Você está na página 1de 8

PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAPÁ.

AÇÃO CAUTELAR n.º 0001401-39.2024.8.03.0000


AUTOR: Ministério Público do Estado do Amapá
RÉUS: João da Silva Costa e outros

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAPÁ, por intermédio do


Procurador-Geral de Justiça que subscreve esta peça recursal, no uso de suas
atribuições constitucionais e legais, vem, com fulcro nos artigos 619 e seguintes do
Código de Processo Penal (CPP) e artigos 337 e seguintes do Regimento Interno do
Tribunal de Justiça do Estado do Amapá (RITJAP), bem como pelos fundamentos
doravante apresentados, opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, com pedido de
efeitos infringentes, em face do acórdão registrado no movimento de ordem
eletrônica #84, no bojo do feito epigrafado.
São os termos em que, com o devido acatamento e respeito, pede e
espera merecer deferimento.

Macapá, 10 de abril de 2024.


PAULO CELSO RAMOS Assinado de forma digital por
PAULO CELSO RAMOS DOS
DOS SANTOS:31637663234
SANTOS:31637663234 Dados: 2024.04.10 14:03:22 -03'00'
PAULO CELSO RAMOS DOS SANTOS
Procurador-Geral de Justiça

1
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

AÇÃO CAUTELAR n.º 0001401-39.2024.8.03.0000

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

1. DA TEMPESTIVIDADE.

O prazo para oposição de embargos de declaração, nos termos do art.


619, do Código de Processo Penal, é de 02 (dois) dias.
Os autos deram entrada no órgão ministerial em 08 de abril de 2024,
passando o prazo a ser contado no dia 09 de abril, portanto, nesta data, 10 de abril
de 2024, o recurso se encontra tempestivo.

2. DA ADEQUAÇÃO E DO CABIMENTO DO RECURSO.

2.1 Espécies de pronunciamentos impugnáveis.

Os embargos de declaração, à luz do disposto no art. 619, do CPP, são


cabíveis contra acórdãos proferidos pelos Tribunais, câmaras ou turmas, quando
houver ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão na decisão.
Desta maneira, destinando-se o presente recurso à impugnação de
acórdão proferido pelo Plenário do E. Tribunal de Justiça do Estado do Amapá,
demonstrada está a adequação da espécie do pronunciamento judicial ao recurso
interposto.

2.2 Dos vícios que legitimam a interposição dos embargos declaratórios.

No presente recurso, pretende-se ver sanado vício de omissão do


decisum embargado, o qual não apreciou fato novo apresentado quando da
interposição de agravo regimental, ao silenciar sobre a destruição de provas
que está ocorrendo no município de Mazagão, o que foi devidamente demonstrado
nos autos.

2
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

A omissão impugnada consubstancia-se, em breve síntese, (i) na


ausência de pronunciamento quanto a ponto que deveria ter sido apreciado, de ofício,
pelos d. Julgadores e (ii) no não enfrentamento de todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada no julgamento.
Nessa linha, demonstrados estão, portanto, para análise da pertinente
admissibilidade, a adequação e o cabimento destes embargos, o que se reforçará
adiante com a dissertação circunstanciada dos fundamentos recursais.

3. DA DECISÃO EMBARGADA.

Ao manter a decisão agravada, quando a não reconsideração dos


pedidos diversos da prisão, em especial o afastamento do Prefeito de Mazagão, o
douto desembargador afirmou não existirem fatos novos aptos a colocarem em risco
a instrução processual, diante do efetivo cumprimento dos mandados de busca:

“(...)
Analisando a decisão proferida pelo Relator Originário e os argumentos
descritos no bojo do Agravo interno, apreendo que não há situações
fáticas que possam, por ora, trazer risco à instrução do processo, uma
vez que os mandados de busca e apreensão já foram cumpridos.”

É esse decisum que o presente recurso de embargos de declaração visa


a esclarecer, integrar e modificar, conforme as razões que passa a expor.

4. DOS FUNDAMENTOS RECURSAIS.

A omissão, consoante previsão do art. 619 do CPP, é hipótese de


cabimento de embargos de declaração.
Nesse linear o Código de Processo Civil, deve ser utilizado
subsidiariamente ao caso para esclarecer a necessidade de saneamento da omissão
quando se verifica a decisão (i) for omissa sobre ponto ou questão sobre o qual devia
se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento, ou (ii) incorrer em qualquer das
condutas descritas no art. 489, § 1º, também do diploma processual civil. Veja-se:

3
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

“Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão


judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;
III - corrigir erro material.
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos
repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao
caso sob julgamento;
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º .”
(destacou-se)

“Art. 489. (...).


§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo,
sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o
caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.

No caso concreto, observa-se que o acórdão embargado foi omisso


(i) quanto ao risco de destruição de provas patente nos autos, haja vista que há
fortes indícios de que a própria prefeitura da cidade está corroborando para a
prática das fraudes nas licitações.
Como esclarecido no agravo regimental, o risco à instrução das
provas e aplicação da devida lei penal não é abstrato e sim concreto no presente
caso.
Primeiro porque o simples fato de o prefeito continuar em atuação pode sim
interferir concretamente na oitiva de testemunhas, sobretudo servidores
comissionados do município, além disso é evidente a tentativa de destruição das
provas em Mazagão.
Fato que corrobora a possibilidade de alteração das provas é o modo
de agir da própria prefeitura, que na tentativa de eximir o prefeito da

4
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

responsabilidade pelos fatos apurados, começou a exonerar os investigados


não concursados1:

As exonerações feitas em órgãos públicos são meios eficientes de


intimidação de testemunhas, que eventualmente queiram cooperar com os
esclarecimentos dos fatos, mas não podem relatar diante da perda da forma de
sustento.
No agravo, o Ministério Público noticiou que no dia 21 de março de 2024,
sete dias após a autorização de busca e apreensão nos investigados e órgãos
públicos, a própria Prefeitura Municipal publicou no Twitter um estranho aviso de furto
de processos:

1
Disponível em: https://selesnafes.com/2024/04/dudao-mantem-silencio-mas-tenta-agradar-com-exoneracoes-de-investigados/,
com acesso em 10/04/2024, às 09h28.
5
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

Causa estranheza a publicação por uma série de acontecimentos: i) se


questiona que tenha utilidade para pessoas estranhas a processos criminais o furto
de processos; ii) o boletim de ocorrência registrado sobre os fatos indica a perda de
bens materiais apenas (impressora e cafeteira), nada se referindo a documentos; e
para conflitar ainda mais com a realidade, iii) o local que teria sido objeto do delito é
exatamente ao lado da Delegacia Civil de Mazagão.
De todos os furtos em órgãos públicos praticados corriqueiramente, nesse
não houve a captação de objetos de maior valor expressivo e os criminosos preferiram
a exposição máxima de serem pegos, afinal tinham como vizinhos um distrito policial.
Sobre esse tipo de prática, resta consumado nos delitos de “colarinho
branco” esse tipo de desculpa absurdamente inverossímil2.
Uma das manobras mais arcaicas e clássicas experimentadas por
corruptos gestores públicos quando buscam ocultar falcatruas realizadas em suas
administrações é a destruição de documentos públicos ou a afirmação de que
eles simplesmente ‘sumiram’.

2
https://www.mppb.mp.br/index.php/pt/comunicacao/noticias/20-patrimonio-publico/25657-mppb-obtem-liminar-
para-afastamento-de-prefeito-e-bloqueio-de-seus-bens
6
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

No contexto digital vivenciado, não é sequer justificável que uma prefeitura,


independentemente do tamanho do município, não tenha seus procedimentos
digitalizados. É irrazoável crer que toda a documentação da prefeitura seja
gerada por computador, mas logo os objetos de prova, sejam sempre em papéis,
sem a devida guarda digital.
Além disso, durante o cumprimento da busca e apreensão surgiram
sinais importantes sobre a ocultação de provas, foi apreendido aparelho celular
destruído, o que indica a destruição proposital do bem.

Sobre esses novos fatos devidamente relatados e comprovados, com


a juntada inclusive do boletim de ocorrência, sobre a ocorrência do furto dos

7
PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

processos em órgão público, a decisão ora embargada foi omissa, e merece


reparo.

5. DA CONCLUSÃO E DO PEDIDO.

Diante do exposto, e por tudo mais que dos autos se extrai, o


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAPÁ, pelo seu Procurador-Geral de
Justiça subscritor, pugna pelo conhecimento e acolhimento dos presentes
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, para que seja sanada a omissão da decisão
embargada, conforme apontado neste recurso, atribuindo-lhe, por corolário, efeitos
infringentes, a fim de que se conclua pela necessidade clarividente de agravamento
das cautelares diversas da prisão aos investigados, sobretudo o imediato afastamento
do gestor público, pois há risco concreto e demonstrado quanto a colheita de provas
para a instrução processual.

Macapá, 10 de abril de 2024.


Assinado de forma digital por
PAULO CELSO RAMOS PAULO CELSO RAMOS DOS
DOS SANTOS:31637663234
SANTOS:31637663234 Dados:
-03'00'
2024.04.10 14:03:51

PAULO CELSO RAMOS DOS SANTOS


Procurador-Geral de Justiça

Você também pode gostar