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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
JBMT
Nº 70085744688 (Nº CNJ: 0001568-41.2023.8.21.7000)
2023/CRIME
ACÓRDÃO
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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
JBMT
Nº 70085744688 (Nº CNJ: 0001568-41.2023.8.21.7000)
2023/CRIME
Relator.
RELATÓRIO
DES. JOÃO BATISTA MARQUES TOVO (RELATOR)
É o relatório.
VOTOS
2
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Nº 70085744688 (Nº CNJ: 0001568-41.2023.8.21.7000)
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por circunstâncias alheias à sua vontade, qual seja, não ter conseguido realizar a
ligação direta no veículo.
O réu, tanto em sede policial, como em Juízo, optou por permanecer em silêncio.
A vítima Valmor Roberto Machado relatou que o seu vizinho flagrou o réu
tentando furtar o seu veículo e acionou a polícia, sendo que quando conseguiram lhe
chamar, o acusado já estava detido. Referiu que o veículo estava em via pública. Disse
que o acusado arrombou o veículo para ingressar, danificando a porta, o painel, o
módulo. Ressaltou que seu vizinho flagrou o acusado dentro do veículo, tentando fazê-
lo ligar. Questionado, informou que quando chegou ao local, o acusado estava dentro
da viatura da polícia, em frente ao seu veículo.
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Com efeito, a vítima relatou ter sido avisada pelo seu vizinho acerca da tentativa
de furto do seu veículo e quando chegou no local, o acusado já se encontrava detido
dentro da viatura da Brigada Militar, ocasião em foi reconhecido pelo seu vizinho
como o autor do delito.
(...omissis...)
(...omissis...)
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Gize-se que o silêncio do acusado em sede policial e em Juízo, ainda que não
possa ser considerado em seu prejuízo, por ser direito constitucionalmente previsto, por
óbvio, não pode recair em seu favor, tendo em vista a grave consequência que, se assim
fosse, poderia acarretar aos demais processos penais. Dessa maneira, inexiste razão
para entender que a ausência de confissão do acusado possa caracterizar, por si só,
ainda que contrária aos demais elementos probatórios, como bastante para uma
absolvição.
Saliento que na falta do exame direto pode e deve o Juiz valer-se do exame
indireto, através da prova testemunhal, conforme dispõe o art. 167 do Código de
Processo Penal. E, no caso dos autos, como já referido, a vítima confirmou que a porta
do seu veículo foi arrombada, bem como o painel e módulo restaram danificados,
corroborando, reitero, o resultado do auto de constatação indireta de furto qualificado.
(...omissis...)
Todavia, muito embora certa a autoria do fato descrito, à evidência, o delito não
restou consumado por circunstâncias alheias à vontade do réu, tendo em vista que o
acusado foi flagrado ainda no interior do veículo da vítima, porém não conseguiu dar
partida e deixou o local, sendo, em seguida, detido pelos policiais próximo ao local do
ocorrido.
(...omissis...)
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indivíduo foi, a guarnição conseguiu pega-lo, sendo que o indivíduo estava com uma
faca em seu poder. Que a testemunha reconheceu o indivíduo como sendo aquele que
ficou por algum tempo tentando ligar o veículo fiat tipo da vítima. Que então
conduziram todos para delegacia (fl.08).
Essa a prova oral encartada ao caderno processual durante a instrução da
causa.
E, ao contrário do afirmado pela Defesa em suas razões recursais, essa prova
oral somada ao auto de prisão e flagrante e aos autos de apreensão e restituição, são
prova bastante para sustentar um veredito condenatório, pois, demonstram, sem deixar
qualquer dúvida, que o acusado tentou subtrair o veículo da vítima, não conseguindo
êxito em seu intento por circunstâncias alheias a sua vontade, na medida em que não
conseguiu fazer ligação direta no automotor para empreender marcha e leva-lo de
onde estava.
Assim, comprovadas a materialidade e a autoria delitiva, inexistente no caderno
processual qualquer elemento de convicção capaz de excluir o crime e ou isentar o réu
de pena, importa a manutenção do decreto condenatório. Inaplicável, na espécie, o
princípio do in dubio pro reo, na medida em que não há dúvida que o acusado cometeu
crime contra o patrimônio, descrito na denúncia, ao tentar subtrair o veículo automotor
da vítima, estacionado na via pública.
Quanto à adequação típica da conduta, razão assiste à Defesa quando pretende
o afastamento da qualificadora do rompimento de obstáculo.
Isso porque o crime narrado na denúncia deixa vestígios, razão porque era
imprescindível a realização de exame de corpo de delito, não havendo como suprir a
sua ausência pela prova oral, nem mesmo pela confissão, nos termos do art. 158 do
CPP.
E, o exame do local foi realizado, mas de forma indireta, como dá conta o auto
de constatação, fl. 66, sem que os senhores peritos tenham informado porque agiram
assim, tampouco esclarecido sobre o desaparecimento de eventuais vestígios deixados
quando da prática do crime, o que, aí sim, autorizaria a realização do exame dessa
forma.
Então, resta o auto de constatação de rompimento de obstáculo eivado de vicio
de validade, pois, realizado em desacordo com a legislação de regência.
Assim, há que ser acolhida a pretensão defensiva de desclassificação do crime
de furto para a sua forma simples, afastada a qualificadora do rompimento de
obstáculo.
Por isso, desclassifico a conduta do réu para o crime de furto simples, previsto
no art. 155, caput, c/c art. 14, inciso II, todos do CP.
Passo a análise da pena aplicada, assim estabelecida pelo juízo de origem:
“....
Analisando as circunstâncias judiciais elencadas no artigo 59 do Código Penal,
verifico que o réu não registra antecedentes, aqui considerados os fatos pretéritos à
infração ora analisada, com trânsito em julgado há mais de cinco anos e que não
importam em reincidência, conforme certidão de antecedentes de fls. 128-130; a
conduta social não encontra elementos significativos demonstrados nos autos; quanto
à personalidade, ausentes elementos para aferição; os motivos que ensejaram a
conduta do réu dizem respeito à obtenção de lucro fácil em prejuízo de terceiro;
quanto às circunstâncias são comezinhas aos crimes desta espécie; não há
consequências de relevo; a vítima em nada contribuiu para a prática do crime.
Assim, a teor da análise realizada, tem-se que a culpabilidade, aqui considerada
como o grau de reprovabilidade da conduta, é ordinária, tendo o denunciado
potencial consciência da ilicitude de seu ato, sendo-lhe exigida conduta diversa.
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Reaprecio.
Todas as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP foram consideradas
favoráveis ao réu.
Assim, tendo em vista a desclassificação do delito para a sua forma simples,
estabeleço a pena base privativa de liberdade no mínimo legal cominado, ou seja, um
(01) ano de reclusão, restando a pena provisória nesse quantum porque ausentes
agravantes e atenuantes.
Na última etapa do cálculo da pena, pretende a Defesa a redução da pena na
fração máxima em razão do reconhecimento de que o delito foi cometido na sua forma
tentada, no que não lhe assiste razão, na medida em que, restou demonstrado pelo
depoimento da testemunha presencial, que o réu entrou no interior do carro da vítima,
tentou fazer uma “ligação direta” para dar a partida, sem êxito, razão porque desistiu
e saiu do local, sendo detido momentos após.
Então, forçoso reconhecer que iter criminis percorrido, em muito se aproximou
da consumação do delito, razão pela qual, resta mantida a redução da pena na fração
de 1/3.
Assim, resta a pena definitiva em 08 meses de reclusão.
A pena de multa porque estabelecida na sentença no mínimo legal cominado
resta mantida.
Por outro lado, observado o quantum estabelecido para a pena de reclusão, na
forma do art. 44, §2ºc/c o art.46, ambos do CP, substituo a pena privativa de liberdade
por uma pena restritiva de direito, na forma de prestação de serviços à comunidade
pelo tempo da pena de reclusão aplicada, a ser organizada pelo Juízo das Execuções
Criminais.
Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de
apelação para, mantida a condenação do réu Bruno Gabriel Campos, desclassificar a
conduta descrita na denúncia para o crime de furto simples na forma do art. 155, caput
, c/c art. 14, inciso II, todos do CP, reduzindo a pena privativa de liberdade aplicada
para oito (08) meses de reclusão, a ser cumprida em regime inicial aberto, substituída
por uma pena restritiva de direito, na forma de prestação de serviços comunidade pelo
tempo da pena de reclusão aplicada, a ser organizada pelo Juízo das Execuções
Criminais, mantidas as demais disposições contidas na sentença.
(...)
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(...)
Com a devida vênia à eminente Relatora, divirjo no que diz respeito ao
afastamento da qualificadora do rompimento de obstáculo.
Com efeito, tenho que comprovada a qualificadora, nos termos do auto de
constatação indireta de furto qualificado (fl. 66), apontando a existência de danos na
porta, no painel e nos fios no interior do veículo, o que foi confirmado pela prova oral.
Ademais, reiterados os julgados deste Tribunal de Justiça, inclusive, do 3º
Grupo Criminal, no sentido de que o fato de o auto de constatação de furto qualificado
ter sido confeccionado de forma indireta não o invalida, eis que autorizado,
expressamente, pelo art. 158 do Código de Processo Penal:
(...omissis...)
Ademais, tenho que, embora recomendável, nos delitos que deixam vestígios, a
realização da prova pericial não é essencial à comprovação do crime
e suas circunstâncias quando não necessária qualificação técnica para a sua
aferição, podendo sua demonstração ocorrer por outros meios de prova legalmente
admitidos.
Assim, deve ser mantido o reconhecimento da qualificadora do rompimento de
obstáculo.
No tocante ao apenamento, nada a alterar na pena-base, já fixada no mínimo
legal, 02 anos de reclusão.
Ausentes agravantes ou atenuantes, mantenho a redução da pena pela tentativa,
na fração de 1/3, diante do andar avançado iter criminis percorrido, restando essa
definitiva, na ausência de outras causas modificadoras, em 01 ano e 04 meses de
reclusão.
Nada a alterar no regime inicial já fixado no aberto e na substituição da pena
carcerária pelas restritivas de direitos de prestação de serviços à comunidade e
prestação pecuniária, em observância ao disposto, respectivamente, nos artigos 33, §
2º, alínea “c”, e 44, § 2º, ambos do Código Penal.
Vai mantida, também, a pena de multa, já fixada no mínimo legal de 10 dias-
multa, na razão mínima.
Em face do exposto, voto por negar provimento ao apelo.
(...)
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Pois estou a fazer prevalecer o voto vencido. No caso dos autos, bastava
tirar uma fotografia dos danos ou a autoridade policial que presidiu o flagrante fazer uma
constatação in loco e fazer um auto de inspeção certificador do evento. Mas disso não se
cuidou. O que se fez foi apenas um arremedo de exame indireto algum tempo depois, o que,
a meu sentir, viola o disposto no artigo 158 do CPP.
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