Advocacia Especializada AO JUÍZO DA 7° VARA CRIMINAL DA COMARCA DE TERESINA – PI
JORGE HENRIQUE DO NASCIMENTO BASTOS, já
qualificado nos autos, vem por meio do seu advogado, com procuração anexa e endereço profissional na Av. Jóquei Clube, n° 2628, São Cristóvão, Teresina-PI, CEP 64049-240, e com endereço eletrônico pbraz58adv@gmail.com, em atenção ao despacho de ID 51976012 e com base no art. 403, §3° do CPP, apresentar suas ALEGAÇÕES FINAIS em forma de memoriais escritos.
PRELIMINARES
Da Inépcia da Denúncia
Numa análise preliminar da peça acusatória, tem-se que a
mesma é completamente inepta, vez que desobedece ao comando insculpido no art. 41 do CPP, pois claramente deixa de expor todas as circunstâncias do suposto fato criminoso.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá- lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
No caso concreto a acusação aponta o Sr. Jorge como
traficante, porém, em momento algum traz a narrativa e elementos que sustentem essas afirmações, o que dificulta o exercício da ampla defesa e do contraditório. De forma inaceitável a denúncia omite ou deixa de indicar diversas informações e circunstância que são de extrema QUEIROZ, BRAZ & BRAZ Advocacia Especializada relevância, pois apesar de se ter formulado acusação envolvendo o crime de tráfico, em nenhum momento a promotoria narra ou muito menos indica o local na casa onde a droga foi encontrada, afirmando genericamente que a droga foi encontrada na casa, isso porque, restou comprovado que a droga não foi encontrada com o Sr. Jorge, isso decorre porque a droga não era do Sr. Jorge.
Restou comprovado por documentos juntados nos autos,
contrato de sublocação, e testemunhas, como o Sr. Antônio Filho, que a residência do Sr. Jorge estava sublocada para JOSÉ ILTON ARAÚJO DE ASSUNÇÃO, e foi no quarto deste, no guarda roupas deste, que a polícia encontrou a droga, conforme relata o policial que efetuou a prisão do verdadeiro traficante, JOSÉ ILTON ARAÚJO DE ASSUNÇÃO, que inclusive foi condenado com único dono da droga o proc. 0012089- 36.2009.8.18.0140, e isso ocorreu porque no momento da prisão, o Sr. Jorge foi detido apenas como usuário, e obrigado a assinar um TCO.
Relatou o policial em sede de delegacia: UM DOS ACUSADOS
SERIA O DONO DA DROGA E OS DEMAIS SERIAM APENAS USUÁRIOS. Nesta ocorrência, JOSÉ ILTON, quando chegou na central de flagrantes foi autuado e indiciado por tráfico de drogas, pois a droga tinha sido encontrada em seu poder.
A verdade é que o Sr. Jorge nunca praticou tráfico de
entorpecentes e foi detido pela polícia apenas porque morava na casa em questão, e detalhe, o quarto sublocado para o JOSE ILTON, local onde a droga foi encontrada fica nos fundos da residência, em um quarto anexo, totalmente autônomo que o Sr. Jorge nem frequentava. O Sr. Jorge locou o quarto para o JOSE ILTON sem ter ciência de que o mesmo era traficante, só ficou sabendo no fatídico dia. QUEIROZ, BRAZ & BRAZ Advocacia Especializada No mais, o Sr. Jorge, refuta como inverídicas toda a acusação que lhe foi imposta, pois quando se aproximou de sua residência observou as viaturas policiais em sua porta, e como nada devia, adentrou o imóvel para saber o que estava acontecendo. Destaca-se que o quarto estava locado para o JOSE ILTON a poucos dias, conforme contrato anexado ao autos, pois se fosse traficante, como quer o membro do Ministério Público, não teria se aproximado da residência, teria empreendido fuga imediatamente.
Sobre o tema, ensina Eugêncio Pacelli (curso de processo
penal, p. 102, ano 2017) que “inepta é a acusação que diminui o exercício da ampla defesa, seja pela insuficiência na descrição dos fatos, seja pela ausência de identificação precisa de seus autores.”.
No mesmo sentido segue o art. 41 do CPP:
“Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do
fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.”
E sobre o tema vejamos o entendimento do STJ:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA. INÉPCIA. TRACAMENTO.
1. É inepta a denúncia que não expõe os fatos imputados ao
denunciado que conduziram ao resultado danoso, pena de responsabilização penal objetiva. 2. Recurso provido para trancar a ação penal em relação ao recorrente QUEIROZ, BRAZ & BRAZ Advocacia Especializada (Processo RHC 41205 RJ 2013/0328927-1, Órgão Julgador t¨- Sexta Turma, Publicação DJe 14/05/2014, Julgamento 6 de maio de 2014, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA)
Assim, diante dos argumentos supramencionados, conclui-
se que a denúncia é completamente inepta, devendo ser rejeitada por este douto juízo, nos termos do art. 395, I, CPP.
Da Falta da Justa causa e Da Ausência do Interesse de Agir
Com o devido respeito, inexiste interesse de agir nesta causa,
e por consequência carece de justa causa a presente ação no que tange à denúncia pelo suposto delito de tráfico de drogas, pois após longa investigação na esfera policial, à própria autoridade policial não indiciou o Sr. Jorge em crime nenhum, e sim, o acusou, no bojo do TCO juntado aos autos, pela suposta prática de posse de entorpecente para consumo pessoal, art. 28 da Lei de Drogas – 11.343/2006.
O professor Norberto Avena (Processo Penal, p 168, ano
2017) ensina que:
“o interesse de agir concerne à presença dos elementos
mínimos que permitam ao juiz, ao refletir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, concluir no sentido de que se trata de acusação factível. Tais elementos consistem nos indícios de autoria de que o imputado realmente é o autor ou partícipe do fato descrito, bem como prova da existência do crime imputado. No âmbito da ação penal, este lastro probatório mínimo constitui o fumus boni iuris – aparência do direito à condenação invocada pelo titular da ação penal ao deduzi-la em juízo com vistas a desencadear o jus puniendi do Estado. Ausente a sua QUEIROZ, BRAZ & BRAZ Advocacia Especializada demonstração, não será possível ao magistrado verificar a plausibilidade da acusação, devendo, também, neste caso, rejeitar a inicial acusatória com fundamento no art. 395, III, CPP.”.
Assim, a denúncia também merece rejeição por ausência de
justa causa, desta vez com fulcro no art. 395, III, CPP.
Da Nulidade das Provas
No presente caso, a autoridade policial narra os fatos
afirmando que estava em ronda, recebeu uma denúncia anônima e adentrou no imóvel sem autorização judicial.
Sobre os fatos narrados, é firme o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça no sentido de que há ilegalidade flagrante no procedimento policial adotado, que não foi precedida de qualquer investigação preliminar para subsidiar a narrativa fática da denúncia anônima. O que a denúncia anônima possibilita é a averiguação prévia e simples do que fora noticiado anonimamente e, havendo elementos informativos idôneos e suficiente, aí, sim, é viável a adoção do procedimento policial.
O erro procedimental adotado tem o condão de anular todas
as provas contidas no inquérito, que no caso só existe uma, a droga apreendida, não existe outra prova qualquer da traficância realizada pelo Sr. Jorge. Aliás, destaca-se que no caso do Sr. Jorge, esse assinou um TCO como usuário e, pelo fato de não ter comparecido a audiência de justificação no Juizado Criminal, o processo foi remetido ao juízo comum que remeteu para o Ministério Público que de forma automática, açodada, ofereceu denúncia, mas sem nenhuma prova, somente com argumentos frágeis e genéricos. QUEIROZ, BRAZ & BRAZ Advocacia Especializada Destaca-se que o Supremo Tribunal Federal -STF, em sede de repercussão geral, (RE n. 603.616/RO, Rel. Ministro Gilmar Mendes) DJe 8/10/2010), definiu que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial apenas se revela legítimo quando amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito, o que não é o caso dos autos.
Assim, a merda denúncia anônima desacompanhada de
elementos preliminares que indiquem a ocorrência de crime não constitui justa causa para o ingresso forçado de autoridade policial, mesmo que se trate de crime permanente. É indispensável que, a partir da noticia anônima, autoridade policial faça diligências preliminares para atesar a veracidade das informações recebidas.
No caso concreto, não houve qualquer referência à prévia
investigação, monitoramento ou campanas no local, havendo, apenas a descrição da denúncia anônima, de maneira que não se configurou o elemento “fundadas razões” a autorizar o ingresso no domicílio do Sr. Jorge, o que torna ilícita a apreensão do material em sua residência. Sobre casos com a mesma discussão podemos citar vários julgados do STJ, REsp 1.574.681, julgado pela Sexta Turma, RHC 139.242, da Quinta Turma, HC 496.100, julgado pela Sexta Turma.
Portanto, percebe-se que o processo deve ser extinto por falta
de provas, já que a única prova do processo foi demonstrada ser ilegal.
DO MÉRITO
A acusação que pesa contra o Sr. Jorge deve ser julgada
completamente improcedente, sendo que o objeto ilícito apreendido na residência em que o mesmo sublocou para JOSE ILTON, não lhe QUEIROZ, BRAZ & BRAZ Advocacia Especializada pertencia. Em nenhum momento o Sr. Jorge cometeu o delito da traficância.
Ademais, o Sr. Jorge é pessoa trabalhadora, casado, réu
primário, nunca se envolveu em nenhuma prática de crime, nem antes e nem depois do fato, tem residência fixa, bons antecedentes, conforme consta nas certidões de antecedentes criminais juntada aos autos.
A verdade é que o Sr. Jorge não sabia que a pessoa para
quem ele sublocou um dos quartos da sua residência era traficante. Neste sentido, falta o elemento subjetivo do tipo, que é o dolo, a consciência de livremente praticar alguma das condutas descritas no art. 33, caput, da Lei de Drogas. Condenar o Sr. Jorge é o mesmo que condenar os pais quando se acha drogas no quarto do filho, ou ate mesmo condenar o proprietário da casa, porque alugou a casa para o Sr. Jorge.
Sobre a necessidade de demonstração do dolo na conduta,
ensina Renato Brasileiro de Lima (Legislação Criminal Especial Comentada, p. 729, ano 2014)
“Os crimes de tráfico de drogas previsto no art. 33 da Lei
de drogas são punidos exclusivamente a título de dolo, ou seja, deve o agente ter consciência e vontade de praticar qualquer dos núcleos verbais constantes do art. 33, ciente de que o faz, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”
Além disso, se não existem provas que o Sr. Jorge traficava a
absolvição é medida que se impõe, como bem mostra a jurisprudência:
APELAÇÃO – TRAFICO – ART. 33, CAPUT, DA LEI
11.343/06 – ABSOLVIÇÃO – POSSIBILIDADE. QUEIROZ, BRAZ & BRAZ Advocacia Especializada Deve o juízo condenatório ser modificado quando não existir nos autos certeza da autoria quanto ao tráfico de drogas.
(TJMG. Rel. Des. Vieira de Brito. Apelação Criminal
1.0024.08.239883-5001)
Assim, a acusação deve demonstrar cabalmente a conduta
criminosa do agente, de modo a não deixar que paire dúvidas e incertezas, pois com o mesmo, não fora apreendido nenhuma substância entorpecente, nenhuma quantia em dinheiro e muito menos balança de precisão, o que já afasta a acusação de tráfico de drogas.
DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto, requer o Sr. Jorge, que a presente ação
penal seja julgada totalmente improcedente, e declarando a inocência do Sr. Jorge de toda a acusação imposta.