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Alunas: Aquine Stéfane e Joseane Ferreira

ECELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA SEGUNDA VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE PETROLINA/PE

Processo nº XXXXXXXX

TÍCIO SANTOS, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem,


por intermédio de seu defensor constituído, mediante procuração anexa, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, com fulcro nos arts. 396 e 396-A do Código de Processo
Penal, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO, pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos.

1. DOS FATOS

O Ministério Público ofereceu denúncia, no dia 05/01/2023, contra Tício Santos


acusando-o de realizar disparos com arma de fogo contra Servidor Federal que se encontrava
no exercício das suas funções, tipificado no art.121, § 2°, II, do Código Penal. Apresentou na
peça acusatória que o Acusado foi preso em flagrante após tentar contra a vida de Carlos, seu
inimigo, o que lhe atribui motivo fútil para o cometimento do delito.

Verifica-se que inexiste nos autos do processo em epígrafe laudo pericial acerca da
arma que supostamente foi utilizada para praticar o crime. Verifica-se também que se faz
presente confissão de Tício.

Tal denúncia foi distribuída a este juízo e recebida na data de 06/03/2023 pelo juiz, que
determinou a citação do Acusado para apresentar sua defesa, citação esta que restou efetivada
no dia 09/06/2023. Em razão disto, apresenta a presente manifestação.

2. DAS PRELIMINARES

Da Incompetência do Juízo: O acusado, TÍCIO SANTOS na data de 05 de janeiro de


2023, era menor de 18 anos. Assim, o juízo competente para processar e julgar o feito é o da
Vara da Infância e Juventude, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Requer-se, então, sejam remetidos os autos ao juízo competente.
3. INÉPCIA DA DENÚNCIA

O art. 41 do Código de Processo Penal exige que constem na denúncia ou queixa a


exposição circunstanciada do fato criminoso, com todas suas circunstâncias. Veja-se:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato


criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.

Percebe-se que na denúncia oferecida pelo Ministério Público, no caso em comento,


essa exigência legal não foi observada, tendo em vista que não houve uma narração
circunstanciada do fato. Não foi apresentado o local em que supostamente o ato foi praticado,
ou qual a função exercida pela suposta vítima, ou mesmo o horário da prática da conduta.

O que foi apresentado na peça acusatória foi a simples alegação de que o acusado teria
realizado dois disparos com arma de fogo, calibre 40, contra a vida do Servidor, no momento
em que esse estava lotado de suas funções. Observa-se que o Ministério Público não ofereceu
maiores esclarecimentos acerca do fato, restando-lhe ausente maiores detalhes.

vale registrar que não há, nos autos, prova da materialidade e indícios de autoria
delitiva, o que fortalece o argumento de que a denúncia deve ser rejeitada, pois para a
propositura da ação penal esses elementos são necessários. Percebe-se que não há provas de
que o crime de fato foi praticado, a única "prova” que se faz presente é a confissão de Tício, o
que não pode ser valorado individualmente em razão do disposto no art. 197 do CPP. Muito
menos há indícios de ligação de qualquer fato que tenha ocorrido com o Acusado.

Desta feita, infere-se que a denúncia oferecida contra Tício Santos está inepta, devendo
ser rejeitada por este juízo. O art. 395 do Código Processual Penal estabelece esta
possibilidade, dispondo que a denúncia ou queixa será rejeitada quando manifestamente
inepta, situação que ocorreu no caso em comento.

Destaca-se ainda que, após o oferecimento da denúncia há sua apreciação pelo juízo
competente que decide acerca da possibilidade de aceitação ou rejeição, para somente depois
dar prosseguimento à ação penal com a citação do acusado para apresentar resposta à
acusação, quando não a rejeitar, conforme disposto no art. 396 do CPP.

Contudo, vale salientar ainda que há a possibilidade de se requerer a rejeição da


denúncia neste momento processual em razão da ampla defesa e do contraditório, tendo em
vista que esta é a primeira oportunidade para a defesa se manifestar, podendo tratar acerca
do assunto. O próprio Supremo Tribunal Federal – STF já decidiu neste sentido, veja-se:

(...) é possível ao Juiz reconsiderar a decisão de recebimento da


denúncia, para rejeitá-la, quando acolhe matéria suscitada na
resposta preliminar defensiva relativamente às hipóteses previstas
nos incisos do art. 395 do Código de Processo Penal. (STJ, Quinta
Turma, AgRg no REsp
1.291.039/ES 2011/0263983-6, Relator ministro Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 24/9/13).
(...) o recebimento da denúncia não impede que, após o oferecimento
da resposta do acusado (arts. 396 e 396-A do Código de Processo
Penal), o Juízo reconsidere a decisão prolatada e, se for o caso,
impeça o prosseguimento da ação penal. (STJ, Quinta Turma, HC
294.518/TO, relator ministro Felix Fischer, julgado em 2/6/15).
Sendo assim, é necessário, em razão do exposto acima, que seja a denúncia rejeitada
por ser inepta.

4. DA NULIDADE

Ante o disposto no art. 6º, VII, do CPP a autoridade policial deve determinar a
realização do exame de corpo de delito quando tiver conhecimento da prática de conduta
delituosa. Já o art. 158 do mesmo diploma legal determina que esse exame é indispensável
sempre que se tratar de infração que deixe vestígios.

Ressalta-se que in casu o crime apontado pelo Ministério Público em sua denúncia é o
de tentativa de homicídio por motivo fútil com emprego de arma de fogo. Trata-se de crime
não transeunte, ou seja, que deixa vestígios, sendo um deles a arma de fogo. Dessa maneira,
indispensável é, neste caso, a realização do exame de corpo de delito.

No entanto, como mencionado anteriormente, não foi realizado o exame de corpo de


delito sobre a arma utilizada. Desta forma, torna-se incabível a acusação pela prática de crime
de homicídio pelo emprego de arma de fogo, quando nem ao menos foi feita perícia sobre esta
para determinar a letalidade da arma, se era capaz de causar algum dano.

Ressalta-se que a confissão feita por Tício é incapaz de suprir a necessidade da


realização do exame de corpo de delito, conforme previsto no art. 158 do CPP. Vale
mencionar ainda que a confissão não pode ser utilizada, somente ela, como prova e
fundamento para a condenação, mas deve ser avaliada juntamente com os demais elementos
probatórios, que no caso em comento são inexistentes. Isto é o que estabelece o art. 197 do
mesmo diploma legal.

Acerca disso, percebe-se que se trata de uma nulidade processual prevista no art. 564,
III, “b”, e IV, do CPP. Segundo estes dispositivos legais, ocorrerá nulidade quando faltar o
exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, bem como quando houver
omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.

Dessa forma, requer que seja declarada a nulidade do processo, tendo em vista a não
realização do exame de corpo de delito.

5. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

De acordo com o art. 397, III, do CPP determina que o juiz pode absolver
sumariamente o acusado, após apresentada a resposta à acusação, quando se verificar que o
fato não constitui crime.

Como disposto anteriormente, não há no processo em epígrafe provas da materialidade,


ou seja, não há provas de que o crime de fato aconteceu. Não consta dos autos laudo pericial,
sendo que se trata de um crime que deixa vestígios. Não se sabe como o fato teria ocorrido,
pois a denúncia é inepta, e nem ao menos descrição de como se deu a violência existe na peça
acusatória.

Diante disso, é necessário incidir sobre o caso em comento o princípio do in dubio pro
réu, ou seja, havendo dúvidas não se pode prejudicar o réu. Ora, o Acusado não pode ser
prejudicado por uma ação penal que não poderia nem ter sido iniciada, pois são ausentes
elementos indispensáveis para tanto.

Sendo assim, percebe-se que o Acusado evidentemente não cometeu o crime, na


verdade é perceptível que não houve crime. Se tivesse ocorrido um delito na magnitude que
foi afirmado pelo Ministério Público, provas não faltariam para dar ensejo à ação penal
regularmente. Isto porque a suposta vítima estava a serviço, não indica qual função ela exerce,
mas certamente haveria testemunhas suficientes para afirmar que o crime de fato ocorreu; foi
informado que houve o emprego de arma de fogo, mas não consta nos autos laudo pericial.

Em razão disso, requer que seja o Acusado absolvido sumariamente, pela não
constituição de crime.

6. ATENUANTES

Vale resslatar ainda, que a resposta à acusação é o momento em que o Acusado pode se
defender de tudo o que foi alegado contra ele e apresentar todos os argumentos possíveis para
sua defesa. Tendo em vista tal questão cabe ainda falar acerca das circunstâncias que atenuam
a pena, previstas no art. 65 do CP.

O Acusado, na data do fato apresentada pelo Ministério Público, tinha apenas 18


(dezoito) anos de idade. Nesta situação, faz ele jus à atenuante disposta no inciso I do

mencionado dispositivo legal, qual seja a hipótese de ter o agente menos de 21 (vinte e um)
anos de idade na data do fato ou mais de 70 (setenta) na data da sentença.

Além de tal atenuante, é perceptível que o Réu faz jus também à atenuante estabelecida
no inciso III, “d”, do art. 65 do diploma penal. Este dispositivo faz referência à circunstância
de ter o agente confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime.
Conforme já apresentado, Tício confessou o crime e, apesar de não poder ser usada
individualmente para servir como prova de materialidade e autoria, posteriormente pode ser
utilizada para atenuar a pena, conforme previsto no mencionado artigo legal.

Desta feita, requer a concessão das atenuantes previstas no art. 65, incisos I e III, “d”,
do Código Penal.

7. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer-se:

a) A rejeição da denúncia, vez que está ela inepta, nos termos do art. 41 do CPP;

b) Não se entendendo pela inépcia da denúncia, a decretação de nulidade do processo, em


razão da falta de exame de corpo de delito, formalidade essencial, nos termos do art. 564,
III, “b”, e IV, do CPP;

c) Não sendo acatado o pedido acima, a absolvição sumária do Acusado, em razão de o fato
não constituir crime, em conformidade com o art. 397, III, do CPP;
d) Não sendo decidido pela absolvição sumária, a desqualificação do crime, visto que não há
perícia sobre a arma de fogo, de forma a não incidir sobre o caso a qualificadora do § 2º-A
do art. 157 do CP;

e) Cumulativamente à alínea “d”, a concessão das atenuantes previstas no art. 65, incisos I e
III, “d”, do CP;

f) Cumulativamente às alíneas “d” e “e”, a aplicação da pena mínima; e

g) A produção de todas as provas admitidas em direito.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Petrolina-PE, 21 de junho de 2023

ADVOGADO
OAB Nº XXXXX

ROL DE TESTEMUNHAS:

1. XXXXXXXXXXXXXXXXX, RG Nº XXXXXXX
2. XXXXXXXXXXXXXXXXX, RG Nº XXXXXXX
3. XXXXXXXXXXXXXXXXX, RG Nº XXXXXXX

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