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CÓD: OP-043JH-23

7908403537303

SEE-MG
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO - MINAS GERAIS

Analista Educacional (ANE) - Analista


Educacional - para exercer, preferencialmente,
atribuições técnico-administrativas
EDITAL SEPLAG/SEE Nº 03/2023
• A Opção não está vinculada às organizadoras de Concurso Público. A aquisição do material não garante sua inscrição ou ingresso na
carreira pública,

• Sua apostila aborda os tópicos do Edital de forma prática e esquematizada,

• Dúvidas sobre matérias podem ser enviadas através do site: www.apostilasopção.com.br/contatos.php, com retorno do professor
no prazo de até 05 dias úteis.,

• É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código Penal.

Apostilas Opção, a Opção certa para a sua realização.


ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Interpretação e Compreensão de texto. Organização estrutural dos textos. Modos de organização discursiva: descrição,
narração, exposição, argumentação e injunção; características específicas de cada modo. Tipos textuais: informativo,
publicitário, propagandístico, normativo, didático e divinatório; características específicas de cada tipo................................. 7
2. Marcas de textualidade: coesão, coerência e intertextualidade................................................................................................. 16
3. Textos literários e não literários. ................................................................................................................................................. 18
4. Norma culta................................................................................................................................................................................. 20
5. Pontuação e sinais gráficos. ........................................................................................................................................................ 21
6. Tipologia da frase portuguesa. Estrutura da frase portuguesa: operações de deslocamento, substituição, modificação e
correção. Problemas estruturais das frases. Organização sintática das frases: termos e orações. Ordem direta e inversa........ 23
7. Tipos de discurso......................................................................................................................................................................... 25
8. Registros de linguagem. Funções da linguagem. Elementos dos atos de comunicação.............................................................. 28
9. Estrutura e formação de palavras................................................................................................................................................ 29
10. Formas de abreviação.................................................................................................................................................................. 30
11. Classes de palavras; os aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e textuais de substantivos, adjetivos, artigos, numerais,
pronomes, verbos, advérbios, conjunções e interjeições............................................................................................................ 32
12. os modalizadores. Semântica: sentido próprio e figurado; antônimos, sinônimos, parônimos e hiperônimos. Polissemia e
ambiguidade................................................................................................................................................................................ 38
13. Os dicionários: tipos.................................................................................................................................................................... 39
14. a organização de verbetes........................................................................................................................................................... 41
15. Vocabulário: neologismos, arcaísmos, estrangeirismos.............................................................................................................. 48
16. Latinismos.................................................................................................................................................................................... 49
17. Ortografia..................................................................................................................................................................................... 50
18. acentuação gráfica....................................................................................................................................................................... 51
19. A crase......................................................................................................................................................................................... 52
20. Periodização da literatura brasileira; estudo dos principais autores dos estilos de época.......................................................... 52

Raciocínio Lógico Matemático


1. Lógica: proposições, conectivos, equivalências lógicas, quantificadores e predicados. Compreensão e análise da lógica de
uma situação, utilizando as funções intelectuais: raciocínio verbal, raciocínio matemático, raciocínio sequencial, orientação
espacial e temporal, formação de conceitos, discriminação de elementos. Raciocínio lógico envolvendo problemas
aritméticos, geométricos e matriciais. Problemas de lógica e raciocínio.................................................................................... 69
2. Conjuntos e suas operações, diagramas...................................................................................................................................... 94
3. Números inteiros, racionais e reais e suas operações................................................................................................................. 97
4. Porcentagem................................................................................................................................................................................ 106
5. Juros............................................................................................................................................................................................. 108
6. Proporcionalidade direta e inversa.............................................................................................................................................. 109
7. Medidas de comprimento, área, volume, massa e tempo.......................................................................................................... 110
8. Análise e interpretação de informações expressas em gráficos e tabelas................................................................................... 112
9. Problemas de contagem.............................................................................................................................................................. 115
10. noções de probabilidade............................................................................................................................................................. 118
11. Geometria básica: ângulos, triângulos, polígonos, distâncias, proporcionalidade, perímetro e área......................................... 121
12. Plano cartesiano: sistema de coordenadas, distância................................................................................................................. 135
ÍNDICE

Fundamentos
1. relações socioeconômicas e político-culturais da educação.............................................................................................. 149
2. democracia e cidadania...................................................................................................................................................... 152
3. a função social da escola.................................................................................................................................................... 153
4. inclusão educacional e respeito à diversidade................................................................................................................... 155
5. Novas tecnologias da informação e comunicação, e suas contribuições com o serviço público....................................... 167

Noções de Administração Pública


1. Administração Pública: Questões conceituais, fundamentos e diferentes dimensões; A Relação entre Estado, Governo
e Administração Pública..................................................................................................................................................... 171
2. A Formação do Estado Brasileiro e as Reformas – uma abordagem histórica.................................................................... 174
3. Características do Estado Contemporâneo – contextos históricos e políticos;.................................................................. 179
4. o conceito de Estado e de sociedade civil; a gestão pública.............................................................................................. 183
5. Noções de planejamento e execução orçamentária e financeira....................................................................................... 184
6. Licitação: conceito, objeto, finalidades e princípios, obrigatoriedade, dispensa, inexigibilidade, modalidades e tipos,
inclusive Pregão na forma da Lei Federal nº 10.520/2002................................................................................................. 191
7. Contratos Administrativos: conceito; características. Inexecução do contrato: rescisões e sanções................................. 201

Organização administrativa
1. administração direta e indireta; centralizada e descentralizada; autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades
de economia mista............................................................................................................................................................. 215
2. Órgãos públicos: conceito, natureza e classificação........................................................................................................... 223
3. Processo administrativo (Lei Federal n° 9.784/99): das disposições gerais; dos direitos e deveres dos administrados.... 226
4. Responsabilidade civil do Estado....................................................................................................................................... 234
5. Lei nº 8.429/1992: das disposições gerais; dos atos de improbidade administrativa....................................................... 237
6. Manual do Sistema Eletrônico de Informações (SEI) de Minas Gerais............................................................................... 246
7. Manual de Redação da Presidência da República............................................................................................................. 246

Noções de estatística
1. Estatística descritiva, gráficos e tabelas de frequências relativas simples e acumuladas. Análise e interpretação de
informações expressas em gráficos e tabelas.................................................................................................................... 265

Noções de Direito Administrativo


1. Direito Administrativo - Noções Preliminares; Administração Pública – Organização................................................................. 285
2. Princípios Constitucionais e de Direito Administrativo................................................................................................................ 285
3. Atividades da Administração Pública........................................................................................................................................... 288
ÍNDICE

4. Ato Administrativo: conceito, requisitos e atributos; anulação, revogação e convalidação; discricionariedade e vinculação.... 288
5. Controle e participação na Administração Pública...................................................................................................................... 292
6. Processo Administrativo.............................................................................................................................................................. 296
7. Aspectos jurídicos do Serviço Público.......................................................................................................................................... 296
8. Agentes Públicos.......................................................................................................................................................................... 301
9. Responsabilidade civil do Estado................................................................................................................................................. 313
10. Órgãos públicos: conceito, natureza e classificação.................................................................................................................... 313
11. Responsabilidade civil do Estado. ............................................................................................................................................... 313
12. Lei Federal nº 8.429/92: das disposições gerais; dos atos de improbidade administrativa......................................................... 313

Conteúdo Digital
Legislação Educacional
1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988............................................................................................................. 5
2. Constituição Estadual de Minas Gerais........................................................................................................................................ 6
3. Lei Federal nº 9.394/96 - (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e suas alterações................................................... 73
4. Leis nº 10.639/03 e 11.645/2008 – História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena....................................................................... 89
5. Base Nacional Comum Curricular (BNCC).................................................................................................................................... 89
6. Lei Federal nº 13.005/2014 - Plano Nacional de Educação.......................................................................................................... 131
7. Lei Estadual nº 23.197/2018 - (Plano Estadual de Educação de Minas Gerais – PEE)................................................................. 147
8. Lei Estadual nº 869/1952 - Dispõe sobre o estatuto dos funcionários públicos civis do Estado de Minas Gerais....................... 158
9. Lei Estadual nº 15.293/2004 - Institui as carreiras dos Profissionais da Educação do Estado..................................................... 178
10. Lei 21.710/2015 - Dispõe sobre a política remuneratória das carreiras do Grupo de Atividades de Educação Básica do Poder
Executivo, altera a estrutura da carreira de Professor de Educação Básica................................................................................. 185
11. Decreto Estadual nº 46.644/2014 - Dispõe sobre o código de conduta ética do agente público e da alta administração esta-
dual.............................................................................................................................................................................................. 190
12. Resolução SEE nº 4.692/2021 - Dispõe sobre a organização e o funcionamento do ensino nas Escolas Estaduais de Educação
Básica de Minas Gerais e dá outras providências........................................................................................................................ 194

Direitos Humanos
1. Lei Federal nº 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. ...................................................................................... 209
2. Lei Federal nº 13.146/2015 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)........ 249
3. Lei Federal nº 10.741/2003 – Estatuto da Pessoa Idosa.............................................................................................................. 266
4. Conceito de Direitos Humanos.................................................................................................................................................... 277
5. Evolução dos direitos humanos e suas implicações para o campo educacional.......................................................................... 277
6. Declaração Universal dos Direitos Humanos............................................................................................................................... 277
7. Temas transversais, projetos interdisciplinares e educação em direitos humanos..................................................................... 280
8. Direitos Humanos na Constituição Federal.................................................................................................................................. 289
9. Direitos étnico-raciais.................................................................................................................................................................. 296
10. Declaração de Salamanca: Sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais...................... 297
ÍNDICE

Legislação
1. Decreto Estadual nº 37.924/1996 - Execução Orçamentária............................................................................................. 309
2. Lei nº 14.133/2021 – Licitações......................................................................................................................................... 315
3. Lei nº 10.520/2002 – Pregão.............................................................................................................................................. 356
4. Resolução CD/FNDE nº 06/2020 - Alimentação Escolar..................................................................................................... 356
5. Lei nº 21.777/2015 - Programa Estadual de Transporte Escolar........................................................................................ 371
6. Resolução SEE nº 3670/2017 - Caixa escolar ..................................................................................................................... 372
7. Decreto Estadual nº 46.319/2013 - Transferência de recursos financeiros mediante convênio de saída.......................... 416
8. Resolução Conjunta SEGOV/AGE nº 4/2015 - Regulamentação do Decreto nº 46.319/2013 de convênio de saída.......... 429
9. Decreto Estadual n° 48.444/2022 - Gestão de bens móveis.............................................................................................. 439
10. Decreto Estadual nº 48.165/2021 - Gestão de documentos.............................................................................................. 443
11. Resolução SEF nº 2.963/1999 - Planejamento, orçamento e execução orçamentária e financeira................................... 446

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LÍNGUA PORTUGUESA

INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO DE TEXTO. ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DOS TEXTOS. MODOS DE ORGANIZAÇÃO


DISCURSIVA: DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO, EXPOSIÇÃO, ARGUMENTAÇÃO E INJUNÇÃO; CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS
DE CADA MODO. TIPOS TEXTUAIS: INFORMATIVO, PUBLICITÁRIO, PROPAGANDÍSTICO, NORMATIVO, DIDÁTICO E
DIVINATÓRIO; CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DE CADA TIPO

Compreender e interpretar textos é essencial para que o objetivo de comunicação seja alcançado satisfatoriamente. Com isso, é impor-
tante saber diferenciar os dois conceitos. Vale lembrar que o texto pode ser verbal ou não-verbal, desde que tenha um sentido completo.
A compreensão se relaciona ao entendimento de um texto e de sua proposta comunicativa, decodificando a mensagem explícita. Só
depois de compreender o texto que é possível fazer a sua interpretação.
A interpretação são as conclusões que chegamos a partir do conteúdo do texto, isto é, ela se encontra para além daquilo que está
escrito ou mostrado. Assim, podemos dizer que a interpretação é subjetiva, contando com o conhecimento prévio e do repertório do leitor.
Dessa maneira, para compreender e interpretar bem um texto, é necessário fazer a decodificação de códigos linguísticos e/ou visuais,
isto é, identificar figuras de linguagem, reconhecer o sentido de conjunções e preposições, por exemplo, bem como identificar expressões,
gestos e cores quando se trata de imagens.

Dicas práticas
1. Faça um resumo (pode ser uma palavra, uma frase, um conceito) sobre o assunto e os argumentos apresentados em cada parágrafo,
tentando traçar a linha de raciocínio do texto. Se possível, adicione também pensamentos e inferências próprias às anotações.
2. Tenha sempre um dicionário ou uma ferramenta de busca por perto, para poder procurar o significado de palavras desconhecidas.
3. Fique atento aos detalhes oferecidos pelo texto: dados, fonte de referências e datas.
4. Sublinhe as informações importantes, separando fatos de opiniões.
5. Perceba o enunciado das questões. De um modo geral, questões que esperam compreensão do texto aparecem com as seguintes
expressões: o autor afirma/sugere que...; segundo o texto...; de acordo com o autor... Já as questões que esperam interpretação do texto
aparecem com as seguintes expressões: conclui-se do texto que...; o texto permite deduzir que...; qual é a intenção do autor quando afirma
que...

Tipologia Textual
A partir da estrutura linguística, da função social e da finalidade de um texto, é possível identificar a qual tipo e gênero ele pertence.
Antes, é preciso entender a diferença entre essas duas classificações.

Tipos textuais
A tipologia textual se classifica a partir da estrutura e da finalidade do texto, ou seja, está relacionada ao modo como o texto se apre-
senta. A partir de sua função, é possível estabelecer um padrão específico para se fazer a enunciação.
Veja, no quadro abaixo, os principais tipos e suas características:

Apresenta um enredo, com ações e relações entre personagens, que ocorre em determinados espaço e tempo.
TEXTO NARRATIVO É contado por um narrador, e se estrutura da seguinte maneira: apresentação > desenvolvimento > clímax >
desfecho
TEXTO
Tem o objetivo de defender determinado ponto de vista, persuadindo o leitor a partir do uso de argumentos
DISSERTATIVO
sólidos. Sua estrutura comum é: introdução > desenvolvimento > conclusão.
ARGUMENTATIVO
Procura expor ideias, sem a necessidade de defender algum ponto de vista. Para isso, usa-se comparações,
TEXTO EXPOSITIVO
informações, definições, conceitualizações etc. A estrutura segue a do texto dissertativo-argumentativo.
Expõe acontecimentos, lugares, pessoas, de modo que sua finalidade é descrever, ou seja, caracterizar algo ou
TEXTO DESCRITIVO
alguém. Com isso, é um texto rico em adjetivos e em verbos de ligação.

Oferece instruções, com o objetivo de orientar o leitor. Sua maior característica são os verbos no modo
TEXTO INJUNTIVO
imperativo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Gêneros textuais coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
A classificação dos gêneros textuais se dá a partir do reconhe- cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
cimento de certos padrões estruturais que se constituem a partir mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
da função social do texto. No entanto, sua estrutura e seu estilo uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
não são tão limitados e definidos como ocorre na tipologia textual, domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
podendo se apresentar com uma grande diversidade. Além disso, o que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
padrão também pode sofrer modificações ao longo do tempo, as- sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
sim como a própria língua e a comunicação, no geral. O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
Alguns exemplos de gêneros textuais: um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
• Artigo enunciador está propondo.
• Bilhete Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
• Bula O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
• Carta demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
• Conto missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
• Crônica admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
• E-mail crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
• Lista mento de premissas e conclusões.
• Manual Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
• Notícia A é igual a B.
• Poema A é igual a C.
• Propaganda Então: C é igual a B.
• Receita culinária
• Resenha Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
• Seminário que C é igual a A.
Outro exemplo:
Vale lembrar que é comum enquadrar os gêneros textuais em Todo ruminante é um mamífero.
determinados tipos textuais. No entanto, nada impede que um tex- A vaca é um ruminante.
to literário seja feito com a estruturação de uma receita culinária, Logo, a vaca é um mamífero.
por exemplo. Então, fique atento quanto às características, à finali-
dade e à função social de cada texto analisado. Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
também será verdadeira.
ARGUMENTAÇÃO No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
propõe. fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo outro fundado há dois ou três anos.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
vista defendidos. impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a der bem como eles funcionam.
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
sos de linguagem. pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
escolher entre duas ou mais coisas”. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zado numa dada cultura.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Tipos de Argumento to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa- afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
mento. Exemplo: comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
vios, etc., ganhava credibilidade.
Argumento de Autoridade
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas Argumento quase lógico
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
dadeira. Exemplo: tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe- aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
cimento. Nunca o inverso. correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
Alex José Periscinoto. fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
indevidas.
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, Argumento do Atributo
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
acreditar que é verdade. raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc.
Argumento de Quantidade Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz de.
largo uso do argumento de quantidade. Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
Argumento do Consenso língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o dizer dá confiabilidade ao que se diz.
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases por bem determinar o internamento do governador pelo período
carentes de qualquer base científica. de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
Argumento de Existência guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar tal por três dias.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
do que dois voando”. ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- texto tem sempre uma orientação argumentativa.
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci-

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LÍNGUA PORTUGUESA

A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó- tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não mica e até o choro.
outras, etc. Veja: Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
vam abraços afetuosos.” vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse “tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
injustiça, corrupção). Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
o argumento. essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e ver as seguintes habilidades:
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, mente contrária;
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
outros à sua dependência política e econômica”. argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
ria contra a argumentação proposta;
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- ta.
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
o assunto, etc). A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
dades não se prometem, manifestam-se na ação. todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
comportamento.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Exemplos de sofismas:
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
da verdade: Dedução
- evidência; Todo professor tem um diploma (geral, universal)
- divisão ou análise; Fulano tem um diploma (particular)
- ordem ou dedução; Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
- enumeração.
Indução
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti-
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o cular)
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo. Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê- Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- – conclusão falsa)
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
caracteriza a universalidade. fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base-
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em ados nos sentimentos não ditados pela razão.
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
o efeito. Exemplo: processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
Fulano é homem (premissa menor = particular) classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
Logo, Fulano é mortal (conclusão) que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
O calor dilata o ferro (particular) que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
O calor dilata o bronze (particular) reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
O calor dilata o cobre (particular) o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
O ferro, o bronze, o cobre são metais todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
o relógio estaria reconstruído.
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção relacionadas:
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
sofisma no seguinte diálogo: A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
- Lógico, concordo. de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? lha dos elementos que farão parte do texto.
- Claro que não!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in- O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca- ma espécie. Exemplo:
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir” Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se Elemento especiediferença
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: a ser definidoespecífica
análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, ou instalação”;
sabiá, torradeira. - o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração dida;d
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
(Garcia, 1973, p. 302304.) diferenças).
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição vra e seus significados.
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
de vista sobre ele. pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- mentação coerente e adequada.
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
- o termo a ser definido; sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
- o gênero ou espécie; são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
- a diferença específica. expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus

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LÍNGUA PORTUGUESA

elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que dos e axiomas);
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe- - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
cífico de relação entre as premissas e a conclusão. za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. parece absurdo).
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- cretos, estatísticos ou documentais.
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
virtude de, em vista de, por motivo de. julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini-
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada,
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex-
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no gumentação:
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
assim, desse ponto de vista. mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são dadeira;
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, dade da afirmação;
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no ridade que contrariam a afirmação apresentada;
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
que, melhor que, pior que. uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: que gera o controle demográfico”.
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer elaboração de um Plano de Redação.
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais tecnológica
caráter confirmatório que comprobatório. - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por ta, justificar, criando um argumento básico;
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
caso, incluem-se construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
mortal, aspira à imortalidade); (rever tipos de argumentação);

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ- utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
ência); fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di-
argumento básico; ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- mencionar um provérbio conhecido.
mento básico; Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi-
menos a seguinte: zá-lo ou ao compará-lo com outros.
Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum
Introdução: grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de-
- função social da ciência e da tecnologia; senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres-
- definições de ciência e tecnologia; samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi-
Desenvolvimento: nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido.
vimento tecnológico;
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as Tipos de Intertextualidade
condições de vida no mundo atual; A intertextualidade acontece quando há uma referência ex-
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc.
desenvolvidos; Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali-
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; dade.
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo,
sado; apontar semelhanças e diferenças; um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá-
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as
banos; mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
mais a sociedade. Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto
é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea-
Conclusão: firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ- outras palavras o que já foi dito.
ências maléficas; A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex-
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto
apresentados. de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui,
um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica
ção: é um dos possíveis. de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces-
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente-
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis- mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela demagogia praticada pela classe dominante.
é inserida. A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con-
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários. siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re-
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra-
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé”
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, (escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A
textos caracterizada por um citar o outro. cultura é o melhor conforto para a velhice”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro- Primeira pessoa


dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex- Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden-
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma
termo “citação” (citare) significa convocar. leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas
vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e
A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros tex- só descobrimos ao decorrer da história.
tos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). Segunda pessoa
O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
Pastiche é uma recorrência a um gênero. logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta
quase como outro personagem que participa da história.
A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
a recriação de um texto. Terceira pessoa
Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci- vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
produtor e ao receptor de textos. guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.
A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am-
plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi-
remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada
além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para
daquela citação ou alusão em questão. outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a
leitura não fique confuso.
Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou Estrutura e organização do texto e dos parágrafos
implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte, São três os elementos essenciais para a composição de um tex-
ou seja, se mais direta ou se mais subentendida. to: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Vamos estudar
cada uma de forma isolada a seguir:
A intertextualidade explícita:
– é facilmente identificada pelos leitores; Introdução
– estabelece uma relação direta com o texto fonte; É a apresentação direta e objetiva da ideia central do texto. A
– apresenta elementos que identificam o texto fonte; introdução é caracterizada por ser o parágrafo inicial.
– não exige que haja dedução por parte do leitor;
– apenas apela à compreensão do conteúdos. Desenvolvimento
Quando tratamos de estrutura, é a maior parte do texto. O
A intertextualidade implícita: desenvolvimento estabelece uma conexão entre a introdução e a
– não é facilmente identificada pelos leitores; conclusão, pois é nesta parte que as ideias, argumentos e posicio-
– não estabelece uma relação direta com o texto fonte; namento do autor vão sendo formados e desenvolvidos com a fina-
– não apresenta elementos que identificam o texto fonte; lidade de dirigir a atenção do leitor para a conclusão.
– exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par- Em um bom desenvolvimento as ideias devem ser claras e ap-
te dos leitores; tas a fazer com que o leitor anteceda qual será a conclusão.
– exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
a compreensão do conteúdo. São três principais erros que podem ser cometidos na elabora-
ção do desenvolvimento:
PONTO DE VISTA - Distanciar-se do texto em relação ao tema inicial.
O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes - Focar em apenas um tópico do tema e esquecer dos outros.
sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de - Falar sobre muitas informações e não conseguir organizá-las,
vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com- dificultando a linha de compreensão do leitor.
preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se
da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir Conclusão
diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con- Ponto final de todas as argumentações discorridas no desen-
sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob- volvimento, ou seja, o encerramento do texto e dos questionamen-
servador e o narrador-personagem. tos levantados pelo autor.
Ao fazermos a conclusão devemos evitar expressões como:
“Concluindo...”, “Em conclusão, ...”, “Como já dissemos antes...”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Parágrafo
Se caracteriza como um pequeno recuo em relação à margem esquerda da folha. Conceitualmente, o parágrafo completo deve conter
introdução, desenvolvimento e conclusão.
- Introdução – apresentação da ideia principal, feita de maneira sintética de acordo com os objetivos do autor.
- Desenvolvimento – ampliação do tópico frasal (introdução), atribuído pelas ideias secundárias, a fim de reforçar e dar credibilidade
na discussão.
- Conclusão – retomada da ideia central ligada aos pressupostos citados no desenvolvimento, procurando arrematá-los.

Exemplo de um parágrafo bem estruturado (com introdução, desenvolvimento e conclusão):

“Nesse contexto, é um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá
o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura
suficiente para atender à demanda. Enfim, viveremos o caos. ”
(Alberto Corazza, Isto É, com adaptações)

Elemento relacionador: Nesse contexto.


Tópico frasal: é um grave erro a liberação da maconha.
Desenvolvimento: Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre
as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda.
Conclusão: Enfim, viveremos o caos.

MARCAS DE TEXTUALIDADE: COESÃO, COERÊNCIA E INTERTEXTUALIDADE

A coerência e a coesão são essenciais na escrita e na interpretação de textos. Ambos se referem à relação adequada entre os compo-
nentes do texto, de modo que são independentes entre si. Isso quer dizer que um texto pode estar coeso, porém incoerente, e vice-versa.
Enquanto a coesão tem foco nas questões gramaticais, ou seja, ligação entre palavras, frases e parágrafos, a coerência diz respeito ao
conteúdo, isto é, uma sequência lógica entre as ideias.

Coesão
A coesão textual ocorre, normalmente, por meio do uso de conectivos (preposições, conjunções, advérbios). Ela pode ser obtida a
partir da anáfora (retoma um componente) e da catáfora (antecipa um componente).
Confira, então, as principais regras que garantem a coesão textual:

REGRA CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Pessoal (uso de pronomes pessoais ou possessivos) –
João e Maria são crianças. Eles são irmãos.
anafórica
Fiz todas as tarefas, exceto esta: colonização
REFERÊNCIA Demonstrativa (uso de pronomes demonstrativos e
africana.
advérbios) – catafórica
Mais um ano igual aos outros...
Comparativa (uso de comparações por semelhanças)
Substituição de um termo por outro, para evitar Maria está triste. A menina está cansada de
SUBSTITUIÇÃO
repetição ficar em casa.
No quarto, apenas quatro ou cinco convidados.
ELIPSE Omissão de um termo
(omissão do verbo “haver”)
Conexão entre duas orações, estabelecendo relação Eu queria ir ao cinema, mas estamos de
CONJUNÇÃO
entre elas quarentena.
Utilização de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos
A minha casa é clara. Os quartos, a sala e a
COESÃO LEXICAL ou palavras que possuem sentido aproximado e
cozinha têm janelas grandes.
pertencente a um mesmo grupo lexical.

Coerência
Nesse caso, é importante conferir se a mensagem e a conexão de ideias fazem sentido, e seguem uma linha clara de raciocínio.
Existem alguns conceitos básicos que ajudam a garantir a coerência. Veja quais são os principais princípios para um texto coerente:
• Princípio da não contradição: não deve haver ideias contraditórias em diferentes partes do texto.
• Princípio da não tautologia: a ideia não deve estar redundante, ainda que seja expressa com palavras diferentes.
• Princípio da relevância: as ideias devem se relacionar entre si, não sendo fragmentadas nem sem propósito para a argumentação.
• Princípio da continuidade temática: é preciso que o assunto tenha um seguimento em relação ao assunto tratado.

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Princípio da progressão semântica: inserir informações no- — Tipos de Intertextualidade


vas, que sejam ordenadas de maneira adequada em relação à pro- 1 – Paródia: é o processo de intertextualidade que faz uso da
gressão de ideias. crítica ou da ironia, com a finalidade de subverter o sentido original
do texto. A modificação ocorre apenas no conteúdo, enquanto a
Para atender a todos os princípios, alguns fatores são recomen- estrutura permanece inalterada. É muito comum nas músicas, no
dáveis para garantir a coerência textual, como amplo conhecimento cinema e em espetáculos de humor. Observe o exemplo da primei-
de mundo, isto é, a bagagem de informações que adquirimos ao ra estrofe do poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel
longo da vida; inferências acerca do conhecimento de mundo do Bandeira:
leitor; e informatividade, ou seja, conhecimentos ricos, interessan-
tes e pouco previsíveis. TEXTO ORIGINAL
“Vou-me embora para Pasárgada
— Definições gerais Lá sou amigo do rei
Intertextualidade é, como o próprio nome sugere, uma relação Lá tenho a mulher que eu quero
entre textos que se exerce com a menção parcial ou integral de ele- Na cama que escolherei?”
mentos textuais (formais e/ou semânticos) que fazem referência a
uma ou a mais produções pré-existentes; é a inserção em um texto PARÓDIA DE MILLÔR FERNANDES
de trechos extraídos de outros textos. Esse diálogo entre textos não “Que Manoel Bandeira me perdoe, mas vou-me embora de Pa-
se restringe a textos verbais (livros, poemas, poesias, etc.) e envol- sárgada
ve, também composições de natureza não verbal (pinturas, escul- Sou inimigo do Rei
turas, etc.) ou mista (filmes, peças publicitárias, música, desenhos Não tenho nada que eu quero
animados, novelas, jogos digitais, etc.). Não tenho e nunca terei”

— Intertextualidade Explícita x Implícita 2 – Paráfrase: aqui, ocorre a reafirmação sentido do texto ini-
– Intertextualidade explícita: é a reprodução fiel e integral da cial, porém, a estrutura da nova produção nada tem a ver com a
passagem conveniente, manifestada aberta e diretamente nas pa- primeira. É a reprodução de um texto com as palavras de quem
lavras do autor. Em caso de desconhecimento preciso sobre a obra escreve o novo texto, isto é, os conceitos do primeiro texto são
que originou a referência, o autor deve fazer uma prévia da exis- preservados, porém, são relatados de forma diferente. Exemplos:
tência do excerto em outro texto, deixando a hipertextualidade observe as frases originais e suas respectivas paráfrases:
evidente.
As características da intertextualidade explícita são: “Deus ajuda quem cedo madruga” – A professora ajuda quem
– Conexão direta com o texto anterior; muito estuda.
– Obviedade, de fácil identificação por parte do leitor, sem ne- “To be or not to be, that is the question” – Tupi or not tupi, that
cessidade de esforço ou deduções; is the question.
– Não demanda que o leitor tenha conhecimento preliminar
do conteúdo; 3 – Alusão: é a referência, em um novo texto, de uma dada
– Os elementos extraídos do outro texto estão claramente obra, situação ou personagem já retratados em textos anteriores,
transcritos e referenciados. de forma simples, objetiva e sem quaisquer aprofundamentos. Veja
o exemplo a seguir:
– Intertextualidade explícita direta e indireta: em textos acadê-
micos, como dissertações e monografias, a intertextualidade explí- “Isso é presente de grego” – alusão à mitologia em que os troia-
cita é recorrente, pois a pesquisa acadêmica consiste justamente na nos caem em armadilhada armada pelos gregos durante a Guerra
contribuição de novas informações aos saberes já produzidos. Ela de Troia.
ocorre em forma de citação, que, por sua vez, pode ser direta, com
a transcrição integral (cópia) da passagem útil, ou indireta, que é 4 – Citação: trata-se da reescrita literal de um texto, isto é, con-
uma clara exploração das informações, mas sem transcrição, re-ela- siste em extrair o trecho útil de um texto e copiá-lo em outro. A
borada e explicada nas palavras do autor. citação está sempre presente em trabalhos científicos, como arti-
– Intertextualidade implícita: esse modo compreende os textos gos, dissertações e teses. Para que não configure plágio (uma falta
que, ao aproveitarem conceitos, dados e informações presentes em grave no meio acadêmico e, inclusive, sujeita a processo judicial), a
produções prévias, não fazem a referência clara e não reproduzem citação exige a indicação do autor original e inserção entre aspas.
integralmente em sua estrutura as passagens envolvidas. Em outras Exemplo:
palavras, faz-se a menção sem revelá-la ou anunciá-la. De qualquer “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
forma, para que se compreenda o significado da relação estabeleci-
da, é indispensável que o leitor seja capaz de reconhecer as marcas (Lavoisier, Antoine-Laurent, 1773).
intertextuais e, em casos mais específicos, ter lido e compreendido
o primeiro material. As características da intertextualidade implícita
são: conexão indireta com o texto fonte; o leitor não a reconhece
com facilidade; demanda conhecimento prévio do leitor; exigência
de análise e deduções por parte do leitor; os elementos do texto
pré-existente não estão evidentes na nova estrutura.

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LÍNGUA PORTUGUESA

5 – Crossover: com denominação em inglês que significa “cruzamento”, esse tipo de intertextualidade tem sido muito explorado nas
mídias visuais e audiovisuais, como televisão, séries e cinema. Basicamente, é a inserção de um personagem próprio de um universo fictí-
cio em um mundo de ficção diferente. Freddy & Jason” é um grande crossover do gênero de horror no cinema.
Exemplo:

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br

6) Epígrafe: é a transição de uma pequena passagem do texto de origem na abertura do texto corrente. Em geral, a epígrafe está
localizada no início da página, à direita e em itálico. Mesmo sendo uma passagem “solta”, esse tipo de intertextualidade está sempre
relacionado ao teor do novo texto.
Exemplo:

“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu,


mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre
aquilo que todo mundo vê.”
Arthur Schopenhauser

TEXTOS LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS.

Existem muitas linguagens e cada uma delas é composta de diversos elementos. Alguns exemplos: letras e palavras são elementos
da linguagem escrita; cores e formas são elementos da linguagem visual; timbre e ritmo são alguns dos elementos da linguagem sonora.
A linguagem expressa, cria, produz ou comunica algo. Há linguagens verbais e não verbais. Cada uma delas é composta por diversos
elementos. Alguns exemplos: letras e palavras são elementos da linguagem verbal; cores e formas são elementos da linguagem visual;
timbre e ritmo são alguns dos elementos da linguagem sonora.

Linguagem verbal
A linguagem verbal é caracterizada pela comunicação através do uso de palavras. Essas palavras podem ser faladas ou escritas. O
conjunto das palavras utilizadas em uma língua é chamado de léxico.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Linguagem não verbal


A comunicação não verbal é compreendida como toda a comunicação realizada através de elementos não verbais. Ou seja, que não
usem palavras.

LINGUAGEM VERBAL LINGUAGEM NÃO VERBAL


• Imagens
• Gestos
• Elementos presentes • Palavras
• Sons
• Expressões corporais e faciais
• Conversas • Língua de sinais
• Discursos • Placas de aviso e de trânsito
• Exemplos
• Textos • Obras de arte
• Rádio • Dança

Interpretação de linguagem não verbal (tabelas, fotos, quadrinhos, etc.)


A simbologia é uma forma de comunicação não verbal que consegue, por meio de símbolos gráficos populares, transmitir mensagens
e exprimir ideias e conceitos em uma linguagem figurativa ou abstrata. A capacidade de reconhecimento e interpretação das imagens/
símbolos é determinada pelo conhecimento de cada pessoa.

Exemplos:
Placas Charges

Tirinhas

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LÍNGUA PORTUGUESA

Gráficos

NORMA CULTA.

NORMA CULTA
A norma culta é um conjunto de padrões que definem quando um idioma está sendo empregado corretamente pelos seus falantes.
Trata-se de uma expressão empregada pelos linguistas brasileiros para designar o conjunto de variedades linguísticas produzidas pelos
falantes classificado como cidadãos nascidos e criados em zona urbana e com nível de escolaridade elevado. Assim, a norma culta define
o uso correto da Língua Portuguesa com base no que está escrito nos livros de gramática.
A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto familiar, que é o primeiro círculo social para uma criança. A criança imita o
que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis combinatórias da língua. Um falante ao entrar em contato com outras pessoas
em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola e etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma. Há pessoas que
falam de forma diferente por pertencerem a outras cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo ou classe social. Essas
diferenças no uso da língua constituem as variedades linguísticas.
Certas palavras e construções que empregamos acabam denunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do país nas-
cemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e, às vezes, até nossos valores, círculo de amizades e hobbies.
O uso da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capacidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa inse-
gurança.
A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas, contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias tele-
visivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem: a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou
profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou em
nossa comunidade. O domínio da língua culta, somado ao domínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados para nos
comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos, já que a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a mesma utilizada
em uma reunião de amigos no final de semana.
Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empregá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que
participamos.

Norma culta, norma padrão e norma popular


Norma Culta: é uma expressão empregada pelos linguistas brasileiros para designar o conjunto de variantes linguísticas efetivamente
faladas, na vida cotidiana pelos falantes cultos, sendo assim classificando os cidadãos nascidos e criados em zonas urbanas e com grau de
instrução superior completo. É a variante de maior prestígio social na comunidade, sendo realizada com certa uniformidade pelos mem-
bros do grupo social de padrão cultural mais elevado
De modo geral, um falante culto, em situação comunicativa formal, buscará seguir as regras da norma explícita de sua língua e ainda
procurará seguir, no que diz respeito ao léxico, um repertório que, se não for erudito, também não será vulgar.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Norma Padrão: está vinculada a uma língua modelo. Segue prescrições representadas na gramática, mas é marcada pela língua pro-
duzida em certo momento da história e em uma determinada sociedade. Como a língua está em constante mudança, diferentes formas de
linguagem que hoje não são consideradas pela Norma Padrão, com o tempo podem vir a se legitimar.
Norma Popular:teria menos prestígio opondo-se à Norma Culta mais prestigiada, e a Norma Padrão se eleva sobre as duas anteriores.
A Norma Popular é aquela linguagem que não é formal, ou seja, não segue padrões rígidos, é a linguagem popular, falada no cotidiano.
O nível popular está associado à simplicidade da utilização linguística em termos lexicais, fonéticos, sintáticos e semânticos. É utilizado
em contextos informais.

Dúvidas mais comuns da norma culta

- Obrigada ou Obrigado?
O indivíduo do sexo masculino, ao agradecer por algo, deve dizer obrigado;
O indivíduo do sexo feminino, ao agradecer por algo, deve dizer obrigada.

- Encima ou em cima?
A palavra em questão pode ser utilizada em ambos os formatos, porém, “encima”, escrita de modo junto, é um formato de verbo
unicamente utilizado na linguagem formal, na 3ª pessoa do singular do indicativo ou na segunda pessoa do imperativo, com o significado
de coroar ou colocar alguma coisa no alto.
Exemplo: “Uma coroa amarela encima ao cabelo daquele homem”.

Já a palavra ‘em cima’, em seu formato separado, é muito mais comum – tanto na linguagem coloquial como formal. O objetivo dela
é dizer que algo está em uma posição mais alta e/ou elevada do que outra.
Exemplo: “Coloquei suas chaves de casa em cima da escrivaninha”.

- Mau ou mal?
“Mau” é um adjetivo que significa algo contrário ao que é bom. Sendo assim, ele é comumente utilizado em frases que indicam uma
pessoa com atitudes ruins ou como um sinônimo de palavras como: difícil, indelicado, indecente, incapaz.
Exemplo: “Eu acho ele um mau aluno”.
A palavra ‘mal’ é caracterizada como um advérbio utilizado como um antônimo do que é de bem. Sendo assim, ele indica algo sendo
feito errônea ou incorretamente.
Exemplo: “Ele mal sabe como lidar com essa situação”.

Além disso, a palavra ‘mal’ também pode ser utilizada – neste caso, como substantivo – para significar uma angústia, doença ou des-
gosto, retratando algo que aparentemente é nocivo ou perigoso. Neste sentido.
Exemplo: “Você precisa colocar o seu sono em dia, pois está dormindo muito mal”.

- Mas ou mais
‘Mas’ é uma palavra que pode ser utilizada como sinônimo de todavia ou porém, transmitindo a ideia de oposto.
Exemplo: “Queria comprar roupas, mas não tenho dinheiro”.

A palavra ‘mais’ é um advérbio que tem como principal objetivo o de transmitir noções de acréscimo ou intensidade, sendo também
um oposto a palavra ‘menos’.

Exemplo: Ela é a mais chata do curso.

PONTUAÇÃO E SINAIS GRÁFICOS.

Os sinais de pontuação são recursos gráficos que se encontram na linguagem escrita, e suas funções são demarcar unidades e sinalizar
limites de estruturas sintáticas. É também usado como um recurso estilístico, contribuindo para a coerência e a coesão dos textos.
São eles: o ponto (.), a vírgula (,), o ponto e vírgula (;), os dois pontos (:), o ponto de exclamação (!), o ponto de interrogação (?), as
reticências (...), as aspas (“”), os parênteses ( ( ) ), o travessão (—), a meia-risca (–), o apóstrofo (‘), o asterisco (*), o hífen (-), o colchetes
([]) e a barra (/).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Confira, no quadro a seguir, os principais sinais de pontuação e suas regras de uso.

SINAL NOME USO EXEMPLOS


Indicar final da frase declarativa Meu nome é Pedro.
. Ponto Separar períodos Fica mais. Ainda está cedo
Abreviar palavras Sra.
A princesa disse:
Iniciar fala de personagem
- Eu consigo sozinha.
Antes de aposto ou orações apositivas, enumerações
Esse é o problema da pandemia: as
: Dois-pontos ou sequência de palavras para resumir / explicar ideias
pessoas não respeitam a quarentena.
apresentadas anteriormente
Como diz o ditado: “olho por olho,
Antes de citação direta
dente por dente”.
Indicar hesitação
Sabe... não está sendo fácil...
... Reticências Interromper uma frase
Quem sabe depois...
Concluir com a intenção de estender a reflexão
Isolar palavras e datas A Semana de Arte Moderna (1922)
() Parênteses Frases intercaladas na função explicativa (podem substituir Eu estava cansada (trabalhar e estudar
vírgula e travessão) é puxado).
Indicar expressão de emoção Que absurdo!
Ponto de
! Final de frase imperativa Estude para a prova!
Exclamação
Após interjeição Ufa!
Ponto de
? Em perguntas diretas Que horas ela volta?
Interrogação
A professora disse:
Iniciar fala do personagem do discurso direto e indicar — Boas férias!
— Travessão mudança de interloculor no diálogo — Obrigado, professora.
Substituir vírgula em expressões ou frases explicativas O corona vírus — Covid-19 — ainda está
sendo estudado.

Vírgula
A vírgula é um sinal de pontuação com muitas funções, usada para marcar uma pausa no enunciado. Veja, a seguir, as principais regras
de uso obrigatório da vírgula.
• Separar termos coordenados: Fui à feira e comprei abacate, mamão, manga, morango e abacaxi.
• Separar aposto (termo explicativo): Belo Horizonte, capital mineira, só tem uma linha de metrô.
• Isolar vocativo: Boa tarde, Maria.
• Isolar expressões que indicam circunstâncias adverbiais (modo, lugar, tempo etc): Todos os moradores, calmamente, deixaram o
prédio.
• Isolar termos explicativos: A educação, a meu ver, é a solução de vários problemas sociais.
• Separar conjunções intercaladas, e antes dos conectivos “mas”, “porém”, “pois”, “contudo”, “logo”: A menina acordou cedo, mas não
conseguiu chegar a tempo na escola. Não explicou, porém, o motivo para a professora.
• Separar o conteúdo pleonástico: A ela, nada mais abala.

No caso da vírgula, é importante saber que, em alguns casos, ela não deve ser usada. Assim, não há vírgula para separar:
• Sujeito de predicado.
• Objeto de verbo.
• Adjunto adnominal de nome.
• Complemento nominal de nome.
• Predicativo do objeto do objeto.
• Oração principal da subordinada substantiva.
• Termos coordenados ligados por “e”, “ou”, “nem”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

TIPOLOGIA DA FRASE PORTUGUESA. ESTRUTURA DA FRASE PORTUGUESA: OPERAÇÕES DE DESLOCAMENTO,


SUBSTITUIÇÃO, MODIFICAÇÃO E CORREÇÃO. PROBLEMAS ESTRUTURAIS DAS FRASES. ORGANIZAÇÃO SINTÁTICA
DAS FRASES: TERMOS E ORAÇÕES. ORDEM DIRETA E INVERSA

A sintaxe estuda o conjunto das relações que as palavras estabelecem entre si. Dessa maneira, é preciso ficar atento aos enunciados
e suas unidades: frase, oração e período.
Frase é qualquer palavra ou conjunto de palavras ordenadas que apresenta sentido completo em um contexto de comunicação e inte-
ração verbal. A frase nominal é aquela que não contém verbo. Já a frase verbal apresenta um ou mais verbos (locução verbal).
Oração é um enunciado organizado em torno de um único verbo ou locução verbal, de modo que estes passam a ser o núcleo da
oração. Assim, o predicativo é obrigatório, enquanto o sujeito é opcional.
Período é uma unidade sintática, de modo que seu enunciado é organizado por uma oração (período simples) ou mais orações (perí-
odo composto). Eles são iniciados com letras maiúsculas e finalizados com a pontuação adequada.

Análise sintática
A análise sintática serve para estudar a estrutura de um período e de suas orações. Os termos da oração se dividem entre:
• Essenciais (ou fundamentais): sujeito e predicado
• Integrantes: completam o sentido (complementos verbais e nominais, agentes da passiva)
• Acessórios: função secundária (adjuntos adnominais e adverbiais, apostos)

Termos essenciais da oração


Os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado. O sujeito é aquele sobre quem diz o resto da oração, enquanto o predicado
é a parte que dá alguma informação sobre o sujeito, logo, onde o verbo está presente.

O sujeito é classificado em determinado (facilmente identificável, podendo ser simples, composto ou implícito) e indeterminado,
podendo, ainda, haver a oração sem sujeito (a mensagem se concentra no verbo impessoal):
Lúcio dormiu cedo.
Aluga-se casa para réveillon.
Choveu bastante em janeiro.

Quando o sujeito aparece no início da oração, dá-se o nome de sujeito direto. Se aparecer depois do predicado, é o caso de sujeito
inverso. Há, ainda, a possibilidade de o sujeito aparecer no meio da oração:
Lívia se esqueceu da reunião pela manhã.
Esqueceu-se da reunião pela manhã, Lívia.
Da reunião pela manhã, Lívia se esqueceu.

Os predicados se classificam em: predicado verbal (núcleo do predicado é um verbo que indica ação, podendo ser transitivo, intransi-
tivo ou de ligação); predicado nominal (núcleo da oração é um nome, isto é, substantivo ou adjetivo); predicado verbo-nominal (apresenta
um predicativo do sujeito, além de uma ação mais uma qualidade sua)
As crianças brincaram no salão de festas.
Mariana é inteligente.
Os jogadores venceram a partida. Por isso, estavam felizes.

Termos integrantes da oração


Os complementos verbais são classificados em objetos diretos (não preposicionados) e objetos indiretos (preposicionado).
A menina que possui bolsa vermelha me cumprimentou.
O cão precisa de carinho.

Os complementos nominais podem ser substantivos, adjetivos ou advérbios.


A mãe estava orgulhosa de seus filhos.
Carlos tem inveja de Eduardo.
Bárbara caminhou vagarosamente pelo bosque.

Os agentes da passiva são os termos que tem a função de praticar a ação expressa pelo verbo, quando este se encontra na voz passiva.
Costumam estar acompanhados pelas preposições “por” e “de”.
Os filhos foram motivo de orgulho da mãe.
Eduardo foi alvo de inveja de Carlos.
O bosque foi caminhado vagarosamente por Bárbara.

Termos acessórios da oração


Os termos acessórios não são necessários para dar sentido à oração, funcionando como complementação da informação. Desse
modo, eles têm a função de caracterizar o sujeito, de determinar o substantivo ou de exprimir circunstância, podendo ser adjunto adver-
bial (modificam o verbo, adjetivo ou advérbio), adjunto adnominal (especifica o substantivo, com função de adjetivo) e aposto (caracteriza
o sujeito, especificando-o).
Os irmãos brigam muito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A brilhante aluna apresentou uma bela pesquisa à banca.


Pelé, o rei do futebol, começou sua carreira no Santos.

Tipos de Orações
Levando em consideração o que foi aprendido anteriormente sobre oração, vamos aprender sobre os dois tipos de oração que existem
na língua portuguesa: oração coordenada e oração subordinada.

Orações coordenadas
São aquelas que não dependem sintaticamente uma da outra, ligando-se apenas pelo sentido. Elas aparecem quando há um período
composto, sendo conectadas por meio do uso de conjunções (sindéticas), ou por meio da vírgula (assindéticas).
No caso das orações coordenadas sindéticas, a classificação depende do sentido entre as orações, representado por um grupo de
conjunções adequadas:

CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONJUNÇÕES


ADITIVAS Adição da ideia apresentada na oração anterior e, nem, também, bem como, não só, tanto...
Oposição à ideia apresentada na oração anterior (inicia com
ADVERSATIVAS mas, porém, todavia, entretanto, contudo...
vírgula)
Opção / alternância em relação à ideia apresentada na oração
ALTERNATIVAS ou, já, ora, quer, seja...
anterior
CONCLUSIVAS Conclusão da ideia apresentada na oração anterior logo, pois, portanto, assim, por isso, com isso...
EXPLICATIVAS Explicação da ideia apresentada na oração anterior que, porque, porquanto, pois, ou seja...

Orações subordinadas
São aquelas que dependem sintaticamente em relação à oração principal. Elas aparecem quando o período é composto por duas ou
mais orações.
A classificação das orações subordinadas se dá por meio de sua função: orações subordinadas substantivas, quando fazem o papel de
substantivo da oração; orações subordinadas adjetivas, quando modificam o substantivo, exercendo a função do adjetivo; orações subor-
dinadas adverbiais, quando modificam o advérbio.
Cada uma dessas sofre uma segunda classificação, como pode ser observado nos quadros abaixo.

SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS FUNÇÃO EXEMPLOS


APOSITIVA aposto Esse era meu receio: que ela não discursasse outra vez.
COMPLETIVA NOMINAL complemento nominal Tenho medo de que ela não discurse novamente.
OBJETIVA DIRETA objeto direto Ele me perguntou se ela discursaria outra vez.
OBJETIVA INDIRETA objeto indireto Necessito de que você discurse de novo.
PREDICATIVA predicativo Meu medo é que ela não discurse novamente.
SUBJETIVA sujeito É possível que ela discurse outra vez.
SUBORDINADAS
CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS
ADJETIVAS
Esclarece algum detalhe, adicionando uma
O candidato, que é do partido socialista, está sendo
EXPLICATIVAS informação.
atacado.
Aparece sempre separado por vírgulas.
Restringe e define o sujeito a que se refere.
RESTRITIVAS Não deve ser retirado sem alterar o sentido. As pessoas que são racistas precisam rever seus valores.
Não pode ser separado por vírgula.
Introduzidas por conjunções, pronomes e locuções
conjuntivas. Ele foi o primeiro presidente que se preocupou com a
DESENVOLVIDAS
Apresentam verbo nos modos indicativo ou fome no país.
subjuntivo.
Não são introduzidas por pronomes, conjunções
sou locuções conjuntivas.
REDUZIDAS Assisti ao documentário denunciando a corrupção.
Apresentam o verbo nos modos particípio, gerúndio
ou infinitivo

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LÍNGUA PORTUGUESA

SUBORDINADAS ADVERBIAIS FUNÇÃO PRINCIPAIS CONJUNÇÕES


CAUSAIS Ideia de causa, motivo, razão de efeito porque, visto que, já que, como...
COMPARATIVAS Ideia de comparação como, tanto quanto, (mais / menos) que, do que...
CONCESSIVAS Ideia de contradição embora, ainda que, se bem que, mesmo...
CONDICIONAIS Ideia de condição caso, se, desde que, contanto que, a menos que...
CONFORMATIVAS Ideia de conformidade como, conforme, segundo...
CONSECUTIVAS Ideia de consequência De modo que, (tal / tão / tanto) que...
FINAIS Ideia de finalidade que, para que, a fim de que...
quanto mais / menos... mais /menos, à medida que, na
PROPORCIONAIS Ideia de proporção
medida em que, à proporção que...
TEMPORAIS Ideia de momento quando, depois que, logo que, antes que...

TIPOS DE DISCURSO

Discurso direto
É a fala da personagem reproduzida fielmente pelo narrador, ou seja, reproduzida nos termos em que foi expressa.
— Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores completamente bêbados, não é?
Foi aí que um dos bêbados pediu:
— Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é o seu marido que os outros querem ir para casa.

(Stanislaw Ponte Preta)

Observe que, no exemplo dado, a fala da personagem é introduzida por um travessão, que deve estar alinhado dentro do parágrafo.
O narrador, ao reproduzir diretamente a fala das personagens, conserva características do linguajar de cada uma, como termos de
gíria, vícios de linguagem, palavrões, expressões regionais ou cacoetes pessoais.
O discurso direto geralmente apresenta verbos de elocução (ou declarativos ou dicendi) que indicam quem está emitindo a mensa-
gem.
Os verbos declarativos ou de elocução mais comuns são:
acrescentar
afirmar
concordar
consentir
contestar
continuar
declamar
determinar
dizer
esclarecer
exclamar
explicar
gritar
indagar
insistir
interrogar
interromper
intervir
mandar
ordenar, pedir
perguntar
prosseguir
protestar
reclamar
repetir
replicar
responder

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LÍNGUA PORTUGUESA

retrucar — Isso nunca; não faço esmolas! disse ele.


solicitar
(Machado de Assis)
Os verbos declarativos podem, além de introduzir a fala, indicar
atitudes, estados interiores ou situações emocionais das persona- Observe que os verbos de elocução aparecem em letras minús-
gens como, por exemplo, os verbos protestar, gritar, ordenar e ou- culas depois dos pontos de exclamação e interrogação.
tros. Esse efeito pode ser também obtido com o uso de adjetivos ou
advérbios aliados aos verbos de elocução: falou calmamente, gritou Discurso indireto
histérica, respondeu irritada, explicou docemente. No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala
da personagem. O narrador funciona como testemunha auditiva e
Exemplo: passa para o leitor o que ouviu da personagem. Na transcrição, o
— O amor, prosseguiu sonhadora, é a grande realização de nos- verbo aparece na terceira pessoa, sendo imprescindível a presen-
sas vidas. ça de verbos dicendi (dizer, responder, retrucar, replicar, perguntar,
Ao utilizar o discurso direto – diálogos (com ou sem travessão) pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar, indagar, de-
entre as personagens –, você deve optar por um dos três estilos a clamar, afirmar, mandar etc.), seguidos dos conectivos que (dicendi
seguir: afirmativo) ou se (dicendi interrogativo) para introduzir a fala da
personagem na voz do narrador.
Estilo 1:
João perguntou: A certo ponto da conversação, Glória me disse que desejava
— Que tal o carro? muito conhecer Carlota e perguntou por que não a levei comigo.

Estilo 2: (Ciro dos Anjos)


João perguntou: “Que tal o carro?” (As aspas são optativas)
Antônio respondeu: “horroroso” (As aspas são optativas) Fui ter com ela, e perguntei se a mãe havia dito alguma coisa;
respondeu-me que não.
Estilo 3:
(Machado de Assis)
Verbos de elocução no meio da fala:
— Estou vendo, disse efusivamente João, que você adorou o
Discurso indireto livre
carro.
Resultante da mistura dos discursos direto e indireto, existe
— Você, retrucou Antônio, está completamente enganado. uma terceira modalidade de técnica narrativa, o chamado discurso
indireto livre, processo de grande efeito estilístico. Por meio dele,
Verbos de elocução no fim da fala: o narrador pode, não apenas reproduzir indiretamente falas das
— Estou vendo que você adorou o carro — disse efusivamente personagens, mas também o que elas não falam, mas pensam, so-
João. nham, desejam etc. Neste caso, discurso indireto livre corresponde
— Você está completamente enganado — retrucou Antônio. ao monólogo interior das personagens, mas expresso pelo narrador.
As orações do discurso indireto livre são, em regra, indepen-
Os trechos que apresentam verbos de elocução podem vir com dentes, sem verbos dicendi, sem pontuação que marque a passa-
travessões ou com vírgulas. Observe os seguintes exemplos: gem da fala do narrador para a da personagem, mas com transpo-
sições do tempo do verbo (pretérito imperfeito) e dos pronomes
— Não posso, disse ela daí a alguns instantes, não deixo meu (terceira pessoa). O foco narrativo deve ser de terceira pessoa. Esse
filho. discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e
ritmo que confere ao texto.
(Machado de Assis) Fabiano ouviu o relatório desconexo do bêbado, caiu numa in-
— Não vá sem eu lhe ensinar a minha filosofia da miséria, disse decisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversa
ele, escarrachando-se diante de mim. à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era
bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se.
(Machado de Assis) Estava preso por isso? Como era? Então mete- se um homem na
cadeia por que ele não sabe falar direito?
— Vale cinquenta, ponderei; Sabina sabe que custou cinquenta
e oito. (Graciliano Ramos)

(Machado de Assis) Observe que se o trecho “Era bruto, sim” estivesse um discur-
so direto, apresentaria a seguinte formulação: Sou bruto, sim; em
— Ainda não, respondi secamente. discurso indireto: Ele admitiu que era bruto; em discurso indireto
livre: Era bruto, sim.
(Machado de Assis)

Verbos de elocução depois de orações interrogativas e excla-


mativas:
— Nunca me viu? perguntou Virgília vendo que a encarava com
insistência. (Machado de Assis)
— Para quê? interrompeu Sabina. (Machado de Assis)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Para produzir discurso indireto livre que exprima o mundo interior da personagem (seus pensamentos, desejos, sonhos, fantasias
etc.), o narrador precisa ser onisciente. Observe que os pensamentos da personagem aparecem, no trecho transcrito, principalmente nas
orações interrogativas, entremeadas com o discurso do narrador.

Transposição de discurso
Na narração, para reconstituir a fala da personagem, utiliza-se a estrutura de um discurso direto ou de um discurso indireto. O domínio
dessas estruturas é importante tanto para se empregar corretamente os tipos de discurso na redação.
Os sinais de pontuação (aspas, travessão, dois-pontos) e outros recursos como grifo ou itálico, presentes no discurso direto, não
aparecem no discurso indireto, a não ser que se queira insistir na atribuição do enunciado à personagem, não ao narrador. Tal insistência,
porém, é desnecessária e excessiva, pois, se o texto for bem construído, a identificação do discurso indireto livre não oferece dificuldade.

DISCURSO DIRETO
• Presente
A enfermeira afirmou:
– É uma menina.

• Pretérito perfeito
– Já esperei demais, retrucou com indignação.

• Futuro do presente
Pedrinho gritou:
– Não sairei do carro.

• Imperativo
Olhou-a e disse secamente:
– Deixe-me em paz.

Outras alterações
• Primeira ou segunda pessoa
Maria disse:
– Não quero sair com Roberto hoje.

• Vocativo
– Você quer café, João?, perguntou a prima.

• Objeto indireto na oração principal


A prima perguntou a João se ele queria café.

• Forma interrogativa ou imperativa


Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa:
– E o amarelo?

• Advérbios de lugar e de tempo


aqui, daqui, agora, hoje, ontem, amanhã

• Pronomes demonstrativos e possessivos


essa(s), esta(s)
esse(s), este(s)
isso, isto
meu, minha
teu, tua
nosso, nossa

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LÍNGUA PORTUGUESA

Discurso Indireto
• Pretérito imperfeito
A enfermeira afirmou que era uma menina.

• Futuro do pretérito
Pedrinho gritou que não sairia do carro.

• Pretérito mais-que-perfeito
Retrucou com indignação que já esperara (ou tinha esperado)
demais.
• Pretérito imperfeito do subjuntivo
Olhou-a e disse secamente que o deixasse em paz.
Outras alterações

• Terceira pessoa
Maria disse que não queria sair com Roberto naquele dia.

• Objeto indireto na oração principal


A prima perguntou a João se ele queria café.

• Forma declarativa
Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa pelo
amarelo.
lá, dali, de lá, naquele momento, naquele dia, no dia anterior,
na véspera, no dia seguinte, aquela(s), aquele(s), aquilo, seu,
sua (dele, dela), seu, sua (deles, delas)

REGISTROS DE LINGUAGEM. FUNÇÕES DA LINGUAGEM. ELEMENTOS DOS ATOS DE COMUNICAÇÃO

Funções da linguagem são recursos da comunicação que, de acordo com o objetivo do emissor, dão ênfase à mensagem transmitida,
em função do contexto em que o ato comunicativo ocorre.
São seis as funções da linguagem, que se encontram diretamente relacionadas com os elementos da comunicação.

Funções da Linguagem Elementos da Comunicação


Função referencial ou denotativa contexto
Função emotiva ou expressiva emissor
Função apelativa ou conativa receptor
Função poética mensagem
Função fática canal
Função metalinguística código

Função Referencial
A função referencial tem como objetivo principal informar, referenciar algo. Esse tipo de texto, que é voltado para o contexto da co-
municação, é escrito na terceira pessoa do singular ou do plural, o que enfatiza sua impessoalidade.
Para exemplificar a linguagem referencial, podemos citar os materiais didáticos, textos jornalísticos e científicos. Todos eles, por meio
de uma linguagem denotativa, informam a respeito de algo, sem envolver aspectos subjetivos ou emotivos à linguagem.

Exemplo de uma notícia:


O resultado do terceiro levantamento feito pela Aliança Global para Atividade Física de Crianças — entidade internacional dedicada
ao estímulo da adoção de hábitos saudáveis pelos jovens — foi decepcionante. Realizado em 49 países de seis continentes com o objetivo
de aferir o quanto crianças e adolescentes estão fazendo exercícios físicos, o estudo mostrou que elas estão muito sedentárias. Em 75%
das nações participantes, o nível de atividade física praticado por essa faixa etária está muito abaixo do recomendado para garantir um
crescimento saudável e um envelhecimento de qualidade — com bom condicionamento físico, músculos e esqueletos fortes e funções
cognitivas preservadas. De “A” a “F”, a maioria dos países tirou nota “D”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Função Emotiva Função Fática


Caracterizada pela subjetividade com o objetivo de emocionar. A função fática tem como principal objetivo estabelecer um ca-
É centrada no emissor, ou seja, quem envia a mensagem. A mensa- nal de comunicação entre o emissor e o receptor, quer para iniciar a
gem não precisa ser clara ou de fácil entendimento. transmissão da mensagem, quer para assegurar a sua continuação.
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que A ênfase dada ao canal comunicativo.
empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não raro in- Esse tipo de função é muito utilizado nos diálogos, por exem-
conscientemente. plo, nas expressões de cumprimento, saudações, discursos ao tele-
Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utili- fone, etc.
zação da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é, da-
quele que fala. Exemplo:
-- Calor, não é!?
Exemplo: Nós te amamos! -- Sim! Li na previsão que iria chover.
-- Pois é...
Função Conativa
A função conativa ou apelativa é caracterizada por uma lingua- Função Metalinguística
gem persuasiva com a finalidade de convencer o leitor. Por isso, o É caracterizada pelo uso da metalinguagem, ou seja, a lingua-
grande foco é no receptor da mensagem. gem que se refere a ela mesma. Dessa forma, o emissor explica um
Trata-se de uma função muito utilizada nas propagandas, pu- código utilizando o próprio código.
blicidades e discursos políticos, a fim de influenciar o receptor por Nessa categoria, os textos metalinguísticos que merecem des-
meio da mensagem transmitida. taque são as gramáticas e os dicionários.
Esse tipo de texto costuma se apresentar na segunda ou na ter- Um texto que descreva sobre a linguagem textual ou um do-
ceira pessoa com a presença de verbos no imperativo e o uso do cumentário cinematográfico que fala sobre a linguagem do cinema
vocativo. são alguns exemplos.
Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com Exemplo:
a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam de ma- Amizade s.f.: 1. sentimento de grande afeição, simpatia, apreço
neira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anúncios entre pessoas ou entidades. “sentia-se feliz com a amizade do seu
publicitários que nos dizem como seremos bem-sucedidos, atraen- mestre”
tes e charmosos se usarmos determinadas marcas, se consumirmos 2. POR METONÍMIA: quem é amigo, companheiro, camarada.
certos produtos. “é uma de suas amizades fiéis”
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos,
que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto esperta-
lhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemoriza- ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS.
dos, que se deixam conduzir sem questionar.
Exemplos: Só amanhã, não perca! Formação de Palavras
Vote em mim! A formação de palavras se dá a partir de processos morfológi-
cos, de modo que as palavras se dividem entre:
Função Poética • Palavras primitivas: são aquelas que não provêm de outra pa-
Esta função é característica das obras literárias que possui lavra. Ex: flor; pedra
como marca a utilização do sentido conotativo das palavras. • Palavras derivadas: são originadas a partir de outras palavras.
Nela, o emissor preocupa-se de que maneira a mensagem será Ex: floricultura; pedrada
transmitida por meio da escolha das palavras, das expressões, das • Palavra simples: são aquelas que possuem apenas um radi-
figuras de linguagem. Por isso, aqui o principal elemento comunica- cal (morfema que contém significado básico da palavra). Ex: cabelo;
tivo é a mensagem. azeite
A função poética não pertence somente aos textos literários. • Palavra composta: são aquelas que possuem dois ou mais ra-
Podemos encontrar a função poética também na publicidade ou dicais. Ex: guarda-roupa; couve-flor
nas expressões cotidianas em que há o uso frequente de metáforas Entenda como ocorrem os principais processos de formação de
(provérbios, anedotas, trocadilhos, músicas). palavras:

Exemplo: Derivação
“Basta-me um pequeno gesto, A formação se dá por derivação quando ocorre a partir de uma
feito de longe e de leve, palavra simples ou de um único radical, juntando-se afixos.
para que venhas comigo • Derivação prefixal: adiciona-se um afixo anteriormente à pa-
e eu para sempre te leve...” lavra ou radical. Ex: antebraço (ante + braço) / infeliz (in + feliz)
• Derivação sufixal: adiciona-se um afixo ao final da palavra ou
(Cecília Meireles) radical. Ex: friorento (frio + ento) / guloso (gula + oso)
• Derivação parassintética: adiciona-se um afixo antes e outro
depois da palavra ou radical. Ex: esfriar (es + frio + ar) / desgoverna-
do (des + governar + ado)
• Derivação regressiva (formação deverbal): reduz-se a palavra
primitiva. Ex: boteco (botequim) / ataque (verbo “atacar”)

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Derivação imprópria (conversão): ocorre mudança na classe


gramatical, logo, de sentido, da palavra primitiva. Ex: jantar (verbo FORMAS DE ABREVIAÇÃO.
para substantivo) / Oliveira (substantivo comum para substantivo
próprio – sobrenomes). Abreviatura
Existem algumas regras para abreviar as palavras, porém a
Composição maioria das abreviaturas que ganham o gosto do público são aque-
A formação por composição ocorre quando uma nova palavra las que, mesmo sem seguir as regras preditas pela gramática, são
se origina da junção de duas ou mais palavras simples ou radicais. usuais, práticas. Vejamos algumas regras para se fazer uma abrevia-
• Aglutinação: fusão de duas ou mais palavras simples, de tura da maneira correta (prevista na gramática).
modo que ocorre supressão de fonemas, de modo que os elemen-
Quando usar:
tos formadores perdem sua identidade ortográfica e fonológica. Ex: Quando há necessidade de redução de espaço em títulos, le-
aguardente (água + ardente) / planalto (plano + alto) gendas, tabelas, gráficos, infográficos, creditagem de TV e crawl.
• Justaposição: fusão de duas ou mais palavras simples, man- Mesmo assim, é necessário ter cuidado para que o uso de abre-
tendo a ortografia e a acentuação presente nos elementos forma- viaturas não prejudique a compreensão.
dores. Em sua maioria, aparecem conectadas com hífen. Ex: beija-
-flor / passatempo. Regra Geral: primeira sílaba da palavra + a primeira letra da sí-
laba seguinte + ponto abreviativo. Exemplos: adj. (adjetivo), num.
Abreviação (numeral).
Quando a palavra é reduzida para apenas uma parte de sua
totalidade, passando a existir como uma palavra autônoma. Ex: foto Outras Regras:
(fotografia) / PUC (Pontifícia Universidade Católica). As abreviaturas devem ser acentuadas quando o acento gráfico
ocorrer antes do ponto abreviativo.
Hibridismo Exemplos:
Quando há junção de palavras simples ou radicais advindos de – técnicas → téc.
– páginas → pág.
línguas distintas. Ex: sociologia (socio – latim + logia – grego) / binó-
– século → séc.
culo (bi – grego + oculus – latim).
Nunca se deve cortar a palavra numa vogal, sempre na conso-
Combinação ante. Caso a primeira letra da segunda sílaba seja vogal, escreve-se
Quando ocorre junção de partes de outras palavras simples ou até a consoante.
radicais. Ex: portunhol (português + espanhol) / aborrecente (abor- Se a palavra tiver acento na primeira sílaba, ele é conservado.
recer + adolescente). núm. (número)
lóg. (lógica)
Intensificação
Quando há a criação de uma nova palavra a partir do alarga- Caso a segunda sílaba se inicie por duas consoantes, utiliza-se
mento do sufixo de uma palavra existente. Normalmente é feita as duas na abreviatura.
adicionando o sufixo -izar. Ex: inicializar (em vez de iniciar) / proto- Constr. (construção)
colizar (em vez de protocolar). Secr. (secretário)

Neologismo O ponto abreviativo também serve como ponto final, sendo as-
sim, se a abreviatura estiver no final da frase, não há necessidade
Quando novas palavras surgem devido à necessidade do falan-
de se utilizar outro ponto. Ex: Comprei frutas, verduras, legumes,
te em contextos específicos, podendo ser temporárias ou perma- etc.
nentes. Existem três tipos principais de neologismos:
• Neologismo semântico: atribui-se novo significado a uma pa- Alguns gramáticos não admitem que as flexões sejam marca-
lavra já existente. Ex: amarelar (desistir) / mico (vergonha) das na abreviatura.
• Neologismo sintático: ocorre a combinação de elementos já Profª (professora)
existentes no léxico da língua. Ex: dar um bolo (não comparecer ao Págs. (páginas)
compromisso) / dar a volta por cima (superar).
• Neologismo lexical: criação de uma nova palavra, que tem um Algumas palavras, mesmo não seguindo as regras descritas aci-
novo conceito. Ex: deletar (apagar) / escanear (digitalizar) ma, são aceitas pela gramática normativa, é o caso de:
a.C. ou A.C. (antes de Cristo)
Onomatopeia ap. ou apto. (apartamento)
Quando uma palavra é formada a partir da reprodução aproxi- bel. (bacharel)
mada do seu som. Ex: atchim; zum-zum; tique-taque. cel. (coronel)
Cia. (Companhia)
cx. (caixa)
D. (Dom, Dona)
Ilmo. (Ilustríssimo)
Ltda. (Limitada)
p. ou pág. (página) e pp. Págs. (páginas)
pg. (pago)
vv. (versos, versículos)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Mesmo sabendo que estas siglas são permitidas e reconhecidas pela gramática, ao escrevermos textos oficiais, artigos, trabalhos,
redações, não devemos utilizá-las abusivamente, pois acabará atrapalhando a clareza da comunicação. Em textos informais, no entanto,
não há nenhuma restrição, a abreviatura pode ser utilizada quando quisermos.

Símbolos
O desenvolvimento científico e tecnológico exigiu medições cada vez mais precisas e diversificadas. Por essa razão, o Sistema Métrico
Decimal acabou sendo substituído pelo Sistema Internacional de Unidades - SI, adotado também no Brasil a partir de 1962.
As unidades SI podem ser escritas por seus nomes ou representadas por meio de SÍMBOLOS, um sinal convencional e invariável utili-
zado para facilitar e universalizar a escrita e a leitura das unidades SI.
Lembre-se de que os símbolos que representam as unidades SI não são abreviaturas; por isso mesmo não são seguidos de ponto, não
têm plural nem podem ser grafados como expoentes.

Abreviaturas e símbolos mais usados

etc. Etcetera Usa-se com ponto.


A vírgula antes é facultativa
KB kilobyte
GB gigabyte
MB megabyte
KW quilowatt
MW megawatt
GW gigawatt
h hora Não têm ponto nem plural
min minuto
s segundo
kg quilograma Sem ponto, sem plural
l litro
Hz hertz
KHz quilo-hertz
MHz mega-hertz
GHz giga-hertz
mi milhão Só são usadas para valores monetários.
bi bilhão
tri trilhão
m metro
km quilômetro
m² metro quadrado
km² quilômetro quadrado
Ltda. limitada
jan., fev. Com todas as letras em
mar., abr. caixa alta, use sem ponto:
mai., jun. JAN, FEV, OUT
jul., ago.
set., out.
nov., dez.
pág. página Mantém-se o acento
Plural: págs.
S.A. sociedade anônima Plural: S.As.
TV Tevê também pode ser usado.
Para emissoras, use apenas TV.
Não use tv ou Tv

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LÍNGUA PORTUGUESA

Sigla
As siglas são a junção das letras iniciais de um termo composto por mais de uma palavra:

P.S. (pós escrito = escrito depois)


S.A. (Sociedade Anônima)
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

Se a sigla tiver até três letras, ou se todas as letras forem pronunciadas individualmente, todas ficam maiúsculas.

MEC, USP, PM, INSS.

Porém, se a sigla tiver a partir de quatro letras, e nem todas forem pronunciadas separadamente, apenas a primeira letra será maiús-
cula, e as demais minúsculas:

Embrapa, Detran, Unesco.

CLASSES DE PALAVRAS; OS ASPECTOS MORFOLÓGICOS, SINTÁTICOS, SEMÂNTICOS E TEXTUAIS DE SUBSTANTIVOS,


ADJETIVOS, ARTIGOS, NUMERAIS, PRONOMES, VERBOS, ADVÉRBIOS, CONJUNÇÕES E INTERJEIÇÕES

Classes de Palavras
Para entender sobre a estrutura das funções sintáticas, é preciso conhecer as classes de palavras, também conhecidas por classes
morfológicas. A gramática tradicional pressupõe 10 classes gramaticais de palavras, sendo elas: adjetivo, advérbio, artigo, conjunção, in-
terjeição, numeral, pronome, preposição, substantivo e verbo.
Veja, a seguir, as características principais de cada uma delas.

CLASSE CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS


Menina inteligente...
Expressar características, qualidades ou estado dos seres Roupa azul-marinho...
ADJETIVO
Sofre variação em número, gênero e grau Brincadeira de criança...
Povo brasileiro...
A ajuda chegou tarde.
Indica circunstância em que ocorre o fato verbal
ADVÉRBIO A mulher trabalha muito.
Não sofre variação
Ele dirigia mal.
Determina os substantivos (de modo definido ou indefinido) A galinha botou um ovo.
ARTIGO
Varia em gênero e número Uma menina deixou a mochila no ônibus.
Liga ideias e sentenças (conhecida também como
Não gosto de refrigerante nem de pizza.
CONJUNÇÃO conectivos)
Eu vou para a praia ou para a cachoeira?
Não sofre variação
Exprime reações emotivas e sentimentos Ah! Que calor...
INTERJEIÇÃO
Não sofre variação Escapei por pouco, ufa!
Atribui quantidade e indica posição em alguma sequência Gostei muito do primeiro dia de aula.
NUMERAL
Varia em gênero e número Três é a metade de seis.
Posso ajudar, senhora?
Acompanha, substitui ou faz referência ao substantivo Ela me ajudou muito com o meu trabalho.
PRONOME
Varia em gênero e número Esta é a casa onde eu moro.
Que dia é hoje?
Relaciona dois termos de uma mesma oração Espero por você essa noite.
PREPOSIÇÃO
Não sofre variação Lucas gosta de tocar violão.
Nomeia objetos, pessoas, animais, alimentos, lugares etc. A menina jogou sua boneca no rio.
SUBSTANTIVO
Flexionam em gênero, número e grau. A matilha tinha muita coragem.
Ana se exercita pela manhã.
Indica ação, estado ou fenômenos da natureza
Todos parecem meio bobos.
Sofre variação de acordo com suas flexões de modo, tempo,
VERBO Chove muito em Manaus.
número, pessoa e voz.
A cidade é muito bonita quando vista do
Verbos não significativos são chamados verbos de ligação
alto.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivo Variação de grau


Usada para marcar diferença na grandeza de um determinado
Tipos de substantivos substantivo, a variação de grau pode ser classificada em aumenta-
Os substantivos podem ter diferentes classificações, de acordo tivo e diminutivo.
com os conceitos apresentados abaixo: Quando acompanhados de um substantivo que indica grandeza
• Comum: usado para nomear seres e objetos generalizados. ou pequenez, é considerado analítico (Ex: menino grande / menino
Ex: mulher; gato; cidade... pequeno).
• Próprio: geralmente escrito com letra maiúscula, serve para Quando acrescentados sufixos indicadores de aumento ou di-
especificar e particularizar. Ex: Maria; Garfield; Belo Horizonte... minuição, é considerado sintético (Ex: meninão / menininho).
• Coletivo: é um nome no singular que expressa ideia de plural,
para designar grupos e conjuntos de seres ou objetos de uma mes- Novo Acordo Ortográfico
ma espécie. Ex: matilha; enxame; cardume... De acordo com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portugue-
• Concreto: nomeia algo que existe de modo independente de sa, as letras maiúsculas devem ser usadas em nomes próprios de
outro ser (objetos, pessoas, animais, lugares etc.). Ex: menina; ca- pessoas, lugares (cidades, estados, países, rios), animais, acidentes
chorro; praça... geográficos, instituições, entidades, nomes astronômicos, de festas
• Abstrato: depende de um ser concreto para existir, designan- e festividades, em títulos de periódicos e em siglas, símbolos ou
do sentimentos, estados, qualidades, ações etc. Ex: saudade; sede; abreviaturas.
imaginação... Já as letras minúsculas podem ser usadas em dias de semana,
• Primitivo: substantivo que dá origem a outras palavras. Ex: meses, estações do ano e em pontos cardeais.
livro; água; noite... Existem, ainda, casos em que o uso de maiúscula ou minúscula
• Derivado: formado a partir de outra(s) palavra(s). Ex: pedrei- é facultativo, como em título de livros, nomes de áreas do saber,
ro; livraria; noturno... disciplinas e matérias, palavras ligadas a alguma religião e em pala-
• Simples: nomes formados por apenas uma palavra (um radi- vras de categorização.
cal). Ex: casa; pessoa; cheiro...
• Composto: nomes formados por mais de uma palavra (mais Adjetivo
de um radical). Ex: passatempo; guarda-roupa; girassol... Os adjetivos podem ser simples (vermelho) ou compostos (mal-
-educado); primitivos (alegre) ou derivados (tristonho). Eles podem
Flexão de gênero flexionar entre o feminino (estudiosa) e o masculino (engraçado), e
Na língua portuguesa, todo substantivo é flexionado em um o singular (bonito) e o plural (bonitos).
dos dois gêneros possíveis: feminino e masculino. Há, também, os adjetivos pátrios ou gentílicos, sendo aqueles
O substantivo biforme é aquele que flexiona entre masculino que indicam o local de origem de uma pessoa, ou seja, sua naciona-
e feminino, mudando a desinência de gênero, isto é, geralmente lidade (brasileiro; mineiro).
o final da palavra sendo -o ou -a, respectivamente (Ex: menino / É possível, ainda, que existam locuções adjetivas, isto é, conjun-
menina). Há, ainda, os que se diferenciam por meio da pronúncia / to de duas ou mais palavras usadas para caracterizar o substantivo.
acentuação (Ex: avô / avó), e aqueles em que há ausência ou pre- São formadas, em sua maioria, pela preposição DE + substantivo:
sença de desinência (Ex: irmão / irmã; cantor / cantora). • de criança = infantil
O substantivo uniforme é aquele que possui apenas uma for- • de mãe = maternal
ma, independente do gênero, podendo ser diferenciados quanto • de cabelo = capilar
ao gênero a partir da flexão de gênero no artigo ou adjetivo que o
acompanha (Ex: a cadeira / o poste). Pode ser classificado em epi- Variação de grau
ceno (refere-se aos animais), sobrecomum (refere-se a pessoas) e Os adjetivos podem se encontrar em grau normal (sem ênfa-
comum de dois gêneros (identificado por meio do artigo). ses), ou com intensidade, classificando-se entre comparativo e su-
É preciso ficar atento à mudança semântica que ocorre com perlativo.
alguns substantivos quando usados no masculino ou no feminino, • Normal: A Bruna é inteligente.
trazendo alguma especificidade em relação a ele. No exemplo o fru- • Comparativo de superioridade: A Bruna é mais inteligente
to X a fruta temos significados diferentes: o primeiro diz respeito ao que o Lucas.
órgão que protege a semente dos alimentos, enquanto o segundo é • Comparativo de inferioridade: O Gustavo é menos inteligente
o termo popular para um tipo específico de fruto. que a Bruna.
• Comparativo de igualdade: A Bruna é tão inteligente quanto
Flexão de número a Maria.
No português, é possível que o substantivo esteja no singular, • Superlativo relativo de superioridade: A Bruna é a mais inte-
usado para designar apenas uma única coisa, pessoa, lugar (Ex: ligente da turma.
bola; escada; casa) ou no plural, usado para designar maiores quan- • Superlativo relativo de inferioridade: O Gustavo é o menos
tidades (Ex: bolas; escadas; casas) — sendo este último represen- inteligente da turma.
tado, geralmente, com o acréscimo da letra S ao final da palavra. • Superlativo absoluto analítico: A Bruna é muito inteligente.
Há, também, casos em que o substantivo não se altera, de • Superlativo absoluto sintético: A Bruna é inteligentíssima.
modo que o plural ou singular devem estar marcados a partir do
contexto, pelo uso do artigo adequado (Ex: o lápis / os lápis).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivos de relação
São chamados adjetivos de relação aqueles que não podem sofrer variação de grau, uma vez que possui valor semântico objetivo, isto
é, não depende de uma impressão pessoal (subjetiva). Além disso, eles aparecem após o substantivo, sendo formados por sufixação de um
substantivo (Ex: vinho do Chile = vinho chileno).

Advérbio
Os advérbios são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Eles se classificam de acordo com a tabela
abaixo:

CLASSIFICAÇÃO ADVÉRBIOS LOCUÇÕES ADVERBIAIS


DE MODO bem; mal; assim; melhor; depressa ao contrário; em detalhes
ontem; sempre; afinal; já; agora; doravante; logo mais; em breve; mais tarde, nunca mais, de
DE TEMPO
primeiramente noite
DE LUGAR aqui; acima; embaixo; longe; fora; embaixo; ali Ao redor de; em frente a; à esquerda; por perto
DE INTENSIDADE muito; tão; demasiado; imenso; tanto; nada em excesso; de todos; muito menos
DE AFIRMAÇÃO sim, indubitavelmente; certo; decerto; deveras com certeza; de fato; sem dúvidas
DE NEGAÇÃO não; nunca; jamais; tampouco; nem nunca mais; de modo algum; de jeito nenhum
DE DÚVIDA Possivelmente; acaso; será; talvez; quiçá Quem sabe

Advérbios interrogativos
São os advérbios ou locuções adverbiais utilizadas para introduzir perguntas, podendo expressar circunstâncias de:
• Lugar: onde, aonde, de onde
• Tempo: quando
• Modo: como
• Causa: por que, por quê

Grau do advérbio
Os advérbios podem ser comparativos ou superlativos.
• Comparativo de igualdade: tão/tanto + advérbio + quanto
• Comparativo de superioridade: mais + advérbio + (do) que
• Comparativo de inferioridade: menos + advérbio + (do) que
• Superlativo analítico: muito cedo
• Superlativo sintético: cedíssimo

Curiosidades
Na linguagem coloquial, algumas variações do superlativo são aceitas, como o diminutivo (cedinho), o aumentativo (cedão) e o uso
de alguns prefixos (supercedo).
Existem advérbios que exprimem ideia de exclusão (somente; salvo; exclusivamente; apenas), inclusão (também; ainda; mesmo) e
ordem (ultimamente; depois; primeiramente).
Alguns advérbios, além de algumas preposições, aparecem sendo usados como uma palavra denotativa, acrescentando um sentido
próprio ao enunciado, podendo ser elas de inclusão (até, mesmo, inclusive); de exclusão (apenas, senão, salvo); de designação (eis); de
realce (cá, lá, só, é que); de retificação (aliás, ou melhor, isto é) e de situação (afinal, agora, então, e aí).

Pronomes
Os pronomes são palavras que fazem referência aos nomes, isto é, aos substantivos. Assim, dependendo de sua função no enunciado,
ele pode ser classificado da seguinte maneira:
• Pronomes pessoais: indicam as 3 pessoas do discurso, e podem ser retos (eu, tu, ele...) ou oblíquos (mim, me, te, nos, si...).
• Pronomes possessivos: indicam posse (meu, minha, sua, teu, nossos...)
• Pronomes demonstrativos: indicam localização de seres no tempo ou no espaço. (este, isso, essa, aquela, aquilo...)
• Pronomes interrogativos: auxiliam na formação de questionamentos (qual, quem, onde, quando, que, quantas...)
• Pronomes relativos: retomam o substantivo, substituindo-o na oração seguinte (que, quem, onde, cujo, o qual...)
• Pronomes indefinidos: substituem o substantivo de maneira imprecisa (alguma, nenhum, certa, vários, qualquer...)
• Pronomes de tratamento: empregados, geralmente, em situações formais (senhor, Vossa Majestade, Vossa Excelência, você...)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Colocação pronominal
Diz respeito ao conjunto de regras que indicam a posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, o, a, os, as, lo, la,
no, na...) em relação ao verbo, podendo haver próclise (antes do verbo), ênclise (depois do verbo) ou mesóclise (no meio do verbo).
Veja, então, quais as principais situações para cada um deles:
• Próclise: expressões negativas; conjunções subordinativas; advérbios sem vírgula; pronomes indefinidos, relativos ou demonstrati-
vos; frases exclamativas ou que exprimem desejo; verbos no gerúndio antecedidos por “em”.
Nada me faria mais feliz.

• Ênclise: verbo no imperativo afirmativo; verbo no início da frase (não estando no futuro e nem no pretérito); verbo no gerúndio não
acompanhado por “em”; verbo no infinitivo pessoal.
Inscreveu-se no concurso para tentar realizar um sonho.

• Mesóclise: verbo no futuro iniciando uma oração.


Orgulhar-me-ei de meus alunos.

DICA: o pronome não deve aparecer no início de frases ou orações, nem após ponto-e-vírgula.

Verbos
Os verbos podem ser flexionados em três tempos: pretérito (passado), presente e futuro, de maneira que o pretérito e o futuro pos-
suem subdivisões.
Eles também se dividem em três flexões de modo: indicativo (certeza sobre o que é passado), subjuntivo (incerteza sobre o que é
passado) e imperativo (expressar ordem, pedido, comando).
• Tempos simples do modo indicativo: presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do pre-
sente, futuro do pretérito.
• Tempos simples do modo subjuntivo: presente, pretérito imperfeito, futuro.

Os tempos verbais compostos são formados por um verbo auxiliar e um verbo principal, de modo que o verbo auxiliar sofre flexão em
tempo e pessoa, e o verbo principal permanece no particípio. Os verbos auxiliares mais utilizados são “ter” e “haver”.
• Tempos compostos do modo indicativo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito.
• Tempos compostos do modo subjuntivo: pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro.
As formas nominais do verbo são o infinitivo (dar, fazerem, aprender), o particípio (dado, feito, aprendido) e o gerúndio (dando, fa-
zendo, aprendendo). Eles podem ter função de verbo ou função de nome, atuando como substantivo (infinitivo), adjetivo (particípio) ou
advérbio (gerúndio).

Tipos de verbos
Os verbos se classificam de acordo com a sua flexão verbal. Desse modo, os verbos se dividem em:
Regulares: possuem regras fixas para a flexão (cantar, amar, vender, abrir...)
• Irregulares: possuem alterações nos radicais e nas terminações quando conjugados (medir, fazer, poder, haver...)
• Anômalos: possuem diferentes radicais quando conjugados (ser, ir...)
• Defectivos: não são conjugados em todas as pessoas verbais (falir, banir, colorir, adequar...)
• Impessoais: não apresentam sujeitos, sendo conjugados sempre na 3ª pessoa do singular (chover, nevar, escurecer, anoitecer...)
• Unipessoais: apesar de apresentarem sujeitos, são sempre conjugados na 3ª pessoa do singular ou do plural (latir, miar, custar,
acontecer...)
• Abundantes: possuem duas formas no particípio, uma regular e outra irregular (aceitar = aceito, aceitado)
• Pronominais: verbos conjugados com pronomes oblíquos átonos, indicando ação reflexiva (suicidar-se, queixar-se, sentar-se, pen-
tear-se...)
• Auxiliares: usados em tempos compostos ou em locuções verbais (ser, estar, ter, haver, ir...)
• Principais: transmitem totalidade da ação verbal por si próprios (comer, dançar, nascer, morrer, sorrir...)
• De ligação: indicam um estado, ligando uma característica ao sujeito (ser, estar, parecer, ficar, continuar...)

Vozes verbais
As vozes verbais indicam se o sujeito pratica ou recebe a ação, podendo ser três tipos diferentes:
• Voz ativa: sujeito é o agente da ação (Vi o pássaro)
• Voz passiva: sujeito sofre a ação (O pássaro foi visto)
• Voz reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação (Vi-me no reflexo do lago)

Ao passar um discurso para a voz passiva, é comum utilizar a partícula apassivadora “se”, fazendo com o que o pronome seja equiva-
lente ao verbo “ser”.

Conjugação de verbos
Os tempos verbais são primitivos quando não derivam de outros tempos da língua portuguesa. Já os tempos verbais derivados são
aqueles que se originam a partir de verbos primitivos, de modo que suas conjugações seguem o mesmo padrão do verbo de origem.
• 1ª conjugação: verbos terminados em “-ar” (aproveitar, imaginar, jogar...)
• 2ª conjugação: verbos terminados em “-er” (beber, correr, erguer...)
• 3ª conjugação: verbos terminados em “-ir” (dormir, agir, ouvir...)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Confira os exemplos de conjugação apresentados abaixo:

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-lutar

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LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: www.conjugação.com.br/verbo-impor

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LÍNGUA PORTUGUESA

Preposições • Integrantes: usadas para introduzir as orações subordinadas


As preposições são palavras invariáveis que servem para ligar substantivas, definidas pelas palavras que e se.
dois termos da oração numa relação subordinada, e são divididas • Causais: porque, que, como.
entre essenciais (só funcionam como preposição) e acidentais (pa- • Concessivas: embora, ainda que, se bem que.
lavras de outras classes gramaticais que passam a funcionar como • Condicionais: e, caso, desde que.
preposição em determinadas sentenças). • Conformativas: conforme, segundo, consoante.
• Comparativas: como, tal como, assim como.
Preposições essenciais: a, ante, após, de, com, em, contra, para, • Consecutivas: de forma que, de modo que, de sorte que.
per, perante, por, até, desde, sobre, sobre, trás, sob, sem, entre. • Finais: a fim de que, para que.
Preposições acidentais: afora, como, conforme, consoante, du- • Proporcionais: à medida que, ao passo que, à proporção que.
rante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto etc. • Temporais: quando, enquanto, agora.
Locuções prepositivas: abaixo de, afim de, além de, à custa de,
defronte a, a par de, perto de, por causa de, em que pese a etc.
OS MODALIZADORES. SEMÂNTICA: SENTIDO PRÓPRIO
Ao conectar os termos das orações, as preposições estabele- E FIGURADO; ANTÔNIMOS, SINÔNIMOS, PARÔNIMOS
cem uma relação semântica entre eles, podendo passar ideia de: E HIPERÔNIMOS. POLISSEMIA E AMBIGUIDADE
• Causa: Morreu de câncer.
• Distância: Retorno a 3 quilômetros. Este é um estudo da semântica, que pretende classificar os sen-
• Finalidade: A filha retornou para o enterro. tidos das palavras, as suas relações de sentido entre si. Conheça as
• Instrumento: Ele cortou a foto com uma tesoura. principais relações e suas características:
• Modo: Os rebeldes eram colocados em fila.
• Lugar: O vírus veio de Portugal. Sinonímia e antonímia
• Companhia: Ela saiu com a amiga. As palavras sinônimas são aquelas que apresentam significado
• Posse: O carro de Maria é novo. semelhante, estabelecendo relação de proximidade. Ex: inteligente
• Meio: Viajou de trem. <—> esperto
Já as palavras antônimas são aquelas que apresentam signifi-
Combinações e contrações cados opostos, estabelecendo uma relação de contrariedade. Ex:
Algumas preposições podem aparecer combinadas a outras pa- forte <—> fraco
lavras de duas maneiras: sem haver perda fonética (combinação) e
havendo perda fonética (contração). Parônimos e homônimos
• Combinação: ao, aos, aonde As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pro-
• Contração: de, dum, desta, neste, nisso núncia semelhantes, porém com significados distintos.
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfe-
Conjunção go (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
As conjunções se subdividem de acordo com a relação estabe- As palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma
lecida entre as ideias e as orações. Por ter esse papel importante grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
de conexão, é uma classe de palavras que merece destaque, pois “rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).
reconhecer o sentido de cada conjunção ajuda na compreensão e As palavras homófonas são aquelas que possuem a mesma
interpretação de textos, além de ser um grande diferencial no mo- pronúncia, mas com escrita e significado diferentes. Ex: cem (nu-
mento de redigir um texto. meral) X sem (falta); conserto (arrumar) X concerto (musical).
Elas se dividem em duas opções: conjunções coordenativas e As palavras homógrafas são aquelas que possuem escrita igual,
conjunções subordinativas. porém som e significado diferentes. Ex: colher (talher) X colher (ver-
bo); acerto (substantivo) X acerto (verbo).
Conjunções coordenativas
As orações coordenadas não apresentam dependência sintáti- Polissemia e monossemia
ca entre si, servindo também para ligar termos que têm a mesma As palavras polissêmicas são aquelas que podem apresentar
função gramatical. As conjunções coordenativas se subdividem em mais de um significado, a depender do contexto em que ocorre a
cinco grupos: frase. Ex: cabeça (parte do corpo humano; líder de um grupo).
• Aditivas: e, nem, bem como. Já as palavras monossêmicas são aquelas apresentam apenas
• Adversativas: mas, porém, contudo. um significado. Ex: eneágono (polígono de nove ângulos).
• Alternativas: ou, ora…ora, quer…quer.
• Conclusivas: logo, portanto, assim. Denotação e conotação
• Explicativas: que, porque, porquanto. Palavras com sentido denotativo são aquelas que apresentam
um sentido objetivo e literal. Ex:Está fazendo frio. / Pé da mulher.
Conjunções subordinativas Palavras com sentido conotativo são aquelas que apresentam
As orações subordinadas são aquelas em que há uma relação um sentido simbólico, figurado. Ex: Você me olha com frieza. / Pé
de dependência entre a oração principal e a oração subordinada. da cadeira.
Desse modo, a conexão entre elas (bem como o efeito de sentido)
se dá pelo uso da conjunção subordinada adequada.
Elas podem se classificar de dez maneiras diferentes:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Hiperonímia e hiponímia Organização do dicionário


Esta classificação diz respeito às relações hierárquicas de signi- 1. Entrada
ficado entre as palavras. A entrada do verbete está em azul e, logo abaixo, há a indica-
Desse modo, um hiperônimo é a palavra superior, isto é, que ção da divisão silábica.
tem um sentido mais abrangente. Ex: Fruta é hiperônimo de limão. abécédaire
Já o hipônimo é a palavra que tem o sentido mais restrito, por- a.bé.cé.daire
tanto, inferior, de modo que o hiperônimo engloba o hipônimo. Ex: [ɑbesedɛʀ]
Limão é hipônimo de fruta. nm
abecedário.
Formas variantes
São as palavras que permitem mais de uma grafia correta, sem abanador
que ocorra mudança no significado. Ex: loiro – louro / enfarte – in- a.ba.na.dor
farto / gatinhar – engatinhar. [abanad′or]
sm
Arcaísmo éventoir.
São palavras antigas, que perderam o uso frequente ao longo
do tempo, sendo substituídas por outras mais modernas, mas que
ainda podem ser utilizadas. No entanto, ainda podem ser bastante As remissões, introduzidas pela abreviatura V (ver / voir), indi-
encontradas em livros antigos, principalmente. Ex: botica <—> far- cam uma forma vocabular mais usual.
mácia / franquia <—> sinceridade.
ascaris
as.ca.ris
OS DICIONÁRIOS: TIPOS [askaʀis]
V ascaride.
O dicionário é um livro que possui a explicação dos significados
das palavras. As palavras são apresentadas em ordem alfabética. desatencioso
Alguns dicionários são ilustrados para facilitar a assimilação dos sig- de.sa.ten.ci.o.so
nificados das palavras. [dezatẽsj′ozu]
V desatento.
Principais tipos de dicionários
Existem também os dicionários de tradução de línguas, ou seja, Os verbos essencialmente pronominais encontram-se na entra-
aqueles destinados a mostrar os significados ou sinônimos das pa- da principal da seguinte maneira:
lavras em outra língua. Exemplo: Dicionário de português-inglês,
português-italiano, português-espanhol. blottir (se)
Existem também os dicionários de termos técnicos, usados em blot.tir (se)
áreas específicas do conhecimento. Num dicionário de medicina, [blɔtiʀ]
por exemplo, são explicados os termos relacionados à área médica. vpr
Desta forma, existem os dicionários de eletrônica, mecânica, Biolo- enroscar-se, aconchegar-se.
gia, informática, mitologia, etc.
ajoelhar-se
Importância do uso a.jo.e.lhar-se
O uso de dicionário é muito importante para os estudantes e [aʒoeλ′arsi]
profissionais de todas as áreas. Como é impossível conhecer o sig- vpr
nificado de todas as palavras, o ideal é consultar o dicionário para s’agenouiller.
ganhar vocabulário.
2. Transcrição fonética
Dicionários modernos A pronúncia figurada é representada entre colchetes. Veja ex-
Com o avanço da informática e da internet, temos atualmente plicações detalhadas na seção “Transcrição fonética” em “Como
os chamados dicionários eletrônicos (em CD-ROMs) e os dicioná- consultar”.
rios on-line (encontrados na Internet) ou em formato de aplicativos abeille
para smartphones. a.beille
Exemplos dos principais dicionários da Língua Portuguesa (edi- [abɛj]
tados no Brasil): nf
- Dicionário Aurélio ZOOL abelha.
- Dicionário Houaiss
- Dicionário Michaelis abaixar
- Dicionário da Academia Brasileira de Letras a.bai.xar
- Dicionário Aulete da Língua Portuguesa [abajʃ′ar]
- Dicionário Soares Amora da Língua Portuguesa vt+vpr
baisser.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3. Classe gramatical 4 alimentos vivres.


É indicada por uma abreviatura. Entenda o que significa cada
abreviatura deste dicionário na seção “Abreviaturas” em “Como INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
consultar”. Veja nota em vivre.
abolition
a.bo.li.tion A tradução, na medida do possível, fornece os sinônimos na ou-
[abɔlisjɔ̃] tra língua e, quando estes não existem, define ou explica o termo.
nf docteur
abolição. doc.teur
[dɔktœʀ]
abatido nm
a.ba.ti.do 1 doutor, médico.
[abat′idu] 2 doutor, pessoa que possui o maior grau universitário numa
adj faculdade.
abattu.
6. Exemplificação
alimentar Frases elucidativas usadas para esclarecer definições ou acep-
a.li.men.tar ções, são apresentadas em itálico.
[alimẽt′ar] amorce
vt+vpr a.morce
nourrir. [amɔʀs]
adj nf
alimentaire. 1 isca.
2 início, começo, esboço: cette rencontre pourrait être l’amorce
4. Área de conhecimento d’une négociation véritable / este encontro poderia ser o início de
É indicada por uma abreviatura. Entenda o que significa cada uma verdadeira negociação.
abreviatura deste dicionário na seção “Abreviaturas” em “Como
consultar”. agitado
abdomen a.gi.ta.do
ab.do.men [aʒit′adu]
[abdɔmɛn] adj
nm agité: o doente passou uma noite agitada / le malade a passé
ANAT abdome, barriga. une nuit agitée.

abacate 7. Formas irregulares


a.ba.ca.te No final dos verbetes em português, numa seção denominada
[abak′ati] “Informações complementares”, registram-se plurais irregulares e
sm plurais de substantivos compostos com hífen, além dos femininos e
BOT avocat. masculinos irregulares.
açafrão
5. Tradução a.ça.frão
Os diferentes sentidos de uma mesma palavra estão separados [asafr′ãw]
por algarismos em negrito. Os sinônimos reunidos num algarismo sm
são separados por vírgulas. BOT safran.
administrer
ad.mi.nis.trer INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
[administʀe] PL açafrões.
vt
1 administrar, gerir. micro-organismo
2 dar uma medicação. mi.cro-or.ga.nis.mo
3 aplicar um castigo. [mikroorgan′ismu]
sm
alimento micro-organisme.
a.li.men.to
[alim′ẽtu] INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
sm PL micro-organismos.
1 nourriture.
2 denrée. No final dos verbetes em francês, numa seção denominada “In-
3 nourriture, victuaille, aliment. formações complementares”, são indicadas as terminação do femi-
pl nino e do plural, quando irregulares.

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LÍNGUA PORTUGUESA

abattu MED Incapacidade congênita para distinguir certas cores, prin-


a.bat.tu cipalmente o vermelho e o verde, que geralmente afeta indivíduos
[abaty] do sexo masculino.
adj
1 abatido. ETIMOLOGIA
2 triste, decaído. der do np Dalton+ismo, como fr daltonisme.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES pão-durismo


-ue pão-du·ris·mo
sm
abdominal
ab.do.mi.nal COLOQ Qualidade ou característica do que é pão-duro ou sovi-
[abdɔminal] na; avareza, sovinice.
adj
abdominal. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
PL: pão-durismos.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
-aux, -ale ETIMOLOGIA
der de pão-duro+ismo.
8. Expressões
No final do verbete, numa seção denominada “Expressões” são piña colada
apresentadas expressões usuais em ordem alfabética. [ˈpiña koˈlada]
accord loc subst
ac.cord Coquetel preparado com rum, leite de coco, suco de abacaxi
[akɔʀ] e gelo.
nm
1 acordo, assentimento, concordância, pacto, trato. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
2 MUS acorde. PL: piña coladas.

EXPRESSÕES ETIMOLOGIA
d’accord de acordo, sim, o.k. esp.
donner son accord dar autorização, permissão.
mettre d’accord conciliar. OAB
tomber d’accord concordar, chegar a um acordo. Sigla de Ordem dos Advogados do Brasil.

acaso °C
a.ca.so FÍS, METEOR Símbolo de grau Celsius.
[ak′azu]
sm d.C.
hasard Abreviatura de depois de Cristo.

EXPRESSÕES Logo após a cabeça de verbete, há a indicação da divisão si-


por acaso par hasard. lábica assinalada por um ponto, com a separação das vogais dos
ditongos (crescentes e decrescentes).
Fonte: michaelis.uol.com.br
dedicatória
de·di·ca·tó·ri·a
A ORGANIZAÇÃO DE VERBETES sf
Palavras afetuosas, escritas principalmente em livros, fotos,
Organização do verbete CDs ou outro objeto artístico, dedicadas a alguém; dedicação.
A cabeça de verbete, também conhecida como entrada de ver-
bete, constitui-se de uma palavra simples, uma palavra composta ETIMOLOGIA
por hífen, uma locução, uma sigla, um símbolo ou uma abreviatura. fem de dedicatório, como fr dédicatoire.
Ela está destacada na cor azul.
As siglas aparecem com letras maiúsculas, mas aquelas que fo-
daltonismo ram cristalizadas apenas com a inicial maiúscula estão no dicionário
dal·to·nis·mo respeitando essa forma; já os símbolos científicos aparecem com
sm inicial maiúscula ou minúscula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

ONU ETIMOLOGIA
Sigla de Organização das Nações Unidas. lat capannam, como esp cabaña.

Unesco cabana 2
Sigla do inglês United Nations Educational, Scientific and Cultu- ca·ba·na
ral Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, sf
Ciência e Cultura). AERON Conjunto de cabos usado como contravento em asas
de avião.
Os substantivos que denominam seres sagrados (Buda, Deus
etc.), seres mitológicos (Diana, Zeus etc.), astros (Marte, Terra etc.), ETIMOLOGIA
festas religiosas (Natal, Páscoa etc.) e pontos cardeais que indicam ingl cabane
regiões são grafados com inicial minúscula e com a informação
“[com inicial maiúscula]”. As formas do feminino só apresentam entradas autônomas
quando há acepções diferentes daquela da mera indicação de gê-
buda nero.
bu·da
sm nora 1
no·ra
FILOS, REL sf
1 [com inicial maiúscula ] Título dado pelos seguidores do bu- A mulher do filho em relação aos pais dele.
dismo a quem alcançou um nível superior de entendimento e che-
gou à plenitude da condição humana por meio da libertação dos ETIMOLOGIA
desejos e da dissolução da ilusão produzida por estes. O título se lat vulg *nuram.
refere especialmente a Siddharta Gautama (563-483 a.C.), o maior
de todos os budas e o real fundador do budismo: “E, por fim, can-
sados, sentaram-se num banco de pedra próximo a uma imagem de nora 2
Buda e foram invadidos pela paz” (CV2). no·ra
2 Representação de Siddharta Gautama, geralmente em forma sf
de estátua ou estatueta: Suspende o buda de porcelana e o coloca Engenho de tirar água de poços, cisternas etc.; sarilho.
com cuidado sobre a cômoda.
ETIMOLOGIA
ETIMOLOGIA ár nāᶜūrah, como esp noria.
sânscr Buddha.
Os verbetes que se referem a marcas registradas são indicados
natal por meio do símbolo ®, grafado logo após a cabeça de verbete.
na·tal
adj m+f teflon®
1 Relativo ao nascimento; natalício. te·flon
2 Em que ocorre o nascimento; natalício. sm
[com inicial maiúscula ] Marca registrada do produto comercial
sm feito com politetrafluoretileno.
1 Dia do nascimento; natalício. ETIMOLOGIA
2 REL [com inicial maiúscula ] O dia de nascimento de Jesus marca Teflon.
Cristo, comemorado em 25 de dezembro.
3 MÚS Cântico medieval executado por ocasião das festas na- As palavras estrangeiras que integram este dicionário são gra-
talinas. fadas em itálico e não trazem divisão silábica. A transcrição fonéti-
ca, logo após a cabeça de verbete, sempre entre colchetes, indica a
ETIMOLOGIA pronúncia da palavra na língua de origem.
lat natalis.
NOTA: Entenda todos os símbolos fonéticos utilizados neste di-
As palavras homógrafas que possuem etimologias próprias são cionário na seção “Transcrição fonética” em “Como consultar”.
registradas como entradas diferentes, com número sobrescrito, ou
alceado. mailing
[ˈmeɪlɪŋ]
cabana 1 sm
ca·ba·na Relação de mensagens eletrônicas recebidas por meio de rede
sf de computadores.
Pequena habitação rústica, geralmente construída de madeira
e coberta de colmo; barraca, choupana. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
PL: mailings.

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LÍNGUA PORTUGUESA

ETIMOLOGIA der de rábano+ete.


ingl.
fanchona
Os estrangeirismos que no idioma original são grafados com fan·cho·na
inicial maiúscula, como, por exemplo, os substantivos da língua ale- sf
mã, são registrados neste dicionário com inicial minúscula pois as- PEJ, GÍR Mulher de aspecto e maneiras viris; virago.
sim são usados na língua portuguesa.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
blitz VAR: fanchonaça.
[bliːtz]
sf ETIMOLOGIA
1 HIST, MIL Ataque aéreo relâmpago e inesperado. fem de fanchão.
2 Batida policial inesperada, com grande número de policiais
armados: “Foi então que vimos a blitz: dois carros da polícia com Registra-se, logo após a cabeça de verbete, a categoria grama-
aquelas luzes giratórias acionadas, os cones estreitando a pista, al- tical.
guns carros e motos parados no acostamento e vários policiais em
volta deles” (LA3). eclampsia
3 Mobilização de improviso, de caráter fiscalizador, a fim de e·clamp·si·a
combater qualquer tipo de infração: “– Se algum vidro for quebra- sf
do, se alguma parede for derrubada, se alguém se machucar, se a
polícia der uma blitz e apreender drogas ou drogados” (TB1). MED Afecção que ocorre em geral no final do período de gravi-
4 FUT Ataque em massa; sucessão de ataques. dez, caracterizada por convulsões associadas à hipertensão.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES


PL: blitze. VAR: eclampse, eclâmpsia.

ETIMOLOGIA EXPRESSÕES
alem Blitz. Eclampsia puerperal: convulsões e coma associados com hiper-
tensão, edema ou proteinúria que podem ocorrer em paciente após
A rubrica, sempre destacada no verbete e geralmente abrevia- o parto.
da, refere-se às categorias gramaticais (substantivo, adjetivo, pro-
nome etc.), às áreas de conhecimento (botânica, medicina etc.), aos ETIMOLOGIA
regionalismos (Nordeste, Sul etc.) e aos níveis de linguagem (colo- der do gr éklampsis+ia1, como fr éclampsie.
quialismo, vulgarismo, gíria etc.).
ilegal
NOTA: Entenda o que significa cada abreviatura na seção “Abre- i·le·gal
viaturas” em “Como consultar”. adj m+f

chapadeiro Que contraria os preceitos ou as determinações da lei; sem le-


cha·pa·dei·ro gitimidade jurídica; ilícito.
sm
1 Habitante das chapadas; caipira, matuto. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
2 Terreno irregular e árido de certas chapadas. ANTÔN: legal.
3 REG (MG) Vvaqueiro, acepção 1.
4 REG (MG) Nome de uma raça bovina. ETIMOLOGIA
voc comp do lat in2-+legal, como fr illégal.
ETIMOLOGIA
der de chapada+eiro.
barbear
rabanete bar·be·ar
ra·ba·ne·te vtd e vpr
sm 1 Fazer ou aparar as barbas de: Barbeou o pai doente, pouco
BOT antes de sua morte. “[…] não pudera barbear-se sequer, dizia en-
1 Planta herbácea ( Raphanus sativus), da família das crucífe- quanto ela retirava o chapéu guardando cuidadosamente os gram-
ras, de folhas denteadas, flores com veias amarelas e violeta e raiz pos” (CL).
branca ou vermelha; nabo-japonês, rábano, rábão.
2 A raiz carnosa dessa planta, de sabor picante, geralmente vtd
usada em saladas. 2 ART GRÁF Cortar as barbas de livro, papel etc.; aparar.

ETIMOLOGIA vtd e vint

43
LÍNGUA PORTUGUESA

3 Passar com uma embarcação muito próximo de outra ou do ETIMOLOGIA


cais; fazer a barba. lat lapathia.

ETIMOLOGIA emoticon
der de barba+ear, como esp. [ɪˈməʊtɪkən]

cromado sm
cro·ma·do INTERNET Representação pictórica da expressão facial de uma
pessoa, indicando estados emocionais (alegria, tristeza, espanto,
adj zanga etc.), que é utilizada nos bate-papos e mensagens.
1 Que tem cromo.
2 Revestido de cromo. ETIMOLOGIA
ingl.
sm
Parte ou acessório cromado de um veículo automotor. Quando ocorre mudança de área de conhecimento, a rubrica é
indicada antes de cada acepção.
ETIMOLOGIA
der de cromo+ado, como fr chromé. cravo 1
cra·vo
Os substantivos de gênero oscilante apresentam duplo regis- sm
tro, separados por barra (sm/sf). 1 BOT Flor do craveiro1, acepção 1.
2 BOT Vcraveiro 1, acepção 1.
personagem 3 BOT Botão da flor do craveiro-da-índia, que é usado no
per·so·na·gem mundo todo como condimento e tem também usos medicinais e
farmacêuticos, entre outros; africana, cravinho, cravo-aromático,
sm/sf cravo-cabecinha, cravo-da-índia, cravo-da-terra-de-minas, cravo-
1 Pessoa que desfruta de atenção por suas qualidades, habili- -da-terra-de-são-paulo, cravo-de-cabeça, cravo-de-cabecinha, cra-
dades ou comportamento singular e diferenciado. vo-giroflê, girofle, giroflê.
2 Cada um dos papéis que um ator ou atriz representa baseado 4 Prego quadrangular que se usa em ferraduras.
em figuras humanas imaginadas por um autor: Ele já desempenhou 5 Prego com que os pés e as mãos dos suplicados eram fixados
várias personagens: um criminoso sádico, um herói trágico, um ban- à cruz e ao ecúleo.
cário metódico etc. 6 MED Calo profundo e doloroso que se localiza na planta do pé
3 POR EXT Figura humana criada por um autor de obra de fic- e tem forma semelhante a um cone.
ção: “A peça vivia esse ponto de crise, que um poeta chamou de 7 MED Afecção do folículo sebáceo, causada pelo acúmulo de
tensão dionisíaca. Eis o que acontecera no palco: o personagem resíduos epiteliais; comedão.
central, que passara, até então, por paralítico, ergue-se da cadeira 8 Pessoa incômoda ou nociva; chato, importuno, inconvenien-
de rodas. “‘– Não sou paralítico, nunca fui paralítico’, é ele próprio te.
quem o diz” (NR). 9 Mau negócio; embuste, fraude, trapaça.
4 Figura humana representada em diversas expressões artís- 10 VET Tumor duro no casco das cavalgaduras.
ticas. 11 Afecção do folículo pilossebáceo; ponto negro.
5 POR EXT O homem definido por seu papel social.
EXPRESSÕES
ETIMOLOGIA Dar uma no cravo e outra na ferradura, COLOQ: a) dar um golpe
fr personnage. certo e outro errado; b) apoiar duas coisas que encerram contradi-
ção, em geral por maldade ou dissimulação.
A rubrica referente à área de conhecimento, geralmente abre-
viada, é indicada antes das definições quando se aplica a todas elas. ETIMOLOGIA
lat clavum, como esp clavo.
labaça 1
la·ba·ça A mesma definição pode conter mais de uma rubrica referente
sf à área de conhecimento.

BOT crioidrato
1 Arbusto ( Rumex conglomeratus) da família das poligonáceas, cri·o·i·dra·to
nativo do sul da Europa e do leste da Ásia; alabaça. sm
2 Erva ( Rumex obtusifolius) da família das poligonáceas, oriun- FÍS, QUÍM Eutético constituído por água e um sal.
da da Europa, muito usada por suas propriedades medicinais; laba-
ça-obtusa, labaçol. ETIMOLOGIA
voc comp do gr krýos+hidrato, como ingl cryohydrate.

44
LÍNGUA PORTUGUESA

Há referência às vozes dos animais, no final do verbete, indi- vint


cando-se os verbos e os substantivos que se relacionam a elas. 4 JUR Propor uma exceção.

canário INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES


ca·ná·ri·o VAR: exceptuar.
adj sm ANTÔN (acepção 1): incluir.
Vcanarino.
sm ETIMOLOGIA
1 ZOOL Pássaro canoro pequeno da família dos fringilídeos ( der do lat exceptus+ar1.
Serinus canaria), de plumagem geralmente amarela e canto melo-
dioso, originário das ilhas Canárias, da Madeira e dos Açores. Quando o verbo é essencialmente pronominal, usa-se a partí-
2 POR EXT Pessoa que canta bem. cula se na cabeça de verbete.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES queixar-se


VOZ (acepção 1): canta, dobra, modula, trila, trina. quei·xar-se

EXPRESSÕES vpr
Canário de uma muda só, COLOQ: pessoa que anda todo o tem- 1 Manifestar lamúrias ou lamentações diante da dor física ou
po com uma só roupa. da mágoa; gemer, lastimar-se, reclamar: No enterro do marido, a
Canário sem muda, COLOQ: Vcanário de uma muda só. viúva queixava-se aos prantos.

ETIMOLOGIA vpr
de Canárias, np, como esp canario. 2 Manifestar desgosto ou desprazer; lamentar-se: “A cada dia,
a Igreja, contudo, se queixa de que há menos vocações sacerdotais”
Todos os comentários gramaticais são sempre mencionados (Z1).
entre colchetes.
vpr
certamente 3 Mostrar-se magoado ou ofendido: Queixa-se diante de tantas
cer·ta·men·te injustiças.
adv
1 Com certeza, sem dúvida [usado como modificador de frase, vpr
indica grande probabilidade e pequeno grau de incerteza ] : “Tão 4 Denunciar algo de que foi vítima: “Se você quiser, vá queixar-
determinado que, se alguém o olhasse mais atento, certamente -se à polícia… Está no seu direito! Eu me explicarei em juízo!” (AA1).
perceberia alguma forma mais precisa nos movimentos” (CFA).
2 Com certeza, é claro, sim [usado como resposta afirmativa a vpr
uma solicitação ] : “[…] não é assim? … – Certamente, respondeu a 5 Descrever estado físico ou moral: Ele se queixa de dores crô-
mocinha, sem perturbar-se” (JMM). nicas no peito.

ETIMOLOGIA ETIMOLOGIA
voc comp do fem de certo+mente. lat vulg *quassiare, como esp quejar.

A transitividade dos verbos é indicada em todas as acepções, Os verbos irregulares, defectivos ou impessoais trazem essa in-
antes dos números que as registram, já que os verbos podem exigir formação entre colchetes, no final do verbete.
um ou mais complementos no sintagma verbal, a fim de formar um
sentido completo. cerzir
cer·zir
excetuar
ex·ce·tu·ar vtd e vint
vtd 1 Costurar ou remendar tecido rasgado ou esgarçado, com
1 Fazer exceção de; pôr fora: Conhecia quase todos na festa, pontos miúdos, a fim de reconstituir sua trama original, sem deixar
excetuando um ou outro convidado. defeito: “Na barcaça […], apenas duas ou três mulheres catando su-
ruru, dois ou três pescadores cerzindo redes” (JU). “Foi pouco fogo.
vtdi e vpr O buraco é pequeno, dá para cerzir invisível” (TM1).
2 Deixar(-se) de fora: Não excetuou nenhum parente de sua
lista de convidados. Conseguiu excetuar-se da lista dos mais bagun- vtd e vtdi
ceiros da turma. 2 Juntar, reunir ou incorporar alguma coisa a outra: A atitude
do político perante as câmeras cerziu os piores comentários. O au-
vtd tor cerziu o romance com textos picantes. [Verbo irregular. ]
3 JUR Impugnar uma demanda por meio de exceção.

45
LÍNGUA PORTUGUESA

ETIMOLOGIA No final do verbete, numa seção denominada “Informações


lat sarcire. complementares”, registram-se os sinônimos, os antônimos, as va-
riantes, os plurais, os femininos, os aumentativos e os diminutivos
carpir irregulares e os superlativos absolutos sintéticos. Às vezes essas
car·pir formas (antônimo, sinônimo, plural etc.) podem referir-se apenas a
vtd uma acepção. Nesse caso, essa acepção é indicada.
1 ANT Arrancar (fios de barba ou de cabelo) em sinal de dor ou
de sentimento. molambento
mo·lam·ben·to
vtd
2 Arrancar (erva daninha ou mato); capinar. adj
Que está em farrapos; roto e sujo.
vtd
3 Expressar-se por meio de lamento; chorar, lamentar. adj sm
Que ou aquele que se veste com farrapos.
vtd e vpr
4 Lastimar(-se), prantear(-se). INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
SIN: maltrapilho, molambudo, mulambudo.
vtd e vint VAR: mulambento.
5 Expressar sons tristes e comoventes; sussurrar como que
chorando. ETIMOLOGIA
vpr der de molambo+ento.

6 Exprimir-se em tom de lamento; lamentar-se, prantear-se. anorexia


[Verbo defectivo. ] a·no·re·xi·a
(cs)
ETIMOLOGIA sf
lat carpĕre. MED Falta ou perda de apetite.

garoar EXPRESSÕES
ga·ro·ar Anorexia nervosa, MED, PSICOL: distúrbio nervoso grave, ca-
vint Cair garoa, chuviscar: Ontem, garoou à noitinha. [Verbo racterizado pelo medo obsessivo de engordar, fazendo com que a
impessoal.] pessoa pare de se alimentar, fique desnutrida e tenha sua vida ame-
açada. Acomete especialmente mulheres, em geral entre 16 e 25
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES anos, e provoca menstruação irregular, queda de peso repentina,
VAR: garuar. palidez, atrofia dos músculos, recusa do organismo em ingerir ali-
mentos, insônia, diminuição ou ausência da libido etc. O tratamen-
ETIMOLOGIA to inclui a administração de antidepressivo, psicoterapia individual
der de garoa1+ar1. e reeducação alimentar.

Quando uma unidade lexical tem sua definição em outro ver- INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
bete, por ser sinônimo ou não ser o termo preferencial, a remissão ANTÔN: orexia.
é indicada pela letra V (veja) seguida do verbete a consultar. Se a re-
missão refere-se a determinada acepção, esta também é indicada. ETIMOLOGIA
gr anoreksía.
guri
gu·ri plástico-bolha
plás·ti·co-bo·lha
sm sm
1 REG (RS) Vmenino, acepção 1. Material plástico, produzido em polietileno de baixa densida-
2 BOT Vguriri. de, com bolhas de ar prensadas, utilizado na embalagem de pro-
3 ZOOL Denominação comum aos peixes teleósteos silurifor- dutos diversos, proporcionando-lhes proteção. É também usado no
mes, da família dos ariídeos, encontrados em águas marinhas, com revestimento de pisos, antes da colocação de carpetes de madeira
o corpo revestido de escamas grossas, que formam uma couraça, e afins, conferindo-lhes isolação acústica.
dotados de grandes barbilhões; uri.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
ETIMOLOGIA PL: plásticos-bolhas e plásticos-bolha.
tupi wyrí, como esp.
ETIMOLOGIA
voc comp.

46
LÍNGUA PORTUGUESA

barão 1 Que se movimenta com rapidez ou agilidade: “Firmo […] era


ba·rão um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito […]”
sm (AA1).
1 Título nobiliárquico imediatamente inferior ao de visconde: 2 FIG Que tem raciocínio rápido; desembaraçado, ligeiro, pers-
“Lia-se no Jornal do Comércio que Sua Excelência fora agraciado picaz.
pelo governo português com o título de Barão do Freixal […]” (AA1). 3 Que atua ou trabalha com eficiência; diligente.
2 ANT Senhor feudal, subordinado ao rei.
3 ANT Homem ilustre por seus feitos e por sua riqueza. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
4 BOT Variedade de algodoeiro. SUP ABS SINT: agílimo e agilíssimo.
5 Homem de muito poder: É o barão da pequena cidade. ANTÔN: moroso, sonolento, vagaroso.
6 COLOQ Pessoa muito rica: Os barões vivem enclausurados em
suas mansões. ETIMOLOGIA
7 Homem que se destaca em determinado ramo de negócios: lat agĭlis.
“Os últimos brilhos do poente já iam e, a pedido do barão do café,
fogueiras e tochas não deveriam ser acesas” (TM1). Também são chamadas de subverbetes as expressões na es-
8 OBSOL Cédula antiga de mil cruzeiros. trutura de um verbete. Elas estão destacadas ao final do verbete,
9 ETNOL Entidade sobrenatural do boi de mamão. numa seção denominada “Expressões”.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES barba


FEM: baronesa. bar·ba

ETIMOLOGIA EXPRESSÕES
lat baronem. Barba a barba: em situação de confronto.
Barba de baleia, MAR: pequena haste ao lado do mastro da
animal proa, utilizada para disparos de cabos que prendem as velas.
a·ni·mal Barba de bode: Vcavanhaque.
À barba, COLOQ: bem visível.
sm Fazer a barba: raspar a barba, barbear-se.
1 BIOL Ser vivo multicelular, dotado de movimento, de cresci- Fazer barba, cabelo e bigode, ESP: vencer pelo menos três ve-
mento limitado, com capacidade de responder a estímulos. zes o mesmo adversário em categorias diferentes em curto espaço
2 Ser animal destituído de razão; animal irracional. de tempo.
3 COLOQ Pessoa insensível ou cruel. Nas barbas de: na presença de alguém, faltando-lhe o respeito.
4 COLOQ Pessoa muito grosseira ou ignorante. Pôr as barbas de molho: agir com prevenção contra alguma si-
5 Animal cavalar, especialmente o macho. tuação perigosa.
6 FIG A natureza animal; animalidade. Ter barbas: ser muito antigo.

adj m+f tomate


1 Relativo ou pertencente aos animais. to·ma·te
2 Próprio de animal.
3 Extraído ou obtido de animal. EXPRESSÕES
4 FIG Que se entrega aos prazeres do sexo; lascivo, libidinoso. Tomate francês, BOT: tomate de forma e tamanho de um ovo,
de coloração vermelho-escura, de tom alaranjado no interior, con-
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES sistência firme, sabor levemente ácido, com sementes pretas.
AUM (sm): animalaço, animalzão. Tomate italiano, BOT: tomate pequeno, de formato geralmente
DIM: animalzinho, animalejo, animálculo. cilíndrico, com a extremidade inferior pontuda. É adocicado e tem
menos sumo que a maioria das variedades dos tomates. É muito
EXPRESSÕES usado na preparação de molhos.
Animal inferior, ZOOL: animal invertebrado. Tomate seco, CUL: tomate cortado em duas metades, retiran-
Animal irracional: qualquer animal, exceto o homem. do-se as sementes, seco no forno ou ao sol, temperado com azeite,
Animal sem fogo, REG (CE): cavalo ainda não marcado ou fer- orégano, sal e, frequentemente, alho. É comumente servido em sa-
rado. ladas ou como antepasto.
Animal sem rabo, COLOQ: pessoa grosseira, mal-educada.
Animal superior: animal vertebrado. fuga 2
fu·ga
ETIMOLOGIA EXPRESSÕES
lat anĭmal. Fuga escolar, MÚS: aquela com rígida observância das regras
formais.
ágil Fuga real, MÚS: aquela cuja resposta não apresenta alterações
á·gil intervalares em relação ao sujeito.
adj m+f

47
LÍNGUA PORTUGUESA

Fuga tonal, MÚS: aquela cuja resposta apresenta alterações in- ASTROQ Estudo da composição química dos astros, baseado
tervalares em relação ao sujeito. especialmente nas análises espectroquímicas.

Foram utilizados exemplos e abonações com o objetivo de au- ETIMOLOGIA


torizar o emprego das palavras. As abonações foram extraídas de voc comp do gr ástron+química, como ingl astrochemistry.
textos literários de autores brasileiros consagrados e estão transcri-
tas entre aspas, com a sigla que representa o autor e a obra entre Fonte: michaelis.uol.com.br
parênteses. Os exemplos foram criados pela equipe de lexicógrafos
e são registrados em itálico.
VOCABULÁRIO: NEOLOGISMOS, ARCAÍSMOS,
NOTA: Entenda o que significa cada sigla das abonações na se- ESTRANGEIRISMOS
ção “Abonações – obras e siglas” em “Como consultar”.
É possível encontrar no Brasil diversas variações linguísticas,
fadigar como na linguagem regional. Elas reúnem as variantes da língua
fa·di·gar que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia.
vtd e vpr Causar ou sentir fadiga; afadigar: A alta temperatu- Delas surgem as variações que envolvem vários aspectos histó-
ra fadigou alguns corredores. O rapaz fadigou-se com o excesso de ricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros.
trabalho. Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os
seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes-
VAR: fatigar. mo significado dentro de um mesmo contexto.
As variações que distinguem uma variante de outra se mani-
ETIMOLOGIA festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico,
der de fadiga+ ar1, como esp fatigar. sintático e lexical.

fabricação Variações Morfológicas


fa·bri·ca·ção Ocorrem nas formas constituintes da palavra. As diferenças en-
tre as variantes não são tantas quanto as de natureza fônica, mas
sf não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar:
1 Ação, processo ou arte de fabricar algo; fábrica, fabrico, ma- – uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-ver-
nufatura: “Três meses mais tarde Mr. Chang Ling apareceria em sa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o cham-
Antares com a mulher e seus cinco filhos e mais três compatriotas panha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal).
seus, especialistas na fabricação de óleos comestíveis” (EV). – a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e ad-
2 POR EXT O que resulta da fabricação; fabrico. jetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro
3 Ação de inventar ou elaborar algo novo; criação, produção: É indicado, as noite fria, os caso mais comum.
um mestre na fabricação de personagens. – o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que o
4 Ação de produzir de modo natural: A fabricação de anticor- Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se
pos pelo organismo é a sua principal defesa. eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que
5 Produção ou criação de algo de modo ilícito, com o objetivo ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu.
de distorcer os fatos: A fabricação das provas era evidente. – o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o
superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem
EXPRESSÕES jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo),
Fabricação em série: fabricação em grande escala, segundo es- uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiperpossan-
pecificações padronizadas. te (em vez de possantíssimo).
– a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regula-
ETIMOLOGIA res: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir)
der de fabricar+ção, como esp fabricación. o recado, quando ele repor (repuser).
– a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregulares:
O campo destinado à etimologia do vocábulo está sempre no vareia (varia), negoceia (negocia).
final do verbete, após a indicação “Etimologia” e nele há diversos
tipos de informação como a língua de origem, o étimo e os elemen- Variações Fônicas
tos de composição. Ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da pala-
vra. Entre esses casos, podemos citar:
NOTA: Entenda como a etimologia dos vocábulos foi criada e – a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró-
como está padronizada neste dicionário lendo a seção “Etimologia” polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de
em “Como consultar”. pessoas de baixa condição social.
– A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das
astroquímica regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande
as·tro·quí·mi·ca do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira):
sf quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol.

48
LÍNGUA PORTUGUESA

– deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, – Neologismo: contrário do arcaísmo. São palavras recém-cria-
estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição social. das, muitas das quais mal ou nem entraram para os dicionários. A
– a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem na computação tem vários exemplos, como escanear, deletar, printar.
oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô. – Estrangeirismo: emprego de palavras emprestadas de outra
– o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me língua, que ainda não foram aportuguesadas, preservando a forma
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobretudo da
hoje frequentes na fala caipira. linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas
– a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, marelo o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto
(“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo.
(amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem oral
coloquial.
As palavras de origem inglesas são várias: feeling (“sensibilida-
de”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informações
Variações Sintáticas básicas).
Correlação entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe, – Jargão: vocabulário típico de um campo profissional como a
como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma va- medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. Furo é notícia
riante e outra. Como exemplo, podemos citar: dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma bar-
– a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome riga.
“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” com – Gíria: vocabulário especial de um grupo que não deseja ser
o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identida-
dele (em vez de cuja família eu já conhecia). de por meio da linguagem. Por exemplo, levar um lero (conversar).
– a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando – Preciosismo: é um léxico excessivamente erudito, muito raro:
se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com procrastinar (em vez de adiar); cinesíforo (em vez de motorista).
você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz – Vulgarismo: o contrário do preciosismo, por exemplo, de saco
me irrita. cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal, ar-
– ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che- ruinou-se).
gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela se-
mana muitos alunos; Comentou-se os episódios. Tipos de Variação
As variações mais importantes, são as seguintes:
– o uso de pronomes do caso reto com outra função que não
– Sociocultural: Esse tipo de variação pode ser percebido com
a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão certa facilidade.
sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de – Geográfica: é, no Brasil, bastante grande. Ao conjunto das
ti) e ele. características da pronúncia de uma determinada região dá-se o
– o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque
“o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem. gaúcho etc.
– a ausência da preposição adequada antes do pronome relati- – De Situação: são provocadas pelas alterações das circunstân-
vo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de: cias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de falar
de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que) compatível com determinada situação é incompatível com outra
eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio. – Histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo e com
o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o senti-
Variações Léxicas do delas. Essas alterações recebem o nome de variações históricas.
Conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do
léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracteri- LATINISMOS
zam com nitidez uma variante em confronto com outra. São exem-
plos possíveis de citar:
– as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às EXPRESSÕES E VOCÁBULOS LATINOS
Embora muitos gramáticos e estudiosos da língua defendam
vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a
que se deve privilegiar o uso de palavras em português, diversas
lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil
palavras e expressões latinas são usadas diariamente pelos falantes
chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Por- da língua, quer em linguagem formal ou de áreas específicas, quer
tugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno em linguagem informal.
almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que chamamos de As expressões latinas não sofrem processos de aportuguesa-
suéter, malha, camiseta. mento, devendo assim ser escritas em sua forma original, sem qual-
– a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para quer tentativa de aproximação às regras ortográficas e fonológicas
formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua- da língua portuguesa.
gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil; Deverão, contudo, ser grafadas com algum sinal indicativo da
Esse amigo é um carinha maior esforçado. sua condição de expressão de outro idioma: em itálico, entre aspas,
sublinhadas, em negrito. Confira exemplos das principais palavras e
Designações das Variantes Lexicais: expressões latinas usadas atualmente na língua portuguesa:
– Arcaísmo: palavras que já caíram de uso. Por exemplo, um
bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante usa- Ab initio: desde o princípio.
va-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era supimpa. A contrario sensu: em sentido contrário, pela razão contrária.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A posteriori: pelo que segue, depois de um fato. Diz-se do ra- Ipsis Verbis: pelas próprias palavras, exatamente, sem tirar nem
ciocínio que se remonta do efeito à causa. pôr.

A priori: segundo um princípio anterior, admitido como eviden- Lato sensu: em sentido amplo, em sentido geral.
te; antes de argumentar, sem prévio conhecimento.
Per capita: por cabeça, para cada indivíduo.
Apud: em, junto a, junto em. Emprega-se em citações indiretas,
isto é, citações colhidas numa obra. Quorum: número mínimo de membros presentes necessário
para que uma assembleia possa funcionar ou deliberar regularmen-
Carpe Diem: “Aproveita o dia”. (Aviso para que não desperdi- te.
cemos o tempo).
Sic: assim, assim mesmo, exatamente. Pospõe-se a uma cita-
Curriculum Vitae: conjuntos de dados relativos ao estado civil, ção, ou nela se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para
ao preparo profissional e às atividades anteriores de quem se can- indicar que o texto original é da forma que aparece.
didata a um emprego.
Statu quo: “No estado em que”. Emprega-se, na linguagem jurí-
Data venia: concedida a licença, com a devida vênia. É uma ex- dica, para indicar a forma, a situação ou a posição em que se encon-
pressão respeitosa com que se inicia uma argumentação discordan- tra certa questão ou coisa em determinado momento.
te da de outrem.
Stricto sensu: em sentido restrito, em sentido literal.
Et cetera (ou Et caetera) (abrev.: etc.): e as outras coisas, e os
outros, e assim por diante. Apesar de seu sentido etimológico (= e Verbi gratia: por exemplo.
outras coisas), emprega-se, atualmente, não somente após nomes
de coisas, mas também de pessoas, como expressão continuativa. Verbum ad verbum: palavra por palavra, textualmente, literal-
mente.
Exempli gratia: por exemplo. É expressão sinônima de Verbi
gratia.
ORTOGRAFIA
Habeas corpus: “Que tenhas o corpo”. Meio extraordinário de
garantir e proteger todo aquele que sofre violência ou ameaça de A ortografia oficial diz respeito às regras gramaticais referentes
constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, por parte à escrita correta das palavras. Para melhor entendê-las, é preciso
de qualquer autoridade legítima. analisar caso a caso. Lembre-se de que a melhor maneira de memo-
rizar a ortografia correta de uma língua é por meio da leitura, que
Habeas data: “Que tenha os dados”, “Que conheça os dados”. também faz aumentar o vocabulário do leitor.
Trata-se de garantia ativa dos direitos fundamentais, que se destina Neste capítulo serão abordadas regras para dúvidas frequentes
a assegurar: entre os falantes do português. No entanto, é importante ressaltar
a) o conhecimento de informações relativas à pessoa do impe- que existem inúmeras exceções para essas regras, portanto, fique
trante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades atento!
governamentais ou de caráter público;
b) a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por pro- Alfabeto
cesso sigiloso, judicial ou administrativo. O primeiro passo para compreender a ortografia oficial é co-
nhecer o alfabeto (os sinais gráficos e seus sons). No português, o
Homo sapiens: homem sábio; nome da espécie humana na no- alfabeto se constitui 26 letras, divididas entre vogais (a, e, i, o, u) e
menclatura de Lineu. consoantes (restante das letras).
Com o Novo Acordo Ortográfico, as consoantes K, W e Y foram
Id est: isto é, quer dizer. Às vezes, aparece abreviadamente reintroduzidas ao alfabeto oficial da língua portuguesa, de modo
(i.e.). que elas são usadas apenas em duas ocorrências: transcrição de
nomes próprios e abreviaturas e símbolos de uso internacional.
In memoriam: em comemoração, para memória, para lembran-
ça. Uso do “X”
Algumas dicas são relevantes para saber o momento de usar o
In posterum: no futuro. X no lugar do CH:
• Depois das sílabas iniciais “me” e “en” (ex: mexerica; enxer-
In terminis: no fim. Decisão final que encerra o processo. gar)
• Depois de ditongos (ex: caixa)
In verbis: nestes termos, nestas palavras. Emprega-se para ex- • Palavras de origem indígena ou africana (ex: abacaxi; orixá)
primir as citações ou as referências feitas com as palavras da pessoa
que se citou ou do texto a que se alude.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Uso do “S” ou “Z”


Algumas regras do uso do “S” com som de “Z” podem ser observadas:
• Depois de ditongos (ex: coisa)
• Em palavras derivadas cuja palavra primitiva já se usa o “S” (ex: casa > casinha)
• Nos sufixos “ês” e “esa”, ao indicarem nacionalidade, título ou origem. (ex: portuguesa)
• Nos sufixos formadores de adjetivos “ense”, “oso” e “osa” (ex: populoso)

Uso do “S”, “SS”, “Ç”


• “S” costuma aparecer entre uma vogal e uma consoante (ex: diversão)
• “SS” costuma aparecer entre duas vogais (ex: processo)
• “Ç” costuma aparecer em palavras estrangeiras que passaram pelo processo de aportuguesamento (ex: muçarela)

Os diferentes porquês

POR QUE Usado para fazer perguntas. Pode ser substituído por “por qual motivo”
PORQUE Usado em respostas e explicações. Pode ser substituído por “pois”
O “que” é acentuado quando aparece como a última palavra da frase, antes da pontuação final (interrogação,
POR QUÊ
exclamação, ponto final)
PORQUÊ É um substantivo, portanto costuma vir acompanhado de um artigo, numeral, adjetivo ou pronome

Parônimos e homônimos
As palavras parônimas são aquelas que possuem grafia e pronúncia semelhantes, porém com significados distintos.
Ex: cumprimento (saudação) X comprimento (extensão); tráfego (trânsito) X tráfico (comércio ilegal).
Já as palavras homônimas são aquelas que possuem a mesma grafia e pronúncia, porém têm significados diferentes. Ex: rio (verbo
“rir”) X rio (curso d’água); manga (blusa) X manga (fruta).

ACENTUAÇÃO GRÁFICA

A acentuação é uma das principais questões relacionadas à Ortografia Oficial, que merece um capítulo a parte. Os acentos utilizados
no português são: acento agudo (´); acento grave (`); acento circunflexo (^); cedilha (¸) e til (~).
Depois da reforma do Acordo Ortográfico, a trema foi excluída, de modo que ela só é utilizada na grafia de nomes e suas derivações
(ex: Müller, mülleriano).
Esses são sinais gráficos que servem para modificar o som de alguma letra, sendo importantes para marcar a sonoridade e a intensi-
dade das sílabas, e para diferenciar palavras que possuem a escrita semelhante.
A sílaba mais intensa da palavra é denominada sílaba tônica. A palavra pode ser classificada a partir da localização da sílaba tônica,
como mostrado abaixo:
• OXÍTONA: a última sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: café)
• PAROXÍTONA: a penúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: automóvel)
• PROPAROXÍTONA: a antepenúltima sílaba da palavra é a mais intensa. (Ex: lâmpada)
As demais sílabas, pronunciadas de maneira mais sutil, são denominadas sílabas átonas.

Regras fundamentais

CLASSIFICAÇÃO REGRAS EXEMPLOS


• terminadas em A, E, O, EM, seguidas ou não do
cipó(s), pé(s), armazém
OXÍTONAS plural
respeitá-la, compô-lo, comprometê-los
• seguidas de -LO, -LA, -LOS, -LAS
• terminadas em I, IS, US, UM, UNS, L, N, X, PS, Ã,
ÃS, ÃO, ÃOS
táxi, lápis, vírus, fórum, cadáver, tórax, bíceps, ímã,
• ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido
PAROXÍTONAS órfão, órgãos, água, mágoa, pônei, ideia, geleia,
ou não do plural
paranoico, heroico
(OBS: Os ditongos “EI” e “OI” perderam o acento
com o Novo Acordo Ortográfico)
PROPAROXÍTONAS • todas são acentuadas cólica, analítico, jurídico, hipérbole, último, álibi

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Regras especiais

REGRA EXEMPLOS
Acentua-se quando “I” e “U” tônicos formarem hiato com a vogal anterior, acompanhados ou não de saída, faísca, baú, país
“S”, desde que não sejam seguidos por “NH” feiura, Bocaiuva,
OBS: Não serão mais acentuados “I” e “U” tônicos formando hiato quando vierem depois de ditongo Sauipe
têm, obtêm, contêm,
Acentua-se a 3ª pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos “TER” e “VIR” e seus compostos
vêm
Não são acentuados hiatos “OO” e “EE” leem, voo, enjoo
Não são acentuadas palavras homógrafas
pelo, pera, para
OBS: A forma verbal “PÔDE” é uma exceção

A CRASE

Crase é o nome dado à contração de duas letras “A” em uma só: preposição “a” + artigo “a” em palavras femininas. Ela é demarcada
com o uso do acento grave (à), de modo que crase não é considerada um acento em si, mas sim o fenômeno dessa fusão.
Veja, abaixo, as principais situações em que será correto o emprego da crase:
• Palavras femininas: Peça o material emprestado àquela aluna.
• Indicação de horas, em casos de horas definidas e especificadas: Chegaremos em Belo Horizonte às 7 horas.
• Locuções prepositivas: A aluna foi aprovada à custa de muito estresse.
• Locuções conjuntivas: À medida que crescemos vamos deixando de lado a capacidade de imaginar.
• Locuções adverbiais de tempo, modo e lugar: Vire na próxima à esquerda.

Veja, agora, as principais situações em que não se aplica a crase:


• Palavras masculinas: Ela prefere passear a pé.
• Palavras repetidas (mesmo quando no feminino): Melhor termos uma reunião frente a frente.
• Antes de verbo: Gostaria de aprender a pintar.
• Expressões que sugerem distância ou futuro: A médica vai te atender daqui a pouco.
• Dia de semana (a menos que seja um dia definido): De terça a sexta. / Fecharemos às segundas-feiras.
• Antes de numeral (exceto horas definidas): A casa da vizinha fica a 50 metros da esquina.

Há, ainda, situações em que o uso da crase é facultativo


• Pronomes possessivos femininos: Dei um picolé a minha filha. / Dei um picolé à minha filha.
• Depois da palavra “até”: Levei minha avó até a feira. / Levei minha avó até à feira.
• Nomes próprios femininos (desde que não seja especificado): Enviei o convite a Ana. / Enviei o convite à Ana. / Enviei o convite à
Ana da faculdade.
DICA: Como a crase só ocorre em palavras no feminino, em caso de dúvida, basta substituir por uma palavra equivalente no masculino.
Se aparecer “ao”, deve-se usar a crase: Amanhã iremos à escola / Amanhã iremos ao colégio.

PERIODIZAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA; ESTUDO DOS PRINCIPAIS AUTORES DOS ESTILOS DE ÉPOCA

Origens
O estudo sobre as origens da literatura brasileira deve ser feito levando-se em conta duas vertentes: a histórica e a estética. O ponto
de vista histórico orienta no sentido de que a literatura brasileira é uma expressão de cultura gerada no seio da literatura portuguesa.
Como até bem pouco tempo eram muito pequenas as diferenças entre a literatura dos dois países, os historiadores acabaram enaltecendo
o processo da formação literária brasileira, a partir de uma multiplicidade de coincidências formais e temáticas.
A outra vertente (aquela que salienta a estética como pressuposto para a análise literária brasileira) ressalta as divergências que des-
de o primeiro instante se acumularam no comportamento (como nativo e colonizado) do homem americano, influindo na composição da
obra literária. Em outras palavras, considerando que a situação do colono tinha de resultar numa nova concepção da vida e das relações
humanas, com uma visão própria da realidade, a corrente estética valoriza o esforço pelo desenvolvimento das formas literárias no Brasil,
em busca de uma expressão própria, tanto quanto possível original
Em resumo: estabelecer a autonomia literária é descobrir os momentos em que as formas e artifícios literários se prestam a fixar a nova visão
estética da nova realidade. Assim, a literatura, ao invés de períodos cronológicos, deverá ser dividida, desde o seu nascedouro, de acordo com os
estilos correspondentes às suas diversas fases, do Quinhentismo ao Modernismo, até a fase da contemporaneidade.

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Duas eras - A literatura brasileira tem sua história dividida em esia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagó-
duas grandes eras, que acompanham a evolução política e econô- gico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos
mica do país: a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um superiores na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia.
período de transição, que corresponde à emancipação política do Não se pode comentar, no entanto, a literatura dos jesuítas
Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas escolas literárias sem referências ao que o padre José de Anchieta representa para o
ou estilos de época. Quinhentismo brasileiro. Chamado pelos índios de «Grande Piahy»
A Era Colonial abrange o Quinhentismo (de 1500, ano do des- (supremo pajé branco), Anchieta veio para o Brasil em 1553 e, no
cobrimento, a 1601), o Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768), ano seguinte, fundou um colégio no planalto paulista, a partir do
o Setecentismo (de 1768 a 1808) e o período de Transição (de 1808 qual surgiu a cidade de São Paulo.
a 1836). A Era Nacional, por sua vez, envolve o Romantismo (de Ao realizar um exaustivo trabalho de catequese, José de An-
1836 a 1881), o Realismo (de 1881 a 1893), o Simbolismo (de 1893 a chieta deixou uma fabulosa herança literária: a primeira gramática
1922) e o Modernismo (de 1922 a 1945). A partir daí o que está em do tupi-guarani, insuperável cartilha para o ensino da língua dos na-
estudo é a contemporaneidade da literatura brasileira. tivos; várias poesias no estilo do verso medieval; e diversos autos,
segundo o modelo deixado pelo poeta português Gil Vicente, que
O Quinhentismo agrega à moral religiosa católica os costumes dos indígenas, sempre
Essa expressão é a denominação genérica de todas as manifes- com a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o
tações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspon- mal, o anjo e o diabo.
dendo à introdução da cultura europeia em terras brasileiras. Não
se pode falar em uma literatura “do” Brasil, como característica do O Barroco
País naquele período, mas sim em literatura “no” Brasil – uma lite- O Barroco no Brasil tem seu marco inicial em 1601, com a pu-
ratura ligada ao Brasil, mas que denota as ambições e as intenções blicação do poema épico «Prosopopeia”, de Bento Teixeira, que in-
do homem europeu. troduz definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa
No quinhentismo, o que se demonstrava era o momento histó- literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do XVIII.
rico vivido pela Península Ibérica, que abrangia uma literatura infor- Embora o Barroco brasileiro seja datado de 1768, com a fun-
mativa e uma literatura dos jesuítas, como principais manifestações dação da Arcádia Ultramarina e a publicação do livro “Obras”, de
literárias no século XVI. Quem produzia literatura naquele período Cláudio Manuel da Costa, o movimento academicista ganha corpo
estava com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, pra- a partir de 1724, com a fundação da Academia Brasílica dos Esque-
ta, ferro, madeira etc.), enquanto a literatura dos jesuítas preocupa- cidos. Este fato assinala a decadência dos valores defendidos pelo
va-se com o trabalho de catequese. Barroco e a ascensão do movimento árcade. O termo barroco de-
Com exceção da carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o nomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos
primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da de 1600 e início dos anos de 1700. Além da literatura, estende-se à
literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato música, pintura, escultura e arquitetura da época.
compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de Antes do texto de Bento Teixeira, os sinais mais evidentes da
1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também caracteriza o fi- influência da poesia barroca no Brasil surgiram a partir de 1580 e
nal do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo brasileiro começaram a crescer nos anos seguintes ao domínio espanhol na
somente em 1549. Península Ibérica, já que é a Espanha a responsável pela unificação
A literatura informativa, também chamada de literatura dos dos reinos da região, o principal foco irradiador do novo estilo po-
viajantes ou dos cronistas, reflexo das grandes navegações, empe- ético.
nha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua flora, fau- O quadro brasileiro se completa no século XVII, com a presen-
na, de sua gente. É, portanto, uma literatura meramente descritiva ça cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações
e, como tal, sem grande valor literário ocorridas no Nordeste em consequência das invasões holandesas e,
A principal característica dessa manifestação é a exaltação da finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar,
terra, resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo Uma das principais referências do barroco brasileiro é Gregório
temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um de Matos Guerra, poeta baiano que cultivou com a mesma beleza
mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece tanto o estilo cultista quanto o conceptista (o cultismo é marcado
no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no su- pela linguagem rebuscada, extravagante, enquanto o conceptismo
perlativo (belo é belíssimo, lindo é lindíssimo etc.) caracteriza-se pelo jogo de ideias, de conceitos. O primeiro valo-
O melhor exemplo da escola quinhentista brasileira é Pero Vaz riza o pormenor, enquanto o segundo segue um raciocínio lógico,
de Caminha. Sua “Carta a El Rei Dom Manuel sobre o achamento do racionalista)
Brasil”, além do inestimável valor histórico, é um trabalho de bom Na poesia lírica e religiosa, Gregório de Matos deixa claro cer-
nível literário. O texto da carta mostra claramente o duplo objetivo to idealismo renascentista, colocado ao lado do conflito (como de
que, segundo Caminha, impulsionava os portugueses para as aven- hábito na época) entre o pecado e o perdão, buscando a pureza da
turas marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a dilatação fé, mas tendo ao mesmo tempo necessidade de viver a vida mun-
da fé cristã Literatura jesuíta - Consequência da Contrarreforma, a dana. Contradição que o situava com perfeição na escola barroca
principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, ob- do Brasil.
jetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poe-
sia quanto no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a Antônio Vieira - Se por um lado, Gregório de Matos mexeu com
melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da po- as estruturas morais e a tolerância de muita gente - como o admi-
nistrador português, o próprio rei, o clero e os costumes da própria
sociedade baiana do século XVII - por outro, ninguém angariou tan-

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LÍNGUA PORTUGUESA

tas críticas e inimizades quanto o “impiedoso” Padre Antônio Vieira, Pode-se dizer que a falta de substitutos para o padre Antônio
detentor de um invejável volume de obras literárias, inquietantes Vieira e Gregório de Matos, mortos nos últimos cinco anos do sé-
para os padrões da época. culo XVII, foi também um aspecto motivador do surgimento do Ar-
Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cris- cadismo no Brasil. De qualquer forma, suas características no País
tã (por defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos); os pe- seguem a linha europeia: a volta aos padrões clássicos da Antigui-
quenos comerciantes (por defender o monopólio comercial); e os dade e do Renascimento; a simplicidade; a poesia bucólica, pastoril;
administradores e colonos (por defender os índios). Essas posições, o fingimento poético e o uso de pseudônimos. Quanto ao aspecto
principalmente a defesa dos cristãos-novos, custaram a Vieira uma formal, a escola é marcada pelo soneto, os versos decassílabos, a
condenação da Inquisição, ficando preso de 1665 a 1667. A obra do rima optativa e a tradição da poesia épica. O Arcadismo tem como
Padre Antônio Vieira pode ser dividida em três tipos de trabalhos: principais nomes: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonza-
Profecias, Cartas e Sermões. ga, José de Santa Rita Durão e Basílio da Gama.
As Profecias constam de três obras: História do Futuro, Es-
peranças de Portugal e Clavis Prophetarum. Nelas se notam o se- O Romantismo
bastianismo e as esperanças de que Portugal se tornaria o “quinto O Romantismo se inicia no Brasil em 1836, quando Gonçalves
império do Mundo”. Segundo ele, tal fato estaria escrito na Bíblia. de Magalhães publica na França a “Niterói - Revista Brasiliense”,
Aqui ele demonstra bem seu estilo alegórico de interpretação bíbli- e, no mesmo ano, lança um livro de poesias românticas intitulado
ca (uma característica quase que constante de religiosos brasileiros “Suspiros poéticos e saudades”.
íntimos da literatura barroca). Além, é claro, de revelar um naciona- Em 1822, Dom Pedro I concretiza um movimento que se fa-
lismo megalomaníaco e servidão incomum. zia sentir, de forma mais imediata, desde 1808: a independência
O grosso da produção literária do Padre Antônio Vieira está nas do Brasil. A partir desse momento, o novo país necessita inserir-se
cerca de 500 cartas. no modelo moderno, acompanhando as nações independentes da
Elas versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, Europa e América. A imagem do português conquistador deveria
sobre a Inquisição e os cristãos novos e sobre a situação da colônia, ser varrida. Há a necessidade de autoafirmação da pátria que se
transformando-se em importantes documentos históricos. formava. O ciclo da mineração havia dado condições para que as fa-
Os melhores de sua obra, no entanto, estão nos 200 sermões. mílias mais abastadas mandassem seus filhos à Europa, em particu-
De estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao Gongorismo, lar França e Inglaterra, onde buscavam soluções para os problemas
o pregador português joga com as ideias e os conceitos, segundo brasileiros. O Brasil de então nem chegava perto da formação social
os ensinamentos de retórica dos jesuítas. Um dos seus principais dos países industrializados da Europa (burguesia/proletariado). A
trabalhos é o Sermão da Sexagésima, pregado na capela Real de estrutura social do passado próximo (aristocracia/escravo) ainda
Lisboa, em 1655. A obra também ficou conhecida como “A palavra prevalecia. Nesse Brasil, segundo o historiador José de Nicola, “o
de Deus”. ser burguês ainda não era uma posição econômica e social, mas
Polêmico, este sermão resume a arte de pregar. Com ele, Vieira mero estado de espírito, norma de comportamento”.
procurou atingir seus adversários católicos, os gongóricos domini- Marco final - Nesse período, Gonçalves de Magalhães viajava
canos, analisando no sermão “Porque não frutificava a Palavra de pela Europa. Em 1836, ele funda a revista Niterói, da qual circula-
Deus na terra”, atribuindo-lhes culpa. ram apenas dois números, em Paris.
Nela, ele publica o “Ensaio sobre a história da literatura brasi-
O Arcadismo leira”, considerado o nosso primeiro manifesto romântico. Essa es-
O Arcadismo no Brasil começa no ano de 1768, com dois fatos cola literária só teve seu marco final no ano de 1881, quando foram
marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação de lançados os primeiros romances de tendência naturalista e realista,
Obras, de Cláudio Manuel da Costa. A escola setecentista, por sinal, como “O mulato”, de Aluízio Azevedo, e “Memórias póstumas de
desenvolve-se até 1808, com a chegada da Família Real ao Rio de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Manifestações do movimento
Janeiro, que, com suas medidas político-administrativas, permite a realista, aliás, já vinham ocorrendo bem antes do início da deca-
introdução do pensamento pré-romântico no Brasil. dência do Romantismo, como, por exemplo, o liderado por Tobias
No início do século XVIII dá-se a decadência do pensamento Barreto desde 1870, na Escola de Recife.
barroco, para a qual vários fatores colaboraram, entre eles o can- O Romantismo, como se sabe, define-se como modismo nas
saço do público com o exagero da expressão barroca e da chamada letras universais a partir dos últimos 25 anos do século XVIII. A se-
arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença e atinge em gunda metade daquele século, com a industrialização modificando
meados do século um estágio estacionário (e até decadente), per- as antigas relações econômicas, leva a Europa a uma nova compo-
dendo terreno para o subjetivismo burguês; o problema da ascen- sição do quadro político e social, que tanto influenciaria os tempos
são burguesa superou o problema religioso; surgem as primeiras modernos. Daí a importância que os modernistas deram à Revo-
arcádias, que procuram a pureza e a simplicidade das formas clássi- lução Francesa, tão exaltada por Gonçalves de Magalhães. Em seu
cas; os burgueses, como forma de combate ao poder monárquico, “Discurso sobre a história da literatura do Brasil”, ele diz: “...Eis aqui
começam a cultuar o “bom selvagem”, em oposição ao homem cor- como o Brasil deixou de ser colônia e foi depois elevado à categoria
rompido pela sociedade. de Reino Unido. Sem a Revolução Francesa, que tanto esclareceu os
Gosto burguês - Assim, a burguesia atinge uma posição de do- povos, esse passo tão cedo se não daria...”.
mínio no campo econômico e passa a lutar pelo poder político, en- A classe social delineia-se em duas classes distintas e antagô-
tão em mãos da monarquia. Isto se reflete claramente no campo nicas, embora atuassem paralelas durante a Revolução Francesa:
social e das artes: a antiga arte cerimonial das cortes cede lugar ao a classe dominante, agora representada pela burguesia capitalista
poder do gosto burguês. industrial, e a classe dominada, representada pelo proletariado. O
Romantismo foi uma escola burguesa de caráter ideológico, a favor

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LÍNGUA PORTUGUESA

da classe dominante. Daí porque o nacionalismo, o sentimentalis- de liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que
mo, o subjetivismo e o irracionalismo - características marcantes do habita o alto da condilheira dos Antes. Seu principal representante
Romantismo inicial - não podem ser analisados isoladamente, sem foi Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e Sousândrade.
se fazer menção à sua carga ideológica. Duas outras variações literárias do Romantismo merecem des-
Novas influências - No Brasil, o momento histórico em que taque: a prosa e o teatro romântico. José de Nicola demonstrou
ocorre o Romantismo tem que ser visto a partir das últimas pro- quais as explicações para o aparecimento e desenvolvimento do
duções árcades, caracterizadas pela sátira política de Gonzaga e romance no Brasil: “A importação ou simples tradução de romances
Silva Alvarenga. Com a chegada da Corte, o Rio de Janeiro passa europeus; a urbanização do Rio de Janeiro, transformado, então,
por um processo de urbanização, tornando-se um campo propício à em Corte, criando uma sociedade consumidora representada pela
divulgação das novas influências europeias. A colônia caminhava no aristocracia rural, profissionais liberais, jovens estudantes, todos em
rumo da independência. busca de entretenimento; o espírito nacionalista em consequência
Após 1822, cresce no Brasil independente o sentimento de na- da independência política a exigir uma “cor local” para os enredos;
cionalismo, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza pá- o jornalismo vivendo o seu primeiro grande impulso e a divulgação
tria. Na realidade, características já cultivadas na Europa, e que se em massa de folhetins; o avanço do teatro nacional.”.
encaixaram perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar pro- Os romances respondiam às exigências daquele público leitor;
fundas crises sociais, financeiras e econômicas. giravam em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de ame-
De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado, como nidades das zonas rurais, ou de imponentes selvagens, apresentan-
reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembleia do personagens idealizados pela imaginação e ideologia românticas
Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; com os quais o leitor se identificava, vivendo uma realidade que lhe
a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação convinha. Algumas poucas obras, porém, fugiram desse esquema,
de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abolição como “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio
da escravatura. Segue-se o período regencial e a maioridade pre- de Almeida, e até “Inocência”, do Visconde de Taunay.
matura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge Ao se considerar a mera cronologia, o primeiro romance bra-
o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, sileiro foi “O filho do pescador”, publicado em 1843, de autoria de
de nacionalismo. Teixeira de Souza (1812-1881). Mas se tratava de um romance senti-
No final do Romantismo brasileiro, a partir de 1860, as transfor- mentalóide, de trama confusa e que não serve para definir as linhas
mações econômicas, políticas e sociais levam a uma literatura mais que o romance romântico seguiria na literatura brasileira.
próxima da realidade; a poesia reflete as grandes agitações, como Por esta razão, sobretudo pela aceitação obtida junto ao
a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai, o ideal de República. É público leitor, justamente por ter moldado o gosto deste público
a decadência do regime monárquico e o aparecimento da poesia ou correspondido às suas expectativas, convencionou-se adotar o
social de Castro Alves. No fundo, uma transição para o Realismo. romance “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, publicado
O Romantismo apresenta uma característica inusitada: revela em 1844, como o primeiro romance brasileiro.
nitidamente uma evolução no comportamento dos autores român- Dentro das características básicas da prosa romântica, desta-
ticos. A comparação entre os primeiros e os últimos representantes cam-se, além de Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de
dessa escola mostra traços peculiares a cada fase, mas discrepantes Almeida e José de Alencar. Almeida, por sinal, com as “Memórias de
entre si. No caso brasileiro, por exemplo, há uma distância consi- um Sargento de Milícias” realizou uma obra totalmente inovadora
derável entre a poesia de Gonçalves Dias e a de Castro Alves. Daí a para sua época, exatamente quando Macedo dominava o ambiente
necessidade de se dividir o Romantismo em fases ou gerações. No literário. As peripécias de um sargento descritas por ele podem ser
romantismo brasileiro podemos reconhecer três gerações: Geração consideradas como o verdadeiro romance de costumes do Roman-
Nacionalista ou indianista; geração do “mal do século” e a “geração tismo brasileiro, pois abandona a visão da burguesia urbana, para
condoreira”. retratar o povo com toda a sua simplicidade.
A primeira (nacionalista ou indianista) é marcada pela exalta- “Casamento” - José de Alencar, por sua vez, aparece na litera-
ção da natureza, volta ao passado histórico, medievalismo, criação tura brasileira como o consolidador do romance, um ficcionista que
do herói nacional na figura do índio, de onde surgiu a denominação cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições
“geração indianista”. O sentimentalismo e a religiosidade são outras políticas e sociais. Ele defendia o “casamento” entre o nativo e o
características presentes. Entre os principais autores, destacam-se europeu colonizador, numa troca de favores: uns ofereciam a natu-
Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto. reza virgem, um solo esplêndido; outros a cultura. Da soma desses
Egocentrismo - A segunda (do mal do século, também chamada fatores resultaria um Brasil independente. “O guarani” é o melhor
de geração byroniana, de Lord Byron) é impregnada de egocentris- exemplo, ao se observar a relação do principal personagem da obra,
mo, negativismo boêmio, pessimismo, dúvida, desilusão adolescen- o índio Peri, com a família de D. Antônio de Mariz.
te e tédio constante. Seu tema preferido é a fuga da realidade, que Esse jogo de interesses entre o índio e o europeu, proposto
se manifesta na idealização da infância, nas virgens sonhadas e na por Alencar, aparece também em Iracema (um anagrama da pala-
exaltação da morte. Os principais poetas dessa geração foram Ál- vra América), na relação da índia com o Português Martim. Moacir,
vares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes filho de Iracema e Martim, é o primeiro brasileiro fruto desse casa-
Varela. mento.
A geração condoreira, caracterizada pela poesia social e liber- José de Alencar diversificou tanto sua obra, que tornou pos-
tária, reflete as lutas internas da segunda metade do reinado de D. sível uma classificação por modalidades: romances urbanos ou de
Pedro II. Essa geração sofreu intensamente a influência de Victor costumes (retratando a sociedade carioca de sua época - o Rio do
Hugo e de sua poesia político-social, daí ser conhecida como gera- II Reinado); romances históricos (dois, na verdade, voltados para
ção hugoana. O termo condoreirismo é consequência do símbolo o período colonial brasileiro - “As minas de prata” e “A guerra dos

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mascates”); romances regionais (“O sertanejo” e “O gaúcho” são aumentando a massa operária urbana, e formando uma população
as duas obras regionais de Alencar); romances rurais (como “Til” e marginalizada, que não partilha dos benefícios do progresso indus-
“O tronco do ipê”); e romances indianistas (que trouxeram maior trial, mas, pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subu-
popularidade para o escritor, como “O Guarani”, “Iracema” e “Ubi- manas de trabalho.
rajara”). O Brasil também passa por mudanças radicais tanto no cam-
po econômico quanto no político-social, no período compreendido
Realismo e Naturalismo entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais,
“O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantis- se comparadas às da Europa. A campanha abolicionista intensifica-
mo era a apoteose do sentimento - o Realismo é a anatomia do ca- -se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/1870) tem como
ráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios consequência o pensamento republicano (o Partido Republicano
olhos - para condenar o que houve de mau na nossa sociedade”. Ao foi fundado no ano em que essa guerra terminou); a Monarquia
cunhar este conceito, Eça de Queiroz sintetizou a visão de vida que vive uma vertiginosa decadência. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o
os autores da escola realista tinham do homem durante e logo após problema dos negros, mas criou uma nova realidade: o fim da mão-de-
o declínio do Romantismo. -obra escrava e a sua substituição pela mão-de-obra assalariada, então
Esse estilo de época teve uma prévia: os românticos Castro Al- representada pelas levas de imigrantes europeus que vinham trabalhar
ves, Sousândrade e Tobias Barreto, embora fizessem uma poesia na lavoura cafeeira, o que originou uma nova economia voltada para o
romântica na forma e na expressão, utilizavam temas voltados para mercado externo, mas agora sem a estrutura colonialista.
a realidade político-social da época (final da década de 1860). Da Raul Pompéia, Machado de Assis e Aluízio Azevedo transfor-
mesma forma, algumas produções do romance romântico já apon- maram-se nos principais representantes da escola realista no Brasil.
tavam para um novo estilo na literatura brasileira, como algumas Ideologicamente, os autores desse período são antimonárquicos,
obras de Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como nos ro-
de Taunay. Começava-se o abandono do Romantismo enquanto sur- mances “O mulato”, “O cortiço” e “O Ateneu”. Eles negam a burgue-
giam os primeiros sinais do Realismo. sia a partir da família. A expressão Realismo é uma denominação
Na década de 70 surge a chamada Escola de Recife, com Tobias genérica da escola literária, que abriga três tendências distintas:
Barreto, Silvio Romero e outros, aproximando-se das ideias euro- “romance realista”, “romance naturalista” e “poesia parnasiana”.
peias ligadas ao positivismo, ao evolucionismo e, principalmente, O romance realista foi exaustivamente cultivado no Brasil por
à filosofia. São os ideais do Realismo que encontravam ressonância Machado de Assis. Trata-se de uma narrativa mais preocupada com
no conturbado momento histórico vivido pelo Brasil, sob o signo do a análise psicológica, fazendo a crítica à sociedade a partir do com-
abolicionismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia. portamento de determinados personagens. Para se ter uma ideia,
No Brasil considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo. os cinco romances da fase realista de Machado de Assis apresentam
De fato, esse foi um ano fértil para a literatura brasileira, com a pu- nomes próprios em seus títulos (“Brás Cubas”; “Quincas Borba”;
blicação de dois romances fundamentais, que modificaram o curso “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó”; e “Aires”). Isto revela uma clara
de nossas letras: Aluízio Azevedo publica “O mulato”, considerado preocupação com o indivíduo. O romance realista analisa a socieda-
o primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de Assis publica de por cima. Em outras palavras: seus personagens são capitalistas,
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o primeiro romance realista pertencem à classe dominante. O romance realista é documental,
de nossa literatura. retrato de uma época.
Na divisão tradicional da história da literatura brasileira, o ano
considerado data final do Realismo é 1893, com a publicação de Naturalismo
“Missal” e “Broquéis”, ambos de Cruz e Sousa, obras inaugurais do O romance naturalista, por sua vez, foi cultivado no Brasil por
Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro. Aqui, Raul Pompéia também pode
na prosa - com os romances realistas e naturalistas - e na poesia, ser incluído, mas seu caso é muito particular, pois seu romance “O
com o Parnasianismo “Príncipe dos poetas” - Da mesma forma, Ateneu” ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora
o início do Simbolismo, em 1893, não representou o fim do Rea- impressionistas. A narrativa naturalista é marcada pela forte análise
lismo, porque obras realistas foram publicadas posteriormente a social, a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o
essa data, como “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, em 1900, coletivo. Os títulos das obras naturalistas apresentam quase sem-
e “Esaú e Jacó”, do mesmo autor, em 1904. Olavo Bilac, chamado pre a mesma preocupação: “O mulato”, “O cortiço”, “Casa de pen-
“príncipe dos poetas”, obteve esta distinção em 1907. A Academia são”, “O Ateneu”.
Brasileira de Letras, templo do Realismo, também foi inaugurada O Naturalismo apresenta romances experimentais. A influência
posteriormente à data-marco do fim do Realismo: 1897. Na realida- de Charles Darwin se faz sentir na máxima segundo a qual o homem
de, nos últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros do século é um animal; portanto antes de usar a razão deixa-se levar pelos
XX, três estéticas se desenvolvem paralelamente: o Realismo e suas instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas manifesta-
manifestações, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhe- ções instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante. A
cem o golpe fatal em 1922, com a Semana de Arte Moderna. constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto do Na-
O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, turalismo. Em consequência, esses romances são mais ousados e
políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. A erroneamente tachados, por alguns, de pornográficos, apresentan-
Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, do descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em te-
caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; mas então proibidos como o homossexualismo - tanto o masculino
ao mesmo tempo, o avanço científico leva a novas descobertas nos (O Ateneu), quanto o feminino (O cortiço).
campos da física e da química. O capitalismo se estrutura em mol-
des modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais,

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O Parnasianismo Esse ambiente provavelmente representou a origem do Sim-


A poesia parnasiana preocupa-se com a forma e a objetivida- bolismo, marcado por frustrações, angústias, falta de perspectivas,
de, com seus sonetos alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimun- rejeitando o fato e privilegiando o sujeito.
do Correia e Alberto de Oliveira formam a trindade parnasiana O E isto é relevante pois a principal característica desse estilo de
Parnasianismo é a manifestação poética do Realismo, dizem alguns época foi justamente a negação do Realismo e suas manifestações.
estudiosos da literatura brasileira, embora ideologicamente não A nova estética nega o cientificismo, o materialismo e o racionalis-
mantenha todos os pontos de contato com os romancistas realistas mo. E valoriza as manifestações metafísicas e espirituais, ou seja, o
e naturalistas. Seus poetas estavam à margem das grandes transfor- extremo oposto do Naturalismo e do Parnasianismo.
mações do final do século XIX e início do século XX. “Dante Negro” - Impossível referir-se ao Simbolismo sem re-
Culto à forma - A nova estética se manifesta a partir do final da verenciar seus dois grandes expoentes: Cruz e Sousa e Alphonsus
década de 1870, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna. de Guimarães. Aliás, não seria exagero afirmar que ambos foram o
Em alguns casos chegou a ultrapassar o ano de 1922 (não conside- próprio Simbolismo. Especialmente o primeiro, chamado, então, de
rando, é claro, o neo-parnasianismo). Objetividade temática e culto “cisne negro” ou “Dante negro”. Figura mais importante do Simbo-
da forma: eis a receita. A forma fixa representada pelos sonetos; a lismo brasileiro, sem ele, dizem os especialistas, não haveria essa
métrica dos versos alexandrinos perfeitos; a rima rica, rara e perfei- estética no Brasil. Como poeta, teve apenas um volume publicado
ta. Isto tudo como negação da poesia romântica dos versos livres e em vida: “Broquéis” (os dois outros volumes de poesia são póstu-
brancos. Em suma, é o endeusamento da forma. mos). Teve uma carreira muito rápida, apesar de ser considerado
um dos maiores nomes do Simbolismo universal. Sua obra apre-
O Simbolismo senta uma evolução importante: na medida em que abandona o
É comum, entre críticos e historiadores, afirmar-se que o Bra- subjetivismo e a angústia iniciais, avança para posições mais uni-
sil não teve momento típico para o Simbolismo, sendo essa escola versalizantes - sua produção inicial fala da dor e do sofrimento do
literária a mais europeia, dentre as que contaram com seguidores homem negro (colocações pessoais, pois era filho de escravos), mas
nacionais, no confronto com as demais. Por isso, foi chamada de evolui para o sofrimento e a angústia do ser humano.
“produto de importação”. O Simbolismo no Brasil começa em 1893 Já Alphonsus de Guimarães preferiu manter-se fiel a um “tri-
com a publicação de dois livros: “Missal” (prosa) e “Broquéis” (po- ângulo” que caracterizou toda a sua obra: misticismo, amor e mor-
esia), ambos do poeta catarinense Cruz e Sousa, e estende-se até te. A crítica o considera o mais místico poeta de nossa literatura. O
1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna. amor pela noiva, morta às vésperas do casamento, e sua profunda
O início do Simbolismo não pode ser entendido como o fim da religiosidade e devoção por Nossa Senhora, gerou, e não poderia
escola anterior, o Realismo, pois no final do século XIX e início do sé- ser diferente, um misticismo que beirava o exagero. Um exemplo
culo XX tem-se três tendências que caminham paralelas: Realismo, é o “Setenário das dores de Nossa Senhora”, em que ele atesta sua
Simbolismo e pré-modernismo, com o aparecimento de alguns au- devoção pela Virgem. A morte aparece em sua obra como um único
tores preocupados em denunciar a realidade brasileira, entre eles meio de atingir a sublimação e se aproximar de Constança - a noiva
Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato. Foi a Semana morta - e da virgem. Daí o amor aparecer sempre espiritualizado.
de Arte Moderna que, pois, fim a todas as estéticas anteriores e A própria decisão de se isolar na cidade mineira de Mariana,
traçou, de forma definitiva, novos rumos para a literatura do Brasil. que ele próprio considerou sua “torre de marfim”, é uma postura
Transição - O Simbolismo, em termos genéricos, reflete um mo- simbolista.
mento histórico extremamente complexo, que marcaria a transição
para o século XX e a definição de um novo mundo, consolidado a O Pré-modernismo
partir da segunda década deste século. As últimas manifestações O que se convencionou chamar de pré-modernismo no Brasil
simbolistas e as primeiras produções modernistas são contemporâ- não constitui uma escola literária. Pré-modernismo, é, na verdade,
neas da primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa. um termo genérico que designa toda uma vasta produção literária,
Nesse contexto de conflitos e insatisfações mundiais (que mo- que caracteriza os primeiros vinte anos deste século.
tivou o surgimento do Simbolismo), era natural que se imaginasse Nele é que se encontram as mais variadas tendências e estilos
a falta de motivos para o Brasil desenvolver uma escola de época literários - desde os poetas parnasianos e simbolistas, que conti-
como essa. Mas é interessante notar que as origens do Simbolismo nuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvol-
brasileiro se deram em uma região magirnalizada pela elite cultural ver um novo regionalismo, alguns preocupados com uma literatura
e política: o Sul - a que mais sofreu com a oposição à recém-nas- política, e outros com propostas realmente inovadoras. É grande a
cida república, ainda impregnada de conceitos, teorias e práticas lista dos autores que pertenceram ao pré-modernismo, mas, indis-
militares. A República de então não era a que se desejava. E o Rio cutivelmente, merecem destaque: Euclides da Cunha, Lima Barreto,
Grande do Sul, onde a insatisfação foi mais intensa, transformou-se Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos.
em palco de lutas sangrentas iniciadas em 1893, o mesmo ano do Assim, pode-se dizer que essa escola começou em 1902, com
início do Simbolismo. a publicação de dois livros: “Os sertões”, de Euclides da Cunha, e
A Revolução Federalista (1893 a 1895), que começou como “Canaã”, de Graça Aranha, e se estende até o ano de 1922, com a
uma disputa regional, ganhou dimensão nacional ao se opor ao realização da Semana de Arte Moderna.
governo de Floriano Peixoto, gerando cenas de extrema violência Apesar de o pré-modernismo não constituir uma escola literá-
e crueldade no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além ria, apresentando individualidades muito fortes, com estilos às ve-
disso, surgiu a Revolta da Armada, movimento rebelde que exigiu a zes antagônicos - como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha
renúncia de Floriano, combatendo, sobretudo, a Marinha brasileira. e Lima Barreto - percebe-se alguns pontos comuns entre as princi-
Ao conseguir esmagar os revoltosos, o presidente consegue conso- pais obras pré-modernistas:
lidar a República.

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a) eram obras inovadoras, que apresentavam ruptura com o ano depois, quando ocorreu a Revolução Russa, os artigos na im-
passado, com o academicismo; prensa a esse respeito tornaram-se cada vez mais comuns. O par-
b) primavam pela denúncia da realidade brasileira, negando tido comunista seria fundado em 1922. Desde então, ocorreria o
o Brasil literário, herdado do Romantismo e do Parnasianismo. O declínio da influência anarquista no movimento operário.
grande tema do pré-modernismo é o Brasil não oficial do sertão Desta forma, circulavam pela cidade de São Paulo, numa mes-
nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios; ma calçada, um barão do café, um operário anarquista, um padre,
c) acentuavam o regionalismo, com o qual os autores acabam um burguês, um nordestino, um professor, um negro, um comer-
montando um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste nas ciante, um advogado, um militar etc., formando, de fato, uma “pau-
obras de Euclides da Cunha, o Vale do Rio Paraíba e o interior pau- liceia desvairada” (título de célebre obra de Mário de Andrade).
lista nos textos de Monteiro Lobato, o Espírito Santo, retratado por Esse desfile inusitado e variado de tipos humanos serviu de palco
Graça Aranha, ou o subúrbio carioca, temática quase que invariável ideal para a realização de um evento que mostrasse uma arte inova-
da obra de Lima Barreto; dora a romper com as velhas estruturas literárias vigentes no País.
d) difundiram os tipos humanos marginalizados, que tiveram
ampliado o seu perfil, até então desconhecido, ou desprezado, O Modernismo - (primeira fase)
quando conhecido - o sertanejo nordestino, o caipira, os funcioná- O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento mo-
rios públicos, o mulato; dernista, justamente em consequência da necessidade de defini-
e) traçaram uma ligação entre os fatos políticos, econômicos e ções e do rompimento de todas as estruturas do passado. Daí o
sociais contemporâneos, aproximando a ficção da realidade. caráter anárquico desta primeira fase modernista e seu forte sen-
Esses escritores acabaram produzindo uma redescoberta do tido destruidor.
Brasil, mais próxima da realidade, e pavimentaram o caminho para Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e
o período literário seguinte, o Modernismo, iniciado em 1922, que o polêmico, o nacionalismo se manifesta em suas múltiplas facetas:
acentuou de vez a ruptura com o que até então se conhecia como uma volta às origens, à pesquisa das fontes quinhentistas, à procu-
literatura brasileira. ra de uma língua brasileira (a língua falada pelo povo nas ruas), as
paródias, numa tentativa de repensar a história e a literatura mani-
A Semana de Arte Moderna festos nacionalistas do Pau-Brasil (o Manifesto do Pau-Brasil, escrito
O Modernismo, como tendência literária, ou estilo de época, por Oswald de Andrade em 1924, propõe uma literatura extrema-
teve seu prenúncio com a realização da Semana de Arte Moderna mente vinculada à realidade brasileira) e da Antropofagia, dentro
no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro da linha comandada por Oswald de Andrade. Mas havia também os
de 1922. Idealizada por um grupo de artistas, a Semana pretendia manifestos do Verde-Amarelismo e o do Grupo da Anta, que trazem
colocar a cultura brasileira a par das correntes de vanguarda do a semente do nacionalismo fascista comandado por Plínio Salgado.
pensamento europeu, ao mesmo tempo que pregava a tomada de No final da década de 20, a postura nacionalista apresenta duas
consciência da realidade brasileira. vertentes distintas: de um lado, um nacionalismo crítico, conscien-
O Movimento não deve ser visto apenas do ponto de vista ar- te, de denúncia da realidade brasileira e identificado politicamente
tístico, como recomendam os historiadores e críticos especializados com as esquerdas; de outro, o nacionalismo ufanista, utópico, exa-
em história da literatura brasileira, mas também como um movi- gerado, identificado com as correntes políticas de extrema direita.
mento político e social. O País estava dividido entre o rural e o urba- Entre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo,
no. Mas o bloco urbano não era homogêneo. As principais cidades que continuariam a produzir nas décadas seguintes, destacam-se
brasileiras, em particular São Paulo, conheciam uma rápida trans- Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio
formação como consequência do processo industrial. A primeira de Alcântara Machado, além de Menotti del Picchia, Cassiano Ricar-
Guerra Mundial foi a responsável pelo primeiro surto de industria- do, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
lização e consequente urbanização. O Brasil contava com 3.358 in-
dústrias em 1907. Em 1920, esse número pulou para 13.336. Isso O Modernismo - (segunda fase)
significou o surgimento de uma burguesia industrial cada dia mais O período de 1930 a 1945 registrou a estreia de alguns dos
forte, mas marginalizada pela política econômica do governo fede- nomes mais significativos do romance brasileiro. Refletindo o mes-
ral, voltada para a produção e exportação do café. mo momento histórico e apresentando as mesmas preocupações
Imigrantes - Ao lado disso, o número de imigrantes europeus dos poetas da década de 30 (Murilo Mendes, Jorge de Lima, Carlos
crescia consideravelmente, especialmente os italianos, distribuin- Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes), a
do-se entre as zonas produtoras de café e as zonas urbanas, onde segunda fase do Modernismo apresenta autores como José Lins do
estavam as indústrias. De 1903 a 1914, o Brasil recebeu nada menos Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico
que 1,5 milhão de imigrantes. Nos centros urbanos criou-se uma Veríssimo, que produzem uma literatura de caráter mais construti-
faixa considerável de população espremida pelos barões do café e vo, de maturidade, aproveitando as conquistas da geração de 1922
pela alta burguesia, de um lado, e pelo operariado, de outro. Surge e sua prosa inovadora.
a pequena burguesia, formada por funcionários públicos, comer- Efeitos da crise - Na década de 30, o País passava por gran-
ciantes, profissionais liberais e militares, entre outros, criando uma des transformações, fortemente marcadas pela revolução de 30 e
massa politicamente “barulhenta” e reivindicatória. A falta de ho- o questionamento das oligarquias tradicionais. Não havia como não
mogeneidade no bloco urbano tem origem em alguns aspectos do sentir os efeitos da crise econômica mundial, os choques ideológi-
comportamento do operariado. Os imigrantes de origem europeia cos que levavam a posições mais definidas e engajadas. Tudo isso
trazem suas experiências de luta de classes. Em geral esses traba- formou um campo propício ao desenvolvimento de um romance
lhadores eram anarquistas e suas ações resultavam, quase sempre,
em greves e tensões sociais de toda sorte, entre 1905 e 1917. Um

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caracterizado pela denúncia social, verdadeiro documento da reali- Oswald de Andrade. A preocupação primordial era quanto ao resta-
dade brasileira, atingindo um elevado grau de tensão nas relações belecimento da forma artística e bela; os modelos voltam a ser os
do indivíduo com o mundo. mestres do Parnasianismo e do Simbolismo.
Nessa busca do homem brasileiro “espalhado nos mais distan- Esse grupo, chamado de Geração de 45, era formado, entre
tes recantos de nossa terra”, no dizer de José Lins do Rego, o regio- outros poetas, por Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir
nalismo ganha uma importância até então não alcançada na litera- Campos e Darcy Damasceno. O final dos anos 40, no entanto, reve-
tura brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com lou um dos mais importantes poetas da nossa literatura, não filiado
o meio natural e social. Destaque especial merecem os escritores esteticamente a qualquer grupo e aprofundador das experiências
nordestinos que vivenciam a passagem de um Nordeste medieval modernistas anteriores: ninguém menos que João Cabral de Melo
para uma nova realidade capitalista e imperialista. E nesse aspecto, Neto. Contemporâneos a ele, e com alguns pontos de contato com
o Baiano Jorge Amado é um dos melhores representantes do ro- sua obra, destacam-se Ferreira Gullar e Mauro Mota.
mance brasileiro, quando retrata o drama da economia cacaueira,
desde a conquista e uso da terra até a passagem de seus produtos A produção contemporânea
para as mãos dos exportadores. Mas também não se pode esquecer Produção contemporânea deve ser entendida como as obras
de José Lins do Rego, com as suas regiões de cana, os banguês e os e movimentos literários surgidos nas décadas de 60 e 70, e que
engenhos sendo devorados pelas modernas usinas. refletiram um momento histórico caracterizado inicialmente pelo
O primeiro romance representativo do regionalismo nordes- autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada autocensura. Seu
tino, que teve seu ponto de partida no Manifesto Regionalista de período mais crítico ocorreu entre os anos de 1968 e 1978, durante
1926, foi “A bagaceira”, de José Américo de Almeida, publicado em a vigência do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Tanto que, logo após a
1928. Verdadeiro marco na história literária do Brasil, sua importân- extinção do Ato, verificou-se uma progressiva normalização no País.
cia deve-se mais à temática (a seca, os retirantes, o engenho) e ao As adversidades políticas, no entanto, não mergulharam o País
caráter social do romance, do que aos valores estéticos. numa calmaria cultural. Ao contrário, as décadas de 60 e 70 assisti-
ram a uma produção cultural bastante intensa em todos os setores.
Pós-Modernismo Na poesia, percebe-se a preocupação em manter uma temática
O Pós-Modernismo se insere no contexto dos extraordinários social, um texto participante, com a permanência de nomes consa-
fenômenos sociais e políticos de 1945. Foi o ano que assistiu ao fim grados como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo
da Segunda Guerra Mundial e ao início da Era Atômica, com as ex- Neto e Ferreira Gullar, ao lado de outros poetas que ainda apara-
plosões de Hiroshima e Nagasaki. O mundo passa a acreditar numa vam as arestas em suas produções.
paz duradoura. Cria-se a Organização das Nações Unidas (ONU) e, Visual - O início da década de 60 apresentou alguns grupos em
em seguida, publica-se a Declaração dos Direitos do Homem. Mas, luta contra o que chamaram “esquemas analítico-discursivos da sin-
logo depois, inicia-se a Guerra Fria. taxe tradicional”. Ao mesmo tempo, esses grupos buscavam solu-
Paralelamente a tudo isso, o Brasil vive o fim da ditadura de ções no aproveitamento visual da página em branco, na sonoridade
Getúlio Vargas. O País inicia um processo de redemocratização. das palavras e nos recursos gráficos. O sintoma mais importante
Convoca-se uma eleição geral e os partidos são legalizados. Apesar desse movimento foi o surgimento da Poesia Concreta e da Poesia
disso, abre-se um novo tempo de perseguições políticas, ilegalida- Práxis. Paralelamente, surgia a poesia “marginal”, que se desenvol-
des e exílios. veu fora dos grandes esquemas industriais e comerciais de produ-
A literatura brasileira também passa por profundas alterações, ção de livros.
com algumas manifestações representando muitos passos adiante; No romance, ao lado da última produção de Jorge Amado e
outras, um retrocesso. O jornal “O Tempo”, excelente crítico literá- Érico Veríssimo, e das obras “lacriminosas” de José Mauro de Vas-
rio, encarrega-se de fazer a seleção. concelos (“Meu pé de Laranja-Lima”, “Barro Blanco”), de muito su-
Intimismo - A prosa, tanto nos romances como nos contos, cesso junto ao grande público, tem se mantido o regionalismo de
aprofunda a tendência já trilhada por alguns autores da década de Mário Palmério, Bernardo Élis, Antônio Callado, Josué Montello e
30, em busca de uma literatura intimista, de sondagem psicológica, José Cândido de Carvalho. Dentre os intimistas, destacam-se Os-
introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. man Lins, Autran Dourado e Lygia Fagundes Telles.
Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão Na prosa, as duas décadas citadas assistiram à consagração das
com a produção fantástica de João Guimarães Rosa e sua recriação narrativas curtas (crônica e conto). O desenvolvimento da crônica
dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia está intimamente ligado ao espaço aberto a esse gênero na grande
do jagunço do Brasil central. imprensa. Hoje, por exemplo, não há um grande jornal que não in-
Na poesia, ganha corpo, a partir de 1945, uma geração de poe- clua em suas páginas crônicas de Rubem Braga, Fernando Sabino,
tas que se opõe às conquistas e inovações dos modernistas de 1922. Carlos Heitor Cony, Paulo Mendes Campos, Luís Fernando Veríssimo
A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu, cujo e Lourenço Diaféria, entre outros. Deve-se fazer uma menção espe-
primeiro número é lançado na “Primavera de 1947” e que afirma, cial a Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), que, com suas bem-hu-
entre outras coisas, que “uma geração só começa a existir no dia em moradas e cortantes sátiras político-sociais, escritas na década de
que não acredita nos que a precederam, e só existe realmente no 60, tem servido de mestre a muitos cronistas.
dia em que deixam de acreditar nela.” O conto, por outro lado, analisado no conjunto das produções
Essa geração de escritores negou a liberdade formal, as ironias, contemporâneas, situa-se em posição privilegiada tanto em quali-
as sátiras e outras “brincadeiras” modernistas. Os poetas de 45 par- dade quanto em quantidade. Entre os contistas mais significativos,
tem para uma poesia mais equilibrada e séria”, distante do que eles destacam-se Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Samuel Rawet, Rubem
chamavam de “primarismo desabonador” de Mário de Andrade e Fonseca, Domingos Pellegrini Jr. e João Antônio.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Marque a alternativa abaixo que apresenta a(s) proposi-


QUESTÕES ção(ões) verdadeira(s).
(A) I, apenas
1. (FMPA – MG) (B) II e III
Assinale o item em que a palavra destacada está incorretamen- (C) III, apenas
te aplicada: (D) II, apenas
(A) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes. (E) I e II
(B) A justiça infligiu pena merecida aos desordeiros.
(C) Promoveram uma festa beneficiente para a creche. 3. (UNIFOR CE – 2006)
(D) Devemos ser fieis aos cumprimentos do dever. Dia desses, por alguns momentos, a cidade parou. As televi-
(E) A cessão de terras compete ao Estado. sões hipnotizaram os espectadores que assistiram, sem piscar, ao
. resgate de uma mãe e de uma filha. Seu automóvel caíra em um
rio. Assisti ao evento em um local público. Ao acabar o noticiário, o
2. (UEPB – 2010) silêncio em volta do aparelho se desfez e as pessoas retomaram as
Um debate sobre a diversidade na escola reuniu alguns, dos suas ocupações habituais. Os celulares recomeçaram a tocar. Per-
maiores nomes da educação mundial na atualidade. guntei-me: indiferença? Se tomarmos a definição ao pé da letra,
indiferença é sinônimo de desdém, de insensibilidade, de apatia e
Carlos Alberto Torres de negligência. Mas podemos considerá-la também uma forma de
1
O tema da diversidade tem a ver com o tema identidade. Por- ceticismo e desinteresse, um “estado físico que não apresenta nada
tanto, 2quando você discute diversidade, um tema que cabe muito no de particular”; enfim, explica o Aurélio, uma atitude de neutralida-
3
pensamento pós-modernista, está discutindo o tema da 4diversida- de.
de não só em ideias contrapostas, mas também em 5identidades que Conclusão? Impassíveis diante da emoção, imperturbáveis
se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E 6este é um processo diante da paixão, imunes à angústia, vamos hoje burilando nossa
de aprendizagem. Uma segunda afirmação é 7que a diversidade está indiferença. Não nos indignamos mais! À distância de tudo, segui-
relacionada com a questão da educação 8e do poder. Se a diversidade mos surdos ao barulho do mundo lá fora. Dos movimentos de mas-
fosse a simples descrição 9demográfica da realidade e a realidade fos- sa “quentes” (lembram-se do “Diretas Já”?) onde nos fundíamos na
se uma boa articulação 10dessa descrição demográfica em termos de igualdade, passamos aos gestos frios, nos quais indiferença e dis-
constante articulação 11democrática, você não sentiria muito a pre- tância são fenômenos inseparáveis. Neles, apesar de iguais, somos
sença do tema 12diversidade neste instante. Há o termo diversidade estrangeiros ao destino de nossos semelhantes. […]
porque há 13uma diversidade que implica o uso e o abuso de poder,
de uma 14perspectiva ética, religiosa, de raça, de classe. (Mary Del Priore. Histórias do cotidiano. São Paulo: Contexto, 2001.
[…] p.68)

Rosa Maria Torres Dentre todos os sinônimos apresentados no texto para o vo-
15
O tema da diversidade, como tantos outros, hoje em dia, abre cábulo indiferença, o que melhor se aplica a ele, considerando-se
16
muitas versões possíveis de projeto educativo e de projeto 17po- o contexto, é
lítico e social. É uma bandeira pela qual temos que reivindicar, 18e (A) ceticismo.
pela qual temos reivindicado há muitos anos, a necessidade 19de (B) desdém.
reconhecer que há distinções, grupos, valores distintos, e 20que a (C) apatia.
escola deve adequar-se às necessidades de cada grupo. 21Porém, o (D) desinteresse.
tema da diversidade também pode dar lugar a uma 22série de coisas (E) negligência.
indesejadas.
[…] 4. (CASAN – 2015) Observe as sentenças.
I. Com medo do escuro, a criança ascendeu a luz.
Adaptado da Revista Pátio, Diversidade na educação: limites e possibi- II. É melhor deixares a vida fluir num ritmo tranquilo.
lidades. Ano V, nº 20, fev./abr. 2002, p. 29. III. O tráfico nas grandes cidades torna-se cada dia mais difícil
para os carros e os pedestres.
Do enunciado “O tema da diversidade tem a ver com o tema
identidade.” (ref. 1), pode-se inferir que Assinale a alternativa correta quanto ao uso adequado de ho-
I – “Diversidade e identidade” fazem parte do mesmo campo mônimos e parônimos.
semântico, sendo a palavra “identidade” considerada um hiperôni- (A) I e III.
mo, em relação à “diversidade”. (B) II e III.
II – há uma relação de intercomplementariedade entre “diversi- (C) II apenas.
dade e identidade”, em função do efeito de sentido que se instaura (D) Todas incorretas.
no paradigma argumentativo do enunciado.
III – a expressão “tem a ver” pode ser considerada de uso co-
loquial e indica nesse contexto um vínculo temático entre “diversi-
dade e identidade”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

5. (UFMS – 2009) 7. (PUC-SP) Dê a função sintática do termo destacado em: “De-
Leia o artigo abaixo, intitulado “Uma questão de tempo”, de pressa esqueci o Quincas Borba”.
Miguel Sanches Neto, extraído da Revista Nova Escola Online, em (A) objeto direto
30/09/08. Em seguida, responda. (B) sujeito
“Demorei para aprender ortografia. E essa aprendizagem con- (C) agente da passiva
tou com a ajuda dos editores de texto, no computador. Quando eu (D) adjunto adverbial
cometia uma infração, pequena ou grande, o programa grifava em (E) aposto
vermelho meu deslize. Fui assim me obrigando a escrever minima-
mente do jeito correto. 8. (MACK-SP) Aponte a alternativa que expressa a função sintá-
Mas de meu tempo de escola trago uma grande descoberta, tica do termo destacado: “Parece enfermo, seu irmão”.
a do monstro ortográfico. O nome dele era Qüeqüi Güegüi. Sim, (A) Sujeito
esse animal existiu de fato. A professora de Português nos disse que (B) Objeto direto
devíamos usar trema nas sílabas qüe, qüi, güe e güi quando o u é (C) Predicativo do sujeito
pronunciado. Fiquei com essa expressão tão sonora quanto enig- (D) Adjunto adverbial
mática na cabeça. (E) Adjunto adnominal
Quando meditava sobre algum problema terrível – pois na pré-
-adolescência sempre temos problemas terríveis –, eu tentava me 9. (OSEC-SP) “Ninguém parecia disposto ao trabalho naquela
libertar da coisa repetindo em voz alta: “Qüeqüi Güegüi”. Se numa manhã de segunda-feira”.
prova de Matemática eu não conseguia me lembrar de uma fórmu- (A) Predicativo
la, lá vinham as palavras mágicas. (B) Complemento nominal
Um desses problemas terríveis, uma namorada, ouvindo minha (C) Objeto indireto
evocação, quis saber o que era esse tal de Qüeqüi Güegüi. (D) Adjunto adverbial
– Você nunca ouviu falar nele? – perguntei. (E) Adjunto adnominal
– Ainda não fomos apresentados – ela disse.
– É o abominável monstro ortográfico – fiz uma falsa voz de
10. (MACK-SP) “Não se fazem motocicletas como antigamen-
terror.
te”. O termo destacado funciona como:
– E ele faz o quê?
(A) Objeto indireto
– Atrapalha a gente na hora de escrever.
(B) Objeto direto
Ela riu e se desinteressou do assunto. Provavelmente não sabia
(C) Adjunto adnominal
usar trema nem se lembrava da regrinha.
(D) Vocativo
Aos poucos, eu me habituei a colocar as letras e os sinais no
(E) Sujeito
lugar certo. Como essa aprendizagem foi demorada, não sei se con-
seguirei escrever de outra forma – agora que teremos novas regras.
Por isso, peço desde já que perdoem meus futuros erros, que servi- 11. (UFRJ) Esparadrapo
rão ao menos para determinar minha idade. Há palavras que parecem exatamente o que querem dizer. “Es-
– Esse aí é do tempo do trema.” paradrapo”, por exemplo. Quem quebrou a cara fica mesmo com
cara de esparadrapo. No entanto, há outras, aliás de nobre sentido,
Assinale a alternativa correta. que parecem estar insinuando outra coisa. Por exemplo, “incuná-
(A) As expressões “monstro ortográfico” e “abominável mons- bulo*”.
tro ortográfico” mantêm uma relação hiperonímica entre si.
(B) Em “– Atrapalha a gente na hora de escrever”, conforme a QUINTANA, Mário. Da preguiça como método de trabalho. Rio de
norma culta do português, a palavra “gente” pode ser substitu- Janeiro, Globo. 1987. p. 83.
ída por “nós”. *Incunábulo: [do lat. Incunabulu; berço]. Adj. 1- Diz-se do livro impres-
(C) A frase “Fui-me obrigando a escrever minimamente do jeito so até o ano de 1500./ S.m. 2 – Começo, origem.
correto”, o emprego do pronome oblíquo átono está correto de
acordo com a norma culta da língua portuguesa. A locução “No entanto” tem importante papel na estrutura do
(D) De acordo com as explicações do autor, as palavras pregüiça texto. Sua função resume-se em:
e tranqüilo não serão mais grafadas com o trema. (A) ligar duas orações que querem dizer exatamente a mesma
(E) A palavra “evocação” (3° parágrafo) pode ser substituída no coisa.
texto por “recordação”, mas haverá alteração de sentido. (B) separar acontecimentos que se sucedem cronologicamen-
te.
6. (FMU) Leia as expressões destacadas na seguinte passagem: (C) ligar duas observações contrárias acerca do mesmo assun-
“E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero to.
na salada – o meu jeito de querer bem.” (D) apresentar uma alternativa para a primeira ideia expressa.
Tais expressões exercem, respectivamente, a função sintática (E) introduzir uma conclusão após os argumentos apresenta-
de: dos.
(A) objeto indireto e aposto
(B) objeto indireto e predicativo do sujeito
(C) complemento nominal e adjunto adverbial de modo
(D) complemento nominal e aposto
(E) adjunto adnominal e adjunto adverbial de modo

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LÍNGUA PORTUGUESA

12. (IBFC – 2013) Leia as sentenças: Leia atentamente a oração destacada no período a seguir:
“(...) pois ainda escutava em mim as risadas da menina que
É preciso que ela se encante por mim! queria correr nas lajes do pátio (...)”
Chegou à conclusão de que saiu no prejuízo.
Assinale a alternativa em que a oração em negrito e sublinhada
Assinale abaixo a alternativa que classifica, correta e respecti- apresenta a mesma classificação sintática da destacada acima.
vamente, as orações subordinadas substantivas (O.S.S.) destacadas: (A) “A menina que levava castigo na escola porque ria fora de
(A) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. objetiva indireta. hora (...)”
(B) O.S.S. subjetiva e O.S.S. completiva nominal
(B) “(...) e deixava cair com estrondo sabendo que os meninos,
(C) O.S.S. subjetiva e O.S.S. objetiva indireta.
mais que as meninas, se botariam de quatro catando lápis, ca-
(D) O.S.S. objetiva direta e O.S.S. completiva nominal.
netas, borracha (...)”
13. (ADVISE-2013) Todos os enunciados abaixo correspondem (C) “(...) não queria que soubessem que ela (...)”
a orações subordinadas substantivas, exceto: (D) “Logo me dei conta de que hoje setenta é quase banal (...)”
(A) Espero sinceramente isto: que vocês não faltem mais.
(B) Desejo que ela volte. 16. (FUNRIO – 2012) “Todos querem que nós
(C) Gostaria de que todos me apoiassem. ____________________.”
(D) Tenho medo de que esses assessores me traiam.
(E) Os jogadores que foram convocados apresentaram-se on- Apenas uma das alternativas completa coerente e adequada-
tem. mente a frase acima. Assinale-a.
(A) desfilando pelas passarelas internacionais.
14. (PUC-SP) “Pode-se dizer que a tarefa é puramente formal.” (B) desista da ação contra aquele salafrário.
No texto acima temos uma oração destacada que é ________e (C) estejamos prontos em breve para o trabalho.
um “se” que é . ________. (D) recuperássemos a vaga de motorista da firma.
(A) substantiva objetiva direta, partícula apassivadora (E) tentamos aquele emprego novamente.
(B) substantiva predicativa, índice de indeterminação do sujeito
(C) relativa, pronome reflexivo 17. (ITA - 1997) Assinale a opção que completa corretamente as
(D) substantiva subjetiva, partícula apassivadora
lacunas do texto a seguir:
(E) adverbial consecutiva, índice de indeterminação do sujeito
“Todas as amigas estavam _______________ ansiosas
15. (UEMG) “De repente chegou o dia dos meus setenta anos. _______________ ler os jornais, pois foram informadas de que as
Fiquei entre surpresa e divertida, setenta, eu? Mas tudo parece críticas foram ______________ indulgentes ______________ ra-
ter sido ontem! No século em que a maioria quer ter vinte anos paz, o qual, embora tivesse mais aptidão _______________ ciên-
(trinta a gente ainda aguenta), eu estava fazendo setenta. Pior: du- cias exatas, demonstrava uma certa propensão _______________
vidando disso, pois ainda escutava em mim as risadas da menina arte.”
que queria correr nas lajes do pátio quando chovia, que pescava (A) meio - para - bastante - para com o - para - para a
lambaris com o pai no laguinho, que chorava em filme do Gordo e (B) muito - em - bastante - com o - nas - em
Magro, quando a mãe a levava à matinê. (Eu chorava alto com pena (C) bastante - por - meias - ao - a - à
dos dois, a mãe ficava furiosa.) (D) meias - para - muito - pelo - em - por
A menina que levava castigo na escola porque ria fora de hora, (E) bem - por - meio - para o - pelas – na
porque se distraía olhando o céu e nuvens pela janela em lugar de
prestar atenção, porque devagarinho empurrava o estojo de lápis 18. (Mackenzie) Há uma concordância inaceitável de acordo
até a beira da mesa, e deixava cair com estrondo sabendo que os com a gramática:
meninos, mais que as meninas, se botariam de quatro catando lá- I - Os brasileiros somos todos eternos sonhadores.
pis, canetas, borracha – as tediosas regras de ordem e quietude se- II - Muito obrigadas! – disseram as moças.
riam rompidas mais uma vez.
III - Sr. Deputado, V. Exa. Está enganada.
Fazendo a toda hora perguntas loucas, ela aborrecia os profes-
IV - A pobre senhora ficou meio confusa.
sores e divertia a turma: apenas porque não queria ser diferente,
queria ser amada, queria ser natural, não queria que soubessem V - São muito estudiosos os alunos e as alunas deste curso.
que ela, doze anos, além de histórias em quadrinhos e novelinhas
açucaradas, lia teatro grego – sem entender – e achava emocionan- (A) em I e II
te. (B) apenas em IV
(E até do futuro namorado, aos quinze anos, esconderia isso.) (C) apenas em III
O meu aniversário: primeiro pensei numa grande celebração, (D) em II, III e IV
eu que sou avessa a badalações e gosto de grupos bem pequenos. (E) apenas em II
Mas pensei, setenta vale a pena! Afinal já é bastante tempo! Logo
me dei conta de que hoje setenta é quase banal, muita gente com 19. (CESCEM–SP) Já ___ anos, ___ neste local árvores e flores.
oitenta ainda está ativo e presente. Hoje, só ___ ervas daninhas.
Decidi apenas reunir filhos e amigos mais chegados (tarefa difí- (A) fazem, havia, existe
cil, escolher), e deixar aquela festona para outra década.” (B) fazem, havia, existe
(C) fazem, haviam, existem
LUFT, 2014, p.104-105 (D) faz, havia, existem
(E) faz, havia, existe

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LÍNGUA PORTUGUESA

20. (IBGE) Indique a opção correta, no que se refere à concor- 25. (TRE-MG) Observe a regência dos verbos das frases reescri-
dância verbal, de acordo com a norma culta: tas nos itens a seguir:
(A) Haviam muitos candidatos esperando a hora da prova. I - Chamaremos os inimigos de hipócritas. Chamaremos aos ini-
(B) Choveu pedaços de granizo na serra gaúcha. migos de hipócritas;
(C) Faz muitos anos que a equipe do IBGE não vem aqui. II - Informei-lhe o meu desprezo por tudo. Informei-lhe do meu
(D) Bateu três horas quando o entrevistador chegou. desprezo por tudo;
(E) Fui eu que abriu a porta para o agente do censo. III - O funcionário esqueceu o importante acontecimento. O
funcionário esqueceu-se do importante acontecimento.
21. (FUVEST – 2001) A única frase que NÃO apresenta desvio
em relação à regência (nominal e verbal) recomendada pela norma A frase reescrita está com a regência correta em:
culta é: (A) I apenas
(A) O governador insistia em afirmar que o assunto principal (B) II apenas
seria “as grandes questões nacionais”, com o que discordavam (C) III apenas
líderes pefelistas. (D) I e III apenas
(B) Enquanto Cuba monopolizava as atenções de um clube, do (E) I, II e III
qual nem sequer pediu para integrar, a situação dos outros pa-
íses passou despercebida. 26. (INSTITUTO AOCP/2017 – EBSERH) Assinale a alternativa
(C) Em busca da realização pessoal, profissionais escolhem a em que todas as palavras estão adequadamente grafadas.
dedo aonde trabalhar, priorizando à empresas com atuação (A) Silhueta, entretenimento, autoestima.
social. (B) Rítimo, silueta, cérebro, entretenimento.
(D) Uma família de sem-teto descobriu um sofá deixado por um (C) Altoestima, entreterimento, memorização, silhueta.
morador não muito consciente com a limpeza da cidade. (D) Célebro, ansiedade, auto-estima, ritmo.
(E) O roteiro do filme oferece uma versão de como consegui- (E) Memorização, anciedade, cérebro, ritmo.
mos um dia preferir a estrada à casa, a paixão e o sonho à regra,
a aventura à repetição. 27. (ALTERNATIVE CONCURSOS/2016 – CÂMARA DE BANDEI-
RANTES-SC) Algumas palavras são usadas no nosso cotidiano de
22. (FUVEST) Assinale a alternativa que preenche corretamente forma incorreta, ou seja, estão em desacordo com a norma culta
as lacunas correspondentes. padrão. Todas as alternativas abaixo apresentam palavras escritas
A arma ___ se feriu desapareceu. erroneamente, exceto em:
Estas são as pessoas ___ lhe falei. (A) Na bandeija estavam as xícaras antigas da vovó.
Aqui está a foto ___ me referi. (B) É um privilégio estar aqui hoje.
Encontrei um amigo de infância ___ nome não me lembrava. (C) Fiz a sombrancelha no salão novo da cidade.
Passamos por uma fazenda ___ se criam búfalos. (D) A criança estava com desinteria.
(E) O bebedoro da escola estava estragado.
(A) que, de que, à que, cujo, que.
(B) com que, que, a que, cujo qual, onde. 28. (SEDUC/SP – 2018) Preencha as lacunas das frases abaixo
(C) com que, das quais, a que, de cujo, onde. com “por que”, “porque”, “por quê” ou “porquê”. Depois, assinale a
(D) com a qual, de que, que, do qual, onde. alternativa que apresenta a ordem correta, de cima para baixo, de
(E) que, cujas, as quais, do cujo, na cuja. classificação.
“____________ o céu é azul?”
23. (FESP) Observe a regência verbal e assinale a opção falsa: “Meus pais chegaram atrasados, ____________ pegaram trân-
(A) Avisaram-no que chegaríamos logo. sito pelo caminho.”
(B) Informei-lhe a nota obtida. “Gostaria muito de saber o ____________ de você ter faltado
(C) Os motoristas irresponsáveis, em geral, não obedecem aos ao nosso encontro.”
sinais de trânsito. “A Alemanha é considerada uma das grandes potências mun-
(D) Há bastante tempo que assistimos em São Paulo. diais. ____________?”
(E) Muita gordura não implica saúde. (A) Porque – porquê – por que – Por quê
(B) Porque – porquê – por que – Por quê
24. (IBGE) Assinale a opção em que todos os adjetivos devem (C) Por que – porque – porquê – Por quê
ser seguidos pela mesma preposição: (D) Porquê – porque – por quê – Por que
(A) ávido / bom / inconsequente (E) Por que – porque – por quê – Porquê
(B) indigno / odioso / perito
(C) leal / limpo / oneroso
(D) orgulhoso / rico / sedento
(E) oposto / pálido / sábio

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LÍNGUA PORTUGUESA

29. (CEITEC – 2012) Os vocábulos Emergir e Imergir são parô- 34. (IFAL – 2016 ADAPTADA) Quanto à acentuação das palavras,
nimos: empregar um pelo outro acarreta grave confusão no que assinale a afirmação verdadeira.
se quer expressar. Nas alternativas abaixo, só uma apresenta uma (A) A palavra “tendem” deveria ser acentuada graficamente,
frase em que se respeita o devido sentido dos vocábulos, selecio- como “também” e “porém”.
nando convenientemente o parônimo adequado à frase elaborada. (B) As palavras “saíra”, “destruída” e “aí” acentuam-se pela
Assinale-a. mesma razão.
(A) A descoberta do plano de conquista era eminente. (C) O nome “Luiz” deveria ser acentuado graficamente, pela
(B) O infrator foi preso em flagrante. mesma razão que a palavra “país”.
(C) O candidato recebeu despensa das duas últimas provas. (D) Os vocábulos “é”, “já” e “só” recebem acento por constituí-
(D) O metal delatou ao ser submetido à alta temperatura. rem monossílabos tônicos fechados.
(E) Os culpados espiam suas culpas na prisão. (E) Acentuam-se “simpática”, “centímetros”, “simbólica” por-
que todas as paroxítonas são acentuadas.
30. (FMU) Assinale a alternativa em que todas as palavras estão
grafadas corretamente. 35. (MACKENZIE) Indique a alternativa em que nenhuma pala-
(A) paralisar, pesquisar, ironizar, deslizar vra é acentuada graficamente:
(B) alteza, empreza, francesa, miudeza (A) lapis, canoa, abacaxi, jovens
(C) cuscus, chimpazé, encharcar, encher (B) ruim, sozinho, aquele, traiu
(D) incenso, abcesso, obsessão, luxação (C) saudade, onix, grau, orquídea
(E) chineza, marquês, garrucha, meretriz (D) voo, legua, assim, tênis
(E) flores, açucar, album, virus
31. (VUNESP/2017 – TJ-SP) Assinale a alternativa em que todas
as palavras estão corretamente grafadas, considerando-se as regras 36. (IFAL - 2011)
de acentuação da língua padrão.
(A) Remígio era homem de carater, o que surpreendeu D. Firmi- Parágrafo do Editorial “Nossas crianças, hoje”.
na, que aceitou o matrimônio de sua filha.
(B) O consôlo de Fadinha foi ver que Remígio queria desposa-la “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão impor-
apesar de sua beleza ter ido embora depois da doença. tante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos sentimos
(C) Com a saúde de Fadinha comprometida, Remígio não con- na pele e na alma a dor dos mais altos índices de sofrimento da
seguia se recompôr e viver tranquilo. infância mais pobre. Nosso Estado e nossa região padece de índices
(D) Com o triúnfo do bem sobre o mal, Fadinha se recuperou, vergonhosos no tocante à mortalidade infantil, à educação básica e
Remígio resolveu pedí-la em casamento. tantos outros indicadores terríveis.”
(E) Fadinha não tinha mágoa por não ser mais tão bela; agora,
interessava-lhe viver no paraíso com Remígio. (Gazeta de Alagoas, seção Opinião, 12.10.2010)

32. (PUC-RJ) Aponte a opção em que as duas palavras são acen- O primeiro período desse parágrafo está corretamente pontu-
tuadas devido à mesma regra: ado na alternativa:
(A) saí – dói (A) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão
(B) relógio – própria importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos,
(C) só – sóis sentimos na pele e na alma a dor dos mais altos índices de so-
(D) dá – custará frimento da infância mais pobre.”
(E) até – pé (B) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão
importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos
33. (UEPG ADAPTADA) Sobre a acentuação gráfica das palavras sentimos, na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de
agradável, automóvel e possível, assinale o que for correto. sofrimento da infância mais pobre.”
(A) Em razão de a letra L no final das palavras transferir a toni- (C) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão
cidade para a última sílaba, é necessário que se marque grafi- importante encontro, mas enquanto nordestinos e alagoanos,
camente a sílaba tônica das paroxítonas terminadas em L, se sentimos na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de
isso não fosse feito, poderiam ser lidas como palavras oxítonas. sofrimento da infância mais pobre.”
(B) São acentuadas porque são proparoxítonas terminadas em (D) “Oportunamente serão divulgados os resultados de tão
L. importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos
(C) São acentuadas porque são oxítonas terminadas em L. sentimos, na pele e na alma a dor dos mais altos índices de
(D) São acentuadas porque terminam em ditongo fonético – sofrimento, da infância mais pobre.”
eu. (E) “Oportunamente, serão divulgados os resultados de tão
(E) São acentuadas porque são paroxítonas terminadas em L. importante encontro, mas, enquanto nordestinos e alagoanos,
sentimos, na pele e na alma, a dor dos mais altos índices de
sofrimento da infância mais pobre.”

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LÍNGUA PORTUGUESA

37. (F.E. BAURU) Assinale a alternativa em que há erro de pontuação:


(A) Era do conhecimento de todos a hora da prova, mas, alguns se atrasaram.
(B) A hora da prova era do conhecimento de todos; alguns se atrasaram, porém.
(C) Todos conhecem a hora da prova; não se atrasem, pois.
(D) Todos conhecem a hora da prova, portanto não se atrasem.
(E) N.D.A

38. (VUNESP – 2020) Assinale a alternativa correta quanto à pontuação.


(A) Colaboradores da Universidade Federal do Paraná afirmaram: “Os cristais de urato podem provocar graves danos nas articulações.”.
(B) A prescrição de remédios e a adesão, ao tratamento, por parte dos pacientes são baixas.
(C) É uma inflamação, que desencadeia a crise de gota; diagnosticada a partir do reconhecimento de intensa dor, no local.
(D) A ausência de dor não pode ser motivo para a interrupção do tratamento conforme o editorial diz: – (é preciso que o doente confie
em seu médico).
(E) A qualidade de vida, do paciente, diminui pois a dor no local da inflamação é bastante intensa!

39. (ENEM – 2018)

Física com a boca

Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do ventilador?


Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras. Quando você não tem mais o que fazer e fica falando na frente dele, as ondas da
voz se propagam na direção contrária às do ventilador. Davi Akkerman – presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – diz
que isso causa o mismatch, nome bacana para o desencontro entre as ondas. “O vento também contribui para a distorção da voz, pelo fato
de ser uma vibração que influencia no som”, diz. Assim, o ruído do ventilador e a influência do vento na propagação das ondas contribuem
para distorcer sua bela voz.

Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).

Sinais de pontuação são símbolos gráficos usados para organizar a escrita e ajudar na compreensão da mensagem. No texto, o sentido
não é alterado em caso de substituição dos travessões por
(A) aspas, para colocar em destaque a informação seguinte
(B) vírgulas, para acrescentar uma caracterização de Davi Akkerman.
(C) reticências, para deixar subetendida a formação do especialista.
(D) dois-pontos, para acrescentar uma informação introduzida anteriormente.
(E) ponto e vírgula, para enumerar informações fundamentais para o desenvolvimento temático.

40. (FUNDATEC – 2016)

65
LÍNGUA PORTUGUESA

Sobre fonética e fonologia e conceitos relacionados a essas áre- 44. (FUVEST-SP) Foram formadas pelo mesmo processo as se-
as, considere as seguintes afirmações, segundo Bechara: guintes palavras:
I. A fonologia estuda o número de oposições utilizadas e suas (A) vendavais, naufrágios, polêmicas
relações mútuas, enquanto a fonética experimental determina a (B) descompõem, desempregados, desejava
natureza física e fisiológica das distinções observadas. (C) estendendo, escritório, espírito
II. Fonema é uma realidade acústica, opositiva, que nosso ouvi- (D) quietação, sabonete, nadador
do registra; já letra, também chamada de grafema, é o sinal empre- (E) religião, irmão, solidão
gado para representar na escrita o sistema sonoro de uma língua.
III. Denominam-se fonema os sons elementares e produtores 45. (FUVEST) Assinale a alternativa em que uma das palavras
da significação de cada um dos vocábulos produzidos pelos falantes não é formada por prefixação:
da língua portuguesa. (A) readquirir, predestinado, propor
(B) irregular, amoral, demover
Quais estão INCORRETAS? (C) remeter, conter, antegozar
(A) Apenas I. (D) irrestrito, antípoda, prever
(B) Apenas II. (E) dever, deter, antever
(C) Apenas III.
(D) Apenas I e II 46. (UNIFESP - 2015) Leia o seguinte texto:
(E) Apenas II e III. Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook?
Uma organização não governamental holandesa está propondo
41. (CEPERJ) Na palavra “fazer”, notam-se 5 fonemas. O mesmo um desafio que muitos poderão considerar impossível: ficar 99 dias
número de fonemas ocorre na palavra da seguinte alternativa: sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é medir o
a) tatuar grau de felicidade dos usuários longe da rede social.
b) quando O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológi-
c) doutor cos realizados pelo próprio Facebook. A diferença neste caso é que
d) ainda o teste é completamente voluntário. Ironicamente, para poder par-
e) além ticipar, o usuário deve trocar a foto do perfil no Facebook e postar
um contador na rede social.
42. (OSEC) Em que conjunto de signos só há consoantes sono- Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade
ras? dos participantes no 33º dia, no 66º e no último dia da abstinência.
(A) rosa, deve, navegador; Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam
(B) barcos, grande, colado; em média 17 minutos por dia na rede social. Em 99 dias sem acesso,
(C) luta, após, triste; a soma média seria equivalente a mais de 28 horas, 2que poderiam
(D) ringue, tão, pinga; ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.
(E) que, ser, tão.
(http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)
43. (UFRGS – 2010) No terceiro e no quarto parágrafos do tex-
to, o autor faz referência a uma oposição entre dois níveis de análi- Após ler o texto acima, examine as passagens do primeiro pa-
se de uma língua: o fonético e o gramatical. rágrafo: “Uma organização não governamental holandesa está pro-
Verifique a que nível se referem as características do português pondo um desafio” “O objetivo é medir o grau de felicidade dos
falado em Portugal a seguir descritas, identificando-as com o núme- usuários longe da rede social.”
ro 1 (fonético) ou com o número 2 (gramatical). A utilização dos artigos destacados justifica-se em razão:
( ) Construções com infinitivo, como estou a fazer, em lugar de (A) da retomada de informações que podem ser facilmente de-
formas com gerúndio, como estou fazendo. preendidas pelo contexto, sendo ambas equivalentes seman-
( ) Emprego frequente da vogal tônica com timbre aberto em ticamente.
palavras como académico e antónimo, (B) de informações conhecidas, nas duas ocorrências, sendo
( ) Uso frequente de consoante com som de k final da sílaba, possível a troca dos artigos nos enunciados, pois isso não alte-
como em contacto e facto. raria o sentido do texto.
( ) Certos empregos do pretérito imperfeito para designar fu- (C) da generalização, no primeiro caso, com a introdução de
turo do pretérito, como em Eu gostava de ir até lá por Eu gostaria informação conhecida, e da especificação, no segundo, com
de ir até lá. informação nova.
(D) da introdução de uma informação nova, no primeiro caso,
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de e da retomada de uma informação já conhecida, no segundo.
cima para baixo, é: (E) de informações novas, nas duas ocorrências, motivo pelo
(A) 2 – 1 – 1 – 2. qual são introduzidas de forma mais generalizada
(B) 2 – 1 – 2 – 1.
(C) 1 – 2 – 1 – 2. 47. (UFMG-ADAPTADA) As expressões em negrito correspon-
(D) 1 – 1 – 2 – 2. dem a um adjetivo, exceto em:
(E) 1 – 2 – 2 – 1. (A) João Fanhoso anda amanhecendo sem entusiasmo.
(B) Demorava-se de propósito naquele complicado banho.
(C) Os bichos da terra fugiam em desabalada carreira.

66
LÍNGUA PORTUGUESA

(D) Noite fechada sobre aqueles ermos perdidos da caatinga


16 C
sem fim.
(E) E ainda me vem com essa conversa de homem da roça. 17 A
18 C
48. (UMESP) Na frase “As negociações estariam meio abertas
só depois de meio período de trabalho”, as palavras destacadas são, 19 D
respectivamente: 20 C
(A) adjetivo, adjetivo
21 E
(B) advérbio, advérbio
(C) advérbio, adjetivo 22 C
(D) numeral, adjetivo 23 A
(E) numeral, advérbio
24 D
49. (ITA-SP) 25 E
Beber é mal, mas é muito bom.
(FERNANDES, Millôr. Mais! Folha de S. Paulo, 5 ago. 2001, p. 26 A
28.) 27 B
28 C
A palavra “mal”, no caso específico da frase de Millôr, é:
(A) adjetivo 29 B
(B) substantivo 30 A
(C) pronome
(D) advérbio 31 E
(E) preposição 32 B

50. (PUC-SP) “É uma espécie... nova... completamente nova! 33 E


(Mas já) tem nome... Batizei-(a) logo... Vou-(lhe) mostrar...”. Sob o 34 B
ponto de vista morfológico, as palavras destacadas correspondem 35 B
pela ordem, a:
(A) conjunção, preposição, artigo, pronome 36 E
(B) advérbio, advérbio, pronome, pronome 37 A
(C) conjunção, interjeição, artigo, advérbio
(D) advérbio, advérbio, substantivo, pronome 38 A
(E) conjunção, advérbio, pronome, pronome 39 B
40 C
GABARITO
41 B
42 D
1 C 43 A
2 B 44 D
3 D 45 E
4 C 46 D
5 C 47 B
6 A 48 B
7 D 49 B
8 C 50 E
9 B
10 E
ANOTAÇÕES
11 C
12 B
______________________________________________________
13 E
______________________________________________________
14 B
15 A ______________________________________________________

67
LÍNGUA PORTUGUESA

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68
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

LÓGICA: PROPOSIÇÕES, CONECTIVOS, EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS, QUANTIFICADORES E PREDICADOS.


COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS FUNÇÕES INTELECTUAIS: RACIOCÍNIO
VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO, RACIOCÍNIO SEQUENCIAL, ORIENTAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL, FORMAÇÃO
DE CONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS. RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARITMÉTICOS,
GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS. PROBLEMAS DE LÓGICA E RACIOCÍNIO

Raciocínio lógico matemático


Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver problemas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das diferentes
áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte consiste nos
seguintes conteúdos:
- Operação com conjuntos.
- Cálculos com porcentagens.
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais.
- Geometria básica.
- Álgebra básica e sistemas lineares.
- Calendários.
- Numeração.
- Razões Especiais.
- Análise Combinatória e Probabilidade.
- Progressões Aritmética e Geométrica.

RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO


Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de Argumentação.

ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL


O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação tem-
poral envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo.
O mais importante é praticar o máximo de questões que envolvam os conteúdos:
- Lógica sequencial
- Calendários

RACIOCÍNIO VERBAL
Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar conclusões lógicas.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de habilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma vaga.
Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteligência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do conhecimento
por meio da linguagem.
Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirmações,
selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das informações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as informações ou opiniões contidas no trecho)
C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é verdadeira ou falsa sem mais informações)

ESTRUTURAS LÓGICAS
Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições. Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos atri-
buir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos. Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.

Elas podem ser:


• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.


- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições sim-
ples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Proposições Compostas – Conectivos


As proposições compostas são formadas por proposições simples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que po-
demos vê na tabela a seguir:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

70
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F

Resposta: Certo

71
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposição
é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.

Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.

72
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.

Resposta: B.

Conectivos (conectores lógicos)


Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q

73
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).

Resposta: B.

Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.

• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”

Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.

Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.

Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.

Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.

74
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.

Resposta: Certo.

Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.

Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.

Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

Resposta: B.

75
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO transforma: CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumentos
lógicos, tiverem valores verdadeiros.

Conectivo “ou” (v)


Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. (Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente).

76
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Conectivo “ou” (v) Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando
Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.
Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa).
Conectivo “Se e somente se” (↔)
Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada
bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é
condição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição
necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somen-
te se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
• Mais sobre o Conectivo “ou” 3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
– “inclusivo”(considera os dois casos) 4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos) verdade:

Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa

No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das


proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das
proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusi-


vo”(considera apenas um dos casos) Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as pro-
posições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.
Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a
S: Maria é jovem ou idosa tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qual-
quer questão referente ao assunto.
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das
proposições é verdadeira, podendo ser ambas. Ordem de precedência dos conectivos:
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos
proposições poderá ser verdadeiro ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica mate-
mática prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:
Conectivo “Se... então” (→)
Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada
subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer
sol, então irei à praia”. Em resumo:
1. Podem ocorrer as situações:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não dis-
se o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
Temos então sua tabela verdade:

Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou
operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbo-
los (da linguagem formal) utilizados para conectar proposições de
acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa
que apresenta exemplos de conjunção, negação e implicação, res-
pectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q

77
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).

Resposta: B

CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais proposições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente do
valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua tabela-verdade:

Exemplo:
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a proposição ~P ∧ P é:
(A) uma tautologia.
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p.
(C) uma contradição.
(D) uma contingência.
(E) uma disjunção.

Resolução:
Montando a tabela teremos que:

P ~p ~p ^p
V F F
V F F
F V F
F V F

Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante de uma CONTRADIÇÃO.

Resposta: C

A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira. Repre-
sentamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente temos:
P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).

ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distintos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conectivo. O
segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica que pode ou não existir entre duas proposições.

Exemplo:

78
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Observe:
- Toda proposição implica uma Tautologia:

- Somente uma contradição implica uma contradição:

Propriedades
• Reflexiva:
– P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
– Uma proposição complexa implica ela mesma.

• Transitiva:
– Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
– Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R

Regras de Inferência
• Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em outras
palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de proposições verdadeiras já existentes.

Regras de Inferência obtidas da implicação lógica

• Silogismo Disjuntivo

79
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

• Modus Ponens Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren-
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira
ou falsa.

Vejamos algumas formas:


- Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
• Modus Tollens - Algum A não é B.

Onde temos que A e B são os termos ou características dessas


proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com o


tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.
– Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição
categórica em afirmativa ou negativa.
– Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica-
ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição.

Tautologias e Implicação Lógica

• Teorema
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...)

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.

Observe que: • Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”


→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das Teremos duas possibilidades.
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.

Inferências
• Regra do Silogismo Hipotético

Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no


conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
Princípio da inconsistência “Todo B é A”.
– Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica
p ^ ~p ⇒ q
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo-
sição q.

A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a


condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

80
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

• Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B”


Tais proposições afirmam que não há elementos em comum entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mesmo
que dizer “nenhum B é A”.
Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte diagrama (A ∩ B = ø):

• Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”


Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta proposição:

Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A” tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Contu-
do, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”.

• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B”


Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três representações possíveis:

Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao con-
junto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo que Algum B não é A.
• Negação das Proposições Categóricas
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as seguintes convenções de equivalência:
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos uma proposição categórica particular.
– Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição categórica particular geramos uma proposição categórica universal.
– Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos, sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca, negan-
do uma proposição de natureza negativa geramos, sempre, uma proposição de natureza afirmativa.
Em síntese:

81
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

• Equivalência entre as proposições


Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões.

Exemplos:
(DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não são
pardos, e aqueles que não são pardos miam alto.
Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir-
mação anterior é: Exemplo:
(A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par- (PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação
dos. lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual
(B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos. a cinco”?
(C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos (A) Todo número natural é menor do que cinco.
não miam alto. (B) Nenhum número natural é menor do que cinco.
(D) Todos os gatos que miam alto são pardos. (C) Todo número natural é diferente de cinco.
(E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é (D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
pardo. (E) Existe um número natural que é diferente de cinco.

Resolução: Resolução:
Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede-
do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação. -se a sua negação.
O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum). esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
Logo, podemos descartar as alternativas A e E. ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To-
A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção, dos e Nenhum, que também são universais.
em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta-
mos a alternativa B.
Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
A é não B.
Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
são pardos NÃO miam alto.

Resposta: C

(CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a


afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
(A) Todos os não psicólogos são professores. Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem
(B) Nenhum professor é psicólogo. quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
(C) Nenhum psicólogo é professor. nativas A, B e C.
(D) Pelo menos um psicólogo não é professor. Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
(E) Pelo menos um professor não é psicólogo. cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
Resolução: negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra- Resposta: D
vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
menos um professor não é psicólogo.

Resposta: E

82
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.

Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:

TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS ALGUM


O
A NÃO é B

TODO
A Perceba-se que, nesta sentença, a aten-
AéB
ção está sobre o(s) elemento (s) de A que
Se um elemento pertence ao conjunto A, não são B (enquanto que, no “Algum A é
então pertence também a B. B”, a atenção estava sobre os que eram B,
ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a dife-
rença entre conjuntos, que forma o con-
junto A - B

NENHUM Exemplo:
E
AéB (GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é
Existe pelo menos um elemento que pertence a casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que
A, então não pertence a B, e vice-versa. (A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.

Resolução:
Vamos chamar de:
Existe pelo menos um elemento comum aos con- Cinema = C
juntos A e B. Casa de Cultura = CC
Podemos ainda representar das seguintes formas: Teatro = T
ALGUM
I Analisando as proposições temos:
AéB
- Todo cinema é uma casa de cultura

83
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

- Existem teatros que não são cinemas (E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor-
reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que todo
cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura também
não é cinema.

- Algum teatro é casa de cultura

Resposta: E

LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.

Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC


Segundo as afirmativas temos:
(A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe pelo
menos um dos cinemas é considerado teatro.

Exemplo:
P1: Todos os cientistas são loucos.
P2: Martiniano é louco.
Q: Martiniano é um cientista.

O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento


formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.

(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes- Argumentos Válidos
mo princípio acima. Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado, construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató-
a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama nos ria do seu conjunto de premissas.
afirma isso
Exemplo:
O silogismo...
P1: Todos os homens são pássaros.
P2: Nenhum pássaro é animal.
Q: Portanto, nenhum homem é animal.
... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um
argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis.

(D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi-


cativa é observada no diagrama da alternativa anterior.

84
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CONTE- Comparando a conclusão do nosso argumento, temos:
ÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido, NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas
independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão! será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência
necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con-
• Como saber se um determinado argumento é mesmo válido? junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido!
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé-
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que Argumentos Inválidos
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como Dizemos que um argumento é inválido – também denominado
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade das
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclusão.
essa frase da seguinte maneira:
Exemplo:
P1: Todas as crianças gostam de chocolate.
P2: Patrícia não é criança.
Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate.

Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois as


premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão. Patrícia
pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois a primeira
premissa não afirmou que somente as crianças gostam de chocolate.

Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade


Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho- do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo arti-
mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos fício, que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela pri-
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase meira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”.
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo
menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO.
Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa-
lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é
de uma total dissociação entre os dois conjuntos.

Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença “Ne-


nhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em comum.
Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:

85
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Patrícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do diagrama:
1º) Fora do conjunto maior;
2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:

Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este argumen-
to é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
- É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de chocolate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não! Pode
ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círculo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)! Enfim, o
argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a veracidade da conclusão!

Métodos para validação de um argumento


Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO, AL-
GUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocorre quan-
do nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se na construção
da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a desvantagem de ser mais
trabalhoso, principalmente quando envolve várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e considerando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a validade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibilidade
do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades. Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobriremos o
valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em verdade, para que o argumento seja considerado válido.
4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, considerando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da con-
clusão de maneira direta, mas somente por meio de análises mais complicadas.

86
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Em síntese:

Exemplo:
Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido:

(p ∧ q) → r
_____~r_______
~p ∨ ~q

Resolução:
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum ou nenhum?
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos à pergunta seguinte.

- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposições simples?


A resposta também é não! Portanto, descartamos também o 2º método.

- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposição simples ou uma conjunção?
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos seguir
adiante com uma próxima pergunta, teríamos:

- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta também
é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método!
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo 3º e pelo 4º métodos.

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Resolução pelo 3º Método Lembramos a tabela verdade da condicional:


Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão
verdadeira. Teremos:
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa!
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa,
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am-
bas forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o
argumento é ou NÃO VÁLIDO.
A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa,
Resolução pelo 4º Método utilizando isso temos:
Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere- O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando
mos: estava estudando. // B → ~E
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda-
deiro! Iniciando temos:
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas 4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B
verdadeiras! Teremos: = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver- tem que ser F.
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é 3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V).
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo: // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria vai
r é verdadeiro. ao cinema tem que ser V.
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é 2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi! = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio
sai de casa tem que ser F.
Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no 5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V).
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si- // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que ser V ou F.
o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido! 1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V

Exemplos: Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao


(DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
seguintes proposições sejam verdadeiras. dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
• Quando chove, Maria não vai ao cinema.
• Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema. Resposta: Errado
• Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
• Quando Fernando está estudando, não chove. (PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO JÚ-
• Durante a noite, faz frio. NIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada,
então Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca
Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma
item subsecutivo. bruxa.
Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando. Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
( ) Certo (A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
( ) Errado (B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
(C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
Resolução: (D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre- (E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.
missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas:
A = Chove Resolução:
B = Maria vai ao cinema Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é
C = Cláudio fica em casa bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão
D = Faz frio o valor lógico (V), então:
E = Fernando está estudando (4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F)
F = É noite →V
A argumentação parte que a conclusão deve ser (V) (3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro
(F) → V
(2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F)
→V
(1) Tristeza não é uma bruxa (V)

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)

Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.

Resposta: B

LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA


Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:

01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.

Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

2º passo – construir a tabela gabarito.


Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos
Luís
Paulo

89
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento de
Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo coloca-
mos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).

– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.

90
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está resolvido:

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro Patrícia
Luís Médico Maria
Paulo Advogado Lúcia

Exemplo:
(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, todos
para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curitiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram, sabe-se que:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;
− Mariana viajou para Curitiba;
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza.

É correto concluir que, em janeiro,


(A) Paulo viajou para Fortaleza.
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia.
(D) Mariana viajou para Salvador.
(E) Luiz viajou para Curitiba.

91
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Resolução: Quantificador
Vamos preencher a tabela: É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
proposição aberta em uma proposição lógica.
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA
Luiz N
Arnaldo N Tipos de quantificadores
Mariana
• Quantificador universal (∀)
Paulo
O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas:
− Mariana viajou para Curitiba;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N N
Exemplo:
Arnaldo N N Todo homem é mortal.
Mariana N N S N A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será
mortal.
Paulo N
Na representação do diagrama lógico, seria:
− Paulo não viajou para Goiânia;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N N
Arnaldo N N
Mariana N N S N
Paulo N N
ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
mem.
− Luiz não viajou para Fortaleza.
A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador 2ª) Se José é homem, então José é mortal.
Luiz N N N
A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.
Arnaldo N N A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
Mariana N N S N (x) (A (x) → B).
Paulo N N Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão
de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional.
Agora, completando o restante:
Aplicando temos:
Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En-
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for-
tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia
ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x
+ 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira?
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador,
Luiz N S N N a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul-
gar, logo, é uma proposição lógica.
Arnaldo S N N N
Mariana N N S N • Quantificador existencial (∃)
Paulo N N N S O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:

Resposta: B

92
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Exemplo: – 1º passo: observar os quantificadores.


“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
é: os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne-
cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade.
– 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos
x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais.
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
O quantificador existencial tem a função de elemento comum. – 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co- A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃ Existe sim! y = 0.
(x)) (A (x) ∧ B). X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de
Aplicando temos: x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor-
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈ reto.
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença Resposta: CERTO
será verdadeira?
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador, As sequências podem ser formadas por números, letras, pes-
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos soas, figuras, etc. Existem várias formas de se estabelecer uma se-
julgar, logo, é uma proposição lógica. quência, o importante é que existem pelo menos três elementos
que caracterize a lógica de sua formação, entretanto algumas séries
ATENÇÃO: necessitam de mais elementos para definir sua lógica1. Um bom co-
– A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B” nhecimento em Progressões Algébricas (PA) e Geométricas (PG), fa-
é diferente de “Todo B é A”. zem com que deduzir as sequências se tornem simples e sem com-
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é plicações. E o mais importante é estar atento a vários detalhes que
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”. elas possam oferecer. Exemplos:

Forma simbólica dos quantificadores Progressão Aritmética: Soma-se constantemente um mesmo


Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B). número.
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B).

Exemplos:
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal. Progressão Geométrica: Multiplica-se constantemente um
(C) Todo animal é cavalo. mesmo número.
(D) Nenhum animal é cavalo.

Resolução:
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu-
sões:
– Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
– Se é cavalo, então é um animal.
Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça Sequência de Figuras: Esse tipo de sequência pode seguir o
de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma mesmo padrão visto na sequência de pessoas ou simplesmente so-
de conclusão). frer rotações, como nos exemplos a seguir. Exemplos:

Resposta: B Exemplos:
Analise a sequência a seguir:
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi-
ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V.

Resolução:
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R) 1 https://centraldefavoritos.com.br/2017/07/21/sequencias-com-nu-
tal que x + y = x. meros-com-figuras-de-palavras/

93
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Admitindo-se que a regra de formação das figuras seguintes permaneça a mesma, pode-se afirmar que a figura que ocuparia a 277ª
posição dessa sequência é:

Resolução:
A sequência das figuras completa-se na 5ª figura. Assim, continua-se a sequência de 5 em 5 elementos. A figura de número 277 ocu-
pa, então, a mesma posição das figuras que representam número 5n + 2, com n N. Ou seja, a 277ª figura corresponde à 2ª figura, que é
representada pela letra “B”.

Resposta: B

(CÂMARA DE ARACRUZ/ES - AGENTE ADMINISTRATIVO E LEGISLATIVO - IDECAN) A sequência formada pelas figuras representa as
posições, a cada 12 segundos, de uma das rodas de um carro que mantém velocidade constante. Analise-a.

Após 25 minutos e 48 segundos, tempo no qual o carro permanece nessa mesma condição, a posição da roda será:

Resolução:
A roda se mexe a cada 12 segundos. Percebe-se que ela volta ao seu estado inicial após 48 segundos.
O examinador quer saber, após 25 minutos e 48 segundos qual será a posição da roda. Vamos transformar tudo para segundos:
25 minutos = 1500 segundos (60x25)
1500 + 48 (25m e 48s) = 1548
Agora é só dividir por 48 segundos (que é o tempo que levou para roda voltar à posição inicial)
1548 / 48 = vai ter o resto “12”.
Portanto, após 25 minutos e 48 segundos, a roda vai estar na posição dos 12 segundos.

Resposta: B

CONJUNTOS E SUAS OPERAÇÕES, DIAGRAMAS

Um conjunto é uma coleção de objetos, chamados elementos, que possuem uma propriedade comum ou que satisfazem determinada
condição.

Representação de um conjunto
Podemos representar um conjunto de várias maneiras.

ATENÇÃO: Indicamos os conjuntos utilizando as letras maiúsculas e os elementos destes conjuntos por letras minúsculas.

94
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Vejamos: Subconjuntos
1) os elementos do conjunto são colocados entre chaves sepa- Quando todos os elementos de um conjunto A são também
rados por vírgula, ou ponto e vírgula. elementos de um outro conjunto B, dizemos que A é subconjunto
A = {a, e, i, o, u} de B. Exemplo: A = {1,3,7} e B = {1,2,3,5,6,7,8}.

2) os elementos do conjunto são representados por uma ou


mais propriedades que os caracterize.

3) os elementos do conjunto são representados por meio de


um esquema denominado diagrama de Venn.

Os elementos do conjunto A estão contidos no conjunto B.

ATENÇÃO:
1) Todo conjunto A é subconjunto dele próprio;
2) O conjunto vazio, por convenção, é subconjunto de qualquer
conjunto;
Relação de pertinência 3) O conjunto das partes é o conjunto formado por todos os
Usamos os símbolos ∈ (pertence) e ∉ (não pertence) para rela- subconjuntos de A.
cionar se um elemento faz parte ou não do conjunto. 4) O número de seu subconjunto é dado por: 2n; onde n é o
número de elementos desse conjunto.
Tipos de Conjuntos
• Conjunto Universo: reunião de todos os conjuntos que esta- Operações com Conjuntos
mos trabalhando. Tomando os conjuntos: A = {0,2,4,6} e B = {0,1,2,3,4}, como
• Conjunto Vazio: é aquele que não possui elementos. Repre- exemplo, vejamos:
senta-se por 0/ ou, simplesmente { }. • União de conjuntos: é o conjunto formado por todos os ele-
• Conjunto Unitário: possui apenas um único elemento. mentos que pertencem a A ou a B. Representa-se por A ∪ B. Sim-
• Conjunto Finito: quando podemos enumerar todos os seus bolicamente: A ∪ B = {x | x ∈ A ou x ∈ B}. Exemplo:
elementos.
• Conjunto Infinito: contrário do finito.

Relação de inclusão
É usada para estabelecer relação entre conjuntos com conjun-
tos, verificando se um conjunto é subconjunto ou não de outro con-
junto. Usamos os seguintes símbolos de inclusão:

Igualdade de conjuntos
Dois conjuntos A e B são IGUAIS, indicamos A = B, quando pos-
suem os mesmos elementos.
Dois conjuntos A e B são DIFERENTES, indicamos por A ≠ B, se
pelo menos UM dos elementos de um dos conjuntos NÃO pertence
ao outro.

95
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

• Intersecção de conjuntos: é o conjunto formado por todos os Exemplo:


elementos que pertencem, simultaneamente, a A e a B. Represen- (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO –
ta-se por A ∩ B. Simbolicamente: A ∩ B = {x | x ∈ A e x ∈ B} FCC) Dos 43 vereadores de uma cidade, 13 dele não se inscreveram
nas comissões de Educação, Saúde e Saneamento Básico. Sete dos
vereadores se inscreveram nas três comissões citadas. Doze deles
se inscreveram apenas nas comissões de Educação e Saúde e oito
deles se inscreveram apenas nas comissões de Saúde e Saneamen-
to Básico. Nenhum dos vereadores se inscreveu em apenas uma
dessas comissões. O número de vereadores inscritos na comissão
de Saneamento Básico é igual a
(A) 15.
(B) 21.
(C) 18.
(D) 27.
(E) 16.

Resolução:
De acordo com os dados temos:
OBSERVAÇÃO: Se A ∩ B = φ , dizemos que A e B são conjuntos 7 vereadores se inscreveram nas 3.
disjuntos. APENAS 12 se inscreveram em educação e saúde (o 12 não
deve ser tirado de 7 como costuma fazer nos conjuntos, pois ele já
Propriedades da união e da intersecção de conjuntos desconsidera os que se inscreveram nos três)
APENAS 8 se inscreveram em saúde e saneamento básico.
1ª) Propriedade comutativa São 30 vereadores que se inscreveram nessas 3 comissões, pois
13 dos 43 não se inscreveram.
A U B = B U A (comutativa da união)
Portanto, 30 – 7 – 12 – 8 = 3
A ∩ B = B ∩ A (comutativa da intersecção)
Se inscreveram em educação e saneamento 3 vereadores.
2ª) Propriedade associativa
(A U B) U C = A U (B U C) (associativa da união)
(A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C) (associativa da intersecção)

3ª) Propriedade associativa


A ∩ (B U C) = (A ∩ B) U (A ∩ C) (distributiva da intersecção em
relação à união)
A U (B ∩ C) = (A U B) ∩ (A U C) (distributiva da união em relação
à intersecção)

4ª) Propriedade
Se A ⊂ B, então A U B = B e A ∩ B = A, então A ⊂ B

Em saneamento se inscreveram: 3 + 7 + 8 = 18

Número de Elementos da União e da Intersecção de Conjuntos Resposta: C


E dado pela fórmula abaixo:
• Diferença: é o conjunto formado por todos os elementos que
pertencem a A e não pertencem a B. Representa-se por A – B. Para
determinar a diferença entre conjuntos, basta observamos o que
o conjunto A tem de diferente de B. Tomemos os conjuntos: A =
{1,2,3,4,5} e B = {2,4,6,8}

Note que: A – B ≠ B - A

96
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Exemplo:
(PREF. CAMAÇARI/BA – TÉC. VIGILÂNCIA EM SAÚDE NM – AOCP) Considere dois conjuntos A e B, sabendo que assinale a alternativa
que apresenta o conjunto B.
(A) {1;2;3}
(B) {0;3}
(C) {0;1;2;3;5}
(D) {3;5}
(E) {0;3;5}

Resolução:
A intersecção dos dois conjuntos, mostra que 3 é elemento de B.
A – B são os elementos que tem em A e não em B.
Então de A ∪ B, tiramos que B = {0; 3; 5}.

Resposta: E

• Complementar: chama-se complementar de B (B é subconjunto de A) em relação a A o conjunto A - B, isto é, o conjunto dos elemen-
tos de A que não pertencem a B. Exemplo: A = {0,1,2,3,4} e B = {2,3}

NÚMEROS INTEIROS, RACIONAIS E REAIS E SUAS OPERAÇÕES

Conjunto dos números inteiros - z


O conjunto dos números inteiros é a reunião do conjunto dos números naturais N = {0, 1, 2, 3, 4,..., n,...},(N C Z); o conjunto dos opos-
tos dos números naturais e o zero. Representamos pela letra Z.

N C Z (N está contido em Z)

97
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Subconjuntos:

SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO


* Z* Conjunto dos números inteiros não nulos
+ Z+ Conjunto dos números inteiros não negativos
*e+ Z*+ Conjunto dos números inteiros positivos
- Z_ Conjunto dos números inteiros não positivos
*e- Z*_ Conjunto dos números inteiros negativos

Observamos nos números inteiros algumas características:


• Módulo: distância ou afastamento desse número até o zero, na reta numérica inteira. Representa-se o módulo por | |. O módulo de
qualquer número inteiro, diferente de zero, é sempre positivo.
• Números Opostos: dois números são opostos quando sua soma é zero. Isto significa que eles estão a mesma distância da origem
(zero).

Somando-se temos: (+4) + (-4) = (-4) + (+4) = 0

Operações
• Soma ou Adição: Associamos aos números inteiros positivos a ideia de ganhar e aos números inteiros negativos a ideia de perder.

ATENÇÃO: O sinal (+) antes do número positivo pode ser dispensado, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode ser dis-
pensado.

• Subtração: empregamos quando precisamos tirar uma quantidade de outra quantidade; temos duas quantidades e queremos saber
quanto uma delas tem a mais que a outra; temos duas quantidades e queremos saber quanto falta a uma delas para atingir a outra. A
subtração é a operação inversa da adição. O sinal sempre será do maior número.

ATENÇÃO: todos parênteses, colchetes, chaves, números, ..., entre outros, precedidos de sinal negativo, tem o seu sinal invertido, ou
seja, é dado o seu oposto.

Exemplo:
(FUNDAÇÃO CASA – AGENTE EDUCACIONAL – VUNESP) Para zelar pelos jovens internados e orientá-los a respeito do uso adequado
dos materiais em geral e dos recursos utilizados em atividades educativas, bem como da preservação predial, realizou-se uma dinâmica
elencando “atitudes positivas” e “atitudes negativas”, no entendimento dos elementos do grupo. Solicitou-se que cada um classificasse
suas atitudes como positiva ou negativa, atribuindo (+4) pontos a cada atitude positiva e (-1) a cada atitude negativa. Se um jovem classi-
ficou como positiva apenas 20 das 50 atitudes anotadas, o total de pontos atribuídos foi
(A) 50.
(B) 45.
(C) 42.
(D) 36.
(E) 32.

Resolução:
50-20=30 atitudes negativas
20.4=80
30.(-1)=-30
80-30=50

Resposta: A

98
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam-se


• Multiplicação: é uma adição de números/ fatores repetidos. os expoentes. [(-a)5]2 = (-a)5 . 2 = (-a)10
Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser indicado 4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (-a)1 = -a e
por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as letras. (+a) = +a
1

5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É igual


• Divisão: a divisão exata de um número inteiro por outro nú- a 1. (+a)0 = 1 e (–b)0 = 1
mero inteiro, diferente de zero, dividimos o módulo do dividendo
pelo módulo do divisor. Conjunto dos números racionais – Q m
Um número racional é o que pode ser escrito na forma n , onde
ATENÇÃO: m e n são números inteiros, sendo que n deve ser diferente de zero.
1) No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa Frequentemente usamos m/n para significar a divisão de m por n.
e não tem a propriedade da existência do elemento neutro.
2) Não existe divisão por zero.
3) Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de zero,
é zero, pois o produto de qualquer número inteiro por zero é igual
a zero.

Na multiplicação e divisão de números inteiros é muito impor-


tante a REGRA DE SINAIS:

Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo.


Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre negativo.
N C Z C Q (N está contido em Z que está contido em Q)
Exemplo:
(PREF.DE NITERÓI) Um estudante empilhou seus livros, obten- Subconjuntos:
do uma única pilha 52cm de altura. Sabendo que 8 desses livros
possui uma espessura de 2cm, e que os livros restantes possuem
espessura de 3cm, o número de livros na pilha é: SÍMBOLO REPRESENTAÇÃO DESCRIÇÃO
(A) 10 Conjunto dos números racio-
* Q*
(B) 15 nais não nulos
(C) 18 Conjunto dos números racio-
(D) 20 + Q+
nais não negativos
(E) 22
Conjunto dos números racio-
*e+ Q*+
Resolução: nais positivos
São 8 livros de 2 cm: 8.2 = 16 cm Conjunto dos números racio-
Como eu tenho 52 cm ao todo e os demais livros tem 3 cm, - Q_
nais não positivos
temos:
Conjunto dos números racio-
52 - 16 = 36 cm de altura de livros de 3 cm *e- Q*_
nais negativos
36 : 3 = 12 livros de 3 cm
O total de livros da pilha: 8 + 12 = 20 livros ao todo.
Representação decimal
Podemos representar um número racional, escrito na forma de
Resposta: D
fração, em número decimal. Para isso temos duas maneiras possí-
veis:
• Potenciação: A potência an do número inteiro a, é definida
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um núme-
como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado a
ro finito de algarismos. Decimais Exatos:
base e o número n é o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é multi-
plicado por a n vezes. Tenha em mente que: 2 = 0,4
– Toda potência de base positiva é um número inteiro positivo.
– Toda potência de base negativa e expoente par é um número 5
inteiro positivo.
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos
– Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um nú-
algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente Deci-
mero inteiro negativo.
mais Periódicos ou Dízimas Periódicas:
Propriedades da Potenciação 1 = 0,333...
1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se a base
e somam-se os expoentes. (–a)3 . (–a)6 = (–a)3+6 = (–a)9 3
2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva-se a
base e subtraem-se os expoentes. (-a)8 : (-a)6 = (-a)8 – 6 = (-a)2

99
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Representação Fracionária
É a operação inversa da anterior. Aqui temos duas maneiras possíveis:

1) Transformando o número decimal em uma fração numerador é o número decimal sem a vírgula e o denominador é composto pelo
numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas decimais do número decimal dado.
Ex.:
0,035 = 35/1000

2) Através da fração geratriz. Aí temos o caso das dízimas periódicas que podem ser simples ou compostas.
– Simples: o seu período é composto por um mesmo número ou conjunto de números que se repeti infinitamente.
Exemplos:

Procedimento: para transformarmos uma dízima periódica simples em fração basta utilizarmos o dígito 9 no denominador para cada
quantos dígitos tiver o período da dízima.

– Composta: quando a mesma apresenta um ante período que não se repete.


a)

Procedimento: para cada algarismo do período ainda se coloca um algarismo 9 no denominador. Mas, agora, para cada algarismo do
antiperíodo se coloca um algarismo zero, também no denominador.
b)

100
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Procedimento: é o mesmo aplicado ao item “a”, acrescido na frente da parte inteira (fração mista), ao qual transformamos e obtemos
a fração geratriz.

Exemplo:
(PREF. NITERÓI) Simplificando a expressão abaixo

Obtém-se :

(A) ½
(B) 1
(C) 3/2
(D) 2
(E) 3

Resolução:

Resposta: B

Caraterísticas dos números racionais


O módulo e o número oposto são as mesmas dos números inteiros.
Inverso: dado um número racional a/b o inverso desse número (a/b)–n, é a fração onde o numerador vira denominador e o denomi-
nador numerador (b/a)n.

Representação geométrica

Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem infinitos números racionais.
Operações
• Soma ou adição: como todo número racional é uma fração ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição entre os
números racionais a e c , da mesma forma que a soma de frações, através de:
b d

• Subtração: a subtração de dois números racionais p e q é a própria operação de adição do número p com o oposto de q, isto é: p – q
= p + (–q)

101
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

ATENÇÃO: Na adição/subtração se o denominador for igual, (C) 220


conserva-se os denominadores e efetua-se a operação apresenta- (D) 260
da. (E) 120

Exemplo: Resolução:
(PREF. JUNDIAI/SP – AGENTE DE SERVIÇOS OPERACIONAIS
– MAKIYAMA) Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua
portuguesa como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática como
favorita e os demais têm ciências como favorita. Sendo assim, qual
fração representa os alunos que têm ciências como disciplina favo-
rita?
(A) 1/4
(B) 3/10
(C) 2/9
(D) 4/5
(E) 3/2

Resolução:
Somando português e matemática:

Resposta: A

• Potenciação: é válido as propriedades aplicadas aos números


O que resta gosta de ciências: inteiros. Aqui destacaremos apenas as que se aplicam aos números
racionais.

A) Toda potência com expoente negativo de um número racio-


nal diferente de zero é igual a outra potência que tem a base igual
ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do expo-
Resposta: B ente anterior.

• Multiplicação: como todo número racional é uma fração ou


pode ser escrito na forma de uma fração, definimos o produto de
dois números racionais a e , da mesma forma que o produto de
b
frações, através de:

B) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal da


base.

• Divisão: a divisão de dois números racionais p e q é a própria


operação de multiplicação do número p pelo inverso de q, isto é: p
÷ q = p × q-1

C) Toda potência com expoente par é um número positivo.

Exemplo:
(PM/SE – SOLDADO 3ªCLASSE – FUNCAB) Numa operação po-
licial de rotina, que abordou 800 pessoas, verificou-se que 3/4 des-
sas pessoas eram homens e 1/5 deles foram detidos. Já entre as
mulheres abordadas, 1/8 foram detidas.
Qual o total de pessoas detidas nessa operação policial?
(A) 145
(B) 185

102
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Expressões numéricas Múltiplos


São todas sentenças matemáticas formadas por números, suas Dizemos que um número é múltiplo de outro quando o primei-
operações (adições, subtrações, multiplicações, divisões, potencia- ro é resultado da multiplicação entre o segundo e algum número
ções e radiciações) e também por símbolos chamados de sinais de natural e o segundo, nesse caso, é divisor do primeiro. O que sig-
associação, que podem aparecer em uma única expressão. nifica que existem dois números, x e y, tal que x é múltiplo de y se
existir algum número natural n tal que:
Procedimentos x = y·n
1) Operações:
- Resolvermos primeiros as potenciações e/ou radiciações na Se esse número existir, podemos dizer que y é um divisor de x e
ordem que aparecem; podemos escrever: x = n/y
- Depois as multiplicações e/ou divisões;
- Por último as adições e/ou subtrações na ordem que apare- Observações:
cem.
1) Todo número natural é múltiplo de si mesmo.
2) Todo número natural é múltiplo de 1.
2) Símbolos:
3) Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos múltiplos.
- Primeiro, resolvemos os parênteses ( ), até acabarem os cál-
culos dentro dos parênteses, 4) O zero é múltiplo de qualquer número natural.
-Depois os colchetes [ ]; 5) Os múltiplos do número 2 são chamados de números pares,
- E por último as chaves { }. e a fórmula geral desses números é 2k (k ∈ N). Os demais são cha-
mados de números ímpares, e a fórmula geral desses números é 2k
ATENÇÃO: + 1 (k ∈ N).
– Quando o sinal de adição (+) anteceder um parêntese, col- 6) O mesmo se aplica para os números inteiros, tendo k ∈ Z.
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos Critérios de divisibilidade
com os seus sinais originais. São regras práticas que nos possibilitam dizer se um número é ou
– Quando o sinal de subtração (-) anteceder um parêntese, col- não divisível por outro, sem que seja necessário efetuarmos a divisão.
chetes ou chaves, deveremos eliminar o parêntese, o colchete ou No quadro abaixo temos um resumo de alguns dos critérios:
chaves, na ordem de resolução, reescrevendo os números internos
com os seus sinais invertidos.

Exemplo:
(MANAUSPREV – ANALISTA PREVIDENCIÁRIO – ADMINISTRATI-
VA – FCC) Considere as expressões numéricas, abaixo.
A = 1/2 + 1/4+ 1/8 + 1/16 + 1/32 e
B = 1/3 + 1/9 + 1/27 + 1/81 + 1/243

O valor, aproximado, da soma entre A e B é


(A) 2
(B) 3
(C) 1
(D) 2,5
(E) 1,5

Resolução:
Vamos resolver cada expressão separadamente:

(Fonte: https://www.guiadamatematica.com.br/criterios-de-divisibili-
dade/ - reeditado)

Resposta: E

103
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Vale ressaltar a divisibilidade por 7: Um número é divisível por 21 . 30=2


7 quando o último algarismo do número, multiplicado por 2, subtra- 21 . 31=2.3=6
ído do número sem o algarismo, resulta em um número múltiplo de 22 . 31=4.3=12
7. Neste, o processo será repetido a fim de diminuir a quantidade 22 . 30=4
de algarismos a serem analisados quanto à divisibilidade por 7.
O conjunto de divisores de 12 são: D (12)={1, 2, 3, 4, 6, 12}
Outros critérios A soma dos divisores é dada por: 1 + 2 + 3 + 4 + 6 + 12 = 28
Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 quando é
divisível por 3 e por 4 ao mesmo tempo. Máximo divisor comum (MDC)
Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 quando é É o maior número que é divisor comum de todos os números
divisível por 3 e por 5 ao mesmo tempo. dados. Para o cálculo do MDC usamos a decomposição em fatores
primos. Procedemos da seguinte maneira:
Fatoração numérica Após decompor em fatores primos, o MDC é o produto dos
Trata-se de decompor o número em fatores primos. Para de- FATORES COMUNS obtidos, cada um deles elevado ao seu MENOR
compormos este número natural em fatores primos, dividimos o EXPOENTE.
mesmo pelo seu menor divisor primo, após pegamos o quociente
e dividimos o pelo seu menor divisor, e assim sucessivamente até Exemplo:
obtermos o quociente 1. O produto de todos os fatores primos re- MDC (18,24,42) =
presenta o número fatorado. Exemplo:

Divisores
Os divisores de um número n, é o conjunto formado por todos
os números que o dividem exatamente. Tomemos como exemplo o
número 12. Observe que os fatores comuns entre eles são: 2 e 3, então
pegamos os de menores expoentes: 2x3 = 6. Logo o Máximo Divisor
Comum entre 18,24 e 42 é 6.

Mínimo múltiplo comum (MMC)


É o menor número positivo que é múltiplo comum de todos
os números dados. A técnica para acharmos é a mesma do MDC,
apenas com a seguinte ressalva:
O MMC é o produto dos FATORES COMUNS E NÃO-COMUNS,
Um método para descobrimos os divisores é através da fato- cada um deles elevado ao SEU MAIOR EXPOENTE.
ração numérica. O número de divisores naturais é igual ao produto Pegando o exemplo anterior, teríamos:
dos expoentes dos fatores primos acrescidos de 1. MMC (18,24,42) =
Logo o número de divisores de 12 são: Fatores comuns e não-comuns= 2,3 e 7
Com maiores expoentes: 2³x3²x7 = 8x9x7 = 504. Logo o Mínimo
Múltiplo Comum entre 18,24 e 42 é 504.

Temos ainda que o produto do MDC e MMC é dado por: MDC


(A,B). MMC (A,B)= A.B
Para sabermos quais são esses 6 divisores basta pegarmos cada
fator da decomposição e seu respectivo expoente natural que varia
de zero até o expoente com o qual o fator se apresenta na decom-
posição do número natural.
12 = 22 . 31 =
22 = 20,21 e 22 ; 31 = 30 e 31, teremos:
20 . 30=1
20 . 31=3

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Os cálculos desse tipo de problemas, envolvem adições e sub- 3.x = 1176 – 204
trações, posteriormente as multiplicações e divisões. Depois os pro- x = 972 / 3
blemas são resolvidos com a utilização dos fundamentos algébricos, x = R$ 324,00 (1º mês)
isto é, criamos equações matemáticas com valores desconhecidos * No 2º mês: 324 + 126 = R$ 450,00
(letras). Observe algumas situações que podem ser descritas com
utilização da álgebra. Resposta: B
É bom ter mente algumas situações que podemos encontrar:
(PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO/SP – AGENTE DE
ADMINISTRAÇÃO – VUNESP) Uma loja de materiais elétricos testou
um lote com 360 lâmpadas e constatou que a razão entre o número
de lâmpadas queimadas e o número de lâmpadas boas era 2 / 7. Sa-
bendo-se que, acidentalmente, 10 lâmpadas boas quebraram e que
lâmpadas queimadas ou quebradas não podem ser vendidas, então
a razão entre o número de lâmpadas que não podem ser vendidas
e o número de lâmpadas boas passou a ser de
(A) 1 / 4.
(B) 1 / 3.
(C) 2 / 5.
Exemplos: (D) 1 / 2.
(PREF. GUARUJÁ/SP – SEDUC – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – (E) 2 / 3.
CAIPIMES) Sobre 4 amigos, sabe-se que Clodoaldo é 5 centímetros
mais alto que Mônica e 10 centímetros mais baixo que Andreia. Sa- Resolução:
be-se também que Andreia é 3 centímetros mais alta que Doralice e Chamemos o número de lâmpadas queimadas de ( Q ) e o nú-
que Doralice não é mais baixa que Clodoaldo. Se Doralice tem 1,70 mero de lâmpadas boas de ( B ). Assim:
metros, então é verdade que Mônica tem, de altura: B + Q = 360 , ou seja, B = 360 – Q ( I )
(A) 1,52 metros.
(B) 1,58 metros.
(C) 1,54 metros. , ou seja, 7.Q = 2.B ( II )
(D) 1,56 metros.
Substituindo a equação ( I ) na equação ( II ), temos:
Resolução: 7.Q = 2. (360 – Q)
Escrevendo em forma de equações, temos: 7.Q = 720 – 2.Q
C = M + 0,05 ( I ) 7.Q + 2.Q = 720
C = A – 0,10 ( II ) 9.Q = 720
A = D + 0,03 ( III ) Q = 720 / 9
D não é mais baixa que C Q = 80 (queimadas)
Se D = 1,70 , então: Como 10 lâmpadas boas quebraram, temos:
( III ) A = 1,70 + 0,03 = 1,73 Q’ = 80 + 10 = 90 e B’ = 360 – 90 = 270
( II ) C = 1,73 – 0,10 = 1,63
( I ) 1,63 = M + 0,05
M = 1,63 – 0,05 = 1,58 m

Resposta: B Resposta: B

(CEFET – AUXILIAR EM ADMINISTRAÇÃO – CESGRANRIO) Em Fração é todo número que pode ser escrito da seguinte forma
três meses, Fernando depositou, ao todo, R$ 1.176,00 em sua ca- a/b, com b≠0. Sendo a o numerador e b o denominador. Uma fração
derneta de poupança. Se, no segundo mês, ele depositou R$ 126,00 é uma divisão em partes iguais. Observe a figura:
a mais do que no primeiro e, no terceiro mês, R$ 48,00 a menos do
que no segundo, qual foi o valor depositado no segundo mês?
(A) R$ 498,00
(B) R$ 450,00
(C) R$ 402,00
(D) R$ 334,00
(E) R$ 324,00 O numerador indica quantas partes tomamos do total que foi
dividida a unidade.
Resolução: O denominador indica quantas partes iguais foi dividida a uni-
Primeiro mês = x dade.
Segundo mês = x + 126 Lê-se: um quarto.
Terceiro mês = x + 126 – 48 = x + 78
Total = x + x + 126 + x + 78 = 1176

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Atenção: – Divisão: É igual a primeira fração multiplicada pelo inverso da


• Frações com denominadores de 1 a 10: meios, terços, quar- segunda fração. Ex.:
tos, quintos, sextos, sétimos, oitavos, nonos e décimos.
• Frações com denominadores potências de 10: décimos,
centésimos, milésimos, décimos de milésimos, centésimos de
milésimos etc.
• Denominadores diferentes dos citados anteriormente: Enun-
cia-se o numerador e, em seguida, o denominador seguido da pa-
lavra “avos”.
Obs.: Sempre que possível podemos simplificar o resultado da
Tipos de frações fração resultante de forma a torna-la irredutível.
– Frações Próprias: Numerador é menor que o denominador.
Ex.: 7/15 Exemplo:
– Frações Impróprias: Numerador é maior ou igual ao denomi- (EBSERH/HUPES – UFBA – TÉCNICO EM INFORMÁTICA – IADES)
nador. Ex.: 7/6 O suco de três garrafas iguais foi dividido igualmente entre 5 pes-
– Frações aparentes: Numerador é múltiplo do denominador. soas. Cada uma recebeu
As mesmas pertencem também ao grupo das frações impróprias.
Ex.: 6/3
– Frações mistas: Números compostos de uma parte inteira e (A)
outra fracionária. Podemos transformar uma fração imprópria na
forma mista e vice e versa. Ex.: 1 1/12 (um inteiro e um doze avos)
– Frações equivalentes: Duas ou mais frações que apresentam (B)
a mesma parte da unidade. Ex.: 2/4 = 1/2
– Frações irredutíveis: Frações onde o numerador e o denomi-
nador são primos entre si. Ex.: 5/11 ; (C)

Operações com frações


• Adição e Subtração (D)
Com mesmo denominador: Conserva-se o denominador e so-
ma-se ou subtrai-se os numeradores.
(E)

Resolução:
Se cada garrafa contém X litros de suco, e eu tenho 3 garrafas,
Com denominadores diferentes: é necessário reduzir ao então o total será de 3X litros de suco. Precisamos dividir essa quan-
mesmo denominador através do MMC entre os denominadores. tidade de suco (em litros) para 5 pessoas, logo teremos:
Usamos tanto na adição quanto na subtração.

Onde x é litros de suco, assim a fração que cada um recebeu de


suco é de 3/5 de suco da garrafa.

Resposta: B
O MMC entre os denominadores (3,2) = 6
• Multiplicação e Divisão
Multiplicação: É produto dos numerados pelos denominadores PORCENTAGEM
dados. Ex.:
São chamadas de razões centesimais ou taxas percentuais ou
simplesmente de porcentagem, as razões de denominador 100, ou
seja, que representam a centésima parte de uma grandeza. Costu-
mam ser indicadas pelo numerador seguido do símbolo %. (Lê-se:
“por cento”).

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Exemplo: 0,84V = 1,4C


(CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP – ANALIS-
TA TÉCNICO LEGISLATIVO – DESIGNER GRÁFICO – VUNESP) O depar-
tamento de Contabilidade de uma empresa tem 20 funcionários,
sendo que 15% deles são estagiários. O departamento de Recursos
Humanos tem 10 funcionários, sendo 20% estagiários. Em relação O preço de venda é 67% superior ao preço de compra.
ao total de funcionários desses dois departamentos, a fração de es-
tagiários é igual a Resposta: A
(A) 1/5.
(B) 1/6. Aumento e Desconto em porcentagem
(C) 2/5. – Aumentar um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo por
(D) 2/9.
(E) 3/5.

Resolução: Logo:

- Diminuir um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo por

Logo:

Resposta: B
Fator de multiplicação
Lucro e Prejuízo em porcentagem É o valor final de , é o que chamamos
É a diferença entre o preço de venda e o preço de custo. Se de fator de multiplicação, muito útil para resolução de cálculos de
a diferença for POSITIVA, temos o LUCRO (L), caso seja NEGATIVA, porcentagem. O mesmo pode ser um acréscimo ou decréscimo no
temos PREJUÍZO (P). valor do produto.
Logo: Lucro (L) = Preço de Venda (V) – Preço de Custo (C).

Exemplo:
(CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – Aumentos e Descontos sucessivos em porcentagem
FCC) O preço de venda de um produto, descontado um imposto de São valores que aumentam ou diminuem sucessivamente. Para
16% que incide sobre esse mesmo preço, supera o preço de com- efetuar os respectivos descontos ou aumentos, fazemos uso dos fa-
pra em 40%, os quais constituem o lucro líquido do vendedor. Em tores de multiplicação. Basta multiplicarmos o Valor pelo fator de
quantos por cento, aproximadamente, o preço de venda é superior multiplicação (acréscimo e/ou decréscimo).
ao de compra? Exemplo: Certo produto industrial que custava R$ 5.000,00 so-
(A) 67%. freu um acréscimo de 30% e, em seguida, um desconto de 20%.
(B) 61%. Qual o preço desse produto após esse acréscimo e desconto?
(C) 65%.
(D) 63%. Resolução:
(E) 69%. VA = 5000 .(1,3) = 6500 e
VD = 6500 .(0,80) = 5200, podemos, para agilizar os cálculos,
Resolução: juntar tudo em uma única equação:
Preço de venda: V 5000 . 1,3 . 0,8 = 5200
Preço de compra: C Logo o preço do produto após o acréscimo e desconto é de R$
V – 0,16V = 1,4C 5.200,00

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

390000 – 100.C = 2,5 . 8 . C


JUROS – 100.C – 20.C = – 390000 . (– 1)
120.C = 390000
Juros simples (ou capitalização simples) C = 390000 / 120
Os juros são determinados tomando como base de cálculo o C = R$ 3250,00
capital da operação, e o total do juro é devido ao credor (aquele que Resposta: C
empresta) no final da operação. Devemos ter em mente:
– Os juros são representados pela letra J*. Juros compostos (capitalização composta)
– O dinheiro que se deposita ou se empresta chamamos de ca- A taxa de juros incide sobre o capital de cada período. Também
pital e é representado pela letra C (capital) ou P(principal) ou VP ou conhecido como “juros sobre juros”.
PV (valor presente) *.
– O tempo de depósito ou de empréstimo é representado pela Usamos a seguinte fórmula:
letra t ou n.*
– A taxa de juros é a razão centesimal que incide sobre um capi-
tal durante certo tempo. É representado pela letra i e utilizada para
calcular juros.
*Varia de acordo com a bibliografia estudada.

ATENÇÃO: Devemos sempre relacionar a taxa e o tempo na


mesma unidade para efetuarmos os cálculos.

Usamos a seguinte fórmula:


O (1+i)t ou (1+i)n é chamado de fator de acumulação de capital.

ATENÇÃO: as unidades de tempo referentes à taxa de juros (i) e


do período (t), tem de ser necessariamente iguais.

Em juros simples:
– O capital cresce linearmente com o tempo;
– O capital cresce a uma progressão aritmética de razão: J=C.i
– A taxa i e o tempo t devem ser expressos na mesma unidade.
– Devemos expressar a taxa i na forma decimal.
– Montante (M) ou FV (valor futuro) é a soma do capital com
os juros, ou seja:
M=C+J
M = C.(1+i.t)

Exemplo:
(PRODAM/AM – Assistente – FUNCAB) Qual é o capital que,
investido no sistema de juros simples e à taxa mensal de 2,5 %, pro-
duzirá um montante de R$ 3.900,00 em oito meses? O crescimento do principal (capital) em:
(A) R$ 1.650,00 – juros simples é LINEAR, CONSTANTE;
(B) R$ 2.225,00 – juros compostos é EXPONENCIAL, GEOMÉTRICO e, portanto
(C) R$ 3.250,00 tem um crescimento muito mais “rápido”;
(D) R$ 3.460,00 Observe no gráfico que:
(E) R$ 3.500,00 – O montante após 1º tempo é igual tanto para o regime de
Resolução: juros simples como para juros compostos;
Montante = Capital + juros, ou seja: j = M – C , que fica: j = – Antes do 1º tempo o montante seria maior no regime de ju-
3900 – C ( I ) ros simples;
Agora, é só substituir ( I ) na fórmula do juros simples: – Depois do 1º tempo o montante seria maior no regime de
juros compostos.

Exemplo:
(PREF. GUARUJÁ/SP – SEDUC – PROFESSOR DE MATEMÁTICA –
CAIPIMES) Um capital foi aplicado por um período de 3 anos, com
taxa de juros compostos de 10% ao ano. É correto afirmar que essa
aplicação rendeu juros que corresponderam a, exatamente:

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(A) 30% do capital aplicado. t.0,04 = 3


(B) 31,20% do capital aplicado.
(C) 32% do capital aplicado.
(D) 33,10% do capital aplicado.

Resolução:

Resposta: E

PROPORCIONALIDADE DIRETA E INVERSA

Razão
Como, M = C + j , ou seja , j = M – C , temos: É uma fração, sendo a e b dois números a sua razão, chama-se
j = 1,331.C – C = 0,331 . C razão de a para b: a/b ou a:b , assim representados, sendo b ≠ 0.
0,331 = 33,10 / 100 = 33,10% Temos que:

Resposta: D

Juros Compostos utilizando Logaritmos


Algumas questões que envolvem juros compostos, precisam de
conceitos de logaritmos, principalmente aquelas as quais precisa- Exemplo:
mos achar o tempo/prazo. Normalmente as questões informam os (SEPLAN/GO – PERITO CRIMINAL – FUNIVERSA) Em uma ação
valores do logaritmo, então não é necessário decorar os valores da policial, foram apreendidos 1 traficante e 150 kg de um produto
tabela. parecido com maconha. Na análise laboratorial, o perito constatou
que o produto apreendido não era maconha pura, isto é, era uma
Exemplo: mistura da Cannabis sativa com outras ervas. Interrogado, o trafi-
(FGV-SP) Uma aplicação financeira rende juros de 10% ao ano, cante revelou que, na produção de 5 kg desse produto, ele usava
compostos anualmente. Utilizando para cálculos a aproximação de apenas 2 kg da Cannabis sativa; o restante era composto por várias
, pode-se estimar que uma aplicação de R$ 1.000,00 seria resgatada “outras ervas”. Nesse caso, é correto afirmar que, para fabricar todo
no montante de R$ 1.000.000,00 após: o produto apreendido, o traficante usou
(A) Mais de um século. (A) 50 kg de Cannabis sativa e 100 kg de outras ervas.
(B) 1 século (B) 55 kg de Cannabis sativa e 95 kg de outras ervas.
(C) 4/5 de século (C) 60 kg de Cannabis sativa e 90 kg de outras ervas.
(D) 2/3 de século (D) 65 kg de Cannabis sativa e 85 kg de outras ervas.
(E) ¾ de século (E) 70 kg de Cannabis sativa e 80 kg de outras ervas.

Resolução: Resolução:
A fórmula de juros compostos é M = C(1 + i)t e do enunciado O enunciado fornece que a cada 5kg do produto temos que 2kg
temos que M = 1.000.000, C = 1.000, i = 10% = 0,1: da Cannabis sativa e os demais outras ervas. Podemos escrever em
1.000.000 = 1.000(1 + 0,1)t forma de razão , logo :

(agora para calcular t temos que usar loga-


ritmo nos dois lados da equação para pode utilizar a propriedade
, o expoente m passa multiplicando)
Resposta: C

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Razões Especiais – A soma/diferença dos antecedentes está para a soma/dife-


São aquelas que recebem um nome especial. Vejamos algu- rença dos consequentes, assim como cada antecedente está para
mas: o seu consequente.
Velocidade: é razão entre a distância percorrida e o tempo gas-
to para percorrê-la.

Densidade: é a razão entre a massa de um corpo e o seu volu-


me ocupado por esse corpo. Exemplo:
(MP/SP – AUXILIAR DE PROMOTORIA I – ADMINISTRATIVO –
VUNESP) A medida do comprimento de um salão retangular está
para a medida de sua largura assim como 4 está para 3. No piso
desse salão, foram colocados somente ladrilhos quadrados inteiros,
revestindo-o totalmente. Se cada fileira de ladrilhos, no sentido do
Proporção comprimento do piso, recebeu 28 ladrilhos, então o número míni-
É uma igualdade entre duas frações ou duas razões. mo de ladrilhos necessários para revestir totalmente esse piso foi
igual a
(A) 588.
(B) 350.
(C) 454.
(D) 476.
Lemos: a esta para b, assim como c está para d. (E) 382.
Ainda temos:
Resolução:

Fazendo C = 28 e substituindo na proporção, temos:

4L = 28 . 3
• Propriedades da Proporção L = 84 / 4
– Propriedade Fundamental: o produto dos meios é igual ao L = 21 ladrilhos
produto dos extremos: Assim, o total de ladrilhos foi de 28 . 21 = 588
a.d=b.c
Resposta: A
– A soma/diferença dos dois primeiros termos está para o pri-
meiro (ou para o segundo termo), assim como a soma/diferença
MEDIDAS DE COMPRIMENTO, ÁREA, VOLUME, MASSA
dos dois últimos está para o terceiro (ou para o quarto termo).
E TEMPO

O sistema métrico decimal é parte integrante do Sistema de


Medidas. É adotado no Brasil tendo como unidade fundamental de
medida o metro.
O Sistema de Medidas é um conjunto de medidas usado em
quase todo o mundo, visando padronizar as formas de medição.

110
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Medidas de comprimento
Os múltiplos do metro são usados para realizar medição em grandes distâncias, enquanto os submúltiplos para realizar medição em
pequenas distâncias.

MÚLTIPLOS UNIDADE FUNDAMENTAL SUBMÚLTIPLOS


Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
km hm Dam m dm cm mm
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m

Para transformar basta seguir a tabela seguinte (esta transformação vale para todas as medidas):

Medidas de superfície e área


As unidades de área do sistema métrico correspondem às unidades de comprimento da tabela anterior.
São elas: quilômetro quadrado (km2), hectômetro quadrado (hm2), etc. As mais usadas, na prática, são o quilômetro quadrado, o me-
tro quadrado e o hectômetro quadrado, este muito importante nas atividades rurais com o nome de hectare (ha): 1 hm2 = 1 ha.
No caso das unidades de área, o padrão muda: uma unidade é 100 vezes a menor seguinte e não 10 vezes, como nos comprimentos.
Entretanto, consideramos que o sistema continua decimal, porque 100 = 102. A nomenclatura é a mesma das unidades de comprimento
acrescidas de quadrado.

Vejamos as relações entre algumas essas unidades que não fazem parte do sistema métrico e as do sistema métrico decimal (valores
aproximados):
1 polegada = 25 milímetros
1 milha = 1 609 metros
1 légua = 5 555 metros
1 pé = 30 centímetros

Medidas de Volume e Capacidade


Na prática, são muitos usados o metro cúbico(m3) e o centímetro cúbico(cm3).
Nas unidades de volume, há um novo padrão: cada unidade vale 1000 vezes a unidade menor seguinte. Como 1000 = 103, o sistema
continua sendo decimal. Acrescentamos a nomenclatura cúbico.
A noção de capacidade relaciona-se com a de volume. A unidade fundamental para medir capacidade é o litro (l); 1l equivale a 1 dm3.

Medidas de Massa
O sistema métrico decimal inclui ainda unidades de medidas de massa. A unidade fundamental é o grama(g). Assim as denominamos:
Kg – Quilograma; hg – hectograma; dag – decagrama; g – grama; dg – decigrama; cg – centigrama; mg – miligrama
Dessas unidades, só têm uso prático o quilograma, o grama e o miligrama. No dia-a-dia, usa-se ainda a tonelada (t). Medidas Especiais:
1 Tonelada(t) = 1000 Kg
1 Arroba = 15 Kg
1 Quilate = 0,2 g

Em resumo temos:

111
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Relações importantes
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE INFORMAÇÕES
EXPRESSAS EM GRÁFICOS E TABELAS

Tabelas
A tabela é a forma não discursiva de apresentar informações,
das quais o dado numérico se destaca como informação central.
Sua finalidade é apresentar os dados de modo ordenado, simples
e de fácil interpretação, fornecendo o máximo de informação num
mínimo de espaço.

Elementos da tabela
Uma tabela estatística é composta de elementos essenciais e
elementos complementares. Os elementos essenciais são:
1 kg = 1l = 1 dm3 − Título: é a indicação que precede a tabela contendo a desig-
1 hm2 = 1 ha = 10.000m2 nação do fato observado, o local e a época em que foi estudado.
1 m3 = 1000 l − Corpo: é o conjunto de linhas e colunas onde estão inseridos
os dados.
Exemplos: − Cabeçalho: é a parte superior da tabela que indica o conteú-
(CLIN/RJ - GARI E OPERADOR DE ROÇADEIRA - COSEAC) Uma do das colunas.
peça de um determinado tecido tem 30 metros, e para se confec- − Coluna indicadora: é a parte da tabela que indica o conteúdo
cionar uma camisa desse tecido são necessários 15 decímetros. das linhas.
Com duas peças desse tecido é possível serem confeccionadas:
(A) 10 camisas Os elementos complementares são:
(B) 20 camisas − Fonte: entidade que fornece os dados ou elabora a tabela.
(C) 40 camisas − Notas: informações de natureza geral, destinadas a esclarecer
(D) 80 camisas o conteúdo das tabelas.
− Chamadas: informações específicas destinadas a esclarecer
Resolução: ou conceituar dados numa parte da tabela. Deverão estar indica-
Como eu quero 2 peças desse tecido e 1 peça possui 30 metros das no corpo da tabela, em números arábicos entre parênteses, à
logo: esquerda nas casas e à direita na coluna indicadora. Os elementos
30 . 2 = 60 m. Temos que trabalhar com todas na mesma unida- complementares devem situar-se no rodapé da tabela, na mesma
de: 1 m é 10dm assim temos 60m . 10 = 600 dm, como cada camisa ordem em que foram descritos.
gasta um total de 15 dm, temos então:
600/15 = 40 camisas.

Resposta: C

(CLIN/RJ - GARI E OPERADOR DE ROÇADEIRA - COSEAC) Um veí-


culo tem capacidade para transportar duas toneladas de carga. Se a
carga a ser transportada é de caixas que pesam 4 quilogramas cada
uma, o veículo tem capacidade de transportar no máximo:
(A) 50 caixas
(B) 100 caixas
(C) 500 caixas
(D) 1000 caixas

Resolução:
Uma tonelada(ton) é 1000 kg, logo 2 ton. 1000kg= 2000 kg
Cada caixa pesa 4kg Gráficos
2000 kg/ 4kg = 500 caixas. Outro modo de apresentar dados estatísticos é sob uma forma
ilustrada, comumente chamada de gráfico. Os gráficos constituem-
Resposta: C -se numa das mais eficientes formas de apresentação de dados.
Um gráfico é, essencialmente, uma figura construída a partir de
uma tabela; mas, enquanto a tabela fornece uma ideia mais precisa
e possibilita uma inspeção mais rigorosa aos dados, o gráfico é mais
indicado para situações que visem proporcionar uma impressão
mais rápida e maior facilidade de compreensão do comportamento
do fenômeno em estudo.

112
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Os gráficos e as tabelas se prestam, portanto, a objetivos distin- • Pictogramas ou gráficos pictóricos: são gráficos puramente
tos, de modo que a utilização de uma forma de apresentação não ilustrativos, construídos de modo a ter grande apelo visual, dirigi-
exclui a outra. dos a um público muito grande e heterogêneo. Não devem ser uti-
Para a confecção de um gráfico, algumas regras gerais devem lizados em situações que exijam maior precisão.
ser observadas:
Os gráficos, geralmente, são construídos num sistema de eixos
chamado sistema cartesiano ortogonal. A variável independente é lo-
calizada no eixo horizontal (abscissas), enquanto a variável dependente
é colocada no eixo vertical (ordenadas). No eixo vertical, o início da
escala deverá ser sempre zero, ponto de encontro dos eixos.
− Iguais intervalos para as medidas deverão corresponder a iguais
intervalos para as escalas. Exemplo: Se ao intervalo 10-15 kg corres-
ponde 2 cm na escala, ao intervalo 40-45 kg também deverá corres-
ponder 2 cm, enquanto ao intervalo 40-50 kg corresponderá 4 cm.
− O gráfico deverá possuir título, fonte, notas e legenda, ou seja,
toda a informação necessária à sua compreensão, sem auxílio do texto.
− O gráfico deverá possuir formato aproximadamente quadrado para
evitar que problemas de escala interfiram na sua correta interpretação.
• Diagramas: são gráficos geométricos de duas dimensões, de
Tipos de Gráficos fácil elaboração e grande utilização. Podem ser ainda subdivididos
• Estereogramas: são gráficos onde as grandezas são represen- em: gráficos de colunas, de barras, de linhas ou curvas e de setores.
tadas por volumes. Geralmente são construídos num sistema de a) Gráfico de colunas: neste gráfico as grandezas são compa-
eixos bidimensional, mas podem ser construídos num sistema tridi- radas através de retângulos de mesma largura, dispostos vertical-
mensional para ilustrar a relação entre três variáveis. mente e com alturas proporcionais às grandezas. A distância entre
os retângulos deve ser, no mínimo, igual a 1/2 e, no máximo, 2/3 da
largura da base dos mesmos.

• Cartogramas: são representações em cartas geográficas (ma-


pas).

113
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

b) Gráfico de barras: segue as mesmas instruções que o gráfico de colunas, tendo a única diferença que os retângulos são dispostos
horizontalmente. É usado quando as inscrições dos retângulos forem maiores que a base dos mesmos.

c) Gráfico de linhas ou curvas: neste gráfico os pontos são dispostos no plano de acordo com suas coordenadas, e a seguir são ligados por segmentos de
reta. É muito utilizado em séries históricas e em séries mistas quando um dos fatores de variação é o tempo, como instrumento de comparação.

d) Gráfico em setores: é recomendado para situações em que se deseja evidenciar o quanto cada informação representa do total. A
figura consiste num círculo onde o total (100%) representa 360°, subdividido em tantas partes quanto for necessário à representação. Essa
divisão se faz por meio de uma regra de três simples. Com o auxílio de um transferidor efetuasse a marcação dos ângulos correspondentes
a cada divisão.

114
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Exemplo:
(PREF. FORTALEZA/CE – PEDAGOGIA – PREF. FORTALEZA) “Es- PROBLEMAS DE CONTAGEM
tar alfabetizado, neste final de século, supõe saber ler e interpretar
dados apresentados de maneira organizada e construir represen- A Análise Combinatória é a parte da Matemática que desenvol-
tações, para formular e resolver problemas que impliquem o reco- ve meios para trabalharmos com problemas de contagem. Vejamos
lhimento de dados e a análise de informações. Essa característica eles:
da vida contemporânea traz ao currículo de Matemática uma de-
manda em abordar elementos da estatística, da combinatória e da Princípio fundamental de contagem (PFC)
probabilidade, desde os ciclos iniciais” (BRASIL, 1997). É o total de possibilidades de o evento ocorrer.
Observe os gráficos e analise as informações. • Princípio multiplicativo: P1. P2. P3. ... .Pn.(regra do “e”). É um
princípio utilizado em sucessão de escolha, como ordem.
• Princípio aditivo: P1 + P2 + P3 + ... + Pn. (regra do “ou”). É o
princípio utilizado quando podemos escolher uma coisa ou outra.

Exemplos:
(BNB) Apesar de todos os caminhos levarem a Roma, eles pas-
sam por diversos lugares antes. Considerando-se que existem três
caminhos a seguir quando se deseja ir da cidade A para a cidade
B, e que existem mais cinco opções da cidade B para Roma, qual a
quantidade de caminhos que se pode tomar para ir de A até Roma,
passando necessariamente por B?
(A) Oito.
(B) Dez.
(C) Quinze.
(D) Dezesseis.
(E) Vinte.

Resolução:
Observe que temos uma sucessão de escolhas:
Primeiro, de A para B e depois de B para Roma.
1ª possibilidade: 3 (A para B).
Obs.: o número 3 representa a quantidade de escolhas para a
primeira opção.

2ª possibilidade: 5 (B para Roma).


Temos duas possibilidades: A para B depois B para Roma, logo,
uma sucessão de escolhas.
Resultado: 3 . 5 = 15 possibilidades.

Resposta: C.

A partir das informações contidas nos gráficos, é correto afir- (PREF. CHAPECÓ/SC – ENGENHEIRO DE TRÂNSITO – IOBV) Em
mar que: um restaurante os clientes têm a sua disposição, 6 tipos de carnes,
(A) nos dias 03 e 14 choveu a mesma quantidade em Fortaleza 4 tipos de cereais, 4 tipos de sobremesas e 5 tipos de sucos. Se o
e Florianópolis. cliente quiser pedir 1 tipo carne, 1 tipo de cereal, 1 tipo de sobre-
(B) a quantidade de chuva acumulada no mês de março foi mesa e 1 tipo de suco, então o número de opções diferentes com
maior em Fortaleza. que ele poderia fazer o seu pedido, é:
(C) Fortaleza teve mais dias em que choveu do que Florianó- (A) 19
polis. (B) 480
(D) choveu a mesma quantidade em Fortaleza e Florianópolis. (C) 420
(D) 90
Resolução:
A única alternativa que contém a informação correta com os Resolução:
gráficos é a C. A questão trata-se de princípio fundamental da contagem, logo
vamos enumerar todas as possibilidades de fazermos o pedido:
Resposta: C 6 x 4 x 4 x 5 = 480 maneiras.

Resposta: B.

115
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Fatorial Exemplo: Seja P um conjunto com elementos: P = {A,B,C,D}, to-


Sendo n um número natural, chama-se de n! (lê-se: n fatorial) mando os agrupamentos de dois em dois, considerando o arranjo
a expressão: com repetição quantos agrupamentos podemos obter em relação
n! = n (n - 1) (n - 2) (n - 3). ... .2 . 1, como n ≥ 2. ao conjunto P.
Resolução:
Exemplos: P = {A, B, C, D}
5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120. n=4
7! = 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 5.040. p=2
A(n,p)=np
ATENÇÃO A(4,2)=42=16

0! = 1 Permutação
1! = 1 É a TROCA DE POSIÇÃO de elementos de uma sequência. Utili-
zamos todos os elementos.
Tenha cuidado 2! = 2, pois 2 . 1 = 2. E 3!
Não é igual a 3, pois 3 . 2 . 1 = 6.
• Sem repetição
Arranjo simples
Arranjo simples de n elementos tomados p a p, onde n>=1 e p
é um número natural, é qualquer ordenação de p elementos dentre
os n elementos, em que cada maneira de tomar os elementos se Atenção: Todas as questões de permutação simples podem ser
diferenciam pela ordem e natureza dos elementos. resolvidas pelo princípio fundamental de contagem (PFC).
Atenção: Observe que no grupo dos elementos: {1,2,3} um dos Exemplo:
arranjos formados, com três elementos, 123 é DIFERENTE de 321, e (PREF. LAGOA DA CONFUSÃO/TO – ORIENTADOR SOCIAL – IDE-
assim sucessivamente. CAN) Renato é mais velho que Jorge de forma que a razão entre o
número de anagramas de seus nomes representa a diferença entre
• Sem repetição suas idades. Se Jorge tem 20 anos, a idade de Renato é
A fórmula para cálculo de arranjo simples é dada por: (A) 24.
(B) 25.
(C) 26.
(D) 27.
(E) 28.

Resolução:
Onde: Anagramas de RENATO
n = Quantidade total de elementos no conjunto. ______
P =Quantidade de elementos por arranjo 6.5.4.3.2.1=720
Exemplo: Uma escola possui 18 professores. Entre eles, serão Anagramas de JORGE
escolhidos: um diretor, um vice-diretor e um coordenador pedagó- _____
gico. Quantas as possibilidades de escolha? 5.4.3.2.1=120
n = 18 (professores)
p = 3 (cargos de diretor, vice-diretor e coordenador pedagógico) Razão dos anagramas: 720/120=6
Se Jorge tem 20 anos, Renato tem 20+6=26 anos.

Resposta: C.

• Com repetição
• Com repetição Na permutação com elementos repetidos ocorrem permuta-
Os elementos que compõem o conjunto podem aparecer re- ções que não mudam o elemento, pois existe troca de elementos
petidos em um agrupamento, ou seja, ocorre a repetição de um iguais. Por isso, o uso da fórmula é fundamental.
mesmo elemento em um agrupamento.
A fórmula geral para o arranjo com repetição é representada
por:

116
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Exemplo:
(CESPE) Considere que um decorador deva usar 7 faixas coloridas de dimensões iguais, pendurando-as verticalmente na vitrine de
uma loja para produzir diversas formas. Nessa situação, se 3 faixas são verdes e indistinguíveis, 3 faixas são amarelas e indistinguíveis e 1
faixa é branca, esse decorador conseguirá produzir, no máximo, 140 formas diferentes com essas faixas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Total: 7 faixas, sendo 3 verdes e 3 amarelas.

Resposta: Certo.

• Circular
A permutação circular é formada por pessoas em um formato circular. A fórmula é necessária, pois existem algumas permutações
realizadas que são iguais. Usamos sempre quando:
a) Pessoas estão em um formato circular.
b) Pessoas estão sentadas em uma mesa quadrada (retangular) de 4 lugares.

Exemplo:
(CESPE) Uma mesa circular tem seus 6 lugares, que serão ocupados pelos 6 participantes de uma reunião. Nessa situação, o número
de formas diferentes para se ocupar esses lugares com os participantes da reunião é superior a 102.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
É um caso clássico de permutação circular.
Pc = (6 - 1) ! = 5! = 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 120 possibilidades.
Resposta: CERTO.

Combinação
Combinação é uma escolha de um grupo, SEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO a ordem dos elementos envolvidos.

• Sem repetição
Dados n elementos distintos, chama-se de combinação simples desses n elementos, tomados p a p, a qualquer agrupamento de p
elementos distintos, escolhidos entre os n elementos dados e que diferem entre si pela natureza de seus elementos.

Fórmula:

Exemplo:
(CRQ 2ª REGIÃO/MG – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – FUNDEP) Com 12 fiscais, deve-se fazer um grupo de trabalho com 3 deles. Como
esse grupo deverá ter um coordenador, que pode ser qualquer um deles, o número de maneiras distintas possíveis de se fazer esse grupo
é:
(A) 4
(B) 660
(C) 1 320
(D) 3 960

117
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Resolução:
Como trata-se de Combinação, usamos a fórmula:

Onde n = 12 e p = 3

Como cada um deles pode ser o coordenado, e no grupo tem 3 pessoas, logo temos 220 x 3 = 660.

Resposta: B.

As questões que envolvem combinação estão relacionadas a duas coisas:


– Escolha de um grupo ou comissões.
– Escolha de grupo de elementos, sem ordem, ou seja, escolha de grupo de pessoas, coisas, objetos ou frutas.

• Com repetição
É uma escolha de grupos, sem ordem, porém, podemos repetir elementos na hora de escolher.

Exemplo:
Em uma combinação com repetição classe 2 do conjunto {a, b, c}, quantas combinações obtemos?
Utilizando a fórmula da combinação com repetição, verificamos o mesmo resultado sem necessidade de enumerar todas as possibi-
lidades:
n=3ep=2

NOÇÕES DE PROBABILIDADE

PROBABILIDADES
A teoria da probabilidade permite que se calcule a chance de ocorrência de um número em um experimento aleatório.

Elementos da teoria das probabilidades


• Experimentos aleatórios: fenômenos que apresentam resultados imprevisíveis quando repetidos, mesmo que as condições sejam
semelhantes.
• Espaço amostral: é o conjunto U, de todos os resultados possíveis de um experimento aleatório.
• Evento: qualquer subconjunto de um espaço amostral, ou seja, qualquer que seja E Ì U, onde E é o evento e U, o espaço amostral.

118
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Experimento composto
Quando temos dois ou mais experimentos realizados simultaneamente, dizemos que o experimento é composto. Nesse caso, o nú-
mero de elementos do espaço amostral é dado pelo produto dos números de elementos dos espaços amostrais de cada experimento.
n(U) = n(U1).n(U2)

Probabilidade de um evento
Em um espaço amostral U, equiprobabilístico (com elementos que têm chances iguais de ocorrer), com n(U) elementos, o evento E,
com n(E) elementos, onde E Ì U, a probabilidade de ocorrer o evento E, denotado por p(E), é o número real, tal que:

Onde,
n(E) = número de elementos do evento E.
n(S) = número de elementos do espaço amostral S.

Sendo 0 ≤ P(E) ≤ 1 e S um conjunto equiprovável, ou seja, todos os elementos têm a mesma “chance de acontecer.

ATENÇÃO:
As probabilidades podem ser escritas na forma decimal ou representadas em porcentagem.
Assim: 0 ≤ p(E) ≤ 1, onde:
p(∅) = 0 ou p(∅) = 0%
p(U) = 1 ou p(U) = 100%

Exemplo:
(PREF. NITERÓI – AGENTE FAZENDÁRIO – FGV) O quadro a seguir mostra a distribuição das idades dos funcionários de certa repartição
pública:

FAIXA DE IDADES (ANOS) NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS


20 ou menos 2
De 21 a 30 8
De 31 a 40 12
De 41 a 50 14
Mais de 50 4

Escolhendo ao acaso um desses funcionários, a probabilidade de que ele tenha mais de 40 anos é:
(A) 30%;
(B) 35%;
(C) 40%;
(D) 45%;
(E) 55%.

Resolução:
O espaço amostral é a soma de todos os funcionário:
2 + 8 + 12 + 14 + 4 = 40
O número de funcionário que tem mais de 40 anos é: 14 + 4 = 18
Logo a probabilidade é:

Resposta: D

119
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Probabilidade da união de eventos


Para obtermos a probabilidade da união de eventos utilizamos a seguinte expressão:

Quando os eventos forem mutuamente exclusivos, tendo A ∩ B = Ø, utilizamos a seguinte equação:

Probabilidade de um evento complementar


É quando a soma das probabilidades de ocorrer o evento E, e de não ocorrer o evento E (seu complementar, Ē) é 1.

Probabilidade condicional
Quando se impõe uma condição que reduz o espaço amostral, dizemos que se trata de uma probabilidade condicional.
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral U, com p(B) ≠ 0. Chama-se probabilidade de A condicionada a B a probabilidade de
ocorrência do evento A, sabendo-se que já ocorreu ou que vai ocorrer o evento B, ou seja:

Podemos também ler como: a probabilidade de A “dado que” ou “sabendo que” a probabilidade de B.

– Caso forem dois eventos simultâneos (ou sucessivos): para se avaliar a probabilidade de ocorrem dois eventos simultâneos (ou su-
cessivos), que é P (A ∩ B), é preciso multiplicar a probabilidade de ocorrer um deles P(B) pela probabilidade de ocorrer o outro, sabendo
que o primeiro já ocorreu P (A | B). Sendo:

– Se dois eventos forem independentes: dois eventos A e B de um espaço amostral S são independentes quando P(A|B) = P(A) ou
P(B|A) = P(B). Sendo os eventos A e B independentes, temos:

P (A ∩ B) = P(A). P(B)

120
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Lei Binomial de probabilidade


A lei binominal das probabilidades é dada pela fórmula:

Sendo:
n: número de tentativas independentes;
p: probabilidade de ocorrer o evento em cada experimento (sucesso);
q: probabilidade de não ocorrer o evento (fracasso); q = 1 - p
k: número de sucessos.

ATENÇÃO:
A lei binomial deve ser aplicada nas seguintes condições:
– O experimento deve ser repetido nas mesmas condições as n vezes.
– Em cada experimento devem ocorrer os eventos E e .
– A probabilidade do E deve ser constante em todas as n vezes.
– Cada experimento é independente dos demais.

Exemplo:
Lançando-se um dado 5 vezes, qual a probabilidade de ocorrerem três faces 6?

Resolução:
n: número de tentativas ⇒ n = 5
k: número de sucessos ⇒ k = 3
p: probabilidade de ocorrer face 6 ⇒ p = 1/6
q: probabilidade de não ocorrer face 6 ⇒ q = 1- p ⇒ q = 5/6

GEOMETRIA BÁSICA: ÂNGULOS, TRIÂNGULOS, POLÍGONOS, DISTÂNCIAS, PROPORCIONALIDADE, PERÍMETRO E


ÁREA

Geometria plana
Aqui nos deteremos a conceitos mais cobrados como perímetro e área das principais figuras planas. O que caracteriza a geometria
plana é o estudo em duas dimensões.

Perímetro
É a soma dos lados de uma figura plana e pode ser representado por P ou 2p, inclusive existem umas fórmulas de geometria que apa-
rece p que é o semiperímetro (metade do perímetro). Basta observamos a imagem:

Observe que a planta baixa tem a forma de um retângulo.

121
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Exemplo:
(CPTM - Médico do trabalho – MAKIYAMA) Um terreno retangular de perímetro 200m está à venda em uma imobiliária. Sabe-se que
sua largura tem 28m a menos que o seu comprimento. Se o metro quadrado cobrado nesta região é de R$ 50,00, qual será o valor pago
por este terreno?
(A) R$ 10.000,00.
(B) R$ 100.000,00.
(C) R$ 125.000,00.
(D) R$ 115.200,00.
(E) R$ 100.500,00.

Resolução:
O perímetro do retângulo é dado por = 2(b+h);
Pelo enunciado temos que: sua largura tem 28m a menos que o seu comprimento, logo 2 (x + (x-28)) = 2 (2x -28) = 4x – 56. Como ele
já dá o perímetro que é 200, então
200 = 4x -56  4x = 200+56  4x = 256  x = 64
Comprimento = 64, largura = 64 – 28 = 36
Área do retângulo = b.h = 64.36 = 2304 m2
Logo o valor da área é: 2304.50 = 115200

Resposta: D

• Área
É a medida de uma superfície. Usualmente a unidade básica de área é o m2 (metro quadrado). Que equivale à área de um quadrado
de 1 m de lado.

Quando calculamos que a área de uma determinada figura é, por exemplo, 12 m2; isso quer dizer que na superfície desta figura cabem
12 quadrados iguais ao que está acima.

122
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Planta baixa de uma casa com a área total

Para efetuar o cálculo de áreas é necessário sabermos qual a figura plana e sua respectiva fórmula. Vejamos:

(Fonte: https://static.todamateria.com.br/upload/57/97/5797a651dfb37-areas-de-figuras-planas.jpg)

Geometria espacial
Aqui trataremos tanto das figuras tridimensionais e dos sólidos geométricos. O importante é termos em mente todas as figuras planas,
pois a construção espacial se dá através da junção dessas figuras. Vejamos:

Diedros
Sendo dois planos secantes (planos que se cruzam) π e π’, o espaço entre eles é chamado de diedro. A medida de um diedro é feita
em graus, dependendo do ângulo formado entre os planos.

Poliedros
São sólidos geométricos ou figuras geométricas espaciais formadas por três elementos básicos: faces, arestas e vértices. Chamamos
de poliedro o sólido limitado por quatro ou mais polígonos planos, pertencentes a planos diferentes e que têm dois a dois somente uma
aresta em comum. Veja alguns exemplos:

Os polígonos são as faces do poliedro; os lados e os vértices dos polígonos são as arestas e os vértices do poliedro.
Um poliedro é convexo se qualquer reta (não paralela a nenhuma de suas faces) o corta em, no máximo, dois pontos. Ele não possuí
“reentrâncias”. E caso contrário é dito não convexo.

Relação de Euler
Em todo poliedro convexo sendo V o número de vértices, A o número de arestas e F o número de faces, valem as seguintes relações
de Euler:
Poliedro Fechado: V – A + F = 2
Poliedro Aberto: V – A + F = 1

Para calcular o número de arestas de um poliedro temos que multiplicar o número de faces F pelo número de lados de cada face n e
dividir por dois. Quando temos mais de um tipo de face, basta somar os resultados.
A = n.F/2

123
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Poliedros de Platão
Eles satisfazem as seguintes condições:
- todas as faces têm o mesmo número n de arestas;
- todos os ângulos poliédricos têm o mesmo número m de arestas;
- for válida a relação de Euler (V – A + F = 2).

Poliedros Regulares
Um poliedro e dito regular quando:
- suas faces são polígonos regulares congruentes;
- seus ângulos poliédricos são congruentes;

Por essas condições e observações podemos afirmar que todos os poliedros de Platão são ditos Poliedros Regulares.
Exemplo:
(PUC/RS) Um poliedro convexo tem cinco faces triangulares e três pentagonais. O número de arestas e o número de vértices deste
poliedro são, respectivamente:
(A) 30 e 40
(B) 30 e 24
(C) 30 e 8
(D) 15 e 25
(E) 15 e 9

Resolução:
O poliedro tem 5 faces triangulares e 3 faces pentagonais, logo, tem um total de 8 faces (F = 8). Como cada triângulo tem 3 lados e o
pentágono 5 lados. Temos:

Resposta: E

Não Poliedros

Os sólidos acima são. São considerados não planos pois possuem suas superfícies curvas.
Cilindro: tem duas bases geometricamente iguais definidas por curvas fechadas em superfície lateral curva.
Cone: tem uma só base definida por uma linha curva fechada e uma superfície lateral curva.
Esfera: é formada por uma única superfície curva.

124
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Planificações de alguns Sólidos Geométricos

Fonte: https://1.bp.blogspot.com/-WWDbQ-Gh5zU/Wb7iCjR42BI/AAAAAAAAIR0/kfRXIcIYLu4Iqf7ueIYKl39DU-9Zw24lgCLcBGAs/s1600/revis%-
25C3%25A3o%2Bfiguras%2Bgeom%25C3%25A9tricas-page-001.jpg

Sólidos geométricos
O cálculo do volume de figuras geométricas, podemos pedir que visualizem a seguinte figura:

a) A figura representa a planificação de um prisma reto;


b) O volume de um prisma reto é igual ao produto da área da base pela altura do sólido, isto é:
V = Ab. a
Onde a é igual a h (altura do sólido)

c) O cubo e o paralelepípedo retângulo são prismas;


d) O volume do cilindro também se pode calcular da mesma forma que o volume de um prisma reto.

125
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Área e Volume dos sólidos geométricos


PRISMA: é um sólido geométrico que possui duas bases iguais e paralelas.

Exemplo:
(PREF. JUCÁS/CE – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – INSTITUTO NEO EXITUS) O número de faces de um prisma, em que a base é um
polígono de n lados é:
(A) n + 1.
(B) n + 2.
(C) n.
(D) n – 1.
(E) 2n + 1.

Resolução:
Se a base tem n lados, significa que de cada lado sairá uma face.
Assim, teremos n faces, mais a base inferior, e mais a base superior.
Portanto, n + 2

Resposta: B

PIRÂMIDE: é um sólido geométrico que tem uma base e um vértice superior.

126
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Exemplo:
Uma pirâmide triangular regular tem aresta da base igual a 8 cm e altura 15 cm. O volume dessa pirâmide, em cm3, é igual a:
(A) 60
(B) 60
(C) 80
(D) 80
(E) 90

Resolução:
Do enunciado a base é um triângulo equilátero. E a fórmula da área do triângulo equilátero é . A aresta da base é a = 8 cm e h = 15 cm.
Cálculo da área da base:

Cálculo do volume:

Resposta: D

CILINDRO: é um sólido geométrico que tem duas bases iguais, paralelas e circulares.

127
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

CONE: é um sólido geométrico que tem uma base circular e vértice superior.

Exemplo:
Um cone equilátero tem raio igual a 8 cm. A altura desse cone, em cm, é:

(A)

(B)

(C)

(D)

(E) 8

Resolução:
Em um cone equilátero temos que g = 2r. Do enunciado o raio é 8 cm, então a geratriz é g = 2.8 = 16 cm.
g2 = h2 + r2
162 = h2 + 82
256 = h2 + 64
256 – 64 = h2
h2 = 192

Resposta: D

128
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

ESFERA: superfície curva, possui formato de uma bola.

TRONCOS: são cortes feitos nas superfícies de alguns dos sólidos geométricos. São eles:

Exemplo:
(ESCOLA DE SARGENTO DAS ARMAS – COMBATENTE/LOGÍSTICA – TÉCNICA/AVIAÇÃO – EXÉRCITO BRASILEIRO) O volume de um tronco
de pirâmide de 4 dm de altura e cujas áreas das bases são iguais a 36 dm² e 144 dm² vale:
(A) 330 cm³
(B) 720 dm³
(C) 330 m³
(D) 360 dm³
(E) 336 dm³

Resolução:

AB=144 dm²
Ab=36 dm²

Resposta: E

129
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Geometria analítica
Um dos objetivos da Geometria Analítica é determinar a reta que representa uma certa equação ou obter a equação de uma reta
dada, estabelecendo uma relação entre a geometria e a álgebra.

Sistema cartesiano ortogonal (PONTO)


Para representar graficamente um par ordenado de números reais, fixamos um referencial cartesiano ortogonal no plano. A reta x
é o eixo das abscissas e a reta y é o eixo das ordenadas. Como se pode verificar na imagem é o Sistema cartesiano e suas propriedades.

Para determinarmos as coordenadas de um ponto P, traçamos linhas perpendiculares aos eixos x e y.


• xp é a abscissa do ponto P;
• yp é a ordenada do ponto P;
• xp e yp constituem as coordenadas do ponto P.

Mediante a esse conhecimento podemos destacar as formulas que serão uteis ao cálculo.

Distância entre dois pontos de um plano


Por meio das coordenadas de dois pontos A e B, podemos localizar esses pontos em um sistema cartesiano ortogonal e, com isso,
determinar a distância d(A, B) entre eles. O triângulo formado é retângulo, então aplicamos o Teorema de Pitágoras.

130
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Ponto médio de um segmento Estes pontos estarão alinhados se, e somente se:

Por outro lado, se D ≠ 0, então os pontos A, B e C serão vértices


de um triângulo cuja área é:

onde o valor do determinante é sempre dado em módulo, pois


a área não pode ser um número negativo.

Inclinação de uma reta e Coeficiente angular de uma reta (ou


Baricentro declividade)
O baricentro (G) de um triângulo é o ponto de intersecção das À medida do ângulo α, onde α é o menor ângulo que uma reta
medianas do triângulo. O baricentro divide as medianas na razão forma com o eixo x, tomado no sentido anti-horário, chamamos de
de 2:1. inclinação da reta r do plano cartesiano.

Já a declividade é dada por: m = tgα


Condição de alinhamento de três pontos
Consideremos três pontos de uma mesma reta (colineares), Cálculo do coeficiente angular
A(x1, y1), B(x2, y2) e C(x3, y3). Se a inclinação α nos for desconhecida, podemos calcular o co-
eficiente angular m por meio das coordenadas de dois pontos da
reta, como podemos verificar na imagem.

131
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Reta – Equação segmentária da reta


É a equação da reta determinada pelos pontos da reta que in-
Equação da reta terceptam os eixos x e y nos pontos A (a, 0) e B (0,b).
A equação da reta é determinada pela relação entre as abscis-
sas e as ordenadas. Todos os pontos desta reta obedecem a uma
mesma lei. Temos duas maneiras de determinar esta equação:

1) Um ponto e o coeficiente angular

Exemplo:
Consideremos um ponto P(1, 3) e o coeficiente angular m = 2.
Dados P(x1, y1) e Q(x, y), com P ∈ r, Q ∈ r e m a declividade da
reta r, a equação da reta r será:

Equação geral da reta


Toda equação de uma reta pode ser escrita na forma:
ax + by + c = 0

onde a, b e c são números reais constantes com a e b não si-


multaneamente nulos.

Posições relativas de duas retas


Em relação a sua posição elas podem ser:

A) Retas concorrentes: Se r1 e r2 são concorrentes, então seus


ângulos formados com o eixo x são diferentes e, como consequên-
2) Dois pontos: A(x1, y1) e B(x2, y2) cia, seus coeficientes angulares são diferentes.
Consideremos os pontos A(1, 4) e B(2, 1). Com essas informa-
ções, podemos determinar o coeficiente angular da reta:

Com o coeficiente angular, podemos utilizar qualquer um dos


dois pontos para determinamos a equação da reta. Temos A(1, 4),
m = -3 e Q(x, y)
y - y1 = m.(x - x1) ⇒ y - 4 = -3. (x - 1) ⇒ y - 4 = -3x + 3 ⇒ 3x +
y - 4 - 3 = 0 ⇒ 3x + y - 7 = 0

Equação reduzida da reta


A equação reduzida é obtida quando isolamos y na equação da
reta y - b = mx

132
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

B) Retas paralelas: Se r1 e r2 são paralelas, seus ângulos com o Distância entre um ponto e uma reta
eixo x são iguais e, em consequência, seus coeficientes angulares A distância de um ponto a uma reta é a medida do segmento
são iguais (m1 = m2). Entretanto, para que sejam paralelas, é neces- perpendicular que liga o ponto à reta. Utilizamos a fórmula a seguir
sário que seus coeficientes lineares n1 e n2 sejam diferentes para obtermos esta distância.

C) Retas coincidentes: Se r1 e r2 são coincidentes, as retas cor- onde d(P, r) é a distância entre o ponto P(xP, yP) e a reta r .
tam o eixo y no mesmo ponto; portanto, além de terem seus coe-
ficientes angulares iguais, seus coeficientes lineares também serão Exemplo:
iguais. (UEPA) O comandante de um barco resolveu acompanhar a
procissão fluvial do Círio-2002, fazendo o percurso em linha reta.
Para tanto, fez uso do sistema de eixos cartesianos para melhor
orientação. O barco seguiu a direção que forma 45° com o sentido
positivo do eixo x, passando pelo ponto de coordenadas (3, 5). Este
trajeto ficou bem definido através da equação:
(A) y = 2x – 1
(B) y = - 3x + 14
(C) y = x + 2
(D) y = - x + 8
(E) y = 3x – 4

Resolução:
xo = 3, yo = 5 e = 1. As alternativas estão na forma de equação
reduzida, então:
y – yo = m(x – xo)
y – 5 = 1.(x – 3)
y–5=x–3
y=x–3+5
Intersecção de retas y=x+2
Duas retas concorrentes, apresentam um ponto de intersecção
P(a, b), em que as coordenadas (a, b) devem satisfazer as equações Resposta: C
de ambas as retas. Para determinarmos as coordenadas de P, basta
resolvermos o sistema constituído pelas equações dessas retas. Circunferência
É o conjunto dos pontos do plano equidistantes de um ponto
Condição de perpendicularismo fixo O, denominado centro da circunferência.
Se duas retas, r1 e r2, são perpendiculares entre si, a seguinte A medida da distância de qualquer ponto da circunferência ao
relação deverá ser verdadeira. centro O é sempre constante e é denominada raio.

onde m1 e m2 são os coeficientes angulares das retas r1 e r2,


respectivamente.

133
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Equação reduzida da circunferência Elipse


Dados um ponto P(x, y) qualquer, pertencente a uma circunfe- É o conjunto dos pontos de um plano cuja soma das distâncias
rência de centro O(a,b) e raio r, sabemos que: d(O,P) = r. a dois pontos fixos do plano é constante. Onde F1 e F2 são focos:

Equação Geral da circunferência Mesmo que mudemos o eixo maior da elipse do eixo x para
A equação geral de uma circunferência é obtida através do de- o eixo y, a relação de Pitágoras (a2 =b2 + c2) continua sendo válida.
senvolvimento da equação reduzida.

Exemplo:
(VUNESP) A equação da circunferência, com centro no ponto
C(2, 1) e que passa pelo ponto P(0, 3), é:
(A) x2 + (y – 3)2 = 0
(B) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 4 Equações da elipse
(C) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 8 a) Centrada na origem e com o eixo maior na horizontal.
(D) (x – 2)2 + (y – 1)2 = 16
(E) x2 + (y – 3)2 = 8

Resolução:
Temos que C(2, 1), então a = 2 e b = 1. O raio não foi dado no
enunciado.
(x – a)2 + (y – b)2 = r2
(x – 2)2 + (y – 1)2 = r2 (como a circunferência passa pelo ponto P,
basta substituir o x por 0 e o y por 3 para achar a raio.
(0 – 2)2 + (3 – 1)2 = r2
(- 2)2 + 22 = r2 b) Centrada na origem e com o eixo maior na vertical.
4 + 4 = r2
r2 = 8
(x – 2)2 + (y – 1)2 = 8

Resposta: C

134
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

TEOREMA DE PITÁGORAS
Em todo triângulo retângulo, o maior lado é chamado de hipo- PLANO CARTESIANO: SISTEMA DE COORDENADAS,
tenusa e os outros dois lados são os catetos. Deste triângulo tira- DISTÂNCIA
mos a seguinte relação:
Funções lineares
Chama-se função do 1º grau ou afim a função f: R  R definida
por y = ax + b, com a e b números reais e a 0. a é o coeficiente an-
gular da reta e determina sua inclinação, b é o coeficiente linear da
reta e determina a intersecção da reta com o eixo y.

Com a ϵ R* e b ϵ R.
“Em todo triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa é igual
à soma dos quadrados dos catetos”. Atenção
a2 = b 2 + c 2 Usualmente chamamos as funções polinomiais de: 1º grau, 2º
etc, mas o correto seria Função de grau 1,2 etc. Pois o classifica a
Exemplo: função é o seu grau do seu polinômio.
Um barco partiu de um ponto A e navegou 10 milhas para o
oeste chegando a um ponto B, depois 5 milhas para o sul chegando A função do 1º grau pode ser classificada de acordo com seus
a um ponto C, depois 13 milhas para o leste chagando a um ponto D gráficos. Considere sempre a forma genérica y = ax + b.
e finalmente 9 milhas para o norte chegando a um ponto E. Onde o
barco parou relativamente ao ponto de partida? • Função constante
(A) 3 milhas a sudoeste. Se a = 0, então y = b, b ∈ R. Desta maneira, por exemplo, se y
(B) 3 milhas a sudeste. = 4 é função constante, pois, para qualquer valor de x, o valor de y
(C) 4 milhas ao sul. ou f(x) será sempre 4.
(D) 5 milhas ao norte.
(E) 5 milhas a nordeste.

Resolução:

• Função identidade
Se a = 1 e b = 0, então y = x. Nesta função, x e y têm sempre
os mesmos valores. Graficamente temos: A reta y = x ou f(x) = x é
denominada bissetriz dos quadrantes ímpares.

x 2 = 32 + 42
x2 = 9 + 16
x2 = 25

Resposta: E

135
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Mas, se a = -1 e b = 0, temos então y = -x. A reta determinada • Função Bijetora


por esta função é a bissetriz dos quadrantes pares, conforme mos- É uma função que é ao mesmo tempo injetora e sobrejetora.
tra o gráfico ao lado. x e y têm valores iguais em módulo, porém
com sinais contrários.

• Função linear • Função Par


É a função do 1º grau quando b = 0, a ≠ 0 e a ≠ 1, a e b ∈ R. Quando para todo elemento x pertencente ao domínio temos
f(x)=f(-x), ∀ x ∈ D(f). Ou seja, os valores simétricos devem possuir
• Função afim a mesma imagem.
É a função do 1º grau quando a ≠ 0, b ≠ 0, a e b ∈ R.

• Função Injetora
É a função cujo domínio apresenta elementos distintos e tam-
bém imagens distintas.

• Função ímpar
Quando para todo elemento x pertencente ao domínio, temos
f(-x) = -f(x) ∀ x є D(f). Ou seja, os elementos simétricos do domínio
terão imagens simétricas.
• Função Sobrejetora
É quando todos os elementos do domínio forem imagens de
PELO MENOS UM elemento do domínio.

136
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Gráfico da função do 1º grau Estudo de sinal da função do 1º grau


A representação geométrica da função do 1º grau é uma reta, por- Estudar o sinal de uma função do 1º grau é determinar os valo-
tanto, para determinar o gráfico, é necessário obter dois pontos. Em res de x para que y seja positivo, negativo ou zero.
particular, procuraremos os pontos em que a reta corta os eixos x e y. 1º) Determinamos a raiz da função, igualando-a a zero: (raiz: x =- b/a)
De modo geral, dada a função f(x) = ax + b, para determinarmos 2º) Verificamos se a função é crescente (a>0) ou decrescente (a
a intersecção da reta com os eixos, procedemos do seguinte modo: < 0); temos duas possibilidades:

1º) Igualamos y a zero, então ax + b = 0 ⇒ x = - b/a, no eixo x Exemplos:


encontramos o ponto (-b/a, 0). (PM/SP – CABO – CETRO) O gráfico abaixo representa o salário bru-
2º) Igualamos x a zero, então f(x) = a. 0 + b ⇒ f(x) = b, no eixo y to (S) de um policial militar em função das horas (h) trabalhadas em certa
encontramos o ponto (0, b). cidade. Portanto, o valor que este policial receberá por 186 horas é
• f(x) é crescente se a é um número positivo (a > 0);
• f(x) é decrescente se a é um número negativo (a < 0).

Raiz ou zero da função do 1º grau (A) R$ 3.487,50.


A raiz ou zero da função do 1º grau é o valor de x para o qual y = (B) R$ 3.506,25.
f(x) = 0. Graficamente, é o ponto em que a reta “corta” o eixo x. Por- (C) R$ 3.534,00.
tanto, para determinar a raiz da função, basta a igualarmos a zero: (D) R$ 3.553,00.
Resolução:

Resposta: A

137
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(CBTU/RJ - ASSISTENTE OPERACIONAL - CONDUÇÃO DE VEÍ- Raízes da função do 2ºgrau


CULOS METROFERROVIÁRIOS – CONSULPLAN) Qual dos pares de Analogamente à função do 1º grau, para encontrar as raízes
pontos a seguir pertencem a uma função do 1º grau decrescente? da função quadrática, devemos igualar f(x) a zero. Teremos então:
(A) Q(3, 3) e R(5, 5). ax2 + bx + c = 0
(B) N(0, –2) e P(2, 0).
(C) S(–1, 1) e T(1, –1). A expressão assim obtida denomina-se equação do 2º grau.
(D) L(–2, –3) e M(2, 3). As raízes da equação são determinadas utilizando-se a fórmula de
Bhaskara:
Resolução:
Para pertencer a uma função polinomial do 1º grau decrescen-
te, o primeiro ponto deve estar em uma posição “mais alta” do que
o 2º ponto.
Vamos analisar as alternativas:
( A ) os pontos Q e R estão no 1º quadrante, mas Q está em uma Δ (letra grega: delta) é chamado de discriminante da equação.
posição mais baixa que o ponto R, e, assim, a função é crescente. Observe que o discriminante terá um valor numérico, do qual te-
( B ) o ponto N está no eixo y abaixo do zero, e o ponto P está no mos de extrair a raiz quadrada. Neste caso, temos três casos a con-
eixo x à direita do zero, mas N está em uma posição mais baixa que siderar:
o ponto P, e, assim, a função é crescente. Δ > 0 ⇒ duas raízes reais e distintas;
( D ) o ponto L está no 3º quadrante e o ponto M está no 1º Δ = 0 ⇒ duas raízes reais e iguais;
quadrante, e L está em uma posição mais baixa do que o ponto M, Δ < 0 ⇒ não existem raízes reais (∄ x ∈ R).
sendo, assim, crescente.
( C ) o ponto S está no 2º quadrante e o ponto T está no 4º qua- Gráfico da função do 2º grau
drante, e S está em uma posição mais alta do que o ponto T, sendo, • Concavidade da parábola
assim, decrescente. Graficamente, a função do 2º grau, de domínio r, é representa-
da por uma curva denominada parábola. Dada a função y = ax2 + bx
Resposta: C + c, cujo gráfico é uma parábola, se:

Equações lineares
As equações do tipo a1x1 + a2x2 + a3x3 + .....+ anxn = b, são equa-
ções lineares, onde a1, a2, a3, ... são os coeficientes; x1, x2, x3,... as
incógnitas e b o termo independente.
Por exemplo, a equação 4x – 3y + 5z = 31 é uma equação line-
ar. Os coeficientes são 4, –3 e 5; x, y e z as incógnitas e 31 o termo
independente.
Para x = 2, y = 4 e z = 7, temos 4.2 – 3.4 + 5.7 = 31, concluímos
que o terno ordenado (2,4,7) é solução da equação linear
4x – 3y + 5z = 31. • O termo independente
Na função y = ax2 + bx + c, se x = 0 temos y = c. Os pontos em
Funções quadráticas que x = 0 estão no eixo y, isto significa que o ponto (0, c) é onde a
Chama-se função do 2º grau ou função quadrática, de domínio parábola “corta” o eixo y.
R e contradomínio R, a função:

Com a, b e c reais e a ≠ 0.

Onde:
a é o coeficiente de x2
b é o coeficiente de x
c é o termo independente

Atenção:
Chama-se função completa aquela em que a, b e c não são nu-
los, e função incompleta aquela em que b ou c são nulos.

138
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

• Raízes da função Estudo do sinal da função do 2º grau


Considerando os sinais do discriminante (Δ) e do coeficiente de Estudar o sinal da função quadrática é determinar os valores de
x2, teremos os gráficos que seguem para a função y = ax2 + bx + c. x para que y seja: positivo, negativo ou zero. Dada a função f(x) = y
= ax2 + bx + c, para saber os sinais de y, determinamos as raízes (se
existirem) e analisamos o valor do discriminante.

Vértice da parábola – Máximos e mínimos da função


Observe os vértices nos gráficos:

Exemplos:
(CBM/MG – OFICIAL BOMBEIRO MILITAR – FUMARC) Duas ci-
dades A e B estão separadas por uma distância d. Considere um
ciclista que parte da cidade A em direção à cidade B. A distância d,
em quilômetros, que o ciclista ainda precisa percorrer para chegar
ao seu destino em função do tempo t, em horas, é dada pela função
. Sendo assim, a velocidade média desenvolvida

pelo ciclista em todo o percurso da cidade A até a cidade B é


igual a
O vértice da parábola será: (A) 10 Km/h
• o ponto mínimo se a concavidade estiver voltada para cima (B) 20 Km/h
(a > 0); (C) 90 Km/h
• o ponto máximo se a concavidade estiver voltada para baixo (D) 100 Km/h
(a < 0).
A reta paralela ao eixo y que passa pelo vértice da parábola é Resolução:
chamada de eixo de simetria. Vamos calcular a distância total, fazendo t = 0:

Coordenadas do vértice
As coordenadas do vértice da parábola são dadas por:

Agora, vamos substituir na função:

100 – t² = 0
– t² = – 100 . (– 1)
t² = 100
t= √100=10km/h

Resposta: A

139
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(IPEM – TÉCNICO EM METROLOGIA E QUALIDADE – VUNESP) A Lembrando que para encontrar a equação, temos:
figura ilustra um arco decorativo de parábola AB sobre a porta da (x - 4)(x + 6) = x² + 6x - 4x - 24 = x² + 2x - 24
entrada de um salão: a=1
b=2
c=-24
a + b + c = 1 + 2 – 24 = -21

Resposta: E

Função exponencial
Antes seria bom revisarmos algumas noções de potencializa-
ção e radiciação.

Considere um sistema de coordenadas cartesianas com centro Sejam a e b bases reais e diferentes de zero e m e n expoentes
em O, de modo que o eixo vertical (y) passe pelo ponto mais alto do inteiros, temos:
arco (V), e o horizontal (x) passe pelos dois pontos de apoio desse
arco sobre a porta (A e B).
Sabendo-se que a função quadrática que descreve esse arco é
f(x) = – x²+ c, e que V = (0; 0,81), pode-se afirmar que a distância ,
em metros, é igual a
(A) 2,1.
(B) 1,8.
(C) 1,6.
(D) 1,9.
(E) 1,4.

Resolução:
C=0,81, pois é exatamente a distância de V
F(x)=-x²+0,81
0=-x²+0,81 Equação exponencial
X²=0,81 A equação exponencial caracteriza-se pela presença da incóg-
X=±0,9 nita no expoente. Exemplos:
A distância AB é 0,9+0,9=1,8

Resposta: B

(TRANSPETRO – TÉCNICO DE ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE JÚ-


NIOR – CESGRANRIO) A raiz da função f(x) = 2x − 8 é também raiz da
função quadrática g(x) = ax²+ bx + c. Se o vértice da parábola, gráfico
da função g(x), é o ponto V(−1, −25), a soma a + b + c é igual a:
(A) − 25 Para resolver estas equações, além das propriedades de potên-
(B) − 24 cias, utilizamos a seguinte propriedade:
(C) − 23 Se duas potências são iguais, tendo as bases iguais, então os
(D) − 22 expoentes são iguais: am = an ⇔ m = n, sendo a > 0 e a ≠ 1.
(E) – 21
Resolução:
2x-8=0
2x=8
X=4

140
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Gráficos da função exponencial Inequação exponencial


A função exponencial f, de domínio R e contradomínio R, é de- A inequação exponencial caracteriza-se pela presença da incóg-
finida por y = ax, onde a > 0 e a ≠1. nita no expoente e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
Analisando seus gráficos, temos:
Exemplos:
01. Considere a função y = 3x.
Vamos atribuir valores a x, calcular y e a seguir construir o grá-
fico:

Observando o gráfico, temos que:


• na função crescente, conservamos o sinal da desigualdade
para comparar os expoentes:

02. Considerando a função, encontre a função: y = (1/3)x

• na função decrescente, “invertemos” o sinal da desigualdade


para comparar os expoentes:

Desde que as bases sejam iguais.


Observando as funções anteriores, podemos concluir que para
y = ax: Exemplos:
• se a > 1, a função exponencial é crescente; (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/MT – OFICIAL BOMBEIRO
• se 0 < a < 1, a função é decrescente. MILITAR – COVEST – UNEMAT) As funções exponenciais são muito
usadas para modelar o crescimento ou o decaimento populacional
Graficamente temos: de uma determinada região em um determinado período de tem-
po. A função P(t) = 234(1,023)t modela o comportamento de uma
determinada cidade quanto ao seu crescimento populacional em
um determinado período de tempo, em que P é a população em
milhares de habitantes e t é o número de anos desde 1980.
Qual a taxa média de crescimento populacional anual dessa
cidade?
(A) 1,023%
(B) 1,23%
(C) 2,3%
(D) 0,023%
(E) 0,23%

Resolução:

141
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Primeiramente, vamos calcular a população inicial, fazendo t = 0:

Agora, vamos calcular a população após 1 ano, fazendo t = 1:

Por fim, vamos utilizar a Regra de Três Simples:


População----------%
234 --------------- 100
239,382 ------------ x

234.x = 239,382 . 100


x = 23938,2 / 234
x = 102,3%
102,3% = 100% (população já existente) + 2,3% (crescimento)

Resposta: C

(POLÍCIA CIVIL/SP – DESENHISTA TÉCNICO-PERICIAL – VUNESP) Uma população P cresce em função do tempo t (em anos), segundo a
sentença P = 2000.50,1t. Hoje, no instante t = 0, a população é de 2 000 indivíduos. A população será de 50 000 indivíduos daqui a
(A) 20 anos.
(B) 25 anos.
(C) 50 anos.
(D) 15 anos.
(E) 10 anos.

Resolução:

Vamos simplificar as bases (5), sobrando somente os expoentes. Assim:


0,1 . t = 2
t = 2 / 0,1
t = 20 anos
Resposta: A

Função logarítmica
• Logaritmo
O logaritmo de um número b, na base a, onde a e b são positivos e a é diferente de um, é um número x, tal que x é o expoente de a
para se obter b, então:

Onde:
b é chamado de logaritmando
a é chamado de base
x é o logaritmo

142
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

OBSERVAÇÕES
– loga a = 1, sendo a > 0 e a ≠ 1
– Nos logaritmos decimais, ou seja, aqueles em que a base é 10, está frequentemente é omitida. Por exemplo: logaritmo de 2 na base
10; notação: log 2

Propriedades decorrentes da definição

• Domínio (condição de existência)


Segundo a definição, o logaritmando e a base devem ser positivos, e a base deve ser diferente de 1. Portanto, sempre que encontra-
mos incógnitas no logaritmando ou na base devemos garantir a existência do logaritmo.

– Propriedades

Logaritmo decimal - característica e mantissa


Normalmente eles são calculados fazendo-se o uso da calculadora e da tabela de logaritmos. Mas fique tranquilo em sua prova as
bancas fornecem os valores dos logaritmos.

Exemplo: Determine log 341.

Resolução:
Sabemos que 341 está entre 100 e 1.000:
102 < 341 < 103
Como a característica é o expoente de menor potência de 10, temos que c = 2.
Consultando a tabela para 341, encontramos m = 0,53275. Logo: log 341 = 2 + 0,53275  log 341 = 2,53275.

Propriedades operatórias dos logaritmos

Cologaritmo
cologa b = - loga b, sendo b> 0, a > 0 e a ≠ 1

Mudança de base
Para resolver questões que envolvam logaritmo com bases diferentes, utilizamos a seguinte expressão:

143
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Função logarítmica
Função logarítmica é a função f, de domínio R*+ e contradomínio R, que associa cada número real e positivo x ao logaritmo de x na
base a, onde a é um número real, positivo e diferente de 1.

Gráfico da função logarítmica


Vamos construir o gráfico de duas funções logarítmicas como exemplo:
A) y = log3 x
Atribuímos valores convenientes a x, calculamos y, conforme mostra a tabela. Localizamos os pontos no plano cartesiano obtendo a
curva que representa a função.

B) y = log1/3 x
Vamos tabelar valores convenientes de x, calculando y. Localizamos os pontos no plano cartesiano, determinando a curva correspon-
dente à função.

Observando as funções anteriores, podemos concluir que para y = logax:


• se a > 1, a função é crescente;
• se 0 < a < 1, a função é decrescente.

Equações logarítmicas
A equação logarítmica caracteriza-se pela presença do sinal de igualdade e da incógnita no logaritmando.
Para resolver uma equação, antes de mais nada devemos estabelecer a condição de existência do logaritmo, determinando os valores
da incógnita para que o logaritmando e a base sejam positivos, e a base diferente de 1.

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Inequações logarítmicas
Identificamos as inequações logarítmicas pela presença da incógnita no logaritmando e de um dos sinais de desigualdade: >, <, ≥ ou ≤.
Assim como nas equações, devemos garantir a existência do logaritmo impondo as seguintes condições: o logaritmando e a base
devem ser positivos e a base deve ser diferente de 1.
Na resolução de inequações logarítmicas, procuramos obter logaritmos de bases iguais nos dois membros da inequação, para poder
comparar os logaritmandos. Porém, para que não ocorram distorções, devemos verificar se as funções envolvidas são crescentes ou de-
crescentes. A justificativa será feita por meio da análise gráfica de duas funções:

Na função crescente, os sinais coincidem na comparação dos logaritmandos e, posteriormente, dos respectivos logaritmos; porém,
o mesmo não ocorre na função decrescente. De modo geral, quando resolvemos uma inequação logarítmica, temos de observar o valor
numérico da base pois, sendo os dois membros da inequação compostos por logaritmos de mesma base, para comparar os respectivos
logaritmandos temos dois casos a considerar:
• se a base é um número maior que 1 (função crescente), utilizamos o mesmo sinal da inequação;
• se a base é um número entre zero e 1 (função decrescente), utilizamos o “sinal inverso” da inequação.

Concluindo, dada a função y = loga x e dois números reais x1 e x2:

Exemplos:
(PETROBRAS-GEOFISICO JUNIOR – CESGRANRIO) Se log x representa o logaritmo na base 10 de x, então o valor de n tal que log n =
3 - log 2 é:
(A) 2000
(B) 1000
(C) 500
(D) 100
(E) 10

Resolução:
log n = 3 - log 2
log n + log 2 = 3 * 1
onde 1 = log 10 então:
log (n * 2) = 3 * log 10
log(n*2) = log 10 ^3
2n = 10^3
2n = 1000
n = 1000 / 2
n = 500

Resposta: C

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

(MF – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF) Sabendo-se que log x representa o logaritmo de x na base 10, calcule o valor
da expressão log 20 + log 5.
(A) 5
(B) 4
(C) 1
(D) 2
(E) 3

Resolução:
E = log20 + log5
E = log(2 x 10) + log5
E = log2 + log10 + log5
E = log10 + log (2 x 5)
E = log10 + log10
E = 2 log10
E=2

Resposta: D

Funções trigonométricas
Podemos generalizar e escrever todos os arcos com essa característica na seguinte forma: π/2 + 2kπ, onde k Є Z. E de uma forma geral
abrangendo todos os arcos com mais de uma volta, x + 2kπ.
Estes arcos são representados no plano cartesiano através de funções circulares como: função seno, função cosseno e função tangente.

• Função Seno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu seno, então f(x) = sem x. O sinal da função f(x) = sem x é positivo no 1º
e 2º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 3º e 4º quadrantes.

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RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

• Função Cosseno
É uma função f : R → R que associa a cada número real x o seu cosseno, então f(x) = cos x. O sinal da função f(x) = cos x é positivo no
1º e 4º quadrantes, e é negativo quando x pertence ao 2º e 3º quadrantes.

• Função Tangente
É uma função f : R → R que associa a cada número real x a sua tangente, então f(x) = tg x.
Sinais da função tangente:
- Valores positivos nos quadrantes ímpares.
- Valores negativos nos quadrantes pares.
- Crescente em cada valor.

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ANOTAÇÕES

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Conseqüentemente se reduz o proletariado fabril e se forma


RELAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E POLÍTICO- um novo proletariado – subproletariado (ANTUNES, 2001) – aque-
CULTURAIS DA EDUCAÇÃO les que são chamados de “terceirizados”, que não tem vínculo
empregatício, pois permite aos empresários “livrar-se de conflitos
trabalhistas, de despesas com estoques, de legislações ambientais
As novas políticas do Estado e seus impactos na educação
mais rígidas, etc.” (BRUNO, 2001, p. 9). Há como se constatar que
Para a abordagem da questão aqui proposta, iremos, inicial-
este novo modo de produção, atinge profundamente a maioria da
mente, de forma breve, expor o modelo anterior, representado pelo
população, suscitando uma massa de trabalhadores sem qualifica-
fordismo, no qual o “Estado torna-se o agente central no mercado
ção, vivenciando o desemprego estrutural. De acordo com Evan-
consumidor, reproduzindo [...] as condições de reprodução do pró-
gelista e Shiroma (2004) “a reestruturação produtiva realizada em
prio capitalismo” (SILVA JR., 2002, p. 25). Para tanto, observa-se ser
bases espúrias na maior parte do continente conduziu a precari-
“um modelo estruturado em uma base produtiva com tecnologia
zação do emprego, aumento do desempregado e suas indeléveis
rígida, produtos homogêneos e produção em larga escala [...] con-
conseqüências” (p. 03).
sumo em massa” (SILVA JR., 2002, p. 24). Dessa forma, esse modelo
Verifica-se que há “o enfraquecimento das instituições políticas
de produção é caracterizado pela produção em massa, em que o
e a emergência de novos mediadores entre o Estado e a sociedade,
trabalhador não tinha percepção do todo, fragmentado e controla-
com graves ecos sobre a classe trabalhadora” (SILVA JR., 2002, p.
do, que mantinha sua mente ocupada em apenas uma direção do
32).
trabalho, apenas uma parte do todo, sem entender o seu contexto,
Com essas novas exigências, “criou-se, de um lado, em escala
realizando tarefas simples e repetitivas, agindo mecanicamente.
minoritária, o trabalhador ‘polivalente e multifuncional’ [...] e, de
Essa forma de organização “entra em declínio na década de 70”
outro lado, há uma massa de trabalhadores precarizados [...] pre-
(SILVA JR., 2002, p. 30), havendo assim a necessidade de se produzir
senciando as formas de part-time, emprego temporário [...] o de-
um novo cenário para que se desenvolvesse o capitalismo. Exige-
semprego estrutural” (ANTUNES, 2001, p.23).
-se uma reorganização da sociedade, uma nova ordem produtiva.
O modelo de Estado Neoliberal, que também pode ser chama-
Hayek, teórico da “extended order”, formulou suas idéias no final
do de neoliberalismo de mercado, capitalismo flexível – porém o
da Segunda Guerra Mundial, que é retomada nesse momento com
que realmente roga são os seus princípios e sua estrutura de poder
Friedman. Seus representantes justificam que a necessidade da im-
– dá sustentação a essas exigências e desencadeia “reformas insti-
plantação dessa teoria, foi dada pelo próprio mercado. Isto é, tem
tucionais que são realizadas em profusão, a começar pelas reformas
o mercado com principio fundador, unificador e autoregulador da
dos Estados, com expressões diretas nas esferas da cidadania e da
sociedade, ou seja, “exclui a regulação do mercado pelo Estado, já
educação” (SILVA JR., 2002, p.31). Defende princípios que provocam
que entende que aquele tende a se equilibrar e se auto-regular em
inúmeros problemas em diversos âmbitos das sociedades, aumento
razão da lei natural da oferta e da procura” (LIBÂNEO, 2003, p. 75).
da exploração e da miséria, em especial nos chamados países em
O neoliberalismo é mais uma expressão das estratégias reali-
desenvolvimento. Entende-se que, [...] o Estado nacional é forte e
zadas pelo capital para a superação de sua crise e de constituição
pouco interventor no econômico e no social:
de uma nova ordem econômica mundial que se apóia no processo
forte porque produz políticas sobre as diversas atividades do
da globalização das economias, expresso pelo avanço tecnológico e
Estado; pouco interventor, pois impulsiona segundo a ideologia li-
científico. Interessa um mundo sem fronteiras com uma integração
beral, um movimento de transferência de responsabilidades de sua
econômica, “já não integra nações ou economias nacionais, mas
alçada para a da sociedade civil, ainda que as fiscalize, avalie e fi-
conjuga a ação dos grandes grupos econômicos entre si e no inte-
nancie, conforme as políticas por ele produzidas e influenciadas pe-
rior de cada um deles” (BRUNO, 2001, p. 10).
las agências multilaterais (SILVA JR., 2002, p. 33).
Pode-se dizer que, de acordo com essa organização, revigora-se
Esse é o momento em que os organismos internacionais en-
o modelo de produção toyotista, formatado no Japão. Exige-se uma
tram em cena, como a ONU, a UNESCO, o Banco Mundial, que di-
nova forma disciplinar, pois o trabalhador deve estar sempre à dis-
recionam o olhar para a educação, porém agora pensada nos ter-
posição da empresa, ser competente, flexível, que saiba trabalhar
mos da economia. Pode-se dizer que o marco impulsionador dessas
em grupo e resolver situações problema. Assim, “o operário deve
agências internacionais foi a Conferência de Jomtien, em 1990, que
pensar e fazer pelo e para o capital, o que aprofunda (ao invés de
estipulou metas para a educação, principalmente para o grupo E9
abrandar) a subordinação do trabalho ao capital” (ANTUNES, 2001,
– grupo dos 9 países com maior índice de analfabetismo – em que
p. 21). A produção é vinculada à demanda, atendendo a um público
o Brasil fazia parte. Essas agências formularam documentos oficiais
heterogêneo; o trabalho é realizado em equipe (multivariedade de
para que, principalmente os países subdesenvolvidos, seguissem e
funções); aproveitamento máximo do tempo (just in time); horizon-
assim atingissem as metas estipuladas.
taliza o processo produtivo e transfere a serviços “terceirizados”;
Ao fazer um estudo desses documentos, é possível perceber
envolvimento dos trabalhadores com a ordem do capital, podendo-
como os princípios da reestruturação produtiva e do neoliberalismo
-se se dizer um trabalho alienado, sob forma do despotismo; redu-
estão postos claramente, o que nos faz repensar qual a verdadeira
ção dos funcionários.

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FUNDAMENTOS

intenção por parte desses organismos. Evangelista e Shiroma (2004) garantir a liberdade econômica. Trata-se, portanto, de democracia
fazem menção ao documento desenvolvido pela CEPAL/UNESCO restrita e sem finalidades coletivas e sociais de construção de uma
(1992), do qual sintetizam que o modelo educacional ideal deveria sociedade mais justa, humana e solidária” (LIBÂNEO, 2003, p.101).
ir de acordo com “áreas fundamentais para a aquisição de outra Dessa forma percebemos que “estamos produzindo uma socie-
competência, a tecnológica [...] à produção do sucesso econômico, dade mercadorizada de forma totalizante” (SILVA JR., 2002, p.36),
encontrava-se o perfil desse cidadão desejado: criativo, inovador, do qual decorre o rebaixamento dos direitos e das conquistas so-
capaz de lidar com as inovações tecnológicas, flexível, solidário” (p. ciais, assim como a subordinação à ordem do capital, que incapacita
03). a mobilização civil, a classe trabalhadora e o movimento sindical
Em traços gerais, podemos apontar para alguns dos princípios e operário. Sob essa ótica, compreende-se que “os direitos sociais
colocados para a educação contidas no projeto neoliberal: defen- são agora mercantilizados pelas organizações não-governamentais,
dem que apenas a educação básica é direito de todos; fazem o pelos planos de saúde, pelos planos de previdência privada” (SILVA
“convite” para a sociedade civil se mobilizar em prol da educação, JR., 2002, p. 35). É o que discutiremos no tópico a seguir, retoman-
tirando a responsabilidade do Estado; pregam o individualismo; es- do o papel dos movimentos sociais e a entrada do terceiro setor.
tabelecem o clima de competição, com ranking para a melhor esco-
la, o melhor aluno, o melhor diretor, o melhor professor, etc. Estes Movimentos sociais e terceiro setor no Brasil nos anos 1990:
são alguns exemplos de princípios defendidos por estes organismos implicações na educação
multilaterais para a educação, e que muitas vezes não estão explíci- Ao nos propormos analisar os movimentos sociais da década
tos, tendo que se atentar as suas entrelinhas. de 1990, foi necessário primeiramente fazer um resgate histórico
Observa-se assim que “a esfera educacional torna-se um ‘qua- dos “novos” movimentos sociais, de tal modo que o foco incida sob
se mercado’: a escola assemelha-se a um empório e o individualis- as formas de participação social da sociedade brasileira no referido
mo possessivo articulado à competitividade tornam-se os valores período.
máximos de nossa educação subordinada ao mercado” (SILVA JR., Os anos 1980, com o fim da ditadura e abertura política com a
2002, p. 36). A educação é subordinada a produtividade, a eficiên- Constituição Federal em 1988, foi considerado a era da participa-
cia, disputa, competitividade, racionalidade, e voltada para o mer- ção dos novos movimentos sociais, fenômeno este que tratava dos
cado, cumprindo o papel econômico. Dessa forma, “a política, a movimentos sociais populares urbanos, advindos da ala da igreja
educação e as políticas educacionais mercantilizam-se, produzindo Católica articulada à Teologia da Libertação.
relações sociais que as materializam em práticas humanas – consti- Começa-se a questionar, o caráter novo dos movimentos popu-
tuintes do sujeito – orientadas pela racionalidade do capital.” (SILVA lares, no campo das práticas não exclusivamente populares, come-
JR., 2002, p. 36). ça a haver interesse, por parte dos pesquisadores por outros tipos
Como se depreende, com essa nova lógica instaurada, há um de movimentos, assim, na década de 80, novos movimentos sociais
estreitamento da esfera pública dando lugar a esfera privada, apoia- surgem e vão sendo re-significados, adquirindo uma nova dimen-
do no discurso de crise e fracasso na escola pública, valorizando são, com a participação de novos atores, “tais como o das mulheres,
os métodos e o papel da iniciativa privada, de tal maneira, que o os ecológicos, dos negros, dos índios, etc.” (GOHN, 1997, p. 26).
Estado vem desobrigando-se da educação pública. As políticas edu- Com efeito, esses novos movimentos sociais estão entrelaça-
cacionais vêm reforçar essa ordem estabelecida pelo modelo eco- dos ao princípio da fragmentação dos movimentos, uma vez que há
nômico, de modo a guiar qual o papel da educação, transferindo as um distanciamento da luta de classes, próprio dos movimentos so-
responsabilidades para outros setores, entrando em cena não só a ciais combativos, ou dos “velhos” movimentos. Logo os movimen-
privatização, mas a modalidade de ensino não-formal, que poste- tos começam a se enfraquecer pois vinculam-se a uma condição de
riormente abordaremos neste estudo. interesses específicos e não mais de coletividade, o que vem a de-
Em suma, podemos perceber que o Estado redefine seu papel, turpar a questão política e a militância, que até então, eram ques-
que continua forte, no âmbito econômico (privatizações, abertura tões centrais dos movimentos sociais combativos. Contudo, isso faz
comercial, modelos de estabilidade monetária), porém, mais ausen- com que os movimentos se percam, e assim vão desaparecendo
te nos gastos sociais, transferindo as responsabilidades do campo (GOHN, 1997).
dos direitos sociais para a sociedade civil. Isto significa que o neoli- Com a emergência destes novos movimentos, outras questões
beralismo irá tratar das relações sociais com o mínimo, oferecendo foram surgindo em seu bojo, “o novo dos movimentos ecológicos,
à população medidas paliativas por meio do assistencialismo como das mulheres, etc., se referiam [...] aos direitos sociais modernos,
a luta para o “combate a pobreza”. No Brasil, vê-se como exemplo as que apelam para a igualdade e a liberdade nas relações e raça, gê-
políticas focalizadas que operam em pequenas esferas camufladas nero e sexo” (GOHN, 1997, p. 27).
com as bolsas assistenciais como bolsa-família, bolsa-escola, vale- Isto é, questões complexas que surgiram ao final dos anos 80,
-leite, vale-gás, o PROUNI, etc. relativas ao plano da moral, da ética, na política, etc., estiveram pre-
Por sua vez, a cidadania, já não é tida como obrigação somente sentes embrionariamente naqueles movimentos.
do Estado, no qual reforça a idéia de que cada um é responsável por Em suma, o enfraquecimento dos movimentos sociais ocorreu
si próprio. Mas, como já explicitado anteriormente, esta teoria bus- em grande parte pela falta de compreensão da dimensão política
ca enfatizar que é uma lógica dada pelo capitalismo e pelo próprio do trabalho realizado dentro dos movimentos sociais. No lugar do
mercado, e que através da competitividade é que se alcançaria a movimento social combativo, de luta que se opunha ao Estado,
qualidade, e assim as oportunidades iguais a todos estaria automa- deu-se lugar a fragmentação dos “novos” movimentos, que descon-
ticamente posta. À luz desse contexto, difunde-se a idéia de uma sidera a coletividade e visa por interesses específicos.
democracia justa, de que naturalmente haveria o benefício de to- Corrobora-se com este fato a definição dada por Frei Betto com
dos sem distinção. Entretanto, vem se provando o contrário, “a de- relação aos movimentos sociais: “Movimentos sociais são organiza-
mocracia é tida, apenas, como método, ou melhor, como meio para ções da sociedade civil que pressionam a sociedade política (Esta-

150
FUNDAMENTOS

do e instituições afins) visando à defesa e/ou conquista de direitos cialismo, os movimentos sociais novíssimos não esperam que o
(humanos, civis, políticos, econômicos, ecológicos etc)” (2006, p. 1). Estado supra as necessidades da população por meio de estraté-
Esta definição nos leva a idéia de que os movimentos sociais partem gias ordenadas, que almejem a equiparação das classes sociais,
da defesa de grupos específicos, próprio dos novos movimentos so- mas sim, procuram auxílio para atenuar os efeitos devastadores
ciais. da injusta distribuição de renda. Sob este aspecto Frei Betto en-
Como se depreende, os movimentos sociais da década de 90 fatiza que: “Não há que se esperar, entretanto, que o combate à
ganham outra roupagem, que segundo Gohn (1997) se faz em duas fome e à pobreza dependa apenas do poder público. É papel dos
direções: movimentos sociais assumirem esta tarefa, sem deixar de pres-
Em primeiro lugar, deslocando-se o eixo das reivindicações sionar o Estado” (grifo nosso, 2006, p.3). Diante de tal afirmação,
do plano econômico – em termos de infra- estrutura básica para é possível observar que os novos movimentos sociais, buscam de
o consumo coletivo – para o suporte mínimo de mercadorias para fato uma parceria com o Estado, que por sua vez deixa para a so-
o consumo individual, em termos de comida. Retoma-se a questão ciedade civil uma responsabilidade que é sua. Destarte, há uma
dos direitos sociais tradicionais, nunca antes resolvidas no país. Em transferência de obrigações, pois, o Estado passa a ser somente
segundo lugar, o plano da moral ganha destaque como eixo articu- o fiscalizador, fazendo disso um dos motivos para o surgimento
latório das lutas sociais. Os movimentos dão lugar a lutas cívicas, do terceiro setor. Logo, ao mobilizar a sociedade civil, terceirizam
verdadeiras cruzadas nacionais em que há articulações difusas em serviços que deveriam ser do Estado.
termos de classes sociais, interesses locais e nacionais, espaços pú- Comprova-se com esta discussão as declarações de Gohn
blicos e privados (p. 34). (1997), no qual “a promoção do setor informal autoriza, em par-
Neste caso, visualizamos que de acordo com o contexto da dé- te, a retirada, do próprio Estado da esfera social. [...]”(p. 35). Além
cada de 90, são apresentados os “novíssimos” movimentos popu- disso, “o setor informal não tem imaginação criadora, não detém
lares, como exposto nas palavras de Gohn (1997). Sob este prisma, capacidade de reação própria, é totalmente determinado pelo setor
novos militantes políticos surgem com o intuito de firmar políticas formal e não tem interesse contraditório com ninguém” (OLIVEIRA
públicas que vá de encontro com as novas propostas destes movi- apud GOHN, 1997, p. 35).
mentos. Por conseguinte, enfatiza-se que os grupos sociais não fazem
nenhuma crítica à ideologia imposta, perdendo o próprio caráter
Desse modo, podemos considerar Frei Betto (2006) um repre- de reivindicação. Com a crise dos movimentos sociais, o Estado dei-
sentante político e participativo dos “novíssimos” movimentos. xa de subsidiar suas ações, que por sua vez, gera o silenciamento
Frei Betto, expõe que a pobreza é o centro da luta dos movi- dos movimentos, perdendo com isso seu ato político. Com isso, o
mentos sociais e que tem que ser combatida, assim, lança como Estado não é mais responsabilizado por essas questões, havendo o
projeto para os movimentos sociais “Eis a tarefa mais urgente que desvio para o terceiro setor, fruto da mobilização da sociedade civil
desafia os movimentos sociais neste Terceiro Milênio: erradicar a em parceria com o governo.
fome e a pobreza, a ponto de torna-lás crimes hediondos e graves Com efeito, a luta e a critica ao Estado se perde com essa par-
violações dos direito humanos, como já ocorre à escravidão e à tor- ceria, uma vez que o terceiro setor capta recursos estatais iniciando
tura, embora praticadas em muitos países” (2006, p.3). uma relação de mercado. Evidencia-se dessa forma que, o setor ter-
Pode-se dizer que a “pobreza” refere-se à dimensão moral, ciário, surge no bojo das políticas neoliberais e neste novo contexto,
enfoque característico dos novíssimos movimentos sociais. E sobre pode-se observar a redefinição do papel do Estado, entre o público
este aspecto Gohn afirma que: “A pobreza persistente e o desem- e o privado.
prego continuado por longos períodos são as novas questões da ci- Nesse sentido as ONGs (Organizações Não-Governamentais) –
dadania. Elas são o cerne da luta da categoria dos excluídos” (1997, como expressão do setor terciário – ganham evidência na da déca-
p.40). Desse modo, resolver a questão da “pobreza” no mundo tor- da de 90, sendo instituições entendidas como “independentes” do
na-se o centro das discussões entre os novos movimentos popula- governo, de caráter público-comunitário-não-estatal, que possuem
res. como denominador comum a razão social de fins não lucrativos. Na
Segundo Frei Betto, “O mundo atual é marcado por profundas atualidade seu campo de atuação tem sido o do assistencialismo,
desigualdades que impedem a tão almejada paz” (2006, p. 3). Logo, o do desenvolvimentismo e por fim o campo da cidadania (GOHN,
pode-se perceber que de acordo com as atuais proposições dos mo- 1997). Nessa perspectiva, a autora conceitua o termo ONG no Brasil
vimentos sociais que, não se busca mais direitos, bem como, não como: “[...] tipo peculiar de organização da sociedade. Trata-se de
mais se reivindica, agora o que esta em pauta, é a cultura pela paz, um agrupamento de pessoas, organizado sob a forma de uma insti-
pela ética, pela moral, pela formação humana. tuição da sociedade civil, que se declara sem fins lucrativos, com o
É enfatizada então, a solidariedade, “cabe aos movimentos so- objetivo de lutar e/ou apoiar causas coletivas” (p. 60).
ciais [...] ampliar os vínculos capazes de estreitar a globalização da Contudo, verifica-se a existência de posições diferenciadas
solidariedade” (BETTO, 2006, p. 3). sobre as ONGs, como salienta Viriato (2004, p. 08): “[...] para uns
Nessa perspectiva, retira-se o foco das questões econômicas e significa uma nova forma de agir politicamente; para outros, um
ressalta-se as questões ligadas ao relacionamento humano, ao cam- espaço propício para ações do neoliberalismo. A nosso ver, se, de
po subjetivo, tendo como finalidade as questões humanitárias. Não um lado, o embate político permanece não resolvido, por outro,
se identifica que é a própria política econômica que gera a miséria, medidas concretas têm contribuído para a construção do espaço
a pobreza, o desemprego estrutural, entre outros malefícios que público não estatal, do “terceiro setor”.
permeiam a sociedade. Neste caso cabe indagar: qual é a real função que o terceiro
Estas proposições acabam por incentivar ações superficiais, setor têm assumido no atual contexto? Gohn (1997) coloca em sín-
que não são capazes de avaliar as causas e desvelar os mecanis- tese a diferenciação dos movimentos sociais que são de militância
mos ideológicos da sociedade. Ao dinamizar políticas de assisten- e de politização da sociedade civil, enquanto que o terceiro setor,

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FUNDAMENTOS

não trata de ações reivindicativas como a dos movimentos sociais Quais as condições que a sociedade civil tem para se respon-
combativos, em que sua base é a parceria com a máquina governa- sabilizar por essas ações que deveriam ser do Estado? Por conse-
mental. qüência, vemos que as ações da sociedade civil, dão continuidade
Com a abertura ao terceiro setor, o Estado delibera funções de à política vigente, fazendo com que a população se contente com
cunho social – na qual a educação se encontra. Logo, o Estado não é “qualquer coisa”, oferecendo serviços sem nenhuma estrutura, sem
exclusivo nas efetivações das políticas públicas sociais, já que lhe é vínculo empregatício, sem garantia de qualidade. Podemos encon-
interessante dividir essas funções entre os seus parceiros – socieda- trar nessas novas propostas, contradições que estão explícitas se
de civil. Corrobora-se com esta afirmação os estudos realizados por olharmos diretamente para a realidade brasileira, pois a pobreza, a
Viriato (2004) com relação ao terceiro setor: miséria, ou seja, as desigualdades sociais se mantém e até mesmo
(...) por trás da transferência de responsabilidade está o esva- aumentam, deixando posto que cada um tem o lugar que merece,
ziamento dos direitos dos cidadãos; a criação da cultura da respon- se não consegue melhorar sua situação social, que se contente com
sabilização do indivíduo por sua situação ou condição social, e uma o mínimo. Fica claro então, que as possibilidades de uma transfor-
nova forma de enfrentar os problemas: a solidariedade e o volunta- mação social, de uma justiça social, são realmente “mínimas”, ten-
riado, ou seja, o processo de redefinição do espaço público estatal e do lugar apenas para a competitividade dentro deste cenário do
sua “publicização” ganham sustentação com o denominado terceiro capitalismo selvagem, podendo ser desumano.
setor (p. 06). A investigação revelou que a globalização, a reestruturação
E de acordo com a mesma autora terceiro setor “consiste em produtiva e a tendência neoliberal, são fortes protagonistas do ce-
uma forma jurídica de substituir as políticas públicas, atendendo, nário mundial, e nas ultimas décadas tem deixado marcas a todos
assim, a consolidação do público não estatal, a efetivação da deno- os segmentos da sociedade.
minada “publicização” [...] transfere-se da lógica do público estatal Como se depreende, com o enxugamento das funções do Es-
para o público não estatal” (VIRIATO, 2004, p. 09). tado, há o desvio para o terceiro setor, com ênfase nas ONGs, que
É nessa perspectiva, que se delimita as ações do Estado, ha- não realizam uma análise da raiz dos problemas sociais, sobre a
vendo a descentralização do poder. Logo, o compartilhamento de verdadeira natureza da sociedade capitalista, mantendo a ideologia
responsabilidades é tido como ações estratégicas viabilizado pelo imposta.
Estado que delibera funções, sobretudo de cunho social à socieda- Diante dessas funções assumidas pelo Estado pós-década de
de civil. Todavia, o Estado continua sendo interventor e fiscalizador 90, consideramos que as políticas sociais são fortemente afetadas,
especialmente na economia, o qual continua fomentando políticas incidindo nas ações voltadas para a educação. Por conseguinte,
sociais agora com a “participação” do terceiro setor. A relação que constatamos ainda que a educação não formal se introduz como
se visualiza na atual sociedade é de coparticipação entre a socie- uma modalidade de ensino destinada a suprir carências que brota-
dade civil e o Estado. Assim, como conclui Viriato (2004, p. 09), “É ram dessa ausência do Estado.
nesse marco legal e histórico que as políticas sociais públicas estão Nossas discussões não têm como finalidade esgotar o assunto,
sendo “filantropizadas”. Constata-se que o lema presente no discur- no entanto acreditamos que ao trazer a tona essas questões, pode-
so estatal é de implantar políticas de “bom sentimento”, uma vez mos resgatar direitos sociais que foram conquistados ao longo da
que o Estado se utiliza da solidariedade dos cidadãos para desen- história, e que estão sendo perdidos em meio a atual conjuntura.1
volver o terceiro setor.
Constatamos que, diante desse processo de precarização dos
direitos sociais, se insere a educação não-formal, de modo a suprir DEMOCRACIA E CIDADANIA
necessidades que não são mais garantidas pelo Estado. Von Simson
(2001), afirma que a educação não-formal no Brasil está “voltada A democracia e a cidadania são conceitos intrinsecamente li-
para as camadas mais pobres da população, sendo algumas promo- gados e fundamentais para o funcionamento e desenvolvimento de
vidas pelo setor público e outras idealizadas por diferentes segmen- uma sociedade justa e participativa. A democracia é um sistema po-
tos da sociedade civil, desde ONGs a grupos religiosos e instituições lítico que se baseia na participação e no poder do povo, enquanto a
que mantém parcerias com empresas” (p. 12). É possível identificar, cidadania diz respeito aos direitos e responsabilidades dos cidadãos
que essa modalidade de ensino é fruto do atual contexto, da re- dentro dessa estrutura democrática.
tirada do Estado frente aos direitos sociais, que deixa a cargo da A democracia envolve a garantia de direitos políticos, como o
sociedade civil. Essa modalidade de ensino se desenvolve junto ao direito de voto, o direito à liberdade de expressão e o direito à par-
terceiro setor, no contexto de fragilidade dos direitos sociais. Von ticipação política. Ela pressupõe a igualdade de todos os cidadãos
Simson (2001) aponta que, “os espaços de educação não-formal perante a lei e a possibilidade de influenciar as decisões e políticas
deverão ser desenvolvidos seguindo alguns princípios como: apre- públicas por meio da participação ativa na vida política, seja por
sentar caráter voluntário, proporcionar elemento para a socializa- meio do voto, do engajamento em movimentos sociais ou da mani-
ção e a solidariedade, visar ao desenvolvimento social [...]” (p. 11). festação de opiniões.
Isto é, fica evidente como essa modalidade de ensino esta arraigada A cidadania, por sua vez, refere-se aos direitos e deveres que
com a forma de organização societária, de acordo com os princípios os cidadãos têm em uma sociedade democrática. Ser um cidadão
da política Neoliberal. Percebemos que a tendência da educação significa não apenas desfrutar de direitos, mas também assumir
não-formal, junto ao terceiro setor, é “convidar” a sociedade a par- responsabilidades e contribuir para o bem comum. Isso implica res-
ticipar das responsabilidades sociais. Dessa forma, encontramos a peitar os direitos dos outros, participar ativamente da vida política
campanha dos “amigos da escola”, campanha do “adote um aluno”,
seja solidário, venha, participe, faça a sua parte!

1 Fonte: www.uel.br

152
FUNDAMENTOS

e social, exercer o dever de votar, contribuir para o desenvolvimen- Certamente a resposta para uma discussão tão atual como essa
to da comunidade e agir de acordo com os princípios de justiça, surja com o estudo sobre as bases que compõem a sociedade atual.
igualdade e respeito. Pois, ao analisar o sistema capitalista nas suas mais amplas esferas,
A educação desempenha um papel fundamental na forma- descobre-se que todas essas problemáticas surgem da forma como
ção de cidadãos conscientes, críticos e participativos. Através da a sociedade está organizada com bases na propriedade privada, lu-
educação, os indivíduos podem adquirir conhecimentos sobre a cro, exploração do ser humano e da natureza e se manifestam na
democracia, compreender a importância da participação cidadã e ideologia do sistema.
desenvolver habilidades para exercer sua cidadania de forma efeti- Um sistema que prega a acumulação privada de bens de pro-
va. Além disso, a educação também pode promover valores como a dução, formando uma concepção de mundo e de poder baseada
tolerância, o respeito às diferenças e a valorização do diálogo e do no acumular sempre para consumir mais, onde quanto mais bens
debate público. possuir, maior será o poder que exercerá sobre a sociedade, acaba
Para fortalecer a democracia e a cidadania, é essencial que por provocar diversos problemas para a população, principalmen-
existam espaços e mecanismos de participação cidadã, como as te para as classes menos favorecidas, como: falta de qualidade na
eleições, os conselhos participativos, as audiências públicas e os educação, ineficiência na saúde, aumento da violência, tornando os
movimentos sociais. É importante também garantir a igualdade de sistemas públicos, muitas vezes, caóticos.
acesso à educação de qualidade, bem como o respeito aos direitos Independentemente do discurso sobre a educação, ele sempre
humanos e o combate às desigualdades sociais. terá uma base numa determinada visão de homem, dentro e em
Em resumo, a democracia e a cidadania são pilares fundamen- função de uma realidade histórica e social específica. Acredita-se
tais para a construção de uma sociedade justa, inclusiva e partici- que a educação baseia-se em significações políticas, de classe. Frei-
pativa. Através da educação e da participação ativa dos cidadãos, é tag (1980) ressalta a frequente aceitação por parte de muitos estu-
possível fortalecer esses princípios, promover a igualdade de direi- diosos de que toda doutrina pedagógica, de um modo ou de outro,
tos e oportunidades e construir uma sociedade mais democrática e sempre terá como base uma filosofia de vida, uma concepção de
comprometida com o bem comum. homem e, portanto, de sociedade.
Ainda segundo Freitag (1980, p.17) a educação é responsável
pela manutenção, integração, preservação da ordem e do equilí-
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA brio, e conservação dos limites do sistema social. E reforça “para
que o sistema sobreviva, os novos indivíduos que nele ingressam
A escola tem como função criar uma forte ligação entre o for- precisam assimilar e internalizar os valores e as normas que regem
mal e teórico, ao cotidiano e prático. Reúne os conhecimentos com- o seu funcionamento.”
provados pela ciência ao conhecimento que o aluno adquire em sua A educação em geral, designa-se com esse termo a transmissão
rotina, o chamado senso comum. Já o professor, é o agente que e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas de uso,
possibilita o intermédio entre escola e vida, e o seu papel principal produção e comportamento, mediante as quais um grupo de ho-
é ministrar a vivência do aluno ao meio em que vive. mens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a
hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto,
Função social da escola de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o conjunto des-
A escola, principalmente a pública, é espaço democrático den- sas técnicas se chama cultura, uma sociedade humana não pode so-
tro da sociedade contemporânea. Servindo para discutir suas ques- breviver se sua cultura não é transmitida de geração para geração;
tões, possibilitar o desenvolvimento do pensamento crítico, trazer as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa transmissão
as informações, contextualizá-las e dar caminhos para o aluno bus- chama-se educação. (ABBAGNANO, 2000, p. 305-306)
car mais conhecimento. Além disso, é o lugar de sociabilidade de Assim a educação não alienada deve ter como finalidade a for-
jovens, adolescentes e também de difusão sóciocultural. Mas é pre- mação do homem para que este possa realizar as transformações
ciso considerar alguns aspectos no que se refere a sua função social sociais necessárias à sua humanização, buscando romper com o os
e a realidade vivida por grande parte dos estudantes brasileiros. sistemas que impedem seu livre desenvolvimento.
Na atualidade alguns discursos tenham ganhado força na teoria A alienação toma as diretrizes do mundo do trabalho no seio
da educação. Estes discursos e teorias, centrados na problemática da sociedade capitalista e no modo como esse modelo de produção
educacional e na contradição existente entre teoria e prática pro- nega o homem enquanto ser, pois a maioria das pessoas vive ape-
duzem certas conformações e acomodações entre os educadores. nas para o trabalho alienado, não se completa enquanto ser, tem
Muitos atribuem a problemática da educação às situações as- como objetivo atingir a classe mais alta da sociedade ou, ao menos,
sociadas aos valores humanos, como a ausência e/ou ruptura de sair do estado de oprimido, de miserável. Perde-se em valores e
valores essenciais ao convívio humano. Assim, como alegam des- valorações, não consegue discernir situações e atitudes, vive para
preparo profissional dos educadores, salas de aula superlotadas, o trabalho e trabalha para sobreviver. Sendo levado a esquecer de
cursos de formação acelerados, salários baixos, falta de recursos, que é um ser humano, um integrante do meio social em que vive,
currículos e programas pré-elaborados pelo governo, dentre tantos um cidadão capaz de transformar a realidade que o aliena, o exclui.
outros fatores, tudo em busca da redução de custos. Há uma contribuição de Saviani (2000, p.36) que a respeito do
Todas essas questões contribuem de fato para a crise educa- homem considera “(...) existindo num meio que se define pelas co-
cional, mas é preciso ir além e buscar compreender o núcleo dessa ordenadas de espaço e tempo. Este meio condiciona-o, determina-
problemática, encontrar a raiz desses fatores, entendendo de onde -o em todas as suas manifestações.” Vê-se a relação da escola na
eles surgem. A grande questão é: qual a origem desses fatores que formação do homem e na forma como ela reproduz o sistema de
impedem a qualidade na educação? classes.

153
FUNDAMENTOS

Para Duarte (2003) assim como para Saviani (1997) o trabalho des e valores de acordo com a diversidade cultural; O Professor
educativo produz nos indivíduos a humanidade, alcançando sua fi- como ponte de ligação entre a escola e o aluno, proporcionando o
nalidade quando os indivíduos se apropriam dos elementos cultu- desenvolvimento das atitudes no processo de aprendizagem.
rais necessários a sua humanização. Quando se fala em atitude, é comum escutar frases como: ela
O essencial do trabalho educativo é garantir a possibilidade do é uma pessoa de atitude, ou não vejo que ela tenha atitude. Mas
homem tornar-se livre, consciente, responsável a fim de concretizar afinal o que é atitude.
sua humanização. E para issotanto a escola como as demais esfe- De acordo com Trilo (2000, p.26) atitude é algo interno que se
ras sociaisdevem proporcionar a procura, a investigação, a reflexão, manifesta através de um estado mental e emocional, e que não tem
buscando razões para a explicação da realidade, uma vez que é atra- como ser realizadas medições para avaliação de desempenho e não
vés da reflexão e do diálogo que surgem respostas aos problemas. esta exposto de forma que possam ser visualizados de maneira cla-
Saviani (2000, p.35) questiona “(...) a educação visa o homem; ra.
na verdade, que sentido terá a educação se ela não estiver voltada [...] Que se trata de uma dimensão ou de um processo inte-
para a promoção do homem?” E continua sua indagação ao refle- rior das pessoas, uma espécie de substrato que orienta e predispõe
tir “(...) uma visão histórica da educação mostra como esta esteve atuar de uma determinada maneira. Caso se trate de um estado
sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. Os mental e emocional interior, não estará acessível diretamente (não
tipos variam de acordo com as diferentes exigências das diferentes será visível de fora e nem se poderá medir) se não através de suas
épocas. Mas a preocupação com o homem é uma constante.” manifestações internas. [...]
Os espaços educativos, principalmente aqueles de formação de
educadores devem orientar para a necessidade da relação subjeti- A atitude é um processo dinâmico que vai se desenvolvendo no
vidade-objetividade, buscando compreender as relações, uma vez decorrer da vida mediante situações que estão em sua volta como
que, os homens se constroem na convivência, na troca de experi- escola, família, trabalho. Trillo(2000) relata que “atitude é mas uma
ências. É função daqueles que educam levar os alunos a romperem condição adaptável as circunstâncias: surgem e mantém-se intera-
com a superficialidade de uma relação onde muitos se relacionam ção que individuo tem com os que o rodeiam”.
protegidos por máscaras sociais, rótulos. A escola é fator importante no desenvolvimento da atitude,
pois no decorrer de nossa vida se passa boa parte do tempo numa
A educação, vista de um outro paradigma, enquanto mecanis- unidade de ensino, o que proporciona uma inserção de conheci-
mo de socialização e de inserção social aponta-se como o caminho mento.
para construção da ética. Não usando-a para cumprir funções ou Segundo Trillo (2000, p.28) a escola através ações educativas,
realizar papéis sociais, mas para difundir e exercitar a capacidade de proporciona os estímulos necessários na natureza para a constru-
reflexão, de criticidade e de trabalho não-alienado. ção de valores.
(...) sem ingenuidade, cabe reconhecer os limites impostos pela [...] Do ponto de vista da teoria das atitudes, pelo nos casos em
exploração, pela exclusão social e pela renovada força da violência, que se acedeu ao seu estudo a partir de casos de delineamentos
da competição e do individualismo. Assim, se a educação e a ética vinculados a educação, não surgem controvérsias importantes no
não são as únicas instâncias fundamentais, é inegável reconhecer que se refere ao facto de se tratar ou não natureza humana suscep-
que, sem a palavra, a participação, a criatividade e apolítica, muito tíveis de serem estimulados através da ação educativa. Ou seja, pa-
pouco, ou quase nada, podemos fazer para interferir nos contextos rece existir um acordo geral segundo o qual as atitudes e os valores
complexos do mundo contemporâneo. Esse é o desafio que diz res- poderiam se ensinados na escola [...]
peito a todos nós. (RIBEIRO; MARQUES; RIBEIRO 2003, p.93) As ações das atitudes começam a se desenvolver logo na
A escola não pode continuar a desenvolver o papel de agência criança quando ela esta rodeada de exemplos de família, amigos e
produtora de mão de obra. Seu objetivo principal deve ser formar o principalmente pelos ensinamentos da escola. É interessante que
educando como homem humanizado e não apenas prepará-lo para quando se tem um ambiente favorável e principalmente dos pais,
o exercício de funções produtivas, para ser consumidor de produ- acompanhando e orientando a criança, percebe-se a construção de
tos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos, fetichizados.2 boas atitudes.
De acordo com Trillo (200, p.35) as crianças imitam os compor-
Função social do educador tamentos em sua volta, de maneira que são estimuladas através de
Quando se fala na função social do professor, observa-se que exemplos de atitudes positivas, o que proporciona a autoestima.
existe um conjunto de situações relacionadas como atitudes, valo- [...] Nesta perspectiva, os mecanismos básicos da aquisição
res, éticas, que formam itens fundamentais para o seu desenvolvi- são a imitação e o esforço. As crianças pequenas vão imitando os
mento no papel da educação. No primeiro momento ira se fazer um comportamentos que observam a sua volta e, desta forma, esses
análise sobre as atitudes e valores de ensino, e em seguida sobre o comportamentos vão se fixando ou desaparecendo, como conse-
papel da educação no desenvolvimento de competências éticas e quência do reforço positivo ou negativo que recebem (em forma de
de valores. aprovação e reconhecimento dos outros ou em forma de autograti-
Percebe-se que existe uma série de fatores que se relacionam ficação: sentir-se bem, reforçar a própria autoestima, etc [...]
com o processo de aprendizagem, que envolvem professor, aluno Um ponto importante no processo de construção das atitudes
e escola. Esses fatores são: Atitudes e valores vão se formando ao esta o papel do professor. Ele tem a função de criar um processo de
longo da vida, através de influências sociais; A escola tem papel aprendizagem dinâmico entendendo a necessidade e diversidade
fundamental no desenvolvimento das atitudes e valores através do aluno, mostrando os caminhos corretos para o desenvolvimento
de um modelo pedagógico eficiente; O ensino e a aprendizagem das atitudes.
estão relacionados num processo de desenvolvimento das atitu-
2 Fonte: www.webartigos.com

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FUNDAMENTOS

Segundo Trillo ( 2000, p.44) o professor tem que ter a habili- sociedade propiciarem possibilidades constantes e significativas de
dade de estimular os alunos através de trabalhos dinâmicos de ex- convívio com temáticas éticas, haverá maior probabilidade de que
pressão pessoal, em meio a diversidade e perspectivas diferentes, tais valores sejam construídos pelo sujeitos [...]
acompanhando e valorizando os pontos dos trabalhos, de modo a Contudo, a função social do professor é um ambiente bem
enriquecer as atitudes dos aluno. complexo de se analisar, visto que ela esta relacionada a situações
[...] O professor /a que procura nos trabalhos a expressão pes- como atitudes, valores e éticas, estes itens de grande importância
soal dos seus estudantes, e que os adverte valorará a originalidade para o desenvolvimento além do professor, mas para escolas e alu-
como um dos pontos importantes dos seus trabalhos, esta a estabe- nos, pois a sociedade em que se vive, é cada vez mais diversificada,
lecer as bases de uma atitude de expressão livre. E se isto ampliar, exigindo do professor flexibilidade de métodos de ensino, e das es-
no sentido em que, numa fase posterior do processo, cada um de- colas modelos pedagógicos mais dinâmicos, para satisfazer a neces-
verá ir expondo e justificando as suas conclusões pessoais, parece sidade dos alunos diversificados a fim de construir uma sociedade
provável que a atitude de trabalho pessoal será enriquecida com com conhecimento.3
a componente de reflexão e a que diz respeito a diversidade e as
diferentes perspectivas sobre as coisas [...]
As atitudes de valores de ensino é um processo dinâmico e INCLUSÃO EDUCACIONAL E RESPEITO À DIVERSIDADE.
construtivo, e cada vez mais necessita da presença da escola, pro-
fessor, aluno e demais ambientes sociais, visto que o processo de INCLUSÃO E DIVERSIDADE NA ESCOLA
aprendizagem se torna eficiente e eficaz, quando todos os envolvi- Para acolher a diversidade e as múltiplas formas de aprender,
dos tenham discernimento de trabalhar o conhecimento tomando a escola deve assegurar a participação e ao mesmo tempo com-
atitudes corretas de acordo com os valores éticos, morais e sociais. preender cada um.
O Papel da Educação no Desenvolvimento de Competências Todos alunos têm características, talentos e interesses únicos.
Éticas e de Valores Enquanto alguns dominam diferentes linguagens e são apaixonados
Desenvolver a educação alinhada a ferramentas como ética e por histórias, outros preferem desafios matemáticos e projetos de
valores não é tarefa fácil quando se depara com uma diversidade de ciências, por exemplo. Mas cada um deles tem uma trajetória de
situações que se encontra na sociedade do mundo de hoje. vida singular, com diferentes condições sociais, emocionais, físicas
A educação não é a única alternativa para todas as dificuldades e intelectuais, que não é atendida por escolas que usam métodos
que se encontra no mundo atual. Mas, a educação significa um im- padronizados de ensino. Para respeitar as diferentes formas e rit-
portante caminho para que o conhecimento, seja uma semente de mos de aprendizagem, ambientes educacionais inclusivos, histori-
uma nova era para ser plantada e que cresça para dar bons frutos camente associados apenas àqueles que acolhem alunos com defi-
para sociedade. ciência, têm potencial para assegurar a participação de todos e ao
De acordo com Johann (2009, p.19) a ética é um fator primor- mesmo tempo compreender as especificidades de cada um.
dial na educação, pois já é parte do principio da existência humana.
[...] Se a educação inclui a ética como uma condição para que Entre os princípios fundamentais da educação inclusiva, está
ela se construa de acordo com a sua tarefa primordial, antes de o entendimento de que o acesso à educação é um direito incondi-
tudo, buscaremos compreender o que se entende por educar e de cional de todos.
que tarefa se trata aqui. Para explicitar o conceito de educação que Ao apontar a inclusão como o único caminho para a constru-
assumimos ao relacioná-la com a ética, começaremos por contex- ção de uma nação democrática, Claudia Werneck (fundadora da
tualizar a existência humana, razão da emergência do fenômeno ONG Escola de Gente) diz que o desafio da escola não está em lidar
educativo e das exigências éticas [...] com as crianças com deficiência, mas em compreender as múltiplas
Percebe-se a importância da ética no processo de aprendiza- formas de ser um estudante. “A educação inclusiva olha para cada
gem, onde alunos professores e escolas, devem selar este principio criança como um ser em uma fase específica da vida”, afirma. No
na troca de informações para o crescimento do conhecimento. entanto, muitas vezes as instituições educacionais não consideram
Os valores a serem desenvolvidos como uma competência edu- as diferentes formas de aprender quando organizam seus proces-
cacional, é um desafio para escolas, professores e alunos devido a sos. Todos os alunos ficam dispostos em carteiras enfileiradas, sen-
diversidade social, em que tem que ter um alinhamento flexível do tados por horas para fazer as mesmas atividades. Segundo espe-
modelo pedagógico das escolas e da didática do professor. cialistas como Claudia, a deficiência só evidencia o impacto de um
Segundo Araujo e Puig ( 2007, p.35) os valores mundo educa- modelo educacional que já não faz mais sentido para os estudantes
cional devem ser construídos com base num envolto de ferramen- e não atende às expectativas do século 21.
tas como democracia, cidadania e direitos humanos, de modo que
estes valores a todo instante se relacionam com a diversidade social Educação, inclusão e diversidade
no ambiente interno e externo da escola. O aluno com necessidades educativas especiais tem direito a
[...] Assim o universo educacional em que os sujeitos vivem de- uma educação de qualidade que respeite suas diferenças, que pro-
vem estar permeados por possibilidades de convivência cotidiana porcione a ele estabelecer relações que possibilitarão a construção
com valores éticos e instrumentos que facilitem as relações inter- do seu conhecimento. Tudo isso envolve a integração da criança
pessoais pautadas em valores vinculados a democracia, a cidada- num meio menos restrito possível e que satisfaça suas necessida-
nia e aos direitos humanos. Com isso, fugimos de um modelo de des especiais.
educação em valores baseado exclusivamente baseado em aulas de
religião, moral ou ética e compreendemos que a construção de va-
lores se da a todo instante, dentro e fora da escola. Se a escola e a
3 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br

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FUNDAMENTOS

A educação inclusiva garante uma educação de qualidade para um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a so-
todos e implica num redimensionamento da escola enquanto insti- ciedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre
tuição. Consiste na aceitação e valorização das diferenças. Valoriza- soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos
ção que se efetua pelo resgate dos valores culturais, da identidade (SASSAKI, 1997, p.41).
individual e coletiva, bem como pelo respeito ao ato de expandir A educação é uma tentativa constante de mudanças de atitu-
seu conhecimento. des para fazer-se, sendo agente de transformação, que se esforça
Considerando a decisão da escola em atuar numa perspecti- para cumprir seus deveres, luta por seus direitos, empenha-se em
va inclusiva, deve adequar-se para proporcionar um processo de compreender a realidade social e em se organizar para a conquista
ensino - aprendizagem para todos. Ao invés de um molde rígido, de condições dignas de vida para todos.
pré-estabelecido pela sociedade exclusiva, sua estrutura precisa ser O que significa educação para todos? O que implicaria a igual-
repensada tornando-se dinâmica e flexível. dade e oportunidade? Quais as demandas que emergem no pro-
Sob esse aspecto, os “is” da inclusão escolar exigem de nós re- cesso ensino-aprendizagem? Como a escola tem se organizado
flexões sobre: • A individualidade - o que significa não perder no para responder essa demanda? Como se dá na prática pedagógica
todo, a satisfação das necessidades e interesses de cada um; • A à diversidade em que pais, alunos, comunidade estão participando
identidade – o que significa reconhecer-se, aceitando as próprias do projeto político-pedagógico da escola? Enfim, a escola está ca-
características distintas das demais pessoas. E, no caso de pessoas minhando para a inclusão social, ou está maquiando uma realida-
com deficiência, significa não negá-las ou mascará-las, possibilitan- de apenas com objetivo de fugir do fenômeno da exclusão social?
do o desenvolvimento da personalidade dos alunos, conferindo- (MANTOAN, 2003,p. 25).
-lhes autonomia e auto-estima positiva. • Os ideais democráticos A história da educação especial é cheia de lutas e incertezas,
– o que significam a busca da equidade, isto é, da equiparação de buscou-se durante muito tempo condições plenas de atendimen-
oportunidades, oferecendo-se, de direito e de fato o que todos e to ao seu alunado, onde a diferença seja vista com certeza, mas
cada um necessitam para o exercício da cidadania; • A remoção de a igualdade também participe desse processo, no qual com uma
barreiras para a aprendizagem e para a participação de todos – o caminhada muito lenta e até mesmo triste, onde os ditos “deficien-
que significa pensar nas barreiras enfrentadas pelos alunos e na- tes” buscam sua valorização pela sociedade desde o século XVIII.
quelas experimentadas pelos educadores e pelas famílias, interfe- Esta época foi caracterizada pela ignorância e rejeição do indivíduo
rindo no processo de construção dos conhecimentos, pelos alunos. portador de necessidades educativas especiais. Nas sociedades an-
(CARVALHO, 2006,p.155) tigas era normal o infanticídio quando se observava anormalidades
A escola que possui alunos com necessidades educativas es- nas crianças. Durante a Idade Média a Igreja condenou o infanticí-
peciais, tradicionalmente se pautava num modelo de atendimento dio, mas por outro lado, acalentou a idéia de atribuir causas sobre-
segregado, mas vem evoluindo e tem se voltado nas duas décadas naturais as anormalidades nas crianças. Considerou-as possuídas
para a Educação Inclusiva. Esta proposta ganhou força, sobretudo a pelo demônio e outros espíritos maléficos e submetia-as a prática
partir da segunda metade da década de 90 com a difusão da conhe- do exorcismo.
cida Declaração de Salamanca(UNESCO, 1994), que entre outros Durante diversas etapas da história da educação, os educado-
pontos, propõe que as crianças e jovens com necessidades educa- res especiais que defenderam a integração de seus alunos em siste-
tivas especiais devem ter acesso às escolas regulares, capazes para mas regulares, porém, o movimento ganhou força quando a educa-
combater as atitudes discriminatórias, construindo uma sociedade ção regular passou a aceitar sua responsabilidade nesse processo,
inclusiva e atingindo a educação para todos... e iniciativas inclusivas começaram a história da educação inclusiva
No que diz respeito às escolas, a ideia é de que as crianças com no mundo.
necessidades educativas especiais sejam incluídas em escolas de Hoje as pessoas especiais têm seus direitos garantidos por vá-
ensino regular e para isso todo o sistema regular de ensino precisa rias leis basta estarem cientes delas. Não são mais consideradas
ser revisto, de modo a atender as demandas individuais de todos doidas e sim pessoas especiais, estão incluindo as na sociedade, no
os estudantes. O objetivo da inclusão demonstra uma evolução da trabalho, em concursos, em moradia, novelas, em escolas, etc. O
cultura ocidental, defendendo que nenhuma criança deve ser se- mundo está adaptando se em função ás pessoas com deficiências:
parada das outras por apresentar alguma diferença ou necessidade Ex: adaptar ônibus, calçadas, escolas, etc.
especial. Do ponto de vista pedagógico esta integração assume a
vantagem de existir interação entre crianças, procurando um de- Toda pessoa deve usufruir ao mesmo corpo básico comum de
senvolvimento conjunto, com igualdade de oportunidades para to- conhecimento oferecido as demais pessoas da sociedade onde ela
dos e respeito à diversidade humana e cultural. está inserida, baseado na concepção de que todas as pessoas tem
No entanto, a inclusão tem encontrado imensa dificuldade de capacidade de aprender, a LDB 9394/96 afirma que as escolas regu-
avançar, especialmente devido as resistências por parte das esco- lares devem assegurar a matrícula de todo o aluno, organizando-se
las regulares, em se adaptarem de modo a conseguirem integrar as para atender a diversidade através da elaboração de projetos peda-
crianças com necessidades especiais, principalmente devido aos al- gógicos orientados pela inclusão, adaptações curriculares e serviços
tos custos para se criar as adaptações, condições adequadas e ainda de apoio pedagógico.
alguns educadores resistem a este novo paradigma, que exige uma Essa afirmação remete a igualdade mostrando que todos de-
formação mais ampla e uma atuação profissional diferente da que vem ter oportunidades para tornarem-se pessoas melhores, para
possuem experiência. exercerem sua condição de cidadão, trabalhando, estudando, sen-
Inclusão é o processo pelo qual a sociedade se adapta para do membros ativos da sociedade em que vivem, independente-
poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com neces- mente da maneira de ser, de viver e de ver as coisas, mesmo que
sidades especiais, e simultaneamente estas se preparam para as- fujam dos padrões de normalidade, criados pela sociedade.
sumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então,

156
FUNDAMENTOS

A prática da inclusão social se baseia na conquista do espaço necessários recursos pedagógicos especiais, para o apoio aos pro-
social mediante as interações que se estabelecem no interior dos gramas educativos e ações destinadas a capacitação de recursos
grupos sociais, através de uma participação real das pessoas como humanos para atender as demandas desses alunos.
membros ativos e produtivos, o que significa uma participação real A escola inclusiva é o lugar onde todas as crianças devem apren-
na escola, no lazer e no trabalho. (MANTOAN, 1997, p 41). der juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer
Educação inclusiva, então, significa prover oportunidades a to- dificuldades ou diferenças que elas possam ter, conhecendo e res-
dos os estudantes, para que recebam serviços educacionais efica- pondendo às necessidades diversas dos seus alunos, acomodando
zes, com indicadores serviços complementares, auxílio e apoio, em ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma
classes adequadas à idade preparando-os para uma vida produtiva, educação de qualidade a todos através de um currículo adaptado,
como membros plenos da sociedade. arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e
A inserção do aluno na classe regular, onde, sempre que possí- parcerias com as comunidades.
vel, deve receber todos os serviços adequados, contando-se, para A tendência é manter na escola comum o maior número pos-
esse fim, com apoios apropriados as suas características e necessi- sível de alunos com características excepcionais, devendo-se evitar
dades. Estes serviços educativos devem ser complementados com a segregação daqueles alunos que possam beneficiar-se dos pro-
tarefas que envolvam uma participação comunitária que possibilite gramas comuns, ainda que sejam necessários auxílios ou serviços
ao aluno o desenvolvimento de suas aptidões inerentes ao cotidia- especiais que ofereçam um atendimento apropriado.( MAZZOTA,
no de cada um. (CORREIA, 1997, p. 34). 1997, p.41)
As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Dessa forma as escolas devem se ajustar com a finalidade de
Básica (2001) apontam medidas para a inclusão, no âmbito político, tornar possível o acesso dos seus alunos aos objetivos da educação,
no âmbito técnico-científico, no âmbito administrativo.. ou seja, tornar possível o acesso ao currículo adaptado às necessi-
O papel da educação deve passar por modificações, dentro da dades individuais de cada indivíduo.
perspectiva de atender as exigências de uma sociedade em pro- Ao refletir sobre a abrangência do sentido e do significado do
cesso de renovação e busca da democracia, que só será alcançada processo de Educação inclusiva, estamos considerando a diversida-
quando todas as pessoas sem discriminação, tiverem acesso a infor- de de aprendizes e seu direito à equidade. Trata-se de equiparar
mação, ao conhecimento e aos meios necessários para formação de oportunidades, garantindo-se a todos - inclusive às pessoas em si-
sua plena cidadania. tuação de deficiência e aos de altas habilidades/superdotados, o
Ao discutir a escola inclusiva, Carvalho (ano) destaca algumas direito de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e
das inúmeras funções de uma escola que busca se enquadrar nessa aprender a conviver. (CARVALHO, 2006, p 10).
perspectiva de educação: Sendo assim, a educação inclusiva exige atendimento de ne-
- desenvolver culturas, políticas e práticas inclusivas, marcadas cessidades educacionais especiais envolvendo um trabalho com a
pela responsabilidade e acolhimento que oferece a todos os que diversidade de forma interativa – comunidade escolar, família, seto-
participam do processo educacional escolar; - promover todas as res / profissionais especializados, a inclusão requer que as pessoas
condições que permitam responder às necessidades educacionais com necessidades educacionais especiais saiam da exclusão e par-
especiais para a aprendizagem de todos os alunos de sua comu- ticipem das classes comuns, fazendo com que aconteça a inclusão
nidade; - criar espaços dialógicos entre os professores para que, escolar.
semanalmente, possam reunir-se como grupos de estudo e de tro- Entretanto, conforme citado, há uma necessidade de com-
ca de experiências; - criar vínculos mais estreitos com as famílias, preensão indispensável entre escola regular, família, sociedade e
levando-as a participarem dos processos decisórios em relação à profissionais, de forma que possa acontecer a inserção social das
instituição e a seus filhos e filhas; - estabelecer parcerias com a pessoas com necessidades educacionais especiais e assim suceder
comunidade sem intenção de usufruto de beneficiar apenas e sim na melhoria da qualidade de atendimento e inclusão dos mesmos
para conquistar a cumplicidade de seus membros, em relação às no decorrer de cada dia.
finalidades e objetivos educativos; - acolher todos os alunos, ofere- É importante estar consciente dessas diferenças entre as pes-
cendo-lhes as condições de aprender e participar; - operacionalizar soas para organizar uma prática educativa em que isso seja consi-
os quatro pilares estabelecidos pela UNESCO para a educação deste derado e, assim, tornar mais aberta a experiência dos meninos e
milênio: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver das meninas em relação ao mundo que os envolve. Isso somente
junto e aprender a ser, tendo em conta que o verbo é aprender; é possível se, na escola, respeitam-se as diferenças de cada uma
- respeitar as diferenças individuais e o multiculturalismo enten- das crianças, condição para possibilitar um bom desenvolvimento
dendo que a diversidade é uma riqueza e que o aluno é o melhor que parte da aceitação da sua identidade pessoal [...]. (BASSEDAS;
recurso de que o professor dispõe em qualquer cenário de apren- HUGUET; SOLÉ, 1999, p. 140).
dizagem; - valorizar o trabalho educacional escolar na diversidade. O conceito de escola inclusiva, de acordo com as Diretrizes
(CARVALHO, 2006, p 115) Curriculares Nacionais para Educação Especial (MEC-SEESP, 1998),
De acordo com a LDB 9394/96 (BRASIL, 1996), Os sistemas es- implica em uma nova postura da escola regular que deve propor no
colares deverão assegurar a matrícula de todo e qualquer aluno, projeto político-pedagógico, no currículo, na metodologia, na ava-
organizando-se para o atendimento dos educandos com NEE nas liação e nas estratégias de ensino, ações que favoreçam a inclusão
classes comuns. Isso requer ações, como a garantia de vagas no en- social e práticas educativas diferenciadas que atendam a todos os
sino regular independentemente das necessidades especiais que alunos. Pois, numa escola inclusiva a diversidade é valorizada com o
apresentam; a elaboração de projetos pedagógicos que se orien- detrimento da homogeneidade.
tam pela prática da inclusão e pelo cumprimento com a educação Porém, para oferecer uma educação de qualidade para todos
escolar desse aluno; provimento nos sistemas locais de ensino, dos os educandos, inclusive aos portadores de necessidades especiais,
a escola precisa capacitar seus professores, preparar-se, organi-

157
FUNDAMENTOS

zar-se, enfim, adaptar-se com recursos, espaços adequados, aten- ampla, em que todos os alunos começam a ter suas necessidades
dimentos especializados e corpo docente. “Inclusão não significa, educacionais satisfeitas dentro da educação regular (MANTOAN,
simplesmente, matricular os educandos com necessidades espe- 2002, p 10).
ciais na classe comum, ignorando suas necessidades especificas, As escolas regulares, em geral, não reagem com naturalidade
mas significa dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua frente a inclusão, sentem-se despreparadas em todos os sentidos:
ação pedagógica. qualificação de profissionais, aspectos financeiros, recursos didá-
A inclusão de alunos com NEE cresce a cada ano e vem mu- ticos, apoios específicos e adaptações curriculares. Dessa forma,
dando as práticas nas Escolas, o número de alunos com algum tipo nota-se um descompromisso em massa para realizar um trabalho
de deficiência vem aumentando consideravelmente, baseado na pedagógico de qualidade ao aluno com NEE e procuram nas classes
concepção de que todas as pessoas tem capacidade de aprender, a especiais a saída para suas inquietações.
LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) 9394/96 afirma que as Nada mais falacioso, pois, além do compromisso social do
escolas regulares devem assegurar a matricula de todo e qualquer sistema educacional com todas as crianças cidadãs, nem todos os
aluno, organizando-se para atender a diversidade através da elabo- alunos com suposta insuficiência no rendimento são, de fato, in-
ração de projetos pedagógicos orientados para a inclusão, adapta- capazes para a vida escolar regular. É mais fácil traçar uma linha
ções curriculares e serviços de apoio pedagógico. divisória que mantenha um fluxo volátil de transferência desses alu-
Apontando assim que a escola regular deve assegurar uma nos para classe ou escola especial. O atual movimento de inclusão
resposta educativa as necessidades educacionais de todos os seus busca contrapor-se a esta segregação e criar classes heterogêneas.
alunos, em seu processo de aprender, definindo ações pedagógicas, (BEYER, 1998, p.13)
recursos humanos, materiais necessários, avaliação de qualidade A política de educação especial na perspectiva da educação in-
para identificar as NEE dos alunos e um currículo adequado às con- clusiva que tem como objetivo:
dições efetivas do desenvolvimento de cada sujeito. Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, trans-
A inclusão social é um processo que contribui para a construção tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdo-
de um novo tipo de sociedade através de transformações pequenas tação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao
e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equi- ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos
pamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transpor- níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de
tes) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do educação especial desde a educação infantil até a educação supe-
próprio portador de NEE. (SASSAKI, 1997, p.42) rior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de
A educação inclusiva requer um projeto pedagógico que enseje professores para o atendimento educacional especializado e demais
o acesso e a permanência com êxito do aluno no ambiente escolar, profissionais da educação para a inclusão; participação da família e
que assuma a diversidade dos educandos, de modo a contemplar da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos
suas necessidades e potencialidades, que adapte objetivos, se- mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação interse-
quencie conteúdos respeitando diferentes ritmos de aprendizagem, torial na implementação das políticas públicas.(BRASIL, 2008, p.54)
adote metodologias diversas e motivadoras, avalie os educandos de O desafio da educação inclusiva é atingir uma educação de
uma maneira processual e emancipadora, em função do seu pro- qualidade, obtendo a escola regular como parceira organizando-se
gresso e do que poderá vir a conquistar. de modo que o atendimento aconteça com todos os alunos sem
A inserção do aluno na classe regular, onde sempre que possí- nenhum tipo de discriminação, de modo que sejam reconhecidas
vel deve receber todos os serviços educacionais, contando-se para as diferenças como fator de enriquecimento no cenário educacio-
esse fim, com apoios apropriados as suas características e necessi- nal. É preciso acreditar no aluno, aprender realmente a descobrir o
dades. Esses serviços devem ser complementados com tarefas que seu potencial, fazer com que ele descubra o seu próprio caminho
envolvam uma participação comunitária que possibilite ao aluno o para o aprendizado. Isso faz a diferença, percebendo e valorizando
desenvolvimento de suas aptidões inerentes ao cotidiano de cada o diferente.
um. (CORREIA, 1997 p.34) A percepção da própria capacidade depende da forma como
A inclusão é um programa a ser instalado nos estabelecimentos cada um é visto. A imagem construída pode ser positiva ou negativa
de ensino a longo prazo. Não corresponde a simples transferência e o reconhecimento das próprias habilidades é determinante para a
de uma escola especial para uma escola regular; de um professor vida escolar. Para avançar, é preciso expor ideias, hipóteses, repre-
especializado para um professor do ensino regular. O programa sentações e teorias. Sem autoconfiança, o aluno não diz o que sabe
da inclusão exigirá da escola uma reorganização. Atender a diver- por medo e por pensar que não é capaz de aprender.
sidade requer a focalização no currículo como ferramenta básica, A melhor resposta para o aluno com deficiência e para todos
buscando-se dimensionar o sentido e o alcance que se pretende os demais alunos é uma educação que respeite as características
dar as adaptações curriculares que constituem, pois, possibilidades de cada estudante, que ofereça alternativas pedagógicas que aten-
educacionais de atuar frente às dificuldades dos alunos, tornando-o dam às necessidades educacionais de cada aluno: uma escola que
apropriado as peculiaridades dos alunos com NEE. ofereça tudo isso num ambiente inclusivo e acolhedor, onde todos
A meta da inclusão é, desde o início, não deixar ninguém fora possam conviver e aprender com as diferenças. (GIL, 2005, p. 18).
do sistema escolar, que deverá adaptar-se às particularidades de to- Ou seja, trabalhar com alunos que têm necessidades educa-
dos os alunos (...) à medida que as práticas educacionais excluden- cionais especiais no âmbito da escola regular exige observação,
tes do passado vão dando espaço e oportunidade à unificação das dinamismo e uma maneira de atuar com ações diferenciadas no
modalidades de educação, regular e especial, em um sistema único processo escolar, sempre compartilhadas com todos os ambientes
de ensino, caminha-se em direção a uma reforma educacional mais da escola, com a principal finalidade em compartilhar e conhecer
caminhos que são necessários para o aluno aprender a se desen-
volver.

158
FUNDAMENTOS

A inclusão vem sendo discutida há algum tempo, no Brasil, A escola é responsável pelo ensino-aprendizagem de seus alu-
tendo sido objeto de grandes controvérsias. A educação inclusiva nos, para isso deve proporcionar meios para que ele aconteça. O
é parte de algo maior. A discussão sobre inclusão desemboca na currículo flexivel é uma das formas na qual o aluno com NEE possa
educação, porém é questão mais ampla e complexa, que se coloca participar de uma educação inclusiva, através de um currículo sen-
como desafio não só para os educadores, mas para todos os setores sível a diferença, que estabeleça um conjunto de alternativas no
sociais. (FERRAZ,2005/2006, p.10) processo de construção do conhecimento, revendo objetivos, con-
teúdos, critérios e procedimentos de avaliação, atividades e meto-
Os professores enfrentam dificuldades não só em transmitir dologia para atender as diferenças. Em suma, parte-se do assumir
para esses alunos as disciplinas específicas em suas áreas de forma- que as escolas devem ir se ajustando com o fim de tornar possível
ção, mas falta também o próprio conhecimento. que todos tenham acesso aos objetivos da educação, ou seja, tor-
Educar uma criança com necessidades educacionais especiais nar possível que todos tenham acesso a um currículo adaptado as
ao lado de crianças normais é um dos principais basilares da socie- necessidades de cada indivíduo.
dade democrática e solidária. (FONSECA, 2003, p. 104)
Na perspectiva da diversidade, numa escola de todos e para to- Precisamos de um currículo flexível que enseje o acesso e a
dos, ver a inclusão não é uma forma de negação da deficiência. Não permanência do aluno no âmbito escolar, que assuma as diferenças
queremos também negar as diferenças e/ou a existência da diver- e dê conta das peculiaridades de todos os educandos de modo a
sidade. A pretensão é fazer com que aqueles que não acreditam na contemplar as suas necessidades e potencialidades. (BRASIL, ano
inclusão, possam ver a possibilidade de que ser deficiente também p. 1).
é ser capaz. Ser diferente é também ser dotado de possibilidades, Para Brasil (1997, p. 51):
enfim, ser portador de alguma necessidade é ter direito de mostrar As adaptações curriculares constituem, pois, possibilidades
suas potencialidades. educacionais de atuar frente as dificuldades de aprendizagem dos
Não estamos negando a existência da deficiência, mas estamos alunos. Pressupõem que se realize a adaptação do currículo regular,
negando que uma pessoa com deficiência seja deficiente. Não esta- quando necessário, para torná-lo apropriado as peculiaridades dos
mos negando que uma deficiência fuja do padrão de normalidade alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um
atualmente aceito, mas estamos negando a possibilidade de que, currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que aten-
por conta dessa normalidade, se exclua pessoas com deficiência da da realmente a todos os educandos.
sociedade. Também não estamos negando a existência das diferen- Nessas circunstâncias, as adaptações curriculares implicam a
ças, porém estamos refutando a existência de “deficiências” meno- planificação pedagógica e as ações docentes. Algumas adaptações
res. (LIMA, 2006 p.62) podem ser realizadas pelo professor no planejamento normal da
O professor é a peça-chave para ajudar os estudantes a se re- sala de aula, pois são adaptações menores no currículo regular.4
conhecer como sujeitos intelectualmente ativos. Entre as ações que
favorecem a relação com o conhecimento estão averiguar o que os EDUCAÇÃO ESPECIAL
alunos pensam sobre o objeto a ser estudado e reconhecer que há O movimento mundial pela inclusão é uma ação política,
um grande esforço intelectual por trás das ideias e representações cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito
expostas. À medida que o professor conhece os saberes do grupo, de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando,
tem mais condições de regular o desafio nas propostas em sala, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui
atendendo às necessidades de cada um. Quando se depara com a um paradigma educacional fundamentado na concepção de
diversidade, não pode classificar quem sabe menos como alguém direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores
que tem dificuldade de aprendizagem. Essas duas condições não indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal
são idênticas ou equivalentes. Ter menos conhecimento do que a ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da
maioria apenas indica que o estudante precisa de mais atenção ou exclusão dentro e fora da escola.
de atividades diferenciadas. Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sistemas
Considerando a decisão da escola em atuar numa perspectiva de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas
inclusiva deve adequar-se às diferenças. Ao invés de um “molde rí- discriminatórias e criar alternativas para superá-las, a educação
gido”, pré-estabelecido pela sociedade exclusiva, sua estrutura pre- inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade
cisa ser repensada tornando-se dinâmica e flexível no atendimento contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da
às diferenças. exclusão. A partir dos referenciais para a construção de sistemas
Para que a inclusão acontece de forma efetiva deve-se pensar educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes especiais
em um currículo flexível que atenda as necessidades do grupo de passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural
alunos que apresentam necessidades especiais através de progra- e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas
mas flexíveis e devidas modificações em materiais didáticos, profis- especificidades atendidas.
sionais capacitados e todos os recursos necessários, pois o currículo
é o conjunto de experiências que a escola, como instituição, põe a Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria de
serviço dos alunos com o fim de potenciar o seu desenvolvimento Educação Especial apresenta a Política Nacional de Educação
integral. Nesse contexto o princípio geral da concretização do currí- Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que acompanha os
culo está nas medidas tomadas pela escola para enfrentar adequa- avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir
damente à diversidade e as necessidades de grupos cada vez mais políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para
concretos. todos os alunos.

4 Fonte: www.centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com

159
FUNDAMENTOS

Marcos históricos e normativos Nesse período, não se efetiva uma política pública de acesso
A escola historicamente se caracterizou pela visão da educação universal à educação, permanecendo a concepção de ‘políticas
que delimita a escolarização como privilégio de um grupo, uma especiais’ para tratar da temática da educação de alunos com
exclusão que foi legitimada nas políticas e práticas educacionais deficiência e, no que se refere aos alunos com superdotação, apesar
reprodutoras da ordem social. do acesso ao ensino regular, não é organizado um atendimento
A partir do processo de democratização da educação se especializado que considere as singularidades de aprendizagem
evidencia o paradoxo inclusão/exclusão, quando os sistemas de desses alunos.
ensino universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos
e grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus objetivos
escola. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem apresentado fundamentais, “promover o bem de todos, sem preconceitos
características comuns nos processos de segregação e integração de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
que pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso escolar. A discriminação” (art.3º inciso IV). Define, no artigo 205, a educação
partir da visão dos direitos humanos e do conceito de cidadania como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da
fundamentado no reconhecimento das diferenças e na participação pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.
dos sujeitos, decorre uma identificação dos mecanismos e No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de
processos de hierarquização que operam na regulação e produção acesso e permanência na escola” , como um dos princípios para o
das desigualdades. Essa problematização explicita os processos ensino e, garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento
normativos de distinção dos alunos em razão de características educacional especializado, preferencialmente na rede regular de
intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, ensino (art. 208).
estruturantes do modelo tradicional de educação escolar. O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90,
A educação especial se organizou tradicionalmente como artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados, ao determinar
atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus
comum, evidenciando diferentes compreensões, terminologias e filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Também, nessa década,
modalidades que levaram a criação de instituições especializadas, documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos
escolas especiais e classes especiais. Essa organização, fundamentada (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), passam a influenciar a
no conceito de normalidade/anormalidade, determina formas de formulação das políticas públicas da educação inclusiva.
atendimento clínico terapêuticos fortemente ancorados nos testes Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educação Especial,
psicométricos que definem, por meio de diagnósticos, as práticas orientando o processo de ‘integração instrucional’ que condiciona
escolares para os alunos com deficiência. No Brasil, o atendimento o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “(...)
às pessoas com deficiência teve início na época do Império com a possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades
criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo
em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos que os alunos ditos normais”. (p.19). Ao reafirmar os pressupostos
Surdos Mudos, em 1857, atual Instituto Nacional da Educação dos construídos a partir de padrões homogêneos de participação e
Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. aprendizagem, a Política não provoca uma reformulação das práticas
No início do século XX é fundado o Instituto Pestalozzi - educacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes
1926, instituição especializada no atendimento às pessoas com potenciais de aprendizagem no ensino comum, mantendo a
deficiência mental; em 1954 é fundada a primeira Associação de responsabilidade da educação desses alunos exclusivamente no
Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE e; em 1945, é criado o âmbito da educação especial.
primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº
superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização
deficiência passa ser fundamentado pelas disposições da Lei de específicos para atender às suas necessidades; assegura a
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 4.024/61, que terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido
aponta o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas
dentro do sistema geral de ensino. deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para
A Lei nº. 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas
‘tratamento especial’ para os alunos com “deficiências físicas, para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço
mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado”
à idade regular de matrícula e os superdotados”, não promove (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas,
a organização de um sistema de ensino capaz de atender as consideradas as características do alunado, seus interesses,
necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art.
encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais. 37).
Em 1973, é criado no MEC, o Centro Nacional de Educação Em 1999, o Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº
Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação especial 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da
no Brasil, que, sob a égide integracionista, impulsionou ações Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como
educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de
superdotação; ainda configuradas por campanhas assistenciais e ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial
ações isoladas do Estado. ao ensino regular.

160
FUNDAMENTOS

Acompanhando o processo de mudanças, as Diretrizes Em 2004, o Ministério Público Federal divulga o documento O
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da
CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam que: Os sistemas Rede Regular, com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes
de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da
organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns
educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para do ensino regular.
uma educação de qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001). Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial para nº 5.296/04 regulamentou as leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00,
realizar o atendimento educacional especializado complementar estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade
ou suplementar a escolarização, porém, ao admitir a possibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Nesse
de substituir o ensino regular, não potencializa a adoção de uma contexto, o Programa Brasil Acessível é implementado com o
política de educação inclusiva na rede pública de ensino prevista no objetivo de promover e apoiar o desenvolvimento de ações que
seu artigo 2º. garantam a acessibilidade.
O Plano Nacional de Educação - PNE, Lei nº 10.172/2001, O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002,
destaca que “o grande avanço que a década da educação deveria visando a inclusão dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão da
produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de
atendimento à diversidade humana”. Ao estabelecer objetivos e professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da
metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a
às necessidades 9 educacionais especiais dos alunos, aponta um organização da educação bilíngüe no ensino regular.
déficit referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Atividade das
nas classes comuns do ensino regular, à formação docente, à Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todos os estados
acessibilidade física e ao atendimento educacional especializado. e no Distrito Federal, são formados centros de referência para o
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo atendimento educacional especializado aos alunos com altas
Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência habilidades/superdotação, a orientação às famílias e a formação
têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que continuada aos professores. Nacionalmente, são disseminados
as demais pessoas, definindo como discriminação com base na referenciais e orientações para organização da política de educação
deficiência, toda diferenciação ou exclusão que possa impedir inclusiva nesta área, de forma a garantir esse atendimento aos
ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades alunos da rede pública de ensino.
fundamentais. Esse Decreto tem importante repercussão na A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário,
compreendida no contexto da diferenciação adotada para promover estabelece que os Estados Parte devem assegurar um sistema de
a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização. educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que
maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP a meta de inclusão plena, adotando medidas para garantir que:
nº1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema
para a Formação de Professores da Educação Básica, define que as educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com
instituições de ensino superior devem prever em sua organização deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e
curricular formação docente voltada para a atenção à diversidade e compulsório, sob alegação de deficiência;
que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos
com necessidades educacionais especiais. b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino
A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de
como meio legal de comunicação e expressão, determinando que condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem
sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e (Art.24).
difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte
integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o
fonoaudiologia. Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO lançam
A Portaria nº 2.678/02 aprova diretriz e normas para o uso, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos que objetiva,
o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as dentre as suas ações, fomentar, no currículo da educação básica, as
modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braile temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações
para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na
o território nacional. educação superior.
Em 2003, o Ministério da Educação cria o Programa Educação Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento
Inclusiva: direito à diversidade, visando transformar os sistemas - PAC, é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE,
de ensino em sistemas educacionais inclusivos, que promove reafirmado pela Agenda Social de Inclusão das Pessoas com
um amplo processo de formação de gestores e educadores nos Deficiência, tendo como eixos a acessibilidade arquitetônica dos
municípios brasileiros para a garantia do direito de acesso de prédios escolares, a implantação de salas de recursos e a formação
todos à escolarização, a organização do atendimento educacional docente para o atendimento educacional especializado.
especializado e a promoção da acessibilidade.

161
FUNDAMENTOS

No documento Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, implementadas não alcançaram o objetivo de levar a escola comum
princípios e programas, publicado pelo Ministério da Educação, a assumir o desafio de atender as necessidades educacionais de
é reafirmada a visão sistêmica da educação que busca superar a todos os alunos.
oposição entre educação regular e educação especial. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial
Contrariando a concepção sistêmica da transversalidade da passa a constituir a proposta pedagógica da escola, definindo como
educação especial nos diferentes níveis, etapas e modalidades de seu público-alvo os alunos com deficiência, transtornos globais de
ensino, a educação não se estruturou na perspectiva da inclusão e desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos
do atendimento às necessidades educacionais especiais, limitando, e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a
o cumprimento do princípio constitucional que prevê a igualdade de educação especial atua de forma articulada com o ensino comum,
condições para o acesso e permanência na escola e a continuidade orientando para o atendimento às necessidades educacionais
nos níveis mais elevados de ensino (2007, p. 09). especiais desses alunos.
O Decreto nº 6.094/2007 estabelece dentre as diretrizes Consideram-se alunos com deficiência àqueles que têm
do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual
permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem
educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na
educacional nas escolas públicas. sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento
Objetivo da Política Nacional de Educação Especial na pers- são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações
pectiva da Educação Inclusiva sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse
Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo
de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação
e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes
ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança,
aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade,
transversalidade da modalidade de educação especial desde a grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em
educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento áreas de seu interesse. Dentre os transtornos funcionais específicos
educacional especializado; formação de professores para o estão: dislexia, disortografia, disgrafia, discalculia, transtorno de
atendimento educacional especializado e demais profissionais da atenção e hiperatividade, entre outros.
educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; As definições do público alvo devem ser contextualizadas e não
acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, se esgotam na mera categorização e especificações atribuídas a um
nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na quadro de deficiência, transtornos, distúrbios e aptidões. Considera-
implementação das políticas públicas. se que as pessoas se modificam continuamente transformando o
contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação
Alunos atendidos pela Educação Especial pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, enfatizando
Por muito tempo perdurou o entendimento de que a a importância de ambientes heterogêneos que promovam a
educação especial organizada de forma paralela à educação aprendizagem de todos os alunos.
comum seria mais apropriada para a aprendizagem dos alunos
que apresentavam deficiência, problemas de saúde, ou qualquer Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na pers-
inadequação com relação à estrutura organizada pelos sistemas pectiva da Educação Inclusiva
de ensino. Essa concepção exerceu impacto duradouro na história A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa
da educação especial, resultando em práticas que enfatizavam os todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento
aspectos relacionados à deficiência, em contraposição à dimensão educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos
pedagógica. próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores
O desenvolvimento de estudos no campo da educação e a defesa quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular.
dos direitos humanos vêm modificando os conceitos, as legislações O atendimento educacional especializado identifica, elabora
e as práticas pedagógicas e de gestão, promovendo a reestruturação e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem
do ensino regular e especial. Em 1994, com a Declaração de as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando
Salamanca se estabelece como princípio que as escolas do ensino as suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no
regular devem educar todos os alunos, enfrentando a situação de atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas
exclusão escolar das crianças com deficiência, das que vivem nas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à
ruas ou que trabalham, das superdotadas, em desvantagem social escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a
e das que apresentam diferenças lingüísticas, étnicas ou culturais. formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na
O conceito de necessidades educacionais especiais, que passa escola e fora dela.
a ser amplamente disseminado, a partir dessa Declaração, ressalta a O atendimento educacional especializado disponibiliza
interação das características individuais dos alunos com o ambiente programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e
educacional e social, chamando a atenção do ensino regular para códigos específicos de comunicação e sinalização, ajudas técnicas
o desafio de atender as diferenças. No entanto, mesmo com essa e tecnologia assistiva, dentre outros. Ao longo de todo processo
perspectiva conceitual transformadora, as políticas educacionais de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a
proposta pedagógica do ensino comum.

162
FUNDAMENTOS

A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde de monitor ou cuidador aos alunos com necessidade de apoio nas
se desenvolvem as bases necessárias para a construção do atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras que
conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o exijam auxílio constante no cotidiano escolar.
lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a Para atuar na educação especial, o professor deve ter como
riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais
psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem para o exercício da docência e conhecimentos específicos da
as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento
nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado educacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo
se expressa por meio de serviços de intervenção precoce que e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular,
objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional
em interface com os serviços de saúde e assistência social. especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de
Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes
atendimento educacional especializado é organizado para apoiar domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação
o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos especial.
sistemas de ensino e deve ser realizado no turno inverso ao da Esta formação deve contemplar conhecimentos de gestão de
classe comum, na própria escola ou centro especializado que realize sistema educacional inclusivo, tendo em vista o desenvolvimento
esse serviço educacional. de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibilidade
Desse modo, na modalidade de educação de jovens e adultos arquitetônica, os atendimentos de saúde, a promoção de ações de
e educação profissional, as ações da educação especial possibilitam assistência social, trabalho e justiça.
a ampliação de oportunidades de escolarização, formação para
a inserção no mundo do trabalho e efetiva participação social. A Políticas e Estratégias de Inclusão
interface da educação especial na educação indígena, do campo e A Educação Especial é definida, a partir da LDBEN 9394/96,
quilombola deve assegurar que os recursos, serviços e atendimento como uma modalidade de educação escolar que permeia todas
educacional especializado estejam presentes nos projetos as etapas e níveis de ensino. Esta definição permite desvincular
pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais “educação especial” de “escola especial”. Permite também, tomar
desses grupos. a educação especial como um recurso que beneficia a todos os
Na educação superior, a transversalidade da educação especial educandos e que atravessa o trabalho do professor com toda a
se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência diversidade que constitui o seu grupo de alunos.
e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento Podemos dizer que se faz necessário propor alternativas
e a organização de recursos e serviços para a promoção da inclusivas para a educação e não apenas para a escola. A escola
acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de integra o sistema educacional (conselhos, serviços de apoio
informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser e outros), que se efetiva promotora de relações de ensino e
disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de aprendizagem, através de diferentes metodologias, todas elas
todas as atividades que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão. alicerçadas nas diretrizes de ensino nacionais.
Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, a O surgimento da educação especial está vinculado ao discurso
educação bilíngüe - Língua Portuguesa/LIBRAS, desenvolve o social posto em circulação na modernidade para dar conta das
ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, o ensino crianças que não se adaptavam aos contornos da escola. Foi a partir
da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita deste lugar de “criança não escolarizável” que as deficiências foram
para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e organizadasem um amplo espectro de diagnósticos, recortadas e
Língua Portuguesa e o ensino da Libras para os demais alunos da classificadas com o apoio do saber médico.
escola. A partir daí, a educação especial baseou-se em uma concepção
O atendimento educacional especializado é ofertado, tanto de reeducação através de métodos comportamentais, supondo
na modalidade oral e escrita, quanto na língua de sinais. Devido que bastariam técnicas de estimulação especiais para as crianças
à diferença lingüística, na medida do possível, o aluno surdo deve alcançarem um nível “normal” de desenvolvimento.
estar com outros pares surdos em turmas comuns na escola regular. A Declaração de Salamanca (1994) traz uma interessante e
O atendimento educacional especializado é realizado mediante a desafiadora concepção de Educação Especial ao utilizar o termo
atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino “pessoa com necessidades educacionais especiais” estendendo-o
da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade a todas as crianças ou jovens que têm necessidades decorrentes
escrita como segunda língua, do sistema Braille, do soroban, da de suas características de aprendizagem. O princípio é que as
orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da escolas devem acolher a todas as crianças, incluindo crianças com
comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos deficiências, superdotadas, de rua, que trabalham, de populações
mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, distantes, nômades, pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou
da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da culturais, de outros grupos desfavorecidos ou marginalizados. Para
utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva isso, sugere que se desenvolva uma pedagogia centrada na relação
e outros. com a criança, capaz de educar com sucesso a todos, atendendo
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial às necessidades de cada um, considerando as diferenças existentes
na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de entre elas.
instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia intérprete, bem como Pensando as escolas especiais, como suporte ao processo de
inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais na
escola regular comum, a coordenação entre os serviços de educação,

163
FUNDAMENTOS

saúde e assistência social aparece como essencial, apontando, um sistema regulado por algumas práticas já cristalizadas, o grupo
nesse sentido, a possibilidade das escolas especiais funcionarem terá condições de buscar mecanismos que possibilitem a discussão
como centros de apoio e formação para a escola regular, facilitando e análise das questões que envolvem o seu fazer, ressignifi cando
a inclusão dos alunos nas classes comuns ou mesmo a frequência as relações entre sujeitos, saberes e aprendizagens e criando novas
concomitante nos dois lugares. práticas inclusivas. Dessa forma, cada contexto escolar deveria se
Essa seria uma forma da escola não se isentar das situar como autor de seu projeto pedagógico, levando em conta as
responsabilidades relativas às dificuldades de seus alunos suas experiências.
simplesmente limitando-se a encaminhá-los para atendimentos Para tanto, é necessário um processo contínuo de interlocução
especializados. Ao contrário, a manutenção de serviços entre educadores e encontros sistematizados com a equipe
especializados de apoio ao processo de ensino aprendizagem não interdisciplinar de apoio, na perspectiva de manter um canal aberto
caminha na contramão de uma educação radicalmente inclusiva, de escuta para estes profi ssionais. Assim, é possível lidar com
mas é essencial para a sua concretização. A questão que deve os impasses do cotidiano da sala de aula e do ambiente escolar,
ser colocada é como o atendimento educacional especializado trocando experiências e aprendendo novas formas de ensinar.
integra o processo. Com isso, descaracterizam-se as necessidades Como aponta Kupfer (2001), o professor precisa sustentar sua
educacionais especiais como exclusividade “para deficientes” e função de produzir enlace, em acréscimo a sua função pedagógica,
passa-se a entende-las como algo que todo o aluno, em maior ou e para isso necessita de apoio de uma equipe de profi ssionais.
menor grau, ocasional ou permanentemente, pode vir a demandar. Segundo Jerusalinsky e Páez (2001, p.35): “São poucas as
experiências onde se desenvolvem os recursos docentes e técnicos
Formação de Educadores e o apoio específi co necessário para adequar as instituições
A formação dos profi ssionais da educação é tarefa, sem escolares e os procedimentos pedagógico-didáticos às novas
dúvida, essencial para a melhoria do processo de ensino e para o condições de inclusão”.
enfrentamento das diferentes situações que implicam a tarefa de É imprescindível, portanto, investir na criação de uma política
educar. de formação continuada para os profi ssionais da educação. A partir
Uma das difi culdades encontradas na formação dos educadores, dessa, seria possível a abertura de espaços de refl exão e escuta
no estudo de alguns fundamentos teóricos para o trabalho com sistemática entre grupos interdisciplinares e interinstitucionais,
alunos com necessidades educacionais especiais, é o amplo leque dispostos a acompanhar, sustentar e interagir com o corpo docente.
de realidades sócio-culturais existentes em nosso país. Para atender
esta demanda tão diversa, o material dirigido à formação tem se Concepção de Inclusão
proposto oferecer uma linguagem sufi cientemente abrangente As referências usualmente feitas de inclusão no campo da
para ser acessível a todos. Porém, em alguns casos, se observa a educação consideram as dimensões pedagógica e legal da prática
excessiva simplifi cação dos conteúdos propostos, aliada a uma educacional. Sem dúvida, dois campos importantes quando se
superfi cialidade que se distancia das situações problemáticas pretende a efetivação destes ideais. No entanto, uma importante
concretas de cada realidade. ampliação da discussão sobre os caminhos das políticas públicas
É comum encontrar materiais dirigidos aos professores para a inclusão escolar seria a consideração do contexto em que se
que apostam na informação como eixo central da sua formação. pretende uma sociedade inclusiva.
A apropriação de alguns conceitos é fundamental, contudo é
necessário articular esses conceitos com as situações vividas em As instituições educacionais, organizadas para estabelecer
cada realidade escolar e na experiência de cada profi ssional da modelos de relações sociais, reproduzem com efi ciência a lógica
educação. Este trabalho de articulação é um processo cotidiano e das sociedades. Trata-se de um lugar legitimado socialmente onde
sistemático. Não acontece de uma vez por todas, podendo se dar se produzem e reproduzem relações de saber-poder, como já
somente através da análise da vivência de cada profi ssional em teorizado por Foucault (1987). Nestas, a lógica das classifi cações
seu fazer diário. Caso não se leve em conta o caráter processual sempre foi necessária para o estabelecimento da ordem e do
da formação desses profi ssionais, corre-se o risco de desprezar o progresso social. Daí pode advir a idéia de que a escola, como mais
conhecimento e a experiência prévia que cada um traz consigo. um equipamento de disciplinamento social, não foi concebida para
A formação do professor deve ser um processo continuo, ser inclusiva, mas para ser instrumento de seleção e capacitação
que perpassa sua prática com os alunos, a partir do trabalho dos “mais aptos” a uma boa conduta social.
transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio. É A efetivação de uma educação inclusiva neste contexto secular
fundamental considerar e valorizar o saber de todos os profi não é tarefa fácil. Não menos desprovida de difi culdades é a tarefa
ssionais da educação no processo de inclusão. Não se trata apenas de um Estado que intenta organizar uma política pública que,
de incluir um aluno, mas de repensar os contornos da escola e a como tal, se empenha na busca de um caráter de universalidade,
que tipo de Educação estes profi ssionais têmse dedicado. Trata-se garantindo acesso a todos os seus cidadãos às políticas que lhes
de desencadear um processo coletivo que busque compreender os cabem por direito.
motivos pelos quais muitas crianças e adolescentes também não O campo da inclusão, entretanto, fundamenta-se na concepção
conseguem encontrar um “lugar” na escola. de diferenças, algo da ordem da singularidade dos sujeitos que
Para isso, não bastam informações e imperativos, mas acessam esta mesma política. Como não torná-la, a cada passo, um
verdadeiros processos de reflexão que levem os grupos a considerar novo instrumento de classifi cação, seleção, reduzindo os sujeitos a
qual é o discurso que se produz na sua prática. Os discursos marcas mais ou menos identitárias de uma síndrome, defi ciência
institucionais tendem a produzir repetições, buscando garantir a ou doença mental?
permanência do igual, do já conhecido, como forma de se proteger
da angústia provocada pelo novo. Ao reconhecer que faz parte de

164
FUNDAMENTOS

Um possível recurso de que poderia se lançar mão neste sentido, inclusão”, comenta um professor. Além da evidente concepção de
seria o de uma lógica que oferecesse elementos de processualidade uma educação voltada para a “normalidade”, tal ideia contrapõe-¬se
ao longo deste trajeto. Pelo simples fato de se tratar, não somente à compreensão da inclusão, largamente defendida na bibliografia,
em discurso, mas na prática cotidiana, de uma rede de relações como um processo que deve abranger todas as diferenças.
no trabalho educativo que estão instituídas há séculos e que se Outra evidência da fragilidade que ainda se encontra no
repetem como naturais e defi nitivas. É por dentro desta lógica que entendimento do processo inclusivo diz respeito aos critérios
uma política macro quer se instaurar. utilizados na seleção e encaminhamento dos alunos com
Uma nova concepção de educação e sociedade se faz por necessidades educacionais especiais. É senso comum nas escolas
vontade pública e é essencial que o sistema educacional assuma que todo “aluno com condições de aprendizagem formal” deve ser
essa vontade. Para operar as transformações nos modos de relação encaminhado para escola de ensino regular. No caso, os educadores
dentro da escola é, também, necessário que os profi ssionais consideram as escolas cicladas como as mais preparadas para
envolvidos tomem para si a tarefa de pensar estas questões de receber estes alunos, já que o sistema por ciclos de formação
forma refl exiva e coletiva. Dito de outra forma, é necessário que possibilita o convívio com as diferenças e com colegas de sua idade.
todos os agentes institucionais percebam-se como gestores e No entanto, ressaltam que algumas crianças e adolescentes não
técnicos da educação inclusiva. possuem condições de frequentar a escola regular comum e, em
Nesta perspectiva, é essencial que o exercício social e alguns casos, nem a escola especial.
profi ssional destes agentes esteja sustentado por uma rede de
ações interdisciplinares, que se entrelacem no trabalho com as Existe ainda, uma certa resistência em pensar a transformação
necessidades educacionais especiais dos alunos. do espaço da escola especial, pois muitos acreditam que sua
Processo de inclusão estrutura também é inclusiva, promotora de laço social e que
A investigação dos aspectos que necessitam evoluir na política somente nela seria possível a permanência de algumas das pessoas
de educação especial requer que se situe como este processo vem com necessidades educacionais especiais. Porém, neste aspecto se
acontecendo efetivamente nas redes de ensino. Considerando que evidencia uma contradição, enquanto a escola regular comum em
a inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais cumprimento à legislação deve receber todo e qualquer aluno, a
produz impasses no cotidiano escolar que exigem um constante escola especial ainda mantém certos critérios de seleção, os quais
repensar das práticas pedagógicas é importante a análise de alguns permitem que não receba alguns casos com quadros psíquicos
aspectos do contexto atual da inclusão no país. graves e/ou deficiências múltiplas. Este é um importante paradoxo
Os temas, delineados a partir de um mapeamento realizado verificado no atual panorama da política de educação especial.
em diferentes espaços educacionais, representam uma síntese dos Outra ressalva bastante proferida pelos grupos escutados é
principais aspectos percebidos como tensionadores do processo de que o processo da inclusão deve ser compartilhado com vários
e emergiram da análise das opiniões dos diferentes segmentos segmentos sociais, não ficando apenas ao encargo da escola, ou do
da comunidade escolar envolvidos com a proposta de inclusão, as professor, como pode se verificar nas seguintes expressões: “Sou a
quais foram obtidas através de observações, de entrevistas semi- favor da inclusão, mas não jogando tudo no professor”; “Acredito
estruturadas, de grupos de discussão, bem como de diferentes na inclusão, mas estou decepcionada com esse ‘fazer de conta’ de
experiências profi ssionais existentes. que se está incluindo...”.

Comunidade Escolar e a Política de Inclusão Neste sentido, torna-se especialmente relevante à participação
A associação mais imediata e comum no ambiente escolar, dos diferentes segmentos na implantação dos direitos assegurados
quando se trata de questionar posições acerca da política de educação em lei para que os benefícios percebidos na política de inclusão
inclusiva, é a de mais um encargo que o sistema educacional impõe educacional possam ser efetivados. Não há dúvida de que incluir
aos professores. Mesmo sendo favoráveis à concepção contida na pessoas com necessidades educacionais especiais na escola regular
lei e percebendo os benefícios que sua implementação traria a pressupõe uma grande reforma no sistema educacional que implica
toda a sociedade, o temor e as preocupações daí decorrentes são na flexibilização ou adequação do currículo, com modificação das
inevitáveis. Algumas expressões como: “a inclusão é forçada” ou formas de ensinar, avaliar, trabalhar com grupos em sala de aula e
“é inclusão só de fachada” sinalizam as difi culdades em lidar com a criação de estruturas físicas facilitadoras do ingresso e circulação
o acesso de pessoas com necessidades educacionais especiais no de todas as pessoas.
ensino regular. Em que pesem as inúmeras dificuldades presentes no cotidiano
As escolas, de modo geral, têm conhecimento da existência das das escolas, permanece uma expectativa entre educadores e
leis acerca da inclusão de pessoas com necessidades educacionais gestores escolares de que as transformações sociais alcancem a
especiais no ambiente escolar e da obrigatoriedade da garantia de instituição educativa. O que está em discussão é qual a compreensão
vaga para estas. As equipes diretivas respeitam e garantem a entrada que temos da relação entre escola e sociedade. É pela educação
destes alunos, mostrando-se favoráveis à política de inclusão, mas que se transforma a sociedade, ou a escola é mera reprodutora das
apontam alguns entraves pelo fato de não haver a sustentação estruturas da sociedade?
necessária, como por exemplo, a ausência de definições mais A concepção que tem orientado as opiniões de muitos gestores
estruturais acerca da educação especial e dos suportes necessários e educadores que atuam na perspectiva da educação inclusiva é
a sua implementação. de que a escola é um dos espaços de ação de transformação. Uma
Não raro ouve-se nas escolas referências a alunos com compreensão que aproxima a ideia de políticas de educação e
necessidades educacionais especiais como “os alunos da inclusão”, políticas sociais amplas que garantam a melhoria da qualidade de
o que sugere o questionamento sobre o modo como são percebidos vida da população.
diante dos demais alunos. “Tenho vinte e cinco alunos, dois de

165
FUNDAMENTOS

Consideradas essas questões, a educação inclusiva implica na direção, ainda, as escolas citam as salas de recursos, os serviços de
implementação de políticas públicas, na compreensão da inclusão orientação educacional e o atendimento educacional especializado
como processo que não se restringe à relação professor-aluno, mas como importantes dispositivos para propiciar a escolarização.
que seja concebido como um princípio de educação para todos e Com relação à proposta pedagógica, cabe apontar a
valorização das diferenças, que envolve toda a comunidade escolar. importância das flexibilizações curriculares para viabilizar o
processo de inclusão. Para que possam ser facilitadoras, e não
Os Educadores e a Educação Inclusiva dificultadoras, as adequações curriculares necessitam ser pensadas
A posição da família do aluno com necessidades educacionais a partir do contexto grupal em que se insere determinado aluno.
especiais é apontada como um obstáculo do processo de inclusão Como afirma Filidoro (2001 p.112), “as adaptações se referem a um
educacional, quando esta “dificulta a inclusão por não reconhecer contexto - e não me refiro à criança, mas ao particular ponto de
as possibilidades da criança”. Sabe-se que o nascimento de um filho encontro que ocorre dentro da aula em que convergem a criança,
com deficiência traz uma série de impasses às relações familiares, sua história, o professor, sua experiência, a instituição escolar com
seguidos de sentimentos de frustração, culpa, negação do problema, suas regras, o plano curricular, as regulamentações estaduais, as
entre tantos outros. Os anos iniciais da criança abrangem o período expectativas dos pais, entre outros, - então não é possível pensar
de suas mais férteis aquisições, as quais podem ser prejudicadas em adaptações gerais para crianças em geral. Como refere esta
se a família não tiver a ajuda necessária para reconhecer seu filho autora, as “adaptações” curriculares devem ser pensadas a partir
como um sujeito que apresenta diversas possibilidades. A escola, de cada situação particular e não como propostas universais,
como o segundo espaço de socialização de uma criança, tem um válidas para qualquer contexto escolar. As adequações feitas por
papel fundamental na determinação do lugar que a mesma passará um determinado professor para um grupo específico de alunos só
a ocupar junto à família e, por consequência, no seu processo de são válidas para esse grupo e para esse momento.
desenvolvimento. Na medida em que são pensadas a partir do contexto e não
Outro aspecto a ser considerado, especialmente nas escolas apenas a partir de um determinado aluno, entende-se que todas as
públicas, é a situação de miséria econômica e carência social de crianças podem se beneficiar com a implantação de uma adequação
algumas famílias. Para estas, a escola é um dos poucos lugares curricular, a qual funciona como instrumento para implementar
de cuidado e acompanhamento de suas crianças, quando não de uma prática educativa para a diversidade. Pois, como acrescenta
sobrevivência direta, pela possibilidade de alimentação e cuidados a autora citada, as “adaptações curriculares” devem produzir
primários e, indireta, pela viabilidade do afastamento dos adultos modificações que possam ser aproveitadas por todas as crianças de
para o trabalho. um grupo ou pela maior parte delas.
A formação dos professores também ganha destaque entre as Cabe salientar, ainda, que além de não serem generalizáveis,
demandas mais emergentes para o aprofundamento do processo as adequações curriculares devem responder a uma construção do
de inclusão. Existe um consenso de que é imprescindível uma professor em interação com o coletivo de professores da escola e
participação mais qualificada dos educadores para o avanço desta outros profissionais que compõem a equipe interdisciplinar.
importante reforma educacional. O “despreparo dos professores” Um outro importante elemento assinalado pelas pessoas
figura entre os obstáculos mais citados para a educação inclusiva, escutadas nas escolas, quando se fala na inclusão de crianças com
o qual tem como efeito o estranhamento do educador com aquele necessidades educacionais especiais no ensino regular, é que as
sujeito que não está de acordo com “os padrões de ensino e escolas costumam fazer alusão a serviços de apoio especializados
aprendizagem” da escola. para desenvolver um trabalho de qualidade. Dentre os especialistas,
Nessa mesma direção, a formação inicial dos educadores são citados neurologistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos,
oferecida no currículo dos cursos de licenciatura também é referido. psiquiatras, fonoaudiólogos, assistentes sociais, entre outros. Supõe-
Segundo os entrevistados, os cursos de formação de professores se que, por trás desse pedido, está a ideia de que o aluno precisa
pouco abordam sobre educação inclusiva e conhecimentos acerca suprir algumas necessidades específicas que poderão ser atendidas
das necessidades educacionais especiais dos alunos. “As principais por um, ou vários especialistas, bem como que estes profissionais
dificuldades são de recursos humanos, pessoal preparado. (...) poderiam ajudar o professor a descobrir os caminhos possíveis para
Todos precisam estar preparados, principalmente o professor facilitar a aprendizagem do aluno. A falta de atendimento de saúde
em sala de aula, que muitas vezes não sabe como fazer.” Assim, e assistência ao aluno com necessidades educacionais especiais é
constata-se a necessidade de introduzir tanto modificações na apontada como um dificultador à inclusão, mostrando a carência
formação inicial dos educadores, quanto a formação continuada de articulação de uma rede de serviços, fundamentais para inclusão
e sistemática ao longo da carreira profissional dos professores e educacional e para a qualidade de vida dos cidadãos.
demais profissionais da educação. É mister ressaltar que a menção a vários especialistas, muitas
Além da formação profissional, muitos educadores ouvidos vezes, costuma referir-se a um modelo historicamente constituído
apontam como obstáculos ao processo de inclusão o grande como multidisciplinar, no qual adaptação ou inadaptação se
número de crianças em sala e a falta de recursos para sustentação constituem como critérios que direcionam os diagnósticos.
da prática pedagógica. Consideram que classes com menor Nesta visão tradicional de educação especial, multiplicam-se
número de alunos seriam mais acolhedoras e possibilitariam um as intervenções supondo-se que a adição sistemática de várias
trabalho mais cuidadoso. Mencionam também a necessidade de disciplinas contribuiria para completar o “quadro da normalidade”,
em algumas situações específicas, a constituição de turmas de reforçando a ideia de que bastaria que cada especialista fizesse a
alunos diferenciadas. “... há uma estrutura que é de turma com 30 sua parte para que o aluno estivesse apto para ser “integrado”.
alunos... A escola regular precisaria ter turmas menores”. Nessa Jerusalinsky (1998) chama atenção para as consequências
deste modelo de atendimento, visto que a fragmentação na forma
de olhar e se relacionar com uma criança tem consequências no

166
FUNDAMENTOS

modo como ela irá constituir seu modo de ser. Esta fragmentação lização de documentos e a implementação de plataformas online
pode chegar ao limite de impossibilitar sua constituição como facilitam o acesso dos cidadãos aos serviços públicos, tornando-os
sujeito. Esse mesmo autor aponta, como imprescindível, o trabalho mais ágeis, acessíveis e eficientes. Isso reduz a burocracia, diminui
interdisciplinar para decidir sobre as estratégias terapêuticas. No o tempo de espera e simplifica os procedimentos, proporcionando
paradigma da interdisciplinariedade não se trata de estímulo à maior comodidade para os usuários.
prevalência do discurso de uma ou outra especialidade, mas de Além disso, as TICs também contribuem para uma maior trans-
articulá-los entre si. Páez (2001, p. 31) observa que “este novo parência e accountability no serviço público. A disponibilização de
espaço discursivo, esta nova região teórica possibilita a comunicação informações online, portais de transparência e sistemas de presta-
interdisciplinar e a produção de uma nova ordem do saber, em que ção de contas permitem que os cidadãos acompanhem e fiscalizem
uma concepção acerca do sujeito é compartilhada por todas as as ações do governo, promovendo a participação cidadã e a gestão
disciplinas”. democrática. As TICs também permitem o monitoramento e a ava-
A observação do tipo de relação atualmente percebida entre liação dos serviços públicos, facilitando a identificação de proble-
especialidades das áreas de saúde e educação, mais diretamente mas, a tomada de decisões e a melhoria contínua dos processos.
relacionadas ao processo de inclusão educacional, parece apontar Outra contribuição importante das TICs é a facilitação da comu-
para um caminho bem diverso ao da interdisciplinariedade. Escola nicação entre o governo e os cidadãos. As redes sociais, os aplica-
e saúde aparecem como lugares que se excluem entre si, tanto nas tivos de mensagens instantâneas e os sites governamentais permi-
políticas de atendimento quanto na organização dos seus saberes tem uma comunicação mais direta, rápida e efetiva, possibilitando
específicos. Os serviços de saúde não são percebidos como lugares o compartilhamento de informações, o esclarecimento de dúvidas
que se somam à escola, mas para os quais se encaminha alunos, e a participação em consultas públicas. Isso aproxima os cidadãos
evidenciando o caráter dissociativo que se imprimiu às práticas do governo, promovendo uma relação mais colaborativa e partici-
do encaminhamento e atestando a desresponsabilização de uma pativa.
área em relação à outra que, na maioria das vezes, sequer inclui o No entanto, é importante destacar que o uso das TICs no ser-
acompanhamento da escola ao caso encaminhado. viço público também apresenta desafios. A inclusão digital, por
A fragmentação dos saberes e disputa de territórios de poder exemplo, é um aspecto fundamental a ser considerado, garantindo
daí decorrentes apontam para uma lógica de especialismos que que todos os cidadãos, independentemente de sua condição socio-
se afasta da concepção de interdisciplinariedade insistentemente econômica, tenham acesso às tecnologias e possam usufruir dos
referida como fundamental aos avanços deste campo de serviços oferecidos. Além disso, é necessário garantir a segurança
intervenção. Sabemos que o sucesso de uma política inclusiva e a privacidade dos dados dos usuários, adotando medidas efetivas
depende da qualidade de uma rede de apoio que lhe dê sustentação de proteção e cumprindo as legislações pertinentes.
e que as interações entre os profissionais envolvidos, da educação, Em resumo, as novas tecnologias da informação e comunica-
saúde e assistência, são fundamentais a um processo de inclusão ção têm contribuído de forma significativa para o serviço público,
do sujeito na escola e na sociedade. Todos esses dados apontam proporcionando maior eficiência, transparência, participação e co-
a necessidade de uma organização das políticas de atendimento municação entre o governo e os cidadãos. O uso adequado dessas
que contemple a atuação interdisciplinar, rompendo com o viés de tecnologias pode impulsionar a modernização e a melhoria contí-
exclusão e fortalecendo o processo educacional. nua dos serviços públicos, promovendo uma gestão mais eficiente
A inexistência de uma equipe interdisciplinar é mencionada e orientada para atender às necessidades e expectativas da socie-
pelos entrevistados, como um obstáculo para que se possibilite o dade.
trabalho dos professores em sala de aula com a inclusão de alunos
com necessidades educacionais especiais. Nesse sentido, supõe
que o professor além de ser apoiado em sua prática pedagógica por QUESTÕES
uma equipe de profissionais, também é parte atuante desta equipe
interdisciplinar, pois é ele que detém um “saber fazer” com relação 1. Qual é uma das principais contribuições das TICs para a rela-
à aprendizagem, que o habilita a propor adequações, partindo de ção entre governo e cidadãos?
cada situação particular para favorecer uma proposta inclusiva.5 (A) Aumento da distância e da dificuldade de comunicação.
(B) Redução da transparência e da fiscalização das ações go-
NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E vernamentais.
COMUNICAÇÃO, E SUAS CONTRIBUIÇÕES COM O (C) Facilitação da comunicação direta, rápida e efetiva.
SERVIÇO PÚBLICO (D) Restrição do acesso aos serviços governamentais.

2. Quais são alguns dos desafios relacionados ao uso das TICs


As novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) têm no serviço público?
desempenhado um papel significativo no contexto do serviço públi- (A) Inclusão digital e garantia de segurança e privacidade dos
co, trazendo diversas contribuições e transformando a forma como dados dos usuários.
o setor público se organiza, se comunica e presta serviços à socie- (B) Aumento da burocracia e da complexidade dos processos
dade. governamentais.
Uma das principais contribuições das TICs no serviço público (C) Restrição do acesso à informação e ao conhecimento.
é a melhoria da eficiência e da qualidade dos serviços oferecidos. (D) Diminuição da participação cidadã e da transparência.
A automação de processos, o uso de sistemas integrados, a digita-

5Fonte: www.portal.mec.gov.br

167
FUNDAMENTOS

3. FGV - 2018 - Prefeitura de Niterói - RJ - Pedagogo- Uma das funções sociais da escola é a transmissão do conhecimento produzido
historicamente e socialmente pela humanidade. Eis uma função que se realiza em meio aos seguintes movimentos:
(A) hegemônicos e contra-hegemônicos;
(B) de ampliação e de universalização;
(C) de fluxos e de influxos;
(D) contraditórios e parciais;
(E) de assistência e de acompanhamento.

4. FGV - 2021 - Prefeitura de Paulínia - SP - Diretor de Unidade Escolar- O entendimento vigente sobre a função social da escola na
sociedade brasileira encontra-se condensado no Documento Final do CONEB (Conferência Nacional da Educação Básica).
Quanto à função social da educação, cabe destacar o entendimento de que a educação é processo e prática social, constituídos e
constituintes das relações sociais mais amplas. Essa concepção de educação sinaliza a importância de que ela se dê de forma contínua ao
longo da vida. Para que seja realizada como direito humano inalienável do cidadão, em consonância com o Artigo 1º da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), sua práxis social deve ocorrer em espaços e tempos pedagógicos diferentes, para atender às diferen-
ciadas demandas. Como prática social, a educação tem como loci privilegiados, mas não exclusivos, a escola e os espaços comunitários,
entendidos como cenário da garantia de direitos.
Do exposto decorre que, para realizar sua função social, a escola
(A) deve levar em consideração as demandas da sociedade enquanto parâmetro para o desenvolvimento das propostas de atividades
escolares.
(B) pode optar, ou não, em ser pública, gratuita, democrática e laica em todos os níveis e assegurar e pautar-se, ou não, pelos princí-
pios da inclusão.
(C) independe do espaço escolar, da ampliação da jornada escolar e da garantia da permanência bem-sucedida, na escola, para se
realizar.
(D) considera o contexto de desigualdades, em relação ao qual oferece as mesmas condições de frequência e atendimento, de modo
a nivelar as oportunidades.
(E) reconhece a necessidade de escolas especiais para os grupos historicamente excluídos, como povos tradicionais, negros, povos da
floresta e indígenas.

5. FGV - 2023 - SME - SP - Professor de Ensino Fundamental II e Médio - Português- “O objetivo da integração é inserir um aluno, ou
um grupo de alunos, que já foi anteriormente excluído, e o mote da inclusão, ao contrário, é o de não deixar ninguém no exterior do ensino
regular, desde o começo da vida escolar. As escolas inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional que considera as
necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades.”
MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como Fazer? São Paulo: Moderna, 2006.
Segundo o trecho destacado, é correto afirmar que
(A) a inclusão e a integração designam o mesmo processo de inserir alunos excluídos no sistema regular de ensino.
(B) a inclusão diz respeito ao oferecimento de espaços de discriminação positiva nas instituições regulares.
(C) a proposta da inclusão exige uma reforma do sistema de ensino desde a base, de modo a abri-lo para as diferenças.
(D) o paradigma da inclusão exige a criação de escolas separadas para crianças com necessidades específicas.
(E) a integração se distingue da inclusão por exigir mudanças que atinjam todos os alunos e não apenas alguns.

6. FGV - 2021 - TJ-RO - Analista Judiciário - Pedagogo- Considerando o papel da educação e da escola nas sociedades contemporâneas,
analise as afirmativas a seguir.
I. A educação em direitos humanos favorece o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural.
II. A escola deve exercitar o respeito e a tolerância, valorizar a diversidade em suas mais distintas manifestações.
III. A educação é um direito em si mesmo e um meio para acesso a outros direitos.
Está correto o que se afirma em:
(A) somente I;
(B) somente II;
(C) somente I e II;
(D) somente II e III;
(E) I, II e III.

168
FUNDAMENTOS

7. FGV - 2019 - Prefeitura de Angra dos Reis - RJ - Monitor de Educação Especial- Analise a imagem a seguir.

A diferença no enriquece...
... O respeito nos une.

A partir da imagem acima, a professora do 5º ano organizou uma atividade, em sala de aula, sobre diversidade e respeito, segundo as
diretrizes da Política Nacional de Educação Especial.

As opções, a seguir, apresentam atitudes sugeridas pelos alunos, que respeitam a diversidade segundo uma “educação inclusiva”, à
exceção de uma. Assinale-a.

(A) A valorização das especificidades.


(B) O respeito à diversidade étnica.
(C) A inclusão de pessoas com deficiência
(D) A tolerância com os diversos credos religiosos.
(E) A classificação segundo critérios intelectuais.

8. UPENET/IAUPE - 2023 - Prefeitura de São José da Coroa Grande - PE - Professor do ensino Fundamental - Anos Finais - Matemáti-
ca- As Relações socioeconômicas e político-culturais da educação, comprometida com a cidadania e com a formação de uma sociedade
democrática, necessariamente implica
(A) considerar a organização escolar e as carências dos estudantes.
(B) fortalecer práticas tecnicistas que, ao longo da história, valorizaram as diferenças individuais.
(C) promover o respeito, a valorização e o convívio com a diversidade, necessários na vida em comunidade.
(D) tornar acessíveis, discriminadamente, elementos da cultura que enriqueçam o desenvolvimento pessoal dos estudantes.
(E) privilegiar práticas que se voltem para os cuidados físicos, partindo da concepção de que o aluno é carente, frágil e dependente.
9. FUNDATEC - 2019 - Prefeitura de Quaraí - RS - Professor - Educação Especial- “O objetivo da inclusão está atualmente no coração da
política educacional e da política social” (MITTLER, 2003). De acordo com o autor, analise as assertivas abaixo:

I. A inclusão implica uma reforma radical nas escolas no que diz respeito à pedagogia e às formas de agrupamento dos alunos nas
atividades de sala de aula.
II. A essência da inclusão é a de que deve haver uma investigação sobre o que está disponível para assegurar aquilo que é relevante
e acessível a qualquer aluno na escola.
III. A inclusão está baseada em um sistema de valores que faz com que todos se sintam bem-vindos, ao mesmo tempo em que se
celebra a diversidade.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas I e II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.

169
FUNDAMENTOS

10. AEVSF/FACAPE - 2021 - Prefeitura de Petrolina - PE - Profes- cando para além do desenvolvimento dos saberes acadêmicos,
sor Substituto Ensino Fundamental - Anos Finais de Matemática- A mas os valores humanos, éticos e socialmente responsáveis.
escola que nos primórdios foi organizada para atender um deter- (E) A elaboração de uma nova abordagem conceitual das pro-
minado perfil de aluno, hoje se volta para uma demanda bastante blemáticas do ensino contemporâneo, respeitando as novas
diversificada que desafia e exige evoluções nas políticas vigentes da linguagens, inclusive criando uma como forma de acompanhar
escola, como metodologias de ensino que possibilitem atender a to- a realidade pedagógica atual.
dos sem distinção, o que implica mudanças nas práticas educativas,
ainda com resquícios da escola tradicional no que tange à exclusão.
Portanto, é preciso fazer da inclusão social uma realidade, para uma GABARITO
sociedade efetivamente democrática, na qual o acesso igualitário a
oportunidades, valorização das diferenças e diversidades garantam
a universalização dos direitos educacionais e sociais. Revista Educa- 1 C
ção Especial. | v. 31 | n. 60 | p. 81-92 | jan./mar. 2018 Santa Maria 2 A
Disponível em:https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial.
A partir das informações apresentadas, avalie as informações 3 A
a seguir. 4 A
I. Quando os alunos com diversos níveis de deficiências estão 5 C
numa sala inclusiva, eles podem aprender mais e melhor, assim
como aos demais é dada a oportunidade de aprendizado, compre- 6 E
ensão, respeito e convivência com as diferenças. 7 E
II. O desafio da escola inclusiva hoje é conferir ingresso e per-
manência a qualquer tipo de aluno e oferecer‐lhe respostas educa- 8 C
tivas de qualidade a partir do processo de segregação dos saberes. 9 E
III. Um ponto importante que precisa ser destacado para incluir
10 C
alunos com deficiência está na qualificação da equipe de profissio-
nais escolares e dos recursos pedagógicos. 11 E
IV. Quando se trata de alunos com deficiência, é preciso com-
preender que o processo de aprendizagem é possível dentro de sala
de aula regular e modificar o pensamento excludente de que esses ANOTAÇÕES
alunos não são capazes de estudar, conviver e aprender com os de-
mais. V. Incluir é reconhecer que existem outros de nós que pre-
cisam participar de todos os meios, seja profissional, educacional, ______________________________________________________
social, independente das diferenças.
É correto o que se afirma em: ______________________________________________________
(A) I, II e III apenas.
______________________________________________________
(B) I, II, III e V apenas.
(C) I, III, IV e V apenas. ______________________________________________________
(D) II, III e V apenas.
(E) I, II, IV e V apenas. ______________________________________________________

11. FUNRIO - 2019 - Prefeitura de Alta Floresta - MT - Profes- ______________________________________________________


sor - Educação Física- A escola para cumprir sua função social deve
adotar um regime de colaboração e diálogo entre todas as partes ______________________________________________________
envolvidas, por meio dos sujeitos que a compõem e através de
______________________________________________________
abordagens que auxiliem no atendimento a condições como, por
exemplo, as seguintes medidas, exceto: ______________________________________________________
(A) A criação de um currículo voltado ao desenvolvimento múl-
tiplo das capacidades acadêmicas, técnicas, funcionais e sociais ______________________________________________________
dos alunos enquanto indivíduos, criando os meios de acessibi-
lidade para tanto. ______________________________________________________
(B) A valorização da multiplicidade de indivíduos em suas di-
ferenças, pensando em um atendimento plural que respeite a ______________________________________________________
diversidade cultural e social, inclusive aos valores referentes à
inclusão. ______________________________________________________
(C) Através da valorização dos profissionais da educação, re-
______________________________________________________
conhecendo os méritos de suas formações, desenvolvendo
programas de formação continuada, além de instrumentos de ______________________________________________________
incentivo aos profissionais.
(D) Desenvolver um plano educacional preocupado com as ______________________________________________________
múltiplas competências exigidas pela pedagogia moderna, fo-

170
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA

TERRITÓRIO: pode ser conceituado como a área na qual o Esta-


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: QUESTÕES CONCEITUAIS, do exerce sua soberania. Trata-se da base física ou geográfica de um
FUNDAMENTOS E DIFERENTES DIMENSÕES; determinado Estado, seu elemento constitutivo, base delimitada de
A RELAÇÃO ENTRE ESTADO, GOVERNO E autoridade, instrumento de poder com vistas a dirigir o grupo so-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA cial, com tal delimitação que se pode assegurar à eficácia do poder
e a estabilidade da ordem.
O território é delimitado pelas fronteiras, que por sua vez, podem
Estado
ser naturais ou convencionais. O território como elemento do Estado,
Conceito, Elementos e Princípios
possui duas funções, sendo uma negativa limitante de fronteiras com
Adentrando ao contexto histórico, o conceito de Estado veio a
a competência da autoridade política, e outra positiva, que fornece
surgir por intermédio do antigo conceito de cidade, da polis grega
ao Estado a base correta de recursos materiais para ação.
e da civitas romana. Em meados do século XVI o vocábulo Estado
passou a ser utilizado com o significado moderno de força, poder
Por traçar os limites do poder soberanamente exercido, o terri-
e direito.
tório é elemento essencial à existência do Estado, sendo, desta for-
O Estado pode ser conceituado como um ente, sujeito de direi-
ma, pleno objeto de direitos do Estado, o qual se encontra a serviço
tos, que possui como elementos: o povo, o território e a soberania.
do povo e pode usar e dispor dele com poder absoluto e exclusivo,
Nos dizeres de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2010, p. 13),
desde que estejam presentes as características essenciais das rela-
“Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos ele-
ções de domínio. O território é formado pelo solo, subsolo, espaço
mentos povo, território e governo soberano”.
aéreo, águas territoriais e plataforma continental, prolongamento
O Estado como ente, é plenamente capacitado para adquirir di-
do solo coberto pelo mar.
reitos e obrigações. Ademais, possui personalidade jurídica própria,
tanto no âmbito interno, perante os agentes públicos e os cidadãos,
A Constituição Brasileira atribui ao Conselho de Defesa Nacio-
quanto no âmbito internacional, perante outros Estados.
nal, órgão de consulta do presidente da República, competência
Vejamos alguns conceitos acerca dos três elementos que com-
para “propor os critérios e condições de utilização de áreas indis-
põem o Estado:
pensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu
efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas
POVO: Elemento legitima a existência do Estado. Isso ocorre
com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qual-
por que é do povo que origina todo o poder representado pelo Es-
quer tipo”. (Artigo 91, §1º, III,CFB/88).
tado, conforme dispões expressamente art. 1º, parágrafo único, da
Constituição Federal:
Os espaços sobre o qual se desenvolvem as relações sociais
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
próprias da vida do Estado é uma porção da superfície terrestre,
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
projetada desde o subsolo até o espaço aéreo. Para que essa porção
Constituição.
territorial e suas projeções adquiram significado político e jurídico,
O povo se refere ao conjunto de indivíduos que se vincula juri-
é preciso considerá-las como um local de assentamento do grupo
dicamente ao Estado, de forma estabilizada.
humano que integra o Estado, como campo de ação do poder polí-
Entretanto, isso não ocorre com estrangeiros e apátridas, dife-
tico e como âmbito de validade das normas jurídicas.
rentemente da população, que tem sentido demográfico e quanti-
tativo, agregando, por sua vez, todos os que se encontrem sob sua
SOBERANIA: Trata-se do poder do Estado de se auto adminis-
jurisdição territorial, sendo desnecessário haver quaisquer tipos de
trar. Por meio da soberania, o Estado detém o poder de regular o
vínculo jurídico do indivíduo com o poder do Estado.
seu funcionamento, as relações privadas dos cidadãos, bem como
as funções econômicas e sociais do povo que o integra. Por meio
Com vários sentidos, o termo pode ser usado pela doutrina
desse elemento, o Estado edita leis aplicáveis ao seu território, sem
como sinônimo de nação e, ainda, no sentido de subordinação a
estar sujeito a qualquer tipo de interferência ou dependência de
uma mesma autoridade política.
outros Estados.
No entanto, a titularidade dos direitos políticos é determinada
Em sua origem, no sentido de legitimação, a soberania está
pela nacionalidade, que nada mais é que o vínculo jurídico estabe-
ligada à força e ao poder. Se antes, o direito era dado, agora é ar-
lecido pela Constituição entre os cidadãos e o Estado.
quitetado, anteriormente era pensado na justiça robusta, agora é
O Direito nos concede o conceito de povo como sendo o con-
engendrado na adequação aos objetivos e na racionalidade técnica
junto de pessoas que detém o poder, a soberania, conforme já foi
necessária. O poder do Estado é soberano, uno, indivisível e emana
explicitado por meio do art. 1º. Parágrafo único da CFB/88 dispondo
do povo. Além disso, todos os Poderes são partes de um todo que
que “Todo poder emana do povo, que exerce por meio de repre-
é a atividade do Estado.
sentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

171
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Como fundamento do Estado Democrático de Direito, nos pa- Governo


râmetros do art.1º, I, da CFB/88), a soberania é elemento essencial Conceito
e fundamental à existência da República Federativa do Brasil. Governo é a expressão política de comando, de iniciativa públi-
A lei se tornou de forma essencial o principal instrumento de ca com a fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem
organização da sociedade. Isso, por que a exigência de justiça e de jurídica contemporânea e atuante.
proteção aos direitos individuais, sempre se faz presente na vida O Brasil adota a República como forma de Governo e o fede-
do povo. Por conseguinte, por intermédio da Constituição escrita, ralismo como forma de Estado. Em sua obra Direito Administrativo
desde a época da revolução democrática, foi colocada uma trava da Série Advocacia Pública, o renomado jurista Leandro Zannoni,
jurídica à soberania, proclamando, assim, os direitos invioláveis do assegura que governo é elemento do Estado e o explana como “a
cidadão. atividade política organizada do Estado, possuindo ampla discricio-
O direito incorpora a teoria da soberania e tenta compatibilizá- nariedade, sob responsabilidade constitucional e política” (p. 71).
-la aos problemas de hoje, e remetem ao povo, aos cidadãos e à sua É possível complementar esse conceito de Zannoni com a afir-
participação no exercício do poder, o direito sempre tende a preser- mação de Meirelles (1998, p. 64-65) que aduz que “Governo é a
var a vontade coletiva de seu povo, através de seu ordenamento, a expressão política de comando, de iniciativa, de fixação de objetivos
soberania sempre existirá no campo jurídico, pois o termo designa do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente”. Entretanto,
igualmente o fenômeno político de decisão, de deliberação, sendo tanto o conceito de Estado como o de governo podem ser definidos
incorporada à soberania pela Constituição. sob diferentes perspectivas, sendo o primeiro, apresentado sob o
A Constituição Federal é documento jurídico hierarquicamente critério sociológico, político, constitucional, dentre outros fatores.
superior do nosso sistema, se ocupando com a organização do po- No condizente ao segundo, é subdividido em sentido formal sob um
der, a definição de direitos, dentre outros fatores. Nesse diapasão, conjunto de órgãos, em sentido material nas funções que exerce e
a soberania ganha particular interesse junto ao Direito Constitu- em sentido operacional sob a forma de condução política.
cional. Nesse sentido, a soberania surge novamente em discussão, O objetivo final do Governo é a prestação dos serviços públicos
procurando resolver ou atribuir o poder originário e seus limites, com eficiência, visando de forma geral a satisfação das necessida-
entrando em voga o poder constituinte originário, o poder cons- des coletivas. O Governo pratica uma função política que implica
tituinte derivado, a soberania popular, do parlamento e do povo uma atividade de ordem mediata e superior com referência à dire-
como um todo. Depreende-se que o fundo desta problemática está ção soberana e geral do Estado, com o fulcro de determinar os fins
entranhado na discussão acerca da positivação do Direito em deter- da ação do Estado, assinalando as diretrizes para as demais funções
minado Estado e seu respectivo exercício. e buscando sempre a unidade da soberania estatal.
Assim sendo, em síntese, já verificados o conceito de Estado e
os seus elementos. Temos, portanto: Administração pública
Conceito
ESTADO = POVO + TERRITÓRIO + SOBERANIA Administração Pública em sentido geral e objetivo, é a ativida-
de que o Estado pratica sob regime público, para a realização dos
Obs. Os elementos (povo + território + soberania) do Estado interesses coletivos, por intermédio das pessoas jurídicas, órgãos e
não devem ser confundidos com suas funções estatais que normal- agentes públicos.
mente são denominadas “Poderes do Estado” e, por sua vez, são A Administração Pública pode ser definida em sentido amplo e
divididas em: legislativa, executiva e judiciária estrito, além disso, é conceituada por Di Pietro (2009, p. 57), como
Em relação aos princípios do Estado Brasileiro, é fácil encontra- “a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob re-
-los no disposto no art. 1º, da CFB/88. Vejamos: gime jurídico total ou parcialmente público, para a consecução dos
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união interesses coletivos”.
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti- Nos dizeres de Di Pietro (2009, p. 54), em sentido amplo, a
tui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: Administração Pública é subdividida em órgãos governamentais e
I - a soberania; órgãos administrativos, o que a destaca em seu sentido subjetivo,
II - a cidadania; sendo ainda subdividida pela sua função política e administrativa
III - a dignidade da pessoa humana; em sentido objetivo.
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Já em sentido estrito, a Administração Pública se subdivide em
V - o pluralismo político. órgãos, pessoas jurídicas e agentes públicos que praticam funções
administrativas em sentido subjetivo, sendo subdividida também
Ressalta-se que os conceitos de soberania, cidadania e pluralis- na atividade exercida por esses entes em sentido objetivo.
mo político são os que mais são aceitos como princípios do Estado. Em suma, temos:
No condizente à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais SENTIDO Sentido amplo {órgãos governamentais e
do trabalho e da livre inciativa, pondera-se que estes constituem as SUBJETIVO órgãos administrativos}.
finalidades que o Estado busca alcançar. Já os conceitos de sobera-
nia, cidadania e pluralismo político, podem ser plenamente relacio- SENTIDO Sentido estrito {pessoas jurídicas, órgãos e
nados com o sentido de organização do Estado sob forma política, SUBJETIVO agentes públicos}.
e, os conceitos de dignidade da pessoa humana e os valores sociais SENTIDO Sentido amplo {função política e adminis-
do trabalho e da livre iniciativa, implicam na ideia do alcance de OBJETIVO trativa}.
objetivos morais e éticos.
SENTIDO Sentido estrito {atividade exercida por
OBJETIVO esses entes}.

172
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Existem funções na Administração Pública que são exercidas Referente à função hermenêutica, os princípios são amplamen-
pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes da Administração que são te responsáveis por explicitar o conteúdo dos demais parâmetros
subdivididas em três grupos: fomento, polícia administrativa e ser- legais, isso se os mesmos se apresentarem obscuros no ato de tute-
viço público. la dos casos concretos. Por meio da função integrativa, por sua vez,
Para melhor compreensão e conhecimento, detalharemos cada os princípios cumprem a tarefa de suprir eventuais lacunas legais
uma das funções. Vejamos: observadas em matérias específicas ou diante das particularidades
a. Fomento: É a atividade administrativa incentivadora do de- que permeiam a aplicação das normas aos casos existentes.
senvolvimento dos entes e pessoas que exercem funções de utilida-
de ou de interesse público. Os princípios colocam em prática as função hermenêuticas e in-
b. Polícia administrativa: É a atividade de polícia administrati- tegrativas, bem como cumprem o papel de esboçar os dispositivos
va. São os atos da Administração que limitam interesses individuais legais disseminados que compõe a seara do Direito Administrativo,
em prol do interesse coletivo. dando-lhe unicidade e coerência.
c. Serviço público: resume-se em toda atividade que a Admi-
nistração Pública executa, de forma direta ou indireta, para satis- Além disso, os princípios do Direito Administrativo podem ser
fazer os anseios e as necessidades coletivas do povo, sob o regime expressos e positivados escritos na lei, ou ainda, implícitos, não po-
jurídico e com predominância pública. O serviço público também sitivados e não escritos na lei de forma expressa.
regula a atividade permanente de edição de atos normativos e con-
cretos sobre atividades públicas e privadas, de forma implementati- — Observação importante:
va de políticas de governo. Não existe hierarquia entre os princípios expressos e implíci-
A finalidade de todas essas funções é executar as políticas de tos. Comprova tal afirmação, o fato de que os dois princípios que
governo e desempenhar a função administrativa em favor do in- dão forma o Regime Jurídico Administrativo, são meramente im-
teresse público, dentre outros atributos essenciais ao bom anda- plícitos.
mento da Administração Pública como um todo com o incentivo das
atividades privadas de interesse social, visando sempre o interesse Regime Jurídico Administrativo: é composto por todos os prin-
público. cípios e demais dispositivos legais que formam o Direito Adminis-
A Administração Pública também possui elementos que a com- trativo. As diretrizes desse regime são lançadas por dois princípios
põe, são eles: as pessoas jurídicas de direito público e de direito centrais, ou supraprincípios que são a Supremacia do Interesse Pú-
privado por delegação, órgãos e agentes públicos que exercem a blico e a Indisponibilidade do Interesse Público.
função administrativa estatal.
Conclama a necessidade da sobreposi-
— Observação importante: SUPREMACIA DO
ção dos interesses da coletividade sobre
Pessoas jurídicas de direito público são entidades estatais aco- INTERESSE PÚBLICO
os individuais.
pladas ao Estado, exercendo finalidades de interesse imediato da
coletividade. Em se tratando do direito público externo, possuem Sua principal função é orientar a
INDISPONIBILIDA-
a personalidade jurídica de direito público cometida à diversas na- atuação dos agentes públicos para que
DE DO INTERESSE
ções estrangeiras, como à Santa Sé, bem como a organismos inter- atuem em nome e em prol dos interes-
PÚBLICO
nacionais como a ONU, OEA, UNESCO.(art. 42 do CC). ses da Administração Pública.
No direito público interno encontra-se, no âmbito da adminis-
tração direta, que cuida-se da Nação brasileira: União, Estados, Dis- Ademais, tendo o agente público usufruído das prerrogativas
trito Federal, Territórios e Municípios (art. 41, incs. I, II e III, do CC). de atuação conferidas pela supremacia do interesse público, a in-
No âmbito do direito público interno encontram-se, no campo disponibilidade do interesse público, com o fito de impedir que tais
da administração indireta, as autarquias e associações públicas (art. prerrogativas sejam utilizadas para a consecução de interesses pri-
41, inc. IV, do CC). Posto que as associações públicas, pessoas jurídi- vados, termina por colocar limitações aos agentes públicos no cam-
cas de direito público interno dispostas no inc. IV do art. 41 do CC, po de sua atuação, como por exemplo, a necessidade de aprovação
pela Lei n.º 11.107/2005,7 foram sancionadas para auxiliar ao con- em concurso público para o provimento dos cargos públicos.
sórcio público a ser firmado entre entes públicos (União, Estados,
Municípios e Distrito Federal). Princípios Administrativos
Nos parâmetros do art. 37, caput da Constituição Federal, a Ad-
Princípios da administração pública ministração Pública deverá obedecer aos princípios da Legalidade,
De acordo com o administrativista Alexandre Mazza (2017), Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.
princípios são regras condensadoras dos valores fundamentais de Vejamos:
um sistema. Sua função é informar e materializar o ordenamento – Princípio da Legalidade: Esse princípio no Direito Administra-
jurídico bem como o modo de atuação dos aplicadores e intérpre- tivo, apresenta um significado diverso do que apresenta no Direito
tes do direito, sendo que a atribuição de informar decorre do fato Privado. No Direito Privado, toda e qualquer conduta do indivíduo
de que os princípios possuem um núcleo de valor essencial da or- que não esteja proibida em lei e que não esteja contrária à lei, é
dem jurídica, ao passo que a atribuição de enformar é denotada considerada legal. O termo legalidade para o Direito Administrativo,
pelos contornos que conferem à determinada seara jurídica. significa subordinação à lei, o que faz com que o administrador deva
Desta forma, o administrativista atribui dupla aplicabilidade atuar somente no instante e da forma que a lei permitir.
aos princípios da função hermenêutica e da função integrativa.

173
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

— Observação importante: O princípio da legalidade considera São decorrentes do princípio da eficiência:


a lei em sentido amplo. Nesse diapasão, compreende-se como lei,
toda e qualquer espécie normativa expressamente disposta pelo a. A possibilidade de ampliação da autonomia gerencial, orça-
art. 59 da Constituição Federal. mentária e financeira de órgãos, bem como de entidades adminis-
trativas, desde que haja a celebração de contrato de gestão.
– Princípio da Impessoalidade: Deve ser analisado sob duas b. A real exigência de avaliação por meio de comissão especial
óticas: para a aquisição da estabilidade do servidor Efetivo, nos termos do
art. 41, § 4º da CFB/88.
a) Sob a ótica da atuação da Administração Pública em relação
aos administrados: Em sua atuação, deve o administrador pautar
na não discriminação e na não concessão de privilégios àqueles que A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E AS
o ato atingirá. Sua atuação deverá estar baseada na neutralidade e REFORMAS – UMA ABORDAGEM HISTÓRICA
na objetividade.
b) Em relação à sua própria atuação, administrador deve exe- De acordo com Chiavenato, a Administração Pública constitui
cutar atos de forma impessoal, como dispõe e exige o parágrafo importante segmento da ciência da Administração. Ela represen-
primeiro do art. 37 da CF/88 ao afirmar que: ‘‘A publicidade dos ta o aparelhamento do Estado e funciona como o instrumento do
atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos governo para planejar, organizar, dirigir e controlar todas as ações
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, administrativas, com o objetivo de dar plena e cabal satisfação das
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que carac- necessidades coletivas básicas1.
terizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.’’ Para Weber, a Administração Pública envolve todo o aparato
administrativo com que nações, estados e municípios se moldam
– Princípio da Moralidade: Dispõe que a atuação administrati- para cuidar do interesse coletivo e entregar à população uma ampla
va deve ser totalmente pautada nos princípios da ética, honestida- variedade de serviços públicos capazes de melhorar a qualidade de
de, probidade e boa-fé. Esse princípio está conexo à não corrupção vida em geral. No fundo, o progresso e o desenvolvimento de uma
na Administração Pública. nação passam obrigatoriamente pela Administração.
Já para Peter Drucker, não existem países ricos nem países
O princípio da moralidade exige que o administrador tenha pobres, mas sim países bem administrados e países mal adminis-
conduta pautada de acordo com a ética, com o bom senso, bons trados. Daí a amplitude e grandeza com que se apresenta a Admi-
costumes e com a honestidade. O ato administrativo terá que obe- nistração Pública, ainda mais quando os componentes básicos do
decer a Lei, bem como a ética da própria instituição em que o agen- setor público são o Estado, o Governo e a Administração Pública.
te atua. Entretanto, não é suficiente que o ato seja praticado apenas
nos parâmetros da Lei, devendo, ainda, obedecer à moralidade. Evolução da Administração Pública e Reforma do Estado
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995,
– Princípio da Publicidade: Trata-se de um mecanismo de con- elaborou-se o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado.
trole dos atos administrativos por meio da sociedade. A publicidade Neste, constam os alicerces do modelo que começou a ser imple-
está associada à prestação de satisfação e informação da atuação mentado com vistas à modernização da burocracia brasileira, im-
pública aos administrados. Via de regra é que a atuação da Admi- plantada por Vargas na primeira metade do século XX.
nistração seja pública, tornando assim, possível o controle da socie- Tendo em vista as práticas patrimonialistas (rent-seeking ou
dade sobre os seus atos. privatização do Estado, ou seja, usa-se a máquina administrativa
Ocorre que, no entanto, o princípio em estudo não é abso- com fins privados, escusos) correntes na cultura brasileira, Vargas
luto. Isso ocorre pelo fato deste acabar por admitir exceções pre- optou pela adoção de um modelo que se pautasse pelo controle
vistas em lei. Assim, em situações nas quais, por exemplo, devam minucioso das atividades-meio. Isso significa que, para “colocar or-
ser preservadas a segurança nacional, relevante interesse coletivo e dem na casa”, buscou referências no modelo idealizado por Weber,
intimidade, honra e vida privada, o princípio da publicidade deverá acreditando que a burocracia, dado seu caráter rígido e hierarquiza-
ser afastado. do, poderia ordenar a máquina administrativa no país.
Está, aí, o primeiro modelo estruturado de administração do
Sendo a publicidade requisito de eficácia dos atos administra- Brasil. Para facilitar sua implementação, contou com o apoio do De-
tivos que se voltam para a sociedade, pondera-se que os mesmos partamento Administrativo do Setor Público (Dasp), extinto há pou-
não poderão produzir efeitos enquanto não forem publicados. co tempo sem, infelizmente, ter logrado êxito em sua missão (se a
burocracia tivesse funcionado, em tese, as práticas patrimonialistas
– Princípio da Eficiência: A atividade administrativa deverá ser teriam sido suprimidas, o que parece não ter ocorrido).
exercida com presteza, perfeição, rendimento, qualidade e econo- Nessa época, em virtude da desconfiança total que havia no
micidade. Anteriormente era um princípio implícito, porém, hodier- servidor público, o modelo burocrático revelava-se como o mais
namente, foi acrescentado, de forma expressa, na CFB/88, com a adaptado. Com isso, Vargas almejava basicamente três coisas: criar
EC n. 19/1998. uma estrutura administrativa organizada, uniforme; estabelecer
uma política de pessoal com base no mérito; e acabar com o nepo-
tismo e corrupção existentes.

1 CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos /


Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022.

174
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Com o passar do tempo, percebeu-se que a burocracia, se exacerbada em suas características, revela-se um modelo pouco flexível,
inadequado em cenários dinâmicos, que exigem agilidade. A partir daí, é possível identificar diversas tentativas de desburocratizar a má-
quina: a criação do Comitê de Simplificação da Burocracia (Cosb), da Secretaria de Modernização da Reforma Administrativa (Semor), o
Decreto-lei nº 200/1967, o Programa Nacional de Desburocratização (PND) e ainda outros de menor vulto que, infelizmente, não tiveram
o sucesso desejado.
Até que, em 1995, com a edição do Plano Diretor, deu-se início à implantação do chamado modelo gerencial no Brasil. O modelo ge-
rencial, em sua fase inicial, implica administrar a res publica de forma semelhante ao setor privado, de forma eficiente, com a utilização de
ferramentas que consigam maximizar a riqueza do acionista ou a satisfação do usuário (considerando-se a realidade do serviço público).
Nesse sentido, buscar-se-á a adoção de uma postura mais empresarial, empreendedora, aberta a novas ideias e voltada para o incre-
mento na geração de receitas e maior controle dos gastos públicos. Esse modelo é mais bem entendido considerando o cenário em que foi
concebido: no plano econômico, dada a crise do petróleo na década de 1970, esgotaram-se as condições que viabilizavam a manutenção
do Welfare State (Estado de bem-estar social), no qual prevalecia o entendimento de que cabia ao Estado proporcionar uma gama enorme
de serviços à população, respondendo esse por saúde, educação, habitação etc.
A partir daí, começou a ser difundida a ideia de devolução ao setor privado daqueles serviços que o Poder Público não tem condições
de prestar com eficiência (privatizações), devendo o Estado desenvolver aquilo que lhe cabe, intrinsecamente, fazer (diplomacia, seguran-
ça, fiscalização etc.). O Estado mínimo volta a ganhar força, ou seja, o que propôs, na verdade, foi a quebra de um paradigma, a redefinição
do que caberia efetivamente ao Estado fazer e o que deveria ser delegado ao setor privado.
Como referência, é possível citar a obra Reinventando o governo, de Osborne e Gaebler, na qual são destacados princípios a serem
observados na construção desse modelo, a saber:
▪ Formação de parcerias;
▪ Foco em resultados;
▪ Visão estratégica;
▪ Estado catalisador, em vez de remador;
▪ Visão compartilhada;
▪ Busca da excelência.

Assim, o modelo gerencial (puro, inicial) buscou responder com maior agilidade de eficiência aos anseios da sociedade, insatisfeita
com os serviços recebidos do setor público. Tal modelo, contudo, representou o início do Managerialism, que, atualmente, congrega duas
correntes também: o Consumerism e o Public Service Orientation (PSO).
Se tivermos em mente um continuum, é possível inferir que a administração gerencial evoluiu do Managerialism para o PSO, sem,
contudo, ser possível afirmar que o PSO representa a versão final da administração gerencial.
As principais diferenças podem ser percebidas no quadro abaixo:

Diferenças entre modelos gerenciais

CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022

A primeira preocupação do modelo gerencial, conforme visto no quadro, foi o incremento da eficiência, tendo em vista as disfunções
do modelo burocrático. Nessa fase, o usuário do serviço público é visto tão somente como o financiador do sistema.
De acordo com extratos do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, o Estado e a sociedade formam, em uma democracia,
um todo indivisível: o Estado, cuja competência e limites de atuação estão definidos precipuamente na Constituição. Deriva seu poder de
legislar e de tributar a população, da legitimidade que lhe outorga a cidadania, via processo eleitoral.
A sociedade, por seu turno, manifesta seus anseios e demandas por canais formais ou informais de contato com as autoridades
constituídas. É pelo diálogo democrático entre o Estado e a sociedade que se definem as prioridades a que o Governo deve ater-se para a
construção de um país mais próspero e justo.
Nos últimos anos, assistiu-se em todo o mundo a um debate acalorado, ainda longe de concluído, sobre o papel que o Estado deve
desempenhar na vida contemporânea e o grau de intervenção que deve ter na economia. No Brasil, o tema adquire relevância particular,
tendo em vista que o Estado, em razão do modelo de desenvolvimento adotado, desviou-se de suas funções precípuas para atuar com
grande ênfase na esfera produtiva.
Essa maciça interferência do Estado no mercado acarretou distorções crescentes neste último, que passou a conviver com artificialis-
mos que se tornaram insustentáveis na década de 1990. Sem dúvida, em um sistema capitalista, Estado e mercado, direta ou indiretamen-
te, são as duas instituições centrais que operam na coordenação dos sistemas econômicos.

175
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Dessa forma, se uma delas apresenta funcionamento irregular, ▪ A inovação dos instrumentos de política social, proporcio-
é inevitável que haja uma crise. Foi assim nos anos 1920 e 1930, em nando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os
que claramente foi o mau funcionamento do mercado que trouxe serviços sociais;
em seu bojo uma crise econômica de grandes proporções. Já nos ▪ A reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua
anos 1980, foi a crise do Estado que pôs em xeque o modelo eco- “governança”, ou seja, sua capacidade de implementar de forma
nômico em vigência. eficiente políticas públicas.
A Primeira Grande Guerra Mundial e a Grande Depressão fo-
ram o marco da crise do mercado e do Estado liberal. Surge em Cabe aos ministérios da área econômica, particularmente aos
seu lugar um novo formato de Estado, que assume papel decisivo da Fazenda e do Planejamento, proporem alternativas com vistas à
na promoção do desenvolvimento econômico e social. A partir des- solução da crise fiscal. Aos ministérios setoriais compete rever as
se momento, o Estado passa a desempenhar um papel estratégico políticas públicas, em consonância com os novos princípios do de-
na coordenação da economia capitalista, promovendo poupança senvolvimento econômico e social.
forçada, alavancando o desenvolvimento econômico, corrigindo A atribuição do Ministério da Administração Federal e Reforma
as distorções do mercado e garantindo distribuição de renda mais do Estado é estabelecer as condições para que o governo possa au-
igualitária. mentar sua governança. Para isso, sua missão específica é orientar
Não obstante, nos últimos anos, esse modelo mostrou-se su- e instrumentalizar a reforma do aparelho do estado, nos termos de-
perado, vítima de distorções decorrentes da tendência observada finidos pela Presidência por meio desse Plano Diretor.
em grupos de empresários e de funcionários, que buscam utilizar o
Estado em seu próprio benefício, e vítima também da aceleração do Referências Bibliográficas:
desenvolvimento tecnológico e da globalização da economia mun- Chiavenato, Idalberto. Administração geral e pública: provas e
dial, que tornaram a competição entre as nações muito mais aguda. concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método,
A crise do Estado define-se então como: 2022.
1.Uma crise fiscal, caracterizada pela crescente perda do cré-
dito por parte do Estado e pela poupança pública que se torna ne- A Formação do Estado Brasileiro
gativa; O Estado do Brasil nasceu em 1815, quando a colônia, que na
2.O esgotamento da estratégia estatizante de intervenção do realidade já vinha funcionando desde 1808 como sede do reino
Estado, a qual se reveste de várias formas: o Estado do bem-estar português, foi equiparada juridicamente à metrópole, passando à
social nos países desenvolvidos, a estratégia de substituição de im- categoria de Reino, unido aos de Portugal e Algarves. É interessan-
portações no Terceiro Mundo e o estatismo nos países comunistas; te assinalar que a ideia de livrar o Brasil da condição de colônia,
3.A superação da forma de administrar o Estado, isto é, a supe- sem separá-lo de Portugal, partiu de u m francês, o Príncipe de Tal-
ração da administração pública burocrática. leyrand, tendo sido sugerida por ele aos representantes de Portugal
no Congresso de Viena, realizado para estabelecer o novo equilíbrio
No Brasil, embora esteja presente desde os anos 1970, a crise mundial, após a derrota final de Napoleão2.
do Estado somente se tornou clara a partir da segunda metade dos Transmitida a sugestão ao governo português, deu origem à
anos 1980. Suas manifestações mais evidentes são a própria crise carta de lei de 16 de dezembro de 1815, pela qual o Príncipe Regen-
fiscal e o esgotamento da estratégia de substituição de importa- te D. João elevou “o Estado do Brasil à categoria e graduação de rei-
ções, que se inserem em um contexto mais amplo de superação no”. Entretanto, para que se compreenda a formação e a evolução
das formas de intervenção econômica e social do Estado. Adicional- do Estado brasileiro é indispensável ter em conta as experiências
mente, o aparelho do Estado concentra e centraliza funções, e se de colonização e governo, anteriormente efetuadas. É necessário,
caracteriza pela rigidez dos procedimentos e pelo excesso de nor- também, considerar que o ato de 1815 foi apenas um momento,
mas e regulamentos. embora importantíssimo, de u m longo processo, que deveria ainda
A reação imediata à crise, ainda nos anos 1980, logo após a superar várias etapas até que o Brasil se definisse completamente e
transição democrática, foi ignorá-la. Uma segunda resposta igual- se consolidasse como um verdadeiro Estado.
mente inadequada foi a neoliberal, caracterizada pela ideologia do A rigor, pode-se dizer que desde o descobrimento, em 1500,
Estado mínimo. Ambas revelaram-se irrealistas: a primeira porque até o ano de 1548 o Brasil foi tratado como simples reserva patrimo-
subestimou tal desequilíbrio, e a segunda porque é utópica. nial, da qual não se esperava tirar grande proveito. Por essa razão o
Só em meados dos anos 1990 surgiu uma resposta consistente governo português entregou a particulares a tarefa de promover a
com o desafio de superação da crise: a ideia da reforma ou recons- ocupação e a exploração do território, sendo oportuno lembrar que
trução do Estado, de forma que resgatasse sua autonomia finan- vários desses particulares nem sequer procuraram tomar posse das
ceira e sua capacidade de implementar políticas públicas. Nesse terras brasileiras que haviam recebido em doação.
sentido, são inadiáveis: Só bem mais tarde, depois de conhecida a possibilidade de ex-
trair riquezas do solo e do subsolo brasileiros é que voltaram a ser
▪ O ajustamento fiscal duradouro; feitas novas doações. Mas, já então, Portugal tinha grandes espe-
▪ As reformas econômicas orientadas para o mercado, que, ranças num possível proveito e as doações foram feitas a donatá-
acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, garantam a rios bastante interessados e que se dispunham a contribuir para a
concorrência interna e criem as condições para o enfrentamento da fazenda pública, passando esta, a exercer controle sobre as ativida-
competição internacional; des econômicas desenvolvidas no Brasil. Isso, aliás, é que explica
▪ A reforma da previdência social; porque tendo havido fracasso quase total do sistema de capitanias
hereditárias voltaram a ocorrer doações posteriormente.
2 DALLARI, Dalmo de Abreu. Constituição e Evolução do Estado Brasileiro.

176
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O fato é que até as primeiras décadas do século XVII a estrutura Nascimento do Estado Brasileiro
jurídico-administrativa do Brasil sofreu inúmeras modificações, que A mudança da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, em
podem ser interpretadas como demonstrações de interesse do go- busca da segurança que Portugal não lhe podia oferecer nem mes-
verno português, mas que revelam, ao mesmo tempo, as dificulda- mo com o apoio da Inglaterra, impotente para conter as ofensivas
des encontradas para tratar o Brasil como uma unidade. Em 1548 D. napoleônicas, acelerou intensamente o processo de instituição do
João III instituiu o Governo Geral do Brasil, o que, entretanto, esteve Estado brasileiro. A simples presença da corte no Rio de Janeiro já
bem longe de significar a efetiva presença do Governador Geral e era um fator de prestígio, além de permitir que a autoridade central
de seus auxiliares imediatos em todos os lugares do território brasi- participasse efetivamente da solução dos problemas brasileiros.
leiro que exigissem a tomada de decisões importantes. Por outro lado, não havendo a perspectiva de um retorno ime-
A grande extensão do território e as dificuldades de comuni- diato a Portugal, tornou-se necessário aparelhar a Colônia para que
cações não permitiam que isso acontecesse. À vista desse fato foi daqui pudessem ser dirigidos todos os negócios do Reino. Cria-se,
modificada a orientação, estabelecendo-se, no ano de 1572, duas então, um a situação paradoxal: a sede do Reino achava-se instala-
sedes administrativas, um a na Bahia e outra no Rio de Janeiro. da em território colonial e daqui partiam as ordens para o povo que
Isso também não deu bons resultados e já no ano de 1577 vivia no território metropolitano.
ocorria a reunificação da administração brasileira. Mais tarde, em Embora formalmente Portugal fosse a metrópole e o Brasil uma
1607, haveria novo desdobramento, com a criação da “jurisdição colônia sua, na prática tudo se passava como se fosse o contrário.
do sul”, o que duraria até 1616, quando se dá, de novo, a unificação. Pouco a pouco os brasileiros foram aumentando sua influência so-
Outra modificação, todavia, iria ser introduzida em 1621, quan- bre o Príncipe Regente e depois Rei, D. João, tendo inúmeros líderes
do se estabelece um Governo Geral para todo o Brasil, exceto para brasileiros percebido que a situação era propícia para que o Brasil
o então chamado Estado do Maranhão, que manteria relativa auto- avançasse no sentido de se livrar do estatuto colonial.
nomia até a instituição do vice-reinado do Brasil. Na verdade, entretanto, só a presença da corte no Brasil e a
É importante acentuar que essas constantes modificações influência dos brasileiros não teriam sido suficientes para que se
já refletiam, em grande parte, a existência de uma diferenciação atingisse aquele objetivo, pelo menos num prazo muito curto. Mas,
natural, que iria favorecer o desenvolvimento de acentuada dife- para felicidade dos brasileiros, houve um a conjunção de fatores,
renciação cultural, exigindo soluções diferentes de lugar para lugar. que determinou a precipitação dos acontecimentos.
Foi precisamente tal situação que levou os líderes federalistas, no Com efeito, apagada no desastre de Waterloo a estrela fulgu-
século XIX, a afirmar que a própria natureza já se havia encarregado rante de Napoleão, reuniu-se o Congresso de Viena, em 1815, para
de criar no Brasil todas as condições que impunham a implantação que as grandes potências definissem o novo equilíbrio político do
de u m Estado Federal. mundo ocidental. Nessa conjuntura, Portugal, militarmente fraco,
Em linhas muito gerais, verifica-se que durante o século XVIII tinha a seu favor a multiplicidade de territórios, convindo-lhe mos-
o Brasil teve dois “polos de desenvolvimento”, quase que indepen- trar que o Brasil era muito mais do que uma colônia selvagem e sem
dentes entre si e, além disso, pouco dependentes de Portugal, de recursos.
onde praticamente nada recebiam. A França, por sua vez, precisava reintegrar-se num sistema co-
Nas regiões Norte e Nordeste desenvolveram-se vários núcleos mercial poderoso e para atingir seu objetivo convinha-lhe apoiar as
econômicos, que serviriam de base a lideranças políticas, tendo a aspirações portuguesas, não sendo desprezível a hipótese de que
posse da terra como fundamento da autoridade, o que ainda persis- vislumbrasse a possibilidade de negociações diretas com o Brasil,
te até os dias de hoje. Na região Centro-Sul a grande quantidade de cujas potencialidades já conhecia. Isso tudo, somado à atitude dos
ouro e diamantes atraiu muito mais as atenções de Portugal, além representantes portugueses, que por simpatia ou conveniência
de propiciar o desenvolvimento de núcleos culturais completamen- também desejavam a valorização do Brasil, levou à emancipação
te diversos, atraindo aventureiros, criando condições para uma vida jurídica almejada por muitos brasileiros e que seria um passo im-
social intensa e favorecendo a formação de centros urbanos muito portante no sentido da emancipação política.
ricos, que rivalizavam entre si na ostentação da riqueza. Assim foi que, por ato de 16 de dezembro de 1815, o Brasil dei-
Embora nesta região tenha sido muito mais intensa a presen- xou, de modo formal e solene, de ser colônia portuguesa, passando
ça de autoridades portuguesas, sobretudo através dos Vice-Reis e à categoria de Reino, unido aos de Portugal e do Algarve. Nessa data
do aparato fazendário, tal presença não impediu que também aí se nasceu o Estado brasileiro. embora continuasse governado por um
afirmassem lideranças políticas locais, um a vez que às autoridades rei português. E Portugal passava a figurar entre as grandes potên-
portuguesas só interessava arrecadar o máximo possível e impe- cias, em grande parte pela União de Reinos, não obstante estivesse
dir manifestações de insubordinação conjunto de circunstâncias criando as condições que tornariam inevitável, em breve tempo, a
favoreceu, e de certo modo até exigiu, o desenvolvimento de uma separação política do Brasil.
ampla autonomia municipal, em torno de lideranças regionais, pois
inexistia uma autoridade central forte e constantemente presente, Linhas Gerais da Evolução do Estado Brasileiro
que participasse da solução dos problemas mais ou menos impor- Embora do ponto de vista das relações internacionais a nova
tantes que diariamente se apresentavam. situação do Brasil conviesse a Portugal, para os portugueses que lá
Esses, em linhas gerais, foram os componentes básicos que se viviam o fato foi visto como negativo. De um lado, a circunstância de
definiram na primeira fase da formação da ordem política e social serem governados à distância já suscitava descontentamentos, pois
brasileira. era inevitável a redução da eficiência da administração.
De outro lado, havia um certo sentimento de humilhação, pois
não lhes parecia razoável que do Brasil, que ainda pretendiam ver
como colônia, viessem as decisões que deveriam cumprir. Daí sua

177
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

crescente hostilidade em relação aos brasileiros, que, a seu ver, bia sua vida constitucional. Com efeito, a dissolução da Assembleia
estavam impedindo a volta do Rei exatamente para garantirem a Geral Constituinte e a outorga pelo Imperador dão ao documento a
hegemonia brasileira. característica de Carta Outorgada, no sentido de norma fundamen-
A par disso, Portugal também recebia as ideias liberais, oriun- tal imposta pela vontade do detentor do poder.
das sobretudo da França, surgindo um poderoso movimento an- Mas, ao mesmo tempo, os pronunciamentos das Câmaras Mu-
tiabsolutista, tendo por principal bandeira a ideia de Constituição nicipais a favor do projeto significam a concordância prévia do povo,
e favorecido pelo descontentamento generalizado em relação ao através de seus representantes, mesmo que se diga que aquelas Câ-
monarca, que resistia aos apelos para que voltasse. maras não tinham poder constituinte. Essa Constituição seria a de
Foram essas as principais circunstâncias que determinaram a vida mais longa de quantas o Brasil já teve, pois ficaria em vigor até
eclosão da Revolução Liberal de 1820, que teve início na cidade do a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, quando
Porto e posteriormente atingiu Lisboa. Em síntese, os liberais portu- foi revogada pelo decreto número 1 do Governo Provisório.
gueses tinham duas aspirações: o juramento de um a Constituição Mas é preciso lembrar que as antigas autonomias políticas re-
pelo monarca e a restauração da hegemonia de Portugal, inclusive gionais e locais não se enquadraram pacificamente na estrutura do
com o declarado objetivo de retorno do Brasil à condição de colô- Estado Unitário consagrada na Constituição de 1824. O Imperador
nia. teve que enfrentar inúmeras manifestações de rebeldia, que o le-
Num curto prazo há um a sucessão de acontecimentos impor- varam à abdicação e à instauração de Regências, para governar o
tantes, que levariam à consolidação do Estado brasileiro. N a imi- Brasil até que o herdeiro da Coroa atingisse a maioridade.
nência de perder a Coroa portuguesa, D. João VI retorna a Portugal, E durante o período regencial, através do Ato Adicional de
deixando no Brasil, como Regente, o Príncipe D. Pedro, mas abso- 1834, foi devolvida um a parte da autonomia às Províncias, sobretu-
lutamente consciente, como está expresso em inúmeras passagens do com a criação das Assembleias Provinciais, embora estas deves-
de sua correspondência desse período, que estava perdendo a Co- sem conviver com um Governador de livre escolha do governo cen-
roa do Brasil tral. Mas as aspirações autonomistas continuaram vivas e a partir
Constantemente assediado pelos brasileiros e irritado com o de 1870, quando se desencadeia o Movimento Republicano, fala-se
procedimento dos portugueses, que da hostilidade ao Brasil e aos constantemente em federalismo e autonomia municipal.
brasileiros passaram à hostilidade ao Príncipe Regente, D. Pedro Estas duas aspirações vão ter acolhida na primeira Constitui-
chegou ao 7 de setembro de 1822, cortando as amarras jurídicas ção republicana, de 1891, iniciando-se então o Brasil como Estado
e políticas que ligavam o Brasil a Portugal, desfazendo-se a União Federal, o que para muitos significou apenas a restauração da situ-
de Reinos e confirmando-se o Brasil como Estado soberano e inde- ação anterior à vinda da Família Real para o Brasil.
pendente. Depois disso vem a experiência republicana e federativa, cheia
Viria em seguida, de modo conturbado, o ingresso do Brasil na de percalços e, sobretudo, reveladora da inadequação entre as
vida constitucional. Ainda como Príncipe Regente, em 16 de feve- exigências da realidade social e a organização formal declarada na
reiro de 1822, D. Pedro havia convocado um Conselho de Procura- Constituição. Em grande parte, essa inadequação deveu-se ao fato
dores, para cuidar da elaboração de uma Constituição para o Brasil. de que o federalismo foi visto e buscado, quase que exclusivamen-
Depois de proclamada a Independência e tendo sido convoca- te, como forma de promover a descentralização política, para que
da uma Assembleia Geral Constituinte, foi revogada a anterior con- se fortalecessem as lideranças estaduais, à custa do esvaziamento
vocação do Conselho de Procuradores. Entretanto, pelo rumo que das competências do governo central.
tomaram os acontecimentos, sentindo-se ofendido e diminuído em Não foi devidamente considerada a circunstância de que a atri-
sua autoridade, concebida ainda à luz do absolutismo, D. Pedro I, buição de maiores competências aos governos estaduais represen-
já então Imperador, dissolveu a Assembleia Constituinte em 12 de tava também a atribuição de mais encargos, o que, por sua vez,
novembro de 1823, sobretudo por não admitir o projeto de Consti- exigia maiores rendas. A falta de atenção para essa importante cor-
tuição que ali tramitava e que era de cunho marcadamente liberal. relação fez que, desde o início da vida republicana, os Estados se
E já no dia seguinte, em 13 de novembro, o Imperador criou revelassem incapazes de cumprir seus encargos.
um Conselho de Estado, com a atribuição de elaborar um projeto Essa deficiência, aliada a outros fatores, como a supervalori-
de Constituição que ele pudesse considerar conveniente. Depois de zação das chefias políticas de alguns Estados, determinou que, em
pronto o projeto, não havendo uma Assembleia Constituinte, mas 1926, através de uma grande emenda constitucional, se tentasse
desejando o Imperador que fosse ouvido o povo, para comprovar disciplinar o exercício das autonomias estaduais. Mas a tentativa
sua vocação liberal nem sempre confirmada, o referido projeto foi foi tardia e tímida, encerrando-se pouco depois, com a deposição
submetido à apreciação das Câmaras Municipais. do Presidente Washington Luiz e a revogação da Constituição em
Estas, ou por estarem realmente de acordo com seu conteúdo, 1930, a primeira fase da vida republicana brasileira, deixando uma
ou por desejarem que o Brasil tivesse logo uma Constituição, ou, imagem desfavorável do federalismo.
quem sabe, por temerem as iras do Imperador, manifestaram-se Em 1934, com nova Constituição, desta vez, como em 1891,
inteiramente favoráveis ao projeto, pedindo que ele fosse conver- elaborada e aprovada por uma Assembleia Constituinte, proce-
tido em Constituição sem mais tardança. Entre as mais veementes deu-se à restauração federativa, tentando-se corrigir as falhas an-
manifestações de aprovação estão a da Câmara da Bahia e a da Câ- teriormente reveladas, mas incorrendo em outras inadequações,
mara de Itu, na Província de São Paulo, cidade esta que, anos mais sobretudo por não terem sido devidamente integradas na organi-
tarde, exerceria papel de grande relevo na luta pela proclamação da zação político-constitucional as novas forças sociais, resultantes do
República no Brasil. ingresso do Brasil na era industrial.
Estando, por esse modo, assegurado da vontade dos brasilei- A par disso, foram totalmente preservadas as estruturas obso-
ros, D. Pedro I outorgou ao Brasil sua primeira Constituição, em 25 letas e retrógradas do Norte e do Nordeste, ampliando-se o des-
de março de 1824. Como se verifica, o Brasil iniciou de maneira dú- nível entre as diferentes regiões brasileiras. Isso tudo levou à im-

178
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

plantação da contraditória “ditadura constitucional” de 1937, com de Emenda Constitucional n° 1, com evidente inadequação, pois
o ditador Getúlio Vargas outorgando uma Carta Constitucional, pro- uma Constituição só pode ser emendada por forma nela mesma
metendo que ela seria submetida ao “referendum” popular, o que prevista e na outorga da Carta de 1969 não se levou em conta o pro-
jamais ocorreu. cesso de emenda previsto na Constituição de 1967, o que demons-
Curiosamente, embora o ditador tivesse poderes absolutos tra que esta foi simplesmente posta de lado, não que demonstra
aplicava-se a Constituição para alguns efeitos, tendo havido até que esta foi simplesmente posta de lado, não obstante o novo texto
mesmo algumas reformas constitucionais, também outorgadas por repetir muitos de seus dispositivos.
decreto do ditador. Outro aspecto curioso era que a Carta Outorga- E também no documento de 1969 persiste a afirmação de que
da de 1937, embora produto de uma centralização absoluta do po- o Brasil é u m Estado Federal, embora sob muitos aspectos funda-
der, a de 1937, embora produto de uma centralização absoluta do mentais não funcione como federação, havendo no próprio texto
poder, afirmava que o Brasil continuava sendo um Estado Federal. constitucional inúmeros dispositivos claramente incompatíveis com
Em 1945 dá-se a queda de Getúlio Vargas e no ano seguinte um a organização federativa. Apesar disso, porém, formalmente o
uma Assembleia Nacional Constituinte aprova nova Constituição, Brasil é um a República Federativa, estando expressamente proibi-
reafirmando a organização federativa do Estado Brasileiro. Na prá- da até mesmo a discussão de emendas constitucionais tendentes à
tica, o Brasil voltou a funcionar como um Estado Federal, embo- abolição da Federação ou da República.
ra com um governo federal dotado de maiores competências e de Como se verifica, o descompasso entre as afirmações formais
muito mais recursos financeiros do que os governos estaduais. da Constituição e o que ocorre na prática ainda é um a das carac-
E mais uma vez ocorreram inúmeras inadequações, pois as re- terísticas do sistema jurídico-social brasileiro. Tal desencontro, que
giões Norte e Nordeste, menos desenvolvidas economicamente e, vem desde a primeira Constituição, de 1824, e não foi eliminado
em consequência, apresentando desníveis sociais muito acentua- pelas várias Constituições posteriores, é, sem dúvida, um dos fato-
dos, continuaram intocadas. Por outro lado, não obstante afirmar res responsáveis pela instabilidade política, que tem sido uma cons-
enfaticamente a prevalência da livre iniciativa, a própria Constitui- tante na vida brasileira.
ção criou vários instrumentos para intervenção do Estado na ordem Isso autoriza a crença em que haverá maior possibilidade de
econômica, visando, sobretudo, promover a redistribuição dos re- um a ordem política e social estável quando houver uma Constitui-
cursos financeiros, por meio do planejamento da economia e da ção autêntica, que leve em conta as características globais da rea-
concessão de incentivos aos investimentos que fossem feitos nas lidade social, fixando meios adequados para a redução substancial
regiões menos desenvolvidas. dos desníveis sociais e regionais.
Mas os desníveis sociais e regionais continuaram fomentando
descontentamentos e estimulando movimentos favoráveis a pro-
fundas reformas estruturais. Isso levou ao acirramento das lutas CARACTERÍSTICAS DO ESTADO CONTEMPORÂNEO –
políticas, culminando com a renúncia do Presidente Jânio Quadros, CONTEXTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS;
em 1961, após alguns meses de governo, por coerente. Em seguida,
num ambiente de conturbação crescente, o Vice-Presidente João No pensar de Chiavenato, a reforma do aparelho do Estado
Goulart é obrigado a aceitar a substituição do Presidencialismo pelo tornou-se imperativa nos anos 1990 por uma segunda razão. Não
Parlamentarismo para que lhe fosse dada posse na Presidência da apenas ela se constituiu em uma resposta à crise generalizada do
República. Estado, mas também está sendo caracterizada como uma forma de
Em pouco tempo, entretanto, consegue nova emenda consti- defender o Estado como res publica e coisa pública, um patrimônio
tucional, consequente de um plebiscito que deveria ser realizado que, sendo público, é de todos e para todos3.
no término de seu mandato, mas que se realizou mais de dois anos A defesa da coisa pública vem sendo realizada nas democracias
antes do tempo previsto, restaurando o Presidencialismo, o que, modernas em dois níveis distintos: o nível político e o administrati-
afinal, precipitaria sua derrubada por um movimento militar inicia- vo. No nível político, tem-se as instituições fundamentais da demo-
do em 31 de março e já consumado em 1° de abril de 1964. Pouco cracia, por meio das quais se defendem não apenas os direitos indi-
depois, em 9 de abril de 1964, foi revogada a Constituição de 1046, viduais e sociais dos cidadãos, mas também os “direitos públicos” à
por forma indireta. participação igualitária na coisa pública.
Com efeito, implantado um governo militar, este publicou um As eleições livres e a liberdade de pensamento e de imprensa
conjunto de ordens a que denominou Ato Institucional, dizendo, são formas de defender o cidadão e a coisa pública. A explicitação
entre outras coisas, que continuava em vigor a Constituição, mas dos direitos públicos ao patrimônio que é de todos é um passo que,
reservando-se, ao mesmo tempo, ampla margem de ação arbitrá- hoje, está sendo dado em todo o mundo.
ria. Desde então não ocorreu qualquer modificação substancial. A denúncia da “privatização” do Estado pela esquerda corres-
Em 1967 foi aprovada uma nova Constituição, pelo Congres- ponde à denúncia da direita de que o Estado e a sociedade são ví-
so Nacional. O projeto fora elaborado pelo governo militar e o timas da prática generalizada do rent seeking, ou seja, da busca de
Congresso, chamado a atuar como Assembleia Constituinte, qua- rendas ou vantagens extramercados para grupos determinados por
se nada influiu, conseguindo apenas que fossem aceitas algumas meio do controle do Estado. Ainda no plano democrático, a prática
emendas propostas por seus membros. Mais uma vez se afirmava cada vez mais frequente da participação e do controle direto da ad-
que o Brasil continuava sendo um Estado Federal, embora com um ministração pública pelos cidadãos, principalmente no nível local, é
governo fortemente centralizado e dotado de poderes absolutos. uma nova forma de defender a coisa pública.
Finalmente, em 1969, por motivos a que os políticos e o povo
estiveram alheios, surgiu nova Carta Outorgada, assinada por três
chefes militares que assumiram o governo em substituição ao Ma- 3 CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos /
rechal Costa e Silva. Essa nova Carta recebeu a denominação oficial Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022.

179
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

No plano administrativo, a administração pública burocrática A reforma do aparelho do Estado passa a ser orientada predo-
surgiu no século XIX, conjuntamente com o Estado liberal, exata- minantemente por valores como a eficiência e qualidade na pres-
mente como uma forma de defender a coisa pública contra o patri- tação de serviços e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial
monialismo. À medida, porém, que o Estado assumia a responsabi- nas organizações.
lidade pela defesa dos direitos sociais e crescia em dimensão, foi-se A administração pública gerencial constitui um avanço e, até
percebendo que os custos dessa defesa podiam ser mais altos que certo ponto, um rompimento com a administração pública buro-
os benefícios do controle. crática. Isso não significa, entretanto, negação de todos os seus
Por isso, no século XX, as práticas burocráticas foram substituí- princípios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está
das por um novo tipo de administração: a administração gerencial. apoiada na anterior, da qual conserva, embora de forma flexível, al-
guns dos seus princípios fundamentais, como a admissão, segundo
Administração Pública Patrimonialista rígidos critérios de mérito, da existência de um sistema estruturado
No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante de
extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, desempenho e o treinamento sistemático.
possuem status de nobreza real. Os cargos são considerados pre- A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa
bendas. de buscar nos processos para concentrar-se nos resultados, e não
A res publica não é diferenciada das res principis. Em conse- na rigorosa profissionalização da administração pública, que conti-
quência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de nua sendo um princípio fundamental.
administração. Na administração pública gerencial, a estratégia volta-se para:
No momento em que o capitalismo e a democracia se tornam ▪ A definição precisa dos objetivos que o administrador público
dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do deverá atingir em sua unidade;
Estado. Nesse novo momento histórico, a administração patrimo- ▪ A garantia de autonomia do administrador na gestão dos re-
nialista torna-se uma excrescência inaceitável. cursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à
disposição para atingir os objetivos contratados;
Administração Pública Burocrática ▪ O controle ou cobrança a posteriori dos resultados.
A administração pública democrática surgiu na segunda me-
tade do século XIX, na época do Estado liberal, como forma de Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no in-
combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. Constituem terior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer
princípios orientadores do seu desenvolvimento: a profissionaliza- concorrência entre unidades internas.
ção, a ideia de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade e o No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a
formalismo, em síntese, o poder racional-legal. redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma,
Os controles administrativos que visam evitar a corrupção e o afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior
nepotismo são sempre a priori. Parte-se de uma desconfiança pré- participação dos agentes privados e/ou das organizações da socie-
via nos administradores públicos e nos cidadãos que a eles dirigem dade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os
demandas, por isso são sempre necessários controles rígidos dos resultados (fins).
processos, por exemplo, na admissão de pessoal, nas compras e no A administração pública gerencial inspira-se na administração
atendimento a demandas. de empresas, mas não pode ser confundida com esta última. En-
Por outro lado, o controle, como garantia do poder do Estado, quanto a receita das empresas depende dos pagamentos que os
transforma-se na própria razão de ser do funcionário. Em consequ- clientes fazem livremente na compra de seus produtos e serviços,
ência, o Estado volta-se para si mesmo, perdendo a noção de sua a receita do Estado deriva de impostos, ou seja, de contribuições
missão básica, que é servir a sociedade. obrigatórias, sem contrapartida direta.
A qualidade fundamental da administração pública burocrática Enquanto o mercado controla a administração das empresas, a
é a efetividade no controle dos abusos. Seus defeitos são a inefici- sociedade, por meio de políticos eleitos, controla a administração
ência, a autorreferência e a incapacidade de voltar-se para o serviço pública. Enquanto a administração de empresas está voltada para o
aos cidadãos vistos como clientes. lucro privado e a maximização dos interesses dos acionistas, espe-
Esses defeitos, entretanto, não se revelaram determinantes na rando-se que, por meio do mercado, o interesse coletivo seja aten-
época do surgimento da administração pública burocrática, pois os dido, a administração pública gerencial está explícita e diretamente
serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se a voltada para o interesse público.
manter a ordem, administrar a justiça e garantir os contratos e a A administração pública gerencial vê o cidadão como o contri-
propriedade. buinte de impostos e como cliente dos seus serviços. Os resultados
da ação do Estado são considerados bons não porque os proces-
Administração Pública Gerencial sos administrativos estão sob controle e são seguros, como quer a
Emergiu na segunda metade do século XX, como resposta, de administração pública burocrática, mas porque as necessidades do
um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Esta- cidadão-cliente estão sendo atendidas.
do e, de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização
da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os Paradigma Pós-Burocrático
problemas associados à adoção do modelo anterior. A eficiência da O paradigma gerencial contemporâneo, fundamentado nos
administração pública, ou seja, a necessidade de reduzir custos e princípios da confiança e da descentralização da decisão, exige
aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como benefici- formas flexíveis de gestão, horizontalização de estruturas, descen-
ário, torna-se, então, essencial. tralização de funções e incentivos à criatividade. Contrapõe-se à
ideologia do formalismo e do rigor técnico da burocracia tradicio-

180
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

nal. À avaliação sistemática, à recompensa pelo desempenho e à No início dos anos 1980, registrou-se uma nova tentativa de
capacitação permanente, que já eram características da boa admi- reformar a burocracia e orientá-la na direção da administração pú-
nistração burocrática, acrescentam-se os princípios da orientação blica gerencial, com a criação do Ministério da Desburocratização e
para o cidadão-cliente, do controle por resultados e da competição do Programa Nacional de Desburocratização (PRND), cujos objeti-
administrada. vos eram a revitalização e agilização das organizações do Estado, a
No presente momento, uma visão realista, da reconstrução descentralização da autoridade, a melhoria e simplificação dos pro-
do aparelho do Estado em bases gerenciais, deve levar em conta cessos administrativos e a promoção da eficiência.
a necessidade de equacionar as assimetrias decorrentes da persis- As ações do PRND voltaram-se inicialmente para o combate à
tência de aspectos patrimonialistas na administração contemporâ- burocratização dos procedimentos. Posteriormente, foram dirigidas
nea, bem como dos excessos formais e anacronismos do modelo para o desenvolvimento do Programa Nacional de Desestatização,
burocrático tradicional. Para isso, é fundamental ter clara a dinâmi- em um esforço para conter os excessos da expansão da administra-
ca da administração racional-legal ou burocrática. Não se trata sim- ção descentralizada, estimulada pelo Decreto-lei nº 200/1967.
plesmente de descartá-la, mas sim de considerar os aspectos em
que está superada e as características que ainda se mantêm válidas Retrocesso de 1988
como formas de garantir à administração pública. As ações rumo a uma administração pública gerencial foram,
O modelo gerencial tornou-se realidade no mundo desenvol- entretanto, paralisadas na transição democrática de 1985, que, em-
vido quando, por meio da definição clara de objetivos para cada bora representasse uma grande vitória democrática, teve como um
unidade da administração, da descentralização, da mudança de de seus custos mais surpreendentes o loteamento dos cargos públi-
estruturas organizacionais e da adoção de valores e de comporta- cos da administração indireta e das delegacias dos ministérios nos
mentos modernos no interior do Estado, revelou-se mais capaz de Estados para os políticos dos partidos vitoriosos. Um novo populis-
promover o aumento da qualidade e eficiência dos serviços sociais mo patrimonialista surgia no país. De outra parte, a alta burocracia
oferecidos pelo setor público. passava a ser acusada, principalmente pelas forças conservadoras,
de ser a culpada pela crise do Estado, na medida em que favorecera
Reforma do DASP seu crescimento excessivo.
No Brasil, o modelo de administração burocrática emergiu em A conjunção desses dois fatores leva, na Constituição de 1988,
1930. Surgiu no quadro da aceleração da industrialização brasileira, a um retrocesso burocrático sem precedentes. Sem que houvesse
em que o Estado assumiu papel decisivo, intervindo pesadamente maior debate público, o Congresso Constituinte promoveu surpre-
no setor produtivo de bens e serviços. A partir da reforma empreen- endente engessamento do aparelho estatal ao estender para os
dida no governo Vargas por Maurício Nabuco e Luiz Simões Lopes, serviços do Estado e para as próprias empresas estatais pratica-
a administração pública sofreu um processo de racionalização que mente as mesmas regras burocráticas rígidas adotadas no núcleo
se traduziu no surgimento das primeiras carreiras burocráticas e na estratégico do Estado.
tentativa de adoção do concurso como forma de acesso ao serviço A nova Constituição determinou a perda da autonomia do Po-
público. A implantação da administração pública burocrática é uma der Executivo para tratar da estruturação dos órgãos públicos, ins-
consequência clara da emergência de um capitalismo moderno no tituiu a obrigatoriedade de regime jurídico único para os servidores
país. civis da União, dos estados-membros e dos municípios e retirou da
Com o objetivo de realizar a modernização administrativa, foi administração indireta a sua flexibilidade operacional, ao atribuir às
criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) fundações e autarquias públicas normas de funcionamento idênti-
em 1936. Nos primórdios, a administração pública sofria a influên- cas às que regem a administração direta.
cia da teoria da administração científica de Taylor, tendendo à ra- Esse retrocesso burocrático foi, em parte, uma reação ao clien-
cionalização mediante a simplificação, a padronização e a aquisição telismo que dominou o país naqueles anos. Foi também consequ-
racional de materiais, revisão de estruturas e aplicação de métodos ência de uma atitude defensiva da alta burocracia, que, sentindo-se
na definição de procedimentos. Registra-se que, nesse período, foi injustamente acusada, decidiu defender-se de forma irracional.
instituída a função orçamentária como atividade formal e perma- Afinal, foram gerados dois resultados: de um lado, o abandono
nentemente vinculada ao planejamento. do caminho rumo a uma administração pública gerencial e a reafir-
mação dos ideais da administração pública burocrática clássica; de
Rumo à administração gerencial outro, dada a ingerência patrimonialista no processo, a instituição
Tendo em vista as inadequações do modelo, a administração de uma série de privilégios que não se coadunam com a própria ad-
burocrática implantada a partir de 1930 sofreu sucessivas tentativas ministração pública burocrática. Como exemplos, tem-se a estabili-
de reforma. Não obstante, as experiências caracterizaram-se, em dade rígida para todos os servidores civis, diretamente relacionada
alguns casos, pela ênfase na extinção e criação de órgãos, e, em com a generalização do regime estatutário na administração direta
outros, pela constituição de estruturas paralelas visando alterar a e nas fundações e autarquias, a aposentadoria com proventos inte-
rigidez burocrática. grais sem correlação com o tempo de serviço ou com a contribuição
Na própria área da reforma administrativa, esta última prática do servidor.
foi adotada, por exemplo, no Governo JK, com a criação de comis- Todos esses fatos contribuíram para o desprestígio da adminis-
sões especiais, como a Comissão de Estudos e Projetos Adminis- tração pública brasileira, não obstante o fato de que os adminis-
trativos, objetivando a realização de estudos para simplificação dos tradores públicos brasileiros são majoritariamente competentes,
processos administrativos e reformas ministeriais, e a Comissão de honestos e dotados de espírito público. Essas qualidades, que eles
Simplificação Burocrática, que visava à elaboração de projetos dire- demonstraram desde os anos 1930, quando a administração pú-
cionados para reformas globais e descentralização de serviços.

181
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

blica profissional foi implantada no Brasil, foram um fator decisivo → Núcleo estratégico
para o papel estratégico do Estado no desenvolvimento econômico Corresponde ao governo, em sentido lato. É o setor que define
brasileiro. as leis e as políticas públicas e cobra o seu cumprimento. É, portan-
A implantação da indústria de base nos anos 1940 e 1950, o to, o setor em que as decisões estratégicas são tomadas.
ajuste nos anos 1960, o desenvolvimento da infraestrutura e a ins- Corresponde aos Poderes Legislativo e Judiciário, ao Ministério
talação da indústria de bens de capital nos anos 1970, de novo o Público e, no Poder Executivo, ao presidente da República, aos mi-
ajuste e a reforma financeira nos anos 1980 e a liberalização comer- nistros e aos seus auxiliares e assessores diretos, responsáveis pelo
cial nos anos 1990 não teriam sido possíveis não fosse a competên- planejamento e formulação das políticas públicas.
cia e o espírito público da burocracia brasileira.
As distorções provocadas pela nova Constituição logo se fize- → Atividades exclusivas
ram sentir. No governo Collor, entretanto, a resposta a elas foi equi- É o setor em que são prestados serviços que só o Estado pode
vocada e apenas agravou os problemas existentes, na medida em realizar. São serviços em que se exerce o poder extroverso do Esta-
que se preocupava em destruir em vez de construir. do, ou seja, o poder de regulamentar, fiscalizar, fomentar.
O governo Itamar Franco buscou essencialmente recompor os Como exemplos, tem-se: a cobrança e a fiscalização dos impos-
salários dos servidores que haviam sido violentamente reduzidos tos, a polícia, a previdência social básica, o serviço de desemprego,
no governo anterior. O discurso de reforma administrativa assumiu a fiscalização do cumprimento de normas sanitárias, o serviço de
uma nova dimensão a partir de 1994, quando a campanha presiden- trânsito, a compra de serviços de saúde pelo Estado, o controle do
cial introduziu a perspectiva da mudança organizacional e cultural meio ambiente, o subsídio à educação básica, o serviço de emissão
da administração pública com vistas a uma administração gerencial. de passaportes etc.

O aparelho do Estado e as formas de propriedade → Serviços não exclusivos


Para enfrentar os principais problemas que representam obs- Corresponde ao setor em que o Estado atua simultaneamente
táculos à implementação de um aparelho do Estado moderno e efi- com outras organizações públicas não estatais e privadas. As insti-
ciente, torna-se necessário definir um modelo conceitual, que dis- tuições desse setor não possuem o poder de Estado.
tinga os segmentos fundamentais característicos da ação do Estado. Este, entretanto, está presente porque os serviços envolvem di-
A opção pela construção desse modelo tem como principal vanta- reitos humanos fundamentais, como os da educação e da saúde, ou
gem permitir a identificação de estratégias específicas para cada porque possuem “economias externas” relevantes, na medida em
segmento de atuação do Estado, evitando a alternativa simplista de que produzem ganhos que não podem ser apropriados por esses
proposição de soluções genéricas a problemas que são peculiares serviços por meio do mercado.
dependendo do setor. As economias produzidas imediatamente se espalham para o
Entretanto, tem a desvantagem da imperfeição intrínseca dos resto da sociedade, não podendo ser transformadas em lucros. São
modelos, que sempre representam uma simplificação da realida- exemplos desse setor: as universidades, os hospitais, os centros de
de. Essas imperfeições, caracterizadas por eventuais omissões e pesquisa e os museus.
dificuldades de estabelecimento de limites entre as fronteiras de
cada segmento, serão aperfeiçoadas conforme o aprofundamento → Produção de bens e serviços para o mercado
do debate. Corresponde à área de atuação das quatro empresas. É carac-
O Estado é a organização burocrática que possui o poder de terizada pelas atividades econômicas voltadas para o lucro que ain-
legislar e tributar sobre a população de determinado território. O da permanecem no aparelho do Estado, por exemplo, as do setor
Estado é, portanto, a única estrutura organizacional que possui o de infraestrutura. Estão no Estado seja porque faltou capital ao se-
“poder extroverso”: ou seja, o poder de constituir unilateralmente tor privado para realizar o investimento, seja porque são atividades
obrigações para terceiros, com extravasamento dos seus próprios naturalmente monopolistas, nas quais não é possível realizar o con-
limites. trole pelo mercado, tornando-se necessária, no caso de privatiza-
O aparelho do Estado, ou administração pública lato sensu, ção, a regulamentação rígida.
compreende:
▪ Um núcleo estratégico ou governo, constituído pela cúpula Setores do Estado e Tipos de Gestão
dos três Poderes; Cada um dos quatro setores referidos apresenta características
▪ Um corpo de funcionários; peculiares, tanto no que se refere às suas prioridades, quanto aos
▪ Uma força militar e policial. princípios administrativos adotados.
No núcleo estratégico, o fundamental é que as decisões sejam
O aparelho do Estado é regido basicamente pelo direito cons- as melhores, e, em seguida, que sejam efetivamente cumpridas. A
titucional e pelo direito administrativo, enquanto o Estado é fonte efetividade é mais importante que a eficiência. O que importa saber
ou sancionador e garantidor desses e de todos os demais direitos. é, primeiro, se as decisões que estão sendo tomadas pelo governo
Quando se soma ao aparelho do Estado todo o sistema institucio- atendem eficazmente ao interesse nacional, se correspondem aos
nal legal, que regula não apenas o próprio aparelho do Estado, mas objetivos mais gerais aos quais a sociedade brasileira está voltada
também toda a sociedade, tem-se o Estado. ou não.
Segundo, se, uma vez tomadas as decisões, estas são, de fato,
Setores do Estado cumpridas. Já no campo das atividades exclusivas do Estado, dos
No aparelho do Estado, é possível distinguir quatro setores des- serviços não exclusivos e da produção de bens e serviços, o critério
critos a seguir: eficiência torna-se fundamental. O que importa é atender a milhões
de cidadãos com boa qualidade a um custo baixo.

182
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Ainda hoje existem duas formas de administração pública rele- Referências Bibliográficas:
vantes: a administração pública burocrática e a administração públi- Chiavenato, Idalberto. Administração geral e pública: provas e
ca gerencial. A primeira, embora sofra com o excesso de formalismo concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método,
e a ênfase no controle dos processos, tem como vantagens a segu- 2022.
rança e efetividade das decisões.
Já a administração pública gerencial caracteriza-se fundamen-
talmente pela eficiência dos serviços prestados a milhares, senão O CONCEITO DE ESTADO E DE SOCIEDADE CIVIL; A
milhões, de cidadãos. Nesses termos, no núcleo estratégico, em GESTÃO PÚBLICA
que o essencial é a correção das decisões tomadas e o princípio
administrativo fundamental é o da efetividade, entendido como a Estrutura Organizacional do Estado: Três Poderes
capacidade de ver obedecidas e implementadas com segurança as Entende-se por aparelho do Estado a administração pública em
decisões tomadas, é mais adequado que haja um misto de adminis- sentido amplo, ou seja, a estrutura organizacional do Estado, em
tração pública burocrática e gerencial. seus três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e três níveis
No setor das atividades exclusivas e de serviços competitivos (União, estados-membros e municípios) 4.
ou não exclusivos, o importante é a qualidade e o custo dos serviços O aparelho do Estado é constituído pelo governo, isto é, pela
prestados aos cidadãos. O princípio correspondente é o da eficiên- cúpula dirigente nos três Poderes, por um corpo de funcionários e
cia, ou seja, a busca de uma relação ótima entre qualidade e custo pela força militar. O Estado, por sua vez, é mais abrangente que o
dos serviços colocados à disposição do público. aparelho, porque compreende adicionalmente o sistema constitu-
Logo, a administração deve ser necessariamente gerencial. O cional-legal, que regula a população nos limites de um território.
mesmo se diga, obviamente, do setor das empresas, que, enquanto O Estado é a organização burocrática que tem o monopólio da
estiverem com o Estado, deverão obedecer aos princípios geren- violência legal. É o aparelho que tem o poder de legislar e tributar a
ciais de administração. população de determinado território.
Setores do Estado e Formas de Propriedade Governança e Governabilidade
Outra distinção importante é a relacionada às formas de pro- A reforma do Estado envolve múltiplos aspectos. O ajuste fiscal
priedade. Ainda que vulgarmente se considerem apenas duas devolve ao Estado a capacidade de definir e implementar políticas
formas, a propriedade estatal e a propriedade privada, existe no públicas. Pela liberalização comercial, o Estado abandona a estraté-
capitalismo contemporâneo uma terceira forma, intermediária, ex- gia protecionista da substituição de importações.
tremamente relevante: a propriedade pública não estatal, constitu- O programa de privatizações reflete a conscientização da gravi-
ída pelas organizações sem fins lucrativos, que não são propriedade dade da crise fiscal e da correlata limitação da capacidade do Esta-
de nenhum indivíduo ou grupo e estão orientadas diretamente para do de promover poupança forçada por meio das empresas estatais.
o atendimento do interesse público. O tipo de propriedade mais Por esse programa, transfere-se para o setor privado a tarefa da
indicado variará de acordo com o setor do aparelho do Estado. produção que, em princípio, este realiza de forma mais eficiente.
No núcleo estratégico, a propriedade tem de ser necessaria- Finalmente, por meio de um programa de publicização, trans-
mente estatal. Nas atividades exclusivas de Estado, em que o poder fere-se para o setor público não estatal a produção dos serviços
extroverso de Estado é exercido, a propriedade também só pode competitivos ou não exclusivos de Estado, estabelecendo-se um sis-
ser estatal. tema de parceria entre Estado e sociedade para seu financiamento
Já para o setor não exclusivo ou competitivo do Estado, a pro- e controle.
priedade ideal é a pública não estatal. Não é a propriedade estatal
porque aí não se exerce o poder de Estado. Não é, por outro lado, Redes Organizacionais
a propriedade privada, porque se trata de um tipo de serviço por Tem-se implementado uma moderna rede de comunicação de
definição subsidiado. dados, a qual interliga, de forma segura e ágil, a administração pú-
A propriedade pública não estatal torna mais fácil e direto o blica, permitindo assim um compartilhamento adequado das infor-
controle social, por meio da participação nos conselhos de adminis- mações contidas em bancos de dados dos diversos organismos do
tração dos diversos segmentos envolvidos, ao mesmo tempo que aparelho do Estado, bem como um serviço de comunicação (base-
favorece a parceria entre sociedade e Estado. As organizações nesse ado em correios, formulários, agenda e “listas de discussão”: todos
setor gozam de uma autonomia administrativa muito maior do que eletrônicos), a fim de repassar à sociedade em geral e aos próprios
aquela possível dentro do aparelho do Estado. Em compensação, órgãos do governo a maior quantidade possível de informação, con-
seus dirigentes são chamados a assumir maior responsabilidade em tribuindo para melhor transparência e maior eficiência na condu-
conjunto com a sociedade, na gestão da instituição. ção dos negócios do Estado.
No setor de produção de bens e serviços para o mercado, a efi- Inicialmente, utilizando a infraestrutura de comunicação de da-
ciência é também o princípio administrativo básico e a administra- dos disponível em Brasília (Rede Metropolitana de Alta Velocidade
ção gerencial, a mais indicada. Em termos de propriedade, dada a – Remav, Rede de Pacotes – Renpac etc.), está sendo construída in-
possibilidade de coordenação pelo mercado, a propriedade privada crementalmente a Rede do Governo (estendendo-a posteriormente
é a regra. ao resto do país) com ênfase:
A propriedade estatal só se justifica quando não existem ca- ▪ Na segurança, para garantir a privacidade e inviolabilidade da
pitais privados disponíveis, o que não é mais o caso do Brasil, ou comunicação;
então quando existe um monopólio natural. Mesmo nesse caso,
entretanto, a gestão privada tenderá a ser a mais adequada, desde 4 CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos /
que acompanhada por um seguro sistema de regulação. Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022.

183
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

▪ Na padronização de procedimentos, para diminuir custos e


simplificar o uso; NOÇÕES DE PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO
▪ No compartilhamento de informações, para evitar desperdí- ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA
cios.
O trabalho do administrador não se restringe ao presente, ao
Enquanto não for tecnicamente possível a operação plena da atual, ao corrente. Ele precisa extrapolar o imediato e projetar-se
rede, serão disponibilizados alguns blocos ou tipo de informações para a frente. O administrador precisa tomar decisões estratégicas
pela Internet e interligados alguns órgãos em Brasília com serviços e planejar o futuro de sua organização. Ao tomar decisões, ele con-
de comunicação eletrônica. figura e reconfigura continuamente a sua organização ou a unidade
organizacional que administra5.
Sistemas de gestão pública (controle e informações gerenciais) Além disso, tem de saber em qual rumo deseja que sua organi-
Os sistemas administrativos voltados para a gestão pública zação vá em frente, tomar as decisões necessárias e elaborar os pla-
abrangem áreas diversas: pessoal civil, serviços gerais, organização nos para que isso realmente aconteça. O planejamento está voltado
e modernização administrativa, informação e informática, planeja- para o futuro, e o futuro requer atenção especial. É para ele que a
mento e orçamento e controle interno. O objetivo desses sistemas organização deve estar preparada a todo instante.
é permitir a transparência na implementação das diversas ações Planejamento é a função administrativa que define objetivos e
do governo, possibilitando seu acompanhamento e avaliação, bem decide sobre os recursos e as tarefas necessários para alcançá-los
como a disponibilização das informações não privativas e não confi- adequadamente. Como principal decorrência do planejamento es-
denciais para o governo como um todo e a sociedade. tão os planos, que facilitam a organização no alcance de suas metas
e objetivos. Além disso, os planos funcionam como guias ou baliza-
Sistemas de gestão mentos para assegurar os seguintes aspectos:
Foram desenvolvidos ou encontram-se em desenvolvimento ▪ Definem os recursos necessários para alcançar os objetivos
vários sistemas de informações, com graus variados de automação, organizacionais;
dos quais se destacam o processamento do orçamento fiscal e da ▪ Servem para integrar os vários objetivos a serem alcançados
seguridade social, o registro dos gastos efetuados pelo Tesouro Na- em um esquema organizacional que proporciona coordenação e
cional (Siafi), a folha de pagamento e os dados cadastrais dos servi- integração;
dores civis e federais (Siape), o orçamento de investimentos (Sidor), ▪ Permitem que as pessoas trabalhem em diferentes atividades
o planejamento de ações do governo (Sisplan), a movimentação do consistentes com os objetivos definidos. Eles dão racionalidade ao
cadastro de fornecedores, de preços e do catálogo de materiais e processo, pois servem de meios para alcançar adequadamente os
serviços (Siasg) e o fornecimento de informações sobre a organiza- objetivos traçados;
ção governamental e suas macroatribuições (Siorg). ▪ Permitem que o alcance dos objetivos possa ser continuamen-
Esses sistemas têm sido, independentemente das intenções de te monitorado e avaliado em relação a certos padrões ou indica-
sua concepção inicial, voltados para as necessidades operacionais dores, a fim de estabelecer a ação corretiva necessária quando o
da administração pública, tornando secundárias ou inexistentes progresso não for satisfatório.
tanto as informações gerenciais quanto as de interesse público.
Consequentemente, não têm exercido a função de instrumentos de O primeiro passo do planejamento consiste na definição dos ob-
apoio à tomada de decisão. jetivos para a organização. Objetivos são resultados específicos que
É necessário um projeto que permita a interligação e o redi- se pretende atingir e são estabelecidos para cada uma das subuni-
recionamento estratégico dos diversos sistemas de informação, de dades da organização, como suas divisões ou departamentos etc.
forma que incorpore os novos conceitos de gestão do aparelho do Uma vez definidos, são criados programas para alcançar os ob-
Estado. Além de estabelecer padrões de integração e de suporte jetivos de maneira sistemática e racional. Ao selecionar objetivos e
tecnológico adequados ao desenvolvimento de novos sistemas, desenvolver programas, o administrador deve considerar sua via-
mantendo e melhorando os atuais, é preciso buscar informações bilidade e aceitação pelos gerentes e funcionários da organização.
coletadas de forma coerente, sem duplicidade e processadas com Planejar significa olhar para a frente, visualizar o futuro e o que
segurança e eficiência, que possuam um caráter gerencial e sejam deverá ser feito, elaborar bons planos e ajudar as pessoas a faze-
disponibilizadas para toda a administração pública. rem hoje as ações necessárias para melhor enfrentar os desafios do
Aumentando a confiabilidade e diminuindo os custos desses amanhã. Em outros termos, o planejamento constitui, atualmente,
sistemas, será possível torná-los acessíveis à sociedade, para que uma responsabilidade essencial em qualquer tipo de organização
estes controlem e julguem o desempenho da administração públi- ou de atividade.
ca. Com isso, os sistemas também estarão articulados com os obje- O planejamento constitui a função inicial da administração. An-
tivos do Projeto Cidadão e da Rede de Governo, ao permitir que a tes que qualquer função administrativa seja executada, a adminis-
disponibilização dessas informações ocorra por vários meios (com tração precisa planejar, ou seja, determinar os objetivos e os meios
ênfase em sistemas de fácil acesso, como a Internet) alimentados necessários para alcançá-los adequadamente.
permanentemente pelos serviços e recursos da Rede do Governo.
Referências Bibliográficas:
Chiavenato, Idalberto. Administração geral e pública: provas e
concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método,
2022.
5 CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos /
Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022.

184
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Planejamento como uma Função Administrativa Em todos os casos, o planejamento consiste na tomada ante-
A primeira das funções administrativas, o planejamento é um cipada de decisões. Trata-se de decidir agora o que fazer antes da
processo de estabelecer objetivos e definir a maneira como alcan- ocorrência da ação necessária. Não se trata simplesmente da pre-
çá-los. Objetivos são os resultados específicos ou metas que se de- visão das decisões que deverão ser tomadas no futuro, mas da to-
seja atingir. mada de decisões que produzirão efeitos e consequências futuras.
Um plano é uma colocação ordenada daquilo que é necessário
para atingir os objetivos. Os planos identificam os recursos necessá- Processo de Planejamento
rios, as tarefas a serem executadas, as ações a serem tomadas e os O planejamento é um processo constituído de uma sequência
tempos a serem seguidos. de seis passos, conforme a figura abaixo, a saber:
Os planos servem para facilitar a ação requerida e as operações
da organização. Geralmente, preveem como as ações que apontam Os seis passos do processo de planejamento
para os objetivos devem ser tomadas.
Na verdade, os planos são ações consistentes dentro de uma
estrutura adequada de operações que focalizam os fins desejados.
Sem planos, a ação organizacional se tornaria meramente casual e
randômica, aleatória e sem rumo, conduzindo simplesmente a em-
presa ao caos.4
O planejamento pode estar voltado para a estabilidade, no sen-
tido de assegurar a continuidade do comportamento atual em um
ambiente previsível e estável. Pode também estar voltado para a
melhoria do comportamento, para assegurar a reação adequada a
frequentes mudanças em um ambiente mais dinâmico e incerto.
Pode ainda estar voltado para as contingências, no sentido de an-
tecipar eventos e identificar as ações apropriadas para quando eles
ocorrerem.
Como todo planejamento se subordina a uma filosofia de ação,
apontam-se três tipos de filosofia do planejamento:

1.Planejamento conservador: é o planejamento voltado para


a estabilidade e para a manutenção da situação existente. As deci- CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e con-
sões são tomadas baseadas na obtenção de bons resultados, mas cursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022
não necessariamente os melhores possíveis, pois dificilmente o pla-
nejamento procurará fazer mudanças radicais na organização. 1.Definir os objetivos: o primeiro passo do planejamento é o es-
Sua ênfase é conservar as práticas atualmente vigentes. O pla- tabelecimento de objetivos que se pretende alcançar. Os objetivos
nejamento conservador está mais preocupado em identificar e da organização devem servir de direção a todos os principais pla-
sanar deficiências e problemas internos do que em explorar opor- nos, servindo de base tanto aos objetivos departamentais quanto
tunidades ambientais futuras. Sua base é predominantemente re- aos das áreas subordinadas. Os objetivos devem especificar resul-
trospectiva, no sentido de aproveitar a experiência passada e pro- tados desejados e os pontos finais a que se pretende chegar, para
jetá-la para o futuro. conhecer os passos intermediários.
2.Planejamento otimizante: é o planejamento voltado para a 2.Verificar qual é a situação atual em relação aos objetivos: em
adaptabilidade e a inovação da organização. As decisões são to- contraposição aos objetivos desejados, deve-se avaliar a situação
madas querendo obter os melhores resultados possíveis para a atual; verificar onde se está e o que precisa ser feito.
organização, seja minimizando recursos para alcançar determinado 3.Desenvolver premissas quanto às condições futuras: premis-
desempenho ou objetivo, seja maximizando o desempenho para sas constituem os ambientes esperados dos planos em operação.
melhor utilizar os recursos disponíveis. Como a organização opera em ambientes complexos, quanto mais
O planejamento otimizante geralmente preocupa-se em me- pessoas estiverem atuando na elaboração e na compreensão do
lhorar as práticas atualmente vigentes na organização. Sua base é planejamento e quanto mais se obter envolvimento para utilizar
predominantemente incremental, no sentido de melhorar continu- premissas consistentes, tanto mais coordenado será o planejamen-
amente, tornando as operações melhores a cada dia que passa. to.
3.Planejamento adaptativo: é o planejamento voltado para as Trata-se de gerar cenários alternativos para os estados futuros
contingências e para o futuro da organização. As decisões são to- das ações, analisar o que pode ajudar ou prejudicar o progresso
madas no sentido de compatibilizar os diferentes interesses envol- em direção aos objetivos. A previsão é um aspecto importante no
vidos, elaborando uma composição capaz de levar a resultados para desenvolvimento de premissas, pois está relacionada com pressu-
o desenvolvimento natural da empresa e ajustá-la às contingências posições antecipatórias a respeito do futuro.
que surgem no meio do caminho. 4.Analisar as alternativas: o quarto passo do planejamento é
O planejamento adaptativo procura reduzir o planejamento re- a busca e a análise dos cursos alternativos de ação. Trata-se de re-
trospectivo voltado para a eliminação das deficiências localizadas lacionar e avaliar as ações que devem ser tomadas, escolher uma
no passado da organização. Sua base é predominantemente ade- delas para perseguir um ou mais objetivos e fazer um plano para
rente, pois se ajusta às demandas ambientais e se prepara para as alcançá-los.
futuras contingências.

185
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

5. Escolher um curso de ação entre as várias alternativas: o certeza decorrente de uma economia globalizada e a necessidade
quinto passo é selecionar o curso então adequado para alcançar os de reduzir custos de investimentos em trabalho, capital e outros
objetivos propostos. Trata-se de uma tomada de decisão em que se recursos importantes. Internamente, há a necessidade de operar
escolhe uma alternativa e abandonam-se as demais. A alternativa com maior eficiência, novas estruturas organizacionais e novos ar-
escolhida se transforma em um plano para o alcance dos objetivos. ranjos de trabalho, maior diversidade da força de trabalho e uma
6.Implementar o plano e avaliar os resultados: fazer aquilo que infinidade de desafios administrativos.
o plano determina e avaliar cuidadosamente os resultados para Como se poderia prever, o planejamento oferece uma série de
assegurar o alcance dos objetivos, seguir pelo que foi planejado e vantagens nessas circunstâncias, inclusive melhorando a flexibilida-
tomar as ações corretivas à medida que se tornarem necessárias. de, a coordenação e a administração do tempo. Vejamos cada uma
dessas vantagens do planejamento.
Nem sempre o planejamento é feito por administradores ou
por especialistas trancados em salas e em épocas predeterminadas. → Foco e flexibilidade
Embora seja uma atividade voltada para o futuro, o planejamento O planejamento permite aumentar o foco e a flexibilidade. Foco
deve ser contínuo e permanente e, se possível, abranger o maior é o ponto de convergência dos esforços. Flexibilidade é a maleabi-
número de pessoas na sua elaboração e implementação. lidade e facilidade de sofrer adaptações e ajustamentos à medida
Em outras palavras, o planejamento deve ser constante e par- que o andamento das coisas os requeira.
ticipativo. A descentralização proporciona a participação e o envol- Uma organização com foco conhece o que ela faz melhor, sabe
vimento das pessoas em todos os aspectos do seu processo. É o as necessidades de seus clientes e como servi-los bem. Uma orga-
chamado planejamento participativo. nização com flexibilidade opera dinamicamente e com um senso do
Para fazer o planejamento, é vital que se conheça o contexto em futuro. Ela é rápida e ágil, podendo mudar ou antecipar-se em re-
que a organização está inserida. Em outras palavras, qual é o seu lação a problemas emergentes ou oportunidades. O planejamento
microambiente, qual é a sua missão e quais são os seus objetivos ajuda o administrador em todos os tipos de organização a alcançar
básicos. Sobretudo, quais são os fatores-chave para o seu sucesso. o melhor desempenho, porque:
A partir daí, pode-se começar a pensar em planejamento. ▪ O planejamento é orientado para resultados: cria um senso
de direção, isto é, de desempenho orientado para metas e resulta-
→ Fatores críticos de sucesso dos a serem alcançados;
Para que o planejamento seja bem-sucedido, torna-se necessá- ▪ O planejamento é orientado para prioridades: assegura que
rio verificar quais são os fatores críticos de sucesso para atingir os as coisas mais importantes receberão atenção principal;
objetivos propostos. Esses fatores são os elementos condicionantes ▪ O planejamento é orientado para vantagens: ajuda a alocar e
no alcance dos objetivos da organização. Ou seja, são aspectos liga- dispor recursos para sua melhor utilização e desempenho;
dos diretamente ao sucesso da organização. Se eles não estiverem ▪ O planejamento é orientado para mudanças: ajuda a anteci-
presentes, os objetivos não serão alcançados. par problemas que certamente aparecerão e a aproveitar oportuni-
Para identificar os fatores críticos de sucesso em qualquer negó- dades à medida que se defronta com novas situações.
cio, deve-se fazer a seguinte pergunta: o que se deve fazer para ser
bem-sucedido? Em uma empresa lucrativa, o sucesso significa fazer → Melhoria na coordenação
lucros. Os fatores críticos de sucesso dependerão de quais negócios O planejamento melhora a coordenação. Os diferentes subsis-
geram lucros. temas e grupos nas organizações, em que cada qual persegue uma
Se o negócio é produzir roupas a baixo custo, os fatores críticos variedade de objetivos em um dado período, precisam ser adequa-
de sucesso estarão localizados em operações de baixo custo e ele- damente coordenados.
vado volume de vendas. Se o negócio é produzir vestidos de luxo, Uma hierarquia de objetivos é uma série de objetivos interliga-
os custos não serão tão importantes quanto a alta qualidade dos dos de modo que aqueles em níveis mais elevados são apoiados e
materiais, da confecção aprimorada e do desenho criativo. suportados pelos de nível mais baixo. Quando definidos ao longo
Em uma empresa de pesquisa e desenvolvimento orientada de uma organização, os objetivos hierarquizados criam uma rede
para o futuro, altos lucros não são aspectos críticos, hoje, mas sim o integrada de cadeias de meios-fins. Nos objetivos de nível mais ele-
desenvolvimento de uma tecnologia de ponta capaz de produzir, no vado, os fins são claramente interligados aos objetivos de nível mais
futuro, novos produtos inovadores e construir uma boa reputação baixo, que são os meios para o seu alcance.
que atraia investidores.
A identificação dos fatores críticos de sucesso é fundamen- → Melhoria no controle
tal para a realização dos objetivos organizacionais. Existem duas O planejamento melhora o controle. O controle administrativo
maneiras de identificá-los: a primeira é dissecar os recursos orga- envolve medição e avaliação dos resultados do desempenho e a to-
nizacionais e o mercado de maneira imaginativa para apontar os mada de ação corretiva para melhorar as coisas quando necessário.
segmentos mais decisivos e importantes; a segunda é descobrir O planejamento ajuda a tornar isso possível por meio da defi-
o que distingue as organizações bem-sucedidas das organizações nição dos objetivos resultados de desempenho desejados e iden-
malsucedidas e analisar as diferenças entre elas. Aqui se aplica o tificação das ações específicas por meio das quais eles devem ser
benchmarking. perseguidos. Se os resultados estiverem abaixo do esperado, os
objetivos, os planos de ação ou ambos devem ser ajustados ao pro-
Benefícios do Planejamento cesso de controle.
As organizações defrontam-se com uma variedade de pressões
provindas de muitas fontes. Externamente, existem as regulamen-
tações governamentais, a tecnologia cada vez mais complexa, a in-

186
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Naturalmente, ambos os processos de planejamento e controle funcionam melhor se os objetivos são claramente estabelecidos em
primeiro lugar. O progresso em relação ao alcance dos objetivos pode ser facilmente medido para assegurar que eles estejam sendo cum-
pridos antes da data prefixada.

→ Administração do tempo
O planejamento melhora a administração do tempo. É difícil balancear o tempo disponível para atender às responsabilidades e apro-
veitar as oportunidades pela frente. A cada dia, o administrador é bombardeado por uma multiplicidade de tarefas e demandas em um
conjunto de frequentes interrupções, crises e eventos inesperados.
Isso facilita o esquecimento da trilha dos objetivos e a perda de tempo precioso com atividades não essenciais e que tumultuam a
atividade do administrador. Além da melhoria de foco e flexibilidade, coordenação e controle, o planejamento permite uma forma de
administrar o tempo.

Tipos de Planejamento
O planejamento é feito por meio de planos. O administrador deve saber lidar com diferentes tipos de planos, os quais podem incluir
períodos de longo a curto prazo, assim como podem envolver a organização inteira, uma divisão, um departamento ou uma tarefa.
O planejamento é uma função administrativa que se distribui entre todos os níveis organizacionais. Embora o seu conceito seja exata-
mente o mesmo, em cada nível organizacional, o planejamento apresenta características diferentes.
O planejamento envolve volumosa parcela da atividade organizacional. Com isso, quer-se dizer que toda organização está sempre
planejando: o nível institucional elabora genericamente o planejamento estratégico, o nível intermediário segue-o com planos táticos e
o nível operacional traça detalhadamente os planos operacionais, cada qual dentro de sua área de competência e em uníssono com os
objetivos globais da organização.
O planejamento impõe racionalidade e proporciona o rumo às ações da organização. Além disso, estabelece coordenação e integração
de suas várias unidades, que oferecem harmonia e sinergia à organização no caminho em direção aos seus objetivos principais.
O quadro a seguir apresenta um detalhamento do planejamento nos três níveis organizacionais:

Planejamento nos três níveis organizacionais

CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método,
2022

Os planos podem abranger diferentes horizontes de tempo. Os planos de curto prazo cobrem um ano ou menos; os planos intermedi-
ários, um a dois anos; e os planos de longo prazo abrangem cinco ou mais anos.
Os objetivos do planejamento devem ser mais específicos no curto prazo e mais abertos no longo prazo. As organizações precisam de
planos para todas as extensões de tempo. O administrador do nível institucional está mais voltado para planos de longo prazo que atinjam
a organização inteira para proporcionar aos demais administradores um senso de direção para o futuro.

→ Planejamento estratégico
O planejamento estratégico é um processo organizacional compreensivo de adaptação por meio da aprovação, tomada de decisão e
avaliação. Procura responder a questões básicas, como: “Por que a organização existe?”, “O que ela faz?” e “Como faz?”. O resultado do
processo é um plano que serve para guiar a ação organizacional por um prazo de três a cinco anos. Na era digital, com as mudanças e
incertezas, esse prazo está encolhendo.
Está relacionado com a adaptação da organização a um ambiente mutável. Está voltado para as relações entre a organização e seu
ambiente de tarefa. Portanto, está sujeito à incerteza a respeito dos eventos ambientais.
Por se defrontar com a incerteza, tem suas decisões baseadas em julgamentos, e não em dados concretos. Reflete uma orientação
externa que focaliza as respostas adequadas às forças e às pressões que estão situadas do lado de fora da organização.
O planejamento estratégico apresenta cinco características fundamentais:

▪ O planejamento estratégico é orientado para o futuro: seu horizonte de tempo é o longo prazo. Durante o curso do planejamento, a
consideração dos problemas atuais é dada apenas em função dos obstáculos e das barreiras que eles possam provocar para um desejado
lugar no futuro. É mais voltado para os problemas do futuro que os de hoje;

187
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

▪ O planejamento estratégico é compreensivo: ele envolve a or- Principais parâmetros do planejamento estratégico
ganização como uma totalidade, abarcando todos os seus recursos,
no sentido de obter efeitos sinergísticos de todas as capacidades e
potencialidades da organização. A resposta estratégica da organiza-
ção envolve um comportamento global, compreensivo e sistêmico;
▪ O planejamento estratégico é um processo de construção de
consenso: dada a diversidade de interesses e necessidades dos par-
ceiros envolvidos, o planejamento oferece um meio de atender a
todos eles na direção futura que melhor convenha a todos;
▪ O planejamento estratégico é uma forma de aprendizagem
organizacional: como está orientado para a adaptação da organiza-
ção ao contexto ambiental, o planejamento constitui uma tentativa
constante de aprender a ajustar-se a um ambiente complexo, com-
petitivo e mutável;
▪ O planejamento estratégico assenta-se sobre três parâme-
tros – a visão do futuro, os fatores ambientais externos e os fato-
res organizacionais internos: conforme a figura a seguir, começa
com a construção do consenso sobre o futuro que se deseja: é a CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e con-
visão que descreve o mundo em um estado ideal. A partir daí exa- cursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022
minam-se as condições externas do ambiente e as condições inter-
nas da organização. Os planos táticos geralmente envolvem:
▪ Planos de produção: abrangem métodos e tecnologias neces-
→ Planejamento tático sárias para as pessoas em seu trabalho, arranjo físico do trabalho e
Enquanto o planejamento estratégico envolve toda a organiza- equipamentos como suportes para as atividades e tarefas;
ção, o planejamento tático envolve determinada unidade organiza- ▪ Planos financeiros: envolvem captação e aplicação do dinhei-
cional: um departamento ou divisão. O primeiro estende-se a longo ro necessário para suportar as várias operações da organização;
prazo, ao passo que o segundo estende-se pelo médio prazo, geral- ▪ Planos de marketing: abrangem os requisitos de vender, distri-
mente o exercício de um ano. buir bens e serviços no mercado e atender ao cliente;
Enquanto o planejamento estratégico é desenvolvido pelo nível ▪ Planos de recursos humanos: envolvem recrutamento, sele-
institucional, o planejamento tático é desenvolvido pelo nível in- ção e treinamento das pessoas nas várias atividades dentro da orga-
termediário. Na verdade, o planejamento estratégico é desdobrado nização. Recentemente, as organizações também estão se preocu-
em vários planejamentos táticos, enquanto estes se desdobram em pando com a aquisição de competências essenciais para o negócio
planos operacionais para sua realização. por meio da gestão do conhecimento corporativo.
Assim, o planejamento tático é o planejamento focado no mé-
dio prazo e que enfatiza as atividades correntes das várias unidades Contudo, os planos táticos podem também se referir à tecnolo-
ou departamentos da organização. O administrador utiliza o plane- gia utilizada pela organização (tecnologia da informação, tecnologia
jamento tático para delinear o que as várias partes da organização, de produção etc.), investimentos, obtenção de recursos etc.
como departamentos ou divisões, devem fazer para que a organi-
zação alcance sucesso no decorrer do período de um ano de seu Políticas
exercício. As políticas constituem exemplos de planos táticos que funcio-
Os planos táticos geralmente são desenvolvidos para as áreas nam como guias gerais de ação. Elas funcionam como orientações
de produção, marketing, pessoal, finanças e contabilidade. Para para a tomada de decisão. Geralmente, refletem um objetivo e
ajustar-se ao planejamento tático, o exercício contábil da organi- orientam as pessoas em direção a esses objetivos em situações que
zação e os planos de produção, de vendas, de investimentos etc. requeiram algum julgamento.
abrangem geralmente o período anual. As políticas servem para que as pessoas façam escolhas seme-
lhantes ao se defrontarem com situações similares. As políticas
constituem afirmações genéricas baseadas nos objetivos organiza-
cionais e visam oferecer rumos para as pessoas dentro da organi-
zação.

→ Planejamento operacional
O planejamento operacional é focalizado para o curto prazo e
abrange cada uma das tarefas ou operações individualmente. Pre-
ocupa-se com o que fazer e com o como fazer as atividades cotidia-
nas da organização.
Refere-se especificamente às tarefas e operações realizadas no
nível operacional. Como está inserido na lógica de sistema fecha-
do, o planejamento operacional está voltado para a otimização e
maximização de resultados, enquanto o planejamento tático está
voltado para a busca de resultados satisfatórios.

188
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Apesar de serem heterogêneos e diversificados, os planos operacionais podem ser classificados em quatro tipos, a saber:
▪ Procedimentos: são os planos operacionais relacionados com métodos;
▪ Orçamentos: são os planos operacionais relacionados com dinheiro;
▪ Programas (ou programações): são os planos operacionais relacionados com tempo;
▪ Regulamentos: são os planos operacionais relacionados com comportamentos das pessoas.

Procedimentos
O procedimento é uma sequência de etapas ou passos que devem ser rigorosamente seguidos para a execução de um plano. Constitui
séries de fases detalhadas indicando como cumprir uma tarefa ou alcançar uma meta previamente estabelecida. Assim, os procedimentos
são subplanos de planos maiores. Em razão do seu detalhamento, são geralmente escritos para perfeita compreensão daqueles que devem
utilizá-los.
Os procedimentos constituem guias para a ação e são mais específicos do que as políticas. Em conjunto com outras formas de plane-
jamento, os procedimentos procuram ajudar a dirigir todas as atividades da organização para objetivos comuns, a impor consistência ao
longo da organização e a fazer economias eliminando custos de verificações recorrentes e delegando autoridade às pessoas para tomar
decisões dentro de limites impostos pela administração.
Enquanto as políticas são guias para pensar e decidir, os procedimentos são guias para fazer. Referem-se aos métodos para executar as
atividades cotidianas. Um método descreve o processo de executar um passo ou uma etapa do procedimento e pode ser considerado um
plano de ação, mas é geralmente um subplano do procedimento.

Os três níveis de planejamento

CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022

A interligação entre planejamento estratégico, tático e operacional

CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Como os planos estratégicos e táticos se ajudam mutuamente

CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública: provas e concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método,
2022

Os procedimentos são geralmente transformados em rotinas e expressos na forma de fluxogramas, que são gráficos que representam
o fluxo ou a sequência de procedimentos ou rotinas. As rotinas constituem procedimentos padronizados e formalizados.
Os fluxogramas podem ser de vários tipos. Os três mais importantes são o fluxograma vertical, o fluxograma de blocos e a lista de
verificação.

1.Fluxograma vertical: retrata a sequência de uma rotina por meio de linhas (que traduzem as diversas tarefas ou atividades neces-
sárias para a execução da rotina) e de colunas (que representam, respectivamente, os símbolos das tarefas ou operações, os funcionários
envolvidos na rotina, o espaço percorrido para a execução e o tempo despendido). É também chamado de gráfico de análise do processo,
onde consta:

▪ Operação. Representada por um círculo. É uma etapa ou subdivisão do processo. Uma operação é realizada quando algo é criado,
alterado, acrescentado ou subtraído. Geralmente, agrega valor ao processo, ao produto ou ao serviço. Exemplo: emissão de um documen-
to, anotação de um registro, colocação de uma peça.
▪ Transporte. Representada por um círculo pequeno ou por uma seta. É a tarefa de levar algo de um lugar para outro. Ocorre quando
um objeto, uma mensagem ou um documento é movimentado de um lugar para outro. Não agrega valor nenhum ao processo, produto ou
serviço. Apenas agrega custos adicionais.
▪ Inspeção (verificação ou controle). Representada por um quadrado. É uma verificação ou fiscalização (de quantidade ou de quali-
dade) sem que haja realização de operação. Também não agrega valor, mas agrega custos adicionais. Exemplo: conferência de um docu-
mento, verificação de uma assinatura.
▪ Arquivamento ou armazenamento. Representados por um triângulo. Pode referir-se a algum documento (arquivamento) ou a al-
gum material ou produto (armazenamento).

2.Fluxograma de blocos: é um fluxograma que se baseia em uma sequência de blocos, cada um com um significado próprio, encadea-
dos entre si. Apresenta uma simbologia mais rica e não se restringe a linhas e colunas preestabelecidas no gráfico.
O fluxograma de blocos é utilizado por analistas de sistemas e programadores de computador para representar graficamente entradas,
operações e processos, saídas, conexões, decisões ou arquivamentos, que constituem o fluxo ou sequência das atividades de um sistema.

3.Lista de verificação: É um procedimento rotinizado no nível operacional. Constitui uma listagem de itens que devem ser obrigatoria-
mente considerados em determinada rotina de trabalho. Recebe o nome de checklist e serve como roteiro para cobrir toda a sequência de
uma tarefa sem omissão de qualquer detalhe que possa prejudicá-la.

A lista de verificação é frequentemente utilizada pelo pessoal de voos aéreos na subida ou descida de aviões ou em situações de emer-
gência. É comum nos hospitais, nas oficinas mecânicas de automóveis e em todas as operações complexas em que a sequência de todos
os detalhes envolvidos é importante para que o trabalho seja executado com sucesso.
Orçamentos
São planos operacionais relacionados com dinheiro dentro de determinado período de tempo. Também são denominados budgets.
São gráficos de dupla entrada: nas linhas, estão os itens orçamentários e, nas colunas, os períodos de tempo em dias, semanas, meses ou
anos.

190
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

No nível operacional, os orçamentos têm geralmente a exten- As atividades ocorrem entre os eventos e constituem os esfor-
são de um ano, correspondendo ao exercício fiscal da organização. ços físicos ou mentais requeridos para completar um evento e são
Podem também se referir a determinado e específico serviço ou representadas por flechas com números. As relações entre as tare-
atividade. fas básicas são indicadas pela sequência desejada de eventos e de
Quando os valores financeiros e os períodos de tempo se tor- atividades na rede. Para sua elaboração, o gráfico de PERT exige a
nam maiores, ocorre o planejamento financeiro, definido e elabo- montagem inicial de um quadro preparatório.
rado no nível intermediário da organização. Suas dimensões e seus O PERT é um plano operacional que também permite acom-
efeitos são mais amplos que os dos orçamentos, cuja dimensão é panhar e avaliar o progresso dos programas e projetos em relação
meramente local e cuja temporalidade é limitada. aos padrões de tempo predeterminados, constituindo também um
O fluxo de caixa (cash flow), os orçamentos departamentais de esquema de controle e avaliação. Além de uma ferramenta de pla-
despesas, os de encargos sociais referentes aos funcionários, os de nejamento, serve como ferramenta de controle, por facilitar a lo-
reparos e manutenção de máquinas e equipamentos, os de custos calização de desvios e indicar as ações corretivas necessárias para
diretos de produção, os de despesas de promoção e propaganda redimensionar toda a rede que ainda não foi executada.
etc. constituem exemplos de orçamentos no nível operacional. Embora não possa impedir erros, atrasos, mudanças ou eventos
imprevistos, o PERT dá margem a ações corretivas imediatas.
Programas
Programas ou programações constituem planos operacionais Regras e regulamentos
relacionados com o tempo. Consistem em planos que correlacio- Constituem planos operacionais relacionados com o comporta-
nam duas variáveis: tempo e atividades que devem ser executadas mento solicitado às pessoas. Especificam como as pessoas devem
ou realizadas. comportar-se em determinadas situações. Geralmente, especificam
Os métodos de programação variam amplamente, indo desde o que as pessoas devem ou não fazer e o que elas podem fazer. São
programas simples (em que se pode utilizar apenas um calendário diferentes das políticas pelo fato de serem bastante específicos.
para agendar ou programar atividades) até programas complexos Visam substituir o processo decisório individual, restringindo
(que exigem técnicas matemáticas avançadas ou processamento de geralmente o grau de liberdade das pessoas em determinadas si-
dados por meio de computador, para analisar e definir intrincadas tuações previstas de antemão. O regulamento interno que as or-
interdependências entre variáveis que se comportam de maneiras ganizações estabelecem quanto ao comportamento de seus fun-
diferentes). cionários, os regulamentos de segurança que proíbem o fumo em
A programação, seja simples ou complexa, constitui importante determinados locais de alta periculosidade e os regulamentos de
ferramenta de planejamento no nível operacional das organizações. prevenção de acidentes para prevenir atos inseguros são exemplos
Os programas podem ser de vários tipos. Os mais importantes desses planos operacionais.
são o cronograma, o gráfico de Gantt e o PERT.
Referências Bibliográficas:
▪ Cronograma: o programa mais simples é denominado crono- Chiavenato, Idalberto. Administração geral e pública: provas e
grama (do grego, cronos, tempo; grama, gráfico): um gráfico de du- concursos / Idalberto Chiavenato. 6ª. ed. – Rio de Janeiro: Método,
pla entrada, em que as linhas configuram as atividades ou tarefas 2022.
a serem executadas, e as colunas definem os períodos, geralmente
dias, semanas ou meses.
Os traços horizontais significam a duração das atividades ou ta- LICITAÇÃO: CONCEITO, OBJETO, FINALIDADES
refas, com início e término bem definidos, conforme sua localização E PRINCÍPIOS, OBRIGATORIEDADE, DISPENSA,
nas colunas. O cronograma permite que os traços horizontais que INEXIGIBILIDADE, MODALIDADES E TIPOS, INCLUSIVE
definem a duração das atividades sejam sólidos para o que foi pla- PREGÃO NA FORMA DA LEI FEDERAL Nº 10.520/2002.
nejado e cortados para o que foi realmente executado. Isso permite
fácil comparação visual entre o planejamento e a sua execução. Princípios
▪ Gráfico de Gantt: é um tipo de plano operacional igual ao cro- Diante do cenário atual, pondera-se que ocorreram diversas
nograma simples, em que as colunas são predeterminadas em se- mudanças na Lei de Licitações. Porém, como estamos em fase
manas, dispensando a utilização de calendário para a sua execução. de transição em relação às duas leis, posto que nos dois primei-
▪ PERT (Program Evaluation Review Technique): a técnica de ros anos, as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na
avaliação e revisão de programas modelo de planejamento opera- aplicação para processos que começaram na Lei anterior, deverão
cional. É bastante utilizada em atividades de produção e projetos de continuar a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que
pesquisa e desenvolvimento. começarem após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos
O modelo básico de PERT é um sistema lógico baseado em cinco com a aplicação da nova Lei.
elementos principais, a saber: uma rede básica, a alocação de recur- Aprovada recentemente, a Nova Lei de Licitações sob o nº.
sos, as considerações de tempo e de espaço, a rede de caminhos e o 14.133/2.021, passou por significativas mudanças, entretanto, no
caminho crítico. A rede básica é um diagrama de passos sequenciais que tange aos princípios, manteve o mesmo rol do art. 3º da Lei nº.
que devem ser executados a fim de realizar um projeto ou tarefa. 8.666/1.993, porém, dispondo sobre o assunto, no Capítulo II, art.
A rede consiste em três componentes: eventos, atividades e re- 5º, da seguinte forma:
lações. Eventos representam os pontos de decisão ou cumprimen- Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios
to de alguma tarefa (são os círculos do PERT com números dentro da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade,
deles). da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa,

191
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da do contrato, afirma-se que esta não poderá ser levada em consi-
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do deração, caso não haja regra editalícia ou legal que a preveja como
julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da passível de fazer interferências no julgamento das propostas.
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economi-
cidade e do desenvolvimento nacional sustentável, assim como as Princípios da moralidade e da probidade administrativa
disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1.942, (Lei A Lei 8.666/1993, Lei de Licitações, considera que os princípios
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). da moralidade e da probidade administrativa possuem realidades
O objetivo da Lei de Licitações é regular a seleção da proposta distintas. Na realidade, os dois princípios passam a informação de
que for mais vantajosa para a Administração Pública. No condizente que a licitação deve ser pautada pela honestidade, boa-fé e ética,
à promoção do desenvolvimento nacional sustentável, entende-se isso, tanto por parte da Administração como por parte dos entes
que este possui como foco, determinar que a licitação seja destina- licitantes. Sendo assim, para que um comportamento seja conside-
da com o objetivo de garantir a observância do princípio constitu- rado válido, é imprescindível que, além de ser legalizado, esteja nos
cional da isonomia. ditames da lei e de acordo com a ética e os bons costumes. Exis-
Denota-se que a quantidade de princípios previstos na lei não tem desentendimentos doutrinários acerca da distinção entre esses
é exaustiva, aceitando-se quando for necessário, a aplicação de ou- dois princípios. Alguns autores empregam as duas expressões com
tros princípios que tenham relação com aqueles dispostos de forma o mesmo significado, ao passo que outros procuram diferenciar
expressa no texto legal. os conceitos. O que perdura, é que, ao passo que a moralidade é
Verificamos, por oportuno, que a redação original do caput do constituída em um conceito vago e sem definição legal, a probidade
art. 3º da Lei 8.666/1993 não continha o princípio da promoção do administrativa, ou melhor dizendo, a improbidade administrativa
desenvolvimento nacional sustentável e que tal menção expressa, possui contornos paramentados na Lei 8.429/1992.
apenas foi inserida com a edição da Lei 12.349/2010, contexto no
qual foi criada a “margem de preferência”, facilitando a concessão Princípio da Publicidade
de vantagens competitivas para empresas produtoras de bens e Possui a Administração Pública o dever de realizar seus atos pu-
serviços nacionais. blicamente de forma a garantir aos administrados o conhecimento
do que os administradores estão realizando, e também de manei-
Princípio da legalidade ra a possibilitar o controle social da conduta administrativa. Em se
A legalidade, que na sua visão moderna é chamado também de tratando especificamente de licitação, determina o art. 3º, § 3º, da
juridicidade, é um princípio que pode ser aplicado à toda atividade Lei 8.666/1993 que “a licitação não será sigilosa, sendo públicos e
de ordem administrativa, vindo a incluir o procedimento licitatório. acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao
A lei serve para ser usada como limite de base à atuação do gestor conteúdo das propostas, até a respectiva abertura”.
público, representando, desta forma, uma garantia aos administra- Advindo do mesmo princípio, qualquer cidadão tem o direito
dos contra as condutas abusivas do Estado. de acompanhar o desenvolvimento da licitação, desde que não in-
No âmbito das licitações, pondera-se que o princípio da lega- terfira de modo a atrapalhar ou impedir a realização dos trabalhos
lidade é fundamental, posto que todas as fases do procedimento (Lei 8.666/1993, art. 4º, in fine).
licitatório se encontram estabelecidas na legislação. Considera-se A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece que “a publici-
que todos os entes que participarem do certame, têm direito pú- dade é tanto maior, quanto maior for a competição propiciada pela
blico subjetivo de fiel observância do procedimento paramentado modalidade de licitação; ela é a mais ampla possível na concorrên-
na legislação por meio do art. 4° da Lei 8.666/1993, podendo, caso cia, em que o interesse maior da Administração é o de atrair maior
venham a se sentir prejudicados pela ausência de observância de número de licitantes, e se reduz ao mínimo no convite, em que o
alguma regra, impugnar a ação ou omissão na esfera administrativa valor do contrato dispensa maior divulgação. “
ou judicial. Todo ato da Administração deve ser publicado de forma a for-
Diga-se de passagem, não apenas os participantes, mas qual- necer ao cidadão, informações acerca do que se passa com as ver-
quer cidadão, pode por direito, impugnar edital de licitação em de- bas públicas e sua aplicação em prol do bem comum e também por
corrência de irregularidade na aplicação da lei, vir a representar ao obediência ao princípio da publicidade.
Ministério Público, aos Tribunais de Contas ou aos órgãos de con-
trole interno em face de irregularidades em licitações públicas, nos Princípio da eficiência do interesse público
termos dos arts. 41, § 1º, 101 e 113, § 1º da Lei 8666/1993. Trata-se de um dos princípios norteadores da administração
pública acoplado aos da legalidade, finalidade, motivação, razoabili-
Princípio da impessoalidade dade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
Com ligação umbilical ao princípio da isonomia, o princípio da da segurança jurídica e do interesse público.
impessoalidade demonstra, em primeiro lugar, que a Administra- Assim sendo, não basta que o Estado atue sobre o manto da
ção deve adotar o mesmo tratamento a todos os administrados que legalidade, posto que quando se refere serviço público, é essencial
estejam em uma mesma situação jurídica, sem a prerrogativa de que o agente público atue de forma mais eficaz, bem como que
quaisquer privilégios ou perseguições. Por outro ângulo, ligado ao haja melhor organização e estruturação advinda da administração
princípio do julgamento objetivo, registra-se que todas as decisões pública.
administrativas tomadas no contexto de uma licitação, deverão ob- Vale ressaltar que o princípio da eficiência deve estar subme-
servar os critérios objetivos estabelecidos de forma prévia no edital tido ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a
do certame. Desta forma, ainda que determinado licitante venha a atuação administrativa agindo de forma contrária ao ordenamento
apresentar uma vantagem relevante para a consecução do objeto jurídico, posto que por mais eficiente que seja, ambos os princípios
devem atuar de forma acoplada e não sobreposta.

192
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Por ser o objeto da licitação a escolha da proposta mais vanta- Desta forma, na ausência de justificativa para realizar o pla-
josa, o administrador deverá se encontrar eivado de honestidade ao nejamento adequado da licitação e do contrato, ressalta-se que a
cuidar da Administração Pública. ausência, bem como a insuficiência dele poderá vir a motivar a res-
ponsabilidade do agente público.
Princípio da Probidade Administrativa
A Lei de Licitações trata dos princípios da moralidade e da pro- Princípio da transparência
bidade administrativa como formas distintas uma da outra. Os dois O princípio da transparência pode ser encontrado dentro da
princípios passam a noção de que a licitação deve ser configurada aplicação de outros princípios, como os princípios da publicidade,
pela honestidade, boa-fé e ética, tanto por parte da Administração imparcialidade, eficiência, dentre outros.
Pública, como por parte dos licitantes. Desta forma, para que um Boa parte da doutrina afirma o princípio da transparência não é
comportamento tenha validade, é necessário que seja legal e esteja um princípio independente, o incorporando ao princípio da publici-
em conformidade com a ética e os bons costumes. dade, posto ser o seu entendimento que uma das inúmeras funções
Existe divergência quanto à distinção entre esses dois princí- do princípio da publicidade é o dever de manter intacta a trans-
pios. Alguns doutrinadores usam as duas expressões com o mesmo parência dos atos das entidades públicas. Entretanto, o princípio
significado, ao passo que outros procuram diferenciar os conceitos. da transparência pode ser diferenciado do princípio da publicida-
O correto é que, enquanto a moralidade se constitui num conceito de pelo fato de que por intermédio da publicidade, existe o dever
vago, a probidade administrativa, ou melhor dizendo, a improbida- das entidades públicas consistente na obrigação de divulgar os seus
de administrativa se encontra eivada de contornos definidos na Lei atos, uma vez que nem sempre a divulgação de informações é feita
8.429/1992. de forma transparente.
O Superior Tribunal de Justiça entende que o “direito à infor-
Princípio da igualdade mação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição
Conhecido como princípio da isonomia, decorre do fato de que Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da
a Administração Pública deve tratar, de forma igual, todos os licitan- Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Ob-
tes que estiverem na mesma situação jurídica. O princípio da igual- jetiva e do Princípio da Confiança […].” (STJ. RESP 200301612085,
dade garante a oportunidade de participar do certame de licitação, Herman Benjamin – Segunda Turma, DJE DATA:19/03/2009).
todos os que tem condições de adimplir o futuro contrato e proíbe,
ainda a feitura de discriminações injustificadas no julgamento das Princípio da eficácia
propostas. Por meio desse princípio, deverá o agente público agir de for-
Aplicando o princípio da igualdade, o art. 3º, I, da Lei ma eficaz e organizada promovendo uma melhor estruturação por
8.666/1993, veda de forma expressa aos agentes públicos admitir, parte da Administração Pública, mantendo a atuação do Estado
prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação por meio de edital dentro da legalidade.
ou convite, as cláusulas que comprometam, restrinjam ou frustrem Vale ressaltar que o princípio da eficácia deve estar submetido
o seu caráter de competição, inclusive nos casos de sociedades co- ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a atuação
operativas, e estabeleçam preferências ou diferenças em decorrên- administrativa contrária ao ordenamento jurídico, por mais eficien-
cia da naturalidade, da sede ou do domicílio dos licitantes ou de te que seja, na medida em que ambos os princípios devem atuar de
“qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o maneira conjunta e não sobrepostas.
específico objeto do contrato”, com ressalva ao disposto nos §§ 5º a
12 do mesmo artigo, e no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991. Princípio da segregação de funções
Ante o exposto, conclui-se que, mesmo que a circunstância Trata-se de uma norma de controle interno com o fito de evitar
restrinja o caráter de competição do certame, se for pertinente ou falhas ou fraudes no processo de licitação, vindo a descentralizar o
relevante para o objeto do contrato, poderá ser incluída no instru- poder e criando independência para as funções de execução opera-
mento de convocação do certame. cional, custódia física, bem como de contabilização
O princípio da isonomia não impõe somente tratamento igua- Assim sendo, cada setor ou servidor incumbido de determina-
litário aos assemelhados, mas também a diferenciação dos desi- da tarefa, fará a sua parte no condizente ao desempenho de fun-
guais, na medida de suas desigualdades. ções, evitando que nenhum empregado ou seção administrativa
venha a participar ou controlar todas as fases relativas à execução e
Princípio do Planejamento controle da despesa pública, vindo assim, a possibilitar a realização
A princípio, infere-se que o princípio do planejamento se en- de uma verificação cruzada.
contra dotado de conteúdo jurídico, sendo que é seu dever fixar o O princípio da segregação de funções, advém do Princípio da
dever legal do planejamento como um todo. moralidade administrativa e se encontra previsto no art. 37, caput,
Registra-se que a partir deste princípio, é possível compreen- da CFB/1.988 e o da moralidade, no Capítulo VII, seção VIII, item
der que a Administração Pública tem o dever de planejar toda a 3, inciso IV, da IN nº 001/2001 da Secretaria Federal de Controle
licitação e também toda a contratação pública de forma adequada Interno do Ministério da Fazenda.
e satisfatória. Assim, o planejamento exigido, é o que se mostre de
forma eficaz e eficiente, bem como que se encaixe a todos os outros Princípio da motivação
princípios previstos na CFB/1.988 e na jurisdição pátria como um O princípio da motivação predispõe que a administração no
todo. processo licitatório possui o dever de justificar os seus atos, vindo
a apresentar os motivos que a levou a decidir sobre os fatos, com
a observância da legalidade estatal. Desta forma, é necessário que

193
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

haja motivo para que os atos administrativos licitatórios tenham pretenda eliminar a concorrência, a lei e os demais atos normativos
sido realizados, sempre levando em conta as razões de direito que pertinentes não poderão agir com o fulcro de limitar a competitivi-
levaram o agente público a proceder daquele modo. dade na licitação.
Assim, havendo cláusula que possa favorecer, excluir ou infrin-
Princípio da vinculação ao edital gir a impessoalidade exigida do gestor público, denota-se que esta
Trata-se do corolário do princípio da legalidade e da objetivi- poderá recair sobre a questão da restrição de competição no pro-
dade das determinações de habilidades, que possui o condão de cesso licitatório.
impor tanto à Administração, quanto ao licitante, a imposição de Obs. importante: De acordo com o Tribunal de Contas, não é
que este venha a cumprir as normas contidas no edital de maneira aceitável a discriminação arbitrária no processo de seleção do con-
objetiva, porém, sempre zelando pelo princípio da competitividade. tratante, posto que é indispensável o tratamento uniforme para si-
Denota-se que todos os requisitos do ato convocatório devem tuações uniformes, uma vez que a licitação se encontra destinada
estar em conformidade com as leis e a Constituição, tendo em vista a garantir não apenas a seleção da proposta mais vantajosa para a
que se trata de ato concretizador e de hierarquia inferior a essas Administração Pública, como também a observância do princípio
entidades. constitucional da isonomia. Acórdão 1631/2007 Plenário (Sumá-
Nos ditames do art. 3º da Lei nº 8.666/93, a licitação destina-se rio).
a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a
seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a pro- Princípio da proporcionalidade
moção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada O princípio da proporcionalidade, conhecido como princípio
e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da le- da razoabilidade, possui como objetivo evitar que as peculiaridades
galidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publi- determinadas pela Constituição Federal Brasileira sejam feridas ou
cidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento suprimidas por ato legislativo, administrativo ou judicial que possa
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. exceder os limites por ela determinados e avance, sem permissão
O princípio da vinculação ao instrumento convocatório princí- no âmbito dos direitos fundamentais.
pio se destaca por impor à Administração a não acatar qualquer
proposta que não se encaixe nas exigências do ato convocatório, Princípio da celeridade
sendo que tais exigências deverão possuir total relação com o obje- Devidamente consagrado pela Lei nº 10.520/2.002 e conside-
to da licitação, com a lei e com a Constituição Federal. rado um dos direcionadores de licitações na modalidade pregão, o
princípio da celeridade trabalha na busca da simplificação de pro-
Princípio do julgamento objetivo cedimentos, formalidades desnecessárias, bem como de intransi-
O objetivo desse princípio é a lisura do processo licitatório. De gências excessivas, tendo em vista que as decisões, sempre que for
acordo com o princípio do julgamento objetivo, o processo licitató- possível, deverão ser aplicadas no momento da sessão.
rio deve observar critérios objetivos definidos no ato convocatório,
para o julgamento das propostas apresentadas, devendo seguir de Princípio da economicidade
forma fiel ao disposto no edital quando for julgar as propostas. Sendo o fim da licitação a escolha da proposta que seja mais
Esse princípio possui o condão de impedir quaisquer interpre- vantajosa para a Administração Pública, pondera-se que é neces-
tações subjetivas do edital que possam favorecer um concorrente e, sário que o administrador esteja dotado de honestidade ao cuidar
por consequência, vir a prejudicar de forma desleal a outros. coisa pública. O princípio da economicidade encontra-se relaciona-
do ao princípio da moralidade e da eficiência.
Princípio da razoabilidade Sobre o assunto, no que condiz ao princípio da economicidade,
Trata-se de um princípio de grande importância para o contro- entende o jurista Marçal Justen Filho, que “… Não basta honestida-
le da atividade administrativa dentro do processo licitatório, posto de e boas intenções para validação de atos administrativos. A eco-
que se incumbe de impor ao administrador, a atuação dentro dos nomicidade impõe adoção da solução mais conveniente e eficiente
requisitos aceitáveis sob o ponto de vista racional, uma vez que ao sob o ponto de vista da gestão dos recursos públicos”. (Justen Filho,
trabalhar na interdição de decisões ou práticas discrepantes do mí- 1998, p.66).
nimo plausível, prova mais uma vez ser um veículo de suma im-
portância do respeito à legalidade, na medida em que é a lei que Princípio da licitação sustentável
determina os parâmetros por intermédio dos quais é construída a Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “o princípio da susten-
razão administrativa como um todo. tabilidade da licitação ou da licitação sustentável liga-se à ideia de
Pondera-se que o princípio da razoabilidade se encontra aco- que é possível, por meio do procedimento licitatório, incentivar a
plado ao princípio da proporcionalidade, além de manter relação preservação do meio ambiente”.
com o princípio da finalidade, uma vez que, caso não seja atendida Esse princípio passou a constar de maneira expressa do contido
a razoabilidade, a finalidade também irá ficar ferida. na Lei 8.666/1993 depois que o seu art. 3º sofreu alteração pela Lei
12.349/2010, que incluiu entre os objetivos da licitação a promoção
Princípio da competitividade do desenvolvimento nacional sustentável.
O princípio da competição se encontra relacionado à competiti- Da mesma maneira, a Lei 12.462/2011, que institui o Regime
vidade e às cláusulas que são responsáveis por garantir a igualdade Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), dispõe o desenvolvi-
de condições para todos os concorrentes licitatórios. Esse princípio mento nacional sustentável como forma de princípio a ser obser-
se encontra ligado ao princípio da livre concorrência nos termos do vado nas licitações e contratações regidas por seu diploma legal.
inciso IV do art. 170 da Constituição Federal Brasileira. Desta manei-
ra, devido ao fato da lei recalcar o abuso do poder econômico que

194
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Assim, prevê a mencionada Lei que as contratações realizadas com licitação pode vir a ser revogada de forma lícita por motivos de in-
fito no Regime Jurídico Diferenciado de Contratações Públicas de- teresse público, ou anulada, caso seja constatada alguma irregula-
vem respeitar, em especial, as normas relativas ao art. 4º, § 1º: ridade Insanável.
A) disposição final ambientalmente adequada dos resíduos só-
lidos gerados pelas obras contratadas; Princípio da competitividade
B) mitigação por condicionantes e compensação ambiental, É advindo do princípio da isonomia. Em outras palavras, ha-
que serão definidas no procedimento de licenciamento ambiental; vendo restrição à competição, de maneira a privilegiar determi-
c) utilização de produtos, equipamentos e serviços que, comprova- nado licitante, consequentemente ocorrerá violação ao princípio
damente, reduzam o consumo de energia e recursos naturais; da isonomia. Por esse motivo, como manifestação do princípio da
D) avaliação de impactos de vizinhança, na forma da legislação competitividade, tem-se a regra de que é proibido aos agentes pú-
urbanística; blicos “admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação,
E) proteção do patrimônio cultural, histórico, arqueológico e cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem
imaterial, inclusive por meio da avaliação do impacto direto ou indi- o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades coope-
reto causado pelas obras contratadas; rativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da natu-
F) acessibilidade para o uso por pessoas com deficiência ou com ralidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra
mobilidade reduzida. circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto
do contrato”, com exceção do disposto nos §§ 5º a 12 deste art. e
Princípios correlatos no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991” .
Além dos princípios anteriores determinados pela Lei Convém mencionar que José dos Santos Carvalho Filho, enten-
8.666/1993, a doutrina revela a existência de outros princípios que de que o dispositivo legal mencionado anteriormente é tido como
também são atinentes aos procedimentos licitatórios, dentre os manifestação do princípio da indistinção.
quais se destacamos:
Princípio da vedação à oferta de vantagens imprevistas
Princípio da obrigatoriedade É um corolário do princípio do julgamento objetivo. No referen-
Consagrado no art. 37, XXI, da CF, esse princípio está disposto te ao julgamento das propostas, a comissão de licitação não poderá,
no art. 2º do Estatuto das Licitações. A determinação geral é que por exemplo, considerar qualquer oferta de vantagem que não es-
as obras, serviços, compras, alienações, concessões, permissões e teja prevista no edital ou no convite, inclusive financiamentos sub-
locações da Administração Pública, quando forem contratadas por sidiados ou a fundo perdido, nem preço ou vantagem baseada nas
terceiros, sejam precedidas da realização de certame licitatório, ofertas dos demais licitantes, nos ditames do art. 44, parag. 2°da
com exceção somente dos casos previstos pela legislação vigente. Lei 8.666/1993.

Princípio do formalismo Competência Legislativa


Por meio desse princípio, a licitação se desenvolve de acordo A União é munida de competência privativa para legislar sobre
com o procedimento formal previsto na legislação. Assim sendo, o normas gerais de licitações, em todas as modalidades, para a admi-
art. 4º, parágrafo único, da Lei 8.666/1993 determina que “o pro- nistração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
cedimento licitatório previsto nesta lei caracteriza ato administrati- Federal e dos Municípios, conforme determinação do art. 22, XXVII,
vo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da Administração da CFB/1988.
Pública”. Desse modo, denota-se que de modo geral, as normas edita-
das pela União são de observância obrigatória por todos os entes
Princípio do sigilo das propostas federados, competindo a estes, editar normas específicas que são
Até a abertura dos envelopes licitatórios em ato público ante- aplicáveis somente às suas próprias licitações, de modo a comple-
cipadamente designado, o conteúdo das propostas apresentadas mentar a disciplina prevista na norma geral sem contrariá-la.
pelos licitantes deve ser mantido em sigilo nos termos do art. 43, Nessa linha, a título de exemplo, a competência para legislar
§ 1º, da Lei 8.666/1993. Deixando claro que violar o sigilo de pro- supletivamente não permite: a) a criação de novas modalidades li-
postas apresentadas em procedimento licitatório, ou oportunizar citatórias ou de novas hipóteses de dispensa de licitação; b) o esta-
a terceiro a oportunidade de devassá-lo, além de prejudicar os de- belecimento de novos tipos de licitação (critérios de julgamento das
mais licitantes, constitui crime tipificado no art. 94 do Estatuto das propostas); c) a redução dos prazos de publicidade ou de recursos.
Licitações, vindo a sujeitar os infratores à pena de detenção, de 2 É importante registrar que a EC 19/1998, em alteração ao art.
(dois) a 3 (três) anos, e multa; 173, § 1º, da Constituição Federal, anteviu que deverá ser editada
lei com o fulcro de disciplinar o estatuto jurídico da empresa pú-
Princípio da adjudicação compulsória ao vencedor blica, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
Significa que a Administração não pode, ao concluir o procedi- explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
mento, atribuir o objeto da licitação a outro agente ou ente que não bens ou de prestação de serviços, sendo que esse estatuto deverá
seja o vencedor. Esse princípio, também impede que seja aberta dispor a respeito de licitação e contratação de obras, serviços, com-
nova licitação enquanto for válida a adjudicação anterior. pras e alienações, desde que observados os princípios da adminis-
Registra-se que a adjudicação é um ato declaratório que ga- tração pública.
rante ao vencedor que, vindo a Administração a celebrar um con- A mencionada modificação constitucional, teve como objeti-
trato, o fará com o agente ou ente a quem foi adjudicado o objeto. vo possibilitar a criação de normas mais flexíveis sobre licitação e
Entretanto, mesmo que o objeto licitado tenha sido adjudicado, é contratos e com maior adequação condizente à natureza jurídica
possível que não aconteça a celebração do contrato, posto que a das entidades exploradoras de atividades econômicas, que traba-

195
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

lham sob sistema jurídico predominantemente de direito privado. b) pareceres, perícias e avaliações em geral;
O Maior obstáculo, é o fato de que essas instituições na maioria das c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras
vezes entram em concorrência com a iniciativa privada e precisam ou tributárias;
ter uma agilidade que pode, na maioria das situações, ser prejudi- d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou ser-
cada pela necessidade de submissão aos procedimentos burocráti- viços;
cos da administração direta, autárquica e fundacional. e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
Em observância e cumprimento à determinação da Constitui- f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
ção Federal, foi promulgada a Lei 13.303/2016, Lei das Estatais, que g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico;
criou regras e normas específicas paras as licitações que são dirigi- h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e en-
das por qualquer empresa pública e sociedade de economia mista saios de campo e laboratoriais, instrumentação e monitoramento
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ponde- de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais
ra-se que tais regras forma mantidas pela nova Lei de Licitações, Lei serviços de engenharia que se enquadrem no disposto neste inciso;
nº: 14.133/2.021 em seu art. 1º, inciso I. IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de
De acordo com as regras e normas da Lei 13.303/2016, tais em- credenciamento;
presas públicas e sociedades de economia mista não estão dispen- V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de ins-
sadas do dever de licitar. Mas estão somente adimplindo tal obriga- talações e de localização tornem necessária sua escolha.
ção com seguimento em procedimentos mais flexíveis e adequados Em entendimento ao inc. I, afirma-se que o fornecedor exclu-
a sua natureza jurídica. Assim sendo, a Lei 8.666/1993 acabou por sivo, vedada a preferência de marca, deverá a comprovar a exclu-
não mais ser aplicada às estatais e às suas subsidiárias. sividade por meio de atestado fornecido pelo órgão de registro do
Entretanto, com a entrada em vigor da nova Lei de Licitações de comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o
nº. 14.133/2.021, advinda do Projeto de Lei nº 4.253/2020, obser- serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou,
va-se que ocorreu um impacto bastante concreto para as estatais ainda, pelas entidades equivalentes.
naquilo que se refere ao que a Lei nº 13.303/16 expressa ao reme- Em relação ao inc. II do referido diploma legal, verifica-se a dis-
ter à aplicação das Leis nº 8.666/93 e Lei nº 10.520/02. pensabilidade da exigência de licitação para a contratação de profis-
Nesse sentido, denota-se em relação ao assunto acima que são sionais da seara artística de forma direta ou através de empresário,
pontos de destaque com a aprovação da Nova Lei de Licitações de levando em conta que este deverá ser reconhecido publicamente.
nº. 14.133/2.021: Por fim, o inc. III, aduz sobre a contratação de serviços técnicos
1) O pregão, sendo que esta modalidade não será mais regula- especializados, de natureza singular, com profissionais ou empresas
da pela Lei nº 10.520/02, que consta de forma expressa no art. 32, de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de
IV, da Lei nº 13.303/16; publicidade e divulgação.
2) As normas de direito penal que deverão ser aplicadas na
seara dos processos de contratação, que, por sua vez, deixarão de Ressalta-se que além das mencionadas hipóteses previstas de
ser regulados pelos arts. 89 a 99 da Lei nº 8.666/93; e forma exemplificativa na legislação, sempre que for impossível a
3) Os critérios de desempate de propostas, sendo que a Lei competição, o procedimento de inexigibilidade de licitação deverá
nº 13.303/16 dispõe de forma expressa, dentre os critérios de de- ser adotado.
sempate contidos no art. 55, inc. III, a adoção da previsão que se Vale destacar com grande importância, ainda, em relação ao
encontra inserida no § 2º do art. 3º da Lei nº 8.666/93, que por sua inc. III da Nova Lei de Licitações, que nem todo serviço técnico espe-
vez, passará a ter outro tratamento pela Nova Lei de Licitações. cializado está apto a ensejar a inexigibilidade de licitação, fato que
se verificará apenas se ao mesmo tempo, tal serviço for de natureza
Dispensa e inexigibilidade singular e o seu prestador for dotado de notória especialização. O
Verificar-se-á a inexigibilidade de licitação sempre que houver serviço de natureza singular é reconhecido pela sua complexidade,
inviabilidade de competição. Com a entrada em vigor da Nova Lei relevância ou pelos interesses públicos que estiverem em jogo, vin-
de Licitações, Lei nº. 14.133/2.021 no art. 74, I, II e III, foi disposto do demandar a contratação de prestador com a devida e notória
as hipóteses por meio das quais a competição é inviável e que, por- especialização.
tanto, nesses casos, a licitação é inexigível. Vejamos: Por sua vez, a legislação considera como sendo de notória
especialização, aquele profissional ou empresa que o conceito no
Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, âmbito de sua especialidade, advindo de desempenho feito ante-
em especial nos casos de: riormente como estudos, experiências, publicações, organização,
I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou equipe técnica, ou de outros atributos e requisitos pertinentes com
contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor, suas atividades, que permitam demonstrar e comprovar que o seu
empresa ou representante comercial exclusivos; trabalho é essencial e o mais adequado à plena satisfação do objeto
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente do contrato.
ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela Vale mencionar que em situações práticas, a contratação de
crítica especializada ou pela opinião pública; serviços especializados por inexigibilidade de licitação tem criado
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados várias controvérsias, principalmente quando se refere à contrata-
de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou ção de serviços de advocacia e também de contabilidade.
empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para Conforme já estudado, a licitação é tida como dispensada
serviços de publicidade e divulgação: quando, mesmo a competição sendo viável, o certame deixou de
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou proje- ser realizado pelo fato da própria lei o dispensar. Tem natureza dife-
tos executivos;

196
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

rente da ausência de exigibilidade da licitação dispensável porque Melhor técnica ou conteúdo artístico
nesta, o gestor tem a possibilidade de decidir por realizar ou não o Nesse tipo de licitação, a escolha da empresa vencedora leva
procedimento. em consideração a proposta que oferecer mais vantagem em ques-
A licitação dispensada está acoplada às hipóteses de alienação tão de fatores de ordem técnica e artística. Denota-se que esta es-
de bens móveis ou imóveis da Administração Pública. Em grande pécie de licitação deve ser aplicada com exclusividade para serviços
parte das vezes, quando, ao pretender a Administração alienar bens de cunho intelectual, como ocorre na elaboração de projetos, por
de sua propriedade, sejam estes móveis ou imóveis, deverá proce- exemplo incluindo-se nesse rol, tanto os básicos como os executi-
der à realização de licitação. No entanto, em algumas situações, em vos como: cálculos, gerenciamento, supervisão, fiscalização e ou-
razão das peculiaridades do caso especifico, a lei acaba por dispen- tros pertinentes à matéria.
sar o procedimento, o que é verificado, por exemplo, na hipótese da
doação de um bem para outro órgão ou entidade da Administração Técnica e preço
Pública de qualquer esfera de governo. Ocorre que nesse caso, a Depreende-se que esta espécie de licitação é de cunho obriga-
Administração já determinou previamente para qual órgão ou en- tório quando da contratação de bens e serviços na área tecnológica
tidade irá doar o bem. Assim sendo, não existe a necessidade de como de informática e áreas afins, e também nas modalidade de
realização do certame licitatório. concorrência, segundo a nova lei de Licitações. Nesse caso espe-
cífico, o licitante demonstra e apresenta a sua proposta e a docu-
Critérios de Julgamento mentação usando três envelopes distintos, sendo eles: o primeiro
Os novos critérios de julgamento tratam-se das referências para a habilitação, o segundo para o deslinde da proposta técnica e
que são utilizadas para a avaliação das propostas de licitação. Regis- o terceiro, com o preço, que deverão ser avaliados nessa respectiva
tra-se que as espécies de licitação encontram-se dotadas de carac- ordem.
terísticas e exigências diversas, sendo que as espécies de licitação
tendem sempre a variam de acordo com seus prazos e ritos espe- Maior lance (leilão)
cíficos como um todo. Com a aprovação da Lei 14.133/2.021 em Nos ditames da nova Lei de Licitações, esse critério se encon-
seu art. 33, foram criados novos tipos de licitação designados para tra restrito à modalidade de leilão, disciplina que estudaremos nos
a compra de bens e serviços. Sendo eles: menor preço, maior des- próximos tópicos.
conto, melhor técnica ou conteúdo artístico, técnica e preço, maior
lance (leilão), maior retorno econômico. Maior retorno econômico
Vejamos: Registra-se que esse tema se trata de uma das maiores novida-
Menor preço des advindas da Nova Lei de Licitações, pelo fato desse requisito ser
Trata-se do principal objetivo da Administração Pública que é um tipo de licitação de uso para licitações cujo objeto e fulcro sejam
o de comprar pelo menor preço possível. É o critério padrão bási- uma espécie de contrato de eficiência.
co e o mais utilizado em qualquer espécie de licitação, inclusive o Assim dispõe o inc. LIII do Art. 6º da Nova Lei de Licitações:
pregão. Desta forma, vence, aquele que apresentar o preço menor LIII - contrato de eficiência: contrato cujo objeto é a prestação
entre os participantes do certame, desde que a empresa licitante de serviços, que pode incluir a realização de obras e o fornecimento
atenda a todos os requisitos estipulados no edital. de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante,
Nesta espécie de licitação, vencerá a proposta que oferecer e na forma de redução de despesas correntes, remunerado o contra-
comprovar maiores vantagens para a Administração Pública, ape- tado com base em percentual da economia gerada;
nas em questões de valores, o que, na maioria das vezes, termina Desta forma, depreende-se que a pretensão da Administração
por prejudicar a população, tendo em vista que ao analisar apenas não se trata somente da obra, do serviço ou do bem propriamente
a questão de menor preço, nem sempre irá conseguir contratar um dito, mas sim do resultado econômico que tenha mais vantagens
trabalho de qualidade. advindas dessas prestações, razão pela qual, a melhor proposta de
ajuste trata-se daquela que oferece maior retorno econômico à ma-
Maior desconto quina pública.
Pondera-se que caso a licitação seja julgada pelo critério de
maior desconto, o preço com o valor estimado ou o máximo aceitá- Modalidades
vel, deverá constar expressamente do edital. Isso acontece, por que
nessas situações específicas, a publicação do valor de referência da De antemão, infere-se que com o advento da nova Lei de Lici-
Administração Pública é extremamente essencial para que os pro- tações de nº. 14.133/2.021, foram excluídas do diploma legal da
ponentes venham a oferecer seus descontos. Lei 8.666/1.993 as seguintes modalidades de licitação: tomada de
Denota-se que o texto de lei determina que a administração li- preços, convite e RDC – Lei 12.462/2.011. Desta forma, de acordo
citante forneça o orçamento original da contratação, mesmo que tal com a Nova Lei de Licitações, são modalidades de licitação: con-
orçamento tenha sido declarado sigiloso, a qualquer instante tanto corrência, concurso, leilão, pregão e diálogo competitivo.
para os órgãos de controle interno quanto externo. Esse fato é de Lembrando que conforme afirmado no início desse estudo,
grande importância para a administração Pública, tendo em vista pelo fato do ordenamento jurídico administrativo estar em fase de
que a depender do mercado, a divulgação do orçamento original no transição em relação às duas leis, posto que nos dois primeiros anos
instante de ocorrência da licitação acarretará o efeito âncora, fazen- as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na aplicação
do com que os valores das propostas sejam elevados ao patamar para processos que começaram na Lei anterior, deverão continuar
mais aproximado possível no que diz respeito ao valor máximo que a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que começarem
a Administração admite. após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos com a aplica-
ção da nova Lei.

197
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Concorrência Quaisquer interessados podem participar do leilão. Denota-se


Com fundamento no art. 29 da Lei 14.133/2.021, concorrência que o bem será vendido para o licitante que fizer a oferta de maior
é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na lance, o qual deverá obrigatoriamente ser igual ou superior ao valor
fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requi- de avaliação do bem.
sitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de A realização do leilão poderá ser por meio de leiloeiro oficial ou
seu objeto. por servidor indicado pela Administração, procedendo-se conforme
Em termos práticos, trata-se a concorrência de modalidade os ditames da legislação pertinente.
licitatória conveniente para contratações de grande aspecto. Isso
ocorre, por que a Lei de Licitações e Contratos dispôs uma espécie Destaca-se ainda, que algumas entidades financeiras da Admi-
de hierarquia quando a definição da modalidade de licitação acon- nistração indireta executam contratos de mútuo que são garantidos
tece em razão do valor do contrato. Ocorre que quanto maiores por penhor e que, restando-se vencido o contrato, se a dívida não
forem os valores envolvidos, mais altos e maiores serão o nível de for liquidada, promover-se-á o leilão do bem empenhado que deve-
publicidade bem como os prazos estipulados para a realização do rá seguir as regras pertinentes à Lei de licitações.
procedimento. Em alguns casos, não obstante, é permitido uso da
modalidade de maior publicidade no lugar das de menor publicida- Pregão
de, jamais o contrário. Com fundamento no art. 29 da Nova Lei de Licitações, trata-
Nesta linha de pensamento, a regra passa a exigir o uso da con- -se o pregão de uma modalidade de licitação do tipo menor preço,
corrência para valores elevados, vindo a permitir que seja realizada designada ao aferimento de aquisição de bens e serviços comuns.
a tomada de preços ou concorrência para montantes de cunho in- Existem duas maneiras de ocorrência dos pregões, sendo estas nas
termediário e convite (ou tomada de preços ou concorrência), para formas eletrônica e presencial.
contratos de valores mais reduzidos. Os gestores, na prática, ge- Pondera-se que a Lei geral que rege os pregões é a Lei
ralmente optam por utilizar a modalidade licitatória que seja mais 10.520/02. No entanto, em âmbito federal, o pregão presencial é
simplificada dentro do possível, de maneira a evitar a submissão a fundamentado e regulamentado pelo Decreto3.555/00, já o pregão
prazos mais extensos de publicidade do certame. eletrônico, por meio do Decreto 5.450/05.
Os referidos decretos, em razão da natureza institucional de
Concurso processamento dos pregões, são estabelecidos por meio de regras
Disposto no art. 30 da Nova Lei de Licitações, esta modalidade diferentes que serão adotadas pelo Poder Público.
de licitação pode ser utilizada para a escolha de trabalho técnico, Em âmbito federal, a modalidade pregão é obrigatória para
científico ou artístico. Vejamos o que dispõe a Nova Lei de Licita- contratação de serviços e bens comuns. No entanto, o Decreto
ções: 5.459/05 determina que a forma eletrônica é, via de regra, prefe-
Art. 30. O concurso observará as regras e condições previstas rencial.
em edital, que indicará: Ressalta-se que aqueles que estiverem interessados em partici-
I - a qualificação exigida dos participantes; par do pregão presencial, deverão comparecer em hora e local nos
II - as diretrizes e formas de apresentação do trabalho; quais deverá ocorrer a Sessão Pública, onde será feito o credencia-
III - as condições de realização e o prêmio ou remuneração a ser mento, devendo ainda, apresentar os envelopes de proposta, bem
concedida ao vencedor. como os documentos pertinentes.
Parágrafo único. Nos concursos destinados à elaboração de Referente ao pregão eletrônico, deverão os interessados fazer
projeto, o vencedor deverá ceder à Administração Pública, nos ter- cadastro no sistema de compras a ser usado pelo ente licitante, vin-
mos do art. 93 desta Lei, todos os direitos patrimoniais relativos ao do, por conseguinte, cadastrar a sua proposta.
projeto e autorizar sua execução conforme juízo de conveniência e A classificação a respeito das formas de pregão está também
oportunidade das autoridades competentes. eivada de diferenças. Infere-se que no pregão presencial, o prego-
eiro deverá fazer a seleção de todas as propostas de até 10% acima
Leilão da melhor proposta e as classificar para a fase de lances. Havendo
Disposto no art. 31 da Nova Lei de Licitações, o leilão poderá ausência de propostas que venham a atingir esses 10%, restarão
ser cometido a leiloeiro oficial ou a servidor designado pela auto- selecionadas, por conseguinte, as três melhores propostas.
ridade competente da Administração, sendo que seu regulamento Diversamente do que ocorre no pregão eletrônico, levando em
deverá dispor sobre seus procedimentos operacionais. conta que todos os participantes são classificados e tem o direito de
Se optar pela realização de leilão por intermédio de leiloeiro participar da fase na qual ocorrem os lances por meio do sistema,
oficial, a Administração deverá selecioná-lo mediante credencia- dentro dos parâmetros pertinentes ao horário indicado no edital ou
mento ou licitação na modalidade pregão e adotar o critério de jul- carta convite.
gamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas, Inicia-se a fase de lances do pregão presencial com o lance da
utilizados como parâmetro máximo, os percentuais definidos na lei licitação que possui a maior proposta, vindo a seguir, por conse-
que regula a referida profissão e observados os valores dos bens a guinte, a lista decrescente até alcançar ao menor valor.
serem leiloados É importante destacar que no pregão eletrônico, os lances são
O leilão não exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de lançados no sistema na medida em que os participantes vão ofer-
habilitação e deverá ser homologado assim que concluída a fase tando, devendo ser sempre de menor valor ao último lance que por
de lances, superada a fase recursal e efetivado o pagamento pelo este foi ofertado. Assim, lances são lançados e registrados no siste-
licitante vencedor, na forma definida no edital. ma, até que esta fase venha a se encerrar.

198
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Desde o início da Sessão, no pregão presencial o pregoeiro de- mesma ser comprovada de forma objetiva, por intermédio de coefi-
verá se informar de antemão, quem são os participantes, tendo em cientes e índices econômicos que deverão estar previstos no edital
vista que estes se identificam no momento do em que fazem o cre- e devidamente justificados no processo de licitação.
denciamento. De acordo com a Nova lei, os documentos exigidos para a ha-
No pregão eletrônico, até que chegue a fase de habilitação, bilitação são: a certidão negativa de feitos a respeito de falência ex-
o pregoeiro não possui a informação sobre quem são os licitantes pedida pelo distribuidor da sede do licitante, e, por último, exige-se
participantes, para evitar conluio. o balanço patrimonial dos últimos dois exercícios sociais, salvo das
A intenção de recorrer no pregão presencial, deverá por parâ- empresas que foram constituídas no lapso de menos de dois anos.
metros legais, ser manifestada e eivada com as motivações ao final Registra-se que base legal no art. 66 da referida Lei, habilita-
da Sessão. ção jurídica visa a demonstrar a capacidade de o licitante exercer
No pregão eletrônico, havendo a intenção de recorrer, deverá direitos e assumir obrigações, e a documentação a ser apresentada
de imediato a parte interessada se manifestar, devendo ser regis- por ele limita-se à comprovação de existência jurídica da pessoa e,
trado no campo do sistema de compras pertinente, no qual deverá quando cabível, de autorização para o exercício da atividade a ser
conter as exposições com a motivação da interposição. contratada.
Já o art. 67, dispõe de forma clara a respeito da documentação
Diálogo competitivo exigida para a qualificação técnico-profissional e técnico-operacio-
Com supedâneo no art. 32 da Nova Lei de Licitações, modali- nal. Vejamos:
dade diálogo competitivo é restrita a contratações em que a Admi- Art. 67. A documentação relativa à qualificação técnico-profis-
nistração: sional e técnico-operacional será restrita a:
Art. 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita a contrata- I - apresentação de profissional, devidamente registrado no
ções em que a Administração: conselho profissional competente, quando for o caso, detentor de
I - vise a contratar objeto que envolva as seguintes condições: atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou ser-
a) inovação tecnológica ou técnica; viço de características semelhantes, para fins de contratação;
b) impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua necessidade II - certidões ou atestados, regularmente emitidos pelo conse-
satisfeita sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado; e lho profissional competente, quando for o caso, que demonstrem
c) impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas capacidade operacional na execução de serviços similares de com-
com precisão suficiente pela Administração; plexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior, bem
II - verifique a necessidade de definir e identificar os meios e as como documentos comprobatórios emitidos na forma do § 3º do
alternativas que possam satisfazer suas necessidades, com desta- art. 88 desta Lei;
que para os seguintes aspectos: III - indicação do pessoal técnico, das instalações e do apare-
a) a solução técnica mais adequada; lhamento adequados e disponíveis para a realização do objeto da
b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a solução já defi- licitação, bem como da qualificação de cada membro da equipe téc-
nida; nica que se responsabilizará pelos trabalhos;
c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato. IV - prova do atendimento de requisitos previstos em lei espe-
cial, quando for o caso;
Obs. Importante: § 1º, inc. VIII , Lei 14.133/2021- a Adminis- V - registro ou inscrição na entidade profissional competente,
tração deverá, ao declarar que o diálogo foi concluído, juntar aos quando for o caso;
autos do processo licitatório os registros e as gravações da fase de VI - declaração de que o licitante tomou conhecimento de todas
diálogo, iniciar a fase competitiva com a divulgação de edital con- as informações e das condições locais para o cumprimento das obri-
tendo a especificação da solução que atenda às suas necessidades gações objeto da licitação.
e os critérios objetivos a serem utilizados para seleção da proposta
mais vantajosa e abrir prazo, não inferior a 60 (sessenta) dias úteis, Julgamento
para todos os licitantes pré-selecionados na forma do inciso II deste Sob a vigência do nº. 14.133/2.021, a Nova Lei de Licitações
parágrafo apresentarem suas propostas, que deverão conter os ele- trouxe em seu art. 33, a nova forma de julgamento, sendo que de
mentos necessários para a realização do projeto. agora em diante, as propostas deverão ser julgadas de acordo sob
os seguintes critérios:
Habilitação, Julgamento e recursos 1. Menor preço;
Habilitação 2. Maior desconto;
Com determinação expressa no Capítulo VI da Nova Lei de Lici- 3. Melhor técnica ou conteúdo artístico;
tações, art. 62, denota-se que a habilitação se mostra como a fase 4. Técnica e preço;
da licitação por meio da qual se verifica o conjunto de informações 5. Maior lance, no caso de leilão;
e documentos necessários e suficientes para demonstrar a capaci- 6. Maior retorno econômico.
dade do licitante de realizar o objeto da licitação. Observa-se que os títulos por si só já dão a noção a respeito do
Registra-se no dispositivo legal, que os critérios inseridos foram seu funcionamento, bem como já foram estudados anteriormente
renovados pela Nova Lei, como por exemplo, a previsão em lei de nesta obra. Entretanto, é possível afirmar que a maior novidade,
aceitação de balanço de abertura. trata-se do critério de maior retorno econômico, que é uma espécie
No que condiz à habilitação econômico-financeira, com supe- de licitação usada somente para certames cujo objeto seja contrato
dâneo legal no art. 68 da Nova Lei, observa-se que possui utilidade de eficiência de forma geral.
para demonstrar que o licitante se encontra dotado de capacidade
para sintetizar com suas possíveis obrigações futuras, devendo a

199
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Nesta espécie de contrato, busca-se o resultado econômico Por fim, vejamos os dispositivos legais contidos na Nova lei de
que proporcione a maior vantagem advinda de uma obra, serviço Lictações que regem o sistema de registro de preços:
ou bem, motivo pelo qual, a melhor proposta deverá ser aquela que Art. 82. O edital de licitação para registro de preços observará
trouxer um maior retorno econômico. as regras gerais desta Lei e deverá dispor sobre:
I - as especificidades da licitação e de seu objeto, inclusive a
Recursos quantidade máxima de cada item que poderá ser adquirida;
Com base legal no art. 71 da nova Lei de Licitações, não ocor- II - a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou,
rendo inversão de fases na licitação, pondera-se que os recursos em no caso de serviços, de unidades de medida;
face dos atos de julgamento ou habilitação, deverão ser apresenta- III - a possibilidade de prever preços diferentes:
dos no término da fase de habilitação, tendo em vista que tal ato a) quando o objeto for realizado ou entregue em locais dife-
deverá acontecer em apenas uma etapa. rentes;
Caso os licitantes desejem recorrer a despeito dos atos do jul- b) em razão da forma e do local de acondicionamento;
gamento da proposta e da habilitação, denota-se que deverão se c) quando admitida cotação variável em razão do tamanho do
manifestar de imediato o seu desejo de recorrer, logo após o térmi- lote;
no de cada sessão, sob pena de preclusão d) por outros motivos justificados no processo;
Havendo a inversão das fases com a habilitação de forma pre- IV - a possibilidade de o licitante oferecer ou não proposta em
cedente à apresentação das propostas, bem como o julgamento, quantitativo inferior ao máximo previsto no edital, obrigando-se
afirma-se que os recursos terão que ser apresentados em dois in- nos limites dela;
tervalos de tempo, após a fase de habilitação e após o julgamento V - o critério de julgamento da licitação, que será o de menor
das propostas. preço ou o de maior desconto sobre tabela de preços praticada no
mercado;
Adjudicação e homologação VI - as condições para alteração de preços registrados;
O Direito Civil Brasileiro conceitua a adjudicação como sendo VII - o registro de mais de um fornecedor ou prestador de servi-
o ato por meio do qual se declara, cede ou transfere a propriedade ço, desde que aceitem cotar o objeto em preço igual ao do licitante
de uma pessoa para outra. Já o Direito Processual Civil a conceitua vencedor, assegurada a preferência de contratação de acordo com
como uma forma de pagamento feito ao exequente ou a terceira a ordem de classificação;
pessoa, por meio da transferência dos bens sobre os quais incide VIII - a vedação à participação do órgão ou entidade em mais
a execução. de uma ata de registro de preços com o mesmo objeto no prazo de
Ressalta-se que os procedimentos legais de adjudicação têm validade daquela de que já tiver participado, salvo na ocorrência de
início com o fim da fase de classificação das propostas. Adilson ata que tenha registrado quantitativo inferior ao máximo previsto
Dallari (1992:106), doutrinariamente separando as fases de classi- no edital;
ficação e adjudicação, ensina que esta não é de cunho obrigatório, IX - as hipóteses de cancelamento da ata de registro de preços
embora não seja livre. e suas consequências
Podemos conceituar a homologação como o ato que perfaz o § 1º O critério de julgamento de menor preço por grupo de
encerramento da licitação, abrindo espaço para a contratação. Ho- itens somente poderá ser adotado quando for demonstrada a invia-
mologação é a aprovação determinada por autoridade judicial ou bilidade de se promover a adjudicação por item e for evidenciada a
administrativa a determinados atos particulares com o fulcro de sua vantagem técnica e econômica, e o critério de aceitabilidade de
produzir os efeitos jurídicos que lhes são pertinentes. preços unitários máximos deverá ser indicado no edital.
Considera-se que a homologação do processo de licitação re- § 2º Na hipótese de que trata o § 1º deste artigo, observados
presenta a aceitação da proposta. De acordo com Sílvio Rodrigues os parâmetros estabelecidos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 23 desta Lei,
(1979:69), a aceitação consiste na “formulação da vontade concor- a contratação posterior de item específico constante de grupo de
dante e envolve adesão integral à proposta recebida.” itens exigirá prévia pesquisa de mercado e demonstração de sua
Registre-se por fim, que a homologação vincula tanto a Admi- vantagem para o órgão ou entidade.
nistração como o licitante, para buscar o aperfeiçoamento do con- § 3º É permitido registro de preços com indicação limitada a
trato. unidades de contratação, sem indicação do total a ser adquirido,
apenas nas seguintes situações:
Registro de preços I - quando for a primeira licitação para o objeto e o órgão ou
Registro de preços é a modalidade de licitação que se encontra entidade não tiver registro de demandas anteriores;
apropriada para possibilitar diversas contratações que sejam conco- II - no caso de alimento perecível;
mitantes ou sucessivas, sem que haja a realização de procedimento III - no caso em que o serviço estiver integrado ao fornecimento
de licitação de forma específica para cada uma destas contratações. de bens.
Registra-se que o referido sistema é útil tanto a um, quanto a § 4º Nas situações referidas no § 3º deste artigo, é obrigatória
mais órgãos pertencentes à Administração. a indicação do valor máximo da despesa e é vedada a participação
De modo geral, o registro de preços é usado para compras cor- de outro órgão ou entidade na ata.
riqueiras de bens ou serviços específicos, em se tratando daqueles § 5º O sistema de registro de preços poderá ser usado para
que não se sabe a quantidade que será preciso adquirir, bem como a contratação de bens e serviços, inclusive de obras e serviços de
quando tais compras estiverem sob a condição de entregas parcela- engenharia, observadas as seguintes condições:
das. O objetivo destas ações é evitar que se formem estoques, uma I - realização prévia de ampla pesquisa de mercado;
vez que estes geram alto custo de manutenção, além do risco de II - seleção de acordo com os procedimentos previstos em re-
tais bens vir a perecer ou deteriorar. gulamento;

200
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

III - desenvolvimento obrigatório de rotina de controle; força de lei, deverá sempre evidenciar as razões pelas quais foram
IV - atualização periódica dos preços registrados; fundamentadas a conclusão pela revogação do certame, bem como
V - definição do período de validade do registro de preços; os motivos de não prosseguir com o processo licitatório.
VI - inclusão, em ata de registro de preços, do licitante que acei-
tar cotar os bens ou serviços em preços iguais aos do licitante vence- Breves considerações adicionais acerca das mudanças no pro-
dor na sequência de classificação da licitação e inclusão do licitante cesso de licitação após a aprovação da Lei 14.133/2.021
que mantiver sua proposta original. • Com a aprovação da Nova Lei, nos ditames do §2º do art. 17,
§ 6º O sistema de registro de preços poderá, na forma de regu- será utilizada como regra geral, a forma eletrônica de contratação
lamento, ser utilizado nas hipóteses de inexigibilidade e de dispen- para todos os procedimentos licitatórios.
sa de licitação para a aquisição de bens ou para a contratação de • Como exceção, caso seja preciso que a forma de contratação
serviços por mais de um órgão ou entidade. seja feita presencialmente, o órgão deverá expor os motivos de fato
Art. 83. A existência de preços registrados implicará compro- e de direito no processo administrativo, porém, ficará incumbido da
misso de fornecimento nas condições estabelecidas, mas não obri- obrigação de gravar a sessão em áudio e também em vídeo.
gará a Administração a contratar, facultada a realização de licita- • O foco da Nova Lei, é buscar o incentivo para o uso do siste-
ção específica para a aquisição pretendida, desde que devidamente ma virtual nos certames, vindo, assim, a dar mais competitividade,
motivada. segurança e isonomia para as licitações de forma geral.
Art. 84. O prazo de vigência da ata de registro de preços será de • A Nova Lei de Licitações criou o PNCP (Portal Nacional de
1 (um) ano e poderá ser prorrogado, por igual período, desde que Contratações Públicas), que irá servir como um portal obrigatório.
comprovado o preço vantajoso. • Todos os órgãos terão obrigação de divulgar suas licitações,
Parágrafo único. O contrato decorrente da ata de registro de sejam eles federais, estaduais ou municipais.
preços terá sua vigência estabelecida em conformidade com as dis- • Art. 20. Os itens de consumo adquiridos para suprir as de-
posições nela contidas. mandas das estruturas da Administração Pública deverão ser de
qualidade comum, não superior à necessária para cumprir as finali-
Revogação e anulação da licitação dades às quais se destinam, vedada a aquisição de artigos de luxo.
De antemão, em relação à revogação e a anulação do proce- • Art. 95, § 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com
dimento licitatório, aplica-se o mesmo raciocínio, posto que caso a Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação
tenha havido vício no procedimento, busca-se por vias legais o a de serviços de pronto pagamento, assim entendidos aqueles de va-
possibilidade de corrigi-lo. Em se tratando de caso de vício que não lor não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).
se possa sanar, ou haja a impossibilidade de saná-lo, a anulação se • São atos da Administração Pública antes de formalizar ou
impõe. Entretanto, caso não exista qualquer espécie de vício no cer- prorrogar contratos administrativos: verificar a regularidade fiscal
tame, mas, a contratação tenha sido deixada de ser considerada de do contratado; consultar o Cadastro Nacional de Empresas idôneas
interesse público, impõe-se a aplicação da revogação. e suspensas (CEIS) e punidas (CNEP).
Nos ditames do art. 62 da Lei nº 13.303/2016, após o início da • A Nova Lei de Licitações inseriu vários crimes do Código Pe-
fase de apresentação de lances ou propostas, “a revogação ou a nal, no que se refere às licitações, dentre eles, o art. 337-H do Có-
anulação da licitação somente será efetivada depois de se conceder digo Penal de 1.940:
aos licitantes que manifestem interesse em contestar o respectivo Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer mo-
ato prazo apto a lhes assegurar o exercício do direito ao contraditó- dificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor
rio e à ampla defesa”. do contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a
Já na seara da lei nº 8.666/93, ressalta-se que a norma tratou Administração Pública sem autorização em lei, no edital da licitação
de limitar a indicar, por meio do art. 49, §3º, que em caso de des- ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatu-
fazimento do processo licitatório, ficará assegurado o contraditório ra com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade:
e a ampla defesa. Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
Por fim, registra-se que em se tratando da obrigatoriedade da
aprovação de espaço aos licitantes interessados no exercício do di- Perturbação de processo licitatório
reito ao contraditório e à ampla defesa, de forma anterior ao ato • Os valores fixados na Lei, serão anualmente corrigidos pelo
de decisório de revogação e anulação, criou-se de forma tradicio- IPCA-E, nos termos do art. 182: O Poder Executivo federal atua-
nal diversos debates tanto na doutrina quanto na jurisprudência lizará, a cada dia 1º de janeiro, pelo Índice Nacional de Preços ao
nacional. Um exemplo da informação acima, trata-se dos diversos Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) ou por índice que venha a subs-
julgados que ressalvam a aplicação contida no art. 49, §3º da Lei tituí-lo, os valores fixados por esta Lei, os quais serão divulgados no
8.666/1.993 nas situações de revogação de licitação antes de sua PNCP.
homologação. Pondera-se que esse entendimento afirma que o
contraditório e a ampla defesa apenas seriam exigíveis quando o
procedimento de licitação tiver sido concluído. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: CONCEITO;
Obs. Importante: Ainda que em situações por meio das quais é CARACTERÍSTICAS. INEXECUÇÃO DO CONTRATO:
considerado dispensável dar a oportunidade aos licitantes do con- RESCISÕES E SANÇÕES.
traditório e a ampla defesa, a obrigação da administração em mo-
tivar o ato revogatório não será afastada, uma vez que devendo se No desempenho da função administrativa, o Poder Público
ater aos princípios da transparência e da motivação, o gestor por empraza diversas relações jurídicas com pessoas físicas e jurídicas,
públicas e privadas. A partir do momento em que tais relações se

201
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

constituem por intermédio da manifestação bilateral da vontade parece apropriado, tendo em vista que o princípio da moralidade é
das partes, afirmamos que foi celebrado um contrato da Adminis- um princípio geral e aplicável a toda a Administração Pública, vindo
tração. a alcançar, inclusive, os cargos de natureza política.
Denota-se que os contratos da Administração podem ser nas
formas: Princípio da publicidade
Contratos Administrativos: são aqueles comandados pelas Sua função é impor a divulgação e a exteriorização dos atos
normas de Direito Público. do Poder Público, nos ditames do art. 37 da CRFB/1988 e do art.
Contratos de Direito Privado firmados pela Administração: 2. ° da Lei 9.784/1999). Ressalta-se com grande importância que a
são aqueles comandados por normas de Direito Privado. transparência dos atos administrativos guarda estreita relação com
o princípio democrático nos termos do art. 1. ° da CRFB/1988), vin-
Princípios do a possibilitar o exercício do controle social sobre os atos públicos
Princípio da legalidade praticados pela Administração Pública em geral. Denota-se que a
Disposto no art. 37 da CRFB/1988, recebe um conceito como atuação administrativa obscura e sigilosa é característica típica dos
um produto do Liberalismo, que propagava evidente superioridade Estados autoritários. Como se sabe, no Estado Democrático de Di-
do Poder Legislativo por intermédio da qual a legalidade veio a ser reito, a regra determinada por lei, é a publicidade dos atos estatais,
bipartida em importantes desdobramentos: com exceção dos casos de sigilo determinados e especificados por
1) Supremacia da lei: a lei prevalece e tem preferência sobre os lei. Exemplo: a publicidade é um requisito essencial para a produ-
atos da Administração; ção dos efeitos dos atos administrativos, é uma necessidade de mo-
2) Reserva de lei: a apreciação de certas matérias deve ser for- tivação dos atos administrativos.
malizada pela legislação, deletando o uso de outros atos de caráter
normativo. Princípio da eficiência
Todavia, o princípio da legalidade deve ser conceituado como o Foi inserido no art. 37 da CRFB, por intermédio da EC 19/1998,
principal conceito para a configuração do regime jurídico-adminis- com o fito de substituir a Administração Pública burocrática pela
trativo, tendo em vista que segundo ele, a administração pública só Administração Pública gerencial. O intuito de eficiência está relacio-
poderá ser desempenhada de forma eficaz em seus atos executivos, nado de forma íntima com a necessidade de célere efetivação das
agindo conforme os parâmetros legais vigentes. De acordo com o finalidades públicas dispostas no ordenamento jurídico. Exemplo:
princípio em análise, todo ato que não possuir base em fundamen- duração razoável dos processos judicial e administrativo, nos dita-
tos legais é ilícito. mes do art. 5.0, LXXVIII, da CRFB/1988, inserido pela EC 45/2004),
bem como o contrato de gestão no interior da Administração (art.
Princípio da impessoalidade 37 da CRFB) e com as Organizações Sociais (Lei 9.637/1998).
Consagrado de forma expressa no art. 37 da CRFB/1988, possui Em relação à circulação de riquezas, existem dois critérios que
duas interpretações possíveis: garantem sua eficiência:
a) igualdade (ou isonomia): dispõe que a Administração Públi- a) eficiência de Pareto (“ótimo de Pareto”): a medida se torna
ca deve se abster de tratamento de forma impessoal e isonômico eficiente se conseguir melhorar a situação de certa pessoa sem pio-
aos particulares, com o fito de atender a finalidade pública, vedadas rar a situação de outrem.
a discriminação odiosa ou desproporcional. Exemplo: art. 37, II, da b) eficiência de Kaldor-Hicks: as normas devem ser aplicadas
CRFB/1988: concurso público. Isso posto, com ressalvas ao trata- de forma a produzir o máximo de bem-estar para o maior número
mento que é diferenciado para pessoas que estão se encontram em de pessoas, onde os benefícios de “X” superam os prejuízos de “Y”).
posição fática de desigualdade, com o fulcro de efetivar a igualdade Ressalte-se, contudo, em relação aos critérios mencionados
material. Exemplo: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.0, § 2. °, da Lei acima, que a eficiência não pode ser analisada apenas sob o prisma
8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos para econômico, tendo em vista que a Administração possui a obrigação
portadores de deficiência. de considerar outros aspectos fundamentais, como a qualidade do
b) proibição de promoção pessoal: quem faz as realizações serviço ou do bem, durabilidade, confiabilidade, dentre outros as-
públicas é a própria entidade administrativa e não são tidas como pectos.
feitos pessoais dos seus respectivos agentes, motivos pelos quais
toda a publicidade dos atos do Poder Público deve possuir caráter Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade
educativo, informativo ou de orientação social, nos termos do art. Nascido e desenvolvido no sistema da common law da Magna
37, § 1. °, da CRFB: “dela não podendo constar nomes, símbolos Carta de 1215, o princípio da razoabilidade o princípio surgiu no di-
ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades reito norte-americano por intermédio da evolução jurisprudencial
ou servidores públicos”. da cláusula do devido processo legal, pelas Emendas 5.’ e 14.’ da
Constituição dos Estados Unidos, vindo a deixar de lado o seu cará-
Princípio da moralidade ter procedimental (procedural due process of law: direito ao contra-
Disposto no art. 37 da CRFB/1988, presta-se a exigir que a atua- ditório, à ampla defesa, dentre outras garantias processuais) para,
ção administrativa, respeite a lei, sendo ética, leal e séria. Nesse dia- por sua vez, incluir a versão substantiva (substantive due process of
pasão, o art. 2. °, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999 ordena ao law: proteção das liberdades e dos direitos dos indivíduos contra
administrador nos processos administrativos, a autêntica “atuação abusos do Estado).
segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”. Exemplo:
a vedação do ato de nepotismo inserido da Súmula Vinculante 13
do STF. Entretanto, o STF tem afastado a aplicação da mencionada
súmula para os cargos políticos, o que para a doutrina em geral não

202
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Desde seus primórdios, o princípio da razoabilidade vem sendo Princípio da continuidade


aplicado como forma de valoração pelo Judiciário, bem como da Encontra-se ligado à prestação de serviços públicos, sendo que
constitucionalidade das leis e dos atos administrativos, demons- tal prestação gera confortos materiais para as pessoas e não pode
trando ser um dos mais importantes instrumentos de defesa dos ser interrompida, levando em conta a necessidade permanente de
direitos fundamentais dispostos na legislação pátria. satisfação dos direitos fundamentais instituídos pela legislação.
O princípio da proporcionalidade, por sua vez origina-se das te- Tendo em vista a necessidade de continuidade do serviço pú-
orias jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, a partir do momento blico, é exigido regularidade na sua prestação. Ou seja, prestador
no qual foi reconhecida a existência de direitos perduráveis ao ho- do serviço, seja ele o Estado, ou, o delegatório, deverá prestar o
mem oponíveis ao Estado. Foi aplicado primeiramente no âmbito serviço de forma adequada, em consonância com as normas vigen-
do Direito Administrativo, no “direito de polícia”, vindo a receber, tes e, em se tratando dos concessionários, devendo haver respeito
na Alemanha, dignidade constitucional, a partir do momento em às condições do contrato de concessão. Em resumo, a continuidade
que a doutrina e a jurisprudência passaram a afirmar que a propor- pressupõe a regularidade, isso por que seria inadequado exigir que
cionalidade seria um princípio implícito advindo do próprio Estado o prestador continuasse a prestar um serviço de forma irregular.
de Direito. Mesmo assim, denota-se que a continuidade acaba por não
Embora haja polêmica em relação à existência ou não de di- impor que todos os serviços públicos sejam prestados diariamente
ferenças existentes entre os princípios da razoabilidade e da pro- e em período integral. Na realidade, o serviço público deverá ser
porcionalidade, de modo geral, tem prevalecido a tese da fungibi- prestado sempre na medida em que a necessidade da população
lidade entre os mencionados princípios que se relacionam e forma vier a surgir, sendo lícito diferenciar a necessidade absoluta da ne-
paritária com os ideais igualdade, justiça material e racionalidade, cessidade relativa, onde na primeira, o serviço deverá ser prestado
vindo a consubstanciar importantes instrumentos de contenção dos sem qualquer tipo interrupção, tendo em vista que a população ne-
excessos cometidos pelo Poder Público. cessita de forma permanente da disponibilidade do serviço. Exem-
O princípio da proporcionalidade é subdividido em três plos: hospitais, distribuição de energia, limpeza urbana, dentre ou-
subprincípios: tros.
a) Adequação ou idoneidade: o ato praticado pelo Estado será
adequado quando vier a contribuir para a realização do resultado Princípio da autotutela
pretendido. Aduz que a Administração Pública possui o poder-dever de re-
b) Necessidade ou exigibilidade: em decorrência da proibição ver os seus próprios atos, seja no sentido de anulá-los por vício de
do excesso, existindo duas ou mais medidas adequadas para alcan- legalidade, ou, ainda, para revogá-los por motivos de conveniência
çar os fins perseguidos de interesse público, o Poder Público terá e de oportunidade, de acordo com a previsão contida nas Súmulas
o dever de adotar a medida menos agravante aos direitos funda- 346 e 473 do STF, e, ainda, como no art. 53 da Lei 9.784/1999.
mentais. A autotutela designa o poder-dever de corrigir ilegalidades,
c) Proporcionalidade em sentido estrito: coloca fim a uma bem como de garantir o interesse público dos atos editados pela
típica consideração, no caso concreto, entre o ônus imposto pela própria Administração, como por exemplo, a anulação de ato ilegal
atuação do Estado e o benefício que ela produz, motivo pelo qual e revogação de ato inconveniente ou inoportuno.
a restrição ao direito fundamental deverá ser plenamente justifica- Fazendo referência à autotutela administrativa, infere-se que
da, tendo em vista importância do princípio ou direito fundamental esta possui limites importantes que, por sua vez, são impostos ante
que será efetivado. à necessidade de respeito à segurança jurídica e à boa-fé dos parti-
culares de modo geral.
Princípio da supremacia do interesse público sobre o interes-
se privado (princípio da finalidade pública) Princípios da consensualidade e da participação
É considerado um pilar do Direito Administrativo tradicional, Segundo Moreira Neto, a participação e a consensualidade tor-
tendo em vista que o interesse público pode ser dividido em duas naram-se decisivas para as democracias contemporâneas, pelo fato
categorias: de contribuem no aprimoramento da governabilidade, vindo a fazer
a) interesse público primário: encontra-se relacionado com a a praticar a eficiência no serviço público, propiciando mais freios
necessidade de satisfação de necessidades coletivas promovendo contra o abuso, colocando em prática a legalidade, garantindo a
justiça, segurança e bem-estar através do desempenho de ativi- atenção a todos os interesses de forma justa, propiciando decisões
dades administrativas que são prestadas à coletividade, como por mais sábias e prudentes usando da legitimidade, desenvolvendo a
exemplo, os serviços públicos, poder de polícia e o fomento, dentre responsabilidade das pessoas por meio do civismo e tornando os
outros. comandos estatais mais aceitáveis e mais fáceis de ser obedecidos.
b) interesse público secundário: trata-se do interesse do pró- Desta forma, percebe-se que a atividade de consenso entre o
prio Estado, ao estar sujeito a direitos e obrigações, encontra-se Poder Público e particulares, ainda que de maneira informal, veio a
ligando de forma expressa à noção de interesse do erário, imple- assumir um importante papel no condizente ao processo de iden-
mentado através de atividades administrativas instrumentais que tificação de interesses públicos e privados que se encontram sob a
são necessárias ao atendimento do interesse público primário. tutela da Administração Pública.
Exemplos: as atividades relacionadas ao orçamento, aos agentes Assim sendo, com a aplicação dos princípios da consensualida-
público e ao patrimônio público. de e da participação, a administração termina por voltar-se para a
coletividade, vindo a conhecer melhor os problemas e aspirações
da sociedade, passando a ter a ter atividades de mediação para
resolver e compor conflitos de interesses entre várias partes ou
entes, surgindo daí, um novo modo de agir, não mais colocando o

203
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ato como instrumento exclusivo de definição e atendimento do in- confiança do afetado de que a sua conduta é lícita na relação jurídi-
teresse público, mas sim em forma de atividade aberta para a cola- ca que mantém com a Administração; ou confiança do afetado de
boração dos indivíduos, passando a ter importância o momento do que as suas expectativas são razoáveis;
consenso e da participação. b) presença de “signos externos”, oriundos da atividade admi-
De acordo com Vinícius Francisco Toazza, “o consenso na toma- nistrativa, que, independentemente do caráter vinculante, orien-
da de decisões administrativas está refletido em alguns institutos tam o cidadão a adotar determinada conduta;
jurídicos como o plebiscito, referendo, coleta de informações, con- c) ato da Administração que reconhece ou constitui uma situa-
selhos municipais, ombudsman, debate público, assessoria externa ção jurídica individualizada (ou que seja incorporado ao patrimônio
ou pelo instituto da audiência pública. Salienta-se: a decisão final jurídico de indivíduos determinados), cuja durabilidade é confiável;
é do Poder Público; entretanto, ele deverá orientar sua decisão o d) causa idônea para provocar a confiança do afetado (a con-
mais próximo possível em relação à síntese extraída na audiência do fiança não pode ser gerada por mera negligência, ignorância ou to-
interesse público. Nota-se que ocorre a ampliação da participação lerância da Administração); e
dos interessados na decisão”, o que poderá gerar tanto uma “atu- e) cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obriga-
ação coadjuvante” como uma “atuação determinante por parte de ções no caso.
interessados regularmente habilitados à participação” (MOREIRA
NETO, 2006, p. 337-338). Elementos
Desta forma, o princípio constitucional da participação é o pio- Aduz-se que sobre esta matéria, a lei nada menciona a respei-
neiro da inclusão dos indivíduos na formação das tutelas jurídico- to, porém, a doutrina tratou de a conceituar e estabelecer alguns
-políticas, sendo também uma forma de controle social, devido aos paradigmas. Refere-se à classificação que a doutrina faz do contrato
seus institutos participativos e consensuais. administrativo. Desta forma, o contrato administrativo é:
1) Comutativo: trata-se dos contratos de prestações certas e
Princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da determinadas. Possui prestação e contraprestação já estabelecidas
boa-fé e equivalentes. Nesta espécie de contrato, as partes, além de rece-
Os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da berem da outra prestação proporcional à sua, podem apreciar ime-
boa-fé possuem importantes aspectos que os assemelham entre si. diatamente, verificando previamente essa equivalência. Ressalta-se
O princípio da segurança jurídica está dividido em dois senti- que o contrato comutativo se encontra em discordância do contrato
dos: aleatório que é aquele contrato por meio do qual, as partes se ar-
a) objetivo: estabilização do ordenamento jurídico, levando em riscam a uma contraprestação que por ora se encontra desconheci-
conta a necessidade de que sejam respeitados o direito adquirido, da ou desproporcional, dizendo respeito a fatos futuros. Exemplo:
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI, da CRFB); contrato de seguro, posto que uma das partes não sabe se terá que
b) subjetivo: infere a proteção da confiança das pessoas rela- cumprir alguma obrigação, e se tiver, nem sabe qual poderá ser.
cionadas às expectativas geradas por promessas e atos estatais. Com referência a esse tipo de contrato, aduz o art. 4 do Decre-
to-Lei n.7.568/2011:
Já o princípio da boa-fé tem sido dividido em duas acepções: Art. 4º A celebração de convênio ou contrato de repasse com
a) objetiva: diz respeito à lealdade e à lisura da atuação dos entidades privadas sem fins lucrativos será precedida de chama-
particulares; mento público a ser realizado pelo órgão ou entidade concedente,
b) subjetiva: está ligada a relação com o caráter psicológico visando à seleção de projetos ou entidades que tornem mais eficaz
daquele que atuou em conformidade com o direito. Esta caracteri- o objeto do ajuste. (Redação dada pelo Decreto n. 7.568, de 2011)
zação da confiança legítima depende em grande parte da boa-fé do 2) Oneroso: por ter natureza bilateral, comporta vantagens
particular, que veio a crer nas expectativas que foram geradas pela para ambos os contraentes, tendo em vista que estes sofrem um
atuação do Estado. sacrifício patrimonial equivalente a um proveito almejado. Existe
Condizente à noção de proteção da confiança legítima, verifi- um benefício recebido que corresponde a um sacrifício, por meio
ca-se que esta aparece em forma de uma reação frente à utilização do qual, as partes gozam de benefícios e deveres. Ocorre de forma
abusiva de normas jurídicas e de atos administrativos que termi- contrária do contrato gratuito, como a doação, posto que neste, só
nam por surpreender os seus receptores. uma das partes possui obrigação, que é entregar o bem, já a outra,
Em decorrência de sua amplitude, princípio da segurança jurí- não tem.
dica, inclui na sua concepção a confiança legítima e a boa-fé, com 3) Formal: é dotado de condições específicas previstas na legis-
supedâneo em fundamento constitucional que se encontra implí- lação para que tenha validade. A formalização do contrato encon-
cito na cláusula do Estado Democrático de Direito no art. 1.° da tra-se paramentada no art. 60 Lei 8.666/1993. Denota-se, por opor-
CRFB/1988, na proteção do direito adquirido, do ato jurídico perfei- tuno, que o contrato administrativo é celebrado pela forma escrita,
to e da coisa julgada de acordo com o art. 5.0, XXXVI, da CRFB/1988. nos ditames art. 60, parágrafo único.
Por fim, registra-se que em âmbito infraconstitucional, o
princípio da segurança jurídica é mencionado no art. 2. ° da Lei Características
9.784/1999, vindo a ser caracterizado por meio da confiança legíti- A doutrina não é unânime quanto às características dos contra-
ma, pressupondo o cumprimento dos seguintes requisitos: tos administrativos. Ainda assim, de modo geral, podemos aduzir
a) ato da Administração suficientemente conclusivo para gerar que são as seguintes:
no administrado (afetado) confiança em um dos seguintes casos: A) Presença da Administração Pública – nos contratos admi-
confiança do afetado de que a Administração atuou corretamente; nistrativos, a Administração Pública atua na relação contratual na
posição de Poder Público, por esta razão, é dotada de um rol de

204
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

prerrogativas que acabam por a colocar em posição de hierarquia disso, a minuta do futuro contrato a ser firmado pela Administração
diante do particular, sendo que tais prerrogativas se materializam com o licitante vencedor, constitui anexo do edital de licitação, dele
nas cláusulas exorbitantes; sendo parte integrante (art. 40, § 2º, III).
B) Finalidade pública – do mesmo modo que nos contratos de Os contratos administrativos são em regra, formais e escritos.
direito privado, nos contratos administrativos sempre deverá estar Registre-se que o instrumento de contrato, á ato obrigatório
presente a incessante busca da satisfação do interesse público, sob nas situações de concorrência ou de tomadas tomada de preços,
pena de incorrer em desvio de poder; bem como ainda nas situações de dispensa ou inexigibilidade de
C) Procedimento legal – são estabelecidos por meio de lei pro- licitação, nas quais os valores contratados estejam elencados nos
cedimentos de cunho obrigatório para a celebração dos contratos limites daquelas duas modalidades licitatórias.
administrativos, que contém, dentre outras medidas, autorização Aduz-se que nos demais casos, o termo de contrato será facul-
legislativa, justificativa de preço, motivação, autorização pela auto- tativo, fato que enseja à Administração adotar o instrumento con-
ridade competente, indicação de recursos orçamentários e licita- tratual ou, ainda, vir a optar por substituí-lo por outro instrumento
ção; hábil a documentar a avença, conforme quadro a seguir (art. 62, §
D) Bilateralidade – independentemente de serem de direito 2º):
privado ou de direito público, os contratos são formados a partir de Todo contrato administrativo tem natureza de contrato de ade-
manifestações bilaterais de vontades da Administração contratante são, pois todas as cláusulas contratuais são fixadas pela Adminis-
e do particular contratado; tração. Contrato de adesão é aquele em que todas as cláusulas são
E) Consensualidade – são o resultado de um acordo de vonta- fixadas por apenas uma das partes, no caso do contrato administra-
des plenas e livres, e não de ato impositivo; tivo, a Administração.
F) Formalidade – não basta que haja a vontade das partes para
que o contrato administrativo se aperfeiçoe, sendo necessário o Prazo
cumprimento de determinações previstas na Lei 8.666/1993; Tendo em vista que os contratos administrativos devem ter
H) Onerosidade – o contrato possui valor econômico conven- prazo determinado, sua vigência deve ficar adjunta à vigência dos
cionado; respectivos créditos orçamentários. Assim sendo, em regra, os con-
I) Comutatividade – os contratos exigem equidade das presta- tratos terão duração de um ano, levando em conta que esse é o
ções do contratante e do contratado, sendo que estas devem ser prazo de vigência dos créditos orçamentários que são passados aos
previamente definidas e conhecidas; órgãos e às entidades. Nos ditames da Lei 4.320/1964, o crédito
J) Caráter sinalagmático – constituído de obrigações recíprocas orçamentário tem duração de um ano, vindo a coincidir com o ano
tanto para a Administração contratante como para o contratado; civil.
K) Natureza de contrato de adesão – as cláusulas dos contratos Entretanto, o art. 57 da Lei 8.666/1993 determina outras situa-
administrativos devem ser fixadas de forma unilateral pela Admi- ções que não seguem ao disposto na regra acima. Vejamos:
nistração. • Aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas me-
Registra-se que deve constar no edital da licitação, a minuta tas estabelecidas no Plano Plurianual, os quais poderão ser prorro-
do contrato que será celebrado. Desta maneira, os licitantes ao gados se houver interesse da Administração e desde que isso tenha
fazerem suas propostas, estão acatando os termos contratuais es- sido previsto no ato convocatório;
tabelecidos pela Administração. Ainda que o contrato não esteja • À prestação de serviços a serem executados de forma contí-
precedido de licitação, a doutrina aduz que é sempre a adminis- nua, que poderão ter a sua duração prorrogada por iguais e suces-
tração quem estabelece as cláusulas contratuais, pelo fato de estar sivos períodos com vistas à obtenção de preços e condições mais
vinculada às normas e também ao princípio da indisponibilidade do vantajosas para a administração, limitada a sessenta meses; (Reda-
interesse público; ção dada pela Lei nº 9.648, de 1998);
L) Caráter intuitu personae – por que os contratos administrati- • Ao aluguel de equipamentos e à utilização de programas de
vos são firmados tomando em conta as características pessoais do informática, podendo a duração estender-se pelo prazo de até 48
contratado. Por esta razão, de modo geral, é proibida a subcontra- (quarenta e oito) meses após o início da vigência do contrato.
tação total ou parcial do objeto contratado, a associação do contra- De acordo com a Carta Magna, toda programação de longo pra-
tado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem zo do Governo tem o dever de estar contida do plano plurianual.
como a fusão, cisão ou incorporação, cuja desobediência é motivo Desta maneira, estando o contrato contemplado nessa programa-
para rescisão contratual (art. 78, VI, Lei 8.666/1993). Entretanto, a ção a longo prazo – PPA –, sua duração será estendida enquanto
regra anterior é amparada pelo art. 72 da mesma lei, que determina existir a previsão nessa lei específica.
a possibilidade de subcontratação de partes de obra, serviço ou for- Em relação aos serviços contínuos na Administração Pública,
necimento, até o limite admitido pela Administração. Aduz-se que a denota-se que são aqueles que exigem uma permanência do servi-
possibilidade de subcontratação é abominada pela doutrina, tendo ço. Sendo uma espécie de serviço que é mais coerente manter por
em vista vez que permite que uma empresa que não participou por um período maior ao invés de ficar renovando e trocando todos os
meios legais da licitação de forma indireta, acabe contratando com anos. Por isso, em razão da Lei n. 12.349/2010, foi acrescentado
o Poder Público, o que ofende o princípio da licitação previsto no mais um dispositivo que determina que o contrato pode ter dura-
art. 37, XXI, da Constituição Federal. ção superior a um ano, que é a regra geral

Formalização
Em regra, os contratos administrativos são precedidos da reali-
zação de licitação, ressalvado nas hipóteses por meio das quais a lei
estabelece a dispensa ou inexigibilidade deste procedimento. Além

205
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Alteração das quando do início do contrato, de forma que a relação se mante-


Em consonância com o art. 65 da Lei 8.666/1993, Lei de Lici- nha estável entre as obrigações do contratado e haja correta e justa
tações, a Administração Pública possui o poder de fazer alterações retribuição da Administração pelo fornecimento do bem, execução
durante a execução de seus contratos de maneira unilateral, inde- de obra ou prestação de serviço.
pendentemente da vontade do ente contratado. Havendo qualquer razão que cause a alteração do contrato sem
Infere-se aqui, que o contrato administrativo possui o condão que o contratado tenha culpa, tal razão terá que ser restabelecida.
de ser alterado unilateralmente ou por meio de acordo. Além dis- Registra-se que essa garantia é de cunho constitucional. Nesse sen-
so, ressalte-se que as alterações unilaterais podem ser de ordem tido, caso o contrato seja atingido por acontecimentos posteriores
qualitativa ou quantitativa. Vejamos o dispositivo legal acerca do à sua celebração, vindo a onerar o contratado, o equilíbrio econô-
assunto: mico-financeiro inicial deverá, nos termos legais que lhe assiste, ser
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser altera- restabelecido por intermédio da recomposição contratual. Desta
dos, com as devidas justificativas, nos seguintes casos: maneira, a inexecução sem culpa do contratado virá a acarretar a
I - unilateralmente pela Administração: revisão contratual, caso tenha havido alteração do equilíbrio eco-
a) quando houver modificação do projeto ou das especifica- nômico-financeiro
ções, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;
b) quando necessária a modificação do valor contratual em de- Prorrogação
corrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, Via regra geral, os contratos administrativos regidos pela Lei
nos limites permitidos por esta Lei; 8.666/1993 possuem duração determinada e vinculada à vigência
II - por acordo das partes: dos respectivos créditos orçamentários. No entanto, há exceções a
a) quando conveniente a substituição da garantia de execução; essa regra nas seguintes situações:
b) quando necessária a modificação do regime de execução da a) Quando o contrato se referir à execução dos projetos cujos
obra ou serviço, bem como do modo de fornecimento, em face de produtos estejam contemplados nas metas estabelecidas no Plano
verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais ori- Plurianual, os quais poderão ser prorrogados se houver interesse
ginários; da Administração e desde que isso tenha sido previsto no ato con-
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, vocatório (art. 57, I);
por imposição de circunstâncias supervenientes, mantido o valor b) Quando o contrato for relativo à prestação de serviços a se-
inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com rela- rem executados de forma contínua, que poderão ter a sua duração
ção ao cronograma financeiro fixado, sem a correspondente contra- prorrogada por iguais e sucessivos períodos visando à obtenção de
prestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço; preços e condições mais vantajosas para a administração, limitada
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicial- a 60 meses (art. 57, II);
mente entre os encargos do contratado e a retribuição da adminis- c) No caso do aluguel de equipamentos e da utilização de pro-
tração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento, gramas de informática, podendo a duração estender-se pelo prazo
objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro ini- de até 48 meses após o início da vigência do contrato (art. 57, IV);
cial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou d) Nos contratos celebrados com dispensa de licitação pelos
previsíveis porém de consequências incalculáveis, retardadores ou seguintes motivos:
impeditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força I) possibilidade de comprometimento da segurança nacional;
maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econô- II) para as compras de material de uso das forças armadas,
mica extraordinária e extracontratual. (Redação dada pela Lei nº exceto materiais de uso pessoal e administrativo, quando houver
8.883, de 1994) necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de
Desta maneira, percebe-se que o contrato administrativo per- apoio logístico naval, aéreo e terrestre;
mite de forma regulamentada, que haja alteração em suas cláu- III) para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou pres-
sulas durante sua execução. Registre-se que contrato não é um tados no País, que envolvam, cumulativamente, alta complexidade
documento rígido e inflexível, tendo em vista que o mesmo pode tecnológica e defesa nacional;
sofrer alterações para que venha a se adequar às modificações que IV) para contratação de empresas relacionadas à pesquisa e de-
forem preciso durante a execução contratual. Além disso, a lei fixa senvolvimento tecnológico, conforme previsto nos arts. 3º, 4º, 5º e
percentuais por meio dos quais a Administração pode promover al- 20 da Lei 10.973/2004.
terações no objeto do contrato, restando o contratado obrigado a Denota-se que esses contratos terão vigência por até 120 me-
acatar as modificações realizadas, desde que dentro dos percentu- ses, por interesse da Administração (art. 57, V, dispositivo incluído
ais fixados pela legislação. pela Lei 12.349, de 2010).
É importante registrar que em se tratando de casos de contra-
Revisão tos celebrados com dispensa de licitação por motivos de emergên-
A princípio, denota-se que as causas que justificam a inexecu- cia ou calamidade pública, a duração do contrato deverá se esten-
ção contratual possuem o condão de gerar apenas a interrupção der apenas pelo período necessário ao afastamento da urgência,
momentânea da execução contratual, bem como a total impos- tendo prazo máximo de 180 dias, contados da ocorrência da emer-
sibilidade de sua conclusão com a consequente rescisão. Em tais gência ou calamidade, vedada a sua prorrogação (art. 24, IV).
situações, pelo ato de as situações não decorrem de culpa do con- Embora a lei determine a proibição da prorrogação de contrato
tratado, este poderá vir a paralisar a execução de forma que não com fundamento na dispensa de licitação por emergência ou cala-
seja considerado descumpridor. Assegurado pela CFB/1988, em seu midade pública, ressalta-se que o TCU veio a consolidar entendi-
art. 37, XXI, o equilíbrio econômico-financeiro da relação contratual mento de que pode haver exceções a essa regra em algumas hipó-
consiste na manutenção das condições de pagamento estabeleci- teses restritas, advindas de fato superveniente, e também, desde

206
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

que a duração do contrato se estenda por período de tempo razo- Reajuste contratual
ável e suficiente para enfrentar a situação emergencial (AC- 1941- Reajuste contratual é uma das formas de reequilíbrio econô-
39/07-P). mico-financeiro dos contratos. É caracterizado por fazer parte de
Em análise ao art. 57, § 3º, da Lei 8.666/1993, percebe-se que uma fórmula prevista no contrato que é utilizada para proteger os
este proíbe a existência de contrato administrativo com prazo de contratados dos efeitos inflacionários.
vigência indeterminado. No entanto, tal regra não é aplicada ao Infere-se que a Lei 8.666/1993, no art. 55, III, prevê o reajus-
contrato de concessão de direito real de uso de terrenos públicos te como cláusula estritamente necessária em todo contrato a que
para finalidades específicas de regularização fundiária de interes- estabeleça o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-
se social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, -base e periodicidade do reajustamento de preços, os critérios de
aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comuni- atualização monetária entre a data do adimplemento das obriga-
dades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras modali- ções e a do efetivo pagamento.
dades de interesse social em áreas urbanas, que poderá ser firmado
por tempo certo ou indeterminado (Decreto-lei 271/1967, art. 7º, Execução e inexecução
com redação dada pela Lei 11.481/2007). Por determinação legal a execução do contrato será acompa-
Afirma-se que a princípio, as partes devem se prestar ao fiel nhada e também fiscalizada por um representante advindo da Ad-
cumprimento dos prazos previstos nos contratos. Entretanto, exis- ministração designado, sendo permitida a contratação de terceiros
tem situações nas quais não é possível o cumprimento da avença no para assisti-lo e subsidiá-lo de informações relativas a essa atribui-
prazo originalmente previsto. Ocorrendo isso, a lei admite a prorro- ção.
gação dos prazos contratuais, desde que tal fato seja justificado e Deverá ser anotado em registro próprio todas as ocorrências
autorizado de forma antecedente pela autoridade competente para pertinentes à execução do contrato, determinando o que for pre-
celebrar o contrato, o que é aceito pela norma nos casos em que ciso à regularização das faltas bem como dos defeitos observados.
houver (art. 57, § 1º): Ressalta-se, que tanto as decisões como as providências que ultra-
A) alteração do projeto ou especificações, pela Administração; passarem a competência do representante deverão ser requeridas
B) superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estra- a seus superiores em tempo suficiente para a adoção das medidas
nho à vontade das partes, que altere fundamentalmente as condi- que se mostrarem pertinentes.
ções de execução do contrato; Em relação ao contratado, deverá manter preposto, admitido
C) interrupção da execução do contrato ou diminuição do ritmo pela Administração, no local da obra ou serviço, para representá-lo
de trabalho por ordem e no interesse da Administração; aumento na execução contratual. O contratado possui como obrigação o de-
das quantidades inicialmente previstas no contrato, nos limites per- ver de reparar, corrigir, remover, reconstruir ou substituir, às suas
mitidos por essa Lei; custas, no total ou em parte, o objeto do contrato no qual forem
D) impedimento de execução do contrato por fato ou ato de encontrados vícios, defeitos ou incorreções advindas da execução
terceiro reconhecido pela Administração em documento contem- ou de materiais empregados.
porâneo à sua ocorrência; omissão ou atraso de providências a car- Além do exposto a respeito do contratado, este também é res-
go da Administração, inclusive quanto aos pagamentos previstos de ponsável pelos danos causados diretamente à Administração ou a
que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento na exe- terceiros, advindos de sua culpa ou dolo na execução contratual,
cução do contrato, sem prejuízo das sanções legais aplicáveis aos não excluindo ou reduzindo essa responsabilidade a fiscalização ou
responsáveis. o acompanhamento por meio do órgão interessado. O contratado
também se encontra responsável pelos encargos trabalhistas, previ-
Renovação denciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.
Cuida-se a renovação do contrato da inovação no todo ou em
parte do ajuste, desse que mantido seu objeto inicial. A finalidade Em se tratando da inexecução do contrato, percebe-se que a
da renovação contratual é a manutenção da continuidade do servi- mesma está prevista no art. 77 da Lei de licitações 8.666/93. Veja-
ço público, tendo em vista a admissão da recontratação direta do mos:
atual contratado, isso, desde que as circunstâncias a justifiquem e Art. 77 - A inexecução total ou parcial do contrato enseja a sua
permitam seu enquadramento numa das hipóteses dispostas por rescisão com as consequências contratuais e as previstas em lei ou
lei de dispensa ou inexigibilidade de licitação, como acontece por regulamento.
exemplo, quando o contrato original é extinto, vindo a faltar ínfima
parte da obra, serviço ou fornecimento para concluída, ou quando Observação importante: Cumpre Ressaltar que a Administra-
durante a execução, surge a necessidade de reparação ou amplia- ção Pública responde solidariamente com o contratado pelos encar-
ção não prevista, mas que pode ser feita pelo pessoal e equipamen- gos previdenciários resultantes da execução do contrato
tos que já se encontram em atividade.
Via regra geral, a renovação é realizada por meio de nova lici- Pondera-se que a inexecução pode ocorrer de forma parcial ou
tação, com a devida observância de todas as formalidades legais. total, posto que ocorrendo a inexecução parcial de uma das partes,
Ocorrendo isso, a lei impõe vedações ao estabelecimento no edital não é observado um prazo disposto em cláusula específica em ha-
de cláusulas que venham a favorecer o atual contratado em preju- vendo a inexecução total, se o contratado não veio a executar o ob-
ízo dos demais concorrentes, com exceção das que prevejam sua jeto do contrato. Infere-se que qualquer dessas situações são passí-
indenização por equipamentos ou benfeitorias que serão utilizados veis de propiciar responsabilidade para o inadimplente, resultando
pelo futuro contratado. em sanções contratuais e legais proporcionais à falta cometida pela
parte inadimplente, vindo tais sanções a variar desde as multas, a
revisão ou a rescisão do contrato.

207
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Registre-se que a inexecução do contrato pode ser o resulta- Nos parâmetros do art. 59 da Lei de Licitações, é demonstrado
do de um ato ou omissão da parte contratada, tendo tal parte agi- que a nulidade não possui o condão de exonerar a Administração
do com negligência, imprudência e imperícia. Podem também ter do dever de indenização ao contratado pelo que este houver feito
acontecido causas justificadoras por meio das quais o contratan- até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos causados
te tenha dado causa ao descumprimento das cláusulas contratu- comprovados, desde que não lhe seja imputável, vindo a promover
ais, vindo a agir sem culpa, podendo se desvencilhar de qualquer a responsabilização de quem deu motivo ao ocorrido. Assim sendo,
responsabilidade assumida, tendo em vista que o comportamento caso ocorra anulação, o contratado deverá auferir ganhos pelo que
ocorreu de forma alheia à vontade da parte. já executou, pois, caso contrário, seria considerado enriquecimen-
Por fim, ressalte-se que a inexecução total ou parcial do contra- to ilícito da Administração Pública. Porém, caso seja o contratado
to enseja à Administração Pública o poder de aplicar as sanções de que tenha dado causa à nulidade, infere-se que este não terá esse
natureza administrativa dispostas no art. 87: mesmo direito.
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Adminis-
tração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as Observação importante: A anulação possui efeito ex tunc, ou
seguintes sanções: seja, retroativo (voltado para o sentido passado), posto que a lei
I – advertência; dispõe que ela acaba por desconstituir os efeitos produzidos e im-
II – multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou pede que se produzam novos efeitos.
no contrato;
III – suspensão temporária de participação em licitação e impe- Revogação
dimento de contratar com a Administração, por prazo não superior A questão da possibilidade de desfazimento do processo de
a 2 (dois) anos; licitação e do contrato administrativo por meio da própria Adminis-
IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com tração Pública é matéria que não engloba discussões doutrinárias e
a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determi- jurisprudenciais. Inclusive, o controle interno dos atos administra-
nantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante tivos se encontra baseado no princípio da autotutela, que se trata
a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida do poder - dever da Administração Pública de revogar e anular seus
sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos próprios atos, desde que haja justificação pertinente, com vistas a
resultantes e após decorrido o prazo da sanção aplicada com base preservar o interesse público, bem como sejam respeitados o devi-
no inciso anterior. do processo legal e os direitos e interesses legítimos dos destinatá-
rios, conforme determina a Súmula 473 do STF. Vejamos:
Cláusulas exorbitantes Súmula 473 do STF - A administração pode anular seus próprios
De todas as características, essa é a mais importante. As Cláu- atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
sulas exorbitantes conferem uma série de poderes para a Adminis- não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
tração em detrimento do contratado. Mesmo que de forma implíci- ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
ta, se encontram presentes em todos os contratos administrativos. em todos os casos, a apreciação judicial.
São também chamadas de cláusulas leoninas, porque só dão Conforme determinação do art. 49 da Lei Federal 8.666/93,
esses poderes para a Administração Pública, consideradas como assim preceitua quanto ao desfazimento dos processos licitatórios:
exorbitantes porque saem fora dos padrões de normalidade, vindo
a conferir poderes apenas a uma das partes. Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do procedi-
O contratado não pode se valer das cláusulas exorbitantes ou mento somente poderá revogar a licitação por razões de interesse
leoninas em contrato de direito privado, tendo em vista a ilegali- público decorrente de fato superveniente devidamente compro-
dade de tal ato, posto que é ilegal nesses tipos de contratos, além vado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo
disso, as partes envolvidas devem ter os mesmos direitos e obriga- anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros,
ções. Havendo qualquer tipo de cláusula em contrato privado que mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.
atribua direito somente a uma das partes, esta cláusula será ilegal Para efeitos de rescisão unilateral do contrato administrativo,
e leonina. por motivos de interesse público, a discricionariedade administra-
São exemplos de cláusulas exorbitantes: a viabilidade de alte- tiva exige que a questão do interesse público deve ser justificada
ração unilateral do contrato por intermédio da Administração, sua em fatos de grande relevância, o que torna insuficiente a simples
rescisão unilateral, a fiscalização do contrato, a possibilidade de alegação do interesse público, se restarem ausentes a comprovação
aplicação de penalidades por inexecução e a ocupação, na hipótese das lesões advindas da manutenção do contrato e das circunstân-
de rescisão contratual. cias extraordinárias, bem como dos danos irreparáveis ou de difícil
reparação.
Anulação
Apenas a Administração Pública detém o poder de executar a Extinção e Consequências
anulação unilateral. Isso significa que caso o contratado ou outro A extinção do contrato administrativo diz respeito ao término
interessado desejem fazer a anulação contratual, terão que recorrer da obrigação vinculada existente entre a Administração e o contra-
às esferas judiciais para conseguir a anulação. A anulação do contra- tado, podendo ocorrer de duas maneiras, sendo elas:
to é advinda de ilegalidade constatada na sua execução ou, ainda, A) de maneira ordinária, pelo cumprimento do objeto (ex.: na
na fase de licitação, posto que os vícios gerados no procedimento finalização da construção de instituição pública) ou pelo aconteci-
licitatório causam a anulação do contrato. mento do termo final já previsto no contrato (ex.: a data final de um
contrato de fornecimento de forma contínua);

208
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

B) de maneira extraordinária, pela anulação ou pela rescisão quadas que o valor do serviço ou produto contratado se encontra
contratual. acima do valor proposto inicialmente, ocasionado por deflação ou
Em relação à extinção ordinária, denota-se que esta não com- queda de valores nos insumos, produtos ou serviços, ou até mesmo
porta maiores detalhamentos, sendo que as partes, ao cumprir suas em decorrência de uma desvalorização cambial. Além disso, o Po-
obrigações, a consequência natural a ocorrer é a extinção do víncu- der Público não tem a obrigação de pagar além do que se propôs,
lo obrigacional, sem maiores necessidades de manifestação por via nem valor menor ao acordado inicialmente, devendo sempre haver
administrativa ou judicial. equilíbrio em relação aos pactos contratuais.
Já a extinção extraordinária do contrato por meio da anulação, Os artigos 57, 58 3 65 da Lei 8666/93, aliados aos artigos 9 1e
considera-se que a lei prevê consequências diferentes para o caso 10 da Lei Federal nº 8987/95, conforme descrição, se completam
de haver ou não haver culpa do contratado no fato que deu causa à em relação a esse tema e, se referindo ao princípio da legalidade,
rescisão contratual. Existindo culpa do contratado pela rescisão do existe a necessidade de se apreciar os contratos sujeitos aos entes
contrato, as consequências são as seguintes (art. 80, I a IV): públicos. Vejamos:
1) assunção imediata do objeto do contrato, no estado e local Art. 57: A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará
em que se encontrar, por ato próprio da Administração; adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto
2) ocupação e utilização provisória do local, instalações, equi- quanto aos relativos:
pamentos, material e pessoal empregados na execução do contra- § 1º. Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e
to, necessários à sua continuidade, que deverá ser precedida de de entrega admitem prorrogação, mantidas as demais cláusulas do
autorização expressa do Ministro de Estado competente, ou Secre- contrato e assegurada a manutenção de seu equilíbrio econômico-
tário Estadual ou Municipal, conforme o caso (art. 80, § 3º); -financeiro, desde que ocorra algum dos seguintes motivos, devida-
3) execução da garantia contratual, para ressarcimento da Ad- mente autuados em processo:
ministração, e dos valores das multas e indenizações a ela devidos; I - alteração do projeto ou especificações, pela Administração;
4) retenção dos créditos decorrentes do contrato até o limite II - superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho
dos prejuízos causados à Administração. à vontade das partes, que altere fundamentalmente as condições
de execução do contrato;
Em síntese, temos: III - interrupção da execução do contrato ou diminuição do rit-
mo de trabalho por ordem e no interesse da Administração;
EXTINÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO IV - aumento das quantidades inicialmente previstas no contra-
to, nos limites permitidos por esta Lei;
ORDINÁRIA EXTRAORDINÁRIA V - impedimento de execução do contrato por fato ou ato de
I –Pelo cumprimento do objeto; terceiro reconhecido pela Administração em documento contempo-
I – Pela anulação; râneo à sua ocorrência;
II – Pelo advento do termo final do
II – Pela rescisão. VI - omissão ou atraso de providências a cargo da Administra-
contrato.
ção, inclusive quanto aos pagamentos previstos de que resulte, dire-
Equilíbrio Econômico-financeiro tamente, impedimento ou retardamento na execução do contrato,
Em alusão ao tratamento do equilíbrio econômico - contratual, sem prejuízo das sanções legais aplicáveis aos responsáveis.
a Constituição Federal de 1.988 em seu art. 37, inciso XXI dispõe o Como se observa, existe previsão explicita na Lei no. 8666/93,
seguinte: art. 57, § 1º., I, II, III, IV, V, VI, de que o contrato deve ser equilibrado
Art. 37: A administração pública direta e indireta, de qualquer sempre que houver uma das condições dos incisos I a VI, de forma
dos poderes da União, dos Estados e dos Municípios obedecerá aos que o legislador previu quais as hipóteses que se encaixam para o
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e equilíbrio. Entretanto, não apresenta de forma clara, cabendo ao
eficiência e também, ao seguinte: administrador agir com legalidade e bom senso nos casos concretos
XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, específicos. No entanto, a aludida previsão não se restringe somen-
serviços, compras e alienações serão contratados mediante proces- te ao art. 57, § 1º, incisos I, II, III, IV, V e VI da Lei no. 8666/93, tendo
so de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos previsão ainda no art. 58 do mesmo diploma legal. Vejamos:
os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pa- Art. 58: O regime jurídico dos contratos administrativos ins-
gamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos tituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a
da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação téc- prerrogativa de:
nica e econômica, indispensáveis à garantia do cumprimento das I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às
obrigações. finalidades de interesse público, respeitados os direitos do contra-
Denota-se que os mencionados dispositivos determinam que tado;
as condições efetivas da proposta devem ser mantidas, não tendo II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no in-
como argumentar de maneira contrária no que diz respeito à le- ciso I do art. 79 desta Lei;
galidade da modificação do valor contratual original, com o obje- III – fiscalizar-lhes a execução;
tivo de equilibrar o que foi devidamente avençado e pactuado no IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial
momento da assinatura, bem como ao que foi disposto a pagar a do ajuste;
contratante ao contratado. V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente
Isso não quer dizer que toda alteração deveria ser feita para bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do
adicionar valor ao contrato original, tendo em vista que também contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração admi-
pode ser para diminuir, isso, desde que se comprove por vias ade- nistrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipó-
tese de rescisão do contrato Administrativo.

209
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

§ 1º As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos con- proposta, quando comprovado seu impacto, implicara a revisão da
tratos administrativos não poderão ser alteradas sem prévia con- tarifa, para mais ou para menos, conforme o caso. § 4º. Em haven-
cordância do contratado. do alteração unilateral do contrato que afete o seu inicial equilíbrio
§ 2º Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusulas econômi- econômico-financeiro, o poder concedente deverá restabelecê-lo,
co-financeiras do contrato deverão ser revistas para que se mante- concomitantemente à alteração.
nha o equilíbrio contratual. Art. 10º. Sempre que forem atendidas as condições do contra-
Assim, o legislador ao repetir no art. 58 da Lei 8666/93 o direi- to, considera-se mantido seu equilíbrio econômico-financeiro.
to ao equilíbrio contratual, fica bastante clara a preocupação em Atentos às fundamentações legais, observamos que parte na
manter a igualdade entre as partes. Note que o parágrafo 2º prevê inicial da Constituição Federal, verifica-se que na Administração Pú-
respeito ao direito do contratado, uma vez que é admitido que a blica é possível haver o equilíbrio econômico-financeiro, entretan-
administração, desde que seja motivos de interesse público se ne- to, há diversas dúvidas a respeito da utilização do ajuste contratual,
gue a equilibrar um contrato que esteja resultando em prejuízos ao principalmente pela ausência de conhecimento da legislação, o que
contratado, desde que o fato do prejuízo se encaixe em uma das acaba por causar problemas de ordem econômica, tanto em relação
hipóteses dispostas no art. 57, Lei no. 8666/93. Proposta que não ao contratado quanto ao contratante. Registre-se, por fim, que o
pode ser executada, não é passível de equilíbrio. pacto contratual deve ser mantido durante o período completo de
Ante o exposto, acrescenta-se ainda que a Lei 8666/93 destaca execução, e o equilíbrio financeiro acaba por se tornar a ferramenta
o equilíbrio no art. 65, I e II. Vejamos: mais adequada para proporcionar essa condição.
Art. 65: Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados,
com as devidas justificativas, nos seguintes casos: Convênios e terceirização
I - unilateralmente pela Administração: Os convênios podem ser definidos como os ajustes entre o
a) quando houver modificação do projeto ou das especifica- Poder Público e entidades públicas ou privadas, nos quais estejam
ções, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; estabelecidos a previsão de colaboração mútua, com o fito de reali-
b) quando necessária a modificação do valor contratual em de- zação de objetivos de interesse comum.
corrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, Não obstante, o convênio possua em comum com o contrato
nos limites permitidos por esta Lei; o fato de ser um acordo de vontades, com este não se confunde.
II - por acordo das partes: Denota-se que pelo convênio, os interesses dos signatários são
a) quando conveniente a substituição da garantia de execução; comuns, ao passo que nos contratos, os interesses são opostos e
b) quando necessária a modificação do regime de execução da contraditórios.
obra ou serviço, bem como do modo de fornecimento, em face de Em decorrência de tal diferença de interesses, é que se alude
verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais ori- que nos contratos existem partes e nos convênios existem partíci-
ginários; pes.
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento,
por imposição de circunstâncias supervenientes, mantido o valor De acordo com o art. 116 da Lei 8.666/1993, a celebração de
inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com rela- convênio, acordo ou ajuste por meio dos órgãos ou entidades da
ção ao cronograma financeiro fixado, sem a correspondente contra- Administração Pública depende de antecedente aprovação de com-
prestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço; petente plano de trabalho a ser proposto pela organização interes-
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicial- sada, que deverá conter as seguintes informações:
mente entre os encargos do contratado e a retribuição da Adminis- A) identificação do objeto a ser executado;
tração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento, B) metas a serem atingidas;
objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro ini- C) etapas ou fases de execução;
cial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou D) plano de aplicação dos recursos financeiros;
previsíveis porém de consequências incalculáveis, retardadores ou E) cronograma de desembolso;
impeditivos da execução do ajustado, ou ainda, em caso de força F) previsão de início e fim da execução do objeto e, bem assim,
maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econô- da conclusão das etapas ou fases programadas;
mica extraordinária e extracontratual.
Verifica-se que o art. 65 determina que, de início, deve haver Em relação à terceirização na esfera da Administração Pública,
o restabelecimento do que foi pactuado no contrato avençado, depreende-se que é exigida do administrador muito cuidado, posto
devendo ser dotados de equilíbrio os encargos, bem como a retri- que, embora haja contrariamento ao art. 71 da Lei 8.666/93, a dívi-
buição da administração para que haja justa remuneração, sendo da trabalhista das empresas terceirizadas acabam por recair sobre
mantidas as condições originais do termo contratual. Em se tratan- o órgão tomador dos serviços, que é o que chamamos de respon-
do, especificamente da concessão de serviço público, a Lei 8.987/95 sabilidade subsidiária. Assim sendo, o administrador público deverá
dispõe no art. 9º a revisão de tarifa como uma forma de equilíbrio exigir garantias, bem como passar a acompanhar o cumprimento
financeiro. Vejamos: das obrigações trabalhistas advindos da empresa prestadora de ser-
Art. 9º: A tarifa do serviço público concedido será fixada pelo viços, com fito especial quando do encerramento do contrato.
preço da proposta vencedora da licitação e preservada pelas re- Registre-se que a responsabilidade subsidiária pela tomadora
gras de revisão previstas nesta Lei, no edital e no contrato. § 2º. dos serviços é o que entende a Justiça do trabalho, com base no
Os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, a Enunciado nº 331, item IV editado pelo Tribunal Superior do Traba-
fim de manter-se o equilíbrio econômico-financeiro. § 3º. Ressal- lho – TST, que aduz:
vados os impostos sobre a renda, a criação, alteração ou extinção
de quaisquer tributos ou encargos legais, após a apresentação da

210
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

“O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do rocratização e o encarecimento da máquina pública, sendo neces-
empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos sário, portanto, emendá-la. Nesse sentido, foi aprovada a Emenda
serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da Constitucional nº 19/1998.
administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das Está correto o que se afirma em
empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que (A) I, II e III.
haja participado da relação processual e constem também do título (B) III, apenas.
executivo judicial.” (C) I e II, apenas.
Com fulcro no Enunciado retro citado, denota-se que incon- (D) II e III, apenas.
táveis são as decisões condenatórias à Administração Pública, em
relação ao pagamento de obrigações trabalhistas que cabem de for- 4. (UFJF - Assistente em Administração – FUNDEP/2023) No
ma original à empresa prestadora de serviços, onerando o erário, contexto da Administração Pública no Brasil e seus desafios, assina-
vindo a contrariar o que se espera da Terceirização que é a redução le a alternativa incorreta.
de custos à Administração Pública. (A) A definição de regras de conduta torna-se mais difícil em
uma cultura em que se perduram as relações pessoais e de pa-
rentesco.
QUESTÕES (B) A promoção ou criação dos serviços públicos padronizados
às pessoas exige que os profissionais tenham a visão das neces-
1. (PROCON/DF – Administração – QUADRIX/2023) No que se sidades e dos problemas comuns da população.
refere à reforma do aparelho do Estado, ao Estado regulador, à ges- (C) Coordenar um número de princípios e elementos universais
tão por resultados, à gestão de materiais e às agências reguladoras, que são pertinentes nas diferentes esferas e situações da Admi-
julgue o item. nistração Pública configura-se um desafio para o setor público.
A reforma do aparelho do Estado, ocorrida em 1995, visou à re- (D) São poucas as rotinas e os mecanismos que incluem de for-
forma da organização, do pessoal, das finanças e de todo o sistema ma concreta a participação dos cidadãos no debate, criação e
institucional‑legal do Estado, com vistas a permitir‑se uma relação realização de políticas públicas; um desafio é aumentar o en-
mais positiva com a sociedade. volvimento da população.
(....) Certo (E) As reformas administrativas tradicionais concentravam-se
(....) Errado na modificação de procedimentos; o desfio atual é a migração
para o entendimento da necessidade de reformas que visem a
2. (TJ/ES – Administração - CESPE/CEBRASPE/2023) Em rela- uma reestruturação organizacional.
ção às reformas administrativas e à redefinição do papel do Estado,
julgue o item a seguir. 5. (TCM/PA - Auditor de Controle Externo – CONSUL-
O plano diretor da reforma do Estado, de 1995, considerava PAM/2023) Reformar o Estado é uma tarefa imensa, que ultrapassa
que as atividades de cunho social deveriam ser executadas em par- em muito as possibilidades do Ministério da Administração Federal
ceria com o Estado, por meio de entidades de caráter público, po- e Reforma do Estado (MARE). É uma tarefa de todo o governo, em
rém não estatais, denominadas organizações sociais. seus três níveis. Significa, também, finalmente, rever a estrutura do
(....) Certo aparelho estatal e do seu pessoal, a partir de uma crítica não ape-
(....) Errado nas das velhas práticas patrimonialistas ou clientelistas, mas tam-
bém do modelo burocrático clássico, com o objetivo de tornar seus
3. (MPE/MG - Administração Pública - INSTITUTO CONSUL- serviços mais baratos e de melhor qualidade.
PLAN/2023) Sobre as reformas administrativas e a redefinição do A partir do contexto acima, assinale a alternativa CORRETA.
papel do Estado, analise as afirmativas a seguir. (A) No plano da administração pública voltou-se, com a Cons-
I. O movimento de reforma administrativa que se configurou tituição de 1988, aos anos 1930, ou seja, à época em que foi
no Brasil no pós-1930 se opunha, fundamentalmente, à nomeação implantada a administração burocrática clássica no Brasil.
de servidores públicos por critérios meritocráticos, em que pese (B) A administração burocrática clássica foi adotada porque era
esta representar um avanço na criação de um moderno e racional uma alternativa muito superior à administração gerencial do
serviço público. Estado, porque era a melhor forma de reduzir, senão eliminar,
II. A expansão do aparelho de Estado brasileiro correspondeu o empreguismo, o nepotismo e a corrupção.
ao desenvolvimento da administração indireta: autarquias; funda- (C) A Constituição de 1988, adotou completamente as novas
ções; sociedades de economia mista e empresas públicas. Isso se orientações da administração pública, tornando-se uma das
deu, sobretudo, a partir das décadas de 1930 e 1940. Esse processo constituições mais modernas no que diz respeito ao gerencia-
ganhou impulso com a reforma administrativa de 1967, que, no âm- mento público.
bito do Decreto-Lei nº 200 de 1967, distinguiu as funções de direção (D) A crise monetária define-se pela perda do crédito público e
das de execução, ficando as primeiras a cargo da administração di- pela poupança pública negativa.
reta e as segundas, da indireta.
III. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado de 1995
identificou, no Decreto-Lei nº 200 de 1967, o início da “administra-
ção gerencial” e um “marco na tentativa de superação da rigidez
burocrática”. Essa trajetória teria sido freada com a Constituição
Federal de 1988, que teria contribuído para o engessamento, a bu-

211
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

6. (ICTIM/RJ - Técnico Administrativo – CONSULPAM/2023) A III direcionar e orientar a preparação, a articulação e a coorde-
Administração Pública, no modelo hoje vigente, começou na França nação de políticas e planos, alinhando as funções organizacionais às
no final do século XVIII, quando o Estado Absolutista foi substituído necessidades das partes interessadas e assegurando o alcance dos
pelo Estado de Direito e a divisão dos poderes. Dessa época, vem objetivos estabelecidos.
também o surgimento da infernal burocracia. O escopo da admi- IV desenvolver a democracia e o desenvolvimento mútuo da
nistração pública é cuidar do que é de todos, sem concessão de administração pública e da sociedade.
privilégios ou discriminações, tendo como princípios básicos a “Le- Estão certos apenas os itens
galidade, a Moralidade, a Impessoalidade e a Publicidade”. (A) I, II e IV.
Dessa forma, governança e governabilidade estão relaciona- (B) I, II e III.
das, respectivamente a: (C) II, III e IV.
(A) Reforma do aparelho de Estado e Reforma do Estado. (D) I, III e IV.
(B) Efetividade e eficiência.
(C) Governo físico e governo digital. 10. (EPAGRI - Assistente Administrativo – FEPESE/2023) As
(D) Organizações sociais e organizações não governamentais. empresas, tanto públicas quanto privadas, vivem inseridas em con-
textos sociais, econômicos e mercadológicos. Sofrem influências de
7. (IF/PA - Administrador - INSTITUTO CONSULPLAN/2023) todos estes ambientes e suas atividades impactam a sociedade na
Sobre conceitos e evolução do Estado contemporâneo, assinale a qual desenvolvem suas atividades. A melhor forma de diminuir as
afirmativa INCORRETA. incertezas deste contexto é colocar em prática a atividade de plane-
(A) A ideia é de que governar bem é adaptar-se às circunstân- jamento. Existem várias classificações neste sentido, mas na prática
cias que permitem o exercício do governo. da gestão se encontra um tipo de planejamento que se caracteriza
(B) A arte de governar está ligada à sabedoria prática, ao co- por ser de curto prazo, determinando as tarefas e atividades que
nhecimento da equidade, ao bom julgamento e à Justiça e nun- devem ser realizadas no dia a dia das organizações.
ca ao cálculo de decisões políticas. Assinale a alternativa que indica corretamente o tipo de plane-
(C) Governar é trabalhar com as diferentes finalidades que po- jamento que o texto se refere.
dem aparecer dentro de uma vida social. O bom governo se (A) Planejamento tático.
identifica com a gestão medida e sopesada de meios e fins. (B) Planejamento de RH.
(D) O aparecimento e o crescimento em importância da arte (C) Planejamento tributário.
de governar é devido, também, no plano econômico, ao mer- (D) Planejamento estratégico.
cantilismo, embora este não tenha tido força para implantar (E) Planejamento operacional.
definitivamente a arte econômica de governar.
11. (UFF – Administrador – COSEAC/2023) A organização se
8. (IF/PA - Assistente de Alunos - (INSTITUTO CONSUL- constitui na interação entre três tipos de planos ditos estratégicos,
PLAN/2023) Baseado em noções de gestão pública, pode-se definir táticos e operacionais. O planejamento estratégico se caracteriza
o papel do Estado contemporâneo, especialmente, como: (A) por planos genéricos, orientação de médio prazo e riscos
(A) Socialista, visto que busca a satisfação plena dos direitos menores.
sociais, em detrimento do desenvolvimento econômico e po- (B) pelo foco na empresa como um todo, riscos maiores e pra-
lítico do país. zos mais longos.
(B) Intervencionista, visto que busca, cada vez mais, limitar a (C) pelo foco nos departamentos da empresa, riscos maiores e
atuação do mercado em prol da ampliação da rede de serviços prazos mais curtos.
públicos. (D) pelo foco em tarefas rotineiras, flexibilidade menor e obje-
(C) Reducionista, na medida em que busca o modelo de esta- tivos específicos.
do mínimo, deixando que a sociedade e a economia do país se (E) por orientação externa, objetivos gerais e planos genéricos
autorregulem. e atividades meios.
(D) Desenvolvimentista, na medida em que busca crescimento
econômico, sustentabilidade ambiental e efetividade dos direi- 12. (Prefeitura de Orlândia/SP - Assistente Social - INSTITUTO
tos dos cidadãos. CONSULPLAN/2023) O planejamento tem como finalidade a forma
como serão aplicados os recursos, financeiros e humanos, para que
9. (CGDF - Auditor De Controle Interno Do Distrito Federal – um determinado objetivo seja alcançado, se será a curto ou longo
CESPE/CEBRASPE/2023) A gestão pública deve evitar a intermedia- prazo, além de “desenhar” como isso deverá acontecer. Sobre os
ção de interesses com uma boa governança de órgãos e entidades tipos de planejamento, relacione adequadamente as colunas a se-
da administração pública. Para garantir a boa governança é neces- guir.
sário envolver algumas funções básicas que se encontram definidas 1. Planejamento estratégico.
em um referencial, compreendidas como mecanismos de legitimi- 2. Planejamento participativo.
dade, equidade e transparência na atuação da gestão pública. São 3. Planejamento tático.
considerados referenciais básicos de governança organizacional, os ( ) É muito utilizado na área empresarial; porém, pode ser utili-
mecanismos que visam zado também na área social, pois tem como função auxiliar na de-
I monitorar os resultados, o desempenho e o cumprimento dos finição dos objetivos, das táticas e das metas a serem alcançadas.
planos.
II avaliar o ambiente, os cenários o desempenho e os resulta-
dos.

212
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

( ) Agrega ao processo a noção de mobilização, de movimento, 14. FGV - 2023 - PGM - Niterói - Técnico de Procuradoria- Lici-
de manejo de técnicas, de recursos, enfim, de todos os meios (táti- tação é o processo administrativo, de natureza instrumental, utili-
cos) necessários que o gestor dispõe para enfrentar o oponente, ou zado pela Administração Pública e pelas demais pessoas jurídicas
uma “situação” complexa. indicadas pela lei com o objetivo de selecionar a proposta mais
( ) Inclui distribuição do poder; inclui possibilidade de decidir vantajosa – sem descurar das demais finalidades elencadas pela
na construção não apenas do “como” ou do “com que” fazer, mas legislação – por meio de critérios objetivos e impessoais, para ce-
também do “o que” e do “para que” fazer. lebração de contratos administrativos. Como se vê, a licitação não
( ) Planejamento realizado no nível intermediário da organiza- é um ato administrativo isolado. Na verdade, tem-se um processo
ção e se ocupa, dentre outros fatores, com a alocação de recursos. administrativo, no bojo do qual uma série de atos encadeados será
Integra a estrutura da organização para fazer frente aos desafios praticada com o fim precípuo de se chegar à melhor proposta para a
estratégicos. celebração de contratos com o poder público. Considerando o pro-
A sequência está correta em cesso licitatório e os institutos afetos à contratação direta, é correto
(A) 1, 1, 2, 3. afirmar que:
(B) 3, 1, 1, 2. (A) a inexigibilidade de licitação envolve cenários nos quais, em
(C) 1, 3, 2, 3. tese, há competitividade, mas a legislação previamente estipu-
(D) 2, 1, 3, 3. lou um rol taxativo de situações que admitem a contratação
direta. Como há viabilidade fática de competição, a atuação do
13. FGV - 2023 - TCE-ES - Conselheiro Substituto- João, conhe- administrador público é discrionária, podendo ou não realizar o
cido empresário, por intermédio dos advogados Caio e Tício, só- procedimento licitatório. Como exemplo, cite-se a calamidade
cios do escritório de advocacia XYZ, propôs Ação Declaratória de pública;
Inexistência de Débito Tributário em face do Município Alfa. Muito (B) a dispensa de licitação envolve cenários nos quais, em tese,
embora a municipalidade dispusesse de um corpo próprio de pro- há competitividade, mas a legislação previamente estipulou
curadores, com expertise na seara litigiosa, Mévio, servidor público um rol exemplificativo de situações que admitem a contratação
estatutário, deu causa à contratação direta do escritório de advo- direta. Como há viabilidade fática de competição, a atuação do
cacia de um amigo próximo, para emitir parecer favorável ao ente administrador público é discrionária, podendo ou não realizar o
federativo. Mévio assim agiu para beneficiar o seu colega. Em juízo, procedimento licitatório. Como exemplo, cite-se a calamidade
em dezembro de 2020, verificou-se que o advogado que represen- pública;
tou o Município Alfa não detinha notória especialização na matéria, (C) a dispensa de licitação envolve cenários nos quais, em tese,
inexistindo qualquer hipótese que justificasse a inexigibilidade de há competitividade, mas a legislação previamente estipulou
licitação. Em dezembro de 2021, os autos foram encaminhados ao um rol taxativo de situações que admitem a contratação di-
Ministério Público, para apurar eventual prática de crime. reta. Como há viabilidade fática de competição, a atuação do
Nesse cenário, é correto afirmar que: administrador público é discrionária, podendo ou não realizar
(A) a conduta perpetrada por Mévio é atípica, inexistindo qual- o procedimento licitatório. Como exemplo, cite-se o credencia-
quer tipo penal que criminalize os fatos narrados no ordena- mento;
mento jurídico brasileiro; (D) a inexigibilidade de licitação fundamenta-se na inviabilida-
(B) a conduta perpetrada por Mévio, à época dos fatos, era ti- de de competição. Como inexiste, nas hipóteses de inexegibili-
pificada no bojo da Lei nº 8.666/1993. Com a superveniência dade de licitação, competitividade, a atuação do administrador
da Lei nº 14.133/2021, houve a derrogação dos tipos penais público é vinculada e o rol de situações de inexigibilidade é
previstos na legislação anterior, com mudança topográfica para exemplificativo. Como exemplo, cite-se o credenciamento;
o Código Penal, incidindo o princípio da continuidade norma- (E) a dispensa de licitação fundamenta-se na inviabilidade de
tivo-típica, a justificar o prosseguimento da persecução penal; competição. Como inexiste, nas hipóteses de dispensa de lici-
(C) muito embora a conduta perpetrada por Mévio fosse consi- tação, competitividade, a atuação do administrador público é
derada crime no âmbito da Lei nº 8.666/1993, com o advento vinculada e o rol de situações de dispensa é exemplificativo.
da Lei nº 14.133/2021, procedeu-se à derrogação expressa dos Como exemplo, cite-se o credenciamento.
tipos penais previstos na legislação anterior, ensejando a ex-
tinção de punibilidade com espeque na categoria jurídica da 15. FGV - 2023 - CGE-SC - Auditor do Estado - Direito - Tarde
abolitio criminis; (Conhecimentos Específicos)- Em tema do que a doutrina de Direi-
(D) em caso de condenação em juízo, pela prática do crime de to Administrativo chama de cláusulas exorbitantes, a nova Lei de
contratação direta ilegal, após a observância do contraditório e Licitações e Contratos dispõe que o regime jurídico dos contratos
da ampla defesa, verificando-se que o prejuízo para a Adminis- administrativos previstos na citada lei confere à Administração Pú-
tração Pública é de pequeno valor, incidirá causa de diminuição blica, em relação a eles, algumas prerrogativas, como a de ocupar
de pena na terceira etapa do processo dosimétrico; provisoriamente bens
(E) a conduta perpetrada por Mévio, à época dos fatos, não era (A) móveis e imóveis, vedado utilizar pessoal e serviços vincu-
tipificada no bojo da Lei nº 8.666/1993, passando a ter assento lados ao objeto do contrato, ainda que nas hipóteses de risco à
no Código Penal, com a superveniência da Lei nº 14.133/2021. prestação de serviços essenciais.
Com efeito, considerando os princípios constitucionais da lega- (B) móveis, vedada a ocupação de bens imóveis, e a de utilizar
lidade e da irretroatividade da novatio legis in pejus, o agente pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato nas hipóte-
não pode responder a qualquer ação penal. ses de risco à prestação de serviços essenciais.
(C) de qualquer natureza e a de utilizar pessoal e serviços vin-
culados ao objeto do contrato na hipótese de necessidade de

213
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo ______________________________________________________


contratado, apenas até a extinção do contrato.
(D) de qualquer natureza e a de utilizar pessoal e serviços, ain- ______________________________________________________
da que não vinculados ao objeto do contrato, quando houver
necessidade de garantir execução de multa em razão de faltas ______________________________________________________
contratuais pelo contratado, até extinção do contrato.
______________________________________________________
(E) móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao
objeto do contrato na hipótese de necessidade de acautelar ______________________________________________________
apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado,
inclusive após extinção do contrato. ______________________________________________________

______________________________________________________
QUESTÕES
______________________________________________________

1 CERTO ______________________________________________________
2 CERTO ______________________________________________________
3 D
______________________________________________________
4 E
5 A ______________________________________________________

6 A ______________________________________________________
7 B ______________________________________________________
8 D
______________________________________________________
9 B
10 E ______________________________________________________
11 B ______________________________________________________
12 A
______________________________________________________
13 B
______________________________________________________
14 D
15 E ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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214
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Por característica não possuem personalidade jurídica própria,


ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA; CENTRALIZADA patrimônio e autonomia administrativa e cujas despesas são reali-
E DESCENTRALIZADA; AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES, zadas diretamente por meio do orçamento da referida esfera.
EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA Assim, é responsável pela gestão dos serviços públicos executa-
MISTA dos pelas pessoas políticas por meio de um conjunto de órgãos que
estão integrados na sua estrutura.
NOÇÕES GERAIS Outra característica marcante da Administração Direta é que
Para que a Administração Pública possa executar suas ativida- não possuem personalidade jurídica, pois não podem contrair direi-
des administrativas de forma eficiente com o objetivo de atender tos e assumir obrigações, haja vista que estes pertencem a pessoa
os interesses coletivos é necessária a implementação de tecnicas política (União, Estado, Distrito Federal e Municípios).
organizacionais que permitam aos administradores públicos decidi- A Administração direta não possui capacidade postulatória, ou
rem, respeitados os meios legias, a forma adequada de repartição seja, não pode ingressar como autor ou réu em relação processual.
de competencias internas e escalonamento de pessoas para melhor Exemplo: Servidor público estadual lotado na Secretaria da Fazenda
atender os assuntos relativos ao interesse público. que pretende interpor ação judicial pugnando o recebimento de al-
Celso Antonio Bandeira de Mello, em sua obra Curso de Direito guma vantagem pecuniária. Ele não irá propor a demanda em face
Administrativo assim afirma: “...o Estado como outras pessoas de da Secretaria, mas sim em desfavor do Estado que é a pessoa polí-
Direito Público que crie, pelos múltiplos cometimentos que lhe as- tica dotada de personalidade jurídica com capacidade postulatória
sistem, têm de repartir, no interior deles mesmos, os encargos de para compor a demanda judicial.
sua alçada entre diferentes unidades, representativas, cada qual,
de uma parcela de atribuições para decidir os assuntos que lhe são Administração Indireta
afetos...” São integrantes da Administração indireta as fundações, as au-
tarquias, as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
A Organização Administrativa é a parte do Direito Administra-
tivo que normatiza os órgãos e pessoas jurídicas que a compõem, DECRETO-LEI 200/67
além da estrutura interna da Administração Pública. Art. 4° A Administração Federal compreende:
Em âmbito federal, o assunto vem disposto no Decreto-Lei n. [...]
200/67 que “dispõe sobre a organização da Administração Pública II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes ca-
Federal e estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa”. tegorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
O certo é que, durante o exercício de suas atribuições, o Esta- a) Autarquias;
do pode desenvolver as atividades administrativas que lhe compete b) Empresas Públicas;
por sua própria estrutura ou então prestá-la por meio de outros c) Sociedades de Economia Mista.
sujeitos. d) fundações públicas.
A Organização Administrativa estabelece as normas justamen- Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administra-
te para regular a prestação dos encargos administrativos do Estado ção Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência
bem como a forma de execução dessas atividades, utilizando-se de estiver enquadrada sua principal atividade.
técnicas administrativas previstas em lei.
Essas quatro pessoas ou entidades administrativas são criadas
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA para a execução de atividades de forma descentralizada, seja para
Em âmbito federal o Decreto-Lei 200/67 regula a estrutura ad- a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades
ministrativa dividindo, para tanto, em Administração Direta e Admi- econômicas, com o objetivo de aumentar o grau de especialidade
nistração Indireta. e eficiência da prestação do serviço público. Têm característica de
autonomia na parte administrativa e financeira
Administração Direta
A Administração Pública Direta é o conjunto de órgãos públi- O Poder Público só poderá explorar atividade econômica a títu-
cos vinculados diretamente ao chefe da esfera governamental que lo de exceção em duas situações previstas na CF/88, no seu art. 173:
a integram. - Para fazer frente à uma situação de relevante interesse cole-
tivo;
DECRETO-LEI 200/67 - Para fazer frente à uma situação de segurança nacional.
Art. 4° A Administração Federal compreende:
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integra-
dos na estrutura administrativa da Presidência da República e dos
Ministérios.

215
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

O Poder Público não tem a obrigação de gerar lucro quando A Descentralização pressupõe, por sua natureza, a existência
explora atividade econômica. Quando estiver atuando na atividade de pessoas jurídicas diversas sendo:
econômica, entretanto, estará concorrendo em grau de igualdade a) o ente público que originariamente tem a titularidade sobre
com os particulares, estando sob o regime do art. 170 da CF/88, a execução de certa atividade, e;
inclusive quanto à livre concorrência. b) pessoas/entidades administrativas ou particulares as quais
foi atribuído o desempenho da atividade em questão.
DESCONCENTRAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO Importante ressaltar que dessa relação de descentralização não
No decorrer das atividades estatais, a Administração Pública há que se falar em vínculo hierárquico entre a Administração Cen-
pode executar suas ações por meios próprios, utilizando-se da es- tral e a pessoa descentralizada, mantendo, no entanto, o controle
trutura administrativa do Estado de forma centralizada, ou então sobre a execução das atividades que estão sendo desempenhadas.
transferir o exercício de certos encargos a outras pessoas, como en- Por sua vez, a desconcentração está sempre referida a uma úni-
tidades concebidas para este fim de maneira descentralizada. ca pessoa, pois a distribuição de competência se dará internamen-
Assim, como técnica administrativa de organização da execu- te, mantendo a particularidade da hierarquia.
ção das atividades administrativas, o exercício do serviço público
poderá ser por: CRIAÇÃO, EXTINÇÃO E CAPACIDADE PROCESSUAL DOS ÓR-
GÃOS PÚBLICOS
Centralização: Quando a execução do serviço estiver sendo
feita pela Administração direta do Estado, ou seja, utilizando-se do Conceito:
conjunto orgânico estatal para atingir as demandas da sociedade. Órgãos Públicos, de acordo com a definição do jurista adminis-
(ex.: Secretarias, Ministérios, departamentos etc.). trativo Celso Antônio Bandeira de Mello “são unidade abstratas que
Dessa forma, o ente federativo será tanto o titular como o pres- sintetizam os vários círculos de atribuição do Estado.”
tador do serviço público, o próprio estado é quem centraliza a exe- Por serem caracterizados pela abstração, não tem nem vonta-
cução da atividade. de e nem ação próprias, sendo os órgão públicos não passando de
mera repartição de atribuições, assim entendidos como uma uni-
Descentralização: Quando estiver sendo feita por terceiros que dade que congrega atribuições exercidas por seres que o integram
não se confundem com a Administração direta do Estado. Esses ter- com o objetivo de expressar a vontade do Estado.
ceiros poderão estar dentro ou fora da Administração Pública (são Desta forma, para que sejam empoderados de dinamismo e
sujeitos de direito distinto e autônomo). ação os órgãos públicos necessitam da atuação de seres físicos, su-
Se os sujeitos que executarão a atividade estatal estiverem vin- jeitos que ocupam espaço de competência no interior dos órgãos
culadas a estrutura centra da Administração Pública, poderão ser para declararem a vontade estatal, denominados agentes públicos.
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de econo-
mia mista (Administração indireta do Estado). Se estiverem fora da Criação e extinção
Administração, serão particulares e poderão ser concessionários, A criação e a extinção dos órgãos públicos ocorre por meio de
permissionários ou autorizados. lei, conforme se extrai da leitura conjugada dos arts. 48, XI, e 84,
Assim, descentralizar é repassar a execução de das atividades VI, a, da Constituição Federal, com alteração pela EC n.º 32/2001.6
administrativas de uma pessoa para outra, não havendo hierarquia. Em regra, a iniciativa para o projeto de lei de criação dos órgãos
Pode-se concluir que é a forma de atuação indireta do Estado por públicos é do Chefe do Executivo, na forma do art. 61, § 1.º, II da
meio de sujeitos distintos da figura estatal Constituição Federal.
Desconcentração: Mera técnica administrativa que o Estado “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe
utiliza para a distribuição interna de competências ou encargos de a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do
sua alçada, para decidir de forma desconcentrada os assuntos que Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da Re-
lhe são competentes, dada a multiplicidade de demandas e interes- pública, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao
ses coletivos. Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
Ocorre desconcentração administrativa quando uma pessoa previstos nesta Constituição.
política ou uma entidade da administração indireta distribui com-
petências no âmbito de sua própria estrutura a fim de tornar mais § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as
ágil e eficiente a prestação dos serviços. leis que:
Desconcentração envolve, obrigatoriamente, uma só pessoa [...]
jurídica, pois ocorre no âmbito da mesma entidade administrativa.
Surge relação de hierarquia de subordinação entre os órgãos II - disponham sobre:
dela resultantes. No âmbito das entidades desconcentradas temos [...]
controle hierárquico, o qual compreende os poderes de comando,
fiscalização, revisão, punição, solução de conflitos de competência, e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração
delegação e avocação. pública, observado o disposto no art. 84, VI;

Diferença entre Descentralização e Desconcentração Entretanto, em alguns casos, a iniciativa legislativa é atribuída,
As duas figuras técnicas de organização administrativa do Esta- pelo texto constitucional, a outros agentes públicos, como ocorre,
do não podem ser confundidas tendo em vista que possuem con- por exemplo, em relação aos órgãos do Poder Judiciário (art. 96, II,
ceitos completamente distintos. c e d, da Constituição Federal) e do Ministério Público (127, § 2.º),
cuja iniciativa pertence aos representantes daquelas instituições.

216
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Trata-se do princípio da reserva legal aplicável às técnicas de quando se trata da defesa de sua competência, violada por ato de
organização administrativa (desconcentração para órgãos públicos outro órgão”. Admitindo a possibilidade do órgão figurar como par-
e descentralização para pessoas físicas ou jurídicas). te processual.
Desta feita é inafastável a conclusão de que órgãos públicos
Atualmente, no entanto, não é exigida lei para tratar da orga- possuem personalidade judiciária. Mais do que isso, é lícito dizer
nização e do funcionamento dos órgãos públicos, já que tal matéria que os órgãos possuem capacidade processual (isto é, legitimidade
pode ser estabelecida por meio de decreto do Chefe do Executivo. para estar em juízo), inclusive mediante procuradoria própria,
De forma excepcional, a criação de órgãos públicos poderá ser Ainda por meio de construção jurisprudencial, acompanhando
instrumentalizada por ato administrativo, tal como ocorre na insti- a evolução jurídica neste aspecto tem reconhecido capacidade pro-
tuição de órgãos no Poder Legislativo, na forma dos arts. 51, IV, e cessual a órgãos públicos, como Câmaras Municipais, Assembleias
52, XIII, da Constituição Federal. Legislativas, Tribunal de Contas. Mas a competência é reconhecida
Neste contexto, vemos que os órgãos são centros de compe- apenas para defesa das prerrogativas do órgão e não para atuação
tência instituídos para praticar atos e implementar políticas por in- em nome da pessoa jurídica em que se integram.
termédio de seus agentes, cuja conduta é imputada à pessoa jurídi-
ca. Esse é o conceito administrativo de órgão. É sempre um centro PESSOAS ADMINISTRATIVAS
de competência, que decorre de um processo de desconcentração
dentro da Administração Pública. Pessoas Políticas

Capacidade Processual dos Órgãos Públicos Autarquias


Como visto, órgão público pode ser definido como uma unida- As autarquias são pessoas jurídicas de direito público criadas
de que congrega atribuições exercidas pelos agentes públicos que o por lei para a prestação de serviços públicos e executar as ativida-
integram com o objetivo de expressar a vontade do Estado. des típicas da Administração Pública, contando com capital exclusi-
Na realidade, o órgão não se confunde com a pessoa jurídica, vamente público.
embora seja uma de suas partes integrantes; a pessoa jurídica é o O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as autarquias:
todo, enquanto os órgãos são parcelas integrantes do todo. Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
O órgão também não se confunde com a pessoa física, o agente I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com perso-
público, porque congrega funções que este vai exercer. Conforme nalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar ati-
estabelece o artigo 1º, § 2º, inciso I, da Lei nº 9.784/99, que disci- vidades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu
plina o processo administrativo no âmbito da Administração Públi- melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descen-
ca Federal, órgão é “a unidade de atuação integrante da estrutura tralizada.
da Administração direta e da estrutura da Administração indireta”.
Isto equivale a dizer que o órgão não tem personalidade jurídica As autarquias são regidas integralmente por regras de direito
própria, já que integra a estrutura da Administração Direta, ao con- público, podendo, tão-somente, serem prestadoras de serviços e
trário da entidade, que constitui “unidade de atuação dotada de contando com capital oriundo da Administração Direta (ex.: IN-
personalidade jurídica” (inciso II do mesmo dispositivo); é o caso CRA, INSS, DNER, Banco Central etc.).
das entidades da Administração Indireta (autarquias, fundações,
empresas públicas e sociedades de economia mista). Características: Temos como principais características das au-
Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, os órgãos: tarquias:
“nada mais significam que círculos de atribuições, os feixes indivi- - Criação por lei: é exigência que vem desde o Decreto-lei nº 6
duais de poderes funcionais repartidos no interior da personalidade 016/43, repetindo-se no Decreto-lei nº 200/67 e no artigo 37, XIX,
estatal e expressados através dos agentes neles providos”. da Constituição;
Embora os órgãos não tenham personalidade jurídica, eles - Personalidade jurídica pública: ela é titular de direitos e obri-
podem ser dotados de capacidade processual. A doutrina e a ju- gações próprios, distintos daqueles pertencentes ao ente que a ins-
risprudência têm reconhecido essa capacidade a determinados ór- tituiu: sendo pública, submete-se a regime jurídico de direito públi-
gãos públicos, para defesa de suas prerrogativas. co, quanto à criação, extinção, poderes, prerrogativas, privilégios,
Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, “embora despersonaliza- sujeições;
dos, os órgãos mantêm relações funcionais entre si e com terceiros, - Capacidade de autoadministração: não tem poder de criar o
das quais resultam efeitos jurídicos internos e externos, na forma próprio direito, mas apenas a capacidade de se auto administrar a
legal ou regulamentar. E, a despeito de não terem personalidade respeito das matérias especificas que lhes foram destinadas pela
jurídica, os órgãos podem ter prerrogativas funcionais próprias que, pessoa pública política que lhes deu vida. A outorga de patrimônio
quando infringidas por outro órgão, admitem defesa até mesmo próprio é necessária, sem a qual a capacidade de autoadministra-
por mandado de segurança”. ção não existiria.
Por sua vez, José dos Santos Carvalho Filho, depois de lem- Pode-se compreender que ela possui dirigentes e patrimônio
brar que a regra geral é a de que o órgão não pode ter capacida- próprios.
de processual, acrescenta que “de algum tempo para cá, todavia, - Especialização dos fins ou atividades: coloca a autarquia entre
tem evoluído a ideia de conferir capacidade a órgãos públicos para as formas de descentralização administrativa por serviços ou fun-
certos tipos de litígio. Um desses casos é o da impetração de man- cional, distinguindo-a da descentralização territorial; o princípio da
dado de segurança por órgãos públicos de natureza constitucional, especialização impede de exercer atividades diversas daquelas para
as quais foram instituídas; e

217
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

- Sujeição a controle ou tutela: é indispensável para que a au- Prerrogativas autárquicas: as autarquias possuem algumas
tarquia não se desvie de seus fins institucionais. prerrogativas de direito público, sendo elas:
- Liberdade Financeira: as autarquias possuem verbas próprias - Imunidade tributária: previsto no art. 150, § 2 º, da CF, veda
(surgem como resultado dos serviços que presta) e verbas orça- a instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços
mentárias (são aquelas decorrentes do orçamento). Terão liberdade das autarquias, desde que vinculados às suas finalidades essenciais
para manejar as verbas que recebem como acharem conveniente, ou às que delas decorram. Podemos, assim, dizer que a imunidade
dentro dos limites da lei que as criou. para as autarquias tem natureza condicionada.
- Liberdade Administrativa: as autarquias têm liberdade para - Impenhorabilidade de seus bens e de suas rendas: não pode
desenvolver os seus serviços como acharem mais conveniente ser usado o instrumento coercitivo da penhora como garantia do
(comprar material, contratar pessoal etc.), dentro dos limites da lei credor.
que as criou. - Imprescritibilidade de seus bens: caracterizando-se como
bens públicos, não podem ser eles adquiridos por terceiros através
Patrimônio: as autarquias são constituídas por bens públicos, de usucapião.
conforme dispõe o artigo 98, Código Civil e têm as seguintes carac- - Prescrição quinquenal: dívidas e direitos em favor de terceiros
terísticas: contra autarquias prescrevem em 5 anos.
a) São alienáveis - Créditos sujeitos à execução fiscal: os créditos autárquicos são
b) impenhoráveis; inscritos como dívida ativa e podem ser cobrados pelo processo es-
c) imprescritíveis pecial das execuções fiscais.
d) não oneráveis.
Contratos: os contratos celebrados pelas autarquias são de
Pessoal: em conformidade com o que estabelece o artigo 39 caráter administrativo e possuem as cláusulas exorbitantes, que
da Constituição, em sua redação vigente, as pessoas federativas garantem à administração prerrogativas que o contratado comum
(União, Estados, DF e Municípios) ficaram com a obrigação de insti- não tem, assim, dependem de prévia licitação, exceto nos casos de
tuir, no âmbito de sua organização, regime jurídico único para todos dispensa ou inexigibilidade e precisam respeitar os trâmites da lei
os servidores da administração direta, das autarquias e das funda- 8.666/1993, além da lei 10.520/2002, que institui a modalidade lici-
ções públicas. tatória do pregão para os entes públicos.
Isto acontece pelo fato de que por terem qualidade de pessoas
Controle Judicial: as autarquias, por serem dotadas de persona- jurídicas de direito público, as entidades autárquicas relacionam-se
lidade jurídica de direito público, podem praticar atos administrati- com os particulares com grau de supremacia, gozando de todas as
vos típicos e atos de direito privado (atípicos), sendo este último, prerrogativas estatais.
controlados pelo judiciário, por vias comuns adotadas na legislação
processual, tal como ocorre com os atos jurídicos normais pratica- Empresas Públicas
dos por particulares. Empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Privado, e
tem sua criação por meio de autorização legal, isso significa dizer
Foro dos litígios judiciais: a fixação da competência varia de que não são criadas por lei, mas dependem de autorização legis-
acordo com o nível federativo da autarquia, por exemplo, os litígios lativa.
comuns, onde as autarquias federais figuram como autoras, rés, as- O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as empresas públicas:
sistentes ou oponentes, têm suas causas processadas e julgadas na
Justiça Federal, o mesmo foro apropriado para processar e julgar Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
mandados de segurança contra agentes autárquicos. [...]
Quanto às autarquias estaduais e municipais, os processos em
que encontramos como partes ou intervenientes terão seu curso na II - Empresa Pública - a entidade dotada de personalidade jurí-
Justiça Estadual comum, sendo o juízo indicado pelas disposições dica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo
da lei estadual de divisão e organização judiciárias. da União, criado por lei para a exploração de atividade econômica
Nos litígios decorrentes da relação de trabalho, o regime po- que o Governo seja levado a exercer por fôrça de contingência ou
derá ser estatutário ou trabalhista. Sendo estatutário, o litígio será de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das
de natureza comum, as eventuais demandas deverão ser processa- formas admitidas em direito.
das e julgadas nos juízos fazendários. Porém, se o litígio decorrer
de contrato de trabalho firmado entre a autarquia e o servidor, a As empresas públicas têm seu próprio patrimônio e seu capital
natureza será de litígio trabalhista (sentido estrito), devendo ser re- é integralmente detido pela União, Estados, Municípios ou pelo Dis-
solvido na Justiça do Trabalho, seja a autarquia federal, estadual ou trito Federal, podendo contar com a participação de outras pessoas
municipal. jurídicas de direito público, ou também pelas entidades da admi-
Responsabilidade civil: prevê a Constituição Federal que as pes- nistração indireta de qualquer das três esferas de governo, porém,
soas jurídicas de direito público respondem pelos danos que seus a maioria do capital deve ser de propriedade da União, Estados,
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Municípios ou do Distrito Federal.
A regra contida no referido dispositivo, consagra a teoria da
responsabilidade objetiva do Estado, aquela que independe da in- Foro Competente
vestigação sobre a culpa na conduta do agente. A Justiça Federal julga as empresas públicas federais, enquanto
a Justiça Estadual julga as empresas públicas estaduais, distritais e
municipais.

218
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Objetivo As sociedades de economia mista são:


É a exploração de atividade econômica de produção ou comer- - Pessoas jurídicas de Direito Privado.
cialização de bens ou de prestação de serviços, ainda que a ativida- - Exploradoras de atividade econômica ou prestadoras de ser-
de econômica esteja sujeita ao regime de monopólio da União ou viços públicos.
preste serviço público. - Empresas de capital misto.
- Constituídas sob forma empresarial de S/A.
Regime Jurídico
Se a empresa pública é prestadora de serviços públicos, por Veja alguns exemplos de sociedade mista:
consequência está submetida a regime jurídico público. Se a empre- a). Exploradoras de atividade econômica: Banco do Brasil.
sa pública é exploradora de atividade econômica, estará submetida b) Prestadora de serviços públicos: Petrobrás, Sabesp, Metrô,
a regime jurídico privado igual ao da iniciativa privada. entre outras
As empresas públicas, independentemente da personalidade
jurídica, têm as seguintes características: Características
- Liberdade financeira: Têm verbas próprias, mas também são As sociedades de economia mista têm as seguintes caracterís-
contempladas com verbas orçamentárias; ticas:
- Liberdade administrativa: Têm liberdade para contratar e de- - Liberdade financeira;
mitir pessoas, devendo seguir as regras da CF/88. Para contratar, - Liberdade administrativa;
deverão abrir concurso público; para demitir, deverá haver moti- - Dirigentes próprios;
vação. - Patrimônio próprio.

Não existe hierarquia ou subordinação entre as empresas pú- Não existe hierarquia ou subordinação entre as sociedades de
blicas e a Administração Direta, independentemente de sua fun- economia mista e a Administração Direta, independentemente da
ção. Poderá a Administração Direta fazer controle de legalidade e função dessas sociedades. No entanto, é possível o controle de le-
finalidade dos atos das empresas públicas, visto que estas estão galidade. Se os atos estão dentro dos limites da lei, as sociedades
vinculadas àquela. Só é possível, portanto, controle de legalidade não estão subordinadas à Administração Direta, mas sim à lei que
finalístico. as autorizou.
Como já estudado, a empresa pública será prestadora de ser- As sociedades de economia mista integram a Administração
viços públicos ou exploradora de atividade econômica. A CF/88 Indireta e todas as pessoas que a integram precisam de lei para au-
somente admite a empresa pública para exploração de atividade torizar sua criação, sendo que elas serão legalizadas por meio do
econômica em duas situações (art. 173 da CF/88): registro de seus estatutos.
- Fazer frente a uma situação de segurança nacional; A lei, portanto, não cria, somente autoriza a criação das so-
- Fazer frente a uma situação de relevante interesse coletivo: ciedades de economia mista, ou seja, independentemente das ati-
vidades que desenvolvam, a lei somente autorizará a criação das
A empresa pública deve obedecer aos princípios da ordem sociedades de economia mista.
econômica, visto que concorre com a iniciativa privada. Quando o A Sociedade de economia mista, quando explora atividade eco-
Estado explora, portanto, atividade econômica por intermédio de nômica, submete-se ao mesmo regime jurídico das empresas pri-
uma empresa pública, não poderão ser conferidas a ela vantagens vadas, inclusive as comerciais. Logo, a sociedade mista que explora
e prerrogativas diversas das da iniciativa privada (princípio da livre atividade econômica submete-se ao regime falimentar. Sociedade
concorrência). de economia mista prestadora de serviço público não se submete
Cabe ressaltar que as Empresas Públicas são fiscalizadas pelo ao regime falimentar, visto que não está sob regime de livre con-
Ministério Público, a fim de saber se está sendo cumprido o acor- corrência.
dado.
Fundações e Outras Entidades Privadas Delegatárias.
Sociedades de Economia Mista Fundação é uma pessoa jurídica composta por um patrimônio
As sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de personalizado, destacado pelo seu instituidor para atingir uma fina-
Direito Privado, integrante da Administração Pública Indireta, sua lidade específica. As fundações poderão ser tanto de direito público
criação autorizada por lei, criadas para a prestação de serviços pú- quanto de direito privado. São criadas por meio de por lei específica
blicos ou para a exploração de atividade econômica, contando com cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de
capital misto e constituídas somente sob a forma empresarial de sua atuação.
S/A (Sociedade Anônima). Decreto-lei 200/67 assim definiu as Fundações Públicas.
O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as empresas públicas:
Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se: [...
[...] IV - Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade ju-
rídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de
III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de perso- autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que
nalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público,
de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos
ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recur-
entidade da Administração Indireta. sos da União e de outras fontes.

219
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Apesar da legislação estabelecer que as fundações públicas são social, do Ministro ou titular de órgão supervisor ou regulador da
dotadas de personalidade jurídica de direito privado, a doutrina ad- área de atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro
ministrativa admite a adoção de regime jurídico de direito público de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado”. Assim,
a algumas fundações. as entidades que preencherem os requisitos legais possuem sim-
As fundações que integram a Administração indireta, quando ples expectativa de direito à obtenção da qualificação, nunca direito
forem dotadas de personalidade de direito público, serão regidas adquirido.
integralmente por regras de Direito Público. Quando forem dotadas Evidentemente, o caráter discricionário dessa decisão, permi-
de personalidade de direito privado, serão regidas por regras de di- tindo outorgar a qualificação a uma entidade e negar a outro que
reito público e direito privado, dada sua relevância para o interesse igualmente atendeu aos requisitos legais, viola o princípio da iso-
coletivo. nomia, devendo-se considerar inconstitucional o art. 2º, II, da Lei
O patrimônio da fundação pública é destacado pela Adminis- n. 9.637/98.
tração direta, que é o instituidor para definir a finalidade pública. Na verdade, as organizações sociais representam uma espécie
Como exemplo de fundações, temos: IBGE (Instituto Brasileiro Geo- de parceria entre a Administração e a iniciativa privada, exercen-
gráfico Estatístico); Universidade de Brasília; Fundação CASA; FU- do atividades que, antes da Emenda 19/98, eram desempenhadas
NAI; Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), entre outras. por entidades públicas. Por isso, seu surgimento no Direito Brasi-
leiro está relacionado com um processo de privatização lato sensu
Características: realizado por meio da abertura de atividades públicas à iniciativa
- Liberdade financeira; privada.
- Liberdade administrativa; O instrumento de formalização da parceria entre a Administra-
- Dirigentes próprios; ção e a organização social é o contrato de gestão, cuja aprovação
- Patrimônio próprio: deve ser submetida ao Ministro de Estado ou outra autoridade su-
pervisora da área de atuação da entidade.
As fundações governamentais, sejam de personalidade de di- O contrato de gestão discriminará as atribuições, responsabi-
reito público, sejam de direito privado, integram a Administração lidades e obrigações do Poder Público e da organização social, de-
Pública. Importante esclarecer que não existe hierarquia ou subor- vendo obrigatoriamente observar os seguintes preceitos:
dinação entre a fundação e a Administração direta. O que existe é I - especificação do programa de trabalho proposto pela organi-
um controle de legalidade, um controle finalístico. zação social, a estipulação das metas a serem atingidas e os respec-
As fundações são dotadas dos mesmos privilégios que a Admi- tivos prazos de execução, bem como previsão expressa dos critérios
nistração direta, tanto na área tributária (ex.: imunidade prevista no objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, median-
art. 150 da CF/88), quanto na área processual (ex.: prazo em dobro). te indicadores de qualidade e produtividade;
As fundações respondem pelas obrigações contraídas junto a II - a estipulação dos limites e critérios para despesa com re-
terceiros. A responsabilidade da Administração é de caráter subsi- muneração e vantagens de qualquer natureza a serem percebidas
diário, independente de sua personalidade. pelos dirigentes e empregados das organizações sociais, no exercí-
As fundações governamentais têm patrimônio público. Se ex- cio de suas funções;
tinta, o patrimônio vai para a Administração indireta, submetendo- III - os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da área
-se as fundações à ação popular e mandado de segurança. As par- de atuação da entidade devem definir as demais cláusulas dos con-
ticulares, por possuírem patrimônio particular, não se submetem tratos de gestão de que sejam signatários.
à ação popular e mandado de segurança, sendo estas fundações A fiscalização do contrato de gestão será exercida pelo órgão ou
fiscalizadas pelo Ministério Público. entidade supervisora da área de atuação correspondente à ativida-
de fomentada, devendo a organização social apresentar, ao término
DELEGAÇÃO SOCIAL de cada exercício, relatório de cumprimento das metas fixadas no
contrato de gestão.
Organizações sociais Se descumpridas as metas previstas no contrato de gestão, o
Criada pela Lei n. 9.637/98, organização social é uma qualifica- Poder Executivo poderá proceder à desqualificação da entidade
ção especial outorgada pelo governo federal a entidades da inicia- como organização social, desde que precedida de processo admi-
tiva privada, sem fins lucrativos, cuja outorga autoriza a fruição de nistrativo com garantia de contraditório e ampla defesa.
vantagens peculiares, como isenções fiscais, destinação de recursos Por fim, convém relembrar que o art. 24, XXIV, da Lei n.
orçamentários, repasse de bens públicos, bem como empréstimo 8.666/93 prevê hipótese de dispensa de licitação para a celebração
temporário de servidores governamentais. de contratos de prestação de serviços com a s organizações sociais,
As áreas de atuação das organizações sociais são ensino, pes- qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para
quisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preserva- atividades contempladas no contrato de gestão. Excessivamente
ção do meio ambiente, cultura e saúde. Desempenham, portanto, abrangente, o art. 24, XXIV, da Lei n. 8.666/93, tem a sua consti-
atividades de interesse público, mas que não se caracterizam como tucionalidade questionada perante o Supremo Tribunal Federal na
serviços públicos stricto sensu, razão pela qual é incorreto afirmar ADIn 1.923/98. Recentemente, foi indeferida a medida cautelar que
que as organizações sociais são concessionárias ou permissionárias. suspendia a eficácia da norma, de modo que o dispositivo voltou a
Nos termos do art. 2º da Lei n. 9.637/98, a outorga da qualifica- ser aplicável.
ção constitui decisão discricionária, pois, além da entidade preen-
cher os requisitos exigidos na lei, o inciso II do referido dispositi-
vo condiciona a atribuição do título a “haver aprovação, quanto à
conveniência e oportunidade de sua qualificação como organização

220
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra-
As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, popu- tuito e suas mantenedoras;
larmente denominadas OSCIP é um título fornecido pelo Ministério IX - as organizações sociais;
da Justiça do Brasil, cuja finalidade é facilitar a viabilidade de parce- X - as cooperativas;
rias e convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos XI - as fundações públicas;
(federal, estadual e municipal). XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito
OSCIPs são ONGs criadas por iniciativa privada, que obtêm um privado criadas por órgão público ou por fundações públicas;
certificado emitido pelo poder público federal ao comprovar o cum- XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de
primento de certos requisitos, especialmente aqueles derivados de vinculação com o sistema financeiro nacional a que se refere o art.
normas de transparência administrativas. Em contrapartida, podem 192 da Constituição Federal.
celebrar com o poder público os chamados termos de parceria, que Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em
são uma alternativa interessante aos convênios para ter maior agili- qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res-
dade e razoabilidade em prestar contas. pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi-
Uma ONG (Organização Não-Governamental), essencialmente da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
é uma OSCIP, no sentido representativo da sociedade, OSCIP é uma objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
qualificação dada pelo Ministério da Justiça no Brasil. I - promoção da assistência social;
A lei que regula as OSCIPs é a nº 9.790/1999. Esta lei traz a II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
possibilidade das pessoas jurídicas (grupos de pessoas ou profissio- histórico e artístico;
nais) de direito privado sem fins lucrativos serem qualificadas, pelo III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma
Poder Público, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse complementar de participação das organizações de que trata esta
Público - OSCIPs e poderem com ele relacionar-se por meio de par- Lei;
ceria, desde que os seus objetivos sociais e as normas estatutárias IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com-
atendam os requisitos da lei. plementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
Um grupo privado recebe a qualificação de OSCIP depois que o V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
estatuto da instituição, que se pretende formar, tenha sido analisa- VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e pro-
do e aprovado pelo Ministério da Justiça. Para tanto, é necessário moção do desenvolvimento sustentável;
que o estatuto atenda a certos pré-requisitos que estão descritos VII - promoção do voluntariado;
nos artigos 1º, 2º, 3º e 4º da Lei nº 9.790/1999. Vejamos: VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
Art. 1º Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade bate à pobreza;
Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado sem IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-
fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em -produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, em-
funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os prego e crédito;
respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos re- X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos di-
quisitos instituídos por esta Lei. reitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
a pessoa jurídica de direito privado que não distribui, entre os seus manos, da democracia e de outros valores universais;
sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doa- XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
dores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos, divi- ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
dendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica neste artigo.
integralmente na consecução do respectivo objeto social. XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibi-
§ 2o A outorga da qualificação prevista neste artigo é ato vincu- lização e a implementação de tecnologias voltadas à mobilidade de
lado ao cumprimento dos requisitos instituídos por esta Lei. pessoas, por qualquer meio de transporte.
Art. 2o Não são passíveis de qualificação como Organizações Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às ati-
da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de vidades nele previstas configura-se mediante a execução direta de
qualquer forma às atividades descritas no art. 3o desta Lei: projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da doa-
I - as sociedades comerciais; ção de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela presta-
II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação ção de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem
de categoria profissional; fins lucrativos e a órgãos do setor público que atuem em áreas afins.
III - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação Art. 4o Atendido o disposto no art. 3o, exige-se ainda, para
de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais; qualificarem-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse
IV - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas Público, que as pessoas jurídicas interessadas sejam regidas por es-
fundações; tatutos cujas normas expressamente disponham sobre:
V - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar I - a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade,
bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios; moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência;
VI - as entidades e empresas que comercializam planos de saú- II - a adoção de práticas de gestão administrativa, necessárias
de e assemelhados; e suficientes a coibir a obtenção, de forma individual ou coletiva, de
VII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas benefícios ou vantagens pessoais, em decorrência da participação
mantenedoras; no respectivo processo decisório;

221
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

III - a constituição de conselho fiscal ou órgão equivalente, dota- Para ficar mais fácil de compreender, basta pensar no sistema
do de competência para opinar sobre os relatórios de desempenho “S”, cujo o qual resulta do fato destas entidades ligarem-se à es-
financeiro e contábil, e sobre as operações patrimoniais realizadas, trutura sindical e terem sua denominação iniciada com a letra “S”
emitindo pareceres para os organismos superiores da entidade; – SERVIÇO.
IV - a previsão de que, em caso de dissolução da entidade, o Integram o Sistema “S:” SESI, SESC, SENAC, SEST, SENAI, SENAR
respectivo patrimônio líquido será transferido a outra pessoa jurídi- e SEBRAE.
ca qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente que tenha o Estas entidades visam ministrar assistência ou ensino a algu-
mesmo objeto social da extinta; mas categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins lucrativos.
V - a previsão de que, na hipótese de a pessoa jurídica perder a São mantidas por dotações orçamentárias e até mesmo por contri-
qualificação instituída por esta Lei, o respectivo acervo patrimonial buições parafiscais.
disponível, adquirido com recursos públicos durante o período em Ainda que sejam oficializadas pelo Estado, não são partes inte-
que perdurou aquela qualificação, será transferido a outra pessoa grantes da Administração direta ou indireta, porém trabalham ao
jurídica qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente que te- lado do Estado, seja cooperando com os diversos setores as ativida-
nha o mesmo objeto social; des e serviços que lhes são repassados.
VI - a possibilidade de se instituir remuneração para os diri-
gentes da entidade que atuem efetivamente na gestão executiva Entidades de Apoio
e para aqueles que a ela prestam serviços específicos, respeitados, As entidades de apoio fazem parte do Terceiro Setor e são pes-
em ambos os casos, os valores praticados pelo mercado, na região soas jurídicas de direito privado, criados por servidores públicos
correspondente a sua área de atuação; para a prestação de serviços sociais não exclusivos do Estado, pos-
VII - as normas de prestação de contas a serem observadas pela suindo vínculo jurídico com a Administração direta e indireta.
entidade, que determinarão, no mínimo: Atualmente são prestadas no Brasil através dos serviços de lim-
a) a observância dos princípios fundamentais de contabilidade peza, conservação, concursos vestibulares, assistência técnica de
e das Normas Brasileiras de Contabilidade; equipamentos, administração em restaurantes e hospitais univer-
b) que se dê publicidade por qualquer meio eficaz, no encerra- sitários.
mento do exercício fiscal, ao relatório de atividades e das demons- O bom motivo da criação das entidades de apoio é a eficiência
trações financeiras da entidade, incluindo-se as certidões negativas na utilização desses entes. Através delas, convênios são firmados
de débitos junto ao INSS e ao FGTS, colocando-os à disposição para com a Administração Pública, de modo muito semelhante com a
exame de qualquer cidadão; celebração de um contrato
c) a realização de auditoria, inclusive por auditores externos
independentes se for o caso, da aplicação dos eventuais recursos Associações Públicas
objeto do termo de parceria conforme previsto em regulamento; Tratam-se de pessoas jurídicas de direito público, criadas por
d) a prestação de contas de todos os recursos e bens de origem meio da celebração de um consórcio público com entidades fede-
pública recebidos pelas Organizações da Sociedade Civil de Interes- rativas.
se Público será feita conforme determina o parágrafo único do art. Quando as entidades federativas fazem um consórcio público,
70 da Constituição Federal. elas terão a faculdade de decidir se essa nova pessoa criada será de
Parágrafo único. É permitida a participação de servidores pú- direito privado ou de direito público. Caso se trate de direito públi-
blicos na composição de conselho ou diretoria de Organização da co, caracterizar-se-á como Associação Pública. No caso de direito
Sociedade Civil de Interesse Público. privado, não se tem um nome específico.
A finalidade da associação pública é estabelecer finalidades
Pode-se dizer que as OSCIPs são o reconhecimento oficial e le- de interesse comum entre as entidades federativas, estabelecendo
gal mais próximo do que modernamente se entende por ONG, es- uma meta a ser atingida.
pecialmente porque são marcadas por uma extrema transparência Faz parte da administração indireta de todas as entidades fede-
administrativa. Contudo ser uma OSCIP é uma opção institucional, rativas consorciadas.
não uma obrigação.
Em geral, o poder público sente-se muito à vontade para se Conselhos Profissionais
relacionar com esse tipo de instituição, porque divide com a socie- Trata-se de entidades que são destinadas ao controle e fiscali-
dade civil o encargo de fiscalizar o fluxo de recursos públicos em zação de algumas profissões regulamentadas. Eis que tem-se uma
parcerias. grande controvérsia, quanto à sua natureza jurídica.
A OSCIP, portanto, é uma organização da sociedade civil que, O STF considera que como se trata de função típica do Estado,
em parceria com o poder público, utilizará também recursos públi- o controle e fiscalização do exercício de atividades profissionais não
cos para suas finalidades, dividindo dessa forma o encargo adminis- poderia ser delegado a entidades privadas, em decorrência disso,
trativo e de prestação de contas. chegou-se ao entendimento que os conselhos profissionais pos-
Entidades de utilidade pública suem natureza autárquica.
Figuram ainda como entidades privadas de utilidade pública: Assim, não estamos diante de entes de colaboraçao, mas sim
de pessoas jurídicas de direito público.
Serviços sociais autônomos
São pessoas jurídicas de direito privado, criados por intermé- Fazendo-se um comparativo, a Constituição Federal não admite
dio de autorização legislativa. Tratam-se de entes paraestatais de que esses conselhos tenham personalidade jurídica de direito pri-
cooperação com o Poder Público, possuindo administração e patri- vado, gozando de prerrogativas que são conferidas ao Estado. Os
mônio próprios.

222
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

conselhos profissionais com natureza autárquica é uma forma de No Direito Financeiro, damos uma conceituação diferente. Ór-
descentralizar a atividade administrativa que não pode mais ser de- gãos são somente as instituições que integram o mais alto grau e
legada a associações profissionais de caráter privado. nível hierárquico dos poderes. O conceito de órgão para fins de
orçamento é mais restrito. Presidência da República e Ministérios,
por exemplo, na área do Poder Executivo. Na área do Poder Legis-
ÓRGÃOS PÚBLICOS: CONCEITO, NATUREZA E lativo temos: a Câmara dos Deputados, Senado Federal e Tribunal
CLASSIFICAÇÃO de Contas da União no Legislativo, e no Judiciário temos: os juízes
e Tribunais.
Dentro do conceito de Administração Pública Direta, temos os Contudo, para o Direito Administrativo, o juiz é, na realidade,
órgãos públicos. Mas o que são esses órgãos? Temos vários signifi- agente público, e não órgão! Constitucionalmente, entretanto, é
cados, até chegar ao conceito de órgão para o Direito Administrati- tratado como se órgão fosse.
vo brasileiro. Vejamos: Assim mostramos a desuniformidade na expressão “órgão” nas
Em sentido corriqueiro, as pessoas entendem como órgão qual- normas positivas. Todavia o que nos interessa aqui é o conceito de
quer instituição que faça parte da Administração Pública. Ministério órgão para efeito de Direito Administrativo.
é um órgão, o Supremo Tribunal Federal é outro, a Petrobras é ou- Pode-se definir o órgão público como uma unidade que congre-
tro, a ECT, o BRB... ga atribuições exercidas pelos agentes públicos que o integram com
O cidadão comum não tem a noção técnica e entende por ór- o objetivo de expressar a vontade do Estado.
gão qualquer instituição que faça parte da estrutura administrativa, Na realidade, o órgão não se confunde com a pessoa jurídica,
independentemente de sua posição dentro dessa estrutura. O cida- embora seja uma de suas partes integrantes; a pessoa jurídica é o
dão não tem esse discernimento de estabelecer o que são órgãos todo, enquanto os órgãos são parcelas integrantes do todo. O órgão
para o exercício das funções administrativas. Então ele usa um con- também não se confunde com a pessoa física, o agente público, por-
ceito de órgão em sentido amplo. que congrega funções que este vai exercer. Conforme estabelece o
Se buscarmos em nossa Constituição, veremos uma curiosida- artigo 1º, § 2º, inciso I, da Lei nº 9.784/99, que disciplina o processo
de: quando trata da estrutura do Poder Legislativo, ela não fala em administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, órgão
órgãos. Fala que a função legislativa é exercida através do Congres- é “a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração
so Nacional, mas não o chama de órgão. Igualmente menciona que direta e da estrutura da Administração indireta”. Isto equivale a
o Tribunal de Contas da União exerce a função constitucional de dizer que o órgão não tem personalidade jurídica própria, já que
fiscalização orçamentária, financeira, contábil, patrimonial e opera- integra a estrutura da Administração Direta, ao contrário da enti-
cional, mas sem chamá-lo de órgão. dade, que constitui “unidade de atuação dotada de personalidade
Com o Poder Executivo, a Constituição não fala também em ór- jurídica” (inciso II do mesmo dispositivo); é o caso das entidades da
gãos, se limita a mencionar apenas Presidência da República e os Administração Indireta (autarquias, fundações, empresas públicas e
Ministérios. sociedades de economia mista).
Entretanto, com relação ao Poder Judiciário há sim menção aos Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, os órgãos:
órgãos! É o que dispõe o art. 92 da CF/88: “nada mais significam que círculos de atribuições, os feixes indivi-
duais de poderes funcionais repartidos no interior da personalidade
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: estatal e expressados através dos agentes neles providos”.
I - o Supremo Tribunal Federal; Embora os órgãos não tenham personalidade jurídica, eles po-
I-A o Conselho Nacional de Justiça; dem ser dotados de capacidade processual. A doutrina e a jurispru-
II - o Superior Tribunal de Justiça; dência têm reconhecido essa capacidade a determinados órgãos
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; públicos, para defesa de suas prerrogativas.
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, “embora despersonaliza-
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; dos, os órgãos mantêm relações funcionais entre si e com terceiros,
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; das quais resultam efeitos jurídicos internos e externos, na forma
VI - os Tribunais e Juízes Militares; legal ou regulamentar. E, a despeito de não terem personalidade
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Ter- jurídica, os órgãos podem ter prerrogativas funcionais próprias que,
ritórios. [...] quando infringidas por outro órgão, admitem defesa até mesmo
por mandado de segurança”.
Inclui até os juízes como órgãos. Assim, Juiz, na concepção cons- Por sua vez, José dos Santos Carvalho Filho, depois de lembrar
titucional, é tratado como órgão do Poder Judiciário. Curiosamen- que a regra geral é a de que o órgão não pode ter capacidade pro-
te, o Ministério Público, a Defensoria Pública e a Advocacia Pública cessual, acrescenta que “de algum tempo para cá, todavia, tem evo-
são tratados como instituições. Mas, quando se trata do Conselho luído a ideia de conferir capacidade a órgãos públicos para certos
de Defesa Nacional e da República, a Constituição usa a expressão tipos de litígio. Um desses casos é o da impetração de mandado de
“órgão”. segurança por órgãos públicos de natureza constitucional, quando
Deste modo, podemos observar que a Constituição não permite se trata da defesa de sua competência, violada por ato de outro
o estabelecimento de um conceito jurídico de órgãos, pois é desuni- órgão”.
forme nesse aspecto. As únicas ocasiões em que se usa a expressão Também a jurisprudência tem reconhecido capacidade pro-
“órgão” ou “órgãos” são para o Conselho da República, para o Con- cessual a órgãos públicos, como Câmaras Municipais, Assembleias
selho de Defesa Nacional, e no Título do Poder Judiciário, no art. 92. Legislativas, Tribunal de Contas. Mas a competência é reconhecida
apenas para defesa das prerrogativas do órgão e não para atuação
em nome da pessoa jurídica em que se integram.

223
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

A criação e a extinção dos órgãos públicos ocorre por meio de desempenhada por outra pessoa, em regra por designação judicial.
de lei, conforme se extrai da leitura conjugada dos arts. 48, XI, e 84, No Estado não há nenhuma designação judicial para que agentes
VI, a, da Constituição Federal, com alteração pela EC n.º 32/2001.6 públicos representem a Administração Pública.
E, em regra, a iniciativa para o projeto de lei de criação dos órgãos A teoria que ganhou importância foi a da imputação, vinda da
públicos é do Chefe do Executivo, na forma do art. 61, § 1.º, II, e, da Alemanha. É a teoria do órgão. Diz que a conduta dos agentes pú-
CRFB, também alterada pela citada Emenda Constitucional. blicos são imputadas sempre à pessoa jurídica a que pertencem,
Entretanto, em alguns casos, a iniciativa legislativa é atribuída, para que a responsabilização se faça contra o próprio Estado, e,
pelo texto constitucional, a outros agentes públicos, como ocorre, se for o caso, depois por ação de regresso contra o próprio agente
por exemplo, em relação aos órgãos do Poder Judiciário (art. 96, II, público. É a teoria que está na base da teoria da responsabilidade
c e d, da CRFB) e do Ministério Público (127, § 2.º), cuja iniciativa objetiva do Estado, no art. 37, § 6º da nossa Constituição.
pertence aos representantes daquelas instituições. 1
Trata-se do princípio da reserva legal aplicável às técnicas de or- § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
ganização administrativa (desconcentração para órgãos públicos e privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
descentralização para pessoas físicas ou jurídicas). Atualmente, no danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
entanto, não é exigida lei para tratar da organização e do funciona- assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
mento dos órgãos públicos, já que tal matéria pode ser estabelecida de dolo ou culpa.
por meio de decreto do Chefe do Executivo (art. 84, VI, a, da CRFB).
Excepcionalmente, a criação de órgãos públicos poderá ser ins- É a chamada teoria da responsabilidade objetiva do Estado, em
trumentalizada por ato administrativo, tal como ocorre na institui- que a conduta do agente público é imputada ao próprio Estado. Isso
ção de órgãos no Poder Legislativo, na forma dos arts. 51, IV, e 52, é praticamente sacramentado na doutrina.
XIII, da CRFB. Assim, chegamos ao conceito técnico-doutrinário de órgão:
Neste contexto, vemos que os órgãos são centros de competên- centros de competência instituídos para o desempenho de funções
cia instituídos para praticar atos e implementar políticas por inter- estatais, por intermédio de seus agentes, cuja atuação é imputada
médio de seus agentes, cuja conduta é imputada à pessoa jurídica. à pessoa jurídica que pertencem.
Esse é o conceito administrativo de órgão. É sempre um centro de Resumindo todo o exposto, vamos repassar as teorias explicati-
competência, que decorre de um processo de desconcentração vas da relação entre os agentes e órgãos públicos.
dentro da Administração Pública. - Teoria do contrato ou do mandato, segundo a qual o Estado
conferiria mandato para que o agente atue em seu nome; não é
Natureza dos Órgãos aceita porque o Estado não tem vontade própria;
- Teoria da representação, segundo a qual o Estado seria repre-
Temos algumas teorias para responder. A teoria subjetiva con- sentado pelos seus agentes, numa relação como se fosse de tutela
funde órgãos com agentes. Os órgãos são os próprios agentes. Sig- ou curatela, com consequente irresponsabilidade do Estado, moti-
nifica que, uma vez morto o agente, morto o órgão. A teoria obje- vo pelo qual não é aceita;
tiva, por sua vez, confunde órgão com funções, um complexo de - Teoria da Imputação, pela qual a conduta dos agentes públicos
funções. Mas o órgão não tem vontade própria, então não poderia, é sempre imputada à pessoa jurídica a que pertencem.
por si mesmo, traduzir as funções. A teoria mista, que é uma com- Dessa observação, podemos estabelecer algumas característi-
binação das duas anteriores, peca pelas próprias críticas dirigidas cas que se colocam para órgão público. O importante é que tenha-
às teorias anteriores. Se os agentes desaparecem e os órgãos não mos em vista que o conceito de órgão público em Direito Adminis-
têm vontade própria para serem realizadas, não há que se falar em trativo é referente à Administração Pública direta.
teoria subjetiva ou objetiva.
A outra questão é: qual seria a natureza jurídica da relação que Características dos órgãos públicos
se processa entre agentes e os órgãos públicos? Aqui temos outras
três teorias: do mandato ou do contrato, em que o Estado confere Órgãos, se tomados no sentido de Administração Direta ou in-
mandato para que os agentes façam seus trabalhos, o que é uma tegrante da Administração, não são pessoas jurídicas, portanto não
teoria não aceita porque os órgãos não têm vontade própria, en- têm patrimônio público, e suas receitas não são próprias. Muitas
tão não podem estabelecer procuração para que os agentes ajam vezes se fala em receitas públicas, que pertencem aos órgãos a que
em seu nome. Há também a teoria da representação, que vem do estão relacionados. União, estados, municípios e Distrito Federal.
Direito Civil, Direito que fornece várias bases para o Direito Admi- Órgão da Administração Direta não tem nem patrimônio próprio.
nistrativo. Essa teoria equipara o funcionamento dos órgãos aos O que é adquirido irá integrar um patrimônio que pertence ao ente
incapazes no Direito Civil. Tutores e curadores são representados. jurídico, e não é dele. O órgão não pode dispor daquele patrimônio.
Não tem mais sustentação pelo fato de que, se acontecesse, isso Portanto a alienação de bens tem que ser precedida de autorização
implicaria na impossibilidade da responsabilização do Estado em legislativa, com avaliação dos bens.
função de sua incapacidade. Não dá para colocar essa relação como Os órgãos atuam através de mandato, com relação interpessoal
sendo de representação equiparada ao direito privado em função entre vários deles.
daquilo que se faz para que os atos da vida civil daqueles que não Outra característica que tiramos dos órgãos públicos em con-
podem se representar, que são submetidos à tutela e curatela, a ser sequência disso é a incapacidade processual do órgão. Não pode
propor ações em juízo, e, em regra, existe sempre algum órgão que
irá defendê-lo. É o caso das Advocacias Públicas. Advocacia-Geral
1 Oliveira, Rafael Carvalho Rezende, Administração Pública, Concessões e
Terceiro Setor, editora: Método, 3ª edição, 2015.

224
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

da União, por exemplo. O órgão por si mesmo não tem capacidade Uma segunda classificação, quanto ao poder decisório, coloca-
processual. Então as ações têm que ser propostas contra o ente po- da pela doutrina também. Nela, temos os órgãos independentes,
lítico a que pertencem. com poderes harmônicos e independentes entre si. Art. 2º da Cons-
Terceira observação: os órgãos obedecem ao princípio da hie- tituição:
rarquia, e estão colocados por desconcentração, representados por
uma pirâmide, com um chefe que é o comandante em função da Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos en-
hierarquia. Temos, portanto, avocação e delegação de competên- tre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
cia, possibilidade de punição, estabelecimento de sanções, tudo
decorrente do princípio da hierarquia. Há, entre os órgãos da Admi- Congresso Nacional é constituído pela Câmara dos Deputados e
nistração Pública, a observância rigorosa desse princípio. São essas pelo Senado Federal. O Tribunal de Contas da União também pode
algumas características principais que, em geral, a doutrina apre- ser colocado aqui, muito embora não seja, administrativamente, ór-
senta para os órgãos. Há outra questão que é relacionada à possibi- gão integrante do Poder Legislativo. Às vezes existe essa confusão,
lidade de alguns órgãos possuírem, por disposição legal, autonomia pois a Constituição de 1967 dizia que o TCU era órgão auxiliar do
administrativa, financeira, e orçamentária. Poder Legislativo. A Constituição atual não fala isso; O Tribunal de
O Decreto-lei 200/67 estabelece, no art. 172, a possibilidade Contas exerce uma função de auxiliar o Poder Legislativo na tarefa
de alguns órgãos da Administração Pública gozarem de autonomia de fiscalização dos atos do Poder Executivo e dos demais poderes.
financeira e orçamentária. Eram órgãos autônomos, essa era a de- No Poder Judiciário são órgãos independentes os Tribunais.
nominação. Os órgãos em posição hierárquica superior podem bai- Dentro do Poder Executivo o órgão independente é só a Presi-
xar regimentos, mas nem todos têm autonomia administrativa. E dência da República. Uma coisa curiosa é que, no Direito Financeiro,
financeira no sentido de terem receitas próprias sem que passem, em termos de lei orçamentária atual, a Advocacia-Geral da União
necessariamente, pelo ente político. pertence à Presidência da República.
Temos a classificação quanto à posição que os órgãos ocupam
Art. 172. O Poder Executivo assegurará autonomia administrati- na estrutura estatal. De acordo com ela, os órgãos podem ser:
va e financeira, no grau conveniente aos serviços, institutos e esta- - Independentes;
belecimentos incumbidos da execução de atividades de pesquisa ou - Autônomos;
ensino ou de caráter industrial, comercial ou agrícola, que por suas - Superiores;
peculiaridades de organização e funcionamento, exijam tratamento - Subalternos.
diverso do aplicável aos demais órgãos da administração direta, ob-
servada sempre a supervisão ministerial. Os independentes são os órgãos cuja competência deriva da
norma constitucional e não estão subordinados a nenhum outro.
Foi esse dispositivo que, concedia, no passado, por decreto, Os órgãos autônomos são os que estão abaixo dos indepen-
autonomia a alguns órgãos em função de suas peculiaridades, dentes, têm grande poder de decisão, e exercem as atribuições de
principalmente na década de 70, ao lado da descentralização ad- fixação de diretrizes políticas, como os Ministérios, Secretarias dos
ministrativa pela que passou o poder na área federal. Exemplo: De- estados e municípios e do Distrito Federal.
partamento de Imprensa Nacional. Essas receitas são da União, mas Depois temos os órgãos chamados superiores, que são os que
era revertido ao próprio departamento que não as recolhia. Tinha também têm uma grande parcela de poder decisório, porém abaixo
autonomia financeira. dos órgãos autônomos. Então, em geral, são as divisões e departa-
Outro exemplo que acontecia no passado eram as antigas rádios mentos. Toda Administração tem uma divisão em departamentos.
e TVs nacionais, que depois passaram a fazer parte da Radiobrás e Hoje as agências e empresas estatais usam gerências, como as de
da TV Brasil. Existe ali pagamento de cachês a artistas, e esses veí- recursos humanos, de finanças, etc.
culos geram receita própria pela atividade comercial. Infelizmente É curioso observar que a expressão órgão superior aparece
esse tipo de situação desapareceu. A gráfica do Senado Federal ven- designada especificamente para o Conselho de Defesa Nacional. É
de publicações técnicas. O art. 172 não está prejudicado, e continua o único caso em que se tem a expressão órgão superior. Art. 89 da
vigorando para a área federal. Constituição.
Hoje são apenas os Poderes, estes com autonomia garantida Aparece aqui o Conselho da República, ao contrário do Conse-
pela Constituição, além de poucas exceções em que os órgãos da lho de Defesa, que é órgão de consulta.
Administração Direta gozam de autonomia financeira.
Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta
Demais classificações dos órgãos públicos do Presidente da República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;
Há outras classificações dos órgãos colocadas pela doutrina, II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
mas não há nenhuma disposição de Direito Administrativo. III - o Presidente do Senado Federal;
Temos um critério que tem em vista a localização institucional IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputa-
do órgão junto às suas pessoas jurídicas políticas. Podem ser: dos;
- Federais; V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
- Municipais; VI - o Ministro da Justiça;
- Estaduais; VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco
- do Distrito Federal. anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República,
dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos De-
putados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.

225
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Os órgãos subalternos são os que, via de regra, não tem poder Quanto à localização institucional do órgão junto às pessoas ju-
decisório, e estão no final da hierarquia administrativa. São aqueles rídicas políticas:
de atendimento ao público, portarias, bibliotecas, protocolos. Só - Federais;
cumprem decisões. - Municipais;
De uma maneira geral, levando-se em conta a situação do ór- - Estaduais;
gão ou da estrutura estatal podemos classifica-los em: diretivos e - do Distrito Federal.
subordinados. Sendo os diretivos, aqueles que detêm funções de
comando e direção; e os subordinados, os incumbidos das funções Quanto à posição que os órgãos ocupam na estrutura estatal:
rotineiras de execução. - Independentes
Outra classificação, bastante encontrada, é quanto ao número - Autônomos
de órgãos. - Superiores
Em regra os órgãos são compostos e não simples. O Ministé- - Subalternos
rios são compostos de vários órgãos. A seção de protocolo não tem,
abaixo dela, nenhuma divisão. Mas, nos Ministérios, podemos ter Quanto ao número de órgãos:
a consultoria jurídica, por exemplo. Geralmente, podemos afirmar - Simples
que os órgãos subalternos são simples, justamente por não terem - Compostos
subdivisões.
Quanto à composição, os órgãos podem ser singulares ou cole- Quanto à composição:
giados. Os singulares são aqueles em que as decisões são tomadas - Singulares
por um único agente público. Ele tem a responsabilidade de tomar - Colegiados
decisões. Nos órgãos colegiados temos decisões tomadas pela
maioria de seus membros, o que leva à consequência de que deva Quanto à duração:
haver um regimento interno. Congresso Nacional, Tribunal de Con- - Temporários
tas da União, Tribunais. Os Conselhos, como o Conselho Nacional de - Permanentes
Justiça, o Conselho Nacional do Ministério Público, o Conselho da
República e o Conselho da Defesa, claro que são órgão colegiados, Quanto à origem da competência:
então há um regimento interno. Pode haver decisões por maioria - Primários
simples ou por maioria absoluta. Como no Congresso Nacional, lei - Secundários
ordinária é aprovada por maioria simples, e lei complementar é - Vicários
aprovada por maioria absoluta. O órgão colegiado, então, tem que
ter um regimento interno que contém as regras decisórias. Quanto ao poder:
Há mais classificações. Os órgãos públicos podem ser temporá- - Ativos
rios ou permanentes. Normalmente a regra é que o órgão seja per- - Consultivos
manente. Exceção são os temporários, como as CPIs e comissões - De controle
específicas de licitações, além das comissões de concursos públicos.
Outra classificação encontrada é aquela entre órgãos primários,
secundários e vicários. Os órgãos primários são os cuja atividade PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI FEDERAL N°
decorre da própria lei. Os secundários desempenham funções por 9.784/99): DAS DISPOSIÇÕES GERAIS; DOS DIREITOS E
delegação. E os vicários, que exercem competência substituindo
DEVERES DOS ADMINISTRADOS
outros órgãos. Vicário significa aquilo que se faz no lugar de outra
coisa ou pessoa. Processo administrativo
Por último, uma outra classificação encontrada pela doutrina é O Processo Administrativo Disciplinar tem como objetivo apu-
entre órgãos ativos, consultivos e de controle. Órgãos ativos são rar possíveis infrações disciplinares e, conforme o caso, aplicar a
os que têm poder decisório. Os consultivos são os de consulta e penalidade cabível.
assessoramento, sem poder decisório. Como os Conselhos da Re- As regras disciplinares são de competência de cada ente fede-
pública e de Defesa Nacional. Advocacia-Geral da União desenvolve rativo, que irão regular os devidos procedimentos disciplinares de
atividades jurídicas de consulta e assessoramento do Poder Execu- seus respectivos servidores públicos.
tivo Federal. Na verdade, representa a União judicial e extrajudicial- Na esfera federal, temos o nosso estudo baseado na Lei
mente, e ajuda o Poder Executivo e não o Presidente da República. 8.112/90, sendo o estatuto dos servidores públicos. Vale destacar,
Não cabe à AGU defender o Presidente da República fora de suas que as regras estatutárias não podem desrespeitar os princípios e
atribuições, como na ocasião em que ele aparece antecipadamente as regras constitucionais.
defendendo sua candidata na eleição por vir. Defende a União, e Dentro da Lei 8.112/90 existem três modalidades de Processo
não o Presidente da República. Administrativo Disciplinar, logo nas três hipóteses, por se tratar de
Também não pode o Presidente da República chamar as Forças processo administrativo disciplinar é possível à existência de uma
Armadas para defender sua fazenda, que é propriedade particular, penalidade ao final. São modalidades do PAD:
contra invasores. A AGU defende o ente político, e não a pessoa do I. Processo Administrativo Disciplinar Simplificado/ Sindicância
Presidente da República. (Art. 145 da Lei 8.112/90): possui como objetivo a apuração das
Em resumo, as classificações dos órgãos públicos podem ser as- condutas que em tese são de menor potencial ofensivo, pressupõe
sim discutidas: então que os tipos de penalidade a serem aplicadas aqui possuem
natureza leve.

226
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Caso ao dar início a esta modalidade de PAD e, verifica-se a não um PAD de sindicância investigatório, se neste processo for confirma-
existência do fato, o PAD é arquivado, uma vez que está ausente de do os elementos instaura-se um PAD propriamente dito, para apurar a
provas/ elementos probatórios. fundo as infrações e aplicar as penalidades necessárias.
Por outro lado, caso o PAD simplificado seja confirmado, apli- O PAD Propriamente Dito pode ser instaurado de prontidão caso
ca-se uma advertência, ou então, uma suspensão de até 30 dias ao verifique-se uma conduta gravíssima, de uma denúncia clara (pessoa
servidor público. assumi a responsabilidade), desta forma percebe-se que a sindicância
Assim, a punição para condutas do servidor público de natu- não é pré-requisito para a instauração do PAD, desde que a denúncia
reza leve é de advertência ou suspensão de até 30 dias. Nota-se seja clara.
que caso conclua-se, diante da apuração do PAD simplificado, que a Um dos elementos da Portaria que instaura o PAD é o afastamen-
infração é gravíssima, finaliza-se o PAD simplificado e instaura-se o to preventivo da servidor público (Ato Administrativo – Portaria). Esse
PAD propriamente dito. afastamento ocorre, pois muitas vezes, os demais servidores não se
Ex. Ocorre uma denuncia de um servidor, que está vendendo sentem confortáveis em testemunharem algo com o acusado ainda
pão de mel dentro da administração pública, as pessoas sabem que ocupando o cargo, pois ele poderia utilizar sua influência – por exem-
este servidor não sabe cozinhar. A autoridade recebe a informação. plo, se vocês testemunharem acontecerá algo. Assim, o afastamento é
Sabe-se que essa conduta não é gravíssima, assim abre-se um PAD utilizado como um acautelamento do Administrador Público em rela-
simplificado para apurar a situação, mas com a informação de que ção ao processo administrativo disciplinar.
a pessoa não sabe cozinhar, ao abrir o PAD simplificado ele não se Vale ressaltar que o afastamento temporário não é uma punição,
confirma, assim arquiva-se. No caso de confirmação, por exemplo, tendo em vista que ainda não houve PAD. Sendo assim, neste afasta-
não era pão de mel, mas cocada, aqui não se arquiva o processo, mento é razoável que o servidor público continue recebendo a sua re-
mas aplica-se uma advertência. muneração. O prazo de afastamento temporário do servidor público é
Obs. Cuidado com o termo sindicância, na doutrina do Direito Ad- de no máximo 60 dias, prorrogáveis, desde que justificável, por mais 60
ministrativo em Geral (Processo Administrativo – Lei 9.784/99), existe dias (Art. 147 da Lei 8.112/90).
o termo sindicância, no sentido investigativo-inquisitório e acusató- Caso passe o período total de 120 dias (60 + 60 prorrogáveis), e
ria- punitivo. Assim, dentro do Processo Administrativo Geral, existem a Autoridade necessite de mais tempo para a investigação, não tem
duas modalidades de sindicância. como aumentar o prazo e o servidor continuar afastado, assim o
O PAD simplificado possui uma sindicância punitiva/acusatória, servidor retorna para o seu cargo e o PAD continua.
uma vez que ao final ela apresenta uma penalidade. Esta distinção O Ato Administrativo que instaura o PAD indica o nome de três
ocorre, pois, caso esteja-se diante de uma sindicância investigativa/ servidores públicos para compor uma Comissão Processante. Ou seja,
inquisitória, não é necessário fornecer a ninguém o direito de ampla uma autoridade instaura o PAD, sendo somente os Ministros que pos-
defesa e contraditório, uma vez que não se está acusando ninguém, suem competência para tanto, entretanto não são os Ministros que
mas apenas investigando. tocam o Processo Administrativo Disciplinar, mas sim uma Comissão
Não existe muitas regras sobre o processo administrativo discipli- Processante.
nar simplificado, de modo que, de maneira geral, utiliza-se o procedi- Dentro do ato de instauração o Ministro já indica os servidores pú-
mento do propriamente dito como margem. blicos, sendo a regra geral que a Comissão Processante seja composta
O prazo para a conclusão de um PAD simplificado é de 30 dias, ou por três Servidores Estáveis (estabilidade é um requisito – Artigo 149
seja, após o início da sindicância tem-se 30 dias para encerrar, podendo da Lei 8.112/90). Um desses três Servidores será Presidente da Comis-
ser prorrogados por mais 30 dias. são, este tem que ter o cargo superior ou similar ao do servidor púbico
acusado.
II. Processo Administrativo Disciplinar Propriamente Dito: utilizado A regra geral prevê a estabilidade, pois esta funciona como uma
nos casos de infrações gravíssimas. Este processo administrativo disci- garantia do servidor público que compõe a comissão, de modo a ga-
plinar possui três fases, sendo elas: rantir que este não pode ser retirado/ perder o cargo a não ser nas
* Primeira Fase: Compreende a instauração do processo. Para a hipóteses do artigo 41 da CF, ou seja, não sofro o risco de ser ameaça
instauração do processo é necessário que o Administrador Público a ser mandada embora. (Obs. Não pode estar este Servidor Público so-
tome conhecimento de uma conduta indisciplinar, assim, é preciso co- mente no cargo de comissão, uma vez que cargos em comissão não
nhecer a conduta, para depois instaurar um PAD. possuem a estabilidade).
*Diante de uma denuncia anônima é preciso instaurar o PAD? Obs. É muito comum na jurisprudência quando se anula um pro-
A Lei 8.112/90 de a entender que a denuncia anônima está vedada cesso administrativo, anula-se a comissão processante em um sentido
de maneira geral para evitar o chamado denuncismo. Uma vez que, geral. Assim qual é o ato que a autoridade competente tem que fa-
a Lei fala que a denúncia deve ser clara, demonstrando seu endereço, zer? Instaurar um novo PAD, com a nomeação de novas pessoas para
nome, ou seja, você tem que ser responsável pela sua denúncia – as- compor a comissão processante, uma vez que a anterior foi desfeita,
sumir a responsabilidade. Ocorre que, nessa situação, ao exigir que a pois não garantiu a ampla defesa e o contraditório. Caso anteriormente
denúncia seja sempre clara, pode estar evitando que certas denúncias tenha ocorrido alguma nulidade que tenha gerado o desfazimento da
cheguem à Administração Pública. Assim, conclui-se que a denúncia comissão processante, pode esta mesma comissão ser escolhida nova-
anônima não deve ser desconsiderada de fato, sendo necessário anali- mente. Assim, a Comissão Processante só não pode ser a mesma caso
sar a presença de elementos concretos na denúncia anônima. esta não garanta o contraditório e a ampla defesa.
De modo que, ao receber a denúncia anônima a Autoridade com- A Suspensão e Advertência podem ser aplicadas no PAD, no mo-
petente não pode abrir um PAD de prontidão. Mas, caso a Autoridade mento em que o Servidor Público é suspenso ou advertido, começa a
verifique elementos concretos nesta denúncia anônima, instaura-se correr um prazo para o cancelamento desse registro de penalidades
na sua ficha de servidor público. De modo que, após 3 (para o caso de
advertência) ou 5 (para a suspensão) anos o servidor cometa outro ilí-

227
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

cito/ não sofra nenhuma outra sanção, ele não será considerado como Obs. É necessário que se dê a possibilidade de participação de
reincidente. Assim, aqui não se cancela os efeitos da suspensão e da advogado, não podendo ser vedada a sua participação no PAD.
advertência, mas o Registro de Penalidades em sua ficha. Esta situação do Advogado gerou a Súmula Vinculante nº 5 do
Prazo de Prescrição do PAD: o Servidor Público no exercício da sua STF, que prevê que a falta de defesa técnica, ou seja, de advoga-
atividade, pratica uma conduta em que a penalidade típica é demissão, do em um PAD não ofende a Constituição Federal. Entretanto o STJ
assim, o poder público / administração pública, tem o prazo de 5 anos, acredita que é necessária a presença do advogado no PAD. O que
a partir do conhecimento do fato da conduta pela autoridade compe- vale, neste caso, é a posição do STF na Súmula Vinculante nº 5.
tente para abrir um PAD, sob pena de prescrição. - Defesa
Caso a conduta leve a suspensão do servidor, a Administração Pú- - Relatório
blica tem dois anos, a partir do conhecimento da conduta, para abrir o
PAD sob pena de prescrição. * Terceira Fase: Julgamento
Por outro lado, caso a conduta leve a advertência ao servidor, a
Administração Pública tem 180 dias, a partir do conhecimento da con- LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999.
duta, para abrir o PAD, sob pena de prescrição.
Vale ressaltar, que nos três casos acima (demissão, suspensão e Regula o processo administrativo no âmbito da Administração
advertência), caso a Autoridade competente, tome conhecimento da Pública Federal.
conduta e não instaure o PAD ela sofre as sanções da Lei 8.112/90, ou
seja, assume a responsabilidade. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
Ademais, importante ressaltar que no momento em que o PAD é cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
aberto, o prazo prescricional do mesmo se interrompe até a decisão CAPÍTULO I
da autoridade competente (Art. 142, § 3º da Lei 8.112/90). Entretanto DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
existem discussões acerca da razoabilidade desse tempo de decisão
da autoridade competente, de modo que a previsão legal diverge da Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo ad-
jurisprudencial. ministrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta,
A lei entende que a Autoridade tem o tempo necessário para se visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e
chegar a uma decisão, já a jurisprudência, entende que, uma vez inter- ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
rompido o prazo prescricional do PAD, após 140 dias, diante da ausên- § 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos
cia de uma decisão pela autoridade competente, o prazo prescricional Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho
volta a correr. Isto é, uma vez instaurado o PAD, a autoridade compe- de função administrativa.
tente tem 140 dias para concluí-lo, uma vez que o PAD normalmente § 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:
deve durar 60 dias, prorrogáveis por mais 60, após isso a autoridade I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Ad-
competente tem 20 dias para julgá-lo – totalizando 140 dias. ministração direta e da estrutura da Administração indireta;
* Segunda Fase: esta se subdivide em: II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade
- Inquérito Administrativo: é tocado pela Comissão Processan- jurídica;
te, composta por três servidores públicos que possuem estabilida- III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder
de. de decisão.
- Instrução do Processo: nesta fase mantem-se a regra funda- Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
mental inserida no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal. Em princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, pro-
que, toda fase de Processo Administrativo Disciplinar será acom- porcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, seguran-
panhada pelo Servidor acusado, uma vez que, caso não tenha este ça jurídica, interesse público e eficiência.
acompanhamento não existirá a possibilidade do contraditório e Parágrafo único. Nos processos administrativos serão obser-
nem da ampla defesa. vados, entre outros, os critérios de:
Outro princípio que rege esta fase é o Princípio da Oficialidade, I - atuação conforme a lei e o Direito;
no sentido de que a Comissão Processante ao tocar o inquérito ad- II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia
ministrativo age de ofício, não sendo necessário que a Autoridade total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização
Administrativa de comandos para a Comissão Processante. em lei;
Nesta fase também é necessário buscar a verdade material/ III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada
real, ou seja, a verdade mais próxima do que realmente aconteceu, a promoção pessoal de agentes ou autoridades;
nesse sentido, pode se falar que o PAD é muito parecido com o pro- IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e
cesso penal. boa-fé;
Durante a Instrução do Processo serão tomadas todas as me- V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as
didas necessárias como, por exemplo: oitiva de testemunhas, pe- hipóteses de sigilo previstas na Constituição;
rícias, acareações, sempre com a possibilidade de o servidor pú- VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de
blico causado intervir no procedimento, ou seja, apresentar seus obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas es-
próprios laudos, testemunhas. tritamente necessárias ao atendimento do interesse público;
Nota-se que caso ocorra à violação ao contraditório e a ampla VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que de-
defesa, o PAD deverá ser arquivado. terminarem a decisão;
Obs. É possível emprestar provas produzidas em processos ju- VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos
dicias em andamento? Sim, desde que esta prova emprestada seja direitos dos administrados;
lícita.

228
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade- Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada de
quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos ad- recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o interessa-
ministrados; do quanto ao suprimento de eventuais falhas.
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de Art. 7o Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar
alegações finais, à produção de provas e à interposição de recur- modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem
sos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situa- pretensões equivalentes.
ções de litígio; Art. 8o Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados ti-
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalva- verem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formulados em
das as previstas em lei; um único requerimento, salvo preceito legal em contrário.
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem pre-
juízo da atuação dos interessados; CAPÍTULO V
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que me- DOS INTERESSADOS
lhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada
aplicação retroativa de nova interpretação. Art. 9o São legitimados como interessados no processo adminis-
trativo:
CAPÍTULO II I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de di-
DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS reitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de represen-
tação;
Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos ou
Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegura- interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;
dos: III - as organizações e associações representativas, no tocante a
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, direitos e interesses coletivos;
que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quanto a
de suas obrigações; direitos ou interesses difusos.
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os
em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, ob- maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato norma-
ter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões tivo próprio.
proferidas;
III - formular alegações e apresentar documentos antes da CAPÍTULO VI
decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão com- DA COMPETÊNCIA
petente;
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
quando obrigatória a representação, por força de lei. administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de de-
legação e avocação legalmente admitidos.
CAPÍTULO III Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros
órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
Art. 4o São deveres do administrado perante a Administração, subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de
sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
I - expor os fatos conforme a verdade; Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à de-
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; legação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presi-
III - não agir de modo temerário; dentes.
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colabo- Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
rar para o esclarecimento dos fatos. I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
CAPÍTULO IV III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.
DO INÍCIO DO PROCESSO Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publica-
dos no meio oficial.
Art. 5o O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a pe- § 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes trans-
dido de interessado. feridos, os limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos
Art. 6o O requerimento inicial do interessado, salvo casos em que da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exer-
for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e conter cício da atribuição delegada.
os seguintes dados: § 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela au-
I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; toridade delegante.
II - identificação do interessado ou de quem o represente; § 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar ex-
III - domicílio do requerente ou local para recebimento de comu- plicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo dele-
nicações; gado.
IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus fun- Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos
damentos; relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de
V - data e assinatura do requerente ou de seu representante. competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.

229
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publi- CAPÍTULO IX


camente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
unidade fundacional competente em matéria de interesse especial.
Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo
administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor administrativo determinará a intimação do interessado para ciência
grau hierárquico para decidir. de decisão ou a efetivação de diligências.
§ 1o A intimação deverá conter:
CAPÍTULO VII I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade ad-
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO ministrativa;
II - finalidade da intimação;
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o ser- III - data, hora e local em que deve comparecer;
vidor ou autoridade que: IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; representar;
II - tenha participado ou venha a participar como perito, teste- V - informação da continuidade do processo independente-
munha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao mente do seu comparecimento;
cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o inte- § 2o A intimação observará a antecedência mínima de três dias
ressado ou respectivo cônjuge ou companheiro. úteis quanto à data de comparecimento.
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimen- § 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por
to deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio
de atuar. que assegure a certeza da ciência do interessado.
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedi- § 4o No caso de interessados indeterminados, desconhecidos
mento constitui falta grave, para efeitos disciplinares. ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor meio de publicação oficial.
que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos inte- § 5o As intimações serão nulas quando feitas sem observância
ressados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado su-
e afins até o terceiro grau. pre sua falta ou irregularidade.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reco-
objeto de recurso, sem efeito suspensivo. nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo
administrado.
CAPÍTULO VIII Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garanti-
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO do direito de ampla defesa ao interessado.
Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo
Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus,
forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir. sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos
§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em de outra natureza, de seu interesse.
vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da
autoridade responsável. CAPÍTULO X
§ 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente DA INSTRUÇÃO
será exigido quando houver dúvida de autenticidade.
§ 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e
ser feita pelo órgão administrativo. comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se
§ 4o O processo deverá ter suas páginas numeradas sequencial- de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo proces-
mente e rubricadas. so, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações
Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, probatórias.
no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar § 1o O órgão competente para a instrução fará constar dos au-
o processo. tos os dados necessários à decisão do processo.
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os § 2o Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados
atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do pro- devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.
cedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração. Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou obtidas por meios ilícitos.
autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de
participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo mo- interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
tivo de força maior. motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para
até o dobro, mediante comprovada justificação. a parte interessada.
Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencial- § 1o A abertura da consulta pública será objeto de divulgação
mente na sede do órgão, cientificando-se o interessado se outro for pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas pos-
o local de realização. sam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de ale-
gações escritas.

230
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

§ 2o O comparecimento à consulta pública não confere, por si, § 2o Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser
a condição de interessado do processo, mas confere o direito de emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e
obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade
comum a todas as alegações substancialmente iguais. de quem se omitiu no atendimento.
Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade, Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser
diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú- previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e
blica para debates sobre a matéria do processo. estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão res-
Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria ponsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro ór-
relevante, poderão estabelecer outros meios de participação de gão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes.
administrados, diretamente ou por meio de organizações e associa- Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de ma-
ções legalmente reconhecidas. nifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for legal-
Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de ou- mente fixado.
tros meios de participação de administrados deverão ser apresen- Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública poderá
tados com a indicação do procedimento adotado. motivadamente adotar providências acauteladoras sem a prévia mani-
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiên- festação do interessado.
cia de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser reali- Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a obter
zada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou repre- certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que o inte-
sentantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a gram, ressalvados os dados e documentos de terceiros protegidos por
ser juntada aos autos. sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.
Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale- Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emitir
gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a a decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o conteú-
instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. do das fases do procedimento e formulará proposta de decisão, obje-
Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão tivamente justificada, encaminhando o processo à autoridade compe-
registrados em documentos existentes na própria Administração tente.
responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o ór-
gão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos CAPÍTULO XI
documentos ou das respectivas cópias. DO DEVER DE DECIDIR
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da
tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili- Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir de-
gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria cisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou reclama-
objeto do processo. ções, em matéria de sua competência.
§ 1o Os elementos probatórios deverão ser considerados na Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Admi-
motivação do relatório e da decisão. nistração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação
§ 2o Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun- por igual período expressamente motivada.
damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam
ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. CAPÍTULO XI-A
Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou DA DECISÃO COORDENADA
a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo,
forma e condições de atendimento. Art. 49-A. No âmbito da Administração Pública federal, as decisões
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o ór- administrativas que exijam a participação de 3 (três) ou mais setores,
gão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a órgãos ou entidades poderão ser tomadas mediante decisão coorde-
omissão, não se eximindo de proferir a decisão. nada, sempre que: (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao I - for justificável pela relevância da matéria; e (Incluído pela Lei nº
interessado forem necessários à apreciação de pedido formulado, o 14.210, de 2021)
não atendimento no prazo fixado pela Administração para a respec- II - houver discordância que prejudique a celeridade do processo
tiva apresentação implicará arquivamento do processo. administrativo decisório. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência § 1º Para os fins desta Lei, considera-se decisão coordenada a ins-
ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionan- tância de natureza interinstitucional ou intersetorial que atua de forma
do-se data, hora e local de realização. compartilhada com a finalidade de simplificar o processo administra-
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão tivo mediante participação concomitante de todas as autoridades e
consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quin- agentes decisórios e dos responsáveis pela instrução técnico-jurídica,
ze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior observada a natureza do objeto e a compatibilidade do procedimento
prazo. e de sua formalização com a legislação pertinente. (Incluído pela Lei nº
§ 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emiti- 14.210, de 2021)
do no prazo fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva § 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso. § 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
§ 4º A decisão coordenada não exclui a responsabilidade originá-
ria de cada órgão ou autoridade envolvida. (Incluído pela Lei nº 14.210,
de 2021)

231
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

§ 5º A decisão coordenada obedecerá aos princípios da legalidade, § 3º A ata será publicada por extrato no Diário Oficial da União, do
da eficiência e da transparência, com utilização, sempre que necessá- qual deverão constar, além do registro referido no inciso IV do caput
rio, da simplificação do procedimento e da concentração das instâncias deste artigo, os dados identificadores da decisão coordenada e o órgão
decisórias. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) e o local em que se encontra a ata em seu inteiro teor, para conheci-
§ 6º Não se aplica a decisão coordenada aos processos administra- mento dos interessados. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
tivos: (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
I - de licitação; (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) CAPÍTULO XII
II - relacionados ao poder sancionador; ou (Incluído pela Lei nº DA MOTIVAÇÃO
14.210, de 2021)
III - em que estejam envolvidas autoridades de Poderes distintos. Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indi-
(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) cação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
Art. 49-B. Poderão habilitar-se a participar da decisão coordenada, I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
na qualidade de ouvintes, os interessados de que trata o art. 9º desta II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
Parágrafo único. A participação na reunião, que poderá incluir pública;
direito a voz, será deferida por decisão irrecorrível da autoridade res- IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licita-
ponsável pela convocação da decisão coordenada. (Incluído pela Lei nº tório;
14.210, de 2021) V - decidam recursos administrativos;
Art. 49-C. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) VI - decorram de reexame de ofício;
Art. 49-D. Os participantes da decisão coordenada deverão ser in- VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou
timados na forma do art. 26 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.210, de discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
2021) VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação
Art. 49-E. Cada órgão ou entidade participante é responsável pela de ato administrativo.
elaboração de documento específico sobre o tema atinente à respec- § 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo
tiva competência, a fim de subsidiar os trabalhos e integrar o processo consistir em declaração de concordância com fundamentos de ante-
da decisão coordenada. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) riores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso,
Parágrafo único. O documento previsto no caput deste artigo serão parte integrante do ato.
abordará a questão objeto da decisão coordenada e eventuais prece- § 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser
dentes. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões,
Art. 49-F. Eventual dissenso na solução do objeto da decisão coor- desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.
denada deverá ser manifestado durante as reuniões, de forma funda- § 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões
mentada, acompanhado das propostas de solução e de alteração ne- ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.
cessárias para a resolução da questão. (Incluído pela Lei nº 14.210, de
2021) CAPÍTULO XIII
Parágrafo único. Não poderá ser arguida matéria estranha ao obje- DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS
to da convocação. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) DE EXTINÇÃO DO PROCESSO
Art. 49-G. A conclusão dos trabalhos da decisão coordenada será
consolidada em ata, que conterá as seguintes informações: (Incluído Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita, de-
pela Lei nº 14.210, de 2021) sistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, renunciar
I - relato sobre os itens da pauta; (Incluído pela Lei nº 14.210, de a direitos disponíveis.
2021) § 1o Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia atinge
II - síntese dos fundamentos aduzidos; (Incluído pela Lei nº 14.210, somente quem a tenha formulado.
de 2021) § 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso,
III - síntese das teses pertinentes ao objeto da convocação; (Incluí- não prejudica o prosseguimento do processo, se a Administração
do pela Lei nº 14.210, de 2021) considerar que o interesse público assim o exige.
IV - registro das orientações, das diretrizes, das soluções ou das Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o proces-
propostas de atos governamentais relativos ao objeto da convocação; so quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar
(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
V - posicionamento dos participantes para subsidiar futura atua-
ção governamental em matéria idêntica ou similar; e (Incluído pela Lei CAPÍTULO XIV
nº 14.210, de 2021) DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
VI - decisão de cada órgão ou entidade relativa à matéria sujeita à
sua competência. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quan-
§ 1º Até a assinatura da ata, poderá ser complementada a funda- do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de
mentação da decisão da autoridade ou do agente a respeito de matéria conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
de competência do órgão ou da entidade representada. (Incluído pela Art. 54. O direito da Administração de anular os atos adminis-
Lei nº 14.210, de 2021) trativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
salvo comprovada má-fé.

232
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de de- II - perante órgão incompetente;


cadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. III - por quem não seja legitimado;
§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer me- IV - após exaurida a esfera administrativa.
dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali- § 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a auto-
dade do ato. ridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.
§ 2o O não conhecimento do recurso não impede a Administra-
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ção de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresen- administrativa.
tarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Ad- Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá con-
ministração. firmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a deci-
são recorrida, se a matéria for de sua competência.
CAPÍTULO XV Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientifi-
cado para que formule suas alegações antes da decisão.
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de Art. 64-A.Se o recorrente alegar violação de enunciado da sú-
razões de legalidade e de mérito. mula vinculante, o órgão competente para decidir o recurso explici-
§ 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, tará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, con-
a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará forme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).Vigência
à autoridade superior. Art. 64-B.Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação
§ 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso administra- fundada em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-se-á
tivo independe de caução. ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o julga-
§ 3oSe o recorrente alegar que a decisão administrativa contra- mento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões admi-
ria enunciado da súmula vinculante, caberá à autoridade prolatora nistrativas em casos semelhantes, sob pena de responsabilização
da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de pessoal nas esferas cível, administrativa e penal.(Incluído pela Lei
encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplicabili- nº 11.417, de 2006). Vigência
dade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído pela Art. 65. Os processos administrativos de que resultem san-
Lei nº 11.417, de 2006).Vigência ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,
Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetí-
instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa. veis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo: Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro- agravamento da sanção.
cesso;
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente CAPÍTULO XVI
afetados pela decisão recorrida; DOS PRAZOS
III - as organizações e associações representativas, no tocante a
direitos e interesses coletivos; Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cienti-
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses ficação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluin-
difusos. do-se o do vencimento.
Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o pra- § 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se-
zo para interposição de recurso administrativo, contado a partir da guinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente
ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida. ou este for encerrado antes da hora normal.
§ 1o Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso adminis- § 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo.
trativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir § 3o Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a
do recebimento dos autos pelo órgão competente. data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àque-
§ 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser le do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês.
prorrogado por igual período, ante justificativa explícita. Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado,
Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no os prazos processuais não se suspendem.
qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de ree-
xame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes. CAPÍTULO XVII
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem DAS SANÇÕES
efeito suspensivo.
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade compe-
incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida tente, terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fa-
ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar zer ou de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa.
efeito suspensivo ao recurso.
Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele
conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo
de cinco dias úteis, apresentem alegações.
Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:
I - fora do prazo;

233
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

CAPÍTULO XVIII Dado à ineficiência desse tipo de responsabilização, mostran-


DAS DISPOSIÇÕES FINAIS do-se insuficiente para as demandas sociais, surgiu a teoria da res-
ponsabilidade objetiva que ignora a demonstração inicial de culpa,
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a re- logo, haverá responsabilidade quando houver dano, ilícito e nexo
ger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os pre- causal.
ceitos desta Lei.
Art. 69-A.Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou ins- ATENÇÃO: Nexo causal é o liame subjetivo que une o dano ao
tância, os procedimentos administrativos em que figure como parte ou ilícito, ou seja, à conduta.
interessado: (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;(Incluído Desde os tempos do Império que a Legislação Brasileira prevê a
pela Lei nº 12.008, de 2009). reparação dos danos causados a terceiros pelo Estado, por ação ou
II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental; (Incluído pela omissão dos seus agentes.
Lei nº 12.008, de 2009). No Brasil, surgiu a criação do Tribunal de Conflitos, em 1.873,
III – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). passando a evoluir à Responsabilidade Subjetiva.
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neo- Quando falamos em responsabilidade extracontratual, deve-
plasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardio- mos pensar que será excluída a responsabilidade contratual, pois
patia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefro- será regida por princípios próprios
patia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget As Constituições de 1824 e de 1891 já previam a responsabili-
(osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de imuno- zação dos funcionários públicos por abusos e omissões no exercício
deficiência adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusão da de seus cargos. Mas a responsabilidade era do funcionário, vingan-
medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após do até aí, a teoria da irresponsabilidade do Estado.
o início do processo.(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). Durante a vigência das Constituições de 1934 e 1937 passou a
§ 1oA pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova vigorar o princípio da responsabilidade solidária, por ele o lesado
de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administrativa compe- podia mover ação contra o Estado ou contra o servidor, ou contra
tente, que determinará as providências a serem cumpridas. (Incluído ambos, inclusive a execução.
pela Lei nº 12.008, de 2009). O Código Civil de 1916, em seu art. 15, já tratava do assun-
§ 2oDeferida a prioridade, os autos receberão identificação própria to, a saber: “As pessoas jurídicas de direito público são civilmente
que evidencie o regime de tramitação prioritária. (Incluído pela Lei nº responsáveis por atos dos seus representantes que nessa qualidade
12.008, de 2009). causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito
§ 3o(VETADO)(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o direito regressivo con-
§ 4o(VETADO)(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). tra os causadores do dano”.
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Entretanto, a figura da responsabilidade direta ou solidária do
funcionário desapareceu com o advento da Carta de 1946, que ado-
tou o princípio da responsabilidade objetiva do Estado, evolução
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO jurídica que garante a possibilidade de ação regressiva contra o ser-
vidor no caso de culpa.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Note-se que, a partir da Constituição de 1967 houve um alarga-
mento na responsabilização das pessoas jurídicas de direito público
EVOLUÇÃO HISTÓRICA por atos de seus servidores. Saiu a palavra interno, passando a al-
Durante muito tempo o Estado não era civilmente responsável cançar tanto as entidades políticas nacionais, como as estrangeiras.
por seus atos, vigorava à época a era do Absolutismo em que o Rei Esse alargamento ampliou-se ainda mais com a Constituição de
era a figura suprema e, justamente por isso, concentrava todo o 1988, que estendeu a aplicabilidade da responsabilidade civil obje-
poder em suas mãos. tiva às pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviços
A figura do rei era indissociável da figura do Estado e, em vá- públicos, os não essenciais, por concessão, permissão ou autoriza-
rias civilizações seu poder supremo era fundamentado na vontade ção.
de Deus. Surge então a expressão “the king can do no wrong”, ou
seja, “o rei nunca erra, e por tal razão não se cogitava em respon- Modalidades de responsabilidade civil
sabilizá-lo e os danos eventualmente causados decorrente de seus A responsabilidade civil pode demonstrar-se de diversas mo-
atos ficavam sem reparação. Essa é a teoria da irresponsabilidade dalidades:
do Estado.
Contudo, o funcionário do rei poderia ser responsabilizado - Subjetiva:
quando o ato lesivo tivesse relação direta com seu comportamento. A responsabilidade subjetiva difere-se da responsabilidade ob-
jetiva com relação à forma, em ambas é exigido a reparação e inde-
Somente no século XIX passou a se admitir a responsabilidade nização do dano causado, diferenciando-se com relação à existên-
subjetiva do Estado. Esse tipo de responsabilidade demanda uma cia ou não de culpa por parte do agente que tenha causado dano
análise sobre a intenção do agente pois, sem essa não se fala em à vítima.
responsabilidade. Assim, por essa teoria, somente se responsabiliza Na responsabilidade subjetiva, o fundamento é a demonstra-
o sujeito que age com dolo ou culpa. ção de que o dano contra a vítima foi causado por culpa do agente.

234
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Para que o agente repare o dano causado é necessário a plena assim a conduta, o fato danoso e o dano, seja ele material ou moral.
consciência do erro causado, caracterizando, desta forma o dolo ou Não se indaga da culpa do Poder Público mesmo porque ela é infe-
até mesmo a culpa por negligência, imprudência e imperícia. Con- rida do ato lesivo da Administração.
tudo, se o dano não tiver sido causado por dolo ou culpa do agente,
compete à vítima suportar os prejuízos, como se tivessem sido cau- Entretanto, é fundamental, que haja o nexo causal.
sados em virtude de caso fortuito ou força maior. Deve-se atentar para o fato de que a dispensa de comprova-
ção de culpa da Administração pelo administrado não quer dizer
- Contratual e Extracontratual: que aquela esteja proibida de comprovar a culpa total ou parcial da
A responsabilidade contratual decorre da inexecução de um vítima, para excluir ou atenuar a indenização. Verificado o dolo ou
contrato, unilateral ou bilateral, ou seja, foi quebrado o acordo de a culpa do agente, cabe à fazenda pública acionar regressivamente
vontade entre as partes, o que acabou causando um ilícito contra- para recuperar deste, tudo aquilo que despendeu com a indeniza-
tual. Esse pacto de vontades pode se dar de maneira tácita ou ex- ção da vítima.
pressa, uma das partes pretende ver sua solicitação atendida e a Como se sabe, o Estado é realmente um sujeito político, jurídi-
outra, da mesma forma, assume a obrigação de cumpri-la, mesmo co e economicamente mais poderoso que o administrado, gozando
que seja de forma verbal. de determinadas prerrogativas que não se estendem aos demais
A responsabilidade extracontratual relaciona-se com a prática sujeitos de direito.
de um ato ilícito que origine dano a outrem, sem gerar vínculo con- Em razão desse poder, o Estado teria que arcar com um risco
tratual entre as partes, devendo a parte lesada comprovar além do maior, decorrente de suas inúmeras atividades e, ter que responder
dano a culpa e o nexo de causalidade entre ambos, o que é difícil por ele, trazendo, assim a teoria do Risco Administrativo.
de se comprovar. Irá se preocupar com a reparação dos danos pa- Para excluir-se a responsabilidade objetiva, deverá estar ausen-
trimoniais. te ao menos um dos seus elementos, quais sejam conduta, dano
Este tipo de responsabilidade caracteriza o estado democrático e nexo de causalidade. A culpa exclusiva da vítima, caso fortuito
de direito, conferindo liberdade individual em face da coletividade, e força maior são excludentes de responsabilidade e se tratam de
através de leis. hipóteses de interrupção do nexo de causalidade.
O que ambas tem em comum é que existe a obrigação de re-
parar o prejuízo, ou por violação a um dever legal, ou por violação c) Teoria do risco integral: a Administração responde invariavel-
a um dever contratual. mente pelo dano suportado por terceiro, ainda que decorrente de
culpa exclusiva deste, ou até mesmo de dolo. É a exacerbação da
- Objetiva: teoria do risco administrativo que conduz ao abuso e à iniquidade
O Brasil adota a Responsabilidade Objetiva do Estado. Na res- social, com bem lembrado por Meirelles.
ponsabilidade objetiva, o dano decorre de uma atividade lícita, que A Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, § 6º, diz: “As
apesar deste caráter gera um perigo a outrem, ocasionando o dever pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestado-
de ressarcimento, pelo simples fato do implemento do nexo cau- ras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
sal. Para tanto, surgiu a teoria do risco para preencher as lacunas nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de re-
deixadas pela culpabilidade, permitindo que o dano fosse reparado gresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
independente de culpa. E no art. 5º, X, está escrito: “são invioláveis a intimidade, a vida
Para Rui Stoco2: “a doutrina da responsabilidade civil objetiva, privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a in-
em contrapartida aos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo denização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
de causalidade) determina que a responsabilidade civil assenta-se Vê-se por esse dispositivo que a indenização não se limita aos
na equação binária, cujos polos são o dano e a autoria do evento danos materiais. No entanto, há uma dificuldade nos casos de da-
danoso. Sem considerar a imputabilidade ou investigar a antijuri- nos morais na fixação do quantum da indenização, em vista da au-
cidade do evento danoso, o que importa, para garantir o ressar- sência de normas regulamentadoras para aferição objetiva desses
cimento, é a averiguação de que se sucedeu o episódio e se dele danos.
proveio algum prejuízo, confirmando o autor do fato causador do Portanto, a responsabilidade do Estado se traduz numa obriga-
dano como o responsável.” ção, atribuída ao Poder Público, de compor os danos patrimoniais
causados a terceiros por seus agentes públicos, tanto no exercício
Teorias da responsabilidade objetiva do Estado: das suas atribuições, quanto agindo nessa qualidade.
De acordo com o jurista Hely Lopes Meirelles, são teorias da O Estado responde pelos danos causados com base no concei-
responsabilidade objetiva do Estado. to de nexo de causalidade, ou seja, na relação de causa e efeito
a) teoria da culpa administrativa: a obrigação do Estado inde- existente entre o fato ocorrido e as consequências dele resultantes.
nizar decorre da ausência objetiva do serviço público em si. Não se Não se cogita a necessidade daquele que sofreu o prejuízo,
trata de culpa do agente público, mas de culpa especial do Poder comprovar a culpa ou o dolo, bastando apenas a demonstração do
Público, caracterizada pela falta de serviço público. nexo de causalidade, como se observou na leitura do art. 37, § 6º
b) teoria do risco administrativo: a responsabilidade civil do da Constituição Federal.
Estado por atos comissivos ou omissivos de seus agentes é de natu-
reza objetiva, ou seja, dispensa a comprovação de culpa, bastando RESPONSABILIDADE POR AÇÃO OU OMISSÃO DO ESTADO
Nos termos constitucionais. o dano indenizável pode ser mate-
rial e/ou moral e ambos podem ser requeridos na mesma ação, se
2 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisdicional. preencherem os requisitos expostos.
4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

235
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Aquele que é investido de competências estatais tem o dever inação, não consegue impedir um resultado lesivo. Nessa hipótese,
objetivo de adotar as providências necessárias e adequadas a evitar fala-se me dano por omissão. Os exemplos envolvem prejuízos de-
danos às pessoas e ao patrimônio. correntes de assalto, enchente, bala perdida, queda de árvore, bu-
Quando o Estado infringir esse dever objetivo e, exercitando raco na via pública e bueiro aberto sem sinalização causando dano
suas competências, der oportunidades a ocorrências do dano, esta- a particular. Tais casos têm em comum a circunstância de inexistir
rão presentes os elementos necessários à formulação de um juízo um ato estatal causador do prejuízo.
de reprovabilidade quanto a sua conduta. (...)
No entanto, não é necessário apurar a existência de uma von- Em linhas gerais, sustenta-se que o estado só pode ser conde-
tade psíquica no sentido da ação ou omissão causadoras do dano. nado a ressarcir prejuízos atribuídos à sua omissão quando a legis-
Danos por Ação do Estado lação considera obrigatória a prática da conduta omitida. Assim, a
O exercício da atuação administrativa esta sujeita a causar le- omissão que gera responsabilidade é aquela violadora de um dever
são a terceiros, ou seja, a ação estatal é apta a gerar danos e capaz de agir. Em outras palavras, os danos por omissão são indenizáveis
de produzir o evento lesivo. Indenizável. somente quando configura omissão dolosa ou omissão culposa. Na
Se houve conduta estatal lesiva a bem jurídico tutelado, cau- omissão dolosa, o agente público encarregado de praticar a condu-
sando prejuízos de ordem material ou moral ao cidadão, é suficien- ta decide omitir-se e, por isso, não evita o prejuízo. Já na omissão
te para postular a reclamação e consequentemente a reparação do culposa, a falta de ação do agente público não decorre de sua inten-
dano experimentado. ção deliberada em omitir-se, mas deriva da negligência na forma
Por obvio, eventualmente o Estado pode vir a lesar direitos ou de exercer a função administrativa. Exemplo: policial militar que
interesses de terceiros com o intuito de satisfazer um determinado adorme em serviço e, por isso, não consegue evitar furto a banco
interesse público, mediante ação legítima do Estado, sob o funda- privado.
mento da Supremacia dos Interesses Coletivos. No entanto, apesar
de legitima a ação estatal, no caso de produção de evento lesivo a REQUISITOS PARA A DEMONSTRAÇÃO DA RESPONSABILIDA-
outrem, coexiste o dever de indenizar os danos. DE DO ESTADO
Assim, pode-se afirmar que são requisitos para a demonstra-
Danos por Omissão do Estado ção da responsabilidade do Estado a ação ou omissão (ato do agen-
A omissão da conduta necessária e adequada consiste apta a te público), o resultado lesivo (dano) e nexo de causalidade.
caracterizar responsabilidade do Estado consiste na materialização Dano: decorre da violação de um bem juridicamente tutelado,
de vontade, defeituosamente desenvolvida do ente estatal. que pode ser patrimonial ou extrapatrimonial.
Logo, a responsabilidade continua a envolver um elemento Para que seja ressarcido deve ser certo, atual, próprio ou pes-
subjetivo, consiste na formulação defeituosa da vontade de agir ou soal.
deixar de agir. Insta dizer que o dano não é apenas patrimonial (atinge bens
Não há responsabilidade civil objetiva do Estado, mas há pre- jurídicos que podem ser auferidos pecuniariamente) ele também
sunção de culpabilidade derivada da existência de um dever de di- pode ser moral (ofende direitos personalíssimos que atingem inte-
ligência especial. Tanto é assim que, se a vítima tiver concorrido gridade moral, física e psíquica).
para o evento danoso, o valor de uma eventual condenação será Logo, o dano que gera a indenização deve ser:
minimizado. Certo: É o dano real, efetivo, existente. Para requerer indeniza-
Essa distinção não é meramente acadêmica, especialmente ção do Estado é necessário que o dano já tenha sido experimenta-
porque a avaliação do elemento subjetivo é indispensável, em cer- do. Não se configura a possibilidade de indenização de danos que
tas circunstâncias, para a determinação da indenização devida. podem eventualmente ocorrer no futuro.
A Constituição Federal de 1988, seguindo uma tradição estabe- Especial: É o dano que pode ser particularizado, aquele que
lecida desde a Constituição Federal de 1946, determinou, em seu não atinge a coletividade em geral; deve ser possível a identificação
art. 37, §6º, a responsabilidade objetiva do Estado e responsabili- do particular atingido.
dade subjetiva do funcionário. Anormal: É aquele que ultrapassa as dificuldades da vida co-
Em que pese a aplicação da teoria da responsabilidade objetiva mum, as dificuldades do cotidiano.
ser adotada pela Constituição Federal, o Poder Judiciário, em deter- Direto e imediato: O prejuízo deve ser resultado direito e ime-
minados julgamentos, utiliza a teoria da culpa administrativa para diato da ação ou omissão do Estado, sem quebra do nexo causal.
responsabilizar o Estado em casos de omissão.
Assim, a omissão na prestação do serviço público tem levado à CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA RESPONSABILIDA-
aplicação da teoria da culpa do serviço público (faute du service). A DE DO ESTADO
culpa decorre da omissão do Estado, quando este deveria ter agido A responsabilidade do Poder Público poderá ser excluída ou
e não agiu. Por exemplo, o Poder Público não conservou adequa- será atenuada quando a conduta da Administração Pública não der
damente as rodovias e ocorreu um acidente automobilístico com causa ao prejuízo, ou concorrerem outras circunstâncias que pos-
terceiros. sam afastar ou mitigar sua responsabilidade.
Com relação ao comportamento comissivo ou omissivo do Es- Em geral, são chamadas causas excludentes da responsabili-
tado, importante destacar o que dispõe MAZZA3 sobre o tema: dade estatal; a força maior, o caso fortuito, a culpa exclusiva da
Existem situações em que o comportamento comissivo de um vítima e a culpa de terceiro.
agente público causa prejuízo a particular. São os chamados da- Nestes casos, não existindo nexo de causalidade entre a condu-
nos por ação. Noutros casos, o Estado deixa de agir e, devido a tal ta da Administração e o dano ocorrido, a responsabilidade estatal
3 MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. Ed. Saraiva. será afastada.
4ª edição. 2014.

236
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

A força maior pode ser definida como um evento previsível ou DIREITO DE REGRESSO
não, porém excepcional e inevitável. Nos casos em que se verificar a existência de culpa ou dolo na
Em regra, não há responsabilidade do Estado, contudo existe conduta do agente público causador do dano (Art. 37, §6º, CF), po-
a possibilidade de responsabilizá-lo mesmo na ocorrência de uma derá o Estado propor ação regressiva, com a finalidade de apurar a
circunstância de força maior, desde que a vítima comprove o com- responsabilidade pessoal do agente, sempre partindo-se do pressu-
portamento culposo da Administração Pública. Por exemplo, num posto de que o Estado já foi condenado anteriormente.
primeiro momento, uma enchente que causou danos a particulares A entidade estatal que propuser a ação deverá demonstrar a
pode ser entendida como uma hipótese de força maior e afastar a ocorrência dos requisitos que comprovem a responsabilidade do
responsabilidade Estatal, contudo, se o particular comprovar que agente, ou seja, ato, dano, nexo e culpa ou dolo. Caso o elemento
os bueiros entupidos concorreram para o incidente, o Estado tam- subjetivo, representado pela culpa ou dolo, não esteja presente no
bém responderá, pois a prestação do serviço de limpeza pública foi caso concreto, haverá exclusão da responsabilidade do agente pú-
deficiente. blico.
O caso fortuito é um evento imprevisível e, via de consequên- Note-se que a Administração Pública tem o dever de propor
cia, inevitável. Alguns autores diferenciam-no da força maior ale- ação regressiva, em razão do princípio da indisponibilidade. Outra
gando que ele tem relação com o comportamento humano, en- questão importante é que não há prazo para propositura da ação
quanto a força maior deriva da natureza. Outros, atestam não haver regressiva, uma vez que, por força do Art. 37, §5º da CF, esta é im-
diferença entre ambos. prescritível.
Ensina mais Alexandre Mazza: quando se tratar de dano causa-
A regra é que o caso fortuito exclua a responsabilidade do Esta- do por agente ligado a empresas públicas, sociedades de economia
do, contudo, se o dano for consequência de falha da Administração, mista, fundações governamentais, concessionários e permissioná-
poderá haver a responsabilização. Ex: rompimento de um cabo de rios, isto é, para pessoas jurídicas de direito privado, o prazo é de
energia elétrica por falta de manutenção ou por má colocação que três anos (art. 206, § 3º, V, do CC) contados do trânsito em julgado
cause a morte de uma pessoa. da decisão condenatória.
Nos casos em que está presente a culpa da vítima, duas situa- São pressupostos para a propositura da ação regressiva:
ções podem surgir: 1) condenação do Estado na ação indenizatória;
a) O Estado não responde, desde que comprove que houve cul- 2) trânsito em julgado da decisão condenatória;
pa exclusiva do lesado; 3) culpa ou dolo do agente;
b) O Estado responde parcialmente, se demonstrar que houve 4) ausência de denunciação da lide na ação indenizatória.
culpa concorrente do lesado para a ocorrência do dano.
Importante ressaltar a denunciação à lide, que trata-se de uma
Em caso de culpa concorrente, aplica-se o disposto no art. 945 ação secundária regressiva, podendo ser feita tanto pelo autor
do Código Civil: como pelo réu, será citada e denunciada a pessoa contra quem o
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o denunciante tem pretensão indenizatória ou de reembolso.
evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a
gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
LEI Nº 8.429/1992: DAS DISPOSIÇÕES GERAIS; DOS
ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
A culpa de terceiro ocorre quando o dano é causado por pessoa
diferente da vítima e do agente público.
Observe-se que cabe ao Poder Público o ônus de provar a exis- LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992
tência de excludente ou atenuante de responsabilidade.
Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de
REPARAÇÃO DO DANO atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37
Quanto à reparação do dano, esta pode ser obtida administra- da Constituição Federal; e dá outras providências. (Redação dada
tivamente ou mediante ação de indenização junto ao Poder Judi- pela Lei nº 14.230, de 2021)
ciário. Para conseguir o ressarcimento do prejuízo, a vítima deverá
demonstrar o nexo de causalidade entre o fato lesivo e o dano, bem O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso
como o valor do prejuízo. Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
Uma vez indenizada a vítima, fica a pessoa jurídica com direito
de regresso contra o responsável, isto é, com o direito de recuperar CAPÍTULO I
o valor da indenização junto ao agente que causou o dano, desde DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
que este tenha agido com dolo ou culpa. Observe-se que não está
sujeito a prazo prescricional a ação regressiva contra o agente pú- Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade
blico que agiu com dolo ou culpa para a recuperação dos valores administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no
pagos pelos cofres públicos, conforme inteligência do art. 37, pará- exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade
grafo 5º da Constituição Federal: do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada
§5º: A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra- pela Lei nº 14.230, de 2021)
ticados por qualquer agente servidor ou não, que causem prejuízos Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. de 2021)

237
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso
as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela
ressalvados tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) § 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica,
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado
o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº 12.846,
bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2021) Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
competências públicas, sem comprovação de ato doloso com Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade
administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público
§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado competente, para as providências necessárias. (Redação dada pela
nesta Lei os princípios constitucionais do direito administrativo Lei nº 14.230, de 2021)
sancionador. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização de 2021)
do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano
patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo ao erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas
e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no à obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do
âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. patrimônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de
praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária.
subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
públicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Incluído Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação,
pela Lei nº 14.230, de 2021) a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio
estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas
praticados contra o patrimônio de entidade privada para cuja nesta Lei decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data
criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de
patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, evidente intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído
nesse caso, à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres pela Lei nº 14.230, de 2021)
públicos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de CAPÍTULO II
divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente
prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais SEÇÃO I
do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPOR-
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público TAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de importando em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em
entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº razão do exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego
14.230, de 2021) ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, notadamente: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou
ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta,
contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
de cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
Lei nº 14.230, de 2021) ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, agente público;
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para
dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel,
pela Lei nº 14.230, de 2021) ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por
§ 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores preço superior ao valor de mercado;
de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para
improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o
fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor
de mercado;

238
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente
móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências,
referidas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das
de empregados ou de terceiros contratados por essas entidades; entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de
direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal por preço inferior ao de mercado;
vantagem; V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, ou serviço por preço superior ao de mercado;
direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado VI - realizar operação financeira sem observância das normas
técnico que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a
mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
no art. 1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) à espécie;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins
de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda
artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou patrimonial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não
da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela Lei nº autorizadas em lei ou regulamento;
14.230, de 2021) X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, bem
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;
consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas
ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
a atividade; irregular;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se
ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; enriqueça ilicitamente;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular,
direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer
declaração a que esteja obrigado; natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
entidades mencionadas no art. 1° desta lei; XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no associada sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído
art. 1° desta lei. pela Lei nº 11.107, de 2005)
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem
SEÇÃO II suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
PREJUÍZO AO ERÁRIO XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a
incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica,
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva administração pública a entidades privadas mediante celebração
e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019,
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela de 2014) (Vigência)
Lei nº 14.230, de 2021) XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, pela administração pública a entidade privada mediante celebração
de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou
patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019,
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2014) (Vigência)
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica XVIII - celebrar parcerias da administração pública com
privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo entidades privadas sem a observância das formalidades legais ou
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019,
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis de 2014) (Vigência)
à espécie;

239
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
fiscalização e na análise das prestações de contas de parcerias XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha
firmadas pela administração pública com entidades privadas; reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para
pública com entidades privadas sem a estrita observância das o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de
normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua função gratificada na administração pública direta e indireta em
aplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações
XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou XII - praticar, no âmbito da administração pública e com
tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto
Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover
nº 14.230, de 2021) inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de
§ 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais atos, de programas, de obras, de serviços ou de campanhas dos
ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não órgãos públicos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento § 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a
sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de
pela Lei nº 14.230, de 2021) 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplicação
§ 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do
econômica não acarretará improbidade administrativa, salvo se agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para
comprovado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230,
pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos de
SEÇÃO III improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATEN- e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa
TAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática
contra os princípios da administração pública a ação ou omissão de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das
dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído pela
legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Redação Lei nº 14.230, de 2021)
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de sancionamento e independem do reconhecimento da produção
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos.
das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco § 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou
a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei nº indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos,
14.230, de 2021) sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou
de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº CAPÍTULO III
14.230, de 2021) DAS PENAS
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial
de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do
com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou dano patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de
de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito
desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores
política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública,
ou serviço. suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios
pública com entidades privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019, ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
de 2014) (Vigência)
IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)

240
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, § 8º A sanção de proibição de contratação com o poder público
pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela Lei deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e
nº 14.230, de 2021) Suspensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou 2013, observadas as limitações territoriais contidas em decisão
valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta judicial, conforme disposto no § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei
circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos nº 14.230, de 2021)
políticos até 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente § 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser
ao valor do dano e proibição de contratar com o poder público ou executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual § 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspensão
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o intervalo
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida
pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de CAPÍTULO IV
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou DA DECLARAÇÃO DE BENS
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos; Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) condicionados à apresentação de declaração de imposto de renda
IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) e proventos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, à Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser
de 2021) arquivada no serviço de pessoal competente. (Redação dada pela
§ 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos Lei nº 14.230, de 2021)
incisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com § 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste artigo
o poder público na época do cometimento da infração, podendo será atualizada anualmente e na data em que o agente público
o magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em deixar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função.
caráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela § 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de
Lei nº 14.230, de 2021) outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a
§ 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do
considerar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação dada
calculado na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é pela Lei nº 14.230, de 2021)
ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade. § 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser CAPÍTULO V
considerados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO JUDI-
a viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei nº CIAL
14.230, de 2021)
§ 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade
devidamente justificados, a sanção de proibição de contratação administrativa competente para que seja instaurada investigação
com o poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato destinada a apurar a prática de ato de improbidade.
de improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das § 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e
sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica, assinada, conterá a qualificação do representante, as informações
conforme disposto no § 3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha
de 2021) conhecimento.
§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos § 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação,
tutelados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, em despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades
sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores estabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a
obtidos, quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. representação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) lei.
§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade
do dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação
ocorrido nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agente.
objeto os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao
Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência
o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei nº de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de
14.230, de 2021) improbidade.

241
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho § 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar
de Contas poderá, a requerimento, designar representante para veículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral,
acompanhar o procedimento administrativo. semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá simples e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na
ser formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a
indisponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral garantir a subsistência do acusado e a manutenção da atividade
recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de empresária ao longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
enriquecimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 2021)
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens
§ 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos
o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar
representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens § 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de
a que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de
e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente.
mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de
caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta
no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
resultado útil do processo, desde que o juiz se convença da Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta
probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento
com fundamento nos respectivos elementos de instrução, após a comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
oitiva do réu em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei
§ 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem nº 14.230, de 2021)
a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou houver § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
outras circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não § 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
podendo a urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de § 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
2021) § 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser
§ 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa
declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento § 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste
ilícito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) artigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações
§ 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir
dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por ou o mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, § 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela
a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a Lei nº 14.230, de 2021)
instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elementos
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóteses
demonstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibilidade
apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser II - será instruída com documentos ou justificação que
processado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, contenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo
de 2021) imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação
no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à § 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas
indisponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos provisórias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a
da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). 310 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Civil (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem § 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da Lei
exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), bem
incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de como quando não preenchidos os requisitos a que se referem os
multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamente
lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)

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§ 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará improbidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei
autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem nº 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do art. 2021)
231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo § 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação
Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº
§ 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre
§ 9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não
pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
§ 10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em
poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e
pela Lei nº 13.964, de 2019) 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
§ 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade
I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo, administrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional
observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbidade; do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a 2021)
instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou
§ 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá de extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230,
decisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de de 2021)
improbidade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado § 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando
modificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo a legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo
autor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) administrador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente,
§ 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá caso este venha a responder ação por improbidade administrativa,
necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles até que a decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230,
previstos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2021) § 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumento,
§ 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas
as partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
produzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
de improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230, de II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
2021) III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na § 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele § 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de § 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
2021) § 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 11. Em qualquer momento do processo, verificada a Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as
inexistência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda circunstâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução
improcedente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) civil, desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados:
§ 12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº
§ 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica 14.230, de 2021)
interessada será intimada para, caso queira, intervir no processo. II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº
§ 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa 14.230, de 2021)
jurídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, § 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste
135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de artigo dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230,
Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§ 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior
existência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a ou posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
serem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para 2021)
a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo
da demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de

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ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela Lei
do Ministério Público competente para apreciar as promoções de nº 14.230, de 2021)
arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela
ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Lei nº 14.230, de 2021)
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as
ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade consequências advindas de sua conduta omissiva ou comissiva;
administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a 2021)
natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das
ato de improbidade, bem como as vantagens, para o interesse sanções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído
público, da rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de pela Lei nº 14.230, de 2021)
2021) VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro,
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua
deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver
se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais
de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios
celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso objetivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei
da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença nº 14.230, de 2021)
condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não
§ 5º As negociações para a celebração do acordo a que se configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
refere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de § 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação
um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor. ocorrerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) qualquer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá § 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata
contemplar a adoção de mecanismos e procedimentos internos esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de integridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de
conduta no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de caráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado
outras medidas em favor do interesse público e de boas práticas seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas
administrativas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle
conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento. de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por
Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluído outro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem
pela Lei nº 14.230, de 2021) urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou
I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram religiosos e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos
os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230,
não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos
que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à
Lei nº 14.230, de 2021) perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos,
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo
e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
dos direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que § 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa
houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) procedimento para cumprimento da sentença referente ao
IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos
ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) bens. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; § 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) providências a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis)
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida; meses, contado do trânsito em julgado da sentença de procedência
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) da ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva
c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230, liquidação do dano e ao cumprimento da sentença referente ao
de 2021)

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ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos § 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as
bens, sem prejuízo de eventual responsabilização pela omissão correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação
verificada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na
§ 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão conduta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela § 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação
Lei nº 14.230, de 2021) à ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da
§ 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 conduta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230,
(quarenta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, de 2021)
do débito resultante de condenação pela prática de improbidade § 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos
administrativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de fatos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da
saldá-lo de imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ação da qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os
Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei
da sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
continuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado § 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas
o seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) deverão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o
penas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230, Ministério Público, de ofício, a requerimento de autoridade
de 2021) administrativa ou mediante representação formulada de acordo
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, com o disposto no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito
o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) civil ou procedimento investigativo assemelhado e requisitar a
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos instauração de inquérito policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230,
e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou de 2021)
creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei,
(vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por
escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações
CAPÍTULO VI e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
DAS DISPOSIÇÕES PENAIS 2021)

Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade CAPÍTULO VII
contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da DA PRESCRIÇÃO
denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa. Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está Lei prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do
sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a
imagem que houver provocado. permanência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
condenatória. III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o § 1º A instauração de inquérito civil ou de processo
afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego administrativo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei
ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for suspende o curso do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento
necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática e oitenta) dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão
de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ou, caso não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão.
§ 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
90 (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, § 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade
mediante decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) será concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe: corridos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo ato fundamentado submetido à revisão da instância competente
quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10 do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica.
desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle § 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação
interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. deverá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso
§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão de arquivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
considerados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para 2021)
a conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo
interrompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

245
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído pela Lei


nº 14.230, de 2021) MANUAL DO SISTEMA ELETRÔNICO DE INFORMAÇÕES
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça (SEI) DE MINAS GERAIS
ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condenatória
ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela Lei nº Prezado(a),
14.230, de 2021)
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal A fim de atender na íntegra o conteúdo do edital, este tópico
de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma será disponibilizado na Área do Aluno em nosso site. Essa área é re-
acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) servada para a inclusão de materiais que complementam a apostila,
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal sejam esses, legislações, documentos oficiais ou textos relaciona-
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma dos a este material, e que, devido a seu formato ou tamanho, não
acórdão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) cabem na estrutura de nossas apostilas.
§ 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do
dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste Por isso, para atender você da melhor forma, os materiais são
artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) organizados de acordo com o título do tópico a que se referem e po-
§ 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem dem ser acessados seguindo os passos indicados na página 2 deste
efeitos relativamente a todos os que concorreram para a prática do material, ou por meio de seu login e senha na Área do Aluno.
ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do Visto a importância das leis indicadas, lá você acompanha me-
mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer lhor quaisquer atualizações que surgirem depois da publicação da
deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de apostila.
2021)
§ 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Se preferir, indicamos também acesso direto ao https://www.
Público, deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, mg.gov.br/planejamento/documento/manual-de-usuario-sei
reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora
e decretá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos
referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo. MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) REPÚBLICA.
Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua
capacitação aos agentes públicos e políticos que atuem com A terceira edição do Manual de Redação da Presidência da Re-
prevenção ou repressão de atos de improbidade administrativa. pública foi lançado no final de 2018 e apresenta algumas mudanças
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) quanto ao formato anterior. Para contextualizar, o manual foi criado
Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não em 1991 e surgiu de uma necessidade de padronizar os protocolos
haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de à moderna administração pública. Assim, ele é referência quando
honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído pela se trata de Redação Oficial em todas as esferas administrativas.
Lei nº 14.230, de 2021) O Decreto de nº 9.758 de 11 de abril de 2019 veio alterar re-
§ 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais gras importantes, quanto aos substantivos de tratamento. Expres-
despesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº sões usadas antes (como: Vossa Excelência ou Excelentíssimo, Vossa
14.230, de 2021) Senhoria, Vossa Magnificência, doutor, ilustre ou ilustríssimo, digno
§ 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em ou digníssimo e respeitável) foram retiradas e substituídas apenas
caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada má- por: Senhor (a). Excepciona a nova regra quando o agente público
fé. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) entender que não foi atendido pelo decreto e exigir o tratamento
Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda diferenciado.
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
de recursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, A redação oficial é
serão responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de A maneira pela qual o Poder Público redige comunicações ofi-
setembro de 1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ciais e atos normativos e deve caracterizar-se pela: clareza e pre-
cisão, objetividade, concisão, coesão e coerência, impessoalidade,
CAPÍTULO VIII formalidade e padronização e uso da norma padrão da língua por-
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS tuguesa.

Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.


Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de
1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
em contrário.

246
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

SINAIS E ABREVIATURAS EMPREGADOS Além disso, deve-se considerar a intenção do emissor e a fina-
lidade do documento, para que o texto esteja adequado à situação
• Indica forma (em geral sintática) inaceitável ou comunicativa. Os atos oficiais (atos de caráter normativo) estabele-
agramatical cem regras para a conduta dos cidadãos, regulam o funcionamento
§ Parágrafo dos órgãos e entidades públicos. Para alcançar tais objetivos, em
sua elaboração, precisa ser empregada a linguagem adequada. O
adj. adv. Adjunto adverbial
mesmo ocorre com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua
arc. Arcaico é a de informar com clareza e objetividade.
art.; arts. Artigo; artigos
Atributos da redação oficial:
cf. Confronte • clareza e precisão;
CN Congresso Nacional • objetividade;
Cp. Compare • concisão;
• coesão e coerência;
EM Exposição de Motivos • impessoalidade;
f.v. Forma verbal • formalidade e padronização; e
• uso da norma padrão da língua portuguesa.
fem. Feminino
ind. Indicativo
CLAREZA PRECISÃO
ICP - Brasil Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira
Para a obtenção de clareza, sugere-se: O atributo da precisão
masc. Masculino a) utilizar palavras e expressões sim- complementa a clareza
obj. dir. Objeto direto ples, em seu sentido comum, salvo quan- e caracteriza-se por:
do o texto versar sobre assunto técnico, a) articulação da lin-
obj. ind. Objeto indireto
hipótese em que se utilizará nomenclatu- guagem comum ou
p. Página ra própria da área; técnica para a perfeita
p. us. Pouco usado b) usar frases curtas, bem estruturadas; compreensão da ideia
apresentar as orações na ordem direta e veiculada no texto;
pess. Pessoa evitar intercalações excessivas. Em cer- b) manifestação do
pl. Plural tas ocasiões, para evitar ambiguidade, pensamento ou da
pref. Prefixo sugere-se a adoção da ordem inversa da ideia com as mesmas
oração; palavras, evitando o
pres. Presente c) buscar a uniformidade do tempo emprego de sinonímia
Res. Resolução do Congresso Nacional verbal em todo o texto; com propósito mera-
d) não utilizar regionalismos e neologis- mente estilístico; e
RICD Regimento Interno da Câmara dos Deputados
mos; c) escolha de expres-
RISF Regimento Interno do Senado Federal e) pontuar adequadamente o texto; são ou palavra que não
s. Substantivo f) explicitar o significado da sigla na pri- confira duplo sentido
meira referência a ela; e ao texto.
s.f. Substantivo feminino g) utilizar palavras e expressões em outro
s.m. Substantivo masculino idioma apenas quando indispensáveis, em
SEI! Sistema Eletrônico de Informações razão de serem designações ou expressões
de uso já consagrado ou de não terem
sing. Singular exata tradução. Nesse caso, grafe-as em
tb. Também itálico.
v. Ver ou verbo
Por sua vez, ser objetivo é ir diretamente ao assunto que se
v.g. verbi gratia deseja abordar, sem voltas e sem redundâncias. Para conseguir isso,
var. pop. Variante popular é fundamental que o redator saiba de antemão qual é a ideia prin-
cipal e quais são as secundárias. A objetividade conduz o leitor ao
A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela contato mais direto com o assunto e com as informações, sem sub-
escrita. Para que haja comunicação, são necessários: terfúgios, sem excessos de palavras e de ideias. É errado supor que
a) alguém que comunique: o serviço público. a objetividade suprime a delicadeza de expressão ou torna o texto
b) algo a ser comunicado: assunto relativo às atribuições do rude e grosseiro.
órgão que comunica. Conciso é o texto que consegue transmitir o máximo de infor-
c) alguém que receba essa comunicação: o público, uma insti- mações com o mínimo de palavras. Não se deve de forma alguma
tuição privada ou outro órgão ou entidade pública, do Poder Execu- entendê-la como economia de pensamento, isto é, não se deve
tivo ou dos outros Poderes. eliminar passagens substanciais do texto com o único objetivo de

247
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

reduzi-lo em tamanho. Trata-se, exclusivamente, de excluir palavras I – A mera indicação do cargo ou da função e do setor da ad-
inúteis, redundâncias e passagens que nada acrescentem ao que já ministração ser insuficiente para a identificação do destinatário; ou
foi dito. II - A correspondência ser dirigida à pessoa de agente público
É indispensável que o texto tenha coesão e coerência. Tais atri- específico.
butos favorecem a conexão, a ligação, a harmonia entre os elemen-
tos de um texto. Percebe-se que o texto tem coesão e coerência Até a segunda edição deste Manual, havia três tipos de expe-
quando se lê um texto e se verifica que as palavras, as frases e os dientes que se diferenciavam antes pela finalidade do que pela for-
parágrafos estão entrelaçados, dando continuidade uns aos outros. ma: o ofício, o aviso e o memorando. Com o objetivo de uniformizá-
Alguns mecanismos que estabelecem a coesão e a coerência de um -los, deve-se adotar nomenclatura e diagramação únicas, que sigam
texto são: o que chamamos de padrão ofício.
• Referência (termos que se relacionam a outros necessários à Consistem em partes do documento no padrão ofício:
sua interpretação);
• Substituição (colocação de um item lexical no lugar de outro • Cabeçalho: O cabeçalho é utilizado apenas na primeira página
ou no lugar de uma oração); do documento, centralizado na área determinada pela formatação.
• Elipse (omissão de um termo recuperável pelo contexto); No cabeçalho deve constar o Brasão de Armas da República no topo
• Uso de conjunção (estabelecer ligação entre orações, perío- da página; nome do órgão principal; nomes dos órgãos secundá-
dos ou parágrafos). rios, quando necessários, da maior para a menor hierarquia; espa-
A redação oficial é elaborada sempre em nome do serviço pú- çamento entrelinhas simples (1,0). Os dados do órgão, tais como
blico e sempre em atendimento ao interesse geral dos cidadãos. endereço, telefone, endereço de correspondência eletrônica, sítio
Sendo assim, os assuntos objetos dos expedientes oficiais não de- eletrônico oficial da instituição, podem ser informados no rodapé
vem ser tratados de outra forma que não a estritamente impessoal. do documento, centralizados.
As comunicações administrativas devem ser sempre formais,
isto é, obedecer a certas regras de forma. Isso é válido tanto para as • Identificação do expediente:
comunicações feitas em meio eletrônico, quanto para os eventuais a) nome do documento: tipo de expediente por extenso, com
documentos impressos. Recomendações: todas as letras maiúsculas;
• A língua culta é contra a pobreza de expressão e não contra b) indicação de numeração: abreviatura da palavra “número”,
a sua simplicidade; padronizada como Nº;
• O uso do padrão culto não significa empregar a língua de c) informações do documento: número, ano (com quatro dí-
modo rebuscado ou utilizar figuras de linguagem próprias do estilo gitos) e siglas usuais do setor que expede o documento, da menor
literário; para a maior hierarquia, separados por barra (/);
• A consulta ao dicionário e à gramática é imperativa na reda- d) alinhamento: à margem esquerda da página.
ção de um bom texto.
• Local e data:
O único pronome de tratamento utilizado na comunicação com a) composição: local e data do documento;
agentes públicos federais é “senhor”, independentemente do nível b) informação de local: nome da cidade onde foi expedido o
hierárquico, da natureza do cargo ou da função ou da ocasião. documento, seguido de vírgula. Não se deve utilizar a sigla da uni-
dade da federação depois do nome da cidade;
Obs. O pronome de tratamento é flexionado para o feminino c) dia do mês: em numeração ordinal se for o primeiro dia do
e para o plural. mês e em numeração cardinal para os demais dias do mês. Não se
deve utilizar zero à esquerda do número que indica o dia do mês;
São formas de tratamento vedadas: d) nome do mês: deve ser escrito com inicial minúscula;
I - Vossa Excelência ou Excelentíssimo; e) pontuação: coloca-se ponto-final depois da data;
II - Vossa Senhoria; f) alinhamento: o texto da data deve ser alinhado à margem
III - Vossa Magnificência; direita da página.
IV - doutor;
V - ilustre ou ilustríssimo; • Endereçamento: O endereçamento é a parte do documento
VI - digno ou digníssimo; e que informa quem receberá o expediente. Nele deverão constar :
VII - respeitável. a) vocativo;
b) nome: nome do destinatário do expediente;
Todavia, o agente público federal que exigir o uso dos prono- c) cargo: cargo do destinatário do expediente;
mes de tratamento, mediante invocação de normas especiais refe- d) endereço: endereço postal de quem receberá o expediente,
rentes ao cargo ou carreira, deverá tratar o interlocutor do mesmo dividido em duas linhas: primeira linha: informação de localidade/
modo. Ademais, é vedado negar a realização de ato administrativo logradouro do destinatário ou, no caso de ofício ao mesmo órgão,
ou admoestar o interlocutor nos autos do expediente caso haja erro informação do setor; segunda linha: CEP e cidade/unidade da fede-
na forma de tratamento empregada. ração, separados por espaço simples. Na separação entre cidade e
O endereçamento das comunicações dirigidas a agentes pú- unidade da federação pode ser substituída a barra pelo ponto ou
blicos federais não conterá pronome de tratamento ou o nome pelo travessão. No caso de ofício ao mesmo órgão, não é obriga-
do agente público. Poderão constar o pronome de tratamento e o tória a informação do CEP, podendo ficar apenas a informação da
nome do destinatário nas hipóteses de: cidade/unidade da federação;
e) alinhamento: à margem esquerda da página.

248
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

• Assunto: O assunto deve dar uma ideia geral do que trata e) símbolos: para símbolos não existentes nas fontes indicadas,
o documento, de forma sucinta. Ele deve ser grafado da seguinte pode-se utilizar as fontes Symbol e Wingdings.
maneira:
a) título: a palavra Assunto deve anteceder a frase que define o • Fechos para comunicações: O fecho das comunicações ofi-
conteúdo do documento, seguida de dois-pontos; ciais objetiva, além da finalidade óbvia de arrematar o texto, saudar
b) descrição do assunto: a frase que descreve o conteúdo do o destinatário.
documento deve ser escrita com inicial maiúscula, não se deve utili- a) Para autoridades de hierarquia superior a do remetente, in-
zar verbos e sugere-se utilizar de quatro a cinco palavras; clusive o Presidente da República: Respeitosamente,
c) destaque: todo o texto referente ao assunto, inclusive o títu- b) Para autoridades de mesma hierarquia, de hierarquia infe-
lo, deve ser destacado em negrito; rior ou demais casos: Atenciosamente,
d) pontuação: coloca-se ponto-final depois do assunto;
e) alinhamento: à margem esquerda da página. • Identificação do signatário: Excluídas as comunicações assi-
nadas pelo Presidente da República, todas as demais comunicações
• Texto: oficiais devem informar o signatário segundo o padrão:
a) nome: nome da autoridade que as expede, grafado em le-
NOS CASOS EM QUE QUANDO FOREM USADOS tras maiúsculas, sem negrito. Não se usa linha acima do nome do
NÃO SEJA USADO PARA PARA ENCAMINHAMENTO signatário;
ENCAMINHAMENTO DE DOCUMENTOS, A b) cargo: cargo da autoridade que expede o documento, redigi-
DE DOCUMENTOS, O ESTRUTURA É MODIFICADA: do apenas com as iniciais maiúsculas. As preposições que liguem as
EXPEDIENTE DEVE CONTER palavras do cargo devem ser grafadas em minúsculas; e
A SEGUINTE ESTRUTURA: c) alinhamento: a identificação do signatário deve ser centra-
lizada na página. Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar
a) introdução: em que é a) introdução: deve iniciar com a assinatura em página isolada do expediente. Transfira para essa
apresentado o objetivo da referência ao expediente que página ao menos a última frase anterior ao fecho.
comunicação. Evite o uso das solicitou o encaminhamento.
formas: Tenho a honra de, Se a remessa do documento • Numeração de páginas: A numeração das páginas é obrigató-
Tenho o prazer de, Cumpre-me não tiver sido solicitada, deve ria apenas a partir da segunda página da comunicação. Ela deve ser
informar que. Prefira empregar iniciar com a informação do centralizada na página e obedecer à seguinte formatação:
a forma direta: Informo, motivo da comunicação, que a) posição: no rodapé do documento, ou acima da área de 2 cm
Solicito, Comunico; é encaminhar, indicando a da margem inferior; e
b) desenvolvimento: em que o seguir os dados completos b) fonte: Calibri ou Carlito.
assunto é detalhado; se o texto do documento encaminhado
contiver mais de uma ideia (tipo, data, origem ou Quanto a formatação e apresentação, os documentos do pa-
sobre o assunto, elas devem signatário e assunto de que se drão ofício devem obedecer à seguinte forma:
ser tratadas em parágrafos trata) e a razão pela qual está a) tamanho do papel: A4 (29,7 cm x 21 cm);
distintos, o que confere maior sendo encaminhado; b) margem lateral esquerda: no mínimo, 3 cm de largura;
clareza à exposição; e b) desenvolvimento: se o autor c) margem lateral direita: 1,5 cm;
c) conclusão: em que é da comunicação desejar fazer d) margens superior e inferior: 2 cm;
afirmada a posição sobre o algum comentário a respeito e) área de cabeçalho: na primeira página, 5 cm a partir da mar-
assunto. do documento que encaminha, gem superior do papel;
poderá acrescentar parágrafos f) área de rodapé: nos 2 cm da margem inferior do documento;
de desenvolvimento. Caso g) impressão: na correspondência oficial, a impressão pode
contrário, não há parágrafos ocorrer em ambas as faces do papel. Nesse caso, as margens es-
de desenvolvimento em querda e direita terão as distâncias invertidas nas páginas pares
expediente usado para (margem espelho);
encaminhamento de h) cores: os textos devem ser impressos na cor preta em pa-
documentos. pel branco, reservando-se, se necessário, a impressão colorida para
gráficos e ilustrações;
Em qualquer uma das duas estruturas, o texto do documento i) destaques: para destaques deve-se utilizar, sem abuso, o
deve ser formatado da seguinte maneira: negrito. Deve-se evitar destaques com uso de itálico, sublinhado,
a) alinhamento: justificado; letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer
b) espaçamento entre linhas: simples; outra forma de formatação que afete a sobriedade e a padroniza-
c) parágrafos: espaçamento entre parágrafos: de 6 pontos após ção do documento;
cada parágrafo; recuo de parágrafo: 2,5 cm de distância da margem j) palavras estrangeiras: palavras estrangeiras devem ser grafa-
esquerda; numeração dos parágrafos: apenas quando o documento das em itálico;
tiver três ou mais parágrafos, desde o primeiro parágrafo. Não se k) arquivamento: dentro do possível, todos os documentos
numeram o vocativo e o fecho; elaborados devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
d) fonte: Calibri ou Carlito; corpo do texto: tamanho 12 pontos; posterior ou aproveitamento de trechos para casos análogos. Deve
citações recuadas: tamanho 11 pontos; notas de Rodapé: tamanho
10 pontos.

249
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

ser utilizado, preferencialmente, formato de arquivo que possa ser


lido e editado pela maioria dos editores de texto utilizados no servi-
ço público, tais como DOCX, ODT ou RTF.
l) nome do arquivo: para facilitar a localização, os nomes dos
arquivos devem ser formados da seguinte maneira: tipo do docu-
Os documentos oficiais podem ser identificados de acordo com
mento + número do documento + ano do documento (com 4 dígi-
algumas possíveis variações:
tos) + palavras-chaves do conteúdo.
a) [NOME DO EXPEDIENTE] + CIRCULAR: Quando um órgão en-
via o mesmo expediente para mais de um órgão receptor. A sigla na
epígrafe será apenas do órgão remetente.
b) [NOME DO EXPEDIENTE] + CONJUNTO: Quando mais de um
órgão envia, conjuntamente, o mesmo expediente para um único
órgão receptor. As siglas dos órgãos remetentes constarão na epí-
grafe.
c) [NOME DO EXPEDIENTE] + CONJUNTO CIRCULAR: Quando
mais de um órgão envia, conjuntamente, o mesmo expediente para
mais de um órgão receptor. As siglas dos órgãos remetentes cons-
tarão na epígrafe.

Nos expedientes circulares, por haver mais de um receptor, o


órgão remetente poderá inserir no rodapé as siglas ou nomes dos
órgãos que receberão o expediente.

Exposição de motivos (EM)


É o expediente dirigido ao Presidente da República ou ao Vice-
Presidente para:
a) propor alguma medida;
b) submeter projeto de ato normativo à sua consideração; ou
c) informa-lo de determinado assunto.

A exposição de motivos é dirigida ao Presidente da República


por um Ministro de Estado. Nos casos em que o assunto tratado en-
volva mais de um ministério, a exposição de motivos será assinada
por todos os ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada
de interministerial. Independentemente de ser uma EM com ape-
nas um autor ou uma EM interministerial, a sequência numérica
das exposições de motivos é única. A numeração começa e termina
dentro de um mesmo ano civil.
A exposição de motivos é a principal modalidade de comunica-
ção dirigida ao Presidente da República pelos ministros. Além disso,
pode, em certos casos, ser encaminhada cópia ao Congresso Nacio-
nal ou ao Poder Judiciário.
O Sistema de Geração e Tramitação de Documentos Oficiais
(Sidof) é a ferramenta eletrônica utilizada para a elaboração, a re-
dação, a alteração, o controle, a tramitação, a administração e a ge-
rência das exposições de motivos com as propostas de atos a serem
encaminhadas pelos Ministérios à Presidência da República.
Ao se utilizar o Sidof, a assinatura, o nome e o cargo do signatá-
rio são substituídos pela assinatura eletrônica que informa o nome
do ministro que assinou a exposição de motivos e do consultor jurí-
dico que assinou o parecer jurídico da Pasta.
A Mensagem é o instrumento de comunicação oficial entre os
Chefes dos Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas
pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar
sobre fato da administração pública; para expor o plano de gover-
no por ocasião da abertura de sessão legislativa; para submeter
ao Congresso Nacional matérias que dependem de deliberação de
suas Casas; para apresentar veto; enfim, fazer comunicações do que
seja de interesse dos Poderes Públicos e da Nação.

250
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos ministérios Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua
à Presidência da República, a cujas assessorias caberá a redação fi- flexibilidade. Assim, não interessa definir padronização da mensa-
nal. As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Congresso gem comunicada. O assunto deve ser o mais claro e específico pos-
Nacional têm as seguintes finalidades: sível, relacionado ao conteúdo global da mensagem. Assim, quem
a) Encaminhamento de proposta de emenda constitucional, irá receber a mensagem identificará rapidamente do que se trata;
de projeto de lei ordinária, de projeto de lei complementar e os quem a envia poderá, posteriormente, localizar a mensagem na cai-
que compreendem plano plurianual, diretrizes orçamentárias, or- xa do correio eletrônico.
çamentos anuais e créditos adicionais. O texto dos correios eletrônicos deve ser iniciado por uma sau-
b) Encaminhamento de medida provisória. dação. Quando endereçado para outras instituições, para recepto-
c) Indicação de autoridades. res desconhecidos ou para particulares, deve-se utilizar o vocativo
d) Pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presiden- conforme os demais documentos oficiais, ou seja, “Senhor” ou “Se-
te da República se ausentarem do país por mais de 15 dias. nhora”, seguido do cargo respectivo, ou “Prezado Senhor”, “Prezada
e) Encaminhamento de atos de concessão e de renovação de Senhora”.
concessão de emissoras de rádio e TV.
f) Encaminhamento das contas referentes ao exercício anterior. Atenciosamente é o fecho padrão em comunicações oficiais.
g) Mensagem de abertura da sessão legislativa. Com o uso do e-mail, popularizou-se o uso de abreviações como
h) Comunicação de sanção (com restituição de autógrafos). “Att.”, e de outros fechos, como “Abraços”, “Saudações”, que, ape-
i) Comunicação de veto. sar de amplamente usados, não são fechos oficiais e, portanto, não
j) Outras mensagens remetidas ao Legislativo, ex. Apreciação devem ser utilizados em e-mails profissionais.
de intervenção federal. Sugere-se que todas as instituições da administração pública
As mensagens contêm: adotem um padrão de texto de assinatura. A assinatura do e-mail
a) brasão: timbre em relevo branco; deve conter o nome completo, o cargo, a unidade, o órgão e o tele-
b) identificação do expediente: MENSAGEM Nº, alinhada à fone do remetente.
margem esquerda, no início do texto; A possibilidade de anexar documentos, planilhas e imagens de
c) vocativo: alinhado à margem esquerda, de acordo com o diversos formatos é uma das vantagens do e-mail. A mensagem que
pronome de tratamento e o cargo do destinatário, com o recuo de encaminha algum arquivo deve trazer informações mínimas sobre o
parágrafo dado ao texto; conteúdo do anexo.
d) texto: iniciado a 2 cm do vocativo; Os arquivos anexados devem estar em formatos usuais e que
e) local e data: posicionados a 2 cm do final do texto, alinha- apresentem poucos riscos de segurança. Quando se tratar de docu-
dos à margem direita. A mensagem, como os demais atos assinados mento ainda em discussão, os arquivos devem, necessariamente,
pelo Presidente da República, não traz identificação de seu signa- ser enviados, em formato que possa ser editado.
tário. A correção ortográfica é requisito elementar de qualquer tex-
to, e ainda mais importante quando se trata de textos oficiais. Mui-
A utilização do e-mail para a comunicação tornou-se prática tas vezes, uma simples troca de letras pode alterar não só o sentido
comum, não só em âmbito privado, mas também na administra- da palavra, mas de toda uma frase. O que na correspondência par-
ção pública. O termo e-mail pode ser empregado com três sentidos. ticular seria apenas um lapso na digitação pode ter repercussões
Dependendo do contexto, pode significar gênero textual, endere- indesejáveis quando ocorre no texto de uma comunicação oficial
ço eletrônico ou sistema de transmissão de mensagem eletrônica. ou de um ato normativo. Assim, toda revisão que se faça em de-
Como gênero textual, o e-mail pode ser considerado um documen- terminado documento ou expediente deve sempre levar em conta
to oficial, assim como o ofício. Portanto, deve-se evitar o uso de também a correção ortográfica.
linguagem incompatível com uma comunicação oficial. Como en-
dereço eletrônico utilizado pelos servidores públicos, o e-mail deve
ser oficial, utilizando-se a extensão “.gov.br”, por exemplo. Como
sistema de transmissão de mensagens eletrônicas, por seu baixo
custo e celeridade, transformou-se na principal forma de envio e
recebimento de documentos na administração pública.
Nos termos da Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto
de 2001, para que o e-mail tenha valor documental, isto é, para
que possa ser aceito como documento original, é necessário existir
certificação digital que ateste a identidade do remetente, segundo
os parâmetros de integridade, autenticidade e validade jurídica da
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICPBrasil.
O destinatário poderá reconhecer como válido o e-mail sem
certificação digital ou com certificação digital fora ICP-Brasil; con-
tudo, caso haja questionamento, será obrigatório a repetição do
ato por meio documento físico assinado ou por meio eletrônico re-
conhecido pela ICP-Brasil. Salvo lei específica, não é dado ao ente
público impor a aceitação de documento eletrônico que não atenda
os parâmetros da ICP-Brasil.

251
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

HÍFEN ASPAS ITÁLICO NEGRITO E SUBLINHADO


Emprega-se itálico em:
a) títulos de publicações
O hífen é um sinal usado para:
As aspas têm os seguintes (livros, revistas, jornais,
a) ligar os elementos de
empregos: periódicos etc.) ou títulos de
palavras compostas: vice-
a) antes e depois de uma congressos, conferências,
ministro;
citação textual direta, quando slogans, lemas sem o uso de Usa-se o negrito para realce
b) para unir pronomes átonos
esta tem até três linhas, sem aspas (com inicial maiúscula de palavras e trechos. Deve-se
a verbos: agradeceu-lhe; e
utilizar itálico; em todas as palavras, exceto evitar o uso de sublinhado para
c) para, no final de uma
b) quando necessário, para nas de ligação); realçar palavras e trechos em
linha, indicar a separação
diferenciar títulos, termos b) palavras e as expressões comunicações oficiais.
das sílabas de uma palavra
técnicos, expressões fixas, em latim ou em outras
em duas partes (a chamada
definições, exemplificações e línguas estrangeiras não
translineação): com-/parar,
assemelhados. incorporadas ao uso comum
gover-/no.
na língua portuguesa ou não
aportuguesadas.

PARÊNTESES E TRAVESSÃO USO DE SIGLAS E ACRÔNIMOS


Os parênteses são empregados para intercalar, em um texto, Para padronizar o uso de siglas e acrônimos nos atos normativos,
explicações, indicações, comentários, observações, como por serão adotados os conceitos sugeridos pelo Manual de Elaboração
exemplo, indicar uma data, uma referência bibliográfica, uma de Textos da Consultoria Legislativa do Senado Federal (1999), em
sigla. que:
O travessão, que é representado graficamente por um hífen a) sigla: constitui-se do resultado das somas das iniciais de um
prolongado (–), substitui parênteses, vírgulas, dois-pontos. título; e
b) acrônimo: constitui-se do resultado da soma de algumas sílabas
ou partes dos vocábulos de um título.

Sintaxe é a parte da Gramática que estuda a palavra, não em si, mas em relação às outras, que, com ela, se unem para exprimir o
pensamento. Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos elementos que compõem uma oração:

SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO + ADJUNTO ADVERBIAL

O sujeito é o ser de quem se fala ou que executa a ação enunciada na oração. De acordo com a gramática normativa, o sujeito da
oração não pode ser preposicionado. Ele pode ter complemento, mas não ser complemento.
Embora seja usada como recurso estilístico na literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos textos oficiais, pois muitas
vezes dificulta a compreensão.
A omissão de certos termos, ao fazermos uma comparação, omissão própria da língua falada, deve ser evitada na língua escrita, pois
compromete a clareza do texto: nem sempre é possível identificar, pelo contexto, o termo omitido. A ausência indevida de um termo pode
impossibilitar o entendimento do sentido que se quer dar a uma frase.
Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de todo texto oficial,
deve-se atentar para as construções que possam gerar equívocos de compreensão. A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
identificar-se a que palavra se refere um pronome que possui mais de um antecedente na terceira pessoa.
A concordância é o processo sintático segundo o qual certas palavras se acomodam, na sua forma, às palavras de que dependem.
Essa acomodação formal se chama flexão e se dá quanto a gênero e número (nos adjetivos – nomes ou pronomes), números e pessoa (nos
verbos). Daí, a divisão: concordância nominal e concordância verbal.

CONCORDÂNCIA VERBAL CONCORDÂNCIA NOMINAL


O verbo concorda com seu Adjetivos (nomes ou
sujeito em pessoa e número. pronomes), artigos e numerais
concordam em gênero e
número com os substantivos
de que dependem.

Regência é, em gramática, sinônimo de dependência, subordinação. Assim, a sintaxe de regência trata das relações de dependência
que as palavras mantêm na frase. Dizemos que um termo rege o outro que o complementa. Numa frase, os termos regentes ou subordi-
nantes (substantivos, adjetivos, verbos) regem os termos regidos ou subordinados (substantivos, adjetivos, preposições) que lhes comple-
tam o sentido.

252
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Os sinais de pontuação, ligados à estrutura sintática, têm as se- É importante lembrar que o idioma está em constante muta-
guintes finalidades: ção. A própria evolução dos costumes, das ideias, das ciências, da
a) assinalar as pausas e as inflexões da voz (a entoação) na lei- política, enfim da vida social em geral, impõe a criação de novas
tura; palavras e de formas de dizer.
b) separar palavras, expressões e orações que, segundo o au- A redação oficial não pode alhear-se dessas transformações,
tor, devem merecer destaque; e nem incorporá-las acriticamente. Quanto às novidades vocabula-
c) esclarecer o sentido da frase, eliminando ambiguidades. res, por um lado, elas devem sempre ser usadas com critério, evi-
tando-se aquelas que podem ser substituídas por vocábulos já de
A vírgula serve para marcar as separações breves de sentido uso consolidado sem prejuízo do sentido que se lhes quer dar.
entre termos vizinhos, as inversões e as intercalações, quer na ora- De outro lado, não se concebe que, em nome de suposto pu-
ção, quer no período. O ponto e vírgula, em princípio, separa es- rismo, a linguagem das comunicações oficiais fique imune às cria-
truturas coordenadas já portadoras de vírgulas internas. É também ções vocabulares ou a empréstimos de outras línguas. A rapidez
usado em lugar da vírgula para dar ênfase ao que se quer dizer. do desenvolvimento tecnológico, por exemplo, impõe a criação de
Emprega-se este sinal de pontuação para introduzir citações, inúmeros novos conceitos e termos, ditando de certa forma a ve-
marcar enunciados de diálogo e indicar um esclarecimento, um re- locidade com que a língua deve incorporá-los. O importante é usar
sumo ou uma consequência do que se afirmou. o estrangeirismo de forma consciente, buscar o equivalente portu-
O ponto de interrogação, como se depreende de seu nome, guês quando houver ou conformar a palavra estrangeira ao espírito
é utilizado para marcar o final de uma frase interrogativa direta. da Língua Portuguesa.
O ponto de exclamação é utilizado para indicar surpresa, espanto, O problema do abuso de estrangeirismos inúteis ou emprega-
admiração, súplica etc. Seu uso na redação oficial fica geralmente dos em contextos em que não cabem, é em geral causado ou pelo
restrito aos discursos e às peças de retórica. desconhecimento da riqueza vocabular de nossa língua, ou pela in-
O uso do pronome demonstrativo obedece às seguintes cir- corporação acrítica do estrangeirismo.
cunstâncias: • A homonímia é a designação geral para os casos em que pa-
a) Emprega-se este(a)/isto quando o termo referente estiver lavras de sentidos diferentes têm a mesma grafia (os homônimos
próximo ao emissor, ou seja, de quem fala ou redige. homógrafos) ou a mesma pronúncia (os homônimos homófonos).
b) Emprega-se esse(a)/isso quando o termo referente estiver • Os homógrafos podem coincidir ou não na pronúncia, como
próximo ao receptor, ou seja, a quem se fala ou para quem se re- nos exemplos: quarto (aposento) e quarto (ordinal), manga (fruta)
dige. e manga (de camisa), em que temos pronúncia idêntica; e apelo
c) Emprega-se aquele(a)/aquilo quando o termo referente es- (pedido) e apelo (com e aberto, 1ª pess. Do sing. Do pres. Do ind. Do
tiver distante tanto do emissor quanto do receptor da mensagem. verbo apelar), consolo (alívio) e consolo (com o aberto, 1ª pess. Do
d) Emprega-se este(a) para referir-se ao tempo presente; sing. Do pres. Do ind. Do verbo consolar), com pronúncia diferente.
e) Emprega-se esse(a) para se referir ao tempo passado; Os homógrafos de idêntica pronúncia diferenciam-se pelo contexto
f) Emprega-se aquele(a)/aquilo em relação a um tempo passa- em que são empregados.
do mais longínquo, ou histórico. • Já o termo paronímia designa o fenômeno que ocorre com
g) Usa-se este(a)/isto para introduzir referência que, no texto, palavras semelhantes (mas não idênticas) quanto à grafia ou à pro-
ainda será mencionado; núncia. É fonte de muitas dúvidas, como entre descrição (ato de
h) Usa-se este(a)para se referir ao próprio texto; descrever) e discrição (qualidade do que é discreto), retificar (corri-
i) Emprega-se esse(a)/isso quando a informação já foi mencio- gir) e ratificar (confirmar).
nada no texto.
No Estado de Direito, as normas jurídicas cumprem a tarefa
A Semântica estuda o sentido das palavras, expressões, frases de concretizar a Constituição. Elas devem criar os fundamentos de
e unidades maiores da comunicação verbal, os significados que lhe justiça e de segurança que assegurem um desenvolvimento social
são atribuídos. Ao considerarmos o significado de determinada pa- harmônico em um contexto de paz e de liberdade. Esses complexos
lavra, levamos em conta sua história, sua estrutura (radical, prefi- objetivos da norma jurídica são expressos nas funções:
xos, sufixos que participam da sua forma) e, por fim, o contexto em I) de integração: a lei cumpre função de integração ao com-
que se apresenta. pensar as diferenças jurídico-políticas no quadro de formação da
vontade do Estado (desigualdades sociais, regionais);
Sendo a clareza um dos requisitos fundamentais de todo texto II) de planificação: a lei é o instrumento básico de organização,
oficial, deve-se atentar para a tradição no emprego de determina- de definição e de distribuição de competências;
da expressão com determinado sentido. O emprego de expressões III) de proteção: a lei cumpre função de proteção contra o arbí-
ditas de uso consagrado confere uniformidade e transparência ao trio ao vincular os próprios órgãos do Estado;
sentido do texto. Mas isso não quer dizer que os textos oficiais de- IV) de regulação: a lei cumpre função reguladora ao direcionar
vam limitar-se à repetição de chavões e de clichês. condutas por meio de modelos;
Verifique sempre o contexto em que as palavras estão sendo V) de inovação: a lei cumpre função de inovação na ordem ju-
utilizadas. Certifique-se de que não há repetições desnecessárias rídica e no plano social.
ou redundâncias. Procure sinônimos ou termos mais precisos para Requisitos da elaboração normativa:
as palavras repetidas; mas se sua substituição for comprometer o • Clareza e determinação da norma;
sentido do texto, tornando-o ambíguo ou menos claro, não hesite • Princípio da reserva legal;
em deixar o texto como está.

253
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

• Reserva legal qualificada (algumas providências sejam prece- mostram-se adequados a produzir as consequências desejadas. De-
didas de específica autorização legislativa, vinculada à determinada vem-se contemplar, igualmente, as suas deficiências e os eventuais
situação ou destinada a atingir determinado objetivo); efeitos colaterais negativos.
• Princípio da legalidade nos âmbitos penal, tributário e admi- O processo de decisão normativa estará incompleto caso se en-
nistrativo; tenda que a tarefa do legislador se encerre com a edição do ato nor-
• Princípio da proporcionalidade; mativo. Uma planificação mais rigorosa do processo de elaboração
• Densidade da norma (a previsão legal contenha uma discipli- normativa exige um cuidadoso controle das diversas consequências
na suficientemente concreta); produzidas pelo novo ato normativo.
• Respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coi- É recomendável que o legislador redija as leis dentro de um
sa julgada; espírito de sistema, tendo em vista não só a coerência e a harmonia
• Remissões legislativas (se as remissões forem inevitáveis, se- interna de suas disposições, mas também a sua adequada inserção
jam elas formuladas de tal modo que permitam ao intérprete apre- no sistema jurídico como um todo. Essa sistematização expressa
ender o seu sentido sem ter de compulsar o texto referido). uma característica da cientificidade do Direito e corresponde às
exigências mínimas de segurança jurídica, à medida que impedem
Além do processo legislativo disciplinado na Constituição (pro- uma ruptura arbitrária com a sistemática adotada na aplicação do
cesso legislativo externo), a doutrina identifica o chamado processo Direito. Costuma-se distinguir a sistemática da lei em sistemática
legislativo interno, que se refere à forma de fazer adotada para a interna (compatibilidade teleológica e ausência de contradição ló-
tomada da decisão legislativa. gica) e sistemática externa (estrutura da lei).
Antes de decidir sobre as providências a serem tomadas, é es- Regras básicas a serem observadas para a sistematização do
sencial identificar o problema a ser enfrentado. Realizada a iden- texto do ato normativo, com o objetivo de facilitar sua estruturação:
tificação do problema em decorrência de impulsos externos (ma- a) matérias que guardem afinidade objetiva devem ser tratadas
nifestações de órgãos de opinião pública, críticas de segmentos em um mesmo contexto ou agrupamento;
especializados) ou graças à atuação dos mecanismos próprios de b) os procedimentos devem ser disciplinados segundo a ordem
controle, o problema deve ser delimitado de forma precisa. cronológica, se possível;
A análise da situação questionada deve contemplar as causas c) a sistemática da lei deve ser concebida de modo a permitir
ou o complexo de causas que eventualmente determinaram ou que ela forneça resposta à questão jurídica a ser disciplinada; e
contribuíram para o seu desenvolvimento. Essas causas podem ter d) institutos diversos devem ser tratados separadamente.
influências diversas, tais como condutas humanas, desenvolvimen-
tos sociais ou econômicos, influências da política nacional ou inter- • O artigo de alteração da norma deve fazer menção expressa
nacional, consequências de novos problemas técnicos, efeitos de ao ato normativo que está sendo alterado.
leis antigas, mudanças de concepção etc. • Na hipótese de alteração parcial de artigo, os dispositivos que
Para verificar a adequação dos meios a serem utilizados, deve- não terão o seu texto alterado serão substituídos por linha ponti-
-se realizar uma análise dos objetivos que se esperam com a apro- lhada, cujo uso é obrigatório para indicar a manutenção e a não
vação da proposta. A ação do legislador, nesse âmbito, não difere, alteração do trecho do artigo.
fundamentalmente, da atuação do homem comum, que se caracte-
riza mais por saber exatamente o que não quer, sem precisar o que O termo “republicação” é utilizado para designar apenas a hi-
efetivamente pretende. pótese de o texto publicado não corresponder ao original assina-
A avaliação emocional dos problemas, a crítica generalizada do pela autoridade. Não se pode cogitar essa hipótese por motivo
e, às vezes, irrefletida sobre o estado de coisas dominante acabam de erro já constante do documento subscrito pela autoridade ou,
por permitir que predominem as soluções negativistas, que têm por muito menos, por motivo de alteração na opinião da autoridade.
escopo, fundamentalmente, suprimir a situação questionada sem Considerando que os atos normativos somente produzem efeitos
contemplar, de forma detida e racional, as alternativas possíveis ou após a publicação no Diário Oficial da União, mesmo no caso de re-
as causas determinantes desse estado de coisas negativo. Outras publicação, não se poderá cogitar a existência de efeitos retroativos
vezes, deixa-se orientar por sentimento inverso, buscando, pura e com a publicação do texto corrigido. Contudo, o texto publicado
simplesmente, a preservação do status quo. sem correspondência com aquele subscrito pela autoridade poderá
Essas duas posições podem levar, nos seus extremos, a uma ser considerado inválido com efeitos retroativos.
imprecisa definição dos objetivos. A definição da decisão legislati- Já a retificação se refere aos casos em que texto publicado
va deve ser precedida de uma rigorosa avaliação das alternativas corresponde ao texto subscrito pela autoridade, mas que continha
existentes, seus prós e contras. A existência de diversas alternativas lapso manifesto. A retificação requer nova assinatura pelas autori-
para a solução do problema não só amplia a liberdade do legislador, dades envolvidas e, em muitos casos, é menos conveniente do que
como também permite a melhoria da qualidade da decisão legis- a mera alteração da norma.
lativa. A correção de erro material que não afete a substância do ato
Antes de decidir sobre a alternativa a ser positivada, devem- singular de caráter pessoal e as retificações ou alterações da de-
-se avaliar e contrapor as alternativas existentes sob dois pontos de nominação de cargos, funções ou órgãos que tenham tido a deno-
vista: a) De uma perspectiva puramente objetiva: verificar se a aná- minação modificada em decorrência de lei ou de decreto superve-
lise sobre os dados fáticos e prognósticos se mostra consistente; b) niente à expedição do ato pessoal a ser apostilado são realizadas
De uma perspectiva axiológica: aferir, com a utilização de critérios por meio de apostila. O apostilamento é de competência do setor
de probabilidade (prognósticos), se os meios a serem empregados de recurso humanos do órgão, autarquia ou fundação, e dispensa
nova assinatura da autoridade que subscreveu o ato originário.

254
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Atenção: Deve-se ter especial atenção quando do uso do apos- A iniciativa é a proposta de edição de direito novo. A iniciati-
tilamento para os atos relativos à vacância ou ao provimento de- va comum ou concorrente compete ao Presidente da República, a
corrente de alteração de estrutura de órgão, autarquia ou funda- qualquer Deputado ou Senador, a qualquer comissão de qualquer
ção pública. O apostilamento não se aplica aos casos nos quais a das Casas do Congresso, e aos cidadãos – iniciativa popular. A Cons-
essência do cargo em comissão ou da função de confiança tenham tituição confere a iniciativa da legislação sobre certas matérias,
sido alterados, tais como nos casos de alteração do nível hierárqui- privativamente, a determinados órgãos, denominada de iniciativa
co, transformação de atribuição de assessoramento em atribuição reservada. A Constituição prevê, ainda, sistema de iniciativa vincu-
de chefia (ou vice-versa) ou transferência de cargo para unidade lada, na qual a apresentação do projeto é obrigatória. Nesse caso, o
com outras competências. Também deve-se alertar para o fato que Chefe do Executivo Federal deve encaminhar ao Congresso Nacio-
a praxe atual tem sido exigir que o apostilamento decorrente de nal os projetos referentes às leis orçamentárias (plano plurianual,
alteração em estrutura regimental seja realizado na mesma data da lei de diretrizes orçamentárias e o orçamento anual).
entrada em vigor de seu decreto.
A estrutura dos atos normativos é composta por dois elemen- A disciplina sobre a discussão e a instrução do projeto de lei é
tos básicos: a ordem legislativa e a matéria legislada. A ordem legis- confiada, fundamentalmente, aos Regimentos das Casas Legislati-
lativa compreende a parte preliminar e o fecho da lei ou do decreto; vas.
a matéria legislada diz respeito ao texto ou ao corpo do ato. Emenda é a proposição apresentada como acessória de outra
A lei ordinária é ato normativo primário e contém, em regra, proposição. Nem todo titular de iniciativa tem poder de emenda.
normas gerais e abstratas. Embora as leis sejam definidas, normal- Essa faculdade é reservada aos parlamentares. Se, entretanto, for
mente, pela generalidade e pela abstração (lei material), estas con- de iniciativa do Poder Executivo ou do Poder Judiciário, o seu titular
têm, não raramente, normas singulares (lei formal ou ato normati- também pode apresentar modificações, acréscimos, o que fará por
vo de efeitos concretos). meio de mensagem aditiva, dirigida ao Presidente da Câmara dos
As leis complementares são um tipo de lei que não têm a ri- Deputados, que justifique a necessidade do acréscimo. A apresen-
gidez dos preceitos constitucionais, e tampouco comportam a re- tação de emendas a qualquer projeto de lei oriundo de iniciativa re-
vogação por força de qualquer lei ordinária superveniente. Com a servada é autorizada, desde que não implique aumento de despesa
instituição de lei complementar, o constituinte buscou resguardar e que tenha estrita pertinência temática.
determinadas matérias contra mudanças céleres ou apressadas, A Constituição não impede a apresentação de emendas ao pro-
sem deixá-las exageradamente rígidas, o que dificultaria sua modifi- jeto de lei orçamentária. Elas devem ser, todavia, compatíveis com
cação. A lei complementar deve ser aprovada pela maioria absoluta o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias e devem
de cada uma das Casas do Congresso Nacional. indicar os recursos necessários, sendo admitidos apenas aqueles
Lei delegada é o ato normativo elaborado e editado pelo Pre- provenientes de anulação de despesa. A Constituição veda a propo-
sidente da República em decorrência de autorização do Poder Le- situra de emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias que
gislativo, expedida por meio de resolução do Congresso Nacional e não guardem compatibilidade com o plano plurianual.
dentro dos limites nela traçados. Medida provisória é ato normativo A votação da matéria legislativa constitui ato coletivo das Casas
com força de lei que pode ser editado pelo Presidente da República do Congresso. Realiza-se, normalmente, após a instrução do proje-
em caso de relevância e urgência. Decretos são atos administrativos to nas comissões e dos debates no plenário. A sanção é o ato pelo
de competência exclusiva do Chefe do Executivo, destinados a pro- qual o Chefe do Executivo manifesta a sua anuência ao projeto de
ver as situações gerais ou individuais, abstratamente previstas, de lei aprovado pelo Poder Legislativo. Verifica-se aqui a fusão da von-
modo expresso ou implícito, na lei. tade do Congresso Nacional com a do Presidente, da qual resulta a
• Decretos singulares ou de efeitos concretos: Os decretos po- formação da lei.
dem conter regras singulares ou concretas (por exemplo, decretos O veto é o ato pelo qual o Chefe do Poder Executivo nega san-
referentes à questão de pessoal, de abertura de crédito, de desa- ção ao projeto – ou a parte dele –, obstando à sua conversão em lei.
propriação, de cessão de uso de imóvel, de indulto, de perda de Dois são os fundamentos para a recusa de sanção:
nacionalidade, etc.). a) inconstitucionalidade; ou
• Decretos regulamentares: Os decretos regulamentares são b) contrariedade ao interesse público.
atos normativos subordinados ou secundários.
• Decretos autônomos: Limita-se às hipóteses de organização O veto deve ser expresso e motivado, e oposto no prazo de 15
e funcionamento da administração pública federal, quando não im- dias úteis, contado da data do recebimento do projeto, e comunica-
plicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos pú- do ao Congresso Nacional nas 48 horas subsequentes à sua oposi-
blicos, e de extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. ção. O veto não impede a conversão do projeto em lei, podendo ser
superado por deliberação do Congresso Nacional.
Portaria é o instrumento pelo qual Ministros ou outras autori- A promulgação e a publicação constituem fases essenciais da
dades expedem instruções sobre a organização e o funcionamento eficácia da lei. A promulgação das leis compete ao Presidente da
de serviço, sobre questões de pessoal e outros atos de sua compe- República. Ela deverá ocorrer dentro do prazo de 48 horas, decor-
tência. rido da sanção ou da superação do veto. Nesse último caso, se o
Presidente não promulgar a lei, competirá a promulgação ao Pre-
O processo legislativo abrange não só a elaboração das leis sidente do Senado Federal, que disporá, igualmente, de 48 horas
propriamente ditas (leis ordinárias, leis complementares, leis de- para fazê-lo; se este não o fizer, deverá fazê-lo o Vice-Presidente do
legadas), mas também a elaboração das emendas constitucionais, Senado Federal, em prazo idêntico.
das medidas provisórias, dos decretos legislativos e das resoluções.

255
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

O período entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor é 04. (CRF-PR - Analista de RH – Quadrix/2019) A supremacia do
chamado de período de vacância ou vacatio legis. Na falta de dis- interesse público sobre o privado, também chamada simplesmente
posição especial, vigora o princípio que reconhece o decurso de um de princípio do interesse público ou da finalidade pública, princípio
lapso de tempo entre a data da publicação e o termo inicial da obri- implícito na atual ordem jurídica, significa que os interesses da co-
gatoriedade (45 dias). letividade são mais importantes que os interesses individuais, razão
Podem-se distinguir seis tipos de procedimento legislativo: pela qual a Administração, como defensora dos interesses públicos,
a) procedimento legislativo normal: Trata da elaboração das recebe da lei poderes especiais não extensivos aos particulares.
leis ordinárias (excluídas as leis financeiras e os códigos) e comple- Alexandre Mazza. Manual de direito administrativo. 8.ª ed. São Paulo:
mentares. Saraiva Educação, 2018.
b) procedimento legislativo abreviado: Este procedimento
dispensa a competência do Plenário, ocorrendo, por isso, a deli- Com relação a esse princípio, assinale a alternativa correta.
beração terminativa sobre o projeto de lei nas próprias Comissões (A) Apesar da supremacia presente, não possibilita que a Admi-
Permanentes. nistração Pública convoque particulares para a execução com-
c) procedimento legislativo sumário: Entre as prerrogativas pulsória de atividades públicas.
regimentais das Casas do Congresso Nacional existe a de conferir (B) Só existe a supremacia do interesse público primário sobre
urgência a certas proposições. o interesse privado. O interesse patrimonial do Estado como
d) procedimento legislativo sumaríssimo: Existe nas duas Ca- pessoa jurídica, conhecido como interesse público secundário,
sas do Congresso Nacional mecanismo que assegura deliberação não tem supremacia sobre o interesse do particular.
instantânea sobre matérias submetidas à sua apreciação. (C) Não permite a requisição de veículo particular, pela polícia,
e) procedimento legislativo concentrado: O procedimento le- para perseguir criminoso. Referida atitude não é prevista no di-
gislativo concentrado tipifica-se, basicamente, pela apresentação reito brasileiro.
das matérias em reuniões conjuntas de deputados e senadores. Ex. (D) Não permite que a Administração Pública transforme com-
para leis financeiras e delegadas. pulsoriamente propriedade privada em pública.
f) procedimento legislativo especial: Nesse procedimento, (E) Estará presente em todos os atos de gestão da Administra-
englobam-se dois ritos distintos com características próprias, um ção Pública.
destinado à elaboração de emendas à Constituição; outro, à de có-
digos. 05. (TRT /8ª Região - Analista Judiciário – CESPE/2016). A res-
peito dos elementos do Estado, assinale a opção correta.
(A) Povo, território e governo soberano são elementos indisso-
QUESTÕES ciáveis do Estado.
(B) O Estado é um ente despersonalizado.
01. (Prefeitura de Jataí/GO - Auditor de Controladoria - Qua- (C) São elementos do Estado o Poder Legislativo, o Poder Judi-
drix /2019) A cúpula diretiva investida de poder político para a con- ciário e o Poder Executivo.
dução dos interesses nacionais consiste (D) Os elementos do Estado podem se dividir em presidencia-
(A) no Estado. lista ou parlamentarista.
(B) na Administração Pública. (E) A União, o estado, os municípios e o Distrito Federal são
(C) no Poder Executivo. elementos do Estado brasileiro.
(D) no governo.
(E) nos agentes políticos. 06. (IF/AP - Auxiliar em Administração – FUNIVERSA/2016).
No sistema de governo brasileiro, os chefes do Poder Executivo
02. (CRO-GO - Assistente Administrativo – Quadrix/2019) No (presidente da República, governadores e prefeitos) exercem, ao
que se refere ao Estado e a seus Poderes, julgue o item. mesmo tempo, as funções administrativa (Administração Pública) e
A noção de Estado de direito baseia‐se na regra de que, ao política (governo). No entanto, são funções distintas, com conceitos
mesmo tempo em que o Estado cria o direito, deve sujeitar‐se a ele. e objetivos bem definidos. Acerca de Administração Pública e go-
( ) CERTO verno, assinale a alternativa correta.
( ) ERRADO (A) Administração Pública e governo são considerados sinôni-
mos, visto que ambos têm como objetivo imediato a busca da
03. (CRO-GO - CRO-GO - Fiscal Regional - Quadrix – 2019) No satisfação do interesse coletivo.
que se refere ao Estado e a seus Poderes, julgue o item. (B) As ações de Administração Pública têm como objetivo a
Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário exercem suas res- satisfação do interesse público e são voltadas à execução das
pectivas funções com absoluta exclusividade. políticas públicas.
( ) CERTO (C) Administração Pública é a atividade responsável pela fixa-
( ) ERRADO ção dos objetivos do Estado, ou seja, nada mais é que o Estado
desempenhando sua função política.
(D) Governo é o conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídi-
cas de que o Estado dispõe para colocar em prática as políticas
públicas.
(E) A Administração pratica tanto atos de governo (políticos)
como atos de execução das políticas públicas.

256
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

07. (UFAL - Auxiliar em Administração – COPEVE-UFAL). O ter- (E) e de outras pessoas jurídicas com personalidade jurídica de
mo Administração Pública, em sentido estrito e objetivo, equivale direito público configura forma híbrida de organização admi-
(A) às funções típicas dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju- nistrativa.
diciário.
(B) à noção de governo. 13. (FITO – Advogado - VUNESP – 2020) De acordo com o orde-
(C) ao conceito de Estado. namento jurídico brasileiro, uma fundação pública
(D) ao conceito de função administrativa. (A) poderá celebrar parcerias com organizações da sociedade
(E) ao Poder Executivo. civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de
finalidades de interesse público e recíproco, mediante a exe-
08. (CESPE – INSS - Perito Médico Previdenciário – CESPE). cução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos
Acerca do direito administrativo, julgue os itens a seguir. em planos de trabalho inseridos em termos de colaboração,
Povo, território e governo soberano são elementos do Estado. em termos de fomento ou em acordos de cooperação.
() CERTO (B) poderá consorciar-se com outras fundações públicas que in-
() ERRADO tegrem a Administração indireta de outros entes da federação,
para estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive a
09. (JARU-PREVI - RO - Assistente Administrativo – IBA- realização de objetivos de interesse comum, passando a cons-
DE/2019) Com base nos três poderes do estado e nas suas funções, tituir consórcio público com personalidade jurídica de direito
afirma-se que ao: público.
(A) legislativo: cabe a ele criar leis em cada uma das três esferas (C) criada por lei, poderá representar a Administração direta
e fiscalizar e controlar os atos do poder executivo. na celebração de acordos de cooperação técnica com outros
(B) executivo: estabelece normas que regem a sociedade. órgãos ou entidades integrantes da Administração indireta dos
(C) judiciário: responsável pela regulação da administração dos demais entes federados, com a finalidade de expandir o alcan-
interesses públicos. ce das finalidades de interesse público que justificaram sua
(D) legislativo: poder exercido pelos secretários do Estado. criação.
(E) executivo: sua principal tarefa é a de controle de constitu- (D) cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa cien-
cionalidade. tífica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preserva-
ção do meio ambiente, à cultura e à saúde, serão qualificadas
10. (CONRERP 2ª Região - Assistente Administrativo - Qua- como organizações da sociedade civil de interesse público,
drix/2019) Quanto à Administração Pública, julgue o item. podendo celebrar contrato de gestão com dispensa de chama-
À Administração Pública é facultado fazer tudo o que a lei não mento público, com o poder público.
proíbe. (E) que tenha sido constituída e esteja em funcionamento regu-
( ) CERTO lar há, no mínimo, três anos, poderá qualificar-se como organi-
( ) ERRADO zação da sociedade civil de interesse público com fundamento
no princípio da universalização dos serviços de interesse públi-
11. (MPE-CE - Técnico Ministerial - CESPE – 2020) No que diz co que autorizaram sua criação.
respeito à administração pública direta, à administração pública in-
direta e aos agentes públicos, julgue o item que se segue. 14. (AL-AP - Assistente Legislativo - FCC – 2020) A amplitude
A administração pública indireta é composta por órgãos e agen- da Administração pública considera dois grupos de instituições, que
tes públicos que, no âmbito federal, constituem serviços integrados são classificados em Administração direta e indireta. Considera-se
na estrutura administrativa da presidência da República e dos mi- Administração Direta,
nistérios. (A) as Fundações públicas.
( ) CERTO (B) as Autarquias.
( ) ERRADO (C) as Empresas públicas.
(D) as Sociedades de Economia mista.
12. (AL-AP - Analista Legislativo - FCC – 2020) A organização (E) a Casa Civil.
administrativa pode implicar desconcentração e descentralização.
A criação de empresas estatais 15. (TRE-PA - Analista Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020)
(A) depende da edição de lei instituidora dos entes, da qual Assinale a alternativa que apresenta corretamente um conceito de
também deverão constar as competências próprias atribuídas Desconcentração Administrativa.
a essas pessoas jurídicas dotadas de personalidade jurídica de (A) Distribuição de competências de uma para outra pessoa,
direito privado ou de direito público. física ou jurídica
(B) difere da instituição de autarquias e fundações, pessoas (B) Distribuição interna de competências, ou seja, uma distri-
jurídicas que expressam a desconcentração da Administração buição de competências dentro da mesma pessoa jurídica
pública. (C) Distribuição de competências de uma pessoa jurídica inte-
(C) indica a desconcentração da organização administrativa, grante da Administração Pública para uma pessoa física
que se caracteriza pela criação de pessoas jurídicas com com- (D) Distribuição de competências de uma pessoa física inte-
petências próprias. grante da Administração Pública para uma pessoa jurídica
(D) é expressão da descentralização administrativa, que implica
a criação de pessoas jurídicas com atribuições previstas em lei
e em seus atos constitutivos.

257
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

16. (TRF - 1ª REGIÃO - Estagiário – Direito - COPESE – 19. (Prefeitura de Aracruz - ES – Contador - IBADE – 2019) Os
UFPI/2019) Considere o seguinte conceito. órgãos públicos representam compartimentos internos da pessoa
“Pessoa jurídica de direito privado composta por capital exclu- pública, podendo ser criados ou extintos por meio de lei. Já a es-
sivamente público, criada para a prestação de serviços públicos ou truturação e as atribuições dos órgãos podem ser processadas por:
exploração de atividades econômicas, sob qualquer modalidade (A) lei, apenas.
empresarial.” (B) lei em tese do Chefe do Judiciário.
MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, (C) decreto do Chefe do Executivo.
2016. (D) resolução legislativa.
Esse conceito aplica-se à: (E) ofício da Presidência da República.
(A) Empresa pública.
(B) Autarquia. 20. (IF Baiano - Assistente em Administração - IF-BA – 2019)
(C) Agência executiva. No que se refere à organização administrativa do Estado, assinale a
(D) Sociedade de economia mista. afirmativa incorreta.
(A) Compreende-se como Administração Pública Direta ou Cen-
17. (Prefeitura de Porto Alegre /RS - Auditor Fiscal da Receita tralizada aquela constituída a partir de um conjunto de órgãos
Municipal – FUNDATEC/2019) Acerca da administração pública in- públicos despersonalizados, através dos quais o Estado desem-
direta e do regime jurídico das empresas públicas e sociedades de penha diretamente a atividade administrativa.
economia mista, analise as seguintes assertivas: (B) Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
I. Empresa pública é a entidade com criação autorizada por lei e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de
com patrimônio próprio, cujo capital social é integralmente detido pelo economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar,
poder público, dotada de personalidade jurídica de direito público. neste último caso, definir as áreas de sua atuação.
II. A criação de subsidiárias de empresa pública e de sociedade (C) Compreende-se como Administração Pública Indireta ou
de economia mista independe de autorização legislativa. Descentralizada aquela constituída a partir de um conjunto de
III. Sociedade de economia mista é a entidade com criação au- entidades dotadas de personalidade jurídica própria, algumas
torizada por lei sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com de direito público, outras de direito privado, responsáveis pelo
direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos Estados, ao exercício, em caráter especializado e descentralizado, de certa
Distrito Federal, aos Municípios ou à entidade da administração in- e determinada atividade administrativa.
direta, dotada de personalidade jurídica de direito privado. (D) As empresas públicas e as sociedades de economia mista
Quais estão corretas? fazem parte da Administração Pública Direta.
(A) Apenas III. (E) As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, cria-
(B) Apenas I e II. das por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita
(C) Apenas I e III. próprios, para executar atividades típicas da Administração Pú-
(D) Apenas II e III. blica.

18. (SPPREV - Analista em Gestão Previdenciária - FCC – 2019) 21. (Prefeitura de São Roque - SP – Advogado - VUNESP –
As autarquias são pessoas jurídicas integrantes da Administração 2020) A respeito dos servidores públicos estatutários, assinale a
pública indireta, que podem ter receitas próprias e receber recur- alternativa correta.
sos orçamentários e financeiros do erário público. No caso de uma (A) O regime jurídico dos servidores estatutários não pode ser
autarquia auferir receitas próprias em montante suficiente para su- alterado de forma prejudicial aos agentes públicos que estejam
portar todas as despesas e investimentos do ente, no exercício da função pública.
(A) fica excepcionada a aplicação do regime jurídico de direito (B) Os ocupantes de empregos públicos não dispõem de estabi-
público durante o período em que perdurar a condição de pes- lidade no serviço público.
soa jurídica não dependente. (C) A estabilidade garante ao agente público a permanência no
(B) poderá realizar contratações efetivas sem a necessidade de serviço público, de modo que o vínculo somente poderá ser
prévio concurso público, diante da não incidência da regra para desconstituído por decisão judicial com trânsito em julgado.
os entes da Administração pública indireta que não sejam de- (D) É constitucional lei que propicie ao servidor investir-se em
pendentes. cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investi-
(C) permanece sujeita aos princípios e regras que regem a Ad- do, sem prévia aprovação em concurso público.
ministração pública, tais como a impenhorabilidade de seus (E) O candidato aprovado em concurso público dentro do nú-
bens, exigência de autorização legislativa para alienação de mero de vagas previstos no edital possui expectativa de direito
bens imóveis e realização de concurso público para admissão à nomeação.
de servidores, com exceção de comissionados.
(D) permanecerá obrigada à regra geral de licitação para firmar 22. (AL-AP - Assistente Legislativo - FCC – 2020) Ricardo Reis,
contratos administrativos, com exceção das hipóteses de alie- servidor público, foi acusado, em processo disciplinar, de haver
nação de bens imóveis, porque geram receita como resultado. subtraído da repartição um aparelho de ar condicionado, falta que
(E) ficará equiparada, em direitos e obrigações, às empresas ensejaria sua demissão a bem do serviço público. Em processo cri-
estatais não dependentes, que podem adquirir bens e serviços minal instaurado concomitantemente, o juiz absolveu Ricardo, con-
sem prévia realização de licitação, mas têm patrimônio sujeito cluindo que Bernardo Soares, pessoa totalmente estranha à reparti-
à penhorabilidade e prescritibilidade. ção, era o verdadeiro responsável pelo furto. Constatou-se, todavia,
que Ricardo Reis havia se ausentado da repartição sem acionar os

258
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

alarmes antifurto, providência de sua exclusiva responsabilidade. 26. (TRE-PA - Analista Judiciário – Administrativa - IBFC –
Tal comportamento não gerou punição na esfera criminal, por se 2020) Acerca do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da
tratar de conduta criminalmente atípica. União (Lei nº 8.112/1990), analise as afirmativas abaixo e dê valores
Diante do relato hipotético, conclui-se que Ricardo Reis Verdadeiro (V) ou Falso (F).
(A) será absolvido da conduta que lhe foi inicialmente imputa- ( ) Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são cria-
da, mas ainda poderá ser punido pela conduta omissiva, pois, dos por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos co-
embora considerada criminalmente atípica, pode configurar fres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão.
falta disciplinar residual. ( ) Os requisitos básicos para investidura em cargo público es-
(B) deve pedir a inclusão de Bernardo Soares no processo dis- tão contidos no artigo 5º e portanto, as atribuições do cargo não po-
ciplinar, na qualidade de corréu, de maneira a diminuir sua res- dem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos em lei.
ponsabilidade no incidente. ( ) O servidor estável só perderá o cargo em virtude de sentença
(C) não sofrerá punições em âmbito administrativo, visto que a judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disci-
decisão criminal é vinculante na esfera administrativa. plinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa.
(D) pode ser demitido pela subtração do equipamento, visto ( ) A posse em cargo público dependerá de prévia inspeção mé-
que as conclusões da decisão proferida na esfera criminal não dica oficial. Só poderá ser empossado aquele que for julgado apto
vinculam a Administração. física e mentalmente para o exercício do cargo.
(E) será indenizado pela injusta submissão a processo discipli- Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de
nar, o que é suficiente para configurar dano moral. cima para baixo.
(A) F, V, V, F
23. (CREFONO-5° Região - Assistente Administrativo - Quadrix (B) V, V, F, F
– 2020) Acerca da Administração Pública e dos servidores públicos, (C) F, V, F, V
julgue o item conforme o texto constitucional. (D) V, F, V, V
O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser readap-
tado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades 27. (UFRJ – Administrador - CESGRANRIO – 2019) O servidor
sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capa- público W foi demitido do serviço público, após processo adminis-
cidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição, des- trativo disciplinar. Inconformado, ele propôs ação judicial, buscan-
de que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para do o retorno ao serviço público, tendo obtido decisão favorável,
o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de origem. após dez anos de duração do processo.
( ) CERTO Nos termos da Lei no 8.112/1990, quando invalidada a demis-
( ) ERRADO são por decisão judicial, ocorre a denominada
(A) reinclusão
24. (CREFONO-5° Região - Assistente Administrativo - Quadrix (B) reintegração
– 2020) Acerca da Administração Pública e dos servidores públicos, (C) recondução
julgue o item conforme o texto constitucional. (D) revisão
A investidura em cargo ou emprego público independe de apro- (E) repristinação
vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, 28. (CRN - 2° Região (RS) - Assistente Administrativo - Quadrix
na forma prevista em lei, exceto para nomeações para cargo em – 2020) Texto associado.
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Considera‐se como agente público aquele que, mesmo que por
( ) CERTO período determinado e sem remuneração, exerce mandato, cargo,
( ) ERRADO emprego ou função pública.
Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo. Direito administrativo descom-
25. (TRE-PA - Analista Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020) plicado. 16.ª ed. 2008. p. 122.
O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercí- Com relação aos agentes públicos, julgue o item.
cio irregular de suas atribuições. Analise o texto abaixo e assinale Agentes políticos têm sua competência extraída da Constitui-
a alternativa que preencha correta e respectivamente as lacunas. ção Federal e normalmente são investidos em seus cargos por elei-
“A responsabilidade _____ abrange os crimes e contravenções ção, nomeação ou designação.
imputadas ao servidor, nessa qualidade.” “A responsabilidade _____ ( ) CERTO
decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resul- ( ) ERRADO
te em prejuízo ao erário ou a terceiros.” A responsabilidade _____
do servidor será afastada no caso de absolvição criminal que negue 29. CRN - 2° Região (RS) - Assistente Administrativo - Quadrix
a existência do fato ou sua autoria.” “As sanções civis, penais e ad- – 2020) Com relação aos agentes públicos, julgue o item.
ministrativas poderão cumular-se, sendo _____ entre si.” Agentes administrativos consistem naqueles agentes públicos
(A) penal / civil / administrativa / independentes que exercem funções de alta direção e orientação da Administração
(B) civil / administrativa / penal / independentes Pública e, por isso, possuem prerrogativas pessoais para garantir li-
(C) penal / administrativa / civil / dependentes berdade para suas tomadas de decisão.
(D) penal / civil / administrativa / dependentes ( ) CERTO
( ) ERRADO

259
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

30. (CREFONO - 1ª Região - Agente Fiscal - Quadrix – 2020) 34. (IF Baiano - Contador IF-BA -2019) A respeito dos pode-
Julgue o item no que se refere à Administração Pública. res administrativos da Administração Pública, assinale a alternativa
Os requisitos para acesso a cargos públicos mediante concurso correta.
devem estar claramente estabelecidos na lei e(ou) no edital. (A) O Poder Normativo ou regulamentar se traduz no poder
( ) CERTO conferido à Administração Pública de expedir atos administra-
( ) ERRADO tivos gerais e abstratos, com efeitos erga omnes, podendo, in-
clusive, inovar no ordenamento jurídico, criando e extinguindo
31. (Valiprev - SP - Analista de Benefícios Previdenciários VU- direitos e obrigações a todos os cidadãos.
NESP – 2020) É o de que dispõe a Administração para distribuir e (B) O Poder Hierárquico é característica que integra a estrutura
escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de das pessoas jurídicas da Administração Pública, sejam os entes
seus agentes estabelecendo a relação de subordinação entre os ser- da Administração Direta ou Indireta. Trata-se de atribuição con-
vidores de seu quadro de pessoal. Dele decorrem algumas prerro- cedida ao administrador para organizar, distribuir e escalonar
gativas: delegar e avocar atribuições, dar ordens, fiscalizar e rever as funções de seus órgãos.
atividades de órgãos inferiores. (C) O Poder Disciplinar é a atribuição de aplicar sanções àque-
É correto afirmar que o texto do enunciado se refere ao poder les que estejam sujeitos à disciplina do ente estatal. Podem ser
(A) disciplinar. aplicadas sanções aos particulares, mesmo não possuindo vín-
(B) hierárquico. culo.
(C) de delegação. (D) O Poder de Polícia, segundo doutrina majoritária, não é ad-
(D) regulamentar. mitido no ordenamento jurídico brasileiro, por ferir o Estado
(E) de polícia. Democrático de Direito.
(E) O Poder Discricionário se verifica quando a lei cria um ato
32. (MPE-CE - Técnico Ministerial - CESPE – 2020) Cada um do administrativo estabelecendo todos os elementos de forma ob-
item a seguir apresenta uma situação hipotética seguida de uma jetiva, sem que a autoridade pública possa valorar acerca da
assertiva a ser julgada, acerca dos poderes administrativos. conduta exigida legalmente.
O corpo de bombeiros de determinada cidade, em busca da
garantia de máximo benefício da coletividade, interditou uma esco- 35. (SEAP-GO - Agente de Segurança Prisional - IADES/2019)
la privada, por falta de condições adequadas para a evacuação em C. L. V., agente de segurança prisional, estava realizando sua ronda
caso de incêndio. Nesse caso, a atuação do corpo de bombeiros de- habitual durante o respectivo turno, quando observou que dois de-
corre imediatamente do poder disciplinar, ainda que o proprietário tentos – R. M. V. e J. O. M. – estavam em vias de fato no momento
da escola tenha direito ao prédio e a exercer o seu trabalho. do “banho de sol”. Ao tentar separá-los, utilizou-se de força des-
( ) CERTO proporcional, amarrando os dois detentos com uma corda, a qual
( ) ERRADO causou lesões contusas em ambos os detentos. Essa situação hipo-
tética representa caso de
33. (SPPREV - Técnico em Gestão Previdenciária - FCC – 2019) (A) desvio de poder.
Um agente público, em regular diligência de fiscalização a es- (B) desvio de finalidade.
tabelecimentos de ensino, constatou potencial irregularidade no (C) estrito cumprimento do dever legal.
procedimento de matrícula de determinado nível de escolaridade (D) excesso de poder.
e determinou a interdição do estabelecimento. Considerando os (E) abuso de direito.
fatos descritos, uma das possíveis conclusões para a atuação do
agente público é 36. (CFESS - Assistente Técnico Administrativo - CONSUL-
(A) atuação com excesso de poder disciplinar, pois este somen- PLAN/2017) Quando a Administração Pública aplica penalidade de
te incide na esfera hierárquica do quadro de servidores de ór- cassação da carteira de motorista ao particular que descumpre as
gão da Administração direta ou pessoa jurídica integrante da regras de direção de veículos configura-se o exercício do poder
Administração indireta. (A) de polícia.
(B) a regularidade da conduta, considerando o princípio da su- (B) disciplinar.
premacia do interesse público, cabendo ao responsável pelo (C) ordinatório.
estabelecimento regularizar o procedimento apontado e, após, (D) regulamentar
pleitear a reabertura da unidade de ensino.
(C) a viabilidade jurídica da conduta, considerando que será 37. (PC/SE - Delegado de Polícia – CESPE/2018) Acerca do po-
oportunizado contraditório e ampla defesa ao responsável pela der de polícia — poder conferido à administração pública para im-
escola, com possibilidade de reposição das aulas no caso de por limites ao exercício de direitos e de atividades individuais em
procedência de suas alegações. função do interesse público —, julgue o próximo item.
(D) ter agido com abuso de poder no exercício do poder de po- O poder de polícia é indelegável.
lícia inerente à sua atuação, não se mostrando razoável a me- ( ) CERTO
dida adotada, que prejudicou o cronograma de aulas de todos ( ) ERRADO
os alunos da instituição.
(E) que o poder regulamentar confere ao representante da Ad-
ministração pública o poder de baixar atos normativos dotados
de autoexecutoriedade, protegendo o direito à educação em
detrimento do direito individual dos alunos.

260
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

38. (PC/AC - Escrivão de Polícia Civil - IBADE/2017) Conside- 41. (Valiprev - SP - Analista de Benefícios Previdenciários - VU-
rando os Poderes e Deveres da Administração Pública e dos admi- NESP/2020) É correto afirmar que o ato administrativo do Analista
nistradores públicos, é correta a seguinte afirmação: de Benefícios Previdenciários é dotado de
(A) O dever-poder normativo viabiliza que o Chefe do Poder (A) autoexecutoriedade, ante a inevitabilidade de sua execu-
Executivo expeça regulamentos para a fiel execução de leis. ção, porquanto reúne sempre poder de coercibilidade para
(B) O dever-poder de polícia, também denominado de dever- aqueles a que se destina, havendo a possibilidade de ser revo-
-poder disciplinar ou dever-poder da supremacia da admi- gado pela própria Administração e pelo Poder Judiciário, quan-
nistração perante os súditos, é a atividade da administração do sua manutenção deixar de ser conveniente e oportuna.
pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou li- (B) imperatividade, ante a inevitabilidade de sua execução, por-
berdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão quanto reúne sempre poder de coercibilidade para aqueles a
de interesse público concernente à segurança, à higiene, à or- que se destina, havendo a possibilidade de ser revogado pela
dem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao própria Administração quando sua manutenção deixar de ser
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão conveniente e oportuna.
ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao (C) presunção de legitimidade, de legalidade e veracidade, por-
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. que se presume legal a atividade administrativa, por conta da
(C) Verificado que um agente público integrante da estrutura inteira submissão ao princípio da legalidade, havendo a pos-
organizacional da Administração Pública praticou uma infração sibilidade de ser revogado pela própria Administração e pelo
funcional, o dever-poder de polícia autoriza que seu superior Poder Judiciário, quando sua manutenção deixar de ser conve-
hierárquico aplique as sanções previstas para aquele agente. niente e oportuna.
(D) O dever-poder de polícia pressupõe uma prévia relação en- (D) imperatividade, uma vez que será executado, quando ne-
tre a Administração Pública e o administrado. Esta é a razão cessário e possível, ainda que sem o consentimento do seu des-
pela qual este dever-poder possui por fundamento a suprema- tinatário, havendo a possibilidade de ser revogado pelo Poder
cia especial. Judiciário, em razão de sua eventual ilegalidade.
(E) A possibilidade do chefe de um órgão público emitir ordens (E) presunção de legitimidade, de legalidade e veracidade, por-
e punir servidores que desrespeitem o ordenamento jurídico que se presume legal a atividade administrativa, por conta da
não possui arrimo no dever-poder de polícia, mas sim no de- inteira submissão ao princípio da legalidade, havendo a possi-
ver-poder normativo. bilidade de ser revogado pelo Poder Judiciário, em razão de sua
eventual ilegalidade.
39. (MPE/RN -Técnico do Ministério Público Estadual - COM-
PERVE/2017) Os poderes inerentes à Administração Pública são 42. (EBSERH - Assistente Administrativo - VUNESP/2020) O
necessários para que ela sobreponha a vontade da lei à vontade revestimento exteriorizador do ato administrativo normal é a es-
individual, o interesse público ao privado. Nessa perspectiva, crita, embora existam atos consubstanciados em ordens verbais e
(A) no exercício do poder disciplinar, são apuradas infrações até mesmo em sinais convencionais. Esse requisito do ato é deno-
e aplicadas penalidades aos servidores públicos sempre por minado
meio de procedimento em que sejam asseguradas a ampla de- (A) objeto.
fesa e o contraditório. (B) motivo.
(B) no exercício do poder normativo, são editados decretos re- (C) forma.
gulamentares estabelecendo normas ultra legem, inovando na (D) mérito.
ordem jurídica para criar direitos e obrigações. (E) finalidade.
(C) o poder de polícia, apesar de possuir o atributo da coerci-
bilidade, carece do atributo da autoexecutoriedade, de modo 43. (CRN - 2° Região - Assistente Administrativo - Quadrix –
que a Administração Pública deve sempre recorrer ao judiciário 2020) Atos administrativos são atos jurídicos que constituem mani-
para executar suas decisões. festações unilaterais de vontade. A respeito dos atos administrati-
(D) o poder conferido à Administração Pública é uma faculdade vos, julgue o item.
que a Constituição e a lei colocam à disposição do administra- A Administração pode anular seus próprios atos quando eiva-
dor, que o exercerá de acordo com sua livre convicção. dos de vícios que os tornem ilegais ou revogá‐los, por motivo de
conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e
40. (ANS - Técnico em Regulação de Saúde Suplementar - FUN- ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
CAB/2016) No tocante aos poderes administrativos pode-se afirmar ( ) CERTO
que a delegação e avocação decorrem do poder: ( ) ERRADO
(A) hierárquico.
(B) discricionário. 44. (MPE-CE - Promotor de Justiça de Entrância Inicial – CES-
(C) disciplinar. PE/2020) Com o fim de assegurar a adequação na prestação do ser-
(D) regulamentar. viço e o fiel cumprimento das normas previstas em contrato de con-
(E) de polícia. cessão de serviço público, o poder público concedente, mesmo sem
autorização judicial, interveio na concessão por meio de resolução
que previu a designação de interventor, o prazo da intervenção e os
objetivos e limites da medida interventiva.
Nessa situação hipotética, o ato administrativo de intervenção
encontra-se eivado de vício quanto

261
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

(A) ao objeto. 48. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2017). Sobre


(B) ao motivo. a revogação dos atos administrativos, assinale a alternativa INCOR-
(C) à finalidade. RETA.
(D) à competência. (A) Nem todos os atos administrativos podem ser revogados.
(E) à forma. (B) A revogação de ato administrativo é realizada, ordinaria-
mente, pelo Poder Judiciário, cabendo-lhe ainda examinar os
45. (TJ-PA - Auxiliar Judiciário - CESPE – 2020) A propriedade aspectos de validade do ato revogador.
da administração de, por meios próprios, pôr em execução suas de- (C) Considerando que a revogação atinge um ato que foi pra-
cisões decorre do atributo denominado ticado em conformidade com a lei, seus efeitos são ex nunc.
(A) exigibilidade. (D) Pode a Administração Pública se arrepender da revogação
(B) autoexecutoriedade. de determinado ato.
(C) vinculação. (E) O fundamento jurídico da revogação reside no poder discri-
(D) discricionariedade. cionário da Administração Pública
(E) E medidas preventivas.
49. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2017). Assina-
46. (UEPA - Técnico de Nível Superior – Administração – FA- le a alternativa CORRETA sobre os atos administrativos.
DESP/2020) Um ato administrativo é o ato jurídico praticado, se- (A) Atos individuais, também chamados de normativos, são
gundo o Direito Administrativo, pelas pessoas administrativas, ou a aqueles que se voltam para a regulação de situações jurídicas
Administração Pública, por intermédio de seus agentes, no exercício concretas, com destinatários individualizados, como instruções
de suas competências funcionais, capaz de produzir efeitos com fim normativas e regulamentos.
público. Os atos administrativos podem ser invalidados pela própria (B) Em razão do formalismo que o caracteriza, o ato administra-
Administração Pública ou pelo Poder Judiciário. O ato administrati- tivo deve sempre ser escrito, sendo juridicamente insubsisten-
vo pode vir a ser invalidado, quando o agente público tes comandos administrativos verbais.
(A) foi empossado recentemente em cargo que lhe atribuiu a (C) Aprovação é o ato unilateral e vinculado pelo qual a Ad-
competência para o ato administrativo. ministração Pública reconhece a legalidade de um ato jurídico.
(B) praticou ato administrativo de modo a melhorar o ambiente (D) Tanto os atos vinculados como os atos discricionários po-
organizacional de que faz parte, sem que, seja considerado um dem ser objeto de controle pelo Poder Judiciário.
ato com fim público. (E) Os provimentos são exclusivos dos órgãos colegiados, ser-
(C) praticou ato administrativo motivado por fatores apresenta- vindo especificamente para demonstrar sua organização e seu
dos por terceiros que correspondem à realidade e foram apre- funcionamento.
sentados formalmente.
(D) praticou ato administrativo formalmente, para contraste 50. (CONFERE - Assistente Administrativo VII - INSTITUTO CI-
com a lei e aferido, pela própria Administração ou pelo Judiciá- DADES/2016). A anulação do ato administrativo:
rio, que foi considerado estranho às vontades do gestor máxi- (A) Pode ser decretada à revelia pelo administrador público.
mo da instituição pública. (B) Pode ser decretada somente pelo poder judiciário, desde
que exista base legal para isso.
47. (SPPREV - Técnico em Gestão Previdenciária – FCC/2019) A (C) Pode ser decretada tanto pelo poder judiciário como pela
edição de um ato administrativo de natureza vinculada acarreta ou administração pública competente.
pressupõe, para a Administração pública, o dever (D) Não pode ser decretada em hipótese alguma, pois o ato
(A) de ter observado o preenchimento dos requisitos legais administrativo tem força de lei.
para a edição, tendo em vista que nos atos vinculados a legis-
lação indica os elementos constitutivos do direito à prática do 51.(TRE-PA - Técnico Judiciário – Administrativa - IBFC – 2020)
ato. O controle administrativo pode ser conceituado como “o conjun-
(B) subjetivo de emissão do mesmo, este que, em razão da na- to de instrumentos definidos pelo ordenamento jurídico a fim de
tureza, não admite anulação ou revogação. permitir a fiscalização da atuação estatal por órgãos e entidades da
(C) de observar as opções legalmente disponíveis para decisão própria Administração Pública, dos Poderes Legislativos e Judiciário,
do administrador, que deverá fundamentá-la em razão de con- assim como pelo povo”. Nesse sentido, analise as afirmativas abaixo
veniência e interesse público. e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
(D) do administrado destinatário do ato exercer o direito que ( ) O Brasil adota o sistema de jurisdição única quanto ao con-
lhe fora concedido, tendo em vista que os atos administrativos trole da Administração Pública, razão pela qual não é possível a pro-
são vinculantes para os particulares, que não têm opção de não vocação do Poder Judiciário para análise de controvérsias antes do
realizar o objeto ou finalidade do mesmo. esgotamento das instâncias administrativas.
(E) de submeter o ato ao controle externo do Tribunal de Con- ( ) O controle administrativo decorre do poder de autotutela
tas competente e do Poder Judiciário, sob o prisma da legalida- conferido à Administração Pública que deve efetivar a fiscalização
de, conveniência e oportunidade. e revisão de seus atos, mediante provocação ou de ofício, com a
finalidade de verificar os aspectos de ilegalidade ou inconveniência
do ato.

262
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

( ) O controle legislativo, realizado no âmbito do parlamento e 55. (TCE-RO - Auditor de Controle Externo - CESPE – 2019) A
dos órgãos auxiliares do Poder Legislativo, inclui o controle político competência para o julgamento das contas do chefe do Executivo
sobre o próprio exercício da função administrativa e o controle fi- é do:
nanceiro sobre a gestão dos gastos públicos dos três poderes. (A) Poder Legislativo, que deve ser precedido de parecer vincu-
( ) A ação popular é considerada pela doutrina como remédio lativo emitido pelo tribunal de contas.
constitucional que pode ser utilizado por pessoas físicas ou jurídicas (B) Poder Judiciário, que deve ser precedido de parecer prévio
para provocar o controle judicial, visando a anulação de ato lesivo e vinculativo do tribunal de contas.
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à (C) Poder Legislativo, que deve ser precedido de parecer prévio
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio his- e apenas opinativo emitido pelo tribunal de contas.
tórico e cultural. (D) Poder Judiciário, que deve ser precedido de parecer prévio
Assinale a alternativa que representa a sequência correta de e apenas opinativo emitido pelo tribunal de contas.
cima para baixo: (E) Tribunal de Contas da União (TCU), exclusivamente.
(A) V, F, V, F
(B) V, V, V, F 56. (MPE-CE - Técnico Ministerial – CESPE/2020) Acerca da
(C) F, V, V, F responsabilidade civil do Estado e de improbidade administrativa,
(D) F, F, F, V julgue o item seguinte.
A responsabilidade civil da pessoa jurídica de direito público
52. (TJ-PA - Oficial de Justiça Avaliador - CESPE – 2020) Acerca pelos atos causados por seus agentes é objetiva, enquanto a res-
do controle da administração pública, julgue os itens a seguir. ponsabilidade civil dos agentes públicos é subjetiva.
I Em nenhuma hipótese é possível a revogação, pelo Poder Ju- ( ) CERTO
diciário, de atos praticados pelo Poder Executivo. ( ) ERRADO
II A reclamação para anulação de ato administrativo em des-
conformidade com súmula vinculante é uma modalidade de contro- 57. (TRE-PA - Técnico Judiciário – Administrativa – IBFC/2020)
le externo da atividade administrativa. A responsabilidade civil do Estado brasileiro pelos danos causados
III Nenhuma lei pode criar uma modalidade inovadora de con- a terceiros encontra-se disciplinada no artigo 37, parágrafo 6º, da
trole externo não prevista constitucionalmente. Constituição Federal de 1988 (CF/88). Sobre o tema, assinale a al-
Assinale a opção correta. ternativa correta.
(A) Apenas o item I está certo. (A) Segundo a teoria do risco integral, o ente público deve ser
(B) Apenas o item II está certo. responsabilizado objetivamente pelos danos que seus agentes
(C) Apenas os itens I e III estão certos. causarem a terceiros, sendo, contudo, admitida a exclusão da
(D) Apenas os itens II e III estão certos. responsabilidade em determinadas situações, tais como culpa
(E) Todos os itens estão certos. exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior, h aja vista ser
o Estado garantidor universal de seus subordinados
53. (UEPA - Técnico de Nível Superior – Administração - FA-
DESP – 2020) O controle da administração pública é realizado por (B) A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito pú-
meio de um conjunto de mecanismos que permitem a vigilância, a blico e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de
orientação e a correção da atuação administrativa. Esse controle serviços públicos não depende da comprovação de elementos
pode ser classificado como interno ou externo. É considerado um subjetivos ou da ilicitude do ato
tipo de controle interno (C) A Constituição Federal de 1988 admite ação de regresso do
(A) análises do Tribunal de Contas da União – TCU. Estado em face do agente público que, nessa qualidade, causar
(B) apuração de irregularidades em Comissão Parlamentar de danos a terceiros, cujo direito ao ressarcimento será aferido
Inquérito – CPI. por meio da responsabilidade objetiva do agressor
(C) controle administrativo por autotutela. (D) As empresas públicas e sociedades de economia mista, en-
(D) controle judicial mediante provocação. quanto exploradoras de atividade econômica, estão submeti-
das aos ditames da responsabilidade objetiva prevista no artigo
54. (DPE-AM - Assistente Técnico de Defensoria - FCC - 2019) 37, parágrafo 6º, da CF/88, uma vez que gozam das prerrogati-
Determinado órgão da Administração Estadual está sofrendo um vas e sujeições inerentes ao regime jurídico administrativo
processo de tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas do
Estado. Nesse caso, a tomada de contas é uma manifestação de 58. (TJ-PA - Analista Judiciário - Área Administração – CES-
controle PE/2020) Acerca da responsabilidade civil do Estado, assinale a op-
(A) prévio. ção correta.
(B) interno. (A) É vedado ao Estado realizar pagamento administrativo de-
(C) jurisdicional. dano causado a terceiro, devendo aguardar eventual condena-
(D) político. ção em ação judicial para proceder ao pagamento mediante
(E) externo. precatório.
(B) O Estado não deve indenizar prejuízos oriundos de altera-
ção de política econômico-tributária caso não se tenha com-
prometido previamente por meio de planejamento específico.

263
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

(C) A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso 62. (IF Baiano – Contador - IF-BA/2019) Em relação à responsa-
público gera direito a indenização caso se comprove cabalmen- bilidade civil do Estado, assinale a alternativa correta.
te erro da administração pública. (A) A responsabilidade civil do Estado prevista no art. 37, §6º
(D) A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito pri- da CF/88 é subjetiva.
vado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a (B) A teoria do risco administrativo não admite excludente da
terceiros usuários, mas subsidiária para não usuários. responsabilidade.
(E) O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos emprega- (C) O Brasil adotou como regra geral a teoria do risco integral.
dos de empresa terceirizada não gera responsabilidade solidá- (D) O Brasil adotou como regra geral a teoria do risco adminis-
ria do poder público, mas tão somente subsidiária. trativo.
(E) Não se admite a responsabilidade por omissão do Estado,
59. (UEPA - Técnico de Nível Superior – Administração – FA- segundo a doutrina majoritária e a jurisprudência consolidada
DESP/2020) A responsabilidade civil do Estado é decorrente de dos Tribunais Superiores.
ação ou omissão estatal lícita ou ilícita que cause dano a alguém.
São considerados excludentes de responsabilização civil do Estado 63. (CRO-GO - Fiscal Regional - Quadrix – 2019) Com relação à
(A) força maior e caso fortuito. responsabilidade civil do Estado, julgue o item.
(B) culpa exclusiva da vítima e danos exclusivamente morais. Para a teoria da responsabilidade objetiva, a responsabilização
(C) dano não intencional e culpa exclusiva de terceiros. do Estado prescinde da demonstração de culpa quanto ao fato da-
(D) força maior e culpa de agentes públicos terceirizados. noso, bastando que esteja presente a relação causal entre o fato e
o dano.
60. (Prefeitura de Contagem - MG - Procurador Municipal – ( ) CERTO
FUNDEP/ 2019) Analise a situação a seguir. ( ) ERRADO
Dirigindo a serviço um veículo oficial, um motorista servidor
público municipal colide em um carro particular, ocasionando estra- 64. (CRO-GO - Assistente Administrativo - Quadrix – 2019)
gos em ambos os carros, sem que haja vítimas. Com relação à responsabilidade civil do Estado, julgue o item.
Nessa situação hipotética, analisando a responsabilidade civil É objetiva a responsabilidade das fundações públicas de natu-
do estado em relação ao particular, é correto afirmar: reza autárquica.
(A) Não se aplica a responsabilidade objetiva prevista no art. ( ) CERTO
37, §6º, da Constituição da República, pois o dano não foi cau- ( ) ERRADO
sado por um ato administrativo, mas sim por um fato.
(B) A responsabilidade é subjetiva e recai sobre o servidor pú- 65 (TRF - 3ª REGIÃO - Técnico Judiciário – Administrativa - FCC
blico motorista, que agiu com imprudência e imperícia no de- – 2019) Julio exerce cargo público efetivo de motorista em uma
sempenho da função. autarquia federal e, durante o exercício funcional, envolveu-se em
(C) O município responde de maneira objetiva pelo prejuízo de- acidente que causou danos patrimoniais a terceiros. Nesse caso, no
corrente da colisão, sofrido pelo particular podendo cobrar do tocante ao regime de responsabilidade civil, o referido servidor
servidor o valor desembolsado em ação de regresso. (A) responderá de forma objetiva e solidária com a autarquia.
(D) Aplica-se a teoria do risco administrativo, pois o servidor (B) não responderá em hipótese alguma, pois se trata de hipó-
condutor do veículo estava dirigindo a serviço e não pode ser tese de responsabilidade integral da União.
responsabilizado pelo exercício de suas funções. (C) responderá de forma subjetiva apenas se incluído no polo
passivo da ação pelo terceiro afetado.
61. (METRÔ-SP - Analista Desenvolvimento Gestão Júnior - (D) responderá de forma objetiva e subsidiária em relação à
FCC – 2019) Considere a seguinte situação. autarquia.
Em uma determinada metrópole, há duas linhas de trem me- (E) responderá de forma subjetiva e por meio de ação regres-
tropolitano: uma é operada por uma empresa privada, mediante siva.
regime contratual de concessão, e o sistema de condução dos trens
é totalmente automatizado, sem maquinistas ou operadores ma-
nuais; na outra linha, gerida por empresa estatal, os trens são con-
GABARITO
duzidos por maquinistas.
Em caso de ocorrência de acidentes envolvendo usuários em 1 D
cada uma dessas linhas, é correto concluir que será aplicado o regi-
me de responsabilidade 2 CERTO
(A) subjetivo, em ambas as situações. 3 ERRADO
(B) objetivo, em ambas as situações.
4 B
(C) subjetivo na linha gerida pela concessionária e objetivo na
linha gerida pela empresa estatal. 5 A
(D) objetivo na linha gerida pela concessionária e subjetivo na 6 B
linha gerida pela empresa estatal.
(E) integral, em ambas as situações. 7 D
8 CERTO
9 A

264
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

10 ERRADO 52 E
11 ERRADO 53 C
12 D 54 E
13 A 55 C
14 E 56 CERTO
15 B 57 B
16 A 58 B
17 A 59 A
18 C 60 C
19 C 61 B
20 D 62 D
21 B 63 CERTO
22 A 64 CERTO
23 CERTO 65 E
24 ERRADO
25 A ANOTAÇÕES
26 D
27 B ______________________________________________________
28 CERTO
______________________________________________________
29 ERRADO
______________________________________________________
30 ERRADO
31 B ______________________________________________________
32 ERRADO ______________________________________________________
33 D
______________________________________________________
34 B
35 D ______________________________________________________
36 A ______________________________________________________
37 ERRADO
______________________________________________________
38 A
______________________________________________________
39 A
40 A ______________________________________________________
41 B ______________________________________________________
42 C
______________________________________________________
43 CERTO
44 E ______________________________________________________

45 B ______________________________________________________
46 B
______________________________________________________
47 A
______________________________________________________
48 B
49 D ______________________________________________________
50 C ______________________________________________________
51 C

265
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

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266
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

População e amostra
ESTATÍSTICA DESCRITIVA, GRÁFICOS E TABELAS DE
FREQUÊNCIAS RELATIVAS SIMPLES E ACUMULADAS.
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE INFORMAÇÕES
EXPRESSAS EM GRÁFICOS E TABELAS

— Estatística Descritiva
O objetivo estatístico descritivo é sintetizar as principais
características de um conjunto de dados usando tabelas, gráficos e
resumos numéricos.
As estatísticas estão se tornando uma importante ferramenta
de apoio à decisão todos os dias. Resumindo: É um conjunto de
métodos e técnicos que ajudam a tomar decisões em meio à – População: conjunto de todas as unidades sobre as quais há
incerteza. o interesse de investigar uma ou mais características.

Estatística descritiva (Dedutiva) Variáveis e suas classificações


O objetivo da Estatística Descritiva é resumir as principais – Qualitativas: quando seus valores são expressos por
características de um conjunto de dados por meio de tabelas, atributos: sexo (masculino ou feminino), cor da pele, entre outros.
gráficos e resumos numéricos. Fazemos uso de: Dizemos que estamos qualificando.
– Tabelas de frequência: ao dispor de uma lista volumosa de – Quantitativas: quando seus valores são expressos em
dados, as tabelas de frequência servem para agrupar informações números (salários dos operários, idade dos alunos, etc). Uma
de modo que estas possam ser analisadas. As tabelas podem ser de variável quantitativa que pode assumir qualquer valor entre dois
frequência simples ou de frequência em faixa de valores. limites recebe o nome de variável contínua; e uma variável que
– Gráficos: o objetivo da representação gráfica é dirigir a só pode assumir valores pertencentes a um conjunto enumerável
atenção do analista para alguns aspectos de um conjunto de dados. recebe o nome de variável discreta.
Alguns exemplos de gráficos são: diagrama de barras, diagrama em
setores, histograma, boxplot, ramo-e-folhas, diagrama de dispersão, Fases do método estatístico
gráfico sequencial. – Coleta de dados: A coleta pode ser direta e indireta.
– Resumos numéricos: por meio de medidas ou resumos – Crítica dos dados: Uma vez recebidos, os dados devem ser
numéricos podemos levantar importantes informações sobre o verificados cuidadosamente, procurando possíveis enganos e
conjunto de dados tais como: a tendência central, variabilidade, imperfeições, para não cometer enganos grosseiros ou grandes que
simetria, valores extremos, valores discrepantes, etc. possam afetar significativamente os resultados. A crítica pode ser
externa e interna.
Estatística inferencial (Indutiva) – Apuração dos dados: soma e processamento dos dados
Usar informações incompletas para tomar decisões e tirar obtidos e a disposição mediante critérios de classificação, que pode
conclusões satisfatórias. A base do método estatístico lógico é o ser manual, eletromecânica ou eletrônica.
cálculo de probabilidades. Usamos: – Exposição ou apresentação de dados: os dados devem ser
– Estimação: a técnica consiste em utilizar um conjunto de apresentados sob forma adequada (tabelas ou gráficos), isso torna
dados incompletos, ao qual iremos chamar de amostra, e nele mais fácil o exame daquilo que está sendo objeto de tratamento
calcular estimativas de quantidades de interesse. Estas estimativas estatístico.
podem ser pontuais (representadas por um único valor) ou – Análise dos resultados: realizadas anteriores (Estatística
intervalares. Descritiva), fazemos uma análise dos resultados obtidos, através
– Teste de Hipóteses: o fundamento é levantar suposições dos métodos da Estatística Indutiva ou Inferencial, que tem por base
acerca de uma quantidade não conhecida e utilizar, também, dados a indução ou inferência, e tiramos desses resultados conclusões e
incompletos para criar uma regra de escolha. previsões.

Censo
Avaliação direta de um parâmetro, utilizando-se todos os
componentes da população.

265
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Principais propriedades:
– Admite erros processual zero e tem 100% de confiabilidade;
– É caro;
– É lento;
– É quase sempre desatualizado (visto que se realizam em períodos de anos 10 em 10 anos);
– Nem sempre é viável.

– Dados brutos: é uma sequência de valores numéricos não organizados, obtidos diretamente da observação de um fenômeno
coletivo.
– Rol: é uma sequência ordenada dos dados brutos.

Tabelas de frequência
Podemos agrupar os valores de variáveis quantitativas ou qualitativas a partir de dados brutos e criar tabelas de frequências. As
tabelas de frequência podem ser simples ou por faixas de valores, dependendo da classificação da variável.

• Tabela de frequência simples


São adequadas para resumir observações de uma variável qualitativa ou quantitativa discreta, desde que esta apresente um conjunto
pequeno de diferentes valores.
Exemplo:

• Tabelas de frequências em faixas de valores


Para agrupar dados de uma variável quantitativa contínua ou até mesmo uma variável quantitativa discreta com muitos valores
diferentes, a tabela de frequências simples não é mais um método de resumo, pois corremos o risco de praticamente reproduzir os dados
brutos.
Utilizando este procedimento, devemos tomar cuidado pois ao contrário da tabela de frequência simples, não é mais possível
reproduzir a lista de dados a partir da organização tabular. Em outras palavras, estamos perdendo informação ao condensá-las.
Exemplo:

266
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Podemos achar esses valores através do uso das seguintes


informações:

– Determinar a quantidade de classes(k)

Organizando-os de modo que a consulta a eles seja simplificada.


Depois, faremos a distribuição de frequência destas notas, por meio
da contagem de dados, que podemos chamar de frequência de
dados absolutos.

– Calcular a amplitude das classes(h):


**Calcule a amplitude do conjunto de dados: L = xmáx–xmín
**Calcule a amplitude (largura) da classe: h = L / k
Arredonde convenientemente
- Calcular os Limites das Classes

– Limite das classes


Utilizamos a notação: [x,y) –intervalo de entre x (fechado) até
y (aberto) A forma como organizamos os dados é conhecida como
Frequentemente temos que “arredondar “a amplitude das distribuição de frequência, e o número de vezes que um dado
classes e, consequentemente, arredondar também os limites das aparece é chamado de frequência absoluta. O somatório SEMPRE é
classes. Como sugestão, podemos tentar, se possível, um ajuste a quantidade de dados apresentados, que neste é 25.
simétrico nos limites das classes das pontas nas quais, usualmente,
a quantidade de dados é menor.

– Ponto médio das classes


xk= (Lsuperior–Linferior) / 2

— Distribuição de Frequência

Frequência absoluta e Histograma1


Utilizamos quando trabalhamos com um grande quantitativo
de dados, e assim passamos a trabalhar com os dados agrupados.
Então fazemos uso das tabelas de distribuição de frequência, entre
outros recursos que facilitarão a compreensão dos dados.
O termo “frequência” indica o número de vezes que um dado
aparece numa observação estatística. Exemplo:
Um professor organizou os resultados obtidos em uma prova
com 25 alunos da seguinte forma:

Geralmente são ordenados os números do menor para o maior,


divididos em grupos de tamanho razoável e, depois, são colocados
em gráficos para que se examine sua forma, ou distribuição. Este
gráfico é chamado de Histograma. Um histograma é um gráfico de
colunas juntas. Em um histograma não existem espaços entre as
colunas adjacentes, como ocorre em um gráfico de colunas. No
exemplo, a escala horizontal (→) representa as notas e a escala
1 Associação Educacional Dom Bosco - Estatística e probabilidade -
vertical (↑) as frequências. Os gráficos são a melhor forma de
Uanderson Rebula de Oliveira
apresentação dos dados.

267
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Trabalhamos não somente com frequência absoluta (f), mas


também com outros tipos de frequências: frequência relativa (fr),
frequência absoluta acumulada (Fa) e frequência relativa cumulada
(FRa).

Frequência Relativa fr (%)


Representamos por fr(%), e significa a relação existente entre a
frequência absoluta f e a soma das frequências ∑f. É a porcentagem
(%) do número de vezes que cada dado aparece em relação ao total.

Observe que os valores ao lado, deverão coincidir.

Agrupamento em Classes
Em uma distribuição de frequência, ao trabalhar com grandes
conjuntos de dados e com valores dispersos, podemos agrupá-los em
Frequência Absoluta Acumulada Fa classes. Isso torna mais fácil entender os dados e visualizá-los melhor.
Representado por Fa, representa a soma das frequências Se o conjunto de dados for muito disperso, agrupar-se os
absolutas até o elemento analisado. dados criando uma escala de frequência é a melhor representação.
Ocorrência contrário, a tabela será muito longa.

Exemplo: Um radar instalado em uma rodovia registrou a


velocidade (em Km/h) de 40 veículos.

Frequência Relativa Acumulada FRa (%)


Representado por FRa (%), representa a soma das frequências
relativas fr(%) até o elemento analisado.

268
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Montando a tabela de distribuição de frequência temos:

A distribuição de frequências que obtemos a partir desses dados é dada uma tabela razoavelmente extensa. E por este motivo usamos
a distribuição de frequência com classes, para que possamos trabalhar com uma tabela menor.

Criando uma distribuição de frequência com classes


Pegando os dados anteriores teremos:
– Calcular a quantidade de classes (i), pela raiz da quantidade de dados. São 40 veículos. Então:

√40 = 6,3 ≈ i = 6 classes.

– Calcular a amplitude de classe (h) que é o tamanho da classe, sendo:

O maior valor (128) e o Menor valor (70) são obtidos da lista dos registros das velocidades dos 40 veículos.
– Montar as classes a partir do Menor valor (70), somando com a amplitude de classe (10) até que se chegue na 6ª classe, assim:

269
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Teremos então os dados distribuídos da seguinte forma:

Tipos de intervalos de classe

Faz-se uso no Brasil da seguinte notação de intervalo ├ (Resolução 866/66 do IBGE). Já na literatura estrangeira utiliza‐se comumente
com intervalo fechado.

Conceitos que não podem ser esquecidos


– Limites de classe: valores extremos de cada classe. No exemplo 70 ├ 80, temos que o limite inferior é 70 e o limite superior 80.
– Amplitude total da distribuição (AT): diferença entre o limite superior da última classe e o limite inferior da primeira classe, no
exemplo 130 – 70 = 60.
– Amplitude amostral (AA): diferença entre o valor máximo e o valor mínimo da amostra, no exemplo 128 – 70 = 58.

Assim temos as distribuições de frequências absoluta f, relativa fr(%), absoluta acumulada Fa e relativa acumulada FRa(%), bem como
o Histograma desta distribuição.

270
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Como podemos representar os dados através de outras formas gráficas?

– Polígono de frequência: gráfico em linha que representa os pontos centrais dos intervalos de classe. Construímos este gráfico,
através do cálculo do ponto central de classe (xi), que é o ponto que divide o intervalo de classe em duas partes iguais.
Para construirmos polígono de frequência:
1º) Construímos um histograma;
2º) Marcamos no “telhado” de cada coluna o ponto central e
3º) Unimos sequencialmente esses pontos.

– Ogiva: é um polígono de frequência acumulada. Representada por um gráfico em linha que representa as frequências acumuladas
(Fa), levantada nos pontos correspondentes aos limites superiores dos intervalos de classe. Construção: elaborar o histograma de
frequência f em uma escala menor, considerando o último valor a frequência acumulada da última classe, no caso, 40.

Gráficos
Tem como objetivo da representação. Dentre eles temos:

– Gráfico de Barras: este tipo de gráfico é interessante para as variáveis qualitativas ordinais ou quantitativas discretas, pois permite
investigar a presença de tendência nos dados. Elas podem ser na vertical ou horizontal.

Exemplos:

271
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

– Diagrama Circular ou setores: também conhecido como gráfico de pizza, repartimos um disco em setores circulares correspondentes
às porcentagens de cada valor (calculadas multiplicando-se a frequência relativa por 100).

– Histograma: este consiste em retângulos contíguos com base nas faixas de valores da variável e com área igual à frequência relativa
da respectiva faixa. Desta forma, a altura de cada retângulo é denominada densidade de frequência ou simplesmente densidade definida
pelo quociente da área pela amplitude da faixa.

Exemplo:

272
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

– Gráfico de Linha ou Sequência: apresenta as observações de medidas ao longo do tempo, enfatizando sua tendência ou periodicidade.
Exemplo:

– Polígono de Frequência: se assemelha ao histograma, porém é construído a partir dos pontos médios das classes. Exemplo:

– Gráfico de Ogiva: neste apresentamos uma distribuição de frequências acumuladas, utilizamos então uma poligonal ascendente
utilizando os pontos extremos.

273
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

– Pictogramas: aqui os dados são apresentados por desenhos ilustrativos.

– Cartograma: representação sobre uma carta geográfica (mapa). Utilizamos para dados relacionados com áreas geográficas ou
políticas.

Resumos(medidas) numéricos
Por meio destes podemos levantar informações importantes sobre um conjunto de dados tais como: a tendência central, variabilidade,
simetria, valores extremos, valores discrepantes, etc. Aqui serão apresentadas 3 classes de medidas:
– Tendência Central
– Dispersão (Variabilidade)
– Separatrizes
– Tendência central: elas indicam, em geral, um valor central em torno do qual os dados estão distribuídos.

Média Aritmética que podem ser:


– Simples: soma de todos os seus elementos, dividida pelo número de elementos n.
Para o cálculo: Se x for a média aritmética dos elementos do conjunto numérico A = {x1; x2; x3; ...; xn}, então, por definição:

274
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

– Ponderada: é a soma dos produtos de cada elemento multiplicado pelo respectivo peso, dividida pela soma dos pesos. Para o
cálculo:

Mediana (mdobs)
Valor central em um conjunto de dados ordenados. Pela mediana o conjunto de dados é dividido em duas partes iguais sendo metade
dos valores abaixo da mediana e, a outra metade, acima.

1 – Para um conjunto com um número n (ímpar) de observações, a mediana é o valor na posição n+1/2.
2 – Para um conjunto com um número n (par) de observações a mediana é a media aritmética dos valores nas posições n/2 e n/2 + 1.

Moda
Valor que aparece com maior frequência.

Medidas de variação ou dispersão


As medidas de variação ou dispersão complementam as medidas de localização ou tendência central, sinalizando o quanto as
observações diferem umas das outras ou o quão longe as observações estão da média.
As mais utilizadas são: a amplitude total, a variância, o desvio padrão e o coeficiente de variação.

– Amplitude total: representada por at, fornece uma ideia de variação e consiste na diferença entre o maior valor e o menor valor de
um conjunto de dados. Assim, temos:
at = ES - EI

onde:
ES: extremo superior do conjunto de dados ordenado;
EI: extremo inferior do conjunto de dados ordenado.

A amplitude total é uma medida pouco precisa, por esta razão é extremamente influenciada por valores discrepantes.

– Variância: representada por s² , é a medida de dispersão mais utilizada, seja pela sua facilidade de compreensão e cálculo, seja pela
possibilidade de emprego na inferência estatística. É dada pela média dos quadrados dos desvios em relação à média aritmética. Assim,
temos:

onde:
n −1: é o número de graus de liberdade ou desvios independentes.

A uti

275
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

lização do denominador n −1, em vez de n, tem duas razões fundamentais:

Propriedades matemáticas da variância


– 1ª propriedade: A variância de um conjunto de dados que não varia, ou seja, cujos valores são uma constante, é zero.

– 2ª propriedade: Se somarmos uma constante c a todos os valores de um conjunto de dados, a variância destes dados não se altera.

– 3ª propriedade: Se multiplicarmos todos os valores de um conjunto de dados por uma constante c, a variância destes dados fica
multiplicada pelo quadrado desta constante.

– Desvio Padrão: representado por s, surge para solucionar o problema de interpretação da variância e é definido como a raiz quadrada
positiva da variância. Assim, temos:

– Coeficiente de Variação: representado por CV, é a medida mais utilizada quando existe interesse em comparar variabilidades de
diferentes conjuntos de dados. Definimos como a proporção da média representada pelo desvio padrão e dado por:

– Separatrizes: elas delimitam proporções de observações de uma variável ordinal. Elas estabelecem limites para uma determinada
proporção 0 ≤ p ≤ 1 de observações. Trata-se de medidas intuitivas, de fácil compreensão e frequentemente resistentes.
A mediana divide o conjunto em duas metades, essas medidas separatrizes são denominadas quartis.

– Quartis: representados por Qi, onde i = 1, 2 e 3, são três medidas que dividem um conjunto de dados ordenado em quatro partes
iguais. São elas:
− Primeiro quartil (Q1): 25% dos valores ficam abaixo e 75% ficam acima desta medida.
− Segundo quartil (Q2): 50% dos valores ficam abaixo e 50% ficam acima desta medida. O segundo quartil de um conjunto de dados
corresponde à mediana (Q2 = Md).
− Terceiro quartil (Q3): 75% dos valores ficam abaixo e 25% ficam acima desta medida.

— Intervalo de confiança
Um intervalo de confiança (IC) é um intervalo estimado de um parâmetro de interesse de uma população. Em vez de estimar o parâ-
metro por um único valor, é dado um intervalo de estimativas prováveis. O quanto estas estimativas são prováveis será determinado pelo
coeficiente de confiança (1 – α), para α ϵ (0,1).
Em outras palavras Intervalos de confiança são usados para indicar a confiabilidade de uma estimativa.

276
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Para interpretar o intervalo de confiança da média, assumimos que os valores foram amostrados de forma independente e aleatória
de uma população com distribuição normal com média μ e variância σ². Dado que estas suposições são válidas, temos 95% de “chance” de
o intervalo conter o verdadeiro valor da média populacional. Se produzirmos diversos intervalos de confiança provenientes de diferentes
amostras independentes de mesmo tamanho, podemos esperar que aproximadamente 95% destes intervalos devem conter o verdadeiro
valor da média populacional.

Em resumo temos:

Fonte: http://www.portalaction.com.br

— Testes de hipóteses
As hipóteses a serem testadas, retirar as amostras das populações a serem estudadas, calcular as estatísticas delas e, por fim, deter-
minar o grau de aceitação de hipóteses baseadas na teoria de decisão, ou seja, se uma determinada hipótese será validada ou não.
Para decidir se uma hipótese é verdadeira ou falsa, ou seja, se ela deve ser aceita ou rejeitada, considerando uma determinada amos-
tra, precisamos seguir uma série de passos:
1) Definir a hipótese de igualdade (H0) e a hipótese alternativa (H1) para tentar rejeitar H0 (possíveis erros associados à tomada de
decisão).
2) Definir o nível de significância (α).
3) Definir a distribuição amostral a ser utilizada.
4) Definir os limites da região de rejeição e aceitação.
5) Calcular a estatística da distribuição escolhida a partir dos valores amostrais obtidos e tomar a decisão.

1) Formular as hipóteses (Ho e H1).


Primeiramente, vamos estabelecer as hipóteses nula e alternativa. Para exemplificar, você deve considerar um teste de hipótese para
uma média. Então, a hipótese de igualdade é chamada de hipótese de nulidade ou Ho. Suponha que você queira testar a hipótese de que
o tempo médio de ligações é igual a 50 segundos. Então, esta hipótese será simbolizada da maneira apresentada a seguir:
Ho: μ = 50 (hipótese de nulidade)

Esta hipótese, na maioria dos casos, será de igualdade. Se você rejeitar esta hipótese, vai aceitar, neste caso, outra hipótese, que cha-
mamos de hipótese alternativa. Este tipo de hipótese é simbolizado por H1 ou Ha.

2) Definir o nível de significância.


O nível de significância de um teste é dado pela probabilidade de se cometer erro do tipo I (ocorre quando você rejeita a hipótese Ho e
esta hipótese é verdadeira). Com o valor desta probabilidade fixada, você pode determinar o chamado valor crítico, que separa a chamada
região de rejeição da hipótese Ho da região de aceitação da hipótese Ho.

3) Definir a distribuição amostral a ser utilizada.


A estatística a ser utilizada no teste, você definira em função da distribuição amostral a qual os dados seguem. Se você fizer um teste
de hipótese para uma média ou diferença entre médias, utilize a distribuição de Z ou t de Student. Outro exemplo é se você quiser compa-
rar a variância de duas populações, então deverá trabalhar com a distribuição F, ou seja, da razão de duas variâncias.

277
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

4) Definir os limites da região de rejeição. Teste de hipótese para média populacional


Os limites entre as regiões de rejeição e aceitação da hipótese Quando você retira uma amostra de uma população e calcu-
Ho, você definirá em função do tipo de hipótese H1, do valor de la a média desta amostra, é possível verificar se a afirmação sobre
(nível de significância) e da distribuição amostral utilizada. Conside- a média populacional é verdadeira. Para tanto, basta verificar se a
rando um teste bilateral, você terá a região de aceitação (não-rejei- estatística do teste estará na região de aceitação ou de rejeição da
ção) com uma probabilidade de 1- α e uma região de rejeição com hipótese Ho. Aqui você tem três situações distintas:
probabilidade α ( α/2 + α/2). 1ª) se o desvio-padrão da população é conhecido ou a amostra
é considerada grande (n >30), a distribuição amostral a ser utilizada
será da Normal ou Z e a estatística-teste que você utilizará será:

Onde x: média amostral;


μ: média populacional;
σ: desvio padrão populacional e
n: tamanho da amostra.

2ª) Se você não conhecer o desvio-padrão populacional e a


amostra for pequena, então, a distribuição amostral a ser utilizada
será a t de Student, e a estatística teste será:
Através da amostra obtida, você deve calcular a estimativa que
servirá para aceitar ou rejeitar a hipótese nula.

5) Tomar a decisão.
Para tomar a decisão, você deve calcular a estimativa do teste
estatístico que será utilizado para rejeitar ou não a hipótese Ho. A Onde
estrutura deste cálculo para a média de forma generalista é dada x: média amostral;
por: μ: média populacional;
s: desvio-padrão amostral e
n: tamanho da amostra.

Se a hipótese é nula e as alternativas de um teste de hipóteses


Podemos exemplificar pela distribuição de Z, que será:
são:

Onde μo é uma constante conhecida, o teste é chamado de tes-


te bilateral.
Se o valor da estatística estiver na região crítica (de rejeição),
rejeitar Ho; caso contrário, aceitar H0. O esquema a seguir mostra Em muitos problemas temos apenas o interesse em testar as
bem a situação de decisão. hipóteses do tipo:

Este teste é chamado de teste unilateral esquerdo. E quando


temos:

278
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Este teste é chamado de teste unilateral direito.

Exemplo: Uma região do país é conhecida por ter uma população obesa. A distribuição de probabilidade do peso dos homens dessa
região entre 20 e 30 anos é normal com média de 90 kg e desvio padrão de 10 kg. Um endocrinologista propõe um tratamento para com-
bater a obesidade que consiste de exercícios físicos, dietas e ingestão de um medicamento. Ele afirma que com seu tratamento o peso
médio da população da faixa em estudo diminuirá num período de três meses.
Testando as hipóteses temos:

Onde μ é a média dos pesos dos homens em estudo após o tratamento.

Teste de hipóteses para uma proporção populacional


O procedimento é basicamente igual ao procedimento para o teste para uma média populacional. Considere o problema de testar a
hipótese que a proporção de sucessos de um ensaio de Bernoulli é igual a valor especifico, p0. Isto é, testar as seguintes hipóteses:

A estatística de teste:

— Regressão
Uma linha de regressão também chamada de linha de melhor ajuste, é a linha para a qual a soma dos quadrados dos resíduos é um
mínimo. FARBER (2009).

Equação da Regressão
A equação de uma reta de regressão para uma variável independente x e uma variável dependente y é: ̂y=mx+ b

Regressão linear
A análise de regressão2 consiste na realização de uma análise estatística com o objetivo de verificar a existência de uma relação funcio-
nal entre uma variável dependente com uma ou mais variáveis independentes. Em outras palavras consiste na obtenção de uma equação
que tenta explicar a variação da variável dependente pela variação do(s) nível(is) da(s) variável(is) independente(s).

2 Prof. Luiz Alexandre Peternelli – INF 162

279
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Para tentar estabelecer uma equação que representa o fenômeno em estudo pode-se fazer um gráfico, chamado de diagrama de
dispersão, para verificar como se comportam os valores da variável dependente (Y) em função da variação da variável independente (X).

O comportamento de Y em relação a X pode se apresentar de diversas maneiras: linear, quadrático, cúbico, exponencial, logarítmico,
etc.... Para se estabelecer o modelo para explicar o fenômeno, deve-se verificar qual tipo de curva e equação de um modelo matemático
que mais se aproxime dos pontos representados no diagrama de dispersão.
Contudo, pode-se verificar que os pontos do diagrama de dispersão, não vão se ajustar perfeitamente à curva do modelo matemático
proposto. Haverá na maior parte dos pontos, uma distância entre os pontos do diagrama e a curva do modelo matemático. Isto acontece,
devido ao fato do fenômeno que está em estudo, não ser um fenômeno matemático e sim um fenômeno que está sujeito a influências que
acontecem ao acaso. Assim, o objetivo da regressão é obter um modelo matemático que melhor se ajuste aos valores observados de Y em
função da variação dos níveis da variável X.
No entanto o modelo escolhido deve ser coerente com o que acontece na prática. Para isto, deve-se levar em conta as seguintes con-
siderações no momento de se escolher o modelo:
– o modelo selecionado deve ser condizente tanto no grau como no aspecto da curva, para representar em termos práticos, o fenô-
meno em estudo;
– o modelo deve conter apenas as variáveis que são relevantes para explicar o fenômeno;

Como foi dito anteriormente, os pontos do diagrama de dispersão ficam um pouco distantes da curva do modelo matemático escolhi-
do. Um dos métodos que se pode utilizar para obter a relação funcional, se baseia na obtenção de uma equação estimada de tal forma que
as distâncias entre os pontos do diagrama e os pontos da curva do modelo matemático, no todo, sejam as menores possíveis. Este método
é denominado de Método dos Mínimos Quadrados (MMQ). Em resumo por este método a soma de quadrados das distâncias entre os
pontos do diagrama e os respectivos pontos na curva da equação estimada é minimizada, obtendo-se, desta forma, uma relação funcional
entre X e Y, para o modelo escolhido, com um mínimo de erro possível.
Ao se construí um diagrama de dispersão, não sabemos o comportamento da reta em relação aos pontos grafados. Para tanto, deve-
mos calcular o ajustamento da reta aos pontos. Alguns exemplos de diagramas de dispersão com o ajustamento da reta aos pontos:

Ajustamento da reta aos pontos grafados


Para ajustar a reta aos pontos grafados em um diagrama de dispersão, os estatísticos usam as seguintes equações:

280
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

— Modelo Linear de 1º Grau (Regressão Linear Simples)


O modelo estatístico para esta situação seria:

em que:

Para se obter a equação estimada, vamos utilizar o MMQ, visando a minimização dos erros. Assim, tem-se que:

elevando ambos os membros da equação ao quadrado,

aplicando o somatório,

Por meio da obtenção de estimadores de β0 e β1, que minimizem o valor obtido na expressão anterior, é possível alcançar a minimiza-
ção da soma de quadrados dos erros. Para se encontrar o mínimo para uma equação, deve-se derivá-la em relação à variável de interesse
e igualá-la a zero. Derivando então a expressão em relação a β0 e β1, e igualando-as a zero, poderemos obter duas equações que, juntas,
vão compor o chamado sistemas de equações normais. A solução desse sistema fornecerá:

Uma vez obtidas estas estimativas, podemos escrever a equação estimada:

— Técnicas de amostragem
É uma técnica especial para recolher amostras, que garante, tanto quanto possível, o acaso na escolha. Ela pode ser:

Amostragem Probabilística (aleatória): A probabilidade de um elemento da população ser escolhido é conhecida. Cada elemento da
população passa a ter a mesma chance de ser escolhido.

281
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

Amostragem casual ou aleatória simples: este tipo de amostra- Amostragem por cotas: consiste em uma amostragem por jul-
gem se assemelha ao sorteio lotérico. Ela pode ser realizada nume- gamento que ocorre em suas etapas. Em um primeiro momento,
rando-se a população de 1 a n e sorteando-se, a seguir, por meio de são criadas categorias de controle dos elementos da população e,
um dispositivo aleatório qualquer, k números dessa sequência, os a seguir, selecionam-se os elementos da amostra com base em um
quais serão pertentes à amostra. julgamento.

Exemplo: 15% dos alunos de uma população de notas entre 8 Amostragem por julgamento: Essa amostragem é ideal quando
e 10, serão sorteados para receber uma bolsa de estudos de inglês. o tamanho da população é pequeno e suas características, bem co-
nhecidas, pois baseia-se no julgamento pessoal.
Vantagens: Desvantagens:
– Facilidade de cálculo – Requer listagem da Amostragem por conveniência: é uma amostra composta de
estatístico; população; indivíduos que atendem os critérios de entrada e que são de fácil
– Probabilidade elevada de – Trabalhosa em populações acesso do investigador. Para o critério de seleção arrolamos uma
compatibilidade dos dados da elevadas; amostra consecutiva.
amostra e da população – Custos elevados se a
dispersão da amostra for Desvantagens:
elevada. – Maior erro de amostragem
Vantagens:
que em amostras aleatórias;
– Mais econômica;
Amostragem sistemática: Assemelha-se à amostragem alea- – Não existem metodologias
– Fácil administração;
tória simples, porque inicialmente enumeram-se as unidades da válidas para o cálculo do erro
– Não necessita de listagem da
população. Mas difere da aleatória porque a seleção da amostra é de amostragem;
população.
feita por um processo periódico pré-ordenado. – Limitação representativa;
– Maior dificuldade de controle
Amostragem proporcional estratificada: muitas vezes a popu- de trabalho de campo
lação se divide em subpopulações – estratos, então classificamos
a população em, ao menos dois estratos, e extraímos uma amostra
de cada um. Podemos determinar características como sexo, cor da
QUESTÕES
pele, faixa etária, entre outros.
1. (Banco do Brasil – Escriturário - CESGRANRIO - 2018) Um
Vantagens: professor elaborou 10 questões diferentes para uma prova, das
– Pressupõe um erro de quais 2 são fáceis, 5 são de dificuldade média, e 3 são difíceis. No
amostragem menor; momento, o professor está na fase de montagem da prova. A mon-
Desvantagens: tagem da prova é a ordem segundo a qual as 10 questões serão
– Assegura uma boa
– Necessita de maior apresentadas. O professor estabeleceu o seguinte critério de distri-
representatividade das
informação sobre a população; buição das dificuldades das questões, para ser seguido na monta-
variáveis estratificadas;
– Cálculo estatístico mais gem da prova:
– Podem empregar-se
complexo.
metodologias diferentes para
cada estrato;
– Fácil organização do trabalho
de campo.

Amostragem por conglomerado: é uma amostra aleatória de


agrupamentos naturais de indivíduos (conglomerados) na popula-
ção.

Vantagens: Desvantagens:
– Não existem listagem de – Maior erro de amostragem;
toda a população; – Cálculo estatístico mais
– Concentra os trabalhos de complexo na estimação do
campo num número limitado erro de amostragem.
de elementos da população.
De quantas formas diferentes o professor pode montar a prova
Amostragem Não-probabilística (não aleatória): Não se co- seguindo o critério estabelecido?
nhece a probabilidade de um elemento ser escolhido para partici- (A) 2520
par da amostra. (B) 128
(C) 6
(D) 1440
(E) 252

282
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

2. (Banco do Brasil – Escriturário - CESGRANRIO - 2018) Numa (E) Considerando-se um erro amostral tolerável de 5%, o tama-
amostra de 30 pares de observações do tipo (xi , yi ), com i = 1, 2, nho mínimo de uma amostra aleatória simples deve ser igual
..., 30, a covariância obtida entre as variáveis X e Y foi -2. Os dados a 142.
foram transformados linearmente da forma (zi , wi ) = (-3xi + 1 , 2yi
+ 3), para i = 1, 2, ..., 30. 5. (TJ-PA - Analista Judiciário – Estatística - CESPE – 2020) Uma
Qual o valor da covariância entre as variáveis Z e W transfor- pesquisa foi realizada em uma população dividida em dois estra-
madas? tos, A e B. Uma amostra da população foi selecionada utilizando-se
(A) 41 a técnica de amostragem estratificada proporcional, em que cada
(B) 36 estrato possui um sistema de referências ordenadas. A seguir, são
(C) -7 apresentadas as formas como as unidades populacionais de A e de
(D) 12 B foram selecionadas, respectivamente.
(E) 17 • A primeira unidade populacional selecionada do estrato A foi
a terceira. Em seguida, cada unidade populacional foi selecionada
3. (Banco do Brasil – Escriturário - CESPE – 2018) Um pesqui- a partir da primeira, adicionando-se 5 unidades. Dessa forma, a se-
sador utilizou-se de um modelo de regressão linear simples para gunda unidade selecionada foi a oitava, e assim por diante, até a
estudar a relação entre a variável dependente Y, expressa em reais, obtenção de 10 unidades populacionais.
e a variável independente X, expressa em dias. • A primeira unidade populacional selecionada do estrato B foi
Posteriormente, ele decidiu fazer uma transformação na variá- a quarta. Após, cada unidade populacional foi selecionada a partir
vel dependente Y da seguinte forma: da primeira, adicionando-se 6 unidades. Dessa forma, a segunda
unidade selecionada foi a décima, e assim por diante, até a obten-
ção de 7 unidades populacionais.
A partir dessas informações, é correto afirmar que
(A) a população possui, no mínimo, 88 elementos.
Após a referida transformação, o coeficiente angular ficou (B) a técnica de amostragem aleatória simples foi utilizada para
(A) aumentado da média e multiplicado pelo desvio padrão selecionar a amostra de cada estrato.
(B) diminuído da média e dividido pelo desvio padrão (C) a amostra possui, no mínimo, 92 unidades populacionais.
(C) inalterado (D) o estrato B possui mais unidades populacionais que o es-
(D) diminuído da média trato A.
(E) dividido pelo desvio padrão (E) o intervalo de amostragem no estrato A possui amplitude
maior que o intervalo de amostragem no estrato B.
4. (TJ-PA - Analista Judiciário – Estatística - CESPE – 2020) A ta-
bela a seguir apresenta dados referentes às idades dos funcionários 6. (TJ-PA - Analista Judiciário – Estatística - CESPE – 2020) Ao
de determinada empresa. Nessa tabela, a população da empresa analisar uma amostra aleatória simples composta de 324 elemen-
está dividida em 8 estratos, conforme determinados intervalos de tos, um pesquisador obteve, para os parâmetros média amostral e
idade. variância amostral, os valores 175 e 81, respectivamente.
Nesse caso, um intervalo de 95% de confiança de μ é dado por
(A) (166,18; 183,82).
(B) (174,02; 175,98).
(C) (174,51; 175,49).
(D) (163,35; 186,65).
(E) (174,1775; 175,8225).

7. (TJ-PA - Analista Judiciário – Estatística - CESPE – 2020)


Para realizar uma pesquisa a respeito da qualidade do ensino de
matemática nas escolas públicas de um estado, selecionaram alea-
toriamente uma escola de cada um dos municípios desse estado e
A partir dessas informações, assinale a opção correta. aplicaram uma mesma prova de matemática a todos os estudantes
(A) A Uma amostra estratificada de 100 elementos que seja se- do nono ano do ensino fundamental de cada uma dessas escolas.
lecionada com base na alocação proporcional será composta Nesse caso, foi utilizada a amostragem
por menos de 15 homens com idade entre 20 e 30 anos. (A) sistemática.
(B) Considerando-se um erro amostral tolerável de 4%, o tama- (B) aleatória simples.
nho mínimo de uma amostra aleatória simples deve ser inferior (C) por conglomerados em um estágio.
a 162. (D) por conglomerados em dois estágios.
(C) Se uma amostra estratificada de 120 elementos for selecio- (E) estratificada.
nada com base na alocação proporcional, então mais da meta-
de dos elementos dessa amostra serão homens.
(D) Uma amostra estratificada de 112 elementos que seja sele-
cionada com base na alocação uniforme será composta por 55
homens e 57 mulheres.

283
NOÇÕES DE ESTATÍSTICA

8. (TJ-PA - Analista Judiciário – Estatística - CESPE – 2020) Uma dia µ = 5 e desvio padrão σ = 3. Para cada amostra, foi montado um
fábrica de cerveja artesanal possui uma máquina para envasamento intervalo de confiança com coeficiente de 0,95 (ou 95%). Com base
regulada para encher garrafas de 800 mL. Esse mesmo valor é utili- nessas informações, julgue os itens que se seguem.
zado como média µ, com desvio padrão fixo no valor de 40 mL. Com I Os intervalos de confiança terão a forma βi ± 1,176, em que βi
o objetivo de manter um padrão elevado de qualidade, periodica- é a média da amostra i.
mente, é retirada da produção uma amostra de 25 garrafas para se II Para todos os intervalos de confiança, βi + µ βi - ,
verificar se o volume envazado está controlado, ou seja, com média sendo g a margem de erro do estimador.
µ = 800 mL. Para os testes, fixa-se o nível de significância α = 1%, o III Se o tamanho da amostra fosse maior, mantendo-se fixos os
que dá valores críticos de z de - 2,58 e 2,58. valores do desvio padrão e do nível de confiança, haveria uma
Com base nessas informações, julgue os seguintes itens.
I É correto indicar como hipótese alternativa H1: µ # 800 mL, redução da margem de erro .
pois a máquina poderá estar desregulada para mais ou para menos.
II Caso uma amostra apresente média de 778 mL, os técnicos Assinale a opção correta.
poderão parar a produção para a realização de nova regulagem, (A) Apenas o item II está certo.
pois tal valor está dentro da região crítica para o teste. (B) Apenas os itens I e II estão certos.
III A produção não precisaria ser paralisada caso uma amostra (C) Apenas os itens I e III estão certos.
apresentasse média de 815 mL, pois este valor está fora da região (D) Apenas os itens II e III estão certos
crítica para o teste. (E) Todos os itens estão certos.

Assinale a opção correta. GABARITO


(A) Apenas o item I está certo.
(B) Apenas o item II está certo.
(C) Apenas os itens I e III estão certos. 1 D
(D) Apenas os itens II e III estão certos.
(E) Todos os itens estão certos. 2 D
3 E
9. (TJ-PA - Analista Judiciário – Estatística - CESPE – 2020) O
4 E
teste de hipóteses se assemelha ao julgamento de um crime. Em
um julgamento, há um réu, que inicialmente se presume inocente. 5 A
As provas contra o réu são, então, apresentadas, e, se os jurados 6 B
acham que são convincentes, sem dúvida alguma, o réu é conside-
rado culpado. A presunção de inocência é vencida. 7 C
Michael Barrow. Estatística para economia, contabilidade e 8 E
administração. São Paulo: Ática, 2007, p. 199 (com adaptações).
9 E
João foi julgado culpado pelo crime de assassinato e condena- 10 C
do a cumprir pena de 20 anos de reclusão. Após 10 anos de prisão,
André, o verdadeiro culpado pelo delito pelo qual João fora conde-
nado, confessou o ilícito e apresentou provas irrefutáveis de que é ANOTAÇÕES
o verdadeiro culpado, exclusivamente.
Considerando a situação hipotética apresentada e o fragmento
de texto anterior, julgue os itens que se seguem. ______________________________________________________
I Pode-se considerar que a culpa de João seja uma hipótese
alternativa. ______________________________________________________
II No julgamento, ocorreu um erro conhecido nos testes de hi-
pótese como erro do tipo I. ______________________________________________________
III Se a hipótese nula fosse admitida pelos jurados como verda- ______________________________________________________
deira e fosse efetivamente João o culpado pelo crime, o erro come-
tido teria sido o chamado erro do tipo II. ______________________________________________________

Assinale a opção correta. ______________________________________________________


(A) Apenas o item I está certo.
(B) Apenas o item II está certo. ______________________________________________________
(C) Apenas os itens I e III estão certos.
(D) Apenas os itens II e III estão certos. ______________________________________________________
(E) Todos os itens estão certos.
______________________________________________________
10. (TJ-PA - Analista Judiciário – Estatística- CESPE – 2020) Para ______________________________________________________
determinado experimento, uma equipe de pesquisadores gerou 20
amostras de tamanho n = 25 de uma distribuição normal, com mé- ______________________________________________________

284
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Assim, princípios são proposições que servem de base para


toda estrutura de uma ciência, no Direito Administrativo não é di-
DIREITO ADMINISTRATIVO - NOÇÕES PRELIMINARES; ferente, temos os princípios que servem de alicerce para este ramo
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ORGANIZAÇÃO do direito público. Os princípios podem ser expressos ou implícitos,
vamos nos deter aos expressos, que são os consagrados no art. 37
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda- da Constituição da República Federativa do Brasil. Em relação aos
do na matéria de Organização administrativa princípios constitucionais, Meirelles (2000, p.81) afirma que:
“Os princípios básicos da administração pública estão con-
substancialmente em doze regras de observância permanente e
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DE DIREITO ADMINIS- obrigatória para o bom administrador: legalidade, moralidade, im-
TRATIVO pessoalidade ou finalidade, publicidade, eficiência, razoabilidade,
proporcionalidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
Princípios motivação e supremacia do interesse público.
Os princípios são necessários para nortear o direito, embasan- Os cinco primeiros estão expressamente previstos no art. 37,
do como deve ser. Na Administração Pública não é diferente, temos caput, da CF de 1988; e os demais, embora não mencionados, decor-
os princípios expressos na constituição que são responsáveis por rem do nosso regime político, tanto que, ao daqueles, foram textual-
organizar toda a estrutura e além disso mostrar requisitos básicos mente enumerados pelo art. 2º da Lei federal 9.784, de 29/01/1999.”
para uma “boa administração”, não apenas isso, mas também gerar Destarte, os princípios constitucionais da administração públi-
uma segurança jurídica aos cidadãos, como por exemplo, no prin- ca, como tão bem exposto, vêm expressos no art. 37 da Constituição
cípio da legalidade, que atribui ao indivíduo a obrigação de realizar Federal, e como já afirmado, retoma aos princípios da legalidade,
algo, apenas em virtude da lei, impedindo assim que haja abuso de moralidade, impessoalidade ou finalidade, publicidade, eficiência,
poder. razoabilidade, que serão tratados com mais ênfase a posteriori. Em
No texto da Constituição Federal, temos no seu art. 37, em seu consonância, Di Pietro conclui que a Constituição de 1988 inovou
caput, expressamente os princípios constitucionais relacionados ao trazer expresso em seu texto alguns princípios constitucionais. O
com a Administração Pública, ficando com a doutrina, a necessi- caput do art. 37 afirma que a administração pública direta e indireta
dade de compreender quais são as verdadeiras aspirações destes de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
princípios e como eles estão sendo utilizados na prática, sendo isso e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoa-
uma dos objetos do presente trabalho. lidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Com o desenvolvimento do Estado Social, temos que os inte-
resses públicos se sobrepuseram diante todos os outros, a conhe- LEGALIDADE
cida primazia do público, a tendência para a organização social, na O princípio da legalidade, que é uma das principais garantias de
qual os anseios da sociedade devem ser atendidos pela Administra- direitos individuais, remete ao fato de que a Administração Pública
ção Pública, assim, é função desta, realizar ações que tragam bene- só pode fazer aquilo que a lei permite, ou seja, só pode ser exercido
fícios para a sociedade. em conformidade com o que é apontado na lei, esse princípio ga-
nha tanta relevância pelo fato de não proteger o cidadão de vários
Primeiramente falaremos dos PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS, no abusos emanados de agentes do poder público. Diante do exposto,
caput do artigo 37 da Magna Carta, quais sejam, legalidade, im- Meirelles (2000, p. 82) defende que:
pessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. “Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pes-
soal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a
Os Princípios Constitucionaisda Administração Pública lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que
Para compreender os Princípios da Administração Pública é ne- a lei autoriza. A lei para o particular significa “poder fazer assim”;
cessário entender a definição básica de princípios, que servem de para o administrador público significa “deve fazer assim”.”
base para nortear e embasar todo o ordenamento jurídico e é tão Deste modo, este princípio, além de passar muita segurança
bem exposto por Reale (1986, p. 60), ao afirmar que: jurídica ao indivíduo, limita o poder do Estado, ocasionando assim,
“Princípios são, pois verdades ou juízos fundamentais, que ser- uma organização da Administração Pública. Como já afirmado, an-
vem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de juízos, teriormente, este princípio além de previsto no caput do art. 37,
ordenados em um sistema de conceitos relativos à dada porção da vem devidamente expresso no rol de Direitos e Garantias Indivi-
realidade. Às vezes também se denominam princípios certas propo- duais, no art. 5º, II, que afirma que “ninguém será obrigado a fazer
sições, que apesar de não serem evidentes ou resultantes de evi- ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. Em con-
dências, são assumidas como fundantes da validez de um sistema clusão ao exposto, Mello (1994, p.48) completa:
particular de conhecimentos, como seus pressupostos necessários.”

285
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

“Assim, o princípio da legalidade é o da completa submissão da exposto. Além disso, relaciona-se com o Direito da Informação, que
Administração às leis. Este deve tão-somente obedecê-las, cumpri- está no rol de Direitos e Garantias Fundamentais. Di Pietro (1999,
-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos os seus agen- p.67) demonstra que:
tes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da Repú- “O inciso XIII estabelece que todos têm direito a receber dos
blica, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de dóceis, órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de in-
reverentes obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas teresse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pelo Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja im-
direito Brasileiro.” prescindível à segurança da sociedade e do Estado.”
No mais, fica claro que a legalidade é um dos requisitos neces- Como demonstrado acima, é necessário que os atos e decisões
sários na Administração Pública, e como já dito, um princípio que tomados sejam devidamente publicados para o conhecimento de
gera segurança jurídica aos cidadãos e limita o poder dos agentes todos, o sigilo só é permitido em casos de segurança nacional. “A
da Administração Pública. publicidade, como princípio da administração pública, abrange toda
atuação estatal, não só sob o aspecto de divulgação oficial de seus
MORALIDADE atos como, também, de propiciação de conhecimento da conduta
Tendo por base a “boa administração”, este princípio relaciona- interna de seus agentes” (MEIRELLES, 2000, p.89). Busca-se deste
-se com as decisões legais tomadas pelo agente de administração modo, manter a transparência, ou seja, deixar claro para a socie-
publica, acompanhado, também, pela honestidade. Corroborando dade os comportamentos e as decisões tomadas pelos agentes da
com o tema, Meirelles (2000, p. 84) afirma: Administração Pública.
“É certo que a moralidade do ato administrativo juntamente
a sua legalidade e finalidade, além de sua adequação aos demais EFICIÊNCIA
princípios constituem pressupostos de validade sem os quais toda Este princípio zela pela “boa administração”, aquela que consi-
atividade pública será ilegítima”. ga atender aos anseios na sociedade, consiga de modo legal atingir
Assim fica claro, a importância da moralidade na Administra- resultados positivos e satisfatórios, como o próprio nome já faz re-
ção Publica. Um agente administrativo ético que usa da moral e da ferência, ser eficiente. Meirelles (2000, p 90) complementa:
honestidade, consegue realizar uma boa administração, consegue “O Princípio da eficiência exige que a atividade administrati-
discernir a licitude e ilicitude de alguns atos, além do justo e injusto va seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É
de determinadas ações, podendo garantir um bom trabalho. o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se
contenta em se desempenhar apenas com uma legalidade, exigindo
IMPESSOALIDADE resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimen-
Um princípio ainda um pouco conturbado na doutrina, mas, a to as necessidades da comunidade e de seus membros.”
maioria, dos doutrinadores, relaciona este princípio com a finalida- A eficiência é uma característica que faz com que o agente pú-
de, ou seja, impõe ao administrador público que só pratique os atos blico consiga atingir resultados positivos, garantindo à sociedade
em seu fim legal, Mello (1994, p.58) sustenta que esse princípio “se uma real efetivação dos propósitos necessários, como por exemplo,
traduz a idéia de que a Administração tem que tratar a todos os saúde, qualidade de vida, educação, etc.1
administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas”. Na Constituição de 1988 encontram-se mencionados explici-
Para a garantia deste principio, o texto constitucional completa tamente como princípios os seguintes: legalidade, impessoalidade,
que para a entrada em cargo público é necessário a aprovação em moralidade, publicidade e eficiência (este último acrescentado pela
concurso público. Emenda 19198 - Reforma Administrativa). Alguns doutrinadores
buscam extrair outros princípios do texto constitucional como um
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE todo, seriam os princípios implícitos. Outros princípios do direito
É um princípio que é implícito da Constituição Federal brasilei- administrativo decorrem classicamente de elaboração jurispruden-
ra, mas que é explícito em algumas outras leis, como na paulista, cial e doutrinária.
e que vem ganhando muito força, como afirma Meirelles (2000). É Cabe agora indagar quais o PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS, que como
mais uma tentativa de limitação ao poder púbico, como afirma Di dito estão disciplinados no artigo 2ª da lei dos Processos Adminis-
Pietro (1999, p. 72): trativos Federais, vejamos : “ A Administração Pública obedecerá,
“Trata-se de um princípio aplicado ao direito administrativo dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
como mais uma das tentativas de impor-se limitações à discriciona- razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, con-
riedade administrativa, ampliando-se o âmbito de apreciações do traditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.” Os
ato administrativo pelo Poder Judiciário.” princípios da legalidade, moralidade e da eficiência já foram acima
Esse princípio é acoplado a outro que é o da proporcionalidade, explicados. Iremos explanar os demais princípios.
pois, como afirma Di Pietro (1999, p. 72), “a proporcionalidade de-
ver ser medida não pelos critérios pessoais do administrador, mas Princípios da Administração Publica não previstos no Art. 37
segundo padrões comuns na sociedade em que vive”. da Constituição Federal

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Para que os atos sejam conhecidos externamente, ou seja, na
sociedade, é necessário que eles sejam publicados e divulgados, e
assim possam iniciar a ter seus efeitos, auferindo eficácia ao termo
1 Fonte: www.ambito-juridico.com.br – Texto adaptado de Rayssa Cardoso
Garcia, Jailton Macena de Araújo

286
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Princípio da isonomia ou igualdade formal Falta de motivação:


Aristóteles afirmava que a lei tinha que dar tratamento desi- A falta de motivação leva à invalidação, à ilegitimidade do ato,
gual às pessoas que são desiguais e igual aos iguais. A igualdade pois não há o que falar em ampla defesa e contraditório se não há
não exclui a desigualdade de tratamento indispensável em face da motivação. Os atos inválidos por falta de motivação estarão sujeitos
particularidade da situação. também a um controle pelo Poder Judiciário.
A lei só poderá estabelecer discriminações se o fator de descri-
minação utilizado no caso concreto estiver relacionado com o ob- Motivação nas decisões proferidas pelo Poder Judiciário:
jetivo da norma, pois caso contrário ofenderá o princípio da isono- Se até mesmo no exercício de funções típicas pelo Judiciário, a
mia. Ex: A idade máxima de 60 anos para o cargo de estivador está Constituição exige fundamentação, a mesma conclusão e por muito
relacionado com o objetivo da norma. maior razão se aplica para a Administração quando da sua função
A lei só pode tratar as pessoas de maneira diversa se a distin- atípica ou principal.
ção entre elas justificar tal tratamento, senão seria inconstitucional.
Assim, trata diferentemente para alcançar uma igualdade real (ma- “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
terial, substancial) e não uma igualdade formal. públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar em determina-
Princípio da isonomia na Constituição: dos atos às próprias partes e seus advogados, ou somente a estes”
• “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa (art. 93, IX da CF).
do Brasil: promover o bem de todos sem preconceitos de origem, “As decisões administrativas dos tribunais serão motivadas,
raça, sexo, cor idade e qualquer outras formas de discriminação” sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de
(art. 3º, IV da Constituição Federal). seus membros” (art. 93, X da CF).
• “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza...” (art. 5º da Constituição Federal). Princípio da Autotutela
• “São direitos dos trabalhadores: Proibição de diferença de A Administração Pública tem possibilidade de revisar (rever)
salário, de exercício de funções e de critério de admissão por moti- seus próprios atos, devendo anulá-los por razões de ilegalidade
vo de sexo, idade, cor ou estado civil” (art. 7º, XXX da Constituição (quando nulos) e podendo revogá-los por razões de conveniência
Federal). ou oportunidade (quando inoportunos ou inconvenientes).
Anulação: Tanto a Administração como o Judiciário podem
Princípio da Motivação anular um ato administrativo. A anulação gera efeitos “ex tunc”, isto
A Administração está obrigada a motivar todos os atos que é, retroage até o momento em que o ato foi editado, com a finalida-
edita, pois quando atua representa interesses da coletividade. É de de eliminar todos os seus efeitos até então.
preciso dar motivação dos atos ao povo, pois ele é o titular da “res “A Administração pode declarar a nulidade dos seus próprios
publica” (coisa pública). atos” (súmula 346 STF).
O administrador deve motivar até mesmo os atos discricioná- Revogação: Somente a Administração pode fazê-la. Caso o Ju-
rios (aqueles que envolvem juízo de conveniência e oportunidade), diciário pudesse rever os atos por razões de conveniência ou opor-
pois só com ela o cidadão terá condições de saber se o Estado esta tunidade estaria ofendendo a separação dos poderes. A revogação
agindo de acordo com a lei. Para Hely Lopes Meirelles, a motivação gera efeitos “ex nunc”, pois até o momento da revogação o ato era
só é obrigatória nos atos vinculados. válido.
Há quem afirme que quando o ato não for praticado de forma
escrita (Ex: Sinal, comando verbal) ou quando a lei especificar de Anulação Revogação
tal forma o motivo do ato que deixe induvidoso, inclusive quanto
aos seus aspectos temporais e espaciais, o único fato que pode se Por razões de
Por razões de
caracterizar como motivo do ato (Ex: aposentadoria compulsória) Fundamento conveniência e
ilegalidade
não será obrigatória a motivação. Assim, a motivação só será pres- oportunidade
suposto de validade do ato administrativo, quando obrigatória. Administração e
Competência Administração
Judiciário
Motivação segundo o Estatuto do servidor público da União
(Lei 8112/90): Gera efeitos “ex
Efeitos Gera efeitos “ex tunc”
Segundo o artigo 140 da Lei 8112/90, motivar tem duplo sig- nunc”
nificado. Assim, o ato de imposição de penalidade sempre men-
cionará o fundamento legal (dispositivos em que o administrador Alegação de direito adquirido contra ato anulado e revogado:
baseou sua decisão) e causa da sanção disciplinar (fatos que levarão Em relação a um ato anulado não se pode invocar direito adqui-
o administrador a aplicar o dispositivo legal para àquela situação rido, pois desde o início o ato não era legal. Já em relação a um ato
concreta). revogado pode se invocar direito adquirido, pois o ato era válido.
A lei, quando é editada é genérica, abstrata e impessoal, por- “A Administração pode anular seus próprios atos quando eiva-
tanto é preciso que o administrador demonstre os fatos que o le- dos de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam
varam a aplicar aquele dispositivo legal para o caso concreto. Só direitos, ou revogá-los, por motivos de conveniência ou oportuni-
através dos fatos que se pode apurar se houve razoabilidade (cor- dade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvados em todos os
respondência) entre o que a lei abstratamente prevê e os fatos con- casos, a apreciação judicial” (2a parte da sumula 473 do STF).
cretos levados ao administrador.

287
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Princípio da Continuidade da Prestação do Serviço Público


A execução de um serviço público não pode vir a ser interrom- ATO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, REQUISITOS E ATRI-
pida. Assim, a greve dos servidores públicos não pode implicar em BUTOS; ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO;
paralisação total da atividade, caso contrário será inconstitucional DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO
(art. 37, VII da CF).
CONCEITO
Não será descontinuidade do serviço público: Serviço público Ato Administrativo, em linhas gerais, é toda manifestação lícita
interrompido por situação emergencial (art. 6º, §3º da lei 8987/95): e unilateral de vontade da Administração ou de quem lhe faça às
Interrupção resultante de uma imprevisibilidade. A situação emer- vezes, que agindo nesta qualidade tenha por fim imediato adquirir,
gencial deve ser motivada, pois resulta de ato administrativo. Se a transferir, modificar ou extinguir direitos e obrigações.
situação emergencial decorrer de negligência do fornecedor, o ser- Para Hely Lopes Meirelles: “toda manifestação unilateral de
viço público não poderá ser interrompido. vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, te-
Serviço público interrompido, após aviso prévio, por razões de nha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, ex-
ordem técnica ou de segurança das instalações (art. 6º, §3º, I da lei tinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados
8987/95). ou a si própria”.
Serviço público interrompido, após aviso prévio, no caso de ina- Para Maria Sylvia Zanella di Pietro ato administrativo é a “de-
dimplência do usuário, considerado o interesse da coletividade (art. claração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
6º, §3º, II da lei 8987/95): Cabe ao fornecedor provar que avisou jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de
e não ao usuário, por força do Código de Defesa do Consumidor. direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
Se não houver comunicação, o corte será ilegal e o usuário poderá Conforme se verifica dos conceitos elaborados por juristas
invocar todos os direitos do consumidor, pois o serviço público é administrativos, esse ato deve alcançar a finalidade pública, onde
uma relação de consumo, já que não deixa de ser serviço só porque serão definidas prerrogativas, que digam respeito à supremacia do
é público. interesse público sobre o particular, em virtude da indisponibilidade
Há várias posições sobre esta hipótese: do interesse público.
• Há quem entenda que o serviço público pode ser interrom- Os atos administrativos podem ser delegados, assim os parti-
pido nesta hipótese pois, caso contrário, seria um convite aberto à culares recebem a delegação pelo Poder Público para prática dos
inadimplência e o serviço se tornaria inviável à concessionária, por- referidos atos.
tanto autoriza-se o corte para preservar o interesse da coletividade Dessa forma, os atos administrativos podem ser praticados pelo
(Posição das Procuradorias). Estado ou por alguém que esteja em nome dele. Logo, pode-se con-
• O fornecedor do serviço tem que provar que avisou por força cluir que os atos administrativos não são definidos pela condição
do Código de Defesa do Consumidor, já que serviço público é uma da pessoa que os realiza. Tais atos são regidos pelo Direito Público.
relação de consumo. Se não houver comunicação o corte será ilegal.
• Há quem entenda que o corte não pode ocorrer em razão da REQUISITOS
continuidade do serviço. O art. 22 do CDC dispõe que “os órgãos pú- São as condições necessárias para a existência válida do ato.
blicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias, Os requisitos dos atos administrativos são cinco:
ou sob qualquer outra forma de empreendimento são obrigados a - Competência: o ato deve ser praticado por sujeito capaz. Tra-
fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e quanto aos es- ta-se de requisito vinculado, ou seja, para que um ato seja válido
senciais contínuos”. “Nos casos de descumprimento, total ou par- deve-se verificar se foi praticado por agente competente.
cial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas O ato deve ser praticado por agente público, assim considerado
compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma todo aquele que atue em nome do Estado, podendo ser de qual-
prevista neste Código” (art. 22, parágrafo único do CDC). quer título, mesmo que não ganhe remuneração, por prazo deter-
minado ou vínculo de natureza permanente.
Princípio da Razoabilidade Além da competência para a prática do ato, se faz necessário
O Poder Público está obrigado, a cada ato que edita, a mostrar que não exista impedimento e suspeição para o exercício da ativi-
a pertinência (correspondência) em relação à previsão abstrata em dade.
lei e os fatos em concreto que foram trazidos à sua apreciação. Este Deve-se ter em mente que toda a competência é limitada, não
princípio tem relação com o princípio da motivação. sendo possível um agente que contenha competência ilimitada,
Se não houver correspondência entre a lei o fato, o ato não tendo em vista o dever de observância da lei para definir os critérios
será proporcional. Ex: Servidor chegou atrasado no serviço. Embora de legitimação para a prática de atos.
nunca tenha faltado, o administrador, por não gostar dele, o demi-
tiu. Há previsão legal para a demissão, mas falta correspondência - Finalidade: O ato administrativo deve ser editado pela Admi-
para com a única falta apresentada ao administrador.2 nistração Pública em atendimento a uma finalidade maior, que é a
pública; se o ato praticado não tiver essa finalidade, ocorrerá abuso
de poder.
ATIVIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Em outras palavras, o ato administrativo deve ter como fina-
lidade o atendimento do interesse coletivo e do atendimento das
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda- demandas da sociedade.
do na matéria de Organização administrativa

2 Fonte: www.webjur.com.br

288
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

- Forma: é o requisito vinculado que envolve a maneira de exte- c) Exigibilidade ou Coercibilidade: É a prerrogativa que pos-
riorização e demais procedimentos prévios que forem exigidos com suem os atos administrativos de serem exigidos quanto ao seu cum-
a expedição do ato administrativo. primento sob ameaça de sanção. A imperatividade e a exigibilidade,
Via de regra, os atos devem ser escritos, permitindo de ma- em regra, nascem no mesmo momento.
neira excepcional atos gestuais, verbais ou provindos de forças que Caso não seja cumprida a obrigação imposta pelo administrati-
não sejam produzidas pelo homem, mas sim por máquinas, que são vo, o poder público, se valerá dos meios indiretos de coação, reali-
os casos dos semáforos, por exemplo. zando, de modo indireto o ato desrespeitado.
A forma não configura a essência do ato, mas apenas o ins-
trumento necessário para que a conduta administrativa atinja seus d) Autoexecutoriedade: É o poder de serem executados mate-
objetivos. O ato deve atender forma específica, justamente porque rialmente pela própria administração, independentemente de re-
se dá pelo fato de que os atos administrativos decorrem de um pro- curso ao Poder Judiciário.
cesso administrativo prévio, que se caracterize por uma série de A autoexecutoriedade é atributo de alguns atos administrati-
atos concatenados, com um propósito certo. vos, ou seja, não existe em todos os atos. Poderá ocorrer quando
a lei expressamente prever ou quando estiver tacitamente prevista
- Motivo: O motivo será válido, sem irregularidades na prática em lei sendo exigido para tanto situação de urgência; e inexistência
do ato administrativo, exigindo-se que o fato narrado no ato prati- de meio judicial idôneo capaz de, a tempo, evitar a lesão.
cado seja real e tenha acontecido da forma como estava descrito na
conduta estatal. CLASSIFICAÇÃO
Difere-se de motivação, pois este é a explicação por escrito das Os atos administrativos podem ser objeto de várias classifica-
razões que levaram à prática do ato. ções, conforme o critério em função do qual seja agrupados. Men-
cionaremos os agrupamentos de classificação mais comuns entre
- Objeto lícito: É o conteúdo ato, o resultado que se visa rece- os doutrinadores administrativos.
ber com sua expedição. Todo e qualquer ato administrativo tem por
objeto a criação, modificação ou comprovação de situações jurídi- Quanto à composição da vontade produtora do ato:
cas referentes a pessoas, coisas ou atividades voltadas à ação da Simples: depende da manifestação jurídica de um único órgão,
Administração Pública. mesmo que seja de órgão colegiado, torna o ato perfeito, portan-
Entende-se por objeto, aquilo que o ato dispõe, o efeito causa- to, a vontade para manifestação do ato deve ser unitária, obtida
do pelo ato administrativo, em decorrência de sua prática. Trata-se através de votação em órgão colegiado ou por manifestação de um
do objeto como a disposição da conduta estatal, aquilo que fica de- agente em órgãos singulares.
cidido pela prática do ato. Complexo: resulta da manifestação conjugada de vontades de
órgãos diferentes. É necessária a manifestação de vontade de dois
ATRIBUTOS ou mais órgãos para formar um único ato.
Atributos são qualidades, prerrogativas ou poderes especiais Composto: manifestação de dois ou mais órgãos, em que um
que revestem os atos administrativos para que eles alcancem os edita o ato principal e o outro será acessório. Como se nota, é com-
fins almejados pelo Estado. posto por dois atos, geralmente decorrentes do mesmo órgão pú-
Existem por conta dos interesses que a Administração repre- blico, em patamar de desigualdade, de modo que o segundo ato
senta, são as qualidades que permitem diferenciar os atos adminis- deve contar com o que ocorrer com o primeiro.
trativos dos outros atos jurídicos. Decorrem do princípio da supre-
macia do interesse público sobre o privado. Quanto a formação do ato:
São atributos dos atos administrativos: Atos unilaterais: Dependem de apenas a vontade de uma das
partes. Exemplo: licença
a) Presunção de Legitimidade/Legitimidade: É a presunção Atos bilaterais: Dependem da anuência de ambas as partes.
de que os atos administrativos devem ser considerados válidos, até Exemplo: contrato administrativo;
que se demonstre o contrário, a bem da continuidade da prestação Atos multilaterais: Dependem da vontade de várias partes.
dos serviços públicos. Exemplo: convênios.
A presunção de legitimidade não pressupõe no entanto que Ios
atos administrativos não possam ser combatidos ou questionados, Quanto aos destinatários do ato:
no entanto, o ônus da prova é de quem alega. Individuais: são aqueles destinados a um destinatário certo e
O atributo de presunção de legitimidade confere maior cele- determinado, impondo a norma abstrata ao caso concreto. Nesse
ridade à atuação administrativa, já que depois da prática do ato, momento, seus destinatários são individualizados, pois a norma é
estará apto a produzir efeitos automaticamente, como se fosse vá- geral restringindo seu âmbito de atuação.
lido, até que se declare sua ilegalidade por decisão administrativa Gerais: são os atos que têm por destinatário final uma catego-
ou judicial. ria de sujeitos não especificados. Os atos gerais tem a finalidade
de normatizar suas relações e regulam uma situação jurídica que
b) Imperatividade: É a prerrogativa que os atos administrativos abrange um número indeterminado de pessoas, portanto abrange
possuem de gerar unilateralmente obrigações aos administrados, todas as pessoas que se encontram na mesma situação, por tratar-
independente da concordância destes. É o atributo que a Adminis- -se de imposição geral e abstrata para determinada relação.
tração possui para impor determinado comportamento a terceiros.

289
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Quanto à posição jurídica da Administração: Externos: Destinados a produzir efeitos sobre terceiros, e, por-
Atos de império: Atos onde o poder público age de forma impe- tanto, necessitam de publicidade para que produzam adequada-
rativa sobre os administrados, impondo-lhes obrigações. São atos mente seus efeitos.
praticados sob as prerrogativas de autoridade estatal. Ex. Interdição
de estabelecimento comercial. Quanto à validade do ato:
Atos de gestão: são aqueles realizados pelo poder público, sem Válido: É o que atende a todos os requisitos legais: competên-
as prerrogativas do Estado (ausente o poder de comando estatal), cia, finalidade, forma, motivo e objeto. Pode estar perfeito, pronto
sendo que a Administração irá atuar em situação de igualdade com para produzir seus efeitos ou estar pendente de evento futuro.
o particular. Nesses casos, a atividade será regulada pelo direito pri- Nulo: É o que nasce com vício insanável, ou seja, um defeito
vado, de modo que o Estado não irá se valer das prerrogativas que que não pode ser corrigido. Não produz qualquer efeito entre as
tenham relação com a supremacia do interesse público. partes. No entanto, em face dos atributos dos atos administrativos,
Exemplo: a alienação de um imóvel público inservível ou alu- ele deve ser observado até que haja decisão, seja administrativa,
guel de imóvel para instalar uma Secretaria Municipal. seja judicial, declarando sua nulidade, que terá efeito retroativo, ex
tunc, entre as partes. Por outro lado, deverão ser respeitados os
Quanto à natureza das situações jurídicas que o ato cria: direitos de terceiros de boa-fé que tenham sido atingidos pelo ato
Atos-regra: Criam situações gerais, abstratas e impessoais.Tra- nulo.
çam regras gerais (regulamentos). Anulável: É o ato que contém defeitos, porém, que podem ser
Atos subjetivos: Referem-se a situações concretas, de sujeito sanados, convalidados. Ressalte-se que, se mantido o defeito, o
determinado. Criam situações particulares e geram efeitos indivi- ato será nulo; se corrigido, poderá ser “salvo” e passar a ser válido.
duais. Atente-se que nem todos os defeitos são sanáveis, mas sim aqueles
Atos-condição: Somente surte efeitos caso determinada condi- expressamente previstos em lei.
ção se cumpra. Inexistente: É aquele que apenas aparenta ser um ato admi-
nistrativo, mas falta a manifestação de vontade da Administração
Quanto ao grau de liberdade da Administração para a prática Pública. São produzidos por alguém que se faz passar por agente
do ato: público, sem sê-lo, ou que contém um objeto juridicamente impos-
Atos vinculados: Possui todos seus elementos determinados sível.
em lei, não existindo possibilidade de apreciação por parte do ad-
ministrador quanto à oportunidade ou à conveniência. Cabe ao ad- Quanto à exequibilidade:
ministrador apenas a verificação da existência de todos os elemen- Perfeito: É aquele que completou seu processo de formação,
tos expressos em lei para a prática do ato. estando apto a produzir seus efeitos. Perfeição não se confunde
Atos discricionários: O administrador pode decidir sobre o mo- com validade. Esta é a adequação do ato à lei; a perfeição refere-se
tivo e sobre o objeto do ato, devendo pautar suas escolhas de acor- às etapas de sua formação.
do com as razões de oportunidade e conveniência. A discricionarie- Imperfeito: Não completou seu processo de formação, portan-
dade é sempre concedida por lei e deve sempre estar em acordo to, não está apto a produzir seus efeitos, faltando, por exemplo, a
com o princípio da finalidade pública. O poder judiciário não pode homologação, publicação, ou outro requisito apontado pela lei.
avaliar as razões de conveniência e oportunidade (mérito), apenas a Pendente: Para produzir seus efeitos, sujeita-se a condição ou
legalidade, os motivos e o conteúdo ou objeto do ato. termo, mas já completou seu ciclo de formação, estando apenas
aguardando o implemento desse acessório, por isso não se confun-
Quanto aos efeitos: de com o imperfeito. Condição é evento futuro e incerto, como o
Constitutivo: Gera uma nova situação jurídica aos destinatários. casamento. Termo é evento futuro e certo, como uma data espe-
Pode ser outorgado um novo direito, como permissão de uso de cífica.
bem público, ou impondo uma obrigação, como cumprir um perío- Consumado: É o ato que já produziu todos os seus efeitos, nada
do de suspensão. mais havendo para realizar. Exemplifique-se com a exoneração ou a
concessão de licença para doar sangue.
Declaratório: Simplesmente afirma ou declara uma situação já
existente, seja de fato ou de direito. Não cria, transfere ou extingue ESPÉCIES
a situação existente, apenas a reconhece. a) Atos normativos: São aqueles que contém um comando ge-
Modificativo: Altera a situação já existente, sem que seja extin- ral do Executivo visando o cumprimento de uma lei. Podem apre-
ta, não retirando direitos ou obrigações. A alteração do horário de sentar-se com a característica de generalidade e abstração (decreto
atendimento da repartição é exemplo desse tipo de ato. geral que regulamenta uma lei), ou individualidade e concreção
Extintivo: Pode também ser chamado desconstitutivo, é o ato (decreto de nomeação de um servidor).
que põe termo a um direito ou dever existente. Cite-se a demissão Os atos normativos se subdividem em:
do servidor público. - Regulamentos: São atos normativos posteriores aos decretos,
que visam especificar as disposições de lei, assim como seus man-
Quanto à situação de terceiros: damentos legais. As leis que não forem executáveis, dependem de
Internos: Destinados a produzir seus efeitos no âmbito interno regulamentos, que não contrariem a lei originária. Já as leis auto-
da Administração Pública, não atingindo terceiros, como as circula- -executáveis independem de regulamentos para produzir efeitos.
res e pareceres. 1. Regulamentos executivos: são os editados para a fiel execu-
ção da lei, é um ato administrativo que não tem o foto de inovar o
ordenamento jurídico, sendo praticado para complementar o texto

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

legal. Os regulamentos executivos são atos normativos que comple- - Licença – ato definitivo e vinculado (não precário) em que a
mentam os dispositivos legais, sem que ivovem a ordem jurídica, Administração concede ao Administrado a faculdade de realizar de-
com a criação de direitos e obrigações. terminada atividade.
2. Regulamentos autônomos: agem em substituição a lei e vi- - Autorização – ato discricionário e precário em que a Adminis-
sam inovar o ordenamento jurídico, determinando normas sobre tração confere ao administrado a faculdade de exercer determinada
matérias não disciplinadas em previsão legislativa. Assim, podem atividade.
ser considerados atos expedidos como substitutos da lei e não fa- - Permissão - ato discricionário e precário em que a Administra-
cilitadores de sua aplicação, já que são editados sem contemplar ção confere ao administrado a faculdade de promover certa ativida-
qualquer previsão anterior. de nas situações determinadas por ela;
- Aprovação - análise pela própria administração de atividades
Nosso ordenamento diverge acercada da possibilidade ou não prestadas por seus órgãos;
de serem expedidos regulamentos autônomos, em decorrência do - Visto - é a declaração de legitimidade de deerminado ato pra-
princípio da legalidade. ticado pela própria Administração como maneira de exequibilidade;
- Instruções normativas – Possuem previsão expressa na Cons- - Homologação - análise da conveniência e legalidade de ato
tituição Federal, em seu artigo 87, inciso II. São atos administrativos praticado pelos seus órgãos como meio de lhe dar eficácia;
privativos dos Ministros de Estado. - Dispensa - ato administrativo que exime o particular do cum-
- Regimentos – São atos administrativos internos que emanam primento de certa obrigação até então conferida por lei.
do poder hierárquico do Executivo ou da capacidade de auto-orga- - Renúncia - ato administrativo em que o poder Público extin-
nização interna das corporações legislativas e judiciárias. Desta ma- gue de forma unilateral um direito próprio, liberando definitiva-
neira, se destinam à disciplina dos sujeitos do órgão que o expediu. mente a pessoa obrigada perante a Administração Pública.
- Resoluções – São atos administrativos inferiores aos regimen-
tos e regulamentos, expedidos pelas autoridades do executivo. d) Atos enunciativos: São todos aqueles em que a Administra-
- Deliberações – São atos normativos ou decisórios que ema- ção se limita a certificar ou a atestar um fato, ou emitir uma opinião
nam de órgãos colegiados provenientes de acordo com os regula- sobre determinado assunto, constantes de registros, processos e
mentos e regimentos das organizações coletivas. Geram direitos arquivos públicos, sendo sempre, por isso, vinculados quanto ao
para seus beneficiários, sendo via de regra, vinculadas para a Ad- motivo e ao conteúdo.
ministração. - Atestado - são atos pelos quais a Administração Pública com-
prova um fato ou uma situação de que tenha conhecimento por
b) Atos ordinatórios: São os que visam a disciplinar o funcio- meio dos órgãos competentes;
namento da Administração e a conduta funcional de seus agentes. - Certidão – tratam-se de cópias ou fotocópias fiéis e autentica-
Emanam do poder hierárquico, isto é, podem ser expedidos por das de atos ou fatos existentes em processos, livros ou documentos
chefes de serviços aos seus subordinados. Logo, não obrigam aos que estejam na repartição pública;
particulares. - Pareceres - são manifestações de órgãos técnicos referentes a
São eles: assuntos submetidos à sua consideração.
- Instruções – orientação do subalterno pelo superior hierár-
quico em desempenhar determinada função; e) Atos punitivos: São aqueles que contêm uma sanção impos-
- Circulares – ordem uniforme e escrita expedida para determi- ta pela lei e aplicada pela Administração, visando punir as infrações
nados funcionários ou agentes; administrativas ou condutas irregulares de servidores ou de parti-
- Avisos – atos de titularidade de Ministros em relação ao Mi- culares perante a Administração.
nistério; Esses atos são aplicados para aqueles que desrespeitam as dispo-
- Portarias – atos emanados pelos chefes de órgãos públicos sições legais, regulamentares ou ordinatórias dos bens ou serviços.
aos seus subalternos que determinam a realização de atos especiais Quanto à sua atuação os atos punitivos podem ser de atuação
ou gerais; externa e interna. Quando for interna, compete à Administração
- Ordens de serviço – determinações especiais dirigidas aos res- punir disciplinarmente seus servidores e corrigir os serviços que
ponsáveis por obras ou serviços públicos; contenham defeitos, por meio de sanções previstas nos estatutos,
- Provimentos – atos administrativos intermos, com determina- fazendo com que se respeite as normas administrativas.
ções e instruções em que a Corregedoria ou os Tribunais expedem
para regularização ou uniformização dos serviços; EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO.
- Ofícios – comunicações oficiais que são feitas pela Adminis- Os atos administrativos são produzidos e editados com a fina-
tração a terceiros; lidade de produzir efeitos jurídicos. Cumprida a finalidade a qual
- Despachos administrativos – são decisões tomadas pela auto- fundamenta a edição do ato o mesmo deve ser extinto.
ridade executiva (ou legislativa e judiciária, quando no exercício da Outras vezes, fatos ou atos posteriores interferem diretamente
função administrativa) em requerimentos e processos administrati- no ato e geram sua suspensão ou elimina definitivamente seus efei-
vos sujeitos à sua administração. tos, causando sua extinção.
Ademais, diversas são as causas que determinam a extinção
c) Atos negociais: São todos aqueles que contêm uma declara- dos atos adminsitrativos ou de seus efeitos, vejamos:
ção de vontade da Administração apta a concretizar determinado
negócio jurídico ou a deferir certa faculdade ao particular, nas con-
dições impostas ou consentidas pelo Poder Público.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Cassação: Ocorre a extinção do ato administrativo quando o Existem três formas de convalidação:
administrado deixa de preencher condição necessária para perma- a) Ratificação: É a convalidação feita pela própria autoridade
nência da vantagem, ou seja, o beneficiário descumpre condição que praticou o ato;
indispensável para manutenção do ato administrativo. b) Confirmação: É a convalidação feita por autoridade superior
Anulação ou invalidação (desfazimento): É a retirada, o desfa- àquela que praticou o ato;
zimento do ato administrativo em decorrência de sua invalidade, ou c) Saneamento: É a convalidação feita por ato de terceiro, ou
seja, é a extinção de um ato ilegal, determinada pela Administração seja, não é feita nem por quem praticou o ato nem por autoridade
ou pelo judiciário, com eficácia retroativa – ex tunc. superior.
A anulação pode acontecer por via judicial ou por via admi-
nistrativa. Ocorrerá por via judicial quando alguém solicita ao Ju- Verificado que um determinado ato é anulável, a convalidação
diciário a anulação do ato. Ocorrerá por via administrativa quando será discricionária, ou seja, a Administração convalidará ou não o
a própria Administração expede um ato anulando o antecedente, ato de acordo com a conveniência. Alguns autores, tendo por base
utilizando-se do princípio da autotutela, ou seja, a Administração o princípio da estabilidade das relações jurídicas, entendem que a
tem o poder de rever seus atos sempre que eles forem ilegais ou convalidação deverá ser obrigatória, visto que, se houver como sa-
inconvenientes. Quando a anulação é feita por via administrativa, nar o vício de um ato, ele deverá ser sanado. É possível, entretanto,
pode ser realizada de ofício ou por provocação de terceiros. que existam obstáculos ao dever de convalidar, não havendo outra
De acordo com entendimento consolidado pelo Supremo Tri- alternativa senão anular o ato.
bunal Federal, a anulação de um ato não pode prejudicar terceiro
de boa-fé. DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA
Vejamos o que consta nas Súmulas 346 e 473 do STF: A decadência (art. 207 do Código Civil), incide sobre direitos
- SÚMULA 346: A administração pública pode declarar a nulida- potestativos, que “são poderes que a lei confere a determinadas
de dos seus próprios atos. pessoas de influírem, com uma declaração de vontade, sobre situa-
- SÚMULA 473: A administração pode anular seus próprios ções jurídicas de outras, sem o concurso da vontade destas”, ou seja,
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles quando a lei ou a vontade fixam determinado prazo para serem
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência exercidos e se não o forem, extingue-se o próprio direito material.
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, O instituto da decadência tem a finalidade de garantir a segu-
em todos os casos, a apreciação judicial. rança jurídica. A decadência que decorre de prazo legal é de ordem
pública, não podendo ser renunciada. Entretanto, se o prazo deca-
Revogação: É a retirada do ato administrativo em decorrência dencial for ajustado, por declaração unilateral de vontade ou por
da sua inconveniência ou inoportunidade em face dos interesses convenção entre as partes, pode ser renunciado, que correspon-
públicos. Somente se revoga ato válido que foi praticado de acordo derá a uma revogação da condição para o exercício de um direito
com a lei. A revogação somente poderá ser feita por via adminis- dentro de determinado tempo.
trativa. Para Hely Lopes Meirelles mais adequado seria considerar-se
Quando se revoga um ato, diz-se que a Administração perdeu como de decadência administrativa os prazos estabelecidos por
o interesse na manutenção deste, ainda que não exista vício que o diversas leis, para delimitar no tempo as atividades da Adminis-
tome. Trata-se de ato discricionário, referente ao mérito adminis- tração. E isso porque a prescrição, como instituto jurídico, pressu-
trativo, por set um ato legal, todos os atos já foram produzidos de põe a existência de uma ação judicial apta à defesa de um direito.
forma lícita, de modo que a revogação não irá retroagir, contudo Contudo, a legislação, ao estabelecer os prazos dentro dos quais o
mantem-se os efeitos já produzidos (ex nunc). administrado pode interpor recursos administrativos ou pode a Ad-
Não há limite temporal para a revogação de atos administrati- ministração manifestar-se, seja pela prática de atos sobre a conduta
vos, não se configurando a decadência, no prazo quinquenal, tendo de seus servidores, sobre obrigações fiscais dos contribuintes, ou
em vista o entendimento que o interesse público pode ser alterado outras obrigações com os administrados, refere-se a esses prazos
a qualquer tempo. denominando-os de prescricionais.
Não existe efeito repristinatório, ou seja, a retirada do ato, por Em suma, decadência administrativa ocorre com o transcurso do
razões de conveniência e oportunidade. prazo, impedindo a prática de um ato pela própria Administração.

Convalidação ou Sanatória: É o ato administrativo que, com


efeitos retroativos, sana vício de ato antecedente, de modo a torná- CONTROLE E PARTICIPAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLI-
-lo válido desde o seu nascimento, ou seja, é um ato posterior que CA
sana um vício de um ato anterior, transformando-o em válido desde
o momento em que foi praticado. Alguns autores, ao se referir à INTRODUÇÃO
convalidação, utilizam a expressão sanatória. A Administração Pública se sujeita a controle por parte dos Po-
O ato convalidatório tem natureza vinculada (corrente majori- deres Legislativo e Judiciário, além de exercer, ela mesma, o contro-
tária), constitutiva, secundária, e eficácia ex tunc. le sobre os próprios atos.
Há alguns autores que não aceitam a convalidação dos atos, Com base nesses elementos, Maria Sylvia Zanella di Pietro con-
sustentando que os atos administrativos somente podem ser nu- ceitua “o controle da Administração Pública como o poder de fis-
los. Os únicos atos que se ajustariam à convalidação seriam os atos calização e correção que sobre ela exercem os órgãos dos Poderes
anuláveis. Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir a con-
formidade de sua atuação com os princípios que lhe são impostos
pelo ordenamento jurídico”.

292
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Embora o controle seja atribuição estatal, há possibilidade cons- f) recursos administrativos hierárquicos ou de ofício: por ve-
titucional do administrado participar dele à medida que pode e deve zes a lei condiciona a decisão ao reexame superior, carecendo ser
provocar o procedimento de controle, não apenas na defesa de seus conhecida e eventualmente revista por agente hierarquicamente
interesses individuais, mas também na proteção do interesse coletivo. superior àquele que decidiu.
O controle abrange a fiscalização e a correção dos atos ilegais e,
em certa medida, dos inconvenientes ou inoportunos. Controle Administrativo Exercitado Por Provocação: Nesta
hipótese de controle interno, ou administrativo (por provocação),
CONTROLE EXERCIDO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (CON- pode decorrer das seguintes formas:
TROLE INTERNO) a) direito de petição: A Constituição Federal assegura a todos,
O controle administrativo é o que decorre da aplicação do prin- independentemente do pagamento de taxas, “o direito de petição
cípio do autocontrole, ou autotutela, do qual emerge o poder com aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
idêntica designação (poder de autotutela). abuso de poder” (art. 5º, XXXIV, a).
A Administração tem o dever de anular seus próprios atos, O direito individual consagrado no inciso XXXIV é amplo, e seu
quando eivados de nulidade, podendo revogá-los ou alterá-los, por exercício não exige legitimidade ou interesse comprovado. Pode,
conveniência e oportunidade, respeitados, nessa hipótese, os direi- assim, ser a petição individual ou coletiva subscrita por brasileiro ou
tos adquiridos. estrangeiro, pessoa física ou jurídica, e ser endereçada a qualquer
É o poder de fiscalização e correção que a Administração Pública dos Poderes do Estado.
(em sentido amplo) exerce sobre sua própria atuação, sob os aspectos Enquanto o direito de petição é utilizado para possibilitar o
de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação. acesso a informações de interesse coletivo, o direito de certidão
O controle sobre os órgãos da Administração Direta é um con- é utilizado para a obtenção de informações que dizem respeito ao
trole interno e decorre do poder de autotutela que permite à Admi- próprio requerente.
nistração Pública rever os próprios atos quando ilegais, inoportunos b) pedido de reconsideração: O pedido de reconsideração abri-
ou inconvenientes, sendo amplamente reconhecido pelo Poder Ju- ga requerimento que objetiva a revisão de determinada decisão
diciário (Súmulas 346 e 473 do STF). administrativa.
Exige a demonstração de interesse daquele que o subscreve,
Controle Administrativo Exercitado de Ofício: podendo ser exercido por pessoa física ou jurídica, brasileira ou
O controle é exercitado de ofício, pela própria Administração, estrangeira, desde que detentora de interesse. O prazo para sua
ou por provocação. Na primeira hipótese, pode decorrer de: fiscali- interposição deve estar previsto na lei que autoriza o ato; no seu
zação hierárquica; supervisão superior; controle financeiro; parece- silêncio, a prescrição opera-se em um ano, contado da data do ato
res vinculantes; ouvidoria; e recursos administrativos hierárquicos ou decisão.
ou de ofício. c) reclamação administrativa: Esta modalidade de recurso ad-
a) fiscalização hierárquica: Procede do poder hierárquico, que ministrativo tem a finalidade de conferir à oportunidade do cidadão
faculta à Administração a possibilidade de escalonar sua estrutura, questionar a realização de algum ato administrativo.
vinculando uns a outros e permitindo a ordenação, coordenação, Trata-se de pedido de revisão que impugna ato ou atividade
orientação de suas atividades. administrativa. É a oposição solene, escrita e assinada, a ato ou
b) supervisão superior: Difere da fiscalização hierárquica por- atividade pública que afete direitos ou interesses legítimos do re-
que não pressupõe o vínculo de subordinação, ficando limitada a clamante. Dessas reclamações são exemplos a que impugna lança-
hipóteses em que a lei expressamente admite a sua realização. No mentos tributários e a que se opõe a determinada medida punitiva.
âmbito da Administração Pública Federal é nominada de “supervi- d) recurso administrativo: Recurso é instrumento de defesa,
são ministerial” e aplicável às entidades vinculadas aos ministérios meio hábil de impugnação ou ferramenta jurídica que possibilita o
c) controle financeiro: O art. 74 da Constituição Federal deter- reexame de decisão da Administração. Os recursos administrativos
mina que os Poderes mantenham sistema de controle interno com a podem ser:
finalidade de “avaliar o cumprimento das metas previstas no plano 1. provocados ou voluntários: é o interposto pelo interessado,
plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos pelo particular, devendo ser dirigido à autoridade competente para
da União; comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à rever a decisão, contendo a exposição dos fatos e fundamentos ju-
eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimo- rídicos da irresignação.
nial nos órgãos e entidades da Administração Federal, bem como Nada impede, ainda, que, presente o recurso, julgue o admi-
da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; nistrador conveniente a revogação da decisão, ou a sua anulação,
exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem ainda que o recurso não objetive tal providência. Os recursos sem-
como dos direitos e haveres da União; apoiar o controle externo no pre produzem efeitos devolutivos, permitindo o reexame da maté-
exercício de sua missão institucional”. ria decidida (devolve à Administração a possibilidade de decidir), e
d) pareceres vinculantes: Trata-se de controle preventivo sobre excepcionalmente produzirão efeitos suspensivos, obstando a exe-
determinados atos e contratos administrativos realizado por órgão cução da decisão impugnada.
técnico integrante da Administração ou por órgão do Poder Execu-
tivo.
e) ouvidoria: limita-se a receber e proceder ao encaminhamen-
to das reclamações que recebe. Ouvidoria, assim entendido como
um canal de comunicação, tem-se dedicado a receber reclamações
de populares e usuários dos serviços públicos.

293
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

2. hierárquicos ou Administrativo: é o pedido de reexame do O Poder Judiciário possui como prerrogativa inerente a função
ato dirigido à autoridade superior à que o proferiu. Só podem recor- típica que exerce examinar os atos da Administração Pública, de
rer os legitimados, que, segundo o artigo 58 da Lei federal 9784/99, qualquer natureza, sejam gerais ou individuais, unilaterais ou bila-
são: terais, vinculados ou discricionários, mas sempre sob o aspecto da
-. Os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro- legalidade e da moralidade (art. 5º, LXXIII, e art. 37).
cesso; Quanto aos atos discricionários, sujeitam-se à apreciação judi-
-. Aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afe- cial, desde que não invadam os aspectos reservados à apreciação
tados pela decisão recorrida; subjetiva da Administração, conhecidos sob a denominação de mé-
-. Organizações e associações representativas, no tocante a di- rito (oportunidade e conveniência).
reitos e interesses coletivos; No entanto, não há invasão do mérito quando o Judiciário
-. Os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses aprecia os motivos, ou seja, os fatos que precedem a elaboração
difusos. do ato; a ausência ou falsidade do motivo caracteriza ilegalidade,
suscetível de invalidação pelo Poder Judiciário.
Pode-se, em tese, recorrer de qualquer ato ou decisão, salvo os Nos casos concretos, poderá o Poder Judiciário apreciar a le-
atos de mero expediente ou preparatórios de decisões. galidade ou constitucionalidade dos atos normativos do Poder
O recurso hierárquico tem sempre efeito devolutivo e pode ter Executivo, mas a decisão produzirá efeitos apenas entre as partes,
efeito suspensivo, se previsto em lei. devendo ser observada a norma do art. 97 da Constituição Federal,
Na decisão do recurso, o órgão ou autoridade competente tem que exige maioria absoluta dos membros dos Tribunais para a de-
amplo poder de revisão, podendo confirmar, desfazer ou modificar claração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
o ato impugnado. Entretanto, a reforma não pode impor ao recor- Público.
rente um maior gravame (reformatio in pejus). Com relação aos atos políticos, é possível também a sua apre-
ciação pelo Poder Judiciário, desde que causem lesão a direitos in-
e) Pedido de revisão é o recurso utilizado pelo servidor público dividuais ou coletivos.
punido pela Administração, visando ao reexame da decisão, no caso Quanto aos atos interna corporis (atos administrativos que pro-
de surgirem fatos novos suscetíveis de demonstrar a sua inocência. duzem efeitos internos), em regra, não são apreciados pelo Poder
Pode ser interposto pelo próprio interessado, por seu procurador Judiciário, porque se limitam a estabelecer normas sobre o funcio-
ou por terceiros, conforme dispuser a lei estatutária. É admissível namento interno dos órgãos; no entanto, se exorbitarem em seu
até mesmo após o falecimento do interessado. conteúdo, ferindo direitos individuais e coletivos, poderão também
ser apreciados pelo Poder Judiciário.
Coisa julgada administrativa:
Quando inexiste, no âmbito administrativo, possibilidade de CONTROLE LEGISLATIVO
reforma da decisão oferecida pela Administração Pública, está-se O controle legislativo, ou parlamentar, é exercido pelo Poder
diante da coisa julgada administrativa. Esta não tem o alcance da Legislativo em todas as suas esferas de atuação como:
coisa julgada judicial, porque o ato jurisdicional da Administração a) Federal: Congresso Nacional composto pelo Senado Federal,
Pública é tão-só um ato administrativo decisório, destituído do po- Câmara dos Deputados,
der de dizer do direito em caráter definitivo. Tal prerrogativa, no b) Estadual: Assembleias Legislativas,
Brasil, é só do Judiciário. c) Municipal: Câmara de Vereadores
A imodificabilidade da decisão da Administração Pública só en- d) Distrital: Câmara Distrital
contra consistência na esfera administrativa. Perante o Judiciário,
qualquer decisão administrativa pode ser modificada, salvo se tam- O controle que o Poder Legislativo exerce sobre a Administra-
bém essa via estiver prescrita. ção Pública limita-se às hipóteses previstas na Constituição Federal.
Portanto, a expressão “coisa julgada”, no Direito Administrati- Alcança os órgãos do Poder Executivo, as entidades da Administra-
vo, não tem o mesmo sentido que no Direito Judiciário. Ela significa ção Indireta e o próprio Poder Judiciário, quando executa função
apenas que a decisão se tornou irretratável pela própria Adminis- administrativa.
tração. O exercício do controle constitui uma das funções típicas do
Poder Legislativo, ao lado da função de legislar.
CONTROLE JUDICIAL
O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema de juris- Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI): As Comissões
dição una processar e julgar suas lides, pelo qual o Poder Judiciá- Parlamentares de Inquérito são constituídas pelo Senado ou pela
rio tem o monopólio da função jurisdicional, ou seja, do poder de Câmara, em conjunto ou separadamente, para investigar fato deter-
apreciar, com força de coisa julgada, a lesão ou ameaça de lesão a minado e por prazo certo. Exige-se que o requerimento para a insta-
direitos individuais e coletivos (art. 5º, XXXV CF/88). lação contenha um terço de adesão dos membros que compõem as
Neste aspecto afastou o sistema da dualidade de jurisdição, Casas Legislativas, sendo suas conclusões encaminhadas, quando
em que, paralelamente ao Poder Judiciário, existem os órgãos de for o caso, ao Ministério Público.
Contencioso Administrativo, que exercem, como aquele, função As Comissões detêm poderes de investigação, mas não com-
jurisdicional sobre lides de que a Administração Pública seja parte petência para atos judiciais. Assim, investigam com amplitude, mas
interessada. não julgam e submetem suas conclusões ao Ministério Público.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Pedido de Informações: O controle exercido por “pedido de in- Os Tribunais de Contas têm natureza jurídica de órgãos públi-
formações” está previsto no art. 50, § 2º, da Constituição Federal, cos primários despersonalizados. São chamados de órgãos “pri-
podendo ser dirigido a ministro de Estado ou a qualquer agente mários” ou “independentes” porque seu fundamento e estrutura
público subordinado à Presidência da República, a fim de aclarar encontram-se na própria Constituição Federal, não se sujeitando
matéria que lhe seja afeta. a qualquer tipo de subordinação hierárquica ou funcional a outras
autoridades estatais
Tal pedido somente pode ser formulado pelas Mesas da Câ-
mara e do Senado, devendo ser atendido no prazo de trinta dias, Composição dos Tribunais de Contas: O Tribunal de Contas da
sujeitando o agente, no caso de descumprimento, a crime de res- União é composto por nove ministros que possuem as mesmas ga-
ponsabilidade. A norma é aplicável, por simetria, aos Estados e Mu- rantias, prerrogativas, vencimentos e impedimentos dos ministros
nicípios. do STJ.
Os Tribunais de Contas dos Estados são formados conforme
Convocação de Autoridades: A Constituição Federal permite às previsto nas Constituições Estaduais, respeitando sempre a Cons-
Casas Legislativas e às suas Comissões a convocação de ministros de tituição Federal. É integrado por sete conselheiros, sendo quatro
Estado para prestarem esclarecimentos sobre matéria previamente escolhidos pela Assembleia Legislativa e três pelo Governador do
definida. Tais esclarecimentos, ou informações, deverão ser pres- Estado (súmula 653 do STF).
tados pessoalmente e o descumprimento, repetimos, pode corres- Quanto à criação de Tribunais, Conselhos e órgãos de contas
ponder à prática de crime de responsabilidade. municipais, a Constituição Federal veda a sua criação, no entanto,
os municípios que possuíam estas instituições antes da Constituição
Constituição Federal: de 1988 poderão mantê-las. Já para os municípios posteriores a ela
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qual- terão o controle externo da Câmara Municipal realizado com o auxí-
quer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou lio dos Tribunais de Contas dos Estados e Ministério Público. Veja-se
quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidên- o dispositivo constitucional:
cia da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre
assunto previamente determinado, importando crime de responsa- Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder
bilidade a ausência sem justificação adequada. Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas
de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.
Nos Estados e Municípios, a Constituição Estadual e as Leis § 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com
Orgânicas também disciplinam, invariavelmente, a convocação de o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou
secretários municipais e dos dirigentes de autarquias, fundações, dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.
sociedades de economia mista, empresas públicas ou outras enti-
dades. Não há previsão constitucional para a convocação do chefe Competências: Os Tribunais de contas têm competência fisca-
do Executivo. lizadora e a exercem por meio da realização de auditorias e inspe-
ções em entidades e órgãos da Administração Pública.
Fiscalização pelo Tribunal de Contas: A função desempenhada A competência de controle exercido pelos Tribunais de conta
pelo Tribunal de Contas é técnica, administrativa, e não jurisdicio- atinge a: legalidade, legitimidade, economicidade e aplicação de
nal. Apesar de auxiliar o Legislativo, detém autonomia e não integra subvenções e renúncia de receitas A Constituição Federal ampliou
a estrutura organizacional daquele Poder. significativamente as atribuições das Cortes de Contas, dentre as
A fiscalização não se restringe ao “controle financeiro”, mas in- quais se destacam:
clui a fiscalização contábil, orçamentária, operacional e patrimonial a) oferecer parecer prévio sobre contas prestadas anualmente
da Administração Pública direta e indireta, bem como de qualquer pelo chefe do Poder Executivo;
pessoa física ou jurídica que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou b) examinar, julgando, as contas dos agentes públicos e admi-
administre dinheiros, bens e valores públicos (CF, art. 70, parágrafo nistradores de dinheiros, bens e valores públicos;
único). c) aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
ou irregularidade de contas, sanções previstas em lei;
CONTROLE PELOS TRIBUNAIS DE CONTAS d) fiscalizar repasses de recursos efetuados pela União a Esta-
O Tribunal de Contas é competente para realizar a fiscalização dos, Distrito Federal ou a Municípios, mediante convênio, acordo,
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial dos ajuste ou outros instrumentos congêneres;
entes federativos, da Administração Pública direta e indireta, além e) conceder prazo para a correção de irregularidade ou ilega-
das empresas públicas e sociedades de economia mista que tam- lidade;
bém estão sujeitas à fiscalização dos Tribunais de Contas. f) realizar auditorias e inspeções de natureza contábil, financei-
O Tribunal de Contas auxilia o Poder Legislativo mas não o inte- ra, orçamentária, operacional e patrimonial em qualquer unidade
gra de forma direta. Embora o nome sugira que faça parte do Poder administrativa dos três Poderes, seja da Administração direta, seja
Judiciário, o Tribunal de Contas está administrativamente enqua- da indireta.
drado no Poder Legislativo. Essa é a posição adotada no Brasil, pois
em outros países essa corte pode integrar qualquer dos outros dois O Supremo Tribunal Federal reconheceu a competência do Tri-
poderes. Sua situação é de órgão auxiliar do Congresso Nacional, e bunal de Contas para apreciar a inconstitucionalidade de leis e atos
como tal exerce competências de assessoria do Parlamento, bem do poder público, dessa forma suas atribuições não dizem respeito
como outras privativas. somente à apreciação da legalidade, mas também da legitimidade
do órgão e do princípio da economicidade. Segue a súmula:

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Súmula 347, STF. O Tribunal de Contas, no exercício de suas atri- ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
buições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Os serviços públicos possuem quatro caracteres jurídicos funda-
poder público. mentais que configuram seus elementos constitutivos, quais sejam:
- Generalidade: o serviço público deve ser prestado a todos, ou
É ainda competente para fiscalizar os procedimentos de licita- seja à coletividade.
ções e, nesse caso, possui prerrogativa para adotar medidas caute- - Uniformidade: exige a igualdade entre os usuários do serviço
lares com a finalidade de evitar futura lesão ao erário, bem como público, assim todos eles devem ser tratados uniformemente.
para garantir o cumprimento de suas decisões. - Continuidade: não se pode suspender ou interromper a pres-
Cabe destacar que é da alçada do Tribunal de Contas julgar as tação do serviço público.
contas anuais dos administradores e outros responsáveis pelo erá- - Regularidade: todos os serviços devem obedecer às normas
rio público. técnicas.
Tem ainda o Tribunal a chamada competência sancionatória, - Modicidade: o serviço deve ser prestado da maneira mais ba-
ou seja, o poder de aplicar sanções em caso de ilegalidades nas des- rata possível, de acordo com a tarifa mínima. Deve-se considerar a
pesas e nas contas. Suas decisões tem natureza de título executivo. capacidade econômica do usuário com as exigências do mercado,
evitando que o usuário deixe de utilizá-lo por motivos de ausência
de condições financeiras.
PROCESSO ADMINISTRATIVO - Eficiência: para que o Estado preste seus serviços de maneira
eficiente é necessário que o Poder Público atualize-se com novos
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda- processos tecnológicos, devendo a execução ser mais proveitosa
do na matéria de Organização administrativa com o menos dispêndio.

Em caso de descumprimento de um dos elementos supra men-


ASPECTOS JURÍDICOS DO SERVIÇO PÚBLICO cionado, o usuário do serviço tem o direito de recorrer ao Judiciário
e exigir a correta prestação.
CONCEITO
Serviços públicos são aqueles serviços prestados pela Adminis- REGULAMENTAÇÃO E CONTROLE
tração, ou por quem lhe faça às vezes, mediante regras previamente
estipuladas por ela para a preservação do interesse público. A regulação de serviços públicos
A titularidade da prestação de um serviço público sempre será Pode ser definida como sendo a atividade administrativa de-
da Administração Pública, somente podendo ser transferido a um sempenhada por pessoa jurídica de direito público que consiste no
particular a prestação do serviço público. As regras serão sempre disciplinamento, na regulamentação, na fiscalização e no controle
fixadas unilateralmente pela Administração, independentemente do serviço prestado por outro ente da Administração Pública ou
de quem esteja executando o serviço público. Qualquer contrato por concessionário ou permissionário do serviço público, à luz de
administrativo aos olhos do particular é contrato de adesão. poderes que lhe tenham sido, por lei, atribuídos para a busca da
Para distinguir quais serviços são públicos e quais não, deve-se adequação daquele serviço, do respeito às regras fixadoras da po-
utilizar as regras de competência dispostas na Constituição Federal. lítica tarifária, da harmonização, do equilíbrio e da composição dos
Quando não houver definição constitucional a respeito, deve-se ob- interesses de todos os envolvidos na prestação deste serviço, assim
servar as regras que incidem sobre aqueles serviços, bem como o como da aplicação de penalidades pela inobservância das regras
regime jurídico ao qual a atividade se submete. Sendo regras de di- condutoras da sua execução.
reito público, será serviço público; sendo regras de direito privado, A regulação do serviço público pode ocorrer sobre serviços
será serviço privado. executados de forma direta, outorgados a entes da administração
O fato de o Ente Federado ser o titular dos serviços não signifi- indireta ou para serviços objeto de delegação por concessão, per-
ca que deva obrigatoriamente prestá-los por si. Assim, tanto poderá missão ou autorização. Em qualquer um desses casos, a atividade
prestá-los por si mesmo, como poderá promover-lhes a prestação, regulatória é diversa e independente da prestação dos serviços.
conferindo à entidades estranhas ao seu aparelho administrativo, Desta forma é necessário que o órgão executor do serviço seja di-
titulação para que os prestem, segundo os termos e condições fixa- verso do órgão regulador, do contrário, haverá uma tendência na-
das, e, ainda, enquanto o interesse público aconselhar tal solução. tural a que a atividade de regulação seja deixada de lado, em detri-
Dessa forma, esses serviços podem ser delegados a outras entida- mento da execução, ou que aquela seja executada sem a isenção,
des públicas ou privadas, na forma de concessão, permissão ou au- indispensável a sua adequada realização.
torização.
Assim, em sentido amplo, pode-se dizer que serviço público é Regulamentação e controle
a atividade ou organização abrangendo todas as funções do Estado; A regulamentação e o controle competem ao serviço público,
já em sentido estrito, são as atividades exercidas pela administra- independente da forma de prestação de serviço público ao usuário.
ção pública. Caso o serviço não esteja sendo prestado de forma correta, o
Poder Público poderá intervir e retirar a prestação do terceiro que
se responsabilizou pelo serviço. Deverá ainda exigir eficiência para
o cumprimento do contrato.
Como a Administração goza de poder discricionário, poderão
ter as cláusulas contratuais modificadas ou a delegação do serviço
público revogada, atendendo ao interesse público.

296
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

O caráter do serviço público não é a produção de lucros, mas Por outro lado, o serviço público também pode ser executado
sim servir ao público donde nasce o direito indeclinável da Adminis- por particulares, por meio de concessão, permissão, autorização.
tração de regulamentar, fiscalizar, intervir, se não estiver realizando
a sua obrigação. Competência
São de competência exclusiva do Estado, não podendo delegar
Características jurídicas: a prestação à iniciativa privada: os serviços postais e correio aéreo
As características do serviço público envolvem alguns elemen- nacional.
tos, tais quais: elemento subjetivo, elemento formal e elemento Art. 21, CF Compete à União:
material. ()
- Elemento Subjetivo – o serviço público compete ao Estado X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional
que poderá delegar determinados serviços públicos, através de lei
e regime de concessão ou permissão por meio de licitação. O Es- Além desses casos, veja estes incisos ainda trazidos no mesmo
tado é responsável pela escolha dos serviços que em determinada artigo constitucional:
ocasião serão conhecidos como serviços públicos. Exemplo: energia Art. 21, CF Compete à União:
elétrica; navegação aérea e infraestrutura portuária; transporte fer- ()
roviário e marítimo entre portos brasileiros e fronteiras nacionais; XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; ou permissão:
portos fluviais e lacustres; serviços oficiais de estatística, geografia a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; (Re-
e geologia dação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)
- Elemento Material – o serviço público deve corresponder a b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveita-
uma atividade de interesse público. mento energético dos cursos de água, em articulação com os Esta-
- Elemento Formal – a partir do momento em que os particula- dos onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
res prestam serviço com o Poder Público, estamos diante do regime c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeropor-
jurídico híbrido, podendo prevalecer o Direito Público ou o Direito tuária;
Privado, dependendo do que dispuser a lei. Para ambos os casos, a d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre por-
responsabilidade é objetiva. (os danos causados pelos seus agentes tos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites
serão indenizados pelo Estado) de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e interna-
FORMAS DE PRESTAÇÃO E MEIOS DE EXECUÇÃO cional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
Titularidade
A titularidade da prestação de um serviço público sempre será Titularidade não-exclusiva do Estado: os particulares podem
da Administração Pública, somente podendo ser transferido a um prestar, independentemente de concessão, são os serviços sociais.
particular a execução do serviço público. Ex: serviços de saúde, educação, assistência social.
As regras serão sempre fixadas de forma unilateral pela Admi-
nistração, independentemente de quem esteja executando o servi- De acordo com nossa Lei maior compete aos Estados e ao Dis-
ço público. trito Federal:
Para distinguir quais serviços são públicos e quais não, deve-se Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui-
utilizar as regras de competência dispostas na Constituição Federal. ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui-
Quando não houver definição constitucional a respeito, de- ção.
ve-se observar as regras que incidem sobre aqueles serviços, bem § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes
como o regime jurídico ao qual a atividade se submete. Sendo re- sejam vedadas por esta Constituição.
gras de direito público, será serviço público; sendo regras de direito § 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante con-
privado, será serviço privado. cessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada
Desta forma, os instrumentos normativos de delegação de ser- a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
viços públicos, como concessão e permissão, transferem apenas a § 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir
prestação temporária do serviço, mas nunca delegam a titularidade regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
do serviço público. constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para inte-
Assim, em sentido amplo, pode-se dizer que serviço público é grar a organização, o planejamento e a execução de funções públi-
a atividade ou organização abrangendo todas as funções do Estado; cas de interesse comum.
já em sentido estrito, são as atividades exercidas pela administra-
ção pública. Ao Distrito Federal:
Portanto, a execução de serviços públicos poderá ser realizada Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios,
pela administração direta, indireta ou por particulares. Oportuno reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício
lembrar que a administração direta é composta por órgãos, que não mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legisla-
têm personalidade jurídica, que não podem estar, em regra, em juí- tiva, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
zo para propor ou sofrer medidas judiciais. Constituição.
A administração indireta é composta por pessoas, surgindo § 1º - Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legis-
como exemplos: autarquias, fundações, empresas públicas, socie- lativas reservadas aos Estados e Municípios.
dades de economia mista. [...]

297
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

O artigo 30 da Constituição Federal, traz os serviços de compe- DELEGAÇÃO


tência dos municípios, destacando-se o disposto no inciso V As formas de delegação por concessões de serviços públicos e
Art. 30. Compete aos Municípios: de obras públicas e as permissões de serviços públicos reger-se-ão
I - legislar sobre assuntos de interesse local; pelos termos do art. 175 da Constituição Federal, pela lei 8.987/95,
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; pelas normas legais pertinentes e pelas cláusulas dos indispensá-
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem veis contratos.
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres- Vamos conferir a redação do artigo 175 da Constituição Fede-
tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; ral:
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamen-
estadual; te ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces- licitação, a prestação de serviços públicos.
são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o Parágrafo único. A lei disporá sobre:
de transporte coletivo, que tem caráter essencial; I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua pror-
do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen- rogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e res-
tal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) cisão da concessão ou permissão;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e II - os direitos dos usuários;
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; III - política tarifária;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo- IV - a obrigação de manter serviço adequado.
rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e
da ocupação do solo urbano; Note-se que o dispositivo não faz referência à autorização de
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, serviço público, talvez porque os chamados serviços públicos auto-
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. rizados não sejam prestados a terceiros, mas aos próprios particu-
lares beneficiários da autorização; são chamados serviços públicos,
Formas de prestação do serviço público porque atribuídos à titularidade exclusiva do Estado, que pode, dis-
a). Prestação Direta: É a prestação do serviço pela Administra- cricionariamente, atribuir a sua execução ao particular que queira
ção Pública Direta, que pode se realizar de duas maneiras: prestá-lo, não para atender à coletividade, mas às suas próprias ne-
- pessoalmente pelo Estado: quando for realizada por órgãos cessidades.
públicos da administração direta.
- com auxílio de particulares: quando for realizada licitação, Concessão de serviço público:
celebrando contrato de prestação de serviços. Apesar de feita por É a delegação da prestação do serviço público feita pelo poder
particulares, age sempre em nome do Estado, motivo pelo qual a concedente, mediante licitação na modalidade concorrência, à pes-
reparação de eventual dano é de responsabilidade do Estado. soa jurídica ou consórcio de empresas que demonstrem capacidade
de desempenho por sua conta e risco, com prazo determinado.
b) Prestação Indireta por outorga: nesse caso a prestação de Essa capacidade de desempenho é averiguada na fase de habi-
serviços públicos pode ser realizada por pessoa jurídica especializa- litação da licitação. Qualquer prejuízo causado a terceiros, no caso
da criada pelo Estado, se houver lei específica. Este tipo de presta- de concessão, será de responsabilidade do concessionário – que
ção é feita pela Administração Pública Indireta, ou seja, pelas autar- responde de forma objetiva (art. 37, § 6.º, da Constituição Federal)
quias, fundações públicas, associações públicas, empresas públicas tendo em vista a atividade estatal desenvolvida, respondendo a Ad-
e sociedades de economia mista. A responsabilidade pela reparação ministração Direta subsidiariamente.
de danos decorrentes da prestação de serviços, neste caso, é objeti- É admitida a subconcessão, nos termos previstos no contrato
va e do próprio prestador do serviço, mas o Estado (Administração de concessão, desde que expressamente autorizada pelo poder
Direta) tem responsabilidade subsidiária, caso a Administração In- concedente. A subconcessão corresponde à transferência de par-
direta não consiga suprir a reparação do dano. A remuneração paga cela do serviço público concedido a outra empresa ou consórcio
pelo usuário tem natureza de taxa. de empresas. É o contrato firmado por interesse da concessionária
para a execução parcial do objeto do serviço concedido.
c) Prestação Indireta por delegação: é realizada por conces-
sionários e permissionários, após regular licitação. Se a delegação Extinção da concessão de serviço público e reversão dos bens
tiver previsão em lei específica, é chamada de concessão de servi- São formas de extinção do contrato de concessão:
ço público e se depender de autorização legislativa, é chamada de - Advento do termo contratual (art. 35, I da Lei 8987/95).
permissão de serviço público. - Encampação (art. 35, II da Lei 8987/95).
A prestação indireta por delegação só pode ocorrer nos cha- - Caducidade (art. 35, III da Lei 8987/95).
mados serviços públicos uti singuli e a responsabilidade por danos - Rescisão (art. 35, IV da Lei 8987/95).
causados é objetiva e direta das concessionárias e permissionárias, - Anulação (art. 35, V da Lei 8987/95).
podendo o Estado responder apenas subsidiariamente. A natureza - Falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento
da remuneração para pelo usuário é de tarifa ou preço público. ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual (art. 35,
Importante lembrar, que o poder de fiscalização da prestação VI da Lei 8987/95).
de serviços públicos é sempre do Poder Concedente.
Assunção (reassunção): é a retomada do serviço público pelo
poder concedente assim que extinta a concessão.

298
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Nos termos do que estabelece o artigo 35 §2º da Lei 8.987/75: VI - a concessionária não atender a intimação do poder conce-
“Art. 35, § 2º - Extinta a concessão, haverá a imediata assunção dente no sentido de regularizar a prestação do serviço; e
do serviço pelo poder concedente, procedendo-se aos levantamen- VII - a concessionária não atender a intimação do poder conce-
tos, avaliações e liquidações necessários). dente para, em 180 (cento e oitenta) dias, apresentar a documenta-
ção relativa a regularidade fiscal, no curso da concessão, na forma
Reversão: é o retorno de bens reversíveis (previstos no edital e do art. 29 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
no contrato) usados durante a concessão. § 2o A declaração da caducidade da concessão deverá ser pre-
Nos termos do que estabelece o artigo 35 §1º da Lei 8.987/75: cedida da verificação da inadimplência da concessionária em pro-
“Art. 35, § 1º - Extinta a concessão, retornam ao poder conce- cesso administrativo, assegurado o direito de ampla defesa.
dente todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos § 3o Não será instaurado processo administrativo de inadim-
ao concessionário conforme previsto no edital e estabelecido no plência antes de comunicados à concessionária, detalhadamente,
contrato”. os descumprimentos contratuais referidos no § 1º deste artigo,
a) Advento do termo contratual: É uma forma de extinção dos dando-lhe um prazo para corrigir as falhas e transgressões aponta-
contratos de concessão por força do término do prazo inicial previs- das e para o enquadramento, nos termos contratuais.
to. Esta é a única forma de extinção natural. § 4o Instaurado o processo administrativo e comprovada a
b) Encampação: É uma forma de extinção dos contratos de con- inadimplência, a caducidade será declarada por decreto do poder
cessão, mediante autorização de lei específica, durante sua vigên- concedente, independentemente de indenização prévia, calculada
cia, por razões de interesse público. Tem fundamento na suprema- no decurso do processo.
cia do interesse público sobre o particular. § 5o A indenização de que trata o parágrafo anterior, será devi-
O poder concedente tem a titularidade para promovê-la e o da na forma do art. 36 desta Lei e do contrato, descontado o valor
fará de forma unilateral, pois um dos atributos do ato administra- das multas contratuais e dos danos causados pela concessionária.
tivo é a autoexecutoriedade. - O concessionário terá direito à inde- § 6o Declarada a caducidade, não resultará para o poder con-
nização. cedente qualquer espécie de responsabilidade em relação aos en-
cargos, ônus, obrigações ou compromissos com terceiros ou com
Nos termos do que estabelece o artigo 37 da Lei 8.987/75: empregados da concessionária.
“Art. 37 - Considera-se encampação a retomada do serviço pelo
poder concedente durante o prazo da concessão, por motivo de in- d) Rescisão é uma forma de extinção dos contratos de conces-
teresse público, mediante lei autorizativa específica e após prévio são, durante sua vigência, por descumprimento de obrigações pelo
pagamento da indenização na forma do artigo anterior” poder concedente.
O concessionário tem a titularidade para promovê-la, mas pre-
c) Caducidade: É uma forma de extinção dos contratos de con- cisa ir ao Poder Judiciário. Nesta hipótese, os serviços prestados
cessão durante sua vigência, por descumprimento de obrigações pela concessionária não poderão ser interrompidos ou paralisados
contratuais pelo concessionário. até decisão judicial transitada em julgado
O poder concedente tem a titularidade para promovê-la e o Nos termos do que estabelece o artigo 39 da Lei 8.987/75:
fará de forma unilateral, sem a necessidade de ir ao Poder Judiciá- “Art. 39 - O contrato de concessão poderá ser rescindido por
rio. iniciativa da concessionária, no caso de descumprimento das nor-
O concessionário não terá direito a indenização, pois cometeu mas contratuais pelo poder concedente, mediante ação judicial es-
uma irregularidade, mas tem direito a um procedimento adminis- pecialmente intentada para esse fim”
trativo no qual será garantido contraditório e ampla defesa. Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput deste artigo, os
Nos termos do que estabelece o artigo 38 da Lei 8.987/75: serviços prestados pela concessionária não poderão ser interrom-
Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acarretará, a pidos ou paralisados, até a decisão judicial transitada em julgado.
critério do poder concedente, a declaração de caducidade da con-
cessão ou a aplicação das sanções contratuais, respeitadas as dis- O artigo 78 da Lei 8.666/93 traz motivos que levam à rescisão
posições deste artigo, do art. 27, e as normas convencionadas entre do contrato, tais como:
as partes. XV- Atraso superior a 90 dias do pagamento devido pela Admi-
§ 1o A caducidade da concessão poderá ser declarada pelo po- nistração, decorrentes de obras, serviços ou fornecimento, ou parce-
der concedente quando: las destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de calamidade
I - o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra, assegurado
deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e parâ- ao contratado o direito de optar pela suspensão do cumprimento de
metros definidores da qualidade do serviço; suas obrigações até que seja normalizada a situação;
II - a concessionária descumprir cláusulas contratuais ou dispo- XIV- Suspensão da execução do serviço público pela Administra-
sições legais ou regulamentares concernentes à concessão; ção Pública por prazo superior a 120 dias, sem a concordância do
III - a concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tan- concessionário, salvo em caso de calamidade pública, grave pertur-
to, ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força bação da ordem interna ou guerra.
maior;
IV - a concessionária perder as condições econômicas, técnicas O artigo 79 da Lei 8.666/93 prevê três formas de rescisão dos
ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço con- contratos administrativo, sendo elas:
cedido; 1. Rescisão por ato unilateral da Administração;
V - a concessionária não cumprir as penalidades impostas por 2. Rescisão amigável,
infrações, nos devidos prazos; 3. Rescisão judicial.

299
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Entretanto, na lei de concessão é diferente, existindo apenas O que diferencia, basicamente, a autorização da permissão é o
uma forma de rescisão do contrato, ou seja, aquela promovida pelo grau de precariedade. A autorização de serviço público tem preca-
concessionário no caso de descumprimento das obrigações pelo riedade acentuada e não está disciplinada na Lei n. 8.987/95. É apli-
poder concedente. cada para execução de serviço público emergencial ou transitório
e) Anulação: É uma forma de extinção os contratos de conces- Relativamente à permissão de serviço público, as suas caracte-
são, durante sua vigência, por razões de ilegalidade. rísticas assim se resumem:
Tanto o Poder Público com o particular podem promover esta a) é contrato de adesão, precário e revogável unilateralmente
espécie de extinção da concessão, diferenciando-se apenas quanto pelo poder concedente, embora tradicionalmente seja tratada pela
à forma de promovê-la. Assim, o Poder Público pode fazê-lo unilate- doutrina como ato unilateral, discricionário e precário, gratuito ou
ralmente e o particular tem que buscar o poder Judiciário. oneroso, intuitu personae.
A administração pode anular seus próprios atos, quando eiva- b) depende sempre de licitação, conforme artigo 175 da Cons-
dos de vícios que os tornem ilegais, porque deles não originam di- tituição;
reitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, c) seu objeto é a execução d e serviço público, continuando a
respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, titularidade do serviço com o Poder Público;
a apreciação judicial, é o que dispõe a Súmula do STF nº 473. d) o serviço é executado e m nome d o permissionário, por sua
conta e risco;
f) Falência ou extinção da empresa concessionária e falecimen- e) o permissionário sujeita-se à s condições estabelecidas pela
to ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual: Administração e a sua fiscalização;
- Falência: É uma forma de extinção dos contratos de conces- f) como ato precário, pode ser alterado ou revogado a qualquer
são, durante sua vigência, por falta de condições financeiras do momento pela Administração, por motivo de interesse público;
concessionário. - Tanto o Poder Público com o particular podem g) não obstante seja de sua natureza a outorga sem prazo, tem
promover esta espécie de extinção da concessão. a doutrina admitido a possibilidade de fixação de prazo, hipótese
- Incapacidade do titular, no caso de empresa individual: É uma em que a revogação antes do termo estabelecido dará ao permis-
forma de extinção dos contratos de concessão, durante sua vigên- sionário direito à indenização.
cia, por falta de condições financeiras ou jurídicas por parte do con-
cessionário. CLASSIFICAÇÃO
A doutrina administrativa assim classifica os Serviços Públicos:
Permissão de Serviço Público:
É a delegação a título precário, mediante licitação feita pelo po- a) Serviços delegáveis e indelegáveis:
der concedente à pessoa física ou jurídica que demonstrem capaci- Serviços delegáveis são aqueles que por sua natureza, ou pelo
dade de desempenho por sua conta e risco. fato de assim dispor o ordenamento jurídico, comportam ser execu-
tados pelo estado ou por particulares colaboradores. Ex: serviço de
A Lei n. 8.987/95 é contraditória quando se refere à natureza abastecimento de água e energia elétrica
jurídica da permissão, pois muito embora afirma que seja “precá- Serviços indelegáveis são aqueles que só podem ser prestados
ria”, mas exige que seja precedida de “licitação”, o que pressupõe pelo Estado diretamente, por seus órgãos ou agentes. Ex: serviço de
um contrato e um contrato de natureza não precária. segurança nacional.
Em razão disso, diverge a doutrina administrativa majoritária
entende que concessão é uma espécie de contrato administrativo b) Serviços administrativos e de utilidade pública:
destinado a transferir a execução de um serviço público para tercei- O chamado serviço de utilidade pública é o elenco de serviços
ros enquanto permissão é ato administrativo unilateral e precário. prestados à população ou postos à sua disposição, pelo Estado e
Nada obstante, a Constituição Federal iguala os institutos seus agentes, basicamente de infraestrutura e de uso geral, como
quando a eles se refere correios e telecomunicações, fornecimento de energia, dentre ou-
Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar con- tros.
cessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão so- Ex: imprensa oficial
nora e de sons e imagens, observado o princípio da complementari-
dade dos sistemas privado, público e estatal. c) Serviços coletivos e singulares:
[...] - Coletivo (uti universi): São serviços gerais, prestados pela Ad-
§ 4º O cancelamento da concessão ou permissão, antes de ven- ministração à sociedade como um todo, sem destinatário determi-
cido o prazo, depende de decisão judicial. nado e são mantidos pelo pagamento de impostos.
§ 5º O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para - Serviços singulares (uti singuli): são os individuais onde os
as emissoras de rádio e de quinze para as de televisão. usuários são determinados e são remunerados pelo pagamento de
taxa ou tarifa.
Autorização: Ex: serviço de telefonia domiciliar
É um ato administrativo unilateral, discricionário e precário,
pelo qual o Poder Público transfere por delegação a execução de d) Serviços sociais e econômicos:
um serviço público para terceiros. O ato é precário porque não tem - Serviços sociais: são os que o Estado executa para atender aos
prazo certo e determinado, possibilitando o seu desfazimento a reclamos sociais básicos e representam; ou uma atividade propicia-
qualquer momento. dora de comodidade relevante; ou serviços assistenciais e proteti-
vos. Ex: serviços de educação e saúde.

300
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

- Serviços econômicos: são aqueles que, por sua possibilidade Como o princípio é aplicável também na hipótese de serviço
de lucro, representam atividades de caráter industrial ou comercial. remunerado por meio de taxa, o mais apropriado seria denominá-lo
Ex: serviço de fornecimento de gás canalizado. princípio da modicidade da remuneração.
g) Princípio da transparência: o usuário tem direito de receber
e). Serviços próprios do poder concedente e da concessionária informações para defesa
Compreendem os que se relacionam intimamente com as atri- de interesses individuais ou coletivos.
buições do Poder Público (Ex.: segurança, polícia, higiene e saúde
públicas etc.) devendo ser usada a supremacia sobre os administra-
dos para a execução da Administração Pública. Em razão disso não AGENTES PÚBLICOS
podem ser delegados a particulares. Devido a sua essência, são na
maioria das vezes gratuitos ou de baixa remuneração. CONCEITO
Em seu conceito mais amplo Agente Público é a pessoa física
f). Serviços impróprios que presta serviços às Pessoas Jurídicas da Administração Pública
Por não afetarem substancialmente as necessidades da socie- Direta ou Indireta, também são aqueles que exercem função públi-
dade, apenas irá satisfazer alguns de seus membros, devendo ser ca, seja qual for a modalidade (mesário, jurado, servidor público,
remunerado pelos seus órgãos ou entidades administrativas, como etc.).
é o caso das autarquias, sociedades de economia mista ou ainda A Lei de Improbidade Administrativa (8.429/92) conceitua
por delegação. Agente Público:
“Artigo 2° - Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,
PRINCÍPIOS todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remu-
Vamos conferir os princípios fundamentais que ditam as dire- neração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qual-
trizes do serviço público: quer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, empre-
a) Princípio da continuidade da prestação do serviço público: go ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior”.
Em se tratando de serviço público, o princípio mais importante é o
da continuidade de sua prestação. Para o jurista administrativo Celso Antonio Bandeira de Mello
Na vigência de contrato administrativo, quando o particular “...esta expressão – agentes públicos – é a mais ampla que se pode
descumpre suas obrigações, há rescisão contratual. Se a Adminis- conceber para designar genérica e indistintamente os sujeitos que
tração, entretanto, que descumpre suas obrigações, o particular servem ao Poder Público como instrumentos expressivos de sua von-
não pode rescindir o contrato, tendo em vista o princípio da conti- tade ou ação, ainda quando o façam apenas ocasional ou episodica-
nuidade da prestação. mente. Quem quer que desempenhe funções estatais, enquanto as
Essa é a chamada “cláusula exorbitante”, que visa dar à Admi- exercita, é um agente público.”
nistração Pública uma prerrogativa que não existe para o particular, A denominação “agente público” é tratada como gênero das
colocando-a em uma posição superior em razão da supremacia do diversas espécies que vinculam o indivíduo ao estado a partir da
interesse público. sua natureza jurídica. As espécies do agente público podem ser di-
b) Princípio da mutabilidade: Fica estabelecido que a execução vididas como do qual são espécies os agentes políticos, servidores
do serviço público pode ser alterada, desde que para atender o in- públicos (servidores estatais, empregado público, temporários e co-
teresse público. Assim, nem os servidores, nem os usuários de ser- missionados), particulares em colaboração, agentes militares e os
viços públicos, nem os contratados pela administração pública, têm agentes de fato.
direito adquirido à manutenção de determinado regime jurídico.
c) Princípio da igualdade dos usuários: Esse princípio estipula ESPÉCIES (CLASSIFICAÇÃO)
que não haverá distinção entre as pessoas interessadas em con- Agentes públicos abrangem todas as demais categorias, sendo
tratar com a administração pública. Dessa forma, se tais pessoas que alguns deles fazem parte da estrutura administrativa do Estado,
possuírem condições legais de contratação, não poderão ser dife- seja em sua estrutura direta ou então na organização indireta.
renciadas. Outros, no entanto, não compõe os quadros internos da admi-
d) Princípio da adequação: na própria Lei 8.897/95, resta claro nistração Pública, isto é, são alheios ao aparelho estatal, permane-
que o serviço adequado é aquele que preenche as condições de re- cendo externamente.
gularidade, continuidade, eficiência, segurança, entre outros. Dessa
forma, se nota que à Administração Pública e aos seus delegados é Vamos analisar cada uma dessas categorias:
necessário que se respeite o que a legislação exige. a) Agentes políticos: agentes políticos exercem uma função
e) Princípio da obrigatoriedade: o Estado não tem a faculdade pública de alta direção do Estado. São os que ocupam lugar de co-
discricionária em prestar o serviço público, ele é obrigado a fazer, mando e chefia de cada um dos Poderes (Executivo, Legislativo e
sendo, dessa maneira, um dever jurídico. Judiciário). São titulares dos cargos estruturais à organização polí-
f) Princípio da modicidade das tarifas: significa que o valor exi- tica do País.
gido do usuário a título de remuneração pelo uso do serviço deve Ingressam em regra, por meio de eleições, desempenhando
ser o menor possível, reduzindo-se ao estritamente necessário para mandatos fixos e quando termina o mandato a relação com o Esta-
remunerar o prestador com acréscimo de pequena margem de lu- do também termina automaticamente.
cro. Daí o nome “modicidade”, que vem de “módico”, isto é, algo A vinculação dos agentes políticos com o aparelho governa-
barato, acessível. mental não é profissional, mas institucional e estatutária.

301
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Os agentes políticos serão remunerados exclusivamente por d) Particulares em colaboração / honoríficos: são prestadores
subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer de serviços ao Estado sem vinculação permanente de emprego e
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou sem remuneração. Essa categoria de agentes públicos pode ser
outra espécie remuneratória. prestada de diversas formas, segundo entendimento de Celso An-
tônio Bandeira de Mello, se dá por:
b) Servidores Públicos: são as pessoas que executam serviços - requisitados de serviço: como mesários e convocados para o
ao Estado e também às entidades da Administração Pública direta e serviço militar (conscritos);
indireta (sentido amplo). Os servidores têm vínculo empregatício e - gestores de negócios públicos: são particulares que assumem
sua remuneração é paga pelos cofres públicos. espontaneamente uma tarefa pública, em situações emergenciais,
Também chamados de servidores estatais engloba todos aque- quando o Estado não está presente para proteger o interesse pú-
les que mantêm com o Estado relação de trabalho de natureza pro- blico.
fissional, de caráter não eventual e sob o vínculo de dependência. - contratados por locação civil de serviços: é o caso, por exem-
Servidores públicos podem ser: plo, de jurista famoso contratado para emitir um parecer;
- estatutários: são os ocupantes de CARGOS PÚBLICOS e estão - concessionários e permissionários: exercem função pública
sob o regime estatutário. Quando nomeados, ingressam numa si- por delegação estatal;
tuação jurídica previamente definida, à qual se submetem com o - delegados de função ou ofício público: é o caso dos titulares
ato da posse. Assim, não tem como modificar as normas vigentes de cartórios.
por meio de contrato entre o servidor e a Administração, mesmo
que com a concordância de ambos, por se tratar de normas de or- e) Agentes de fato: é o particular que sem vínculo formal e le-
dem pública. Não há contrato de trabalho entre os estatutários e a gítimo com o Estado exerce função pública, acreditando estar de
Administração, tendo em vista sua natureza não contratual mas sim boa-fé e com o objetivo de atender o interesse público. Neste caso,
regida por um estatuto jurídico condicionada ao termo de posse. não há investidura prévia nos cargos, empregos e funções públicas.
- empregados públicos: são ocupantes de empregos públicos Agente de fato putativo: é aquele que desempenha atividade
contratados sob o regime da CLT, com vínculo contratual, precisam pública com a presunção de que tem legitimidade, mas há alguma
de aprovação em concurso público ou processo seletivo e sua de- ILEGALIDADE em sua INVESTIDURA. É aquele servidor que toma
missão precisa ser motivada; posse sem cumprir algum requisito do cargo.
- temporários ou em regime especial: são os contratados por Agentes de fato necessário: são os que atuam em situações de
tempo determinado, com base no artigo 37, IX, CF. Não ocupam calamidade pública ou emergência.
cargos ou empregos públicos e não exige aprovação em concurso
público, mas a Administração Pública deve respeitar os princípios CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICA
constitucionais da impessoalidade e da moralidade, realizando um Cargo, emprego e função pública são tipos de vínculos de tra-
processo seletivo simplificado. balho na Administração Pública ocupadas por servidores públicos.
A Constituição Federal, em vários dispositivos, emprega os vocábu-
Para que tenha a contratação de temporários, se faz necessária los cargo, emprego e função para designar realidades diversas, po-
a existência de lei regulamentadora, com a previsão dos casos de rém que existem paralelamente na Administração.
contratação, o prazo da contratação, a necessidade temporária e a
motivação do interesse público. Cargo público: unidade de atribuições e competências funcio-
- cargos comissionados: são os de livre nomeação e exonera- nais. É o lugar dentro da organização funcional da Administração
ção, tem caráter provisório e se destina às atribuições de direção, Direta de suas autarquias e fundações públicas que, ocupado por
chefia e assessoramento. Os efetivos também podem ser comissio- servidor público, submetidos ao regime estatuário.
nados. Ao servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissão Possui funções específicas e remuneração fixada em lei ou di-
aplica-se o regime geral de previdência social previsto na Constitui- ploma a ela equivalente. Todo cargo tem uma função, porém, nem
ção Federal, artigo 40, § 13. toda função pressupõe a existência de um cargo.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello são as mais simples e
c) Agentes militares: são as pessoas físicas que prestam ser- indivisíveis unidades de competência a serem titularizadas por um
viços à Forças Armadas (Marinha, Aeronáutica, Exército - art. 142, agente. São criados por lei, previstos em número certo e com de-
caput, e § 3º, CF, Polícias Militares, Corpo de Bombeiros - art. 42, nominação própria.
CF). Com efeito, as várias competências previstas na Constituição
Aqueles que compõem os quadros permanentes das forças para a União, Estados e Municípios são distribuídas entre seus res-
militares possuem vinculação estatutária, e não contratual, mas o pectivos órgãos, cada qual dispondo de determinado número de
regime jurídico é disciplinado por legislação específica diversa da cargos criados por lei, que lhes confere denominação própria, defi-
aplicável aos servidores civis. ne suas atribuições e fixa o padrão de vencimento ou remuneração.
Possui vínculo estatutário sujeito a regime jurídico próprio, me-
diante remuneração paga pelos cofres públicos. Empregos públicos: são núcleos de encargos de trabalho per-
manentes a serem preenchidos por pessoas contratadas para de-
sempenhá-los, sob relação jurídica trabalhista (CLT) de natureza
contratual e somente podem ser criados por lei.

302
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Função pública: é a atividade em si mesma, é a atribuição, as d) Reversão: trata-se do reingresso de servidor aposentado de
tarefas desenvolvidas pelos servidores. São espécies: seu ofício por não subsistirem mais as razões que lhe determinarão
a) Funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi- a aposentadoria por invalidez.
dores ocupantes de cargo efetivo, e destinadas ás atribuições de e) Aproveitamento: relaciona-se com a retomada do servidor
chefia, direção e assessoramento; posto em disponibilidade (ato pelo qual se transfere o servidor à
b) Funções exercidas por contratados por tempo determinado inatividade remunerada de servidor estável em razão de extinção
para atender a necessidade temporária de excepcional interesse do cargo ocupado ou destinado a reintegração de servidor), seja
público, nos termos da lei autorizadora, que deve advir de cada no mesmo cargo anteriormente ocupado ou em cargo equivalente
ente federado. quanto as atribuições e vencimentos.
f) Reintegração: retorno de servidor ilegalmente desligado de
REGIME JURÍDICO seu cargo. O reconhecimento do direito a reintegração pode decor-
Regime jurídico dos servidores públicos é o conjunto de nor- rer de decisão proferida na esfera administrativa ou judicial.
mas e princípios referentes a direitos, deveres e demais regras ju- g) Recondução: retorno de servidor estável ao cargo que an-
rídicas normas que regem a vida funcional do servidor. A lei que teriormente ocupava, seja por não ter sido habilitado no estágio
reúne estas regras é denominada de Estatuto e o regime jurídico probatório relativo a outro cardo para o qual tenha sido nomeado
passa a ser chamado de regime jurídico Estatutário. ou por ter sido desalojado do cargo em razão de reintegração do
No âmbito de cada pessoa política - União, Estados, Distrito Fe- servidor que ocupava o cargo anteriormente.
deral e Municípios - há um Estatuto. A Lei nº 8.112 de 11/12/1990
(por exemplo) estabeleceu que o regime jurídico Estatutário é o Vacância
aplicável aos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e A vacância é a situação jurídica atribuída a um cargo que está
fundações públicas federais, ocupantes de cargos públicos. sem ocupante. Vários fatos levam à vacância, entre os quais:
- o servidor pediu o desligamento (exoneração a pedido);
Provimento - o servidor foi desligado do cargo em comissão ou não iniciou
Segundo Hely Lopes Meirelles, é o ato pelo qual se efetua o exercício (exoneração ex officio);
preenchimento do cargo público, com a designação de seu titular. - o servidor foi punido com a perda do cargo (demissão);
Configura-se no ato de designação de um sujeito para titularizar - o servidor passou a exercer outro cargo ante limitações em
cargo público Podendo ser: sua capacidade física ou mental (readaptação);
a) originário ou inicial: quando o agente não possui vinculação - aposentadoria ou falecimento do servidor;
anterior com a Administração Pública; - acesso ou promoção.
b) derivado: pressupõe a existência de um vínculo com a Ad-
ministração. Para Di Pietro3, vacância é o ato administrativo pelo qual o ser-
vidor é destituído do cargo, emprego ou função.
Posse: é o ato pelo qual uma pessoa assume, de maneira efe- Decorre de exoneração, demissão, aposentadoria, promoção e
tiva, o exercício das funções para que foi nomeada, designada ou falecimento. O artigo 33 da Lei 8.112/90 prevê ainda a readaptação
eleita, ou seja, é sua investidura no cargo público. O ato da posse e a posse em outro cargo inacumulável. Mas a ascensão e a trans-
determina a concordância e a vontade do sujeito em entrar no exer- formação deixaram de existir por força da Lei 9.527/97.
cício, além de cumprir a exigência regulamentar. A exoneração não é penalidade; ela se dá a pedido ou ex offi-
cio, neste caso quando se tratar de cargo em comissão ou função
Exercício: é o momento em que o servidor dá início ao desem- de confiança; no caso de cargo efetivo, quando não satisfeitas as
penho de suas atribuições de trabalho. A data do efetivo exercício exigências do estágio probatório ou quando, tendo tomado posse,
é considerada como o marco inicial para a produção de todos os o servidor não entrar em exercício no prazo estabelecido.
efeitos jurídicos da vida funcional do servidor público e ainda para Já a demissão constitui penalidade decorrente da prática de ilí-
o início do período do estágio probatório, da contagem do tempo cito administrativo; tem por efeito desligar o servidor dos quadros
de contribuição para aposentadoria, período aquisitivo para a per- do funcionalismo.
cepção de férias e outras vantagens remuneratórias. A promoção é, ao mesmo tempo, ato de provimento no cargo
São formas de provimento: nomeação, promoção, readapta- superior e vacância no cargo inferior.
ção, reversão, aproveitamento, reintegração e recondução. A readaptação, segundo artigo 24 da 8.112/90, “é a investidura
a) Nomeação: é o único caso de provimento originário, já que o do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatí-
servidor dependerá da aprovação prévia em concurso público e não veis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou
possuirá relação anterior com o Estado; mental verificada em inspeção médica”.
b) Promoção: é forma de provimento derivado (neste caso o
agente público já se encontra ocupando o cargo) onde o servidor Efetividade, estabilidade e vitaliciedade
passará a exercer um cargo mais elevado dentro da carreira exer- Efetividade: cargos efetivos são aqueles que se revestem de ca-
cida. ráter de permanência, constituindo a maioria absoluta dos cargos
c) Readaptação: espécie de transferência efetuada com a finali- integrantes dos diversos quadros funcionais.
dade de prover o servidor em outro cargo compatível com eventual Com efeito, se o cargo não é vitalício ou em comissão, terá que
limitação de capacidade física ou mental, condicionada a inspeção ser necessariamente efetivo. Embora em menor escala que nos
médica. cargos vitalícios, os cargos efetivos também proporcionam segu-
rança a seus titulares; a perda do cargo, segundo art. 41, §1º da
3 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, 31ª edição, 2018

303
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Constituição Federal, só poderá ocorrer, quando estáveis, se houver Vitaliciedade: Cargos vitalícios são aqueles que oferecem a
sentença judicial ou processo administrativo em que se lhes faculte maior garantia de permanência a seus ocupantes. Somente através
ampla defesa, e agora também em virtude de avaliação negativa de de processo judicial, como regra, podem os titulares perder seus
desempenho durante o período de estágio probatório. cargos (art. 95, I, CF). Desse modo, torna-se inviável a extinção do
vínculo por exclusivo processo administrativo (salvo no período ini-
Estabilidade: confere ao servidor público a efetiva permanên- cial de dois anos até a aquisição da prerrogativa). A vitaliciedade
cia no serviço após três anos de estágio probatório, após os quais configura-se como verdadeira prerrogativa para os titulares dos
só perderá o cargo se caracterizada uma das hipóteses previstas no cargos dessa natureza e se justifica pela circunstância de que é ne-
artigo 41, § 1º, ou artigo 169, ambos da CF. cessária para tornar independente a atuação desses agentes, sem
que sejam sujeitos a pressões eventuais impostas por determina-
Hipóteses: dos grupos de pessoas.
a) em razão de sentença judicial com trânsito em julgado (art. Existem três cargos públicos vitalícios no Brasil:
41, §1º, I, da CF); - Magistrados (Art. 95, I, CF);
b) por meio de processo administrativo em que lhe seja assegu- - Membros do Ministério Público (Art. 128, § 5º, I, “a”, CF);
rada a ampla defesa (art. 41, § 1º, II, da CF); - Membros dos Tribunais de Contas (Art. 73, §3º).
c) mediante procedimento de avaliação periódica de desempe-
nho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa (art. Por se tratar de prerrogativa constitucional, em função da qual
41, § 1º, III, da CF); cabe ao Constituinte aferir a natureza do cargo e da função para
d) em virtude de excesso de despesas com o pessoal ativo e atribuí-la, não podem Constituições Estaduais e Leis Orgânicas mu-
inativo, desde que as medidas previstas no art. 169, § 3º, da CF, não nicipais, nem mesmo lei de qualquer esfera, criar outros cargos com
surtam os efeitos esperados (art. 169, § 4º, da CF). a garantia da vitaliciedade. Consequentemente, apenas Emenda à
Constituição Federal poderá fazê-lo.
A estabilidade é a prerrogativa atribuída ao servidor que preen-
cher os requisitos estabelecidos na Constituição Federal que lhe ga- Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e fun-
rante a permanência no serviço. ções públicas
O servidor estável, que tiver seu cargo extinto, não estará fora Com efeito, as várias competências previstas na Constituição
da Administração Pública, porque a norma constitucional lhe garan- para a União, Estados e Municípios são distribuídas entre seus res-
te estabilidade no serviço e não no cargo. Nesta hipótese o servidor pectivos órgãos, cada qual dispondo de determinado número de
é colocado em disponibilidade remunerada, seguindo o disposto no cargos criados por lei, que lhes confere denominação própria, defi-
art. 41, § 3.º, da Constituição sendo sua remuneração calculada de ne suas atribuições e fixa o padrão de vencimento ou remuneração.
forma proporcional ao tempo de serviço. Criar um cargo é oficializá-lo, atribuindo a ele denominação
O servidor aprovado em concurso público de cargo regido pela própria, número certo, funções determinadas, etc. Somente se cria
lei 8112/90 e consequentemente nomeado passará por um período um cargo por meio de lei, logo cada Poder, no âmbito de suas com-
de avaliação, terá o novo servidor que comprovar no estágio proba- petências podem criar um cargo por meio da lei. No caso dos cargos
tório que tem aptidão para exercer as atividades daquele cargo para públicos da União, o vencimento é pago pelos cofres públicos, para
o qual foi nomeado em tais fatores: provimento em caráter efetivo ou em comissão.
a) Assiduidade; A transformação ocorre quando há modificação ou alteração
b) Disciplina; na natureza do cargo de forma que, ao mesmo tempo em que o
c) Capacidade de iniciativa; cargo é extinto, outro é criado. Somente se dá por meio de lei e há
d) Produtividade; o aproveitamento de todos os servidores quando o novo cargo tiver
e) Responsabilidade. o mesmo nível e atribuições compatíveis com o anterior.
A extinção corresponde ao fim do cargo e também deve ser
Atualmente o prazo mencionado de 3 anos de efetivo exercício efetuada por meio de lei.
para o servidor público (de forma geral), adquirir estabilidade é o No entanto, o art. 84, VI, “b” da Constituição Federal revela
que está previsto na Constituição, que foi alterado após a Emenda exceção a norma geral ao atribuir competência para o Presidente
nº 19/98. da República para dispor, mediante decreto, sobre a extinção de
Muito embora, a Lei nº 8.112/90, no artigo 20 cite o prazo de 2 funções ou cargos públicos quando vagos.
anos, para que o servidor adquira estabilidade devemos considerar
que o correto é o texto inserido na Constituição Federal, repita-se 3 Desvio de função
anos de efetivo exercício. O servidor público deve exercer suas atividades funcionais res-
Como não houve uma revogação expressa de tais normas elas peitando as competências e atribuições previstas para o cargo que
permanecem nos textos legais, mesmo que na prática não são apli- ocupa. Cumpre ressaltar que a lei que cria o cargo estabelece quais
cadas, pois ferem a CF (existe uma revogação tácita dessas normas). são os limites das atribuições e competências do cargo.
No entanto, não raro identificar o servidor exercendo atribui-
- Requisitos para adquirir estabilidade: çoes diversas daquelas previstas em lei para o cargo atualmente
a) estágio probatório de três anos; ocupado.
b) nomeação em caráter efetivo; Por definição, o desvio de função do servidor público ocorre
c) aprovação em avaliação especial de desempenho. quando este desempenha função diversa daquela correspondente
ao cargo por ele legalmente investido mediante aprovação em con-
curso público.

304
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Quando constatada a ocorrência de desvio de função, o servi- - adicional de férias,


dor que teve suas atribuições desviadas faz jus a indenização relati- - outros (relativos ao local ou à natureza do trabalho),
vas as diferenças salarias decorrentes do desvio. - gratificação por encargo de curso ou concurso.
Este é o entendimento já consolidado pelo Superior Tribunal de Férias: é um direito que o servidor alcança após cumprir o pe-
Justiça que editou Sumula a respeito. ríodo aquisitivo (12 meses). Consiste em um período de 30 dias de
Súmula nº 378 STJ descanso que podem ser cumuladas até o máximo de dois perío-
“Reconhecido o desvio de função, o servidor faz jus às diferen- dos, bem como podem ser parceladas em até três etapas.
ças salariais decorrentes”. Licenças: de acordo com o art. 81 da referida lei a licença é con-
cedida por motivo de doença em pessoa da família, de afastamento
Importante esclarecer que em caso de desvio de função, o ser- do cônjuge ou companheiro, para o serviço militar, para a atividade
vidor público que teve as atribuições do cargo para o qual foi inves- política, para capacitação, para tratar de interesses particulares e
tido desviadas não tem direito ao reenquadramento funcional. Isso para desempenho de mandato classista.
porque inafastável o princípio da imprescindibilidade de concurso Concessões: existem quando é permitido ao servidor se ausen-
público para o preenchimento de cargos pela administração públi- tar sem ter que arcar com quaisquer prejuízos.
ca, No entanto, tem direito a receber os vencimentos correspon-
dentes à função desempenhada. O art. 97 da Lei nº 8.112/90 elenca as hipóteses de concessão,
vejamos:
REMUNERAÇÃO - por um dia para doação de sangue,
Vencimento: é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo - pelo período comprovadamente necessário para alistamen-
público, com valor fixado em lei. to ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso a dois
Remuneração: é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das dias,
vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. O acrés- - por oito dias consecutivos em razão de casamento, falecimen-
cimo de vantagens permanentes ao vencimento do cargo efetivo é to de cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, en-
irredutível. teados, menor sob guarda ou tutela ou irmãos.
Constitui vedação legal o pagamento de remuneração inferior
ao salário mínimo Direito de Petição: o direito de petição existe para a defesa do
direito ou interesse legítimo. É instrumento utilizado pelo servidor
IMPORTANTE: tanto o vencimento com a remuneração e o pro- e dirigido à autoridade competente que deve decidir.
vento não serão objeto de arresto, seqüestro ou penhora, exceto
nos casos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial. RESPONSABILIDADE
Ao exercer funções públicas, os servidores públicos não estão
DIREITOS E DEVERES desobrigados de se responsabilizar por seus atos, tanto atos públi-
Os direitos e vantagens dos servidores públicos, quais sejam: cos quanto atos administrativos, além dos atos políticos, dependen-
vencimento, indenizações, gratificações, diárias, adicionais, férias, do de sua função, cargo ou emprego.
licenças, concessões e direito de petição. Esta responsabilidade é algo indispensável na atividade admi-
Indenizações: de acordo com o art. 51 da Lei nº 8.112/90 as in- nistrativa, ou seja, enquanto houver exercício irregular de direito ou
denizações são constituídas pela ajuda de custo, diárias, transporte de poder a responsabilidade deve estar presente.
e auxílio moradia. Quanto o Estado repara o dano, em homenagem à responsa-
Ajuda de custo: A ajuda de custo destina-se a compensar as bilidade objetiva do Estado, fica com direito de regresso contra o
despesas de instalação do servidor que, no atendimento do inte- responsável que efetivamente causou o dano, isto é, com o direito
resse do serviço, passar a ter exercício em nova sede, desde que de recuperar o valor da indenização junto ao agente que causador
acarrete mudança de domicílio em caráter permanente. do dano.
Constitui vedação legal o duplo pagamento de indenização, a Efetivamente, o direito de regresso, em sede de responsabilida-
qualquer tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que dete- de estatal, configura-se na pretensão do Estado em buscar do seu
nha também a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma agente, responsável pelo dano, a recomposição do erário, uma vez
sede. desfalcado do montante destinado ao pagamento da indenização
Diárias: essa prerrogativa está regulamentada no art. 58 da Lei à vítima.
nº 8.112/90. É devida ao servidor que se afastar da sede em caráter Nesse aspecto, o direito de regresso é o direito assegurado ao
eventual ou transitório para outro ponto do território nacional ou Estado no sentido de dirigir sua pretensão indenizatória contra o
para o exterior. São destinadas a indenizar as parcelas de despesas agente responsável pelo dano, quando tenha este agido com culpa
extraordinárias com pousada, alimentação e locomoção urbana. ou dolo.
Gratificações e Adicionais: são tratados no art. 61 da Lei nº Neste contexto, o agente público poderá ser responsabilizado
8.112/90 que as discrimina, a saber: nos âmbitos civil, penal e administrativo.
- retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as- a) Responsabilidade Civil: A responsabilidade civil decorre de
sessoramento, ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em pre-
- gratificação natalina, juízo ao erário ou a terceiros.
- adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou Neste caso, responsabilidade civil se refere à responsabilidade
penosas, patrimonial, que faz referência aos Atos Ilícitos e que traz consigo a
- adicional pela prestação de serviço extraordinário, regra geral da responsabilidade civil, que é de reparar o dano cau-
- adicional noturno, sado a outrem.

305
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

A Administração Pública, confirmada a responsabilidade de Com o intuito de responsabilizar quem comete faltas adminis-
seus agentes, como preceitua a no art.37, §6, parte final do Texto trativas, atribui-se à Administração o Poder Disciplinar do Estado,
Maior, é “assegurado o direito de regresso contra o responsável nos que assegura a responsabilização dos agentes públicos quando co-
casos de dolo ou culpa”, descontará nos vencimentos do servidor mentem ações que contrariam seus deveres e proibições relacio-
público, respeitando os limites mensais, a quantia exata para o res- nados às atribuições do cargo, função ou emprego de que estão
sarcimento do dano. investidos. Por consequência dos descumprimentos legais, há a
aplicação de sanções disciplinares, conforme dispõe a legislação.
b) Responsabilidade Administrativa: A responsabilidade admi-
nistrativa é apurada em processo administrativo, assegurando-se Dos Deveres
ao servidor o contraditório e a ampla defesa. Via de regra, os estatutos listam condutas e proibições a serem
Uma vez constatada a prática do ilícito administrativo, ficará observadas pelos servidores, configurando, umas e outras, os seus
o servidor sujeito à sanção administrativa adequada ao caso, que deveres como dois lados da mesma moeda. Por exemplo: a proibi-
poderá ser advertência, suspensão, demissão, cassação de aposen- ção de proceder de forma desidiosa equivale ao dever de exercer
tadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão ou com zelo as atribuições do cargo. Por isso, podem ser englobados
destituição de função comissionada. sob a rubrica “deveres” os que os estatutos assim intitulam e os que
os estatutos arrolam como proibições.
A penalidade deve sempre ser motivada pela autoridade com- - Dever de Agir: Devem os administradores agirem em benefí-
petente para sua aplicação, sob pena de nulidade. cio da coletividade.
Se durante a apuração da responsabilidade administrativa a - Dever de Probidade: O agente público deve agir de forma
autoridade competente verificar que o ilícito administrativo tam- honesta e em conformidade com os princípios da legalidade e da
bém está capitulado como ilícito penal, deve encaminhar cópia do moralidade.
processo administrativo ao Ministério Público, que irá mover ação - Dever de Prestar Contas: Todo administrador deve prestar
penal contra o servidor contas do dinheiro público.
- Dever de Eficiência: Deve elaborar suas funções perfeição e
c) Responsabilidade Penal: A responsabilidade penal do servi- rendimento funcional.
dor é a que resulta de uma conduta tipificada por lei como infração - Dever de Urbanidade: Deve o servidor ser cordial com os de-
penal. A responsabilidade penal abrange crimes e contravenções mais colegas de trabalho e com o público em geral.
imputadas ao servidor, nessa qualidade. - Dever de Assiduidade: O servidor deve comparecer em seu
Os crimes funcionais estão definidos no Código Penal, artigos serviço, a fim de cumprir seu horário conforme determinado.
312 a 326, como o peculato, a concussão, a corrupção passiva, a
prevaricação etc. Outros estão previstos em leis especiais federais. Das Proibições
A responsabilidade penal do servidor é apurada em Juízo Cri- De acordo com o estatuto federal, aplicável aos Servidores Pú-
minal. Se o servidor for responsabilizado penalmente, sofrerá uma blicos Civis da União, das autarquias e fundações públicas federais,
sanção penal, que pode ser privativa de liberdade (reclusão ou de- ocupantes de cargos público, seu artigo 117 traz um rol de proibi-
tenção), restritiva de direitos (prestação pecuniária, perda de bens ções sendo elas:
e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públi- - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au-
cas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana) torização do chefe imediato;
ou multa (Código Penal, art. 32). - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qual-
Importante ressaltar que a decisão penal, apurada por causa quer documento ou objeto da repartição;
da responsabilidade penal do servidor, só terá reflexo na responsa- - recusar fé a documentos públicos;
bilidade civil do servidor se o ilícito penal tiver ocasionado prejuízo - opor resistência injustificada ao andamento de documento e
patrimonial (ilícito civil). processo ou execução de serviço;
- promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto
Nos termos do que estabelece o artigo 125 da Lei 8.112/90, as da repartição;
sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previs-
independentes entre si. tos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabi-
A responsabilidade administrativa do servidor será afastada lidade ou de seu subordinado;
se, no processo criminal, o servidor for absolvido por ter sido de- - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a as-
clarada a inexistência do fato ou, quando o fato realmente existiu, sociação profissional ou sindical, ou a partido político;
não tenha sido imputada sua autoria ao servidor. Notem que, se o - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de con-
servidor for absolvido por falta ou insuficiência de provas, a respon- fiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil;
sabilidade administrativa não será afastada. - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem,
em detrimento da dignidade da função pública;
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - participar de gerência ou administração de sociedade privada,
O Regime Disciplinar é o conjunto de deveres, proibições, que personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na
geram responsabilidades aos agentes públicos. Descumprido este qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
rol, se apura os ilícitos administrativos, onde gera as sanções dis-
ciplinares.

306
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

A essa vedação existe duas exceções, já que o servidor poderá: CAPÍTULO VII
I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em- DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta-
mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa SEÇÃO I
constituída para prestar serviços a seus membros; DISPOSIÇÕES GERAIS
II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na
forma do art. 91 (8.112), observada a legislação sobre conflito de Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
interesses. dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
- atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições pios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora-
públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou lidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou com- I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
panheiro; brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
- receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual- como aos estrangeiros, na forma da lei;
quer espécie, em razão de suas atribuições; II - a investidura em cargo ou emprego público depende de apro-
- aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro; vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
- praticar usura sob qualquer de suas formas; de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego,
- proceder de forma desidiosa; na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
- utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em servi- comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
ços ou atividades particulares; III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
- cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que anos, prorrogável uma vez, por igual período;
ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias; IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo-
- exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro-
exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa-
- recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicita- dos para assumir cargo ou emprego, na carreira;
do. V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi-
dores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
Infrações e Sanções Administrativas/Penalidades preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e per-
Os servidores públicos de cada âmbito - União, Estados, Distrito centuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribui-
Federal e Municípios - têm um Estatuto próprio. Quanto aos agen- ções de direção, chefia e assessoramento;  
tes públicos Federais rege a Lei nº 8.112/1990, já o regimento dos VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso-
demais depende de cada Estado/Município. ciação sindical;
Devido ao princípio da Legalidade, todos os agentes devem fazer VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
aquilo que está restrito em lei, e caso algum deles descumpram a legisla- definidos em lei específica;
ção, ocorre uma infração administrativa, pelo poder disciplinar, os agen- VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
tes infratores estão sujeitos a penalidades, que podem ser: advertência, para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de
suspensão, demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, sua admissão;
destituição de cargo em comissão e destituição de função comissionada. IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
Para uma aplicação de penalidade justa deve ser considerada terminado para atender a necessidade temporária de excepcional
a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela interesse público;
provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que
atenuantes e os antecedentes funcionais. trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por
É necessário que cada penalidade imposta mencione o funda- lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse-
mento legal e a causa da sanção disciplinar. gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção
de índices;
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
A Constituição Federal, em capítulo específico determina as fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
diretrizes a serem adotadas pela Administração Pública no trata- Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
mento de normas específicas aos ocupantes de cargos e empregos mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen-
públicos da Administração Direta ou Indireta. sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
Vejamos os dispositivos constitucionais relativos ao tema. ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na-
tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe-
cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo

307
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defen- em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
sores Públicos; ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder dos serviços;
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu- II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
tivo; mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- e XXXIII;   
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
serviço público; ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
não serão computados nem acumulados para fins de concessão de pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo-
acréscimos ulteriores; nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada-
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em- ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra-
e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito priva-
qualquer caso o disposto no inciso XI: do prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
a) a de dois cargos de professor; seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu-
saúde, com profissões regulamentadas; pante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções possibilite o acesso a informações privilegiadas.
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser
ou indiretamente, pelo poder público; ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra-
XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te- dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
sobre os demais setores administrativos, na forma da lei; I - o prazo de duração do contrato;
XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi-
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo- tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último III - a remuneração do pessoal.
caso, definir as áreas de sua atuação; § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni-
assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, geral.
serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro- § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter- cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos
mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das exoneração.
obrigações. § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera-
XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de
Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona- caráter indenizatório previstas em lei.
mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo,
terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito,
atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam- Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen-
panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informa- tésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
tivo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto- subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
ridades ou servidores públicos. § 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser rea-
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a daptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilida-
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos des sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
da lei. capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição,
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:

308
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o dis-
para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori- posto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX,
gem.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de
§ 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo admissão quando a natureza do cargo o exigir.  
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom- Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão
pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela úni-
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono,
§ 15. É vedada a complementação de aposentadorias de ser- prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória,
vidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência cípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor remu-
social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) neração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica disposto no art. 37, XI.
e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se- § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão
guintes disposições: anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, empregos públicos.
ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, cípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenien-
emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera- tes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia
ção; e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili- qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, mo-
dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego dernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público,
ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; § 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos § 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo-
os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previ- em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído pela Emen-
dência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo da Constitucional nº 103, de 2019)
de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores
2019) titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário,
mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores
SEÇÃO II ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
DOS SERVIDORES PÚBLICOS preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios § 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência
instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional
planos de carreira para os servidores da administração pública di- nº 103, de 2019)
reta, das autarquias e das fundações públicas.         (Vide ADIN nº I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em
2.135-4) que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para
instituirão conselho de política de administração e remuneração de verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces-
pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po- são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo;
deres.         (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
1998) (Vide ADIN nº 2.135-4) II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo- de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta
nentes do sistema remuneratório observará: e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar;
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade,
cargos componentes de cada carreira;   se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem,
II - os requisitos para a investidura;   e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na
III - as peculiaridades dos cargos. idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons-
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os
de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo
públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisi- ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103,
tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de 2019)
de convênios ou contratos entre os entes federados.  

309
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores § 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou
ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o
ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço corres-
Social, obser vado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação dada pela pondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação dada
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria se- § 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de conta-
rão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação gem de tempo de contribuição fictício.
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos
§ 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu-
para concessão de benefícios em regime próprio de previdência so- lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi-
cial, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi-
§ 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res- dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons-
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia- tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
dos para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente exoneração, e de cargo eletivo.
submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multi- § 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em re-
profissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda Constitucional gime próprio de previdência social, no que couber, os requisitos e
nº 103, de 2019) critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (Reda-
§ 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res- ção dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia- § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de
dos para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente peniten- cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
ciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que ção, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de
tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art. emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. (Redação
52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Constitucional nº 103, de 2019) § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ins-
§ 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do tituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime
respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferen- de previdência complementar para servidores públicos ocupantes
ciados para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Re-
exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio- gime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias e
lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado
a caracterização por categoria profissional ou ocupação. (Incluído o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) 103, de 2019)
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima § 15. O regime de previdência complementar de que trata o §
reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da 14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribui-
aplicação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem ção definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou
infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei comple- de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada
mentar do respectivo ente federativo. (Redação dada pela Emenda pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Constitucional nº 103, de 2019) § 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dis-
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos posto nos § § 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver in-
acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de gressado no serviço público até a data da publicação do ato de ins-
mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdên- tituição do correspondente regime de previdência complementar.
cia social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a § 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál-
acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime culo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados,
Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitu- na forma da lei.
cional nº 103, de 2019) § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado-
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se tratar rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que
da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o be- superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
nefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual
respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente § 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do
de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) tenha completado as exigências para a aposentadoria voluntária e
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser- que opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abo-
var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios no de permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua con-
estabelecidos em lei. tribuição previdenciária, até completar a idade para aposentadoria
compulsória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019)

310
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora des- estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es-
se regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes, tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização,
órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsá- aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com re-
veis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros muneração proporcional ao tempo de serviço.
e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser-
§ 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor-
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá ape- cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
nas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de pensão outro cargo.
que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os bene- § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga-
fícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for por- para essa finalidade.
tador de doença incapacitante (Incluído pela Emenda Constitucio-
nal nº 47, de 2005) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 103, EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA POR SERVIDORES CELETISTA
de 2019) (Vigência) (Vide Emenda Constitucional nº 103, de 2019) A Polícia Administrativa é manifestada por meio de atos norma-
§ 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de previ- tivos e de alcance geral, bem como de atos concretos e específicos.
dência social, lei complementar federal estabelecerá, para os que Além disso, outra característica marcante dos atos expedidos
já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de por força da Polícia Administrativa são os atos revestidos de contro-
responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos, le e fiscalização.
sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) A atividade administrativa que envolve atos fiscalizadores e de
I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o controle , os quais a Administração Pública pretende a prevenção
Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti- de atos lesivos ao bem estar social ou saúde pública não podem ser
tucional nº 103, de 2019) proferidos por servidores com regime contratual – CLT.
II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re- Esta é a grande polêmica envolvendo a prática de atos admi-
cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) nistrativos revestidos de Poder de Polícia quando praticados por
III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído servidores celetistas.
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Conforme ressaltado pela melhor doutrina, Celso António Ban-
IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela deira de Mello afirma que “o regime normal dos servidores públicos
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) teria mesmo de ser o estatutário, pois este (ao contrário do regime
V - condições para instituição do fundo com finalidade previ- trabalhista) é o concebido para atender a peculiaridades de um vín-
denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recursos culo no qual não estão em causa tão-só interesses empregatícios,
provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de qualquer mas onde avultam interesses públicos são os próprios instrumentos
natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) de atuacão do Estado”.
VI - mecanismos de equacionamento do deficit atuarial; (Incluí- A jurisprudência já se manifestou neste sentido no julgamento
do pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) da cautelar da ADin no 2.310, o Supremo examinou a lei que trata
VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob- dos agentes públicos de agências reguladoras (Lei no 9.985/2000),
servados os princípios relacionados com governança, controle inter- e ali se posicionou contrário à contratação de servidores em regime
no e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, celetista para a execução de atos revestidos com o Poder de Polícia
de 2019) no ato de fiscalização. De acordo com o ministro Marco Aurélio, re-
VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles lator:
que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamen- “...prescindir, no caso, da ocupação de cargos públicos, com os
te, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional direitos e garantias a eles inerentes, é adotar flexibilidade incompa-
nº 103, de 2019) tível com a natureza dos serviços a serem prestados, igualizando os
IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela servidores das agências a prestadores de serviços subalternos, dos
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) quais não se exige, até mesmo, escolaridade maior, como são ser-
X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição ventes, artífices, mecanógrafos, entre outros. Atente-se para as es-
de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído pécies. Está-se diante de atividade na qual o poder de fiscalização,
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) o poder de polícia fazem- se com envergadura ímpar, exigindo, por
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser- isso mesmo, que aquele que a desempenhe sinta-se seguro, atue
vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de sem receios outros, e isso pressupõe a ocupação de cargo público
concurso público. (…). Em suma, não se coaduna com os objetivos precípuos das agên-
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: cias reguladoras, verdadeiras autarquias, embora de caráter espe-
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado cial, a flexibilidade inerente aos empregos públicos, impondo-se a
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu- adoção da regra que é revelada pelo regime de cargo público, tal
rada ampla defesa; como ocorre em relação a outras atividades fiscalizadoras — fiscais
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem- do trabalho, de renda, servidores do Banco Central, dos Tribunais
penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. de Contas etc.”

311
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Portanto, muito embora não tenha previsão legal, o entendi- VI - de oficial das Forças Armadas.
mento construído pela doutrina e jurisprudência entende que o VII - de Ministro de Estado da Defesa.
emprego público, de natureza contratual (CLT) é incompatível com
a atividade a ser desenvolvida quando se exige a incidência de ato Ademais, em decorrência do mandamento constitucional do
com poder de polícia. O cargo público, sim, é cercado de garantias artigo 7º, XXX, em princípio não seria admissível restrições de con-
institucionais, destinadas a dar proteção e independência ao servi- crrencia em concurso público por motivos de idade ou sexo para
dor para prestar a manifestação do Estado quando no exercício do a regular admissão em cargos e empregos públicos, no entanto, o
Poder de Polícia. mencionado artigo constitucional prevê a possibilidade de se insti-
tuírem requisitos específicos e diferenciados de admissão quando
REGIME CONSTITUCIONAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS a natureza do cargo assim exigir. Exemplo: Teste de Aptidão Física
– TAF - permite exigência sequência de exercícios fisicos diferencia-
Concurso público dos entre homens e mulheres.
Via de regra, para que ocorra a legal investidura em cargou ou Quanto aos requisitos específicos para investidura em cargos
emprego público é necessária prévia aprovação em concurso de públicos, a Lei 8.112/90, em seu artigo 5º assim determina:
prova ou de provas e títulos, levando em consideração a natureza e Art. 5o São requisitos básicos para investidura em cargo pú-
a complexidade do cargo ou emprego.Quanto as normas constitu- blico:
cionais acerca da obrigatoriedade de concurso para o preenchimen- I - a nacionalidade brasileira;
to de cargos públicos II - o gozo dos direitos políticos;
A jurisprudência é pacífica quanto a necessidade de aprovação III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
previa em concurso público para ocupar cargo na estrutura admi- IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
nistrativa. V - a idade mínima de dezoito anos;
Súmula Vinculante 43 É inconstitucional toda modalidade de VI - aptidão física e mental.
provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia apro-
vação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo Ainda em homenagem ao Princípio da Acessibilidade aos car-
que não integra a carreira na qual anteriormente investido. gos e empregos públicos, o texto constitucional determina que a
lei deverá reservar percentual do total das vagas a serem preen-
Exceção: As nomeação efetuadas pela Administração Pública chidas por concurso público de cargos e empregos públicos para
para preenchimento de cargo em comissão declarado em lei de li- as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua
vre nomeação e exoneração dispensa a realização e aprovação em admissão.
concurso público.
O concurso público terá prazo de validade de até dois anos, Invalidação do concurso.
podendo ser prorrogável uma única vez por igual período. Em ho- Conforme mencionado, os concursos públicos devem ser rea-
menagem ao princípio constitucional da impessoalidade, durante o lizados previamente para o preenchimento de cargos e empregos
prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele que públicos, devendo para tanto dispensar tratamento impessoal e
for aprovado será convocado com prioridade sobre novos concursa- igualitário entre os interessados, sendo certo que a ausência desse
dos para assumir cargo ou emprego. tratamento causaria fraude a ordem constitucional de realização de
concurso público.
Direito de acesso aos cargos, empregos e funções públicas. Neste contexto, são inválidas as disposições constantes em edi-
A Constituição Federal estabelece o Princípio da Ampla Aces- tais ou normas de admissão em cargos e empregos públicos que
sibilidade aos cargos, funções e empregos públicos aos brasileiros desvirtuam as finalidades da realização do concurso público.
que preencham os requisitos estabelecidos em lei específica, bem
como aos estrangeiros, na forma da lei. Caso se identifique qualquer norma ou cláusula constante em
Tal princípio que garante a ampla acessibilidade tem por objeti- edital que inviabilize ou dificulte a ampla participação daqueles que
vo proporcionar iguais oportunidades de disputar, por meio de con- preencham os requisitos mínimos ou então que direcione, de qual-
curso público, o preenchimento em cargos ou empregos públicos quer forma, com o objetivo de beneficiar ou prejudicar alguem em
na Administração Direta ou Indireta. concurso público poderá acarretar na invalidação de todo o certame.

Requisito de inscrição e requisitos de cargos O direito à revisão judicial de provas e exames seletivos à luz
Nas regras gerais constantes nos editais de concursos públicos dos tribunais pátrios
é vedada a inclusão de cláusulas discriminatórias entre brasileiros O controle judicial dos atos administrativos é preceito básico do
natos e naturalizados, salvo para preenchimento de cargos específi- Estado de Direito com status de garantia constitucional, nos termos
cos mencionados no artigo 12, § 3º da Constituição Federal. do que estabelece o artigo 5º, XXXV da Constituição Federal de 1988.
Artigo 12.
[...] Art. 5º
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: [...]
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; ou ameaça a direito;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;

312
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Esta, inclusive, se configura em função típica do Poder Judi-


ciário, exercer o controle legal dos atos editados pela ente estatal, RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
como forma de controle externo da Administração Pública.
Neste contexto, ainda é complexa a discussão sobre a legiti- Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda-
midade do Poder Judiciário exercer revisão judicial de questões e do na matéria de Organização administrativa
resultados em provas de concurso público.
É crescente a demanda de candidatos que buscam na tutela do
Poder Judiciário a revisão de resultados de concursos públicos, atri- ÓRGÃOS PÚBLICOS: CONCEITO, NATUREZA E CLASSIFICA-
buindo as bancas organizadoras, entre outros argumentos, a carên- ÇÃO
cia de razoabilidade, proporcionalidade, isonomia e transparência
durante a realização do certame. Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda-
A jurisprudência dos nossos Tribunais tem-se orientado no sen- do na matéria de Organização administrativa
tido de que só são passíveis de reexame judicial as questões cuja
impugnação se funda na ilegalidade da avaliação ou dos graus con-
feridos pelos examinadores ou ainda a ausência de impessoalidade RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
dedicada nas provas com privilégios exorbitantes a determinados
candidatos, com a exclusão arbitrária de outros. Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda-
Nos Estados de Direito, em que vige o princípio da legalidade, do na matéria de Organização administrativa
não há espaço para arbitrariedades estatais, ao impor a Ordem Jurí-
dica, não ficando de toda sorte excluída da apreciação judicial toda
lesão ou ameaça a direito, inclusive quanto ao possível reexame LEI FEDERAL Nº 8.429/92: DAS DISPOSIÇÕES GERAIS; DOS
judicial de atos praticados durante os concursos públicos ou pro- ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
cessos de seleção.
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda-
Da investidura do servidor público do na matéria de Organização administrativa
A investidura em cargo público, mesmo nos casos em que o
cargo não é vitalício ou em comissão, terá que ser necessariamente
efetivo. QUESTÕES
Embora em menor escala que nos cargos vitalícios, os cargos
efetivos também proporcionam segurança a seus titulares; a perda 1. Assinale a alternativa que não corresponde à definição de
do cargo, segundo art. 41, §1º da Constituição Federal, só poderá atos administrativos.
ocorrer, quando estáveis, se houver sentença judicial ou processo (A) É a declaração do Estado ou de quem o represente, que
administrativo em que se lhes faculte ampla defesa, e agora tam- produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob
bém em virtude de avaliação negativa de desempenho durante o o regime jurídico de direito público e sujeita ao controle pelo
período de estágio probatório. Poder Público.
Isso lhe garante que, uma vez legalmente investido em cargo (B) É toda manifestação unilateral de vontade da Administração
público passa a ser representante do Estado nas manifestações Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato
proferidas durante o exercício do cargo, e assim, passa a gozar de adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar
prerrogativas especiais (típicas de direito público) com o objetivo de direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria.
satisfazer as demandas coletivas. (C) É o ajuste que a Administração Pública, agindo nessa qua-
lidade, firma com particular ou outra entidade administrativa,
Estágio experimental, estágio probatório e Estabilidade para que a consecução de objetivos de interesse público, nas
O instituto da Estabilidade corresponde à proteção ao ocupan- condições estabelecidas pela própria Administração.
te do cargo, garantindo, não de forma absoluta, a permanência no (D) É a declaração do Estado (ou de quem lhe faça as vezes -
Serviço Público, o que permite a execução regular de suas ativida- como, um concessionário de serviço público) no exercício de
des, visando exclusivamente o alcance do interesse coletivo. prerrogativas públicas, manifestada mediante providências ju-
No entanto, para se conquistar a estabilidade prevista constitu- rídicas complementares da lei, a título de lhe dar cumprimento,
cionalmente é necessário superar a etapa de estágio experimental e sujeitos a controle de legitimidade por órgão jurisdicional.
ou também chamada de estágio probatório, que pressupõe a reali-
zação de avaliação de desempenho e transpor o período de 3 (três) 2. Analise a seguinte conceituação de Maria Sylvia Zanella Di
anos de efetivo desempenho da função. Pietro:
A Avaliação de Desempenho é uma importante ferramenta de “Ato administrativo unilateral, discricionário e precário, gra-
Gestão de Pessoas que corresponde a uma análise sistemática do tuito ou oneroso, pelo qual a Administração Pública faculta a uti-
desempenho do profissional em função das atividades que realiza, lização privativa de bem público, para fins de interesse público”.
das metas estabelecidas, dos resultados alcançados e do seu poten-
cial de desenvolvimento. Esse conceito refere-se à
(A) autorização de uso.
(B) concessão de uso.
(C) concessão de direito real de uso.
(D) permissão de uso.

313
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

3. Não há uniformidade doutrinária ou legal para o respectivo 7. O conceito de serviço público não é uniforme. Assim, assi-
conceito; entretanto, devem ser considerados três pontos funda- nale a alternativa que apresenta a característica do conceito ma-
mentais para sua caracterização. Em primeiro lugar, é necessário terial de serviço público.
que a vontade emane de agente da administração pública ou do- (A) Definido por seu objeto.
tado de prerrogativas desta. Depois, seu conteúdo há de propi- (B) Prestado por órgãos públicos.
ciar a produção de efeitos jurídicos com fim público. Por fim, deve (C) Identificado por características extrínsecas.
toda essa categoria de atos ser regida basicamente pelo direito (D) Considera sua necessidade contingencial.
público. A afirmativa apresentada refere-se ao: (E) De acordo com a história cultural e social.
(A) Ato político.
(B) Negócio jurídico. 8. Existem determinadas atividades no âmbito municipal que
(C) Ato administrativo. não são passíveis de serem desempenhadas livremente por par-
(D) Fato administrativo. ticulares. Nesse sentido, reside sobre elas o regime jurídico de di-
reito público, de forma a resguardar o interesse da coletividade.
4. Os atos administrativos são considerados a declaração do Na forma descrita acima, tais tarefas recebem a seguinte deno-
Estado ou de seu representante, que vem produzir efeitos jurídi- minação:
cos imediatos, observado a legalidade, sob regime jurídico de di- (A) atividades delegáveis
reito público com sujeição ao controle pelo Poder Público. Nesse (B) serviço público
sentido, é INCORRETO afirmar ser elemento presente no conceito (C) atividade econômica
de ato administrativo. (D) serviço paraestatal
(A) Praticada pela Administração Pública ou por quem lhe faça
às vezes. 9. De acordo com a doutrina de Direito Administrativo, em
(B) Submissão do controle judicial. tema de controle da Administração Pública, especificamente no
(C) Sob regime de direito público, sem prerrogativas em relação que tange aos meios de controle, é correto afirmar que a chama-
ao particular. da supervisão ministerial ou tutela administrativa:
(D) Manifestação de vontade. (A) é também designada como controle finalístico;
(B) ocorre no âmbito da mesma pessoa jurídica;
5. De acordo com DI PIETRO, é uma tarefa complexa definir o (C) decorre do poder hierárquico, em razão do escalonamento
serviço público, visto que alguns autores adotam conceito amplo vertical entre supervisor e supervisionado;
e outros preferem conceito restrito. Nas duas hipóteses, combi- (D) se baseia no poder de polícia, que incide sobre os órgãos da
nam-se, em geral, três elementos para sua definição. Sobre esses Administração Pública;
elementos, numerar a 2ª coluna de acordo com a 1ª e, após, assi- (E) independe de norma legal que a estabeleça e ocorre no âm-
nalar a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: bito de uma mesma entidade da administração indireta.
(1) Material.
(2) Subjetivo. 10. Determinada Secretaria de Educação de um município
(3) Formal. está sujeita, dentre outros, a um controle exercido por integrantes
do aparelho do Poder Executivo, que é denominado:
(_) Atividades de interesse coletivo. (A) Controle interno.
(_) Presença do Estado. (B) Controle externo.
(_) Procedimento de direito público. (C) Controle jurisdicional.
(D) Controle Parlamentar.
(A) 1 - 2 - 3.
(B) 3 - 2 - 1. 11. Sobre Controle da Administração Pública, considerando
(C) 2 - 3 - 1. um ato administrativo ilegal emanado de Secretário Estadual, as-
(D) 2 - 1 - 3. sinale a afirmativa correta.
(E) 3 - 1 - 2. (A) Revogação é forma de exercício do controle jurisdicional.
(B) O controle parlamentar permite a revogação do referido
6. O Estado é o administrador dos interesses das pessoas em ato.
geral. Seu objetivo, portanto, deve ser o de proporcionar aos cida- (C) A convalidação deve ocorrer se o ato for praticado a menos
dãos as melhores condições para que eles as desfrutem. de cinco anos.
(D) O controle administrativo permite o exercício do poder de
Essa é uma característica do serviço público chamada de: autotutela.
(A) Supremacia do interesse público. (E) A anulação do ato só pode der feita pelo próprio Secretário
(B) Cumprir seus deveres e obrigações. Estadual.
(C) Responsabilidade civil do Estado.
(D) Regime de direito público.

314
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

12. Tipo de controle que é exercido somente pela própria Ad-


12 A
ministração quanto aos juízos de conveniência e oportunidade de
seus atos: 13 D
(A) Controle de mérito. 14 D
(B) Controle de legalidade.
(C) Controle Judicial. 15 A
(D) Controle por subordinação.
(E) Controle por vinculação.
ANOTAÇÕES
13. A designação mais genérica possível para fazer referência
a todas as pessoas que se relacionam com o Estado, exercendo
alguma de suas funções, independente da forma em que a ele se ______________________________________________________
vincula, ou até mesmo sem vínculo, é: ______________________________________________________
(A) funcionário público
(B) autarquia pública ______________________________________________________
(C) comarca pública
(D) agente público ______________________________________________________

14. São as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e ______________________________________________________


às entidades da Administração Indireta, com vínculo empregatício
e mediante remuneração paga pelos cofres públicos (DI PIETRO, ______________________________________________________
2019, p. 683). Ocupam cargos ou empregos públicos, ou exercem
______________________________________________________
função pública.
______________________________________________________
Podemos considerar o texto acima como definição de:
(A) Agentes políticos. ______________________________________________________
(B) Militares.
(C) Particulares em Colaboração com o Poder Público. ______________________________________________________
(D) Servidores Públicos.
(E) Servidores Estatutários. ______________________________________________________

15. Agentes públicos são todos aqueles que exercem função ______________________________________________________
pública, ainda que em caráter temporário ou sem remuneração. ______________________________________________________
São exemplos de espécies de agentes públicos:
(A) Agentes políticos e ocupantes de cargos em comissão. ______________________________________________________
(B) Empregados privados.
(C) Particulares sem colaboração com a administração. ______________________________________________________
(D) Servidores privados.
(E) Agentes civis. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

1 C ______________________________________________________
2 D ______________________________________________________
3 C
______________________________________________________
4 C
5 A ______________________________________________________

6 A ______________________________________________________
7 A _____________________________________________________
8 B
_____________________________________________________
9 A
10 A ______________________________________________________
11 D ______________________________________________________

315
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

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