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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE

EXECUÇÕES CRIMINAIS DA COMARCA DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP

FEITO N.º: 560.128

JOILSON SANTANA, já qualificado nos autos em epígrafe,


que lhe move a Justiça Pública, pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo,
por meio de seu órgão de execução que abaixo assina vem, respeitosamente,
perante Vossa Excelência interpor AGRAVO EM EXECUÇÃO, com fulcro no
artigo 197, da Lei 7.210/84, contra a decisão de fls. 90 do apenso de “Sindicância
27.06.18” que reconheceu a prática de falta grave e declarou a perda de 1/3 dos
dias eventualmente remidos.

Requer-se seja o presente recurso recebido e processado e,


caso Vossa Excelência entenda que deva manter a respeitável decisão, que seja
encaminhado, juntamente com as razões anexas, incluindo cópia integral do
apenso de “Sindicância 27.06.18”, ao Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo.

Termos em que, pede deferimento.


Presidente Prudente/SP, 09 de janeiro de 2019.

DANILO PEREIRA LEITE


5º Defensor Público da Regional de Presidente Prudente/SP

HIAGHO NASCIMENTO SILVERIO


Estagiário da Defensoria Pública

Rua Comendador João Peretti, n.º 26 - Vila Santa Helena - CEP 19015-610 - Fone/Fax: (18) 3901-1486
MINUTA DE RECURSO – AGRAVO EM EXECUÇÃO

EXECUÇÃO Nº 560.128
AGRAVANTE: JOILSON SANTANA
AGRAVADO: JUSTIÇA PÚBLICA

MERITÍSSIMO JUIZ (A),

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

COLENDA CÂMARA

DOUTOS DESEMBARGADORES

I - DA SINOPSE DO CASU

O sentenciado cumpria sanção na Penitenciária de Flórida


Paulista/SP, onde no dia 27 de junho de 2018, supostamente, teria praticado atos
de tumulto e subversão à ordem e disciplina da unidade, razão pela qual foi
instaurado o Procedimento Disciplinar nº 290/2018.

O sentenciado foi ouvido administrativamente às fls. 45 e


negou que tivesse tumultuado a unidade prisional.

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A Autoridade Administrativa concluiu pela prática de falta
disciplinar de natureza grave, aplicando sanções administrativas (fls. 67-70).

O nobre juiz a quo homologou o procedimento administrativo


(fls. 90), reconheceu a prática de falta de natureza grave e declarou a perda de
1/3 dos eventuais dias remidos.

Data maxima venia, o r. decisum não prospera, senão


vejamos:

II – DO DIREITO

II.1 PRELIMINARMENTE

DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO

Na decisão atacada o d. Juiz a quo não expôs as razões de


fato e de direito que justificaram a homologação do procedimento disciplinar
apuratório.
Nada obstante ter repelido as nulidades arguidas, no que
toca ao mérito não fez referência a qualquer prova ou circunstância que o levou a
concluir pelo cometimento de falta grave.

Assim, deixou de explicar a motivação de seu


posicionamento, não evidenciando seu raciocínio lógico, explicativo e
convincente. Dessa forma, o magistrado singular utilizou-se da motivação
implícita, não admitida pela dicção constitucional.

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De fato, o princípio da motivação das decisões judiciais está
expressamente previsto no artigo 93, inciso IX da Constituição Federal de 1988,
segundo o qual:

“todos os julgados dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação.”

Nas palavras do ilustre jurista italiano Michele Taruffo, esse


princípio decorre do seguinte fato:

[...] o poder não é absoluto, e sobretudo não é oculto: ao contrário,


vige o princípio da transparência do exercício do poder, dado que
a sua legitimação não é mais fundada sobre o princípio da
autoridade, mas sobre a legitimidade democrática. (TARUFFO,
Michele. Il significato costituzionale dell´obbligo di
motivazione, 1988, p. 41).

Com efeito, note-se que a motivação legitima a decisão e


permite às partes conhecerem as razões e fundamentos tomados pelo juiz,
possibilitando maior controle e eventual impugnação.

Tal garantia deve ser respeitada em qualquer tipo de


decisão, inclusive naquelas proferidas em sede de execução penal. Visando
assegurá-la, estabelece o artigo 59 da LEP:

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“Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o
procedimento para sua apuração, conforme regulamento,
assegurado o direito de defesa.
Parágrafo único – A decisão será motivada.”

Não obstante, nas hipóteses em análise, após procedimento


administrativo apuratório de falta disciplinar de natureza grave, o Juízo da
Execução Criminal limitou-se por corroborar o decidido no procedimento
administrativo.

Resta evidente o desrespeito ao princípio da motivação


(Livre Convencimento Motivado) e, por conseguinte, da ampla defesa, do
contraditório e do devido processo legal.

É certo que o reconhecimento judicial da prática de falta


disciplinar de natureza grave acarreta inúmeros prejuízos ao sentenciado.

Observe-se que não se trata de despacho de mero


expediente. Há carga decisória e, portanto, deve ser o procedimento
administrativo analisado com maior rigor. Por conseguinte, a sentença de
homologação deve exibir o nexo lógico, por via argumentativa, entre o
convencimento judicial e o material fático e probatório amealhado aos autos.

Sendo assim, considerando que o juízo monocrático proferiu


decisão desprovida de fundamentação, torna-se imperativa a decretação da sua
nulidade.

Neste sentido:

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"A fundamentação, motivação ou argumentação da sentença
corresponde a uma necessidade imperiosa de perfeita
distribuição da justiça. Sua falta acarreta a nulidade dessa
peça, por omissão da formalidade que constitui elemento
essencial do ato" (RT 589/325).

"Processo penal. Sentença. Fundamentação insuficiente.


Nulidade. (1) É nula a sentença desprovida de suficiente
fundamentação, pois não há se confundir livre
convencimento com falta de motivação legal. (2) Preliminar de
nulidade acolhida" (RDJ 9/214).

"Sentença sem motivação é um corpo sem alma. É nula"


(JTACRESP 76/13). No mesmo sentido, TJSP: RT 563//298;
TACRSP: RT 537/311, 569/341, 581/343, 582/338-9.

É oportuna, ainda, a transcrição dos seguintes julgados:

HABEAS CORPUS Execução Penal – Pleiteia reforma decisão


que indeferiu pedido de progressão ao regime semiaberto,
em face do não preenchimento do requisito objetivo, após a
prática de falta disciplinar de natureza grave Nulidade da
decisão Ausência de fundamentação -Contrariedade entre as
razões de fato e de direito. Concedida a ordem.” (HC nº
0587541-68.2010.8.26.0000; TJSP - 2ª CÂMARA DE DIREITO

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CRIMINAL, data do julgamento 02/05/2011)

PROCESSUAL. LEI MARIA DA PENHA. MEDIDAS


PROTETIVAS. DECISÃO. FUNDAMENTAÇÃO. AUSÊNCIA.
INADEQUAÇÃO DAS MEDIDAS.
1 - Toda e qualquer decisão, ainda que de cunho urgente e
cautelar, deve ser fundamentada, nos termos do art. 93, IX da
Constituição Federal, o que não ocorre no caso concreto,
pois as medidas protetivas decretadas, no âmbito da Lei
Maria da Penha o foram com simples menção aos
dispositivos legais, sem qualquer indicação de fatos
concretos. - De outra parte, do contexto dos autos, extrai-se
que são medidas inadequadas (uma delas inexequível) e que
se chocam, em última ratio, com outra decisão proferida em
autos de ação de modificação de guarda, onde denotado que
já estava o casal separado, há muito. 3. Recurso provido para
revogar as medidas. (HC STJ 24946 / MG RECURSO
ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2008/0260312-0 Sexta
Turma, data do julgamento 27/09/11)

Resta evidente, portanto, a desobediência ao disposto no


artigo 93, IX da Constituição Federal e ao artigo 59 da LEP, de forma que a
declaração da nulidade da sentença guerreada é medida que se impõe.

II.2 DO MÉRITO

Caso Vossas Excelências não acolham as teses acima


sustentadas, no mérito, aos olhos da Defesa, não há provas seguras sobre a
suposta conduta praticada em 27.06.2018.

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A) DA FALTA DE PROVAS E DA VEDAÇÃO ÀS SANÇÕES COLETIVAS

A r. decisão que imputou o cometimento de falta grave ao


agravante não deve persistir, vez que não se pode atribuir responsabilidade
àquele por conduta não devidamente comprovada no que tange à autoria e
porque sancionada de forma coletiva.

Observe-se que o procedimento disciplinar considerou como


elementos caracterizadores da infração apenas o depoimento dos funcionários,
que sequer conseguiram individualizar as condutas de todos os sindicados,
punindo-os com base na presunção de envolvimento no ato de terem
desencadeado um motim generalizado.

Imperioso ressaltar que a conclusão do procedimento


administrativo para apuração de falta grave emana reflexos em toda a execução
da pena, sendo assim, está vinculado aos princípios que norteiam o Direito da
Execução Penal, quais sejam: da legalidade, da verdade real, do devido processo
legal, entre outros.

Deveras, destaca o artigo 59, caput, da LEP, uma vez


“praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua
apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa”. Em seu
parágrafo único, afirma que “a decisão será motivada”.

Logo, tem-se que na apuração de eventual falta grave, deve-


se buscar a verdade real, esta que não pode ser alcançada apenas com meras
suposições, mas decorre da exposição clara e coerente dos motivos que levaram
à conclusão da existência da infração e de sua autoria.

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Como bem observa a doutrina de Júlio Fabbrini Mirabete:

“Embora, evidentemente, não se exija que o diretor do


estabelecimento, a autoridade administrativa ou o conselho
disciplinar elabore uma decisão com todos os requisitos que
devem estar presentes em uma sentença judicial, já que não se
trata de uma manifestação jurisdicional em sentido estrito, torna-
se obrigatório que, na aplicação da sanção, exponha os
elementos que comprovam a existência e a autoria da falta,
bem como as razões referentes às circunstâncias do fato e do
autor que conduziram à fixação da espécie da sanção e sua
duração”. (g.n.) (Execução Penal. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
p. 168)

Portanto, conclui-se que o responsável pela sindicância que


apura a prática de falta disciplinar não pode elaborar conclusões de forma
arbitrária e imotivada, sendo que a utilização equivocada da exposição dos
motivos também corresponde à falta de motivação.

Como se pode verificar, não obstante o esforço da


autoridade apuradora em imputar ao sentenciado a responsabilidade pelos fatos
ocorridos, não há indicação de provas que levem a este entendimento. Não
bastam meras suposições, é necessário prova robusta e concreta que indique
a participação voluntária do sentenciado no fato apurado.

Ora, a configuração de falta grave neste caso é evidente


situação de imposição objetiva de conduta e sanção disciplinar , amplamente
vedada pelo ordenamento pátrio.

Assim, uma vez imotivada, eis que inexistentes elementos


que comprovem a conduta por parte do agravante, imputar-lhe a prática de falta
grave, culminaria em verdadeira responsabilização objetiva, o que não pode ser
admitido.
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Neste sentido, inclusive, vem decidindo nossos Tribunais:

“AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL – Não se demonstrou com a


segurança necessária, que o agravado fosse um dos
responsáveis pela escavação. Não se pode admitir esse tipo de
responsabilidade objetiva. Aliás, o fato rotineiro de que nem
todos os presos fogem quando alguns o fazem, demonstra que
nem todos estão envolvidos na tentativa de fuga. Por isso, é
indispensável que as provas demonstrem de forma objetiva que o
detento foi um dos autores da escavação ou que esteve de
qualquer forma envolvido nela, principalmente considerando-se os
quase quarenta presos que jaziam ali empilhados. Naturalmente
não se pode deduzir seu envolvimento por não denunciar os
companheiros de cela, caso não estivesse envolvido na
perfuração, pois é fácil imaginar as conseqüências desse tipo de
“deduragem” no ambiente prisional regido pela tristemente famosa
“Lei do Cão”. Assim sendo, não havendo prova do envolvimento
do agravado na escavação do túnel, não há como anotar falta
disciplinar grave em seu prontuário. Recurso conhecido e provido”
(TJSP – Agr. Ex. nº 993.08.026765-0. 2ª Câm. de Dir. Crim. Rel.
Min. Ivan Marques. 09.06.08). (g.n.)

É compreensível que o Estado imponha regras rígidas para


o fim de disciplinar o comportamento carcerário. Contudo, referido regramento
não pode estar à margem de subjetivismos ou sujeito a arbitrariedades.

O reconhecimento de falta grave e a imposição de sanções,


sem a observação dos preceitos legais, pautadas em suposições tomadas com
base no comportamento geral dos encarcerados, não correspondem à ordem
disciplinar.

Neste diapasão, no Direito Penal Brasileiro vigora o Princípio


da Reserva Legal ou Legalidade, segundo o qual não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (artigo 5º, XXXIX, da
Constituição Federal e artigo 1º do Código Penal). Desta forma, não se pode punir

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qualquer cidadão, sobretudo no âmbito da fase executiva da sentença penal,
imputando-lhe um fato não previsto previamente na Lei como crime ou falta
disciplinar.

Considerar a prática de falta grave pelo agravante da forma


como apontou a r. sindicância transfigura imensurável violação à garantia
constitucional da reserva legal. Em suma, o fato de o sentenciado estar presente
no local em que se deram os fatos não pode culminar a ele qualquer penalidade.

Além da fragilidade probatória, não praticou o sentenciado


qualquer conduta que poderia ter sido considerada reprovável a ponto de se
imputar a prática de falta grave, tendo em vista o princípio da legalidade, bem
como as regras de proporcionalidade e razoabilidade jurídica.

Vale ressaltar que uma boa convivência social no


estabelecimento prisional depende de adequada desenvoltura nas relações entre
funcionários e sentenciados. O aprisionado tem o dever legal de manter-se
disciplinado ante as regras tipificadas e o servidor penitenciário deve orquestrar a
manutenção da ordem e da disciplina de forma a estabelecer uma relação
interpessoal ao menos razoável dentro das unidades penais. Nesse sentido, as
punições aplicadas diante de condutas faltosas devem ser prudentes e
equilibradas, atendendo aos critérios de proporcionalidade e razoabilidade, além
da busca da verdade real.

No tocante ao depoimento de agentes penitenciários, nada


obstante a nobre função de zelarem pela segurança dentro dos presídios,
necessário consignar a relativização de seus testemunhos e, diante da situação
em tela, pode-se expor o que a jurisprudência propõe sobre a declaração
testemunhal do policial, comparável ao agente penitenciário:

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“A principal função da polícia, na repressão criminal,
não é de testemunhar fatos, mas, antes, oferecer
elementos de convicção que sustentem a acusação
pública. Entender o contrário, e partir da presunção de
autenticidade dos depoimentos policiais, sem outras
concludentes, é desnaturar o princípio do contraditório,
e inverter o princípio da inocência presumida. Pois que
ao réu, obviamente não se há de exigir que prove sua
inocência.”
(TACRIM-SP –AP- Rel. Renato Talli – JUTACRIM-SP
70/410)

No tocante à autoria, pelo que verifica a sindicância foi


injustificadamente instaurada, visto que foi contra 32 sentenciados.

No entanto, inexiste razão para a imputação de falta grave,


já que a prova da autoria infracional deve ser individualizada e não coletiva.

É certo que, no âmbito penal, existindo dúvidas, não há


suporte para se expedir qualquer decreto condenatório, inclusive em se tratando
de faltas disciplinares e respectivas sanções, que terão reflexos negativos para o
cumprimento da pena e, principalmente, para o processo de readaptação social
do sentenciado.

A propósito, a Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal), no


artigo 45, § 3º, estabelece que são vedadas as sanções coletivas,
consequentemente, não havendo provas suficientes de autoria, devidamente
individualizada, não se pode punir todos os reeducandos com base em meras
suspeitas.

Nesse sentido, ensina JÚLIO FABBRINI MIRABETE


(Execução penal. 11. Ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 136):

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Esse princípio decorre do preceito constitucional segundo o
qual nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente (art.
5º, XLV, da CF). Muitas vezes, a manutenção da ordem e da
disciplina tem servido como justificativa para que se inflijam
aos presos sanções coletivas, quando é principio básico de
justiça que não se deve aplicar qualquer sanção em caso de
simples dúvida ou suspeita. Sabe-se que tem ocorrido
comumente punição a todos os presos de uma cela, galeria
ou pavilhão, quando a administração deseja castigar autores
de uma infração disciplinar que não são conhecidos. Essa
punição coletiva, além de atingir o interno em sua liberdade e
dignidade, tem constado desabonadoramente, como qualquer
outra, do boletim penitenciário, embasado no qual o preso
pode ou não solicitar favores ou requerer benefícios. Diante
da expressa disposição da lei, vige agora o principio da
culpabilidade individual. (grifos da defesa)

Da mesma forma, preconiza GUILHERME DE SOUZA


NUCCI (Leis penais e processuais penais comentadas. 2. ed. São Paulo: RT,
2007, p. 438):

Logo, é vedada a aplicação de sanção coletiva. Exemplo:


encontra-se um estilete em uma cela, habitada por vários
presos, o que constitui falta grave (art. 50, III, LEP). Realizada
sindicância, não se apura a quem pertence. É justo que não
se possa punir todos os condenados ali encontrados, sob
pena de se estar aplicando sanção coletiva, exatamente o
que é proibido por este dispositivo, em consonância com o
disposto na Constituição Federal.

Destaca a jurisprudência que:

“Sem que exista no processo uma prova esclarecedora da


responsabilidade do réu, sua absolvição se impõe, eis que a
dúvida autoriza a declaração do non liquet, nos termos do art.
386, VI do CPP” (Ap. 160.077, TACRIM-SP., Rel. Gonçalves
Sobrinho).
“Sentença absolutória. Para a condenação do réu a prova há
de ser plena e convincente, ao passo que para absolvição
basta a dúvida, consagrando-se o princípio do ‘in dubio pro
reo’ contido no art. 386, VI, do CPP” (JTACRIM, 72.26, Rel.
Álvaro Curiy).

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Desta feita, não ocorrendo conduta reprovável por parte do
sentenciado não há que se falar em falta grave.

B) AUSÊNCIA DE PROVAS E NEGATIVA DE AUTORIA

A r. decisão administrativa que imputou o cometimento de


falta grave não deve persistir, uma vez que não se pode atribuir responsabilidade
ao sindicado por conduta não devidamente comprovada.

É imperioso observar que o processo para apuração da


existência de falta grave se trata de procedimento administrativo, sendo que o seu
resultado emana reflexos em toda a execução da pena.

Portanto, tendo em vista a complexidade da questão, os


processos de apreciação de faltas graves também estão vinculados aos princípios
que norteiam o Direito da Execução Penal, quais sejam: da legalidade, da
verdade real, do devido processo legal, entre outros.

Ocorre que, o agravante em tela em sua declaração, negou


ter participado dos eventos narrados no procedimento disciplinar.

No caso em comento, como se pode verificar, não obstante


o esforço da autoridade apuradora em imputar ao sindicado a responsabilidade
pelo fato ocorrido, não há indicação de provas que levem a este entendimento. É

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necessária prova robusta e concreta, principalmente as que indiquem a
participação voluntária do sindicado no evento apurado.

Portanto, em face da ausência de prova e da negativa de


autoria, de rigor a absolvição do agravante.

C) DA DESCLASSIFICAÇÃO DA FALTA GRAVE

Reza a Lei n.º 7.210/84

Art. 49. As faltas disciplinares classificam-se em leves,


médias e graves. A legislação local especificará as leves
e médias, bem assim as respectivas sanções.

Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a sanção


correspondente à falta consumada.

Note-se que a Lei de Execução Penal confiou a tipificação


das faltas disciplinares de natureza leve e média à legislação local. Reservou-se,
entretanto, o estabelecimento do rol das infrações graves à própria Lei n.º
7.210/84, haja vista a influência que a prática de falta disciplinar de natureza
grave tem sobre o cumprimento da pena.

A propósito, giza a Constituição da República:

Art. 5º Omissis.[...]

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XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal;

[...]

Outrossim, dispõe o Código Penal:

Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não


há pena sem prévia cominação legal.

No presente caso, reconheceu-se como infração grave a


supostas condutas de tumulto e subversão a ordem e disciplina..

Com efeito, o comportamento irrogado ao Agravante não se


subsume a qualquer da falta grave prevista nos arts. 50 a 52 da Lei de Execução
Penal.

Quando muito, a imputada conduta pode se amoldar na


seguinte falta disciplinar de natureza média prevista no Regimento Interno Padrão
dos Estabelecimentos Prisionais do Estado de São Paulo, que tipifica:

Artigo 45 - Consideram-se faltas disciplinares de


natureza média:

I- atuar de maneira inconveniente, faltando com os


deveres de urbanidade frente às autoridades, aos
funcionários e aos presos;

[...]

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Oportuno colacionarmos a jurisprudência que segue:

AGRAVO EM EXECUÇÃO - Reconhecimento de falta grave -


Pedido defensivo para absolvição por atipicidade, ou ao
menos, desclassificação para falta média – Atos cometidos
pelo reeducando não apresentam a gravidade necessária para
se configurar ocorrência de falta grave, não é qualquer ato de
indisciplina que pode ser considerado como desrespeito aos
funcionários do estabelecimento prisional ou
descumprimento de dever imposto. O mais correto é o
reconhecimento de falta média nos termos do art. 47, I, do
Regimento Interno Padrão dos Estabelecimentos Prisionais
do Estado de São Paulo - Dado parcial provimento ao agravo
para desclassificação da falta grave para falta de natureza
média (TJSP, 5ª C. Direito Criminal, Agravo de Execução Penal
n.º 0484357-96.2010.8.26.0000, rel. Des. Sérgio Ribas, julgado
em 03/03/2011).

Outrossim, em homenagem ao principio da


proporcionalidade, segundo o qual a sanção deve ser proporcional à gravidade de
infração disciplinar, o ora sindicado merece ser absolvido ou, ao menos,
desclassificado a falta para a de natureza média.

A proporcionalidade em comento é marcada pela tríade: a)


necessidade; b) adequação; c) proporcionalidade “stricto sensu”;

Assim, o aplicador do direito, ao agir com razoabilidade no


caso concreto, deve indagar: em primeiro lugar, se há realmente a necessidade
de aplicar a sanção que ora se pleiteia; em segundo lugar, em não havendo tal

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necessidade, se há outro meio adequado para reprimir sua conduta; e em terceiro
e ultimo lugar, se é razoável uma condenação por falta grave, que acarreta
consequências drásticas como a perda dos dias remidos e à interrupção do lapso
para benefícios, ante a uma conduta de somenos importância.

Logo, data maxima venia, não se verifica, na espécie,


qualquer infração grave.

II.3 - DA PERDA DOS DIAS REMIDOS

Caso não prevaleçam as teses acima sustentadas e se


reconheça o cometimento da falta grave por parte do agravante, o que não se
espera, crê a Defensoria Pública que carece de fundamentação a decisão no que
toca à perda de 1/3 dos dias remidos.

Por certo, para fixar o quantum correspondente à perda do


tempo remido, o d. Juízo a quo adotou, permissa maxima venia, argumentação
genérica, somente fazendo alusão à própria natureza da falta disciplinar
praticada.

Ora, ao apontar a natureza grave da infração disciplinar


imputada como critério da quantificação da perda do período remido, o d. Juízo da
execução penal incorreu, permissa maxima venia, em bis in idem, haja vista que a
natureza grave da falta disciplinar já foi considerada para a incidência da própria
penalidade de perda de parcela do tempo remido, nos termos do art. 127 da Lei
de Execução Penal, com nova redação dada pela Lei n.º 12.433/11.

Dessa maneira, a fundamentação utilizada para o


estabelecimento do quantum da perda do tempo remido não cumpriu o disposto
no artigos 57 e 127 da Lei de Execução Penal, pelo que se revela inidônea.

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A respeito, Renato Marcão leciona:

Apurada a falta, poderá ou não o juiz determinar a perda de


dias remidos. Essa consequência deixou de ser automática e
agora é uma faculdade conferida ao magistrado, guiada pelas
norteadoras do art. 57 da LEP.
Há mais.
Reconhecida judicialmente a prática de falta grave, e feita a
opção sancionatória, poderá o juiz quantificar a revogação
em até 1/3 (um terço) dos dias remidos, cumprindo seja
balizada sua decisão em critérios de necessidade, utilidade,
razoabilidade e proporcionalidade, com adequada
fundamentação (art. 93, IX, da CF) no tocante a sua escolha
entre os limites mínimo (1 dia) e máximo (1/3).1

Por conseguinte, deve-se elidir ou diminuir a perda de


parcela do período remido para o mínimo legal, isto é, um dia.

III – DO PEDIDO

Assim, o Agravante requer, espera e confia que essa E.


Corte Bandeirante conheça e dê provimento ao presente recurso, a fim de cassar
a r. decisão ante a falta de fundamentação, em total desrespeito aos princípios do
contraditório, da ampla defesa e da motivação das decisões
judiciais.Subsidiariamente, requer-se a absolvição do agravante, haja vista que
sancionado de forma coletiva, ou a desclassificação, nos moldes pleiteados.

Requer-se, por fim, caso os entendimentos anteriores não


sejam os mesmos de Vossas Excelências, que a perda dos dias remidos se dê no
mínimo legal, ou seja, em 1 (um) dia.

Termos em que, Pede deferimento.


1
MARCÃO, Renato. Curso de execução penal. 11. ed. rev., ampl. e atual. de acordo
com a Lei n. 12.654/2012 (identificação compulsória do perfil genético). São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 226.

Rua Comendador João Peretti, n.º 26 - Vila Santa Helena - CEP 19015-610 - Fone/Fax: (18) 3901-1486
Presidente Prudente/SP, 09 de janeiro de 2019.

DANILO PEREIRA LEITE


5º Defensor Público da Regional de Presidente Prudente/SP

HIAGHO NASCIMENTO SILVERIO


Estagiário da Defensoria Pública

Rua Comendador João Peretti, n.º 26 - Vila Santa Helena - CEP 19015-610 - Fone/Fax: (18) 3901-1486

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