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AO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DO SISTEMA DE JUIZADOS DA COMARCA DE JUAZEIRO

Nº do processo:

NOME DO RECORRENTE, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, por seu advogado que ao final
subscreve, vem, com o devido respeito, perante Vossa Excelência, interpor o seu RECURSO INOMINADO [OU
DE APELAÇÃO, em caso de Justiça Comum] contra a respeitável sentença do evento 70, requerendo que sejam
remetidos os autos para a Colenda Turma Recursal para que lá seja realizada a anulação do decisum em razão da
presença de error in procedendo [ou a reforma do decisum em razão da presença de error in iudicando].

[SE NO JUIZADO NÃO HÁ GRATUIDADE DEFERIDA] Além disso, requer a concessão da gratuidade de justiça
a fim de ser isenta do preparo, em vista a documentação acostada que comprova se enquadrar no conceito de
hipossuficiente, de forma que não tem condições financeiras de suportar o pagamento das custas sem prejuízo do seu
sustento ou de sua família.

[SE FOR O CASO DE GRATUIDADE] Informa, por fim, a desnecessidade do recolhimento de preparo, em razão da
gratuidade de justiça deferida [tacitamente, com base no REsp 1.721249] no ID XXXXXX.

[SE NÃO FOR O CASO DE GRATUIDADE] Informa, por fim, o recolhimento do preparo.

São os termos em que pede deferimento.

Juazeiro/BA, 10 de janeiro de 2023.

BRUNO MEDRADO

OAB/BA 47716
COLENDA TURMA RECURSAL

PROCESSO: 0002448-12.2022.8.05.0146
RECORRENTE: MARIA LÚCIA REGO DA SILVA
RECORRIDO: ADNORIA CAMPINAS NOGUEIRA

Nobres Julgadores.

RAZÕES DO RECURSO

1 DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA [SE NÃO FOI CONCEDIDA A GRATUIDADE]

1. DOS FATOS

Trata-se de Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais, em que,


sintetizando, alega a recorrida que é artesã na ACAJ (Associação Casa do Artesão de
Juazeiro) há dez e vende os seus produtos na loja da ACAJ, recebendo 65% e
repassando para a ACAJ o percentual de 35% e que não recebeu o seu percentual de
vendas entre os meses de agosto de 2021 a dezembro de 2021 (montante de R$ 10.549).
Afirma, também que, ao procurar a recorrente, esta havia lhe falado que os valores
estavam bloqueados porque os transferiu para a conta de seu pai e, com o falecimento
dele, foi bloqueada.

Ocorre que a narrativa não corresponde integralmente a realidade dos fatos.

Em verdade, a recorrida saiu da ACAJ em dezembro de 2021.


Por conta da renovação da diretoria da ACAJ, a ata foi encaminhada para o Cartório
no final de julho de 2021 para registro do documento. O Cartório, por sua vez, somente
lavrou o registro no final de outubro daquele ano.

Durante esse tempo, os valores das compras dos produtos da ACAJ feitas no cartão
de crédito/débito iam direto para a conta jurídica da ACAJ e, como o procedimento no
cartório tramitava, o banco não autorizava que a Presidente movimentasse a conta
enquanto não atualizada a informação de sua legitimidade.

Com isso, não só as vendas da recorrida, como de todos os associados e valores da


própria ACAJ, foram temporariamente retidos pelo banco.

Nesse quase um semestre, as contas da ACAJ foram se acumulando, chegando a liça


de R$ 23.387,31 (vinte e três mil trezentos e oitenta e sete reais e trinta e um centavos).
Como todos os associados têm deveres com a associação, o montante de todos os
associados se juntou ao montante da ACAJ para fazer frente às despesas com
funcionários, prestadores de serviço de limpeza, compra de material de higiene,
segurança patrimonial, sistema de informação, faturas de água e de energia, conforme
planilhas juntadas.

Não procede também a alegação mentirosa da recorrida de que a Recorrente teria


transferido os valores da conta da ACAJ para a conta do seu pai pois, como dito,
durante esse período, a conta jurídica da ACAJ estava sem movimentação.

Importante mencionar que a recorrida acostou à sua inicial apenas comprovante de


residência e documento de identificação, mais nada além disso. Na audiência de
conciliação, requereu julgamento antecipado do processo, renunciando, pois, à
audiência de instrução.

Sobrevindo sentença, o juízo de origem rejeitou o pedido de indenização por danos


morais, mas condenou a recorrente no pagamento de R$ 10.049,00 (dez mil e quarenta e
nove reais) a título de danos materiais.
Por todo exposto e pela ausência de comprovação, pugna pela reforma da r.
sentença.

2. DO MÉRITO

2.1. NULIDADE DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO


QUANTO À PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA A
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Pelo que se depreende da decisão recorrida, quando da análise da preliminar de


ilegitimidade passiva, o juízo de origem não a acolheu, digitando em uma linha e meia a
sua conclusão:

Percebe-se claramente que inexiste fundamentação que ampare a decisão do Juiz


pela sua conclusão em não acolher a preliminar aventada. A ausência da devida
fundamentação afronta diretamente a Constituição Federal:

Art. 93 (...). IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder


Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões,
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;

Nesse mesmo sentido é a redação do CPC/15:


Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade.

Por tal razão que a decisão não fundamentada configura nulidade, nos termos do
Art. 1.013, §3º, in IV do CPC, amplamente reforçado pela doutrina:

O dever de fundamentação das decisões judiciais é inerente ao


estado Constitucional e constitui verdadeiro banco de prova do
direito ao contraditório das partes. Sem motivação a decisão
judicial perde duas características centrais: a justificação da
norma jurisdicional para o caso concreto e a capacidade de
orientação de condutas sociais. Perde, em uma palavra, o seu
próprio caráter jurisdicional. O dever de fundamentação é
informado pelo direito ao contraditório como direito de
influência -não por acaso direito ao contraditório e dever de
fundamentação estão previstos na sequência no novo Código
Adiante, o art. 489, §§ 1º e 2º, CPC, visa a delinear de forma
analítica o conteúdo do dever de fundamentação."(MARINONI,
ARENHART e MITIDIERO CPC Comentado. 2ª ed.rev.atual..
RT. 2016- ref. artigo 11):

A fundamentação da decisão, portanto, não é uma faculdade, uma vez que


inerente e indispensável ao pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, razão
pela qual artigo 489 do CPC corrobora o entendimento, expondo taxativamente a
fundamentação como requisito essencial da sentença.

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


(...)
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato
e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais
que as partes lhe submeterem.
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato


normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o


motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer


outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo


capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem


identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que
o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou


precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.

Com isso, quer-se dizer que se uma decisão judicial não é fundamentada, carece
dos requisitos legais de eficácia e validade, pois ilegal! Este entendimento predomina
nos tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL. REINTEGRAÇAO DE POSSE.


SENTENÇA NÃO FUNDAMENTADA. NULIDADE. 1) A
Constituição da República de 1988, no artigo 93, IX, prevê o
princípio da motivação das decisões judiciais, segundo o qual
"todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade". Logo, é nula a sentença quando inexistente a
fundamentação e sem a observância dos requisitos legais
(art. 489, CPC). 2) O acolhimento do pedido autoral de forma
genérica, sem apontar qualquer elemento fático-jurídico para
tanto, consubstancia-se em ausência de fundamentação,
impondo-se a nulidade do julgado. 3) Sentença cassada ex
officio. (TJ-AP - APL: 00250322420158030001 AP, Relator:
Desembargador ROMMEL ARAÚJO DE OLIVEIRA, Data de
Julgamento: 30/04/2019)

DIREITO DO TRABALHO. SENTENÇA NÃO


FUNDAMENTADA. NULIDADE DA SENTENÇA POR
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
Vislumbrando-se nos autos a ausência de fundamentação da
sentença quanto à totalidade dos pleitos formulados na
exordial, bem como o não enfrentamento dos argumentos
deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador, evidencia-se a negativa da
prestação jurisdicional ante a violação ao disposto nos arts.
93, IX da CF/88 e 489 do CPC. O retorno dos autos ao MM.
Juízo de origem para novo julgamento é medida que se impõe.
Recurso ordinário a que se dá provimento. (TRT-6 - RO:
00004602020165060006, Data de Julgamento: 06/02/2019,
Quarta Turma)

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. BUSCA E


APREENSÃO. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
SENTENÇA SEM FUNDAMENTO VÁLIDO. OFENSA AO
ART. 489, II, CPC. NULIDADE. PRIMAZIA DO
JULGAMENTO DE MÉRITO. COMPROVAÇÃO DE MORA
DO DEVEDOR. OPORTUNIDADE. SENTENÇA
CASSADA.1. (...)1.1. Constatação de que o único argumento
que embasa a sentença é estranho à lide, pois a autora sequer é
assistida da Defensoria Pública.2. De acordo com o art. 489, do
CPC São elementos essenciais da sentença: (...) II - os
fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e
de direito. 2.1. É nula a sentença que contém fundamentos
que não se aplicam ao caso concreto.3. (...). 6. Sentença
cassada. Recurso provido. (20170210001702APC, 2ª Turma
Cível, DJE: 12/09/2017).5. Sentença cassada para que se profira
uma outra. (TJDFT, Acórdão n.1083204, 20170710019228APC,
Relator(a): JOÃO EGMONT, 2ª TURMA CÍVEL, Julgado em:
14/03/2018, Publicado em: 20/03/2018)

Ao dispor sobre a fundamentação, a doutrina complementa:

Fundamentação. A fundamentação das decisões judiciais é


ponto central em que se apoia o Estado Constitucional,
constituindo elemento inarredável de nosso processo justo (art.
5º, LIV, CF). (...) A fundamentação deve ser concreta,
estruturada e completa: deve dizer respeito ao caso concreto,
estruturar-se a partir de conceitos e critérios claros e pertinentes
e conter uma completa análise dos argumentos relevantes
sustentados pelas partes em suas manifestações. Fora daí, não se
considera fundamentada qualquer decisão (arts. 93, IX, CF, e 9º,
10, 11 e 489, §§ 1º e 2º, CPC)." (MARINONI, ARENHART e
MITIDIERO CPC Comentado. 2ªed.rev.atual.. RT. 2016- ref.
artigo 489)

Razão pela qual, considerando que a decisão não se mostra devidamente


fundamentada, seve ser considerada nula para que seja devidamente revista.

2.2. AUSÊNCIA DE REQUISITOS PARA DESCONSIDERAÇÃO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA

Os limites patrimoniais da personalidade jurídica são expressamente previstos em lei


e têm como finalidade promover o empreendedorismo, conforme dispõe o Código Civil:
Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus
sócios, associados, instituidores ou administradores.

Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas


é um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos,
estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e
inovação em benefício de todos.

Portanto, totalmente descabida, com o devido respeito, o reconhecimento da


legitimidade passiva da recorrente, haja vista a independência das personalidades e a
ausência dos requisitos legais autorizadores da desconsideração.

Está claro que nos presentes autos não há relação de consumo, mas sim relação
jurídica regulada pelo Código Civil e este diploma normativo exige que se faça a
exposição e prova da Teoria Maior, nos termos do artigo 50, com a redação dada pela
Lei 13.874/19, do Código Civil, que dispõe:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares
de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.

§1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é


a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar
credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.

§ 2º - Entende-se por confusão patrimonial a ausência de


separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:

I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do


sócio ou do administrador ou vice-versa; II - transferência de
ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os
de valor proporcionalmente insignificante; e III - outros atos
de descumprimento da autonomia patrimonial.

Ocorre que a recorrida não trouxe nenhuma evidência sobre qualquer um dos
requisitos acima mencionados, não podendo se presumir o dolo ou desvio de finalidade.
Para se ter uma ideia, poderia colacionar aos autos fotografias da evolução do
patrimônio da recorrente durante os meses de agosto a dezembro, sinais aparentes de
riqueza, vídeos demonstrando o desvio de finalidade, fotografias de lojas em outros
endereços que não aqueles cadastrados nos órgãos fazendários, mas não o fez. E por
uma razão simples: porque não consegue comprovar qualquer indício de fraude.

Pelo contrário mente em juízo ao dizer que a recorrente retirou quantias da conta da
associação e as depositou na do seu pai, na tentativa falha de induzir este juízo a erro,
pois durante esse período a conta bancária da associação só recebia valores das vendas,
não era possível a movimentação em razão da necessidade exigida pelas normas do
Sistema Financeiro Nacional.

A lei exige expressamente a existência do DOLO na conduta da ACAJ para lesar


credores, o que não ficou evidenciado em qualquer elemento trazido recorrida. Na
verdade, a recorrida nada prova. Vê-se dos autos que somente acostou à petição inicial a
procuração, comprovante de residência e documentos de identificação, dispensando a
produção de outros meios de prova.

Portanto, deve ser de plano indeferido o pedido, uma vez que não restou
demonstrados os requisitos legais acima referidos, bem como a desconsideração da
personalidade jurídica trata-se de exceção admitida somente em casos extremos,
conforme remansosa jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. IMPOSSIBILIDADE. O
requerimento de desconsideração da personalidade jurídica
deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais
específicos para tanto. Inteligência do disposto no art. 134, §4º
do CPC. A mera situação de inadimplência, por si só, não tem
o condão de demonstrar o preenchimento dos requisitos legais.
Inteligência do art. 50 do CC/2002. Precedente do C. Superior
Tribunal de Justiça. Manutenção da r. decisão interlocutória.
RECURSO DOS EXECUTADOS PROVIDO. (TJSP; Agravo
de Instrumento 2058759-59.2019.8.26.0000; Relator (a):
Berenice Marcondes Cesar; Órgão Julgador: 28ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Guarujá - 1ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 30/04/2019; Data de Registro: 30/04/2019)

EMBARGOS À EXECUÇÃO - Desconsideração da


personalidade jurídica - Não demonstrado abuso da devedora a
justificar a inclusão das sócias no polo passivo da execução -
O fato das embargantes serem sócias da executada não as
torna por si só, devedoras do título - De igual sorte, a não
localização de bens na única tentativa realizada via sistemas
Infojud e Renajud não indica o abuso de personalidade,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão
patrimonial, como exige o artigo 50 do Código Civil -
Precedentes da Corte - De rigor, o acolhimento dos embargos
para excluir as sócias do polo passivo da execução - (...)
(TJSP; Apelação Cível 1046031-62.2017.8.26.0100; Relator
(a): Mendes Pereira; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 41ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 12/03/2019; Data de Registro: 12/03/2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA.


PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE DE ARRESTO DE BENS DOS
SÓCIOS. 1. (...). 3. No caso, não comprovados de plano a
confusão patrimonial e o desvio de finalidade, mostra-se
desarrazoado o deferimento do arresto de bens dos sócios,
conforme disposto no artigo 50 do Código Civil. AGRAVO
DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO.
DECISÃO MANTIDA. (TJ-GO - AI:
02392049220198090000, Relator: SÉRGIO MENDONÇA DE
ARAÚJO, Data de Julgamento: 19/07/2019, 4ª Câmara Cível,
Data de Publicação: DJ de 19/07/2019)

Dessa forma, não estando presentes requisitos não há que se falar na


desconsideração da personalidade jurídica e, consequentemente, a Ré não tem
legitimidade passiva ad causam, devendo o processo ser extinto em relação a ela.

2.3. NULIDADE DA SENTENÇA EM DESCONFORMIDADE COM A


PROVA DOS AUTOS
Compulsando a sentença, verifica-se que o juízo de origem reconhece que a
recorrente reteve valores da recorrida, mesmo sem esta comprovar tais alegações e
mesmo aquela rebatendo tais.

Analisando os autos, percebe-se que a recorrida instaurou uma ação somente


com palavras, sem comprovação nenhuma dos fatos, dificultando sobremaneira a defesa
da Recorrente.

Não produziu prova, quando do protocolo, nem pugnou pela produção posterior,
a exemplo da prova oral.

Neste ponto, inclusive, o juízo de origem fundamenta de forma equivocada no


sentido de que não houve negativa defensiva sobre os valores a serem devolvidos.
Ora, o que seria este tópico, que foi reproduzido também na contestação, senão o
ato de controverter os fatos apresentados pela recorrida.

O mais absurdo, com o devido respeito é que o juízo instaura uma regra de
instrução do processo na sentença, quando insinua que a recorrente deveria provar o
direito da recorrida.

Ocorre que a ação foi deflagrada sem qualquer documentação comprobatória,


mas, mesmo assim, de posse dos documentos que tinha a recorrente tentou buscar
fulminar com a pretensão da recorrida.

Mesmo sem apresentar qualquer documentação, a sorte da demanda foi


favorável à recorrida, apesar de haver prova em sentido contrário, o que deixa ainda
mais evidente a violação da norma adjetiva.

Em tais casos, não se deve conceber a prevalência dessas decisões:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. EMBARGOS


MONITÓRIOS EM QUE A DEFENSORIA PÚBLICA
APRESENTOU DEFESA ESPECÍFICA, E NÃO GENÉRICA.
NULIDADE DA SENTENÇA IMOTIVADA. I - Nula é a
sentença que deixa de analisar as provas constantes dos autos e
não responde as alegações de defesa; II - No caso em concreto,
embora a defesa tenha sido patrocinada pela Defensoria Pública,
o foram em caráter específico, e não genérico, como restou
pronunciado; III - Sentença cassada, sem possibilidade de
aplicação do art. 1.013 do CPC, haja vista que o ato decisório
ressente-se de mácula, também, quanto a ausência de declaração
do direito em face dos demais demandados, ponto insanável, que
exige pré-questionamento, resultando inviável a teoria da causa
madura, haja vista que qualquer pronunciamento aos demais
sujeitos processuais implicaria em ofensa ao contraditório e
ampla defesa. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA
EM PARTE. (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -
> Recursos -> Apelação Cível 0175776-73.2016.8.09.0051, Rel.
Des(a). Aureliano Albuquerque Amorim, 2ª Câmara Cível,
julgado em 29/03/2021, DJe de 29/03/2021)
Ainda por ocasião da defesa, não reconheceu o direito da autoria, ou seja, em
nenhum momento reconheceu a procedência dos pedidos, além de ter produzido a sua
contraprova.

Por todo exposto, a sentença é nula nesse ponto seja por julgar em
desconformidade com a prova dos autos, como vaticina o art. 371, do CPC/15, seja por
criar uma espécie de regra de instrução no momento da sentença. Por isso, requer a sua
anulação e avançando no mérito, com base na teoria da causa madura, seja julgado
improcedente o pedido de indenização por danos materiais.

2.4. NECESSIDADE DE SE DESINCUMBIR DO ÔNUS DA PROVA


Conforme as lições clássicas do processo civil, sempre que alguém deflagra a
jurisdição, é necessário que esclareça os fatos, por algum meio estabelecido em lei.
Nesse campo, o direito probatório insculpido no art. 373, do CPC/15, estabelece os ônus
que cada parte tem no momento de esclarecer a situação jurídica deduzida em juízo.

No caso dos autos, teria a recorrida a incumbência de provar o fato


constitutivo do seu direito. E nem precisa ser uma prova contundente, bastava
qualquer forma que, ao menos, pudesse fazer surgir o indício.

A título de sugestão, quando a recorrida fala sobre ausência de repasses,


poderia juntar um extrato bancário para provar que não houve nenhum
lançamento entre agosto e dezembro. Poderia também juntar um relatório de
vendas, sem muitas formalidades, um escrito qualquer listando o que entra e o que
sai, para provar o valor exato do que supostamente se é devido.
Ainda que a prova documentada não pudesse ser produzida, poderia a
recorrida pugnar pela produção de outros meios de prova, que acontece em
momento distinto do protocolo, mas nem isso.

No entanto, o que se percebe no caso concreto é que a recorrida só junta aos


autos procuração, documentação pessoal e comprovante de residência, não retirando de
si o fardo da prova sobre os fatos que alega. Nessas situações o STJ tem entendimento
pacificado:

RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO.


NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO
OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FALIMENTAR.
ILEGITIMIDADE DO TERCEIRO EMBARGANTE.
SOBREPOSIÇÃO DE ÁREAS DE IMÓVEIS CONSTRITOS.
AUTOR QUE NÃO SE DESINCUMBIU DO ÔNUS DE
PROVAR O FATO CONSTITUTIVO DO SEU DIREITO.
REVISÃO DAS CONCLUSÕES DO TRIBUNAL
ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA
EXTENSÃO, DESPROVIDO. 1. Verifica-se que o Tribunal de
origem analisou todas as questões relevantes para a solução da
lide de forma fundamentada, não havendo falar em negativa de
prestação jurisdicional. 2. Os embargos de terceiro são ação de
conhecimento de rito especial, destinada à parte que sofre
constrição de um bem do qual tenha posse em decorrência de
decisão judicial proferida em uma relação jurídica processual da
qual não participou. Assim, a finalidade precípua dos embargos
de terceiro é eliminar constrições indevidas de origem
processual sobre o patrimônio do embargante, de modo que não
se mostra possível que o terceiro embargante suscite questão
afeta única e exclusivamente à parte executada, tal como a
competência absoluta do Juízo universal em decorrência da
decretação de sua falência. 3. Nos termos do art. 373, I, do
CPC/2015, o autor deverá exercer a faculdade de utilizar os
meios necessários para a obtenção de um interesse próprio, de
maneira que, se frustrado seu ônus, deverá suportar as
consequências prejudiciais aos seus próprios interesses. 3.1. No
caso vertente, as instâncias ordinárias consignaram que as
provas carreadas aos autos não são capazes de demonstrar que
as referidas fazendas se referem ao mesmo imóvel, sobretudo
porque a simples comparação da descrição dos imóveis objetos
das matrículas seria insuficiente para evidenciar a sobreposição
de imóveis, sendo imprescindível a confrontação das descrições
com outros dados técnicos e fáticos a serem produzidos por
profissional habilitado, o que só não ocorreu por inércia do
autor. 3.2. Vê-se, portanto, que as questões foram decididas
mediante profunda análise das provas produzidas nos autos.
Logo, para infirmar as conclusões do acórdão recorrido, seria
imprescindível o reexame de provas, medida inadmissível nesta
instância extraordinária, conforme prevê a Súmula 7/STJ. 4.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão,
desprovido. (REsp n. 1.810.442/SP, relator Ministro Marco
Aurecorrentelio Bellizze, Terceira Turma, julgado em
23/8/2022, DJe de 25/8/2022.)
E não há que se falar em inversão do ônus da prova, pois a teoria dinâmica só se
aplica em relações jurídicas específicas ou quando, de fato, o autor não conseguir
produzir a prova. É o que se convencionou chamar de “prova diabólica”.

Não estamos diante de uma relação consumerista ou trabalhista e, afora essas


situações, é impossível inverter o ônus porque a recorrente ficaria impossibilitado de
produzir a prova. Afinal, a o objeto da prova seria provar um fato negativo.

Dessa forma, a saída mais correta seria a improcedência dos pedidos, o que fica
desde já requerida pelos motivos alhures expostos.

2.5. INEXISTÊNCIA DE DANO MATERIAL


Como se sabe, uma associação é o conjunto de pessoas que desenvolve, dentre
outras, atividades com fins culturais, como é o caso dos autos. Na consecução dos seus
fins, os associados têm deveres recíprocos e para com a associação.

A recorrida ora falseia, ora omite a verdade dos fatos. Em sua narrativa, não foi
pontuado que os valores arrecadados com as vendas dos produtos postos à exposição na
loja, sede da ACAJ, de todos os associados e da própria associação, foram utilizados
pela ACAJ para pagar despesas para o seu funcionamento, de modo a viabilizar o
trabalho da recorrida e das demais associadas, além da própria existência da Associação,
que cumpre um importante papel social difundindo a cultura local.

De acordo com as normas do Regimento Interno da ACAJ, os recursos


arrecadados são aplicados nas suas instalações, nos custeios dos serviços de seus para a
realização dos seus objetivos sociais:
Além disso, o valor cobrado a título de mensalidade dos associados é para cobrir
as despesas administrativas:

Ainda de acordo com a norma regimental, todos devem zelar pelo patrimônio
físico e moral da Associação e conservar os equipamentos de uso coletivo e contribuir
para a limpeza e manutenção das áreas internas e externa:
Não se pode esquecer que os últimos dois anos foram atípicos em decorrência da
pandemia causada pelo Novo Coronavírus e, quando a ACAJ estava voltando à
normalidade, veio esse bloqueio da sua conta e, durante esse período diversas despesas
iam se implementando. A recorrente não poderia tirar do seu próprio patrimônio pessoal
e arcar com as dívidas de natureza contínua, pois, do contrário, haveria confusão
patrimonial e, aí sim, responderia pessoalmente. Quem pagaria essas dívidas senão os
próprios associados e a ACAJ? De outra forma não entende o STJ, mutatis mutandis:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C


ANULATÓRIA E OBRIGAÇÃO DE FAZER.
COOPERATIVA MÉDICA. ASSEMBLEIAS GERAIS E
PREVISÕES ESTATUTÁRIAS. RATEIO DE PREJUÍZOS.
CRITÉRIO IGUALITÁRIO OU PROPORCIONAL À
FRUIÇÃO DOS SERVIÇOS. 1. Inexiste ofensa ao art. 535 do
CPC, quando o Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara
e precisa sobre a questão posta nos autos. 2. Na hipótese, foi
efetivado, pela cooperativa médica, o rateio dos prejuízos
apurados nos exercícios de 2003 e 2005, de forma igualitária
entre os cooperados, e não proporcional aos serviços por eles
usufruídos. 3. As sociedades cooperativas apresentam
características especiais que as distinguem das demais
sociedades empresárias, obedecendo a uma principiologia
própria, caracterizada, dentre outras coisas, pela participação
econômica equitativa e proporcional de seus membros, de
acordo com a sua respectiva participação nas operações da
entidade, que orienta a distribuição de ônus, vantagens, riscos e
benefícios, e que prevalece sobre a composição patrimonial do
capital da sociedade. 4. Os estatutos das cooperativas contêm as
normas fundamentais sobre a organização, a atividade dos
órgãos e os direitos e deveres dos associados frente à associação.
Embora a Assembleia Geral dos associados, nos termos do art.
38 da Lei 5.764/71, seja o órgão supremo da sociedade, tendo
poderes para decidir os negócios relativos ao objeto da
sociedade e tomar as resoluções convenientes ao
desenvolvimento e defesa desta, e suas deliberações vinculam a
todos, ainda que ausentes ou discordantes, ela deve fazê-lo
sempre dentro dos limites legais e estatutários. 5. Ainda que se
admita, no art. 80, parágrafo único, da Lei 5.764/71, o rateio
igualitário das despesas gerais, a depender de previsão no
estatuto social da cooperativa, em relação aos prejuízos, sempre
deverá ser observada a proporcionalidade, nos termos do art. 89
da mesma norma. 6. As deliberações das Assembleias Gerais,
relativas à distribuição igualitária dos prejuízos não devem
prevalecer porque contrárias às disposições estatuárias então
vigentes e/ou às disposições da Lei 5.764/71, que prevê no seu
art. 89, o rateio proporcional à fruição dos serviços pelos
cooperados. 7. Recurso especial provido. (REsp n.
1.303.150/DF, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, julgado em 5/3/2013, DJe de 8/3/2013.)

COMERCIAL - COOPERATIVA - PRODUTO ESTOCADO


(DEPOSITO) - COMERCIALIZAÇÃO - POSSE. I - NO
DIREITO COOPERATIVO, ASSENTOU A DOUTRINA QUE
OS ESTATUTOS CONTEM AS NORMAS FUNDAMENTAIS
SOBRE A ORGANIZAÇÃO, A ATIVIDADE DOS ORGÃOS
E OS DIREITOS E DEVERES DOS ASSOCIADOS FRENTE
A ASSOCIAÇÃO. SÃO DISPOSIÇÕES QUE VALEM PARA
TODOS OS PARTICIPES (COOPERADOS) POR ISSO QUE
DE NATUREZA GERAL E ABSTRATA, TAL COMO A
CONSTITUIÇÃO REGULADORA DA VIDA DO ESTADO
REGE O COMPORTAMENTO DAS SOCIEDADES
PERSONIFICADAS. TAIS NORMAS NÃO ASSUMEM UMA
CARACTERISTICA CONTRATUAL, MAS
REGULAMENTAR OU INSTITUCIONAL. II - PRODUÇÃO
ENTREGUE A ENTIDADE POR SEU SOCIO-COOPERADO
NÃO PODE DESVINCULAR-SE, MOTU PROPRIO, POR
SIMPLES NOTIFICAÇÃO, DA ASSOCIAÇÃO, QUANDO A
DELIBERAÇÃO DA ASSEMBLEIA DISPOS SOBRE SEUS
ESTOQUES COM MEDIDAS SANEADORAS EMANADAS
DO ESTATUTO, QUANTO A CRITERIOS DE
COMERCIALIZAÇÃO, A QUE ADERIU SEU MEMBRO,
SENDO INCABIVEL, PORTANTO, REAVER A POSSE DE
TAIS MERCADORIAS VIA REINTEGRAÇÃO.
(INTELIGENCIA DO ART. 83 DA LEI 5764/71). III -
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (REsp n. 6.003/PR,
relator Ministro Waldemar Zveiter, Terceira Turma, julgado em
27/11/1990, DJ de 4/2/1991, p. 577.)
Tem-se com isso que, conforme se nota das provas acostadas, a ACAJ sempre
amarga prejuízos financeiros, sendo exceção o lucro. Para se ter uma ideia, uma de suas
lojas teve que fechar as portas para não causar a extinção da pessoa jurídica. Os valores
retidos – não só da recorrida, como de todos os associados e da ACAJ – mal deram para
cobrir as dívidas, que, durante o período em que a conta jurídica ficou bloqueada,
atingiram o valor de R$ 23.387,31 (vinte e três mil trezentos e oitenta e sete reais e
trinta e um centavos). Isso sem contar os passivos dos períodos anteriores.

Por todo exposto, a sentença é nula nesse ponto seja por julgar em
desconformidade com a prova dos autos, como vaticina o art. 371, do CPC/15, seja por
criar uma espécie de regra de instrução no momento da sentença. Por isso, requer a sua
anulação e avançando no mérito, com base na teoria da causa madura, seja julgado
improcedente o pedido de indenização por danos materiais.

3. DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer o conhecimento do presente recurso para que seja provido
no sentido de anular a sentença, por desrespeito à regra do art. 371 e 489, e, avançando
no julgamento da causa, com base na teoria da causa madura, seja acolhida a preliminar
de ilegitimidade passiva ou, subsidiariamente, caso não acolhida, julgado improcedente
o pedido de indenização por danos materiais.
São os termos em que pede deferimento.
Juazeiro/BA, 10 de janeiro de 2023.

BRUNO MEDRADO
OAB/BA 47716

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