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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2019.0000756352

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2048273-15.2019.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são agravantes
EDITH D´ANGELO DE ALMEIDA e ARTHUR DE ALMEIDA (ESPÓLIO), é
agravado ARTHUR DE ALMEIDA JÚNIOR.

ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso.
V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


PEDRO DE ALCÂNTARA DA SILVA LEME FILHO (Presidente) e SILVÉRIO
DA SILVA.

São Paulo, 11 de setembro de 2019.

SALLES ROSSI
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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São Paulo

Voto nº 41.484
Agravo de Instrumento nº 2048273-15.2019.8.26.0000
Comarca: São Paulo (Foro Central) 02ª Vara da Família e Sucessões
1ª Instância: Autos nº 0615433-11.2008.8.26.0100
Agravante: Edith D'Angelo de Almeida
Agravado: Arthur de Almeida Junior

VOTO DO RELATOR
EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO
INVENTÁRIO Reconhecimento de redução das
disposições testamentárias Restrição ao limite da
disponibilidade de metade dos bens da herança Apuração
do acervo hereditário nos próprios autos Imposição de
retificação do plano de partilha Definição com respeito ao
direito à parte da legítima dos herdeiros necessários e
avaliação do usufruto instituído Desconsideração da nua-
propriedade Pedido de reforma da viúva Descabimento
A) Inexistência de preclusão temporal, lógica ou “pro
judicato” Possibilidade de revisão de posicionamento
anterior durante o curso do processo Aplicação do
princípio “jura novit curia”
B) Identificação da pretensão do coerdeiro Ausência de
confusão com invalidade, nulidade ou anulação do
testamento público Impertinência de prescrição Questão
incidental que se resolve diretamente no feito principal
Faculdade discricionária à preterição de discussão em
processo independente Consideração de matéria
respaldada em antecedente prestação de contas Tema que
não expressa alto grau de complexidade
C) Fixação do termo inicial contado do tempo da abertura
da sucessão Falecimento do autor da herança ocorrido em
20 de novembro de 1.990 Momento em que o cônjuge
supérstite tinha a possibilidade de usufruto sobre todo o
patrimônio Confissão de percepção de aluguéis
Prestações sucessivas e periódicas que se findam com a
extinção do contrato de alugueres
D) Decisão interlocutória mantida Recurso improvido

Cuida-se de Agravo de Instrumento interposto


contra a respeitável decisão interlocutória (fls. 48/50) proferida pelo
Meritíssimo Juiz de Direito Doutor Marco Aurélio Paioletti Martins

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Costa, nos autos de Ação de Inventário (fls. 53/54), que conferiu o


direito de redução das disposições testamentárias, porque o testador só
poderá dispor da metade dos bens da herança, cabendo aos herdeiros
necessários outra meação que constitui proteção à sucessão legítima,
nos termos do art. 1.721 e do art. 1.727, “caput” e §§ 1º e 2º, ambos do
Código Civil de 1.916 correspondentes ao art. 1.846 e ao art. 1.967, do
“caput” e §§ 1º e 2º, ambos do Código Civil de 2.002, cuja apuração do
acervo hereditário deverá ser feita, nos próprios autos, verificando-se
eventuais dívidas e estabelecendo a divisão equitativa ao patrimônio
existente e a partilha justa em relação à distribuição dos quinhões,
determinou a retificação do plano de partilha, com definição da legítima
e avaliação do usufruto instituído, desconsiderando a nua-propriedade e
provocou manifestação das partes sobre o exercício da inventariança e
vista ao Ministério Público.
Inconformada, recorreu a inventariante, sustentando
a necessidade de sua reforma, sob a razão de que foi alterado o
testamento público, anulando-se parte de suas disposições relativas ao
usufruto vitalício, encontrando-se prescrita a pretensão de nulidade,
desde o falecimento em 1.990, posto já transcorridos mais de cinco anos
do registro, conforme art. 1.859 do Código Civil e de anulação de dois
anos, na forma do art. 179 do Código Civil, pois jamais havia
contestado.
Prosseguiu dizendo que se operou preclusão lógica
e “pro judicato”, pela apreciação de requerimento expresso, em uma
segunda vez, porque já havia sido apresentado de outra forma e
indeferido, com encaminhamento para ação própria, nos termos do art.

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612 do Código de Processo Civil, quedando-se inerte, não recorreu,


dando continuidade ao feito.
Alegou também que de acordo com o art. 1.787 do
Código Civil a lei aplicável é a vigente ao tempo da abertura da
sucessão, devendo ser aplicado o Código Civil de 1.916, ficando
consagrado o princípio de saisine, restando imperioso apontar que a lei
nova não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido ou a coisa julgada, como determina o art. 5º, inciso XXXVI
da Carta Magna, devendo ser respeito o art. 1.723 do Código Civil de
1.916 e somente houve o uso dos aluguéis para pagamento das despesas
do próprio espólio e de sua manutenção, na medida do art. 1.394 do
Código Civil.
Acrescentou que o inventário não terminou em
decorrência de um box de garagem de propriedade do falecido e para
não ter a precisão de uma sobrepartilha, resolveu-o primeiro e depois
finalizá-lo.
Disse ainda que é adequado o termo inicial e final
para a retificação da partilha.
Citou pensamento de doutrinador e trecho de
julgado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e de São Paulo.
Requereu concessão do efeito suspensivo e ao final,
aguarda seja acolhido, conhecido e o provimento ao presente recurso de
Agravo de Instrumento.
O recurso foi recebido (fl. 153), com atribuição
liminar da medida postulada, antes da versão adversária.
Conversão de julgamento em diligências (fls.

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160/161, 173/174 e 185/187).


Resposta (fls. 165/171) do filho.
O parecer (fls. 178/180) do douto representante da
Ínclita Procuradoria Geral de Justiça expressou opinião pela denegação
de provimento ao agravo de instrumento.
É o sucinto relatório.
O recurso não comporta provimento.
De chofre, não há que se cogitar de preclusão, em
sua modalidade temporal (art. 223, “caput”, CPC)1 ou lógica (art.
1.000, CPC)2 sobre o pronunciamento (fl. 137) referente ao
requerimento (fls. 112/116) incidental de redução das disposições
testamentárias, uma vez que a superveniência da petição (fls. 141/147)
provocou nova decisão interlocutória, com caráter de retratação judicial,
plenamente permitido pelo sistema processual, restando impertinente a
denúncia de preclusão “pro judicato” (art. 505, “caput”, CPC)3,
segundo preconiza a interpretação mais extensiva (“Minus dixit quam
voluit”) desprovida de âmbito meramente literal, com o escopo de
alcançar o real propósito da “mens legis”, restando apropriado o regime
jurídico adjetivo “sui generis”, como já diziam as máximas romanas
antigas: “Ubi jus deficit, aequitas supplet” (Onde o direito é omisso, a
1
“... Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o
ato processual, independentemente de declaração judicial, ficando assegurado,
porém, à parte provar que não o realizou por justa causa...”
2
“... Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá
recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de
ato incompatível com a vontade de recorrer”
3“... Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à
mesma lide, salvo...”

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equidade o completa) e “Ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositivo”


(Onde existe a mesma razão fundamental prevalece a mesma regra de
direito) e a imposição do art. 1.018, § 3º do Compêndio Adjetivo em
perfeita harmonia com o art. 2º, § 1º do Decreto-Lei nº 4.657, de 04 de
setembro de 1942, por aplicação (art. 4º, L. I. N. D. B.)4 de analogia
(sic):
“... Art. 1.018. O agravante poderá requerer a
juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de
instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos
documentos que instruíram o recurso.
§ 1o Se o juiz comunicar que reformou
inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de
instrumento...”
“... Art. 2o Não se destinando à vigência
temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando
expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior...”
(destacamos)
Nesse diapasão, é o lapidar magistério dos
eminentes Theotonio Negrão, José Roberto Ferreira Gouvêa, Luís
Guilherme Aidar Bondioli e João Francisco Naves da Fonseca, na obra
denominada “Código de Processo Civil e legislação processual em
vigor” 48ª edição revista e atualizada até 17 de fevereiro de 2.017
Editora Saraiva página 540 (nota 2 - § 1º) e página 560 (notas 3b e 4),
4
“... Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito...”

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que apregoa:
“... Para o juiz inexiste preclusão” (RT 612/104).
Assim: “Nas instâncias ordinárias não há preclusão para o órgão
julgador enquanto não acabar o seu ofício jurisdicional na causa pela
prolação da sentença definitiva” (RSTJ 64/156). No mesmo sentido:
JTJ 207/9
“... A versão dada ao fato pelo juiz, em decisão
interlocutória, não o vincula ao proferir sentença. Nesse sentido:
STJ-2ª T., REsp 200.208, Min. Franciulli Netto, j. 21.8.03, DJU
28.10.03; RP 5/185-Arruda Alvim e outros...”
“... O instituto da preclusão, em princípio, dirige-se
às partes, podendo o juiz de superior instância reexaminar decisões
interlocutórias” (STJ-4ª T., REsp 2.340-EDcl, rel. Min. Athos Carneiro,
j. 23.10.90, DJU 12.11.90).
Embora o motivo aduzido seja suficiente, apenas
por amor ao exercício do sacerdócio abraçado ao “munus publicum” da
prestação jurisdicional explica-se, “ad argumentandum tantum”, a
título didático que nada obstante a nomenclatura que a parte atribua à
sua pretensão (“verba non mutant substantiam rei”) pois, sem
embargo da importância que o rigor terminológico apresenta, a ciência
do Direito como um todo e para o processo em particular, a
denominação não lhe define nem lhe altera o verdadeiro conteúdo da
pretensão material (“verba non mutant substantiam rei”), porquanto o
teor do instrumento é o ponto relevante, de vez que do contexto será
extraído o seu significado, nem mesmo exalta a titulação expressa, visto
que seu efeito é que será definido, lembrada aqui a máxima “actus non

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a nomine sed ab effectu judicatu” (julga-se o ato não pelo nome, mas
pelo efeito), por conseguinte, sob o pálio do adágio “jura novit curia”,
na dicção do art. 112 do Código Civil, que recomenda:
“... Art. 112. Nas declarações de vontade se
atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido
literal da linguagem...” (notas extravagantes)
Alie-se a essa postura o entendimento ínsito na obra
denominada “CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL e legislação
processual em vigor” dos notáveis doutrinadores Theotonio Negrão,
José Roberto Ferreira Gouvêa, Luis Guilherme Aidar Bondioli e João
Francisco Naves da Fonseca 48ª edição revista e atualizada até 17 de
fevereiro de 2.017 Editora Saraiva - página 391 (notas nº 09 e 10 - §
1º) e página 392 (nota nº 10 - §§ 2º e 3º), que proclama:
“... Não se confunde 'fundamento jurídico' com
'fundamento legal', sendo aquele imprescindível e este dispensável, em
respeito ao princípio 'jura novit curia' (o juiz conhece o direito)”
(STJ-1ª T., REsp 477.415, Min. José Delgado, j. 8.4.03, DJU 9.6.03).
No mesmo sentido: RT 696/158, JTA 120/277, maioria.
“... A invocação desta ou daquela regra jurídica é
argumento, e não razão da pretensão. A decisão deve responder às
razões das pretensões porque transformadas em questões, mas não
necessariamente à argumentação das partes. 'Jura novit curia'”
(STJ-4ª T., Ag. 5.540-AgRg, Min. Athos Carneiro, j. 18.12.90, DJU
11.3.91).
“Causa de pedir. Irrelevância de o acórdão fundar-
se em dispositivo legal diverso do indicado pelo autor, desde que

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considerou os mesmos fatos” (STJ-3ª T., REsp 1.925, Min. Eduardo


Ribeiro, j. 13.3.90, DJU 9.4.90). No mesmo sentido: STJ-4ª T., Ag 8.016-
AgRg, Min. Fontes de Alencar, j. 9.4.91, DJU 27.5.91.
“... O nosso direito prestigiou os princípios do 'jura
novit curia' e do 'da mihi factum, dabo tibi jus'. Isso significa que a
qualificação jurídica dada aos fatos narrados pelo autor não é
essencial para o sucesso da ação. Tanto que o juiz pode conferir aos
fatos qualificação jurídica diversa da atribuída pelo autor” (RSTJ
111/139). No mesmo sentido: RSTJ 140/587, RT 830/192.
“Por isso: 'Inexiste dissenso entre o julgado e o
libelo quando considerados exatamente os fatos descritos na inicial,
não importando que lhes tenha sido emprestada qualificação jurídica
não mencionada expressamente na inicial” (STJ-3ª T., REsp 1.844,
Min. Eduardo Ribeiro, j. 10.4.90, DJU 7.5.90).
“Não se verifica alteração da causa de pedir
quando se atribui ao fato ou ao conjunto de fatos qualificação jurídica
diversa da originariamente atribuída. Incumbindo ao juiz a subsunção
do fato à norma, ou seja, a categorização jurídica do fato, inocorre
modificação da 'causa petendi' se há compatibilidade do fato descrito
com a nova qualificação jurídica ou com o novo enunciado legal”
(STJ-4ª T., REsp 2.403, Min. Sálvio de Figueiredo, j. 28.8.90, DJU
24.9.90).
“... Não importa julgamento 'extra petita' a adoção
pelo juiz, de fundamento legal diverso do invocado pela parte, sem
modificar a causa de pedir. Aplicação do princípio 'jura novit curia'
(STJ-1ª T.,REsp 883.625-EDcl, Min. Teori Zavaski, j. 15.5.07, DJU

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11.6.07). Afinal, 'o tribunal não está adstrito aos fundamentos


estampados pelas partes ou por juízos 'a quo', mas sim aos fatos
apresentados' (STJ-1ª T., REsp 887.881-EDcl, Min. Teori Zavascki, j.
22.5.07, DJU 11.6.07). 'O fundamento jurídico do pedido constitui
somente uma proposta de enquadramento do fato ou ato à norma, não
vinculando o juiz...”
Superado este tema, volta-se atenção ao segundo
tópico e segue idêntica frustração a alegação de prescrição, pois se
identifica que o coerdeiro não busca invalidade (art. 1.859, CC)5,
nulidade ou anulação do testamento (art. 179, CC)6 e
consequentemente, não havendo que se falar de extinção de qualquer
ação autônoma, porque a matéria à redução das disposições
testamentárias diz respeito à questão incidental que se resolve nos
próprios autos da ação de inventário, visto que o juiz natural da causa
originária (art. 5º, LIII, CF)7 reputa suficientes os elementos constantes
em antecedente prestação de contas que gerou a impugnação do
cossucessor, fazendo prescindir discussão (art. 612, CPC) de forma
5 “... Art. 1.859. Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do
testamento, contado o prazo da data do seu registro...”
6 “... Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem

estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da
data da conclusão do ato...”
7 “... Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - ...
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente...”

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independente, porquanto o embate não expressa alto grau de


complexidade e maior amplitude, com dilação probatória e
disponibilidade de todos recursos e meios inerentes, em cognição
exauriente, tanto, no plano horizontal (amplitude de apreciação de
matérias fáticas e jurídicas), quanto, no plano vertical (profundidade de
conhecimento).
Consequentemente, descabe postura estática de
mero expectador inerte e carente de senso crítico à ciência jurídica, de
modo à dessacralização do mito da neutralidade axiológica, sendo
assim, não é vedado o momento preventivo de inadmissão à inutilidade
de diligência que não encampa fato controvertido indispensável ao
conhecimento, faculta-se instrumento discricionário (conveniência e
oportunidade) franqueado ao julgador, sob o prestígio da inteligência do
art. 370 do Estatuto dos ritos, que reza:
“... Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a
requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento
do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão
fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias...”
(ressaltamos)
É como soa o fiel testemunho dos eminentes
Theotonio Negrão e José Roberto Ferreira Gouvêa, com a colaboração
de Luís Guilherme Aidar Bondioli, na Obra denominada “Código de
Processo Civil e legislação processual em vigor” 45ª edição revista e
atualizada até 11 de janeiro de 2.013 Editora Saraiva página 260
(nota 1b) e página 463 (nota 16 - §§ 1º e 2º), abaixo transcrita (sic):

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“... No sentido de que, sendo o juiz o destinatário


da prova, somente a ele cumpre aferir sobre a necessidade ou não de
sua realização. Nesse sentido: JTJ 317/189 (AP 964.735-0/3), 344/387
(AP 7.055.145-6), 350/29 (AI 7.393.526-1), RJM 185/213 (AP
1.0313.07.219415-9/0001)...”
“... Tendo o magistrado elementos suficientes para
o esclarecimento da questão, fica o mesmo autorizado a dispensar a
produção de quaisquer outras provas, ainda que já tenha saneado o
processo, podendo julgar antecipadamente a lide, sem que isso
configure cerceamento de defesa” (STJ-6ª T., REsp 57.861, rel. Min.
Anselmo Santiago, j. 17.2.98, DJU 23.3.98). No mesmo sentido: JTJ
332/34 (AR 7.237.227-9), 340/314 (AP 7.259.290-6).
“Verificada a desnecessidade da prova, nada
impede que o juiz, modificando posição anteriormente assumida, a
dispense, julgando a causa” (RSTJ 24/411). No mesmo sentido: STJ-4ª
T., REsp 2.903, rel. Min. Athos Carneiro, j. 7.5.91, DJU 10.6.91; STJ-3ª
T., REsp 8.772, rel. Min. Nilson Neves, j. 30.3.92, DJU 4.5.92; STJ-5ª
T., Ag 35.926-2-AgRg, rel. Min. Jesus Costa Lima, j. 1.9.93, DJU
4.10.93; STJ-1ª T., REsp 36.801-4, rel. Min. César Rocha, j. 13.4.94,
DJU 16.5.94; RT 331/22...”
Se não bastasse a clara previsão legal, a construção
jurisprudencial sedimenta este posicionamento, estabelecendo padrão
para a segurança jurídica e a uniformidade de soluções (art. 926,
“caput”, CPC)8, segundo julgados desta Excelsa Corte Bandeirante e
do Colendo Superior Tribunal de Justiça que já vaticinam a conclusão
8 “... Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la
estável, íntegra e coerente...”

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selecionada colegiadamente, de modo a garantir maior dinamismo pela


obtenção de máximo resultado com o mínimo emprego de atividades
públicas e privadas, relevando-se postura (art. 8º, CPC)9 mais
condizente com o dever atribuído à prestação jurisdicional (art. 139, II,
CPC)10, em atenção ao princípio da economia e celeridade processual
(art. 5º, LXXVIII, CF)11, cuja ementa segue abaixo:
0022034-86.2011.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Sucessões
Relator(a): José Carlos Ferreira Alves
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 2ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 04/10/2011
Data de publicação: 13/10/2011
Data de registro: 13/10/2011
Ementa: em>AGRAVO DE INSTRUMENTO: Abertura, registro
e cumprimento de testamento
Pedido de redução de disposição testamentária que teria excedido
a parte disponível Indeferimento e remessa às vias ordinárias
9“... Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às
exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência...”
10
“... Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:
I - ...
II - velar pela duração razoável do processo...”
11
“... LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)...”

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Ausência de questão de alta indagação - Possibilidade de resolução


da questão nos próprios autos, desnecessária a remessa às vias
ordinárias - Decisão reformada nesse tocante Recurso provido.
0499042-11.2010.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Inventário e Partilha
Relator(a): Costabile e Solimene
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 03/03/2011
Data de registro: 10/03/2011
Outros números: 990104990424
Ementa: PROCESSO CIVIL - PRETENSA VIOLAÇÃO AO
CONTRADITÓRIO - INOCORRÊNCIA - PARTE QUE TEVE Á
SUA DISPOSIÇÃO OS AUTOS NO PERÍODO
CONTROVERTIDO - APERFEIÇOAMENTO DA AMPLA
DEFESA E DO CONTRADITÓRIO NO BOJO DO RECURSO -
RECURSO CONHECIDO E MATÉRIA PREFACIAL
REJEITADA. REDUÇÃO TESTAMENTÁR1A -
DISPENSA DE AÇÃO PRÓPRIA - EFETIVIDADE E
ECONOMIA DO PROCESSO - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO -
MANIFESTAÇÃO DAS PARTES, INCLUSIVE NO RECURSO,
QUE CARACTERIZOU O PLENO CONTRADITÓRIO.
TESTAMENTO - CLAUSULAMENTO - MORTE NA VIGÊNCIA
DO CÓD. CIVIL DE 2003 - NECESSIDADE DE ADITAMENTO -
SAISINE - INCIDÊNCIA DO ART. 1.787 DO CÓD. CIVIL
V/GENTE - INOCORRÊNCIA DO ADITAMENTO -

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IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO SOBRE PARTE


LEGÍTIMA - AGRAVO DESPROVIDO.
Processo: REsp 1523387
Relator(a): Ministra NANCY ANDRIGHI
Data da Publicação: 29/08/2017
RECORRENTE: CLAUDIA MEIRELLES FRANCA
HELFEISTEIN FONSECA - INVENTARIANTE
RECORRENTE: RONALDO ALVARO MEIRELLES FRANCA
ADVOGADOS: VASCO R FONTAO ALVIM COELHO E
OUTRO(S) - SP026334
ROBERTO TADEU UNTI MIGUEL - SP203732
FERNANDA BATISTA LOUREIRO - DF035799
RECORRIDO: ARTUR DE CASTRO MEIRELES FRANCA
RECORRIDO: TATIANA DE CASTRO MEIRELLES FRANCA
ADVOGADO: FLÁVIO DOS SANTOS OLIVEIRA E OUTRO(S) -
SP143479
INTERES.: JOSE BENEDICTO MEIRELLES FRANCA -
ESPÓLIO
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO DE ABERTURA DE INVENTÁRIO. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC/73, rejeitam-se os
embargos de declaração.
2. Recurso especial conhecido e não provido.
DECISÃO: Cuida-se de recurso especial interposto por CLAUDIA

Agravo de Instrumento nº 2048273-15.2019.8.26.0000 - Voto nº 41.484 15


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São Paulo

MEIRELLES FRANCA HELFEISTEIN FONSECA -


INVENTARIANTE e RONALDO ALVARO MEIRELLES
FRANCA, fundamentado, exclusivamente, na alínea "a" do
permissivo constitucional.
Recurso Especial interposto em: 08/02/2014.
Atribuído ao gabinete em: 25/08/2016.
Ação: de abertura de inventário, ajuizada pelos recorrentes, em
razão do falecimento de JOSE BENEDICTO MEIRELLES
FRANÇA.
Decisão interlocutória: não acolheu os embargos de declaração
interpostos pelos recorrentes, uma vez que as doações foram
comprovadas por meio de escritura pública feita pelo de cujus aos
seus dois filhos CLÁUDIA e ANTÔNIO; esclareceu que o
adiantamento da legítima não padece de ilegalidade, tendo em vista
que os donatários eram seus únicos herdeiros necessários, não se
cogitando, portanto, de redução das disposições testamentárias
pleiteada pelos herdeiros/recorrentes, devendo prevalecer o valor
dos bens à época da abertura da sucessão; por derradeiro,
determinou a retificação do plano de partilha com base em
documentos que comprovariam que os valores disponibilizados na
conta do de cujus utilizados para o pagamento de dívidas por ele
contraídas, bem como para o pagamento de despesas havidas com o
funeral de seu filho ANTÔNIO, tendo sido o restante igualmente
dividido.
Acórdão: deu provimento ao agravo de instrumento interposto
pelos recorridos, para determinar que o valor dos bens deve ser o

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vigente na data da liberalidade, nos termo da seguinte ementa:


INVENTÁRIO - ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA -
DONATÁRIOS QUE SÃO OS ÚNICOS HERDEIROS DO DE
CUJUS PEDIDO DE REDUÇÃO NAS DISPOSIÇÕES
TESTAMENTÁRIAS DESNECESSIDADE DE AS PARTES
SEREM ENCAMINHADAS AS VIAS ORDINÁRIAS -
SOLICITAÇÃO DE INFORMES À RECEITA FEDERAL QUE
PODE SER EFETUADA NOS PRÓPRIOS AUTOS DO
PROCESSO DE INVENTÁRIO - PREVALÊNCIA DO VALOR
DOS BENS VIGENTE A ÉPOCA DA LIBERALIDADE -
INTELIGÊNCIA DO ART. 2.004 DO CC - RECURSO PROVIDO.
(e-STJ, fl. 506)
Embargos de declaração: interpostos pelos recorrentes, foram
rejeitados.
Recurso especial: alega violação do art. 535 do CPC/73. Sustenta a
negativa de prestação jurisdicional, em relação ao critério a ser
utilizado para definir os valores dos bens trazidos à colação.
Parecer do MPF: de lavra do i. Subprocurador-Geral da República
Maurício Vieira Bracks, opinou pelo conhecimento do recurso
especial, para negar-lhe provimento, ante a ausência de negativa de
prestação jurisdicional.
RELATADO O PROCESSO, DECIDE-SE.
- Julgamento: aplicação do CPC/73
- Da violação do art. 535 do CPC/73
O acórdão recorrido, que analisou devidamente a matéria em
discussão e que se mostra adequadamente fundamentado, não

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apresenta omissão, contradição ou obscuridade.


Assim, o Tribunal de origem, embora tenha apreciado toda a
matéria posta a desate, tratou da questão referente ao critério
utilizado para a definição dos valores trazidos à colação
(considerando o valor vigente na data a liberalidade), sob viés
diverso daquele pretendido pelos recorrentes, fato que não dá
ensejo à interposição de embargos de declaração.
Nesse sentir, segue o seguinte trecho do acórdão recorrido:
Por outro lado, é certo que, para os fins previstos nos arts. 2.002 e
seguintes do CC, deve prevalecer o valor histórico dos bens, ou seja,
aquele vigente por ocasião da liberalidade (CC, art. 2.004), e não os
valores venais da data de abertura da sucessão, como fez a
inventariante Cláudia quando da apresentação das primeiras
declarações. (e-STJ, fl. 509)
Além disso, ausente a omissão, os recorrentes deveriam ter
direcionado suas irresignações contra os fundamentos utilizados
pelo Tribunal de origem para dar provimento ao agravo de
instrumento interposto pelos recorridos, veiculando ofensa a
dispositivos infraconstitucionais diversos do art. 535 do CPC/73.
Dessa maneira, verifica-se que a prestação jurisdicional entregue foi
completa, não havendo negativa de prestação jurisdicional.
Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial e NEGO-LHE
PROVIMENTO, com fundamento no art. 255, § 4º, II, do RISTJ.
Publique-se. Intimem-se.
Ultrapassado este aspecto, dirige-se exame de
derradeira objeção acerca da fixação do termo inicial e final da

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retificação do plano de partilha e não paira dúvida de que o primeiro


está atrelado ao tempo da abertura da sucessão, por ocasião do
falecimento do autor da herança (fl. 66) sucedido em 20 de novembro
de 1.990, em decorrência do “droit de saisine” que auferiu ao cônjuge
supérstite a possibilidade de usufruto de todo patrimônio, pelo
testamento público (fls. 131/132), sem respeitar a legítima, mediante a
percepção de aluguéis, consoante confissão (art. 212, I, CC)12 livre e
consciente (art. 389 e art. 390, § 1º, CPC) de que os recebeu para
adimplir passivo do próprio espólio e a sua subsistência, por força do
art. 1787 da atual Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, em
combinação com a vetusta Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, que
dimanam:
“... Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação
para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela...”
“... Art. 1.572. Aberta a sucessão, o domínio e a
posse da herança transmitem-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários...” (salientamos)
Idêntica senda envereda a posição dos conspícuos
Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, na sua obra
denominada “CÓDIGO CIVIL COMENTADO”, 10ª edição, revista,
ampliada e atualizada até 06 de fevereiro de 2.012 Thomson Reuters -
Revista dos Tribunais página 1.533 (item nº 2 parte inicial), página
1.534 (item nº 6 primeira e terceira parte e item nº 7), página 1.535
(item nº 9), página 1.536 (item nº 16) e página 1.538 (item nº 16

12
“... Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode
ser provado mediante:
I confissão...”

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primeira parte), que peço vênia, para transcrevê-lo:


“... Abertura da sucessão. Dá-se com a morte da
pessoa. No momento da morte, com a cessação da personalidade (CC
6º), ocorre a abertura da sucessão. O herdeiro sucede o morto na data
de sua morte. Pressupõe-se que, em virtude do caráter de sucessão
universal de que se reveste a qualidade dos herdeiros, não exista
herança sem titular. A investidura se dá de forma automática e
imediata, independentemente de o herdeiro ter conhecimento dessa sua
qualidade ou do fato da morte do autor da herança. A transmissão
automática ocorre, também, independentemente da aceitação da
herança...”
“... Herança (universitatis iuris). Transmissão.
Posse. Diferentemente do que ocorria no sistema passado, que fazia
referência expressa à transmissão do domínio e da posse da herança
(CC/1916 1572), o CC 1784 fala simplesmente em transmissão da
herança, não mencionando mais domínio e posse. Herança é conceito
mais amplo (continente), que contém os de propriedade e de posse
(conteúdo), de modo que o texto vigente é mais abrangente do que o
revogado do CC/1916 1572... Portanto, os bens suscetíveis de
apreensão física, que integrarem essa universalidade denominada
herança, estão, desde a morte do de cujus, na posse dos herdeiros
(direito de saisina), independentemente de sua apreensão física efetiva
(investidura, Gewere)...”
“... Posse e propriedade. Transmissão. Com a
morte do autor da herança, a posse e a propriedade dos bens que a
compõem transmitem-se desde logo aos herdeiros, sem que haja

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necessidade nem de intenção de ter como proprietário ou de possuir


(animus), nem de apreensão física da coisa (corpus). Oriunda da
Gewere do direito alemão medieval... essa transmissão automática de
pleno direito, por força de lei, também se denomina direito da saisina...
O de cujus era titular desses direitos e obrigações até o momento que
precede sua morte. Com a morte do de cujus, seus herdeiros passam a
ser os novos titulares da herança, substituindo o antigo titular. A
transmissão da posse e da propriedade para os novos titulares dá-se
ope legis, independentemente de qualquer outro ato, providência ou
circunstância. Ainda que não tenha sido aberto inventário, os herdeiros
já são possuidores e proprietários a partir do momento da morte do de
cujus. Denomina-se civilíssima a posse do herdeiro adquirida em
virtude de lei...”
“... Consequências da saisine. Os herdeiros são
investidos na posse e adquirem a propriedade pelo simples fato da
morte do autor da herança. Adquirem os direitos e obrigações do morto
com todas as suas qualidades e vícios (CC 1203 e 1206). A posse é por
eles adquirida sem que haja necessidade de apreensão material do
bem. Independentemente da abertura do inventário, podem fazer uso
dos instrumentos de proteção da posse (interditos possessórios) e da
propriedade (v.g., ação reivindicatória, ação de usucapião), podendo
somar à sua a posse do de cujus (CC 1207), para fins de usucapião...
Como a morte do de cujus faz os seus bens ingressarem no patrimônio
dos herdeiros, independentemente de qualquer outra providência, a
renúncia à herança pode constituir-se em fraude contra credores, pois
o herdeiro já é possuidor e proprietário no momento da morte e, ao

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dispor desses direitos com a renúncia à herança, pode praticar, em


tese, ato apto a fraudar direitos dos credores...”
“... Casuística: Aquisição da propriedade imóvel
pela abertura de sucessão. O direito hereditário é modalidade de
aquisição da propriedade imóvel, que, como a posse, se transfere aos
herdeiros com a abertura da sucessão (STJ, 4ª T., REsp 48199-MG, rel.
Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, v.u., j. 30.5.1994, DJU 27.6.1994,
p. 16990)...”
“... Casuística: Reivindicatória. Título de domínio.
A teor do CC/1916 1572 (CC 1784), os herdeiros têm título de domínio
dos bens do de cujus, independentemente de haver sido feito o
inventário...”
No que toca àqueloutro, tratando-se de prestações
sucessivas e periódicas, enquanto persistir o usufruto até findar-se o
contrato de alugueres.
À vista de tudo o quanto fora exposto, pelo meu
voto, nego provimento ao recurso.
SALLES ROSSI
Relator

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