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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084042803 (Nº CNJ: 0042639-28.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA
DE CRÉDITO BANCÁRIO. ALEGAÇÃO DE
EXCESSO DE EXECUÇÃO. AUSENTE INDICAÇÃO
DO VALOR INCONTROVERSO. REJEIÇÃO
LIMINAR DOS EMBARGOS DO DEVEDOR.
POSSIBILIDADE.
Fundados os embargos do devedor na alegação de excesso
de execução, devem vir acompanhados de memória de
cálculo, bem como conter a indicação do valor
incontroverso. Confirmada a sentença de rejeição liminar
dos embargos à execução. Aplicação do disposto no art. 917,
§§ 3º e 4º, do CPC.
APELAÇÃO DESPROVIDA.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70084042803 (Nº CNJ: 0042639- COMARCA DE CACHOEIRA DO SUL


28.2020.8.21.7000)

EDSON EDEGAR REHBEIN APELANTE

LUCIELE RODRIGUES CORREA APELANTE

COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE APELADO


ADMISSAO DE ASSOCIADOS CENTRO
SERR

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores


DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA E DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO.

Porto Alegre, 27 de maio de 2020.

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084042803 (Nº CNJ: 0042639-28.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Trata-se de apelação cível interposta por EDSON EDEGAR REHBEIN E


OUTRO contra a sentença que rejeitou liminarmente os embargos à execução opostos em
desfavor de COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE ADMISSAO DE
ASSOCIADOS CENTRO SERR.

Em suas razões recursais, a parte embargante postula, em síntese, a


desconstituição da sentença para que seja oportunizada a emenda à inicial, nos termos do art.
917, §4º, do CPC. Argumenta que o despacho foi proferido, não servindo como base para a
rejeição liminar. Requer o provimento do apelo.

Subiram os autos, com as contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.


Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para
observância dos ditames do CPC foram simplificados, porém, observados em sua
integralidade.
É o relatório.

VOTOS

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Eminentes Colegas.

Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.


Inconformada com a sentença ora apelada que rejeitou liminarmente os
embargos à execução, a parte embargante interpôs o presente recurso de apelação,
postulando, no mérito, a revisão contratual, pedido que, todavia, não preencheu os requisitos
necessários à sua apreciação.
É cediço que a interposição de embargos do devedor fundados no excesso de
execução deve conter a indicação do valor incontroverso, assim como vir acompanhada de

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demonstrativo discriminado e atualizado do cálculo, nos termos do art. 917, §3º 1, do


CPC/2015.
Não preenchidos tais requisitos, o §4º do mesmo artigo estabelece que os
embargos serão rejeitados liminarmente, se o excesso de execução for o único fundamento,
ou processado somente com a análise dos demais.

No mais, segundo entendimento consolidado do STJ, descabe a emenda da


inicial dos embargos à execução.

Nesse sentido, segue precedente do STJ:


PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO
ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE.
EMBARGOS À EXECUÇÃO DE SENTENÇA FUNDADOS
EM EXCESSO DE EXECUÇÃO.
INDICAÇÃO DO VALOR CORRETO E APRESENTAÇÃO
DE MEMÓRIA DISCRIMINADA DE CÁLCULO.
NECESSIDADE. VEDAÇÃO DE EMENDA À INICIAL.
ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR
A DECISÃO ATACADA. HONORÁRIOS RECURSAIS. NÃO
CABIMENTO. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º,
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
DESCABIMENTO.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na
sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será
determinado pela data da publicação do provimento
jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o Código de
Processo Civil de 2015.
II - É pacífico o entendimento desta Corte segundo o qual,
fundados os embargos em excesso de execução, a parte
embargante deve indicar, na petição inicial, o valor que
entende correto, apresentando memória discriminada de
cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de
não conhecimento desse fundamento, sendo-lhe vedada a
emenda à inicial.
III - Não apresentação de argumentos suficientes para
desconstituir a decisão recorrida.
IV - Honorários recursais. Não cabimento. V - Em regra,
descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º,
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CPC/2015. Art. 917. § 3o Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia
superior à do título, o embargante declarará na petição inicial o valor que entende correto,
apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo.
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do Código de Processo Civil de 2015, em razão do mero


improvimento do Agravo Interno em votação unânime,
sendo necessária a configuração da manifesta
inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar
sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
VI - Agravo Interno improvido.
(AgInt nos EREsp 1207279/PR, Rel. Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
25/04/2018, DJe 30/04/2018)

Segue a jurisprudência desta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS Á EXECUÇÃO.


EXECUÇÃO DE CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS DE PLANO DE SAÚDE. ADEQUAÇÃO DA
EXECUÇÃO. LEGITIMIDADE DO TÍTULO. AUSÊNCIA
DE DEMONSTRATIVO DE EXCESSO. REJEIÇÃO DOS
EMBARGOS. 1. Alegado o excesso de execução, a
apresentação do demonstrativo atualizado do débito é
requisito de admissibilidade da ação, nos termos do art.
917 do CPC. 2. Segundo entendimento já firmado no eg.
STJ, esse vício de instrução da petição inicial não admite
emenda à exordial (falta de demonstrativo de cálculo do
excesso de execução), uma vez que visa a garantir maior
celeridade ao processo de execução. Sentença mantida. 3.
Contrato de prestação de serviços de plano de saúde.
Inadimplência das mensalidades. Título executivo de que se
reveste de certeza, liquidez e exigibilidade. APELAÇÃO
DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70080273659, Quinta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel
Dias Almeida, Julgado em 27/03/2019)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
EMBARGOS À EXECUÇÃO. PRELIMINARES
CONTRARRECURSAIS. 1. RECURSO GENÉRICO. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. Recurso que observa as disposições
do art. 1.010, II, CPC. Preliminar desacolhida. 2.
INOVAÇÃO RECURSAL. Ante a existência de pedidos
somente deduzidos em sede recursal, resulta caracterizada,
parcialmente, a inovação recursal alegada. Recurso
parcialmente conhecido. PRELIMINAR RECURSAL.
CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE
PROVA PERICIAL. Inocorrência de reclusão. Inteligência
do art. 1.009, §1º, CPC. Desnecessidade da prova técnica.
Demonstração do suposto excesso que constituía ônus da
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parte embargante. EXCESSO DE EXECUÇÃO. Consoante


recente entendimento do STJ, na hipótese de alegação de
excesso de execução pelo embargante, mas sem a
apresentação de valor incontroverso e memória de cálculo,
descabe a intimação para emenda da inicial. No caso,
ausente a declaração pela parte do valor que entende
devido, impõe-se manter a sentença de improcedência.
PRELIMINAR CONTRARRECURSAL PARCIALMENTE
ACOLHIDA. APELO PARCIALMENTE CONHECIDO.
PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO DESPROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70080398647, Vigésima Quarta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto
Vescia Corssac, Julgado em 27/03/2019)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. AUSÊNCIA DE REQUISITOS
ESSENCIAIS. QUANTIFICAÇÃO DO VALOR
INCONTROVERSO E MEMÓRIA DE CÁLCULO.
INCABÍVEL A EMENDA À INICIAL. 1. De acordo com o
disposto no artigo 917, §4º, inc. I, do CPC/15, a parte
embargante deve discriminar na petição inicial o valor que
entende incontroverso, juntamente com a respectiva
memória de cálculo, sob pena de rejeição liminar dos
embargos à execução. 2. Conforme o sólido entendimento
do Superior Tribunal de Justiça, em sede de embargos à
execução, é inadmissível a emenda da petição inicial, sob
pena de mitigar e, até mesmo, de elidir, o propósito maior
de celeridade e efetividade do processo executivo. 3. No
caso dos autos, a despeito da possibilidade ou não de
emenda da inicial em sede de embargos à execução, a parte
autora acabou sendo intimada para cumprir essa finalidade
e apresentou os extratos necessários. Portanto, a celeridade
e efetividade do processo executivo faticamente culminaram
mitigadas. Assim, considerando que a providência foi
requisitada pelo próprio julgador e atendida pela parte,
inexiste óbice algum para o recebimento da demanda
quando já sanada a lacuna da exordial, devendo o feito
prosseguir regularmente na origem. APELO PROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70080298664, Vigésima Terceira
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana
Paula Dalbosco, Julgado em 26/03/2019)

Ao contrário do que alegou a parte recorrente, a Magistrada a quo


oportunizou a emenda à inicial, embora, como já referido, o entendimento do STJ seja no
sentido de que descabe emenda aos embargos do devedor.
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Assim, sendo os embargos fundados na alegação de excesso de execução, e


considerando-se que a parte embargante não se desincumbiu adequadamente do dever de
apontar o valor incontroverso, tampouco de juntar a memória de cálculo, é o caso de ser
mantida a sentença que rejeitou liminarmente os embargos do devedor, com fulcro no art.
917, §§ 3º e 4º, do CPC.

Ademais, não procede o argumento de que o art. 917, §3º, do CPC, não
abrangeria o pleito revisional. A mesma exigência está expressamente disposta no art. 330,
§2º, do CPC, nos seguintes termos:
§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de
obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou
de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia,
discriminar na petição inicial, dentre as obrigações
contratuais, aquelas que pretende controverter, além de
quantificar o valor incontroverso do débito.

Destarte, merece ser confirmada a sentença que rejeitou liminarmente os


embargos à execução, sobretudo levando em conta o descumprimento da norma referida na
fundamentação, mesmo após intimação.
Pelo exposto, voto por negar provimento ao apelo.

Por fim, inaplicável o disposto no art. 85, §11, do CPC/2015, eis que não
foram arbitrados honorários advocatícios sucumbenciais na origem.

É o voto.

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).


DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70084042803,


Comarca de Cachoeira do Sul: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME."

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Julgador(a) de 1º Grau:

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