AO JUÍZO DA CÂMARA CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE GOIÁS.
Processo n., em trâmite na 2ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia/GO
JOSÉ NAVES, já qualificado nos autos acima, vem respeitosamente à
presença de Vossas Excelências, para opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, com base no art 619, do CPP, diante da omissão existente no acórdão, pelos motivos de fato e de direito expostos abaixo.
I - DO CABIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Os embargos de declaração são cabíveis quando houver no acórdão
obscuridade, contradição, omissão ou erro material, conforme dispõe o art. 1.022 do CPC: Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III - corrigir erro material. Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º.
No caso em tela, verifica-se que o acórdão incorreu em omissão ao deixar
de se pronunciar sobre a concessão dos benefícios da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena ao embargante, que preenche os requisitos legais para tanto.
A omissão configura vício que compromete a integridade lógica do julgado
e impede a sua eficácia executória, pois gera dúvida sobre a extensão da decisão e sobre os seus efeitos jurídicos. Nesse sentido, é pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: "PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO CONFIGURADA. EFEITOS INFRINGENTES. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. Os embargos de declaração, conforme dispõe o art. 1.022 do CPC/2015, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade, eliminar contradição ou corrigir erro material existente no julgado, o que não se confunde com o mero inconformismo da parte com o resultado do julgamento. 2. A omissão que autoriza o manejo dos embargos de declaração é a falta de manifestação do julgador sobre ponto relevante à solução da controvérsia, suscitado pelas partes ou que deveria ser enfrentado por força de lei ou dos princípios gerais do processo, e não a simples circunstância de a decisão contrariar a pretensão da parte embargante. 3. No caso dos autos, verifica-se que o acórdão embargado deixou de se manifestar sobre a questão relativa à prescrição intercorrente, suscitada pelo recorrente em suas razões recursais e reiterada no agravo interno, configurando-se, assim, a omissão apontada nos embargos de declaração. 4. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que os embargos declaratórios podem receber efeitos infringentes quando, ao suprir a omissão, obscuridade ou contradição, alterar-se o resultado do julgamento anteriormente proferido.
II – DA TEMPESTIVIDADE
É concebido que o prazo de oposição dos embargos de declaração, na
forma do art. 619 do Código de Processo Penal, é de dois dias, sendo tempestivo o presente recurso.
III - DO DIREITO À SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS E À SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA
No caso em tela, verifica-se que o embargante preenche todos os
requisitos legais para a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, pois: A pena aplicada ao embargante foi de 1 ano e 6 meses de reclusão, inferior ao limite de 4 anos previsto no inciso I do art. 44 do CP; O crime de furto simples não envolve violência ou grave ameaça à pessoa, conforme o inciso I do art. 44 do CP; O embargante não é reincidente em crime doloso, conforme reconhecido pelo acórdão ora embargado e pelo inciso II do art. 44 do CP; A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do embargante, bem como os motivos e as circunstâncias do crime, indicam que a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos é suficiente para a reprovação e prevenção do delito, conforme o inciso III do art. 44 do CP. Assim, o embargante tem direito à substituição da pena privativa de liberdade por uma ou mais penas restritivas de direitos, que podem ser: prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos ou limitação de fim de semana.
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II - o réu não for reincidente em crime doloso; III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. Código Penal comentado. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 390)
Nesse contexto, observemos o entendimento jurisprudencial do STJ a
respeito do tema:
PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO HABEAS
CORPUS. OMISSÃO QUANTO A CONFIGURAÇÃO DE MAUS ANTECEDENTES. OCORRÊNCIA. ACÓRDÃO CONDENATÓRIO RESTABELECIDO. EMBARGOS ACOLHIDOS COM EFEITO INFRINGENTES. I - São cabíveis embargos declaratórios quando houver, na decisão embargada, qualquer contradição, omissão ou obscuridade a ser sanada. Podem também ser admitidos para a correção de eventual erro material, consoante entendimento preconizado pela doutrina e jurisprudência, sendo possível, excepcionalmente, a alteração ou modificação do decisum embargado. II - Assiste razão ao Parquet Federal, uma vez que está devidamente demonstrado na certidão de fl. 94 que o v. acórdão condenatório não incorreu em qualquer ilegalidade, pois a anotação criminal referente ao processo n. 7006993-82.2003.8.26.0050, que transitou em julgado em 28/9/2005, configura, no presente caso, maus antecedentes, o que afasta de plano a incidência da Súmula n. 444 desta Corte Superior. III - A jurisprudência deste Tribunal é assente no sentido de que as condenações alcançadas pelo período depurador de 5 anos, como no presente caso, previsto no art. 64, inciso I, do Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não impedem a configuração de maus antecedentes, permitindo, assim, o aumento da pena-base acima do mínimo legal. Embargos de declaração acolhido, com efeitos infringentes, para sanar a omissão e não conhecer do habeas corpus, com o fim de restabelecer o acórdão condenatório proferido pelo eg. Tribunal de origem em grau de apelação. (STJ - EDcl no HC: 413204 SP 2017/0209484-4, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 15/05/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/05/2018)
Assim sendo, na espécie, verifica-se que o respeitável acórdão, ora
embargado, foi omisso, por não se manifestar acerca de fato que é determinado legalmente. Desse modo, pleiteia-se a manifestação acerca da omissão apontada, para que seja apreciada a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. DETRAÇÃO. OMISSÃO CARACTERIZADA. APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA PELO JUÍZO DE CONHECIMENTO. RECURSO ACOLHIDO. 1. Os embargos de declaração, como recurso de correção, destinam-se a suprir omissão, contradição e ambiguidade ou obscuridade existente no julgado. No caso, observa-se que o acórdão impugnado deixou de se manifestar sobre à suposta negativa de vigência do art. 387, § 2º, do Código de Processo Penal, embora tal tema tenha sido devidamente questionado nas razões recursais. 2. Com o advento da Lei 12.736/12, o Juiz processante, ao proferir sentença condenatória, deverá detrair o período de custódia cautelar para fins de fixação do regime prisional. Forçoso reconhecer que o § 2º do art. 387 do Código de Processo Penal não versa sobre progressão de regime prisional, instituto próprio da execução penal, mas, sim, acerca da possibilidade de se estabelecer regime inicial menos severo, descontando-se da pena aplicada o tempo de prisão cautelar do acusado. Precedentes. 3. Embargos de declaração acolhidos para sanar a omissão apontada, e, sendo assim, para determinar que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo reavalie o regime prisional, à luz do disposto no art. 387, § 2º, do Código de Processo Penal. (STJ - EDcl no AgInt no REsp: 1714911 SP 2017/0320101-0, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 06/11/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/11/2018)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS
CORPUS. OMISSÃO. EXISTÊNCIA. EMBARGOS COM EFEITOS INFRINGENTES. POSSIBILIDADE. ANULAÇÃO DAS DECISÕES ANTERIORES. EMBARGOS ACOLHIDOS, COM EFEITOS MODIFICATIVOS. 1. Consoante entendimento desta Corte, "a atribuição de efeitos infringentes aos Embargos de Declaração é possível, em hipóteses excepcionais, para corrigir premissa equivocada no julgamento, bem como nos casos em que, sanada a omissão, a contradição ou a obscuridade, a alteração da decisão surja como consequência necessária" (EDcl no AgRg no Ag 1.026.222/SP, Relator o Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 9/9/2014, DJe 10/10/2014). 2. Na espécie, verificada a existência de omissão no julgado quanto à correta decisão do Tribunal de Justiça atacada, devem ser acolhidos os aclaratórios. 3. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para anular o acórdão embargado de fls. 82-86 (e-STJ) proferido pela Quinta Turma, bem como a decisão de fls. 66-67 (e-STJ), determinando-se o retorno dos autos para nova análise deste Relator. (STJ - EDcl no AgRg no HC: 517050 SP 2019/0180159-3, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 10/09/2019, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 16/09/2019)
III – DA OMISSÃO NO ACÓRDÃO
Pois bem, conforme mencionado, a omissão do acórdão consiste na não
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos conforme o art. 44 do CP. Nesse sentido, vale destacar que o embargante faz jus à substituição prevista no art. 44 do CP, vejamos:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
O art. 44 do Código Penal elenca os requisitos necessários e
indispensáveis para que o juiz possa levar a efeito a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. São requisitos considerados cumulativos, ou seja, todos devem estar presentes para que se possa realizar a substituição. Diante disso, observemos o entendimento doutrinário a respeito da substituição da pena restritiva de liberdade pela pena restritiva de direitos: São três requisitos objetivos e um subjetivo, decomposto em vários itens (art.44, CP): objetivos: a) aplicação de pena privativa de liberdade não superior a quatro banos, quando se tratar de crime doloso; b) crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa; c) réu não reincidente em delito doloso; subjetivo: condições pessoais favoráveis: d.1) culpabilidade; d.2) antecedentes; d.3) conduta social; d.4) personalidade; d.5) motivos; d.6) circunstâncias. Quanto à duração da pena aplicada, a restrição a um montante de quatro anos somente se dá no tocante aos crimes dolosos. Os culposos não possuem limite. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 16. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p. 579). Dois deles, segundo entendemos, são de ordem objetiva (incisos I e II do art. 44) e o terceiro de natureza subjetiva (inciso III do art. 44). (GRECO. Rogério. Curso de direito penal. 24. ed. São Paulo, Atlas, 2022, p. 1.270).
Assim, uma vez que o embargante preenche todos os requisitos do art. 44
do CP para a subsituição da pena restritiva de liberdade por pena restritiva de direitos, o acórdão embargado deve ser reformado para que haja manifestação acerca dessa matéria. Nesse contexto, observemos o entendimento jurisprudencial do STJ a respeito do tema: PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO HABEAS CORPUS. OMISSÃO QUANTO A CONFIGURAÇÃO DE MAUS ANTECEDENTES. OCORRÊNCIA. ACÓRDÃO CONDENATÓRIO RESTABELECIDO. EMBARGOS ACOLHIDOS COM EFEITO INFRINGENTES. I - São cabíveis embargos declaratórios quando houver, na decisão embargada, qualquer contradição, omissão ou obscuridade a ser sanada. Podem também ser admitidos para a correção de eventual erro material, consoante entendimento preconizado pela doutrina e jurisprudência, sendo possível, excepcionalmente, a alteração ou modificação do decisum embargado. II - Assiste razão ao Parquet Federal, uma vez que está devidamente demonstrado na certidão de fl. 94 que o v. acórdão condenatório não incorreu em qualquer ilegalidade, pois a anotação criminal referente ao processo n. 7006993-82.2003.8.26.0050, que transitou em julgado em 28/9/2005, configura, no presente caso, maus antecedentes, o que afasta de plano a incidência da Súmula n. 444 desta Corte Superior. III - A jurisprudência deste Tribunal é assente no sentido de que as condenações alcançadas pelo período depurador de 5 anos, como no presente caso, previsto no art. 64, inciso I, do Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não impedem a configuração de maus antecedentes, permitindo, assim, o aumento da pena-base acima do mínimo legal. Embargos de declaração acolhido, com efeitos infringentes, para sanar a omissão e não conhecer do habeas corpus, com o fim de restabelecer o acórdão condenatório proferido pelo eg. Tribunal de origem em grau de apelação. (STJ - EDcl no HC: 413204 SP 2017/0209484-4, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 15/05/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/05/2018)
Assim sendo, na espécie, verifica-se que o respeitável acórdão, ora
embargado, foi omisso, por não se manifestar acerca de fato que é determinado legalmente. Desse modo, pleiteia-se a manifestação acerca da omissão apontada, para que seja apreciada a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
IV – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer-se a Vossa Excelência que sejam acolhidos os
presentes embargos de declaração, para: a) Suprir a omissão do acórdão embargado quanto à concessão dos benefícios da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena ao embargante, nos termos do art. 44 e do art. 77 do CP; b) Reformar o acórdão embargado, para conceder ao embargante os benefícios da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena, fixando as condições adequadas para o cumprimento das mesmas; c) Dar efeitos infringentes aos presentes embargos de declaração, para alterar o resultado do julgamento anteriormente proferido, em favor do embargante.