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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...

VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE ... ESTADO DO ....

José Alves, (nacionalidade), (estado civil), (profissão), nascido em ..., CPF nº:
..., portador da cédula de identidade nº: ..., residente e domiciliado na ..., por
seu advogado que a esta subscreve (procuração em anexo) com escritório
profissional situado à ..., onde recebe intimações e notificações, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, requerer o
RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE, com fulcro no artigo 5º,
inciso LXV da Constituição Federal e no artigo 310, I, do Código de Processo
Penal, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

I. DOS FATOS

No dia 10 de julho de 2017, o requerente após ingerir algumas taças de vinho,


adentrou em seu automóvel e, aproveitando-se de que a estrada que
tangencia sua propriedade estava totalmente deserta, resolveu dar uma volta.
Após percorrer aproximadamente dois quilômetros pela estrada, foi
surpreendido e abordado por uma guarnição da Policia Militar, que fazia
ronda no local buscando apreender um foragido do presídio da localidade.

Procedendo-se à abordagem de Jose Alves, o Policial Militar requereu que ele


descesse do automóvel e incisivamente o compeliu para que realizasse o
teste de alcoolemia mediante abuso de poder. Após ser compelido a realizar o
teste, os Policiais o conduziram à Unidade de Policia Judiciária onde foi
lavrado o Auto de Prisão em Flagrante Delito pela prática do crime previsto no
art. 306 da Lei 9.503/1997, embasando o fato, na prova produzida contra a
sua vontade.

Após lavrado o Auto de Prisão em Flagrante e cerceada à liberdade do


requerente sem motivo palpável, pois, conforme se verifica ele não causava
nenhum perigo de dano ou mesmo perigo à sua incolumidade física, uma vez
que transitava em uma estrada que tangencia sua propriedade rural e
totalmente deserta, tem-se ainda que, há dois dias encarcerado na Delegacia
de Polícia, a autoridade policial não permite que o requerente se comunique
com seu advogado e nem com seus familiares, e também asseverou que não
comunicará o fato ao juízo competente e tampouco a Defensoria Pública, fato
que evidencia a ilegalidade da prisão.

II. DO DIREITO:

Conforme pode-se perceber pela narrativa acima, há uma incontestável


discricionariedade da Autoridade Policial e um inenarrável descaso com as
garantias fundamentais pertencentes ao requerente, e previstas na
Constituição Federal, bem como no Código de Processo Penal. Tratando-se
de flagrante ilegal, cujo deva ser imediatamente relaxado.
Em primeira análise, verifica-se que o requerente foi incisivamente compelido
a realizar o teste de alcoolemia, descaracterizando sua vontade direta em
realizá-lo, desse modo, a prisão há de ser considerada nula, sob a ótica do
princípio constitucional de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si
mesmo.
Por se tratar de meio de prova certamente invasiva, isto é, dependente da
participação ativa do agente, a sua produção só é permitida no ordenamento
jurídico de forma voluntária. Contudo, no caso em tela, o requerente foi
compelido a produzir prova contra si contrariando sua vontade, tornando a
prisão em flagrante inquestionavelmente nula, por ser derivada de prova ilícita
e, não obstante, contrária ao princípio constitucional previsto no art. 5º,
incisos LXIII e LVI, da CF, conforme transcrição abaixo:
“LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;”

Destarte, temos ainda a previsão do art. 157 do CPP, em que prevê a


inadmissão de provas ilícitas, assim entendidas àquelas obtidas em violação
a normas constitucionais ou legais, devendo-as serem desentranhadas do
processo.

É evidente a violação da norma, uma vez que, para ocorrência da subsunção


do fato ao tipo penal do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro , é
indispensável à realização de tal exame, em aparelho de ar alveolar, que
constate se a concentração de álcool descrita no tipo penal fora ou não
alcançada.
Ainda carece de legalidade a prisão por violação ao direito à comunicação
entre o preso e o advogado, bem como familiares, como bem dispõe o art. 7º,
III, do Estatuto da OAB (Lei 8.906/94) e, também, o artigo 5º, inciso LXIII:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;”

Por fim, ainda no que concerne à ilegalidade da prisão, o art.  5º, inciso LXII
da Carta Magna e o art. 306 do Código de Processo Penal prevê de modo
mais claro quais são as responsabilidades da autoridade policial, quando
lavrado o auto de prisão em flagrante:
“Art. 5º, LXII, CF: A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
serão comunicados, imediatamente ao juiz competente e à família do preso
ou à pessoa por ele indicada.”
“Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à
família do preso ou à pessoa por ele indicada.

§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será


encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o
autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a
Defensoria Pública. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).”

Visualizado o mandamento expresso de que se tratando de prisão em


flagrante, deverão ser comunicados em até vinte e quatro horas o magistrado,
os familiares e à Defensoria Pública, não nos parece crível que passados dois
dias da prisão, a Autoridade Policial ainda não tenha comunicado e nem
pretenda encaminhar o auto de Prisão em Flagrante para as autoridades
competentes.

Nesse sentido, pelo que haja sido supracitado é de vital importância que seja
a relaxada a prisão do requerente, por tratar-se, claramente, de prisão ilegal,
em desconformidade com o elencado nos termos da Constituição Federal e
do Código de Processo Penal .

III. DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, requer a Vossa Excelência:

- O relaxamento da prisão ilegal e arbitrária, colocando o requerente em


liberdade pelos motivos de fato e de direito acima narrados, com a
conseqüente expedição do competente alvará de soltura em seu favor.
Nestes termos pede deferimento.

Local, data.

Advogado

OAB

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