AGRAVO DE INSTRUMENTO PROCESSO N.º 0026903-04.2022.8.19.0000 AGRAVANTE: SUPER MATRIZ AÇOS LTDA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) AGRAVADO: ESTADO DO RIO DE JANEIRO RELATOR: DES. WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS
Agravo de instrumento. Execução fiscal.
Decisão que rejeitou incidente de exceção de pré-executividade. Decisão que manteve o decreto de penhora de bens da executada, empresa que se encontra em recuperação judicial. Competência do Juízo da execução fiscal para a prática de atos constritivos em face da recuperanda, cabendo ao Juízo da Recuperação Judicial examinar a viabilidade da medida efetuada, observando as regras de cooperação jurisdicional. Suspensão da execução. Descabimento. Nova redação da Lei 11.101/05. Art. 6º, § 7º-B. Execuções fiscais não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial. CDA que atendeu a todos os requisitos constantes do art. 2º, § 5º, da LEF. Jurisprudência sobre o tema. Acerto da decisão agravada. Recurso desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento,
estando as partes acima nomeadas.
ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Sétima
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, na forma do voto do relator.
WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS:15410 Assinado em 01/06/2022 12:54:12
Local: GAB. DES WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS 44
VOTO
Relatório nos autos.
Trata-se de agravo de instrumento interposto de decisão que, em
execução fiscal, rejeitou incidente de exceção de pré-executividade oposto pela executada, ora agravante.
Sustenta a agravante que, por estar em estado de recuperação
judicial, a decisão agravada violaria a legislação falimentar, uma vez que o Juízo agravado não poderia praticar atos constritivos, que seriam exclusivos do Juízo Falimentar. Aduz ainda a nulidade da CDA, por ausência de prévio procedimento administrativo. Por fim, requer a concessão de efeito suspensivo e a reforma da decisão agravada.
Razão, todavia, não lhe assiste.
Inicialmente, destaca-se a manifesta improcedência da alegação de
que a CDA que aparelha a presente execução encontra-se sem a indicação do número do procedimento administrativo correspondente. Uma rápida consulta à certidão trazida a fls. 4 dos autos originários comprova que, ao contrário do afirmado pela agravante, foi declinado o número do processo administrativo referente ao crédito fiscal cobrado.
No mérito, consigna-se que, de acordo com as novas disposições da
Lei 11.101/05, é possível a efetivação, por parte do Juízo da execução fiscal, de atos constritivos em face da recuperanda, cabendo ao Juízo da Recuperação Judicial examinar a viabilidade da medida efetuada, observando as regras de cooperação jurisdicional (art. 69 do CPC), podendo determinar eventual substituição, a fim viabilizar a manutenção da atividade empresarial.
A propósito:
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL.
EXECUÇÃO FISCAL. SUSPENSÃO DOS ATOS EXECUTÓRIOS. EMPRESAS EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXEGESE HARMÔNICA DOS ARTS. 5º E 29 DA LEI 6.830/1980 E DO ART. 6º, § 7º, DA LEI 11.101/2005. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. Hipótese em que o Tribunal de 45
origem assentou que (fl. 840, e-STJ): "no caso
dos autos, se de um lado, o plano de recuperação judicial foi aprovado pela Assembléia de Credores (cf. art. 35 da Lei n° 11.101, de 2005) e homologado pelo juízo competente, na data de 23.03.2016 (...) de outro, segundo informa a recorrente, não restou apresentada a certidão de regularidade fiscal pela empresa agravada". 2. A Segunda Turma do STJ, no julgamento do REsp 1.512.118/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, revisitou a jurisprudência relativa ao tema, para assentar o seguinte entendimento: a) constatado que a concessão do Plano de Recuperação Judicial se deu com estrita observância dos arts. 57 e 58 da Lei 11.101/2005 (ou seja, com prova de regularidade fiscal), a Execução Fiscal será suspensa em razão da presunção de que os créditos fiscais encontram-se suspensos nos termos do art. 151 do CTN; b) caso contrário, isto é, se foi deferido, no juízo competente, o Plano de Recuperação Judicial sem a apresentação da CND ou CPEN, incide a regra do art. 6º, § 7º, da Lei 11.101/2005, de modo que a Execução Fiscal terá regular prosseguimento, pois não é legítimo concluir que a regularização do estabelecimento empresarial possa ser feita exclusivamente em relação aos seus credores privados, e, ainda assim, às custas dos créditos de natureza fiscal. 3. O entendimento firmado no REsp 1.512.118/SP alcança a fase de processamento do pedido de recuperação. Se nem a aprovação do plano tem o condão de suspender a Execução Fiscal, caso não observadas as exigências acima mencionadas, não há razão para adotar tal medida durante o mero trâmite do pedido inicial. Aliás, o art. 52, III, da Lei 11.101/2005 - que dispõe sobre a decisão que defere o processamento - determina expressamente que a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor deve ocorrer na forma do art. 6°. 4. Recurso Especial não provido. 46
(REsp 1673421/RS, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/10/2017, DJe 23/10/2017)
Aliás, a Lei 14.112/2020, ao alterar a Lei de Falências para
introduzir o §7º-B em seu art. 6º, passou a excepcionar expressamente as execuções fiscais da suspensão prevista no art. 6º, incisos I, II e III, em razão da recuperação judicial. Assim, a controvérsia já foi dirimida pela Lei, e as execuções fiscais não se suspendem nem em razão da homologação de plano de recuperação judicial.
Ressalte-se que o Tema 987 do STJ, que tratava da “possibilidade
da prática de atos constritivos, em face de empresa em recuperação judicial, em sede de execução fiscal de dívida tributária e não tributária” e foi cancelado, por acórdão publicado no DJe de 28/06/2021.
Desta forma, deve a decisão agravada ser mantida na integra.
Pelo exposto, voto no sentido de se NEGAR PROVIMENTO AO
Relatório de pesquisa jurisprudêncial - A Jurisprudência do STJ acerca do conflito de competência entre o Juízo da Execução Fiscal e do Juízo da Recuperação Judicial em relação ao bloqueio de bens do devedor.