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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 5ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO INTERNO CÍVEL 0729445-84.2022.8.07.0000

CARLOS MARTIN JIMENEZ BARREIRO,MARCOS DE MARCONDES


AGRAVANTE(S) ZANETTE FERREIRA e PURPLE GOLD COMERCIO DE ALIMENTOS
LTDA - ME

AGRAVADO(S) EDUARDO AUGUSTO ALVES GOMES SERRANO


Relator Desembargador JOÃO LUIS FISCHER DIAS

Acórdão Nº 1723783

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO


PARCIAL DE SOCIEDADE. CONTESTAÇÃO/RECONVENÇÃO. ALEGAÇÃO DE
INTEMPESTIVIDADE. ROL DO ARTIGO 1.015 DO CPC. NÃO ENQUADRAMENTO.
TEMA 988 DO STJ. INAPLICÁVEL. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. A decisão que rejeita a alegação de intempestividade da contestação/reconvenção e que, portanto,


não decreta a revelia do réu, não tem previsão de impugnação no rol do art. 1.015 do CPC.

2. Não verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão em sede de eventual


apelação, por força da tese firmada nos Recursos Especiais Repetitivos n. 1.696.396/MT e
1.704.520/MT (Tema 988), não há que se falar em mitigação do rol do art. 1.015 do CPC.

3. Agravo interno conhecido e não provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, JOÃO LUIS FISCHER DIAS - Relator, MARIA IVATÔNIA - 1º Vogal e
FÁBIO EDUARDO MARQUES - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora ANA
CANTARINO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO AGRAVO
INTERNO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 06 de Julho de 2023

Desembargador JOÃO LUIS FISCHER DIAS


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de agravo interno interposto por PURPLE GOLD COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e
OUTROS contra a decisão desta Relatoria que não conheceu do agravo de instrumento, uma vez que
(i) o pronunciamento judicial que rejeita a alegação de intempestividade da contestação/reconvenção
não tem previsão de impugnação no rol do art. 1.015 do CPC e (ii) não ficou configurada a urgência
necessária para se concluir pela admissibilidade do recurso, REsp 1.704.520/MT (Tema 988).

Em suas razões recursais (ID 38968959), os agravantes alegam, em síntese, que o STJ, no julgamento
do Tema 988, deu entendimento mais abrangente acerca do termo “inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação” do que o dado na decisão agravada.

Sustentam que a exegese realizada pelo STJ é de que é cabível agravo de instrumento, para que
questões urgentes sejam desde logo reexaminadas, sempre que o tema constante da decisão
interlocutória possa violar as normas fundamentais do CPC e causar prejuízo às partes ou ao próprio
processo se diferido seu julgamento para o recurso de apelação.

Pede o provimento do agravo interno para reformar a decisão, receber o agravo de instrumento e, no
mérito, dar-lhe provimento para reconhecer a intempestividade da contestação/reconvenção
protocolados pelo agravado na origem.

A parte agravada apresentou contrarrazões, pugnando pelo desprovimento do recurso (ID 45859132).

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador JOÃO LUIS FISCHER DIAS - Relator

Conheço do recurso, porquanto presentes os pressupostos de admissibilidade.

Cinge-se a controvérsia recursal à análise quanto ao cabimento da interposição de agravo de


instrumento contra a decisão que rejeita a alegação de intempestividade da contestação/reconvenção e
que, portanto, não decreta a revelia do réu (ID 104178917 dos autos nº 0711339-97.2020.8.07.0015).

Cabe observar que o proferimento de decisão monocrática constitui prerrogativa legal outorgada ao
relator, visando conferir celeridade e efetividade à prestação jurisdicional, desobstruir as extensas
pautas dos tribunais, bem como evitar o alongamento desnecessário de discussões e o dispêndio de
tempo para se chegar à mesma conclusão que se alcançaria coletivamente.

Nesse contexto, não vislumbro, nas razões do agravo interno, qualquer alusão a alterações fáticas ou
jurídicas hábeis a ensejar a modificação do entendimento já explicitado.

De acordo com a legislação vigente, as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão


previstas no artigo 1.015 do CPC, que dispõe:

“Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

I - tutelas provisórias;

II - mérito do processo;

III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;

VI - exibição ou posse de documento ou coisa;

VII - exclusão de litisconsorte;

VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;

XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1o;

XII - (VETADO);

XIII - outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na
fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no
processo de inventário.”

Com efeito, o artigo acima transcrito não contempla a matéria referente à tempestividade (ou não) da
contestação/reconvenção.

A propósito, em caso análogo, já se manifestou esta Corte:

Órgão 8ª Turma Cível

Processo N. AGRAVO INTERNO CÍVEL 0730418-10.2020.8.07.0000

AGRAVANTE(S) FERNANDO CHAMOSCHINE FERNANDES AGRAVADO(S)


CONDOMINIO DO EDIFICIO ALTERNATIVO/ CENTER

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


AÇÃO DE CONHECIMENTO. CONTESTAÇÃO. INTEMPESTIVIDADE. INADMISSIBILIDADE
DO RECURSO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. ROL TAXATIVO DO ART. 1.015 DO CPC/15.
DECISÃO MANTIDA. 1. Havendo o recorrente impugnado especificamente os fundamentos da
decisão proferida pelo relator, impõe-se a rejeição da preliminar de não conhecimento do Agravo
Interno. 2. O cabimento do Agravo de Instrumento encontra seu rol taxativo nas disposições do
art. 1.015 do NCPC, não cabendo interpretação extensiva para sua admissibilidade contra
decisão interlocutória que reconheceu a intempestividade da contestação apresentada pela parte
ré. 3. Agravo Interno conhecido e não provido. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores
do(a) 8ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, NÍDIA CORRÊA
LIMA - Relatora, DIAULAS COSTA RIBEIRO - 1º Vogal e ROBSON TEIXEIRA DE FREITAS -
2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ROBSON TEIXEIRA DE FREITAS, em
proferir a seguinte decisão: AGRAVO INTERNO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. UNÂNIME., de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 10 de dezembro de 2020
Desembargadora NÍDIA CORRÊA LIMA Relatora (Grifos nossos).

Em consonância ao fato de que o STJ, em julgamento de Recurso Especial Repetitivo (Tema 988 –
Resp 1.696.396 e Resp 1.704.520), de relatoria da Min. Nancy Andrighi, fixou, por maioria, a tese
jurídica no sentido de que “O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a
interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão no recurso de apelação”.

Destarte, a matéria poderá ser objeto, em tese, de eventual apelação, de forma que não se encontra
preenchido o pressuposto para mitigação, consistente na urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão em sede de apelação.

Ressalta-se que as situações consideradas “urgentes”, como explana a Ministra Relatora do Repetitivo
supracitado em seu voto, “são aquelas que se examinadas apenas por ocasião do recurso de apelação,
tornariam a tutela jurisdicional sobre a questão incidente tardia e, consequentemente, inútil”, o que
não ocorre na presente hipótese, já que eventual reconhecimento da intempestividade da
contestação/reconvenção não tornaria inútil a tutela jurisdicional sobre a questão.

No ponto, é importante repisar que os alegados custos de produção probatória são inerentes ao próprio
processo e nada se relacionam com a tese baseada no requisito da urgência como critério para
admissão do agravo fora do rol do art. 1.015 do CPC.

Assim, seguindo a linha de entendimento do Superior Tribunal de Justiça, e considerando que a


questão poderá ser reapreciada em sede de apelação, impõe-se manter a decisão ora agravada.

Pelas razões expostas, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao agravo interno.

É como voto.

A Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO

CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO AGRAVO INTERNO. UNÂNIME.

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