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Plutarco – Vidas Paralelas – Demóstenes


Posted By Plutarco On 05/11/2008 @ 23:02 In Biblioteca, Grécia Antiga, História Geral | 1 Comment

Plutarco – Vidas Paralelas

DEMÓSTENES

Tradução de Sady Garibaldi


Fonte: Atena Editora.

(Nascido no ano de 385 e morto no ano


322 antes de J. C.)

Demóstenes, o pai do nosso Demóstenes,


pertencia, como diz Teopompo, à classe
dos mais distintos cidadãos de Atenas.
Apelidaram-no de Es padeiro, porque
possuía uma vasta oficina em que seus
escravos forjavam espadas. Quanto à
opinião do orador Esquino, segundo a qual
a mãe de Demóstenes seria filha de um
certo Gilon (9), banido de Atenas por
crime de traição, e de uma mulher
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fraqueza e a delicadeza da sua compleição
física não permitiam que sua mãe o Mais anúncios
encaminhasse no trabalho nem que os
seus professores o forçassem nesse caminho. Com efeito, Demóstenes era, na sua infância,
magro e valetudinário. Por causa desse estado enfermiço, dizia-se, é que seus colegas de
estudo lhe puseram os rivais que combatia do alto da tribuna. Entretanto, a primeira vez que
falou diante do povo, produziu-se tal ruído que ele mal pôde se fazer ouvir: mofavam da
singularidade do seu estilo, ainda um pouco confuso, por causa da extensão dos períodos e da
excessiva sobrecarga de entimemas (16). Além disso, tinha voz fraca, a pronuncia penosa e a
respiração tão difícil, que a necessidade de interromper os períodos para tomar fôlego tornava
quase impossível a apreensão do seu pensamento.

Acabou por renunciar às assembléias do povo. Um dia, porém, em que passeava pelo Pireu, triste
e descoroçoado, Enomus de Triasieno (17), que era então muito velho, vendo-o em tal estado,
dirigiu-lhe vivas admoestações:

— Como! — disse-lhe êle. — Com essa eloqüência que lembra a de Péricles, tu te abandonas
assim, tu próprio, por moleza e por timidez? E te resignas, por falta de coragem para afrontar a
população e de força para enfrentar as lutas, a definhar ocioso e inútil!

De outra feita, segundo narram, Demóstenes, havendo fracassado mais uma vez, recolhia-se à
casa de cabeça embuçada e vivamente acabrunhado pela sua falta de sorte. O ator Sátiro, seu
amigo, seguia-lhe os passos e entrou com êle em sua habitação. Demóstenes começou a
lamentar-se:

— Eu sou, dentre todos os oradores, o que mais se esforça. Esgotei quase todas as minhas forças

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para me formar em eloqüência e, entretanto, não agrado ao povo! Marinheiros crapulosos e


ignorantes são ouvidos e ocupam a tribuna, ao passo que a mim o povo me rejeita com desprezo!

—E’ verdade, — respondeu Sátiro. — Mas, eu encontrarei logo remédio para a causa deste
desprezo, se tu quiseres me recitar de memória algum trecho de Eurípedcs ou Sófocles.

Demóstenes satisfê-lo imediatamente. Sátiro repetiu, depois dele, os mesmos versos e os


pronunciou tão bem e num tom que correspondia tanto ao estado, e à disposição da personagem,
que o próprio Demostenes achou-os completamente diferentes. Convencido, então, da beleza e
da graça que a declamação empresta ao discurso, sentiu que o talento da composição é pouco ou
quase nada se nos descuidamos da pronúncia e da ação conveniente ao assunto. Demostenes
mandou, depois disso, construir um gabinete subterrâneo que existia ainda no meu tempo, no
qual êle se encerrava todos os dias, a fim de exercitar-se na declamação e formar sua voz. Assim
passou durante dois ou três meses seguidos, tendo mandado raspar a cabeça pela metade pois
desta maneira não podia sair à rua, impedido que estava pela vergonha de aparecer em público.
Além disso, todas as visitas que êle recebia ou que retribuía, todas as palestras, todos os
negócios de que tratava, serviam-lhe como motivos e ocasiões para exercitar o seu talento
oratório. Ao ver-se livre, descia ao seu gabinete subterrâneo e lá repassava de memória todos os
fatos de que lhe haviam falado c as razões alegadas por ambas as partes. Quando ouvia qualquer
discurso público, decorava-o e ordenava os pensamentos e os períodos. Aplicava-se em corrigir,
em explicar não somente o que os outros lhe tinham dito, mas ainda o que êle próprio havia dito
aos outros. Daí a reputação de que concebia muito lentamente e de que o seu talento e
eloqüência não eram mais do que produtos do trabalho. E o que parecia prova manifesta disso
era que ninguém ouvira Demostenes falar sem prévio preparo: muitas vezes mesmo, estando
sentado na assembléia e sendo chamado nominalmente pelo povo, recusava-se a usar da
palavra, porque não tinha meditado e preparado de antemão o que haveria de dizer. Por isso, a
maior parte dos demagogos troçavam com êle. Pitéias disse-lhe um dia, por pilhéria, que os seus
raciocínios cheiravam muito a lamparina.

— Pitéias, — respondeu Demostenes com amargor, — tua lâmpada e a minha nos alumiam para
coisas bem diferentes.

Não negava a ninguém, antes confessava que nem sempre pronunciava seus discursos tais quais
haviam sido escritos, e que não falava nunca sem primeiro haver composto o discurso. Era
mesmo, segundo a sua opinião, o dever de um orador popular preparar a sua oração: este
cuidado prova o desejo de agradar o povo, pois desprezar a opinião das multidões sobre os
discursos pronunciados na sua frente é para os partidários da oligarquia e não para um homem
que conta mais com a persuasão do que com a força. Oferece-se ainda, como prova cia sua
timidez para falar sem prévio preparo, o fato de que varias vezes, quando êle estava perturbado
pelo ruído da assistência, Demades se levantou para apoiar as suas razões, o que Demóstenes
jamais fizera por Demades. Dirá alguém: como é que Esquino proclama maravilhosa, entre
todas, a audácia revelada por Demóstenes nos seus discursos? E como foi Demóstenes o único
que se ergueu para refutar Piton de Bizâncio, que, como uma torrente transbordante, se
enfureceu contra os atenienses? Há mais: Lamacus de Mirina (18), tendo feito um panegírico dos
reis Filipe e Alexandre, no qual dizia muito mal dos te-banos e dos olintianos, e que foi lido nos
Jogos Olímpicos, Demóstenes se levantou após êle e, juntando às palavras fatos e raciocínios
cheios de força, trouxe à baila os importantes serviços que os tebanos e os calcídicos haviam
prestado à Grécia e, ao contrário, todos os males que lhe haviam causado os aduladores dos
macedônios. Influiu de tal maneira no ânimo do auditório que o sofista, apavorado com o tumulto
que se formava entre o povo, foi esconder-se longe da assembléia.

Pode-se responder que Demóstenes, tomando Péricles como modelo, descurou os outros aspectos
deste orador e que se inclinou a imitar principalmente seus gestos, seu modo de declamar, seu
cuidado de não falar de improviso nem sobre qualquer assunto, nem sem preparo prévio.
Persuadido de que era a estas qualidades que Péricles devia a sua glória, Demóstenes fez delas o
objeto da sua rivalidade, sem por isso se furtar às ocasiões em que poderia distinguir-se pelos
discursos que pronunciasse de improviso. Pelo menos, não quis colocar amiúde o sucesso do seu
talento nas mãos da Fortuna. A verdade é que os discursos que pronunciou sem preparo possuíam
mais vigor e mais arrojo do que os escritos, a dar credito às afirmações de Eratóstenes, de
Demétrio de Falero e dos poetas cômicos. Com efeito, Eratóstenes assegurou que, por mais de
uma vez, no meio dos seus discursos, êle ficava como que transportado de cólera. Segundo
Demétrio de Falero, certa vez, quando falava diante do povo, êlê pronunciou, tomado de uma
espécie de entusiasmo, este juramento que tem a dimensão de um verso:

Eu juro peta terra e as fontes, rios e águas… (19).

Um poeta cômico lhe chamou Ropoperperetra (20). Outro, troçando do seu gosto pela antítese,
assim se exprime:

Assim como a tomou, tornou êle a tomá-la: Sua mania foi usar dessa expressão.

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Talvez Antífanes quisesse assim aludir à passagem do discurso sobre o Halonesco, em que
Demóstenes aconselhava aos atenienses que não tomassem esta ilha do poder de Filipe, mas que
a retomassem.

Todavia, concorda-se geralmente em que Demades, entregue ao seu gênio, possuía uma força
irresistível e que seus discursos improvisados eram muito superiores às arengas de Demóstenes,
meditadas e escritas cuidadosamente. Ariston de Quios evoca, também, um julgamento de
Teofrastes sobre os dois oradores. Perguntava-se-lhe o que pensava a respeito de Demóstenes.

— E’ digno da sua cidade, respondeu Teofrasto.

— E Demades?

— Está acima da sua cidade.

Conta ainda o mesmo filósofo que Polieutes de Sfeta, um dos homens que administravam então
os negócios de Atenas, reconhecia em Demóstenes um grande orador, mas que Focion lhe
parecia mais eloqüente, porque concentrava mui tas idéias em poucas palavras. Narra-se que o
próprio Demóstenes, todas as vezes que via Focion levantar-se para falar contra êle, dizia aos
seus amigos:

— Eis aí o machado dos meus discursos.

Contudo, não se sabe se era à eloqüência de Focion ou à sua reputação de sábio que Demóstenes
queria aludir. Talvez acreditasse que uma só palavra, um único gesto de um homem que por sua
virtude mereceu a confiança pública, produzem mais efeito do que o acúmulo de longos períodos.

Eis aqui os remédios que Demóstenes aplicava aos seus defeitos físicos: é Demétrio de Falero
quem nos fornece estes detalhes que êle afirma ter recolhido da boca do próprio Demóstenes, já
então entrado na velhice. Êle conseguiu triunfar da sua má pronúncia e da sua gagueira,
enchendo a boca de pequenos seixos e pronunciando em seguida trechos de poesias. Fortaleceu
sua voz, subindo, a correr, lugares elevados, e ao mesmo tempo recitando, sem respirar, trechos
em prosa ou em verso. Havia, em sua casa, uma grande espelho diante do qual êle declamava,
de pé, os discursos que havia composto. Um homem — conforme contam — foi procurá-lo para o
encarregar de uma causa e explicou-lhe que o haviam espancado.

— Meu amigo, — disse-lhe Demóstenes, — o que me


relatas não é possível.

O homem então, levantou a voz:

— Como, Demóstenes! Eu não apanhei?

— Oh! agora eu reconheço a voz de um homem que foi maltrado e que apanhou, — respondeu
Demóstenes, tão persuadido estava de que o tom e o gesto contribuem poderosamente para
infundir confiança naquilo que se diz!

— Sua maneira de declamar agradava sigularmente ao povo. Pessoas, porém, de gosto


delicado entre as quais se contava Demétrio de Falero, achavam que aos seus gestos faltava
nobreza, elevação e força. Esion (21) a quem se pediu opinião sobre os antigos oradores e sobre
os do seu tempo, respondeu assim a Hermipus:

— Quando os ouvíamos falar ao povo com tanta linha


e dignidade, não se podia senão admirar os de outrora. Quando lemos, porém, os discursos de
Demóstenes, neles encontramos mais força e mais arte.

Não há, decerto, necessidade de fazer ressaltar tudo o que os seus discursos escritos encerram de
vigor e de força; mas, nos combates fortuitos, êle sabia também empregar a graça.

— Demóstenes pretende ensinar-me novamente, — dizia certa vez Demades. — E’ a porca


querendo dar instrução a Minerva.

— Sim, — redarguia Demóstenes. — Esta Mnierva, porém, ainda outro dia, foi surpreendida em
adultério, em Coute. (22).

Certa ocasião, um ladrão chamado Cálcus, ridicularizou as suas vigílias e os seus trabalhos
noturnos.

— Bem vejo, — disse-lhe Demóstenes, — que não gostas de ver a minha lâmpada acesa. Mas
vós, atenienses, não vos admireis dos roubos que se cometem: nós temos ladrões
de bronze (23) e paredes de barro.

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Eu poderia citar outros fatos desse gênero. Limito-me, porém, a esses somente. Vale mais a
pena examinar, agora, o seu caráter e os seus costumes, de acordo com as ações que nortearam
a sua conduta política.

Foi na época da guerra fócica (24) que Demóstenes começou a tomar parte nos negócios públicos.
E’ êle próprio quem o atesta e é também o que se pode inferir dós seus discursos contra Filipe: os
últimos foram pronunciados após á ruína dos focíenses e os primeiros aludem a vários
fatos ocorridos nos últimos tempos da guerra. Sabe-se com certeza que êle advogou contra
Mídias com a idade de 32 anos, quando não possuía ainda nem fama nem reputação de homem
de Estado. Acredito que fosse mesmo em virtude desta consideração que êle sacrificou, por
dinheiro, a sua mágoa contra Mídias.

Pois não era homem terno e fácil de acalmar-se (25).

„ Pelo contrário, era rude, violento e vingativo. Mas, sentia-se débil demais para vencer um
homem rico a quem suas riquezas, sua eloqüência e seus amigos formavam uma muralha
inexpugnável. Por isso, decidiu-se a ceder às solicitações dos amigos de Mídias. Com efeito, a
soma de três mil dracmas (26), ao que me parece, não seria suficiente para acalmar a cólera de
Demóstenes, se êle visse a possibilidade de triunfar sobre seu adversário.

Assinalou de maneira brilhante a sua estréia na carreira política, sustentando contra Filipe a
liberdade da Grécia: defendeu-a corajosamente. Em pouco tempo, conquistou glorioso renome e
colocou-se, pela eloqüência e ousadia da linguagem, na primeira fileira dos oradores. Era
admirado em toda a Grécia: o grande rei lhe foi dar testemunho da sua estima. O próprio Filipe
tinha Demóstenes na mais alta conta, entre todos os outros oradores. Mesmo os seus inimigos
eram obrigados a confessar que tinham nele um adversário temível. São declarações de Esquino
e Hipérides, quando exerceram o papel de seus acusadores.

Não sei por que Teopompo assevera que Demóstenes possuía um caráter inconstante e que não
se dedicava por muito tempo às mesmas coisas e aos mesmos homens. Pelo contrário, é certo
que Demóstenes ia até ao fim nas causas que abraçava e, longe de mudar de princípios no curso
da sua vida, sacrificou sua própria existência em nome dos princípios. Demades, para justificar
sua inconstância política, afirmava que, por mais de uma vez, sem dúvida, se viu obrigado a
desmentir-se a si próprio com suas próprias palavras, mas que jamais havia dito nada que
pudesse ir de encontro ao bem do Estado: Demóstenes não se submeteu, em absoluto, a essas
desculpas. Melanopo, rival político de Calis-trates, deixava-se muitas vezes subornar pelo
adversário e, em certas ocasiões, não deixava de dizer ao povo:

— Sem dúvida, Calistrates é meu inimigo, mas é preciso que o interesse público vença.

Nicodemo de Messênia, que seguira primeiramente o partido de Cassandro e que em seguida se


ligara ao de De-métrio, pretendia, entregando-se ao destino, ficar fiel às suas primeiras idéias:

— Acreditei sempre que é útil a gente se submeter aos mais fortes.

A respeito de Demóstenes, não se pode falar desta maneira. Jamais o vimos tergiversar nem
quanto às palavras, nem quanto aos atos: marchou constantemente na mesma linha, sem se
afastar um passo sequer do plano de conduta que se traçara.

O filósofo Panécio (27) assegura que a maior parte dos discursos de Demóstenes são fundados no
princípio de que o belo merece, por si só, nossa preferência: assim são a Oração da Coroa, os
discursos Contra Aristocrates, as Imunida-des e, finalmente, as Filipicas. Em todos esses
discursos, não é em absoluto o mais doce, o mais fácil e o mais útil que êle diz aos seus cidadãos:
em várias ocasiões, ensina que o que interessa a segurança e a salvação pública deve ser
colocado depois da beleza e da honestidade. Sim, à nobre ambição que o guiava nos seus
cometimentos êle ajuntava a grandeza de alma que iluminava seus discursos. Por isso, merecia
ser colocado, não entre os grandes oradores do seu tempo, com Merodes, Polieutes e Hipérides,
mas em nível superior, com Cimon, Tucídides (28) e Péricles. Efetivamente, entre os seus
contemporâneos, Focion, chefe de um partido de pouco prestígio, que parecia favorecer os
macedônios, não deixou, contudo, de ser colocado, pelo seu valor e pela justiça que sabia fazer,
ao lado de Efialto, de Aristides e de Cimon. Demostenes, ao contrário, que, corno dizia Demétrio,
pagava péssimo tributo às armas e não era completamente inacessível ao engodo dos presentes;
Demóstenes, que, embora se mostrasse inacessível ao ouro de Filipe e da Macedônia, abriu sua
porta aos emissários da alta Ásia, de Suza e de Ecbata-na (29), emporcalhando-se com o aceitar
as suas propostas; Demóstenes, repito, era muito dado ao elogio, mas não a imitar as virtudes
dos seus ancestrais.

Entretanto, pela sua conduta, colocou-se sempre acima dos oradores do seu tempo, com exceção
de Focion. E’ pre-tiso notar que a sua linguagem, quando êle se dirigia ao povo, era cheia de
franqueza: criticava asperamente as paixões e os desvios da multidão, como se pode deduzir da
leitura dos seus discursos. Segundo o depoimento de Teopompo, tendo os atenienses querido

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obrigá-lo a acusar certa pessoa, recusou-se. E como o povo testemunhasse o seu


descontentamento por meio de gritos, assim falou:

— Atenienses, eu vos darei sempre meus conselhos, mesmo quando não o queirais. Jamais,
porém, exercerei o papel de delator, embora o queirais.

Sua maneira de agir a respeito de Antifon djz muito bem das suas relações com o partido da
aristocracia! Antifon havia sido absolvido pela assembléia do povo num processo de grande
importância. Demóstenes tomou a acusação, levou Antifon à presença do Areópago e, não
levando em conta o desagrado ao povo, convenceu este de que êle havia prometido a Filipe
incendiar os arsenais de Atenas. Os senadores condenaram Antifon à morte. Acusou, da mesma
forma, a sacerdotisa Teóris, imputando-lhe vários delitos, entre os quais o de ensinar os escravos
a enganar seus senhores. Teóris, em vista das conclusões do orador, foi condenada à pena
capital.

Empresta-se a Demóstenes a autoria do discurso que Apolodoro pronunciou contra o general


Timóteo e em virtude do qual foi obrigado a restituir ao Tesouro Público somas consideráveis.
Atribuem-se ainda a Demóstenes os discursos de Apolodoro contra Formion e contra Stefanus: o
que foi justamente reprovado, pois Formion defendeu-se, contra Apolodoro, com um discurso de
Demóstenes, que, naturalmente, havia escrito para ambos os adversários, como se tivesse
vendido a dois inimigos, para se baterem, duas espadas forjadas na mesma oficina.

Dos seus discursos públicos, os que são contra Andro-cion, Timocrates e Aristocrates, foram
compostos para outros oradores, porque neles não havia ainda abordado os negócios da
República. Com efeito, parece que essas orações foram escritas quando contava 27 ou 28 anos.
Ele próprio, porém, pronunciou o discurso Contra Aristogiton e o das Imunidades, que compôs,
como êle mesmo o afirma, em favor de Ctesipus, filho de Cabrias. Conta-se que Demóstenes
queria casar-se com a mãe daquele jovem. Este casamento, entretanto, não se realizou. Êle
desposou uma mulher de Samos, a acreditar-se no relato de Demétrio de Magnésia (30), no seu
tratado sobre os Sinônimos (31). Não se sabe com certeza se a oração contra Esquino — Sobre a
falsa Embaixada — foi realmente pronunciada: todavia, Idomeneu assegura que Esquino foi
absolvido nessa ocasião pela maioria de trinta votos. A julgar, porém, pelo discurso dos dois
oradores Sobre a Coroa, não parece que o fato seja autêntico: eles não contam, nem um nem
outro, de maneira clara e formal, como este processo tenha sido conduzido até o julgamento
definitivo. Quanto ao resto, é uma questão de que outros tratarão melhor do que eu.

A paz durava ainda, quando Demóstenes fêz conhecer os princípios que norteariam a sua conduta
política. Nada deixava passar sem um controle severo de quanto fazia o

macedônio: a qualquer dos seus atos, Demóstenes dava o alarma entre os atenienses e
levantava as consciências contra o rei. Assim, Filipe tinha a pessoa de Demóstenes em conta
especial. Quando Demóstenes foi (era o décimo) como embaixador à Macedônia, o rei, depois de
ter ouvido todos os outros, só dispensou cuidados ao discurso dele. Entretanto, nas honras e
obséquios, não se portou da mesma forma para com Demóstenes: Esquino e Fiiocrates foram os
mais bem acolhidos. Quando, porém, estes dois oradores se puseram a louvar Filipe pela sua
eloqüência, pela sua beleza, pelo talento que empregava no beber, Demóstenes, magoado por
haver sido desprezado, não pôde conter-se:

— Essas qualidades, — disse êie, — são as de um sofista, de uma mulher e de uma esponja: em
tudo isso não há nada próprio para o elogio de um rei.

Cedo os negócios públicos caminharam para a guerra: de um lado pela inquietude de Filipe, que
não podia viver tranqüilo; de outro, pela impaciência dos atenienses, que Demóstenes não
cessava de incitar. O primeiro conselho que deu o orador íoi o de ir-se em socorro da Eubéia,
posta sob o jugo de Filipe pelos seus tiranos. Os atenienses, após o decreto baixado por
Demóstenes, passaram à ilha e dela expulsaram os macedônios. Demóstenes foi em seguida em
socorro dos corintianos e dos bizantinos, que estavam em guerra com Filipe: persuadiu os
cidadãos a sacrificar seu ressentimento, a esquecer os motivos de queixa que lhes haviam dado
estes dois povos na guerra dos aliados; e os atenienses lhes enviaram tropas, que os libertaram
de Filipe. Êle foi, em embaixada, a diversos povos da Grécia e os animou tão bem com seus
discursos que todos, com exceção de um pequeno numero, se levantaram contra o rei da
Macedônia. Pôs-se em pé de guerra um exército de 15 mil homens de infantaria e 2 mil de
cavalaria, sem contar as milícias urbanas. Foram conseguidos fundos necessários para o sustento
e soldo dos estrangeiros. Foi então que — conta Teofrasto — os aliados, tendo proposto que se
fixasse a quota da contribuição de cada povo, Crobilus, o demagogo, respondeu :

— A guerra não se nutre de rações certas.

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Assim, pois, estava a Grécia toda sublevada e atenta aos acontecimentos. Os povos e as cidades
de Eubéia, Acaia, Corínto, Megara, Leucade e Corciro formaram uma liga contra o inimigo
comum. Ficava, porém, a Demóstenes a tarefa mais importante: atrair os tebanos à
confederação. Os tebanos, habitantes de uma região limítrofe da Ática, possuíam tropas
aguerridas e eram, então, dentre todos os povos da Grécia, o mais afamado nas armas.

Não era fácil conquistar os tebanos, ligados e quase submetidos a Filipe, pelos serviços ainda
recentes que o rei lhes havia prestado na guerra íócica. Sobretudo, porque a vizinhança de Atenas
e de Tebas oferecia às duas cidades ocasião sempre pronta para renovar a guerra uma contra a
outra.

Seja como for, Filipe, ensoberbecido com o sucesso conseguido perto de Anfissa, atirou-se
bruscamente contra a Eubéia e apossou-se da Fócida. Os atenienses se assustaram. Ninguém
ousava subir à tribuna. A incerteza e o silêncio reinavam na assembléia. Demóstenes se levantou
e aconselhou o povo a pedir com insistência o apoio dos tebanos. Encorajou os atenienses com
seus discursos e, segundo seu costume, os encheu de esperanças. Foi êle próprio, com alguns
outros, em embaixada a Tebas. Filipe, ao que assevera Mársias (32), mandou da sua parte
Amintas e Clearco, macedônios, e, com eles, Daoco o tessalíano e Trasidéus, para responder às
alegações dos embaixadores atenienses. Os tebanos não dissimulavam o que lhes parecia mais
útil: tinham sempre sob os olhos os males que lhes havia causado a guerra fócica e cujas feridas
ainda estavam sangrando. A veemência, porém, do orador reanimou, como evidencia Teopompo,
o fogo nos corações, inflamou as ambições e escureceu todo o resto: esqueceram todo o medo,
toda a prudência e se deixaram arrastar pelo entusiasmo, pela eloqüência de Demóstenes, pelo
partido mais honesto.

Este êxito do orador apareceu tão grande, tão brilhante que Filipe se apressou a enviar
embaixadores para pedir a paz, pois a Grécia toda se levantou como um só homem na
expectativa do futuro. Não apenas os generais atenienses se conformaram com as ordens de
Demóstenes, mas ainda os próprios Beotarcas. Demóstenes estava em Tebas e não menos em
Atenas, como alma de todas as assembléias. Era igualmente querido e igualmente poderoso tanto
entre um como entre outro povo. E, como assinala Teopompo, não era sem um justo motivo,

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nem por um simples capricho, pois tinha direito a esse amor. Uma divindade fatal, porém, havia
marcado, ao que parece, para essa época o termo da liberdade da Grécia. Fêz abortar empresas
tão bem organizadas e anunciou, por meio de vários sinais, os acontecimentos que deviam
seguir-se. Assim, a Pítia revelava vati-cínios terríficos; cantava-se uma antiga profecia, tirada das
coleções sibilinas:

Possa eu estar distante do combate

Que irá travar-se às margens do Termodon!

E, como as águias entre as nuvens, possa

Contemplar o espetáculo de cima!

Chora o vencido e o vencedor perece!

O Termodon, dizem, é um pequeno regato do nosso território de Queronéia, que se vai lançar no
Cefiso. Hoje, porém, não conhecemos nenhum curso dágua que tenha tal nome. Todavia,
conjeturamos que o que se chama atualmente Hemon se chamasse outrora Termodon: êle corre
ao longo do templo de Hércules, ao pé do qual os gregos haviam estabelecido o seu
acampamento. É verossímil que a quantidade de sangue e de cadáveres que enchia o campo de
batalha desse lugar a essa troca de nomes. Duris, entretanto, pretende que o Termodon não seja
um riacho. Soldados que, segundo êle, cruzavam a terra para levantar a sua tenda, acharam
uma estátua de mármore, na qual estava gravada esta inscrição: Termodon carregando nos
braços uma amazona ferida. Cita, a esse respeito, outro oráculo assim concebido:

Aguarda, ó ave de negra plumagem, o combate do Termodon! Lá, cadáveres humanos te


fornecerão abundante repasto!

Sobre esse ponto, porém é difícil encontrar a verdade (33).

Demóstenes, cheio de confiança nas armas gregas, e singularmente entusiasmado pela força e
peio ardor das numerosas tropas que não desejavam outra coisa senão marchar contra os
inimigos, não queria, afirma-se, que se atendesse aos oráculos, que se ouvissem as profecias:
suspeitava que a própria Pítia filipizasse, e lembrava aos tebanos que Êpaminondas, e aos
atenienses que Péricles, persuadidos de que tais coisas não passavam de simples conselhos para
covardes, seguiam somente as luzes da razão, Demóstenes, até aqui, se comportou como
homem de coragem. No campo de batalha, porém, nada iêz de honroso, nada que
correspondesse à energia dos seus discursos: abandonou vergonhosamente seu posto e
arremessou para longe as suas armas, sem se envergonhar, diz Pitéias, de desmentir a legenda
gravada no seu escudo: A’ boa fortuna.

Filipe, no excesso da alegria que lhe causou a vitória, esqueceu todos os preceitos da decência:
foi, bêbedo de vinho, insultar os mortos que jaziam na planície. E se pôs a cantar, medindo as
sílabas métricas, as primeiras palavras do decreto que Demóstenes redigira:

Demóstenes, filho de Demóstenes, Ateniense, (34) escreveu …

Quando, porém, saiu da bebedeira e pôde refletir sobre a luta terrível em que êle próprio se
havia empenhado, tremeu de horror ao pensar que a eloqüência e a fama desse orador o
abrigavam a arriscar, num só combate e durante algumas horas apenas, o seu reino e a sua vida.

O renome de Demóstenes correu até ao rei da Pérsia, o qual mandou aos seus sátrapas somas
consideráveis com ordem de lhas dar e de tratá-lo com mais distinção do que todos os outros
gregos, pois o julgava o único homem capaz de embargar os passos do macedônio e conter Filipe
com a provocação de insurreições na Grécia. Essa manobra foi descoberta mais tarde por
Alexandre, que encontrou em Sardes cartas de Demóstenes e as contas dos generais do rei, nas
quais estavam assentadas as somas pagas ao orador. O desastre sofrido pela Grécia em
Queronéia reacendeu nova audácia nos oradores inimigos de Demóstenes: levantaram-se com
energia contra êle e o fizeram comparecer perante a justiça, a fim de prestar contas da sua
conduta. O povo, porém, não satisfeito em absolvê-lo, conferiu-lhe novas honras: confiou-lhe
outra vez os negócios do Estado, como o orador mais escrupuloso no trato do bem público. E foi
ainda encarregado de pronunciar o elogio fúnebre dos soldados mortos em Queronéia, cujos ossos
haviam sido transportados para Atenas para aí receberem as honras da sepultura. Essa escolha
prova que o povo não se julgava nem abatido nem desonrado com a sua desgraça, como
pretende Teopompo nas suas lamentações trágicas: as distinções e as honras prodigalizadas aos
que aconselhavam a guerra mostraram, ao contrário, que o povo não se arrependera de seguir
as suas opiniões.

Demóstenes pronunciou, pois, a oração fúnebre. Mas, daí por diante, não mais apôs seu nome
aos decretos que propunha: servia-se sucessivamente do nome de cada um dos seus amigos, a
fim de conjurar sua má sorte, até ao momento em que a morte de Filipe lhe fez retomar a

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confiança em si próprio. Com efeito, Filipe não sobreviveu, por muito tempo, à vitoria da
Queronéia (35). Era isso, ao que parece, o que profetizava o oráculo neste verso:

Chora o vencido, o vencedor perece.

Demóstenes foi informado secretamente da morte do rei da Macedônia: e, para bem predispor os
atenienses em relação ao seu futuro, compareceu ao Conselho de cara alegre, dizendo ter tido na
noite anterior um sonho que pressagiava aos atenienses uma grande felicidade. Pouco tempo
depois, os correios trouxeram a notícia da morte de Filipe. Os atenienses realizaram,
prontamente, sacrifícios para agradecer aos deuses a feliz notícia e outorgaram uma coroa a
Pausânias (36). Demóstenes apareceu em público coroado de flores e magnificamente vestido,
embora fosse o sétimo dia da morte de sua filha. Esquino, que recordou o fato, endereçou-lhe
nessa ocasião vivas censuras, acusando-o de desamor aos filhos. Esquino deu com isso provas de
covardia e frouxidão, considerando os gemidos e as lamentações como sinais de uma alma doce e
terna e reprovando a coragem que faz suportar com constância e resignação as calamidades
domésticas.

Quanto a mim, não aprovaria que os atenienses se coroassem de flores e houvessem feito
sacrifícios pela morte de um rei que, longe de abusar da vitória, os tratava, na sua desgraça, com
tanta doçura e humanidade. Além de se exporem à vingança celeste, havia pouca nobreza na sua
conduta: haviam honrado Filipe em vida e lhe haviam concedido o título de cidadão de Atenas. E,
após ter sido abatido pelos golpes de um assassino, não podem conter sua alegria:

calcam aos pés seu cadáver e cantam sobre seu túmulo hinos de triunfo, como se esta morte
fosse obra da sua bravura. Ao mesmo tempo, entretanto, louvo Demôstenes, que deixa às
mulheres as lágrimas, os gemidos das suas desgraças pessoais, e não se ocupa senão com o que
acredita útil à sua Pátria. É, a meu ver, indício de uma alma generosa c digna de governar, o
manter-se ligado invariavelmente ao bem público, submeter seus pesares e negócios caseiros aos
interesses do Estado, e conservar a dignidade de caráter que se possui, com mais cuidado ainda
do que o fazem os comediantes que representam papéis de reis e de tiranos: de fato, não os
vemos chorar ou rir, no teatro, por causa de suas mágoas particulares, mas tendo em vista a
exigência das situações das personagens que representam. Além do mais, se não se deve
abandonar a si próprio o homem que vem de experimentar uma desventura e lhe recusar as
consolações que podem minorar-lhe as penas; se se deve procurar aliviar seus pesares por meio
de discursos e dirigir seu pensamento para coisas agradáveis, como se costuma fazer com
aqueles que não possuam boa vista, obrigando-os a desviar os olhos das cores vivas e berrantes,
para fixar apenas as cores verdes e doces: que consolação mais poderosa se pode oferecer a um
homem atribulado do que a felicidade da pátria, do que o concurso da felicidade pública com o
seu infortúnio pessoal, concurso em que os sentimentos agradáveis amortecem os sentimentos de
dor? Fui levado a fazer estas considerações porque vejo muitas pessoas arrastadas à compaixão,
tocadas, ou melhor, relaxadas pelas declamações de Esquino a este respeito.

As cidades formaram, sob a inspiração de Demôstenes, nova liga. E os tebanos, a quem


Demôstenes fornecera armas, atacaram a guarnição que ocupava sua cidade e mataram grande
parte dos soldados macedônios. Os atenienses se preparavam para sustentar esta guerra; e
Demôstenes, que não abandonava a tribuna, escreveu aos generais do rei da Pérsia, na Ásia,
çoncitando-os a declarar guerra a Alexandre, que classificava de criança e de Margitas (37). Após
haver Alexandre posto em ordem os negócios do seu pai e haver entrado na Beócia à frente de
um exército, os atenienses sofreram grande abatimento na sua altivez e o ardor de Demóstenes
se extinguiu. Abandonados pelos atenienses, os tebanos se viram obrigados a defender-se
sozinhos e Tebas foi arrasada (38)! Os atenienses, na extrema desordem em que foram
surpreendidos, tomaram a resolução de enviar uma delegação a Alexandre. Demóstenes foi
escolhido, com mais outros, para a embaixada. Temendo, porém, a cólera do rei, abandonou a
missão de que fora investido ao chegar a Citeron.

Alexandre mandou pedir que lhe enviassem dez oradores, conforme narram Idomeneu e Duris.
Mas, a maior parte dos historiadores, os mais dignos de fé, não falam senão de oito:
Demóstenes, Polieuto, Efialto, Licurgo, Merocles, Damon, Calistenes e Caridemus. Foi então que
Demóstenes contou aos atenienses o apólogo das ovelhas que entregaram seus cães aos lobos,
comparando-se, ele e seus companheiros, a cães que combatiam pelo povo e qualificando
Alexandre da Macedônia de lobo feroz.

— Assim como os negociantes, — disse-lhes ainda, — que levam numa gamela uma amostra de
trigo e, por meio de alguns grãos, vendem o que têm em casa, assim também, ao nos enviardes,
vós mesmos vos enviais, sem o saberdes.

Tal é o testemunho de Aristóbulo de Cassandria (39).

Os atenienses discutiram o pedido de Alexandre e não sabiam o que resolver, quando aparece
Demades e se encarrega, pelos cinco talentos (40) que lhe deram os outros oradores, de ir
sozinho como delegado e solicitar a graça do rei, ou porque confiasse na amizade de Alexandre,

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ou porque esperasse encontrá-lo saciado de vingança, como um Leão cuja fome tivesse passado
com a carnificina. Demades conseguiu, de fato, dominá-lo, obtendo o perdão para os oradores e
reconciliando os atenienses com Alexandre.

Enquanto Alexandre esteve longe da Grécia, o crédito dos outros oradores se manteve com toda
a firmeza. O de Demades, entretanto, diminuiu em muito, por se haver rendido quando o
espartano Agis entrou na. campanha. Esta mudança, porém, não durou muito tempo. Os
atenienses não cederam absolutamente terreno, Agis foi assassinado e os lacedernômos
esmagados. Por esse tempo, voltou a debate o processo da coroa, contra Ctesifon; a acusação
havia sido intensa sob o arconte Carondas, pouco antes da batalha de Queronéia. O julgamento
só se efetuou dez anos após, sob o arconte Aristofon. Jamais processo algum conseguiu tanta
repercussão, não só pelo renome dos oradores, mas também pela coragem dos juizes. Apesar do
crédito de que gozavam os acusadores de Demóstenes, sustentados inteiramente pelos
macedônios, os juizes, longe de condená-lo, pronunciaram uma luminosa sentença absolutória.
Esquino não conseguiu reunir cinco votos. Envergonhado da sua derrota, saiu imediatamente da
cidade, indo refugiar-se em Rodes e na Iônia, onde passou o resto da sua vida a dar lições de
eloqüência. Pouco tempo depois, Harpalo (41) chega da Ásia a Atenas: havia fugido de Alexandre,
porque fora acusado de malversações consideráveis, a fim de cobrir as suas prodigalidades, e
porque Alexandre tornara-se temível para os seus próprios amigos. Implorou a proteção do povo
e pôs à sua disposição suas riquezas e seus navios. Os outros oradores, perturbados pelo tilintar
do ouro,’ votaram a favor e aconselharam aos atenienses que aceitassem o oferecimento e
salvassem o suplicante. Demóstenes, a princípio, era de parecer que se devia fazer Harpalo
retornar à Ásia, com medo de atirar a cidade a uma guerra, por um motivo injusto e sem
necessidade. Decorridos alguns dias, porém, como se fizesse o inventário das suas riquezas,
Harpalo percebeu que Demóstenes olhava encantado para uma taça do rei, em que admirava o
cinzelado e a forma: pediu-lhe que a tomasse em sijas mãos para avaliar o peso do seu ouro.
Demóstenes, espantado do peso, perguntou quanto ela custava:

— Vinte talentos (42), para ti, — respondeu Harpalo, sorrindo. E, naquela mesma tarde, enviou
a Demóstenes a taça e mais vinte talentos. Harpalo revelou-se muito perspicaz, descobrindo, na
alegria do seu rosto, o amor pelo dinheiro. Demóstenes não resistiu ao engodo. Comovido com o
presente, como se tivera recebido uma guarnição em sua casa, ei-lo entregue inteiramente aos
interesses de Harpalo: voltou no dia seguinte à assembléia, o pescoço envolvido numa manta de
lã. E, como fosse convidado a se levantar e pronunciar o seu voto, fez saber, por sinal, que
estava afônico. Os humoristas divertiram-se com o lato:

— Nosso orador, — diziam eles, — foi acometido esta noite não de angina, mas de argentina.

Toda a gente soube logo do presente que Harpalo lhe fizera. E, quando tentou falar para justificar
sua conduta, o povo recusou ouvi-lo e demonstrou sua cólera e sua indignação por meio de vaias.
Então, um gaiato levantou-se e perguntou:

— Atenienses, recusais-vos a ouvir aquele que é detentor da taça? (43).

Harpalo foi expulso de Atenas e, na crença de que Alexandre pedisse conta das riquezas pilhadas
pelos oradores, realizou-se uma pesquisa severa, revístando-se todas as casas, exceto a de
Caíicles, filho de Arrenidas. Foi a única que se respeitou, porque Caiicles — fala Teopompo —
acabara de se casar e nela estava a sua jovem esposa. Demóstenes deixou-se arrastar pela onda
e êle próprio propôs um decreto que encarregava o Areópago de informar sobre esse escândalo e
de punir os considerados culpados de se deixarem corromper. Compareceu perante o tribunal.

Foi êle um dos primeiros contra os quais o senado pronunciou á sentença: foi condenado a uma
multa de 50 talentos (44). A sentença mandava reter o réu em prisão até ao pagamento da
multa.

A vergonha dessa desonra e a fraqueza do seu temperamento não lhe permitiram suportar a
prisão.

Foram, assevera-se, os motivos que determinaram sua fuga: enganou alguns guardas e os outros
facilitaram a evasão. Conta-se que, estando ainda a pequena distância da cidade, percebeu que
alguns inimigos seus corriam no seu encalço. Procurou esconder-se, mas chamaram-no pelo
nome e, chegando-se junto dele, rogaram-lhe que aceitasse algum dinheiro para fazer a viagem,
dinheiro esse que lhe haviam trazido expressamente, fazendo-lhe sentir que era esse o único
motivo por que o seguiam. Exortaram-no a encher-se de coragem e a suportar seu infortúnio
sem impaciências. Demóstenes, então, redobrou suas queixas e suas amarguras:

— E como resignar-se a gente, sem grande pesar, a


deixar uma cidade em que se têm inimigos tão generosos que
só se encontrariam iguais entre os amigos?

Durante seu exílio, deu grandes provas de fraqueza. Ora passou-o em Egina, ora em Trezene.

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Não podia volver os olhos para os lados da Ática sem enchê-los de lágrimas. E atribuíam-lhe
palavras que não revelavam nenhuma coragem e correspondiam muito pouco à sua.energia
política de outrora. Ao abandonar Atenas, dizem que levantou as mãos para a Acrópole e assim
se dirigiu a Minerva: — Protetora da nossa cidade, como podes tomar conta dessas três bestas
ferozes: a coruja, o dragão e o povo? (45)

Todos os jovens que iam vê-lo e conversar com êle, hão conseguiam levá-lo para o terreno
político.

— Se desde o princípio me tivessem mostrado dois caminhos, o da tribuna e o das assembléias,


ou o de uma morte certa, e se eu tivesse podido prever os males que me acarretariam a carreira
política, os sustos, os ciúmes, as calúnias, as lutas inseparáveis de tudo isso, eu teria escolhido
de cabeça baixa o caminho que conduzisse à morte.

Estava ainda no exílio quando Alexandre morreu. A Grécia se une novamente. Leostenes se
notabiliza pelo seu valor, sitia Antipater na Lâmia e o encerra num muro de circunvalação. O
orador Pitéias e Caíimedon, apelidado de Carabus (Caranguejo), ambos banidos de Atenas, se
enfilei-raram no partido de Antipater: percorreram cidades com os amigos e os embaixadores de
Antipater e impediram os gregos de abandonar a sua aliança para se ligarem aos atenienses.
Demóstenes, porém, se reuniu aos embaixadores de Atenas. E secundou seus esforços com toda
a firmeza, no sentido de convencer os gregos a se atirarem contra os macedônios e expulsá-los
da Grécia. Na Arcádia, como conta Filarco, Pitéias e Demóstenes travaram juntos viva disputa.
Falavam na assembléia, um a favor dos macedônios e o outro, dos gregos.

— Não duvidamos, — afirmava Pitéias, — de que, numa casa onde se bebe leite de jumenta,
haja doenças. O sinal mais evidente de que uma cidade está doente é o verem-se nela entrar
embaixadores atenienses.

Demóstenes, porém, refutou a comparação:

— Assim como não se dá leite de jumenta, numa casa, a não ser para curar doenças, da mesma
forma, os atenienses não entram nunca numa cidade a não ser para lhe_ levar a
saúde.

O povo ateniense, encantado com a conduta de Demóstenes, baixou um decreto, anistiando-o. E


foi Demon Peani-ense, sobrinho de Demóstenes, quem lhe levou o decreto. Enviou-se uma
trirreme para conduzi-lo a Egina. Quando subiu do Pireu para Atenas, todos os magistrados, todos
os sacerdotes, seguidos do povo todo, marcharam ao seu encontro e o receberam com vivas
demonstrações de alegria. Demô-trio de Magnésia conta que nesse momento Demóstenes ergueu
as mãos para o céu e felicitou-se por tão glorioso dia que o reconduziu à sua pátria mais
honradamente do que Alcebíades. Pois era espontaneamente e não obrigado por qualquer força
estranha que o povo o recebia em seu seio. Entretanto, a multa a que fora condenado subsistia
ainda e não era permitido perdoá-la: iludiu-se a lei com um subterfúgio. Era uso, no sacrifício que
se fazia todos os anos a Júpiter Salvador, pagar uma soma em dinheiro aos que preparavam e
ornavam o altar do deus: esse ano, Demóstenes foi encarregado dessa tarefa e lhe foram dados
os cinqüenta talentos, que era a quanto montava a multa.

Demóstenes, porém, não gozou por muito tempo do aconchego da pátria, pois os negócios dos
gregos se viram bem cedo completamente em falência. No mês de Metagitnion (46), travou-se a
batalha de Cranon (47). No mês de Boe dromíon (48), os atenienses tiveram de suportar uma
guarni-ção macedônia em Muniquia. Demóstenes morreu no mês de Pianepsion (49), da seguinte
maneira.

Quando Demóstenees e os seus correligionários souberam que Antipater e Cratera marchavam


sobre Atenas, apressaram-se a sair da cidade e o povo os condenou à morte num decreto que
Demades havia baixado. Dispersaram-se cada um para seu lado. E Antipater enviou para
prendê-los soldados comandados por Arquias, apelidado o Figadofero (50): era originário de
Turíes (51). O seu primeiro ofício fora o de ator trágico. E Polo de Egina, o ator mais perfeito da
Grécia, é apontado como um dos seus discípulos. Hermipo, porém, coloca Arquias no numero dos
discípulos do retórico Lacrito (52). Segundo Demétrio, entretanto, êle havia estudado filosofia
com Anaximeno. Esse Arquias, pois, tendo encontrado em Egina o orador Hipérídes, Aristonico de
Maratona e Himereus, irmão de Demétrio de Falero, que se encontravam refugiados no templo
de Ajax, arrancou-os do seu asilo e os enviou a Cleones (53), para serem entregues a Antipater.
Lá foram condenados à morte. Há quem afirme que Antipater mandara cortar a língua a
Hipérídes. Arquias, informado ‘de que Demóstenes encontrara asilo no templo de Netuno em
Calauria (54), foi até à ilha no seu pequeno barco e desembarcou com um grupo de soldados
trácios. Persuadiu Demóstenes de que devia abandonar o templo e entregar-se a Antipater, que
lhe não faria nenhum mal. Demóstenes, entretanto, havia tido na noite anterior, durante o sono,
um sonho estranho. Vira-se lutando com Arquias na representação de uma tragédia: quanto à
ação, ele era o vencedor. Seu rival, porém, triunlou em virtude da riqueza do vestuário e da
pompa das decorações, Fala-lhe Arquias num tom de grande humanidade. E Demóstenes,

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Jevantando os olhos para êle, do mesmo lugar onde estava, assim falou:

— Arquias, jamais acreditei nas tuas palavras: nem


quando representavas a tragédia, nem agora ao ouvir as tuas
promessas.

A esta resposta, Arquias enfureceu-se e começou a ameaçar.

— Agora, — retrucou Demóstenes, — falas como homem inspirado pela írípode da Macedônia.
Agora mesmo, a tua linguagem é a de um comediante. Espera, pois, um pouco,
que vou escrever para a minha casa, dando as ultimas ordens.

Ao pronunciar estas palavras, retirou-se para o interior do templo. Tomou de um pequeno


caderno, como se fosse escrever. Levou à boca um pedaço de cana e mordeu-o num gesto que
lhe era habitual quando meditava ou compunha qualquer discurso. Passado algum tempo,
cobriu-se com o seu manto e recostou a cabeça. Os soldados que ficaram à porta do templo
tomaram tal espera como pusilanimídade e consideraram Demóstenes como um homem débil e
sem coragem. Arquias se aproximou dele e intimou-o a se levantar e, repetindo-lhe as mesmas
palavras, prometeu de novo as boas graças de Antipater. Demóstenes, ao sentir que o veneno
tinha produzido o seu efeito, descobriu-se e, fixando o olhar de Arquias, disse:

— Podes agora representar o papel de Creon na tragédia (55) e jogar meu corpo na sepultura. O’
Netuno! Saio ainda com vida do teu templo, mas Antipater e os macedô-nios não deixaram o teu
santuário sem profaná-lo!

Pronunciava essas palavras já cambaleando. Pediu que o segurassem para caminhar. E, no


momento em que passava diante do altar do deus, caiu e soltou a alma num suspiro.

Conta Ariston que Demóstenes havia tomado o veneno, como acabamos de narrar, chupando a
ponta da cana. Entretanto, um certo Papo, cujas Memórias serviram de material a Hermipo para
a sua história, diz que, quando Demóstenes caiu ao pé do altar, encontrou-se no seu caderninho
um começo de carta assim concebido: "Demóstenes a Antipater". Não havia senão essas
palavras. Como causasse surpresa a sua morte tão súbita, os trácios que estavam à porta
contaram que, tendo visto Demóstenes tirar da roupa qualquer coisa que levou à boca, pensaram
que fosse ouro que êle engulia. O fato é que era veneno. Um jovem escravo que lhe servia e que
Arqüias interrogou, disse que Demóstenes trazia consigo, desde muito tempo, esse nódulo, como
se fora amuleto. Eratóstenes assegura que Demóstenes trazia sempre veneno num anel ôco, que
êle usava à maneira de bracelete. Mas não é necessário relembrar as diferentes tradições dos
historiadores a respeito desta espécie de morte, pois são numerosíssimas. Não devo, porém,
omitir a de Democares, parente de Demóstenes. Segundo a sua opinião, Demóstenes não morreu
do veneno: os deuses, por um favor e uma providência particulares, deram-lhe uma morte
pronta e suave, para furtá-lo às crueldades dos macedônios. Êle morreu no dia 16 do mês de
Pianepsion (56), o dia mais triste da festa das Tesmoforias (57), pois é aquele em que as
mulheres jejuam até à noite, sentadas no chão, no templo da deusa. Pouco tempo depois, o povo
ateniense prestou à memória de Demóstenes as homenagens a que tinha direito. Ergueu-se-lhe
uma estátua de bronze e decretou-se que o seu filho mais velho seria ad perpetuam sustentado
pelo Pritaneu. Gravou-se, no pedestal do bronze, a seguinte inscrição tão conhecida:

"Se a tua força, Demóstenes, tivesse sido igual ao teu gênio, jamais o macedônio haveria
mandado na Grécia".

Os que pretendem que o próprio Demóstenes tenha composto essa inscrição em Calauria, antes
de tomar o veneno, não sabem verdadeiramente o que dizem. Mas, eis aqui uma aventura que
se registou pouco tempo antes de uma das minhas viagens a Atenas. Um soldado, processado
pelo seu comandante, meteu todo o dinheiro que possuía numa das mãos da estátua de
Demóstenes, que as tinha juntas com os dedos entrelaçados. Um pequeno plátano havia crescido
ali, cujas folhas, ou levadas pelo vento ou colocadas pelo próprio soldado, nas mãos da estátua,
esconderam por muito tempo o ouro que ali estava depositado. O soldado, na sua volta,
encontrou o dinheiro. O fato causou sensação na cidade e vários escritores compuseram versos a
respeito do desinteresse de Demóstenes.

Demades não gozou por muito tempo da glória que novamente adquirira. A justiça divina, que
queria vingar a morte de Demóstenes, o levou à Macedônia para aí receber, das próprias mãos
daqueles de quem êle havia sido o vil adulador, a justa punição para o seu crime. Já todos o
odiavam. Cometeu, certa vez, um erro para o qual não encontrou justificação. Descobriu-se uma
carta dele, na qual convidava Pérdicas a entrar com o seu exército na Macedônia e salvar a
Grécia que estava sustentada apenas por um fio velho e podre: era assim que êle se referia a
Aníipater. Dinarco, o corintiano, tomou o papel de seu acusador e o apresentou como autor da
carta. Cassandra, movida pelo impulso da sua cólera, massacrou seu filho com as próprias mãos
e ordenou que a matassem também. Assim, Demades pôde convencer-se, pelo preço das mais
terríveis calamidades, de que os traidores são sempre as primeiras vitimas da própria infâmia.

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Demós-tenes, por várias vezes o predissera, e Demades não quisera acreditar.

Eis aí, meu caro-Senecion, a vida de Demóstenes, segundo consegui recolher das minhas leituras
e das minhas conversações.

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