PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

4ª Câmara de Direito Privado
Agravo de Instrumento - 2267504-10.2020.8.26.0000

Registro: 2021.0000091096

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº

2267504-10.2020.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são agravantes L.
DE A. P. A. P. e H. S. A., é agravado O J..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 4ª Câmara de Direito

Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARCIA DALLA

DÉA BARONE (Presidente), MAURÍCIO CAMPOS DA SILVA VELHO E ENIO
ZULIANI.

São Paulo, 12 de fevereiro de 2021.

MARCIA DALLA DÉA BARONE

relator
Assinatura Eletrônica
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4ª Câmara de Direito Privado
Agravo de Instrumento - 2267504-10.2020.8.26.0000

VOTO Nº 28.721

Agravante: L. de A. P. A. P. e O.
Agravado: o J.
Comarca: São Paulo Foro Central 6ª Vara da Família e Sucessões
Juiz: Homero Maion

Ação de alteração de regime matrimonial de bens Decisão

agravada indeferiu a realização da partilha extrajudicial e
determinou a apresentação de declaração de bens e plano de
partilha, com retificação do valor da causa e recolhimento
das custas correspondentes Insurgência dos autores
Partilha extrajudicial dos bens adquiridos no regime anterior
Possibilidade, desde que seja resguardado o direito de
terceiro A alteração do regime de bens da comunhão
parcial de bens para o da separação total é dotada efeito 'ex
nunc' - Decisão reformada - Recurso provido.

Vistos,

Cuida-se de recurso de agravo de

instrumento interposto contra a r. decisão de fls. 27 que em ação de
alteração de regime matrimonial de bens, indeferiu a realização da
partilha extrajudicial e determinou a apresentação de declaração de bens
e plano de partilha, com retificação do valor da causa e recolhimento das
custas correspondentes, no prazo de 15 (quinze) dias. A r. decisão de fls.
29 rejeitou embargos de declaração, por ausência de obscuridade.

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A parte agravante argumenta, em síntese,

que há possibilidade de realização da partilha extrajudicial dos bens até
então amealhados no regime anterior. Sustentam os autores a ausência
de prejuízo a terceiros, notadamente pela inexistência de pendências em
seus nomes. Pedem a reforma da decisão para que seja autorizada a
realização de partilha extrajudicial de seus bens.
O despacho inicial deferiu o pedido de
efeito suspensivo (fls. 34).
Contraminuta dispensada.
Não houve oposição ao julgamento
virtual.
É o relatório.
Insurgem-se os autores em face de decisão
proferida em ação de alteração de regime matrimonial de bens (de
comunhão parcial para o regime de separação total de bens) que
indeferiu pedido de autorização para a realização de partilha
extrajudicial dos bens adquiridos no regime anterior.
Respeitada a convicção do ilustre juiz, a
irresignação recursal comporta acolhimento.
Com efeito, a alteração do regime de bens
da comunhão parcial de bens para o da separação total é dotada efeitos
ex nunc, de sorte que somente produzirá efeitos após o trânsito em
julgado da decisão.

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O pedido dos autores está amparado no

artigo 1.639, § 2º do Código Civil. Cuidaram os autores, ainda, de
apresentar diversas certidões comprobatórias da inexistência de
pendências judiciais em seus nomes (fls. 25/66 dos autos principais).
Ademais, nos casos em que há a alteração
de regime de bens o cuidado que se impõe é a preservação dos direitos
de terceiros que, 'in casu', já estão garantidos, porque, como consignado,
a modificação só produz efeitos 'ex nunc'.
O Colendo Superior Tribunal de Justiça já
decidiu:
DIREITO DE FAMÍLIA. RECURSO ESPECIAL.
ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS DO CASAMENTO DE
COMUNHÃO PARCIAL PARA SEPARAÇÃO TOTAL.
OMISSÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. INEXISTÊNCIA.
PARTILHA DOS BENS ADQUIRIDOS NO REGIME
ANTERIOR. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO.
1. Consoante dispõe o art. 535 do Código de Processo
Civil, destinam-se os embargos de declaração a
expungir do julgado eventuais omissão, obscuridade ou
contradição, não se caracterizando via própria ao
rejulgamento da causa.
2. É possível a alteração de regime de bens de
casamento celebrado sob a égide do CC de 1916, em
consonância com a interpretação conjugada dos arts.
1.639, § 2º, 2.035 e 2.039 do Código atual, desde que
respeitados os efeitos do ato jurídico perfeito do regime
originário.
3. No caso, diante de manifestação expressa dos
cônjuges, não há óbice legal que os impeça de
partilhar os bens adquiridos no regime anterior,
de comunhão parcial, na hipótese de mudança
para separação total, desde que não acarrete
prejuízo para eles próprios e resguardado o
direito de terceiros. Reconhecimento da eficácia
ex nunc da alteração do regime de bens que não
se mostra incompatível com essa solução.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1533179/RS, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 08/09/2015, DJe 23/09/2015) grifei

Nesse sentido, julgados deste Egrégio

Tribunal de Justiça:

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CASAMENTO Regime de bens Alteração

Cabimento Decisão com efeitos "ex nunc"
Inexistência de óbice à partilha de bens adquiridos no
regime anterior Plano de partilha de bens
homologado Recurso provido.
(TJSP; Apelação Cível
1009415-44.2018.8.26.0071; Relator (a): Luiz
Antonio de Godoy; Órgão Julgador: 1ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Bauru - 1ª Vara de
Família e Sucessões; Data do Julgamento:
03/05/2019; Data de Registro: 03/05/2019);

Alteração de regime de bens. Casamento. Sentença de

parcial procedência. Irresignação dos interessados.
Requisitos legais preenchidos. Possibilidade de
realização da partilha dos bens adquiridos sob o regime
anterior. Precedentes. Mudança, todavia, dotada de
efeitos ex nunc e que não tem o condão de prejudicar
terceiros. Recurso provido em parte.
(TJSP; Apelação Cível
1063923-50.2018.8.26.0002; Relator (a): José
Eduardo Marcondes Machado; Órgão Julgador: 1ª
Câmara de Direito Privado; Foro Regional II -
Santo Amaro - 5ª Vara da Família e Sucessões;
Data do Julgamento: 30/10/2020; Data de
Registro: 30/10/2020)

Destarte, de rigor a reforma do 'decisum'

para autorizar a parte autora a realizar a partilha extrajudicial dos bens
amealhados na constância do regime inicialmente adotado e,
consequentemente, revogar a determinação de apresentação da
declaração de bens e plano de partilha, bem como da retificação do valor
da causa e recolhimento das custas correspondentes.
Em face do exposto, pelo voto, Dá-se
provimento ao agravo, nos termos ora enunciados.

MARCIA DALLA DÉA BARONE

Relatora

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