Você está na página 1de 4

43

DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL


AGRAVO DE INSTRUMENTO
PROCESSO N.º 0026903-04.2022.8.19.0000
AGRAVANTE: SUPER MATRIZ AÇOS LTDA (EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL)
AGRAVADO: ESTADO DO RIO DE JANEIRO
RELATOR: DES. WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS

Agravo de instrumento. Execução fiscal.


Decisão que rejeitou incidente de exceção de
pré-executividade. Decisão que manteve o
decreto de penhora de bens da executada,
empresa que se encontra em recuperação
judicial. Competência do Juízo da execução
fiscal para a prática de atos constritivos em
face da recuperanda, cabendo ao Juízo da
Recuperação Judicial examinar a viabilidade
da medida efetuada, observando as regras de
cooperação jurisdicional. Suspensão da
execução. Descabimento. Nova redação da Lei
11.101/05. Art. 6º, § 7º-B. Execuções fiscais não
são suspensas pelo deferimento da recuperação
judicial. CDA que atendeu a todos os
requisitos constantes do art. 2º, § 5º, da LEF.
Jurisprudência sobre o tema. Acerto da
decisão agravada. Recurso desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento,


estando as partes acima nomeadas.

ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Sétima


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, na forma do
voto do relator.

WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS:15410 Assinado em 01/06/2022 12:54:12


Local: GAB. DES WAGNER CINELLI DE PAULA FREITAS
44

VOTO

Relatório nos autos.

Trata-se de agravo de instrumento interposto de decisão que, em


execução fiscal, rejeitou incidente de exceção de pré-executividade oposto
pela executada, ora agravante.

Sustenta a agravante que, por estar em estado de recuperação


judicial, a decisão agravada violaria a legislação falimentar, uma vez que o
Juízo agravado não poderia praticar atos constritivos, que seriam
exclusivos do Juízo Falimentar. Aduz ainda a nulidade da CDA, por
ausência de prévio procedimento administrativo. Por fim, requer a
concessão de efeito suspensivo e a reforma da decisão agravada.

Razão, todavia, não lhe assiste.

Inicialmente, destaca-se a manifesta improcedência da alegação de


que a CDA que aparelha a presente execução encontra-se sem a indicação
do número do procedimento administrativo correspondente. Uma rápida
consulta à certidão trazida a fls. 4 dos autos originários comprova que, ao
contrário do afirmado pela agravante, foi declinado o número do processo
administrativo referente ao crédito fiscal cobrado.

No mérito, consigna-se que, de acordo com as novas disposições da


Lei 11.101/05, é possível a efetivação, por parte do Juízo da execução
fiscal, de atos constritivos em face da recuperanda, cabendo ao Juízo da
Recuperação Judicial examinar a viabilidade da medida efetuada,
observando as regras de cooperação jurisdicional (art. 69 do CPC),
podendo determinar eventual substituição, a fim viabilizar a manutenção
da atividade empresarial.

A propósito:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL.


EXECUÇÃO FISCAL. SUSPENSÃO DOS
ATOS EXECUTÓRIOS. EMPRESAS EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. EXEGESE
HARMÔNICA DOS ARTS. 5º E 29 DA LEI
6.830/1980 E DO ART. 6º, § 7º, DA LEI
11.101/2005. RECURSO ESPECIAL NÃO
PROVIDO. 1. Hipótese em que o Tribunal de
45

origem assentou que (fl. 840, e-STJ): "no caso


dos autos, se de um lado, o plano de recuperação
judicial foi aprovado pela Assembléia de
Credores (cf. art. 35 da Lei n° 11.101, de 2005) e
homologado pelo juízo competente, na data de
23.03.2016 (...) de outro, segundo informa a
recorrente, não restou apresentada a certidão de
regularidade fiscal pela empresa agravada".
2. A Segunda Turma do STJ, no julgamento do
REsp 1.512.118/SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
revisitou a jurisprudência relativa ao tema, para
assentar o seguinte entendimento: a) constatado
que a concessão do Plano de Recuperação
Judicial se deu com estrita observância dos arts.
57 e 58 da Lei 11.101/2005 (ou seja, com prova
de regularidade fiscal), a Execução Fiscal será
suspensa em razão da presunção de que os
créditos fiscais encontram-se suspensos nos
termos do art. 151 do CTN; b) caso contrário, isto
é, se foi deferido, no juízo competente, o Plano de
Recuperação Judicial sem a apresentação da CND
ou CPEN, incide a regra do art. 6º, § 7º, da Lei
11.101/2005, de modo que a Execução Fiscal terá
regular prosseguimento, pois não é legítimo
concluir que a regularização do estabelecimento
empresarial possa ser feita exclusivamente em
relação aos seus credores privados, e, ainda
assim, às custas dos créditos de natureza fiscal.
3. O entendimento firmado no REsp
1.512.118/SP alcança a fase de processamento do
pedido de recuperação. Se nem a aprovação do
plano tem o condão de suspender a Execução
Fiscal, caso não observadas as exigências acima
mencionadas, não há razão para adotar tal medida
durante o mero trâmite do pedido inicial. Aliás, o
art. 52, III, da Lei 11.101/2005 - que dispõe sobre
a decisão que defere o processamento - determina
expressamente que a suspensão de todas as ações
ou execuções contra o devedor deve ocorrer na
forma do art. 6°.
4. Recurso Especial não provido.
46

(REsp 1673421/RS, Rel. Ministro HERMAN


BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
17/10/2017, DJe 23/10/2017)

Aliás, a Lei 14.112/2020, ao alterar a Lei de Falências para


introduzir o §7º-B em seu art. 6º, passou a excepcionar expressamente as
execuções fiscais da suspensão prevista no art. 6º, incisos I, II e III, em
razão da recuperação judicial. Assim, a controvérsia já foi dirimida pela
Lei, e as execuções fiscais não se suspendem nem em razão da
homologação de plano de recuperação judicial.

Ressalte-se que o Tema 987 do STJ, que tratava da “possibilidade


da prática de atos constritivos, em face de empresa em recuperação
judicial, em sede de execução fiscal de dívida tributária e não tributária” e
foi cancelado, por acórdão publicado no DJe de 28/06/2021.

Desta forma, deve a decisão agravada ser mantida na integra.

Pelo exposto, voto no sentido de se NEGAR PROVIMENTO AO


RECURSO, ficando mantida a decisão agravada.

Rio de Janeiro, 31 de maio de 2022.

WAGNER CINELLI
DESEMBARGADOR
RELATOR

Você também pode gostar