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Direito Comercial

Fragilidade das Letras, Livranças e Cheques

Pedro Santana
Direito 2021/2022

Introdução 2
Letras, Livranças e Cheques 1
Os títulos de crédito em geral 1
Sujeitos Cambiários 1
Tipologia 2
Características 3
Classi cação do título de Crédito 5
Endosso em Branco 6
Livrança 7
Noção e característica 7
Forma de Extinção 8
Do Aval 9
Garantia do Aval 11
Dupla Subscrição em branco pelo avalista e avalizado 12
- Artigo 10º da LULL: Estrutura da Norma e Ónus da prova - 12
Conclusão 14
Bibliogra a 15
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Introdução
Serve o presente trabalho para expor as várias situações inerente aos títulos de crédito,
nomeadamente à sua fragilidade e desadequação temporal dos mesmos. Iremos abordar os
títulos de créditos em geral no tocante aos tópicos mais importantes, passando de seguida par
uma breve noção da Livrança e do Aval para demonstrar a fragilidade da lei perante estes
títulos e a sua desnaturalização face aos tempos modernos.
Mais profundamente iremos ver as tipologias, características e principalmente o
endosso em branco e a dupla subscrição em branco do Aval, que releva uma maior
preocupação para os títulos de crédito. Por m iremos abordar o artigo 10º da LULL e em
breves palavras expor a estrutura da norma e o ónus de prova.

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Letras, Livranças e Cheques


Os títulos de crédito em geral
Um documento que representa um crédito que alguém tem
sobre outra pessoa é denominado de Letras, Cheques ou Livranças,
podendo esse título ser transmissível, ou seja, existe uma volatilidade
do bene ciário do título.

Sujeitos Cambiários
A letra é um título à ordem, formal, onde uma pessoa que é
determinada como sacador, ordena a outra designada por sacado, que
lhe pague ou a terceiro tomador, determinada importância1. O saque é
a ordem para pagamento de certa quantia, assim sendo, quem saca é
o sacador e quem recebe é o sacado, podendo esta letra ser
transmissível por endosso que tem por obrigação constituir uma
clausula “à ordem”, caso contrário não poderá esta letra ser
transmissível por endosso.

1Artigo 1º e 3º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL”

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O aceite é o ato pelo qual o sacado se obriga a pagar a letra na


data do vencimento. Como vigora o regime da solidariedade2, ou seja,
todos os obrigados são responsáveis pelos pagamento da letra na
totalidade, exercendo o seu direito de regresso3 a cada um dos
signatários da letra. Este ato de aceitar tem de ser escrito na letra e
assinado pelo sacado, podendo seguir a via de endosso completo ou
incompleto4.

Tipologia
Ha vários tipos de títulos de créditos, dentro desta variedade
poderemos destacar três sobre-espécies de títulos, os títulos
nominativos, à ordem e ao portador.
Os títulos nominativos são destinados a uma pessoa
determinada e que, o emitente, se obriga perante esta. Para transmitir
o título, basta que aquela pessoa determinada faça uma declaração
por escrito, indicando o nome do novo possuidor. Este documento
será averbada nos livros de resgate da entidade emissora do título.
Os títulos à ordem terá a sua propriedade transferida por meio
de endosso. O endosso é caracterizado por uma ordem, ou seja, será
escrito no verso do título e expresso nos seguintes termos: “Pague-se
ao Sr. A… ou à sua ordem”. Os novos proprietários poderão endossar

2 No âmbito das relações civis, e tratando-se de uma obrigação plural, a Conjunção constitui o regime regra,
uma vez que, como dispõe no N.º1 do artigo 513º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina, a
solidariedade, tanto activa, como passiva, só existe se for determinada pela lei ou estipulada pelos interessados.
Diferentemente no domínio das relações comerciais o regime regra é o da Solidariedade prevista no N.º 1 do
artigo 100º da Legislação Comercial e das Sociedades Comerciais, 12ª Edição, 2021, Almedina.
3 Artigo 524º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina
4O endosso completo designa o novo proprietário da letra de forma escrita em qualquer parte do documento ou
em uma folha anexa - N.º1 e 2 do artigo 13º da LULL - O endosso em branco/incompleto constitui somente a
assinatura do endossante no verso da letra ou em folha anexa, não designando o endossado - N.º 3 do artigo 13º
da LULL.

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novamente o título5. Sendo exatamente aqui que o problema da


fragilidade se coloca visto a lei não proteger o direito de transferência
da propriedade do título e que abordaremos mais à frente.

Características
A letra, e como o próprio nome indica, “inserta no próprio texto do
titulo expresso na língua empregada para a redação desse titulo”6, sendo
também um mandato puro, ou seja, a quantia a ser paga é
determinada e simples de liquidar7. Todo este mecanismo é gerido
por sujeitos envoltos nesta relação jurídica.
A lei não é precisa no que toca à de nição dos títulos de
créditos, no entanto, pela doutrina, podemos a rmar que os títulos de
créditos tem um direito literal e autónomo expressamente
mencionado e para o exercício de direitos a necessidade desse
documento. Esta de nição dada, não obstante à diversidade de títulos
existentes, demonstra de forma clara a especi cidade desses
documentos. Estes documentos permitem a circulação de direitos e
bens, permitindo assim aos credores a antecipação dos seus créditos,
sendo essa circulação a ordem, mediante endosso que investe ao
portador endossatário na propriedade do titulo.8
A essencialidade destes documentos denota-se na transmissão do
crédito “sem a necessidade de conhecimento ou consentimento do
devedor”9, ou seja, basta as tradição manual para fazer transitar o

5Artigo 11º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL”
6N.º1 do Artigo 1º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
7N.º2
do Artigo 1º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL”
8Pág. 4, Revista Portucalense, n.º25, Universidade Portucalense, Porto, 2019, Pacheco Fátima.
9 N.º1 do Artigo 583º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina.

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crédito e para tal basta que haja o documento físico, como coisa
corpórea e móvel, onde o direito de crédito se contem e que para
exercê-lo estará este subordinado à detenção física do documento.
Esta incorporação do direito no titulo de crédito é um direito
cartular, ou seja, sem a posse do documento não será permitido
exercitar, transferir ou cumprir o direito inerente nesse título. Neste
âmbito, o negócio é a relação jurídica fundamental pois através
daquele deu origem à criação de um titulo, por esta razão, se o título
se perder ou destruir, o direito cartular não poderá ser exercido10.
O negócio jurídico cambiário pode ser abstrato, quer isto
dizer que poderá haver várias situações que poderiam desencadear
este negócio, então a convenção entre as partes do ato cambiário mais
próxima será a razão da realização do negócio cambiária concreto. A
importância disto é a inoponibilidade ao portador mediato e de boa fé
exceptuando-se os vícios eventualmente existentes, o que permite à
preservação das demais obrigações cambiárias. A literalidade e a
abstração do título implicam que o direito cartular seja independente
do direito subjacente, pois o negócio cartular é documentado e
incorporado no título e não na relação jurídica subjacente. Assim
sendo quem recebe o título adquire o direito nele incorporado, direito
esse autónomo do negócio jurídico que deu origem à emissão do
titulo. Com isto quer-se a rmar que cada direito cartular está
subjacente pelo menos a um negócio jurídico fundamental11.
Existe uma autonomia do direito sobre o título decorrente da
independência de titularidade do antigo portador, ou seja, cada
transmissão, segundo as regras próprias dos títulos de crédito, quem
adquire será de forma originária, como se não tivesse havido
nenhuma transmissão anterior. Isto dá razão a não ser oponível ao

10 Pág. 5, Revista Portucalense, n.º25, Universidade Portucalense, Porto, 2019, Pacheco Fátima.
11Pág. 6, Revista Portucalense, n.º25, Universidade Portucalense, Porto, 2019, Pacheco Fátima.

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terceiro possuidor do título por falta de titularidade de quem lho


transferiu.
A circulação do título permite ao portador adquirir legitimidade
ativa, transmissão do documento e o direito cartular, direito inerente
ao titulo. Do outro lado temos o devedor com a legitimidade passiva,
ou seja, apenas poderá apresentar-se como tal e exercer o seu dever de
pagar apenas ao portador do título. Aqui pode-mos encontrar uma
fragilidade da propriedade do titulo de credito, no sentido que a
titularidade do direito e a legitimidade de exercício não coincidem,
esta legitimação é uma forma de tornar célere e segura a circulação
do título. Desta forma o portador terá legitimidade para atuar como
se fosse o seu titular, mesmo não sendo e agindo em benefício
próprio12.

Classi cação do título de Crédito


As livranças, assim como as letras, podem circular
desencadeando uma série de relações jurídicas. Os critérios usados são
os mesmos para a todos os títulos de crédito, mas a doutrina não é
uniforme.
Um título de crédito propriamente dito é o direito a uma
prestação pecuniária conferida ao seu portador. São por sua vez
infugíveis pois são emitidas de forma singular e, ou individual, ou seja,
não são emitidas em série. Em face ao direito cartular, são títulos
creditícios pois incorporam o crédito a uma prestação.
É imprescindível a existência documental do titulo visto haver
uma separação do direito direito inerente no título com a relação
jurídica subjacente. Esta importância não dá razão para dizer que
estejamos perante um documento constitucional, apesar de ter uma
função constitutiva, estamos perante um título constitutivo, isto
12Pág.7, Revista Portucalense, n.º25, Universidade Portucalense, Porto, 2019, Pacheco Fátima.

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importa ser fundamental para o exercício activo e passivo nele


mencionado. Para tal, basta que haja uma assinatura no documento o
que origina uma relação jurídica especi ca, havendo uma nova
obrigação distinta de qualquer outra existente.
No tocante às livranças, são títulos de natureza abstrata, o que
origina várias e diversas causas jurídicas mediatas por gozar da
literalidade e abstração do título. A sua circulação só será possível à
ordem, devido à identi cação do seu primeiro titular e a tradição do
título por meio do endosso, assinatura nas costas do titulo13.

Endosso em Branco
O endosso é a transmissão da letra sendo esta transmissibilidade
uma qualidade natural do titulo em questão, assim como refere Ferrer
Correia, o endosso é a “Dinâmica da Letra”. Mas poderá haver a
possibilidade do endosso em branco, ou seja, não há uma pessoa
imediata descrita no título. Assim sendo, suscita-se a questão de saber
a legitimidade do portador e endossante14.
O detentor da letra com endosso em branco é seu portador
legítimo, podendo, se quiser, preencher o espaço em branco com o seu
nome ou com o nome de outra pessoa. Pode também transmitir a
outrem tal como recebeu15. Logo, a lei presume que o signatário da
letra adquiriu a letra pelo endosso em branco, quando esta é
precedida por outro endosso em branco. Quer isto dizer que a letra
poderá ser transmitida ininterruptamente como título ao portador, ou
seja, quem tem a posse da letra tem legitimidade para aciona-la. Esta
matéria divide os autores. Uns defendem a obrigatoriedade de

13 Pág.8, Revista Portucalense, n.º25, Universidade Portucalense, Porto, 2019, Pacheco Fátima.
14 Pág. 176 do Acórdão do Tribunal da Relação do Porto,CJ T4 do ano XXVII
15N.º 1e 3 do artigo 14º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”

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preenchimento do endosso a seu favor16 ,contrariamente não há esta


necessidade de preenchimento visto o detentor ser portador legítimo
se justi car o seu direito por uma série ininterruptamente de endossos,
ou seja, este já será titular do direito cambiário17.
Os tribunais são unanimes nas decisões, proferindo que o
detentor da letra com endosso em branco é seu portador legítimo,
logo não é imposto que o detentor da letra a preencha a seu favor
para exercer os seus direito cambiário por via de execução18.

Livrança
Noção e característica
A livrança é um titulo cambiário à ordem, por se tratar de uma
promessa de pagamento. O emitente promete incondicionalmente e
pessoalmente pagar a quantia determinada numa data determinada a
uma pessoa, que geralmente é o Tomador (bene ciário) ou á sua
ordem. Ou seja, o autor da emissão ao comprometer-se em pagar,
vincula-se ao título, que o constitui devedor direto ou obrigado
principal.
As guras de tomador, endossantes e avalistas, estão presentes na
livrança, mas a ideia do endosso está a tornar-se ultrapassada, visto o
aval estar a ser mais presente devido a uma pluralidade de signatários
como os sócios, gerentes, administradores ou sócios de sociedades19

16 Pág. 90, Letras, I, Pinto Coelho.


17 Pág. 152 Direito comercial, volume III, Titulo de crédito, 1992, Oliveira Ascensão
18Artigo 16º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL”, no mesmo sentido, Pág. 176 do Acórdão do Tribunal da Relação do Porto,CJ T4 do ano XXVII.
19 Pág.14, Revista Portucalense, n.º25, Universidade Portucalense, Porto, 2019, Pacheco Fátima.

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O regime jurídico vem a rmar que, ao contrário das letras onde


podemos encontrar três intervenientes, encontraremos somente dois
intervenientes, onde um promete pagar e o bene ciário a quem foi
prometido o pagamento pelo emitente20. Contrariamente nas letras
existe uma ordem e pagamento onde o sacado tem a ordem de
pagamento do sacador em bene cio do tomador. Ou seja, não existe a
gura do sacado nem do aceite na livrança visto não ser um título
aceitável devido à atribuição direta do direito cambiário a outra
pessoa.
Como todos os titulo de crédito, não sendo a livrança uma
exceção, deverão seguir uma forma rigorosa sob pena de ine cácia
jurídica pois os títulos de crédito incorporam o suporte material para
a legitimação do seu portador21 a menos que a própria lei supra esta
falta22. Com isto podemos concluir que devido à literalidade do titulo
e a sua prevalência sobre a vontade subjectiva dos intervenientes
cambiários, determina a nulidade de qualquer convenção estranha à
formalidade estrita da livrança, isto, devida à falta de forma.

Forma de Extinção
Há várias formas de extinguir um título de crédito, a mais
comum é o pagamento da obrigação na data de vencimento desta23.
Mas sempre que haja o direito de regresso, a obrigação só se
extinguirá com o cumprimento do obrigado principal do direito de
regresso. Estando o título em circulação, só com o pagamento de
qualquer obrigado extinguirá o título, tendo somente este a

Artigos 75.º a 78.º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
21 Artigo 376º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina.
22N.º 2 a 4 do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL”
23Artigo 762º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, ALMEDINA.

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legitimidade para exigir a entrega da prestação. O que não acontece


caso o titulo deixe de estar em circulação, extinguido-se assim o título
pelo decurso do tempo - prescrição24-.

Do Aval
Como já foi referido, as obrigações cartulares são regidas pela
literalidade a abstração. A literalidade manifesta obediência à regra
que vem de nir que o conteúdo apresentado no titulo é preciso com a
obrigação cartular, e nesse sentido temos a abstração que vem
proteger o título de quaisquer causas fortuitas estranhas ao negócio
que lhe deu causa25. Neste sentido, a abstração releva uma garantia
promovendo a autonomia desta. Com isto quer-se dizer que a
autonomia dos títulos de crédito não é afetada pela relação
subjacente.
Ora, todas as obrigações cartulares são obrigações de garantia,
pois quer o sacador quer os endossantes obtêm o dever de pagar a
letra na falta de cumprimento por parte do sacado ou a falta da sua
aceitação, enquanto que na livrança os endossantes obrigam-se a
pagar na falta do subscritor26. Dentro destes moldes, quer os
intervenientes da livrança quer da letra, são sujeitos solidários entre
si27.

24Artigo 70º e 71º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL” por remissão do artigo 77º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às
Letras e Livranças. “LULL”
25Pág. 228, Livrança em branco, pacto de preenchimento e aval, Reviste de Direito Comercial de 08/03/2021,
dos Santos, Filipe Cassiano.
26Pág. 229, Livrança em branco, pacto de preenchimento e aval, Reviste de Direito Comercial de 08/03/2021,
dos Santos, Filipe Cassiano.
27N.º 1 e 2 do artigo 47.º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”

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O Avalista tem uma atuação dupla quer em garantia especí ca


quer os mesmos deveres dos obrigados perante o título de crédito28. O
avalista esta revestido da mesma obrigação que os demais obrigados
perante o título respondendo de igual forma, noutro sentido, desta vez
mais especí co, revela que o avalista garante o pagamento do título
por um determinado obrigado, ou seja, ca duplamente investido
tanto no direito que o obrigado teria se tivesse pago e no direito de
regresso conta ele29.
Assim sendo o aval é um negócio jurídico unilateral que tem o
efeito de garantir um pagamento de uma letra, estando sempre
presente no próprio enunciado do aval30. Logo, na falta de indicação
da pessoa por quem se dá, parte-se do princípio que o aval se dará
pela pessoa do sacador, isto vem frisar a objetividade do aval
permitindo assim determinar a extensão obrigacional de cada
avalista31, ou seja, determinar a quem responde32 e situar a pretensão
do avalista que paga a letra na cadeia de direito de regresso33. Assim
sendo, esta garantia do avalista não poderá ser subjectiva visto não
haver acessoriedade, quer-se com isto dizer que a obrigação do

28Pág. 230, Livrança em branco, pacto de preenchimento e aval, Reviste de Direito Comercial de 08/03/2021,
dos Santos, Filipe Cassiano.
29N.º3 do artigo 32.º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”.
30N.º 1 do artigo 30.º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
31§ 4 do artigo 31.º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
32N.º 1 do artigo 32º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
33N.º 3 do artigo 32º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”

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avalista permanece intacta mesmo com a nulidade da obrigação do


avalizado34 e excussão prévia35.

Garantia do Aval
No tocante à relação entre os co-avalistas, “Sem embargo de
convenção em contrário, há direito de regresso entre avalistas do
mesmo avalizado numa livrança, o qual segue o regime previsto para
as obrigações solidárias”36. Lógico será não haver pretensão
cambiárias entre co-avalistas, ou seja, por serem obrigados de igual
forma, poderá ser garante do outro, assim sendo não poderão exercer
o direito de regresso37.
Diferentemente dos adores, os avalistas garantem um resultado,
ou seja o pagamento da letra38logo não existe uma caução cambiária
do avalizado. De igual forma não se poderá aplicar por analogia o
regime da pluralidade de adores.
Para além disto, existe uma desadequação das normas concretas,
visto esta reconhecer o direito de acionar cambiariamente os restantes
co-avalistas, por tomarem lugar do avalista solens no próprio direito
cartular39. O mesmo seria aplicado no âmbito dos meios de defesa
interno previsto para os co- adores40; Ora, devido ao co-avalista

34N.º 2 do artigo 32º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
35N.º 2 do artigo 47º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
36 Acórdão Uniformizador de Jurisprudência do STJ N.º 7/2012
37N.º 3 do artigo 32º e N.º 2 do artigo 49º ambos do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme
Relativa às Letras e Livranças. “LULL”
38N.º1 do Artigo 30º do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e
Livranças. “LULL”
39 N.º 1 do artigo 650º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina.
40 N.º 3 do artigo 650º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina.

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nunca bene ciar da divisão, responderá sempre solidariamente


perante o portador41, logo as normas concretas encontram-se
desadequadas.
O que existe entre os avalistas é uma solidariedade passiva, pois
“ Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra são todos
solidariamente responsáveis para com o portador”42, logo ”Nas obrigações
comerciais os co-obrigados são solidários, salvo estipulação em contrário”43 o que
torna os negócios cambiários actos de comércio.

Dupla Subscrição em branco pelo avalista e avalizado


- Artigo 10º da LULL: Estrutura da Norma e Ónus da prova -
Refere o artigo 10º da LULL “Se uma letra incompleta no
momento de ser passada tiver sido completada contrariamente aos
acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos ser
motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a letra de
má-fé ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave.”
À primeira vista, pela tutela da circulação e da con ança de
terceiros estando de boa fé, o subscritor em branco suporta o risco do
preenchimento em branco abusivo. Contrariamente, caso haja um
desvalor da conduta do portador, a este já poderá ser oponível,
recaindo o ónus da prova sobre o subscritor em branco. Se conhecer
que a vontade objetiva é a de ludibriar o titulo, está de má fé; se não a
conhece, a vontade, mas devia ter conhecido, é uma falta grave44.

41Artigo 47º do do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL”
42Artigo 47º do do Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças.
“LULL”
43 N.º 1 do artigo 100º da Legislação Comercial e das Sociedades Comerciais, 12ª Edição, 2021, Almedina
44 Artigo 236º e 239º do Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina.

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Vale frisar que a “aquisição” expressa no artigo 10º da LULL


não necessita ser por endosso, basta a tradição do mesmo.
Estes abusos podem ocorrer de duas formas, uma é o
preenchimento injusti cado e a segunda é a incorreta conformação
das menções inseridas no título. A primeira é o uso do título em vão,
ou seja, depois de extinta as obrigações do titulo, o credor mantém o
titulo em branco na sua posse e o utiliza em outro negócio, a segunda
é a inserção de um valor superior ao acordado. Ambas levarão ao
desfecho de má fé ou falta grave45.

45A garantia Cambi ria do Aval - Professora Doutora Carolina Cunha, e-book - Direito das Garantias, CEJ,
dezembro 2017

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Conclusão

Um documento que representa um crédito que alguém tem sobre
outra pessoa é denominado de Letras, Cheques ou Livranças. A letra é
um título à ordem, formal, onde uma pessoa que é determinada como sacador,
ordena a outra designada por sacado, que lhe pague ou a terceiro tomador,
determinada importância
Ha vários tipos de títulos de créditos como os títulos nominativos são
destinados a uma pessoa determinada e que, o emitente, se obriga
perante esta enquanto que os títulos à ordem terá a sua propriedade
transferida por meio de endosso.
A letra é também um mandato puro, ou seja, a quantia a ser paga é
determinada e simples de liquidar, sendo a essencialidade destes
documentos encontrada na transmissão do crédito. A circulação do
título permite ao portador adquirir legitimidade ativa, do outro lado
temos o devedor com a legitimidade passiva, ou seja, apenas poderá
apresentar-se como tal e exercer o seu dever de pagar apenas ao
portador do título.
As obrigações cartulares são regidas pela literalidade a abstração.
Ora, todas as obrigações cartulares são obrigações de garantia, pois
quer o sacador quer os endossantes obtêm o dever de pagar a letra na
falta de cumprimento por parte do sacado ou a falta da sua aceitação,
enquanto que na livrança os endossantes obrigam-se a pagar na falta
do subscritor.
Existem abusos que podem ocorrer de duas formas, uma é o
preenchimento injusti cado e a segunda é a incorreta conformação
das menções inseridas no título. Ambas levarão ao desfecho de má fé
ou falta grave46.

46A garantia Cambi ria do Aval - Professora Doutora Carolina Cunha, e-book - Direito das Garantias, CEJ,
dezembro 2017

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Bibliografia
Decreto-Lei 26/556, de 30 de abril de 1936 - Lei Uniforme Relativa
às Letras e Livranças. “LULL”
Código Civil, 15ª Edição - Reimpressão 2021, Almedina
Legislação Comercial e das Sociedades Comerciais, 12ª Edição, 2021,
Almedina.
Revista Portucalense, n.º25, Universidade Portucalense, Porto, 2019,
Pacheco Fátima.
Acórdão do Tribunal da Relação do Porto,CJ T4 do ano XXVII
Letras, I, Pinto Coelho.
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