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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Terceira Câmara Criminal

FLS.1
APELAÇÃO CRIMINAL N. 0013564-34.2020.8.19.0004

APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO


APELADO: JEAN PIERRE BARCELOS LOPES
(Juízo de Direito da 5ª Vara Criminal de São Gonçalo)
RELATOR: DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO

APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 157, § 2º, II, E § 2º-A I, DO


CÓDIGO PENAL E ARTIGO 244-B DA LEI 8.069/90.
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. RECURSO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO COM PLEITO DE CONDENAÇÃO DO RÉU.
Recurso do Ministério Público pugnando pela condenação.

Insuficiência de prova da autoria dos crimes imputados ao


apelado.

Aplicação do princípio “in dubio pro reo”.

Absolvição que se mantém.

Recurso desprovido. Unânime.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes Autos de Apelação Criminal


n. 0013564-34.2020.8.19.0004, em que é Apelante o MINISTÉRIO PÚBLICO e
Apelado JEAN PIERRE BARCELOS LOPES.

SDL Secretaria da Terceira Câmara Criminal


Beco da Música, 175, Lâmina IV, 1º andar – sala 103
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20020-903
Tel.: + 55 21 3133-5003 – e-mail: 03ccri@tjrj.jus.br – PROT. 560

ANTONIO CARLOS NASCIMENTO AMADO:6273 Assinado em 06/05/2022 15:55:13


Local: GAB. DES ANTONIO CARLOS NASCIMENTO AMADO
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FLS.2
APELAÇÃO CRIMINAL N. 0013564-34.2020.8.19.0004
ACORDAM, por unanimidade, os Desembargadores que compõem
a Egrégia Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator.

Custas ex lege.

Rio de Janeiro, 03 de maio de 2022.

Desembargador ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO


Relator

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APELAÇÃO CRIMINAL N. 0013564-34.2020.8.19.0004
APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO
APELADO: JEAN PIERRE BARCELOS LOPES
(Juízo de Direito da 5ª Vara Criminal de São Gonçalo)
RELATOR: DES. ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO

VOTO

Trata-se de recurso do Ministério Público, pleiteando a condenação


do apelado pela prática dos crimes previstos no artigo 157, § 2º, II e § 2ºA I, do
Código Penal, e artigo 244-B da Lei 8.069/90, na forma do art. 69 do Código
Penal.

Não assiste razão ao Parquet.

A materialidade do crime restou demonstrada pela prova oral


produzida e pelos registros de ocorrência colacionados aos autos.

Todavia, a autoria do crime não é inconteste.

Ao ser ouvido em juízo, a vítima Valdemir Gomes Dias afirmou:

“que estava em frente a uma casa de repouso, na qual tinha


ido buscar sua mãe. Que estava tirando sua mãe da cadeira
de rodas para colocar dentro do carro, momento em que os
meliantes chegaram. Que eles encostaram o carro atrás do
automóvel dele e um deles puxou a arma e colocou no seu
rosto. Que um deles não saiu do volante e não deu para ver
quem era. Que reconheceu o menor de idade em Juízo, no
ano passado. Que pela sua lembrança, não foi capaz de
reconhecer nenhuma das três pessoas colocadas na sala
de reconhecimento como sendo um dos participantes do

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assalto. Que o elemento que apontou a arma era negro e
alto. Que o reconhecimento na Delegacia foi realizado por
foto e, por ter sido recente, conseguiu identifica-los. Que três
elementos participaram do assalto, sendo que um deles não
saiu do volante. Que o elemento que apontou a arma levou o
celular e o adolescente levou o relógio. Que reconheceu o
adolescente em Juízo pois a audiência foi realizada logo
após os fatos. Que logo após os três elementos renderam o
carro de um militar, que abandonou o automóvel e saiu
correndo, com medo de ser identificado. Que foi até a casa
deste militar, para avisar que o carro dele não tinha sido
roubado e que tinha ficado ligado e com as portas abertas
em frente da casa de repouso. Que colocou sua mãe no
carro e foi procurar a casa do militar, que foi até o local
buscar o veículo. Que as fotos foram mostradas pela tela do
computador na Delegacia. Que conseguiu reconhecer com
certeza o elemento que apontou a arma, pois ele era negro e
alto, diferente dos outros. Que apesar de não ter visto muito
bem o elemento que estava no volante, deu para perceber
que ele era mais gordinho do que os outros dois. Que não
teve nenhuma dúvida em fazer o reconhecimento do
acusado na Delegacia, assim que viu a foto, pois o
reconhecimento foi realizado na mesma semana. Que a foto
era bem nítida e colorida. Que prestou depoimento na
audiência do adolescente mas não sabe o que aconteceu
com ele. Que, salvo engano, o adolescente estava solto. Que
teve certeza em reconhecer o acusado na Delegacia. Que
reconheceu o adolescente com muita facilidade, pois ele é
muito parecido com um sobrinho seu. Que este adolescente
não estava armado.”

Na oportunidade de seu interrogatório em juízo, o Apelado


permaneceu em silêncio.

Consoante se extrai dos trechos do depoimento acima transcrito, não


restou suficientemente comprovado que o Apelado tenha praticado o roubo em
questão.

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A vítima afirma que reconheceu o acusado inicialmente por meio de


fotografia em sede policial.

Entretanto, em juízo a vítima não foi capaz de reconhecer o acusado.

Assim sendo, o reconhecimento fotográfico em sede policial não foi


ratificado em juízo.

Até pouco tempo, o entendimento era no sentido de que os requisitos


do artigo 226, do CPP constituíam mera recomendação, e que o reconhecimento
fotográfico, desde que amparado nos termos de declaração com descrição das
características do agente, seria o suficiente para o recebimento da denúncia e até
mesmo, conforme o caso, a prisão preventiva1.

Ocorre que, diante de tantas prisões injustas e até mesmo


condenações, baseadas unicamente em reconhecimentos fotográficos, o Superior
Tribunal de Justiça evolui em seu entendimento. Ambas as Turmas, atualmente,
se posicionam no sentido de que as formalidades do artigo 226 do CPP são
requisitos mínimos de garantia ao acusado, e que o reconhecimento fotográfico
somente pode ser utilizado se confirmado posteriormente por reconhecimento
pessoal, prévio ao reconhecimento em juízo.

A Corte Superior apresentou as seguintes conclusões: a) o


reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no art. 226 do
Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para
quem se encontra na condição de suspeito da prática de um crime; b) à vista dos
efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do procedimento
descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa
suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se
confirmado o reconhecimento em juízo; c) pode o magistrado realizar, em juízo, o
ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento
probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do exame
de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de
reconhecimento; d) o reconhecimento do suspeito por simples exibição de
fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo procedimento
1
Confira-se, por exemplo, o HC 178.418/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 23/08/2011, DJe 05/09/2011.
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do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa antecedente a
eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova
em ação penal, ainda que confirmado em juízo.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados:

“HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. RECONHECIMENTO


FOTOGRÁFICO DE PESSOA REALIZADO NA FASE DO
INQUÉRITO POLICIAL. INOBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO
PREVISTO NO ART. 226 DO CPP. PROVA INVÁLIDA COMO
FUNDAMENTO PARA A CONDENAÇÃO. RIGOR PROBATÓRIO.
NECESSIDADE PARA EVITAR ERROS JUDICIÁRIOS.
PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. NÃO
OCORRÊNCIA. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.
1. O reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por
fotografia, realizado na fase do inquérito policial, apenas é apto,
para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando observadas
as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo
Penal e quando corroborado por outras provas colhidas na fase
judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.
2. Segundo estudos da Psicologia moderna, são comuns as falhas
e os equívocos que podem advir da memória humana e da
capacidade de armazenamento de informações. Isso porque a
memória pode, ao longo do tempo, se fragmentar e, por fim, se
tornar inacessível para a reconstrução do fato. O valor probatório
do reconhecimento, portanto, possui considerável grau de
subjetivismo, a potencializar falhas e distorções do ato e,
consequentemente, causar erros judiciários de efeitos deletérios e
muitas vezes irreversíveis.
3. O reconhecimento de pessoas deve, portanto, observar o
procedimento previsto no art. 226 do Código de Processo Penal,
cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se vê
na condição de suspeito da prática de um crime, não se tratando,
como se tem compreendido, de "mera recomendação" do
legislador. Em verdade, a inobservância de tal procedimento
enseja a nulidade da prova e, portanto, não pode servir de lastro
para sua condenação, ainda que confirmado, em juízo, o ato
realizado na fase inquisitorial, a menos que outras provas, por si
mesmas, conduzam o magistrado a convencer-se acerca da
autoria delitiva. Nada obsta, ressalve-se, que o juiz realize, em

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juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o
devido procedimento probatório.
4. O reconhecimento de pessoa por meio fotográfico é ainda mais
problemático, máxime quando se realiza por simples exibição ao
reconhecedor de fotos do conjecturado suspeito extraídas de
álbuns policiais ou de redes sociais, já previamente selecionadas
pela autoridade policial. E, mesmo quando se procura seguir, com
adaptações, o procedimento indicado no Código de Processo
Penal para o reconhecimento presencial, não há como ignorar que
o caráter estático, a qualidade da foto, a ausência de expressões e
trejeitos corporais e a quase sempre visualização apenas do busto
do suspeito podem comprometer a idoneidade e a confiabilidade
do ato.
5. De todo urgente, portanto, que se adote um novo rumo na
compreensão dos Tribunais acerca das consequências da
atipicidade procedimental do ato de reconhecimento formal de
pessoas; não se pode mais referendar a jurisprudência que afirma
se tratar de mera recomendação do legislador, o que acaba por
permitir a perpetuação desse foco de erros judiciários e,
consequentemente, de graves injustiças.
6. É de se exigir que as polícias judiciárias (civis e federal)
realizem sua função investigativa comprometidas com o absoluto
respeito às formalidades desse meio de prova. E ao Ministério
Público cumpre o papel de fiscalizar a correta aplicação da lei
penal, por ser órgão de controle externo da atividade policial e por
sua ínsita função de custos legis, que deflui do desenho
constitucional de suas missões, com destaque para a "defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis" (art. 127, caput, da Constituição da
República), bem assim da sua específica função de "zelar pelo
efetivo respeito dos Poderes Públicos [inclusive, é claro, dos que
ele próprio exerce] [...] promovendo as medidas necessárias a sua
garantia" (art. 129, II).
7. Na espécie, o reconhecimento do primeiro paciente se deu por
meio fotográfico e não seguiu minimamente o roteiro normativo
previsto no Código de Processo Penal. Não houve prévia
descrição da pessoa a ser reconhecida e não se exibiram outras
fotografias de possíveis suspeitos; ao contrário, escolheu a
autoridade policial fotos de um suspeito que já cometera outros
crimes, mas que absolutamente nada indicava, até então, ter
qualquer ligação com o roubo investigado.

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8. Sob a égide de um processo penal comprometido com os
direitos e os valores positivados na Constituição da República,
busca-se uma verdade processual em que a reconstrução histórica
dos fatos objeto do juízo se vincula a regras precisas, que
assegurem às partes um maior controle sobre a atividade
jurisdicional; uma verdade, portanto, obtida de modo
"processualmente admissível e válido" (Figueiredo Dias).
9. O primeiro paciente foi reconhecido por fotografia, sem
nenhuma observância do procedimento legal, e não houve
nenhuma outra prova produzida em seu desfavor. Ademais, as
falhas e as inconsistências do suposto reconhecimento - sua altura
é de 1,95 m e todos disseram que ele teria por volta de 1,70 m;
estavam os assaltantes com o rosto parcialmente coberto; nada
relacionado ao crime foi encontrado em seu poder e a autoridade
policial nem sequer explicou como teria chegado à suspeita de que
poderia ser ele um dos autores do roubo - ficam mais evidentes
com as declarações de três das vítimas em juízo, ao negarem a
possibilidade de reconhecimento do acusado.
10. Sob tais condições, o ato de reconhecimento do primeiro
paciente deve ser declarado absolutamente nulo, com sua
consequente absolvição, ante a inexistência, como se deflui da
sentença, de qualquer outra prova independente e idônea a formar
o convencimento judicial sobre a autoria do crime de roubo que lhe
foi imputado.
11. Quanto ao segundo paciente, teria, quando muito - conforme
reconheceu o Magistrado sentenciante - emprestado o veículo
usado pelos assaltantes para chegarem ao restaurante e fugirem
do local do delito na posse dos objetos roubados, conduta que não
pode ser tida como determinante para a prática do delito, até
porque não se logrou demonstrar se efetivamente houve tal
empréstimo do automóvel com a prévia ciência de seu uso ilícito
por parte da dupla que cometeu o roubo. É de se lhe reconhecer,
assim, a causa geral de diminuição de pena prevista no art. 29, §
1º, do Código Penal (participação de menor importância).
12. Conclusões: 1) O reconhecimento de pessoas deve observar o
procedimento previsto no art. 226 do Código de Processo Penal,
cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se
encontra na condição de suspeito da prática de um crime;
2) À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a
inobservância do procedimento descrito na referida norma
processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e

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não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se
confirmado o reconhecimento em juízo;
3) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento
formal, desde que observado o devido procedimento probatório,
bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do
exame de outras provas que não guardem relação de causa e
efeito com o ato viciado de reconhecimento;
4) O reconhecimento do suspeito por simples exibição de
fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo
procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como
etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto,
não pode servir como prova em ação penal, ainda que confirmado
em juízo.
13. Ordem concedida, para: a) com fundamento no art. 386, VII, do
CPP, absolver o paciente Vânio da Silva Gazola em relação à
prática do delito objeto do Processo n. 0001199-
22.2019.8.24.0075, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Tubarão -
SC, ratificada a liminar anteriormente deferida, para determinar a
imediata expedição de alvará de soltura em seu favor, se por outro
motivo não estiver preso; b) reconhecer a causa geral de
diminuição relativa à participação de menor importância no tocante
ao paciente Igor Tártari Felácio, aplicá-la no patamar de 1/6 e, por
conseguinte, reduzir a sua reprimenda para 4 anos, 5 meses e 9
dias de reclusão e pagamento de 10 dias-multa.
Dê-se ciência da decisão aos Presidentes dos Tribunais de Justiça
dos Estados e aos Presidentes dos Tribunais Regionais Federais,
bem como ao Ministro da Justiça e Segurança Pública e aos
Governadores dos Estados e do Distrito Federal, encarecendo a
estes últimos que façam conhecer da decisão os responsáveis por
cada unidade policial de investigação.
(HC 598.886/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 27/10/2020, DJe 18/12/2020).

“HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. RECONHECIMENTO


PESSOAL REALIZADO NA FASE DO INQUÉRITO POLICIAL.
INOBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO PREVISTO NO ART.
226 DO CPP. EXISTÊNCIA DE OUTRAS PROVAS VÁLIDAS E
INDEPENDENTES COMO FUNDAMENTO PARA A
CONDENAÇÃO. ORDEM DENEGADA.
1. A Sexta Turma desta Corte Superior de Justiça, por ocasião
do julgamento do HC n. 598.886/SC, realizado em 27/10/2020,
propôs nova interpretação ao art. 226 do CPP, a fim de

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superar o entendimento, até então vigente, de que o disposto
no referido artigo constituiria "mera recomendação" e, como
tal, não ensejaria nulidade da prova eventual descumprimento
dos requisitos formais ali previstos. Na ocasião, foram
apresentadas as seguintes conclusões: 1.1) O
reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento
previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas
formalidades constituem garantia mínima para quem se
encontra na condição de suspeito da prática de um crime; 1.2)
À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho,
a inobservância do procedimento descrito na referida norma
processual torna inválido o reconhecimento da pessoa
suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação,
mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo; 1.3) Pode o
magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal,
desde que observado o devido procedimento probatório, bem
como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do
exame de outras provas que não guardem relação de causa e
efeito com o ato viciado de reconhecimento; 1.4) O
reconhecimento do suspeito por simples exibição de
fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo
procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto
como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal
e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda
que confirmado em juízo.
[...]
(HC 668.385/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021).

“HABEAS CORPUS. NULIDADE. HOMICÍDIO QUALIFICADO,


TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO, RECEPTAÇÃO
SIMPLES E ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE
VEÍCULO AUTOMOTOR. PRONÚNCIA. INDÍCIOS SUFICIENTES
DE AUTORIA. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO NA FASE
DE INQUÉRITO. INEXISTÊNCIA DE POSTERIOR
RECONHECIMENTO PESSOAL. RECONHECIMENTO
FOTOGRÁFICO NÃO RATIFICADO EM JUÍZO. INDÍCIOS DE
AUTORIA.
INSUFICIÊNCIA. PRECEDENTES. PRONÚNCIA
FUNDAMENTADA EXCLUSIVAMENTE EM ELEMENTOS DE
INFORMAÇÃO COLETADAS NA FASE EXTRAJUDICIAL.

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OFENSA AO ART. 155 DO CPP. IMPOSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. SEM PEDIDO LIMINAR.
PARECER MINISTERIAL PELO NÃO CONHECIMENTO DO
HABEAS CORPUS OU SUA DENEGAÇÃO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM
CONCEDIDA.
1. A Sexta Turma desta Corte Superior firmou entendimento
de que o reconhecimento do suspeito por simples exibição de
fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo
procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto
como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal
e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda
que confirmado em juízo (HC n. 598.886/SC, Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 18/12/2020).
2. In casu, verifica-se que o reconhecimento do paciente se
deu por reconhecimento fotográfico e que não foi realizado
posterior reconhecimento pessoal, e, em juízo, o
reconhecimento fotográfico não foi ratificado, carecendo,
assim, a pronúncia de indícios suficientes de autoria.
Precedentes.
[...]
4. Ordem concedida para declarar a nulidade, por insuficiência de
indícios de autoria, da decisão de pronúncia do paciente nos Autos
n. 001/2.18.0053989-2 (CNJ n. 0101487-24.2018.8.21.0001) da 1ª
Vara do Júri do Foro Central da comarca de Porto Alegre/RS.
(HC 640.868/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 01/06/2021, DJe 07/06/2021).”

RECURSO EM HABEAS CORPUS. JUSTA CAUSA. ROUBO


CIRCUNSTANCIADO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE LASTRO
PROBATÓRIO MÍNIMO DE AUTORIA. DENÚNCIA
FUNDAMENTADA EXCLUSIVAMENTE EM RECONHECIMENTO
FOTOGRÁFICO REALIZADO EM DESACORDO COM O ART.
226 DO CPP. LIMINAR DEFERIDA. PARECER PELO NÃO
PROVIMENTO DO RECURSO ORDINÁRIO.
RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO NA FASE DE INQUÉRITO.
INEXISTÊNCIA DE POSTERIOR RECONHECIMENTO
PESSOAL. INDÍCIOS DE AUTORIA. INSUFICIÊNCIA.
PRECEDENTES. ILEGALIDADE MANIFESTA EVIDENCIADA.
1. A Sexta Turma desta Corte Superior firmou entendimento
de que o reconhecimento do suspeito por simples exibição de
fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo

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APELAÇÃO CRIMINAL N. 0013564-34.2020.8.19.0004
procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto
como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal
e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda
que confirmado em juízo (HC n. 598.886/SC, Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 18/12/2020).
2. In casu, verifica-se que os indícios de autoria para recebimento
da denúncia são fundados exclusivamente no reconhecimento
fotográfico e que não foi realizado posterior reconhecimento
pessoal, não sendo viável para sustentar justa causa para
prosseguimento da ação penal em face do ora paciente.
Precedentes.
3. Recurso provido para determinar o trancamento da Ação Penal
n.0002125-50.2019.8.15.0011 da 5ª Vara Criminal da comarca de
Campina Grande/PB.
(RHC 142.773/PB, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 28/06/2021).”

“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PRISÃO


PREVENTIVA. ROUBO. AUSÊNCIA DE INDÍCIO SUFICIENTE DE
AUTORIA DELITIVA. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO
EIVADO DE IRREGULARIDADES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. Para que a prisão preventiva possa ser decretada, é
imprescindível a demonstração de indício suficiente de autoria
delitiva.
2. Reconhecimento fotográfico feito em delegacia e sem
observância do art. 226 do CPP, ausente no auto do procedimento
a descrição prévia do suspeito e com alinhamento sugestivo de
imagens de pessoas que nem sequer possuíam características
semelhantes, não é dado confiável para submeter o réu,
presumidamente inocente, ao rigor do cárcere, ainda que de forma
cautelar. O risco de que o precário apontamento gere a suspeita
de inocente é elevado, ausente o fumus comissi delicti exigido
para a decretação da medida de coação.
3. A Sexta Turma, no julgamento do HC n. 598.886/SC,
rechaçou o elemento informativo eivado de irregularidades,
realizado de forma temerária, e destacou a alta
suscetibilidade, as falhas e as distorções desse
procedimento, por possuir, quase sempre, alto grau de
subjetividade e de falibilidade, com o registro, na literatura
jurídica, de que é uma das principais causas de erro judiciário.

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FLS.13
APELAÇÃO CRIMINAL N. 0013564-34.2020.8.19.0004
Adota-se o mesmo entendimento no caso concreto, uma vez que
não há sinal robusto, que indique, com razoabilidade, que o
acusado foi o provável autor do roubo a ele imputado.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no HC 643.429/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021).”
(grifos nossos).

“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


ROUBO CIRCUNSTANCIADO. ADULTERAÇÃO DE SINAL
IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR. PLEITO DE
ABSOLVIÇÃO. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO.
PROCEDIMENTO PREVISTO NO ART. 226 DO CPP.
INOBSERVÂNCIA. MUDANÇA DE ENTENDIMENTO
JURISPRUDENCIAL. INVALIDADE DA PROVA. AUTORIA
ESTABELECIDA COM BASE EM OUTROS ELEMENTOS
PROBATÓRIOS. ABSOLVIÇÃO INVIÁVEL. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
[...]
2. Esta Corte Superior inicialmente entendia que "a validade
do reconhecimento do autor de infração não está
obrigatoriamente vinculada à regra contida no art. 226 do
Código de Processo Penal, porquanto tal dispositivo veicula
meras recomendações à realização do procedimento,
mormente na hipótese em que a condenação se amparou em
outras provas colhidas sob o crivo do contraditório
3. Em julgados recentes, ambas as Turmas que compõe a
Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça alinharam a
compreensão de que "o reconhecimento de pessoa,
presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do
inquérito policial, apenas é apto, para identificar o réu e fixar a
autoria delitiva, quando observadas as formalidades previstas
no art. 226 do Código de Processo Penal e quando
corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob o
crivo do contraditório e da ampla defesa.
[...]
(AgRg no HC 631.240/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 20/09/2021).”

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Veja-se, portanto, que o reconhecimento fotográfico é admitido para
fins de recebimento da denúncia, ou mesmo para a preventiva. Contudo, a
validade desse reconhecimento depende do cumprimento dos requisitos exigidos
no artigo 226, do CPP2.

No caso, apesar de ter havido a descrição dos supostos autores do


crime de roubo pela vítima, não houve o reconhecimento pessoal, na forma do
artigo 226, II, do CPP, por ocasião da audiência de instrução e julgamento.

Verifica-se, então, que, o reconhecimento do Apelado realizado pela


vítima em sede policial não se mostra suficiente para comprovar a prática do
roubo pelo Apelado.

Além disso, o fato de o Apelado ter sido preso no dia seguinte ao


roubo, na companhia dos adolescentes correpresentados, não comprova, por si
só, sua participação no roubo, pois o relógio subtraído da vítima pode ter sido
roubado por um dos adolescentes, este sim, reconhecido pela vítima em juízo, ao
contrário do Apelado.

Dessa forma, não há certeza quanto à autoria do roubo.

Não havendo prova suficiente da prática do roubo pelo Apelado em


comunhão com os adolescentes, também não há prova da prática do crime de
corrupção de menores pelo Apelado.

Havendo dúvida, torna-se temerário o juízo de condenação.

Na dúvida, deve-se manter a absolvição do Apelado, em respeito ao


princípio in dubio pro reo.

Nesse sentido, os julgados:

"Sentença absolutória. Para a condenação do réu a prova há de


ser plena e convincente, ao passo que para a absolvição basta a
dúvida, consagrando o princípio "in dubiopro reo" contido no art.
386, VI do CPP”.(JTACrim, 7226, Relator Alvaro Cury)."

2
Ou seja, não se rechaça, por si só, o reconhecimento fotográfico. Exige-se, contudo, para sua
validade, o cumprimento dos requisitos da lei processual.
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"Sendo conflitante a prova e não se podendo dar prevalência a


esta ou aquela versão, é prudente a decisão que absolve o Réu".
(AP. 29.889 TACrimSP, Relator Cunha Camargo).

Diante do exposto, voto pelo desprovimento do recurso.

É como voto.

Sessão realizada em 03 de maio de 2022.

Desembargador ANTÔNIO CARLOS NASCIMENTO AMADO


Relator

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