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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SEÇÃO CÍVEL 51
GABINETE DO DESEMBARGADOR CLÁUDIO DELL´ORTO.

INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS


Nº 0017256-92.2016.8.19.0000

Suscitante: EXMO. SR. DESEMBARGADOR RELATOR DA APELAÇÃO


CÍVEL Nº 0049847-41.2015.8.19.0001
Interessado 1: YARA HELENA BAPTISTA
Interessado 2: ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Assistente: SÔNIA MARIA DA SILVA VIEIRA
Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS. ARTIGO


976 DO NCPC. Execução individual de sentença proferida na ação civil
pública nº 0075201-20.2005.8.19.0001, proposta pelo SINDICATO
ESTADUAL DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
- SEPE/RJ. Gratificação criada pelo programa “Nova Escola” - Decreto
25.959, de 12 de janeiro de 2000. Repetição de processos contendo
controvérsias unicamente de direito e que ensejam risco de ofensa à
isonomia e à segurança jurídica. Aprovação de teses jurídicas para
resolução das demandas repetitivas. TESES APROVADAS POR
UNANIMIDADE: (a) Limites subjetivos da coisa julgada: Todos os
profissionais de educação inativos do Estado do Rio de Janeiro foram
beneficiados com a coisa julgada formada na citada ação civil pública,
porque não houve qualquer limitação dos seus efeitos aos associados
do sindicato. (b) Legitimidade para propor a execução: I - O sindicato,
autor da ação coletiva, poderá prosseguir com a liquidação e a
execução, nos autos do respectivo processo, em relação aos
profissionais de educação nela arrolados. II - A legitimidade do
sindicato não é exclusiva, podendo o beneficiário propor execução
individual, hipótese que acarretará sua exclusão da execução proposta
pelo sindicato. III - Os profissionais de educação não associados ao
sindicato poderão pleitear, individualmente, as respectivas
liquidações e execuções de seus créditos fundados na sentença
coletiva. (c) Forma de liquidação: Não há óbice a que a liquidação da
sentença se faça de forma diferente daquela nela consignada, até
porque caberá à parte apresentar as provas de que dispõe e simples
cálculo aritmético possibilita a apuração do quantum debeatur. (d)
Prescrição: No caso da gratificação “Nova Escola”, o débito porta
natureza de trato sucessivo, aplicando-se o entendimento sufragado
na Súmula 85, do STJ, no sentido de que "nas relações de trato
sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando
não tiver sido negado o direito reclamado, a prescrição atinge apenas
as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da
ação. TESES APROVADAS POR MAIORIA: (a) Competência do Juízo
para o processamento e o julgamento das execuções individuais:
Ressalvados os processos já distribuídos e as hipóteses de credores
domiciliados na Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, que

0017256-92.2016.8.19.0000 - AR 1
CLAUDIO LUIS BRAGA DELL ORTO:14566 Assinado em 08/10/2018 23:00:55
Local: GAB. DES CLAUDIO LUIS BRAGA DELL'ORTO
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deverão, com fundamento no artigo 516, II do CPC, propor as


liquidações e execuções de seus créditos derivados da ação civil
pública nº 0075201-20.2005.8.19.0001 perante o juízo da 8ª Vara da
Fazenda Pública da Capital, as demais liquidações e execuções
individuais serão livremente distribuídas para os Juízos competentes
em matéria fazendária, no foro do domicílio do exequente. (b)
Competência recursal: Ressalvados os recursos já distribuídos e a
prevenção deles decorrente, os novos recursos que venham a ser
interpostos contra sentenças proferidas nas execuções individuais
serão distribuídos por prevenção, para a Segunda Câmara Cível do
TJRJ, com fundamento no artigo 930, parágrafo único do CPC.
CRITÉRIOS PARA INCIDÊNCIA DE JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA:
é incabível a fixação de tese neste incidente, nos termos do § 4º, do
art. 976, do NCPC, porque a matéria está sendo julgada pelo Supremo
Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário nº 870947/SE, pela
sistemática da repercussão geral. INCIDENTE QUE SE RESOLVE COM
FIXAÇÃO DE TESES. JULGAMENTO CONJUNTO DA CAUSA-PILOTO
(AP 0049847-41.2015.8.19.0001), NOS TERMOS DO ART. 978,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO NCPC. Prosseguimento da execução.
PROVIMENTO DA APELAÇÃO.

ACÓRDÃO

Vistos e examinados estes autos, ACORDAM os


Desembargadores que compõem a Seção Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE, em conhecer e resolver o
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas e, I) por
UNANIMIDADE fixar as seguintes teses: (a) Limites subjetivos da coisa
julgada: Todos os profissionais de educação inativos do Estado do Rio de
Janeiro foram beneficiados com a coisa julgada formada na ação civil
pública nº. 0075201-20.2005.8.19.0001, porque não houve qualquer
limitação dos seus efeitos aos associados do sindicato. (b) Legitimidade
para propor a execução: I - O sindicato, autor da ação coletiva, poderá
prosseguir com a liquidação e a execução, nos autos do respectivo processo,
em relação aos profissionais de educação nela arrolados. II - A legitimidade
do sindicato não é exclusiva, podendo o beneficiário propor execução
individual, hipótese que acarretará sua exclusão da execução proposta pelo
sindicato. III - Os profissionais de educação não associados ao sindicato
poderão pleitear, individualmente, as respectivas liquidações e execuções de
seus créditos fundados na sentença coletiva. (c) Forma de liquidação: Não
há óbice a que a liquidação da sentença se faça de forma diversa daquela
nela consignada, até porque caberá à parte apresentar as provas de que
dispõe e simples cálculo aritmético possibilita a apuração do quantum
debeatur. (d) Prescrição: No caso da gratificação “Nova Escola”, o débito
porta natureza de trato sucessivo, aplicando-se o entendimento sufragado
na Súmula 85, do STJ, no sentido de que "nas relações de trato sucessivo

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em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido
negado o direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações
vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação II) por
MAIORIA fixar as seguintes teses: (a) Competência do Juízo para o
processamento e o julgamento das execuções individuais: Ressalvados os
processos já distribuídos e as hipóteses de credores domiciliados na
Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, que deverão, com
fundamento no artigo 516, II do CPC, propor as liquidações e execuções de
seus créditos derivados da ação civil pública nº 0075201-
20.2005.8.19.0001 perante o juízo da 8ª Vara da Fazenda Pública da
Capital, as demais liquidações e execuções individuais serão livremente
distribuídas para os Juízos competentes em matéria fazendária, no foro do
domicílio do exequente. (b) Competência recursal: Ressalvados os recursos
já distribuídos e a prevenção deles decorrente, os novos recursos que
venham a ser interpostos contra sentenças proferidas nas execuções
individuais serão distribuídos por prevenção, para a Segunda Câmara Cível
do TJRJ, com fundamento no artigo 930, parágrafo único do CPC e
ACORDAM, ainda, por UNANIMIDADE, em conhecer e dar provimento
à apelação cível nº 0049847-41.2015.8.19.0001, que deu origem ao
incidente, para determinar o prosseguimento da execução, nos termos
do acórdão lançado no processo em apenso.

VOTO DO RELATOR

O feito encontra-se maduro para julgamento, razão pela qual


reputo prejudicado o agravo interno interposto pelo Estado do Rio de
Janeiro às fls. 260.

Ademais, o pedido de apensamento deste IRDR ao de nº


0017850-09.2016.8.19.0000 é estéril, na medida em que este último foi
inadmitido em sessão realizada aos 08/03/2018, conforme certidão (pasta
000215 do referido processo), já com trânsito em julgado certificado (pasta
000234). A redistribuição para julgamento conjunto dos IRDRs sobre o
caso “Nova Escola”, ocorrida na sessão de 20/10/2016, foi fundamentada
no teor de enunciado do Fórum Permanente de Processualistas Civis
lavrado nos seguintes termos:

Enunciado Nº 89: “(art. 976) Havendo


apresentação de mais de um pedido de
instauração do incidente de resolução de
demandas repetitivas perante o mesmo tribunal
todos deverão ser apensados e processados
conjuntamente; os que forem oferecidos
posteriormente à decisão de admissão serão
apensados e sobrestados, cabendo ao órgão
julgador considerar as razões neles

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apresentadas”

O IRDR 17850-09 esteve sob a relatoria do Desembargador


Guaraci Viana. Em 20/10/2016, a seção cível deliberou pela reunião dos
IRDRs para julgamento conjunto. Em 08/03/18 o citado IRDR foi
inadmitido sob o seguinte fundamento:

11. É certo, ainda, que a proliferação


das decisões divergentes proporciona risco de
ofensa à isonomia e à segurança jurídica.
12. Todavia, o tema aqui enfocado –
prescrição das execuções/ações individuais em
razão de julgamento de ação coletiva – já foi objeto
do recurso representativo de controvérsia, no bojo
do REsp. nº 1.273.643-PR, tendo ficado definida a
tese da prescrição quinquenal contada do trânsito
em julgado da sentença proferida na ação coletiva.
13. Portanto, quer em relação as
ações/execuções individuais já propostas, a
questão da prescrição será examinada e decidida
pelo órgão jurisdicional em que se encontrar o
processo.
14. Em sendo assim, não se admite o
presente incidente.

No julgamento do REsp 1.273.643-PR foi deliberado o seguinte:

1.- Para os efeitos do art. 543-C do


Código de Processo Civil, foi fixada a seguinte
tese: "No âmbito do Direito Privado, é de cinco
anos o prazo prescricional para ajuizamento
da execução individual em pedido de
cumprimento de sentença proferida em Ação
Civil Pública"

Portanto, as questões suscitadas neste IRDR não foram objeto de


deliberação naquele acórdão que inadmitiu o IRDR 17850-09. A maioria
delas sequer foi examinada. A conclusão que decorreria da tese fixada pelo
STJ no REsp 1.273.643-PR, não se aplica ao caso concreto porque a
hipótese não é de Direito Privado e não se limita ao prazo para ajuizamento
da execução individual, que poderá estar submetido à prescrição
quinquenal, mas o ultrapassa para abranger hipóteses de execuções
deflagradas no quinquênio subsequente à formação da coisa julgada e
definir seus limites temporais pretéritos. Também, nada se decidiu sobre
competência para julgamento dessas questões, havendo exclusivamente
referência sobre as execuções já distribuídas.

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Conforme se extraí do oficio que inaugurou este IRDR (fls.03 –


pasta 002) nele foram delimitadas divergências sobre a competência do
juízo de 1º grau, a objeção de prescrição, a forma e legitimidade da
liquidação, os critérios para incidência dos consectários legais, além das
questões sobre competência em primeiro e segundo graus de jurisdição.

Portanto, apesar da tumultuada tramitação deste IRDR, as


questões repetitivas derivadas do cumprimento da sentença proferida na
ação civil pública ainda não foram solucionadas e nos limites do ofício
inaugural deverão ser conhecidas e dirimidas pela Seção Cível do TJRJ.

No tocante à inclusão de SÔNIA MARIA DA SILVA VIEIRA como


assistente litisconsorcial, vislumbra-se o seu interesse jurídico no feito, na
forma do art. 124 do NCPC, considerando que é parte em demanda
distribuída à 2ª Vara Cível da Comarca de São Fidélis (processo n.º
0000790-98.2015.8.19.0051), que restou sobrestada em virtude da
admissão do presente incidente.

Passa-se à análise do mérito.

O legislador processual criou o Incidente de Resolução de


Demandas Repetitivas - IRDR -, diante do fenômeno da litigiosidade de
massa, com o objetivo de promover a isonomia, a segurança, a coerência e
a igualdade jurídica, assim como a confiança legítima, por meio do
julgamento em bloco e da fixação da tese a ser observada por todos os
órgãos do Poder Judiciário, na área de jurisdição do respectivo Tribunal.

As controvérsias que se pretende dirimir neste incidente, entre


outras que poderão surgir no caso concreto, derivam da execução da
sentença proferida pelo Juízo da 8ª Vara da Fazenda Pública, nos autos da
ação civil pública 0075201-20.2005.8.19.0001 que tratou da gratificação
denominada “Nova Escola”.

A gratificação em debate foi criada pelo Decreto 25.959, de 12 de


janeiro de 2000. Seu art.3° dispõe: "Os servidores em efetivo exercício em
qualquer das unidades da rede pública estadual de educação farão jus à
gratificação específica de desempenho da escola classificada pelo grau de
desempenho nos níveis I a V, conforme anexo ao presente decreto". E o
parágrafo único da norma complementa: "A partir da publicação deste
decreto, todas as unidades escolares da rede pública estadual de educação
serão classificadas, automaticamente, no nível I do sistema permanente de
avaliação de que trata o artigo anterior, passando os servidores, que nelas
estiverem em efetivo exercício, a perceberem (as respectivas gratificações".
(sic)

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A sentença da lavra do eminente magistrado Eduardo Gusmão


Alves de Brito Neto, foi confirmada nas instâncias superiores e determinou
que todos os profissionais de educação INATIVOS do Estado do Rio de
Janeiro deveriam ser beneficiados pela gratificação denominada “Nova
Escola”, na forma que estava sendo paga aos profissionais em atividade.

Os pontos controvertidos no presente incidente, conforme


ressaltado anteriormente, são:

a) os limites subjetivos da coisa julgada:


b) legitimidade para propor a execução;
b) forma de liquidação;
c) competência do Juízo para o processamento e o julgamento
das execuções individuais;
e) prazo de prescrição;
f) consectários da condenação (juros e correção monetária);
g) competência recursal.

As questões aqui trazidas são de natureza exclusivamente


processual, pois, quanto ao mérito, este foi devidamente solucionado no
âmbito da ação coletiva, e qualquer outro debate seria impertinente e
afrontoso à força da coisa julgada.

Portanto, impõe-se a fixação das teses jurídicas nos limites do


incidente suscitado.

a) Dos limites subjetivos da coisa julgada derivada da


ação civil pública:

Questão fundamental para a construção das teses jurídicas que


serão fixadas neste julgamento é a definição dos beneficiários da coisa
julgada formada na ação civil pública.

Após apontar o limite temporal de incidência do direito subjetivo,


o dispositivo da sentença foi lavrado da seguinte forma:

“Do que exposto, resulta que o direito dos aposentados


ao pagamento da gratificação, na linha do que decidido pelo Órgão
Especial, limita-se aos meses e anos em que o benefício foi pago
aos servidores ativos, sem o contigenciamento da Resolução
Conjunta 74/2003, ou qualquer outro.
Sem mais, julgo procedente 'o pedido em parte para
condenar o Estado do Rio de Janeiro a implementar para os
inativos a gratificação prevista pelo Programa Nova Escola,
segundo seu nível I, enquanto continuar a pagá-la aos
ativos, sem prejuízo dos atrasados, que devem ser pagos

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corrigidos monetariamente e acrescidos de juros moratórios de 6%


ao ano, contados a partir da citação.” (pasta 113 da ACP)

No acórdão que confirmou a sentença não houve qualquer


restrição aos beneficiários, sendo ressalvada exclusivamente a prescrição
das parcelas de gratificação referentes ao período anterior aos cinco anos
que antecederam ao ajuizamento da ação.

“Ante o exposto, voto no sentido de se dar provimento


parcial ao recurso para, na forma do art. 269, IV, do CPC,
pronunciar a prescrição tão-somente em relação às parcelas de
gratificação referentes ao período anterior aos cinco anos que
antecederam ao ajuizamento da ação.” (pasta 175 da ACP)

Portanto, todos os profissionais de educação inativos tiveram


reconhecido o direito de percepção da gratificação, respeitados os limites
temporais definidos na coisa julgada.

Não se desconhece o julgamento do RE 573.232 – SC, que em


hipótese assemelhada o STF reconheceu que o sindicato ao representar
pessoas que não integram a categoria profissional – caso dos inativos – não
atua legitimado ativamente pela norma que se extraí do artigo 8º da CRFB.

Afirma a Constituição Federal, ao sufragar a liberdade de


associação profissional e sindical, que:

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses


coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais
ou administrativas;

Portanto, legitimados de forma extraordinária os sindicatos para


a defesa dos interesses da categoria profissional que representa, que
segundo o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal não inclui os
aposentados. A fundamentação decorre do reconhecimento de que o
trabalhador ao se aposentar deixa de integrar a categoria profissional
representada pelo sindicato passando a integrar nova categoria econômica
específica – os aposentados.

No caso, incidiria a representação específica derivada do artigo


5º, XXI da CRFB, limitador da eficácia da coisa julgada aos associados que
constem da lista autorizadora que instruiu a petição inicial. Diz a
Constituição:
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial
ou extrajudicialmente;

Não tendo o tema da natureza da legitimação do sindicato sido

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aventado no processo de conhecimento, houve formação da coisa julgada


nos limites definidos na sentença.

É impossível em sede de cumprimento da sentença pretender


limitar radicalmente o número de beneficiários da coisa julgada, sob pena
de violação dos seus efeitos.

Tal matéria foi solucionada sem qualquer objeção do Estado do


Rio de Janeiro.

Quanto a este tópico proponho a aprovação da seguinte tese


jurídica:
Todos os profissionais de educação inativos do Estado do Rio
de Janeiro foram beneficiados com a coisa julgada formada na ação
civil pública nº. 0075201-20.2005.8.19.0001, porque não houve
qualquer limitação dos seus efeitos aos associados do sindicato.

b) Da legitimidade para liquidação e execução do julgado:

O sindicato, autor da ação coletiva, está legitimado a deflagrar e


prosseguir com a liquidação e execução, nos autos da ação civil pública,
em relação aos profissionais de educação nela arrolados, considerando que
atua como substituto processual dos seus associados que integraram a
lide. Entretanto, a legitimidade do sindicato não é exclusiva, mas,
concorrente porque subsiste o interesse de agir na execução individual do
título judicial obtido na sentença coletiva, na medida em que os
substituídos na execução coletiva têm o direito de optar pelo
prosseguimento da execução individual, com a consequente desistência da
execução no processo coletivo, em razão do princípio da livre adesão.

Quanto a este tópico proponho a aprovação da seguinte tese


jurídica:
I - O sindicato, autor da ação coletiva, poderá prosseguir com
a liquidação e a execução, nos autos do respectivo processo, em
relação aos professores nela arrolados.
II - A legitimidade do sindicato não é exclusiva, podendo o
beneficiário propor execução individual, hipótese que acarretará sua
exclusão da execução proposta pelo sindicato.
III - Os profissionais de educação não associados ao sindicato
poderão pleitear, individualmente, as respectivas liquidações e
execuções de seus créditos fundados na sentença coletiva.

b) Forma de liquidação:

A súmula 344 do STJ afirma:

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“A liquidação por forma diversa da estabelecida na


sentença não ofende a coisa julgada. ”

Entre os acórdãos que deram origem à Súmula encontramos as


seguintes e importantes afirmações:

Afigura-se defeso ao juiz e às partes, em sede de procedimento


liquidatório, inovar, rediscutir a lide ou modificar o que já fora julgado por
sentença proferida em processo cognitivo. Não ofende a coisa julgada, todavia,
a alteração da forma de liquidação, em hipóteses excepcionais, como a ora
examinada, devendo ser utilizado para a liquidação da sentença o procedimento
que melhor se adequar à espécie. - Exigindo a sentença condenatória
suplementação por meio de procedimento outro que não aquele nela
previamente determinado, o caminho será o de seu reajustamento ao caso
concreto, sob pena de se inviabilizar a liquidação ou de se processá-la de forma
inadequada ou injusta para as partes. Permite-se, assim, excepcionalmente,
como no caso, a sua modificação na fase de liquidação. (REsp n. 348.129-MA,
Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, unânime, DJU de 27.5.2002).

Considerando o procedimento para liquidação e cumprimento


das sentenças estabelecido no Código de Processo Civil, podemos concluir
que o “quantum debeatur”, nas hipóteses decorrentes da coisa julgada
formada com a ação civil pública permite a simples elaboração de cálculos
aritméticos, porque a sentença definiu com clareza o lapso temporal de
sua incidência.

Diz o C.P.C:

Art. 509, § 2º CPC: Quando a apuração do valor depender


apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o
cumprimento da sentença.
Art. 524 CPC. O requerimento previsto no art. 523 será
instruído com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito,
devendo a petição conter: (omissis)

Além disso, o Código especifica claramente as obrigações do


exequente para obter o cumprimento da sentença que condenar a Fazenda
Pública ao pagamento de quantia certa:

Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à


Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o exequente
apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito
contendo:
I - o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do
exequente;
II - o índice de correção monetária adotado;
III - os juros aplicados e as respectivas taxas;

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IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção


monetária utilizados;
V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI - a especificação dos eventuais descontos obrigatórios
realizados.
§ 1o Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá
apresentar o seu próprio demonstrativo, aplicando-se à hipótese, se for
o caso, o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 113.

Quanto a este tópico proponho a aprovação da seguinte tese


jurídica:
Não há óbice a que a liquidação da sentença se faça de forma
diversa daquela nela consignada, até porque caberá à parte apresentar
as provas de que dispõe e simples cálculo aritmético possibilita a
apuração do quantum debeatur.

c) Da competência do Juízo para o processamento e o


julgamento das execuções individuais:

As execuções individuais fundadas em sentenças condenatórias


proferidas em ações coletivas não justificariam a prevenção do órgão
julgador que examinou o mérito da ação coletiva, tampouco tornaria
prevento o Juízo. O próprio CPC orienta quanto à necessária proteção
daquele cidadão em litígio com a Fazenda Pública.

Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as


causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal.
Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o
demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do
autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de
situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.

A incidência do art. 101, I, do CDC e a integração desta regra


com a contida no art. 98, § 2º, I, do CDC garantem ao interessado a
prerrogativa processual do ajuizamento, no foro de seu domicílio, da
execução individual da sentença proferida no julgamento da ação coletiva.
A L. 7.347/85 em seu artigo 21, define o título III da L. 8078/90 – Código
de Defesa do Consumidor – como uma espécie de consolidação de normas
processuais sobre a execução da coisa julgada formada na ação civil
pública. Daí a competência para as execuções individuais deveria, a meu
juízo, ser definida por livre distribuição, com o fim de se evitar o
congestionamento do Juízo sentenciante da ação coletiva, reduzindo a
efetividade das demandas coletivas e inviabilizando as execuções
individuais.

Ressalvado o posicionamento pessoal, acolho os fundamentos

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desenvolvidos durante o debate da causa, para invocar o princípio da


cooperação jurisdicional inserido no art. 69,§2º, VI do CPC e a busca de
uniformização dos entendimentos jurisdicionais como fundamentos
relevantes para a concentração dos processos no juízo que prolatou a
sentença na ação civil pública para a execução coletiva e para as
execuções individuais deduzidas por credores domiciliados na Comarca em
que aquele juízo exerce jurisdição. Incide, neste particular, a norma que
deriva do artigo 516, II do CPC.

Entretanto, os credores residentes em outras Comarcas poderão


propor as liquidações e execuções nos foros competentes em matéria de
Fazenda Pública de seus domicílios.

Quanto aos processos já distribuídos e em andamento deve ser


respeitado o princípio da perpetuatio jurisdictionis:

COMPETÊNCIA RELATIVA. SÚMULA 33 STJ. 1. Na esteira


da regra da "perpetuatio jurisdictionis" prevista no artigo 43 do
CPC/2015, a competência do órgão jurisdicional é fixada no momento
do registro ou da distribuição da petição inicial e permanece até o
final da decisão da lide

Quanto a este tópico proponho a aprovação da seguinte tese


jurídica:
Ressalvados os processos já distribuídos e as hipóteses de
credores domiciliados na Comarca da Capital do Estado do Rio de
Janeiro, que deverão, com fundamento no artigo 516, II do CPC,
propor as liquidações e execuções de seus créditos derivados da ação
civil pública nº 0075201-20.2005.8.19.0001 perante o juízo da 8ª Vara
da Fazenda Pública da Capital, as demais liquidações e execuções
individuais serão livremente distribuídas para os Juízos competentes
em matéria fazendária, no foro do domicílio do exequente.

e) Da prescrição:

No caso da gratificação “Nova Escola”, verifica-se que o débito


porta natureza de trato sucessivo, a atrair a aplicação da orientação
sufragada no verbete 85, da Súmula do E. STJ, no sentido de que "nas
relações de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como
devedora, quando não tiver sido negado o direito reclamado, a prescrição
atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à
propositura da ação”.

Desta forma, permanece íntegro o débito até cinco anos


anteriores à data da propositura da ação civil pública, tanto que os
julgados sobre dita gratificação a consideram aumento geral, por isto que
aplicável também aos servidores inativos da Secretaria de Educação do

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Estado do Rio de Janeiro.

Outro ponto controvertido concerne àqueles que não integraram


a ação civil pública: se são ou não titulares do direito à gratificação a
partir da propositura da ação coletiva, ou se o termo a quo seria o da data
da propositura de ação de execução individual, aforada posteriormente. Se
o objetivo definido é gerar tratamento isonômico entre os iguais, ou seja,
os profissionais de educação do Estado, não se apresenta legítimo afastar
o direito à gratificação dos que não integraram a ação civil pública pelo só
argumento de que desta não participaram, conforme anteriormente
exposto.

Assim, no que tange à prescrição da pretensão da execução


individual, é quinquenal o prazo prescricional para o aforamento de
execução contra a Fazenda Pública, contado na forma prevista na
sentença e no acórdão que a confirmou.

Quanto a este tópico proponho a aprovação da seguinte tese


jurídica:
No caso da gratificação “Nova Escola”, o débito porta
natureza de trato sucessivo, aplicando-se o entendimento sufragado
na Súmula 85, do STJ, no sentido de que nas relações de trato
sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando
não tiver sido negado o direito reclamado, a prescrição atinge apenas
as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da
ação.

f) Dos consectários da condenação (juros e correção


monetária):

Mostra-se inviável a fixação de tese, nos termos do § 4º, do art.


976, do NCPC, na medida em que a matéria está sendo decidida pelo STF,
no julgamento do Recurso Extraordinário nº 870947/SE, em sede de
repercussão geral.

g) Da competência recursal:

Entendi, inicialmente, que diante da excepcionalidade do caso


concreto e em razão do número indeterminado de beneficiários, que pode
chegar a milhares, a prevenção concentrada em uma Câmara, no caso a
Segunda Câmara Cível, traria prejuízos aos servidores, congestionando o
Juízo e inviabilizando a prestação jurisdicional em detrimento da boa
administração da Justiça.

Entretanto, o debate realizado durante o julgamento pela Seção


Cível apresentou fundamentos de grande relevância em favor da

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concentração dos recursos em uma única Câmara.

Tal solução, além de fundamentada no texto do artigo 930,


parágrafo único do CPC, assegura maior celeridade jurisdicional em
cumprimento da norma constitucional da duração razoável do processo.

Quanto aos processos já distribuídos e em andamento deve ser


respeitado o princípio da perpetuatio jurisdictionis:

COMPETÊNCIA RELATIVA. SÚMULA 33 STJ. 1. Na esteira


da regra da "perpetuatio jurisdictionis" prevista no artigo 43 do
CPC/2015, a competência do órgão jurisdicional é fixada no momento
do registro ou da distribuição da petição inicial e permanece até o
final da decisão da lide

Quanto a este tópico proponho a aprovação da seguinte tese


jurídica:
Ressalvados os recursos já distribuídos e a prevenção deles
decorrente, os novos recursos que venham a ser interpostos contra
sentenças proferidas nas execuções individuais serão distribuídos por
prevenção, para a Segunda Câmara Cível do TJRJ, com fundamento
no artigo 930, parágrafo único do CPC.

Ante o exposto, VOTO PELO CONHECIMENTO E RESOLUÇÃO


do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, com fixação das teses
supra discriminadas.

E, nos termos do parágrafo único do art. 978 do NCPC,


procedeu-se ao JULGAMENTO DO CASO PILOTO (AP Nº 0049847-
41.2015.8.19.0001), conforme acórdão lavrado no processo apensado,
sendo provido o recurso para determinar o prosseguimento da
execução.

Rio de Janeiro, 04 de outubro de 2018.

CLÁUDIO DELL´ORTO
DESEMBARGADOR RELATOR

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