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TRIBUNAL DE JUSTI ÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

SEÇÃO DE DI REI TO PRI VADO


35ª Câmara de Direito Privado

Registro: 2023.0000954339

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2150299-52.2023.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante
CONDOMINIO VITALLIS ECO CLUBE, são agravados ARIOVALDO DE
OLIVEIRA e LEONOR TEREZA DURANTE.

ACORDAM, em 35ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FLAVIO


ABRAMOVICI (Presidente) E MOURÃO NETO.

São Paulo, 30 de outubro de 2023.

MELO BUENO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTI ÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
SEÇÃO DE DI REI TO PRI VADO
35ª Câmara de Direito Privado

COMARCA: SÃO PAULO F. R. BUTANTÃ - 1ª VARA CÍVEL


AGRAVANTE: CONDOMÍNIO VITALLIS ECO CLUBE
AGRAVADO: ARIOVALDO DE OLIVEIRA; LEONOR TEREZA DURANTE
JUIZ(A): FERNANDO DE LIMA LUIZ

VOTO Nº 55223

AGRAVO DE INSTRUMENTO CONDOMÍNIO


EDILÍCIO AÇÃO DE EXCLUSÃO DE
CONDÔMINO POR COMPORTAMENTO
ANTISSOCIAL Tutela de urgência Antecipação
Indeferimento Pretensão à reforma Pedido de
afastamento temporário ou permanente de condômino
por comportamento antissocial - Ausência dos
requisitos do artigo 300, do CPC Necessidade do
contraditório - Decisão mantida - Recurso desprovido.

Agravo de instrumento contra r. decisão de


fls.193/194 (origem), que indeferiu a tutela de urgência nos autos da ação
de exclusão definitiva de condômino por comportamento antissocial com
pedido de obrigação de fazer e intervenção do Ministério Público, fundada
em condomínio edilício. O agravante sustenta, em síntese, que restou
comprovado que o agravado está praticando atos gravíssimos, que não
condizem com a preservação do sossego e segurança de toda a massa
condominial, sendo flagrante o abalo psiquiátrico enfrentado pelo agravado,
que necessita de auxílio, sendo seu comportamento incontrolável por parte
do condomínio, portanto, o seu afastamento permanente ou provisório é
medida extrema, porém necessária, para evitar um mal maior ao próprio
agravado e aos demais condôminos.

Agravo de Instrumento nº 2150299-52.2023.8.26.0000 - V. 55223 2-e


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35ª Câmara de Direito Privado

O recurso está em termos para julgamento. A d.


Procuradoria Geral de Justiça, declarando ciência de sua intimação, deixou
de apresentar manifestação.

É o relatório.

A ação originária do presente recurso foi


proposta pelo condomínio agravante, visando, em antecipação da tutela de
urgência, o imediato afastamento do agravado do condomínio por
apresentar condutas atípicas e comportamentos antissociais, como transitar
pelas dependências do condomínio com vestimentas de marinheiro e de
policial militar, portando supostas armas de fogo, o que tem provocado
comoção e pânico aos demais moradores. O agravante alega ser
perceptível o forte abalo psiquiátrico sofrido pelo agravado, pugnando para
que sua genitora, ora agravada, seja compelida a conduzi-lo a um local
seguro e, em eventual inércia, que o Ministério Público intervenha adotando
as medidas necessárias para que ele seja encaminhado a um centro de
tratamento de saúde psicológica, de modo a resguardar a segurança dele e
dos demais condôminos.

Com efeito, conforme o disposto no artigo 300 do


CPC, a tutela de urgência pressupõe a presença de "elementos que evidenciem
a probabilidade do direito e perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo".

No presente caso, em que pesem os fatos


narrados e os fundamentos expostos nas razões recursais, não se vislumbra
a presença dos requisitos autorizadores para concessão da medida extrema
pleiteada. Pois, como bem ressaltado pelo d. magistrado, “No caso em tela,
conforme parecer do Ministério Público (fls. 188-190), não foram observadas,
aparentemente, as normas legais e convencionais para permitir eventual medida
extrema de retirada do condômino da convivência no condomínio. Com efeito, "a

Agravo de Instrumento nº 2150299-52.2023.8.26.0000 - V. 55223 3-e


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inicial limitou-se a afirmar que uma sanção financeira (multa) aplicada ao requerido
se faz ineficaz, deixando de demonstrar aplicação multa ao réu pelo seu
comportamento antissocial, de sorte que, por ora, não resta justificada a adoção de
medida extrema sem o prévio contraditório e ampla defesa do réu". Assim, indefiro a
tutela provisória pleiteada.”

Assim, embora o agravante tenha alegado que há


provas suficientes para concessão da liminar, a prudência indica que devem
ser analisadas também as razões da parte adversa. Pois, como informado
pelo próprio agravante, a ré, genitora do agravado, inclusive, propôs ação
de curatela com pedido de internação compulsória psiquiátrica do agravado
(fls.208/209).

Portanto, a manutenção do indeferimento da


tutela de urgência é medida que se impõe, tendo em vista os estreitos
limites de cognição da matéria, sob pena de ofensa aos princípios da ampla
defesa e do contraditório. Sendo certo que, mediante elementos mais
robustos, o pleito de antecipação da tutela poderá ser novamente apreciado.

A propósito, confira-se jurisprudência desta C.


Corte:

“Agravo de Instrumento. Condomínio Edilício. Pleito de


retirada do condomínio, da ocupante (idosa) de uma das
unidades, sob a alegação de conduta antissocial. Decisão
agravada deferiu o pleito de tutela de urgência, determinando
aos proprietários réus, ora agravantes, que providenciem a
retirada da ocupante do apartamento. Reforma necessária.
Ausência dos pressupostos previstos em lei (art. 300, do CPC)
para a concessão da tutela antecipada. Com efeito, as alegações
e os documentos carreados aos autos não se mostram
suficientes a demonstrar a probabilidade do direito alegado e o
perigo de dano. Tampouco demonstram a impossibilidade,
caso não seja deferida a tutela, da atuação perfeita e eficaz do
Juízo, quando do julgamento da demanda. A providência
pretendida serve, na verdade, ao resguardo do direito que o
autor invoca e não ao processo propriamente dito. Destarte,
caso acolhida, ensejará manifesto desequilíbrio entre os
litigantes, durante o transcurso da relação processual. Nunca é
demais lembrar que a tutela de urgência de natureza cautelar

Agravo de Instrumento nº 2150299-52.2023.8.26.0000 - V. 55223 4-e


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serve ao processo e não exatamente ao direito da parte. Com


efeito, visa dar eficiência e utilidade ao instrumento que o
Estado engendrou para solucionar conflitos de interesses.
Inteligência do art. 301, do CPC. Em verdade, caso concedida
a medida, este Juízo estaria contrariando o ordenamento
jurídico ao projetar provimento definitivo, sem a necessária
coleta de outros elementos probatórios. Recurso provido.”1

“DIREITO DE VIZINHANÇA AÇÃO DE EXCLUSÃO DE


CONDÔMINO TUTELA DE URGÊNCIA NEGADA
MEDIDA EXTREMA - PRUDENTE O PRÉVIO
CONTRADITÓRIO ANTES DA ANÁLISE DECISÃO
MANTIDA RECURSO NÃO PROVIDO. A exclusão de
condômino proprietário de unidade condominial é medida
extrema, que deve ser tomada somente após a plena convicção
da gravidade da situação, e em casos excepcionais. Assim,
prudente se aguardar o contraditório para que venham aos
autos mais elementos para análise do pedido.”2

“Condomínio edilício Ação de exclusão de condômino


Tutela provisória Requisitos ausentes Indeferimento
confirmado Agravo de instrumento improvido.”3

“AGRAVO DE INSTRUMENTO CONDOMÍNIO EM


EDIFÍCIO AÇÃO DE EXCLUSÃO DE CONDÔMINO
INSURGÊNCIA CONTRA O INDEFERIMENTO DA
TUTELA DE URGÊNCIA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS
DO ART. 300 DO CPC NECESSIDADE DE FORMAÇÃO
DO CONTRADITÓRIO DECISÃO AGRAVADA
MANTIDA RECURSO DESPROVIDO.”4

Deste modo, nada há a reparar na r. decisão


agravada que fica mantida pelos seus próprios fundamentos.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

FERNANDO MELO BUENO FILHO


Desembargador Relator

1 AI 2302756-06.2022.8.26.0000, Rel. Des. NETO BARBOSA FERREIRA, 29ª C., j. em 11/07/2023.


2 AI 2070293-29.2021.8.26.0000, Rel. Des. PAULO AYROSA, 31ª C., j. em 25/04/2021.
3 AI 2058012-41.2021.8.26.0000, Rel. Des. VIANNA COTRIM, 26ª C., j. em 15/04/2021.
4 AI 2190437-66.2020.8.26.0000, Rel. Des. CESAR LUIZ DE ALMEIDA, 28ª C., j. em 26/08/2020.

Agravo de Instrumento nº 2150299-52.2023.8.26.0000 - V. 55223 5-e

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