • Nos crimes omissivos não cabe coautoria, só participação.
soas eventual) não é necessário que todos os agentes sejam cul- • Nos crimes culposos cabe coautoria, mas não participação.
páveis, basta um deles para qualificar o crime, ex. o concurso de • Na autoria mediata não há concurso entre autor mediato e
pessoas qualifica o furto, logo, se um é imputável, não importa se autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se valeu
os demais são inimputáveis, pois o furto estará qualificado. de alguém sem culpabilidade para a execução do delito. Entretan-
Nesses casos que tem inimputáveis, mas eu considero o con- to, é possível coautoria e participação na autoria mediata (vários
curso para tipificar ou qualificar o crime a doutrina os denomina de mandantes).
concurso impróprio/aparente. • Na coação física irresistível, o coator é autor direto.
— Relevância da colaboração: A participação do agente deve • Existe autoria mediata de crime próprio, mas não de crime
ser relevante para a produção do resultado. Ou seja, a colaboração de mão própria.
que em nada contribui para o resultado é um indiferente penal.
Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitante à exe-
cução. A colaboração posterior à execução enseja crime autônomo,
salvo o ajuste tenha ocorrido previamente.
— Vínculo subjetivo (concurso de vontades): Ajuste ou adesão
de um à conduta do outro. Caso não haja vínculo subjetivo entre os
agentes haverá autoria colateral, e não coautoria.

256
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Participação é modalidade de concurso de pessoas, na qual o Para fechar com chave de ouro vale abordar a autoria colate-
agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a conduta ral. O que é isso? Não se confunde com o concurso de pessoas, pois
descrita no núcleo do tipo penal. não existe acordo de vontades. Imagine que 2 pessoas atiram na
mesma vítima, mas os peritos não conseguem identificar quem efe-
tuou o disparo fatal. O resultado desta autoria incerta é que ambos
Participação Moral Participação Material
respondem de forma tentada.
Instiga (reafirma a ideia) ou Presta auxílio fornecendo Outra figura curiosa é a cooperação dolosamente distinta, que
induz (cria a ideia) em outrem. objeto ou condições para a consiste em participação em crime menos grave (desvio subjetivo
fuga (cumplicidade). de conduta). Ambos os agentes decidem praticar determinado cri-
me, mas durante a execução um deles decide praticar outro crime,
Pela teoria da adequação típica mediata, o partícipe mesmo mais grave. Aquele que escolheu praticar somente o crime inicial
sem praticar a conduta descrita no núcleo do tipo pode ser punido, só responderá por este, salvo ficar comprovado que podia prever a
uma vez que, as normas de extensão da adequação típica possibili- ocorrência do crime mais grave. Neste último caso, a pena do crime
tam o raio de aplicação do tipo penal. Ou seja, soma o art. do crime inicial é aumentada até a metade.
+ o art. 29 do CP = o resultado é conseguir punir o partícipe. Obs.: No concurso de multidão criminosa, quem lidera o crime
Conforme a teoria da acessoriedade, o partícipe é punido mes- terá pena agravada e quem adere a conduta tem a pena atenuada.
mo que sua conduta seja considerada acessória em relação ao au- Há concurso de pessoas, pois existe vínculo subjetivo, no sentido
tor. Vejamos: de que um adere a conduta do outro, mesmo que de forma tácita.
Teoria da Teoria da A pena no Brasil tem uma finalidade mista, isto é, retributiva e
Teoria da Teoria da preventiva. A finalidade retributiva (teoria absoluta) coloca a pena
acessoriedade acesso-
acessoriedade hiperacesso- como um castigo. Já a teoria relativa tem como objetivo evitar no-
limitada riedade
mínima riedade vas infrações penais. Dentro da teoria relativa existe a prevenção
(adotada) máxima
geral e a prevenção especial.
Exige que O • Prevenção geral (direcionada à sociedade): negativa = intimi-
a conduta partícipe Exige que o dação pela pena; positiva = demonstra a vigência da lei penal.
A conduta
principal seja só é fato principal • Prevenção especial (direcionada ao condenado): negativa =
principal só
típica e ilícita. punido seja típico, evita a reincidência; positiva = busca a ressocialização.
precisa ser
Recorda que se o fato ilícito,
típica para a
as excludentes principal culpável e Espécies de penas: privativa de liberdade; restritiva de direi-
punição do
de ilicitude se for típico, o autor seja tos; multa.
partícipe.
comunicam?! ilícito e punido. Dentro da pena privativa de liberdade, existe a possibilidade
Ahá! culpável. da reclusão ou detenção. A reclusão pode ser cumprida no regime
fechado, semiaberto ou aberto. Já a detenção só pode iniciar-se
— A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a participação nos regimes semiaberto ou aberto, podendo regredir para regime
é de menor importância. fechado.
— A doutrina admite participação nos crimes comissivos por
omissão, quando o partícipe devia e podia evitar o resultado.
Regime Fechado Regime Semiaberto Regime Aberto
— Participação inócua não se pune, ex. eu emprestei a arma A execução da pena
para o agente, mas ele matou com o uso de veneno. acontece em casa
A execução
— Participação em cadeia é possível, ex. eu empresto a arma de albergado ou
da pena
para A, para este emprestar para B e matar a vítima. Eu e A somos estabelecimento
acontece em
partícipes de B. adequado.
estabelecimento
Baseia-se na
de segurança
Comunicam-se: Não se comunicam: autodisciplina
máxima ou
e sendo de
Elementares do crime Circunstâncias subjetivas média. A execução da pena
responsabilidade do
(caracteriza o crime) e (influencia a pena de acordo Exige exame acontece em colônia
condenado, quem
circunstâncias objetivas com a pessoa do agente) e criminológico. agrícola, industrial
deverá trabalhar,
(influencia a pena de acordo condições de caráter pessoal Há trabalho no ou estabelecimento
frequentar curso
com o fato). (relativas à pessoa do agente). período diurno similar.
ou exercer outra
(em comum Trabalho comum
atividade autorizada
Preste atenção, circunstâncias e condições de caráter pessoal dentro do durante o dia, sendo
(fora e sem
não se comunicam. Por outro lado, as circunstâncias de caráter real estabelecimento) possível, também, o
vigilância), devendo
ou objetivas (se referem ao fato), se comunicam, sob uma condi- e isolamento trabalho externo e a
permanecer
ção: é necessário que a circunstância tenha entrado na esfera de durante o frequência a cursos.
recolhido durante o
conhecimento dos demais agentes. Ex. A informa o seu partícipe repouso noturno.
período noturno e
que usará emboscada para matar, ambos respondem por essa qua- Obs.: trabalho
nos dias de folga.
lificadora. externo é
Regredirá de regime,
Outro ponto interessante é que elementares sempre se comu- admissível em
se praticar crime
nicam, sejam objetivas ou subjetivas, desde que tenham entrado serviços/obras
doloso, frustrar os
na esfera de conhecimento do partícipe. públicas.
fins da execução ou
não pagar a multa.

257
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Condenado a pena superior a 8 anos começa em regime fe- A pena de multa dirige-se ao Fundo Penitenciário, tem como
chado. valor de 1/30 de salário-mínimo a 5 salários-mínimos, durante de
• Condenado, não reincidente, a pena superior a 4 anos e não 10 a 360 dias. Após o trânsito em julgado, a pena de multa deve ser
exceda a 8 anos, poderá cumpri-la em regime semiaberto. paga em 10 dias. Todavia, o juiz pode considerar o parcelamento. A
• Condenado, não reincidente, a pena igual ou inferior a 4 anos execução da multa ocorre perante o juiz da execução penal e é con-
pode cumpri-la em regime aberto. O reincidente, neste caso, pode siderada dívida de valor (aplicadas normas da dívida ativa). Como a
iniciar o cumprimento no regime semiaberto. multa é uma pena, se sobrevém ao condenado doença mental, será
• O art. 59 do CP é usado para definir o início do cumprimento suspensa a execução.
da pena. A multa pode ser aumentada até o TRIPLO, se o juiz considerar
• O condenado por crime contra a Administração Pública terá que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, mesmo
a progressão condicionada à reparação do dano. que aplicada no patamar máximo.
Na fixação da pena privativa de liberdade utilizamos o método
Regime Especial = Prisão da mulher trifásico, no qual, primeiro o juiz avalia as circunstâncias judiciais
Em caso de superveniência de doença mental, o condenado (art. 59), depois agravantes e atenuantes (art. 61 a 67) e no fim
a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de causas de aumento e diminuição de pena (frações legais). Obs.: em
custódia e tratamento psiquiátrico. concurso de causas de aumento e diminuição de pena previstas na
O tempo de prisão provisória, prisão administrativa e interna- parte especial do código, pode o juiz limitar-se a um aumento ou a
ção computam-se na pena privativa de liberdade e na medida de uma diminuição, prevalecendo a causa que mais aumente ou mais
segurança, de acordo com o instituto da detração. diminua.
As penas restritivas de direitos dividem-se em:
• Prestação pecuniária: pagamento em dinheiro à vítima ou ▪ Circunstâncias Judiciais
entidade (pública ou privada social) de 1 a 360 salários-mínimos. O Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à
valor pago será deduzido de eventual indenização, se coincidentes conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circuns-
os beneficiários. A prestação não precisa ser em dinheiro. tâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento
• Perda de bens e valores: pagamento ao Fundo Penitenciário da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
Nacional, tendo como teto o montante do prejuízo causado ou do reprovação e prevenção do crime:
provento obtido (o que for maior). I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
• Prestação de serviços à comunidade: aplica-se a condena- III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liber-
ções superiores a 6 meses de privação de liberdade. As tarefas de- dade;
vem ser cumpridas em 1h por dia de condenação. Se a pena for IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por
superior a 1 ano, o condenado pode cumprir a pena substitutiva em outra espécie de pena, se cabível.
menor tempo, nunca inferior à metade da pena fixada.
• Interdição temporária de direitos: proibição de exercer ati- ▪ Agravantes e Atenuantes
vidade pública ou profissão que dependa de autorização do poder Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quan-
público, suspensão para dirigir, proibição de frequentar determina- do não constituem ou qualificam o crime:
dos lugares, proibição de inscrever-se em exame público. I - a reincidência;
• Limitação de fim de semana: permanecer aos sábados do- II - ter o agente cometido o crime:
mingos por 5h em casa de albergado. a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impu-
As penas restritivas de direito são autônomas e substitutivas. nidade ou vantagem de outro crime;
Para conseguir substituir a pena privativa de liberdade imposta por c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro
uma pena restritiva de direitos, o condenado precisa reunir os se- recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;
guintes requisitos: d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro
— A pena não pode ser superior a 4 anos; meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
— Sem violência ou grave ameaça; e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
— Não reincidência em crime doloso específico; f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
— O art. 59 do CP ser favorável a essa conversão. domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência
contra a mulher na forma da lei específica;
Obs.: o crime culposo pode ser substituído independentemen- g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo,
te da quantidade de pena. ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mu-
Condenação igual ou inferior a 1 ano recebe em substituição 1 lher grávida;
multa ou 1 restritiva de direitos. Condenação superior a 1 ano rece- i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da auto-
be em substituição 1 multa + 1 restritiva de direitos ou 2 restritivas ridade;
de direitos. j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer
Em caso de descumprimento injustificado da restrição impos- calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido;
ta, a pena restritiva de direitos é reconvertida em privativa de liber- l) em estado de embriaguez preordenada.
dade. Será deduzido o tempo cumprido, mas ficará em privação de
liberdade por pelo menos 30 dias.

258
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Agravantes no caso de concurso de pessoas Os requisitos objetivos são: pena privativa de liberdade aplica-
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente da na sentença não superior a 2 anos. Os requisitos subjetivos são:
que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a não seja caso de pena substituída por restritiva de direitos, o réu
atividade dos demais agentes; II - coage ou induz outrem à execu- não seja reincidente em doloso, a culpabilidade, os antecedentes, a
ção material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos
alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de con- e as circunstâncias do crime autorizem a concessão do benefício.
dição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nele participa, O período de prova dura de 2 a 4 anos, salvo se tratar de sursis
mediante paga ou promessa de recompensa. etário ou humanitário, pois neste caso, o prazo dura de 4 a 6 anos.
A revogação é obrigatória (art. 81 do Código Penal) em caso
Reincidência de superveniência de condenação irrecorrível pela prática de crime
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete doloso, não reparação do dano e descumprimento das condições
novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País do sursis (condições do primeiro ano). A revogação é facultativa
ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. (art. 81, § 1º, CP) em caso de superveniência de condenação irre-
Art. 64 - Para efeito de reincidência: I - não prevalece a con- corrível pela prática de contravenção penal ou crime culposo, bem
denação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da como o cumprimento de qualquer condição judicial.
pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo supe- Livramento Condicional
rior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão É o benefício que permite ao condenado à pena privativa de
ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação; II - não se liberdade superior a 2 anos a liberdade antecipada, condicional e
consideram os crimes militares próprios e políticos. precária, desde que cumprida parte da reprimenda imposta e se-
Circunstâncias atenuantes jam observados os demais requisitos legais. Considera-se a última
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser etapa da execução, com liberdade responsável e reinserção social.
o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 Os requisitos objetivos são: condenado a pena privativa de
(setenta) anos, na data da sentença; II - o desconhecimento da lei; liberdade igual ou superior a 2 anos, reparação do dano, cumpri-
III - ter o agente: mento de 1/3 da pena ou ½ da pena em caso de reincidente em
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou crime doloso ou 2/3 da pena em caso de condenado não reinci-
moral; dente em crime hediondo. Os requisitos subjetivos se baseiam no
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, seu bom comportamento (não ter cometido falta grave nos últimos
logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou 12 meses, bom desempenho no trabalho) e aptidão para prover a
ter, antes do julgamento, reparado o dano; própria subsistência pelo trabalho honesto.
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cum- A revogação é obrigatória em caso de condenação irrecorrível
primento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de à pena privativa de liberdade. E, facultativa, em caso de condena-
violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; ção irrecorrível por crime ou contravenção, à pena não privativa de
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a au- liberdade, bem como o descumprimento das condições impostas.
toria do crime; Atente-se que o Pacote Anticrime alterou o instituto do Livra-
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, mento Condicional, de maneira que agora exige-se o NÃO COME-
se não o provocou. TIMENTO DE FALTA GRAVE NOS ÚLTIMOS 12 MESES PARA A CON-
CESSÃO DO BENEFÍCIO.
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de cir-
cunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não Efeitos da Condenação
prevista expressamente em lei. Quanto aos efeitos da condenação genéricos, exige-se:
• Indenização de danos;
Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes • Perda em favor da União dos instrumentos ilícitos utilizados
Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve no crime e o produto do crime (ou equivalente).
aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderan- •Se a pena máxima for superior a 6 anos de reclusão, pode ser
tes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos deter- decretada a perda dos bens correspondentes à diferença entre o
minantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível
com o seu rendimento lícito.
Com o Pacote Anticrime, o tempo de cumprimento da pena
privativa de liberdade não pode ser superior a 40 anos. Inclusive, Quanto aos efeitos específicos (dependem de motivação),
quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade pode ocorrer:
cuja soma ultrapasse 40 anos, devem elas serem unificadas para • Perda do cargo se a pena é igual ou superior a 1 ano, nos cri-
atender este limite. E, sobrevindo condenação por fato posterior ao mes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com
início do cumprimento, deve ser feita nova unificação, desprezado a Administração, ou, a pena é superior a 4 anos, nos demais casos.
o período de pena já cumprido. • A incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela
ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão co-
Suspensão Condicional da Pena metidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder fami-
Sursis é a suspensão condicional da pena privativa de liberda- liar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou
de, na qual o réu se submete durante o período de prova (lapso curatelado.
temporal) à fiscalização e ao cumprimento de condições judicial- • A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como
mente estabelecidas. Cuida-se de execução mitigada da pena pri- meio para a prática de crime doloso.
vativa de liberdade, uma vez que, o condenado cumpre a pena que
lhe foi imposta, mas de forma menos gravosa.

259
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Reabilitação II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito
A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos anos e não excede a doze;
do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro
sua execução, computando-se o período de prova da suspensão anos e não excede a oito;
e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos
que o condenado: e não excede a quatro;
I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido (2 anos); V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou,
II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e sendo superior, não excede a dois;
constante de bom comportamento público e privado; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um)
III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre ano.
a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exi- Mas você deve estar pensando, quando o prazo começa a cor-
ba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da rer?
dívida. • Do dia em que o crime se consumou;
Medidas de Segurança • Do último ato de execução;
O inimputável recebe medida de segurança. Se for extinta a sua • Do dia em que cessou a permanência;
punibilidade, ex. prescreveu, não será imposta medida de seguran- • Nos crimes de falsificação de registro civil e bigamia, do dia
ça, pois não deixa de ser uma restrição na liberdade do indivíduo. em que se tornou conhecido;
A medida de segurança tem como prazo máximo 40 anos, as- • Nos crimes contra a dignidade sexual de criança e adolescen-
sim como já dito para os crimes em geral. O que determina o perí- te, ao completar 18 anos, salvo se já iniciada a ação penal.
odo de internação ou tratamento ambulatorial é a periculosidade
do agente. O prazo mínimo varia de 1 a 3 anos. A perícia deve ser ▪ Causas de suspensão do prazo
realizada nesse lapso e repetida de ano a ano, bem como sempre Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a pres-
que o juiz da execução entender necessário. crição não corre:
A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional de- I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que
vendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do dependa o reconhecimento da existência do crime;
decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
sua periculosidade. III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos
O Código Penal divide a medida de segurança em duas espé- aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e
cies: IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não
persecução penal
Internação em hospital Tratamento ambulatorial Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença
de custódia e tratamento (se há previsão de detenção no condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
psiquiátrico crime) condenado está preso por outro motivo.
▪ Causas de interrupção do prazo (zera e volta a contar)
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
Por fim, o Código traz as hipóteses de EXTINÇÃO DA PUNIBI-
II - pela pronúncia;
LIDADE:
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
• Morte do agente;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios re-
• Anistia, graça e indulto;
corríveis.
• Abolitio criminis;
• Prescrição, decadência, perempção;
Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa
• Renúncia do direito de queixa ou perdão aceito, nos crimes
Nessa PPP, usa a pena aplicada (não mais em abstrato), quando
de ação privada;
transitar em julgado para a acusação, ou seja, a pena não pode mais
• Retratação do agente, nos casos em que a lei permite;
ser aumentada. Entre uma causa de interrupção e outra, analisa-se
• Perdão judicial, nos casos previstos em lei.
se ocorreu a prescrição, partindo do recebimento da denúncia. Ex.
você vai pegar a pena aplicada e jogar na tabelinha do art. 109, en-
O mais importante é conhecer sobre a prescrição penal. O que
tão, vai retroativamente verificar se entre os marcos interruptivos
é? Consiste na perda, em face do decurso do tempo, do direito de o
já passou o lapso temporal da prescrição.
Estado punir (PPP) ou executar a punição já imposta (PPE).
PPP = prescrição da pretensão punitiva – ocorre antes do trân-
Prescrição da Pretensão Punitiva Superveniente
sito em julgado e impede efeito penal e extrapenal de eventual
Essa PPP também usa a pena aplicada em concreto (joga na
condenação.
tabelinha do art. 109), mas diferente da modalidade anterior ela
PPE = prescrição da pretensão executória – ocorre após o trân-
não retroage, mas sim é contada para frente. Você precisa verificar
sito em julgado e impede somente a execução da pena.
se o lapso da prescrição ocorreu entre o trânsito em julgado para a
acusação e o trânsito em julgado definitivo.
Prescrição da Pretensão Punitiva em Abstrato
Nesta modalidade de PPP, combina-se a pena máxima com a
Obs.: O STJ não permite a prescrição da pretensão punitiva vir-
tabela do art. 109, para saber quando ocorrerá a prescrição:
tual, pois não admite pena hipotética. Não dá para prever se vai
Art. 109.A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença
prescrever, precisa aplicar as regras do CP e ver se de fato prescre-
final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se
veu ou não.
pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se:
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

260
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Prescrição da Pretensão Executória Requisitos = pluralidade de condutas + crimes da mesma espé-
Trata-se da prescrição da pena efetivamente imposta, tendo cie + tempo/lugar/modo de execução e outras semelhanças.
como pressuposto sentença condenatória transitada em julgado, Uma curiosidade quanto aos crimes da mesma espécie é que
em definitivo. precisam estar no mesmo artigo e tutelar o mesmo bem jurídico.
Atente-se para o fato que, o prazo prescricional é aumentado O tempo não pode passar de 30 dias entre as condutas. Quanto
em 1/3, caso o agente seja reincidente. a conexão espacial, os crimes devem ser cometidos no mesmo lo-
O termo inicial aqui é diferente: o trânsito em julgado para a cal, ex. cidade/região metropolitana.
acusação; dia em que é revogada a suspensão condicional da pena Uma parte da doutrina acredita ser necessário, também, uma
ou o livramento condicional; dia em que a execução da pena foi conexão ocasional – os primeiros crimes proporcionem os subse-
interrompida. quentes (eu cometo uma série de crimes para se chegar ao todo).
Os marcos interruptivos também: início ou continuação do Essa unidade de desígnios é denominada teoria objetiva-subjetiva.
cumprimento da pena e a reincidência. No crime continuado é utilizado o sistema da exasperação:
No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livra- • Crime continuado simples: as penas dos delitos são as mes-
mento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta mas, assim, aplica-se a pena de um deles acrescida de 1/6 a 2/3
da pena. (depende da quantidade de crimes).
• Crime continuado qualificado: as penas dos delitos pratica-
Obs.: Em todas as modalidades de prescrição existe a redução dos são diferentes, de maneira que a pena mais grave é aplicada,
do prazo pela metade em duas situações: aumentada de 1/6 a 2/3.
• O agente é menor de 21 anos na data do fato; • Crime continuado específico: Nos crimes dolosos cometidos
• O agente é maior de 70 anos na data da sentença. com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo vítimas diferentes,
poderá o juiz aplicar a pena de um deles (a mais grave), aumentada
Concurso de crimes até o TRIPLO. Obs. A jurisprudência estabelece o patamar mínima
de 1/6 aqui também.
Sistema do As penas são somadas relativas
cúmulo material a cada um dos crimes cometidos. CRIMES CONTRA A PESSOA
Aplica-se ao agente somente a
Sistema da exas- pena da infração penal mais grave, Os crimes contra a pessoa protegem os bens jurídicos vida e
peração acrescida de determinado percen- integridade física da pessoa, encontram-se entre os artigos 121 ao
tual. 154 do Código Penal. A jurisprudência é vasta sobre tais tipos pe-
Aplica-se somente a pena da nais e muitas vezes repleta de polêmicas, como, por exemplo, no
Sistema da caso do aborto.
infração penal mais grave dentre
absorção
todas as praticadas.
Homicídio
Concurso material (real) de crimes • O homicídio simples consiste em matar alguém.
O agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais • O homicídio privilegiado recebe causa de diminuição de pena
resultados. Pode ser homogêneo, quando todos os crimes pratica- de 1/6 a 1/3, desde que o motivo seja de relevante valor moral ou
dos são iguais, ou heterogêneo, quando os crimes são diferentes. social (ex. matou o estuprador da filha); sob domínio de violenta
emoção logo após injusta provocação da vítima (ex. matou o aman-
Concurso formal (ideal) de crimes te da esposa ao pegá-los no flagra).
O agente mediante uma única conduta pratica dois ou mais cri- • O homicídio é qualificado e recebe pena-base maior nos ca-
mes, idênticos ou não. Ou seja, há unidade de conduta e pluralida- sos de paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe
de de resultados. No concurso formal perfeito (próprio), o agente (ex. matar por dinheiro); emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
pratica uma conduta e produz mais de um resultado, embora não xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (ex. queimar a pessoa
pretendesse realizar ambos. Ou seja, ocorre entre crimes culposos viva), ou de que possa resultar perigo comum (ex. incendiar um
ou um doloso e os demais culposos (não pretendidos). O resultado prédio para matar seu desafeto); traição, emboscada, dissimulação
é que aplica a pena do crime mais grave e aumenta-se de 1/6 até ou outro recurso que dificulte a defesa do ofendido (ex. mata-lo em
a metade (depende da quantidade de crimes). No concurso formal rua sem saída); para assegurar a execução, ocultação, impunidade
imperfeito (impróprio), o agente se vale de uma única conduta ou vantagem de outro crime (ex. matar a testemunha de um crime).
para dolosamente produzir mais de um crime. O resultado é que se-
rão aplicadas as penas de todos os crimes cumulativamente (soma), Obs.: O feminicídio é uma espécie de homicídio qualificado, no
pois os desígnios foram autônomos. qual o agente mata a mulher por razões da condição de sexo fe-
Obs.: O concurso material benéfico ocorre quando o sistema minino, isto é, no contexto de violência doméstica ou familiar, ou,
da exasperação se mostra prejudicial ao réu em relação ao sistema menosprezo/discriminação à condição de mulher.
da cumulação. Nesse caso é dispensada a exasperação e utiliza-se a
soma (cúmulo material).

Crime continuado (continuidade delitiva)


O agente pratica diversas condutas com o resultado de dois
ou mais crimes, que por uma ficção jurídica a lei o classifica como
crime único na hora de aplicar a pena (Francesco Carrara). No que
tange à prescrição, os crimes são considerados autônomos.

261
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Causas de Causas de ▪ Homicídio qualificado


Causas de aumento § 2° Se o homicídio é cometido:
aumento do aumento do
do feminicídio I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
homicídio culposo homicídio doloso
motivo torpe;
Ocorrer durante a II - por motivo fútil;
gestação ou nos 3 III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
Vítima menor de
meses posteriores ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
14 anos ou maior
ao parto; contra comum;
de 60 anos; crime
menor de 14 anos IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou ou-
Se ocorrer a praticado por
ou maior de 60 anos
inobservância milícia privada, tro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
ou pessoa portadora
de regra técnica sob o pretexto V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
de deficiência/
profissional; deixar de prestação vantagem de outro crime:
doença degenerativa;
de prestar socorro. de serviço Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
na presença de
de segurança
ascendente ou
ou grupo de ▪ Feminicídio
descendente;
extermínio. VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
descumprindo
medida protetiva. VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da For-
Obs.: O homicídio contra autoridade da Segurança Pública, no ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
companheiro ou parente até 3º grau qualifica o homicídio. consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
VIII - (VETADO):
É interessante que recentemente o STJ entendeu que o sim- Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
ples fato do condutor do automóvel estar embriagado não gera a § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
presunção de que tenha havido dolo eventual, no caso de acidente quando o crime envolve:
de trânsito com o resultado morte. O STF, no mesmo sentido, con- I - violência doméstica e familiar;
siderou que não havia homicídio doloso na conduta de um homem II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
que entregou o seu carro a uma mulher embriagada para que esta
dirigisse o veículo, mesmo tendo havido acidente por causa da em- ▪ Homicídio culposo
briaguez, resultando a morte da mulher condutora. § 3º Se o homicídio é culposo:
Por outro lado, já foi reconhecido o dolo eventual por estar Pena - detenção, de um a três anos.
dirigindo na contramão embriagado, uma vez que, o condutor assu-
miu o risco de causar lesões/morte de outrem. Inclusive, a tentativa ▪ Aumento de pena
é compatível com o dolo eventual. § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um ter-
Quanto a qualificadora do motivo fútil, o STJ não a enquadra ço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profis-
nos casos de racha. Todavia, aplica-se a qualificadora do meio cruel são, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro
no caso de reiteração de golpes na vítima. Ademais, a qualificadora à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
do motivo fútil é compatível com o homicídio praticado com dolo para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
eventual. Mas a qualificadora da traição/emboscada/dissimulação
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa
não é compatível com dolo eventual, pois exige-se um planejamen-
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
to do crime que o dolo eventual não proporciona.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de
A qualificadora do feminicídio é compatível com o motivo tor-
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio
pe, pois está solidificado nos tribunais superiores o entendimento
que o feminicídio é uma qualificadora objetiva que combina com agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desneces-
as qualificadoras subjetivas (motivo do crime), bem como com o sária.
homicídio privilegiado. § 6oA pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
Por fim, lembre-se que a jurisprudência considera que algumas crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação
situações merecem a extinção da punibilidade pelo perdão judicial, de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
quando o homicídio é culposo e o agente já sofreu suficientemente § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
as consequências do crime. Exemplo: pai atropela o filho. metade se o crime for praticado:
Ainda sobre o homicídio culposo, a causa de aumento não é I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao par-
afastada se o agente deixa de prestar socorro em caso de morte to;
instantânea da vítima, salvo se o óbito realmente for evidente. II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (ses-
senta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerati-
▪ Homicídio simples vas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física
Art. 121. Matar alguém: ou mental;
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascen-
dente da vítima;
• Caso de diminuição de pena IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele- previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de
vante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, 7 de agosto de 2006.
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
a pena de um sexto a um terço.

262
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automuti- • Resultado morte: Reclusão de 2 a 6 anos.
lação
Este crime sofreu alteração com o Pacote Anticrime, em razão Ademais, as penas são duplicadas se o crime é praticado por
do episódio da “Baleia Azul”, jogo desenvolvido entre jovens, no motivo egoístico, torpe ou fútil (motivo banal), bem como se a ví-
qual incitava-se a automutilação e o suicídio. tima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência. No mesmo sentido, a pena é aumentada até o do-
▪ Antes do Pacote Anticrime bro se a conduta é realizada por meio da internet (ex. jogo baleia
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe azul). Ademais, aumenta-se a pena em metade se o agente é o líder
auxílio para que o faça: (quem manda).
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; Se o resultado é lesão corporal de natureza gravíssima e é co-
ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta metido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
lesão corporal de natureza grave. enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discerni-
Parágrafo único - A pena é duplicada: mento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de Lesão
Aumento de pena Corporal qualificada como gravíssima.
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; Se o resultado é a morte e o crime é cometido contra menor
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discer-
a capacidade de resistência. nimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
Após o Pacote Anticrime homicídio.
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Re- Infanticídio
dação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) Consiste em matar o filho sob influência dos hormônios (esta-
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação do puerperal), durante o parto ou logo após.
dada pela Lei nº 13.968, de 2019) Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o pró-
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta le- prio filho, durante o parto ou logo após:
são corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º Pena - detenção, de dois a seis anos.
e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº Aborto
13.968, de 2019) O Código Penal divide o aborto em:
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta ▪ Aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimen-
morte:(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) to: Consiste em provocar o aborto em si mesma, ex. mediante chás.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº Ou, consentir que alguém o provoque, ex. ir em uma clínica abor-
13.968, de 2019) tiva.
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; ▪ Aborto provocado por terceiro: No aborto provocado por
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) terceiro, pode existir ou não o consentimento da gestante. No pri-
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, meiro caso perceba que cada um vai responder por um crime, a
a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) gestante por consentir, o terceiro por abortar.
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada
por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida É considerado aborto sem o consentimento da gestante se ela
em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) é menor de 14 anos, sofre de problemas mentais, se o consenti-
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou co- mento é obtido mediante fraude/grave ameaça/violência.
ordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968, Tanto no aborto com ou sem o consentimento da gestante
de 2019) existe causa de aumento de pena se ela morre ou sofre lesão cor-
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em le- poral grave.
são corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de ▪ Aborto necessário: Não se pune o aborto praticado por médi-
14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência co caso não haja outro meio se salvar a vida da gestante.
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, ▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: Não se
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estu-
Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) pro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou seu
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido representante legal, no caso de incapacidade.
contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o ne-
cessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer A grande polêmica do aborto circunda na questão da interrup-
outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo ção da gravidez no primeiro trimestre. O STF já decidiu que não há
crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. crime se existe o consentimento da gestante ou trata-se de auto-
aborto. A Suprema Corte fundamentou que a criminalização, nessa
O crime consiste em colocar a ideia ou incentivar a ideia do hipótese, viola os direitos fundamentais da mulher e o princípio da
suicídio ou automutilação, bem como prestar auxílio material (ex. proporcionalidade.
emprestar a faca). As penas são diferentes, a depender do resulta-
do do crime. ▪ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
• Lesão corporal de natureza grave ou gravíssima: Reclusão de Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ou-
1 a 3 anos; trem lho provoque:

263
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Pena - detenção, de um a três anos. • Na lesão corporal dolosa – vítima menor de 14 anos ou maior
de 60 anos, praticado por milícia privada ou grupo de extermínio.
▪ Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Obs.: Causar lesão contra autoridade de segurança pública no
Pena - reclusão, de três a dez anos. exercício de função ou em decorrência dela, bem como contra pa-
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: rente até 3º grau dessas pessoas enseja causa de aumento.
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a ges- Bem como no homicídio culposo, a lesão corporal culposa pos-
tante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, sibilita a aplicação do perdão judicial e a isenção da pena. Ex. ma-
ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou chucou o filho sem querer.
violência A lesão corporal praticada contra o cônjuge, ascendente, des-
cendente e irmão, com quem conviva ou tenha convivido, ou, pre-
▪ Forma qualificada valecendo-se das relações domésticas enseja aumento na pena do
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são crime qualificado por lesão grave ou gravíssima. Ademais, aumenta
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos a pena o crime de lesão corporal em âmbito doméstico se a vítima
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal é portadora de deficiência.
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas cau- A jurisprudência caminha no sentido que a qualificadora da
sas, lhe sobrevém a morte. deformidade permanente não é afastada em razão de posterior
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: cirurgia plástica reparadora. Ademais, perda de dois dentes con-
figura lesão grave, uma vez que, ocasiona debilidade permanente
▪ Aborto necessário (dificuldade para mastigar).
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Lesão corporal
▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de Pena - detenção, de três meses a um ano.
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu represen-
tante legal. Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
Lesão Corporal I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trin-
Consiste em ofender a integridade corporal ou saúde de ou- ta dias;
trem. A pena é aumentada em caso de violência doméstica, como II - perigo de vida;
forma de prestígio à Lei Maria da Penha. Ademais, qualifica o crime III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
a depender do resultado das lesões: IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Qualificadora de natureza § 2° Se resulta:
Qualificadora de natureza grave I - Incapacidade permanente para o trabalho;
gravíssima
II - enfermidade incurável;
Incapacidade para as ocupações III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
Incapacidade permanente
habituais por mais de 30 dias, IV - deformidade permanente;
para o trabalho, ex. não
ex. passar roupa. V - aborto:
consegue mais trabalhar.
Perigo de vida, ex. correu risco Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Enfermidade incurável, ex.
na cirurgia.
adquire deficiência mental.
Debilidade permanente de Lesão corporal seguida de morte
Deformidade permanente,
membro, sentido ou função, ex. § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
ex. rosto queimado.
não consegue escrever como agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Aborto.
antes. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Perda de membro, sentido
Aceleração do parto, ex. nasce
ou função, ex. fica cego.
prematuro. Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele-
No caso de lesão corporal seguida de morte, a morte é culposa vante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
e a lesão corporal dolosa. A morte qualifica a lesão corporal. Ex. logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
João tem a intenção de espancar seu desafeto, que acaba falecen- a pena de um sexto a um terço.
do.
A lesão corporal é privilegiada se o agente comete o crime im- Substituição da pena
pelido por motivo de relevante valor moral ou social (ex. espanca § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
o estuprador de sua filha); sob o domínio de violenta emoção logo pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos
após injusta provocação da vítima (ex. espanca o amante da esposa de réis:
ao pegá-los no flagra). Resultado: O juiz pode diminuir a pena, ou, I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
não sendo grave a lesão, o juiz pode substituir a pena de detenção II - se as lesões são recíprocas.
por multa. No mesmo sentido, se a lesão não é grave e as lesões
são recíprocas, o juiz pode substituir a pena de detenção por multa. Lesão corporal culposa
São causas de aumento: § 6° Se a lesão é culposa:
• Na lesão corporal culposa – inobservância de regra técnica Pena - detenção, de dois meses a um ano.
profissional, deixar de prestar socorro.

264
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Aumento de pena Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço
§ 7oAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do
das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabeleci-
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. mentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.

Violência Doméstica • Abandono de incapaz: Abandonar a pessoa que está sob o


§ 9oSe a lesão for praticada contra ascendente, descendente, seu cuidado/guarda/vigilância/autoridade incapaz de se defender
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha dos riscos do abandono. Ex. deixo meu sobrinho menor de idade
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domés- em uma viela perigosa. Eventual lesão corporal ou morte quali-
ticas, de coabitação ou de hospitalidade: ficam o crime. Aumenta a pena se o abandono ocorrer em local
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. ermo, entre parentes próximos/tutor/curador, se a vítima é maior
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as cir- de 60 anos.
cunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda,
pena em 1/3 (um terço). vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defen-
§ 11.Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada der-se dos riscos resultantes do abandono:
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de Pena - detenção, de seis meses a três anos.
deficiência. § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente Pena - reclusão, de um a cinco anos.
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes § 2º - Se resulta a morte:
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão Aumento de pena
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
§ 13.Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da terço:
condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei tutor ou curador da vítima.
nº 14.188, de 2021) III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos

Periclitação da vida e da saúde • Exposição de abandono de recém nascido: consiste em ex-


• Perigo de contágio venéreo: Consiste em expor outrem por por/abandonar o recém nascido para ocultar desonra própria. Ex.
meio de relações sexuais a contágio de moléstia venérea, quando tenho um filho fora do casamento e o abandono para o meu espo-
sabe ou deve saber que está contaminado. Ex. João sabe que tem so não saber. Eventual lesão corporal ou morte do recém-nascido
AIDS, mas insiste em ter relações sexuais com a sua esposa de ma- qualificam o crime.
neira desprotegida. Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar de-
Se a intenção do agente é transmitir a moléstia venérea o cri- sonra própria:
me qualifica-se, isto é, possui uma pena mais severa. Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qual- § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
quer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou Pena - detenção, de um a três anos.
deve saber que está contaminado: § 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Pena - detenção, de dois a seis anos.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. • Omissão de socorro: crime omissivo, no sentido de deixar de
§ 2º - Somente se procede mediante representação. prestar assistência quando possível fazê-lo a criança abandonado,
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, em grave ou iminente pe-
• Perigo de contágio de moléstia grave: consiste em praticar rigo. Se não for possível o socorro direto, o agente deve, pelo me-
ato capaz de produzir contágio, tendo o dolo se transmitir a outrem nos, pedir socorro à autoridade pública, para não cometer o crime
a moléstia (doença) de que está contaminado. Ex. sabendo que es- de omissão de socorro. A lesão corporal grave e a morte aumentam
tou com coronavírus espirro na face do meu desafeto. a pena.
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-
grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: -lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
• Perigo para a vida ou saúde de outrem: consiste em expor Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
a vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente. A pena é Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omis-
aumentada se o perigo ocorre em transporte de pessoas. Ex. trans- são resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta
portar crianças de uma creche sem que o automóvel respeite as a morte.
normas de segurança.
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e • Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emer-
iminente: gencial: exigir garantia, bem como preenchimento de formulários
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não consti- administrativos, como condição para o atendimento médico hos-
tui crime mais grave. pitalar emergencial. Ex. chego no PS infartando e me mandam dar
uma garantia financeira para que ocorra o meu atendimento. Au-
mentam a pena eventual morte ou lesão corporal grave.

265
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 135-A.Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer • Difamação: Atribuir a outrem um fato desabonador. Ex. Eu
garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários admi- digo que Joana se prostitui nas horas vagas.
nistrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
emergencial: reputação:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Parágrafo único.A pena é aumentada até o dobro se da nega- Exceção da verdade
tiva de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se
o triplo se resulta a morte. o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício
de suas funções.
• Maus tratos: Expor a perigo de vida/saúde uma pessoa que Motivo: é do interesse da Administração Pública saber sobre a
está sob sua autoridade/guarda/vigilância, tendo como finalidade conduta dos seus funcionários.
educação, ensino, tratamento, custódia, privando-a de alimenta-
ção ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a a trabalho excessivo • Injúria: É o famoso xingar outrem. Ex. palavrões.
ou inadequado, abusando dos meios de correção e disciplina. Ex. Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o de-
pai espanca o filho com a intenção de educá-lo. Caso ocorra lesão coro:
corporal grave ou morte da vítima a pena é aumentada, bem como Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
se ela possui menos de 14 anos de idade. Não cabe exceção da verdade. Mas o juiz pode deixar de apli-
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua car a pena se o ofendido provocou a injúria ou no caso de retorsão
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tra- imediata que consista em outra injúria (um injuria o outro).
tamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequa- Obs.: A injúria possui duas qualificadoras: 1) se há violência/
do, quer abusando de meios de correção ou disciplina: vias de fato, ex. puxão de orelha para dizer que Juquinha é burro;
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. 2) Injúria racial, ex. dizer que Juquinha é um macaco em razão da
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
sua cor.
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Em qualquer dos 3 crimes a pena é aumentada quando prati-
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
cado contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções;
▪ Rixa: Consiste em participar da rixa, salvo se a intenção do na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulga-
agente é separar a briga. Qualifica o crime eventual lesão corporal ção da calúnia, da difamação ou da injúria; contra pessoa maior de
grave ou morte. 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de
injúria (neste caso qualifica). Se o crime é cometido mediante paga
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Existe a exclusão do crime de injúria ou difamação se:
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natu- I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte
reza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de ou por seu procurador (ex. discussões nas sessões de julgamento);
detenção, de seis meses a dois anos. II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou cientí-
fica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar (ex.
▪ Crimes contra a honra crítica de um especialista no assunto);
• Calúnia: Atribuir a outrem um fato criminoso que o sabe fal- III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público,
so. Ex. Eu digo que Juquinha subtraiu o relógio de Joana enquanto em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever
ela dormia, mesmo sabendo que isso não é verdade. do ofício (ex. avaliação de funcionário).
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato de-
finido como crime: Todavia, nos casos dos nº I e III, responde pela injúria ou pela
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. difamação quem lhe dá publicidade.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputa-
ção, a propala ou divulga. Por fim, cabe retratação, isto é, o agente antes da sentença se
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. retrata cabalmente da calúnia ou difamação. A consequência é que
Para se livrar do crime de calúnia o agente pode provar que ficará isento de pena. Outra opção para evitar a responsabilização
realmente está certo no fato criminal que contou. Esse é o instituto criminal é se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, di-
da exceção da verdade, mas que não pode ser usado em alguns famação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações
casos:
em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o
dá satisfatórias, responde pela ofensa.
ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
Quanto ao entendimento dos tribunais, algumas decisões me-
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº
recem destaque:
I do art. 141 (contra o Presidente da República, ou contra chefe de
governo estrangeiro); • Em uma única carta pode estar configurado o crime de calú-
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido nia, difamação e injúria.
foi absolvido por sentença irrecorrível. • Configura difamação edição e publicação de vídeo que faz
parecer que a vítima está falando mal de negros e pobres.
• A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra
autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido
com outro homem.

266
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Deputado que em entrevista afirma que determinada depu- § 3ºSomente se procede mediante representação. (Incluído
tada não merece ser estuprada pratica, em tese, crime de injúria. pela Lei nº 14.132, de 2021)
• Não deve ser punido deputado federal que profere palavras Violência psicológica contra a mulher (Incluído pela Lei nº
injuriosas contra adversário político que também o ofendeu ime- 14.188, de 2021)
diatamente antes.
• O advogado não comete calúnia se não ficar provada a sua Art. 147-B.Causar dano emocional à mulher que a prejudique
intenção de ofender a honra, ainda que contra magistrado. e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou
a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, me-
Crimes contra a liberdade pessoal diante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isola-
• Constrangimento ilegal: Consiste em constranger alguém mento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou
mediante violência ou grave ameaça, ou depois de reduzir a sua qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e
capacidade de resistência, para não fazer o que a lei permite ou autodeterminação: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
a fazer o que ela não mandar. Além da pena do constrangimento, Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a
é aplicada a pena da violência. Exceções: intervenção médica ou conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 14.188,
cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou seu representan- de 2021)
te legal, se justificada por iminente perigo de vida, e no caso de
impedimento de suicídio. Aumento de pena: reunião de mais de 3 • Sequestro e cárcere privado: Consiste em privar alguém da
pessoas ou emprego de arma. sua liberdade. Ex. Juquinha prende Maria no quarto por dias. Qua-
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave lifica o crime se a vítima é maior de 60 anos ou menor de 18 anos,
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, parente, o modus operandi é a internação da vítima, se dura mais
a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a de 15 dias, se há fins libidinosos, resulta grave sofrimento físico ou
fazer o que ela não manda: moral.
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
ou cárcere privado:
Aumento de pena Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quan- § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
do, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou compa-
há emprego de armas. nheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as corresponden-
casa de saúde ou hospital;
tes à violência.
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natu-
perigo de vida;
reza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
II - a coação exercida para impedir suicídio.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
• Ameaça: Ameaçar alguém de lhe causar mal injusto e grave. • Redução à condição análoga a de escravo: consiste em sub-
Ex. vou te matar. meter alguém a trabalhos forçados ou jornada exaustiva, condições
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou degradantes de trabalho, restringindo a sua locomoção em razão
qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: de dívida contraída. Responde pela mesma pena quem cerceia o
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. meio de transporte para reter a vítima no local de trabalho, man-
Parágrafo único - Somente se procede mediante representa- tém vigilância ou se apodera de documentos da vítima com o fim
ção. retê-la. Aumenta a pena se existe motivo de preconceito ou se é
contra criança/adolescente.
• Perseguição
Art. 147-A.Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer Obs.: Não é requisito para a configuração do crime a restrição
meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringin- da liberdade de locomoção dos trabalhadores.
do-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadin-
do ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. (Incluído Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer
pela Lei nº 14.132, de 2021) submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (In- sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringin-
cluído pela Lei nº 14.132, de 2021) do, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:(In- com o empregador ou preposto:
cluído pela Lei nº 14.132, de 2021) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
I – contra criança, adolescente ou idoso; (Incluído pela Lei nº correspondente à violência.
14.132, de 2021) § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do
nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; (Incluído pela Lei nº trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
14.132, de 2021) II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apo-
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o dera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim
emprego de arma. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021) de retê-lo no local de trabalho.
§ 2ºAs penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das cor- § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
respondentes à violência. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021) I – contra criança ou adolescente;

267
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou Crimes contra a inviolabilidade de correspondências
origem. • Violação de correspondência: Devassar indevidamente o
conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem.
•Tráfico de Pessoas: Consiste em agenciar/ aliciar/recrutar/ • Sonegação ou destruição de correspondência: Se apossa in-
transportar/transferir/comprar/alojar/acolher, mediante violência, devidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no
grave ameaça, coação, fraude ou abuso uma pessoa tendo a finali- todo ou em parte, a sonega ou destrói.
dade de remover partes do corpo, submetê-la a trabalho em con- • Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou tele-
dições análogas a de escravo, submetê-la a servidão, adoção ilegal fônica: Quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza
ou exploração sexual. Aumenta a pena se o crime é cometido por abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a
funcionário público; contra criança/adolescente/idoso/deficiente; terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;
se há retirada do território nacional; se prevalece da relação que
tem com a vítima. A pena é diminuída caso o agente seja primário e Quem impede a comunicação ou a conversação referidas no
não integre organização criminosa. número anterior;
Quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico.
Art. 149-A.Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, • Correspondência comercial:Abusar da condição de sócio ou
comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violên- empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no
cia, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspon-
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; dência, ou revelar a estranho seu conteúdo.
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; Obs.:As penas aumentam-se de metade, se há dano para ou-
IV - adoção ilegal; ou trem. Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço
V - exploração sexual. postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico o crime qualifica-se.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: Crimes contra a inviolabilidade dos segredos
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de
suas funções ou a pretexto de exercê-las; Violação do segredo
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa Divulgação de segredo
profissional
idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domés- Divulgar alguém, sem justa
ticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, causa, conteúdo de documento
de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício particular ou de correspondência
de emprego, cargo ou função; ou confidencial, de que é Revelar alguém, sem justa
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território na- destinatário ou detentor, e cuja causa, segredo, de que
cional. divulgação possa produzir dano tem ciência em razão de
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for pri- a outrem. função, ministério, ofício ou
mário e não integrar organização criminosa. Qualifica divulgar, sem justa profissão, e cuja revelação
causa, informações sigilosas ou possa produzir dano a
Crimes contra a inviolabilidade do domicílio - Violação de do- reservadas, assim definidas em outrem.
micílio lei, contidas ou não nos sistemas
Entrar ou permanecer em casa alheia, de maneira clandestina/ de informações ou banco de
astuciosa, contra a vontade de quem de direito (ex. proprietário). dados da Administração Pública.
Qualifica quando o crime é cometido no período da noite, lugar
ermo, mediante violência ou arma, 2 ou mais pessoas. Aumenta Por fim, configura o crime de invasão de dispositivo informá-
se o agente é funcionário público. Não configura o crime se é caso tico o indivíduo que invade dispositivo informático alheio, conec-
de prisão em flagrante ou efetuar prisão/diligências durante o dia. tado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida
de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou
destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita
É casa Não é casa
do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter van-
I - qualquer compartimento tagem ilícita. Ex. Hacker.
habitado; I - hospedaria, estalagem ou Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende
II - aposento ocupado de habita- qualquer outra habitação ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito
ção coletiva; coletiva, enquanto aberta; de permitir a prática da conduta. Aumenta-se a pena de um sexto
III - compartimento não aberto II - taverna, casa de jogo e ou- a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. Qualifica o
ao público, onde alguém exerce tras do mesmo gênero. crime se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunica-
profissão ou atividade. ções eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, infor-
mações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não
Em recente decisão, o STJ entendeu que configura o crime de autorizado do dispositivo invadido. Nesse último caso, aumenta-se
violação de domicílio o ingresso e permanência, sem autorização, a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização
em gabinete de delegado de polícia, embora faça parte de um pré- ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informa-
dio/repartição pública. ções obtidas.

268
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Obs.: Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
for praticado contra: Presidente da República, governadores e pre- é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do ter-
feitos; Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente da Câ- ritório nacional
mara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é prati-
de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara cado contra idoso ou vulnerável.
Municipal; ou dirigente máximo da administração direta e indireta A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de
federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado
ou para o exterior.
A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração
for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
dividido em partes no local da subtração.
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,
Em primeiro lugar, é importante conhecer as alterações que o se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
Pacote Anticrime fez nos crimes contra o patrimônio: conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem
• No crime de roubo, a pena passou a ser aumentada de 1/3 ou emprego.
até 1/2 se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de
ARMA BRANCA. Ademais, a pena aumenta-se de 2/3 se a violên- ▪ Furto privilegiado
cia ou ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO. Por Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada,
fim, aplica-se a pena em DOBRO se a violência ou grave ameaça é
o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminu-
exercida com emprego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU
í-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Obs.
PROIBIDO.
outros crimes patrimoniais sem violência/grave ameaça, também,
• O crime de estelionato passou a ter como regra de Ação Pe-
recebem o benefício.
nal Pública Condicionada a Representação. Exceção: Será de Ação
penal pública INCONDICIONADA quando a vítima for: I - a Admi-
nistração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III ▪ Furto de Coisa Comum
- pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 anos de idade Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si
ou incapaz. ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
• A pena do crime de concussão também mudou: De Reclusão, Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
de 2 a 8 anos, e multa, passou para Reclusão, de 2 a 12 anos, e mul- § 1º - Somente se procede mediante representação.
ta. Essa é uma novatio legis in pejus, logo, não retroage. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo
valor não excede a quota a que tem direito o agente.
Furto
Consiste na subtração de bem alheio, sem violência nem grave Atente-se para a novidade legislativa de 2021:
ameaça. § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de disposi-
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: tivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de compu-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. tadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a
utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio frau-
— Causa de aumento dulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante Ex. quando o furto mediante fraude ocorre em ambiente vir-
o repouso noturno. Ex. enquanto os moradores da casa estavam tual.
dormindo o agente furta o lar.
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a re-
— Qualificadoras levância do resultado gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
cometido: é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do terri-
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração tório nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
da coisa;
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é pra-
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou
ticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de
destreza;
2021)
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Atente-se que são causas de aumento: servidor mantido fora
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, do país; praticado contra idoso ou vulnerável.
se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause A mudança legislativa teve como escopo reprimir os crimes de
perigo comum. alta tecnologia, pois atualmente é muito comum que o furto (sub-
A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se tração de dinheiro) ocorra por meio de dispositivo eletrônico ou
o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrô- informático.
nico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, As causas de aumento se justificam por dois motivos:
com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização • É mais difícil de investigar e punir servidor mantido fora do
de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento país;
análogo. • É mais repugnante quando cometido contra idoso ou vulne-
A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância rável.
do resultado gravoso:

269
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Roubo § 3ºSe o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
É a subtração de bens alheios violenta, com grave ameaça ou vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem
reduzindo a possibilidade de resistência da vítima (ex. boa noite econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
cinderela). da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê- ▪ Extorsão mediante sequestro
-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim § 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
ou para terceiro. anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
— Causa de aumento § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
§ 2ºA pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; § 3º - Se resulta a morte:
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
agente conhece tal circunstância. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado,
transportado para outro Estado ou para o exterior; terá sua pena reduzida de um a dois terços.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo
sua liberdade. ▪ Extorsão indireta
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de aces- Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando
sórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedi-
montagem ou emprego. mento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
de arma branca;
§ 2º-AA pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): Usurpação
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma Dentro do capítulo usurpação estão inseridos os seguintes cri-
de fogo; mes:
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o • Alteração de limites: suprimir ou deslocar tapume, marco, ou
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo co- qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se,
mum. no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia.
• Usurpação de águas: desviar ou represar, em proveito próprio
— Qualificadora ou de outrem, águas alheias.
§ 2º-B.Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego • Esbulho possessório: invadir, com violência a pessoa ou grave
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno
pena prevista no caput deste artigo. ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Obs. Se a pro-
§ 3º Se da violência resulta: priedade é particular, e não há emprego de violência, somente se
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 procede mediante queixa.
(dezoito) anos, e multa; • Supressão ou alteração de marca em animais: Suprimir ou
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal
e multa. indicativo de propriedade.

Extorsão e Extorsão mediante sequestro Dano


Os dois tipos penais não se confundem. Na extorsão, constran- No crime de dano, os verbos núcleos do tipo são 3 - Destruir,
ge-se alguém, de forma violenta ou com grave ameaça, para obter inutilizar ou deteriorar (coisa alheia). Ademais, em 4 situações o cri-
vantagem econômica. Na extorsão, mediante sequestro, seques- me é qualificado:
tra-se a pessoa para obter qualquer vantagem, como condição ou • com violência à pessoa ou grave ameaça;
preço do resgate. • com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato
não constitui crime mais grave;
▪ Extorsão • contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal,
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública,
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida sociedade de economia mista ou empresa concessionária de servi-
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer ços públicos;
alguma coisa: • por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a víti-
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. ma (somente se procede mediante queixa).
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. No mesmo capítulo, o Código Penal traz mais algumas figuras
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o dis- típicas:
posto no § 3º do artigo anterior.

270
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia Apropriação de coisa
(somente se procede mediante queixa) havida por erro, caso Apropriação Apropriação
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, fortuito ou força de tesouro de coisa achada
sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte da natureza
prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. II - quem acha coi-
sa alheia perdida
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico I - quem acha e dela se apropria,
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela Art. 169 - Apropriar- tesouro em total ou parcial-
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico -se alguém de coisa prédio alheio e se mente, deixando
ou histórico: alheia vinda ao seu apropria, no todo de restituí-la ao
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. poder por erro, caso ou em parte, da dono ou legítimo
fortuito ou força da quota a que tem possuidor ou de
Alteração de local especialmente protegido natureza. direito o proprie- entregá-la à autori-
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o as- tário do prédio. dade competente,
pecto de local especialmente protegido por lei: dentro no prazo de
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. quinze dias.

Apropriação indébita Estelionato e outras fraudes


O agente apropria-se de coisa alheia, valendo-se da posse ou O estelionato caracteriza-se por obter, para si ou para outrem,
detenção que tem dela. Ex. o motoboy que ia levar a sua pizza por vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo al-
delivery, aproveita para apropriar-se dela. A pena é aumentada de guém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
um terço, quando o agente recebeu a coisa: em depósito neces- fraudulento.
sário; na qualidade de tutor, curador, síndico (atual administrador Após o Pacote Anticrime a ação passou a ser pública condicio-
judicial), liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário nada à representação, salvo: se a vítima for a Administração Públi-
judicial; em razão de ofício, emprego ou profissão. ca, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental, maior
Atenção: O STF, já decidiu que ressarcimento em acordo homo- de 70 anos de idade ou incapaz.
logado no juízo cível é fundamento válido para trancar a ação penal.
Obs. a apropriação indébita previdenciária (forma qualificada) O Código Penal determina que deve incorrer na mesma pena
caracteriza-se por deixar de repassar à previdência social as con- do estelionato quem comete:
tribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou • Disposição de coisa alheia como própria;
convencional, independente de dolo específico. • Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria;
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: • Defraudação do penhor;
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância • Fraude na entrega de coisa;
destinada à previdência social que tenha sido descontada de paga- • Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro;
mento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; • Fraude no pagamento por meio de cheque.
II – recolher contribuições devidas à previdência social que te-
nham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de Estelionato contra idoso
produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas § 4ºAplica-se a pena em dobro se o crime for cometido
cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela pre- contra idoso.
vidência social. § 5º Somente se procede mediante representação, salvo
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, se a vítima for:
declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, impor- I - a Administração Pública, direta ou indireta;
tâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência II - criança ou adolescente;
social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da III - pessoa com deficiência mental; ou
ação fiscal. IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar so-
mente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, A Lei nº 14.155/2021 introduziu os seguintes crimes no Código
desde que: Penal (art. 171):
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de ofe- Fraude eletrônica
recida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciá- § 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
ria, inclusive acessórios; ou multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações for-
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja necidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de re-
igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, admi- des sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico frau-
nistrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas dulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído
execuções fiscais. pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 4oA faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos § 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a
casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a
acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. servidor mantido fora do território nacional. (Incluído pela Lei nº
14.155, de 2021)

271
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsifi-
em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de eco- cada ou deteriorada;
nomia popular, assistência social ou beneficência. II - entregando uma mercadoria por outra:
A Fraude eletrônica consiste em crime digital, que ocorre com Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro, § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou
induzido a erro, por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por
envio de correio eletrônico fraudulento etc. falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadei-
Essa novidade legislativa visa acompanhar a realidade virtual ra; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
que vivemos atualmente, pois os crimes cibernéticos estão cada dia Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
mais comuns no Brasil. Todos os dias acompanhamos nos jornais § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
uma nova fraude (do WhatsApp, do e-mail, do aplicativo tal etc.).
Em razão da dificuldade causada na investigação, a pena sofre Outras fraudes
aumento se o crime é praticado com o uso de servidor mantido fora Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel
do Brasil. Outra causa de aumento é o crime ser cometido contra as ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para
seguintes pessoas: efetuar o pagamento:
 Entidade de direito público Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
 Instituto de economia popular
 Instituto de assistência social ou beneficiária Parágrafo único - Somente se procede mediante representação,
e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação dada pela Lei
Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade
nº 14.155, de 2021)
por ações
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazen-
é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do
resultado gravoso. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) do, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia,
O crime de estelionato contra idoso ou vulnerável, consiste, na afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
verdade, em uma derivação da fraude eletrônica. No entanto, neste fraudulentamente fato a ela relativo:
caso, considerada a relevância do resultado gravoso a pena sofre Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não
aumento. constitui crime contra a economia popular.
Ex. um idoso ou pessoa com deficiência mental é induzido em § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
erro, por outrem, na rede social, a transferir montante em dinhei- contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951)
ro. I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que,
A pena será aumentada de 1/3 até o dobro, a depender das em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao pú-
peculiaridades do caso concreto. blico ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições eco-
O Código Penal, inclusive, se preocupa em tipificar algumas ou- nômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em
tras fraudes, menos incidentes em prova: parte, fato a elas relativo;
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer
Duplicata simulada artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade;
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou
corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualida- usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais,
de, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de sem prévia autorização da assembleia geral;
27.12.1990) IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.(Reda- sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;
ção dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social,
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsi- aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
ficar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desa-
(Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) cordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou divi-
dendos fictícios;
Abuso de incapazes
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa,
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessida-
ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou pa-
de, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade
recer;
mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato susce-
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
tível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autori-
zada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I
Induzimento à especulação e II, ou dá falsa informação ao Governo.
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiên- § 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos,
cia ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzin- e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para
do-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral.
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Emissão irregular de conhecimento de depósito ou «warrant»
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em de-
Fraude no comércio sacordo com disposição legal:
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adqui- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
rente ou consumidor:

272
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Fraude à execução Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
ou danificando bens, ou simulando dívidas: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
Alguns pontos merecem atenção: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando
• Adulterar o sistema de medição de energia elétrica para pagar haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
menos que o devido é estelionato (e não furto mediante fraude); II - ao estranho que participa do crime.
• Uso de processo judicial para obter lucro é figura atípica; III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
• É justificável a exasperação da pena-base em caso de confian- superior a 60 (sessenta) anos.
ça da vítima no autor do crime de estelionato;
• O delito de estelionato não é absorvido pelo roubo de talão
de cheque.
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
Receptação
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir Todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a ser de
para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Perceba Ação Penal Pública Incondicionada, ou seja, a denúncia é feita pelo
que no crime de receptação, o agente tem contato com um bem Ministério Público, independente de interesse da vítima.
obtido por meio de crime anterior, ex. objeto furtado. • Estupro: Constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
▪ Receptação Qualificada ele se pratique outro ato libidinoso.
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em • Violação sexual mediante fraude: Ter conjunção carnal ou
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou ou-
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exer- tro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade
cício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser da vítima.
produto de crime: • Importunação sexual: Praticar contra alguém e sem a sua
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascí-
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do pará- via ou a de terceiro.
grafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandesti- • Assédio sexual: Constranger alguém com o intuito de obter
no, inclusive o exercício em residência. vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da
sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
exercício de emprego, cargo ou função.
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
• Registro não autorizado da intimidade sexual: Produzir,
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e priva-
penas.
do sem autorização dos participantes.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento
de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
Merece atenção os crimes sexuais praticados contra os vulne-
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o
ráveis:
juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a
pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. ▪ Estupro de vulnerável
§ 6oTratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Art. 217-A.Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, com menor de 14 (catorze) anos:
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa conces- Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
sionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no § 1oIncorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no
caput deste artigo. Ex. receptação de bens do correio. caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
▪ Receptação de Animal qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
Art. 180-A.Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter § 2o(VETADO)
em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comer- § 3oSe da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
cialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: § 4oSe da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5ºAs penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste arti-
Nos crimes patrimoniais existem causas de isenção de pena, go aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou
e causas que a ação deixa de ser pública incondicionada, para ser do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
tratada como ação penal pública condicionada à representação:
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes ▪ Corrupção de menores
previstos neste título, em prejuízo: Art. 218.Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; a lascívia de outrem:
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
ou ilegítimo, seja civil ou natural.

273
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
▪ Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado- ▪ Estupro corretivo
lescente b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
Art. 218-A.Praticar, na presença de alguém menor de 14 (cator- O Lenocínio, o tráfico de pessoas para fim de prostituição e
ze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato outras formas de exploração sexual englobam os seguintes crimes:
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: • Mediação para servir a lascívia de outrem;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. • Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração
sexual;
▪ Favorecimento da prostituição ou de outra forma de explora- • Casa de prostituição;
ção sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável • Rufianismo;
Art. 218-B.Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra • Promoção de migração ilegal
forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário É importante conhecer o que vem entendendo a jurisprudên-
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar cia:
que a abandone: • Passar as mãos no corpo da vítima configura estupro de vul-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. nerável consumado;
§ 1oSe o crime é praticado com o fim de obter vantagem econô- • Beijar criança na boca configura estupro de vulnerável (beijo
mica, aplica-se também multa. lascivo);
§ 2oIncorre nas mesmas penas: • Contemplar lascivamente menor de 14 anos nua configura
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com estupro de vulnerável;
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situ- •Cabe absolvição do crime de estupro de vulnerável se prova-
ação descrita no caput deste artigo; do o desconhecimento da idade da vítima (erro de tipo);
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que • Beijo roubado em contexto de violência física pode configu-
se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. rar estupro.
§ 3oNa hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório
da condenação a cassação da licença de localização e de funciona- Por fim, há um capítulo de ultraje público, que engloba 2 cri-
mento do estabelecimento. mes:

▪ Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vul- Ato obsceno


nerável, de cena de sexo ou de pornografia Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou
Art. 218-C.Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou exposto ao público:
expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
- inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de infor-
mática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovi- Escrito ou objeto obsceno
sual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua
que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pú-
da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: blica, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obs-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não cons- ceno:
titui crime mais grave. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Aumento de pena Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
§ 1ºA pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos
se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido objetos referidos neste artigo;
relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, represen-
humilhação. tação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou
Exclusão de ilicitude qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
§ 2ºNão há crime quando o agente pratica as condutas descri- III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo
tas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, rádio, audição ou recitação de caráter obsceno.
científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que im-
possibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autoriza- A pena é aumentada:
ção, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.
Quanto às causas de aumento de pena é importante conhecer • de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
a literalidade da letra da lei: • de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite
Art. 226. A pena é aumentada: à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiên-
(duas) ou mais pessoas; cia.
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madras-
ta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou É importante saber que, O STJ, em recente julgado, conside-
empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade rou que o crime de estupro de vulnerável NÃO pressupõe o sexo
sobre ela; vaginal, anal ou oral para a sua configuração. Ademais, “O crime de
III(Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prá-
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: tica de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo IRRELEVANTE
eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua expe-
▪ Estupro coletivo riência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; com o agente” (Súmula 593, STJ).

274
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Falsificação do selo ou sinal público;
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA • Falsificação de documento público;
• Falsificação de documento particular;
Os crimes contra a fé pública atingem a confiança que as pesso- • Falsificação de cartão;
as depositam no país. Ex. moeda falsa. • Falsidade ideológica;
• Falso reconhecimento de firma ou letra;
Moeda Falsa • Certidão ou atestado ideologicamente falso;
Atenção: inaplicável arrependimento posterior, em razão da • Falsidade material de atestado ou certidão;
impossibilidade material de ocorrer a reparação do dano (a vítima • Falsidade de atestado médico;
é a coletividade). • Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica;
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metá- • Uso de documento falso;
lica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: • Supressão de documento.
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou É importante diferenciar os documentos públicos dos particu-
alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, lares: Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o
guarda ou introduz na circulação moeda falsa. emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmis-
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, mo- sível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mer-
eda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer cantis e o testamento particular.
a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e Para o STJ, na falsificação de papeis públicos é desnecessária
multa. a constituição definitiva do crédito tributário, porque é um crime
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o formal.
funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emis- Para o STF, o prefeito que, no momento de sancionar lei, acres-
são que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: ce artigo pratica o crime de falsificação de documento público.
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; Os tribunais sempre entenderam que a conduta de clonar car-
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. tão amolda-se no crime de falsificação de documento particular.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular Por fim, o CP, ainda, traz outras falsidades, como, por exemplo,
moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. Falsificação do sinal empregado no contraste de metal precioso ou
na fiscalização alfandegária, ou para outros fins; Falsa identidade;
Crimes assimilados ao de moeda falsa Fraude de lei sobre estrangeiro; Adulteração de sinal identificador
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de de veículo automotor.
moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros;
suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de res- Fraude em certames de interesse público
tituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à A fraude em certames de interesse público precisa ser com-
circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhi- preendida com cuidado, pois a lei de licitações trata sobre crimes
dos para o fim de inutilização: correlatos.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Art. 311-A.Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do
e multa, se o crime é cometido por funcionário que trabalha na re- certame, conteúdo sigiloso de:
partição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil in- I - concurso público;
gresso, em razão do cargo. II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou
Petrechos para falsificação de moeda IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
Atenção: basta que o agente detenha a posse dos petrechos Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
destinados à falsificação da moeda, sendo dispensável que o ma- Aqui o exemplo clássico é a fraude no ENEM, e nos demais cer-
quinário seja de uso exclusivo para esse fim. tames para seleção de candidatos por meio de provas.
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gra- § 1ºNas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por
tuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações
qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda: mencionadas no caput.
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. § 2ºSe da ação ou omissão resulta dano à administração pú-
blica:
Emissão de título ao portador sem permissão legal Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale § 3ºAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido
ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao por funcionário público.
portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva
ser pago: Para encerrar vale deixar claro alguns pontos:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. • Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade
Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como dinheiro qual- ideológica (atípico);
quer dos documentos referidos neste artigo incorre na pena de de- • Inserir informação falsa em currículo lattes é atípico;
tenção, de quinze dias a três meses, ou multa. • Comete falsidade ideológica o candidato que deixa de conta-
bilizar despesas em sua prestação de contas à Justiça Eleitoral;
No capítulo sobre a falsidade de títulos e outros papeis públi- • Consiste em falsificação de documento particular a falsidade
cos há o crime de falsificação de papeis públicos e o crime de petre- em contrato social para ocultar verdadeiro sócio;
chos de falsificação. Já no capítulo de falsidade documental, há os • Desnecessária prova pericial para condenar por uso de docu-
seguintes crimes: mento falso.

275
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Modificação ou alteração


Inserção de dados falsos
não autorizada de sistema de
em sistema de informações
informações
Neste ponto algumas informações são essenciais: Art. 313-B. Modificar ou
• A elementar do crime de peculato se comunica aos coautores Art. 313-A. Inserir ou faci- alterar, o funcionário, sistema
e partícipes estranhos ao serviço público; litar, o funcionário autorizado, de informações ou programa
• Consuma-se o crime de PECULATO-DESVIO no momento em a inserção de dados falsos, de informática sem autoriza-
que o funcionário efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro alterar ou excluir indevida- ção ou solicitação de autorida-
bem móvel, em proveito próprio ou de terceiro, ainda que NÃO ob- mente dados corretos nos de competente:
tenha a vantagem indevida; sistemas informatizados ou Pena – detenção, de 3
• Configura o crime de CONCUSSÃO a conduta do funcionário bancos de dados da Adminis- (três) meses a 2 (dois) anos, e
público que, fora do exercício de sua função, mas em razão dela, tração Pública com o fim de multa.
exige o pagamento de uma verba indevida (“taxa de urgência), para obter vantagem indevida para Parágrafo único. As penas
a aprovação de uma obra que sabe irregular; si ou para outrem ou para são aumentadas de um terço
• O EXCESSO DE EXAÇÃO – funcionário exige tributo ou con- causar dano: Pena – reclusão, até a metade se da modifica-
tribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando de 2 (dois) a 12 (doze) anos, ção ou alteração resulta dano
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei e multa. para a Administração Pública
NÃO autoriza; ou para o administrado.
• O crime de CORRUPÇÃO PASSIVA possui natureza FORMAL e
independe de resultado, NÃO se exigindo a prática de ato de ofício;
• Para o STJ, ao contrário do que ocorre no peculato culposo, a • Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento:
reparação do dano antes do recebimento da denúncia NÃO exclui Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda
o crime de peculato doloso, diante da ausência de previsão legal, em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente.
mas pode configurar arrependimento posterior (v. HC 239127/RS); • Emprego irregular de verbas ou rendas pública: Dar às ver-
• Nos crimes contra a Administração Pública não incide o prin- bas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.
cípio da insignificância. • Concussão: Exigir, para si ou para outrem, direta ou indire-
tamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
Peculato-Apropriação e Peculato-Desvio razão dela, vantagem indevida. Obs. é crime formal, se consuma
Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qual- com a exigência da vantagem indevida.
quer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse • Excesso de exação: Se o funcionário exige tributo ou contri-
em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio. buição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devi-
Obs. É peculato-furto, se o funcionário público, embora não do, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não
tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre autoriza.
para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se • Corrupção passiva: Solicitar ou receber, para si ou para ou-
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. trem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar pro-
Peculato Culposo messa de tal vantagem. Obs. configura corrupção passiva receber
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de propina sob o disfarce de doações eleitorais.
outrem: • Facilitação de contrabando ou descaminho: Facilitar, com in-
Pena - detenção, de três meses a um ano. fração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se • Prevaricação: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
posterior, reduz de metade a pena imposta. satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Obs. Deixar o Diretor de
Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar
Peculato mediante erro de outrem ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente ex-
no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: terno.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. • Condescendência criminosa: Deixar o funcionário, por indul-
gência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o
fato ao conhecimento da autoridade competente.
• Advocacia administrativa: Patrocinar, direta ou indiretamen-
te, interesse privado perante a administração pública, valendo-se
da qualidade de funcionário.
• Violência arbitrária: Praticar violência, no exercício de função
ou a pretexto de exercê-la.
• Abandono de função: Abandonar cargo público, fora dos ca-
sos permitidos em lei.
• Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado:
Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exi-
gências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois
de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso.

276
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Violação de sigilo funcional: Revelar fato de que tem ciência De acordo com o STJ, a inépcia da denúncia de corrupção ativa
em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- não induz, por si só, o trancamento da ação penal de corrupção
-lhe a revelação. passiva. Os dois crimes estão em tipos penais autônomos, e um não
Por fim, é importante conhecer a descrição de quem é funcio- pressupõe o outro.
nário público, para as leis penais: Ademais, o CP elenca os crimes praticados por particular contra
Funcionário público a Administração Pública Estrangeira:Corrupção ativa em transação
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe- comercial internacional; Tráfico de influência em transação comer-
nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cial internacional. E, também, estabelece os crimes contra a Admi-
cargo, emprego ou função pública. nistração da Justiça:
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em- • Reingresso de estrangeiro expulso;
prego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para • Denunciação caluniosa;
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a • Comunicação falsa de crime ou contravenção;
execução de atividade típica da Administração Pública.(Incluído • Auto-acusação falsa;
pela Lei nº 9.983, de 2000) • Falso Testemunho ou falsa perícia;
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores • Coação no Curso do Processo;
dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em • Exercício arbitrário das próprias razões;
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da • Fraude processual;
administração direta, sociedade de economia mista, empresa públi- • Favorecimento pessoal;
ca ou fundação instituída pelo poder público. • Favorecimento real;
Quanto aos crimes praticados por particular contra a Adminis- • Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança;
tração temos: usurpação de função pública; resistência; desobedi- • Evasão mediante violência contra a pessoa;
ência; desacato; tráfico de influência; corrupção ativa; descaminho; • Arrebatamento de preso;
contrabando; impedimento, perturbação ou fraude de concorrên- • Motim de presos;
cia; inutilização de edital ou sinal; subtração de inutilização de livro • Patrocínio infiel;
ou documento; sonegação de contribuição previdenciária. • Patrocínio simultâneo ou tergiversação;
Aqui é importante memorizar que resistência, desobediência e • Sonegação de papel ou objeto de valor probatório;
desacato não se confundem: • Exploração de prestígio;
• Violência ou fraude em arrematação judicial;
Resistência • Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência de direitos.
ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe
esteja prestando auxílio: Aqui, o mais importante é ter em mente que denunciação ca-
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. luniosa exige dolo direto do agente. Ou seja, o agente saiba que a
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: pessoa é inocente:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das cor- Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de pro-
respondentes à violência. cedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi-
Desobediência dade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve
Desacato de anonimato ou de nome suposto.
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prá-
ou em razão dela: tica de contravenção.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Ademais, tanto no falso testemunho como na falsa perícia: O
O tráfico de influência consiste em: Solicitar, exigir, cobrar ou fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que
obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no É importante saber diferenciar o favorecimento real do favo-
exercício da função (qualquer funcionário público). A pena é au- recimento pessoal:
mentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é • Exemplo de favorecimento real: um amigo do criminoso guar-
também destinada ao funcionário. da em sua casa o proveito do crime (um objeto furtado).
É importante conhecer a literalidade do crime de corrupção • Exemplo de favorecimento pessoal: um amigo do criminoso
ativa: esconde o foragido em sua casa. Se quem presta o auxílio é ascen-
dente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de
Corrupção ativa pena.
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio-
nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato Por fim, vale diferenciar patrocínio infiel de patrocínio simultâ-
de ofício: neo ou tergiversação:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em ra-
zão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato
de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

277
NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Patrocínio infiel
Patrocínio simultâneo ou Princípio da individualização da pena
Art. 355 - Trair, na
tergiversação As pessoas são diferentes, os crimes por mais que se enqua-
qualidade de advogado ou
Parágrafo único - Incorre drem em um tipo penal, ocorrem de maneira distinta. Assim, a in-
procurador, o dever profissio-
na pena deste artigo o advo- dividualização da pena busca se adequar à individualidade de cada
nal, prejudicando interesse,
gado ou procurador judicial um, em 3 fases:
cujo patrocínio, em juízo, lhe
que defende na mesma causa, • Legislativa: o legislador ao pensar no crime e nas penas em
é confiado:
simultânea ou sucessivamente, abstrato precisa ter proporcionalidade para adequar a cominação
Pena - detenção, de seis
partes contrárias. de punições à gravidade dos crimes;
meses a três anos, e multa.
• Judicial: o juiz ao realizar a dosimetria da pena precisa ade-
quar o tipo penal abstrato ao caso concreto;
• Administrativa: na execução da pena as decisões do juiz da
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO execução precisam ser pautadas na individualidade de cada um.
DIREITO PENAL
Princípio da intranscendência da pena
Este princípio impede que a pena ultrapasse a pessoa do in-
Princípio da Legalidade frator, ex. não se estende aos familiares. Todavia, a obrigação de
Nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena cri- reparar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser
minal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência deste fato atribuídas aos sucessores, mas somente até o limite do valor da
exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção herança. Isso ocorre porque tecnicamente o bem é do infrator, os
correspondente (nullum crimen sine praevia lege). Ou seja, a lei sucessores vão utilizar o dinheiro do infrator para realizarem o pa-
precisa existir antes da conduta, para que seja atendido o princípio gamento.
da legalidade. Multa é espécie de pena, portanto, não pode ser executada em
face dos herdeiros. Com a morte do infrator extingue-se a punibili-
Princípio da Reserva Legal dade, não podendo ser executada a pena de multa.
Somente a lei em sentido estrito, emanada do Poder Legisla-
tivo, pode definir condutas criminosas e estabelecer sanções pe- Princípio da limitação das penas ou da humanidade
nais. Todavia, de acordo com posicionamento do STF, norma não De acordo com a Constituição Federal, são proibidas as seguin-
incriminadora (mais benéfica ao réu) pode ser editada por medida tes penas:
provisória. Outro entendimento interessante do STF é no sentido • Morte (salvo em caso de guerra declarada);
de que no Direito Penal cabe interpretação extensiva, uma vez que, • Perpétua;
nesse caso a previsão legal encontra-se implícita. • Trabalho forçado;
• Banimento;
Princípio da Taxatividade • Cruéis.
Significa a proibição de editar leis vagas, com conteúdo impre-
ciso. Ou seja, ao dizer que a lei penal precisa respeitar a taxativida- Esse ditame consiste em cláusula pétrea, não podendo ser
de enseja-se a ideia de que a lei tem que estabelecer precisamente suprimido por emenda constitucional. Ademais, em razões dessas
a conduta que está sendo criminalizada. No Direito Penal não resta proibições, outras normas desdobram-se – ex. o limite de cumpri-
espaço para palavras não ditas. mento de pena é de 40 anos, para que o condenado não fique para
Princípio da anterioridade da lei penal sempre preso; o trabalho do preso sempre é remunerado.
Em uma linguagem simples, a lei que tipifica uma conduta pre-
cisa ser anterior à conduta. Princípio da Presunção de Inocência ou presunção de não cul-
Na data do fato a conduta já precisa ser considerada crime, pabilidade
mesmo porque como veremos adiante, no Direito Penal a lei não Arrisco dizer que é um dos princípios mais controversos no STF.
retroage para prejudicar o réu, só para beneficiá-lo. Em linhas gerais, significa que nenhuma pessoa pode ser conside-
Ou seja, a anterioridade culmina no princípio da irretroativida- rada culpada antes do trânsito em julgado da sentença penal con-
de da lei penal. Somente quando a lei penal beneficia o réu, estabe- denatória.
lecendo uma sanção menos grave para o crime ou quando deixa de Tal princípio está relacionado ao in dubio pro reo, pois enquan-
considerar a conduta como criminosa, haverá a retroatividade da to existir dúvidas, o juiz deve decidir a favor do réu. Outra implica-
lei penal, alcançando fatos ocorridos antes da sua vigência. ção relacionada é o fato de que o acusador possui a obrigação de
• 1º fato; provar a culpa do réu. Ou seja, o réu é inocente até que o acusador
• Depois lei; prove sua culpa e a decisão se torne definitiva.
• A lei volta para ser aplicada aos fatos anteriores a ela. Exceções: utiliza-se o princípio in dubio pro societate no caso
Por outro lado, o princípio da irretroatividade determina que de recebimento de denúncia ou queixa; na decisão de pronúncia.
se a lei penal não beneficia o réu, não retroagirá. E você pode estar Não é uma exceção, faz parte da regra: prisões cautelares não
se perguntando, caso uma nova lei deixar de considerar uma con- ofendem a presunção de inocência, pois servem para garantir que
duta como crime o que acontece? Abolitio criminis. Nesse caso, a o processo penal tenha seu regular trâmite.
lei penal, por ser mais benéfica ao réu, retroagirá. Obs.: Prisão como cumprimento de pena não se confunde com
No caso das leis temporárias, a lei continua a produzir efeitos prisão cautelar!
mesmo após o fim da sua vigência, caso contrário, causaria impu- • Processos criminais em curso e IP não podem ser considera-
nidade. Não gera abolitio criminis, mas sim uma situação de ultra-
dos maus antecedentes;
tividade da lei. A lei não está mais vigente, porque só abrangia um
• Não há necessidade de condenação penal transitada em jul-
período determinado, mas para os fatos praticados no período que
gado para que o preso sofra regressão de regime;
estava vigente há punição.

278
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• A descoberta da prática de crime pelo acusado beneficiado Súmula 174 - No crime de roubo, a intimidação feita com arma
com a suspensão condicional do processo enseja revogação do be- de brinquedo autoriza o aumento da pena. (Súmula 174, TERCEIRA
nefício, sem a necessidade do trânsito em julgado da sentença con- SEÇÃO, julgado em 23/10/1996, DJ 31/10/1996, p. 42124) CANCE-
denatória do crime novo. LAMENTO DA SÚMULA: A Terceira Seção, na sessão de 24/10/2002,
ao julgar o REsp 213.054/SP, determinou o CANCELAMENTO da Sú-
▪ Vedações constitucionais aplicáveis a crimes graves mula 174 do STJ (DJ 11/11/2002, p. 148).
Súmula 231 - A incidência da circunstância atenuante não pode
Não recebem conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. (Súmula 231,
Imprescritível Inafiançável anistia, graça, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/09/1999, DJ 15/10/1999)
indulto Súmula 241 - A reincidência penal não pode ser considera-
da como circunstância agravante e, simultaneamente, como cir-
Racismo e Racismo; Ação de cunstância judicial. (Súmula 241, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
Ação de grupos grupos armados 23/08/2000, DJe 15/09/2000)
armados civis civis ou militares Hediondos e Súmula 269 - É admissível a adoção do regime prisional se-
ou militares contra a ordem equiparados mi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a
contra a ordem constitucional e o (terrorismo, tráfico quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais. (Súmula 269,
constitucional Estado Democrático; e tortura). TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/05/2002, DJ 29/05/2002 p. 135)
e o Estado Hediondos e Súmula 440 - Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado
Democrático. equiparados (TTT). o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o ca-
bível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravida-
▪ Menoridade Penal de abstrata do delito. (Súmula 440, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
A menoridade penal até os 18 anos consta expressamente na 28/04/2010, DJe 13/05/2010)
CF. Alguns consideram cláusula pétrea, outros entendem que uma Súmula 442 - É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo
emenda constitucional poderia diminuir a idade. De toda forma, concurso de agentes, a majorante do roubo. (Súmula 442, TERCEIRA
atualmente, os menores de 18 anos não respondem penalmente, SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 13/05/2010)
estando sujeitos ao ECA. Súmula 443 - O aumento na terceira fase de aplicação da pena
no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta,
não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do
SÚMULAS, JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DOS TRIBU-
número de majorantes. (Súmula 443, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
NAIS SUPERIORES E LEGISLAÇÃO RELACIONADA COM OS
28/04/2010, DJe 13/05/2010)
TEMAS
Súmula 444- É vedada a utilização de inquéritos policiais e
ações penais em curso para agravar a pena-base.
APLICAÇÃO DA LEI PENAL: Súmula 491 - É inadmissível a chamada progressão per saltum
Súmula 501 - É cabível a aplicação retroativa da Lei n. de regime prisional. (Súmula 491, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas dis- 08/08/2012, DJe 13/08/2012)
posições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo Súmula 493 - É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art.
da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de 44 do CP) como condição especial ao regime aberto. (Súmula 493,
leis. (Súmula 501, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/10/2013, DJe TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2012, DJe 13/08/2012)
28/10/2013) Súmula 511 - É possível o reconhecimento do privilégio previs-
Súmula 513 - A ‘abolitio criminis’ temporária prevista na Lei to no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado,
n. 10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor
uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.(Súmula 511, TER-
identificação raspado, suprimido ou adulterado, praticado somen- CEIRA SEÇÃO, julgado em 11/06/2014, DJe 16/06/2014)
te até 23/10/2005.(Súmula 513, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em Súmula 512 - A aplicação da causa de diminuição de pena pre-
11/06/2014, DJe 16/06/2014) vista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hedion-
dez do crime de tráfico de drogas. (Súmula 512, TERCEIRA SEÇÃO,
CRIME IMPOSSÍVEL: julgado em 11/06/2014, DJe 16/06/2014) SÚMULA CANCELADA: A
Súmula 567 - Sistema de vigilância realizado por monitoramen- Terceira Seção, na sessão de 23 de novembro de 2016, ao julgar a
to eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabe- QO na Pet 11.796-DF, determinou o CANCELAMENTO da Súmula n.
lecimento comercial, por si só, não torna impossível a configura- 512-STJ.
ção do crime de furto. (Súmula 567, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em Súmula 545 - Quando a confissão for utilizada para a formação
24/02/2016, DJe 29/02/2016) do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista
no art. 65, III, d, do Código Penal. (Súmula 545, TERCEIRA SEÇÃO,
DAS PENAS: julgado em 14/10/2015, DJe 19/10/2015)
Súmula 74 - Para efeitos penais, o reconhecimento da menori-
dade do réu requer prova por documento hábil. (Súmula 74, TER- MEDIDA DE SEGURANÇA:
CEIRA SEÇÃO, julgado em 15/04/1993, DJ 20/04/1993) Súmula 527 - O tempo de duração da medida de segurança não
Súmula 171 - Cominadas cumulativamente, em lei especial, deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente comina-
penas privativa de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da ao delito praticado. (Súmula 527, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
da prisão por multa. (Súmula 171, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2015, DJe 18/05/2015)
23/10/1996, DJ 31/10/1996)

279
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE: Súmula 599: O princípio da insignificância é inaplicável aos cri-
Súmula 18 - A sentença concessiva do perdão judicial é de- mes contra a administração pública.
claratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer Súmula 606: Não se aplica o princípio da insignificância aos
efeito condenatório. (Súmula 18, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em casos de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofre-
20/11/1990, DJ 28/11/1990) quência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei
Súmula 438 - É inadmissível a extinção da punibilidade pela 9.472/97.
prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hi-
potética, independentemente da existência ou sorte do processo ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:
penal. (Súmula 438, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe Súmula 108 - A aplicação de medidas socio-educativas ao ado-
13/05/2010) lescente, pela prática de ato infracional, é da competência exclusiva
Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da con- do juiz. (Súmula 108, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 16/06/1994, DJ
denação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundá- 22/06/1994 p. 16427)
rios, penais ou extrapenais. Súmula 338 - A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-
-educativas. (Súmula 338, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/05/2007,
PRESCRIÇÃO: DJ 16/05/2007 p. 201)
Súmula 191 - A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, Súmula 342 - No procedimento para aplicação de medida só-
ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime. (Súmula cio-educativa, é nula a desistência de outras provas em face da con-
191, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/06/1997, DJ 01/08/1997) fissão do adolescente. (Súmula 342, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
Súmula 220 - A reincidência não influi no prazo da prescrição 27/06/2007, DJ 13/08/2007 p. 581)
da pretensão punitiva. (Súmula 220, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em Súmula 492 - O ato infracional análogo ao tráfico de drogas,
12/05/1999, DJ 19/05/1999) por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição de medida so-
Súmula 415 - O período de suspensão do prazo prescricional é cioeducativa de internação do adolescente. (Súmula 492, TERCEIRA
regulado pelo máximo da pena cominada. (Súmula 415, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2012, DJe 13/08/2012
SEÇÃO, julgado em 09/12/2009, DJe 16/12/2009) Súmula 605 - A superveniência da maioridade penal não in-
terfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de
TIPIFICAÇÃO PENAL: medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida,
Súmula 17 - Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais enquanto não atingida a idade de 21 anos.
potencialidade lesiva, é por este absorvido. (Súmula 17,TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 20/11/1990, DJ 28/11/1990) LEI MARIA DA PENHA:
Súmula 24 - Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure Súmula 536 - A suspensão condicional do processo e a tran-
como vítima entidade autárquica da previdência social, a qualifica- sação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito
dora do § 3º, do art. 171 do Código Penal. (Súmula 24, TERCEIRA da Lei Maria da Penha. (Súmula 536, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
SEÇÃO, julgado em 04/04/1991, DJ 10/04/1991) 10/06/2015, DJe 15/06/2015
Súmula 51 - A punição do intermediador, no jogo do bicho, in- Súmula 588: A prática de crime ou contravenção penal contra
depende da identificação do “apostador” ou do “banqueiro”. (Sú- a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico
mula 51, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 17/09/1992, DJ 24/09/1992) impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por res-
Súmula 73 - A utilização de papel moeda grosseiramente fal- tritiva de direitos.
sificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competên- Súmula 589: É inaplicável o princípio da insignificância nos cri-
cia da Justiça Estadual. (Súmula 73, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em mes ou contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito
15/04/1993, DJ 20/04/1993 p. 6769) das relações domésticas
Súmula 96 - O crime de extorsão consuma-se independente- Súmula 600: Para a configuração da violência doméstica e fa-
mente da obtenção da vantagem indevida. (Súmula 96, TERCEIRA miliar prevista no artigo 5º da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha)
SEÇÃO, julgado em 03/03/1994, DJ 10/03/1994) não se exige a coabitação entre autor e vítima.
Súmula 522 - A conduta de atribuir-se falsa identidade perante
autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada au- CORRUPÇÃO DE MENORES:
todefesa. (Súmula 522, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2015, Súmula 500 - A configuração do crime do art. 244-B do ECA
DJe 06/04/2015) independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tra-
Súmula 575 - Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou tar de delito formal. (Súmula 500, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja ha- 23/10/2013, DJ 28/10/2013)
bilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas
no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL:
de perigo de dano concreto na condução do veículo. (Súmula 575, Súmula 502 - Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/06/2016, DJe 27/06/2016) típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, do CP, a con-
Súmula 582- Consuma-se o crime de roubo com a inversão da duta de expor à venda CDs e DVDs piratas. (Súmula 502, TERCEIRA
posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, SEÇÃO, julgado em 23/10/2013, DJe 28/10/2013)
ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao Súmula 574 - Para a configuração do delito de violação de di-
agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse reito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente
mansa e pacífica ou desvigiada. a perícia realizada por amostragem do produto apreendido, nos
Súmula 593: O crime de estupro de vulnerável se configura com aspectos externos do material, e é desnecessária a identificação
a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 dos titulares dos direitos autorais violados ou daqueles que os re-
anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a presentem. (Súmula 574 TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/06/2016,
prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de rela- DJe 27/06/2016)
cionamento amoroso com o agente.

280
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
DROGAS: 5. (PREF. DE PETROLINA - GUARDA CIVIL - IDIB/2019) De
Súmula 587: Para a incidência da majorante prevista no artigo acordo com o Código Penal, assinale a alternativa correta acerca do
40, V, da Lei 11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de tempo e lugar do crime:
fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a demons- (A) Considera-se praticado o crime no momento em que ocor-
tração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual. reu a ação ou omissão, bem como quando se produziu ou de-
Súmula 607: A majorante do tráfico transnacional de drogas veria produzir-se o resultado.
(art. 40, I, da Lei 11.343/06) se configura com a prova da destinação (B) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição a ação ou omissão, ainda que outro seja o local do resultado.
de fronteiras. (C) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espon- a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
tânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhe- produziu ou deveria produzir-se o resultado.
cimento da traficância pelo acusado,não bastando a mera admissão (D) Considera-se praticado o crime no lugar da ação ou, em
da posse ou propriedade para uso próprio. caso de omissão, apenas no local do resultado.
(E) Para fins penais, o tempo e o lugar do crime são idênticos.
6. (PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA – VUNESP/2018) Prescre-
ve o art. 327 do CP: “considera-se funcionário público, para os efei-
QUESTÕES tos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego ou função pública. ”
1. (PREFEITURA DE BOA VISTA/RR - GUARDA CIVIL MUNI- Tal norma traduz exemplo de interpretação
CIPAL - SELECON/2020) Pégaso é condenado pela prática de crime (A) científica.
previsto em lei a quinze anos de reclusão, tendo a decisão judicial (B) autêntica.
transitada em julgado. Após dois anos de cumprimento da pena, (C) extensiva.
surge lei nova que deixa de considerar como crime os fatos que le- (D) doutrinária.
varam à condenação de Pégaso. Nesse caso, segundo os comandos (E) analógica
normativos do Código Penal, a lei:
(A) não retroagirá pelo efeito permanente da decisão judicial 7.(EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – CESPE/2018) A respeito
(B) retroagirá para beneficiar o réu da aplicação da lei penal, julgue o item a seguir.
(C) retroagirá se houve concordância do Ministério Público A analogia constitui meio para suprir lacuna do direito positiva-
(D) não retroagirá por ser regra de exceção do, mas, em direito penal, só é possível a aplicação analógica da lei
penal in bonam partem, em atenção ao princípio da reserva legal,
2. (TJ/PA - OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR - CESPE/2020) expresso no artigo primeiro do Código Penal.
Com relação ao tempo e ao lugar do crime, o Código Penal brasileiro ( ) CERTO
adotou, respectivamente, as teorias do (a) ( ) ERRADO
(A) resultado e da ação.
(B) consumação e do resultado. 8. (PC/BA – ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE/2018) O Código
(C) atividade e da ubiquidade. Penal estabelece como hipótese de qualificação do homicídio o co-
(D) ubiquidade e da atividade. metimento do ato com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
(E) ação e da consumação. tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum. Esse dispositivo legal é exemplo de interpretação
3. (EBSERH - ADVOGADO - VUNESP/2020) Ficam sujeitos à lei (A) analógica.
brasileira, sem a necessidade do concurso de nenhuma condição, (B) teleológica.
os seguintes crimes cometidos no estrangeiro: (C) restritiva.
(A) praticados por brasileiro. (D) progressiva.
(B)aqueles que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou (E) autêntica.
a reprimir.
(C) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado 9. (PC/MS – DELEGADO DE POLÍCIA – FAPEMS/2017) Com re-
no Brasil. lação aos princípios de Direito Penal e à interpretação da lei penal,
(D) praticados em aeronaves brasileiras, mercantes ou de pro- assinale a alternativa correta.
priedade privada, quando em território estrangeiro e aí não (A) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerte-
sejam julgados. za ou obscuridade da lei anterior.
(E) praticados em embarcações brasileiras, mercantes ou de (B) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não da execução penal.
sejam julgados. (C) A interpretação quanto ao resultado busca o significado le-
gal de acordo com o progresso da ciência.
4. (CREA/TO - ADVOGADO - QUADRIX/2019) Acerca das no- (D) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário
ções gerais de direito, julgue o item. como destinatário cujas penas impostas ao autor do delito de-
No âmbito do direito penal, aplica‐se, em regra, o princípio do vem ser proporcionais à concreta gravidade.
tempus regit actum, por meio do qual se deve aplicar a lei penal em (E) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da
vigor na data da prática do ato delituoso. No entanto, se a nova lei, lei, aquilo que ela se destina a regular.
mesmo não estando em vigor na data do crime, for mais benéfica
ao acusado, deverá retroagir para ser aplicada no caso concreto.
( ) CERTO
( ) ERRADO

281
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
10. (TJ/AL - JUIZ SUBSTITUTO - FCC/2019) Estão certos apenas os itens
No que toca à classificação doutrinária dos crimes, (A) I e II.
(A) é imprescindível a ocorrência de resultado naturalístico (B) I e IV.
para a consumação dos delitos materiais e formais. (C) II e V.
(B) é normativa a relação de causalidade nos crimes omissivos (D) III e IV.
impróprios ou comissivos por omissão, prescindindo de resul- (E) III e V.
tado naturalístico para a sua consumação.
(C) os crimes unissubsistentes são aqueles em que há iter crimi- 14. (PC/ES - ASSISTENTE SOCIAL - INSTITUTO AOCP/2019) O
nis e o comportamento criminoso pode ser cindido. crime de homicídio, art. 121 do Código Penal, é classificado doutri-
(D) os crimes omissivos próprios dependem de resultado natu- nariamente como um crime
ralístico para a sua consumação. (A) de dano, material e instantâneo de efeitos permanentes.
(E) os crimes comissivos são aqueles que requerem comporta- (B) vago, permanente e multitudinário.
mento positivo, independendo de resultado naturalístico para (C) próprio, de perigo e exaurido.
a sua consumação, se formais. (D) comum, forma livre e concurso necessário de agentes.
(E) de mão própria, habitual e de forma vinculada.
11. (PC/ES - ASSISTENTE SOCIAL - INSTITUTO AOCP/2019)
Em alguns casos, o crime exige uma condição especial do sujeito ati- 15. (VUNESP - 2020 - EBSERH – ADVOGADO) O crime de roubo
vo, podendo ser classificado em crimes comuns, próprios, de mão tem pena aumentada (CP, art. 157, § 2° e 2° A) se
própria, bi próprios, etc. Referente ao tema, assinale a alternativa (A) o bem subtraído é de propriedade de ente público Munici-
correta. pal, Estadual ou Federal.
(A) Crime próprio pode ser praticado por qualquer pessoa, não (B) a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
sendo exigida uma condição ou qualidade especial do sujeito conhece tal circunstância.
ativo. (C) praticado em transporte público ou coletivo.
(B) Crimes funcionais são crimes praticados por funcionários (D) cometido por quem, embora transitoriamente ou sem re-
públicos contra a administração. Esses crimes admitem a coau- muneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
toria e a participação de terceiros, podendo esse terceiro ser (E) cometido por quem for ocupante de cargos em comissão ou
funcionário público ou não. de função de direção ou assessoramento de órgão de empresa
(C) O crime de falso testemunho é considerado um crime pró- pública.
prio, podendo ser praticado por qualquer pessoa, portanto a lei
não exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
(D) O sujeito ativo pode ser tanto quem realiza o verbo típico
ou possui o domínio finalista do fato como quem, de qualquer GABARITO
outra forma, concorre para o crime, sendo representado ape-
nas pelo autor e coautor.
(E) O sujeito ativo, para poder ser responsabilizado, será pessoa 1 B
física, não podendo ser pessoa jurídica conforme determina a
Constituição Federal. 2 C
3 C
12. (SEFAZ/RS - TÉCNICO TRIBUTÁRIO DA RECEITA ESTA-
DUAL - CESPE/2018)O único tipo de crime que se consuma com a 4 CERTO
ocorrência do resultado naturalístico é o crime 5 C
(A) material.
6 B
(B) de mera conduta.
(C) formal. 7 CERTO
(D) omissivo próprio. 8 A
(E) habitual.
9 E
13. (DPE/PE - DEFENSOR PÚBLICO - CESPE/2018) Com rela- 10 E
ção à classificação dos crimes, julgue os itens a seguir.
I - Denomina-se crime plurissubsistente o crime cometido por 11 B
vários agentes. 12 A
II - Se o sujeito fizer tudo o que está ao seu alcance para a con-
13 C
sumação do crime, mas o resultado não ocorrer por circunstâncias
alheias à sua vontade, configura-se crime falho. 14 A
III - Havendo, em razão do tipo, dois sujeitos passivos, o crime
é denominado vago.
IV - Crime habitual cometido com ânimo de lucro é denomina-
do crime a prazo.
V - Crime praticado por intermédio de automóvel é denomina-
do delito de circulação.

282
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

— Indisponível, a autoridade policial não poderá mandar arqui-


INQUÉRITO POLICIAL. HISTÓRICO, NATUREZA, CON- var autos de inquérito policial.
CEITO, FINALIDADE, CARACTERÍSTICAS, FUNDAMEN-
TO, TITULARIDADE, GRAU DE COGNIÇÃO, VALOR Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse
PROBATÓRIO, FORMAS DE INSTAURAÇÃO, NOTITIA do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
CRIMINIS, DELATIO CRIMINIS, PROCEDIMENTOS documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
INVESTIGATIVOS, INDICIAMENTO, GARANTIAS DO com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício
INVESTIGADO. CONCLUSÃO, PRAZOS. PRESIDÊNCIA, do direito de defesa.
ARQUIVAMENTO E TRANCAMENTO DO INQUÉRITO
POLICIAL. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL PRAZOS DO IP
— No CPP o prazo é de 10 dias, prorrogável por mais 15 dias se
— Inquérito Policial o réu estiver preso, ou, o limite máximo para a conclusão do IP é de
O Inquérito Policial possui natureza de procedimento de natu- 30 dias prorrogável, se o réu se encontra solto;
reza administrativa. Não é ainda um processo, por isso não se fala — No IP federal o prazo é de 15 dias, prorrogável por mais 15
em partes, munidas de completo poder de contraditório e ampla dias se o réu estiver preso, ou, possui o limite de 30 dias caso o réu
defesa. Ademais, por sua natureza administrativa, o procedimento esteja solto;
não segue uma sequência rígida de atos. — Se o caso envolver a lei de drogas, o prazo é de 30 dias pror-
Nesse momento, ainda não há o exercício de pretensão acu- rogável por mais 30 dias, em caso de réu preso, bem como, 90 dias
satória. Não se trata, pois, de processo judicial, nem tampouco de prorrogável por mais 90 dias se o réu estiver solto;
processo administrativo. O inquérito policial consiste em um con- — Crime contra a economia popular tem prazo máximo de con-
junto de diligências realizadas pela polícia investigativa. clusão do inquérito de 10 dias sempre;
O Inquérito Policial é definido como um procedimento adminis- — Prisão temporária decretada em inquérito policial relativo a
trativo inquisitório e preparatório, presidido pelo Delegado de Polí- crimes hediondos e equiparados possui o prazo de 30 dias + 30 dias,
cia, com vistas a identificação de provas e a colheita de elementos em caso de réu preso.
de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal,
a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em
O Pacote Anticrime trouxe novo procedimento para o arquiva-
juízo.
mento no âmbito da justiça estadual, justiça federal e justiça co-
Para que se possa dar início a um processo criminal contra al-
mum do DF. De acordo com o art. 28 do CPP reformado, deixará de
guém, faz-se necessária a presença de um lastro probatório míni-
haver qualquer controle judicial sobre a promoção de arquivamen-
mo, apontando no sentido da prática de uma infração penal e da
probabilidade de o acusado ser o seu autor. Daí a finalidade do in- to apresentada pelo Ministério Público.
quérito policial, instrumento usado pelo Estado para a colheita des- Ocorre que, a eficácia desse dispositivo foi suspensa em vir-
ses elementos de informação, viabilizando o oferecimento da peça tude de medida cautelar concedida nos autos de Ação Direta de
acusatória quando houver justa causa para o processo. Inconstitucionalidade. Inclusive, foi determinado que o antigo art.
Muitas vezes o titular da ação penal (Ministério Público) não 28 permaneça em vigor enquanto perdurar a cautelar.
consegue formar uma opinião sobre a viabilidade da acusação sem
as peças informativas do inquérito policial. Portanto, a finalidade PROCEDIMENTO DO IP
do inquérito é colher esses elementos mínimos com vistas ao ajui- 1º O MP ordena o arquivamento do inquérito policial.
zamento ou não da ação penal. 2º O MP comunica a vítima, o investigado e a autoridade po-
licial.
CARACTERÍSTICAS DO IP 2º O MP encaminha os autos para a instância de revisão minis-
— Procedimento escrito. terial para fins de homologação, na forma da lei.
— Dispensável, quando já há justa causa para o oferecimento 3º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
da acusação. o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 dias
— Sigiloso. do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da
— Inquisitorial, pois ainda não é um processo acusatório. instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
— Discricionário, a critério do delegado que deve determinar respectiva lei orgânica.
o rumo das diligências de acordo com as peculiaridades do caso 4º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimen-
concreto. to da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do in-
— Oficial, incumbe ao Delegado de Polícia (civil ou federal) a quérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem
presidência do inquérito policial. couber a sua representação judicial.
— Oficioso, ao tomar conhecimento de notícia de crime de
ação penal pública incondicionada, a autoridade policial é obrigada
a agir de ofício.

283
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
No antigo procedimento de arquivamento, o Ministério Públi- — Inquérito Civil
co oferecia o arquivamento e o juiz decidia se acolhia ou não. Caso O Inquérito Civil é o instrumento utilizado para a apuração de
a autoridade judicial não acolhesse o arquivamento, remetia ao elementos que embase futura Ação Civil Pública.
PGJ para que dele partisse a decisão final, no sentido de arquivar Exclusivamente o Ministério Público poderá instaurar, sob sua
ou não. Caso não entendesse pelo arquivamento, o PGJ designava presidência, inquérito civil. Se o órgão do Ministério Público, esgo-
um longa manus para propor a ação penal ou ele mesmo o fazia. tadas todas as diligências, se convencer da inexistência de funda-
Com a mudança trazida pelo Pacote Anticrime, o controle do mento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento
arquivamento passa a ser realizado no âmbito exclusivo do Ministé- dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
rio Público, atribuindo-se à vítima a legitimidade para questionar a fundamentadamente. Os autos do inquérito civil ou das peças de
correção da postura adotada pelo órgão ministerial. informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer
em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do
— Investigação Criminal pelo Ministério Público Ministério Público.
O procedimento investigativo inerente ao Inquérito Policial não Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Públi-
é exclusivo da autoridade policial. O Ministério Público pode fazer co, seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento,
investigações, mesmo porque a ele quem mais interessa a investi- poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou
gação, visto que a finalidade desta é o acolhimento de lastro pro- documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexa-
batório mínimo para o ajuizamento da ação penal. Ademais, a CPI dos às peças de informação.
também é uma forma de colher informações para futura responsa- A promoção de arquivamento será submetida a exame e de-
bilização pessoal. liberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme
dispuser o seu Regimento. Deixando o Conselho Superior de homo-
O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para logar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal, órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar alguns parâ-
metros que podem ser a seguir listados: — Acordo de Não-Persecução Penal
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais Como exceção ao princípio da obrigatoriedade (o MP é obriga-
dos investigados; do a oferecer a denúncia), o Pacote Anticrime disciplinou o Acordo
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente docu- de Não-Persecução Penal.
mentados e praticados por membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional Requisitos:
de jurisdição, ou seja, determinadas diligências somente podem ser • Não é caso de arquivamento;
autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim • Confissão;
exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc.); • Não há violência nem grave ameaça;
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais assegu- • Pena mínima inferior a 4 anos.
radas por lei aos advogados; Condições: Reparar o dano; renunciar voluntariamente a bens
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculan- e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos,
te 14 do STF (“É direito do defensor, no interesse do representado, produto ou proveito do crime; prestar serviço à comunidade cor-
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em respondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a
procedimento investigatório realizado por órgão com competência dois terços (1/3 a 2/3); pagar prestação pecuniária a entidade pú-
de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defe- blica ou de interesse social; cumprir, por prazo determinado, outra
sa”); condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável; e compatível com a infração penal imputada.
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao Vedações: se é cabível transação penal no JECRIM; criminoso
permanente controle do Poder Judiciário. profissional; beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da
infração por acordo de não persecução penal, transação penal ou
suspensão condicional do processo; violência doméstica contra a
A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte: “O Ministério
mulher.
Público dispõe de competência para promover, por autoridade pró-
pria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde
A celebração ocorre por escrito, entre o MP, investigado e ad-
que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer in- vogado. Posteriormente, o juiz irá homologar ou não. E, as possíveis
diciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observa- consequências são:
das, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucio- • Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as
nal de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá
se acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a propos-
art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem pre- ta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor.
juízo da possibilidade — sempre presente no Estado democrático • Homologado judicialmente o acordo de não persecução pe-
de Direito — do permanente controle jurisdicional dos atos, neces- nal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie
sariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), sua execução perante o juízo de execução penal.
praticados pelos membros dessa Instituição.” • Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Minis-
STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Za- tério Público para a análise da necessidade de complementação das
vascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787). investigações ou o oferecimento da denúncia.
STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.
p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015 (repercus-
são geral) (Info 785).

284
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo • Ofendido
de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao O ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstân-
juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denún- cias da infração. A jurisprudência, inclusive, admite a condução co-
cia. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo ercitiva do ofendido.
investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público Para a sua proteção, O ofendido é comunicado sobre o ingresso
como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão e saída do acusado da prisão, dia da audiência, resultado da senten-
condicional do processo. ça/acórdão etc. Inclusive, na audiência o ofendido tem um espaço
Por outro lado, cumprido integralmente o acordo de não per- separado dos demais. O juiz sempre busca tomar as providências
secução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibi- necessárias para a preservação da intimidade do ofendido.
lidade.
No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor • Testemunhas
o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer A testemunha deve ser qualificada e prometer dizer a verdade.
a remessa dos autos a órgão superior (instância de revisão minis- O depoimento deve ser prestado oralmente, com exceção a consul-
terial). ta a breves apontamentos escritos. Ex. lembrar data etc.
Caberá RESE da decisão, despacho ou sentença que recusar O CPP adota o “cross examination”, ou seja, as perguntas são
homologação à proposta de acordo de não persecução penal. Isso feitas diretamente para as testemunhas. Todavia, o juiz não permi-
se fundamenta, uma vez que o RESE é utilizado para impugnar de- tirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo
cisões interlocutórias. quando inseparáveis da narrativa do fato.
O cônjuge, ascendentes, descendente e irmão do acusado
(CADI) podem se recusar a testemunhar, salvo quando não for pos-
PROVA. EXAME DO CORPO DE DELITO E PERÍCIAS EM sível por outro modo obter a prova do fato e suas circunstâncias.
GERAL. INTERROGATÓRIO DO ACUSADO. CONFISSÃO. Ademais, determinadas pessoas são proibidas de depor, em razão
QUALIFICAÇÃO E OITIVA DO OFENDIDO. TESTEMU- do sigilo profissional (ex. padre). Exceção: Se forem desobrigadas
NHAS. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS. pela parte interessada e quiserem dar o seu testemunho.
ACAREAÇÃO. DOCUMENTOS DE PROVA. INDÍCIOS. Quem não presta o compromisso de dizer a verdade?
BUSCA E APREENSÃO • Doentes mentais
• Menores de 14 anos
— Teoria Geral da Prova • CADI
Prova é o conjunto de elementos que visam à formação do
convencimento do juiz. Em regra, a prova é produzida durante o • Busca e Apreensão
processo, sob o manto do contraditório e ampla defesa. O que é
produzido durante o inquérito policial é denominado de elementos Busca domiciliar Busca Pessoal
de informação.
A prova é direito subjetivo das partes. Não precisam ser pro- Razões que autorizam uma Quando há fundada suspeita
vados busca domiciliar: prender de que alguém oculte consigo
– Fatos axiomáticos; criminosos, apreender arma, coisas obtidas por meios
– Fatos notórios; coisas achadas ou obtidas criminosos, cartas, elementos
– Presunções legais; por meios criminosos, de convicção. No caso de prisão
– Fatos inúteis. apreender instrumentos ou quando houver fundada
de falsificação/objetos suspeita de que a pessoa esteja
Atente-se que, mesmo que um fato seja incontroverso precisa falsificados, apreender armas na posse de arma proibida
ser objeto de prova, pois não existe revelia no processo criminal. e munições/instrumentos do ou de objetos ou papéis que
Vale conhecer um pouco sobre as principais provas do CPP: crime, provas, cartas, vítimas, constituam corpo de delito,
elementos de convicção no ou quando a medida for
Interrogatório do acusado geral. determinada no curso de busca
O interrogatório exige entrevista prévia e reservada com de- domiciliar.
fensor, qualificação do acusado e cientificação do inteiro teor da Precedida de mandado Dispensa mandado judicial.
acusação. O acusado deve ser informado sobre o direito ao silêncio judicial.
e interrogado na presença de seu defensor.
É nula a “entrevista” realizada pela autoridade policial com o
investigado, durante a busca e apreensão em sua residência, sem
que tenha sido assegurado ao investigado o direito à prévia con-
sulta a seu advogado e sem que ele tenha sido comunicado sobre
seu direito ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo.
Isso consiste em violação ao direito ao silêncio e à não autoincri-
minação.

• Confissão
A confissão é divisível e retratável, de maneira que o juiz anali-
sará de acordo com o exame das provas em seu conjunto.

285
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à
As buscas domiciliares serão A busca em mulher será feita
executadas de dia, salvo se por outra mulher, se não gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
o morador consentir que se importar retardamento ou indiciado ou acusado (inciso II).
realizem à noite, e, antes prejuízo da diligência. Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação
de penetrarem na casa, os quando da análise de imposição de prisão processual/medida cau-
executores mostrarão e lerão telar diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais gravoso,
o mandado ao morador, a prisão preventiva seja a mais adequada. Já noutro extremo, mais
ou a quem o represente, brando, pode ser que a liberdade provisória seja palavra de ordem.
intimando-o, em seguida, Qualquer coisa que ficar entre estes dois extremos pode importar
a abrir a porta. Em caso a imposição de medida cautelar de natureza diversa da prisão pro-
de desobediência, será cessual.
arrombada a porta e forçada
a entrada. Quando ausentes Espécies
os moradores, deve, neste São três espécies de prisão cautelar:
caso, ser intimado a assistir à a) Prisão em Flagrante;
diligência qualquer vizinho, se b) Prisão Temporária;
houver e estiver presente. c) Prisão Preventiva.

Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre as


• Perícia prisões, medidas cautelares e liberdade provisória:
O Pacote Anticrime trouxe dentro da perícia a cadeia de custó-
dia como garantidora da autenticidade das evidências coletadas e TÍTULO IX
examinadas, sem que haja espaço para adulteração. Assim, docu- DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE
menta-se de maneira formal um procedimento destinado a manter PROVISÓRIA
a história cronológica de uma evidência.
A consequência da quebra da cadeia de custódia (break on the Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
chain of custody) é a proibição de valoração probatória com a con- ser aplicadas observando-se a:
sequente exclusão dela e de toda a derivada. Em suma, preservar a I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
fonte de prova garante a validade da prova. ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
evitar a prática de infrações penais;
— Meios de Prova e Meios de Obtenção de Prova em Espécie II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
Meio de Prova Meio de Obtenção de Prova § 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
Corresponde à prova em si. Procedimento realizado para § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requeri-
se chegar à prova. mento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do
Ex. Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio ju- Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
rídico processual e meio de obtenção de prova, que pressupõe uti- § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi-
lidade e interesse públicos. cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no
RESTRIÇÃO DE LIBERDADE. PRISÃO EM FLAGRANTE. prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e
PRISÃO PREVENTIVA. MEDIDAS CAUTELARES. LIBER- das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos
DADE PROVISÓRIA. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. LEI Nº de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados
7.960/1989 (PRISÃO TEMPORÁRIA). LIBERDADE PRO- em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifi-
VISÓRIA, FIANÇA E MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS quem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
DA PRISÃO de 2019)
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de
Prisões seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor
A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza hu- outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preven-
mana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estuda- tiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Re-
das pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” (em dação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitucional, § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se estudará medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decretadas du- para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem ra-
rante a fase investigatória ou judicial. zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando
medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, obser-
Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberda- vado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por
de Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessidade outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamenta-
para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução cri- da nos elementos presentes do caso concreto, de forma individuali-
minal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática zada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).

286
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli- mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este pro-
to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária videnciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput
competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de deste artigo.
condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei § 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
nº 13.964, de 2019) de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí-
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa- que a decretou.
mente cominada pena privativa de liberdade. § 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual- inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado não
quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria
domicílio. Pública.
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indis- § 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimida-
pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.
de da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica-se
Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res-
o disposto no § 2o do art. 290 deste Código.
pectivo mandado.
§ 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro
Parágrafo único. O mandado de prisão:
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo.
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de
alcunha ou sinais característicos; outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão; no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autori-
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a dade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagran-
infração; te, providenciará para a remoção do preso.
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução. § 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu,
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor quando:
entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embo-
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o ra depois o tenha perdido de vista;
preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu
não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina- tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar
da por duas testemunhas. em que o procure, for no seu encalço.
Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do § 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões
mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imedia- para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida-
tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até
a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela Lei nº que fique esclarecida a dúvida.
13.964, de 2019) Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita
Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o
o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entre- mandado e o intime a acompanhá-lo.
gue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên-
pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entre- cia à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade compe-
ga do preso, com declaração de dia e hora. tente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos
Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exem- meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do
plar do mandado, se este for o documento exibido. que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.
Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grá-
da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de- vidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a
vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em
§ 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da pela Lei nº 13.434, de 2017)
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança,
prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada.
que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será
§ 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre-
intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe-
cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica-
decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e,
ção.
sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
§ 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre-
ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se
so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
medida.
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efe-
Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis-
tuará a prisão.
tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse-
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu
lho Nacional de Justiça para essa finalidade. oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que
§ 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter- se proceda contra ele como for de direito.
minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis-
de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o posto no artigo anterior, no que for aplicável.
expediu. Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis-
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta- posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes
da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado- de condenação definitiva:
tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do I - os ministros de Estado;

287
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e
o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefei- seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
tos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; flagrante delito.
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Eco-
nomia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados; Funções da prisão em flagrante
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”; São elas:
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, A) Evitar a fuga do infrator;
do Distrito Federal e dos Territórios; B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios;
VI - os magistrados; C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito.
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
República; Procedimento do flagrante
VIII - os ministros de confissão religiosa; O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente
IX - os ministros do Tribunal de Contas; descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal:
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta
de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci- o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
dade para o exercício daquela função; cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri-
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e meira parte, CPP);
Territórios, ativos e inativos. B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas
comum. respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto (art.
§ 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso es- 304, caput, parte final, CPP);
pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci- C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem se-
mento. rão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo,
Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306,
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor-
caput, CPP);
rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi-
D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado
co adequados à existência humana.
fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco-
§ 4o O preso especial não será transportado juntamente com o
lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian-
preso comum.
ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os
competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja)
mesmos do preso comum.
(art. 304, §1º, CPP);
Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de
recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo com
prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão as-
os respectivos regulamentos.
Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela auto- siná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre-
ridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos outros sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu-
quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente re- sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto
produzido o teor do mandado original. de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te-
Art. 298 - (Revogado). nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na
Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada
judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori- pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso
dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para legal (art. 305, CPP);
averiguar a autenticidade desta. F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será
Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e
das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca-
de execução penal. minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art.
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a 306, §1º, CPP);
lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins- E) No mesmo
tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori- prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao preso, median-
dades competentes. te recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo
da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas (art. 306, §2º,
Prisão em flagrante CPP);
A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com
sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de locomoção o próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015,
daquele que é surpreendido em situação de flagrância, indepen- CNJ) e, posteriormente, o juiz deverá fundamentadamente poderá
dentemente de prévia autorização judicial. A própria Constituição relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em pre-
Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual ventiva (quando presentes os requisitos do art. 312, do Código de
afirma que “ninguém será preso senão em flagrante delito...” Processo Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas
A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que signifi- cautelares diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória
ca “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em com ou sem fiança (art. 310, CPP);
flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que acaba
de acontecer”.

288
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. Atualmente,
em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Organizações Crimi-
do dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos nosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”).
no art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conce- Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é per-
der ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compare- mitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrário
cimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art. do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observados
310, parágrafo único, CPP). alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar sigilo-
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a samente a ação ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá
prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próximo os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até o encer-
(art. 308, CPP). ramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao
Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir
depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309, o êxito das investigações e ao término da diligência, elaborar-se-á
CPP). auto circunstanciado acerca da ação controlada. Outrossim, na Lei
nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é possível, desde
Espécies/modalidades de flagrante. que haja autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
Vejamos a classificação feita pela doutrina:
A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades Apresentação espontânea do acusado
policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que a
flagrante; apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes- a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante
soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se
flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade; apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi
C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante ver- no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação
dadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está co- de prisão preventiva.
metendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, causando
incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal; alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se pren-
D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase der em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do
flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de
situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua pre- que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em
visão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Processual flagrante.
Penal. CAPÍTULO II
Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta DA PRISÃO EM FLAGRANTE
perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e
delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante; seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocor- flagrante delito.
re se o agente é encontrado, logo depois do crime, com instrumen- Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
tos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da I - está cometendo a infração penal;
infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP; II - acaba de cometê-la;
F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito puta- III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
tivo por obra do agente provocador). A autoridade policial instiga o por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em flagrante. infração;
O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
espécie de flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível. tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribu- Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em
nal Federal, segundo a qual não há crime quando a preparação do flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação; Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou-
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre-
o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se-
e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem
efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagrante e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando,
considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado; a autoridade, afinal, o auto.
H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante ma- § 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con-
quiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a au- duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso
toridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do investigado de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do
somente para prendê-lo em flagrante). inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for,
I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante enviará os autos à autoridade que o seja.
protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para que
o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita

289
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão as- realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput
siná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre- deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela
sentação do preso à autoridade. omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso
puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons- ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre-
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual ventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Prisão preventiva
Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer Em qualquer fase da investigação policial ou do processo pe-
pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta- nal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento
do o compromisso legal. do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por re-
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre presentação da autoridade policial. (art. 311, CPP).
serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé- De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é
rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in-
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta
são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla- previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão pre-
grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, ventiva de ofício também durante as investigações, o que era bas-
cópia integral para a Defensoria Pública. tante criticado pela doutrina garantista, uma vez que agindo assim
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a ação).
a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e
o nome do condutor e os das testemunhas. bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga.
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto- Pressupostos da prisão preventiva
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores”
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer da prisão. São pressupostos:
o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imedia- delicti”;
tamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delitu- B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum li-
oso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto. bertatis”.
Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver
efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo
próximo. penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, “indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um
depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a certeza
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando de
são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença um eventual decreto condenatório definitivo.
do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão
Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão
deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente
2019) previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigatoria-
I - relaxar a prisão ilegal; ou mente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de auto-
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre- ria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da ordem
sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve- pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento
larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal,
da prisão; ou ou o descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. da prisão).
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos
Motivos da prisão preventiva
incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem
de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen-
ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício sufi-
te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
ciente de autoria. A saber:
comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena
A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de
de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964,
reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do
de 2019)
agente. Necessidade de afastamento do convívio social.
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

290
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação de instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja
prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece que irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual-
sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de quer entendimento consolidado sobre o tema.
caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es-
a sociedade; trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre-
B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de rei- ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur-
teração delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não
econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da há previsão recursal).
garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94
(“Lei Antitruste”); Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar
C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11)
o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do
proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor ainda não indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au-
teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que podem torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada
auxiliar no deslinde da lide; em situações especiais, desde que se comprove a real existência
D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons- da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de
trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia- Processo Penal).
bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
preventiva por este motivo; CAPÍTULO III
E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cau- DA PRISÃO PREVENTIVA
telares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da pri-
são” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei nº Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-
12.403/2011. cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí-
F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do im- cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
putado, veio com a Lei 13.964/2019.
autoridade policial.
Hipóteses em que se admite prisão preventiva
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
São elas, de acordo com o art. 312, CPP:
rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I);
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (inciso § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
II); de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici- Lei nº 13.964, de 2019)
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-
(inciso III); tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclare- medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
cê-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liber- Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
dade após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a decretação da prisão preventiva:
manutenção da medida) (parágrafo único). I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
Revogação da prisão preventiva máxima superior a 4 (quatro) anos;
Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au- II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre- transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
sobrevierem razões que a justifiquem. Penal;
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos ter- mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
mos dos parágrafos dos artigos 315, CPP.. ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
IV - (Revogado).
Recurso de decisão acerca da prisão preventiva § 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver
Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for-
requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
o agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito. colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo
Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga- se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação
ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses acima
vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem
maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal

291
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de- ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou evitar a prática de infrações penais;
recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) - Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente
praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput Medidas cautelares diversas da prisão em espécie
do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có- Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei
digo Penal. nº 12.403/2011 São elas:
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi-
preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I);
pela Lei nº 13.964, de 2019) B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis- ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de
tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica- novas infrações (inciso II);
ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) C) Proibição de manter contato com pessoa determinada
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado
seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei ou acusado deva permanecer distante (inciso III);
nº 13.964, de 2019) D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên-
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão de- (inciso IV);
cidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº fixos (inciso V);
13.964, de 2019) F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou- natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI);
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite-
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, ração (inciso VII);
sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí- o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu
do pela Lei nº 13.964, de 2019) andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou (inciso VIII);
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) agora, também o foi para o prisma processual.
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, re-
vogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do pro- O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me-
cesso, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o ór- CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas
gão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a da prisão.
cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na
sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de
2019) liberdade somente quando estritamente necessário, também as-
sim passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da pri-
Medidas cautelares diversas da prisão são preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em
Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabí- último caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de
veis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acu- liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade
sado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extremos provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso
antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses em que de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di-
nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram as medidas versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento
mais adequadas. Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de processual.
Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo deixado entre o Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi-
claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por “medidas cau- cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada.
telares diversas da prisão”. Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente;
Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs- ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen-
tas no art. 282 do CPP, sendo estes: te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão
fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute-

292
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente. cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal)
Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz e houver risco de reiteração;
respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di- VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
versas da prisão. comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an-
Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o IX - monitoração eletrônica.
caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é § 1º ao §3º (Revogados).
perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do
diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas
lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi- cautelares.
co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer- Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada
cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter-
da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora- ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar
ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da
devida fundamentação feita pela autoridade policial. Liberdade provisória, com ou sem fiança
Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
CAPÍTULO IV preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz
DA PRISÃO DOMICILIAR deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga-
rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons-
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi- tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou
ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
com autorização judicial.
sem fiança.
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi-
São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória,
ciliar quando o agente for:
a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada:
I - maior de 80 (oitenta) anos;
A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva-
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6
concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº
(seis) anos de idade ou com deficiência;
12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber-
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri-
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple-
tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber-
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese
nº 13.257, de 2016) em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido subs-
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idô- tituído por redação absolutamente diferente da anterior. Assim,
nea dos requisitos estabelecidos neste artigo. conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade pro-
visória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11;
CAPÍTULO V B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver-
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati-
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi-
cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará-
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;
grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão de
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
diversas da prisão;
ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de
C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da
novas infrações;
doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o
III - proibição de manter contato com pessoa determinada
de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma
ou acusado dela permanecer distante; legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”,
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com
cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de cumulação de medida cautelar, liberdade provisória sem a cumu-
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho lação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumpri-
fixos; mento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento de
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade obrigações.
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
sua utilização para a prática de infrações penais;

293
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Recurso em sede de liberdade provisória pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em
Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a deci- primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais
são que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a
estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será
ser combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas determinado pela sua cotação em Bolsa.
meio autônomo de impugnação.
Dispensa/redução/aumento da fiança
Fiança Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança
A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP):
e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I).
para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua exis- Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e,
tência como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicio- verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o
nante ou não da concessão de liberdade provisória. sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa
Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci- “prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma-
dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio-
de Processo Penal). nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca- beneficiário;
sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II);
superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP). C) Aumentada em até mil vezes (inciso III).
De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Pe-
nal, não será concedida fiança: Destinação da Fiança
A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as
art. 5º, XLII, da Constituição Federal; seguintes providências:
B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- A) Pagamento de custas;
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art.
B) Indenização do dano;
323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede-
C) Pagamento de prestação pecuniária;
ral;
D) Pagamento de multa;
C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-
E) Remanescente será devolvido.
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323,
inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal;
Objeto da Fiança
D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an-
A) Depósito em dinheiro;
teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer
B) Pedras, objetos ou metais preciosos;
das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de
C) Títulos da dívida pública;
Processo Penal (art. 324, inciso I);
E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II); D) Hipoteca de imóvel.
F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação
da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III); Perda da fiança
G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”). Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava- cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im-
gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança; posta, independentemente do regime, a fiança será dada por per-
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema dida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu va-
Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta lor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver
lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre- obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido
Valor da fiança estrito (art. 581, VII, CPP).
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con-
sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna Cassação da fiança
A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo-
e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua
cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati-
periculosidade, bem como a importância provável das custas do
cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar
processo, até final julgamento (art. 326, CPP).
a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.
Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual
Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo
Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa-
nos seguintes limites: ção.
A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido
cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior estrito (art. 581, V, CPP).
a quatro anos (inciso I);
B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da Reforço da fiança
pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja
(inciso II). porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova ti-
pificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja
Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro- porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque
cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi-
to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida

294
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo es-
reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança crivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e
inidônea). dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos.
Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen- Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri-
tido estrito (art. 581, V, CPP). vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327
e 328, o que constará dos autos.
CAPÍTULO VI Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em
DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos
da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação inscrita em primeiro lugar.
da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, § 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au-
deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste toridade.
Código. § 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sen-
nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não do nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus.
seja superior a 4 (quatro) anos. Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re-
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi-
juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos.
Art. 323. Não será concedida fiança: Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder
I - nos crimes de racismo; fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona-
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- de fiança.
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e,
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante- em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou
riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; prisão.
II - em caso de prisão civil ou militar; Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde-
III - (Revogado). pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação do processo a fim de requerer o que julgar conveniente.
da prisão preventiva (art. 312). Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a em julgado a sentença condenatória.
conceder nos seguintes limites: Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con-
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me-
infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em
superior a 4 (quatro) anos; 48 (quarenta e oito) horas.
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
(quatro) anos. niária e da multa, se o réu for condenado.
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
fiança poderá ser: da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; Penal).
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas Código.
de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
do processo, até final julgamento. será cassada em qualquer fase do processo.
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a
comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica-
para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. ção do delito.
Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebra- Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:
da. I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;
Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra- II - quando houver depreciação material ou perecimento dos
mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou
autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias pedras preciosas;
de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde III - quando for inovada a classificação do delito.
será encontrado. Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será reco-
Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um lhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for re-
livro especial, com termos de abertura e de encerramento, numera- forçada.
do e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destinado Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:

295
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com- ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte
parecer, sem motivo justo; (art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c.
do processo; art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual-
III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56),
com a fiança; tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste-
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III).
V - praticar nova infração penal dolosa. Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte:
Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de- quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decre-
clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos tar a prisão temporária? Há várias posições na doutrina.
Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve
perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo- estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado
sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois re-
da prisão preventiva. quisitos ao menos.
Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian- Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a
ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do presença de apenas um requisito.
cumprimento da pena definitivamente imposta. Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen-
Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas ça dos três requisitos conjuntamente.
as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos
recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código de
Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva.
previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido Não há um entendimento prevalente, todavia.
ao fundo penitenciário, na forma da lei.
Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será Prazo da prisão temporária
entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da prisão
encargos a que o réu estiver obrigado. temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por caso de comprovada e extrema necessidade.
meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo
órgão do Ministério Público. Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo
Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre- quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por
ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor. “Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão tempo-
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a rária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso
situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- de comprovada e extrema necessidade.
visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328
deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. Procedimento da prisão temporária
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus- O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o 7.960/89:
disposto no § 4o do art. 282 deste Código. A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo
Prisão temporária juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re-
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, querimento do Ministério Público (na hipótese de representação
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Mi-
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão nistério Público);
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro ho-
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela ras, contados a partir do recebimento da representação ou do re-
qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- querimento;
nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú-
O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- blico e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado,
mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
plenamente constitucional. submetê-lo a exame de corpo de delito;
Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de pri-
Lei nº 7.960/89: são (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado e ser-
A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in- virá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente poderá
quérito policial (inciso I); ser executada depois de expedido o mandado judicial (aqui reside a
B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer principal diferença em relação à “prisão para averiguações”, extinta
elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade policial meramente re-
II); colhia o indivíduo ao claustro e se limitava a notificar a autoridade
C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer judicial disso);
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º, dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem-
CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º, brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art. mente, separados dos demais detentos);
158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art.
159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento

296
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá § 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério
ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con- Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta-
versão da medida em prisão preventiva. do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
submetê-lo a exame de corpo de delito.
Mandado de prisão § 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de
É o instrumento emanado da autoridade competente para a prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e
execução da prisão, prevista no artigo 285. servirá como nota de culpa.
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o perí-
odo de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste
LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989 artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado.(Inclu-
ído pela Lei nº 13.869. de 2019)
Dispõe sobre prisão temporária. § 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi-
ção de mandado judicial.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na- § 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal.
Art. 1° Caberá prisão temporária: § 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au-
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito toridade responsável pela custódia deverá, independentemente
policial; de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer pela Lei nº 13.869. de 2019)
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do § 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no
indiciado nos seguintes crimes: cômputo do prazo de prisão temporária.(Redação dada pela Lei nº
a) homicídio doloso(art. 121, caput, e seu § 2°); 13.869. de 2019)
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato-
b) sequestro ou cárcere privado(art. 148, caput, e seus §§ 1°
riamente, separados dos demais detentos.
e 2°);
Art. 4° Oart. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965,fica
c) roubo(art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
d) extorsão(art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
“Art. 4° ...............................................................
e) extorsão mediante sequestro(art. 159, caput, e seus §§ 1°,
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de
2° e 3°);
medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou
f) estupro(art. 213, caput, e sua combinação com oart. 223,
de cumprir imediatamente ordem de liberdade;”
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um
g) atentado violento ao pudor(art. 214, caput, e sua combina- plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e
ção com oart. 223, caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão tem-
2.848, de 1940) porária.
h) rapto violento(art. 219, e sua combinação com oart. 223 Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940) Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
i) epidemia com resultado de morte(art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado ALTERAÇÕES DA LEI Nº 12.403/2011
com art. 285);
l) quadrilha ou bando(art. 288), todos do Código Penal; LEI Nº 12.403, DE 4 DE MAIO DE 2011.
m) genocídio(arts. 1°,2°e3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de
1956), em qualquer de sua formas típicas; Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro
n) tráfico de drogas(art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à prisão processual,
de 1976); fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, e dá outras
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de providências.
junho de 1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.(Incluído pela Lei nº A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
13.260, de 2016) cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da
representação da autoridade policial ou de requerimento do Minis- Art. 1º Os arts. 282, 283, 289, 299, 300, 306, 310, 311, 312, 313,
tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual 314, 315, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324, 325, 334, 335, 336,
período em caso de extrema e comprovada necessidade. 337, 341, 343, 344, 345, 346, 350 e 439 do Decreto-Lei nº 3.689, de
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, passam a vigorar
Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. com a seguinte redação:
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) “ TÍTULO IX
horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE
requerimento. PROVISÓRIA”

“Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão


ser aplicadas observando-se a:

297
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação § 1º Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla-
evitar a prática de infrações penais; grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias cópia integral para a Defensoria Pública.
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. § 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante re-
§ 1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da
cumulativamente. prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.” (NR)
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício “Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz de-
ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação verá fundamentadamente:
criminal, por representação da autoridade policial ou mediante re- I - relaxar a prisão ilegal; ou
querimento do Ministério Público. II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre-
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi- sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve-
cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas
determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia da prisão; ou
do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
em juízo. Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em fla-
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações grante, que o agente praticou o fato nas condições constantes dos
impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministé- incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
rio Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente,
medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de com-
prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). parecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.”
§ 5º O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la (NR)
quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como vol- “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-
tar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí-
§ 6º A prisão preventiva será determinada quando não for ca- cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
bível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319).” (NR) Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli- autoridade policial.” (NR)
to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
competente, em decorrência de sentença condenatória transitada rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtu- da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
de de prisão temporária ou prisão preventiva. (Vide ADC Nº 43) quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
(Vide ADC Nº 44) (Vide ADC Nº 54) autoria.
§ 1º As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decre-
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativamen- tada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações im-
te cominada pena privativa de liberdade. postas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º ).” (NR)
§ 2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domi- decretação da prisão preventiva:
cílio.” (NR) I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
“Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora máxima superior a 4 (quatro) anos;
da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de- II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sen-
vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. tença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do
§ 1º Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da - Código Penal;
prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada. III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
§ 2º A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre- mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici-
cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica- ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
ção. IV - (revogado).
§ 3º O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre- Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva
so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quan-
medida.” (NR) do esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, de-
“Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado vendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori- identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da
dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para medida.” (NR)
averiguar a autenticidade desta.” (NR) “Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
“Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente
das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput
de execução penal. do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-
Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a la- digo Penal.” (NR)
vratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da insti- “Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a pri-
tuição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autorida- são preventiva será sempre motivada.” (NR)
des competentes.” (NR)
“Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se en-
contre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

298
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
“CAPÍTULO IV “Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fian-
DA PRISÃO DOMICILIAR” ça nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima
não seja superior a 4 (quatro) anos.
“Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi- Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao
ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.” (NR)
com autorização judicial.” (NR) “Art. 323. Não será concedida fiança:
“Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela do- I - nos crimes de racismo;
miciliar quando o agente for: II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
I - maior de 80 (oitenta) anos; gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
6 (seis) anos de idade ou com deficiência; IV - (revogado);
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo V - (revogado).” (NR)
esta de alto risco. “Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante-
dos requisitos estabelecidos neste artigo.” (NR) riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
“CAPÍTULO V II - em caso de prisão civil ou militar;
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES” III - (revogado);
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação
“Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: da prisão preventiva (art. 312).” (NR)
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- “Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; conceder nos seguintes limites:
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares a) (revogada);
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado b) (revogada);
ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco c) (revogada).
de novas infrações; I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de
III - proibição de manter contato com pessoa determinada infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado superior a 4 (quatro) anos;
ou acusado dela permanecer distante; II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4
cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; (quatro) anos.
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de § 1º Se assim recomendar a situação econômica do preso, a
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fiança poderá ser:
fixos; I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes.
de sua utilização para a prática de infrações penais; § 2º (Revogado):
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes I - (revogado);
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- II - (revogado);
cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) III - (revogado).” (NR)
e houver risco de reiteração; “Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o em julgado a sentença condenatória.” (NR)
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an- “Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a
damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la,
IX - monitoração eletrônica. mediante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá
§ 1º (Revogado). em 48 (quarenta e oito) horas.” (NR)
§ 2º (Revogado). “Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
§ 3º (Revogado). pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
§ 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Ca- niária e da multa, se o réu for condenado.
pítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
cautelares.” (NR) da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
“Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada Penal).” (NR)
pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter- “Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.” (NR) ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
“Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, Código.” (NR)
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 “Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:
deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com-
Código. parecer, sem motivo justo;
I - (revogado) II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento
II - (revogado).” (NR) do processo;

299
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente Brasília, 4 de maio de 2011; 190º da Independência e 123º da
com a fiança; República.
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial;
V - praticar nova infração penal dolosa.” (NR)
“Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DI-
perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo- REITO PROCESSUAL PENAL
sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação
da prisão preventiva.” (NR) — Princípios do Processo Penal
“Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian- O Direito Processual Penal se embasa em diversos princípios,
ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do que buscam evitar arbitrariedades estatais. Aqui vamos ter a opor-
cumprimento da pena definitivamente imposta.” (NR) tunidade de conhecer a principal base principiológica processual
“Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas penal:
as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será • Presunção de Inocência: direito de não ser declarado culpa-
recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.” (NR) do até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (fim
“Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as dedu- do devido processo legal).
ções previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será reco-
lhido ao fundo penitenciário, na forma da lei.” (NR) Atenção: A consequência deste princípio é que a acusação (Mi-
“Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a nistério Público) fica com o ônus de demonstrar a culpabilidade do
situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- acusado. Ex. para a imposição de uma sentença condenatória é ne-
visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 cessário provar, eliminando qualquer dúvida razoável (in dubio pro
deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. reo).
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus-
to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e
disposto no § 4º do art. 282 deste Código.” (NR) ações penais em curso para agravar a pena-base.
“Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá CUIDADO: O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado
serviço público relevante e estabelecerá presunção de idoneidade da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é consti-
moral.” (NR) tucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocên-
Art. 2º O Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Có- cia, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88.
digo de Processo Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte art. Assim, é proibida a chamada “execução provisória da pena”.
289-A: Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do
“Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis- trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos),
tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse- no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão
lho Nacional de Justiça para essa finalidade. judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado de-
§ 1º Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter- monstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva
minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional de previstos no art. 312 do CPP.
Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o ex-
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em
pediu.
julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execu-
§ 2º Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta-
ção provisória da pena.
da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado-
STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min.
tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade
Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019 (Info 958).
do mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este
providenciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput
• Contraditório: Consiste no direito à informação e ao direito
deste artigo.
de participação. Ou seja, direito de receber citações e intimações;
§ 3º A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí- direito de participar e reagir, como, por exemplo, oferecer resposta
da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo à acusação, recorrer.
que a decretou. Súmula 707 STF: Constitui nulidade a falta de intimação do
§ 4º O preso será informado de seus direitos, nos termos do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da
inciso LXIII do art. 5º da Constituição Federal e, caso o autuado não rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor da-
informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria tivo.
Pública.
§ 5º Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimi- • Ampla defesa: direito de se defender com todas as provas
dade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica- admitidas em direito. Ex. interrogatório.
-se o disposto no § 2º do art. 290 deste Código. Súmula 523 STF: No processo penal, a falta da defesa constitui
§ 6º O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo.” prova de prejuízo para o réu.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de A defesa técnica é exercida pelo advogado. É obrigatória na
sua publicação oficial. fase processual. A autodefesa é exercida pela própria parte. Com-
Art. 4º São revogados o art. 298, o inciso IV do art. 313, os §§ 1º preende o direito de audiência (se apresentar ao juiz para defender-
a 3º do art. 319, os incisos I e II do art. 321, os incisos IV e V do art. -se pessoalmente); direito de presença (acompanhar os atos de ins-
323, o inciso III do art. 324, o § 2º e seus incisos I, II e III do art. 325 trução ao lado do seu defensor); capacidade postulatória autônoma
e os arts. 393 e 595, todos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro (impetrar HC, ajuizar revisão criminal, formular pedidos relativos à
de 1941 - Código de Processo Penal. execução da pena).

300
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
• Publicidade: o processo é público para que possa haver con- STF. 1ª Turma. HC 174400 AgR/DF, rel. orig. Min. Roberto Barro-
trole da sociedade. Exceção: sigilo para a preservação do direito à so, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/9/2019
intimidade. (Info 953).
Art. 5º (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Ju-
diciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob Os dados bancários entregues à autoridade fiscal pela socie-
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determi- dade empresária fiscalizada, após regular intimação e independen-
nados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a temente de prévia autorização judicial, podem ser utilizados para
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade subsidiar a instauração de inquérito policial para apurar suposta
do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à in- prática de crime contra a ordem tributária.
formação; STJ. 5ª Turma. RHC 66520-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
2/2/2016 (Info 577).
• Princípio da busca da verdade: busca na reconstituição dos
fatos que aconteceram, mas sem a pretensão de se chegar à ver- O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra
dade real, pois essa utopia já justificou a tortura. São inadmissíveis prática delituosa não impede a sua utilização em persecução crimi-
provas obtidas por meios ilícitos, para que seja evitado provar a nal diversa por meio do compartilhamento da prova.
qualquer custo, por meio de ilegalidades e violações de direitos. STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 9/12/2015 (Info 811).
Veja os principais julgados sobre o assunto:
Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produ- • Princípio do juiz natural: ninguém será sentenciado por au-
zida no âmbito da Receita Federal do Brasil por meio da obtenção toridade que não seja a competente, segundo regras abstratas de
de informações de instituições financeiras sem prévia autorização competência. O sentido desta violação é manter a imparcialidade
judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF decidiu que do juízo e evitar o Tribunal de Exceção.
são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/2001, que permitem Atente-se para o princípio do promotor natural, de manei-
o acesso direto da Receita Federal à movimentação financeira dos ra que ninguém será PROCESSADO por autoridade que não seja a
contribuintes. competente, segundo regras abstratas sobre as atribuições do Mi-
STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado nistério Público.
em 19/4/2016 (Info 822). Não viola o Princípio do Promotor Natural se o Promotor de
Justiça que atua na vara criminal comum oferece denúncia contra
Se determinada prova é considerada ilícita, ela deverá ser de- o acusado na vara do Tribunal do Júri e o Promotor que funciona
sentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que neste juízo especializado segue com a ação penal, participando dos
fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não atos do processo até a pronúncia.
devem ser desentranhadas e substituídas.
No caso concreto, em um primeiro momento, entendeu-se que
A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais peças judi-
a conduta não seria crime doloso contra a vida, razão pela qual os
ciais não são “provas” do crime e, por essa razão, estão fora da re-
autos foram remetidos ao Promotor da vara comum. No entanto,
gra que determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos
mais para frente comprovou-se que, na verdade, tratava-se sim de
prevista art. 157 do CPP.
crime doloso.
Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não
Com isso, o Promotor que estava no exercício ofereceu a de-
determina a exclusão de “peças processuais” que a elas façam re-
núncia e remeteu a ação imediatamente ao Promotor do Júri, que
ferência.
poderia, a qualquer momento, não a ratificar.
STF. 2ª Turma. RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julga-
do em 29/11/2016 (Info 849). Configurou-se uma ratificação implícita da denúncia.
Não houve designação arbitrária ou quebra de autonomia.
O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial STF. 1ª Turma.HC 114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
(art. 159 do CPP). p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/10/2017 (Info
Do ponto de vista estritamente formal, o perito papiloscopista 880).
não se encontra previsto no art. 5º da Lei nº 12.030/2009, que lista
os peritos oficiais de natureza criminal. É inconstitucional a nomeação de promotor ad hoc, isso por-
Apesar disso, a perícia realizada por perito papiloscopista não que, a CF traz preceito expresso (art. 129, § 2º) de exclusividade
pode ser considerada prova ilícita nem deve ser excluída do pro- aos integrantes da carreira para o desempenho de qualquer função
cesso. atinente ao Ministério Público, como o é a promoção da ação penal
Os peritos papiloscopistas são integrantes de órgão público ofi- pública (art. 129, I, da CF). Ademais, a Constituição Federal garan-
cial do Estado com diversas atribuições legais, sendo considerados te ao indivíduo o direito de somente ser processado e julgado por
órgão auxiliar da Justiça. órgão independente do Estado, vedando-se, por consequência, a
Não deve ser mantida decisão que determinava que, quando o designação discricionária de particular para exercer o poder estatal
réu fosse levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria escla- da persecução penal.
recer aos jurados que os papiloscopistas – que realizaram o laudo STF. Plenário. ADI 2958, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
pericial – não são peritos oficiais. Esse esclarecimento retiraria a 27/09/2019.
neutralidade do conselho de sentença. Isso porque, para o jurado
leigo, a afirmação, pelo juiz no sentido de que o laudo não é ofi- • Nemo tenetur se detegere (ninguém é obrigado a produzir
cial equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe prova contra si mesmo): o acusado tem o direito de autopreservar-
às partes, respeitado o contraditório e a ampla defesa, durante o -se, o que faz parte da natureza humana, e, com isso, não produzir
julgamento pelo tribunal do júri, defender a validade do documento provas que vão levar à sua condenação. Ex. direito ao silêncio.
ou impugná-lo.

301
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Eventual irregularidade na informação acerca do direito de Em um Estado Democrático de Direito, o sistema acusatório é a
permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhe- garantia do cidadão contra qualquer arbítrio do Estado. A contrario
cimento depende da alegação em tempo oportuno e da comprova- sensu, no Estado totalitário, em que a repressão é a mola mestra e
ção do prejuízo. há supressão dos direitos e garantias individuais, o sistema inquisi-
O simples fato de o réu ter sido condenado não pode ser consi- tivo encontra sua guarida.
derado como o prejuízo. A doutrina tende a definir o sistema processual penal de cada
É o caso, por exemplo, da sentença que condena o réu funda- Estado tomando por base uma característica considerada principal
mentando essa condenação não na confissão, mas sim no depoi- ou considerando, necessariamente, a presença de todos os princí-
mento das testemunhas, da vítima e no termo de apreensão do pios de forma integral para definir um ou outro sistema, classifican-
bem. do como misto o sistema que apresente características tanto de um
STJ. 5ª Turma. RHC 61754/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da regime totalitário, quanto de um regime democrático.
Fonseca, julgado em 25/10/2016. Contudo, na prática, não é possível dizer que um Estado que
A falta do registro do direito ao silêncio não significa que este adote o sistema inquisitivo é ditatorial ou que um Estado que ado-
não tenha sido comunicado ao interrogado, pois o registro não é te o sistema acusatório é necessariamente democrático. O Brasil,
exigido pela lei processual. por exemplo, é indiscutivelmente um Estado democrático que, para
Em outras palavras, não é porque não está escrito no termo muitos doutrinadores, como veremos, adotaria o sistema processu-
de interrogatório que o interrogando foi advertido de que poderia al penal inquisitivo.
ficar em silêncio que se irá, obrigatoriamente, declarar a nulidade Os sistemas processuais variam de país para país e normalmen-
do ato. te, não necessariamente, são reflexo da conjuntura político-social
STJ. 6ª Turma. RHC 65977/BA, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado de cada um deles. No Brasil, tendo em vista as incongruências per-
em 10/03/2016. sistentes entre o Código de Processo Penal e a Constituição Fede-
ral de 1988, muito se discute, ainda, acerca do sistema processual
A CF/88 determina que as autoridades estatais informem os penal vigente.
presos que eles possuem o direito de permanecer em silêncio (art.
5º, LXIII). O SISTEMA PROCESSUAL PENAL ACUSATÓRIO
Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não apenas O sistema processual penal acusatório tem origem no segundo
pelo Delegado, durante o interrogatório formal, mas também pelos período evolutivo do processo penal romano, quando a expansão
policiais responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque do Império, no final do período republicano, fez necessária a cria-
a todos os órgãos estatais impõe-se o dever de zelar pelos direitos ção de mecanismos mais eficientes de investigação de determina-
fundamentais. dos crimes.
A falta da advertência quanto ao direito ao silêncio torna ilícita O aumento do número de causas e a dificuldade de processá-
a prova obtida a partir dessa confissão. -las nas grandes assembleias acarretaram a necessidade de se de-
STF. 2ª Turma. RHC 170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, legar as funções jurisdicionais do Senado ou do povo para tribunais
julgado em 4/5/2021 (Info 1016). ou juízes em comissão, órgãos jurisdicionais inicialmente tempo-
rários, que levavam o nome de quaestiones, constituídos por cida-
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO PENAL. SISTE- dãos representantes do povo romano (iudices iurati) e presidido
MAS DE PROCESSO PENAL pelo pretor (quaesitor).
A importância histórica das quaestiones “se deve ao fato de
que elas substituíram as assembleias populares no julgamento dos
Podemos dizer que a palavra sistema, dentre suas inúmeras casos penais, por conseguinte evitando influências políticas e dan-
definições, significa um “conjunto de elementos, concretos ou abs- do à jurisdição um caráter mais técnico e autônomo”.
tratos, intelectualmente organizado”, ou melhor, uma O sistema processual penal acusatório ganhou seus contornos
Estrutura que se organiza com base em conjuntos de unida- clássicos no Direito Inglês, no reinado de Henrique II, quando foi
des interrelacionáveis por dois eixos básicos: o eixo das que podem instituído, em 1166, o chamado trial by jury, no qual o julgamen-
ser agrupadas e classificadas pelas características semelhantes que to popular se dividia em duas etapas: a da admissão da acusação
possuem, e o eixo das que se distribuem em dependência hierár- e a da aplicação do direito material ao caso. O representante do
quica ou arranjo funcional. rei, equivalente ao juiz-presidente, “não intervinha, a não ser para
Assim, os sistemas surgem de elementos comuns, que, juntos, manter a ordem e, assim, o julgamento se transformava num gran-
formam uma unidade maior característica, podendo estar todos os de debate, numa grande disputa entre acusador e acusado, acusa-
elementos presentes, um ou outro ausente, ou, ainda, misturados, ção e defesa.”
o que definirá tais sistemas, respectivamente, como puros, impró-
O Estado, então, para garantir a necessária separação de fun-
prios ou impuros.
ções, cria um órgão próprio: o Ministério Público, com origem nos
Nesse sentido, Paulo Rangel define o sistema processual penal
procuradores do rei da França do final do século XIV. Será o órgão
como sendo “o conjunto de princípios e regras constitucionais, de
ministerial, assim, o responsável pela propositura da ação penal
acordo com o momento político de cada Estado, que estabelece as
diretrizes a serem seguidas à aplicação do direito penal a cada caso quando pública. Mantendo-se a iniciativa da ação penal privada, ou
concreto.” a dependente de representação, nas mãos do particular.
Observa-se, dessa forma, que o sistema processual de cada Cria-se, assim, o ato de três personagens: o juiz, órgão impar-
Estado varia com o contexto político-social em que se encontra. cial de aplicação da lei a ser provocado; o autor, responsável pela
De modo que, nos Estados totalitários, a moldura da legalidade se acusação; e o réu, que não é visto como um mero objeto do proces-
estende, aumentando o espaço para a discricionariedade e para o so, exercendo seus direitos e garantias.
campo de atuação do Estado-juiz. Já nos Estados democráticos, a
atuação do juiz é mais restrita, encontrando seu limite nos direitos
individuais, como ensina Rangel:

302
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Com base nos ensinamentos de Goldschmidt, Aury Lopes Jr. cultura processual mais arredia a manipulações, mormente porque
explica que “no modelo acusatório, o juiz se limita a decidir, dei- o réu, antes de ser um acusado, é um cidadão e, portanto, senhor
xando a interposição de solicitações e o recolhimento do material de direitos inafastáveis e respeitados.
àqueles que perseguem interesses opostos, isto é, às partes.”. Independente de sua característica fundante, fato é que, dian-
Dessa forma, no sistema acusatório, o magistrado deixa de te da atual estrutura democrática estatal, diferentemente do que
reunir em suas mãos as três funções, manifestando-se, apenas, ocorre na maioria dos ordenamentos que adotam o sistema misto,
quando devidamente provocado, garantindo-se, desse modo, a im- “o sistema acusatório é um imperativo do moderno processo pe-
parcialidade do julgador, última razão do processo acusatório. nal” e deve ser aplicado de forma efetiva e não como meras pro-
Também conduz a uma maior tranquilidade social, pois evi- messas.
ta-se eventuais abusos da prepotência estatal que se pode mani-
festar na figura do “juiz apaixonado” pelo resultado de sua labor O SISTEMA PROCESSUAL PENAL INQUISITIVO
investigadora e que, ao sentenciar, olvida-se dos princípios básicos O termo “inquisitivo”, nos dicionários, refere-se à inquisição,
de justiça, pois tratou o suspeito como condenado desde o início que designava, no início, o processo adotado desde o século XII pe-
da investigação. los tribunais eclesiásticos para investigação criminal, tendo sido o
Pode-se dizer, resumidamente, que o sistema processual pe- papa Gregório IX quem, no século XIII, instituiu a Inquisição como
nal acusatório apresenta como características[10]: as funções de justiça e tribunal eclesiásticos da Idade Média que julgava os delitos
acusar, julgar e defender em mãos distintas; a publicidade dos atos contra a fé, em sua forma definitiva e persecutória, com o objetivo
processuais como regra; a presença do contraditório e da ampla de exterminar aqueles considerados hereges.
defesa durante todo o processo; o réu como sujeito de direitos; a O sistema processual penal inquisitivo, por sua vez, como en-
iniciativa probatória nas mãos das partes; a possibilidade de impug- sina Rangel,
nar decisões com o duplo grau de jurisdição; e o sistema de provas Surgiu nos regimes monárquicos e se aperfeiçoou durante o
de livre convencimento motivado. direito canônico, passando a ser adotado em quase todas as legisla-
A principal crítica a este sistema sempre foi, e segue sendo, em ções europeias dos séculos XVI, XVII e XVIII. Surgiu com sustento na
relação à inércia do juiz, que, ao deixar exclusivamente nas mãos afirmativa de que não se poderia deixar que a defesa social depen-
dos litigantes a produção probatória, terá que se conformar com desse da boa vontade dos particulares, já que eram estes que inicia-
“as consequências de uma atividade incompleta das partes, tendo vam a persecução penal no acusatório privado anterior. O cerne de
que decidir com base em um material defeituoso que lhe foi pro- tal sistema era a reivindicação que o Estado fazia para si do poder
porcionado.” de reprimir a prática dos delitos, não sendo mais admissível que tal
Quanto à essência do sistema acusatório, para autores como repressão fosse encomendada ou delegada aos particulares.
Eugênio Pacelli, Paulo Rangel e Hélio Tornaghi, ela está na separa- Não se admitia mais a delegação do poder de repressão por se
ção das funções de acusar, defender e julgar. Contudo, esta não é considerar que tamanha discricionariedade nas mãos de um parti-
uma posição pacífica na doutrina. Para Joaquim Canuto, por exem- cular acabava por tornar a realização da justiça muito dispendiosa,
plo, a decisão fundamentada com o que consta nos autos, em con- quando não acarretava na, tão indesejada, impunidade do autor
junto com outras características típicas, é o que define o sistema do delito.
acusatório puro e o que afasta por completo o poder inquisitório A concentração das funções de acusar e julgar nas mãos do
do juiz. Estado-juiz foi, então, a solução encontrada e a característica prin-
O poder inquisitório do juiz é amplo ainda quando às partes é cipal do sistema inquisitivo, o que, claramente, comprometia a im-
dado requerer a instauração do procedimento, definitivo ou preli- parcialidade do julgador, que passou a tomar a iniciativa da própria
minar. Permanece quando lhes é possível instruir o juízo por meio acusação a ser julgada por ele mesmo.
de alegações e produção de meios de prova. Restringe-se, quando O sistema inquisitório muda a fisionomia do processo de forma
radical. O que era um duelo leal e franco entre acusador e acusado,
o juiz é obrigado a atender a tais pedidos de produção de provas
com igualdade de poderes e oportunidades, se transforma em uma
por outro motivo que não seja a demonstração da existência do
disputa desigual entre o juiz-inquisidor e o acusado. O primeiro
crime e da autoria; ou quando o juiz é obrigado a instaurar pro-
abandona sua posição de árbitro imparcial e assume a atividade de
cedimento sempre que requerido pelo autor. Diminui, ainda mais,
inquisidor, atuando desde o início também como acusador. Con-
quando o juiz não pode ter a iniciativa para proceder; e anula-se, fundem-se as atividades do juiz e acusador, e o acusado perde a
definitivamente, se o juiz não pode senão julgar segundo o alegado condição de sujeito processual e se converte em mero objeto da
e provado pelas partes. Este é o tipo processual acusatório puro. investigação.
Já Jacinto Coutinho e Aury Lopes Jr. consideram que é a ges- Ademais, a publicidade dos atos processuais, que predominava
tão da prova exclusivamente nas mãos das partes, figurando o juiz no começo, foi, aos poucos, substituída pelos processos sigilosos.
como mero espectador, que constitui o princípio dispositivo, o qual “As sentenças, que na época Republicana eram lidas oralmente
fundamenta o sistema acusatório. desde o alto do Tribunal, no Império assumem a forma escrita e
No sistema acusatório, o processo continua sendo um instru- passam a ser lidas na audiência.”
mento de descoberta de uma verdade histórica. Entretanto, con- Mais uma vez, a não pacificação doutrinária quanto à caracte-
siderando que a gestão da prova está nas mãos das partes, o juiz rística fundante dos sistemas se reflete, também, no modelo inqui-
dirá, com base exclusivamente nessas provas, o direito a ser apli- sitivo. Apesar de grande parte dos autores enxergar a concentração
cado no caso concreto (o que os ingleses chamam de judge made das funções em uma só mão seu caráter principal, Jacinto Coutinho
law). Aliás, O processo penal inglês, assim, dentro do common law, defende a posição de que a gestão da prova é a responsável por
nasce como um autêntico processo de partes, diverso daquele an- estruturar o sistema através do princípio inquisitivo, cabendo ao
tes existente. Na essência, o contraditório é pleno; e o juiz estatal julgador, como juiz inquisidor, gerir a prova, o que fundamentaria
está em posição passiva, sempre longe da colheita da prova. (...) É o sistema inquisitório.
elementar que um processo calcado em tal base estruturasse uma

303
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Com efeito, pode-se dizer que o sistema inquisitório, regido policial com a judicializada; e assim todo um exercício imunizatório
pelo princípio inquisitivo, tem como principal característica a ex- (ou melhor, uma fraude de etiquetas) para justificar uma condena-
trema concentração de poder nas mãos do órgão julgador, o qual ção, que na verdade está calcada nos elementos colhidos no segre-
detém a gestão da prova. Aqui, o acusado é mero objeto de inves- do da inquisição. O processo acaba por converter-se em uma mera
tigação e tido como o detentor da verdade de um crime, da qual repetição ou encenação da primeira fase.
deverá dar contas ao inquisidor. Percebe-se que, nesse sistema, a imparcialidade do magistrado
Nos moldes do sistema inquisitivo, portanto, o juiz acaba não continuou comprometida, mantendo-se o juiz na colheita das pro-
formando seu convencimento diante das provas dos autos que, an- vas antes mesmo da acusação, quando deveria este ser retirado da
teriormente, teriam sido trazidas pelas partes, “mas visa convencer fase persecutória, “entregando-se a mesma ao Ministério Público,
as partes de sua íntima convicção, pois já emitiu, previamente, um que é quem deve controlar as diligências investigatórias realizadas
juízo de valor ao iniciar a ação”. pela polícia de atividade judiciária, ou, se necessário for, realizá-
Juan Montero Aroca critica a expressão “Processo Inquisitivo” -las pessoalmente, formando sua opinio delicti e iniciando a ação
afirmando que penal”.
[...] o denominado processo inquisitivo não foi e, obviamente, O sistema processual penal misto tem como característica
não pode ser, um verdadeiro processo. Se este se identifica como básica, portanto, ser bifásico, com “uma fase inicial inquisitiva, na
actum trium personarum, em que ante um terceiro imparcial com- qual se procede a uma investigação preliminar e a uma instrução
parecem duas partes parciais, situadas em pé de igualdade e com preparatória, e uma fase final, em que se procede ao julgamento
plena contradição, e apresentam um conflito para que aquele o com todas as garantias do processo acusatório”[32]. Sendo o pro-
solucione aturando o direito objetivo, algumas das características cedimento preliminar secreto, escrito, sem contraditório e ampla
que temos indicado próprias do sistema inquisitivo levam inevita- defesa; e a fase judicial, oral, pública, com todos os atos praticados
velmente à conclusão de que esse sistema não pode permitir a exis- em audiência, garantidos ao acusado os direitos de contraditório e
tência de um verdadeiro processo. Processo inquisitivo se resolve ampla defesa.
assim em uma contradição entre termo. Aury Lopes Junior, no entanto, critica a classificação do sistema
Paulo Rangel, no entanto, discorda da posição de Aroca, consi- como misto, considerando ela insuficiente e redundante, uma vez
derando o processo inquisitivo sim um processo, que apenas teria
que “não existem mais sistemas puros (são tipos históricos), todos
certas marcas que o identificam com a inquisição, como o papel do
são mistos.”. Para o autor, é preciso localizar “o princípio informa-
autor e do julgador na mesma pessoa, que acaba por retirar algu-
dor de cada sistema”, seu núcleo, que, então, fará um sistema ser
mas garantias constitucionais do acusado.
ou inquisitivo ou acusatório.
Adequada ou não a expressão, podemos apontar como carac-
Como não pode haver um princípio misto, consequentemente,
terísticas do sistema processual penal inquisitivo[25]: concentração
também não poderia ser o sistema assim classificado. O sistema
das três funções (acusar, defender e julgar) nas mãos de uma só
seria informado por um princípio unificador, de modo que, em sua
pessoa; início da acusação pelo juiz ex officio; processo sigiloso e
essência, seria sempre puramente inquisitivo ou acusatório; misto,
sempre escrito; a ausência do contraditório e da ampla defesa, uma
apenas em relação a elementos secundários emprestados de um
vez que o acusado é visto como mero objeto do processo, e não
para outro sistema.
como sujeito de direitos, sem lhe conferir qualquer garantia; e o
[...] não é preciso grande esforço para entender que não há - e
sistema da prova tarifada, sendo a confissão a “rainha das provas”
nem pode haver - um princípio misto, o que, por evidente, desfigu-
ra o dito sistema. Assim, para entendê-lo, faz-se mister observar o
O SISTEMA PROCESSUAL PENAL MISTO
fato de que, ser misto significa ser, na essência, inquisitório ou acu-
Com a Revolução Francesa, os movimentos filosóficos da épo-
satório, recebendo a referida adjetivação por conta dos elementos
ca acabaram por repercutir, também, na esfera do processo penal,
(todos secundários), que de um sistema são emprestados ao outro.
retirando, aos poucos, características do modelo inquisitivo, em
prol da valorização que passou a ser dada ao homem. Esse momen-
O SISTEMA PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO
to coincidiu com a adoção dos Júris Populares, dando início à pas-
Antes de discorrer sobre os variados posicionamentos doutri-
sagem para o sistema processual penal misto, predominante até
nários acerca da classificação do sistema processual brasileiro, é
hoje.
importante lembrar que o “atual” Código de Processo Penal Bra-
Com fortes influências do sistema acusatório privado de Roma
sileiro data de 1941, influenciado pelo Código de Rocco, código
e do posterior sistema inquisitivo, desenvolvido a partir do Direi-
processual penal italiano de 1930. Como explica Espínola Filho, o
to canônico e da formação dos Estados nacionais sob o regime da
código italiano, reflexo da época de Mussolini, tinha uma forte ma-
monarquia absolutista, no sistema processual penal misto, a per-
triz autoritária. Para se ter uma ideia, participou da redação deste
secução penal seguiu nas mãos do Estado-juiz em fase preliminar,
último Vincenzo Manzini, representante da escola técnico-jurídica,
passando o início da persecução penal para as mãos do Ministério
que via o processo penal como instrumento de combate ao crime e
Público, responsável pela acusação.
não de garantia de direitos do indivíduo frente ao Estado (VILELA,
O sistema misto, assim, é dividido em duas fases: a primeira,
2005, p. 49). Para Manzini, por exemplo, segundo Espínola Filho
consistente na instrução preliminar, tocada pelo juiz e nitidamente
(1954), a presunção de inocência era um absurdo ilógico, pois que,
inquisitiva; e a segunda, judicial, sendo a acusação feita por órgão
se havia uma acusação contra uma pessoa, era porque existiam for-
distinto do que irá realizar o julgamento.
tes indícios de autoria, não podendo esta pessoa ser tratada como
Visto por Jacinto Coutinho como um “monstro de duas cabe-
inocente.
ças”, Aury Lopes Jr. aponta como principal defeito do modelo o fato
Diante dessa influência autoritária e da “lógica” da presunção
de que
de culpa, até hoje, muitos artigos do Código Processual Penal Bra-
[...] a prova é colhida na inquisição do inquérito, sendo trazi-
sileiro vão de encontro com princípios e direitos dados ao longo
da integralmente para dentro do processo e, ao final, basta o belo
dos anos e garantidos pela Constituição Federal de 1988, fazendo
discurso do julgador para imunizar a decisão. Esse discurso vem
com que não haja uma classificação doutrinária unânime quanto ao
mascarado com as mais variadas fórmulas, do estilo: a prova do
sistema processual penal do país.
inquérito é corroborada pela prova judicializada; cotejando a prova

304
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Para autores como Hélio Tornaghi e Edilson Bonfim, por exem- Não se nega, no entanto, a “impureza” do sistema brasilei-
plo, nosso sistema seria bifásico, e, por conseguinte, misto, con- ro, considerando que resquícios do sistema inquisitivo ainda per-
siderando o Inquérito Policial, nitidamente inquisitivo, como fase meiam a lei processual penal do país. Como dispõe Rangel.
preliminar do processo, seguida pela fase judicial, de caráter acu- O Brasil adota um sistema acusatório que, no nosso modo de
satório. ver, não é puro em sua essência, pois o Inquérito Policial regido
Mirabette, Tourinho e Scarance, no entanto, refutam o enten- pelo sigilo, pela inquisitoriedade, tratando o indiciado como obje-
dimento que se baseia na teoria do processo bifásico para classifi- to de investigação, integra os autos do processo, dando acesso ao
car o sistema processual penal como misto, por considerarem que a juiz a informações que deveriam ser desconsideradas em juízo, mas
fase investigatória não é propriamente processual e sim de caráter que a prática tem demonstrado que são comumente levadas em
eminentemente administrativo. consideração pelo magistrado. Assim, não podemos dizer, pelo me-
De fato, a participação de um órgão jurisdicional é pressupos- nos assim pensamos, que o sistema acusatório adotado entre nós
to de existência do processo, e, sendo o Inquérito presidido por é puro. Há resquícios do sistema inquisitivo, porém já avançamos
uma autoridade policial, não passaria este de um procedimento muito.
administrativo, só havendo que se falar em processo a partir da de- Ainda, para alguns, as possibilidades de produção supletiva de
manda apresentada ao órgão jurisdicional competente, quando, ao provas ex officio pelo magistrado seriam outros exemplos da “im-
menos em teoria, as garantias constitucionais do sistema acusató- pureza” do sistema pátrio. Rangel, entretanto, refuta esse papel
rio passam a vigorar. Ademais, diferentemente do que ocorre, por atribuído aos poderes instrutórios do juiz, considerando que tais
exemplo, na França, que adota o modelo misto, o juiz, no Brasil, em possibilidades estão ligadas ao princípio da verdade real, e não ao
nenhum momento realiza a investigação diretamente. sistema acusatório.
Nucci também considera o sistema brasileiro misto (inquisiti- Para Aury Lopes Jr. e Jacinto Coutinho, como visto anterior-
vo-acusatório, inquisitivo garantista ou acusatório mitigado), fun- mente, o núcleo do processo penal está na gestão da prova, já que
damentando seu entendimento não no processo bifásico, mas em a finalidade deste seria reconstituir o crime como um fato histórico
um “senso de realidade”. que é, o que só é possível com as provas trazidas aos autos, que
Os princípios norteadores do sistema, advindos da Constitui- levam à verdade processual, corroborando ou não com os fatos
narrados.
ção Federal, possuem inspiração acusatória (ampla defesa, contra-
Destarte, a diferenciação destes dois sistemas processuais
ditório, publicidade, separação entre acusação e julgador, impar-
[Acusatório e Inquisitório] faz-se através de tais princípios unifica-
cialidade do juiz, presunção de inocência etc.). Porém, é patente
dores [dispositivo e inquisitivo], determinados pelo critério de ges-
que o corpo legislativo processual penal, estruturado pelo Código
tão da prova. Ora, se o processo tem por finalidade, entre outras,
Processual Penal e leis especiais, utilizado no dia a dia forense, ins-
a reconstituição de um fato pretérito, o crime, mormente através
truindo feitos e produzindo soluções às causas, possui institutos ad-
da instrução probatória, a gestão da prova, na forma pela qual ela é
vindos tanto do sistema acusatório quanto do sistema inquisitivo.
realizada, identifica o princípio unificador.
Os doutrinadores, por sua vez, que consideram o sistema pro-
Aury Lopes Jr. não nega a importância da separação das fun-
cessual penal brasileiro acusatório se baseiam na posição adotada
ções de julgar, defender e acusar, mas a considera um elemento
pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 129, inciso I, que
secundário (assim como a oralidade, a publicidade, o livre conven-
dispõe ser atividade privativa do Ministério Público promover a
cimento motivado etc.), não sendo por si só suficiente para a ade-
ação penal pública, o que afastaria qualquer possibilidade de per-
quação do modelo acusatório.
secução pelo órgão julgador.
Apontada pela doutrina como fator crucial na distinção dos sis-
Nesse sentido, posiciona-se Paulo Rangel, afirmando que “ho-
temas, a divisão entre as funções de investigar-acusar-julgar é uma
diernamente, no direito pátrio, vige o sistema acusatório, pois a
importante característica do sistema acusatório, mas não é a única
função de acusar foi entregue, privativamente, a um órgão distinto:
e tampouco pode, por si só, ser um critério determinante, quando
o Ministério Público, e, em casos excepcionais, ao particular.”
não vier aliada a outras (como iniciativa probatória, publicidade,
Capez, ao tratar do sistema acusatório, aponta suas caracte-
contraditório, oralidade, igualdade de oportunidades etc.).
rísticas relacionando-as com nossas garantias constitucionais, con-
Assim, para Aury Lopes Jr. e Jacinto Coutinho, diante dos dis-
cluindo, também, ser o sistema acusatório o adotado pelo Brasil:
positivos que atribuem poderes instrutórios ao juiz, o sistema pro-
A Consituição Federal de 1988 vedou ao juiz a prática de atos
cessual penal brasileiro não seria misto e muito menos acusatório,
típicos de parte, procurando preservar a sua imparcialidade e ne-
mas sim essencialmente inquisitivo.
cessária equidistância, prevendo distintamente as figuras do inves-
[...] pode-se concluir que o sistema processual penal brasileiro
tigador, acusador e julgador. O princípio do ne procedat iudez ex
é, na essência, inquisitório, porque regido pelo princípio inquisitivo,
officio (inércia jurisdicional) preserva o juiz e, ao mesmo tempo,
já que a gestão da prova está, primordialmente, nas mãos do juiz,
constitui garantia fundamental do acusado, em perfeita sintonia
o que é imprescindível para a compreensão do Direito Processual
com o processo acusatório.
Penal vigente no Brasil.
[...]
No entanto, Pacelli, que vê como elemento essencial a sepa-
O sistema acusatório pressupõe as seguintes garantias consti-
ração das funções nas mãos de personagens distintos, refuta esse
tucionais: da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV), do devido processo
posicionamento, alegando que:
legal (art. 5º, LIV), da garantia do acesso à justiça (art. 5º, LXXIV), da
Não será o fato de se atribuir uma reduzida margem de inicia-
garantia do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII), do tratamento pari-
tiva probatória ao juiz na fase processual, isto é, no curso da ação,
tário das partes (art. 5º, caput e I), da ampla defesa (art. 5º, LV, LVI
que apontará o modelo processual penal adotado.
e LXII), da publicidade dos atos processuais e motivação dos atos
O juiz inerte, como é a regra no denominado sistema de partes
decisórios (art. 93, IX) e da presunção da inocência (art. 5º, LVII).
do direito norte-americano, normalmente classificado pela dou-
(Gianpaolo Poggio Smanio. Criminologia e juiza especial criminal.
trina como modelo acusatório puro, encontra fundamentação em
São Paulo, Atlas, 1997, p. 31-8). É o sistema vigente entre nós.
premissas e postulados valorativos absolutamente incompatíveis,
não só com nossa realidade atual, mas com a essência do processo
penal.

305
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
E isso porque a base ou estrutura sobre a qual repousa o alu- A palavra bens, utilizado pelo inciso, está empregado em sen-
dido sistema é, e como não poderia deixar de ser, a igualdade en- tido amplo, a alcançar tanto bens materiais como os imateriais. Na
tre as partes. Mas não a igualdade material, na qual se examina as ação muitas vezes a discussão versa sobre interesses de natureza
concretas possibilidades de exercício de direitos e faculdades, mas não material, como a honra, a dignidade, etc, e as consequências
unicamente a igualdade formal, isto é, aquela segundo o qual todos de uma sentença judicial não consistem apenas em privar alguém
são iguais perante a lei, ainda que, na realidade histórica, jamais se de sua liberdade ou de seus bens, mas, podem também representar
comprove semelhante situação (de igualdade). Em sistemas como um mandamento, uma ordem, um ato constitutivo ou desconstitu-
este, do juiz inerte, há se conviver, em maior ou menor grau, com a tivo, uma declaração ou determinação de fazer ou não fazer.
possibilidade de condenação de alguém pela insuficiência defensi- Em razão do devido processo legal, é possível a alegação de
va, reputada, a priori, igual à atividade acusatória. algumas garantias constitucionais imprescindíveis ao acusado, que
O supracitado autor, assim como Rangel, entende que, diante constituem consequência da regularidade processual:
das distinções entre o sistema inquisitivo e o sistema acusatório, o a) Não identificação criminal de quem é civilmente identificado
adotado pelo Brasil seria mesmo o segundo, contudo, reconhece (inciso LVIII, da Magna Carta de 1988, regulamentada pela Lei nº
que a questão não é simples: 10.054/00);
Há realmente algumas dificuldades na estruturação de um b) Prisão só será realizada em flagrante ou por ordem judicial
modelo efetivamente acusatório, diante do caráter evidentemente (inciso LVI, CF/88), que importou em não recepção da prisão admi-
inquisitivo do nosso Código Processual Penal e seu texto originário. nistrativa prevista nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal;
Nada obstante, pequenos, mas importantes, reparos foram fei- c) Relaxamento da prisão ilegal (inciso LXV, CF/88);
tos ao longo desses anos, em relação à construção de um modelo d) Comunicação imediata da prisão ao juiz competente e à fa-
prioritariamente acusatório de processo penal. mília do preso (inciso LXII, Carta Magna de 1988);
Geraldo Prado, por sua vez, considera que o que prevalece no e) Direito ao silêncio, bem como, a assistência jurídica e fami-
Brasil é a teoria da aparência acusatória, uma vez que a Constitui- liar ao acusado (inciso LXIII, CF/88);
ção Federal, com todas as garantias e a privatividade da ação penal f) Identificação dos responsáveis pela prisão e/ou pelo interro-
pública dada ao Ministério Público, de fato se filiou ao sistema acu- gatório policial (inciso LXIV, Magna Carta de 1988);
satório. Mas, levando em consideração o concreto estatuto jurídico g) Direito de não ser levado à prisão quando admitida liberdade
dos sujeitos processuais e a dinâmica dos tribunais, diz que se deve provisória, com ou sem o pagamento de fiança (inciso LXVI, CF/88);
admitir que o princípio e o sistema acusatórios ainda são meras h) Impossibilidade de prisão civil, observadas as exceções dis-
promessas. postas no texto constitucional (LXVII, CF/88).

Princípios são os bases que alicerçam determinada legislação, Princípio da inocência


podendo estarem expressos na ordem jurídica positiva ou implíci- O Princípio da inocência dispõe que ninguém pode ser consi-
tos segundo uma dedução lógica, importando em diretrizes para o derado culpado senão após o trânsito em julgado de uma sentença
elaborador, aplicador e intérprete das normas. condenatória (vide art. 5º, inciso LVII, CF/88).
Dita Celso Antônio Bandeira de Melo acerca dos princípios que O princípio é também denominado de princípio do estado de
“o princípio exprime a noção de mandamento nuclear de um siste- inocência ou da não culpabilidade. Apesar de responder a inquérito
ma”. policial ou processo judicial, ainda que neste seja condenado, o ci-
O direito processual penal por se tratar de uma ciência, têm dadão não pode ser considerado culpado, antes do trânsito em jul-
princípios que lhe dão suporte, sejam de ordem constitucional ou gado da sentença penal condenatória. O tratamento dispensado ao
infraconstitucional, que informam todos os ramos do processo, ou acusado deve ser digno e respeitoso, evitando-se estigmatizações.
sejam, específicos do direito processual penal. A acusação por sua vez é incumbida do ônus da prova de cul-
pabilidade, ou seja, a prova com relação a existência do fato e a sua
Princípios do direito processual penal brasileiro autoria, ao passo que à defesa incumbe a prova das excludentes de
Princípio do Devido Processo Legal ilicitude e de culpabilidade, acaso alegadas. Em caso de dúvida, de-
O Princípio do devido processo legal está consagrado, na legis- cide-se pela não culpabilidade do acusado, com a fundamentação
lação brasileira, no art. 5º, inciso LIV, da CF/88, e visa assegurar a legal no princípio do in dubio pro reo.
qualquer litigante a garantia de que o processo em que for parte,
necessariamente, se desenvolverá na forma que estiver estabele- Ratificando a excepcionalidade das medidas cautelares, deven-
cido a lei. do, por conseguinte, toda prisão processual estar fundada em dois
Este princípio divide-se em: devido processo legal material, ou requisitos gerais, o periculum libertatis e o fumus comissi delicti.
seja trata acerca da regularidade do próprio processo legislativo, e Restou ainda consagrado no art. 5º, LXIII, da CF/88 que nin-
ainda o devido processo legal processual, que se refere a reg ulari- guém é obrigado a fazer prova contra si, consagrando, assim, o di-
dade dos atos processuais. reito ao silêncio e a não auto incriminação. O silêncio não poderá
O devido processo legal engloba todas as garantias do direito acarretar repercussão positiva na apuração da responsabilidade pe-
de ação, do contraditório, da ampla defesa, da prova lícita, da re- nal, nem poderá acautelar presunção de veracidade dos fatos sobre
cursividade, da imparcialidade do juiz, do juiz natural, etc. O pro- os quais o acusado calou-se, bem como o imputado não pode ser
cesso deve ser devido, ou seja, o apropriado a tutelar o interesse obrigado a produzir prova contra si mesmo.
discutido em juízo e resolver com justiça o conflito. Tendo ele que
obedecer a prescrição legal, e principalmente necessitando atender Princípio do juiz natural
a Constituição. O princípio do juiz natural está previsto no art. 5º, LIII da Cons-
tituição Federal de 1.988, e é a garantia de um julgamento por um
Conforme aduz o inciso LIV, do art. 5º, da Magna Carta, “nin- juiz competente, segundo regras objetivas (de competência) previa-
guém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido pro- mente estabelecidas no ordenamento jurídico, bem como, a proi-
cesso legal”.

306
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
bição de criação de tribunais de exceção, constituídos à posteriori quando verificada a necessidade de restringir a incidência do prin-
a infração penal, ou seja, após da prática da violação, e especifica- cípio em questão, esta limitação não poderá dirigir-se ao advogado
mente para julgá-la. do Réu ou ao órgão de acusação. Contudo, quanto a esse aspecto,
o Superior Tribunal de Justiça, em algumas decisões, tem permitido
O Juiz natural, é aquele dotado de jurisdição constitucional, que seja restringido, em casos excepcionais, o acesso do advogado
com competência conferida pela Constituição Federativa do Brasil aos autos do inquérito policial. Sendo assim, a regra geral a publi-
ou pelas leis anteriores ao fato. Pois, somente o órgão pré-constitu- cidade, e o segredo de justiça a exceção, urge que a interpretação
ído pode exercer a jurisdição, no âmbito predefinido pelas normas do preceito constitucional se dê de maneira restritiva, de modo a só
de competência assim, o referido princípio é uma garantia do juris- se admitir o segredo de justiça nas hipóteses previstas pela norma.
dicionado, da jurisdição e do próprio magistrado, porque confere
ao primeiro direito de julgamento por autoridade judicante pre- A publicidade traz maior regularidade processual e ajustiça da
viamente constituída, garante a imparcialidade do sistema jurisdi- decisão do povo.
cional e cerca o magistrado de instrumentos assecuratórios de sua Princípio da verdade real
competência, regular e anteriormente fixada. A função punitiva do Estado só pode fazer valer-se em face
daquele que realmente, tenha cometido uma infração, portanto, o
Princípio da legalidade da prisão processo penal deve tender à averiguação e a descobrir a verdade
A Magna Carta prevê um sistema de proteção às liberdades, real.
colecionando várias medidas judiciais e garantias processuais no No processo penal o juiz tem o dever de investigar a verdade
intuito de assegurá-las. real, procurar saber como realmente os fatos se passaram, quem
Existem assim as medidas específicas e medidas gerais. Entre realmente praticou-os e em que condições se perpetuou, para dar
as específicas, são consideradas aquelas voltadas à defesa de liber- base certa à justiça. Salienta-se que aqui deferentemente da área
dades predefinidas, como por exemplo: o Habeas Corpus, para a civil, o valor da confissão não é extraordinário porque muitas vezes
liberdade de locomoção. A CF/88 demonstra grande preocupação o confidente afirma ter cometido um ato criminoso, sem que o te-
com as prisões, tutelando a liberdade contra elas em várias oportu- nha de fato realizado.
nidades, direta e indiretamente, impondo limitações e procedimen- Se o juiz penal absolver o Réu, e após transitar em julgado a
tos a serem observados para firmar a regularidade da prisão, meios sentença absolutória, provas concludentes sobre o mesmo Réu sur-
e casos de soltura do preso, alguns direitos do detento, e medidas girem, não poderá se instaurado novo processo em decorrência do
para sanar e questionar a prisão. mesmo fato. Entretanto, na hipótese de condenação será possível
Por outro lado, os incisos do art. 5º da Constituição Federal que ocorra uma revisão. Pois, o juiz tem poder autônomo de inves-
asseguram a liberdade de locomoção dentro do território nacional tigação, apesar da inatividade do promotor de justiça e da parte
(inciso XV), dispõe a cerca da personalização da pena (inciso XLV), contrária.
cuidam do princípio do contraditório e da ampla defesa, assim A busca pela verdade real se faz com as naturais reservas oriun-
como da presunção da inocência (inciso LV e LVII, respectivamente), das da limitação e falibilidade humanas, sendo melhor dizer verda-
e, de modo mais taxativa, o inciso LXI - da nossa Lei Maior - que de processual, porque, por mais que o juiz procure fazer uma re-
constitui que construção histórica e verossímil do fato objeto do processo, muitas
“Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem vezes o material de que ele se vale poderá conduzi-lo ao erro, isto é,
escrita e fundamentada da autoridade competente...”; a uma falsa verdade real.

O inciso LXV, por sua vez traz que “a prisão ilegal será imediata- Princípio do livre convencimento
mente relaxada pela autoridade judiciária; o inciso LXVI, estabelece O presente princípio, consagrado no art. 157 do Código de Pro-
que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei cesso Penal, impede que o juiz possa julgar com o conhecimento
admitir a liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança; que eventualmente tenha além das provas constantes nos autos,
o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão civil por dívida, exceto pois, o que não estiver dentro do processo equipara-se a inexistên-
a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de cia. E, nesse caso o processo é o universo em que deverá se ater o
obrigação alimentícia e a do depositário infiel; o inciso LXVIII, pres- juiz. Tratando-se este princípio de excelente garantia par impedir
creve que conceder-se-habeas corpus sempre que alguém sofrer ou julgamentos parciais. A sentença não é um ato de fé, mas a exte-
julgar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade riorização da livre convicção formada pelo juiz em face de provas
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; e também pres- apresentadas nos autos.
creve o inciso LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa conde-
nada por erro judiciário, bem como aquela que ficar presa além do Princípio da oficialidade
tempo fixado na sentença. Este princípio esta inicialmente relacionado com os princípios
da legalidade e da obrigatoriedade. A diretriz da oficialidade funda-
Princípio da publicidade -se no interesse público de defesa social.
Todo processo é público, isto, é um requisito de democracia e Pela leitura do caput do art. 5º da Lei Maior (CF/88), compreen-
de segurança das partes (exceto aqueles que tramitarem em segre- de-se que a segurança também é um direito individual, sendo com-
do de justiça). É estipulado com o escopo de garantir a transparên- petência do estado provê-la e assegurá-la por meio de seus órgãos.
cia da justiça, a imparcialidade e a responsabilidade do juiz. A possi- O art. 144 da Constituição Federal, trata da organização da se-
bilidade de qualquer indivíduo verificar os autos de um processo e gurança pública do País, ao passo que o art. 4º do Código de Pro-
de estar presente em audiência, revela-se como um instrumento de cesso Penal estabelece atribuições de Polícia Judiciária e o art. 129,
fiscalização dos trabalhos dos operadores do Direito. inciso I, da Constituição Federal especifica o munus do Ministério
A regra é que a publicidade seja irrestrita (também denomi- Público no tocante à ação penal pública.
nada de popular). Porém, poder-se-á limitá-la quando o interesse
social ou a intimidade o exigirem (nos casos elencados nos arts. 5º,
LX c/c o art 93, IX, CF/88; arts. 483; 20 e 792, §2º, CPP). Giza-se que

307
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
O artigo art. 30 do Código Processual Penal estabelece as exce- Princípio da indisponibilidade
ções ao princípio da oficialidade em relação a ação penal privada; e Este princípio da ação penal refere-se não só ao agente, mas
ainda no art. 29 deste Código, para a ação penal privada subsidiária também aos partícipes. Todavia, apresenta entendimentos diver-
da pública. gentes, até porque, em estudo nenhum a doutrina consagra um ou
Existe ainda outra aparente exceção à oficialidade da ação pe- outro posicionamento, entendendo-se que embora possa ensejar o
nal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14, da Lei entendimento de que tal dispositivo, de fato fere o princípio de in-
nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados “crimes” disponibilidade e indivisibilidade da ação penal pública, analisando-
de responsabilidade do Presidente da República. -se de maneira ampla e moderna o princípio da indisponibilidade,
Esta lei especial esta relacionada ao que alude o art. 85, pa- no intuito de demonstrar que tal ataque não é uno.
rágrafo único, da Constituição Federal de 1988. Perceba-se que os
delitos previstos na legislação de 1950, que foi recepcionada pela Partindo-se de que a atuação do MP no processo penal é dupla,
Carta de 1988, não atribuem sanção privativa de liberdade. A puni- com dominus litis e, simultaneamente, com custos legis. E, por estas
ção esta restrita à perda do cargo com a inabilitação para a função razões, o representante do Ministério Público além de ser acusador,
pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da Constituição Fede- tem legitimidade e, em determinados casos, o dever de recorrer em
ral, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50. favor do Réu, requerendo-lhe benefícios, etc. Por isso, o Ministério
Ficando claro, portanto, que, embora chamadas de “crimes” de Público não se enquadra como “parte” na relação formada no pro-
responsabilidade, as infrações previstas pela Lei nº. 1079/50 e pelo cesso penal, estabelecendo-se meramente como órgão encarrega-
art. 85, da CF/88 não são de fato delitos criminais, mas sim infra- do de expor os fatos delituosos e representar o interesse social na
ções político-administrativas, que acarretam o “impeachment” do sua apuração.
Presidente da República.
Os doutrinadores LUIZ FLÁVIO GOMES e ALICE BIANCHINI, co- O código processual penal, dispõe em seu art 42, que o Minis-
erentemente afirmaram que “se for entendido que as condutas tério Público não poderá desistir da ação penal, entretanto na mes-
previstas no art. 10 da Lei 1.079/50 são de caráter penal, torna-se ma norma jurídica, estabelece que o MP promoverá e fiscalizará a
absurdo permitir a todo cidadão o oferecimento da denúncia, pois execução da lei, forte no art 257, da referida lei. Necessário se faz
amplia o rol dos legitimados para propositura de ação penal, em
enxergar, que não se tratam de desistências, visto que receberá a
total afronta ao art. 129, I, da Constituição, que estabelece a com-
denúncia, quanto ao mérito da causa criminal, o que lhe é termi-
petência privativa do Ministério Público”.
nantemente proibido, mas quando à viabilidade acusatória, e ainda
Princípio da disponibilidade
assim, o não recebimento da denúncia deverá ser justificado, como
É um princípio cujo o titular da ação penal pode utilizar-se dos
diz o dispositivo. Tratando-se, na realidade, de um verdadeiro juízo
institutos da renúncia, da desistência, etc. É um princípio exclusivo
de admissibilidade da denúncia, onde são verificadas as condições
das ações privadas.
da ação e a definição do quadro probatório.
O princípio da disponibilidade significa que o Estado, sem abrir
Assim sendo, uma vez constatado materialmente o fato, há que
mão do seu direito punitivo, outorga ao particular o direito de acu-
se justificar o abordamento da ação penal que o motivou, aqui não
sar, podendo exerce-lo se assim desejar. Caso contrário, poderá o
poderá, o Ministério Público ficar inerte. Se a lei lhe conferiu a in-
prazo correr até que se opere a decadência, ou ainda, o renunciará
cumbência de custos legis, com certeza, deve também ter atribuído
de maneira expressa ou tácita, causas extas que o isenta de sanção.
a estes instrumentos para o seu exercício. Porém, se verificar que
não há causa que embase o prosseguimento do feito ou da ação
Esclareça-se que ainda que venha a promover a ação penal , penal, o promotor ou procurador deve agir da seguinte forma: afir-
poderá a todo instante dispor do conteúdo material dos autos, quer mando que em face de aparente contradição, entre a conduta do
perdoando o ofensor, quer abandonando a causa, dando assim lu- representante do Ministério Público que, como autor, não pode
gar à perempção, ou seja, prescrição do processo. Atente-se que desistir da ação penal, e ao mesmo tempo, contudo, agira na qua-
mesmo após proferida a sentença condenatória, o titular da ação lidade de fiscal da lei, não pode concordar com o prosseguimento
pode perdoar o réu, desde que a sentença não tenha transitado de uma ação juridicamente inviável, sendo a única intelecção que
em julgado. entende-se ser cabível quanto ao princípio da obrigatoriedade da
ação penal é de que o MP não poderá desistir da ação penal se re-
Princípio da oportunidade conhecer que ela possa ser viável, isto é, se houver justa causa para
Baseado no princípio da Oportunidade, o ofendido ou seu re- a sua promoção. Ocorrendo o contrário, ou seja, reconhecendo o
presentante legal pode analisar e decidir se irá impetrar ou não a Parquet que a ação é injusta, tem o dever de requerer a não instau-
ação. Salienta-se, que o princípio da oportunidade somente será ração do processo, com a aplicação subsidiária do art. 267, incisos
valido ante ação penal privada. VI e VIII, do Código Processual Civil, sob pena de estar impetrando
O Estado, diante destes crimes concede ao ofendido ou ao seu uma ação penal injusta, desperdiçando os esforços e serviços da
representante legal, o direito de invocar a prestação jurisdicional. Máquina Judiciária.
Contudo não havendo interesse do ofendido em processar o seu
injuriador, ninguém poderá obrigá-lo a fazer. Ainda que a autorida- O art 28 do Código Penal, explana que se o Promotor ao invés
de policial surpreenda um indivíduo praticando um delito de alçada de apresentar a denúncia, pugnar pelo arquivamento do inquérito,
privada, não poderá prendê-lo em flagrante se o ofendido ou quem o juiz caso considere improcedente as alegações invocadas pelo MP,
o represente legalmente não o permitir. Poderá apenas intervir fará a remessa do referido inquérito ao Procurador-Geral, e, este
para que não ocorra outras conseqüência. A autoridade policial não por sua vez, oferecerá a denúncia ou manterá o pedido de arquiva-
pode, por exemplo, dar-lhe voz de prisão e leva-lo à delegacia para mento do referido inquérito.
lavratura de auto de prisão em flagrante, sem o consentimento do
ofendido. Lei nº 10.409/00, traz em seu texto que o Promotor de Justiça
não poderá deixar de propor a ação penal, a não ser que haja uma
justificada recusa.

308
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Outrossim, m relação ao inquérito, se ainda houver algum o Pressupostos processuais
juiz o remeterá ao Procurador-Geral, para que este por sua vez, Os pressupostos processuais e as condições da ação são os re-
ofereça a denúncia, ou reitere o pedido de arquivamento, e assim quisitos, sem os quais não pode o juiz sequer examinar a situação
sendo, ao juiz caberá apenas acatá-lo. Logo, se MP possuir o intuito deduzida.
de barganhar, poderá fazê-lo, independente da nova lei. É certo e Pressupostos processuais são aqueles que possibilitam a cons-
não se pode negar que com a mobilidade que a lei proporciona ao tituição e desenvolvimento válidos do processo.
Ministério Público, à primeira vista pode se sentir que a barganha Há duas correntes a respeito do tema: uma inclui nos pressu-
está sendo facilitada, mas fica a certeza de que não é este advento postos processuais todos os requisitos necessários ao nascimento
que se vê aventar esta possibilidade, pois, como já sustentou-se a e desenvolvimento válido e regular do processo; outra, uma ten-
recusa do MP não será um ato discricionário, tampouco livre do de- dência mais restritiva dos pressupostos processuais, entende como
ver de motivação. únicos requisitos o pedido, a capacidade de quem o formula e a
investidura do destinatário.
Princípio da legalidade Pressupostos processuais, nessa visão restrita, seriam os requi-
O Princípio da Legalidade impõe ao Ministério Público o dever sitos mínimos para a existência de um processo válido, de uma re-
de promover a ação penal. lação jurídica regular, sem qualquer nexo com a situação de direito
material deduzida na demanda.
O princípio da legalidade atende aos interesses do Estado. Ba- A grande vantagem dessa posição consiste exatamente em res-
seado no princípio, o Ministério Público dispõe dos elementos míni- saltar a autonomia da relação processual frente à de direito subs-
mos para impetrar a ação penal. tancial. Aquela teria seus requisitos básicos, fundamentais, que não
O delito necessariamente para os órgãos da persecução, surge guardam qualquer elo com esta última.
conjuntamente com o dever de atuar de forma a reprimir a conduta Deste modo, pode-se afirmar que existem pressupostos de
delituoso. Cabendo assim, ao Ministério Publico o exercício da ação existência e de validade do processo. Sejam completos ou restritos
penal pública sem se inspirar em motivos políticos ou de utilida- os pressupostos processuais, fato é que, para emitir o provimento
de social. A necessidade do Ministério Público invocar razões que final sobre o caso concreto, o magistrado precisa que o processo se
o dispensem do dever de propor a ação falam bem alto em favor
desenvolva sem vícios.
da tese oposta.
Sem prejuízo, vamos elencar os pressupostos processuais indi-
Para o exercício da ação são indispensáveis determinados re-
cados pela corrente mais restritiva:
quisitos previstos em lei, tais como: autoria conhecida, fato típico
O primeiro pressuposto processual, portanto, refere-se à capa-
não atingido por uma causa extintiva da punibilidade e um mínimo
cidade para ser parte. Assim, não podem oferecer denúncia aquele
de suporte probatório. Porém, se não oferecer denúncia, o Minis-
que não integre o Ministério Público ou queixa o ente desprovido
tério Público deve dar as razões do não oferecimento da denúncia.
da condição de pessoa – natural, jurídica ou judiciária.
Pedindo o arquivamento em vez de denunciar, poderá ele respon-
Nestas circunstâncias, incabível, por exemplo, a denúncia ofe-
der pelo crime de prevaricação
recida apenas por “estagiário”, ou a queixa apresentada por pessoa
falecida ou por sociedade de fato.
Nos dias atuais a política criminal está voltada para soluções
À capacidade para ser parte acrescenta-se a capacidade postu-
distintas, como a descriminalização pura e simples de certas con-
latória, isto é, de estar em juízo regularmente representado.
dutas, convocação de determinados crimes em contravenções,
Logo, para o recebimento de queixa-crime, não basta o seu
dispensa de pena, etc. Também, em infrações penais de menor
oferecimento pelo ofendido, devendo estar firmada por advogado,
potencial ofensivo, o órgão ministerial pode celebrar um acordo
com os poderes específicos, observados os requisitos do art. 44, do
com o autor do fato, proponde-lhe uma pena restritiva de direito
Código de Processo Penal. Tais requisitos são essenciais para que o
ou multa. Se houver a concordância do acusado o juiz homologará
pedido possa ser aceito.
a transação penal.
Ausentes os pressupostos relativos às partes, a denúncia ou a
queixa deverão ser rejeitadas, de acordo com a redação do art. 396,
Por fim, na Carta Magna, além dos princípios estritamente
parágrafo único, primeira parte, do Código de Processo Penal.
processuais, existem outros, igualmente importantes, que devem
Além dos pressupostos relativos às partes, a inicial acusatória
servir de orientação ao jurista e a todo operador do Direito. Afinal,
deve ser oferecida a quem tem jurisdição, poder para decidir a cau-
como afirmam inúmeros estudiosos, “mais grave do que ofender
sa, isto é, a juiz regularmente investido no cargo. Assim, absoluta-
uma norma, é violar um princípio, pois aquela é o corpo material,
mente nula a ação penal recebida por juiz afastado de suas funções
ao passo que este é o espírito, que o anima”.
ou aposentado.
Tratando-se de juízo incompetente, todavia, somente são pas-
AÇÃO PENAL síveis de anulação os atos decisórios, devendo o processo, ao ser
declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente, conforme
previsão do art. 567, do Código de Processo Penal.
Com o fato delituoso, nasce para o Estado o direito de buscar e
punir um culpado. Esta busca punição necessitam respeitar um per- Condições da Ação Penal
curso que, prejudicialmente, em geral se dá pelo inquérito policial, Tratam-se de condições que regulam o exercício do direito.
e, judicialmente, se inicia com a ação penal. Com efeito, estas condições podem ser genéricas ou específicas.
A ação penal consiste no direito de buscar junto ao Estado tu-
tela jurisdicional para decidir sobre um determinado problema que 1 Condições genéricas. São aquelas que devem estar presentes
concretamente se apresenta. em toda e qualquer ação penal. São elas:
A) Possibilidade jurídica do pedido. O pedido formulado deve
encontrar amparo no ordenamento jurídico, ou seja, deve se referir
a uma providência admitida pelo direito objetivo. Deve ser um fato
típico;

309
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) Legitimidade para agir. Deve-se perguntar “quem pode”, e Também, a impossibilidade de identificar o acusado com seu
“contra quem se pode” manejar ação penal. verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação pe-
A regra geral é a de que no polo ativo da ação penal pública nal, quando certa a identidade física. Assim, se descoberta poste-
figura o Ministério Público. No polo ativo da ação penal de iniciativa riormente a qualificação, basta fazer retificação por termo nos au-
privada figura o ofendido. No polo passivo, sendo a ação penal pú- tos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes (art. 259, CPP);
blica ou privada, figurará o provável autor do fato delituoso maior B) Na hipótese de concurso de agentes, ou em crimes de con-
de dezoito anos; curso necessário, a denúncia deve especificar a conduta de cada
C) Interesse de agir. Composto pelo trinômio necessidade/ade- um. É posicionamento pacífico no Supremo Tribunal Federal e no
quação/utilidade. Superior Tribunal de Justiça de que a “denúncia genérica” deve ser
Pela necessidade, analisa-se até que ponto a existência de ação de todo evitada, por prejudicar o direito de defesa do(s) agente(s)
penal é fundamental para esclarecimento da causa. Pode ser que envolvido(s);
em um determinado caso uma solução extrajudicial seja muito me- C) É possível “denúncia alternativa”? Neste caso, o agente mi-
lhor, por exemplo.
nisterial pede a condenação por um crime “X”, ou, caso isso não fi-
Já a adequação consiste no enquadramento da medida busca-
que provado, que seja o agente condenado, com a mesma narrativa
da por meio da ação penal com o instrumento apto a isso. Assim, a
acusatória fática, pelo crime “Y”.
título ilustrativo, caso se deseje trancar uma ação penal cuja única
Diverge amplamente a doutrina quanto a essa possibilidade:
sanção cominada ao delito seja a de multa, não se mostra como
medida mais adequada à utilização do habeas corpus, já que não quem entende que isso não é possível, ampara-se no argumento
há risco à liberdade de locomoção, mas sim por meio do mandado de que isso torna a acusação incerta e causa insegurança jurídica
de segurança. ao acusado; quem entende que isso é possível, afirma que, como o
Por fim, a utilidade consiste na eficácia prática que uma ação acusado se defende meramente de fatos, e não de uma tipificação
deve ter. Se não há nada a ser apurado, ou não há qualquer sanção imposta, nada obsta que subsista um crime em detrimento de outro
a ser aplicada, inútil e desnecessária será a ação penal; e a condenação por um ou por outro seja pedida na acusação;
D) Pouco importa a definição jurídica que o agente ministerial
D) Justa causa. Trata-se de condição genérica da ação prevista atribui ao acusado. Este sempre se defenderá dos fatos narrados, e
apenas no processo penal (art. 395, III, CPP), mas não no processo não do tipo penal imputado;
civil. Consiste em se obter o mínimo de provas indispensável para o E) Com base no art. 46, CPP, o prazo para oferecimento da de-
início de um processo, até para com isso não submeter o cidadão à núncia (que é um prazo de natureza processual penal, isto é, con-
situação degradante e embaraçosa que desempenha a persecução tado da forma do art. 798, CPP) será de cinco dias, estando o réu
criminal na vida de uma pessoa. preso (contado da data em que o órgão do Ministério Público re-
ceber o inquérito policial), e de quinze dias, estando o réu solto ou
2 Condições específicas. São condições exigidas apenas para afiançado. Agora, se o agente do MP tiver dispensado o inquérito,
alguns delitos. Assim, por exemplo, nos crimes de ação de iniciativa o prazo para a exordial acusatória contar-se-á da data em que tiver
pública condicionada, indispensável será o oferecimento de repre- recebido as peças informativas substitutivas do procedimento ad-
sentação pelo ofendido, nos termos do art. 39, do Código de Pro- ministrativo investigatório (art. 46, §1º, CPP).
cesso Penal, ou a requisição do Ministro da Justiça, em se tratando Há, ainda, prazos especiais na legislação extravagante para ofe-
de crime contra a honra praticado contra o Presidente da República, recimento de denúncia, como o de dez dias para crime eleitoral, o
contra chefe de governo estrangeiro, conforme art. 145, parágrafo de dez dias para tráfico de drogas, o de quarenta e oito horas para
único, do Código Penal; no crime de induzimento a erro essencial e crime de abuso de autoridade, e o de dois dias para crimes contra
ocultação de impedimento (art. 236,do CP), constitui condição es- a economia popular;
pecífica da ação penal – queixa – o trânsito em julgado da sentença F) De acordo com o art. 395, CPP, a denúncia será rejeitada
que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. Ain- quando for manifestamente inepta (inciso I); quando faltar pressu-
da podemos citar o laudo pericial nos crimes contra a propriedade posto processual ou condição para o exercício da ação penal (inciso
imaterial; o exame preliminar em crimes de tóxicos; a representa- II); e quando faltar justa causa para o exercício da ação penal (inciso
III);
ção do ofendido etc.
G) Da decisão que recebe a denúncia não cabe qualquer recur-
Deste modo, ausente condição específica de procedibilidade
so, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado de
exigida pela lei, de rigor será a rejeição da denúncia ou queixa.
segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de im-
pugnação. Já da que rejeita a denúncia ou a acolhe apenas parcial-
Classificação / Espécies das ações penais. mente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I, CPP.
A classificação das ações penais observa, em regra, o titular Vale lembrar apenas que, excepcionalmente, na Lei nº
para sua propositura. 9.099/95, de acordo com seu art. 82, a rejeição da inicial acusatória
1 Ação penal pública. É de iniciativa exclusiva do Ministério Pú- desafia o recurso de apelação.
blico (órgão do Estado, composto por promotores e procuradores
de justiça no âmbito estadual, e por procuradores da República, no Súmula 707 do STF: “constitui nulidade a falta de intimação
federal). Na ação pública vigora o princípio da obrigatoriedade, ou do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto
seja, havendo indícios suficientes, surge para o Ministério Público da rejeição da denúncia, não suprimindo a nomeação do defensor
o dever de propor a ação. A peça processual que dá início à ação dativo”.
penal pública é a denúncia, sendo suas características principais:
A) A denúncia conterá a exposição do fato criminoso, com to- 1.1 Ação penal pública incondicionada. É a regra no ordena-
das as suas circunstâncias, a qualificação do acusado (ou esclareci- mento processual penal. Para que ação penal seja de outra espécie,
mentos pelos quais se possa identificá-lo), a classificação do crime isso deve estar expressamente previsto. Se não houver previsão di-
e, quando necessário, o rol de testemunhas (art. 41, CPP). A ausên- versa, entende-se pública a ação penal.
cia destes requisitos pode levar à inépcia da denúncia.

310
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Com efeito, a titularidade da ação penal pública incondicionada G) Retratação da retratação da representação. Trata-se de uma
é do Ministério Público, com fundamento no art. 129, I, da Consti- nova representação, ou seja, o agente representou, se retratou, e
tuição Federal, que a exercerá por meio de denúncia, como já dito. então se retrata da retratação. Ela é possível, desde que dentro do
1.2 Ação penal pública condicionada. O Ministério Público de- prazo decadencial de seis meses;
pende do implemento de uma condição, que pode ser a representa- H) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja re-
ção do ofendido, ou a requisição do Ministro da Justiça. presentação. A representação oferecida não vincula o agente mi-
A sua titularidade também compete ao Ministério Público, que nisterial a oferecer denúncia se averiguar que o fato descrito não
o faz por meio de denúncia. A diferença é que, enquanto na ação constitui delito, ou, ainda que constitua, não mais é possível sua
pública incondicionada não carece o MP de qualquer autorização, punibilidade;
na condicionada fica o órgão ministerial subordinado justamente I) Requisição do Ministro da Justiça. É condição específica de
a uma autorização prévia que se faz por meio de representação/ procedibilidade (ex.: crimes contra a honra do Presidente da Repú-
requisição. blica, nos moldes do art. 145, CP). Trata-se, essencialmente, de ato
Os princípios que norteiam esta espécie de ação são os mes- político praticado pelo Ministro da Justiça, endereçado ao Ministé-
mos da ação penal pública incondicionada. rio Público na figura de seu Procurador Geral;
Com efeito, há se estudar algumas questões pertinentes à re- J) A requisição do Ministro da Justiça está sujeita a prazo de-
presentação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça: cadencial? Não. O crime contra o qual se exige a requisição está
A) Representação do ofendido. É a manifestação do ofendido sujeito à prescrição, mas a requisição do Ministro da Justiça não se
ou de seu representante legal no sentido de que tem interesse na sujeita a prazo decadencial;
persecução penal do fato delituoso. Ela deve ser oferecida por pes- K) Possibilidade de retratação da requisição. Há divergência na
soa maior de dezoito anos através de advogado, ou, se menor de doutrina. Para uma primeira corrente, não se admite retratação da
dezoito anos, é o representante legal deste quem procura um advo- requisição, justamente pela grande natureza política que este ato
gado para que o faça. Se houver colisão de interesses entre o menor importa; para uma segunda corrente, essa retratação é, sim, admi-
e seu representante, nomeia-se curador especial, na forma do art. tida, desde que feita antes do oferecimento da peça acusatória. O
33, do Código de Processo Penal. posicionamento que vem se consolidando na doutrina bem como
Ademais, com fundamento no primeiro parágrafo, do art. 24,
nos Tribunais é que não é cabível a retratação da requisição (Touri-
CPP, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente
nho Filho, Fernando Capez).
por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge
L) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja requi-
(ou convivente), ao ascendente, ao descendente, ou irmão;
sição. Vale o mesmo que foi dito para a representação.
B) Natureza jurídica da representação do ofendido. Em regra,
a representação funciona como condição específica de procedibili-
2 Ação penal de iniciativa privada. Trata-se de oportunidade
dade aos processos que ainda não tiveram início. Por outro lado, se
conferida ao ofendido de oferecer queixa-crime, caso entenda ter
o processo já está em andamento, a representação passa a ser uma
sido vítima de delito. Vale dizer que, como a regra no silêncio do
condição de prosseguibilidade da ação penal, já que, para que o
legislador é a ação penal pública incondicionada, para que a ação
processo prossiga, uma condição superveniente tem de ser sanada;
penal seja de iniciativa privada deve haver previsão legal neste sen-
C) Forma da representação do ofendido. Trata-se de peça sem
tido.
rigor formal, bastando que fique devidamente demonstrado o in-
Importante ainda, discorrer sobre algumas das características
teresse da vítima ou de seu representante legal em representar o
principais da queixa-crime:
ofensor. Conforme o art. 39, da Lei Processual Penal, o direito de re- A) De acordo com o art. 30, do Código de Processo Penal, ao
presentação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo (querelan-
com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita te) caberá intentar ação privada contra o ofensor (querelado). Ade-
ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. Ato mais, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente
contínuo, o primeiro parágrafo do mencionado dispositivo prevê por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na
que a representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura ação passará ao cônjuge (ou convivente), ascendente, descendente,
devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou irmão (se houver colisão de interesses entre o menor e seu re-
ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade presentante, nomeia-se curador especial, na forma do art. 33, do
policial, presente o órgão do MP, quando a este houver sido dirigi- Código de Processo Penal).
da. Por fim, o parágrafo segundo do art. 39 prevê que a representa- Como se não bastasse, de acordo com o art. 36, CPP, se compa-
ção conterá todas as informações que possam servir à apuração do recer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o
fato e da autoria; cônjuge (ou convivente), e, em seguida, o parente mais próximo da
D) Direcionamento da representação. É feita à autoridade po- ordem de enumeração constante do art. 31 (cônjuge, ascendente,
licial, ao Ministério Público, ou ao juiz, pessoalmente ou por repre- descendente, irmão), podendo, entretanto, qualquer delas prosse-
sente com procuração atribuidora de poderes especiais para tal; guir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone;
E) Prazo para oferecimento da representação. Assim como a B) Com supedâneo no art. 44, CPP, a queixa poderá ser dada
queixa-crime, a representação está sujeita ao prazo decadencial de por procurador com poderes especiais, devendo constar do ins-
seis meses, em regra contados do conhecimento da autoria. Trata- trumento do mandado o nome do querelante e a menção do fato
-se de prazo penal, isto é, o dia do início é contabilizado (art. 10, criminoso (salvo quando tais esclarecimentos dependerem de dili-
CP); gências que devem previamente ser requeridas no juízo criminal);
F) Retratação da representação. Antes do oferecimento da de- C) A queixa-crime deve conter todos os elementos da denúncia
núncia pode ocorrer a retratação. Depois de oferecida a denúncia, previstos no art. 41, CPP, valendo a mesma ressalva feita no art.
não é mais possível retratar-se da representação. Eis o teor do art. 259, da Lei Processual;
25, do Código de Processo Penal; D) De acordo com o art. 45, CPP, a queixa, ainda quando a ação
penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério
Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes
do processo;

311
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
E) O prazo para oferta de queixa-crime é decadencial de seis e prevê que será admitida ação privada nos crimes de ação públi-
meses, contados com a natureza de prazo penal (art. 10, CP) do ca, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério
conhecimento da autoridade delitiva, tal como o prazo para a re- Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substituti-
presentação do ofendido nos delitos de ação penal pública condi- va, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de
cionada à representação. A exceção ao início da contagem de prazo prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
se dá no caso do crime previsto no art. 236, do Código Penal (crime querelante, retomar a ação como parte principal (o terceiro pará-
de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao grafo, do art. 100, CP, também trata da ação penal privada supletiva
casamento), em que o prazo de seis meses para queixa começa a que aqui se estuda).
contar do trânsito em julgado da sentença que anule o casamento Vale lembrar que, para caber tal ação, é necessária deliberada
no âmbito cível, conforme disposto no parágrafo único do aludido desídia do agente do Ministério Público. Caso tal membro não te-
dispositivo; nha ofertado denúncia, porque entendeu não ser o caso, desauto-
F) Da decisão que recebe a queixa não cabe qualquer recur- rizado fica o agente ofendido a manejar a ação privada subsidiária
so, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado da pública.
de segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de Por fim, cabe ressaltar que caso o Ministério Público retome a
impugnação. Já da que rejeita a queixa ou a acolhe apenas parcial- ação penal manejada pelo querelante subsidiário por negligência
mente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I, CPP. deste, a doutrina costuma designar tal retomada de “ação penal
Isto posto, feitas estas considerações acerca da queixa-crime, indireta”.
há se discorrer sobre as espécies de ação penal privada. Seguem os dispositivos legais previstos no Código de Processo
Penal sobre Ação Penal.
2.1 Ação penal exclusivamente privada. É possível sucessão
processual, já que, apesar de competir ao ofendido a iniciativa de TÍTULO III
manejo, o art. 31, CPP permite que cônjuge (ou convivente), ascen- DA AÇÃO PENAL
dente, descendente ou irmão nela prossigam no caso de morte do
ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial. Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
Dentro de tal postulado, temos ainda que estudar dois institu- denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exi-
tos, a saber, o perdão da vítima e a perempção. gir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do
O perdão é ato bilateral, isto é, precisa ser aceito pelo imputa- ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
do (ao contrário da renúncia, que é ato unilateral). Ocorre quando §1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausen-
já instaurado o processo (não é pré-processual como a renúncia); te por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônju-
é irretratável; pode ser expresso ou tácito (o silêncio do acusado, ge, ascendente, descendente ou irmão.
de acordo com o art. 58, CPP, implica aceitação do perdão); pro- §2º Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do
cessual ou extrajudicial (de acordo com o art. 59, CPP, a aceitação patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal
do perdão fora do processo constará de declaração assinada pelo será pública.
querelado, ou por seu representante legal, ou por procurador com Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida
poderes especiais); e por fim, pode ser ofertado até o trânsito em a denúncia.
julgado da sentença final. Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o
Já a perempção, prevista no art. 60, CPP, revela a desídia do auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela
querelante quando, iniciada a ação penal, deixa de promover o an-
autoridade judiciária ou policial.
damento do processo durante trinta dias seguidos (inciso I); quan-
Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciati-
do, falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacidade, não
va do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública,
comparece em juízo para prosseguir no processo dentro do prazo
fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e
de sessenta dias qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo (res-
salvado o disposto no art. 36, CPP) (inciso II); quando o querelante indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
deixa de comparecer sem motivo justificado a qualquer ato do pro- Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de
cesso a que deva estar presente (inciso III, primeira parte); quando quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do
o querelante deixa de formular o pedido de condenação nas alega- Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autori-
ções finais (inciso III, segunda parte); quando, sendo o querelante dade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão mi-
pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor (inciso IV); nisterial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
2.2 Ação penal privada personalíssima. Não é possível a su- § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
cessão processual. No caso de morte da vítima, extingue-se a puni- o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta)
bilidade por não admitir sucessão (ex: o delito previsto no art. 236, dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão
do Código Penal). da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
É como se vê, um direito personalíssimo e intransferível. respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Os princípios aplicáveis à ação penal exclusivamente privada § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detri-
também se aplicam à ação penal privada personalíssima. mento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamen-
to do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão
2.3 Ação penal privada subsidiária da pública (ou ação penal a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº
privada supletiva). Somente é cabível diante da inércia deliberada 13.964, de 2019)
do Ministério Público. Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investi-
De acordo com o inciso LIX, do art. 5º, da Constituição Federal, gado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração
será admitida ação penal privada nos crimes de ação pública, se penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a
esta não for intentada no prazo legal. No mesmo sentido, o art. 29, 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não
d Código Processual Penal, regulamenta o preceito constitucional persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprova-

312
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
ção e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajusta- § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Mi-
das cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de nistério Público para a análise da necessidade de complementação
2019) das investigações ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impos- nº 13.964, de 2019)
sibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo persecução penal e de seu descumprimento. (Incluído pela Lei nº
Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do cri- 13.964, de 2019)
me; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comu-
período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminu- nicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de
ída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execu- denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ção, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal
de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Públi-
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do co como justificativa para o eventual não oferecimento de suspen-
art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Códi- são condicional do processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
go Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecu-
pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função ção penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, ex-
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente ceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído
lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução pe-
pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com nal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. (Inclu-
a infração penal imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que § 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em
se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de au- propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá re-
mento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei querer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28
nº 13.964, de 2019) deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguin- Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação públi-
tes hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ca, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substituti-
Especiais Criminais, nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº 13.964, va, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
de 2019)
querelante, retomar a ação como parte principal.
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para represen-
probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou
tá-lo caberá intentar a ação privada.
profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado au-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
sente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores
na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal,
Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da
transação penal ou suspensão condicional do processo; e (Incluído
parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para pro-
pela Lei nº 13.964, de 2019) mover a ação penal.
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou §1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às
familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao
sexo feminino, em favor do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.964, próprio sustento ou da família.
de 2019) §2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por policial em cuja circunscrição residir o ofendido.
escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo in- Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente
vestigado e por seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa
será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua volun- poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a
tariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o
defensor, e sua legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) processo penal.
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o
as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolve- direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu represen-
rá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a pro- tante legal.
posta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. Art. 35. Revogado pela Lei nº 9.520/97.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais
penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo,
sua execução perante o juízo de execução penal. (Incluído pela Lei entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante
nº 13.964, de 2019) desista da instância ou a abandone.
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente
atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequa- constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representa-
ção a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, das por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou,
de 2019) no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.

313
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu repre- Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará
sentante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivi-
não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que sibilidade.
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação
em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. a um dos autores do crime, a todos se estenderá.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de quei- Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada
xa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com po-
24, parágrafo único, e 31. deres especiais.
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pesso- Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor
almente ou por procurador com poderes especiais, mediante decla- que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito
ração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
ou à autoridade policial. Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará
§1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assi- a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o re-
natura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante cusar.
legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autori- Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o
dade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu represen-
houver sido dirigida. tante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do
§2º A representação conterá todas as informações que possam outro, não produzirá efeito.
servir à apuração do fato e da autoria.
§3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autorida- Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado
de policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, reme- mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses
tê-lo-á à autoridade que o for. deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao cura-
§4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este re- dor que o juiz Ihe nomear.
duzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á,
proceda a inquérito. quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52.
§5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com pode-
com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem res especiais.
a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o dis-
prazo de quinze dias. posto no art. 50.
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os
juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, meios de prova.
remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos neces- Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos
sários ao oferecimento da denúncia. autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato crimi- aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu si-
noso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado lêncio importará aceitação.
ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a puni-
do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. bilidade.
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal. Art. 59. A aceitação do perdão fora do processo constará de
Art. 43. Revogado pela Lei nº 11.719/08. declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes procurador com poderes especiais.
especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante quei-
querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais escla- xa, considerar-se-á perempta a ação penal:
recimentos dependerem de diligências que devem ser previamente I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o
requeridas no juízo criminal. andamento do processo durante 30 dias seguidos;
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua inca-
ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem cabe- pacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo,
rá intervir em todos os termos subsequentes do processo. dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo jus-
Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu tificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extin-
em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. guir sem deixar sucessor.
§1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer ex-
o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em tinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.
que tiver recebido as peças de informações ou a representação Parágrafo único. No caso de requerimento do Ministério Públi-
§2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, conta- co, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado,
do da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o pra-
e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não zo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco
tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo. dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final.
Art. 47. Se o Ministério Público julgar necessários maiores es- Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da
clarecimentos e documentos complementares ou novos elementos certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará
de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer auto- extinta a punibilidade.
ridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.

314
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 3º  Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra
COMPETÊNCIA atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto
no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal
A competência no processo criminal é fixada, de acordo com do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2o).
o Código de Processo Penal (art. 69 a 91), pelos seguintes critérios:
Distribuição
Lugar da infração Em comarcas maiores é comum que haja mais de um juiz com-
É a regra geral, segundo a qual, a competência será fixada pelo petente na mesma circunscrição judiciária, assim, o processo é dis-
local do resultado (consumação do crime) ou último ato de execu- tribuído.
ção, em caso de tentativa. Art. 75.   A precedência da distribuição fixará a competência
Art. 70.  A competência será, de regra, determinada pelo lugar quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar igualmente competente.
em que for praticado o último ato de execução. Parágrafo único.  A distribuição realizada para o efeito da con-
§ 1º  Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se cessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qual-
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em quer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação
que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. penal.
§ 2º  Quando o último ato de execução for praticado fora do terri-
tório nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora Por conexão ou continência
parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. Os processos são reunidos, para julgamento em conjunto, por
§ 3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais reunirem características que os aproximam.
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração
consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a
Conexão Continência
competência firmar-se-á pela prevenção.
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, Conexão Intersubjetiva:
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados me- — Por simultaneidade:
diante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provi- ocorrendo duas ou mais
são de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado infrações, houverem sido
ou mediante transferência de valores, a competência será definida praticadas, ao mesmo tempo,
pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de víti- por várias pessoas reunidas.
mas, a competência firmar-se-á pela prevenção.      — Concursal: ocorrendo duas
Art. 71.   Tratando-se de infração continuada ou permanente, ou mais infrações, houverem
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência sido praticadas por várias
firmar-se-á pela prevenção. pessoas em concurso, embora
diverso o tempo e o lugar.
Domicílio ou residência do réu (critério subsidiário) — Por reciprocidade: ocorrendo Continência subjetiva: duas
Caso desconhecido o local da infração, a competência será a do duas ou mais infrações, ou mais pessoas acusadas
domicílio ou residência do réu. houverem sido praticadas por pela mesma infração.
Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá pre- várias pessoas, umas contra as Continência objetiva:
ferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando co- outras. concurso formal; aberratio
nhecido o lugar da infração. Conexão objetiva: ictus (erro na execução);
Art. 72.  Não sendo conhecido o lugar da infração, a competên- — Teleológica: no mesmo caso, aberratio criminis (resultado
cia regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. houverem sido umas praticadas diverso do pretendido).
§ 1º  Se o réu tiver mais de uma residência, a competência fir- para facilitar as outras.
mar-se-á pela prevenção. — Consequencial: no mesmo
§ 2º  Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu caso, houverem sido umas
paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimen- praticadas para ocultar,
to do fato. conseguir impunidade ou
Art. 73.   Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante vantagem em relação a
poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda qualquer delas.
quando conhecido o lugar da infração.
Conexão Instrumental: Quando
a prova de uma infração ou de
Natureza da infração
qualquer de suas circunstâncias
Alguns crimes seguem procedimento especial de julgamento,
elementares influir na prova de
de maneira que, obedecem a regras próprias de competência. Ex.
outra infração.
crimes dolosos contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri.
Art. 74.  A competência pela natureza da infração será regula-
da pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privati- Art. 76.  A competência será determinada pela conexão:
va do Tribunal do Júri. I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido prati-
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes pre- cadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias
vistos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por vá-
126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. rias pessoas, umas contra as outras;
§ 2º  Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassifi- II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para
cação para infração da competência de outro, a este será remetido facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou van-
o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, tagem em relação a qualquer delas;
em tal caso, terá sua competência prorrogada.

315
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas Por prerrogativa de função
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Algumas autoridades, em razão do cargo que ocupam, não são
Art. 77.   A competência será determinada pela continência julgadas pelo juiz de 1º grau.
quando: Ao STF cabe julgar:
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; • Nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o
II - no caso de infração cometida nas condições previstas Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal. Ministros e o Procurador-Geral da República;
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou con- • Nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilida-
tinência, serão observadas as seguintes regras: de, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exér-
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão cito e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os mem-
da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; bros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: os chefes de missão diplomática de caráter permanente;
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a • habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas refe-
pena mais grave; ridas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior nú- data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câma-
mero de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravida- ra dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da
de; União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tri-
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;                 bunal Federal;
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predomi- • o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou
nará a de maior graduação; quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, preva- atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal
lecerá esta. Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma
Art. 79.  A conexão e a continência importarão unidade de pro- única instância;
cesso e julgamento, salvo: • a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados.
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de me- Ao STJ compete julgar:
nores. • nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Dis-
§ 1º  Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em trito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembarga-
relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto no art. 152. dores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os
§ 2º  A unidade do processo não importará a do julgamento, membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
se houver co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleito-
ocorrer a hipótese do art. 461. rais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Con-
Art. 80.  Será facultativa a separação dos processos quando as tas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem
infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou perante tribunais;
de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados • os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer
e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo das pessoas mencionadas na alínea “a”, ou quando o coator for tri-
relevante, o juiz reputar conveniente a separação. bunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante
Art. 81.  Verificada a reunião dos processos por conexão ou con- da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competên-
tinência, ainda que no processo da sua competência própria venha cia da Justiça Eleitoral;   
o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassi- • as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados.
fique a infração para outra que não se inclua na sua competência,
continuará competente em relação aos demais processos. Quanto aos prefeitos, é importante conhecer a seguinte súmu-
Parágrafo único.   Reconhecida inicialmente ao júri a competên- la:
cia por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infra- Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para jul-
ção ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua gar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça co-
a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente. mum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá
Art. 82.  Se, não obstante a conexão ou continência, forem ins- ao respectivo tribunal de segundo grau.
taurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalen-
te deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, Assim, os prefeitos são julgados pelo Tribunal de Justiça, toda-
salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade via, se for o caso, podem vir a serem julgados no TRE, em crimes
dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou eleitorais, no TRF, em crimes federais etc.
de unificação das penas. Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois
Prevenção terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, aten-
A prevenção é o critério utilizado em razão da pluralidade de didos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição
locais, como, por exemplo, quando incerto o limite territorial entre do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido (...)
a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais juris-
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
dições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
Art. 83.  Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez
Algumas outras súmulas são extremamente relevantes para o
que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou
tema competência:
com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na
Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do
prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ain-
Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
da que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70,
estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
§ 3º, 71, 72, § 2o, e 78, II, c).

316
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ex. se o foro por prerrogativa de função só consta na Constituição Estadual prevalece a competência do Tribunal do Júri (constitucio-
nal); por outro lado, se o foro vem estabelecido na Constituição Federal, esta prevalece sobre o Tribunal do Júri.

Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou co-
nexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

Ex. mesmo sem ter foro por prerrogativa, os processos podem ser julgados conjuntamente em caso de conexão/continência.

Por fim, é importante conhecer quais são os reais casos de foro por prerrogativa de função:
As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas restri-
tivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado Federal, não se justifica a competên-
cia do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta com as
funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.
Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções de-
sempenhadas.
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competên-
cia para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que
ocupava, qualquer que seja o motivo.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

Apesar dessa decisão do STF, alguns casos podem ser excepcionados:


Os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam sendo julgados pelo STJ mesmo que o crime não esteja relacionado com as
suas funções. Assim, o STJ continua sendo competente para julgar quaisquer crimes imputados a Desembargadores, não apenas os que
tenham relação com o exercício do cargo.
STJ. APn 878/DF QO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 30/05/2016.

A competência federal é outra divisão importante, que precisa ser estudada:


Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assis-
tentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter
ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
-financeira;
VII - os habeas corpus , em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não
estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais
federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o “exequatur”, e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.

Perceba que nos crimes em que existe uma transposição de fronteiras, bem como nos que existe um interesse federal, a Constituição
Federal atribui a competência à Justiça Federal.

317
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Por fim, vale memorizar a seguinte tabela que resume todo o assunto aqui abordado:

Presidente e Vice;
Deputados e Senadores;
Ministros de Estado;
Ministros do STF;
STF PGR;
AGU;
Comandantes;
Ministros do TCU;
Ministros do STJ, STM, TST, TSE.
Governadores;
Desembargadores;
STJ
Membros do MPU que oficiem em
tribunais.
Juiz federal, militar e do trabalho;
TRF/TER Membro do MPU que atue na 1ª
instância.
TJ Promotores e juízes.
TJ/TRF/TER Prefeito.

PROCESSO CRIMINAL DE CRIMES COMUNS: PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO, SUMÁRIO E SUMARÍSSIMO

— Procedimento Comum Sumário.


O procedimento é dividido em comum ou especial. O procedimento comum é a regra do Processo Penal:

Ordinário Sumário Sumaríssimo


Infrações penais de menor potencial
Sanção máxima igual ou superior a 4
Sanção máxima inferior a 4 anos. ofensivo – contravenção e igual ou inferior
anos.
a 2 anos)

Dentro do procedimento comum existe a tríplice divisão: ordinário, sumário e sumaríssimo. Um crime é enquadrado dentro do pro-
cedimento ordinário quando a pena máxima for igual ou superior a 4 anos, ou seja, trata-se de procedimento adequado para os crimes
mais graves do ordenamento jurídico.
O procedimento sumário é um meio termo dentro do sistema comum, uma vez que se aplica aos crimes de pena máxima inferior a 4
anos. Por fim, é previsto o procedimento sumaríssimo, considerado mais simplificado pela doutrina e pela jurisprudência. O procedimen-
to sumaríssimo destina-se às infrações penais de menor potencial ofensivo – ou seja, contravenções penais e crimes com pena igual ou
inferior a 2 anos.
No procedimento ordinário e sumário, o juiz recebe a denúncia ou queixa e cita o acusado para responder à acusação no PRAZO DE
DEZ DIAS. Se a citação ocorrer por edital, o prazo de dez dias começa a correr a partir do comparecimento do acusado ou seu advogado.
Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la,
concedendo-lhe vista dos autos por DEZ DIAS. Isso ocorre porque no processo penal a revelia não existe confissão ficta/presumida, com a
consequente presunção de veracidade dos fatos narrados na peça acusatória. Assim, é indispensável que a resposta à acusação seja apre-
sentada por advogado, sob pena de nulidade absoluta.          
A denúncia ou queixa será rejeitada quando a peça acusatória for manifestamente inepta; faltar pressuposto processual ou condição
para o exercício da ação penal; ou faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Rejeição da denúncia ou queixa


Por inépcia
Falta de pressuposto processual ou condição da ação
Falta de justa causa

— Procedimento Especial do Tribunal do Júri


O procedimento comum é a regra do Código de Processo Penal, sendo o procedimento especial residual, ex. Tribunal do Júri, crimes
de responsabilidade dos funcionários públicos etc.
O procedimento especial possui regras próprias, ex. Em regra, as partes podem apresentar documentos durante todo o processo
penal, salvo exista lei em contrário, como acontece no Tribunal do Júri, que exige a juntada do documento com 3 dias de antecedência da
audiência.

318
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Nos crimes dolosos contra a vida existem duas fases:
• Perante o juiz singular;
• Perante o Tribunal do Júri.

Na primeira fase é usado o indubio pro societatis, de maneira que na dúvida, o juiz pronuncia, levando o processo para a próxima fase
(Tribunal do Júri).
Em resumo, no final da primeira fase, o juiz singular pode:

Pronunciar Impronunciar Absolver sumariamente Desclassificar


O juiz muda a classificação
O processo vai para a fase do O processo vai para a fase do O juiz absolve antes do acusado
do crime, pois entende que o
Tribunal do Juri. Tribunal do Juri. ir para o Tribunal do Juri.
crime é outro.
Cabe RESE. Cabe apelação. Cabe apelação. Cabe RESE.

Na primeira fase do tribunal do júri a acusação pode arrolar até 8 (oito) testemunhas na denúncia ou queixa. O mesmo vale para o
acusado na resposta à acusação. Vale lembrar que diante da ausência de advogado, o próprio juiz nomeia um defensor para o réu.
Após apresentada a defesa, o juiz ouve a acusação em 5 (cinco) dias. Então, o juiz tem 10 (dez) dias para ouvir as testemunhas e cum-
prir as diligências que foram requeridas pelas partes.
Na audiência, o prazo de alegações orais é de 20 minutos para a acusação e 20 minutos para a defesa. O assistente de acusação recebe
mais 10 minutos, e consequentemente a defesa também.
Após os debates, o juiz dá imediatamente a sua decisão ou em 10 (dez) dias. Todo o procedimento da primeira fase do tribunal do júri
deve acabar no total de 90 (noventa) dias.

O juiz pronuncia o acusado caso esteja convencido da materialidade do crime e indícios da autoria. Se é um crime afiançável, o juiz
arbitrará o valor da fiança para que o indivíduo fique em liberdade provisória. Aliás, o juiz precisa decidir motivadamente se é caso manter/
revogar/substituir a prisão anteriormente decretada, ou se é caso de iniciar uma prisão/medida diversa.

Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios sufi-
cientes de autoria ou de participação.
§ 1º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria
ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras
e as causas de aumento de pena.
§ 2º Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade provisória.
§ 3º O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade
anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das
medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.
Ocorre a impronúncia, se o juiz não se convenceu da materialidade do fato nem dos indícios de autoria. A decisão da impronúncia não
é definitiva, podendo ser formulada nova denúncia ou queixa assim que aparecer nova prova (desde que ainda não extinta a punibilidade).

Absolvição sumária no fim da 1ª fase do tribunal do júri


Se ficar provado que o fato não existiu.
Se ficar provado que ele não é autor/partícipe.
Se o fato não for uma infração penal.
Causa de isenção de pena ou exclusão do crime.

Obs. A inimputabilidade só é usada caso seja vista como a única tese de defesa.

O CPP prevê a possibilidade de desclassificação na primeira fase do Júri:


Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais
grave.

Se com a desclassificação o juiz perder a competência, remeterá os autos ao juiz que seja competente. Ex. o juiz percebe que não se
trata de tentativa de homicídio, mas sim de lesão corporal consumada.
• Contra impronúncia e absolvição sumária cabe apelação.
• Contra pronúncia e desclassificação cabe Recurso em Sentido Estrito.

Já na segunda fase, o juiz togado estará acompanhado do conselho de sentença, quem de fato julga o fato.
No momento em que o presidente do tribunal do júri recebe os autos, ele determina a intimação da acusação e da defesa para que
em 5 (cinco) dias apresentem o rol de até 5 (cinco) testemunhas, apresentem documentos, requeiram diligências. Depois, o juiz presidente
ordena as diligências, sana nulidades, esclarece fatos, faz relatório do processo e o incluem em pauta.

319
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Os jurados são alistados anualmente pelo presidente do Tribu- Antes do sorteio do conselho de sentença (sete jurados), o juiz
nal do Júri, de acordo com a quantidade de habitantes da comarca. presidente esclarecerá sobre impedimentos, suspeições e incom-
Se for necessário na comarca, pode ser aumentado o nº de jurados, patibilidades, bem como alertará os jurados de que após sorteados
organizada lista de suplentes, depositadas cédulas em urna espe- não podem se comunicar entre si nem com outros, nem manifestar
cial. O juiz presidente pode requisitar a diversos núcleos comunitá- opinião sobre o processo. Consequência pelo descumprimento: ex-
rios a indicação de pessoas que reúnam as condições para exerce- clusão do conselho de sentença e multa de 1 a 10 s.m.
rem a função de jurado. No Tribunal do Júri, o Tribunal não pode mudar a decisão dos
O desaforamento consiste em transferir o julgamento para ou- jurados, a reforma se restringe ao que foi decidido pelo juiz presi-
tra localidade, de maneira justificada. dente.
Art. 5º
•Interesse da ordem (...)
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização
pública;
•Dúvida sobre a que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
imparcialidade do Júri;
•Em razão da b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
segurança pessoal do acusado;
•Comprovado excesso d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
a vida;
de serviço, se o julgamento
Razões para o desaforamento
não puder ser realizado no
A apelação pode impugnar todo o julgado ou apenas algumas
prazo de 6 (seis) meses,
partes da decisão. Diante da inércia do Ministério Público, o ofendi-
contado do trânsito em julgado
do pode interpor apelação subsidiária.
da decisão de pronúncia. Obs.
Art. 598.  Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do
não se computará o tempo
juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Mi-
de adiamentos, diligências
nistério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas
ou incidentes de interesse da
enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como
defesa.
assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito
Quem pode requerer o MP, assistente de acusação, suspensivo.
desaforamento querelante, acusado, juiz. Parágrafo único.  O prazo para interposição desse recurso será
Desaforamento do julgamento de quinze dias e correrá do dia em que terminar o do Ministério
para outra comarca da mesma Público.
região, onde não existam Se a matéria impugnada disser respeito ao mérito da decisão
os motivos elencados. Obs. proferida pelo júri, só se admite que o Tribunal designe novo jul-
prefere-se a comarca mais gamento. Já as decisões proferidas pelo juiz-presidente podem ser
próxima. modificadas pelo Tribunal. Súmula 713 do STF: O efeito devolutivo
da apelação contra as decisões do Júri é adstrito aos fundamentos
O pedido de desaforamento de sua interposição.
é distribuído imediatamente,
com preferência de julgamento Sentença de Condenação
na Câmara ou Turma O juiz fixa a pena base, com circunstâncias agravantes/ate-
O que acontece competente. O relator pode nuantes alegadas nos debates, aumentos/diminuições admitidas
entender pela suspensão pelo júri, e estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da con-
do julgamento do júri. O denação.
juiz presidente é ouvido se O juiz pode mandar o acusado recolher-se à prisão preventiva,
a medida não foi por ele ou, se a pena é igual ou superior a 15 anos determinará a execução
solicitada. provisória.
Não é admitido o pedido
de desaforamento em caso O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a
de recurso pendente sobre execução provisória das penas, se houver questão substancial cuja
pronúncia ou já aconteceu resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plau-
o julgamento (exceção: sivelmente levar à revisão da condenação.
julgamento anulado).
Sentença de Absolvição
Mandará colocar em liberdade o acusado (salvo se por outro
O Tribunal do Júri é composto pelo juiz togado e 25 (vinte e cinco)
motivo dever ficar preso) + revogar medidas restritivas.
jurados sorteados, dos quais 7 (sete) formam o Conselho de Sentença.
Dos 25 (vinte e cinco) jurados, 15 (quinze) precisam compa-
Obs. se for o caso aplicará medida de segurança
recer. Se assim acontecer, o juiz presidente declara instalados os
trabalhos e anuncia os processos que serão submetidos a julgamen-
Novidades do Pacote Anticrime
to. Todavia, se não comparecerem pelo menos 15 (quinze) jurados,
§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tri-
é feito o sorteio de suplentes e é designada nova data para a sessão
bunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de
do júri. O juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a forma-
reclusão não terá efeito suspensivo.
ção do Conselho de Sentença.

320
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito sus- Assim, ao tomar ciência da ocorrência de uma infração de me-
pensivo à apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando verifi- nor potencial ofensivo, a autoridade policial lavrará o termo cir-
cado cumulativamente que o recurso: cunstanciado e o remeterá ao Juizado. Esse instrumento é utilizado
I - não tem propósito meramente protelatório; e como subsídio para a ação penal, com indícios de autoria e prova da
II - levanta questão substancial e que pode resultar em absol- materialidade do delito.
vição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena Vale lembrar que o inquérito policial é dispensável, portanto,
para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão. não há que se falar que essa substituição feita pela lei 9.099/95 é
inconstitucional. É perfeitamente possível que uma ação penal se
§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser inicie desprovida de inquérito. Da mesma forma, não há vício na
feito incidentemente na apelação ou por meio de petição em se- lei do JECRIM, ao instituir o termo circunstanciado como peça de
parado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da investigação das infrações penais de menor potencial ofensivo.
sentença condenatória, das razões da apelação e de prova da tem- Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocor-
pestividade, das contrarrazões e das demais peças necessárias à rência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediata-
compreensão da controvérsia. mente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se
as requisições dos exames periciais necessários.
O protesto por novo júri foi extinto pela lei 11.689/04. Consistia Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do ter-
em um recurso privativo da defesa, com vistas à realização de novo mo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o com-
julgamento, a ser utilizado uma única vez, quando a condenação no promisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante,
Tribunal do Júri superasse 20 anos de reclusão. nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá
determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domi-
— Procedimento Comum Sumaríssimo cílio ou local de convivência com a vítima.
O procedimento sumaríssimo destina-se às infrações penais de
menor potencial ofensivo – ou seja, contravenções penais e crimes A consequência do uso do termo circunstanciado é que caso
com pena igual ou inferior a 2 anos. o investigado se comprometa em comparecer no Juizado não será
O JECRIM é um procedimento sumaríssimo orientado pelos preso nem terá que pagar fiança. Todavia, caso a infração não tenha
princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia pro- pena de prisão, mesmo sem o compromisso não poderá ser preso.
cessual e celeridade. Exemplo: art. 28 da lei de drogas (uso pessoal de drogas).
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á A denúncia pode ser oral (reduzida a termo), o rol de testemu-
pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia nhas não pode ultrapassar 3, busca-se a conciliação e a transação
processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a repa- penal, caso o juiz rejeite a denúncia cabe apelação e a sentença
ração dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não pri- dispensa o relatório.
vativa de liberdade. Neste ponto vale a pena a leitura do instituto da transação pe-
nal:
Sempre que possível, os atos Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada
processuais são produzidos imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de
Oralidade representação verbal, que será reduzida a termo.
oralmente e reduzidos a
termo. Parágrafo único. O não oferecimento da representação na au-
diência preliminar não implica decadência do direito, que poderá
O procedimento sumaríssimo ser exercido no prazo previsto em lei.
Informalidade não segue uma formalidade Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de
tão rigorosa. ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamen-
Busca-se a maior eficiência to, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena
Economia processual possível, com o menor gasto restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
de tempo e dinheiro. § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o
Juiz poderá reduzi-la até a metade.
Traduz-se em rapidez, na § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
Celeridade busca pelo desfecho célere do I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de cri-
processo. me, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
Princípio introduzido em II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de
Simplicidade 2018, como síntese do que é o cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos
procedimento sumaríssimo. deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a perso-
Quanto aos objetivos do JECRIM, extrai-se: nalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser
• Reparação dos danos sofridos pela vítima: o procedimento é necessária e suficiente a adoção da medida.
voltado para a reparação do dano causado pelo infrator, garantindo § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor,
que a vítima seja indenizada pelo prejuízo que sofreu. será submetida à apreciação do Juiz.
• Aplicação da pena não privativa de liberdade: busca-se evitar § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo au-
a prisão daquele que não causou uma lesão tão grave à sociedade, tor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa,
de maneira que é proporcional e justo ser punido de outra forma que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para
que não seja com a prisão. impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a ape-
Em razão dos princípios e objetivos do JECRIM, não é utilizado o lação referida no art. 82 desta Lei.
inquérito policial nas investigações de infrações de menor potencial
ofensivo, mas sim o termo circunstanciado de ocorrência.

321
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não
constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins Atente-se para os julgados mais importantes sobre o tema:
previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos
interessados propor ação cabível no juízo cível. Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produ-
zida no âmbito da Receita Federal do Brasil por meio da obtenção
Por fim, é necessário memorizar os artigos que descrevem a de informações de instituições financeiras sem prévia autorização
suspensão condicional do processo: judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF decidiu que
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/2001, que permitem
ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério o acesso direto da Receita Federal à movimentação financeira dos
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do pro- contribuintes.
cesso, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presen- em 19/4/2016 (Info 822).
tes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional
da pena (art. 77 do Código Penal). É possível a utilização de WhatsApp para a citação de acusado,
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na pre- desde que sejam adotadas medidas suficientes para atestar a au-
sença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o pro- tenticidade do número telefônico, bem como a identidade do indi-
cesso, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes víduo destinatário do ato processual.
condições: STJ. 5ª Turma. HC 641877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; em 09/03/2021 (Info 688).
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem au- Ainda que o réu tenha constituído advogado antes do ofereci-
torização do Juiz; mento da denúncia — na data da prisão em flagrante — e o patrono
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmen- tenha atuado, por determinação do Juiz, durante toda a instrução
te, para informar e justificar suas atividades. criminal, é nula a ação penal que tenha condenado o réu sem a sua
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica su- presença, o qual não foi citado nem compareceu pessoalmente a
bordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação qualquer ato do processo, inexistindo prova inequívoca de que to-
pessoal do acusado. mou conhecimento da denúncia.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o bene- STJ. 6ª Turma. REsp 1580435-GO, Rel. Min. Rogerio Schietti
ficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem Cruz, julgado em 17/3/2016 (Info 580).
motivo justificado, a reparação do dano. Neste julgado acima explicado da 6ª Turma do STJ, não houve
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser citação por edital. Se tivesse havido, o cenário seria diferente. Isso
processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir porque, se o juiz tivesse determinado a citação do denunciado por
qualquer outra condição imposta. edital, poderia aplicar o art. 366 do CPP e seguir com o processo por
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta conta da presença do advogado constituído. Veja o dispositivo legal:
a punibilidade. Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do pra-
processo. zo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
o processo prosseguirá em seus ulteriores termos. preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Veja trecho de julgado da 5ª Turma no sentido da validade
do processo caso tivesse havido a citação por edital:
NULIDADES, RECURSOS E AÇÕES AUTÔNOMAS DE (...) 2. A teor do art. 366 do CPP, a suspensão do processo pe-
IMPUGNAÇÃO nal e do prazo prescricional, somente é possível quando o acusado,
após citado por edital, não comparece e não constitui advogado nos
O ato processual deve ser praticado em consonância com a autos.
Constituição Federal, com as Convenções Internacionais sobre Di- 3. No caso, embora o paciente tenha sido citado por edital,
reitos Humanos e com as leis processuais penais, assegurando-se, constituiu, desde a fase inquisitorial, advogado nos autos com am-
assim, não somente às partes, como a toda a coletividade, a exis- plos poderes, o que demonstra que conhecia da imputação contra
tência de um processo penal justo e em consonância com o princí- ele dirigida. (...)
pio do devido processo legal. STJ. 5ª Turma. HC 338.540/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Assim, a nulidade é compreendida como espécie de sanção Fonseca, julgado em 14/09/2017.
aplicada ao ato processual defeituoso, do que deriva a inaptidão
para a produção de seus efeitos regulares. Apenas os atos proces-
suais realizados em consonância com o ordenamento jurídico serão SÚMULAS, JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DOS TRI-
considerados válidos e idôneos a produzir os efeitos almejados. BUNAIS SUPERIORES E LEGISLAÇÃO RELACIONADA
Todavia, existem irregularidades/defeitos sem consequência, COM OS TEMAS
isto é, apesar de o ato processual não ter sido praticado em fiel ob-
servância do modelo legal, esta irregularidade não tem o condão de Súmula Vinculante 5
acarretar qualquer consequência. Outras irregularidades/defeitos A falta de defesa técnica por advogado no processo administra-
acarretam tão somente sanções extraprocessuais, ex. multa. Mas tivo disciplinar não ofende a Constituição.
também existem irregularidades/defeitos que podem acarretar a
invalidação do ato processual. Neste caso, a irregularidade atenta
contra o interesse público ou contra interesse preponderante das
partes.

322
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Súmula Vinculante 9 Súmula 693 (STF)
O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Não cabe “habeas corpus” contra decisão condenatória a pena
Penal) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que
aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58. a pena pecuniária seja a única cominada.

Súmula Vinculante 10 Súmula 694 (STF)


Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão Não cabe “habeas corpus” contra a imposição de pena de ex-
de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expres- clusão de militar ou de perda de patente ou de função pública.
samente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder
público, afasta sua incidência, no todo ou em parte. Súmula 695 (STF)
Não cabe “habeas corpus” quando já extinta a pena privativa
Súmula Vinculante 11 de liberdade.
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fun-
dado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou Súmula 696 (STF)
alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcio- Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão con-
nalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil dicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a pro-
e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do pô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral,
ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
civil do Estado.
Súmula 697 (STF)
Súmula Vinculante 14 A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por exces-
amplo aos elementos de prova que, já documentados em proce- so de prazo.
dimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Súmula 698 (STF)
Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade
Súmula Vinculante 24 de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de
Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previs- tortura.
to no art. 1º, incisos I e IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento Observação – No julgamento do HC 82959 (DJ de 1º/9/2006) o
definitivo do tributo. Plenário do Tribunal declarou, “incidenter tantum”, a inconstitucio-
nalidade do § 1º do artigo 2º da Lei 8072/1990. Nova inteligência do
Súmula Vinculante 26 princípio da individualização da pena em evolução jurisprudencial.
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena Nesse sentido veja HC 86194 (DJ de 24/3/2006), HC 88801 (DJ de
por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará 8/9/2006) e RE 485383 (DJ 16/2/2007).
a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de
1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os Súmula 699 (STF)
requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, O prazo para interposição de agravo, em processo penal, é de
para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame crimi- cinco dias, de acordo com a Lei 8038/1990, não se aplicando o dis-
nológico. posto a respeito nas alterações da Lei 8950/1994 ao Código de Pro-
cesso Civil.
Súmula 690 (STF)
Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o jul- Súmula 700 (STF)
gamento de “habeas corpus” contra decisão de turma recursal de É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra deci-
juizados especiais criminais. são do juiz da execução penal.
Observação – Embora na publicação da Súmula 690 cons-
te como precedente o HC 79570, trata-se de HC 79570QO (DJ de Súmula 701 (STF)
1º/8/2003). No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público
-Verifica-se na leitura do acórdão do HC 86834 (DJ de 9/3/2007), contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação
do Tribunal Pleno, que não mais prevalece a Súmula 690. Nesse do réu como litisconsorte passivo.
sentido veja HC 89378 AgR (DJ de 15/12/2006) e HC 90905 AgR (DJ
de 11/5/2007). Súmula 702 (STF)
A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos res-
Súmula 691 (STF) tringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual;
Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de “ha- nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
beas corpus” impetrado contra decisão do relator que, em “habeas tribunal de segundo grau.
corpus” requerido a tribunal superior, indefere a liminar.
Súmula 703 (STF)
Súmula 692 (STF) A extinção do mandato do prefeito não impede a instauração
Não se conhece de “habeas corpus” contra omissão de relator de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1º do decre-
de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova to-lei 201/1967.
não constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito.
Súmula 704 (STF)

323
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do Súmula 717 (STF)
devido processo legal a atração por continência ou conexão do pro- Não impede a progressão de regime de execução da pena, fi-
cesso do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos de- xada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se
nunciados. encontrar em prisão especial.

Súmula 705 (STF) Súmula 718 (STF)


A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime
assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais
por este interposta. severo do que o permitido segundo a pena aplicada.

Súmula 706 (STF) Súmula 719 (STF)


É relativa a nulidade decorrente da inobservância da compe- A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a
tência penal por prevenção. pena aplicada permitir exige motivação idônea.

Súmula 707 (STF) Súmula 720 (STF)


Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para ofe- O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decor-
recer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, ra do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contraven-
não a suprindo a nomeação de defensor dativo. ções Penais no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.

Súmula 708 (STF) Súmula 721 (STF)


É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece so-
autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente in- bre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
timado para constituir outro. pela constituição estadual.

Súmula 709 (STF) Súmula 722 (STF)


Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que São da competência legislativa da União a definição dos crimes
provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas
recebimento dela. de processo e julgamento.

Súmula 710 (STF) Súmula 723 (STF)


No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com
de ordem. o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.

Súmula 711 (STF) Súmula 415 (STJ)


A Lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao cri- O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo
me permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continui- máximo da pena cominada.
dade ou da permanência.
Súmula 438 (STJ)
Súmula 712 (STF) É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da
É nula a decisão que determina o desaforamento de processo pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, indepen-
da competência do júri sem audiência da defesa. dentemente da existência ou sorte do processo penal.

Súmula 713 (STF) Súmula 439 (STJ)


O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstri- Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso,
to aos fundamentos da sua interposição. desde que em decisão motivada.

Súmula 714 (STF) Súmula 440 (STJ)


É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimen-
do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, to de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da
para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
razão do exercício de suas funções.
Súmula 441 (STJ)
Súmula 715 (STF) A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livra-
A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cum- mento condicional.
primento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é consi-
derada para a concessão de outros benefícios, como o livramento Sumula 442 (STJ)
condicional ou regime mais favorável de execução. É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de
agentes, a majorante do roubo.
Súmula 716 (STF)
Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena
ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada,
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

324
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Súmula 443 (STJ) 4. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES-
O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de PE/2016) Acerca de aspectos diversos pertinentes ao IP, assinale
roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo a opção correta.
suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de (A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ser
majorantes. apurado, poderá ser presidido por representante do MP, me-
diante prévia determinação judicial nesse sentido.
Súmula 444 (STJ) (B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria
É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunicando a
curso para agravar a pena-base. ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial.
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser
EXERCÍCIOS adotado na fase inquisitorial.
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante inde-
pendentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto que a
1. (PC-MA - PERITO CRIMINAL – CESPE/2018) A respeito do
superação dos prazos de investigação tem o efeito de encerrar
inquérito policial, assinale a opção correta.
a persecução penal na esfera policial.
(A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir requeri-
em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato crimi-
noso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação pré- mento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu represen-
via da procedência das informações. tante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso ao
(B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu o fato delitu-
instauração do inquérito policial a requerimento do ofendido oso.
caberá reclamação ao Ministério Público.
(C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministé- 5. (PC/PE - ESCRIVÃO DE POLÍCIA - CESPE/2016) O inquérito
rio Público não poderá alterar a classificação do crime definida policial
pela autoridade policial. (A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido ofe-
(D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi- recida e a ação penal dela depender.
mento administrativo pré-processual destinado à apuração das (B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o
infrações penais e da sua autoria. contraditório ao indiciado.
(E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o inqué- (C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de
rito policial é imprescindível ao oferecimento da denúncia. ação penal pública incondicionada.
(D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público
2. (PC-SC - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – FEPESE/2017) É se tratar-se de crime de ação penal privada.
correto afirmar sobre o inquérito policial. (E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação
(A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamente, penal pública incondicionada.
quando apresentada por qualquer pessoa do povo
(B) A representação do ofendido é condição indispensável para 6. (TJ-MS - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA FIM - PUC-
a abertura de inquérito policial para apurar a prática de crime -PR/2017) Sobre a prova no direito processual penal, marque a
de ação penal pública condicionada. alternativa CORRETA.
(C) O Ministério Público é parte legítima e universal para reque- (A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,
rer a abertura de inquérito policial afim de investigar a prática inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade entre
de crime de ação penal pública ou privada. umas e outras, bem como aquelas que puderem ser obtidas
(D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial
por uma fonte independente das primeiras.
a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal
(B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo do
privada.
livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
(E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício
conjunto.
pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido.
(C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada,
3. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016) que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-
Pode-se afirmar que a autoridade policial, assim que tiver conheci- -se a existência de outra ou outras circunstâncias; entretanto,
tal espécie de prova não é aceita nos tribunais superiores por
mento da prática da infração penal deverá:
violar o princípio constitucional da ampla defesa.
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligên-
(D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos le-
cias periciais pretendem fazer.
gais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no pro-
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alte-
cesso penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor probatório
rem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada.
da prova originalmente produzida.
(C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de-
(E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
pois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais.
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
(D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para seus
tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
respectivas familiares.
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
(E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três teste-
repetíveis e antecipadas.
munhas que presenciaram o fato.

325
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
7. (PC/GO - AGENTE DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CESPE/2016) 10. (AL/MS - AGENTE DE POLÍCIA LEGISLATIVO - FCC/2016)
No que diz respeito às provas no processo penal, assinale a opção Sobre o exame de corpo de delito e as perícias em geral, nos termos
correta. preconizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar:
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pe- (A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessa-
ricial médica, que não pode ser suprida por testemunho. riamente por três pessoas idôneas, portadoras de diploma de
(B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria, curso superior preferencialmente na área específica, dentre as
ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do
desnecessária a produção de outras provas. exame.
(C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser (B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de
avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar o li- obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os
vre convencimento do magistrado, quando amparadas em ou- peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que ins-
tros elementos de prova. trumentos, por que meios e em que época presumem ter sido
(D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos o fato praticado.
relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen- (C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou
to, menoridade, filiação e cidadania. rejeitá-lo, no todo ou em parte.
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
(E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo su-
é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi-
pri-lo a confissão do acusado.
dido pelo delegado de polícia.
(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a auto-
ridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando
8. (PC/DF - PERITO CRIMINAL - IADES/2016) O Código de
não for necessária ao esclarecimento da verdade.
Processo Penal elenca um conjunto de regras que regulamentam
a produção das provas no âmbito do processo criminal. No tocante
11. (CÂMARA DE CAMPO LIMPO PAULISTA/SP - PROCURA-
às perícias em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a
DOR JURÍDICO – VUNESP/2018) Nos expressos e literais termos
184 da lei em comento. Quanto ao exame de corpo de delito, nos
do artigo 295 do CPP, têm direito à prisão especial – que nada mais
crimes é do que o recolhimento em local distinto da prisão comum – entre
(A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a pro- outros,
va testemunhal não poderá suprir-lhe a falta. (A) o Vereador, o Magistrado e o Ministro de Confissão Reli-
(B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado du- giosa.
rante o dia. (B) o Ministro de Estado, o Governador e o Agente Municipal
(C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido de Trânsito.
incompleto, proceder-se-á a exame complementar apenas por (C) o Prefeito Municipal, o Praça das Forças Armadas e o Minis-
determinação da autoridade judicial. tro do Tribunal de Contas.
(D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo (D) o Agente Fiscal de Posturas Públicas, o membro da Assem-
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão bleia Legislativa dos Estados e os Delegados de Polícia.
do acusado. (E) o Oficial das Forças Armadas, o diplomado por qualquer das
(E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias se- faculdades superiores da República e o Agente Fiscal de Ren-
jam realizadas por dois peritos oficiais. das.

9. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES- 12. (PC/AC - AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - IBADE/2017) Sobre
PE/2016) Quanto à prova pericial, assinale a opção correta. o tema prisão preventiva assinale a alternativa correta.
(A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial (A) Não será permitido o emprego de força, salvo a indispen-
para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de furto me- sável no caso de resistência, de tentativa de fuga do preso, dos
diante arrombamento, prevalecendo em tais situações a quali- reincidentes e dos presos de alta periculosidade por terem pas-
ficadora do delito. sado pelo regime disciplinar diferenciado.
(B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se du- (B) O mandado de prisão, na ausência do juiz, poderá ser lavra-
rante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvida, do e assinado pelo escrivão, ad referendum do juiz.
sendo vedada a sua realização durante a noite. (C) O mandado de prisão mencionará a infração penal e neces-
(C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participa- sariamente a quantidade da pena privativa e de multa, bem
ção da defesa na produção da prova pericial na fase investiga- como eventual pena pecuniária.
tória, antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo (D) A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer
pericial. hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do do-
(D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um micílio.
perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas (E) A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo
idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas mandado, salvo quando, por questão de urgência, nos crimes
de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame, inafiançáveis, poderá a prisão ocorrer por ordem verbal do juiz.
sejam nomeadas para tal atividade.
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu resulta-
do vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser contrária
à conclusão do laudo pericial.

326
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
13. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE/2019) 17. Mariana, tecnicamente primária e com endereço fixo, foi
Em decorrência de um homicídio doloso praticado com o uso de identificada, a partir de câmeras de segurança, como autora de um
arma de fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados de crime de furto simples (Pena: 01 a 04 anos de reclusão e multa) em
que o autor do delito se evadira por rodovia federal em um veículo um estabelecimento comercial. O inquérito policial com relatório
cuja placa e características foram informadas. O veículo foi abor- conclusivo, acompanhado da Folha de Antecedentes Criminais com
dado por policiais rodoviários federais em um ponto de bloqueio apenas uma outra anotação referente à ação penal em curso, sem
montado cerca de 200 km do local do delito e que os policiais acre- decisão definitiva, foi encaminhado ao Poder Judiciário e, poste-
ditavam estar na rota de fuga do homicida. Dada voz de prisão ao riormente, ao Ministério Público.
condutor do veículo, foi apreendida arma de fogo que estava em Entendendo que existe risco de reiteração delitiva, já que tes-
sua posse e que, supostamente, tinha sido utilizada no crime. temunhas indicavam que Mariana, que se encontrava solta, já teria
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item. praticado delitos semelhantes, no mesmo local, em outras ocasi-
De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situa- ões, poderá o Promotor de Justiça com atribuição requerer que
ção configura hipótese de flagrante presumido ou ficto. seja:
( ) CERTO (A) fixada cautelar alternativa de comparecimento mensal em
( ) ERRADO juízo, proibição de contato com as testemunhas, mas não o
recolhimento domiciliar no período noturno por ausência de
14. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE/2019) previsão legal;
Com relação aos meios de prova e os procedimentos inerentes a (B) fixada cautelar alternativa de proibição de frequentar, por
sua colheita, no âmbito da investigação criminal, julgue o próximo determinado período, o estabelecimento lesado, mas não a de-
item. cretação da prisão preventiva ou temporária;
A entrada forçada em determinado domicílio é lícita, mesmo (C) fixada a cautelar alternativa de internação provisória, que
sem mandado judicial e ainda que durante a noite, caso esteja gera detração da pena, mas não a prisão preventiva ou tem-
ocorrendo, dentro da casa, situação de flagrante delito nas modali- porária;
dades próprio, impróprio ou ficto. (D) decretada a prisão temporária da indiciada;
( ) CERTO (E) decretada a prisão preventiva da indiciada.
( ) ERRADO
18. Com base nas disposições da Lei nº 7.960/1989 sobre a pri-
15. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016) são temporária, analise os itens a seguir:
Samuel teve voz de prisão dada por Agostinho, seu vizinho que é I. A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da re-
alfaiate, quando tentava esfaquear sua madrasta. Neste caso é pos- presentação da autoridade policial ou de requerimento do Ministé-
sível dizer: rio Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por até 30
(A) Agostinho jamais poderia prender Samuel, pois não é po- (trinta) dias em caso de extrema e comprovada necessidade.
licial. II. A prisão somente poderá ser executada depois da expedição
(B) Agostinho poderia prender Samuel em 48 (quarenta e oito) de mandado judicial.
horas depois, se a polícia não tivesse chegado ao local. III. Os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
(C) Em face do flagrante delito, Agostinho poderia sim ter dado mente, separados dos demais detentos.
voz de prisão a Samuel.
(D) Agostinho somente poderia dar voz de prisão a Samuel, se Analisados os itens, pode-se afirmar corretamente que:
este tivesse cometido o crime contra sua genitora. (A) Apenas o item I está correto.
(E) Samuel somente poderia ser preso em flagrante, se ele ti- (B) Apenas o item II está correto.
vesse levado para a Delegacia de Polícia a faca com a qual ten- (C) Apenas o item III está correto.
tara esfaquear sua madrasta. (D) Apenas os itens I e II estão corretos.
(E) Apenas os itens II e III estão corretos.
16. Considere os seguintes casos hipotéticos:
I. Paulo, funcionário público no exercício do seu cargo, come-
teu crime de corrupção passiva ao exigir dinheiro de uma deter- GABARITO
minada pessoa para deixar de praticar determinado ato de ofício.
II. Júlio cometeu crime de cárcere privado (artigo 148, do Códi-
go Penal) ao invadir a casa da ex-namorada, que não queria reatar 1 D
o relacionamento amoroso.
III. Afonso cometeu crime de roubo (artigo 157, do Código Pe- 2 B
nal) contra um hipermercado situado na cidade de São Paulo, em 3 C
comparsaria com outros elementos.
4 C
IV. Manoel, funcionário público, cometeu crime de peculato
após se apropriar de dinheiro de que teve a posse em razão do seu 5 A
cargo. 6 E
Presentes todos os requisitos legais previstos na Lei n°
7.960/1989, que dispõe sobre a prisão temporária, o magistrado 7 C
competente poderá decretar a prisão temporária de: 8 D
(A) Paulo, Júlio e Manoel, apenas.
9 D
(B) Paulo, Júlio, Afonso e Manoel.
(C) Paulo, Afonso e Manoel, apenas. 10 A
(D) Júlio e Afonso, apenas. 11 A
(E) Júlio e Manoel, apenas.

327
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

12 D ______________________________________________________

13 CERTO ______________________________________________________
14 CERTO
______________________________________________________
15 C
______________________________________________________
16 D
17 B ______________________________________________________
18 E ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

328
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA

6. Engenharia
HISTÓRICO E DOUTRINA DA CRIMINALÍSTICA; 7. Farmácia
8. Medicina
Definições 9. Psicologia
Inserida na esfera das ciências forenses, a criminalística, ou ju- 10. Química
risprudência criminal, consiste no emprego de métodos científicos
na busca e na análise de provas em processos criminais. Em outras Conceito de criminalística
palavras, é a disciplina que visa ao estudo do delito de maneira que Ciência independente de suporte à justiça e à polícia, cuja fina-
não haja margem à distorção dos fatos, prezando sempre pela se- lidade é a elucidação de casos criminais. Trata-se de uma disciplina
guridade da integridade, perseguindo as evidências, para alcançar de investigação, estudo e interpretação de vestígios localizados na
justiça e obtenção de premissas decisórias para a proferirão da sen- área da ocorrência. Essa disciplina analisa a indiciologia material
tença. De acordo com o dicionário, trata-se de: para esclarecimento de casos de interesse da Justiça em todos os
seus domínios. Em suma, é a averiguação de todas as evidências
“Disciplina do direito penal que tem por objetivo desvendar cri- do fato delituoso e seu contexto, por meio de técnicas apropriadas
mes e identificar criminosos.” a cada um.
(AURÉLIO, 2016)

“Conjunto de conhecimentos e técnicas essenciais para a desco-


berta de crimes e identificação de criminosos.” POSTULADOS DA CRIMINALÍSTICA;
(AURÉLIO, 2016)
DOUTRINA CRIMINALÍSTICA
Objetivo Geral: geração de provas periciais para elucidação de
ocorrências criminais ou de qualquer caso de relevância jurídica, Postulados da criminalística
institucional ou mesmo relacionado a uma pessoa física. 1o. O objeto de um Laudo Pericial Criminalístico não sofre va-
riação relacionada ao Perito Criminal responsável por sua elabora-
Objetivos Científicos ção. Isto é, as conclusões de uma análise pericial criminalística são
• gerar a qualidade material do fato típico constantemente embasadas em princípios técnicos, com hipóteses
• verificação dos modos e dos meios utilizados na prática do e experiências convencionais, independente de qual for o perito
delito, visando ao provimento da dinâmica dos fatos que valer-se de tais leis para examinar um evento criminalístico. As-
• indicação da autoria do delito sim, a conclusão não poderá advir do indivíduo, do perito.  
• constituição da prova técnica, por meio da indiciologia mate- 2o. Os resultados de uma perícia criminalística não estão su-
rial (quando existir viabilidade para tal) jeitos aos mecanismos e métodos empregados para obtê-los. Em
outras palavras, fazendo uso dos recursos e técnicas apropriados
Objetivos da criminalística na localidade do fato para se chegar à conclusão sobre o fenômeno criminalístico, tal con-
• documentar o local do delito, a partir do trabalho da perícia clusão, sempre que houver reprodução das análises, será invariável,
criminal não obstante ao emprego de estratégias mais modernas, mais rápi-
das, mais precisas ou não.   
Objetivos da criminalística nos processos técnicos 3o. A Perícia Criminalística não se subordina ao tempo: a ver-
• descrição escrita dade é imutável, proporcionalmente ao tempo transcorrido.   
• croquis (desenho)
• documentação fotográfica
• filmagem
• coleta de evidências NOÇÕES E PRINCÍPIOS DA CRIMINALÍSTICA

Áreas de atuação da criminalística Princípios da criminalística: há necessidade de se distinguir os


Diante de quaisquer decisões importantes a serem tomadas Princípios Científicos da Criminalística e os Princípios da Perícia Cri-
para um caso de interesse cível específico, administrativo ou penal, minalística, conforme abaixo.
as técnicas da criminalística são elementares. As diversas áreas do
conhecimento em que essa disciplina se aplica são: Os Princípios Científicos da Criminalística são:  
1. Antropologia Princípio do Uso: os eventos averiguados pela Criminalística
2. Biologia são gerados por agentes biológicos, físicos ou químicos.
3. Biomedicina Princípio da Produção: os mencionados agentes atuam na pro-
4. Contabilidade dução de evidências de seus fatos, com grandes diversidades estru-
5. Direito turais, morfológicas e naturais.

329
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Princípio da Correspondência de Características: a atuação dos Tipos de prova
agentes mecânicos origina morfologias determinadas pelos modos A. Prova confessional: trata-se do chamado meio de prova,
e naturezas da atividade dos agentes. sendo um recurso a serviço do magistrado, para que este alcance
Princípio da Reconstrução: o emprego de fundamentos tec- a veracidade das ocorrências. Os fatos constituem a finalidade da
nológicos, teorias e leis científicas em torno do encadeamento das prova confessional, que não admite argumentos relacionados às re-
evidências remanescentes de um evento determinam os vínculos gras de experiência e ao direito.
causais entre as muitas fases da ocorrência, resultando na recons- B. Prova testemunhal: é a prova obtida em face ao depoimen-
trução do fato. to prestado em juízo, por indivíduos que tenham conhecimento do
Princípio da Certeza: a certeza dos resultados periciais é ates- fato dependente de sentença judicial (litigioso). O juiz pode ou não
tada pelos princípios técnico e científico que conduzem as ocorrên- admitir esse tipo de prova, na decisão de saneamento. Em geral, a
cias criminalísticas imutáveis e satisfatoriamente comprovadas. prova testemunhal é compreendida como deferida quando solicita-
Princípio da Probabilidade: nos exames da prova pericial, pre- da de antemão pelo juiz, que estabelece a audiência de instrução e
domina o descobrimento no incógnito de um número de aspec- o julgamento.
tos que equivalham à qualidade do conhecido. C. Prova documental: no artigo n0 408 do Novo Código de Pro-
cesso Civil estabelece que a assinatura de documento particular
Os Princípios da Perícia Criminalística são:   consiste em prova documental para o signatário. Em outras pala-
Princípio da Observação: baseado nas teorias de Edmond Lo- vras, resulta na presunção legal de veracidade em relação a quem
card1, segundo o qual “todo contato deixa uma marca” e que não que assinou. Essa presunção é, ainda assim, circunstancial, poden-
há ações em que não decorram vestígios de provas, entendendo- do ser pleiteada em juízo.
-se, ademais, que é evidente o desenvolvimento e a pesquisa do D. Prova pericial: é o tipo de prova produzida pelo perito, e
mecanismo científico apropriado para identificação de tais indícios, consta Código Penal Civil nos artigos 464 e 480, sendo regulamenta-
mesmo que se tratem de micro vestígios.   da como como meio de prova proposto a sanar uma contestação de
Princípio da Análise: baseado na ideia de que “a análise pericial cunho técnico que venha a surgir no decorrer do processo.
deve sempre seguir o método científico”, esse princípio determina
que o objetivo da perícia científica é definir a teoria, ou seja, como Formas da prova
ocorreu o fato, a partir de uma coleta criteriosa dos vestígios (da- A. Forma direta: remete ao próprio objeto de litígio (fato pro-
dos), que levantem as hipóteses em torno de como se sucedeu a bando). Abrange a prova testemunhal, a confissão do réu e o exame
ocorrência e todas as conjecturas a seu respeito.   de corpo de delito, entre outros.
Princípio da Interpretação: também conhecido por princípio B. Forma indireta: permite-se chegar ao fato probando ou às
da individualidade e fundamentado na ideia de que “dois objetos circunstâncias que se pretende provar, por meio da construção de
podem ser indistinguíveis, porém, nunca idênticos”, esse princípio um raciocínio, uma lógica ou por uma associação de casualidade.
sugere que a identificação deve ocorrer a partir de três níveis, sen- É a esfera das presunções e dos indícios. Exemplo: um recibo de
do eles genérico, específico e individual, e as investigações devem pagamento não consiste no negócio jurídico de litígio, todavia, por
sempre atingir este último nível. meio dele, será possível chegar ao fato probando.
Princípio da Descrição: a ideia que fundamenta esse princípio é
a de que “o resultado de um exame pericial é invariável com relação
ao tempo, devendo ser apresentado em linguagem juridicamente
perfeita e ética”. Em outras palavras, as conclusões das perícias
criminais não podem sofrer variações relacionadas ao passar do MÉTODOS DA CRIMINALÍSTICA
tempo. Além disso, quaisquer hipóteses científicas devem possuir
a propriedade da refutabilidade. Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado
Princípio da documentação: apoiado na Cadeia de Custódia da em tópicos anteriores.
prova material e na teoria que diz que “toda amostra deve ser do-
cumentada, desde seu nascimento no local de crime até sua análise
e descrição final, de forma a se estabelecer um histórico completo CORPO DE DELITO: CONCEITO;
e fiel de sua origem”. Esse princípio visa à proteção, à fidelidade
da prova material, prevenindo a apreciação de evidências forjadas Corpo de delito
para incriminar ou inocentar indivíduo. Todo o trajeto do indício Conceito: é o conjunto de componentes materiais ou indícios
precisa ser registrado em cada etapa, com documentação que o ofi- que revelam a existência de um fato criminal, e seu exame constitui
cialize, de forma que não existam vazões às dúvidas em torno dos prova pericial indispensável em ocorrências de crimes que deixam
dados comprobatórios. vestígios, ao ponto de sua falta implica na nulidade do processo.

Lei nº 13.721/2018: o parágrafo único acrescentado ao artigo


TIPOS DE PROVAS: PROVA CONFESSIONAL, PROVA n0 158 do CPP estabelece que seja outorgada propriedade à execu-
TESTEMUNHAL, PROVA DOCUMENTAL E PROVA ção do exame de corpo de delito, sempre que o fato criminal envol-
PERICIAL ver violência dos tipos familiar e contra a mulher, doméstica, contra
idoso ou pessoa com deficiência e contra a criança ou adolescente.
Prova O exame de corpo de delito pode ser direto ou indireto:
Conceito e objeto da prova: corresponde a todo componente • Direto: exame de corpo de delito direto: realizado pelos
ou substância por meio do qual se diligencia revelar a veracidade e peritos pontualmente sobre a própria pessoa ou objeto da ação cri-
a existência da devida ocorrência. Tem como objetivo, no decorrer minosa
do processo, influenciar na persuasão e convencimento do julgador.

1 Precursor da Ciência Forense.

330
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
• Indireto: o exame pode ser suprimido pela prova testemu- Importância
nhal ou pela confissão do acusado, pois, em virtude da extinção de Elaboração de laudos periciais: se houver, por exemplo, a re-
indícios, os peritos fundamentam suas hipóteses nos depoimentos moção de um cadáver do lugar original deixado pelo autor do fato,
das testemunhas essa ação compromete seriamente, as devidas conclusões em torno
da ação criminosa e mesmo na descoberta e busca do autor; perícia
criminal: a preservação do local do crime concretiza a usa materia-
CLASSIFICAÇÃO DOS LOCAIS DE CRIME. QUANTO À lidade e facilita a aplicação das técnicas forenses
NATUREZA DO FATO. QUANTO À NATUREZA DA ÁREA:
LOCAL DE CRIME INTERNO E LOCAL DE CRIME EXTER- Evidências físicas
NO. QUANTO À DIVISÃO: LOCAL MEDIATO, IMEDIATO O êxito do processo pode estar devidamente relacionado ao
E RELACIONADO. QUANTO À PRESERVAÇÃO: IDÔNEO estado dos sinais e indícios no momento em que são coletados
E INIDÔNEO. LEVANTAMENTO DE LOCAL. ISOLAMEN-
TO DE LOCAL Proteção da cena
Tem início quando o primeiro agente policial chega à cena do
delito, tendo finalização a partir da liberação da cena da custódia
Definição: em geral, o local do crime pode ser conceituado policial.
como o espaço físico onde tenha sucedido um crime elucidado ou
que ainda requeira esclarecimento, mas que, fundamentalmente, Isolamento
apresente configuração ou aspectos de um delito e que, assim, de- Além da atenção aos vestígios encontrados e cuidado para que
mande diligência policial. É no local do crime que as polícias judici- não sejam eliminados ou mesmo modificadas suas localizações e
ária e ostensiva se encontram, onde a primeira atua na seguridade disposições, é elementar que o local seja isolado.
da aplicação da lei penal, prevenindo e reprimindo potenciais in-
fratores; enquanto a segunda tem a função da ordem, prevenindo Vigilância
quaisquer possíveis violações ou restabelecendo-a regularidade. Diligência importante do procedimento de preservação do lo-
cal do crime, a vigilância empreendida pelos oficiais de polícia tem
Classificação dos locais de crime o objetivo de impossibilitar que pessoas não autorizadas ingressem
no local e também que chuvas e outras eventuais ações de agentes
A. Quanto à Preservação da natureza provoquem quaisquer alterações no local.
• Locais preservados idôneos ou não violados: são os locais de Artigo 6º, incisos I, II e III, do Código de Processo Penal (1941),
crime inalterados, conservados no estado imediatamente original constitui norma que estabelece, a respeito da preservação do local
à prática do delito, sem que haja modificações das condições dos do crime:
objetos após a ocorrência, até o momento da perícia. “I – se possível e conveniente, dirigir-se ao local, providencian-
• Locais não preservados, inidôneos ou violados: são locais do para que se não alterem o estado e conservação das coisas, en-
que cujas condições deixadas pelo autor do fato criminal sofreram quanto necessário;
alterações antes da chegada e acolhimento dos peritos. As altera- II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
ções, geralmente, se verificam nas disposições iniciais dos indícios, liberados pelos peritos criminais;
ou mesmo no acréscimo ou subtração destes, o que modifica quais- III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
quer estados das coisas. do fato e suas circunstancias;”

B. Quanto à Disposição dos vestígios Vestígios e indícios encontrados nos locais de crime
• Local relacionado: outros locais com relação com o fato Definição de vestígios: quaisquer objetos, sinais ou marcas que
• Local imediato: onde ocorreu o fato possam estar relacionados ao fato investigado. Todos os vestígios
• Local mediato: adjacências da área; comum marcas de paga- encontrados na cena do delito, num primeiro momento, são rele-
das, objetos caídos, etc. vantes para elucidação dos fatos.
Agente provocador: revelado pela existência de vestígios, são
C. Quanto à Natureza o que causou ou contribuiu para a ocorrência; o vestígio em si pode
• Local de homicídio se tratar do resultado da ação do agente provocador.
• Local de suicídio
• Local de crime contra a natureza Classificação dos vestígios
• Local do dano • Vestígio verdadeiro: trata-se de uma depuração completa
• Local do incêndio dos elementos localizados na cena do crime, constituindo-se verda-
• Local de crime de trânsito deiros apenas aqueles que foram gerados diretamente pelo agente
• Local de arrombamento de autoria do delito e, ainda, resultantes diretos das ações da prá-
• Local de explosão tica criminal.
• Vestígio Ilusório: qualquer componente encontrado no local
D. Quanto ao ambiente do crime que não tenha relação direta às ações dos infratores, e sua
• Local interno: prédio ou dentro de um terreno cercado produção não tenha ocorrido propositalmente.
• Local externo: terreno baldio sem obstáculos, logradouro • Vestígio forjado: ao contrário do vestígio ilusório, há uma in-
• Locais relacionados: duas ou mais áreas com implicação no tenção na produção desse tipo de vestígio.
mesmo crime
Definição de Indícios: de acordo com o CPP, artigo no 239, indí-
Preservação de locais de crime cio é a “circunstância conhecida e provada que, tendo relação com
Aplicabilidade: a não alteração do local do crime aplica-se, uni- o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou
camente, no contexto dos crimes materiais outras circunstâncias”.

331
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Indícios X evidências: embora as definições que o CPP apre- Em um local de morte por arma de fogo, regra geral, o ambien-
senta a respeito desses dois conceitos serem muito semelhantes, o te deve ser vasculhado e fotografado. Ex. fotografa-se os pontos de
termo indício foi estabelecido para a fase processual, logo, para eta- impactos de projéteis.
pa pós-perícia, ou seja, a designação indício abrange não somente Outro ponto importante é determinar a distância, a origem e a
os componentes materiais de que se dedica a perícia, mas também direção do disparo. Por meio de tais constatações é possível estabe-
aborda elementos de natureza subjetiva – característicos do âmbito lecer a provável trajetória do disparo.
da polícia judiciária. Ademais, o exame no cadáver precisa ser minucioso:
• Procurar ferimentos;
Perícia de local de crime: abrange os exames aplicados em • Procurar os orifícios de entrada e de saída do projétil, e
uma parcela do ambiente onde tenha ocorrido um delito e para suas localizações.
coletar dados que deem suporte às análises e comparações a fim
de constatar a eventualidade de o crime ter sido executado de um Por fim, é necessário avaliar os próprios projéteis e estojos en-
modo determinado. Propósito: elucidar as circunstâncias em que o contrados no local. A finalidade disto é fazer a identificação mediata
crime ocorreu. da arma (microcomparação balística) que causou a lesão, caso ne-
nhuma seja encontrada.
Locais de morte Tais procedimentos aptos para a investigação no local de morte
O local da morte é fundamental para desvendar a autoria e ma- por arma de fogo resumem-se em diligência processual penal vei-
terialidade delitiva. Neste sentido, o art. 6 do CPP determina que a culada através do laudo de local, documento fundamental para a
autoridade policial logo que tiver conhecimento da infração penal investigação.
deve: Tudo isso, em suma, visa determinar a causa jurídica da morte,
- dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estabelecer a diagnose diferencial entre homicídio, suicídio e aci-
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos crimi- dente.
nais;          
- apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após Local de morte por instrumentos contundentes, cortantes,
liberados pelos peritos criminais;           perfurantes ou mistos
- colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do Quando no local de morte verifica-se um instrumento contun-
fato e suas circunstâncias. dente, algumas conclusões passam a ser óbvias:
• A lesão é contusa;
Morte violenta • Na ação ocorreu pressão, percussão, arrastamento ou
Morte violente é considerada toda aquela que não é natural – tração;
ex. homicídio, suicídio, acidente. • Foram utilizados pau, cassete, chão ou muro.
Os locais de morte aparentemente natural costumam ser es-
cassos em vestígios, já que normalmente há uma única pessoa en- Quando se trata de instrumento cortante (cauda de escoria-
volvida (a própria vítima) e ela não contribui intencionalmente para ção), o instrumento ao tocar a pele exerce uma força maior que vai
o resultado. se desacelerando. Com isso:
Em caso de morte violenta, o local do crime precisa ser preser- • A ferida se aprofunda e depois vai se superficializando;
vado, uma vez que todo e qualquer elemento pode vir a contribuir • O ponto mais profundo marca o início do golpe;
com as investigações. Ex. armas, manchas, substâncias, posição do • O ponto mais superficial marca o final do golpe.
corpo, janelas, portas, trancas, vidro, arremesso de objetos etc.
Inclusive, já foi considerada verdadeira a seguinte assertiva Lesão de hesitação Lesão de defesa
pela banca Cespe (PCSE 2020): A forma de execução de um homicí-
dio pode ser definida a partir da observação da posição do cadáver Lesão múltipla, comum em Localizadas na mão.
no local do crime, dos vestígios biológicos e de eventuais elementos suicídio.
balísticos arrecadados.
Ademais, é importante diferenciar o exame perinecroscópico Instrumentos cortantes podem causar, ainda, esquartejamento
do exame de necropsia: e castração.
1) O exame perinecroscópico consiste no exame externo do
cadáver, feito pelo perito criminal, ainda no local de crime. Os instrumentos perfurantes, por sua vez, possuem as seguin-
2) O exame perinecroscópico não deve ser confundido com o tes características:
exame de necropsia, que é aquele realizado pelo perito médico-le- • Lesão: Punctória ou puntiforme;
gista, normalmente nas instalações do Instituto de Medicina Legal • Ação: de pressão;
(IML). • Instrumentos como alfinete, agulha etc.

Local de morte por arma de fogo


O tema local de morte por arma de fogo está intrinsecamente Local de morte provocada por asfixia.
ligado com lesões perfurocontundentes. Estas lesões são ferimen- As asfixias fazem parte da Traumatologia e são espécie de ener-
tos produzidos por projéteis de arma de fogo, cabo de guarda-chu- gia físico-químicas. Consideram-se fases da asfixia a) a Dispneia ins-
va, chave de fenda, entre outros. Assim, é comum esta situação em piratória; b) dispneia expiratória; c) parada respiratória.
homicídio. Quem vê uma pessoa asfixiada pode notar cor azulada, língua
Em uma investigação, para entender os fatos que desencade- para fora, equimoses. Por dentro, o sangue fica fluido e escuro,
aram a morte, o perito criminal deve analisar os vestígios, as posi- equimoses viscerais, sangue nas vísceras, hemorragia, edema e efi-
ções dos objetos, e, também, do cadáver. Aliás, o ambiente todo sema pulmonar.
merece cuidado.

332
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
A asfixia pode ser por: Relatório: Descrição minuciosa de fatos de administração pú-
• Enforcamento (forma laço, em regra suicídio ou aciden- blica ou de sociedade. Parecer ou exposição dos fundamentos de
tal); um voto ou apreciação. Exposição prévia dos fundamentos de um
• Estrangulamento (forma laço, em regra homicida); decreto, decisão, etc. Exposição de todos os fatos de uma adminis-
• Esganadura (sem laço, com as mãos – sempre homicida). tração ou de uma sociedade.

Técnico: Próprio de uma arte ou ramo específico de atividade.


Aquele que é perito numa atividade. Próprio de uma arte ou ciên-
DOCUMENTOS CRIMINALÍSTICOS: AUTO, LAUDO PE- cia; O que é perito numa arte ou ciência.
RICIAL, PARECER CRIMINALÍSTICO, RELATÓRIO CRIMI-
NALÍSTICO Técnica: Conhecimento prático. Conjunto dos métodos e por-
menores práticos essenciais a execução perfeita de uma arte ou
Muito se fala a respeito do laudo pericial e várias outras peças profissão. A parte material ou o conjunto de processos de uma arte;
formais, que estão muito próximas como expressão técnica de al- prática.
gum tipo de exame que seja realizado, visando esclarecer um fato
ocorrido ou determinada dúvida de natureza específica. Assistente: Que assiste, observando ou colaborando. Pessoa
presente a um ato ou cerimônia. Pessoa que dá assistência.
Nesse universo de peças técnicas, teríamos o laudo pericial -
oficial ou não, o parecer técnico - com fins de atendimento à Justiça Com isso, colocamos como compreensão inicial aquelas cons-
ou não, e o relatório técnico. Além das dúvidas existentes quanto à tantes do dicionário e, a seguir, faremos as contextualizações e dis-
titulação dessas peças técnicas, maior é a confusão sobre o conte- cussões de cada peça técnica, onde mostraremos que o significado
údo de cada uma delas. Tanto as primeiras, quanto às de conteúdo, poderá ser um pouco mais restrito ou ampliado, considerando o
procuraremos discorrer individualmente, no sentido de trazer à dis- enfoque técnico e/ou jurídico das suas interpretações à luz da atu-
cussão um assunto que tem gerado algumas discussões no âmbito alidade.
verbal, porém, muito pouco de interpretação formal existe à res-
peito. LAUDO PERICIAL
O laudo pericial é uma peça técnica formal que apresenta o
Outro aspecto que pretendemos abordar, é quanto aos profis- resultado de uma perícia. Nele deve ser relatado tudo o que fora
sionais habilitados para a execução dessas tarefas técnicas, tanto objeto dos exames levado a efeito pelos peritos. Ou seja, é um do-
sob a ótica da competência legal, como aquelas de natureza técni- cumento técnico-formal que exprime o resultado do trabalho do
co-especializada que devam ser observadas ou que melhor se reco- perito.
menda para esse mister.
Dentre as várias peças técnicas, podemos dizer que o laudo pe-
A fim de sistematizar nossa abordagem, vamos analisar cada ricial é o documento mais completo, em razão da sua origem que é
uma dessas peças técnicas, enfocando suas peculiaridades, objeti- um exame de natureza pericial, feito por peritos.
vos, aplicações e conteúdos que entendemos ser necessário obser-
var na suas respectivas produções. Aqui vale ressaltar que, sob o enfoque técnico-jurídico, um
exame pericial pressupõe um trabalho de natureza eminentemente
No entanto, ainda como preliminar para embasarmos nossa técnico-científico e da maior abrangência possível. É, portanto, um
discussão, vamos descrever a seguir o significado vernacular de trabalho (exame pericial) levado a efeito por especialistas (peritos)
algumas expressões que merecerão a nossa atenção na presente naquilo que estão a realizar, cuja obrigação é dar a maior abrangên-
análise. cia possível ao exame.

Laudo: Escrito em que um perito ou um árbitro emite seu pa- Sabemos que um exame pericial deve se pautar pela mais com-
recer e responde a todos os quesitos que lhe foram propostos pelo pleta constatação do fato, análise e interpretação e, como resultado
juiz e pelas partes interessadas. Parecer do louvado ou árbitro; peça final, a opinião de natureza técnico-científica sobre os fatos exami-
escrita, fundamentada, em que os peritos expõem as observações e nados. Os peritos não devem se restringir ao que lhes foi pergunta-
estudos que fizeram e consignam as conclusões da perícia. do ou requisitado, mas estarem sempre atentos para outros fatos
que possam surgir no transcorrer de um exame.
Perícia: Qualidade de perito. Destreza, habilidade, proficiência.
Exame de caráter técnico e especializado. PERICIAL: Relativo à perí- Assim, a partir desse amplo e completo exame (a perícia), a
cia. Qualidade de perito; habilidade, destreza, exame ou vistoria de peça técnica capaz de exprimir o universo dessa perícia é o Laudo
caráter técnico e especializado. Pericial.

Perito: Experiente, hábil, prático, sabedor, versado. Aquele que O laudo pericial é, portanto, o resultado final de um completo
é prático ou sabedor em determinados assuntos. Aquele que é judi- e detalhado trabalho técnico-científico, levado a efeito por peritos,
cialmente nomeado para exame ou vistoria. Experimentado; sabe- cujo objetivo é o de subsidiar a Justiça em assuntos que ensejaram
dor; hábil; douto; prático. Aquele que é prático ou sabedor; aquele dúvidas no processo. Dentro desse objetivo, temos aqueles laudos
que está habilitado para fazer perícias. O nomeado judicialmente destinados à Justiça Criminal e os que se destinam à Justiça Cível.
para exame ou vistoria. Laudo Pericial Criminal (Laudo Oficial)
O laudo pericial com destino à Justiça Criminal tem como su-
Parecer: Opinião. Opinião técnica sobre determinado assunto. porte uma série de formalidades e de regulamentos emanados,
principalmente, do Código de Processo Penal, que o diferencia em
vários aspectos daqueles destinados à Justiça Cível.

333
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
A principal característica do laudo pericial criminal é que todas Dentro das normas previstas no Código de Processo Civil, as
as partes integrantes do processo dele se utilizam, pois é uma peça partes envolvidas no processo cível poderão nomear assistentes
técnica-pericial única, determinada a partir do artigo 159 do CPP técnicos para atuarem no acompanhamento do exame que o perito
(Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por do juízo esteja realizando.
dois peritos oficiais.). Só há a figura do perito oficial para fazer a
perícia, cujo laudo poderá ser utilizado desde a fase de investigação Os profissionais para realizarem essas atividades, perito do ju-
policial até o processo, neste, tanto pelo magistrado, promotor ou ízo e os assistentes técnicos, como já salientamos, devem possuir
partes representadas pelo advogado. diploma de curso superior e estarem devidamente inscritos no res-
pectivo conselho regional de fiscalização da profissão, fato esse que
Como vemos, qualquer necessidade de perícia no âmbito da deve ser comprovado no processo por intermédio de apresentação
Justiça Criminal, deve ser feita por peritos oficiais, que são aqueles da documentação própria.
profissionais de nível superior ingressos no serviço público (Insti-
tutos de Criminalística ou Institutos de Medicina Legal) mediante Evidente que, tanto o magistrado quanto as partes, deverão
concurso público, com a função específica de fazer perícias. procurar profissionais que, além das exigências já mencionadas, te-
nham formação e especialização adequadas ao tipo de exame que
Em razão de ser uma prestação jurisdicional emanada do Esta- se faça necessário naquele processo.
do, reveste-se da oficialidade e publicidade, sendo o Laudo Oficial
do inquérito policial e do processo criminal. Assim, teremos laudo Dentro dessa necessidade, há sempre uma procura por profis-
oficial oriundo das perícias realizadas por peritos legistas e por peri- sionais que sejam peritos oficiais, considerando a sua grande expe-
tos criminais, que são os chamados peritos oficiais. riência na realização de perícias em geral. Evidentemente, essas no-
meações são de caráter particular entre o magistrado ou as partes
Por ser uma obrigação do Estado prestar os serviços de perícia com o perito, não envolvendo a sua repartição de trabalho (IMLs ou
na esfera da justiça criminal, os peritos oficiais devem ser funcioná- ICs). O próprio Código de Processo Civil orienta o magistrado para
rios públicos com a função específica de fazer perícia, não havendo dar preferência na nomeação do perito do juízo, dentre os peritos
qualquer remuneração direta aos peritos signatários do laudo peri- oficiais, seguindo-se, após a conclusão do trabalho, o respectivo pa-
cial. Os peritos receberão seus vencimentos normais como funcio- gamento pelos serviços prestados.
nários que são, jamais poderão ser remunerados diretamente por
cada laudo emitido com pagamento oriundo das partes envolvidas É comum os magistrados encaminharem expediente aos Insti-
no processo. tutos de Criminalística e de Medicina Legal, solicitando a nomeação
de peritos oficiais para atuarem em processos cíveis. Este procedi-
Laudo Pericial Cível mento está – inclusive – previsto no artigo 434 do Código de Pro-
O laudo pericial cível tem destinação mais restrita, pois visa es- cesso Civil (.... O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do
clarecer dúvidas levantadas pelo magistrado que esteja apreciando material sujeito a exame, ao diretor do estabelecimento); todavia,
um processo. o máximo que os diretores daqueles Órgãos poderão fazer, é indicar
um de seus peritos para que o juiz proceda a nomeação e seja de-
O exame pericial cível poderá envolver o trabalho autônomo de senvolvida a respectiva perícia, transação particular entre o magis-
três profissionais (peritos) para atuarem sobre um mesmo fato, sen- trado e o perito, mediante a nomeação direta, não podendo haver
do um nomeado pelo juiz e os outros dois pelas partes envolvidas a interferência dos respectivos Institutos.
no processo. Assim, o magistrado encontrando alguma dúvida de
natureza técnico-científica poderá nomear um profissional de nível Quanto a peritos oficiais trabalharem como assistentes técni-
superior para fazer o respectivo exame pericial. cos para as partes, no processo cível, nada obsta essa participação
desde que nenhum dispositivo legal da sua relação funcional com o
Esse exame pericial realizado pelo chamado “perito do juízo” seu Órgão Público especificamente o proíba, ou algum impedimen-
deve seguir - do ponto de vista técnico-científico - os mesmos cri- to de natureza ética, que venha a conflitar com a sua condição de
térios adotados pelos peritos oficiais na realização das perícias cri- Perito Oficial.
minais. Esse perito do juízo deverá analisar todo o fato requerido,
além de buscar qualquer outra informação ou circunstância a ele Considerando que o trabalho do perito do juízo deve ser abran-
relacionado que possa ser importante para subsidiar o magistrado. gente, os assistentes técnicos farão o trabalho de acompanhamen-
Deve examinar com todo o cuidado e abrangência aquele objeto to e verificarão se todos os dados e informações que possam ser fa-
da perícia, a fim de trazer para os autos um trabalho completo e voráveis ao seu cliente estão contemplados no laudo pericial cível.
que contemple todas as informações possíveis de serem extraídas
daquele evento. Se entenderem que foi contemplado, expedirão um relatório
para ser anexado ao processo, informando quanto a sua concordân-
A perícia realizada na esfera da justiça cível não é obrigação do cia com o conteúdo do laudo pericial cível ou poderão – diretamen-
Estado. Desse modo, se o magistrado entender necessário o auxílio te - assinar junto com o perito do juízo aquele laudo.
especializado, ele nomeará um profissional de nível superior e, cujo
pagamento, será feito inicialmente pelo autor da ação judicial cível.
Porém, se qualquer deles não concordar com os termos do
É, portanto, uma relação direta entre o magistrado e o perito laudo pericial cível, deverão fazer um parecer técnico onde eviden-
nomeado, em que o pagamento deverá ser feito pelo autor da ação. ciarão a sua discordância técnica sobre as conclusões a que chegou
O fato do perito do juízo receber a sua remuneração com dinheiro o perito do juízo. Por se tratar de relatório ou parecer técnicos, va-
originário do autor da ação, em nada o vincula àquela parte, pois mos discutir essa situação com mais detalhes no item próprio desse
ele o recebe dentro da formalidade do processo, não havendo qual- trabalho.
quer relação do perito com o autor da ação.

334
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
PARECER TÉCNICO Também nesses tipos de trabalhos há uma grande procura pe-
Esse documento denominado de parecer técnico tem uma in- los peritos oficiais, em razão da sua experiência em vários tipos de
finidade de aplicações e seu conteúdo é relativamente genérico, exames. Tanto para o caso de assistente técnico no processo cível,
podendo abordar desde a análise de fatos concretos até situações quanto para qualquer outro trabalho destinado a outros órgãos pú-
hipotéticas que venham a servir de parâmetro para outras análises blicos ou privados, é comum a participação dos peritos oficiais na
e/ou conclusões. condição de contratados particularmente pela parte interessada em
analisar e opinar sobre determinado fato, com a respectiva emissão
O parecer técnico diferencia-se do laudo pericial em razão de do relatório técnico. A limitação imposta ao perito oficial para atuar
ser um documento conseqüente de uma análise sobre determina- nesses tipos de serviços particulares é somente em relação ao seu
do fato específico, contendo a respectiva emissão de uma opinião estatuto funcional-administrativo, se este assim o restringir.
técnica sobre aquele caso estudado. Sobre esse tema, assim se
manifesta o ilustre Perito Criminal de Pernambuco Ascendido Ca- Em não havendo restrição funcional-administrativa, resta
valcante em seu livro Criminalística Básica (Ed. Sagra D.C. Luzzatto, aquela de caráter ético-legal, onde, especialmente o perito oficial,
Porto Alegre, RS): se tal assunto objeto de seu exame em instância extra-oficial che-
“É a resposta a uma consulta feita por interessado sobre fatos gar posteriormente a uma situação de necessidade de ser feita uma
referentes a uma questão a ser esclarecida. Pode tratar-se de um perícia criminal, jamais este perito poderá fazê-lo, devendo se de-
exame propriamente dito ou de uma opinião a respeito do valor clarar impedido, nos termos dos artigos 112, 254 e 255 do Código
científico de um trabalho anteriormente produzido, quer seja por de Processo Penal.
peritos oficiais, ou não; assim sendo, é um documento particular
que independe de qualquer compromisso legal e que é aceito ou Para esses tipos de serviços também é comum os interessa-
faz fé, pelo renome, competência e qualidade morais de quem o dos buscarem diretamente por intermédio de associações de pe-
subscreve.” ritos a indicação daqueles associados com prerrogativas legais e/
ou conhecimento técnico sobre o assunto a ser analisado. Quanto
Portanto, o parecer técnico sempre deverá ter um objetivo es- à relação existente entre a associação e o perito por ela designado
pecífico a se dedicar, excluindo-se da análise quaisquer outros ele- é questão interna, onde a remuneração pelo trabalho realizado po-
mentos que não venham a corroborar e respaldar o objetivo de tal derá ficar totalmente para a associação ou ser repassado parte ao
análise. associado que efetuou o trabalho. Sobre a restrição - se houver - no
estatuto funcional-administrativo, na situação em que a remune-
Assim, em se tratando de um parecer técnico emitido por as- ração ficou totalmente para a sua associação, essa restrição não se
sistente técnico que não concordou com o laudo do perito do juízo, aplica ao perito, pois ele estará trabalhando gratuitamente para a
ele irá analisar e emitir a sua opinião sobre os fatos que possam sua entidade de classe.
respaldar os argumentos do seu cliente (a parte que o nomeou no
processo); se foi requisitado por uma empresa privada, deverá se Ainda dentro dessa vasta incursão do parecer técnico, ele tam-
dedicar a buscar elementos técnicos que corroborem a tese do seu bém se aplica como documento a ser emitido por peritos oficiais
cliente, todos, é claro, dentro dos rigores da ética e da busca da no exercício de suas funções públicas (ICs e IMLs) quando se tratar
verdade apontada a partir dessa análise técnico-científica. de alguma requisição de autoridades, onde não se trate especifi-
camente da realização de uma perícia nos moldes tradicionais, de-
Outro aspecto caracterizador do parecer técnico é a sua re- terminados pelo artigo 158 do Código de Processo Penal (Quando
quisição e respectivo destinatário. Ele só ocorrerá porque alguém a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
(justiça, órgãos públicos, empresas privadas, pessoas) necessita de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acu-
esclarecimento sobre determinado assunto que não detenha co- sado.), mas de alguma análise de situação real ou hipotética a partir
nhecimento ou competência legal para realizá-lo. E, obviamente, de depoimentos nos autos para saber da coerência técnica do que é
terá sempre um destinatário específico que, geralmente, é quem alegado, ou qualquer outra situação no inquérito policial ou proces-
o requisitou. so criminal que necessitem do conhecimento técnico-especializado
do perito oficial.
A gama de profissionais habilitados a realizar exames que te-
nham por conseqüência gerar um parecer técnico, também é muito Mesmo o Código de Processo Penal não admitindo a figura do
vasta em razão do que já discutimos sobre a variedade de situações. assistente técnico no processo criminal, vez por outra encontramos
pareceres técnicos elaborados por profissionais que não são peritos
A primeira preocupação para quem requisita um trabalho des- oficiais, contestando o laudo oficial ou levantando outras situações.
sa natureza é verificar se tal atividade está dentro daquelas relacio- Lógico que o magistrado não pode aceitar esse documento como se
nadas como de exclusiva competência de determinada profissão de fosse uma outra perícia, mas ele poderá considerá-la como mais um
nível superior. Em assim sendo, obrigatoriamente deve se buscar elemento de prova que qualquer das partes venha trazer aos autos,
um profissional com uma habilidade técnico-legal para realizar o o que estaria respaldado pelo amplo direito de defesa. É um tipo de
trabalho. Em se tratando de nomeação de assistente técnico para a procedimento que os peritos oficiais não recomendam, porque em
Justiça Cível é também obrigatório (mesmo que a atividade não seja alguns gera-se distorções de natureza processual, uma vez que, se
exclusiva de nenhuma profissão) que o profissional, além de possuir qualquer das partes tiver alguma dúvida ou encontrar lacunas no
diploma de curso superior, esteja registrado no conselho regional laudo oficial, o próprio Código lhes garante todo o direito de levan-
de fiscalização de sua profissão. tar esses questionamentos até chegar na situação de realização de
uma outra perícia por outros peritos oficiais.
Todavia, inúmeras situações encontraremos em que o objeto
do exame requer o conhecimento técnico de pessoas que possuam
prática em determinado ofício, independente de ter formação aca-
dêmica ou não.

335
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
RELATÓRIO TÉCNICO Nesse aspecto, para evidenciar o exagero do uso dessa expres-
Genericamente falando sobre o que seria um relatório, tería- são, basta reportarmo-nos ao significado do vocábulo “laudo” no
mos uma multiplicidade de situações onde ele se aplicaria, pois é dicionário (Escrito em que um perito ou um árbitro emite seu pa-
quase que cotidiano vermos referências à elaboração de um relató- recer e responde a todos os quesitos que lhe foram propostos pelo
rio em razão de algum fato ou atividade desenvolvida. juiz e pelas partes interessadas.) para constatarmos que “laudo mé-
dico” só se aplicaria quando ele estivesse atuando como perito em
Como nesse trabalho nos interessa aquilo que esteja relacio- algum tipo de exame. Sobre isso, existem várias situações em que o
nado ao trabalho pericial e atividades afins, restringiremos nossa médico estará atuando como perito, cujo trabalho não se destina à
discussão dentro desses limites. Poderemos ver, então, que um re- Justiça (se for para a Justiça, seria o “laudo pericial criminal oficial”
latório técnico será o resultado de algum exame ou ação específica ou “laudo pericial cível”), mas a outros Órgãos Públicos, como a pre-
que tenha sido realizado por alguma pessoa que detenha conheci- vidência social, os acidentes de trabalho, nos concursos públicos e
mento técnico-especializado e prático. tantos outros.

Assim, o objeto que originou um relatório técnico será algum A partir dessa delimitação, podemos dizer que nas situações
exame parcial ou análise sobre determinada situação específica, onde o médico venha a realizar qualquer exame para um paciente
cujo resultado - evidenciado por intermédio do relatório técnico - seu (se fosse perícia, o objeto do exame seria o “periciando”), ao
servirá para complementar um estudo maior sobre um fato ques- emitir documentos técnicos com fins diversos, não cabe utilizar a
tionado. expressão laudo médico, mas sim parecer ou relatório técnico, de-
pendendo da complexidade de cada caso.
Diferencia-se o relatório técnico do parecer técnico, em virtude
deste conter a análise e opinião sobre o objeto do exame, enquanto Mas não é só na área da medicina que encontramos essa utili-
que o relatório técnico é apenas um relato da ação (do exame) de- zação exagerada da expressão “laudo” em documentos que relatam
senvolvida, com o respectivo resultado, se for o caso. exames efetuados. Até em oficinas mecânicas de automóveis são
utilizados para apresentar o resultado de um exame das condições
Na perícia oficial é muito rotineiro esse documento, em fun- do veículo. No máximo, para um caso desses, seria utilizar o docu-
ção dos exames complementares que os peritos criminais, p.ex., mento intitulado relatório técnico, uma vez que o conteúdo daque-
requisitam de outros peritos em setores distintos dos Institutos de le trabalho não se enquadra na complexidade de um laudo.
Criminalística, a fim de obterem informações técnico-especializadas
sobre partes do todo que estão analisando em uma perícia. Fonte: https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/arti-
gos/16240/laudo-pericial-e-outros-documentos-tecnicos
Outra situação aplicável no âmbito da perícia é no processo
cível, quando os assistentes técnicos vierem a concordar com o re-
sultado da perícia realizada pelo perito do juízo. Além de poderem FINALIDADE DA CRIMINALÍSTICA: CONSTATAÇÃO
assinar junto o próprio laudo daquele perito, terão a possibilidade DO FATO, VERIFICAÇÃO DOS MEIOS E DOS MODOS E
(e julgamos a mais recomendável) de emitir um relatório sobre o POSSÍVEL INDICAÇÃO DA AUTORIA
acompanhamento dos trabalhos periciais e sua respectiva concor-
dância com os resultados ali evidenciados. Finalidade da criminalística: constatação do fato, verificação
dos meios e dos modos e possível indicação da autoria
Os profissionais que atuam nessas tarefas, são os mais variados
possíveis, pois sua formação dependerá do tipo de conhecimento A finalidade da Criminologia conforme a sua terminologia: o
ou prática necessária. Poderão estar envolvidos profissionais de ní- termo Criminalística foi elaborado em no início do século XX pelo ju-
vel superior se o trabalho for atividade exclusiva de alguma dessas rista criminal Hans Gross, para designar o sistema de técnicas cien-
profissões ou qualquer outra pessoa especialista em determinado tíficas usadas pelos departamentos de polícia, sendo, mais tarde,
assunto. adotado também para nomear a disciplina associada ao crime e à
identificação do criminoso.  
Também nessas atividades que geram os relatórios técnicos, os
peritos oficiais são muito requisitados, diretamente ou por inter- Objetivo da disciplina Criminalística: de acordo com o professor
médio de suas entidades de classe, em razão da vasta experiência Eraldo Rabelo, o objetivo da Criminalística é “estudar os vestígios
que possuem. Sobre as restrições para desenvolverem esse tipo de materiais extrínsecos à pessoa física, no que tiver de útil à elucida-
trabalho, são as mesmas verificadas para o caso dos pareceres téc- ção e à prova das infrações penais e, ainda, à identificação dos auto-
nicos. res respectivos.” (STUMVOLL, 2017)2. Tratando essa conceituação
em pormenores, temos a finalidade da Criminalística como:  
OUTROS DOCUMENTOS TÉCNICOS E/OU APLICAÇÕES - estudo dos vestígios materiais
Ficou claro até esse ponto que a nossa abordagem restringiu-se - estudo das as interligações entre esses vestígios  
aquilo que tenha relação direta ou indireta com o Perito Oficial (pe- - estudo dos fatos que geraram esses vestígios
rito criminal ou perito legista), porém, face à diversidade de aplica- - estudo da origem dos vestígios,  
ção e utilização desses documentos técnicos, vamos comentar duas - interpretação dos vestígios, dos meios e dos modos como fo-
situações, como forma de ilustrar essa abrangência. ram perpetrados os delitos, não se limitando ao visum et repertum,
Uma grande utilização da expressão “laudo” é feita na área da ou seja, a crua estagnada narrativa, do modo como se manifestam
medicina, onde é comum vermos para qualquer exame que um mé- os vestígios.
dico realize, ao emitir um documento relatando essa tarefa, intitu-
la-o de “laudo médico”.
2 STUMVOLL, Victor Paulo, Criminalística. Juspodivm, 2017. Disponível em:
<www.editorajuspodivm.com.br> Acesso em 16 Mai 2021.

336
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
04. A respeito da classificação dos locais de crime e do isola-
EXERCÍCIOS mento de local, assinale a alternativa correta.
(A) A garagem de uma residência, onde haja ocorrido a subtra-
1. (AOCP/2018 – ITEP/RN) A Criminalística pode ser definida ção de várias mesas e cadeiras, quanto à natureza da área, é
como local de crime externo.
(A) uma disciplina autônoma, integrada pelos diferentes ramos (B) Se um homicídio foi praticado no interior do quarto da víti-
do conhecimento técnico-científico, auxiliar e informativa das ma, a sala da residência, distante 5 metros do quarto, quanto à
atividades policiais e judiciárias de investigação criminal, tendo divisão, é local imediato.
por objeto o estudo dos vestígios materiais extrínsecos à pes- (C) Se, após uma colisão entre um veículo e uma motocicleta, o
soa física, no que tiver de útil à elucidação e à prova das infra- condutor do veículo prestou imediato socorro ao motociclista,
ções penais e, ainda, à identificação dos autores respectivos. levando-o ao hospital e retornando ao local do sinistro, com o
(B) a parte da jurisprudência que tem por objeto o estabeleci- veículo, antes da chegada dos peritos, então o local da colisão,
mento de regras que dirigem a conduta do perito e na forma quanto à preservação, é local idôneo.
que lhe cumpre dar às suas declarações verbais ou escritas. (D) Se, no interior da residência, o marido desfecha vários gol-
(C) o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos des- pes de faca em sua esposa e, após matá-la, transporta o corpo
tinados a servir ao Direito, cooperando na elaboração, na inter- da vítima até um lote baldio, onde o joga, então o lote baldio,
pretação e na execução dos dispositivos legais, no campo de quanto à divisão, é local relacionado.
ação da ciência aplicada. (E) Embora imprescindível para garantir as condições de se
(D) o ramo das ciências que se ocupa em elucidar as questões realizar um exame pericial da melhor forma possível, não há
da administração da justiça civil e criminal que podem ser re- norma legal que determine a tomada de iniciativas para o iso-
solvidas somente à luz dos conhecimentos médicos. lamento e a preservação de locais de infrações penais, a fim de
(E) a área do direito penal que se ocupa da doutrina criminal resguardarem os vestígios conforme foram produzidos durante
envolvida na elucidação material do fato, sendo prescindível à a ocorrência do crime.
elucidação de crimes que deixam vestígios e regida por leis jurí-
dicas e ritos processuais rígidos e imutáveis e cujos resultados e 05. Com relação a local de crime e a exame pericial, assinale a
apontamentos são de origem empírica, ambígua e inextricável. opção correta.
(A) O exame pericial de local destina-se, precipuamente, a de-
2. (FUNDATEC/2017 – IFP/RS) São princípios fundamentais da terminar a causa da morte da vítima.
Perícia Criminalística: (B) A vítima de homicídio, em regra, deve ser individualizada
(A) Observação, contextualização, descrição, discussão e docu- ainda no local do crime e antes do exame pericial.
mentação. (C) Local relacionado abrange o corpo de delito, seu entorno e
(B) Comunicação, análise, interpretação, discussão e declara- espaços que contenham vestígios materiais do crime.
ção. (D) O local do crime é dividido, para efeitos de preservação,
(C) Observação, análise, interpretação, descrição e documen- apenas em local imediato e em local relacionado.
tação. (E) Em casos de morte violenta, o exame perinecroscópico deve
(D) Visualização, comunicação, análise, interpretação e docu- ser realizado pelo perito criminal ainda no local do crime.
mentação.
(E) Recomendação, verificação, descrição, discussão e declara-
ção.
GABARITO
3. Durante um levantamento de local de crime, o Perito Crimi-
nal constatou um cadáver em situação de enforcamento por sus- 1 A
pensão completa. Populares afirmavam que a vítima era depressiva
e que já havia tentado o suicídio antes. O perito, entretanto, estra- 2 C
nhou a escassez de petéquias na conjuntiva ocular da vítima e san- 3 C
gramento oriundo da cavidade oral. Diante da situação hipotética
apresentada, assinale a alternativa correta. 4 D
(A)No enforcamento, como modalidade de asfixia por constri- 5 E
ção do pescoço, o sulco decorrente do laço e presente no pes-
coço da vítima é oblíquo e contínuo, portanto sem interrupção
na altura do nó.
(B)A afirmação de populares é suficiente para concluir pela
hipótese de suicídio, independentemente de qualquer outro
elemento de ordem material ou médico legal que possa ser
avaliado no local ou no cadáver.
(C)Petéquias são equimoses pontuais que eventualmente, po-
dem estar associadas ao enforcamento quando presentes, por
exemplo, na conjuntiva ocular.
(D)São sinônimos de enforcamento, a esganadura e o estran-
gulamento.
(E)Se o perito médico legista encontrar uma lesão perfurocon-
tusa, de entrada, no palato da vítima, então a hipótese de sui-
cídio por asfixia será a mais provável.

337
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
________________________________________________
______________________________________________________

338
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

É curioso que a morte violenta nem sempre é criminosa, uma


NOÇÕES DE TANATOLOGIA FORENSE: CRONOTANA- vez que, basta não se originar de patologias para receber essa titu-
TOGNOSE; MORTE SUSPEITA; MORTE SÚBITA; MORTE lação.
AGONIZANTE
— Cronotanatognose: fenômenos cadavéricos e sua valora-
ção na avaliação do tempo de morte
— Diagnóstico da morte e suas consequências jurídicas A Cronotanatognose consiste em momentos após o fim das
A tanatologia estuda a morte nos seguintes aspectos: funções vitais do organismo. Em outras palavras, de acordo com
• Tipos a Cronotanatognose é possível determinar o tempo entre a morte
• Causas e o encontro do cadáver. Com isso, os peritos conseguem decifrar
• Cronologia a hora da morte. Apesar de parecer fácil, nem sempre os fatores
internos e externos facilitam a quantificação exata do tempo.
Isso é fundamental para a perícia e a consequente instrução/ Quanto mais demorado é o tempo de encontro do corpo mais
julgamento de processos criminais. difícil precisar a data da morte. Os fenômenos cadavéricos depen-
— Conceito moderno de morte e sua importância na doação dem da atuação de fatores. Esses fatores podem ser impulsionado-
de órgãos para transplante res ou inibidores da decomposição. Isso resultará num adiamento
De acordo com o Código Civil: ou atraso do processo de decomposição.
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; Diversos métodos auxiliam nessa missão de decifrar a data da
presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei auto- morte:
riza a abertura de sucessão definitiva. • Verificar se há comida no estômago do morto;
A partir deste conceito a comunidade jurídica, embasada na • Verificar a rigidez cadavérica;
orientação no Conselho Federal de Medicina estabeleceu que a • Verificar coloração etc.
morte ocorre com a parada cerebral.
Neste sentido dispõe a lei 9434/97, que dispõe sobre a remo- — Declaração de óbito
ção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de trans- A lei de registros públicos (6015/73) determina que:
plante: Art. 77. Nenhum sepultamento será feito sem certidão do ofi-
Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do cial de registro do lugar do falecimento ou do lugar de residência
corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser do de cujus, quando o falecimento ocorrer em local diverso do seu
precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e regis- domicílio, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista
trada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário,
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológi- de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado
cos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. a morte.  
Assim, basta a parada cerebral para que o corpo seja considera-
do sem vida e apto a ser transplantado. No entanto, durante a triste realidade da pandemia causada
— Causa jurídica da morte: morte natural, morte violenta, pelo Coronavírus foi alterado tal entendimento. O Conselho Nacio-
morte suspeita e morte súbita nal de Justiça e o Ministério da Saúde editaram a Portaria Conjun-
Neste ponto vale memorizar o seguinte quadro: ta nº 1, de 30 de março de 2020, que estabelece procedimentos
excepcionais para sepultamento e cremação de corpos durante a
Morte Morte situação de pandemia.
Morte Natural Morte Súbita Art. 1º Autorizar os estabelecimentos de saúde, na hipótese de
Violenta Suspeita
ausência de familiares ou pessoas conhecidas do obituado ou em
Também razão de exigência de saúde pública, a encaminhar à coordenação
conhecida cemiterial do município, para o sepultamento ou cremação, os cor-
como Ocorre pos sem prévia lavratura do registro civil de óbito.
A agressão
morte por de forma
provoca É natural,
antecedentes duvidosa. Criminalmente, a certidão de óbito é importante para declarar
a morte. de maneira
patológicos. Ou seja, não extinta a punibilidade do agente:
Origina-se de que não há
É oriunda de existe certeza Art. 62.  No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da
ação externa. tempo para
um estado de ter sido de certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará
Ex. homicídio, atendimento
mórbido causa natural extinta a punibilidade.
suicídio, médico.
adquirido ou de causa
acidente.
ou de uma violenta. Ademais, a jurisprudência entende que diante de certidão de
perturbação óbito falsa eventual arquivamento do inquérito policial não faz coi-
congênita. sa julgada material. Assim, cabe a reabertura das investigações.

339
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
— Necessidade da necrópsia médico-legal • Enforcamento (forma laço, em regra suicídio ou acidental);
A necropsia médico-legal consiste em um exame necroscópico, • Estrangulamento (forma laço, em regra homicida);
realizado por peritos, que tem como escopo atender solicitações da • Esganadura (sem laço, com as mãos – sempre homicida).
justiça. Por exemplo, é ordenada pelo delegado de polícia ou juiz,
em determinadas situações. Em suma, o prejuízo da ventilação pulmonar é causada por meio
O que justifica a necrópsia? mecânico (enforcamento, estrangulamento, esganadura), mas tam-
• morte violenta bém existem outros mecanismos de asfixia. O enforcamento é acio-
• morte suspeita nado pelo peso do corpo da vítima. Assim, se o agente deita num
• morte de pessoa não identificada precipício, amarra uma corda em seu pescoço e, na outra ponta,
amarra uma pedra e a arremessa para baixo do precipício, não há
Ademais, é importante diferenciar o exame perinecroscópico enforcamento, já que o laço foi acionado pelo peso da pedra.
do exame de necropsia:
1. O exame perinecroscópico consiste no exame externo do ca- — Estudo médico-legal das asfixias: sufocações direta e indi-
dáver, feito pelo perito criminal, ainda no local de crime. reta, constrições cervicais (enforcamento, estrangulamento e es-
2. O exame perinecroscópico não deve ser confundido com o ganadura), modificações do meio ambiente (confinamento, soter-
exame de necropsia, que é aquele realizado pelo perito médico-le- ramento e afogamento)
gista, normalmente nas instalações do Instituto de Medicina Legal Quanto as sufocações diretas e indiretas é importante saber
(IML). que na sufocação por compressão do tórax, observam-se pulmões
O art. 162 traz o exame necroscópico: congestos e com hemorragias.
Art. 162.  A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do
óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julga- Sufocação Direta Sufocação Indireta
rem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no
auto. É mecânica, om obstrução
Compressão externa do
Parágrafo único.  Nos casos de morte violenta, bastará o sim- à penetração do ar nas vias
tórax, deixando impedidos os
ples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal respiratórias desde o nariz/
movimentos respiratórios.
que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a boca até a traqueia.
causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a
verificação de alguma circunstância relevante. Nas constrições cervicais é importante a seguinte classificação:
Tanto o exame necroscópico quanto a exumação ocorrem em
crimes que envolvam a morte. O exemplo clássico de tais procedi- Enforcamento Estrangulamento Esganadura
mentos é quando o cadáver já foi submetido ao exame necroscópi-
co, mas surgirem dúvidas sobre o primeiro exame – neste caso, exu- Não há laço, usa-
Uso de objeto Uso de objeto
ma-se o corpo para compreender melhor alguns aspectos do crime. se as mãos (ou
formando o laço. formando o laço.
braços).
— Infortunística Suicídio, acidental Sempre homicida
Infortunística consiste na ciência que junta o conhecimento e raramente Em regra, homicida. por subjugação.
jurídico (Direito Constitucional, Previdenciário, Trabalhista, Civil e homicida. Em regra, dolosa.
Penal), com a matéria técnico-especializada de Segurança e Saúde
no Trabalho e da Medicina Legal Quanto as modificações de meio, subdivide-se em confinamen-
O objeto de estudo da Infortunística são causas/consequências to, soterramento e afogamento.
de acidentes de trabalho (ex. doenças ocupacionais).
Confinamento Soterramento Afogamento
NOÇÕES DE ASFIXIOLOGIA FORENSE: POR CONSTRI- Ambiente fechado,
ÇÃO CERVICAL: ENFORCAMENTO, ESTRANGULAMEN- Meio pulvurulento Meio líquido.
aglomerações.
TO, ESGANADURA; POR MODIFICAÇÃO DO MEIO:
AFOGAMENTO, SOTERRAMENTO, CONFINAMENTO;
POR SUFOCAÇÃO: DIRETA E INDIRETA
NOÇÕES DE INSTRUMENTOS DE AÇÃO MECÂNICA:
AÇÃO CORTANTE, PERFURANTE, CONTUNDENTE E
— Conceito de asfixia e sua classificação etiológica MISTA
As asfixias fazem parte da Traumatologia e são espécie de ener-
gia físico-químicas. Consideram-se fases da asfixia
a) a Dispneia inspiratória; — Classificação dos agentes traumáticos e vulnerantes
b) dispneia expiratória; Os agentes vulnerantes transmitem energia. Ou seja, o agente
c) parada respiratória. vulnerante ao transferir energia ao corpo fere esse corpo. O agente
vulnerante pode ser físico, químico, biológico etc. Por exemplo, o
Quem vê uma pessoa asfixiada pode notar cor azulada, língua agente vulnerante físico mecânico divide-se em contundente, cor-
para fora, equimoses. Por dentro, o sangue fica fluido e escuro, tante, perfurante, misto.
equimoses viscerais, sangue nas vísceras, hemorragia, edema e efi-
sema pulmonar.
Em uma classificação etiológica, analisando as causas da asfi-
xia, tal pode ser causada por:

340
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

INSTRUMENTO LESÃO AÇÃO EXEMPLO


Perfurante Punctória ou puntiforme Pressão Agulha
Cortante Incisa Deslizamento Navalha
Contundente Contusa Pressão, percussão, arrastamento e tração Pau
Perfurocortante Perfuroincisa Pressão e deslizamento Faca
Perfurocontundente Perfurocontusa Pressão e penetração Projétil de arma de fogo
Cortocontundente Cortocontusa Pressão e esmagamento Machado, dente

Os meios mecânicos que causam lesões (traumas) podem ser:


• externos (instrumentos cortantes, perfurantes, contundentes, pérfuro-cortantes, corto-contundentes, pérfuro-contundentes, como
agentes causadores de lesões).
• internos (o esforço).

Por fim, vale saber que as feridas causadas pelos meios (agentes) mecânicos são:
— incisas
— punctórias
— contusas
— pérfuro-incisas
— corto-contusas (foice, acão, dentada, unhas)
— pérfuro-contusas.

As lesões causadas pelo esforço são, em linhas gerais, rupturas de músculos, entorses, luxações, hérnia, aneurisma, enfisema, rupturas
de estômago/intestino.

NOÇÕES DE AGENTES QUÍMICOS; NOÇÕES DE AGENTES TÉRMICOS

Concernente às energias de ordem física não-mecânicas, estudam-se todas as lesões produzidas por uma modalidade de ação capaz
de modificar o estado físico dos corpos e cujo resultado pode resultar em ofensa corporal, dano à saúde ou morte1.
As energias de ordem física mais comuns são: temperatura, pressão atmosférica, eletricidade, radioatividade, luz e som.

— Lesões e morte por ação térmica

Temperatura
Suas modalidades são: o frio, o calor e a oscilação de temperatura.

• Frio
O frio pode atuar de maneira individual ou coletiva, e sua natureza jurídica ocorre no crime, no suicídio e, mais habitualmente, no
acidente. Embora a forma acidental seja mais constante, não é raro o caráter doloso, principalmente em abandono de recém-nascidos.
Na ação generalizada do frio, não existe uma lesão típica. A perícia deve orientar-se pelos comemorativos, dando valor ao estudo do
ambiente e, ainda, aos fatores individuais da vítima, tais como: fadiga, depressão orgânica, idade, alcoolismo e certas perturbações men-
tais.
A ação geral do frio leva à alteração do sistema nervoso, sonolência, convulsões, delírios, perturbações dos movimentos, anestesias,
congestão ou isquemia das vísceras, podendo advir a morte quando tais alterações assumem maior gravidade.
O diagnóstico de morte pela ação do frio é difícil. Têm-se alguns elementos, como: hipóstase vermelho-clara, rigidez cadavérica pre-
coce, intensa e extremamente demorada, sangue de tonalidade menos escura, sinais de anemia cerebral, congestão polivisceral, às ve-
zes disjunção das suturas cranianas, sangue de pouca coagulabilidade, repleção das cavidades cardíacas, espuma sanguinolenta nas vias
respiratórias, erosões e infiltrados hemorrágicos na mucosa gástrica (sinal de Wischnewski), e, na pele, poderão ser observadas flictenas
semelhantes às das queimaduras.
A perícia deve nortear-se fundamentalmente pelo diagnóstico das lesões vitais durante a estada do corpo no ambiente refrigerado
ou se o óbito desperta outra causa de morte, questões essas a que se pode responder com a prática da necropsia, pelo histórico e pelo
exame do local de óbito.
A ação localizada do frio, também conhecida como geladura, produz lesões muito parecidas com as queimaduras pelo calor e tem
sua classificação em graus: primeiro grau, lesão caracterizada pela palidez ou rubefação local e aspecto anserino da pele; segundo grau,
eritema e formação de bolhas ou flictenas de conteúdo claro e hemorrágico; terceiro grau, necrose dos tecidos moles com formação de
crostas enegrecidas, aderentes e espessas; quarto grau, pela gangrena ou desarticulação.

1 FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11ª. ed. -- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

341
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Calor Podem surgir outras alterações, como queimaduras, hemorra-
O calor pode atuar de forma difusa ou direta. gias musculares, ruptura de vasos de grosso calibre e até mesmo
do coração; fraturas ósseas, congestão e hemorragia dos globos
• Calor difuso oculares; congestão polivisceral, fluidez do sangue, distensão dos
Ocorre de duas maneiras: a insolação e a intermação. A inso- pulmões e equimoses subpleurais e subpericárdicas. As lesões mais
lação é proveniente do calor ambiental em locais abertos ou rara- intensas são encontradas nos locais de entrada e saída da corrente
mente em espaços confinados, concorrendo para tanto, além da elétrica (mais comuns na cabeça, no tórax e nos pés).
temperatura, os raios solares, a ausência da renovação do ar, a fadi- A eletricidade artificial ou industrial, por sua vez, pode resultar
ga, o excesso de vapor d’água. o que se denomina eletroplessão. É, geralmente, acidental, poden-
A interferência do sol não desempenha maior significação nes- do, no entanto, ter origem suicida ou homicida.
sa síndrome, segundo se julgava anteriormente. Há de se levar em
conta também alguns fatores intrínsecos, tais como: estado de re- Conceitua-se a eletroplessão como qualquer efeito proporcio-
pouso ou de atividade, patologias preexistentes, principalmente as nado pela eletricidade industrial, com ou sem êxito letal.
ligadas aos sistemas circulatório e respiratório, o metabolismo ba- As lesões superficiais dessa forma de eletricidade alteram-se
sal, hipofunção paratireoidiana e suprarrenal do indivíduo. de acordo com a corrente de alta ou baixa tensão.
A intermação decorre capitalmente do excesso de calor am- A lesão mais típica é conhecida como marca elétrica de Jellinek,
biental, lugares mal arejados, quase sempre confinados ou pouco embora nem sempre esteja presente. Constitui-se em uma lesão da
abertos e sem a necessária ventilação, surgindo, geralmente, de pele, tem forma circular, elítica ou estrelada, de consistência endu-
forma acidental. Alguns fatores, como alcoolismo, falta de ambien- recida, bordas altas, leito deprimido, tonalidade branco-amarelada,
tação climática, vestes inadequadas, são elementos consideráveis. fixa, indolor, asséptica e de fácil cicatrização.
Pode apresentar também a forma do condutor elétrico. As le-
• Calor direto sões por corrente elétrica no couro cabeludo são semelhantes às da
Tem por consequência as queimaduras, de maior ou menor pele; todavia, podem-se verificar grandes perdas de tecido, dando o
extensão, mais ou menos profundas, infectadas ou não, advindas aspecto do destacamento da casca que se verifica em certos frutos.
das ações da chama, do calor irradiante, dos gases superaquecidos, Os pelos apresentam uma característica bem interessante:
dos líquidos escaldantes, dos sólidos quentes e dos raios solares. apenas suas pontas mostram-se chamuscadas, embora inteiramen-
São, portanto, lesões produzidas geralmente por agentes físicos de te enrodilhados de forma helicoidal. Por meio da raspagem do local
temperatura elevada, que, agindo sobre os tecidos, produzem al- onde se encontra essa lesão é possível identificar em laboratório
terações locais e gerais, cuja gravidade depende de sua extensão e a presença de metais fundidos pela ação local da corrente elétrica
profundidade. e com isso ter a composição química do condutor (cobre, bronze,
alumínio etc.).
São ordinariamente de origem acidental, apesar de não se po-
Quando a eletricidade é de alta tensão, dá margem às lesões
der negar uma certa incidência de suicídios por queimaduras provo-
mistas, ou seja, à marca elétrica e à queimadura.
cadas pelas chamas. É mais rara a ação criminosa.
Se esta forma de eletricidade é usada como pena judicial de
morte através da “cadeira elétrica” chama-se eletrocussão. Nesta
— Lesões e morte por ação elétrica
circunstância, a morte é provocada por uma intensa carga de ener-
gia elétrica que passa por todo corpo e atinge com maior intensida-
Eletricidade
de o coração e o cérebro.
A eletricidade natural ou cósmica e a eletricidade artificial ou
Difere das diversas formas de eletroplessão pela generalização
industrial podem atuar como energia danificadora.
e pela gravidade das lesões que se verificam no interior do corpo.
A eletricidade natural, quando agindo letalmente sobre o ho- Tendo em conta a consistência do cérebro e a utilização de capace-
mem, denomina-se fulminação e, quando apenas provoca lesões tes metálicos na cabeça do executado, este é o órgão que apresenta
corporais, chama-se fulguração. Esses fenômenos são os mais co- lesões mais intensas representadas por lacerações e profundas fis-
muns entre os chamados fenômenos naturais. suras, entre outras.
Os fatores que determinam a natureza, a intensidade e a gravi-
dade das lesões são os seguintes: corrente contínua da eletricidade — Lesões e morte por baropatias
atmosférica; resistência de corpo atingido; tensão elétrica (volta-
gem); intensidade da corrente; duração do contato da vítima com a Pressão atmosférica
corrente; trajeto da corrente através do corpo da vítima. Quando a pressão atmosférica alterna para mais ou para me-
O diagnóstico das lesões é dado pelos comemorativos orien- nos do normal, pode importar em danos à vida ou à saúde do ho-
tados pelas tempestades e descargas elétricas, provenientes dos mem. Portanto, merece a consideração da perícia médico-legal.
choques de nuvens, e pelo exame das próprias lesões. As lesões
externas tomam aspecto arboriforme e tonalidade arroxeada, cog- • Diminuição da pressão atmosférica
nominadas, sinal de Lichtenberg ou marcas queraunográficas (do A pressão atmosférica normal corresponde a uma coluna de
grego keraunos, que significa raio), procedente de fenômenos vaso- mercúrio de 760 mm ao nível do mar ou também 1.036 kg/cm², o
motores, podendo desaparecer com a sobrevivência. que equivale a 1 atmosfera. À medida que subimos, essa pressão
Essa marca surge cerca de uma hora depois da descarga e de- diminui e o ar vem a ficar mais rarefeito.
saparece gradualmente em torno das 24 h subsequentes à descarga Há diminuição do oxigênio e do gás carbônico, e a composição
elétrica. do ar altera o fenômeno da hematose. Tais perturbações recebem o
Em geral, a morte pelos efeitos da eletricidade atmosférica se nome de mal das montanhas, compensadas pela “poliglobulina das
dá por inibição direta dos centros nervosos por paralisia respirató- alturas”, que se constitui em um considerável aumento do número
ria e asfixia. Em outros casos predominam os efeitos cardíacos com de glóbulos vermelhos no sangue e que no indivíduo aclimatado
fibrilação ventricular. reverte espontaneamente em poucos dias.

342
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
É comum nas altitudes acima de 2.500 m, é agravado com o — Radiações não ionizantes
esforço físico e tem como sintomas mais comuns cefaleia, dispneia, As radiações não ionizantes possuem relativamente baixa ener-
anorexia, fadiga, insônia, tonturas e vômitos. Nos países andinos é gia. De fato, radiações não ionizantes estão sempre a nossa volta.
conhecido como soroche e puna. Ondas eletromagnéticas como a luz, calor e ondas de rádio são
Na estrutura alveolar do pulmão, o oxigênio, o gás carbônico formas comuns de radiações não ionizantes. Sem radiações não io-
e o azoto impõem uma pressão global em torno de 713 mm, ten- nizantes, não se poderia apreciar um programa de TV ou cozinhar
do cada um destes elementos uma pressão parcial, dependendo em forno de micro-ondas.
de sua concentração na intimidade dos alvéolos. Assim, o oxigênio
(14,5%), com uma pressão de 95 a 105 mmHg; o azoto (80%), com — Radiações Ionizantes
565 a 580 mmHg; e o gás carbônico (5,5%), com 40 mmHg. Altos níveis de energia, radiações ionizantes, são originadas do
Desse modo, toda vez que há diminuição da pressão atmosféri- núcleo de átomos, podem alterar o estado físico de um átomo e
ca, cai a concentração dos gases dissolvidos no sangue, tanto mais causar a perda de elétrons, tornando-os eletricamente carregados.
rapidamente quanto maior for a velocidade da descompressão. Este processo chama-se ionização.
Além do mais, surge o fenômeno da anoxia, explicado também pela
diminuição da pressão parcial do oxigênio no interior dos alvéolos. Os efeitos da radioatividade, como energia causadora do dano,
Isso força o coração a trabalhar mais no sentido de compensar a têm nos raios X, no rádio e na energia atômica o seu motivo.
carência de oxigênio. Os raios X são de implicações médico-legais mais assiduamente
Daí, pessoas não habituadas a grandes altitudes passam mal e podem perpetrar lesões locais ou gerais. As lesões locais são co-
quando nestes locais. Dentro deste capítulo chamado “patologia nhecidas por radiodermites e as de ação geral incidem sobre órgãos
da altitude”, além do mal das montanhas, podemos encontrar um profundos, principalmente as gônadas.
grupo de entidades de maior ou menor gravidade, como o edema Seu estudo compete à infortunística ou como elemento da res-
agudo do pulmão e o edema cerebral das alturas, as hemorragias ponsabilidade médica nas modalidades imperícia, imprudência e
retinianas, o mal crônico das montanhas (doença do monge), o em-
negligência.
bolismo pulmonar e até mesmo a psicose das grandes altitudes.
As radiodermites podem ser agudas ou crônicas:
• Aumento da pressão atmosférica
• Agudas
Sofrem efeito desse tipo de ação os mergulhadores, escafan-
dristas e outros profissionais que trabalham debaixo d’água ou em As radiodermites do 1º grau, geralmente temporárias, apresen-
túneis subterrâneos. Não incorrem só no perigo do aumento da tam duas formas: depilatória e eritematosa. Essa fase dura cerca
pressão atmosférica, mas especialmente na descompressão brusca de 60 dias e deixa uma mancha escura que desaparece muito len-
que pode ocorrer, dando como desfecho lesões muito graves. Essa tamente.
síndrome é conhecida por mal dos caixões. As do 2º grau (forma papuloeritematosa) são representadas
O aumento da pressão atmosférica, ao mesmo tempo que geralmente por ulceração muito dolorosa e recoberta por crosta
acarreta uma patologia de compressão, caracterizada pela intoxica- seropurulenta. Têm cicatrização difícil, deixando em seu lugar uma
ção por oxigênio, nitrogênio e gás carbônico, produz também uma placa esbranquiçada de pele rugosa, frágil e de características atí-
patologia de descompressão, proveniente do fenômeno da embo- picas.
lia, consequente à maior concentração dos gases dissolvidos no As radiodermites do 3º grau (forma ulcerosa) estão representa-
sangue. São conhecidas por “barotraumas” ou baropatias. das por zonas de necrose, de aspecto grosseiro e grave. São conhe-
Mesmo que o interesse médico-legal, nessa modalidade de cidas por úlceras de Röentgen.
energia, circunscreva-se ao diagnóstico do acidente de trabalho, Nos profissionais que trabalham com raios X, sem os devidos
pode-se admitir ainda como causa jurídica o suicídio ou o homicí- cuidados, podem aparecer essas lesões nas mãos (mãos de Röen-
dio, embora mais raramente. tgen).

Radioatividade • Crônicas
Radiações são ondas eletromagnéticas ou partículas que se Essas lesões podem ser locais e apresentar a forma úlcero-atró-
propagam com uma determinada velocidade. Contêm energia, car- fica, teleangiectásica ou neoplásica. Esta última também chamada
ga elétrica e magnética. de câncer cutâneo dos radiologistas ou câncer röentgeniano, quase
Podem ser geradas por fontes naturais ou por dispositivos sempre do tipo epitelioma pavimentoso.
construídos pelo homem. Possuem energia variável desde valores Podem ser ainda de efeitos gerais, compreendendo várias sín-
pequenos até muito elevados2. dromes: digestivas, cardíacas, oculares – úlcera de córnea e cata-
As radiações eletromagnéticas mais conhecidas são: luz, mi- ratas –, ginecológicas, esterilizantes, cancerígenas, sanguíneas e
cro-ondas, ondas de rádio, radar, laser, raios X e radiação gama. As
mortes precoces.
radiações sob a forma de partículas, com massa, carga elétrica, car-
O rádio, quando usado de maneira indiscriminada, pode ser
ga magnética mais comuns são os feixes de elétrons, os feixes de
motivo de sérios danos à saúde ou à vida do paciente, quer por
prótons, radiação beta, radiação alfa.
ação externa, quer por ação interna. Já sob a forma de arma nuclear
• Tipos de Radiação (bomba atômica), custosamente justifica intervenção médico-legal,
Dependendo da quantidade de energia, uma radiação pode ser haja vista sua responsabilidade escapar à ação pericial.
descrita como não ionizante ou ionizante. Alguns dos seus efeitos são parecidos com os dos raios X e da
radiação; outros são provenientes da onda explosiva (blast), das
queimaduras e das sequelas tardias, pela disseminação dos raios
alfa, beta e gama. Assim, os efeitos dessa modalidade de energia
são de ordem traumática, térmica e radioativa.
2 http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_virtual/radiacao.html

343
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
— Explosões Nos casos mais benignos, pode-se verificar uma surdez passa-
As lesões de ordem mecânica são produzidas pela explosão, geira por comoção labiríntica. A “blast” pulmonar é também mui-
podendo levar à morte por desgarramento cutâneo, hemorragias to comum e apresenta-se com hemorragia capilar difusa dos lobos
viscerais, projeção a distância com traumatismo indireto. As lesões médio e inferiores e equimoses subpleurais, e suas vítimas têm es-
térmicas são caracterizadas por amplas áreas de queimaduras que carros hemoptoicos. Os alvéolos ficam distendidos e rotos, poden-
vão até a carbonização. do os pulmões apresentarem impressões costais na sua superfície.
Em Hiroshima e Nagasaki, foram observadas queimaduras de A “blast” abdominal mostra o estômago com infiltrados he-
2º grau com a distância até de 3 km. Para alguns, no centro da ex- morrágicos da mucosa ou serosa, e em alguns casos até rupturas.
plosão a temperatura chegou a 4.000°C. Os intestinos também são mais agredidos, exibindo sangramentos
Dos hospitalizados por queimaduras naquelas cidades, quando dispostos em anéis na parte terminal do íleo e do ceco, podendo
da explosão das primeiras bombas atômicas, 75% deles morreram apresentar perfurações.
antes da segunda semana. Os efeitos radioativos estão representa- A “blast” cerebral caracteriza-se, na maioria das vezes, pela
dos pelas consequências tardias, com graves repercussões genéti- presença de hematomas subdurais ou hemorragia ventricular. A
cas, neoplásicas e cutâneas. “blast” ocular, de menor frequência, caracteriza-se pela hemorra-
Dentro de um raio de 1 km, todas as mulheres abortaram; en- gia do vítreo, equimose subconjuntival intensa e cegueira definitiva
tre 1 e 2 km, tiveram filhos prematuros, os quais morreram pouco ou temporária.
depois; e, em uma distância de 3 km, apenas 33% das mulheres O coração é o órgão que suporta melhor as ondas de expansão
chegaram ao fim da gravidez com recém-nascidos aparentemente da blast injury. A necropsia das vítimas da blast injury, em casos
normais. nos quais houve apenas a ação da onda explosiva, pode não mos-
• Lesões produzidas por artefatos explosivos trar nenhuma lesão externa e tão só lesões internas, caracterizadas
Chama-se de explosão um mecanismo produzido pela transfor- pelos danos graves em órgãos internos, principalmente pulmões,
mação química de determinadas substâncias que, de forma violen- estômago, intestinos, baço, rins e fígado.
ta e brusca, produz uma quantidade excessiva de gases com capa- Hoje, com o surgimento dos atentados suicidas por bombas,
cidade de causar malefícios à vida ou à saúde de um ou de vários além dos objetos de metal de que se compõem os artefatos ex-
indivíduos. Na maioria das vezes, sem contar com o seu uso bélico, plosivos, há também a preocupação com a dispersão do material
ela é de origem acidental, mas pode ter como etiologia o homicídio biológico do próprio responsável por tais ações, pois este material,
e mais raramente o suicídio. principalmente fragmentos ósseos, pode representar uma fonte de
As lesões produzidas por esses artefatos podem ser por ação transmissão de doenças infecciosas graves, como AIDS e hepatite.
mecânica e por ação da onda explosiva. As primeiras são prove-
— Luz e Som
nientes do material que compõe o artefato e dos escombros que
Cada uma dessas formas de energia física pode comprometer
atingem as vítimas. As outras são decorrentes das ondas de pressão
gravemente os respectivos órgãos dos sentidos, produzindo lesões
e sucção, que compõem a chamada síndrome explosiva ou blast
e perturbações de ordem funcional que, em muitas ocasiões, impli-
injury. cam perícia médico-legal.
As lesões provocadas pela ação mecânica da explosão estão A ação intensiva da luz sobre os órgãos da visão pode levar a
representadas por ferimentos, mutilações e fraturas, os quais são consequências graves, como à cegueira total. Infelizmente, uma
produzidos quase exclusivamente pelos escombros das estruturas certa forma arbitrária de obter confissões em delegacias de polícia
atingidas, variando, é claro, com o grau de intensidade do explosivo e órgãos de repressão, que fazia projetar, sobre os olhos de interro-
e da distância que se encontra a vítima. A região do corpo também gados, feixes luminosos de alta intensidade, produziu, de maneira
varia muito, pois depende da forma do artefato usado. irreversível, danos à estrutura óptica em prisioneiros e detidos.
Se é carta-bomba, por exemplo, as regiões mais atingidas são Outras radiações não ionizantes, como o infravermelho e o ul-
as mãos e a face. Se é na modalidade mina, os pés são os mais atin- travioleta, podem acarretar lesões sobre o cristalino e as conjunti-
gidos. vas, respectivamente. O raio laser, por ser uma forma de energia
A blast injury é um conjunto de manifestações violentas e pro- que se concentra muito em um único lugar, apresenta um efeito
duzida pela expansão gasosa de uma explosão potente, acompa- fotoquímico e fototérmico muito maior.
nhada de uma onda de pressão ou de choque que se desloca brusca Os órgãos mais vulneráveis a sua ação são a córnea e o cristali-
e rapidamente em uma velocidade muito grande, a pouca distância no; a pele também pode sofrer danos por esta ação.
da vítima e, mais grave, em locais fechados. Esta força, para produ- Já o som, por sua vez, tem seus efeitos mais comuns, como em
zir lesões no homem, deve ser no mínimo de 3 libras por polegada acidentes de trabalho, notadamente entre as pessoas que perma-
quadrada. necem, sem proteção, em ambientes de grande poluição sonora, o
Se a expansão da onda explosiva ocorre dentro d’água, verifi- que produz, pela exposição continuada dos ruídos, alterações ao
cam-se os mesmos efeitos, levando em conta que a água apresenta aparelho auditivo.
uma velocidade de propagação e intensidade de 1.600 m por se- Uma das perturbações citadas pelos autores contemporâneos
gundo. é a epilepsia acustogênica, motivada pela intensidade e permanên-
As lesões provocadas pela expansão gasosa atingem diversos cia de certos ruídos, não muito rara entre telefonistas e radiotele-
órgãos e se caracterizam de acordo com a sua forma, disposição e grafistas.
consistência. A lesão mais comum é a ruptura do tímpano (“blast” O som acima de 20.000 ciclos/s e 85 decibéis pode produzir
lesões auditivas e perturbações psíquicas. O infrassom também
auditiva). É representado por rupturas lineares da metade anterior
acarreta lesões do tipo labirintite e o ultrassom, destruição celular.
do tímpano, comumente bilateral.
Sendo assim, o som é um dos agentes que contribui com o risco
ocupacional e que tem o ruído como fator mais comum da perda
auditiva temporária ou permanente.

344
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
CAPÍTULO I-A
NOÇÕES DE SEXOLOGIA FORENSE (Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL
— Estudo médico-legal dos crimes contra a liberdade sexual
Registro não autorizado da intimidade sexual
Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qual-
Os crimes contra a dignidade sexual estão previstos no Título quer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
VI da Parte Especial do Código Penal, mais especificadamente nos de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: (In-
artigos 213 a 234-B. cluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
Esse Título sofreu profundas alterações em decorrência da Lei Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
nº 12.015/2009, que, dentre outras providências, unificou os crimes Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza monta-
de estupro e atentado violento ao pudor, tendo este último deixado gem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o
de existir como delito autônomo. Até o nome do Título foi modifica- fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
do: a denominação anterior era “Dos Crimes Contra os Costumes”. de caráter íntimo. (Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)

TÍTULO VI CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

CAPÍTULO I Sedução
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL3 Art. 217 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

Estupro Estupro de vulnerável


Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidino-
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com so com menor de 14 (catorze) anos:
ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2o Se da conduta resulta morte: § 2o (VETADO)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Art. 214 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte:
Violação sexual mediante fraude Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste arti-
com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificul- go aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou
te a livre manifestação de vontade da vítima: do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter
vantagem econômica, aplica-se também multa. Corrupção de menores
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfa-
Importunação sexual (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018) zer a lascívia de outrem:
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de Parágrafo único.  (VETADO).
terceiro:(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não consti- Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado-
tui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). lescente
Art. 216. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (ca-
torze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato
Assédio sexual libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter van- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.”
tagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua
condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exer- Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração
cício de emprego, cargo ou função. sexual de vulnerável
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra
Parágrafo único. (VETADO) forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
de 18 (dezoito) anos. discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econô-
mica, aplica-se também multa.
§ 2o Incorre nas mesmas penas:
3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

345
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com Aumento de pena
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situ- Art. 226. A pena é aumentada:
ação descrita no caput deste artigo; I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que (duas) ou mais pessoas;
se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madras-
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório ta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
da condenação a cassação da licença de localização e de funciona- empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
mento do estabelecimento. sobre ela; (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vul- IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:
nerável, de cena de sexo ou de pornografia (Incluído pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
13.718, de 2018).
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender Estupro coletivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; (Incluído
- inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de infor- pela Lei nº 13.718, de 2018).
mática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovi-
sual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou Estupro corretivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: (Incluído pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
13.718, de 2018).
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não consti- CAPÍTULO V
tui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE
PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
Aumento de pena (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018).
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) Mediação para servir a lascívia de outrem
se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou Pena - reclusão, de um a três anos.
humilhação. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). § 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito)
anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou
Exclusão de ilicitude (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja con-
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas des- fiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:
critas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que im- § 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave
possibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autoriza- ameaça ou fraude:
ção, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. (Incluído pela Lei Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspon-
nº 13.718, de 2018). dente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se tam-
CAPÍTULO III bém multa.
DO RAPTO
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração
Rapto violento ou mediante fraude sexual
Art. 219 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma
de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a
Rapto consensual abandone:
Art. 220 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, en-
Diminuição de pena teado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou em-
Art. 221 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) pregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obriga-
ção de cuidado, proteção ou vigilância:
Concurso de rapto e outro crime Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
Art. 222 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) § 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave
ameaça ou fraude:
CAPÍTULO IV Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspon-
DISPOSIÇÕES GERAIS dente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se tam-
Art. 223 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) bém multa.
Art. 224 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Casa de prostituição
Ação penal Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabele-
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, cimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de
procede-se mediante ação penal pública incondicionada. (Redação lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
dada pela Lei nº 13.718, de 2018). Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Parágrafo único. (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 13.718,
de 2018).

346
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Rufianismo CAPÍTULO VII
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando di- DISPOSIÇÕES GERAIS
retamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em
parte, por quem a exerça: Aumento de pena
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumen-
§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) tada:
anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, I – (VETADO);
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor II – (VETADO);
ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiên-
da vontade da vítima: cia. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos
pena correspondente à violência.
neste Título correrão em segredo de justiça.
Art. 234-C. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual
Art. 231. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016)
Objetivos periciais
Art. 231-A. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016)
Art. 232 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) A perícia em Sexologia Criminal tem um significado muito par-
ticular e grave pelos fatos e circunstâncias que ela encerra: tanto
Promoção de migração ilegal pela complexidade das estruturas estudadas como em face da deli-
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter cadeza do momento. Por isso, toda prudência é pouca quando dos
vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território procedimentos periciais e quando da afirmação ou negação da exis-
nacional ou de brasileiro em país estrangeiro: (Incluído pela Lei nº tência das práticas contra a liberdade sexual4.
13.445, de 2017) Além disso, o laudo deve ser redigido em uma linguagem cla-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído ra, objetiva, inteligível e simples, sem a presunção das tipificações
pela Lei nº 13.445, de 2017) penais, mas de modo a permitir àqueles que venham a analisá-lo
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer condições de uma compreensão fácil sobre o fato que se quer apu-
meio, com o fim de obter vantagem econômica, a saída de estran- rar. Cabe, dessa maneira, descrever minuciosamente as lesões e as
geiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país es- particularidades ali encontradas, ajudando a entender o que de in-
trangeiro. (Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017) sondável e misterioso existe nelas, não só em relação à quantidade
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se: e à qualidade do dano, mas também como o modo ou a ação pela
(Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017) qual foram produzidas.
I - o crime é cometido com violência; ou (Incluído pela Lei nº Desse modo, não se pode aceitar pura e simplesmente a no-
13.445, de 2017) minação do achado, mas em que elementos e alterações funda-
II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante. mentou-se o perito para fazer a afirmação ou a negação de uma
(Incluído pela Lei nº 13.445, de 2017) conjunção carnal, por exemplo. Só assim o laudo alcançará seu ver-
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo dadeiro destino: o de apontar com clareza à autoridade julgadora,
das correspondentes às infrações conexas. (Incluído pela Lei nº no momento de valorizar a prova, as condições para o seu melhor
13.445, de 2017) entendimento.
Para se terem as necessárias condições de exercer tal ativida-
CAPÍTULO VI de legispericial, é preciso não apenas que o exame se verifique em
DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR
local recatado, em respeito à dignidade e à privacidade de quem se
examina, mas ainda em ambiente com condições de higiene e de
Ato obsceno
fácil e tranquila visualização dos possíveis achados periciais, sendo
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou
recomendável que o exame seja feito em mesas ginecológicas com
exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. suporte para os pés e, sempre que possível, com a presença de fa-
miliares adultos ou pessoa de confiança da vítima ou de enfermei-
Escrito ou objeto obsceno ras, a não ser que a presença delas possa inibir a vítima de contar os
Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guar- detalhes necessários à investigação dos fatos.
da, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, Resta evidente, portanto, que a função do perito, em casos
escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno: dessa ordem, é descrever minuciosamente as lesões e as particula-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. ridades, quando existentes, explorando bem as características que
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: elas encerram e respondendo com clareza aos quesitos formulados.
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer Por outro lado, em face da gravidade que cerca algumas das
dos objetos referidos neste artigo; infrações que resultam de tais exames, exige-se que o indicado para
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, represen- essa perícia médico-legal seja alguém não apenas com habilitação
tação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou legal e profissional em medicina, mas que tenha também a capa-
qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; citação e a experiência necessárias no trato dessas questões, pois
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo
rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. 4 Referências Bibliográficas: FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11ª
ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

347
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
para tanto não se exigem apenas o título de médico, mas educação A perícia deve orientar suas conclusões no sentido de valorizar
médico-legal, conhecimento da legislação que rege a matéria, no- as lesões corporais encontradas tentando estabelecer uma relação
ção clara da maneira como deverá responder aos quesitos e prática com o alegado fato e com isso poder configurar seu nexo causal. É
na redação de laudo. preciso que fique demonstrado que tais lesões representam o últi-
Diga-se também, que, em exames desse jaez, não se devem mo esforço da ofendida como forma de resistir à intenção anômala
usar expressões de sentido dúbio ou vago nem utilizar palavras inú- do agressor.
teis e imprecisas, pois, se assim o fizer, o laudo, além de não permi- Simplesmente nominar uma lesão sem expor todas as particu-
tir uma decisão exata, só servirá para criar dúvidas e confusão em laridades que ela encerra não leva a qualquer convicção. É claro
quem julga. que não se exige a precisão cronométrica em dias ou horas, mas no
mínimo se ela é “muito recente”, “recente” ou “antiga”.
— Diagnósticos da conjunção carnal e dos atos libidinosos em
geral (2) Exame objetivo específico. Coloca-se a paciente em posição
ginecológica, examinando-se cuidadosamente o aspecto e a dispo-
Metodologia do exame de conjunção carnal sição dos elementos da genitália externa. Em seguida, tomam-se os
grandes e os pequenos lábios entre as extremidades dos polegares
Da perícia do coito vaginal e dos indicadores, puxando-os para fora e na direção do examina-
A perícia para comprovação do coito vagínico deve ser realiza- dor, de modo que se exponha inteiramente o hímen.
da levando em conta os aspectos descritos a seguir. Na virgem, o exame se fundamenta:
(a) no estudo da integridade himenal;
• Histórico (b) nos casos de himens complacentes e de mulheres de vida
Os exames constantes do relatório médico-legal devem ser an- sexual pregressa, a perícia se louva na eventual presença de gravi-
tecedidos por um histórico da vítima que justifique a perícia, ati- dez, de esperma na cavidade vaginal, na constatação da presença
nente aos atos sexuais praticados, na sua própria linguagem, assim de fosfatase ácida ou de glicoproteína P30 (de procedência do líqui-
como informações sobre hora, local e condições especialíssimas do prostático) ou na contaminação venérea profunda.
como foram levados a efeito, a despeito do número de relações,
se foram no mesmo dia ou em dias sucessivos, a posição em que a A. Ruptura himenal. É na maioria das vezes a ruptura himenal
vítima foi colocada e mais o que tenha relação e interesse ao caso o elemento mais essencial no diagnóstico de conjunção carnal. Daí
concreto; tudo isso sempre com a maior discrição possível, como a necessidade de se descreverem tais rupturas de forma simples e
objetiva, dando todas as características de idade dessa lesão, sua
recomenda Hermes Rodrigues de Alcântara (in Perícia Médica Judi-
localização, o número delas e outras particularidades que possam
cial, 2ª edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006).
se tornar úteis.
É claro que o histórico da vítima ou, em casos de crianças muito
É também necessário que se registrem na descrição das bor-
pequenas, de seu acompanhante responsável não deve comprovar
das das rupturas, quando houver, a presença de sangramento, de
objetivamente a ocorrência da alegada infração que se quer apurar,
sufusão hemorrágica ou orvalhamento sanguíneo, de edema, de
mas que ela seja consignada objetivamente pelos vestígios de con-
reação inflamatória ou de tecido de granulação, ou simplesmente
figuração típica comprovados pela perícia.
as características de seu estágio de cicatrização, enfatizando se as
bordas dessa ruptura são espessas, delgadas, regulares, irregulares,
• Exames subjetivo e objetivo arredondadas e de que coloração.
No exame subjetivo, devem-se considerar, nas condições psí- Tais elementos são fundamentais para o convencimento de um
quicas da vítima, todos os sinais e sintomas que possam ser anota- diagnóstico de ruptura recente ou antiga do hímen. Dessa forma,
dos quanto ao seu desenvolvimento mental incompleto ou retar- o perito não deve limitar-se apenas a dizer que a ruptura é antiga
dado, ou mesmo a um transtorno mental, no sentido de permitir ou recente. Ele está obrigado a fundamentar e justificar essa con-
caracterizar agravantes ou tipificações penais. vicção.
No exame objetivo, há de se considerar duas partes: uma gené- É muito importante que se apreciem nesse exame o tamanho
rica e outra específica. do óstio, a altura da orla e a consistência, o espessamento, a pos-
(1) Exame objetivo genérico. Neste, leva-se em conta o aspec- sibilidade de franqueamento e a distensibilidade himenal, pois o
to geral da vítima, como peso, estatura, estado geral, lesões e alte- conjunto dessas particularidades pode influir de maneira concreta
rações corporais sugestivas de violência física. Deve-se também, em nas conclusões periciais.
casos sugestivos, pesquisar sinais de presunção e de probabilidade A comprovação ou não da integridade himenal é sempre visu-
de gravidez na esfera genital e extragenital da examinada. al, macro, ou microscopicamente ou por um meio semiológico de
Há também de se procurar as provas de violência ou de luta, diagnóstico aplicável a cada caso. Entre nós, Teixeira (1977) tem se
apresentadas pela vítima nas mais diversas regiões do corpo: equi- valido do colposcópio no diagnóstico diferencial entre rupturas e
moses e escoriações, mais evidenciadas nas faces externas das entalhes, bem como para avaliar com maior exatidão o período de
coxas, nos antebraços, na face, em derredor do nariz e da boca, cicatrização das rupturas himenais. Já o diagnóstico de conjunção
como tentativa de fazer calar os gritos da vítima, e, finalmente, es- carnal além dessas contribuições pode ter também o auxílio labora-
coriações na face anterior do pescoço, quando existe a tentativa de torial como se disse anteriormente.
esganadura ou como forma de amedrontá-la. Prática desaconselhada é a de se dar diagnóstico de desvirgi-
A descrição dessas lesões, sem seus elementos de caracteriza- namento ou complacência pela possibilidade de passar um ou mais
ção, como disposição, dimensões, estágio evolutivo e perfeita loca- dedos no canal vaginal, pois esse procedimento, além de não ter
lização, além de permitir a dúvida quanto à época de sua existência, nenhum fundamento científico, é antes de tudo um ato intempes-
dificulta sua interpretação como lesão típica. tivo e precipitado, inclusive com resultados comprometedores na
A simples descrição de uma escoriação em um cotovelo ou avaliação himenal. Não há nenhum consenso pericial em se admitir
uma hiperemia vaginal, por exemplo, não permite se afirmar com como critério de desvirginamento a possibilidade de o óstio hime-
segurança que uma pessoa sofreu violência sexual. nal “ser permeável a dois dedos transversos”.

348
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O propósito da manipulação digital não é, pois, um meio de O contágio por doenças sexualmente transmissíveis no interior
conferir uma virgindade, senão o de, quando necessário, conhecer da cavidade vaginal é um sinal de muita significação na possibilida-
a consistência das bordas das rupturas do hímen, o possível cola- de de uma conjunção carnal. Para tanto é muito importante que se
bamento dos retalhos produzidos por essas rupturas, seu processo examine o suposto autor da violência sexual para se averiguar se o
cicatricial, a distensibilidade do óstio ou outro fato de interesse pe- mesmo é ou não portador da mesma doença.
ricial. Desaconselha-se ainda o toque ginecológico para diagnosti-
car conjunção carnal. A constatação de esperma na cavidade vaginal é também de
Só se admite o exame ginecológico quando há necessidade de muito valor na comprovação da conjunção carnal e do seu autor.
um diagnóstico de probabilidade de gravidez decorrente da conjun- Para determinação da presença de esperma na cavidade vaginal,
ção carnal alegada. Sendo assim, o exame de conjunção carnal é retira-se do interior desta e/ou do canal do colo uterino material
uma coisa e o exame ginecológico é outra, embora este segundo, que será colocado entre lâmina e lamínula.
em situações especiais, possa complementar o primeiro. Sendo positiva essa reação, surgirão, no campo microscópico,
Todavia, há autores que defendem a manipulação digital na inúmeros cristais castanho-avermelhados de formato rômbico. O
fúrcula, no vestíbulo, na uretra, na aréola himenal e no reto como reativo de Florence constitui-se de iodo metaloide, iodeto de po-
forma pormenorizada de investigar melhor certas condições ou al- tássio e água destilada.
terações do hímen e das lesões ou anomalias ali existentes, diferen- Barbério utiliza como reagente uma solução saturada de ácido
temente, pois, da passagem de dedo com o fito de diagnosticar sua pícrico em glicerina e, quando a reação é positiva, surpreende cris-
complacência. tais em forma de agulhas ou alpistes, corados de amarelo, isolados
Simonin, por exemplo, afirma: “Um segundo procedimento útil ou em grupos.
para explorar o segmento anterior da membrana consiste em ex- A reação de Baecchi é feita depois da reação de Florence, após
teriorizar o hímen com o indicador introduzido no ânus e fletindo 20 a 30 min, quando começam a surgir, da periferia para o centro
para o orifício vulvovaginal” (in Medicina Legal Judicial, 2ª edição, da lâmina, outros microcristais arredondados e de tonalidade mais
Barcelona: Jims, 1966, p. 407). carregada que os de Florence.
Asdrúbal Aguiar, referido por Nilton Sales, diz: “Muitas vezes Pode também o sêmen ser observado através da lâmpada de
a cicatrização realiza-se de modo que a inspeção dos bordos da Wood, quando é identificado por sua ação fluorescente até 72 h
fenda nada ou quase nada revela, e somente à palpação se sentirá depois da violência. Ter o cuidado com a falsa positividade de algu-
ligeiríssima dureza apenas sensível a dedos muito experimentados. mas substâncias, como leite, vaselina líquida, loções suavizantes de
Outras vezes a cicatrização faz-se de forma que os bordos da rasga- pele, entre outras.
dura se mostram percorridos por linha branca ou rósea, destacável Atualmente, tem sido empregada a dosagem da fosfatase ácida
da mucosa e bem sensível ao tato” (in Conjunção Carnal, Revista do e da glicoproteína P30, que se mostra em forma de traços na secre-
Instituto Médico-Legal do Estado da Guanabara, vol. II. Nº 1, jan. de ção vaginal, mesmo quando os autores são vasectomizados.
1971, pp. 21-28). No entanto, o diagnóstico de maior certeza é, sem dúvida, a
Hermes Rodrigues de Alcântara, quando reporta a maneira de presença do elemento figurado do esperma, o espermatozoide.
examinar o hímen, complementa: “Os dedos indicadores, que ficam Para tanto, pode-se valer do exame microscópico do espermatozoi-
livres, contornam a aréola himenal, em um exame mais minucioso” de em material espermático por meio da técnica de Kernechtrol-Pi-
(in op. cit., p. 94). cro índigo carmin (KPIC) ou “árvore de natal”, capaz de identificar
Flamínio Fávero também considera: “Hímen, estudará o perito, estas células.
quanto a esta membrana a sua situação, a sua morfologia, classifi- Nesta técnica tem-se a oportunidade de distinguir espermato-
cando o respectivo tipo, a sua consistência, a sua permeabilidade zoides completos ou suas cabeças e caudas diferenciadas de outras
ao toque digital, registrando-se, sempre, o diâmetro do dedo em células não espermáticas. Deve-se considerar que a cauda do es-
milímetros” (in Medicina Legal, 4ª edição. São Paulo: Martins Edi- permatozoide desaparece mais rápido devido a sua desidratação.
tora, 1956, p. 216). O mais frequente é a identificação das cabeças dos espermato-
Nerio Rojas assinala: “Para examinar bem é preciso colocar a zoides que se apresentam em vermelho refringente. A tonalidade
mulher em posição de decúbito dorsal, com as pernas abertas, boa da cauda é esverdeada.
iluminação, abrir fortemente os lábios para distender a entrada va- Vários são os autores que se manifestam sobre a importância
ginal e a membrana, seguir o bordo livre do hímen, se necessário que representa o exame das vestes das vítimas de suposto estupro,
com uma pequena sonda, explorar ainda com o dedo indicador sua principalmente na procura da identificação de sangue ou esperma,
amplitude e buscar os bordos de possíveis rupturas” (in Medicina como meio de apontar o autor. Por isso, as vestes da vítima devem
Legal, 7ª edição, Buenos Aires: El Ateneo, 1961, p. 220). ser enviadas rotineiramente para laboratório. Para comprovação de
espermatozoides usa-se a técnica de coloração de Christimas Tree.
B. Outros sinais. Além da ruptura himenal há alguns sinais e
resultados que podem contribuir no diagnóstico da conjunção, nos C. Situações especiais. Em tais situações podem surgir as se-
casos de himens complacentes e em mulheres de vida sexual pre- guintes ocorrências:
gressa, como presença de gravidez, contaminação de doença se- (1) haver intromissão do pênis, não seguida de ejaculação;
xualmente transmissível profunda, esperma na cavidade vaginal e (2) o agente ativo ser vasectomizado.
constatação da presença de fosfatase ácida ou de glicoproteína P30
(de procedência do líquido prostático). Na primeira das situações, penetração sem ejaculação, é possí-
A presença de uma gravidez de idade compatível com um ale- vel detectar células epiteliais (epidérmicas) masculinas, oriundas do
gado estupro tem uma importância muito grande, levando em con- pênis, no lavado vaginal. Essas células são detectadas no esfregaço
ta ainda os meios hemogenéticos de vinculação de filiação, princi- realizado a partir do centrifugado, corado pelo amarelo ou laranja
palmente pelo DNA. de acridina, sob microscopia de luz ultravioleta.

349
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
No segundo caso, agente vasectomizado, a “ejaculação” é Da perícia do coito anal. O exame subjetivo deve considerar,
constatada no fluido vaginal através da dosagem de fosfatase ácida nas condições psíquicas da vítima, todos os sinais e sintomas que
(acima de 200 UI) ou pela presença de glicoproteína P30. Essas duas possam ser anotados quanto ao seu desenvolvimento mental in-
substâncias só poderiam ser encontradas na forma de traços, e nun- completo ou retardado, ou mesmo a um transtorno mental, no
ca de forma francamente positiva na secreção vaginal. sentido de permitir caracterizar agravantes ou tipificações penais.
Todavia, deve-se ter em conta que a fosfatase ácida para ca- No exame objetivo, há de se considerar uma parte genérica e outra
racterização da presença do sêmen tem sido contestada por alguns específica.
autores por considerarem-na de sensibilidade e especificidade
duvidosas. O mesmo não ocorre com a glicoproteína P30 ou PSA (1) Exame objetivo genérico. Neste, leva-se em conta o aspec-
(prostate specific antigen) presente na secreção vaginal, comprova- to geral da vítima, como peso, estatura, estado geral, lesões e alte-
da pelo método enzima-imunoensaio (ELISA) ou ainda em manchas rações corporais sugestivas de violência física.
na pele e vestes, mesmo em diluições mínimas. Essa glicoproteína é (2) Exame objetivo específico. A perícia nos dias atuais tem
sempre encontrada no fluido seminal e na urina do homem. contribuído muito com a materialidade dos crimes de atentado vio-
lento ao pudor comprovando o ato libidinoso, principalmente no
D. Provas biológicas. Para alguns autores depois das primeiras coito anal, pelos vestígios deixados pelo ato sexual e pela agressão
conjunções carnais o organismo feminino apresenta algumas mo- física ou psíquica produzida na vítima.
dificações de caráter biológico capazes de contribuir em algumas Para tanto, o perito deve ser experiente e cuidadoso, além de
contar com instrumentos, materiais, produtos químicos (mesa gi-
deduções de ordem legispericial. Todavia, além de se constituir esta
necológica, foco de luz com 300 W, lâmpada de Wood, máquina
prova em técnicas muito complexas seus resultados ainda não con-
fotográfica com lentes de aproximação, luvas, kits para coleta de
venceram. Para estes autores, sendo essa prova negativa, poder-se-
secreção, soro fisiológico, lâminas e lamínulas para microscópio,
-ia afirmar uma “virgindade biológica”.
tubos de ensaio, papel de filtro e envelopes para recolher material
Nessa prova seria pesquisada a presença ou ausência de an- seco) e laboratórios à sua disposição.
ticorpos espermatóxicos por meio de uma reação de alteração do Em primeiro lugar, o(a) examinado(a) deve ser colocado(a) em
complemento surgida logo depois do primeiro coito carnal. Para posição de “prece maometana” (genupeitoral), e nos casos normais
muitos essa reação é pouco frequente e a técnica, muito sofisti- o ânus quase sempre se apresenta fechado e em forma de fenda
cada. Mesmo assim, espera-se que no futuro se possa ter no diag- anteroposterior, em cujo derredor observam-se um certo número
nóstico biológico da conjunção carnal uma significativa contribuição de pregas conhecidas como “pregas radiadas” e uma pele fina, rosa-
forense na elucidação dos crimes contra a liberdade sexual. da úmida, lisa e sem implantações de pelos, que forma a chamada
“margem do ânus”.
E. Identidade do autor. É muito importante a coleta do sêmen Assim, por exemplo, no caso em particular de coito anal, vio-
na cavidade vaginal, na pele, em vestes, lençóis e no próprio local lento ou não, os elementos de convicção para caracterização desse
dos fatos, não só para evidenciar agressão ou a tentativa, mas tam- tipo de delito de atentado violento ao pudor serão sempre através
bém no sentido de determinar a identidade do agressor. dos vestígios físicos indiscutíveis e evidentes deixados pelo ato se-
Hoje, através dos testes em DNA, pelo método PCR (reação em xual e pela constatação da presença de esperma.
cadeia da polimerase), isso é possível. Muitas eram as situações em Tratando-se de crime de resultado, portanto, capaz de deixar
que se caracterizava a violência e não se tinha a identidade do seu vestígios, o exame de corpo de delito é imprescindível, não suprin-
autor. Esses testes também podem ser feitos em sangue, pelos e na do nem mesmo a confissão do acusado ou o relato da vítima.
saliva do autor. No exame físico de casos de coito anal violento, podem-se no-
tar equimoses e sufusões (rágades) da margem do ânus, escoria-
Ato libidinoso diverso da conjunção carnal ções, hemorragias por rupturas ou esgarçamento das paredes anor-
retais e perineais, congestão e edemas das regiões circunvizinhas,
• Metodologia de exame infecções secundárias, dilatação brusca do ânus, orifício doloroso
Entende-se por ato libidinoso toda prática que tem o fim de ao toque retal, hemorragia e equimoses das margens do ânus, rup-
satisfazer completa ou incompletamente, com ou sem ejaculação, o tura triangular com base na margem do ânus, e vértice no períneo
apetite sexual, o qual pode traduzir-se desde a cópula carnal até as ao nível da união dos quadrantes inferiores (sinal de Wilson Johns-
ton), ruptura de pregas anais, presença de “paralisia antálgica da
mais variadas situações, como coitos anal, vestibular e oral, toques
dor” ou sinal da “dilatação anal reflexa”, quando se observa o canal
e apalpadelas nas mamas, nádegas, coxas e vagina, nos contatos
anal aberto nas primeiras 2 ou 4 h da agressão, e traumatismo da
voluptuosos e na contemplação lasciva, praticados em alguém ou
face interna dos genitais na proximidade do orifício anal.
constrangendo que a ele se pratiquem. Além de ele girar em tor-
Quando esse orifício é dilatado pelo coito ou por objeto, toma
no da esfera sexual, deve ser indiscutivelmente obsceno e lesivo ao a forma arredondada e as pregas se mostram discretas. Mais rara-
pudor mínimo. mente há incontinência fecal por 1 ou 2 dias. O relaxamento do es-
Sempre que possível, esses exames devem ser antecedidos por fíncter tem sua tonicidade recuperada 1 ou 2 dias depois, conforme
um histórico da vítima que justifique a perícia, relativo aos atos se- alude Mac Iver (in Manual de Medicina Legal, 4ª edição, Santiago:
xuais praticados, na sua própria linguagem, assim como informa- Editorial Jurídica do Chile, 1974).
ções sobre hora, local e condições especialíssimas como foram leva- Esses sinais são tão mais frequentes e graves quanto mais bru-
dos a efeito, a despeito do número de relações, se foram no mesmo tal foi o coito. Em crianças, essas lesões são quase sempre mais
ou em dias sucessivos, a posição em que a vítima foi colocada e o acentuadas em virtude da desproporção física entre o autor e a ví-
que mais tenha relação e interesse ao caso concreto. tima.
Quando se tratar de crianças muito pequenas, deve-se ter mui-
to cuidado com as alterações encontradas e seu acompanhante
deve declarar objetivamente em que bases justifica suas suspeitas.

350
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Ter em conta ainda que uma ou outra lesão isolada, como, por O diagnóstico é feito através de provas biológicas que identi-
exemplo, uma fissura, um eritema ou uma escoriação, pode ser re- fiquem o sêmen na boca, das possíveis manifestações tardias de
sultante de pruridos ou de patologias locais, ou mesmo um relaxa- doenças sexualmente transmissíveis na mucosa lábio-bucal e, mais
mento ou dilatação do esfíncter pode ser oriundo de tenesmos e raramente, das lesões encontradas nos genitais externos do agres-
puxos de diarreias crônicas ou agudas na chamada “dilatação for- sor. Aqui pode-se usar também a pesquisa de glicoproteína P30 ou
çada do ânus”. PSA na secreção oral.
Outro fato: não confundir rágades com fissuras anais, pois es-
tas últimas podem preexistir na vítima. A fissura é sempre de causa Da perícia do coito vestibular. O coito vestibular, vulvar ou in-
desconhecida, crônica, localizada na linha média posterior e em ge- terfemoral é um dos tipos não raros de atos libidinosos e que se
ral única. A rágade é traumática, aguda, sem preferência de local e caracteriza pelo ato sexual realizado pelo contato do órgão sexual
em geral múltipla. masculino atingindo a vulva, o vestíbulo e o períneo da vítima, com
Podem ainda ser observados sinais de traumatismos na nuca, ou sem a emissio seminis.
no pescoço, no dorso e na face posterior das pernas e das coxas da Esse tipo de perícia é muito delicado, principalmente nos prati-
vítima. Em geral, todo coito anal violento deixa marcas de luta. cados sem violência física, pois as lesões, as alterações e os achados
são mais raros. Daí a importância em se valorizar muito as lesões
No exame físico de casos de coito anal não violento, principal- mais sérias, como lacerações e hematomas, e, principalmente, a
mente nas situações de pederastia passiva e habitual, muitos da- presença de esperma, que deve ser evidenciada através dos exames
queles sinais traumáticos recentes podem não ser visualizados pelo já recomendados.
seu aspecto crônico e permissivo. Pode ser vista nesses casos uma Os casos de atos libidinosos desse tipo quando em crianças de-
pequena lesão cicatricial, de forma triangular, com base na margem vem ser vistos com muito cuidado pela perícia, notadamente em
do ânus e vértice no períneo ao nível da união dos quadrantes in- crianças muito pequenas, e nunca se convencer de tal diagnóstico
feriores conhecida como sinal de Alfredo Machado, depressão in- pela simples presença de raros e minúsculos edemas, eritemas ou
escoriações cujas etiologias não sejam comprovadas através do la-
fundibiliforme (em forma de funil), relaxamento dos esfíncteres e
boratório.
apagamento das pregas radiadas, típicos dos casos de pederastia
Por outro lado, levar muito em conta a presença das rupturas
passiva.
incompletas em himens de crianças quando suspeitas de vítimas de
Essa depressão infundibiliforme carece de validez absoluta,
abuso sexual.
conforme Kvitko (in La Violación – Peritación Medicolegal en las
Prersuntas Víctimas del Delito, Buenos Aires: Editorial Trillas, 1998). Da perícia de penetração de objetos. Não é tão rara como pa-
No entanto, o sinal mais importante para esse diagnóstico é rece, e a perícia se propõe a identificar tal penetração por via vagi-
a presença do esperma no canal retal, e sua comprovação se dá nal ou retal, tanto de forma coativa e violenta como de procedência
pela presença de seu elemento figurado, o espermatozoide, e pelos da própria vítima.
exames adiante enumerados. Por isso, em face de seu insuprível Nos casos de coação e violência, o que chama a atenção na
valor probante, o exame deve ser realizado o mais precocemente maioria das vezes é a intensidade das lesões locais, como escoria-
possível. ções, equimoses, hematomas e ferimentos, além de outras lesões
produzidas pelo corpo estranho. Nos casos de penetração vaginal,
Exames complementares. A confirmação da presença do es- essas lesões não se localizam apenas no hímen, mas sobretudo nas
perma na cavidade retal é sem dúvida o ponto de destaque no regiões circunvizinhas como grandes e pequenos lábios, fúrcula e
diagnóstico de coito anal, principalmente quando se trata de prá- períneo.
tica consentida e em indivíduos submetidos constantemente a tais E na penetração anal as lesões se estendem ao esfíncter anal e
práticas. à mucosa retal. Pode a perícia também identificar vestígios do ma-
Sendo assim, o diagnóstico de maior certeza é através da pre- terial componente do corpo estranho usado na penetração.
sença do elemento figurado do esperma, o espermatozoide. Toda-
via, pode-se identificar o esperma por meio de reações próprias — Manchas de sêmen
através do reativo de Florence ou pelos métodos de Barbério e de
Baecchi. Protocolo para a perícia de agressão sexual — Exame da ví-
O sêmen pode ser detectado através da lâmpada de Wood, que tima
emite luz ultravioleta, filtrada, e libera apenas as radiações entre • Exame das vestes da vítima na procura de sangue e sêmen
330 nm e 400 nm, sensibilizando certas substâncias que emitem para identificar o autor.
fluorescência, entre elas o sêmen, que pode ser detectado até 72 h • Exame objetivo específico:
após a agressão.
Coito vaginal (exame dos genitais externos, coleta de pelos pu-
Também se pode chegar ao diagnóstico do coito anal pela com-
bianos e amostras de sêmen sobre pele, vulva, períneo e margem
provação da fosfatase ácida e da glicoproteína P30 ou PSA, que se
do ânus, procura de lesões nos genitais externos, uso do espéculo
mostram em forma de traços na secreção retal, mesmo quando os
nos exames para evidenciar lesões vaginais e coleta de amostras
autores são vasectomizados.
de material biológico, lavado vaginal com soro fisiológico estéril e
Finalmente, colher material como sêmen, sangue e saliva para coleta desse material, uso do colposcópio para melhor visualização
exame em DNA com o propósito de identificar e caracterizar a au- de possíveis lesões do hímen, levando em conta a existência de rup-
toria. turas com descrição de suas características, como número, local,
idade etc.).
Da perícia do coito oral. As dificuldades periciais são maiores
em face da necessidade de o exame ser realizado na secreção bucal
e, como é óbvio, o mais precocemente possível. As lesões nessa for-
ma de atentado são raras, tanto nos lábios como na cavidade bucal.

351
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Coito anal (estudo das lesões locais como equimoses, sufu- Protocolo em casos de exames de ato libidinoso diverso da
sões, rupturas, esgarçamentos das paredes anorretais e perineais, conjunção carnal
estado do tônus do ânus, coleta de pelos e amostras de sêmen, co- No exame pericial realizado em casos suspeitos de tais atos
leta de material biológico como sangue e saliva do agressor para libidinosos, levando-se em conta as especificidades de cada caso,
identificação pelos testes em DNA). recomendamos o seguinte protocolo.

— Diagnóstico das formas de violência nos atos libidinosos Na vítima: exame clínico completo; exploração cuidadosa da
Em Sexologia médico-legal vê-se a sexualidade do ponto de vis- estrutura genital, oral ou retal; coleta de amostras de sangue, sa-
ta normal, anormal e criminoso. Sexologia criminal, também cha- liva, secreções ou fluidos do vestíbulo, fúrcula ou ânus; coleta de
mada de Sexologia forense, é a parte da Medicina Legal que trata amostra de manchas encontradas pelo corpo; exame da roupa da
das questões médico-biológicas e periciais ligadas aos delitos con- vítima e da cama ou do local dos fatos.
tra a dignidade e a liberdade sexual. No autor: exame clínico completo; exame minucioso dos dedos
A violência sexual não é apenas uma agressão ao corpo, à sexu- e das unhas; coleta de amostras de sangue, saliva ou urina nas bor-
alidade e à liberdade do homem ou da mulher, mas acima de tudo das livres das unhas, da superfície do pênis, do prepúcio, dos pelos
uma agressão à própria cidadania. Apesar de tudo que já se disse pubianos e das manchas existentes no corpo; além do exame cui-
sobre essa violação à liberdade sexual e de todas as propostas em dadoso dos genitais externos do suposto agressor e de suas vestes.
favor de penas mais severas para seus autores, fica a amarga sensa-
ção de que pouco se fez até agora. Esse exame no suposto culpado deve ser feito nas primeiras
Hoje a tendência é ampliar seu conceito para além do ato ou da 24 h, com a finalidade de encontrar sinais de coito recente, como:
tentativa de uma prática sexual, incluindo também as insinuações, presença na área genital de células vaginais (quando a vítima é mu-
os comentários e as divulgações de caráter sexual, desde que de lher) pela técnica citológica de Papanicolaou, de sangue de carac-
forma coativa ou constrangedora. terísticas genéticas iguais às da vítima, de material fecal na glande
Vendo sob a ótica da saúde pública, a OMS definiu a violência ou sulco bálano-prepucial, de presença de sêmen pela expressão do
sexual como “o uso intencional da força ou o poder físico, de fato pênis, e, quando o coito foi realizado com violência, pode-se flagrar
ou como ameaça, contra uma pessoa ou um grupo ou comunidade, edema inflamatório do pênis, rupturas recentes do freio da glande,
que cause ou tenha possibilidade de causar lesões, morte, danos feridas e escoriações dos genitais externos.
psicológicos, transtornos do desenvolvimento ou privações”. Finalmente, deve-se considerar relevante uma ruptura incom-
A violência sexual é um fenômeno universal que atinge todas pleta em hímen adulto não complacente ou em crianças quando
as classes sociais, culturas, religiões e etnias e tem conotações de um diagnóstico de ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
muito próximas dos demais delitos, em seus aspectos etiológicos Nesses casos, para uma confirmação definitiva, deve-se valer da
e estatísticos, em que se sobrelevem no conjunto de suas causas pesquisa de espermatozoides, de esperma, da fosfatase ácida e do
os fatores socioeconômicos. O êxodo que favorece o crescimento PSA nos genitais externos, assim como o exame em DNA para com-
populacional da periferia das grandes cidades, o desemprego, o uso provação da autoria.
de drogas, o alcoolismo, a influência dos meios de comunicação, a
falta de justiça e a insegurança são os elementos que fomentam e — Diagnóstico da gravidez, de parto recente e do puerpério
fazem crescer esses tipos de crimes.
As maiores vítimas dessa violência são exatamente as frações • Gravidez
mais desprotegidas da sociedade: as mulheres e as crianças. E o Conceitua-se gravidez como o estágio fisiológico da mulher du-
estupro é a forma de violência sexual mais comum. rante o qual ela traz dentro de si o produto da concepção.
Por outro lado, o registro crimino gráfico da violência sexual e Entre a puberdade e a menopausa, os ovários entram em ati-
seu conteúdo perverso projetam-se além da expectativa mais alar- vidade mês a mês, enviando óvulos às tubas uterinas, onde encon-
mista. Verifica-se nos dias que correm uma prevalência delinquen- tram o caminho livre ao útero. O espermatozoide depositado pela
cial que extrapola os índices tolerados e as feições convencionais. cópula ou artificialmente no canal vaginal avança, penetrando no
Uma criminalidade diferente, anômala e muito estranha na sua útero, sobe até a tuba uterina e, aí, encontrando o óvulo, fecunda-
maneira de agir e na insensata motivação. Esses tipos de delitos, -o, formando o ovo, que é a unidade primeira da vida.
mesmo com seus vestígios bem evidentes, são deixados sem repa- No terço proximal da tuba uterina, desenvolve-se o ovo até a
ração porque a vítima quando criança não é capaz de entender o fase de blastócito e, em um espaço de aproximadamente 8 dias,
caráter da ofensa, ou ciente se cala por medo, vergonha ou por cul- chega ao útero para a nidação.
pa de seus responsáveis. A época da fecundação é discutida. Segundo Koller, é do 5º ao
Muito mais que antes, esses tipos de delitos se tornam muito 10º dia após a menstruação. Stieve, em observação a partir desse
frequentes e ameaçadores, e impõe-se a necessidade de investir estudo, diz que a ovulação pode ocorrer do 5º ao 13º dia do ciclo e
cada vez mais na contribuição técnica e científica como fator de raramente depois do 17º ou antes do 4º dia.
excelência da prova, assim como no aprimoramento dos quadros A importância do diagnóstico da gestação prende-se às seguin-
periciais. tes situações: investigação da paternidade, simulação e dissimula-
Torna-se imperioso que se amplie e melhore a qualidade das ção de gravidez, verificação de gravidez nos casos de infanticídio,
perícias médico-legais, pois só assim os elementos constitutivos do atestados de pejamento para fins administrativos e trabalhistas,
corpo de delito terão seu destino ligado ao interesse da justiça. Não prova de violência carnal, impossibilidade de anulação de casamen-
há outra forma de avaliar um fato de origem criminal que não seja to e como meio para contrair novas núpcias.
através da análise da prova. O diagnóstico da gravidez baseia-se principalmente nos exa-
mes objetivo e subsidiário. O exame objetivo é feito dos sinais de
presunção, de probabilidade e de certeza.

352
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Sinais de presunção A ressonância nuclear magnética, como técnica sofisticada,
Perturbações digestivas (desejos, inversões do apetite, sialor- tem algumas vantagens no exame do feto, mas sua importância
reia, modificações da sensibilidade gustativa, vômitos, náuseas), maior é no diagnóstico precoce das anomalias fetais. Além do mais,
máscara gravídica (cloasma), lanugem (sinal de Halban), alterações trata-se de um método de alta complexidade e de custo financeiro
de aparelhos e sistemas (lipotimia, taquicardia, tonturas, polaciúria muito alto. A laparoscopia tem sua indicação mais justificada nos
e sonolência), pigmentação da linha alba, congestão das mamas, casos de gravidez ectópica, notadamente quando se suspeita de
hipertricose e estrias abdominais. uma gravidez tubária não rota.

• Sinais de probabilidade • Perícia


Suspensão da menstruação (amenorreia), cianose na vulva A perícia da gravidez consiste, pois, em registrar e confirmar o
(sinal de Klüge), cianose da vagina (sinal de Jaquemier), pulsação estado fisiológico no qual se manifestam sinais e sintomas de que
vaginal (sinal de Oseander), redução dos fundos de saco vaginais, uma mulher traz consigo o produto da concepção. Para tanto, é ne-
rechaço vaginal (sinal de Puzos), flexibilidade do istmo uterino (si- cessário que se disponha de elementos considerados “de certeza”
nal de MacDonald), hipertrofia do útero (sinal de Noble), alteração e que se prestem de forma patente a fazer o diagnóstico diferencial
da forma uterina (sinal de Piskacek), depressibilidade do istmo (1º entre tantas síndromes, como pseudociese, mioma, neoplasias do
sinal de Reil-Hegar), modificação das glândulas mamárias (aumento ovário, hematométrio, entre outras.
de volume, rede venosa superficial – sinal de Haller, hipertrofia dos Esses elementos do diagnóstico de certeza da gravidez são
tubérculos de Montgomery, decréscimo dos mamilos, aumento da dispostos pelo exame tocoginecológico (movimentos fetais e bati-
pigmentação das aréolas, secreção e estrias ou vergões) e aumento mentos do coração do feto, sopro e rechaço uterinos e palpação
do volume uterino. das partes do feto), pelo estudo radiológico do esqueleto fetal, pela
ultrassonografia, ressonância magnética, ressonância nuclear mag-
• Sinais de certeza nética, laparotomia e testes biológicos. Nos casos de morte, pode-
Movimentos do feto, batimentos do coração fetal, sopro uteri-
-se usar o exame histopatológico do útero, do ovário e até mesmo
no, rechaço uterino (sinal de Puzos), palpação de segmentos fetais,
da hipófise.
estudo radiológico do esqueleto fetal, ultrassonografia, ressonância
O diagnóstico do tempo de gravidez é também uma tarefa pe-
magnética, ressonância nuclear magnética, laparoscopia e testes
ricial importante e ele é feito principalmente pela anamnese, pela
biológicos da gravidez. Esses são os indicativos e as disponibilidades
para um diagnóstico de certeza da gestação. medida do fundo do útero, usando-se a regra de MacDonald e a
A percepção e a palpação dos movimentos ativos do feto já são Tabela de Belizan, pela ausculta dos batimentos cardíacos fetais,
notadas na 18ª semana de gestação. A ausculta dos batimentos car- movimentos fetais, radiografia da estrutura óssea do feto e pela ul-
díacos fetais, em torno de 20 a 21 semanas. O rechaço fetal intrau- trassonografia.
terino (sinal de Puzos), entre a 16ª e a 18ª semanas, e a palpação de • Parto
segmentos fetais, aproximadamente com 18 semanas de gravidez. Define-se parto como o conjunto de fenômenos fisiológicos e
A radiografia como diagnóstico exato da gravidez pode ser pos- mecânicos cuja finalidade é a expulsão do feto viável e dos anexos.
sível desde a sétima semana, quando surgem os primeiros pontos Dá-se seu começo, para os obstetras, com as contrações uterinas
de ossificação na clavícula, embora seu uso seja contraindicado pela rítmicas, e, para nós, com a ruptura da bolsa, e termina com o des-
discutível possibilidade de provocar malformações e até mesmo o locamento e a expulsão da placenta.
abortamento. Alguns autores chegam a afirmar que as radiografias Ao diagnóstico do parto, cingem-se as questões de simulação,
negativas não têm valor, quando em gestações anteriores a 20 se- sonegação e substituição de recém-nascidos, negação de crime de
manas. aborto ou de infanticídio e a atribuição de parto alheio ou próprio.
A ultrassonografia é outro método de imagem muito significati-
vo para o diagnóstico da gravidez e de metodologia inócua e não in- — Parto empelicado. É uma situação extremamente rara; tam-
vasiva. Mesmo não se tendo, na literatura científica atual, nenhum bém conhecido como “parto sem o rompimento da bolsa ou saco
indício comprovado de efeitos nocivos pelo uso semiológico do amniótico”. Acontece quando a bolsa não se rompe antes nem du-
ultrassom, recomenda-se não indicálo indiscriminadamente, prin- rante o trabalho de parto, tendo que ser rompida pelo obstetra ou
cipalmente como meio de diagnóstico precoce da gestação, pelas pela parteira que estiver assistindo ao parto. Em geral, o recém-
possíveis insinuações em face do surgimento de uma malformação -nascido não corre perigo porque ainda está recebendo oxigênio
fetal. via cordão umbilical.
Para a confirmação do processo gestatório, conta-se com o Há alguns animais que nascem dentro do saco amniótico ca-
seguinte: visualização do saco gestacional a partir da quinta sema- bendo às mães a tarefa de romper esta bolsa.
na; identificação dos batimentos cardíacos do embrião na sexta e
sétima semanas; utilização do comprimento cabeça-nádegas para
• Diagnóstico
determinação da idade fetal entre a sétima e a 12ª semanas; iden-
A abordagem dos elementos diagnósticos que caracterizam a
tificação do polo cefálico na 13ª e 14ª semanas em 95% dos casos;
existência anterior de um parto varia na mulher viva ou na morta,
recomendação da avaliação da idade do feto acima de 12 semanas
como também quanto ao tempo, se recente ou antigo.
pelo diâmetro biparietal; utilização do comprimento e dos centros
de ossificação distal do fêmur para determinação da idade do feto
no terceiro trimestre da gravidez. — Sinais de parto na mulher viva
A ressonância magnética é um método diagnóstico muito sofis- Parto recente. O estudo deve ser orientado para as alterações
ticado, que examina o corpo humano através de vibrações transmi- dos genitais externos, os fluxos genitais, a citologia cervicovaginal,
tidas a átomos de hidrogênio. É um meio propedêutico muito im- a biopsia do endométrio, as lesões dos genitais internos e externos,
portante na prática médica; todavia, nestes casos, até a 22ª semana as modificações das mamas e da parede abdominal e o cloasma.
de gestação o feto não é bem identificável, tanto pela movimenta-
ção fetal, como pela presença do líquido.

353
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Os órgãos genitais externos, logo após o parto, afiguram-se — Sinais de parto na mulher morta
com tumefação da vulva e dos grandes lábios. Podem-se vislumbrar Na mulher morta, é muito importante para o diagnóstico não
ruptura recente do períneo, notadamente nas primíparas, como só o exame macroscópico dos órgãos pelvianos, mas, também, o
também múltiplas rupturas do hímen na mulher de primeiro parto seu estudo histopanorâmico. Este estudo pode ser feito para o par-
pélvico. to recente ou antigo.
Os fluxos genitais são, de início, sanguinolentos e, depois, re-
presentados pelos lóquios, que revelam secreções provenientes Parto recente. Além dos sinais indicados no estudo do parto
dos ferimentos uterinos. São, de princípio, sanguinolentos para, recente da mulher viva, conta-se com os detalhes do útero e dos
depois, mostrarem-se serosos e de aspecto purulento, quando há ovários.
infecção. São sanguinolentos até o 3º dia, serolactescentes até o 8º O útero está aumentado com a cavidade repleta de coágulos
dia em média, quando desaparecem. nos primeiros dias. Sua superfície interna é aveludada e recoberta
Podem atingir a quantidade de 100 a 200 ml/dia, podendo per- de coágulos fibrinosos, restos de decídua e cotilédones e vestígios
sistir até o 12º -15} dia, quando voltam a ser sanguinolentos. O exa- de inserção placentária, presença de vilosidades coriônicas e de va-
me microscópico do lóquio exibe hemácias, células epiteliais, po- sos ainda abertos.
dendo conter ainda vernix caseoso, corpúsculo de mecônio e pelos Com cerca de 40 dias, o epitélio da mucosa uterina regenera-
fetais. Lóquio é a secreção ou exsudação proveniente da superfície -se integralmente. Ao exame histológico, as fibras musculares mos-
interna e cruenta do útero após o parto e que persiste até o endo- tram-se onduladas, hipertrofiadas, em feixes frouxos, e há presença
métrio voltar à sua constituição normal. de células gigantes coriônicas.
Nos órgãos genitais internos, deve-se ver o colo uterino, que é Os ovários apresentam, até o 5º mês de gestação, o corpo lúteo
mole inicialmente, deixando sair restos de membrana e placenta, gravídico, quando começa a involuir até o parto. Seu maior diâme-
mais comumente nos partos clandestinos. Outro elemento impor- tro é de 3 cm em torno do 3º mês e, no final da gestação, é de
tante é a involução uterina explorada através da parede abdominal. calculadamente 7 a 8 mm. Seu surgimento é um bom sinal de parto
No 1º dia, o fundo do útero está a um dedo acima da cicatriz anterior, apesar de poder estar afastado no parto ou confundir-se
umbilical. No 2º dia, na cicatriz umbilical, do 5ºdia ao 6º dia, dois com o falso corpo lúteo.
dedos abaixo, no 9º dia, três dedos acima do púbis e, por fim, em
torno do 12º dia, ao nível da sínfise pubiana. Parto antigo. O estudo do útero é um elemento fundamental
As mamas aparecem volumosas, com vergões e estrias de colo- neste diagnóstico. Nas multíparas, as faces anterior e posterior do
ração especial e com secreção láctea. Esta secreção pode faltar na útero são mais abauladas. O fundo é convexo e essa curvatura pro-
puérpera, assim como pode existir na virgem. Desaparece, normal- nuncia-se mais de acordo com o número de filhos que tenha tido a
mente, de 4 a 6 semanas pós-parto, podendo persistir por meses e mulher.
anos nas nutrizes. As bordas laterais de côncavas, na nulípara, passam a convexas
A parede abdominal expõe à vista vergões isolados, pigmen- na mulher que pariu. Em suma, o corpo uterino multíparo cresce
tação da linha alba, flacidez e rugosidades decorrentes da súbita em altura, largura e espessura, assumindo a forma globosa, em vez
cessação de distensão interna. E, por fim, o cloasma gravídico, que de triangular, nas nulíparas. É claro que algumas modificações de
pode persistir na face por algum tempo. ordem patológica podem alterar tal diagnóstico.
Parto antigo. Pode ser reconhecido por estigmas, tais como:
estrias e flacidez abdominais, estrias e pigmentação das mamas, Perícia
cicatrizes himenais, cicatrizes da fúrcula e períneo, mudança da for- A perícia girará em torno de diversos problemas, tais como:
ma e cicatrizes do óstio externo do colo uterino. • Existência de parto. Com a presença ou ausência dos sinais
A distensão do ventre decorrente da gravidez leva, quase sem- descritos, o perito poderá chegar a uma conclusão do diagnóstico
pre, após o parto, à flacidez da parede abdominal. Os vergões em seguro da existência ou da não existência do parto;
forma de linha de dimensões variáveis surgem nas regiões infraum- • Recentidade de parto. Nem sempre com a evidência de de-
bilicais e, mais raramente, nas coxas e regiões glúteas. Seu valor é terminados sinais poderá o perito precisar o tempo do parto. No
relativo, pois pode ausentar-se na gravidez e assinar presença em entanto, poderá dar-lhe precisão através de elementos essenciais,
outros estados. tais como as lesões dos genitais, o estudo das secreções e do fundo
A pigmentação das mamas dando a tonalidade escura às aré- uterino, determinando, assim, um parto antigo ou recente;
olas tem também valor relativo, pois podem entrever-se aréolas • Antiguidade do parto. Esta perícia é complexa e, a rigor, não
róseas em mulheres que pariram. O aparecimento de carúnculas existe um único elemento capaz de, por si só, ser concludente para
mirtiformes indica sempre a passagem de um feto de boa dimensão este fim;
e forma um elemento altamente sugestivo. • Número de partos. Não há nenhum meio seguro para a exa-
Para alguns, as cicatrizes da fúrcula e do períneo, assim como tidão do número de partos. Distinguir uma nulípara de uma mulher
as marcas de sutura cirúrgica motivadas pela ação profilática no que pariu uma vez é tarefa relativamente fácil, todavia, entre esta e
parto, atestam indiscutivelmente um parto anterior. uma que pariu muitas vezes é uma diligência difícil;
A modificação da forma e as cicatrizes do orifício externo do • Provas de laboratório. O laboratório, em certas circunstân-
colo uterino constituem o melhor sinal de parto antigo. O óstio ex- cias, é indispensável para uma avaliação mais cuidadosa no diag-
terno do colo uterino da nulípara é estreito e circular e, mais rara- nóstico de parto e puerpério. Por exemplo:
mente, elíptico, ao passo que, na mulher que pariu, torna-se trans- • Mucosidade vaginal. Essa confirmação se faz através da rea-
versal e com fissuras nos lábios do colo. ção de Weigman. Consiste em deitar-se sobre a substância suspeita
Todos esses sinais descritos anteriormente, por mais importan- uma gota do reagente especial (0,20 cg de iodo metaloide, 0,30 cg
tes que sejam, são apenas alusivos à paridade ou à não paridade. É de iodeto de potássio e 45 ml de água destilada). Quando o material
muito difícil a caracterização do número de partos. examinado contém epitélio vaginal, esta evidência se faz sentir pela
presença do glicogênio, que se cora de castanho;

354
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Líquido amniótico. Ao microscópio, é caracterizado pela ma- • Perícia
nifestação de induto sebáceo. Seu estudo é feito com a maceração
e centrifugação de líquido; 1. No pós-parto imediato (1 a 10 dias)
• Leite e colostro. Corado pelo Sudan III, pelo Lugol ou por uma O fundo uterino acha-se um pouco acima da cicatriz umbilical
solução de ácido ósmico, acusa-se em glóbulos de gordura de forma e cuja medição do rebordo do púbis ao fundo do útero é de 12 cm.
esférica ou ovoide, refringentes e brilhantes, nadando em um líqui- As cólicas são mais comuns nas multíparas.
do incolor. Esses glóbulos são corados de vermelho pelo Sudan III, O colo uterino mostra-se flácido e suas bordas distensíveis.
de castanho pelo Lugol e de preto pelo ácido ósmico; Após 3 dias, a cérvice está reconstituída, embora permeável a um
• Mecônio. Pastoso, amarelo-esverdeado ou verde-escuro, dedo. Os lóquios são vermelhos de 2 a 3 dias (lochia rubra). Mais
quando tratado pela água, intumesce-se. Visto ao microscópio, re- pálidos em torno dos 5 dias (lochia serosa). E branco-amarelados
vela corpúsculos corados de amarelo-esverdeado nas dimensões por volta dos 7 dias (lochia alba).
de 5 a 30 mm e, quando tratado pelo ácido sulfúrico ou pelo iodo,
deixa ver os cristais de colesterina de tonalidade azul; 2. No pós-parto tardio (10 a 45 dias)
• Exame microscópico do útero e ovários. A verificação histo- Nesse período, o útero ainda está regredindo no seu tamanho,
lógica do útero e ovários empresta uma importância ao diagnóstico embora mais lentamente que na fase anterior. É também nesse pe-
de gravidez ou de parto pregresso. ríodo em que se verifica grande influência da lactação no processo
fisiológico.
Puerpério A caduca já está praticamente desagregada e a cavidade uteri-
Puerpério, sobreparto ou pós-parto é o espaço de tempo vari- na reepitelizada, isso em torno de 15 dias pós-parto. O corrimento
ável que vai do desprendimento da placenta até a volta do organis- loquial vai passando de serossanguinolento para seroso (lochia se-
mo materno às suas condições anteriores ao processo gestacional. rosa ou lochia flava). O colo se apresenta em forma de fundo trans-
Dura, em média, 6 a 8 semanas. Seu diagnóstico é muito impor- verso e o útero nesta fase encontra-se no interior da pélvis.
tante nas questões médico-legais ligadas a sonegação, simulação
e dissimulação do parto e da subtração de recém-nascidos, princi- 3. No pós-parto remoto (além de 45 dias)
palmente nos casos em que se discute a hipótese de aborto ou de Esse período é muito impreciso, principalmente para se deter-
infanticídio, ou ainda de parto próprio ou alheio. minar o tempo decorrido do parto, pois ele varia de acordo com a
presença ou não da lactação. As mulheres não lactantes em média
Diagnóstico menstruam em torno da décima segunda semana do pós-parto,
Os elementos que devem ser considerados para caracterizar quase sempre precedida de ovulação.
um estado puerperal, ou seja, uma circunstância que prove o parto Nas mulheres que amamentam, esse período é muito mais lon-
recente, dentro do prazo admitido para esse estado, são os seguin- go e impreciso. A loquiação nesse estágio raramente existe, pois
tes: ela perdura no máximo por cerca de 4 semanas. Quando ocorre, é
insignificante e de tonalidade brancacenta (lochia alba).
• Útero. Logo após a saída da placenta e das membranas, o
útero começa a se contrair e, por isso, diminuir seu volume. Essa — Estudo médico-legal do aborto
involução é rápida.
Ele pode diminuir na metade, no prazo de 1 semana, do que ele Aborto
era no pós-parto imediato (1.000 a 1.200 g). As contrações uterinas Define-se e aborto tradicionalmente, como sendo a expulsão
prematura e violentamente provocada do produto da concepção,
causam as chamadas “dores do puerpério”.
independentemente de todas as circunstâncias de idade, viabilida-
A involução do sítio placentário é em torno de 6 semanas, po-
de e mesmo de formação regular.
dendo levar à hemorragia pós-parto tardia. Nesse período, pode
Todavia, essa definição é falha porque situa apenas os casos de
ocorrer a loquiação, um corrimento vaginal constituído de sangue
“expulsão do produto da concepção”, pois, sendo a mola hidatifor-
e decídua necrótica;
me considerada como tal, embora degenerado, não se pode consi-
derar como aborto. Ainda mais quando se verifica que nem sempre
• Colo. No exato momento do parto, o colo apresenta-se mole
há a expulsão do ovo.
e frouxo, com algumas e insignificantes lacerações e sangramentos.
Existem outras definições de aborto comumente utilizadas pela
A partir daí, o orifício começa a se fechar pouco a pouco. doutrina:
A abertura (pérvio) é de dois a três dedos até 2 dias e de 1 cm
em torno dos 12 dias; Aborto criminoso é a morte dolosa do ovo no álveo materno,
com ou sem expulsão, ou a sua expulsão violenta seguida de morte;
• Vagina. Depois do parto, a vagina transforma-se em uma ca- A morte dolosa do ovo;
vidade ampla, espaçosa, flácida e de tonalidade pálida. Suas rugas A interrupção da gravidez, seguida ou não da expulsão do feto,
só vão reaparecer por volta das 4 semanas. O epitélio vaginal so- antes da época da sua maturidade;
mente assumirá seu aspecto habitual em 8 a 10 semanas; A cessação prematura e dolosa da gravidez, ou sua interrupção
intencionalmente provocada, com ou sem aparecimento dos fenô-
• Ovário e ovulação. No período do puerpério, pode-se afirmar menos expulsivos.
que a fertilidade quase não existe, principalmente quando a mulher
está amamentando. Em geral, a primeira ovulação ocorre em torno O certo é que nenhuma dessas definições está isenta de crítica.
da décima semana. Discute-se qual o termo mais correto: “aborto” ou “abortamento”.
As mulheres não lactantes menstruam normalmente na déci- O primeiro seria o produto expelido e o segundo traduziria o ato.
ma segunda semana do pós-parto. E as lactantes, após as 30/36
semanas.

355
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Nos documentos médico-legais, deve-se usar sempre o termo CAPÍTULO I
“aborto”. Para alguns estudiosos da língua, é termo mais correto; DOS CRIMES CONTRA A VIDA
é terminologia mais corrente; e é assim que se expressa a lei subs-
tantiva penal. (....);
Sabemos, no entanto, que, em Medicina Legal, não há aborto
sem abortamento, pois o aborto espontâneo pertence ao estudo e Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
à aplicação da Obstetrícia. Por outro lado, pode haver a tentativa de Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ou-
abortamento sem aborto. trem lhe provoque:
Dessa forma, nossa codificação penal ao incriminar o aborto Pena - detenção, de um a três anos.
não distingue entre ovo, embrião ou feto. Sempre que ocorrer in-
tencionalmente a morte do concepto ou sua expulsão violenta se- Aborto provocado por terceiro
guida de morte está configurado o crime de aborto. Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
(art. 124) Pena - reclusão, de um a quatro anos.
A conduta descrita é provocar aborto em si mesma ou consen- Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a ges-
tir com que o façam. No caso de consentimento, a gestante que tante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental,
consentiu responde pela revisão do artigo 124, enquanto que, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
aquele que realiza o aborto responde pelo crime previsto no artigo violência
126, com pena mais severa.
Forma qualificada
Aborto provocado por terceiro (art. 125)
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são
O resultado, sem consentimento pode advir do emprego de
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos
força, de ameaça ou, ainda, de fraude, geralmente na última mo-
dalidade. meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas cau-
Aborto consensual (art. 126) sas, lhe sobrevém a morte.
Define o artigo a provocação do aborto, por terceira pessoa, Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
com o consentimento da gestante, sendo que, a gestante que con-
sente responderá pelo crime previsto no artigo 124. Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto qualificado (art. 127)
Prevê aumento de 1/3 na pena, caso a gestante sofra lesões Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
corporais de natureza grave, e a duplicação da pena se resultar a II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
morte, nas formas do aborto provocado e, desde que o resultado consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu represen-
mais grave não fosse querido, manifestando-se na forma de crime tante legal.
preterdoloso. Havendo intenção de obter o resultado o agente res-
ponderá por lesão corporal ou homicídio, em concurso com o abor- Perícia
to. O diagnóstico do aborto criminoso é delicado e complexo, ne-
cessitando, por isso, de um cuidado maior por parte do perito. Para
Aborto necessário (art. 128) tanto, é necessário considerar o exame da vítima (comprovação da
É o realizado por médico com a intenção de salvar a vida da gravidez e das lesões), a exclusão do aborto espontâneo e do aborto
gestante, desde que o aborto seja o único meio para a salvação da traumático, a evidências de provocação do aborto, a identificação
grávida, não havendo necessidade que o perigo seja atual, podendo do meio causador e o exame dos restos fetais.
ser futuro (aborto legal).
Aborto sentimental Exame da vítima. Nesta oportunidade, deve-se ter em conta
Praticado em mulher cuja gravidez resultou de estupro e, numa não só as lesões genitais ou extragenitais que se possam descrever,
interpretação extensiva, de atentado violento ao pudor. mas até com mais evidência o diagnóstico de gravidez, pois juridica-
Neste caso, não será necessário decisão judicial, bem como au-
mente o crime de aborto só se configura na mulher gestante, como
torização, bastando prova da gravidez e do crime praticado, ficando
estatui o diploma penal sobre a espécie.
o médico adstrito somente ao seu código de ética profissional, sen-
do necessário o consentimento da gestante, e, se menor, prova da
menoridade ou alienação mental.
Aborto recente em mulher viva. Assim, na viva, o exame de
Aborto eugenésico aborto recente deve ser conduzido na concepção de que o aborto
Ocorre quando existe possibilidade de anormalidade do feto, é um parto em miniatura e por esse fato deixa modificações tanto
não é permitido por nossa legislação. genitais como extragenitais e que podem ser idênticas à mulher que
pariu. Todavia, os abortos provocados são realizados no início da
gestação, quando essas modificações ainda não estão manifestas.
Desse modo, recomenda-se a biopsia da mucosa uterina à procura
de formações de vilosidades coriais.
Devem-se examinar os seios (pigmentação areolar, rede venosa
de Haller, tubérculos de Montegomery e secreção), cloasma, linha
nigra, hipertricose etc.

356
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O exame da genitália tem primordial valor no diagnóstico do Aborto antigo em mulher morta. Aqui, também, mesmo dis-
aborto: edema dos grandes e pequenos lábios, lóquios serossan- pondo-se de mais alguns elementos de análise na necropsia, seus
guinolentos ou serosos, excepcionalmente lesões do períneo e da resultados na maioria das vezes são inconciliáveis com um diagnós-
fúrcula, presença do objeto usado, lesões do colo do útero deixadas tico de certeza de aborto criminoso.
pelas pinças de Museaux.
O exame do material que flui através dos órgãos genitais, leva- Exclusão do aborto espontâneo e do aborto traumático. Na
dos ao histopatologista, determinará o assunto pela caracterização perícia do aborto é também muito importante que se possam ex-
dos restos ovulares e membranosos e ainda pelo diagnóstico da cluir da modalidade criminosa os abortos patológicos (espontâne-
gravidez tópica. os) e os acidentais. Nos primeiros, é preciso considerar todas as pa-
tologias da gravidez e as patologias maternas. Nos segundos, levar
Aborto antigo em mulher viva. Quanto mais antigo for o abor- em conta as lesões traumáticas existentes em regiões diversas do
to, mais difícil será a perícia, pois os dados mais comprovadores aparelho reprodutor feminino.
do aborto, depois de certo tempo, estão obscuros ou totalmente
desaparecidos. Restos antigos de membranas, cicatrizes de fúrcula Evidências de provocação do aborto. Na confirmação do abor-
ou de vagina e rupturas himenais não são elementos que possam to provocado dolosamente devem-se levar em conta dois aspectos
justificar uma prática abortiva. muito importantes:
a) a evolução do aborto (dores mais intensas e hemorragias
Aborto recente em mulher morta. Nestes casos, além dos mais profusas, expulsão parcial dos restos ovulares e evolução clí-
elementos descritos e analisados através do exame externo, o es- nica mais lenta);
tudo deverá ser orientado para os órgãos mais internos. A forma, b) lesões maternas (são comuns a presença de lesões produzi-
o tamanho, as lesões e a disposição do colo uterino; a existência das por ação química, térmica ou mecânica).
de lesões e secreções do leito uterino; as dimensões e a forma do
corpo uterino, o qual deve ser medido em suas três dimensões; ob-
Identificação do meio causador. Com finalidade de caracterizar
servação do perimétrio, que normalmente é liso, úmido e brilhante,
com precisão o caráter doloso do aborto, é necessário que se esta-
apresentando-se, no aborto, espessado e lacerado.
beleça com precisão o meio utilizado na prática abortiva. Por isso
A cavidade uterina apresenta elementos valiosos, tais como:
tumefação, coloração vermelho-escura, consistência diminuída, é aconselhável indicar o instrumento ou meio que foi utilizado na
presença de restos de vilosidades coriais e sinais de inserção pla- prática abortiva no sentido de buscar identificação com a prática ou
centária. O exame histológico é de valor capital, demonstrando in- com a vítima como, por exemplo, a pesquisa de vilosidades coriais
contestavelmente a gravidez. em sondas ou instrumentos utilizados.
O exame dos ovários deve ser feito na procura do corpo ama-
relo, fazendo-se a diferença entre este estado e o da menstruação. Exame dos restos fetais. Não se deve esquecer de mandar os
Em tese apresentada à Faculdade de Medicina da UFRJ, para con- restos fetais para exame, principalmente para se diagnosticarem
curso de Professor Titular de Medicina Legal (1986), o Professor Hy- evidências de lesões vitais ou post mortem. Quando o feto é eli-
gino de Carvalho Hércules demonstrou que é possível, em casos de minado inteiro, deve ser bem analisado no que diz respeito ao seu
aborto seguido de morte da gestante, quando da inexistência do grau de desenvolvimento, principalmente na determinação da ida-
útero (histerectomia) ou quando o seu exame não permite afirmar de, além da busca de elementos que permitam o diagnóstico de
o estado pregresso de gravidez, dar-se esse diagnóstico pela pesqui- uma causa natural ou violenta.
sa de embolia de células trofoblásticas em arteríolas e capilares do Se há apenas restos do ovo, deve-se promover o necessário
pulmão da vítima. exame histopatológico, no sentido de reconhecer a presença de te-
Além desses elementos, devem-se levar em consideração as cido trofoblástico e células deciduais.
informações fornecidas pelos hospitais, principalmente nos casos
de cirurgia ou de tétano post-abortum em que a necropsia é prati- — Estudo médico-legal do infanticídio e de maus-tratos a vul-
camente branca. neráveis (crianças, velhos e deficientes)
Vanrell (in Manual de medicina legal: Tanatologia, Leme: LED –
Editora de Direito, 2004) ainda recomenda o seguinte: Infanticídio
a) começar a necropsia antes da putrefação (12 a 16 h após O Código Penal, em seu Artigo 123, qualificou infanticídio como
o óbito), a fim de evitar gases provenientes da putrefação tragam “matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, duran-
resultados falsos de embolia gasosa; te o parto ou logo após”.
b) colher urina para imunotestes visando o diagnóstico de gra- A legislação vigente adotou como atenuante no crime de infan-
videz (gravindex, pregnosticon planotest, pregnosticon “all in”, etc.;
ticídio a condição biopsicossocial do estado puerperal, justificado
c) recolher corpos estranhos eventualmente encontrados na
pelo trauma psicológico, pela pressão social e pelas condições do
vagina e/ou no útero, como sondas, tampões etc.;
processo fisiológico do parto desassistido, angústia, aflição, dores,
d) radiografar o tórax à procura do sinal de Duncan-Taylor (ima-
sangramento e extenuação, cujo resultado traria o estado confusio-
gens aéreas correspondentes à embolia na área de projeção do co-
ração); nal capaz de levar ao gesto criminoso.
e) verificar na veia cava inferior se há presença de bolhas; O estado puerperal, expressão ambígua e entidade contestada
f) abrir o coração in situ, para ver se há borbulho indicativo de pelos médicos, tem merecido, através de todo esse tempo, severas
embolia gasosa; críticas, sendo, inclusive, considerado por alguns como uma simples
g) procurar dentro do coração sangue espumoso próprio da ficção jurídica no sentido de justificar a benignidade de tratamento
embolia gasosa; penal, quando a causa principal seria a pressão social exercida so-
h) retirar material para exame toxicológico e sangue para cul- bre a mulher cuja gravidez compromete a sua imagem.
tura.

357
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Na verdade, não há nenhum elemento psicofísico capaz de for- nascimento com vida); a causa jurídica de morte do infante (diag-
necer à perícia elementos consistentes e seguros para se afirmar nóstico do mecanismo de morte); o estado psíquico da mulher
que uma mulher matou seu próprio filho durante ou logo após o (diagnóstico do chamado “estado puerperal”); e a comprovação do
parto motivada por uma alteração chamada “estado puerperal”, tão parto pregresso (diagnóstico do puerpério ou do parto recente ou
somente porque tal distúrbio não existe como patologia própria nos antigo da autora).
tratados médicos.
Sabe-se que no puerpério podem surgir determinadas altera- Natimorto
ções psíquicas não apenas durante e logo após, mas também algum Denomina-se como tal o feto morto durante o período perina-
tempo depois do parto. Entre essas manifestações, a mais comum tal que, de acordo com a CID-10, inicia-se a partir da 22ª semana de
é a psicose pós-parto, indiferente ao estado social, afetivo ou emo- gestação, quando o peso fetal é de 500 g.
cional da mulher. A mortalidade perinatal pode ter causa natural ou violenta. As
Há no parto um estado de emoção e extenuação, dependendo causas naturais mais comuns são: anoxia anteparto, prematurida-
do estado de ânimo da parturiente e da sua condição de primípara de, anomalias congênitas e doença hemolítica congênita.
ou multípara. O parto em si mesmo causa poucos transtornos. Aqui, As causas violentas ocorrem em casos de aborto criminoso.
não se discute o aspecto das portadoras de psicopatias cujas mani-
festações são conhecidas ou manifestas. Feto nascente
Mais recentemente a Associação Americana de Psiquiatria Como o infanticídio também se verifica “durante o parto”, é ne-
estabeleceu em seu DSM-IV determinadas alterações para o que cessário estabelecer nessa circunstância o estado de feto nascente.
chamou de Transtorno de Estresse Agudo (TEA). Suas principais ma- Em outras legislações, a modalidade de crime nesse estágio deno-
nifestações seriam ansiedade e alguns sintomas dissociativos que mina-se feticídio.
ocorrem em torno de 30 dias depois da ação de um determinado O feto nascente apresenta todas as características do infante
agente estressor. nascido, menos a faculdade de ter respirado. No infanticídio de feto
Nessa fase o paciente teria ausência de resposta emocional, nascente, as lesões causadoras de morte estão situadas nas regiões
diminuição da consciência dos fatos que o cercam, amnésia parcial onde o feto começa a se expor e têm as características das feridas
e desencontro com a realidade, o que dura em média 3 a 4 semanas produzidas in vitam.
após o fato estressor. Dessa forma, tal síndrome, com o que se vê,
difere do comportamento das infanticidas antes do parto e do que Infante nascido
se pretende conceituar como estado puerperal, principalmente no Infante nascido é aquele que acabou de nascer, respirou, mas
que diz respeito a sua curtíssima duração, à ausência de distúrbios não recebeu nenhum cuidado especial. Apresenta proporcionalida-
mentais e emocionais prévios e à plena consciência para os atos de de suas partes, peso e estatura habitual, desenvolvimento dos
praticados. órgãos genitais, núcleos de ossificação fêmur-epifisária e, ainda, ou-
Assim, o que acontece no infanticídio é fato completamente tras características que merecem melhores detalhes, como:
diverso. Sempre é uma gravidez ilegítima, mantida em sobressaltos
e cuidadosa reserva, a fim de manter uma dignidade ante a família, Estado sanguinolento
os parentes e a sociedade. Pensa a mulher dia e noite em como se O infante nascido que não recebeu nenhum cuidado de limpe-
livrar do fruto de suas relações clandestinas. za tem o corpo coberto, total ou parcialmente, por sangue de ori-
Nada mais fantasioso que o chamado estado puerperal, pois gem fetal ou materno. Para que se configure o elemento “logo após
nem sequer tem um limite de duração definido. Diz a lei que é du- o parto”, esse estado apresenta-se como o de maior significação no
rante ou logo após o parto, sendo esse “logo após” sem delimitação diagnóstico de infante nascido.
precisa.
Parece ser imediatamente, pois, se a mulher tem um filho, dá- Induto sebáceo
-lhe algum tratamento, arrepende-se e mata-o, constitui uma forma Também chamado vernix caseosum, tem tonalidade branco-
de homicídio. -amarelada e recobre grande parte do corpo do infante, principal-
O mesmo não se diga do puerpério, que é o espaço de tempo mente no pescoço, axilas e nas pregas inguinais e poplíteas. Tem
que vai da expulsão da placenta até a involução total das alterações consistência untosa e serve de proteção à epiderme do feto na vida
da gravidez, pela volta do organismo materno às suas condições intrauterina.
pré-gravídicas. Seu tempo varia, segundo os autores, de 8 dias a 8
semanas. Tumor do parto
Portanto, puerpério não é sinônimo de estado puerperal. Este Nem sempre está presente no infante nascido ou no recém-
último nunca é presenciado em partos assistidos, aceitos e dese- -nascido. Trata-se de uma saliência de cor violácea, no couro cabe-
jados, mas sempre naqueles de forma clandestina e de gravidez ludo do recém-nascido, em face da pressão exercida pelo anel do
intangível. colo uterino.
Sua localização varia de acordo com a posição da cabeça. For-
Objetivos periciais ma-se durante o trabalho de parto e desaparece em geral em torno
A caracterização do infanticídio constitui o maior de todos os de 24 a 36 h após o nascimento da criança.
desafios da prática médico-legal pela sua complexidade e pelas É de natureza serossanguinolenta e sua regressão começa a
inúmeras dificuldades de tipificar o crime. Por isso, foi essa perícia partir do primeiro dia. É também chamado caput succedaneum.
chamada de crucis peritorum – a cruz dos peritos.
O exame pericial será orientado na busca dos elementos cons- Cordão umbilical
tituintes do delito a fim de caracterizar: os estados de natimorto, É outro elemento de grande valia no diagnóstico de infante
o de feto nascente, o de infante nascido ou o de recém-nascido nascido, principalmente se ele ainda estiver preso à placenta. Esse
(diagnóstico do tempo de vida); a vida extrauterina (diagnóstico do cordão, que mede cerca de 50 cm, liga o feto à placenta.

358
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Tem aspecto úmido, brilhante e de tonalidade branco-azulada. Perfil dos autores de maus-tratos
Com o passar dos dias, começa ele a secar, perdendo o brilho e se Os autores desses meios cruéis são geralmente padrastos, pais
achatando até formar uma fita cinzenta, caindo em torno do sétimo jovens ou familiares diretos, com problemas de alcoolismo ou de
dia. drogas, desempregados, com desordens psicoafetivas, de baixo
Tem importância fundamental no diagnóstico diferencial entre índice de escolaridade e quase sempre vítimas de maus-tratos na
infante nascido e recém-nascido e, ainda, orienta a perícia na ida- infância. Os motivos são os mais insignificantes, muitas vezes justi-
de do recém-nascido. O simples corte do cordão e seu tratamento ficados como forma de “educar” as crianças.
habitual podem descaracterizar o infanticídio pela evidente lucidez
da mãe. Clínica da criança maltratada
A ruptura espontânea do cordão sem ligadura e a ausência de A clínica da criança maltratada deve levar em conta a atitude
lesões violentas falam em favor de infanticídio por omissão de cui- da criança e as lesões encontradas. A atitude da criança-vítima re-
dados. sume-se em: apatia, tristeza, indiferente ou temerosa, protegendo
o rosto com as mãos ou fechando os olhos com a aproximação das
Presença de mecônio pessoas, ou impassível aos movimentos do examinador.
No intestino delgado e na parte inicial do intestino grosso do O que mais chama a atenção é o seu olhar triste e pungente.
infante nascido, existe uma substância espessa, pegajosa e de to- Um olhar de vencido.
nalidade verde-escura conhecida por mecônio. No sofrimento fetal, As crianças mais novas que não sabem manifestar-se de outra
pode haver evacuação dessa substância durante o parto ou mesmo forma choram quando se aproximam delas determinadas pessoas.
na cavidade uterina. As lesões mais comuns são: hematomas e equimoses, ferimentos
contusos, queimaduras, edemas por compressão, mordidas huma-
Respiração autônoma nas, alopecias traumáticas, fraturas dentárias por introdução vio-
Só é infante nascido quem respirou. Se não respirou, teve mor- lenta de colheres na boca, sufocação por introdução violenta de
te durante o parto ou intrauterinamente e, por isso, é feto nascente alimentos, desidratação, lesões genitais por abuso sexual, intoxi-
ou natimorto. cações por tranquilizantes, desnutrição, fraturas ósseas e rupturas
viscerais internas.
Abandono de Recém-nascido A perícia deve ser alertada para as lesões cutâneas múltiplas e
O delito ora em análise apresenta, como núcleo do tipo, os ver- de idades diferentes, principalmente, na face e nos membros, coin-
bos expor ou abandonar recém-nascido, porém tal conduta deve cidência de lesões cutâneas com fraturas ósseas, contradições nas
vir acompanhada de uma intenção do agente de ocultar sua pró- informações dos familiares, lesões específicas como queimaduras
pria desonra. Em sentido amplo, o abandono abrange a exposição, de cigarro ou marcas de ataduras nos punhos e tornozelos, vítimas
termo esse que se prende à ideia de colocar em perigo, deixando o aterrorizadas, fraturas múltiplas de idades diferentes e aquilo que
recém-nascido sem assistência, ao desamparo. mais caracteriza a síndrome de Silverman: o hematoma subperiós-
Assim, ocorre o delito se o agente se afasta da vítima, deixan- tico, visto pelos raios X, principalmente nos ossos longos dos mem-
do-a em situação de risco no lugar em que se encontrava (aban- bros superiores e inferiores. Outra ocorrência é o arrancamento
dono em sentido estrito) ou a deposita em local diverso, onde é epifisário (síndrome metafisária de Straus).
exposta a perigo em razão da subsequente separação física (expo- Na necropsia, é necessário aprofundar bem o estudo das le-
sição a perigo). sões, não esquecendo dos exames laboratoriais e anatomopatoló-
O bem jurídico protegido é a segurança do recém-nascido, sua gicos imprescindíveis, além de radiografias do corpo inteiro, pois as
incolumidade pessoal, em virtude de o mesmo não ter condições lesões múltiplas e de épocas diferentes podem sugerir sinais recen-
de se defender dos perigos resultantes do abandono. tes e antigos de maus-tratos.
É interessante observar que o simples abandono do recém-nas-
cido não é causa suficiente para configuração do delito, devendo Síndrome do ancião maltratado
existir uma situação de perigo concreto para a vítima. A exposição O ambiente familiar é o lugar de maior evidência desses maus-
ou abandono do recém-nascido deve criar uma situação de perigo -tratos, pois grande parte das pessoas idosas vive ali. Mas não quer
concreto, a qual deve ser comprovada. dizer que noutros lugares como hospitais, creches de velhos, asilos
Ou seja, não responderá pelo delito a pessoa que deixa o re- e casas especiais de abrigo não se venham a verificar tais excessos.
cém-nascido em local seguro, sabendo que um terceiro irá pegá-lo Os maus-tratos mais comuns são por abuso e negligência, ou
e lhe dar a devida assistência, ou ainda aquele que fica à espreita, seja, por ação, por omissão ou por cuidados inadequados. No en-
cuidando para que nada ocorra com o bebê. tanto, didaticamente, classificamos os maus-tratos em anciãos em:
maus-tratos físicos, maus-tratos psíquicos e maus-tratos econômi-
Síndrome da criança maltratada cos.
Ultimamente, vêm-se tornando cada vez mais frequentes a se- Os maus-tratos físicos são sempre caracterizados por feri-
vícia e os maus-tratos a crianças, que vão desde a prisão e o isola- mentos repetidos e pouco justificáveis, queimaduras, fraturas, es-
mento em ambientes insalubres até os espancamentos brutais se- coriações e equimoses. Os maus-tratos psíquicos pelas agressões
guidos de morte. Esse conjunto de lesões e agressões é conhecido verbais, “dano do silêncio”, ameaças, reprovações, desprezo e isola-
pela denominação de síndrome da criança maltratada, síndrome mento. E os maus-tratos econômicos pela privação dos alimentos,
de Silverman (“battered child syndrome”) ou síndrome de Caf ey- supressão dos bens e pelo mau uso de suas disponibilidades.
-Kamp. Em regra, os sintomas e sinais apresentados são semelhantes
As formas mais comuns de maus-tratos são: aos de uma doença crônica, cabendo estabelecer a diferença entre
a) por omissão – carência física (falta de alimentação e de pro- os maus-tratos e essas patologias. Um fato muito importante nesta
teção) e carência afetiva (falta de carinho); avaliação é o do estado psíquico do paciente, principalmente no
b) por ação – maus-tratos físicos, abuso sexual e maus-tratos que se refere à aparência de terror e medo que eles possam apre-
psíquicos. sentar.

359
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Sobre o aspecto físico é muito importante verificar os locais das ficaria muito fria e reduzida a um mero instituto jurídico de repara-
lesões, como, por exemplo, os pulsos e tornozelos, por onde esses ção civil ou de repressão penal, mas sem o alcance de uma solução
pacientes muitas vezes são imobilizados ao leito. socioafetiva que se espera.
Outro fato que não se pode esquecer é que seja qual for o tipo
Abandono familiar inverso - Responsabilidade dos filhos em de sanção, além de não amenizar o sofrimento moral dos pais, pode
relação aos pais idosos aumentar ainda mais a distância e a indiferença do filho e impe-
O abandono dos pais idosos pelos filhos, também chamado dir que este relacionamento venha ser reconstruído. Considera-se
de abandono às avessas ou abandono familiar inverso, é muito fre- também que nesses casos a prova do dano moral é muito contro-
quente, seja por desamparo afetivo ou por privação material. Não vertida, pois é difícil quantificar e qualificar por meio de uma perícia
há como negar ou discutir as obrigações dos filhos para com os pais o quantum de abatimento, sofrimento moral e humilhação.
idosos, no convívio domiciliar ou fora dele, principalmente no que A reparação indenizatória não vem como forma de imposição
diz respeito à negligência e ao descaso à qualidade de vida deles. do afeto, tendo em vista sua natureza subjetiva, mas como viés pre-
A garantia das obrigações materiais não é o mais difícil nessa ventivo, punitivo e compensatório, na tentativa de garantir prote-
relação, pois, como se sabe, o caráter objetivo delas não é com- ção dos mais vulneráveis.
plicado de se estabelecer pela sua referência em normais afins. O Não é fácil uma norma jurídica estabelecer a assistência afetiva
mais intrincado nesse particular é estabelecer critérios e normas obrigatória dos filhos, mas, pode-se, ao menos, constituir sanções
específicas em que fique estabelecido o dever de afetividade dos civis e penais compensatórias coativas pelo desprezo material e
filhos, obrigando-os ao dever de amar, principalmente na velhice, afetivo. Antes disso, políticas públicas devem empregar esforços,
carência e enfermidade dos pais em idade avançada. inclusive de assistência social, para fiscalizar, ininterruptamente, a
O Estatuto do Idoso, em seu artigo 3º, prescreve: “É obrigação qualidade de vida da pessoa idosa.
da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegu- Caso contrário, o abandono familiar contará apenas com um
rar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, instituto jurídico de implicação reparatória civil ou repressiva penal,
à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, mas sem uma solução socio criminal que o previna e o abomine.
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à Pouco se resolve tipificar ilicitudes civis e crimes, sem que o Estado
convivência familiar e comunitária. aparelhe-se de estruturas adequadas a serviço de uma tutela inte-
§ 1º A garantia de prioridade compreende: (…). IV – viabilização gral protetiva e preventiva.
de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do ido- São necessárias medidas efetivas e imediatas para que possa se
so com as demais gerações.” construir, passo a passo, uma sociedade mais fraterna e consciente
dentro dos princípios que ressaltem a importância da família e o
A Constituição Federal, neste sentido, consagra o dever mútuo
respeito à dignidade humana.
de relação entre ascendentes e descendentes, amparado no princí-
pio da solidariedade entre os entes da família, priorizando as rela-
— Avaliação médico-legal de contágio venéreo
ções afetivas, e a assistência física, material e moral. Estabelece as-
sim que “nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência,
Contágios venéreo e de moléstias graves
discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado
O anteprojeto apresentado ao novo Código Penal elimina a fi-
aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”.
gura do crime de “perigo de contágio venéreo”, pois as doenças ali
É claro que as sanções por abandono imaterial não garantem
inseridas são hoje combatidas de forma mais efetiva pela medicina
o afeto e a amizade nem obrigam a reaproximação familiar, mas atual e não têm o mesmo sentido infamante e as mesmas consequ-
tais sanções podem, pelo menos, ter efeito pedagógico. “O descaso ências existentes em 1940.
entre pais e filhos é algo que merece punição, é abandono moral Mantém o crime de “perigo de contágio de doença grave”
grave, que precisa merecer severa atuação do Poder Judiciário, para onde estão incluídas as patologias mais graves, independente de a
que se preserve não o amor ou a obrigação de amar, o que seria im- transmissão resultar de relações sexuais ou atos libidinosos, porém
possível, mas a responsabilidade ante o descumprimento do dever oriundas de três situações:
de cuidar, que causa o trauma moral da rejeição e da indiferença a) o agente sabe estar contaminado;
(Azevedo, AV; Venosa, SS. Código Civil Anotado e Legislação Com- b) quis transmitir a doença;
plementar. São Paulo: Atlas, 2004). c) a doença é reconhecidamente transmissível.
Se já admite-se a possibilidade de indenização por dano moral
decorrente do abandono dos filhos menores pelos pais, e levando O delito de contágio, principalmente o de contágio venéreo,
em conta o mesmo significado do abandono às avessas, por que sempre mereceu, por parte de alguns, certas objeções contra sua
não aceitar como justificáveis essas mesmas razões para uma inde- incriminação. O risco da enfermidade venérea estaria incluído no
nização por dano moral considerando o abandono afetivo dos filhos próprio complexo sexual, sendo inerente à constituição orgânica
em relação aos pais idosos? dos homens e das mulheres.
Se o afeto tem hoje um significado jurídico relevante quando Como a função sexual é exercida algumas vezes na clandestini-
considerado como elemento agregador da família, nada mais justo dade dos prostíbulos, lugares de maior incidência da moléstia, não
do que se considerar ilícito o descaso e o abandono afetivo e, como teria o sujeito passivo motivos idôneos de pleitear a antijuridicidade
tal, a reparação e a geração de responsabilidade. do ato. Seria punir, quase sempre, a mulher ironicamente chamada
O respeito à dignidade da pessoa humana, mesmo não se con- de vida fácil, sujeita a toda sorte de contaminação, muito mais ví-
tando ainda com legislação específica sobre a matéria que disci- tima que autora, o que não deixaria de constituir uma injustiça. E,
pline ações por abandono moral dos idosos, deve ser considerado finalmente, seria tarefa dificultosa estabelecer com precisão o dolo.
matéria fundamental e insuprível para garantir a função social da O crime de perigo de contágio de moléstias graves excluía do
família, que é em suma a base e o equilíbrio da sociedade. seu âmbito as doenças venéreas, pois aquela espécie criminosa não
É claro que apenas a imposição da regra jurídica civil ou penal admite a culpa, mas tão somente ter o agente ativo agido dolosa-
não vai estabelecer e especificar aquilo que é o mínimo indispen- mente. Outra distinção é que, no delito de perigo de contágio de
sável em uma relação entre pais e filhos. Essa relação obrigatória moléstias graves, a transmissão pode ser direta e, também, indireta.

360
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Essa opinião não é unânime, qual seja a de as doenças venére- • Defeito físico irremediável
as graves e contagiosas não estarem incluídas no crime de perigo de As deformidades permanentes, ocultas ou simuladas, anterio-
contágio de moléstias graves. No entanto, como existem no diplo- res e desconhecidas ao casamento, assim como certas anomalias
ma penal de 1940 dois dispositivos, é clara a sua distinção. ligadas aos órgãos sexuais, são motivos de anulação de casamento.
O anteprojeto à lei penal em discussão inclui aquelas catego- Dessas anormalidades, a mais alegada como causa de anulação
rias delituosas nos crimes de “perigo de contágio de doença grave” de casamento é a impotência coeundi no homem e, mais raramen-
com a seguinte redação: “Praticar ato capaz de transmitir a outrem te, a acopulia na mulher.
doença grave de que sabe estar contaminado.” As impotências generandi e concipiendi são erradamente assim
chamadas; melhor seria denominá-las esterilidade, pois a incapaci-
— Estudo médico-legal do casamento dade procriadora e a impossibilidade de conceber não devem me-
A instituição do casamento é um marco comum entre os povos recer o rótulo de impotência.
de civilização cristã. Modestino, nos tempos do Direito Romano, de- Para que a impotência coeundi seja motivo de nulidade de
finiu casamento como “a união do homem e da mulher, implicando casamento, conforme estabelece a lei civil brasileira, deve ser ela
igualmente vida e comunhão de direitos divinos e humanos”. irremediável, anterior ao casamento e desconhecida pelo outro
Sob o ponto de vista religioso, o Concílio Tridentino conceituou cônjuge. A esterilidade masculina ou feminina não é cláusula ampa-
o matrimônio como a “união conjugal do homem e da mulher, que rada nos motivos de anulação do casamento, mesmo que uma das
se contrata entre pessoas capazes segundo as leis, que as obriga a grandes finalidades do matrimônio seja a procriação. E aqueles que
viver inseparadamente, isto é, em uma perfeita união uma com a invocam esta razão são insinceros.
outra”. A impotência coeundi, hoje chamada de disfunção sexual ou
Clóvis Bevilaqua diz que “é um contrato bilateral e solene, pelo disfunção erétil, sob o ponto de vista dos interesses matrimoniais,
qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legali- é a incapacidade absoluta para a cópula vagínica e que se conside-
zando por eles suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita ra por meios médicos como definitiva. Pode ser classificada como
comunhão de vida e de interesse, e comprometendo-se a criar e a física ou instrumental (ausência de pênis, malformações, cicatrizes
educar a prole que de ambos nascer”. grosseiras, elefantíase escrotal) e funcional (fisiológica, orgânica, fi-
O casamento, além de apresentar interesses de ordem bioló- siopática e psíquica).
gica, psicológica, política, econômica e moral, constitui-se em uma A impotência fisiológica é encontrada na infância e na velhice.
instituição de relevante significação social, pela constituição do lar Uma mulher que casa com um ancião de 70 anos não pode pleitear
e da família. anulação de casamento alegando impotência, porque esta já era
Pelo caráter disciplinador do Estado sobre o casamento, não presumida.
deveria ele ser considerado simplesmente um contrato, mas um A impotência orgânica é motivada por certas doenças físicas
instituto de Direito Público, pois o Direito de Família está emigrando ou mentais que invariavelmente levam a esse estado, como: tabes
rapidamente para o interesse da sociedade. dorsalis, diabetes, doenças caquetizantes, arteriosclerose genera-
As razões e os interesses do casamento são de ordem social e o lizada.
vínculo matrimonial se forma em virtude da vontade do Estado, por A impotência fisiopática está representada pelas alterações
isso o casamento não deveria ser considerado um simples contrato. morfológicas da genitália externa, motivadas por perturbações neu-
roglandulares ou certas malformações definidas, por exemplo, nos
• Perícia estados intersexuais, hipogenitalismo, pseudo-hermafroditismo.
O casamento é anulável se houve: incapacidade de consentir, A impotência psíquica é consequente de inibição sexual incons-
idade insuficiente (salvo os casos especiais) e erro essencial sobre ciente. Esse tipo encerra boa parte das impotências que concorrem
a pessoa. Resta-nos estudar esta última situação, cujos elementos como causa de nulidade matrimonial. São indivíduos de boa saúde
principais são: identidade, honra e boa fama, ignorância de erro físi- física, mas apresentam essa perturbação como sintoma de um pro-
co irremediável e moléstia grave transmissível por contágio e heran- blema mental.
ça (anterior e desconhecida na época do casamento). Todas essas Há uma forma de impotência transitória, de fundo psíquico,
situações são do âmbito pericial. não muito rara nos primeiros dias de núpcias, porém passageira e
curável com uma psicoterapia adequada. Tem suas causas na emo-
• Identidade ção, levando, inclusive, a uma forma de icterícia chamada de icterí-
A identidade referida pela lei é a física e a civil. Embora seja cir- cia nupcial – o último capítulo romântico da patologia médica.
cunstância rara uma substituição de pessoa na hora do casamento, Com o passar do tempo, a ideia de que 90 a 95% das impo-
mesmo representada por procurador especial, é causa de nulidade. tências eram de causa psíquica foi dando lugar às causas orgânicas
Essa é a identidade física, cujos critérios de identificação são norte- como determinantes primárias da maioria dos casos. Isso, depois
ados por processos antropométricos e antropogenéticos. que Shapiro e Fischer aprimoraram o pletismógrafo noturno penia-
Casar com um homem que é filho ilegítimo, pensando tratar-se no, e Karacano utilizou-o no laboratório do sono, demonstrando
de filiação legítima, não incide sobre a identidade, mas sobre uma com registros a relação entre as ereções noturnas e os períodos
qualidade da qual a pessoa não é responsável. Não houve erro es- REM (rapid eyes movements) do sono. Não é um teste absoluto. A
sencial de pessoa. depressão endógena pode interferir na fase REM.
A perícia da impotência coeundi é tarefa delicada e foi, algu-
• Honra e boa fama mas vezes, constrangedora. Antigamente, o exame pericial consistia
O erro referente a identidade do outro cônjuge, no que diz res- em submeter o homem à prática sexual com uma prostituta, sob os
peito à sua honra e boa fama, deve ser de tal monta que a vida olhares de diversas testemunhas.
entre ambos se torna insuportável pelo logro sobre o cônjuge enga- Hoje, inicia-se a perícia com a esposa, através do exame cui-
nado. Sobre isso a perícia não tem uma contribuição mais efetiva. dadoso do hímen. Se este se apresenta de óstio estreito, orla larga,
íntegro e compatível de romper-se com a cópula, configuramos a
impotência, mesmo que o homem alegue não ser impotente para
outras mulheres. No entanto, para a reclamante, ele o é.

361
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A anulação do casamento é específica para quem a requer, e A acopulia, ou a incapacidade de a mulher manter o ato se-
não genérica. Nos casos em que o exame himenal não esclarece a xual, pode ser física (cicatriz, aplasia, malformações, vaginas infan-
perícia, passamos a estudar detalhadamente a genitália externa do tis e afecções localizadas) ou psíquica (vaginismo, dispareunia ou
esposo, examinando a conformação, a normalidade ou a presença cópula dolorosa, coitofobia). Portanto, nas mulheres, mesmo mais
de cicatrizes deformantes ou os estados patológicos locais, possi- raramente, há situações em que a anulação do casamento está ple-
velmente existentes. A pulsação forte da artéria dorsal do pênis é namente indicada.
sinal de grande valor.
Outra prova a ser feita é o reflexo bulbocavernoso de Onanoff • Moléstias graves
ou reflexo viril. Coloca-se o dedo indicador atrás do escroto, na ure- As moléstias graves e transmissíveis por contágio ou herança,
tra bulbar, tomando entre o polegar e o indicador da mão direita a capazes de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua des-
glande. Soltando-se bruscamente, percebe-se, pelo dedo da mão cendência, podem ensejar motivação à anulação de casamento, se
esquerda, a contração dos músculos isquiocavernoso e bulboes- forem anteriores e desconhecidas por um dos cônjuges à época do
ponjoso. Esse choque sentido pela mão esquerda indica potência casamento.
sexual. À medida que o tempo passa, doenças outrora consideradas
Deve-se pesquisar também o reflexo cremastérico. Consiste em graves, e muitas delas incuráveis, já não o são hoje, como a tuber-
estimular mecanicamente a pele da parte superior da face medial culose, a sífilis, a blenorragia, entre outras.
A lei civil substantiva não enumera as enfermidades capazes de
das coxas, junto ao escroto, e, quando positivo esse reflexo, nota-se
impor uma anulação matrimonial, exatamente devido aos constan-
a subida dos testículos.
tes progressos que se verificam em favor das ciências biológicas.
É muito comum o marido apontado como impotente não se
Doenças simples, como a hemofilia, mesmo não sendo conta-
submeter a exame, deixando o processo de anulação do casamento
giosas, transmitem-se à geração masculina, por isso podendo ser
correr à revelia. Se o exame do hímen esclarece, não há por que alegadas em um processo de dissolução de vínculo matrimonial.
negar a veracidade da impotência. Quando o hímen não esclarece Outras há gravíssimas, como o câncer, que, embora não seja
e o marido não contesta, em geral esse silêncio depõe contra ele. contagioso nem hereditário, não se conhece nenhum caso de anu-
Atualmente, vários são os testes orgânicos utilizados para a labilidade de casamento por esta moléstia. Talvez seja devido ao
avaliação da impotência de origem psicogênica, tais como: seu caráter de letalidade rápida.
1) teste do erectômetro: com um cinto ajustado na base do As doenças graves, com perigo para o cônjuge e a prole, mais
pênis que, uma vez mudando de posição com a ereção, não volta alegadas nos processos de anulação de casamento são as doenças
atrás, podendo-se, inclusive, medir a variação do diâmetro peniano; mentais. Entre elas, pelo seu caráter nocivo e incurável, a mais co-
2) teste do TPN: com uma cinta adesiva colocada na base do mum é a personalidade psicopática. Além desta, outras, como a
pênis com três bandas de papel que podem romper-se com a tu- esquizofrenia, a psicose maníaco-depressiva e a paralisia geral pro-
mescência peniana a diversos valores de pressão intracavernosa; gressiva, estão no rol das doenças graves e com possibilidade de
3) teste do Inoval: com a utilização desse medicamento indutor transmissão à prole.
e anestésico, bloqueia-se o psiquismo ao mesmo tempo em que Fato lamentável, sob todos os aspectos, vem ocorrendo em
se manipula a glande na tentativa de se obter a ereção (ampolas nossos tribunais: o da anulação do casamento, se um dos cônjuges
contendo citrato de fentanila 78,5 mcg (equivalente a 50 mcg de é epiléptico, quando tal ocorrência é anterior e desconhecida à épo-
fentanila), droperidol 2,5 mg, ácido tartárico e manitol); ca da sua celebração.
4) teste da ereção induzida: com injeção intracavernosa de clo- Ainda persiste na imaginação de muitos teóricos do Direito que
ridrato de papaverina, de prostaglandina ou histamina, que agiriam a epilepsia seja uma moléstia grave e sistematicamente transmissí-
como mediadores químicos fisiológicos da ereção; vel, capaz de colocar em risco permanente a pessoa do outro cônju-
5) teste de Rigidimeter de Virag: com um cinto na base do ge, ou que possa projetar-se de forma indiscutível na sua herança.
pênis, tendo um pino por dentro que, empurrado lateralmente à A privação dos direitos civis e o constrangimento sofrido pelos
medida que há ereção, traduz essa tensão lateral em uma unida- epilépticos, nos dias de hoje, devem merecer da fração consciente
de chamada Penrig que se aproxima da pressão intracavernosa em e solidária da comunidade a mais veemente repulsa. Isso nada mais
mmHg, fornecida por um visor digital e um aparelho acoplado ao representa senão privá-los de disputar dos mais elementares direi-
tos e privilégios, como também uma modalidade odiosa de colocá-
registrador gráfico, cuja anotação é feita durante a noite;
-los em uma classe inferior de homens.
6) teste do Rigiscan: com dois cintos colocados na base e na
Representa, ainda, o mais indiscutível vilipêndio aos direitos da
ponta do pênis, garroteando o órgão em intervalos regulares e re-
pessoa e uma desrespeitosa violação da cidadania.
gistrando em sua memória a tensão lateral, sendo analisado no dia
Outro fato: o que é uma moléstia grave? Quais os elementos
seguinte por um computador que decodifica os sinais e revela a que devem ser mais fluentes em tal conceito? Nenhum compêndio
qualidade e a quantidade das ereções. de Patologia define plenamente. O câncer, a mais dramática e im-
placável das moléstias, não mereceu ainda esse tratamento, ainda
Além dos testes citados, existem ainda vários exames que po- que seu prognóstico seja o mais sombrio. Assim, a lei, sem se expli-
dem apontar com exatidão para uma impotência de causa orgânica, car melhor, deixa ao sabor de cada entendimento o que seja grave.
como: eletroneuromiografia, esponjossografia, cavernosometria,
potencial evocado genitocerebral, dosagens hormonais, termome- — Determinação da filiação pelo exame do DNA
tria, arteriografia, entre outros.
Finalmente, deve a perícia considerar a impotência sexual mas- Vínculo genético da filiação pelo DNA
culina como uma síndrome complexa, de mecanismo psiconeuro- A impressão digital genética do DNA (ácido desoxirribonuclei-
-endócrino-genitoângio-muscular e, por isso, não deve escapar das co), representada pelo material genético básico de cada indivíduo
avaliações clínica, genital, urológica, neurológica, neurovegetativa, e composta de uma substância existente nos cromossomas, é cons-
psíquica, endocrinológica e vascular. tituída de uma extensa fita dupla de nucleotídios com as bases de
adenina (A), timina (T), guanina (G) e citosina (C).

362
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Vem sendo defendida como um método de excelência, pelo Os traçados exclusivos de cada indivíduo são imutáveis durante
fato de se admitir estabelecer a paternidade ou a maternidade, toda a vida, a exemplo das impressões datiloscópicas. Na prática,
contrariamente aos outros métodos tradicionais, que são unica- esse método é obtido através da extração e purificação do DNA,
mente de exclusão. mediante incubação do material, a 37°C e durante 12 a 18 h, em so-
Seus defensores afirmam que a possibilidade de se encontra- lução tamponada de tensoativo (SDS) e enzima proteolítica, capaz
rem duas pessoas iguais por esse método é de uma em 10 trilhões, de isolar o ácido nucleico das demais partes proteicas.
fazendo com que esse sistema se constitua em uma verdadeira E assim o DNA vai-se purificando até seu isolamento total,
impressão digital, e por isso foi chamada pelos ingleses de DNA quando é seccionado em vários fragmentos de características po-
Fingerprints (impressão digital do DNA). Cada indivíduo é genetica- limorfas que obedecem às leis da hereditariedade, os quais serão
mente diferente de todos os outros. submetidos às mais diversas técnicas conhecidas no momento.
Seu emprego é mais abrangente, pois, a partir de algumas go-
tas de sangue fresco ou dessecado, de fragmentos de tecidos hu-
manos, de traços de sêmen ou de alguns fios de cabelos com bulbos
capilares, pode-se estabelecer uma paternidade ou uma materni-
dade, desde uma gestação até muitos anos depois da morte de um
dos envolvidos.
Esse método consiste no estudo do material genético básico
das pessoas – o DNA, representado por uma substância orgânica
existente nos cromossomas que, por sua vez, são encontrados no Teste de paternidade: inclusão
interior das células. As moléculas de DNA existentes no interior dos
cromossomas no núcleo das células compõem-se de duas “fitas”
que se encaixam como um “fecho éclair”, ou seja, existe um alinha-
mento perfeito e específico pela complementaridade química entre
as duas “fitas”.
Essa sequência específica dos dentes do “fecho éclair” constitui
uma mensagem química escrita em código genético nos milhares
de genes existentes em nossas células.
Este código genético é responsável pelas características de cada
pessoa e é representado pelo arranjo de quatro blocos de aminas já
referidas como bases: adenina (A) guanina (G) citosina (C) e timina
(T). A adenina sempre se junta à timina, e a citosina, à guanina.
E assim essas combinações podem repetir-se muitas vezes, em
cada célula, cuja ordem dará as características exclusivas de cada As aplicações médico-legais da “impressão digital” genética do
indivíduo. Exemplo de um trecho desse código: DNA podem contribuir para a investigação da paternidade e da ma-
ternidade. Mesmo após a morte, pode-se fazer a exumação e estu-
dar o DNA de restos cadavéricos. A amostra de sangue dos avós, de
TTCCGGATATATACTCG
tios ou de irmãos legítimos pode possibilitar uma vinculação com
AAGGCCTATATATGAGC
a mesma precisão do que aquela obtida se os pais fossem vivos.
Outro fato: pode-se também determinar se existe relação de paren-
Desse modo, ao se conhecer a sequência de bases de um de-
tesco entre duas pessoas.
terminado trecho, pode-se conhecer com segurança a sequência do
Outrossim, dentro de uma criteriosa análise, levando-se em
trecho correspondente a outra cadeia complementar, obtendo-se
conta a avaliação do risco-benefício, podem-se utilizar estas téc-
um padrão de bandas que constitui suas “impressões digitais gené-
nicas de vinculação genética da paternidade intraútero através do
ticas do DNA”.
estudo de tecidos fetais obtidos pela amniocentese e pela amostra
Essas sequências individuais são detectadas com o auxílio de de vilo corial. Nesta última, a mais usada, utiliza-se o componente
enzimas de restrição ou sondas do DNA. As enzimas têm a proprie- fetal da placenta a partir da 9ª semana de gestação.
dade de funcionar como verdadeiras “tesouras biológicas” que cor- Este método só deve ser usado em situações muito especiais
tam o DNA em pedaços, e cada enzima reconhece uma determina- da determinação de paternidade de interesse médicoterapêutico,
da sequência e secciona a molécula do DNA nos locais onde essa pois, do contrário, deve ser feito com todas as vantagens após o
sequência se repete. nascimento da criança.
As sondas do DNA, por sua vez, são pequenos fragmentos de Outra maneira de utilização da impressão digital genética do
cadeias simples de DNA cuja sequência de bases é conhecida. Essas DNA é na identificação de suspeitos, em situações, antes impos-
sondas se acoplam às sequências consideradas complementares, síveis, como em determinados casos de criminalística, através de
unindo-se a elas. amostras de material biológico encontradas em locais examinados,
Utilizam-se dois tipos de sondas: SLP (single-locus-probe) e contribuindo assim para apontar autores ou excluir falsas imputa-
MLP (multilocus-probe). A SLP (Budowle et al., 1991) identifica um ções. Finalmente, esse método pode ser usado com certa utilida-
único segmento do DNA que se repete em um determinado trecho de nos casos de identificação de vítima em que os outros métodos
do cromossomo. Todavia, não são suficientes para a identificação. mostraram-se ineficazes, como nas grandes mutilações ou nos car-
A MLP (Gill e Jeffreys, 1987), por seu turno, é capaz de detectar bonizados parcial ou quase totalmente, ou ainda nas exumações,
vários segmentos do DNA que se repetem em vários cromossomas, adotando-se o uso de microssatélites pela técnica de PCR (poly-
obtendo-se padrão de 20 a 30 bandas, diminuindo, assim, a possibi- merase chain reaction), que permite o estudo do DNA degradado,
lidade de duas pessoas apresentarem todas as bandas em posições a partir de pequenas quantidades de material obtido, como, por
semelhantes, pois esse padrão de bandas é exclusivo para cada pes- exemplo, dos dentes, dos ossos, do bulbo dos cabelos e de outros
soa, com exceção dos gêmeos univitelinos. tecidos remanescentes.

363
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Valor do perfil de DNA na vinculação genética de filiação. A in- Será que os Tribunais estão percebendo corretamente o signifi-
vestigação da paternidade e da maternidade, antes do advento da cado da prova em DNA? Tem sido fácil avaliar sua técnica tão com-
técnica do perfil de DNA, tinha como ajuda os marcadores sanguí- plicada e seus fundamentos tão complexos? Existe, na realidade,
neos simples. o entendimento de que não se pode excluir a possibilidade de um
resultado não ser condizente com a verdade que se apura?
Não se pode negar que hoje, com esses novos recursos, não
se tenha respostas a situações antes impossíveis, como nos casos Seja como for, esperamos que o julgador, na sua sofrida soli-
de pais falecidos, a partir de familiares diretos. Mas isso não quer dão, entenda que a interpretação correta desses valores não é algo
dizer que a análise do polimorfismo do DNA tenha respostas para intuitivo, e que se exige pelo menos o conhecimento da valorização
todas as indagações no campo da identificação do vínculo genético probabilística do teste em DNA e da sofrível adequação das estrutu-
de filiação, nem que todos os resultados dessa prova sejam impe- ras da maioria dos laboratórios em nosso país.
riosamente verdadeiros. Desta forma, nada mais justo que, ao avaliar estes testes, os
Os equívocos do caso Castro nos EUA são um exemplo de que Tribunais mostrem-se cautelosos, não desprezem o conjunto dos
há muito ainda para se aprender. Não se pode acreditar demasia- outros elementos probantes e usem tais resultados como um refe-
damente rápido em uma técnica que está se consolidando e já se rencial probatório a mais.
rotula com a falsa expectativa de infalibilidade.
Não foi por outra razão que naquele país criou-se a TWGDAM
(Technical work group for DNA analysis and methods) e na Europa a TRAUMATOLOGIA FORENSE. ENERGIA DE ORDEM
EDNAP (European DNA profiling group), com a finalidade de exami- FÍSICA. ENERGIA DE ORDEM MECÂNICA. LESÕES
nar cuidadosamente os diversos problemas na aplicação forense da CORPORAIS: LEVE, GRAVE E GRAVÍSSIMA E SEGUIDA
tipagem de DNA, inclusive criando-se mecanismos seguros para um DE MORTE
controle de qualidade.
Sempre vamos repetir que na prova do DNA há uma esperan- — Energia de ordem física
ça muito grande de contribuição à hemogenética médico-legal, a São as energias que produzem lesões no corpo, provocando al-
partir do momento que ela esteja firmada cientificamente, tenha terações no seu estado físico. As principais energias desse tipo são:
respostas para um número razoável de dúvidas que ainda resta e – Temperatura: queimadura, frio, termonose
venha a livrar-se das pressões das empresas comerciais e dos meios – Eletricidade: eletroplessão (óbito decorrente de descarga elé-
de comunicação que forçam, de certo modo, o uso precipitado do trica) fulminação, e fulguração
método, difundindo uma ideia de infalibilidade da prova. – Pressão atmosférica: conhecidas por mal dos mergulhadores/
escafandristas; mal dos aviadores ou das montanhas
Prova em DNA vista pelos Tribunais
Além das implicações de ordem ética e legal que se verificam — Energia de ordem mecânica
na prática, há outros problemas que acreditamos de muita impor- Essas energias atuam de forma mecânica sobre o corpo, modi-
tância no contexto da utilização da prova em DNA pelos Tribunais. ficando integral ou parcialmente, seu estado de movimento ou de
O primeiro deles, com o máximo respeito, é a dificuldade que repouso.  
os magistrados e advogados têm de adentrar nesse mundo inson-
dável da perícia especializada, de métodos e técnicas tão compli- Tipos de ferida e instrumento utilizado:
cados, tanto no que se refere ao aspecto analítico dos resultados, – Ferida contusa: instrumento contundente (ferramenta com
quanto aos procedimentos mais particularizados. superfície variável, que pode ser impelida na pele da vítima; a ferida
Acreditamos que tal fato se verifique não só pelos intrincados contusa também pode ser provocada por movimento de arrasto,
caminhos da prova em DNA, em seus detalhes técnicos e metodoló- com golpe aplicado pela unha ofensor)
gicos, mas pela correria como estes testes foram impostos e quan- – Ferida punctória ou puntiforme: instrumento perfurante (fer-
do na formação do jurisconsulto faltam-lhe os ensinamentos que ramenta pontiaguda e utilizada por penetração)
seus cursos básicos de Direito não conheciam. – Ferida em fisa/corte: instrumento cortante (ferramenta do-
Diga-se ainda que tal restrição não é apenas dirigida aos estu- tada de aresta/gume amolado, utilizada a partir de deslizamento,
diosos desta área, mas também aos próprios peritos que funcionam produzindo incisão)
junto aos Tribunais e que não tiveram oportunidade de entender,
em profundidade, o alcance e os fundamentos da prova do perfil de — Lesões corporais: leve, grave e gravíssima e seguida de
DNA em questões de investigação do vínculo genético. morte
Acrescente-se ainda o fato de que a prova em DNA está em
acelerada evolução, quando muita coisa que foi publicada, mesmo • Lesões corporais leves: são as lesões que prejudicam a saú-
em periódicos sérios, hoje não tem mais valor. Por outro lado, mui- de ou a integridade física de outrem e que, em geral, não levam a
tas das empresas que fabricam o material dos testes em DNA não complicações fisiológicas graves; os danos desse tipo de lesão são
deixam de insinuar serem os resultados de identificação de pater- externos/superficiais (pele, músculos superficiais, vasos venosos e
nidade e de maternidade infalíveis e inquestionáveis, o que certa- arteriais de pequeno calibre, tela subcutânea). Em geral, são feridas
mente vem perturbando o entendimento dos analistas dessa prova. contusas, hematomas, equimoses, escoriações, grande parte dos
Entendemos também que a análise do polimorfismo do DNA é casos de luxações, torcicolos traumáticos, edemas e entorses. As le-
a prova de maior futuro no momento e que em muitas ocasiões ela sões classificadas como leves consistem em alterações patológicas
mostrou-se importante. Coisa diferente, no entanto, é considerar resultantes de sinais frequentes, convulsões e choques nervosos.    
seus resultados sempre infalíveis ou tornar o julgador prisioneiro
de seus resultados. É perigoso substituir seu juízo de valor por uma
única prova cujo resultado permite uma certa margem de erro, até
porque isto é da condição humana.

364
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Lesões corporais graves: pertencem a esta categoria as lesões que levam a vítima à incapacitação absoluta, ou seja, impossibilidade
exercer quaisquer ocupações usuais por período superior a 30 dias. As situações de lesão grave são aquelas que envolvem:
– risco de vida;
– antecipação de parto;
– debilidade temporária de sentido, função ou membro.

• Lesões corporais gravíssimas: assim como as lesões graves, as lesões gravíssimas prejudicam a saúde ou a integridade física de ou-
trem, e são descritas no Código Penal, artigo 129, conforme a seguir:
– enfermidade incurável;
– incapacitação permanente para o trabalho;
– deformidade permanente;
– inutilização ou perda de funções, sentido ou membro;
– aborto.

• Lesões corporais seguidas de morte: são as lesões que acontecem sem intenção de ferir gravemente a vítima, porém, levam à mor-
te; são também denominadas de crime preterdoloso ou preterintencional, quando a ação resulta em dano de gravidade maior do que o
esperado. As condutas provenientes desse tipo de lesão resultam em dois tipos de crime: o homicídio culposo e a lesão corporal dolosa. O
agente da ação (agressor), pretende lesionar, porém, a lesão acaba sendo demasiado grave, e resulta na morte da vítima.

— Conceitos de trauma e de lesão


A traumatologia tem como objeto de estudo o trauma, que pode ser compreendido como o modo de ação dos agentes vulnerantes
e as consequentes lesões.
A traumatologia está ligada com as energias de ordem mecânica, que são aquelas que tendem a mudar o estado de repouso ou de
movimento de um corpo, totalmente ou parcialmente.
As energias causam danos, e podem ser:
• Energia mecânica
• Energia química
• Energia física
• Energia biodinâmica

O trauma é o resultado da ação vulnerante que possui energia capaz de produzir a lesão.
Já a lesão advém do instrumento, e com este não se confunde. A lesão pode ser incisa, contusa, perfuroincisa, perfurocontusa, entre
outras.
A lesão depende do instrumento utilizado. Por exemplo, um instrumento cortante (ex. navalha) gera uma lesão incisa.
Esse conhecimento é essencial para desvendar um crime. Por exemplo, foi cobrado na PC/AC 2017 a seguinte questão:
A perícia médico-legal em um cadáver indica uma lesão na cabeça, com característica estrelada na pele, forte impregnação de fumaça
e detritos granulares provenientes da incombustão da pólvora no conduto produzido através da massa encefálica. Nesta, foi encontrado
um objeto metálico, totalmente feito de chumbo, em forma ogival. Na lateral deste objeto foi identificada a presença de estriações. Com
base nesses dados, pode-se dizer:
O cadáver possui lesão provocada por projétil de arma de fogo comum, tendo havido disparo com o cano da arma encostado na
cabeça. O projétil deixa uma lesão na entrada (orifício de entrada) e outra, na saída, cada qual com suas características específicas. Ao
compreender o tipo de lesão fica fácil descobrir outros aspectos do crime.

— Consequências jurídicas dos traumas


A partir da traumatologia as lesões geradas sobre o corpo humano são compreendidas. Assim, existem consequências no aspecto
diagnóstico, prognóstico, legal etc.
A perícia é embasada a partir do conhecimento sobre o trauma e as lesões ocorridas. A busca da verdade no processo penal exige
conhecimento técnico. Nesse sentido, a partir do trauma é possível reconhecer o tipo de lesão no corpo da vítima, que foi causada por
uma energia.
Perceba, sem saber acerca do trauma não é viável apurar como ocorreu, por exemplo, a morte de uma vítima.

— Avaliação da idade lesional e da reação vital


As manchas causadas pela equimose possuem um padrão de tonalidade até seu desaparecimento, conforme estudos de Le Grand du
Salle:
• No 1º dia é VERMELHA
• No 2º e 3º dia é VIOLÁCEA
• Do 4º ao 6º dia é AZUL
• Do 7º ao 11º dia é VERDE
• No 12º dia é AMARELA
• Desaparece do 15º ao 20º dia

Essa regra não é absoluta, assim, existem exceções ao espectro equimótico:


• Conjuntiva ocular: Em virtude de ser muito oxigenada. Fica vermelha até curar.
• Escroto: Vermelho até curar.

365
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Couro cabeludo: Vermelho escuro.

A arma de fogo causa efeito primário e secundário:

Primário Secundário
Ocorre exclusivamente pela ação mecânica do projétil e Decorre da ação explosiva contra o alvo. Só ocorre em tiros a
independente da distância do disparo. curta distância.
• Orla de escoriação ou contusão: a epiderme é arrancada. A Ex. queimaduras, zona de esfumaçamento, zona de tatuagem
derme é esticada. O diâmetro de entrada é menor que o calibre (produzida por pólvora incombusta ou parcialmente comburida).
do projétil. Não dá para afirmar qual é o calibre da arma.
• Orla de enxugo ou limpadura: auréola escura em volta do
orifício de entrada. Em regra, é observada na roupa da vítima.
• Orla equimótica: ao redor do orifício. Caracteriza a reação vital
na ferida. Só aparece em vivos.

QUESTÕES

1. (INSTITUTO UNIFIL - 2020 - PREFEITURA DE SANTO ANTÔNIO DO SUDOESTE - PR - TÉCNICO EM ENFERMAGEM) Sobre o preparo do
corpo após a morte, analise as assertivas e assinale a alternativa correta.
I. Fazer a higiene do corpo com compressa úmida com água e sabonete líquido na presença de sangue, secreções e outras sujidades.
II. Fixar mandíbula, punhos e tornozelos com atadura de crepe.
III. Tamponar os orifícios naturais do corpo (narinas, ouvidos e regiões orofaríngea, vaginal e anal) com algodão seco.
IV. Manter decúbito horizontal dorsal com os braços estendidos ao lado do tórax.
(A) Apenas I e III estão corretas.
(B) Apenas II e IV estão corretas.
(C) Apenas I, II e III estão corretas.
(D) Todas estão corretas.

2. (IADES - 2019 - PC-DF - PERITO CRIMINAL - VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM - 2ª PROVA) Considerando que um cadáver encontrado
em local ermo não apresentava rigidez cadavérica, é correto afirmar que
(A) o tempo desde a morte é menor que uma hora.
(B) o tempo desde a morte pode ser superior a 24 horas.
(C) o corpo não foi exposto à luz solar; pode ter sido enterrado, por exemplo.
(D) a morte ocorreu por choque hipovolêmico.
(E) houve ação térmica post-mortem.

3. (INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - MÉDICO LEGISTA) Em relação às asfixias, é correto afirmar que
(A) são causadas por energias de ordem mecânica.
(B) o enforcamento é causado por força constritiva ativa.
(C) o estrangulamento é causado por força constritiva passiva.
(D) a esganadura é causada por sufocação.
(E) a sufocação indireta é causada pela compressão do tórax.

4. (MPE-PR - 2019 - MPE-PR - PROMOTOR SUBSTITUTO) Relativamente à morte causada por asfixia, suas modalidades e sinais cadavé-
ricos, analise as assertivas abaixo e assinale a correta:
(A) São sinais internos observados em todas as necropsias: sangue fluído de cor escura, congestão polivisceral, equimoses viscerais
com forma de petéquias, mais frequentes nas regiões subpleural, subcárdica e subepicárdia.
(B) Estrangulamento é a contrição cervical realizada diretamente por qualquer parte do corpo do agressor, como mãos, pernas, braços.
(C) Esganadura caracteriza-se pela constrição do pescoço por laço acionado por força mecânica ativa, como o garrote.
(D) A presença de sulco horizontalizado, contínuo, com profundidade uniforme pode indicar enforcamento.
(E) A presença de sulco único, oblíquo e ascendente, com profundidade desigual pode indicar enforcamento.

5. (PC/ES – MÉDICO LEGISTA - INSTITUTO AOCP/2019) Em mulheres, a dispareunia pode, eventualmente, constituir defeito físico,
sendo considerada, dentro da sexologia forense, como
(A) neurose sexual.
(B) cópula dolorosa para a mulher.
(C) hiperestesia da vulva.
(D) esterilidade feminina.
(E) ausência de útero.

366
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
6. (PC/ES – MÉDICO LEGISTA - INSTITUTO AOCP/2019) No Bra- 10. (PEFOCE - MÉDICO PATOLOGISTA – IDECAN/2021) Sabe-se
sil, há uma elevada incidência de casos de violência sexual. Além do que as mortes causadas por energia elétrica são diferentes quan-
exame clínico, há a necessidade de constatar o sêmen coletado do do se trata de energia industrial ou energia natural. Nesse cenário,
corpo da vítima. Um exame indicativo de sêmen em casos forenses marque as afirmativas com N, de natural, e I, de industrial, de acor-
é a detecção de do com o tipo de energia envolvida.
(A) sangue humano. ( ) Denomina-se eletroplessão o tipo de energia que atua sobre
(B) pelos humanos. o ser humano, podendo causar a morte.
(C) antígenos prostáticos específicos. ( ) A fulminação causa lesões denominadas fulguração.
(D) ácido lático. ( ) A morte ocorre por arritmia cardíaca.
(E) glóbulos brancos. ( ) A marca de Jellineck é característica em que a vítima tem
contato com a entrada de corrente elétrica.
7. (PEFOCE – ODONTOLOGIA – IDECAN/2021) A eletricidade é ( ) A marca arboriforme de Lichtenberg típica se localiza na face
o conjunto de fenômenos que ocorre graças ao desequilíbrio ou à anterior do tórax.
movimentação das cargas elétricas, uma propriedade inerente aos ( ) A morte ocorre por asfixia por paralisação de centro respi-
prótons e elétrons, assim como também dos corpos eletricamente ratório central.
carregados. Lesões podem ser ocasionadas tanto como efeito da Assinale a alternativa que apresente a sequência correta, de
eletricidade natural, quanto da eletricidade artificial. Com relação cima para baixo.
às lesões por eletricidade, analise as afirmativas a seguir: (A) I – N – N – I – N – I.
I. A fulguração é a síndrome desencadeada pela eletricidade (B) I – I – N – I – N – I.
artificial. Entre as lesões produzidas pela corrente, observavam-se (C) I– N – I – I – N – I.
lesões localizadas, cutâneas, ou internas, além dos efeitos gerais (D) I – N – I – N – I – N.
sobre o organismo. (E) N – I – I – N – N – I.
II. A eletroplessão é a lesão localizada, não letal, produzida pela
eletricidade cósmica ou querauranográfica, sendo a mais conhecida 11. (PC-MG — DELEGADO — FUMARC — 2018). De acordo com
como Sinal de Lichtenberg. o Artigo 129 do Código Penal Brasileiro, trata-se de lesão corporal
III. A lesão sistêmica, letal, produzida pela eletricidade cósmica de natureza gravíssima:
ou querauranográfica é denominada fulminação. (A) Aceleração de parto.
Assinale (B) Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
(A) se somente a afirmativa III estiver correta. (C) Deformidade permanente.
(B) se nenhuma afirmativa estiver correta. (D) Perigo de vida.
(C) se somente a afirmativa I estiver correta.
(D) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. 12. (FGV - 2021 - PC-RN - DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL SUBS-
(E) se somente a afirmativa II estiver correta. TITUTO) Os fuzis, armas militares utilizadas pelo crime organizado,
disparam projéteis de alta energia cinética. Em relação às caracte-
8. (PEFOCE - MÉDICO PATOLOGISTA – IDECAN/2021) Nas ba- rísticas desses projéteis, é correto afirmar que:
ropatias por explosões, acontece o fenômeno chamado de “blast”, (A) mantêm sua estabilidade a partir dos 100m;
que determina os seguintes achados de necropsia: (B) pela sua alta velocidade, mantêm-se íntegros quando reti-
(A) sangue fluido e escuro. rados do cadáver;
(B) petéquias. (C) por terem ponta afilada, os orifícios de entrada são sempre
(C) enfisema em partes moles do pescoço e tórax. de pequeno diâmetro;
(D) congestão polivisceral. (D) pela sua alta velocidade, não permitem realizar exame de
(E) cogumelo de espuma. microcomparação balística;
(E) por possuírem revestimento metálico, não costumam se
9. (PEFOCE - MÉDICO PATOLOGISTA – IDECAN/2021) A termolo- fragmentar.
gia forense estuda todas as lesões consequentes a variações extre-
mas de temperaturas. A esse respeito assinale a alternativa correta.
(A) Nas intermações, há falha na resposta termorreguladora. GABARITO
(B) Em ambas as alterações, o volume plasmático se eleva no
início.
(C) Nas insolações, há falha na resposta hipotalâmica e no cen- 1 C
tro vasodilatador periférico.
(D) As mortes por carbonização ocorrem sempre diretamente 2 B
por ação térmica sem que ocorra asfixia por inalação de gases 3 E
anteriormente.
(E) A regra dos nove para cálculo de área corporal queimada só 4 E
se aplica em vivos. 5 B
6 C
7 A
8 C
9 B
10 A

367
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
______________________________________________________
11 C
12 A ______________________________________________________

______________________________________________________

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________

368

Você também pode gostar