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A Mentira
perante a Justiça
2023
São Paulo, Brasil
O Autor
A Mentira
perante a Justiça
2023
I. Preâmbulo............................................................................................11
PODER JUDICIÁRIO
Voto nº 2175
Relator
É o relatório.
Carlos Biasotti
Relator
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43. “Incorre nas penas da lei (art. 342, § 1º, do Cód. Penal) a
testemunha que, ao depor em processo-crime, falta com a
verdade acerca de fato juridicamente relevante, com o intuito de
favorecer o réu. A mentira não pode ter entrada no templo da
Justiça” (TJSP; Ap. Crim. nº 990.08.090617-8).
44. Pode a mentira perder seu caráter maligno ou
reprovável, quando empregada “per jocum” (por mero
brinco ou gracejo), “reservatio mentalis” (restrição mental,
intenção reservada) ou “dolus bonus” (fraude pia), em
que faz as vezes de locução verbal própria a mitigar a
impressão forte da verdade. Exemplo: “Não vai doer
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— Supus que era mais fácil ver um boi a voar do que um frade a
mentir…
De fato, seria menos de surpreender uma alteração da ordem
natural do que uma alteração da ordem moral — para a sábia
virtude do Doutor Angélico” (João Ameal, São Tomás de
Aquino, 4a. ed., pp. 56-57; Livraria Tavares Martins;
Porto).
46. Para quem tem “pernas curtas”, a mentira já foi longe
demais; por isso, aqui faço ponto, com este belo
pensamento do clássico Pe. Antônio Vieira: “Quem fala
muito não pode ser verdadeiro em tudo” (Cartas, 1971, t. I,
p. 110; Imprensa Nacional; Lisboa).
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Notas
(5) “Veritas vel mendacio corrumpitur, vel silentio” (De Off., I,23).
(6) “Omnis homo mendax” (Ps. 145,11).
(7) Por aborrecerem a mentira — a que, ordinariamente,
recorre o acusado como forma de defesa —, talvez
alguns juízes quiseram, no seu íntimo, antes se
prestigiasse o silêncio, não fora este sempre acintoso.
De feito, haverá nada mais inconciliável com as regras
da urbanidade do que o silêncio desdenhoso do réu que,
no interrogatório, não atende às perguntas do juiz?!
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VIII. Detratores
Adversários e inimigos também ele os teve, talvez
poucos mas de atroz malevolência e perversidade. Aos que,
em vida, lhe desfecharam aleives e pregões de infâmia —
como o deputado César Zama, o senador Ramiro Barcelos e o
coronel Gabriel Salgado — o próprio Rui deu resposta altiva
e contundente, estigmatizando-os com ferro em brasa.(21)
Falecido da vida presente, para desagravar-lhe a
memória, que mãos profanas embalde se afadigaram por
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(1849–1923)
Notas:
(1) Luiz Viana Filho, A Vida de Rui Barbosa, 6a. ed., p. 23;
Companhia Editora Nacional; São Paulo.
(2) O conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, o Moço
(1827–1886), “político, orador eloquentíssimo, poeta, em tudo
foi grande”, escreveu o insigne Prof. Waldemar Ferreira
(A Congregação da Faculdade de Direito de São Paulo na
Centúria de 1827 a 1927, p. 56).
(3) Rui Barbosa, Obras Completas, vol. I, t. I, p. 146.
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Notas
“Habeas Corpus”
Suspensivo com Pleito de Liminar
E.R.M.
São Paulo, (dia, mês e ano)
________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)
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Razões do Pedido de
“Habeas Corpus” de
(Nome do Paciente)
Ínclito Presidente,
Colenda Câmara:
I – Exórdio
1. “Como admitir que alguém fique preso, por um minuto mais,
esperando o julgamento do habeas corpus, se já fez prova irretorquível
do direito à fiança?” (Alberto Silva Franco, Medida Liminar em
Habeas Corpus” in Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 1,
p. 70).
IV – Do Direito
4. Anotou a r. decisão de primeiro grau, com insigne
arrojo, que se reputavam maus os antecedentes (6) do réu
porque respondia a outro processo.
V – Do Pedido
6. Em face destas razões, e de outras muitas que passa
em silêncio, por escusadas, visto é a Vossas Excelências,
Magistrados em tudo eminentes, que se está dirigindo, espera
o impetrante dignem-se deferir ao paciente ordem de “habeas
corpus” para que aguarde em liberdade o julgamento definitivo
de seu processo, expedindo-se-lhe alvará de soltura, preso
que se acha na Casa de Detenção.
E.R.M.
São Paulo, (dia, mês e ano)
________________________________
(Nome do advogado e número da OAB)
_________________________
82
PODER JUDICIÁRIO
Despacho
Vistos, etc.
1. Fl. 22.
_________________________
PODER JUDICIÁRIO
Notas
caso urgente, que se deve alegar, a petição pode ser feita por
telegrama” (apud Pontes de Miranda op. cit., p. 410). Pode
sê-lo também por fax, telex e telefone (cf. Revista Brasileira
de Ciências Criminais, nº 1, pp. 189 e 190); f) Porque só a
pessoa física pode ser paciente do remédio heroico,
houve-se com indisputável acerto e gravidade o
Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo,
não conhecendo de “habeas corpus” que um bisonho
causídico impetrara em favor de certo papagaio que
dava pelo nome de Eleutério; g) Por outra parte, constitui
expressão jurídica do patético e toca as raias do sublime
aquilo de haver Sobral Pinto, honra e glória da
advocacia pátria, requerido perante o Tribunal de
Segurança do Estado Novo a aplicação da Lei de
Proteção aos Animais para arrebatar seu cliente Harry
Berger às câmaras de tortura da polícia política de
Getúlio Vargas (cf. Araken Távora, Advogado da Liberdade,
p. 12); h) Os anais forenses abriram registro folclórico
ao episódio de que foi protagonista acadêmico de
direito, o qual, perguntado sobre a medida cabível em
caso de restrição à liberdade de ir e vir, teria confundido
na resposta impetração de “habeas corpus” com perpetração
de “Corpus Christi” (…); i) Prova cabal de que é o “habeas
corpus” o “remédio jurídico processual mais eficiente em todos os
tempos” (Pontes de Miranda, op. cit., p. 3) depara-nos esta
notícia recolhida por Hélio Tornaghi: “Na Bolívia, um
preso, não dispondo de outro meio, dirigiu ao tribunal uma
petição informalíssima em papel higiênico. O tribunal conheceu
do pedido, fez apresentar o paciente e, tendo chegado à conclusão
de que o constrangimento era ilegal, mandou soltar o preso”
(Curso de Processo Penal, 1989, vol. II, p. 389); j) Dos
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Sumário. A virtude está no meio. Por essa velha máxima de filosofia prática
entende-se que os extremos são nocivos; o demasiado, vicioso; a mesma
bondade morre do excesso. Também no circuito judiciário isto ocorre: a
exageração no reclamar justiça pode, muita vez, ser causa de sua própria
denegação.
Notas
I. Personagem singular
Ele, que discorria “ex professo” do princípio da
proporcionalidade da pena(1) — que deve corresponder
sempre ao grau da culpa ou da falta cometida —, esqueceu-
lhe aferir por justa craveira a pena dos que perdem os objetos
de sua afeição: preferiu que outros o fizessem. Foi debalde,
porém, que a dor de certas perdas não raro excede toda
medida.
Não cabe realmente no coração humano (porque
infinita) a mágoa que acompanha o desaparecimento de
individualidades privilegiadas como o Professor Damásio
Evangelista de Jesus, arrebatado pela morte no dia 13 de
fevereiro deste ano.
Até mesmo os que aprenderam a resignar-se ao império
da lei que fixou o termo a todas as coisas — “pois também as
pedras morrem”, como asseverou um alto espírito(2) —
acabrunharam-se com a interrupção do esplêndido curso da
vida desse varão egrégio, no qual se viam reunidas, no mais
elevado grau de primor, qualidades que apenas se encontram
distribuídas entre muitos.
Os que o conheceram e trataram — e esses se contam
por dezenas de milhares — podem atestar que não há
encarecimento retórico nem tropo de linguagem no juízo de
ter sido Damásio de Jesus, sem contradição, uma das figuras
mais úteis, estimadas e fascinantes de nossa idade.
114
Notas
Notas
Sumário. A ninguém é lícito violar, sem justa causa, a ordem jurídica; por
isso, aos infratores são cominadas penas, que são o salário do crime. A não
haver punição para o transgressor da lei, tornava-se impossível a vida em
sociedade.
PODER JUDICIÁRIO
Voto nº 10.480
Relator
131
a) Introdução
Nos arrazoados forenses, decisões, sentenças e artigos
jurídicos, aproveita muito ao prestígio da forma literária, no
caso de vir a ponto, a citação de brocardos do Direito e
máximas da experiência.
Em verdade, o advogado(2), quando deduz em juízo
uma pretensão, e o juiz(3), ao fundamentar suas sentenças e
despachos, não lhes é defeso cultivar em grau assinalado a
arte de bem escrever.
Ora, da petição inicial e dos arrazoados forenses sempre
foi apanágio a clareza e a precisão, que por força pressupõem
a ciência e o domínio dos cabedais da língua; numa palavra: a
boa exação gramatical.(4) Outro tanto, em referência às
decisões do Poder Judiciário, que serão fundamentadas, “sob
pena de nulidade” (art. 93, nº IX, da Const. Fed.). Neste particular,
a expressão verbal apropriada, exata e escorreita é a que
satisfará ao preceito da lei.(5)
Por fim, escusa lembrar que, nisto de citações, como em
tudo o mais, há mister proceder sempre com peso e medida.
14. “Qui parcit virgae odit filium suum; qui autem diligit illum
instanter erudit” (Prov. XIII, 24). Aquele que poupa a vara
aborrece seu filho; mas o que o ama, continuamente o
corrige (Bíblia Sagrada, 1881, t. I, p. 677; trad. Antônio
Pereira de Figueiredo).
15. “Quos amo, arguo et castigo. A quem amo, advirto e castigo”
(apud Rui Barbosa, A Imprensa e o Dever da Verdade, 1920,
p. 67).
16. “Pena de talião — É uma lei que remonta à Antiguidade mais
remota, pois figura nos livros sagrados. A Bíblia esclarece, no
Êxodo, que ela consiste em infligir, ao autor de uma
transgressão, punição em tudo igual ao crime” (R. Magalhães
Júnior, Dicionário de Provérbios e Curiosidades, 1960, p.
213).
17. “Suprima-se a pena (quod Deus avertat) e o crime seria, talvez,
a lei da maioria” (Nélson Hungria, Comentários ao Código
Penal, 1978, vol. I, t. II, p. 196).
18. Não deve contudo a pena ter caráter só retributivo ou
de expiação pelo mal praticado; há de ser também
medida salutar de defesa social e meio de reeducação
do infrator. Na frase original de Platão, deve ser a
medicina da alma (cf. Revista da Faculdade de Direito de São
Paulo, vol. 419, p. 96).
19. A pena deve operar no infrator a finalidade que lhe
reconhecia já o divino Platão: medicina da depravação
moral (cf. Górgias, cap. XXIV).
20. “A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. I, t. I,
p. 14).
140
Notas
PODER JUDICIÁRIO
Voto nº 1640
Relator
Notas
PODER JUDICIÁRIO
Voto nº 9144
Relator
Sorteado
Notas
(1) “Não é a ocasião que faz o ladrão (…); o provérbio está errado.
A forma exata deve ser esta: A ocasião faz o furto, o ladrão
nasce feito” (Machado de Assis, Esaú e Jacó, 1957, p. 299;
W. M. Jackson Inc. Editores; Rio de Janeiro).
(2) Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 33; Editora
Forense.
(3) A Luta pelo Direito, 20a. ed., p. 18; trad. João de
Vasconcelos; Editora Forense.
187
Notas
Prólogo
Repercussão da homenagem no
meio forense
(5) Cf. Rui Barbosa, Oração aos Moços, 1a. ed., p. 43.
(6) “O que é fiel no menos, também é fiel no mais; e o que é injusto no pouco,
também é injusto no muito” (Lc 16, 10; trad. Pe. Antônio Pereira
Figueiredo).
205
Epílogo
PODER JUDICIÁRIO
Voto nº 2094
Relator
Notas
I. Caso em Espécie
a) Locuções nominais
b) Outros palíndromos:
7. Ave, Eva;
8. “(…) palíndromo das primeiras palavras ditas por Adão a
Eva no jardim do Éden: Madam, I’m Adam (Madame, sou Adão)”
(Charles Berlitz, As Línguas do Mundo, 4a. ed., p. 242; trad.
Heloísa Gonçalves Barbosa; Editora Nova Floresta; Rio de
Janeiro).
9. “A Roma antiga desfrutava de um romântico palíndromo:
Roma tibi subito motibus ibit amor (Em Roma o amor te virá de
repente)” (Idem, ibidem).
10. O galo nada no lago.
11. “Subi dura a rudibus” (latim). Sofre coisas
desagradáveis de pessoas rudes. (Arthur Rezende, op. cit.,
p. 767; “subi”: modo imperativo: tolera, suporta, sofre).
243
(1) https://www.direitonews.com.br/2022/02.
(2) Bíblia Sagrada (Is 14, 12-15).
(3) Sermões, 1959, t. VIII, p. 198; Lello & Irmão Editores;
Porto.
(4) Curso de Direito Civil, 1989, 1º vol., pp. 86-89; Editora
Saraiva; São Paulo.
(5) Réplica, nº 10.
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti