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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085087955 (Nº CNJ: 0022348-70.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

APELAÇÃO. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA.


INÉRCIA DA PARTE POR MAIS DE UM ANO.
No caso em exame, sucessivamente intimada a parte
recorrente para cumprir determinação judicial, deixou
transcorrer prazo superior a um ano. Cabível a extinção do
feito, na forma do art. 485, II, do CPC/15. Parecer do
Ministério Público nesse sentido. Jurisprudência.
APELAÇÃO DESPROVIDA.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70085087955 (Nº CNJ: 0022348- COMARCA DE PORTO ALEGRE


70.2021.8.21.7000)

NESTOR ALBAN APELANTE

ELNA MARIA ALBAN APELANTE

INDIANARA CRISTINA GRANDI APELADO


FERNANDES

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível
do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento à apelação.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) E DES.
DILSO DOMINGOS PEREIRA.
Porto Alegre, 16 de março de 2022.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

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Nº 70085087955 (Nº CNJ: 0022348-70.2021.8.21.7000)
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RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)
Trata-se de recurso de apelação interposto por NESTOR ALBAN e
ELNA MARIA ALBAN contra sentença de fl. 723, que extinguiu o processo sem
resolução do mérito, em ação de usucapião extraordinário ajuizada a desfavor de
INDIANARA CRISTINA GRANDI FERNANDES.
A sentença apelada está assim redigida:
“Os autores foram intimados por carta AR/MP (fl. 721/722)
para manifestarem-se sobre prosseguimento do feito.
Apesar disso, nada requereram no prazo determinado e
abandonou a causa por mais de 30 (trinta) dias.
Face ao exposto, com base no art. 485, III, do CPC,
declaro extinto o processo, sem julgamento do mérito.
Pagas eventuais despesas processuais ainda pendentes pelo
autor, feitas as anotações, dê-se baixa e arquive-se.”

Razões recursais, fls. 728/739. Inicialmente, os autores fazem


exaustiva narrativa fática sobre o uso do imóvel, objeto de usucapião. Ao depois,
alegam que detêm a posse mansa, pacífica e ininterrupta do imóvel descrito na
inicial, desde 1998. Sustentam que cumpriram os requisitos processuais necessários
à ação de usucapião, a saber, memorial descritivo; requereram a citação do
proprietário registral e dos confinantes, além, da intimação das Fazendas Públicas.
Impugnam a sentença ao fundamento de que não é permitido ao juiz extinguir o feito
com base na inércia dos autores e abandono da causa, quando já angularizada a
relação processual e a parte demandada possuir procurador constituído, conforme
previsão do art. 485, § 6º, inc. III, do CPC. A respeito, citam Súmula 240 do E. STJ e
jurisprudência da Corte. Tecem tese de desnecessidade de citação dos confinantes.
Requerem, no final, seja conhecido e provido o apelo, para anular a sentença, que
sem provocação da parte ré, extinguiu o feito e, em decorrência, determinar o
prosseguimento do feito sem a citação dos confinantes.
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Requisitos de admissibilidade. Tempestivo e dispensado do


recolhimento das custas processuais (fl. 32).
Contrarrazões: Em sede de apelação, intimada a parte apelada,
manifestou-se às fls. 751/755, requerendo a manutenção da sentença.
Parecer do Ministério Público, fls. 743/744. Manifestou-se pelo
desprovimento do recurso de apelação, em parecer assim ementado:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO.


EXTINÇÃO DO PROCESSO. PARALISAÇÃO POR
MAIS DE UM ANO. NEGLIGÊNCIA. REQUERIMENTO
DA PARTE ADVERSA. DESNECESSIDADE. 1.
Preliminar. Evitando-se eventual arguição de nulidade
processual, a recorrida deve ser intimada para, querendo,
apresentar contrarrazões ao apelo. 2. Mérito. Nada obstante
a referência na sentença à extinção pela regra do art. 485,
inciso III, do CPC/15, entende-se que houve, em verdade,
paralisação do processo por mais de um ano por negligência
dos autores, de modo a ser aplicado o inciso II do citado
dispositivo legal. A extinção por tal razão não necessita de
requerimento da parte adversa, mas apenas prévia intimação
pessoal, o que foi cumprido. Parecer pelo conhecimento do
apelo, intimação da recorrida para, querendo, apresentar
contrarrazões e, no mérito, pelo desprovimento do recurso.

Os autos vieram conclusos para julgamento.

É o relatório.

VOTOS
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Eminentes Colegas!
Cuida-se de ação de usucapião, modalidade extraordinária, ajuizado
por NESTOR ALBAN e ELNA MARIA ALBAN contra INDIANARA CRISTINA
GRANDI FERNANDES objetivando a declaração de domínio do terreno descrito na

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matrícula 34.797 do Registro de Imóveis da 3ª Zona de Porto Alegre/RS , lote 10, da


quadra “D”, do Loteamento “Osvaldo Coufal”, fl. 30/31 do feito.
Observo que, as partes possuem relação de parentalidade, posto que a
requerente ELNA MARIA ALBAN é irmã do falecido pai da apelada, Sr.
CLODENEI ANTÔNIO GRANDI, que era proprietário do imóvel (Av. 6-34.797-
2006). A posse da apelada decorre do direito da saisine, tendo alcançado a
propriedade por meio de inventário, conforme se constata da Av. 7-34.797-2014.
Pois bem, feitos esses esclarecimentos, adianto que não merece
qualquer reforma a sentença que extinguiu o feito.
Friso que, no caso, as razões recursais, estão fundamentadas na
premissa de que é incabível a extinção do feito quando já perfectibilizada a
angularização processual e a parte contrária possuir procurador devidamente
constituído.
No caso, perfilho do entendimento expresso no parecer do Ministério
Público no sentido de que na hipótese de extinção do feito por inércia da parte por
mais de um ano por negligência das partes, aplica-se o disposto no art. 485, II, do
CPC, situação processual que dispensa a iniciativa da parte adversa para esse fim.
Neste sentido, a disposição legal:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano
por negligência das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe
incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta)
dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência
ou de coisa julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse
processual;

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VII - acolher a alegação de existência de convenção de


arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua
competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada
intransmissível por disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.

Num exame cronológico, no caso que se examina, o decurso do prazo


superior a um ano – contados do despacho de fl. 705-, marcado pela negligência da
parte autora:
Despacho de fls. 705: Sobre o retorno negativo do AR de fl.
704v., diga a parte autora, no prazo de 05 dias.
No mesmo prazo, deverá qualificar o confrontante registral
Osvaldo Coufal, ou comprovar as diligências efetuadas para
a sua localização.
NE205/2018- disponibilizada em 11/04/2018.

Despacho de fl. 714- 13/08/2018 – mantenho a


determinação de fl. 7051. Intime-se.

NE 515/2018 – disponibilizada em 31/08/2018.


Despacho de fl.716- 06/11/2018- Intime-se a parte autora
para, no prazo de 10 dias, manifestar seu interesse no
prosseguimento do feito.
NE 705/2018 – disponibilizada em 07/11/2018

Despacho de fl.718- 12/03/2019. Intime-se a parte autora


para, no prazo de 10 dias, manifestar seu interesse no
prosseguimento do feito.
NE 123/2019 – disponibilizada em 18/03/2019

Despacho de fl. 720- 08/05/2019. Intime-se a parte autora,


por AR/MP, para no prazo de 05 (cinco) dias, cumprir a
determinação de fl. 705, sob e na de extinção do feito (art.
485, III e § 1º, do CPC).

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Sobre o retorno negativo do AR de fl. 704v., diga a parte autora, no prazo de 05 dias.
No mesmo prazo, deverá qualificar o confrontante registral Osvaldo Coufal, ou comprovar as
diligências efetuadas para a sua localização.
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Carta de Intimação-fls. 721/722. Firmadas pelos autores –


juntadas no feito 22/08/2019.

Sentença de extinção do feito-fl. 723. Exarada em


19/02/2020.

Nesse contexto – decorrido mais de um ano e silentes as partes -, o


processo foi extinto.
Para evitar cansativa tautologia, transcrevo parte do parecer do
Ministério Público, que passa a integrar as razões de decidir:
(...).
Pois bem, nada obstante a referência na sentença à extinção
pela regra do art. 485, inciso III, do CPC/15, entende-se que
houve, em verdade, paralisação do processo por mais de um
ano por negligência dos autores, de modo a ser aplicado o
inciso II do citado dispositivo legal.
A extinção por tal razão não necessita de requerimento da
parte adversa, mas apenas prévia intimação pessoal, o que
foi cumprido. Não há, ademais, óbice à manutenção da
sentença extintiva, mas por fundamentos diversos. Nesse
exato sentido, o precedente:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO
ESPECIFICADO. FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. EXTINÇÃO POR ABANDONO DE CAUSA.
INEXISTÊNCIA DE REQUERIMENTO DA PARTE RÉ.
SÚMULA 240 DO STJ. NEGLIGÊNCIA DA PARTE EM
DAR REGULAR ANDAMENTO AO FEITO POR MAIS
DE UM ANO. CONTUMÁCIA QUE AUTORIZA A
MANUTENÇÃO DA EXTINÇÃO, SOB FUNDAMENTO
DIVERSO. Trata-se de recurso de apelação interposto contra
a decisão de extinção da fase de cumprimento de sentença
por abandono de causa. O magistrado de origem acertou ao
extinguir o feito em face da inexistência de manifestação da
parte autora, única interessada na solução do litígio, mas
equivocou-se ao fundamentar a extinção no inciso III do art.
267 do CPC de 1973, que exige requerimento da parte
adversa, consoante súmula 240 do STJ. Uma vez que o
processo ficou parado por mais de um ano por
negligência da parte autora, possível a manutenção da
extinção com base no inciso II do mesmo dispositivo
legal, que depende apenas da intimação pessoal da parte,
circunstância observada no caso concreto. Extinção
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mantida por fundamento diverso. APELAÇÃO


DESPROVIDA. (Apelação Cível, Nº 70058397241, Décima
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Sylvio José Costa da Silva Tavares, Julgado em: 25-08-
2016) (grifou-se)

Dessa forma, o recurso deve ser desprovido, mantendo-se a


sentença que extinguiu o processo, sem julgamento do
mérito, ainda que por outros fundamentos.

De modo que, voto por negar provimento à apelação, fulcro no art.


485, inc. II, do CPC/15.
Sem honorários recursais2.
É o voto.

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70085087955,


Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau:

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Ausência de fixação de honorários sucumbenciais na origem.
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