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DIREITOS REAIS 1
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O que é a Posse ?
Breve Noção
A posse é o resultado da atuação de alguém que corresponda o exercício
do direito de propriedade ou de outro direito real1.
Na posse poderemos encontrar os direitos reais de gozo, direitos reais de
aquisição e direitos reais de garantia, sendo estes dois últimos direitos excluídos
da posse2. São direitos onde a sua atuação se traduz num acto único e não
duradoura, mas temos os direitos reais de gozo. Estes direitos reais de gozo já
são susceptíveis de Posse não só na propriedade, mas também nas servidões e no
usufruto3.
Para haver posse o possuidor tem de distinguir dois aspectos essenciais. O
primeiro é o elemento material, o corpus, ou seja, tem de haver uma identi cação
com os atos materiais como a detenção, fruição etc. O segundo aspecto é o
elemento psicológico ou volitívo, o animus, ou seja, tem de haver uma intenção
do possuidor em agir como legitimo proprietário4. A lei exige a existência destes
dois elementos o que implica que o possuidor terá de os provar. Para o conseguir
provar partimos do princípio que o animus é uma presunção, assim sendo,
havendo o corpus presume-se que há o animus5.
1Artigo N.º 1251.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro de
2022, Quid Júris Sociedade Editora;
2Interpretação à contrario da al. a) do N.º 1 do Artigo 670.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª
Edição, revista e atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
3 Ponto 3, pág. 1150 do Código Civil Anotado, Abílio Neto, 20ª edição, abril de 2018, EDIFORUM;
4 Ponto 4, pág. 1150 do Código Civil Anotado, Abílio Neto, 20ª edição, abril de 2018, EDIFORUM;
5 Ponto 5, pág. 1150 do Código Civil Anotado, Abílio Neto, 20ª edição, abril de 2018, EDIFORUM;
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Meios de defesa da Posse
6 Ponto 2, pág. 1172 do Código Civil Anotado, Abílio Neto, 20ª edição, abril de 2018, EDIFORUM;
7Artigo N.º 336.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro de
2022, Quid Júris Sociedade Editora;
8Artigo N.º 337.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro de
2022, Quid Júris Sociedade Editora;
9 Ponto 5, pág. 1172 do Código Civil Anotado, Abílio Neto, 20ª edição, abril de 2018, EDIFORUM;
10Artigos Ns.º 1276.º; 1278.º; 1279.º e 1285.º todos do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição,
revista e atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
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Violência
Ao decretar a providencia cautelar de restituição provisória da posse
pressupõe a alegação e prova da posse. À semelhança das ações possessórias, a
prova da mera detenção ou da simples perturbação não é su ciente para provar
a posse13.
Há unanimidade em a rmar que instala-se a violência quando é
destinada à pessoa do possuidor, podendo ser física ou moral. No outro lado o
momento em que se determina a violência é o no momento do esbulho. Certo
será a rmar que o esbulho só será violento quando haja a coação física ou
psicológica do possuidor, ou seja, a coação deriva de uma atuação apta para
intimidar e constranger o possuidor, e por medo conformar-se com o
desapossamento14.
11Artigo N.º 1279.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro de
2022, Quid Júris Sociedade Editora;
Artigo N.º 1282.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro
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de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
13 Pág. 14, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
14 Pág. 17, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
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15 Em concordância com o autor, Pág. 19, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
16 Pág. 20, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
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Esbulho
O esbulho é o ato de alguém privar outrem da posse de um bem.
Para efeitos do procedimento cautelar de restituição provisória da posse, a
interpretação deve ser mais extensiva, ou seja, incluir não so o esbulho
propriamente dito, mas também a tradição da posse como consequência da
violência. Esta tradição violenta deverá ser entendida como esbulho violento. A
na dependência de ação de restituição pode requerer a providência cautelar de
restituição da posse17.
No tocante à legitimidade, a lei não a especi ca para o procedimento
cautelar de restituição provisória da posse. Existe um contraste na lei pois o
texto legal faz alusão às ações de restituição da posse18 e por outro lado apenas
refere a ação de restituição da posse19. Isto advém de três razões possíveis:
A) O legislador pretendeu restringir a legitimidade ativa do possuidor
esbulhado e a passiva do esbulhador. Esta ideia aparece por de o
possuidor poder pedir a restituição provisória da sua posse, alegando os
factos que constituem a posse, o esbulho e a violência20. Somado com a
possibilidade de o juiz ordenar a restituição sem audiência prévia do
esbulhador, caso esse direito seja reconhecido por intermédio de exame
às provas 21.
17Artigo N.º 1279.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro de
2022, Quid Júris Sociedade Editora;
18Artigo N.º 1280.º e N.º 1282.º ambos do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e
atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
19N.º1 do artigo N.º 1281.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de
janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
20 Artigo N.º 337.º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 40ª Edição, Almedina;
21 Artigo N.º 338.º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 40ª Edição, Almedina;
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22Imposto pelo artigo N.º 1281.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada
de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
23 Pág. 23, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
24N.1 do artigo N.º 1281.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de
janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
25Artigo N.º 1311.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro de
2022, Quid Júris Sociedade Editora;
Artigo N.º 1282.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de janeiro
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de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
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Ação de Manutenção
Turbação
O possuidor perturbado pode apoiar-se na ação de manutenção da posse,
o que pressupõe a mera, mas efetiva, turbação da posse. Esta ação diferencia-se
da ação de restituição porque nesta tem o esbulho como elemento danoso.
O ato de turbação é um ato material pois diminui ou modi ca o gozo do
exercício do direito da posse. Mais do que uma ameaça e menos do que um
esbulho28. Este ato tem como elemento uma pretensão contrária à posse de
outrem, diferentemente, um simples ataque à relação material, sem intenção de
opor-se à posse existente, será apenas um dano. O possuidor perturbado terá,
obrigatoriamente de manter a sua posse. Há uma diminuição da retenção ou da
fruição, mas o possuidor não ca 100% delas privado29.
Legitimidade
A legitimidade ativa pertence ao possuidor perturbado e este morrendo,
pertence aos seus herdeiros30. Como consequência os meros detentores nao
podem lançar mão deste meio de defesa, v.g. o usufrutuário poderá lançar mão
desta faculdade com respeito à coisa que possui nos termos do usufruto, mas já
não pode fazê-lo contra agravo ou esbulho dirigidos à posse do direito de
propriedade, só o proprietário terá a possibilidade de se defender.
27Al. a) do N.1 do artigo N.º 1267.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e
atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
28 Pág. 39, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
29 Pág. 40, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
301ª parte do N.1 do artigo N.º 1281.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e
atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
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Ação de Restituição
Esbulho
A ação de restituição só é admissível doente de esbulho, violento ou não32.
O esbulho há de ser praticado por ato extra judicial material ou juridico.
Havendo uma penhora ou diligência ordenada judicialmente, o meio processual
de defessa do possuidor são os embargos de terceiro, que será tocado mais tarde.
O esbulho requer, tal como a turbação, uma intenção de quem perturba
em constituir nova posse em detrimento da posse anterior. O que se presume
que a coisa sobre que recai o direito não se perca, mas se isso acontecer não
haverá esbulho e sim um dano, pois a posse perde-se sendo impensável a
restituição33.
Como foi dito anteriormente, o esbulho é sempre um ato ilícito praticado
por um terceiro contra a vontade do esbulhado, logo, pode o possuidor car
privado posse da coisa no que toca às ilicitamente praticadas por outrem e
contra a vontade daquele. Em grosso modo o esbulho é caracterizado pela
subtração ou despojamento da posse34.
Assim sendo o esbulho é ser um ato voluntário, material ou jurídico,
onde alguém pretende tornar-se possuidor, subtraindo para si, mediata ou
imediatamente, uma coisa, ou parte dela, da posse de outra pessoa.
Legitimidade
312ª parte do N.1 do artigo N.º 1281.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e
atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
32N.1 do artigo N.º 1278.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e atualizada de
janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
33Al. b) do N.1 do artigo N.º 1267.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e
atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
34 Pág. 44, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
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351ª parte do N.1 do artigo N.º 1281.º do Código Civil e Diplomas Complementares, 25ª Edição, revista e
atualizada de janeiro de 2022, Quid Júris Sociedade Editora;
36 Pág. 49, Da defesa da Posse, Nuno Andrade Pissarra, AAFDL Editora, 2021;
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Conclusão
Ação possessória é uma ação judicial destinada a tutelar a posição do
possuidor, violada ou ameaçada violar por um terceiro. Esta tutela de defesa
possessória visa assegurar a utilização da coisa ao possuidor. A lei confere ao
possuidor diversos meios judiciais de defesa da posse, a saber:
a) ação de prevenção (artigo 1276.º do Código Civil);
b) ação de manutenção da posse (artigo 1278.º do Código Civil);
c) ação de restituição da posse (artigo 1278.º do Código Civil);
d) procedimento cautelar de restituição provisória da posse no caso de esbulho
violento (artigo 1279.º do Código Civil), e, por m,
e) embargos de terceiro (artigo 1285.º do Código Civil).
Adicionalmente, além destes meios judiciais, acresce a ação direta, forma
de auto tutela da posse, meio extrajudicial (artigos 1277.º e 336.º do Código
Civil). Enquanto as ações de prevenção, manutenção, restituição e o
procedimento cautelar em caso de esbulho violento são mecanismos de reação
contra atuações materiais suscetíveis de lesar a posse, os embargos de terceiro
são um mecanismo de reação contra uma lesão na posse causada por atos
jurídicos como a penhora ou diligência ordenada judicialmente.
Quanto à legitimidade ativa, pode recorrer às ações possessórias a pessoa
que detenha a posse da coisa nos termos de um direito real de gozo, de um
direito real de garantia suscetível de posse ou de um direito pessoal de gozo
dessa tutela.
As ações possessórias não podem ser usadas para defesa de situações de
mera detenção.
Em caso de falecimento do possuidor, a legitimidade para intentar as
ações possessórias transmite-se aos seus herdeiros.
Quanto à legitimidade passiva, difere consoante seja uma ação de
manutenção ou de restituição. Apesar de serem ações distintas, atualmente não
há qualquer forma de processo especial, estando então sujeitas ao processo
comum.
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Bibliogra a
Código Civil Anotado, Abílio Neto, 20ª edição, abril de 2018, EDIFORUM;
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