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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000902910

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento

nº 2235885-91.2022.8.26.0000, da Comarca de Arujá, em que é agravante

IMOBILIARIA E CONSTRUTORA CONTINENTAL LTDA., são agravados LAURA

LASSAPORANI e DEMAIS OCUPANTES.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara de

Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte

decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o

voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ALVARO

PASSOS (Presidente) E JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS.

São Paulo, 3 de novembro de 2022.

JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES

relator

Assinatura Eletrônica
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Agravo de Instrumento n° 2235885-91.2022.8.26.0000

Nº de Origem: 1003789-20.2021.8.26.0045

Agravante: Imobiliária e Construtora Continental Ltda.

Agravados: Laura Lassaporani e demais ocupantes

Comarca: Foro de Arujá 2ª Vara

MM. Juiz de 1ª instância: José Henrique Oliveira Gomes

Voto n° 44985

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO DIREITO CIVIL Ação


reivindicatória c/c perdas e danos Decisão que
determinou a suspensão do processo, em cumprimento à
ordem proferida nos autos da Ação Civil Pública nº
0003769-81.2000.8.26.0045 (proferida pela 1ª Vara da
Comarca de Arujá) Inconformismo que não merece
respaldo Ordem geral de suspensão dos processos
envolvendo a agravante e quanto ao referido loteamento
Suspensão do processo corretamente determinada
Precedentes Decisão mantida Recurso desprovido.

RELATÓRIO.

1. Trata-se de agravo de instrumento tirado de decisão (proferida

às fls. 66/67 e mantida às fls. 81, ambas dos autos de origem) que, em

ação reivindicatória, determinou a suspensão do feito, nos seguintes

termos:

"Em decisão proferida nos autos da ação civil pública,


que tramita perante a 1ª Vara desta Comarca de
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Arujá/SP, sob o nº 0003769-81.2000.8.26.0045, foi


determinada a suspensão da marcha processual dos
feitos em que a Imobiliária e Construtora Continental
Ltda. figura como parte e cujo objeto verse sobre imóvel
localizado no loteamento Parque Rodrigo Barreto. A fim
de evitar eventual oposição de embargos de
declaração, esclareço que referida decisão determina a
suspensão processual de todos os feitos em que a
embargante figura como parte, tendo como objeto lotes
localizados no Parque Rodrigo Barreto. Não há qualquer
menção acerca de lotes excluídos do acordo em que a
marcha processual deverá prosseguir. Segundo a referida
decisão: Considerando a evidente questão prejudicial
instalada (interna e externa), que pode repercutir sobre o
mérito de outras causas em trâmite perante este juízo e
fora dele, principalmente porque não é possível
determinar, ao menos neste momento, quem são os
beneficiários do acordo homologado nestes autos e
quais lotes por eles são ocupados, o que pode ocasionar
decisões e sentenças conflitantes, a teor do quanto
disposto no inciso V do art. 313, alínea a e b, do CPC,
determino a suspensão da marcha processual dos feitos
em que a executada figura como parte,
especificamente as ações de despejo, reintegração de
posse e reivindicatórias, cujo objeto seja lote de imóvel
localizado no Parque Rodrigo Barreto. Desse modo, como
é possível observar pelo trecho extraído da decisão, é de
rigor a suspensão de todos os feitos em que a
embargante faz parte, cujo objeto da ação seja imóvel
localizado no loteamento Parque Rodrigo Barreto.
Outrossim, apesar da decisão mencionar que deverão
ser suspensos especificamente as ações de despejo,
reintegração de posse e reivindicatórias, entendo que o
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rol não é taxativo, mas sim exemplificativo,


principalmente no que diz respeito à natureza das ações.
Neste sentido, ações como usucapião, embargos de
terceiro e eventuais cumprimento de sentença, a meu
ver, também devem ser suspensas, pois versam sobre a
posse e a propriedade de lotes localizados no
loteamento Parque Rodrigo Barreto, podendo trazer
prejuízo futuro às partes envolvidas. Tanto é que a própria
decisão proferida nos autos da ação civil publica
determina à embargante que junte a relação de lotes de
sua propriedade, localizados no Parque Rodrigo Barreto,
com a indicação e qualificação dos ocupantes,
independente da relação jurídica existente, incluindo as
relações locatícias, apontando ainda os números dos
processos em trâmite ou findos a eles eventualmente
relacionados (g.n). Foi determinado, também, que o
Distribuidor local providenciasse a listagem de ações em
que a Imobiliária e Construtora Continental figura como
parte, em trâmite e findas, separando aqueles que figura
como autora e aquelas que figura como ré (g.n). Ainda,
a decisão determinou que o Oficial do Cartório de
Registro de Imóveis, caso tenha ciência acerca da
existência de litígios individuais ajuizados sobre quaisquer
dos lotes, deverá indicar o número do feito a ele
correspondente. Entendo, portanto, que deverão ser
suspensas todas as ações em que a embargante figure
como parte, desde que o objeto verse sobre lotes
localizados no loteamento Parque Rodrigo Barreto. Assim,
estando a controvérsia da presente ação relacionada à
hipótese abarcada pela decisão proferida nos autos da
ação civil pública, de rigor a suspensão do feito até que
sobrevenham novas informações sobre o caso. Suspenda-
se o feito, realizando as anotações necessárias.
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Oportunamente, deverão as partes peticionar no


processo a fim de requerer a retomada da marcha
processual. Intimem-se."

2. Inconformada, sustenta a recorrente, em síntese, que há uma

convulsão social resultante da decisão proferida nos autos da Ação

Civil Pública de nº 0003769-81.2000.8.26.0045, isto porque, a suspensão

da marcha processual de litígios está provocando uma agitação

social (diversas pessoas ocupantes de outros loteamentos estão se

dirigindo até a sede da embargante para manifestarem interesse em

adquirir lote em Itaquaquecetuba e outros loteamentos em Arujá, de

propriedade da Imobiliária, como por exemplo o Arujá Centro

Residencial, no preço que constou na Ação Civil Pública) e fora

motivada sob forte reação provocada por aspectos sociais (decisão

da Ação Civil Pública faz referência à existência de inúmeras vítimas).

Narra que sequer faz parte do litígio, e o bem litigioso é oriundo do

loteamento denominado Arujá Country Club, havendo erro grosseiro

que vem sendo repetido em diversas demandas e vem obstando o

direito à propriedade, posto que a decisão agravada invoca motivos

que se prestariam a justificar qualquer outra decisão, haja vista que o

LOTE 15 da QUADRA 17 do loteamento denominado PARQUE

RODRIGO BARRETO não está inserido no acordo que fora firmado nos

autos da já mencionada Ação Civil Pública. Acrescenta que

ofereceu imóvel em garantia e lhe foi negado prazo para

recolhimento da caução. Pede a concessão de liminar e o final


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provimento do reclamo para que seja reformada a decisão

agravada.

3. O recurso foi recebido sem a concessão da liminar pleiteada

(fls. 209/214).

4. Peticiona a agravante requerendo a dispensa da intimação

dos agravados (fls. 218/219).

FUNDAMENTOS.

5. De saída, acolho o pleito visando a dispensa da intimação

pessoal dos agravados, considerando a temática atinente ao debate

e a dificuldade de persecução do ato processual.

6. No mérito, o recurso não merece provimento.

7. Cuidam os autos de “ação reivindicatória c/c perdas e danos”

proposta pela IMOBILIÁRIA E CONSTRUTORA CONTINENTAL EIRELI em

face de PAULA LASSAPORANI e DEMAIS OCUPANTES.

8. Consoante retratado pela própria agravante em sua petição

inicial, o lote de terreno em discussão nesta lide se encontra

localizado no Loteamento Parque Rodrigo Barreto (LOTE 040 da

QUADRA 018, com área total de 250,00m2, conforme certidões de

registro matrícula nº 43.910 e 43.911(fls. 1 dos autos de origem).

9. Cumpre ponderar que nos autos da Ação Civil Pública nº

0003769-81.2000.8.26.0045 se questionam os prejuízos sociais


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decorrentes do parcelamento irregular do loteamento PARQUE

RODRIGO BARRETO, com destaque para a pactuação de contratos

de compra e venda revestidos de contrato de locação. E, apesar de

o autor da Ação Civil Pública ter argumentado a existência de

dificuldade em executar o acordo, o Juízo da 1ª Vara da Comarca

de Arujá não concordou com a extinção do processo (pois, conforme

confirmando tanto pelo MPSP quanto pela Imobiliária e Construtora

Continental, o acordo ainda não foi cumprido), determinando a

expedição de ofício ao Procurador Geral de Justiça do Ministério

Público do Estado de São Paulo para as providências cabíveis,

abrindo vista dos autos aos demais legitimados (conforme se observa

de decisão proferida em 25.02.22). Além disso, de acordo com a

decisão proferida em 09/06/2022 (mencionada pelo MM. Juízo a quo

na r. decisão agravada), o Juízo da Ação Civil Pública, justamente

em razão da impossibilidade, por ora, em se verificar quais lotes foram

beneficiados pelo acordo homologado, determinou a suspensão de

todas as ações de despejo relativas a lotes localizados no

Loteamento Parque Rodrigo Barreto, conforme trechos que ora se

colacionam:

“[...]

6. Considerando a evidente questão prejudicial instalada


(interna e externa), que pode repercutir sobre o mérito
de outras causas em trâmite perante este juízo e fora
dele, principalmente porque não é possível determinar,
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ao menos neste momento, quem são os beneficiários do


acordo homologado nestes autos e quais lotes por eles
são ocupados, o que pode ocasionar decisões e
sentenças conflitantes, a teor do quanto disposto no
inciso V do artigo 313, alínea a e b, do CPC, determino a
suspensão da marcha processual dos feitos em que a
executada figura como parte, especificamente as ações
de despejo, reintegração de posse e reivindicatórias,
cujo objeto seja lote de imóvel localizado no Parque
Rodrigo Barreto.” (Grifos e destaques nossos).

10. À vista disso, considerando ter havido expressa determinação

de suspensão de todas as ações reivindicatórias cujo lote pertença

ao loteamento PARQUE RODRIGO BARRETO, não cabe, por razões

óbvias, nestes autos discutir-se a adequação de decisão proferida

pela I. Magistrada que conduz a mencionada Ação Civil Pública.

11. Nesse mesmo sentido, colacionam-se os recentes julgados

deste E. TJSP:

“Agravo de instrumento. Ação reivindicatória. Imobiliária


e Construtora Continental e imóvel no loteamento
Parque Rodrigo Barreto. Decisão de suspensão do
processo. Manutenção. Decisão de suspensão oriunda
de Ação Civil Pública, com efeito erga omnes. Ordem
geral de suspensão dos processos envolvendo a
agravante e quanto ao referido loteamento, sem
distinção quanto ao tipo de imóvel. Recurso desprovido.”
(Agravo de Instrumento nº 2253106-87.2022.8.26.0000;
Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Relator:
Enéas Costa Garcia; Data do julgamento: 27.10.22).
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“Agravo de instrumento. Ação reivindicatória. Decisão


que determinou a suspensão do processo.
Inconformismo. Descabimento. Determinação de
suspensão dos processos no âmbito de Ação Civil Pública
de todos os processos nos quais a agravante figure como
parte e que tenham por objeto imóveis localizados no
loteamento Parque Rodrigo Barreto. Matéria
controvertida nos autos envolve imóvel situado no
loteamento Parque Rodrigo Barreto. Decisão recorrida
apenas determinou a suspensão do processo em estrita
observância da determinação oriunda da Ação Civil
Pública. Decisão mantida. Agravo improvido.” (Agravo
de Instrumento nº 2231962-57.2022.8.26.0000; Órgão
julgador: 8ª Câmara de Direito Privado; Relator: Pedro de
Alcântara da Silva Leme Filho; Data do julgamento:
25.10.22).

“Ação reivindicatória. Decisão de suspensão da marcha


processual em cumprimento da determinação judicial
proferida em ação civil pública. Agravo de instrumento
interposto pela autora. Suspensão do processo
determinada, em consonância com a decisão prolatada
na ação civil pública autuada sob o nº 0003769-81.2000.
Lote localizado no loteamento "Parque Rodrigo Barreto",
em relação ao qual a ordem de suspensão dos processos
foi determinada. Decisão mantida. Recurso desprovido.”
(Agravo de Instrumento nº 2200567-47.2022.8.26.0000;
Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Privado; Relator:
Christiano Jorge; Data do julgamento: 18.10.22).

12. Mais que isso não é preciso dizer para rechaçar a pretensão
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deduzida nesta sede, posto que irretocável a r. decisão agravada, ao

passo que eventual descontentamento da agravante deverá ser

objeto de discussão na via adequada.

13. Destarte, dou por prequestionada toda a matéria arguida pelas

partes, sendo desnecessária a oposição de embargos de declaração

apenas para esse fim, registrando-se que a oposição de embargos

declaratórios com intuito MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIO será

apenada com multa, conforme prevê a legislação, notadamente o §

2º, do artigo 1.026, do Código de Processo Civil.

14. Pelo meu voto, pois, NEGO PROVIMENTO ao recurso, nos termos

da fundamentação supra.

JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES


RELATOR

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