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Acórdão Nº 1723783
EMENTA
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Trata-se de agravo interno interposto por PURPLE GOLD COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA e
OUTROS contra a decisão desta Relatoria que não conheceu do agravo de instrumento, uma vez que
(i) o pronunciamento judicial que rejeita a alegação de intempestividade da contestação/reconvenção
não tem previsão de impugnação no rol do art. 1.015 do CPC e (ii) não ficou configurada a urgência
necessária para se concluir pela admissibilidade do recurso, REsp 1.704.520/MT (Tema 988).
Em suas razões recursais (ID 38968959), os agravantes alegam, em síntese, que o STJ, no julgamento
do Tema 988, deu entendimento mais abrangente acerca do termo “inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação” do que o dado na decisão agravada.
Sustentam que a exegese realizada pelo STJ é de que é cabível agravo de instrumento, para que
questões urgentes sejam desde logo reexaminadas, sempre que o tema constante da decisão
interlocutória possa violar as normas fundamentais do CPC e causar prejuízo às partes ou ao próprio
processo se diferido seu julgamento para o recurso de apelação.
Pede o provimento do agravo interno para reformar a decisão, receber o agravo de instrumento e, no
mérito, dar-lhe provimento para reconhecer a intempestividade da contestação/reconvenção
protocolados pelo agravado na origem.
A parte agravada apresentou contrarrazões, pugnando pelo desprovimento do recurso (ID 45859132).
É o relatório.
VOTOS
Cabe observar que o proferimento de decisão monocrática constitui prerrogativa legal outorgada ao
relator, visando conferir celeridade e efetividade à prestação jurisdicional, desobstruir as extensas
pautas dos tribunais, bem como evitar o alongamento desnecessário de discussões e o dispêndio de
tempo para se chegar à mesma conclusão que se alcançaria coletivamente.
Nesse contexto, não vislumbro, nas razões do agravo interno, qualquer alusão a alterações fáticas ou
jurídicas hábeis a ensejar a modificação do entendimento já explicitado.
“Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
XII - (VETADO);
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na
fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no
processo de inventário.”
Com efeito, o artigo acima transcrito não contempla a matéria referente à tempestividade (ou não) da
contestação/reconvenção.
Em consonância ao fato de que o STJ, em julgamento de Recurso Especial Repetitivo (Tema 988 –
Resp 1.696.396 e Resp 1.704.520), de relatoria da Min. Nancy Andrighi, fixou, por maioria, a tese
jurídica no sentido de que “O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a
interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão no recurso de apelação”.
Destarte, a matéria poderá ser objeto, em tese, de eventual apelação, de forma que não se encontra
preenchido o pressuposto para mitigação, consistente na urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão em sede de apelação.
Ressalta-se que as situações consideradas “urgentes”, como explana a Ministra Relatora do Repetitivo
supracitado em seu voto, “são aquelas que se examinadas apenas por ocasião do recurso de apelação,
tornariam a tutela jurisdicional sobre a questão incidente tardia e, consequentemente, inútil”, o que
não ocorre na presente hipótese, já que eventual reconhecimento da intempestividade da
contestação/reconvenção não tornaria inútil a tutela jurisdicional sobre a questão.
No ponto, é importante repisar que os alegados custos de produção probatória são inerentes ao próprio
processo e nada se relacionam com a tese baseada no requisito da urgência como critério para
admissão do agravo fora do rol do art. 1.015 do CPC.
É como voto.