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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL E DO

TRIBUNAL DO JÚRI DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DO NÚCLEO


BANDEIRANTE/DF

Processos no 0700368-13.2021.8.07.0017

Acusado: JOSIAS ALVES BARBOSA

JOSIAS ALVES BARBOSA, devidamente qualificado nos autos da Ação Penal


que lhe move o Ministério Público, processo sob o número em epígrafe, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, através do Advogado que
a esta subscreve, nos termos do artigo 403, § 3º, do Código de Processo
Penal (CPP), apresentar suas

ALEGAÇÕES FINAIS
Em virtude dos fatos e fundamentos jurídicos a seguir:

I – DOS FATOS

No dia 20 de janeiro de 2021, compareceu a essa Delegacia de Polícia


JURANDY RIBEIRO DE ANDRADES, Policial Militar, conduzindo JOSIAS
ALVES BARBOSA sob a imputação da prática do crime de FURTO, cuja
infração está descrita no Art. 155, caput, do CPB.

O condutor foi ouvido e relatou, no que importa que: “informados via COPOM
acerca de um furto de um veículo PARATI, de cor branca e placa JNW1H39/DF,
que havia sido furtado na data de hoje no núcleo bandeirantes e estava sendo
acompanhado por um popular, até o Riacho Fundo, tendo o perdido de vista no
balão próximo ao Recanto das Emas; Passaram então a fazer diligências nas
proximidades do local indicado, quando então avistaram ao veículo acima
descrito na altura da QN05C, Conjunto 07, Riacho Fundo II/DF; Ao perceber a
presença da PMDF, o condutor do veículo empreendeu fuga, vindo a parar na
QN 05C, Conjunto 09, em frente ao Lote 02, do Riacho Fundo; O veículo era
conduzido pela pessoa que foi identificada como sendo JOSIAS ALVES
BARBOSA; Em revista no interior do veículo foi encontrada um cigarro de
maconha; JOSIAS foi conduzido até esta Delegacia, onde conformou que havia
furtado o veículo, alegando que iria dar apenas uma volta”.

A primeira testemunha, SAMUEL FONSECA DO VALLE, genitor do proprietário


do veículo furtado, tendo tomando conhecimento do fato, e estando próximo ao
local onde teria ocorrido o furto, passou a observar os veículos que trafegavam
pelo local, quando avistou um veículo PARATI, com as mesmas características
do veículo pertencente ao seu filho FELIPE trafegando pela EPNB, próximo à
passarela, na região próxima ao Lar do Velhinhos; Ao se aproximar do veículo
SAMUEL o reconheceu como sendo de fato o carro do seu filho. A testemunha
continuou acompanhando o veículo até o Riacho Fundo até que o perdeu de
vista quando acessou a rodovia.
Por volta das 13h30 horas SAMUEL tomou conhecimento de que o veículo
havia sido localizado no Riacho Fundo II, quando então deslocou-se até esta
Central de Flagrantes, onde reconheceu a pessoa de JOSIAS ALVES
BARBOSA como sendo aquele que estava conduzindo o veículo placa
JNW1H39/DF pelas ruas do núcleo bandeirantes e seguiu pela BR.O autuado
admitiu ter subtraído o veículo, sob a alegação de que o encontrou com as
portas abertas e a chave na ignição. Afirmou ter pego o veículo e ter saído
andando com ele, quando então foi abordado por uma guarnição da PMDF.

II – DO DIREITO
a) Da Nulidade dos Reconhecimentos Realizados em Sede Administrativa. Da
violação ao artigo 226, do Código de Processo Penal.
1 – Após análise dos autos, verifica-se que estamos diante de hipótese de
declaração de nulidade dos reconhecimentos pessoais produzidos em sede
inquisitiva, eis que não atenderam aos ditames do artigo 226, do CPP,
devendo-se, por corolário, desentranhá-los do processo, conforme
mandamento irrevogável do artigo 157, caput, do CPP.

2 – Bem sabido que, para que uma prova seja considerada legal, ela deve ser
produzida de acordo com o ordenamento jurídico vigente, a fim de que o
magistrado possa proceder à sua avaliação e valoração dentro do cotejo
probatório sob o manto do livre convencimento motivado (artigo 155, caput, do
CPP).
3 – O reconhecimento pessoal, de coisas (não previsto no ordenamento
processual penal [meio de prova anômala]), para surtir efeitos endo
processuais, deve estrita obediência à legalidade, neste caso, ser realizado sob
o procedimento previsto no artigo 226, do CPP, que funciona da seguinte
forma:

Artigo 226, caput, CPP – Quando houver necessidade de fazer-se o


reconhecimento de pessoa [ou coisa], proceder-se-á da seguinte forma:
Inciso I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada
a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Inciso II – a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se
possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança,
convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
Inciso III – Se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou

outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser
reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;

4 – Vê-se claramente da leitura acima, quais os requisitos que revestem de


legalidade o ato de reconhecimento: a) descrição, por parte do reconhecedor,
da pessoa (coisa) a ser reconhecida; b) colocação da pessoa a ser
reconhecida com outras que com ela tiveram semelhança e; c) lavratura de
auto pormenorizado.
5 – Ocorre que são vários os vícios detectados no presente processo quanto
aos reconhecimentos onde o próprio policial não reconheceu o acusado na
audiência e a própria vítima não reconheceu o senhor Josias na audiência

6 – Nota-se claramente, pelos termos de reconhecimento acima apontados,


que estes não se mostraram estritamente obedientes ao procedimento previsto
na norma.
7 – Este proceder demonstra caráter indutivo, eis que inibe justamente a
segurança que reclama o ato de reconhecimento pessoal. Veja-se que o inciso
II do artigo 226 ordena que, quando possível, a pessoa a ser reconhecida será
colocada ao lado de outras que com ela tiverem semelhança. O espirito deste
comando é justamente o de atribuir maior carga valorativa ao reconhecimento,
que reclama do reconhecedor concentração e a utilização de características
específicas para individualizar a pessoa que se pretende reconhecer.
8 – Nesta senda, simetricamente, no caso de reconhecimento fotográfico,
imperioso que exista nos autos as fotos que foram mostradas aos
reconhecedores a fim de que este juízo possa aferir se houve ou não indução,
ainda que involuntária, durante o procedimento.
Não há como saber se foram mostradas às vítimas fotografias de pessoas
semelhantes ou não ao acusado, com características físicas e faciais similares,
altura, cor de cabelo.

9 – Assim, mormente no reconhecimento dever-se-ia a autoridade policial


proceder com estrita obediência ao passo a passo reclamado ao ato, até
porque a vítima , reclamando maior cautela do investigador no procedimento,
o que no caso dos autos, por certo, fora negligenciado. O inquérito para apurar
um crime de roubo não pode ser presidido de tal maneira.
10 – Conclui-se, diante do exposto, que os procedimentos de reconhecimento
fotográfico realizados pelas já citadas vítimas são absolutamente nulos. Não
servem de prova no presente processo. Trata-se de procedimento indutivo e
em total desacordo com as comezinhas regras processuais previstas no
ordenamento processual penal pátrio. É prova ilegal e deve ser desentranhada
do processo.
11 – Sobre a prova ilícita, reza a Constituição Federal, em seu artigo 5º,
inciso LVI, que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
meio ilícitos”. O artigo 157, caput, do CPP, também esclarece: “são
inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas
ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legais”.
12 – Reza também o artigo 564, inciso IV, do CPP que ocorrerá nulidade
quando se constatar omissão de formalidade que constitua elemento essencial
do ato. No presente caso a formalidade essencial apontada é a estrita
observância dos requisitos do artigo 226, do CPP, o que, conforme
sobejamente demonstrado, não ocorreu.

13 – Portanto, ante as razões expostas, pela inobservância do procedimento


mandamental do artigo 226, do CPP, requer a este r. Juízo que se digne em
declarar a nulidade dos reconhecimentos realizados pela vítimas,
SAMUEL FONSECA DO VALLE e FELIPE determinando o seu imediato
desentranhamento dos autos, tudo com fundamento e sob pena de violação do
artigo 5º, inciso LVI, da CF/88, e artigo 564, inciso IV, c/c artigo 226 e
157, caput, todos do CPP.

II – DO DIREITO
Da Absolvição do acusado (art. 386, V e VII, CPP). Da aplicação da
regra in dubio pro reo/favor rei.

14 – Após estudo acurado do processo, verifica-se que o acusado merece ser


absolvido, com base nas disposições constantes do artigo 386, incisos V e VII,
do Código de Processo Penal, tendo em vista que não há provas suficientes
aptas a demonstrar que este teria participado da empreitada criminosa.

15 – Em que pese a existência de reconhecimentos realizado em sede


administrativa pelas vítimas SAMUEL E FELIPE verifica-se que estes não
podem ser utilizados como meio apto a fornecer segurança ao julgador sobre
a autoria, tendo em vista que não gozam de força probatória autônoma e que
ficou em duvida sobre o acusado sem mero reconhecimento .

1.1 - Nulidade do auto de avaliação aos peritos se aplicam os impedimentos


previstos no artigo 252 mais os previstos no artigo 279 do CPP. De sorte que
policiais civis não podem atuar como peritos, tenham ou não exercido funções
no inquérito policial, estejam ou não subordinados à autoridade policial que o
preside. A nulidade declarada do auto de avaliação indireta, no entanto, não
contamina o feito, apenas impede a sua utilização como meio de prova.

1.2 Nulidade do reconhecimento pelo princípio da liberdade dos meios de


prova, o reconhecimento informal tem valor probante, ainda que menos, e
assim ocorre também com o reconhecimento, o qual não pode ser
desconsiderado. Todavia, este reclama alguma corroboração na restante
prova, do que não se dispõe.
(...)

- A produção de provas na fase inquisitorial, deve observar com rigor as


formalidades legais tendentes a emprestar-lhe maior segurança, sob pena de
completa desqualificação de sua capacidade probatória.

16 – Além dos parcos reconhecimentos (que por óbvio, não gozam de força
probatória autônoma), nada mais há nos autos que demande certeza sobre a
autoria do acusado no crime sub judice.
17 – A versão produzida em juízo pela vítima Felipe não traz certeza absoluta
acerca da participação do acusado na empreitada criminosa. Durante seu
depoimento, não há, em momento algum, declaração precisa e indubitável que
comprometa o acusado. A vítima narrou a dinâmica do evento e, por
conseguinte, explicou como fora feito o “reconhecimento” na delegacia.
18 – A vítima Samuel e Felipe, em juízo, asseverou ter reconhecido o
assaltante cabelo grisalho e com idade entre 40 a 50 anos, que era JOSIAS ,
e não tendo certeza absoluta que este teria lhe furtado seu veiculo .
19– Assim, o Ministério público não se atentou para as disposições de
Nosso Código de Processo Penal, especialmente aos comandos constantes do
artigo 386, inciso IV, que determina seja decretada a absolvição do réu,
desde que o Juiz reconheça (V) não existir prova de ter o réu concorrido
para a infração penal.
20 - Afastou-se a Insigne Promotora de Justiça da certeza imanente ao
julgamento penal, ou seja, a verdade real, já que na justiça penal tudo deve ser
claro e preciso, como uma equação algébrica, de onde, na falta de, via de
consequência, impõe-se a absolvição do réu.
21 – Assim, a absolvição é medida que se impõe, nos termos do artigo 386,
incisos V e VII, do CPP, por ser medida mais adequada ao caso concreto.

III – SUBSIDIARIAMENTE
a) Dos cálculos de Pena. Da fixação de regime inicial. Do Sursis da pena.
Da pena restritiva de direitos. Do valor mínimo para reparação de danos.
25– Subsidiariamente, caso este juízo entenda pela condenação do acusado,
a defesa requesta pela aplicação da pena no mínimo legal em favor de todos,
tendo em vista que as condições pessoais lhes são favoráveis, bem como as
circunstâncias do delito são normais à espécie, sob pena de violação aos
artigos 59 e 68, ambos do CP, bem como aos princípios da individualização,
proporcionalidade e razoabilidade da pena, previstos no artigo 5º,
inciso XLVI, CF/88.

22– Outrossim, requesta-se pela fixação de regime inicial condizente com as


regras contidas no artigo 33, do Código Penal. Ainda, pugna pela aplicação do
instituto de suspensão condicional da pena, previsto no artigo 77, do CP, ou
que seja a pena privativa de liberdade substituída pela restritiva de direitos,
tendo em vista a disposição contida no artigo 44, do CP.

23 – Quanto ao disposto no artigo 387, inciso IV, do CPP, requer a defesa a


não fixação de valor mínimo para reparação de danos, tendo em vista que não
houve pedido devidamente confeccionado pela acusação quando do
oferecimento da Denúncia, sob pena de violação ao princípio da correlação,
bem como contraditório e ampla defesa, expendidos no artigo 5º,
inciso LIV e LV, da CF/88.

IV– DOS PEDIDOS


Ante o exposto, requer, preliminarmente, seja declarada a nulidade dos
reconhecimentos realizados no correr da persecutio, desentranhando-os do
processo, bem como, no mérito, seja improvida a pretensão Ministerial, em
sede de alegações finais, e desta forma seja decretada a ABSOLVIÇÃO do
acusado JOSIAS, eis que não há prova nos autos de ter o mesmo
concorrido para a infração penal (artigo 386, incisos V e VII, CPP).
Subsidiariamente, requesta-se pela fixação de pena no mínimo legal, bem
como pela fixação de regime inicial de cumprimento de pena na modalidade
“semiaberto”, além de concessão do sursis da pena ou substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. Quanto ao valor mínimo para
reparação de danos, pugna-se pela sua não fixação, em razão de ausência de
pedido ministerial neste sentido.
Nestes termos,

Pede e espera deferimento.

OAB n° UF
BRASILIA( dia), (mês),(Ano)

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