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Dante Delmanto e

Paulo Sérgio Leite Fernandes(*)

I– É honra inexcedível esta de poder falar aos advogados


criminalistas, na Semana de Estudos que a Acrimesp consagrou ao
vulto egrégio de Dante Delmanto.
Serei, por força, muito breve: não só por efeito da advertência
de Horácio — “esto brevis!” —, mas sobretudo porque outro é o
conferencista de hoje, o nosso eminente Mestre e Amigo Dr. Paulo
Sérgio Leite Fernandes, que ostenta brasão da mais legítima nobreza
na Advocacia Criminal.

II – Dois pontos principais resumem os objetivos da benemérita


Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo:
a) aprimorar os cabedais de espírito dos que abraçaram a
ínclita profissão da Advocacia Criminal; e
b) exaltar a memória daqueles que, tendo-a exercido
proficientemente, mereceram contados entre os seus
paradigmas.
Estes nobres ideais não arrefeceram, antes cobraram
extraordinário fervor na gestão do Dr. Ademar Gomes, dedicado e
talentoso Presidente da Acrimesp. Está a demonstrá-lo a iniciativa da
Escola de Advocacia Criminal (que o Dr. Laércio Laurelli dirige com
carinho e competência), ao promover a Semana Delmanto.

III – É proverbial a afeição que temos os criminalistas ao nome


ilustre de Dante Delmanto.
As causas quais seriam deste sentimento profundo com que lhe
cultuamos a memória?
A primeira certamente é o dever moral a que nos obriga a
própria condição humana de comunicar aos contemporâneos, e estes

(*) Acrimesp, 29.9.1997.


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aos pósteros, os nomes daqueles grandes sujeitos que, no geral


consenso dos doutos, passam por modelos perfeitos e acabados de sua
profissão.
E o nome de Dante Delmanto nenhum advogado pronuncia,
sem que do mesmo passo lhe tremam os lábios pela indescritível
emoção de estar evocando aquele que é uma das maiores glórias de
nossa prestigiosa classe. Amou estremecidamente a Advocacia
Criminal, com todas as potências de seu coração; serviu-a com os
fulgores de sua peregrina inteligência.
A veneranda instituição do Júri deve-lhe alguns dos mais
soberbos capítulos de sua história entre nós. Para prova do alegado
não havemos de mister mais que a leitura do primoroso livro Defesas
que Fiz no Júri.
Quem penetrar no recinto que outrora foi o 1º Tribunal do Júri
da Capital e, hoje — bem, hoje, como cantaria o poeta: “Silêncio, Musa!
Chora!” — simples museu, quem transpuser os augustos umbrais onde
floresceu o Tribunal do Júri, esse poderá contemplar, no bronze eterno,
o rosto plácido, os olhos fitos na linha do vasto horizonte, e a
inscrição: Dante Delmanto, Príncipe dos Advogados Criminais.

IV – Antes de vir a esta conferência do Dr. Paulo Sérgio Leite


Fernandes, estive junto ao monumento que a Justiça e a Piedade
mandaram edificar ao preclaro Dante Delmanto. Pousei-lhe a mão,
respeitoso; afaguei-lhe mesmo a fronte, e repeti — de sorte que o
ouvisse minha filha Juliana — a frase que acompanhou à sombra do
túmulo o escultor francês Augusto Rodin: “Com a morte dele, todos os
grandes homens parece que já morreram!”
Ficaram-nos, porém, algumas consolações.
Conforme a tradição escrita do povo hebreu, Jeová comprazia-
se tanto da pureza das obras de seus patriarcas, que lhes dava bênção
muito especial: multiplicava sua descendência como as estrelas do
céu! Era o sublime galardão, com que premiava nos filhos o
merecimento dos pais!
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Este foi também o estilo de Deus para com o saudoso Dante


Delmanto, verdadeiro vaso de eleição: aí não está apenas o seu filho
(Roberto), mas os filhos de seu filho; aqui estamos também, a fim de
reverenciar-lhe a memória — numerosos como as estrelas do céu
(perdoai a hipérbole!) — os seus filhos espirituais: os advogados
criminalistas.
E dentre estes, permiti vos nomeie (e sempre que puder o farei:
dediquei-lhe um livro, que somente por isto se tornou precioso),
permiti que proclame o nome de um advogado em tudo exemplar: o
Dr. Paulo Sérgio Leite Fernandes.

Paulo Sérgio Leite Fernandes


(“… que ostenta brasão da mais legítima nobreza na Advocacia Criminal”)
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Este companheiro fraterno, advogado culto e íntegro como os


que mais o forem, acha-se intimamente ligado à Família Delmanto:
a) foi ele quem, num doloroso transe, proferiu o comovente
elogio fúnebre do querido Celso Delmanto, em página
imortal, sob a epígrafe “As Canções dos Velhos Navegantes”;
b) foi Paulo Sérgio o que, no preâmbulo do livro de Dante —
Defesas que Fiz no Júri — escreveu-lhe estas palavras formais:
“soube como poucos sustentar o sagrado direito ao
contraditório, engrandecendo a advocacia criminal e
legando aos jovens, com sua conduta, o certo exemplo a
seguir”.
Por tudo isto, o nome de Dante Delmanto será entre nós eterno
como a dor da saudade!
Ouçamos, pois, nesta noite, mais uma canção do “velho
navegante” Paulo Sérgio Leite Fernandes!

São Paulo, 3 de julho de 2000

Dileto Amigo Dr. Roberto Delmanto:


Com bem de pesar meu, tive de diferir para hoje a ocasião de
agradecer-lhe, “ex imo corde”, o formoso e rico presente que me enviou:
Código Penal Comentado (5a. ed.).
Brasão de glória da Família Delmanto, essa reputada obra
também o é da literatura jurídica nacional. No gênero, não tem
competidor: desde que o saudoso Celso lhe deu a primitiva traça e nele
infundiu a centelha de seu espírito superior, até hoje, revitalizado pelo
talento, cultura e amor ao Direito, comunicados ao irmão Roberto e
aos sobrinhos (Roberto e Fábio), o inestimável Código Penal Comentado é
o mais completo, prático, seguro e abalizado compêndio de glosas da
Lei Penal.
A essa fonte inexaurível diariamente recorrem os profissionais
do Direito de todos os quadrantes da Pátria, para aplacar sua sede de
saber. Também o faço eu, evidentemente, com uma diferença: toda
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vez que cito em meus pobres votos um passo ou tópico do livro


excelente, com que os ilustro e autorizo, permite-me a circunstância,
ainda que em espírito, abraçá-lo, meu bom Amigo Roberto (e aos
caríssimos filhos Roberto e Fábio).
Na última quinta-feira (29.6), em conferência na Acrimesp
discorrendo do tema Advocacia Criminal: Excelsa Profissão muito de
estudo me referi a seu querido pai e à obra Defesas que Fiz no Júri, cuja
leitura, como era forçoso, encareci aos ouvintes. Do imenso Dante,
aos que me escutavam disse aproximadamente isto: “Quando esse titã do
Júri inclinou mortalmente a fronte, os advogados de São Paulo sentiram que os
deixava o último de uma geração de grandes!”
Tenho em muito o vulto insigne de seu pai, meu prezado
Roberto!
Soube, como raríssimos, exercer a Advocacia com Arte, Ciência e
Amor, e este, conforme o verso do divino Épico homônimo, “move il
Sole e l’altre stelle” (Paradiso, XXXIII, 145).
Glória eterna a seu nome!
Aceite, meu caro Roberto (e transmita-o aos filhos ilustres), o
amplexo afetuoso do amigo e admirador
Carlos Biasotti

São Paulo, 28 de julho de 2002

Meu caro Dr. Roberto:


Comoveu-me o Amigo com a gentil e preciosa dádiva do
exemplar da última edição de o Código Penal Comentado.
A altíssima opinião que faço da “Família Delmanto” você já a
conhece: é a que se reserva unicamente àquelas individualidades que
servem de lustre a seu tempo e símbolo permanente de grandeza
moral às futuras gerações.
Não discorro por metáforas, senão que reproduzo meus
pensamentos, os olhos fitos em cristalina realidade.
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Foi seu querido Pai o augusto patriarca da “gens” Delmanto e,


juntamente, o modelo indefectível do Advogado Criminalista: culto,
íntegro, operoso, afável e bom. Tais predicados, que se veem somente
distribuídos entre muitos indivíduos, tinha-os, reunidos em si, em
grau assinalado, o legendário Dante Delmanto!
Afirmar que em todo o Advogado digno deste nome há um
pouco de seu Pai, não será arroubo de linguagem nem encarecimento
retórico, mas expressão da verdade, pois todos o guardamos no
coração e na alma!
Para nossa fortuna, herdaram-lhe os filhos os talentos, as
virtudes e os primores da nobreza. A duvidar alguém, é abrir essa obra
— Código Penal Comentado — e logo se desenganará: dentre todas, no
gênero, a melhor! Ninguém a poderia produzir sem notável domínio
da Ciência de Carrara, acentuado influxo da arte literária e generoso
intuito de servir àqueles que, obreiros do Direito, necessitamos de guia
seguro e completo.
É o “Código Delmanto” a carta de marear dos argonautas neófitos
e veteranos que pretendam desviar-se dos magnos escolhos do mar
tormentoso da Advocacia Criminal; é, por dizer tudo, aquela estrela de
imensa grandeza que, das profundidades consteladas, ilumina e
orienta os peregrinos em suas noites de incerteza.
Nem um só dia passa, que me não socorra, para autorizar
pobres votos, a esse inestimável livro com que o distinto Amigo e os
filhos acrescentaram a glória do inolvidável Celso e consolidaram a
própria, com raro mérito.
Aceite, prezado Roberto, a expressão de meu sincero
agradecimento pela oferta de tão bela e utilíssima obra.
Abraça-o, afetuosamente, o menor dos amigos.
Carlos Biasotti

Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp

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