Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA VARA

ÚNICA DA COMARCA DE xxxxxxxxx, ESTADO DE SÃO PAULO.

Autos nº

AÇÃO PENAL

URGENTE – RÉU PRESO

NOME E QUALIFICAÇÃO DO RÉU

I. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Antes de adentrarmos em preliminares e o mérito da presente defesa, o


cidadão acusado requer a concessão da justiça gratuita, por ser pessoa pobre no sentido
jurídico do vocábulo, não possuir condições de demandar em juízo sem sacrifício do
sustento próprio e de seus familiares, assegurado pela Constituição Federal, artigo 5º,
inciso LXXIV, Art. 1º, § 2º da Lei n. 5478/68, bem como Art. 99 da Lei 13.105/2015.

II- DO INQUERITO POLICIAL

Excelência, na verdade, o inquérito policial pela sua própria essência


inquisitorial, parcial e unilateral, raríssimas vezes produzirá matéria ou subsídios capazes
de embasar eventual tese defensiva, levando-se em conta que o indiciado não representa
ali, uma entidade apta a exercer qualquer atividade de defesa e construir eventual prova
que lhe favoreça.

Tanto é verdade que o inquérito policial, continua tendo como principal


objetivo a investigação da autoria e materialidade e demais circunstâncias capazes de
formar o opinio delicti para que o titular da ação penal possa exercê-la.

Ora Excelência, como enfrentar o mérito nesta fase processual, se todas


as diligências realizadas pela polícia judiciária visaram criar terreno propício à cultura da
pretensão condenatória da acusação oficial?

O que o tempo vem demonstrando é que a maioria esmagadora das


respostas à acusação ou defesas preliminares continua tendo o mesmo efeito da antiga e
inofensiva defesa prévia, com caráter meramente formal, ausente de conteúdo probante,
cuja única finalidade é enfrentar eventuais questões processuais e arrolar testemunhas.
Esta afirmação se baseia na experiência do cotidiano forense, que de
forma majoritária professa pela presunção de culpa exagerada à pessoa do imputado,
antecipando um julgamento e criando indiscutível clima de prévia condenação.

No entanto, por amor ao argumento e por acreditar na inocência do réu,


data vênia, doravante passamos a descrever o descabimento da ação penal promovida
pela Justiça Pública. “Faria, José Roberto Telo”, Advogado Criminalista”,

III. PRELIMINARMENTE – DA FALTA DE JUSTA CAUSA

Excelência, conforme podemos observar, a denúncia tem sua base


formada apenas pelo depoimento da vítima, que de fato, foi à única pessoa que
presenciou o acontecimento.

Citou-se a pessoa do vizinho, “xxxxxxxxx”, que supostamente teria


presenciado os fatos, fato é, que este poderia ter sido conduzido a distrital para
apresentar sua versão dos fatos.

Como vizinho é fácil a localização e qualificação deste para que o


processo seja devidamente instruído. Ora, sequer foi analisado tal fato, e em
consequência de tal atitude o réu encontra-se encarcerado a mais de 01 (um) mês, por
um delito que sequer houve a comprovação de que este o cometeu e ainda, com pena
prevista de no máximo 1 (um) ano, que facilmente seria convertida em pena restritivas de
direitos, não o privando inclusive, de exercer atividade laborativa.

A prova (neste caso, o depoimento da vítima), tem por finalidade o


convencimento do Juiz, que é o seu destinatário, de que uma pessoa cometeu ou não um
ato delituoso.

Nosso sistema processual penal é acusatório, cabendo não ao acusado o


ônus de fazer prova de sua inocência, mas ao Ministério Público, com provas robustas,
comprovar a real existência do delito.

Ao receber a denúncia, dando assim o início ao processo penal, o juiz há


de se lembrar de que tem diante de si uma pessoa que tem o direito constitucional de
ser presumido inocente, pelo que possível não é que desta inocência a mesma tenha que
fazer prova.

Resta, então, neste caso, ao Ministério Público, a obrigação de provar a


culpa do acusado, com supedâneo em prova lícita e moralmente encartada aos autos,
sob pena de, em não fazendo o trabalho que é seu, arcar com as consequências de um
veredicto valorado em favor da pessoa apontada com autora do fato típico.
O que podemos ver no caso em tela, é que, apenas o depoimento da
vítima embasa a pretensão condenatória, o que se mostra completamente incabível num
país que tem como princípio constitucional fundamental a dignidade da pessoa humana.

A denúncia do Ministério Público se funda única e exclusivamente nos


fatos narrados pela suposta vítima Sra Sueli Andrade.

Mostra-se de total temeridade assim proceder-se a uma instrução


processual, em vias ainda de se chegar a uma condenação e a imputação de uma pena
ao réu, frente à extrema fragilidade do material probatório que tenta comprovar a autoria
de um pretenso delito que não ocorreu.

O ordenamento pátrio não convive com isso. O Direito Penal é a última


ratio e deve ser sempre evitada e desta forma, frente a qualquer dúvida, prima-se pela
liberdade do réu, como expõe o brocardo jurídico in dúbio pro reo.

Apenas a declaração da suposta vítima de um crime não é suficiente para


deflagrar a ação penal contra o acusado de cometê-lo. Tal entendimento é da 5ª Câmara
Criminal do Estado do Rio de Janeiro:

“EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. JUSTA CAUSA.


CONSTRANGIMENTO ILEGAL. A DENÚNCIA COMO QUALQUER PETIÇÃO
INICIAL CONTÉM “DESENHO ESTRATÉGICO SUBJACENTE, QUE SUGERE UM
PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE PROBATÓRIA E UMA
PROPOSTA DE LEITURA DE PREVISÍVEL RESULTADO DESTA ATIVIDADE
DIRIGIDA AO JULGADOR”. INADMISSIBILIDADE DE AÇÃO PENAL SEM SUPORTE
EM UM MÍNIMO DE INFORMAÇÕES QUE ASSEGUREM TRATAR-SE DE
DEMANDA NÃO LEVIANA OU TEMERÁRIA (ARTIGO 395, III, DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL CONFORME A REDAÇÃO DA LEI 11.719/08)
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO QUANDO A DENÚNCIA
RECEBIDA PROPÕE A CONDENAÇÃO DA PACIENTE COM BASE EM MEIO DE
PROVA DE PLANO INCAPAZ DE AUTORIZAR A EMISSÃO DE DECRETO
CONDENATÓRIO.” (g.n.)

A acusação tem de apontar sérios indícios para que a ação penal seja
deflagrada. Tal exigência encontra fundamento de validade na Constituição da República,
nos princípios de tutela da dignidade da pessoa, que se projeta no processo penal de
modo a que só ação penal com justa causa, isto é, com indícios mínimos da viabilidade
do pedido de condenação, possa deflagrar processo regular.

Nas lições do eminente professor Nestor Távora, na justa causa:


“A ação só pode ser validamente exercida se a parte autora lastrear a inicial
com um mínimo probatório que indique os indícios de autoria, da
materialidade delitiva, e da constatação da ocorrência de infração penal em
tese (art. 395, I1I, CPP).

É o fumus commissi delicti (fumaça da prática do delito) para o exercício


da ação penal. Como a instauração do processo já atenta contra o status dignitatis do
demandado, não se pode permitir que a ação seja uma aventura irresponsável, lançando-
se no polo passivo, sem nenhum critério, qualquer pessoa. Nos dizeres de Afrânio Silva
Jardim, "torna-se necessário ao regular exercício da ação penal a demonstração, prima
facie, de que a acusação não é temerária ou leviana, por isso que lastreada em um
mínimo de prova.

Este suporte probatório mínimo se relaciona com os indícios de autoria,


existência material de uma conduta típica e alguma prova de sua antijuridicidade e
culpabilidade”. (TAVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal, 8ª Edição, Editora Jus
Podivm, Bahia, 2013).

IV. DA INÉPCIA DA DENÚNCIA

Tratando-se da apreciação de esqualidez da denúncia, dois são os


parâmetros objetivos que devem orientar o exame da questão, quais sejam, o artigo 41,
que detalha o fato criminoso com todas as suas circunstâncias, e o artigo 395, que
avalia as condições da ação e os pressupostos processuais descritos, ambos do CPP.

Da simples leitura da denúncia oferecida, verifica-se que foi imputado


ao cidadão acusado, o crime acima mencionado onde constata-se que denuncia é
arbitraria. Senão vejamos:

Pretende o i. Parquet consubstanciar a exordial acusatória, com uma tese que


difere dos documentos acostados aos autos, eivada, portanto, de vícios que
impedem a instauração da relação processual.

Neste sentido pronunciou-se o E. STJ, nos autos do HC 214.862/SC, 5º T, Rel. Min.


Laurita Vaz, DJ-E 07/03/2012:

“A ausência absoluta de elementos individualizados que apontem a relação entre


os fatos delituosos e a autoria ofende o princípio constitucional da ampla defesa,
assim inepta a denúncia.”
E, quanto ao momento processual para se admitir a inépcia da Denúncia,
transcrevemos o também posicionamento do E. STJ, no sentido de que é
absolutamente cabível o presente momento processual para a rejeição da peça
acusatória, conforme pronunciamento no Recurso Especial nº 1.318.180 STJ, 6º
Turma, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 16/05/2013, publicado no DJ
em 29/05/2013, discorre:

(...) O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o Juízo de primeiro grau
de, logo após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos
arts. 396 6 e 396-A A do Código de Processo Penal l, reconsiderar a anterior
decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das
hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 5 do Código de Processo
Penal l suscitada pela defesa. (...)

Assim, requer-se a rejeição da exordial acusatória, vez que ela é inepta


nos termos do art. 395, inciso I do CPP.

V. DO MÉRITO

Porquanto, não conseguiu o Representante do MP, demonstrar a


culpabilidade do acusado, mas, não quer acreditar na INOCÊNCIA dele. Neste norte, é
velho princípio de lógica judiciária:

“A acusação não tem nada de provado se não conseguiu estabelecer a certeza da


criminalidade, ao passo que a defesa tem tudo provado se conseguiu abalar
aquela certeza, estabelecendo a simples e racional credibilidade, por mínima que
seja, da inocência”.

As obrigações de quem quer provar a inocência são muito mais restritas


que as obrigações de quem quer provar a criminalidade” (F. MALATESTA – A lógica das
Provas – Trad. De Alves de Sá – 2ª Edição, págs. 123 e 124).

O ministro CELSO DE MELO, um dos mais importantes juristas da


atualidade, quando em um dos seus votos em acórdãos da sua lavra definiu que o ônus
da prova recai EXCLUSIVAMENTE ao MP:

“É sempre importante reiterar – na linha do magistério jurisprudencial que o


Supremo Tribunal Federal consagrou na matéria – que nenhuma acusação penal
se presume provada. Não compete, ao réu, demonstrar a sua inocência. Cabe ao
contrário, ao Ministério Público, comprovar, de forma inequívoca, para além de
qualquer dúvida razoável, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalecem
em nosso sistema de direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico do
processo político brasileiro (Estado novo), criou, para o réu, com a falta de pudor
que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua
própria inocência (Decreto-lei nº. 88, de 20/12/37, art. 20, nº. 5). Precedentes.”
(HC 83.947/AM, Rel. Min. Celso de Mello).

No mesmo passo o inesquecível Min. ALCIDES CARNEIRO quando


integrava o STM assentou:

“A prova, para autorizar uma condenação, deve ser plena e indiscutível,


merecendo dos julgadores o maior rigor na sua apreciação, mormente quando se
trata de testemunhas marcadas pela dúvida e pela suspeição, geradas pelo
interesse em resguardar situações de comprometimento pessoal”.

A prova carreada aos autos é extremamente frágil, notadamente pelo


depoimento da vítima, colhidos na fase inquisitorial.
Nobre julgador, a denúncia oferecida pela Douta Representante do
Ministério Público não merece prosperar, tendo em vista que os fatos não se coadunam
com a verdade real dos fatos.
O delito de ameaça não restou configurado em seus elementares. Nesse
sentido, Guilherme de Souza Nucci acerca da figura típica em debate:

Elemento subjetivo:

Em uma discussão, quando os ânimos estão alterados, é possível que as pessoas


troquem ameaças sem qualquer concretude, isto é, são palavras lançadas a esmo,
como forma de desabafo ou bravata, que não correspondem à vontade de
preencher o tipo penal.

(...). NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9. Ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2008. P. 684. (GRIFO NOSSO).

Excelência, para justificar a condenação pelo crime previsto no


artigo 147 do Código Penal, é necessário que a ameaça seja idônea, sem qualquer
animosidade entre a vítima e o acusado, vejamos:

APELAÇÃO. AMEAÇA. DÚVIDA QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO.


ABSOLVIÇÃO. Ameaça consiste no dito: "a vida é uma só e é fácil de se tirar",
desprovida de seriedade e em contexto conturbado, com animosidade e
altercações, não enseja um substrato probatório sério a dar suporte a um juízo de
condenação. Precedentes do STF. RECURSO PROVIDO. (Apelação Crime Nº
70050576313, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Nereu José Giacomolli, Julgado em 22/11/2012) (GRIFO NOSSO)
Excelência, quando a suposta vítima diz ter sido ameaçada, já havia uma
discussão previa. A suposta vítima sorrateiramente esconde que também ofende o pai
de seu filho com palavras de baixo calão.

Nesse sentido, restou demonstrada a fragilidade das alegações feitas


pela suposta vítima a respeito do crime imputado ao denunciado, restando na dúvida
sobre tal ocorrência, o que enseja sua absolvição. Vejamos o entendimento do Tribunal
de Justiça de Minas Gerais:

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE AMEAÇA - INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA


- APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO 'IN DUBIO PRO REO' - ABSOLVIÇÃO. - Diante
da fragilidade da prova produzida em desfavor do acusado, impõe-se a sua
absolvição, em atendimento ao princípio do 'in dubio pro reo'.(TJ-MG - APR:
10558120018186001 MG, Relator: Beatriz Pinheiro Caires, Data de Julgamento:
05/06/2014, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
18/06/2014) (Grifo Nosso)

Portanto, havendo dúvida quanto a prática da infração penal, a decisão mais


correta é a absolvição do réu, conforme manda o artigo 386, inciso VI do Código
de Processo Penal; “o juiz absolverá o réu se houver fundada dúvida sobre sua
existência.”

Excelência, sobre a ameaça que a suposta vítima alega ter sofrido, ninguém
presenciou.

É pacífico o entendimento dos Tribunais no que se refere ao “princípio do in


dubio pro reo”. Vejamos:

APELAÇÃO CRIME. AMEAÇA. ARTIGO 147 DO CP. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.


SENTENÇA CONDENATÓRIA REFORMADA. Ausente prova segura e conclusiva
acerca da efetiva ocorrência do fato descrito na denúncia e de sua conformação
típica, impositiva a absolvição do réu, tudo em observância ao princípio da
prevalência de seu interesse - in dubio pro reo. A ameaça é delito formal que não
exige resultado naturalístico, e sua comprovação se dá pela prova oral colhida, a
qual, na espécie, não é suficiente para ensejar a condenação. RECURSO
PROVIDO. (Recurso Crime Nº 71004640371, Turma Recursal Criminal, Turmas
Recursais, Relator: Cristina Pereira Gonzales, Julgado em 27/01/2014).

Outros julgados mostram perfeita harmonia ao caso sub judice e que


impera o princípio em comento, in verbis:
RECURSO CRIME. AMEAÇA. ART. 147 DO CP. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS.
ELEMENTARES DO TIPO PENAL NÃO CONFIGURADAS. SENTENÇA
CONDENATÓRIA REFORMADA. Não resultou claro que o réu, efetivamente,
tenha ameaçado a vítima, diante das versões conflitantes apresentadas,
resolvendo-se a dúvida em favor dele. Ademais, não demonstrada a
seriedade da ameaça, que não produziu intimidação penalmente
relevante. A dúvida é ainda agravada pela existência de prévio
desentendimento entre as partes, relacionado com o namoro entre o réu e a
filha da vítima. APELAÇÃO PROVIDA. (Recurso Crime Nº 71003729654, Turma
Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Volcir Antônio Casal, Julgado em
25/06/2012). Grifo/sublinhado nosso),

“Uma só testemunha contra alguém não se levantará por qualquer iniquidade,


ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que cometeu; pela boca de duas
testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o fato. “
Deuteronômio 19:15, Sagradas Escrituras.”

VI – DA LIBERDADE PROVISÓRIA

É de se destacar a desnecessidade da prisão cautelar no caso.

É o que se passa a demonstrar. A interpretação conjunta do art. 5º,


inciso LXVI, da Constituição, com o art. 310, parágrafo único, do Código de Processo
Penal, aponta que a manutenção da prisão do indivíduo preso em flagrante se justifica
apenas quando houver dados concretos que comprovem a presença dos requisitos
autorizadores da prisão cautelar.

Como registra Paulo Rangel, em seu livro “Direito Processual Penal”, 8º


ed, pág. 657, também leciona:

“A liberdade provisória é um direito constitucional que não pode ser negado se


estiverem presentes os motivos que a autorizam”.

Em outras palavras, a manutenção do encarceramento de um réu


configura medida de exceção, vinculando-se sua validade, portanto, à existência de
fumus boni iuris (indícios suficientes de materialidade e autoria) e do chamado
periculum libertatis, na forma do art. 312 do CPP, consistente na possibilidade concreta
de, permanecendo em liberdade, vir o acusado a, alternativamente:

a) perturbar a ordem pública ou a ordem econômica;

b) influir na regularidade da instrução processual; ou

c) frustrar a aplicação da lei penal.


Na situação em tela, não restam preenchidos os requisitos acima
mencionados, pelo que a liberdade do requerente é medida que se impõe.

Destacamos que o Requerente é primário, sem maus antecedentes, tem


residência fixa e trabalho nesta comarca, onde reside, não tendo razões para evadir.
Não há, ademais, qualquer demonstração fundada quanto à possibilidade de fuga, não
havendo sequer conjectura sobre essa possibilidade.

Destarte observa-se que o legislador, seguindo a moderna doutrina


penal e processual penal, manteve a prisão cautelar como medida de exceção, a qual
deve ser, portanto, interpretada restritivamente, no afã de compatibilizá-la com o
sagrado princípio da presunção de inocência, insculpido no artigo 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal.

A identidade civil do Requerente é certa e definida, conquanto não haja


qualquer levantamento nesse sentido pela Autoridade Policial.

Diante do exposto, como no caso sub examine não existem motivos


plausíveis para justificar a segregação cautelar, imperiosa é a concessão da sua
liberdade, ainda que imposta qualquer das medidas cautelares previstas no art. 319, do
CPP.

VII - DOS PEDIDOS

1. Seja concedida liberdade provisória sem fiança, com arrimo no art. 310, III, do
Código de Processo Penal, ordenando-se, por conseguinte, a expedição de alvará
de soltura em favor do denunciado, porquanto inexistentes os requisitos
autorizadores para o seu encarceramento;

2. Seja, subsidiariamente, concedida a substituição da prisão por uma das medidas


cautelares dispostas no art. 319, do CPP.
3. Diante do exposto, Requer desde já a REJEIÇÃO TARDIA da denúncia, por faltar
justa causa para o exercício da ação penal, conforme manda o artigo 395,
inciso III do Código de Processo Penal;
4. Não sendo caso de rejeição tardia, requer a ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do
denunciado e a TOTAL IMPROCEDÊNCIA da denúncia, com fundamento no
artigo 397, inciso III, do Código de Processo Penal, visto que o crime imputado
padece de dolo, portanto não constituindo crime;
5. Caso não seja este o entendimento deste Douto Juiz, a absolvição ainda é
medida que se impõe conforme o artigo 386, inciso VI, do Código de Processo
Penal e assim aplicado o princípio do “in dubio pro reo”;

6. Requer ainda, os benefícios da justiça gratuita;

7. Protesta provar a inocência do acusado por todos os meios em direito admitidos.

Nestes termos,

Pede e espera Deferimento.

xxxxxxxxxx, data do protocolo.

Você também pode gostar