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Prática Forense Penal I - 2024

1ª peça prática – Relaxamento de prisão em flagrante

Identificação da peça: trata-se de uma prisão em flagrante, que resultou


na lavratura de Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD), onde se pode
verificar a ocorrência de ilegalidades, seja no aspecto material como no
formal.

Estrutura da peça:

 Endereçamento
 Preâmbulo: parte, qualificação, representação por advogado,
fundamento legal, nome da peça
 Fatos
 Direito
 Pedido
 Fecho final (autenticação final)

Caso 01:

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ... Vara Criminal da Comarca


de Lapinha/MG.

Marcos, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), RG n.º...,


inscrito no CPF sob o n.º..., residente e domiciliado na: (endereço completo);
por seu advogado infra-assinado (procuração anexa) vem, à presença de
Vossa Excelência, requerer

RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE,

com fundamento no art. 310, I, do Código de Processo Penal c/c art. 5º, LXV,
da Constituição da República; pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos:

Dos Fatos

Em data de 01 de fevereiro de 2024, Marcos, ora requerente,


conduzindo veículo automotor, veio a colidir com outro automóvel que
trafegava em sua frente. Em decorrência da colisão, Argemiro, passageiro de
tal carro, sofreu uma fratura na perna direita. Marcos acionou a Polícia Militar e
o SAMU, mantendo-se no local.
Em decorrência dos fatos, foi Marcos autuado em flagrante
pela prática do crime previsto no art. 303, da Lei n.º 9.503/97.
Importa ressaltar que o auto de prisão em flagrante foi lavrado
sem observância das formalidades legais.

Do Direito

Conforme se verifica no caso em questão, a prisão em


flagrante é visivelmente ilegal, material e formalmente, senão vejamos:
Primeiramente, deve ser considerado o crime em que o
requerente foi incurso, bem como a pena a ele cominada: 6 meses a 2 anos de
detenção. Assim, tratando-se de crime de menor potencial ofensivo na forma
da lei, segundo o disposto no art. 61 da Lei nº 9.099/95, incabível a lavratura de
APFD (Auto de Prisão em Flagrante Delito), devendo ter sido lavrado o
competente Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), conforme art. 69, da
mencionada lei. Destaca-se ainda, que não se encontram presentes as
exceções do art. 291, da Lei n.º 9.503/97.
Ainda quanto à análise do flagrante em seu aspecto material,
outra ilegalidade se faz presente.
O requerente se envolveu em um acidente de trânsito,
resultando em vítima. Entretanto, prontamente, procurou prestar integral
socorro e assistência à vítima, acionando a Polícia Militar e o Samu, se
mantendo no local, por todo o tempo.
A Lei n.º 9.503/97, em seu art. 301, dispõe expressamente que
ao condutor do veículo, nos casos de acidente de trânsito do qual resulte
vítima, quando presta pronto e integral socorro, não há que se impor prisão em
flagrante, sendo ela vedada, sequer se impondo fiança.
Se não bastasse haver ilegalidade material, há que se ressaltar
que não foram observadas as formalidades previstas, incorrendo também em
ilegalidade formal do flagrante.
Por ocasião da lavratura do auto de prisão em flagrante,
nenhuma pessoa foi comunicada da prisão do requerente, ou seja, algum
familiar ou outra pessoa por ele indicada, ou ainda seu advogado, limitando-se
ao envio de cópia ao Juiz de Direito, em nítida afronta ao art. 5º, incisos LXII e
LXIII, parte final, da Constituição da República, bem como o art. 306, caput, do
Código de Processo Penal.
Caso o requerente não pretendesse indicar um advogado, se
imporia a comunicação de sua prisão à Defensoria Pública, nos termos do § 1º,
do art. 306, do Código de Processo Penal.
De igual forma, não foi entregue ao requerente nota de culpa,
documento que indica o artigo em que se encontra incurso, bem como o motivo
de sua prisão, além do nome dos condutores e das testemunhas.
Importa ressaltar que a nota de culpa deve ser expedida no
prazo de 24 horas contadas do momento da captura, conforme dispõe o art.
306, § 2º, do Código de Processo Penal, bem como o art. 5º, LXIV, da
Constituição da República.
Sem a pretensão de ingressar no mérito, importa aqui ressaltar
a impropriedade da prisão em flagrante, devendo ser decretado seu
relaxamento, colocando-se o requerente em liberdade.
Do Pedido

Diante do exposto, requer à Vossa Excelência, reconhecida a


ilegalidade e, após ouvido o ilustre representante do Ministério Público, o
relaxamento da prisão, expedindo-se o competente alvará de soltura,
permitindo ao requerente ser posto em liberdade.

Nestes termos,
Pede Deferimento.

Local, data.

Advogado
OAB nº

(ou... Diante do exposto, requer à Vossa Excelência, com base no art. 5º. LXV
da Constituição da República c/c art. 310, I, do Código de Processo Penal e
diante das ilegalidades mencionadas, o imediato relaxamento da prisão em
flagrante imposta ao requerente.
Termos em que, ouvido o representante do Ministério Público e expedindo-se o
alvará de soltura, pede deferimento).

Caso 02:

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca


de Lapinha/MG.

Lucio, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), RG n.º...,


inscrito no CPF sob o n.º..., residente e domiciliado na (endereço completo);
por seu advogado infra-assinado (procuração anexa) vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, requerer

RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE,

com fundamento no art. 310, I, do Código de Processo Penal c/c art. 5º, inciso
LXV, da Constituição da República; pelos motivos de fato e de direito que
passa a aduzir:

Dos Fatos

Conforme consta no auto de prisão em flagrante, em data de


01 de fevereiro de 2024, Lucio, ora requerente, foi preso sob a alegação de ter
incorrido na prática descrita no artigo 33 da Lei n.º 11.343/2006.
O crime teria ocorrido, porque o policial Henrique, fazendo-se
passar por um usuário e, tendo-lhe oferecido o dobro do valor usualmente
cobrado pela substância, induziu o ora requerente a vender-lhe a droga.
Foi ele conduzido à Delegacia de Polícia, sendo que na
lavratura do auto de prisão em flagrante não foram observadas as formalidades
legais.

Do Direito

Conforme se verifica no caso em questão, a prisão em


flagrante é visivelmente ilegal, material e formalmente.
No tocante ao aspecto material, ficou evidenciado o flagrante
preparado ou provocado. Ora, restou claro que o requerente não trazia
consigo, não portava, não guardava e muito menos possuía em depósito
qualquer substância entorpecente, nem tampouco havia elementos suficientes
que comprovassem, de forma razoável, conduta criminal preexistente, não se
amoldando à conduta disposta no parágrafo IV, do art. 33 da Lei nº
11.343/2006.
Qualquer conduta que porventura tenha sido praticada foi
motivada pelo policial, então agente provocador, incidindo na hipótese de
flagrante preparado. O flagrante preparado ocorre quando alguém, de forma
insidiosa, provoca o agente, levando-o a praticar um crime para que, durante
os atos executórios, efetue a prisão, impedindo que o crime seja consumado.
Assim, sem a interferência do agente provocador, tal prática não teria ocorrido.
Esse é o entendimento da Súmula 145 do STF, que sustenta
que a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação,
configurando a hipótese de crime impossível, previsto no art. 17 do Código
Penal.
Se não bastasse a preparação do flagrante, o que por si só
seria suficiente para caracterizar a ilegalidade havida, também não foram
observadas as formalidades previstas, incorrendo também em ilegalidade
formal do flagrante.
Importa ressaltar que o delegado, por ocasião do interrogatório,
não informou ao requerente que ele poderia permanecer em silêncio, não
permitiu que fosse acompanhado por advogado, mesmo tendo ele solicitado a
presença de seu defensor, quando afirmou não ser cabível defesa técnica
nesse momento. Fica assim caracterizado o cerceamento de direitos
constitucionalmente garantidos, ao lhe ser negado o direito a prestar
depoimento na presença e acompanhado de seu advogado, conforme
preceitua o art. 7º, XXI, da Lei n.º 8.906/94 (Estatuto da OAB) e a Constituição
da República, no art. 5º, LXIII. Ainda que não se reconheça a ampla defesa ao
procedimento investigatório, não se pode negar ao requerente o direito a ser
acompanhado por seu advogado.
De igual forma, não foi entregue ao requerente nota de culpa,
documento que indica o artigo em que se encontra incurso, bem como o motivo
de sua prisão, além do nome dos condutores e das testemunhas. Importa
ressaltar que a nota de culpa deve ser expedida no prazo de 24 horas contadas
do momento da captura, conforme dispõe o art. 306, § 2º, do Código de
Processo Penal, bem como o art. 5º, LXIV, da Constituição da República.
Sem a pretensão de ingressar no mérito, importa aqui ressaltar
à Vossa Excelência a impropriedade da prisão em flagrante, devendo ser
decretado seu relaxamento, colocando-se o requerente em liberdade.
Do Pedido

Diante do exposto, requer à Vossa Excelência, afastada a


hipótese de flagrância e, após ouvido o ilustre representante do Ministério
Público, determinar o relaxamento da prisão, expedindo-se o competente
alvará de soltura, permitindo ao requerente ser posto em liberdade.

Nestes termos,
Pede Deferimento.

Local, data.
Advogado
OAB nº

(ou... Diante do exposto, requer à Vossa Excelência, com base no art. 5º. LXV
da Constituição da República c/c art. 310, I, do Código de Processo Penal,
diante das ilegalidades mencionadas, o imediato relaxamento da prisão em
flagrante imposta ao requerente.
Termos em que, ouvido o representante do Ministério Público e expedindo-se o
alvará de soltura, pede deferimento).

Caso 03:

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ... Vara Criminal da Comarca


de .../UF.

Cesar Augusto, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), RG


nº..., inscrito no CPF sob o nº..., residente e domiciliado na: (endereço
completo); por seu advogado infra-assinado (procuração anexa); vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 310, I, do
Código de Processo Penal c/c art. 5º, inciso LXV, da Constituição da
República, requerer

RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE,

pelos motivos de fato e de direito que passa a aduzir:

Dos Fatos

O requerente foi preso em flagrante delito, em data de 01 de


fevereiro de 2024, sob a alegação de estar conduzindo seu veículo, após ter
ingerido bebida alcóolica, incorrendo assim, em tese, na conduta prevista no
art. 306, da Lei nº 9.503/1997.
Ao ser abordado por policiais militares, foi o requerente
obrigado a se submeter ao teste de alcoolemia pelo etilômetro. Diante do valor
apurado, foi lhe dada voz de prisão, sendo conduzido à Unidade de Polícia
Civil.
Já na Unidade Policial, enquanto aguardava a lavratura do auto
de prisão em flagrante, não lhe foi permitido comunicar-se com seu advogado,
bem como informar seus familiares sobre o ocorrido.
Decorridos três dias de sua prisão, o requerente ainda se
encontra detido na Delegacia de Polícia, sendo certo que não foram
comunicadas as autoridades competentes conforme disposição legal.

Do Direito

É visível a ilegalidade que contamina referente flagrante, senão


vejamos:
No momento da abordagem, os policiais militares, entendendo
que o requerente apresentava sinais de ingestão de bebida alcóolica, o
impeliram a submeter-se ao teste de alcoolemia, numa nítida afronta ao
disposto no art. 5º, inciso LXIII da Constituição da República/88, c/c com o art.
8º, 2, g, do Decreto 678/92 (Pacto de São José da Costa Rica), ou seja,
desconsiderando que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo ou
seja, se autoincriminar, (nemo tenetur se detegere). Fundamental que se
prevaleça sempre a presunção de inocência, nos termos do art. 5º, LVII, da
CR/88.
Importa ainda ressaltar que, assim agindo, restou cristalina a
ilicitude da prova obtida, considerando o disposto no art. 5º, LVI da
Constituição da República/88 c/c art. 157, do Código de Processo Penal. Desta
forma, ao violar o direito a não autoincriminação compulsória, aliado à ilicitude
na obtenção da prova, restou caracterizada a ilegalidade. Por óbvio,
considerando ser ilícita a prova, que deverá ser desentranhada, inexiste prova
da materialidade do delito.
Se tal situação, por si só, não bastasse para ensejar a
ilegalidade do flagrante, continuaram a ocorrer afrontas às garantias
fundamentais do requerente.
Já na Unidade Policial, lhe foi negado que entrasse em contato
com seu advogado, cujo nome foi devidamente indicado, bem como que
fossem avisados seus familiares sobre o fato ocorrido, violando assim, seu
direito à comunicação, nos termos do art. 5º, inciso LXII, da Constituição da
República/88 e art. 7º, III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, bem
como o art. 8º, 2, d, do Decreto 678/92.
Em continuidade às ilegalidades havidas, a prisão em flagrante,
mesmo após três dias da lavratura do competente auto, não foi comunicada à
Vossa Excelência, ao representante do Ministério Público, bem como à
Defensoria Pública, em desacordo com o prazo de 24 horas estabelecido no
art. 306, caput e § 1º do Código de Processo Penal, c/c o art. 5º, inciso LXII, da
Constituição da República/88.
Sem pretensão de adentrar o mérito, que será oportunamente
discutido, mas limitando-se às nítidas afrontas às garantias fundamentais, pela
não observância dos ditames legais na lavratura do auto de prisão em
flagrante, busca-se ressaltar à Vossa Excelência sua impropriedade,
merecendo ser decretado o seu relaxamento, colocando-se o requerente em
liberdade.

Pedido subsidiário: válido para todas as peças


Desde logo, por cautela, assinala-se não haver motivo algum
para a decretação da prisão preventiva, uma vez que ausentes os requisitos do
art. 312 do Código de Processo Penal, bem como levando em consideração o
art. 313 do Código de Processo Penal, quanto à pena máxima cominada ao
delito.
Ademais, considerando o disposto na Lei n.º 12.403/11,
quando a manutenção da prisão se tornou exceção, requer-se à Vossa
Excelência o arbitramento da fiança, visto ser ela admissível no caso em
questão.
O indiciado é primário, não registra antecedentes, tem
endereço e emprego fixos e não deu mostra de que pretenda fugir à aplicação
da lei penal ou que possa perturbar o correto trâmite da ação penal.

Do Pedido

Ante o exposto, requer à Vossa Excelência, demonstrada a


ilegalidade havida, determinar o relaxamento da prisão, colocando-se o
requerente em liberdade, nos termos dos supracitados artigos (ou ainda, nos
termos do art. 310, I, do Código de Processo Penal, c/c art. 5º, LXV, da
Constituição da República), que se compromete a comparecer a todos os atos
processuais, quando intimado.
Assim, que seja expedido o competente alvará de soltura,
ouvido o ilustre representante do Ministério Público.

Nestes Termos,
Pede deferimento.

Local, data.

Advogado
OAB nº

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