Você está na página 1de 8

Nº 1.0071.09.

044078-6/008
<CABBCAACDBCABBCACBDAAADADAACDBCBBCAAADDADAACB>
<ACBBCACBBCAADDAABCCBABCADCBACBBCCAB>
2020000242826
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – ART. 1.015 DO CPC/2015 –
HIPÓTESES TAXATIVAS DE CABIMENTO – DECISÃO IMPUGNADA – NÃO
AGRAVÁVEL – RESP 1.704.520/MT – TAXATIVIDADE MITIGADA DO ART.
1015 DO CPC – NÃO DEMONSTRAÇÃO DA URGÊNCIA DA QUESTÃO A
PONTO DE SE TORNAR INÚTIL A SUA DISCUSSÃO EM SEDE DE
PRELIMINAR DE APELAÇÃO – INADIMISSIBILIDADE DO RECURSO.
1. É taxativo o rol das decisões interlocutórias agraváveis, previsto no
art. 1.015 do CPC/2015. Não estando, a decisão interlocutória,
relacionada nos incisos ou no parágrafo único do art. 1.015, contra ela
não cabe agravo de instrumento.
2. O Superior Tribunal de Justiça se manifestou, recentemente, no REsp
1.704.520/MT, sob a sistemática dos recursos repetitivos (art. 1.036 do
CPC), pela taxatividade mitigada do artigo 1.015 do Código de Processo
Civil nos casos em que o julgamento diferido do recurso de apelação, à
vista da urgência no exame da questão, mostre-se desarrazoado.
3. Hipótese dos autos que não se enquadra na tese firmada pelo STJ,
tendo em vista que a parte agravante, mesmo depois de intimada para se
manifestar sobre o cabimento do recurso, não teceu consideração apta a
demonstrar a real urgência da questão, a ponto de se tornar inútil a sua
discussão em sede de preliminar de apelação.
3. Recurso não conhecido, nos termos do artigo 932, inciso III, do
CPC/2015.
SÚMULA: NÃO CONHECER DO RECURSO.
_____________________________________________________________
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0071.09.044078-6/008 -
COMARCA DE BOA ESPERANÇA - AGRAVANTE(S): DILZON LUIZ
DE MELO - AGRAVADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE MINAS GERAIS - INTERESSADO(A)S: MUNICÍPIO DE BOA
ESPERANÇA

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de agravo de instrumento interposto por DILZON LUIZ


DE MELO em face da decisão (ordem 07), aclarada à ordem 11, que,
nos autos da ação civil pública ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE MINAS GERAIS, deferiu a perícia técnica requerida
pelo autor e nomeou perito, afastando a alegação de coisa julgada.
Em suas razões, o agravante alega que: a) as ações discutidas,
na presente ação, foram analisadas e decididas em ação cautelar
anterior, já transitada em julgado desde 01/09/2010; b) “nota-se que

Fl. 1/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826


Nº 1.0071.09.044078-6/008
após uma breve análise dos trechos insertos nas imagens acima
expostas, advindas das peças processuais supracitadas (“Sentença”,
“Razões em Apelação”, “Acórdão”, “Inicial da Ação Civil Pública” e
“Quesitos do Agravado para Eventual Perícia Técnica”), cujos
respectivos originais seguem anexados ao presente recurso, que fica
depreendido, de forma inquestionável, que todas as questões que
envolvem a presente ação civil pública já encontram-se acobertadas
pelo instituto da preclusão e da coisa julgada, ocorrido através da ação
cautelar nº 0071 09 043131-4. Prova do exaurimento de todas as
questões levantadas nesta ação civil pública é que no tramite da ação
cautelar (autos nº 0071 09 043131-4)”.
Com tais considerações, requer a cassação da decisão
agravada e a extinção do feito, sem julgamento de mérito, nos termos
do artigo 485, V do CPC.
Em despacho à ordem 35, o Desembargador Luís Carlos
Gambogi, nos termos do artigo 145, §1º do CPC, declarou-se suspeito
para o processamento e julgamento do recurso, determinado, por
conseguinte, a sua redistribuição.
Vindo o processo a mim concluso, em observância ao disposto
nos artigos 10 e 933, caput, do CPC/15, determinei a intimação do
agravante para se manifestar sobre o não cabimento do recurso (Doc.
Elet. n. 36).
À ordem 37, em resposta à minha determinação, o recorrente
aduziu que: a) a matéria tratada no recurso diz respeito a matéria de
ordem pública, qual seja a coisa julgada; b) no REsp n. 1.696.396,
julgado em sede de repetitivo, o Superior Tribunal de Justiça relativizou
a taxatividade do artigo 1.015 do CPC/15; c) de acordo com a Corte
Cidadã, nos casos em que houver periculum in mora apto a tornar inútil
a apreciação do tema em preliminar de apelação, o agravo de
instrumento é cabível; d) “com a continuidade dos atos processuais
que visam decidir, novamente, as mesmas questões realizadas e já

Fl. 2/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826


Nº 1.0071.09.044078-6/008
decididas nos autos em apenso (ação cautelar nº 0071 09 043131-4),
dentre eles a decisão agravada (realização de perícia técnica) além da
ofensa a coisa julgada, teremos caracterizado o abalo moral do
recorrente que será grave e de difícil reparação, por exposição do
agravante a situações humilhantes e constrangedoras tanto diante das
pessoas que adquiriram a propriedade das unidades residenciais do
edifício, sem qualquer restrição administrativa ou judicial, quanto
daquelas pessoas que adquiriram a posse (inquilinos) e que moram
nos apartamentos do Edifício Lago dos Encantos (vide certidões
anexadas), que é o local onde se realizará a perícia técnica em caso
de ser mantida intocável a decisão agravada, devendo ainda
considerarmos a celeridade do processo diante do instituto da
preclusão sobre a repetição das matérias suscitadas e assim impedir o
elevado prejuízo do interessado com gasto em função do pagamento
das despesas periciais a serem realizadas em caso de um eventual
descabimento do agravo de instrumento”.
Relatados, tudo visto e examinado, decido.
Questiona-se, no presente recurso, a decisão proferida pelo
MM. Juiz de primeiro grau, que, nos autos da ação civil pública, deferiu
o pedido de produção de prova pericial, nomeando perito para a sua
realização, e afastou a alegação do ora recorrente de coisa julgada
(ordens 07 e 11).
Com a devida vênia, o presente agravo não merece ser
conhecido, tendo em vista que o decisum objurgado não se enquadra
no rol taxativo de decisões agraváveis, mesmo levando-se em
consideração o REsp n. 1.696.396 do STJ.
O sistema recursal rege-se pelo princípio da taxatividade,
havendo previsão específica no digesto processual do recurso cabível
para cada decisão proferida no processo, cabendo ao julgador avaliar,
antes do recebimento da irresignação, sua adequação em face da
manifestação combatida.

Fl. 3/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826


Nº 1.0071.09.044078-6/008
O art. 1.015 do CPC/2015 prevê o elenco de decisões
interlocutórias agraváveis, estabelecendo, taxativamente, as hipóteses
de cabimento do recurso de instrumento, in verbis:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as
decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade
jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou
acolhimento do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de
terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito
suspensivo aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art.
373, § 1o;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de
instrumento contra decisões interlocutórias proferidas
na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de execução e no processo
de inventário.

A partir da sistemática recursal trazida pelo novo Código de


Processo Civil, verifica-se que o cabimento do agravo de instrumento
se restringe às decisões interlocutórias previstas no art. 1.015 do
CPC/2015, nas normas esparsas do digesto processual e nas leis
extravagantes.
Portanto, não são todas as decisões (atos com conteúdo
decisório) que podem ser impugnadas com a interposição de agravo
de instrumento, havendo, na fase de conhecimento, decisões
agraváveis e não agraváveis.
Sobre o tema, doutrinam Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro
da Cunha:
O elenco do art. 1.015 do CPC é taxativo. As
decisões interlocutórias agraváveis na fase de

Fl. 4/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826


Nº 1.0071.09.044078-6/008
conhecimento, sujeitam-se a uma taxatividade legal.
Somente são impugnadas por agravo de instrumento
as decisões interlocutórias relacionadas no referido
dispositivo. Para que determinada decisão seja
enquadrada como agravável, é preciso que integre o
catálogo de decisões passíveis de agravo de
instrumento. Somente a lei pode criar hipóteses de
decisões agraváveis na fase de conhecimento – não
cabe, por exemplo, convenção processual, lastreada
no art. 190 do CPC, que crie a modalidade de decisão
interlocutória agravável (Curso de Direito Processual
Civil: o processo civil nos tribunais, recursos, ações
de competência originária de tribunal e querela
nullitatis, incidentes de competência originária de
tribunal. 13. ed. Salvador: Juspodvim, 2016, v. 3, p.
208/209).

Nessa esteira, cumpre destacar, ainda, que a referida


taxatividade não fere o direito das partes ao devido processo legal,
tendo em vista que as decisões não agraváveis não se tornam
irrecorríveis, podendo ser suscitadas em preliminar de apelação,
eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas
contrarrazões (art. 1.009, § 1º, CPC/2015).
A propósito, esclarece Daniel Assumpção Amorim Neves:
As decisões interlocutórias que não puderem ser
impugnadas pelo recurso de agravo de instrumento
não se tornam irrecorríveis, o que representaria nítida
ofensa ao devido processo legal. Essas decisões
não precluem imediatamente, devendo ser
impugnadas em preliminar de apelação ou nas
contrarrazões desse recurso, nos termos do art.
1.009, §1º, do Novo CPC (Manual de direito
processual civil. 8. ed. Salvador: Ed. Juspodvim,
2016, p. 1559).

In casu, o decisum vergastado não se subsome aos casos


previstos nos incisos do art. 1.015 do CPC/15.
Aduz o recorrente que a decisão saneadora proferida pelo
magistrado de primeira instância ofende a coisa julgada e deve ser
reconhecida, à vista da urgência que a medida impõe.

Fl. 5/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826


Nº 1.0071.09.044078-6/008
Vê-se, contudo, que o requerimento do recorrente diz respeito a
matéria que não está relacionada ao mérito da ação, conforme
dispõem os artigos 337, VII, e 485, V do CPC/15, que não se
enquadra no inciso II do artigo 1.015 do Código de Processo Civil, nem
em qualquer dos dispositivos elencados no seu rol taxativo.
Dessa forma, não se enquadrando, a espécie dos autos, em
qualquer das hipóteses arroladas no art. 1.015 do CPC/2015,
inadmissível o recurso de agravo de instrumento.
Por fim, ressalta-se que não se desconhece a decisão proferida
pelo STJ no REsp 1.704.520/MT, sob a sistemática dos recursos
repetitivos (art. 1036 do CPC), na qual a Corte se manifestou pela
taxatividade mitigada do artigo 1.015 do Código de Processo Civil nos
casos em que o julgamento diferido do recurso de apelação mostre-se
desarrazoado à vista da urgência no exame da questão.
Entretanto, in casu, entendo que as alegações trazidas pelo
recorrente à ordem 37 não demonstram a urgência determinante para
a análise imediata da questão, a ponto de se tornar inútil a sua
discussão em sede de preliminar de apelação. Apesar de informar
que a realização da perícia causará constrangimento aos moradores
do prédio, não sobreveio qualquer prova neste sentido. Ademais, o
mero aborrecimento não configura justificativa plausível a desconstituir
perícia técnica no local.
Por outro lado, também não subsiste a alegação do recorrente
de que a matéria em questão é de ordem pública e pode ser analisada
por este Tribunal a qualquer momento.
Não obstante as questões de ordem pública possam ser
conhecidas de ofício pelo julgador, a qualquer tempo e em qualquer
grau de jurisdição, tal fato não afasta a necessidade de que os
recursos atendam aos seus requisitos de admissibilidade para
serem apreciados por esta instância revisora.

Fl. 6/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826


Nº 1.0071.09.044078-6/008
Em suma, para que a insurgência de qualquer das partes seja
analisada pelo Tribunal – independentemente do seu conteúdo –, o
interessado deve manejar o recurso a tempo e modo adequados, sob
pena de quebrar a isonomia entre as partes e a paridade das armas,
princípios estes de direito processual.
Ou seja, ainda que seja possível ao julgador proceder à análise
de uma questão sem a provocação da parte (matéria de ordem
pública), quando se trata de impugnação formalizada por um dos
litigantes, deve ser respeitado o dispositivo legal que indica o
cabimento do recurso, por ser ele de observância cogente e por ser
prévia a admissibilidade do recurso em relação às alegações nele
levantadas.
E, no tocante à insurgência em face da decisão que não
reconheceu a coisa julgada, inexiste previsão quanto a esta hipótese
no artigo 1.115 do CPC, até mesmo porque, esta preliminar não enseja
análise de mérito e, considerando a ausência de preclusão das
matérias não recorríveis através de agravo de instrumento, poderá a
questão ser aventada em sede de preliminar de apelação, já que não
demonstrada a urgência da sua análise neste momento processual.
Destarte, denota-se que a parte pretende, através do agravo de
instrumento, a análise de questão de ordem pública, no entanto,
mesmo com esta natureza jurídica, ou seja, podendo ser reconhecida,
a questão, até mesmo de ofício pelo julgador, a sua apreciação por
esta instância revisora submete-se ao juízo de admissibilidade do
recurso, que, no caso em tela, não foi conhecido em razão do não
cabimento.
Nesse sentido, cito precedente do eg. STJ:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DO DEVEDOR
JULGADOS IMPROCEDENTES. APELO NÃO
CONHECIDO POR INTEMPESTIVIDADE.
ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA EXECUÇÃO EM

Fl. 7/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826


Nº 1.0071.09.044078-6/008
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. "A sentença que rejeita ou julga improcedentes os
embargos à execução opostos pela Fazenda Pública
não está sujeita ao reexame necessário" (REsp
1.107.662/SP, Rel. Min. MAURO CAMPBELL
MARQUES, Segunda Turma, DJe 2/12/10).
2. "O exame do mérito do recurso pelo órgão de
segundo grau, incluindo as matérias de ordem
pública, somente ocorre se ultrapassado o juízo
de admissibilidade" (EDcl no REsp 195.848/MG,
Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
Quarta Turma, DJe 12/8/02).
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1253018/BA, Rel. Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
02/04/2013, DJe 16/04/2013)

Portanto, não deve ser conhecido o agravo instrumento.


Portanto, diante da manifesta inadmissibilidade do agravo de
instrumento, NÃO CONHEÇO DO RECURSO, com fulcro no art. 932,
inciso III, do CPC/15.
Belo Horizonte, 13 de março de 2020.

JD. CONVOCADO JOSÉ EUSTÁQUIO LUCAS PEREIRA


Relator

Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001.


Signatário: JOSE EUSTAQUIO LUCAS PEREIRA, Certificado:
6B9959DA5E5F7238DFF560E236313B5C, Belo Horizonte, 13 de março de 2020 às 16:14:40.
Verificação da autenticidade deste documento disponível em http://www.tjmg.jus.br - nº verificador:
100710904407860082020242826

Fl. 8/8

Número Verificador: 100710904407860082020242826

Você também pode gostar