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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca

do Município XX

Tício já qualificado nos autos de ação penal que lhe move o Promotor
de Justiça, vem, por intermédio de sua advogada que infra subscreve,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, irresignada com a sentença
condenatória de oito anos e seis meses de reclusão, interpor, tempestivamente
interpor tempestivamente
APELAÇÃO CRIMINAL

o que faz tempestivamente, com fundamento no artigo 593, I do


Código de Processo Penal.
Requer, assim, que após recebida, com as razões anexas, ouvida a
parte contrária, sejam os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado do xxxx, onde deverá ser processado o presente recurso e, ao final, provido.

Nestes termos,
Pede Deferimento.

Local, Data
Advogado – OAB

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DE XX

Recorrente: Tício

Recorrido: Ministério Público

Autos de origem n.:

RAZÕES DE APELAÇÃO

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara

Ínclitos julgadores

I - DOS FATOS
O recorrente foi denunciado pela suposta prática do crime de roubo
qualificado em decorrência do emprego de arma de fogo, assim o recorrente foi
condenado como incurso nas sanções do artigo 157, parágrafo segundo inciso I do
Código Penal Brasileiro – roubo majorado pelo emprego de arma – à pena de
reclusão de oito anos e seis meses, a ser cumprida, inicialmente, no regime
fechado.
Conforme o descrito nos autos, o recorrente, durante o Inquérito
Policial teria sido reconhecido pela vítima, através de um procedimento de
reconhecimento consubstanciado pela visão, através de um pequeno orifício, da
sala onde se encontrava o recorrente. Durante a instrução criminal, a vítima não
confirmou ter escutado disparos de arma de fogo, as testemunhas ouvidas não
foram capazes de confirmar se ouviram barulhos de tiro, muito embora todos
tenham afirmado que o autor do fato portava uma arma.
Não houve apreensão de qualquer arma e, também por isso, não
houve qualquer perícia. Os policiais ouvidos em juízo, afirmaram que após ouvirem
gritos de ‘pega ladrão’, saíram ao encalço do acusado.
A decisão condenatória, contudo, merece ser reformada, senão
vejamos.

II- DAS PRELIMINARES

a) inobservância do procedimento reconhecimento de pessoas, artigo 226,


II, CPP
Um ponto merecedor de análise por Vossa Excelência, é sobre a
respeito da produção de provas, e sobre a afronta direta ao artigo 226, do Código de
Processo Penal.
Não fora feito o procedimento de reconhecimento, as vitimas e nem as
testemunhas foram convidadas a fazer este procedimento que é essencial neste
procedimento de acusação. Não foi observado os procedimentos no artigo
supracitado, cujas as formalidades são garantias mínimas daquele que está sob a
mira da acusação.
Destaca-se inicialmente, a desobediência do disposto no artigo 226, do
Código Processo Penal, que impõe condições para o procedimento de
reconhecimento de pessoas:
Art. 226 – Quando houve necessidade de fazer-se o
reconhecimento de pessoas, proceder-se-á pela seguinte
forma:
I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será
convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
II – a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será
colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o
reconhecimento a aponta-la;
III – se houver razão para recear que a pessoa chamada para
o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência,
não diga a verdade em face da pessoa que deve ser
reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não
veja aquela;
IV – do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado,
subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder
ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

É salutar que a autoridade policial se comprometa com sua função


investigativa, respeitando as formalidades previstas na legislação e aplicação da lei

b) Consequente nulidade – art. 564, IV do CPP

Diante dos fatos, a vítima realizou a prática do reconhecimento


previsto no artigo 226 do CPP, dispondo das características do réu, entretanto, a
prática utilizada se torna irregular, pois o momento fático do crime de roubo podem
alterar cenários e gerar dúvidas a vítima, o que discorre de uma perigosa ferramenta
de incriminação, sabendo que não há provas suficientes as quais provém o delito
relatado.
Contudo, qualquer tipo de omissão vinda da prática de reconhecimento
leva a nulidade absoluta, como previsto no artigo 564, IV do CPP.

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


IV - Por omissão de formalidade que constitua elemento
essencial do ato.

Dessa forma, a omissão a formalidade que constitui o elemento do ato,


tendo em vista que, a arma de fogo que discorre no relato fático não foi encontrada
e muito menos houve testemunhas que pudessem confirmar o uso da mesma, o que
prevê a desobediência em conformidade com o princípio da instrumentalidade das
formas, considerando-se nula, o que não se configura prova idônea, portanto, o
reconhecimento falho se revela incapaz de permitir a condenação, pela regra
objetiva é oportuna a nulidade do ato alegado no respectivo recurso.

III - DO MÉRITO

a) Autoria não comprovada;

É valido ressaltar que não houveram exames periciais e provas


concretas para que se pudesse obter a comprovação da autoria de tal delito. Visto
que, ao ser avistado pelos policiais o Recorrente, sequer, estava em posse de arma
de fogo. Aduz a legislação a respeito art. 155, do CPP:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre


apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos
na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela
Lei nº 11.690, de 2008)
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das
pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)

Além do mais, vale observar, fora reconhecido por uma vítima que
sequer afirmou ter realmente o encontrado, naquela noite, em seu segundo
depoimento.
Em relação aos demais testemunhos prestados, ouviram-se tiros,
entretanto, era um local de grande amplitude os disparos poderiam ser oriundos de
outra localidade. Confundindo assim aqueles que teriam escutado os disparos de
arma de fogo.

b) Prova ilícita. Alternativamente, arma não apreendida e, por conseguinte,


não periciada.
c) Da nulidade do reconhecimento da vítima.
d) Desclassificação de roubo majorado para roubo/furto.

O recorrente é acusado do delito de tentativa de roubo com uso de


arma, todavia é notória a deficiência probatória, pois mesmo finda a fase de
instrução não restou provado, tampouco há nos autos apresentação de
materialidade de arma, haja vista a inexistente pericial realizada na arma, como
também não houve em momento alguma demonstração efetiva de uso de arma,
pois se os próprios policiais que realizaram a prisão em flagrante do recorrente,
quando dos atos preparatórios do delito não lograram êxito na apreensão da arma,
como também não foi juntada aos autos nada a este mérito, não pode ser uma
acusado em processo penal apenas por conjecturas, pois se revela falta de justa
causa e contrário aos princípios do direito penal, de modo que é injusto que
responda nas tenazes do diploma Art. 157, §2, I, mas sim aqueles preceituados no
Art. 155, Caput, do mesmo diploma legal, assim completando a aplicação da
proporcionalidade entre a aplicação da sanção e do fato cometido, pois sequer
houve ameaça ou violência contra a vítima.

E assim leciona (Nucci,2020) sobre o exposto acima:


" Significa que as penas devem
ser harmônicas à gravidade da infração penal cometida, não
tendo cabimento o exagero, nem tampouco a extrema
liberdade na cominação das penas nos tipos penais
incriminadores."
e) Absolvição, artigo 386, V do CPP.

De acordo com os fatos narrados não foram encontradas provas


concretas que o apelante cometeu o delito, somente a vítima alegou ter reconhecido
o apelante devido a ter o visto por um pequeno orifício de uma porta, e os policiais
como afirmaram em juízo que saíram em perseguição após terem ouvindo "pega
ladrão" de pessoas que estavam pelas ruas, sem mesmo terem certeza de que o
mesmo era quem tinha cometido o delito.
E ainda assim o apelante foi preso, processado e condenado pelo juízo
a quo,
Infringindo assim o princípio da presunção da inocência, já que não houve provas
suficientes para demonstrar que o mesmo foi o autor da infração penal.
A esse respeito trata o Código de Processo Penal em seu art. 386,
incisos V, e
VII, vejamos:
" Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na
parte dispositiva, desde que reconheça.
V - Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração
penal;
VII - não existir prova suficiente para a condenação."
Sobre esse tema, o doutrinador Fernando da Costa Tourinho Filho diz
que:
"Para que o Juiz possa proferir um decreto condenatório é
preciso que haja prova da materialidade delitiva e da autoria.
Na dúvida, a absolvição se impõe.”
A legislação deixa de forma bem clara que em caso de não existir
provas
Suficientes da infração penal, para que seja feita a condenação, deve
ser observado o princípio da presunção de inocência, visto que não se encontrou
nenhum meio que provasse a culpabilidade do apelante.
Diante disto, requer a reforma da sentença para que seja decretada
absolvição do apelante, pois não foram adquiridas provas de que o mesmo foi o
autor da infração penal, visto também que não houve nenhuma perícia. Agindo o
juiz de forma contrária ao proferir uma sentença condenatória, indo contra o art.
386, incisos V e VII, do CPP.
IV - DOS PEDIDOS

Ante a todo o exposto requer-se:

a) Seja desentranhada do processo o reconhecimento do acusado, pois


desconforme à lei processual - art. 564, IV do CPP, bem como, tornadas
absolutamente nulas as provas derivadas do reconhecimento ilegal - art. 157,
§1 do CPP, fazendo cessar toda interpretação em desfavor ao acusado;
b) Seja afastada a imputação ao acusado de uso de arma de fogo, haja vista
não restou provada e induvidosa esta conduta através de obrigatório exame
de corpo de delito, devendo fazer cessar toda interpretação em desfavor ao
acusado, pois inobservado rito processual penal obrigatório, e a decisão em
sentença não ser suficiente para imputar qualquer condenação, art. 386, II do
CP;
c) Seja afastada qualquer imputação criminosa do acusado, haja vista não
restou provado nos autos das condutas de furto ou roubo, devendo ser
absolvido o acusado em face do artigo 386, VII do CPP;
d) Seja afastada a imputação de violência ou grave ameaça da subtração
operada pelo apelado, condição não provada nos autos, devendo ser
afastada a imputação do crime de roubo, em face do art. 386, VII do CPP;
e) Caso subsista alguma acusação, que seja-lhe seja imputado a crime de furto
qualificado do artigo 155 do CP;
f) Caso subsista alguma condenação sendo-lhe imputado crime de furto, seja o
mesmo cominado com a pena-base no mínimo legal;
g) Caso o apelado seja condenado ao crime de furto, ou a pena reclusiva
inferior a 04 anos, fazê-lo cumprir em regime aberto, desde o início, em
conformidade com o art. 33 § 2, c do CP.

Por ser medida de Justiça,

Pede Deferimento.
Local, Data

Advogado, OAB

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