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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Processo: 1.0699.21.002016-9/001
Relator: Des.(a) Dirceu Walace Baroni
Relator do Acordão: Des.(a) Dirceu Walace Baroni
Data do Julgamento: 28/07/2022
Data da Publicação: 02/08/2022

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO SIMPLES TENTADO E AMEAÇA.
CABIMENTO. 1. A configuração do roubo impróprio pressupõe que o agente empregue violência ou grave ameaça
após a subtração da 'res'. 2. O uso de ameaça contra a vítima, sem que o agente tenha se apoderado da 'res',
inviabiliza o reconhecimento do roubo impróprio, impondo-se a desclassificação para furto simples tentado e ameaça.
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0699.21.002016-9/001 - COMARCA DE UBÁ - APELANTE(S): CARLOS ROBERTO DE
MELO - APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na
conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. DIRCEU WALACE BARONI


RELATOR

DES. DIRCEU WALACE BARONI (RELATOR)

VOTO

Trata-se de apelação criminal interposta por CARLOS ROBERTO DE MELO em face da r. sentença de fls.
119/121, que o condenou no artigo 157, §2º, inciso VII, c/c artigo 14, inciso II, do Código Penal, impondo-lhe a pena
de 03 (três) anos de reclusão, em regime semiaberto, e 09 (nove) dias-multa, no valor unitário mínimo, negado o
direito de recorrer em liberdade.
A denúncia foi recebida em 24/06/2021 (fl. 68), e a sentença condenatória foi publicada em 09/11/2021 (fl. 122),
da qual o acusado foi regularmente intimado (fl. 125). Guia de execução provisória acostada à fl. 133.
A Defensoria Pública pede a absolvição por insuficiência probatória quanto à autoria delituosa. Na eventualidade
de uma condenação, postula a desclassificação para o delito de furto, reduzindo-se a pena-base. Se mantida a
condenação por roubo, pretende o decote da causa de aumento, por não haver provas do emprego de arma branca,
requerendo, ao final, os benefícios da justiça gratuita (fls. 134/138).
Contrarrazões deduzidas às fls. 140/142, postulando a confirmação da sentença.
Instada a manifestar-se, a Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo conhecimento e desprovimento do apelo (fls.
148/151).
É o breve relatório.
Próprio e tempestivo, conheço do recurso.
A denúncia narra que, no dia 23/5/2021, às 06h35min, na Rua Matilde da Rocha Balbi, Centro, em Ubá/MG,
Carlos Roberto de Melo tentou subtrair para si, mediante grave ameaça exercida com arma branca, materiais
utilizados na construção civil, de propriedade de Alberto Fatuch Lahan.
Segundo apurado, chegou ao conhecimento da Polícia Militar de que o acusado adentrou em uma construção e
permaneceu em seu interior.
Para averiguar os fatos, a vítima e a testemunha Dirley compareceram ao local, oportunidade em que foram
abordadas pelo acusado, que, munido de uma faca, tentou evadir do local, mas não obteve sucesso.
O fato em si é incontroverso, já que o acusado não nega ter entrado na construção, em consonância com o auto
de apreensão (fl. 15), boletim de ocorrência (fls. 18/20), laudo de eficiência e prestabilidade (fl. 72) e levantamento
pericial em local onde teria ocorrido o furto (fls. 73/75).
A questão cinge-se à tipicidade e, a meu ver, assiste parcial à defesa.
Ao ser indagado acerca do motivo pelo qual ingressou na construção, o acusado respondeu, inicialmente, que
seria para fazer suas necessidades fisiológicas (fl.12), para depois sustentar, de forma inverossímil, que estava sendo
perseguido de um tal "Frederico" e precisou esconder-se (mídia de fl. 89).

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Se as divergências já não evidenciassem seu descompromisso com a verdade, o fato de ter arrancado as
estruturas de fixação de uma das telhas ligadas a uma coluna de alvenaria e, em seguida, ter amassado sua
estrutura, formando um vão para possibilitar seu ingresso (fls. 73/75), já inviabilizaria o acolhimento de qualquer uma
de suas justificativas.
Seja para fazer as necessidades fisiológicas, seja para esconder-se, não haveria motivos para rompimento de tais
obstáculos, aliás, nem haveria tempo hábil para isso. Ou escolheria local de mais fácil ingresso ou simplesmente
pularia um muro.
Não se pode olvidar ainda da existência de informações de que o acusado teria sido o responsável por outras
subtrações no local (fls. 02/03 e 04/05 e mídia de 89).
Do mesmo modo, não vinga a negativa de que não se valeu da faca para intimidar a vítima e o vigilante Dirley.
Ambos declararam, extrajudicialmente (fls. 08/09 e 10/11), que, ao notar a presença deles, Carlos Roberto exibiu-lhes
uma faca, a fim de intimidá-los.
Inexiste qualquer notícia de que Carlos Roberto e Dirley tivessem alguma prévia animosidade com o acusado a
ponto de querer prejudicá-lo gratuitamente.
Longe de estar isolada, a versão de ambas ajusta-se aos testemunhos dos militares responsáveis pela diligência.
Segundo o 2º Sargento Maureli Januário da Silva e o Cabo Alexandre Antônio Valadares Sarmento, ao chegarem
ao local, depararam com o acusado saindo da construção com a faca em um das mãos, momento em que foi dada
ordem para que a largasse (fls. 02/03 e 04/05 e mídia de 89). Cumprida a determinação, o artefato foi apreendido (fl.
15) e, submetido à perícia, constatou-se sua potencialidade lesiva (fl.72).
No caso, porém, não vejo como condená-lo pela prática de tentativa de roubo, impondo-se o reconhecimento de
furto simples em concurso material com ameaça.
A dinâmica delituosa foi a seguinte: o acusado ingressou no imóvel, o alarme disparou e, antes que se
apoderasse de qualquer bem, a vítima e Dirley chegaram ao local. Neste momento, sem exigir a entrega de algum
bem, o acusado lhes exibiu uma faca e tentou fugir do imóvel.
Não se trata, portanto, de roubo próprio, pois não houve subtração concomitante à grave ameaça e, ao mostrar a
arma, o acusado não exigiu a entrega de qualquer bem.
Também não há se falar em roubo impróprio, porque, quando intimidou a vítima e a testemunha, ele não estava
na posse de qualquer bem e, para configuração dessa figura típica, necessária a prévia detenção da res, conforme
leciona Cezar Roberto Bitencourt:
"A distinção fundamento entre o roubo próprio e o roubo impróprio reside, basicamente, no momento e na finalidade
do emprego da violência ou grave ameaça, ou seja, as diferenças são temporais e teleológica, além dos meios
utilizáveis, mais restritos no roubo impróprio. Assim, quando o sujeito pratica a violência (em sentido amplo) antes da
subtração ou durante ela, responde por roubo próprio; quando, porém, após apanhar a coisa alheira, emprega
violência ou grave ameaça, responde por roubo impróprio" (in: Tratado de Direito Penal: Parte Especial,v.3. 5.ed., p.
78/79).

Portanto, se não houve subtração, e a ameaça não foi dirigida com o propósito de alcançar a subtração, mas para
fugir, deve ser reconhecida a prática do delito de furto tentado em concurso material com a ameaça.
De forma semelhante, já decidiu esta Corte:
APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBO IMPRÓPRIO TENTADO - DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO SIMPLES
TENTADO E VIAS DE FATO - CABIMENTO - VIOLÊNCIA EMPREGADA PARA ASSEGURAR A FUGA SEM QUE
HOUVESSE SUBTRAÇÃO DE COISA MÓVEL ALHEIA - VIAS DE FATO - AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO -
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - NECESSIDADE - RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DE CONFISSÃO
ESPONTÂNEA PARA O DELITO DE FURTO - POSSIBILIDADE - MAIOR FRAÇÃO DE REDUÇÃO DA PENA EM
VIRTUDE DA TENTATIVA - INADMISSIBILIDADE.
- Desclassifica-se o roubo impróprio tentado para furto simples tentado e vias de fato, se o agente emprega a
violência apenas para assegurar a impunidade do delito, sem que houvesse subtraído ou estivesse na posse de coisa
alheia móvel.
- A contravenção penal de vias de fato é processada mediante ação penal pública condicionada à representação da
vítima.
- Deve ser reconhecida a atenuante da confissão espontânea quando o agente admite integralmente a prática delitiva
e esta é utilizada para embasar a condenação.
- Se o acusado não se distanciou da consumação do delito, percorrendo considerável parte do iter criminis, impossível
a redução da pena, em virtude do conatus, na proporção máxima prevista em lei. (Apelação Criminal
1.0153.18.005410-5/001, Relator(a): Des.(a) Furtado de Mendonça , 6ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
02/06/2020, publicação da súmula em 22/06/2020).

Embora não tenha havido representação formal, a vítima compareceu ao local dos fatos e, posteriormente, à
delegacia, deixando claro o propósito de ver o acusado processado por tal delito.

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Quanto ao furto, não vejo como reconhecer a forma qualificada, pois o rompimento de obstáculo não está narrado
na denúncia, tampouco foi objeto de oportuno aditamento.
Passo, então, a dosar-lhe a reprimenda.
Quanto ao delito de furto, a culpabilidade não destoa dos delitos desta espécie.
Os antecedentes o desfavorecem. A certidão de antecedentes criminais de fls. 101/118 aponta a existência de
nove condenações anteriores em seu desfavor, não atingidas pelo período depurador (008851-05.2013.8.13.0699,
003476-56.2016.8.13.0699, 0051832-82.2017.8.13.0699, 0162706-62.2002.8.13.0699, 0164926-33.2002.8.13.0699,
0695076-61.2007.8.13.0699, 064789-86.2015.8.13.0699, 053699-47.2016.8.13.0699, 1013689-85.2009.8.13.0699),
das quais cinco serão utilizadas nesta etapa e as demais, na fase seguinte.
Ausentes elementos que permitam juízo seguro acerca da personalidade.
A conduta social é desabonadora. A meu sentir, é falha a assertiva de que conduta social não é sinônimo de
antecedentes, pois a vida ante acta do agente insere-se em sua conduta como forma de agir/existir em sociedade,
positiva ou negativamente e, afinal, quem é dotado de periculosidade não é bem aceito na comunidade de bem.
Quanto às circunstâncias, o fato de ele ter amassado a estrutura externa do imóvel e de estar em cumprimento de
pena já as tornam prejudiciais.
Os motivos são os inerentes ao tipo, e o comportamento da vítima não contribuiu para a prática delitiva.
Assim, fixo a pena-base em 02 (dois) anos de reclusão e 20 (vinte) dias-multa.
Na segunda, pela multirreincidência, exaspero a reprimenda em 1/4, estabelecendo-a em 02 (dois) anos e 06
(seis) meses de reclusão e 25 (vinte e cinco) dias-multa. Não há atenuantes a serem sopesadas.
Na terceira fase, incide a causa de diminuição referente à tentativa.
O crime não estava sua fase inicial, pois, quando detido, o acusado já havia amassado a parte externa do imóvel
e ingressado em seu interior, faltando o apossamento da res, pelo que reduzo a reprimenda em metade. Não há se
cogitar no privilégio, diante da reincidência.
Assim, concretizo a reprimenda, pelo furto, em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão e 12 (doze) dias-multa.
Mantenho o regime prisional semiaberto, forte no artigo 33, § 2º, alínea 'b', e § 3º, ambos do Código Penal. A rigor,
a reincidência e os maus antecedentes autorizariam a imposição do regime fechado, mas, sem insurgência
ministerial, deixo de recrudescer o regime.
Em relação ao delito de ameaça, fixo a pena-base em 01 (um) mês e 10 (dez) dias de detenção, haja vista os
péssimos antecedentes. As demais vetoriais não o prejudicam.
Na segunda fase, elevo a pena em 1/4, pela multirreincidência, consolidando-a em 01 (um) mês e 20 (vinte) dias
de detenção.
Fixo o regime semiaberto para cumprimento da pena detentiva.
Incide a regra do concurso material, totalizando a pena do acusado em 01 (um) ano e 03 (três) meses de
reclusão, e 12 (doze) dias-multa, e 01 (um) mês e 20 (vinte) dias de detenção, em regime semiaberto.
O acusado não preenche os requisitos para ser beneficiado com permuta por restritivas de direitos ou com o
sursis.
Por esses fundamentos, mantenho denegado o direito de interpor eventuais recursos em liberdade.
Não obstante a condenação ao pagamento das custas decorra de imposição legal (artigo 804 do Código de
Processo Penal), devendo eventual requerimento ser deduzido ao juízo da execução, observo que a sentença não lhe
impôs tal penalidade, razão pela qual não há nada a prover quanto a tal aspecto.
Com tais considerações, dou parcial provimento ao recurso para desclassificar a conduta atribuída ao apelante
Carlos Roberto Melo para a prevista no artigo 155, caput, c/c artigo 14, inciso II, e artigo 147, todos do Código Penal,
aplicando-lhe a pena de 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão, e 12 (doze) dias-multa, e 01 (um) mês e 20
(vinte) dias de detenção, em regime semiaberto.
Comunicar, com urgência, o juízo a quo a fim de que proceda à retificação na guia de execução de pena do
apelante.
Custas, na forma da sentença.
É como voto.

DES. ANACLETO RODRIGUES (REVISOR)


Acompanho integralmente o em. Desembargador Relator para dar parcial provimento ao recurso, consignando tão
somente que, a meu ver, a conduta social não pode ser entendida como sinônimo de maus antecedentes.
A conduta social se refere ao comportamento do agente perante a sociedade e a interação com os seus pares, no
meio social, cultural e laboral, os quais, portanto, não são refletidos na Certidão de Antecedentes

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Criminais, mesmo porque não se pode ignorar a possibilidade de um criminoso contumaz possuir bom convívio no
meio em que vive.
Sobre o conceito de conduta social, leciona Luiz Régis Prado:

"Conduta social é o conjunto de relacionamentos (comportamentos); é a convivência do réu no meio familiar, social,
cultural e laboral. Nessa linha, explicita-se que a vida, como atividade vital, consiste em utilizar e transformar energia
que o ser vivo toma do mundo exterior para continuar vivendo, para existir como ser humano. Mas este aspecto
biológico não é o bastante. O homem é um ser social, cultural e histórico que interage com os seus semelhantes por
meio de processos psicológicos e sociais, recebe uma educação e desempenha um papel em sua comunidade. É a
sua coexistência livre em sociedade. Há que se levar em consideração que um indivíduo pode ter ou não uma
conduta social reprovável, independentemente de qualquer indicativo de ter ou não já sido responsabilizado
penalmente, tampouco questões que sejam constitutivas do tipo delitivo podem ser aventadas a ponto de contribuir
para a valoração negativa da conduta social do agente" (PRADO, Luiz Regis. Tratado de Direito Penal Brasileiro:
Parte Geral: volume 3, São Paulo: Editora RT, 2014. p. 59).

Assim, o simples fato de o acusado possuir vários registros por crimes anteriores não pode permitir a valoração
negativa tanto da conduta social, como dos antecedentes criminais, sob pena de se incorrer em bis in idem.
Dessa forma, ainda que o agente possua vasto histórico criminal, com várias condenações transitadas em julgado,
elas devem ser divididas para, na primeira fase da dosimetria, macular os antecedentes e, na segunda fase,
configurar a reincidência.
Registra-se, entretanto, a possibilidade de a pluralidade de condenações a serem valoradas como maus
antecedentes poder ensejar elevação mais expressiva da pena-base do que a cabível se o réu ostentasse apenas
uma condenação, como corolário do princípio da proporcionalidade.
Nesse sentido, é a jurisprudência do col. STJ e do ex. STF:

"HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. ART. 16, PARÁGRAFO ÚNICO, IV, DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO.
PRIMEIRA FASE DA DOSIMETRIA. CONDUTA SOCIAL, PERSONALIDADE. ANOTAÇÕES CRIMINAIS
DESMEMBRADAS. BIS IN IDEM. CONFISSÃO ESPONTÂNEA E REINCIDÊNCIA. COMPENSAÇÃO.
POSSIBILIDADE. WRIT CONCEDIDO DE OFÍCIO. 1. A revisão da dosimetria da pena no habeas corpus somente é
permitida nas hipóteses de falta de fundamentação concreta ou quando a sanção aplicada é notoriamente
desproporcional e irrazoável diante do crime cometido. 2. Condenações definitivas anteriores, não sopesadas para
fins de reincidência, não podem ser desmembradas para análise desfavorável de várias circunstâncias do art. 59 do
CP, sob pena de incorrer-se no inadmissível bis in idem, exasperando-se a pena básica do réu, na mesma etapa da
dosimetria e de forma cumulativa, apenas em virtude do histórico criminal do agente. 3. Tendo em vista que os
registros criminais do réu foram divididos para valorar negativamente duas circunstâncias judiciais (conduta social e
personalidade), ensejando a dupla exasperação da pena na mesma etapa da dosimetria, deve ser afastada uma das
vetoriais. [...] 6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para redimensionar em 3 anos e 4 meses
de reclusão e 13 dias-multa a pena definitiva do paciente" (HC n. 265.100/DF, Sexta Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, DJe de 25/2/2016).

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. DOSIMETRIA DA PENA.


CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO ART. 59 DO CP. EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÕES ANTERIORES COM
TRÂNSITO EM JULGADO. FUNDAMENTO PARA DESVALORAR OS MAUS ANTECEDENTES E A CONDUTA
SOCIAL. MOTIVAÇÃO INADEQUADA. 1. A circunstância judicial conduta social, prevista no art. 59 do Código Penal,
compreende o comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com outros
indivíduos. Vale dizer, os antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes criminais. São
vetores diversos, com regramentos próprios. Doutrina e jurisprudência. 2. Assim, revela-se inidônea a invocação de
condenações anteriores transitadas em julgado para considerar a conduta social desfavorável, sobretudo se verificado
que as ocorrências criminais foram utilizadas para exasperar a sanção em outros momentos da dosimetria. 3.
Recurso ordinário em habeas corpus provido" (RHC n. 130.132/MS, Segunda Turma, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 10/5/2016).

Portanto, no caso dos autos, os apontamentos na CAC do acusado permitem tão somente a maculação dos
antecedentes criminais na primeira fase da dosimetria e da reincidência na segunda fase, sendo necessária a
distinção entre a conduta social e a conduta criminal do inculpado.
Contudo, in casu, mesmo considerando favorável a conduta social do acusado, subsiste em desfavor dele os
antecedentes e as circunstâncias do delito, motivo pelo qual a pena-base restou bem dosada, de forma proporcional e
suficiente para prevenção e reprovação delitivas.

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Pontua-se que o acusado ostenta cinco condenações aptas a macular os antecedentes criminais (duas delas
foram utilizadas na segunda fase para fins de reincidência). Desse modo, essa circunstância judicial assume especial
relevância em relação às demais.
Assim, ainda que a conduta social deva ser considerada em favor do acusado, não há reparos a serem feitos nas
penas-base definidas pelo em. Des. Relator, em relação aos dois crimes, que restaram bem dosadas.
Sendo assim, as pensa devem ser mantidas tal como determinado no voto condutor, com o qual concordo
integralmente.

DES. MAURÍCIO PINTO FERREIRA


Acompanho o voto do eminente Desembargador Relator e a bem lançada ressalva do eminente Desembargador
Revisor.
É como voto.

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO"

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